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Revisada por: Calisto

Finalizada em: 19/07/2024

Lá estava ela. Caminhava lentamente na direção de seu amado, Draco Lucius Malfoy, que lhe aguardava ansioso, sentado em uma cadeira. Estava nua, seu corpo totalmente exposto e convidativo, como Draco nunca viu antes. Sorrindo, sentou-se em seu colo, segurou sua nuca e levou seus lábios até o ouvido do garoto, que estremeceu no mesmo instante.
— Sou sua — ela ofegou, rebolando em seu colo. — Mensageiro de asas douradas dos poderosos Deuses.
Draco levou seus lábios ao pescoço da garota, parecia ser incapaz de dizer qualquer coisa. Temia que, se abrisse a boca, saíssem apenas gemidos e lamentações. Então a ocupou em trilhar um delicioso caminho até os seios da amada, onde deleitou-se com seu sabor e com o som de sua voz, sussurrando galanteios que a mente inebriada de prazer de Draco não conseguia compreender. Malfoy não percebeu de primeira, mas ele já não estava mais com suas roupas, estava igualmente nu, e a parte mais prazerosa de seu corpo estava dentro de , preenchendo-a enquanto a garota se movia com perfeição e ritmo em cima dele. Os gemidos de ambos, como Draco temia, escapavam de seus lábios em uma harmonia perfeita que apenas eles dois podiam ter.
Porém, pegando-o de surpresa, Black ficou tensa em seus braços. Ela saiu de cima do bruxo e se afastou, de repente estava coberta pelo conhecido uniforme da Grifinória, e ele, com o da Sonserina. Um pavor começava a se formar em seu rosto quando disse:
— Vá para casa. Não conte a ninguém o que você é.
— O-o quê? Do que está falando?
A jovem o ignorou e virou-se, correndo para longe. Draco tentou se levantar, mas parecia estar preso na cadeira. Ele gritava o nome dela, mas seu belo corpo era apenas um ponto minúsculo no horizonte negro.
O garoto se sentou de repente, ofegante e com seu pijama inteiramente molhado de suor. Olhou em volta e suspirou um tanto aliviado ao ver que continuava em seu quarto, na mansão da família Malfoy, da sua família, infelizmente. Ter uma noite tranquila havia se tornado algo impossível para Draco há algum tempo. Sua casa estava lotada de Comensais da Morte — ele próprio havia se tornado um deles —, uma prisioneira havia escapado do calabouço da mansão, e seu pai… Ele não estava mais por perto. Em compensação, agora eles abrigavam o Lorde das Trevas.
Sentia-se culpado por sentir alívio em não ter seu pai lhe enchendo de cobranças e expectativas o tempo inteiro. Não que fosse mais fácil com Lord Voldemort, longe disso. Mas Draco sabia que o Voldemort não falava duas vezes. Suas falas eram únicas, e ai de quem não as seguissem à risca.
Uma melodia calma começou a invadir seu quarto. Goldwing, goldwing, goldwing. Era disso que o havia chamado em seu sonho. Entendeu então que as coisas que a garota lhe disse nos sonhos eram parte da canção que alguém naquela maldita mansão estava ouvindo, alta demais para o seu gosto. Pior que aquilo, era o fato de que, se havia alguém acordado, ele teria que enfrentar as consequências do que havia acontecido na noite anterior.
Saiu de uma vez da sua cama, tomou um banho tão gelado que sentiu dor nos ossos, e se arrumou para o que achava ser o seu fim. Pegou sua varinha em cima da escrivaninha, como se fosse ter alguma chance de usá-la, e desceu degrau por degrau o mais firme que suas pernas trêmulas permitiram. Esperava encontrar a mesa de jantar lotada, como toda manhã, mas ela estava composta apenas por sua mãe, Narcisa Malfoy, sua tia Bellatrix Lestrange e, claro, Lord Voldemort com sua fiel Nagini, sentado à ponta da mesa, lugar que um dia foi de Lúcio Malfoy.
— Bom dia, querido — disse Narcisa suavemente, dando um beijo no rosto do filho. Os olhos do mais novo, contudo, estavam fixos em Voldemort.
O Lorde das Trevas sorriu sombriamente e esticou a mão pálida e ofídica, indicando a cadeira ao seu lado. Sem discutir, Draco sentou-se no lugar indicado, e ficou de frente para sua tia. Bellatrix Lestrange brincava com sua adaga, cantarolando animada a música que repetia na vitrola encantada no canto da sala. Não parou nem mesmo quando Narcisa, agora sentada ao lado do Draco, lhe bronqueou.
