Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 31/10/2024Meus pensamentos se atravessavam em um imenso turbilhão, me deixando tão confusa que ainda que eu quisesse falar, talvez não conseguisse emitir nada compreensível. Era frustrante e ainda mais doloroso, embora eu estivesse ainda tentando distinguir se a dor mental era mesmo pior do que qualquer dor física que eu já havia sentido.
Apertei meus lábios, mordendo-os sem dó, meus ombros se chocaram contra a parede e meus olhos então se espremeram de frustração quando não senti dor com aquele último gesto. Tudo o que eu sentia era a ardência na boca e o gosto nojento de meu próprio sangue. As paredes não eram feitas de concreto e eu sequer havia me empurrado com força suficiente para que meu corpo batesse e voltasse para o chão, então se eu quisesse me machucar para valer precisava elaborar algo bem mais criativo. Ou talvez eu estivesse fraca demais para fazer qualquer dano a mim mesma. Malditas paredes acolchoadas! Maldita cor branca ferindo minha retina! Maldito lugar e maldito medo do que poderia entrar por aquela porta que me mantinha afastada do resto da sociedade. Custei a conseguir distingui-la em meio às paredes fofas, mas ali estava ela.
— Tem alguém aí? Socorro! — tentei, num mísero fio de esperança e de novo minha voz estava fraca demais para que o som ecoasse no volume que eu desejava. Mordi meus lábios com força mais uma vez e sabia que aquela era a situação perfeita para que lágrimas brotassem dos meus olhos e eu soluçasse até perder minha consciência, mas não foi o que aconteceu. Não mais.
Eu estava tão farta de não ser mais eu mesma.
Morrendo de ódio, me lancei mais uma vez contra a parede acolchoada, dessa vez batendo nela com minhas costas e deslizei até o chão, abraçando meus joelhos, sacudindo meus pensamentos, segurando então meus cabelos e os puxando com força. Talvez se eu começasse a me espancar de verdade eu conseguisse a atenção de alguém.
Pela milésima vez, a pergunta surgiu em meus pensamentos: o que diabos eu estava fazendo ali?
Era ridículo estar confinada em um lugar como aquele sem ter a mínima ideia de como ou quando eu me meti nessa, mas era essa a verdade. Há quanto tempo eu estava naquele lugar? Horas? Dias? Anos?
Deus, que alguém me ajude ou eu vou enlouquecer.
Ou talvez eu já estivesse completamente pirada, isso explicaria as paredes de colchão, mas por que eu não conseguia lembrar de absolutamente nada?
Era como se eu estivesse presa em um estúpido loop infinito, onde eu acordava naquele lugar, esperneava, sentia dor e frustração, então arrancava meus cabelos, me questionava e aí em algum momento minha consciência se apagava para tudo começar novamente.
Eu precisava de alguma coisa que me ajudasse a entender, uma palavra escrita no ar, uma voz ou um rosto. Tinha certeza de que qualquer uma dessas opções me ajudaria a encaixar as coisas, mas não vinha nada e como é que eu estava viva se nem água ou comida eu lembrava de ter ingerido?
— Que desgraça — resmunguei, em um som tão rouco que poderia facilmente ser confundido com um rosnado infeliz. Foi aí que meu coração quase parou.
O som característico de algum equipamento eletrônico chamou minha atenção, então levantei minha cabeça num supetão, procurando a origem daquilo e meus olhos se estreitaram em um canto daquela sala branca ridícula enquanto eu deixava para depois o questionamento de como eu não havia percebido aquela merda antes.
— Estão gostando do show? — indaguei, borbulhando de raiva ao encarar a porcaria de câmera. Será que aquilo estava ali desde o começo e eu não havia percebido? — Seja quem for, eu vou destruir a sua vida quando colocar minhas mãos em você — quem visse eu era a pessoa mais perigosa existente, mas estava com tanto ódio que eu mesma poderia morrer.
Levantei-me, sentindo meus pulsos doerem quando me apoiei, mas não liguei se tinha virado algum deles, eu queria fazer picadinho daquele objeto, assim como ele fazia com a minha sanidade.
Corri de forma ridícula os poucos metros de extensão daquela que eu chamava de minha cela, então peguei o melhor impulso que consegui e me lancei na direção da câmera, esticando minha mão para socá-la, mas só consegui atingir o ar e grunhir mais uma vez de frustração, tão alto que dessa vez senti minha garganta protestar. Pelo menos eu havia conseguido produzir algum som mais volumoso do que antes. Pulei mais uma vez sem sucesso e senti vontade de me esganiçar de tanto chorar.
— Me tirem daqui! Me tirem daqui caralho! Ah! Me tirem dessa porcaria de lugar! — bufei, caminhando de um lado para o outro, sentindo o ar ficar cada vez mais escasso enquanto minhas mãos tremiam. Uns passos até uma extremidade, mais alguns para o outro lado, nada. Só se ouvia o som da câmera se mexendo e minha respiração cada vez mais descompassada. — Me tira daqui, por favor! — Choraminguei, não tendo certeza se a última fala havia saído mesmo de minha boca ou se era algum pensamento ecoando alto na minha cabeça. Por um instante eu me perguntei se eu realmente estava falando ou se queria tanto ouvir minha própria voz que minha imaginação tinha projetado ela.
Pior. Será que a câmera era mesmo real?
Parei de andar, piscando meus olhos rapidamente porque de repente me senti tonta. Era impressão minha, ou as paredes fofas estavam se movendo, diminuindo o espaço entre si até que conseguissem me esmagar?
