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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: Agosto/2024.




10 de março de 2008

!

Estava passando pelo corredor para ir ao banheiro, quando Hugo, o meu melhor amigo, me gritou. A gente estudava na mesma escola, mas não na mesma sala.

— Para de gritar, garoto! — disse rindo e fui em sua direção. — O que você está fazendo fora da sala?
— A professora de geografia faltou, graças a Deus! — disse, levando as mãos ao céu. — Mas e você? Achei que você não matasse aula.
— Eu não estou matando aula, eu pedi para ir ao banheiro.
— Exatamente, pediu para ir ao banheiro e está aqui conversando comigo. Que feio, Dona Rita! — debocha.
— Está prestando pouco, hein, Hugo? — disse, me afastando e indo em direção ao banheiro.

No recreio

— Gente, alguém viu a ? Já procurei pela escola toda e não a acho — Hugo disse, após se juntar a outros dois amigos, e Camila.
— Não, eu achei que ela estivesse com você — disse .
— Ai, gente, vamos comer primeiro, depois a gente a procura — resmunga Camila, dando de ombros.
— Eu não estou com fome, vou procurar por ela — disse, se levantando da mesa.
— Me espera que eu vou também! — Hugo disse e já estava se levantando, quando interveio.
— Não, faz companhia pra Camila. Você sempre reclama que está com fome! — enfatizou, e, em resposta, Hugo revirou os olhos.
— Está bem, mas acha ela logo. Acho que só não fui à sala dela — Hugo disse, se sentando novamente.
— O lugar mais óbvio, você ignorou?

deixou o refeitório e foi até a sala em que estudava. Assim que chegou à porta da sala, ele pôde ver que a garota estava sentada ao lado de outra menina, e, aparentemente, esta menina estava chorando.
? — ele chamou por ela, com um tom de voz baixo e suave. Ela olhou para ele e fez um sinal para se aproximar. — O que houve? Ela está bem?
— Uns babacas implicaram com ela.
— Não, ... — A menina respirou fundo e limpou as lágrimas. — Eles não implicaram comigo, eles falaram a verdade. Eu sou uma gorda ridícula, que nunca vai ser amada por ninguém. Eu vou ser feia e gorda para sempre.
— Kelly, não! Por favor, para com isso. E daí que você é gorda? Eu também sou. E não é porque somos gordas que somos feias. Nós também merecemos o amor, e mais do que isso, merecemos respeito. Ninguém tem o direito de diminuir outra pessoa porque ela é diferente — disse, tentando manter a calma.
— Ela tem razão, Kelly! Você não deveria ligar para o que esses otários dizem, eles só tentam se sentirem superiores porque, no fundo, sabem que não são nada além de idiotas — ele disse e se agachou ao lado da menina. — Eu não te conheço, mas sei que deve ser uma garota incrível. Aliás, você é muito bonita — ele disse, e o rosto da garota corou.
— Obrigada, gente, de verdade! — Ela fungou o nariz e agradeceu sorrindo.
, o Hugo está esperando a gente lá no refeitório — disse, ficando de pé.
— Tá, vamos lá. — Ela sorriu e também se levantou. Quando ambos já estavam na porta, perceberam que Kelly ainda estava sentada.
— Hey! — chamou a atenção da menina. — Vem também! — Ele sorriu.
— Hum... Eu... Eu não sei, acho melhor não — disse tímida.
— Vem, Kelly, vai ser legal. Você vai gostar do Hugo! — disse gentil.
— Tá, então... Então eu acho que vou! — disse, se levantando da cadeira.

Os três estavam a caminho do refeitório, quando passaram pelo grupinho de garotos que implicaram com a Kelly, e, infelizmente, os conhecia.
— Aí, , vai montar um zoológico? Porque já tem um hipopótamo e uma elefante — um dos garotos disse, e os outros riram. — Não, mas é sério. Vê se controla elas, o resto da escola também precisa se alimentar. — Mais uma vez o garoto e seu grupinho começaram a gargalhar.
— Qual o seu problema, hein? — perguntou irritada.
— Sai da frente que a hipopótamo está com raiva! — disse, rindo.
— Escuta aqui, seu verme...
— Vem, meninas, não vale a pena. E vocês... É melhor pararem — disse ríspido para os meninos e saiu puxando e Kelly para longe dali.
— Você devia ter me deixado terminar — disse com raiva.
— E ia adiantar? Tudo que você falasse ia entrar por um ouvido e sair pelo outro — ele disse calmo.
— E daí? Pelo menos eles iriam ver que nem todo mundo escuta desaforo e aceita isso numa boa — disse ainda alterada.
— Você os conhece? — Kelly perguntou baixinho e assentiu.
— Não costumavam ser tão idiotas.

Após chegarem ao refeitório e se encontrarem com Hugo e Camila, apresentou Kelly para ambos e se juntaram à mesa. Durante o tempo que ficaram ali, não falou uma palavra sequer. Quando o sinal tocou, o grupo se separou e voltaram para suas respectivas salas.

20 de dezembro de 2010

Formatura

Hoje era um dia importante, um ciclo seria encerrado e um novo começaria. Era para ser um dia feliz para os alunos e suas famílias, mas isso não aconteceu. Durante a formatura, um homem entrou no salão e iniciou um tiroteio. Foi tudo bem rápido e ninguém conseguiu reagir a tempo. O cara fugiu, deixando um total de 67 feridos e 2 mortos, e, dentre eles, estava Hugo.
estava distante do amigo quando o tiroteio começou, mas, quando viu o atirador indo para cima dele, ela tentou impedir, porém não conseguiu, havia muitas pessoas atrapalhando sua passagem. E então, ela viu seu melhor amigo levar cinco tiros no peito, enquanto o assassino sorria e atirava. Ela jamais seria capaz de esquecer aquela cena. Quando conseguiu se aproximar, o atirador já havia fugido. Olhar para Hugo ali no chão, com seu terno branco manchado de vermelho, fez ela desejar trocar de lugar com ele. Ela nunca sentira uma dor tão cortante no peito. Quando percebeu, já estava ajoelhada sobre o corpo e se desmanchava em lágrimas.
Em alguns minutos, ela ouviu um grito e, quando olhou, era Charles, o pai de Hugo, e, em questão de segundos, ele também estava chorando sobre o corpo do filho. não estava preparada para deixar Hugo, mas precisava procurar pela mãe e a irmã. Depois de muito procurar, ela conseguiu achá-las. Elas estavam bem, apesar de sua irmã ter sido atingida no braço. Após um determinado tempo, ambulâncias chegaram ao local. Muitas famílias choravam; algumas por sentirem a dor da perda, e outras por sentirem alívio ao saber que seus parentes estavam bem. não perdeu apenas seu amigo, a outra vítima fatal do tiroteio foi seu pai. O que já era difícil de lidar, se tornou insuportável.
já não sabia lidar com tudo aquilo, ela perdeu seu melhor amigo e sabia que não havia sido só ela que sofrera com a perda, e por isso tentava dar forças ao pai e ao namorado do amigo, além de também ter o , que sofreu a perda do pai. tentava, mas nem ela tinha força suficiente para lidar com tudo, e, por isso, ter Kelly ao seu lado foi tão importante nesse momento, afinal, felizmente a família de Kelly estava bem.
Mas como tudo aquilo que está ruim pode piorar... Como se já não bastasse a dor do luto, todos que estavam na formatura viraram testemunhas e tiveram que lembrar e relembrar várias vezes aquele dia horrível, para depois de alguns meses a polícia encerrar o caso sem ao menos dar satisfações. E essa foi a gota d'água que faltava para tudo sair do controle.



02 de março de 2017

Londres, Inglaterra.




Acordei com uma dor de cabeça horrível e não fazia ideia de onde estava. Me sentei na cama e fiquei tentando me lembrar do que havia acontecido na noite passada, mas foi em vão. Ouvi passos pelo corredor, então abri a porta do quarto e acabei dando de cara com Derek, um dos meus amigos.
— Você também está aqui? — indagou surpreso.
— Onde exatamente é aqui? — perguntei, olhando em volta.
— Eu não sei — respondeu, passando a mão na cabeça.
— O quê? Como assim não sabe? — perguntei indignado.
— Por que a surpresa? Você também não sabe.
— É, mas um de nós deveria saber.
— Essa conversa não vai nos ajudar em nada, pega suas coisas e vamos sair daqui.

Peguei tudo o que tinha quase certeza de que era meu e já estávamos saindo da casa, quando uma voz conhecida nos chamou.

— Hey! — chamou baixinho, enquanto descia as escadas.
— Andrew?
— Ah, tinha que ser — disse, já sabendo que a culpa de estarmos ali era dele.
— Sem tempo pra explicações, vamos embora!

Andrew chamou um táxi e nos levou pra casa dele. Assim que chegamos, Derek foi tomar um banho, porque ele estava fedendo a vômito. Andrew foi preparar o café, e eu fui colocar meu celular para carregar, me jogando no sofá em seguida. Estava me sentindo completamente destruído, só queria dormir, mas não antes de saber o que aconteceu na noite passada. Quando Derek voltou e ambos já haviam tomado uma boa xícara de café, Andrew nos contou tudo.

Tínhamos saído para beber. Eu estava irritado porque briguei com minha namorada, Derek estava triste porque tinha perdido o emprego, e Andrew queria afogar as mágoas por sabe-se lá o quê. Derek e eu bebemos todas, e Andrew ficou com uma mulher que estava atrás de diversão com mais de uma pessoa, e, segundo ele, nós concordamos com a ideia e aceitamos ir para casa dessa mulher, mas, quando chegamos lá, eu apaguei e então me levaram pra um outro quarto. Já Derek, acabou dormindo no banheiro. Andrew falou que ele passou a noite toda vomitando, isso explica por que ele estava fedendo tanto. Bom, após sabermos o que aconteceu, eu também tomei um banho e, depois disso, dormi.

Cheguei em casa por volta das 21 horas e encontrei meu pai no sofá, mexendo freneticamente no controle da TV, com uma tigela de pipoca ao lado.

— Desse jeito vai quebrar o controle — disse, trancando a porta.
— Ah, ainda bem que você chegou! Me ajuda a achar o canal em que vai passar o jogo! — disse, me entregando o controle remoto.

Após colocar no canal do jogo, me sentei ao seu lado para assistir à partida. Eu tenho uma boa relação com meu pai desde sempre, na verdade, ele é meu padrasto, mas foi ele quem me criou e sempre me tratou com muito amor e carinho. Aliás, mesmo com a minha mãe nos abandonando, ele não desistiu de mim, e eu sempre serei grato por isso.
Quando o jogo terminou, dei boa noite ao meu pai e fui para o quarto. Abri a gaveta da minha mesa de cabeceira e peguei uma caixinha vermelha que já estava ali há alguns meses. Dentro da caixinha, estava o anel de noivado que eu comprei para pedir a mão de Olívia. Eu confesso, gosto muito dela, mas será que a amo? O Andrew disse que aceitei participar de uma "orgia". Eu sei que estava alcoolizado, mas isso não justifica. A Olívia é uma garota incrível e não merece que eu vacile com ela. Bom, acho que preciso me redimir de alguma forma. Guardei a caixinha no bolso da calça, saí de casa e peguei meu carro. Fui dirigindo para a casa da Olívia, e, depois que parei em frente à casa, liguei para ela.

? — disse, com a voz sonolenta.
— Oi, amor, desculpa, te acordei?
— Sim, mas não tem problema. Aconteceu alguma coisa?
— Não, só queria ouvir sua voz.
— Está tudo bem?
— Olivia, desde que você entrou na minha vida, eu sinto que é a mulher certa pra mim. Você me completa. E eu sei que não sou perfeito e cometo muitos erros, mas eu quero que você me dê uma chance para te fazer feliz do jeito certo.
, o que... O que quer dizer com tudo isso?
— Eu estou em frente à sua casa, você pode vir aqui fora um instante?
— Hum... Tá, já estou indo.

Alguns minutos se passaram e ela apareceu. Estava usando um pijama amarelo e simplesmente linda. Provavelmente, tomei a melhor decisão da minha vida neste momento. Eu fui até ela e acariciei seu rosto, ela fechou os olhos e sorriu.

