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Revisada por Aurora Boreal 💫
Atualizada em: 07/04/2025

respirou profundamente enquanto olhava a grande escultura que estava em sua frente sobre o pedestal.
Ela precisava terminar aquela restauração o quanto antes, a reabertura do museu era dali alguns dias e ela sentia que estava estagnada naquela restauração.
A oficina estava silenciosa, exceto pelo som suave de música clássica que preenchia o ambiente, algo que sempre mantinha para ajudá-la a se concentrar. As paredes estavam cobertas de prateleiras repletas de ferramentas, pigmentos e referências históricas. Uma grande janela permitia a entrada da luz natural, iluminando suavemente o espaço e ressaltando o brilho das superfícies de mármore e madeira.
ajustou os óculos, aproximando-se novamente da escultura. Sentia uma pressão constante para entregar um trabalho impecável, afinal, era uma das restauradoras mais renomadas da cidade. Seus dias começavam cedo, antes do amanhecer, quando ela preferia trabalhar sem interrupções. Era um ritual quase sagrado para ela; o café forte, o silêncio matinal e a preparação cuidadosa das ferramentas antes de iniciar o trabalho.
Ela passava horas analisando cada detalhe das obras, estudando as técnicas dos antigos mestres para garantir que cada restauração fosse fiel ao original. Mas, recentemente, sentia-se diferente. Uma inquietação que ela não conseguia explicar a acompanhava, como se uma parte dela estivesse faltando, ou como se algo estivesse para mudar em sua vida, algo além das paredes do ateliê.
suspirou, afastando esses pensamentos. Agora não era hora para distrações. A arte sempre fora sua prioridade, o que lhe dava propósito. Mas, nos últimos dias, aquele propósito parecia menos claro, como se as cores de sua vida estivessem começando a desbotar.
Seu celular vibrou na mesa ao lado, tirando-a de seus devaneios. Era uma mensagem de sua assistente lembrando-a de uma reunião com o diretor do museu. olhou o relógio, percebendo que já havia perdido a noção do tempo. Guardou as ferramentas, tirou as luvas de proteção e se preparou para sair. Enquanto caminhava pelos corredores do museu, sentia o peso de suas responsabilidades, mas também uma curiosa expectativa que não conseguia identificar.
Algo estava por vir, algo que mudaria sua rotina meticulosa e cuidadosamente planejada. E, mesmo sem saber o que era, sentia que talvez fosse exatamente do que precisava.

***

ajustou a alça da câmera no ombro enquanto caminhava pelos corredores amplos do museu, os olhos atentos a cada detalhe ao seu redor. O lugar era uma verdadeira joia, com suas paredes revestidas de obras de arte e esculturas que contavam histórias de tempos passados. Ele parava de tempos em tempos, levantando a câmera para capturar uma imagem que o fascinava, o clique suave da câmera ecoando no ambiente silencioso.
Ao seu lado, segurava uma câmera de vídeo compacta, já filmando desde que entraram. Ele mantinha o foco em , registrando a maneira como o amigo se movia pelo espaço, mas também fazia algumas tomadas do ambiente, capturando a grandiosidade do museu.
— Isso aqui é incrível, cara! — comentou, abaixando a câmera por um momento para olhar em volta — Acho que nunca vi tanta arte incrível em um só lugar.
assentiu, concordando.
— É surreal. Cada peça aqui tem uma história, e eu mal posso esperar para começar a trabalhar nesse projeto. Documentar a restauração dessas obras é uma oportunidade única.
Os dois continuaram a caminhar, parando ocasionalmente para fotografar ou filmar algo que chamava a atenção. estava particularmente interessado em como a luz natural entrava pelas grandes janelas do museu, criando um jogo de sombras nas superfícies das esculturas e nas texturas das pinturas. Ele sabia que a luz era essencial para capturar a essência das obras, e já estava planejando como usaria isso em suas fotos.
— Você já conheceu a restauradora chefe? — perguntou enquanto ajustava o foco da câmera em uma escultura imponente.
— Não pessoalmente, ainda não, — respondeu — Mas ouvi dizer que ela é incrível no que faz. Acho que vamos aprender muito trabalhando com ela.
sorriu.
— E quem sabe, fazer novos amigos também. Você precisa se enturmar mais, . riu.
— Vamos ver como as coisas se desenrolam. Agora, vamos pegar mais algumas fotos antes da reunião. Esse lugar merece ser capturado de todos os ângulos.
Eles continuaram seu caminho pelo museu, explorando cada corredor e sala, enquanto se preparavam mentalmente para a reunião com a restauradora. Para , essa era mais do que uma simples oportunidade de trabalho; era uma chance de mergulhar em um mundo que sempre o fascinou, e ele estava determinado a aproveitar cada momento.

***

entrou na sala de reuniões com passos firmes, mas a mente ainda focada na restauração que havia deixado inacabada. A sala era ampla e bem iluminada, com uma longa mesa de madeira polida no centro, cercada por cadeiras de couro. Na cabeceira, o diretor do museu, Sr. Roberto Salazar, já a esperava com uma expressão cordial.
, que bom que você pôde vir! — ele disse, levantando-se para cumprimentá-la com um aperto de mão firme.
— Claro, Sr. Salazar. — ela respondeu com um sorriso profissional — Estou ansiosa para discutirmos os próximos passos.
Eles se sentaram, e pousou sua pasta sobre a mesa, preparando-se para a reunião. O diretor ajustou os óculos e pegou alguns documentos que estavam à sua frente.
— Primeiramente, quero parabenizá-la pelo progresso na restauração. Sabemos que o incêndio causou danos significativos, mas você tem feito um trabalho excepcional em recuperar as peças mais importantes.
— Obrigada. — respondeu, com um aceno de cabeça — Ainda há muito a ser feito, mas estamos avançando bem.
— Sim, e é justamente sobre isso que quero conversar... — ele continuou — Dada a importância histórica do nosso acervo e o impacto do incêndio, decidimos que essa restauração precisa ser registrada de uma maneira especial. Queremos documentar todo o processo em vídeo e fotos, e eventualmente produzir um documentário que mostre ao público não só a recuperação das obras, mas também a resiliência do museu e de todos os envolvidos.
piscou, surpresa.
— Um documentário?
— Isso mesmo. — Sr. Salazar confirmou — Sabemos que será uma tarefa adicional para você e sua equipe, mas acreditamos que é uma oportunidade única de mostrar o valor do trabalho que vocês estão fazendo. Sem contar que essa produção pode ajudar a angariar mais apoio para o museu no futuro.
ponderou por um momento, assimilando a ideia:
— Entendo a importância de documentar esse processo, mas como exatamente isso vai funcionar? Minha prioridade é a restauração, então precisaremos garantir que isso não atrapalhe o andamento do trabalho.
— O planejamento já está em andamento, . — ele disse, com um tom tranquilizador — Contratamos um fotógrafo, um cinegrafista, e sua equipe. e , ambos jovens talentos que têm se destacado na área. Eles serão responsáveis por toda a documentação visual, e já estão familiarizados com o tipo de sensibilidade que um projeto como esse requer. A ideia é que eles trabalhem de maneira discreta, capturando o processo sem interferir diretamente no seu trabalho.
inclinou-se para a frente, interessada:
— Eles já começaram a filmar?
— Estão explorando o museu neste momento, capturando imagens preliminares. Vou apresentá-los a você logo após nossa reunião, para que possam discutir como integrar o trabalho deles ao seu fluxo. Acreditamos que o resultado será algo não só bonito, mas profundamente significativo.
Ela assentiu, ainda refletindo sobre o novo desafio.
— Acho que pode ser uma iniciativa interessante, se conseguirmos alinhar nossos objetivos. Documentar o que fazemos aqui pode realmente ajudar as pessoas a entenderem a importância da preservação da arte.
— Exatamente. — concordou Sr. Salazar — Queremos que esse documentário mostre não apenas a técnica, mas também a paixão e o esforço envolvidos na restauração. Algo que inspire e eduque as pessoas sobre o que acontece nos bastidores de um museu.
sorriu levemente, começando a se sentir mais confortável com a ideia.
— Então, vamos em frente. Estou disposta a colaborar e a ver onde isso pode nos levar.
— Ótimo! — disse ele, levantando-se e estendendo a mão novamente — Tenho certeza de que será uma parceria frutífera. Vou levá-la até os cinegrafistas para que possam se conhecer.
pegou sua pasta e se levantou, sentindo uma mistura de curiosidade e expectativa pelo que estava por vir. Essa nova faceta do projeto poderia trazer uma perspectiva interessante ao seu trabalho, e ela estava pronta para ver como as coisas se desenrolariam.

***

Sr. Salazar conduziu pelos corredores do museu, conversando casualmente sobre o progresso da restauração enquanto se dirigiam à galeria onde e estavam trabalhando. Ao se aproximarem, podia ouvir o som suave de cliques de câmera e sussurros entre os dois homens enquanto discutiam enquadramentos e ângulos.
Quando chegaram à galeria, avistou primeiro, ajoelhado ao lado de uma escultura, ajustando o foco de sua câmera. Ele estava concentrado, o rosto parcialmente coberto pela câmera, mas a postura descontraída e os movimentos seguros mostravam sua familiaridade com o trabalho. Ao lado dele, estava ajustando o tripé para uma filmagem, mas ergueu a cabeça ao notar a chegada deles.
... — Salazar chamou sua atenção para os dois — Este é , nosso fotógrafo, e , cinegrafista. Rapazes, esta é , nossa talentosa restauradora.
levantou-se imediatamente, tirando a câmera do rosto e estendendo a mão para cumprimentá-la. Quando seus olhos encontraram os de , ele sentiu uma onda inesperada de admiração. Ela era diferente do que ele imaginara. Havia uma aura de elegância e autoridade ao redor dela, algo que o fez se endireitar, desejando causar uma boa impressão.
— Muito prazer em conhecê-la, Sra. ! — ele disse com um sorriso genuíno, seus olhos brilhando de curiosidade.
, por favor... — ela respondeu, apertando sua mão com firmeza — O prazer é meu, .
manteve sua expressão profissional, embora não pudesse deixar de notar a aparência agradável de . Ele era atraente, com um ar descontraído, mas havia algo em seus olhos que a fez sentir que ele era mais do que apenas um jovem fotógrafo talentoso. No entanto, ela rapidamente afastou esses pensamentos, focando-se no motivo pelo qual estavam ali.
, que estava observando a interação com um sorriso divertido, também se aproximou para cumprimentá-la.
— É um prazer conhecê-la, . Estamos ansiosos para colaborar com você nesse projeto.
— Obrigada, . — disse , acenando para ele — Ouvi falar muito bem do trabalho de vocês. Espero que possamos encontrar uma boa sinergia durante esse processo.
— Tenho certeza de que será uma experiência enriquecedora para todos nós! — comentou, sempre o mais otimista do grupo.
Sr. Salazar interveio, explicando:
— O que estamos pensando, , é que e documentem tanto as obras quanto o processo de restauração. Eles estarão por aqui, capturando momentos enquanto você trabalha. Claro, qualquer necessidade ou ajuste que você precise, estamos abertos a discutir.
assentiu, mantendo o tom profissional.
— Entendo. Desde que isso não interfira no andamento da restauração, acredito que podemos trabalhar bem juntos. Vocês estarão por aqui todos os dias?
respondeu, com um leve entusiasmo na voz:
— Sim, estaremos por aqui durante todo o processo. Queremos captar cada detalhe, não só das obras, mas também da atmosfera que você cria enquanto trabalha. Acho que isso vai trazer uma profundidade única ao documentário.
notou a paixão no tom de e, por um breve momento, seus olhos se encontraram novamente. Havia uma intensidade e sinceridade que ela não esperava. Apesar disso, ela manteve a compostura, ciente de sua responsabilidade profissional.
— Perfeito! — disse ela, com um leve sorriso — Vamos trabalhar juntos para garantir que o resultado seja algo de que todos nós possamos nos orgulhar.
Sr. Salazar, satisfeito com a introdução, olhou para os três.
— Então, se estiverem prontos, podemos começar a alinhar os primeiros passos. Acho que temos um grande projeto pela frente.
Enquanto se afastava para discutir os detalhes com o diretor, a observou, ainda impressionado com a presença dela. Ele sabia que havia mais em do que sua aparência profissional e estava curioso para descobrir. , percebendo o olhar do amigo, cutucou-o levemente.
— Ela é impressionante, não é? — comentou em voz baixa.
sorriu, ainda olhando para .
— Sim, definitivamente.


