Codificada por: Sol ☀️
Última Atualização: 25/05/2025.— Preciso de flores de cerejeiras para serem plantadas… você é nova aqui? Não me lembro de ser atendido por você antes…
senti as bochechas esquentarem de vergonha. Ela era a dona da floricultura e basicamente nunca havia sido vista por nenhum cliente, já que quase não atendia, gostava mesmo dos bastidores. Mas agora a loja precisava de atendentes extras e enquanto ela não contratava resolveu “pôr a mão na massa”.
— Digamos que sim e que não também… eu sou a dona.
observou o homem à sua frente, que, ao ouvir suas palavras, arregalou os olhos e ficou em silêncio por um momento. A surpresa estava estampada no rosto dele, como se tivesse acabado de ouvir algo impensável. Ela notou o jeito como ele parecia tentar processar a informação, os olhos indo de um lado para o outro, até que finalmente ele respirou fundo e começou a rir, desconcertado.
— Desculpe, eu não… — ele começou, seu sorriso um pouco nervoso. — Eu realmente não esperava que a dona fosse tão jovem. Achei que fosse alguém mais… experiente, digamos. Desculpe a minha reação.
riu baixinho, sentindo as bochechas esquentarem. A situação era até engraçada, mas ela não podia deixar de se sentir um pouco lisonjeada.
— Não tem problema, eu entendo — ela disse com um sorriso suave. — Eu sou mais nova do que a maioria das pessoas espera, mas sou a dona, sim.
Ele pareceu aliviado e rapidamente mudou de postura, agora mais atento e educado.
— Eu realmente não queria ofender, não sabia.
— Não foi nada — ela respondeu com um gesto leve de mão. — Então, você queria flores de cerejeiras, certo?
O homem assentiu, seu semblante agora mais sério, como se a ideia de comprar as flores fosse algo importante para ele. Ele parecia hesitante, quase como se estivesse confuso sobre como falar sobre isso.
— Sim, para serem plantadas... — ele disse, e depois, como se tentasse mudar de assunto, acrescentou: — Você é a , certo? Eu ouvi falar de você.
A mulher ficou surpresa. Não esperava que ele soubesse seu nome, mas ele não parecia ser um cliente comum. A curiosidade foi instantânea.
— Eu sou, sim. — Ela sorriu, tentando manter a conversa fluindo. — Você é o Doyoung, não é? O cliente fiel que sempre compra flores de cerejeira para a Yuki?
O homem fez uma pausa, e seus olhos brilharam com uma leve admiração, antes de ele dar um pequeno sorriso, quase tímido.
— Sim, é para Yuki… Digamos que tudo isso é algo muito especial para mim. — Ele sorriu com uma expressão suave, quase como se estivesse falando de algo que tocava profundamente seu coração.
sorriu, tocada pela sinceridade dele. Algo naquela conversa fez seu interesse crescer, mas ela se conteve, não querendo ser intrometida.
— Uma mulher de muita sorte a Yuki— ela respondeu, sentindo um novo tipo de respeito por aquele cliente misterioso.
O homem corou ligeiramente, e notou a forma como ele evitou seu olhar por um momento, como se estivesse tentando esconder alguma coisa. Ele balançou a cabeça em negativa, e quando olhou de volta para ela, sua expressão estava mais séria, como se o assunto fosse mais delicado do que ele queria revelar.
— Na verdade… — ele começou em um tom suave, quase hesitante, como se estivesse decidindo se deveria ou não compartilhar aquilo. — Yuki não é uma pessoa. É um parque de cerejeiras.
franziu a testa, confusa, mas algo nos olhos dele a fez perceber que ele falava com uma seriedade que não poderia ser ignorada.
— Um parque? — ela repetiu, agora mais curiosa. — Como assim?
Ele respirou fundo, parecendo pesar as palavras antes de falar novamente. Sua voz, agora mais baixa, era carregada de um sentimento de urgência e dedicação.
— Yuki é um dos últimos parques de cerejeiras em Tóquio. Está sendo ameaçado de ser destruído para dar lugar a novos edifícios. Eu… — Ele fez uma pausa, tentando juntar coragem. — Eu estou tentando salvá-lo. E essas flores de cerejeira, elas são uma forma de me conectar com ele, de manter o legado vivo, mesmo que só por mais um tempo.
sentiu uma onda de empatia por ele. O homem à sua frente não estava simplesmente comprando flores; ele estava em uma missão, e essa missão, tão cheia de paixão e preocupação, tocou algo profundo dentro dela.
— Eu entendo — ela disse suavemente, tentando disfarçar a emoção que começava a tomar conta de si. — Yuki é realmente especial, então.
Ele sorriu, mas o sorriso estava marcado pela dor de quem sabia que o tempo estava contra ele.
— Sim, e cada flor que compro é como uma promessa de que vou lutar por isso até o fim.
A sinceridade dele a fez querer ajudar, mais do que qualquer outra coisa. Ela sabia que, se existia uma causa que merecia ser apoiada, aquela era uma delas.
— Se precisar de ajuda… eu posso fazer mais do que vender flores, você sabe — ela disse, sem pensar duas vezes.
Ele a olhou surpreso, como se não tivesse esperado aquela oferta, mas o brilho nos olhos dele ficou mais intenso.
— Eu agradeço. Quem sabe, talvez você possa me ajudar a fazer com que mais pessoas vejam Yuki da mesma forma que eu vejo.
sorriu em resposta, sentindo um calor inesperado no peito. Havia algo genuíno na forma como ele falava sobre Yuki, algo que a tocava de um jeito que ela não esperava.
— Espere só um instante. Eu já volto com o seu pedido.
Doyoung assentiu com um sorriso discreto, recuando um pouco enquanto observava o interior da loja com atenção.
caminhou até a parte de trás da floricultura, refletindo sobre tudo que acabara de ouvir. Um parque de cerejeiras… Ela nunca teria imaginado algo assim. Seu primeiro instinto foi pegar apenas as flores que ele havia solicitado, mas, enquanto separava os galhos cuidadosamente, teve outra ideia.
Ele estava tentando salvar algo importante. Algo bonito. Algo que deveria continuar existindo.
Com um pequeno sorriso satisfeito, ela pegou algumas mudas extras e ajeitou tudo em uma bela embalagem. A floricultura poderia contribuir um pouco mais por uma boa causa.
Quando retornou ao balcão, entregou o pedido a ele com delicadeza.
— Aqui está. — Ela esperou ele pegar as flores antes de acrescentar, em um tom casual: — Acrescentei algumas mudas extras. Considere um presente da loja para Yuki.
Os olhos de Doyoung se arregalaram ligeiramente, surpresos. Ele abriu a boca para dizer algo, mas logo fechou, parecendo procurar as palavras certas.
— Isso é… — Ele parou por um momento, depois soltou um suspiro quase aliviado. — Obrigado. De verdade. Isso significa muito para mim.
apenas sorriu, sentindo que, de alguma forma, aquela não seria a última vez que conversariam sobre Yuki.
Doyoung saiu da floricultura com as flores cuidadosamente embaladas, o coração leve e o sorriso no rosto. Ele mal podia esperar para voltar ao parque e fazer tudo o que fosse possível para salvar Yuki. Não era todo dia que ele recebia um gesto tão generoso como o de .
Com o espírito elevado, ele caminhou até o carro estacionado na esquina. Lá estavam Johnny, Jaehyun e Yuta, todos sentados no veículo, já prontos para partir para o parque e depois para o trabalho. Eles estavam acostumados a acompanhá-lo nas visitas ao parque sempre que podiam, ajudando com a manutenção e, às vezes, apenas oferecendo companhia.
Doyoung abriu a porta do carro com certa dificuldade pelas mãos ocupadas, mas com um sorriso radiante, e os três amigos imediatamente notaram sua empolgação, Yuta ajudando-o com algumas flores.
— O que aconteceu, Doyoung? — Johnny perguntou, arqueando uma sobrancelha, notando o sorriso largo do amigo. Ele sempre tinha uma expressão um pouco mais séria, mas sabia como ler Doyoung com facilidade.
— Acho que a floricultura me surpreendeu hoje. — Doyoung respondeu com um sorriso malicioso, segurando as flores com um pouco de orgulho. — Conheci a dona da loja. E ela… Bem, ela fez algo incrível por Yuki.
Jaehyun virou a cabeça para ele, curioso.
— Incrível, tipo o quê?
Doyoung abriu a embalagem com cuidado, revelando as mudas extras que havia dado.
— Ela me deu essas mudas. Como um presente da loja. — Ele explicou, e os outros três ficaram em silêncio por um momento, visivelmente tocados pela atitude.
— Isso é… incrível mesmo — Yuta disse, sorrindo e olhando as flores com admiração. — Parece que nós não estamos lutando por Yuki sozinhos, depois de tudo.
Doyoung assentiu, sentindo um calor no peito.
— Não estamos. E vamos continuar lutando, mas agora com mais apoio. Ela me fez ver que até os pequenos gestos contam, e isso vai fazer toda a diferença.
Johnny sorriu para ele.
— A gente também tá com você, mano. — Ele fez uma pausa, olhando para os outros três. — Eu, Jaehyun e Yuta já combinamos que vamos continuar ajudando no parque sempre que for possível. Agora, não importa o que aconteça, Yuki vai resistir.
Doyoung, emocionado com o apoio dos amigos, deu um rápido aceno de cabeça. Eles não eram apenas seus amigos, eram seus sócios, e o trabalho que eles faziam juntos era a base da vida deles. Os quatro eram donos de uma empresa de paisagismo e arquitetura ambiental, especializada em proteger espaços verdes e naturais de áreas urbanas em expansão. O trabalho deles não se limitava a projetos de design, mas também à preservação de parques e jardins urbanos, o que, claro, incluía a missão de salvar Yuki.
— Então, o que acha da gente fazer um trabalho voluntário no parque hoje antes de irmos para o escritório? — Jaehyun sugeriu, sempre a favor de dar um apoio extra em projetos que envolvessem natureza e preservação.
Doyoung sorriu ainda mais. — Isso seria perfeito. Vamos cuidar de Yuki juntos. Não há melhor maneira de começar o dia.
Johnny ligou o carro, e o grupo seguiu em direção ao parque, onde continuariam o trabalho de preservação com ainda mais energia e determinação. Eles sabiam que a missão não seria fácil, mas com a força da amizade e o compromisso com o que era certo, tinham a certeza de que fariam o que fosse necessário para salvar Yuki.
ficou parada por um momento após a saída de Doyoung, observando a porta da floricultura que se fechava atrás dele. As flores de cerejeiras que ele comprara agora ocupavam uma parte do balcão, mas sua mente estava longe dali, absorvida pelo que acabara de ouvir.
Ela já tinha ouvido falar de parques sendo destruídos para dar lugar a novos empreendimentos urbanos, mas ouvir Doyoung falar sobre Yuki — aquele parque de cerejeiras que ele estava tentando salvar — tocou um ponto fundo nela. Ele parecia tão dedicado à causa, como se estivesse fazendo mais do que lutar por um pedaço de terra, mas por algo simbólico, algo que representava uma parte vital da história e da beleza de Tóquio.
Ela voltou à sua rotina, pegando mais flores e arrumando as prateleiras com cuidado, mas seus pensamentos estavam em Yuki. A imagem do parque, com suas cerejeiras florescendo sob o céu azul, parecia viva em sua mente. Ela sabia que tinha algo a mais para oferecer — algo além de vender flores. Era uma causa nobre, e ela sentia um desejo crescente de se juntar a ele, de ajudar na missão de preservar o parque.
soltou um suspiro, colocando as mãos na cintura enquanto observava a loja. Ela não sabia exatamente como poderia contribuir, mas sentia que, de alguma forma, isso era maior do que ela. Havia algo especial em todo o contexto, algo que a chamava a agir.
Ela se virou para os dois funcionários que estavam organizando os arranjos de flores na outra parte da loja, e os chamou com um sorriso suave.
— Ei, quando o Doyoung aparecer de novo, podem me avisar, por favor? — ela pediu, ainda refletindo sobre a ideia de se envolver. — Eu acho que… talvez eu deva conversar mais com ele sobre o projeto dele. Acho que posso ajudar de alguma forma.
Os dois olharam um para o outro, um pouco surpresos com a seriedade no tom de , mas rapidamente assentiram.
— Claro, dona — respondeu um deles, com um sorriso compreensivo. — Você parece bem empolgada com isso. Vai ser ótimo ajudar o Doyoung.
— Eu também acho — disse, mais para si mesma do que para os outros, com um sorriso que misturava determinação e expectativa. — Acho que vou descobrir o que mais posso fazer por Yuki.
Ela voltou ao seu trabalho, mas dessa vez com um novo propósito. Não era só sobre as flores ou a floricultura; era sobre ajudar a salvar algo maior. E, quem sabe, talvez ao fazer isso, ela também encontrasse um novo caminho para sua própria vida.
— Você parece estar precisando de ajuda.
A voz soou familiar e suave, e congelou por um segundo antes de erguer os olhos, surpresa. Doyoung estava ali, parado a poucos passos dela com um sorriso contido nos lábios. Ao lado dele, outro rapaz — de cabelos escuros e sorriso aberto — observava a cena com os braços cruzados, claramente se divertindo.
— A gente pode dar uma mãozinha com isso — disse o rapaz ao lado de Doyoung, dando um passo à frente. — Sou o Yuta.
