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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 15/09/2024

O salão principal do Instituto Durmstrang já estava abarrotado com seus estudantes em uma atmosfera de despedidas. Muitos se encontravam empolgados para voltarem para suas casas e outros nem tanto assim. Nessa segunda categoria se encaixava Lesath Lestrange, que mal havia tocado em sua janta quando a coruja de penugem tão escura quanto a noite, que pertencia à família Malfoy, largou uma carta sobre a mesa, que por pouco não caiu no prato de sopa.
— Coruja idiota! — falou entredentes, pegando o envelope.
Após abrir e ler rapidamente o conteúdo do pergaminho, os olhos escuros se tornaram tempestuosos e um raio cortou o salão, assustando os demais.
— Mas nem em seus sonhos mais lindos! — Lesath falou com um sorrisinho de lado e em tom baixo, amassando o pergaminho. — Ele está completamente louco se acha que vou perder essa Copa…
— O que foi? — perguntou o amigo que estava sentado ao seu lado na grande mesa redonda do salão de refeições. A bruxa de cabelos em dreads escuros passou a pequena carta para ele, que a leu rapidamente.
— Caramba! — falou o amigo com indignação.
— Eu o odeio! É sério, se não fosse meu primo, eu já o teria azarado. — A garota, que usava o típico uniforme vermelho da instituição, se levantou, saindo do salão a passos largos, antes mesmo de terminar a janta. Aquela seria a última noite na Escola de Magia e Bruxaria do norte ou, pelo menos, deveria ser. Nenhuma carta ou proibição impediria que aquilo acontecesse.
Lesath B. Lestrange obviamente não tinha seus pais por perto, já que estes se orgulhavam tanto de servirem ao Lorde das Trevas que foram para Azkaban, declarando sua lealdade abertamente, a deixando aos cuidados dos tios: Narcisa B. Malfoy, que era irmã de sua mãe, e Lucio Malfoy, o tio que ela adoraria lançar alguma azaração maldosa.
Que o detestava não era novidade para ninguém, e agora ainda mais, já que este lhe enviara um bilhete dizendo que ela teria que passar as férias na escola, pois eles iriam viajar e não teriam tempo de buscá-la, de tão longe que era o Instituto Durmstrang.
Aquela não era a primeira vez que a deixavam na escola durante as férias de verão e Lesath não reclamava, pois sempre passava com o melhor amigo e adorava os dias de verão com ele. No entanto, aquele ano o amigo não iria para casa em razão de ser o ano da Copa Mundial de Quadribol, e ele, sendo apanhador do time da Bulgária, iria treinar pelo tempo que lhe restava. Embora fosse muito bem-vinda na casa da família Krum, tinha outros planos, os quais, agora, teriam que sofrer grandes mudanças.
— Lesath, espere! — O amigo foi atrás dela, levando consigo alguns pãezinhos e o pudim que estavam sobre a mesa, recebendo algumas reclamações dos demais alunos que dividiam a mesa com eles e ainda não tinham saboreado o doce. Ele as ignorou e a seguiu o mais rápido que pôde.
— O que vai fazer? — Vítor a alcançou assim que entraram no andar que dava para os quartos. — Tome, peguei o pudim para você.
Le, como ele a chamava, sorriu, pegando o prato com o doce. Se tinha algo que Lesath gostava, era de pudim. Isso a alegrava. Ou talvez fosse só o excesso de açúcar mesmo.
— Então, o que vai fazer? — Krum repetiu a pergunta. — Vai ficar na escola? Esse ano ela vai estar bem vazia, nem o diretor vai estar aqui por causa do jogo. — Krum soltou o ar, evitando os olhos da amiga.
Lesath demorou a responder. Ainda pensando sobre aquilo, adentraram a sala que dava para os quartos e sentaram-se em uma das mesas mais ao fundo, próximo a uma janela que estava quase toda tomada pela neve.
— Não se preocupe, não vou ficar aqui. — Le apertou os olhos, mordeu levemente o canto da boca e depois encarou o amigo. — Preciso que faça uma coisa por mim.
— Qualquer coisa, pode falar — ele se prontificou.
— Só preciso que diga a Karkaroff, se ele questionar algo, que ficarei com você. Cuido do resto. — Pegou uma grande colherada de pudim e enfiou na boca.
— Claro que faço, mas… no que está pensando? — Krum ergueu uma de suas espessas sobrancelhas e, largando o pãozinho de lado, a observou atentamente.
— Bom… — comeu outra colherada do pudim. — Tem a casa da minha família que está vazia. Vou sair com você da escola, como se fosse para a sua casa, e, quando chegarmos ao porto, nos separamos — sorriu largo, porém Krum não lhe sorriu de volta.
— Não gosto nada da ideia de você estar naquela casa sozinha. Fica comigo, eu falo com o pessoal do time e…
— Não, Krum, está tudo planejado…
— Tudo planejado em menos de cinco minutos? — Cruzou os braços, a interrompendo.
— Até parece que não me conhece. — Le empurrou o prato de pudim com menos da metade para longe de si. — E não pense sobre isso, vou ficar bem. Precisa se concentrar em pegar aquele pomo e ganhar a Copa.
— Acho que uma vitória vai ser impossível. Os irlandeses são excelentes jogadores e não posso dizer o mesmo do meu time, eles são bons, mas não o suficiente — falou o rapaz, encolhendo os ombros e baixando a cabeça.
— Então pegue o pomo e finalize do seu jeito — Lesath deu uma solução simples.
— Talvez eu faça mesmo isso — Krum deu de ombros e ambos riram.
— Vai arrumar suas coisas, eu sei bem que ainda não guardou nada. — Lesath se levantou, pegando o prato de pudim, e subiu para o quarto das meninas de sua idade. Krum fez o mesmo, seguindo para o dos rapazes.

~~~


O dia seguinte não demorou nada a chegar e a Lestrange, com o plano repassado nos mínimos detalhes em sua cabeça, começou a colocá-lo em prática. Após fazer sua higiene matinal, vestiu o uniforme e desceu para o salão que separava os quartos, se pondo a aguardar o amigo. Mais uns dez minutos de espera e ele finalmente apareceu, só que não vinha do quarto como ela esperava, vinha de fora do salão.
— O que houve? — perguntou ela assim que ele se aproximou.
— Karkaroff veio me questionar sobre onde você ficaria. — Le ergueu uma sobrancelha com um sorriso de lado.
— Ele é um idiota! — desdenhou com um sorriso. — Eu sabia que ele falaria com você e não comigo… — rolou os olhos e a cabeça lentamente. Vítor sorriu pelo nariz.
— Eu falei o combinado, ele pensa que você vai ficar com a minha família, já que eu vou treinar — falou o rapaz, abaixando seu tom, pois alguns alunos já enchiam o salão. — Toma aqui, essa é sua entrada, vai ficar ao lado do ministro da Bulgária e na frente dos meus pais. Seu nome está na lista. Agora, como vai chegar lá?
— Com isso eu me arranjo. — Le pegou o envelope com seu ingresso e os dois foram para fora. Já próximos ao salão principal, ela avistou Karkaroff, que não disfarçou a demasiada atenção que dava aos dois amigos. A menina ergueu uma sobrancelha, sustentando o olhar, e o diretor se virou, seguindo para fora do castelo.
— Acho que ele está desconfiado de algo — falou Krum.
— Não, ele é muito obtuso para pensar tanto assim, só não gosta de mim, ou melhor, não gosta do meu sobrenome — Le sorriu, sentando-se à mesa para se fartar do último café da manhã do ano letivo. Vítor sorriu, balançando a cabeça, e começando a se servir de mingau.
Todos se dirigiram para o gigantesco navio que já os esperava ancorado no lago atrás da escola. O mar vermelho composto pelos alunos se destacava em meio à neve clarinha, era um contraste inigualável.
O tiro de canhão anunciou a partida do navio e a viagem seguia tranquila com Lesath escondida atrás do “Profeta Diário”, lendo as últimas notícias, e Krum se divertindo com o pomo de ouro, o qual ganhou na partida da escola que deu ao seu time a taça de quadribol daquele ano.
— O que tanto lê nesse jornal? — perguntou o garoto, jogando o pomo, fazendo o papel amarelado se dobrar, deixando visível a face séria da Lestrange.
— É sobre Sirius Black. Rita Skeeter diz que ele fugiu de Hogwarts, bem debaixo dos narizes de todos, inclusive do diretor Dumbledore.
— E lá vem você mais uma vez falando desse cara, achei que já tinha desencanado dessa história — Krum bufou, rolando os olhos.
Le soltou o ar com força e mirou o amigo com seriedade.
— Já disse a você que Black não é um assassino! E, agora, com essa notícia, só confirmo minhas certezas ainda mais. Dumbledore é um dos bruxos mais poderosos que existem nesse mundo, ele recebeu a primeira ordem de Merlim, isso não é qualquer coisa. Grindelwald perdeu para ele e até Voldemort evitava conflitos com o velho.
— Le, o cara estava em Azkaban, ninguém vai para lá por engano, ele foi pego em flagrante. Você conheceu o cara quando era criança, não tinha como saber o que ele era.
Lesath lhe lançou um olhar bravo. No entanto, não podia argumentar contra isso. Era de fato bem pequena quando o conheceu e não tinha total lembrança da ocasião.
— Eu sei, mas… também sei que ele era meu tio favorito, tenho flashes de memória em que fui muito feliz estando na companhia dele e da tia Andrômeda. Queria que meu pai a tivesse deixado como minha guardiã — riu com sarcasmo, pois sabia que isso jamais teria acontecido.
— Lesath, não pode se agarrar a isso. — Vítor a fitou de forma profunda. — Ele é perigoso — Krum falou, mas foi ignorado. Lesath voltou a se enfiar atrás do jornal. Porém, sabia que o amigo estava certo e foi exatamente por isso que ela fingiu não o ouvir e não lhe dirigiu mais o olhar.

Após algum tempo, chegaram ao porto. O assunto do navio não voltou a ser proferido e Lesath fez exatamente o que havia dito, claro que sob muitos protestos de Vítor, que insistia para que ela fosse com ele.
— Não se preocupe, assim que chegar, te mando uma coruja — falou, rindo. — E vê se pega aquele pomo de ouro ou vou quebrar você todinho — riram, descontraídos, mas Krum, logo voltou a ficar sério.
— E aquele professor, ele pode...
— Não! — disse ela, o olhando como se a ideia fosse absurda demais para ser sequer mencionada.
— Le, vem...
— Por favor, Krum, sabe que não vai conseguir nada com toda essa insistência — ela o interrompeu, prevendo o que vinha pela frente.
O rapaz puxou o ar, inconformado… Mesmo diante do protesto dela, falou:
— Se continuar com essa ideia ridícula, direi a todos o que anda aprontando, que sabe aparatar ilegalmente e que está tentando virar um animago sem registro.
Ela meramente riu, balançando a cabeça negativamente.
— Não vai, não. Eu te conheço. — Levou uma mão ao ombro do amigo.
— É, não vou falar nada, mas… estou preocupado com você, esse cara...
— Foi uma das únicas pessoas — interrompeu ela — que se preocupou comigo de verdade quando eu era criança, não posso simplesmente acreditar que ele se aliou a Voldemort… — Suspirou com pesar. — Prometo que vou te manter informado sobre cada passo. Confia em mim.
— Eu confio, mas isso não me impede de temer por sua vida...
Os amigos se abraçaram carinhosamente e se despediram.
Lesath seguiu para a parte menos movimentada, puxando a grande mala vermelha que exibia em sua superfície o brasão do instituto.
A bruxa adolescente não tinha uma coruja, já que nunca recebia cartas, não via a necessidade de uma. Sempre que o primo queria lhe falar algo, ele usava a da família ou, quando estava na mansão Malfoy e Vítor queria se comunicar com ela, o apanhador usava a dele, a belíssima coruja de penugem marrom, a qual chamou carinhosamente de “pomo” em homenagem ao jogo de quadribol, mesmo a ave sendo de tamanho normal e não condizendo em nada com o nome que recebeu.
Mas que nome mais ridículo, Krum!”
Disse ela, quando soube, a uns três anos atrás.
Lesath, porém, tinha uma gata da raça maine coon de cor cinza grafite que estava em sua caixa de transporte, que, muito embora estivesse bem confortável, pois assim Le havia deixado, colocando uma almofada fofa para ela, sua cara não era nada amigável. Nix, como era chamada em homenagem à deusa da noite, parecia extremamente irritada e virou a cara peluda quando sua dona, parando em um beco vazio, foi ver se ela estava bem.
— Ora, não faça isso! Não posso te deixar solta, está muito frio — falou Le, ainda olhando para a gata que se recusava a encará-la. Lesath bufou. — Bem — olhou para os lados —, vou ter que aparatar, não tem jeito.
Lestrange puxou o ar com força e olhou para os lados, certificando-se de que se encontrava realmente sozinha. Estava preocupada, afinal, aprendera a aparatar ilegalmente e nunca tinha ido para tão longe; se fosse apanhada, estaria realmente encrencada. Imaginou a cara de Lucio tendo que resolver tal situação e isso a fez rir. “Seria impagável”, pensou. No entanto, mesmo sabendo que seria divertidíssimo ver a cara do Malfoy, ser pega não fazia parte de seus planos, estava desenvolvendo muitas coisas ilegais para si e isso arruinaria tudo.
Balançando a cabeça para espantar tais pensamentos, voltou a se concentrar na aparatação. Visualizou em sua cabeça o gazebo na lateral da mansão Lestrange, o único lugar da casa onde apenas familiares e seus convidados podiam aparatar. Após ter o local bem definido em sua mente, Lesath segurou o malão em uma mão, a caixa de Nix na outra, puxou o ar com força e, com um estalido, viu tudo ficar preto. Sentiu seu corpo ser pressionado em todas as direções e não conseguia respirar, era como se tivesse barras de ferro apertando seu peito; os olhos estavam sendo forçados a se voltar para dentro da cabeça e sentia que seus tímpanos estavam sendo empurrados mais profundamente contra seu crânio, quando de repente tudo parou. Ofegante, ela se viu, juntamente com suas coisas, no gazebo com aparência de abandonado, onde mato havia crescido irregularmente por entre as madeiras do piso. Estava na casa de sua infância, na qual nascera e onde não conseguia se lembrar de momentos felizes.