— Espero que a agradável música não tenha te acordado, Draco. — A voz de Lord Voldemort ressoou dentro da sala. Embaixo da mesa, Narcisa esticou a mão para segurar a do filho.
— Não, milorde — respondeu com a cabeça baixa. Sua vontade era falar que a porcaria da música invadira o melhor sonho que teve há tempos.
— Bom — o outro bruxo respondeu, assentindo. — Também espero que tenha dormido bem.
A ironia no tom de voz de Lord Voldemort era perceptível, já que o homem era incapaz de desejar algo bom a ninguém que não fosse ele mesmo. O bruxo se levantou, mas ao invés de ir até Malfoy, ele seguiu por trás de Bellatrix que deu pulinhos animados quando sentiu a presença do bruxo atrás de si. Com uma mão, ele alisava as cadeiras; com a outra, empunhava sua varinha.
— Eu, por outro lado, passei a noite em claro. Você deve imaginar o motivo, Draco.
O garoto engoliu em seco.
— Sim, milorde.
Voldemort parou de andar quando chegou na outra ponta da mesa. Ele inclinou a cabeça levemente e voltou pelo mesmo caminho, dessa vez parando apenas quando chegou em Draco. O mais novo, diferente da tia, estremeceu em seu assento. Ele ficou paralisado quando o bruxo mais velho se inclinou para frente, a varinha perigosamente firme em sua mão pálida. Seus olhos vermelhos e ofídicos varreram o rosto branco de Malfoy, se deliciando com o pavor evidente.
O jovem bruxo sabia que, além de o Lorde das Trevas estar se divertindo com seu medo, ele estava tentando acessar suas memórias. O esforço que Draco fazia para que a oclumência funcionasse e fechasse completamente sua mente, até mesmo de um dos bruxos mais poderosos do mundo, havia aprendido com um dos melhores naquela arte: Severus Snape. Novamente, Lord Voldemort falhou, mas optou por não dizer nada. Draco já receberia castigos o suficiente por desafiá-lo. Além do mais, o bruxo era esperto o suficiente para já saber o que havia acontecido, sem precisar revisitar memórias.
— Você não acha que eu iria acreditar que você não teve nada a ver com a fuga da nossa preciosa prisioneira, não é? — disse o Lorde das Trevas, sem realmente esperar por uma resposta. — Também não deve achar que sairá impune.
Lord Voldemort voltou a se sentar enquanto Draco engoliu em seco e apertou dolorosamente a mão de sua mãe, não que ela tenha achado ruim. Ele respirou depois de longos segundos segurando o ar, com medo de o ato automático de respirar fosse irritar o bruxo das trevas e isso ser o seu fim.
— Severus está tentando limpar sua bagunça. De novo.
— Obrigado, milor…
— Não agradeça ainda — Lord Voldemort o interrompeu, e Draco se calou na mesma hora, evitando encará-lo. — Você terá que compensar pelo seu erro, afinal, agora é um Comensal da Morte. E pode não parecer, Draco, mas eu sou muito misericordioso.
A risada estridente de Bellatrix ecoou por toda a mansão, mas o único a expressar alguma reação foi o próprio Voldemort, esboçando um leve sorriso para a bruxa. Entretanto, quando voltou a encarar Draco, seus olhos eram frios, como sempre, contrastando com a cor quente de suas globes.
— Eis o que irá fazer, Draco. Você voltará para Hogwarts, não contará a ninguém que é um Comensal, manterá a cabeça baixa e fará exatamente o que te mandarmos fazer — disse o Lorde das Trevas, sua varinha ainda apontava ameaçadoramente para o peito do bruxo mais novo. — Sua primeira missão será colocar alguns dos nossos melhores Comensais para dentro daquele castelo.
Draco apertou novamente a mão de sua mãe. Aquela ideia não lhe agradava, e podia sentir que havia mais alguma coisa por vir. O suspense poderia matá-lo antes que Voldemort o fizesse.
— Ah, e claro, sua segunda missão será matar Alvo Dumbledore.
O jovem bruxo arregalou os olhos, olhando pela primeira vez para o Lorde das Trevas. Ao invés de apertar a mão de Narcisa, ele a soltou e cerrou os punhos em cima de sua perna. Do outro lado da mesa, Bellatrix comemorou com gritos e palmas, levantando-se para saltitar entre Voldemort e Draco como se a ideia tivesse sido a mais genial de todas.
