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Revisada por: Aurora Boreal 💫

Última Atualização: 13/08/2024

Eu poderia ficar olhando-o e ouvindo falar do quanto me amava por horas. Mas o meu coração estava apertado o suficiente para não conseguir verdadeiramente acreditar em suas palavras.
— Você tem que parar de falar essas coisas. — Então ele se calou e me olhou fixamente nos olhos.
Se alguns meses atrás me dissessem que eu receberia uma declaração de amor, com a luz da lua banhando nossas peles e a brisa cheirando a verbena, eu não acreditaria. E vivenciando isso agora, ainda custo a acreditar. Todos esses meses, eu trabalhei para ouvir isso, não foi? Eu não queria ser amada?
A próxima sensação que sinto depois desse momentâneo devaneio, é um líquido quente banhando meus pés e adentrando os meus dedos, levanto meu olhar e o vejo um pouco curvado, com uma mão sobre a barriga e a outra limpando a boca depois do breve vômito.
— Tá bom, hora de ir para casa. — Ele me olha de forma confusa, mas não diz nada, eu pego seu braço e passo pelo meu ombro, dentro de minutos ele adormece. Seria difícil de carregá-lo, mas hoje me dei o passe livre para utilizar meus dons, levanto meu dedo indicador e o movimento, fazendo-o levitar no ar atrás de mim.
Você deve estar se perguntando de que merda eu estou falando, quem eu sou, quem é esse vomitador de pés e porque caralhos tem uma pessoa levitando atrás de mim nessa história. O caminho vai ser longo até a minha casa, tempo suficiente para te explicar como eu vim parar aqui…
Bem vindos a Mount Desert, uma ilha da Nova Inglaterra, de paisagem deslumbrante e que, se caso você for uma pessoa interessada pelo mundo místico, já se tocou que aqui é o lar da lenda Maria Owens, que, no caso, é minha tataravó. Assim, dá para perceber que o poder está no sangue, tanto no meu, quanto nos das minhas outras cinco irmãs. Sou a sexta filha de Antonia Owens, conhecida como , a sorte da família.
Acordo no meio da noite e escuto a porta da varanda se abrir, e logo mais, um corpo iluminado apenas pela lua, adentra meu quarto, eu sorrio de canto… ele realmente veio. Jogo minhas cobertas no chão, me levanto e vou até ele. Passo meus braços em volta do seu pescoço e dou meu beijo mais apaixonado de todos. Porém, esse beijo é cortado quando ele me afasta de seu corpo, colocando as duas mãos em minha cintura e me afasta forçadamente.
Com esse movimento de Dylan, minha adrenalina e paixão se abaixam, e assim posso finalmente encarar o rosto do meu namorado. E me sinto confusa, porque diferente das outras vezes, eu não consigo decifrar o que há por trás da sua expressão, ele parece confuso, parece distante.
— Temos que conversar. —Ele é categórico, eu aceno com a cabeça e vou até a ponta da minha cama, me sento e bato com a mão sobre meu lençol para que ele também se sente. — , é jogo rápido. Eu gosto de você, mas acho que isso não tá rolando mais… eu não me sinto mais como antes.
— Como assim “isso”? Como “antes”? O que você tá querendo dizer, Dy?— Como ele tem coragem de chamar o nosso namoro de seis meses de “isso”, o que deu na cabeça dele? — Você está tentando terminar comigo?
— Entenda, querida… — Ele se senta ao meu lado, coloca o polegar sobre a minha bochecha e acaricia. — A gente tava se conhecendo e tava sendo muito legal. Mas agora não tá dando mais… deve ser alguma coisa comigo. — Eu desvio o olhar do dele, que merda, eu não posso estar passando por um término pela terceira vez só esse ano. — , eu te amo, não estou terminando com você por falta de sentimento. Estou terminando com você porque acho que não está funcionando como antes, não consigo me sentir conectado com você como antes, consegue entender?
