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Codificada por: Fer (Lyra)

Última Atualização: 25/08/2024


– Fred, não sei se deveríamos estar fazendo isso... – disse , incerta.
– Por que não? George aprontou essa comigo – respondeu na mesma hora – E com você também. Não se lembra?
– Se não pararmos, vai se tornar um ciclo vicioso – gemeu ela.
– Não vai, não. Só damos o primeiro beijo uma vez na vida, afinal.
suspirou. Amizades de infância algumas vezes vinham com preços altos, mas ela não disse nada. Apenas continuou andando ao lado de Fred.
Estavam no quarto ano. O ano onde, supostamente, todos davam seu primeiro beijo. sabia que esse navio, para a maioria dos amigos, havia zarpado durante o terceiro ano. No entanto, para George, Fred e ela, não. E quando o novo se iniciou, foi a primeira entre os amigos a dar o primeiro beijo durante o terceiro fim de semana em Hogsmeade com Peter Blythe.
Peter. Quarto ano, alto, cabelos dourados e encaracolados, olhos verdes, um sorriso de matar e goleiro da Sonserina.
Ela e Daisy, sua amiga, o achavam lindo, mas Fred e George não podiam odiá-lo mais nem se fizessem um esforço. os provocava, dizia que estavam sendo preconceituosos, mas ela mesma sabia que Peter era meio bobo, o que podia irritar algumas pessoas. Ela inclusa. Por isso que não tiveram mais do que três encontros. Mas isso não autorizava Fred e George a aparecerem no primeiro encontro dos dois – na Casa de Chá de Madame Puddifoot, e assustarem o pobre de Peter com suas caras feias e piadas maldosas. Ela nem sabia como havia conseguido expulsar os dois de lá, muito menos como conseguira descolar um beijo depois daquela cena.
O primeiro beijo de Fred havia acontecido três dias depois. se lembrava, pois havia sido com Katerina Poplars, a corvina mais insuportável que ela já havia conhecido na vida, e ela já tinha 14 anos e era amiga de Fred Weasley, então isso significava muita coisa em seu dicionário de vida. Foi por isso que, quando George a puxou em direção ao Três Vassouras depois de Fred os dispensar, mesmo sob os protestos de uma pacífica Daisy, ela não achou ruim. Na verdade, achou maravilhoso. Quando viu a cara feia de Katerina, seu sorriso só não cresceu mais pois era fisicamente impossível.
Fred ficou pálido quando viu os três entrando no local e sentando-se na mesa que dividia com a corvina. Seus amigos não podiam realmente estar fazendo aquilo no meio do primeiro encontro dele!
Daisy não gostava de participar desse tipo de coisa, por isso ficou de braços cruzados, um pouco mais atrás dos amigos. também tinha dúvidas, mas quando George disse que essa brincadeira era uma tradição entre eles... Ela não podia simplesmente dizer não, não é?
e George – disse Katerina interrompendo no meio de uma frase depois de uns cinco minutos que já estavam juntos – Vocês dois vivem grudados, não é? – ela começou – E você ainda é ruiva, é quase como se fosse da família, não é? Uma sétima Weasley.
apoiou os braços na mesa e se inclinou um pouco em direção ao centro dela. Katerina falava com calma, mas a conhecia. Sabia que tudo que saía de sua boca havia sido muito bem pensado, e se fosse em direção a , geralmente era para provocá-la.
– Já existe uma sétima Weasley. O nome dela é Ginevra.
Katerina sorriu, trocando um olhar rápido com Fred.
– Não sabia! Ah, ela deve ser adorável – disse – Acho que isso seria a única coisa que te denunciaria, . Você é... – Katerina fez uma pausa, seus olhos brilhando de maldade – Bom, você é diferente. É muito mais excêntrica, não é?
A mesa toda ficou em silêncio. Todos haviam entendido o que ela realmente quis dizer, mesmo que não tivesse o feito diretamente. George pensou que a amiga voaria no pescoço da corvina, já que geralmente não era muito calma, mas apenas sorriu.
– Vou tomar como um elogio vindo de você, Katherine.
O sorriso da garota congelou.
– Esse não é meu nome.
viu Fred se remexer na cadeira, mas não ligou. A namoradinha dele que havia começado. Daisy parecia dividida entre aproveitar a cena e se sentir culpada, mas George parecia achar tudo muito divertido, provavelmente porque também detestava Katerina. Ela nunca havia feito nada com ele, é claro, mas havia feito com , e para George, isso bastava.
– Claro, Katrina, sinto muito – respondeu inocentemente.
O rosto da corvina ficou vermelho e dessa vez permitiu-se sorrir um pouco.
– Ka-te-ri-na – praticamente rosnou dessa vez.
– Ca-ta-li-na – retrucou pausadamente – Foi exatamente o que eu disse. Venderam álcool para menores de idade por aqui?
Katerina esticou o braço para agarrar o cabelo de assim que ela terminou de falar, mas no último segundo, Fred segurou o braço de sua acompanhante.
Esse foi o primeiro e último encontro deles.
se sentiu muito mal depois, não sabia como Fred não havia ficado bravo com ela e o irmão.
Mas naquela época, não sabia de muita coisa. Por exemplo, ela não sabia que o motivo de Katerina Poplars não gostar dela era simplesmente porque Fred parecia gostar tanto. Tampouco soube que o motivo de Fred não ter ido a mais encontros com a garota não fora pela amiga e pelo irmão e sim porque quando Fred percebeu que Katerina ia machucar simplesmente por não conseguir acompanhar uma brincadeira, ele soube que não poderia ficar perto dela. Mesmo entre provocações, sabia que nunca ficaria longe de tanto quanto nunca ficaria longe de seu próprio irmão gêmeo.
Ainda assim, foi algo chato, e Daisy os fez prometer esquecer essa tal tradição, pois ela definitivamente não participaria. E se eles aparecessem no primeiro encontro dela, Daisy com certeza pararia de falar com todos eles. O que de fato aconteceu algumas semanas depois, e nenhum deles resolveu repetir a brincadeira. Daze era um doce, mas sabiam que não deviam levá-la até o seu limite.
O problema é que Fred não sabia quando parar, e ele acreditava que George deveria, sim, sentir o gosto do próprio veneno, já que nas duas vezes que essa brincadeira aconteceu foi com a iniciativa dele. Pensando assim, Fred e correram até a Dedos-de-mel para encerrar de uma vez por todas a “tradição”.
queria dizer que era uma melhor amiga mais leal, que a lógica fajuta de Fred nunca a convenceria, mas a verdade é que ela queria mesmo provocar George.
Fred abriu a porta, fazendo com que o sino tocasse avisando da entrada dos dois. Ele logo puxou para o lado, caso o irmão resolvesse olhar quem entrou. Eles ficaram extremamente colados entre as caixas. Naquele ano, os gêmeos haviam tido um estirão de crescimento que, honestamente, assustara . Ela não havia passado as férias com eles, então quando os viu no trem mal acreditou. A voz deles havia engrossado ainda mais do que no verão anterior e eles haviam crescido vários centímetros. Ao menos ainda estavam com seus cabelos de tigelinha e magrelos. Isso fazia com que ela reconhecesse seus garotos de sempre através da voz grossa que surgira do nada.
– O que está olhando, ? – perguntou Fred virando o rosto para olhá-la – Está me achando bonitão?
revirou os olhos.
– Estou olhando esse projeto de bigode que você quer deixar crescer, e mais parece que tomou chocolate quente e esqueceu de limpar.
Ela deu um passo para o lado para se afastar, ignorando um Fred boquiaberto com a mão teatralmente no peito.
– Estou ofendido, só para você saber.
– E eu não ligo, só para você saber.
Fred estava pronto para responder quando percebeu uma movimentação diferente. Ele apontou para o outro lado da loja, onde podiam ver claramente George e Megan escolhendo caixas de chocolate alaranjados.
– Não acredito que ele está pegando estes – reclamou apertando os olhos – Eu pedi pelos azulados! Vou ter que matá-lo.
Fred revirou os olhos.
– Ele não é seu namorado, sabia? Na verdade, ele está aqui com alguém que pode vir a ser a namorada de verdade dele.
– George não é meu namorado ainda, Fred. Você sabe!
estava brincando, mas Fred não ligou, então a puxou pela mão em direção ao irmão gêmeo.
– Venha, vamos ver o que Megan pensa disso um pouquinho.
arregalou os olhos e segurou no pulso de Fred tentando se soltar em vão, pois assim como a voz grossa e os centímetros a mais, Fred também havia ficado um pouco mais forte.
Ela estava brincando! Jamais brincaria dessa maneira na frente de uma possível namorada de George. Ora, ela tinha amor a própria cabeça e queria que ela ficasse grudada no pescoço, coisa que não ficaria caso ela fizesse isso na frente de uma das pretendentes do melhor amigo. Isso era só... só... uma piada de família!
Assim que eles pararam diante dos dois, George os olhou ferozmente.
– Olá, irmãozinho! Estávamos andando por aqui e resolvemos dar oi, não é, ?
Fred a olhou com um sorriso cúmplice e ela respirou devagar. Ok, ele não brincaria sobre isso. Conseguia ver.
– E comprar alguns chocolates azulados – disse dando ênfase na parte final.
George suspirou.
– Megan, esse é o meu irmão Fred e nossa amiga . Acho que você os conhece... infelizmente.
– Oi, Megan – disse .
– E estão aqui porque são idiotas que não sabem quando parar – continuou George, ignorando a amiga e o irmão. Megan ainda sorria amigavelmente, o que surpreendeu um pouquinho. Assim que eles apareceram, Katerina fechou a cara. Peter também, mas Megan sorria docemente para os dois.
– Que é isso, George! Só queríamos dar oi e perguntar a Megan algumas coisinhas.
– Como o que ela acha sobre vestidos noruegueses – acrescentou com o rosto mais inocente que conseguia. Fred, no entanto, quase se engasgou.
Há um bom tempo, Fred, George e estavam n'A Toca mexendo nas coisas de Percy sem o mais velho saber, é claro, e encontraram uma revista com o título Norueguesas de Vestido. Abriram esperando algo escandaloso, mas se frustraram porque parecia ser só isso mesmo: muitas mulheres, todas com vestidos coloridos, um mais bonito que o outro. Ficaram até meio decepcionados. Imaginavam que Percy tinha algum esqueleto no armário, mas aparentemente a coisa mais surpreendente nele é que ele gostava de moda norueguesa. E embora estranho, com certeza não era nada bizarro.
Isso até exclamar e puxar a varinha do bolso e dizer que não sabia como tinham sido tão burros. Passaram dias e dias tentando fazer o Mapa do Maroto se revelar quando Fred e George o roubaram de Filch, como podiam ter esquecido tão rápido? Se tinha algo a mais naquela revista, o feitiço funcionaria. Se não havia sido expulsa por usar Lumos em casa e não seria por isso. Então, com a ponta da varinha apontada para a capa da revista, bem em cima do nariz da mulher loira da capa, recitou:
Eu juro solenemente que não vou fazer nada de bom.
E então a revista se transformou de Norueguesas de Vestido em Norueguesas Sem Vestido. Fred gritou que Percy era um pervertido, ficou chocada com o quanto o conteúdo era explícito e George... bom, George parecia querer roubar a revista do irmão.
– Vestidos noruegueses? – repetiu Megan, sem entender.
George apertou a ponta do nariz e deu um passo à frente.
– No entanto, eu sabia que não podia confiar em vocês dois.
– Ei! – Exclamou – Até em mim?
– Principalmente em você – apontou George – Até parece que esse idiota fez algum esforço para trazê-la aqui.
– Ele fez um pouquinho, sim – defendeu-se inutilmente, já que ela mesma havia trazido o tópico das norueguesas.
Fred apertou os olhos, balançando a cabeça em negativa e riu, dando de ombros.
– Então, eu me preparei – disse George cortando o sorriso no rosto dos dois como uma faca e sentindo-se satisfeito com isso. Ele apontou para baixo, fazendo Fred e mirarem os próprios sapatos. Os dois arfaram, arregalando os olhos em surpresa.
– George! Você não fez isso!
– É genial – disse Fred – Mas estou extremamente magoado que fez isso em mim e não comigo.
A lateral do sapato dos dois estava repleta de bombinhas minúsculas que nenhum deles havia notado. Bombinhas que Fred e George já haviam usado inúmeras vezes pelo castelo e tinham causado uma destruição completa. Fred estava impressionado e irritado, orgulhoso e incrédulo, tudo ao mesmo tempo.
– Mas espere... elas não estouraram – comentou .
– É porque estavam esperando o momento certo. Este aqui – disse George com um sorriso enquanto tirava duas pequenas bolas vermelhas do bolso. Fred e deram um passo para trás, de repente muito cientes do plano diabólico do amigo a frente deles. As bombinhas não haviam estourado pois eram do tipo que precisavam do pequeno detonador direto: uma bola vermelha que ao ser jogada no chão parecia criar pequenas pernas para se locomover enquanto praticamente farejava cada número de série feito para ela e os seguia, estourando lentamente cada uma das pequenas bombinhas.
E receava serem muitas em seu sapato, o que faria daquilo algo um pouquinho desagradável. Quando Fred a olhou, eles tiveram um pequeno momento de concordância, algo muito raro entre eles, mas que não conseguiu ignorar, já que nos olhos de Fred piscavam um alerta gritante: CORRA!
Os dois se viraram e começaram a se afastar rapidamente do casal. Com uma risada debochada, George soltou dois detonadores no chão, que logo passaram a saltar no meio de todas as pessoas em busca de Fred e .
Os dois saíram da loja achando que haviam fechado a porta bem antes dos objetos passarem, mas ali, do meio da neve perto dela, eles começavam a surgir novamente. e Fred foram atingidos ao mesmo tempo. Em um segundo o detonador estava perto da porta da Dedos-de-mel e noutro estava saltando e batendo com sua cabeça de metal estourando a primeira bomba perto do calcanhar de Fred. O garoto gritou, fazendo rir antes do próprio pé começar a explodir também. Fred saltou, escapando, mas era mais lenta e tinha as pernas consideravelmente mais curtas, então as bombas continuavam explodindo, fazendo com que ela não só se atrapalhasse para andar, mas chamasse a atenção de toda Hogsmeade. Fred segurou sua mão e a puxou para frente, os dois voltando a correr desesperadamente. sentia a mão quente de Fred apertar a sua com força enquanto dividiam uma risada nervosa e desacreditada.
Riam tanto e tão alto que começaram a se atrapalhar para correr e passaram a chamar mais atenção do que os dois objetos vermelhos correndo pela neve ou as explosões ocasionais em seus pés.
Talvez, se não estivessem com tanta pressa e achando tudo tão cômico, eles tivessem reparado em Katerina Poplars em frente ao prédio dos Correios os encarando como se soubesse tudo e mais um pouco que se precisava saber sobre e Fred Weasley.
Os dois só pararam de correr quando chegaram em frente à Casa dos Gritos. Fred soltou e se jogou no chão. Antes que pudesse pensar muito, agarrou os sapatos e os jogou bem longe.
– Vamos, , tire!
olhou para os sapatos e depois para os detonadores que se aproximavam com suas garras velozes.
– Mas... mas... – balbuciou ela olhando seu tênis– Foi Bill quem me deu de aniversário...
, você quer perder o pé?! – disse Fred bem alto – Olhe só o buraco da minha meia!
Ela se sentou ao lado dele e retirou os próprios tênis, os jogando longe, bem a tempo de os detonadores conseguirem desviar o caminho deles até onde os sapatos estavam. Eles observaram silenciosamente enquanto as bombinhas continuavam a explodir e explodir.
Quando se olharam, Fred não soube explicar, muito menos , apenas começaram a rir novamente. Riram tanto que Fred até mesmo se jogou na neve gelada e esticou os braços como se fosse fazer um anjo de neve. passou a mão nos olhos para secar as lágrimas que apareciam de tanto rir.
– Não acredito que George fez isso! A mente dele é... – Ela parou de falar, porque não havia adjetivos para contemplar a mente de George Weasley.
– Eu sei! – exclamou Fred enquanto se jogava ao seu lado. Haviam corrido tanto que estavam suados e mal sentiam o gelado da neve embaixo de si – Não é nada justo, ele pensa em tudo! Estava preparado!
ainda ria, mas foi parando ao perceber que Fred havia virado a cabeça em direção a ela. Esse provavelmente era o recorde deles de passar tanto tempo juntos, sem George ou Daze e não terem se ofendido uma vez sequer.
– Perdi o meu melhor sapato – disse ela baixinho. Não havia sentido gritar quando Fred estava tão próximo. Ela já estivera próxima assim antes, já vira as pequenas sardas que o garoto tinha no rosto, mas dessa vez pareciam diferentes. Pareciam maiores. Pareciam chamá-la, pedindo seu toque como as de George nunca fizeram.
sentiu seus lábios entreabrirem e percebeu que Fred piscava para ela, sem falar nada. O silêncio era confortável, ambos perceberam. E olhar um para o outro também não era nada mal.
Fred abriu abaixou o braço, ainda sem tirar os olhos de e abriu a boca. Ele parecia se aproximar e o coração de acelerou.
Porém, antes que pudesse falar ou fazer qualquer outra coisa, sentiram um peso recair sobre eles, e ao olhar para cima, viram Daisy de braços cruzados os olhando sem piedade alguma. A garota havia acabado de jogar dois pares de sapatos, um em cada um dos amigos, mostrando, mais uma vez, que todo plano de George era elaborado perfeitamente de ponta a ponta.
E assim o momento se foi. Eles não se olharam constrangidos, não riram, não disseram nada. O momento apenas se fora como as folhas do salgueiro lutador que caem perto do lago e são levadas pelo vento e não voltam mais. Os dois respiraram fundo, aguardando pelo sermão de Daisy e escolhendo conscientemente esquecer os segundos íntimos demais que haviam acabado de dividir.