Não. De novo não.
Respira.
Inspira.
Expira.
— ? , está me ouvindo? — de onde estava vindo aquela voz? Eu estava sozinha aquele tempo todo, então como? De onde tinha surgido?
Não era real, eu só queria tanto que alguém estivesse ali comigo que projetava a doce ilusão.
Estremeci ao sentir um calafrio se juntar à tontura, então as coisas tremularam.
Não. De novo não.
Respira.
Inspira.
Exp...
Depois escureceram por completo.
— ! Está tudo bem, , acorde! — meus olhos obedeceram e foram se abrindo devagar, encontrando uma feição preocupada me encarando, mas para ser sincera não foi bem em sua expressão que eu reparei, foi em seus olhos. Eram , brilhantes, intensos e certamente eram o motivo do arrepio que escorregou por minha espinha, fazendo com que eu engolisse em seco, sem conseguir desviar meu olhar do seu. Por que eu desejaria encarar qualquer outra coisa quando tinha aqueles olhos focados em mim?
Balancei minha cabeça em negação, desviando meus pensamentos porque eu não fazia ideia de quem era aquela pessoa, muito menos os motivos por estar ali comigo. Poderia aquele ser o meu sequestrador?
Me sobressaltei num pulo, eliminando qualquer proximidade dele e me encolhendo como uma bola, foi aí que minha percepção voltou aos eixos. Não precisei olhar em volta para saber que ainda estava em minha cela, porém havia sido carregada e colocada sob a cama onde eu deveria dormir, uma ridícula projeção da parede acolchoada.
— Eu... — tentei, mas minha voz estava ainda mais rouca e minha boca tão seca que comecei a tossir, procurando por alguma forma de me hidratar em vão. — Água — me dei por vencida, murmurando à contragosto e o vi assentir, me estendendo um copo descartável com o líquido, como se estivesse o segurando o tempo todo. Ergui uma sobrancelha ao aceitá-lo, o tomando de suas mãos e bebi com tanta sede que ele precisou fazer um sinal indicando que eu parasse. Por pura rebeldia eu fiz o oposto, sorvendo o restante do líquido e me arrependendo quando outro acesso de tosse surgiu, dessa vez porque me afoguei.
Senti meus pulmões protestarem e minhas narinas arderem, mas ignorei qualquer expressão que ele estivesse fazendo em resposta ao meu ato, enxugando minha boca com as costas da mão direita e lhe entregando o copo de volta com a outra, num pedido mudo por mais. Ele o atendeu, buscando mais água num daqueles carrinhos que normalmente se vê em hotéis.
Mais uma vez, me questionei como não havia reparado também naquele objeto. As coisas não poderiam simplesmente surgir do nada naquele cômodo. Talvez eu estivesse fraca demais, ao ponto de minha percepção estar afetada até demais.
— Você teve outra crise de pânico, pelo que parece – me assustei com sua voz tão próxima, já que eu não havia reparado que ele voltou até mim, sorrindo de forma compreensiva. Foi aí que perguntei a mim mesma se minha percepção não estava apenas seletiva, já que os dentes perfeitos dele não passaram despercebidos. Alguma coisa no jeito daquele homem sorrir tinha me deixado quente, o que provavelmente transpareceu em meu rosto, já que senti minhas bochechas pegarem fogo. — Tome, vai fazer com que se sinta melhor – ergui uma sobrancelha quando ele me entregou um comprimido branco e por uma fração de segundo tive a impressão de que aquela não era a primeira vez que aquilo acontecia.
— Não — balancei minha cabeça com veemência, completamente relutante quanto aquilo. Eu não sabia quem era aquele homem. E se ele estivesse me drogando pra se aproveitar de mim? Por mais lindos que fossem seus olhos e seu sorriso, aquilo não lhe dava direito algum de fazer de mim o que bem desejasse.
Meus pensamentos foram interrompidos quando vi que ele soltou o ar em um suspiro, voltei a reparar em suas feições e seu olhar me dizia mais uma vez que ele me compreendia.
— , você sabe que está aqui não só pela sua segurança, não é? E se machucar a pequena Holly? Você se perdoaria por isso? — ele me encarou significativamente e eu sinceramente não entendi nada do que ele havia acabado de dizer.
— Eu não sei do que você está falando. Quem é Holly? — o olhei desconfiada, ainda me recusando a pegar o comprimido que ele insistia em me fazer tomar. — Na verdade, eu nem faço questão de saber. Eu só quero sair daqui. Me tire daqui agora! — praticamente gritei na cara dele.
— ... — tentou argumentar, mas eu o cortei.
— Não me venha com , eu não sei nem quem diabos é você! Por que está me mantendo nesse lugar? É algum tipo de jogo doentio que você faz? Você é um psicopata sadista, é isso? — senti meu sangue esquentar ao ouvir ele rir e sem nem hesitar joguei o resto de meu copo de água em sua cara. — Para de rir e me responde, caralho! Quem é você?
Notei sua expressão surpresa e ofendida, mas não me importei porque eu que estava verdadeiramente ofendida por toda aquela situação. É uma merda acordar em um lugar sem saber como foi parar nele e ainda ser motivo de risos quando procura respostas.
— Escuta, eu sei que isso é confuso para você, mas...
— Apenas me responde. Seu nome é segredo? — que dificuldade era aquela? Eu estava a ponto de socar a cara dele.
