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Última Atualização: 28/02/25

O conceito de ciclos era algo fascinante para Alex. Circuitos de cavalos. Anéis poderosos na posse de Hobbits. Jogos de videogame.
Mas aquele ciclo específico ele estava cansado de viver. O de se apaixonar, conquistar a garota, só para perdê-la para seu irmão mais velho.
Passou os dois primeiros meses do verão envolvido pelo acampamento de treinamento de circuitos de Montana (e pensar que tinha considerado não ir por causa de Jackie), mas depois teve que voltar para casa e enfrentar os seus problemas.
Ou deveria, porque ficava trancado no quarto, mergulhando em mundo ficcional atrás do outro, tentando apenas fugir do seu. Tentando fugir das imagens de Jackie na cama de Cole.
O que realmente mudou tudo foi a notícia que recebeu, já no início de agosto.
— Vamos receber uma intercambista aqui em casa pelo próximo ano — Katherine anunciou, com seu tom típico de animação para notícias que não deveriam ser tão animadoras.
Com oito filhos em casa, já poderia esperar a reação que aquela notícia traria.
— Mãe, qual é!
— Você não pode aceitar isso sem consultar a gente!
— Nem temos mais espaço na casa!
— O banheiro tá superlotado!
— Como vamos alimentar outra boca se estamos falindo?
A pergunta de Nathan fez todos ficarem quietos. A situação atual ainda era dolorosa para eles, e não podiam fazer nada enquanto não recebessem a resposta de Richard, tio de Jackie, sobre a proposta de Will.
— Bom, Nathan, é uma pergunta válida, mas não se preocupem — a mãe deles comentou. — Esse é um dos motivos para estarmos participando do projeto. Por uma nova proposta do governo, as famílias que receberem esses alunos intercambistas serão recompensadas financeiramente.
O burburinho recomeçou, agora a discussão em cima se o dinheiro valia a pena ou não.
— E onde ela ficaria? — Isaac perguntou, com sua cara de deboche.
— No meu ateliê — a mãe respondeu.
Um silêncio mais desconfortável ainda começou dessa vez.
— Mas e a Jackie? — Foi Parker que fez a pergunta que rondava a sala, mas ninguém tinha coragem de trazer.
Alex se preparou para os olhares dos irmãos. Ele se esforçou ao máximo para não erguer os olhos para Cole, ele dirigiria muita raiva que queria muito não despejar no irmão. Não precisavam de outra briga, embora Cole merecesse.
— Jackie decidiu voltar para Nova York com o tio dela — o pai deles respondeu, com a voz mais delicada possível. — Temos que respeitar a escolha dela. E vai ser bom ter outra menina em casa, não?
Parker não respondeu. Katherine pigarreou, sorrindo e fingindo que aquele clima ruim não estava estragando o café da manhã.
— Então está decidido. chega em duas semanas.
— Duas semanas?!
?!
— Como assim tá decidido?!
— Ela pareceu ótima na nossa videochamada, muito ansiosa para vir estudar aqui. Ela está vindo do Brasil, vai ser muito interessante para vocês.
— Mas, mãe…
— Que bom que todos concordamos! Estou indo para o consultório. — Katherine pegou as chaves e sorriu para todos. — Vamos ter um ótimo ano.
Os garotos começaram a reclamar de novo, pensando em mil maneiras de sabotar a chegada da nova garota. Benny sugeriu colocar o seu boneco muito parecido com o Chucky no quarto da garota. Isaac e Lee já estavam planejando como levar a mala dela para o rio. Eles não queriam ninguém novo lá, nunca mais.
Porém, mesmo tentando explicar isso para os pais, exatamente duas semanas depois, o carro de George estava lotado com três malas gigantescas que os garotos tiveram que carregar, além de uma menina adolescente, que ninguém queria conhecer.
Por isso mesmo, Katherine obrigou todos a se reunirem na cozinha, tendo aprendido com a experiência de Jackie que era mais organizado e educado dessa forma. Não conseguiu evitar a câmera de Jordan, mas ao menos não teria crianças esbarrando na menina.
, seja bem-vinda à nossa casa! — Katherine começou, abraçando o ombro da garota e a incentivando a ir para frente, para o olhar nada amigável dos meninos. — Nós desejamos que esse período seja incrível para você e que você se sinta em casa. Essa é toda a nossa família, parece grande, mas…
— No dia a dia sempre parece pior — George acrescentou, fazendo Katherine rir.
A menina abriu um sorriso fofo.
— Acho que consigo reconhecer todos das fotos. Parker, Benny… — ela começou a apontar conforme falava —, Nathan, Jordan, Lee, Isaac, Cole e Alex. — Ela olhou nos olhos do último garoto. — Acho que só não vejo Will e Danny, que moram fora de casa, né?
— Uau, que memória! — Katherine riu.
— Só agora. No geral, ela é bem ruim.
— Tomara que esqueça o caminho de volta — Lee sussurrou.
O olhar gélido da mãe foi certeiro. congelou e encarou o garoto, as sobrancelhas erguidas. Mas Nathan, educado como sempre, contornou o comentário maldoso.
— É um prazer te conhecer, .
— É um prazer também. E pode me chamar de .
— Você fala espanhol que nem Isaac e Lee? — Benny perguntou.
— Na verdade, eu falo português.
— É a mesma coisa — Cole disse, mal humorado.
— Não é não — respondeu, ao mesmo tempo que os meninos.
— Diz alguma coisa pra gente em português — Parker pediu.
— Hmm… — ficou pensativa, encarando a menininha. — Estadunidense é burro.
— Que lindo!
— Que esquisito — Parker falou, ao mesmo tempo que o elogio de sua mãe. — O que significa?
— Significa que eu estou feliz de estar aqui com vocês.
— Não significa, não — Isaac falou.
— Você fala português? — ela perguntou, com um tom inocente.
— Não, mas…
— Então você não pode ter certeza, né?
Ela sorriu de forma levemente debochada, antes que Albert entrasse na cozinha, balançando o rabo perigosamente perto dos vasos, numa posição que os meninos conheciam bem.
— Albert, não! — Katherine disse, tentando evitar que o cachorro pulasse.
Mas deu um gritinho, ficando de joelhos imediatamente e abraçando o animal.
— Meu Deus, você é tão pitico! — ela disse a última palavra em português, deixando todos confusos.
Ela deixou o cachorro lamber a cara dela e começou a rir. E então, como que por acaso, olhou para Alex, com um sorriso genuinamente feliz no rosto.
Alex não gostou disso. Alex não gostou nem um pouco disso.
Não gostou de como a garota era bonita, com seus cabelos cacheados, a pele marrom, os olhos gentis por trás dos óculos e um sorriso feliz, mas também afiado. Não gostou de como ela parecia uma pessoa muito legal. Não gostou nem um pouco da forma adorável que ela falava com seu cachorro. Não gostou de como seu corpo reagiu ao sorriso que ela lhe deu.
Porque tudo aquilo parecia um ciclo prestes a recomeçar.

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Alex estava mergulhado no mundo ficcional da semana, Duna, quando alguém bateu na sua porta. Ele levou um susto, o choque ao despertar de uma leitura tão envolvente que se esqueceu sobre o redor. Ele fechou o livro e pigarreou.
— Entra.
Uma mão delicada abriu a porta, e o rosto bonito de apareceu. Já estava ali há uma semana, mas ele estava conseguindo se manter distante da garota. Até ela entrar no seu quarto.
— Oi! Desculpa te atrapalhar, mas os meninos pediram para te chamar pra ir na fogueira de despedida das férias.
Alex suspirou, se forçando a não ser grosseiro com a menina que não tinha nada a ver com isso.
— Desculpa, , eles provavelmente queriam te sacanear porque sabiam que eu não queria ir.
Ela tombou a cabeça de lado, o encarando mais atentamente.
— Mas Cole pediu para eu insistir muito.
— É claro que pediu — ele resmungou, depois se arrependendo da grosseria.
Mas a menina pareceu nem ouvir a reclamação, seus olhos fixos em algo do lado do garoto.
— Ai, meu Deus, eu estou doida para ler Duna desde que saiu o filme! Sabe, eu sou meio obcecada pela Zendaya.
O menino encarou o livro, parecendo ter esquecido que estava ali.
— O filme é bem legal, mesmo com os efeitos especiais esquisitos, mas o livro é bem melhor, vai por mim. — Depois de pensar um pouco, ele acrescentou: — Posso te emprestar depois que eu terminar, se você quiser.
O rosto da menina se iluminou.
— Jura? Eu amaria! Ia ser ótimo para treinar meu inglês, eu ainda não consegui ler nenhum livro. É beeem mais cansativo. Parece que eu tô lendo O Senhor dos Anéis.
Alex se levantou em um pulo.
— Mas pera aí! O Senhor dos Anéis é um livro fantástico!
— Ah, é? — ela perguntou, dando um passo para fora do quarto. Inconscientemente, ele a seguiu.
— Tolkien é a base da ficção, da aventura, dos seres mágicos e universos bem construídos.
— Concordo, mas ele também é a base da enrolação, isso os filmes cortaram muito bem.
— Sim, cortaram muito bem, e inclusive acrescentaram muita coisa desnecessária. Do nada o Haldir voltando pra morrer quando na verdade ele nem aparece nessa cena?
— Um momento lindo para mostrar o pacto elfos e humanos — pontuou, na base da escada, já caminhando para abrir a porta.
— Um momento que nunca aconteceu!
— Eu sei, foi exatamente o que o vídeo no YouTube disse.
Alex travou no meio do seu andar.
— Oi?
— Eu disse que discutir O Senhor dos Anéis ia tirar ele de casa.
Alex se voltou para a voz de Nathan, parado já dentro do carro. Todos os outros meninos olhavam com deboche para o irmão, e com um certo respeito para . De repente, ele se viu no meio de uma armadilha.
Não teve tempo de dar meia volta antes de uma mão feminina segurar seu braço, enviando ondas de choque por todo o seu corpo.
— Não, não, não, eu não assisti vinte minutos de vídeo do Senhor dos Anéis à toa!
— Eu nem estou arrumado!
— Você tá vestido, isso é suficiente. Vamos!
Ele entrou no carro, contra a própria vontade. Ele achou que também se sentaria ali, mas ela fechou a porta e abriu a do carona, encarando Isaac bem nos olhos, e como o carro era alto, nem sentado ele estava da altura da garota, que empinava o queixo.
