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Codificada por: Lightyear 💫

Última Atualização: 02/05/2025

Vernon ajeitou a gravata na frente do espelho e então umedeceu os lábios. Depois ele encarou o próprio reflexo e balançou a cabeça em negativa se sentindo um tanto quanto idiota… Contratar uma namorada de aluguel? Sério? Como ele havia chegado a esse ponto?
Mas a resposta era óbvia. Ele precisava impressionar os velhos ricos da diretoria, aqueles que ainda enxergavam nele um garoto inexperiente e não o CEO capaz de comandar a empresa que herdara do pai. Não importava quantos números ele apresentasse ou quantas reuniões fechasse com sucesso — para eles, experiência vinha com idade e estabilidade, e um homem solteiro aos olhos da alta sociedade era sinônimo de impulsividade.
Vernon bufou, passando a mão pelos cabelos antes de soltar um riso incrédulo. Como se fingir estar em um relacionamento fosse resolver todos os seus problemas. Mas, por mais patética que a situação parecesse, essa era a solução mais prática. Ele precisava de alguém ao seu lado, alguém convincente o bastante para desfazer a desconfiança daqueles senhores conservadores. E, por mais absurdo que fosse, pagar por esse papel parecia muito mais fácil do que se envolver em um relacionamento de verdade.
O contrato já estava assinado. Em poucas horas, ele encontraria sua suposta namorada. Uma desconhecida que, por algumas semanas, faria parte de sua vida como se fossem um casal apaixonado. Ele nem sabia direito o que esperar. Talvez uma mulher fútil e artificial, ou alguém que apenas enxergava aquilo como um negócio lucrativo. No fim das contas, pouco importava. Era apenas um teatro, e ele precisava atuar bem.
Soltando um longo suspiro, Vernon pegou o paletó e o vestiu, tentando ignorar o incômodo que aquela situação causava. Era temporário. Apenas mais um jogo corporativo que ele precisava jogar para manter seu império.
Ou, pelo menos, era o que ele achava.
🎩🎩🎩

Agora, sentado no banco de trás do carro, ele observava as luzes de Los Angeles passando pela janela, enquanto o motorista seguia para o local combinado. O silêncio dentro do veículo era quase sufocante, e Vernon afundou-se no assento, sentindo o peso da situação.
Foi seu assistente pessoal quem cuidou de todo o trâmite. Ele mesmo não teve paciência para lidar com isso. Bastou uma pesquisa em um site especializado, algumas trocas de mensagens e um contrato formalizado. Vernon sequer conhecia a mulher que o acompanharia naquela noite. Apenas sabia que ela fora escolhida por sua discrição e capacidade de desempenhar o papel sem maiores problemas.
As orientações foram claras: ela deveria agir como uma namorada perfeita, responder perguntas com naturalidade e, acima de tudo, convencê-los de que o relacionamento era real. Vernon não sabia ao certo como se sentia sobre isso. Por um lado, era apenas mais uma transação, um acordo comercial. Por outro, a ideia de dividir sua vida — mesmo que de forma encenada — com uma estranha parecia estranhamente invasiva.
A poucos minutos do destino, ele fechou os olhos e respirou fundo. Não havia mais volta. O show estava prestes a começar.
Quando o carro parou de se movimentar, Vernon observou a fachada do hotel luxuoso que a tal garota estava hospedada e com um suspiro resignado ele desceu do carro, procurando por cabelos ruivos. Chan havia dito que a garota escolhida tinha lindos cabelos alaranjados — “que pareciam calêndulas de tão alaranjados”, então certamente não teria como ele confundir.
Vernon ajeitou o paletó e então adentrou a recepção esperando as grandes portas elétricas de vidro se abrirem, os olhos dele varreram rapidamente o lugar e então, sentada em uma das poltronas, lá estava ela…
Ele parou por um segundo, sentindo um estranho frio na barriga que não esperava. Seus olhos recaíram sobre a mulher e, de imediato, algo o fez prender a respiração. Talvez fosse a postura dela, relaxada, mas, ao mesmo tempo, impecável. Ou talvez fossem os traços delicados e a forma como seu olhar varria o ambiente, atenta, sem demonstrar nervosismo algum.
Vernon engoliu em seco. Esperava alguém que parecesse claramente estar ali pelo dinheiro, talvez uma mulher exageradamente produzida, com um ar artificial. Mas não era isso que via. Havia algo nela que parecia... real. Autêntico demais para ser apenas atuação.
Ele umedeceu os lábios e seguiu em sua direção, tentando ignorar o desconforto inesperado que se instalava em seu peito. Aquilo era só um negócio. Ele precisava lembrar disso. Mas, por algum motivo, a ideia parecia mais difícil agora que seus olhos estavam presos nela.

— Senhorita ? — ele pigarrou depois que a chamou pelo sobrenome e então seus olhos se encontraram.
— Senhor Chwe? — A ruiva se levantou estendendo a mão que estava livre.

Vernon segurou a mão dela com firmeza, mas, em vez de apenas apertá-la como esperado, levou-a até os lábios, roçando um beijo breve e cortês na pele macia. O gesto foi automático, um resquício de etiqueta herdado de tempos passados. No entanto, a eletricidade que percorreu seus dedos ao tocá-la não era algo que ele previra.
Do outro lado, a mulher piscou, levemente surpresa. Quando Vernon ergueu os olhos para encará-la, viu que havia um brilho de avaliação em sua expressão, como se ela estivesse estudando-o minuciosamente.
Ela não esperava aquilo. Nenhuma parte de sua mente havia cogitado que seu cliente daquela noite seria… jovem. E atraente. E bem-vestido. Estava acostumada a lidar com homens carrancudos, de meia-idade, barrigudos e de ternos desalinhados. Homens que queriam impressionar, mas que raramente impressionavam alguém.
Mas Hansol Vernon Chwe? Ele era um problema. Um que ela definitivamente não havia previsto.

🎩🎩🎩

— Está tudo certo para partirmos? — ele perguntou, recuperando-se rapidamente do momento de surpresa.

Ela assentiu com um pequeno sorriso profissional.

— Sim, senhor. Tudo conforme as instruções.

Vernon decidiu começar o teatro de imediato. Com um movimento elegante, ofereceu-lhe o braço.

— Ótimo. Então vamos, meu bem.

Ela piscou, ligeiramente surpresa com a naturalidade dele, mas aceitou o braço sem hesitar. O teatro havia começado, e agora não havia mais espaço para dúvidas.
Os dois caminharam lado a lado até a grande porta de vidro e sentiu o coração dar algumas piruetas com o calor que emanava do corpo dos dois tão inevitavelmente próximos. Os braços dele não eram absurdamente musculosos, mas eram definidos e marcavam o paletó, fazendo com que ela ficasse sem jeito de apertar a mão envolta do mesmo.
Quando saíram do hotel, uma brisa gelada os envolveu, e Vernon foi imediatamente atingido pelo cheiro doce e envolvente do perfume dela. Ele não conseguiu evitar fechar os olhos por um breve segundo, absorvendo aquela fragrância delicada e viciante.
também percebeu. Assim que o vento trouxe até ela o aroma amadeirado e sofisticado do perfume dele, algo dentro dela se contraiu. Não era um cheiro enjoativo ou forte demais. Era equilibrado, sutil, mas irresistivelmente masculino.
Ela não deveria notar essas coisas. Não deveria se deixar afetar. Mas, ao lado dele, sentindo o calor do corpo dele e o perfume que agora parecia envolvê-la, teve certeza de que aquele trabalho seria mais complicado do que imaginava.
Vernon abriu a porta do carro para ela, que cumprimentou o motorista com um aceno de cabeça antes de entrar e se ajeitar no banco de couro do elegante carro que ele havia usado para buscá-la. Alguns segundos depois, lá estava ele sentado ao lado dela, mas a uma distância confortável o suficiente para que eles se sentissem confortáveis.
Vernon olhou para ela que vislumbrava a paisagem pela janela fechada do carro. Pigarreando outra vez, ele chamou a atenção dela para si novamente:

— Como nós nos conhecemos mesmo? — ele coçou a nuca um pouco sem graça de ter se esquecido do que havia sido combinado com ela.

Ela sorriu sem mostrar os dentes e ajeitou o rabo de cavalo bem feito com as duas mãos. Ele não era tão diferente dos outros clientes. Eles sempre se esqueciam desses detalhes. Então, como sempre, ela improvisaria.

— Segundo o seu assistente, nos conhecemos em um evento beneficente da sua empresa, há seis meses. Você fez um discurso brilhante sobre impacto social, e eu, uma modesta empresária do ramo da moda sustentável, fiquei encantada com a sua visão. Depois de algumas trocas de e-mails e encontros casuais, começamos a sair oficialmente há três meses.