— . — ele resolveu me responder e bufei de frustração porque não teve o efeito que eu esperava. O nome dele não fez lembrança alguma surgir em minha mente, tampouco esclarecia as coisas. — Me desculpe, . Eu esqueço do quanto você fica atordoada todas as vezes que acorda, mas eu não estou aqui para te machucar, tudo bem? Não sou nada disso que você falou. Na verdade, eu só quero te ajudar e esse remédio aqui vai te fazer ficar menos confusa.
Encarei mais uma vez o comprimido branco em suas mãos e franzi meu cenho, sem conseguir acreditar totalmente naquilo.
— Como sei que posso confiar em você? — perguntei, desviando meus olhos para os seus e percebendo tarde demais que havia cometido um erro. Olhar aquela intensidade só me deixaria propícia a aceitar as palavras dele ainda que formassem o argumento mais absurdo do universo.
— Você pode — peguei aquela porcaria de comprimido de sua mão e o levei à boca, engolindo com um pouco de água e torcendo para que aquilo não fosse um sedativo ou algo do tipo. Eu me sentiria muito burra se tivesse escolhido confiar em apenas por causa de sua bela aparência.
Por um segundo, ou talvez por vários deles, desci meus olhos de seu rosto e analisei dos pés à cabeça e foi completamente inevitável não morder meus lábios quando me dei conta do quanto aquele homem era gostoso.
Qual era o meu problema?
Eu estava presa numa sala acolchoada, tomando uma medicação para não machucar uma tal de Holly e em vez de pensar em sair dali ou conseguir mais respostas eu estava desejando o homem que me ajudava.
Talvez aquilo fosse culpa do remédio que ele tinha me dado. Ou eu estava naquela cela por tempo demais, sozinha demais. Aquilo era normal, não era?
Hormônios existem e são inconvenientes.
— ? — eu precisava parar de me perder em pensamentos daquele jeito. Senti novamente meu rosto pegar fogo quando percebi que havia fixado meu olhar em seu baixo ventre.
— — desviei meu olhar para seu rosto rapidamente. Bem a tempo de encontrar um meio sorriso em seus lábios. Ele havia gostado de me pegar no flagra?
— Está tudo bem? Como se sente?
Quente.
Não, eu não poderia responder isso.
— Sinto que estou presa, mas não sei qual crime cometi — falei a primeira coisa segura que surgiu em meus pensamentos.
— Você não está presa. Pode sair a qualquer momento...
— E por que eu ainda estou aqui? Já pedi para sair — argumentei, com a maior cara de idiota.
— Desde que prove que não vai fazer mal a si mesma ou a Holly — ele prosseguiu, me encarando de uma forma que considerei gentil.
Holly. De novo essa Holly.
— Eu não sei quem é essa Holly que você tanto fala, . E já disse que não faço questão alguma de saber. Também não tenho intenção alguma de machucar quem quer que seja. Eu só quero sair daqui — soltei, determinada, tomando fôlego para continuar meu argumento, certa de que poderia convencer a me soltar.
— Sua filha, — suas palavras ecoaram e eu senti meus olhos se arregalarem na mesma hora.
Filha? Oi?
— Eu não...
— Sim, você tem uma filha e ela precisa de você, mas eu só posso te deixar sair daqui quando você me der a certeza de que não vai tentar machucá-la de novo, — manteve contato visual, como se tentasse ler em meus olhos a resposta que tanto queria.
Parecia que a sala havia subitamente girado trezentos e sessenta graus, fazendo com que eu caísse de cara no chão porque até o ar havia fugido de meus pulmões.
Como eu seria capaz de ter a intenção de machucar alguém que até então eu nem sabia que existia?
Uma filha. Minha filha.
Aquilo era loucura.
— Tem algum engano aí, — senti que minhas mãos começaram a tremer, do mesmo jeito que tremiam quando eu precisava apresentar seminários na escola sem ter estudado absolutamente nada. A sensação de vazio era a mesma, já que eu buscava algo em minha mente que eu tinha quase certeza de que nunca esteve lá. — Eu sequer tenho namorado, como eu não lembraria de uma gravidez? — comecei então a achar graça daquela situação. Era piada, não era? Aquilo tudo era alguma brincadeira e a câmera era de algum reality show onde as pessoas tinham sua sanidade testadas, não era?
nada disse e o seu silêncio me incomodou. Ele apenas se levantou, fazendo com que eu questionasse mentalmente em qual momento ele havia sentado em minha cama, e caminhou para fora da cela, fechando a porta, me deixando ali com aquela informação que mais me soava como uma bomba nuclear.
Minha mãe sempre disse que eu tinha a tendência ao melodrama. Eu sempre respondia que dedicaria a ela minha primeira apresentação na Broadway.
Fiquei ali com cara de tacho, querendo gritar com e mandá-lo para o inferno por me deixar ali falando sozinha, mas não demorou muito tempo e ele voltou, trazendo algo em suas mãos. Torci para que esquecesse a porta aberta, assim eu poderia passar por ele de alguma forma e sair correndo daquele lugar, de repente socá-lo para fazê-lo desmaiar ou algo do tipo me ajudasse, mas a julgar pelo tamanho daquele homem e a minha mísera altura, pensando bem, eu não iria muito longe, tampouco conseguiria nocauteá-lo.