Antes que ela pudesse responder, os dois já estavam se aproximando, e em questão de segundos o vaso que ela levaria uma eternidade para mover foi erguido com facilidade pelos dois homens.
— Você tava tentando mover isso sozinha? — Doyoung perguntou, ainda segurando um lado do vaso com Yuta. Ele parecia genuinamente impressionado — e um pouco preocupado.
— Eu tava... tentando — ela respondeu, limpando a testa com o dorso da mão, ligeiramente sem graça. — Mas já tinha quase aceitado que ele ia ficar no mesmo lugar pra sempre.
Yuta soltou uma risada leve enquanto posicionavam o vaso no local certo.
— Bem, agora ele tem um novo lar. Missão cumprida.
sorriu, os olhos indo de um para o outro, feliz e surpresa por vê-los ali tão de repente.
— Obrigada, de verdade. Vocês apareceram na hora certa.
— Na verdade, a gente veio trazer algo — Doyoung disse, indicando uma caixa de madeira que ele tinha deixado perto da entrada. — Flores cultivadas no parque. Algumas mudas novas que nasceram perto das trilhas, achei que você pudesse gostar de tê-las por aqui.
sentiu o coração se aquecer com o gesto. Era mais do que uma simples visita — era uma ponte que se formava entre eles, pouco a pouco.
A morena olhou para a caixa de madeira com as mudas e depois para os dois, ainda sentindo o coração aquecido pelo gesto. Eles tinham tirado um tempo da rotina para ajudá-la — e ainda trouxeram um presente.
— Eu não posso deixar vocês irem embora assim — ela disse, sorrindo. — Aceitam um café? É o mínimo que posso oferecer depois de vocês salvarem meu vaso e ainda me trazerem essas mudas lindas.
Yuta abriu um sorriso largo, olhando para Doyoung como quem já estava dentro da ideia.
— Eu não costumo recusar café... principalmente se for acompanhado de plantas bonitas e boa companhia.
Doyoung assentiu, com um leve sorriso nos lábios.
— A gente aceita, sim. Obrigado.
os guiou até uma pequena mesinha de madeira no fundo da loja, perto de uma janela que dava vista para uma parede coberta por trepadeiras. Era um cantinho acolhedor, que ela costumava usar para fazer anotações ou cuidar de arranjos menores, mas agora parecia perfeito para uma pausa com convidados inesperados.
Ela serviu o café com cuidado, aproveitando para pegar alguns biscoitos amanteigados que sempre deixava em uma latinha para os funcionários — e para si mesma, nos dias difíceis.
— Aqui está — disse, colocando as xícaras na mesa. — Espero que gostem. Não é nada demais, mas foi feito com carinho.
— Melhor ainda — Yuta respondeu, pegando a xícara e inalando o aroma do café. — Café com carinho é sempre mais gostoso.
riu, sentando-se com eles.
— Então... — ela começou, olhando para Doyoung. — Como está Yuki? O parque, quero dizer.
Doyoung apoiou a xícara no pires, o olhar suavemente melancólico.
— Estamos fazendo o que podemos. Hoje mesmo conseguimos plantar mais algumas mudas, e um grupo de estudantes se ofereceu para ajudar na limpeza das trilhas nos fins de semana. Mas a pressão por parte dos investidores continua forte.
— A gente tem pouco tempo antes de uma nova reunião com a prefeitura — completou Yuta, agora mais sério. — Estamos tentando conseguir apoio da comunidade, assinaturas, qualquer coisa que ajude a mostrar que o parque tem valor real para as pessoas.
ouviu tudo com atenção, sentindo uma vontade crescente de fazer parte daquilo.
— E se eu ajudasse com isso? — disse, sem pensar muito, mas com o coração firme. — Eu tenho clientes, contato com fornecedores, amigos que adorariam apoiar uma causa como essa... Posso montar algo aqui na loja, distribuir panfletos, sei lá... Eu quero ajudar.
Doyoung a encarou por um momento, visivelmente surpreso — e tocado.
— Você faria isso?
— Claro que sim. Eu disse que não era só uma florista, lembra? — Ela sorriu, inclinando-se levemente para frente. — Estou dentro.
Por um instante, nenhum dos dois disse nada. Doyoung a observava com uma expressão suave, mas havia algo nos olhos dele — uma mistura de surpresa e admiração — que ainda não tinha visto antes. Yuta olhou para o amigo como quem dizia “eu te disse”, e depois voltou o olhar para ela, claramente empolgado.
— Você não faz ideia do quanto isso ajudaria — Doyoung disse, finalmente. — As pessoas confiam em quem está perto delas. Uma floricultura como a sua tem um vínculo direto com a comunidade. Se você conseguir mobilizar mesmo que uma parte dos seus clientes, isso já pode fazer uma enorme diferença.
— E com flores envolvidas, melhor ainda — completou Yuta, sorrindo. — As cerejeiras têm um apelo emocional muito forte. A gente pode usar isso a nosso favor.
assentiu, já pensando em tudo que poderia ser feito.
— Posso montar uma pequena exposição aqui na loja, com fotos do parque, depoimentos… até algumas mudas de cerejeira em destaque com plaquinhas contando a história de Yuki. E posso fazer uns cartões com QR Code pro abaixo-assinado que vocês estão organizando.
Doyoung passou a mão pelos cabelos, impressionado.
— Uau… você já pensou em tudo, hein?
— Ainda não, mas me conhecendo, vou passar a noite toda pensando — ela disse com uma risada, e os três riram juntos.
— Isso vai dar certo — disse Yuta, confiante. — Com você no time, , a gente tem uma chance real.
— A gente devia marcar uma reunião com os outros — Doyoung completou, se virando para o amigo. — Jaehyun e Johnny vão gostar de saber disso.
— Pode ser aqui mesmo, se quiserem — ofereceu, animada. — Eu fecho a loja um pouco mais cedo se for preciso.
Doyoung sorriu de canto, olhando para ela com uma expressão quase suave demais para ser casual.
— Você tá se envolvendo mesmo, né?
deu um gole no café e respondeu, sem desviar o olhar:
— Estou. Eu gosto de coisas que florescem... E Yuki merece florescer por muito tempo ainda.
Mais tarde naquela manhã, Doyoung e Yuta chegaram ao estúdio onde eles e os amigos administravam a empresa de paisagismo e arquitetura ambiental. O espaço era amplo, com grandes janelas que deixavam entrar a luz natural, prateleiras repletas de plantas e desenhos de projetos colados nas paredes. Um aroma suave de madeira e terra preenchia o ar, trazendo aquela sensação de natureza viva mesmo no meio da cidade.
Jaehyun estava debruçado sobre a bancada de projetos, analisando o layout de um jardim vertical para um cliente corporativo. Johnny mexia no computador, respondendo e-mails e organizando o cronograma da semana.
— E aí, atrasados — Johnny disse sem tirar os olhos da tela. — Foram salvar o mundo ou tomar café com flores?
— As duas coisas, na verdade — Yuta respondeu, já largando a mochila em uma das cadeiras. — Conheci a hoje. A dona da floricultura.
Jaehyun ergueu o olhar, curioso.
— E olha — continuou Yuta com um sorriso malandro —, além de linda, ela é esperta, criativa e entrou de cabeça no projeto pra salvar o parque. A garota tem visão.
Doyoung apenas sorriu, distraído, mexendo nas mudas que haviam trazido e deixando a mente vagar para aquele momento em que ela disse “Yuki merece florescer”. Uma frase simples, mas que tinha ficado presa na memória dele como se tivesse sido escrita com pétalas.
— Olha lá ele — Johnny falou, percebendo o sorriso bobo no rosto do amigo. — Doyoung tá viajando de novo. Aposto que tá vendo cerejeiras atrás da agora.
— Certeza — Jaehyun riu. — Já tá até imaginando casamento no parque, com pétalas caindo no altar.
— Ah, pelo amor de Deus — Doyoung resmungou, balançando a cabeça e se forçando a voltar à realidade. — Não tem nada disso, tá? Ela só tá ajudando com o parque. É uma aliada, não… isso aí que vocês estão falando.
— Claro — disse Yuta, rindo. — Só que você ficou olhando pra xícara de café como se fosse ela falando com você.
Doyoung pegou uma prancheta e fingiu estar ocupado analisando uma planta.
— Tô falando sério. Não tem espaço pra isso na minha vida agora. Entre o parque, os projetos e essa empresa, já tem coisa demais ocupando minha cabeça.
— É, mas o coração não avisa quando vai ser invadido, né? — Johnny disse, dando uma piscadinha antes de voltar ao computador.
Eles riram, e Doyoung balançou a cabeça, tentando disfarçar o sorriso insistente que ainda teimava em surgir.
A rotina logo voltou ao ritmo habitual. Jaehyun foi verificar um pedido de insumos sustentáveis, Johnny coordenava com um cliente para uma visita técnica, Yuta cuidava da estufa nos fundos, onde testavam diferentes espécies para urbanização verde. E Doyoung, mesmo mergulhado nos esboços de um novo jardim público, não conseguia evitar que, de tempos em tempos, o pensamento voltasse para aquele café, aquele sorriso, e a voz suave de oferecendo ajuda como se sempre tivesse pertencido à missão deles.
No dia seguinte, chegou cedo à floricultura, carregando nas mãos uma pasta com rascunhos, fotos impressas do parque Yuki, um bloquinho de ideias rabiscadas e uma vontade enorme de fazer algo que realmente importasse.
Com ajuda de suas duas funcionárias e da irmã que estava lá na floricultura para ajudá-la por algumas horas, ela reorganizou o canto da loja perto da entrada, criando uma pequena exposição improvisada. Colocou algumas mudas de cerejeira em vasos baixos de cerâmica, espalhou pétalas secas sobre a madeira rústica da mesa e posicionou pequenos paineis com fotos do parque em diferentes estações do ano: as cerejeiras floridas na primavera, os bancos vazios no outono, as trilhas escondidas sob a sombra suave das árvores.
Em um cavalete, pendurou um cartaz com a frase:
“Salve Yuki: um parque, uma memória, um futuro.”
Logo abaixo, um QR Code levava ao abaixo-assinado criado por Doyoung e os meninos.
No balcão, preparou cartões informativos com frases curtas, dados sobre a ameaça de demolição e um convite direto:
“Leve uma flor, deixe uma assinatura. Ajude Yuki a florescer.”
Assim que a loja abriu, a reação foi melhor do que ela esperava. Clientes antigos paravam para ler, faziam perguntas, tiravam fotos, assinavam o formulário digital. Até os que vinham apenas buscar um buquê de última hora se viam tocados pela delicadeza da campanha.
— Que parque é esse? — perguntou uma senhora com um ramalhete de peônias nas mãos.
— Um dos últimos com cerejeiras livres no centro de Tóquio — explicou, com um sorriso esperançoso. — Estão querendo destruí-lo para construir prédios. Mas ainda podemos evitar.
— Que desperdício tirar flores para colocar concreto — disse a senhora, assinando sem hesitar.
Ao final do dia, estava cansada, mas com o peito cheio. Em meio a todas as conversas, não deixou de notar como aquilo a fazia se sentir viva de um jeito novo. Ela não estava apenas vendendo flores. Estava fazendo parte de algo maior.
E no fundo, mesmo que não dissesse em voz alta, ela esperava que Doyoung voltasse logo. Não só para ver o que ela estava fazendo por Yuki, mas para vê-la. Talvez fosse cedo demais pra admitir, mas havia algo nele — naquela calma determinada, naquele sorriso meio tímido — que florescia nela cada vez que o lembrava.
Ela olhou para a entrada da loja, como se ele pudesse aparecer a qualquer momento.
E quando isso acontecesse… ela estaria pronta.
O sol começava a se pôr quando finalmente sentou-se atrás do balcão, respirando fundo. A loja ainda tinha um aroma fresco de flores recém-arrumadas, e o canto dedicado ao parque Yuki estava mais bonito do que ela poderia imaginar. Ela observava as últimas pétalas caindo lentamente de um arranjo de cerejeiras quando ouviu o sininho da porta tocar.
Levantou o olhar e congelou por um segundo.
Doyoung havia entrado. Mas não estava sozinho.
Atrás dele, vieram Yuta, Jaehyun e Johnny — os três animados, observando cada canto da floricultura com expressões curiosas e sorrisos abertos. Doyoung estava um pouco mais quieto, como se o ambiente o pegasse de surpresa, como se algo ali estivesse diferente desde a última vez. Talvez fosse . Ou talvez fosse o fato de que tudo aquilo agora carregava a marca dela também.
— Uau — disse Johnny, girando devagar sobre os próprios pés, olhando em volta. — Eu esperava flores, mas não esperava uma revolução ecológica também.
— Isso aqui tá incrível — completou Jaehyun, já se aproximando do cantinho dedicado a Yuki. — Foi você quem montou tudo isso?
se levantou, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha, um sorriso tímido no rosto.
— Fui eu, sim. Tive umas ideias ontem à noite e… bem, achei que era hora de transformar palavras em ação.
— Você fez mais do que isso — Yuta comentou, admirado. — Isso aqui parece uma exposição profissional. Sério. Tô impressionado.
Doyoung não dizia nada, apenas observava. Seus olhos passeavam pelo espaço com uma expressão suave, como se cada detalhe ali confirmasse que ele tinha vindo ao lugar certo. Por fim, olhou para — e sorriu.