— Milorde — Narcisa se pronunciou, mantendo a cabeça baixa. — E-essa missão… O milorde tem certeza de que é o ideal concedê-la ao Draco? — Ela então olhou para o filho, quase chorosa. — Ele é novo demais.
— Uma honra, você quis dizer, irmãzinha — Bellatrix de meteu na conversa, inclinando-se entre Narcisa e Draco. — Queria eu poder fazer isso!
— Não deveria ser dever do próprio Lorde das Trevas? — Narcisa argumentou, com certo desespero, ignorando Bellatrix. — Quem melhor que o bruxo mais…
Lord Voldemort se levantou na mesma hora, fazendo todos se calarem. Bellatrix voltou correndo para seu assento, seguia carregando um sorriso satisfeito. Voldemort caminhou lentamente até Narcisa Malfoy e parou atrás dela. Draco agarrou o assento de sua cadeira e não tirou os olhos de sua mãe, um terror cresceu dentro de si ao imaginar o Lorde das Trevas fazendo qualquer coisa contra sua mãe.
— Narcisa, você de fato acha que tem direito de dizer qualquer coisa? — Lord Voldemort não queria que ela respondesse, apesar da pausa, e a bruxa sabia disso. — Acha que sem Lúcio Malfoy para completar seus afazeres como Comensal e depois da gracinha que seu filho fez na noite anterior, vocês dois têm alguma escolha? VOCÊS NÃO TÊM ESCOLHA ALGUMA!
O grito fez mãe e filho pularem assustados em suas cadeiras. Eles se recuperaram rápido, mas ainda tremiam. Bellatrix estava em silêncio, observando tudo, afundada em sua cadeira.
Voldemort levantou a mão, sua varinha direcionada para a mulher sentada na sua frente, e Draco percebeu, com a visão periférica, que ele estava prestes a jogar uma maldição em Narcisa. Mesmo com a voz trêmula, Draco exclamou com determinação:
— Eu farei. Farei o que pedirem, é só me dizer o que fazer, e eu farei.
O sorriso de Lorde das Trevas se formou de forma lenta, completamente satisfeito. O maior defeito de Draco Malfoy era ter muitos pontos fracos, como sua mãe ou a garota por quem era tolamente apaixonado. A vantagem de Voldemort era saber todas elas. Ele e Lúcio Malfoy criaram Draco para aquele exato momento. Apesar de todas as suas recentes falhas, ele era indispensável para o seu plano, já que era o Comensal mais novo, o único com acesso à escola de magia sem levantar suspeitas.
— Muito bem — o bruxo falou ao se sentar novamente em sua cadeira. — Você receberá novas orientações em breve.
Narcisa e Draco encararam aquilo como uma deixa para se retirarem da sala, entretanto, quando estavam a alguns passos da porta, Lord Voldemort os impediu.
— Ainda não terminamos, Draco — ele falou, se levantando novamente. — Narcisa, pode ir.
A bruxa olhou angustiada para o filho. Sentiu o ímpeto de argumentar e pedir para ficar, mas se conteve e engoliu em seco, pois sabia que isso iria piorar as coisas. Ela então se retirou com Bellatrix, deixando-os sozinhos. Draco, assim como sua mãe, engoliu em seco, paralisado onde estava enquanto o outro bruxo se aproximava dele. O garoto sabia o que estava por vir.
— A dor é a melhor forma de nos ensinar algo, Draco. — Voldemort parou ao lado do mais novo. — E você precisa aprender a nunca mais me enganar.
Draco Malfoy não viu quando Lord Voldemort lhe lançou a Maldição Cruciatus, apenas a sentiu dominar o seu corpo em uma dor insuportável, que tomou conta de cada célula de seu corpo como se elas se partissem em mil pedacinhos doloridos; dor esta que o fez urrar tão alto que sua mãe, já longe daquela sala, o ouviu. O coração da bruxa, que já estava em pedaços há tempos, se partiu novamente.

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Alguns meses depois.

O monitor da Sonserina, Draco Malfoy, encarava o armário sumidouro fazia alguns longos minutos. O móvel não estava pronto, ainda devolvia a maçã verde inteira ou desconfigurada. Se um ser humano entrasse naquele armário, provavelmente chegaria na Sala Precisa sem um braço, isso se chegasse vivo.
