Última Atualização: 29/03/2025
Manuel Rivera, era dono da Rivera Records uma das maiores gravadoras da Califórnia, o sonho de qualquer banda ou artista. Conhecido por ter um “olhar clínico", o negócio que Manuel entrava dava sempre certo. Sendo assim, e seu seleto grupo de dois amigos sempre tiveram o sonho de serem “notados” pelo homem.
Então quando foi possível os três se juntaram, gravaram por horas e enviaram uma única demo para Rivera Record, e depois de dois meses, foi chamado para uma reunião. Ele tentou de todas as formas não criar nenhum tipo de expectativa, mas só de receber um e-mail deles, já fez com que seu amigo Adris saísse três dias seguidos para “comemorar.”
E agora ele estava ali vivendo o que sonhou…não exatamente. A reunião no primeiro momento foi amigável, Manuel era extremamente afetuoso e teceu elogios sobre cada integrante, fazendo questão de saber os nomes. Também admirou a coragem de de trabalhar com sua banda e em mais alguns empregos para ajudar sua família com os estudos do irmão.
Quando a conversa tomou um rumo em relação ao fechamento de contrato, o jovem jurou que poderia infartar naquele momento, mas de certa forma se conteve apenas balançando a cabeça afirmativamente. Rivera, ofereceu valores justos, explicou sobre as possíveis formas de contrato e deu de exemplo artistas que trabalhavam com ele há anos. Tudo caminhava de forma promissora até que…
— , mas preciso ser sincero com você. Sua banda é boa, você canta bem, mas ainda falta algo em vocês. Algo que os una, uma voz entende? — Se levantou e começou a caminhar na sala de um lado para o outro. — Pensei que poderíamos adicionar uma voz feminina, mas como você disse Kaira, a baterista, odeia cantar, certo? — viu o jovem concordar com a cabeça. — Então vamos ter que adicionar alguém de fora.
— Assim que assinarmos os contratos, me disponibilizo para fazer os testes para a vaga de uma nova integrante. — Esboçou um pequeno sorriso. — Isso não vai ser necessário, . Já temos uma integrante. — Pegou um porta-retrato que estava em cima de sua mesa e entregou para o jovem, que ficou confuso ao ver a foto de uma garotinha. — Essa é minha filha, mi pequena, se chama . Ela é uma ótima cantora, mas ultimamente se esqueceu disso e quando eu ouvi vocês, soube que era a coisa certa a se fazer.
— Você vai colocar a sua filha como integrante da minha banda? — se sentiu ofendido de certa forma pelo homem apenas informar a ele essa decisão.
— , sei que parece radical isso, mas trabalho nessa indústria há anos. Com a colocação de um novo timbre, podemos mesclar e criar algo novo…e isso é perfeito para uma banda jovem.
— Sim, eu concordo. Só não concordo de não haver nenhuma seleção.
— Não é necessário, dou minha palavra que é incrível cantando. Ela nasceu para isso.
— Desculpa, sr. Rivera, não quero de forma alguma te desrespeitar, mas é um pai falando da filha. E outra, sempre tomo decisões em conjunto com Adris e Kaira, caso eles aceitem tudo bem, do contrário, teremos que abrir uma seletiva.
— Caso eles não aceitem, não terá seletiva, sr. . Porque simplesmente não haverá contrato algum. — o homem se sentou na cadeira, parecendo irritado. — Entenda uma coisa, esse mundo que vocês estão entrando é uma grande via de mão dupla, de um devendo favor para o outro, e não me sinto confortável de ser eu a ensinar isso a você. Mas, essa é minha última cartada com , preciso que ela entenda e tenha noção do seu talento, se eu falhar com o talento da minha filha, falhei em tudo…
Manuel confessou como uma última forma de ceder. sempre havia sido um doce de menina, carinhosa, atenciosa e cantora. A casa se enchia quando a voz dela preenchia cada cômodo. Ele sempre tentou dar o máximo de carinho para filha, em uma tentativa de abafar a inexistência de sua mãe durante toda sua vida.
E isso funcionou por um tempo, não para sempre como ele esperava. Então quando descobriu a verdade sobre sua mãe, foi como se a voz dela fosse roubada, e depois disso ela se recusou a cantar e interagir como antes com seu pai. Eles agora, mal se falavam, apenas quando o necessário, quando ela ia a produtora fazer alguma aula, apenas isso….