— Você atravessou a cidade só para me ver? — perguntou meiga e eu sorri.
— Quer casar comigo? — perguntei, a deixando sem reação.
— Amor, eu... Eu não sei o que dizer!
— Diz que sim! — Ela sorriu.
— Sim, sim e SIM! — concordou animada e pulou no meu colo, distribuindo vários beijos pelo meu rosto. — MIL VEZES SIM! — ela gritou e eu ri, a levantando do chão, em seguida lhe dando um beijo.
— Ah, eu já ia me esquecendo! — Coloquei ela no chão e peguei o anel de noivado.
— É lindo! Ai, meu amor, eu te amo! — Ela colocou o anel e me beijou.



02 de abril de 2017

Auckland, Nova Zelândia.


Essa é a primeira noite de folga em meses que eu e minha equipe recebemos, e, com equipe, quero dizer minhas melhores amigas. O destino às vezes acerta no que faz.
Já estava quase tudo pronto para minha noite de descanso, só o que faltava era um banho super gostoso. Estava indo para o banheiro, quando meu celular tocou.

— Alô? — atendi.
— Oi, . É a Julie!
— Ah! Oi, Ju. Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, sim! Anne quer uma reunião com você e as meninas.
— Ok! Será que você, por favor, poderia mandar a hora e o lugar da reunião por mensagem? Eu estou super exausta, quero tomar um banho e relaxar um pouco.
— Desculpa, , mas a reunião é hoje.
— O quê? — perguntei confusa.
— É isso mesmo. A situação é bem séria. A Anne está super nervosa.
— Não tem outra equipe disponível? A gente chegou hoje de viagem.
— Eu sei, e até tem equipe disponível, mas ela exigiu a melhor equipe, ou seja, sobrou para vocês!
— Tudo bem, então... — Pausei e respirei fundo. — Onde vai ser?
— Na casa da chefe!
— Está brincando, né?
— Ela quer ter o máximo de privacidade com vocês!
— Tá…Ok! Então... você pode mandar um carro me buscar?
— Já fiz isso, deve chegar aí em 30 minutos no máximo!
— Obrigada, você é um anjo!
— De nada e eu sei disso! — Riu. — Eu preciso ir agora. Beijinhos e se cuida!
— Pode deixar. Beijo!

Julie é a vice-presidente da agência. Após um acidente em uma de suas missões, ela perdeu o movimento das pernas e, desde então, usa cadeira de rodas. Mas isso não a impede de ser alto astral e alegre.
Quando eu entrei na agência, ela já estava lá. Na verdade, as meninas e eu fomos recrutadas por ela. Julie é a mestre dos disfarces e trabalha procurando por novas agentes, além de ser o braço esquerdo e direito da chefe.

Após finalizar a ligação, eu tomei o banho gostoso e relaxante que eu tanto queria e precisava. Infelizmente, eu não teria a noite de descanso, mas a vida é assim, não se pode ganhar todas!
Vesti um conjunto de moletom cinza, prendi meu cabelo, calcei meu tênis, passei um perfume e, tcharam, estava pronta. Saí de casa e o carro que a Ju pediu já estava à minha espera.

— Oi, Christian, boa noite! — disse, dando um sorriso.
— Boa noite, senhorita! — Sorriu e abriu a porta do carro.
— Cavalheiro como sempre! — Sorri e entrei no carro. — Obrigada! — disse, assim que ele fechou a porta.

Depois de duas horas de estrada, chegamos a uma ponte e o Christian parou o carro.

— Por que paramos? — perguntei.
— É o procedimento padrão! — respondeu.
— Não entendi — disse confusa.
Antes que ele pudesse me responder, uma senhora um tanto quanto elegante apareceu, vindo ao nosso encontro.

— Senhor Christian, é um prazer revê-lo! — disse, sorrindo.
— O prazer é todo meu, Adeline! — Ele sorriu e segurou a mão da senhora, deixando um beijo no local. — O encontro da quarta ainda está confirmado?
— Com certeza!
— Uhum! — pigarreei. — Me desculpem por interromper, mas será que alguém pode, por favor, me explicar o que está acontecendo? — perguntei, completamente perplexa.
— Perdoe-nos pela indelicadeza, senhorita! — a senhora disse e sorriu gentilmente. — Meu nome é Adeline e eu vou te acompanhar até o local da reunião! — disse e abriu a porta do carro para que eu saísse.

O caminho depois da ponte era como uma trilha, e Adeline o iluminava com uma lanterna. Caminhamos durante 30 minutos até chegar à casa (que parecia mais um castelo) onde aconteceria a reunião. Bem na frente da casa, havia uma escadaria, e nela estavam sentadas cinco garotas incrivelmente saturadas. E como eu sabia disso? Eu também estava!
— Oi de novo, gente!
— Oi! — responderam juntas, em um tom desanimado.

A porta da casa abriu e pudemos ter a visão da nossa chefe, vestida de poder em um macacão azul marinho, e totalmente plena, ao contrário das seis otárias que aqui estavam.

— Que bom que chegaram, minhas queridas! — Sorriu. — Entrem, fiquem à vontade! — ela nos cumprimentou, nos levou até a sala e nos acomodamos. — Me perdoem por trazê-las até aqui. Eu sei que chegaram hoje de uma missão, mas, acreditem, se não fosse importante, eu não teria as convocado! — disse, parecendo estar nervosa.
— Está tudo bem, não se preocupe! — Nadia disse calma. — Mas o que aconteceu? O que é tão importante, afinal? — indagou e Anne suspirou.
— Minha história não é tão simples como vocês pensam, garotas. Antes de me tornar a toda poderosa, eu era como vocês, trabalhava em campo, e isso me rendeu muitos inimigos, ainda mais porque... — Pausou um breve momento e sorriu. — Bom, naquela época, a gente tinha que finalizar o serviço. E não era como hoje em dia, que zelamos pela segurança da identidade pessoal de vocês. Íamos para o campo de cara limpa — contou, ao se levantar. — E aí eu fui fazendo minha carreira, e, quando vi, já estava disputando com as melhores e maiores agências desse ramo. — Ela andava de um lado ao outro da sala enquanto falava. — No início, eu vivia uma vida dupla. Eu dava aula em algumas escolas da Inglaterra e acabei me apaixonando por um de meus colegas. Começamos a namorar, nos casamos e então eu engravidei. Após o nascimento do nosso filho, percebemos que o casamento não daria certo e nos divorciamos. Ele sumiu no mundo, e, por um tempo, fomos só eu e o .
é o nome do seu filho? — perguntou Kelly, e a mulher assentiu.
— Quando o tinha apenas três anos, eu conheci Daniel, um homem maravilhoso, que entrou nas nossas vidas para mudá-la da melhor maneira possível! Ele amava o , e esse amor era recíproco. Daniel foi o melhor pai e o melhor companheiro do mundo, e eu queria ser a melhor mãe e a melhor companheira do mundo, então eu tinha decidido acabar com a agência e viver normalmente com minha família — ela dizia, com um sorriso no rosto. — Mas nada é tão simples assim. — Seu sorriso foi sumindo aos poucos. — Como eu disse, tinha colecionado inimigos, e, se eu saísse do negócio, eles viriam atrás de mim, e pior, iriam atrás da minha família. Eu tinha chegado a um ponto que não conseguia mais lidar com isso tudo sozinha, então contei para o Daniel e ele não me julgou ou se irritou, ele ficou alguns segundos em silêncio e depois me abraçou apertado, disse que íamos dar um jeito juntos e que daria tudo certo. — Uma lágrima escorreu por seu rosto e ela a secou, dando espaço para um sorriso triste. — Nos mudamos para outro bairro e coloquei seguranças disfarçados por toda parte. A Julie me ajudou nisso, inclusive. As coisas pareciam ter melhorado, mas meus agentes começaram a ser descobertos. Aliás, na época, eu não recrutava só mulheres e eu confesso que seguia um padrão, ou seja, só facilitou a busca deles. E foi aí que tomei a decisão mais difícil da minha vida. Eu iria abandonar meu filho e o amor da minha vida, porque se eu não estivesse por perto, eles não correriam perigo — ela disse e abaixou a cabeça.
— Que idade seu filho tinha na época? — perguntei.
— Seis anos e estava o rapazinho mais lindo do mundo! — Sorriu. — Acontece que eu não poderia abandoná-los sem nenhuma explicação, então eu falei para o Daniel sobre minha decisão Ele não concordou, mas entendeu, e sugeriu que continuássemos mantendo contato, para que eu não perdesse a infância do e permanecêssemos perto um do outro mesmo longe. Por incrível que pareça, deu certo.
— Então, você ainda mantém contato com sua família? — perguntei.
— Isso mesmo!
— E o seu filho aceitou essa história numa boa? — indagou Kelly.
— Ele não sabe, acha que o abandonei. Daniel, sempre que consegue, me manda fotos. Meu menino cresceu e se tornou um lindo homem! — Seus olhos brilhavam enquanto falava do filho. — Ele é advogado e vai se casar daqui a um mês! — disse, se sentando novamente.
— Parabéns para ele! — Valerie disse e deu um breve sorriso. — Mas sem querer ser grossa... Onde a gente entra nessa história?
— Há uma semana mais ou menos, Daniel disse ter visto um carro segui-lo, então tentou despistá-lo e achou ter conseguido, mas hoje ele viu esse mesmo veículo estacionado próximo à casa dele. Se o acharam, vão achar o e isso não pode acontecer. Por isso eu quero a ajuda de vocês. Eu preciso que tragam eles para cá em segurança! Eu sei que não vai ser uma missão fácil, não sabemos com o que vocês vão lidar, e também sei que estão cansadas, por isso não precisam me dar uma resposta agora.
— Já que está tudo resolvido, como vamos embora? — perguntou Tess.
— Vocês não precisam ir. Estão cansadas, então pedi para Adeline arrumar o quarto de hóspedes. Por favor, me acompanhem!

Anne nos conduziu até o andar de cima e abriu a segunda porta do corredor, nos revelando um lindo quarto. Ela entrou e nele havia duas portas. Ela abriu a primeira e mostrou o banheiro. Quando abriu a segunda porta, para nossa surpresa, era outro quarto. Sabíamos que a casa era grande, mas isso nos surpreendeu.

