Codificada por: Lightyear 💫
Última Atualização: 14/04/2025Aquele “jogo” estava ficando cada vez mais perigoso e sabia disso. Não fazia muito tempo que ela havia trocado de continente, buscando recomeçar. Há cinco meses, deixou para trás a e aterrissou em Incheon, na Coreia do Sul, carregando pouco mais que uma mala e cicatrizes invisíveis. Fugir do ex-namorado abusivo parecia a melhor opção. Um novo país, uma nova vida. Mas a liberdade tinha um preço alto, e ela estava longe de ter recursos para pagá-lo.
Sem conhecer ninguém e com um coreano limitado, se viu sem alternativas. Desesperada para sobreviver até encontrar um emprego estável, procurou ajuda onde não deveria. Os agiotas surgiram como uma solução temporária. O dinheiro veio rápido e fácil, mas com ele vieram também as ameaças sussurradas e olhares frios. No início, ela acreditava que conseguiria quitar a dívida assim que fosse efetivada no restaurante onde havia conseguido uma vaga temporária como auxiliar do chef. Contudo, não passou do período de experiência. Agora, sem renda e com os cobradores cada vez mais impacientes, a corda apertava em seu pescoço.
Os hematomas em seus pulsos eram um lembrete cruel disso. Não haviam usado muita força — ainda —, mas o aviso estava claro. Próxima vez, poderia ser pior. sabia que precisava encontrar uma saída. Rápido.
Ela observou o movimento da cidade ao redor, sentindo-se ainda mais isolada no meio da multidão. Incheon pulsava com vida, mas para , cada rosto era apenas mais um desconhecido. Ela fechou os olhos por um momento, buscando coragem onde parecia não haver mais nada. Fugir não era mais uma opção. Mas lutar? Isso parecia quase impossível.
O frio começava a cortar sua pele através do casaco fino. Levantou-se devagar, escondendo os pulsos nas mangas, e começou a caminhar sem rumo. Ela precisava de um plano. E precisava agora.
Algumas lágrimas teimosas escaparam de seus olhos, deslizando silenciosamente por suas bochechas geladas. fungou discretamente, mas logo os soluços suaves escaparam de sua garganta, sacudindo seu corpo frágil. Ela apertou os lábios, tentando conter o pranto, mas a dor e o desespero eram mais fortes.
Foi então que, distraída por seus próprios pensamentos sombrios, esbarrou em alguém. O impacto a fez cambalear um passo para trás. Seus olhos lacrimejantes se ergueram para encontrar o olhar do estranho.
— Me desculpe… — murmurou, apressando-se em limpar as lágrimas com a manga do casaco. Mas o gesto fez com que a manga escorregasse, revelando parte dos hematomas arroxeados em seus pulsos.
O estranho franziu o cenho ao notar as marcas. O olhar dele passou rapidamente de seu rosto para os pulsos expostos.
— Você está bem? — perguntou, a voz carregando uma mistura de preocupação e curiosidade.
congelou por um instante, o coração acelerando ainda mais. Ela puxou a manga de volta, escondendo as marcas, e balbuciou:
— Estou… estou bem. Foi só um acidente.
Mas até mesmo para ela, a mentira soou frágil.
Sem conseguir conter mais a dor sufocante, voltou a chorar. Mas dessa vez, as lágrimas vieram copiosas, e os soluços tomaram conta de seu corpo. As pernas vacilaram, e ela sentiu-se ainda mais vulnerável.
O estranho hesitou por um breve momento, observando-a com preocupação. Então, sem dizer nada, segurou gentilmente seu braço.
— Vem comigo. — A voz dele era firme, mas suave.
tentou recuar, mas ele não parecia ameaçador. Ao contrário, havia algo reconfortante em sua presença. Ele a guiou com cuidado até uma cafeteria próxima, o calor do ambiente contrastando com o frio cortante do lado de fora.
— Sente-se. Eu vou pegar algo quente para você. — Ele indicou uma mesa em um canto mais reservado.
obedeceu, ainda tremendo. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se um pouco mais segura, mesmo que por um breve instante.
Sentada, ela pegou alguns guardanapos do suporte sobre a mesa e tentou limpar as lágrimas que insistiam em escorrer por seu rosto. Seus dedos tremiam, tornando o gesto desajeitado. Quanto mais tentava se recompor, mais percebia que era inútil. O guardanapo se desfazia em suas mãos úmidas, incapaz de conter o choro descontrolado.
