Codificada por: Cleópatra
Última Atualização: 09/12/2024— Bom dia Kronia! Não está de serviço hoje?
— Hoje não, deixo os vilões para vocês — respondi alguns heróis que estavam saindo acenando em seguida. — Boa ronda!
Eles responderam meu cumprimento e se foram. Segui meu caminho dentre outros heróis e funcionários administrativos até minha mesa. O interior da agência parecia como qualquer escritório comercial, diversas mesas alinhadas em fileiras. Nos cantos havia pequenas áreas com sofás e mesas onde os heróis, ou as visitas, poderiam descansar.
Minha mesa estava posicionada no canto próximo a uma das gigantescas janelas que envolviam o prédio. Como de costume, havia uma grande pilha de papéis com relatórios que deveriam ser preenchidos e entregues para a polícia. Não era a mais divertida das funções, porém, extremamente necessária.
Deixei minha bolsa no canto e me sentei, olhando por cima quais eram as tarefas mais fáceis.
— Kronia — meu codinome foi dito com uma calma e um timbre já conhecido, antes mesmo de começar a trabalhar.
— Best Jeanist — Levantei a cabeça e respondi meu chefe assim que ele se aproximou da mesa. O homem completamente trajado em suas vestes de herói levantou a mão arrumando uma caneta desalinhada sobre a mesa, para que ficasse ajustada com o restante.
— Se importa em vir ao meu escritório antes de começar? Gostaria de falar com você. — Fi um pedido, mas não é como se eu pudesse ir contra as ordens do meu chefe. Voltei as folhas para sua pilha original e respondi afirmativamente me levantando para o seguir até o escritório.
— Ouvi dizer que fez um bom trabalho capturando um vilão no lado oeste do nosso distrito, eficiente e sem danos, me alegra ouvir que tenho bons heróis em minha agência. — ele fez uma pausa e tirou momentaneamente a pose de herói número 4 para assumir uma bem mais familiar e amigável. — Também fico orgulhoso em saber que a minha sobrinha está se saindo bem nas atividades.
Continuando com a voz no tom suave, deu sequência na conversa. — Acredito que com esses últimos relatórios você consiga dar entrada no seu pedido de estágio.
Apesar de ser uma heroína relativamente conhecida, nunca foi o meu objetivo final. Desde o meu primeiro ano no curso de heróis, meu desejo era de lecionar para jovens que almejavam chegar na posição de herói; ajudar a controlar e tirar o melhor de cada uma das suas habilidades entender para evoluir. Mas para isso eu precisava obrigatoriamente ter uma certa reputação e ter feito um certo número de contribuições com a sociedade.
— Sim, com eles eu atingi a meta obrigatória — respondi o meu tio —, as vagas para estagiários das escolas de heróis vão ser abertas em breve, preciso estar com a permissão antes disso acontecer.
— Poderia ter chegado ao top 10 de heróis sem nenhuma dificuldade, mas mesmo assim prefere se dedicar a ensinar. — Tio Tsunagu se apoiou na mesa e jogou uma pasta na minha direção, essa peguei facilmente no ar.
Abri a pasta amarelada para encontrar a ficha de um aluno da U.A. Bakugou Katsuki.
— Me lembro dele, no festival que teve no começo do ano. Bem, não tem como não se lembrar, o desempenho dele foi… Brutal.
— Tomei a liberdade de enviar um convite para ele estagiar aqui na agência — Best Jeanist continuou —, e não foi surpresa quando aceitou, sua fome de chegar rapidamente ao topo provavelmente influenciou e teve o maior peso em sua escolha.
Olhei a foto e mais alguns artigos falando sobre o passado dele — O garoto tem uma atitude feroz e me vejo no dever de guiar esse garoto no caminho correto.
O homem se desencostou da mesa e andou para atrás dela abrindo uma gaveta e de lá ele tirou um envelope com o selo da Genius.
— Quero que me acompanhe enquanto ele estiver estagiando, se provar que, de alguma forma, consegue ajudar esse comportamento dele, vou pessoalmente enviar essa carta de recomendação para U.A, ajudando no seu estágio. Tenho certeza que Diretor Nezu se sentirá agradecido em ter uma profissional com recomendações no seu grupo de docentes.
Meus olhos brilharam com a visualização da carta, era como um sonho materializado bem na minha frente, mas antes que pudesse cobiçar ainda mais o objeto, meu tio a guardou seguramente na gaveta.
— Mas se ele sair daqui com a mesma atitude ou até mesmo pior — anunciou com um tom de voz divertido. — Não vou liberar você para o estágio e tão pouco da agência, pelo menos não até for encerrado o seu contrato, o que levaria mais dois anos. Quero que prove para mim antes de qualquer coisa que você tem aptidão para guiar as gerações futuras.
Meu tio se apoiou na mesa lançando um olhar afiado em minha direção — Consegue fazer isso ?
Sorri, nunca fui do tipo que recusei um desafio.
— Vou ficar com a pasta. — Balancei o objeto no ar enquanto me dirigia para a porta. — Quando ele chega?
— Amanhã será o primeiro dia. Esteja aqui cedo.
Me retirei do escritório voltando para o meu lugar, essa, sim, era uma oportunidade de ouro e por mais que estivesse ansiosa para estudar as informações do garoto ainda tinha que preencher os documentos.
A Genius ficava bem tranquila durante o dia, apenas com algumas pessoas entrando e saindo, então terminei meus afazeres um pouco antes do almoço. Entreguei os relatórios e mandei a minha solicitação. AO contrário do que o meu tio tinha, esse requerimento era mais um comprovante que de que alcancei uma posição de renome, resolvido um certo número de crimes e capturado um certo número de vilões.
— Agora é só aguardar a resposta — disse, jogando meus braços para o alto. Vendo o horário, resolvi que era um bom momento para dar uma volta e depois voltar para casa. Joguei a bolsa no ombro, guardei a pasta e saí.
O céu estava limpo e o clima agradável, apesar do sol ser um pouco mais forte por conta de ser quase o meio-dia, não liguei. Pelo contrário, quanto mais alto o sol estivesse, melhor para mim, mesmo que não estivesse de serviço.
Tinham algumas lojas ao redor da agência, inclusive uma de livros, talvez fosse uma boa ideia fazer uma visita, uma vez que fazia um tempo que terminei a minha última leitura. Alguns civis me reconheceram, mesmo sem estar de uniforme, e, sendo cortês, respondi seus cumprimentos.
— Ah, Kronia!
— Tão bonita!
— Kronia é a melhor!
Empurrando a porta de vidro, me apressei em entrar na simpática livraria. As prateleiras estavam alinhadas de uma maneira diferente desde a última vez que vim, mas o resto parecia igual. A luz baixa, o cheiro de chá e uma atmosfera tranquila, repleta de sonhos presos em folhas de papel.
— Kronia, já faz um tempo que não te vejo por aqui — o senhor que costumava ficar no caixa disse quando entrei. Havia ma pilha de livro de cada lado e no balcão a sua frente uma xícara com um líquido fumegante. Não tinha ninguém na loja, mas mesmo assim ele parou a leitura recorrente para me dar atenção — O que achou do último livro que recomendei?
— Foi ótimo, foi uma pena que o amor dos protagonistas terminou de maneira tão trágica, mas acredito que seja uma lição. — Coloquei a mão na primeira prateleira antes de sumir no meio delas, respondendo com uma voz mais alta — Nem tudo termina do jeito que queremos, não é mesmo?
Ouvi o senhor rindo — Precisamente, fique à vontade para escolher o que quiser.
Não liguei por quanto tempo passei de pé vendo cada um deles, passando os olhos pelas centenas de títulos até que um chamasse a minha atenção.
— Este parece bom — falei observando a capa, junto de uma pequena pesquisa pelo smarthphone vi que tinha sequencias e boas revisões. Seria bom ocupar a minha mente com um pouco de fantasia.
— Escolheu ótimo livro como sempre, me diga o que achou na próxima vez — o dono pediu assim que passei pelo caixa.
— É claro que sim — respondi sua gentileza e me retirei agradecendo e desejando um bom resto de dia.
Não dei nem um passo para fora do estabelecimento quando senti algo queimar nas minhas costas, meu corpo reagindo a isso em forma de um arrepio, um tremor que se rastejou pela minha coluna me fazendo virar o rosto imediatamente.
Vazio.
Não havia nada fora do comum por ali, apenas civis andando como qualquer outro dia. Contudo, meu olhar foi atraído para um beco que estava na minha diagonal, o comum seria ignorar, mas tendo dentro de mim o instinto de heroína, atravessei a rua andando até a fenda entre os prédios. No fim era um beco, nada além de lixo e mofo agarrado as paredes.
Parei por um momento e olhei para cima observando uma pequena faixa de céu distante espremida entre paredes de blocos vermelhos. Nem mesmo o sol conseguia chegar ali.
Por mais que a sensação ainda estivesse comigo como o toque de um fantasma, não havia nada ali para ser visto e se houvesse, foi embora tão rápido quanto apareceu.
Cruzei os braços esperando que o estagiário entrasse, estudei a ficha dele e as gravações do festival esportivo chegando a conclusão que não seria uma tarefa nada fácil. O garoto chamado Bakugou tinha presença, podia dizer isso apenas pela postura já ao andar entre os demais heróis da agência, se provou ser alguém genuinamente confiante.
— Sinceramente, eu não gosto de você — as palavras que saíram da boca do meu tio me fez virar a cabeça imediatamente em completa surpresa. Aquele tipo de fala estava bem longe do seu jeito usual de conversa.
De igual forma, o aluno também pareceu se surpreender.