Fico por um momento encarando-o, o quarto estaria em completo silêncio se não fosse por um besouro que chiava do lado de fora, em algum lugar. Meus olhos começam a arder e deixo que as minhas lágrimas escorram. Dylan desvia seu olhar de mim.
— Vai embora, ô babacão. — A voz de Nola se faz clara e firme. — Senão, eu juro para você que faço esse seu pinto murcho ficar menor do que já é, apenas com um estalar de dedos. — Então ela acende a luz do quarto e eu posso então ver o rosto do meu antigo namorado, sua feição é de medo/horror, mas nada de arrependimento ou tristeza. Definitivamente, o problema deve ser com ele, porque nesse momento, eu estou em prantos.
Ele se levanta, mas antes de sair por onde entrou, me olhou uma última vez e mandou um beijo pelo ar. Depois disso, escuto um estrondo e um pequeno grunhido, vejo Nola sorrir e sei que deve ser algum truque dela. Mas eu não me importo, ela então move sua mão e a porta da varanda fecha. Me encolho na cama e me deixo chorar.
— Ei, mana, não fica assim. — Sinto seu abraço caloroso sobre meu corpo, então ficamos nessa posição por um tempo. — Você sabe que sempre achei ele um chato né, fora que é super brega aquelas botas militar dele, isso só fica bom no Heath Ledger sendo o Patrick. — Eu rio dessa última frase, ela tinha razão, senso de moda era uma coisa que o Dylan não tinha.
O meu peito estava ardendo, por mais que uma coisa aconteça repetidamente na sua vida, isso não significa que você se acostume, crie uma casca ou se torne resistente. Porque, no final, toda a dor é única e nova, e me separar de Dylan era uma dor diferente das outras, isso eu não poderia negar. Ele era engraçado, tinha sido um grande amigo, para depois se tornar meu namorado. E, por fim, agora não era mais nada.
Sinto que, a cada término, eu vou deixando de existir um pouquinho, porque eu não entendo o que há de errado, será eu o problema? Será que a maldição sobre as Owens ainda perdura? Mas nada disso parece fazer sentido. Eu amei cada um deles, me doei, tentei ser a melhor… mas só isso não basta, ser eu não basta para que meus relacionamentos continuem. Gostaria de poder me congelar por um tempo e voltar só quando eu fosse madura, bem resolvida e amada por alguém.
Dylan Palasse e eu éramos amigos desde o maternal, era uma vida compartilhada. Mas foi apenas nesse último ano, depois do meu segundo namoro desfeito em abril, que ele resolveu se declarar. Me lembro que estávamos voltando para casa, eu chorava incessantemente por Kai, até que Dylan me beijou e todos meus caquinhos se colaram.
Em menos de uma semana, estávamos namorando. Ele era companheiro, compreensivo, eu me sentia feliz ao seu lado. Mas nada de coração disparado ou mãos geladas. Era apenas um conforto e agora eu estava desconfortável demais.
Escuto os barulhos matinais, torneiras abertas, a chaleira assobiando, minhas irmãs falando. Mas eu não quero me levantar, não quero fazer nada, quero apenas fugir de mim e de todos esses sentimentos. Nola pula na minha cama, finjo que não acordei, mas isso não é o suficiente para minha irmã.
— Hey, maninha, vamos levantar. Hoje tem prova e macarrão com queijo de almoço. — Ela me dá essas informações em uma tentativa de me animar. Se não fosse pela prova de biologia, eu me daria o direito de faltar. Saio debaixo das cobertas e encaro a menina à minha frente, que logo demonstra uma feição de estranhamento para mim.
— Meu Deus, você está péssima. — Ela se levanta e abre a porta, indo rumo ao banheiro. Antes de sair por completo do quarto, ela me advertiu. — Mais dois minutos nessa cama, você começa a fazer parte dela e vai se atrasar para a aula.
