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Revisada por: Aurora Boreal

Última Atualização: 12/08/2024

Los Angeles, 2015



Era uma noite fria de outono em Los Angeles, o clima agradável para uma recepção entre colegas de trabalho. Era véspera do início das gravações de um filme em parceria com outro estúdio e todos estavam muito animados. Desde que se mudou para Los Angeles, trabalhar sem parar era o que a fazia mais feliz. Tinha o emprego que sempre sonhou, era assistente de direção e produção de um grande estúdio cinematográfico, e quando não estava filmando, trabalhava em alguns seriados de TV. Ela também estava começando a dar seus primeiros passos como roteirista. Estava no melhor momento da sua vida profissional.
O salão de festas tinha uma varanda com uma vista maravilhosa da Venice Beach. A cidade cheirava à liberdade. O ambiente no salão de festas era todo revestido de madeira escura, com alguns pontos em dourado pelo bar. Ela não conhecia o lugar e seus olhos varreram tudo, pegando cada detalhe da decoração elegante. Lá pelas tantas da noite, depois de muito champanhe e conversa fiada, estava pronta para descansar e enfrentar mais um dia normal de trabalho na manhã seguinte. Mas a noite ainda guardava uma surpresa.
Encontrá-lo naquela festa era algo que ela simplesmente jamais poderia imaginar. Lá estava ele, Tom Hiddleston, belo como sempre, tão belo quanto ela se lembrava na última e única vez que o viu tão de perto em uma Comic Con em San Diego, alguns anos antes de ir morar de vez em LA. Parece quase impossível que, em 3 anos morando nessa cidade, convivendo diariamente com atores e diretores famosos, ela jamais o tenha visto novamente. É claro, ele vivia em Londres e às vezes passava meses sem sair de lá. Por que justo naquela noite?
Ele conversava animado, o seu sotaque e sua risada invadiram o salão; quando se deu conta, estava o encarando e ele percebeu. Virou o rosto imediatamente e caminhou em direção ao bar, onde continuou a observar de longe. O que há comigo?, pensou enquanto pedia um drink ao garçom, não era mais aquela fangirl que idolatrava o ídolo. Muito tempo passou desde que ela surtava por aquele homem.
Ela tinha um autógrafo dele, que conseguiu naquela mesma Comic Con, e até uma foto, mas duvidava muito que ele se lembrasse do encontro. Respirou fundo tentando acalmar seus batimentos e esticou o pescoço procurando-o, mas já não conseguia vê-lo em meio às dezenas de cabeças que os separavam. Olhou o relógio e já estava bem tarde, ela precisava ir, tinha que acordar bem cedo e estar no estúdio para uma reunião importante.


***


O dia seguinte poderia ter sido mais um dia comum no trabalho, a sensação estranha da noite passada nem lhe assombrava mais. A gritaria e o corre-corre no estúdio faziam um ótimo trabalho para lhe distrair. As filmagens estavam prestes a começar e ela estava animada. Ian, seu atual chefe e diretor do filme, entrou na sala de reuniões conversando com um homem e sentiu seu coração parar.
Era ele de novo.
Depois que todos fizeram silêncio, o diretor anunciou que, em uma decisão de última hora, Tom Hiddleston faria uma participação especial no filme e passaria alguns dias gravando com a equipe. Ela sorriu para ele e para seu chefe, acompanhando as palmas de todos, que vibraram com a notícia. Seu coração batia forte dentro do peito. Passou espremida pela multidão que o cumprimentava até chegar até eles.
— Ah, aqui está ela. — Ian tocou no seu ombro. — Tom, quero que conheça minha assistente, . Ela é um tesouro, meu braço esquerdo e direito. Qualquer coisa que precisar, é só falar com ela.
Ian sorriu para ela e ela sorriu de volta, tentando parecer calma. Tom ergueu os olhos, encontrando os seus, e esticou a mão para cumprimentá-la.
— É um prazer — ele sorriu, fechando um pouco os olhos e mostrando os dentes tão brancos e perfeitos.
— O prazer é meu — ela apertou sua mão e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Repentinamente, ficou com vergonha da sua aparência aquele dia. Não costumava se arrumar muito para trabalhar; as gravações e reuniões duravam o dia inteiro, então procurava ir sempre confortável.
Nesse dia, ela estava com um jeans velho bem destruído, com buracos no joelho, um par de vans preto, também já bem velhos, e uma camiseta de mangas compridas cinza, era quase inverno e caía uma fraca chuva naquela manhã quando saiu de casa. Os cabelos curtos estavam soltos e, quando se deu conta de que não havia lavado naquele dia, rapidamente os prendeu em um rabo de cavalo minúsculo.
Enquanto mexia no cabelo, observou Ian conduzir Tom até a sala dele e foi tirada do seu transe pela voz de um contrarregra, que dizia que era hora de começar os ensaios com os figurantes. E lá estava ela, aquela mesma sensação que teve ontem quando o viu naquele coquetel. Ela não sabia dizer o que era, não era como se estivesse conhecendo-o pela primeira vez, era quase como se ele fosse alguém que ela já conhecia, mas não via há muito tempo. Aquilo estava lhe desconcentrando e fazendo suas mãos suarem. Definitivamente, ela não gostava daquela sensação, e algo lhe dizia que, mais uma vez, sua vida iria mudar.




