Codificada por: Cleópatra
Última Atualização: 09/12/2024Eu era bem presunçosa por dizer tais palavras com tanta convicção.
Acabava de entrar na Academia Fukurodani, uma das escolas mais prestigiadas de Tóquio, tendo um destaque particular na força dos times esportivos colegiais.
Vim de uma escola fundamental considerada potência na modalidade de vôlei, porém feminino, mas realmente não tive a chance de mostrar meu potencial. Um dos motivos pelo qual prometi para meu reflexo ser a melhor durante o colegial. Contudo, as coisas não aconteceram como planejei.
“Sinto muito há alguns anos, não temos garotas se interessando pelo time de vôlei, o tempo passou, e elas foram ofuscadas pelos meninos”, foi o que eles disseram, foi quando eu me coloquei a tarefa de conseguir um time, o time.
Queria força, inteligência e capacidade…
Encarei o teto do quarto do hotel. Hoje era o dia que todas estávamos esperando, hoje que iríamos ser lembradas pela vitória ou marcadas pela derrota e esquecidas com o tempo.
Mas primeiro me deixe contar como chegamos até aqui, a história do meu time, a minha história.
Lendas são contadas, algumas se tornam poeira, outras viram imortais.
Fall Out Boy — Centuries
Então é isso que ser uma escola de prestígio significa.
Abaixei a cabeça e olhei para o papel na minha mão, Tamotsu, 1° ano, classe avançada 5.
Andei tranquilamente pelos corredores, e logo encontrei a minha sala, os corredores eram separados por anos, então não precisei passar por nenhum momento constrangedor, uma vez que todos eram novatos, felizmente não tinha muitas pessoas do lado de dentro me permitindo escolher com calma uma cadeira. Sentei-me na janela e logo outra garota entrou e sentou na minha frente.
Ela era alta. Não que eu fosse baixa, tinha meus 1,82 m, mas a garota devia estar quase na casa dos 90, tinha os cabelos escuros mal passando da nuca, raspados do lado esquerdo da cabeça. A falta de fios longos deixara à mostra o piercing em formato de argola na orelha. Qualquer pessoa pensaria a princípio ser uma garota problema, mas considerando ser uma aluna da classe 5, a história é completamente diferente e passa ser uma forte personalidade.
Não demorou para o responsável pela sala entrar, se apresentando como Musashi Hibiki, Professor Hibiki. O regente da classe 1-5 e também o professor de história do primeiro ano.
O tempo passou rápido, talvez porque fiquei mais tempo olhando para a janela do que prestando atenção nas explicações padrões de primeiro dia, quando vi já estava na hora do almoço. Girei os ombros minimamente, me perguntando o que faria nesse tempo.
— Sora! — alguém chamou na porta, e a minha surpresa foi ao ver uma pessoa igual a que estava sentada na minha frente, passar por ela. Bem, quase igual.
— Quer almoçar comigo? As garotas da minha sala me chamaram para ir ao telhado.
À primeira vista ela parecia simpática, do tipo que todos gostam, além de alta, tinha um sorriso doce, cabelos médios escuros e olhos brilhantes.
— Não precisa se preocupar comigo. — A garota na minha frente respondeu. — Devia estar indo atrás do clube de basquete ao invés de passear por aí.
A gêmea forçou um sorriso pela resposta atravessada, fingi pegar algo na bolsa para ver o desenrolar da cena. Prestando bastante atenção nas reações das duas.
— Vou depois. — Disse por fim após apertar a barra da saia do uniforme. — Tem certeza que não quer me acompanhar?
Aquela chamada Sora apenas balançou a mão a dispensando, uma reação muito fria para com um parente, ainda mais com uma irmã gêmea. De repente um clique veio na minha cabeça, um momento de epifania, eu as conhecia. Sora e Saki Matsumura, as gêmeas do basquete. Embora, Saki fosse a regular e Sora a substituta.
A irmã que se afastou de ombros caídos se encontrou com mais algumas meninas do lado de fora da porta e foi embora, não antes de dar uma última olhada para trás. É pouco tempo para alguém receber tanta atenção assim só por ser legal.
Peguei o caderno na mão o deixando escapar dela como um total acidente, as páginas se abriram e caíram no chão num movimento completamente desengonçado. Nisso Sora quase pulou na cadeira, visto que sua atenção estava em outro lugar.
— Desculpe — pedi e sorri — fui tentar pegar todos de uma vez.
Sora me encarou com certa desconfiança, provavelmente se perguntando se eu havia presenciado a cena com a irmã, mas esse pensamento passou rapidamente quando ela se abaixou para pegar o caderno em meu lugar. Ajeitando as folhas e me devolvendo.
— Obrigada. Sou Tamotsu — me apresentei pegando o objeto de suas mãos.
— Sora Matsumura — respondeu sem parecer realmente querer isso e sim por cordialidade.
Fechei a bolsa, me levantei e coloquei a alça no ombro e me despedi com um aceno.
— Nos vemos por aí.
Saí andando na direção das aplicações de clubes, rodei aquele lugar 3 vezes e nada de vôlei feminino. Depois de muito procurar e não encontrar, resolvi ir até à secretaria.
— Me desculpe, há alguns anos não temos garotas interessadas no vôlei.
Engoli seco, fiz a minha pesquisa superficial. Sabia que não houve um time feminino de vôlei ativo em competições nos últimos anos, mas era uma potência. Não imaginei que a situação era tão terrível a ponto de não existir sequer um interesse.
— Tem alguma maneira de eu reviver o clube de vôlei feminino?
— Bem, eu não sei se realmente é possível — a moça disse sem ter muito interesse, clicando as unhas num ritmo irritante.
Travei o maxilar, respirando fundo para não falar nada que não devia. Apesar de ter muitos desses pensamentos passando pela minha cabeça.
— Algum problema aqui?
— Professor Hibiki — falou alegremente me ignorando, colocando ambas mãos na mesa atrás do vidro e se levantando.
— Me desculpe interromper, mas não pude deixar de prestar atenção. Me alegra saber que tem alguém interessado.
Era o mesmo professor que entrou na sala no primeiro horário. Tirei um momento para o observar com mais atenção, ele não era como os outros velhos. Tinha um ar galante que combinava com os poucos cabelos grisalhos em sua cabeça. Não me espanta que a menina da secretaria tenha virado a pessoa mais doce do mundo repentinamente. Ainda que o mais velho ostentasse uma larga aliança de casamento na mão esquerda.
— Tamotsu, certo? — se virou para mim, assenti concordando com a cabeça.
— Me acompanhe por gentileza, podemos conversar melhor na minha sala.
Segui o professor desconfiada, uma repartição simples entre tantas outras, porém organizada. Uma grande janela deixava a luz do dia entrar, a mesa estava alinhada lateralmente, provavelmente para que ele pudesse olhar além do vidro durante as pausas. Havia um porta-retrato em cima de um armário de arquivos verde-escuro, ao lado de vaso de flores brancas. O mais velho sentou na poltrona atrás do móvel, indicando para eu me sentar na cadeira a sua frente.
— Se você está realmente interessada no time de vôlei feminino, existem alguns meios de fazer isso acontecer. Embora parte dos processos seja burocrático, tudo pode ser arranjado com um pouco de dedicação.
Não havia aparente mentira em seus olhos, pelo contrário cada pequeno gesto do homem indicava animação. Suas mãos pareciam nervosas enquanto girava a própria aliança no dedo.
— Com todo o respeito professor, porque tem interesse no clube de vôlei? — questionei achando sua boa ação suspeita demais.
Ele suspirou e ajeitou os óculos. — Me desculpe, acho que me empolguei e deixei algumas informações de fora.
— Eu costumava ser o conselheiro do time de vôlei, e minha esposa era a treinadora — continuou —, mas ela sofreu um acidente e teve que deixar o time no seu melhor momento. Depois disso o clube entrou em declínio, não houve um momento em que ela não se culpou por isso. Apesar das minhas promessas de manter o clube ativo, não consegui.
Ele se encostou na cadeira voltando os olhos para o quadro em cima do armário — Pode-se dizer que estou buscando uma forma de me redimir a anos, por isso quando ouvi você perguntando me senti esperançoso.
— Me parece um motivo egoisticamente nobre — foi tudo que consegui falar.
Ele riu, e eu senti meu rosto ficar vermelho. Não era para ter falado em voz alta. — Deve ser verdade. Mas me diga alguém que não seja pelo menos um pouco.
Não discordava — O que preciso fazer para conseguir jogar?
— A vontade você tem, falta o mais difícil agora. Um time — respondeu — o resto eu consigo. Porém, temos 2 semanas para registrar as jogadoras.
Esfreguei a alça da bolsa.
— Está dizendo que se eu conseguir 6 pessoas em duas semanas para jogar, podemos reviver milagrosamente o clube?
— Algo do tipo, sim — ele concordou.
— Tem alguma restrição sobre treinadores?
— Desde que seja aprovado por mim, com um salário adequado, e pela escola, nenhuma — ele cruzou ambas mãos embaixo do queixo, curvando a cabeça para me olhar por cima dos olhos. — Acha que consegue?
O tom de desafio alimentou a chama dentro de mim, ela que esteve quase apagada momentos atrás.
— Sim, vou conseguir.
— Estou contando com você senhorita Tamotsu.
Me levantei, agradeci, e saí da sala dele. Muitos pensamentos correndo pela mente.
Teria a chance de montar o time dos meus sonhos, mas para isso teria que encontrar algumas pessoas com as características certas. Preciso de força, inteligência, ambição, agilidade, foco e determinação. Sem isso não conseguiria levar meus planos para frente.
Durante a tarde sequer prestei atenção nas aulas e quando acabou, sai da sala o mais rápido que minhas pernas permitiam. Minha casa não ficava muito longe, a Academia Fukurodani estava localizada num local considerado de alta classe, então estava rodeada por um bairro doméstico tranquilo, cheio de casas espaçosas e modernas. 20 minutos de uma quase corrida, já fechava a porta da frente da minha residência, não tão luxuosa quanto as que ficavam apenas a algumas quadras de distância.
Deixei os sapatos jogados de qualquer jeito na entrada, soltei a bolsa na mesa e corri para o quarto do meu irmão.
Ou melhor, meio-irmão.
— Dan — abri a porta num solavanco e encontrei o rapaz dormindo tranquilamente sem sequer se mover após o estrondo feito.
