Tamanho da fonte: |


Revisada por vênus. 🛰️
Concluída em: 31.10.2024

A primeira coisa que chamou atenção de Aegon, foi o aroma perfumado que entrou pelas suas narinas, tão distante do que encontrava em sua própria cama.
A segunda foi a dor que sentiu ao ter um livro jogado em seu ombro.
Já a terceira, foi o desnorteamento de algo semelhante a uma harpia urrando em seus ouvidos, piorando sua já terrível dor de cabeça. Deuses, o que estava acontecendo? Ele piscou lentamente, tentando discernir as palavras agressivas que estavam sendo atiradas contra ele, coçando os olhos para afastar a tontura do sono e da ressaca.
— Sete Infernos! O que está fazendo, mulher? — murmurou, encarando a altiva princesa que continuava disparando insultos em sua direção.
— O que eu estou fazendo? O que você está fazendo aqui? — Velaryon urrou, seus cabelos tão arrepiados que faziam-na parecer uma gatinha irritada.
era a primogênita da princesa Rhaenyra e Laenor Velaryon — uma bastarda Strong, era sabido, embora não comentado em voz alta. Seus cabelos eram tão escuros e revoltos quanto os de seus três irmãos mais novos, com quem ela se dava muito bem e tinha verdadeira adoração.
Aegon olhou em volta, registrando onde se encontrava. Decididamente não era seu quarto, a ausência de garrafas pelo chão e móveis e de outros acessórios interessantes denunciando que ele provavelmente havia errado de aposento. Soltou um grunhido, se mexendo na cama preguiçosamente.
— Eu estava muito bêbado ontem à noite, aparentemente.
— É mesmo? — ela retrucou com sarcasmo, cruzando os braços. — Só saia.
Aegon bufou, penteando os cabelos prateados para trás com os dedos, antes de se levantar como um velho da cama, suas juntas estalando. soltou um grito estridente, virando-se de costas, e ele percebeu, chocado, que estava nu na cama da princesa.
O príncipe e a princesa de Dragonstone não se bicavam desde que eram crianças, e seus familiares esperavam que isso melhorasse ao longo do tempo, quando amadurecessem. Bem, o tempo passou e eles, se possível, se bicavam menos ainda. Os dois tinham essa relação calamitosa, de soltar farpas um para o outro, e se divertiam com a perspectiva de tirar a paciência de sua contraparte.
— Sete Infernos, nós…?
Ela riu ironicamente.
— Por cima do meu cadáver.
— Que amargor, Princesa.
— Eu não te tocaria nem com um cabo de vassoura.
Aegon deu uma risada, enrolando o lençol em volta da cintura, procurando por suas roupas.
— Sempre eloquente. E dramática, claro. Dormimos juntos, por que faz tanta questão, sendo no sentido literal da frase? Não seja puritana.
— Acordei com seu pau nas minhas costas, claro que faço questão.
Aegon riu alto, sacudindo levemente a cabeça enquanto encontrava a camisa, vestindo-a.
— Está tão chateada por descobrir como a genitália masculina funciona?
— Como a sua funciona, definitivamente. Poderia ter passado a vida sem descobrir. — A princesa soltou um som impaciente. — Só saia!

— Começarei a gritar como se estivesse me matando em três, dois, um…
— Está bem! Deuses… — reclamou, vestindo as calças. — Garota odiosa.
— Você que é nojento. E, Deuses, como está fedendo! — Ela cobriu o nariz, fazendo uma careta.
Aegon soltou um som ultrajado.
— Não tive exatamente tempo de me lavar, não é?
— Fez meu quarto inteiro feder a suor e bebida, Deuses! Meus lençois! — chiou, batendo o pé, lançando-se para cima de Aegon e dando-lhe tapas ardidos em todos os lugares que podia alcançar enquanto o garoto tentava calçar suas botas e se esquivar ao mesmo tempo.
— Está bem, está bem! Já estou saindo! — Ele se dirigiu para a porta, resmungando, e ela o puxou pela camisa, arfando.
— Pela porta não, o que acha que irão pensar e falar vendo o príncipe sair dos meus aposentos tão cedo, seu imbecil? Pegue um dos túneis de Maegor! — o empurrou em direção à grande lareira, o garoto tropeçando nos próprios pés.
— É sempre tão agradável nas manhãs, querida sobrinha? — Aegon ironizou, se esquivando de outra tapa. — Como tem mãos pesadas para uma donzela! Mãos de ferreiro.
— Quando se trata de você, amado tio, sou sempre agradabilíssima. Agora vá, está espalhando o fedor pelo meu quarto.
— E eu suponho que sempre cheire a rosas e olhos perfumados de Lys?
— É o que geralmente acontece quando uma pessoa toma banho. Você não saberia, não é?
Aegon cerrou os dentes. Ela sempre tinha uma resposta, era incrível!
— Tenho certeza que se banha, todos conseguem sentir seu perfume florido a milhas de distância.
— Melhor do que sentir fedor de suor e bafo de vinho.
Aegon grunhiu, se dirigindo para a saída, o cheiro úmido de coisa guardada das passagens secretas de Maegor invadindo suas narinas. fechou a porta atrás dele tão bruscamente que ele teve a impressão de que as paredes do castelo tremeram.
— Puta que pariu… — o garoto murmurou, massageando suas têmporas. Não bastavam os tapas que ela havia lhe dado, agora sua dor de cabeça havia triplicado. Seria uma longa manhã.

***


Mais tarde, na ceia, todos comiam tranquilamente, trocando algumas palavras em ocasião. O Rei Viserys não havia se juntado a eles, debilitado demais para descer de seus aposentos; o resto da família estava a postos por sua própria insistência, e ele esperava, não tão secretamente assim, que todos pudessem se reconectar e parar com esse drama de facções.
suspirou alto pela enésima vez aquela noite, cortando um pedaço do faisão como se ele ainda estivesse vivo e tentasse escapar de seu prato.
— Deveria mastigar menos ruidosamente, sabe. É falta de educação. — disse a Aegon, um tom adocicado que não combinava com a expressão em seu rosto.
Aegon revirou os olhos.
— Deuses, você nunca cansa, não é? Por que está prestando tanta atenção na maneira que como, de qualquer forma? Está apaixonada por mim ou algo assim?
— Porque o barulho que está fazendo está me dando impulsos violentos.
Aegon riu com escárnio.
— Se ofende tão facilmente. — Abriu a boca enquanto falava o suficiente para que ela visse a comida dentro, mastigando mais ruidosamente ainda com um sorriso debochado.
A garota soltou um gritinho irritado.
— Pare com isso!
Aegon riu levemente, fazendo sons de prazer enquanto mastigava, ainda girando a comida na boca.
— Mamãe, faça-o parar! — Ela chiou para Rhaenyra num tom infantil, que apenas segurava o riso. A mãe lutou para manter a compostura, mas um olhar carinhoso à filha denunciava seus pensamentos.
— É apenas a forma que como! — Aegon retrucou numa imitação perfeita do tom da garota, estendendo a língua para fora com restos de comida.
voltou a prestar atenção na própria comida, se esforçando em terminá-la logo para não ter de aguentar a presença do tio por muito mais tempo. Aegon continuou mastigando ainda mais ruidosamente, tentando trazer sua atenção de volta, agora bebericando o vinho e fazendo sons de sucção na taça.