Pegamos uma carona com Olivia, minha outra irmã, durante o caminho, elas me informam sobre os preparativos do casamento de Astoria e Théa, minhas outras duas irmãs, que resolveram fazer seus respectivos casamentos juntas. O que me faz refletir o quanto elas são sortudas, porque Astoria e Théa vão casar com seus namorados de infância, Olivia está há dois anos com Charles e estão combinando de morarem juntos. E mesmo que Nola não fale, sei que deve estar com algum carinha lá do colégio.
E eu estou aqui, com o rosto colado no vidro do carro, passando pelo terceiro término esse ano. Acho que realmente eu vou ter que buscar a terapia, porque estou começando a crer que o problema de tudo isso sou eu. Eu sinto que algo dói dentro de mim, mas não sei se é necessariamente por ter terminado, ou por perceber que talvez eu consiga sobreviver sem ele e que ele não seja realmente alguém que eu amava de todo coração.
Será que para ficar com alguém, a gente tem que amar de todo o coração?
— O que ela tem? — Olivia pergunta para Nola, sobre mim. E sei que ela faz isso, porque sabe que ninguém me conhece mais que Nola.
— De forma simples — minha irmã informa — outro término. Mas ela vai ficar bem. Você tá me ouvindo? — Nola chama a minha atenção, se virando um pouco para me observar no banco de trás. — Tem como me emprestar uma grana?
— Você não recebeu sua mesada essa semana? —Meus pais sempre nos deram mesada, para que, de alguma forma, a gente criasse certo tipo de responsabilidade sobre o dinheiro… Bom, era o que eles esperavam, mas não o que Nola faz. Ela sempre acaba fazendo pequenos empréstimos, mas nunca tão no começo do mês assim.
— Vai me emprestar ou não? — Ela continua me olhando, mas agora de uma forma impaciente.
— Porque você precisa de tanto dinheiro assim? — Minha irmã, Olivia, indaga. Vejo Nola rolar os olhos, então ela se vira para frente e cruza os braços.
— Para nada, esquece. — Então ela se pronuncia de uma forma para que o assunto se encerre ali.
Eu passo pelas minhas primeiras aulas realmente focada. Durante meu breve intervalo, resolvi permanecer em sala e revisar alguns conceitos finais para a prova de biologia.
— Para que tantos filos? Fala sério, que merda. — Digo a mim mesma, por perceber pela quarta vez que sempre esqueço o nome de algum. Tento me concentrar mais uma vez para tentar decorar a sequência, mas se torna impossível quando tem um caso de família rolando do lado de fora.
Desisto, me levanto e me aproximo da porta da sala para ouvir a pequena discussão, que se torna cada vez mais calorosa do lado de fora. Não que seja novidade para mim, mas me surpreendo quando reconheço a voz de , por que merda eles estão brigando de novo?
— Eu não estou falando que não quero ir, só estou pedindo para que você espere eu sair do trabalho. — Ele gesticula de forma insistente com as mãos, sinal de que ele está a ponto de explodir. — Será que, pelo menos uma vez na vida, você consegue fazer alguma coisa sem ser do seu jeito, Di?
— Olha, se eu realmente fosse querer as coisas do meu jeito, você nem estaria trabalhando naquela porra. E segundo que eu não vou chegar atrasada de novo em uma festa para você chegar fedendo a gordura. — A garota se encosta em um armário. — O que custa você pedir para sair mais cedo? — Ela oferece uma solução simples e vejo revirar os olhos.
— Porque eu já pedi dispensa mais cedo nas últimas seis semanas que se passaram. Não sei se você se lembra. Fora que essas saídas mais cedo eles descontam do meu salário, Diana.
— Pede mais uma vez. — Ela dá de ombros para ele, então se endireita e fica frente a frente com o menino. Em uma passada rápida de olhos por cima do ombro do namorado, o meu olhar e do Diana se encontram. Merda! — Temos plateia. — Ela indica com a cabeça para ele que se vira e também me encara. Agora descoberta e sem graça, resolvo disfarçar. Abro a porta e finjo ir ao banheiro. —Não precisa disfarçar. Owens, que você é bruxa eu já sei, mas que é stalker é nova pra mim. — Ela esboça um sorriso cínico.