O natal de 1995 estava chegando, e isso fez com que se tornasse três vezes pior ser naquele ano.
Mas, para ser justa, para , qualquer coisa seria melhor do que ser ela naquele ano.
Ela estava encostada no muro da saída do corujal de Hogwarts, observando enquanto sua coruja, Betty, voava sem preocupações em direção a sua casa. Ela havia acabado de enviar uma carta ao seu pai avisando que passaria o natal no castelo. se deu ao trabalho de inventar alguma desculpa como afazeres com a monitoria e estar indo muito mal na disciplina de Poções – o que ela sabia que seria inadmissível para Elliot que queria sua filha no Ministério da Magia. Também era uma mentira deslavada, mas ele não precisava saber dessa parte. Para o desespero do professor Snape, não havia aluna melhor do que naquele ano. Não que ela devesse se gabar já que Poções era, basicamente, a única disciplina que ela ainda tinha um bom desempenho. A verdade é que não importava a desculpa que usasse, ela sabia que seu pai acreditaria ou fingiria acreditar, porque era doloroso demais para ele ver o fantasma de sua falecida mulher em todos os traços da filha.
Jenna havia morrido meses antes em um acidente de quadribol. Em um dos treinamentos, um balaço descontrolado acertou a calda de sua vassoura fazendo com que ela caísse. Não foi uma altura muito alta, mas fez com que ela batesse sua cabeça bem forte. saiu de Hogwarts assim que terminou os exames do sexto ano para ficar perto de sua mãe. Ela ficou em coma por duas semanas, até que não ficou mais.
Jenna era a melhor artilheira que o mundo bruxo já havia visto, e quando ela e Becca Welch, a apanhadora, se juntaram, fizeram o Holyhead Harpies voltar a ser o que era antes. Jenna tinha fãs pelo mundo inteiro não apenas por ser uma jogadora incrível, mas por ser gentil, simpática e amorosa com todos. Jenna foi a melhor pessoa que já conheceu, e havia sido a sua mãe.
começava a achar que nunca mais seriam os mesmos sem sua mãe por perto. Era difícil demais. Estar em casa fazia com que ela se sentisse triste o tempo todo. Não é como se ela esquecesse sua mãe quando estava em Hogwarts, mas ao menos não se sentia tão sufocada com lembranças e com a sombra de seu pai acima dela. Talvez fosse uma péssima filha por deixá-lo sozinho no primeiro natal sem a mãe, mas ele também era um péssimo pai por não se importar, então eles estavam quites.
A garota foi andando lentamente de volta a sala comunal onde seus amigos já estavam se preparando para irem embora e ela deveria fazer o mesmo se quisesse que eles acreditassem que ela também iria. Não queria ter que responder perguntas sobre o porquê de ficar em Hogwarts e sabia que qualquer um de seus três melhores amigos conseguiria arrancar a verdade dela em cinco segundos se ao menos desconfiassem que ela estava mentindo ao dizer que iria voltar para casa como todos eles. Nem sequer sabia como estava conseguindo manter aquele teatro para George por tanto tempo.
– Olá, Mulher Gorda. Tudo bem por aí hoje? – Perguntou assim que chegou no quadro.
– Eu nem te conto o que foi que o velho do quarto andar aprontou! – Exclamou a mulher no quadro com entusiasmado e sorriu. Achava a Mulher Gorda muito engraçada.
– Não mesmo, porque você precisa é abrir a porta – disse uma voz atrás dela, que logo reconheceu – Mimbulus Mimbletonia.
– Você é sempre tão desagradável – disse a Mulher Gorda movendo-se para dar passagem aos dois alunos – É assim que eu sei que você é Fred e não George Weasley. Será que alguém já te disse isso?
– Não, geralmente me dizem que eu sou adorável – respondeu e empurrando pelos ombros, os dois entraram na sala.
– Eu estava conversando com ela, sabia?
– Eu nem sei por que você dá tanta trela para Mulher Gorda.
– Eu gosto dela! – Retrucou .
Fred a olhou com um olhar debochado, jogando-se na primeira poltrona que apareceu em sua frente.
– Está se sentindo tão sozinha assim, ?
Ela revirou os olhos para Fred.
Conhecia o garoto ruivo desde que se entendia por gente. Jenna e Molly Weasley foram melhores amigas durante a escola e ficaram grávidas de e dos gêmeos ao mesmo tempo. Bom, não seria tão difícil combinar uma gravidez com a de Molly Weasley, já que seus filhos vieram praticamente um após o outro, mas elas agiram como se fosse coisa do destino. As duas mulheres eram tão amigas que escolheram o nome dos filhos juntas. Jenna escolheu o de George e Molly o de . Jenna e Elliot também se tornaram padrinhos de Fred e Molly e Arthur da garota que acabara de nascer.
Bill sempre disse que Molly e Jenna planejaram o casamento de George e desde que decidiram os nomes deles. E tudo só aumentou quando os dois foram crescendo e e George cultivaram uma amizade muito próxima e verdadeira. Foram melhores amigos desde o primeiro dia.
Então, conhecia e adorava a família Weasley como se fosse sua própria família. Exceto que não era, pois sua família agora se resumia a um pai que bebia e não fazia questão de saber como ela estava.
Quando Jenna morreu, foi a primeira coisa na qual Molly Weasley pensou em meio às suas lágrimas, mas se recusou a ver qualquer pessoa por um mês inteiro depois do enterro. E quando Molly cansou-se de respeitar o espaço da garota, apareceu em sua casa sem mais nem menos. pensou que não gostaria de ver ninguém, mas quando Molly apareceu, ela soube que estava enganada. Seu pai havia se prendido na bolha do seu próprio luto e queria entender, queria mesmo, mas era muito difícil. Quando sentiu que poderia existir sem chorar, passou o resto do verão n'A Toca. As pessoas nunca sabem o que dizer quando sua mãe morre, então foi especialmente esquisito quando ela chegou. Rony mal olhava em seus olhos, Arthur Weasley sempre ficava meio sem graça e Ginny, embora tentasse, achava que deveria ser delicada o tempo todo e isso ficava muito óbvio em suas ações, o que deixava um pouco irritada, pois sabia muito bem como Ginny era de verdade desde que nascera, e pouquíssimas vezes a mais nova fora delicada, a não ser que se tratasse de Harry Potter, é claro.
Fred e George foi uma história completamente diferente.
Quando ela chegou n'A Toca, a primeira coisa que George disse foi:
– Está tudo bem?
– Sim.
– Ótimo – disse Fred com um sorriso. – Quer dar uma olhada nos nossos Kits Mata-Aula?
– Claro.
Sua relação com Fred não era como sua relação com George, pois George era seu melhor amigo, praticamente um irmão, enquanto Fred e se davam bem à sua própria maneira, embora ela achasse que Fred, de fato, pegava pesado demais com os outros algumas vezes e também o considerasse muito mais imaturo do que George, ainda assim os três eram amigos desde que nasceram e ela não se veria longe de nenhum dos dois.
O fato é: enquanto todos pisavam em ovos com ela, até George, embora ele disfarçasse isso muito bem, Fred a tratou como sempre havia tratado e isso reforçou a o que ela já vinha dizendo a si mesma: que a vida continuaria. Poderia ser difícil, mas seria muito pior se ela apenas se afundasse em um mar de autopiedade como seu pai estava fazendo. Exceto no natal, o feriado favorito de sua mãe. No natal, ela não conseguiria. Não conseguiu aceitar voltar para casa e muito menos aceitar passar o natal com Daisy e sua família ou os Weasley na Toca. Não podia fazer isso. Não podia pensar em se divertir quando sua mãe não estava mais com ela.
Pelo menos, não parecia que iria nevar. Se isso acontecesse, seria o fim para .
– Não me chame de – respondeu sentando-se na frente dele.
Não odiava o seu nome, mas preferia ser , apenas . era a forma como o pai a chamava quando estava com raiva e a forma que a mãe a puxava no canto para contar algum fato aleatório como se fosse o maior segredo do mundo e tal qual o maior segredo do mundo era óbvio que deveria saber. Molly Weasley também a chamava assim às vezes. Eram as únicas vezes que ela não se incomodava. Todos os outros a chamavam de .
Todos, exceto Fred Weasley, é claro. Mas isso era melhor do que quando ele a chamava de pé grande ou qualquer coisa que remetesse a isso só porquê havia colocado na cabeça que a garota tinha um pé grande demais quando viu seu sapato no vestiário da Grifinoria certa vez depois de um dos jogos.
– Eu gosto de – disse ele colocando os pés na mesa com um sorriso de lado que fez revirar os olhos pela segunda vez.
– Vá até o cartório e mude o seu nome então, aí poderá usá-lo quando quiser, mas... – ela parou de falar.
– Mas o que? – Quis saber, interessado.
– Não sei por quê alguém se interessaria nisso. Ser é a pior coisa do mundo.
esperava que Fred a chamasse de dramática, mas ele apenas a encarou por poucos segundos até abrir um sorriso fino.
– Não sei se é tão ruim assim. Mas sei que só fica bem em você – disse sereno e ergueu uma sobrancelha para o amigo, ele riu e se ajeitou na cadeira. pensou que ele estava sem graça até ele abrir a boca novamente – É feio como você.
– Vê se cresce, idiota.
– Vocês já estão discutindo? – Perguntou Daisy descendo as escadas com seu malão.
– Não. Eu estou falando o nosso idioma, mas ainda não fui capaz de compreender o dialeto dessa espécie diferente – respondeu abrindo os braços para receber o abraço de despedida de Daisy.
– Eu que deveria dizer isso, Iéti!
se mexeu para soltar-se de Daisy e dar pelo menos um tapa em Fred, mas a amiga continuou a segurando até que parasse, pois já sabia que era isso que ela ia fazer.
– Vou sentir tanta falta de vocês! – Daisy se afastou para ir em direção a Fred e dar um abraço nele também.
Daisy era uma garota baixinha com cabelos loiros que iam até os ombros e grandes olhos castanhos que conquistavam todos. , Fred e George haviam a conhecido durante o primeiro ano quando alunos da Sonserina estavam mexendo com a garota no meio do pátio. correu até eles e quando perceberam, estavam todos em detenção. por empurrar um dos alunos no chão, Fred por ter dado um soco no garoto quando ele levantou correndo e bateu em e George por ter empurrado os garotos que ainda seguravam Daisy.
Daisy foi para detenção apenas por estar lá. Foi totalmente injusto, mas depois desse dia os quatro nunca mais se separaram. Os três porque já estavam juntos praticamente desde o cordão umbilical e não conseguiam se largar mesmo quando discutiam (isto é, Fred e discutiam enquanto George assistia) e Daisy porque poucas coisas são capazes de gerar uma amizade mais forte entre quatro crianças do que passar um mês na companhia de Filch na Floresta Negra.
De qualquer forma, sempre considerou Daisy o equilíbrio perfeito que eles precisavam. Fred era estourado e impulsivo, e embora ela tentasse, sabia que não ficava muito atrás dele nisso. Ganhava pontos por tentar raciocinar em uma situação que a deixasse furiosa (não que funcionasse sempre), coisa que Fred raramente sequer tentava. O que, aliás, gerou uma discussão entre eles uma vez quando disse que Fred só agia como um "animal descontrolado" porque sabia que George sempre estaria lá para dizer a hora de parar, o que é inadmissível no mundo adulto. Fred não gostou nada, mas a garota sabia que era verdade.
George sempre gostou de lembrá-los desse pequeno defeito em comum dos dois já que sempre fora a parte mais metódica e sensível do trio. Daisy chegou para fazer companhia para ele nisso. Apesar de ser um pouco mais medrosa que eles e não gostar nada de quando eles tentavam aprontar com alguém, Daisy nunca deixou de participar. E eles também nunca a deixariam de fora.
observou quando Fred antes de se separar de Daisy beijou sua bochecha e a garota nem sequer piscou de maneira diferente. Era muito simples para ela ser carinhosa com todos, mas Fred e nunca conseguiam se tocar assim. Bom, exceto aquela vez no quinto ano...
Antes que Daisy pudesse perguntar sobre George, dois malões saíram voando da escada com o garoto atrás, varinha em mãos e um sorriso bobo no rosto. Ele pousou os malões ao lado do irmão.
– Você também já está indo?
Daisy apenas assentiu em resposta, fazendo com que George fosse até ela e a abraçasse. levou um tempo até perceber que os três a olhavam sem falar nada.
– O que vocês estão fazendo? – Perguntou ela, rindo.
– Tem certeza que só irá amanhã? – Tentou George pelo que deveria ser a quinta vez.
– É véspera de Natal, o trem vai estar lotado. Do jeito que você é tonta, eu não ficaria surpreso que se perdesse – disse Fred e suspirou, irritada. Se não estivesse tão acostumada com os comentários bobos de Fred talvez tivesse notado uma certa preocupação na voz do garoto.
– Eu vou ficar bem um dia sem vocês. Não se preocupem! E eu não tenho a cabeça cheia de vento como você para me perder, Frederick – disse se levantando e começando a empurrar os amigos em direção ao buraco do retrato – Vão. Vou ficar bem. E desejem feliz natal a Tia Molly e Tio Arthur por mim.
– Ela ainda está chateada por você não ir – disse George parando enquanto Daisy abria a porta. Como se ela não soubesse que havia partido o coração de sua madrinha o suficiente.
– Meu pai precisa de mim – disse tentando não colocar muita emoção em sua voz. Era uma terrível mentirosa, sabia disso. George assentiu e a abraçou – Feliz Natal, G.
George sorriu. Não havia como explicar a conexão imediata que e George sempre tiveram. Suas mães costumavam dizer que era coisa do destino, mas elas também ficavam falando sobre casamento, então não dá para levar tudo a sério. O que sabia, no entanto, é que sua amizade com George sempre foi natural. Os apelidos que eles usavam desde crianças um com o outro era a prova disso.
– Feliz natal, .
E então, quando se separou de George, a coisa mais estranha do mundo aconteceu: Fred tomou o lugar do irmão na sua frente e a abraçou sem nem dar a ela tempo para pensar. não se mexeu durante alguns segundos, olhando para os amigos por cima do ombro do garoto. Daisy apenas levantou os dois polegares e George deu de ombros. E sem saber o porquê, apenas deixando que seu corpo se movesse da maneira que queria, no lugar de levar as mãos aos ombros de Fred como fazia com George, apenas passou os braços ao redor da cintura do garoto enquanto ele a puxava para o seu peito. respirou fundo, inalando o cheiro que emanava do suéter de Fred.
não sabia bem como reagir, nunca em 17 anos haviam se abraçado e já haviam se despedido um monte de vezes. Será que ele estava com pena dela como todos os outros?
Esse não era o Fred que ela conhecia.
– Feliz natal, .
Fred se afastou com um sorriso de lado tão desconcertante que até mesmo demorou a responder.
– Feliz natal, Fred.
Depois que os três foram embora, voltou para a poltrona, pensando no malão que havia arrumado para Daisy acreditar que ela partiria amanhã cedo e suspirou, lembrando-se que iria ter que desfazê-lo. Tentou pensar em outras trivialidades, mas sua mente ficava voltando para os braços de Fred ao seu redor. Como poderia o abraço dele ser tão diferente do de George, que ela ganhava há anos? ainda sentia a sombra do abraço dele sobre si e isso estava começando a assustá-la, porque sabia muito bem que as coisas não iam bem quando pensava muito em Fred Weasley. Sabia mesmo.
Fred e já haviam jogado quadribol juntos, já haviam feito poções juntos, já haviam até mesmo azarado outras pessoas juntos e trocado presentes em seus respectivos aniversários, mas nunca, nunca mesmo havia achado o garoto tão estranho quanto naquele momento.
Nem quando os dois se beijaram.
Sim, porque eles haviam se beijado.
A Grifinória havia acabado de ganhar a Taça de Quadribol durante o quinto ano e os alunos precisavam comemorar. Principalmente os jogadores que haviam aturado os surtos de Oliver Wood.
E então, Katie, uma das artilheiras do time e nascida-trouxa, teve a ideia genial de apresentar a eles uma das brincadeiras que os trouxas adolescentes gostam de fazer: verdade ou consequência. Ela sempre gostava de trazer jogos trouxas. Todos já estavam felizes e animados por terem ganhado e a cerveja amanteigada que os gêmeos conseguiram roubar só os deixaram ainda mais soltos, então, por que não?
Depois que ela explicou a brincadeira, Alicia Spinnet foi a primeira a rodar, a garrafa apontando de Angelina Johnson para Oliver Wood.
– Ok, verdade ou consequência? – Perguntou Angelina.
– Verdade – respondeu Wood com uma risadinha quando George o vaiou – Desculpe por não ser a primeira cobaia!
George revirou os olhos e Angelina sorriu, olhando em volta, tentando pensar na sua pergunta. Quando ela parou, seu sorriso se alargou.
– Ok... Você está saindo com a ? – Quis saber fazendo se engasgar com a cerveja amanteigada que tomava.
– Não – disse Wood na mesma hora, impassível.
– Que mentiroso! – Katie se intrometeu.
– É verdade, ele não está – disse Daisy da outra ponta da roda.
– Ela deu um fora nele – completou Fred tentando reprimir um sorriso e falhando. Wood ergueu seu dedo do meio para ele.
– Fred! – Exclamou para o amigo. Fred teve a decência de tentar parecer arrependido.
e Oliver haviam saído juntos duas ou três vezes para Hogsmeade, haviam se beijado algumas vezes e embora ambos concordassem que o beijo era legal, parecia que faltava alguma coisa. Então eles preferiram ficar apenas como amigos. Eram bons daquele jeito. Não havia ficado nada de ruim entre eles, até porque nem sequer haviam namorado, mas era muito estranho ficarem falando dos dois assim.
– Tudo bem, se o interesse pela minha vida amorosa já passou, eu vou rodar – disse Wood inclinando-se e rodando a garrafa, que logo parou em Alicia e Fred.
– Verdade ou consequência?
– Não seja um bundão, Freddie – provocou George.
– Consequência, é claro! – Respondeu ele com um sorriso malicioso, como se não houvesse nada no mundo que Alicia Spinnet pudesse dizer que Fred Weasley não conseguisse fazer vendado e com as mãos amarradas nas costas.
– Hm... – ela olhou em volta, avaliando as possibilidades e quando finalmente achou, olhou para Fred como se finalmente tivesse encontrado seu calcanhar de Aquiles – Beije .
O sorriso malicioso de Fred foi se desfazendo aos poucos até sumir de vez, provando a Spinnet e a todos os outros que ela provavelmente havia achado o que queria.
– Me beijar?! – praticamente gritou – Eu não quero beijar Fred!
– Eles são amigos – intrometeu-se Daisy que havia se compadecido pela expressão assustada dos dois amigos.
– Ah, vamos lá, vai ser como beijar George! Nada que você nunca tenha feito antes – disse Angelina, seu tom de voz despejando muito mais veneno do que achava possível a garota ter. já estava acostumada com as pessoas pensando que ela havia ficado com George em algum momento, porque aparentemente era impossível ser tão próxima de algum garoto e nunca ter enfiado a língua na boca dele, então não foi exatamente isso que a incomodou.
viu Fred desviar o olhar e franziu o cenho para a colega de time.
– Primeiro, eu nunca beijei George na minha vida – começou, seu tom aumentando conforme ela falava – Segundo, eu não preciso beijar George para saber que beijar ele e Fred são coisas totalmente diferentes porque, surpresa! Eles são duas pessoas diferentes.
– Está tudo bem, – disse George, mas ela apenas balançou a cabeça em negação, pois havia visto no rosto de Fred o quanto aquele comentário havia sido incômodo mesmo que por alguns segundos.
– Não, não está tudo bem. Foi um comentário rude e idiota, ela deveria ter vergonha!
– Ok, desculpem, garotos! – Pediu Angelina levantando as mãos para cima – Mas vocês ainda precisam se beijar. São as regras.
Fred e se entreolharam, todos na sala comunal agora encaravam os dois. Era quase possível cortar a tensão no cômodo com uma faca.
– Nós não precisamos fazer isso, é só um jogo bobo – disse Fred, mas Alicia e Katie resmungaram atrás deles.
balançou a cabeça e se virou totalmente para ele.
– Está tudo bem.
Os dois continuaram se encarando quando Wood suspirou em alto e bom som e com um sorriso convencido, disse:
– Vamos logo com isso! É a . Digo por experiência própria que ela beija bem.
sentiu as bochechas esquentarem assim que as palavras saíram da boca de Oliver, mas antes mesmo que ela pudesse dizer algo, Fred se virou para o garoto com uma expressão tão congelante que ela se surpreendeu pelo capitão do time não ter caído duro ali, em frente de todos.
– Se eu fosse você, calaria a boca, Wood – sibilou Fred – Ninguém nunca te disse que só babacas saem por aí beijando alguém e comentando depois?
– Rude! – Daisy exclamou alto, olhando de cara feia para Oliver, pois assim como Fred havia achado o comentário do jogador extremamente grosseiro. George riu e passou um dos braços em volta dos ombros da amiga e usou a outra mão para descruzar os braços dela de maneira carinhosa.
Fred já havia se virado novamente para e os dois riram da reação de Daisy. Fred colocou uma das mechas do cabelo acobreado de atrás de sua orelha e depois repousou a mão em sua bochecha que começou a formigar imediatamente ao toque dele. E então Fred se aproximou. Inicialmente seus lábios apenas se tocaram levemente, como se estivessem apenas se cumprimentando, e o coração de batia tão forte que ela sabia, ela apenas sabia, que todos ali conseguiam ouvir. Quando Fred realmente capturou seus lábios no dele, ela sentiu-se derreter e eles nem sequer haviam se movido um centímetro para se aproximar de verdade. Ele apenas segurava seu rosto com delicadeza enquanto seus lábios macios faziam pensar que estava no céu e seu coração batia mais forte do que jamais havia sentido.
Sem pensar, levou a mão até o joelho de Fred que estava encostado em sua coxa. Precisava tocar nele de volta. Assim que Fred sentiu a presença de ali, aprofundou o beijo puxando seu rosto ainda mais para ele. O beijo continuou lento, mas agora sentia a língua de Fred encostar na sua.
Seus lábios se separaram depois de um tempo e abriu os olhos lentamente, ofegante, surpreendendo-se quando viu Fred ainda tão perto dela. Suas íris cor-de-mel pareciam mais claras do que o normal. Pareciam brilhar, e pensou que se elas de fato estavam brilhando, não queria nem imaginar como estavam as suas.
– Isso foi... – sussurrou .
– Estranho! – Disse George de repente, enquanto fazia uma careta.
– Muito estranho! – Agora foi a vez de Daisy.
– Eu vou ter que concordar – disse Rony Weasley mais atrás. Eles estavam participando da festa, mas não de tudo, pois ainda tinham só treze anos.
– É – concordou Katie e Wood, que parecia mais incomodado do que quando Fred o cortou antes do beijo.
Fred soltou seu rosto devagar e riu, meio sem graça, virando-se para frente sem encarar .
– É, foi estranho.
Ainda olhando para ele, mas tentando mostrar que não estava nada afetada pelo beijo nem pelo que ele havia acabado de falar, mesmo que na verdade sentisse como se tivesse acabado de receber um grande balde de água fria, soltou uma risada um tanto quanto falsa, mas que ninguém, exceto Daisy e George perceberiam.
– É, definitivamente não vamos repetir isso.
E foi assim, com essas poucas palavras de Fred Weasley, que o encanto que achou estar recaindo sob ela se quebrou. Por um momento ela se viu dentro de uma bolha totalmente distante dos amigos onde tudo que existia era ela, Fred e o beijo que estavam dividindo, mas quando acabou, ela percebeu que ela estava nessa bolha sozinha. E tudo bem.
Não tinha problema.
Eles eram amigos. Não deviam estar se beijando de qualquer maneira.
Contudo, ela não conseguiu evitar lembrar-se disso quando ele a abraçou e seu corpo todo pareceu voltar no tempo para aquele dia. Era mais fácil fingir que aquela bolha nunca tinha existido pra ela quando eles não precisavam se tocar.
Se fechasse bem os olhos e relaxasse ainda conseguia sentir os lábios doces dele nos dela.
Não que fosse fazer isso, é claro, mas era possível.
*
– Ah, merda! – Fred parou no meio do caminho – Espere, acho que esqueci minha varinha!
– Está brincando – disse George olhando para o irmão como se ele fosse uma porta – Como você poderia esquecer a sua varinha?
Já estavam no térreo do castelo quando a paranoia de Fred o venceu. Ele simplesmente sentia que estava estranha. Ela ria, o xingava, fazia piadas, mas algo estava errado com ela. E quando eles saíram, ele simplesmente teve certeza de que ela estava mentindo. Precisava ver uma última vez. Só mais uma e depois iria embora.
– Vai ser bem rápido, eu juro – disse ele para o irmão – Vamos deixar as malas aqui no canto.
George resmungou o caminho inteiro e quando chegaram no penúltimo andar, ele parou, encostando-se na parede.
– Vá. Vou esperar aqui.
Fred não insistiu, apenas continuou subindo de dois em dois degraus.
– Você de novo? – A Mulher Gorda o olhou com indiferença.
– Sim, eu de novo. Mimbulus Mimbletonia.
A passagem se abriu, mas Fred nem precisou entrar totalmente para ter a confirmação de suas suspeitas. estava sentada com Katie Bell no sofá perto da lareira, de costas para a porta.
– Você vai ficar? – Perguntou .
– Não, vou para casa de Angelina. E você?
– Eu ficarei em Hogwarts esse ano – Fred sentiu o corpo todo congelar no lugar.
Ele sabia! Sabia que ela estava escondendo algo! Fred quis entrar com tudo na sala comunal e perguntar por que diabos ela havia mentido e arrastá-la até a carruagem, porque não haveria nada no mundo que fizesse com que ele a deixasse sozinha no natal.
Entretanto, ele sabia o porquê de ela estar fazendo isso, sabia que não era assim que as coisas funcionavam entre e ele e, principalmente, achava que nem sequer teria coragem para tal. E foi pensando nisso que ele girou os calcanhares, atravessou a passagem do quadro e correu até o seu irmão.
Sim. George. <script>document.write(Georgiana)script> nunca diria não para George, pensou ele com uma amargura pouco característica quando se tratava do irmão.
George o olhou impaciente. Estava com fome e era uma longa viagem até em casa.
– Pegou?
– George.
O semblante sério de Fred fez a postura de George mudar. Ele se afastou da parede e encarou o irmão com atenção.
– O que aconteceu?
– Acabei de ouvir dizer a Katie Bell que pretende passar o natal em Hogwarts – George franziu o cenho ao ouvir Fred – Sozinha.
Alguns minutos e algumas discussões depois, Fred convenceu George que precisavam fazer ir para Toca com eles. George concordava com o irmão, mas achava que se a garota havia resolvido ficar em Hogwarts, deveriam respeitar o que ela queria também.
Fred apenas não aceitou esse argumento.
– Você sabe por que ela quer ficar sozinha – disse ele ao irmão – E se ficar, vai ser pior.
George, por sua vez, não conseguia discutir com isso.
Esperaram Katie Bell sair da sala comunal e entraram pouco tempo depois. continuava no mesmo lugar. Sem nenhum aviso prévio, os dois sentaram-se no sofá, um de cada lado da garota, fazendo com que ela desse um pulo de susto.
– Merlin! Que droga! – tentou regular sua respiração acelerada. Sua mão repousava no peito, sentindo as batidas rápidas do coração. Havia se assustado com a aparição repentina dos gêmeos, é claro, mas sabia que não teria sido tanto se não tivesse se sentindo culpada também – O que vocês estão fazendo aqui? Me despedi de vocês há poucos minutos!
– Veja só que história engraçada, , voltamos apenas para compartilhar com você – começou George.
– Estávamos indo embora – disse Fred – Agora mesmo, como você sabe, e aí esbarramos na nossa amiga Katie Bell! Artilheira da Grifinória. Lembra dela?
engoliu em seco olhando de um para outro. Havia sido pega. Não precisava nem que eles dissessem, conhecia muito bem aquelas expressões.
– E ela nos contou uma história totalmente sem pé nem cabeça, não foi, Fred?
– Com certeza, George. Ela disse que você, ... – disse Fred dando um leve toque na ponta do nariz de ao dizer seu nome – Planeja ficar em Hogwarts durante as férias. Sozinha.
– Eu achei impossível, porque isso quer dizer que você mentiu para mim – disse George – E eu disse a Fred: Claaaro que não, não mente para mim!
– Mas pelo visto...
– Ok, tudo bem! – interrompeu ela, exasperada, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos – Vocês me pegaram. Satisfeitos?
– Não, nem um pouco – disse George.
– Ficar aqui sozinha até depois do ano novo? – Fred balançou a cabeça, indignado.
– Fala sério, ! – George completou.
– Eu não posso ir para casa, vocês sabem disso – disse ela, encarando as mãos.
– Então não vá! Venha para casa conosco – disse Fred – Não é negociável. Se você não vier, vamos ficar.
arregalou os olhos olhando de um gêmeo a outro.
– Sua mãe mataria vocês! E depois mataria a mim por fazer vocês ficarem!
– Mamãe nunca mataria você – disse Fred – Gosta mais de você do que de nós. Além do mais, ficaria orgulhosa depois de saber como salvamos os moradores do vilarejo da fúria sanguinária da Abominável Mulher das Neves.
deu uma cotovelada na barriga de Fred, que xingou e se encolheu por alguns segundos, rindo.
– Ainda assim, vocês não podem ficar – balançou a cabeça, não achando graça alguma – N'A Toca se a família não estiver reunida...
– Então não é natal – terminou George. Era uma frase que Molly Weasley repetia todos os anos e levava muito a sério. – Vamos lá, . Venha com a gente.
suspirou, pronta para abrir a boca novamente e dizer que não e que já havia decidido quando Fred falou antes dela.
– Ou seja, não vai ser natal de qualquer jeito sem você, – Ele ainda passava a mão na barriga onde havia batido, mas seus olhos estavam fixos nos dela. Fred pareceu tão sincero que algo pareceu ligar dentro de . Ela não sabe por quanto tempo os dois ficaram se encarando, mas pareceu mais do que apenas alguns segundos pra ela – Você é família, .
mordeu o lábio inferior e ficou de pé. Fred e George se entreolharam batendo as mãos no ar em forma de comemoração. Ela não precisava falar para eles saberem que tinham convencido a garota. havia planejado passar o natal sozinha, dividida entre ficar feliz e triste por não haver neve e chorando, mas seus amigos tinham uma ideia totalmente diferente da dela. E pela primeira vez, ela se viu sem ser capaz de dizer não a Fred Weasley.
Pensou que este último fato era mais do que motivo suficiente para se recusar. Contudo, também pensou nas inúmeras cartas preocupadas que Molly Weasley enviaria e como a mais velha seria capaz de organizar um natal especial no meio do castelo se sonhasse que ela estava pior do que realmente estava e suspirou, derrotada.
Então, ao invés de discutir mais um pouco, ela cruzou os braços e olhou para os dois, dizendo:
– Tudo bem, mas um de vocês vai carregar o meu malão – avisou – E se Fred passar um tiquinho da linha, vou quebrar o nariz dele.
Fred piscou. pensou que ele estava surpreso pela ameaça até ele abrir a boca.
– Existe uma linha?
– É claro que existe.
– E depois de todos esses anos, eu ainda não a cruzei?
revirou os olhos, tentando disfarçar um sorriso.
– Não, não passou.
– Ora, mas que tipo de pessoa eu sou agora? Você não pode me dizer que existe uma linha e simplesmente esperar que eu não queira ver o que tem depois dela.
– A única coisa depois da linha é o seu nariz quebrado – disse , mas seu tom era brincalhão e ela mal conseguia segurar o sorriso agora.
– Acho que vale a pena por você, .
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu deixar de notar o sorriso que surgiu nos lábios de Fred quando ele levantou e foi em direção ao buraco do retrato dizendo que o malão seria responsabilidade de George. Também não conseguiu ignorar a forma que seu coração só passou a se acalmar quando ela correu para o dormitório e levou muito mais tempo que o necessário se arrumando para a viagem em direção a casa da família Weasley.



