Revisada por vênus. 🛰️ até o capítulo 1 | aurora boreal 💫 do capítulo 2 em diante.
Atualizada em: 24/11/2024
Negação e isolamento andam juntos, marcam o primeiro estágio. Não importa como venha a informação da morte, negar e se isolar será a primeira reação de proteção neurológica para a dor iminente. Em seguida, ainda abraçando a dupla, vem uma aceitação parcial, um estado temporário em que a recuperação vai se desenrolando à medida que o enlutado vai se acostumando com a realidade da informação. E a partir daí vem a reação.
Raiva, barganha e a depressão são subsequentes como consequências e, antes de alcançar o estágio final de aceitação, podem prender o enlutado num ciclo infinito de reações.
Estudos quânticos podem sugerir que essas reações se formariam a partir de traumas passados, vividos durante a primeira infância — um período compreendido até os 7 anos — e que se não bem tratados, podem te prender em um quadro sem fim de ressignificações, indo e vindo sempre ao mesmo fato, sempre a mesma dor.
Nem todo cenário é igual, mas sempre será a mesma história. Somente elementos de elenco se alteram.
É como lidar com demônios infinitos e abatê-los, mas sempre revivê-los. A consciência não se cura, a cicatriz não se fecha.
A voz de saiu mais alta do que o normal e a força com a qual ela jogou a pasta em cima da mesa fez Agust — ou melhor, Yoongi naquele momento — ter seus cabelos bagunçados pelo vento, mesmo com o gel usado há pouco tempo para deixá-los uniformemente para trás estivesse novo. O produto era bom, fazia efeito, exceto contra a fúria de sua chefe.
Chefe e esposa, aliás.
— Por que tem a porra de um pedido de reabertura desse inquérito de 15 anos atrás? E por que ele tem a sua cara estampada? — ela disparou, ainda no mesmo tom e com a feição assustadora de quando estava explodindo em raiva. Geralmente isso ocorria quando ela ficava com estresse acumulado do trabalho. Era conhecida por ser uma delegada muito paciente e pouco por violência. Sempre sendo mais razão, menos emoção, e isso também se refletia em sua vida pessoal. dificilmente saía de seu estado de espírito resiliente.
Yoongi precisou respirar fundo ao ser encurralado e notar os olhares curiosos de seus colegas na repartição da delegacia de investigações no distrito de Nowon. Se levantou sob o olhar incisivo dela e caminhou até a porta de sua sala, fechando-a e puxando a cordinha da persiana do vidro. Haviam curiosos demais do lado de fora.
— Quem te trouxe isso? — foi sua primeira pergunta.
— Essa não é a resposta, Yoongi! — manteve-se histérica.
— Para de me chamar de Yoongi. — ele pediu pacientemente. — E eu quero saber. Quem foi que te trouxe isso?
— Era para ser um segredo?
— Não, May. Era… — Yoongi sabia que não teria como argumentar qualquer coisa contra ela. não sossegaria, principalmente após ter visto um rosto tão parecido com o dele estampando um inquérito policial investigando narcotráfico na Coreia do Sul. Ele também jamais conseguiria se manter tão armado diante dela. — Eu só não sabia como te contar.
— E aí foi pedir ao Chang, a pessoa que mais adora a minha ascensão, para te ajudar? — ela riu nasalado. Desacreditada, mas agora mais calma, passou as duas mãos no rosto, respirando fundo. Levando as duas até a cintura, buscou o olhar dele. — Agust, eu quero saber por que você pediu a um delegado que estava cobrindo a minha folga e não a mim?
— Porque era urgente e você estava em seus dias de folga para os preparativos do lindo casamento que teve em Jeju. — na tentativa de desarmá-la, Yoongi rascunhou um sorriso em seu rosto.
Em troca, ele recebeu uma carranca pior do que quando ela havia entrado naquela sala.
— Essa é a merda de ser sua chefe e esposa. — bufou irritada.
— Já te disse que pode escolher ser só esposa. — ele deu de ombros, mas não resolveu muita coisa para alterar a atmosfera do ambiente.
— Guarda suas gracinhas para a senhora Min, eu quero respostas, Agust. — deu o tempo, mas recebeu o silêncio e a sobrancelha arqueada. — Agora. Não me faça pedir a sua transferência.
Não teria chance, ele teria que falar.
— A gente pode conversar sobre isso em casa? — pediu.
— Te conheço, esse é um pedido para você ganhar tempo e em casa vir com qualquer coisa e me tirar o foco. — apontou o dedo. — Mas hoje não, Yoongi. Hoje você me tirou do sério! Isso foi entregue na minha mesa e com um bilhete do Ministro de Segurança! O que o senhor Moon sabe que eu não sei sobre o meu próprio marido?
— Aquele rosto não é o meu. — Yoongi arqueou as duas sobrancelhas, apontando a cicatriz em sua face.
— É de quem então? — rápida, questionou, deixando claro que não o deixaria sair pela tangente.
Yoongi suspirou. Não tinha chance, ele sabia bem disso.
Com o peso no olhar dele, que não precisou de muito para visualizar, tudo foi dito. Não seria necessário tantas palavras, uma história com um começo exato e todo o seu enredo, ao menos não naquele momento. Vendo-o tão exposto para si, sendo mais uma repetição dentro da lista de ocasiões extraordinárias em que isso ocorreu, ela pôde enxergar mais uma cicatriz.
Só que não era uma flor doce a desabrochar. Passava longe de ser como a Lisianthus, a flor mais especial do mundo, com pétalas que lembram a textura de uma seda. Não só para Yoongi, mas era, no geral, como uma Flor de Marmelo com ramos espinhosos.
As plantas produzem espinhos também como uma forma de defesa.