Jace e Luke seguravam a risada, e Daemon observava em silêncio, já esperando a enteada perder a paciência. Conhecia-a bem, e sabia que, em seus dezesseis anos recém-formados, não aguentava provocações por muito tempo.
— Por que ainda está prestando tanta atenção na maneira que como? — Aegon a questionou, engolindo a comida.
— Não estou. Por mim, pode comer um saco de merda.
Aegon soltou uma gargalhada.
— E eu sou o mal-educado?
— Tem o dom de trazer o pior de mim, querido tio.
Aegon bufou, seu sorriso crescendo enquanto ele continua encarando-a.
— Sim, eu estou ciente. Seu ódio por mim é bastante palpável, sobrinha. — disse usando o mesmo tom de zombaria que dirigiu a ele.
— Bem, não tive a melhor das manhãs, estou cansada.
— Ah, sim, coitadinha. — Aegon revirou os olhos. — Deve ter sido tão difícil acordar ao meu lado.
O quê? — Rhaenyra e Alicent disseram ao mesmo tempo, olhando de Aegon para . A princesa corou de forma adorável, como tudo que fazia.
— Não foi dessa forma! Seu filho errou o caminho dos aposentos dele e veio dormir no meu. Bêbado como um gambá — Apontou para Alicent.
Aegon fez uma falsa cara inocente.
— Bebi um pouco além da conta, apenas isso. Achei que era meu quarto. Foi um erro honesto.
— Ora, tudo bem. Desde que não aconteça novamente — Rhaenyra pontuou, lançando um olhar acentuado para o meio-irmão.
— Posso esfaqueá-lo se acontecer? — intrometeu-se.
Não! — Rhaenyra e Alicent falaram ao mesmo tempo, mas um baixo “sim” pôde ser ouvido sair da boca de Daemon, que estava ocupado cortando um pedaço de sua refeição.
suspirou.
— Não se pode fazer nada nessa família.
Aegon riu de seu resmungo.
— Deuses, como você é exagerada.
— Exagerada? Meus aposentos ainda fedem, e as criadas já trocaram os lençois! Você é nojento. Ainda tive que ver suas vergonhas, já que não pode ser um ser-humano decente e dormir vestido como uma pessoa normal.
— Minhas vergonhas? Isso é um pouco ofensivo, não acha? Consegue ser educada ou a única forma de comunicação que conhece são ofensas? Sete Infernos, só não tive como estar em minha melhor forma esta manhã, certo?
— E você está em algum momento?
— Chega, vocês dois! — A Rainha massageou as têmporas, cansada. As esperanças que as discussões e farpas diminuíssem com a idade dos dois diminuía a cada refeição que faziam juntos. — Têm sempre que se atacarem como crianças em todas as refeições?
— Ele começou!
Você começou. Falando que fedo, me ofendendo gratuitamente. Machuca, sabia? Você é tão rude, saiba que eu sou o perfeito exemplo de um príncipe. — Aegon puxou-lhe uma das tranças para provocá-la.
— Machuca? Então tome banho! E príncipes não fedem.
— Ah, então príncipes nunca podem feder, na sua opinião? Aparentemente, sempre devemos cheirar a pétalas de flores e perfume de botões de rosas? — brincou sarcasticamente, levantando uma sobrancelha.
— Nunca vi Aemond feder.
A expressão de Aegon mudou imediatamente para uma mais azeda.
— Ah, claro que não, não o perfeito Aemond. Ele deve feder a sonhos e tudo que há de bom. — Bufou. — Nem faz mais questão de esconder que é apaixonada pelo meu irmão, é isso?
A princesa arfou, corando violentamente.
— Você é detestável! Não sou apaixonada pelo seu irmão.
Aemond continuou comendo sem se dignar a responder para não alimentar o fogo da confusão, nem sequer olhando para os dois.
— Então por que não para de elogiá-lo?
— Eu literalmente apenas disse que ele não fedia. Meus irmãos também não fedem, pelo contrário. — Ela sorriu para Jace, Luke e Joffrey com uma expressão orgulhosa.
— Eu não fedo!
— Sabe por que a Baía da Água Negra se chama assim? Quando você nasceu, a Rainha o levou para se banhar lá, desde então as águas nunca mais foram as mesmas. Tiveram de mudar o nome.
Nem o próprio Aegon conseguiu segurar a risada nessa. Droga, que se danasse a princesa e seu peculiar talento para ofensas. Ela limpou os lábios com um guardanapo elegantemente e levantou-se, pedindo licença.
— Está se retirando pelo meu fedor? — ele perturbou com um meio sorriso. — Aposto que não cheira melhor do que eu.
— Ah, você quer me cheirar? — ela lançou, desafiadora.
Aegon ergueu as sobrancelhas, surpreso. Não esperava que ela fosse oferecer.
— Quero! — Levantou-se, caminhando até ela.
arregalou os olhos.
— Estava brincando, não chegue perto de mim.
— Teme cheirar pior que eu, então?
Ela trincou os dentes com tanta força que Aegon por um momento temeu que fossem quebrar.
— Muito bem. Cheire-me, então. — Ela puxou os cabelos para cima, mostrando-lhe o pescoço. Ele hesitou, surpreso novamente por ela ter aceitado o desafio, dando passos incertos até ela e encostando o nariz na pele suave, inspirando.
Foi apenas uma fração de momento, mas pareceu ter durado dias, semanas, eras inteiras. O aroma de rosas invadiu seus pulmões, e ele não pôde deixar de notar a maciez de sua pele. Quando recuou, seu nariz roçou-lhe a bochecha, e percebeu pela primeira vez o quanto os olhos da princesa eram escuros, quase mais que seus cabelos.
Ela enrubesceu pela proximidade inesperada, seus lábios entreabertos e os olhos de corça surpresos. O próprio Aegon se encontrou desconcertado.
— Bem, é tão perfeita quanto Aemond. Você realmente cheira a rosas. — Tentou, seus olhos percorrendo o rosto de .
— Também cheiraria se tomasse banho. Boa noite, tio. — Finalizou a conversa, caminhando depressa para fora do salão, deixando-o anormalmente calado.
Aegon sentou-se de volta à mesa, evitando os olhares lançados a ele. Seus olhos ainda estavam em e no suave rebolar de seus quadris ao caminhar, quadris avantajados e, e…
Ele engoliu em seco. Sete Infernos, você precisa se recompor, pensou. Você não vai desejar a filha de Rhaenyra, de todas as pessoas. A sua mãe ficaria louca. Infernos, Rhaenyra também ficaria louca. Daemon arrancaria sua cabeça e usaria sua pele de tapete.
Ele tomou um grande gole de vinho, esperando que isso ajude a acalmar sua mente e parar os pensamentos indesejados.
Por fim, inclinou-se sobre a mesa em direção a Aemond, perguntando num tom conspiratório.
— Eu fedo mesmo?

***


No dia seguinte, Aegon voltara de um voo costumeiro em Sunfyre, removendo suas luvas de couro enquanto caminhava pelo jardim, pensativo. Havia voltado mais cedo por notar a formação de nuvens ao longe, embora ainda não houvessem chegado a Porto Real e à Fortaleza Vermelha. Uma tempestade grande iria se formar, e era melhor que estivesse no chão quando isso ocorresse.