amava a Toca. Não se lembrava de um dia ter chegado no quintal dos Weasley e não ter pensado o quanto ela adorava aquele lugar. A primeira coisa que qualquer visitante via quando chegava na propriedade era o Ford Anglia do Sr. Weasley estacionado em frente a garagem e que havia sido destruído uma vez por Rony e Harry em uma brincadeira boba, mas agora estava novinho em folha. Atrás da casa tinha o galinheiro, que adorava ajudar a cuidar quando estava ali e o armário de vassouras, outro local que a garota sempre havia gostado de estar. Do outro lado da casa tinha também um pequeno lago, um jardim e o lindo pomar de Molly Weasley. Sem contar a parte interior da casa.
Sim, amava aquele lugar. Como poderia ser diferente quando passara tanto tempo ali, correndo pelos bosques, ensinando os gnomos do jardim a falarem palavrões com Fred e George e montando pequenos campeonatos de quadribol com todos os irmãos Weasley enquanto sua mãe e a Sra. Weasley sentavam-se na frente da casa assistindo os filhos correrem pra lá e pra cá com duas xícaras de chá?
Apenas estar ali fazia se sentir um pouco mais leve. E ela se odiou por isso. Como ousava pensar em ficar feliz no natal sem a sua mãe?
Assim que entraram no primeiro andar da casa, antes mesmo que Fred e George pudessem se jogar no sofá como sempre faziam, Molly Weasley apareceu aos berros. Sua voz sendo ouvida muito antes de seu pequeno corpo aparecer.
– Rony, Harry e Ginny chegaram há horas! Horas! – Exclamou ela com sua voz alta e estridente – E eu mooorta de preocupação! Me perguntando onde estariam vocês dois... – Sua falação parou de repente assim que viu no meio dos garotos – , querida!
Molly se apressou e abraçou a afilhada com tanto carinho que fez um esforço para expulsar todos os pensamentos negativos de sua cabeça.
– Oh, que surpresa boa! Não sabia que você viria! Pensei que voltaria para casa… Esses idiotas – Ela soltou apenas o bastante para desferir um tapa em cada um dos filhos. – Não disseram! Oh, a casa está completamente suja, um chiqueiro, por favor, não repare!
não conseguiu evitar um sorriso. A Toca nunca estava suja. Cheia e barulhenta, sim, mas nunca suja.
– Pare com isso, Tia Molly. A casa está linda como sempre. E os meninos não sabiam. Decidi de última hora.
– E seu pai? Ele também está vindo?
O sorriso de se desfez na mesma hora com a menção de seu pai, mas Molly Weasley não percebeu. A garota apenas negou com a cabeça.
– Não, apenas eu. Como foi de última hora, nem mesmo avisei a ele que vinha.
– Entendo. Bom, vou avisá-lo, é claro, não se preocupe com isso. E reforçar o convite para o jantar. Quem sabe agora ele não se anima para vir, não é?
O tom de preocupação na voz de Molly era claro. Elliot nunca fora extrovertido como sua mãe, sempre foi uma pessoa mais difícil, mas o casamento com Jenna o equilibrava e o deixava leve. Os dois eram realmente o par perfeito e todos achavam isso, mas após a sua morte, o homem havia se fechado para tudo e todos. Provavelmente comemorou secretamente quando semanas após a morte de Jenna, embarcou para Hogwarts, pois não teria que se comunicar com mais ninguém.
não respondeu, apenas sorriu enquanto Molly se afastava em direção a cozinha.
– Ele não vai aceitar. Sua mãe vai perder tempo, papai quer ficar sozinho – disse sentando-se no sofá. Fred sentou-se na frente dela e George ao seu lado.
– E como é que você sabe?
– Porque eu também queria! – Respondeu, lançando um olhar afiado para os garotos, que apenas riram, sem ligar para sua alfinetada.
– Veja pelo lado bom – disse Fred. – Você poderá nos ajudar nas nossas experiências.
– Foi para isso que vocês me trouxeram aqui? – Perguntou. – Para fazer poções para vocês?
– Mas é claro! Suas habilidades com poções são o único motivo para sermos amigos, , você não sabia? – Fred disse e jogou a almofada que estava ao seu lado no garoto, acertando em cheio bem no meio do seu rosto.
– Então eu estou perdendo aqui, Weasley, porque você não serve pra nada – respondeu ela. George riu alto enquanto Fred revirava os olhos.
querida – chamou Molly da cozinha. – Leve suas coisas para o quarto de Ginny, sim? Você ficará com ela. Percy disse que chegava hoje à noite, então não vamos ter o quarto vago dele como de costume.
– Tudo bem, tia! – caminhou até o seu malão e tirou a varinha do bolso. – Wingardium Leviosa.
George sorriu para ela enquanto a garota seguia com seus pertences em direção a escada estreita d'A Toca para ir ao quarto de Ginny. Assim que sumiu de vista, George apontou para o irmão e depois para o local ao seu lado, onde ela estava sentada pouco antes.
– Sente aqui. Agora.
Fred olhou para os lados em busca de ajuda, mas estavam sozinhos na sala. Essa expressão séria no rosto de George nunca era uma coisa boa e ele estava se sentindo levemente traído que em uma casa com milhões de pessoas ninguém estava ali naquele momento para protegê-lo do sermão que sentia que George estava prestes a dar.
Com um suspiro derrotado, Fred se levantou e foi até o irmão.
– O que foi?
– O que você está querendo? – Fred não respondeu, apenas continuou olhando para o irmão gêmeo sem entender. – Você realmente acha que eu não estou vendo como você está agindo com ?
Fred desviou o olhar na mesma hora.
– Não sei do que você está falando, George.
– Se tem alguém que eu conheço bem, essa pessoa é você, Freddie.
– E o que isso tem a ver?
George suspirou.
– Você está todo esquisito. Faz um tempo que em um minuto você a trata bem e no outro mal. Uma hora vocês saem juntos e se divertem e no outro estão prestes a se matar. Por que está agindo como um babaca idiota?
Fred olhou para o irmão, assustado. George não o xingava assim. Na maioria das vezes, pelo menos.
– Eu achei que não ia precisar fazer isso – disse ele depois de um tempo. – Achei que depois daquele beijo vocês iam se entender, achei mesmo, mas você é muito, muito burro, Freddie.
– Ok, espera aí…
– Fred, eu sei que você gosta dela.
Fred congelou ao lado do irmão. Sabia que não estava fazendo um bom trabalho em esconder seus sentimentos, especialmente do irmão gêmeo. Também conseguiu imaginar sobre o que essa conversa seria, mas nunca imaginou que George seria tão direto, muito menos que isso o afetaria tanto. Ouvir as palavras saindo da boca dele era diferente. E George o olhava como se lesse sua mente, como se visse através dele como uma folha transparente e não adiantava mentir.
– Como você sabe disso? Só porque eu a abracei hoje?
George revirou os olhos.
– Ah, pelo amor de Deus, Fred. Vai fazer uns três anos que você deixou que um balaço acertasse Katie Bell porque estava ocupado demais rebatendo apenas os que se aproximavam de . E você ainda faz isso até hoje.
Fred piscou. Não tinha memória alguma disso. Nem sequer conseguia acreditar que fazia isso de forma involuntária.
– Quando vocês se beijaram naquele jogo, pensei que você conversaria com ela.
– Ela disse "não vamos nunca mais fazer isso" logo depois de me beijar – respondeu o garoto na defensiva, como se isso explicasse tudo que George queria saber.
– É, e você disse que havia sido estranho. Foi estranho?
– É claro que não – respondeu na mesma hora. Apenas a ideia disso era absurda para Fred.
– Mas foi o que você disse. O que vocês disseram depois de dar um beijo provocado em um jogo no meio de todos os nossos amigos não quer dizer nada.
– Você acha que ela gosta de mim?
George deu de ombros com um sorriso.
– Eu não faço ideia, Fred. Só estou dizendo que sei que você gosta e isso deveria ser o bastante para parar de agir como um bundão dizendo coisas idiotas só para chamar a atenção dela.
– Mas eu não... – ele balançou a cabeça. – Não sei como fazer isso!
– Você já ficou com um milhão de garotas antes, Fred – disse George, sem entender.
– Mas essa é , a nossa !
Fred balançou a cabeça querendo que o movimento fizesse os pensamentos saírem de sua mente. Sim, Fred havia conhecido e ficado com várias garotas antes, mas não era a mesma coisa. Nenhuma delas era . Nenhuma delas era a incrível, engraçada e divertida , que dormira em sua casa mais vezes do que é possível contar, que viajou com eles para Romênia e conseguiu convencer Charlie a deixá-la nomear um dragão de Fofinho e até mesmo fez carinho nele quando ninguém mais teve coragem.
Nenhuma delas era sensível como é, mas gostava de fingir que não, como se no grupo deles só tivesse espaço para uma pessoa chorar com novelas românticas e essa não poderia ser ela. Nenhuma delas fingia tão bem quanto a ponto de se tornar monitora da Grifinória, mesmo participando de inúmeras pegadinhas que os gêmeos armavam pela escola. Nenhuma delas era tão absurdamente linda com sua pele macia, seus olhos brilhantes, seus lábios rosados e doces de uma maneira que ele ainda nem havia acreditado que conseguira experimentar. Ninguém era tão linda quanto ela, que parecia ter sido desenhada a mão com seus cabelos que praticamente mudavam de cor dependendo da luz, mas que Fred sabia serem ruivos, assim como os dele. Não, simplesmente ninguém era como .
E Fred Weasley não era um cara inseguro, não mesmo. Mas saber que tinha caras como Oliver Wood e Cedric Diggory afim dela nunca o ajudaram em nada.
– Mamãe deve ter um caderno guardado por aí com o casamento de vocês planejado.
– Fred, eu não vou casar com – disse George rindo. – Se fosse para algo acontecer entre nós, você não acha que já teria acontecido?
Fred deu de ombros. Cresceu ouvindo piadas sobre e George juntos. E ela realmente não ajudava em nada quando dizia que George não deveria arranjar nenhuma namorada, porque a única garota de sua vida deveria ser ela.
– Eu acho que vocês seriam um bom casal – disse George ficando de pé. – E acho que você não perde nada se tentar.
– Apenas o meu orgulho se ela disser não.
– Sim, apenas isso – respondeu enquanto subia as escadas, e sem olhar para trás, completou: – Já pensou no que ganharia se ela disser sim?
*