— Maneira esquisita de apresentar sua família à sua esposa depois de casarem. — ela disse, tendo uma sobrancelha arqueada e o olhar impassível. — Você não me deixou conhecê-los nos últimos 10 anos e de repente quer reabrir uma investigação que corria sob segredo de justiça, na qual seu parente é o principal procurado.
— Por favor, aqui não é lugar…
— E onde é o lugar? — riu, desacreditada. — O que ele é seu?
Poderia ser difícil, mas Yoongi preferia arriscar lutar contra sua dificuldade em se esquivar da única pessoa que o via por inteiro, em transparências — bem, não em 100%, claro —, do que ter essa conversa no ambiente a qual as paredes pareciam terem sido feitas de amplificadores e reproduziam conversas por toda a repartição.
De qualquer forma, ela saberia sobre tudo, porque teria de estudar e ter total noção do caso. No fim, estava certa, ele ganharia tempo naquela tarde para a conversa em casa.
— Tudo bem, entendi. — desistindo, assentiu e retornou ao seu “eu” profissional. — Ali — apontou a mesa — tem as informações. A ANS liberou a reabertura do inquérito. E o senhor Moon não foi contra a sua participação na continuidade das investigações.
— Quanto tempo vou poder ficar na Tailândia?
— Nós temos dois meses para conseguir trazê-lo de volta a Seul para ser julgado e condenado. — esperou a careta dele ao notar a informação e sorriu convencida quando ela veio. — Não achou que iria sozinho, achou?
Antes que ele pudesse responder, a porta foi aberta sem qualquer pedido e Minju colocou a cabeça para dentro, sorrindo aberto, cheia de dentes.
— Então quer dizer que temos uma viagem em família para a Tailândia? — perguntou, sendo totalmente inconveniente em sua interrupção e sarcasmo.
Yoongi a odiava por isso. Mas não tinha muito o que fazer, junto com vinha Minju, a irmã mais nova e chata dela.
Ao menos ela serviu para lhe salvar naquele instante.
Não do resto, claro, porém ele teria mais tempo para lutar contra os próprios traumas e partir para frente, a fim de enfrentar.
O primeiro passo seria encarar seu próprio reflexo, agora fora do espelho.
Esse motivo usava terno e gravata, e os cabelos sempre derrubados para trás pelo tanto de gel que usava. Saber disso tão detalhadamente, aliás, lhe causava uma culpa profunda ao mesmo tempo que satisfazia seu ego, pois sabia que era uma vigia unilateral. Estava muito à frente de seu inimigo desta vez. Quantas vezes ele também foi vigiado da mesma forma, tão minuciosamente obcecada? Duvidava de uma resposta negativa, porém.
— Ele chegou! — num rompante, escutou a voz de Thahan preenchendo sua sala. Sentado diante de sua mesa, pronto para se deliciar de seu lámen, Suga ergueu apenas o olhar para seu braço direito.
— Ele? — perguntou, colocando uma mecha solta de cabelo atrás da orelha, implicando com o uso de singular na fala. — Veio sozinho? — retornou sua atenção para a tigela cheia.
— N-não. — Thahan gaguejou e se ajustou em sua postura, entrando por fim. — Chegaram em dois carros, minivans na verdade.
Como se tivesse dito algo errado, Suga parou todo e qualquer movimento, piscando lentamente. Ergueu levemente o rosto, inclinando-o para a direção de Thahan, e moveu o olhar para encarar o homem parado em sua sala.
— Você está com medo, Thahan? — outra pergunta sem qualquer humor ou um contexto prévio. Com a mão esquerda, Yoongi tateava o par de jeotgarak à mesa, sem desprender-se de encarar Thahan.
— Não, senhor… — a resposta veio hesitante. Não era por medo que Thahan parecia pouco confiante, mas sim por conhecer a figura à sua frente e a ausência de limites que envolvia o nome dele. — Não deles.
Com um sorriso aberto e um riso nasal, Suga voltou a piscar normalmente para ele, emendando uma gargalhada melódica em seguida, e voltou para o lámen, usando os palitos para misturar o macarrão ao molho. Respirou fundo quando a mistura pareceu estar do seu agrado e tomou um tempo, cessando a risada, aquietando o corpo e observando bem os próprios pensamentos movidos por memórias.
A ausência de empatia, o desejo pelo tormento e a antecipação de consequências fazia com que ele se sentisse motivado, ansioso pelo que sua mente projetava diante de seus olhos. Num cercado de ideais, não conseguia sentir medo, não deveria estar preocupado e jamais se colocaria em qualquer posição temerosa diante de Agust. Pelo contrário, sentia cada neurônio trabalhando em formas de fazê-lo enxergar que a única carta à mesa seria dele, ainda mais estando em sua zona de conforto, em seu território protegido de Chiang Khan.
Como foi no princípio. Como seria para toda a vida.
— Vamos recebê-los bem. — disse tranquilamente. E seria um alívio a Thahan se não fosse por ele conhecer um pouco de como funcionava aquele olhar apático, porém de brilho específico. Conseguia enxergar no reflexo dos trejeitos de Suga que a projeção futura era sanguinária. Fugia de um politicamente correto e nada dentro do senso comum.
— Eles irão ficar em uma casa no lado sul da cidade. — Thahan não tinha escolha, havia escolhido uma vida de serviços ao nome mais procurado, adorado e temido que já podia ter pisado em terras asiáticas. — Já temos acesso, nada passará despercebido.
— Corte tudo. Não quero que sejam vigiados.