— Só escolheu a minha agência porque sou um dos super-heróis mais populares, não? — questionou.
— Você que fez a oferta — rebateu o aluno, provando também que tinha a língua afiada.
— Sim — Best Jeanist concordou enquanto arrumava a franja e continuava a falar. — Ultimamente só recebo os típicos bons meninos, então você foi o primeiro a me chamar atenção.
— Observei você no festival desportivo, manipulou livremente a sua individualidade de alto potencial e tinha uma boa noção da sua aplicação. Agora, tem um talento fora do comum, suficiente para te recrutarmos como parceiro da agência.
Eu conseguia ver bem aonde essa conversa iria dar, era comum sempre que precisávamos de “atenção” que ele começasse a falar das qualidades para depois entrar com a parte rui
— O problema é que você tem uma falha fatal, você acredita ser o mais forte e executa tudo sem se importar com as aparências. Tem uma natureza feroz.
Consegui ver o corpo dele ficar inquieto, quase como se ele estivesse contendo a personalidade explosiva, mas sem realmente conseguir.
— Vim aqui receber sermão? — sua voz soou mais ríspida do que se esperaria de um colegial. No segundo que ele deu um passo para frente, as linhas de jeans do meu tio já o haviam mobilizado.
— É parte do meu trabalho de super-herói corrigir pessoas como você. — O garoto rapidamente analisou a situação e se deu conta que não estava numa boa posição. — Super-heróis e vilões são dois lados da mesma moeda. Mostrarei a esses olhos que me fitam o que faz de alguém um super-herói.
— O que você quer fazer?
Bakugou não tinha medo de enfrentar, ou no caso responder, o mais velho, apesar dele ter anos-luz de experiência a mais.
— Não é obvio? — Ele perguntou e continuou — Vou te educar para que se torne um super-herói exemplar. Do modo de falar à aparência, do controle emocional ao reforço da moral, temos infinitas coisas a fazer.
Senti um calafrio percorrer a minha espinha, eu conhecia muito bem aquele olhar.
— No curto período de uma semana, vou costurar tudo isso no seu corpo.
Eu quase tive pena dele pelo evento que se sucedeu, claro que sendo uma marca registrada da agência, lhe arrumaram um par de calças jeans. Meu tio o fez sentar numa das cadeiras e retomou sua lição.
— Um super-herói precisa passar paz de espírito às pessoas que resgata. E claro, é preciso ser capaz, porém a aparência física, o falar e a abordagem de um super-herói também precisam ser elegantes.
A medida que Best Jeanist falava, tentava de algum jeito corrigir o cabelo do garoto, o penteando par o lado, muito parecido com o próprio corte que usava. — Portanto, precisa ser assim.
— Claro, Best Jeanist! — os demais heróis que estavam na sala concordaram com sorrisos aceitando suas palavras como uma verdade.
Não levou três segundo o cabelo de Bakugou voltou ao normal, eu não sabia se meu tio estava fazendo aquilo deliberadamente para o provocar, e ver até onde ele aguentava, ou se era uma coisa que ele queria genuinamente mudar. Mas eu conseguia entender o que o herói número quatro estava trabalhando, o meu problema maior agora era descobrir como que aproximar do jovem e ajudar em seu crescimento de uma maneira que fosse válida para a minha recomendação. Isso considerando que o aluno não parecia nada, o tipo de pessoa que se deixava outros se aproximarem com facilidade.
O dono da agência dispensou o restante dos heróis, eu que apenas esteve observando a distância, agora estava sozinha com os outros dois.
— Você não tem um nome de herói?
— Todos os que pensei foram rejeitados. — Respondeu com certa raiva, todas as falas dele soavam intensas.
— E quais eram esses nomes? — Perguntou o mais velho enquanto mantinha o loiro amarrado na cadeira tentando colocar seu cabelo no lugar, de novo.
— King Explosion Murder! Lord Explosion Murder! Explosion Murder!
— Você está mesmo no ensino médio? — perguntei, chamando a atenção dele pela primeira vez.
— E quem é você?
— Kronia é uma das heroínas contratadas, vai acompanhar você durante o estágio junto comigo — Best Jeanist explicou. — Um nome é um desejo. É o que você quer ser e o que precisa se tornar.
— Quando estiver no segundo ano e conseguir sua licença provisória, volte aqui. Nesse momento pedirei para me falar novamente seu nome de herói.
Tsunagu soltou os fios o deixando livre — Kronia vai te mostrar como que funciona a agência, apesar do nosso maior esforço ser físico, ainda temos muito o que fazer na administração.
Saímos da sala, o garoto explosivo e eu. Genius era uma agência razoavelmente grande, então tínhamos diversos departamentos para olhar, entretanto, eu sabia que ele estava desinteressado, então o levei direto para uma sala que podíamos usar para treinamento.
— Podemos usar essa sala sempre que quisermos, geralmente quando estamos de folga treinamos entre nós, como tem inúmeras individualidades conseguimos testar combinações e fraquezas.
Pela primeira vez ele pareceu interessado — Se Best Jeanist permitir, quem sabe não podemos ter um pouco de diversão. Sabe Bakugou, ninguém nega que você tem potencial, mas ele tem razão quando fala que a aparência é importante.
— “Quem se importa, é só socar a cara de alguns vilões” não é? — anunciei e ele me encarou levemente surpreso por provavelmente adivinhar o que estava em sua cabeça. — Você não vai conseguir ser o número um se as pessoas não confiarem em você.
— Qual a sua individualidade afinal? — Foi a primeira vez que ele me perguntou algo coisa, pelo menos já era algo.
— Cronocinese — juntei as mãos na frente do corpo. Em seguida as doze marcações referentes as horas do dia que tinha no braço se acenderam, e na minha testa uma sensação de cócegas também surgiu.
Meus pais não tinham habilidades muito desenvolvidas, mas de alguma forma elas se juntaram se manifestando em um tipo poderoso. Meu pai, irmão mais novo, tinha uma certa habilidade com fios, mas não da mesma maneira que meu tio era de um jeito mais técnico. Tanto que ele escolheu trabalhar com empresas de suporte desenvolvendo trajes e outros itens de apoio. Em compensação, minha mãe possuía uma habilidade simples de fazer plantas crescerem, canalizava a luz do sol e aplicava sobre elas acelerando seu metabolismo.
Meu controle nasceu dessa junção. Seguindo a tradição de família, até mesmo a linha do tempo continua sendo uma linha.
— Vou ser honesta com você Bakugou — girei a minha perna me colocando numa posição de ataque — Preciso que se saia bem nesse estágio.
— Ah? E o que tenho a ver com isso? — Ele abriu os braços respondendo a minha posição.
— Tudo — rebati —, que tal fazermos um trato? Se você me acertar fazemos as coisas do seu jeito, agora, se não conseguir, segue o que eu falar e principalmente, promete colaborar comigo.
Explosões saíram das suas mãos e no rosto um sorriso desafiante se fez presente, ele afundou os pés na sala de treino, assegurou seu equilíbrio e atacou.
Sorri. Isso acabaria rápido.
— A propósito eu controlo o tempo, não vai ser tão fácil me acertar assim — anunciei e levantei o braço mostrando minhas marcações. — Doze horas solares de energia, essa coroa de ponteiros capta a luz do sol e me permite manipular o tempo. Conforme uso ele vai se desgastando. Pode imaginar que não sou uma das pessoas mais indicadas para trabalhar de noite.
— Por que está me falando isso? — O estudante fez uma carranca apesar de ter parecido prestar atenção.
— Estou te dando uma vantagem — respondi — analisar seu adversário também faz parte do treino, seja por meio de notícias ou relatórios oficiais. Pode pensar numa estratégia agora.
— Você se acha confiante demais — ele estava começando a ficar bravo.
— Não muito diferente de você, não é?
O aluno se preparou para o segundo ataque, dessa vez criando uma distração, uma pequena bomba explodiu entre nós criando um bloqueio visual. Não tem como controlar o que eu não consigo ver, apesar de ter uma boca suja ele era inteligente, tinha um julgamento rápido e uma alta capacidade de adaptação. Se a distração foi a minha frente, o provável era que ele me tentasse derrubar por trás, girei a perna e desviei de seu ataque. Não ia pegar leve apenas por ser um estagiário. Consigo manipular o ambiente até um certo nível, então antes que ele tentasse me dar outro golpe travei o tempo o acertando no pescoço.
O impacto feito com o tempo pausado fica registrado, e se faz presente quando o libero, tendo um impacto bem maior do que quando corrido em tempo normal.
— Segunda chance — disse recuando alguns passos. — Sei que tudo parece muito chato, mas ser um super-herói não envolve só lutar com vilões, sabe? É um ciclo de confiança com quem nos coloca em posição de proteger em primeiro lugar.
— Tsc, não preciso ouvir isso de você — o garoto resmungou.
— Oh, consigo ver porque meu tio fez o convite para você.
— Tio? — A voz dele voltou a ficar forte, como ele não ficava rouco de gritar tanto? Será uma sub-individualidade ou algo do tipo? — Você não se parece em nada com ele como podem ser parentes!
— Maravilhas da genética, acredito — dei de ombros. — Não que faça alguma diferença. Ainda temos muito o que fazer hoje, então se puder-
Tive que me interromper, ele usou a explosão das próprias mãos para se lançar na minha direção com uma maior velocidade, uma mobilidade excepcional. Foi por pouco, mas consegui me mexer, ele colocou a mão no chão se preparando para uma segunda investida, eu estava com o equilíbrio comprometido e se ele conseguisse usar da mesma explosão para chegar até mim de novo estaria perdida.
