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Revisada por vênus. 🛰️
Atualizada em: 19.10.2024

Poderia ficar um pouco?
E eu estou derretendo
Em seus olhos
Como a minha primeira vez
Em que eu peguei fogo
— The Used, “I Caught Fire”


Como violência, você me tem
Para sempre e sempre
“Violence”

blink-182


Eu nunca desejei me casar com Aemond Targaryen. Sete infernos, eu era uma criança quando fora prometida! E, ainda por cima, uma criança que não sonhava em se casar, por mais que soubesse que o dia chegaria e que eu cumpriria, sim, com o meu dever. No entanto, costumava acreditar que me casaria com o herdeiro de outra casa da Campina e que, se tivesse sorte, ele não seria muito mais velho do que eu. Meu pai tinha outra ideia em mente. Eu sempre fora uma decepção para ele por ter nascido mulher. Pois agora ele tinha o pequeno e fofo Tom e, então, me mandara para as Terras da Coroa ao encontro do meu príncipe.
Sua ideia inicial era um tantinho gananciosa demais. Ele queria me prometer para Aegon Targaryen, na esperança de que a rainha Alicent e seu pai Otto Hightower usurpassem o trono de Rhaenyra e transformassem o primeiro filho homem do rei Viserys II em Aegon, o Segundo de Seu Nome, o que faria de mim sua rainha. Mas a rainha fora mais rápida. Ainda que eu fosse uma Hightower, isso não bastava para ela e, assim, providenciara o noivado Aegon e Helaena, para que o poder não escorresse nem um pouquinho para longe do sangue dela. Por isso, meu pai e sua ambição tiveram que se contentar com o segundo filho do rei. Então as negociações se seguiram, Aemond e eu nos tornamos noivos e, apesar de que o casamento em si demoraria anos e mais anos para acontecer, fui mandada para cá cedo. Cedo demais.
Assim, eu ainda era uma criancinha quando o conhecera, antes mesmo de ele adotar aquele tapa-olho, agora tão comum. Antes disso, sim, mas não antes da perda do olho. Quando deixara minha casa para trás com uma comitiva que me levaria até Porto Real, tentara aquecer meu coração com uma possível graciosidade e a beleza daquele que viria a ser meu futuro marido. Pouco depois da metade da viagem, quando estávamos jantando no salão de algum lorde menor, recebemos a notícia de que o meu pequeno príncipe clamara um dragão para si. E não apenas qualquer dragão, mas sim a maior e mais velha. Aquilo me animou, até que fiquei sabendo do resto… do olho.
Em Porto Real, fora recebida por um garotinho com um ferimento costurado sobre o olho esquerdo. Não. Garotinho jamais fora uma boa palavra para descrever o príncipe, como eu compreenderia nas semanas e anos que se seguiriam. Destemido se encaixaria melhor. Apesar da minha decepção inicial com sua aparência, gostei do que vira nos outros dias. E isso me acalmou um pouco com as expectativas.
E agora, aqui estava eu, crescida e bebendo no Bosque Sagrado da Fortaleza Vermelha com o irmão errado. Aquele que meu pai tão sabiamente previu que seria o rei depois de Viserys II. E tudo o que o garoto na minha frente não queria era ser rei. Mas a mãe e o avô dele já haviam decidido o seu destino, mesmo que ele insistisse em ignorar. Todos por aqui com olhos espertos sabiam. E Viserys, que continuava a defender a sucessão de Rhaenyra, estava fora de si, esperando pela morte. Ninguém lhe dava ouvidos.
— Mas você não respondeu o que eu te perguntei. — voltei a insistir.
— É claro que sei que eles vão tentar de tudo. Minha mãe fala dessa merda desde que consigo me lembrar. — Aegon fez careta. — Eu não quero ser rei.
— Vai ter que enfrentar isso, querendo ou não. Seu pai não está bem há muito tempo. — Tomei o último gole de vinho da taça e não deixei que ele servisse mais. — Não é como se você tivesse algum querer, Aegon. Eu também não tive nenhuma escolha quando me prometeram para o seu irmão.