— Mas, senhor-
— Agust é esperto. Uma das mulheres que veio com ele, a senhora Min, também é. — secando os palitinhos, Suga se concentrou na cor deles. O vermelho queimado. — Quero uma briga justa. — ergueu até a altura de seus olhos, refletindo os reflexos solares que invadiam o ambiente pela vidraçaria descoberta. Fixou sua visão nisso, como se Thahan não estivesse nem mesmo respirando ao seu lado. — Eu quero saber como ele sangra, se ainda é medíocre ou se sabe aproveitar cada gota jorrada… E para isso, eu não preciso pegá-lo na carne, fora de esquemas manjados.
Olhou para ele com uma feição serena, nada parecida com a que refletia as palavras ditas. Em silêncio, Thahan se despediu com uma breve reverência, compreendendo que estava em sua hora de partir e deixar Suga sozinho. Não seria uma boa ideia fazer companhia ao intitulado chefe naquele momento, muitas ideias deveriam passar por sua cabeça e só a faísca de pensar nos passos que ele tomaria a partir daquele instante revirava o estômago de Thahan.
Já se contavam mais de duas semanas desde que tinha notado uma movimentação diferente na única delegacia da pequena Chiang Khan e acabou por descobrir que teriam visitas por um tempo a fim de ter sua cabeça levada de volta para a Coreia do Sul, mas Suga não tinha medo e sequer estava preocupado. Preocupações eram efeitos de uma mente tendenciosa e imaculada, totalmente diferente dele e seu perfil considerado imoral.
Para Suga, quem se preocupa é quem planeja, pensa e considera. Ele nunca se planejava, ele era prático e a única consideração que fazia se voltava ao próximo passo: “quanto tempo até o relógio reiniciar o temporizador?”, era sua questão. E para essa próxima etapa ele nunca se preparava, ou então, em sua concepção, nada teria graça. Sendo assim, diriam que em sua cabeça nada rodava além de pensamentos vazios.
De volta aos seus anos mais jovens, quando ainda estava em Seul rodando o subúrbio e questionando-se o porquê de tudo sem ter qualquer resposta ou vontade de alguma, Suga não se considerava alguém dentro dos padrões de um senso comum. Nasceu em uma zona muito pobre do distrito de Nowon na grande capital sul coreana, não teve um pai que o aceitou e podia-se dizer que nem mesmo a mãe e o próprio irmão faziam-no se encaixar. Todas as vezes que encarava uma figura tão parecida com a sua na cama de solteiro forrada com um colchão fino, ele encontrava apenas o vazio. Sem respostas, sem sentimentos. Sem nada.
Yoon-jun, seu gêmeo três minutos mais novo, possuía apenas o semblante tão parecido com o seu. Tal qual os dois pedaços de madeira trabalhados que estavam em sua mão, instrumentos para alimentação.
— Igual… Igual… — riu fraco com a lembrança.
Realmente era como se estivesse encarando Yoon-jun durante todos aqueles anos, dormindo serenamente, fazendo parecer que a vida sempre lhes sorria com facilidade. O vermelho que revestia a madeira o fez ter a memória de encará-lo e imaginar como seria ver ele sangrando tudo o que sentia, tudo o que vivia diariamente enquanto fingia que estava tudo certo, que vivia tranquilamente com suas dores.
O dia amanhecia muito cedo para os irmãos Min, a escola era um porre e todas as manhãs ele precisava defender Yoon-jun de alguém. Na volta para casa faziam os deveres domésticos para ajudar a mãe, que chegava muito tarde do trabalho no centro da cidade. No final de semana, enquanto os amigos, nada mais ricos que eles, conseguiam aproveitar um pouco do tempo com os pais, os gêmeos perpetuavam mais tarefas, lavando folhas e ajudando a separar as porções de kimchi que seriam vendidas para complementar a renda.
Ele não sentia nada. Era um vazio nada existencial.
Era sua essência, na verdade. Não sentir por si, mas observar no outro, e por isso ele passou a ser fissurado em fazer Yoon-jun externar o que o sorriso simpático — único e exclusivo da vizinha estrangeira, Layla — escondia, depois de uma determinada fase de suas vidas. Foi quando se descobriu alguém fora do reflexo de Yoon-seo, seu verdadeiro nome de batismo, se tornando Suga; e como Suga, ele se sentia uma criatura herege, sendo, enfim, alguém que possuía uma identificação, uma carapuça onde depositar sensações e sentimentos.
Entretanto, mesmo entrando numa ponte entre o que era e o que se tornou, Yoon-seo jamais conseguiu enxergar a mãe ou o irmão além do que seus olhos captavam. Porque ele via em Yoon-jun o sangue igual aos outros, igual o que a senhora Min suava todos os dias e ainda não se fazia suficiente.
Sua vida, embora não tenha tido qualquer ligação sentimental com ela, foi observar um par de palitos de madeira revestidos em vermelho com uma única função, bem diante dos seus olhos. Sem fornecer qualquer libertação. E talvez fosse a isso que estavam fadados os gêmeos Min, a uma busca incessante pela liberdade.
A alforria um do outro e não de um sistema.
— Então você me encontrou de novo, irmãozinho. — riu pela última vez, no mesmo tom, no mesmo espaço vocal, na mesma conotação vazia. — Vamos ver até qual página nós vamos desta vez. — espetou o macarrão em sua tigela, inspirando o fedor da nicotina que invadia as suas janelas abertas, por alguém que fumava na calçada de sua rua.
— Cuidado com essas caixas!
— Cuidado você, Minju! — ralhou com a irmã ao quase se desequilibrar por ela passar correndo em sua frente. — Eu não preciso te lembrar como é desastrada, preciso? — completou, mas acabou por falar sozinha, pois a mais nova já estava em seu próprio mundo revisando os materiais que Jaesang trouxe na última caixa da minivan.
— Eu falei para você não trazer a criança. — Agust surgiu ao seu lado, risonho.