— Esta – o olhei confusa quando me entregou um papel e levei alguns segundos para identificar que era uma foto. — É a Holly — então meus olhos se focaram na imagem ali impressa e com a sensação de levar um soco no estômago meu queixo quase foi ao chão ao dar de cara comigo mesma segurando um bebê.
— Holly — murmurei, sentindo minha cabeça doer com o nó que ali havia se formado, porque por mais que eu estivesse vendo aquela foto, não conseguia me lembrar daquele bebê. — Como? — e sabia o que eu queria dizer com aquela pergunta.
— Você está aqui, , porque tentou sufocar seu bebê — sua resposta era hesitante e ele me encarava com cuidado, como se a qualquer momento eu fosse surtar e sair socando tudo pela frente. Talvez eu o fizesse, não desacreditava disso. Minha cabeça estava a ponto de explodir.
— O quê? — reagi com a pergunta, sentindo algo se revirar dentro de mim com aquela informação, como se meu cérebro estivesse protestando. Levei uma mão à minha nuca, apertando a região e a sentindo estranhamente gelada. Eu não matava nem uma barata porque tinha dó dos animais, como assim eu tinha tentado matar minha suposta filha? — Isso é mentira — balbuciei, piscando meus olhos. Abri-los e fechá-los me ajudaria a acordar daquele sonho esquisito?
— Foi em sua primeira noite com a criança. Sua mãe ouviu o choro e te encontrou no ato, mas me ouça, , você vai sair dessa — me encarou com algo em seus olhos que não consegui entender.
— Não. Eu jamais faria mal a qualquer ser vivo. E cadê o pai desse bebê? Não se faz uma criança sozinha. Como eu não lembro dele também? — o encarei furiosa. Ele não entendia o quanto aquela história era absurda? Se havia mesmo uma mãe que tentou sufocar seu bebê, aquela não era eu. Havia algum engano ali.
— Você sabe o que aconteceu com ele, . Só se recusa a lembrar e eu entendo, todos te entendem. Estão todos do seu lado, esperando que se recupere o mais breve possível — então identifiquei o que transparecia seu olhar, era pena.
Eu odiava que sentissem pena de mim.
— Eu não sei de que merda você está falando, pare com isso! — gritei, negando com a cabeça, levando as mãos aos meus cabelos e os puxando. Eu precisava fazer alguma coisa para que ele entendesse que não era eu. Que pegaram a garota errada.
— ! — escutei seu tom de voz alarmado.
— Pare com isso! Pare! Me deixe em paz! Eu não fiz nada disso. Vocês pegaram a garota errada! — comecei a me debater, negando qualquer tentativa dele de me segurar e de novo aquela sensação horrível tomou conta de mim, tudo girando, olhos pesando, o ar fugindo de meus pulmões, queimação na garganta. Não, era a minha cabeça que pegava fogo, doendo tanto que meus olhos se reviraram nas órbitas. — Faça isso parar! Por favor, faça isso parar! — não consegui mais distinguir sua silhueta na minha frente, as imagens tremulavam diante de mim. — Faça isso parar! — eu não sabia mais se estava gritando ou se minha voz era o eco de meus pensamentos.
De repente, eu já não senti mais nada, as sensações ruins tinham ido embora e estava perto de mim de uma forma que eu não lembrava se já havia acontecido antes. Suas mãos estavam nas minhas bochechas, seus olhos tão próximos dos meus e sua voz ecoou suave.
— Respira, — talvez ele estivesse repetindo aquelas palavras, eu não saberia dizer, fiquei atordoada pela proximidade repentina. — Inspira — orientou, fazendo o gesto para que eu o imitasse e eu o fiz sem conseguir hesitar. — Expira — continuou e eu pisquei meus olhos, tentando entender por que de repente a voz dele repetia as exatas palavras que eu usava para acalmar a mim mesma desde criança. Talvez fosse mera coincidência,
— Me diga que isso é mentira. Uma brincadeira de péssimo gosto e nada mais — murmurei, implorando para ouvir aquilo.
— — ele me advertiu, o que só mostrava que não era mentira e eu voltei a inspirar e expirar porque sentia que voltaria a desmoronar a qualquer momento.
— Não pode ser – diziam que eu era teimosa feito uma mula e era verdade. Eu não lembrava de nenhuma daquelas coisas, então continuava me recusando a acreditar. — Eu vi a câmera, você pode parar de fingir. Isso tudo é um daqueles realities shows e você é um ator que deve ter sido muito bem pago. Tenho que te falar, você é ótimo atuando — tentei afastá-lo de mim e ri, nervosa. negou com a cabeça.
— Você já ouvir falar em depressão pós-parto, certo? — retirou suas mãos de mim, sentando-se ao meu lado e me encarando com paciência. Assenti, aturdida. — É o seu caso, . Você esqueceu de tudo o que aconteceu porque escolheu esquecer. Nosso cérebro é um órgão muito poderoso, acho que você talvez tenha alguma noção disso.
— Por que eu escolheria esquecer minha filha? Toda a gravidez? O pai dela? Isso não faz sentido algum.
— Algumas pessoas enfrentam os próprios demônios, . Outras preferem fugir e esquecê-los. E esquecer não torna ninguém mais fraco, no fundo, todos lutamos por nossa própria sobrevivência — eu não estava entendendo nada, as palavras dele só pioravam tudo.
— Por que eu faria isso, ? Me responda sem enigmas ou frases feitas, é o mínimo já que você não vai me tirar daqui — voltei a perder minha paciência com ele, sentindo o encanto momentâneo se esvair, afinal, ele dizia querer me ajudar, mas no fundo estava ajudando a me manter presa naquela cela.