— Fiquem à vontade, meninas, eu pedirei para Adeline providenciar um lanche para vocês! — sorriu. — Tenham uma boa noite! — disse, e se retirou do quarto.
— E aí, meninas, o que acharam disso tudo? — Tess perguntou, se jogando na cama.
— Eu gostei, achei tudo muito chique! — Stella disse, olhando ao redor do quarto.
— Hum, eu acho que não era do quarto que ela estava falando — Valerie disse e prosseguiu. — Sabe o que eu acho? Que deveríamos recusar o trabalho, e eu estou falando sério.
— Sua chefe diz que precisa de nós, e você quer chutar a bunda dela? — perguntou Nadia.
— E daí que ela é a chefe? Se ela nos deu a opção de pensar no assunto, é porque não vai fazer nada se recusarmos! — Valerie respondeu, convicta. — Gente, qual é? A gente não tira férias faz tempo. Todo trabalho que jogam para cima da gente a gente aceita e eu, sinceramente, nem sei por quê — disse um, pouco alterada.
— Espero que você não esteja dizendo que a gente te força a fazer as coisas, porque se eu me lembro bem, você nunca se opôs — Kelly disse também alterada.
— Gente, vamos acalmar os ânimos, ok? Todas nós estamos exaustas, e não faz o menor sentido discutir essas coisas agora! — Stella propõs, tentando manter a situação sob controle.
? — Nadia chamou minha atenção. — Não vai falar nada?
— Me respondam uma coisa... — disse, após alguns segundos em silêncio. — Vocês estão felizes com a vida de vocês?
— Bom… Já que perguntou... — Tess deu uma pequena pausa e prosseguiu. — Qual é a graça de ganhar dinheiro e não poder gastar? Fala sério, gente, estamos montadas na grana, mas nem tempo de curtir isso a gente tem! Quer saber? Eu não estou nada feliz. Eu queria viajar o mundo, mas não para dar um fim na bagunça dos outros. Eu queria viajar o mundo para curtir! — disse, vomitando as palavras, e, por fim, respirou fundo. — Nossa, estou me sentindo até mais leve! — disse rindo, fazendo as outras meninas rirem também.
— Desculpa o estresse, gente! — Valerie disse e abaixou a cabeça. — A real é que eu também estou cheia de tudo isso! Eu sou formada em psiquiatria e psicologia, mas, sei lá, as vezes não sei lidar com tudo que acontece. E também não estou nada feliz. Essa vida louca que a gente tem foi boa, mas eu já cansei disso! Eu quero me redescobrir, entendem? — Valerie disse, todas concordaram e Nadia pigarreou.
— Bom, vocês devem saber que sou professora de matemática! — disse, e recebeu careta das meninas, fazendo-a rir. — A vida de um professor não é nada fácil, mas não vou mentir, eu sinto falta! Eu amo ensinar, eu amo motivar as crianças, eu amo toda aquela bagunça! — Nadia disse, com um brilho no olhar. — Dá um aperto no coração só de lembrar! — disse, com a voz falhada, e Stella abraçou a amiga de lado.
— Tá, então, antes que alguém comece a chorar, eu vou continuar! Bom... Quando eu tinha 18 anos, eu entrei para a escola de ballet e o primeiro dia de aula foi o último... Pelo menos para mim! — Abaixou a cabeça. — A professora disse que eu nunca seria uma bailarina, que, para isso acontecer, ou eu teria que nascer de novo, ou teria que virar astronauta para, no mínimo, "ficar mais leve” — disse, fazendo aspas no ar. — Mas, algum tempo depois, eu provei que ela estava errada e me tornei não só uma bailarina, como também uma professora de ballet! — disse orgulhosa. — O meu sonho é abrir uma escola de ballet que acolha pessoas gordas! — disse sorrindo e as amigas olhavam para ela com orgulho. — Sua vez, Kelly! — disse animada.
— Ah, sei lá! — disse e sorriu fraco. — Eu só quero ser uma pessoa melhor e viver sem arrependimentos. — Kelly disse, meio aérea.
— Tá, né? Só está faltando você, ! — Lembrou Stella.
— Eu quero voltar para o Brasil, ficar com minha família e depois sumir para uma cidade do interior, ou sumir para um país que nunca fui e levar minha família! Aliás, posso até aproveitar e virar escritora, afinal, história para contar é o que não falta! — disse, e as meninas concordaram rindo. — Mas o que eu quero mesmo é ver todas bem e em paz. Então, já que não tem ninguém feliz, o que acham de aceitarmos essa missão e fazermos dela a última? — perguntei.
— Você está sugerindo deixarmos a agência? — Kelly perguntou, e eu assenti.
— Salvar o filho e o marido da chefe seria a forma perfeita de dar adeus a agência! — Valerie disse animada.
— Então... Todas estão de acordo? — perguntei.
— Sim! — responderam em uníssono e me abraçaram. Ouvimos uma batida na porta e era Adeline com os lanches.

Após comermos, nos dividimos e cada trio dormiu em um quarto. Pela manhã, fomos acordadas pelo barulho do despertador da Valerie, então nos ajeitamos e, quando já estávamos saindo do quarto, demos de cara com Adeline.

— Bom dia, senhoritas! — disse sorrindo e respondemos à senhora. — Espero que tenham tido uma boa noite de sono! — disse simpática. — Venham, eu vos acompanharei até a mesa! — disse, caminhando na nossa frente. Logo de cara, tinha um café da manhã incrível esperando por nós, e junto, é claro, tinha a nossa querida Anne.
— Bom dia, meninas! — Sorriu e levantou-se da cadeira. — Sentem-se, por favor! — pediu e foi o que fizemos. — Eu não queria ser tão deselegante, mas eu estou desesperada, então, por favor... Vocês pensaram no assunto? — perguntou aflita. Olhei para as meninas e todas fizeram um sinal positivo.
— Sim, nós pensamos — disse calma.
— E o que me dizem? — perguntou ansiosa.
— Nós aceitamos — comuniquei, tirando dela uma comemoração. — Mas esse será nosso último trabalho.
— Claro, claro, vocês poderão tirar férias por quanto tempo quiserem! — disse animada. — Obrigada, muito obrigada!
— Desculpa, mas a senhora não entendeu! — interrompi, e ela me olhou confusa. — Depois que seu marido e seu filho se juntarem à senhora, nós sairemos da agência! Pensamos muito e estamos decididas quanto a isso!
— Tudo bem, então... — suspirou. — Fico feliz que tenham tomado essa decisão antes de fazerem algo que se arrependessem…, mas saibam que se mudarem de ideia… sempre terá um lugar aqui pra vocês, minhas gloriosas. Bom, agora que está tudo resolvido, vamos comer!

Saímos da casa de chefe às 8:00 horas e fomos para a agência. Quando chegamos lá, fomos direto para a sala de reuniões, precisávamos de um plano para pôr em prática, então começamos a estudar a vida de e do padrasto. Aonde iam, o que faziam, o que comiam, o que gostavam, e por aí vai. Acontece que lidar com o padrasto seria muito mais fácil, porque, além de saber de tudo, ele sabia que sua vida estava em risco, ao contrário do , que não sabia de nada e ia se casar dentro de um mês. Então, decidimos trabalhar com sutileza.

Passamos o dia e a noite na agência resolvendo tudo e em três dias estaria tudo pronto para viajarmos para a Inglaterra. Como o tinha um escritório de advocacia, usaríamos isso ao nosso favor, mas após entrarmos em contato com seu escritório, a secretária disse que sua agenda estava lotada e que, por hora, ele não aceitaria mais nenhum cliente. Então só nos restou fazer uma coisa: entrar em contato com Daniel, e, após explicarmos quem éramos, ele prometeu colaborar conosco, ou seja, ele convenceria de que nosso caso era de extrema importância.

— Gente, vocês estão esquecendo do principal — Nadia disse, chamando nossa atenção. — Se o aceitar nos receber, ele vai querer saber por que queremos ele como advogado — disse, abrindo uma barra de cereal.
— Simples, porque ele é o melhor advogado da Inglaterra — lembrou Kelly.
— E Sullivan Smith é o melhor da Nova Zelândia, ou seja, seu argumento é falho — refutou Nadia.
— Tá, então escolhemos ele para ser nosso advogado pelo motivo de que nenhum outro conseguiu nos ajudar. — Foi a vez de Valerie falar.
— Ok, e que problema é esse que ninguém consegue resolver? — Nadia perguntou novamente.
— O tiroteio na escola que matou Hugo e o pai de um grande amigo meu. — As meninas me olharam com pesar. — Fecharam as investigações de repente e não falaram mais nada. Se ele for o tipo de advogado que eu penso que ele é, ele vai, no mínimo, ficar curioso com o caso — expliquei, e elas ficaram em silêncio. As garotas sabiam da história do Hugo e sabiam também que só entrei na agência para poder desvendar esse "mistério", mas não foi tão fácil quanto imaginei, e esse é mais um motivo que tinha para deixar a agência.
— Você acha que ele pode acabar descobrindo algo importante? — Stella perguntou, com cautela.
— Eu duvido muito — respondi, dando um sorriso fraco. — Mas o mais importante é fazê-lo acreditar que pode.
— Isso quer dizer que você já superou essa história. Isso é bom, já se passaram seis anos, não tem motivo para ficar remoendo isso novamente — Kelly disse, desdenhando, e todas olharam incrédulas para ela.



Saímos da sala de e demos o endereço do hotel em que estávamos para Janette, pois com certeza iria nos procurar. Assim que entramos no elevador, o celular de Valerie começou a vibrar.
— É a Tess! — disse, desbloqueando o celular. — Ela e a Stella já estão com Daniel, é para ficarmos de olho, porque eles estão sendo seguidos por um carro cinza.
— Diz para irem para um motel, fazer uma troca de carro e depois irem direto para o aeroporto.
, eu sei que você nunca foi a um motel, mas achar que lá faz troca de carro... — Kelly iniciou, mas pausou em seguida. — Ah, agora eu entendi! — Deu uma risadinha.
— Feito! — Valerie disse, bloqueando o celular e colocando no bolso.
— Acho que alguém tem que ficar por perto para ter certeza de que ficará bem — disse Kelly, preocupada.
— Eu fico! Do outro lado da rua, tem uma cafeteria ótima! — Valerie se ofereceu de prontidão, enquanto Kelly revirou os olhos com força.

O elevador abriu e saímos do local. Valerie foi para a cafeteria, e Kelly e eu fomos andando para o hotel. Quando entramos no quarto, havia malas, cabos, fios, notebooks, celulares, tudo espalhado pelas camas. De repente, Nadia saiu debaixo da cama, nos assustando.

— Estão devendo, é? — debochou, rindo.
— Que porra você está fazendo, Nadia? — Kelly perguntou irritada.
— Calma aí, estressadinha! — disse, se sentando na cama e pegando alguns cabos. — Esses são os equipamentos que vão ajudar a gente, aliás são mais eficientes montados, por isso, é melhor vocês colocarem a mão na massa.
— Tá, mas por que você estava embaixo da cama? — perguntei.
— Deem uma olhada aí embaixo! — disse animada, e Kelly e eu nos entreolhamos.
— Porra! — Kelly soltou um palavrão.
— Legal, né? — Nadia perguntou ainda animada.
— Como você colocou um arsenal embaixo da cama? — perguntei.
— Segredo. — Nadia disse orgulhosa. — Agora, mãos à obra!

Ficamos um bom tempo montando todo equipamento e arrumando um jeito de torná-los móveis. Depois que terminamos tudo, ligamos os aparelhos e agora tínhamos como monitorar todos os lugares em que fosse. Enquanto fui tomar um banho, as meninas foram buscar comida. Saí do banho e quando estava terminando de me vestir, bateram à porta.

— Já vai! — gritei.
— Oi! — disse, com um sorriso tímido no rosto. — Posso entrar? — perguntou, passando a mão na nuca.
— Sua noiva não vai aparecer aqui, não é? — disse, dando espaço para ele entrar.
— Não — disse, rindo. — Vim para me desculpar pela cena que ela fez, ela não costuma ser assim — disse sem graça.
— Tudo bem, imagino que deve ser estressante cuidar de um casamento — disse, me encostando na parede.
— Você não faz ideia! — disse e sorriu fraco.
— Quer beber alguma coisa? — perguntei.
— Não, obrigado! Eu... — Antes que pudesse continuar, a porta foi aberta com toda força, e Kelly e Nadia entraram rindo no quarto.
— Amiga, você não tem noção do que acabou de acontecer! — Nadia disse, rindo, mas parou ao ver que eu não estava sozinha.
— Oi... Eu... sou o , advogado das suas amigas! — disse, estendendo a mão.
— Ah, sim, sim! Elas chegaram a comentar! — disse, pegando na mão do rapaz. — Meu nome é Nadia! — ela disse, e ele sorriu.
— Bom, já estava de saída, com licença! , Kelly, quando se sentirem confortáveis para relatar o ocorrido na escola, por favor, vão até o escritório. Estarei à disposição de vocês. — Sorriu e foi em direção à porta.
— Eu te acompanho!
— Não, não precisa. Eu não quero atrapalhar — disse simpático.
— Não vai atrapalhar, eu também já estava de saída! — disse, pegando minha bolsa.
— Tudo bem, então — disse e acenou para as meninas.
— Já sabem o que fazer! — sussurrei para elas, antes de sair, e segui até o elevador.

Após alguns segundos em silêncio, eu decidi falar.

— Você parece incomodado. — Ele me olhou e respirou fundo. — Não precisa falar se não quiser, mas às vezes é bom receber um conselho de alguém que não conhece — disse, dando de ombros.
— E por que acha isso? — perguntou, me olhando.
— Porque é mais fácil de ser imparcial! — respondi, e ele voltou a olhar para a frente. O elevador abriu e caminhamos pelo hall, saindo do hotel. — Eu estou indo para um bar que vi aqui perto, se mudar de ideia e quiser conversar... Estarei lá — disse e saí andando.
— Hey! — ele me chamou, e olhei para trás. — Eu conheço um bar melhor — disse, e eu levantei a sobrancelha em sinal de dúvida. — Eu posso te levar, se quiser! — disse tímido, e eu sorri.

Entrei no carro do e, durante o caminho, não conversamos. Quando chegamos ao bar, pedi duas doses de tequila, mas relutou.

