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Codificada por Vênus 🌪️
Atualizada em: 21.08.2024

Cry about it, I don't wanna cry about it
But I still can't help it sometimes
Fight about it, I don't wanna fight about it
I'm already screamin' inside (screamin' inside)


tirou a franja da frente do rosto. Ela estava exausta, física e mentalmente, e seu namorado, Kaito, não estava ajudando nem um pouco. O jeito que ele a tratava tinha só piorado desde que ela foi morar com ele alguns meses antes. Ele sempre tinha sido meio possessivo, e ciumento, e tido alguns comportamentos estranhos, mas ele costumava ser gentil e amoroso. A situação piorou muito no momento que o contrato de aluguel dela expirou e ele a chamou para morar no seu apartamento.
A mulher de 23 anos se encaminhou para a porta, equilibrando as sacolas de compras nos braços, e acabou não vendo o vilão que invadia o estabelecimento até estar quase trombando com ele.
— Todo mundo pro chão, isso é um assalto! — gritou. — Você também, moça! — derrubou suas coisas, o volume a assustando. Tremendo, ela obedeceu, cobrindo as orelhas com as mãos. — Você aí no fundo! Eu mandei ir pro chão!
— Eu ouvi — respondeu uma voz profunda e calma, quase entediada.
— Então faz o que eu mandei! Ou todo mundo aqui vai se machucar!
— Acho que não.
ouviu os passos se aproximando e ergueu os olhos apenas o suficiente para ver as botas do homem. Ele se abaixou para recolher os itens que caíram das sacolas dela.
— Ei, o que você acha que tá fazendo?!
— Você tá bem? — perguntou, e ela ergueu o olhar assustado para encontrar um rosto que ela só tinha visto na imprensa. Mechas vermelhas e brancas escapavam do gorro, olhos desiguais estudando sua expressão, e a cicatriz cobrindo seu olho e bochecha esquerdos não deixando dúvida sobre quem ele era. Ela confirmou, trêmula e ainda assustada.
— Eu disse- — Swoosh.
— E eu disse que ouvi. — só conseguia ver o começo do gelo saindo do joelho direito de Shoto em direção ao assaltante, mas o silêncio que se seguiu indicou que o gelo o cobria por completo. O herói ofereceu a mão para ajudá-la a levantar, depois lhe entregou a sacola. — Tem certeza que você tá bem? — Ela assentiu outra vez. — Precisa de ajuda pra carregar?
— N-não. — Kaito ficaria bravo se ela aceitasse. — N-não, obrigada. E-eu me viro.
— Tudo bem. — Ele encontrou o atendente do caixa, um senhor de idade que tinha acabado de levantar. — Vou levar ele pra polícia e pedir pra eles virem buscar a filmagem das câmeras de segurança.
— Obrigado, Shoto-san.
Ele assentiu e andou até o iceberg em volta do assaltante, derretendo parte dele e começando a empurrar o homem congelado para fora.
— Boa noite — foi a última coisa que ele disse antes de sair. Shoto não estava trabalhando, apenas tinha parado no mercadinho a caminho de casa para comprar um ramen instantâneo, mas não pôde ignorar o crime sendo cometido. Mesmo cinco anos depois da guerra contra Shigaraki e All For One, a sociedade ainda estava se recuperando e as taxas de criminalidade eram relativamente altas em certas regiões. Deku era rápido, mas não era onipresente, e havia bem menos heróis do que antes.
Ele não pensou muito mais sobre a linda mulher que derrubou suas compras ou seus lindos olhos .