Do balcão, o estranho a observava enquanto fazia o pedido. Seu olhar era atento, preocupado, como se tentasse entender o que poderia ter levado alguém a esse estado.
pressionou outro guardanapo contra o rosto, frustrada com sua própria fraqueza. Mas, naquele momento, não havia forças para esconder sua dor. Tudo que podia fazer era esperar que aquele estranho retornasse, torcendo para que ele não fizesse mais perguntas.
Pouco depois, ele retornou com um copo e uma garrafa de água. Colocou-os suavemente à frente dela.
— Beba. — Sua voz era calma, mas carregava um tom de preocupação.
pegou o copo com as mãos trêmulas, serviu-se e levou a água aos lábios. O líquido frio desceu pela garganta, proporcionando um breve alívio. Quando colocou o copo de volta sobre a mesa, o estranho a observava atentamente.
— Quem fez isso com você? — perguntou de forma direta, os olhos fixos nos dela.
imediatamente balançou a cabeça, negando. Os olhos se encheram de lágrimas outra vez, mas ela desviou o olhar, encarando o copo vazio.
— Não precisa ter medo. — Ele insistiu, a voz mais suave. — Eu só quero ajudar.
Ela permaneceu em silêncio, mordendo o lábio inferior com força. As palavras pareciam presas em sua garganta, mas o olhar firme e paciente do estranho fazia com que parte da sua resistência começasse a ceder.
— Não tem como ninguém me ajudar — sussurrou, a voz falha. — Eu me meti numa enrascada… e preciso sair disso sozinha. Só não sei como.
O estranho inclinou levemente a cabeça, observando-a com mais atenção. Um brilho de compreensão passou por seus olhos.
— Você se meteu com gente barra pesada, não foi?
arregalou os olhos por um instante, surpresa com a precisão dele. Não disse nada, mas o silêncio foi resposta suficiente.
Ele suspirou baixinho, apoiando os cotovelos na mesa.
— Se for isso, talvez você não precise lidar com isso sozinha.
ergueu o olhar, confusa.
— O que você quer dizer?
O estranho respirou fundo, se inclinando um pouco mais sobre a mesa. Abaixou o tom da voz, como se não quisesse ser ouvido por mais ninguém.
— Talvez eu possa te ajudar… se você me ajudar também.
franziu o cenho, desconfiada.
Ele manteve o olhar firme nos olhos dela, respirando fundo.
— Você é maior de idade, né?
A pergunta fez piscar algumas vezes, confusa.
— Sou… tenho vinte e dois anos. Por quê?
Um leve sorriso surgiu no canto dos lábios do estranho.
— Ótimo. Então talvez possamos conversar sobre como sair dessa enrascada juntos.
— Eu ainda não entendi… e eu nem sei seu nome!
Antes que ele respondesse, o garçom chegou com duas xícaras de café, colocando-as suavemente sobre a mesa. O estranho agradeceu com um aceno e esperou o garçom se afastar.
Ele levou a xícara aos lábios, tomou um gole da bebida quente e voltou a encará-la.
— Meu nome é . — Sua voz era calma. — Promete não me julgar nem sair correndo com a minha proposta?
O coração de disparou, e ela permaneceu sem reação. umedeceu os lábios, inclinando-se levemente para frente e abaixando o tom de voz:
— Eu trabalho com conteúdo adulto... preciso de uma estrangeira para gravar comigo. Eu pago sua dívida se você topar. Está metida com agiotas, não está?
arregalou os olhos, perplexa.
— O quê?
Talvez não tenha sido uma boa ideia, mas ele também precisava de ajuda, afinal de contas no mundo do entretenimento adulto, as estrangeiras que eram agenciadas pela mesma agência que ele, provavelmente cobrariam muito caro por uma viagem à Coreia do Sul para uma simples filmagem, e a agência certamente não pagaria por aquilo e muito menos ele.
— Certo, eu vou explicar mais uma vez… — o interrompeu — Qual seu nome mesmo?