— Eu não posso beber, preciso dirigir.
— Tudo bem, então... Eu dirijo! — disse, e ele me olhou como se eu fosse louca.
— Você não pode beber e dirigir! — disse óbvio.
— Eu sei, e é por isso que não vou beber! — disse, e ele me olhou confuso. — Acho que você está precisando disso mais do que eu.
— Tudo bem, mas só vou tomar as doses que você pediu.
— Você quem sabe — disse, dando um sorriso. O barman trouxe as doses e virou as duas. — E então, já tem a coragem que precisa para desabafar? — perguntei, e ele sorriu.
— Você já esteve em uma situação onde tomou uma decisão achando ser a melhor, mas depois viu que só piorou tudo? — perguntou.
— Sim, mas sempre podemos tentar de novo.
— Mesmo que isso signifique magoar as pessoas que você gosta? — perguntou.
— Pode parecer egoísta, mas sim — disse, dando um sorriso fraco. — Não tem como acertarmos sempre, e essa é a beleza da vida, ela nos permite errar e aprender com nossos erros — disse, e ele chamou o barman.
— Mais duas doses de tequila, por favor! — pediu e, assim que o barman trouxe, ele bebeu. — Eu acho que não deveria ter pedido a Olívia em casamento — disse, abaixando a cabeça.
— Você não gosta dela? — perguntei.
— Gosto, mas não amo — disse, suspirando. — Eu a pedi em casamento porque estava me sentindo culpado por quase ter feito uma coisa idiota. E eu contei sobre meu quase deslize pra ela, e ela me perdoou, mas toda vez que ela diz que me ama, eu não consigo responder. O máximo que eu faço é beijá-la ou dizer “eu também”. Sou um pau no cu por fazer isso?
— Eu não sei. De verdade. Mas se você não a ama, talvez devesse deixá-la ir para encontrar alguém que a ame de verdade. Talvez ela fique chateada no começo, mas é assim em todo fim de relacionamento. Acredite em mim, ela vai superar — disse, colocando a mão em seu ombro, e ele segurou minha mão.

tomou mais alguns shots e me arrastou até o karaokê que tinha ali no bar, cantamos algumas músicas e depois levei ele para casa, afinal, eu precisava garantir a segurança dele. O ajudei a entrar em casa, e ele deitou no sofá, em seguida se sentou e pegou um papel que estava em cima da mesa de centro.

— Você pode ler para mim? — perguntou, estendendo o papel.
— Claro — disse, pegando o papel e me sentando ao seu lado. — “Filho, fui visitar sua tia, ela está doente e precisa de ajuda. Nos vemos em breve. Se cuide! Com carinho, D.”
— Eu vou para o meu quarto! — disse, se levantando.
— Você quer ajuda? — perguntei, e ele negou. — Bom, então eu vou embora! — disse, me levantando também.
— Está tarde, você não pode ir embora sozinha! Dorme aqui essa noite! — disse e, antes que eu pudesse responder, ele saiu cambaleando.

Fui atrás dele e, como o previsto, ele estava vomitando. Depois que ele saiu do banheiro, o acompanhei até seu quarto e depois voltei para a sala e liguei para as meninas.

— Oi! — disseram em uníssono.
— Oi! Meninas, vocês viram algo suspeito nas câmeras de segurança? — perguntei.
— Suspeito como? — perguntou Nadia.
— Quando saí com o do hotel, vi uma Ducati preta estacionada, e até aí tudo bem, mas o mais estranho é que, quando chegamos ao bar, achei ter visto a mesma moto, porém não fomos seguidos, eu fiquei de olho quanto a isso — disse, andando pela sala.
— Talvez seja um modelo de moto comum! — disse Kelly.
— Talvez, mas é melhor verificar — disse Nadia. — Estou voltando as imagens e você tem razão, , parece ser a mesma moto — disse Nadia.
— Então seguiram a gente? — perguntei, enquanto olhava para a rua, pela persiana da janela.
— Sim, e a pessoa foi mais esperta que nós — Nadia respondeu.
— Como assim? — perguntou Kelly.
— Assim que o saiu com o carro, o dono da moto apareceu e foi atrás, porém vocês seguiram a rodovia, e ele foi por uma rua deserta — explicou Nadia.
— Mas como ele sabia para onde estávamos indo? — perguntei.
— Talvez tenham colocado um rastreador no carro — disse Kelly.
— Tudo bem, irei conferir! Mas me respondam uma coisa, cadê a Valerie? — perguntei, e a Nadia deu uma risada.
— Saiu com uma garota que conheceu na cafeteria — Kelly disse enciumada.
— E você está bem com isso, Kelly? — perguntei, já sabendo qual seria sua resposta.
— Por que você está perguntando isso? — perguntou nervosa. — Quer saber? Vai procurar o rastreador! — disse, e antes que ela desligasse, pude ouvir as risadas da Nadia.

Fui até o carro do e no veículo não havia nenhum rastreador, mas uma lâmpada acendeu na minha cabeça (não literalmente, é claro). Voltei para a casa e fui até o quarto do . Ao seu lado na cama, estava seu celular. O peguei e, como previ, era ali que estava o rastreador. Levei o celular para o banheiro, tirei o rastreador e joguei dentro da privada. Depois que coloquei o celular no mesmo lugar, voltei para a sala, me deitando no sofá. Em alguns minutos, adormeci.

Acordei às 5:48 da manhã e fui ao banheiro. Coloquei um pouco de pasta no dedo e “escovei” os dentes. Depois que saí do banheiro, fui à cozinha e mexi no armário, peguei um bule e coloquei um pouco de água para ferver. Achei dois pães e, como eles já estavam um pouco “velhos”, cortei em pedaços, passei manteiga e coloquei no forno. Peguei duas xícaras e coloquei sachês de chá, depois despejei a água quente nas xícaras. Depois de um tempo, desliguei o forno e retirei as torradas de lá. Quando me virei para colocar o tabuleiro em cima da mesa, estava encostado no portal da porta, com os braços cruzados.

— Oi, eu... Eu mexi em algumas coisas, espero que não se incomode — disse envergonhada.
— Não tem problema! — disse, dando um sorriso leve. — Obrigado — disse, se aproximando.
— Ah, de nada! Eu já estou acostumada a fazer o café da manhã das meninas, então não foi esforço nenhum — disse, com um sorriso no rosto, e ele riu.
— Não, obrigado por ontem! Eu estava perdido e você me ajudou, obrigado — disse, dando um sorriso.
— Já sabe qual decisão tomar? — perguntei, e ele deu um longo suspiro.
— Acho que preciso de um pouco mais de tempo — disse, bebendo o chá.
— O que você acha de tirar uns dias de folga? Pode te ajudar a espairecer — disse, e ele ficou um tempo me encarando.
— Engraçado, não achei que ouviria isso de alguém que veio de tão longe, atrás de uma ajuda minha — comentou. — Achei que iria querer urgência no caso.
— Você é a nossa última chance. Então talvez eu só não esteja pronta pra te ver apagar nossa última chama de esperança.
— Quer saber, eu tenho estado muito sobrecarregado. Tirar uns dias de folga vai me fazer bem. Além disso, preciso estar 100% para me dedicar ao máximo ao caso de vocês. Vocês depositaram sua fé em mim e vou fazer jus a isso. — Sorriu, me fazendo sorrir também.
— As meninas e eu vamos viajar por uns dias. Se quiser vir conosco, será muito bem-vindo.
— Eu vou pensar — disse, sorrindo. — Bom, eu vou tomar um banho. Preciso ir ao escritório, ainda tenho algumas coisas para resolver. Se você não se importar de esperar, eu posso te dar uma carona — disse gentil.
— Tudo bem, eu espero. — Sorri, e ele saiu da cozinha.

Organizei as coisas na cozinha e fiquei esperando por . Após alguns longos minutos, ele apareceu e fomos para o carro. Durante o caminho, conversamos sobre várias coisas, parecia que já nos conhecíamos há anos. estacionou bem na frente da cafeteria que ficava perto do seu escritório. Dali, eu iria andando para o hotel.

— Obrigada pela carona — disse, depois que saímos do carro.
— Obrigado pela companhia e pelo chá. — Sorriu. — Bom, até breve! — disse, colocando a mão em meu ombro.

estava atravessando a rua, quando avistei a Ducati preta vindo a toda velocidade para cima dele. Corri na direção de e empurrei ele com meu corpo, fazendo com que nós dois caíssemos no chão e, por muito pouco, um acidente grave não aconteceu.

— Você está bem? — perguntei, ainda no chão, com ao meu lado.
— Eu... Eu podia ter morrido — disse, me olhando assustado.
— É, eu sei — disse, me levantando e o ajudando a se levantar. — Vem, vamos sair daqui!

Levei-o até o carro e dirigi até o hotel em que estava hospedada. Quando entramos no quarto, ele se sentou na cama e Nadia deu água com açúcar para ele beber. Ele estava pálido e tremendo, e com razão, não é mesmo?
Me sentei ao lado de na cama, e, em um gesto inesperado, ele me abraçou.

— Obrigado! — disse, me abraçando forte.
— Como está se sentindo? — perguntei, depois que nos separamos.
— Vivo! — disse num tom descontraído, fazendo as meninas darem uma leve risada. — Mas, falando sério, eu estou legal, só acho que prefiro não ir para o escritório hoje — disse, e concordamos. O celular de começou a vibrar e, após olhar o visor, ela se levantou da cama.
— Desculpa, eu preciso atender — disse, saindo do quarto.
— Eu acho que já vou embora — disse, se levantando.
— Tudo bem, eu te levo! — Nadia disse gentil.
— Não precisa, eu posso ir sozinho.
— Tenho certeza de que pode, mas prevenido vale por dois, então... Vamos? — perguntou, abrindo a porta.
— Está bem. Se insiste… — ele respondeu, se dando por vencido. — Tchau, meninas! — disse, acenando para Valerie e Kelly.
— Tchau! — responderam, acenando.

Nadia e eu conversamos muito pelo caminho, é estranho, mas parecia que ela já me conhecia. Bom, quando chegamos à minha casa, eu a convidei para entrar, mas quando fui abrir a porta, percebi que já estava destrancada. Será que deixei aberta quando saí de casa hoje? Não, não pode ser. Eu tenho certeza de que tranquei assim que saí.

— Tá tudo bem? — Nadia perguntou. — Está fazendo uma cara estranha — explicou.
— É que a porta está aberta, mas tenho quase certeza de que tranquei ao sair — disse intrigado, e ela me olhou preocupada.
— Tudo bem, deixa eu entrar na sua frente! — ela disse, e a olhei incrédulo. — Fiz aula de defesa pessoal. Se tiver alguém aí, eu posso resolver isso facilmente — disse convicta, passando na minha frente.
— Cuidado! — alertei, sussurrando atrás dela, enquanto ela entrava na casa.

Passamos cômodo por cômodo, mas não havia ninguém na casa. Na verdade, faltava ir ao meu quarto e, para nossa surpresa, quando abrimos a porta, tinha um cara amarrado ao lado da minha cama. Espera... Eu o conhecia.

— Andrew? — disse assustado.

Depois disso, lembro de sentir um baita de um impacto na cabeça e BOOM, nada além de um apagão.
Assim que acordei, percebi que hoje a vida estava querendo me castigar por alguma coisa. Meus pés e minhas mãos estavam amarrados e minha cabeça não parava de latejar. Olhei para o lado e vi que realmente era Andrew que estava ali, aliás, Nadia também estava amarrada.

— Acho que hoje não é o meu dia de sorte! — disse, fazendo os dois olharem para mim.
— Que bom que acordou. Já estávamos preocupados, você ficou um bom tempo desacordado — Nadia disse, e Andrew concordou com a cabeça.
— Obrigado pela preocupação, mas... Andrew, o que você estava fazendo aqui? — perguntei. — Quer dizer, você já estava aqui quando chegamos, o que aconteceu?
— Eu vim até sua casa para falar com você. Bati na porta, mas ela já estava aberta, então decidi entrar, mas, quando entrei, dei de cara com três brutamontes. Eu tentei correr, mas eles foram mais rápidos — explicou Andrew.
— Está bem, mas você sabe que nesse horário eu sempre estou no escritório, então... Por que veio para cá? — perguntei, e quando Andrew abriu a boca para falar, escutamos um estrondo vindo do andar de baixo.
— O que será que está acontecendo? — Andrew sussurrou assustado.
— Eu não sei, mas também acho que não quero saber — sussurrei, olhando para a porta do quarto e ficamos em silêncio absoluto.
— Tem alguém vindo — Nadia sussurrou, após poucos minutos.