❄️


Uma semana depois

se apressou para entrar no prédio. O lugar não era dos melhores – pra ser honesta, estava meio caindo aos pedaços –, mas foi o que ela conseguiu encontrar dentro do orçamento tão de última hora, já que ela só precisava sair do apartamento de Kaito. Ela finalmente terminara o relacionamento e, como era de se esperar, ele não aceitou muito bem. Ela só não achou que o encontraria esperando por ela na sua porta.
— O que você tá fazendo aqui?
— Vim te ver, óbvio.
— Eu não quero te ver. Ter me mudado não deixou claro o suficiente? A gente acabou, Kaito! — Fechou as mãos em punhos, tentando esconder a tremedeira. A última coisa que ela precisava era que ele notasse o quanto sua presença a assustava. também fez questão de falar alto, torcendo para que os vizinhos escutassem e viessem ao seu resgate.
Kaito só riu dela, revirando os olhos.
— Ah, nós não acabamos, amor. Não até eu decidir. Eu já pedi desculpas, então vamos parar com essa palhaçada e ir pra casa, ok? — Ele deu um passo na direção dela e a mulher recuou.
— E-eu não vou pra lugar nenhum com você.
O sorriso dele não se abalou, mas se tornou cruel, o mesmo brilho monstruoso em seus olhos que tinha aparecido no dia em que ela chegou ao limite, um brilho que ela começava a perceber que tinha estado lá com muito mais frequência do que se permitia admitir.
— Você não vai desperdiçar os meus últimos quatro anos. O que foi? Algum idiota te convenceu que te queria? — Soltou uma risada maldosa. — Não deveria acreditar numa coisa dessas. Você é gorda e não tem Individualidade. Seu emprego é uma bosta. Ninguém mais vai te querer.
— Se eu sou tão ruim, me deixa ir embora — implorou, engolindo as lágrimas.
— É burra também? Você é minha. Vai voltar pra casa comigo, onde estão todas as suas coisas, onde você deveria estar, e vai parar com essa palhaçada.
— Não.
— Eu não tava pedindo.
Em um arroubo de coragem que ela não sabia por quanto tempo conseguiria manter, respondeu:
— Eu também não.
— Você vai vir comigo, querendo ou não, amor. — Kaito lançou seu corpo para frente, agarrando o pulso dela, que fechou os olhos e se encolheu. — Ninguém mais pode ter você.
— E-eu não to com ninguém.
— Que bom-
— Mas… mas não vou pra lugar nenhum com você. Nós… — ela engoliu as lágrimas. — Nós acabamos, Kaito. Me solta, por favor.
— Mentirosa. — Cuspiu, apertando mais. Ela gemeu. — Tudo bem. Se não vai ser minha, também não vai ser de mais ninguém. — Seu toque começou a queimar. se debateu, mas não conseguia se soltar, mesmo quando pareceu que Kaito estava esmagando seus ossos. — Isso vai te ensinar a não falar comigo desse jeito. — Ela gritou de dor quando a sensação se espalhou por todo o seu corpo. — Te transformo de volta quando aprender o seu lugar de uma vez por todas.
Ela sabia o que estava acontecendo, claro. A Individualidade de Kaito era transformar as pessoas em animais, o nível de conforto durante a transformação dependendo das emoções dele. E ela podia sentir quão bravo ele estava, o quanto ele queria machucá-la. As lágrimas escorriam livremente pelas suas bochechas, logo ficando presas em pelo. Seu corpo encolheu e seus pés não tocavam mais o chão, o aperto inabalável de Kaito em seu pulso a mantendo suspensa no ar até a transformação estar completa. Ela imaginou que ele a levaria embora, se não fosse o prédio estremecendo ao redor deles, o choque o fazendo soltar por tempo o bastante para ela escapar.
aterrissou nas quatro patas, dor emanando da que ele segurava, e fugiu pelo corredor. O equilíbrio nesse corpo era mais fácil do que o esperado, mas parecia mais instinto de sobrevivência do que ela realmente sabendo se mover nele. A mulher não olhou para trás para ver se Kaito a estava seguindo, ou se conseguiu sair antes que o prédio começasse a cair. Ela só precisava escapar dele – de novo.

🔥

Shoto ouviu as rachaduras antes de ver qualquer coisa. Estava fazendo patrulha, cobrindo um bairro que não fazia parte do seu percurso normal, mas estavam com poucos heróis profissionais na região e ele podia ajudar. Era um distrito bem pobre, que ainda estava se reconstruindo dos danos causados pela guerra, cheio de prédios instáveis e altos níveis de criminalidade.
Ele avistou o prédio fazendo o barulho no fim do quarteirão, a estrutura parecendo frágil e prestes a colapsar.
— Merda — murmurou, soltando fogo da mão esquerda para se lançar naquela direção. — Tenho um prédio desmoronando na minha localização, preciso de assistência e uma equipe médica — gritou no rádio, analisando o melhor jeito de ganhar tempo para uma evacuação. Shoto estava longe de ser o herói mais adequado para a situação, mas os últimos anos tinham ensinado ele a improvisar. Cobriu as paredes externas do prédio com gelo grosso o bastante para fornecer um pouco de estrutura extra, deixando aberturas estratégicas em algumas janelas, de onde ele criou escorregadores para a rua, assim como a porta da frente. Algumas pessoas já estavam saindo, por perceberem o perigo ou para entender porque havia gelo por todo lado. — Por favor, se afastem o máximo que puderem. E avisem os vizinhos, o prédio está desabando e preciso que o quarteirão seja evacuado.
Três ou quatro das pessoas se espalharam pela rua para fazer o que ele pediu, enquanto os outros só fugiram. Satisfeito, ele usou uma das janelas para se lançar para dentro do andar mais alto e começar a tirar as pessoas.
Não havia muitos, e a maioria já estava saindo por conta própria, ainda bem. Ele carregou um senhor de idade com dificuldade para andar, o entregando ao filho, que chorava, e a um vizinho que ajudou a levá-lo até onde era seguro. Alguns moradores tinham notado os escorregadores antes que ele dissesse qualquer coisa, demorando um ou dois minutos a mais para avisar os outros que havia um caminho mais rápido e ajudá-los a sair.
— Pra onde caralhos ela foi? — Shoto ouviu um homem murmurar enquanto passava. Ele parecia bem mais bravo que assustado ou preocupado, mas o herói se aproximou mesmo assim.
— Tem alguém-
— Não se mete nos meus assuntos, herói — interrompeu e Shoto apenas piscou, surpreso com a reação. Bom, ele podia descobrir sozinho se ainda havia alguém. O homem saiu pisando duro, xingando baixinho. — Aquela puta e sua maldita sorte.
Que cara esquisito. O herói balançou a cabeça e seguiu em frente, verificando cada apartamento enquanto desviava dos escombros que começaram a cair. Mais rápido, Shoto. Ninguém… ninguém…
Um som desesperado, como um bebê chorando, preencheu o ar.
Ele estava quase no primeiro andar, os caminhos já parcialmente bloqueados conforme o peso do concreto destruía seu gelo. O homem parou, tentando localizar a origem do som, e ouviu outra vez, muito mais fraco. Seus olhos focaram em uma parede caída, que não estava completamente destruída ou plana no chão, e o espaço embaixo de alguns dos blocos. Uma minúscula rachadura o permitiu ver movimento ali. Ele se ajoelhou ao lado, erguendo o concreto com seu gelo só o suficiente para puxar o gato para fora, o encarando surpreso. Ele tinha pensado que era uma criança, não um animal, mas, bem. Talvez fosse o bichinho de estimação de alguém. De qualquer forma, era uma vida, e agora ele não ia abandoná-la.
Os olhos encontraram seu rosto com medo, então se encheram com mais gratidão do que ele achava ser possível para um animal. Aqueles olhos pareciam vagamente familiares, embora ele não conseguisse lembrar de onde. Shoto ignorou isso, focando de volta no momento e no aspecto claramente ferido do gato, uma das patas caída em um ângulo estranho.
— Como é que eu vou te tirar daqui? — murmurou. O bicho soltou outro som fraco em resposta e o homem suspirou, deitando-o de volta no chão com cuidado. Esse era o último andar que ele precisava verificar, ele só tinha que ser rápido. Depois de passar pelos últimos três apartamentos sem encontrar ninguém, voltou ao gato, o pegando com a maior delicadeza possível e abraçando contra seu peito. — Vamos sair daqui.
O animal soltou um som de dor, mas não se moveu, não protestando nem quando Shoto correu, os sons do prédio desabando aumentando e anunciando que o tempo deles estava acabando. Ele chegou à rua poucos segundos antes de seu gelo rachar também, o prédio inteiro caindo de uma vez. A equipe médica já estava na rua, civis atrás deles em segurança só com alguns arranhões, e a maioria dos que ainda estavam sendo tratados estavam só em choque. Ao que parecia, os piores danos tinham sido sofridos pelo animal em seus braços, para o seu alívio.