Vi uma almofada caída no chão e então a usei como despertador, arremessando contra ele num movimento gracioso. Com pulo ele se levantou, tentou sentar, mas acabou se enroscando nas cobertas e caiu para fora da cama, fazendo um barulho abafado quando atingiu o chão.
— Bom dia big-bro — falei sorrindo sarcasticamente apoiando ambas mãos no colchão para o encarar do outro lado dela.
Ele focou o olhar em mim, ajustando os braços que estavam para cima e fez uma careta, completamente desperto
— O que você quer, pirralha? — resmungou se desenrolando dos panos.
— Vim aqui te oferecer um emprego e é assim que me recebe? — respondi e sentei na ponta da cama dele.
— Quem te disse que estou procurando um emprego? — respondeu levantando e passando a mão na cabeça na parte de trás da cabeça
— Bem, você não está procurando, mas com certeza precisa de um, se não me engano a mãe falou que…
— Eu sei — interrompeu —, não precisa repetir o sermão dela, me dá dor de cabeça.
Sorri.
— Ah, não gosto de quando você sorri assim. — balançou os ombros embolando a coberta e jogando na minha direção antes de andar até o banheiro. Ajustando os shorts e mostrando uma marca vermelha nas costas, provavelmente vinda da queda.
Daniel é um mestiço, o pai dele é inglês. Tem os cabelos loiros escuros e olhos verdes, além do porte físico de um atleta profissional. Temos a mesma mãe, minha mãe e o pai dele se separaram quando ele era bem novo, por isso ele considera meu pai, também pai dele. Visto que ele passou a infância aqui, a juventude na Inglaterra e retornou há pouco mais de um ano.
— Preciso que você seja meu treinador de vôlei — falei, ouvindo algo cair dentro do banheiro.
— Quê? — ele apareceu com a escova de dente na boca.
Nesse ponto expliquei tudo que aconteceu, desde eu descobrindo sobre o time até meu trato com o Hibiki-sensei.
— Então você quer enfiar eu, que não tenho nada a ver com isso, no meio? Sem chances. — ele respondeu e foi na direção do guarda-roupa procurar uma camisa — Pode procurar outra pessoa.
— Veja bem. Você jogou um tempo na Inglaterra.
— Num time amador — retrucou.
Não desisti — E uma temporada de treino no Brasil.
— Por convite de um amigo interessado em vôlei de praia
Malditas respostas na ponta da língua.
— Você é formado em fisioterapia e precisa de um emprego — e continuei antes de poder me retrucar. — Não vou montar um time para brincar de vôlei.
Minha voz ficou séria, foi nesse instante que ele se virou para poder me olhar travando os olhos no meu sem desviar.
— Vou montar um time para ganhar, um que ninguém nunca viu antes e que será lembrado. Estou pedindo para você me ajudar a escrever essa lenda. Não é uma ótima chance de fazer uma vitrine e se lançar no mundo esportivo? Seu sonho é cuidar de atletas de desempenho, não é?
Dan fez uma careta ao franzir o nariz, respirou fundo, olhou para baixo e em seguida esfregou a mão livre no rosto, passando para os cabelos e os deixando mais bagunçados do que o de costume.
— Já falei que você é uma manipuladorazinha?
— Algumas vezes — concordei rindo sabendo ter a minha vitória.
Ele vestiu finalmente a camisa que tinha em mãos, puxou a cadeira na frente da mesa de estudo e se sentou.
— O que você tem em mente, little one?
Dan estava de pé, atrás de mim, enquanto calçava meus sapatos. Após ouvir tudo que havia acontecido na escola no dia anterior, o mais velho concordou em participar, sendo o treinador.
— Todo mundo precisa de uma motivação. Só preciso saber o que falar.
— Resumindo, você vai seduzir as pessoas com palavras — concluiu —, você é assustadora. Nunca conheci ninguém tão nova e tão persuasiva quanto você.
— Em alguns casos é questão de sobrevivência — respondi e acenei saindo de casa.
De certa forma, ele não estava errado. Iria, sim, usar palavras para chegar ao meu objetivo, porém, não significa serem mentiras. Isso é algo que nunca farei, por ser o que aquela pessoa fez comigo.
Quando cheguei na escola ainda estava um pouco vazia, então resolvi andar pelo terreno para me familiarizar, alguns clubes tinham treinos matinais, logo havia algumas pessoas. Porém, não eram muitas.
Parei para ver o time de beisebol treinando, mas o que realmente chamou a atenção foi uma garota sentada no banco embaixo de uma árvore resmungando sozinha.
— Se ele virasse o taco 5 graus seria bem mais efetivo para rebater uma bola que gira no sentido anti horário, claro que ela precisa estar a menos de 10 km por hora e ele precisaria aplicar uma força equivalente a-
— Oi? — interrompi a menina e ela olhou para mim assustada.
— Home-run — finalizou o pensamento — Olá? Te conheço?
— Na verdade, não — respondi —, mas vi que você estava analisando o treino, achei interessante.
Seu rosto ficou vermelho até as orelhas — Me desculpe, eu não percebi estar falando alto.
Aproximei-me do lado dela e vi que segurava um livro de trigonometria do segundo ano. — Impressionante já conseguir compreender um material de estudo como esse.
A garota esfregou a lateral do livro com os dedos, mantendo no rosto um sorriso tenro.
— Sim, eu adoro matemática e física, qualquer matéria com contas me fascina. Claro que é incomum porque a maioria das pessoas odeia, mas, na verdade, são matérias incompreendidas. — disse e continuou. — Geralmente se tem medo do que não se entende e por isso acabam falando que odeiam, mas, na verdade, não teríamos nada se não fosse química, física e matemática — ela se interrompeu.
— Desculpe, estou falando demais.
— Não tem problema — me sentei ao seu lado —, é legal que você entende tanto sobre isso a ponto de saber como aplicar em esportes. A propósito sou Tamotsu, classe 5.
— Misaki — ela disse baixo — Misaki Takayama classe 6.
— Me diga, como você aplica o que tem nos livros no esporte?
Até que o sinal soasse, fiquei ao lado de Misaki, a quem pediu que a chamasse pelo nome. Ela realmente tinha uma capacidade de raciocínio e lógica louváveis, junto de um senso de espaço apurado.
Durante a pequena conversa que tivemos compartilhei do meu atual drama, mas sem fazer convites, deixando claro que ainda estava sozinha nessa jornada. Minha semente de curiosidade ficaria germinando enquanto partia para conquistar meu outro alvo.
Sora passou pela sala com a pose de sempre e sentou na minha frente, falando um bom dia baixo, que respondi na mesma intensidade.
Pelo que parece o restante da classe já tinha descoberto quem ela era, pois tudo que se ouvia eram cochichos de “ela é irmã da Matsumura” “Saki é tão bonita” “ela nunca chegou a jogar” e coisas do tipo.
Quando a professora entrou para dar aula, os murmúrios pararam, e a garota sentada na minha frente enfim soltou os ombros, relaxando. Por não ser mais o alvo de conversas secundárias.
Conforme o tempo ia passando, consegui planejar minhas palavras para convencer Sora, mas foi quando Saki apareceu para checar a irmã dela novamente que a chance surgiu.
— Não preciso que você me cheque toda hora, com todas essas fofocas rolando por aí tenho certeza que se acontecer alguma coisa você vai ser a primeira a ficar sabendo — a garota estourou na frente da irmã e saiu da sala sem olhar para trás.
Essa é minha brecha, saí logo em seguida tentando prever onde ela poderia estar. Demorei um pouco, mas a encontrei. Como o esperado, estava sozinha numa parte isolada perto dos ginásios, na sombra.
— Fez uma cena e tanto na sala.
Por um momento seus olhos ficaram surpresos pela minha presença, mas em seguida ergueram uma enorme barreira. Sora cerrou os olhos na minha direção.
— O que você quer?
— Muitas coisas — me aproximei —, mas agora apenas servir de alguma companhia. Sei que é frustrante estar sempre na sombra da sua irmã, ainda mais com ela agindo feito uma babá.
— Tem uma irmã que parece ter sido sempre favorecida só porque tem um sorriso mais amigável que o seu? — ela respondeu com nítido sarcasmo. — Caso contrário, acho que está bem longe de entender.
— Irmã não, bem longe disso — e continuei —, sei como é ficar na reserva sem ter uma chance de jogar, como é ser a estranha no grupo, saber conseguir fazer melhor, mas não conseguir, porque os treinadores sempre têm seus favoritos.
Minhas palavras começaram a chegar até ela, sua guarda baixou. Sora pareceu me analisar também.
— Você não tem cara de quem joga basquete.
— Não mesmo, vôlei. Quer entrar no time?
— Não tenho interesse.
Ela ficou quieta e eu continuei — A escola realmente não tem um time, mas estou tentando juntar algumas pessoas, como você.
Um riso cínico ecoou. Sora cruzou os braços e deu um passo em minha direção — Por que faria isso?
— Para ser você — levantei a mão enumerando os pontos. — Ter a chance que nunca teve, sair da sombra da sua irmã e provar que também é uma jogadora talentosa.
— Sequer sei as regras, não iria fazer nada além de atrapalhar — explicou começando a ceder.
— Sabe usar seus braços e pernas, isso é suficiente para aprender. — rebati — A questão Matsumura-
— Sora — me interrompeu — Apenas Sora, está bom.
Sorri — Não vim atrás de você pela sua irmã, vi que você deseja deixar desesperadamente de ser a segunda, que deseja se provar, mostrar que pode ser tão boa quanto ela. — vi os músculos de sua bochecha contrair. — Só que isso não pode acontecer no basquete, você não quer tomar o lugar dela, não deseja para a sua irmã a posição em que já esteve. Porque o problema nunca foi nela, e sim em quem comandava o time. Esse é o motivo de estar uma classe na frente.
Parei para dar tempo dela processar as informações, Sora trocou o peso das pernas nervosamente evitando me olhar.
— Ser um pouco mais inteligente é o suficiente para você?
Cada resposta que o corpo dela tinha as minhas palavras já me mostrava o que tinha que dizer depois.
— Não, você quer ser a mais forte — conclui. — Você é a mais forte, mas existe esse sentimento nobre que te impede de avançar contra sua própria irmã, só que o que ninguém sabe é que você já aguentou demais
Foi então que ela levantou a mão até os cabelos curtos, o ajeitando para o lado e respirando fundo — O que te faz pensar que vou aceitar? Suas palavras podem ser verdadeiras, mas eu não confio em você.