— Sei que se tivesse escolhido, teria escolhido a mim. — Abriu um largo e convencido sorriso.
— Pensei que estávamos bebendo vinho, mas parece que você tomou leite de papoula e agora está delirando! — Gargalhei. Apesar dos pesares, passar um tempo com Aegon me divertia mais do que eu gostava de admitir.
— Qual é, , vem aqui. — Aegon se levantou e me puxou pela mão com força, envolvendo-me em seus braços. — Podemos fugir para Essos, você e eu. Assim não preciso virar rei e você não precisa se casar com o meu irmão.
— Ah, que romântico! — carreguei a minha voz de sarcasmo ao apoiar as mãos nos ombros dele, mas sem afastá-lo. — E o que vamos fazer lá, vender laranjas para você pagar suas putas?
— Estou falando sério. — Ele tentou manter um semblante sério, sem sucesso, afinal, estava caindo de bêbado. — Vem comigo, .
— Enlouqueceu, foi? — ri outra vez e virei o rosto quando ele tentou me beijar. — Para com isso!
— Não consigo, é mais forte que eu. — ele roçou seus lábios no meu pescoço, me causando um arrepio. — Você é tão…
— Tire suas mãos sujas dela, irmão. — ressoou uma voz calma, mas carregada de poder. — Você sabe que ela é minha.
— Tá bom, tá bom. — Aegon se afastou de mãos erguidas e revirou os olhos. — Vocês são tão sem graça.
— Sim, agora dá o fora. — Aemond respondeu a ele, sem tirar o olho de mim.
Umedeci os lábios e o encarei de volta enquanto Aegon saía do local murmurando qualquer coisa que eu não tinha o mínimo interesse. Toda a minha atenção estava agora focada no meu futuro marido. Aemond aproximou-se mais alguns passos, sem tirar as mãos de trás das costas em nenhum momento, como se aquilo não o tivesse afetado nem sequer um pouquinho. Respirei fundo. Não sabia o quanto e nem como aquilo realmente me afetava.
— Eu sei me defender sozinha, sabia? — grunhi, emburrada, ao voltar até o lado da mesa e servir-me de mais vinho.
— Eu nunca duvidei disso. — respondeu.
Arqueei uma sobrancelha, embora não pudesse negar que ele estava falando a verdade. Jamais houvera espaço para mim no pátio, já que eu era uma garota, porém Aemond me ajudava a treinar escondido tanto com espadas de torneio que ele roubava quanto em brigas de soco. As septãs ficavam malucas quando eu aparecia com marcas roxas na pele para as orações e lições e não contava a elas o motivo. Eu me divertia muito com suas reações. Havia sido por causa desses momentos que uma certa afeição por Aemond Targaryen nascera. E por mais que eu tentasse, ela jamais ia embora.
Ofereci um pouco de vinho a ele, como um possível símbolo de trégua, uma bandeira branca. No entanto, ele negou. Aquilo me deixou indignada e, por mais que evitasse demonstrar, não era tão boa nisso quanto ele. Era mais do que óbvio que meu semblante tinha transparecido minha indignação e que Aemond com certeza percebera. Então não havia mais por que fingir.
— Veio até aqui reclamar a sua posse, meu príncipe, e agora não deseja nem beber com ela? — beberiquei da taça enquanto o observava com atenção. — Sei que sou só uma coisa para você.
— É você quem está dizendo, minha lady. — devolveu no mesmo tom, mas seu rosto permaneceu impassível. — Não pareceu se importar com isso quando estava nos braços do meu irmão.
— Se tem ciúmes, por que não admite? — rebati, sem conseguir me conter. Apertei a taça com mais força, culpando a bebida por minha fala impensada.
— Bobagens! — desdenhou. — Você vai se casar comigo, não tem que ficar se agarrando com o Aegon por aí.