— Era ela ou o senhor Moon mandaria um dos ranhentos do departamento especial de inteligência dele. — sentiu um arrepio percorrer seu corpo apenas de lembrar. começou a esvaziar a caixa de munição que tinha trazido em seus braços, conferindo. — Eu confio mais nela.
— Sabe, geralmente as irmãs ou irmãos mais velhos tentam proteger os mais novos dos perigos. — Hwiyoung, recém-chegado com outra caixa carregada de munições, parou ao seu lado, rindo para ela e Agust. — E o enviado do senhor Moon seria apenas mais um dos homens dele… — olhou com desdém para os agentes espalhados pelo galpão, que não eram da equipe comum de investigações comandada por .
— Nós somos do senhor Moon. — Agust deu de ombros, pegando caixas para conferir também. Pelo silêncio e falta de movimento das mãos de , ele ergueu o olhar, notando ser encarado seriamente. — O que foi?
— Sério? — ela fez uma careta.
— E estou mentindo? Somos funcionários do governo, logo, agentes enviados pelo senhor Moon.
respirou fundo, voltando ao que estava fazendo. Ignorou o comentário de Agust e voltou à contagem.
— Eu prefiro ajudar ela e ter ela onde eu possa ver do que impedir. — comentou tardiamente sobre o que Hwiyoung havia dito a respeito de Minju. — Você tem seu irmão mais novo, vai saber do que estou falando quando ele disser que quer trabalhar no mesmo lugar que você.
— Espero que até lá seja impossível de familiares trabalharem no mesmo lugar. Seria um porre ter que ouvir Pietro o dia todo fora de casa também. — Hwiyoung revirou os olhos. — Como você consegue?
— Não moramos juntas. — Minju surgiu ao lado dele, o assustando não só com a sua voz, mas com o braço que passou por seus ombros, se pendurando. — Ela mora com o chato do meu cunhado.
Antes que pudesse erguer o olhar e repreender com alguma chamada séria, a porta do galpão foi fechada, chamando a atenção de todos. Ela se virou em tempo de ver a figura bem trajada e imponente de Shownu entrando, acompanhado de dois agentes uniformizados e armados. se escorou na mesa, já entediada, enquanto Minju ajustou os óculos, observando-o em suspiros.
— Senhorita Cafrey. — ele sorriu aberto para a delegada, parando diante dela com as mãos para trás, e não se esqueceu da reverência dramática. — Vejo que já estão se acomodando… — olhou em volta, meneando a cabeça positivamente.
O peito de subiu e desceu pesado, em uma respiração irritada por ter que estar diante do promotor que menos gostava em toda jurisdição sul coreana. Cruzou os braços sem transparecer a forma como ele a deixava genuinamente desequilibrada e o encarou através dos olhos tão escuros quanto uma noite sem luar.
— Não temos muito tempo a perder, promotor. — ela raspou a garganta, olhando-o por inteiro, pateticamente vestido com um colete a prova de balas por cima da camisa preta. — E embora eu queira muito conversar sobre o que o senhor Moon pensou ao te mandar conosco, preciso te lembrar, primeiramente, que não sou mais solteira. É senhora Min.
— Ah, sério? — Shownu fingiu surpresa. O sorriso sonso que odiava estava agora diante dos seus olhos, quando ela precisava estar focando em outra coisa. — Peço desculpas. — ele olhou para Agust ao lado dela, sorrindo falsamente. — Parabéns pelo matrimônio, Agust.
— Obrigado. — a resposta dele saiu seca. Afinal, não existia uma forma melhor de responder ao ex de sua esposa. Ao menos não para Min Yoongi.
Antes que o assunto se tornasse mais repetitivo e chato do que já era antes mesmo de começar, se descolou da mesa e assumiu mais da sua postura profissional, descruzando os braços e ficando mais perto de Shownu.
— Ainda estamos terminando de nos instalar e depois que fizermos conexão com a delegacia local, podemos ver onde você irá se encaixar, promotor. — sorriu por reflexo e não por simpatia.
— Ah, sim, claro. Eu vim deixar esses documentos para você e seus agentes. — agora menos asqueroso e mais revestido na figura que Minju endeusava, usando como argumento de que a irmã havia casado com o coreano errado, Shownu não sorria e parecia mais profissional. — Reunimos todas as autorizações que foram possíveis com a promotoria tailandesa. Espero que não seja necessário, mas caso seja preciso a força maior para a extradição do procurado, temos tudo pronto.
Como de costume, ela abriu a pasta, verificando as inúmeras páginas impressas com palavras que ditavam coisas.
— Não foi fácil conseguir tudo isso… — Shownu suspirou, relaxando o corpo por um momento. — Então faça bom uso.
— Fique tranquilo. Não vou permitir que minha equipe faça qualquer coisa que possa interferir na relação bilateral dos dois países.
— Perfeito. Confio em você, Caffrey. — o olhar dela foi erguido sem mover qualquer músculo. Shownu raspou a garganta. — Min. Senhora Min. — ele corrigiu.
Com apenas um aceno positivo, deu por encerrada a conversa forçada entre eles. Mas antes que ele pudesse sair dali, Agust se adiantou:
— Talvez você não devesse se preocupar e andar assim por aí, promotor. — gesticulou, tirando uma das mãos de dentro do bolso da calça social de sempre e apontou, referindo-se ao colete. — Pode chamar muito a atenção ou ofendê-los.
— Os agentes caracterizados também são um pouco demais, não acha? — Hwiyoung, de braços cruzados, sorriu gentil (na verdade ele estava guardando a risada para depois).
Um tanto desconcertado, Shownu se olhou. Levou alguns segundos, mas ele tirou o colete e entregou a quem fosse pegar, fazendo Minju se adiantar e pegar da mão dele com certa pressa. Não disse nada, apenas fez uma reverência em despedida e saiu, sumindo pela porta que logo foi fechada.
soltou um longo e arrastado suspiro, já cansada de algo que mal havia se iniciado. Se virou para a mesa, colocando a pasta em cima dela com certa força.