— Porque o pai de Holly foi embora. Ele te abandonou assim que soube que você estava grávida. Se negou a assumir o bebê — franzi meu cenho com a informação, meu peito voltou a se agitar e uma pontada dolorosa me disse que talvez ele estivesse mesmo falando a verdade. — Ele é de uma família rica e importante, prometido para a filha do senador, não quis manchar a reputação, você entende o que estou dizendo?
— O suposto pai de Holly então é um filho da puta — concluí, sem querer que ele continuasse falando sobre o homem, mas ao mesmo tempo desejando poder ao menos formar uma imagem em minha mente para que eu o mandasse para a puta que o pariu se o visse novamente.
— Sim — pela segunda vez, vi um sorriso de canto se formar nos lábios de e por mais que eu não estivesse sentindo vontade, acabei retribuindo. Além de belo, o sorriso daquele homem era contagiante e me xinguei mentalmente por reagir daquela forma com alguém que eu havia acabado de conhecer. Ou talvez eu já o conhecesse antes e apenas não lembrasse disso.
O que diabos havia acontecido com a minha cabeça?
— E por causa dele eu surtei e tentei matar meu bebê, por causa dele eu vim parar nesse lugar ridiculamente acolchoado, sem lembrar de todas essas porcarias que você está dizendo que aconteceram comigo — continuei, porque talvez falar tudo aquilo em voz alta fizesse o estalo da lembrança aparecer no meu cérebro, mas ainda assim nada. Talvez eu precisasse mesmo continuar ali tomando aqueles remédios.
Ou talvez fossem os remédios que estivessem me impedindo de lembrar.
Arregalei meus olhos, porque aquela foi a primeira coisa que pareceu fazer sentido na minha cabeça.
— , você precisa me ajudar a sair daqui — o encarei, determinada, vendo que era a vez dele de franzir o seu cenho, me olhando de uma forma estranha e suspeita.
— Eu não posso fazer isso. Você não entendeu, ? Sua condição é perigosa não apenas para você, mas para quem lhe cerca. Você precisa concluir o tratamento e só quando estiver bem poderá sair, sem fugas — ignorei cada uma de suas palavras ou a sensação de que havia mais alguma coisa que ele não estava me contando e sacudi a cabeça, negando.
— Não. Eu não vou concluir tratamento nenhum. Preciso sair daqui e ter certeza de que tudo isso que me contou é real. Só vendo minha filha eu vou acreditar de fato que ela existe — frisei aquilo para ele, esperando que mais uma vez fosse negar e eu precisasse de repente socar a cara dele ou elaborar um super plano para arrancar as chaves da cela que ele carregava consigo.
Se eu conseguisse seduzi-lo, poderia roubar as chaves sem problema e não seria nenhum sacrifício agarrá-lo. Sendo sincera, era mesmo um gostoso e eu adoraria me aproveitar disso.
Mas meu enfermeiro – era isso que ele era, não era? – me surpreendeu.
— Tudo bem — foram as palavras que ecoaram de seus lábios e não consegui disfarçar meu espanto porque logo ele voltou a falar. — Mas não vou te ajudar a fugir, . Vou fazer com que veja sua filha. E quando você comprovar a verdade, vai seguir o tratamento como deve ser, combinado?
Bufei. Eu não queria continuar com aquilo. Minha intuição me dizia que era exatamente aquele tratamento que me impedia de lembrar do que de fato importava, então por que ia concordar com aquilo? No entanto, suponho que por hora era o suficiente e nada me impedia de tentar fugir quando ele estivesse me levando até a tal Holly, exceto, é claro, o fato de que eu realmente precisava saber se aquela criança existia e era minha filha mesmo.
— Temos um acordo, — senti um incômodo ao pronunciar seu nome inteiro daquela vez e fiquei sem entender bem o porquê.
— Descanse, . Quando for a hora, você saberá — piscou para mim, então se levantou para dar espaço para que eu me deitasse. Por mais que eu não estivesse com vontade alguma de dormir, eu o fiz, sorrindo para ele quando ajeitou a coberta sobre mim. A expressão do rosto dele enquanto fazia isso era levemente encantadora e eu me perdi mais uma vez o observando. — Durma bem, — retribuiu meu sorriso e fez menção de se afastar, porém eu o impedi. Puxando-o pela gola da camisa e deixando um beijo leve em seu rosto.
— Obrigada, . Por tudo — ele assentiu e permiti que ele saísse da cela, me deixando completamente só, repensando cada uma de suas palavras.
Ouvi então o barulho que antes havia feito meu sangue ferver e foi aí que eu me dei conta de uma coisa.
A câmera.
havia respondido cada uma de minhas perguntas, mas não tinha me explicado por que havia uma maldita câmera me vigiando.
Não fazia sentido algum ser para minha própria segurança, visto que eu estava em uma sala acolchoada, sem nada que pudesse me ferir. Como eu me mataria? Esganando a mim mesma?
De fato, ele não havia me contado tudo, mas eu iria descobrir.
Eu não descansaria porque não me lembrava da última vez em que havia conseguido fechar meus olhos sem ser devido a algum desmaio e agora eu tinha muito em que pensar, mas de uma coisa eu tinha certeza. Eu ia sair dali.
Eu ia escapar e voltar a viver.