— Isso é verdade, mas não tem uma opção melhor. Depende de você, se vai continuar a mesma e viver sendo nada mais que a sombra da Saki ou se vai apostar na palavra de uma estranha e ter a chance de ser a Sora.
A garota me olhou, e não desviei. Era como se ela estivesse me testando para ver se iria recuar ou não. Para qualquer um de fora parecia que começaríamos uma briga ali mesmo.
— Vôlei né? — ela olhou para o céu por um momento e voltou a me encarar. — Realmente não custa tentar. Não tenho nada melhor para fazer mesmo.
— Se falar isso te faz sentir melhor, fique a vontade — sorri a vendo sair da sombra para se aproximar.
— Que seja — Sora deu de ombros —, que história é essa de que a escola não tem um time?
— O que aconteceu foi…
A conversa sobre os meus planos junto do professor Hibiki se prolongou até o fim do intervalo, agora de volta à classe, Sora estava sentada virada para a minha mesa acompanhando algumas poucas anotações feitas no caderno.
— Minha primeira impressão sua foi de que era uma mimadinha de merda, mas, na verdade, você é só uma grande idiota do vôlei. Quem diabos vai para uma escola sem saber se realmente tem nela o que deseja?
Senti como se tivesse recebendo um tapa na cara, essa eu não tinha como negar.
— Confesso que o erro no processo foi meu, mas não tem muito o que fazer agora. É conseguir um time e criar a lenda.
— Realmente é ambiciosa — Sora comentou —, mas me diz, que posição você joga?
— Ponta, mas treino para ser boa na recepção também.
— Então precisamos de centrais, uma levantadora, outras atacantes e uma líbero? — ela perguntou. — Acho que me viro bem como meio de rede.
— Para alguém que não entende de vôlei, sabe muito bem as posições — comentei levantando a sobrancelha.
— Na verdade, eu entendo, só queria ver se você ia insistir mais. — a encarei incrédula, causando um novo riso. Respirei fundo e continuei.
— Para levantadora tenho alguém em mente, focamos nas outras por enquanto.
— Temos E.F amanhã, não temos? Com outras salas — comentou pegando uma agenda na bolsa conferindo os horários — É uma boa chance de fazer uma triagem.
— Até que você pensa — provoquei e cutuquei sua testa.
— Cala a boca — ela afastou a minha mão com um tapa se virando para a frente, ajustando o corpo na cadeira.
Sorri com a interação da minha nova amiga, sabia ter feito uma boa escolha, o que eu não sabia é que Sora também tinha o mesmo sorriso estampado no rosto, na cadeira da frente.
Por serem muitas salas no primeiro ano, algumas delas foram juntas para fazer a aula, além de criar esse senso de coletividade parecia que os professores queriam que as salas interagissem entre si.
O uniforme secundário tinha um tom de azul acinzentado, muitos mantiveram suas jaquetas, mas tanto Sora quanto eu as amarramos na cintura e aguardamos as instruções.
As classes avançadas estavam juntas desta vez e a atividade do dia seria em partidas de queimada.
— Queimada? Isso é brincadeira de criança — resmungou alongando os braços longos.
Por conta da altura, nossa altura, muitas pessoas passavam ou jogavam olhadas de canto de olho, quando ela esticou o corpo jogando as mãos para cima, ainda mais.
— As aulas começaram há poucos dias — comentei —, devem estar se ajustando com as novas turmas.
— Tão positiva.
— Realista — rebati —, é só prestar um pouco de atenção.
Falando em atenção, tinha um par de olhos que estava me olhando de maneira tímida já fazia algum tempo. Misaki, a garota inteligente amante de números do dia anterior, é da classe 6. Logo também estava na aula. Ela parecia incerta de como agir e também estava um pouco isolada.
— Vem comigo, e seja simpática — bati no braço de Sora e comecei a dar passos na direção da colega que encontrei ontem.
— Olá Misaki — me aproximei sorrindo —, não havia te visto antes. Como está?
Com a voz baixa, lançando pequenos olhares para Sora, Misaki se curvou e respondeu o cumprimento.
— Essa é a Sora, Sora, essa é a Misaki. Se lembra que comentei com você certo? — minha companhia é inteligente, sabia exatamente o significado que minhas palavras tinham. Educadamente ela também a cumprimentou, não dando sequência no assunto por ter péssimas habilidades sociais.
Algumas pessoas entraram na quadra, chamando nossa atenção e com isso mais uma pessoa.
— Misa! — alguém exclamou, era uma garota baixa que vinha pulando na nossa direção, os cabelos curtos tinham um corte reto que lembrava as figuras egípcias, eram acompanhados de uma franja. Seus olhos eram longos e estreitos com uma curva natural no fim que a dava uma aparência felina. Ela grudou no braço de Misaki sem se importar com a atenção, ou a nossa presença.
— Por que você não me esperou? Somos da mesma sala!
— Você estava conversando Emi. Pode me soltar, os alunos estão olhando — a vergonha de ser o centro das atenções era visível.
Sua resposta veio como risada, foi então que se virou para nós com um grande sorriso.
— Sou Emi Araki, é um prazer — disse rapidamente —, vocês são realmente altas! Não sabia que tem amigas em outras salas Misaki.
— Bem, na verdad-
Ela tentou recusar, mas foi interrompida pelo professor que enfim entrou num consenso. Grupos de quatro pessoas seriam formados e então numerados. Para jogar seriam três deles em cada quadra.
— Já temos 4 aqui! — Emi levantou a mão dando para nós o número 3.
— Emi! Você nem perguntou se elas aceitavam?
A amiga recém-chegada então se virou — Tudo bem para vocês fazerem um grupo?
— Claro — respondi mantendo a simpatia no rosto, achando de certa forma cômica a relação entre as duas. Misaki escutava e Emi falava, provavelmente era uma dupla que dava muito certo justamente por essa dinâmica.
— Por que não fizeram logo um grupo de 12 pessoas? — Sora questionou em voz alta.
— É mais difícil de se formar considerando que a maioria não se conhece, para quartetos é mais fácil a similaridade. Além de mesclar melhor as salas.
Minha colega me encarou com uma feição desgostosa — Céus, o que é você? Sempre tem uma resposta.
Dei risada, pela primeira vez em algum tempo, de forma genuína.
— Sou boa com projeção de pessoas e pensamentos, só isso.
Posicionamo-nos com outros 2 times na quadra, o apito soou e eu e Sora corremos para pegar uma bola em cima da linha e recuamos, estávamos jogando em times mistos. As garotas do outro lado não pareciam se importar em ganhar ou perder, jogavam ataques fracos e desordenados torcendo para acertar alguém.
Emi havia salvo duas ou três garotas que foram atingidas por estarem distraídas, se lançando para pegar a bola antes que ela caísse no chão sob as observações de Misaki. Os ataques feitos pelas minhas mãos ou de Sora, sempre acertavam alguém.
Mas quando as laterais começaram a se encher as coisas ficaram um pouco mais complicadas.
— Sora — joguei a bola para ela enquanto corria para pegar outra que escapou dos adversários.
— na direita — Misaki avisou, antes mesmo de processar suas palavras meu corpo se moveu na direção oposta, um ataque passando próximo ao meu ombro.
— Me desculpe, pareceu uma ordem.
— Não, tudo bem — disse —, continue me avisando, está indo bem.
— Emi você consegue acompanhar bem — falei —, pode continuar salvando? Eu e Sora ficamos no ataque.
— Deixa comigo — prestou continência.
— Sora — chamei.
— Já sei — respondeu sorrindo — vamos ganhar.
— Bola vindo, uma da quadra e uma da lateral — peguei uma e Sora a outra, logo tiramos mais 2 alunos do outro time. Não percebi ter uma vindo na minha direção, daquelas que ficam na lateral. Me acertou no ombro, mas Emi estava bem posicionada e me salvou quando não a deixou cair no chão.
O professor apitou quando Sora
— Isso! — Sora comemorou.
— Para uma brincadeira de criança até que ficou bem feliz.
Estendi minha mão para ela bater, ela fez uma careta pelo meu comentário, mas respondeu meu cumprimento. Usando um pouco mais de força do que o necessário.
— Ninguém gosta de perder — rebateu.
Me dando mais um indício que ela não era particularmente sincera com seus sentimentos.
— Vocês duas foram muito bem — falei para as outras garotas repetindo o gesto, Emi bateu a mão na minha e riu enquanto Misaki apenas encostou meio envergonhada.
Tivemos mais alguns jogos e continuamos jogando, no final se tornou natural. Estávamos com uma boa sintonia, não acredito em destino, mas o que aconteceu na aula apenas pareceu certo.
Quando a aula acabou, pedi para que as alunas da classe 6 me esperassem para conversar
— Você tem alguma coisa na mente, não tem?
— Talvez — respondi a Sora terminando de fechar os botões da camisa do uniforme e arrumando o laço, alisei a saia com a mão antes de sair do vestiário e me encontrar com as outras duas.
Ajeitei a bolsa no ombro e pedi para me acompanharem para o lado de fora do ginásio a fim de compartilhar meus pensamentos.
— Realmente me impressionaram na aula, já pensaram em praticar algum esporte? — perguntei.
— Nunca, não somos realmente atléticas — disse Misaki.
— Eu já tentei tênis, mas não deu certo — disse a Emi cruzando os braços.
— Tenho uma proposta para vocês — Sora fez uma careta antecipando minha próxima fala —, se juntem ao time de vôlei.
— Eu não sabia que a escola tinha um time — Emi disse parando de andar e com uma feição de confusão.
— Não tem — Sora passou o braço pelos meus ombros cutucando minha bochecha. — Mas essa idiota está tentando montar um. Longa história.
— A questão é que vi em vocês duas uma oportunidade, Emi é rápida e ágil, tem movimentos polidos que respondem os comandos imediatamente, seria uma líbero incrível. Não necessariamente ataca, mas protege.
— Misaki, com o seu conhecimento e precisão, consegue planejar a trajetória da bola com a velocidade certa e no ponto mais alto do atacante.
Girei o braço esticando como se fosse atacar ali mesmo.
— Hoje não consigo ver ninguém melhor do que você para a posição de levantadora.
Abaixei a mão olhando para a minha palma aberta, em seguida a fechando com força, levantando em seguida, os olhos.
— Também não importa qual seja a ambição de vocês. Se provar merecedoras, ser popular, tenho certeza que vão conseguir.