Enquanto caminhava, avistou a Princesa ao longe, seus cabelos escuros presos numa apertada trança. Aegon notou a presença de alguns fios mais claros, decerto do tempo que a garota passava nos céus e abaixo do sol voando em seu próprio dragão, Asaprata.
Porém, naquela tarde, era outro animal que ganhava seus afetos, uma égua baia que Daemon havia lhe presenteado no seu dia do nome passado. Aegon observou-a dirigir as mais doces palavras ao animal, acariciando-a, e não pôde evitar sentir algo diferente, um leve sorriso brincando em seus lábios.
Decidiu caminhar até ela, devagar para não denunciar sua presença.
— Deuses, deve amar mais esse animal que a toda sua família.
Ela deu um pulinho, assustando-se com a sua repentina presença, sua expressão se tornando azeda.
— Ah, é você. Não seja bobo, eu amo minha família.
— Sim, quase tanto quanto ama seus cavalos e dragão.
então o surpreende.
Ela ri.
Sem ironias, ou sarcasmo, apenas uma risada simples, achando engraçado o que ele havia dito. O som da risada ecoou em seus ouvidos como uma campainha, um som doce e juvenil que o lembrou como eram jovens.
— Não devia ir cavalgar muito longe, há uma tempestade vindo para o sul enquanto nos falamos.
— Bem, sou uma ótima cavaleira. Não se preocupe. — Ela o observou por alguns momentos, assustando-se quando Aegon se adiantou e pegou-a pela cintura, ajudando-a a montar na égua. — Obrigada. Foi para ser verdadeiramente cortês ou apenas para sentir minhas curvas?
— Eu não a tocaria nem com um cabo de vassoura. — Ele repetiu a mesma frase que ela esbravejara no dia anterior, um sorriso convencido em seu rosto.
Ela retribuiu o sorriso da mesma forma, motivando a égua a trotar com um movimentar de quadril. Aegon a acompanhou devagar, observando o couro aderindo às suas coxas torneadas enquanto ela guiava fácil e habilmente a égua.
— Vai para Mataderrei?
Ela hesitou, observando-o enquanto pressionava levemente os lábios, porém apenas concordou com um aceno.
— Bem, perto de lá. Os campos abertos antes de chegar na floresta são ótimos para isso.
Aegon concordou levemente com a cabeça, umedecendo os lábios, hesitando em falar.
— Deveria deixar para outro dia, realmente há uma tempestade vindo — aconselhou, incerto de como ela reagiria.
revirou os olhos escuros, já chateando-se com sua insistência.
— O céu está claro! De qualquer forma, voltarei cedo. Satisfeito, querido tio?
Aegon bufou com a grosseria, levando as mãos à cintura enquanto franzia a testa, o bico em seus lábios denunciando sua raiva.
— Está bem, faça o que quiser! Cavalgue, caia do cavalo e quebre a cabeça, pouco me importa.
Ele nem sequer esperou sua resposta, apenas caminhou em passos rápidos em direção ao castelo, fumegando pelas ventas. Por que ela tinha de ser tão difícil? Por que não podia apenas respeitar suas palavras? Aegon deu de ombros enquanto caminhava. já era grandinha, saberia se cuidar bem. Se quisesse levar chuva e pegar uma gripe, uma pneumonia, não era problema dele.
Seus passos diminuíram a intensidade. Talvez, houvesse sido muito brusco. Ela era uma garota, afinal de contas, com seus dezesseis anos recém-completos. Era apenas natural — embora não ideal — que tivesse seus episódios de oposição e desafio. Garotas haviam nascido para desafiar os homens; e os homens, para colocá-las em seu devido lugar. Ou algo assim, não se recordava totalmente do que Ser Criston Cole havia lhe dito. E … Deuses, a garota podia não ter a aparência, mas tinha o fogo dos Targaryens. Era tão nova quanto Aemond quando reclamara Asaprata, contra o gosto de todos, mas cansara de ver Aegon esfregando a ligação com Sunfyre em sua cara toda vez que iam ao fosso. Nisso, era irritantemente parecida com Aemond, sua obsessão em ter um dragão suprimindo toda racionalidade. Era a herdeira de sua mãe, a primogênita, e ainda assim não hesitara em correr para o fosso de Pedra do Dragão no dia do funeral de Laenor Velaryon, sentindo-se despeitada por Aemond ter conseguido domar Vhagar primeiro que ela.
Seu alvo, porém, não era Asaprata. Ela pensava em Vermithor, o maior dragão vivo atrás de Vhagar, uma besta formidável e temperamental igual ela própria. Porém, não o encontrou e, ao colocar os olhos na velha montaria da rainha Alysanne, soube que aquela era a dragão para si. Domou Asaprata facilmente, sem sequer precisar de um “dohaeras” para tal.
Aegon riu consigo mesmo com a memória. Ainda conseguia lembrar-se do olhar de azedume que Rhaena Targaryen deu aos céus quando viu a prima voar em seu novo dragão, já que ela própria tentara reivindicar Asaprata no passado e falhado. Ironia dos Deuses. Uma bastarda Strong havia conseguido sem mover um dedo, e uma Targaryen legítima falhara todas as vezes que havia tentado. Não era surpresa que os Deuses eram cruéis em suas brincadeiras com os destinos alheios, Aegon bem sabia disso. O primeiro filho homem que não herdaria o trono pela irmã ter sido proclamada herdeira antes mesmo de seu nascimento. Não que estivesse reclamando; não servia para o cargo. Tinha apenas dezoito anos, queria viver a vida! Não estar preso a deveres, leis, e sabe-se lá o quê mais. Não, não. Deixasse que Rhaenyra fosse rainha, a irmã mais velha havia sido treinada para isso. Depois, assumiria, provavelmente desposando Jacaerys, e o reino teria dois bastardos Strong no trono. Era seu grande foda-se para todos os lordes e ladies.
O dia discorreu tranquilamente, sem nada a declarar. À noite, quando todos estavam se reunindo para jantar, Aegon estranhou a cadeira da princesa vazia. Ela, que era sempre pontual. A tempestade que o príncipe havia prometido havia chegado algumas horas atrás a toda força, os trovões fazendo os vidros das janelas sacudirem.
Não dirigiu um segundo pensamento a isso, sentando-se ao lado de Aemond, pronto para provocar o irmão e ganhar um pouco de emoção naquele dia tedioso, mas o príncipe Jacaerys entrou no salão, seus olhos procurando na mesa.
— Alguém viu ? — questionou. — Ela iria me encontrar na biblioteca hoje, mas não apareceu.
— Talvez ela esteja cansada de sua companhia, Jace. — Aegon alfinetou, sorrindo inocentemente. Aemond sorriu de soslaio, sacudindo levemente a cabeça.
Jacaerys deu um suspiro irritado, sentando-se pesadamente na cadeira, um bico de desagrado imenso nos lábios. Pouco a pouco, todos chegavam para jantar, e logo a mesa estava cheia.
— Onde está sua irmã? — Rhaenyra perguntou a Jacaerys, que apenas deu de ombros, ainda amuado pelo comentário de Aegon.
— Ela disse que iria cavalgar em Mataderrei. — Aegon intrometeu-se. — Isso foi antes da tempestade começar. Eu a avisei que tinha uma se formando.