🐈

Shoto não tinha certeza do que fazer. O gato, no fim das contas, nunca tinha sido visto por nenhum dos moradores do prédio, mas o herói não podia simplesmente abandoná-lo. Tinha algo no jeito que o animal havia olhado para ele que só… não dava. Então, assim que ficou livre depois do incidente, ele informou a agência que precisaria fazer um desvio antes de voltar. Uma rápida busca online mostrou a clínica veterinária mais próxima da agência e ele seguiu direto para lá, carregando o animal agora inconsciente com o máximo de cuidado que conseguia, os pelos laranjas agora cobrindo parte de seu uniforme.
— Ela vai precisar manter o gesso até a pata estar firme de novo — disse a veterinária, coçando o topo da cabeça do bicho. Então suspirou. Shoto tinha explicado como a havia encontrado ao chegar. — Eu consertei os ossos, mas… disse que encontrou ela presa em um prédio desabando, certo?
— Sim.
— Não acho que os machucados dela sejam de hoje. A pata talvez… mas o resto me faz crer que não foi causada pelo concreto.
— O que quer dizer?
— Essa gata parece ter sido espancada, não esmagada por uma parede. Ela tem hematomas na barriga e nas costas se escondendo embaixo do pelo, parecem já ter alguns dias. Acredito que a tenha salvado de mais do que o desabamento. — O herói franziu o cenho, seu coração pulando uma batida. — Ela vai precisar de muita atenção durante a recuperação, mas é majoritariamente pelo que deve ter passado. Posso falar com uma amiga que cuida de animais resgatados, mas ela já tá na capacidade máxima, não posso prometer que vai ter espaço pra mais uma.
— Não será necessário. — Decidiu. — Eu fico com ela.
— Tem certeza? É uma grande responsabilidade. Animais resgatados podem demorar muito pra se adaptar, tendem a ser ariscos, agressivos ou só desconfiados de humanos em geral. Pode não ser um processo simples.
Não é muito diferente de mim, anos atrás, ele pensou. E talvez essa semelhança fosse a razão de Shoto estar tão investido.
— Só me diz o que ela vai precisar. Nunca tive um animal de estimação antes.
A médica conteve um sorriso antes de fazer uma lista com o que ele precisaria comprar e instruções do que fazer. Ela nunca tinha lidado diretamente com nenhum dos heróis dessa nova geração, mas era legal ver em primeira mão o quanto eles genuinamente se importavam, mesmo sem nenhum ganho publicitário. Não era à toa que o jovem à sua frente era um dos sucessores do All Might. Ele foi até a loja ao lado da clínica, comprando tudo da lista, então voltou para buscar o gato adormecido, só parando na agência para pegar sua mala e seu carro antes de ir para casa.