— Não foi tão ruim quanto imaginei… — disse, ainda apoiando as mãos sobre os joelhos. Olhou dentro da caixa da gata para ver se estava tudo bem e soltou o ar, aliviada, quando a viu, ainda de cara amarrada.
— Só mais um minuto e já te solto — falou, pegando a mala vermelha, a puxando pelo quintal. Havia um caminho de pedras até a entrada principal da casa, o que não facilitou em nada seu trajeto puxando a pesada mala cheia de livros e materiais dos mais variados, como: caldeirões, pergaminhos e afins, sem contar as roupas. Ao chegar em frente à entrada, choramingou ao ver que teria que subir uma pequena escada de uns seis degraus.
Seria bem mais fácil se eu pudesse usar um feitiço de levitação, mas fiz um grande aparatando aqui, não posso chamar mais atenção para mim.”
Pensou, fazendo uma careta. Não via a hora de fazer 17 anos e deixar de ser rastreada.
— Certo, vamos lá então! — Respirou fundo e começou a subir, degrau por degrau, de costas, puxando o malão com dificuldades. Quando finalmente chegou ao último degrau, estava bufando e com os pulmões doendo. — Devia ter me lembrado de usar um feitiço para deixá-lo mais leve — reclamou de sua burrice, sentando-se sobre a mala após tirar a caixa de Nix de cima. A gata reclamou, ronronando alto, deixando clara a sua insatisfação. — Tá bom, tá bom! — Levou a mão ao trinco da caixa e a abriu. Nix saiu, espreguiçou-se lentamente e depois foi caminhar, fazia tempo que não pisava naquele lugar, talvez quisesse relembrar como era.
Ainda puxando o ar, agora um pouco menos ofegante, Lesath se manteve sobre o malão, observando a frente da casa que, assim como o gazebo, parecia estar abandonada. A grama estava alta, e havia mato por todo lado junto com folhas secas que caíam das árvores com as aparências mais horríveis que se podia imaginar.
— Huum… — Fez um muxoxo e se levantou, voltando a carregar o malão, agora para dentro da casa, mas, antes que pudesse dar o segundo passo, a porta se abriu e uma figura de grandes orelhas pontudas levemente caídas e olhos verdes que mais pareciam bolas de tênis lisas, apareceu.
— Dot! Ainda está por aqui? — Revirou os olhos diante da pergunta idiota que acabara de fazer.
Dot era a elfo doméstica da família Lestrange, é lógico que estaria por ali, nem após sua morte a elfo deixaria a casa, pois sua cabeça seria empalhada e colocada na parede do corredor dos fundos, como vários outros estavam.
— Menina Lestrange! — falou a elfo com voz esganiçada. — O que faz aqui? Por que não me disse que vinha? Eu teria ajudado a trazer o malão.
— Desculpe, Dot, eu havia esquecido que você estava por aqui — falou a menina com sinceridade.
— Não se desculpe com Dot, minha senhora, estou aqui para servi-la, esse é meu propósito de vida, servir a nobre casa dos Lestrange.
— Claro, Dot, claro… — Lesath riu-se. A elfo fez o malão flutuar e a levou para dentro com tranquilidade. A garota pegou a caixa do gato e seguiu a elfo, fechando a porta atrás de si.
Assim que levantou os olhos após apoiar a caixa de Nix em um móvel atrás da porta, percebeu que o interior do lugar estava limpo e arrumado, no entanto, a atmosfera era fria e nada convidativa. Toda na cor preta, a casa mantinha o estilo gótico e mais parecia uma cena de filme de vampiro do que uma casa de bruxos. Os sofás coloniais com estofamento preto e almofadas bordô eram os mesmos de que se lembrava, as cortinas igualmente escuras deixavam o ambiente ainda mais sombrio, impedindo que a claridade desse vida ao local.
Após uns bons minutos olhando o lugar, decidindo se ficaria mesmo ali, Le se dirigiu à larga escada de madeira escura com um tapete vermelho no canto à direita e foi para seu quarto, que ficava no fim do corredor do segundo andar, de frente para a rua, mesmo que não pudesse ver a vista direito, devido à grande quantidade de árvores que havia do lado de fora rodeando toda a propriedade.
Ao entrar no aposento, olhou em todas as direções. O lugar era enorme e cada móvel, cortina e até os tapetes eram da mesma cor, tudo em preto. As únicas coisas que se destacavam eram os puxadores dos armários e cômodas que eram de prata pura e bem polida.
— Dot fez questão de deixar o quarto da menina Lestrange o mais arrumado, todos os dias Dot vinha aqui limpar e toda semana Dot trocava os lençóis. Dot sabia que um dia a menina voltaria — a elfo falava com os olhos brilhando, parecia que desataria a chorar de tanta felicidade que sentia naquele momento. Lesath era de longe sua Lestrange favorita.
— Obrigada, Dot, fico muito feliz! Agora vou tomar um banho e dormir um pouco depois de comer alguma coisa… — De repente, Le franziu o cenho, pensando. — Tem algo para comer nessa casa? Há tanto tempo que não tem ninguém aqui além de você, tem feito alguma comida gostosa?
— Minha senhora, me desculpe, mas Dot não tinha como comprar comida, apenas comida de elfo que consegui com alguns elfos que conheço — se lamentou a pequena.
— Tudo bem — falou Les, puxando uma bolsinha de couro de dentro do bolso do sobretudo pesado que usava. — Aqui está, compre o que for necessário… Agora vou para o banho.




Lesath havia dormido tão bem que até estranhou quando acordou, não reconhecendo de imediato onde estava, até que Nix pulou sobre si e começou a afofar a colcha que a cobria, se aconchegando sobre sua dona com um ronronar suave.
— Agora está de bom humor, né? Gata mimada. — Les fez um leve carinho em sua cabeça e voltou a se jogar na cama, pensando no que faria, porém a falta do Profeta Diário matinal lhe fez levantar, deixando Nix irritada novamente. Vestiu o hobby de seda cinza e desceu as escadas à procura de Dot, encontrando-a na cozinha.
— Bom dia, menina Lestrange, Dot já ia levar o seu café da manhã, mas não queria acordá-la cedo demais.
— Não se preocupe com isso, eu sempre acordo cedo, costume da escola. — Lesath sentou-se à grande mesa de madeira em mogno escuro que havia no cômodo espaçoso e com as paredes abarrotadas de armários. — Costuma receber o Profeta Diário, Dot? Estava querendo dar uma olhada nele.
Lesath, logicamente, tinha uma assinatura durante o ano letivo, mas quando entrava de férias sempre dava uma pausa, pois normalmente usava o da casa onde ficaria. Como naquele ano estava tendo imprevistos, acabou ficando sem receber.
— Não, minha senhora, Dot sente muito, mas sem dinheiro para pagar a coruja, ela parou de trazer — explicou o pequeno ser, colocando o café da manhã que já estava quase todo arrumado na bandeja em frente à sua senhora.
— Obrigada! Poderia arrumar um jornal para mim? Estou acompanhando uma notícia — pediu Les.
— Claro, minha senhora, Dot não vai demorar nada. — E com um estalido a elfo desaparatou.
Sem muita demora, a pequena já estava de volta com um exemplar do jornal em suas mãos.
— Obrigada! — Lestrange pegou o rolo de papel amarelado, equilibrou a bandeja na mão e saiu da cozinha, se dirigindo para a varanda, na qual sempre gostou de tomar café quando fugia para a casa antes de entrar na escola.
Após um longo tempo, o sol já batia na cara com toda sua voracidade, e Lesath ainda nem tinha tocado na bandeja, exceto, é claro, na pequena xícara onde tinha seu líquido amarronzado preferido, o café. Encontrava-se absorta nas notícias do Profeta Diário sobre Sirius Black. Por mais que tudo que fosse dito fizesse sentido para qualquer bruxo em sã consciência, para ela, aceitar tal fato era estarrecedor, significava acabar com a única lembrança boa que tinha de sua infância e definitivamente não estava nem um pouco suscetível a aceitar isso. O agora ignóbil Black foi seu adulto favorito, como poderia ser um assassino?!
Olhando atentamente a foto sem nenhuma cor atrativa, Les tentou puxar mais algumas lembranças de sua mente, no entanto, como era pequena na época em que o conheceu, não obteve sucesso algum. Naquele momento, lembrou-se da penseira: uma antiga relíquia da família Lestrange que ficava no escritório do último andar onde ela nunca podia ir. Pensativa, fitou a gata grafite brincar com uma folha que caíra no chão escuro da varanda e mordeu o interior da bochecha.
É fato comprovado com dores que na infância não podia chegar nem perto do quarto andar, quem dirá entrar no escritório dos pais. Entretanto, como nunca foi dada a cumprir regras ou acatar proibições, sua mãe sempre a fazia sofrer dolorosas consequências. Porém, agora não havia mais ninguém para lhe proibir de ir ou lhe castigar caso quebrasse as regras.
Com um sorriso sapeca lhe desenhando os lábios carnudos, levantou-se com um salto, de forma que assustou Nix e ela pulou para longe, lhe lançando um olhar de indignação, magoada.
Le, no entanto, não havia percebido o que aconteceu, pois rapidamente se encaminhou para dentro da casa, alcançando a escada. Com passos largos, subiu dois degraus por vez, chegando, esbaforida, ao quarto andar, onde parou.
Havia ali apenas duas largas portas, uma de cada lado, com grandes maçanetas que ficavam no meio da madeira bem trabalhada com desenhos de cobras e corvos. Lesath sabia exatamente o que tinha atrás de cada uma delas: a da esquerda era o grande e espaçoso escritório, onde ficava a velha penseira. Seus pais passavam a maior parte do tempo ali.
A da direita guardava uma gigantesca mesa retangular de madeira escura com mais cadeiras do que conseguia contar. Sendo ainda muito criança, imaginava no mínimo umas vinte, porém nunca conseguiu ter certeza. Era a sala das frequentes reuniões que seus pais davam, mesmo que jamais tenha visto nenhum de seus participantes. Provavelmente, esses tais misteriosos aparatavam e desaparatavam na sala.
Deu mais um passo pelo escuro corredor e viu uma marca na parede que lhe trouxe uma memória há muito adormecida...

Quantas vezes já lhe disse para não subir aqui? Sua praga! — esbravejou Bellatrix, sua voz ecoando estridente pelo corredor atrás da pequena figura de Lesath. Com seus três anos de idade, usava uma jardineira de linho com blusa de gola, meia calça grossa e sapatinho de boneca, tudo na cor preta, exceto a blusa que era cinza. A pequena, que possuía os cabelos ainda mais cacheados do que os de sua mãe, preso em um rabo de cavalo alto, vinha correndo com um sorriso na cara assustada quando um lampejo de luz branca desviou centímetros de sua cabeça, acertando a parede, após uma voz grossa gritar “protego!”
— Bellatrix! — ralhou Rodolphus, porém, sua mulher lhe lançando um olhar bravio, voltou para a sala de reuniões, batendo a porta com força.
A pequena Lestrange, que havia caído de joelhos com o susto, sentou-se e observou o homem alto que usava dreads marrons bem curtos e um cavanhaque espesso caminhar em sua direção.
— Lesath, sabe muito bem que não deve vir aqui. — Ele a ajudou a se levantar e estreitou os olhos escuros e frios para a filha.
— Mamãe brava! — falou a menina com sua vozinha fina.
— É, “mamãe brava” e você gosta de deixá-la assim, não é mesmo? — ele a pegou no colo. — Sabe, talvez eu não possa estar com você por muito tempo… — Les o encarou, alheia à gravidade do que lhe era dito.
O homem pegou a varinha, a encostando levemente na cabeça da menina, e da ponta saiu algumas fagulhas vermelhas.
— Memento if* — murmurou ele, voltando a falar. — Terá que seguir sozinha, se defender sozinha. — O homem a fitou com os olhos brilhando. — Nunca, jamais, abaixe sua cabeça para ninguém. Você é uma Lestrange, uma bruxa de sangue puro! É superior! Tenha orgulho disso e nunca deixe ninguém diminuir você.

Agora entendia o porquê de sempre ter palavras como essas ecoando em sua cabeça quando algo ruim acontecia. Rodolphus Lestrange fez um feitiço para que assim fosse. Para que ela lembrasse.
— Uma falha tentativa de ser um bom pai. — Olhou mais uma vez para a marca na parede. — Infelizmente, preferiu ir para Azkaban ao criar a sua filha…
Lesath ergueu uma sobrancelha, secou a única lágrima que havia descido por sua face e rumou, empertigada, para o escritório.
Ele sabia que não poderia cuidar de sua garotinha, então a fez dona de si, forte e firme, nunca abaixando sua cabeça para ninguém. Talvez, se fosse de outra forma, Lesath não teria conseguido sobreviver tão bem ao modo desprezível que Lúcio Malfoy à tratava, sem fazer a menor questão de esconder seu desafeto.
Ao passar pela pesada porta de madeira de lei, Lesath sentiu que voltara no tempo, pois o lugar estava exatamente como da última vez que havia sido expulsa de lá.
A sala escura continha alguns móveis rústicos, como o sofá vitoriano de madeira polida com suas almofadas e assentos de cor vinho, a mesinha de centro de mesmo material ainda tinha o porta-retratos da bela e jovem Bellatrix Black ao lado de um homem de cabelos negros e pele macilenta que não exibia um sorriso simpático. Do outro lado estava o jovem Rodolphus Lestrange com um sorriso convencido, ajeitando suas vestes. A pele de animal, que ela não soube dizer qual seria, também permanecia na mesma posição, como se tivesse sido colada à mesinha, agora cheia de poeira.
O lugar era sombrio, ainda mais quando se via, sobre o móvel encostado na parede, as figuras empalhadas de uma coruja preta com olhos amarelados e um corvo. Este último, por ser o símbolo da família, era comum ver alguma imagem pela casa.
Lesath não se lembrava dos animais empalhados com olhos brilhantes e franziu o cenho, passando direto sem olhar mais nenhum detalhe. Seria melhor para sua saúde mental, já que teria que ficar por ali um tempo, pelo menos até a Copa. Abriu a porta do armário que ficava no canto da parede e lá estava, brilhando como sempre, a rasa bacia de prata, incrustada de pedras preciosas e runas mui antigas, as quais Lesath nunca havia visto em nenhum outro lugar. Em seu interior, um tipo de líquido ou gás perolado que mais lembrava uma nuvem se desfazendo, brilhava de forma que refletia na face da Lestrange. Ela puxou o ar, pensando se deveria mesmo fazer aquilo, teria que usar magia para tirar uma lembrança de sua mente e poderia ser detectada, no entanto, se queria mais respostas, precisaria arriscar e confiar que o seu feitiço para burlar o rastreamento dos bruxos menores de idade ainda estava bem firme.