O som dos passos ecoava pelos corredores do museu enquanto , e seguiam o Sr. Salazar em direção à área principal de restauração. As paredes, adornadas com obras de arte que resistiram ao incêndio, contrastavam com o cheiro levemente acre de tinta e produtos de conservação que pairavam no ar.
caminhava à frente, seu olhar focado no caminho à frente, mas sua mente estava parcialmente distraída pelo fotógrafo que, alguns passos atrás, parecia estudá-la sempre que pensava que ela não estava prestando atenção. era atraente, sim, mas o trabalho sempre vinha em primeiro lugar, e ela se recusava a deixar algo tão mundano interferir em sua missão de resgatar a história por trás de cada obra de arte.
— Então, — a voz de a trouxe de volta à realidade. — O que te fez seguir a área de restauração? Sempre me perguntei como alguém escolhe trabalhar diretamente com... obras que já foram criadas, em vez de criar algo novo.
Ela diminuiu o passo, permitindo que ele a alcançasse, enquanto discretamente apontava a câmera para uma obra próxima, capturando a atmosfera.
— Boa pergunta, — ela começou, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Sempre amei arte, mas nunca me vi como alguém que criaria algo original. Meu prazer sempre veio de entender e preservar a história por trás de cada peça. Restaurar é quase como... resgatar memórias que, de outra forma, seriam perdidas no tempo.
sorriu, fascinado pela paixão em sua voz. Ele não esperava uma resposta tão poética, e isso apenas aumentava sua admiração.
— Isso é incrível. Acho que de certa forma, nós, como fotógrafos e cinegrafistas, também fazemos isso. Tentamos capturar momentos antes que eles se percam, para que possam ser lembrados.
— Sim, — ela respondeu, lançando um olhar breve em sua direção. — É uma boa analogia. Mas, no meu caso, as memórias que resgato pertencem a alguém que viveu séculos atrás. É um desafio e tanto.
Sr. Salazar interrompeu a conversa ao se virar para o grupo quando chegaram à sala principal de restauração, onde esculturas parcialmente danificadas e pinturas desbotadas ocupavam o espaço. "Aqui estamos," ele anunciou.
— Essa será a principal área de trabalho da e de sua equipe, e, a partir de agora, de vocês também. Vamos documentar cada etapa dessa jornada de recuperação.
olhou ao redor, maravilhado com as peças que, mesmo em seu estado degradado, ainda exalavam uma grandiosidade que não podia ser ignorada. Ele e imediatamente começaram a tirar fotos e a filmar, enquanto se aproximava de uma das esculturas danificadas, inspecionando-a de perto.
— Esta escultura, — começou, — É uma das minhas prioridades. Ela foi bastante afetada pelo incêndio, mas acredito que ainda podemos salvá-la.
aproximou-se com cautela, agora vendo a escultura através dos olhos de . Ele fotografou a peça, mas logo encontrou seu foco voltando para ela. Enquanto ela explicava os danos e as técnicas que pretendia usar, ele estava menos preocupado com as palavras e mais encantado pela maneira como ela falava, com uma paixão contida e uma determinação que ele não via com frequência.
— Você já começou a trabalhar nela?
perguntou, tentando manter a conversa.
— Não oficialmente. — respondeu, ainda observando a escultura — Estava em fase de estudo. Queria entender melhor os danos antes de colocar as mãos na obra. Cada passo precisa ser calculado para não perder mais da história que essa peça carrega.
assentiu, impressionado. Ele sabia que havia algo mais profundo em desde o momento em que a conheceu, e agora isso estava se tornando mais claro. Ele se aproximou com sua câmera, tirando algumas fotos de enquanto ela analisava a escultura. As fotos capturavam não só a peça em questão, mas também a seriedade e a paixão dela pelo que fazia.
— É engraçado, — ele comentou, ainda segurando a câmera. — Você fala sobre essas obras como se fossem pessoas. Como se cada uma tivesse uma alma que você está tentando salvar.
parou por um momento e virou-se para ele, percebendo pela primeira vez a profundidade do comentário.
— De certa forma, é isso mesmo. Cada obra de arte tem uma história, uma essência. Eu apenas tento garantir que elas não sejam esquecidas.
sorriu, admirando ainda mais sua visão. Ele sabia que estava se apaixonando pela ideia de conhecê-la melhor, mesmo que continuasse mantendo sua distância profissional.
Enquanto continuava a tirar fotos e capturava imagens da escultura e do ambiente ao redor, retomou seu foco na peça danificada, mergulhando novamente em sua análise. Ela se aproximou das bordas mais danificadas, correndo os dedos com delicadeza sobre as fissuras na superfície desgastada pela fumaça e pelo calor do incêndio.
— Com as ferramentas certas e um pouco de paciência, consigo trazer de volta os detalhes mais sutis dessa escultura… — murmurou ela, quase para si mesma.
, que não havia tirado os olhos dela por muito tempo, abaixou a câmera e cruzou os braços, intrigado.
— Isso parece... meticuloso. Quanto tempo algo assim pode levar?
— Meses, talvez mais, — respondeu, virando-se para ele com um olhar sério. — Não existe um processo rápido na restauração. Cada parte precisa ser tratada com cuidado, respeitando os materiais e técnicas originais. O resultado final nunca deve parecer que foi "arrumado"... deve parecer que a peça nunca foi danificada.
se aproximou, curiosidade em seu rosto.
— Então, é como se você estivesse devolvendo a vida à obra, mas de uma maneira que ninguém percebe que ela foi restaurada.
deu um pequeno sorriso, admirando a maneira como ele compreendia o seu trabalho.
— Exatamente. É um trabalho invisível, mas essencial.
, que até então estava em silêncio enquanto ajustava a iluminação para suas filmagens, interrompeu com uma pergunta prática.
— Você já lidou com algo assim antes? Um incêndio que causou tantos danos?
fez uma pausa, refletindo.
— Incêndios, inundações, desmoronamentos... já lidei com diversos tipos de desastres ao longo da minha carreira. Cada um traz um desafio único, mas todos exigem a mesma coisa: paciência, precisão e respeito pelo trabalho original.
assentiu, impressionado, enquanto se permitiu um breve momento de admiração silenciosa. A maneira como falava do seu trabalho, a paixão que ela colocava em cada palavra, só o fazia ficar ainda mais fascinado por ela. Ele sabia que havia algo especial em , algo que ele mal começara a entender.
Quando se virou novamente para a escultura, concentrando-se no trabalho à sua frente, observou-a com um leve sorriso no rosto. Ele sabia que aquele projeto seria longo e desafiador, mas também tinha certeza de que valeria cada momento. Não só pelas obras, mas pela oportunidade de conhecê-la melhor.
O som da porta da galeria se abrindo quebrou o silêncio. Sr. Salazar entrou na sala, observando a interação entre o trio.
— Vejo que vocês já estão se conhecendo melhor, — disse ele com um sorriso. — Isso é ótimo. Vamos precisar dessa colaboração para garantir que o documentário capture não só as obras, mas também a alma do que estamos fazendo aqui.
olhou para o diretor, assentindo.
— Vou fazer o que for necessário para garantir que o processo de restauração seja documentado sem comprometer a integridade do trabalho.
lançou um olhar rápido para , que sorriu de volta. Ambos sabiam que trabalhar com seria uma experiência única, e , em particular, estava mais do que disposto a fazer o possível para que aquela colaboração se tornasse algo especial – tanto profissionalmente quanto, talvez, pessoalmente.
Sr. Salazar então se virou para e .
— Nos próximos dias, vocês vão ter acesso total às áreas de restauração, mas lembrem-se de que a prioridade é o trabalho de . Se houver algo que precise ser ajustado, falem diretamente comigo.
— Entendido, — disse , olhando de relance para , que já estava de volta ao seu foco inabalável na escultura. — Vamos fazer isso da maneira mais discreta possível.
manteve os olhos na obra à sua frente, ciente da atenção que lhe dava, mas decidida a não desviar do profissionalismo. Ele era simpático, envolvente até, mas ela sabia que manter a linha entre trabalho e qualquer outra coisa era essencial. Por mais que seus olhos tivessem captado o charme dele, ela se recusava a deixar que isso a desviasse do que realmente importava naquele momento: salvar as obras.

***


No primeiro dia de gravações, a equipe de chega ao museu logo cedo. Ele e começam a ajustar o equipamento de filmagem enquanto já está imersa no trabalho de restauração. O ambiente no museu ainda carrega o peso do incêndio, e as cicatrizes nas obras são visíveis, tornando o clima mais intenso.
e fazem algumas capturas gerais do museu antes de se aproximarem de . Eles começam a filmar discretamente enquanto ela trabalha, sem interferir em sua rotina. está focada, explicando brevemente os procedimentos e as etapas da restauração para que a equipe entenda o processo e capture os momentos importantes.
Durante as filmagens, se surpreende com a precisão e o cuidado que tem com cada detalhe da escultura que está restaurando. Ele se aproxima para fazer algumas perguntas e , de maneira profissional, responde sem perder o foco no trabalho. , por sua vez, fica encantado com sua dedicação e seriedade, embora ela não demonstre nenhum interesse além do profissional.
Ao longo do dia, a equipe de captura imagens da escultura danificada, das ferramentas de e da maneira como ela lida com as delicadas etapas de restauração. também grava algumas cenas mais amplas, tentando capturar o ambiente de tensão que o incêndio deixou no local.
Conforme as horas passam e a manhã avança, o museu começa a ganhar vida com a chegada da equipe de restauração de . Os primeiros a entrar na sala são assistentes e técnicos, que cumprimentam brevemente antes de se dirigirem às suas tarefas. O ambiente ganha um ritmo de trabalho sincronizado, com a equipe se dividindo entre as obras que ainda precisam ser cuidadas.
Pouco depois, Alejandra e Chantal, as duas melhores amigas de , entram juntas na sala. Alejandra, com seus cabelos longos e intensamente vermelhos, chama imediatamente a atenção de , que para de ajustar a câmera por um momento, surpreendido. Ela veste um macacão de trabalho prático, mas sua presença vibrante e o contraste de suas cores parecem iluminar a sala. Chantal, por outro lado, é mais discreta, com um olhar tranquilo e um sorriso sereno, cumprimentando com um aceno sutil enquanto se dirige ao seu posto.
Alejandra não demora a notar que a está observando. Com um leve sorriso de canto, ela joga os cabelos para o lado e se aproxima de , fingindo não perceber o impacto que causou
— Parece que as coisas estão indo bem aqui — comenta, lançando um olhar breve na direção da câmera.
, que está limpando um fragmento de uma das peças, assente, sem desviar muito a atenção de seu trabalho.
— Por enquanto, sim. A equipe de filmagem está sendo cuidadosa. Nada que nos distraia do essencial.
, ainda um pouco fascinado, tenta se recompor e continuar ajustando a câmera, mas Alejandra não passa despercebida por ele. Ele murmura para , sem tirar os olhos da cena:
— Cara, quem é aquela? Com o cabelo vermelho?
, que até então estava concentrado em tirar fotos detalhadas do processo de restauração, levanta os olhos para ver Alejandra.
— Não faço ideia, — responde, com um sorriso brincalhão. — Mas parece que você já tem alguém em mente para ser sua musa para essas filmagens.
Enquanto a equipe de começa a se organizar para o trabalho do dia, aproveita para registrar alguns momentos mais descontraídos, tirando fotos e filmando a dinâmica entre eles. Ele percebe a forte conexão que existe entre , Alejandra e Chantal, mesmo que todas se mantenham profissionais e focadas no que precisam fazer. Há risadas rápidas e trocas de olhares cúmplices, algo que ele sabe que pode capturar nas filmagens para transmitir o lado humano do projeto de restauração.
Alejandra, ainda sentindo os olhares de , não resiste a provocá-lo mais um pouco. Quando ele se aproxima para ajustar a câmera mais perto do grupo, ela se inclina levemente para e murmura, sem tirar os olhos de :
— Parece que a equipe de filmagem está mais interessada em nós do que nas obras.
dá uma rápida olhada para e e, em seguida, solta um suspiro leve.
— Desde que eles não interfiram no trabalho, tudo bem. Vamos nos concentrar.
Enquanto as primeiras gravações do dia prosseguem, mantém seu foco na restauração, guiando sua equipe e colaborando com e conforme necessário. Alejandra e Chantal também começam a trabalhar nas peças, mas as pequenas trocas de olhares entre Alejandra e se tornam quase inevitáveis. Chantal, com seu jeito mais calmo, parece perceber a situação, mas apenas sorri em silêncio, focada em suas tarefas.
limpou as mãos delicadamente em um pano, terminando o detalhe minucioso em que estava trabalhando. Ela respirou fundo, observando sua equipe espalhada pela sala, ocupada com suas respectivas tarefas. Era o momento de formalizar as apresentações e garantir que todos estivessem na mesma página sobre o projeto do documentário.
— Ok, pessoal, — ela chamou, com uma voz firme e clara que imediatamente captou a atenção de todos. — Vamos fazer uma pequena pausa.
Os assistentes e restauradores, incluindo Alejandra e Chantal, pararam o que estavam fazendo e se aproximaram de . e , que até então estavam filmando a interação da equipe com as obras, abaixaram as câmeras e se posicionaram próximos a , prontos para serem apresentados.
— Gostaria de apresentar oficialmente a equipe de filmagem, que estará conosco durante as próximas semanas documentando o processo de restauração. — virou-se ligeiramente para e , que deram um passo à frente.
— Este é , o fotógrafo principal, — disse , gesticulando para ele com um sorriso profissional. — Ele será responsável por capturar imagens detalhadas do nosso trabalho e registrar todo o progresso das restaurações.
acenou com a cabeça, sorrindo amigavelmente para a equipe.
– Prazer em conhecê-los, — disse, mantendo o olhar um pouco mais fixo em antes de se virar para o resto da equipe. — Estou ansioso para documentar o incrível trabalho que vocês estão fazendo aqui.
então indicou .
— E este é , assistente de filmagem e também o responsável por algumas gravações que faremos. Ele estará filmando as entrevistas e as etapas principais do nosso processo.
, sempre simpático, acenou com um sorriso caloroso.
— É uma honra poder trabalhar com uma equipe tão dedicada. Vamos tentar ser o menos intrusivos o possível.
olhou para sua equipe e começou a explicar como funcionaria a dinâmica entre os restauradores e a equipe de filmagem.
— Eles estarão presentes diariamente para documentar nosso progresso. Sei que pode ser estranho ter câmeras por perto enquanto trabalhamos, mas é importante que capturemos cada detalhe, especialmente após o incêndio que danificou tantas peças. Este documentário será essencial para mostrar ao público o valor da restauração e do nosso trabalho árduo.
Alejandra, que até então observava com curiosidade, se aproximou de , lançando um olhar rápido para e antes de perguntar:
— Eles vão estar com a gente o tempo todo, então? Em todas as fases do processo?
— Sim, — confirmou . — Eles vão acompanhar cada etapa, desde as análises preliminares até o trabalho mais técnico. Mas fiquem tranquilos, eles já foram instruídos a não interferir diretamente no nosso trabalho.
Chantal, sempre mais reservada, olhou para e perguntou calmamente:
— E as entrevistas? Vamos ter que falar sobre nosso trabalho em frente às câmeras?
riu levemente, quebrando a tensão.
— Só se você quiser, mas seria ótimo ouvir a perspectiva de vocês. Não queremos apenas capturar o trabalho técnico, mas também o que isso significa para vocês como restauradores. Queremos contar a história completa.
assentiu.
— Exatamente. Quem se sentir à vontade pode participar das entrevistas. Vamos agendá-las conforme o andamento do projeto, e será tudo bem natural. Nada forçado.
A equipe de trocou olhares, claramente ainda se acostumando à ideia de trabalhar sob o olhar atento de câmeras, mas o tom confiante de e a simpatia de e ajudaram a aliviar as preocupações iniciais.
— Então, vamos manter o foco e continuar o ótimo trabalho, — concluiu, voltando sua atenção para o grupo. — E qualquer dúvida que vocês tiverem em relação ao documentário, podem falar comigo, com ou com o .
Com isso, deu uma última olhada para , que lhe lançou um leve sorriso de aprovação.
— Acho que estamos prontos para começar de verdade. — Ele comentou, ainda mantendo aquele brilho admirado no olhar.
, mantendo seu profissionalismo intacto, apenas retribuiu com um aceno de cabeça.
— Sim, vamos em frente.