— Ficou lindo. De verdade. Você conseguiu transformar a causa em sentimento.
O coração de deu um pulinho, mas ela manteve o tom leve.
— Obrigada. Eu só fiz o que qualquer pessoa faria… com um pouquinho de sensibilidade e algumas dezenas de xícaras de café.
— E nenhuma hora de sono, pelo jeito — Johnny brincou. — Ela tem aquele brilho no olho de quem virou a madrugada com uma missão.
— A missão vale a pena — Doyoung disse, olhando para ela de novo, com um brilho no olhar difícil de esconder.
Yuta, que não perdia uma chance, trocou olhares com Jaehyun e Johnny e falou em voz alta, com um sorrisinho:
— Ih, olha lá o jeito que ele tá olhando pra ela…
— Opa... — Jaehyun acrescentou, entrando na provocação. — Será que o nosso querido Doyoung tá se apaixonando?
Doyoung piscou e se endireitou, fingindo indignação.
— Vocês são impossíveis. A gente veio aqui pra ver o projeto, não pra inventar história.
Johnny riu alto.
— Mas quem falou que a gente tá inventando? A gente só tá narrando o que já tá escrito na sua cara.
riu, meio envergonhada, mas se divertindo com a cena. Era fácil gostar deles — havia algo leve e acolhedor naquela amizade.
— Bom, se vocês quiserem ver de perto o que eu montei, fiquem à vontade — disse ela, tentando mudar o foco da conversa, embora seu sorriso ainda denunciasse que estava adorando a atenção.
— A gente quer sim — Doyoung respondeu, ainda com aquele olhar suave, como se fosse, aos poucos, tornando-se parte de algo importante demais para ele ignorar.
Os cinco estavam reunidos ao redor do cantinho do Yuki, entre mudas, papeis e ideias espalhadas sobre a pequena mesa da floricultura. havia trazido algumas pranchetas, e Yuta rabiscava possibilidades para uma pequena ação de conscientização no parque: uma oficina de plantio, um mural com desenhos feitos por crianças, talvez até um pequeno concerto acústico com artistas locais.
— Se fizermos algo no sábado à tarde, conseguimos atrair famílias — disse Johnny, analisando a proposta. — E domingo pode ser mais focado em doações, com uma feirinha local. Você acha que seus fornecedores topariam participar, ?
— Alguns sim, com certeza — ela respondeu animada. — E posso falar com os outros até amanhã.
Doyoung anotava tudo com atenção, mas era visível o quanto ele ficava mais leve só por vê-la ali, falando com brilho nos olhos. Aquela união toda fazia o projeto parecer mais real do que nunca.
Foi quando uma voz ecoou pelo salão:
— Nós vamos fechar mais cedo mesmo?
Todos olharam na direção da porta lateral, onde uma jovem de cabelos presos em um coque bagunçado surgiu com uma prancheta na mão e um avental floral. Era Zuri, a irmã de , que sempre que ajudava a irmã, coordenava a logística da loja com um ar prático e direto.
— E posso liberar as meninas? Elas já terminaram de organizar o estoque.
Logo atrás dela surgiram Nahye e Willow, também de avental, sorrindo e tirando as luvas. Quando chegaram mais perto do grupo reunido, a energia pareceu mudar por um segundo.
Johnny ergueu o olhar distraidamente, mas quando bateu os olhos em Willow, seu sorriso ficou um pouco mais... interessado. Ela também o encarou, meio surpresa, e depois baixou o olhar com um sorrisinho contido, como quem tenta disfarçar o impacto da troca.
Jaehyun, por sua vez, já estava trocando palavras com Nahye — uma piadinha rápida sobre flores e etiquetas mal coladas, o tipo de conversa leve que ganha um brilho diferente quando vem acompanhada de olhares demorados.
Yuta, que estava mexendo em uma muda, ergueu os olhos e encontrou os de Zuri. Diferente das outras meninas, ela o encarou de volta com uma sobrancelha arqueada e os braços cruzados, como quem avaliava o grupo inteiro antes de decidir o que achava deles. Yuta não desviou o olhar, apenas sorriu de lado, intrigado. Aquilo definitivamente chamava a atenção dele.
— Podemos fechar sim — disse , notando o ambiente ganhar tons mais sutis e interessantes. — Aliás, acho que vocês deviam ficar pro jantar aqui. Nada muito chique, mas a gente improvisa algo. E amanhã, nos reunimos cedo no parque?
— Aprovado — disse Johnny, ainda lançando um último olhar discreto para Willow, que agora fingia mexer nas flores próximas ao balcão, mas sorria sozinha.
— Parece um plano perfeito — Jaehyun completou, inclinando-se na direção de Nahye, que apenas concordou com um aceno tímido, mas olhos brilhando.
— Tá. Mas se for jantar aqui, eu ajudo — disse Zuri, se aproximando com uma atitude prática — sem se importar com o fato de que os olhos de Yuta a seguiram o caminho todo.
Doyoung olhou para , que apenas deu de ombros com um sorriso travesso.
— E aí? Todo mundo junto por Yuki e por um jantar improvisado?
— Fechado — disseram quase em uníssono.
E naquele instante, entre flores, olhares e planos, algo começou a florescer — não só no parque, mas também nos corações ali reunidos.
— Eu disse que ia ajudar — Zuri falou, cortando legumes com precisão militar enquanto lançava olhares rápidos para a sala principal, onde os rapazes tentavam montar uma mesa improvisada com caixotes de madeira e bancos de jardim.
— Aham. E eu percebi muito bem pra quem você fica lançando olhares também — sussurrou com uma risadinha, fazendo Zuri estreitar os olhos para ela.
— Concentre-se nos seus legumes, dona .
Enquanto isso, na área principal, Yuta, Johnny, Jaehyun e Doyoung se ocupavam em ajeitar o espaço para o jantar. Willow e Nahye ajudavam, trazendo pratos, copos e guardanapos, sempre entre trocas discretas de olhares e pequenos sorrisos que deixavam o ambiente cheio de uma energia nova.
— Você ajeita uma mesa como quem monta um set de filmagem — comentou Willow, enquanto Johnny equilibrava um arranjo improvisado de flores no centro da mesa.
— É que eu levo a estética a sério — ele disse com um sorriso torto, piscando para ela.
Willow sorriu e fingiu arrumar os talheres para esconder o rubor nas bochechas.
Mais adiante, Jaehyun se abaixava para pegar algo no chão quando Nahye, distraída, quase esbarrou nele. Eles se olharam, surpresos, tão próximos que precisaram de um segundo inteiro para recuar.
— Desculpa! — Nahye murmurou, rindo sem graça.
— Não precisa se desculpar — Jaehyun disse, e sua voz saiu mais suave do que ele pretendia.
Yuta, recostado contra o balcão, assistia a cena com um sorriso discreto antes de ser puxado de volta ao presente pela chegada de Zuri, carregando uma travessa de arroz e legumes.
— Se ficar parado aí, a comida vai esfriar — ela disse, passando por ele.
— Se você me der ordens assim o tempo todo, talvez eu obedeça — Yuta respondeu com um sorriso brincalhão, recebendo apenas um olhar impassível dela em troca. Mas no fundo, ele sabia que tinha captado a atenção dela.
Finalmente, todos se sentaram ao redor da mesa improvisada, rindo das cadeiras desiguais e dos copos descombinados. O clima era leve, quase como se fossem velhos amigos que sempre se reuniam daquele jeito.
olhou em volta, vendo todo mundo interagindo, trocando piadas, falando de projetos, contando pequenas histórias. Era estranho como em tão pouco tempo, aquelas conexões pareciam naturais.
Doyoung, sentado ao seu lado, se inclinou um pouco para ela e disse baixinho:
— Obrigado de novo. Por tudo isso.
Ela sorriu, sentindo aquele calor gostoso de novo.
— Eu devia estar agradecendo você. Se não fosse Yuki… eu provavelmente ainda estaria achando que vender flores era suficiente.
Doyoung a olhou como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas preferiu apenas sorrir. Não era o momento ainda — mas ambos sabiam que havia algo diferente crescendo ali, entre flores, pratos improvisados e corações que começavam a florescer, mesmo sem perceber.
Depois de muitas risadas, histórias trocadas e pratos vazios, o grupo começou a dispersar devagar, com aquela preguiça boa que só vem depois de uma refeição em boa companhia. Johnny, Jaehyun, Yuta, Nahye, Willow e Zuri se ocuparam de recolher as coisas da mesa improvisada, mas logo a conversa animada entre eles desviou o foco para perto da porta, onde riam e combinavam de se encontrar cedo no parque no dia seguinte.
No fundo da loja, entre a pequena cozinha e a área principal, e Doyoung ficaram responsáveis por guardar o restante: alguns pratos, copos e a última travessa que ela insistia em lavar à mão.
— Deixa que eu seco — Doyoung ofereceu, pegando um pano de prato enquanto ela terminava de lavar a travessa na pia pequena.
riu baixinho, passando o objeto para ele.
— Nunca imaginei que te veria ajudando a lavar louça depois de uma reunião de trabalho.
— E quem disse que não é uma das minhas habilidades ocultas? — ele retrucou com um sorriso, secando o prato com movimentos cuidadosos.
O silêncio confortável entre eles era quebrado apenas pelo som da água e dos risos abafados do grupo do lado de fora. Havia uma leve tensão no ar, mas não era desconfortável — era como uma promessa não dita, pairando entre os dois.
Quando se virou para pegar outro prato, seu ombro esbarrou de leve no de Doyoung. Ela murmurou um pedido de desculpas automático, mas não se afastou de imediato. Nem ele.
Os olhos dela se ergueram para os dele — castanhos, calmos, mas com algo ali que parecia mais quente agora, mais próximo.
Por um instante, esqueceram-se das mãos molhadas, dos pratos, da loja... Era só o som dos corações batendo mais rápido do que deveriam.
— Você faz isso parecer fácil — Doyoung disse baixinho, quase sem perceber que estava falando em voz alta.
— O quê? — perguntou, o coração acelerado.
Ele hesitou por um segundo, depois sorriu de um jeito tão genuíno que ela sentiu o chão sob seus pés tremer levemente.
— Se conectar com as pessoas. Criar algo bonito a partir de algo tão simples.
sorriu também, sentindo o rubor aquecer suas bochechas, mas manteve o olhar firme no dele.
— Às vezes... — ela respondeu, num tom tão suave quanto o dele — ...é só questão de encontrar as pessoas certas para florescer junto.
O sorriso dele se alargou, e ele baixou o olhar por um momento, quase como se precisasse recuperar o fôlego depois daquelas palavras.
Eles ficaram assim, próximos demais para serem apenas aliados, próximos o suficiente para que qualquer movimento mais impulsivo pudesse mudar tudo — mas, por ora, bastava aquele momento suspenso, aquele entendimento silencioso.
Lá fora, Johnny gritou alguma piada sobre demorarem demais, quebrando a tensão.
Doyoung riu, coçando a nuca, e deu um passo para trás, pegando o último copo para secar.
— Melhor terminarmos antes que eles venham buscar a gente — disse, com um brilho nos olhos que sabia que não era apenas pela brincadeira.
sorriu também, voltando às panelas. Mas, no fundo, ela sabia: aquela noite tinha mudado alguma coisa entre eles. E a história deles estava apenas começando a florescer.
Quando terminaram de guardar tudo, e Doyoung se juntaram ao grupo que já os esperava perto da entrada da loja. Nahye e Willow conversavam animadamente com Johnny e Jaehyun, enquanto Yuta trocava mais provocações leves com Zuri, tentando — sem muito sucesso — arrancar um sorriso dela.
O clima era leve, agradável, como se todos já fossem velhos conhecidos, mesmo que mal se conhecessem há dois dias.
— Então, amanhã, oito da manhã no parque? — Johnny confirmou, esticando os braços como se já sentisse o peso do dia que viria.
— Isso mesmo — Doyoung respondeu, olhando rapidamente para , como se quisesse garantir que ela também estaria lá.
— Estaremos lá — disse, firme, com um sorriso que parecia aquecer mais do que deveria.
Um a um, os rapazes começaram a se despedir, combinando de mandar mensagens para ajustar os detalhes pela manhã. Nahye e Willow foram buscar suas bolsas no vestiário dos fundos, enquanto Zuri apagava as luzes da loja.
Doyoung hesitou por um segundo na porta, olhando para como se ainda tivesse algo a dizer, mas, mais uma vez, se conteve. Ele apenas sorriu — aquele sorriso tranquilo e intenso que parecia dizer tudo sem precisar de palavras — e fez um leve aceno com a cabeça.
sorriu de volta, sentindo um friozinho no estômago, e retribuiu o gesto com a mesma delicadeza.
Era só um olhar. Um sorriso. Um instante.
Mas ali, entre as flores e as luzes apagadas da floricultura, parecia mais forte do que qualquer palavra dita naquela noite.
— Boa noite, — ele disse, a voz baixa, quase como uma promessa.
— Boa noite, Doyoung — ela respondeu, a voz igualmente suave.
E então ele se virou e saiu pela porta, acompanhado pelos amigos, deixando para trás apenas o leve som do sininho da entrada e a sensação de que alguma coisa muito bonita — e inevitável — estava começando a florescer entre eles.
A noite já avançava quando fechou a porta do apartamento, se apoiando contra ela por um instante. Soltou um suspiro longo, como se só agora permitisse a si mesma relaxar de verdade.