— Sai.
— Mas eu conquistei esse lugar!
— Mas eu ganhei no Mario Kart, não é? E você está me devendo cinco dólares por ter conseguido tirar o Alex de casa.
Isaac resmungou, mas cedeu o lugar, entregando a nota amassada e indo se sentar no banco de trás, enquanto já mexia no rádio de Cole, conectando com seu Spotify e colocando alguma música que Alex nunca tinha escutado antes, mas que ela anunciou que era do Shawn Mendes.
— Que história é essa? Você nunca perde no Mario Kart — Alex sussurrou, ainda meio emburrado de ter caído naquela armação. — Ela é tão boa assim?
— Ela é terrível. Nunca vi alguém jogar tão mal — Lee respondeu, resmungando. Alex ficou com medo da garota ter escutado, mas ela estava ocupada cantando a música no ouvido de Cole, que segurava o volante com raiva. Alex passou a gostar um pouco mais dela.
— Então como ela ganhou?
— Eu a fiz acreditar que a tela do boneco dela era a minha — Isaac disse, dando de ombros.
— O quê?! Ela caiu nisso?
— Muito fácil. Nem sabia um nome diferente de Mario e Luigi.
— Mas por que você fez isso?
— Ela fica muito feliz. E quando ela está feliz, ela faz brigadoro.
Brigadeiro — Lee corrigiu Nathan. — Mas realmente são uma delícia, embora eu ainda seja mais fã do pão caseiro que ela fez da última vez no café.
— Eu não vi pão caseiro nenhum dia do café — Alex reclamou.
— Você não tá tomando café com a gente — Nathan devolveu a alfinetada.
Depois disso, Alex ficou em silêncio, observando enquanto o sol se punha. Participar de eventos da cidade, vivenciar cada momento da comunidade, tudo isso sempre foi parte dele e do que ele amava fazer. Estava chocado consigo mesmo que estava deixando Jackie lhe tirar até essa parte de sua identidade.
Ele olhou de relance para pelo retrovisor, que estava quase gritando enquanto falava que Lee não tinha o menor direito de falar mal das músicas brasileiras. Ela ficava mais bonita quando estava discutindo, ele tinha percebido isso desde a discussão falsa sobre O Senhor dos Anéis. Os olhos deles se encontraram rapidamente no reflexo, e ele sentiu seu peito errar uma batida. Isso estava muito errado.
Chegaram na festa e Alex pulou para fora do carro, respirando fundo o ar externo. Estava se sentindo sufocado depois de tanto tempo no carro.
Ele caminhou até Cole e ficou ao lado do irmão enquanto ele fechava o carro.
— Duas horas no máximo e você vai me levar pra casa — Alex disse, encarando os outros irmãos que conversavam com na festa.
— Fechado — Cole disse, sem reclamar.
Alex sabia que ele estava se sentindo culpado, e estava se esforçando para ser perdoado pelo irmão. Mas era difícil perdoar alguém por dormir com sua namorada.
Ele entrou na festa e ficou feliz ao encontrar um rosto que não via há muito tempo, desde o casamento de Will, antes de tudo ruir e ele ir para o acampamento.
— Kiley!
A amiga se virou para ele, dando uma levantada de sobrancelhas.
— Olha quem tá de volta pra cidade.
— É, eu voltei há uns dias… — Ele coçou a cabeça, envergonhado demais para admitir que já tinha voltado há semanas.
— É, fiquei sabendo. Você sabe que eu trabalho com seu irmão, né?
— Foi mal, eu não tava muito no clima de ver… ninguém. — Ele olhou para os próprios pés, então ergueu a cabeça, exibindo um sorriso culpado. — Podemos marcar de jogar essa semana antes das aulas voltarem, que tal?
— Tanto faz — ela respondeu, mas ele sabia que ela tinha ficado feliz com o combinado. Ele tinha vacilado por não ter mantido o contato, a amizade deles era muito mais importante que isso.
— Alex!
Ele se virou quando escutou a voz com sotaque chamando seu nome. Encontrou atrás dele, um sorriso bobo no rosto que agitou alguma coisa dentro dele.
— Nathan pediu para te chamar, ele disse que você ficou com a palheta dele, e ele tá querendo mostrar uma música nova pro Skylar.
Alex revirou os bolsos, até encontrar o objeto azulado embolado com alguns papéis no bolso da frente.
— Ah, , essa é Kiley, minha amiga.
— Eu sei quem ela é! Oi, Kiley! — foi abraçá-la em um cumprimento.
— Novamente, você esquece que eu trabalho com seu irmão — Kiley revirou os olhos para ele, com um sorriso sem dentes. — Essa cidade é pequena demais.
— Eu nem sabia que tinham programas de intercâmbio, pra ser honesto.
— Acho que eles abriram pela primeira vez, eu tinha ficado de fora por uma vaga quando me ligaram já bem em cima para avisar dessa oportunidade — disse, sorrindo. — Claro que eu aceitei! Embora seja muito diferente de uma experiência mais californiana que eu tava pensando. É diferente sair de uma cidade grande para o campo.
O discurso começou a parecer familiar demais, e Alex teve que ignorar o desconforto.
! — Nathan gritou de longe, acenando freneticamente.
— Ops, deixa eu ir lá. Bom ver você, Kiley!
— Igualmente.
Eles observaram a garota correr de volta, o vento bagunçando os cachos que ela lutava em colocar para trás da orelha e desembolar dos óculos.
— Ah, não.
Alex se virou para Kiley, confuso.
— O que foi?
— Não se faz de bobo. Eu conheço esse seu olhar.
— Que olhar?
Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, suspirando.
— Não quero ver isso acontecer de novo. E você sabe exatamente o quê.
Alex engoliu em seco, olhando para , que agora ria de alguma coisa que Skylar falava. Ele sabia do que Kiley estava falando, mas não podia estar se apaixonando por alguém que ele mal conhecia.
Mas o embrulho do seu estômago queria indicar outra coisa.

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Pela primeira vez em muito tempo, Alex desceu para tomar café com toda a família, porque agora não tinha mais fuga: era o primeiro dia de aula. E Cole já tinha ameaçado diversas vezes que não daria carona se ele não se apressasse. Ainda tinha o discurso de sua mãe: “ é do seu ano, ajude a menina a se enturmar”.
Ele colocou um livro na mochila (o primeiro da série Ciclo Terramar) e desceu correndo, sentindo um cheiro maravilhoso vindo da cozinha. Ele entrou no cômodo e no caos diário que há meses ele não encarava, mas, diferente do que esperava, todos estavam mais calmos que o normal.
— Ahn… bom dia.
— Esse pedaço é meu! — Benny avançou na mesa, falando com a boca cheia e cuspindo vários farelos na irmã, que lhe deu um bom tapa.
— Benny! Esse pedaço é do Alex — disse, e Alex finalmente reparou nela. Diferente dos outros, ela estava em pé, perto do forno, com uma calça jeans e uma blusa amarela que deixava sua pele mais bonita. — Deixa aí, senão não deixo coxinha pra você levar de lanche.
— Ah, não, essa coutchenha é muito boa — Benny reclamou, deixando o pão em cima da mesa contra sua vontade.
— Mas é só hoje, hein. É muito gordurosa para comer sempre, é só porque hoje é um dia especial. — Então, a menina se virou para Alex, sorrindo. — Bom dia! Como pode ter reparado, tem pão na mesa, mas agiliza que eu não quero me atrasar.
— Nós vamos sair em cinco minutos, com ou sem você — Cole disse, para manter costume, mas sempre tinha agora um tom mais delicado em sua voz.
O tom desculpa por dormir com sua namorada. De novo.
Ele ignorou o irmão, de novo, e foi pegar o pão. Passou um pouco de manteiga enquanto os outros já pegavam a mochila e deu uma mordida, desanimado.
Mas o sabor que explodiu em sua boca era impressionante. O pão era macio por dentro e crocante na casca, com um leve gosto de queijo torrado, além de estar tão quente que o sabor lembrava infância e conforto. Não era à toa que Benny não queria dividir.
Ele comeu rápido, mesmo desejando estender a sensação, e pouco depois eles já estavam no carro. Sabia que não deveria, mas ainda assim se surpreendeu quando viu a garota no banco da frente, ao lado de Cole. A artista do dia era Sabrina Carpenter.
A escola estava mais cheia do que nunca: o primeiro dia era o único em que todos se esforçavam para aparecer. Os garotos e pularam do carro. Alex saiu rápido, mas não conseguiu escapar da buzina de Cole.
— Alex!
Ele quis muito ignorar, e seu irmão claramente sabia disso, porque buzinou mais alto até todos estarem olhando para eles. Alex voltou para o carro, constrangido e irritado.
— O que foi?
— Você tem até sexta para aprender a dirigir. Vou começar a trabalhar o dia todo.
— Papai pode levar a gente.
— Você sabe que ele não pode. — Cole suspirou, sacudindo a cabeça. — Qual é, Alex, eu sei que você me odeia, mas você já tem dezessete. Você tem que aprender a dirigir.
— Eu vou ver isso com o Will.
— Alex! Quando você voltar da aula, eu e você vamos fazer isso. Sem discussões. — E acelerou, sem esperar a resposta dele.
Alex foi para a sala de cabeça baixa, evitando muito contato com as pessoas. Era seu último ano, sua última vez tento um primeiro dia de aula, mas aquilo não parecia nem um pouco mágico. Aqueles corredores pareciam uma assombração e, quando ele se sentou em sua carteira e abriu seu livro, teve uma sensação horrível de deja vù. Podia jurar que, a qualquer momento, Jackie entraria e se sentaria ao seu lado.
Ele foi desperto desses pensamentos com um baque em sua mesa. Quando ergueu os olhos, encontrou de frente para ele.
— Você esqueceu o seu lanche. Coxinha.
Alex abaixou o olhar para o pote na sua frente, a origem do barulho.
— Obrigado — ele disse, sem erguer os olhos.
— Era pra você me ajudar hoje na escola, não o contrário. Sabe, primeiro dia? Ainda bem que Kiley me ajudou.
Walter ergueu o olhar, encontrando a amiga do outro lado da sala, o encarando.
— Ah… foi mal. Dia difícil.
Todos os dias com você parecem ser — ela sussurrou, em português.
— Quê?
— Nada. — Ela suspirou. — Sabe, essa noite vamos assistir um filme juntos, A Ilha do Medo. Lee escolheu. Você deveria ver com a gente.