***


Com as formalidades resolvidas e a equipe de filmagem devidamente apresentada, o trabalho voltou a fluir no museu. e começaram a se movimentar pela sala, ajustando suas câmeras para capturar o ambiente e o progresso das restaurações. focava em detalhes artísticos — mãos restaurando as superfícies de esculturas, pinceladas precisas, a textura do mármore que lentamente recuperava sua antiga glória. Já , com sua filmadora, concentrava-se em captar a interação das pessoas, documentando não apenas o processo, mas também a dedicação no olhar dos restauradores.
Conforme a manhã avançava, tirava fotos de enquanto ela trabalhava, tentando disfarçar seu crescente fascínio por ela. Havia algo na concentração serena dela, na maneira firme como lidava com cada detalhe minucioso, que o deixava intrigado. De vez em quando, seus olhares se encontravam, mas , sempre profissional, apenas retribuía com um sorriso discreto antes de voltar ao seu trabalho.
Alejandra, por outro lado, era mais expressiva. Quando a filmava, ela não perdia a oportunidade de lançar sorrisos enigmáticos na direção dele, o que o deixava ligeiramente constrangido, mas também mais motivado a filmar seus momentos. Ele estava claramente interessado nela, e , sempre observador, não deixou de perceber.
À medida que a manhã se aproximava do fim, o ambiente no museu começou a desacelerar. A equipe de restauração terminou uma etapa importante, e anunciou que todos poderiam fazer uma pausa para o almoço.
— Vamos fazer uma pausa agora, — disse , levantando-se e alongando os braços depois de passar horas concentrada. — Quem quiser pode comer aqui no refeitório do museu, mas também é uma boa hora para quem quiser sair e respirar um pouco de ar fresco.
Alejandra e Chantal conversaram brevemente sobre onde iriam almoçar, enquanto o restante da equipe começou a se dispersar. Alguns preferiram o conforto do refeitório do museu, onde podiam comer sem se afastar do local de trabalho, mas e decidiram que precisavam de um intervalo mais longo para reenergizar e ver a cidade ao redor.
— Vamos sair um pouco? — sugeriu a , que imediatamente concordou. Eles recolheram suas câmeras e saíram juntos do museu, caminhando pelas ruas até encontrarem um pequeno restaurante local.
Assim que se sentaram, pediram suas comidas e começaram a relaxar. , sempre o mais direto, logo puxou assunto sobre o que vinha ocupando seus pensamentos.
— Então, você também notou, né? — disse ele com um sorriso sugestivo, enquanto mexia no guardanapo à sua frente.
— Sobre o quê? — perguntou, tentando manter o tom despreocupado, mas claramente já imaginando onde a conversa iria chegar.
— Alejandra… — disse, sem rodeios. — Ela não é do tipo que passa despercebida. E aquele cabelo vermelho... Cara, é impossível não notar.
riu e balançou a cabeça.
— Sim, eu percebi. E parece que ela também notou você. Ela estava te lançando olhares o tempo todo.
sorriu, mas logo desviou o foco da conversa para algo que o intrigava mais.
— Mas e a ? Percebi que você estava tirando muitas fotos dela. Algo mais interessante na restauração ou...?
hesitou por um segundo, antes de admitir:
— Ela é... intrigante. Ela é diferente. Tem uma presença forte, sabe? A maneira como ela comanda a equipe, mas sem ser autoritária, e como está sempre tão concentrada. É como se nada conseguisse quebrar a bolha dela.
— Interessante, — comentou, arqueando uma sobrancelha. — Você raramente fala assim de alguém.
deu de ombros, tentando não demonstrar tanto o interesse que sentia.
— É só que ela tem algo que me chama a atenção. Ela é claramente apaixonada pelo que faz. Acho que isso é o que mais me atrai. Profissional, focada, mas ao mesmo tempo... parece ter uma história por trás daquele controle todo.
— Talvez você descubra mais sobre ela enquanto filmamos. — sugeriu, tentando provocar .
— Talvez. — respondeu, pensativo. — Mas tenho que manter o foco no trabalho também. Não estamos aqui para distrações.
— Ah, claro! — zombou, rindo. Foco total no trabalho. É o que todos dizem.
riu também, mas seus pensamentos voltaram brevemente para . Ele sabia que precisaria manter o profissionalismo, mas não conseguia evitar a curiosidade crescente que ela despertava nele. Enquanto eles continuavam a refeição, a conversa seguiu de forma descontraída, com falando mais sobre sua impressão de Alejandra e tentando desviar de comentários mais diretos sobre .
Após terminar a refeição, estava se preparando para voltar ao museu quando seu celular vibrou sobre a mesa. Ele olhou para a tela e viu o nome de Yugyeom aparecer. Imediatamente, atendeu.
“Yugyeom, e aí? Alguma novidade?” perguntou enquanto gesticulava para , indicando que receberia uma chamada importante.
“Fala, cara! Eu e o Mark conseguimos resolver o problema com a documentação. Depois de horas de enrolação, finalmente liberaram tudo" — Yugyeom respondeu com alívio na voz. — "Vamos embarcar para o México amanhã."
sorriu, aliviado.
"Cara, que notícia boa! Estava preocupado que vocês fossem ficar presos aí por mais dias."
"Pois é, foi mais complicado do que esperávamos, mas conseguimos. O Mark mandou avisar que está tudo pronto, as passagens estão confirmadas. O plano segue como o previsto."
"Ótimo, vou avisar o diretor aqui. Estamos avançando bem no museu, mas vai ser bom ter vocês de volta. Precisamos finalizar essas filmagens o quanto antes."
"Perfeito. Nos encontramos no México então, amanhã à tarde. Qualquer coisa, te ligo antes do voo."
"Fechado. Valeu pela notícia, cara. Até amanhã."
encerrou a ligação e olhou para , que o observava com curiosidade.
— Notícias boas? — perguntou.
— Sim, o Yugyeom e o Mark conseguiram resolver o problema da documentação. Eles embarcam amanhã para o México, conforme o plano original.
sorriu, claramente satisfeito.
— Parece que as coisas estão se encaixando. Agora, é só a gente seguir com essas filmagens e finalizar o documentário.
concordou com um aceno, já sentindo o peso da responsabilidade voltar.
— Sim, ainda temos muito trabalho pela frente, mas as coisas estão indo bem.
Eles se levantaram da mesa e, após pagarem a conta, começaram a caminhar de volta ao museu.

***

Ao retornarem ao museu, e perceberam que o ambiente estava mais calmo, com a maioria da equipe de restauração e de filmagem ainda no refeitório ou aproveitando a pausa do almoço. , no entanto, já estava de volta ao trabalho, focada em detalhes minuciosos de uma das peças. Seus movimentos eram precisos e quase hipnóticos, uma dança suave entre pincéis e solventes. não pôde deixar de observá-la por alguns segundos antes de se concentrar em suas próprias tarefas.
— Vamos voltar ao trabalho — disse , ajustando sua câmera enquanto caminhava em direção ao local onde tinham parado antes do almoço. acenou, pegando seu equipamento para reiniciar a gravação.
, ao perceber a movimentação da equipe de filmagem, levantou-se e foi até eles.
— Vocês já estão de volta? — ela comentou com um leve sorriso, limpando as mãos com um pano — Achei que fossem aproveitar mais o intervalo.
— É, o almoço foi bom, mas ainda temos muito trabalho pela frente, — respondeu, tentando manter o tom profissional, embora não pudesse evitar uma leve admiração no olhar. — Estamos prontos para continuar as gravações.
— Ótimo — disse, com a postura sempre firme, mas amigável. — Ainda temos bastante para cobrir hoje. Vou chamar o restante da equipe para retomarmos também. Se precisarem de algo mais específico para as filmagens, é só me avisar.
— Perfeito. Acho que agora vamos focar em capturar mais da interação entre você e a equipe. Mostrar o processo em detalhe pode ser interessante para o documentário.
assentiu, claramente confortável com a responsabilidade.
— Isso faz sentido. Vou tentar coordenar as atividades de modo que vocês consigam o melhor ângulo e mais dinamismo nas cenas.
Enquanto ela se afastava para reunir sua equipe, e prepararam o local para as próximas gravações. Pouco a pouco, os restauradores começaram a retornar ao salão principal, cada um voltando aos seus postos, com Alejandra e Chantal brincando entre si, enquanto se preparavam para retomar o trabalho.
, sempre observador, começou a filmar a interação entre Alejandra e Chantal. O cabelo longo e vermelho de Alejandra capturava a luz do ambiente, criando um efeito impressionante nas lentes da câmera. focou nela por um bom tempo, intrigado pela maneira descontraída com que ela lidava com o ambiente de trabalho.
— Fazendo um documentário ou um filme de arte? — brincou baixinho, notando o tempo que estava dedicando a Alejandra.
riu, mas não desviou o foco.
— É tudo sobre estética, meu amigo.
Enquanto isso, se concentrava em capturar imagens mais amplas, mostrando o grupo inteiro em ação. Ele focava especialmente em , que coordenava as atividades com precisão, movendo-se de um lado para o outro, oferecendo orientações e corrigindo detalhes. Havia uma harmonia no trabalho dela, que sabia que seria essencial para transmitir no documentário.
O dia seguiu com fluidez, cada membro da equipe, tanto de restauração quanto de filmagem, em total sintonia. À medida que o sol se inclinava mais para o fim da tarde, os sinais de cansaço começaram a aparecer. No entanto, e mantinham-se concentrados, sabendo que aquele era apenas o primeiro dia de muitos para finalizar o projeto.
Quando o relógio marcava o início do fim do expediente, fez questão de agradecer à equipe de filmagem pela paciência e dedicação.
— Sei que o ritmo pode ser exaustivo, mas o trabalho que estão fazendo é muito importante para nós. Documentar essas restaurações é essencial para que a história desse museu sobreviva ao incêndio.
— Estamos felizes em fazer parte disso, — respondeu com um sorriso sincero. — Esse projeto tem uma importância enorme, e poder capturar o processo é um privilégio.
Enquanto os restauradores começavam a limpar suas estações e guardar os materiais, olhou para mais uma vez, percebendo que ele realmente estava interessado no que estava acontecendo ali — não apenas nas filmagens, mas no próprio processo de preservação das obras de arte. Por um momento, ela permitiu que seus pensamentos vagassem, reconhecendo o quão atraente ele era em sua dedicação. Mas, como sempre, ela rapidamente recobrou sua postura profissional, mantendo o foco no trabalho.
— Vejo vocês amanhã! — disse, ao ver e recolhendo o equipamento.
— Com certeza. Vamos continuar de onde paramos. — respondeu, já ansioso pelo próximo dia.
Assim, o primeiro dia de gravações terminou com sucesso, mas tanto quanto sabiam que algo mais havia se iniciado ali — algo que talvez se desenvolvesse nos próximos dias de filmagem.


Desde que e haviam pousado no México, aquele era o primeiro dia que chovia. O país costumava estar sempre quente e ensolarado, assim como os habitantes. Os dois haviam visitado algumas outras cidades antes de irem definitivamente para a Cidade do México, e haviam percebido como os nativos eram calorosos, receptivos e sempre dispostos a contar boas histórias.
estava de pé junto à janela do pequeno quarto de hotel, observando as gotas de chuva escorrendo pelo vidro. Aquele era um som raro desde que haviam chegado ao México, e o céu cinzento trazia um contraste peculiar ao cenário geralmente ensolarado e vibrante. Ele apoiou o ombro na lateral da janela, distraído pelos padrões caóticos que as gotas formavam, como se contassem suas próprias histórias silenciosas.
– É estranho ver o México assim, não é? – ele murmurou para si mesmo, mas alto o suficiente para que , ainda no banheiro, pudesse ouvir.
– O que você quer dizer? – respondeu, saindo do banheiro com a camisa parcialmente abotoada e o cabelo ainda úmido. – Está falando da chuva?
– Sim. Estamos aqui há dias e nunca vimos nada além de sol – respondeu, sem desviar os olhos da janela. – A chuva muda completamente o humor do lugar. É como... um novo personagem nessa história que estamos contando.
riu, pegando sua jaqueta da cadeira ao lado da cama.
– Sempre poético, hein? Mas você não está errado. Parece que até o som da cidade está diferente hoje.
assentiu levemente. O barulho dos carros e das pessoas, sempre vibrante e cheio de vida, parecia abafado pela chuva. Ele notou algumas pessoas correndo apressadamente pelas calçadas, segurando guarda-chuvas coloridos ou sacos plásticos improvisados sobre a cabeça. Era um contraste fascinante, e ele fez uma nota mental para tentar capturar isso em imagens mais tarde.
– Você ainda está pensando no documentário? – perguntou enquanto terminava de ajeitar sua jaqueta. – Ou tem outra coisa nessa sua cabeça?
deu um pequeno sorriso, mas não respondeu de imediato. Ele sabia que sua mente estava dividida. Por um lado, o projeto o fascinava, especialmente a oportunidade de trabalhar com e documentar algo tão importante quanto a restauração do museu. Por outro lado, era impossível negar que a própria estava constantemente presente em seus pensamentos.
– Talvez um pouco de tudo… – ele admitiu finalmente, afastando-se da janela e se sentando na cama. – O documentário é importante, mas... não sei. Tem algo sobre ela…
levantou uma sobrancelha, interessado.
?
confirmou com um aceno lento.
– Ela é diferente, sabe? Tem algo na maneira como ela trabalha, como se fosse parte da arte que está restaurando. Ela é profissional, mas ao mesmo tempo... tem uma paixão que transparece em tudo o que faz.
sorriu, claramente se divertindo com a reflexão do amigo.
– Você está realmente encantado, hein? Isso é interessante. Mas, ei, só toma cuidado. Ela parece ser do tipo que não mistura trabalho com... sentimentos.
– Eu sei… – respondeu, olhando para as próprias mãos. – Não estou tentando nada. Só... não consigo evitar pensar nisso às vezes.
terminou de se arrumar e deu um leve tapa no ombro de .
– Bom, acho que é melhor a gente ir. Temos que aproveitar o dia, mesmo com a chuva. Quem sabe você não fotografa algo que capture essa mudança de humor?
riu e levantou-se, pegando sua câmera da mesa.
– Boa ideia. Vamos ver o que conseguimos hoje.
Os dois saíram do quarto, prontos para enfrentar o dia cinzento. Enquanto caminhavam pelos corredores do hotel, ainda pensava na conversa. Algo em seu coração parecia dizer que aquele dia, mesmo com o clima melancólico, poderia trazer algo inesperado — seja para o documentário ou para ele mesmo.