— Bom dia para vocês também, casal. — Enfatizo a palavra “casal” porque eles estão mais para inimigos em guerra.
— Bom dia, . — Ouço dizer de forma envergonhada antes que eu feche a porta do banheiro.
Inicio passos rápidos para o caminho de casa, preciso da minha cama e da minha manta conforto. Estou prestes a colocar meus fones, quando ouço alguém me chamando.
, … — Chama quase sem fôlego, correndo em minha direção. Quando se aproxima de mim, coloca a mão sobre meu ombro e puxa um pouco de ar. — Primeiro, eu queria te pedir desculpas por hoje mais cedo, você sabe às vezes a Di é meio…
— Babaca. — Completo a frase de e inicio uma caminhada acompanhada por ele. — Relaxa, você sabe que eu não ligo para ela. Nem para as ironias de quinto ano dela. — Isso é verdade, a Diana não é uma patricinha chata de filme, ela só tem um ciúmes doentio do , que faz ela agir desse jeito babaca. Mas teve uma época caótica que a gente foi até parceira de grupo de laboratório. — Mas me diz: como foi na prova hoje? Aquele esquema que eu te passei ajudou?
— Sim, me ajudou muito, vim também te agradecer. — Ele me dá um abraço de lado, meio desajeitado. — Nem acredito que vou passar nessa matéria sem precisar fazer reavaliação. Ah… última coisa que eu queria te falar é que vamos ter que desmarcar nossa sessão de estudos de amanhã. — Ele diz de uma forma meio desanimada. — Acabou que depois do trabalho eu vou ter uma festa…
— Ela te convenceu mesmo, hein. —Se tinha uma pessoa que conseguia convencer o , era a Diana. Eu ainda ficava assustada do poder dela sobre ele. Eu quero um dia ser apaixonada, mas que não seja nesse nível, por favor. — Não tem problema, mas fica esperto para não acabar acumulando tudo como da última vez.
— Pode deixar, Audy — diz, batendo uma continência, e eu solto um pequeno riso. — Diana me prometeu que vai ser mais compreensiva e essa será nossa última festa esse mês. — Ele parece realmente acreditar nessa promessa. Ainda há muita inocência neste mundo.
— Se você diz… — Dou de ombros e me despeço, seguindo meu caminho.




Era sábado e meus únicos planos eram dormir, dormir e maratonar filmes de romance clichê. Porém, os meus planos foram interrompidos no primeiro item da lista. Eu me viro de um lado, viro para outro, tentando me concentrar no sono, mas minha concentração sempre é interrompida por barulhos vindo do sótão.
O que é estranho, porque ainda não estamos trocando de estação para minha mãe querer fazer esse tipo de faxina… então porque caralhos estão mexendo no sótão? Por que o sótão tinha que estar bem acima do meu quarto?
Me dou por vencida e me levanto, encaro a cama ao meu lado e percebo que ela já está feita. O que é estranho, porque Nola nunca levanta cedo aos finais de semana. Caminho pelo corredor, subo uma pequena escada, e dos degraus finais já avisto algumas coisas jogadas na porta do local, algumas caixas, roupas, brinquedos.
Quando enfim adentro o cômodo, vejo suas janelas todas abertas e minha irmã, Nola, enfiada em meio a bagunça. Ela percebe minha presença, levanta a cabeça e me dá um sorriso sapeca.
— Bom dia. — A pouca atenção que recebo já se volta novamente para a caixa à sua frente. — Tá afim de me ajudar?
— O que te deu, para vir mexer aqui em pleno sábado? — Eu me aproximo, observando as coisas envolta dela, o que evidencia que ela começou muito mais cedo do que eu imaginava.