A floricultura, o jantar improvisado, as conversas... Tudo ainda girava em sua mente como um filme passando em câmera lenta.
Ela tirou os sapatos, pendurou a bolsa em seu gancho habitual e foi direto para a pequena cozinha. Pegou um copo d'água e encostou-se na bancada, olhando pela janela da sala. Lá fora, as luzes da cidade cintilavam como estrelas terrenas, distantes e, ao mesmo tempo, acolhedoras.
Enquanto tomava a água em goles lentos, seus pensamentos inevitavelmente voltaram para ele.
Doyoung.
O jeito calmo como ele a olhava. O sorriso que surgia tímido, mas que carregava tanta sinceridade que parecia aquecer o ambiente. A maneira como, mesmo nas pequenas coisas — secando um prato, ajeitando uma flor, escutando suas ideias — ele fazia tudo parecer importante.
apoiou o copo vazio na pia e caminhou até o sofá, abraçando uma almofada contra o peito. Seus olhos percorriam o teto, como se buscassem no silêncio da noite alguma explicação para aquilo que começava a germinar dentro dela.
Ela sempre amou flores, mas talvez nunca tivesse entendido de verdade o que era florescer até agora.
Havia algo em Doyoung que a puxava, que a fazia querer ser melhor, querer fazer parte de algo maior. Não era só o parque — era o sentimento de construir algo junto, de cuidar, de preservar... De acreditar em algo, lado a lado com outra pessoa.
“Se conectar com as pessoas. Criar algo bonito a partir de algo tão simples…” As palavras dele voltaram à sua mente, suaves, mas cheias de significado.
sorriu sozinha, abraçando a almofada com mais força. Talvez ainda fosse cedo para entender tudo o que estava acontecendo, mas ela sabia de uma coisa: amanhã, quando o sol nascesse e eles estivessem de volta ao parque, ela estaria lá.
Não apenas por Yuki.
Não apenas pela causa.
Mas por tudo que, silenciosamente, começava a florescer dentro dela.
Com esse pensamento aquecendo seu peito, se levantou, apagou as luzes e foi dormir, levando consigo o suave perfume das cerejeiras — e a promessa silenciosa de algo muito bonito prestes a acontecer.
O céu ainda tinha tons alaranjados quando chegou ao parque Yuki na manhã seguinte. O ar estava fresco e carregado daquele perfume suave e doce das cerejeiras, mesmo fora da época de floração intensa. Ela carregava uma mochila leve nas costas e duas caixas com material de divulgação que havia preparado na noite anterior, enquanto tentava (sem sucesso) desligar os pensamentos de Doyoung.
Assim que cruzou o pequeno portão de madeira do parque, foi recebida por uma cena que aqueceu seu coração: Jaehyun e Johnny estavam montando algumas mesas simples sob uma grande cerejeira, enquanto Nahye e Willow ajudavam a prender cartazes em varais improvisados. Yuta, de boné para se proteger do sol, ajeitava alguns vasos maiores próximos à entrada, sorrindo para quem passava.
E então ela o viu.
Doyoung estava ajoelhado perto de uma das trilhas, reorganizando uma fileira de mudas para plantio. O cabelo bagunçado pelo vento, a expressão concentrada e serena. Mesmo de longe, sentiu algo apertar levemente no peito.
Ele levantou o olhar naquele momento, como se sentisse sua presença, e os olhos dos dois se encontraram.
Um sorriso lento — aquele sorriso só dele — se formou no rosto de Doyoung. E retribuiu sem hesitar, sentindo o calor subir até suas bochechas.
Ele se levantou, limpando rapidamente as mãos nas calças jeans, e caminhou até ela.
— Você veio cedo — Doyoung disse, a voz carregada de uma felicidade genuína que ele nem tentou esconder.
— Prometi que estaria aqui, lembra? — ela respondeu, erguendo levemente as caixas nas mãos. — E trouxe reforços.
— Claro que trouxe — ele disse com um sorriso, pegando uma das caixas dela com facilidade. — Você nunca faz nada pela metade, né?
riu, caminhando ao lado dele em direção à área onde os outros estavam montando tudo.
— Só quando acho que vale a pena.
Doyoung a olhou de soslaio, como se aquela frase dissesse muito mais do que ela deixava transparecer.
Assim que chegaram perto, Yuta, Johnny e Jaehyun vieram recebê-los, todos com aquele entusiasmo de quem sabia que estavam prestes a fazer algo importante.
— Mais mãos pra ajudar! — Johnny comemorou. — E mãos talentosas, ainda por cima.
Nahye e Willow acenaram de longe, ocupadas ajustando os últimos detalhes, mas sorrindo ao ver .
Logo, todos estavam divididos entre organizar as mudas, montar pequenas áreas de exposição, posicionar os cartazes com informações sobre o parque e preparar o espaço para quem começaria a chegar em poucas horas.
Entre um ajuste aqui e outro ali, Doyoung e trabalhavam próximos, trocando sorrisos cúmplices, pequenos toques ocasionais nos braços, ombros que se encostavam quando passavam apertados por entre as mesas.
O parque, com suas trilhas irregulares e cerejeiras silenciosas, parecia pulsar com uma nova energia — não só pela ação que estavam realizando, mas pelas conexões que ali floresciam, discretas, mas inevitáveis.
E no meio de tudo isso, teve certeza:
Aquela não seria apenas a luta para salvar Yuki.
Seria o início de algo muito maior.
Algo que começava, ali mesmo, sob a sombra acolhedora das cerejeiras.
Com o passar das horas, o parque Yuki foi se enchendo de vida.
Famílias chegavam empurrando carrinhos de bebê, idosos vinham para caminhar devagar sob as árvores, jovens curiosos tiravam fotos dos arranjos e cartazes cuidadosamente espalhados pelo grupo. A feirinha improvisada logo começou a atrair atenção: havia mesas de mudas de cerejeiras para adoção simbólica, artesanato local, e até uma pequena barraca de chá verde, onde Johnny — sim, Johnny — se encarregava de entreter os visitantes com piadas enquanto servia bebidas desajeitadamente.
— Por favor, perdoem minha falta de jeito, mas levem em consideração que estou salvando o mundo e servindo chá ao mesmo tempo — ele dizia, arrancando risadas de todos.
Willow, que organizava as embalagens ao lado dele, às vezes lhe lançava olhares de leve reprovação, mas não conseguia esconder os sorrisos que escapavam no canto dos lábios. Quando seus olhos se encontravam, havia uma pequena troca silenciosa — algo que dizia muito sem que nenhuma palavra fosse dita.
Mais à frente, Jaehyun ajudava Nahye a montar um painel com fotos antigas do parque. A cada vez que ele se aproximava demais para ajeitar alguma imagem, ela corava ligeiramente, desviando o olhar, só para ser pega minutos depois encarando-o de novo — e Jaehyun, claro, sorria de um jeito que deixava óbvio que percebia.
E, afastado da multidão, Yuta observava Zuri à distância, enquanto ela coordenava a coleta de assinaturas com sua eficiência habitual. Havia algo magnético na forma determinada como ela lidava com tudo — e, de tempos em tempos, Yuta parecia arranjar desculpas para passar por perto dela, oferecendo ajuda que ela quase sempre recusava com um olhar firme... mas que não escondia um certo brilho no fundo dos olhos.
No meio de tudo, Doyoung e trabalhavam lado a lado. explicava o projeto para quem se aproximava do mural de informações, enquanto Doyoung distribuía pequenos folhetos com dados sobre a história do parque e a ameaça que pairava sobre ele.
Quando o fluxo de visitantes deu uma breve trégua, os dois se encontraram perto de uma cerejeira mais afastada, onde tinham colocado uma tenda simples para sombra.
— Tá tudo correndo melhor do que eu esperava — Doyoung disse, a voz carregada de um misto de alívio e felicidade.
— É porque Yuki merece — respondeu, limpando as mãos em um paninho de tecido. — E porque todo mundo sente que há algo verdadeiro aqui.
Ele a observou por um instante, como se cada palavra dela plantasse ainda mais raízes dentro dele.
— E você… — ele disse, a voz mais baixa, mais próxima — você tornou isso possível.
sorriu, sentindo o coração acelerar, e antes que pudesse responder, alguém os chamou do outro lado da praça, pedindo ajuda com a nova leva de mudas.
Doyoung riu baixinho, olhando para ela como se não quisesse deixar aquele momento escapar, e então estendeu a mão.
— Vamos?
colocou a mão na dele sem hesitar.
E debaixo daquela cerejeira silenciosa, onde pétalas invisíveis pareciam dançar no ar mesmo fora da estação, suas mãos se tocaram pela primeira vez — e nenhum dos dois precisou dizer nada para entender que, entre salvarem o parque e salvarem um ao outro, havia muito mais florescendo do que poderiam imaginar.
O fim da tarde chegou banhando o parque Yuki com uma luz dourada e macia, como se o próprio céu reconhecesse a importância daquele dia.
As últimas famílias se despediam, carregando pequenas mudas de cerejeiras em caixas decoradas com fitas. As mesas da feirinha começavam a ser desmontadas entre risadas e conversas animadas. Os cartazes, agora meio amassados pelo vento e pelo toque de tantas mãos, eram cuidadosamente recolhidos como troféus silenciosos de um dia que não seria esquecido tão cedo.
Em frente à grande cerejeira central, o grupo se reuniu para um momento final.
Johnny, com um braço jogado ao redor dos ombros de Willow — num gesto descontraído, mas cheio de intenção — brincava:
— Missão dada, missão cumprida, senhores e senhoras das flores.
— E com louvor — Jaehyun acrescentou, trocando um sorriso cúmplice com Nahye, que mantinha as mãos ocupadas dobrando cuidadosamente os folhetos, mas não escondia o brilho nos olhos.
— Ainda tem muito pela frente — Zuri lembrou, prática como sempre, mesmo que seus olhos desviassem de leve para Yuta, que a observava com aquela expressão tranquila de quem estava muito mais interessado nela do que nos papeis que segurava.
Doyoung, de pé ao lado de , olhou em volta — para seus amigos, para as cerejeiras que balançavam preguiçosamente com o vento suave, para as pessoas que tinham vindo e assinado seus nomes em apoio. E finalmente, para ela.
— Isso só foi possível porque a gente se uniu — ele disse em voz alta, mas seus olhos estavam presos nos dela. — Obrigado. A cada um de vocês.
O grupo aplaudiu de brincadeira, mas havia uma emoção genuína no ar. Algo como esperança. Algo como recomeço.
Aos poucos, as pessoas começaram a se despedir, marcando de se encontrarem de novo em breve para continuar a luta. Johnny e Jaehyun ofereceram carona para Nahye e Willow, e até Zuri aceitou o convite de Yuta para "ajudar a carregar as caixas" — embora todos soubessem que não era só por isso.
Quando se deu conta, restavam apenas ela e Doyoung sob a luz dourada do entardecer.
Ela segurava ainda um dos cartazes nas mãos, sem saber exatamente o que fazer com ele. Doyoung se aproximou devagar, as mãos nos bolsos, o sorriso meio tímido, meio seguro.
— Sabe... — ele começou, a voz baixa, quase levada pelo vento. — Eu queria agradecer de um jeito diferente.
ergueu os olhos para ele, o coração batendo rápido.
— Que jeito? — ela perguntou, com a voz suave, curiosa.
Doyoung hesitou por um segundo, como se ponderasse o próximo passo. Depois, deu um meio sorriso e disse:
— Que tal... um jantar? Não de trabalho, não de parque, não de ação comunitária. Só... eu e você.
sorriu, sentindo o rosto esquentar, mas sem desviar o olhar.
— Eu adoraria.
Doyoung parecia aliviado e feliz ao mesmo tempo, e por um instante, o espaço entre eles diminuiu naturalmente. Seus corpos se inclinavam, como puxados por uma força silenciosa.
Houve um segundo, apenas um, em que os rostos quase se tocaram — a respiração dele aquecendo a dela, as mãos ainda relutantes para se mover — mas então, com um último sorriso, Doyoung recuou ligeiramente, respeitando aquele momento, guardando o desejo para o tempo certo.
— Te mando uma mensagem — ele disse, a voz carregada de promessas não ditas.
— Estarei esperando — respondeu, sorrindo de volta.
E enquanto ele se afastava, lançando um último olhar por cima do ombro, soube: Aquela história, que começara como uma luta para salvar um parque, agora florescia em algo ainda mais bonito.
Algo feito de raízes, de confiança, e da certeza silenciosa de que algumas conexões são fortes o suficiente para atravessar qualquer estação.
Depois de um banho demorado e uma escolha cuidadosa, optou por um vestido leve, de tecido fluido e cor neutra, que trazia delicadeza sem esforço. Deixou os cabelos soltos, caindo com naturalidade sobre os ombros. No espelho, ela olhou para si mesma e sorriu: havia um brilho diferente ali. Como se até ela mesma estivesse florescendo.
Do lado de fora, Doyoung a esperava com um sorriso sereno, encostado em um carro simples, mas bem cuidado. Ele também tinha feito sua parte — o cabelo mais arrumado do que o normal, uma camisa azul clara com as mangas dobradas até o cotovelo e um olhar que se suavizava ainda mais ao vê-la sair do prédio.
— Uau — ele disse, abrindo a porta para ela. — Você está... linda.