Juntei os dedos e uma esfera com inscrições romanizadas — representando as horas de um relógio — apareceu envolvendo minha mão, semelhante a uma bola de basebol. Sem esperar, lancei o ataque em sua direção logo o prendendo numa cápsula do tempo.
— Uau, essa foi por pouco — disse vendo que ele estava paralisado. — Três ataques, nenhuma derrota fora a sua. Vamos fazer as coisas do meu jeito.
Estralei um dedo e ele caiu no chão, claramente infeliz sobre o resultado — Não se preocupe, seu supervisor ainda é o Best Jeanist, mas tente absorver algumas coisas das outras pessoas também. Não é porque aparentam ser fracas que realmente são.
— Podemos treinar aqui no fim de cada dia, se isso for fazer você colaborar comigo. — sorri para ele tentando ganhar um pouco de sua simpatia.
Bakugou se levantou, ainda desgostoso, bateu as mãos nas próprias roupas antes de se manter em postura novamente — Então que tipo de coisa chata de herói você tem para me mostrar.
Dei risada — Várias, se prepare para um primeiro dia não tão divertido assim.
O aluno me seguiu pelos outros corredores aparentemente escutando o que tinha para falar, mesmo que a expressão de tédio fosse visível, pareceu sair um pouco da inércia de sentimentos quando comecei a mostrar as informações que eram repassadas pela polícia. Informações sigilosas como avistamentos nas regiões e possíveis vilões para atuarem ao redor da agência.
— Os próprios cidadãos fazem as denúncias na maioria das vezes. Mas acontece da polícia direcionar alguns casos ocasionalmente, dependendo do que for, podemos solicitar ajuda de outras agências próximas ou mandar quem tem mais afinidade para lidar com o vilão.
— E se for algum desconhecido?
— Avisamos e pedimos reforços.
Vi através de seus olhos que ele pensava algo como “bando de fracotes, eu explodiria um vilão de qualquer jeito”. Bem, certos pensamentos precisam ou de tempo, ou de experiências vividas para mudar.
Best Jeanist precisava arrumar alguns conflitos de agenda antes de se dedicar ao estagiário, então Bakugou continuou comigo pelo restante do dia. Até chegamos a almoçar juntos, eu sendo uma boa superior paguei pelo nosso almoço. Na Genius Office também tínhamos quartos para os heróis que precisassem, então ele iria ficar hospedado por aqui mesmo durante a semana de estágio.
Durante esse tempo, pequeno, que passamos juntos, consegui uma explicação breve e quase gritada de como a individualidade dele funcionava. Ter o corpo produzindo nitroglicerina ao invés de suor era uma coisa realmente interessante. Já na parte da tarde ele ficou comigo na central, tínhamos a função de dar suporte aos heróis que estavam na rua.
— Oe tem um vilão no cruzamento da rua 13 com a 15, vai lá ser seu lixo!
Fechei a mão e bati de leve em sua cabeça — Não é jeito de se falar com seus superiores, todos eles têm licença de herói sabia? Estudante mirim.
— Quer sair na porrada de novo? — Bakugou torceu as mãos. — Já sei como te derrotar projeto de relógio.
— Fala sério — joguei a minha cabeça para trás e me virei para a minha própria central atendendo o telefonema de um civil — Genius Office.
Do outro lado da linha não ouve nada além de silêncio — Alô? Pode me ouvir? — chamei de novo colocando a mão no meu ouvido e abafando o som ambiente para tentar escutar melhor o som do telefone. Bem distante, algo que parecia como um eco de uma respiração, mas antes que eu pudesse fazer algo a mais desligou. Olhei para o identificador de chamadas, também não havia nada.
— Esqueceu como se desliga ou precisa de ajuda? — o loiro rebateu na minha direção, vendo que eu ainda segurava o telefone na mão. A provocação me colocou de volta no lugar, voltei o aparelho para a posição original sem de fato responder a Bakugou.
Balancei a cabeça, continuei monitorando as chamadas, o restante do dia pareceu normal e quando finalizamos cumpri a minha promessa de voltar com ele para a sala de treino. Colocando as minhas preocupações de lado, ficamos por ali quase uma hora, mas mesmo assim ele ainda não tinha conseguido lançar um ataque eficiente. Embora estivesse adaptando sua movimentação a minha individualidade.
— Terminamos por hoje.
— Ainda aguento muito mais! — gritou.
— Vá descansar — disse — Jeanist vai te acompanhar amanhã o dia inteiro, então sugiro que se apresente na hora.
Ele resmungou algo em resposta, não entendi, e também não sei que queria entender. Parei na porta por um momento e me virei.
— Até mais, estagiário.
Eram as mesmas imagens que já conhecia porem dispostas de maneira diferente, retratos do que costumava ser nossa família. Minha mãe partiu desse mundo há muito tempo, quando eu não devia ter mais de cinco anos. Poderia ser algo extremamente banal, mas naquele dia a queda da escada de provou… mortal.
— Não ouvi você chegar — meu pai disse aparecendo e jogando um guardanapo sobre o ombro apontando para o vaso na minha frente como indicador. — O que achou das flores?
— São bonitas — cutuquei uma das pétalas com o dedo. — Sempre teve um bom gosto.
— Não sou humilde o suficiente para negar isso — ele piscou na minha direção. — O jantar ainda vai demorar, pode descansar se quiser.
Concordei e passei por ele seguindo para o meu quarto e após deixar que a água lavasse o cansaço do dia desabei na cama com os fios de cabelo ainda um pouco úmidos, o teto de cor clara sendo o meu alvo de atenção. O telefonema não saia da minha cabeça. Havia uma sensação constante de ter algo rastejando atrás de mim, um agouro impregnado em minhas costas.
Ergui o braço para ver o marcador da minha individualidade, oito horas, teria que carregar no dia seguinte.
Me levantei quando ouvi o chamado de meu pai, por hora, não adiantava ficar pensando em coisas desnecessárias. Joguei a toalha no suporte e passei a mão pelos meus cabelos, os balançando enquanto andava na direção da cozinha, meu pai estava se virando com uma panela nos braços quando pareceu tropeçar nos próprios pês lançando o que quer que fosse nosso jantar para frente. Ergui a mão vendo um brilho dourado tomar as pontas dos meus dedos como se a cena tivesse parado.
Com cuidado o mais pegou o pote parado no ar pelas alças e eu soltei o tempo, suspirando em seguida — Cuidado pai.
— Desculpe — ele colocou o recipiente na mesa, mais um ponto saiu do meu braço. Sete horas, usar minhas habilidades de noite gastavam muito mais energia do que de dia. — Boa coisa que você está por aqui.
— Não é por isso que pode ser descuidado — puxei a cadeira.
— Sim, sim, terei mais cuidsado — disse se sentando a minha frente. — Como andam os relatórios?
Apoiei o rosto na mão sorrindo de leve, ele definitivamente não sabia disfarçar — Você perguntou para meu tio, não foi?
— Não pode culpar um pai por querer o bem de sua filha, e em defesa do meu irmão — ele se serviu de alguma comida antes de continuar. — Ele não queria me falar, tive que usar de toda a minha persuasão para conseguir alguma resposta.
— É claro que sim. Consegui o número necessário, mas o tio Tsunagu está me testando com o estagiário da Genius — me deitei sobre a mesa. — Um garoto da U.A com a personalidade tão forte quanto sua própria técnica.
— Parece divertido.
— Seria mais, se não estivesse valendo a minha recomendação.
Meu pai colocou ambas as mãos na mesa e diferente de antes, manteve um olhar sério — A tarefa de lecionar não é algo que se faz como obrigação. Se tentar forçar, não funciona. Esqueça da carta, faça seu melhor para o ajudar em seus objetivos, se seu tio ver isso ele vai te recompensar depois.
Não respondi, mas ele estava certo, a tarefa de guiar alguém não era algo para ser burlado, mas do outro lado alguém com a cabeça tão dura quanto do garoto não daria uma abertura se não visse uma vantagem para chegar mais perto de seu objetivo
Sem perceber, acabei suspirando alto, fazendo meu pai rir em seguida em me encarar com um uma feição divertida, achando graça na minha frustração.
— Já quer desistir?
Me levantei para roubar um bolinho do prato dele — Até parece.
Terminamos de jantar tranquilamente conversando sobre casualidades do dia, e seguindo nosso trato eu me adiantei para poder lavar a louça já que ele havia feito a comida. Depois de limpar cuidadosamente a mesa, ele abriu a pasta do trabalho, colocou um óculos retangular no rosto e se colocou a trabalhar.
Vi um design um tanto quanto familiar em cima da mesa.
— Endeavor? — Perguntei me virando para a pia em seguida.
— Foi solicitado algumas melhorias, vou ter uma reunião na agência dele amanhã. — respondeu começou a fazer algumas anotações.
Desde que eu me lembre, meu pai foi uma das pessoas que cuidou do herói de fogo e de seu traje, hoje tendo a maioria dos afiliados da agência na cartela de clientes.
— Me lembro que quando você era criança adorava me acompanhar nessas visitas, com certeza deixava as reuniões bem menos chatas.
— Você não tem do que reclamar — falei com os olhos focados na minha frente. — Fazia atendimento a residência quando eu era pequena e honestamente eu mal ficava por perto.
— Tenho certeza que você me acompanhava só para brincar com primeiro filho de Enji — o tom de voz melancólico me disse por qual caminho aquela conversa estava seguindo. — Foi uma pena o que aconteceu com ele.