Elas se entreolharam — Não sei — disse Emi trocando o peso da perna.
— Nunca tentei nada do tipo antes.
— Sora também não — respondi —, mas aceitou o desafio pelas próprias vontades.
A pequena, ganhei naquele argumento, mas ainda faltava uma.
— Um time também é um grupo com o qual se pode contar. Não estamos esperando nenhum gênio, apesar do potencial, estou juntando um time para vencer junto.
Percebi na primeira vez em que conversamos, o interesse da garota em beisebol, além das fórmulas aplicadas, era no coletivo. Como pequenos gestos e olhares combinavam as jogadas com perfeição, algo que se consegue com treino e principalmente confiança.
Ainda assim, Misaki parecia incerta.
— Não se sintam obrigadas a aceitar — balancei a mão — é um convite. Se não quiserem, não muda nada.
Dei uma pausa, e levantei a mão para a cabeça com um riso envergonhado — Pelo que aconteceu na aula já sinto que somos amigas há muito tempo.
Misaki levantou as mãos em exaspero — Não é isso, gostamos muito da companhia de vocês, é só que…
Sua voz sumiu, Emi então colocou a mão em seu braço — Não custa tentar, certo? Não estamos em nenhum clube mesmo.
— Não precisa me responder agora, podem me falar depois — comentei — é bem fácil de nos achar por aí.
As duas se curvaram de leve e então se afastaram. Sora andava do meu lado, já disse querer ver o treino dos garotos do vôlei. Particularmente ela disse não ter tanto interesse, mas precisava esperar a irmã, Saki, terminar as atividades do clube de basquete.
— Você realmente é assustadora — comentou assim que entramos no ginásio. — Usa palavras para seduzir e conseguir o que quer.
— Não que você tenha escapado — respondi com sinceridade.
— Por mais que odeie admitir, sim — e continuou —, ninguém vai brincar de vôlei com você só porque você pediu. Se você quer ganhar, cada jogadora precisa ter seu próprio objetivo no time.
— De certa forma, sim, acredito que é como uma balança. Quando um cresce, o outro cresce junto. Não é incomum competir por posições, cada jogador tem uma ambição, mas no fim tudo converge para um único objetivo, ganhar com o time. Caso contrário não adianta de nada.
Fiquei em silêncio, enquanto entrávamos no ginásio e subíamos as escadas laterais até a pequena arquibancada. Havia muitas pessoas jogando, mas poucas assistindo. Na verdade, apenas uma, que julgando pela pose desleixada, parecia estar ali forçadamente.
Seus cabelos eram de um tom acinzentado, com algumas poucas mechas escuras que nasciam da raiz, ela olhava a quadra com atenção e mantinha as pernas jogadas em cima da própria bolsa.
— Tem alguns jogadores incríveis, não é à toa que é uma potência — Sora disse chamando minha atenção.
— Sim, faz anos que eles vão ao nacional todo torneio — me apoiei na grade e ficamos observando. — Para quem não está interessada, parece bem atenciosa.
— Calada.
Me permiti sorrir e me ajeitei para assistir ao treino. Não tinha como comparar com o que eu já tinha visto de outras escolas, não que eu tenha visto muitas.
— Hey, Hey, Hey — uma voz explodiu no ginásio, ecoando intensamente depois de um ponto.
— Isso foi extravagante — Sora comentou.—. É só um ponto de treino, não tem para que comemorar tanto.
— Método de treino — expliquei —, se você faz no treino, consegue replicar no jogo sem problemas, desde que tenha o “manual” de como fazer. Tratar um dia comum de exercícios como um jogo, é algo refinado.
Uma gargalhada foi ouvida ao nosso lado, fazendo com que ambas imediatamente voltássemos a cabeça para a fonte do som.
— Longe disso, Koutaro é um cara simplório, qualquer coisa deixa ele muito animado ou desanimado. Se ele ouvisse a primeira frase, não ia reagir muito bem — explicou a garota que também estava assistindo o treino. — Com certeza, ele só ficou feliz de fazer o ponto.
— Aki Satie, classe 3 — ela se apresentou balançando a mão no ar. — Já vi vocês nos corredores, não tem muitas garotas altas sem ser do time de basquete. Sem contar que sempre parecem estar planejando uma guerra.
— Sobre isso, você não está errada, a mente do mal tá sempre trabalhando — Sora apontou para mim.
— Essa não consigo rebater — e olhei para o rosto de Aki. — Estamos tentando formar um time de vôlei.
— Verdade? — sua postura se ajeitou, animada até tirou as pernas de cima da bolsa para se virar em nossa direção. — Quando entrei, também não sabia que o time fora dissolvido, mas não procurei nada além disso.
— Você joga?
— Sim, ponta direita — respondeu meu questionamento.
Sora e eu nos apresentamos apropriadamente e completei falando que geralmente jogava na esquerda.
— Tem mais gente interessada? Porque precisa de seis pessoas no mínimo, sete sendo o ideal, se tiver um líbero.
— Temos — Sora assumiu a fala em meu lugar. — Mas algumas ainda precisam confirmar, temos praticamente uma semana para conseguir.
— Uma semana? — sua cabeça se virou — Como assim?
— Sora faça as honras — pedi voltando a minha atenção para a quadra.
— Por que eu? — Questionou.
— Você que disse que não estava interessada no treino — bati em seu ombro, pude ver a carreira de palavras baixas passando atrás de seus olhos. Porém, ela mesma cavou esse buraco.
Enquanto isso, me limitei a olhar o treino, o time masculino realmente era forte. Faz meses que eu não entrava numa quadra para jogar, desde o último campeonato no fundamental, minha mão chegava a formigar tamanha vontade de entrar em quadra. Claro que continuei treinando, mas fazê-lo sozinha em casa, e até longe dela, é algo muito diferente.
— Pode contar comigo! — a voz da Aki me despertou. — Posso não ser tão boa quanto o meu primo Koutarou, mas com certeza posso treinar para ficar melhor.
Ela tinha a mão fechada em punho, seus olhos grandes e dourados transbordando com determinação. — Também conheço alguém que pode querer entrar.
— Seria de grande ajuda.
Metade da semana já tinha passado, já tinha mais da metade das personalidades que pensei, os planos estão seguindo melhor do que eu esperava. Mal posso esperar para ver a surpresa no rosto do professor Hibiki.
— Sim, sim — concordei —, estava apenas pensando. Podemos ir.
Tivemos muitas conversas no dia anterior, algumas mais promissoras que outras. Esperamos a sala esvaziar um pouco e então saímos, combinamos de nos encontrar com Aki no telhado e conhecer a pessoa que ela havia falado. Contudo, a surpresa foi ao encontrar Misaki e Emi nos esperando no corredor. Parece que a resposta veio antes do esperado.
— Será que vocês têm um minuto?
Olhei para Sora por um momento, e então coloquei um sorriso no rosto respondendo.
— Claro, estávamos indo para o telhado. Querem nos acompanhar? Falar no meio do corredor é um pouco estranho.
— Sim, vamos juntas.
O grupo se moveu, e então depois de encontrar um espaço vazio, Emi começou.
— Sobre a sua proposta de antes, tem certeza que quer pessoas sem experiência?
Resmunguei e coloquei a mão no rosto — Partindo do ponto de que o clube nem existe, e ninguém nasce sabendo de nada. Sim. Por enquanto temos indivíduos, ainda vai algum tempo para formar um time.
— E se nós precisarmos sair? — Misaki perguntou — E se não der certo.
— É uma escolha e possibilidade, no caso de ficarmos com menos de 6 pessoas, um potencial problema. Mas são os riscos que temos, não tem como prever o futuro, e nesse caso fazer confirmações sem sequer elaborar hipóteses.
Misaki deixou um riso escapar e então sorriu para mim — Suponho que está certa.
Emi se virou animada com a reação da amiga — Então aceitamos a sua proposta, certo Misa?
— Sim!
Estiquei as mãos para elas — Será ótimo ter vocês no time. Tem mais uma garota, a Aki ela dev-
— !
Uma voz gritou nas minhas costas, ao mesmo tempo que um corpo se chocou ao meu interrompendo a minha frase. A força do impacto me fez dar alguns passos para o lado. Sora precisou servir de suporte me impedindo de cair no chão. Um par de braços me abraçava fortemente pelo pescoço e tudo que eu via era um emaranhado de cabelos avermelhados.
Atônita, após recuperar o equilíbrio, segurei os braços da figura e me soltei. Em seguida, segurei seus ombros para dar uma boa olhada em quem quase me derrubou no chão.
— Keiko! — exclamei — O que você está fazendo aqui? Achei que tinha ido para Itachiyama!
Kei era uma das jogadoras regulares no meu antigo time, o do fundamental, a garota era alta e tinha o sempre amarrado num rabo de cavalo desalinhado, uma faixa de cabelo fina na cabeça e um sorriso no rosto.
— No meio de todas aquelas metidas? Não, obrigada. Você me disse que viria para cá, então resolvi te seguir. Apesar que tudo foi de última hora — ela sorriu e se virou para as garotas atrás de mim. — Amigas novas? Olá, sou Keiko Kamata, estudei com a no fundamental, éramos do mesmo time.
O restante das garotas se apresentaram e Kei logo estava conversando como se as conhecesse há anos.
— Keiko, já que está aqui, vai entrar no time de vôlei? — Misaki perguntou.
— Lógico! Embora não tenha visto nada de um time ainda.
— É uma longa história, depois eu te conto — falei colocando a mão em seu ombro, a deixando confusa. O resto do grupo riu sabendo exatamente o significado por trás das minhas palavras.
— Keiko, em que posição você joga? — Emi perguntou.
— Sou central, fico no meio da rede — ela levantou as mãos como se fosse bloquear ali no telhado mesmo.
— Só falta uma pessoa — falei animada. Sentindo que estava a cada momento mais próxima de completar o primeiro desafio.
— Então, pode considerar um time completo — Era a garota do dia anterior, Aki.
— Olá! — nos cumprimentou levantando a mão no alto. — Encontrei a outra ponta, essa é Hana Ozaki. Não tem muita experiência com vôlei, mas fez boxe por muito tempo. — Hana tinha a pele bonita num tom de bronze, era esbelta, tinha ombros largos e braços definidos.
— E aí? — deu um breve aceno de cabeça. — Realmente não sou muito fã de vôlei, só que tenho meus próprios motivos para começar a jogar. E a Aki insistiu bastante.