Porém, na noite em que recebeu o e-mail da banda da garagem, ele pensou no mesmo momento que primeiro: tinha que mudar o nome da banda, segundo eles tinham talento, mas faltava amor e isso ele sabia que tinha de sobra pela música. Foi aí que surgiu a ideia, talvez integrando uma banda ela ressignifica-se as descobertas sobre sua mãe.
— Então eu peço para você, faça esse favor para mim, sei que é importante o contrato para todos vocês e para mim também é.
E assim se instaurou um dilema na cabeça de aceitar o contrato e de brinde ganhar uma vocalista que ele julgou ser mimada, já que pelo jeito Manuel fazia tudo para ela. Ou negar, negar e manter a moral e os seus valores acima de tudo. Até mesmo dos estudos do seu irmão mais velho e a confiança de seus dois colegas.
estendeu sua mão em direção ao homem. — Tudo bem, eu aceito esse acordo.
Manuel apertou forte a mão do jovem, abriu um largo sorriso, contornou a mesa e o abraçou pegando desprevenido.
— Obrigado, e saiba que os contratos são renovados de ano em ano, então se algo não der certo em relação a ela, pode ter certeza que eu serei o primeiro a desfazer isso.
O trajeto para casa foi barulhento, a mente de não parava de pensar nas possíveis merdas que poderiam acontecer, agora que a banda de garagem tinha um contrato e uma nova integrante.
Ele queria comemorar, queria contar a todos o que tinha conseguido, mas simplesmente se tornava impossível, ele não via a hora de chegar em casa e contar para os amigos o que tinha acontecido, e assim, vendo a reação deles saberia como agir.
Logo que chegou em casa, a figura de sua mãe tomou a sua frente, ela parecia ansiosa, suas mãos estavam trêmulas e ela falava com ele de forma rápida, com certa pressa de passar a informação. Quem dera essa ansiedade fosse em relação a ele e sua banda.
— , que bom que chegou! Eu precisava muito falar com você. — Encarou o jovem por alguns instantes. — Liam, Liam ligou. E sei que esse mês está puxado para você, e também sei que você já mandou a mesada deste mês, mas ele falou que tem livros, apostilas, impressões… — não permitiu que a mãe terminasse.
— Tá, mãe, eu mando mais dinheiro para ele, é isso? — Viu a mulher à sua frente apenas concordar com a cabeça. — Onde está o Adris e a Kaira?
— Estão na garagem. — passou por ela indo em direção a garagem, então ela o chamou. — , obrigada! — deu um sorriso de ternura para o filho.
Antes de abrir a porta que dava entrada para o cômodo que os amigos estavam, ele contemplou por um momento o silêncio, não havia barulho nem do lado de fora e nem do de dentro. Assim, ele entendeu que a tensão sobre seus ombros era a mesma dos amigos, que pela primeira vez estavam juntos em silêncio. Quando ele adentrou a garagem, os olhares recaíram sobre ele. Adris se levantou e Kaira continuou sentada, apenas o encarando.
— E aí, cara? — não respondeu. — Mano, fala, porra. — se sentou ao lado da amiga.
— Galera, é o seguinte, a gente fechou o contra… — O jovem não conseguiu nem terminar, pois os amigos iniciaram uma comemoração o abraçando e gritando. — Pessoal, galera, eiii…— Empurrou os amigos de forma brusca. — O contrato foi fechado, mas foi com uma condição.
— Qual condição? — Kaira se pronunciou pela primeira vez, assumindo uma postura rígida.
— O Manuel…ele quer que a filha dele seja vocalista da banda, junto comigo. — ao final da frase ele soltou o ar de seus pulmões.
Agora o jovem se sentia menos tenso por compartilhar isso com os amigos.
— Foda-se, a gente tem um contrato, mano. Vamos comemorar. — Adris deu de ombros.
— Nem pensar, , nossa banda é uma coisa íntima, a gente tá junto há tempos para chegar a filha dele e ser a estrelinha. — disse a última palavra com certo desdém.
— Kaira, para de ser chata, o que que tem ter mais uma mulher na banda? Você não canta mesmo, e pelo menos eu posso fazer casal com alguém.
— Deu um pequeno soco no ombro de Adris.
— Não estou sendo chata, estou sendo racional. E se essa garota chega e começa a mandar, mudar nosso repertório…e até fala que você tem que tocar menos, Adris?
— Aí também não né, Kaira, tudo vai ser conversado. E outra, eu prefiro ela e o contrato, do que a gente sem contrato.