! – Exclamou Bill assim que entrou em casa, correndo para abraçá-la. – Não achei que veria você esse ano, baixinha! Como você está?
conseguia ver a preocupação e o cuidado nos olhos de Bill. Conseguia entender perfeitamente o porquê de todas as garotas que já o viram por Hogwarts serem apaixonadas por ele. Ele não era só muito bonito e legal, ele era divertido e gentil. Especialmente com ela desde que era criança.
– Estou bem e você? Como está em Gringotes? – Respondeu com um sorriso, esperando que ele acreditasse em suas palavras. Bill a avaliou por alguns segundos.
– Estou bem, sim, está sendo ótimo – Ele puxou para mais perto uma mulher loira muito bonita que estava apenas alguns passos atrás dele – Essa é a minha namorada, Fleur Delacour, nós nos conhecemos no trabalho – esclareceu, e o sorriso de aumentou. – Fleur, essa é minha irmã .
– Prrazer em conhecê-le – disse Fleur segurando pelos ombros e dando um beijo em cada lado de seu rosto. Seu sotaque francês era carregado, mas era possível entendê-la sem problemas. Havia ouvido algumas histórias sobre a nova namorada de Bill, mas não esperava que ela fosse tão bonita assim.
– Irmã de consideração – esclareceu Fred, se intrometendo.
, Ginny e os gêmeos, assim como Rony e Harry (que resolveu passar o natal com o amigo este ano) estavam sentados na sala esperando o almoço quando Bill e Fleur chegaram. Bill agora trabalhava em Gringotes, então havia voltado para casa. Percy, por outro lado, havia saído e agora estava morando em Londres, mas apareceria para o feriado. Charlie chegaria em poucas horas também e estava ansiosa para vê-lo. Ansiosa para ouvir suas novas histórias sobre dragões e ver as cicatrizes que ele mostrava quando a mãe não estava olhando.
Bill já namorava Fleur há alguns meses, mas resolveu trazer Fleur para conhecer melhor sua família. Não sabia muito sobre isso, a não ser que ela era parte veela e deixava o bobão de Rony sem palavras. Bill olhava com expectativa para , como se precisasse que ela gostasse de Fleur já que Ginny já havia decidido odiar a garota.
não tinha nenhum irmão mais velho, mas Bill sempre cuidou dela como se fosse o seu. Adorava ele por isso.
– É como se fosse de verdade, então algumas vezes esqueço – disse Bill. – E um dia ela se casará com George então será oficialmente nossa irmã.
– Não sei não, Bill – disse , entrando na brincadeira, como sempre fazia. – George é muito difícil, sabe?
– Você acha que só porque me conhece a vida toda vou me entregar para você? – George riu, sentado no canto da sala. – Há! Eu preciso de romance também como qualquer outro.
– Do que estão falando? – Quis saber Molly entrando na sala. – Ah, Bill! Você chegou! Como vai, Fleur?
– Estou bem, obrigade, Srra. Weasley.
– Estávamos falando do casamento dos dois, mamãe – Ginny apontou para George e .
Molly deu um suspiro. Embora soubesse que não se casaria com George, não achava que o resto da família conseguia entender isso muito bem. Bill acreditava que eventualmente eles se entenderiam, mas Molly Weasley realmente suspirava como se esperasse ansiosamente o dia em que George chegaria dizendo que havia pedido a mão da amiga em casamento.
George era bonito, gentil e divertido, e era apaixonada por ele, mas não da forma como as pessoas queriam. Ele era seu melhor amigo. não conseguia imaginar vendo ele de outra maneira e sabia que George se sentia da mesma forma. Alguma garota teria muita sorte de namorar com ele um dia, mas sabia que não seria ela.
– Eu já consigo ver tudo. Usaremos flores roxas, sabem... – disse Molly provocando uma chuva de risos nos filhos e em e Fleur.
Todos riram, exceto Fred, que observou sair da sala com a cara fechada. resolveu segui-lo quando o assunto mudou e passou a ser a irresponsabilidade fraternal de Percy Weasley (que ela não concordava muito. Não achava tão absurdo um homem de 20 e poucos anos querer morar sozinho). Encontrou Fred sentado nos degraus da parte de trás da casa, olhando as galinhas correndo pelo quintal.
– Quando eu me casar com George, ele ainda vai passar mais tempo com você. Não precisa ficar com ciúmes, Fred.
Fred nem sequer se mexeu enquanto sentava-se do seu lado. Havia passado a vida toda ouvindo esse tipo de coisa, mas começava a ficar cada vez mais difícil não demonstrar o quanto o incomodava.
– Não estou com ciúmes de George – respondeu sério e a garota riu, erguendo as palmas da mão para cima.
– Estou só brincando, não precisa ficar todo estressadinho!
Fred olhou para com o canto do olho, escolhendo continuar em silêncio. Ela respirou fundo e fechou os olhos, apoiando o queixo em suas mãos. Agora também olhava o quintal da família, deixando com que o vento gelado a acertasse.
Os dois ficaram quietos por um tempo até Fred decidir acabar com isso entre eles.
– Posso fazer uma pergunta?
abriu um dos olhos e mirou em Fred, surpresa.
– Que educação toda é essa?
– Posso ou não posso fazer a porcaria da pergunta? – riu enquanto Fred revirava os olhos em sua direção.
– Pode, idiota.
– Você acha que vai voltar a jogar quadribol em algum momento?
Depois que Oliver Wood saiu, se tornou a nova capitã do time de quadribol durante o sexto ano e foi incrível. Eles até mesmo levaram a Taça de Quadribol. nunca havia se sentido tão feliz, embora seus colegas de time a achassem quase tão entusiasmada quanto Oliver Wood. Porém, quando voltou para o sétimo ano, depois da morte de sua mãe, a primeira coisa que fez foi procurar McGonagall e Angelina Johnson, dando a garota sua braçadeira de capitã e optando por sair do time. As duas odiaram, é claro. era a melhor artilheira do time da Grifinória, marcava pelo menos 100 pontos em todas as partidas, havia levado o time à vitória e ela adorava quadribol. Todos sabiam que ela amava o esporte mais do que qualquer outra coisa. A mãe de costumava dizer que ela aprendeu a voar antes mesmo de aprender a ficar de pé direito e sempre acreditara nisso. Entretanto, não conseguiria subir em uma vassoura. Todos pensavam que era pela forma que sua mãe havia falecido, e foi, no começo. Depois, ficou apenas muito doloroso para . Não conseguia evitar as lembranças que a sufocavam sempre que fazia algo que as duas amavam tanto.
– Não sei – respondeu, sincera. – Acho que não.
– Mesmo você gostando tanto?
– Acho que exatamente por eu gostar tanto – respondeu dando um sorriso triste a Fred.
– Estou dividido.
– Como?
– Acho um grande desperdício porque você é a melhor jogadora que eu já vi. Mas você foi uma capitã pior do que Wood. Eu não sei como saía vivo daqueles treinamentos.
abriu a boca teatralmente e colocou a mão no peito.
– O que disse?
Fred revirou os olhos, sentindo seu rosto esquentar.
– Que você era uma capitã insuportável?
– Você sabe que não! – Exclamou. – Frederick Gideon Weasley acabou de me elogiar? Sou a melhor? De verdade? – Ela olhou em volta ainda de maneira teatral. – E não tem ninguém para ouvir isso?!
– Você se acha muito engraçadinha, não é?
– É a primeira vez que você diz um elogio pra mim – disse, dando de ombros, mas sem deixar de sorrir.
– Com certeza não é a primeira vez que eu elogio você.
– Com certeza é sim!
– Não, não é.
abriu a boca para contrariar novamente, pois era assim que funcionava com eles, mas Fred foi mais rápido e virou o corpo para ficar totalmente de frente para , focando-se totalmente em seus grandes olhos que o encaravam com bom humor e pareciam puxá-lo para outra órbita.
– Tenho certeza que disse que você beijava bem.
O sorriso de foi sumindo aos poucos e seu rosto foi tomando uma cor vermelha que Fred achou adorável, e isso, é claro, fez com que um sorriso de lado convencido começasse a se formar em seu rosto. Por muitos segundos, esperou, esperou e esperou, mas Fred não falou nada que provasse que estava brincando, como sempre fazia.
– Pare com isso – disse, por fim, olhando para qualquer lugar que não fosse ele.
Fred começou a falar, mas na mesma hora Arthur Weasley apareceu na porta de trás deles.
– O almoço está na mesa – avisou. – Venham antes que Molly comece a brigar com vocês.
Durante todo o almoço e até mesmo durante o jantar, sorriu, aceitou o pedido de Ginny de fazer uma trança em seu cabelo para o natal, conversou com Fleur usando o francês enferrujado que seu pai a havia ensinado quando criança apenas para ver Bill sorrir, criticou Percy com George como se ele não estivesse sentado a duas cadeiras de distância deles e até deu algumas dicas a Harry sobre Poções, mas nada, nada mesmo, fez com que ela esquecesse o olhar de Fred Weasley dizendo que ela beijava bem.
E não ajudava em nada que diversas vezes ela sentisse os olhos cor-de-mel do garoto em si.
À noite, deitada no colchão ao lado da cama de Ginny, sua mente ainda não havia relaxado. Estaria mentindo se dissesse que nunca pensou que Fred era bonito. É claro que era, assim como George e ela dizia para George o quanto ele era bonito o tempo inteiro. E com certeza estaria tentando enganar a si mesma se dissesse que aquele beijo não a deu... Pensamentos diferentes sobre Fred.
Beijar Fred foi assustador: foi tão bom que foi completamente aterrorizante para . Já havia beijado alguns garotos, alguns garotos bonitos e legais, alguns garotos que realmente gostavam dela, mas nenhum deles foi como beijar Fred Weasley, disso ela sabia. E o quão triste era seu melhor beijo ter sido com um garoto que só faz piada com você o tempo todo e nem sequer havia achado isso tudo já que depois do beijo ele disse para quem quisesse ouvir que havia sido "estranho"?
Não só isso: quão absurdo era ter ficado tão encantada e obcecada pelo beijo do seu amigo de infância? Ela só podia estar louca, não é? É por isso que tentou com todas as forças esquecer do que aconteceu. E na maior parte do tempo funcionou. Era apenas em alguns momentos, alguns momentos raros e infelizes e nada propícios para sua saúde mental, que ela se via lembrando e sentindo como era beijá-lo de novo. Nesses momentos, percebia o quanto o beijo de Fred havia mexido com ela, porque mesmo após tanto tempo, ela ainda conseguia se lembrar exatamente como era a sensação de encostar seus lábios nos dele. E quando isso acontecia, ela sentia que podia sair voando e gritando apenas pela multidão de borboletas que se mexiam dentro dela. É por isso que ela sempre optou por esquecer.
Mas então Fred simplesmente aparece falando sobre o beijo que ela nem sequer pensou que ele ainda se lembrasse e isso foi demais. Isso foi o bastante para fazer com que sonhasse com o momento que dividiram a noite toda.
Que tipo de pegadinha Fred Weasley está querendo fazer dessa vez?
*