— E não pensou em impedi-la? — Rhaenyra ralhou.
só faz o que quer. Duvido muito que o garoto fosse conseguir mantê-la no castelo. — Daemon intercedeu antes que ele pudesse retrucar. — Se ela não voltar até o fim do jantar, irei procurá-la eu mesmo.
Rhaenyra hesitou, porém concordou, mas o clima do jantar já havia sido definido. A maioria apenas beliscava a comida — embora Aegon e Aemond comessem tranquilamente —, e Helaena se virava inquieta na cadeira a toda hora, murmurando frases ininteligíveis.
Após meia hora, Aegon começou a se sentir desconfortável. A chuva parecia aumentar a cada minuto, e nada de . Fazia alguns anos desde que havia visto uma tempestade tão avassaladora, a chuva nem sequer permitindo que pudesse ver além da janela de tanta água que caía. Lembrou-se da “praga” que havia lhe rogado antes que ela cavalgasse para longe e o remorso começou a lhe corroer. Talvez, não devesse ter dito aquilo. Iria se desculpar assim que a encontrasse, havia realmente ido longe demais. Claro que não queria a princesa m… Deuses, não conseguia nem pensar.
Um dos mantos dourados entrou no salão, caminhando até Daemon e sussurrando-lhe algumas palavras apreensivas em seu ouvido. Aegon acompanhou o movimento, terminando sua terceira taça de vinho daquela noite.
Daemon concordou, hesitando, por fim suspirando e massageando as têmporas.
— A égua da princesa retornou sozinha — disse, num tom cauteloso.
O salão irrompeu em caos com todos se levantando e falando rapidamente, uma sensação de pânico e preocupação tomando conta da sala. Até Aegon se viu de pé e se movendo com nervosismo, o medo e a ansiedade na boca do estômago crescendo a cada segundo.
— Droga — murmurou baixinho, sua mandíbula cerrada com força. — Por que diabos ela teve que cavalgar sozinha daquele jeito? Mulher estúpida e imprudente.
— Aegon. Irá ajudar? Estamos indo à floresta. — Jacaerys chamou, apontando para a porta.
— Eu… sim. Sim, irei ajudar. — Aegon deu um tabefe na cabeça de Aemond para que ele levantasse e se juntasse, e Aemond lhe deu um empurrão em resposta, não deixando a desfeita barata.
Ao chegarem nos jardins, Daemon disse que iria patrulhar do céu, em Caraxes, com Rhaenyra em Syrax. O resto poderia ir a cavalo, cobrindo os terrenos de Mataderrei e proximidades. Os servos trouxeram os cavalos e Aegon e Aemond montaram, cavalgando junto com o grupo de busca, seguindo o curso do Guaquevai até chegarem perto, separando-se para cobrirem mais território.
Aemond e Aegon cavalgaram em silêncio por um tempo, carregando lamparinas de óleo de baleia para poderem ver afrente, mesmo que não ajudassem muito.
— Acha que ela caiu do cavalo e está morta com o pescoço quebrado em algum lugar como sua homônima? — Aemond de repente questionou, olhando em volta.
— Sete Infernos, Aemond! — Aegon gritou com o irmão em pura irritação, não querendo nem pensar nessa possibilidade. — Que diabos de pergunta é essa?
Ele balançou a cabeça, tentando afastar a imagem de encontrar o cadáver da princesa mutilado e quebrado em algum lugar na floresta.
— Ela não está morta, não seja ridículo. Tenho certeza de que a encontraremos em breve.
Porém, mesmo enquanto dizia isso, Aegon não conseguia evitar a ponta de dúvida que começava a surgir em sua mente. E se Aemond estiver certo, afinal? É um pensamento que ele tentava manter afastado, não querendo nem mesmo considerar a possibilidade de eles não a encontrarem viva.
— Vamos continuar procurando. Espero que a encontremos em algum lugar logo. — murmurou, mais para si mesmo do que para Aemond.
A busca continua pelo que pareceram horas, o grupo de homens vasculhando o terreno o mais rápido que podiam na tentativa de encontrar um sinal de . Aegon, cuja ansiedade inicial foi lentamente substituída por uma espécie de resignação cansada, estava cavalgando silenciosamente pela floresta escura ao lado de Aemond novamente, seus olhos vasculhando os arredores, a chuva encharcando-o e o frio doendo em seus ossos.
Isso é inútil, pensou. Ela provavelmente já está morta em algum lugar, e eles acabarão encontrando seu cadáver...
Estremeceu, novamente a memória das últimas palavras que havia dito a ela invadindo sua mente. Queria se chutar por ser tão idiota. Como pôde dizer algo assim? Decidiu por fim que, se houvesse acontecido algo, seria plenamente sua culpa. Deveria saber que palavras tinham poder, não é? Os Deuses eram cruéis, certamente iriam torná-las realidade.
— Por quanto tempo mais teremos de cavalgar nesta maldita chuva? — Aemond questionou, bufando. — Não consigo ver merda nenhuma, isso é inútil.
— Talvez devêssemos nos separar. Iríamos cobrir mais terreno. — Aegon sugeriu, desesperado para se livrar do irmão reclamando a cada cinco minutos em seus ouvidos.
Aemond retorceu os lábios.
— Está bem. Irei pela esquerda, você pela direita. Não se perca, irmão, os Deuses sabem que já estamos tendo trabalho demais. — Aemond nem esperou uma resposta, cavalgando para longe, fazendo Aegon suspirar com alívio.
Os únicos feixes de luz eram dos relâmpagos ocasionais. A lamparina já havia vazado óleo quente nas mãos de Aegon uma centena de vezes, e ele estava a ponto de atirá-la longe, soltando um guincho de fúria quando ela tornou a fazê-lo.
Foi quando seus olhos captaram algo azul movendo-se pela floresta, um vulto que se movera tão rápido que fez com que questionasse se era real ou se havia acontecido apenas em sua imaginação cansada. Seu coração bateu mais rápido, lembrando-se da capa de montaria que usava quando fora cavalgar, o azul-esverdeado dos Velaryon, como o mar.
? — chamou, incerto, rezando para os Deuses velhos e novos que não fosse uma alucinação, seu coração acelerado. Decidiu, então, descer do cavalo e caminhar até onde havia visto o movimento, desmontando depressa e puxado o animal pelas rédeas, a chuva fazendo seus dentes castanholar de frio.
Um grito fino vindo de algum lugar próximo fez seu sangue congelar nas veias, seus olhos se arregalando, e ele olhou em volta, o cavalo começando a ficar inquieto. Nunca havia sentido tanto medo na vida, a sensação iminente de que algo estava errado fazendo seu estômago se revirar e ameaçar expulsar o jantar.
Percebeu, porém, que havia sido uma coruja-das-torres, que o observava do alto, seus olhos amarelos tão arregalados quanto os seus. Aegon soltou a respiração, relaxando, irritado, desferindo pragas contra a ave. Decidiu, por fim, pegar uma pedra e jogar na árvore apenas para afastá-la e não se assustar com seu grito novamente, sorrindo com triunfo quando a ave alçou voo.
Seu sorriso não durou muito, porém. A ave voou para cima dele, assustando seu cavalo, que lhe deu uma cabeçada e tirou-lhe o equilíbrio, fazendo-o soltar as rédeas. O animal saiu em disparada, correndo sem ao menos olhar para trás. Aegon sentiu gosto de sangue da pancada do cavalo em sua bochecha, cuspindo, segurando-se na árvore.