— Você e eu não nos conhecemos e você faz uma proposta dessa?! — exclamou, a incredulidade evidente em sua voz. Seu coração ainda estava acelerado, e seu corpo parecia ter entrado em estado de alerta. — Como você espera que eu aceite algo assim?
manteve a expressão serena, como se já esperasse aquela reação. Ele umedeceu os lábios antes de responder, a voz baixa e firme:
— Você também não conhecia os agiotas, e mesmo assim pediu ajuda a eles. Sò me diga o seu nome, eu já me apresentei o suficiente, não acha?
abriu a boca para retrucar, mas se calou. Seu estômago revirou ao perceber que ele estava certo.
— A diferença — ele continuou, apoiando os cotovelos na mesa e se inclinando ligeiramente para frente — é que eu não estou te ameaçando ou te machucando. Eu te acolhi no meio da rua, quando você estava chorando, sem rumo, sem ninguém para te ajudar.
Ela desviou o olhar, sentindo o peso das palavras dele sobre seus ombros.
— Eu sei que não é uma proposta fácil de aceitar. Mas é uma saída.
apertou as mãos sobre o colo, seu coração martelando contra as costelas. Por mais absurda que fosse aquela conversa, a verdade é que ela estava sem opções.
se recostou na cadeira, observando-a em silêncio. Ele sabia que precisava dar espaço para que ela processasse tudo.
— Eu não estou te obrigando a nada. Só estou te dando uma escolha.
O silêncio entre os dois se prolongou, carregado de tensão. sentia a mente girando em mil direções, enquanto aguardava pacientemente sua resposta.
— O quanto você está disposto a pagar? — ela bebeu mais um pouco da água e encarou novamente — Como isso funcionaria?
Logo depois de fazer as perguntas ela sentiu o rosto pegar fogo, provavelmente estava ficando vermelha.
— Não estou aceitando, ok? Preciso de mais detalhes, só isso. Para pensar melhor nessa loucura.
não respondeu imediatamente. Em vez disso, levou a xícara de café aos lábios e tomou um gole, os olhos fixos nela por cima da borda. Ele parecia completamente tranquilo, como se estivesse acostumado com esse tipo de conversa, enquanto , por outro lado, sentia o rosto queimar.
— Antes de qualquer coisa, quero deixar uma coisa bem clara — ele começou, colocando a xícara sobre a mesa com calma. — O seu rosto não vai aparecer em nenhum momento.
franziu a testa, ainda segurando o copo d’água entre os dedos.
— Como assim?
— Exatamente o que eu disse. Sua identidade seria protegida a todo custo. Nada de rostos, nada que possa identificar você. Apenas o corpo.
Ela engoliu seco, desviando o olhar por um instante.
— E... como isso funcionaria? — sua voz saiu mais baixa do que gostaria.
cruzou os braços sobre a mesa.
— Primeiro, teríamos um contrato. Tudo estritamente acordado. O que pode ser feito, o que não pode, quanto você receberia, os prazos, qualquer detalhe que fosse necessário. Tudo ficaria registrado para que você se sentisse segura.
apertou os dedos ao redor do copo, absorvendo cada palavra.
— E quanto você pagaria?
soltou um suspiro leve, como se já tivesse a resposta na ponta da língua.
— Considerando a situação e o fato de que estou te oferecendo total anonimato, eu pagaria um valor justo. Mais do que suficiente para você quitar a dívida e ainda ter um bom respiro financeiro.
Ela sentiu o coração acelerar. Aquilo estava ficando cada vez mais real.
— E quem mais veria isso? — perguntou, hesitante.
— Ninguém além de nós dois — ele garantiu, inclinando-se um pouco para frente. — As gravações são feitas no meu apartamento, com meus próprios equipamentos. Eu mesmo faço tudo. A agência só cuida da parte burocrática, garantindo que o contrato seja cumprido e que o material seja vendido da maneira correta.
mordeu o lábio, sentindo-se presa entre o medo e a possibilidade de resolver seus problemas de uma vez por todas.
percebeu a hesitação dela e se recostou na cadeira, deixando-a processar.
— Como eu disse antes, não estou te obrigando a nada. Mas é uma escolha.
O silêncio entre os dois era quase palpável. sentia que estava prestes a tomar a decisão mais insana da sua vida.
— Quanto você deve? — perguntou antes de colocar a xícara com o chocolate quente ainda mais perto dela — Você tem quanto tempo para pagar?
voltou a marejar os olhos e então encarou a xícara a sua frente.
— Tenho dois dias para pagar e devo 3.549.047,2₩! Meu nome é . — ela finalmente se apresentou.