Ele ficou um pouco assustado com o convite. Quanto menos tempo com os irmãos e com aquela menina de sorriso bonito, melhor.
— Valeu, mas fica pra próxima. Hoje eu prometi jogar com a Kiley.
— Beleza, mas eu vou te cobrar. Senão, vou achar que você está me evitando.
Ela se afastou para a mesa dela. Curioso, ele abriu o pote e viu seis salgadinhos fritos ali dentro. Pegou um, curioso, e deu uma mordida. Não esperava mesmo que estivesse recheado de frango temperado com catupiry. Ele olhou para aquela obra de arte e se virou para , que olhava para ele com um sorriso de quem sabia que ele iria se sentir assim. Ele não conseguiu evitar sorrir de volta.
Então, Alex foi desperto por um barulho de lápis caindo. Se virou e encontrou Kiley o encarando, o olhar às vezes correndo por , então de volta para ele. Um olhar que dizia não cometa as mesmas besteiras.
Ele não queria cair novamente num ciclo de mentiras, então ele não ia.
Ou esperava que não.

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Alex fugiu a semana inteira das aulas de direção de Cole. E fugiu também dos convites de filmes para assistir com seus irmãos e , além das tardes de jogos, que antes o alegravam tanto.
Pelo menos, nunca havia sido tão dedicado na escola, já que fazer os deveres de casa havia se tornado a única desculpa que a família aceitava para sua evasão. Mas, mesmo isolado da família, nunca poderia abandonar Murphy.
Montar em seu cavalo e aplicar tudo o que tinha aprendido no curso de verão era uma de suas poucas felicidades. Demonstrar o controle, percorrer o circuito… tudo aquilo lhe fazia bem de formas que nada mais conseguia recentemente.
Passou mais de uma hora perdido naquela sensação até o sol do fim de verão o deixar suado demais para continuar. Ele terminou de cuidar de Murphy e o conduziu de volta para o estábulo, depois foi tomar um banho. Estava de melhor humor depois de passar o dia desse jeito, e seu humor melhorou ainda mais quando viu o bolo de chocolate que estava em cima da mesa da cozinha. Pegou um pedaço e pretendia subir, mas sua curiosidade o levou para a sala, de onde se ouvia um barulho alto de música e gritos.
Não esperava encontrar sentada no sofá, entre Lee e Isaac, com Nathan sentado no encosto, todos com um controle na mão, enquanto gritavam um com o outro e jogavam OverCooked.
— Pega a panela! Pega, vai pegar fogo!
Tu mierda, esse prato não estava pronto!
Culpa suya!
— Gente, o peixe! O peixe!
— E… acabou o tempo — Nathan anunciou, com um sorriso no rosto. — Outra rodada em que eu e somos campeões.
Chupa essa! — ela disse, em português, para os meninos ao seu lado. Então, reparou em Alex. — Oi! Gostou do bolo?
Ele voltou o olhar para o prato em sua mão, o qual tinha esquecido completamente depois de ver aquela cena.
— Pera, ainda não provei. — Ele colocou uma colher na boca e, como sempre que comia algo que preparava, ele fechou os olhos, apreciando como aquilo era o melhor chocolate que já comera na vida. — Uma delícia, como sempre. Ocasião especial?
— Saudades de casa — ela disse, com um sorriso triste. — É o favorito das minhas irmãs.
— Não sabia que você tinha irmãs.
— Você nunca perguntou — ela respondeu, dando de ombros, antes de se virar para Isaac e Lee, que xingavam um ao outro em espanhol. Alex se sentiu um pouco culpado. — E aí? Outra partida?
— Alex, por que você não entra no meu lugar? Estou cansado — Nathan disse.
Alex sabia que ele não estava cansado, mas viu o sorriso no rosto de com a perspectiva. De bom humor por causa de Murphy e do bolo, ele acabou dando de ombros.
— Só uma partida. — Ele pegou o controle da mão do irmão e foi para a frente de Lee. — Sai.
— Quê?! Acabou de chegar e acha que manda em alguma merda?
— Vaza, perdedor.
Aos tapas, Alex conseguiu tirá-lo de lá e se sentou ao lado de . Ele se virou para ela.
— E aí? O que você tá fazendo? Lavar louça? Pegar os ingredientes? Entregar os pratos?
— Atrapalhar os concorrentes.
Alex piscou algumas vezes.
— Hã?
— Só confia, cara — Nathan deu dois tapinhas no ombro do irmão. — Vou subir.
Cada um escolheu seu personagem e Alex olhou de relance para , desconfiado. Com certeza iria dar muito ruim cuidar da cozinha sozinho, o risco era enorme, mas ele confiou.
O jogo começou e ele focou na tela, tomado por uma euforia, há tempos não jogava videogame. Focou em pegar o tomate e picar, enquanto colocava a carne na frigideira. Aquilo estava dando muito trabalho.
— Sai da frente, ! — Isaac gritou.
— Não vou deixar você pegar o tomate, igual você fez comigo!
Alex focava em entregar as comidas, lavar a louça, cozinhar, e estava enlouquecendo com tantas tarefas, nunca tinha jogado com tanta coisa às custas dele. Nem percebeu como conseguiu colocar fogo na comida dos irmãos e ainda jogar o extintor fora, deixando todo o ambiente virar um verdadeiro inferno.
— Hija de puta!
— Olha que pena, acabou o tempo! Mais uma vitória pra — ela falou, balançando os braços em uma dança ridícula.
Alex ficou incrédulo. Eles de fato tinham ganhado.
— Só por roubo! — Lee gritou. — Queria ver você jogar de verdade e ganhar.
— Eu joguei de verdade, meu querido!
Jordan apareceu, também com um pedaço de bolo de chocolate na mão.
— OverCooked? Daora! Posso jogar?
— Vem no meu lugar, os garotos não sabem perder — disse, mostrando a língua.
— Eles nunca souberam, não sabem reconhecer os maiorais — Alex falou, entrando na provocação.
— Quero ver você e o Jordan nos derrotarem.
— Ah, qualquer um consegue ganhar de vocês — falou, estendendo o controle para Jordan. — Vai, aproveita e filma a cara de perdedor deles!
Alex abriu um sorrisinho enquanto Jordan posicionava a câmera. Ele e o irmão já tinham uma dinâmica de jogo conhecida que, embora não fosse tão boa quanto a dinâmica dele e de Nathan, era boa o suficiente. Não precisou ser mais o responsável pelas funções sozinho. Porém, por mais impressionante que fosse, ele sentiu falta do jeito criativo de de jogar.
— E… empatou?! — Alex exclamou, surpreso.
— Porra, Isaac, eu mandei roubar o prato deles, se você tivesse feito isso, a gente tinha ganhado!
— Desencana com essa mierda de prato, Lee!
— Quem diria — Alex falou, se virando pra garota que assistia ao jogo enquanto comia mais um pedaço de bolo de chocolate —, você realmente é a MVP.
A testa dela se franziu de forma adorável.
— O quê? — ela perguntou, a boca ainda cheia de bolo.
Most Valuable Player. Ou seja, Alex admitiu que só ganhou a última partida por causa de você — Jordan falou, se levantando. — E eu gravei isso.
— Jordan! — Alex berrou. — É melhor você apagar isso agora, senão…
— Senão o quê? Vai postar um vídeo meu cantando Single Ladies no Natal? Ah, pera, não fui eu que fiz isso.
As bochechas de Alex esquentaram muito rapidamente enquanto todos os irmãos começavam a gargalhar da cara dele.
— O sonho de vocês era cantar que nem eu, tá legal?!
— Ah, acredite, eu sonho com seus agudos toda noite — Jordan provocou, gerando mais risadas.
— Vocês não merecem minha incrível companhia — Alex falou, se levantando e dando as costas para os irmãos, mostrando o dedo do meio por onde passava.
— Ei, eu não tenho nada a ver com isso!
— Perdão, , você tem razão. — Alex concordou com a cabeça seriamente. — Você cozinha muito bem, você não pode ser comparado a esses cuzões.
— Agora sim. — Ela sorriu enquanto todos os irmãos o xingavam.
Ainda estavam disparando xingamentos enquanto Alex subia para o quarto, tentando esconder o sorriso no rosto. Ele não queria admitir, mas estava… feliz. Sentia falta de seus irmãos e sua família. Das tardes de jogos, noites de filmes e madrugadas de conversas. Era sua rotina e doía estar longe deles.
Cole nem mesmo fazia mais aquele tipo de coisa. Será que valia mesmo tanto a pena fugir?

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A manhã de domingo estava estranhamente calma e agradável. A família decidira fazer um passeio coletivo e levar Albert para caminhar na praia. Alex fingiu que iria encontrar com Kiley e conseguiu se safar. Paz. Aquilo era raro naquela casa.
Ele desceu as escadas, leve como não se sentia há tempos, longe da pressão de encontrar Cole ou seus pais a cada esquina. Provavelmente, ficaria sem um bom café da manhã, como sempre acontecia quando decidia não comer com a família, mas era um pequeno empecilho.
O que ele definitivamente não esperava era a música que vinha da cozinha.
Ao entrar no ambiente, percebeu a silhueta de , vestindo um vestido leve verde florido, com um avental marrom por cima. Seu cabelo estava preso em um coque e ela se mexia de um lado para o outro, amassando algo na bancada enquanto murmurava a música que definitivamente estava em outro idioma.
Walter, um pouco mexido com a visão, sem querer esbarrou na mesa de madeira, anunciando sua presença.
— Ah, bom dia, Alex!
Ele sentiu algo definitivamente estranho diante do sorriso radiante da brasileira.
— Bom dia. Não quis passear com Albert?
Ela fez um biquinho e voltou a se virar para a bancada, onde continuou a mexer em uma massa que sujava suas mãos de farinha.
— É claro que eu quis, ele é uma fofura!
Alex se sentou na cadeira, ainda observando a garota cozinhar tranquilamente.
— Então por que não foi?
— E te deixar sozinho? Não ia ser legal.
— Não estou sozinho, eu vou encontrar a…
— É, a Kiley. Sabe, eu até cairia nessa se ela mesma não tivesse me contado que ia visitar a avó hoje.
Droga. Droga de Kiley. Droga de garota simpática que ficou amiga da Kiley. Alex abriu um sorriso amarelo e mexeu no cabelo, tentando parecer constrangido.