🏠

não sabia onde estava quando acordou. Era uma casa na qual ela nunca tinha estado, e tudo pareceu estranhamente grande por um momento antes de seu cérebro pegar no tranco e recordar o que tinha acontecido. Certo. O Kaito me transformou num gato. O prédio caiu. Shoto me salvou e me levou pra um veterinário. Ela lembrava de ser carregada para fora do prédio, depois de acordar na clínica por alguns instantes. Foi aí que descobriu qual animal tinha se tornado antes de a médica a colocar para dormir.
A mulher esticou cada uma das patas, testando o novo corpo agora que não estava cheia de adrenalina. Era uma sensação muito esquisita. Seu braço direito – o que Kaito tinha segurado – estava em uma tala, e doía um pouco se apoiar nele, mas era menos pior do que o esperado. Na visão periférica, identificou movimento e virou a cabeça rapidamente, descobrindo um rabo laranja. Seu rabo. Certo. se perguntou mais uma vez onde estaria, se tinha sido levada para algum lugar pela veterinária ou se tinha sido acolhida por alguma alma bondosa.
— Ah, você acordou — disse uma voz suave acima dela.
A mulher ergueu a cabeça para encontrar Shoto – sim, o mesmo herói que a tinha resgatado – com um sorriso gentil. Ele não estava perto, mas ela se afastou um pouco; porque ele já era alto em comparação com a sua forma humana, agora que tinha quase 20 centímetros de altura, ele parecia um gigante, e suas últimas experiências com homens a faziam ter cautela. Ele esticou uma mão na direção dela com a palma para cima, se agachando para chegar mais perto, mas ainda mantendo uma boa distância entre eles.
— Eu não vou te machucar, pequena. Você tá segura agora, prometo.
Você é um homem e promessas são só palavras vazias. Como eu posso confiar em você? Ela queria responder, mas o único som que saiu de sua garganta foi algo entre um chiado e um miado, os pelos das suas costas e rabo eriçados.
— Tá tudo bem se não acreditar em mim. Mas vou cuidar de você do mesmo jeito. — Seu tom não tinha mudado, ele não parecia bravo com a reação. O herói recolheu a mão, apontando para um canto da sala. Os olhos dela seguiram o movimento e encontraram potes de água e comida. — A veterinária falou pra comprar pra você, se estiver com fome ou sede. Não sei se tava acostumada a sair sozinha, mas vou deixar as janelas fechadas, tá? Pelo menos até se recuperar um pouco.
Bom, não é muito diferente da minha vida antes. Dessa vez, ela só o encarou. O homem coçou a cabeça, sustentando seu olhar.
— Nunca tive um bicho de estimação antes, não sei se to fazendo direito. Meus amigos disseram pra falar com você, mas eu nem sei se você entende o que eu to falando.
— Miau — sim, eu te entendo. É você que não me entende.
— Você parece que entende, mas eu já sou ruim em ler gente — confessou. lembrava mesmo do herói ser famoso por entender deixas sociais errado. Ele deu de ombros. — Enfim, bem-vinda à sua nova casa, acho. Eu moro aqui sozinho, então vamos ser só nós dois. Midoriya, Sero, Uraraka, Iida, Bakugo, e Kirishima visitam com certa frequência. — Ela reconheceu os nomes como outros heróis que tinham estudado com Shoto e lutado na guerra. — Minha mãe e minha irmã também.
Certo. A infame família Todoroki. Seu pai e seu irmão te fizeram passar uns bons perrengues, né?
— Eu devia avisar pra eles não virem te conhecer em grupos grandes, isso pode te assustar.
Não as mulheres, pensou, sentando. Elas não me assustariam.
Ela o assistiu suspirar e ficar em pé outra vez, desistindo dela cheirar sua mão. Então ele seguiu, esquentando seu jantar, e muitos minutos se passaram em silêncio. não conseguia parar de observá-lo, algo dentro dela precisando se certificar que ele não ia atacar no segundo que ela desviasse o olhar, mesmo que suas duas interações com ele até agora tivessem sido ele a salvando.
Shoto parecia mais preocupado do que bravo quando seu olhar a encontrou, mas ele não tentou se aproximar outra vez. Ela estava faminta – não conseguia nem saber quantas horas tinham passado desde sua última refeição –, e o que quer que ele estava comendo tinha um cheiro maravilhoso, então ela havia cheirado o ar mais de uma vez, mas não ousou se aproximar. não tinha nem pisado fora do cobertor onde tinha acordado.
— Pode explorar a casa — murmurou em algum momento. — Eu só disse que não vou te deixar ir pra rua porque a veterinária falou pra ficar de olho em você até sua pata estar boa. — Shoto direcionou os olhos para ela, inclinando a cabeça de lado ao notar a reação. Ele olhou para a comida, depois para ela. — Você… quer um pouco? — tentou responder, mas só conseguiu miar. Porém, pareceu o bastante para ele. — Não tenho certeza se você pode comer comida de gente, mas a veterinária disse que não era bom você ficar de estômago vazio…
Ele se levantou, mexendo em uma sacola plástica na bancada e tirando outro pote, onde colocou alguns pedaços de carne do seu prato. Então, parou para pensar por um momento, olhando para ela.
— Vou deixar aqui, tá? — disse, andando devagar até uma das paredes. Os outros potes estavam atrás dela e ele teria que passar para alcançá-los, então este foi deixado na parede da cozinha mais longe de onde estava sentado, num canto onde ela não precisaria chegar perto dele para comer. Satisfeito com a posição, Shoto voltou ao seu lugar, e ainda esperou vários segundos, o observando com cautela, antes de finalmente se render à fome e mancar até lá.
Ela se sentou de forma que ainda conseguisse manter os olhos nele enquanto comia, mesmo que ele não parecesse ter intenção de levantar antes de terminar sua refeição. Então, lentamente, hesitando, ela cheirou a comida – o que a fez salivar. esperou mais alguns minutos antes de tentar pegar um pedaço – ela realmente não sabia comer assim, mas ia descobrir – e congelou quando se ouviu ronronar. Shoto ofereceu um sorriso ao vê-la comendo.
— Vou dizer pra Fuyumi que gostou da comida dela. Tem mais na geladeira quando acabar.
Ela ainda esperou mais para continuar a comer, mas, uma vez que começou, se entregou, acabando rápido. Não que estivesse mais confortável com a presença do homem, ela ainda observava cada um dos seus movimentos, mas tinha que admitir que a comida era boa. Quando o pote estava vazio, andou de volta para o cobertor e ele se levantou para servir mais carne. Eles terminaram de comer em silêncio e Shoto foi para o quarto dormir. se enrolou no cobertor, olhos na porta, e caiu num sono agitado.