Touya, apesar de já não lembrar muito de sua feição, sei que gostava muito de encontrar com o garoto. Mesmo que as memórias fossem enevoadas e turvas, os sentimentos complicados trocados de maneira inocente ainda se faziam presente; do meu lado a culpa pela morte da minha mãe e da dele um desejo egoísta do pai que foi profundamente enraizado.
O momento que a minha mãe caiu da escada foi quando a minha habilidade despertou. Uma pintura brutal parada no tempo apenas para ser apreciada com desespero, o grito mudo que rasgou a sua garganta, os cabelos que voaram tampando sua visão e o vestido cor de creme caindo em ondas. As mãos tentaram segurar no delicado corrimão de madeira vermelha, mas os dedos não agarraram nada além do ar. Tão rápido quando veio a individualidade, se foi, deixando que a cena continuasse seu curso original, manchando a tela com tinta carmesim.
Um talher escorregou da sua posição original no apoio das louças, me fazendo sair de pensamentos antigos. Pigarreei antes de guardar o último prato no armário e responder meu pai.
— Sim, foi uma pena.
O relógio na parede indicava que passava das cinco horas da manhã, me sentei na cama apoiando os pés no chão e em seguida mantendo a cabeça entre os joelhos até que me acalmasse o suficiente. Não tinha muito tempo para o amanhecer e de qualquer jeito teria que ir para a agência cedo, talvez ocupar minha mente com a rotina ajudasse.
Quando terminei de me arrumar o sol começava a nascer no horizonte, ao longo do meu antebraço a marcação ainda estava nas dez horas. Teria tempo o suficiente para carregar antes de trabalhar, abri a porta de vidro da sacada e sem me preocupar pulei o pequeno parapeito. O controle do tempo não se limitava apenas a ações, tendo habilidade o suficiente para interromper o fluxo conseguia criar blocos que me permitam movimentar em pleno ar. Em poucos minutos me vi sentada na beirada do topo do prédio, observando a rua e a cidade que já começava a ficar agitada. Juntei as minhas mãos no momento que o calor do dia me atingiu a pele, o formigamento dos ponteiros surgiu na minha testa deixando a pequena coroa brilhando intensamente enquanto captava a luz do sol.
Joguei os braços para trás e balancei as minhas pernas no ar mirando o céu que ficava cada vez mais claro. O ar pareceu acelerar na minha lateral, e quando sons de passos se fizeram presentes soube que não estava mais sozinha.
— Não é um alvo fácil demais ficando aqui? Qualquer vilão poderia te atacar.
— Se ele for burro pode tentar — respondi ainda de olhos fechados e em seguida me virando para a nova companhia — O que faz por aqui Hawks?
Os cabelos claros banhados pelo sol matinal pareciam quase cintilar e as penas vermelhas pareciam estar ainda mais vibrantes, ele mantinha os óculos no rosto e os fones no ouvido, deveria estar voando quando me viu e parou para conversar.
— Nada de mais, uma conversa aqui, uma coisa de super-herói ali — disse com um sorriso preguiçoso esticando o pescoço apenas para olhar meu antebraço. — Não é comum te ver carregando, dias agitados?
Dei de ombros — Um pouco, nada que uma profissional não possa aguentar.
— Tão confiante — disse quase cantando. — Poderia me apaixonar por você sabia?
Não pude deixar de rir — Não faz o seu perfil ser o cara de uma garota só Hawks — rebati — Gosto de exclusividade.
— Posso abrir uma exceção.
Balancei a cabeça ignorando o flerte sem sentido — Você não deveria estar com um estagiário da UA?
— E estou, a propósito estava voltando para lá. — Se levantando, ele ergueu os braços se espreguiçando e em seguida andando para fora do prédio, sendo sustentado pelas asas. Coloquei o braço na frente dos olhos por conta do vento que se agitou.
— É uma pena , mas preciso deixá-la caso contrário vou me atrasar, não podemos deixar a geração futura se perder não é mesmo?
— Se atrasar não e algo que está no seu vocabulário — levantei vendo que o marcador no meu braço agora tinha as doze horas completas.
— Sobre isso, você está certa, aceita ajuda para descer? — mesmo no ar ele fez uma leve reverência.
— Prefiro fazer as coisas com um pouco mais de emoção — pisquei um olho e deixei que meu corpo caísse no ar, os andares passaram rapidamente o vento fazendo com que os cabelos balançassem freneticamente. Vi num instante as asas vermelhas se mexendo também e à medida que me aproximei da minha varanda parei o tempo evitando a queda. Quando estava para entrar no quarto, um vento fortíssimo passou pelas minhas costas, fazendo com que as janelas tremessem pela velocidade e quando olhei para trás o super-herói já não passava de um ponto distante.
— Exibido — era difícil colocar algum rótulo, mas podíamos ser chamados de colegas. No nosso meio não tinham tantos heróis na nossa idade, existiam muitos heróis na nossa faixa etária, mas nas posições de prestígio em que estávamos. Deve ter sido um diferencial para nos aproximarmos. Embora não nos encontremos tanto assim e na maioria das vezes as conversas são rápidas, cheias de piadas de duplo sentido.
Não me lembro exatamente como que começou, mas no momento que percebi ele estava lá. Com o sorriso despreocupado, uma personalidade imprevisível e um tanto quanto arrogante, principalmente quando se dizia a sua individualidade. Mas era inegável o fato de ser uma habilidade excelente.
Saí quarto com passos leves, a casa ainda estava quieta, significando que meu pai ainda deveria estar dormindo. Ele não precisaria sair em algum tempo, então não o incomodaria com barulho na tentativa falha de fazer um café da manhã, me daria o luxo de comprar algo no caminho.
Deixei um bilhete de bom dia e saí para a agência, caminhando. Não era tão distante da minha casa, mas mesmo assim tomaria bons trinta minutos num tempo normal, sem interferência, como ainda estava bem cedo parei numa cafeteria no caminho para me servir de algum alimento.
Assim que empurrei a porta de vidro, o cheiro de café fresco e doces assados me atingiram com um cheiro leve de baunilha. Atrás do balcão, alguém conhecido sorriu ao ver a minha presença. Souma era um rapaz de aparência normal, não tinha nenhum atributo físico muito chamativo, mas levava no rosto bonitos olhos cor de mar e um sorriso contagiante. Os cabelos de comprimento médios estavam cuidadosamente presos, e o uniforme parecia abraçar seu corpo perfeitamente.
Assim que entrei, ele se apoiou na bancada, deixando que os músculos do braço se flexionassem pelo peso recebido.
— Ter você como a primeira cliente do dia sempre significa uma coisa boa — disse me observando com cuidado enquanto seguia para o balcão. — Como posso ajudar minha heroína favorita hoje?
— Do mesmo jeito de sempre Souma.
Ele riu com a minha resposta — Deixa comigo.
Dando um tapa no balcão ele logo se dirigiu para a máquina antes de começar a fazer o meu pedido, não tinha segredos eu sempre pedia o mesmo. Me apoiei de costas no móvel de atendimento olhando para o lado de fora, as grandes janelas da loja de esquina me permitiam ter uma visão bem ampla de duas ruas importantes.
Duas ou três pessoas passaram correndo pela frente do café e logo um barulho de explosão chegou aos meus ouvidos.
Franzi o cenho, não era uma área de vigilância constante pelo baixo índice de criminalidade e aparição de vilões, logo os heróis mais próximos deveriam demorar um pouco para chegar. Corri na direção da porta.
— Desculpe, esse vai ficar para viagem!
Não esperei uma resposta, a fumaça vinha do fim da rua. Mas não tinha nenhum indício de fogo aparente, os próprios cidadãos se afastaram do local, então não precisei prestar primeiros socorros iniciais. Era um banco, sorte que pelo horário ele ainda não deveria estar aberto.
Do meio da fumaça uma figura parecia se erguer, esguia com roupas escuras, levava bolsas se dinheiro nos braços. Reconheci de imediato o vilão, ele estava numa das fichas que havia analisado com Bakugo no dia anterior e possuía uma individualidade de velocidade.
O melhor seria prender ele logo de começo, lancei um ataque sorrateiro e cápsula do tempo envolveu a figura que logo parou de se mexer. Porém, seu corpo logo se desfez, previ um ataque vindo em minha direção pelas costas e desviei, usando o controle de tempo para diminuir a velocidade do ataque.
No fim, sua individualidade era uma possibilidade de projeção. O relatório da polícia estava errado, essa mudança poderia deixar a situação potencialmente mais complicada. Sem perder tempo, o vilão de dividiu em várias outras formas, criando uma camuflagem.
— Achei que demoraria um pouco mais para os lixos como você chegarem.
— Certamente tempo não é uma coisa que você parece entender bem.
Poderia ser um centésimo de segundo, mas até mesmo as aparições se dividiam de um corpo principal. Deixar o tempo mais lento foi o que precisei fazer para descobrir qual era o verdadeiro, minha individualidade é majoritariamente de apoio, mas mesmo assim tinha um ou outro ataque que convertia a energia armazenada em ataques.
Um fio de energia luminosa ligou o meu polegar e indicador e usando a outra mão a puxei a linha dando forma a uma flecha de sol. Armei o lançamento e soltei acelerando o ataque no processo. Após ser atingido no peito e se incapacitar de criar novas projeções, o prendi numa capsula do tempo até que a polícia ou os heróis responsáveis pela área chegassem. Quando finalmente fizeram a captura apropriada, vi que estava atrasada para chegar na Genius. Mas não é como se meu tio pudesse me culpar por alguma coisa, voltei para a cafeteria onde Souma me esperava na porta.
— Coloque na conta! — passei por ele correndo pegando a sacola de sua mão, me preparei para saltar no tempo.
Estava atrasada, mas pelo menos eu estava levando café da manhã.