Na manhã seguinte, Ginny e foram acordadas com Molly entrando de supetão no quarto, anunciando que os pais de Harry Potter, Sirius Black e Remus Lupin, o professor favorito de , chegariam em algumas horas. Aparentemente eles iriam viajar, mas houve uma mudança de planos e agora viriam passar o natal com Harry e a família Weasley n'A Toca, o que quer dizer que a matriarca da casa logo se tornou obcecada por limpeza, e em apenas algumas horas todos tinham uma função na lista de afazeres de Molly Weasley.
– Arthur, organize essa coisa que você chama de oficina e lave o carro. Rony e Harry, arrumem o quarto de vocês. Charlie e George expulsem os gnomos do jardim. Ginny, você cuida das galinhas. Fleur e Bill podem me ajudar na cozinha enquanto Fred e podem ir até o pomar, regar as plantas e trazer as frutas para casa.
– Mamãe, a senhora separou Fred e George, e nem foi para juntar George com a futura esposa dele – brincou Ginny.
– Não gosto do pomar – alegou George.
– E Fred sempre espalha os gnomos pelo quintal, é um completo desserviço.
Fred começou a se defender, dizendo que nunca havia feito isso (mentira), mas Molly não quis ouvir e empurrando uma cesta em direção ao filho, o mandou ir de uma vez até o pomar. não se deu ao trabalho de protestar. Não só porque ela evitava contestar as ordens de sua madrinha, mas porque ao ver Fred ao seu lado, seu coração simplesmente disparou e ela quase conseguia sentir seu rosto enrubescer apenas ao se lembrar de um beijo de anos atrás. Então, ela ficou calada, pois tinha medo do que poderia deixar escapar se não ficasse.
e Fred caminharam lentamente em direção às árvores em silêncio. Hoje o sol havia saído um pouco mais, então alguns raios solares acertavam a pele de Fred enquanto ele caminhava em direção a primeira laranjeira, causando um alívio quente e imediato.
– Você está esquisita – disse Fred tirando as laranjas que estavam mais próximas do chão e jogando na cesta que carregava.
– Eu não falei nada!
– É, por isso mesmo. Você sempre diz alguma coisa. Você fala até demais.
– Bom, apenas não tenho nada para falar dessa vez – retrucou. – Talvez tenha sido por isso que eu achei que ficar em Hogwarts era uma boa ideia.
Fred revirou os olhos dramaticamente, mas no lugar de responder, se virou pra ela.
– Posso te mostrar uma coisa legal?
– Se não for me matar ou criar um rabo esquisito em mim novamente – comentou, lembrando de quando Fred a fez testar um dos produtos Weasley e um rabo horrendo cresceu nela que só conseguiram tirar por causa de Hermione Granger e sua infinidade de conhecimento em feitiços aleatórios.
– Não colocaria um rabo em você, – um pequeno sorriso começou a se formar no rosto de Fred antes que ele completasse: – Colocaria orelhinhas para combinar.
– Eu vou quebrar o seu nariz – avisou apontando o dedo para Fred.
Ainda sorrindo, Fred deu alguns passos se aproximando da amiga. Ele estava tão perto que sentiu como se a gravidade ao redor deles tivesse mudado. Fred empurrou o dedo que ainda estava no ar, fazendo com que suas mãos se tocassem e sentisse que uma corrente elétrica havia acabado de percorrer todo o seu corpo.
– Posso ou não posso?
– Mas a colheita… – respondeu inutilmente. Fred tirou a cesta de sua mão e a jogou para o lado.
– Eu cuido disso depois – falou, empurrando pelos ombros – Venha, é na última árvore.
franziu o cenho, mas seguiu Fred do mesmo jeito. Eles demoraram um pouco para chegar no fim do pomar, mas quando chegaram, pôde ver uma árvore quase tão grande quanto o Salgueiro Lutador em Hogwarts. Ela parecia muito antiga e seu tronco era tão grosso que imaginou quantas pessoas seriam precisas para conseguir circular todo aquele espaço.
– Nunca tinha visto essa antes…
– Espere só até ver lá em cima.
– Lá em cima? – começou a negar com a cabeça – Não vou voar, Fred.
– Eu sei que não – respondeu, sereno e tirou a varinha do bolso. Com um aceno de varinha, partes do tronco da árvore começaram a se mexer, formando pequenos relevos como se fosse uma escada. – Vamos?
encarou aqueles – quase – degraus que iam até a copa da árvore e depois sumia com tantas folhagens. Não parecia uma boa ideia de jeito nenhum, mas quando olhou para Fred e sua mão estendida para ela, não conseguiu dizer não.
Fred deixou que ela subisse primeiro, mas passou a odiar conforme subiam, pois já haviam entrado no meio das folhagens e pareciam não chegar ao fim.
– Fred, o que você está aprontando? Não tem nada por aqui!
– Mas que chata – disse Fred e soube que ele estava sorrindo. – Só continue subindo sem reclamar, já estamos chegando.
Alguns degraus a frente, avistou uma longa passarela de madeira colocada em cima de um dos galhos da árvore. parou para que Fred parasse ao seu lado também.
– O que é isso?
– Pode subir – falou. – Não vai cair. Está bem presa, eu garanto.
o encarou descrente. O galho da árvore parecia bem seguro, mas a tábua em cima parecia fina e pronta para derrubá-la a qualquer momento se subissem os dois aí.
– Está enfeitiçada, . Você não confia em mim?
Pela primeira vez, percebeu o quanto ela e Fred estavam perto um do outro na pequena escadinha conjurada por ele. Estavam tão perto que se Fred inclinasse apenas um pouquinho, ela conseguiria sentir a respiração dele em seu rosto. Esse pensamento foi tão desconcertante que ela pulou na prancha sem pensar em mais nada, apenas para se afastar.
sentou no canto e esperou que Fred subisse também, mas ele subiu e continuou indo em frente. Em parte, porque o que ele queria mostrar realmente estava mais à frente, mas também porque ficar próximo de foi tão inebriante que ele achou que poderia ter caído de lá. E quando ela o olhou com aqueles grandes olhos azuis, se dando conta do quão perto estavam a ponto de ficar nervosa daquela maneira, ele não conseguiu evitar sorrir.
o seguiu, dando de cara com o fim da passarela que Fred havia construído e no fim dela, a melhor paisagem que ela já havia visto. Fred estava sentado na ponta da tábua, com as pernas no ar, balançando levemente e fez o mesmo.
– Isso é tão bonito – disse ela. O sol não parecia mais forte, mas o céu estava tão azul que pensou que poderia estar encarando o mar. De onde estavam era possível enxergar a Toca perfeitamente. E se soubesse para onde olhar, podia até mesmo ver a ponta de casa dos Lovegood. – Como você achou esse lugar? – Perguntou, olhando para baixo. – Nós estamos bem alto mesmo.
Fred riu e assentiu.
– Foi sem querer. Estava brincando com Ginny certa vez, quando ela ainda queria brincar com os irmãos mais velhos e não ficar trocando de namorado por aí – alfinetou, fazendo com que revisasse os olhos e empurrasse seu ombro de leve. – Subi aqui para me esconder e percebi que quase não tinha fim. Mas era um bom lugar para ficar sozinho.
– Então ninguém conhece?
– Não.
– Nem mesmo George?
– Só trouxe você aqui, .
não soube o que responder, então apenas sorriu para Fred. O lugar era claramente importante pra ele e ela havia sido a primeira pessoa que ele trouxe. Estava sendo sincero e o momento estava tão cheio de significado, mesmo que ela não conseguisse explicar exatamente porquê, que sentiu medo de dizer algo e estragar tudo.
– Eu sei porquê você queria ficar sozinha na escola esse ano – disse Fred deixando de olhar para ela e encarando o céu azul acima deles.
– Acho que todo mundo sabe.
– Mas você está errada – disse ele dando de ombros.
soltou ar pelo nariz e cruzou os braços.
– Estou, é?
– Posso ser sincero?
– E quando você não é?
Dessa vez Fred a olhou antes de responder.
– Você se surpreenderia – o olhou antes de balançar a mão como se dissesse "vá em frente". – Todos compram o seu papinho de "a vida segue", mas eu não – disse ele com um sorriso tão brilhante que foi obrigada a desviar o olhar por um segundo – Eu conheço você, .
– Não sei se conhece.
– Você diz que está tudo bem, que a vida segue e todo mundo acredita porque você ainda sorri, brinca e conta as mesmas histórias. Mas você se castiga para aliviar isso. Como se você precisasse ser infeliz.
– Eu não faço isso.
– Você parou de falar com o seu pai.
– Não, ele parou de falar comigo.
– E decidiu que ficaria sozinha em Hogwarts porque o natal era a época favorita de Tia Jenna, então é claro que você não poderia ter um bom feriado, porque isso seria trair a memória da sua mãe. E então... – disse Fred, erguendo o rosto de , que estava encarando as mãos e fazendo com que ela olhasse para ele – Você abandonou o time.
não conseguia falar nada a não ser ouvir as duras palavras de Fred. Queria gritar e dizer que ele não sabia o que estava dizendo e que não era da conta dele, não era da conta de ninguém como ela lidava com seu luto, mas não conseguia.
– Não estou julgando você – Esclareceu Fred rapidamente, quase como se tivesse ouvido os pensamentos dela. – Nunca faria isso com você, .
A boca de se entreabriu ao ouvir, pela primeira vez na vida, Fred a chamar de e não .
– Não quero que você pare de sentir. Ninguém tem o direito de te pedir isso. Eu só quero que você olhe ao seu redor. Você diz que seu pai parou de falar com você, mas você fez o mesmo. É difícil para vocês que estão na situação perceberem. Sim, talvez seu pai devesse ter sido um pouco mais forte, mas, … Se você perdeu a sua mãe, ele perdeu o amor da vida dele.
– Ele deveria ter estado lá por mim nas primeiras semanas e não a sua mãe! – Gritou ela. Sabia que tinha falado alto porque a copa da árvore se mexeu, com pássaros assustados com o barulho repentino procurando outro lugar para ficarem, mas Fred continuou no mesmo lugar, bem ao lado dela, a olhando como se ela fosse a única pessoa no mundo.
– Vocês dois precisam um do outro – disse. – É o que a minha mãe diz. Fico muito feliz por Tia Jenna ter sido a minha madrinha e por eu ter conhecido tanto dela, mas ninguém tinha tanto dela quanto vocês. Não tem como vocês passarem por isso separados.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. encarou o céu enquanto deixava sua respiração voltar ao normal.
– Ela gostava muito de vocês também. Acho que você era o favorito dela.
Fred riu e deu de ombros.
– Eu sei. Ela me disse isso uma vez.
– Não acredito nisso.
riu, balançando a cabeça. Isso era muito a cara de sua mãe: no meio de alguma comemoração, no meio de uma risada, abraçar Fred de lado e com um sorriso caloroso como mil sóis dizer: "Ah, Freddie, é por isso que você é o meu favorito!"
– Sua mãe quer você feliz, . Você era a coisa mais preciosa da vida dela. A última coisa que ela ia querer é que você achasse que precisa ser infeliz para celebrar a memória dela, não alguém alegre e cheio de amor como Jenna . Posso estar sendo intrometido, mas imagino que ela gostaria que você passasse o natal e todas as datas importantes para ela com as pessoas que gostam de você, pessoas que sempre vão te querer por perto. Ela provavelmente iria querer que você continuasse iniciando as guerras de bola de neve no natal como sempre fizemos, e que você não abandonasse coisas que você ama tanto. Como o quadribol ou o seu pai.
– Ela sempre disse que o sonho da vida dela era que eu fosse feliz. Não era uma Taça do Mundo, apenas a minha felicidade – disse ela depois de um tempo em silêncio. – Eu nunca imaginei ter que fazer nada sem ela e agora eu preciso... preciso existir sem ela, Fred! E como se não bastasse, preciso ser feliz! Como eu poderia sequer... Isso é loucura…
Suas últimas palavras foram cortadas com uma onda de choro que não conseguiu mais controlar. Fazia meses desde que não chorava dessa forma. sentia que sua mente estava em queda livre. Não sabia como havia deixado Fred falar tanto, nem como ela havia feito a mesma coisa, mas não importava agora. Tudo que importava nesse momento era que ela estava soluçando de tanto chorar como uma boba ao lado de Fred Weasley e não conseguia parar. Odiava chorar na frente das pessoas. Não tinha nada a ver com parecer forte, mas odiava saber que estava deixando alguém desconfortável. Queria dizer a Fred que ele não precisava fazer nada, podia até mesmo ir embora e que ela iria se controlar em alguns minutos, mas não conseguiu, pois assim que suas lágrimas começaram a descer, Fred se afastou apenas o suficiente para que pudesse puxá-la para um abraço apertado.
chorou, chorou mais do que havia chorado nos últimos meses e embora estivesse se sentindo um pouco envergonhada, nada se comparava a sensação de leveza que tomava conta de seu corpo. não fazia ideia o quão diferente era chorar nos braços de outra pessoa.
– Desculpe – disse ela, se afastando – Sua camisa…
– Não tem problema.
continuava próxima demais, respirando fundo a fim de coordenar sua respiração novamente. Fred soltou sua cintura e passou a usar suas mãos livres para secar as lágrimas no rosto de .
– Você deve me achar uma boba.
– Claro que eu acho você boba. Acho você boba desde os cinco anos – disse Fred com um sorriso amigável, fazendo com que sorrisse também. – Mas não por isso. Nunca por isso, . Sei que implico com Bill, mas você é mesmo da família.
– Claro que sou. Desde que descobriram que eu era uma garota, me criaram para casar com George.
riu, mas sua risada foi sumindo quando percebeu que as mãos delicadas de Fred que faziam carinho em seu rosto pararam.
– Você não vai casar com George – disse com mais firmeza do que já ouvira na vida.
Fred a olhava com tanta intensidade que era difícil retribuir o seu olhar, mas não desviou. Ali, entre folhas tão espessas que os raios solares mal conseguiam entrar, os deixando na sombra, Fred sentiu que era iluminado apenas pelo azul dos olhos de . E assim, sem precisar de nenhuma palavra a mais, e Fred começaram a se aproximar um do outro involuntariamente, como se um ímã os jogasse um para o outro, tão perto a ponto de serem beijados um pela respiração fraca do outro, como fizeram anos antes, mas dessa vez por vontade própria e completamente sozinhos.
Pelo menos era o que eles achavam até ouvirem a voz fina e nem tão distante de Ginny Weasley.
! ONDE VOCÊS ESTÃO? FRED!
Os dois se afastaram abruptamente, e não conseguiram evitar rir da situação em que se encontravam, olhando um para o outro e para ideia do que estavam prestes a fazer.
– Acho melhor nós irmos… – Fred sugeriu, em um tom que mais parecia uma pergunta.
– Sim, acho que sim…
Mas nenhum dos dois se mexeu até Ginny começar a chamar de novo.
*