— Estou procurando um caderno… — Nola observa atentamente uma caderneta em sua mão, folheia rapidamente e a joga do meu lado. — É um caderno antigo da mamãe, preciso dele. — Me agacho junto a ela e começo a procurar em uma caixa que antes estava fechada. — Ele é de tamanho médio, tem uns detalhes azuis na capa. — Ela continua vasculhando, enquanto me dá algumas informações. — Você vai no ensaio de casamento hoje à tarde, né? — Nesse momento, sinto que ela apenas está afirmando e não me consultando. O problema é que eu nem lembrava desse ensaio. — A gente falou sobre isso a semana toda com você.
— Será que eu preciso mesmo ir? — Era bom estar reunida com todas as minhas irmãs juntas, mas o fato agora era que eu não tinha mais parceiro, quem ia aos ensaios comigo era Dylan e isso ainda me incomoda.
— Claro que precisa, são as suas irmãs que vão casar.
— O Dylan vai estar lá? — Minha pergunta é feita em tom de receio, porque ao mesmo tempo, eu quero que ele esteja. Sei que quero sua presença para confirmar, que ele também está mal com o término e caso eu perceba que ele não está mal, eu vou ficar ainda mais arrasada.
— Você é engraçada, né… Há seis meses atrás, você literalmente implorou para que Astória e Thea chamasse esse cara. E agora está evitando suas irmãs, porque esse cara vai estar lá. — Nola me encara de forma repreensiva, e sei bem o motivo. — Como boa irmã, liguei para o Dylan educadamente e informei que ele poderia ir, mas não era mais padrinho pelos motivos certos. — Concordo com a cabeça, porque mesmo dentro de suas broncas, Nola de alguma forma sempre me conforta. — ACHEI. — Nola dá um salto, mostrando sua empolgação. A vejo sair correndo do cômodo, com o tal caderninho da mamãe.
Astória e Thea estão cada dia mais ansiosas e mais lindas. Eu adoro estar na presença delas, porque de alguma forma, me transmite uma paz avassaladora, uma esperança de que tudo vai dar certo. Após uma pequena conversa e algumas fofocas entre eu e minhas outras cinco irmãs, dou a notícia do fim do meu namoro. Cada uma decide me consolar de sua forma.
— Olha… — Thea toca minha mão de forma gentil e me olha nos olhos. — Talvez fosse melhor assim, para que daqui algum tempo você possa verdadeiramente encontrar quem você ama. — Vejo Astória encarar Thea e depois concordar com a cabeça.
— Agradeça pelo o que vocês viveram, talvez possam se tornar bons amigos. — Astoria acrescenta.
— Não, nada disso. Você sempre vai ficar remoendo o que aconteceu quando se encontrar com ele, o melhor é se afastar. Deixei que o tempo cure. — Agora quem fala é minha irmã mais velha, Indiga. Todas as outras a encaram em forma de repreensão. — Que foi, gente? Falo isso por experiência própria, , quando mais nova eu ia na conversa dessas duas aí e acabava que eu sempre acompanhava meus ex’s iniciando outros relacionamentos. Enquanto eu pagava de boa amiga. — Por fim, toma um gole do seu café.
— Por que você não tenta com aquele loirinho? — Olivia sugere de forma simples.
E já sei de quem ela está falando, sei que tá falando do .
— Manas, vamos parar de falar dos fracassos amorosos da e vamos focar na temporada de festas da Nola. — Nola chama a atenção de minhas irmãs. — Eu percebi que nos Owens há tempos não damos nossa festa de halloween foda, e por quê?
— Porque a gente gastava demais com uma cidade que só critica a gente? — Minha irmã Indiga informa. Eu sabia dessa festa desde quando era pequena, costumava ser grande e reunia todo mundo, duravam até dois finais de semana. Todo mundo ajudava, participava e festejava. Porém, conforme fui crescendo, isso foi se acabando.
Essa tradição começou com a minha avó e minha tia-avó, Sally e Gillian, depois passou para minha mãe e minha tia, e quando chegou em mim e nas minhas irmãs, morreu. Mas conhecendo bem a Nola, sabia que tinha algo, além de reacender uma tradição familiar.
— E aí, o que acham? — Nola irradiava excitação em sua voz.