O garoto apoiou a mão no objeto velho e suspirou com exaustão, deixando sua cabeça pender para frente. Estava cansado física e mentalmente. O incidente que aconteceu com Katie Bell e o colar de opalas, além da briga que teve com , seu único ponto de paz em meio àquele caos, lhe tirou as noites de sono; duas marcas arroxeadas abaixo de seus olhos mostravam isso. Draco estava mais magro e pálido que o normal, estava irritadiço e solitário, ele não aguentava mais. Aquele maldito armário era a única forma de manter ele e sua mãe vivos, mas o tanto de energia e magia que estava gastando para consertá-lo estava prestes a matá-lo.
Ele precisava sair daquela sala. Um relógio velho largado perto da porta dupla indicava que era hora do almoço. Não queria encarar ninguém, queria poder se isolar em seu quarto com , como sempre fazia. Lembrar que não se falavam há dias e que ela não iria para o quarto com ele fez seu peito doer. A jovem bruxa queria distância dele, e Malfoy não a culpava, pelo contrário, ele mesmo não queria estar perto de si próprio.
Caminhou determinado e com pressa para o Salão Principal — quanto antes chegasse, antes sairia. Um incentivo era saber que a veria, mesmo de longe, mesmo recebendo os olhares frios da garota. Um pouco dela ainda era muito melhor do que nada dela.
Contudo, quando chegou ao Salão, paralisou depois de alguns passos. Mais para frente, no corredor entre as mesas, Katie Bell falava com Harry Potter. Os olhos apavorados da garota olharam por sobre o ombro de Potter que, ao perceber o ato, se virou na mesma hora. Os olhos do aluno da Grifinória e do aluno da Sonserina se sustentaram por longos segundos antes de Draco engolir em seco e refazer seu caminho para fora do salão. Dessa vez, seus passos eram mais apressados, seu caminho era para o banheiro feminino do segundo andar, um dos poucos lugares do castelo que ninguém ousava (ou aguentava) entrar, tudo por causa da insuportável Murta-Que-Geme.
A fantasma levava esse nome por passar o tempo todo choramingando por estar morta. Ninguém suportava seus lamentos. Ninguém, exceto por Draco Malfoy, que ouvia Murta o mesmo tanto que ela o ouvia. Ninguém parava para ouvi-la, estava fadada a passar sua eternidade naquele lugar, sozinha. Então Malfoy se sentia seguro para contar seus segredos — ou parte deles.
Em troca, Draco ouvia seus lamentos, ouvia suas histórias de quando ainda era viva, e ela o respeitava.
— Murta? — ele a chamou quando entrou desesperado no banheiro. A garota não o respondeu de imediato, assim soube que ela não estava ali.
Draco cambaleou até uma das pias. De repente, estava sem ar, seu coração batia tão rápido que parecia prestes a rasgar sua pele e sair de seu corpo. Ele tirou o colete de lã e o jogou no chão, em seguida, afrouxou a gravata e se olhou no espelho. Seu reflexo lhe mostrava o quão pessimamente acabado ele estava, e seu coração não parecia querer desacelerar tão cedo. Draco jogou um punhado de água fria no rosto e não resistiu ao choro preso em sua garganta há horas, dias, talvez meses. Seus soluços eram altos, afinal, não adiantava se inibir se ninguém iria ouvi-lo.
— Sei o que você fez, Malfoy. Você a enfeitiçou, não é?
Draco olhou pelo espelho, o pavor se transformou em raiva ao perceber que Potter o havia seguido. Ele se virou, já com a varinha em mãos, e sem responder nada, lançou uma azaração. Potter se jogou para o lado, escapando por pouco. Ele se recuperou rápido e atacou Draco, que também se esquivou e se jogou para atrás das cabines do banheiro. Por pior que estivesse, ele jamais abaixaria a cabeça para Potter, então quando espiou para fora e viu o grifinório espiando no final das cabines, lançou mais uma azaração.
Harry revidou com precisão, porém, errou novamente o seu alvo. A essa altura, diversas partes do banheiro antigo estavam destruídas. A última tentativa de Potter havia acertado uma das pias, o que fez com que água jorrasse para todos os lados, inundando o chão.
Ofegante, Draco não o atacou de novo. Ao longe, o sonserino pôde ouvir batidas fortes na porta, junto com a voz inconfundível de sua amada.
— Harry, abra essa maldita porta! — Mais batidas. — Harry, me deixe entrar!