I'm just needin' a little space, I'm just needin' a little time
Don't mind me, I'm just feelin' kinda broken
So I'll be here with my emotions


Shoto suspirou, abrindo a porta. Estava cansado, trabalhando turnos duplos nos últimos dias e tentando fazer o gato não temê-lo tanto quando chegava em casa. Ela só comia comida humana, não a ração que ele deixava, nunca baixava a guarda quando ele estava em casa a não ser que ele estivesse dormindo e houvesse uma porta fechada entre eles, e ainda não deixava ele chegar perto sem chiar e parecer apavorada.
Ele ainda não tinha dado um nome para ela. Tinha pensado nisso, mas algo não parecia certo em dar nome a uma criatura que ainda tinha tanto medo dele, então acabava só se referindo a ela como gata ou pequena. Tinha começado a falar com ela de forma carinhosa numa tentativa de parecer menos intimidador, e pelo menos isso não piorava as coisas.
Agora, além disso tudo, o herói tinha recebido o retorno sobre o prédio onde a tinha encontrado, o que consistia de papelada para preencher. Pelo menos isso era algo que ele podia fazer do conforto do seu sofá, motivo pelo qual tinha voltado para casa mais cedo. Colocou a pasta e a sacola com sua comida na mesa, abrindo o arquivo para dar uma olhada antes de tomar banho. Ele certamente não estava esperando um arquivo de desaparecimento na primeira página.
— Desaparecida? Quem é você? — murmurou para si mesmo, correndo os olhos pelo papel. — Você não tava lá. — Ele encontrou a foto de uma mulher que não devia ser muito mais velha que ele, com cabelos longos e uma franja que quase escondia um par de grandes olhos . Olhos que pareciam estranhamente familiares, mesmo que ele não conseguisse lembrar de onde.
Ela estava registrada como a moradora do apartamento 34, e as anotações da polícia diziam que não morava lá há muito tempo, e que a lojista do outro lado da rua a tinha visto entrando no prédio antes do desabamento, mas ninguém a viu sair. Ele franziu o cenho, repassando as memórias daquele dia enquanto tomava banho, mas o herói não tinha lembranças dela lá. Talvez ela tivesse saído por conta própria e algo aconteceu depois disso?
O som vindo da sala o assustou, um lamúrio dolorido. Ele correu para lá, esquecendo de pôr uma blusa, e encontrou a gata sentada na mesa encarando a foto da mulher. Shoto não tinha ideia de como explicar, mas ela parecia tão triste.
— Isso foi… você? — Ele não esperava mesmo uma resposta, mas ela ergueu o olhar para ele. Dessa vez, ela não se escondeu ou fugiu quando ele se aproximou, deixando-o chegar perto o bastante para ler o arquivo – e ela definitivamente estava encarando o papel. Lhe ocorreu que talvez ela fosse da moradora desaparecida, mas não havia nenhum animal de estimação registrado a ela, e alguém a teria visto entrando com o gato. Sem mais teorias, ele se ouviu perguntar: — O que foi?
Ela miou novamente, passando a pata pela foto. Shoto não era nenhum especialista, mas mesmo ele sabia que esse comportamento era estranho.
— murmurou o nome da mulher, a gata bloqueando o sobrenome. Ela soltou outro som de dor, indicando o arquivo de novo. — Esse é o nome dela. — O animal repetiu a atitude e um pensamento maluco lhe atingiu. Testando a teoria, ele chamou hesitante: — ?
— Miaaaaaau. — Se virou para encontrar seu olhar.
— Esse é o seu nome? — Outro miado, e ele sabia que era loucura, mas podia jurar que ela estava assentindo. O herói olhou do gato para a imagem, os mesmos olhos o encarando de volta nos dois. Ele com certeza via a semelhança. — Isso que eu chamo de coincidência. Ok, então. — Ele não queria estragar o progresso que parecia ter feito com o animal, e o nome parecia tê-la agradado, então apontou para o arquivo. Ela parecia entender o que ele dizia, então certamente não ia fazer mal. — Posso pegar o resto? Eu preciso ler. — E realmente, a gata deu licença. Tentando se convencer de que era normal, Shoto falou novamente antes de sentar em silêncio para ler e preencher a papelada: — Obrigado.
soltou um som fraco, deitando na mesa com os olhos ainda na foto da sua chará.
A situação toda parecia muito esquisita. Não havia parentes próximos listados para ela, apenas uma anotação de que a polícia estava procurando, não havia endereços anteriores. A única informação sobre ela era um emprego em um restaurante barato – onde ela não tinha aparecido desde o incidente –, e informações pessoais como nome completo, idade, e que ela não tinha Individualidade.
— Alguém tem que ter visto você — murmurou para os papéis.
não saiu para se esconder outra vez até depois do jantar, o que o herói considerou um grande passo.