— Não sei… — Eu achava uma ideia legal quando criança. Mas depois de crescer e entender que representava que finalmente Sally e Gillian fizeram isso porque aceitaram seu título de “bruxas na vizinhança”, não me parecia mais tão genial assim. — Eu acho meio nada a ver recuperar essa tradição, o pessoal já acha a gente macabra. Se começarmos a festejar o halloween, vão, sei lá… querer queimar a gente em uma fogueira.
— Acham a gente macabra? — Astória me pergunta, com certo receio.
— Eles têm inveja que a gente sabe ler e usar o que a gente lê. Não nos acham macabras. — Olivia explica à Astória e vejo Indiga concordar com ela. Acho que, de todas as irmãs, a que não utilizava nenhum tipo de magia era eu. E era apenas nisso que Nola e eu nos distanciamos.
— Pensamento ansioso esse seu, hein, , ninguém mais queima bruxa ou falam de nós. — Nola me encara com desdém. Sei que ela odeia ser contrariada. — E outra, eu achei o livro de feitiços da mamãe e acabei encontrando alguns encantamentos para aumentar o dinheiro, ou arrumar um armário novinho em menos de meia hora.
Eu fugia do estereótipo Owen Bruxa de todo o jeito, eu evitava ficar lendo, eu evitava ter plantinhas, evitava até a usar chapéu. Queria que as pessoas soubessem que tudo que eu tenho é por meu mérito, não por três palavras ditas com a mão estendida. Mas era difícil,porque minhas irmãs, minha mãe, ninguém pensava assim em casa.
Elas passaram boa parte da minha vida me presenteando com livros de magia, me fazendo assistir Sabrina ou pelo menos tentando me fazer entender como funcionava as cartas de tarô. E era nesses momentos que eu fugia disso, que me fazia me sentir solitária.
Acho que eu também corria dessas coisas de magia, porque de alguma forma, me afastava da lenda de que todo amor verdadeiro de uma Owen em algum momento morria, sendo assim, a gente era destinada a viver sozinha.
Mas então eu olhava para minha mãe e via a linda família que ela construiu, via o amor dela e do papai e tudo parecia possível, até mesmo para mim. Porque quando duas pessoas verdadeiramente se amam, elas simplesmente se destinam a viver esse amor.
Nola me encara e se pronuncia.
— Okay, não precisa ficar emburrada. Estamos no século da democracia, vamos iniciar uma votação. Quem acha que devemos voltar com a festa de halloween levanta a mão. — E nesse momento, eu percebo que perdi. Porque a única irmã que não levanta a mão sou eu. — Mana, você pode ficar responsável pela sobremesa, docinho. — Nola me informa e solta um pequeno riso.




Os meus olhos estavam fechados enquanto eu respirava e inspirava calmamente aquele cheiro de alecrim, que vinha direto da pequena horta da minha mãe. A noite estava silenciosa e quente, e eu estava à espera de para revisar toda a matéria de química que ele tinha perdido essa semana, e que, por sinal, cai na prova de amanhã.
— A noite tá linda, né. — Nola diz, se sentando do outro lado da mesinha. — Eu queria conversar com você.
— Sobre? — Eu mantenho meus olhos fechados. E confesso que estou surpresa com a aparição de Nola, porque essa semana, depois do nosso pequeno embate no jantar de ensaio de casamento, acabamos um pouco distantes.
— Queria te pedir desculpas por ter sido um pouco incisiva no último final de semana. — Eu abro meus olhos e viro meu rosto para encará-la. — É só que, às vezes, eu não te entendo, . Não entendo porque você detesta tanto a nossa história, nossa tradição. — Ela pende a cabeça.
— Eu não detesto, eu só acho que… — Quero usar as palavras certas, porque eu já conheço essa cena e sei que, se eu não me expressar bem, isso vai se tornar uma grande discussão. Eu me endireito na cadeira para ficar totalmente de frente com a minha irmã. — É só que… isso já faz tanto tempo. Porque a gente tem que morar nessa casa? Porque temos que ficar utilizando magia, para quê toda essa encenação?