Los Angeles, 2015



Em Hollywood, o assistente de direção é um profissional que se encontra invisível aos olhos do espectador, mas que define o funcionamento de tudo por trás das câmeras. É nos bastidores que toda a magia acontece.
Ao contrário da maioria das meninas, que sonhavam em ser atrizes ao ver lindas cenas de ação ou romance nas telonas, sempre se encantou com os profissionais que faziam tudo aquilo acontecer. Levou tempo, mas conseguiu estudar e trabalhar com o que mais amava. O som agudo do megafone cortou o ar frio daquela manhã, o ruído alarmou alguns figurantes que estavam por ali. subiu numa cadeira de madeira colocada estrategicamente próxima a ela e fez o seu habitual discurso.
— Sejam bem-vindos! Se estão em busca de sombra e água fresca... estão no lugar errado, meus amigos! — Seus colegas de trabalho riram e os novatos se entreolharam desconfiados. — Mas, se procuram por trabalho duro e noites mal dormidas, este é o lugar! Meu nome é . Sou a primeira assistente de direção. Aos novatos, por favor, se dirijam somente a mim ou aos assistentes de produção aqui ao meu lado — apontou para Andy e Lucas, os dois mais próximos colegas que ela tinha no estúdio, eles eram mais jovens que ela, ainda com seus 20 e poucos anos. — Nós temos um cronograma de gravação a seguir rigorosamente, e ele já está devidamente colado em todas as paredes desse lugar. Vamos trabalhar!
Desceu da cadeira após as apresentações e recebeu das mãos de Lucas seu cinto com o rádio, fones de ouvido e um bolso para colocar os roteiros. Durante o dia, esses acessórios iam se modificando, algumas coisas entravam e outras saíam, e no fim do dia, ela parecia um cabide humano, coberta por vários itens. O estúdio estava repleto de técnicos, era um filme policial com perseguição e tiros. A equipe de cenários e som estavam trabalhando duro. Abaixou a cabeça para encaixar o megafone no cinto e um pesado par de botas parou diante dela, desviando sua atenção para o chão. Seus olhos foram subindo, ele usava um jeans azul-escuro, camiseta branca um pouco colada, marcando alguns músculos do abdômen, jaqueta preta de sarja, e finalmente um par de olhos azuis, tão azuis que nem pareciam reais. Ele estava muito próximo a ela, o que a fez dar um passo para trás. Então, ele sorriu.
— Eu adorei o discurso! — ela corou na hora, sentindo o rosto queimar. Felizmente, a pele escura disfarçava bem o tom avermelhado.
— Oh... — sorriu, tentando explicar. — Aquilo foi só para quebrar o gelo.
Fez-se um silêncio por alguns segundos.
— Ehh… Sou uma grande fã do seu trabalho — falou e se arrependeu imediatamente, mas agora iria até o fim. — Acompanho desde sempre e é incrível, será um prazer mesmo trabalhar com você nesse projeto — ele ficou sério por um momento e depois sorriu novamente.
— Obrigado, estou ansioso para começar a gravar. Adorei o clima entre as pessoas aqui, acho que vou adorar.
A voz dele preenchia cada milímetro do ambiente, era como se todos os outros ali presentes ficassem mudos e só se pudesse ouvir o tom da voz e o sotaque absurdamente charmoso daquele britânico. Outro silêncio se fez quando ela sorriu de volta. Ele parecia tentar ver alguma coisa através dela e isso a deixava extremamente desconfortável. Não gostava da sensação que isso causava. A voz de Ian os assustou ao mesmo tempo, ganhando a atenção para ele.
, vou levar o Tom lá fora e depois vou resolver algumas coisas. Cuide de tudo aqui até eu voltar.
— Claro, pode deixar — respondeu imediatamente.
Ian fez sinal para que Tom o seguisse, ele olhou para ela uma última vez sorrindo e acenou com a mão.