O silêncio se instaurou por um instante, os três se entreolharam sem nada dizer. Então tomou a iniciativa de falar.
— Eu assinei o contrato! — após dizer isso encontrou os olhos de Kaira, queria saber o que amiga achava de sua decisão.
— Aehh caralho — Adris o abraçou enquanto pulava. Depois o soltou e foi até um canto da garagem.
— E você, Kaira?
— Tá, tá bom. Melhor ter um contrato do que nada, né. — esboçou um sorriso.
Um barulho de algo se abrindo ecoou e logo a rolha disparada no ar bateu na perna de . Quando ele procurou em volta, viu o amigo bebendo no gargalo de um champanhe e se aproximando deles.
— Onde você conseguiu isso?
— Eu meio que já sabia que a gente ia conseguir, então antes de vir para cá, eu comprei.
— Isso é super caro. — disse a jovem, quando um amigo passou a garrafa para ela.
— Relaxa, gatinha, eu dividi no meu cartão que daqui alguns meses será premium platina black.
e Kaira se entreolharam e iniciaram uma gargalhada da felicidade do amigo. A tensão estourou junto com as bolhas de champanhe e os três tiveram certeza de que nada seria como antes
Mal conhecia essa mulher e já tinha uma certa repulsa pela vida ser tão fácil e compassiva com ela. Ela entraria em uma banda, aproveitaria de outros talentos e sucessos, sem ter feito esforço nenhum, apenas porque ela era filha de alguém.
E foi nesse momento que perdeu um pouco da sua admiração pelo trabalho de Manuel Rivera, e se questionou se todos nesse meio agiam dessa forma, todos passavam seus desejos acima das pessoas?
Os pensamentos dele foram roubados pelas gargalhadas de Adris que acabara de descobrir que na limusine que eles estavam tinha champanhe a vontade, tudo aquilo parecia um sonho se tornando realidade. Eles estavam passando pelas ruas da Califórnia em uma bela limusine, rumo ao estúdio Rivera prestes a se tornarem uma banda de prestígio.
— . — Chamou a atenção do amigo. — A garota, a tal , ela já está lá?— sabia que diferente de Adris, Kaira também não estava nada à vontade com essa história assim como ele.
Pegou seu celular e verificou mais uma vez a mensagem de Manuel.
— Pelo que o Manuel disse sim, parece que ela tem aulas de piano agora de manhã…ei dá uma maneirada ai, Adris. — disse pegando a garrafa da mão do amigo. — Preciso do meu tecladista sóbrio, ok?
— Tá, mano, relaxa. Foi apenas um gole para descontrair.
se recostou no banco tentando relaxar nos minutos restantes antes de chegar ao estúdio, então um breve filme passou pela sua mente. Começou a rememorar quando a banda de garagem surgiu…
Eles estavam no ensino médio, tinham entre 16 e 18 anos, não eram nada populares e isso acarretava a não ser chamados para festas. Mesmo não sendo convidado para nenhuma festa, Adris gostava de ser “informado” e sempre sabia de todas que estavam rolando pelo colégio.
E foi em uma dessas que ele ficou sabendo que teria uma festa que seria cancelada porque a banda contratada tinha pegado virose, e em uma conversa boba dos três eles tiveram a ideia de fingir ser a banda só para entrar e curtir um pouquinho que fosse.
Isso não seria difícil já que Adris fazia aula de piano e teclado desde pequeno, tinha um talento excepcional para guitarra, violão e baixo e Kaira tinha iniciado aulas de bateria. Eles poderiam enrolar por meia hora e aproveitar um pouco de interação humana além da deles, é claro!
Quando se reuniram para ensaiar qualquer coisa, e como se sempre tivessem feito aquilo, a harmonia fluiu dos três e quem observava falaria que era palpável. Então aos poucos o que era apenas meia hora em uma festa se transformou em shows todo final de semana. Os pais de Adris ficaram tão felizes que agora o filho tinha tomado um “rumo” para algo que presentearam os três com instrumentos impecáveis e isso só fez com que eles quisessem tocar cada vez mais.
com o tempo foi dominando a sua vergonha e se prestou a cantar e descobriu, o poder de cantar e compor, mas, o compor ainda era um segredo para todos. E foi assim que eles se denominaram banda de garagem…e pensar que querer participar de uma festa poderia trazer eles até esse momento atual. Era loucura.