— Animal estúpido! — esbravejou, olhando em volta, a lamparina caída no chão, quebrada.
Aegon começou a rir histericamente. Como as coisas haviam dado tão errado? Por que nada dava certo para ele? O que mais lhe faltava acontecer?
Como se os Deuses houvessem ouvido seus pensamentos, o terreno molhado de repente pegou Aegon desprevenido, e ele não conseguiu recuperar o equilíbrio enquanto deslizava pelo chão inclinado, suas botas patinando no lamaçal e a enxurrada forçando-o para trás. Ele soltou um grunhido de dor enquanto caía, aterrissando de bunda no chão com um barulho alto, sendo carregado para dentro de uma espécie de vala pela água, a terra cobrindo-lhe as roupas e o rosto.
Devia estar parecendo um selvagem, um comedor de cabras. Amaldiçoou tudo à sua volta, a chuva, a lama, o buraco, os céus. Aegon então tentou se levantar novamente, usando os braços para se dar impulso. No entanto, ele logo percebeu o quão fundo era o buraco em que caiu, e a argila lamacenta não oferecia muita aderência para ele se içar para fora.
— Aemond! — chamou para o vazio, olhando em volta. A vala dava direto no rio, e a enxurrada podia empurrá-lo para lá se não tivesse cuidado. Começou a ficar nervoso, mas não podia entrar em pânico, tinha de se manter calmo. Sabia nadar, não era? Não estava machucado. Não era um exímio nadador, mas poderia segurar-se em alguns galhos e esperar resgate caso ocorresse.
Aegon tentou encontrar algum galho mais forte que pudesse usar para içar-se para fora da vala quando tropeçou em algo mole, sua cara encontrando o chão e a lama novamente. Ele teria soltado todas as maldições possíveis se um frio na barriga não houvesse se instalado imediatamente quando sentiu no que havia tropeçado, a sensação de terror constringindo sua garganta. Engatinhou para trás, tentando encontrar novamente o corpo estranho que havia derrubado-o, estremecendo quando sentiu a pele humana entrar em contato com seus dedos.
Não conseguia ver nem sua própria mão na frente dos olhos pela escuridão, mas conseguia discernir os traços do corpo à sua frente, os cabelos longos. Era definitivamente uma mulher, percebeu, para seu pavor.
— Por favor. Por favor, não seja ela. Não seja… não esteja morta… — choramingou como uma criança, seus dedos tocando cada parte que encontrava do corpo. Foi aí que notou o aroma que invadia suas narinas, nítido e indiscutivelmente dela.
Rosas.
Aegon soltou um choro estrangulado, puxando o corpo da princesa para seu colo, tentando sentir alguma pulsação.
. , por favor… — implorou para que a garota acordasse, sacudindo-a levemente, como se temesse quebrá-la.
Um relâmpago soou, seu rosto piscando à sua frente. Era realmente ela, os olhos fechados e os lábios entreabertos, como se tirasse um cochilo. Aegon colocou o ouvido perto de seu nariz para ver se respirava. Será que havia engolido água? Por um momento, quase desejou que houvesse sido Aemond a encontrá-la, o irmão saberia o que fazer.
Sua alma quase saiu do corpo quando a princesa arfou em seu colo, segurando-se em seus braços, tentando mover-se como uma tartaruga que havia caído sobre o casco. Aegon a segurou firmemente, impedindo-a de se mover demais, já que não sabia se ela havia quebrado alguma coisa.
— Graças aos Deuses! — ele entoou, acariciando o rosto da princesa. — , sou eu. Eu te encontrei. Está a salvo.
Ela se remexeu mais algumas vezes como se não houvesse escutado, mas o toque delicado de Aegon em suas bochechas à trouxe para o presente.
— A-Aeg? — ela gaguejou, chamando-o por um apelido à longo perdido. Ninguém o chamava assim desde que era criança, e a única pessoa havia sido ela, quando ainda não se importavam com brigas sem sentido e facções inúteis. Ele soltou um suspiro sôfrego, tocando sua testa na dela.
— Sim. Sim, sou eu, . Me diga, o que dói?
Ela arfou pesadamente, chorando de alívio, relaxando em seus braços.
— Deuses, tudo. Não consigo respirar direito, minha perna provavelmente está quebrada.
Costelas quebradas, Aegon constatou, e pelo toque, sua perna realmente estava em um ângulo estranho. Menos mal, todas coisas remediáveis. Sairiam dali e ela se recuperaria depressa.
Apesar disso, uma pequena carranca puxou os cantos de sua boca por sua pele fria e a sujeira e lama que cobriam suas feições. Ele deixou seus dedos deslizarem sobre os cabelos de , notando que também estava emaranhado e imundo da sujeira que entrara nele por estar jogada no chão. De repente, ele percebeu o quanto ela era uma visão lamentável e meio morta, coberta de lama e com galhos saindo do cabelo, e quase ficou tentado a soltar uma risada.
Mas não soltou, pois, por mais ridícula e patética que ela parecesse agora, ele não conseguia deixar de sentir uma pontada estranha de preocupação ao sentir a princesa. Era uma sensação estranha, quase completamente desconhecida para ele.
Com terror, notou que, se não houvesse encontrado-a naquele exato momento, seu corpo seria arrastado para o rio e ela estaria perdida para sempre. Aquele pensamento fez com que a segurasse mais próxima de si, como se temesse que ela escorregasse pelos seus braços como fumaça.
, o que aconteceu? — perguntou, por fim. — Como veio parar nesse buraco?
Ela gemeu de dor, e mesmo que ele soubesse que ela não deveria falar muito e se atenuar, sentia necessidade de ouvir a história.
— Lembrei-me que a floresta tinha umas flores que a minha mãe gostava, então decidi vir buscar para ela. Quando estava passando por aqui, um javali apareceu do nada e assustou minha égua. Ela empenou e me jogou para trás, e caí aqui. — tossiu, sua garganta seca pela dificuldade de respirar.
— Maldito porco. — Aegon vociferou amargamente. Faria questão de encontrar o animal e servi-lo para ela na ceia quando estivessem seguros.
A água continuava a cair e escorrer para a vala, mas a chuva parecia estar diminuindo, o barulho impossibilitando de alguém ouvir os chamados de Aegon.
… O que eu disse antes de você ir cavalgar… eu não quis…
— Shhh. — Ela cobriu-lhe os lábios. — Eu sei que nunca iria querer-me mal. Eu sou teimosa, deveria ter ficado em Porto Real. Nada haveria acontecido e eu estaria deitadinha em minha cama agora, aquecida e de estômago cheio.
— Está com fome? — Aegon perguntou, tentando distraí-la.
Ela suspirou.
— Não particularmente.
Aegon franziu a testa, mas então percebeu que a dor que ela deveria estar sentindo era tão grande que ele também não estaria faminto se estivesse em seu lugar.
— Comeu terra? — tentou brincar.
A garota soltou um riso seguido de uma tosse horrivelmente úmida que arrepiou a nuca de Aegon. Queria poder vê-la claramente, não apenas por vislumbres de relâmpagos, para poder compreender a extensão de seus ferimentos.
— Algo mais doi? Fora a perna.
— Está melhorando, agora que está aqui. — Ele suspeitou que ela mentia para aliviar a culpa que o garoto sentia e tranquilizá-lo, mas nada disse, concordando, seu queixo apoiado no topo de sua cabeça.