— Não quero mais tomar isso, — resmunguei, assim que o vi estender um copo para mim. Toda vez que ele me entregava o copo e um comprimido daqueles eu fingia tomá-lo e depois dava um jeito de esconder aquela porcaria em algum lugar. Era até fácil fingir tossir e cuspi-lo na minha mão disfarçadamente, mas eu estava cansada de enganá-lo.
— O que, vinho? — a expressão dele era de riso e a minha incrédula. Pisquei meus olhos rapidamente e me dei conta de que ele estava me estendendo uma taça com o líquido rubro, o que me deixou extremamente confusa.
— E você pode me oferecer vinho? — questionei, sem entender.
— Não podia, mas agora posso. Nós conseguimos, não é? Nós fugimos — ele deu de ombros, sorrindo para mim de uma maneira cúmplice e eu desviei meu olhar dele, tomando um susto por não estar mais na sala acolchoada. Eu estava sentada no sofá de uma sala bastante elegante e algo na minha cara deve ter denunciado o quanto eu estava perdida, porque ele voltou a falar. — Você estava certa, . Os medicamentos afetavam a sua memória, por isso você tem alguns apagões, mas tudo vai voltar aos eixos em breve. Você está livre.
— Mas...
— Você escutou o que eu disse? Você estava certa sobre tudo o que disse. Não existia Holly nenhuma e agora está livre — aquilo estava fazendo menos sentido do que a história toda da depressão pós-parto, mas eu de fato não estava mais naquele lugar esquisito e ao olhar para meu próprio corpo percebi que eu vestia um vestido vermelho e colado ao corpo que sugeria que eu estava comemorando alguma coisa.
Sorri para , envergonhada por não conseguir lembrar nem de como eu havia conseguido fugir.
— Desculpe. Eu pareço realmente maluca. Tem certeza que agiu certo ao me ajudar a fugir? — escutei sua risada em resposta e não consegui evitar rir junto, aceitando e bebendo então um gole do vinho que ele tinha oferecido.
Fechei meus olhos ao sentir o gosto da bebida, fazia tanto tempo que eu não provava nada além de água e sopa que meu corpo inteiro se revirou de prazer. Literalmente, já que foi inevitável até que minha língua deslizasse por meus lábios e eu finalizasse mordendo meu lábio inferior.
Senti que era observada no ato e quando tornei a abrir meus olhos, percebi que me encarava atentamente, sem parecer querer perder qualquer movimento meu e isso me fez corar.
— Você não imagina o quanto fica sensual quando faz isso — me surpreendi ao ouvir suas palavras, já que ele nunca havia falado daquela maneira comigo, mas suponho que as coisas haviam mudado de figura. Ele já não era mais o enfermeiro e eu a paciente.
Embora fosse algo interessante de se imaginar como um fetiche.
— Isso o quê? — questionei, erguendo uma sobrancelha para ele e ignorando aquela parte de mim que se envergonhava. Com um homem daqueles eu não poderia sentir vergonha de nada. Me recusava a isso.
— Morder a boca. Me faz querer fazer isso por você — ele me respondeu num tom incrivelmente sedutor que fez com que meu corpo se arrepiasse, então bebeu um pouco de seu vinho, sem desviar seu olhar do meu.
Aqueles olhos pareciam queimar minha alma e por um momento, deixei de lado toda a loucura e confusão que me cercavam.
— E por que ainda não fez? — resolvi que era o momento perfeito para provocá-lo e passei meus lábios pela beirada da taça, tomando mais um gole de vinho e o encarando sugestiva, instigando a prosseguir com seus anseios.
— Porque até ontem minha função era cuidar de você, não me aproveitar disso — notei que ele chegava mais perto, mas fingi não perceber, sorrindo com suas palavras.
— Um perfeito cavalheiro, eu suponho. Cumpriu sua função com louvor, . Mas agora você pode.
— Posso? Posso o que, ? — ele tomou a taça de minhas mãos sem nem perguntar se eu queria me livrar dela, mas não protestei, deixei que o fizesse. Não vi o destino que ele lhe deu, porque estava ocupada demais encarando sua sobrancelha arqueada de uma forma tão provocativa quanto minhas palavras.
— Pode se aproveitar de mim — respondi, sem pestanejar. Eu não podia negar, desde que havia posto meus olhos nele, o desejo de tê-lo havia se acendido e eu não era do tipo que lutava contra minhas vontades.
Não tive tempo para observar sua reação às minhas palavras. No instante seguinte, as mãos de me puxavam pela cintura e sua boca se chocava contra a minha de uma forma tão intensa que senti meu corpo inteiro estremecer.
Minhas mãos não hesitaram em se enroscar nos cabelos dele, o puxando para ainda mais perto de mim e colando meu corpo ao dele, sentindo um alívio absurdo quando sua língua tocou a minha, acariciando-a sem perder a intensidade em momento algum. Era como se eu necessitasse daquilo desde o começo, desde quando aquele belo enfermeiro me despertou disposto a me ajudar.
Completamente entregue a ele, correspondi às carícias de sua língua, exclamando baixinho quando ele sugou meu lábio inferior, mordendo-o do jeito que ele havia dito que gostaria de fazer e ao lembrar disso, esbocei um sorriso entre o beijo. Senti ele retribuir e minhas mãos desceram de seus cabelos para a gola de sua camisa, puxando-a para depois seguir caminho até seu peitoral, que acariciei por cima do tecido. Consegui sentir seus músculos e soltando mais um suspiro entre o beijo não hesitei em descer ainda mais até seu abdômen. intensificou os movimentos de sua língua na minha e suas mãos resolveram descer também, indo de minha cintura até minhas coxas, se encaminhando para dentro do vestido.