***


Horas mais tarde, a quantidade de pessoas havia diminuído. Andy e Lucas já estavam indo embora enquanto ela ainda tentava colocar alguns papéis em ordem e, ao mesmo tempo, comia uma maçã, tentando enganar a fome. era extremamente exigente com seu trabalho e gostava que tudo estivesse perfeito. Com tanta dedicação, sobrava pouco tempo para comer.
— Você precisa ter, pelo menos, uma refeição decente por dia! — Lucas falou do outro lado da sala, jogando a mochila nas costas.
— Maçã é saudável. Esteja aqui às sete, nem um minuto a mais — falou, sem olhar para ele.
Andy passou por ela, puxando um pouco seu rabo de cavalo.
— Boa noite, .
Ela acenou para eles uma última vez antes que saíssem. Olhou rapidamente pela janela e viu que a lua já estava alta no céu, e todos estavam indo embora. O clima frio era persistente e ela sentia falta do verão, o quente e seco verão californiano. Sentiu o celular vibrar no bolso do seu jeans e, atrapalhada com a maçã, tentou atender. Era Dakota, uma ex-vizinha e colega. Dakota morou na porta ao lado quando ela se mudou para a cidade. Durante alguns meses, foram bem próximas, agora se limitavam a almoçar juntas, ou ir ao cinema nos fins de semanas. Apesar da vida profissional de sucesso que possuía, sua vida social era quase inexistente.
— Oi, Dakota — falou, ainda tentando equilibrar o telefone.
— E então, quer uma carona? — ela disse, fazendo uma voz manhosa.
— Ah, obrigada! Mas não. Tenho que ir direto para casa, amanhã preciso estar aqui bem cedo.
— E quem disse que eu não te levaria para casa?
— Céus, Dakota, conheço bem você. — deu mais uma última mordida na maçã e jogou o que restava na lixeira.
— Eu estou carente... queria companhia — não respondeu. — Ok, mas nos vemos no fim de semana?
— Sim. Saímos no sábado — declarou por fim, tentando fazê-la desligar.
— Certo, vou deixar você em paz por hoje. Tchau!
Desligou o celular e o jogou dentro da bolsa, fechou a mochila e a colocou nas costas, caminhando em direção à saída. Dakota sempre foi a diversão em pessoa, adorava tomar todas e divertir-se em boas festas regadas a muita bebida, já tinha uma bateria social bem mais fraca. Mesmo assim, as duas sempre se deram muito bem, mesmo quando Dakota conseguia ser grudenta.
sempre prezou muito pela sua liberdade. Sempre gostou de estar sozinha. Caminhou até o seu Jeep Compass preto recém-adquirido e em 30 minutos estava em casa, um complexo de apartamentos de solteiro bem modesto, mas bem aconchegante. Haviam três cômodos: uma pequena sala com um grande sofá cinza e uma TV enorme; uma cozinha, que também era sala de jantar, com uma mesa de vidro com dois lugares e um fogão raramente usado; e a suíte com uma cama King Size bem confortável com seu guarda roupa, onde ficava sua bagunça. Tudo bem simples, mas tudo comprado com dinheiro ganho à custa de muito trabalho. tinha muito orgulho de tudo que conquistou e queria mais, muito mais.
Naquela noite, se virou na cama de um lado para o outro por horas, sem conseguir tirar a imagem de Tom Hiddleston da sua cabeça. O homem era absurdamente sexy e a incomodava o fato de não conseguir se concentrar em nada, desde que ele apareceu. Ela não podia negar que estava ansiosa para trabalhar com ele e conhecê-lo melhor, não só o ator, mas também o homem que ele era por trás das câmeras.