Ela fez uma pausa e ergueu uma sobrancelha para ele.

— Foi isso que ele te disse, certo?

Vernon soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.

— Ele definitivamente pensou em tudo.

apenas sorriu, mas por dentro já se preparava para o que estava por vir. O show apenas começara.

🎩🎩🎩




Vernon olhava a paisagem passando rapidamente pela janela do lado oposto enquanto voltava a se sentir ridículo por estar se prestando aquele papel apenas para conseguir continuar num cargo que lhe era seu por direito.
Engoliu seco pensando nos olhares que ele e a acompanhante a seu lado receberiam assim que adentrassem o salão do grande evento. A alta sociedade sempre fora um jogo de aparências, mas naquele momento, mais do que nunca, ele sentia-se sufocado pela hipocrisia daquele mundo.
Enquanto isso, repassava em sua cabeça o roteiro de basicamente sempre: sorrir, acenar, cumprimentar, elogiar as esposas dos outros velhos ricos, falar sobre o “namorado”, elogiar o desempenho dele como profissional e namorado, não comer muito, não rir muito, não fumar na frente de ninguém, não exagerar na bebida e blá blá blá.
Ainda bem que aquele seria o último contrato que ela teria antes de finalmente por seus lindos pezinhos em Paris. Ela não via a hora.

— Nervosa? — A voz grave de Vernon interrompeu seus pensamentos.

virou o rosto para ele e sorriu de leve, aquele sorriso treinado que sempre usava quando precisava parecer confiante e encantadora ao mesmo tempo.

— Nem um pouco — respondeu, ajeitando o rabo de cavalo com ambas as mãos. — Eu já fiz isso tantas vezes que poderia atuar no automático.

Vernon arqueou uma sobrancelha, surpreso com a franqueza dela.

— Que profissional — murmurou, inclinando levemente a cabeça enquanto a observava.

Ela deu uma risadinha baixa, sem humor.

— Você não faz ideia — respondeu, olhando pela janela do carro e vendo as luzes da cidade refletindo em seu próprio reflexo no vidro. — Mas e você? — perguntou, virando-se novamente para ele. — Preparado para encarar essa farsa?

Ele soltou um suspiro pesado e passou a mão pelo cabelo, um claro sinal de desconforto.

— Desde que eu me tornei CEO, tudo o que eu faço é encarar farsas — admitiu. — Uma a mais, uma a menos, acho que não faz tanta diferença.

o analisou por um instante. Ele era diferente de muitos dos seus clientes. A maioria via aquele tipo de contrato como uma solução conveniente e fria. Mas Vernon parecia… frustrado. Como se, no fundo, odiasse ter que recorrer a isso.

— Se te consola, posso garantir que vamos ser um casal perfeito — brincou, piscando um olho para ele.

Ele soltou um riso breve, balançando a cabeça.

— Vou cobrar essa promessa, senhorita .

O carro desacelerou ao se aproximar do luxuoso salão do evento. endireitou a postura, respirou fundo e olhou para Vernon, esperando que ele fizesse o mesmo. Ele, por sua vez, observou-a por um segundo a mais do que deveria, notando a segurança com que ela vestia aquele papel. Como se fosse parte dela.
A porta do carro se abriu, e, como esperado, flashes começaram a disparar. Vernon desceu primeiro e, num gesto quase instintivo, estendeu a mão para ajudá-la a sair. aceitou sem hesitar, encaixando sua mão na dele e sorrindo como se fossem um casal apaixonado.
Agora sim o jogo havia começado.

🎩🎩🎩


— Finalmente temos a senhora Chwe, senhor Vernon? — um dos fotógrafos perguntou alargando o sorriso, antes de desparar mais flashes na direção deles.
— Senhorita, no caso. — Vernon corrigiu.

Os dois caminharam um pouco e então pararam mais a frente, para que os fotógrafos tivessem como fotografá-los propriamente. Vernon sentia as mãos começarem a suar, então ele piscou lentamente, absorvendo a quantidade de flashes lhe chegando os olhos.
reparou que ele parecia um tanto quanto nervoso ao encarar os fotógrafos, então se posicionou ao lado dele, colocando uma de suas mãos nas costas dele e a outra em seu peito.
Ela desviou o olhar para Vernon, que mantinha a expressão fechada, provavelmente revivendo em sua mente os próprios motivos para estar ali. Homens como ele sempre achavam que estavam no controle de tudo, mas no final das contas, sempre precisavam dela para salvar suas reputações.

— Você está muito tenso — ela comentou, virando-se levemente para ele.

Vernon piscou algumas vezes antes de encará-la, como se só agora lembrasse de verdade que ela estava ali.

— Você não estaria? — Ele suspirou, afrouxando levemente a gravata. — Eu deveria estar focado na apresentação dos resultados do trimestre e na proposta de expansão da empresa. Mas, em vez disso, estou ensaiando um teatro ridículo para impressionar um bando de velhos ultrapassados.

sorriu de canto. Ela já ouvira variações desse desabafo inúmeras vezes.

— Pelo menos você tem a chance de continuar no comando do seu império. Já eu só estou aqui para segurar sua mão e sorrir para fotos.

Ele arqueou uma sobrancelha, analisando-a por um momento.

— Você fala como se isso fosse um fardo.
— Não é um fardo — ela deu de ombros. — É só que já estou cansada de ver os mesmos rostos e ouvir os mesmos discursos. Você é só mais um homem desesperado para parecer estável.
— E qual é a sua história, então? — Ele perguntou, finalmente a abraçando pela cintura — O que leva alguém a fazer esse tipo de trabalho?

desviou o olhar para os fotógrafos, sorriu abertamente para os mesmos como se fosse a mulher mais feliz do recinto.

— Dinheiro. — ela cochichou em seu ouvido.

Simples e direto. Mas Vernon percebeu que havia algo mais ali, algo que ela não pretendia compartilhar.
ajeitou um fio solto do cabelo e olhou para Vernon, agora com um sorriso discreto e ensaiado.

— Pronto para começar o show?

Ele respirou fundo e assentiu.

— Vamos lá.

Então, com um último ajuste na expressão, e um último aceno para os fotógrafos, ambos entraram no jogo.

🎩🎩🎩


Quando adentraram o salão foram recebidos por uma mulher elegante que conferiu se o nome de ambos estava na lista e então um outro homem os levou diretamente para onde estaria a mesa da diretoria da Vertex Holdings. Vernon sentia o coração começar a acelerar dentro do peito ainda mais, agora eles encarariam os tubarões de frente e ele precisava estar mais do que preparado.
Enquanto os dois andavam de mãos dadas até a mesa, Vernon olhou de relance para , que caminhava com a postura impecável de quem pertencia àquele ambiente desde sempre.
Ela mantinha o queixo levemente erguido, os ombros relaxados e os passos perfeitamente calculados, sem pressa, sem hesitação. O vestido que usava — elegante, mas discreto — deslizava suavemente a cada movimento, e os saltos altos tocavam o chão com uma precisão quase silenciosa.
Seu rosto exibia um leve sorriso, nem aberto demais para parecer forçado, nem contido demais para parecer indiferente. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. O jeito como lançava olhares sutis ao redor, como se absorvesse cada detalhe do ambiente, e como sua expressão transmitia segurança sem parecer arrogante, deixava claro que aquilo era apenas mais uma noite de trabalho para ela.
Por um momento, Vernon se perguntou quantos eventos como aquele já havia frequentado. Quantas vezes ela já havia entrado em salões luxuosos como aquele, segurando a mão de um homem que mal conhecia e vendendo a ilusão de um romance perfeito?
Mas o que o surpreendia não era o fato de que ela estava acostumada àquilo. O que o surpreendia era como ela fazia parecer real. Como, ao seu lado, ela não parecia uma acompanhante paga — parecia uma mulher que realmente pertencia à sua vida.
Quando o homem finalmente apontou para a direção exata da mesa da Vertex Holdings, Vernon involuntariamente apertou a mão de que estava grudada na sua. percebeu o gesto e então alargou o sorriso em direção à mesa, apertando a mão dele de volta, como se quisesse tranquilizá-lo. Vernon olhou mais uma vez para ela, que retribuiu o olhar e sussurrou:

— É só me apresentar como sua namorada, não é tão difícil assim senhor Chwe. E depois, é só dançar conforme a valsa, hum?