***

e chegaram ao museu com suas câmeras protegidas por capas, enquanto a chuva continuava a cair suavemente. O céu acinzentado parecia transformar o prédio histórico em algo ainda mais imponente, quase como se a chuva realçasse sua grandiosidade. Assim que entraram, foram recebidos pelo cheiro inconfundível de madeira antiga e tinta fresca, misturado ao leve odor de umidade que o tempo nublado trazia.
estava perto da entrada, revisando algumas anotações em um tablet, quando os viu. Com um sorriso caloroso, ela os cumprimentou. Seus cabelos castanhos, presos em um coque despretensioso, estavam levemente bagunçados, e ela exibia um semblante energético, como sempre.
– Bom dia! Espero que tenham conseguido chegar sem problemas – disse ela, aproximando-se com passos rápidos.
, sempre cortês, respondeu primeiro:
– Bom dia! A chuva deixou o trânsito um pouco mais lento, mas nada de mais. E você? Como estão as coisas por aqui?
deu um pequeno suspiro, levantando o tablet para mostrar a lista de tarefas.
– Ah, vocês sabem como é. Sempre tem algo para resolver. Mas, no geral, estamos no caminho certo. está na área de restauração, mas pediu que eu os recepcionasse.
, que estava ajustando a câmera no ombro, sorriu.
– Parece que você está sempre resolvendo tudo, . Deve ser o coração da equipe.
Ela riu, visivelmente satisfeita com o comentário.
– Digamos que eu sou a que gosta de manter todo mundo organizado. Mas não se enganem, é quem consegue arrancar um sorriso até dos mais estressados. Falando nisso, ela deve estar chegando logo. Hoje ela resolveu trazer café para todos, então preparem-se para serem mimados.
Enquanto caminhavam pelo museu, aproveitou para atualizar e sobre o progresso das restaurações e a logística do dia.
– Hoje vamos trabalhar bastante na seção sul – ela explicou, apontando para um mapa no tablet. – As peças lá estão em estágio avançado, o que significa que vocês vão conseguir boas imagens. também sugeriu que captássemos o trabalho detalhado dos restauradores, para mostrar o quão meticuloso é o processo.
– Perfeito! – disse, já imaginando os ângulos e as composições que poderia usar para destacar o trabalho artístico. – Esses detalhes vão ser incríveis para o documentário.
sorriu, encantada com o entusiasmo dele.
– Tenho certeza de que vai gostar. Ela realmente valoriza essa sensibilidade com a arte.
Enquanto continuavam a conversa, o trio chegou ao corredor principal, onde algumas peças menores estavam expostas temporariamente. , sempre atento aos detalhes, começou a filmar discretamente, captando o reflexo suave das luzes no vidro que protegia os artefatos.
– Vocês dois trabalham como uma dupla muito afinada. – Comentou , observando os movimentos sincronizados de e .
– Anos de prática. – respondeu com um sorriso. – E, claro, porque sou um ótimo assistente.
riu.
– Modesto, como sempre.
os guiou até a seção sul, onde os restauradores estavam começando o trabalho do dia. ainda não havia chegado àquela parte, mas a energia vibrante do lugar, mesmo em meio à seriedade do trabalho, era perceptível. ajustou sua câmera novamente, ansioso para começar, enquanto revisava algumas anotações.
– Se precisarem de algo, estarei por aqui. – disse, antes de sair para atender outra tarefa. – Aproveitem o dia, e bem-vindos ao caos organizado que chamamos de restauração.

***

e mergulharam em sua rotina de trabalho, ajustando equipamentos e explorando ângulos para capturar o processo de restauração de forma mais autêntica possível. A seção estava repleta de detalhes fascinantes: esculturas danificadas, pinturas recuperadas e restauradores concentrados em devolver vida às obras que quase se perderam para sempre.
, com seu olhar artístico, encontrou maneiras de destacar as texturas das peças e a delicadeza do trabalho dos restauradores. Ele se movia silenciosamente entre eles, captando closes das ferramentas, das mãos habilidosas em ação e até mesmo do pó fino que caía de uma escultura sendo polida.
, por sua vez, focou em filmagens mais amplas, documentando a dinâmica da equipe de restauração. Ele capturava não apenas o trabalho, mas também os sorrisos e as interações breves que ocorriam entre os restauradores, mostrando que, mesmo em meio à seriedade, havia um forte senso de comunidade.
O som constante de pincéis, espátulas e conversas baixas criava um ambiente quase meditativo, interrompido apenas pelo clique da câmera de ou pelo som do botão de gravação de .
Depois de algum tempo, enquanto revisava as gravações no monitor portátil e ajustava a lente para mais uma tomada, apareceu na entrada do setor sul. Ela estava impecavelmente vestida, com um blazer azul-marinho que acentuava sua postura profissional, mas sua expressão era calorosa.
– Como está indo o trabalho por aqui? – ela perguntou, cruzando os braços enquanto dava uma olhada rápida ao redor.
levantou os olhos da câmera ao ouvir sua voz e não conseguiu evitar um leve sorriso ao vê-la.
– Estamos capturando imagens incríveis. O trabalho aqui é impressionante.
assentiu com um pequeno sorriso de satisfação.
– Fico feliz em saber disso. Mas agora, vamos dar uma pausa. e eu preparamos um café para todos. Está na área de convivência do museu.
Os restauradores, que também pareciam imersos em suas tarefas, pararam gradualmente ao ouvirem . Um a um, eles começaram a se levantar, agradecendo a pausa tão necessária. desligou o equipamento e fez uma nota mental sobre onde retomariam mais tarde.
– Um café parece perfeito agora – comentou, olhando para , que ainda estava ajustando sua câmera. – Vem?
– Já estou indo – respondeu, sem desviar os olhos de enquanto ela se afastava para conduzir os outros. Ele admirava não apenas sua postura confiante, mas também a atenção genuína que demonstrava por sua equipe.
Com todos reunidos, o ambiente de trabalho se transformava em algo mais descontraído, provando que, apesar da seriedade do projeto, havia espaço para momentos de união e leveza.
A área de convivência do museu estava arrumada com uma simplicidade acolhedora. Sobre uma longa mesa de madeira escura, havia uma variedade de opções: café fresco, chá, sucos, bolos caseiros, frutas e alguns pães. , com seus longos cabelos vermelhos soltos, estava animadamente organizando os últimos detalhes, ajustando as travessas com perfeccionismo quase cômico.
– Vocês demoraram! – brincou ela ao ver a dupla se aproximando. – Estava pensando em começar sem vocês.
– Impossível. Você não nos deixaria fora disso. – Respondeu com um sorriso divertido, já se servindo de uma xícara de café.
apareceu em seguida, equilibrando pratos e xícaras.
tem razão. Se fosse por ela, esse café já teria virado um brunch – provocou, piscando para a amiga.
Enquanto isso, ficou um pouco mais afastado, observando . Ela estava ajudando um dos restauradores mais velhos a pegar um prato de bolos, com uma naturalidade e um cuidado que ele achava cativantes. Mesmo em um momento de pausa, ela parecia irradiar uma autoridade calma, uma presença forte e ao mesmo tempo acessível.
, quer café? – perguntou , quebrando seu devaneio.
– Ah, sim, claro. Valeu – respondeu ele, disfarçando o sorriso enquanto pegava uma xícara das mãos do amigo.
não demorou a puxar assunto com , algo que percebeu com curiosidade. Ela o provocava sobre como ele e pareciam inseparáveis, e , como de costume, respondia com humor leve, mas claramente interessado. A química entre os dois era evidente, e não conseguia evitar um pequeno riso ao ver o amigo tentando impressionar com comentários espirituosos.
– E você, , o que está achando do museu até agora? – perguntou , puxando-o para a conversa enquanto se servia de chá.
– É incrível – ele respondeu sinceramente. – Não só a arquitetura e as obras, mas a energia das pessoas aqui. É como se todo mundo estivesse realmente apaixonado pelo que faz.
, que havia se aproximado com um prato nas mãos, ouviu o comentário e sorriu de lado.
– Ficamos felizes que você perceba isso. Para muitos de nós, esse trabalho não é apenas uma profissão, mas uma forma de preservar histórias.
olhou diretamente para ela e respondeu com um tom suave.
– E vocês estão fazendo isso lindamente. Dá para sentir o peso dessas histórias em cada peça que tocamos com as lentes.
Por um momento, manteve o olhar firme, mas logo desviou, voltando à sua postura profissional.
– Obrigada. Espero que as gravações consigam transmitir essa essência.
O café continuou em clima descontraído. e roubaram a cena com suas brincadeiras e histórias engraçadas sobre os desafios diários da equipe, arrancando risadas de todos. , embora mais reservada, se permitiu relaxar, compartilhando algumas anedotas de restaurações passadas que haviam dado muito trabalho, mas acabaram se tornando inesquecíveis.
Quando o café estava chegando ao fim, aproveitou uma brecha para puxar de lado.
, hein? Tá fazendo efeito em você – ele provocou em voz baixa, tentando conter o riso.
– Ela é interessante… – admitiu, sem rodeios. – Mas e você? Tá claro que você não tira os olhos da .
deu de ombros, fingindo indiferença.
– Ela é... impressionante.
– Ah, ‘impressionante’, claro – disse, zombando do amigo. – Se precisar de ajuda para um primeiro passo, é só chamar.
apenas riu, desviando o olhar para , que conversava com e do outro lado da sala. Ele sabia que havia algo diferente nela, algo que o intrigava mais a cada interação. Mas, por ora, preferiu guardar isso para si.

***

As entrevistas individuais começaram em uma das salas reservadas do museu, cuidadosamente adaptada para a gravação. organizava a iluminação e ajustava a câmera, enquanto ficava mais ao fundo, observando. Ele preferia estar atrás das lentes, mas também entendia o valor das entrevistas para dar vida ao documentário.
Os entrevistados variavam: restauradores experientes, assistentes e alguns funcionários administrativos que haviam participado do processo de recuperação do museu após o incêndio. Cada um tinha uma história única, e conduzia as perguntas com uma sensibilidade que fazia os entrevistados se sentirem à vontade.
, embora em segundo plano, prestava atenção aos detalhes. Ele observava como cada pessoa gesticulava, a forma como os olhos brilhavam ao falar do trabalho e o orgulho que transparecia em suas palavras. Ele fazia anotações mentais sobre ângulos, expressões e momentos que poderiam ser capturados em futuras gravações.
No meio de uma entrevista, entrou na sala silenciosamente. Ela ficou ao lado de , os braços cruzados, observando a interação de com o entrevistado. Após alguns minutos, ela comentou baixinho:
– Vocês têm uma dinâmica interessante. Só vocês dois na equipe, imagino que isso deve pesar em algum momento.
sorriu, ainda olhando para a entrevista.
– Às vezes, sim. Mas não estamos sempre só nós dois. e , que são parte da nossa equipe, chegam amanhã. Tivemos alguns problemas com a documentação deles, mas agora está tudo resolvido.
arqueou uma sobrancelha, interessada.
– E o que eles fazem?
é nosso editor principal. Ele transforma todo esse caos de gravações em algo coeso e visualmente impactante. é responsável pelo som e música. Ele é praticamente um gênio em criar atmosferas com áudio. – Explicou , o tom demonstrando um claro orgulho por seus colegas.
– Impressionante. Parece que vocês formam um time bem completo então. – Comentou , com um leve sorriso.
– É, e quando estamos juntos, é mais fácil dividir o peso. Mas, por enquanto, e eu damos conta do recado – disse ele, olhando para , que continuava concentrado na gravação.
ficou em silêncio por um momento, observando também.
– Isso é admirável. Dá para ver que vocês têm paixão pelo que fazem.
finalmente desviou o olhar para ela, surpreso pela observação direta.
– Assim como você com as restaurações.
manteve o tom profissional.
– Paixão e responsabilidade andam juntas nesse tipo de trabalho. Espero que consigam transmitir isso no documentário.
– É o que estamos tentando. Espero que, quando terminar, você ache que fizemos justiça à história de vocês. – Respondeu ele, com um sorriso sincero.
Eles permaneceram em silêncio depois disso, ambos focados novamente na entrevista. Apesar da conversa curta, sentiu que havia uma compreensão mútua entre eles, algo que ele estava ansioso para explorar mais com o passar dos dias.

***

O restante do dia no museu foi cheio de movimentação. e seguiram entre gravações de entrevistas e imagens dos diferentes setores do museu. Enquanto cuidava das questões técnicas, usava sua câmera para capturar pequenos detalhes: a textura desgastada de uma parede, a delicadeza de um pincel sobre uma obra sendo restaurada, e os olhares concentrados da equipe de em seus trabalhos minuciosos.
, por sua vez, transitava entre setores, revisando anotações e dando orientações à sua equipe. Sempre que passava por ela, os olhares se cruzavam de forma involuntária. Havia algo na maneira como ele a observava que a deixava inquieta, uma mistura de curiosidade e admiração que ela tentava ignorar. Sempre que seus olhos se encontravam, desviava primeiro, tentando manter sua compostura profissional, embora sentisse o leve calor de um rubor surgir em suas bochechas.
Por outro lado, estava cada vez mais intrigado com . Havia algo naquela mulher que ia além da sua aparência elegante ou da forma como ela liderava com segurança. Era o mistério em torno dela que o atraía, a barreira invisível que ela parecia erguer entre eles.
No final do dia, enquanto a chuva ainda caía sobre a Cidade do México, estava guardando seu equipamento quando avistou na porta do museu. Ela segurava o celular, aparentemente concentrada em algo, com os ombros ligeiramente encolhidos por causa do frio úmido.
Ele se aproximou, parando a alguns passos de distância.
– Está esperando seu marido? – perguntou, em tom casual, mas não conseguindo esconder o leve nervosismo.
franziu o cenho, surpresa pela pergunta. Ela ergueu o olhar para ele, a expressão quase divertida, mas sua voz manteve a formalidade.
– Não. Estou esperando um carro de aplicativo. Eu não sou casada, senhor .
As palavras pareceram ecoar no silêncio que se seguiu. engoliu seco, sentindo-se pego de surpresa.
“Não sou casada...” Aquela frase parecia abrir portas em sua mente, mas ele não ousou dizer nada. O silêncio pairou entre eles por alguns segundos que pareceram uma eternidade.
– Entendi… – ele finalmente murmurou, desviando o olhar para a chuva. – É perigoso esperar sozinha nessa chuva.
– Estou bem – respondeu com um pequeno sorriso, tentando aliviar a tensão. – Meu carro não deve demorar.
apenas assentiu, ainda intrigado pela conversa curta. Ele sabia que havia mais a descobrir sobre , e algo dentro dele dizia que ele estava apenas começando.