Dava para ouvir o som dos passos pela escada, mas, de repente, o barulho cessou e então dava para ver a sombra da pessoa por baixo da porta. Quando a maçaneta rodou, ninguém sabia o que esperar, mas ficamos no mínimo aliviados quando a porta se abriu por completo.

— Valerie? — perguntei surpreso.
— Quem é ela? — perguntou Andrew.
— Eu sou a pessoa que vai desamarrar vocês! — ela disse, dando uma piscadinha. — Não acredito que você também está amarrada! — ela disse, desamarrando Nadia.
— Não seria a primeira vez! — Nadia disse, e eu e Andrew nos olhamos. — Não levem isso para o lado pervertido! — ela disse, e se levantou para desamarrar Andrew.
— Não que eu não esteja agradecido, mas o que você veio fazer aqui? — perguntei, enquanto ela me desamarrava.
— E cadê os caras que amarraram a gente? — Andrew perguntou.
— Primeiro: eu vim por causa da Nadia, ela não respondeu minhas mensagens, então vim conferir o que aconteceu. Segundo: quando nós chegamos, eles fugiram — ela explicou.
— O quê? Simples assim? — Andrew perguntou incrédulo.
— Algumas pessoas têm sorte! — ela disse, dando de ombros.
— Bom, já que está tudo resolvido... Vamos, né, Valerie? — Nadia disse, empurrando a amiga. — O teve um longo dia hoje.
— Esperem aí! Para onde vocês pensam que vão? Precisamos falar com a polícia, isso não pode ficar assim — disse, e eles ficaram me encarando.

— Desculpa, , mas eu não posso ser testemunha — disse Andrew.
— O quê? Por que não?
— Era sobre isso que eu queria falar com você, eu vou embora. E você sabe como são essas burocracias da polícia, pode levar um bom tempo até liberarem a gente de vez.
— O quê? Por quê? Para onde você vai? — perguntei nervoso.
, calma, por favor!
— Me acalmar? Quase fui atropelado por uma moto, invadiram minha casa para sabe se lá o quê, agora o meu melhor amigo está dizendo que vai embora. Desculpa, mas não tem como ficar calmo — disse, vomitando as palavras. Nessa hora, as meninas já haviam saído do quarto.
— Hey, senta um pouco e respira fundo — ele disse, e eu o fiz. — Eu vou me mudar pra Espanha. Eu amo o país e recebi uma ótima proposta de emprego por lá.
— Mas assim? De repente? — perguntei.
— De repente, não, eu já planejava isso há algum tempo, mas você está sempre tão ocupado e cheio de coisas para resolver que eu não quis te sobrecarregar ainda mais — disse, se sentando ao meu lado e virando de frente para mim.
— Eu tenho sido um péssimo amigo, não é?
— Um pouquinho! — disse, fazendo um gesto com a mão.
— Eu quero que você seja muito feliz nesse novo recomeço, você é o melhor amigo que alguém poderia ter! — disse, e Andrew me abraçou. — Não é uma despedida, é?
— Nunca é! — ele respondeu, e nos separamos. — O que acha de eu ficar aqui hoje?
— Está falando sério? — ele assentiu. — Seria ótimo. Com o azar que estou hoje, vai ser bom ter um para-raios — disse, rindo, e ouvimos uns toques leves na porta.
— Licença! Só queria saber se você está bem. Tentei anotar a placa do carro daqueles homens, mas não consegui. Eu sinto muito.
— Eu estou bem, só estou cansado. O dia está sendo bem terrível.
— Eu imagino. Mas você é duro na queda.
— Resta saber até quando. — Riu. — Andrew, essa é . Ela me salvou de ser morto por um atropelamento mais cedo.
? — ela disse trêmula, ao ver o rosto do amigo de .
— Na verdade, é Andrew — disse, a corrigindo.
— Oi — ele disse, e deu um sorriso fraco. — Posso dar um abraço na mulher que salvou meu melhor amigo? — ele perguntou, se levantando, e ela assentiu mesmo parecendo estar em choque. Ela saiu do abraço o mais rápido que pôde.
, eu preciso ir. Tenho um compromisso urgente, mas fico feliz que esteja bem! — disse, dando um sorriso. — Foi um prazer te conhecer... Andrew — disse, dando um sorriso forçado e saiu do quarto praticamente correndo.
— É impressão minha ou ela ficou estranha de repente? — perguntei a Andrew.
— É impressão — ele respondeu rápido. — Eu vou fazer um chá para a gente, por que você não toma um banho? O dia foi estressante! — ele disse, já saindo do quarto.
— Boa ideia!

— Hey, espera aí! — disse, indo atrás de .
— Me desculpa, mas estou com pressa — ela disse, abrindo a porta, mas o rapaz entrou na sua frente e fechou a porta novamente.
— Vamos conversar! — ele disse calmo.
— Conversar sobre o quê? Sua troca de nome? — ela perguntou irritada.
— Se você quiser... — ele disse, e ela revirou os olhos. — Me dá uma chance de te explicar o que aconteceu!
— Não precisa, porque eu sei o que aconteceu. Você foi embora, , simplesmente isso — esbravejou.
— Shhhhh! Não fala alto! Me dá essa chance, o Hugo iria querer que a gente se entendesse.
— Tarde demais para isso, não acha?
— Por favor, ! — implorou.
— Amanhã, às 9:00, no Franx. Não se atrase — disse, e ele sorriu. — Agora sai da frente! — Ela o empurrou de leve e abriu a porta, saindo da casa.



Estava cansada e estressada. Hoje cedo recebi uma ligação da minha mãe, ela me deu a notícia de que meu primeiro sobrinho havia nascido. Eu fiquei muito feliz com a notícia, mas em seguida fiquei de coração partido por não estar por perto. Em seguida, reencontrei , mas, por algum motivo, ele estava sendo chamado de Andrew e eu não poderia estar mais confusa. Mas o dia não foi de todo ruim, sabe os bandidos que invadiram a casa do ? Valerie, Kelly e eu o pegamos.

Horas antes

Voltei para o quarto depois de ter atendido a ligação da minha mãe, e vi que e Nadia já não estavam mais lá.

— Tem alguma coisa errada — Valerie disse, olhando o notebook.
— O que foi? — perguntei, me sentando ao seu lado.
— Alguém além do Daniel está morando com o ? — perguntou.
— Por que está perguntando isso? — indaguei, e ela voltou um pouco nas imagens, onde mostrou um homem grande e careca no jardim da casa. — Está acontecendo alguma coisa, precisamos ir para lá — disse, me levantando. — Cadê a Kelly?
— No banheiro — respondeu, pegando uma mala embaixo da cama. — Toma! — disse, me dando um estojo com três seringas dentro. — Para apagarmos aquele cara vamos precisar injetar esse líquido direto em uma veia. Eu me garanto na luta, mas confesso que um soco desse cara deve fazer um estrago.
— Então precisamos fazer o possível para ficarmos longe desses socos — disse, e Valerie concordou. — A gente precisa sair agora, não podemos esperar pela Kelly — disse, e Valerie guardou a mala novamente. — Kelly? — chamei por ela, batendo à porta do banheiro.
— Que é? — respondeu grossa.
— Você está bem?
— Estou, . Agora fala o que você quer.
— Tem alguma coisa acontecendo na casa do e estamos indo para lá. Nós precisamos que você se arrume e encontre a gente lá.

Depois de falar com Kelly, Valerie e eu nos apressamos e saímos do hotel. Por sorte, tinha um táxi disponível. Chegamos à casa de e o carro dele estava na garagem, mas nem sinal dele ou de Nadia. Valerie e eu decidimos nos separar, ela ficou com a lateral esquerda da casa, e eu com a direita. Fui andando para a lateral da casa, mas me agachei um pouco quando cheguei perto das janelas.
Infelizmente, as janelas estavam fechadas e com cortinas, então eu teria que dar outro jeito. Voltei para a frente da casa e apertei a campainha algumas vezes. A porta se abriu, mas foi deixada apenas uma brechinha e o careca que vimos pela câmera de segurança estava me encarando bem ali.

— Oi! Hã... Eu sou a nova moradora da casa ao lado — disse, apontando. — Me mudei para cá ontem e ainda estou meio perdida tentando organizar tudo... — enquanto eu falava, ele deu um longo suspiro. — Ok, eu vou direto ao ponto. Meu gatinho está em cima da sua árvore, será que pode me ajudar com isso? — perguntei meiga, e ele ficou alguns segundos me encarando.
— É claro — disse, abrindo um sorriso e pude notar um sotaque carregado.

Ele abriu um pouco mais a porta para sair da casa e, pelo que deu para ver, tinha mais um cara no sofá. Quando nosso grandalhão saiu da casa e fechou a porta, eu o deixei passar na minha frente e, com cuidado, peguei a seringa no estojo que estava no meu bolso.

— Não estou vendo nenhum gatinho — o homem disse, olhando para o alto da árvore.
— Está bem ali, ó! — Apontei, me aproximando do homem.
— Onde? — perguntou.
— Ali. — Apontei.

Quando me aproximei ainda mais dele, eu inseri a seringa na veia do seu pescoço e, antes que ele pudesse reagir, eu injetei o líquido. Ele murmurou alguma coisa e foi amolecendo, segurei ele e o arrastei para debaixo da árvore.

— Caramba, isso foi rápido!

Voltei para a entrada da casa, e Valerie estava lá.

— Encontrei um atrás da casa. Estava montando armadilhas e o equipamento é avançado — Valerie disse, sussurrando.
— Pelo sotaque carregado, esses caras são russos.
— Por que será que estão atrás do ? — Valerie perguntou.
— Eu não sei, mas algo me diz que vamos saber em breve — disse, pegando a segunda seringa do estojo. — Pelo que deu para ver, só deve ter mais um cara na casa, porém ele parece ser bem grande.
— Então qual é o plano? — Valerie perguntou, e, nesse mesmo instante, a porta foi aberta com brutalidade.

O homem ficou nos olhando com cara de quem ia nos partir ao meio, então Valerie e eu nos olhamos e acertamos um chute no peito do homem, o fazendo cair e, antes que ele pudesse reagir, injetamos o líquido da seringa nele. — Mandamos bem! — Valerie comemorou, batendo na minha mão. — Mas e agora? O que vamos fazer com eles? — perguntou, me olhando e, no mesmo instante, escutamos um barulho de carro.

Para nossa sorte, era Kelly quem havia chegado. Imediatamente, Valerie e eu começamos a mover o corpo para fora da casa com cuidado para que ninguém visse, e as câmeras de segurança não seriam um problema, já que, antes de sairmos, bloqueamos o sinal. Kelly abriu o porta-malas e colocamos um dos nossos Belos Adormecidos ali dentro, e depois colocamos os outros no banco de trás do carro. Amarramos suas mãos e seus pés e colocamos uma fita em suas bocas. Como Kelly iria levá-los para uma de nossas bases, também colocamos vendas neles. Enquanto Kelly e eu estávamos terminando tudo, Valerie foi ver onde estavam e Nadia.

Atualmente

Bom, eu e as meninas estávamos em uma das bases afiliadas da nossa agência. O lugar era bem menor e com menos recursos, porém ainda assim era confortável e elegante.

Nossos amiguinhos russos estavam em uma sala de confissões ou sala de tortura, dependia de quem estava no comando. Os homens estavam sentados em banquinhos e ainda estavam amarrados e vendados. As meninas e eu entramos na sala, elas se posicionaram atrás dos homens e eu fiquei escorada na porta. Após o meu sinal, elas retiraram a venda dos homens, e eles levaram um tempo para se acostumarem com a claridade.