— Você também não está nada mal — ela respondeu com um sorriso, entrando no carro. — Ainda parece o Doyoung do parque, mas com menos terra na roupa.
Ele riu,entrando e ligando o carro, e a tensão entre eles foi se dissolvendo pouco a pouco.
O restaurante era pequeno, escondido entre ruelas tranquilas, com luzes baixas, madeira clara e um jardim interno que podia ser visto pelas janelas de vidro. Doyoung havia reservado uma mesa perto das plantas — claro — e o ambiente parecia feito sob medida para aquela noite.
Durante o jantar, a conversa fluiu naturalmente. Falaram sobre a infância, sobre o que os levou a amar as flores, sobre os pais dela e o quanto Zuri parecia uma irmã mais velha, mesmo sendo a mais nova. Doyoung contou como Yuki tinha se tornado parte da vida dele desde a adolescência, quando fugia de casa para se sentar ali e tentar entender o mundo em silêncio.
— Acho que foi ali que aprendi que as coisas mais bonitas não gritam por atenção — ele disse, olhando para a xícara entre os dedos. — Elas só... estão lá. E mudam tudo só por existirem.
o olhou em silêncio, sentindo algo se formar dentro dela. Uma ternura profunda, quase reverente. Talvez porque ele estivesse, sem saber, descrevendo exatamente o que ela começava a sentir por ele.
Quando o jantar terminou, eles caminharam juntos até o carro. A rua estava silenciosa, com árvores projetando sombras suaves sob a luz dos postes.
Doyoung se virou para ela, os dois parados junto à calçada.
— Eu não sei o que isso é ainda — ele começou, um pouco hesitante — mas... eu sei que quero descobrir. Com você.
sentiu o ar preso nos pulmões por um segundo antes de soltar um sorriso pequeno e verdadeiro.
— Eu também quero Doyoung .
Doyoung a olhou por um instante, como se ainda estivesse processando a resposta, como se quisesse guardá-la com todo o cuidado que se guarda uma flor rara. Então, se aproximou devagar — sem pressa, sem hesitação — apenas com a certeza tranquila de quem sabe que está exatamente onde deveria estar.
não recuou. Seus olhos permaneceram nos dele até o último segundo, até seus rostos estarem tão próximos que só restava o som das respirações entrecortadas, o calor compartilhado em milímetros de distância.
Quando seus lábios finalmente se tocaram, não houve pressa.
Foi um beijo que começou como um sussurro — leve, suave, quase hesitante — mas que logo se aprofundou com a delicadeza de quem quer sentir cada instante com plenitude. Os dedos de Doyoung roçaram devagar a lateral do rosto de , traçando o contorno da mandíbula dela com reverência, como se memorizasse sua forma.
sentiu a mão livre dele repousar em sua cintura, firme o bastante para puxá-la para perto, mas ainda gentil — como se dissesse “se você quiser ir embora, ainda pode”. Mas ela não queria. Nenhum passo para trás. Apenas o calor que crescia entre eles, e a forma como o beijo se tornava mais lento, mais profundo, mais íntimo.
A respiração dela falhou quando os lábios dele deslizaram contra os seus com mais certeza, e foi sua vez de tocar o rosto dele — os dedos encontrando o pescoço, depois subindo até o cabelo, afundando levemente ali, como se precisasse de algo para se segurar.
Ele sorriu no meio do beijo, e ela sentiu. Aquele sorriso pequeno, quase secreto, como se ele estivesse em paz pela primeira vez em muito tempo.
Quando, por fim, se afastaram, foi devagar — como quem se desprende de um sonho bom, mas sem pressa de acordar. As testas se encostaram, e as respirações ainda descompassadas se misturavam no ar morno da noite.
Doyoung fechou os olhos por um segundo, como se quisesse prender aquele instante no tempo.
— Isso... — ele murmurou, a voz baixa, um sopro entre os lábios. — ...não foi só um beijo.
sorriu, ainda com os olhos fechados também, a testa colada à dele.
— Eu sei.
E ali, naquele breve silêncio que seguiu, havia mais verdade do que qualquer palavra poderia explicar.
— Bom dia! — Doyoung chegou, sorrindo. Colocou a pasta sobre a própria mesa e encarou os amigos.
Jaehyun tinha os braços cruzados abaixo do peito e o encarava com um sorriso discreto, Johnny inclinou o corpo para frente antes de erguer uma das sobrancelhas e Yuta também cruzou os braços, com um sorriso malicioso no canto dos lábios nascendo aos poucos.
Doyoung sentiu as bochechas ficarem levemente vermelhas, o calor subindo pelo rosto e então seu sorriso diminuiu aos poucos após ele se sentar em sua cadeira.
Johnny pigarreou chamando a atenção dele.
— O que vocês querem? — Doyoung ligou o computador e continuou encarando a tela, agora impassível. Mas um sorrisinho bobo surgiu antes que ele pudesse controlar.
— Você vai mesmo se fazer de bobo, Doyoung? — Yuta quebrou o silêncio — O jantar com a , cabeção!
— Queremos todos os detalhes! — Jaehyun se ajeitou na cadeira.
— Vocês transaram? — Johnny nem teve tempo de terminar a pergunta e sentiu a caneta jogada por Doyoung lhe atingir o queixo — Ei! É uma pergunta normal, nem vem!
— Claro que não é uma pergunta normal, Johnny! Eu não saio por aí transando logo no primeiro encontro, e a é especial!
Johnny esfregou o queixo com cara de ofendido, mas o sorriso zombeteiro não saía do rosto.
— Tá bom, cavaleiro de armadura brilhante... ninguém aqui tá te julgando por ter limites — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só achei que podia ter rolado, sei lá, uma vibe mais intensa.
— Foi intenso — Doyoung respondeu com firmeza, e os três amigos pararam por um segundo, como se sentissem o tom mudar.
Yuta arqueou a sobrancelha.
— Intenso tipo...?
Doyoung respirou fundo, tentando manter a pose, mas o rubor já dominava as bochechas e o pescoço. Ele desviou o olhar da tela e encarou os três.
— O jantar foi... mágico, cara. De verdade. O lugar, a conversa, ela... Tudo tava leve, sabe? Como se fosse fácil. Como se já fosse certo.
Jaehyun sorriu de canto, cruzando os braços novamente.
— Então foi muito mais do que um simples encontro, hein.
Doyoung assentiu devagar, quase como se estivesse revivendo a noite em pensamento.
— E quando a gente se beijou...
— Aí está! — Johnny interrompeu, batendo as mãos na mesa. — Eu sabia! Era isso que eu queria saber!
— Foi devagar — Doyoung continuou, ignorando a euforia de Johnny. — Calmo, mas cheio de... intenção. Como se os dois estivessem com medo de estragar aquilo. E ao mesmo tempo, com vontade de mergulhar fundo. Acho que nunca beijei alguém assim antes.
O silêncio que se instalou depois da frase foi carregado de significados. Nenhum deles zombou. Nenhum piadista se manifestou de imediato.
Até Yuta, que geralmente era o primeiro a provocar, apenas sorriu com sinceridade e disse:
— Você tá caidinho por ela, hein?
Doyoung soltou uma risada nervosa e passou a mão pelos cabelos.
— Tô tentando fingir que não, mas... é. Acho que tô.
Jaehyun apoiou os cotovelos na mesa, observando o amigo com mais atenção.
— Isso é bom. Sabe por quê? Porque pela primeira vez em muito tempo você tá... leve. Tá diferente. Parece que tá respirando melhor.
Johnny fez um gesto com as mãos como se dissesse “olha aí, profundo demais pra essa hora da manhã”, mas no fundo, concordava.
— Só espero que ela continue sendo essa pessoa incrível que você tá vendo — comentou. — Porque se ela te magoar, a gente vai ter que... sei lá, plantar uma cerca viva em volta dela.
— Johnny — Doyoung riu. — Ela não vai me magoar. Eu confio nela.
— Então, meu querido, aproveita — Yuta falou, se levantando apra sair e dando um leve soco no ombro do amigo. — Porque quando o sentimento é verdadeiro assim desde o começo... é raro.
Doyoung olhou para os três com gratidão estampada no rosto. Às vezes, a vida era mesmo generosa. E ele sentia, no fundo do peito, que aquela história com estava apenas começando.
— Você está sorrindo desde que entrou pela porta — Zuri comentou, sem nem levantar os olhos do estoque que organizava.
— Eu tô sorrindo? — tentou disfarçar, mas a voz já soava mais leve do que o normal. Muito mais.
— Sorrindo e flutuando — Nahye acrescentou, passando por ela com um balde de flores frescas. — O jantar com Doyoung foi tão bom assim?
Willow apareceu atrás do balcão, segurando uma xícara de chá, e se juntou à conversa com um sorriso cheio de segundas intenções.
— Ela chegou tão distraída que nem percebeu que a caixa de entrega tava aberta com o fundo rasgado. Eu vi, dona .
— Ok, ok! — ergueu as mãos, rindo. — Foi… lindo. Sério. Acho que foi um dos encontros mais leves e especiais que eu já tive.
Zuri ergueu os olhos agora, cruzando os braços.
— “Lindo” e “leve” são palavras delicadas. Quero saber do que importa. Ele te beijou?
ficou alguns segundos em silêncio, mordendo o lábio inferior, mas o brilho nos olhos dela entregou tudo.
— Beijou. — Ela disse, por fim, com um sorriso que agora ela nem tentava mais esconder. — E não foi qualquer beijo. Foi o tipo de beijo que faz o tempo parar.
As três pararam o que estavam fazendo — mesmo Zuri, que fingia ser a mais prática do grupo.
— Aí sim — Willow comentou, com um sorrisinho encantado. — Já quero ele te esperando aqui com flores e promessas de amor eterno.
— Eu ainda sou da teoria que beijo bom no primeiro encontro tem 90% de chance de dar namoro — Nahye afirmou, segurando a haste de uma rosa e girando entre os dedos. — E o restante é só manutenção emocional.
— Menos pressão, por favor — riu, embora o coração batesse mais rápido só de lembrar. — Foi só um jantar, um beijo e... a sensação de que talvez isso seja o começo de algo diferente. Algo bom.
Zuri a observou por um momento em silêncio, depois deu um meio sorriso, mais sincero do que o habitual.
— Bom... só toma cuidado, tá? Mas se for mesmo o começo de algo bom... então aproveita. Você merece.
assentiu, tocando distraidamente o colar em seu pescoço — algo que sempre fazia quando estava nervosa ou apaixonada. E, naquele momento, ela não sabia exatamente em qual das duas categorias se encaixava. Talvez nas duas.
— Ele disse que vai me mandar uma mensagem pra marcarmos algo fora do parque. Só nós dois de novo.
Willow se apoiou no balcão com um olhar sonhador.
— Aiai… já posso começar a organizar os arranjos pro casamento?
— WILLOW! — todas gritaram, e a floricultura explodiu em risos, entre pétalas, chá e corações acelerados.
Dois dias depois do jantar, Doyoung finalmente mandou a mensagem:
“Hoje é dia de descanso oficial? Ou posso te sequestrar por algumas horinhas?”
não conteve o sorriso e respondeu quase no mesmo instante:
“Se for um sequestro gentil e com uma trilha bonita, tô dentro.”
Duas horas depois, ela subia na garupa da bicicleta de Doyoung, os braços envolvendo a cintura dele de forma tímida, mas confortável. Ele a levou para um lugar especial: um jardim escondido entre os arredores de Tóquio, quase secreto, onde ele gostava de ir quando precisava respirar.
O lugar era silencioso, com árvores altas que filtravam a luz em feixes suaves e caminhos de terra batida que levavam até um lago sereno. Não havia muitas pessoas — apenas alguns idosos em silêncio, lendo ou pescando, e o som constante de folhas se mexendo com o vento.
— Não é tão bonito quanto o Yuki — Doyoung disse, empurrando a bicicleta devagar enquanto caminhavam — mas é onde eu vim muito depois que minha avó faleceu. Era o lugar onde eu conseguia chorar sem ninguém me perguntar nada.
o olhou, surpresa pela abertura.
— Ela era importante pra você?
— Ela era tudo — ele respondeu com um sorriso triste. — Foi ela quem me ensinou a cuidar das flores, a respeitar o tempo da natureza, a escutar o silêncio.
— Ela te ensinou bem. — disse com sinceridade, tocando o braço dele levemente.
Eles se sentaram à beira do lago, com as bicicletas apoiadas em uma árvore atrás deles. O silêncio entre os dois era confortável, preenchido apenas pelos sons da natureza ao redor.
— E você? — ele perguntou, depois de alguns minutos. — Tem algum lugar assim… seu?
— A floricultura era da minha mãe. Ela começou pequena, com umas plantas no quintal, e foi crescendo. Quando ela adoeceu, eu assumi. Às vezes eu acho que não escolhi as flores… acho que elas me escolheram — disse , com os olhos perdidos na água. — E desde então, é ali que eu me sinto inteira. Mesmo nos dias em que tudo parece quebrado.
Doyoung a observou em silêncio por um tempo, depois estendeu a mão, enlaçando os dedos dela com os seus devagar, como se pedisse permissão. aceitou o gesto com naturalidade, sentindo o calor dele invadir a ponta de seus dedos e se espalhar até o peito.
— Posso te dizer uma coisa? — ele murmurou.
— Claro.