— Olha, eu só estava…
— Evitando sua família, eu sei. Já deu pra reparar sua dinâmica, mas eu acho uma dinâmica bem infeliz.
Walter ficou um pouco chocado com toda a sinceridade da garota. Queria replicar que ela não o conhecia o suficiente para chamá-lo de infeliz, mas não queria entrar nesse assunto. Então, preferiu ignorar.
— O que você tá fazendo?
sorriu diante da pergunta, pegou a fruta verde e azeda do seu lado e a ergueu para anunciar:
— Torta de limão! Quer me ajudar?
— Não sei cozinhar.
— Relaxa, só preciso que você esprema esses limões. Acho que você consegue, né?
o encarou, como se estivesse em dúvidas se ele era um completo incompetente, e ele sentiu as bochechas esquentarem.
— É claro que consigo.
Ele foi para o lado dela enquanto ela continuava a mexer na massa amanteigada e começou a cortar as frutas. mexia na massa e um reflexo rosa entrou na visão dele.
— O que você tá usando?
ficou confusa, então percebeu que ele apontava para seu pulso.
— Ah! Isso? Minha pulseira da amizade da Taylor Swift que a Parker fez pra mim. Eu fiz pra ela uma de Cruel Summer e ela me deu uma de Style porque o Harry Styles é meu namorado.
Alex arregalou os olhos com a informação e segurou um risinho.
— Se você diz…
Ela sorriu e voltou a se concentrar na massa. Os murmúrios ficaram mais altos com a garota ao seu lado, e ele percebeu como a voz dela soava bonita naquela outra língua.
— Que música é essa? — ele perguntou, curioso.
— É brasileira, você não conhece.
— Isso é óbvio — ele brincou. — Mas qual é o nome? Gostei do ritmo.
Ela abriu um sorriso adorável para ele, e Alex precisou desviar o olhar, sentindo seu estômago agitado de uma maneira nada relacionada com a fome.
— É All Star Azul do Nando Reis. — Ele apreciou a forma que ela falava aquelas palavras com sotaque, reconhecendo apenas o nome do tênis. — Eu confesso que eu nem sou tanto de escutar essas músicas, mas me deu uma saudade tão grande que até sertanejo eu ouvi hoje.
— Suponho que seja uma música ruim.
— Só não o meu tipo favorito. — Ela deu de ombros. — Pode espremer mais dois limões, tá com pouco suco.
Ele pegou mais duas frutas e começou a partir em cima da pia, apreciando a música. Mesmo sem entender a letra, o ritmo mexeu com ele de forma diferente. Com certeza pesquisaria mais sobre ela mais tarde.
Enquanto girava os limões no espremedor, Alex percebeu que ela untava uma forma circular.
— Onde você aprendeu a cozinhar assim? — ele perguntou, curioso para saber mais da garota.
— Com a minha avó. — O sorriso que ela abriu, ainda olhando para a massa, aqueceu seu coração. — Eu amo toda a minha família, mas ninguém me entende tão bem quanto a minha vó. Nem minhas irmãs. Eu amava voltar da escola, ir pra casa de vovó e aprender uma receita nova, era melhor que qualquer terapia.
— Então ela cozinha tão bem quanto você?
— Ah, bem melhor! Mas um dia eu espero conseguir cozinhar tão bem quanto ela, ou o mais próximo possível. — parou, olhando para a janela, o olhar fixo no nada, antes de virar o rosto para Alex. — E você, onde aprendeu a cavalgar daquele jeito?
Walter ergueu uma sobrancelha enquanto jogava as cascas de limão no lixo.
— Anda me observando, ?
— Claro que sim! Eu nunca vi ninguém andar de cavalo como você! A forma que ele te obedece… — Ela suspirou. — Parece uma extensão do seu próprio corpo, é lindo.
Alex se sentiu levemente tocado pelas palavras da garota e pela forma que ela conseguia ler um pedacinho tão íntimo seu. Muitas vezes, não sentia que seus circuitos eram tão apreciados, como se fosse menos importante do que um bom desempenho em uma prova. Mas para ele… era tudo.
— Obrigado, é exatamente assim que eu me sinto. — Ele abriu um sorriso mínimo. — E meu pai que me ensinou. Ensinou a todos nós, mas só eu quis continuar nesse nível.
— É fantástico. Nathan me contou que você foi para um curso de verão e tudo.
— É, fui sim.
— E como foi?!
Alex abriu um sorriso verdadeiro. Independente do curso ter sido tão depois de um período ruim da sua vida, ainda lhe despertava felicidade genuína.
— Foi uma das melhores experiências da minha vida. Foi a primeira vez que eu me senti em casa sem estar em casa, como se ali fosse meu lugar.
abriu um sorriso para ele enquanto ajeitava os óculos no rosto.
— Isso é muito especial, sabia? Já saber qual o seu lugar na nossa idade. Acho que muita gente não sabe.
— É… — ele murmurou, sentindo o peso das palavras dela. — E você? Sabe o seu lugar?
— Acho que todo lugar onde eu possa cozinhar e ler. E estar cercada de bichos fofinhos — ela acrescentou, sorrindo. — O Albert está claramente convidado.
— Claramente. — Ele sorriu. — Parece um lugar que eu adoraria estar.
Os dois se encararam e, aos poucos, o sorriso no rosto dos dois sumiu. Alex deu um passo para a frente, involuntariamente. As batidas de seu coração ensurdeciam sua audição conforme ele percebia o quanto estava bonita com o rosto levemente sujo de farinha.
— Você está com uma mancha… bem aqui — ele sussurrou, passando a mão de leve na bochecha dela.
O toque enviou ondas de calor para seu corpo e o olhar dela se quebrou do dele para descer para os lábios do garoto. Alex estremeceu. Podia não ser tão bom em linguagem corporal, mas não tinha dúvidas. Ela queria que ele a beijasse.
E, por Deus, ele queria a beijar também.
Alex deu um passo atrapalhado para trás, assustado com suas próprias percepções. Ele queria beijar ? Desde quando aquilo havia acontecido? Devia estar apenas confuso, carente. É, devia ser isso.
, por sua vez, o encarava com uma expressão que ele não queria decifrar. Ele soltou uma risada forçada, coçando a cabeça.
— Acho melhor minha participação acabar por aqui pra sua torta não ficar uma porcaria. — Walter tossiu, ainda envergonhado. — Bom… Obrigado pela companhia, volto mais tarde para provar a torta.
— Não vai se arrepender — ela respondeu, sorrindo, mas parecendo levemente triste.
Ele saiu da cozinha como se o cômodo estivesse pegando fogo. Alex se apoiou na escada, sentindo sua respiração descompassada.
Não, Kylie não podia estar certa. Ele não podia estar vivendo aquilo de novo.
Ele definitivamente não podia estar se apaixonando por .

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— Cole, dá mais uma voltinha? Eu quero terminar de ouvir If I Were a Boy! — implorou enquanto o loiro estacionava na frente da escola.
— Eu não sou seu motorista particular — Cole reclamou, e suspirou.
— Vou ter que começar toda a playlist da Beyoncé de novo na volta então.
Os irmãos murmuraram em reclamação enquanto todos se retiravam do carro. Alex levantou seus olhos das páginas finais de A Esperança para sair do carro. Mais ou menos, na verdade, porque Katniss se preparava para atirar no presidente Snow e ele não queria perder uma única vogal que fosse. As palavras passavam de forma rápida diante de seus olhos, como as flechas que estavam sendo preparadas, e…
— Alex.
O garoto xingou todos os palavrões que conhecia em sua mente antes de se virar com os dentes trincados para Cole.
— O que foi?
O mais velho engoliu em seco. Alex odiava vê-lo assim, porque sua imagem de culpa era um lembrete constante daquela que ele queria esquecer: Jackie.
Embora não tivesse pensado nela durante todo o fim de semana.
— Vamos aprender a dirigir hoje.
Alex suspirou, irritado, mas forçou um resquício de paciência para fingir uma expressão culpada.
— Hoje? Puxa, eu prometi para a Kiley que…
— Para, Alex! — Cole exclamou, batendo no volante.
Os dois irmãos congelaram. Alex não via Cole irritado desse jeito desde… Bem, desde Jackie. Claramente, ele também estava passando por dificuldades, mas o irmão mais novo não gostava de pensar nisso. Se pensasse assim, poderia acabar perdoando Cole, e não sabia se ele merecia.
A respiração de Walter parecia sair mais pesada de seu peito enquanto via seu irmão mais velho passar a mão no cabelo loiro.
— Eu sei que… eu sei que você me odeia. E com razão! — ele completou, antes que Alex o interrompesse. — Não estou pedindo que me desculpe, mas… Caralho, Alex, se você quer se ver livre de mim, aprende a dirigir a porra do carro!
Cole o encarava com uma mistura de raiva, tristeza, culpa e todos aqueles sentimentos básicos do pacote de seu próprio irmão ficando com sua namorada. Mas Cole tinha razão, Alex estava sendo frouxo e só ficava prolongando seu contato com o irmão em cada dia que precisava de uma carona para a escola. Era hora de parar com aquilo.
— Tá bom.
Cole piscou algumas vezes, não parecendo acreditar no que havia escutado.
— Tá… bom?
— É, a gente resolve isso depois da aula — Alex respondeu, curto e grosso, voltando a erguer seus olhos para o livro. Odiava ser interrompido, a magia do parágrafo se esvaía.
Ah, mas ali estava a frase onde ele havia sido interrompido.
— Obrigado. — Ele ouviu a voz de Cole antes do carro dar partida.
Alex ficou um tempo no lugar, lendo as palavras sem realmente absorvê-las e tendo que voltar para a mesma frase pela quarta vez. E pela quinta.
— Sabe, ele se sente culpado por toda a situação.
Alex se sobressaltou ao ouvir a voz de . Ela estava ali, ao seu lado direito, segurando uma lancheira de gatinhos cheios do que ela chamou de pão de queijo. Apesar da garota bater em seu queixo, aquela frase fez com que ele subitamente se sentisse pequeno.
Ele não devia ter falado nada, mas mesmo assim se viu perguntando:
— Situação?
Ela olhou para longe, parecendo subitamente nervosa, então voltou a olhar para ele.
— É. Da Jackie.
A raiva subiu por seu peito. Ele sabia que a cidade era pequena e que estava andando muito com seus irmãos, mas, de certa forma, ele sempre torceu que ela nunca soubesse. Ela parecia a única em sua vida que não sentia pena da situação, que não o conectava com Jackie.