Fred terminou de colher as laranjas e maçãs sozinho quando saiu correndo com Ginny para se arrumarem. Ele não se importou, precisava de tempo para se acalmar.
Ele quase tinha beijado . De novo!
E ela também parecia querer. Essa era definitivamente a parte mais louca e inacreditável de tudo. se aproximou da mesma forma que Fred. Seus lábios carnudos se abriram levemente à espera dele e ela o olhou com tanta vontade que era impossível dizer que não sabia o que estava acontecendo ali, que não queria.
Fred sempre soube que a história de e George o incomodara, mas nunca soube explicar o porquê. Desde crianças quando os dois começaram a se aproximar mais do que os outros, quando a dupla nos jogos de quadribol passou a ser, várias e várias vezes, os dois e não Fred e George sempre. Quando seus outros irmãos diziam que eles ficariam juntos em algum momento, nunca pareceu certo para Fred. Ele nunca conseguiu entender isso até o jogo da Grifinória contra Corvinal no início do quinto ano. Foi um dos primeiros jogos daquele campeonato, ninguém conseguia parar , ela era como uma máquina em campo, marcando um ponto atrás do outro enquanto Harry não achava o pomo-de-ouro. Wood estava em êxtase, mas tudo foi interrompido quando um dos batedores da Corvinal rebateu um balaço em direção a de forma extremamente maldosa acertando no pulso da garota e fazendo ela se desequilibrar da vassoura e cair. Fred não sabia explicar como, mas antes mesmo de Madame Hooch apitar, ele já estava pousando no chão ao lado de . Ela estava com vários arranhões no rosto e de olhos fechados, mas não desacordada. mantinha os olhos pressionados com força para tentar desviar a atenção da dor.
– chamou Fred com tensão e desespero presentes na voz.
Fred nunca conseguiu explicar o que aconteceu naquele dia. Toda a cena aconteceu rápido e devagar ao mesmo tempo. Ele lembra de ver o balaço indo em direção a e também lembra como tentou chegar até ela antes dele para que pudesse rebatê-lo, mas falhou. A imagem dela caindo da vassoura o assombrou por dias e a sensação de ter seu coração esmagado de preocupação talvez nunca tenha desaparecido completamente.
abriu seus olhos lentamente para observar a expressão desesperada no rosto de Fred. Se ela tivesse olhado para ele, teria pensado que era George, mas antes de tudo, o ouviu. Ouviu sua voz rouca e desesperada chamando o seu nome.
.
Ele passou o dedo pela testa dela, tirando o cabelo que escapava de seu rabo de cavalo e tentava ficar preso em seus finos cortes causados pela queda. tentou sorrir, mas tudo parecia doer demais pra isso. Ainda assim, ela deu um leve aperto na mão de Fred que segurava a sua e esperava que ele entendesse isso.
Os dois se olharam por alguns instantes sem dizer nada até Madame Hooch se aproximar e chamar os enfermeiros para levá-la para a ala hospitalar do castelo.
A Grifinória ganhou o jogo daquele dia. Harry pegou o pomo minutos depois enquanto Fred rebatia todo e qualquer balaço que chegava até ele em direção ao batedor da Corvinal que havia machucado até o garoto passar a fugir dele. Sabia que estava errado, sabia antes mesmo de George voar ao seu lado e gritar acima da ventania que ele deveria pegar leve ou seria expulso. Mas ele não conseguia e nem se importava.
– Eu nunca, em todos esses 15 longos anos de vida, vi um batedor com medo de um balaço! Mas é isso o que acontece quando alguém comete uma falta clara e suja contra uma de nossas jogadoras e nada acontece com ele!
– Sr. Jordan! – Exclamou Minerva McGonagall.
– Fica de lição para todos que estão assistindo – Continuou Lee sem se importar com os protestos da professora. – Fred Weasley, nosso número cinco, estará na sua cola!
Mais tarde, quando foi à ala hospitalar com George visitar a amiga, se depararam com Wood. Ele estava sentado ao seu lado e mexia as mãos nervosamente pelo ar, provavelmente explicando o resto do jogo. não tirava os olhos dele e sorria como se fosse tudo muito engraçado e interessante.
Wood parou de mexer os braços e segurou a mão de , agora parecendo mais calmo e dizendo algo que ela respondeu apenas assentindo a cabeça animadamente. A respiração de Fred falhou e seu estômago embrulhou. E quando Oliver atreveu-se a esticar a mão para tirar uma mecha do cabelo de de seu rosto, exatamente como Fred havia feito pouco tempo antes, ele sentiu seu mundo inteiro girar.
Não tinha tanta inteligência emocional quanto George, sabia disso. Sempre havia se perguntado porque nunca tinha conseguido se apaixonar perdidamente por uma garota como George já havia feito até mais de uma vez. Conheceu muitas garotas, mas nunca foi mais do que isso. Mas ao ver aquela cena, Fred entendeu. Não precisava ser um gênio para saber.
– Você sabe que horas são? – Perguntou Fred ao irmão, ambos parados na porta sem se atrever a interromper o momento de e Oliver.
George engoliu em seco olhando de seu irmão para a amiga, talvez pensando se deveria ou não falar alguma coisa. Por fim, decidiu que não. Fred não parecia querer ser consolado. Então, George apenas puxou a manga da camisa e olhou seu relógio de pulso antes de responder:
– São 11h16.
Fred suspirou, se sentindo o menor homem do mundo conforme sorria para Oliver e ele acariciava sua mão levemente. Quando o capitão do time se inclinou e passou o dedo no canto da boca de , Fred desistiu. Não precisava ver os dois se beijarem. Sem nenhuma explicação ao irmão, Fred se virou e saiu da ala hospitalar sozinho. Enquanto caminhava pelos longos corredores do castelo, apenas um pensamento rodopiava a mente agitada de Fred Weasley:
Às 11h16 do dia 18 de setembro de 1993, eu percebi que estava apaixonado por .
*

trançou o cabelo exatamente como Ginny pediu enquanto ouvia a garota falar sobre algo que ela não conseguia prestar atenção porque sua mente estava tomada por Fred Weasley e o fato de que ela não apenas chorou como uma criança, disse coisas que não havia dito para ninguém, nem mesmo para George, Daisy ou sequer para si mesma em voz alta, e ainda, acima de tudo, quase o beijou.
Ele devia estar achando que ela era uma pateta. Que tipo de garota chora e depois tenta beijar alguém?
Por que sua mente estava sendo tomada por esse garoto tantas vezes nos últimos dias? Dormia lembrando-se de como era beijá-lo, acordava pensando em quando ia encontrá-lo e até perdia tempo pensando em como deveria cumprimentá-lo pela manhã.
E ele ainda ficava olhando para ela! Ficava a encarando do outro lado da sala ou da mesa, com seus olhos curiosos e provocativos, como se estivesse a vendo pela primeira vez. E ainda tinha a Sra. Weasley pedindo que fizessem tarefas juntos desde que ela havia chegado n'A Toca. Antes mesmo de mandá-los ao pomar, Molly havia pedido a eles para guardarem as louças e até arrumarem o armário de vassouras juntos.
Seria possível estar gostando de Fred Weasley? Quão louca ela teria que ser para isso? Quão louco ele teria que ser para isso?
sabia muito bem sobre a fama de Fred em Hogwarts, e não era das melhores. Ele nunca havia namorado ninguém, nunca havia ficado com ninguém por muito tempo e praticamente todas as garotas da Grifinória alegavam ter ficado com ele em algum momento. sabia que isso era mentira, é claro, ele não havia ficado com todas elas, mas ela conhecia muito bem o amigo de infância para saber que ele nunca havia se apaixonado por ninguém.
E por que diabos ele se apaixonaria por ela dentre todas as pessoas? Ela, que Fred provocava o tempo todo? Ela, que também o xingava e ameaçava quebrar alguma parte de seu corpo o tempo todo? Além do mais, eles se conheciam a vida toda. Se fosse para isso acontecer... bem, deveria ao menos ter acontecido antes, quando eles haviam se beijado durante o quinto ano, não é?
Se tivesse que se apaixonar por um deles, deveria ser George. Era a escolha mais inteligente. Eles eram tão parecidos que viraram melhores amigos assim que aprenderam a falar.
Precisava parar de pensar nisso. Não fazia o menor sentido. Sentia que sua mente estava pregando uma peça em si mesma, uma maldita peça de mal gosto, porque Fred Weasley não poderia querer beijá-la novamente. Porque ela era ! Não, não , era , a boba para Fred.
odiava o sentimento esperançoso que parecia estar se criando dentro dela. Não queria se iludir. Não queria acreditar que Fred havia sentido o mesmo que ela durante aquele beijo.
Após ser xingada inúmeras vezes por Ginny por não respondê-la e mostrar que estava prestando atenção em seus comentários extremamente detalhados sobre Harry Potter, os pais do garoto, Sirius Black e Remus Lupin aparataram em frente a Toca e ela percebeu que estava na hora de se vestir e descer também.
O natal n'A Toca nunca foi um desfile, mas a Sra. Weasley gostava que se vestissem bem, especialmente quando recebiam visitas. A casa estava toda enfeitada com adereços natalinos nas portas, no corrimão da escada e em cima de qualquer superfície plana que Molly conseguira achar e que não estivesse sendo ocupada por comidas ou bebidas. Havia também uma grande árvore de natal perto da lareira que Fleur e Bill haviam montado juntos. O cheiro de comida podia ser sentido há milhas de distância e Fred pôde perceber que sua mãe havia se esforçado naquele ano, então, mesmo não sendo um desfile, podia notar que todos os seus irmãos haviam tirado a melhor roupa para ficarem sentados na sala juntos.
Contudo, em 1995, Fred teve que repensar se de fato era ou não um desfile de verdade ao assistir descer as escadas rindo de algo que Charlie dizia. usava um vestido verde que ia até seus joelhos e contrastava perfeitamente com seu cabelo ruivo, que estava solto com ondas muito mais definidas que o de costume naquela noite. Seu vestido não era decotado e sua maquiagem era leve, e ainda assim foi o bastante para deixar Fred sem palavras. Ele teve que se forçar a desviar o olhar, pois não conseguia parar de encará-la enquanto atravessava a sala iluminada com luzes de natal e se sentava ao lado de Harry, comentando algo de forma muito entusiasmada.
– Você está babando, cara, e , no máximo, tomou um banho – disse George em um tom muito julgador enquanto jogava um dos bolinhos de queijo na boca.
cruzou as pernas fazendo com que seu vestido subisse um pouco e a respiração de Fred falhou, piscando nervosamente. Quando se tratava de , Fred agia como se nunca tivesse visto um par de pernas na vida. George deu um tapa na sua cabeça, fazendo com que ele desviasse o olhar da amiga e mirasse o irmão.
– Pare de ser esquisito, Frederick.
– Não estou fazendo nada.
– Está sendo um pervertido na cara dura!
– Estou só olhando!
George revirou os olhos, tomando um gole da bebida que estava em seu copo.
– É bom poder falar com você sobre isso – falou com um sorriso. – Guardei tantas piadas por tanto tempo! Você não faz ideia, eu pensei que fosse explodir. Vamos começar com você indo mal de propósito em Feitiços para que sentisse pena e te ajudasse!
– Cale a boca, eu realmente fui mal! – Mentiu Fred, o que apenas fez com que George risse mais ainda. – Você tem uma boca tão grande que eu não sei como todo mundo já não sabe disso.
– Ora, você, o maior fofoqueiro que conheço, me dizendo isso. Que piada. Eu nunca comentei com ninguém, mas não tenho nada a ver com qualquer outra pessoa que tenha resolvido abrir os olhos e usar o cérebro.
Fred encarou o irmão com a testa franzida.
– De quem você está falando?
O tom de George fazia parecer que mais alguém sabia sobre seus sentimentos além dele mesmo, mas George apenas deu de ombros e com um sorriso malicioso começou a se afastar. Fred o chamou, mas ele apenas sorriu mais e saiu.
Fred encurralou o irmão mais vezes naquela noite, mas ele dizia que Fred estava ficando louco, paranóico e que ele não estava falando de ninguém em especial, mas Fred conhecia George Weasley muito bem para saber quando ele estava mentindo. Não pôde continuar com seu interrogatório, no entanto, pois James Potter e Sirius Black sentaram-se com eles.
– Então, eu fiquei sabendo que vocês deram o Mapa do Maroto a Harry – comentou James.
Fred e George riram. Pouco tempo depois de passarem o Mapa do Maroto a Harry, o garoto mais novo revelou que seu pai, juntamente dos amigos, foi quem havia desenvolvido o pergaminho mágico. Os gêmeos mal conseguiam acreditar estar na presença dos criadores do mapa sempre que viam James, Sirius ou Remus.
– Ele realmente salvou nossas cabeças muitas vezes – disse Fred com uma nostalgia quase palpável.
– Pensamos que Harry agora faria um melhor uso dele – completou George e Fred concordou. – Nós praticamente já decoramos todas as partes importantes também.
– Sem contar que já estamos quase nos formando. O pobre Harry ainda tem mais alguns anos para aprontar.

– Fred, não diga isso! – Exclamou Lily que entrava na sala de jantar acompanhada de Ginny e . – A única pessoa animada com as detenções que Harry leva são esses dois, que aparentemente só cresceram por fora!
James abriu um sorriso inocente para a esposa e começou a negar, mas logo sua atuação se perdeu em meio a risadas – como sempre acontecia quando estavam todos juntos.
*

– Os adultos sempre ficam na mesa de jantar no fim da noite conversando – comentou depois de tirarem a mesa. – E eu nunca vou me acostumar que esses dois bobões fazem parte desse grupo agora! – Completou apontando para Charlie e Bill na ponta da mesa.
– Vai ter que se acostumar que a única criança aqui é você – disse Charlie com uma piscadela. fez uma careta pra ele e estava prestes a mostrar o dedo do meio, quando Molly Weasley apareceu. George aproveitou a deixa para puxar a amiga pelo braço. No instante seguinte, todos eles estavam do lado de fora. A noite não estava tão fria ainda e as pequenas lamparinas que Arthur Weasley havia espalhado pelo quintal iluminavam o suficiente.
– Meu time será Harry, Fred e eu – disse Rony para a irmã mais nova. – E você pode ficar com George e .
Os dois irmãos mais novos estavam no meio do quintal, cada um com uma vassoura. sabia que eles sempre iniciavam uma partida de quadribol ao final da noite, apenas um jogo rápido, mas nem sempre muito amistoso, pois nenhum jogo conseguia ser jogado nessa família sem virar uma grande competição. Entretanto, naquela noite, havia se esquecido. Havia se esquecido de muitas coisas naquele dia e agora começava a se sentir culpada.
Culpada por ter rido tanto com Lily Potter e seus comentários afiados sobre Severus Snape, que ela dizia apenas para escutar, pois não gostava de incentivar seu marido e o melhor amigo dele. Havia conversado com o professor Lupin sobre seu futuro após os exames do NIEMs. também havia sentado com Bill e Fleur e percebido que o inglês de Fleur estava ficando muito mais fácil de entender conforme conversavam mais e mais, assim como seu francês parecia um pouquinho melhor. Não era muito fácil, mas valia a pena por Bill que ficava imensamente feliz em ver sua namorada se integrando com a sua família. E também valia a pena por Fleur, que percebeu ser uma garota muito divertida. também havia assaltado a sobremesa com George antes da hora, o que resultou nos dois levando tapas e sendo expulsos da cozinha pela Sra. Weasley.
E é claro, em meio a tudo isso, ainda havia Fred Weasley. pegava-se procurando por ele onde quer que estivesse. Quando ele sorria com George ou quando os dois conversavam longe dos outros, ela se perguntava sobre o que ele poderia estar falando. Quando Sirius Black mostrou uma de suas tatuagens no braço e Fred sorriu impressionado apontando para o próprio peito, quis que fosse com ela que ele estivesse falando. Ele tinha uma tatuagem ou ainda queria fazer? Ele queria alguma outra em outro lugar do corpo? Que desenho ele pensava em eternizar em sua pele? Se ele o fizesse, poderia ver? Ela poderia tocar?
Foi impossível também evitar notar como Fred estava agindo diferente com ela. Até mesmo Percy notou.
Foi pouco antes do jantar, quando Molly pediu ajuda para colocar a mesa e chamou , Fred, Percy e Charlie. A Sra. Weasley entregou os talheres para Percy e os porta-copos para Charlie e apontou a bandeja de pratos para . Contudo, antes que a garota pudesse pegá-la, Fred entrou na sua frente.
– É muito pesada, pode deixar que eu levo. Fique com os guardanapos ali – disse ele, como se não fosse nada. Como se não tivesse ficado parada assistindo enquanto ele pegava a bandeja com apenas uma mão e saía da cozinha sem esforço algum.
– O que foi isso? – Falou Percy, de repente. – Fiquei tanto tempo fora que agora Fred e sabem conviver como duas pessoas normais?
– Agora que você falou... – Charlie passou a mão no cabelo e encarou , como se só agora tivesse juntado todas as peças em sua cabeça. – Desde que cheguei, não se referiu a Fred como nenhum mamífero de quatro patas ainda. E Fred não usou nenhum sinônimo idiota para falar dos pés grandes de .
olhou para os dois irmãos e forçou uma risada sem graça. Não sabia o que responder. Eles não se odiavam, os dois sabiam disso, assim como suas famílias e amigos. Contudo, a forma que e Fred haviam escolhido para se comunicar anos atrás não havia sido carinhosa nem muito gentil. Eles apenas brincavam e se provocavam, e é claro que um gesto desse de repente não passaria despercebido por ninguém que convive com eles.
– Fiz isso pela mamãe – Intrometeu-se Fred ao entrar na cozinha, salvando , que ainda não tinha o que responder e apenas encarava Percy e Charlie com um sorriso amarelo no rosto. – é muito atrapalhada. Derrubaria os pratos antes mesmo de chegar à porta.
Charlie concordou enquanto saía da cozinha com Percy ao seu lado. riu fraco, começando a pensar se não estava pensando demais no que não precisava, que talvez o quase beijo tivesse sido uma impressão sua, que Fred estava apenas sendo legal porque, bem, ela havia perdido a sua mãe e chorado como uma bebê em seu colo há poucas horas, e que o gesto fora apenas porque ela realmente era atrapalhada e não por qualquer tipo de gentileza ocasionada por sentimentos diferentes.
Mas então, o castelo de areia que ela havia construído em sua mente foi desfeito quando novamente Molly a deu alguns copos para levar à mesa. Assim que a mãe se virou, Fred os pegou de sua mão sem dizer uma única palavra, entregando a algumas flores que a mãe havia colhido para decorar a mesa e passou a levar ele mesmo a bandeja de copos para a mesa, mas não antes de virar-se para e piscar para ela.
E tudo isso, percebeu, ocupou sua mente durante os poucos dias que estivera na casa dos Weasleys. Percebeu que não pensara em seu pai sozinho em casa e tampouco se lembrou de sentir pena de si mesma por estar sem sua mãe pela primeira vez durante o natal.
Que direito ela tinha de não se sentir triste?
Não importava, porque ver Rony e Ginny parados decidindo times de quadribol fez com que ela voltasse a sua realidade. A realidade onde sentia que havia perdido ambos os pais por causa daquele maldito balaço, onde não conseguia mais sequer assistir jogos de quadribol sem sentir sua cabeça latejar, quem dirá participar deles. Só de ver Ginny parada ali, lembrava-se do último natal quando aquela a começar a partida costumava ser sua mãe.
Estava prestes a virar seus calcanhares e sair correndo dali quando sentiu um braço ser passado pelo seu ombro e alguém parar ao seu lado, impedindo que se mexesse. Sua respiração parou por um segundo inteiro, seu cérebro tentando conceber que se George já estava ao seu lado… O único ruivo alto a abraçá-la daquela maneira fazendo seu coração disparar era... Fred. Que o único que cheirava levemente como as laranjas do pomar misturado com pólvora dos fogos que estava soltando mais cedo com o irmão era ele. Só podia ser ele.
e eu não vamos participar – avisou com um sorriso. – Então os times terão que ser de dois.
não conseguiu ouvir o que George disse em resposta, porque o toque de Fred estava quase queimando a sua pele. Ele a virou de costas a tempo de impedir que ela visse Harry e George empurrando Rony e sussurrando o quanto ele era burro, porque ele sabia que não estava mais no time e sabia sobre a sua mãe. Quando Fred e chegaram à área que circulava a porta dos fundos e sentaram-se no pequeno banco para observar os irmãos e amigos jogarem, os dois garotos já haviam deixado Rony em paz e buscavam suas vassouras.
ainda sentia seu coração acelerado e percebeu que nunca havia se sentido assim ao lado de Fred, nem quando se beijaram naquele jogo durante o quinto ano e nem mesmo quando quase se beijaram há pouco. Havia se sentido diferente depois do beijo, sim, não conseguia mentir, mas agora... Agora parecia diferente.
o olhou sem se dar ao trabalho de disfaçar e demorou alguns segundos para Fred perceber que estava sendo observado pela garota, mas quando percebeu virou-se para ela e sorriu. Um sorriso tão brilhante que fez pensar que talvez não fosse preciso Arthur Weasley ter acendido tantas luzes.
– Obrigada – disse. Ou tentou dizer, pois sua voz estava baixa e nervosa, tudo que ela conseguia fazer era olhar para o ruivo e torcer para que seus olhos entregassem a gratidão que de fato sentia.
– Não fiz nada – disse ele e negou.
– Você sabe que eu não consigo voar – respondeu na mesma hora. Sua voz ainda saía baixa, então pigarreou e tentou novamente. – E me tirou de lá antes que eu corresse como uma pateta. Você me ajudou, então, obrigada.
– Não acho isso – disse Fred.
– O que?
– Não acho que você não consegue voar. Não acho isso.
sorriu, pois Fred Weasley era mais positivo do que as pessoas achavam.
– É claro que você não acha.
– Posso te mostrar uma coisa legal? – Perguntou exatamente como havia perguntado mais cedo antes de quase beijá-la.
não conseguia explicar o misto de sentimentos que havia dentro dela. Sentia-se animada, ansiosa, assustada, contente e até… Feliz. Mas também sentia culpa por sentir todas essas coisas.
Pensava em Fred e pensava em tudo que ele estava provocando nela desde o momento que resolveu abraçá-la na sala comunal e trazê-la para cá.
Não. Quem ela queria enganar? Desde o momento que aceitou beijá-lo naquele maldito jogo.
Mas pensava principalmente agora, com seus toques sem motivo, seus sorrisos, seus cuidados e seus olhares. Tudo fazia se perguntar o que teria acontecido se Ginny tivesse demorado mais 5 minutos para aparecer e eles apenas tivessem continuado a se aproximar daquela maneira até que não houvesse mais espaço entre eles. Será que ela se sentiria no céu outra vez? Será que ficaria presa em uma bolha de sensações incríveis novamente? E o mais importante: estaria sozinha, como achava que tinha estado na primeira vez?
– Você pode sempre me mostrar uma coisa legal, Fred – respondeu fazendo com que o Weasley sorrisse mais ainda.
– Então depois que todo mundo dormir, vamos nos encontrar na porta da frente às 1h da manhã.
– O que você está planejando?
– Você vai ver – disse, desviando-se dela e olhando seus irmãos e Harry voarem em suas vassouras por todos os lados.
– George também vai?
Fred abriu um sorriso de lado e olhou para novamente.
– Você quer que ele vá? – Perguntou. mordeu os lábios involuntariamente. – Podemos chamá-lo, se você quiser. Ou…
Fred falava calmamente, sua voz se arrastando como se ele precisasse de todo o tempo do mundo para completar aquela frase. Ele não precisava. Estava lentamente se sentindo cada vez mais confiante, mas queria que entendesse. Queria que ela compreendesse o que significava aquilo tudo.
– Podemos ser só eu e você. O que você quer?
E então, soube. Talvez ela já soubesse no momento em que as palavras saíram de sua boca, mas mesmo assim deixou que saísse, pois precisava ter certeza.
Não sabia se estava sendo idiota, se estava imaginando coisas, mas enquanto Fred a olhasse daquela maneira, como se só ela existisse no mundo e cada palavra sua importasse mais do que mil galeões... Enquanto aqueles olhos cor-de-mel a olhassem assim, ela pagaria para ver.
– Eu e você. Podemos ser só eu e você.