— Eu tô assustado. Mas no bom sentido. — Ele sorriu, meio sem jeito. — É como se… eu estivesse andando por uma trilha conhecida e, de repente, uma flor nova tivesse nascido ali. E agora eu só consigo olhar pra ela.
não respondeu de imediato. Em vez disso, soltou a mão dele, mas só para se inclinar e encostar o rosto no ombro dele, os olhos fechados por um segundo.
— Eu tô com medo também — ela disse baixinho. — Mas se for pra florescer… então que seja juntos.
Ele virou o rosto devagar e encostou os lábios no topo da cabeça dela, num beijo demorado, silencioso, cheio de promessas que ainda não tinham nome, mas que já existiam.
Ali, entre o som das folhas e o reflexo do céu na água, Doyoung e não disseram mais nada.
Mas sabiam.
Sabiam que estavam cuidando de algo raro. Sabiam que o que começava entre eles era como as cerejeiras: delicado, bonito, e totalmente impossível de ignorar.
Zuri empurrou a porta do bar com força suficiente para chamar atenção — mas não o suficiente para parecer escandalosa. Era o tipo de raiva contida, silenciosa, que se escondia atrás dos olhos apertados e dos passos rápidos no salto alto. Ela ajustou a alça da bolsa no ombro e bufou, mais uma vez.
“Péssimo.”
Ela ainda conseguia ouvir a voz do cara reclamando do preço do vinho, perguntando se ela “sempre falava tanto de trabalho” e fazendo piadas que ela parou de rir depois dos primeiros cinco minutos.
— Patético — murmurou para si mesma, sacando o celular para chamar um carro.
Foi então que, no momento em que deu um passo para longe da entrada, alguém cruzou o caminho dela com o ombro — firme o bastante para fazê-la desequilibrar um pouco.
— Opa, cuidado aí — disse uma voz familiar, levemente divertida, e ao erguer os olhos, Zuri viu Yuta diante dela, com aquele sorriso torto que ela detestava admitir que achava interessante.
Ao lado dele, Johnny só observava a cena como quem sabia que seria espectador de algo bom.
— Você — Zuri disse, num misto de surpresa e irritação — claro que seria você.
— Boa noite pra você também — Yuta respondeu com leveza. — Você tá bem?
— Tive um encontro de quinta categoria. E agora só quero ir pra casa, lavar o perfume do idiota da minha pele e fingir que essa noite nunca existiu.
Johnny deu um passo para trás lentamente, levantando as mãos.
— Acho que eu vou... pegar uma cerveja. Boa sorte, Yuta.
Yuta apenas sorriu, os olhos ainda em Zuri.
— Se você tá tentando apagar essa noite da memória, talvez precise criar outra lembrança por cima dela.
Zuri arqueou uma sobrancelha.
— Que tipo de lembrança?
— Do tipo que envolve boa música, um drinque decente e uma conversa com alguém que, prometer eu não prometo nada... mas tem zero intenção de te entediar.
Ela cruzou os braços, analisando-o com o olhar afiado.
— Isso é uma cantada?
— Não — ele disse, sorrindo — é uma proposta de trégua. Me dá uma hora. Se for ruim, eu mesmo chamo seu carro e finjo que nunca aconteceu.
Zuri hesitou. Ela não era o tipo que se deixava convencer facilmente. Mas havia algo no jeito descomplicado de Yuta... na forma como ele a desafiava com humor, como se não tivesse medo da muralha que ela gostava de erguer. Algo que fazia com que ela não tivesse vontade de ir embora tão cedo.
— Uma hora. E se você começar a falar de criptomoedas, eu vou embora sem nem olhar pra trás.
— Prometo falar só de flores e borboletas.
Ela revirou os olhos, mas o canto da boca já cedia a um sorrisinho.
— Tá. Uma hora. Não me decepciona, Yuta.
Ele abriu a porta para ela com um gesto dramático.
— Não vou.
E assim, uma noite que começou com frustração, deu meia-volta com um esbarrão — e talvez, sem que Zuri quisesse admitir ainda, estivesse prestes a se tornar uma daquelas lembranças difíceis de apagar.
Yuta guiou Zuri até uma mesa mais reservada, nos fundos, perto da janela embaçada pela umidade da noite. Johnny, a uma distância segura, ergueu o copo em cumprimento e se afastou com um sorrisinho malicioso.
— Ele sempre faz isso? — Zuri perguntou, sentando-se com postura ereta, os olhos percorrendo o ambiente antes de voltarem para Yuta.
— O Johnny? Ele adora assistir de longe quando acha que algo interessante vai acontecer.
— E ele acha que algo vai acontecer?
— E você? — Yuta devolveu, arqueando uma sobrancelha. — Acha que algo vai acontecer?
Zuri apenas sorriu de canto, recostando-se com elegância na cadeira enquanto passava a mão pelos cabelos com um movimento leve demais para ser distraído.
— Ainda tô decidindo.
Yuta pediu dois drinques e, por alguns segundos, observou-a em silêncio. Ela estava linda — mais do que ele lembrava, mais do que queria admitir. Mas o que mais chamava atenção nele era o jeito como Zuri mantinha a guarda erguida até enquanto sorria.
— Então... — ele começou, apoiando os cotovelos na mesa — encontro de quinta categoria?
Zuri rolou os olhos e soltou um suspiro.
— O sujeito falou de si mesmo por quarenta minutos sem respirar. Eu contei. Depois reclamou do valor do cardápio, disse que flores são desperdício de dinheiro e ainda tentou me convencer a assistir vídeos motivacionais com ele no fim da noite.
— Uau — Yuta respondeu, fazendo uma careta. — Ele realmente quis ser tudo o que uma mulher detesta.
— Ele conseguiu. Com louvor.
O garçom chegou com os drinques. Yuta ergueu o copo, e ela fez o mesmo.
— Ao anti encontro ruim perfeito — ele brindou.
— À trégua de uma hora — ela completou, antes de beber.
O primeiro gole foi o suficiente para aliviar um pouco da tensão que ainda restava nos ombros dela. E Yuta percebeu. Com habilidade silenciosa, foi diminuindo a distância entre os dois — não fisicamente, mas na conversa. Eles falaram sobre Tóquio, sobre música, sobre Zuri preferir livros a séries, e Yuta confessar que adora observar as pessoas nos bares como se estivesse lendo histórias que ninguém escreveu.
— E o que você acha que tá lendo agora? — Zuri perguntou, encarando-o com aquele olhar direto que fazia muita gente desviar. Mas não Yuta.
— Uma mulher que prefere manter o controle, mesmo quando tudo dentro dela quer se soltar um pouco.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Você acha que sabe muito de mim pra quem só me viu trabalhando numa floricultura duas vezes.
— Eu observei. Não sou cego. — Ele apoiou o queixo na mão, sem desviar os olhos dela. — E eu gosto de como você finge que não quer ser observada, mas no fundo sabe que tá chamando atenção. Porque você chama. E não é só pela beleza, Zuri.
Por um momento, o silêncio entre eles ficou denso. Carregado. A música ao fundo pareceu desaparecer por alguns segundos, como se o universo desse espaço para aquela tensão respirar.
Zuri não disse nada. Apenas desviou os olhos brevemente, como se aquilo a tivesse atingido mais do que gostaria. Depois, voltou a encará-lo, os lábios levemente entreabertos.
— Isso tudo é seu jeito de me conquistar?
— Não. — A resposta veio rápida. — É meu jeito de ser honesto. Mas se te conquistar for consequência... — ele deu um meio sorriso — eu não vou reclamar.
Ela soltou uma risada abafada, e pela primeira vez naquela noite, parecia realmente leve. Diferente da mulher que saiu batendo a porta do bar.
— Você tá indo bem, Yuta — disse, olhando para o copo. — Melhor do que eu esperava.
— Isso quer dizer que ganhei mais tempo?
Zuri levantou o olhar lentamente, e um sorrisinho perigoso apareceu no canto da boca.
— Isso quer dizer que... talvez a noite ainda não precise acabar.
Yuta se inclinou ligeiramente sobre a mesa, diminuindo a distância entre os dois.
— Então me diz onde termina.
Ela não respondeu. Mas os olhos dela baixaram rapidamente para a boca dele, antes de voltar aos olhos — e foi o suficiente para ele saber que estava no caminho certo.
A trégua de uma hora havia acabado. E o jogo, agora, era outro.
O tempo passou mais rápido do que Zuri imaginava. Quando deu por si, o bar já esvaziava e os garçons começavam a empilhar cadeiras discretamente. A conversa com Yuta tinha fluído fácil demais. E pior: ele estava conseguindo arrancar risadas dela. Risinhos que vinham com facilidade e que, no fundo, ela tentava disfarçar com copos e silêncios.
Mas ele percebia. E gostava de ver isso acontecer.
— Parece que os garçons estão nos expulsando educadamente — ele disse, levantando da cadeira.
— Não estou acostumada a perder a noção do tempo com alguém — ela confessou, ajeitando a bolsa no ombro.
— Isso foi um elogio? — ele perguntou, abrindo a porta para ela sair.
— Foi o mais perto que você vai conseguir hoje.
— Eu aceito. Com gratidão.
Lá fora, o ar da noite estava morno, com o vento leve bagunçando os fios soltos do cabelo dela. Yuta andava ao lado, com as mãos nos bolsos e um olhar que, mesmo silencioso, era carregado de atenção.
— Me deixa te acompanhar até sua casa? — ele perguntou.
Zuri o encarou, decidindo em silêncio.
— Pode ser. Mas sem segundas intenções.
Yuta arqueou uma sobrancelha, fingindo inocência.
— Eu nem tinha pensado nisso… mas agora que você falou...
Ela estreitou os olhos, desconfiada.
— Tô brincando — ele disse, com um sorriso enviesado. — Palavra de escoteiro. Só quero prolongar uma noite boa com uma companhia melhor ainda.
Zuri tentou manter a pose séria, mas o canto dos lábios cedeu antes que pudesse conter o riso.
Durante o caminho, os dois andaram próximos o suficiente para que os ombros se tocassem às vezes. Ele não forçava nada. Nem mesmo o silêncio. Mas quando falava, era certeiro — como se conseguisse acessar partes dela que ela mesma protegia com muralhas invisíveis.
Chegaram ao prédio dela, e pararam diante da porta de entrada.
— Subir ou encerrar aqui? — ele perguntou, com a voz mais baixa, como se o espaço entre eles tivesse encolhido sem que percebessem.
Zuri hesitou. O olhar dele estava nos lábios dela agora. E o dela... já tinha feito o caminho de ida e volta algumas vezes naquela noite.
— Pode subir. — A voz dela saiu firme. — Pra mais uma bebida. Só isso.
— Eu sei respeitar limites — ele disse, já a acompanhando pela entrada.
— E sabe quebrá-los também, eu imagino.
— Só quando pedem pra eu quebrar.
O elevador parecia mais silencioso do que deveria. Os dois entraram e ficaram lado a lado, próximos demais para quem não se conhecia direito — longe demais para quem queria mais.
A tensão era física agora. Densa. A eletricidade entre eles preenchia o espaço sem esforço.
Quando chegaram ao andar dela, Zuri abriu a porta com naturalidade. O apartamento era limpo, com toques de personalidade aqui e ali: quadros, livros, aromas sutis. Nada fora do lugar. Nada improvisado.
— Pode ficar à vontade. — Ela tirou os sapatos com leveza. — Vou pegar algo pra beber.
Yuta ficou no centro da sala, observando os detalhes, até os olhos encontrarem uma foto dela com quando mais novas, rindo em frente a um jardim.
Ela voltou com dois copos e lhe entregou um.
— Whiskey? — ele perguntou, surpreso.
— Surpresa.
— Você é cheia delas.
— Nem comecei — ela respondeu.
Yuta deu um gole e se aproximou um pouco mais. Agora, estavam a menos de um palmo de distância. O silêncio voltou, denso, íntimo. O tipo de silêncio que precede beijos ou decisões erradas. Ou as duas coisas.
Ele baixou os olhos para os lábios dela. E ela não desviou.
— Se você me beijar agora… — ela disse, a voz mais baixa do que nunca — ...pode não ser só um beijo.
Yuta sorriu, e o sorriso era torto, perigoso.
— E se eu não te beijar agora, vou passar a noite toda arrependido.
Eles ficaram assim por alguns segundos. Tão perto. Tão prontos.
Mas, com um suspiro leve, Zuri recuou um passo.
— Boa noite, Yuta.
Ele assentiu, respeitoso — mas com os olhos queimando.
— Boa noite, Zuri.
E então ela sorriu de canto, meio provocadora, meio satisfeita. Porque ambos sabiam: o quase beijo foi mais perigoso do que o beijo teria sido. E a próxima vez… talvez não houvesse volta.
— Eu te dei folga hoje, se esqueceu? — colocou as mãos na cintura ao ver a irmã passar pela porta de vidro do escritório da floricultura.
Zuri piscou os olhos algumas vezes e mordeu o lábio inferior, juntando as mãos umas nas outras na frente do corpo. Ela se lembrava muito bem da “folga” que a irmã havia dado a ela. Na verdade Zuri ajudava a irmã sempre que podia quando tinha folga de verdade do outro emprego, seu emprego fixo como auxiliar administrativa em um hospital. E bom naquela manhã ela estava de folga do hospital e de ajudar a irmã, já que havia comentado com ela que teria um encontro na noite anterior.