— Não fale assim, sabe a teoria.
— Já está melhor que nós — Emi fez piada, indicando a ela e Misaki.
Olhei em volta, num meio círculo desalinhado, estavam minhas novas companheiras de equipe. As preparações agora estavam completas.
— Preciso encontrar o Hibiki — disse de repente.
— O professor de história? — Emi perguntou — Por quê?
— Ele é o conselheiro — expliquei — Vou falar com o técnico também.
— Temos um técnico? — Keiko perguntou.
Não era uma boa ideia falar muito sobre isso, antes de a ter confirmada no time.
— Negociações em andamento — limpei a garganta enquanto me afastava —, vamos voltar a nos encontrar depois das aulas. Se preparem caso seja necessário ficar na escola! Sora explique para Kei e Hana a história completa, por favor!
Sem se importar muito com a minha saia, corri na direção da sala dos professores como se minha vida dependesse disso, e talvez realmente dependesse. Contudo, após virar um certo corredor acabei batendo de frente com alguém.
— Desculpa — pedi após segurar na própria pessoa para não cair.
O uniforme estava preso entre meus dedos e quando levantei os olhos, vi ser um dos meninos do time de vôlei. Me lembrava dele, o escandaloso com cabelo bicolor. O primo de Aki.
Ele estava até com as orelhas vermelhas, olhando diretamente para meus olhos, só então percebi ainda estar o segurando pela camisa na altura do peito. Tinha mais alguns garotos perto dele, que me encaravam com curiosidade. Senti o rosto corar e o soltei pedindo desculpa novamente, correndo para voltar ao meu caminho original até a sala dos professores.
— Professor Hibiki — o chamei quando cheguei até a sala, depois de receber autorização para invadir a sala dos professores.
O mais velho parecia estar revisando algumas anotações, ele me indicou para entrar com a mão e sorriu.
— Parece animada, pelo sorriso imagino que venha até mim com boas notícias.
— Consegui — disse com um sorriso largo no rosto. — Tenho um time.
A princípio ele ficou sem palavras, mas em seguida ajeitou os óculos e riu para si, baixando a cabeça e largando a caneta para cruzar os dedos em cima da mesa.
— Sabia que iria conseguir, mas não imaginei ser tão rápido. — havia um certo tom orgulhoso em sua voz. Sua cabeça se virou em direção à foto, e então com determinação ele se levantou.
— Agora chegou a minha vez de trabalhar, já tive uma conversa sobre a sua indicação de técnico com o diretor. Porém, agora precisamos de uma confirmação.
Hibiki puxou uma pasta da primeira gaveta e a balançou na minha direção, na frente eu podia ver uma etiqueta retangular com o escrito. “Time de vôlei Feminino”.
— Me espere na sala três depois das aulas — concluiu e tirou o casaco do apoio. — E se possível avise o restante das suas jogadoras.
— Farei isso, obrigada. — me curvei agradecendo e saí.
No caminho de volta vi as garotas andando juntas pelo corredor. Sora e Keiko eram as mais altas, seguidas de Aki e Hana. Por último vinha a Misaki e a Emi com as estaturas mais baixas. Certamente vendo o grupo junto tinha certa imponência. Parecia que elas estavam cortando entre os alunos abrindo passagem.
— Então? — Sora perguntou.
— Depois das aulas devemos nos encontrar na classe três.
Aki juntou as mãos e se virou para Hana — É a nossa classe, vamos ficar esperando vocês.
Concordamos e nos despedimos — Kei qual classe você está?
— Classe 1 — respondeu com desânimo — sozinha, abandonada pelas amigas que tanto ama. Lutando contra o sistema educacional solitariamente.
— Dramática como sempre — a empurrei na direção do fim do corredor —, vai logo Kecchan.
Ela se afastou reclamando do apelido com uma careta e eu segui com Sora para a classe 5.
— Por incrível que pareça, tenho a sensação que vai dar certo — minha colega se jogou na própria carteira e sorriu sarcástica. — Apesar de ser você aquela por trás de tudo.
— Você me anima demais, Sora.
As aulas se arrastaram pelo fim da tarde, para o meu desespero, mal podia esperar para me juntar ao resto das garotas e descobrir o que o professor guardava para nós. Fomos as primeiras a chegar na sala depois do sinal. Sora vinha atrás de mim, reclamando sobre a minha demasiada animação.
Emi e Misaki foram as últimas.
— Vejamos — Hibiki-sensei olhou para nós com cuidado —, parece um bom grupo. Primeiro preciso que vocês preencham as fichas, enquanto isso vou dar alguns avisos.
— Não sei o quanto já foi falado, mas eu já era o antigo responsável pelo time, nesta etapa também estarei aqui para ajudar. O diretor liberou o 4º ginásio, que já era o local usado pelo antigo time, ficou abandonado por um tempo, até ser usado para atividades diversas. E agora ele retorna para o clube de vôlei.
Ele ergueu uma chave meio enferrujada — Existem 3 cópias da chave dele, uma deve ficar comigo, outra com o treinador e a terceira com a capitã. Ser capitão não é apenas um título. É uma missão, é preciso aprender e entender pessoas para ser um bom líder. Como Alexandre o grande, quem era respeitado até por seus inimigos. Antes de prosseguirmos precisamos de alguém para ocupar a posição.
As garotas olharam na minha direção.
— Todo mundo está aqui por culpa sua — Sora apontou —, assuma sua responsabilidade.
— Eu concordo! — Keiko levantou a mão. — Não sei o que aconteceu antes, mas sei que é boa com responsabilidades.
— Aceito se for minha vice, Sora — rebati —, afinal foi a primeira que apostou nas minhas palavras.
Minha proposta pareceu a tirar do rumo, se meus olhos não me traem, suas orelhas chegaram até mesmo ficar com um tom rubro, enquanto surpresa e tomava seu rosto. Uma das mãos se levantou até o piercing de maneira tímida, ainda que tivesse certo brilho de alegria ao redor dela.
— Faça o que quiser.
— Assim como Aristóteles instruiu seu discípulo a governar com ethos, logos e pathos, eu digo a você . Lidere com caráter, lógica e compaixão.
O homem estendeu a chave para mim.
— Contamos com você, capitã — Aki que estava ao meu lado, bateu com o ombro no meu.
Olhei para o objeto na palma da minha mão por um instante e então a fechei, segurando o punho contra o peito. — Vou dar o meu melhor.
Hibiki recolheu as inscrições preenchidas e então indicou a porta para sairmos da sala.
— Imagino que Daniel já esteja nos esperando. O que acham de visitar o ginásio?
— Daniel? — Keiko disse parando no meio do caminho — Dan?
Pressionei os lábios juntos a forçando a continuar andando.
— Aquele Dan?! — o grito de espanto veio acompanhado de uma expressão de terror, buscando em meu rosto alguma negação.
— Não tinha outra escolha.
— Vamos morrer — ela levantou as mãos até os cabelos —, definitivamente vamos morrer.
Revirei os olhos, sempre tão exagerada, não demorou chegamos no ginásio e Dan estava nos esperando pacientemente sentado nos degraus.
— E aí, bando de rebeldes — ele cumprimentou. — Sou o Dan, Já joguei em alguns times por aí, sou formado em fisioterapia e o melhor treinador que vocês vão conseguir.
— E o pior — Keiko rebateu chamando enfim sua atenção.
— Oh, não sabia que você estava aqui, Kechan — minha amiga travou o maxilar pelo apelido.
Depois que… Bem, quando as coisas não deram certo no fundamental, Dan me ajudou a treinar e Keiko se juntava com certa frequência a esses dias.
— Sei que essas duas jogam — ele apontou na minha direção e de Kei. — O restante de vocês, tem alguma experiência?
— Joguei no fundamental também — disse a Aki levantando a mão.
— Era do clube de basquete — disse a Sora.
— Fiz boxe — Hana completou.
Emi e Misaki apenas ficaram em silêncio.
Dan prendeu a careta e olhou para mim antes de voltar para as outras duas.
— Não é realmente um problema. Claro que não dá para virar um mestre da noite para o dia, mas treinar com diligência ajuda, temos algum tempo para isso. Mas também depende de vocês.
O professor subiu os poucos degraus e então abriu a porta do ginásio, apesar de ter um pouco de dificuldade no processo, nossa surpresa veio ao espiar o lado de dentro.
Estava completamente imundo.
Por fora o ginásio não parecia novo, tinha uma pintura descascada, manchas e a porta rangeu bastante até que abrisse por completo. Só que no lado de dentro, esse, sim, estava um horror.
— Nossa, realmente tem uma quadra aí dentro? — Sora questionou colocando a mão no rosto.
— Como eu disse, ficou abandonado um tempo — respondeu o professor envergonhado. — Mas confesso que não imaginei ter tanta sujeira.
— Ainda que fosse apenas sujeira professor. Isso parece que não vê a luz do sol há 100 anos — Aki rebateu.
Dan tossiu — Está aí a primeira tarefa como um time, deixar o ginásio em ordem. Boa sorte, preciso ir até a diretoria resolver algumas coisas, certo professor Hibiki?
— Ah, claro. Temos que pegar algumas assinaturas.
— Voltamos em algumas horas até mais. Se divirtam. — Dan acenou, deu um sorriso cínico e saiu andando sem olhar para trás.
As meninas voltaram para mim. — Não tinha como saber que estava desse jeito — suspirei —, vai ser um bom aquecimento.
— Precisamos achar umas coisas de limpeza e trocar os uniformes primeiro — disse Sora.
— Vamos checar a sala do clube então. — Aki concluiu.
— Isso!
Tive sorte em conseguir pessoas para me ajudar, e mesmo que tivessem seus próprios motivos, um time não funciona sem antes ter pelo menos uma base forjada em mútua confiança. Precisávamos ser amigas, antes de sermos o clube de vôlei feminino.
Olhei para as garotas que se afastaram e o recém-ganho ginásio, não impedindo nascer no meu rosto um sorriso.
Independente do que acontecer, sei que estamos no caminho certo.
— Vamos gastar um bom tempo aqui, então, proponho dividirmos. Emi, Misaki vocês passam a primeira mão do esfregão na quadra enquanto Aki e Hana passam a segunda. Keiko, Sora e eu vamos para o depósito checar as bolas e ver o estado da rede e demais aparelhos — falei e então perguntei com medo de soar muito mandona. — Pode ser? É apenas uma sugestão, se tiverem outra ideia podem falar.