— Está com frio? Estou tremendo.
— A lama ajuda.
Aegon riu levemente.
— Ajuda? Está fria como mármore.
— Aegon, estou com medo.
Ele piscou algumas vezes, puxando-a mais para perto com cuidado. A forma que sua voz havia saído, tão ingênua, infantil e temerosa, como uma criança, lembrou-o de sua pouca idade. Era apenas uma menina. Quais terrores havia passado sozinha até que ele a encontrasse? Achando que iria morrer afogada, sem conseguir se mover, a perna quebrada, as costelas partidas?
— Não precisa mais ter medo, estou aqui com você, não estou? Ficará tudo bem — tranquilizou-a, sorrindo mesmo que ela não pudesse vê-lo. — Iremos rir disso em algumas luas, e sua mãe nunca mais a deixará cavalgar sozinha novamente.
Ela riu novamente, aquele mesmo som molhado, como um gargarejo, que arrepiou os pelos da nuca de Aegon. Por que sua risada estava daquela forma? Será que havia líquido em seus pulmões? Deuses, ela precisava de um meistre, e rápido. Era inconcebível deixá-la para tentar ir buscar ajuda, pois a água poderia levá-la ao rio, mas Aegon começava a achar que ou era isso ou ela sucumbiria aos seus ferimentos, que poderiam ser internos, sangramentos que ele não poderia ver.
— Não me deixe, Aeg. — ela implorou, como se estivesse lendo seus pensamentos. — Sei que me detesta, mas não me solte. Estou com medo.
— Não irei, . Nunca irei deixá-la. E não a detesto, nunca a detestei.
— Jura?
— Pelos Deuses novos e antigos. Eram apenas… provocações amigáveis, não eram? Me detesta?
Ela negou com a cabeça.
— Nunca detestei. Eu gostava das provocações, eram o ponto alto dos meus dias.
Aegon riu, mas estremeceu ao sentir o toque da garota em seu rosto. Sua mão estava tão gelada que ele se perguntou se não eram gotas de chuva o delicado toque dos seus dedos.
— Eu não acho que irei correr o risco de perdê-la novamente, . Irei segui-la de cima para baixo na Fortaleza quando retornarmos. Me tornarei sua sombra, espere e verá. Terá de me aguentar o tempo inteiro.
— Promete? — ela perguntou num sussurro cansado.
— Juro. Será o inverso de quando éramos crianças e você me seguia para todos os lugares antes de começarmos a brigar. Eu irei te seguir e te perturbar até o fim dos nossos dias, e você terá de me aguentar, tudo por causa de um maldito javali.
Ela suspirou, seu corpo relaxando ainda mais contra os braços do príncipe.
— Não estou mais com medo, Aeg.
Ele beijou-lhe a testa.
— Ótimo. Estou aqui com você, não há motivos para medo. Logo, seremos encontrados, e nos tirarão daqui. Receberemos mantos aquecidos e meistre Orwyle cuidará de nós. Você fará uma refeição, e tomará chás quentes para se aquecer. Irá levar um tempo para se curar, mas tem sangue Targaryen, e nunca ficamos doentes por muito tempo, sabe disso. Em duas luas já estará andando por aí e me atormentando novamente.
Aegon pôde ouvir seu nome ser chamado ao longe, reconhecendo a voz de Aemond. Seu coração bateu mais forte, e olhou freneticamente ao redor, tentando distinguir alguma coisa, qualquer coisa que pudesse ajudá-los.
— Viu? Aemond irá nos achar. Ficará tudo bem. — Aegon soou otimista, sorrindo para o escuro, chamando pelo irmão.
A mão fria de tocou-lhe a bochecha novamente, chamando sua atenção.
— Já me encontraram. Estou no rio.
Aegon estremeceu, sua boca abrindo e fechando-se como um peixe fora d’água, incerto do que falar. Estaria ela com febre, delirando? Devia ser o frio, era isso.
— Não se preocupe. Ele irá nos ajudar. Aemond! — Aegon chamou novamente, os relâmpagos cada vez mais espaçados. — Droga, , talvez precise…
— Eu sei. Vá, tente sair. Eu não irei a lugar nenhum. Você me salvou. — Ela disse, sua voz soando mais forte, o que dera esperança a Aegon.
— Eu voltarei por você, apenas irei chamar Aemond, eu…
— Está tudo bem, Aegon, eu sei. Vá, precisa chamá-lo. A enxurrada só irá piorar, precisa sair daqui.
Ele estranhou seu discurso.
Iremos sair, . Tentarei içar-nos para fora. Não irei deixá-la aqui, é loucura!
— Não conseguirá chamar a atenção de Aemond se não sair, Aegon. A terra no lado direito da vala está mais seca, as raízes mais fortes. Terá chances maiores de sair por lá. Não estou mais sob risco. Vá.
Ele a tateou mais algumas vezes, incerto, mas por fim assentiu, arrastando-a para o mais longe do fluxo de água que pôde antes de beijar sua testa e sua bochecha.
— Não irei longe.
Seus dedos acariciaram o rosto de e ele se sentiu particularmente corajoso, seu polegar acariciando o lábio inferior cheio da garota enquanto ele se inclinava, pressionando os seus levemente nos dela.
Seus lábios estavam quentes, ele pensou, sua esperança aumentando. Ela ficaria bem. Tudo ficaria bem.
Antes que pudesse dizer algo mais, a colocou delicadamente no chão como faria a uma flor, afastando-se e tateando a terra até se encontrar na área que havia dito, segurando algumas raízes e escolhendo a que parecia mais forte para poder começar a içar-se para fora.
Mesmo estando mais fácil, ainda era um trabalho árduo, e seus membros queimavam quando finalmente chegou ao topo, deitando-se no chão para retomar o fôlego. Não demorou-se muito, porém, levantando-se e correndo pelo terreno irregular, escorregando algumas vezes, seguindo a voz de Aemond.
— Aqui! Aqui, estamos aqui! — Aegon gritou, chegando a uma pequena clareira, agitando os braços. — Venham rápido!
Aemond cavalgou até ele, uma expressão de nojo óbvia em seu rosto.
— O que aconteceu com você? Parece um Cranogmano, está enlameado dos pés à cabeça. — O príncipe bufou. — Seu cavalo voltou sozinho.
— A maldita coisa assustou-se com uma coruja e fugiu, deixou-me sozinho. Caí em uma vala, mas pelo menos encontrei . Venha rápido, ande! Por que está demorando tanto?
Aemond franziu a testa, observando-o em silêncio.
— Está bêbado?
Aegon grunhiu, furioso. Por que o irmão estava olhando-o como se estivesse fora de si? estava sozinha naquela maldita vala, tinham de ir buscá-la!
— Não, caralho! Qual a porra do seu problema? Não está me ouvindo?
Aemond desmontou de seu corcel, caminhando devagar até o irmão, colocando as mãos em seus ombros.
— É por eu estar lhe ouvindo que estou estranhando. Como assim encontrou a princesa?
— Quando caí na vala, encontrei-a lá. Um maldito javali assustou sua égua e ela foi lançada na vala, mas está bem, apenas algumas costelas quebradas e a perna também, pelo que pude sentir. Não sei quanto a ferimentos internos, mas ela precisa de um meistre, Aemond, e depressa….