Soltando o ar lentamente, balançou a pulseira cheia de pingentes em seu pulso e a varinha cresceu em sua mão, presa por um fio vermelho que aparentemente poderia ser julgado como muito frágil, porém não o era.
— Certo, espero que o Ministério esteja muito ocupado com a Copa e que meus feitiços sejam realmente bons — sorriu ao falar, não tinha dúvidas quanto à sua capacidade de criar feitiços, porém existia um tempo de duração o qual ainda tinha dúvidas, ainda mais em um feitiço experimental.
Após a rápida análise que não a levou a nenhuma conclusão, prosseguiu. Encostou a varinha na têmpora, fechou os olhos, se concentrando no fragmento de lembrança, e a puxou. Um fio branco-prateado se prendeu à ponta da varinha e caiu na penseira em seguida. Viu algumas imagens confusas e borradas de seus familiares e mergulhou na substância indefinida. Sentiu como se estivesse sendo sugada por um redemoinho negro…

E se viu de pé no corredor de sua casa, sua versão pequenina se encontrava no colo do pai, que parecia exasperado com algo.
— Eu estou falando sério com você, Lesath Lestrange, não saia de seu quarto, Dot vai cuidar de você. Não é um bom momento para desobediência! — Rodolphus abriu a porta do quarto da menina e a colocou sobre a cama. — Se sair daqui, vou te colocar no porão — falou o pai com severidade e saiu batendo a porta, sem lhe dirigir um segundo olhar. A pequena ainda manteve os olhos escuros na porta, esperando, talvez, que ele voltasse e lhe desse um beijo ou lhe cobrisse, mas quem apareceu foi Dot, a elfo doméstica de Lesath.
— Minha senhorinha, vamos, não temos muito tempo, vamos logo! — esganiçou-se a elfo, fazendo algumas roupas saírem da gaveta e aparecerem em uma mala de couro de dragão que se abriu sobre a cama.
— Para onde, Dot? — Lesath enfim tirou os olhos da porta, observando o ser mágico apressado.
— Para um lugar seguro, menina Lesath, para um lugar seguro. Agora vamos! Vamos!
A elfo fechou a mala com um estalar de seus dedos longos e finos, pegou Lesath pela mão, fazendo com que ficasse de pé, ajeitou suas roupas e se virou para as malas, fazendo-as flutuar até onde estavam. Enquanto isso, Les se encaminhou para a porta, afinal iam sair, no entanto, antes que pudesse alcançá-la, Dot a puxou para perto de si.
— Não, minha senhora, não vamos sair do quarto — gemeu a elfo. — O Lorde das Trevas está furioso, é muito perigoso lá fora.
— Mas o papai…
— São ordens do meu senhor Lestrange. — Dot arregalou os olhos. — Elfo mau! — Agarrou o abajur de prata sobre o criado mudo e acertou sua cabeça com força. — Elfo mau! — Acertou uma segunda vez.
— Dot… não, Dot não é mau — falou Lesath, assustada com a atitude agressiva. Dot, vendo os olhos escuros se encherem de lágrimas, largou o objeto, grunhindo de dor, pegou a mão da menina, estalou os dedos e desapareceu junto com as malas.
Lestrange viu sua miniatura cair com um baque surdo no chão acinzentado e seus pequenos joelhos cederem, derrubando seu corpo. Todo o conteúdo de seu estômago foi posto para fora e a pequena chorou.
Passos apressados foram ouvidos e logo um grupo de quatro pessoas irrompeu pelas portas duplas do cômodo.
— Dot! — Uma mulher que se parecia muito com a mãe de Lesath, exceto pelos olhos gentis e cabelos castanhos claros, se aproximou, pegando a pequena no colo. Era Andrômeda, nascida Black, mas que agora usava apenas o nome de seu marido, Ted Tonks.
— Dot trouxe, fez como a senhora Tonks pediu, Dot trouxe a minha senhorinha… — Grossas lágrimas molharam os trapos que a elfo usava. — Dot é uma elfo muito má, desobedeceu uma ordem do seu senhor Lestrange… — E pegando o cinzeiro na mesinha de centro, o acertaria na cabeça, se o objeto não tivesse voado de sua mão.
— Você não é uma elfo má, Dot, fez o que era certo e protegeu sua senhora. — No entanto, a elfo balançava a cabeça e se negava a ouvir, repetindo baixinho o quanto era má. — Dot, seu dever é cuidar da menina Lestrange, e é isso o que está fazendo. Aqui ela estará segura.
Os quatro voltaram para o cômodo anterior, composto por copa e cozinha. Lesath agora estava no colo de uma mulher de olhos verdes brilhantes e longos cabelos ruivos, e brincava, colocando o ouvido na enorme barriga, tentando ouvir o bebê que se agitava ao som da voz infantil.
— Ele parece ter gostado muito da nova amiga — comentou o homem de cabelos curtos e bagunçados que estava sentado ao lado da ruiva, acariciando a barriga dela.
A versão maior de Lesath riu. Não fazia ideia de quem era aquela gente, mas sentiu seu coração aquecer com aquela lembrança tirada do mais profundo de suas memórias infantis.
Subitamente, a cena mudou e Lesath se viu gargalhando de tanta alegria. Sua miniatura se encontrava jogada sobre o ombro de Sirius enquanto ele a girava de um lado para o outro, perguntando: onde está a Lesath? Ei, Thiago, você viu aquela menininha? Não a encontro em lugar algum…
E mais uma vez sua versão adolescente não conseguia conter suas emoções e se viu rindo ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam por suas bochechas.
Esse era o verdadeiro Sirius Black, aquele por quem tinha um grande afeto, mesmo que seu contato tenha sido pouco.
Novamente o cenário mudou e viu sua miniatura chorando com um joelho ralado e rindo ao mesmo tempo, pois Sirius fazia um curativo dançar e dar cambalhotas em sua frente antes de serem postos sobre a ferida que uma menina de cabelos verdes vivos limpava.
— Você tem jeito com crianças, seria um bom pai — comentou Andrômeda, observando a cena.
Sirius se levantou com Le em seu colo.
— O problema não são as crianças — riu de lado. — São as mulheres querendo me prender.
Andrômeda riu.
— Você não presta!
— Isso é um fato. Por que acha que ele não se casou até hoje? — disse a ruiva.
— Eu não vou me amarrar a ninguém, nunca.
— Só até você se apaixonar… — falou o homem de óculos chamado Thiago, beijando o topo da cabeça da ruiva.
— Acho que vou cuidar dela como se fosse minha filha, para que eu vou me casar, já tenho a bebê… — Sentou-se com ela em seu colo e a abraçou. — Lesath merece um lar de verdade e em breve teremos outro bebê que pode ser o seu priminho… Você quer ter um priminho? — perguntou para a pequena Lesath, porém a resposta não veio.
A porta da frente da casa dos Tonks foi esmurrada com tanta força que estremeceu e todos se assustaram.
— Quem será uma hora dessas? — Andrômeda olhou para o grande relógio de pêndulo na parede da sala, quando Dot apareceu com um estalido baixo.
— Senhora Black Tonks, meu senhor Lestrange... ele descobriu tudo.
A porta foi aberta e Rodolphus os viu, porém não conseguiu entrar, graças ao feitiço de barreira posto pelos que estavam em seu interior.
— Ela é minha filha, Andrômeda, você não pode fazer isso! — Os olhos escuros do homem bateram sobre a grávida e um sorriso maléfico passou por suas feições. De repente, a mulher levou as mãos à barriga, urrando de dor.
— Ora, seu… — Thiago avançou, tomado pela fúria, porém foi impelido para trás, parando ao lado da mulher.
— Acho melhor partir, Rodolphus. — Soou uma voz branda atrás do grupo. Um senhor de barba longa e oclinhos de meia lua estava parado próximo à lareira e, com um movimento simples de sua varinha, as dores da grávida cessaram e ela se calou.
— Não vou a lugar nenhum sem minha filha — bradou o Lestrange.
— Dumbledore! — falou Andrômeda. — Ele não pode levá-la. Aqui conosco é o melhor para ela.
— Sei disso… e ele também sabe. Então Rodol…
— Já disse que não vou a lugar algum sem minha filha — bradou novamente, irredutível. — O Lorde das Trevas está furioso pela negação de vocês em se unirem a ele. — Fez uma pausa, olhando para Lilian Potter. — Eu só quero a minha filha. Imagine se eu tentasse tirar o seu filho, como se sentiria? Entreguem-me a menina e não direi nada a ninguém sobre onde estão. Podem ficar com as memórias recentes que tenho sobre esse lugar, mas, se insistirem com isso, um exército de comensais aparecerá aqui dentro de poucos segundos. Não pode lutar no estado em que se encontra, prestes a dar à luz.
Lily levou suas mãos até a barriga.
— Papai… — A voz fina da pequena Lesath o fez se distrair por alguns segundos.
— Daremos um jeito depois, por agora, entregue a menina, ela é filha dele, não temos esse direito — falou Dumbledore calmamente.

Com um puxão, Lesath se viu novamente no escritório da mansão Lestrange, pensando sobre tudo aquilo.


Pensando sobre tudo, outra ideia acendeu em sua mente arteira.
— Dot! — chamou Lesath, após um longo tempo em seu quarto elaborando como daria os próximos passos. Nix saltou para seu colo, se aconchegando assim que a elfo apareceu respondendo ao chamado.
— Sim, minha senhora — falou, esfregando uma mão na outra, demonstrando um certo nervosismo, mesmo que sem sentido algum, pois Lesath nunca fora grosseira ou mal educada com ela, mas parecia saber o que viria pela frente.
— Você poderia me levar para um lugar? — perguntou, fixando os olhos na elfo.
— Claro, menina Lestrange, Dot pode fazer qualquer coisa que a menina pedir.
— Quero ir à casa dos Black, preciso verificar...
— Não. — Dot estremeceu. — Minha senhora, não seria uma boa ideia, aquela casa é sombria e ainda tem esse assassino à solta… — Os grandes olhos verdes de elfo agora estavam marejados devido ao medo intenso que sentia em fazer tal coisa.
— Não acredito que ele seja tão perigoso assim, tem alguma coisa errada nessa história, Dot.
A elfo hesitou, porém obedecer à sua senhora era a razão de sua existência.
— Se minha senhora diz, então Dot acredita, mas, ainda assim, não acho que seja uma boa ideia.
— Eu preciso, Dot, preciso entender tudo isso. Nunca esqueci por completo os dias agradáveis que passei em companhia dele e da tia Andrômeda, foram uns dos únicos momentos bons que tive quando era criança, não posso acreditar que ele tenha se tornado um assassino.
— Ah! Minha senhora... se é tão importante assim para a menina Lestrange, Dot a leva onde a senhora quiser.
Lesath sorriu, agradecida.
— Então está decidido. Vou me trocar e saímos em seguida. Eu iria sozinha, já que lá não é um lugar de seu agrado, porém não posso ficar aparatando de forma ilegal ou serei pega.
— Dot entende, minha senhora, se Lesath diz que é seguro, então eu acredito.
— Obrigada, Dot.
Passados alguns minutos, Lesath já estava devidamente vestida com um macaquinho gótico no estilo vitoriano na cor preta e uma blusa social de manga longa com babado e já se encontrava ao pé da escada, verificando cada pingente de sua pulseira.
— Anotações de feitiços, varinha, poção polissuco, essência de Ditamno… — foi murmurando mais algumas coisas até que Dot apareceu e Nix também. — Você não vai, Nix, não posso ficar de olho em você, vai explorar mais a casa. Não pretendo me demorar. — A gata saltou para longe, lançando para sua tutora um olhar de extrema indignação e chateação. Le rolou os olhos com impaciência, em seguida segurou a mão de sua elfo. — Estou pronta, pode ir — informou, e a elfo estalou os dedos para aparatar.
Lesath sentiu um puxão em seu umbigo e a cabeça girou ao seu redor, não podia dizer onde começava sua mão e terminava a da elfo, tudo era um grande borrão, felizmente, assim como começou, tudo parou. Repentinamente. Em questão de segundos, seus pés bateram em algo firme e macio. Um de seus joelhos foi ao chão e, apesar de ainda estar meio zonza, levantou apressadamente, sentindo a sujeira sob suas mãos que tocavam o tapete imundo.
— M-minha senhora, e-essa casa me dá arrepios. — Dot deu alguns passos para trás, olhando para todos os lados, enquanto torcia o trapo enxovalhado que usava como vestido.
— Bom, realmente não está nada agradável, não que já tenha sido um dia, mas é a casa da minha família também, afinal, sou uma Black. — Lesath observou o lugar que mais lembrava uma casa assombrada, o que passou de fato a ser após a morte de sua avó, cerca de dez anos antes, sendo totalmente abandonada.
Caminhou por entre os corredores escuros e empoeirados, passando pelas tapeçarias e quadros presos às paredes. Havia um de tamanho real que exibia uma bruxa empertigada de cabelos e olhos muito escuros que a examinava. A boca era fina e curvada e mantinha os braços cruzados.
— Vovó! — Lesath não tinha exatamente as melhores lembranças de sua tia-avó, Walburga Black, e este era um rosto que gostaria de ter esquecido, contudo, ela era quase idêntica à sua mãe, então seria quase impossível de acontecer, mas havia esquecido que aquele maldito quadro delator existia e preferiu ignorá-lo.
— Lestrange… — sussurrou a mulher no quadro e Lesath logo a identificou. — Pelo menos, essa é digna de pisar o chão de minha casa. Melhor que aquele ingrato, amigo de sangue ruim, traidor do próprio sangue.
— Senhora Black — disse Dot baixinho e gemeu ao ouvir um som que veio da escada ao fim do corredor. — Minha senhora, minha senhora, vamos embora daqui — pediu com voz trêmula.
— Não precisa se preocupar, Dot, já lhe disse: é casa de minha família também — Les tentou acalmá-la.
— Mas e se aquele tal Black estiver por aqui? Ele é perigoso, minha senhora, muito perigoso.
— Duvido muito que esteja aqui, seria burrice, não? Vir exatamente para sua antiga casa. E não acredito que ele seja um assassino.