— Escutem. — chamou a atenção de todos, o que foi conquistado em segundos. Todo mundo parou o que estava voltando a fazer, e que já tinha sido interrompido pela chegada do promotor, para escutar a ela. — Nosso relógio começou a contar agora. — ela foi séria. — Temos dois meses para levar a cabeça desse infeliz para o nosso território e sem fazer qualquer alarde. Passamos dias planejando todos os nossos passos e decisões. Então façam tudo como foi organizado, como deve ser feito. Vamos acabar com isso o quanto antes para irmos embora… Eu tenho uma lua de mel que foi interrompida para terminar em Bali.
Sabendo que suas palavras seriam mesmo breves, a equipe retomou às atividades, naquele instante sendo a organização do lugar que ficariam por um longo período de tempo. ficou parada, observando a todos, até que seu olhar recaiu em Agust, quieto e sério como sempre; naquela manhã em específico, até o cabelo dele estava mais contido com o uso do gel de sempre.
Se aproximou lentamente dele e tocou em seu cotovelo, acenando para o lado com um movimento sutil de cabeça, e ele entendeu que era para segui-la. Deixou a caixa de munições em cima da mesa, seguindo-a em silêncio, a uma certa distância — não por “privacidade” ou por serem muito reservados, mas porque ele gostava de admirar a caminhada confiante de e, dado ao conjunto da calça preta e a camisa branca por dentro do cós, observar a esposa por trás estava sendo muito satisfatório, principalmente com as ideias que lhe ocorreram em mente ao analisar mais atentamente o rabo de cavalo que ela exibia.
Faltavam poucos passos para que Agust a alcançasse e ela acabou saindo primeiro e fechando a porta. Quando ele saiu, sendo pego pelo Sol escaldante de uma área quase deserta, a viu encostada em uma das minivans estacionadas. O vento balançava o cabelo preso e o excesso de tecido da roupa dela, mas o olhar de se prendeu ao seu durante a caminhada curta. Chegando perto, Agust suspirou ao ver o cigarro preso entre os lábios dela.
— Você vai implorar pelo quê primeiro? — ela disse logo que a distância cessou em definitivo. Um sorriso descontraído brincava em seus lábios.
— … — Agust murmurou, olhando para os lados.
— Qual é… — o cigarro foi colocado entre o indicador e dedo médio dela e as duas mãos espalmadas no peito de Agust. — Eu tô querendo ver se existe alguma coisa aí dentro. Nem que eu tenha que te beijar durante o expediente ou ignorar o cigarro aceso na sua boca. Desde que cesse a sua ansiedade, eu aceito.
— Só um beijo não resolveria o meu problema. — ele respondeu direto. — E só um cigarro não seria suficiente. Se eu colocar um só na boca, vou querer o maço inteiro e a minha esposa não vai querer dormir comigo essa noite.
fingiu estar pensando e recolheu os braços, colocando o cigarro dentro do bolso externo do paletó dele.
— Muito bem! — sorriu natural. — Então estou certa e você está ansioso. Obrigada por não omitir ou negar. Gosto quando você compartilha essas coisas comigo.
— E eu teria como fugir de você?
— Você vive fugindo de mim, Yoongi. Não sei como consegui isso aqui. — mostrou o anelar com a aliança dourada. — Mas tudo bem, só de saber que você está compartilhando ao menos isso comigo, mesmo que seja nas entrelinhas, eu me sinto um pouco mais aliviada.
— Obrigado. — ele devolveu o mesmo sorriso, seguindo o olhar dela que abaixou para suas mãos dentro dos bolsos.
— Você pode ser muito difícil com as palavras, meu amor, mas esse corpo não me engana. — apontou e se levantou, beijando-o na altura do nariz, onde conseguia alcançar pelo uso dos saltos. — Vamos começar a trabalhar, então.
— Eu estava fazendo isso antes de você me chamar, senhora Min. — fingiu seriedade, usando humor no uso do sobrenome. Uma piada que não precisou ser explicada, não após a visita do promotor. — O que tem para mim que seja segredo dos demais?
— Quero que você faça a conexão com a delegacia local. Vamos te usar como isca.
— Eu? Geralmente a gente usa o menos forte e neste caso seria a Minju. — Agust continuou com o mesmo tom humorado.
— Mas não é o irmão gêmeo dela que viemos buscar, meu bem. — deu uma pausa e ele assentiu. — Quero que ele saiba que você está aqui, que te veja. Pode encurtar muito nosso caminho.
— Não sei se ele pensa assim, . — o tom humorado saiu para um menos acessível. Agust agora era uma tela cinza para , muito mais Agust do que Yoongi, na verdade. — Na verdade, Suga não pensa.
— Me ajudaria muito se você compartilhasse comigo mais sobre ele… — ela suspirou, estava um tanto exausta do mesmo pedido e ser sempre ignorada. — Mas como você não vai fazer isso, então vamos seguir do meu jeito. Você pode ir. Leve Hwiyoung e Minju. Quero todas as conexões, tudo o que eles tiverem, nós teremos.
— A Minju?
— Sim, a Minju. Sem ela, nós não temos inteligência virtual.
— E o Hwiyoung? — arqueou a sobrancelha, sendo duvidoso.
— Ele me garante que você volte para mim. — as bochechas de enrubesceram, mas ela sustentou o olhar dele, mordendo o lábio inferior.
Agust tirou a mão direita do bolso, encaixando a palma no pescoço dela, com o polegar erguido a ponto de alcançar o lábio preso entre os dentes de . Passou o dígito suavemente em cima da carne, sentindo-a vibrar debaixo de seu toque. Se aproximou lentamente, deixando-a com os lábios entreabertos para recebê-lo, mas Agust acabou selando a testa dela.