— Encenação? Quando eu e nossas outras irmãs nos reunimos, tomamos absinto, você acha que encenamos nossos dons, ? Não! A gente está apenas leve e despreocupadas, vivendo o que nossa tataravó não pôde viver, porque o mundo que ela vivia era uma merda.
— Tá, pode ser. Mas a gente realmente quer se destacar na multidão? Eu quero que me vejam pelo que eu sou, não pelas lendas da família… — Nola se levanta e bufa de forma indignada.
— Lenda da família? A gente não é folclore, . Nós estamos falando aqui sobre tradição, sobre cultura, sobre o que foi nossa família, o que ainda é e o que será. Se não fosse pela mamãe, a gente nem saberia quem era Maria e porque tentaram matar ela grávida. — Minha irmã fecha os olhos e inspira profundamente. — Nós não fazemos maldade, fazemos magia, quantas pessoas não podemos ajudar com nossos dons. Lembra quando a gente era mais nova e nossa vizinha idosa perdeu sua gatinha e ninguém achava? E lembra que ela veio até a mamãe e ela fez um encanto de rastreamento e assim a gente conseguiu achar a gatinha dela? , nós ajudamos as pessoas de uma forma que ninguém mais pode ajudar.
— Tá, eu concordo, mas eu não quero isso para mim. — E essa era a verdade, eu não estava impedindo elas de nada, estava apenas impedindo a mim mesma.
— Só que você não entende que um clã só é forte o suficiente quando todas estão juntas. Se você participasse mais, seria melhor. Por exemplo, você agora poderia estar em qualquer lugar aproveitando essa noite incrível. Mas está aqui ajudando o , você sabe que se usasse seus dons poderia ajudar ainda mais ele, de forma mais eficiente.
— Eu.não.quero. — Encaro minha irmã fixamente, para que ela entenda que esse é meu posicionamento final.
— Sabia que esse seu posicionamento me dá medo? Porque você parece uma preconceituosa e isso sim me assusta. — Nola sai pisando fundo e a acompanho até entrar em casa.
Alguns minutos se passam e chega.
— Boa noite, Audy. Acabou o combustível da minha moto bem em frente à lanchonete e acabei tendo que vir de pé, por isso demorei. — Ele explica enquanto coloca sua mochila sobre a mesa e retira alguns livros.
Estou ainda muito perdida na última discussão que tive com a minha irmã, com isso, não formulo nenhuma resposta para ele, apenas aceno com a cabeça, concordando. Quando olho para , posso ver que a lateral do seu rosto está um pouco esfolada.
— O que aconteceu? Seu rosto… — Me levanto e toco no ferimento. Vejo sua feição mudar para dor e seus olhos ficarem um pouco avermelhados.
— Eu acabei discutindo com a Diana… e… terminamos. — Ele levanta a cabeça e encara fixamente o nada. — Quando contei para o meu pai, ele não gostou muito. — Ele nega com a cabeça algumas vezes e continua vasculhando sua mochila.
— Peraí, , seu pai te bateu porque você terminou com a sua namorada? — Eu me recuso a acreditar que exista pais babacas a esse ponto.
Vejo uma careta surgir em , ele pressiona um pouco os lábios e se senta na cadeira. Me posicionei entre suas pernas e cruzo meus braços esperando uma explicação.
— Lá em casa as coisas não são fáceis. Depois que eu comecei a namorar a Diana, milagrosamente, as coisas começaram a se acertar. Por coincidência, meu pai, que era faxineiro do escritório do senhor Montgromy, pai dela, do dia para noite subiu de cargo e ganhou um escritório só para ele. Assim, toda vez que eu tento o término com a Diana, meu pai tem o emprego ameaçado e tudo em casa vira um caos.
E tudo começa a fazer sentido, toda essa obediência do e toda a autoridade da Diana sobre ele não passa de um jogo de poder entre famílias. É como se o próprio pai do vendesse ele por um “bem maior”.