❄️


Três semanas depois

— … se engane, velho, só to indo por causa da Mãe e da Fuyumi. Já te disse.
— Shoto… — a voz retumbante do homem podia ser ouvida antes mesmo que a porta se abrisse. se lançou para debaixo do sofá, querendo ficar fora do que quer que fosse aquilo.
— Acertamos as nossas diferenças, mas isso não muda o que você fez. Quantas vezes vou ter que dizer? Ainda é tudo sua culpa. — Shoto soava claramente bravo, o que era uma mudança que a mulher não esperava. Mesmo assim, sua voz não estava mais alta do que o normal.
A dupla entrou no apartamento, mas ela só conseguia ver os pés deles. Os de Shoto, fáceis de reconhecer, e botas enormes com cheiro de queimado. Endeavor, percebeu. O infame herói flamejante seguiu o filho pela sala com passos pesados que a fizeram se encolher. Ela já não era muito fã, e conhecê-lo pessoalmente a fez decidir que com certeza não gostava dele.
— Filho, você ta sendo irracional.
Shoto o ignorou, só indo direto para a cozinha e enchendo o pote dela de comida – frango, a julgar pelo cheiro. Ele não a chamou nem fez o próprio prato como fazia normalmente, e podia ver o quanto a situação o incomodava. Ela ainda estava aprendendo a confiar nele e se abrir, mas uma parte dela tinha entendido que ele não a desejava mal e a tinha protegido até o momento, mesmo que não ganhasse nada com isso. Ela o devia sua vida.
A mulher se deslocou em busca de um ângulo melhor para ficar de olho neles, ainda fora de vista.
— Shoto, estou falando com você. — Endeavor exigiu, voz adotando um tom que fez um arrepio descer pela espinha dela, mesmo que não fosse o alvo. — Shoto!
— Já disse que eu vou, o que mais você quer? — Sibilou, fuzilando o pai. — E abaixa a voz, você ta assustando a .
Isso fez o mais velho parar. Depois de alguns segundos, ele perguntou num tom vazio:
— Quem caralhos é ?
— A gata que eu resgatei.
Outro momento de silêncio se passou antes que ele continuasse a falar, ignorando completamente o pedido. Ela tentou ignorar, se lembrando que não era o alvo de sua raiva, mas mesmo assim era assustador ouvir os dois continuarem a discutir, e se pegou cobrindo o rosto com as patas.
Parou de repente, um ar gelado varrendo a sala.
— Já não falei pra parar de gritar? — Ela arriscou uma espiada, bem a tempo de ver um iceberg de Endeavor derretendo. Olhos díspares a encontraram. — Desculpa, .
Num tom bem mais contido, Endeavor falou outra vez:
— Por que o seu gato tem nome de gente? E por que você inventou de adotar um gato?
— Ela gosta do nome, e responde. O que ela não gosta é de sons altos. — Ela tinha certeza que o herói flamejante estava revirando os olhos da reclamação, mas Shoto continuou mesmo assim. — E ela precisava que alguém tomasse conta dela, foi ferida.
— E decidiu que ia ser você?
Ele deu de ombros.
— Não vejo por que não.
— Então tem tempo pra cuidar de um bicho aleatório, mas não pra visitar sua família?
— Eu visito minha família. Vejo a Mãe, Fuyumi e Natsuo o tempo todo. Além disso, a nunca causou mal a ninguém, nunca foi responsável pela loucura de ninguém, e nunca causou nenhum problema na minha vida. — Cruzou os braços, encarando o mais alto, seu tom ácido. — Eu não visito você, e sabe muito bem por que não. Não pode apagar o passado, pai, não importa o quanto tente provar que mudou. Ainda foi você que nos destruiu.
Endeavor não teve resposta para aquilo, seu fogo morrendo com seu silêncio. Shoto usou a oportunidade para terminar de organizar as coisas dela, enchendo o pote de água e pegando um cobertor a mais. Ele se ajoelhou ao lado do sofá para encontrar os olhos dela.
— Vou voltar tarde, mas ainda hoje, tá? — Ela só o encarou, mas ele aceitou como resposta suficiente. — Preciso trocar de blusa. Tenta não assustar ela mais do que já fez.
— Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu, filho. E estou fazendo o meu melhor. Não queria brigar no seu aniversário. — O homem disse baixinho, suspirando e se sentando no sofá. só cobriu seu rosto com as patas outra vez, tremendo e torcendo para que ele fosse embora logo, assustada demais para se afastar.