Só que agora, ela queria contar para a irmã que o encontro na verdade havia terminado de outro jeito, totalmente inesperado. E claro, ela queria alguns conselhos da irmã… mesmo que ela fosse a mais velha. Fazia sentido? Naquele momento fazia sim na cabeça de Zuri.
— Eu precisava de distrações querida irmã, e além do mais… — Zuri pausou, mordendo o lábio outra vez. — Preciso te contar umas coisas.
sorriu, de orelha a orelha, e então apontou com a mão para a cadeira vazia à sua frente na mesa do escritório.
— Como foi o encontro? É disso que quer falar, não é? — piscou para a irmã com um olho só.
Zuri encarou as próprias mãos outra vez, dessa vez entrelaçadas sobre a mesa do escritório da irmã.
— É exatamente sobre isso sim, só que aconteceu uma coisa totalmente inesperada.
— Não me diga que o rapaz te deu o bolo? — ergueu uma das mãos e delicadamente colocou sobre as da irmã.
Os olhos de se arregalaram levemente e ela inclinou a cabeça, tentando ler as emoções da irmã em seu semblante. O que só fez com que Zuri soltasse uma gargalhada de nervoso.
— É estranho falar dessas coisas com você… eu sou a mais velha!
Ela desviou o olhar, encarando a prateleira cheia de cadernos de pedidos e pastas etiquetadas atrás da irmã, como se buscasse ali alguma firmeza para a própria confusão. Por um instante, o silêncio pareceu pesar no ar — não por falta de intimidade, mas por falta de hábito.
Zuri sempre fora a responsável. A que sabia resolver tudo sozinha. A que evitava dramas, guardava opiniões, cuidava dos outros sem dar espaço para ser cuidada. Era a irmã mais velha. Aquela que não chorava, não tropeçava, não precisava de conselhos.
Ou, pelo menos, era isso que ela tentava fazer parecer.
— É como se… — ela começou, mexendo nos dedos entrelaçados sobre a mesa — eu tivesse que ser sempre a forte, sabe? A que já viveu mais, que sabe mais. E agora eu tô aqui... meio perdida por causa de um cara, querendo conselho de você... que cresceu me pedindo ajuda com tudo.
manteve o sorriso, mas suavizou o olhar. Ela entendia. Talvez melhor do que Zuri imaginava.
— Crescer não te impede de se sentir pequena às vezes — ela disse, com delicadeza. — E só porque você é a mais velha não significa que tem que saber de tudo. Às vezes, quem cuidou tanto também precisa ser cuidada, Zuri
Zuri respirou fundo, ainda tentando encontrar conforto naquela inversão de papeis. Era como estar em território novo — exposta, sem roteiro. Mas o olhar da irmã era acolhedor. E, de certa forma, aquilo a libertava um pouco.
— Eu só não tô acostumada... — ela murmurou. — A mostrar quando eu não tô no controle.
apertou com carinho as mãos dela.
— Talvez seja exatamente por isso que vale a pena falar. Me conta... o que foi que aconteceu?
Zuri assentiu, respirando fundo. Ainda era estranho. Mas também era bom.
Talvez, pela primeira vez em muito tempo, ela pudesse baixar a guarda.
E talvez, só talvez... isso não fosse tão assustador quanto parecia.
.— O encontro foi péssimo! — Ela disse por fim. — O cara era um grande babaca que passou quarenta minutos falando só sobre si mesmo, reclamou do valor do cardápio, disse que flores são desperdício de dinheiro, e queria virar eu coach financeiro, acredita?
abriu a boca num completo ‘o’ e apertou as mãos da irmã embaixo da sua.
— Eu não acredito que ele teve a pachorra de dizer que flores são desperdício de dinheiro! Que idiota, Zuri!
Zuri balançou a cabeça deixando um sorrisinho de canto escapar, ela sabia que essa seria exatamente a parte que a irmã mais ficaria revoltada, assim como ela havia ficado.
— Sim! Aonde já se viu? Falar que flores ou qualquer coisa relacionada a natureza é um desperdício. Desperdício foi o tempo que eu gastei com ele, isso sim! Babaca!
Zuri revirou os olhos com força e depois respirou fundo.
— Você se levantou e foi embora, não é? Não me decepcione Zuri, você sempre foi minha heroína! Você não dormiu com ele, né?
E ela sabia exatamente o que a irmã queria dizer com “dormiu”. Balançou a cabeça algumas vezes, com veemência, incrédula pela audácia da irmã, imaginar que ela sequer beijaria um homem desses.
— Eu nem conseguia olhar para ele direito sem meu estômago embrulhar, … quem dirá transar com um homem desses! Eu disse que estava me sentindo mal e que precisava ir embora, que remarcaremos o encontro. Lógico que não vou remarcar.
soltou o ar num suspiro dramático, levando uma das mãos ao peito como se Zuri tivesse acabado de salvá-la de um colapso nervoso.
— Graças a todos os céus, deuses e orquídeas sagradas, Zuri! Porque se você tivesse dado um beijo nesse traste, eu ia te obrigar a fazer um banho de descarrego com chá de lavanda, sal grosso e pétalas de alecrim!
Zuri caiu na risada, a cabeça jogada um pouco para trás, já se sentindo melhor só pela forma exagerada — e reconfortante — com que reagia.
— Você tá pior do que a nossa mãe com essas coisas! — ela disse, ainda rindo.
— Ué, alguém tem que manter o padrão espiritual da família — rebateu, com um olhar sério de mentirinha. — E você me prometeu que ia começar a filtrar melhor esses encontros. Já basta aquele cara da aula de spinning…
— Meu Deus, nem me lembra! — Zuri fez uma careta. — Ele falava em terceira pessoa. “O corpo do Haruto precisa de proteína.”
bateu levemente a mão na testa, entre indignada e divertida.
— E agora esse coach financeiro misógino anticerejeira? Você realmente atrai uma fauna interessante.
— O universo me odeia. Só pode.
— Não, o universo só tava esperando você sair do bar… — disse, de repente, estreitando os olhos. — Porque agora você vai me contar quem você encontrou saindo de lá, com esse sorrisinho maroto no canto da boca desde que sentou aqui.
Zuri congelou por um segundo. O sorriso foi inevitável, e já estava vibrando.
— Sabia! Você encontrou alguém! Quem era? Me conta! Era alguém bonito? Conhecido? Já beijaram?
— Calma! — Zuri ergueu as mãos, mas ria de novo. — Tá parecendo a Willow agora.
— Isso é um elogio! Anda, fala! — se ajeitou na cadeira, como quem se preparava para ouvir a melhor parte do dia.
Zuri soltou um suspiro, o sorriso ainda ali, tentando organizar na cabeça como colocaria em palavras algo que ainda estava se desenrolando — e, honestamente, a deixando mais confusa do que gostaria.
Mas uma coisa era certa: a noite dela não tinha terminado com frustração. Tinha ganhado uma reviravolta chamada Yuta.
Zuri passou os dedos pelos cabelos, como se tentasse desembaraçar o pensamento junto com as mechas.
— Tá… eu tava saindo do bar, furiosa, pronta pra xingar até o chão. Aí… eu esbarrei com alguém.
— Com quem? — apertou os olhos como se já estivesse adivinhando, se inclinando sobre a mesa.
— Com o Yuta.
— Aaaaaah, eu sabia! — bateu as mãos na mesa, o rosto iluminado. — Eu sabia que tinha alguma coisa ali desde aquele jantar improvisado na loja. Ele te olha como quem quer desvendar todos os teus segredos e bagunçar tua vida inteira!
Zuri riu, envergonhada e um pouco irritada por estar tão transparente.
— Ele só me convidou pra tomar uma bebida, pra "melhorar a noite", segundo ele. Disse que eu precisava criar uma nova memória por cima da que eu queria apagar.
— Romântico e estratégico. Gênio.
— …
— Tá bom, tá bom! Tô ouvindo, juro. Continue.
Zuri ajeitou-se na cadeira, agora brincando com a manga do casaco.
— Eu aceitei. Foi só uma hora. Conversamos, rimos, e… ele me fez esquecer totalmente aquele idiota do encontro. Ele é... leve. E direto. Sabe quando a pessoa fala com você como se já te conhecesse há anos?
sorriu, mais suave agora.
— Sei. Conheço esse tom na sua voz.
Zuri revirou os olhos, mas não negou.
— No fim da noite, ele me acompanhou até em casa. Aí... ficamos um tempão naquela coisa de silêncio cheio de coisa não dita. Aquele tipo de tensão que dá vontade de… enfim.
— Vocês se beijaram? — perguntou, quase sussurrando, com os olhos brilhando de expectativa.
— Não. — Zuri respondeu, baixando os olhos. — Mas quase. Bem quase. Tipo… ele tava ali, sabe? Com a boca a milímetros. E eu também queria. Mas...
— Mas você não se sentiu pronta?
Zuri assentiu.
— Achei melhor guardar o momento. Talvez… talvez porque eu queria que o próximo não fosse só um impulso.
pegou a mão da irmã outra vez, dessa vez com ternura e orgulho no olhar.
— Você fez bem. Às vezes, segurar o impulso é mais íntimo do que se jogar de cara. E se ele entendeu isso... então o Yuta merece o crédito.
— Ele entendeu. Foi respeitoso. Mesmo com aquele sorrisinho de quem sabe que me tirou do eixo.
deu uma risada alta.
— Ele definitivamente sabe, Zuri. E mais: ele não vai esquecer esse quase beijo. E nem você.
Zuri ficou em silêncio por um instante, mas o sorriso no rosto dela era pequeno e verdadeiro. E nos olhos, um brilho diferente. Um pouco assustado. Um pouco animado.
— Vamos ver o que acontece, né?
— Vamos ver — disse, empolgada. — Mas ó… se ele não te convidar pra sair de novo logo, eu mesma vou arrumar um delivery de flores e mandar com bilhete: "Ela já tá afim, idiota. Anda."
Zuri gargalhou. Alto, livre, como há muito tempo não fazia. E ali, entre confissões e conselhos, ela soube que sim — alguma coisa dentro dela tinha começado a florescer também.
Zuri tomou o lugar da irmã no escritório, enquanto ela se preparava para abrir a loja. Quando fez, viu Willow e Nahye do lado de fora esperando a loja ser aberta, como todos os dias.
As três se cumprimentaram e logo Nahye e Willow seguiram para os fundos, para a parte reservada aos funcionários para guardarem seus pertences nos armários, enquanto terminava de abrir a floricultura e ajustar todas as coisas para começarem a receber os clientes.
Assim que as duas voltaram, rindo de algo que provavelmente Willow havia dito, elas pegaram seus aventais, vestindo-os logo em seguida e fez a mesma coisa.
— Vocês não vão acreditar no que aconteceu com a Zuri… — sussurrou para as outras duas, não querendo que a irmã ouvisse.
Willow e Nahye trocaram olhares, curiosas e então fizeram uma espécie de rodinha ao redor da chefe.
— O encontro de ontem foi um sucesso e ela está de ótimo humor?
Willow estreitou os olhos como se torcesse para ter acertado em cheio na especulação. balançou a cabeça meio que afirmando.
— Digamos que sim! Mas foi o Yuta quem fez o humor dela melhorar.
— O que? — Nahye levou as mãos à boca, tapando-a ao se dar conta que havia falado alto demais. — Um dos amigos bonitinhos do seu namorado?
arregalou os olhos sentindo as bochechas esquentarem com a pergunta despretensiosa de Nahye. Na verdade, com a espécie de “afirmação” na voz de que Doyoung era namorado dela…
— Ele não é meu namorado Nahye! — Ela riu baixo — E sim, esse Yuta mesmo.
— Ainda, né? Porque beijo já teve e você tá caidinha por ele que nós sabemos, chefa! — Willow piscou, divertida.
sentiu as bochechas esquentarem ainda mais. Estava tão óbvio assim o quão encantada ela estava por Doyoung?
Será que para ele era tão óbvio assim também? respirou fundo.
— Mas o que o Yuta tem haver com tudo isso? Não entendi nada! — Nahye voltou a conversa para o foco inicial.
— Foi assim… — foi interrompida por vozes já conhecidas demais.
Doyoung foi o primeiro a entrar, com aquele sorriso calmo e o olhar que sempre procurava primeiro, mesmo que o ambiente estivesse cheio. Em seguida vieram Jaehyun, Johnny e, por último, Yuta — que entrou com as mãos nos bolsos e o cabelo um pouco bagunçado, como se tivesse acordado e saído correndo… e ainda assim parecendo perigosamente charmoso.
— Bom dia! — Doyoung disse, animado, se aproximando do balcão. — Viemos buscar mais flores para o novo evento de sábado. E talvez roubar um pouco da boa energia dessa loja também.
sorriu, sentindo o estômago se contrair do jeito familiar que só acontecia quando ele aparecia assim, de surpresa.
— Que bom que vocês vieram! As cerejeiras novas chegaram ontem, e eu separei algumas mudas especiais.
— Sabia que a gente podia contar com você — disse Jaehyun, guiando Johnny até um dos expositores. — E eu tô querendo algumas flores extras pra minha casa também. Preciso de cor no meio de tanta madeira e concreto.
— E amor, né? Porque flor sem romance é só… decoração. — Johnny comentou, fazendo todos rirem, especialmente Willow, que mordeu o lábio tentando conter o riso.
Mas foi Yuta quem chamou mais atenção naquele momento. Ele não olhava para as prateleiras nem para as flores — seus olhos estavam fixos na porta do fundo do escritório.