destrancou a porta de seu apartamento e entrou, sentindo o silêncio acolhedor envolvê-la. O único som que se fazia presente era o eco suave dos seus próprios passos no chão de madeira. Ligar a luz da sala foi um gesto automático, assim como tirar os sapatos e colocá-los perfeitamente alinhados ao lado da porta.
Suspirou ao se livrar do casaco levemente úmido por causa da chuva e o pendurou no cabideiro ao lado da entrada. Seu apartamento era espaçoso e organizado, com cada coisa em seu devido lugar, exatamente como ela gostava. Livros meticulosamente empilhados na estante, móveis minimalistas, cores neutras e um leve aroma de baunilha no ar, vindo de uma vela que ela havia deixado apagada na mesa de centro.
Sem perder tempo, seguiu direto para o banheiro. Acendeu a luz e ajustou a temperatura da água antes de começar a se despir. O espelho refletiu seu rosto cansado, mas ela não se permitiu encarar sua própria expressão por muito tempo. Assim que entrou no box, a água quente escorreu por seu corpo, relaxando seus músculos e lavando as tensões do dia.
Ela gostava de seguir uma rotina estruturada até mesmo em casa. Era um hábito que trazia ordem à sua vida, que a fazia sentir que tinha controle sobre algo, principalmente depois do caos que havia sido o incêndio no museu. Depois de lavar os cabelos e massagear os ombros tensos, desligou o chuveiro, envolveu-se na toalha macia e saiu do banheiro.
Vestiu uma roupa confortável e foi até a lavanderia. Pegou algumas roupas que estavam no cesto — separadas por cor, como sempre fazia — e as colocou na máquina de lavar. Escolheu um ciclo de lavagem adequado, adicionou o sabão e o amaciante, e observou por alguns segundos o tambor girar antes de fechar a porta da máquina.
Com essa tarefa resolvida, dirigiu-se à cozinha. Ligou a luz ambiente, lavou as mãos e começou a preparar o jantar. Optou por algo simples, mas equilibrado: um filé de salmão grelhado com legumes salteados. Os movimentos eram calculados e eficientes — cortar, temperar, cozinhar —, tudo seguindo um ritmo quase automático. Enquanto a comida cozinhava, pegou uma taça de vinho branco e deu um pequeno gole, sentindo o líquido refrescante deslizar por sua garganta.
Seu apartamento era silencioso, mas ela não se importava. Gostava de momentos assim, onde podia organizar seus pensamentos sem distrações. Mas naquela noite, enquanto mexia os legumes na frigideira, sua mente não estava tão tranquila como de costume.
.
Ela não queria admitir, mas ele havia ficado em sua mente mais do que deveria. O jeito que a olhava, o tom da voz ao perguntar se ela tinha marido... E a maneira como ficou em silêncio depois da resposta.
balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Não havia espaço para distrações.
Quando o jantar ficou pronto, serviu-se com a mesma precisão meticulosa que guiava sua vida. Sentou-se à mesa, pegou os talheres e respirou fundo antes de dar a primeira garfada. Uma noite como qualquer outra. Ou pelo menos era o que ela queria acreditar.
Depois do jantar, levantou-se com calma, levando os pratos para a pia. Lavou tudo imediatamente, como sempre fazia, sem deixar nenhuma sujeira acumulada. Gostava de manter sua cozinha impecável, e o simples ato de limpar os utensílios lhe trazia uma sensação de ordem e controle.
Depois de secar as mãos, abriu a máquina de lavar e transferiu as roupas limpas para a secadora. Enquanto esperava o ciclo terminar, seguiu para a sala e pegou um de seus cadernos de anotações. Sentou-se em sua poltrona favorita e fez um rápido planejamento para o dia seguinte. Gostava de listar suas tarefas e compromissos, mesmo que a rotina já estivesse gravada em sua mente. Escrevia cada item com uma letra bonita e organizada, rabiscando pequenas observações ao lado.
Quando terminou, soltou um suspiro e passou os dedos pelos cabelos ainda levemente úmidos. Levantou-se para verificar a secadora, retirando as roupas quentes e dobrando-as metodicamente antes de guardá-las no armário. Era um hábito que a relaxava, a sensação do tecido macio entre os dedos trazendo um tipo estranho de conforto.
Por fim, seguiu para o quarto. Acendeu o abajur e apagou a luz principal, criando um ambiente aconchegante. Pegou um creme hidratante e espalhou pelo corpo com movimentos lentos, sentindo a pele absorver o perfume suave. Em seguida, escovou os cabelos e os prendeu de forma leve antes de ir ao banheiro para escovar os dentes.
O último ritual da noite era sempre o mesmo: ajustou o despertador para o horário exato, verificou o celular uma última vez (sem responder mensagens desnecessárias), e então se deitou, puxando as cobertas até os ombros.
O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave da chuva ainda caindo lá fora. fechou os olhos e tentou afastar qualquer pensamento disperso. Mas, inevitavelmente, a última imagem que surgiu em sua mente antes de adormecer foi um certo par de olhos escuros observando-a com curiosidade.

***

e desceram para o restaurante do hotel assim que a fome começou a incomodar. A chuva ainda caía lá fora, criando um clima aconchegante dentro do ambiente elegante e levemente iluminado. O lugar não estava muito cheio, apenas alguns hóspedes espalhados pelas mesas, aproveitando a noite com pratos sofisticados e taças de vinho.
Os dois escolheram uma mesa próxima à janela, de onde podiam observar a água escorrendo pelos vidros. passou os olhos pelo menu, mas logo o largou sobre a mesa e se recostou na cadeira, pensativo.
— Você vai pedir o quê? — perguntou , sem tirar os olhos do cardápio.
— Qualquer coisa. Você escolhe pra mim — respondeu , distraído.
ergueu uma sobrancelha e pousou o menu na mesa.
— Certo… O que está ocupando sua cabeça agora?
soltou um suspiro, olhando de relance para a chuva lá fora antes de encarar o amigo.
.
reprimiu um sorriso.
— Já imaginava.
— Não é nada demais — tentou justificar. — É só que… Ela tem um jeito muito interessante. Sempre séria, profissional, metódica. Mas às vezes, por um segundo, eu percebo que tem algo por trás disso.
apoiou o queixo na mão, observando o amigo com divertimento.
— Você gosta de um desafio, não é?
riu baixo.
— Não é isso. Mas tem algo nela que me deixa curioso.
O garçom chegou para anotar os pedidos, e tratou de escolher para os dois, já que ainda parecia perdido em pensamentos. Depois que o funcionário se afastou, ele cruzou os braços e continuou provocando.
— E ? Nenhuma palavra sobre ela?
estreitou os olhos, percebendo o tom divertido na voz do amigo.
— Você quer falar sobre a , não é?
deu de ombros, mas não negou.
— Ela é interessante também — admitiu. — Aqueles cabelos vermelhos chamam atenção. E ela tem uma energia diferente da .
— É, mas não adianta se interessar se você não fizer nada a respeito.
— E você vai fazer algo a respeito da ?
abriu a boca para responder, mas hesitou.
— Eu nem sei se ela me vê dessa forma — admitiu, mexendo no guardanapo.
— Bem… Se ela te vê ou não, você definitivamente vê ela dessa forma.
bufou e pegou um copo d'água, tentando ignorar o olhar perspicaz de . O jantar chegou pouco depois, encerrando a conversa momentaneamente, mas o pensamento sobre permaneceu na mente de .

***

Na manhã seguinte, despertou com o barulho do despertador e se espreguiçou lentamente. O quarto ainda estava levemente escuro, mas ao puxar a cortina, notou que o céu do lado de fora estava coberto por nuvens densas. Não chovia mais, mas a luz do sol mal conseguia atravessar o cinza que dominava o céu.
Ele ouviu um resmungo vindo da cama ao lado e riu ao ver se virando de um lado para o outro, tentando ignorar o alarme.
— Acorda, cara — falou, jogando um travesseiro nele.
soltou um gemido frustrado antes de se sentar na cama, bagunçando os cabelos.
— Ainda parece madrugada…
— Pois é. O dia está meio fechado, mas pelo menos a chuva parou.
suspirou e levantou devagar.
— Então, qual o plano?
— Primeiro, aeroporto. e chegam daqui a pouco.
assentiu, coçando os olhos.
— Então é melhor a gente se arrumar logo.
Os dois tomaram banho e se vestiram rapidamente, optando por roupas confortáveis. Como ainda tinham um tempo antes do voo dos amigos pousar, desceram para tomar café da manhã no hotel. Enquanto mexia no celular, checando algumas mensagens, observava a movimentação ao redor.
— Você já avisou a que vamos chegar um pouco mais tarde no museu? — ele perguntou, pegando uma xícara de café.
— Vou mandar uma mensagem agora — respondeu, digitando rapidamente.
Após o café, eles chamaram um carro e seguiram para o aeroporto. No caminho, apoiou a cabeça no vidro, observando a cidade ainda meio adormecida sob o céu nublado. O clima estava agradável, fresco, e ele se pegou ansioso para a chegada de e .
— Aposto que o vai sair do avião reclamando do voo — comentou, divertido.
riu.
— E o vai estar com a mesma cara de sempre, como se nada o afetasse.
— Como se ele não tivesse acabado de atravessar um oceano — completou.
O carro entrou no estacionamento do aeroporto, e os dois desceram, caminhando até a área de desembarque. Agora, era só esperar.

***

No museu, terminou de revisar algumas anotações antes de se levantar e chamar a atenção da equipe.
— Pessoal, um aviso rápido antes de começarmos — disse, cruzando os braços. — A equipe de filmagem vai se atrasar um pouco hoje. e foram buscar os outros dois integrantes da equipe no aeroporto.
, que estava organizando alguns materiais ao lado de , ergueu a sobrancelha com interesse e trocou um olhar divertido com a amiga antes de perguntar:
— E será que esses dois são tão gatinhos quanto e ?
riu baixinho, inclinando a cabeça para o lado.
— Boa pergunta. Se forem, a gente pode considerar esse documentário uma experiência cultural bem interessante.
revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso diante da conversa das amigas.
— Vocês podiam focar no trabalho ao invés de ficar flertando mentalmente com caras que vocês nem viram ainda — comentou, balançando a cabeça.
apoiou o queixo na mão, fingindo estar pensativa.
— Ah, … Mas e se eles forem irresistíveis?
— Eu duvido que tenham tempo pra paquera — acrescentou. — Pelo que comentou ontem, eles devem chegar cansados da viagem.
— E ainda têm trabalho para fazer — completou, tentando manter a seriedade.
suspirou dramaticamente.
— Tudo bem, chefe. Mas se forem bonitos, eu reservo meu direito de admiração silenciosa.
assentiu com uma expressão fingidamente séria.
— Eu também.
apenas balançou a cabeça e suspirou.
— Vamos voltar ao trabalho antes que vocês comecem a fazer um ranking de qual documentarista é mais bonito.
Com isso, a equipe voltou ao ritmo de trabalho, mas e ainda trocaram um olhar conspirador, claramente animadas para conhecer os novos integrantes da equipe de filmagem.
Enquanto organizava alguns papeis, parou por um momento e lançou um olhar para o refeitório improvisado onde haviam tomado café no dia anterior. e estavam chegando naquele dia, e, por mais que fosse apenas trabalho, ela achava que seria um gesto educado recebê-los de uma maneira um pouco mais calorosa.
Suspirando, ela olhou para o outro lado da sala, onde e ainda trocavam risadas sobre algo que provavelmente não tinha nada a ver com restauração de obras.
, — chamou, cruzando os braços.
As duas se viraram ao mesmo tempo, interrompendo o cochicho conspiratório.
— Sim, chefe? — perguntou com um sorriso.
— Eu estava pensando... Ontem organizamos um café para toda a equipe, e foi um momento legal para interagirmos. Como hoje os outros dois integrantes da equipe de filmagem chegam, achei que poderíamos preparar algo diferente para recebê-los…
e trocaram olhares animados antes de responder:
— Você quer dizer um café especial de boas-vindas?
— Exatamente — confirmou. — Algo simples, mas que mostre hospitalidade. O que acham?
sorriu.
— Eu acho ótimo. Podemos buscar alguns pães frescos e doces na padaria da esquina.
— E talvez sucos e café de melhor qualidade do que aquele que temos aqui — sugeriu, revirando os olhos ao lembrar da bebida fraca que tomaram no dia anterior.
assentiu.
— Tudo bem. Eu vou falar com a administração para ver o que conseguimos organizar. Enquanto isso, vocês podem cuidar dessas compras?
— Com certeza! — respondeu animada. — E, claro, se por acaso encontrarmos algo especial na padaria, tipo um bolo maravilhoso, vamos pegar também, certo, ?
— Óbvio — concordou, rindo.
suspirou, mas não escondeu o pequeno sorriso no canto dos lábios.
— Tudo bem, só tentem não exagerar. Quero um café de boas-vindas, não um banquete.
— Sem promessas — piscou, pegando a bolsa.
Enquanto as duas saíam empolgadas para buscar os itens, respirou fundo, satisfeita por estar organizando algo que pudesse tornar a chegada dos novos integrantes mais acolhedora. Mesmo mantendo uma postura profissional, sabia que pequenos gestos como aquele ajudavam a criar um ambiente de trabalho mais agradável.

***

O aeroporto estava movimentado como sempre, com passageiros andando apressados, malas sendo arrastadas e vozes ecoando por todos os lados. e estavam encostados próximos ao portão de desembarque, atentos ao fluxo de pessoas que saíam.
— Você acha que eles passaram bem pelo voo? — perguntou, mexendo no celular.
provavelmente dormiu o tempo todo — respondeu, cruzando os braços. — E ... Bom, espero que ele não tenha irritado os outros passageiros com a animação dele.
riu.
— Justo.
Antes que pudessem continuar, um grupo de passageiros começou a sair pelo portão, e logo eles avistaram duas figuras familiares. caminhava com passos tranquilos, usando um boné escuro e segurando a alça da mochila com uma mão e a grande mala com a outra. Ao lado dele, vinha um pouco mais apressado, acenando exageradamente ao notar os amigos.
! ! Ei hyungs! — gritou, atraindo alguns olhares ao redor.
soltou um suspiro divertido enquanto apenas balançava a cabeça, sorrindo.
— Aqui! — levantou a mão, chamando a atenção deles.
Os dois recém-chegados se aproximaram rapidamente. Assim que chegaram perto o suficiente, praticamente jogou a mochila em e abraçou com força.
— Cara, que saudade!
— Eu também, mas você não precisa me esmagar — resmungou, rindo enquanto batia nas costas dele.
, mais discreto, cumprimentou com um aperto de mão e depois fez o mesmo com .
— Como foi o voo? — perguntou.
— Tranquilo — respondeu, ajeitando o boné. — Consegui dormir a maior parte do tempo. Apesar de que alguém não parava de falar sobre como estava animado para essa viagem.
Ele lançou um olhar significativo para , que apenas sorriu sem culpa.
— Ei, não é todo dia que a gente tem a oportunidade de filmar um documentário no México — se defendeu.
riu.
— Você vai gostar do lugar. O museu tem um ambiente incrível, e o pessoal da restauração é bem dedicado.
— E tem gente bonita? — perguntou, piscando.
e se entreolharam e riram.
— Digamos que você não vai se decepcionar — comentou, dando um tapinha no ombro do mais novo.
— Agora vamos — disse, pegando uma das malas de . — Temos um café especial esperando por vocês no museu.
ergueu as sobrancelhas.
— Café especial? Isso já está ficando interessante.
Eles seguiram juntos para a saída do aeroporto, prontos para começar oficialmente o trabalho no documentário.