— Olá, rapazes. Fico feliz de vê-los bem! — disse, dando um sorriso.
— ‘Idi na hui’ [Иди на хуй]** — um deles disse, num tom agressivo.
— Espero que não tenha me xingado, mocinho. Isso seria muito rude da sua parte! — disse sarcástica.
— Quem são vocês e o que queriam naquela casa? — perguntei.
— Como se fôssemos responder! — o homem que Valerie apagou respondeu.
— Eu imaginei que vocês diriam isso, por isso trouxe alguns incentivos! — disse, me retirando da sala. Voltei carregando um carrinho e fechei a porta.
— O que é isso? — perguntou.
— Nada demais, só alguns acessórios — disse, retirando o pano de cima do carrinho, revelando algumas ferramentas, como alicate, lâminas e seringas. Peguei o alicate e entreguei pra Nadia, que estava atrás do homem, que provavelmente me xingou. Peguei uma tesoura, entreguei pra Kelly, que estava atrás do homem que caiu na história do gatinho em cima da árvore, e, por fim, peguei um bisturi e entreguei na mão de Valerie, que estava atrás do homem que ela apagou.

— O que elas vão fazer com isso? — perguntou.
— O que elas quiserem! Elas estão livres para mutilarem seus corpos à vontade. Mas você vai descobrir em breve como elas escolherão usar cada ferramenta. Seu amigo careca ali vai ser o primeiro a se divertir. E então, meninas, por onde vão começar? Dentes, unhas… Olhos? Ou quem sabe as bo…
— Para! Não precisa de tudo isso, nós te contamos o que quer saber. Não é? — perguntou aos seus companheiros, que assentiram.
— Já começamos muito bem, não acham? — disse, sorrindo. — Leve-o para a outra sala — disse, olhando para Valerie, e ela assentiu, vendando os olhos dele novamente e desamarrando as pernas do homem. — É melhor não tentar nada, ou as consequências serão bem sérias — disse rígida.
— Para onde vão me levar? — perguntou.
— Fica tranquilo, já vai saber — respondi, quando ele e Valerie passaram ao meu lado. — E quanto a vocês, as garotas irão ficar aqui caso pensem em tomar alguma decisão errada — disse, saindo da sala.

Assim que fechei a porta, respirei fundo e andei pelo corredor, indo para a outra sala. Valerie já estava na sala com nosso “refém”. Ele estava sem a venda, mas ainda estava amarrado.

— Muito bem, para começarmos esta conversa da forma correta, eu preciso saber seu nome — disse, após me sentar na cadeira em sua frente.
— Nikolai.
— É um nome bonito — disse, sorrindo. — Nikolai, nós não somos inimigos, está bem? Eu só preciso saber de algumas coisas e depois vocês vão poder voltar para casa, ok? — perguntei, e ele assentiu. — Eu vou te desamarrar e vamos conversar — disse, pegando a mão dele e a desamarrando. — Agora me diz o que vocês estavam fazendo naquela casa.
— Fomos fazer um trabalho — disse, de cabeça baixa, e Valerie e eu nos entreolhamos.
— Nikolai, você está com medo? — perguntei, e percebi que ele estava chorando. — Está tudo bem, nós não iremos te machucar — disse, colocando a mão em seu ombro.
— Não são vocês — ele respondeu, com a voz chorosa. — Estão ameaçando todos da nossa agência, e se descobrirem que estou falando sobre isso, vão matar a mim e meus irmãos — confessou nervoso. Suas mãos estavam tremendo, então as segurei.
— Escuta, eu posso te ajudar — disse, e ele olhou para mim. — Se você me contar tudo que está acontecendo, eu prometo que nós iremos fazer o possível e o impossível para proteger vocês — disse, apertando suas mãos, e ele assentiu, se acalmando.
— Estávamos em dia de reunião, e nosso chefe saiu da sala para atender uma ligação, mas, quando voltou, parecia que ele tinha visto um fantasma. Perguntamos se estava tudo bem, e ele disse que teríamos que fazer uma viagem para os Estados Unidos e lá ficaríamos sabendo de tudo. Viajamos no dia seguinte e nos levaram para o local da reunião em uma van. Quando chegamos lá, nos levaram para um tipo de cassino e pediram para que esperássemos. Em seguida, chegaram mais algumas pessoas e se apresentaram como a máfia italiana, mas o mais preocupante era ninguém saber o que estava acontecendo. Mas, finalmente, depois de um tempo, apareceu um homem por volta dos 60 anos. Ele era alto e muito elegante. Lembro que ele deu um sorriso que me fez estremecer, mas enfim... Ele se apresentou como Peter Stone.
— Desculpa, o quê? — perguntei confusa.
— É, ele disse que se chamava Peter Stone e queria propor negócios. Ele queria a qualquer custo ir atrás da Anne Cox, ofereceu uma grande bolada pela cabeça dela — contou, e encarei Valerie. — Mas ninguém aceitou a proposta. A Anne é querida por todos os lados, seja por ter ajudado alguém a fugir ou por ter entregado alguém. Ela sozinha consegue movimentar vários negócios. Mas ninguém nunca aceita somente um “não”, então o homem surtou. Ele começou a quebrar tudo que via pela frente, mas depois parou e sorriu. Ele disse que era um homem de negócios e entendia que ninguém tiraria a peça de mais valor do jogo, então ele fez outra proposta — Nikolai disse, fazendo uma pausa. — Ele queria que pegássemos o filho de Anne e levássemos para ele. Faríamos isso de graça, ou ele nos mataria ali mesmo e depois iria atrás das nossas famílias. E isso é tudo — disse, respirando fundo.
— Você sabe se ele fez isso só com os russos e os italianos? — Valerie perguntou.
— Sinto muito, mas não sei responder.
— Tudo bem, escuta o que vai acontecer... Vou trazer os seus irmãos para cá, você vai conversar com eles e a gente vai falar com o chefe de vocês. Vamos levar todos para um lugar seguro, e não se preocupem, suas famílias também ficarão a salvo. Só precisamos de um tempo — disse, me levantando.
— Tudo bem, mas como vão fazer isso? — ele perguntou.
— Alguém importante nos deve um favor — disse, dando um sorriso. Valerie e eu saímos da sala, fechando a porta.

Andamos pelo corredor em silêncio e voltamos para onde estavam as outras meninas.

— Leve-os para a outra sala e depois me encontrem — disse séria e me retirei da sala.

Fui ao banheiro e lavei o rosto. Me olhei no espelho por um tempo, perguntando quando tudo isso iria acabar, e só para me recompor, fui até o refeitório pegar água. Já estavam todas à minha espera.

— O que aconteceu? — Kelly perguntou, quando cheguei perto.
— Valerie, conta para elas, por favor, eu preciso fazer uma ligação — disse, me distanciando, e Nadia veio atrás de mim.
— Você está legal? — perguntou preocupada.
— Não, mas vou ficar — disse, dando um sorriso fraco.
— Tem certeza? Você sabe que pode contar com a gente para qualquer coisa, né? — Nadia disse, segurando minhas mãos.
— Até para um abraço? — perguntei, e ela sorriu, me abraçando forte. — Não precisa se preocupar, está bem? Vamos focar na missão — disse, e ela assentiu, voltando para a mesa. Peguei meu celular e disquei o número de Julie.

— Alô?
— Oi, lembra da missão na Colômbia? Ficou nos devendo um favor.
— Está na hora de pagar?
— Isso aí. Precisamos de você em Londres o mais rápido possível.
— O que está acontecendo? — perguntou preocupada.
— Estamos lidando com algo maior do que esperávamos e precisamos de ajuda. Você e sua equipe serão de extrema importância agora.
— Tudo bem, nós viajaremos ainda hoje.
— Mais uma coisa... Será que você pode achar as outras meninas? Tentamos contato, mas só dá fora de área.
— Isso não será um problema!
— Ok, obrigada. Tchau. — Desliguei a ligação e voltei para a mesa onde estavam as garotas. — Vamos embora? — perguntei.
— Vamos deixar os russos aqui? — Kelly perguntou.
— Sim, não temos o que fazer. Além disso, aqui é simples, mas a segurança é reforçada — respondi.
— E com quem você estava falando? — Kelly perguntou novamente.
— Julie. Pedi ajuda pra ela — disse, e Kelly fez uma expressão estranha.
— Bom, então vamos embora — disse Valerie.