— Então é tão burra quanto ele! — Uma voz rouca seguida de uma risada que mais parecia o latido de um cão ecoou pela casa, vindo do topo da escada. Um estampido se ouviu e um jato de luz vermelha derrubou alguém. — Mas que merda! E que rapidez! — reclamou o homem.
— Sirius? — Lesath apareceu por completo na frente da escada. Um homem barbudo de cabelos escuros e desgrenhados tentava se levantar.
— É, o burro que voltou para a casa dele.
— Ridículo! — Lesath fez a varinha voltar à forma de pingente. Sirius finalmente se levantou e desceu as escadas.
— Lesath Lestrange! — falou, admirado, olhando a menina que viu pela última vez quando ainda era uma criança de três para quatro anos. — Está enorme. — Levou uma das mãos ao ombro da prima. A bruxa, que exibia um brilho no olhar, sorriu. — Por onde esteve? Esperei te ver em Hogwarts, mas nada. — E, aproximando-se, a abraçou.
Lesath se desarmou pela primeira vez em anos, não sentiu desconfiança nem medo, e sim, aconchego. Fechou os olhos e sorriu, sendo acolhida em um abraço paternal.
— Você está bem? — perguntou Black, estranhando a tamanha carência escancarada naquele ato.
— O quê? Claro, estou bem, ótima! — Lesath se afastou rápido demais, falando com uma firmeza que teve certeza não ter transmitido. Sirius abriu a boca para lhe questionar, no entanto, ela foi mais rápida.
— Estava em Durmstrang.
— O quê? Como assim? Por que tão longe? E Hogwarts?
— Lúcio achou melhor me manter distante de tudo e todos — respondeu a menina de forma acrimônia.
— Aquele... Fui até os Malfoy quando fugi com Bicuço, mas também não te vi.
— Como assim você esteve lá?! Ficou doido? É um fugitivo procurado.
— Ah! — Sirius fez um aceno com a mão de quem não ligava a mínima e continuou. — Estava na forma de cão.
— O quê? — Le franziu o cenho. — Em forma de cão? Você é um animago?
— Um não registrado — explicou com simplicidade, como se não fosse algo fora das regras. Lesath riu.
— Não liga muito para as regras, né? — perguntou, mas sem esperar uma resposta.
— Quem liga para elas? Assim é mais divertido.
— Sei bem disso — comentou, já adepta ao mesmo pensamento que ele. Sirius franziu o cenho, entendendo o que ela queria dizer. — Mas ainda assim foi arriscado. — Cruzou os braços com irritação.
Um silêncio não muito cômodo se instalou entre eles, até que a mãe de Sirius esbravejou com uma voz estridente.
"TRAIDORA DO PRÓPRIO SANGUE! AMIGA DO FUGITIVO! RALÉ!"
— Vamos sair daqui, ela não vai parar nunca mais — comentou o homem.
— Ela continua tão agradável! — falou Lesath, soltando um suspiro de tédio.
— Nem me fale. — Sirius seguiu para os fundos da residência, passando por uma parede onde cabeças de elfos domésticos estavam espalhadas ao longo.
— Tem uma parede dessas em minha casa também — comentou Lesath a esmo.
— Então aquele patife do Lucio Malfoy te mandou para Durmstrang? — Black voltou a falar quando se sentaram à comprida mesa da cozinha. Um de frente para o outro.
— Não é tão ruim assim, pelo menos fico a maior parte do tempo longe dele. Sinto falta do meu primo, mas sempre damos um jeito.
Sirius manteve seus olhos, fundos de olheiras, sobre Lesath, como se visse além do que era exibido com suas falas positivas e, na opinião do bruxo, vazias. Enquanto que Les olhava para os lados, observando os armários que ocupavam todas as paredes do cômodo estreito e sujo, como estava o restante da casa, pelo menos por onde passou.
— Então fale, o que está acontecendo? — perguntou sério, deixando bem claro que não adiantaria esconder e parecer bem, sua falta de contato visual entregava mais do que poderia imaginar.
— Não está acontecendo nada. — Lesath parou de girar o anel com o brasão da família Lestrange e cruzou os braços.
— Então por que está aqui? — A menina sentiu os olhos dele queimarem sobre si e, puxando o ar com força, falou de um fôlego só:
— Não matou mesmo aquelas pessoas, né? Quero dizer... Os Potter eram seus amigos, eu vi na penseira, só podiam ser eles, e aqueles trouxas... eram inocentes... — Teimosas lágrimas molharam a face da Lestrange, mesmo com toda a força que fez para segurá-las. Sirius sorriu anasalado, sem muita vontade.
— Acredita que eu fiz tudo o que dizem? — perguntou ele, fixando os olhos sobre ela.
— Não! — respondeu apressadamente. — Mas... não existem provas nenhuma a seu favor, e Krum sempre me diz que não posso confiar em minhas memórias da infância e... — Lesath parou abruptamente, erguendo a cabeça. — Krum! Merda! Merda! Merda!
— O que houve? — Black perguntou, mas não teve resposta.
— Dot! — Mal Les acabara de chamar e a elfo apareceu com um estalo alto.
— Chamou, minha senhora? — esganiçou a elfo, que ainda tremia, agora ainda mais, estando na presença de Sírius.
— Encontre Victor Krum, diga a ele que estou bem e que já alcancei meu objetivo. E fale apenas quando estiverem completamente a sós.
— Claro, minha senhora. — E com outro estalo, Dot desapareceu, sentindo-se grata por poder sair dali.
— Pode me dizer o que está acontecendo? — Sirius agora estava com os braços cruzados e balançava a cadeira para frente e para trás.
— Victor é meu melhor amigo e tinha esquecido de avisá-lo que estava bem — explicou Lesath.
Outro silêncio perdurou por alguns segundos.
— Eu não acredito que você tenha feito o que dizem, Krum diz que não devo me apegar às lembranças que tenho de você, mas... não consigo. — Encararam-se. — Preciso ouvir a sua versão.
— Mas, se eu fosse um assassino seguidor de Voldemort, você poderia estar morta agora — sorriu ele.
Lesath riu, presunçosa.
— Não seria assim tão fácil. — Cruzou os braços e deu impulso, equilibrando a cadeira nas pernas de trás, exatamente como o Black estava fazendo.
— Ah, é? — Black sorriu, orgulhoso. Lesath deu de ombros. — Então se tornou uma bruxa excepcional, hein!
— Nem que quisesse diria o contrário — Lesath mordeu o canto do lábio inferior, contemplando cada arranhão do anel da família em seu indicador. — É...
— Não matei aquelas pessoas, Lesath Lestrange — Sirius a interrompeu e riu ao ver os olhos escuros dela brilharem. Era tudo o que ela precisava ouvir, não era necessário provar e nem lhe explicar nada. Mesmo que quisesse saber, aquilo bastava.
— Eu sabia, apesar de tudo, eu sabia! — falou quase que comemorando. — Mas então, como aconteceu? — A curiosidade aflorou, ela falou antes que pudesse pensar sobre aquilo.
Sirius deu um longo suspiro e, vendo que teria que contar a história mais uma vez, puxou uma varinha e convocou duas bebidas: uísque de fogo para ele e hidromel para ela.
— Como é que você tem uma varinha? — Lesath vincou entre as sobrancelhas, mas já imaginava como ele a tinha conseguido.
— Roubei — o homem deu de ombros sem ligar para aquilo. Lesath rolou os olhos.
— Tá, agora, fala.
— Vou tentar resumir, ok?
— Não muito, eu espero... — Le não pareceu satisfeita.
— Bom, acabei confiando na pessoa errada na hora de esconder Lílian e Tiago — suspirou — e, quando o confrontei, ele resolveu se explodir — Black deu de ombros e virou sua bebida, dando um grande gole.
— Lembro bem de ter pedido para não resumir demais — Lesath rolou os olhos e bebeu um gole de seu hidromel.
— Voldemort estava caçando os Potter para matar seu filho...
— Isso eu sei!
— Quer que eu conte ou não?
Lesath ergueu uma sobrancelha, o medindo.
— Fala!
— Isso aconteceu quase um ano depois que Rodolphus levou você. Os comensais da morte iniciaram uma caçada brutal e sangrenta, então a Ordem da Fênix...
— A o quê? — Les interrompeu, sem conseguir se conter.
— Uma organização criada por Dumbledore para combater Voldemort — explicou por alto. — Decidimos escondê-los e, após o nascimento de Harry, fui escolhido como padrinho e como "fiel do segredo".
Lesath franziu o cenho, porém não interrompeu.
— Achei que seria muito óbvio que fosse eu, então sugeri que aquele imundo tomasse meu lugar. Voldemort nunca imaginaria que aquele medroso poderia carregar algo tão valioso. Foi o que pensei. — Soltou um suspiro de lamento. — Foi a pior decisão que tomei na vida. Porque acontece que Pettigrew já era um maldito comensal e ninguém sabia. Um espião, isso é o que ele era, e entregou nossos amigos... Quando fui atrás dele, o covarde me acusou em público e em seguida fingiu se explodir, matando todos que estavam próximos, e se transformou naquele rato.
— E com uma investigação não feita te jogaram em Azkaban sem julgamento. Que droga! — Lesath finalizou sua bebida e novamente vincou as sobrancelhas. — Mas porque resolveu fugir só agora, 13 anos depois?
— Realmente acreditei que Pedro havia morrido e me achava culpado por ter passado minha função para ele. Foi minha culpa ele ter sido o "fiel do segredo", eu dei essa ideia — suspirou pesadamente. — Até que, no ano passado, eu o vi, estava no Profeta Diário que o ministro levou em sua visita rotineira. Tinha se escondido com uma família bruxa, próximo a Harry. Então fugi, decidido a cometer o crime pelo qual fui condenado.
— E? — Le sabia que tinha algo mais.
— No fim das contas, Harry, após ouvir a verdade, decidiu que não valia a pena e me impediu. Morto, a verdade ia com ele, vivo, poderia provar minha inocência, mas como nada parece ficar a meu favor, ele acabou conseguindo fugir quando Lupin perdeu o controle na lua cheia e se transformou em lobisomem. O único que acreditou em Harry e em seus amigos foi Dumbledore, que me ajudou a fugir.
— Uau! Quem é Lupin? E como assim ele é lobisomem?
— Nosso grupo de amigos era bem diferente — Sirius sorriu, saudoso.
— É o que parece... Tiago Potter também era um animago, suponho.
— Era sim, um cervo, nos chamávamos de "Os Marotos": Remo Lupin era o Aluado, Tiago, o Pontas, eu, o Almofadinhas e Pedro, o Rabicho. Nos divertimos muito nos tempos de escola.
— Imagino — falou Le, sorrindo de ver um resquício de felicidade nos olhos do primo e se sobressaltou quando, com um estalo, Dot estava de volta. — Mas que mer... — Les se calou.
— Perdoe-me, minha senhora, Dot não queria assustar a menina Lestrange.
— Tudo bem, Dot, não é culpa sua. O encontrou?
— Sim, minha senhora. Mestre Krum mandou Dot dizer que minha senhora é uma bruxa sem coração por deixá-lo tão preocupado, mas Dot disse ao mestre Krum que minha senhora Lestrange é uma bruxa de bom coração que trata Dot muito bem.
— Ela é bem mais agradável que aquele maldito Monstro — reclamou Black, observando a elfo.
— Talvez, se você não o chamasse de "maldito", ele fosse mais agradável — pontuou Lesath. Sirius estalou a boca em um muxoxo. — Obrigada, Dot, você pode voltar para casa. Se eu precisar, te chamo.
— Claro, minha senhora. — A elfo fez uma reverência e desapareceu com outro estalo.
— E agora o que vai fazer? Vai ficar por aqui? — Lestrange tentou demonstrar falta de interesse, mas não sabia se conseguiu.
— Não, preciso me afastar...
— Hummm... — Lesath puxou o ar lentamente e soltou, bufando. Sirius entendeu a chateação.
— Não posso me arriscar mais assim, só parei aqui para Bicuço poder descansar. Com a Copa de Quadribol, as fronteiras estão mais vigiadas. Pura sorte ninguém ter vindo aqui ainda
. — Pensei que... talvez... você pudesse ficar lá em casa — sugeriu a bruxa com um fio de esperança.
— Arriscado demais, Lesath. — Ela murchou como um balão que perdeu todo o seu ar. Sirius se levantou.
— Vou dar uma olhada no Bicuço.
— Podia ficar só um pouco. Te ajudo a fingir que está distante... só um pouco — arriscou uma nova tentativa. Sirius a encarou.
— Não acho mesmo uma boa ideia.
Lesath piscou algumas vezes e sorriu largo.
— Tudo bem, eu entendo... Vou estar ocupada também me organizando para a ir a Copa.
Sirius riu, entendendo perfeitamente que a Lestrange se obrigava a ser forte e, antes que ela finalizasse a frase, a puxou para um abraço. Estava feliz em vê-la, quase a criou como filha, se tudo não tivesse dado tão errado em sua vida.


— Até o próprio Krum, como apanhador da Bulgária, tem plena certeza que seu time não está lá essas coisas… — disse Le, gesticulando com uma torrada na mão.
— Como o cara vai jogar por um time no qual ele mesmo não tem fé? Isso é ridículo. — Sirius dobrou o Profeta Diário, o jogando sobre a mesa.
A discussão sobre o quadribol havia iniciado na noite anterior e, ainda pela manhã, Le insistia que a Irlanda levaria a melhor.
Sirius havia decidido ficar, por pelo menos alguns dias, com sua prima/sobrinha e ela lhe ajudava a mandar cartas para Harry Potter de forma que parecesse que ele estava bem longe. Lesath estava radiante por tê-lo consigo, não conseguia lembrar a última vez em que estivera assim. Claro que amava estar com Viktor, no entanto, estar com o Black era alentador, mesmo que fosse durar pouco.
— Nada a ver, ele só é realista sobre seu time, temos que admitir que a defesa da Irlanda é excelente — ponderou a adolescente. — No entanto, independentemente do resultado, Krum pegará aquele pomo. Isso é um fato.
— Mas o que isso adianta? Pegar o pomo tendo o time adversário com vários pontos à frente. Não faz o menor sentido — concluiu Sirius.
— Não é essa a questão, Krum é o melhor, e, mesmo que o time perca, ele não precisa perder esse título. O conheço muito bem e ele não se arriscaria a esse ponto — deu de ombros, voltando sua atenção para a torrada, comendo o último pedaço. Sirius a observou com os olhos estreitos por alguns segundos.