Até agora.
interpretou mal o silêncio dele, porque viu como uma oportunidade de continuar falando.
— Sabe, se quer minha opinião, eu não acho que vocês deveriam continuar brigados por uma garota que claramente não amou nem se importou com nenhum de vocês. Vocês dois só estão sofrendo! Eu sei, você achou que amava ela e…
— Eu amava ela — ele se viu obrigado a corrigir.
Ela colocou o dedo indicador direito no lábio, batucando-o enquanto pensava.
— Eu acho que você gostava muito dela, mas não sei se a amava. Pelo que os meninos contam, ela não tinha nada a ver com você. Sem contar que você estava sempre mostrando o relacionamento de vocês pela escola, como se a situação fosse mais sobre você e Cole do que você e ela. E nem tem como amar alguém que você não conhece de fato, né? Ela brincou com os sentimentos de vocês e…
— ele a interrompeu, duro —, não sei em que momento eu deixei a entender que eu queria a sua opinião, mas eu não quero.
Ela congelou o passo. Os ombros da garota murcharam e sua boca se fechou rapidamente. Agora, ela parecia ainda mais baixa do que o normal. Alex se arrependeu de falar daquele jeito com a menina, ela era gentil, mas não tinha direito de dizer se ele amava ou não alguém.
Ele viu engolir em seco e colocar um sorriso enviesado nos lábios.
— Você tem razão, Alex. Você não pediu minha opinião. — Ela suspirou, ainda sustentando aquele sorriso falso. — Só quis falar algo porque te acho um cara bacana e não aguento mais ver você mesmo se fazendo infeliz.
E ali estava, de novo, aquela história de Walter ser infeliz. E, pior ainda, a tristeza nos olhos de , ainda mais intensa do que no dia anterior na cozinha.
!
Ela não se virou quando ele gritou seu nome. Ele nem saberia o que dizer, ainda achava que tinha razão, mas se sentia mal de magoá-la.
E se sentia particularmente mal por perceber muitas verdades nas palavras de .

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— Agora você…
— Passa a marcha, já entendi.
Alex estava levando as aulas com Cole no automático. Na verdade, dirigir não era tão diferente assim de cavalgar, especialmente para alguém que absorvia informações tão rapidamente como Alex.
Sua única distração era os olhos marejados de , que, por algum motivo, continuavam a aparecer em sua cabeça.
— Freia! — Cole gritou, despertando Alex de seus pensamentos, o que resultou numa freada brusca antes que o mais novo batesse no celeiro.
Os dois respiraram fundo enquanto se recuperavam do susto. Quase perderam um carro, um celeiro e algumas galinhas, tudo em um único movimento de Alex.
Cole jogou a cabeça para trás, respirando fundo.
— Que droga, Alex! Você tava indo bem, pra onde que foi sua cabeça?
— Deixa pra lá, não vou errar mais isso.
Mas antes que ele pudesse colocar a mão na marcha de novo, Cole deu um tapa na sua mão.
— Qual seu problema?! — Alex exclamou, já perdendo a paciência com o irmão. Já tinham convivido mais do que seu limite permitia.
— Qual o seu problema?! Quase mata a gente e quer que eu deixe pra lá?
— Você deixou meus sentimentos de lado com facilidade antes, não pode repetir isso?
— Alex, eu entendo que eu fiz merda, mas…
— Mas o quê? Mas o que, Cole? — Alex gritou, perdendo o limite e saindo do carro, o barulho da porta batendo o acompanhando. — Você dormiu com a merda da minha namorada, que porra você quer que eu fale?! Que eu confessei pra ela que a amava e, em troca, ela preferiu dormir com meu irmão?
— Eu… não sabia que você tinha confessado — o mais velho disse, já fora do carro também.
— E faria diferença?
— Não, claro que não — ele se apressou em falar. — Foi tudo muito fudido, e sei que foi culpa minha, mas, Alex, você tem que parar de me ignorar, cara! A gente mora na mesma casa, não tem mais como sustentar isso, você tá magoando o papai e a mamãe…
— Se você fosse menos imbecil, teria entrado na faculdade e estaria longe daqui.
O maxilar de Cole travou, e ele se aproximou mais do irmão.
— A culpa não é minha que meu joelho…
— É sempre essa porcaria de joelho! Bem, se você não tivesse feito sua vida inteira em torno do futebol, seu joelho não seria um problema.
— E eu estou tentando corrigir isso, caralho! Estou frequentando a escola mesmo sendo formado, não sabe quanto é vergonhoso? Mas eu tô tentando mudar, tentando alguma coisa…
— Mas não é o suficiente!
— Pra mim é, Alex. — De repente, Cole estava com a postura sóbria novamente. — Eu tô satisfeito com isso. Talvez o problema seja você e o fato que você não consegue largar esse papel de vítima.
— Talvez se você não saísse ficando com todas as minhas namoradas, isso não acontecesse.
— Eu já pedi desculpas, eu não posso fazer mais nada! Você acha que isso também não me machuca? Ela também me largou, eu também amava ela!
Aquilo foi demais para Alex. Antes que percebesse, seu punho direito estava acertando o rosto do irmão, que cambaleou para trás, esbarrando no carro. Cole não foi pra frente para revidar, mas Alex continuou acertando-o. Um soco na barriga, outro no braço, mais um no rosto.
— Faz alguma coisa! — ele gritou, ao perceber que Cole não se mexia.
Então, ele parou de socar seu irmão e começou a chorar.
Cole deu um tempo para ele, então se sentou ao lado dele, limpando o machucado que abriu na boca com a própria camisa.
— Eu não posso dizer o quanto você tá sofrendo, Alex, mas não posso fingir que isso também não me doeu. Eu errei em ficar com a Jackie, sei disso, mas não menti quando disse que amava ela.
Alex queria gritar com Cole, mas já estava envergonhado o suficiente, não tinha mais energias. Então, apenas ficou em silêncio, esperando as lágrimas secarem.
— O problema é que ela não amava nenhum de nós dois. Eu sei que a Jackie passou por muita coisa e, caralho, eu ainda amo ela, mas isso não é motivo pra fingir que ela não foi escrota com a gente. Ela brincou com os nossos sentimentos e deixou que de novo outra garota ficasse entre nós. Uma garota que largou a gente sem nem olhar pra trás.
Alex sentiu o tom de remorso na voz de Cole e, pela primeira vez, parou para pensar que talvez seu irmão tivesse sentimentos genuínos pela Jackie. Talvez até mais genuínos que os seus, embora isso o incomodasse profundamente.
— Você tá parecendo a falando desse jeito — Alex comentou por fim, tirando uma risada curta de Cole.
— Escuta essa garota, ela gosta de você. Ela se importa.
— Ela falou isso com você? — De repente, Alex se sentiu enciumado de imaginar o irmão conversando com .
— Não, mas não precisou. Eu vejo como ela olha pra você. — Cole o espiou pelo canto do olho. — Ela gosta mais de você do que a Jackie jamais gostou.
— Você não tem como saber disso — Alex resmungou.
— É, não tenho — o irmão concordou.
A mudança de opinião dele pegou o mais novo de surpresa. Eles ficaram em silêncio, encarando o horizonte, e foi a primeira vez desde quando pegou Jackie na cama com Cole que Alex se sentiu bem ao lado do irmão. Seu ressentimento não havia sumido, era verdade, mas tinha diminuído. Racionalmente, ele sabia que Cole também tinha sido, em parte, uma vítima que estava sofrendo. Isso não o isentava de tudo, mas melhorava as coisas um pouco.
De repente, Cole se levantou, batendo as mãos para tirar a terra antes de as estender para Alex.
— Vamos? Você ainda precisa treinar melhor esse freio.
— Foi só uma distração boba, não vou mais errar.
— Então prova.
Alex não deveria ter se deixado cair em algo tão bobo quanto uma provocação daquelas, mas acabou funcionando. Eles passaram o resto da tarde dirigindo, e Alex rapidamente já estava confiante, além de estar com um pedaço do seu coração um pouco mais leve.

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— Caraca, onde o Cole se meteu? Temos que sair pra escola já, já — Isaac reclamou, antes de colocar um último pedaço de pão na boca.
— Ele não vai levar a gente. Eu vou — Alex anunciou, sentindo-se orgulhoso de si mesmo ao dizer isso.
— O quê?! — Lee perguntou, chocado. — Nós vamos morrer.
— Para de besteira, não vamos morrer. Alex passou a tarde toda treinando com Cole — Nathan o defendeu.
— Se Cole aprovou Alex para dirigir, não vamos morrer. No máximo teremos ferimentos leves.
O coração do garoto se apertou um pouco ao ouvir a provocação de . Ela não o ignorou nem o tratou mal depois da discussão do dia anterior, coisa que ele jurou que aconteceria (e de forma merecida), mas continuou a tratá-lo bem, só que de forma mais distante.
O que só servia para aumentar a culpa dentro de Alex.
— Saímos em cinco minutos, não posso me atrasar que hoje tem aula de literatura.
— Você é pior que o Cole — Lee reclamou.
Logo, todos já estavam indo para o carro. Quando já estava sentado no volante, Alex percebeu a porta do carona se abrindo e se esforçando para entrar no carro alto.
Walter havia se esquecido dessa consequência de suas novas habilidades de condução: ter ao seu lado durante todo o trajeto. Suas mãos já suavam frio sobre o volante enquanto conectava sua playlist no carro (o bluetooth já automaticamente reconhecia o celular dela).
— Ah, não, sem essas músicas de japoneses — Isaac reclamou.
— É música coreana, seu imbecil. E não fale mal da obra prima criada pelo meu namorado Jungkook.
— Achei que seu namorado era o Harry Styles — Alex não se conteve e soltou a informação.
pareceu surpresa por ele estar falando com ela, e mais ainda por ele ter se lembrado da informação. Nem ele sabia por que estava se lembrando daquilo. Mas então ela sorriu e seus pensamentos viraram massas incognoscíveis.
— O Harry é meu namorado britânico, mas todo mundo sabe que os britânicos ficam calvos muito facilmente, então de reserva eu investi em um coreano.
Os lábios dele tremeram para cima em um sorriso.
— Faz todo sentido.
Não demorou muito para chegarem na escola, e Alex pôde respirar tranquilo por ter conseguido levar a todos em segurança. Na verdade, até que não havia sido tão difícil, e era gostoso sentir o vento bater no rosto enquanto dirigia, uma versão mais simples do que sentia ao montar em Murphy.