Vernon não soube exatamente o porque, mas ele confiou nas palavras dela como se sua vida dependesse daquilo—e de fato dependia. Ele assentiu para ela com firmeza e então eles terminaram de caminhar até a mesa da empresa.
Com passos firmes e decididos eles finalizaram o caminho e então alguns dos principais diretores e o sócio da empresa se levantaram instantaneamente, para cumprimentá-lo. Mas é claro que os olhos deles, e de suas esposas, passearam por cada centímetro de .
Aquilo não a afetou nenhum pouco, estava mais do que acostumada, especialmente porque sempre era a “namorada” ou “esposa” mais nova dos recintos que costumava acompanhar seus clientes. Os olhares de surpresa e de desaprovação faziam parte do trabalho e ela não ligava.
Já Vernon, permaneceu sério enquanto erguia uma das mãos para cumprimentar Kim Jinwoo, seu sócio e melhor amigo de seu falecido pai. Mas, diferente de , os olhares dos diretores e de suas esposas sobre ela o incomodaram profundamente.
Ele sentia cada olhar que percorria como se estivessem analisando um objeto de leilão, tentando decifrar de onde ela havia saído, como se fosse uma peça fora do lugar naquele jogo de aparências. Algumas das esposas trocavam olhares discretos, provavelmente questionando-se sobre o motivo de nunca terem ouvido falar da namorada de Vernon antes. Os diretores, por outro lado, observavam com curiosidade calculada — alguns pareciam surpresos, outros descrentes, e um ou dois demonstravam um claro ar de reprovação.
Vernon travou a mandíbula. Ele sabia que aquela seria a reação inicial, mas não esperava que o incômodo fosse tão visceral. Ele nunca se importara com a opinião daquelas pessoas sobre sua vida pessoal, então por que, agora, sentia-se tão irritado?
Talvez fosse porque não era uma qualquer. Ela não era só uma "moça bonita" ao seu lado. Ela exalava confiança, como se soubesse exatamente como se portar ali, sem um único sinal de hesitação. Vernon percebeu que, enquanto ele se incomodava com os olhares, nem sequer piscava. Mantinha a postura impecável e um sorriso discreto nos lábios, sem dar espaço para insegurança.
Kim Jinwoo, que sempre fora observador, ergueu uma sobrancelha, parecendo intrigado, mas logo estendeu a mão para .

— Senhorita... — Ele fez uma breve pausa, esperando que ela se apresentasse.
. . — Ela respondeu, apertando a mão dele com firmeza, mas com a mesma elegância que mantinha desde o momento em que entraram no salão.

Vernon percebeu um leve franzir de cenho em Jinwoo antes do homem soltar um pequeno sorriso educado.

— Um prazer conhecê-la, senhorita . Espero que Vernon tenha se comportado bem com você. — O tom de Jinwoo era brincalhão, mas Vernon sabia que havia um quê de provocação ali, como se testasse a veracidade daquele relacionamento.

não hesitou.

— Oh, ele é um cavalheiro. — Ela respondeu, apertando um pouco mais a mão de Vernon, como se quisesse tranquilizá-lo. — Mas confesso que é desafiador acompanhá-lo, com tantos compromissos e responsabilidades. Ele é completamente dedicado à Vertex.

As palavras foram ditas com tanta naturalidade que até Vernon quase acreditou. Ele sentiu um aperto diferente no peito — não de incômodo, mas de surpresa.

Ela era boa. Boa demais.

Mas isso não mudava o fato de que os olhares sobre ela ainda o irritavam. Ele queria que parassem de analisá-la daquela maneira.
Respirando fundo, Vernon soltou a mão de por um instante e deslizou o braço em volta da cintura dela de maneira possessiva, puxando-a levemente para mais perto de si.
Se estavam duvidando de sua relação, ele faria questão de convencê-los.
Vernon manteve o braço firme ao redor da cintura de enquanto varria os rostos dos presentes com um olhar frio e calculado. Ele sabia que cada um ali estava analisando sua escolha de acompanhante, mas, ao invés de se sentir acuado, decidiu tomar o controle da situação.

— Pessoal, esta é , minha namorada. — Sua voz saiu firme e sem hesitação, deixando claro que não admitiria questionamentos.

, por sua vez, abriu um sorriso charmoso e fez um leve aceno com a cabeça.

— É um prazer conhecê-los. Vernon me fala muito sobre vocês.

A frase foi escolhida estrategicamente. Ela sabia que, ao insinuar que Vernon compartilhava detalhes de seu trabalho e círculo social com ela, reforçava a ideia de que sua presença ao lado dele era algo natural, e não um improviso de última hora.
Kim Jinwoo foi o primeiro a reagir, soltando um riso breve enquanto tomava um gole de seu whisky.

— Espero que ele tenha falado bem. — O tom era descontraído, mas ainda carregava certa curiosidade.

Antes que pudesse responder, uma das esposas presentes — uma mulher alta e elegantemente vestida, com cabelo impecavelmente preso em um coque — se adiantou.

, querida, você trabalha com o quê?

A pergunta veio envolta em um sorriso cortês, mas Vernon percebeu a intenção por trás dela. Queriam saber se realmente "pertencia" àquele meio ou se era apenas uma acompanhante temporária.
não hesitou.

— Sou consultora de imagem. Trabalho com personal branding, especialmente para profissionais e executivos.

A resposta foi impecável. O suficiente para soar prestigiada, sem ser algo extravagante. Algo que combinava perfeitamente com o papel que ela estava desempenhando.
A mulher pareceu satisfeita e assentiu com um sorriso.

— Interessante. Imagino que o Vernon tenha sido um cliente difícil.

soltou um riso suave e lançou um olhar brincalhão para Vernon.

— Ah, ele tem um estilo muito próprio. Mas diria que estamos trabalhando nisso, não estamos, querido?

Vernon, ainda um pouco desconcertado com a naturalidade dela, se forçou a esboçar um sorriso contido e assentiu.

— Eu tento seguir as recomendações dela. — Ele disse, recebendo algumas risadas dos presentes.

A tensão inicial pareceu se dissipar levemente. As esposas começaram a interagir mais com , e os diretores voltaram a discutir entre si, satisfeitos com a apresentação.
Mas Vernon ainda sentia a irritação ressoando dentro de si. Não por — ela estava se saindo incrivelmente bem —, mas porque sabia que, independentemente do quão convincente fosse, aqueles olhares jamais a aceitariam por completo.
E, por algum motivo, ele odiava essa ideia.



O jantar havia sido servido, os brindes feitos, e o salão de eventos agora parecia pulsar em um ritmo próprio — entre risos forçados, discursos longos demais e as taças de cristal tilintando no ar.
sentava-se ao lado de Vernon, com um sorriso discreto nos lábios e a postura perfeita. Cada movimento dela era ensaiado, cada comentário bem colocado. Ela sabia onde pisava. Sabia o papel que precisava interpretar.
Mas Vernon… Vernon começava a esquecer que tudo aquilo era só encenação.
Ele a observava pelo canto do olho mais do que gostaria de admitir — a forma como ela segurava a taça de vinho, como virava levemente o rosto ao rir das piadas de Jinwoo, como parecia, de fato, pertencer àquele mundo que ele tanto lutava para dominar.

— Você está encarando — ela sussurrou de repente, sem sequer virar o rosto para ele.

Vernon desviou o olhar rapidamente, pigarreando enquanto tentava recuperar a compostura.

— Só estava... observando como você se adapta fácil demais.
— Profissionalismo — ela respondeu, levando a taça aos lábios. — É o que esperam de mim.

Ele não respondeu de imediato. A forma como ela falava, com tanta leveza, escondia algo mais profundo. Algo que ele ainda não sabia o que era.
E, por algum motivo, queria descobrir.
A música ao fundo mudou para algo mais lento, mais clássico, e alguns casais começaram a se levantar das mesas para dançar no centro do salão. Os olhares começaram a se voltar para Vernon, como se esperassem que ele, o jovem CEO da noite, também seguisse o protocolo social.
Vernon lançou um olhar discreto para , que mexia o vinho na taça, distraída.

— Acho que chegou a hora de dançar conforme a valsa, como você mesma disse — ele murmurou com um meio sorriso.

ergueu uma sobrancelha, brincando com ele em silêncio por um segundo antes de colocar a taça na mesa.

— Achei que nunca fosse pedir.

Ele estendeu a mão, e ela a aceitou com graça, como se tivessem feito aquilo a vida inteira. Os dois cruzaram o salão com passos firmes, e Vernon percebeu que vários olhos os seguiam — curiosos, invejosos, desconfiados.
Mas ele não ligava mais.
Quando pousou a mão no ombro dele e ele a envolveu pela cintura, o mundo pareceu diminuir de tamanho. Era só ela. Só os dois. Os corpos próximos demais, os olhares conectados por segundos a mais do que deveriam, os movimentos suaves e sincronizados.

— Você dança bem — ela comentou, olhando para ele com aquele brilho irônico nos olhos. — Mais um talento escondido?
— Um homem precisa saber se virar em eventos como esse — ele respondeu, com um sorriso quase sincero. — E você...

Ela ergueu o queixo levemente, desafiadora.