🔥


Quando Shoto chegou em casa, estava exausto. Lidar com seu pai sempre tinha esse efeito. Ele também estava preocupado com o jeito que tinha reagido ao homem. Claro, no início ela também era cautelosa com ele, e odiava qualquer voz mais alta, especialmente vozes masculinas, mas nunca tinha se escondido embaixo do sofá e coberto a cabeça daquela forma. Também não tinha desaparecido daquela forma quando Fuyumi veio visitar, e parecia muito mais confortável perto dela do que ficava perto de Shoto. Ela tinha sido ferida por um homem, ele tinha certeza.
Sem querer incomodar mais a gata naquele dia, ele não acendeu a luz depois de entrar. A essa hora, ela já devia estar dormindo, embora ele não conseguisse adivinhar onde. Ela sempre se escondia para dormir, ele assumiu que ela devia se sentir mais segura assim. Tentou fazer o mínimo de barulho possível, se trocando e deitando.
O sonho era estranho. A princípio, ele viu correndo, seu pelo laranja contrastando com o cenário cinzento. Shoto a seguiu, e pouco depois se viu encarando uma cela. Porém, não era o gato atrás das grades, e sim a mulher desaparecida, encolhida num canto e soluçando. Ela estava coberta de hematomas e seu braço direito estava numa tala. Ele colocou as mãos nas grades, querendo libertá-la, mas, quando ela ergueu a cabeça e tentou falar, só o que saíram foram miados em pânico.
Ele acordou assustado. O som não estava no sonho, e ele pulou da cama para tentar encontrar . Os gritos dela estavam vindo da sala e ele a achou no sofá, se debatendo e enroscada na coberta que ele deixou para ela.
! — chamou, tentando acordá-la, mas não adiantou muito.
Ele se aproximou, estendendo a mão para ela. No geral, o homem evitava tocá-la, já que ela não parecia confortável e ele não queria piorar o estado dela, mas isso era diferente. Ela podia se machucar se não a acordasse. No segundo que ele a tocou, ela chiou e o arranhou, se afastando. Ele recolheu a mão instintivamente, o machucado ardendo, mas tentou de novo.
, ei, acorda. — Shoto a sacudiu, ganhando mais arranhões no processo, e continuou a chamá-la até os olhos finalmente focarem no seu rosto. Ela estava ofegante e claramente apavorada, mas arrependimento e tristeza aos poucos ganhando espaço no seu olhar. — Tá tudo bem. Você tava tendo um pesadelo, bebê, mas tá segura agora. — O apelido escorregou sem pensar, sua voz baixa e calma, mas ela só o encarou tremendo. — Sou só eu. — Esticou a mão esquerda devagar, segurando-a acima dela e emanando calor. fechou os olhos, choramingando e se encolhendo. — Tá tudo bem. Você tá bem, bebê. Foi só um pesadelo, já acabou.
Vários minutos se passaram até ela parar de tremer e conseguir abrir os olhos. Sentou-se devagar e seu olhar encontrou os arranhões na mão dele. Ela soltou um miado fraco, quase um pedido de desculpas.
— Eu não me importo, sei que não foi de propósito. — Tentando provar isso, Shoto colocou a mão ao alcance dela, a palma para cima. A gata hesitou por um segundo antes de se aproximar e cheirar a pele dele, mas não se afastou de volta. — Viu? Tá tudo bem, são só uns arranhões. — Ele colocou a mão ainda mais perto, para fazer carinho nela, e pela primeira vez ela o deixou fazê-lo, esfregando a cabeça contra a mão dele. — Tá tudo bem, bebê, eu juro.
Ele ficou lá com ela, mantendo a temperatura quente e aconchegante, e acabou caindo no sono no sofá. Na manhã seguinte, quando acordou, ela ainda estava deitada ao seu lado.