— O que acontece entre você e esse tal de Viktor Krum? — Seu tom de voz ficou sério, jogando para bem longe a descontração com que falavam do jogo.
Le, que passava geléia em outra torrada, elevou uma sobrancelha, pausando o ato para encarar o tio.
— Nós somos… — Batidas na janela a dispersaram.
Uma coruja muito branca batia com o bico na janela, tendo um rolo fino e pequeno de pergaminho preso à perna.
— É sua? — perguntou ela ao primo.
— Não! — respondeu o mais velho, se levantando para abrir a janela. — Não é do seu querido Krum? — Lesath riu, entendendo a situação.
— Não, a dele é marrom — riu e Sírius franziu o cenho, desprendendo o pergaminho da perna da ave.
— 'Tá, mas e então, o que vocês dois são, namorados, por acaso? Acho que é muito nova para pensar sobre isso, ainda nem terminou a escola, sem contar que nem o conheço…
O Black disparou a falar e criar argumentos que impedissem a bruxa mais nova de ter qualquer tipo de relacionamento.
— Relaxa, papai ciumento — a Lestrange riu abertamente —, Krum é só meu amigo e não existe ninguém que tenha me despertado algum interesse — ela deu de ombros ainda rindo. — E pode deixar, quando algo do tipo acontecer, você saberá.
Sirius riu. Agora se achava um completo idiota; preferindo não dizer mais nada, apenas desenrolou o pergaminho, vindo a descobrir que pertencia ao Potter, seu afilhado.
— É do Harry! — informou ele, correndo os olhos pela carta rapidamente e rindo como um cachorro ao finalizar. Guardou-a em um dos bolsos.
— Parece que está tudo bem por lá — Lesath o observava.
— Parece que sim, os trouxas, familiares dele, estão morrendo de medo que eu os mate, então acabam o deixando em paz.
— Mas…? — Ficou bem claro que tinha algo a mais. Algo que o preocupou. Sirius a encarou, vasculhando cada parte da face da menina e o quanto ela era perspicaz.
— Parece que a cicatriz voltou a doer, e isso pode ser preocupante, já que a última vez que isso ocorreu foi porque Voldemort estava por perto.
— Entendo. Então a cicatriz funciona como um sinal da presença dele? Isso é… no mínimo intrigante. Ainda mais se levarmos em consideração o que foi dito pela profecia dessa tal professora que o Potter te contou.
Ambos se calaram, pensando provavelmente a mesma coisa: não acreditavam que Voldemort estava morto e aquilo poderia ser sim um sinal de que ele estava se movimentando.
— Bom, a única coisa que podemos fazer é esperar e nos prepararmos o máximo que der para não sermos pegos de surpresa.
— Exatamente, que bom que pensa assim — ele falou, finalizando o café de sua xícara.
— Dot! — Les a chamou repentinamente e, em seguida, com um estalo alto, a elfo apareceu.
— Chamou, minha senhora? — Dot fez uma reverência. A elfo usava agora um vestido limpo com mangas bufantes e aparentava satisfação por ter sido chamada.
— Está muito bem, Dot! — elogiou Sirius. — Queria que Monstro fosse assim.
— Eu já disse: só depende de você.
— Ah! — desdenhou, com um abanar de mão rápido. Les revirou os olhos. Não adiantava falar para ele tratar Monstro, o elfo da família Black, com respeito, ele simplesmente se recusava.
— Vai, fala qual pássaro deseja para levar a resposta ao Harry. — Sirius a encarou seriamente e o sorriso da menina foi desaparecendo lentamente.
— Nenhum! — respondeu baixo e se levantou.
— Como assim? — Mesmo sabendo o que iria ouvir, perguntou, com esperança de que algo diferente viesse.
— Eu disse a você que não poderia ficar muitos dias, é arriscado, coloco até sua vida em perigo. — Ele esperou que ela o cortasse, porém, como nada foi dito, prosseguiu. — Bom, não enviarei a coruja dele agora, fique com ela por alguns dias. Ok? Pode cuidar dela por mim?
— Tá, claro! — Lesath agora estava para baixo.
— Obrigado! — Se virou para a ave de penas claras. — Não volte para o Harry agora, sim? Darei um jeito de respondê-lo mais tarde. — A coruja deu um piu, parecendo entender o que lhe foi pedido.
O Black resolveu que partiria ao anoitecer, pois o manto da noite o ocultaria melhor, e isso deu a Lestrange um pouco mais de tempo para se despedir. Infelizmente, este não foi seu companheiro e passou muito rápido em meio às risadas das boas histórias contadas por Sirius sobre seus tempos de escola.
— Hogwarts me parece muito legal, gostaria de conhecer um dia — disse a Lestrange enquanto faziam a última refeição juntos.
— Você com toda certeza iria adorar vagar por aquele terreno, tem ótimos lugares para se esconder por lá, só é pego quem quiser — riu alto como um cão tossindo. Logo após, fitou o relógio preso à parede da cozinha entre o armário e a pia.
Lesath olhou na mesma direção e o sorriso mais uma vez sumiu de sua face, era hora de se despedir.
— Melhor eu ir andando. — Sirius espreguiçou-se. — Prometo que mando notícias assim que me estabelecer em algum lugar para descansar com Bicuço, mas isso pode demorar, ele voa bastante antes de sentir essa necessidade, ainda mais do jeito que tem sido bem alimentado aqui. Opa! — Nix acabara de saltar para o colo do homem, ronronando alto.
— Ela gostou de você, o que é bem estranho, já que ela não gosta de ninguém. Gata metida! — Le rolou os olhos.
— Ela me lembra muito alguém. — Sirius pegou o animal nos braços e, encarando a menina, se levantou.
— Eu não sou assim — se defendeu, ao entender a indireta.
— Não, claro que não, você gosta de todo mundo… — o Black riu, sarcástico.
— Bom… eu não desgosto, só… — Lesath se deu por vencida. — A maioria das pessoas são idiotas, não tenho paciência. Irritam-me.
— Te entendo, mas ser um pouco mais simpática vai lhe trazer mais amigos.
— Se eu tiver que mudar quem sou para as pessoas gostarem de mim, então prefiro não ter amigos, não vou me abandonar para agradar ninguém. Krum gosta de mim do jeito que sou. Draco também. É o suficiente!
— Você não está errada, não tem que mudar para agradar ninguém, mas precisamos de amigos de verdade ao nosso redor, só assim a vida vale à pena. Ter com quem rir, com quem chorar e até para ficar calado, apenas olhando o céu à noite. São coisas boas que os amigos podem te proporcionar.
Chegaram à porta da sala e Bicuço já o aguardava, sendo alimentado pela elfo doméstica.
— Preparei algumas coisas para o senhor, Senhor Black. Não vai ficar com fome tão cedo — disse com sua vozinha esganiçada.
— Obrigado, Dot, você é mesmo uma elfo muito gentil — disse o homem, pegando a bolsa lateral que ela lhe entregava. — Se cuida e me avise se aquele Malfoy tentar algo contra você. Apareço rapidinho.
— Ele não é tão ousado assim — Le sorriu, maléfica. Em seguida, estava com a cara enfiada no peito de Sirius, que a puxou para um abraço.
— Você é como uma filha para mim. Saiba que eu não estaria indo embora se não fosse preciso. — Beijou o topo da cabeça da menina e se afastou, passando a mão em Bicuço.
— Eu sei, vê se se cuida.

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Os dias depois da despedida de Sirius passaram mais lentos do que gostaria. Ficar sozinha naquela mansão não era tão divertido agora que havia passado alguns dias com o primo. Lesath bufou ao chegar ao quarto, carregando uma vasilha redonda de tamanho médio, cheia de pequenos petiscos, e uma garrafa de suco de abóbora. Depositou tudo sobre a mesinha de cabeceira e se jogou na cama, comendo um biscoito salgado. Mal tinha se aconchegado, quando ouviu algo bater no vidro da janela. Era Pomo, a coruja de Viktor Krum, trazendo um envelope de tamanho mediano e um pacote. A menina abriu a janela e a ave entrou, batendo suas asas, dando uma volta no grande cômodo, deixando as coisas caírem sobre a cama.
— Obrigada, Pomo. — Assim que a ave pousou no divã na frente da enorme cama de dossel coberta por lençóis de seda preto e vinho, ela fez uma carícia na cabeça do animal enquanto trazia os objetos para próximo de si.
A primeira coisa que abriu foi a carta, tendo na frente apenas o nome, Krum, em uma caligrafia garranchada.

“Sinto muito, Lesath, mas, como ainda é menor de idade, não consegui outra maneira para que chegasse ao local da Copa. Terá que ir para o ‘Caldeirão Furado’ e de lá seguir para o local da chave de portal”

Ela torceu o nariz em desagrado com tal notícia e prosseguiu lendo.

"Não faça essa cara feia, sabe bem que tentei de tudo."

Lesath riu. Krum a conhecia bem o suficiente para saber que ela faria essa cara.

"Viktor Krum, seu melhor amigo. Só para você não esquecer.”

Jogou-se novamente na cama, pegando o embrulho e o rasgando. Uma camiseta vermelha com o desenho da face de Viktor com seu uniforme da Bulgária caiu sobre suas pernas.
— Que coisa mais ridícula! — falou, jogando a camisa de lado. — Eu não vou usar isso — bufou, chateada.

~~~

Já passava do meio dia quando uma grande coruja marrom bateu o bico na janela do quarto que estava fechada.
— Deve ser a resposta do Caldeirão Furado — falou para si mesma, levantando para permitir a entrada do animal.
Havia aproveitado a coruja do amigo para enviar uma carta ao bar/hospedaria, reservando um quarto. Já que teria que ir até lá, passaria no Gringotes, o banco dos bruxos, para fazer sua retirada habitual para passar o ano escolar.
Com a confirmação da reserva em mãos e o horário de sua chegada via pó de flu confirmada, era hora de ajeitar suas coisas para partir.
— Nix, se comporte, espero voltar logo, mas nunca sabemos quanto tempo vai durar um jogo de quadribol, então não prometo nada — falou, acariciando a gata em seus braços. Depois a colocou sobre a cama, pegou a capa preta, amarrando-a à frente do pescoço de forma que a peça cobriu todo seu corpo, e desceu, indo em direção à antessala, onde ficava a grande lareira de transporte. O fogo crepitava baixinho e ela deu uma última olhada em si, retirou uma das luvas, pegou um pouco de pó de flu, localizado ao lado da lareira, e o jogou nas chamas que se tornaram verde claras.
— Tudo pronto, minha senhora. — Dot chegou, fazendo a bolsa de mão da Lestrange flutuar até onde a menina estava.
— Certo, Dot, é isso! — E, pegando a bolsa de couro de dragão cinza, entrou nas chamas, sentindo um ar morno envolver seu corpo, e disse em alto e bom tom: — Caldeirão Furado! — As chamas cresceram, tomando seu corpo, e se viu rodopiando por diferentes lareiras até que, de forma abrupta, parou. Havia chegado ao seu destino.
— Senhorita Lestrange! — falou uma bruxa alta que usava um tipo de uniforme azul fosco e cinza. — Deixe-me ajudá-la. — Pegou, então, a pequena mala da menina e ajudou-a a sair das chamas esverdeadas. Lesath começou a bater as cinzas de sobre si, porém foi interrompida. — Deixa que faço isso para a senhorita, por favor — disse a bruxa, pegando sua varinha, e com um toque sutil no ombro da mais nova, fez toda a fuligem sumir.
— Obrigada! — Les agradeceu, recebendo um olhar de estranheza da mais velha. Os Lestrange não eram conhecidos por sua gentileza, então um agradecimento foi visto como algo incomum.
— Madame Lestrange, gostaria de almoçar antes de subir? Reservamos uma mesa para a senhorita, estará sempre livre à sua disposição.
Lesath rolou os olhos com impaciência, não suportava esse tipo de comportamento exageradamente bajulador, no entanto, em determinados lugares, o fato de ser uma Lestrange tornava tais atitudes inevitáveis.
— Não, vou apenas deixar as coisas no quarto e sair.
— Claro, como a senhorita quiser. — A mulher guiou a Lestrange até o quarto, carregando a pequena mala.

O Beco Diagonal estava cheio demais na opinião de Lesath. Pessoas de todos os lugares resolveram andar por aquelas ruas estreitas e em sua maioria usavam vestes com emblemas de seus times favoritos e outras totalmente a caráter com rostos pintados e grandes chapéus com miniaturas de leprechauns dançando e cantando. Ela, no entanto, apesar de amar o quadribol e ser uma torcedora feroz da Irlanda, limitou-se a usar, por baixo da capa, um macaquinho balonê de cintura alta e bem definida na cor cinza, uma camisa social preta, escuras meias-calças e bota de cano médio, bem no estilo vitoriano, que era moda predominante nas famílias mais tradicionais e renomadas da sociedade bruxa.
Havia retirado as luvas pretas para tomar um sorvete e depois seguiu para o Gringotes, se detendo apenas para namorar a Firebolt, a mais nova vassoura que fora lançada no mercado, pensando se deveria comprá-la. Sua Nimbus2001 era novinha, tendo apenas um ano de uso, no entanto, aquela era uma Firebolt, mais veloz, mais bonita. Como poderia resistir à toda aquela beleza dourada?
Sem se decidir, voltou ao seu caminho, chegando ao banco. Atravessou as pesadas portas duplas, se deparando com a beleza inigualável. O lugar era todo de mármore branco impecavelmente limpo e duendes se encontravam nas mesinhas altas dispostas de cada lado do largo corredor. Não era a primeira vez que estava ali, no entanto, nunca o tinha visto cheio daquela forma, pois em cada guichê uma pequena fila se formava. Escolheu uma com menos pessoas e que parecia ser mais rápida e se pôs a esperar.
— Sim? — Era sua vez.
— Lestrange. Lesath Lestrange, desejo ir ao meu cofre — falou com altivez.
— Chav…
Mas antes que ele pudesse finalizar a palavra, Lestrange colocou o pequeno objeto dourado sobre o balcão. Não tinha muita simpatia pelos duendes, além de criaturas assustadoramente feias, não eram nada confiáveis.
O duende a encarou por alguns segundos, a analisando.
— O que foi? O cofre é o 209, se é que esqueceu.
Os olhos maldosos do ser mágico desviaram lentamente da menina para a chave com o número gravado em sua base.