— Estava no caminho, eu não tive culpa — respondi —, coma alguma coisa, realmente são boas.
— Não enche!
Mesmo que a resposta fosse grosseira, ele virou a mão pegando um dos doces que Souma colocou no pacote, isso antes de se sentar em cima da minha mesa empurrando meus pertences para o lado. — Açúcar demais!
— Como é esperado de um doce — bati minha mão uma contra a outra. — Imagino que a sua manhã não foi muito animada. O que aconteceu na ronda?
O garoto não me respondeu de primeira, mas depois de me encarar um pouco com o canto de olho resmungou — Falaram sobre o incidente do ginásio.
Então era sobre isso. Para alguém com a personalidade e sede de vitória que nem a dele. Ser lembrado sempre no pior momento, fraco enquanto aprisionado por um vilão, devia ser algo além de humilhante.
— Bom, não é um segredo que as pessoas tendem a se agarrar sempre a coisa ruim — arrastei o lixo para o lado limpando algumas migalhas da mesa. — Então, comesse a tomar ações para ser lembrado de maneira positiva, embora deslizes acontecem.
Ao ver que tinha sua atenção, continuei a falar.
— Num dos meus primeiros trabalhos oficiais fiz uma captura onde precisei parar o tempo acima das nossas cabeças, estava chovendo e era uma vantagem para o vilão. Só que depois que acabou, soltei o tempo de uma vez, e toda água acumulada caiu nos policiais e civis que estavam por perto. O vilão quase escapou e por pouco os policiais e civis não se afogaram.
— Você é idiota ou quê?
— Enfim — o ignorei —, muita gente ainda lembra disso até mesmo entre os heróis.
Levantei e bati de leve no braço dele o empurrando — Best Jeanist me disse para ficar com você na central. Isso é, até chegar a hora de sair para ronda de novo, tente ser mais simpático nos telefonemas hoje.
— Não xingue seus superiores, nem todos são tão legais e compreensivos quanto eu.
Claro que ele reclamou a cada instante que ficamos na agência, apenas se animando um pouco quando chegou a hora de fazer a ronda novamente. Dessa vez eu o acompanhei junto do herói número 4, naquele mesmo dia depois de uma rotina extraordinariamente comum e sem graça, cumpri a minha promessa com o garoto de o ajudar a treinar.
— Oe tic-tac vamos logo! Eu com certeza vou te derrotar hoje! — ele entrou na agência gritando e seguindo direto para a sala especial.
Não era uma coisa que eu tinha exatamente contado para o Best Jeanist, mas depois de um olhar ele certamente entendeu que aquela era a minha chance de me aproximar e tentar colocar na cabeça de Bakugo alguma coisa. Acenei para o meu tio antes de seguir o esquentadinho, com toda a certeza eu lidar com algumas perguntas do meu chefe depois.
Quando entrei no local ele já estava se alongando, então não pude fazer nada além de responder com o mesmo entusiasmo. Ele se livrou dos adereços nos braços, deixando que caíssem num quanto qualquer e logo se colocou em posição de ataque.
— Não vou usar individualidade, você é rápida, quero testar isso.
Ele não gritou, ou falou de maneira grosseira, apesar do tom seco, era um pedido genuíno. O espanto deveria estar no meu rosto porque ele ficou levemente corado e voltou a gritar as palavras animadas de sempre logo em seguida.
Me livrei dos pensamentos desnecessários tomando minha posição à frente dele, depois de um breve aceno de cabeça ele avançou na minha direção. O garoto sabia exatamente a extensão de suas habilidades, mas parecia estar me usando para ver de ponto de vista físico.
Não é sempre que um herói pode contar com sua individualidade, algumas situações nos poderiam incapacitar e é nesse momento de dificuldade que somos testados: somos heróis pelas individualidades ou pelo que está por debaixo dela?
O garoto não estava errado quando disse que eu era rápida, naturalmente meu corpo se mexia num ritmo um pouco mais acelerado, e com treino, minha cronocinese se adaptou a isso de maneira que eu mal precisava pensar. Os socos e chutes eram investidos precisamente, mas eram lentos comparados quando tinha o auxílio da explosão.
— Você está usando movimentos desnecessários, seu corpo está viciado com o uso da individualidade, logo seus ataques estão mais lentos e fáceis de prever. Comesse com ataques simples, sem muita movimentação quando tiver com essa velocidade boa pode incrementar as explosões e as deixar mais rápidas.
Bakugou não disse nada, mas seguiu o que eu disse, acabamos por passar do limite de duas horas levando o pequeno treino até uma boa parte da noite.
Quando terminamos, eu estava completamente exausta, precisando do auxílio de uma toalha para secar o suor. Na minha frente o loiro também estava apoiado nos próprios joelhos ofegando com exaustão, poderia ter sido algumas horas, mas a evolução que se seguiu durante elas foi o suficiente para que ao fim da noite eu precisasse estar desviando dos ataques de verdade.
— Passamos do horário, com certeza vou levar bronca amanhã.
— Não disse para o Best Jeanist?
Balancei a cabeça — Não achei que precisava, mas depois de exagerar talvez eu precise dar algumas explicações.
— Oe se é para levar bronca do seu chefe porque fez?
Ele franziu o cenho na minha direção não parecendo feliz em ficar sabendo da informação, mas eu apenas dei de ombros — Às vezes ser um super-herói não é só salvar alguém fisicamente, pode ser uma presença de conforto. Um sorriso ou um pouco de atenção, saber que às vezes o que se quer não é o que se precisa.
— Você queria derrotar vilões desesperadamente, mas precisa aprender a ser um herói além das habilidades primeiro. Se eu não tivesse encontrado um caminho interessante para que você seguisse antes, não estaríamos tendo essa conversa.
— Mas não coloque muito pensamento sobre isso — balancei a mão seguindo para a saída da sala de treino.
— — a voz dele saiu tão baixa quanto um sussurro — Até que você não é tão ruim.
A minha vontade era de parar e encarar o tipo de expressão que ele fazia as minhas costas, mas esse tipo de atenção não é o que ele queria. Então me limitei a continuar andando como se não tivesse ouvido, mas o sorriso em meu rosto se manteve por algum tempo.
Você também não é, Katsuki.
O homem era orgulhoso e o simples fato de ter capturado um vilão tão notório o deixaria bradando palavras aos sete ventos e não tão passivo, se é que eu poderia dizer isso, como parecia.
Pela manhã, depois das patrulhas, Best Jeanist me chamou no escritório, ele acompanhou o estagiário com receio dos vilões se inspirarem no incidente e se tornarem mais ativos.
O homem estava sentado atrás da mesa com as mãos cruzadas sobre o queixo, manteve o olhar fixo em mim até que sentasse na cadeira em sua frente. Sua expressão era uma incógnita até mesmo para mim.
— Então, que tipo de coisa andou escondendo de mim?
Limpei a garganta, ele certamente sabia como abordar assuntos.
— Não escondi nada — respondi sustentando seu olhar. — Diversos funcionários me viram na sala de treinamento com Bakugou. Você aceitou como estagiário alguém que está deslumbrado com a ideia de heróis ser apenas derrotar vilões e receber a glória. Sabemos que não é isso, mas deixar que veja apenas o ponto de vista burocrático da coisa pode ser perigoso.
Meu tio esperou para que eu concluísse — Foi apenas uma maneira de manter o interesse, uma maneira daquele cabeça dura aceitar alguma orientação.
— Na verdade, estava me referindo ao fato de você andar comendo na sua mesa — anunciou. — Já disse que pode manchar relatórios.
Meus olhos que se voltaram para o chão por um momento se levantaram num susto e eu senti meu rosto ficar quente, então era sobre isso.
De fato, se o escritório tinha uma regra, era a de alimentos na mesa, as rosquinhas que eu trouxe ontem após derrotar o vilão provavelmente foram as culpadas.
— Desculpe.
A cadeira dele se mexeu e logo ouvi um suspiro — Dei a liberdade para que lidasse com Bakugou do jeito que achasse melhor, desde que trouxesse resultados. Mantenho minha palavra e não planejo interferir nisso.
— A propósito, como andam as coisas com ele? Me disseram que existe uma certa aura amigável entre vocês.
— Bom, se amigável significa poder conversar sem ser por gritos, então sim. Estamos nessa página. — apoiei os braços na mesa — Bakugou é o que ele é, alguém determinado em cumprir seu objetivo. De maneira até extrema.
— É um rapaz orgulhoso — meu tio completou, mais falando alto do que para mim.
— Isso com certeza — concordei —, acho que estamos chegando em algum lugar.
Então, dando um relatório muito mais informal, contei o que geralmente conversamos durante as horas de treino. Como ele reagia às minhas sugestões e até mesmo o fato dos apelidos terem dado lugar ao meu nome de verdade.
— Mesmo que seja forçado, ele também parou de gritar com os superiores quando estamos no atendimento.
— Parece o suficiente, continue com o bom trabalho. O diretor Nezu espera a sua visita na próxima segunda-feira, para acertar os detalhes do estágio.
— Acho que… Espera, o como? — nem me lembrava mais o que ia falar assim que minha cabeça raciocinou a segunda metade da frase do meu tio perdi o rumo, foi como se minha alma se desprendesse do meu corpo por um momento e voltasse toda bagunçada.
Best Jeanis cruzou os braços — Só queria ouvir de você, mas não ache que eu não sei exatamente o que está acontecendo na minha agência. Perco uma ótima heroína, mas a U.A ganha uma grande professora, ou futura professora.