— Viu? Estão todos vivos — Nathan provocou. — Agora, com licença, preciso encontrar o Skylar.
— É só Skylar, Skylar e Skylar esses dias — Isaac provocou, enquanto Lee fingia que vomitava.
Sobraram apenas e Alex no carro. Antes que ela pudesse sair do veículo, no entanto, ele segurou a mão dela delicadamente.
… Eu queria falar com você rapidinho, se não se importar.
A garota pareceu congelar ao sentir a mão dele na dela, e a reação dele não foi muito diferente. De novo, ele sentia aquela agitação esquisita no estômago, a mesma que tinha sentido no dia da cozinha.
Ela pigarreou, soltando a mão da dele, mas abrindo um sorriso simpático como se não houvesse percebido toda a tensão de segundos antes.
— Claro, fica à vontade.
Alex suspirou, baixando os olhos, sem coragem de encará-la.
— Eu queria pedir desculpas por ter falado com você daquele jeito. Eu sei que você só quis me ajudar, mas… É um assunto delicado e não fiquei confortável de saber que você tinha conhecimento de uma parte da minha vida que eu não te contei. Mas não justifica como eu agi.
Ele ouviu um suspiro vindo de , antes de sentir a mão dela encostar delicadamente no queixo dele, erguendo-o até que eles estivessem se encarando.
— Perdoado, desde que você também me perdoe. Não devia ter me intrometido desse jeito, eu só… fiquei preocupada com você. Todo mundo tá preocupado com você.
— Isso não faz eu me sentir muito melhor — ele admitiu.
— Desculpa.
— Não, não, tá tudo bem. Você não tem culpa de ter chegado na nossa vida no meio desse turbilhão. Eu prometo que era um cara bem legal antes disso.
— Ainda te acho um cara legal. — Ela sorriu, ajeitando os óculos. — E aí? Me perdoa por ser intrometida?
Ele soltou uma risada ao ouvir a escolha de palavras dela.
— Claro que te perdoo, você comprou meu perdão cozinhando pão doce.
— Ufa, ainda bem que o suborno deu certo — ela disse, fingindo suspirar aliviada. — Amigos?
Alex sorriu, sentindo seu peito mais leve.
— Amigos.
Ela abriu um sorriso antes de se inclinar na direção dele e depositar um beijo na bochecha direita do garoto.
— Boa aula, Alex! Te vejo lá dentro e, no intervalo, quero discutir com você sobre como Jogos Vorazes é a melhor trilogia de distopia da vida!
Enquanto saía do carro, Walter sentiu seu coração disparar. Ficou genuinamente animado com a possibilidade de falar do livro, mas sabia que não era esse o motivo para os batimentos acelerados.
Apesar de concordar em ser amigo de , não sabia dizer se era exatamente assim que se sentia.

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— Alex, você precisa ir com a gente — Nathan insistiu mais uma vez.
— Já disse que não vou. Não faz o menor sentido eu ir numa festa na piscina de uma das amigas da Paige.
— Mas ninguém tá indo por causa da Megan, é só porque tem piscina e é fim de verão — Isaac explicou, com uma expressão de quem não aguentava mais ter que explicar o óbvio.
Alex sabia que topar jogar Brawlhalla com seus irmãos daria nisso, mas pareceu tão animada com a chance de ele jogar, e Walter já estava se sentindo tão culpado de magoá-la, que, quando percebeu, já estava apertando os combos para bater no bonequinho de Lee.
— Não sei se estou em um bom clima para ver a Paige, queria terminar o verão de forma tranquila — Alex admitiu.
— E quem é Paige na fila do pão? — falou, a expressão traduzida literalmente do português não fazendo o menor sentido para os irmãos.
— Fila do pão? — Nathan perguntou, segurando o riso.
— É, tipo, quando você tá na padaria… Bem… Ah, enfim, o que importa é que ela não é ninguém, mas, se você for, a gente vai poder jogar vôlei na piscina…
— E você vai perder essa cor de folha branca A4 — Isaac falou.
— Além de que foi prometido o XBOX do namorado da Megan — Lee completou.
— Por favor, por favorzinho — pediu, juntando as mãos para implorar para Alex, juntando sua expressão com um grande bico.
Distraído, Alex acabou morrendo no jogo, o que fez de Isaac campeão. Foi a gota d’água para que ele suspirasse e jogasse os braços para o alto.
— Tá bom, tá bom, eu vou! — Os três irmãos e a garota começaram a comemorar, mas Alex logo os interrompeu. — Mas! Eu estarei dirigindo, então vou embora a hora que eu quiser.
— A gente arruma carona — Nathan disse, resignado.
— Sai, Alex, você perdeu, eu jogo no seu lugar — reclamou, pegando o controle das mãos dele. Então, encarou a tela. — Como que joga isso?
— Decidiu jogar, vai perder! — Isaac zombou, terminando de escolher seu personagem.
— Vem cá. — Alex estava sentado no chão e puxou para junto dele, fazendo com que ela se sentasse entre suas pernas. — Você vai querer lutar com a Yumiko mesmo?
— Quem? — ela perguntou, totalmente perdida. Ele abafou um risinho.
— A mulher com orelhas brancas de gatinho.
— Ah, sim! Quero ela mesmo.
— Você já jogou algum jogo de luta assim antes?
— Algumas vezes com uns amigos da escola quando eu era pequena. Mas eu só saía apertando tudo torcendo pra sair algum combo.
— Certo. Deixa que eu vou te ajudar.
— Obrigada!
Alex cobriu a mão de , alcançando os comandos mais extremos do controle. Com o corpo dela encostando no seu, o cheiro do cabelo dela de algo muito gostoso que ele não sabia reconhecer e suas mãos juntas daquele jeito, Walter começou a pensar que talvez puxá-la para aquela posição não tivesse sido uma boa ideia.
Ou talvez tivesse sido a melhor ideia de todas.
— Agora aperta X pra pular, Y pra esquivar… Não, o outro lado. Isso, aperta esses que eu cuido dos combos!
— Sim, senhor capitão! — Ela bateu uma continência.
— Mãos no controle, !
— Foi mal, foi mal!
Como esperado, eles perderam feio pra Isaac de novo, mas nenhum dos dois se incomodou muito, já que acabaram rindo do caos que foi jogarem daquele jeito.
— É melhor você jogar mesmo, eu fui um desastre — disse, passando o controle para Alex.
— Você só foi pega de surpresa, é normal — Nathan falou, consolando a menina.
— Sim, na próxima você melhora.
— Pode jogar essa, sério. É divertido assistir — garantiu a Alex, passando o controle para ele.
Alex então segurou o controle e selecionou sua personagem de sempre, Ada. O jogo começou e tentou dar dicas para eles, mas, com seu pouco conhecimento, só serviu para deixar os participantes mais confusos, gerando risadas de todos.
Mesmo sem estar mais jogando, ela não saiu da posição em que se encontrava com Alex. Aos poucos, foi ficando mais calada enquanto assistia aos jogos, seu corpo relaxando de encontro ao dele e sua respiração ficando mais suave. Duas horas depois do início dos jogos, dormia encostada no corpo de Alex, e aquilo parecia um ato de confiança e conforto que deixou o coração do garoto amolecido.
— Vamos parar de jogar antes que vocês gritem no ouvido da — Nathan disse, se levantando do sofá.
— Ela bem que merecia por forçar a gente a ouvir música coreana agora — Isaac reclamou.
— Nem ouse falar isso pra ela — Lee disse, saindo da sala, seguido por seu irmão.
Só restaram Alex e . Ele não ousava se mexer, com medo de perturbar o sono da menina. Ela dormia de forma tão adorável que parecia até um crime acordá-la.
A paz dela fez com que, aos poucos, o próprio corpo de Alex também relaxasse, sua respiração diminuísse e seus pensamentos começassem a ter menos sentido. Por isso, o garoto acabou deixando sua cabeça tombar de encontro com a cabeça da menina, permitindo-se relaxar, e acabou adormecendo junto dela.

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— Se vocês não descerem em cinco minutos, eu não vou na festa e não vou levar nenhum de vocês!
— Cala a boca, Alex, a beleza exige tempo! — gritou do andar de cima, arrancando risada de Benny e Parker, que corriam pelo hall, enquanto Jordan filmava a escada.
Isaac e Lee desceram correndo, os dois com óculos escuros no rosto mesmo estando dentro de casa, carregando arminhas de água já carregadas que apontavam um para o outro.
— E que grande entrada desses dois, prontos para o baile de formatura na piscina… A mamãe vai matar eles.
— Jordan, já falamos que não é um baile de formatura na piscina.
— Mas fica mais emocionante narrar assim — ele disse, dando de ombros. — Ah, lá vem mais um!
Nathan descia as escadas usando uma bermuda azul escura e uma blusa de botões verde claro, além do violão pendurado nas costas e um delineador verde água enfeitando seus olhos.
— Agora sim alguém entendeu o conceito de se arrumar — Jordan replicou para Alex, que só revirou os olhos.
, você vai ficar pra trás!
— Alex Walter, não precisa ser tão cruel!
E ela apareceu no topo da escada, sorrindo de orelha a orelha, com um toque de deboche na expressão. O coração de Alex errou uma batida.
estava vestindo um maiô branco que se destacava em sua pele marrom, além de um short jeans com desenhos de arco-íris e um blusão aberto azul bebê. Seu cabelo cacheado estava preso em duas tranças e seus olhos também estavam coloridos com um delineador da cor de seu blusão, que apareciam por trás de seus óculos de sempre. Não estava tão diferente do normal.
A questão era que, ainda em seu estado normal, já era linda.
— E chegou a última debutante! Uma foto de família pra terminar?
— Tchau, Jordan — Isaac falou, dando um peteleco em seu braço.
Alex se recompôs enquanto ajeitava sua ecobag. Ele pigarreou e saiu em disparada para o carro. Mas a tortura que o seguira a semana inteira continuou ali: se sentou no banco de carona, conectando seu celular no carro.
— Já que estamos indo para uma festa na piscina… Acho que é minha responsabilidade apresentar cultura pra vocês, então eu venho trabalhando nessa playlist: selecionei alguns funks brasileiros bons para vocês conhecerem, mas mais leves.
— O que você quer dizer com mais leves? — Isaac perguntou, curioso.
— Um pouco menos explícitos.