— Grampo! — chamou por um segundo duende. — Leve a Senhorita Lestrange até seu cofre — falou o primeiro duende, se demorando mais ao falar o sobrenome da menina. Grampo, sem dirigir o olhar para a bruxa, seguiu por uma porta lateral e ambos desapareceram atrás dela.

O cofre da menina era bem abaixo do solo e Lesath sempre enjoava naquele maldito vagonete. Agradeceu a Merlin quando parou.
— Cofre 209! — informou o duende e a menina saiu do vagonete. O pequeno ser abriu a porta e ela se viu diante de mais galões do que poderia gastar em quatro vidas. Como única herdeira da família e tendo os pais impossibilitados de usufruir de sua fortuna, os valores dos cofres de cada um foram transferidos para ela, porém Bellatrix ainda mantinha um separado, o qual ela não fazia ideia do que poderia ter lá dentro. E, se pudesse, permaneceria sem saber, sua mãe sempre foi misteriosa de um jeito sombrio e imaginava que nada de bom poderia sair dali. Era melhor não pensar sobre aquilo.
Após encher a bolsinha extensível de pele de cobra com um pouco mais do que o valor habitual, afinal, era Copa e certamente compraria souvenires e possivelmente aquela vassoura, pegou o bastante para não ter que voltar ao Gringotes pelos próximos 12 meses, no mínimo.
Após duas viagens naquele vagonete, Lestrange colocou todo o sorvete para fora.
— Malditos carrinhos! — falou com voz fraca, se levantando e puxando a descarga. Lavou as mãos e a boca, saindo em seguida do pequeno restaurante. Iria almoçar, porém, receando que tudo voltasse de seu estômago novamente, comprou apenas uma bala para tirar o gosto ruim da boca.
Ao voltar à hospedaria, estava cansada, a fila para comprar a vassoura estava enorme, porém se recusou a sair sem a sua. Tomou um banho bem quente e relaxante, depois abriu o estojo de sua vassoura, a admirando, e deitou-se, pegando no sono quase que de imediato.


A impressão que teve quando bateram à sua porta era de que tinha acabado de pegar no sono. Ficou irritada, porém, logo se lembrando que havia pedido para ser acordada, levantou-se após um longo espreguiçar e foi até a porta para agradecer ao funcionário.
— Os menores de idade receberão o feitiço da desilusão para irem até suas chaves de portal, estão nos fundos — informou o homem e saiu.
— Graças a Merlin! — A bruxa ergueu as mãos em comemoração. — Pelo menos, não tenho que andar. — Fez sua higiene matinal, pegou o estojo de sua nova vassoura, montou-a e se dirigiu para os fundos do bar, jogando o estojo na bolsinha extensível.
Assim que chegou, viu alguns bruxos já levantando voo para diferentes direções. Como não teriam lugares específicos para pousar vassouras na Copa, era preciso seguir até a chave de portal designada para cada grupo.
— Morro Stoatshead Hill, próximo ao povoado de Ottery — informou ao funcionário do Ministério, que pegou o envelope das mãos enluvadas da bruxa e leu, confirmando a informação passada. Lesath ergueu uma sobrancelha. — Foi o que eu disse! — falou baixinho. O homem, que era alto, de cabelos curtos cacheados e de feições sérias, a encarou, olhou o relógio de bolso e, sem nada a declarar, tocou a nuca da bruxa com a ponta varinha. Le sentiu como se tivessem jogado gelo em sua espinha. Em seguida, colocou os óculos de proteção, montou em sua nova vassoura, levantando voo e seguindo as coordenadas do funcionário.
O sol ainda estava em seu repouso quando começou a sobrevoar Londres, os carros pareciam formigas e as poucas pessoas que transitavam começaram a desaparecer conforme ia ganhando altitude. Lesath ajeitou os óculos protetores e inclinou mais o corpo, ganhando velocidade, sentindo o vento açoitar sua face com ferocidade e os dreads dourados chicoteando para trás.
A paisagem foi mudando gradativamente conforme deixava a cidade e os borrões acinzentados dos prédios e casas por onde passava foram dando lugar a borrões verdes dos morros e campinas. O sol já mostrava seus primeiros raios quando guindou a vassoura para cima, fazendo a velocidade diminuir, e, com a varinha posicionada no centro de sua palma aberta, falou:
— Oriente-me!
Rapidamente o objeto girou e parou, apontando para o norte, como uma bússola. — Certo, não deve faltar muito agora. — Diminuiu ainda mais a velocidade e começou a descer; pelo que se lembrava do mapa, parecia estar bem perto e a qualquer momento poderia ver o grupo de bruxos na encosta do morro.
O sol já tinha despertado por completo e, como previra, logo avistou um pequeno grupo que andava pelo Stoatshead: cinco cabeças ruivas e quatro escuras. Achando melhor descer da vassoura, diminuiu ainda mais a velocidade e saltou com ela ainda em movimento.
O grupo já tinha visto que algo se aproximava e todos estavam parados observando, até que um ruivo mais velho se adiantou quando Lesath estava mais próximo.
— Deixe-me finalizar o feitiço desilusório — falou ele, aproximando-se e tocando a nuca da adolescente com a ponta da varinha, a tornando completamente visível, sem a camuflagem do feitiço. — Deve ser a última do grupo — disse o ruivo que era magro e alto, tendo alguns cabelos faltando na parte da frente de sua cabeça, enquanto buscava um envelope no bolso interno das estranhas vestes que usava. Segundo Les, ele nem parecia um bruxo.
— Sim! — Lesath sorriu minimamente em uma estranha tentativa de parecer simpática enquanto examinava cada um, principalmente dois garotos ruivos que eram idênticos e a examinavam de igual maneira. Entretanto, quando notou os olhos do ruivo mais velho correrem do pergaminho para ela, o sorriso sumiu e uma sobrancelha foi erguida, assim como seu queixo, abandonando toda a simpatia que tentava transparecer.
— Senhorita Lesath. — O ruivo olhou novamente para o papel para ter certeza. — Lestrange?! — A confirmação saiu mais como uma pergunta.
— Exatamente! — sorriu, orgulhosa, sabia bem o que seu sobrenome causava em quem conhecia sua família, os mais fiéis servos de Lord Voldemort que foram para Azkaban jurando lealdade eterna ao bruxo. Claro que não tinha orgulho de seus pais, não os apoiava na submissão doentia, porém tinha orgulho de pertencer a uma das poucas famílias bruxas mais tradicionais que ainda existiam nesta Terra. — Lesath Black Lestrange! — informou, notando que, ao dizer o nome do meio, chamou atenção do menino de óculos com cabelos bem bagunçados e olhos verdes brilhantes que lhe lembrou alguém, porém não soube dizer de imediato quem.
— Eu me chamo Arthur Weasley e esses são meus filhos George, Fred, Ron, Gina e seus amigos, Granger e Potter. — Ao apresentar o famoso Harry Potter, o Senhor Weasley esperou alguns segundos, pois sempre vinha o espanto sobre “o menino que sobreviveu”, porém, quando ela não demonstrou interesse algum, ele seguiu com as apresentações. — E ali Amos Diggory e seu filho, Cedrico.
Logicamente, ela sabia quem era Potter, no entanto, não ligava a mínima para isso.
Lesath apenas maneou a cabeça levemente, cumprimentando o grupo, e se ajoelhou para guardar sua vassoura.
— Uau! Uma Firebolt. — Ouviu alguém comentar.
— Então, vamos, Amos já tinha encontrado a chave de portal — informou o ruivo pai e todos seguiram em direção aos dois Diggory.
— Ela deve ser de família bem tradicional, olha as roupas dela — comentou uma das meninas que Lesath não soube dizer qual. —Nossa, como eu adoraria me vestir assim — lamentou com um suspiro.
— Não vejo nada demais nisso, Ginny. — Agora Lesath sabia quem tinha falado antes. — É até ridícula, em minha opinião.
— Não, Mione, suas roupas trouxas que são esquisitas para nós, a minha família nem tanto, pois não podemos comprar tais peças, mas você vai ver. Nunca reparou no Beco Diagonal como as mulheres se vestem?
— As vezes que estive lá foi para comprar meus livros, não para ficar reparando nas roupas dos outros, sem contar que a maioria usa capa.
Nesse momento, Lesath olhou para trás e mediu a garota de cabelos cheios de cima a baixo.

“Quem ela pensa que é para falar mal das minhas roupas, todas feitas sob medida exclusivamente para mim. Deve ser uma nascida trouxa que não faz ideia do que é pertencer a uma linhagem de sangues puros e tradicionais.”

— Acho que ela te ouviu, Mione — falou um dos meninos.
— Eu queria saber…
— Quem não ouviu… — disseram os gêmeos.
— Chegamos! — informou Arthur Weasley, um tanto quanto alto, cortando o assunto e parando diante de uma bota velha e rasgada. — É melhor nos prepararmos. Acredito que saiba como se faz, sim? — perguntou a Lesath e ela confirmou com a cabeça. — Certo, então, a qualquer minuto… — Ele olhou para Harry e Hermione.
— Vocês só precisam tocar na Chave de Portal, só isso, basta um dedo...
Com dificuldade, por causa das volumosas mochilas, os dez se agruparam em torno da velha bota que Amos Diggory segurava.
Todos ficaram parados ali, em um círculo fechado, sentindo a brisa gélida que varria o cume do morro. Ninguém falava.
Lesath não via a hora de se ver livre daquele pessoal que não tinha estilo e de deixar de tocar naquela coisa imunda, aquilo foi o cúmulo para si. Desejou mais do que nunca ser maior de idade para poder aparatar de forma legal. Bufou, irritada.
— Relaxa… — falou um dos gêmeos.
— Não é tão ruim assim ficar entre nós — finalizou o outro, falando de forma literal, pois Le estava entre os dois. Ela apenas riu.
— E nós gostamos da sua roupa, fica bem em você… — falou um.
— Não é todo mundo que se veste de forma tradicional e fica bem — o outro gêmeo disse.
— Nem se quisesse! — os dois falaram, olhando para Hermione, que os desprezou com uma careta.
— Três... — murmurou o Sr. Weasley, com o olho no relógio. — Dois... um...
Lesath sentiu ser puxada pelo umbigo e os pés saíram do chão; ela sentiu os gêmeos de cada lado, os ombros se tocando, todos avançavam vertiginosamente em meio ao uivo do vento e ao rodopio de cores. Seu indicador e polegar estavam grudados na bota como se esta a atraísse magneticamente para a frente, então… seus pés bateram no chão. Apoiou as mãos no joelho e respirou profundamente, olhou para trás e riu ao ver os gêmeos estatelados no chão, assim como os outros três mais novos. Com desdém, mediu a Granger e se virou ao ouvir:
— O sete e cinco chegando do morro Stoatshead — anunciou a voz masculina.
Lesath olhou ao redor e parecia que estavam a um trecho deserto de uma charneca imersa em névoa. Diante deles, havia dois bruxos cansados, com cara de rabugentos, um dos quais segurava um grande relógio de ouro, e o outro, um grosso rolo de pergaminho e uma pena. Ambos estavam vestidos de forma estranha, como o ruivo pai. O homem do relógio usava um terno de tweed com botas de borracha até as coxas; o colega, um saiote escocês e um poncho, o que fez a Lestrange torcer o nariz em desagrado.
— Você parece não aprovar nossas vestimentas trouxas — disse um dos gêmeos, aproximando-se da Lestrange.
— E olha que tivemos dicas excelentes com quem sempre conviveu com eles — falou o outro gêmeo.
Lesath os olhou novamente de cima a baixo com a sobrancelha esquerda elevada.
— Até que vocês não estão tão ruins, principalmente se comparados com aqueles dois ali — apontou para os rabugentos que os receberam e a quem o Sr. Weasley havia entregado a bota. Os gêmeos riram.
— Eu sou o George — um dos gêmeos se apresentou, e, pegando a mão de Lesath, a elevou um pouco, curvando-se para a beijar, porém não chegou a encostar os lábios, apenas inalou o odor, mantendo o contato visual com a bruxa.
— E eu sou o Fred. — O outro gêmeo fez a mesma coisa quase que de imediato.
Lestrange ficou observando os dois por alguns segundos e seus lábios se moveram pouca coisa em um sorriso ladino.
— Acho que ainda se lembram do meu nome, então…
— Senhorita Lestrange? — chamou o Weasley pai, aproximando-se. — Seu nome não está aqui… — falou, parecendo meio desconfortável.
— Estou ciente, Senhor Weasley, não tenho um acampamento aqui, vou ficar com o…
— Lesath? — Uma voz conhecida aos ouvidos dela chamou e logo estavam frente a frente.
— Bóris! Por que demorou tanto? — ralhou, cruzando os braços, e se afastou do grupo sem dizer nada.
— Não chegou nem há cinco minutos, você reclama demais — falou o rapaz de barba bem desenhada e cabelos cacheados até a nuca todo puxado para trás.
— Sabe muito bem que odeio ficar esperando.
— Bom, parece que tudo já foi resolvido. — Ela ouviu o Weasley mais velho falar, meio sem graça.
— Me dá um minuto — pediu ao amigo e se afastou dele, voltando ao grupo.

— Bom, como eu estava dizendo, não tenho um acampamento aqui, vou com ele. Obrigada! — Olhou nos olhos do ruivo mais velho e esticou uma mão. O Sr. Weasley enrugou a testa, apertando a mão da mais nova em seguida, mesmo que com estranheza.
— Não tem o que agradecer, tenha uma boa Copa — falou ele, simpático.
Lesath sorriu, sincera, e depois se virou para os gêmeos.
— Adeus! — Ergueu uma mão, acenando, e se virou para o restante do grupo, maneando a cabeça levemente, fazendo questão de ignorar a Granger, e se deteve em Harry, lembrando de onde tinha visto aqueles olhos verdes brilhantes. No entanto, nada declarou sobre aquilo, apenas elevou as sobrancelhas e se virou, afastando-se com o amigo sem olhar para trás.
Lesath seguiu para dentro do acampamento, passando por longas fileiras de barracas com chaminés, cordões de sinetas e cataventos, enquanto o amigo reclamava da falta de descrição da comunidade bruxa.
— As pessoas deveriam aprender a serem mais discretas quando estamos tão próximos à comunidade não mágica — falou ele, olhando com reprovação para uma barraca que parecia mais uma miniatura de castelo com vários pavões vivos amarrados à entrada. — Olha isso — apontou, indignado. — Os funcionários do Ministério estão tendo trabalho com alguns trouxas, tendo que obliviá-los várias vezes.