Num movimento rápido então, me apoiei nele e subi em seu colo, deixando uma perna de cada lado de suas coxas e me sentando sobre ele. partiu o beijo por alguns segundos para me lançar um olhar desejoso e satisfeito por minha iniciativa, então suas mãos ousadas apertaram minha bunda com intensidade, forçando meu quadril contra o seu, me fazendo gemer baixinho quando senti a ereção que começava a se formar.
Voltei a beijá-lo intensamente, rebolando em seu colo, determinada a enlouquecê-lo da mesma maneira que estava fazendo comigo, só que fazendo isso eu conseguia senti-lo com mais firmeza e de repente eu já estava praticamente fora de mim, me movendo com intensidade sobre ele e sentindo que estava completamente molhada para ele.
Sem que eu percebesse, deslizou meu vestido até minha cintura, deixando minha bunda bem à mostra e um gritinho surpreso ecoou de meus lábios quando senti um tapa estalar em uma de minhas nádegas. Aquilo havia sido deliciosamente excitante e percebendo o quanto eu havia gostado daquilo ele repetiu o gesto, apertando minha bunda com força.
— Você gosta disso, ? Da minha mão estalando nessa sua bunda deliciosa? — separou seus lábios dos meus para ecoar aquelas palavras. Sua voz soou tão rouca que me senti ainda mais encharcada e sorri cheia de malícia para ele, lambendo meus lábios para lhe responder.
— Eu gosto, . Ainda mais se eu puder fazer o mesmo com você — ergui uma sobrancelha para ele, que pareceu levemente surpreso, mas retribuiu meu sorriso, num sinal claro de que aprovava.
— Pode me bater, . Morder, lamber... chupar — minhas mãos foram até os cabelos dele e eu os puxei com força, ouvindo grunhir, gostando do gesto.
— Gosto dessa ideia de chupar. Nós podemos tentar — soei quase pensativa, encarando-o com uma expressão marota que o fez apertar minha bunda com mais força, estalando um outro tapa nela em seguida e me fazendo gemer de surpresa.
Ele fez questão então de se livrar de meu vestido e eu de sua camisa. Deslizei minhas unhas por seus ombros, apertando e fincando-as por ali, adorando ver a expressão de dor e prazer em seu rosto.
Deixei um beijo leve em seus lábios, seguindo para seu pescoço e descendo minha língua por sua pele, lambendo cada parte deliciosa do peitoral e do abdômen daquele homem. Céus, gostoso era muito pouco para defini-lo. E só de pensar nisso eu sentia minha vagina quase doer de tão excitada que eu me encontrava.
Estava prestes a seguir até a braguilha de sua calça, abri-la com minha boca me parecia uma ideia extremamente tentadora.
I know your eyes in the morning sun
I feel you touch me in the pouring rain
And the moment that you wander far from me
I wanna feel you in my arms again
Levantei-me em um salto, sentindo meus batimentos acelerados em completa oposição ao ritmo lento da música, que ecoava num volume absurdo no cômodo onde eu estava.
Senti o calor absurdo que tomava conta do meu corpo, inundado pelo suor e expresso em minha respiração totalmente descompassada enquanto eu tentava me situar no que estava acontecendo.
Num instante, eu estava dominada pelas sensações do corpo de no meu e no seguinte eu estava sentada em uma cama fofa demais para o meu gosto. Um olhar à minha volta fez com que um urro de frustração ecoasse de meus lábios.
Eu estava de volta à cela acolchoada. Na verdade, nunca havia saído de lá, só andava agora tendo sonhos eróticos com meu enfermeiro.
Ótimo, não havia nada que eu poderia querer mais.
And you come to me on a summer breeze
Keep me warm in your love then you softly leave
And it's me you need to show how deep is your love
— Mas que porra é essa? — resmunguei, sentindo uma onda absurda de raiva com a trilha sonora que haviam escolhido para me despertar. Nada contra Bee Gees, mas eu odiava ser acordada, ainda mais quando estava tendo um sonho como aquele.
Levei uma das mãos até meus cabelos, erguendo-os para abanar meu pescoço, já que eu ainda sentia meu corpo pegando fogo e comecei a respirar fundo para recuperar meu fôlego. Eu estava dolorosamente excitada e ansiei desesperadamente por um banho naquele momento. Somente isso poderia acalmar meus ridículos hormônios, mas eu estava confinada naquela cena por ser uma completa maluca, tinha horário até para o banho.
— Eu odeio esse lugar — bufei, sentindo uma súbita vontade de chorar, mas nem sentindo vontade eu conseguia, parecia que minhas lágrimas haviam secado há muito tempo.
Desviei meu olhar na direção da porta da cela, como se desejasse ver meu enfermeiro entrando por ela para me ajudar e contive um sorriso malicioso com isso, porém tive que transformá-lo em uma expressão quase chocada quando vi a porta se abrir.
Aquilo era real mesmo? Ou eu estava sonhando de novo?
Quando for a hora, você saberá.
Não podia ser, eu estava delirando, não estava?
Só havia uma maneira de descobrir.
Levantei-me da cama sem hesitar, ignorando minhas pernas, que bambearam e quase me levaram ao chão, ou o fato de minha calcinha estar incomodamente molhada por conta do sonho e corri até a porta.