Havia uma certa tensão no ar, resolveu não encarar o sr. Rivera, de certa forma, estava ainda chateado com toda a situação. Porém não era sua intenção criar um clima logo de cara com o seu chefe. Então a melhor forma que ele encontrou para disfarçar isso foi fingindo estar afinando sua guitarra, enquanto os amigos também verificavam seus instrumentos.
O estúdio era lindo, amplo e todo decorado em madeira, na sala que eles estavam tinham um isolamento acústico de primeira, um vidro os separaram do painel de controle e de Manuel, que apenas observava toda a movimentação, havia mais pessoas com ele lá.
— Mano, o cara está te chamando lá. — Adris avisou para o amigo, apontando para o homem mais velho.
— Ah. valeu. — caminhou para mais perto da divisão de vidro.
Manuel não disse nada, apenas acenou com a cabeça e com isso se virou e lançou um olhar primeiro para Adris, que apenas endireitou sua postura e depois para Kaira que saiu do cômodo de forma decidida.
Kaira caminhou em passos largos rumo a sala indicada pelo Sr. Rivera mais cedo, minutos antes de abrir a porta ela repassou as instruções de :
“Você tem que parecer convincente, ela vai estar lá no intervalo da aula, você tem que parecer desesperada. Na busca por algo que APENAS ela pode fazer. Você vai falar que a banda que você faz parte veio fazer um teste, mas que o vocalista está muito nervoso e com isso você acha que vocês vão perder o contrato. Então você olha para ela e pergunta se ela sabe cantar, ela vai dizer que sim, e se ela negar, insista! Com isso você vai ter a ideia de ajudar o vocalista a cantar e levá-la para o estúdio. O resto é comigo”
— Okay, Kaira, você consegue. — Abriu a porta em seguida.
Quando Kaira entrou na sala a jovem estava de costas, parecia concentrada, mas logo se virou para encarar a loira que agora começava a encenar.
Kaira colocou a mão sobre o peito e iniciou um choro falso.
— Me desculpe, eu pensei que não teria ninguém aqui.
— Não, que isso, tudo bem! Se quiser eu posso te deixar sozinha. — Se aproximou mais da loira, que começou a respirar de forma alta. — Tá tudo bem com você…?
— Me chamo Kaira. Olha, não queria te atrapalhar, nem nada, mas não está nada bem comigo. — Então a morena indicou para que ela se sentasse na poltrona atrás delas. — Acho que vou perder a única oportunidade da minha vida. — Colocou as mãos sobre o rosto e iniciou um pequeno choro. — Está tudo perdido.
se abaixou e iniciou um carinho nas costas da loira.
— Tá tudo bem, se acalme, isso vai passar.
— Não, não vai, não tem como. Essa é a única chance da banda que eu faço parte se apresentar para um cara importante como o Rivera, e simplesmente nosso vocalista está em surto e disse que não consegue cantar. — Então Kaira se jogou nos braços da jovem a sua frente.
— Qualquer coisa vocês podem fazer essa audição mais tarde, não sei, ou outro dia?
— Não, Manuel foi irredutível, a gente tem que se apresentar hoje. Eu já estava me deslumbrando com essa chance, eu iria pegar o dinheiro e pagar a cirurgia da minha…. Minha — olhou para loira dando incentivo para continuar. — da minha cachorrinha de 17 anos.
Kaira odiava cachorros.
— Olha eu posso conversar com Ma…
— Não.— Kaira limpou os olhos e se levantou sendo acompanhada pela morena. — Tive uma ideia, se eu conseguir alguém que cante junto com ele, talvez ele consiga. — Nesse momento encarou de forma penetrante. Limpou o nariz e se pronunciou. — Você sabe cantar?
— Eu? — ela hesitou.
— Eu gostaria de saber para poder ajudá-los. — Kaira limpou novamente o nariz.
— Eu canto de vez em quando, mas não é nada assim muito bomm… — Foi interrompida pela loira juntando suas mãos com as delas em súplica.
— Você pode nos ajudar… — Sorriu de forma larga. — Sim, sim, você pode nos ajudar. Canta com a gente.
— Ah não, que isso, é mais fácil eu conversar com o Ma…— Foi interrompida mais uma vez.
— Por favor, eu estou pedindo, nem que eu tenha que me ajoelhar.
Kaira nunca se ajoelharia para ninguém, nem por um contrato bilionário.
— Eu quero muito ajudar minha banda, e acima de tudo minha cachorrinha, por favor…como você se chama?