— Parece bom para mim — Keiko respondeu e o restante concordou —, podemos ir para a sala do clube depois, espera, nós temos uma?
Assenti — Sim, temos. Mas imagino que também não é uma maravilha.
Acabamos por nos separar, no depósito do ginásio a situação estava deplorável. Tiramos todas as coisas velhas e colocamos em caixas, remendos de rede, teias de aranhas e muita poeira, lixo foi o que mais encontramos. Empurrei a terceira caixa para fora do ginásio, batendo as mãos juntas em seguida, as meninas que estavam na quadra pareciam se divertir. Aki e Emi corriam de um lado para o outro enquanto Misaki e Hana iam mais tranquilas atrás delas.
Devia ter passado umas 2 horas, e ainda estava longe de estar completamente limpo. Habitável, parecia uma boa palavra para descrever.
— Ei, , aqui acabou, só as bolas que estão empoeiradas e murchas — Keiko disse. — Acho que vi uma bombinha aqui em algum lugar.
Na quadra, as garotas pareciam terem terminado também, nos sentamos cada um com um pano e começamos a limpar as bolas. Em silêncio, mas não de uma forma constrangedora.
Sora jogou a última no carrinho, antes de se levantar — Parece que acabamos.
— Nós também — Aki comentou —, que tal fazermos uns passes?
— Isso! — Keiko concordou — Posso mostrar para vocês como fazer.
Sorri e ajudei Keiko a explicar como se fazia o toque e posições de braços, estávamos só passando a bola de uma para outra. Sem qualquer técnica avançada ou movimento elaborado.
— Hana como a Aki te convenceu a entrar? — Emi perguntou passando a bola para ela, foi um pouco torta, então a garota a segurou nas mãos ao invés de fazer o toque. — Ela só me disse que eu podia ser melhor, mas, na verdade, eu só queria tentar algo diferente. Passei muito tempo treinando boxe no meio dos meninos, mas nunca senti ser meu lugar.
Aki se intrometeu — Fomos juntas para o fundamental, não falávamos muito, mas tínhamos vidas parecidas — ela pegou a bola que Hana jogou para ela
— Meu primo Koutarou era o ace do time de vôlei, e como íamos para a mesma escola estávamos sempre juntos, e eu acabei ficando como o mascote do time masculino, apesar de jogar às vezes e treinar com as garotas. Nunca me senti pertencendo a algum lugar.
Ela passou a bola de uma mão para a outra e em seguida jogou para Sora — Por que você está aqui? Sei que jogava basquete.
Sora piscou surpresa por ser mais uma vez reconhecida pelo passado e respondeu.
— No basquete sempre fiquei na sombra da minha irmã. A cestinha, não importava se eu treinasse muito, ou fosse melhor, nunca tinha a chance de jogar. Também não queria roubar a posição dela. Essa é uma oportunidade para me provar.
— Keiko — Sora passou a mesma bola.
— Tenho déficit de atenção — explicou —, por isso estou na classe 1. Vôlei é a única coisa que eu consigo me focar. Seguir a bola com os olhos é a única coisa que consigo fazer bem, por isso jogo como central. Me sinto normal na quadra, meu problema se torna uma vantagem e eu sou melhor por causa dele.
A esfera foi jogada para Misaki.
— Ah eu… — Emi colocou a mão no ombro dela, Misaki respirou fundo e foi como se ela abrisse uma porta nunca explorada. — Sem ser a Emi, não tive amigos. Meus pais têm uma excelente condição financeira, as pessoas ficavam apreensivas em se aproximar de mim, e quando o faziam era por interesse. Livros foram meu jeito de escapar, sempre gostei de esportes e ficava analisando de forma matemática. Mas as pessoas eram um problema. Prometo que não serei um peso.
— Nunca será Misa — Emi tirou a bola da mão dela. — Entrei porque quero ser reconhecida, por ser boa em algo que não seja provas. Também nunca tive muitos amigos, me achavam estranha por ser acelerada, mas após jogar com a e a Sora na aula eu senti uma coisa.
Emi parou e agarrou a camisa com força — Fiquei feliz, por ajudar, por proteger, me senti necessária. Por isso eu também prometo, vou proteger vocês.
— — ela me chamou e jogou a bola.
Num instante me tornei o foco das atenções, girei o objeto na minha mão ponderando por um momento. Todas elas aceitaram minhas palavras, apesar de suas próprias vontades se juntaram ao meu sonho, era justo eu mostrar uma parte de mim que preferia esquecer.
— No fundamental eu não tive chance de jogar, muito aconteceu e minha permanência no time ficou conturbada. Só que a chama do vôlei nunca apagou, minha vontade de ser grande nunca cessou, decidi entrar numa escola de renome para fazer minha história. — parei apenas para um riso cínico — Só que a grande Academia Fukurodani não tinha um time feminino, me falaram que foi tão ofuscado pelos garotos que simplesmente acabou.
Joguei a bola para cima com apenas uma mão — Então para conseguir um time eu precisava juntar algumas pessoas especiais, e consegui.
O objeto que estava nas minhas mãos foi jogado na direção de Hana e em seguida recuei dois passos até o carrinho de bolas, apontando para ela em seguida — A ambição.
Peguei uma segunda bola — A determinação — joguei uma alta para Aki e ela pulou para pegar a pegar no ar, sorrindo quando voltou ao chão.
— A inteligência — Misaki foi a terceira.
— A agilidade — Emi recuou para pegar a bola que joguei torta de propósito.
— O foco — Keiko fez uma leve reverência
— E a força — encostei a bola no peito de Sora, fazendo com que ela me olhasse seriamente, os olhos profundos guardando um sentimento que talvez ainda fosse muito cedo para eu compreender. Ela segurou a esfera com ambas as mãos, ajustando os dedos e apertando até que as pontas ficassem brancas.
— Não estamos aqui para apenas ganhar e conquistar nosso lugar, nós estamos aqui para nos tornarmos lendas, nossos corpos podem virar pó, mas nossos nomes serão lembrados. Se vocês estão aqui hoje é porque tem algum objetivo. — continuei —, não me importa se estão aqui por atenção, para se provar ou simplesmente diversão, tenham em mente que o caminho até a glória não vai ser fácil e nem bonito.
— Mas — sorri e peguei a última bola para mim. — Vamos conquistar ele juntas. Como um time
— Pode mandar — ela gritou e se jogou para receber.
— 5 recepções consecutivas concluídas, vamos treinar bloqueio — ele anunciou e eu resmunguei em desgosto ainda apoiada nos meus joelhos recuperando o fôlego.
Sora ofegava do meu lado, suor correndo pelo seu rosto — Quando a Kei falou que ele era o treinador Esparta, realmente não acreditei.
— Em breve vamos estar correndo com escudos, tanga de couro — Keiko completou me fazendo dar risada.
— Vocês três — Dan chamou — , você e a Emi contra a Sora e a Kechan. Hana, Aki e Misaki, quatro séries de 15 toques na parede, para cada vez que cair 5 polichinelos.
Respirei fundo girando os ombros, já fazia 1 mês que estávamos treinando e era incrível o quanto elas já tinham melhorado. Ninguém diria que começamos a jogar juntas agora no colegial. Treinávamos todos os dias da semana, às vezes até fim de semana, fazíamos jogos de 2 a 2, e corríamos. Aki sempre que podia me pedia para ajudar ela com saques e acabava por ser um bom treino para a Emi, Keiko ajudava Sora agora que eram colegas de posição e sempre que podia Hana estava treinando movimentos básicos com Misaki.
Durante um ataque pulei para fazer o corte e a bola passou no meio dos braços da Sora.
— Feche os braços quando for bloquear, mantenha seus braços na sua frente e force os dedos, caso contrário eles vão quebrar — Dan a orientou e se virou. — Emi, não tenha medo de se jogar, você tem braçadeiras e joelheiras para isso mesmo. Salvar a bola que bate no bloqueio e a manter em jogo também é sua função.
— Sim! — elas concordaram.
Dan continuou a direcionar os movimentos das jogadoras, e logo paramos de treinar na quadra para correr pelos terrenos da escola. Tiramos os pesos da perna e o suspiro de alívio foi geral devido à sensação de liberdade imediata.
— É tão bom tirar isso — Aki comentou girando os tornozelos. — Me sinto 3 vezes mais leve, treinador Esparta me lembre porque temos que usar pesos?
— Vai ajudar a vocês se moverem mais rápido e pularem mais alto. Vão me agradecer por isso quando jogarem uma partida de 5 sets.
— Vamos lá — chamei batendo duas palmas e interrompendo a conversa. Fizemos duas filas e corremos ali nos arredores da escola, em 30 minutos já estávamos de volta no ginásio nos alongando.
Dan tomou a frente e começou a falar — Vocês realmente melhoraram muito desde que começamos a treinar, entretanto, precisamos ver como vocês se saem contra outras escolas, por sorte existe um grupo de treinamento. O grupo Fukurodani de treinamento, normalmente é um grupo exclusivo do time dos meninos, mas o professor Hibiki conseguiu um amistoso de treino com o time feminino da Shinzen.
— Em tão pouco tempo? — Misaki questionou.
— O professor rotulou vocês como um time de gênios, então vamos testar essa teoria — ele respondeu. — Vou ver se consigo algumas fitas de jogos delas para vermos. Estão dispensadas.
Agradecemos o treinador, mas resolvemos ficar mais um pouco e treinar por conta, Misaki levantou a bola para mim, fiz a passada, joguei meus braços para trás e pulei atacando paralelo à linha da quadra. Emi tentou pegar, mas não conseguiu.
— Oh, então esse é o ginásio feminino — ouvi uma voz de menino dizer.
Olhando para porta, vi algumas cabeças espiando para dentro do ginásio.
— E aí, Aki!
— Primo! O que está fazendo aqui? Não devia estar treinando? — Aki perguntou se afastando da quadra indo para lateral.
— Nos liberaram mais cedo hoje. Podemos treinar também?
A garota olhou para mim como a quem pede permissão. Havia alguns deles ali, provavelmente todos do primeiro ano. Seria uma boa chance de testar nossa evolução.
— O que acham de jogar um set? — perguntei me aproximando. — Não temos muitas jogadoras para poder testar movimentos.
— Parece bom — um garoto loiro respondeu subindo os degraus depois de receber permissão para entrar.
— Se preparem para serem esmagadas pelo grande Koutarou Bokuto. — primo da Aki anunciou logo depois de jogar a jaqueta de treino dele em qualquer lugar num movimento excepcionalmente exagerado.