— E desde quando se ouviu de um bruxo que não gostasse de se mostrar? — falou Lesath, que olhava, horrorizada, para a tal barraca/palácio/castelo, não saberia diferenciar. No entanto, não era para aquilo que estava ligando e sim para o quão cafona e horrível era a armação. — Esse povo não tem um pingo de bom gosto. — Seguiu caminho, apressando o passo. — Anda logo, quero ver o Krum antes da partida. — Ela puxou o amigo para que andasse rápido.
Logo se viram em um mar de barracas vermelhas que exibiam pôsteres gigantescos do amigo apanhador, com sua cara enrugada e as sobrancelhas espessas e escuras.
— Por que eles usaram essa foto ridícula em todos os pôsteres? — lamentou Lesath, parando para observar um mais de perto. — Eu tive o maior trabalho para deixar as sobrancelhas dele no mínimo aceitáveis e vão lá e usam uma foto antiga? — Olhou para Bóris. — Por que Viktor me odeia assim? Será que eu não sou uma boa amiga? — O rapaz riu, passando a mão por seu cavanhaque.
— Você é uma ótima amiga, mas sabe que ele odeia tirar fotos. — Ele a segurou pelos ombros de forma gentil. — Anda, vamos logo, antes que ele vá treinar.

~~~

Quando finalmente chegaram ao acampamento do time da Bulgária, Viktor já tinha saído junto com todo o restante do time, iniciando a concentração. Agora só veria o amigo em campo e só falaria com ele quando o jogo acabasse.
— Mas que saco! — Cruzou os braços, chateada. — Queria tanto vê-lo.
— Agora só mais tarde — disse Bóris.
— É, infeliz… — Lesath deixou a frase no ar ao ver quem se aproximava, animado, andando como se tivesse molas nos pés. — Ora, ora, ora! Se não é Ludo Bagman! — Elevou uma das mãos até a cintura, olhando na direção do homem que usava longas vestes de quadribol com grandes listras horizontais amarelas e pretas com uma enorme estampa de uma vespa que tomava todo o seu peito. Era o antigo uniforme de quadribol dos tempos que jogava como batedor no Vespas de Wimbourne” nos anos 60. Ludo tinha a aparência de um homem corpulento que parara de se exercitar e suas vestes estavam muito esticadas por cima da enorme barriga, embora os cabelos loiros e a pele rosada o fizessem parecer um menino de escola que crescera demais. Os redondos olhos azuis vasculharam o lugar, à procura de quem o chamava, e logo pousaram sobre a Lestrange.
— Ora, se não é a garota do Krum! — disse o homem, sorrindo abertamente, mas parou quando o olhar ônix da mais nova o fuzilou.
— Eu não sou a garota do Krum! E acho bom você parar de falar isso por aí, daqui a pouco aquela mulherzinha irritante vai começar a escrever um monte de baboseiras e a culpa vai ser sua — ralhou a Lestrange.
— Ok, me desculpe! — Ludo bagunçou sua cabeleira loura e sua face rosada ficou um tom mais escuro, quase rubro. — Então, vai apostar quanto no Krum? — perguntou ele, ansioso, sacudindo, ao que parecia, um bocado de ouro nos bolsos das vestes amarelas e pretas.
— Hum… — Lesath levou uma mão ao queixo, pensando sobre aquilo. Ludo Bagman, apesar de ter um cargo renomado no Ministério da Magia sendo chefe de Jogos e Esportes Mágicos, não era alguém digno de confiança, na visão da Lestrange. No entanto… — Deixe-me ver o que você tem aí até agora — pediu ela, já puxando das mãos do homem um caderninho onde ele anotava todas as apostas. — Interessante… — Lesath desfolhava o caderninho, olhando cada aposta que tinha até o momento. — Jura que a Timms apostou meia cota da fazenda de enguias de que a partida vai durar uma semana? Tá louca! — Lesath riu alto. — Bóris, eu vou dar uma volta com Ludo para ver as apostas, nos vemos depois do jogo. — Ela se despediu do amigo e, devolvendo o caderninho ao seu dono, começou a andar com ele, que ria e cumprimentava a todos que via pelo caminho, a deixando irritada.
— Para conseguirmos apostas, temos que andar e falar com todos, não reclama não, até porque o dia está ótimo, não dá para ficar de mau humor — falou Bagman após Lesath reclamar de algumas paradas desnecessárias.
— Eu sei disso, mas quando se recusam a apostar, devemos seguir nosso caminho, ainda não dispomos de muito tempo livre — reclamou ela com explicações as quais o mais velho não deu a menor atenção, seguindo para mais um grupo de bruxos de forma sorridente.
— O homem do momento! Ludo! — exclamou o Sr. Weasley.
— Pelo menos um grupo interessante dessa vez — Lesath comentou para si mesma e foi atrás do homem.

— Olá, pessoal! — exclamou Bagman alegremente. — Arthur, meu velho — ofegou ele ao chegar próximo a uma fogueira —, que dia, hein? Será que podíamos ter desejado um tempo mais perfeito? Uma noite sem nuvens... e quase nenhum problema na programação... quase nada para eu fazer!
— Só você acha isso, né? — comentou a Lestrange, sarcástica, e Bagman a encarou. — Olha a cara dos funcionários do Ministério — apontou para um grupo de bruxos, de caras exaustas, passando apressados em direção à evidência distante de algum tipo de fogueira mágica que disparava faíscas violetas a seis metros de altura.
— Essa é Lesath Lestrange a garota do… — Antes que a finalizasse, ela o encarou com “sangue nos olhos”, Bagman riu. — Do quadribol! A menina do quadribol. Nunca vi uma garota tão assertiva para apostas — falou ele, ainda rindo.
— Já os conheço — falou ela de braços cruzados. Os gêmeos riram para ela.
— Pessoal — falou o Sr. Weasley —, este é Ludo Bagman, vocês sabem quem ele é, e é graças a ele que temos entradas tão boas...
Bagman abriu um sorriso de lado a lado do rosto e fez um gesto com a mão, significando que não fora nada.
Um garoto ruivo, ao que parecia, mais velho que os gêmeos, que usava óculos de armação de tartaruga, se adiantou rapidamente com a mão esticada. Lesath rolou os olhos para alto, vendo ali a tão conhecida bajulação e vontade de impressionar que não lhe agradavam, e o rapaz de nome Percy percebeu o desaprovo da garota. No entanto, mesmo ficando visivelmente sem graça, ajeitou os óculos para disfarçar e não olhou mais na direção dela.
O Sr. Weasley fez as apresentações dos filhos, tendo chegado mais dois além do bajulador, de nomes Gui e Carlinhos.
— Quer arriscar uma apostinha no jogo, Arthur? — perguntou ele, ansioso, sacudindo o ouro nos bolsos das vestes. — Já aceitei a aposta de Roddy Pontner de que a Bulgária vai marcar primeiro, ofereci a ele uma boa vantagem, levando em conta que os três jogadores avançados da Irlanda são os mais fortes que já vi em anos…

— Ah... vai lá, então — disse o Sr. Weasley. — Vejamos... um galeão na vitória da Irlanda?
— Um galeão? — Ludo Bagman pareceu ligeiramente desapontado, mas se recuperou: — Muito bem, muito bem...
— E vocês? — Lesath perguntou aos gêmeos que sorriam abertamente. Ficou claro que eles lhe chamaram atenção de um jeito diferente e ela deles.
— Eles são um pouco jovens demais para andar jogando — disse o Sr. Weasley. — Molly não gostaria…
— Nós apostamos trinta e sete galeões, quinze sicles e três nuques — disse Fred, ao mesmo tempo em que ele e Jorge juntavam rapidamente todo o dinheiro que tinham — que a Irlanda ganha, mas Vítor Krum captura o pomo. Ah, e damos uma varinha falsa de lambujem.
— Vocês não vão querer mostrar ao Sr. Bagman esse lixo — sibilou Percy.
— Lixo? — interpôs Lesath. — Ora, faça-me o favor, lixo é sua bajulação sem sentido. — A bruxa pegou o objeto, o analisando, interessada, e depois passou para Bagman, que teve o rosto de colegial ainda mais iluminado de excitação ao recebê-la das mãos da Lestrange. Quando a varinha deu um cacarejo e se transformou em uma galinha de borracha, Bagman caiu na gargalhada.
Percy ficou paralisado em uma atitude de indigna desaprovação.
— Excelente! Não vejo uma varinha tão convincente há anos! Eu pagaria cinco galeões por uma dessas!
— Eu também, vocês têm mais? — perguntou Lesath, metendo quase o braço inteiro na bolsinha, caçando seu porta-moeda. — Eu vou querer duas, Vitor vai adorar isso — falou, pensativa, finalmente achando a bolsa das moedas.
Os gêmeos se entreolharam, satisfeitos, era difícil conhecer uma bruxa como Lesath, que não achava suas coisas uma completa besteira, e entregaram a ela mais duas varinhas de lambuja, recebendo o pagamento de dez galeões.
— Meninos — disse o Sr. Weasley entredentes —, não quero vocês jogando... isto é tudo que economizaram... sua mãe...
— Não seja estraga prazeres, Arthur! — trovejou Ludo Bagman, excitado. — Eles já são bem grandinhos para saber o que querem! Vocês acham que a Irlanda vai vencer, mas Krum vai capturar o pomo? Nem por milagre, moleques, nem por milagre...
— Ora, mas é exatamente assim que vai ser. Krum é o melhor apanhador do século! Eu o mato se não pegar — exclamou Lesath, animada demais, era sempre assim quando se tratava do jogo dos bruxos.
— Achei que você torcia para a Irlanda — espantou-se Ludo com a fala da Lestrange.
— Eu torço, mas também torço pelo Viktor e em momento nenhum eu disse que a Irlanda perderia — respondeu ela simplesmente e o mais velho riu.
— Vou dar uma excelente vantagem nessa... e acrescentar mais cinco galeões por essa varinha marota, concordam… — Bagman voltou sua atenção para os meninos.
— Me dá aqui, eu anoto os nomes — Lesath tomou o caderninho das mãos do mais velho e, se afastando um pouco, se voltou para os gêmeos. — Deixe-me ver. — Analisou os dois. — Você é o George, certo? — Apontou a pena para o ruivo que, com espanto, afirmou.
— Não é todo mundo que consegue nos diferenciar assim tão rápido — comentou Fred com um largo sorriso.
— Vocês vão descobrir que eu não sou como todo mundo — Lesath sorriu sorrateira e entregou o papel com os dados da aposta a eles. — Um conselho rápido aqui — abaixou o tom de voz e eles se aproximaram, se curvando um pouco, já que tinham alguns bons centímetros a mais que ela. — Não confiem plenamente no Bagman, ele é super gente boa, mas às vezes não consegue arcar com tudo que fala, sem contar que é totalmente desligado da vida.
— E agora que você fala isso? — disse Fred.
— Quando já demos todo nosso dinheiro a ele? — completou George.
— Como que eu ia falar isso antes? — questionou retoricamente, mas teve uma resposta.
— Achei que você não fosse como todo mundo — comentou George e até Fred o encarou, surpreso. Lesath riu.
— Ok, me pegou — falou, ainda mantendo sorriso.
“Da próxima vez, eu uso a Legilimência”
— O quê?! — George deu dois passos atrás, tinha acabado de ver uma imagem da Lestrange, que estava em sua frente, dentro de sua cabeça, como em um sonho.
— Eu disse que não sou como todo mundo — Lesath piscou para ele e voltou sua atenção para Bagman, lhe devolvendo o caderno e a pena quando ouviu Percy falar um nome que não lhe agradava nem um pouco.
— O Sr. Crouch? — O rapaz estava quase se contorcendo de óbvia excitação. — Ele fala mais de duzentas! Serêiaco, grugulês, trasgueano...
— Qualquer um sabe falar trasgueano — disse Lesath, fazendo pouco caso. — É só a gente apontar e grunhir. — Fred e George caíram na gargalhada. Percy lançou a eles e a Lesath um olhar feiíssimo, depois atiçou os gravetos da fogueira vigorosamente para fazer a chaleira ferver.
— Já teve notícias de Berta Jorkins, Ludo? — perguntou o Sr. Weasley, buscando amenizar o clima quando Bagman se sentou na grama ao lado deles.
— Nem um pio — disse Bagman à vontade. — Mas ela vai aparecer. Coitada da velha Berta... Tem a memória de um caldeirão furado e nenhum senso de direção. Perdida, se quiserem me acreditar. Vai aparecer na seção lá para outubro, pensando que ainda é julho.
— Você não acha que já estava na hora de mandar alguém procurá-la? — sugeriu, hesitante, o Sr.Weasley, quando Percy estendeu a Bagman o chá pedido.
— É o que o Bartô Crouch não para de dizer — respondeu Bagman, arregalando inocentemente seus olhos redondos —, mas o fato é que não podemos destacar ninguém no momento. Ah... é falar no demônio! Bartô!
Um bruxo acabara de aparatar junto à fogueira e não poderia oferecer um contraste maior a Ludo Bagman, estirado na grama com as vestes velhas do Wasp. Bartô era um homem mais velho, formal, empertigado, vestido com um terno e uma gravata impecáveis. A risca nos seus cabelos grisalhos e curtos era quase absurdamente reta e o bigode fino de escovinha parecia ter sido aparado com uma régua. Seus sapatos eram exageradamente lustrosos.
Lesath torceu o nariz após analisar o homem de forma crítica e se levantou bruscamente, ganhando a atenção desejada, gostava de deixar bem claro seu desapreço por alguém.
— Eu já vou indo! — anunciou, recebendo protestos de Fred e George.
— Mas já, fique mais um pouco — falou George.
— É, nossa companhia é muito agradável — disse Fred.
Les viu a garota de cabelos cheios rolar os olhos.
— Oh! Não, não consigo ver esse aí — apontou para Percy com a cabeça — quase babando, está me dando ânsia.
— Senhorita Lestrange? — Bartô Crouch a olhou desconfortavelmente, porém foi ignorado.
— Fale com mais respeito com o Sr. Crouch — Percy a repreendeu e ela lentamente o olhou de cima a baixo.
— Como vou respeitar um homem que manda inocentes para a cadeia? — Bartô Crouch se empertigando ainda mais, a encarou.
— Se falar sobre seus pais, eles mereceram o destino.