Draco percebeu que Potter se trancou no banheiro com ele, ou seja, estava tão encurralado quanto ele mesmo. Então Malfoy mudou sua estratégia, abaixou-se com cuidado e olhou pelo vão das cabines. Um segundo depois, Harry teve a mesma ideia e se abaixou. Já preparado para isso, Malfoy o atacou e correu para o outro lado das cabines, seu objetivo era atravessar o banheiro e abrir a porta para que visse o covarde que seu amigo era. No entanto, Potter já estava em pé do outro lado, e ele teve um milésimo de segundo para encará-lo e erguer sua varinha antes de seu oponente exclamar:
Sectumsempra!
Dessa vez, Harry acertou em cheio e Draco foi atingido. Ele cambaleou para trás e caiu, sentindo seu corpo inteiro arder. A dor era diferente de qualquer coisa que já tivesse sentido, a sensação era de estar sendo cortado e arranhado em vários lugares ao mesmo tempo, ele conseguia sentir as lâminas perfurando sua pele e o rasgando ao mesmo tempo que as lágrimas teimosas não paravam de cair. A dor era tão forte, senão pior, que a Maldição Cruciatus. Malfoy não conseguia reagir ou respirar, seu corpo todo doía e ele conseguia sentir o cheiro de seu sangue mais forte do que nunca antes. A única coisa que segurou sua consciência foi a voz dela.
Sua visão embaçada viu o rosto preocupado de acima dele, sua vontade era poder tocar aquele rosto, mas não tinha forças nem para levantar seu braço.
— Draco, fala comigo!
A voz de parecia distante e chorosa, apesar de ela estar tão perto. Odiava estar chorando na frente dela, porém, sua visão estava embaçada e ele sabia que a culpa era das lágrimas. Também sabia que estava perdendo a consciência, mas não queria. Queria poder continuar ali, sentindo alisar seus cabelos e chorar com ele. Vê-la preocupada lhe fazia sentir que talvez ela ainda o amasse, e essa esperança era o que iria mantê-lo viver.
Ou ao menos tentar.
— Por favor, não me deixe, Draco. Por favor, fica comigo!
Ele ficaria. Por ela.

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Quando Draco recobrou a consciência, percebeu logo que estava na Ala Hospitalar de Hogwarts e, pela falta de claridade, deveria estar de noite, ou quase. Ele ainda se sentia fraco, mas seu corpo já não doía mais.
— Você acordou!
Draco virou a cabeça o suficiente para ver que quem disse aquilo foi . Se esforçou para não sorrir, mas sentiu seu coração acelerar ao vê-la ali, ao seu lado, e foi impossível não se alegrar.
A garota se aproximou da cama e segurou a mão fria dele, colocando-a entre as suas na intenção de esquentá-la.
— Como está se sentindo?
Ele não sabia muito bem o que responder. Fisicamente, sentia-se ok, mas por dentro… ele continuava péssimo.
— Bem.
Ela sorriu, e aquilo fez a mentira valer a pena. Entretanto, o sorriso logo sumiu quando ela pigarreou.
— Eu sinto muito pelo que Harry fez — disse a bruxa, e Draco se segurou para não revirar os olhos. — Ele estava errado, totalmente errado, e irá sofrer as consequências disso, está bem?
Malfoy não respondeu nada, seus lábios se apertaram em duas finas linhas. Ele duvidava demais que aquilo fosse verdade, afinal, nada nunca acontecia com “Santo” Potter, ele sempre saía impune, mesmo nas piores situações. pareceu saber o que ele estava pensando, contudo, não insistiu no assunto.
— Draco, você precisa parar com isso. Precisa parar de ajudar… — Ela olhou em volta, depois se aproximou novamente, sua voz agora bem mais baixa. — Você-Sabe-Quem. Isso está te fazendo mal, literalmente te trouxe a enfermaria… Você quase morreu, Draco.
— Quer que eu deixe de ser um Comensal? — ele a questionou e ela assentiu. Draco deu risada, uma risada anasalada e fraca. Desviando os olhos, ele continuou em tom irônico: — Fácil assim, certo?
pareceu murchar. Sentada na beira da cama, seus ombros caíram
— Nós daríamos um jeito — ela deu de ombros. — Poderíamos fugir. Sei que nossas famílias não se entendem, mas bom, elas já foram uma só, não é?
O sonserino sabia que ela estava certa, de certo modo. Contudo, também sabia que aquilo só seria possível em um conto de fadas. Aquela era a realidade deles, ele não poderia deixar de ser um Comensal da Morte quando bem entendesse.
— Isso não vai acontecer — ele falou simplesmente, voltando a olhá-la. — Você não entende e jamais vai entender.