— Você vai avisar o nome de cada música. É impossível você soltar isso e não querer que a gente pesquise. — Lee já estava com o google aberto, com as palavras “english traduction of the song…” digitadas na barra de pesquisa.
— Tá bom, tá bom! Vamos começar com um bem leve, nem é funk direito: Amor de Quenga.
— Quê?!
— Me deixa digitar de uma vez. — revirou os olhos enquanto tirava o celular da mão de Lee.
O trajeto de meia hora até a casa de Megan foi recheado de surpresa com os meninos descobrindo quantas metáforas eram possíveis de ser feitas para “bunda” ou “sexo”.
— Eu não sei se fico ofendido ou impressionado — Nathan confessou, chocado.
— É arte, é cultura — disse, balançando o dedo indicador. — Agora ouçam essa aqui, é um pouco mais pesada, mas é uma obra prima de genialidade: Modo Birdbox.
Birdbox? O filme Birdbox? — Alex questionou.
— É uma música sobre o filme? — Isaac perguntou, enquanto digitava e devolvia o celular para ele.
— Er, quase isso. Eles se inspiraram em… algumas coisas.
deu play no Spotify ao mesmo tempo que os meninos rolavam a letra.
— Como conseguiram transformar um filme de suspense e sobrenatural numa música de sexo?!
— O Brasil é outro nível, Nathan — disse, sorrindo.
— É o melhor lugar do mundo, isso sim — Lee disse, gargalhando. — E pânico? Tem alguma música sobre?
— Ah, deve ter, é só pesquisar no spotify…
— Chegamos! — Alex anunciou.
— Graças a Deus — Nathan disse, suspirando aliviado, abrindo a porta do carro e saindo correndo.
— Lee, alerta de idiota à frente. — Isaac apontou para um garoto do grupo de amigos deles.
— Armas a postos? — Lee perguntou, saindo do carro com o garoto na mira.
— Não façam isso com o Rob! — gritou, saindo do carro.
As portas bateram, deixando Alex sozinho no silêncio. Ele suspirou pesadamente, passando as mãos no rosto. Havia tanto acontecendo dentro dele. Se sentia verdadeiramente feliz e conectado com os irmãos de novo, o que era um ganho positivo, mas sabia que devia muito disso à , que era, de fato, o problema na história.
Na verdade, o problema era ele mesmo, porque não estava mais conseguindo fingir que não estava se apaixonando por . Aquele mês com ela em sua vida havia transformado tudo e fazia com que o problema que Jackie havia sido se tornasse cada vez menor até virar um incômodo.
Ele tentou evitar refletir sobre as palavras de e Cole sobre Jackie, mas era impossível. E, cada vez mais, estava menos convencido de que tinha amado a garota, e mais certo de que, talvez, ele tivesse ficado impressionado com uma garota bonita dando atenção a ele, especialmente sabendo que Cole também tinha algum tipo de interesse.
E estava cansado de ficar com a cabeça presa naqueles pensamentos, odiando Cole, fugindo de seus pais e seus irmãos, fugindo de Kiley e da própria . Esse não era ele nem a vida que queria levar, não mais. Sabia que suas feridas não sumiriam do dia para a noite, mas já faziam três meses, e Alex achava que já bastava de chorar.
Uma batida na janela do carro quebrou sua linha de pensamentos, e ele se sobressaltou, surpreso. Do outro lado, estava com a mão encostada no vidro, tentando enxergá-lo.
Ele desceu o vidro e ela deu um pulinho assustada, antes de sorrir e se apoiar na janela aberta.
— Você vem? Prometeu jogar vôlei na piscina com a gente.
— Eu tenho certeza de que não prometi nada — ele respondeu, com um sorriso.
— Jordan tem as filmagens. Enquanto você não consegue provar que sua promessa não ocorreu, você é forçado a jogar.
— Tenho quase certeza de que não é assim que funciona — ele respondeu, mas já estava saindo do carro.
— Agora é — ela disse, sorrindo, andando de costas enquanto ainda olhava para ele.
Os dois entraram na casa de Megan. O lugar era gigante, uma piscina enorme se estendia na parte de fora, onde algumas pessoas boiavam, outras jogavam vôlei com uma bola inflável e algumas se beijavam. Adolescentes bebiam e alguns garotos jogavam futebol americano na grama, enquanto garotas trocavam risadas nas espreguiçadeiras. Uma caixa de som estava posicionada e tocava uma música pop conhecida e animada, enquanto colegas da escola dançavam ao seu redor.
Era tudo o que poderia se ter de mais verão. Não poderia ser uma despedida mais adequada.
— Isaac, Lee, esperem pela gente! — gritou, apoiando sua ecobag em uma espreguiçadeira antes de tirar o short, o blusão e os óculos, pulando na piscina de maiô.
Alex sentiu um cutucão nas suas costas e se virou, um pouco ressabiado.
— Melhor fechar a boca. — Kiley sorria para ele de forma irônica, e ele acabou seguindo o conselho dela.
— Oi pra você também. — Alex deu um empurrão de leve na amiga com o ombro, como um cumprimento gentil. — Já sei o que vai me falar. Estou cometendo o mesmo erro das outras vezes.
— Na verdade, eu não ia falar isso.
Alex se sobressaltou, pensando não ter escutado direito.
— Não?
— Escuta, sei que eu fui dura com você. — Kiley suspirou, olhando para o céu. — Mas isso não é a mesma coisa das outras vezes.
— Porque não estou me apaixonando rapidamente por uma garota que me deu a menor abertura?
— Não, você definitivamente está. Mas… — Kiley abriu um sorriso um pouco mais doce. — é diferente de Paige, e da Jackie. Ela gosta de você de verdade.
Os dois ficaram olhando a garota dar uma cambalhota na piscina antes de se levantar, levando uma bolada na cabeça. Ela começou a gritar com Isaac, responsável pela bolada, antes de perceber os dois amigos a encarando. fez um gesto com as mãos, chamando os dois com um sorriso enorme, antes de voltar a reclamar com Isaac.
— Você deveria ir — Kiley disse, apontando a piscina com a cabeça.
— Você deveria vir comigo — ele falou, sorrindo para Kiley.
— Acho que hoje não tô tão afim de entrar na piscina.
— Nos falamos no discord mais tarde então?
Kiley abriu um sorriso, antes de virar de costas para entrar na casa.
— Com certeza.
Ele sentia que ainda havia alguma coisa na sua relação com Kiley que ele precisava melhorar, mas iria começar não deixando de lado suas chamadas como fez quando estava com Jackie.
Alex tirou a blusa e o tênis, deixando suas coisas perto da ecobag de , antes de pular na piscina, mirando um ponto a cinco centímetros de Lee.
Hijo de puta!
— Eu sei bem o que você falou, Lee — Alex respondeu, antes de tentar afundar a cabeça do garoto na água, mas ele desviou.
— Era pra saber mesmo.
— Parem de brigar e prestem atenção no jogo! Skylar, pode sacar!
Alex não era muito bom jogando, para ser honesto, mas ninguém ali também era. Os únicos verdadeiramente atléticos da família eram Parker e Cole. também não ficava muito atrás, muitas vezes batia na bola em uma direção e ela acabava indo em outra, isso quando conseguia minimamente acertar algum movimento.
Passado um tempo, a garota saiu da piscina, sob a justificativa de que ia pegar algo para beber. Alex viu o corpo dela se erguer da água antes de caminhar até a espreguiçadeira, colocando os óculos de volta e pegando sua ecobag.
Nem percebeu que estava acompanhando todos os movimentos dela para dentro da casa até sentir uma bolada na cabeça.
— Ai!
— Vai logo atrás dela!
— Tá maluco, Lee? — Alex jogou água nele. — Pode lançar a próxima bola, vou mirar na sua cabeça oca.
— Lee tem razão — Skylar se intrometeu. — Você sabe que gosta dela, o que você tá esperando?
Alex começou a rir, nervoso, e sentir seu rosto ficar vermelho.
— Por… por que todo mundo cismou que eu gosto dela?
— Porque é verdade — Nathan respondeu, como se fosse algo tão óbvio quanto a cor do céu.
— Você não fica feliz assim há tempos. — Isaac lançou a bola na direção dele, mas Alex conseguiu desviar. — Ela não é a Jackie.
— Eu sei — ele respondeu, sentindo seu estômago se revirar de leve.
— Então o que você tá esperando?
Alex refletiu sobre a pergunta de Nathan. O que ele estava esperando de fato? Nada, ele esperava não ter que lidar com isso agora.
Mas algo dentro dele o puxava para dentro da sala em que havia entrado, o puxava para ela. Nem mesmo percebeu que seus braços já o erguiam para fora da piscina.
— Tudo bem.
Os outros pararam, chocados, antes de começarem a comemorar.
Dios mio, eu achei que você ia ser muito mais teimoso com isso — Lee falou, enquanto Isaac começava a fazer sons imitando beijos.
— Calem a boca, todos vocês.
Mesmo assim, eles continuaram gritando “Vai, Alex!” e, na verdade… Walter acabou sorrindo. O apoio de seus irmãos e amigos pareciam mais um indicativo de que ele não ia cometer o mesmo erro, de que ele poderia ser feliz.
Alex desviou das pessoas que dançavam, murmurando pedidos de desculpas, antes de entrar na casa. Passou por alguns caras do time da escola jogando o XBOX que o namorado de Megan havia levado. não estava no meio deles. Ela também não estava na cozinha gigantesca e nem na outra sala de estar, que mais parecia um mini cinema.
? ?
Ele encarou as escadas. Será que ela tinha subido? Seu estômago se revirou de repente. Será que tinha subido com alguém? Alex sacudiu a cabeça, dividido se deveria subir ou não, se deveria apenas manter as coisas como estavam.
Eu vejo como ela olha pra você. Ela gosta mais de você do que a Jackie jamais gostou.
As palavras de Cole ressoaram na cabeça de Alex a cada degrau que ele subia, encarando vários quadros de Megan, da família de Megan e alguns prêmios e condecorações que provavelmente eles haviam comprado, e não merecido.
O corredor do segundo andar era imenso. Alex contou oito portas, e teve que bater de uma em uma.
?
O primeiro quarto estava ocupado com um casal que, para seu alívio (por mais que ele não quisesse admitir), não era composto em nenhuma das partes por .
A segunda porta estava trancada, e Walter reconheceu que era do escritório do pai de Megan. Já devia estar trancada antes mesmo de ele entrar, ou assim ele esperava.