🐈


Shoto abriu a porta devagar.
— Espera um pouco. — Avisou os amigos, vendo Bakugo revirar os olhos. — ? Ta por ai?
A mulher ergueu as orelhas ao ouvir seu nome, saindo do quarto e indo até a porta do cômodo. Ela tinha passado a se esconder cada vez menos, aceitando meio a contragosto que o herói era uma espécie de amigo, mesmo que ele não soubesse que ela era humana e tudo fosse muito unilateral. Mesmo assim, sua relação de confiança era apenas com ele. As visitas que ele trazia para casa sempre a deixavam receosa.
— Oi. Temos visita, mas pode ficar no quarto se quiser, ok? — Ele tinha criado o hábito de manter um local seguro para ela se esconder sempre que alguém vinha, para evitar que ficasse tão mal quanto após a visita de Endeavor. Os pesadelos tinham se tornado recorrentes após aquela noite, e Shoto não queria perder o progresso que havia feito com ela. Se virando novamente para trás, falou com os homens outra vez: — Ok, podem entrar.
Bakugo estalou a língua.
— Por que porra você tá agindo assim? É só um gato. — Apontou, a voz ríspida como sempre.
— Kacchan, não fala assim.
— Ela se assusta fácil. Especialmente com homens e barulhos altos. — A última parte era um claro aviso para o loiro, que apenas bufou em resposta.
ficou parada, observando-os entrarem no apartamento. Mesmo que não confiasse neles, era surpreendente ver os três jovens heróis juntos. Os sucessores de All Might. Claro, por conta de quem era, Shoto estava sempre cercado de outros grandes nomes, mas aquele trio em específico carregava muita história – e muito poder.
— E o que te deu nessa cabeça de picolé pra adotar um gato, Meio a Meio?
Ele deu de ombros, seguindo para a mesa da cozinha, onde colocou as sacolas de comida.
— Ela precisava de cuidados — respondeu com a voz entediada.
— E você era uma boa opção?
Shoto não respondeu. A verdade é que ele não era, mas por algum motivo não conseguiu deixar o cuidado da gata com outra pessoa. O homem se identificava com ela, tendo ele mesmo estado na posição de precisar aprender a confiar e se abrir, e, por mais louco que parecesse, queria poder proporcionar a a mesma coisa. Agora, depois de pouco mais de um mês e meio com ela em casa, ele havia se acostumado tanto a tê-la por perto que não conseguia imaginar sua ausência.
Ele colocou carne no pote de , em seguida dividindo a comida em três tigelas para si e para os amigos, que já se jogavam no sofá, e foi se sentar com eles.
— Ela é boa companhia, mas tá sendo um processo pra ela parar de se esconder tanto. — Suspirou. — Parece que ela entende o que eu falo.
— Ah pronto, endoidou de vez. — queria ser capaz de revirar os olhos para o comentário, ainda os observando com cautela da porta do quarto. — É um gato.
— Eu sei, mas… — Shoto deu de ombros. — Ela reage de um jeito que parece que entende. Toda vez que eu falo do desaparecimento daquela mulher do prédio que desabou — comenta, esperando a confirmação dos dois de que se lembravam. — ela parece que chora. Exceto esses dias, quando eu tava no telefone com o detetive, que localizaram o namorado da mulher…
Imediatamente, o som do silvo de tomou a sala, recebendo olhares surpresos de Bakugo e Midoriya.
— É, ela faz isso quando eu menciono o cara. — Continuo Shoto, sem se abalar. — Aliás, fui hoje falar com ele, e acho que a tem razão. — Aquilo lhe chamou a atenção, e ela deu alguns passos na direção deles, o rabo se movendo de um lado para o outro.
— Seu gato é esquisito pra porra.
— O que quer dizer, Todoroki-kun?
— Ele disse que não sabia da desde que ela sumiu do apartamento dele uns dias antes do desabamento, mas eu tenho certeza que ele tava dentro do prédio, eu vi ele lá.
Ela congelou com a informação. Shoto tinha visto Kaito dentro do prédio? Com certeza tinha sido depois de ela conseguir escapar dele… talvez enquanto estavam evacuando. Seu coração acelerou ao pensar que ele tinha ficado para tentar achá-la, mais uma vez percebendo a sorte que havia tido de ter sido encontrada pelo herói.
— Teu gato era da desaparecida? — No caso, eu sou a desaparecida, pensou ela.
— Hm… não que eu saiba.
— Então do que que você tá falando, caralho?
Shoto piscou algumas vezes, tentando entender o que o loiro estava perguntando.
— O nome da mulher é . — Esclareceu, recebendo expressões ainda mais confusas.
— Por que a sua gata tem o mesmo nome da mulher que desapareceu?
— Ela responde. — Deu de ombros. — Desde que eu trouxe o arquivo do desaparecimento que ela faz essas coisas. Achei mais fácil usar o nome que ela parecia gostar.
Ela soltou um miado curto em concordância, dando a volta para chegar à sua tigela de comida sem se aproximar muito deles.
— Esquisito pra porra. — Bakugo repetiu baixinho. — Tá, então você viu o tal namorado da desaparecida no prédio e ele disse que não sabia dela. Tem certeza que era ele?
Shoto franziu o cenho levemente para sua tigela de comida.
— …não. Eu acho que era… mas foi muito rápido, não prestei tanta atenção.
— Se era, ele mentiu pra polícia. — Midoriya apontou.
— O que quer dizer que ele deve ter culpa nesse desaparecimento. Capaz até que ela nem esteja viva mais.
A careta de Shoto se aprofundou com a ideia. Especialmente por saber que Bakugo tinha grandes chances de estar certo.
parou de comer, se deitando no chão, o assunto lhe tirando o apetite. Eles não estavam muito longe da verdade, se ela fosse honesta consigo mesma. Kaito não a tinha matado, mas tinha garantido que a vida dela acabasse, simplesmente porque ela ousou querer ir embora.
— Não vou desistir de procurar. Nem que seja só pra descobrir a verdade. — Insistiu Shoto em voz baixa, fazendo o coração da mulher se apertar.
Eu to bem aqui, queria gritar. Em vez disso, só voltou para o quarto, a cabeça baixa, e se escondeu dentro do armário para dormir.




Continua...


Nota da autora: Olha quem já voltou! Um capítulo menos desesperador do que o anterior, embora ainda com uns perrengues (e ainda vai ter isso por um tempo, já fiquem avisades). Tivemos visitas de queridos e desqueridos, e algo começando a nascer ali. Em breve eu volto com mais!


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