— Eu?
— Você me desconcerta — ele admitiu em voz baixa.

sentiu algo no estômago se revirar, mas escondeu com um sorriso curto.

— Esse é o meu trabalho, senhor Chwe.

A música terminou e, como se obedecessem a um roteiro silencioso, os dois se afastaram discretamente dos olhares atentos. Vernon murmurou algo sobre precisar de um pouco de ar fresco e desapareceu por uma das portas laterais.
Minutos depois, o encontrou no terraço externo do salão, onde a brisa da noite soprava mais fria do que ela esperava. Ele estava sozinho, com as mãos no bolso e um cigarro entre os lábios. O isqueiro acendeu e logo o brilho da brasa iluminou brevemente o rosto dele.
Ela cruzou os braços e se encostou ao lado dele na mureta de pedra.

— Isso também faz parte do personagem?

Vernon soltou a fumaça devagar, olhando para frente.

— Isso aqui é só... meu.

Ela estendeu a mão, pedindo o cigarro sem cerimônia. Ele a olhou de lado, surpreso, mas entregou.
deu uma tragada curta, devolvendo o cigarro em seguida, os dedos tocando os dele com mais intenção do que pretendia.

— Eu pensei que você fosse do tipo que segue todas as regras.
— E eu pensei que você fosse do tipo que não se deixa afetar.

Eles trocaram olhares longos, intensos. A tensão entre os dois já não era mais sutileza — era algo que pairava no ar, carregado, quase palpável.

— Eu já disse que você me desconcerta? — Vernon perguntou, com um meio sorriso.
— E eu já disse que você fala demais? — ela devolveu, mas o tom era suave, quase... íntimo.

O silêncio voltou, mas agora era confortável. E pela primeira vez naquela noite, nenhum dos dois estava interpretando.
Vernon puxou mais uma tragada e passou o cigarro de volta para , que o recebeu com naturalidade. Ela levou o filtro aos lábios e olhou para o céu escuro por um segundo, antes de soltar a fumaça lentamente.

— Paris, hein? — ele comentou de repente, sem olhá-la. — É pra lá que você vai quando tudo isso acabar?

Ela sorriu de canto, surpresa com o fato de ele ter lembrado.

— É. Paris. Arte. Liberdade. Um pequeno apartamento em Montmartre, talvez. Um pouco clichê, mas... é o meu clichê.
— Parece bem melhor do que um jantar com sócios conservadores.

Ela riu, dessa vez de verdade, a risada suave cortando o silêncio da noite.

— E você, Vernon Chwe? O que faria se não tivesse que... manter impérios, impressionar velhos ricos e fingir relacionamentos?

Ele pensou por alguns segundos, olhando fixamente para a brasa acesa na ponta do cigarro que ela segurava.

— Não sei. Talvez eu sumisse por um tempo. Iria para algum lugar sem gravatas, sem reuniões, sem ninguém me chamando de “filho do Sr. Chwe”.

Ela devolveu o cigarro e o encarou de lado.

— Você tem cara de quem ficaria entediado no segundo dia.
— Talvez — ele admitiu, tragando mais uma vez. — Ou talvez eu só precise... de um pouco de silêncio.
— O silêncio é mais barulhento do que parece — ela disse baixinho, como se falasse de experiência própria.

Os dois se calaram por um instante, dividindo o resto do cigarro até que só restasse o filtro amassado. Vernon o apagou no cinzeiro de pedra à frente e deixou a mão descansar ali, perto da dela.

— Sabe — ele começou, sem encará-la — você foi escolhida por conveniência, mas... eu acho que nenhum assistente meu teria conseguido prever isso aqui.
— Isso o quê?

Ele finalmente virou o rosto para ela, os olhos sérios, intensos.

— A sensação de que, por um segundo, isso aqui... não parece mentira.

o olhou, surpresa pela sinceridade na voz dele. Ela podia muito bem rir, fazer uma piada, desviar o assunto. Mas não fez.

— Talvez seja porque a gente parou de fingir — ela respondeu, num sussurro.

Por um momento, parecia que o tempo tinha desacelerado. Ali, longe dos olhares, dos brindes e das máscaras... eles eram apenas Vernon e .
E talvez fosse o bastante. Por enquanto.

🎩🎩🎩


Depois de alguns minutos em silêncio confortável, Vernon deu uma última olhada para o céu escuro e depois para .

— Devíamos voltar — ele disse, sem muita convicção.
— É… antes que a diretoria comece a pensar que a gente fugiu — ela respondeu com um meio sorriso.

Eles se olharam por um instante mais, como se hesitassem em encerrar aquele momento fora do tempo. Mas então ela se afastou devagar, ajeitando o vestido.

— Vou ao banheiro antes de voltar pro campo de batalha — brincou, lançando um olhar sobre o ombro.

Vernon hesitou por um segundo, mas decidiu acompanhá-la de volta ao salão. Quando se aproximaram do corredor lateral que levava ao banheiro feminino, ele parou, encostando-se discretamente à parede próxima à porta.

— Vai me esperar mesmo aqui fora? — perguntou, surpresa.
— Alguém precisa garantir que você volte — ele respondeu com um tom casual, mas o olhar entregava algo mais.

Ela riu baixinho, balançando a cabeça, e então entrou no banheiro.
Poucos segundos se passaram antes de uma figura elegante surgir no corredor: a esposa do diretor Min, uma mulher de aparência impecável, com um colar de pérolas que brilhava sob a luz dourada. Ela parou ao vê-lo ali, sozinha, encostado na parede.

— Senhor Chwe? Está perdido? — ela perguntou com um sorriso educado e uma pitada de provocação sutil nos olhos.

Vernon se endireitou um pouco e sacudiu a cabeça.

— Só estou esperando a . Ela foi ao banheiro.

A mulher arqueou uma sobrancelha, surpresa pela resposta sincera — talvez esperando uma desculpa genérica ou uma tentativa de parecer ocupado. Mas o fato dele estar ali, simplesmente esperando por alguém, pareceu desarmá-la.
Ela sorriu, quase com ternura.

— Isso é fofo. Raro, pra ser sincera.

Vernon deu de ombros, tentando manter a naturalidade.

— Eu me acostumei a valorizar o que me faz bem. E... ela tem sido surpreendentemente boa nisso.

A mulher o observou por um segundo mais, como se tentasse decifrar até que ponto aquilo era verdade, ou parte do teatro corporativo.

— Se for mesmo o que parece, segure firme. Às vezes, a melhor parte da vida acontece quando a gente está ocupado tentando impressionar os outros.

E com um aceno elegante, ela entrou no banheiro, deixando Vernon ali, com um sorriso quase involuntário nos lábios.
estava diante do espelho de mármore, retocando o batom com calma. Seus movimentos eram precisos, como tudo o que fazia naquela noite. Não havia pressa, nem hesitação. Era apenas mais um evento, mais um papel.
Mas, quando a porta do banheiro se abriu com um leve rangido, e a esposa de um dos diretores entrou com sua postura impecável e olhar calculado, soube que talvez aquele momento de respiro fosse interrompido.
A mulher se aproximou da pia ao lado, lavando as mãos devagar, em silêncio. O som da água correndo preenchia o ambiente elegante, com seus espelhos dourados e aroma suave de lavanda.
Depois de alguns segundos, ela falou — sem olhá-la diretamente, como se apenas compartilhasse um pensamento aleatório com o espelho.

— Ele está te esperando lá fora.

sorriu, mas continuou retocando a maquiagem, fingindo naturalidade.

— É um cavalheiro, não é?

A mulher fechou a torneira com um leve estalo, enxugando as mãos com uma toalha de linho branco. Depois virou-se para com um sorriso pequeno, mas afiado.


— Ele parece ser. Mas homens como ele... raramente sabem a diferença entre encenação e sentimento. Até que seja tarde demais.

finalmente a encarou, sem desviar.

— E mulheres como eu... sabem fingir tão bem que às vezes se esquecem que é mentira.

A outra mulher arqueou uma sobrancelha, intrigada.

— Então você admite que é mentira?

deu um meio sorriso, calmamente.

— Eu admito que nem sempre sei onde termina o papel e começa o resto.

A esposa do diretor a observou por mais alguns segundos, depois assentiu lentamente, como se reconhecesse algo ali — talvez uma versão mais jovem de si mesma, talvez apenas alguém igualmente cansada dos jogos sociais.

— Você é inteligente. E perigosa.
— Só quando preciso ser — respondeu, virando-se para guardar o batom na clutch.

A mulher caminhou até a porta, mas parou antes de sair.

— Eles vão testar você, . Todos eles. Mas se você for mesmo tão boa quanto parece… eles também vão te temer.