É claro que aquela pequena brincadeira durante o treino livre terminou numa derrota para nós, tivemos diversos erros e jogadas mal-executadas, contudo a diferença não foi avassaladora, acabamos com 25 a 20. Para mim, ter chegado aos vinte pontos já era uma grande vitória inicial.
— Oh, vocês são boas na recepção, mas falta um pouco de… — Bokuto disse uma série de onomatopeias completando sua frase. Usando também de gestos para ilustrar o que queria dizer, mas sem realmente explicar com palavras arrancando risos do grupo.
— Sua falta de vocabulário é impressionante — Sora comentou baixo. Levantando uma sobrancelha em direção ao garoto de cabelos acinzentados.
— Vocês conseguem receber, mas não adianta nada se não tiver ninguém para dar continuidade — falou Komi, que joga na posição de líbero.
— Sim, e os ataques tem força, mas não vale nada se não for num lugar bom — Sarukui, outro jogador do primeiro ano, continuou.
— Obrigada por pararem para jogar conosco — agradeci. — E pelas dicas.
— Ei, vocês! Precisam fechar logo o ginásio — um professor parou na porta e avisou. Concordamos e começamos a preparar o ginásio para fechar desmontamos a rede. Os meninos nos ajudaram a guardar os equipamentos, ainda trocando alguns conselhos com as garotas, em como melhorar as jogadas.
Sorri, podia imaginar eles parando por aqui mais algumas vezes. Me abaixei para pegar uma bola que estava no chão e vi que mais uma mão também a pegou.
— Desculpa — falei levantando os olhos.
Bokuto a soltou recuando imediatamente a mão e a segurando próxima ao peito, não entendi sua reação, mas voltei a pegar a bola e a joguei no carrinho.
— Seu ataque é bom — ele disse repentinamente.
Olhei com cuidado para seu rosto, o garoto parecia estar se esforçando para puxar assunto. Os olhos olhando para qualquer lugar que não fosse em minha direção.
— Obrigada — respondi com um pouco de incerteza —, fiquei algum tempo sem jogar. Voltei agora.
— Por quê? — ele fez uma pose exagerada, como se fosse um ultraje
Não queria expor o meu passado para um estranho, então me limitei a responder uma meia verdade.
— Passei o final no último do fundamental na Inglaterra, não tive tempo de treinar ou jogar seriamente.
— vamos! — Sora me chamou.
— Já vou! — gritei de volta — Vem, preciso fechar.
Puxei ele pelo pulso indicando para sair do ginásio, tranquei a porta e em seguida fui com as garotas para a sala do clube. Corri para poder me trocar e fechei também o local depois que todas saíram.
Aki estava me esperando próxima à porta, ela morava relativamente perto da minha casa. Logo nosso acordo era de voltarmos juntas, afinal quando treino acaba o sol geralmente já estava baixo, trazendo a noite.
— Vamos — chamei.
— Bokuto anda logo — ela chamou e o garoto veio andando em nossa direção de uma forma travada, nervosa, como fosse aquele usando pesos de perna o dia inteiro e não nós.
— Ele está bem? — perguntei em voz baixa, olhando por cima do ombro, vendo que ele andava alguns passos atrás.
Aki se virou, analisou o primo e riu — Ele sobrevive. Ah, ele vai começar a nos acompanhar no caminho, tudo bem para você? Moramos para o mesmo lado.
— Claro, sem problemas.
Ainda estava um clima um pouco estranho, será que fiz algo de errado durante o pequeno treino no ginásio? Aki e eu estávamos conversando normalmente durante o caminho, mas nossa terceira companhia parecia completamente fora de órbita. Entre ruas movimentadas e um bairro residencial tranquilo, chegou o momento de eu me separar do pequeno grupo.
— Até amanhã. Aki, Bokuto — acenei me despedindo.
— Até capitã — disse de volta. Bokuto ainda parecia fora de sintonia, só balançando a cabeça em silêncio. Por algum motivo eu não pude evitar um pequeno sorriso de aparecer na boca, que garoto… Peculiar.
Terminei de andar a rua e subi os pequenos degraus que separaram o jardim da frente da casa da porta de entrada. Tirei um chaveiro de dentro da bolsa e entrei.
— Cheguei — falei tirando os meus sapatos e colocando no armário ao lado da porta.
— Bem-vinda — minha mãe respondeu aparecendo na porta da cozinha com um avental — Dan chegou a um tempo, por que você só chegou agora? Estava com algum garoto?
— De certa forma. — respondi sem me afetar. — Estava treinando.
Ela cruzou os braços. — Você é tão focada nesse negócio de vôlei que de duas alternativas, uma: ou você vira uma atleta profissional, ou vai acabar sozinha numa casa no subúrbio cuidando de 15 gatos.
Eu não pude deixar de rir — Nenhuma das duas é ruim. — Beijei seu rosto ganhando um afago no braço — Me chame quando o jantar estiver pronto, obrigada.
Subi os degraus a cada 2 e entrei no quarto, fui direto tomar um banho e quando saí sentei na frente do meu computador para pesquisar algumas informações.
Quem são vocês, time feminino de Shinzen?
Pegamos nossos uniformes, assim como o dos garotos, ele possui as mangas e as laterais cinzas como o meio branco e o número também em cinza. Na altura da clavícula havia duas faixas similares a triângulos que adornavam o tecido na altura da clavícula. Os shorts também eram escuros com um detalhe triangular amarelo na lateral da perna.
Fiquei com o número 4, aparentemente era uma tradição o número ficar com a considerada ace. Misaki era 5, Sora e Keiko respectivamente 9 e 10, Aki ganhou o número 11 e a Hana escolheu a 7. Apenas a Emi tinha o tom diferente de camiseta, afinal ela era a líbero, sendo a vestimenta majoritariamente amarela com o número 3.
O aquecimento e as estratégias foram passadas, restava aguardar o time visitante chegar. Professor Hibiki conseguiu agendar a partida para um sábado, uma vez que nossas adversárias precisavam fazer uma viagem um pouco longa.
— Hey, Hey, Hey!
Bokuto, pensei imediatamente, ninguém precisava olhar para saber que ser o primo de Aki a entrar no ginásio.
— Oh, vocês estão tão legais — ele disse com os olhos brilhando e pegando a manga solta da camisa de Aki. — Viemos torcer por vocês.
Ele indicou a cabeça e o restante da turma do primeiro ano também passava pela porta do ginásio cumprimentando cordialmente os mais velhos antes de se aproximarem.
— Realmente não precisava — falei —, vocês não estão matando treino por causa disso né?
— Fique tranquila capitã — Saru respondeu já se aproximando —, não temos treino hoje.
— Ficaremos olhando lá de cima. — Konoha empurrou o Bokuto na direção das escadas enquanto ele gritava com a Aki algo do tipo “acaba com elas”.
O time da Shinzen logo chegou acompanhado do professor Hibiki, elas cumprimentaram se curvando em respeito sendo respondidas pelo meu time logo em seguida. Dan se adiantou e foi falar com o técnico, avisando que elas podiam começar a se aquecer.
— Apesar de o time masculino ser um dos tops de Sendai, isso não significa o mesmo para o feminino, o mais longe que elas avançaram foi semifinal da província. No geral, tem um estilo de jogo bem comum. — falei e peguei uma pequena prancheta.
— Quanto o recebimento é bem feito em 70% das vezes elas avançam com um rápido, a maioria pela esquerda que é o lugar preferido para ace delas atacar. Elas também gostam de ataques de fundo, mas não são boas com bloqueio.
— Emi manteremos você na rotação com a Sora, apesar de a Keiko não poder bloquear do fundo ela consegue segurar bem na recepção — ambas concordaram. — Quando estiverem no bloqueio mesmo que não pare o ataque tentem um toque, depois disso vamos dar um jeito de continuar.
— Hana e Aki por enquanto não precisam pensar em algo muito difícil, só façam com que a bola acerte o chão e Misaki…
— Sim! — ela pulou de susto, me aproximei e coloquei a mão em seu ombro. Só então ela pareceu expirar o ar preso em seu pulmão. Recuperando até mesmo a cor no rosto.
— Só jogue a bola num lugar que dê para outra pessoa atacar pulando, acompanhamos independente do que for.
Ela acenou a cabeça.
— Não vamos nos pressionar muito. Será a primeira vez fazemos um jogo juntas, então erros vão acontecer. Lógico que se ganharmos será bom, mas vamos com um passo de cada vez.
Todas elas concordaram, colocamos nossas mãos juntas.
— Fukurodani — chamei o time.
— Fight! — elas gritaram.
— Fly — chamei de novo.
— High! — elas finalizaram e eu bati punho com cada uma, estava na hora de entrar na quadra.
— Capitãs — um assistente da Shinzen seria o juiz. — Cara Fukurodani, coroa Shinzen.
Encarei a capitã delas, ela era mais baixa do que eu e era a levantadora. Parecia bem consistente.
A moeda caiu para elas. — Começamos no saque.
— Então recebemos — me afastei.
— Respirem fundo, e lembrem-se um ponto de cada vez. Vamos com cuidado, mas não deixaremos elas ditarem o ritmo do jogo.
— Sim!
Tomamos nossa posição, a formação era — da esquerda para direita — Aki, Keiko e Hana na linha da frente. Eu, Sora com a Emi na rotação e a Misaki estávamos na linha de trás.
A própria capitã adversária ia começar no saque, como esperado veio um ataque forte de alguém com experiência.
— Capitã! — Emi gritou e eu recebi.
— Misaki cobre — falei e ela correu para poder fazer o levantamento.
Aki e Hana correram pelas pontas pedindo a bola. Misaki mandou a bola para direita, mas foi muito curta e acabou caindo no nosso lado da quadra.
Ponto para elas.
— Tudo bem — falei —, vamos recuperar esse ponto.
Elas sacaram de novo, dessa vez Emi pegou, foi uma recepção meio torta mais daria para continuar. Porém, Misaki se atrapalhou e acabou encerrando a jogada ali mesmo.
Seguindo com o jogo a complicação começou, se nossa levantadora não tivesse em condições as jogadas não aconteceriam. Nesse ponto as adversárias já tinham três pontos, enquanto nosso placar ainda estava no zero. Olhei para Dan na lateral e ele pediu um tempo.