***


Na manhã seguinte, ela estava mais atrasada do que o habitual. Quando finalmente chegou ao estúdio, ainda um pouco atordoada com o barulho do trânsito, ela correu direto para a sala de reuniões, onde Ian daria as instruções gerais para o começo das filmagens. Colocou a mochila no chão e desabou em uma cadeira próxima à porta, se abaixou para pegar o iPad na mochila e, quando ergueu a cabeça para olhar para Ian, que estava em pé na cabeceira da mesa, Tom se sentou sorrateiramente ao seu lado.
— Bom dia, ! — disse, sorrindo.
Ela foi surpreendida pela aparência dele. Quem conseguia estar tão lindo e radiante àquela hora da manhã? Tom segurava um copo de café com a logo de uma cafeteria famosa e bebericava o líquido fumegante devagar.
— É , por favor. Bom dia!
ligou o iPad e se abaixou novamente para tirar uma barra de cereal da bolsa.
— Só isso? — ele acenou em direção ao seu lanche.
Tom se inclinou tão perto dela, que ela conseguiu sentir a respiração dele na sua bochecha. E, de repente, a sala parecia menor, mais quente.
— Nada de café? — falou, com a voz mais baixa.
— Ah, eu não consigo comer direito pela manhã. Geralmente tomo café, compro do outro lado da rua, depois que tudo se acalma por aqui.
Novamente o silêncio por alguns instantes.
— E?
— E o quê? — ela perguntou, sem olhar para ele.
Ian os interrompeu, começando a falar sobre o filme, o cronograma, os prazos, entre outras coisas. Tom estava desviando o olhar dela gradualmente e ainda pôde ouvi-lo sussurrar entre dentes:
— Tão misteriosa.
Após os avisos, ela se levantou, amarrou todo seu equipamento na cintura e pediu que Tom a acompanhasse até o camarim, que seria dele por alguns dias. Abriu a porta, dando passagem a ele, que entrou segurando a porta para que ela também entrasse.
— Obrigada, mas sou eu que devo fazer isso — ela sorriu.
— Eu faço questão.
— Bom, me avise se precisar de algo, ensaiamos em... — olhou no relógio por um momento — 30 minutos — tentou sair depressa da sala.
!
Quando começou a trabalhar em Hollywood, ela decidiu que queria ser chamada pelo sobrenome, mas nunca tinha ouvido ele soar tão lindo, como soava naquele sotaque sexy.
— Posso ir com você quando for comprar café? — perguntou, passando as mãos nos cabelos, sentando na cadeira em frente ao espelho.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos com a boca aberta, sem saber o que dizer.
— Eh... Posso trazer café para você.
— Não, quero ir junto. Caminhar um pouco. Você se importa se eu for?
— Não... Claro que não.
Ele abriu o sorriso largo dele, divertido, meio infantil até, e ela ficou totalmente sem reação, apenas se virou e caminhou em direção à saída.
Ela não sabia o que estava acontecendo, estava totalmente desconcentrada e envergonha, como uma garota de escola. Não entendia o porquê daquele interesse dele em caminhar com ela até o outro lado da rua, mas sabia que ficar perto dele estava lhe deixando maluca. Precisava empurrar os pensamentos sobre Tom Hiddleston para o fundo da sua mente, para que conseguisse trabalhar.