E então a mulher entrou em uma das cabines, deixando sozinha diante do espelho, o próprio reflexo mais estranho do que antes.
Ela respirou fundo, ajeitou os ombros e caminhou para fora com a mesma confiança de sempre.
Mas por dentro… alguma coisa tinha se mexido.
O som da descarga ecoou suavemente, e voltou a focar no espelho, ajustando um fio solto do cabelo. Ela já havia sentido a presença da mulher antes mesmo de vê-la. E quando a porta da cabine se abriu, ela virou devagar.
A esposa do diretor saiu com passos elegantes, mantendo a compostura como se aquele encontro fosse apenas mais uma coincidência social. Mas sabia ler expressões — e o brilho nos olhos da mulher dizia muito mais do que qualquer sorriso educado.
Sem rodeios, quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme:
O som do trinco da cabine girando e da descarga fez levantar os olhos do espelho. A esposa do diretor — a mesma mulher de postura firme e olhos sagazes — saiu calmamente, como se já esperasse encontrar ali à sua espera.
As duas se encaram em silêncio por alguns segundos, o ambiente levemente perfumado pela essência floral do banheiro parecendo suspenso no ar.
foi direta, sem rodeios. A tensão finalmente transbordando pela borda do controle que mantinha desde que cruzara aquela porta.

— O que você quer pra não contar a ninguém? — sua voz saiu firme, mas havia uma nota de urgência escondida ali. — Se você abrir a boca, acaba com meu contrato... e com a vida do Senhor Chwe.

A mulher a olhou por um instante, em silêncio. Depois, com calma surpreendente, caminhou até a pia, lavando as mãos novamente antes de responder. O som da água parecia ampliar o peso das palavras que estavam por vir.

— Nada — disse por fim, secando as mãos delicadamente. — Eu não vou contar pra ninguém.

franziu o cenho, desconfiada. Mas a mulher virou-se para ela com um olhar mais... humano. Mais próximo.

— Você e ele podem ficar tranquilos. — Ela cruzou os braços, encostando-se de leve à bancada de mármore. — Na verdade… vocês dois estão indo bem. Melhor do que a maioria dos casais reais que conheço, pra ser sincera.

permaneceu calada, mas sua postura começou a relaxar.
A mulher sorriu, dessa vez de forma quase cúmplice.

— O meu casamento com o diretor Min... também começou assim. Um acordo entre famílias. Pura conveniência. — Ela deu de ombros. — No começo, a gente mal se conhecia. Fingíamos bem em público, dormíamos em quartos separados, trocávamos palavras educadas durante os jantares. Mas, com o tempo... — ela fez uma pausa breve — fomos deixando de fingir. O costume virou cuidado. O cuidado virou afeto. E um dia, sem perceber, ele se tornou o homem que eu escolhi.

a observava com mais atenção agora. A mulher diante dela já não era apenas uma socialite elegante de meia-idade — era alguém que compreendia melhor do que ninguém o papel que estava desempenhando.

— Então você acredita nisso? — perguntou, num tom mais baixo. — Que o falso pode virar real?
— Acredito. — Ela respondeu com convicção. — Mas só se os dois pararem de fingir no tempo certo. Se demorar demais... vocês esquecem como se faz de verdade.
mordeu o canto do lábio inferior, refletindo. A mulher virou-se para sair, mas antes de abrir a porta, lançou um último olhar por cima do ombro:

— Só um conselho, querida: pare de tentar parecer invencível. Vulnerabilidade, às vezes, é o que convence de verdade.

E então saiu, deixando ali, encostada à pia, o batom perfeito ainda nos lábios... mas com o coração estranhamente bagunçado.
saiu do banheiro com a mesma postura elegante de sempre, mas Vernon, que ainda a esperava encostado à parede do corredor, percebeu algo sutil diferente em seus olhos. Um brilho contido. Um cansaço que não era físico.
Ele descruzou os braços ao vê-la se aproximar.

— Achei que tivesse fugido — ele disse com um sorriso leve, tentando parecer despreocupado. — Está tudo bem?

Ela parou diante dele e soltou um suspiro discreto, passando uma das mãos pela lateral do vestido como se estivesse se recompondo.

— Sim. Só... um pequeno papo entre mulheres.
— Alguém te incomodou? — ele perguntou, automaticamente mais sério, o corpo inclinando-se um pouco na direção dela, como se se preparasse para protegê-la de algo que nem sabia o que era.
— Nada com o que eu não saiba lidar — ela respondeu com um sorriso quase verdadeiro. — Mas obrigada pela preocupação, senhor Chwe.

Ele a observou por alguns segundos, como se procurasse a verdade por trás da resposta. desviou o olhar e ajeitou o brinco antes de falar, mais leve agora, como quem tenta afastar o peso do ar entre eles:

— Será que minha maquiagem ainda tá inteira?

Vernon franziu levemente as sobrancelhas, surpreso pela pergunta.

— Está perfeita. Por quê?
— Porque você me olhou como se eu tivesse voltado do banheiro com uma tatuagem no rosto.

Ele riu, balançando a cabeça, o clima entre eles suavizado de imediato.

— Desculpa. Foi só... distração.
— Acontece — ela respondeu, dando de ombros e arrumando o vestido com um gesto delicado. — Agora vamos voltar, antes que pensem que fugimos por vergonha da sobremesa.
— Ou que estamos fazendo algo mais interessante do que networking — ele rebateu, entrando no ritmo dela.
— Impossível. O ponto alto da noite é aquela mousse de maracujá suspeita.

Eles sorriram um para o outro, cúmplices daquele pequeno desvio da tensão, e então seguiram de volta ao salão — de mãos dadas, agora em silêncio, mas com uma leveza nova entre os passos.

🎩🎩🎩


Assim que voltaram ao salão, sentiu os olhos da esposa do diretor encontrarem os seus do outro lado do ambiente. Não foi um olhar invasivo nem desconfiado — pelo contrário, havia ali algo sutilmente solidário, quase cúmplice. Um meio sorriso discreto surgiu nos lábios da mulher, como se dissesse silenciosamente “você sabe o que está fazendo.”
sustentou o olhar por um instante e devolveu o sorriso, pequeno, mas genuíno.
Vernon percebeu, mesmo sem entender o motivo exato da troca. Ele inclinou-se ligeiramente em direção a ela, falando baixo, só para os dois.

— Vocês duas parecem ter feito amizade no banheiro.

mordeu um sorriso, mantendo os olhos à frente.

— Mulheres têm seus próprios canais de comunicação.
— Assustador — ele murmurou com humor, antes de dar uma rápida olhada para as mesas. — Está com fome?
Ela balançou a cabeça com leveza.

— Não muito, pra ser honesta.
— Ótimo — ele respondeu já começando a se afastar, com aquele tom tranquilo de quem não pedia permissão, apenas avisava. — Vou buscar um prato com alguma coisa. Duvido que você tenha comido desde que chegou ao hotel.

Ela abriu a boca para protestar, mas Vernon já caminhava em direção à mesa de buffet com as mangas do paletó ajustadas nos pulsos e aquele jeito decidido de quem achava que cuidar do outro era só mais uma extensão da responsabilidade.
o observou por alguns segundos, surpresa pela gentileza inesperada.
Talvez... aquele contrato fosse render mais do que esperava.



Enquanto Vernon se afastava em direção ao buffet, se permitiu relaxar por alguns segundos, observando as luzes douradas refletindo nos talheres, o som de risadas ecoando pelos cantos do salão e a música suave embalando a atmosfera.
Ela ajeitou a alça fina do vestido no ombro, recostando-se levemente na cadeira. Não era difícil atuar ali — na verdade, com Vernon, estava sendo surpreendentemente fácil. Ele não era arrogante ou desesperado para provar alguma coisa, como tantos outros. Ele apenas... era. E isso, de certa forma, facilitava o trabalho dela.
Pouco tempo depois, Vernon retornou equilibrando dois pequenos pratos, cada um com uma seleção cuidadosa de petiscos e pequenas porções.

— Peguei o básico — ele disse, colocando o prato dela à sua frente. — Coisas que não estragam sua maquiagem nem te deixam com cara de quem brigou com o prato.

riu, genuinamente surpresa pela consideração.

— Olha só, você pensa em tudo, senhor Chwe.

Ele deu de ombros, ajeitando-se ao lado dela novamente.

— Digamos que eu já vi desastres suficientes em jantares formais para aprender algumas lições.

pegou um pequeno canapé e girou o guardanapo entre os dedos, lançando-lhe um olhar de soslaio.

— E qual é a maior lição que você aprendeu nesses eventos?

Vernon pensou por um segundo antes de responder, a voz carregada de ironia leve:

— Que a melhor parte geralmente é a saída.