— E você tem alguma economia guardada, ?
balançou a cabeça, negando com veemência e sentindo o desespero tomar conta de si outra vez.
suspirou pesadamente. Levou a mão ao bolso da calça e retirou o celular.
— Anota o meu número e quando se decidi, entra em contato, melhor você pensar sobre isso sozinha, sem toda essa pressão sobre você. Ou me passa o seu contato, que eu te ligo amanhã.
limpou as lágrimas teimosas que insistiam em cair e pegou o celular dentro da bolsa também. Os dois trocaram rapidamente os contatos e ela levou a xícara aos lábios finalmente.
— Está com fome? — perguntou e negou — Não deve estar com cabeça para isso…
afirmou com a cabeça.
— Você ganha mesmo dinheiro com isso? Digo, muito dinheiro…
observou por um momento antes de responder.
— Hoje em dia, sim — ele disse, inclinando-se levemente para frente. — O mercado mudou bastante nos últimos anos. Antigamente, dependíamos de grandes estúdios, mas agora, com plataformas privadas e assinaturas, quem sabe trabalhar direito consegue ganhar muito dinheiro.
franziu a testa, ainda segurando a xícara quente entre os dedos.
— Tipo... quanto?
esboçou um pequeno sorriso, entendendo a curiosidade dela.
— Depende do criador. Tem gente que ganha o suficiente para viver bem, sem precisar de outro trabalho. Tem gente que ganha milhões. Mas claro, tudo depende do público, do marketing, da exclusividade do conteúdo.
Ela assentiu lentamente, absorvendo as informações.
— Então você vive só disso?
— Sim. Trabalho por conta própria, faço meus horários, sou meu próprio chefe. No fim das contas, me trouxe mais liberdade do que qualquer outro emprego traria.
encarou a xícara por um momento, mordendo o lábio. O dinheiro, a liberdade, a segurança do anonimato... tudo parecia tentador demais para alguém que estava encurralada como ela.
percebeu o conflito interno dela e recostou-se na cadeira.
— Não precisa decidir agora. Mas pense bem, . Pode ser sua chance de sair dessa situação sem ter que correr riscos piores.
Ela respirou fundo e assentiu, sem dizer mais nada. O peso da escolha agora estava todo sobre seus ombros.
Quando eles saíram da cafeteria, olhou ao redor, ainda com medo de estar sendo seguida e isso não passou despercebido por .
— Vou deixar você em segurança na sua casa. Meu carro está estacionado aqui perto, vem.
Será que deveria confiar tanto assim nele? Ele era basicamente um desconhecido que ela só sabia que trabalha com conteúdo adulto, e na verdade, aquilo tudo podia muito bem ser mentira.
— Acho melhor não. Você pode acabar se metendo em encrenca também, vai que ainda estão por perto.
deu de ombros, sem parecer nem um pouco ofendido com a recusa.
— Tudo bem. Sem pressa. Você tem meu número.
Ele enfiou as mãos nos bolsos do casaco e lançou um último olhar para ela.
— Só não suma sem me dar uma resposta, .
Ela engoliu em seco, sentindo o peso das palavras dele. Não era exatamente uma ameaça, mas algo no tom de voz dele fazia parecer que ele realmente esperava que ela levasse a proposta a sério.
— Eu te mando uma mensagem… — murmurou, desviando o olhar.
assentiu e então virou-se, caminhando em direção ao carro sem insistir mais no assunto. ficou ali por alguns segundos, observando-o se afastar, antes de puxar o capuz do casaco sobre a cabeça e seguir na direção oposta.
Ela ainda não tinha certeza do que faria. Mas o tempo estava correndo, e logo, teria que tomar uma decisão.
Quando chegou em seu pequeno apartamento, se livrou das roupas que usava enquanto caminhava direto para o banheiro. Precisa de um banho, precisa tentar se livrar daquelas marcas e pensar com calma no que faria dali para frente.
abriu o chuveiro e deixou a água esquentar enquanto se olhava no espelho. Seu reflexo não parecia o seu. Os olhos estavam inchados, a pele marcada pela brutalidade dos agiotas que a encurralaram mais cedo.
Ela suspirou pesadamente e entrou no box, sentindo a água quente deslizar por seu corpo. Um arrepio percorreu sua espinha ao sentir a ardência das marcas, lembranças vivas do quão perto estivera do pior.
Fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, deixando a água encharcar seus cabelos. O cansaço pesava em seus ombros, e a realidade esmagadora não lhe dava trégua.