***

Quando , , e entraram no refeitório do museu, foram recebidos pelo aroma reconfortante de café fresco e pães recém-saídos do forno. O ambiente estava bem iluminado, e algumas mesas haviam sido organizadas para o café especial preparado por , e .
No exato momento em que entraram, Paola, uma das assistentes da equipe de restauração, estava descendo cuidadosamente de uma cadeira após terminar de pendurar uma faixa improvisada na parede, onde se lia "Bienvenidos" em letras grandes e coloridas.
O gesto, embora simples, trazia um ar acolhedor ao ambiente, e foi o primeiro a notar. Seus olhos se fixaram na jovem de cabelos castanhos claros e pele bronzeada, que sorria satisfeita com o trabalho concluído. Ela desceu da cadeira com leveza e bateu as mãos para se livrar do pó de giz.
— Parece que a gente realmente foi bem recebido — comentou, observando a faixa com um pequeno sorriso.
— Isso é fofo — acrescentou, cruzando os braços.
, por outro lado, não conseguia desviar o olhar de Paola. Ele ficou parado por um instante, analisando a forma como ela ajeitava os fios soltos do cabelo atrás da orelha e como seu sorriso iluminava o rosto.
— Quem é essa? — murmurou, inclinando-se levemente para .
notou o interesse imediato e sorriu de canto.
— Paola. Ela trabalha com na restauração.
Antes que pudessem continuar o assunto, e se aproximaram com entusiasmo.
— Vocês finalmente chegaram! — exclamou.
— Estávamos ansiosas para conhecê-los — completou, dando um olhar sugestivo para , que apenas riu.
, que estava mais afastada, se aproximou com sua postura profissional de sempre, mas com um pequeno sorriso no rosto.
— Bem-vindos, e . Espero que a viagem tenha sido tranquila. Preparamos esse café para que possam se sentir à vontade antes de começarmos os trabalhos.
— Foi uma viagem tranquila, sim — respondeu educadamente. — E obrigado pela recepção.
— Sim, obrigado! — concordou, mas seus olhos ainda escapavam para Paola, que estava conversando com outra colega mais ao fundo.
percebeu e soltou um risinho discreto para , que logo entendeu o que estava acontecendo.
— Vamos nos sentar? — sugeriu, indicando a mesa onde algumas xícaras de café e pratos com pães e frutas estavam servidos.
O grupo se dirigiu para o café da manhã, mas ainda não conseguia tirar a nova figura de sua mente. Algo lhe dizia que aquela viagem ficaria ainda mais interessante.

***

Enquanto caminhavam até a mesa, se inclinou discretamente para o lado de e sussurrou ao pé do seu ouvido:
— Calma, jogador. Você acabou de chegar. Disfarça.
arregalou minimamente os olhos e pigarreou, endireitando a postura enquanto tentava parecer natural. apenas riu baixo, satisfeito com a própria provocação.
Todos se acomodaram ao redor da mesa, onde o café estava servido de maneira simples, mas aconchegante. sentou-se à frente de e ao lado de , enquanto ficou perto de , puxando assunto com ele sobre a viagem.
— Então, , como está o andamento da restauração? — perguntou, pegando uma xícara de café.
, sempre profissional, pousou sua xícara no pires antes de responder.
— Estamos avançando dentro do esperado, mas ainda há muito trabalho a ser feito. — Ela olhou para e . — Acho que vocês vão encontrar bastante material interessante para o documentário.
— É o que esperamos, — respondeu. — Temos estudado bastante sobre o incêndio e como ele afetou as obras do museu. Nosso objetivo é captar tanto a parte técnica da restauração quanto as histórias por trás dela.
— E para isso, vamos precisar de vocês, — acrescentou, apontando levemente para e suas colegas.
assentiu, mantendo o tom profissional, mas seu olhar encontrou o de brevemente antes de desviar para seu café.
— Claro, ajudaremos no que for possível. O objetivo final do documentário é trazer a atenção do público para a importância da preservação cultural e do trabalho minucioso que estamos fazendo.
— Bem, parece que temos bastante coisa para registrar, então. — finalmente falou, tentando se concentrar no assunto e não na figura de Paola, que estava ocupada do outro lado do refeitório.
Podem ter certeza. sorriu. — A restauração tem histórias incríveis. E claro, também estamos curiosas para ver mais de como vocês trabalham.
Vocês vão gostar comentou, lançando um olhar rápido para antes de beber um gole do café.
A conversa continuou fluindo enquanto eles discutiam detalhes do planejamento das gravações e das entrevistas que precisavam ser feitas. O clima estava leve, apesar da atmosfera profissional, e aos poucos, os recém-chegados começavam a se entrosar com o restante da equipe.


— Uma festa, senhor ? — ergueu as sobrancelhas, franzindo o cenho.
colocou a xícara de café sobre a mesa, em frente à e se sentou. Os olhos dos dois se encontraram de forma rápida, mas intensa e desviou os olhos para a xícara a sua frente, resolvendo tomar do café que havia trago.
— Acho que seria interessante algo do gênero para que sua equipe e minha se inteirar mais, acho fundamental que todos estejam em sinergia para que o trabalho possa fluir da melhor maneira possível. Acredito que algo fora do ambiente de trabalho, bem descontraído, seja ideal para que essa troca aconteça.
manteve a xícara próxima aos lábios por alguns segundos a mais do que o necessário, aproveitando o calor da bebida para disfarçar o turbilhão de pensamentos que se agitavam dentro de si. Uma festa? A ideia a pegara de surpresa — não que fosse absurda, pelo contrário, até fazia sentido. Mas era justamente isso que a deixava inquieta.
estava certo: a sinergia entre as equipes era essencial. O trabalho de restauração exigia confiança, precisão e uma boa dose de sintonia entre todos os envolvidos, principalmente quando se tratava de algo tão delicado quanto registrar e expor esse processo em um documentário. Porém, festas nunca foram exatamente a zona de conforto de . Ela preferia os ambientes controlados, os horários bem definidos, a previsibilidade de uma rotina que ela mesma impunha.
Mas havia algo mais. Uma segunda camada por trás da sua hesitação. Ela sabia que parte da sua resistência não vinha da ideia em si, e sim de quem a havia sugerido. . Sempre com aquele brilho confiante nos olhos e aquele sorriso fácil que parecia carregar segredos. Ele era diferente de todos os outros que ela costumava lidar — espontâneo, intenso, jovem. E, de certa forma, ela começava a sentir que o controle que tanto prezava escorregava entre seus dedos quando ele estava por perto.
Ela olhou para a xícara outra vez, mas não viu o café. Viu o olhar que ele havia lançado momentos antes, firme, direto, como se estivesse desafiando-a a sair de seu eixo, a ceder um pouco da rigidez que carregava como armadura.
“Uma festa pode aproximar as equipes...” — ela repetiu mentalmente.
Sim, ela sabia que fazia sentido. Mas também sabia que isso significava se permitir um pouco mais. Mostrar partes de si que, até então, mantinha cuidadosamente resguardadas.
Respirou fundo, pousando a xícara com calma sobre o pires. Ergueu os olhos para ele novamente, agora com uma expressão mais serena, ainda que reservada. Ela ainda não sabia se diria sim. Mas também não estava inclinada a dizer não.
— Poderia me explicar melhor, que tipo de festa seria essa, senhor ?
Os olhares dos dois voltaram a se encontrar e ele levou a xícara aos lábios também antes de prosseguir:
— Pode me chamar só de … — ele disse com um sorriso leve, quase provocador, antes de tomar outro gole do café.
manteve os olhos fixos nele por um breve segundo. Era impressionante como ele conseguia manter aquele olhar direto e despreocupado, como se estivesse sempre à vontade, até mesmo quando a atmosfera ao redor parecia carregada de tensão sutil. Ela desviou o olhar mais uma vez, mantendo o controle da conversa — ou tentando.
— Certo, — ela disse, com ênfase deliberada no nome, como se testasse o som dele na própria boca. — Que tipo de festa você tinha em mente, exatamente?
Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa, inclinando-se levemente para frente, o que fez se manter ereta, como se o gesto tivesse diminuído demais a distância entre eles.
— Algo simples, informal. Um encontro à noite, talvez em um restaurante ou num barzinho com espaço reservado... Música ambiente, comida boa, nada muito extravagante. Só um espaço em que as equipes possam conversar fora do contexto do trabalho — explicou, pausado, como se soubesse que precisava medir as palavras com ela. — A verdade é que a gente passa horas juntos, mas ainda existe uma distância... um certo formalismo entre os grupos. E para um projeto como esse, isso pode acabar criando barreiras.
ouvia com atenção, o rosto inexpressivo, mas os pensamentos trabalhando rápido.
Ele não estava errado — mais uma vez. Havia, sim, uma divisão sutil. A equipe dela era disciplinada, metódica, centrada. A dele, por outro lado, era jovem, vibrante, e apesar de competente, trazia consigo uma energia mais descontraída. Se elas se aproximassem mais, talvez o ambiente realmente fluísse melhor. A proposta era lógica… racional.
Mas havia algo mais ali. sentia. A ideia de vê-lo fora do ambiente do museu, sem os protocolos e as máscaras que o trabalho impunha, a deixava um tanto inquieta. Por que isso a incomodava tanto?
— Imagino que você já tenha algo em mente — ela disse, mantendo o tom neutro. — Um lugar, uma data…
sorriu, percebendo que não era um “não”. E vindo dela, isso já era meio caminho andado.
— Estava pensando em algo para o final de semana. Nada formal, só um convite aberto para todos. Posso conversar com e também, tenho certeza de que elas vão adorar ajudar a organizar.
— É claro que vão — murmurou, mais para si do que para ele.
— Mas só vai funcionar se você estiver lá — ele completou, com o olhar preso ao dela.
Foi aí que sentiu, pela primeira vez, um leve desequilíbrio. A forma como ele disse aquilo não foi arrogante nem invasiva. Foi... firme. Simplesmente firme.
Ela apertou a xícara entre os dedos e manteve a compostura.
— Veremos, senhor Wa—... . Ainda estou considerando.
Ele assentiu devagar, com aquele mesmo sorriso no canto dos lábios.
— Só considere com carinho. Prometo que será uma noite leve. Nada além disso.
E com isso, o silêncio caiu entre os dois. Mas não era desconfortável. Era denso. Carregado de algo que nenhum dos dois ainda se atrevia a nomear.

***

— Eu não acredito que você não insistiu até conseguir um ‘sim’, ! O que aconteceu com você, bro? exclamou, com os braços abertos, incrédulo, enquanto caminhavam pelo corredor lateral do museu em direção à área de filmagens.
— E correr o risco dela dizer um não por tanta insistência da minha parte? — retrucou com um tom provocador —Sabe , você tem que saber jogar. É como xadrez, estratégia maknae, estratégia!
, que vinha logo atrás, assentiu com um meio sorriso, como quem observava uma jogada de mestre.
— Ele tá certo — disse calmamente. — Com a , qualquer movimento precisa ser bem calculado. Ela é do tipo que observa mais do que fala.
, que estava ao lado de conferindo o celular, olhou por cima do ombro e acrescentou:
— Concordo. Da , um “vou pensar” já é praticamente um abraço caloroso. Ela é reservada, fechada... mas se ela tivesse achado a ideia absurda, teria cortado no ato.
— Pff, vocês estão romantizando demais esse “talvez” bufou, revirando os olhos. — “Talvez” é só “não” com delay.
riu alto e virou os olhos na direção dele.
— Ou é um “sim” testando a paciência de quem pergunta.
— Ou é só o jeito dela de manter o controle da situação — acrescentou, com aquele tom calmo de quem observa mais do que fala. — E vamos ser honestos, parece ser o único que faz ela sair da zona de conforto.
olhou para todos os amigos, cruzou os braços e resmungou:
— Isso está começando a parecer uma reunião de fãs da .
— Não, maknae riu. — Isso é só o reconhecimento de que ela é mais difícil de dobrar que você tentando aprender inglês com ressaca.
deu um leve sorriso, satisfeito. Ele sabia que ainda era um enigma, mas o fato de ela não ter recusado de imediato já dizia muito. E, no fundo, ele adorava o desafio.

***

— Eu não acredito que você ainda está pensando! — gargalhou alto, acompanhada de .
— É claro que vocês duas iam concordar, parece que nasceram antes de inventarem qualquer festa ou comemoração.
se levantou e caminhou até a parte de trás da mesa de , colocando as duas mãos sobre o ombro da amiga e começando a massageá-los.
— Você sabe que a equipe toda vai adorar a ideia e comparecer em peso, todos gostam de festa, menos você. Então qual seria sua dúvida?
— Exatamente! Diga, porque você está tão pensativa? Você pode ir, ficar uns trinta minutos e ir embora.
soltou um suspiro lento, largando a caneta sobre o caderno de anotações. continuava a massagear seus ombros com leveza, enquanto a observava do outro lado da mesa, os braços cruzados e o olhar curioso.
— Vocês não entendem... — murmurou, fechando os olhos por um segundo. — Não é sobre a festa em si. Eu sei que seria bom para a integração da equipe, eu sei que todos vão gostar. Isso não é o problema.
e trocaram um olhar rápido antes de se inclinar, apoiando o queixo no ombro da amiga.
— Então o problema tem nome e sobrenome, não é? .
abriu os olhos, suspirando outra vez, mas não negou.
— Ele tem um jeito... irritantemente leve de tratar tudo. Como se nada fosse um problema. Como se ele soubesse exatamente o efeito que causa nas pessoas.
sorriu de canto.
— E você está brava porque ele tem esse efeito em você?
soltou uma risada seca, sem humor.
— Eu estou tentando manter as coisas no lugar. Minha carreira, minha postura. Eu sempre soube separar as coisas. Mas com ele... é como se ele testasse meus limites com um simples olhar.
, ainda apoiada nela, disse baixinho:
— Amiga... talvez porque você precise disso. Um pouco de caos, um pouco de provocação. Ele não está tentando destruir seu mundo, só te tirar um pouco do centro...
— …onde você mesma se trancou — completou , suave.
passou a mão pelo rosto e depois pelos cabelos, finalmente se levantando da cadeira e andando alguns passos até a janela, de onde podia ver o céu ainda encoberto.
— E se eu for? E se eu for e tudo sair do controle? — disse, mais para si do que para elas.
se apoiou na mesa com os cotovelos, olhando para a amiga com carinho.
— E se você for... e só se divertir? Conversar, rir, respirar. pode ser uma bagunça... mas é uma bagunça bonita, vai.
assentiu, séria.
— Você não precisa se entregar. Só precisa aparecer. O resto... você vê na hora.
ficou em silêncio por alguns segundos. Então, ainda de costas para elas, sussurrou:
— Ele me desconcerta.
— Exatamente por isso você deveria ir — disse , com um sorriso cheio de intenção na voz.
riu.
— Vinte minutos. Um drinque. Uma boa música. Quem sabe até um sorriso, chefe?
sorriu de leve, ainda olhando pela janela. E naquele instante, soube que já tinha decidido. Mesmo que ainda não quisesse admitir em voz alta.