Ela riu de novo, dessa vez mais livre, enquanto levava a comida à boca.
Vernon se permitiu observá-la por alguns segundos, absorvendo a imagem de sorrindo sem esforço, conversando sem precisar medir cada palavra. Era como se, naquele momento, mesmo entre tubarões e aparências, houvesse um pequeno refúgio só deles.
E talvez, pela primeira vez naquela noite, ele começasse a entender por que aquela mulher — escolhida para ser apenas um papel em seu teatro corporativo — estava começando a fazer a realidade parecer muito mais interessante do que a peça.
Enquanto dividiam os petiscos, a conversa entre e Vernon fluía de maneira tão leve que, por alguns minutos, eles quase esqueceram onde estavam. Mas, é claro, a trégua não duraria muito.

— Vernon! — uma voz grave os chamou, forçando-os a levantar os olhos.

Era o diretor Lee, um dos membros mais antigos da Vertex Holdings, aproximando-se com passos firmes. Ao seu lado, vinha sua esposa, uma mulher elegante de traços firmes e olhar analítico, que rapidamente identificou como alguém difícil de impressionar.
Vernon se levantou de imediato, colocando o prato de lado e ajeitando o paletó. seguiu o movimento com naturalidade, alisando discretamente o vestido.

— Diretor Lee, senhora Lee — Vernon cumprimentou com um sorriso profissional.
— Estávamos curiosos para conhecer a jovem que conseguiu prender a atenção do nosso futuro titan corporativo — brincou o diretor, com um humor seco que poderia ser tanto um elogio quanto uma armadilha.

sorriu, inclinando ligeiramente a cabeça.

, é um prazer conhecê-los. Vernon fala com muito respeito sobre todos que fazem parte da história da Vertex.

A esposa de Lee ergueu as sobrancelhas, claramente surpresa pela resposta educada e astuta.

— E o que faz uma jovem tão encantadora? — ela perguntou, cruzando os braços, o olhar fixo em como quem procurava rachaduras numa parede recém-pintada.

não perdeu o ritmo.

— Sou consultora de imagem e branding pessoal — respondeu, com suavidade. — Trabalho para ajudar profissionais a projetarem o melhor de si mesmos — ela olhou de relance para Vernon, acrescentando com uma piscadela sutil — inclusive alguns relutantes, como o Vernon.

O diretor Lee soltou uma gargalhada, genuinamente divertido.

— Parece que ele finalmente encontrou alguém que o desafia.
— Ele é um excelente aluno — brincou, deixando no ar uma camada de charme que poderia ser interpretada como intimidade genuína.

Vernon apenas sorriu, discreto, impressionado com a maneira como ela manejava as palavras, como se tivesse nascido para isso.

— Fico feliz em ver que ele está em boas mãos — disse a senhora Lee, agora com um sorriso mais brando.

Depois de mais algumas palavras trocadas — e de mostrar-se atenciosa sem parecer bajuladora —, o casal se despediu, deixando-os novamente a sós.
Vernon soltou um suspiro discreto, relaxando o ombro.

— Você é uma profissional e tanto — ele murmurou, só para ela.
— E você é um aluno aplicado — respondeu, sorrindo de canto enquanto pegava outro canapé.

Ele a observou com um misto de admiração e algo mais difícil de nomear.
Se seguir fingindo continuasse sendo tão fácil assim, Vernon não sabia quanto tempo mais conseguiria lembrar que tudo aquilo — os olhares, os sorrisos, a sintonia — era só um papel.
Ou... se já havia deixado de ser.
Quando o casal Lee se afastou, a música ambiente mudou novamente — agora para uma melodia lenta, quase sonhadora.
As luzes do salão estavam mais suaves, e a maioria dos convidados começava a relaxar, as conversas ganhando um tom mais leve, menos formal. Algumas poucas duplas ainda se arriscavam na pista de dança improvisada no centro do salão.
Vernon desviou o olhar por um instante, observando a cena, e então se virou para .

— Quer dançar de novo? — perguntou, a voz baixa e um pouco hesitante, como se dessa vez o convite tivesse um significado diferente.

Ela arqueou uma sobrancelha, fingindo ponderar enquanto terminava de limpar a ponta dos dedos com o guardanapo.

— Humm... depende. — Ela sorriu, brincalhona. — Você promete não pisar no meu vestido?

Vernon soltou uma risada abafada, estendendo a mão para ela com a mesma formalidade de antes — mas com algo mais quente escondido no gesto.

— Prometo tentar.

aceitou a mão dele, e novamente se deixaram guiar até o centro da pista. Mas, dessa vez, o clima era diferente.
Quando Vernon a puxou para mais perto, sua mão pousou com mais firmeza na cintura dela, e a outra segurou a dela com mais segurança. , por sua vez, repousou a mão no ombro dele com um toque que parecia mais íntimo do que deveria.
Eles começaram a se mover lentamente, no ritmo da música. Nenhum dos dois falou de imediato. Não precisavam. Havia algo confortável no silêncio compartilhado, como se o mundo ao redor tivesse diminuído de importância.
sentia o calor do corpo dele, o perfume amadeirado que já começava a associar a conforto — e a perigo.
Vernon, por outro lado, estava consciente de cada pequeno movimento dela: da respiração suave contra seu peito, da maneira como seus dedos se moviam distraidamente sobre o tecido de seu paletó, da leve pressão dos corpos em sintonia.
Ele inclinou-se discretamente para falar junto à orelha dela:

— Você faz isso parecer... fácil.

sorriu, sem afastar o rosto.

— Fazer o quê?
— Fingir que isso aqui é real.

Ela fechou os olhos por um breve momento antes de responder, num sussurro:

— Talvez porque uma parte disso já seja.

Vernon ficou imóvel por um segundo, a respiração suspendendo-se em seu peito. Ele sabia que deveria rir, fazer uma piada, manter o acordo seguro. Mas naquele instante, entre passos lentos e olhares que diziam mais do que deviam, ele simplesmente escolheu continuar dançando.
E — que sabia tão bem quando era hora de fingir — escolheu, só por aquele momento, apenas sentir.
A música terminou com um último acorde suave, e, relutantemente, os dois se afastaram um pouco, ainda com as mãos entrelaçadas por um instante a mais do que o necessário.
Quando finalmente soltaram as mãos, Vernon baixou o olhar para com uma expressão difícil de disfarçar — algo entre admiração, confusão e uma vontade quase visível de prolongar aquele momento.
Mas a realidade voltou a se impor. O salão começava a esvaziar, os convidados se despedindo entre sorrisos e abraços formais. O evento chegava ao fim.
Vernon pigarreou, ajeitando a lapela do paletó de forma distraída.

— Acho que cumprimos bem o papel hoje — ele disse, num tom neutro, quase como se precisasse reafirmar que tudo aquilo ainda fazia parte do plano.

sorriu, um sorriso pequeno, cheio de algo que ela não disse.

— É... foi um bom espetáculo.

Sem pressa, os dois caminharam juntos para fora do salão. As grandes portas de vidro se abriram silenciosamente diante deles, deixando entrar o ar fresco da noite de Los Angeles.
O motorista já os aguardava próximo ao carro preto brilhante, parado no meio-fio sob as luzes amareladas dos postes.
Vernon, sempre o cavalheiro, abriu a porta para , que entrou no carro com movimentos graciosos. Ele deu a volta e se acomodou ao lado dela no banco traseiro, sentindo a quietude confortável que se instalou entre eles.
O carro arrancou devagar, deslizando pelas ruas vazias da cidade.
Por alguns minutos, nenhum dos dois falou. Era um silêncio estranho — não desconfortável, mas carregado de tudo o que ficou no ar durante aquela dança.
olhou pela janela, assistindo às luzes da cidade passarem como borrões dourados. Vernon, por sua vez, manteve os olhos nela mais do que na estrada à frente.
Parecia impossível não notar como a luz branda refletia nos cabelos dela, ou como seu perfil parecia ainda mais suave sob a penumbra da noite.
Sem conseguir evitar, ele quebrou o silêncio com a voz rouca:

— Obrigado por hoje.

Ela virou-se para ele, os olhos brilhando à meia-luz.

— Foi só o começo, senhor Chwe. — disse com um sorriso de canto. — Ainda temos uma temporada inteira dessa peça para encenar.

Ele sorriu também, mas havia algo diferente naquele sorriso agora. Algo que nem ele, nem ela, estavam prontos para admitir ainda.
O carro seguiu pela noite, levando-os para longe do salão... e mais fundo em um jogo que, cada vez mais, parecia prestes a ultrapassar qualquer linha de atuação.