Assim que o relógio marcou a hora combinada por Fred, saiu do quarto, sem se preocupar em parecer ansiosa. Havia contado os minutos até que todos fossem embora e a família se retirasse para dormir, para finalmente descobrir o que Fred estava planejando.
Ela não sabia o que esperar. De verdade.
Fred sempre fora muito mais imprevisível do que George, então nem se deu ao trabalho de tentar adivinhar. Mas, definitivamente, não esperava por isso.
Quando desceu os pequenos degraus em direção à entrada da casa, avistou Fred encostado no Ford Anglia azul de seu pai. Assim que seus olhos pousaram nele, ficou sem palavras. Ele não estava usando pijama, como havia instruído que ela também fizesse. Em vez disso, vestia uma calça jeans escura e uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta branca. Seus cabelos, que já começavam a crescer, mesmo após um corte recente, balançavam levemente com o vento. As luzes fracas dos postes acesos durante a noite em frente à casa completavam o ar quase celestial que envolvia Fred Weasley.
achou que ele parecia um anjo.
E quando ele se virou para ela, abrindo aquele sorriso de lado, calculado para deixá-la sem ar, ela teve certeza. E não era com qualquer anjo que ele se parecia. Fred Weasley era como um anjo caído.
Era como se ele fosse o próprio sol, fazendo todos ao seu redor orbitarem em torno dele. Parecia uma péssima ideia, da cabeça aos pés, mas nunca soube dizer não a nenhuma das péssimas ideias de Fred. Especialmente essa, envolta em couro, que mostrava como ele parecia mais forte agora do que no último Natal.
— Pontual como sempre — disse ele, passando a mão pelo cabelo, tentando impedir que caísse sobre a testa.
— Eu tento ser — respondeu e, incapaz de resistir ou desviar os olhos dele, acrescentou: — Bonita jaqueta.
— Obrigado — respondeu Fred. — Presente do Bill.
Obrigada, Bill. Mil vezes obrigada.
havia passado todo o intervalo entre o horário marcado com Fred e a hora em que Ginny adormeceu pensando no que estava fazendo. E chegou à conclusão de que não sabia.
A única coisa que sabia era que Fred parecia querer... mais.
E ela não conseguia dizer não. Melhor: ela não queria dizer não.
Ele havia dado a ela a oportunidade de falar. Bastava dizer "Sim, Fred. Acho que George deveria vir conosco", mas ela não disse. Novamente, ela não queria dizer. Podia parecer maluquice, mas nesse momento, queria que esse momento com Fred fosse apenas dela.
já havia conhecido muitos garotos. Sabia quando eles estavam interessados nela. Mas aquele era Fred. Ela precisava ter certeza. Precisava se sentir segura até entender exatamente o que ele estava pensando e o que queria. E se estivesse interpretando tudo errado e acabasse não apenas estragando sua amizade com Fred, mas também sua relação com toda a família dele? Ela não suportaria isso.
Pior ainda, e se estivesse entendendo tudo corretamente e Fred realmente quisesse algo com ela? Ela seria capaz de dizer não? Um relacionamento que terminasse mal também poderia arruinar a ótima relação que ela sempre teve com Molly, George e o restante da família. Fred sempre seria o irmão deles, não ela.
Mas ela conseguiria dizer não a ele?
Por alguns minutos, pensou que sim. Apenas alguns poucos minutos. Talvez apenas alguns segundos. Se ela não estivesse parada diante dele, talvez pudesse acreditar nisso por mais tempo.
Ela não era capaz de dizer não a Fred desde o dia em que se beijaram. Passou tanto tempo revivendo aquele beijo. Tanto tempo que, se alguém pegasse os pergaminhos do início de seu sexto ano em Hogwarts, veria nas margens de todos eles "É, estranho", porque ela precisou se forçar a lembrar diariamente que não deveria estar pensando naquilo. Afinal, Fred havia deixado claro que não pensava nisso, e eles eram amigos. Estavam sempre juntos com George e Daisy. Ela não podia deixar essa memória ocupar mais espaço em sua mente do que já ocupava. E isso era assustador, realmente assustador, principalmente porque não podia falar com ninguém sobre isso. George e Daisy pensariam que ela estava apaixonada por Fred, e o pior de tudo: falariam isso em voz alta, algo que estava se recusando a fazer, pois tornaria tudo real demais.
Então, quando Fred começou a sair com a corvina Lucy Sheeran, decidiu que era o fim. Usou toda a sua força de vontade para mandar aquela lembrança para o canto mais distante de sua mente. E funcionou. Claro que o interesse recente de Cedric Diggory nela ajudou. E também a morte de sua mãe... Bem, tudo isso ajudou a trancar aquela memória, e ela manteve assim até o dia em que Fred a abraçou. Até o dia em que ele sorriu para ela e pediu que fosse para casa com ele.
Contudo, não conseguia mais impor esses limites a si mesma. Não quando Fred agia dessa maneira, e definitivamente não quando ele parecia um astro de rock trouxa (Harry havia mostrado a ela algumas bandas) esperando por ela.
— Então, vamos? — disse ele, batendo as mãos e esfregando-as uma na outra.
— Estou pronta quando você estiver. Vamos aparatar?
— Não — respondeu ele, afastando-se do carro apenas o suficiente para abrir a porta do banco do passageiro. — Vamos de carro.
O queixo de caiu.
— Você está brincando.
— Eu nunca brinco quando o assunto é o Ford Anglia, — disse ele, em tom ofendido.
— Fred, sua mãe mataria você e me faria assistir. E ela ainda ficaria muito brava comigo, o que seria ainda pior!
Ele riu e deu um passo em direção a .
— A raiva da minha mãe seria pior do que a minha morte?
— É claro.
— Então, além de ser a garota mais controladora do mundo, você também é a mais cruel? — Fred assentiu, dramaticamente — Tudo bem. Espero que você pelo menos vá ao meu funeral se despedir.
revirou os olhos, mas não conseguiu evitar que um sorriso surgisse. Fred ainda conseguia ver a dúvida nos olhos da garota, então continuou:
— Ela não vai nos pegar. Não vamos ficar fora por tanto tempo.
Fred parecia calmo e confiante, mas ele sempre parecia calmo e confiante, mesmo quando as coisas davam errado. nunca havia comprado totalmente essa pose.
— Mas para onde vamos? Por que não podemos aparatar? Somos bruxos, afinal, sabia?
— Vamos lá, , não seja tão medrosa.
mordeu o lábio, avaliando o carro atrás de Fred e depois voltando a olhar para ele.
— Seu pai realmente consertou essa coisa?
— Novinho em folha, eu garanto — respondeu, dando leves batidinhas na lataria do carro.
— E você tem certeza que sabe dirigir? Não vamos sofrer um acidente?
O sorriso de Fred diminuiu, e ele olhou para com toda a sinceridade que conseguia.
— Eu nunca colocaria você em perigo. Você não confia em mim?
soltou uma risada fraca, mas seu olhar permaneceu amigável.
— Não muito, na verdade — respondeu. — Não importa onde você queira ir, sei que se aparatássemos seria muito mais rápido.
Ele concordou e puxou pelo braço, fazendo com que ela se encostasse no carro, assim como ele.
— Seria — disse. — Mas quero te mostrar uma coisa legal, lembra? Não vou conseguir fazer isso se não formos lá voando.
piscou, subitamente ficando rígida. Então, era sobre isso.
— Fred... — começou ela, mas ele a interrompeu, colocando-se na frente dela e segurando seus ombros delicadamente. Ele não queria prendê-la ali, apenas tocá-la com suavidade, e foi exatamente isso que sentiu. Fred estava mais perto do que estava na árvore, e ela estremeceu.
— Eu só quero te mostrar uma coisa, tudo bem? — disse ele com calma. — Se você ficar nervosa, com medo ou qualquer coisa assim, descemos na mesma hora. Não vai ser problema. Uma palavra sua, e esse carro volta a ser como qualquer outro.
olhou nos olhos dele. Havia esquecido que o Ford Anglia voava; ela sabia disso, claro, mas o pensamento simplesmente escapou de sua mente, e as palavras de Fred martelavam em sua cabeça.
— Pode confiar em mim — continuou. — Nunca faria nada de ruim com você, a menos que viesse numa caixa escrita com produtos Weasley.
riu levemente, reconhecendo a tentativa dele de aliviar o clima, e assentiu devagar.
— Estou do seu lado, . Não vou sair daqui. Você sabe disso — disse ele, e ela suspirou. E lá estava ele, chamando-a de novamente. Como seu apelido soava tão bonito nos lábios dele? Sempre foi assim?
Antes que pudesse questionar mais alguma coisa, antes que sua mente a fizesse temer um simples carro, ela respirou fundo e balançou a cabeça.
— Uma palavra, você disse — falou ela. — Uma palavra e voltamos para a terra firme.
— Uma palavra — reafirmou ele, abrindo a porta e ajudando a se sentar no banco do carro. Fred fechou a porta lentamente, sem tirar os olhos dela, e correu até o banco do motorista.
Ele colocou a chave na ignição, pisou no freio com o pé direito, enquanto o outro pé se movia para algo que não sabia o que era.
Ela puxou o cinto de segurança na lateral do carro e o colocou em volta de si, enquanto Fred puxava o freio de mão. De repente, todo o carro começou a ganhar vida sob eles. O painel acendeu, e no instante seguinte, eles estavam em movimento. Fred acelerou, afastando-se o máximo possível d'A Toca, enquanto o observava atentamente. Ele estava com o cenho franzido, olhando fixamente para a frente, e ela riu.
— Você nunca fez isso sozinho, não é?
— O quê? — perguntou ele.
— Nunca dirigiu esse carro sozinho antes.
Ele ficou em silêncio, e riu ainda mais.
— Sou sempre eu quem dirige — disse ele, na defensiva. — George apenas me lembra das coisas que esqueço, como em qual botão apertar.
— E você não sabe disso?! — exclamou . — Como me coloca dentro de um carro que você só dirigiu até hoje com um manual falante ao seu lado?!
— Eu aprendi! — disse ele em voz alta. — Caramba, você é muito controladora.
— Não, você é que não liga para nada! — retrucou ela, cruzando os braços e olhando pela janela. Estava totalmente escuro, e eles já estavam relativamente distantes da casa.
— Eu dirijo melhor que o papai — alegou ele, e revirou os olhos com a mentira deslavada. — Escute... — o olhou, sua voz muito mais doce e calma do que antes. — Vamos decolar agora. Tudo bem?
olhou pela janela, sentindo sua respiração ficar difícil.
— Não, não — pediu ele, tirando uma das mãos do volante e segurando a mão de . — Vamos fazer um trato.
— Que trato?
— Não olhe pela janela até eu pedir. Olhe para mim.
— Mas você está ocupado olhando para o que vem à frente.
— E eu preciso olhar para você o tempo todo?
— É estranho olhar para alguém quando essa pessoa está ocupada, só isso — insistiu , e Fred revirou os olhos.
— Pare de ser implicante, , e apenas olhe pra mim — pediu Fred, virando-se rapidamente para ela.
— Tudo bem — disse , posicionando-se de lado e fazendo o que o outro pediu. — Vamos decolar.
Fred assentiu com um sorriso, engatou uma marcha, pisou no acelerador e subiu. não conseguiu evitar ver os pequenos morros e árvores começando a desaparecer na janela ao lado de Fred enquanto subiam, mas tentou focar apenas nele, como ele havia pedido.
— Como está se sentindo?

respirou fundo, observando a ponta do nariz arrebitado de Fred e como ele olhava fixamente para a frente, como se pudesse surgir um carro a qualquer momento. Bem, talvez não um carro, mas definitivamente um pássaro.
— Bem.
— Bem de verdade ou está "dando uma de "?
ergueu uma sobrancelha.
— O que seria "dar uma de "?
— Você tem uma mania idiota de nunca dizer a verdade quando algo te incomoda — disse ele, dando de ombros. — Sempre que eu digo alguma mentira, George me acusa de estar "dando uma de ". Fazemos isso com Daisy também.
A boca de se abriu, sentindo-se de repente muito traída. Ela bufou e cruzou os braços, olhando para Fred.
— Não acredito! Meus melhores amigos fazendo piadas sobre mim sem mim!
Fred riu e a olhou pelo canto do olho.
— Não fui eu quem começou…
— Mas você também não me contou!
O sorriso de Fred se alargou, mas ele não disse mais nada. inclinou a cabeça lentamente para o lado, estudando a expressão e o silêncio de Fred.
— Você está diferente, Fred.
— Diferente?
— Sim, diferente.
— Diferente melhor? — quis saber, olhando para sem se importar se ainda estava dirigindo ou não.
— Eu... ahn... não sei — respondeu, sentindo-se subitamente muito exposta sob o olhar de Fred. — Você nunca foi ruim. Só está diferente.
— Você não está com frio? — perguntou ele, mudando de assunto, ao notar que abraçava a si mesma. Ela usava uma meia-calça preta e uma saia da mesma cor, mas seu suéter rosa parecia extremamente fino.