— Ei — chamei fazendo todas olharem para mim — Se acalmem, Misaki-
— Me desculpe, eu não sei o que está acontecendo, é como se eu não conseguisse raciocinar, meu cérebro não está oxigenando, acho que posso estar com um aneurisma, não sei. Meu estômago está engraçado, talvez devido ao café da amanhã fora que-
Hana revirou os olhos e deu um tapa nas costas da menor.
— Respira — ela disse, e Misaki parou de falar pegando fôlego.
— Misa, a próxima bola que recebermos quero que você coloque ela a 15 cm acima da rede fazendo uma parábola, contando que a linha superior da rede é eixo Y e perpendicular a ela é o eixo X.
Misaki começou a murmurar e olhou para mim e disse — x² = -4cy a aproximadamente 3 metros por segundo.
Sorri e coloquei a mão no ombro dela — Essa é minha garota. — sinalizei para Dan falando estar tudo certo e ele assentiu.
— Escutem, nós sabemos as jogadas que elas fazem, então lutemos, fogo contra fogo.
O apito soou falando que nosso tempo havia acabado.
As adversárias tinham risos entre elas e trocavam olhares que praticamente gritavam sermos um bando de idiotas, mas eu tinha a certeza que logo entraríamos nos trilhos.
Elas sacaram e dessa vez Emi fez uma recepção mais sólida, Misaki correu com passos firme Hana e Aki avançaram pelas pontas, mas sabiam que seria um rápido pelo meio.
Tomei impulso jogando os meus braços para trás.
Fazia tanto tempo que eu não sentia essa sensação, era como se um novo mundo se abrisse assim que meu olhar encontrava o outro lado da rede. Meu corpo estava leve e a bola estava vindo na minha direção, a reação surgindo mesmo sem precisar raciocinar. O braço fez a volta e antes que eu pudesse perceber já estava de volta ao chão com o som da bola batendo no fundo da quadra.
— Nossa! — ouvi Aki dizer — Foi incrível , eu mal vi a bola apesar de o levantamento ter sido lento.
— Ela se autodeclarou ace devia pelo menos fazer jus — Hana falou, fazendo jus ao seu título de Sora número 2.
— Parem com isso — falei e retomei a minha posição, e joguei meu cabelo para o lado, fazendo estalar como se fosse um chicote. — Certo garotas, vamos tomar esses outros 2 pontos a força.
— Sim!
Só estamos começando.
Sequei minha testa jogando a toalha no pescoço — Essa não teve como, mas demos uma boa recuperada.
— Tivemos muitos erros — Sora falou —, meus também, admito, mas acho que estamos pegando o jeito.
Dan tomou a frente — Realmente, para uma primeira partida você estão indo bem melhor do que eu pensava. Contra todas as minhas apostas, nenhuma de vocês tropeçou nos próprios pés, ou levou uma bolada na cara. Já é um ponto positivo.
Todas ficaram com cara de paisagem, não tinha como retrucar.
— Mas, temos algumas coisas para melhorar. Misaki quando a Hana avançar na bola mande um pouco mais devagar, isso ajuda ela a direcionar melhor o ataque. Para Aki e a você pode fazer passos mais velozes.
— Certo.
— Keiko e Sora vocês conseguiram alguns bloqueios, mas estão pulando cedo demais, prestem atenção no tempo. Estamos indo bem, o importante agora é levar o segundo set e finalizar tudo no terceiro.
O tempo acabou e trocamos de quadra, entramos com a mesma rotação, então Misaki começou no saque, foi fraco, mas um lugar chato. A ace delas acabou recebendo e consequentemente se atrasou para poder cortar, Hana e Aki pularam para o bloqueio, mas a bola foi desviada, Emi estava bem posicionada e conseguiu colocar ela para cima.
Embora tivesse ido numa direção diferente da levantadora.
— , último toque — Keiko chamou se posicionando para fazer o levantamento.
Peguei impulso e matei com um cruzado.
— Isso! — elas comemoraram.
— Misaki mais uma vez, bom saque!
A garota respirou fundo e sacou, elas fizeram uma recepção limpa e como esperado quem correu para marcar o ponto foi a ace. Emi recebeu e foi uma boa bola para nossa levantadora, ela fez um levantamento simples e efetivo para Hana que fez o segundo ponto.
Só no nosso 4º ponto que elas conseguiram quebrar a sequência. Perdemos e fizemos pontos em equilíbrio, mantendo o jogo controlado, até que chegou na minha hora de sacar.
— , bom saque — Aki gritou, nenhuma delas sequer olhou para trás, nunca pensei que um gesto como esse me daria tanta confiança. Olhei para a bola, a girei na mão antes de bater duas vezes no chão. Parecia encaixar na minha palma melhor do que nunca, joguei a bola para cima e saquei forte.
Ao menos foi o que pareceu, a bola caiu logo depois da rede marcando o ponto. Com a confiança recuperada, nós arrancamos ponto a ponto com garra, levando o segundo set. Tudo seria decido no terceiro.
Enquanto em quadra, durante essa última parte do jogo, tentando conquistar a primeira vitória com todas as forças, não tinha ideia do que era falado na lateral.
— Parece que elas realmente se recuperaram — o responsável do time comentou com o recente técnico.
— Sim. Pode não parecer, mas sabe muito bem como usar as palavras. — Dan comentou — Se for mentira, ela faz você acreditar veemente que é verdade. Se você não quiser, ela dá um jeito de você aceitar.
— Parece cruel vindo de você que é familiar dela.
— É exatamente por isso que estou falando — Dan respondeu o sensei —, a conheço muito bem. Mas isso não tira os méritos de que é uma boa jogadora e agora capitã. Uma vez que você ganhe seu respeito e principalmente sua amizade, ela luta por você com garras e dentes.
— Desde o começo foi possível perceber que ela seria a que iria liderar o time — Hibiki comentou —, e agora que você falou isso, realmente vejo ser verdade. Seja por uma palavra ou uma frase inteira, cada ação dela reflete em como as outras jogadoras se comportam. Em quadra e fora dela.
— Normalmente dizemos que os levantadores são os maestros e os demais jogadores são os músicos. Pois eles ditam o jogo e tiram o melhor de cada um, porém aqui o termo se aplica com a . Se prestar atenção vai ver que ela manipula as outras jogadoras para conseguir tirar o melhor do time.
— É surpreendente, na verdade, mas também assustador. É como uma mestre de marionetes ou no caso uma maestrina. Uma maestrina das quadras.
— Prefiro o termo manipuladora, mas acho que podemos adotar a maestrina por enquanto — Dan completou com um sorriso.
No meio dos garotos do primeiro ano, uma conversa parecida acontecia.
— Vendo a capitã jogar assim, ela parece assustadora. Nos treinos, costuma ir bem mais devagar — Sarukui comentou apoiando os cotovelos na grade.
— Daqui de cima parece que ela controla os movimentos das outras, ela se mexe, as outras se mexem também — Komi continuou fazendo gestos com as mãos — Como ímãs.
— É, mas o começo do primeiro set foi um fiasco — Konoha continuou vendo que elas tiveram uma falha boba na recepção. — Bem, não dá para ficar bom no vôlei da noite para o dia, apesar de que quando a Emi está atrás ela cobre a maioria das falhas. Honestamente vejo um potencial aqui, o que você acha Boku-GEH!
Quando se virou, seu colega estava apoiado na grade pelo estômago, os braços soltos em direção ao chão.
— Bokuto, o que você está fazendo! Vai cair — o chamou agarrando sua camisa e o puxando para trás com força o fazendo cair sentado no chão. Mesmo sem falar nada, ele se arrastou e segurou as barras da grade, colocando a cabeça no meio como se fosse uma jaula.
— Eu…
Os outros garotos esperaram ele continuar.
— Eu…
— Você o quê? — Komi perguntou impaciente.
Bokuto abriu a boca para responder, mas parou quando interrompido pelo barulho na quadra.
— Capitã! — Aki levantara a bola gritando pela colega de time, enquanto isso se preparava para fazer um ataque, a garota jogou os braços para trás, tomou um impulso e cortou a bola usando um block-out para marcar.
Foi então que o apito soou contabilizando o ponto e logo em seguida o final do amistoso.
— Oh, elas realmente ganharam — Washio comentou. — Impressionante.
Enquanto se comemorava na quadra e os meninos comentavam sobre a vitória, ninguém prestou atenção num certo garoto murmurando ainda agarrado a grade, falando para o nada, tendo suas palavras levadas pelo vento e escutadas por ninguém.
No chão o que reinava era a euforia.
— Isso! — disse e fechei a mão em punho batendo com cada uma das meninas em comemoração — Bom trabalho pessoal.
— Ganhamos — Emi pulava de um lado para o outro — Foi tão legal. Vocês estavam tão legais.
— Certo, hora de alinhar — falei, nos colocamos em linha no fundo da quadra e agradecemos pela partida.
Como de costume, nos fomos até o técnico delas para alguma orientação.
— Bom — ele começou —, realmente foi uma surpresa, quando o professor Hibiki entrou em contato, pensei ser uma perda de tempo.
Sinceridade demais às vezes machuca.
— Mas fico extremamente feliz de estar errado. O que encontrei, para minha surpresa, foi um time forte de primeiro-anistas talentosas. Podemos esperar grandes feitos de vocês, estou ansioso para ver as partidas oficiais. Continuem com o bom trabalho que vão conseguir ir longe.
— Obrigada pelo conselho — agradeci e me curvei.
Voltamos para o professor e o nomeado treinador Esparta.
— Foi um bom amistoso — Hibiki começou com um sorriso no rosto batendo as mãos junto — poderia passar por uma partida de torneio facilmente.
— Só que ainda não é o suficiente — Dan interrompeu. — Isso foi só um teste para ver se vocês iriam conseguir jogar juntas. Felizmente superando as minhas expectativas, parece que o time que a pirralha reuniu com um bando de rebeldes deu certo.
— Por sermos iniciantes no torneio, vamos ter que começar do zero, teremos mais partidas do que os times que estão no topo e menos tempo para treinar — anunciou —, nos meses que nos restam, vocês vão precisar treinar 24/7 tanto a mente quanto o corpo. Já que me chamam de treinador Esparta.
Por algum motivo um arrepio subiu pelas minhas costas, me forçando a balançar os ombros.
Dan tinha um sorrio sombrio adornando o rosto, sua aura era agressiva e avassaladora, de uma maneira que fez eu me sentir pequena.
— Vou fazer jus a esse título, pode ter certeza.