— Todo dia eu tento trabalhar o dobro do anterior, para conseguir juntar um dinheiro e poder finalmente viver. Mas está muito difícil, porque aí eu começo a ir mal nas aulas e fico prestes a perder o ano, mas chega a Diana e me salva. E aí eu penso que talvez vale a pena ficar com ela. — Nessa última parte o seu tom de voz fica mais baixo, como se fosse uma afirmação para si próprio. Ele abraça a minha cintura a coloca a cabeça sobre a minha barriga e eu inicio um pequeno carinho sobre seus cabelos macios e dourados.
— É… somos dois fudidos. — Eu concluo e levanta a cabeça para me encarar.
— Ué, por quê?
— Eu também terminei com Dylan… Na verdade, ele quem terminou comigo. — Me desvencilho de e sento na cadeira à sua frente.
— Por que aquele idiota terminou com você? Quero dizer… ele era legal com você né, mas era um idiota com o resto.
— Ele invadiu meu quarto no meio da noite e me informou que não tava “rolando” mais.
— Que cara escroto. — fechou sua expressão.
— Mas mesmo assim, eu espero voltar com ele. — Dou de ombros. — Eu gostava de estar na companhia dele.
— Audy, é sério isso? Gostar de estar na companhia de algo, a gente gosta até de estar na companhia de um ventilador. Agora amar uma pessoa é mais que companhia, é coração. E se você não sente… algo relacionado aqui. — Ele aponta para o próprio peito. — Quer dizer que tá na hora dele sair daqui. — Agora ele aponta para sua cabeça.
Eu fico um pouco irritada com o comentário dele e o confronto.
— E você sente algo no coração, além do bolso, claro, pela Diana?
— Verdadeiramente? — Eu afirmo com a cabeça que sim. — Nunca senti por ninguém. Mas eu estou em uma situação que não posso escolher me apaixonar. Por exemplo, eu faria de tudo para voltar com a Diana e melhorar as coisas lá em casa.
— Se a gente não tem tempo agora que é jovem para se apaixonar, quando a gente vai ter, ?
— Você quer realmente me ajudar, Audy? Me faz uma poção para que a Diana se torne mais gentil e para que volte comigo. Porque assim eu vou conseguir ficar com ela e manter um relacionamento estável com os meus pais.
Eu rolo os olhos, não é possível que em menos de uma hora vamos retornar ao assunto de magia. Então uma ideia surge…
— Olha, eu posso te ajudar… não com uma poção. — Faço uma expressão de nojo. — Mas o que percebi é que você quer a Diana de volta e eu quero o Dylan. Sem discutir nossos motivos pessoais. E se a gente desse um jeito deles virem até nós?
Ele cerrou um pouco os olhos e apoiou os cotovelos na mesa.
— A Diana só viria atrás de mim se se sentisse ameaçada por outra pessoa… e a única pessoa que ela sente medo é você — conclui.
— Eu? — Okay, isso me pega um pouco desprevenida.
— Sim, ela acredita fielmente que você é uma bruxa e morria de medo de um dia eu tomar um copo de água enquanto estudava com você e acabasse me apaixonando perdidamente. — Eu não aguento e começo a gargalhar, como as pessoas podem ser inventivas. — E o Dylan voltaria se percebesse a gostosa que perdeu. — fala e fica um pouco vermelho.
— Temos uma ideia, e se começarmos um namoro falso?
— Isso parece interessante. — Ele estende a mão em minha direção. — Eu topo, parceira.
Eu aperto a mão do , confirmando nosso “acordo”. Agora sim, estou decidida que Dylan Palasse voltará a ser meu namorado.


Continua...


Nota da autora: Espero que se sintam magicamente em êxtase com essa história. E se ainda não assistiram da magia à sedução, deem uma chance para esse filme, por favor!
Com cariño Nadia!

💫


Nota da Beth Aurora Boreal: Nunca assisti esse filme, mas estou super intrigada para saber o que vai rolar, pois sou uma fã nata de fake dating e já estou torcendo por eles! ❤️

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