🎩🎩🎩


O carro deslizou suavemente até parar em frente ao hotel elegante onde estava hospedada. Vernon desceu primeiro, dando a volta para abrir a porta para ela, o gesto natural e cortês como tudo que ele fazia sem precisar pensar.
ajeitou a saia do vestido enquanto descia do carro, sentindo o frescor da madrugada tocar sua pele. Ela olhou rapidamente para o imponente prédio à sua frente, depois voltou os olhos para Vernon, que ainda a observava, meio sem saber se era hora de dizer boa noite... ou algo mais.
Eles ficaram ali, no meio-fio, a alguns passos de distância um do outro, as luzes amareladas da rua lançando sombras suaves ao redor.
Ela segurou a clutch com ambas as mãos à frente do corpo, hesitando por um segundo antes de falar, num tom casual, mas carregado de um convite silencioso:

— Se quiser... pode subir. Tomar um café. — ergueu os ombros num gesto leve. — Ainda é cedo.

Vernon piscou, surpreso pela oferta, e, por um instante, ela quase pôde ver o conflito silencioso passando por seus olhos. Mas, no fim, ele apenas sorriu — um sorriso pequeno, genuíno, sem o peso dos papéis que haviam desempenhado durante toda a noite.

— Eu adoraria.

Sem mais palavras, os dois seguiram para dentro do hotel, atravessando o lobby silencioso com passos sincronizados. A atmosfera ali dentro era diferente — menos carregada, mais íntima, como se a noite tivesse encolhido até caber apenas nos dois.
No elevador, ficaram lado a lado, próximos o suficiente para que os ombros quase se tocassem a cada leve balanço do movimento. Nenhum deles falou, mas o silêncio estava longe de ser desconfortável. Era denso, cheio de tudo aquilo que ainda não haviam dito — e talvez nem precisassem dizer.
Quando chegaram ao andar de , ela guiou Vernon até a porta do quarto.
Com um leve tremor de expectativa nas mãos, deslizou o cartão magnético e abriu a porta, permitindo que ele entrasse primeiro.
Vernon cruzou a soleira sem pressa, e ela o seguiu, fechando a porta atrás deles com um leve clique.
Ali, no quarto amplo e elegantemente decorado, o mundo exterior parecia ainda mais distante. E, pela primeira vez naquela noite, eles estavam verdadeiramente sozinhos.
largou a clutch sobre uma poltrona próxima e caminhou até o pequeno aparador onde ficava a cafeteira do quarto. Vernon permaneceu de pé por um momento, observando o ambiente — moderno, confortável, mas ainda assim impessoal como todo bom hotel de luxo.
Ela mexia nas cápsulas de café como se fosse a coisa mais simples do mundo, tentando agir com a mesma leveza que havia mantido a noite toda. Mas agora, com Vernon tão perto, no silêncio morno do quarto, tudo parecia diferente.

— Forte ou suave? — ela perguntou por cima do ombro, sem encará-lo.
— Forte — ele respondeu de imediato, a voz mais rouca do que pretendia.

sorriu sozinha enquanto encaixava a cápsula na máquina e acionava o botão. O aroma do café fresco começou a preencher o ambiente, quente e reconfortante.

— Deveria ter imaginado — ela comentou, pegando duas xícaras brancas e colocando uma ao lado da outra.

Vernon aproximou-se devagar, parando ao lado dela. Por um instante, seus braços se roçaram de leve — um toque breve, mas suficiente para arrepiar a pele dos dois.
Ela lhe estendeu uma das xícaras, os dedos roçando nos dele quando ele a pegou.

— Obrigado — Vernon murmurou, segurando a xícara com uma mão, mas sem afastar o corpo do dela.

Por alguns segundos, ficaram lado a lado, bebendo o café em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro. A luz suave do abajur criava sombras douradas na pele dela, e Vernon sentia seu autocontrole escorregando pouco a pouco.

— Você parece mais... real aqui — ele disse, de repente, a voz baixa, como se confessasse um segredo que nem sabia que estava guardando.

virou o rosto para ele, os olhos brilhando de curiosidade.

— E você parece menos CEO — ela devolveu com um sorriso de canto.

Eles riram baixo juntos, e a distância entre eles, que já era pequena, pareceu ainda menor.
Por um instante, esqueceu de fingir. Vernon esqueceu das convenções. Só havia o cheiro de café, a noite lá fora, e a forma como os olhos dela pareciam puxá-lo para mais perto.
O silêncio se esticou de novo, carregado de algo quase palpável.
Ele levantou a mão, quase sem perceber, e afastou uma mecha solta do cabelo dela, os dedos roçando a pele macia de sua bochecha. fechou os olhos por um breve segundo ao sentir o toque, permitindo-se apenas... sentir.
Quando abriu os olhos novamente, eles estavam tão próximos que bastaria um leve movimento para que seus lábios se encontrassem.
Mas ela sorriu, baixando o olhar, quebrando a tensão com suavidade.

— O café vai esfriar — ela disse, quase num sussurro, segurando a própria xícara com as duas mãos, como se precisasse se ancorar nela.

Vernon soltou um riso leve, sem afastar-se muito.

— A gente pode fazer outro.

ergueu o olhar para ele, brincando:

— Você só quer outro café para ter mais uma desculpa pra ficar.
— Talvez — ele respondeu, sem se esforçar para negar.

E pela primeira vez naquela noite, ambos aceitaram em silêncio que, naquele quarto de hotel, o que estava nascendo entre eles já escapava de qualquer roteiro.

🎩🎩🎩


Depois de mais alguns goles de café e conversas dispersas — sobre viagens, sobre lugares que gostariam de conhecer, sobre trivialidades que pareciam muito mais íntimas do que deveriam —, a noite foi começando a pesar suavemente sobre os ombros dos dois.
deixou a xícara vazia sobre o aparador e espreguiçou-se de leve, como quem dava ao corpo a permissão para relaxar pela primeira vez em horas. Vernon observou o movimento, sentindo uma vontade silenciosa de ficar mais um pouco... mas sabendo que deveria ir.
Ele se levantou do sofá, ajeitando o paletó com um gesto automático.

— Acho que já invadi demais sua noite — disse com um sorriso discreto, o olhar demorando-se mais tempo do que deveria no rosto dela.

sorriu também, caminhando com ele até a porta.

— Foi uma boa invasão — ela respondeu, cruzando os braços de forma descontraída, encostada no batente da porta.

Eles pararam ali, diante da porta ainda fechada, num daqueles momentos em que qualquer movimento, qualquer palavra mal colocada poderia mudar tudo.
Por um instante, Vernon pensou em dizer algo — convidá-la para sair de verdade, perguntar sobre Paris, falar sobre o que sentira enquanto dançavam. Mas ele apenas estendeu a mão, a mesma mão que segurara a dela tantas vezes naquela noite, agora oferecendo um toque mais contido, mais consciente.
aceitou, seus dedos se entrelaçando brevemente aos dele em um aperto suave.

— Boa noite, — ele disse, a voz mais baixa, como se temesse quebrar o que havia entre eles.
— Boa noite, Vernon Chwe — ela respondeu, o nome dele deslizando de seus lábios com uma leveza perigosa.

Ele hesitou mais um segundo — o suficiente para que ela visse o conflito em seus olhos —, depois soltou sua mão com delicadeza e abriu a porta.
O corredor do hotel estava silencioso, iluminado apenas pelas luzes suaves do teto. Vernon lançou um último olhar para ela antes de sair.
E , sozinha agora, encostou a testa na porta fechada por um breve momento, permitindo-se sorrir de forma pequena, quase triste.
Por mais que dissesse para si mesma que aquilo era apenas trabalho... algo naquela despedida parecia ter deixado uma marca que nem mesmo Paris seria capaz de apagar tão facilmente.

🎩🎩🎩


O dia seguinte amanheceu claro e agitado em Los Angeles. passou a manhã cumprindo sua rotina discreta no hotel — um café da manhã rápido, algumas mensagens trocadas com a amiga sobre os próximos passos do plano para Paris, e então, preparando-se para o segundo compromisso que o assistente de Vernon havia mencionado ainda na primeira reunião de orientações: um almoço formal com novos investidores da Vertex Holdings.
Era uma reunião menor, mais reservada, mas igualmente importante para a imagem que Vernon precisava passar: estabilidade, maturidade... e agora, comprometimento emocional.
O motorista da noite anterior apareceu pontualmente para buscá-la. ajeitou o vestido elegante — desta vez, algo um pouco mais leve e menos formal do que o da festa — e desceu até o lobby com passos firmes.
Assim que atravessou as portas giratórias do hotel, encontrou Vernon já encostado na lateral do carro, esperando por ela.
Ele não estava de paletó dessa vez. Usava apenas a camisa social impecavelmente branca, as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes e a pulseira discreta de relógio.
Parecia menos CEO e mais... Vernon.
Quando a viu, seus olhos percorreram de cima a baixo, de maneira rápida mas perceptível, antes de abrir um meio sorriso que parecia menos ensaiado do que o da noite anterior.