— Só um pouco, mas não tem pro–

— Vamos descer — avisou ele.
E pela primeira vez desde que o carro começou a voar, desviou os olhos de Fred e olhou pela janela ao seu lado. O céu estava iluminado apenas pelos faróis do carro, e ela não fazia ideia de onde estavam, mas mesmo assim, abaixou o vidro e esticou a cabeça para fora, sem se importar em parecer infantil na frente dele.
Mal havia percebido que estavam no ar se ele não tivesse avisado que estavam prestes a descer. Seu coração ameaçava saltar pela boca quando Fred lhe deu a opção de recuar, e ela pensou seriamente em voltar correndo para casa. Mas agora que estavam ali... Não parecia nada assustador. Talvez por não estar sozinha, talvez porque um carro fosse totalmente diferente de uma vassoura, não sabia ao certo.
Ela só conseguia fechar os olhos enquanto o vento batia em seu rosto e se dava conta de que talvez tivesse sentido mais falta disso do que imaginava. Ao seu lado, Fred a observava silenciosamente, fazendo o máximo para prolongar aquele momento o quanto pudesse.
Após algum tempo sobrevoando o local, Fred começou a descer lentamente, e só então abriu os olhos.
— Fica aí — pediu ele, saindo do carro e dando a volta para que pudesse abrir a porta de pra ela. Ela o olhou por alguns segundos antes de rir sozinha e sair do carro.
— Que cavalheiro. Onde você estava quando um certo alguém me empurrou no galinheiro? Ou no Lago Negro? Quem sabe no…
Ele revirou os olhos, mas havia uma sombra de sorriso em seu rosto quando a interrompeu.
— Nós éramos crianças!
— Fred, isso foi ano passado.
Ele deu de ombros.
— Você fica muito presa ao passado, .
abriu a boca para responder, mas ao perceber onde estavam, se calou. Fazia pouco mais de um ano que não visitava o Parque St. Oken. A última vez que estiveram ali foi no aniversário de Molly Weasley. O parque ficava em um vilarejo trouxa não muito distante d'A Toca. lembrava bem daquele dia, pois Fred e George haviam desaparecido por pelo menos duas horas para conversar com duas garotas trouxas que ficaram encantadas com os "truques de mágica" de George.
— Não acredito que estamos aqui — disse ela, enquanto os dois começavam a andar. — Poderíamos ter vindo a pé!
— O propósito do carro não era esse — respondeu Fred.
— E qual era?
— O propósito era mostrar que seu medo não está em voar — respondeu calmamente. — Queria mostrar que, na verdade, você ama voar. Está dentro de você, no seu sangue.
o olhou, pensativa.
— Me diga como você se sentiu — pediu ele.
suspirou suavemente, sentindo um arrepio de frio percorrer seu corpo enquanto olhava para frente.
— Sim, não senti medo, se é isso que quer saber — respondeu, apontando um dedo acusador para Fred ao acrescentar: — E não estou "dando uma de "!
Fred riu alto.
— Juro, você é a pessoa mais rancorosa que já conheci.
— Meus melhores amigos! — exclamou. estava pronta para adicionar mais drama à situação, mas congelou ao sentir um tecido quente e pesado em seus ombros. Fred havia tirado sua jaqueta e a colocado sobre ela.
— Não precisa! — disse, fazendo menção de tirar a jaqueta, mas Fred segurou firme em seus ombros e balançou a cabeça.
— Sou mesmo um de seus melhores amigos? Como George? — perguntou ele de repente, parando em frente a e segurando nas pontas da gola da jaqueta, mantendo-a firme ao redor dela. , por sua vez, já não sentia tanto frio assim com a proximidade repentina de Fred.
— Que tipo de pergunta é essa? — falou, forçando uma risada, mas parando ao ver que Fred não sorria junto com ela. Pelo contrário, ele a olhava seriamente. — Estou com você e George desde que aprendemos a andar! Você é um idiota na maior parte do tempo, mas... bem... é um dos meus idiotas, não é? Sempre pensei que sim.
Fred soltou lentamente a gola da jaqueta, deixando que uma das mãos descesse até encontrar a mão de . Seus dedos se tocaram levemente, e Fred sentiu todo o sangue deixar suas pernas quando percebeu que não desviou o olhar nem afastou sua mão. Ele engoliu em seco, reunindo toda a sua coragem, e entrelaçou seus dedos nos dela.
— Quero te mostrar uma coisa.
não respondeu, apenas seguiu Fred enquanto ele a puxava pela mão. A mão dele era quente e a apertava com mais força do que o necessário, como se tivesse medo de que ela se soltasse a qualquer momento e fugisse, mas não questionou. Tinha medo de falar e acabar dando voz ao único pensamento que rondava sua mente, como se ela tivesse 11 anos: Fred Weasley está segurando a minha mão!
Fred não a soltou, nem mesmo quando começaram a subir uma pequena colina, num local mais afastado da entrada do parque. nunca, jamais, iria a algum lugar com alguém dessa maneira — sem saber de nada e nem perguntar —, mas ela sabia que confiava em Fred com sua vida, assim como confiava em George desde sempre.
Quando chegaram ao topo da colina, ficou sem fôlego, seus olhos se arregalando em um misto de admiração e espanto. Diante dela se estendia um vasto jardim, muito maior do que o pomar n'A Toca. Flores de tons vibrantes e suaves se espalhavam por todos os cantos, criando um tapete natural tão deslumbrante que era difícil acreditar que fosse real. Pequenas árvores ofereciam sombra aqui e ali, mas eram as flores que roubavam toda a atenção, resplandecendo sob a luz suave dos postes que as cercavam e dançando com o brilho dos vagalumes que pairavam no ar, como estrelas descendo do céu para iluminar aquele paraíso secreto.
demorou alguns instantes para perceber as trilhas de pedra que serpenteavam pelo jardim, estrategicamente dispostas para permitir que as pessoas caminhassem sem perturbar a perfeição do cenário. Os dois começaram a andar devagar pela primeira trilha à sua frente, cada passo revelando novas nuances de beleza, enquanto o ar ao seu redor parecia se encher de um perfume doce e suave.
— Fred, esse lugar é tão lindo! — não sabia para que lado olhar, estava completamente encantada. — Como você o encontrou?
— Sua mãe me mostrou — respondeu ele, fazendo com que parasse no meio do caminho e se virasse para ele.
— Minha mãe? — ela olhou ao redor, incrédula. — Minha mãe conhecia um lugar como esse?
Fred assentiu e soltou a mão dela, deixando um vazio gelado que não gostou nada de sentir.
— Vou te explicar, mas primeiro preciso dizer uma coisa. Você precisa me prometer que vai me deixar terminar, , ou eu juro por Merlin que nunca mais conseguirei dizer algo parecido.
— Tudo bem... — concordou ela, percebendo o quanto Fred parecia nervoso e reprimindo uma risada ao notar a dualidade dele que, pela primeira vez, aventurava-se a chamá-la de como os outros sempre fizeram, mas aparentemente nunca se decidia.
Contudo, Fred não sorria. Seu rosto estava sério e seu coração batia forte. Sentia que seu corpo todo o mandava correr, pois aquilo definitivamente não parecia uma boa ideia, mas ele sabia que era apenas sua insegurança falando. esperou pacientemente enquanto os segundos passavam até Fred finalmente começar a falar.
— Eu não quero ser como George, não quero ser seu melhor amigo... — disse ele e ergueu uma sobrancelha.
— Está... terminando... sua amizade comigo? — perguntou , confusa, franzindo o cenho e começando a ficar irritada com os pensamentos que surgiam em sua cabeça. Fred riu, misturando frustração e humor.
— Não! Não! — ele explicou ainda rindo, balançando as mãos no ar. — Foi exatamente por isso que pedi para você esperar eu terminar, , pelo amor de Deus…
— Bem, mas olhe só o que você disse! — acusou ela e Fred suspirou. Se seu irmão o visse naquele momento, faria piada disso pelo resto da vida, mas Fred não conseguia evitar.
Apenas a presença de já o deixava nervoso. Não era difícil ser gentil com ela, mesmo que isso não fosse comum entre eles. O problema estava nele. Fred nunca foi bom com palavras como seu irmão gêmeo. Muito menos com palavras assim. Sabia flertar, é claro, mas se declarar? Abrir o seu coração e contar sobre os sentimentos que guarda há tanto tempo?
— chamou ele, desistindo de palavras e dando um passo em direção a ela. Sua linguagem amorosa sempre foi física no final das contas. Fred levou a mão ao rosto de , passando o polegar levemente sobre as sardas em sua bochecha. — Você realmente não consegue ver?
— Ver o quê? — murmurou ela, quando Fred ergueu seu rosto, fazendo com que tudo o que ela visse fossem os olhos cor-de-mel dele, encarando-a com tanta emoção e significado que sentiu o ar ao redor deles pesar.
— Você pensa sobre aquele dia? — perguntou ele. — Aquele dia na sala comunal, quando nos beijamos?
Fred a olhava de uma maneira tão única, tão intensa, que não havia nada no mundo que fizesse ser menos do que sincera.
— Sim — respondeu simplesmente. — E você?
Fred soltou uma curta risada e balançou a cabeça.
— Penso naquela noite todos os dias, , porque depois daquele dia não consegui mais agir como se não fosse completamente apaixonado por você — disse Fred finalmente, e teve certeza de que tudo ao seu redor havia sumido, porque ela não conseguia sentir nada além da mão de Fred, quente e suave, em seu rosto.
— Você nunca…
— Você disse que eu sou um dos seus idiotas, não é? — Fred sorriu. — Não. Eu sou idiota por você, . Apenas por você. Acho que sempre gostei de você — continuou ele. — Desde que éramos crianças, mas só conseguia chamar sua atenção sendo, bem, eu. Por muito tempo pensei que seria você e George, como minha mãe e meus irmãos. Mas depois daquele beijo, ficou difícil continuar fingindo. Na verdade, desde que você se aproximou de Wood no quinto ano, ficou difícil continuar fingindo. Foi como um tapa na cara. Uma vida inteira de sentimentos caindo sobre mim em um só segundo.
O peito de subia e descia rapidamente. Seria mentira dizer que ela nunca pensou sobre isso, mas ter Fred se declarando assim... parecia algo que só aconteceria em seus sonhos mais profundos. Aqueles sonhos que ela havia proibido de entrar em sua mente. Contudo, aquilo não era um sonho, e quando ele levou a outra mão ao seu rosto e aproximou seu corpo do dela, ela teve certeza. Finalmente, ela sentiu a certeza que Fred já tinha há tanto tempo.
— Você disse que foi estranho — disse , balançando a cabeça. — Eu pensei... pensei que você tinha odiado!
– E você disse que isso jamais aconteceria de novo.
– Porque achei que estava sozinha!
– Sozinha?
– Freddie, beijar você foi… Inexplicável. Eu nunca senti nada parecido – confessou . – Eu pensei nisso por tanto, tanto tempo, que comecei a me convencer de que talvez tivesse sido mesmo estranho, só para tentar parar de pensar. Porque, se não parasse...
Agora foi a vez de Fred balançar a cabeça. As peças estavam finalmente se encaixando para os dois e a antecipação e a ansiedade apenas cresciam dentro deles. Fred sentia sua respiração falhar enquanto ria de maneira incrédula, pois havia sim sentido o mesmo que ele.
– Mas e Cedric?
– E a Lucy? – retrucou , levantando uma sobrancelha com um sorriso no rosto.
, você entende o que estou dizendo aqui? – Fred perguntou, sério. – Estou apaixonado por você. Provavelmente sou apaixonado por você desde o dia em que colocamos minhocas nas coisas do Percy quando tínhamos cinco anos e acho que não aguento mais um feriado sequer com a minha família dizendo que você vai ficar com George.
– Tínhamos quatro anos – corrigiu.
– repetiu ele, mais firme.
não conseguiu deixar de rir da expressão de Fred. Tudo fazia tanto sentido agora que se perguntava como havia se deixado enganar por tanto tempo. Como havia conseguido fingir que Fred não era aquele em que ela pensava o tempo todo? Aquele que a fazia rir em todas as situações e a pessoa que ela sempre torcia para estar por perto quando algo bom acontecia?
Entendia o desespero interno de Fred, pois também sentia o mesmo. Mas agora que estavam ali, agora que a realidade batia à porta de com toda a força sem sequer esperar ser chamada para entrar, ela não recuaria. Era como se essa porta tivesse sido finalmente aberta em sua mente, liberando todos os sentimentos que ela havia tentado reprimir por tanto tempo.
E esses sentimentos a atravessaram com força, sem piedade, porque nada mais importava agora que ela sabia que Fred Weasley estava apaixonado por ela.
– Eu entendi, Fred, e também estou assustada, mas eu não vou a lugar nenhum agora que eu sei que você gosta de mim. Você acabou de roubar o carro do seu pai só para me mostrar que eu consigo voar! Merlin, Fred, não faço ideia de como isso começou, mas eu sou apaixonada por você.
Fred sorriu, encarando os grandes olhos azuis de enquanto ela piscava lentamente.
– E estou me sentindo muito idiota agora por ter tentado tanto afastar esses sentimentos por tanto tempo.
– Não mais do que eu, eu garanto.
Eles se encararam por um momento até começarem a rir juntos. Nenhum dos dois conseguia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Haviam confessado tudo o que sentiam, tudo o que haviam escondido dos outros e de si mesmos. Sentiam-se expostos, vulneráveis, inseguros, ansiosos e animados, tudo ao mesmo tempo. A resposta natural do corpo dos dois sempre foi rir, era o que faziam de melhor, especialmente quando estavam juntos, então foi o que fizeram naquele momento também.
Fred balançou a cabeça e puxou para junto de si, colocando uma mão firme em sua cintura e a outra em seu rosto. Ela fechou os olhos, apenas sentindo o toque dele.
– Não acredito que você está aqui de verdade – murmurou Fred.
– Acho que não poderia estar em nenhum outro lugar – disse de volta, abrindo os olhos. Ela entreabriu os lábios e ficou na ponta dos pés, e Fred entendeu. Ele se aproximou fazendo com que seus lábios roçassem levemente nos dela. Fred levou uma das mãos à nuca de , enroscando os dedos em seu cabelo e puxando levemente quando tentou intensificar o beijo.
– Freddie…
Fred pressionou seus lábios nos dela de uma vez, eliminando todo e qualquer espaço entre eles. O beijo se encaixou como nenhum outro e levou as mãos às costas dele, explorando toda sua extensão enquanto o beijo se tornava cada vez mais profundo.
sentiu como se o mundo estivesse explodindo, e apenas eles dois estivessem protegidos dentro daquele jardim iluminado. Esse beijo foi completamente diferente do primeiro que haviam trocado. Não estavam testando a temperatura da água, não estavam indo com calma. Estavam com saudade um do outro, matando o desejo que os consumia desde aquele dia. Nada era calmo, mas tudo era precioso. Fred passou as mãos pelas pernas de , levantando-a. Ela envolveu as pernas ao redor da cintura de Fred, que praticamente correu até o banco de madeira no final da trilha, fazendo rir alto. Ele se sentou ainda com a garota em seu colo.
Fred segurou seu rosto com as mãos, começando a depositar beijos por toda sua extensão: nas bochechas, na ponta do nariz, na testa, no queixo e em tudo que pudesse tocar. Quando chegou à curva de seu pescoço, diminuiu o ritmo, levando todo o tempo do mundo. Não queria deixar um espaço sequer sem ser tocado. Não queria perder um segundo sequer agora que tinha em seus braços para fazer tudo que havia sonhado por tanto tempo. sorria tanto que sentia seu rosto doer.
– Ainda não acredito que estamos fazendo isso – comentou Fred, fazendo com que apenas trouxesse seus lábios para ela em um beijo como resposta.
Fred deixou que suas mãos deslizassem delicadamente e devagar pelas coxas dela, parando quando sua saia começou a subir demais.
– Eu não acredito que Fred Weasley gosta de mim – sussurrou , como se compartilhassem um segredo, ainda com o rosto de Fred perto do seu.
– Eu não acredito que gosta de mim – retrucou ele no mesmo tom, agora deixando que seus dedos subissem um pouco mais pela saia dela e apertando suas coxas.
Ela jogou a cabeça para trás, dizendo algo que Fred não entendeu, mas ainda assim, sorrisse antes de ir até o pescoço esticado de e o mordesse levemente. puxou o cabelo de Fred, soltando um gemido baixo.
– Não acredito que está gemendo para mim também...
– Eu não sabia que “” poderia soar tão deliciosamente indecente vindo de você.
– Não é a única coisa deliciosamente indecente que sei fazer com eles – comentou Fred, com as sobrancelhas se erguendo descaradamente quando olhou para ele.
– Quero conhecer todas as coisas deliciosas e indecentes que você consegue fazer com eles – abriu um sorriso largo. – Ou sem eles.
Fred passou a língua pelos lábios, um sorriso malicioso surgindo em seu rosto. Talvez devesse ser estranho ter essa conversa com , sua amiga de infância, mas de alguma forma, não era. Fred sabia que os outros não veriam dessa forma, mas naquele momento, parecia ter sido feita exatamente para ele, mais ninguém, nem mesmo para seu irmão gêmeo, por mais irônico que parecesse.
Era como se cada curva do corpo dela tivesse a forma perfeita para receber as mãos de Fred e como se seus lábios soubessem exatamente onde ir para provocar os arrepios mais fáceis e os gemidos mais gostosos de . Suas mãos foram parar na saia dela, puxando devagar o suéter que estava por dentro e passando os dedos vagarosamente pela barriga de . O sorriso da garota aumentou enquanto ela levava as mãos à lateral do cabelo de Fred e se mexia perigosamente no colo dele.
– Ah, … – Fred suspirou, deixando que suas mãos passeassem pelas coxas de enquanto a encarava com os olhos brilhando de desejo. – Vou te mostrar tudo que você quiser, você sabe. Eu faço tudo que você quiser.
Sem esperar por mais, o beijou novamente.


Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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