Los Angeles, 2015



Os dois saíram do estúdio sob os olhares curiosos da equipe. Caminharam em silêncio até o café e, quando se ofereceu para ficar na fila, Tom recusou e permaneceu ao seu lado.
Após fazer o pedido, se dirigiram para uma mesa próxima à janela com vista para a rua. Tom sentou-se do outro lado da mesa, de frente para ela. Estava incrivelmente lindo e irritantemente confiante. O silêncio entre eles continuava e Tom não tentou fazer com que ela falasse. Havia um brilho no olhar dele, parecia que ele sabia que a deixava nervosa.
pensou em mexer no celular e fingir uma ligação, mas isso seria rude, então manteve o silêncio. Um sorriso travesso ressaltou ainda mais os olhos dele, quando ele se inclinou um pouquinho mais para perto dela.
— Então, qual é sua história? Você sempre foi , a assistente de direção?
— Não. Na verdade, me formei em Comunicação antes de tentar o cinema — falou, tentando não olhar naquele rosto hipnotizante.
— É isso? Você não vai me dizer nada sobre você? — Ele parecia decepcionado.
— O que você quer saber?
— O de sempre. Desde quando você vive em Los Angeles, planos para o futuro, se você é solteira... Coisas do tipo. — Tentou parecer sério, mas era notável sua curiosidade e animação.
— Estou aqui há dois anos, pretendo dirigir um filme, um dia, não quero ser a assistente para sempre, e estou solteira.
Com um suspiro, ele continuou a olhar nos seus olhos.
— Mas e você? Já soube da indicação ao Globo de Ouro. Parabéns.
— Obrigado, mas não vamos falar de mim. Você é mais interessante. Há algo em você que não consigo ver, , eu estou mesmo curioso.
estava acostumada com flertes. Homens e mulheres flertavam com ela o tempo todo. Sendo uma mulher adulta prestes a completar 30 anos, vivendo em Los Angeles e trabalhando na indústria do cinema, o flerte era algo corriqueiro. De fato, ela gostava de flertar, era divertido. Às vezes ela levava adiante e acabava aceitando um convite para sair, e sexo casual não era algo que ela fosse contra.
O problema é que ela sabia que Tom estava tentando flertar com ela. Ela deveria saber lidar com isso, mas nos últimos dias, tudo que ela conseguiu fazer foi fingir-se de desentendida e gaguejar na frente dele.
— Curioso com o quê? — falou, apoiando os cotovelos na mesa.
A garçonete escolheu esse momento para trazer os pedidos, dando a ela mais algum tempo para se recompor.
Tom se ajeitou na cadeira, começou a mexer na sua bebida, e , infelizmente, não conseguiu deixar de notar as mãos dele. Por Deus, aquelas mãos. Tom Hiddleston era gentil, educado, tinha ombros largos e mãos muito bonitas.
A garçonete colocou uma fatia de bolo de chocolate no meio da mesa, e notou surpresa que era um pedaço bem maior do que ela estava acostumada a pedir. E veio com dois garfos.
Ela encarou o bolo sem saber como agir. Podia sentir o olhar dele sobre ela enquanto ele bebia seu café. Notando que ela não o faria, ele tomou a iniciativa.
— Você se importa? — questionou, pegando um garfo para si.
As palavras dele a acordaram e ela fez o mesmo.
— Não, claro que não.
Ela comeu em silêncio, apreciando o delicioso sabor do chocolate por um tempo até sentir que era observada.
— Você não vai comer? — perguntou.
— Eu estava apreciando a vista.
Ela revirou os olhos.
— Não faça isso.
— Não fazer o quê?
Ela suspirou e continuou a comer.
— Você tem ensaio em 20 minutos, melhor comer mais depressa.
Ela notou que algumas pessoas na cafeteria olhavam disfarçadamente para eles. E algumas crianças apontaram os celulares na sua direção. tentou esconder-se para não aparecer em nenhuma foto.
— Está se escondendo? — ele perguntou, sério.
— Não quero aparecer em sites de fofoca.
— Qual o problema disso? Todo mundo compra café.
— Não com assistentes. Eu deveria levar o café para você.
— Posso comprar meu próprio café. — Ele parecia quase irritado agora. — Não ligo para paparazzi.
— Não é bom que me vejam com você.
— Qual o problema de eu ser visto com você?
— Do que estávamos falando? — perguntou, afastando o calor que subia pelo seu rosto.
— De você. Disse que está solteira?
— Ah, hum, sim, não tenho tempo para namorar.
— Por quê?
— Na verdade, não vim para cá pensando em achar amor. Queria trabalhar no que gosto, subir na carreira. Qual é a do interrogatório? — Ela sorriu, tentando disfarçar seu incômodo com o assunto, ele riu de volta sem responder.
Vários olhares se lançaram sobre eles quando voltaram ao estúdio, mas o dia de gravação seguiu normalmente.
Os dois conversavam o tempo inteiro quando as câmeras estavam desligadas. O jeito simpático e divertido dele fazia baixar a guarda e ela ficava cada vez mais derretida na sua presença. Ela se concentrava e se esforçava para tratá-lo de forma apenas profissional, mas não havia mais como voltar atrás.
Tudo que ela sabia sobre ele era o que havia lido em todo o tempo que foi uma fã, agora tão de perto, ele parecia um homem comum, mas ele não era. Ele era um ator famoso que estava cada vez mais em evidência e era perigoso nutrir qualquer outro tipo de sentimento por ele que não fosse platônico.
Conforme os dias foram se passando, os dois tiveram que lidar com os persistentes rumores no estúdio sobre estarem muito próximos. A indicação dele ao Globo de Ouro fez todos os paparazzi da cidade o perseguirem e chegaram a ser fotografados juntos por um site onde a legenda dizia o seguinte:

"Indicado ao Globo de Ouro, Tom Hiddleston grava participação em filme em Los Angeles e toma café com uma funcionária do estúdio na manhã desta quarta-feira."