— Eu volto mais tarde para buscar isso. — disse suave. Ela sabia que estava mencionando o beijo. — Não morda seus lábios, vai cortá-los. — piscou, voltando a mão no bolso e se virando de costas para ela.
Observando-o retirar o celular do bolso e digitar algo rápido enquanto ia para a minivan do outro lado, se pegou em inúmeros questionamentos. O maior deles era se, mesmo após dez anos juntos, ela conseguiria viver superando a falta de histórias, não se importando com as omissões, sem cobrar um passado no presente que não pudesse refletir no futuro. E em todas as vezes que se via refletindo isso, vinha o desespero ao se sentir culpada em resumir o amor que sentia por Yoongi a somente informações; não deveria ser necessário saber sobre a vida que ele mesmo desejava esquecer para que pudessem estar juntos.
E, na verdade, não era sobre saber. Não queria a origem dele, isso conseguia ver e viu — por registros oficiais, por preocupação quanto sua própria segurança ou curiosidades. queria saber onde estava a raiz de toda a dor de Yoongi, porque queria curá-la, queria tomar para si. Ansiava por saber de onde vinha a cicatriz, não a que cortava o olho dele na vertical, mas a que estava em sua alma.
Ao contrário do que Minju achava, a irmã mais nova e tão oposta de si que, naquele instante, ria com Hwiyoung em direção ao carro dirigido por Agust, ela acreditava sim estar casada com o coreano certo. Dez anos haviam servido e muito para levar essa afirmação a ela, mesmo que as dúvidas surgissem e o tempo tivesse lhe trazido um grande desafio: comandar uma investigação daquele porte em cima de um criminoso que carregava o sangue de Yoongi — mas que não tinha o mesmo sobrenome; aliás, Suga só era conhecido nos registros com esse nome, nada mais, nenhum complemento, apenas Suga.
— Que tela em branco eu fui arrumar para minha vida… — suspirou, vendo o carro partir. — Uma bela e deliciosa tela, , pensa nisso. — brincou consigo mesma.
Os olhares curiosos não conseguiam esconder os pensamentos. Agust sabia ler o que se passava na mente de cada um que estava vendo-o descer da direção da minivan na entrada da delegacia. Só ficou curioso com a ideia de que seu irmão não fosse tão minucioso assim, pois a julgar pela reação geral, ele deveria ser muito bem conhecido por aquela região. Muito mais do que ele havia julgado.
Descendo do carro, puxou imediatamente o maço de cigarro de dentro do bolso interno de seu paletó, tirando uma unidade com os dentes, enquanto já agilizava o isqueiro para acender. A primeira tragada foi como um alívio, extremamente profunda com o peso da nicotina varrendo todo seu peito ansioso. Bateu a porta e acionou o alarme logo que Minju e Hwiyoung estavam do lado de fora também. Quando deu a volta na frente do carro, recebeu o olhar semicerrado da cunhada, julgando-o.
— Você vai fazer a gente esperar terminar isso aí para entrar? — ela reclamou. — Olha o puta Sol quente que está queimando a nossa cabeça!
— Tem uma sombra logo ali. — Agust apontou, continuando a tragar. — A menos que você fale tailandês, pode entrar sozinha e ir adiantando o processo.
Ele sabia que isso seria um martírio para ela. Minju odiava tratar de qualquer assunto com pessoas, havia uma razão pela qual ela trabalhava com os computadores e não socialmente.
Com um revirar de olhos, ela seguiu para a sombra, aproveitando para verificar alguma coisa em seu celular. No momento que saiu da vista de Agust, Hwiyoung surgiu, tomando o cigarro da mão dele e jogando no chão depois de uma longa tragada.
— Você fuma essa merda depois. — disse sério. — Seja o que for, lá dentro é mais importante.
Respirando fundo e contando até o máximo que conseguia, Agust assentiu, devolvendo as mãos cerradas em punhos nos bolsos. Foi o primeiro, indo a frente dos outros dois subindo a escadaria da entrada. O combinado era de se enturmar e fazer conhecimento do local que também usariam para trabalhar durante o período em que estivessem ali naquele território. Pelo trabalho de Shownu, eles teriam pouca dificuldade de se encaixarem, desde que Agust soubesse se comportar.
E ele estava tranquilo, ao menos quanto a essa parte do seu trabalho. A ansiedade consumindo seu peito tinha outro remetente.
— Minju, quero que você encontre a sala de inteligência deles. — disse ao final da escada.
— E como eu vou fazer isso se não falo tailandês? — ela retrucou, estranhando a mudança de opinião dele.
— Dê seu jeito. — ele deu de ombros. — Hwiyoung pode te ajudar.
Não esperou qualquer resposta dos dois, saiu à esquerda, em busca do delegado de plantão. Quando parou diante da porta demarcada com uma placa dourada, tendo o nome talhado nela em dois idiomas, bateu na madeira, esperando alguns segundos antes de girar a maçaneta e entrar.
Sentado do outro lado da mesa, Anton ergueu o olhar para ele, levando alguns segundos até cair em si quem era a figura trajada em um terno extremamente preto e com os cabelos penteados para trás, da mesma cor, se não mais escuros. Ao se dar conta, levantou-se rapidamente, tirando os óculos e deixando-os pendurados no pescoço pela cordinha de pontas presas às hastes.
— Você? — murmurou baixo, ainda incrédulo. A cicatriz podia ser inconfundível, mas o reflexo dessa pergunta era inevitável. — É muita audácia sua andar descaracterizado assim por Chiang Khian. — completou, olhando-o por inteiro, conforme dava os passos para ficar à frente de sua mesa.