— . — Dessa vez a jovem pareceu mais ríspida que antes.
— Kaira pegou seu celular e viu a mensagem de na tela “CADÊ VOCÊS” — Deixa para lá, meu parceiro acabou de avisar que Manuel desistiu de nos ouvir.
Essa era a cartada final, se a morena não topasse, não teria o que ser feito. Ela se encolheu e iniciou uma caminhada lenta até a porta, pedindo para todos os anjos estarem a seu favor, e convencer essa morena cu doce a cantar.
— Kaira…eu, eu te ajudo vai.
não se sentia nada preparada para cantar, fazia um tempo que ela não fazia isso. Não parecia fazer mais sentido, depois de tudo que ela descobriu continuar a cantar. E agora do nada surgia essa moça precisando de ajuda…ela pensou em deixar passar, mas sabia que se seu pai tomasse a decisão de não ouvi-los mais, seria para sempre.
Se havia uma coisa que ela havia herdado de seu pai, era suas decisões indiscutíveis, quando um Rivera tomava uma decisão ela sempre era de forma definitiva, e isso exigia que eles pensassem muito antes de tomá-la
Olhou para um canto onde um jovem de cabelos cumpridos loiros esboçou um sorriso para ela e ela retribuiu, as tatuagens dele a atraíram de imediato, esperava que ele pudesse admirar uma boa visão dela, assim como ela admirava a dele e seu teclado.
Correu seu olhar para Kaira que agora estava sentada em sua bateria, e então o olhar dela foi invadido pelo olhar de um moreno alto, com os cabelos sedosos que a encarava de forma fria, ele parecia um pouco pálido demais, e suas pupilas pareciam um vortex sugando todo o branco em volta.
Então esse era o tal ansioso que ela iria ajudar?
Não tinha mais como voltar atrás, né? tentou contato visual com o pai mais algumas vezes, mas não obteve sucesso. O moreno, apenas a encarou e voltou seu olhar para seu instrumento. Ela não sabia para onde ir ou o que fazer.
forçou um sorriso e caminhou para mais próximo do jovem moreno.
— E aí, tudo bem?
— Sim, você pode se posicionar aí, eles estão buscando mais um pedestal para você. — Não a encarou ao falar.
— Tá bom, obrigada. Ahh…— Tocou de forma leve o ombro do rapaz. — Vai dar tudo certo.
Então ela viu pela primeira vez levantar o olhar para ela, porém ele desviou para a mão da morena com certo tipo de “nojo” e isso fez ela rapidamente tirar sua mão. O que havia de errado com esse cara?
Um pedestal foi colocado na frente dela, o microfone foi ajustado. Então o pai dela a encarou de forma fixa, depois foi até um rapaz e cochichou algo em seu ouvido e assim ele começou a mexer na mesa de controle.
Além do microfone, entregaram a ela uma folha com a letra da música escolhida, ela estava um pouco surpresa.
O prato da bateria começou a ecoar no estúdio, esboçou um pequeno sorriso, porque sabia que nesse momento Kaira deveria estar com os olhos fechados sentindo os pratos vibrarem, enquanto Adris a observava.
Chegou a sua vez, entrou não apenas com sua guitarra de forma suave, mas com sua voz quase preguiçosa.
— Something bad is 'bout to happen to me…I don't know it, but I feel it comin. Might be so sad, might leave my nose running. — Conferiu pelo canto do olho a expressão da morena a seu lado.
Ela estava como chegou, encarando o papel a sua frente e certa felicidade surgiu nele. Por mais que Manuel tivesse um plano, ele também tinha, queria provar para quem fosse que aquela banda, aquele som, a música era uma coisa dele, Adris e Kaira. E de quem fizesse um teste “verdadeiro”
Então desde o início optou por escolher uma música do seu gosto pessoal, que de certa forma, não destacasse nada para jovem ao seu lado, ela não teria como trazer sua voz, para uma música tão calma, ela iria se atrapalhar e não cantar nada, assim como ele previa.
E ali, ele iria provar para Manuel, que ser filha de alguém não te garante talento.
respirou, estava feliz, porque amava essa música.
— Don't you give me up, please don't give up. — Percebeu que a melhor forma de se encaixar aquela música e aqueles músicos, era entrar de forma sutil, fazendo uma segunda voz e depois cantando. — On me, I belong with you, and only you, baby. — Pegou o microfone na mão.