Ele ouviu gemidos atrás da terceira porta e decidiu não abrir, torcendo de novo para que não fosse ela. A imagem dela com outra pessoa o deixava enjoado.
Então, ele abriu a quarta porta, já completamente desanimado, mas travou ao encontrar um quarto gigantesco com uma varanda enorme. E, sentada com as pernas cruzadas em uma cadeira enorme na varanda, estava , lendo um livro enquanto mordiscava alguma comida.
O coração de Alex se acalmou diante da possibilidade de não estar com ninguém, só para disparar de novo. As pernas expostas dela eram bonitas demais, assim como a careta que ela fazia por trás do óculos enquanto lia o livro.
Walter fechou a porta e deu um sobressalto, sua expressão assustada sendo substituída por um sorriso quando ela viu Alex.
— Ah, é você. — Ela colocou a mão por cima do coração.
— Esperava outra pessoa?
— Definitivamente não. — Ela ajeitou o marca páginas no livro e se virou para ele, apoiando os braços no apoio traseiro da cadeira. — Minha bateria social só começou a se sobrecarregar. Gosto de festas, mas preciso do meu tempo.
Alex sentiu um calor gostoso no peito ao reconhecer tanto de si naquela atitude.
— Então decidiu subir para ler…?
— Percy Jackson. — Ela sorriu enquanto mostrava o livro. — Eu sei, demorei demais para ler.
— Na verdade, eu nunca li Percy Jackson — ele confessou.
— Não?! — estava com os olhos arregalados. — Mas é uma história maravilhosa! O Percy é tão divertido, e meio lerdo, acho que nossas cabeças funcionam de forma parecida. E a releitura com mitologia? Absolute literature!
Alex deixou escapar uma risada.
— Não era você que estava me contando que nunca tinha lido até então? Como pode me julgar depois de eu confessar meu segredo pra você?! — Ele fingiu estar ofendido.
— Tá, você meio que tem razão — ela admitiu.
— Eu tenho com certeza razão.
revirou os olhos, mas deixou um sorriso escapar antes de dar um tapa no espaço que estava sobrando ao seu lado na cadeira.
— Vem, vamos corrigir esse erro.
— O quê? — Alex perguntou, meio confuso, meio anestesiado com a expectativa que percorria seu corpo.
— Vamos ler Percy Jackson.
— Agora?
— Agora.
— Juntos?
— Estava pensando nisso, mas se achar que você é lento demais e preferir que eu leia pra você…
— Eu não sou lento demais — ele disse, sentando-se ao lado dela. — Mas gosto da ideia de você ler pra mim.
Os joelhos deles se encostaram e a pele úmida dos dois se grudou. Muitas coisas estavam acontecendo dentro de Alex enquanto ele se ajustava e, pela falta de espaço, passava um braço em torno dos ombros de , que apoiou a cabeça em seu peito.
— Certo, vamos começar a leitura. Você já viu a série?
— Sou contra ver a adaptação antes de ler o livro.
— Claro que é. — Ela revirou os olhos. — Tá, então você não conhece a frase icônica de como o livro começa.
— Não conheço — ele confirmou.
— Preparado?
— Manda ver.
Olha, eu não queria ser um meio-sangue.
continuou lendo o primeiro capítulo, seu sotaque cantado fazendo as palavras dançarem em sua boca e nos ouvidos de Alex, que não poderia pensar em um momento melhor na sua vida. Em outra ocasião, ele estaria ansioso demais para aguentar ouvir cada página e estaria devorando o livro no seu próprio ritmo.
Mas era . E tudo ali parecia muito certo.
Eles demoraram meia hora lendo e debatendo o primeiro capítulo. lia a história e Alex tecia alguns poucos comentários, temendo atrapalhá-la, mas ainda querendo demonstrar curiosidade.
Quando virou a página e o capítulo dois iria começar, Alex resmungou:
— Como podem pensar que a Sra. Dodds não existe mais? O Sr. Brunner ajudou o Percy, ele não pode ter esquecido.
— Esquecido? Estão dizendo que ela nem mesmo existiu.
— Mentira! Isso é alguma magia dos deuses, certeza, clássico de livro que tem magia envolvida. E o Sr. Brunner tá envolvido. E o Grover também!
— Droga, você é muito bom adivinhando o enredo! — fechou o livro para soltá-lo e cruzar os braços.
— Não fica chateada, eu já li histórias demais — ele falou, colocando as mãos nos braços dela, descruzando-os delicadamente.
— Mas você nunca vai acreditar o que acontece em seguida.
— Ele vai conhecer alguma garota que vai ser melhor amiga dele, vai formar um trio com ele e com o Grover, e vai virar namorada dele, né? — Alex falou, sorrindo.
— Não vale, essa parte é óbvia! — ela falou, se virando de frente pra ele. — Tem muito mais coisa que…
Mas travou quando percebeu quão perto do rosto de Alex ela estava. Ele, por sua vez, sentiu seu coração bater no ouvido, de tão acelerado que estava. Ele já havia percebido, desde a primeira semana, quão bonita ficava quando estava debatendo alguma coisa.
Agora, vendo-a brigar com ele por causa de um livro, Alex pensava que nunca havia visto algo tão lindo em toda a sua vida.
Percebendo o silêncio do garoto, desviou o olhar, forçando um sorriso sem graça.
— Quer avançar para o capítulo dois? — Ela encarava a capa do livro, fingindo que não estava constrangida. — Os nomes de cada capítulo são muito divertidos, se você parar pra…
.
Ela ergueu o olhar para ele, levemente surpresa.
— Alex?
O garoto tomou fôlego, percebendo suas mãos levemente trêmulas. Ele não ousaria estragar aquilo, não de novo.
— Se por acaso eu te beijasse… você ia sair correndo por aquela porta me chamando de maluco?
abriu um sorriso, mas ele foi substituído por uma expressão preocupada que iluminou seu rosto.
— Mas, Alex… e a Jackie? — ela perguntou, extremamente receosa, ao que ele sacudiu a cabeça em negação.
— Jackie foi embora. E estou começando a pensar que o que você falou era mais verdade do que eu gostaria de admitir.
— Alex, eu não sei… Você não precisa se sentir forçado a isso, se você ainda estiver processando seus sentimentos, eu…
— Eu tive tempo demais pra processar meus sentimentos — ele disse, subitamente sério. O olhar dele vagou para a boca dela. — Eu não tenho dúvidas do que eu estou sentindo agora. — A voz dele saiu sussurrada, mais rouca, conforme seu coração acelerava e suas bochechas ficavam levemente vermelhas. — Você tem?
Ela engoliu em seco, procurando nos olhos dele qualquer sinal de hesitação, mas, não encontrando nada, relaxou, apoiando as mãos no peito dele.
— Não. Não tenho.
— Ainda bem — ele falou, aliviado, antes de colar a boca na dela.
Alex não estava beijando na boca pela primeira vez. Ele já tinha tido duas namoradas, se isso contava de algo. Mas nada, nada mesmo poderia se comparar à sensação de beijar .
O choque que o beijo enviou para todo o seu corpo foi demais para si, e Alex não se aguentou, segurando na cintura de , coberta pelo maiô molhado. Ela gemeu na sua boca, o que fez com que novas sensações maravilhosas tomassem conta dele. Aquele era, definitivamente, o melhor dia de sua vida.
Talvez aquele beijo fosse também diferente por ser muito brasileiro. não demorou a invadir a boca dele com a língua dela, e Alex se surpreendeu com a atitude, antes de derreter com a sensação de estar tão unido de . Não cometeria o mesmo erro de anunciar que estava amando uma garota que ainda estava conhecendo, mas aquele sentimento parecia bem mais certo. Se não era amor, sabia que, eventualmente, era onde acabaria chegando.
Os dois se afastaram, ofegantes, para se recuperarem do beijo. Com as testas coladas, eles se olharam e, inevitavelmente, começaram a rir. Nada era engraçado, apenas… feliz.
Alex passou uma mecha do cabelo de para trás da orelha da garota, enquanto ela ajustava os óculos em seu rosto com um sorriso bobo.
— Nada mal para um americano, Alex. Jurava que todos beijavam mal — provocou.
— E você tinha feito algum teste para confirmar isso antes? — ele perguntou para implicar com ela.
— Para ser honesta, antes de agora, não — ela respondeu, sorrindo. — Acho que minha experiência também foi fora da curva.
— Você é fora da curva. Você é linda demais.
As bochechas dela ficaram vermelhas com o elogio e ela se virou de costas para ele, voltando a se apoiar no seu peito. se inclinou para pegar o livro novamente.
— E aí? Pronto para descobrir o que aconteceu com a Sra. Dodds?
— Com certeza. Mas só se fizermos pausas a cada fim de capítulo.
— Ah, é? — perguntou, e ele podia ouvir o sorriso em suas palavras.
— É. Pra processar melhor as informações, sabe?
— E vai ajudar se sua boca estiver na minha?
— Definitivamente — ele disse, depositando um beijo na cabeça dela. Em troca, ela se inclinou para mais perto dele.
— Então tá combinado. — abriu o livro, passando pelas páginas com pressa até alcançar a página onde eles haviam parado. — Capítulo dois: três velhas senhoras tricotam as meias da morte.
Eles não perceberam quando o sol se pôs, hora entretidos no livro, hora distraídos pelos beijos e toques que ainda iriam descobrir. Não sabiam dizer qual curiosidade estava maior: pela história ou por si mesmos.
Mas, ali, Alex percebeu que o curso de verão não era mais o único lugar onde ele se sentia em casa sem estar em casa. Era verdade, em um ano teria que ir embora. Mas ele não queria pensar naquilo. Não, ele acreditava que eles ainda dariam um jeito. Porque por aquela sensação valia a pena lutar.



FIM!


Nota da autora: Olá! Obrigada por ter chegado até aqui, espero que tenha gostado da história!
Esse surto começou ano passado depois de assistir a série. Escrevi 9 páginas do que eu pensei que seria só uma história divertida para incluir uma das minhas melhores amigas fanfiqueiras nesse universo para dar ao Alex o final merecido para ele. Tantos meses depois, encontrei o rascunho da história e, novamente inspirada, acabei terminando de escrevê-la em dois dias kkkkk a história e os personagens tomaram conta de mim como não acontecia há tempos.
Foi tão prazeroso escrever essa história e espero que seja tão divertido ler como foi para mim escrever! <3

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