**’Idi na hui’ [Иди на хуй] é equivalente a “go fuck yourself”, que, no português claro, quer dizer “vá se foder”.



Eram 5:20 da manhã e eu ainda não havia conseguido dormir. Não conseguia parar de pensar em tudo que Nikolai havia dito, especificadamente no nome que ele havia dito. Eu tenho certeza de que já ouvi aquele nome em algum lugar. Resolvi me levantar e tomei um longo banho, normalmente me importo com questões ambientais, mas eu realmente estava precisando daquilo. Depois do banho, escovei os dentes e vesti um roupão. Eu estava dividindo quarto com a Nadia, era de costume ficar Kelly e eu no quarto, mas ultimamente não estávamos nos entendendo.
Peguei meu celular, coloquei o fone de ouvido e instalei um joguinho qualquer para passar o tempo. Enquanto eu jogava, recebi uma mensagem de Julie dizendo que só conseguiria viajar hoje à noite, mas que não era para nos preocuparmos, porque de hoje não passava. Eu sabia que se a Julie não estava disponível, era porque estavam fazendo alguma mudança, já que a Anne nunca ficava em um único lugar. Quando ela achava que precisa mudar, ela mudava, e isso poderia variar entre dias, meses ou até horas. A agência tinha um lugar oficial, mas só sabia desse lugar quem a Anne permitia que soubesse. Era de praxe a chefe se comunicar com a gente por vídeo chamada, mas, na maioria das vezes, ela pedia pra Julie nos encontrar em algum restaurante para dar as ordens. Quase nunca íamos para as filiais da agência e, quando íamos, eles trocavam de endereço em um piscar de olhos. Li a mensagem de Julie e mandei um “OK”, depois continuei jogando meu joguinho e senti como se estivesse sendo vigiada, então olhei para o lado e Nadia estava me olhando.
— Te acordei?
— Até parece — ela disse, dando um sorriso e em seguida bocejando. — Por que acordou tão cedo? — perguntou.
— Eu nem dormi! — respondi, e ela me olhou indignada. — Relaxa, ok? É o que acontece quando fico muito sobrecarregada — disse, deixando o celular de lado.
— Sabe o que mais admiro em você? — ela perguntou, e eu arqueei a sobrancelha. — A maneira que você lida com tudo. Você é forte em todos os sentidos e sabemos disso, mas você também é frágil e não tem medo de demonstrar isso — ela disse, e eu levantei da cama, indo abraçá-la.
— Você se lembra de quando eu falei do ? — perguntei, mudando de assunto e ela assentiu.
— Lembra do rapaz que ficou de refém com você e o ? — perguntei, e ela assentiu.
— Andrew, né?
— Sim, quer dizer... Não — disse, e ela me olhou confusa. — Ele é o — disse, e Nadia me olhou como se estivesse tentando resolver algum enigma super complicado.
— Como assim? — perguntou perplexa.
— Eu fui falar com , e ele estava no quarto. Quando o foi nos apresentar, eu pude ver o rosto dele e foi... — pausei, suspirando. — Estranho. Era como se eu tivesse voltado no tempo.
— Mas como você pode ter certeza de que era ele? — ela perguntou.
— Eu o reconheceria em qualquer lugar — disse, e Nadia sorriu. — Mas a confirmação veio quando ele foi atrás de mim. Ele disse que sentia muito e que precisávamos conversar — disse, mordendo o lábio.
— E...?
— Vamos nos encontrar hoje no Franx — disse, e ela deu um pulo da cama.
— O QUÊ? — deu um gritinho fino e colocou a mão na boca. — Eu não acredito, você está falando sério? — perguntou, se sentando novamente e eu balancei a cabeça, concordando. — Amiga, que maravilhoso! Depois de tanto tempo, vocês finalmente se reencontraram! — ela disse animada. — Mas... Por que você não parece estar muito animada?
— Eu não sei — disse, dando de ombros. — Na verdade, eu nem sei se quero me encontrar com ele — disse, suspirando.
, não faz isso. Eu sei que você deve estar confusa, assim como seus sentimentos, mas você não pode simplesmente ignorar isso. Se encontra com ele e resolve tudo o que tem para resolver. Se tiver que jogar umas verdades na cara dele, joga! Se sentir vontade de chorar? Chora! Se sentir raiva? Fique com raiva! Só o que você não pode fazer é fugir dessa situação e dos seus sentimentos — Nadia disse, em um tom calmo e doce.
— Você é ótima com as palavras — disse, dando um sorriso, com os meus olhos marejados.
— Vem cá! — Nadia sorriu, abrindo os braços, e a abracei. — Agora que tal a gente montar um look de tirar o fôlego para mostrar a mulher poderosa que você é? — perguntou animada, e eu concordei com a ideia. — Tá, mas primeiro, eu preciso ir ao banheiro! — disse, se levantando correndo.
Depois de Nadia ter feito sua higiene matinal, ela escolheu a roupa que eu vestiria para o encontro com . Ela escolheu uma calça jeans cinza escura, com alguns rasgados, uma camiseta branca justa e um cardigã longo, na cor rosa.
— Isso aqui vai ser a cereja do bolo! — Nadia disse, me estendendo um sapato fechado, de salto alto, na cor de um cinza bem clarinho.
— Pronto! — disse, após terminar de me arrumar.
— Você está maravilhosa! — Nadia disse, sorrindo orgulhosa, e me entregou minha mini mochila.
— Obrigada! — agradeci, sorrindo. — Olha, eu não pretendo demorar, mas se isso acontecer, explica a situação pra Julie e ela vai saber o que fazer — disse, e Nadia assentiu. — Mas não podemos esquecer do , os italianos podem vir atrás dele a qualquer momento.
— Tudo bem, eu vou pedir para a Valerie e a Kelly ajudarem a Julie, e eu vou me arrumar para ir atrás do . Se acontecer algo, é melhor que uma de nós esteja por perto — Nadia disse, e eu concordei.
Depois de sair do hotel, peguei um táxi e, após 40 minutos, cheguei ao Franx. Quando entrei no local, olhei ao redor, e não estava lá. Já estava saindo, quando uma garçonete veio até mim.
— Oi! — disse, dando um sorriso. — A senhorita está procurando por alguém? — perguntou gentil.
— Um amigo, mas acho que ele não vem.
— O nome do seu amigo é ?
— É sim.
— Ele teve que sair, mas pediu para que a senhorita esperasse, pois ele não pretende demorar! — disse simpática.
— Hã... Ok — disse, dando um sorriso fraco, e ela me conduziu até uma mesa.
— A senhorita quer pedir alguma coisa?
— Um café latte, por favor.
— Dois, por favor! — pediu, ao aparecer atrás da garçonete. Ela sorriu, anotando os pedidos e nos deixou a sós. — Trouxe para você! — ele disse, me dando uma rosa branca e sentou na minha frente.
— Obrigada — disse, após colocar a rosa em cima da mesa.
— Eu senti sua falta — disse, olhando em meus olhos.
— Então por que não entrou em contato? — perguntei, mexendo na rosa.
— Eu não sabia como fazer isso. Achei que você nunca mais iria querer me ver depois que fui embora.
— Você ter ido embora não foi o problema, eu entendo que você precisava de um tempo, mas você podia ter no mínimo se despedido, não é? Sabe como eu descobri que você foi embora? — perguntei, e ele me olhou. — Dentro do ônibus, com a sua vizinha — disse, e ele mordeu o lábio. — Pois é! Ela disse que você ter viajado foi a melhor coisa que poderia ter feito, que aquilo te ajudaria a lidar com a dor da perda. Eu confesso que não entendi muito bem sobre o que ela estava falando, então fui à sua casa e uma nova família estava morando lá. Eu me senti tão mal naquele dia, porque foi ali que eu percebi que não havia perdido só o Hugo, eu tinha perdido você também — disse, e ele engoliu seco. — Eu queria poder te ajudar da mesma forma que você fez comigo milhares de vezes. Eu queria... — Pausei e respirei fundo. — Eu queria te lembrar que você não estava sozinho e que eu nunca sairia do seu lado — terminei de falar e os olhos dele estavam marejados. Ele ficou um tempo em silêncio e quando finalmente abriu a boca para se pronunciar, a garçonete chegou com o pedido.
— Aqui está! — disse, colocando as bebidas na mesa. — Aproveitem! — disse, sorrindo, e, após agradecermos, ela se retirou da mesa.
, você era a única pessoa que eu queria e precisava durante aquele ano — disse, suspirando. — Mas eu não seria nem de longe a pessoa que você iria querer ao seu lado — ele disse, e eu neguei, abaixando a cabeça. — Todas as vezes que você tentava se aproximar, eu te tratava mal e te afastava. Eu estava passando por uma fase em que estava imerso em um mar de ódio e tristeza, e esqueci que você também havia perdido alguém. Eu não posso voltar ao passado e consertar as coisas, tudo o que eu posso fazer é te pedir perdão — lamentou, apertando a minha mão.
— Para onde você foi? — perguntei, mudando de assunto.
— Amsterdam — ele disse, dando um sorriso, e olhei surpresa para ele.
— Você fez a viagem dos sonhos do Hugo — disse, sentido um nó na garganta.
— Era o sonho do Hugo conhecer Amsterdam, e era o lugar favorito do meu pai. Eu queria me sentir mais perto deles e essa foi a forma que eu encontrei — disse, abaixando a cabeça. — Dizem que o tempo é o melhor remédio, mas eu só sinto a dor aumentar. — Uma lágrima escapou por seu rosto, me deixando comovida. — Você me perdoa? — ele perguntou, olhando em meus olhos.
— Não tenho nada para perdoar. Você fez suas escolhas, eu fiz as minhas, e foram elas que fizeram a gente se reencontrar. Isso é o que importa, eu acho — respondi, e ele sorriu fraco. — Mas eu quero saber o porquê de estar mentindo para o .
— Vamos dar uma volta, aí a gente conversa sobre isso — ele propôs, e eu concordei.
Depois de sairmos do Franx, fomos andar na pracinha. Estávamos em silêncio, até que começou a falar.
— O que você e sua amiga foram fazer na casa do ? — perguntou, me fazendo arquear a sobrancelha.
— Fomos ver como ele estava, já que mais cedo ele quase sofreu um acidente — respondi, dando de ombros.
— Não foi isso que sua amiga falou.
— E o que ela falou? — perguntei.
— Ela falou que foi por causa da outra garota, porque ela não respondia as mensagens — explicou.
— Bom, talvez ela tenha ido por esse motivo — respondi, e ele deu um sorriso de lado. — Não que você precise saber, mas Nadia tem um problema sério de memória. A gente se preocupa dela se perder por aí — minto.
— Sabe, ela teria dado uma surra em um dos caras, foi uma pena ela ter se segurado tanto — comentou, me encarando.
— Para quem estava amarrado e com um amigo desmaiado ao lado, você prestou atenção em bastante detalhes — provoquei.
— Sou um bom observador — respondeu, piscando para mim. — Eu preciso saber de uma coisa... Como vocês e se conheceram?
— Estava precisando de um advogado, ouvi dizer que ele era o melhor e decidi testar — respondi, e ele mordeu o lábio. — Agora que você já fez o seu questionário, me diz você, como conheceu o e por que ele acha que seu nome é Andrew?
— Conheci ele em uma das minhas viagens pelo mundo. Ele é uma pessoa incrível e muito gentil, não demorou muito para ficarmos próximos.
— Tudo bem, mas isso não explica o porquê de mentir seu nome.
— ...
! — chamei sua atenção e parei de andar.
— Eu te conto, mas antes quero te levar em um lugar. Vamos? — perguntou, e eu assenti.
Ele me levou para um tipo de estacionamento, e eu sinceramente não estava entendendo nada.
— Onde a gente está? — perguntei, olhando em volta, e ele permaneceu em silêncio. — Por que me trouxe aqui? — perguntei, aumentando o tom de voz.
— Para quem você trabalha?
— O quê?
— Não adianta fingir. Eu sei que você e suas amigas também estão em alguma agência, então me diz qual e eu decido o que vou fazer com você — respondeu em um tom ameaçador, e eu dei uma gargalhada.
— Você acha mesmo que eu tenho medo de você? — perguntei, me aproximando dele. — Tenta qualquer coisa e eu faço você se arrepender do nosso reencontro — sussurrei, próximo ao seu ouvido, e vi ele tencionar o maxilar. Ele parecia receoso, talvez estivesse pensando se valia a pena arriscar.
acha que me chamo Andrew, porque há alguns anos eu entrei para uma agência — revelou, dando um suspiro longo. — Estávamos investigando aquele atentado na escola e tudo apontava para Anne, a mãe de . Então eu pensei que ele poderia ajudar com alguma pista, mas ele não sabe de nada e ontem, quando fui na casa dele, era para me despedir. Eu vou viajar para procurar por novas evidências.
— Para quem você trabalha? — perguntei.
— Peter Stone.
— Porra! — disse exaltada.
— O que foi? — perguntou confuso.
— Pelo visto você não sabe para quem trabalha.
— Do que você está falando? — perguntou.
— Esse tal de Peter colocou a galera da máfia italiana e da máfia russa atrás do , porque quer vingança contra a Anne — disse nervosa.
— O quê? Você está brincando? De onde você tirou isso?
— Os caras que fizeram vocês de refém ontem, eles são russos e contaram o porquê de terem ido atrás do .
— Então eles estão mentindo, eu posso te garantir que o Peter não faria isso — disse confiante.
— E eu posso te garantir que a Anne não tem nada a ver com o atentado — disse firme.
— Você trabalha para ela? — perguntou, e eu assenti. — Tudo bem, então se eu tenho certeza de que Peter não tem nada a ver com essa história das máfias, e você tem certeza de que a Anne não tem nada a ver com as mortes na escola... Tem alguém sendo feito de idiota — disse sério.
— Então vamos descobrir quem é.



— Como você começou a trabalhar para Anne? — perguntou, enquanto deixávamos o estacionamento.
— Minha mãe achou que depois de tudo o que aconteceu, seria bom se eu começasse a ir a um psicólogo. Ela achou que assim as coisas iriam melhorar, então eu fui. Após algumas sessões de terapia, o psicólogo disse que poderia me ajudar de outra forma.
— Como assim? — perguntou, e então um flashback passou pela minha cabeça.

— Faixa marrom? Impressionante, . Parabéns!
— Obrigada. O jiu-jitsu tem me ajudado muito.
— Aposto que a dança, a yoga e o muay thai também estão.
— E não podemos nos esquecer da terapia. — Sorri e ele retribuiu.
, você tem um potencial incrível, mas todo o ocorrido com os seus amigos te impede de ver isso. Eu posso te ajudar a recomeçar. Na verdade, melhor que isso, posso te dar um rumo novo. Mas antes eu preciso saber, você confia em mim?


— Eu queria uma direção para seguir, e foi isso que ele me deu.
— Comigo aconteceu algo parecido — comentou, após um breve momento em silêncio. — Mas, enquanto você estava confusa e desorientada, eu estava possesso e sabia bem o que queria. Queria vingança. É claro que isso era só na teoria, mas em Amsterdam encontrei alguém que queria tanto quanto eu colocar isso em prática.
— Se você pudesse voltar atrás, faria diferente? — Antes que ele pudesse responder, meu celular tocou.

— Alô?
— Sou eu. — Era Julie. — O bunker foi invadido, não sabemos por quem. A Valerie está sozinha. Dispensei as meninas. Elas já devem estar perto da sua localização.
— Ok. Entendido.


— Problemas?
— Sempre.
— Precisa de ajuda? — Desta vez, foi o celular dele que tocou.

? Ei, ei, ei… Calma! O que houve? Fala devagar, não estou conseguindo te entender… Ok, já estou indo.

— O que foi?
— Parece que a noiva do viu ele e a Nadia juntos e está surtando — suspirou. — Ele precisa de mim para acalmar a fera. Mas, se você quiser...
— Nem pense nisso! Não precisa se preocupar, eu dou conta.
— Não tenho dúvidas disso, mas, de qualquer forma… caso precise de alguma coisa, me liga!
— Pode deixar.
— Tchau! — se despediu, deixando um beijo em minha bochecha.

Não demorou muito para Tess e Stella chegarem. Entrei no carro e fomos para o bunker.

— Aqui estão algumas coisinhas que você vai precisar — Stella disse, me entregando uma maleta.