— Ah, certo, tinha me esquecido. — suspirei. — Você só se importa com os garotos com quem estou “me agarrando” quando é com o seu irmão, não é? Me tira uma dúvida, meu príncipe, isso é sobre mim ou é sobre ele? — ele tentou se manter impassível como sempre, mas seu olho tremeu apenas um pouquinho. Sorri, satisfeita. — É mesmo sobre ele. Você não aguenta que ele tem tudo o que você deseja e, ainda assim, não para de rodear a sua futura mulher, a única coisa que deveria mesmo ser sua. Só sua.
— Cale a boca! — explodiu, aproximando-se de ímpeto, como se fosse cair em cima de mim como uma tempestade. Porém, ao chegar perto, se deteve, conseguindo conter aquilo que morava em seu âmago.
— Ou o quê, Aemond? — sussurrei, permitindo que seu nome dançasse em meus lábios embriagados.
— Você não sabe com quem está se metendo. — alertou-me.
— Eu não sei ou será que você não tem coragem de me mostrar? — provoquei-o. Esse era um dos meus passatempos favoritos quando estava perto de Aemond Targaryen.
— Você gosta disso, não gosta, ? — ele agarrou a minha mandíbula. Era inegável que ele me conhecia melhor do que a maioria das pessoas daquela cidade, se não melhor que todas.
— E você, meu querido príncipe? Faz um cerco ao meu redor, como se eu fosse um castelo para você tomar, como se eu fosse sua posse… — falei lentamente, deixando as palavras pairarem na pequena distância entre nós. — Se me considera isso… — coloquei minha mão sobre a dele, que ainda segurava o meu rosto. — Por que não pega e marca o seu território com pelo menos um beijo como já fez uma vez há muitos anos?
Aemond tirou a mão do meu rosto violentamente e se afastou, ficando quase de costas para mim. Segurei-me para não gargalhar de satisfação. Aquele garoto não era uma pessoa fácil de atingir. A máscara que ele usava era de fato muito maior do que seu tapa-olho.
— Foi o que eu pensei. — sorri de canto. Atingi-lo realmente fazia com que eu me sentisse mais viva, mais jovem, mais dona de mim. — Se bem me lembro, quando eu estava a caminho de Porto Real e éramos apenas crianças, você clamou a Vhagar para si. — aproximei-me dele e toquei seu ombro. — Foi esse com quem disseram que eu ia me casar. — beijei seu rosto e me afastei o suficiente para que sua ira não respingasse em mim. — Um garoto impetuoso e corajoso.
. — sua voz saiu cortante e soou como mais um grande aviso ao qual eu não dei importância.
— A impetuosidade jamais vai embora, eu sei. — disse simplesmente. — E, acredite ou não, eu gosto disso, mas quero ver essa coragem nos próximos dias quando nos casarmos.
E, assim, lhe dei as costas, deixando tanto o Bosque Sagrado quanto Aemond Targaryen para trás. Alguém iria pagar pelas minhas palavras, eu sabia bem, mas desde que essa pessoa não fosse eu mesma, eu pouco me importava.




Continua...


Nota da autora: Oiie!! Queria contar que eu tive a ideia dessa fic quando tava gravando o podcast sobre aquele episódio em que o Aemond tacou o dracarys no Aegon (nem um pouco macabro essa info, né, eu sei kkkkkkkk). Enfim... Aí não demorou muito pra eu mergulhar nesse mundo. Esse capítulo é só a porta de entrada pro relacionamento conturbado desses dois. Será que nossa pp vai ser capaz de fazer o Aemond mostrar a vulnerabilidade dele? Ai, ai. E aí, o que acharam do capítulo? Me contem nos comentários!! Tia Fran ama vcs <3

❯ beth's note: quero deixar claro que não assisti essa série — minha cota de conhecimento sobre os Targaryen vem exclusivamente de GOT das eras douradas —, mas agora tô muito agradecida dessa fic ter chegado pra mim porque eu amei esses dois!! um futuro enemies to lovers ou um killers to lovers? porque sinto que a Alysanne pode matar ele se quiser rsrs. parabéns, Fran, ótima escrita e ótimo início! vou abrir minha Max aqui rapidinho...


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