— Aegon, ouça-me. — Aemond segurou-lhe abruptamente o rosto, sua expressão geralmente tão estóica denunciando preocupação.. — Encontraram a princesa na margem do Guaquevai. Não teria como isso ter acontecido, porque ela já estava lá há algumas horas, pelo menos.
Aegon piscou repetidamente, as palavras de Aemond não lhe fazendo sentido nenhum.
— Você está surdo? Eu acabei de dizer que…
— Ouvi o que disse, irmão. Mas isso não é possível.
— Eu juro, eu a vi! — Aegon exclamou, seu coração martelando em seu peito enquanto o pânico começa a lentamente se infiltrar em sua mente. — Ela estava deitada no chão da floresta, naquela maldita vala! Você tem que acreditar em mim, ela precisa de nós, de um meistre!
Os gritos de Rhaenyra chegaram aos ouvidos de Aegon, assim como guinchos de dragão, tantos que pareceu uma cacofonia, sua cabeça doendo. Tateou atrás dela, agora na luz das lamparinas podendo ver sangue em sua mão, um frio se instalando em sua barriga. Virou-se de costas e caminhou sem rumo em direção aos gritos, seus olhos vidrados, em choque.
Ele parou de súbito, dividido entre a necessidade de vê-la e entre seu próprio terror de possivelmente estar próximo de ver algo que ele nunca poderia esquecer. O som dos soluços de Rhaenyra continuou a ecoar pela floresta, e ele também pôde distinguir a voz de Daemon à distância, agora soando mais como um animal selvagem ferido do que um humano.
Seu coração bateu acelerado, quase saindo do peito, enquanto seus olhos enchiam-se de lágrimas. Por favor, não… pensou, sua garganta constrita enquanto dava mais alguns passos incertos antes de Aemond colocar-se em seu caminho.
— Melhor não ver isso, irmão — aconselhou, as mãos em seus ombros. Aegon conseguia distinguir poucas coisas pelas árvores, apenas Daemon andando de um lado para o outro e esbravejando ordens e insultos para os guardas. Não conseguia ver Rhaenyra, ela não devia estar se movimentando.
— Saia da frente, Aemond.
— Falo a sério.
— E eu não? Não estava mentindo, eu estive com ela, e agora todos me olham como se eu fosse louco! — Aegon olhou dele para os guardas que os acompanhavam. — Preciso vê-la.
— Não irá poder apagar da mente se seguir em frente. Poderá se arrepender, e não terá como esquecer. — Aemond tornou a avisar, seu único olho brilhando. — Não vá.
Aegon o empurrou bruscamente, cerrando a mandíbula enquanto fazia o caminho por entre as árvores, parando ao finalmente ver Rhaenyra. Estava de costas, mas reconhecia seus longos cabelos prateados valirianos. Seu corpo se balançava como se ninasse um bebê, e a única coisa que Aegon pôde ver do que segurava era uma mão arroxeada pendurada inerte, como uma boneca.
Não. Não, não podia ser.
Cobriu seus lábios para segurar um soluço de sobressalto, os olhos embaçados pelas lágrimas. Não era , não podia ser . Decidiu ver mais de perto, ignorando os alarmes do irmão. Tremia da cabeça aos pés enquanto chegava perto de Rhaenyra, andando como se seus pés estivessem presos na lama e cada passo fosse um grande sacrifício.
Por fim, pôde ver o embrulho em seus braços, o corpo arroxeado de acalentado no colo da mãe, envolto em uma manta como se ainda houvesse frio para afastar. Os cabelos escuros estavam cheios de lama, galhos e folhas, matéria de rio. Seus olhos estavam fechados, os lábios entreabertos como se apenas tirasse um cochilo, embora a morte se fizesse presente em sua expressão. Parecia tão pequena e frágil nos braços de Rhaenyra, tão diferente da forte e corajosa princesa dragão que ele conhecera.
Estava em paz, agora. Estava segura.

***


Aegon não conseguira comparecer ao sepultamento, uma crise nervosa o mantendo na cama por dias à fio. Soubera que seu corpo havia sido sepultado nos mares de Derivamarca, como uma Velaryon, e amaldiçoou os dias que havia chamado-a de bastarda, pois lhe parecia um conceito tolo, no momento.
Tudo era tão tolo. O tempo que passara discutindo com a garota, pregando-lhe peças, provocando-a, tudo para nada. No final, ela apodrecia dentro de um caixão no mar estreito, e ele estava aqui; sozinho uma vez mais.
Alguém abriu a porta de seu quarto, mas ele nem se dignou em erguer os olhos para ver quem era, perdido na janela, num pássaro que começara a fazer ninho no parapeito. O seu colchão cedeu levemente ao peso de alguém, e ele finalmente virou-se, vendo Rhaenyra. Surpreendeu-se, não esperava que a meia-irmã viesse visitá-lo, afinal, nunca foram próximos.
Aegon sentiu os olhos lacrimejarem novamente, e precisou olhar para o outro lado, a língua tocando a bochecha enquanto tentava não chorar em sua frente. Não disse nada; esperou que ela se pronunciasse.
— Como tem passado? Tem se alimentado? — Ela por fim perguntou, afastando-lhe o cabelo do rosto num toque tão suave que ele quase chorou por falta de costume. — Está pálido, Aegon.
Deuses, a voz da meia-irmã era tão parecida com a de . Se fechasse os olhos, poderia fingir que era sua princesa, falando com ele, preocupando-se.
Mas então, reprimiu-se. Não merecia tal acalento. estava morta por sua causa, por suas palavras, por seu fel. Era um homem desprezível.
— Não deveria estar aqui. — Sua própria voz lhe soou estranha por quase uma lua sem usá-la com frequência.
Rhaenyra o observou em silêncio.
— Tenho ouvido que tem evitado comer bem, e não se comunica com as pessoas. O que é isto, Aegon? O que está acontecendo?
Aegon a encarou. Também estava pálida e mais magra, e ele suspeitou que houvesse sido acometida pelo mesmo mal, a exata mesma dor da perda. Refletiu sobre sua própria dor, se não valeria a pena compartilhá-la com Rhaenyra, já que ninguém entenderia mais do que ela.
— No dia que … — engoliu em seco, evitando falar. — … tínhamos discutido, para variar. Eu avisei-a sobre o perigo da tempestade que estava para vir, e aconselhei-a a esperar outro dia.
— Eu me lembro disso.
Aegon tentou segurar as lágrimas sem sucesso.
— Eu lhe disse… lhe disse que era teimosa, que não me importaria se fosse, caísse do cavalo e quebrasse a cabeça… — conteve um soluço, cobrindo os lábios. — Deuses, Rhaenyra, eu nunca quis…
Rhaenyra observou-o por alguns momentos, por fim negando com a cabeça.
— Aegon, não deve se sentir culpado. Não teve culpa, foi uma fatalidade. — Suspirou, novamente tirando-lhe o cabelo do rosto. — Por dias, também tentei encontrar um culpado. Seria a égua? A tempestade, os Deuses? Seria a própria , por ser teimosa e não evitar a chuva? Não faça isso consigo mesmo, não se puna por algo que você nunca poderia ter evitado.
— Eu implorei para que ela me assombrasse. Que, se de alguma forma, eu fosse culpado pela sua morte, que ela me assombrasse até o fim dos meus dias apenas para poder vê-la novamente. — Aegon soluçou, limpando as lágrimas com um movimento brusco. — É um sentimento de vazio que não vai embora, é como se meu peito houvesse se tornado aquela vala.