Abri a maleta e nela estava o meu traje.
Na agência, somos separados por equipes. Cada equipe tem sua própria identificação.
Como trabalhamos para todo tipo de gente, seria mais do que apropriado preservar nossa identidade, e é por isso que temos um traje e nele contém máscaras com modificadores de voz, macacão com capuz e luvas.
Cada uma de nós escolheu uma cor para o macacão e os nossos codinomes são joias que representam as devidas cores: Branco; Cristal. Vermelho; Rubi. Amarelo; Âmbar. Azul; Safira. Roxo; Ametista. Verde; Jade.

Retirei o cardigã, o jeans e o salto, e coloquei o macacão. Desfiz o coque que tinha feito no cabelo e ajeitei de forma discreta no capuz.

— Ah! Já estava me esquecendo, também tem isso aqui! — Desta vez, me entregou uma caixa.
— Um par de tênis?
— Vai ser mais confortável do que os saltos! — respondeu, olhando para os meus pés.
— Mas como sabiam que…
— Não sabíamos! — confessou, rindo. — Na verdade, não é um tênis comum. Ele tem um dispositivo que libera uma lâmina na parte de trás.
— E como eu aciono esse dispositivo? — perguntei, enquanto amarrava os cadarços.
— É simples! Você só precisa bater com o tênis em algo sólido — ela explicou. — Ah, também ganhamos outras coisas.
— Entrega tudo de uma vez, Stella — Tess disse, revirando os olhos.
— Xi! Quietinha! Bom, continuando… Esses são os seus novos brinquedos. Essa aqui… — Mostrou uma pistola prata. — É uma pistola que atira dardos paralisantes, o efeito só dura alguns minutos e só contém quatro dardos, então use com sabedoria. — Me entregou. — E para encerrarmos com chave de ouro, temos essa adaga! — Mostrou um bracelete.
— Isso não parece uma adaga.
— É porque ela está oculta! Para desembainhar ela, você só precisa fazer um movimento rápido.
— Ok. — Peguei o bracelete e coloquei no braço.

Não demorou muito para chegarmos ao bunker. Colocamos nossas máscaras e entramos no local. Aparentemente, não havia ninguém, pelo menos não que pudéssemos ver.

Fomos direto para o pavilhão onde os russos estavam sendo mantidos. Havia cinco homens armados, parados no corredor.
Nos agachamos atrás de uma pilastra e Tess fez um sinal. Stella concordou com a cabeça e tirou do bolso uma esfera metálica. Ela contou até três nos dedos e jogou a esfera próximo aos homens. Antes que eles pudessem reagir, a esfera começou a soltar uma fumaça e, em alguns segundos, todos os cinco homens caíram no chão.
Esperamos a fumaça desaparecer por completo e revistamos os homens, procurando por algum tipo de identificação.

— É o pessoal do Adam — falei, após ver o desenho de uma tartaruga, costurado por dentro da jaqueta de um deles.
— Aquele espanhol safado! — bufou Stella. — Tínhamos um trato.
— Bom, parece que ele se esqueceu disso — Tess disse, enquanto arrastava um dos corpos para o canto da parede.
— Se ele esqueceu, então vamos fazê-lo lembrar. — Olhei pela janelinha da porta do alojamento dos russos, e eles estavam lá, incrivelmente calmos. Muito provavelmente não sabiam o que estava acontecendo, os alojamentos eram a prova de som.

— Stella, você fica aqui com os russos. Não podemos deixá-los desprotegidos. Tess, procure pela Valerie. Eu vou procurar pelo Adam e tentar descobrir algo que possa nos ajudar.

Tess foi para um lado, e eu fui para o outro. Andei agachada entre os pavilhões e, após alguns minutos caminhando, finalmente ouvi uma movimentação.

— Merda!
— O que foi?
— Não estou conseguindo me comunicar com os outros. Vá avisar ao Adam.
— Eu tenho uma ideia melhor — disse, saindo de trás da parede, apontando um revólver para cabeça de cada um.
— Quem é você?
— A fada madrinha. E eu vou transformar vocês em abóboras se não me levarem até o Adam.
— Mostra para ela quem é que manda — ordenou, e o colega sacou a arma.
— Péssima ideia! — Em um movimento rápido, mirei o revólver na virilha do que deu a ordem e apertei o gatilho. Ele caiu no chão e começou a se contorcer. Quase que no mesmo instante, se formou uma poça amarela no chão. Felizmente para ele, minha arma não fazia nada além de dar choque. O cara que estava com a arma ficou imóvel, talvez não estivesse acreditando no que estava vendo. — Você pode me levar até o Adam, ou pode ser o próximo. O que você escolhe?
— Eu… Eu te levo — disse trêmulo.
— Ótimo. Vai na frente.

Ele me conduziu até o primeiro pavilhão e paramos em frente a uma porta azul. Ele deu três toques na porta, e, alguns segundos depois, ela foi aberta.

— Entra. — Ele foi na frente, e depois entrei, fechando a porta.
— O que foi agora, Jhonny? — Adam perguntou, parecendo estar irritado. Ele estava de costas para nós, por isso não percebeu minha presença.
— Ora, cadê os modos? Não é assim que se trata um cara tão legal como o Jhonny.
— Mas que… — Ele se virou com os olhos arregalados e tropeçou na cadeira que estava à sua frente.
— Saudades, Adam?
? Escuta, eu…
— Me poupe dessa conversa mole e senta a droga dessa bunda na cadeira, vamos conversar. — Sem hesitar, ele me obedeceu. — E quanto a você, Johnny. — Olhei para ele. — Vai vigiar a porta. Ninguém entra, ou coisas ruins vão acontecer, entendeu? — perguntei, e ele assentiu, saindo da sala. — Ótimo, agora somos só nós dois. — Peguei o revólver e pressionei contra a genitália dele.
— Não… Não… Por favor, não…
— Xi! Vai ficar tudo bem, sempre fica. Agora, refresque minha memória, o que aconteceu da última vez que nos vimos?
— Fizemos… um acordo.
— E qual era o acordo?
— Deixar de ser um mercenário.
— E por que você está aqui?
— Eu vim por causa dos russos. — Pressionei o revólver com mais força, e ele soltou um gemido baixo. — Eu não queria estar aqui…, mas ameaçaram me matar se eu não aceitasse o trabalho… Eu fiquei com medo, e, no desespero, acabei aceitando.
— Quem te contratou?
— Eu não sei — disse, abaixando o olhar.
— Está mentindo. Está com tanto medo deles que resolveu tentar a sorte comigo? Estou decepcionada. Não se preocupe, vou mandar flores para a sua “abuela’’. — Me levantei e engatilhei o revólver…
— Foi um homem… Quer dizer, uma mulher… — Arqueei as sobrancelhas, e ele engoliu seco. — Um senhor, foi ele quem me procurou e fez a ameaça, mas, antes de ir embora, eu o escutei falando com alguém no telefone. Ele se referiu a ela como Angel. Acho que ele só estava obedecendo ordens dela.
— E como esse senhor se apresentou? — perguntei, e ele fez uma pausa.
— Peter. Peter Stone.
— Tem certeza?
— Tenho, mas lembro de ter saído de lá intrigado, porque uma das garotas que estava com ele o chamou de Bob.
— Ok. E quanto a essa moto? Você reconhece? — perguntei, pegando o celular e mostrando a foto da moto que não estávamos conseguindo rastrear.
— Nossa, eles realmente fizeram um bom trabalho aqui.
— Do que está falando?
— Ah, é que se você reparar bem, essa Ducati tem peças de outras motos também.
— Isso significa que…
— Sem dúvida nenhuma, o cara que fez esse trabalho foi o Marco Santana.
— Como eu o acho?
— Não acha. Ele sumiu do mapa há alguns meses.
— Tudo bem. Agora… me explica uma coisa: por que vocês simplesmente não levaram os russos assim que chegaram?
— Não era para levar os russos.
— O quê?
— A ordem era encontrá-los e esperar.
— Esperar?
— Sim. Eu também estranhei, mas ele me deu um relógio de bolso e disse algo sobre o tempo ser um fator importante.
— Posso ver o relógio?
— Pode — disse, colocando a mão no bolso. — Toma. — Ele ia me entregar, mas acabou deixando cair. Me agachei e o objeto havia se quebrado. Juntei as duas partes que haviam se formado e olhei para Adam.
— O que foi?
— Isso não é um relógio.
— O quê? — perguntou, se levantando.
— É um cronômetro. Restam dez minutos.
— Eu… Eu não sabia disso, eu juro.
— Eu sei — disse, indo até a porta.
— O que...

Antes que ele continuasse, fui até a porta, mas ela não abriu. Tentei de novo, mas nada aconteceu. A porta estava trancada.

— Merda! Estamos presos aqui.
— O quê? Não é possível! — Ele foi até a porta e tentou abri-la, mas foi em vão. — Já sei! — Ele começou a esmurrar a porta. — SOCORRO! ALGUÉM? SOCORRO! POR FAVOR, AJUDA!
— Jura? Pedindo socorro para quem nos fechou aqui? Ótima ideia! — disse, enquanto andava pela sala.
— Tem razão, isso é idiotice! É mais fácil arrombar a porta! — Ele chutou a porta, mas falhou miseravelmente.
— Cara, desiste! As portas são reforçadas. Além disso, são automáticas. Isso significa que, a menos que a energia seja cortada, estamos presos aqui.
— Por que você está tão calma?
— Porque não adianta surtar. Eu tenho um plano, nós… — Antes que eu pudesse terminar a fala, um som grave foi emitido. A porta havia sido aberta. Jhonny estava ali parado, com o rosto ensanguentado e com uma das mãos fazendo pressão na cintura, na outra mão, ele segurava um cartão de crédito. Atrás dele havia um corpo jogado no chão. — Ok, isso foi… inesperado.
— Vamos logo. Esse lugar vai explodir em poucos minutos — disse Jhonny.
— Então… o cronômetro era para isso! — Adam disse, me olhando, e eu concordei. — Você já imaginava, não é? Está bem, esquece! Como acha que iremos conseguir sair daqui, em… — Olhou no cronômetro. — Quatro minutos?
— As outras mulheres, como ela. — Apontou para mim. — Elas deram um jeito.

Antes que Adam pudesse fazer mais alguma pergunta, saí da sala e Jhonny me acompanhou.
Corremos pelo corredor e descemos dois pavilhões, até vermos duas motos à nossa espera.
Adam e Jhonny ficaram com uma, e eu fiquei com a outra. Demos partida e aceleramos o máximo. Fui a primeira a sair pelo portão e depois escutei vários estrondos, um seguido do outro, era um barulho ensurdecedor. Parei a moto, quando percebi que Adam e Jhonny ainda não haviam saído do bunker. Eles estavam bem atrás de mim, será que… Não concluí o pensamento. Adam apareceu atravessando o portão, com o amigo apoiado nos braços. Fui até eles e apoiei o outro braço do Jhonny em volta do meu pescoço. Ao nos afastarmos poucos metros, o bunker inteiro explodiu, nos jogando no chão com o impacto.
Por alguns segundos, escutei apenas alguns zumbidos, mas, aos poucos, minha audição normalizou.

— Vocês estão bem? — perguntei, me levantando do chão.
— Estamos, não é, amigão? — Adam perguntou, colocando a mão nos ombros de Jhonny e ele resmungou. — É, estamos bem!


Continua...


Nota da autora: Oioi! Meus amores, a primeira vez que postei "Gordas e Gloriosas: o início" eu estava no auge da adolescência. Cometi erros e só quendo finalizei a história eu percebi que podia fazer diferente. Eu fiquei feliz com o final, mas, no fundo, eu sentia que podia ter feito mais pela história e pelas personagens. E hoje, aos 22 anos, eu decidi reescrever com os olhos que tenho hoje, com a experiência que adquiri durante o tempo. Eu espero de coração que gostem e que, talvez, com essa história, eu possa fazer uma pequena diferença na vida de vocês. Tenham uma boa leitura! Com amor, Felix.

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Nota da Beth Saturno: Gente, eu tô apaixonada por essa fic! É uma bomba atrás da outra (às vezes até literalmente hahaha). Caramba, essas pps são muito maravilhosas, tô babando por elas. Ansiosa demais para desvendar esse mistério todo. Continue logooo!

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