— Eu não estou falando deles… sei que são culpados…
— Então, eu não compreendo, jamais mandei um inocente para Azkaban — falou o homem, ajeitando suas vestes que estavam impecáveis.
— Falo de Sirius Black! — Todos ficaram pasmos. — Ou vai me dizer que ele teve um julgamento justo?
— Um assassino, foi pego em flagrante! — falou Bartô, se enfurecendo.
— Isso é o que o senhor diz, mas não teve um julgamento e nem uma investigação, nem sempre as coisas são o que parecem ser. — Com um rompante, Lesath se virou e saiu pisando duro.
Ninguém disse mais nada até onde ela conseguia ouvir.


A irritação da Lestrange foi passando à medida que a tarde avançava e a atmosfera de excitação adensava-se entre os bruxos como uma nuvem palpável. À hora do crepúsculo, o próprio ar parado de verão parecia estar vibrando de lubricidade, e, quando a noite se estendeu como um toldo sobre os milhares de bruxos que aguardavam, os últimos vestígios de fingimento desapareceram: o Ministério pareceu se curvar ao inevitável e parou de combater os indisfarçáveis sinais de magia que agora irrompiam por toda a parte.
Lesath seguia tranquilamente pelo caminho iluminado na floresta, ouvindo gritos, gargalhadas e trechos de canções. A excitação febril extremamente contagiante finalmente conseguiu tirar o encontro com o Senhor Crouch da cabeça da Lestrange, que se deixou levar pela animação e comprou, com um dos vendedores ambulantes, uma echarpe da Irlanda e uma figurinha do amigo apanhador da Bulgária, que, ao ser pendurado no pescoço da bruxa, amarrou a cara para a echarpe do time rival. Porém, o que realmente queria comprar era o tal do Onióculos, que ouvira falar entre suas andanças pelo acampamento.
Caminhou mais um pouco e, quando ouviu um vendedor berrar em alto e bom som sobre o objeto de seu interesse, correu até ele.
— Onióculos! — disse o vendedor, pressuroso. — Você pode rever o lance... passá-lo em câmara lenta… e ver uma retrospectiva lance a lance, se precisar. Pechincha: dez galeões um.
Lesath rapidamente puxou seu porta moedas do fundo da bolsa extensível e pagou por dois. Ficou receosa de um parar de funcionar do nada, já que aqueles vendedores não eram nada confiáveis.
Após uns bons minutos, finalmente emergiu do outro lado, se deparando à sombra de um gigantesco estádio onde caberiam tranquilamente umas dez catedrais. Sem muito espanto com o que via, a bruxa seguiu para um dos portões especiais reservados para ministros, credenciados e familiares dos jogadores. Apesar de não ser nem uma coisa nem outra, tinha credenciais especiais que Viktor tinha lhe dado e, por conta disso, entrou sem problema algum, seguindo para o camarote de honra.
As escadas de acesso ao estádio estavam forradas com carpetes púrpura berrante. Ela subiu juntamente com os bruxos, que pareciam não ter se importado em continuar usando suas vestes tradicionais e capas chamativas. Finalmente chegou ao alto da escada onde havia um pequeno camarote armado no ponto mais alto do estádio e situado exatamente entre duas balizas de ouro. Umas vinte cadeiras douradas e púrpuras tinham sido distribuídas em duas filas, e Lesath, ao entrar na primeira que estava vazia, se deparou com uma cena que, por mais que seu jeito desdenhoso de ver as coisas quisesse aflorar, seria impossível não ficar de boca aberta. Jamais estivera em uma Copa de Quadribol, então jamais vira algo parecido com aquilo.
Cem mil bruxos e bruxas iam ocupando os lugares que se erguiam em vários níveis em torno do longo campo oval. Tudo estava banhado por uma misteriosa claridade dourada que parecia se irradiar do próprio estádio. Ali do alto, o campo parecia feito de veludo. De cada lado, havia três aros de gol, a quinze metros de altura; do lado oposto ao que estava, quase ao nível de seus olhos, havia um gigantesco quadro de anúncios, onde palavras douradas corriam sem parar como se uma gigantesca mão invisível as escrevesse e em seguida as apagasse, para o qual não deu muita importância. Foi quando ouviu vozes se aproximando e olhou por cima do ombro para ver quem mais ocuparia o camarote especial com ela. Viu uma elfo doméstica conhecida, porém não lhe deu muita atenção, e logo em seguida descobriu os donos das vozes que ouvira. Era o grupo do Sr. Weasley que se aproximava, e para estes sim, deu uma atenção maior, principalmente quando avistou os gêmeos e estes logo sorriram ao vê-la.
— Olha isso, Fred. Acredito que alguém está nos perseguindo — sorriu George, tomando a frente para aproximar-se da Lestrange.
— Como eu cheguei primeiro, posso afirmar que são vocês que estão me perseguindo — sorriu. Mais uma vez estava entre os gêmeos Weasley.
— Ora, Srta Lestrange! — Espantou-se o Weasley mais velho ao rever a menina. Ela sorriu, simplória. — Nossos lugares são esses aqui — informou o pai aos gêmeos, apontando para a fileira de cima, onde estava.
— Não podemos ficar aqui? — perguntou George.
— Claro que podem — foi Lesath que respondeu, olhando diretamente para o ruivo mais velho, que acabou ficando sem graça e permitindo que os dois ficassem por ali.
“Consigo ver aquele velhote lá embaixo meter o dedo no nariz outra vez… mais uma vez… e mais outra.”
Lesath ouviu um dos meninos ruivos falar e fez uma careta de nojo.
— Tanta coisa para ver com os onióculos e escolhe ver isso? — revirou os olhos. — Por Merlin, que nojo! — olhou para ele, fingindo ânsia, até que ouviu a voz de Hermione, a qual gravou bem, que soou mais alto de propósito para mudar de assunto.
— Vai haver um desfile com as mascotes de cada time antes da partida. — Leu e olhou de esguelha para a Lestrange, como se a desafiasse a continuar a falar.
Lesath, que não ficava calada ante a um desafio, seja ele qual fosse, chegou seu corpo para a frente, apoiando as mãos nas costas da cadeira, olhou bem dentro das orbes castanhas de Hermione e disse:
— Sabia que você é uma pessoa muito inconveniente?
— Ah! Desfiles! Isso sempre vale a pena assistir. — O Sr. Weasley se fez sobressair entre as duas, findando o contato visual. Hermione sentou-se na cadeira da segunda fileira, bufando e voltando a ler o programa que tinha borda e capa de veludo. — Os times nacionais trazem criaturas da terra natal, sabem, para fazer o farol — prosseguiu o Sr. Weasley, tentando manter o clima tranquilo entre as duas.
O camarote foi se enchendo gradualmente em volta deles durante a meia hora seguinte. O Sr. Weasley não parava de apertar a mão de bruxos, obviamente muito importantes, e Lesath já não aguentava mais ver um dos irmãos, que usava óculos de armação de tartaruga, se levantar e bajular cada um. Não conteve a gargalhada quando, ao fazer uma reverência extremamente exagerada ao cumprimentar o Ministro da Magia, o tal óculos, tão cafona quanto seu dono, caiu, se partindo.
— Ele é sempre assim? — perguntou ela aos gêmeos.
— É pior! — disseram os dois juntos e com tédio na voz.
Ela apenas revirou os olhos.
— Menina Lestrange! — Fudge a cumprimentou e deu para perceber que foi apenas por educação. Porém, Le, percebendo aquilo, fez questão de se levantar e o cumprimentar acaloradamente.
— Senhor Ministro! — Saiu de entre os gêmeos e se aproximou, apertando sua mão com firmeza. — Muito trabalho hoje, não é mesmo? Imagino a correria.
— É, pois é, muito mesmo — Fudge olhou para os lados. — E não para… se me der licença, preciso guiar o Ministro da Bulgária.
— Claro, fique à vontade! — Ela lhe deu passagem, e ele subiu um lance, se colocando junto ao grupo do Senhor Weasley.
— Por que ele ficou tão nervoso ao falar com você? — perguntou Fred, bem curioso, e Lesath percebeu que não só ele estava curioso, como Harry e seus amigos também.
— É sério? — perguntou, unificando as sobrancelhas. — Não sabem quem são meus pais?
George e Fred se entreolharam, porém não tiveram a resposta, pois uma vozinha que conheciam bem ecoou em seus ouvidos.
— Prima? — Draco Malfoy, loiro e de olhos acinzentados, claramente odiado por Harry, que lhe lançou um olhar ferino, o qual não passou despercebido pela Lestrange, gritou, acenando para ela.
— Ah, mas que droga! Que azar o meu. Ficar no mesmo camarote que Lúcio Malfoy — falou mais para si e depois riu para o primo que se aproximou. — Oi, Draco! — Recebeu um caloroso abraço do loiro.
— Não sabia que vinha, meu pai disse que preferia ficar na escola — comentou ele.
— Ah, ele disse isso, é? — Encarou o mais velho, que se aproximava. — Não me lembro de ter tido escolha.
— O que você está fazendo aqui? — Lúcio Malfoy, que era loiro, usava vestes tradicionais pretas e tinha os cabelos quase brancos até o meio das costas, perguntou entredentes.
— Ué, pensei que tinha uma Copa de Quadribol para acontecer aqui. — A bruxa mais nova olhou ao redor como quem se certifica de que está correta a sua informação. — É, pelo que vejo, é isso mesmo que está acontecendo.
Lucio crispou os lábios finos, estava prestes a dizer mais alguma coisa, porém, com a aproximação do Ministro, mudou de ideia, dando atenção ao homem.
— O que está fazendo com essa gentinha? — perguntou Draco, olhando com desdém para o grupo de ruivos, Potter e seus amigos.
Lesath o olhou, cruzando os braços, ainda prestava atenção na conversa do tio com o Ministro, porém não gostou do que Draco havia dito e o encarou.
— É sério? Até você? Eu esperava mais. — Ficou bem claro o quanto o Malfoy mais novo havia ficado sem graça com as palavras da prima, porém nada disse, apenas sentou-se em seu lugar, lançando a Harry um olhar de desdém, mas a prima percebeu que, por poucos segundos, ele também olhou para Hermione e estreitou o olhar para o primo, no entanto, ele não a olhava mais.

Uma fileira acima, Cornélio Fudge apresentou Lúcio Malfoy ao Sr. Weasley, não sabendo ele que estes já se conheciam e se odiavam, diga-se de passagem. E depois voltou a falar com o Ministro da Bulgária ou, pelo menos, tentou.
Lúcio fingiu espanto, soberbo ao olhar para o Sr. Weasley, evitando encarar a sobrinha.
— Meu Deus, Arthur — disse baixinho. — O que foi que você precisou vender para comprar lugares no camarote de honra? Com certeza sua casa não teria rendido tudo isso, não?
— Bom, conheço o Sr. Weasley há poucas horas, mas tenho certeza que ele não vendeu o caráter, como você. Não é mesmo, titio? — Lesath sorriu, satisfeita, vendo que havia conseguido tirar Lúcio Malfoy do sério, principalmente por ele não poder lhe responder como gostaria. O lábio inferior do homem tremeu e ele apertou a bengala que sempre levava consigo para se controlar.
— Lúcio acabou de fazer uma generosa contribuição para o Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. Está aqui como meu convidado — comentou Fudge para o Ministro búlgaro, a quem tentava explicar com mímicas e falando pausadamente, pois não se dava bem com outros idiomas.
— Típico! — Le cruzou os braços, ainda encarando o tio. — Acha que seu dinheiro pode comprar tudo… patético!
— O que diriam seus pais sobre esses seus modos horríveis? — Lúcio sorriu, cínico. — Ah! É mesmo. Eles estão passando uma longa temporada em Azkaban, não podem dizer nada.
Lesath riu abertamente.
— Acha mesmo que isso me ofende? Meus pais são os meus pais, eu sou eu. Somos bem diferentes, me orgulho em dizer. Mas pelo menos ele foi homem em assumir o mal que fez. Já você, fica se escondendo atrás de um nome, como um covarde.
— Já chega! — rosnou Lúcio, olhando para os lados, certificando-se de que o Ministro não ouvia, e aproximou-se da sobrinha. — Nós vamos ter uma conversinha quando chegarmos em casa.
— Acha mesmo que vou voltar para aquele mausoléu que você tem tanto orgulho de chamar de mansão Malfoy?
— Como assim? O que quer dizer? — Draco se levantou, abrindo suas orbes acinzentadas, pasmo com a recente informação.
— Sente-se, Draco! — ordenou Lúcio e o garoto o fez sem hesitar, mas ainda lançou um olhar questionador para a prima, que o ignorou.
Em seguida, Lúcio se afastou, sorrindo forçosamente e olhando ao redor. Se deparou com Hermione (a quem conheceu há um tempo), que corou de leve, mas retribuiu o seu olhar com determinação.
Lesath olhou de um para o outro, confirmando a suspeita que tinha de que Hermione era uma nascida trouxa, pois jamais vira o tio olhar daquela maneira para nenhum outro bruxo, se este não fosse vindo de família não-mágica. Sabia muito bem que ele se orgulhava de ter o sangue puro, considerando qualquer pessoa que descendesse de trouxas, gente de segunda classe. No entanto, sob o olhar do Ministro da Magia, o Sr. Malfoy não se atrevia a dizer nada. Acenou a cabeça com desdém para o Sr. Weasley e foi sentar-se ao lado de Draco.
Narcisa, tia de Lesath, mãe de Draco, que vinha logo atrás, mantendo em sua face fina um olhar de constante nojo, parou defronte à sobrinha.
— Adora provocar, não é mesmo? — disse, encarando a mais nova. — Quer você goste, quer não, é igualzinha à sua mãe.
Lesath fez menção de dizer algo, abriu e fechou a boca algumas vezes, porém nada declarou. Odiava ser comparada com sua mãe e Narcisa sabia bem.
A Sra. Malfoy juntou-se ao lado de seu filho e marido, e a Lestrange voltou ao seu lugar entre os gêmeos, porém agora estava calada e visivelmente descontente.


Continua...


Nota da autora: Eu amo essa implicância entre a Lesath e o Lúcio, principalmente porque ela não abaixa a cabeça.
E a Narcisa, simplesmente maravilhosa.
Será que vem um romance por aí?
Lesath x Weasley
O que Belatrix vai pensar quando souber que filha pode estar envolvida com um “traidor do sangue”?
Não vejo a hora de chegar nessa parte.


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