***

O dia foi produtivo e intenso para ambas as equipes. Os restauradores estavam focados em uma peça de grande porte — uma pintura severamente danificada pelo incêndio, que exigia um cuidado meticuloso. coordenava os processos com sua habitual precisão, orientando sua equipe com firmeza e atenção aos mínimos detalhes. e trabalhavam lado a lado, dividindo tarefas enquanto trocavam olhares cúmplices sobre a conversa da manhã.
Do outro lado, a equipe de filmagem também estava em plena atividade. já havia montado um sistema de backup para armazenar as imagens gravadas, enquanto gravava sons ambiente e efeitos de voz para usar na edição. seguia com as entrevistas individuais e registros em vídeo dos processos, e captava ângulos que destacavam o trabalho dos restauradores com sensibilidade quase artística.
Apesar do clima de concentração, o ambiente era mais leve que nos dias anteriores. Os recém-chegados haviam trazido uma nova energia, e as pequenas interações entre os membros das duas equipes começaram a acontecer com mais naturalidade — piadas ocasionais, olhares curiosos, e até alguns risos espontâneos entre uma tarefa e outra.
se manteve atento ao que acontecia ao redor, mas, como sempre, seus olhos pareciam encontrar com frequência. Ela, por sua vez, mantinha a postura de sempre, mas estava estranhamente... serena. Algo em seu olhar indicava que estava digerindo alguma decisão.
Quando o dia começou a se encerrar e os restauradores começaram a guardar os materiais, se aproximou do grupo de , que estava organizando os equipamentos ao lado de e .
— ela chamou, com a voz firme, mas suave. Todos pararam o que estavam fazendo para ouvir.
Ele se virou para ela imediatamente, os olhos atentos, como se esperasse por aquele momento.
— E vocês também — completou, olhando para os demais com um breve sorriso contido. — Eu conversei com minha equipe. E pensei melhor sobre a proposta...
inclinou levemente a cabeça, esperando a resposta.
cruzou os braços e soltou um suspiro curto, como se finalmente estivesse aceitando algo que vinha resistindo.
— Vocês têm o meu aval para organizar a festa. Um momento de integração pode realmente ser positivo. E, sim, eu vou comparecer.
abriu um sorriso largo e bateu palmas uma vez.
Essa é a chefe que a gente respeita!
fingiu surpresa.
— Uau. A temida aceitando uma noite de descontração? Isso definitivamente merece registro em vídeo.
apenas sorriu, lançando um olhar de aprovação para .
, por sua vez, manteve a compostura, mas seus olhos brilhavam.
— Obrigado por confiar na ideia. Prometo que será leve, agradável e… inesquecível.
deu um meio sorriso e respondeu, já se virando para sair:
— Espero que eu não me arrependa disso, senhor .
— Pode me chamar só de , esqueceu? — ele disse automaticamente, fazendo os outros rirem.
Ela balançou a cabeça, sem responder, mas com um leve brilho nos olhos que não passou despercebido. E assim, com a expectativa no ar, os preparativos para a festa finalmente começaram.

***

e rapidamente se juntaram à para os preparativos da tal festa, concordando plenamente com o local escolhido por : um bar amplo no centro da cidade, antigo mas nada convencional ou tradicional, o lugar seja adaptava ano após ano as modernidades impostas pelas épocas. Eles faziam reserva de mesas e o rooftop foi o escolhido por após conversar com as meninas que deram vários pontos positivos.
— O rooftop é ideal, — disse , animada, passando os olhos pelas fotos do local no tablet de . — Primeiro porque tem uma vista linda da cidade, especialmente à noite. Se o céu estiver limpo, dá até pra ver parte do horizonte iluminado. Já dá um clima diferente.
— Segundo, — completou , inclinando-se para olhar mais de perto, — é um ambiente mais arejado, o que é ótimo pra evitar que todo mundo fique espremido. A gente pode circular melhor, conversar em grupos pequenos sem aquela barulheira típica de bar fechado.
— Terceiro, — retomou, contando nos dedos, — o rooftop tem iluminação mais suave e ambiente descontraído, o que ajuda até quem não é muito fã de agito a se sentir confortável.
Ela lançou um olhar sugestivo a .
— Tipo certas pessoas que precisam de uma desculpa pra socializar.
sorriu.
— E tem sofás, mesinhas de canto, nada muito formal. Dá pra quem quiser dançar, mas também pra quem quiser só sentar, beber alguma coisa e observar a vida acontecer.
— E o melhor, — disse , voltando os olhos para , — o bar é famoso por fazer coquetéis incríveis. Podemos pedir que preparem alguns personalizados, só pra deixar a noite com a nossa cara
escutava tudo com atenção, anotando mentalmente cada sugestão. A empolgação das duas era contagiante, e ele sabia que, com elas envolvidas, a festa estava a caminho de ser um sucesso.
— Então tá decidido, — ele disse, confiante. — O rooftop será nosso. Vou confirmar a reserva agora. E vocês duas... — ele apontou para elas com um sorriso — ...acabaram de se tornar oficialmente responsáveis pela vibe da noite.
— Deixa com a gente, — respondeu , piscando. — Você vai ver a magia acontecer.

***

se olhou no espelho, avaliando o look escolhido pela quarta vez. Uma calça jeans leve mas elegante, de cintura alta, uma blusa creme que parecia uma espécie de colete, ela ouviu dizer que estava na moda e uma jaqueta de couro caramelo, e se ventasse? Havia escolhido por ser uma peça neutra, clássica — segura. Mas agora, à medida que girava um pouco de um lado para o outro, franzia o cenho em dúvida.
Será que estava formal demais? Ou o contrário… desleixada e informal demais?
Suspirou, cruzando os braços diante do próprio reflexo. Seu cabelo estava solto, caindo em ondas naturais pelos ombros, e os brincos pequenos de prata davam um toque delicado, mas ainda assim, ela se sentia... exposta.
“Por que eu estou tão preocupada com isso?” — pensou, irritada consigo mesma.
Era só uma festa informal. Uma simples confraternização para integrar as equipes. Ela já havia participado de eventos muito mais importantes, usando saltos mais altos e roupas muito mais ousadas. E, ainda assim, ali estava ela, parada em frente ao espelho, como se aquela noite tivesse algum significado diferente.
“Não tem”, disse a si mesma em silêncio. “É só uma festa. Com colegas de trabalho. Nada além disso.”
Determinada, endireitou os ombros e balançou a cabeça, como se espantasse os pensamentos que começavam a ganhar espaço demais.
— Está ótimo — murmurou, finalmente. — E mesmo que não esteja... paciência.
Virou-se e foi direto para o banheiro. A luz clara do espelho iluminava seu rosto de forma suave. Abriu a nécessaire com seus itens de maquiagem e começou com os passos de sempre: um pouco de base, corretivo nos pontos certos, um toque de blush para dar cor, e sombra neutra nos olhos.
Enquanto aplicava o rímel, o pensamento voltou — inevitavelmente — a .
Será que ele vai reparar?
Ela parou por um segundo, com a escovinha do rímel suspensa no ar, encarando o reflexo.
Não importa. — disse em voz baixa, mais para convencer a si mesma do que por convicção.
E então, voltou a aplicar o rímel com precisão. Ela não fazia aquilo por ele. Fazia por si. Para se sentir segura, firme, no controle. Mesmo que, por dentro, soubesse que estava tudo um pouco fora do eixo naquela noite.
Assim que terminou, encarou seu reflexo no espelho e respirou fundo, ajeitando as maquiagens sobre a pia de forma metódica e organizada. Piscou algumas vezes e então decidiu que estava pronta para ir.
Pegou a bolsa pendurada na porta do guarda-roupas e conferiu se os itens básicos que ela havia colocado lá dentro mais cedo, ainda estavam lá, e voilá, tudo certo. Chamou um carro pelo aplicativo e terminou de fechar o apartamento antes de descer.

***

O rooftop já estava cheio de vida. Luzes âmbar penduradas entre colunas antigas iluminavam o espaço com uma atmosfera intimista e descontraída. A brisa fresca da noite passava leve, e a música ambiente — um soul latino suave — criava o pano de fundo perfeito para risadas, conversas e copos tilintando.
e se movimentavam com a desenvoltura de anfitriãs experientes, indo de grupo em grupo, rindo alto, apresentando os recém-chegados da equipe de filmagem aos restauradores mais tímidos. , com um coquetel cor-de-rosa na mão, já dançava um pouco no centro, puxando um dos assistentes para acompanhá-la, enquanto contava alguma história divertida que fazia Paola e dois outros colegas rirem com as mãos no estômago.
, animado como sempre, estava junto de e perto do bar, provando drinks e elogiando em voz alta cada coquetel novo que aparecia. , com o blazer já pendurado no encosto da cadeira, ria de algo que dizia, enquanto apenas observava com seu típico sorriso discreto, segurando uma taça de vinho branco.
No meio disso tudo, estava inquieto.
Sentado à beira de uma das grandes mesas de madeira rústica, com um copo quase intocado de whisky com gelo, ele fingia ouvir o que dizia a alguns metros, mas os olhos — ah, os olhos estavam sempre voltados para a escada que dava acesso ao rooftop. Era por ali que os convidados subiam do térreo, passando pelo bar principal do subsolo. E era por ali que ele esperava vê-la.
A cada passo que ecoava nos degraus, levantava sutilmente a cabeça, mas logo voltava a encarar o copo. Por fora, fingia calma. Por dentro, uma ansiedade que nem ele conseguia justificar.
o notou e se aproximou com um copo novo na mão.
— Se você olhar mais uma vez pra aquela escada, vai acabar hipnotizando ela — comentou, com um tom brincalhão.
deu uma risada baixa, passando a mão pelos cabelos.
— Ela disse que vinha, não disse?
— Disse — confirmou , dando um gole no próprio drink. — E, vindo da , isso já é praticamente um “não duvide da minha palavra”.
suspirou e olhou de novo.
— É que… não sei. Acho que essa noite importa. De um jeito que não tem só a ver com o documentário.
ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. Apenas ofereceu um sorriso breve, como quem entende perfeitamente o que o amigo não estava pronto para admitir em voz alta.
E então, do lado oposto da escada, alguém comentou em voz alta:
Ela chegou.
se virou de imediato. E pela primeira vez naquela noite, ele parou completamente de respirar.
Ele ficou completamente imóvel por um instante, como se o tempo tivesse parado só para ele.
subia as escadas com passos firmes e seguros, e mesmo que seu olhar estivesse atento ao caminho e às pessoas que a cumprimentavam, havia uma leveza sutil em sua expressão — quase um sorriso discreto, como se ela estivesse, contra todas as suas convicções, genuinamente disposta a se divertir naquela noite.
Ela usava uma calça jeans clara, de cintura alta, que valorizava suas curvas com elegância sem esforço. A blusa creme, de corte moderno e estruturado como um colete, lhe dava um ar contemporâneo, elegante e despretensioso ao mesmo tempo — "Provavelmente ela ouviu dizer que estava na moda", ele imaginou com um meio sorriso. Sobre os ombros, uma jaqueta de couro caramelo completava o visual, escolhida provavelmente por precaução, caso o vento noturno resolvesse soprar mais forte no alto do prédio.
a observou cumprimentar dois membros de sua equipe no meio da escadaria com um sorriso breve e acenos discretos. Ela era polida, como sempre, mas havia algo diferente naquela noite. Talvez fosse a forma como ela havia deixado os cabelos soltos, ou o leve brilho na pele realçado por uma maquiagem suave e impecável. Talvez fosse só o fato de ela estar ali. Fora do ambiente controlado do museu, fora das regras, das paredes onde ela se sentia segura.
, ao lado de , murmurou com um leve tom divertido:
— Eu disse. A versão social existe. E, olha... ela não decepciona.
não respondeu. Continuava observando, sem disfarçar, como se gravasse cada detalhe com os olhos. E, de certo modo, estava mesmo.
Quando finalmente chegou ao topo da escada, o olhar dela cruzou o dele. Por um instante, ninguém mais existia. Ele abriu um leve sorriso, sem exagero, apenas o suficiente para que ela entendesse que sim — ele tinha esperado por ela.
E ela, com a mesma discrição, respondeu com um pequeno aceno de cabeça antes de desviar o olhar para cumprimentar e , que correram até ela com entusiasmo contido.
soltou o ar devagar, como se só agora tivesse permissão para respirar de novo.
— Boa sorte, — murmurou com humor, dando um tapinha no ombro dele antes de se afastar.
Mas nem ouviu. Ele só conseguia pensar em uma coisa:
Ela veio.