— Estou horrível nessa foto, olha só, estou com a boca aberta — falou irritada.
— Isso não é possível. Você é linda — disse a encarando.
Foi a primeira vez que ele a elogiou diretamente e ela simplesmente devolveu o tablet às mãos dele e saiu andando. Suas pernas tremiam forte e achou que fosse cair. Não queria que ele mexesse tanto com ela daquele jeito. De jeito nenhum.
Tom era um homem sério. Pelo que se sabia de bastidores, ele teve algumas namoradas, apesar de nada muito duradouro. A reputação de no estúdio era totalmente o contrário, ela nunca fora vista com um homem mais de uma vez, e, quanto mais os dois eram vistos juntos, mais as pessoas entendiam que o relacionamento era apenas platônico. Ele continuou a sentar ao seu lado nas reuniões e continuaram a conversar e tomar café, falando sobre os mais variados assuntos.
Era manhã do último dia de gravação dele. Tom iria voltar para Londres e só voltaria a Los Angeles um mês depois para a premiação. Ela não sabia bem como se sentir em relação a isso, mas tentava se convencer que estava tudo bem, sua vida seguiria normalmente. Logo as gravações externas do filme iriam começar e ela estaria muito ocupada para pensar em qualquer coisa que não fosse trabalho.
— É meu último dia aqui. Vou sentir falta de todos. Principalmente de você — Ele disse quando ela foi chamá-lo para a gravação.
tentou ser profissional, fazendo cara de paisagem.
— Também vou sentir sua falta. — Sorriu.
Tom veio na sua direção e segurou sua mão.
— O que você acha de jantar comigo hoje?
A pergunta a assustou.
— Como um encontro?
— Sim. — Ele acariciou sua mão.
— Tom, isso não é uma boa ideia. — Ela ficou séria, mas ele manteve firme o sorriso.
Sua resposta foi rápida.
— Por que não?
— Porque não seria correto.
— Você tem namorado?
— Não.
— Então, por que não seria correto? — Ele abriu um sorriso torto. — Eu acho que seria muito correto.
O sorriso dele a fez sorrir e perder a linha de raciocínio.
— É complicado. Nós dois estamos trabalhando juntos.
— Minhas gravações acabam no fim da tarde, hoje à noite não seremos mais colegas de trabalho. Onde está a complicação?
— Eu não tenho certeza.
, vou ser mais direto. Você é linda, divertida, charmosa, gosto de conversar com você e estou te convidando para sair. — Ele continuava a falar com naturalidade, como se aquela situação fosse a coisa mais normal do mundo. — Me deixe te levar para jantar. Apenas jantar. Serei o mais perfeito cavalheiro.
ficou em silêncio processando aquilo tudo, sua mente girando, mas ela já tinha sua decisão.
— Vou pensar — falou rapidamente. — Vamos logo gravar, você está quase atrasado. Nesse momento ele sorriu e se inclinou, beijando sua bochecha. O corpo dela se acendeu inteiro imediatamente respondendo ao toque dos lábios dele na sua pele.
— Primeiro me responda. — Ele soltou a mão dela e se sentou na cadeira.
— Estamos atrasados, vamos logo…
— Você já pensou?
— Se eu disser que sim, você levanta daí?
— Sim.
— Está bem, vou jantar com você.
— Ótimo! — Ele levantou. — Me manda seu endereço e eu te pego às 20 horas.
Ele saiu do camarim a puxando pela mão.
passou o resto do dia pensando que aquilo era uma péssima ideia. Tom era um homem lindo, simpático e excelente companhia, mas nunca passou pela sua cabeça sair com ele como em um encontro. Todo aquele flerte era apenas o jeito dele, nada demais estava acontecendo. Ela havia convencido a todos e a si mesma que os dois seriam apenas amigos e que aquilo tudo acabaria quando ele voltasse para Londres. desejava não sentir um aperto no coração sempre que esse pensamento invadia sua mente.