Ela tinha que admitir a voz do jovem ao seu lado, era doce, mas ao mesmo tempo firme e com certa agressividade. Quando ele começou a cantar as primeiras estrofes, foi como se ele estivesse falando cada palavra contra a sua nuca, todo seu corpo se arrepiou com isso.
, começava a se lembrar o porquê amava cantar, pois quando a música entrava em seu corpo, tudo aquilo que a prendia ao chão e a realidade saia. Ela começou a andar pelo estúdio cantando e interagindo com o tecladista.
Quanto ela voltou para “frente” fez um sinal para que ela e o moreno dividissem o refrão, com a voz profunda e melancólica dela se misturando com o doce e firme timbre dele.
— Only you, my girl, only you, babe.— tocava sua guitarra, de uma forma agressiva por estar irritado com a moça ao seu lado. — Only you, darling, only you, babe. — Continuou olhando de forma fixa para os olhos de Manuel, gostaria de demonstrar seu desprezo pelos dois, evitando olhar para ela.
puxou um pouco do rosto do moreno, fazendo ele cantar um pouco torto, aproximou sua boca do microfone dele e começou a cantar de forma suave os trechos finais.
— Only you, darling, only you.
estava furioso e não conseguiu esconder. No último acorde do seu instrumento ele virou o rosto e se afastou da morena. Estava incrédulo da forma como tinha se saído bem, como se aquilo não tivesse sido nada.
E o pior, ela cantava bem.
Sua visão estava um pouco embaçada pela raiva, mas ele pode escutar as palmas vindo da cabine de vidro, Adris comemorando. Com isso, ele se virou para encarar Kaira e ela deu a ele um de seus olhares ameaçadores, que ela costumava dar para Adris e balbuciou um “Relaxa, porra.”
, tinha certeza que se aquela cena tivesse sido com o loiro tecladista, teria sido finalizada com um bom beijo, isso era certo. Agora esse cara ao seu lado, era um metido, estúpido e nada artista.
Um cantor, precisava interpretar para passar a verdade da música, saber cantar e tocar, muitos poderiam fazer. Mas, entregar uma emoção, a isso sim era arte…e nisso ele deixou a desejar.
A atenção de todos foi roubada, quando no autofalante dentro da cabine a voz do pai dele se fez ouvir:
— Todos estão de parabéns. . — ela viu o moreno acenar com a cabeça.
Então esse era o nome do metido.
— Kaira. — a loira deu um singelo sorriso. — Adris e com surpresa, . — Ela rolou os olhos ao encarar o pai. — Todos presentes aqui concordaram que vocês estão prontos para um contrato com a gravadora, venham para cá, para o quatros assinarem.
, se assustou, quatro?
— Manuel, acho que teve alguma confusão, eu não os conheço. Só cantei para auxiliar, não é…— se virou para Kaira — Não é?
— , mesmo assim, o que eu e meus investidores gostamos foi vocês quatros. — Colocou a mão sobre o vidro. — O contrato vai ser fechado com quatro.
— Mas, eu não faço parte deles. — Apontou para os músicos. — Eu fiz um favor. — Se aproximou do vidro, porque estava ficando irritada com aquela situação.
— É, Manuel, ela não faz parte da nossa formação. — se aproximou dela. — Se ela não quer o contrato, não tem problema.
— Acho que você não entendeu o sr. Peters, o contrato que estamos propondo é para as quatro pessoas que se apresentaram para nós, menos que isso, não queremos. Essa é minha palavra final. — disse isso e retirou os headphones.
, estava com um ódio eminente crescendo cada vez mais por seu pai, ela fechou os olhos para evitar chorar com tanto estresse. Ele estava a colocando em uma sinuca de bico, quando se virou para trás pode encarar sua nova conhecida e se lembrou do desespero dela.
Pensou que ela poderia agora, em vez de ajudar, prejudicar eles. Pensou na pequena cachorra doente, e tudo começou a girar em sua cabeça. Seu pai estava prestes a deixar a cabine.
— MANUEL— ele e mais alguns homens que o acompanhavam pararam de súbito. — E-eu assino o contrato com eles. — Olhou para tentando procurar alguma aprovação, mas ele apenas caminhou e retirou sua guitarra.
Com um largo sorriso, Manuel disse no microfone de mesa.
— Bem-vindos a Rivera Record.
e trocaram um breve olhar, sentia o sangue ferver e sentia o mesmo, isso causado pela mesma pessoa Manuel Rivera!