Ela não tinha opções. Fugira da para escapar da morte, mas parecia que apenas a havia adiado. Se não pagasse a dívida, seria questão de tempo até que a encontrassem de novo.
Pensou na proposta de . No dinheiro. No que isso significava.
Era um absurdo. Uma loucura. Algo que jamais imaginara para si mesma.
Mas e se não tivesse escolha?
Ela estremeceu.
O que era pior? Se submeter àquilo ou morrer?
garantiu que sua identidade seria protegida. Que tudo seria discreto, profissional. Não era como se estivesse sendo forçada.
A questão era: até onde estava disposta a ir para sobreviver?
abriu os olhos, encarando a parede azulejada à sua frente. A resposta era assustadora.
Ela não sabia.
Terminou o banho depois de mais alguns minutos e então pegou a toalha, enrolando-a em seu corpo e então encarou o próprio reflexo no espelho. passou outra toalha pelos braços, secando-se lentamente, seu reflexo ainda parecia estranho, como se estivesse olhando para outra pessoa—alguém cansada, marcada, perdida.
Suspirou e apertou o tecido da toalha contra o peito. A proposta de ecoava em sua mente como um sussurro insistente.
Ele parecia tão certo de tudo. Falava com a calma de quem já estava acostumado com aquele mundo. Aquele dinheiro, segundo ele, vinha fácil. Mas para ela… era tão simples assim?
Fechou os olhos e mordeu o lábio.
Ela precisava do dinheiro. Urgente. Não tinha alternativas, não tinha ninguém a quem recorrer.
. se lembrou do olhar dele—não havia julgamento, apenas uma espécie de paciência, como se estivesse dando a ela o tempo que precisava para aceitar a realidade. Ele poderia tê-la deixado para trás, poderia ter ignorado seu desespero na rua. Mas não o fez.
Isso significava algo?
Engoliu em seco e desviou o olhar do espelho.
Talvez o destino estivesse brincando com ela. Ou talvez estivesse lhe dando uma última chance de sobreviver.
A questão era: ela teria coragem?
depositou as chaves e a carteira sobre o balcão do apartamento e foi para a cozinha se servir de um copo de água, enquanto despejava o líquido no copo de vidro sua mente vagou para . tomou um gole da água e apoiou-se no balcão, olhando para um ponto fixo qualquer da cozinha.
.
Ele não conseguia tirá-la da cabeça desde que se despediram. O olhar assustado dela, a hesitação, o jeito como segurava a xícara como se fosse a única coisa mantendo-a no lugar.
Ele entendia. Mais do que gostaria de admitir.
Suspirou e passou a mão pelos cabelos. Será que ela entraria em contato? Ele havia deixado claro que a decisão era dela, mas parte de si sabia que ela não tinha muitas opções.
Isso o incomodava.
nunca gostou da ideia de pressionar alguém, muito menos quando sabia que aquela escolha não vinha de um desejo real, mas da necessidade. Mas o que mais ele poderia fazer?
Ele ofereceu uma saída. Um jeito rápido de conseguir o dinheiro e sair daquela situação. Não era o trabalho mais convencional, mas era seguro. Ele garantiria isso.
Mas será que ela confiava nele o suficiente?
Franziu o cenho, sentindo-se irritado sem motivo.
Talvez estivesse se importando demais. E isso era perigoso.
tomou mais um gole da água, sentindo o líquido gelado escorrer por sua garganta enquanto tentava afastar os pensamentos sobre . Não era problema dele. Pelo menos não ainda.
Com um suspiro pesado, guardou a garrafa na geladeira e fechou a porta com um movimento lento. Ele tinha trabalho a fazer.
Caminhou até o quarto, onde mantinha tudo o que precisava para suas gravações. Ligou as luzes, ajustou a câmera e checou rapidamente os equipamentos. Tudo pronto.
retirou a camisa, revelando os músculos bem definidos sob a pele clara, e passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os um pouco.
Mesmo depois de tanto tempo na indústria, havia dias em que ele simplesmente não estava no clima. Hoje era um desses dias.
Mas ele precisava entregar conteúdo. Precisava manter os ganhos constantes.
Soltou um último suspiro e posicionou-se na frente da câmera, pronto para começar.