— Achei que já estivesse deslumbrante ontem — ele comentou casualmente —, mas pelo visto você está se superando.

riu suavemente, aproximando-se.

— Eu disse que trabalho com imagem, não disse? Seria um péssimo cartão de visitas chegar desleixada.
— Você é o melhor cartão de visitas que alguém poderia ter — ele respondeu, sem pensar, e por um segundo, ambos ficaram imóveis, o peso das palavras pendendo entre eles.

Para aliviar a tensão, ela tomou a frente e entrou no carro, sorrindo de maneira leve.
Vernon deu a volta e sentou-se ao lado dela, o motorista logo arrancando em direção ao restaurante onde o almoço seria realizado.
Dessa vez, o silêncio dentro do carro não era desconfortável. Era cheio de pequenas coisas não ditas, de uma tensão tênue, mas familiar.
Antes de chegarem, ajeitou os cabelos no reflexo da janela e perguntou, lançando-lhe um olhar rápido:

— Alguma instrução especial para hoje, chefe?

Vernon cruzou as pernas e virou-se para ela, sério, mas com um brilho brincalhão nos olhos:

— Só uma: fique perto. Muito perto.

Ela arqueou uma sobrancelha, divertida, mas assentiu sem comentários.
Talvez nem ela soubesse, mas Vernon estava sendo mais sincero do que parecia.
Porque naquele momento, ao contrário do que era previsto no contrato, a companhia dela começava a parecer cada vez menos parte de uma estratégia. E cada vez mais... necessária.

🎩🎩🎩


O restaurante escolhido para o almoço era discreto, sofisticado na medida certa para impressionar investidores sem parecer pretensioso demais. As mesas eram dispostas longe umas das outras, preservando a privacidade, e o salão era iluminado pela luz natural que entrava pelas enormes janelas de vidro.
Vernon conduziu com naturalidade até a mesa onde três investidores já os aguardavam.
Ele a apresentou como “minha namorada, ” com a mesma segurança com que apresentaria um novo projeto de expansão da empresa. E , como já era esperado, deslizou naquele ambiente com graça e inteligência, sorrindo nos momentos certos, comentando com discrição e sem jamais roubar a cena — mas ainda assim deixando sua marca sutil em cada um dos presentes.
Durante a sobremesa, um dos investidores — um homem de cabelos grisalhos e olhar curioso — inclinou-se levemente para frente, sorrindo:

— E há quanto tempo estão juntos?

, rápida, segurou a mão de Vernon sobre a mesa de maneira quase natural, como se já estivesse acostumada a isso.

— Vai fazer seis meses — ela respondeu com leveza. — Mas parece que nos conhecemos há bem mais tempo.

Vernon sorriu também, apertando de leve os dedos dela, como quem confirma a história.
A resposta satisfez o investidor, que apenas assentiu antes de mudar de assunto. Mas sentiu o olhar de Vernon em si por mais tempo do que o necessário depois disso.
Como se, por um momento, ele tivesse esquecido que estavam apenas representando.
O almoço terminou pouco depois, com despedidas formais e promessas de novos encontros de negócios. Quando o último aperto de mão foi dado e os dois saíram do restaurante, o sol da tarde os envolveu em uma luz quente e dourada.
Vernon soltou um suspiro de alívio, afrouxando um pouco a gravata enquanto caminhavam até o carro.
Mas, em vez de abrir a porta de imediato, ele se virou para .

— Ainda é cedo — disse, passando a mão pelos cabelos de forma despreocupada. — Quer dar uma volta? Conheço um parque aqui perto... — ele sorriu — prometo que não tem investidores escondidos atrás das árvores.

deu uma risada leve, aliviada pela espontaneidade dele.

— Parque parece perfeito.

Sem pensar duas vezes, Vernon abriu a porta do carro para ela novamente e logo os dois estavam a caminho.

🎩🎩🎩


O parque era tranquilo, amplo, com caminhos de pedras cercados por árvores robustas e bancos de madeira rústica. Havia famílias passeando, crianças correndo, alguns casais sentados na grama. Um pequeno refúgio no meio da cidade.
Vernon e caminharam lado a lado por alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o som dos pássaros e o farfalhar leve das folhas.
Em determinado momento, Vernon parou perto de uma pequena clareira, onde o sol filtrava-se pelas árvores, desenhando sombras delicadas no chão.
Ele se virou para ela, as mãos nos bolsos da calça social, o olhar agora desprotegido, sem o peso das obrigações.

— Você foi incrível hoje — disse, a voz mais baixa. — De verdade.

sorriu, tímida pela primeira vez em muito tempo.

— Eu só... fiz meu trabalho.
— Não. — Vernon deu um passo mais perto, e ela sentiu o coração acelerar. — Você foi você. E isso foi o que mudou tudo.

O vento suave bagunçou levemente os cabelos dela, e antes que pudesse pensar em qualquer resposta inteligente, Vernon já havia reduzido ainda mais a distância entre eles.
Houve um breve segundo em que ela poderia ter se afastado. Poderia ter dito algo espirituoso, mudado o rumo da conversa.
Mas não disse.
Vernon ergueu a mão devagar, como quem dava espaço para ela recuar se quisesse, e tocou o rosto dela com a ponta dos dedos. fechou os olhos por um instante, inclinando-se instintivamente para o toque.
E então, com a naturalidade de algo que já vinha sendo construído em silêncio desde a primeira dança, Vernon inclinou-se e a beijou.
Foi um beijo lento, exploratório, como quem descobria algo precioso e não queria apressar o momento. As mãos dele deslizaram para a cintura dela, enquanto levou as mãos para o peito dele, sentindo o batimento acelerado sob seus dedos.
No início, seus lábios apenas roçaram os dela, num toque tão leve que mais parecia uma pergunta silenciosa. Um convite.
O beijo se aprofundou devagar, sem pressa, como se ambos estivessem descobrindo algo precioso demais para ser tratado com descuido. Vernon deslizou uma das mãos para a cintura dela, puxando-a suavemente para mais perto, enquanto a outra subia até a curva do pescoço de , onde seus dedos roçaram a pele com um carinho quase reverente.
, por sua vez, levou as mãos ao peito dele, sentindo o batimento firme e acelerado sob a palma dos dedos. Era estranho — e bonito — perceber que Vernon, sempre tão controlado e seguro, agora tremia levemente contra ela.
Os lábios dele moldaram-se aos dela em movimentos lentos, profundos, quase tímidos a princípio, como se ainda testassem os limites daquele momento. Mas à medida que a respiração de ambos se tornava mais pesada e os corpos mais próximos, o beijo ganhou mais certeza, mais entrega.
entreabriu os lábios, e Vernon aproveitou a brecha com suavidade, aprofundando ainda mais o beijo. As línguas se tocaram num deslizar quente e lento, e um leve suspiro escapou da garganta dela — um som que Vernon absorveu como se fosse a coisa mais bonita que já ouvira.
Ele inclinou a cabeça para ajustar melhor o encaixe entre eles, intensificando o contato, saboreando cada segundo, cada pequena resposta dela.
Quando deslizou os dedos para a nuca dele, puxando-o levemente para si, Vernon gemeu baixo contra sua boca — um som grave e rouco, carregado de uma emoção que ele mal conseguia controlar.
Por um instante, parecia que nada existia além daquele toque, daquele calor, daquela conexão que quebrava todas as barreiras cuidadosamente erguidas até então.
Quando finalmente se separaram, o fizeram com relutância, as testas encostadas, as respirações entrecortadas misturando-se no ar fresco da tarde.
manteve os olhos fechados por um momento, como se tentasse guardar para sempre a sensação dos lábios dele nos seus. Vernon, com a mão ainda repousada no pescoço dela, acariciava de leve a pele sensível ali, como se tivesse medo de quebrar a magia do que acabara de acontecer.
Ela abriu os olhos devagar, um sorriso tímido surgindo nos lábios ainda inchados pelo beijo.

— Acho que acabamos de sair do roteiro — sussurrou, a voz rouca pelo desejo contido.

Vernon sorriu também, encostando novamente a testa na dela.

— Ainda bem — respondeu num sussurro, antes de, com a ponta do nariz, roçar o dela num gesto de pura ternura.

Ali, no meio do parque, sob o sol dourado da tarde, os papeis de "contratante" e "contratada" haviam desaparecido.
Restavam apenas Vernon e , dois corações batendo fora do compasso previsto.
E, naquele instante, era tudo o que importava.


Continua...


Qual o seu personagem favorito?


Nota da autora: O Seventeen tem treze homens gente, então tá aí mais uma fanfic com um deles!
*Lembrando que essa ideia faz parte do Adote uma Ideia e foi doada por Samilla Way*



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