Los Angeles, 2015



Naquele fim de tarde, foi embora sem se despedir de Tom, mas ele enviou uma mensagem confirmando que a pegaria em casa às oito. Ela não se lembrava da última vez que ficou nervosa com um encontro. Mas isso era porque raramente ia em encontros com pessoas que realmente achava interessantes.
Ela nunca foi uma fã histérica dele, mas foi viciada em tudo que ele fez no cinema e na TV durante muito tempo. Sair para jantar com ele com certeza era algo que nunca passou pela sua cabeça.
Saiu do banho e conferiu, pela milésima vez, todas as suas roupas. Sentou na cama e deu uma olhada geral pelo que havia separado. Não podia negar a vontade de agradá-lo vestindo algo que o deixasse impressionado. Queria parecer sexy aquela noite. Sabia que não devia se importar com o que vestia para o jantar, que aquilo não era um encontro romântico com Tom Hiddleston, mas, no fundo, ela se importava. Ela via um desejo no olhar dele que a estimulava, sentia-se bem sabendo que despertava isso nele.
Se olhou no espelho uma última vez e gostou do que viu. Escolheu usar um vestido preto de alças finas, parecia algo simples e básico, mas o caimento do tecido abraçava as curvas do seu corpo de um jeito quase obsceno, mesmo que o cumprimento dele fosse até alguns sentimentos acima dos joelhos. Sexy e elegante na medida certa.
enrolou as pontas dos cabelos, retocou o esmalte das unhas e passou o batom da mesma cor: um tom escuro de vermelho. Era um pouco demais para um primeiro encontro, primeiro e único, afinal, ele iria embora no dia seguinte. Franziu a testa para o espelho.
Deu uma última olhada no espelho, sentindo-se culpada, mas resolveu que devia aproveitar a noite. O vestido era sexy. Por que não mexer um pouco com ele também? Ele vinha fazendo isso com ela há dias com aquele sorriso e toda a atenção que dava para ela.
A campainha tocou, a assustando, e seu coração rapidamente acelerou. Respirou fundo, pegou a bolsa em cima da cama e foi abrir a porta.
Tom segurava um pequeno buquê de flores alaranjadas, estava de calça social e camisa por dentro. E cheirava tão bem, que ficou tonta por alguns segundos. Ele a analisou rapidamente de cima a baixo, depois voltou a olhar para o seu rosto.
— Nossa, você é a criatura mais linda que já vi na minha vida — disse, com os olhos brilhando, e ela sentiu seu rosto queimar e os joelhos fraquejarem.
— Você também está ótimo.
Tom estendeu a mão, a levou até o táxi, abriu a porta para ela, e, assim que entraram, ele perguntou:
— Então, aonde vamos?
— Há um restaurante de comida italiana próximo daqui, acho que você vai gostar.
— Sei que vou adorar. — Ele sorriu. O olhar dele para ela era tão intenso que a deixava sem palavras.
— Não olhe assim para mim.
— Assim como? — questionou, ainda sorrindo.
desviou o olhar para a rua para não ter que lidar com aquilo naquele momento.
Quando chegaram ao destino, foram conduzidos à mesa reservada perto da janela da sacada. O garçom o reconheceu, mas disfarçou bem a surpresa. O lugar não ficava na parte badalada da cidade e provavelmente não recebia muitas celebridades.
O restaurante não tinha muitos clientes e não demorou para serem atendidos.
Fizeram o pedido e Tom pediu uma garrafa de vinho.
— Esse lugar é muito agradável — sussurrou, apoiando-se na mesa. — Bem menos movimentado do que os restaurantes de Bel Air. Você vem muito aqui?
— Algumas vezes. Sempre que tenho tempo para sair e comer fora, prefiro ir a lugares menos movimentados. A comida é ótima, você vai adorar.
— Você não gosta de sair à noite?
— Depende. Não tenho muitos amigos aqui, e todos eles são caseiros.
Ela não deu mais detalhes e apenas sorriu para ele.
— Você não se abre muito, senhorita .
— Se eu te contar mais, você pode ficar muito interessado em mim — brincou.
— Impossível que eu fique ainda mais interessado em você do que já estou agora.
— Muito engraçado.
— Quem está brincando?
Ele a olhou daquele jeito novamente, e não parecia que iria continuar falando. tentou voltar a comer, mas era difícil se concentrar com ele na sua frente.
Sentado atrás de um prato de macarronada à bolonhesa, Tom era o retrato de um cavalheiro inglês incrivelmente sexy.
Uma mulher se aproximou da mesa e, educada, pediu um autógrafo e uma foto, ele a atendeu com um sorriso satisfeito.
Tom era uma companhia maravilhosa. não podia negar que adorava estar perto dele apenas olhando, ele era lindo por dentro e por fora.