Senti meus olhos arderem e o nó ficou na minha garganta, era algo além de só uma conquista, era uma possibilidade de não deixar que jovens sofressem da mesma maneira que sofri.
— Obrigada.
O homem andou na minha direção e colocou a mão no meu ombro — A conquista é sua, espero grandes feitos de você agora não como seu chefe, mas como seu tio. — ele tirou um pente do bolso para ajeitar o penteado — Mal posso esperar para me gabar de ter uma sobrinha tão talentosa.
Não pude deixar de dar risada — Claro que não.
Me levantei e Tsunagu me acompanhou até a porta — Pode pegar parte das rondas a tarde, vamos aumentar a vigília por algum tempo.
Concordei e sai voltando para minha mesa onde Katsuki estava sentado de maneira desleixada. Ele parecia olhar as fichas de vilão enquanto tinha uma expressão entediada.
— Vamos ficar no suporte e à tarde faremos patrulha.
— Porque está sorrindo? — perguntou jogando a prancheta de volta na gaveta — Não levou uma bronca ou algo do tipo?
Oh ele deve ter achado que era algo em relação ao uso da sala de treino. Poderia muito bem dividir com ele a novidade, mas não, faria uma surpresa.
— Agradeço a sua preocupação, mas está tudo bem — respondi batendo em seu ombro apontando na direção da central. — Ainda vai poder tentar acertar um golpe em mim até o fim do estágio.
— Cala a boca.
Encarei o portão azul que se aproximava conforme andava em sua direção, não poderia entrar direto, então conforme as orientações recebidas o professor Snipe me esperava logo na entrada. A mesma capa rubra e surrada que me lembrava, botas e calças de aparência rústica, o rosto coberto pela máscara e o característico chapéu com o “S” na cabeça.
— E pensar que um dia você foi minha caloura — ele jogou uma credencial rapidamente em minha direção, num pequeno teste e eu peguei sem ter problemas. — Bem-vinda a U.A pirralha.
Prendi o crachá no uniforme e entrei na escola, soltei a respiração quando vi que não acionei o sistema de segurança — Quando fala desse jeito só deixa evidente o quão mais velho do que eu você é Snipe. — Coloquei a mão no queixo fingindo pensar — Fazem o que… 10 anos? E naquela época você já era das antigas.
Mesmo abafado pela máscara, escutei o homem resmungar — Não é assim também, pare de ser exagerada. Seu estágio foi há 6 anos no máximo e eu sou só um pouco mais velho que você, talvez.
Dei risada enquanto andava ao seu lado em direção ao prédio principal — Parece que sou sua estagiária de novo, então por favor cuide bem de mim.
— Como se você precisasse de algum cuidado — respondeu batendo o ombro contra o meu — Devo confessar que vai ser uma boa ajuda, principalmente depois dos eventos recentes. Não só para o corpo docente, mas para proteger os estudantes.
Sabia que ele estava se referindo ao ataque que a escola sofreu de vilões poucos meses atrás, foi um evento sem precedentes e tinha colocado em pauta uma série de questões que nunca foram discutidas.
— Estou aqui para dar o meu melhor, a propósito, não tem problema deixar a sala de aula assim?
— Cuido do terceiro ano do curso de heróis, em tese eles devem conseguir se manter sem destruir algo por tempo o suficiente — ele pareceu suspirar e abaixou a cabeça. — Em teoria.
— Deve ser uma ótima turma então — comentei.
— Não imagina o quanto.
Conversamos mais algumas casualidades até que eu me vi de frente para o diretor Nezu, ele parecia estar numa pequena reunião com Midnight que interrompeu a conversa imediatamente vindo me abraçar.
— ! Não sabe como fiquei feliz quando soube que viria — ela me segurou os ombros.
Apesar de ser alguns anos mais velha do que eu, sempre a tive como uma amiga em quem confiar. Respondi seu abraço com talvez menos entusiasmo do que eu realmente queria demonstrar, afinal estava na frente do diretor.
— Obrigada, Midnight.
Snipe respirou fundo — Se lembre de que aqui é Kronia, embora o primeiro impulso seja mesmo dizer .
— E não é? — a mulher concordou e começou a se direcionar para a porta — Preciso cuidar de algumas coisas, não vá embora sem falar comigo, sim?
Acenei de leve não sabendo como o diretor Nezu iria encarar toda aquela situação, senti meus ombros travarem e Snipe bateu no meio das minhas costas forçando meu corpo para frente. Precisei dar alguns passos para frente a fim de me equilibrar novamente, e nisso já estava bem mais próxima da mesa do dirigente da escola.
— Diretor Nezu, muito obrigada pela oportunidade. — me curvei em agradecimento enquanto ele abaixava uma xícara de chá.
— Bons heróis são necessários Kronia, mas aqueles que desejam lecionar e passar o conhecimento para frente são mais ainda — ele me deu um aceno de cabeça. — Além de Best Jeanist também tivemos as recomendações de Snipe, Midnight e Ectoplasm sobre a sua aceitação.
Olhei para o meu antigo instrutor, e ele abaixou o chapéu de leve num comprimento. Midnight era uma amiga que apoiava meu sonho, mas a surpresa foi saber que Ectoplasm também fez uma, de toda geração de professores deve ter sido o único que de fato lecionou para mim durante a formação.
— Embora já tivesse me decidido, eles me ajudaram a confirmar que era uma boa escolha.
Senti meu rosto esquentar e contive o sorriso no rosto agradecendo.
— Como uma docente estagiária, sua função vai ser acompanhar os professores em suas aulas e auxiliar no que for necessário. Não vou te atribuir a um professor específico por enquanto, quero que acompanhe todos os departamentos, heróis, suporte, gestão e educação geral. Assim pode colher o melhor de cada curso para montar sua própria experiência.
— Parece ótimo diretor.
— Bom, bom. Já que Snipe é um antigo colega pode acompanhar o terceiro ano hoje, vamos te apresentando para os alunos conforme a rotação for sendo feita. Em breve a escola inteira terá te conhecido, no fim do dia reúno todos os profissionais e te apresento como o mais novo membro da U.A.
— Acho que essa é nossa deixa — Snipe comentou —, com sua licença diretor preciso voltar para o ginásio Gama, acho que se lembra como andar pela escola certo Kronia? Já que é uma ex-aluna.
— Vou dar o meu melhor, diretor mais uma vez obrigada.
Acenei com a cabeça e acompanhei Snipe para o lado de fora, assim que Nezu saiu do meu campo de visão respirei fundo e olhei raivosa para meu superior do dia.
— Precisava do tapa?
Snipe riu abafado, já que estava de máscara — Você parecia que ia desmaiar. Precisava de um incentivo, um forte incentivo. Ah, antes de ir para o ginásio passamos na sala dos professores, pode deixar sua bolsa lá.
— Tenho uma mesa? — tive que me segurar para não soar animada demais.
— Claro que sim e um armário também, não somos tantos assim. Temos lugares sobrando.
— Você fez isso parecer menos importante do que realmente é Snipe.
O homem puxou a porta e fez menção para eu entrar. Tinham alguns professores, mas nenhum deles reparou em mim até que Present Mic fizesse um alarde.
— Hey! New girl, bem-vinda a U.A! — não o conhecia pessoalmente, apenas sabia de suas histórias por Kayama. Então me surpreendi quando sua voz ressoou animada pela sala dos professores, o herói do icônico pompadour invertido girou na cadeira apontando para mim.
— É bom te conhecer pessoalmente Present Mic, Midnight já me falou muito sobre você.
— Wow! — ele se levantou num salto e passou o braço pelos meus ombros, me afastando de Snipe e falando mais baixo, embora ainda parecesse alto. — O que exatamente Midnight disse para você?
Bem, a mulher me contou mais situações que ela presenciou do que outra coisa. Mas provavelmente a resposta que ele estava esperando era outra.
— Que você é um cara legal, no geral.
— Ah! Ela está certa, eu sou um nice guy! — ele apontou algumas mesas. — Aquela é a mesa dela, a do lado está vaga, essa é a minha. Aquela do Eraser Head, bom logo você conhece todos.
Passei o olhar pelos professores que estavam ali cumprimentando brevemente cada um deles. A porta atrás de nós se abriu e quem passou por ela foi Ecto, o professor de matemática, alto e esguio como me lembrava e com seu clássico casaco de trincheira
— Professor Ecto — me curvei respeitosamente.
— — sua voz distorcida alcançou meu ouvido — Ou melhor, Kronia. Não sabia que começaria hoje, e não precisa usar o professor. Somos colegas professores agora.
— Vai levar algum tempo para me acostumar — disse com sinceridade —, obrigada pela recomendação, não estava esperando.
— Imagino que foi Nezu que disse — comentou seguindo para o que devia ser sua mesa. — Sempre foi uma boa aluna e também fez um trabalho excepcional enquanto trabalhou na Genius, não tinha porque não dar meu depoimento.
— WAIT! Vocês já se conhecem? — Present Mic entrou no meio de nós dois apontando dedos.
— Já lecionava aqui quando Kronia foi aluna, por conta da sua individualidade naturalmente nos aproximamos. Fui seu tutor.
— Cronocinese envolve uma série de cálculos exatos e avançados, mexer com o tempo não é uma coisa simples. E também não pode ser tratada de maneira leviana, é necessário precisão.
Expliquei e Snipe deu de ombros comentando — Não vou nem tentar entender, mas precisamos ir.
— Certo, obrigada pela recepção. Todos vocês.
Segui o herói para fora e não demorou para que chegássemos ao ginásio Gama, mesmo do lado de fora foi possível ouvir algumas explosões.
— Seus alunos parecem animados.