Numa fração de segundo lembrei de minha companhia inoportuna naquela cela e olhei em sua direção, mas a câmera não havia se movimentado para acompanhar meus passos, isso era um sinal positivo.
Era me ajudando a fugir dali.
Cruzei a soleira da porta e parecia que o ar dali era completamente diferente. Inspirei profundamente, fechando meus olhos e apreciando a liberdade iminente.
— Eu entendo que você ansiava muito por isso, mas não é exatamente o melhor momento para comemorar a liberdade. Tecnicamente, você ainda não fugiu, — levei um susto ao ouvir a voz dele tão próxima, mas ignorei, abrindo um enorme sorriso ao abrir meus olhos, me lançando na direção de e o abraçando num impulso.
— Você vai me tirar daqui — só consegui dizer isso, sentindo meus olhos ficarem embaçados pelas lágrimas.
— Não lembro de ter dito que ia te ajudar a sair, — a voz dele me repreendeu e eu me soltei de seu pescoço para encará-lo chocada. Então por que motivo ele havia aberto a porta para mim?
— Então o que... — comecei a questionar, mas ele me interrompeu.
— Eu fui atrás da Holly, . A princípio, me consideraram maluco por tentar isso, mas eu consegui. Ela está aqui.
Senti o chão sob meus pés sumir e minhas pernas amoleceram. Percebendo isso, me segurou antes que eu me lançasse ao chão.
— Não. Holly não existe. Você não percebe? Isso tudo é mentira. Eu não tenho filha alguma, . Você precisa acreditar em mim — soltei, sentindo o desespero tomar conta de mim. Dava tempo de correr dele? O mais frustrante era que eu nem sabia onde era a saída.
— Estamos perdendo tempo, . Venha comigo — o vi piscar para mim e senti sua mão segurar a minha.
Atordoada, completamente perdida, eu o segui, sem saber se estava fazendo o certo ou não.
Não consegui distinguir por onde caminhava, as imagens ao meu redor eram meros borrões do que pareciam ser paredes de um corredor.
De repente, eu me vi parada diante de uma porta e meus batimentos voltaram a acelerar, dessa vez de uma maneira tão intensa que senti que poderia infartar a qualquer segundo.
Minha garganta se fechou em um nó e eu congelei, sem conseguir me mover.
— Vá em frente, . Abra a porta — hesitei ao erguer minha mão, tentando engolir em seco e encostando na maçaneta, girando-a e deixando a verdade me envolver.
Um clarão de luz branca quase me cegou e uma pontada dolorosa em meu peito me fez sufocar.
Não. De novo não.
Respira.
Inspira.
Expira.
— ! , está me ouvindo?
Respira.
Inspira.
Expira.
— Afasta!
— Pulsação extremamente fraca, Doutor . Vamos perdê-la — perder quem? De quem estavam falando?
Respira.
Inspira.
Expira.
— Continuem tentando. ? , está me ouvindo? ¬
?
Senti uma necessidade desesperada de abrir meus olhos, mas por que eu não conseguia?
— Limite de toxicidade atingido, Doutor. Ela não vai sobreviver — com um sobressalto, ouvi o som claro de uma cadeira sendo chutada.
— Merda! Já mandei vocês darem um jeito. Ela precisa.
Ela quem? Quem precisa sobreviver, ?
Respira.
Ins...
’s POV
— Olá, Samantha... Hurtley? — sorrio ao terminar de ler o nome da garota na ficha, desviando meu olhar para a morena que acaba de entrar em minha sala.
— Doutor — ela estendeu a mão em minha direção ao se aproximar de minha mesa. — É um prazer conhecê-lo.
— , por favor — a corrigi, pegando a papelada que precisaria dentro de minha gaveta e colocando sobre a mesa. — Agora, imagino que Rose deva ter lhe explicado como funcionará o procedimento. Ao assinar o termo você será encaminhada para seus novos aposentos, onde será constantemente monitorada para que se avaliem os efeitos do medicamento.
— Perfeitamente, — ela assentiu. — E é seguro, não é? Rose contou que vocês estão nos testes finais do remédio.
Lancei um olhar rápido na direção de minha secretária. A última que havíamos perdido tinha resistido por tanto tempo que eu jurava que conseguiríamos daquela vez. Um certo apego havia crescido por , um apego que eu não deveria criar por minhas cobaias, mas aquela era inesperadamente fascinante.
— Ah sim, completamente seguro — confirmo, sorrindo confiante para a moça, que retribuiu meu sorriso.
— Ótimo. Onde eu devo assinar? — ela perguntou, indicando os papéis sobre minha mesa.
— Você tem todo o tempo que precisar para ler os termos, então pode assinar na última... — vejo ela folhear o documento até o final e riscar sua assinatura logo em seguida. — Página.
— Não preciso ler. Confio em vocês — sorriu para mim e internamente eu me senti um tanto culpado. Aquela era mais uma jovem que precisava desesperadamente do bom dinheiro que oferecíamos às cobaias voluntárias, ao ponto de nem desejarem ler os termos que na verdade eram bastante claros.
O procedimento não era nada seguro e jamais mencionávamos que as cobaias anteriores haviam sofrido com diversas alucinações antes de irem a óbito, obviamente, mas para obter sucesso nós precisávamos testar em alguém, certo?
How deep is your love?
I really mean to learn
Cause we’re living in a world of fools
Breaking us down
When they all should let us be
We belong to you and me