— Por que você acha isso? — Agust respondeu em completo tédio.
— Se veio buscá-lo, deveria fazer isso de forma sigilosa. É uma cidade muito pequena e, embora seja turística, os locais irão achar muito estranho. Essa cicatriz não é suficiente para confundir. — Anton riu nasalado. — A essa altura ele já sabe que está aqui.
— E qual o problema? Não sou eu quem está se escondendo. — deu de ombros. — Você encontrou o que eu te pedi? — puxou a cadeira, se sentando diante do delegado. Em uma pausa, encarando-o sem vida, Anton cruzou os braços a altura do peito, sentando-se em seguida e fechando tudo o que estava aberto em seu computador. Enquanto isso, Agust puxou mais um cigarro e o acendeu.
— Não. — a resposta veio tardia. — Não tem registros da entrada dela com ele, nem mesmo sob outro nome. — abriu a gaveta que possuía chave e tirou uma pasta de dentro dela. — Layla nunca esteve na Tailândia.
Agust retesou o corpo, tragando profundamente, e em seguida soltou a fumaça na distância que tinha entre ele e Anton.
— Impossível. Você não buscou direito. — riu fraco.
— Ele não tem nenhuma mulher, Agust. Só existem capangas homens. De certo que ele seja gay.
— E o que isso tem a ver? — Agust arqueou a sobrancelha, fechando mais a feição. — Eu não quero saber o que ele anda comendo, eu quero saber onde ela está. É para isso que estou te pagando, Anton!
— E eu estou te dizendo que não existe nenhuma mulher com esse rosto e esse nome perto dele. Em todo território tailandês, aliás! — o outro se enfezou. — Escute, você está na minha delegacia. No meu país, no meu distrito. Não me importa o que caralhos de permissões o seu mascote conseguiu com o governo, quem dá as cartas aqui sou eu!
Outra vez tenso, Agust apagou o cigarro na própria madeira da mesa. Lentamente ele descruzou as pernas e alongou o pescoço, levantando-se da cadeira. Até que os movimentos seguintes, tendo Anton hipnotizado pelos anteriores, seguiram-se rápidos demais; Agust esticou o braço direito e alcançou o colarinho do delegado, puxando-o um pouco para a frente, o suficiente para que estivesse quase esmagado contra a mesa e perto de seu rosto, com ele mesmo inclinado.
— Esse é o meu jogo, não o seu. — disse baixo, apertando mais a mão, e mesmo que Anton estivesse tentando se esquivar, não conseguiria. Agust moveu a outra mão para a gravata dele, puxando ali para deixá-la mais apertada, o sufocando. — Procure direito, procure melhor. E diga ao seu patrãozinho que não tenho a menor intenção de me esconder dele. Sequer vim para procurá-lo. Já estou velho para brincar de esconde-esconde.
Soltar Anton foi rápido, se virar para ir embora também. Mas quando abriu a porta, Agust foi surpreendido pelo olhar cerrado de Minju.
— Quem diabos é Layla? — foi a primeira coisa que ela lhe perguntou, estufando o peito para enfrentá-lo.
— Não sei do que você está falando. — ele passou, continuando a caminhada.
— Ser sonso não combina em nada com você, Augusto.
— Agust. — corrigiu. — Cadê o Hwiyoung?
— Ele está se enturmando com o pessoal da inteligência. — ela se colocou ao lado dele ao descer os degraus da escada. — Anda, estou esperando uma explicação. Isso se tornou muito mais interessante do que esse monte de gente te encarando como se você estivesse fedendo.
— Não faço ideia do que esteja falando, Minju. Não insista.
Impaciente, assim que terminaram de descer, Minju se colocou na frente dele, o impedindo de continuar.
— Nem toda Cafrey, mas sempre uma Cafrey. — ele bufou.
— Você sabe que eu não sou Cafrey. — Minju revirou os olhos. — Anda, fala logo. Quem é Layla? Eu posso te ajudar a encontrar ela se quiser.
Como se tivesse dito palavras mágicas, Agust a encarou fixadamente.
Mesmo que Minju realmente pudesse encontrar o paradeiro de quem ele estava procurando, não poderia envolver ela. Não podia e não tinha o menor sentido envolver a irmã de sua esposa, ainda que adotada, nessa história. Afinal, soava extremamente incoerente a sua cunhada saber sobre uma paixão antiga, e não havia história suficiente para convencer Minju de que buscar por ela não tinha nada a ver com sentimentos atuais.
Na verdade, encontrar Layla seria um tipo de amaciador para o ego há muito tempo ferido de Agust. Porém, não existiam palavras suficientes que fizessem Minju entender. Ela era chata, insistente e, em muitas ocasiões, ainda tinha pensamentos infantis — também pudera, não fazia mais de dois anos que o senhor e a senhora Cafrey haviam soltado as rédeas da filha caçula sempre protegida, ela ainda estava aprendendo coisas mais sérias da vida no mundo externo.
Por mais tentador que pudesse soar, porque sabia o quão boa Minju conseguia ser em buscas e tudo o que se remetesse à equipamentos com tecnologia, não iria envolver mais ninguém nisso. Todo o processo ali já seria exaustivo demais.
— Por que nunca pediu ajuda da ? Minha irmã é muito boa e tem contatos… — ela continuou. — Ela é alguma parente que você escondeu também? Uma amiga? — fez um bico, pensando mais. Um sorriso logo começou a surgir por uma das pontas de seus lábios fechados e Agust não teve tempo, ela era rápida em bombardear perguntas nas pessoas. — É uma ex? Por que você quer encontrar uma ex, Min Yoongi?
Antes que ele pudesse se estressar mais ao oferecer uma resposta, Hwiyoung surgiu.