— Nem imagina o quanto — o homem abriu a porta teatralmente. — As duas turmas estão aqui hoje, acho que vai facilitar as coisas.
O local estava tão caótico, com individualidades voando para todos os lados que mal conseguia raciocinar, mas sorri ao contemplar o ginásio, afinal ali estava uma parte do nosso futuro, as estrelas da próxima geração de heróis.
— Logo no primeiro dia já esta me devendo uma Snipe — comentei —, será um bom ano.
— Eu poderia ter desviado com facilidade — retrucou não dando o braço a torcer. — Apenas queria saber o que faria.
Balancei a cabeça — É claro que sim.
A aluna fonte daquela energia flutuou em nossa direção, seu uniforme era de um tom azul tendo o torso decoado com um tecido de cor turquesa, havia espirais douradas contornando suas mãos e pés além de um longo cabelo claro que se abria em suas costas.
— Snipe está bem? E você quem é? Como parou meu ataque? Foi fraco? Me diz, me diz — curiosa, seria uma palavra para a descrever. Todas as perguntas foram feitas em poucos segundos, se não estivesse olhando para seu rosto delicado com certeza teria perdido algumas delas.
— Não foi fraco, só não temos uma boa compatibilidade — respondi não querendo passar sobre a hierarquia do professor Snipe. Apesar das conversas descontraídas, ele ainda era meu superior do dia.
Aproveitando que alguns outros alunos também interromperam seus treinos individuais, o mais velho chamou a atenção da classe os juntando na frente da porta.
— Não vou levar muito tempo — começou. — Essa é Kronia, a heroína profissional. Ela estará acompanhando algumas aulas da U.A por algum tempo e irá acompanhar a rotina de vocês até o fim do dia, me auxiliando no que for necessário.
— É um prazer conhecer todos vocês, espero que possamos nos dar bem. — me curvei levemente para o grupo, que também respondeu com entusiasmo.
— -senpai não sabia que queria ser uma professora.
O tom de voz inocente e os cabelos loiros eram fáceis de reconhecer, imaginei que talvez encontrasse com Mirio, mas não tão cedo. Snipe suspirou alto o suficiente para ouvir mesmo pela máscara. — Kronia, Mirio, é Kronia.
— Ah sim! Me desculpe professor. Minha memória parece ter… — ele fez uma pose exagerada — Permeado.
A tentativa de piada fazia uma brincadeira com a sua individualidade de permeação, mas o senso cômico dele não parece ser o mesmo do restante da classe, já que a maioria suspirou e a mesma garota que me encheu de perguntas antes bateu em suas costas.
Contudo, o loiro riu alto — Ainda sou ruim, mas continuarei tentando!
— Ne, Ne, Mirio vocês se conhecem?
— É claro, a senpai faz trabalhos com o Sir. As individualidades de tempo são bem compatíveis, enquanto o Sir consegue prever o que acontece consegue controlar o tempo em alguns níveis — então o loiro cruzou os braços. — Eu nunca venci quando a convencia a treinar comigo.
— É invencível então! — algum outro aluno disse do fundo.
Balancei a cabeça de um lado para o outro — Longe disso, comicamente o meu controle de tempo tem um prazo para ser usado. Depois que isso se esgota fico quase inútil.
— O que quer dizer com isso? — Snipe que até então estava observando a minha interação com os alunos, questionou.
— Até que sou bem inteligente e com músculos fortes — respondi rindo —, mas tenho um fator limitante na individualidade e não consigo usar meu poder sem estar carregada de luz do sol. Como o professor de vocês disse estarei acompanhando para aprender e também auxiliar no que for possível. Podem me procurar sempre que quiserem, vou ajudar da melhor forma que conseguir.
Todos agradeceram e até que recebi uma recepção calorosa, principalmente por conta de Nejire, que eu descobri ser o nome da garota tagarela e Mirio. Esses também me falaram que todos os alunos do terceiro ano estavam ali e que eles costumavam fazer treinos conjuntos com certa frequência.
— Kronia o que acontece se você precisar lutar a noite e estiver sem horas?
— Depende da situação, mas nas raras vezes que precisei o movimento mais sensato foi acionar o time e recuar. — apesar de ter a energia de dez sóis juntos, não podia deixar de admitir que Nejire era fofa. — Se tiver uma missão a noite e minhas doze horas estiverem carregadas, acredito que consigo segurar umas seis sem problema.
— Divide pela metade porque o gasto para manter sua individualidade ativada é o dobro do que durante o dia!
Fiz que sim com a cabeça concordando com a sua dedução — Sei meus limites, então prefiro manter meus trabalhos durante o dia. Agora, deveriam aproveitar esse tempo para treinar não?
— Saber informações também é um treino.
— Que tal me ajudar então? — Mirio sugeriu. — Sempre é um real desafio treinar com você como adversária.
— Eu não sei se é permitido — olhei para o meu superior que estava de braços cruzados, Snipe balançou a mão num movimento que acabei por interpretar como ‘tanto faz’. O terceiro anista então indicou um lugar mais apropriado e eu segui recebendo alguns olhares curiosos durante a caminhada.
Me sentia levemente pressionada, afinal eu era uma heroína profissional, com certo renome, se causasse alguma impressão errada ali poderia estar acabando com uma carreira que nem existia ainda. Também não poderia desencorajar os jovens.
A coroa de ponteiros surgiu depois de uma sensação de formigamento assim que coloquei os pés em posição começou. Tinha uma vantagem em conhecer como a individualidade de Mirio funcionava, contudo, por outro lado, ele também me conhecia. O jovem era esperto e não partiria para um ataque direto, pelo menos não com os punhos.
Assim como a minha manipulação de tempo, ele também precisava usar ângulos e matemática de uma forma precisa. Além de trabalhar com uma probabilidade, assim que seu corpo desapareceu no chão criei em minha volta uma pequena área de segurança onde tudo que estivesse ali dentro estaria sobre o meu controle de tempo. Mas diferente do que imaginei, Mirio surgiu em um local diferente e aproveitou dos blocos de cimento que estavam em nossa volta para criar uma distração. O lugar do nosso embate fora cuidadosamente escolhido por ele, não pude deixar de sorrir.
Desviei com velocidade e no momento que desfiz a técnica, o herói chamado Lemillion já estava pronto para atacar diretamente. Porém, com um giro desviei chutando em seguida seu ponto de equilíbrio.
— Você melhorou bastante desde a última vez que nos vimos — comentei —, tenho que reconhecer.
— Verdade? Vindo de você fico bem feliz!
A sinceridade dele era algo para ser admirada, mas não num momento como esse. Sem se abalar com meu comentário, o garoto retomou a investida, agora usando da própria velocidade para causar uma confusão. Sem passar muito tempo visível Mirio lentamente me guiou para um ponto de ataque cego, teria sido uma estratégia matadora se eu não tivesse percebido. Surgindo de uma parede em minha direção, usei uma cápsula para o prender.
Nesse momento a sala inteira parou para nos observar, sai da direção do ataque do herói e desfiz a esfera deixando o movimento seguir seu curso normal. Sem ter o meu corpo para acertar, Mirio acabou caindo no chão rolando até bater com as costas na parede, foi até um pouco cômico o jeito que suas pernas ficaram para cima e a capa rubi cobriu seu rosto.
— Ah, eu perdi! — disse se virando e passando a mão na parte de trás da cabeça e sem perder seu sorriso característico.
— Teria ganho se não tivesse deixado tão óbvio a sua escolha de local — andei até ele e estendi a mão para o ajudar a levantar. — Lógico que usar o ambiente como vantagem é uma tática, mas guiar a luta deliberadamente até esse local pode acabar com toda estratégia. É bom saber dosar um pouco isso e continuar com a vantagem.
— Professora Kronia como Mirio podia ter feito isso?
Um dos alunos acabou perguntando e logo de início o termo “professora” me desconcertou, senti um empurrão de leve do loiro e limpei a garganta retomando a minha voz.
— Nesse caso como é um treino Mirio sabe que iria atrás dele de qualquer jeito poderia ter começado de qualquer parte do ginásio. Num engaje real uma maneira é se deixar “atingir” ou fingir estar em desvantagem, é preciso um pouco de atuação para guiar a luta a um lugar favorável.
A classe pareceu satisfeita o suficiente com a minha resposta e voltaram para seus treinos resmungando entre si, de alguma maneira aquilo me acertou diferente. Uma sensação engraçada que quase me fez sentir nas nuvens. Lemillion também se afastou, mas o chamei antes disso.
— Você sabe que a sola do meu pé não é afetada pela zona de tempo, podia ter levado isso mais além e de uma maneira muito mais séria — anunciei com um tom de questionamento.
O loiro sorriu, gentileza moldando seu rosto — Não sei do que você está falando, mas na próxima darei o meu melhor.
— Pelo dia de hoje, sim. Snipe e todos os professores que pedirem, fiz estágio com ele quando tinha a idade de vocês — respondi às perguntas de Nejire exatamente na ordem que ela fez. A garota havia praticamente pulado em mim para ser sua parceira de treino, já que não eram muitos alunos que podiam se movimentar no ar.
Parei seu ataque usando os blocos de tempo parado para correr em sua direção, no fim descobri que a sua habilidade era bem parecida com a minha. Usando sua vitalidade para criar ataques espirais e não luz do sol captada como eu, poderia parecer que não, mas era um bom treino para ambas.
Mesmo sendo uma futura professora, não posso deixar que meu lado heroína fique para trás, precisam andar em conjunto.
Assim que ela lançou o ataque o paralisei, as espirais douradas e brilhantes estavam no ar travadas como se fossem uma escultura. Aproveitei a surpresa dela para dar um ataque por trás, os blocos de tempo que eu usava para me sustentar no céu combinavam um conceito de posição e volume usando meu corpo como ponto de referência.