***

— Uau, olha só quem decidiu sair da caverna e aparecer em público! — exclamou assim que alcançou o topo da escada, sorrindo de orelha a orelha.
, ao lado, fez um gesto exagerado como se estivesse aplaudindo em silêncio.
— Estamos testemunhando a história, . A misteriosa, elegante e controlada em uma festa. E com uma jaqueta de couro! Isso é praticamente uma revolução pessoal.
revirou os olhos com um sorriso discreto, mas visivelmente envergonhada.
— Vocês são ridículas, — murmurou, ajeitando a alça da bolsa no ombro. — Eu só vim por respeito à equipe. E pra garantir que vocês não transformem isso aqui num episódio de reality show.
— Claro, claro... — rebateu, empurrando-a levemente pelo braço. — “Respeito à equipe” é um ótimo nome para esse batom nude perfeito que você está usando.
segurou o riso.
— E essa roupa nada casualmente pensada? Um ícone do "não me importo, mas me importo sim."
bufou com um meio sorriso e olhou ao redor.
— Cadê o pessoal?
— Por ali. A Paola tá perto do bar, — disse , apontando discretamente. — O resto da galera da filmagem também está por lá.
assentiu e começou a se mover com naturalidade pelo ambiente. Assim que se aproximou do bar, viu Paola rindo com um dos assistentes e a cumprimentou com um sorriso.
— Boa noite, Paola. Tudo certo por aqui?
! — Paola respondeu, claramente surpresa e feliz por vê-la ali. — Você veio mesmo! Está tudo ótimo. E você está linda.
— Obrigada, — respondeu, com um tom suave. — Espero que estejam todos aproveitando a noite.
Logo em seguida, avistou , e em uma roda animada, rindo de algo que acabara de contar com entusiasmo.
— Boa noite, pessoal, — disse ela ao se aproximar.
— Olha só quem apareceu! — exclamou , levantando a taça. — Agora sim a festa começou.
sorriu com um leve aceno.
— Você parece muito mais tranquila fora do ambiente do museu.
— Talvez seja o efeito da música e da iluminação baixa, — respondeu , divertida.
inclinou a cabeça.
— Admito que fiquei surpreso, mas muito feliz que veio. Não parecia convencida até o último minuto.
apenas sorriu com os lábios, sem confirmar nem negar. Mas seus olhos, inquietos, já buscavam outra presença — aquela que ela sabia que estava ali, em algum ponto do rooftop.
E então, finalmente, ela se virou e o viu.
estava de pé, perto de uma das laterais, conversando com dois membros da equipe de som. Mas assim que ela o olhou, ele pareceu sentir — virou o rosto imediatamente, os olhos encontrando os dela como se já estivessem esperando.
caminhou em sua direção com calma, postura impecável, ainda que seu coração acelerasse de forma incômoda.
Quando chegou a poucos passos de distância, se adiantou, com um sorriso que misturava admiração e alívio.
— Você veio — Ele disse, simplesmente, como se estivesse confirmando algo que ele não queria mais duvidar.
ergueu uma sobrancelha, mantendo o controle da expressão.
— Prometi que consideraria. E cá estou.
— E ainda mais bonita do que eu imaginava, — completou ele, sem desviar os olhos.
desviou o olhar por um segundo, como sempre fazia — mas dessa vez, sorriu. Leve, sutil, quase imperceptível.
— Vamos ver se essa sua festa realmente valeu o esforço! — disse ela, voltando a encará-lo — Ainda estou decidindo se fico mais de trinta minutos.
— Então eu tenho meia hora pra te convencer? — respondeu, com um brilho no olhar. — Desafio aceito.
não respondeu de imediato, mas o sorriso contido que até então mantinha nos lábios se desfez em algo mais solto, mais genuíno. Era raro vê-la assim — sem filtros, sem defesas visíveis — e soube, naquele instante, que algo ali havia mudado.
Ela cruzou os braços suavemente, ainda mantendo a postura elegante, mas seus olhos tinham agora um brilho que ele não havia visto antes.
— Você é mais persistente do que eu imaginava, — ela disse, com um leve balançar de cabeça — Isso pode ser perigoso.
riu baixinho, o copo ainda na mão.
— Ou pode ser só whisky. Depende da forma como você encara as coisas.
Ele ergueu o copo de forma simbólica, estendendo-o na direção dela, meio brincando, meio testando os limites.
— Quer provar?
Para a surpresa dele — e até da própria — ela hesitou por apenas um segundo antes de dar um passo à frente e aceitar o copo com naturalidade.
— Por que não? — disse, levando o copo aos lábios e tomando um pequeno gole.
O whisky desceu aquecido, forte, com aquele toque amadeirado e levemente adocicado. Ela não era exatamente fã, mas também não estava ali para seguir suas regras habituais.
a observava como se estivesse vendo um eclipse acontecer diante dos seus olhos — raro, bonito e absolutamente hipnotizante.
— E então? — ele perguntou, um sorriso curioso brincando nos lábios.
devolveu o copo para ele com elegância e um olhar que carregava mais do que palavras podiam expressar.
— Ainda forte, intenso… mas surpreendentemente fácil de engolir, — disse, com um ar tranquilo — Talvez essa festa realmente tenha algum potencial, senhor .
, — ele corrigiu, num tom mais baixo, quase íntimo.
, — ela repetiu, dessa vez sem resistir, antes de virar o rosto e olhar para o resto da festa.
E ? Ficou ali por um segundo, com o copo nas mãos e o coração acelerado, tentando fingir que aquela resposta não havia acabado de se tornar a melhor parte da noite.

***

Logo, mais membros da equipe de começaram a chegar. O burburinho aumentou no rooftop com os novos cumprimentos, risadas e toques de copos se encontrando. A atmosfera estava viva — e , para muitos, era uma surpresa agradável naquela noite. Os olhares se voltavam naturalmente para ela enquanto se movia com graça pelo ambiente, cumprimentando colegas com um sorriso leve, tão raro quanto bem-vindo.
Depois de mais alguns minutos de conversa com , se afastou com elegância, caminhando até o bar. Queria um drink. Um que combinasse com ela — menos intenso que o whisky, mas igualmente marcante.
Ela apoiou os cotovelos no balcão e chamou o bartender com um aceno discreto.
— Você pode me preparar algo que não seja tão forte, mas ainda... com personalidade? Algo mais... suave, mas não óbvio.
O bartender sorriu, entendendo o desafio.
— Deixe comigo. Acho que tenho a medida exata de mistério e sofisticação pra você.
Enquanto ele começava a preparar o coquetel, observava as garrafas alinhadas nas prateleiras, distraída por um instante. O som da música e as vozes ao fundo se misturavam, criando uma espécie de conforto sonoro que ela não sabia que sentia falta.
Do outro lado do rooftop, , e estavam de olho na movimentação. E mais especificamente, em — que, embora tentasse parecer casual, não parava de olhar discretamente para o balcão, onde agora estava.
— Você tá tentando esconder esse sorriso idiota, mas tá falhando miseravelmente. — comentou, dando um gole em sua bebida.
— Ele tá apaixonado… — cantarolou, cutucando o braço de . — Nosso durão virou um romântico latino.
— Cuidado, — acrescentou com seu típico tom calmo. — Se ela percebe que você tá envolvido demais, talvez recue. é do tipo que assusta fácil.
soltou um riso curto, balançando a cabeça.
— Eu não tô tentando nada. Só... tô deixando acontecer.
— Você tá claramente tentando não tentar. O que, pra mim, é ainda mais perigoso. — provocou.
olhou de novo para o bar, e viu o momento exato em que o bartender entregou o coquetel a . Ela agradeceu com um leve sorriso e girou a taça entre os dedos antes de levar aos lábios.
Ele não conseguiu tirar os olhos dela.
— Ela não é como ninguém que eu já conheci… — disse, quase num sussurro.
— E você também não é como ninguém que ela deixa se aproximar, — respondeu, com um meio sorriso. — É por isso que isso aqui vai ser interessante.
— Ou uma tragédia épica
, — completou, divertido.
A gente já tá no meio do primeiro ato, — murmurou. — Vamos ver até onde isso vai.
E ali, entre drinques, música e a cidade brilhando ao fundo, o jogo silencioso entre e seguia, intenso e delicado — como duas peças de xadrez prestes a se mover.

***

retornou ao centro do rooftop com o novo coquetel em mãos, satisfeita com o sabor — suave, frutado, com um fundo cítrico que casava perfeitamente com o clima da noite. Procurou com os olhos suas amigas e logo encontrou e sentadas em uma das mesas baixas, rindo com Paola, que gesticulava animadamente no meio de uma história.
Ela se aproximou e foi recebida com entusiasmo.
— Finalmente! Estávamos prestes a ir te resgatar do bar. — disse , dando espaço no sofá.
— E aí, conseguiu encontrar um drink com a sua cara? — provocou , erguendo a sobrancelha.
sentou-se com um leve sorriso.
— Na verdade... sim. — E deu um gole, relaxando os ombros como há muito não fazia.
Paola sorriu, inclinando-se para ela.
— Sabe, chefe, quando você sorri assim... você assusta menos.
As meninas explodiram em gargalhadas, e até riu, sacudindo a cabeça.
— Pois aproveitem. Ainda não sei quanto tempo essa versão minha vai durar.
Enquanto isso, do outro lado do rooftop, e os garotos estavam cada vez mais enturmados com o pessoal da equipe de restauração. As risadas aumentavam na medida em que as bebidas desciam com facilidade. , apesar de discreto, já havia soltado um ou dois comentários que fizeram o grupo rir. discutia música com um dos restauradores mais jovens, enquanto puxava selfies com todo mundo que passava perto.
, no entanto, estava com o olhar cada vez mais brilhante — não só pelo álcool, mas pelo clima da noite, pelo riso solto das pessoas, pela sensação de liberdade que ele tanto valorizava. E então, teve uma ideia. Uma ideia impulsiva. Uma ideia típica de .
Sem dizer nada, ele se afastou do grupo e foi direto ao bar, chamando o bartender com um gesto animado.
— Oito doses de tequila. E me dá também o limão e o sal. Quero fazer direito.
O bartender riu, reconhecendo o brilho nos olhos dele, e logo preparou as doses em copinhos alinhados com perfeição.
pegou a bandeja com cuidado, deu uma piscadela marota e subiu no pequeno palco onde o DJ acabara de trocar a batida por algo mais agitado, com batidas latinas misturadas a eletrônico. O ritmo aumentava — e o clima também.
Assim que chegou ao centro do palco, ergueu uma das doses de tequila pro alto, chamando a atenção de todos com a voz carregada de empolgação:
— Qual é? Vamos lá, galera! Essa noite é nossa! — gritou. — Quem tiver coragem, vem pro palco beber comigo!
O DJ, pegando o espírito do momento, aumentou o volume, jogando luzes coloridas sobre enquanto ele sorria como um garoto prestes a aprontar.
Ele virou uma das doses de uma vez só, bateu o copo na mesa improvisada e gritou um "¡Salud!" que fez metade do rooftop aplaudir ou rir.
, ainda sentada com as amigas, virou-se ao ouvir o alvoroço. Quando viu ali, em pé no palco, as luzes refletindo em sua camiseta preta, a tequila nas mãos e aquele sorriso despreocupado no rosto, ela sentiu... algo vibrar por dentro.
Algo entre diversão, surpresa... e uma pontinha de perigo.
— Ele realmente não tem limites... — murmurou, encarando a cena.
— E você adora isso — respondeu com um sorrisinho maroto, bebendo um gole de sua própria taça.
não respondeu. Mas também não tirou os olhos dele.
Assim que subiu no palco ao lado de e começou a gesticular com os braços abertos, formando uma fila animada em frente às doses de tequila, o caos saudável se instaurou no rooftop.
— Vamos lá, pessoal! Um shot pra esquentar de verdade! — ele gritava, enquanto imitava um garçom exagerado, fazendo sinais com as mãos para que todos se aproximassem. — Não vale ficar só olhando, hein!
arregalou os olhos e se levantou de um salto.
— Ok, isso oficialmente virou uma festa de verdade. Vamos!
já estava rindo antes mesmo de se levantar, puxando Paola pelo braço.
— Bebida grátis, luz colorida, DJ animado... não tem como negar, esse é o nosso momento.
arqueou uma sobrancelha, ainda sentada.
— Vocês realmente vão se jogar nesse teatrinho todo?
, — disse , segurando a mão da amiga com firmeza, — se você ficar sentada aí, com essa pose de espectadora analítica, eu juro que te carrego no colo.
— Ela não tá brincando, — acrescentou , já dançando de leve enquanto puxava pelo outro braço — Você pode até não admitir, mas quer ir. Dá pra ver no seu olho.
— A gente te conhece, chefe. — Paola completou, com aquele sorriso de quem sabia exatamente onde estava pisando.
soltou um suspiro resignado, mas já estava de pé antes mesmo de terminar de revirar os olhos.
— Vocês são impossíveis.
— E você adora isso, — disse, piscando para ela enquanto começavam a se aproximar do palco.
A fila já estava se formando com entusiasmo. ria de algo que dizia no ouvido dele, os dois empolgados como se estivessem num festival. A bandeja com as doses de tequila brilhava sob a luz quente do rooftop, e o DJ entrou na brincadeira, fazendo um pequeno drop da música quando viu a movimentação aumentar.
seguia com as amigas, seu andar firme contrastando com a animação escancarada delas. Ainda assim, um sorriso — ainda que discreto — surgia cada vez mais nítido em seus lábios.
E, claro, foi o primeiro a vê-la se aproximando. Os olhos dele encontraram os dela como se estivessem esperando aquele exato momento.
Ele ergueu uma das doses com uma expressão de puro desafio.
— Chegou justo a tempo, , — disse, sem desviar o olhar. — Tem uma aqui com o seu nome.
E dessa vez, ela não desviou. Não hesitou. Apenas continuou se aproximando — como quem aceita o jogo.
parou bem diante do palco, com as amigas ao redor, o som vibrando ao fundo, e as luzes pulsando em tons dourados e âmbar. ainda segurava a dose de tequila erguida, os olhos presos nos dela com aquele sorriso provocador que parecia dizer mais do que as palavras poderiam.
, Paola e estavam em puro entusiasmo — Paola já praticamente pulava de empolgação, enquanto fazia um gesto dramático, incentivando a subir.
— Vai lá, musa! — gritou. — Você prometeu ficar mais de trinta minutos, lembra? Já passou da metade do tempo…
se aproximou mais e cochichou no ouvido de , rindo:
— Essa é a parte em que você se diverte de verdade, vai. Ninguém aqui vai te julgar. E se julgar... vai estar bêbado demais pra lembrar amanhã.
respirou fundo, passou os olhos pela multidão sorridente ao redor, pela trilha sonora vibrante, e por fim, pelos olhos fixos de . Então, num gesto inesperadamente leve, ela ergueu a mão.
estendeu a dele, ainda segurando a dose, e a ajudou a subir com naturalidade — como se fosse algo rotineiro. Mas ambos sabiam que não era. Aquilo era novo, um passo fora da linha que desenhava com tanto cuidado ao redor de si.
— Sabia que você viria, — disse baixo, entregando a dose de tequila em sua mão — Eu sei que você não é do tipo que foge de um desafio, .
— Só aceito os que valem a pena! — ela respondeu, olhando nos olhos dele enquanto segurava o copo com firmeza.
Os dois brindaram com um leve toque de vidro, e então, quase sincronizados, viraram as doses.
A tequila desceu quente, cortante, mas manteve a expressão serena, quase impassível — exceto pelo leve arquejo que escapou logo em seguida, que notou com satisfação. Ela riu em seguida, com a cabeça levemente inclinada, surpresa consigo mesma.
— Você sabe que isso é insano, né? — ela disse, já devolvendo o copo vazio à bandeja.
— Mas está sorrindo, — respondeu, com aquele brilho nos olhos — E isso já é metade da vitória.
, Paola e vibravam na base do palco, puxando outros colegas para se juntarem, enquanto distribuía as doses com a alegria de um mestre de cerimônias. e observavam a cena mais afastados, rindo ao ver , no palco, finalmente rendida à energia da noite.
E por um momento, permitiu-se esquecer de tudo: do controle, das barreiras, do receio. Estava ali, ao lado dele, cercada de música, luzes e amigos. E mesmo que fosse só por aquela noite… talvez valesse a pena se deixar levar.




Continua...


Nota da autora: Queridas, esse capítulo veio para comemorar o comeback dos divos que nos deu muito conteúdo né? Espero que gostem!

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