— Podemos ir comer? Estou com muita fome. — passou um dos braços em cima dos ombros de Agust. — Já temos a área liberada para trabalhar e nada graças à Cafrey errada. — apontou para Minju, logo notando o clima entre os dois. — Ih… O que houve entre vocês?
O embate no olhar de Minju e Agust permaneceu, até ele relaxar o corpo e se esquivar de Hwiyoung.
— Nada. Vamos comer. — enfiou as mãos dentro dos bolsos e saiu à frente. Minju o acompanhou com o olhar, girando sob os próprios calcanhares.
— Que ideia errada da de me mandar ficar com vocês dois. — Hwiyoung suspirou, seguindo para fora também e deixando Minju para trás.
— está a caminho. — Minju anunciou, guardando o celular novamente em seu bolso, e entrou no restaurante.
Não houve qualquer assunto, Hwiyoung estava preso no próprio mundo e apenas a seguiu. Agust estava com um cigarro entre os lábios, então ficou do lado de fora, abaixo do sol escaldante enquanto o tragava intensamente para dentro de seu pulmão, sem qualquer piedade. Sequer lembrou da promessa de : se ela o visse fumando ou se sentisse o cheiro da nicotina, ela também o faria — e ela tinha um grande problema com a asma.
Estava passando por um momento tenso, uma fase muito mais decisiva em sua vida. Agust tinha um grande demônio a encarar no processo em que estava e envolver havia sido a primeira consequência perigosa. Mas infelizmente não existia muito o que pudesse fazer a esta altura em que as coisas se encontravam. O ministro da segurança já tinha estragado parte de seu plano, afinal.
Quando enviou o pedido formal ao homem responsável por seu exílio há mais de dez anos, não imaginou que ele fosse ser tão baixo a ponto de querer que aquela história antiga fosse totalmente controlada pelo governo. Agust odiava essa ideia. Era sua vida, era sobre seu passado e um acerto de contas muito mais pessoal do que político, não tinham o menor direito de interferir daquela forma, principalmente envolvendo a pessoa que mais amava em sua vida, a sua esposa.
Obviamente, ele sabia que isso era uma manobra para que nada saísse dos trilhos e ele fosse controlado pelo sistema até mesmo no acerto de contas com seu irmão malcriado, de índole duvidosa. Ainda assim, se sentia desgostoso e em um conflito interno profundo, porque tudo havia se tornado muito mais dramático do que deveria ser.
Era para ser algo simples: cortar o mal pela raiz, ele só queria isso.
Entretanto, nem mesmo nisso ele tinha liberdade. Algo, inclusive, que desconhecia há muito mais tempo do que poderia contar.
O último trago foi ardente, lutando diretamente com seu sentimento ansioso, o estômago em reviravoltas, e combatendo sua vontade de pegar outro cigarro, jogou a bituca no chão e a pisoteou, vestindo as mãos dentro dos bolsos, cerradas em punhos. Virou o rosto para a direção do carro que estacionava e se sentiu mais aliviado, muito mais por ter ela ao seu lado como um porto seguro do que por ver que ela estava bem, sentindo-se egoísta por isso, aliás.
— Com licença. — ouviu ser chamado e virou para a direção da voz, encontrando um menino miúdo. — O senhor é o investigador Agust? — o coreano do garoto era forçado e muito carregado de sotaque, com pronúncia difícil, mas ele não o ignorou.
— Sim. Por que? — respondeu em tailandês, porém.
— Isso aqui é para o senhor, me mandaram entregar. — estendeu a ele uma caixa preta, comprida. Agust pegou, franzindo o cenho quando o menino saiu correndo pelo beco lateral ao restaurante.
— Você estava me esperando, amor? — do outro lado, o alcançou e ele se voltou para ela. — O que aquele garoto queria? — olhou para o objeto nas mãos dele. — Não vai abrir?
Agust não queria, apenas a textura da caixa já lhe soava muito familiar, com um gatilho de muitas memórias que ele remoía em pesadelos e pensamentos perturbados durante suas corridas nas madrugadas ansiosas.
Mas era masoquista em até certo ponto. A dor o fazia se sentir mais motivado. Abriu a caixa e encontrou um par de jeotgarak revestidos em vermelho.
Era um recado, ele reconheceu.
— Ah, que adorável! — sorriu, atraindo seu olhar. — Eu recebi um também no semáforo ali atrás… — só então ele viu a caixinha igual sendo tirada do bolso interno do paletó dela. — Eles são muito receptivos em Chiang Kian! Quero tirar um dia para turistar. Quem sabe não terminamos nossa lua de mel aqui, hein? — riu fraco, se aproximando e passando os braços em cima dos ombros dele.
— É, podemos… — Agust engoliu a seco, inerte com o que aquilo significava.
A ansiedade que estava sentindo agora tinha outra face e era muito mais pesada do que outrora. Suga podia ter apostado em qualquer outra forma de lhe atingir, mas escolher o mesmo recado para era muito mais tortuoso do que lembrá-lo o que o par de jeotgarak tinha marcado em seu passado.
— Vem, vamos entrar. — envolveu a cintura dela com cuidado, tentando mudar a feição.
Continua...
Nota da autora: Olá! Espero que goste e deixe um comentário caso isso aconteça.
❯ beth's note: fico pensando o que se passa na cabecinha de M-Hobi nas horas vagas pra tudo que sair de lá se tornar simplesmente GENIAL. Desde a rebelião do cérebro de Min Yoongi em 2020 e a aparição do gêmeo do mal, alguém precisava surgir com uma fanfic pra abafar os nossos neurônios agitados, e essa pessoa escolhida pelo universo foi você! favor voltar pra cumprir sua missão que agora essa tem potencial pra entrar nas minhas favoritas ⭐⭐⭐⭐⭐
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