Era como uma plataforma em jogos de videogame, poderia as moldar apenas para que eu ficasse de pé ou as deixar grande o suficiente para correr alguns metros. Foi contra isso que Nejire bateu as costas após eu aplicar meu golpe, coloquei o dedo em sua testa.
— Perdeu. Ainda que seja uma combatente de média e longa distância, não faz mal algum treinar um pouco luta corpo a corpo Nerije-chan — me levantei e estendi a mão para ela. Seus olhos brilhavam e tinha as bochechas coradas, logo ela desviou o olhar para seus pés, batendo com força naquela placa invisível de nos sustentava.
— Isso é tempo parado? Como funciona? Por favor, me ensine tudo o que sabe! — num único movimento ela pegou as minhas mãos e as balançou para cima e para baixo.
— Teremos tempo — a tranquilizei —, a aula está para acabar, certo?
Quase que como combinado, o sinal tocou, tudo aconteceu tão rápido que não tive tempo para sequer pensar. Cheguei na U.A para as aulas da parte da tarde, então já devíamos estar no caminho para o fim do dia, na saída me mantive ao lado de Snipe que dava algumas últimas orientações para os alunos.
— Os testes estão chegando, é o último anos de vocês, já devem estar cientes que ter a carteirinha de herói e saber dar socos não faz ninguém se formar, então não bombem nas provas entendido?
Os alunos responderam que sim e foram dispensados, eles de despediam de mim como se nos conhecêssemos a muito e tempo, isso fez uma emoção diferente encher meu peito. Quase podia sentir a ponta dos meus dedos formigando.
— Vai explodir se continuar assim — Snipe fechou a porta do ginásio —, então como foi sua primeira experiência?
— Pareci muito inexperiente? Será que alguns deles me achou mal-educada ou prepotente? Minhas pernas estavam tremendo o tempo todo — apoiei a testa na parede completamente derrotada —, o diretor pode me mandar embora no meu primeiro dia?
Snipe riu alto, embora o som soasse um pouco abafado por conta de sua máscara — Quem diria que você é covarde para algo, com medo de um bando de adolescentes do ensino-médio? Garanto que causou uma boa impressão neles, explicou seu ponto, mostrou o porquê de estar aqui, não tem com o que se preocupar.
O homem colocou a mão no meu ombro — Os primeiros anos são muito mais assustadores.
— Obrigada.
Meu desespero parecia estar sendo sua grande diversão, geralmente tinha uma boa quantidade de confiança nos ossos, porém era o sonho da minha vida sendo ali realizado, não podia deixar de pensar se seria boa o suficiente para o alcançar e cumprir o meu propósito inicial também.
— Se anime pirralha, os outros professores já devem estar a caminho da sala de reunião para o diretor poder te apresentar apropriadamente para todo o corpo docente. Não é como se tivesse alguém desconhecido.
Ele não estava tão errado sobre isso, tendo sido uma aluna, já tinha visto os professores mais antigos. Já em relação aos outros, com certeza cruzei com eles em algum ponto da minha vida, ou ao menos tinha ouvido falar.
— Tenha um pouco de confiança — Snipe disse caminhando ao meu lado. — Parecia mais confiante quando era uma jaluna. Devia trazer um pouco daquela garota de volta para dentro de você, foi para ela que fiz a recomendação.
Respirei fundo e soltei o ar devagar — Eu realmente estou parecendo uma tola, não é?
— Alguém preocupado demais em como fazer a coisa certa quando, na verdade, só precisa fazer o comum. Nem todos os professores são iguais, cada um tem sua maneira de passar conhecimento para frente, encontrará o seu jeito eventualmente.
— Até que você virou um bom professor — respondi sorrindo para meus pés —, obrigada. Não fique bravo se eu ficar um pouco mais ousada a partir de agora.
— Ainda sou seu superior estagiária, me respeite.
Tinha alguns alunos na escola, porém eram poucos, logo chegamos a sala e reunião dos professores. Aparentemente todos estavam ali, então as atenções foram voltadas para nós, assim que entramos o diretor chamou e eu me apresentei na frente dos outros professores.
— Alguns já estavam cientes — Nezu começou —, outros estão sendo avisados pela primeira vez. Mas a senhorita Kronia agora faz parte do corpo docente da U.A, como aprendiz, sempre que necessário podem solicitar sua ajuda. Todos os cursos para qualquer aula.
— Obrigada por me receberem, estarei em seus cuidados a partir de agora — me curvei levemente para frente. — Darei o meu melhor.
— Jovem ! Sua ajuda será bem-vinda — All Might levantou um dedo em minha direção. — Como está seu tio?
Snipe colocou a mão na testa, provavelmente pelo uso do meu nome e eu apenas sorri.
— Bem, até onde sei, obrigada pela recepção.
— Com o acampamento do primeiro ano se aproximando será uma boa adição, Vlad e Eraser gostaria que Kronia os acompanhasse nesse evento. Para aprender e também como uma proteção a mais.
— Seria bom se pudesse nos acompanhar nas próximas semanas Kronia — Vlad explicou —, para se acostumar com os alunos.
— Tenho uma sugestão — Snipe levantou a mão. — Os terceiros anistas parecem animados em ter uma profissional por perto. Como o objetivo do projeto de acampamento dos mais novos é aumentar suas habilidades, seria interessante ter um tempo para estudar cada um e apresentar suas soluções independente das personalidades.
— tem uma boa mente para análises frias — professor Ecto completou —, Eraser e Vlad não terão dificuldades em organizar os pensamentos dela com cada aluno depois disso.
— Sem contar que temos pouco tempo até o começo das férias — Midnight também ponderou —, ficar mudando de sala não fará nenhum bem.
— Não tenho objeções — a voz veio arrastada, Aizawa que havia respondido levantando a mão no ar. — podemos providenciar as fichas dos alunos depois das provas.
— Então está decidido — o diretor concordou —, suas credenciais já estão cadastradas, então pode entrar e sair da escola quando quiser sem arriscar morrer.
— Obrigada.
— Snipe continuará te acompanhando até o fim das provas do semestre, juntamente com os terceiros anos da turma de heróis. Depois disso ficara como auxiliar do primeiro ano temporariamente.
Os professores concordaram sem objeção e então fomos dispensados. As conversas fluíram sem grandes problemas com meus novos colegas de trabalho, peguei minhas coisas no armário e saí acompanhando um grupo de professores que também já havia encerrado o expediente.
No momento em que coloquei os pés para fora, Kayama colocou o braço em cima dos meus ombros — Agora que é uma de nós, que tal nos acompanhar no ‘happy hour’ ?
— Desculpe, prometi para meu pai que estaria em casa. Deixemos para outro dia sim?
A mulher resmungou, mas compreendeu no fim — Nesse caso fica me devendo uma.
— Vou anotar, até amanhã.
Present Mic estava ao seu lado também se despediu, enquanto andava na direção contrária podia ouvir algo sobre karaokê. Na minha época de estudante parecia estranho imaginar heróis tão respeitáveis fazendo as atividades mais comuns, agora do outro lado do espelho tudo parecia interessante.
Era um fim de tarde e nas ruas não tinham muitas pessoas, o que facilitou minha caminhada até a estação de trem, Musutafu não era tão distante de Tóquio afinal. Estava com roupas civis então também foi fácil de andar entre eles, eu devia parecer tão comum que até mesmo acabei me trombando com uma pessoa no meio do caminho.
O rapaz estava de capuz e eu não conseguia ver seu rosto, porém vi a região de sua boca, a pele ao redor era escura, tinha um tom arroxeado, parecia enrugada e frágil a primeira vista. Force-me a desviar o olhar, já que era um gesto mal-educado ficar encarando as características físicas de alguém.
— Desculpe, não o vi. Está bem?
— Sim, não foi nada.
Nesse instante um arrepio subiu a minha espinha, e senti algo em minhas costas, virei a cabeça rapidamente em alerta. Era a mesma sensação de quando fui a livraria, porém assim como naquele dia não vi nada ao meu redor, no momento em que voltei a olhar para frente o rapaz com quem eu havia trombado também tinha desaparecido.
Pareceu-me muito estranho, contudo não consegui pensar muito sobe o assunto uma vez que precisava pegar o transporte. Durante todo o caminho de volta a casa de meu pai ponderei sobre o que eram aquelas sensações, o timbre da voz baixa também ecoou em meus ouvidos por algum tempo.
Suspirei e girei os ombros antes de abrir a porta de casa e deixar meus sapatos na entrada — Cheguei.
— Bem-vinda de volta e parabéns — dois estalos soaram e diversos papéis coloridos caíram ali mesmo na entrada —, olhei para a pequena sala e vi meu pai e meu tio Tsunagu.
— O que é tudo isso? — passei a mão pelos cabelos.
— Vamos comemorar seu primeiro dia, é claro — meu tio disse —, não é sempre que alcançamos nossos sonhos.
— Sinto que posso chorar a qualquer instante, minha filha cresceu tanto.
O irmão mais novo consolou o mais velho — que tinha o braço na frente do rosto escondendo suas lágrimas —, batendo em suas costas. Ri e me aproximei de meu pai, ele me abraçou e continuou chorando dizendo o quanto tinha orgulho de mim.
— Pai, obrigada de verdade. Mas eu realmente estou com fome, e acho que também quer ouvir sobre como as coisas aconteceram não?
— É verdade, tem razão — ele limpou o rosto sorrindo e beijou minha testa. — Essa noite teremos um banquete!