— A Zuri tá aí? — ele perguntou com naturalidade, como quem pergunta onde fica o açúcar, mas com um leve brilho nos olhos.
cruzou os braços, com um sorrisinho de canto.
— Tá sim. Mas já aviso que ela não esperava visitas. E está no modo "não me encha".
— Ótimo — Yuta respondeu. — Eu sou excelente em encher.
Willow e Nahye tentaram disfarçar as risadas atrás de um buquê de hortênsias, enquanto revirava os olhos.
— Vai com calma, pelo amor das peônias, Yuta.
Doyoung se aproximou de , sorrindo discreto, como sempre fazia quando queria compartilhar o mundo só com ela.
— Você tá linda hoje — ele disse em voz baixa, quase só para ela.
piscou algumas vezes, sentindo as bochechas queimarem. Ela ia responder, mas foi interrompida de novo — dessa vez por passos.
Zuri apareceu na porta do escritório, com o cabelo preso em um coque apressado e uma prancheta nas mãos. Parou no meio do caminho ao ver quem estava ali.
Mais especificamente, ao ver Yuta ali.
Ele sorriu de leve e levantou a mão numa espécie de cumprimento informal.
— Bom dia, Zuri. Já te atrapalhei hoje?
Ela arqueou uma sobrancelha, sem sorrir.
— Ainda não. Mas o dia tá só começando.
E voltou para dentro do escritório, como se nada tivesse acontecido.
Yuta olhou para as meninas, deu de ombros e seguiu atrás dela como quem está entrando num campo minado… por vontade própria.
— Eu vou ajudar com a lista de flores… e sobreviver ao julgamento.
Johnny assobiou baixinho, e Jaehyun murmurou para ninguém em particular:
— E a novela começa.
só sorriu, observando o movimento com um calor novo no peito. Entre flores, provocações e esses encontros inesperados, ela sabia de uma coisa com certeza: a floricultura nunca mais seria um lugar calmo.
E ainda bem.
Zuri estava sentada à mesa com a prancheta nas mãos, anotando mentalmente as demandas da semana quando sentiu a presença dele antes mesmo de levantar os olhos.
— Você não desiste mesmo, né? — ela disse, sem olhá-lo diretamente.
— Não quando tô indo na direção certa — Yuta respondeu, encostando-se à lateral da porta, com os braços cruzados.
Ela levantou os olhos devagar, o olhar afiado como sempre.
— E o que te faz pensar que essa é a direção certa?
— O fato de você não ter me mandado embora ainda — ele deu um sorrisinho torto. — E também porque mesmo irritada, você tá me ouvindo.
Zuri o encarou por alguns segundos, como se decidisse se valia a pena jogar a prancheta nele ou simplesmente continuar escrevendo.
— Você é convencido.
— Eu prefiro dizer... observador.
Ela respirou fundo e voltou a escrever, mas o canto da boca denunciava um traço de diversão.
— Você não veio ajudar com as flores?
— Vim. Mas flores são rápidas. Você é mais interessante.
— Eu sou difícil.
— Eu gosto de difícil.
Silêncio. Ela parou de escrever por um momento.
— E se eu disser que o que aconteceu aquela noite foi só uma coincidência?
Yuta se aproximou um pouco, agora de pé do outro lado da mesa, inclinado levemente.
— Então vou continuar aparecendo até virar rotina.
Zuri estreitou os olhos, mas o coração batia mais rápido. Ele a tirava do sério — e ao mesmo tempo, despertava algo que ela não queria nomear ainda.
— Uma hora você vai cansar.
— Ou uma hora você vai ceder.
Eles se encararam por mais alguns segundos. Ele sorrindo, ela tentando não sorrir.
— Pode pegar a lista de flores no mural. E depois volta pro salão, antes que eu jogue uma tesoura em você.
— Tá vendo? Já é quase carinho.
Yuta se afastou lentamente, ainda sorrindo. E mesmo que ela voltasse os olhos para a prancheta, o sorriso dele ficou na cabeça dela por muito mais tempo do que ela admitiria.
Enquanto Yuta voltava para o salão rindo sozinho e sendo recebido com zombarias silenciosas de Johnny, Doyoung se aproximou de , que ajeitava um arranjo no balcão.
— Ei — ele disse, com a voz baixa, como sempre fazia quando queria que fosse só entre eles. — Vai estar muito ocupada na hora do almoço?
o olhou, surpresa pela abordagem direta. O coração acelerou imediatamente.
— Depende. Por quê?
Ele coçou a nuca, o sorriso tímido no canto da boca.
— Tava pensando... e se a gente fosse tomar um café? Só nós dois. Nada de parque, nada de amigos juntos. Só você e eu.
Ela piscou, sentindo as bochechas esquentarem — outra vez.
— Você tá me chamando pra um segundo encontro?
— Tô te chamando pra um café — ele disse, mas os olhos diziam muito mais. — Mas se quiser chamar de segundo encontro, não vou reclamar.
riu, mordendo o lábio, e assentiu.
— Me dá só meia hora pra deixar tudo organizado aqui… e eu sou toda sua.
Doyoung sorriu. Aquele sorriso leve, bonito, que ela estava começando a reconhecer como o sorriso que ele só usava com ela.
— Fechado.
E então ele se afastou, voltando para junto dos amigos, enquanto sentia o mundo à sua volta girar um pouquinho mais devagar — só pra ela aproveitar aquele momento por mais tempo.
Enquanto todos estavam ocupados organizando as novas caixas de mudas para o evento, Nahye carregava um carrinho com vasos pequenos, com o avental já um pouco sujo de terra. Jaehyun notou, se aproximando devagar com um sorriso preguiçoso no rosto.
— Você sempre trabalha desse jeito… focada, concentrada… suja de terra — ele comentou, encostando no carrinho como se não estivesse ali só para observá-la.
Nahye ergueu os olhos, arqueando a sobrancelha.
— Isso é sua tentativa de elogio?
— É a minha tentativa de dizer que você fica bonita até coberta de terra. Só não achei a frase certa ainda.
Ela riu, mas virou o rosto, tentando disfarçar o leve rubor nas bochechas.
— Você devia ajudar ao invés de só comentar.
— Você devia me deixar te ajudar. Assim, quem sabe, a gente vira uma boa dupla.
— Isso parece uma cantada.
— Só se funcionar. Se não, é só boa vontade mesmo.
Nahye balançou a cabeça com um sorriso contido e empurrou o carrinho até o próximo setor. Mas, antes de ir, virou-se por cima do ombro:
— Tá esperando o quê, então? Anda, Jaehyun. Se quer provar que é boa dupla, começa carregando essas caixas.
Jaehyun sorriu, seguindo atrás dela com passos leves.
Ele já tinha aceitado o desafio — mesmo que ela ainda fingisse que não.
No outro lado da loja, Johnny estava agachado organizando algumas flores próximas à entrada. Willow surgiu por trás dele, segurando uma regadorazinha decorativa nas mãos.
— Você tá colocando essas suculentas no lugar errado — ela disse, olhando para o arranjo.
— Eu pensei em fazer algo diferente, tipo um caos artístico — ele respondeu, sem sequer virar. — Uma provocação botânica.
Willow bufou uma risadinha e agachou-se ao lado dele.
— Provocação botânica? Isso existe?
— Agora existe. E você é minha crítica mais exigente.
— É que eu gosto das coisas no lugar certo — ela disse, enquanto reorganizava alguns vasinhos.
Johnny a observava de lado. O rosto dela estava tão perto do dele que ele podia ver o brilho sutil na pele dela à luz suave do ambiente, os contornos bem definidos das maçãs do rosto, e a forma como os longos fios ondulados caíam com naturalidade sobre o ombro nu. O cabelo dela, dourado como mel queimado, parecia dançar a cada movimento leve que ela fazia.
Havia algo magnético nela — uma beleza firme, segura de si, que não pedia atenção, mas a atraía como se fosse inevitável.
Johnny engoliu seco, mas manteve o tom leve:
— Acho que acabei de perder a concentração totalmente.
Willow ergueu os olhos para ele, arqueando a sobrancelha com um sorriso provocador.
— Não me culpe pela sua distração, Johnny.
— Mas você é a única responsável — ele respondeu, num sussurro atrevido.
Ela apenas sorriu, voltando a organizar os vasos. Mas por dentro… estava longe de indiferente.
— E se eu quisesse encontrar meu lugar certo do seu lado? — ele soltou, num tom mais baixo, mais íntimo.
Willow congelou por um segundo, mas disfarçou revirando os olhos com um sorriso quase tímido.
— Johnny… você flerta até com as plantas. Isso não funciona comigo.
— Mas com você eu falo sério. — Ele disse, agora a encarando direto.
Willow parou, olhando-o por um segundo mais longo do que o necessário. Depois, se levantou com um pequeno sorriso provocador.
— Se continuar colocando as suculentas nos lugares errados, vou te deixar organizando tudo sozinho até o fim do dia.
— Então já posso bagunçar tudo de novo só pra te ter por perto?
Ela riu, se afastando, e Johnny apenas a seguiu com os olhos. Sabia que estava chegando devagar… mas estava chegando.
Alguns minutos depois, com a loja em movimento e os amigos distraídos olhando as flores e rindo entre si, surgiu na porta dos fundos já sem o avental, segurando sua bolsa.
Doyoung, que estava encostado no balcão fingindo olhar um catálogo de sementes, ergueu os olhos e sorriu ao vê-la. Um sorriso pequeno.
Só dele.
Só pra ela.
— Pronta? — ele perguntou, com a voz baixa, quase gentil demais.
— Mais do que deveria — respondeu, caminhando até ele.
Eles saíram juntos, andando lado a lado pelas ruas tranquilas. O sol da manhã deixava a cidade com um brilho macio, e havia algo no silêncio entre eles que não era desconfortável — era cheio de expectativa boa.
O café que ele escolheu era simples, com janelas grandes e uma pequena varanda cheia de vasos pendurados. Quando sentaram-se um de frente para o outro, o observou por alguns segundos, até não conseguir mais segurar.
— Por que você me convidou hoje?
Doyoung a olhou com curiosidade, e depois pousou a xícara com calma no pires antes de responder.
— Porque eu queria te ver longe da floricultura. Longe dos outros. Só você. E eu.
Ela sentiu um frio na barriga, o tipo que a fazia desejar que o tempo desacelerasse um pouco.
— E o que você esperava desse café? — ela perguntou, brincando com a borda da própria xícara.
— Esperava isso — ele disse, apoiando os antebraços na mesa e se inclinando um pouco. — Você aqui. Me olhando desse jeito. E eu tentando fingir que não tô completamente envolvido.
sorriu, e pela primeira vez, não tentou esconder.
— Você é bom com as palavras, Doyoung.
— Não, eu só sou honesto com você.
O silêncio que veio depois foi diferente dos outros. Mais denso, mais cheio de significados.
Ela não respondeu. Apenas estendeu a mão sobre a mesa, deixando os dedos próximos dos dele — um convite silencioso.
Doyoung tocou a mão dela com delicadeza. Não apertou, não segurou. Só encostou.
Ele tocava os dedos dela com leveza, como quem tem medo de quebrar algo delicado demais. não afastou a mão. Pelo contrário. Deixou que os dedos se entrelaçassem com os dele, com a mesma tranquilidade de quem já sabia o que queria.
Eles não falavam. Não precisavam.
Do lado de fora, o sol atravessava a vidraça e se espalhava em feixes sobre a mesa entre eles, iluminando a pele de com uma suavidade que fazia o coração de Doyoung bater mais devagar — e mais fundo.
— Eu gosto de como você me faz sentir paz — ele disse, baixinho, como se estivesse contando um segredo. — Mas também gosto do jeito que você me desarma sem perceber.
sorriu, com o olhar pousado nos olhos dele.
— E eu gosto... de como você me olha. Como se estivesse me descobrindo aos poucos, e ainda assim... não fosse embora.
Ele se inclinou um pouco mais. As mãos ainda entrelaçadas. O mundo ao redor se dissolvendo devagar. O café, as flores, os risos da cidade — tudo ficou em segundo plano.
— Eu não quero ir embora de você, . Você quer que eu vá?
Ela não respondeu com palavras. Apenas se aproximou, devagar, como quem sabe que aquilo não era um impulso.
Era uma escolha.
E então os lábios se encontraram, com uma calma que fazia o tempo desacelerar.
Dessa vez, o beijo não veio como surpresa. Veio como confirmação.
Não havia pressa, nem dúvida. Apenas o toque suave das bocas, o encaixe perfeito, o calor compartilhado. Doyoung levou a mão até o rosto dela, acariciando com o polegar a curva da bochecha enquanto a puxava levemente para mais perto, aprofundando o beijo com ternura.
O coração dela batia forte, mas não por insegurança.
Era por certeza.
Quando se afastaram, devagar, os olhos ainda fechados por um instante, ambos sabiam: aquele beijo não era só um começo... Era um florescer.
— Isso responde sua pergunta? — ele sussurrou.
— Responde... — ela respondeu, com um sorriso. — Mas agora quero a próxima.
Doyoung riu baixinho, encostando a testa na dela.
— Então acho que preciso de muitos cafés a dois pra responder todas.
E foi assim que a manhã terminou. Com um beijo que dizia mais do que qualquer plano. E a promessa silenciosa de que o amor, como as flores, sabia o tempo certo de brotar.