O queixo de Rhaenyra tremeu enquanto ela o observava, incerta do que dizer.
— Doce garoto. Está sofrendo, mas tudo na vida passa. Não deve se apegar aos mortos, deixe-a descansar. Sei que amava minha filha; qualquer tolo perceberia isso, e tenho certeza de que ela o amava também. Eu apenas sinto tanto que não possam viver esse sentimento. Não se deixe abater, Aegon. Amará novamente. — Rhaenyra prometeu, beijando-lhe a testa com esmero, como nunca havia feito na vida.
Por fim, levantou-se, observando-o com aqueles olhos lilases tão parecidos com os seus.
— Descanse. Todos passamos por um bocado essa última lua. E alimente-se, precisa se nutrir. O Estranho não deve arrastá-lo também.
Ele observou Rhaenyra deixar o quarto, sentindo-se extremamente cansado. Tudo que fazia era chorar naqueles dias, chorar, dormir e acordar chamando por , sua voz sempre tão estranha a si próprio. Seus olhos pesaram e ele pôs-se a dormir novamente, seu corpo necessitando descanso já que, por falta de comida, não tinha energia para muita coisa.
Acordou por volta da hora do lobo, apenas a lua como fonte de iluminação fazendo sombras bizarras na parede. Aegon esfregou os olhos, sentindo a boca seca, procurando por água ou vinho em sua mesa de cabeceira, resmungando quando viu a jarra do outro lado do quarto, na cômoda.
Decidiu levantar-se mesmo que se sentisse como se estivesse imerso em areia movediça naquela cama, seu corpo parecendo pesar uma tonelada. Suas juntas machucavam por ter permanecido tanto tempo deitado, e suas pernas pareciam carecer de forças para carregá-lo, fazendo com que caminhasse bem mais devagar. Quando chegou à jarra, constatou, para seu enfurecimento, que estava vazia, apenas um dedo de água acumulada no fim.
— Sete Infernos. — resmungou, virando o resto da água na boca, o gosto embrulhando-lhe o estômago. Parecia estar ali há dias.
Aegon.
A jarra escapou de sua mão, espatifando-se no chão, o vidro quebrando aos seus pés e por um milagre não cortando-o. O cheiro de rosas invadiu-lhe as narinas, a brisa gelada arrepiando-lhe os pelos da nuca atrás dele, embora todas as janelas estivessem fechadas; sua mãe se certificava disso todas as noites, e ele achava que Alicent temia que se jogasse.
O pensamento já havia lhe ocorrido algumas centenas de vezes naquela quinzena, tinha de admitir.
Será que ouvira mesmo o chamado? Sua respiração ficou ofegante, e sentiu-se tremendamente gelado, como se houvesse caído em uma cratera de rio congelado, a sensação de milhares de agulhas penetrando sua pele.
Aegon.
Era claro, agora. Era a voz dela.
? — chamou, virando-se, encarando todos os cantos do aposento. Nada parecia fora do lugar.
Aegon mordiscou os dedos nervosamente, olhando em volta de maneira frenética, dando alguns passos em direção à cama. O cheiro de rosas era nítido em todo o quarto, quase sufocando-o.
Aegon.
Sentia suas mãos começarem a tremer. A voz havia sido diferente, agora, mais profunda e abafada, como se estivesse…
Deuses. Como se estivesse embaixo d’água.
. Onde está você? Deixe-me vê-la. — implorou, caminhando até a janela, de onde a voz parecia estar vindo. As vidraças batiam levemente criando um som irritante de tilintar, lhe deixando ainda mais uma pilha de nervos.
Aegoonn…
A voz parecia agora uma paródia da voz da princesa, um gorgolejar cantarolante se juntando ao tom inicial, algo que deixou Aegon enojado. Sem pensar, como uma criança, correu para debaixo dos lençois de sua cama, cobrindo-se e abraçando seus joelhos, escondendo o rosto neles.
Ouviu a janela abrir, a madeira batendo tão forte de encontro com as paredes que o vidro estilhaçou, os cacos juntando-se à jarra quebrada. Podia ver apenas silhuetas pelo fino tecido do lençol, mas o que via apavorava-lhe, formas desconexas e terríveis andando pelo quarto como um desfile de bizarrices. Pôde distinguir uma coruja, um javali, um cavalo. Deveria estar alucinando pela falta de comida, era o único motivo que lhe fazia sentido…
Por fim, uma silhueta maior se destacou das demais, algo humanóide, inchado e disforme. Fazia um som medonho ao caminhar, como pés molhados descalços na pedra, o leve tap se aproximando da cama. Se possuía cabelos, havia perdido a maioria, coisas que pareciam chumaços aleatórios escapando da cabeça.
Aegon tremia quando percebeu que a coisa estendia a mão para puxar-lhe o lençol, a sombra dos dedos com as unhas lascadas se aproximando como um mau-agouro.
— V-vá embora! — Aegon tentou gritar, rezando em silêncio para todos os Deuses que pudessem ajudá-lo. — Vá!
A figura hesitou, e um som de choramingo macabro ecoou pelo quarto. Aegon fechou os olhos, desesperado, cobrindo a cabeça com os braços.
Acordou pela manhã, ainda embaixo do cobertor, incerto se havia tido um pesadelo ou não. A janela não estava quebrada; muito menos a jarra. Tudo parecia estar nos conformes.
Ele conteve um arrepio, lembrando-se das coisas que havia visto na noite anterior. Sentia-se ironicamente renovado, até mesmo com um pouco de fome.
A mãe entrou no quarto, contendo um som surpreso quando o viu.
— Parece mais corado. Dormiu bem? — A Rainha Alicent sentou-se ao seu lado na cama, observando-o com cautela.
Aegon não a respondeu, tentando raciocinar. Então, havia sido um sonho. Deuses, que pesadelo terrível. Precisou olhar novamente para a janela para ver que não estava de fato quebrada, a brisa fresca entrando no quarto, cheirando a grama e natureza.
Ia responder a Alicent, mas precisou segurar um grito que irrompera na garganta.
No lençol, clara como o dia, havia a marca de uma mão suja de terra.




FIM.


Nota da autora: Uma parte minha morreu ao escrever essa fic (:
Falando sério, primeira fic de terror que eu escrevo, e a ideia que eu tive foi, ironicamente, com a ajuda do c.ai (o bot não tinha nada de terror). Espero que se divirtam e chorem tanto quanto eu!
Nessa fic, o Viserys ainda é vivo e a Rhaenyra voltou a morar em King's Landing com os rebentos e o Daemon. A pp tem por volta dos 16 anos, o Aegon 18. É isto.

❯ beth's note: meu Deus, mas eu amei essa fic?????? eu não entendo nada de HOTD, só com as referências de GOT rs, mas depois disso preciso correr pra MAX pra assistir! eu ainda não tinha entendido a parte do Halloween, mal lembrei disso até ver a Vis morta, fiquei NÃO, NÃO!! achei que o enemies to lovers tava certo, que eu ia acabar lendo pegação, mas fez jus ao Halloween. ótima história! sua escrita é impecável e me prendeu do início ao fim!


Se você encontrou algum erro de revisão/codificação, entre em contato por aqui.


Barra de Progresso de Leitura
0%