Aquilo pareceu magoar profundamente. Por sorte, ela não precisou responder ao garoto, pois Madame Pomfrey se aproximou do leito de Malfoy. A bruxa mais nova piscou na tola intenção de espantar as lágrimas, e quando Pomfrey pediu para que ela se retirasse, não pensou duas vezes antes de sair da enfermaria.

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O teto da Ala Hospitalar já estava irritando Draco em seu terceiro dia naquele lugar. Ele já estava bem, seus cortes estavam curados e agora eram apenas cicatrizes avermelhadas que iriam melhorar com o tempo. Não sentia-se fraco, apesar de ainda sentir algumas dores. Entretanto, o bilhete que recebera de sua coruja lhe indicava que aquele era o momento de agir.
Draco colocou os pés para fora da cama e vestiu seus sapatos. Verificou se Madame Pomfrey estava distraída e, ainda de pijamas, saiu sorrateiro da Ala Hospitalar de Hogwarts. Seu coração batia forte demais, sua mente apenas se questionava se estava segura em algum lugar. Ele trocou de roupa o mais rápido possível, pegou um pedaço de pergaminho e subiu até o sétimo andar. A porta da Sala Precisa apareceu, como todos os dias, e o armário foi facilmente encontrado.
“Se a maçã chegar inteira, morda-a e envie de volta", escreveu ele em um pergaminho. Colocou-o junto com a maçã dentro do armário e murmurou Harmonia Nectere Passus antes de fechar as portas do armário. Um minuto se passou quando Malfoy abriu novamente o armário e lá estava a maçã mordida, sem o bilhete. O garoto engoliu em seco; deveria ficar feliz por finalmente o armário ter funcionado, mas só conseguia sentir o medo lhe dominar. A partir do momento que colocasse a maçã dentro do armário para mandá-la de volta para a Borgin e Burkes, para que assim soubessem que o armário estava, de fato, funcionando, não teria mais volta. Ele hesitou por um tempo antes de fechar o armário e se afastar.
Por um breve segundo, Draco desejou com todas as forças que não desse certo, desejou que eles não chegassem em Hogwarts e, caso chegassem, que não estivessem inteiros. Ou não estivessem vivos.
Mas seus desejos se desfizeram quando a porta se abriu e uma fumaça preta saiu de dentro dela. A primeira pessoa a sair do armário foi sua tia, Bellatrix Lestrange. A mulher desfilou até Draco, ignorando o quão apavorado ele estava, e falou no ouvido dele:
— Vá para a Torre de Astronomia. Ele estará lá.
O garoto assentiu, desgostoso, e não demorou em sair da Sala Precisa. Não era fácil suportar a sua tia, mas era ainda pior ficar perto dos outros Comensais. Quanto mais longe puder estar deles, melhor.
Então Draco finalmente chegou à porta da Torre de Astronomia, no entanto, não entrou imediatamente. Naquele momento, naquele exato momento, ele mataria Alvo Dumbledore e começaria tudo, ao mesmo tempo que tudo seria destruído. Nada jamais seria o mesmo quando fizesse aquilo. Ele respirou fundo e abriu a porta. Respirando fundo novamente, entrou no exato momento em que ouviu a voz dela, dentro da torre. Um desespero surgiu em seu íntimo, pois era a última pessoa que ele queria que estivesse lá dentro, vendo-o fazer a pior coisa que já teve de fazer em toda a sua vida.
Draco Malfoy se permitiu hesitar um milésimo de segundo antes de entrar e fechar a porta. Não tinha mais volta.



FIM


Nota da autora: Oi, meus amores! Muito obrigada por lerem essa singela shortfic, que se passa no futuro da longfic The Exchange Student, com o ponto de vista do nosso menino Malfoy. Ela é curtinha, mas é meu xodózinho! E foi inspirada na música Goldwing da Billie Eilish.
Espero que tenham gostado tanto quanto eu amei escrever ❤️
Ah, um adendo: eu amo Harry Potter, amo as histórias que crio dentro desse universo, mas não concordo e não compactuo com as atrocidades que a autora da saga falou e continua falando em relação às pessoas transsexuais. As pessoas trans e toda a comunidade LGBTQIA+ merecem respeito, e a JK Rowling é uma velha nojenta que a única coisa boa que fez na vida foi a saga mesmo. Vou deixar aqui o link de uma ong que acolhe pessoas trans e travestis para que possamos ajudá-las a terem o mínimo de dignidade: Casa 1 - https://www.casaum.org/ ❤️

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