Conversaram o tempo inteiro sobre comida, o filme, sobre futuros projetos dele e a possibilidade de ganhar o Globo de Ouro. Tom era extremamente charmoso, divertido e dizia todas as coisas certas. Era impossível resistir.
— E agora o que vamos fazer? — Ele perguntou quando a sobremesa já havia sido servida e a garrafa de vinho estava quase vazia.
— Eu trabalho aos domingos em épocas assim. E você vai pegar um avião bem cedo.
Ele a levou para casa, desceu do táxi, abriu a porta para ela e a conduziu pela escada, segurando sua mão até a porta do apartamento. Nunca um homem havia sido tão cavalheiro com ela em toda a sua vida.
— Obrigada, Tom. — Ela sabia que estava com um sorriso ridículo no rosto após tanto cavalheirismo. — Foi ótimo. Me diverti bastante.
— É cedo demais para te convidar para um segundo encontro?
— Tom... Você está voltando para casa. Nos veremos de novo na estreia do filme-
— Eu gosto de você, — ele a interrompeu.
Ela prendeu a respiração involuntariamente.
— Não faça isso comigo.
— Você é linda, é inteligente. Eu me sinto tão vivo perto de você. Quando toco em você, meu corpo toma um choque.
— Por que, Tom? Isso é loucura... — sorriu, nervosa.
— Diga que não sente o mesmo. Diga que não há uma química entre nós desde o primeiro dia.
Ela respirou fundo.
— É claro que sinto, mas isso é normal, você é um homem atraente e ficamos muito próximos. Mas trabalhamos juntos, não podemos misturar as coisas.
— Não trabalho mais com você desde essa tarde. — Ele riu tentando fazer graça da situação.
— Quando você entrar naquele avião, tudo isso vai passar. Daqui a uma semana, você nem se lembrará de mim. Não vamos estragar essa conexão legal que temos.
— Impossível. Penso em você o dia inteiro. Gosto de você.
— Tom…
— Sim, eu gosto. — Ele se aproximou e ela sentiu novamente o perfume embriagante da pele dele. — Eu quero saber se você gosta da ideia de eu gostar de você.
— Eu... — Ela pensou um pouco, mas não conseguia pensar em nada o que falar para ele. Não sabia o que dizer.
E então, o silêncio. Ele encarou seus lábios por alguns segundos, e antes que ela pudesse pensar se ele ia beijá-la ou não, Tom segurou seu rosto com as duas mãos e a puxou para perto, pressionando os lábios nos seus suavemente. Seus lábios eram macios, quentes, era maravilhoso. Ele se afastou por um momento para conferir sua reação, vendo que ela estava esperando por mais, ele avançou com mais força. Ele a encostou na parede do corredor, as mãos apertando com força seu quadril contra o dela. A língua explorando cada canto da sua boca, brincando por dentro dela, mordiscando o lábio inferior e indo cada vez mais fundo.
Ela gemeu com os beijos e afundou as unhas nos ombros dele. Puxou para mais perto, encostando no peitoral dele, tão musculoso que nem parecia real. Mas era muito real, não estava sonhando. Tom Hiddleston a estava beijando apaixonadamente no corredor do seu prédio.
O beijo diminuiu de intensidade, até que os dois se separaram. Ela abriu os olhos e viu o rosto dele ali, pertinho do seu, os olhos azuis ardendo de tesão. Ela sentia o mesmo, estava úmida entre as pernas.
— Tom… — Ela o empurrou de leve. — É melhor você ir. Você precisa dormir bem, é uma viagem longa.
Ele fechou os olhos e respirou fundo.
— Tudo bem… — Ele parecia triste de um jeito que ela nunca havia visto. — Adeus, .
Ele se virou e desceu rápido pelas escadas.
abriu a porta do apartamento apressada e a bateu, se encostando nela. Respirou fundo e deslizou nela até parar sentada no chão. A culpa lhe invadiu imediatamente. O que havia feito? Acabara de beijar o homem mais maravilhoso da terra e o mandou embora. O arrependimento tomou conta de cada célula do seu corpo. Levantou do chão, tropeçando no salto, e jogou a bolsa no sofá da sala, abriu a porta e correu descendo as escadas, mas era tarde demais, ele não estava mais lá.
Entrou novamente no apartamento e se atirou na cama, enfiando a cara no travesseiro. “Foi melhor assim”, repetiu para si mesma durante o resto daquela longa noite mal dormida.


Continua...


Nota da autora: Essa é uma das primeiras fanfics que escrevi e recentemente ela ganhou uma nova versão. Se gostarem comentem! <3 .

💫


Nota da Beth Aurora Boreal: A diva dispensou ele, sendo que eu nem pensaria duas vezes em convidar ele para entrar... aiai, né?

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