Passou delicadamente a mão sobre o próprio membro ainda dentro da calça e fechou os olhos, tentando se concentrar, afinal de contas ele precisava entregar um trabalho de qualidade. mordeu o lábio e deixou a cabeça tombar um pouco para trás, os olhos ainda fechados enquanto a mão continuava o movimento lento sobre o tecido da calça. No começo, sua mente estava vazia, mas então, como se fosse inevitável, a imagem dela surgiu.
.
Ele se lembrou do jeito que os olhos dela brilharam, mesmo em meio ao medo e à confusão. O formato deles, ligeiramente arredondado, cheios de expressão, como se carregassem histórias que ela nunca contaria a ninguém.
Os lábios. Rosados, ligeiramente entreabertos quando ela ficou sem palavras depois da proposta. Ele lembrou da forma como ela umedeceu a boca antes de perguntar sobre o dinheiro, um gesto involuntário que ficou gravado em sua memória.
O jeito que ela mordeu a ponta da unha, nervosa, enquanto pensava.
O cabelo dela, um pouco bagunçado por causa do vento quando saíram da cafeteria, algumas mechas caindo sobre o rosto.
A voz dela, um pouco rouca, carregada pelo cansaço e pela tensão, mas ainda assim suave o bastante para arrepiar a pele dele.
abriu os olhos de repente, como se tivesse sido pego no flagra.
Ele estava pensando nela.
Merda.
E o pior de tudo é que parecia estar fazendo efeito, ele sentiu o membro começar a endurecer debaixo do tecido e então ele engoliu seco, mas continuou…voltou a fechar os olhos e a imaginar. respirou fundo, os dedos apertando levemente o volume crescente em sua calça. Ele tentou afastar a imagem dela, mas não conseguiu. A curiosidade tomou conta de seus pensamentos.
Como seria o gosto dos lábios dela?
Talvez fossem doces, como o chocolate quente que ela bebeu mais cedo. Ou talvez tivessem um leve amargor, como o café que ele tomou. Ele imaginou a textura, a forma como aqueles lábios se encaixariam nos dele.
Ela beijaria devagar, saboreando cada segundo, ou o puxaria para perto, intensa e faminta?
A ideia de o beijando com desespero, os dedos cravados em sua nuca, o corpo se moldando contra o dele, fez um arrepio percorrer sua espinha.
mordeu o lábio, os olhos ainda fechados enquanto imaginava deslizar a língua pelos lábios dela, provocando, testando sua reação. Ele se perguntou se ela suspiraria contra sua boca, se corresponderia com urgência ou se o provocaria, deixando-o ansioso por mais.
E se ele mordesse aquele lábio inferior, puxando de leve antes de descer os beijos?
Ele podia imaginar a pele dela sob seus lábios, quente e macia, sua boca explorando o pescoço dela, sentindo a pulsação acelerada ali. Talvez ela arquejasse, talvez inclinasse a cabeça para o lado, lhe dando mais espaço para continuar…
soltou um suspiro pesado, sentindo o desejo crescer.
Droga.
Ele abriu os olhos de repente, forçando-se a sair daquele devaneio. Ele precisava gravar, precisava se concentrar no que fazia de melhor, mas agora… agora ele estava inquieto e duro.
E tudo por causa dela.
A prévia dos vídeos sempre era postada de forma gratuita, mas se as pessoas que consumiam seu conteúdo quisessem a versão completa e mais detalhada precisavam pagar. E por sorte hoje em dia muitas pessoas novas estavam adquirindo a assinatura. Então ele sempre tinha o que fazer, afinal de contas ele precisava manter o público que já tinha e conquistar novos, e para isso precisava produzir muito.
80% do seu público era feminino, especialmente estrangeiras. Para esse tipo de público os vídeos produzidos e que eram mais consumidos eram os que ele estava sozinho, se tocando e conversando com quem assistia, numa espécie de “masturbação guiada”, claro que as mulheres também adoravam vê-lo com outra mulher também, e ele conseguia algumas parcerias vira e mexe.
15% eram homens assumidamente gays que também consumiam muito seus vídeos sozinho e os que ele gravava com outros homens esporadicamente. Sim, isso mesmo: naquele nicho do entretenimento adulto, se você se prendesse exclusivamente em conteúdos heteronormativos poderia perder dinheiro e ele sempre gostou de dinheiro, então porque não?
E outros 5% eram os homens héteros que consumiam basicamente apenas conteúdo que ele postava com outras mulheres.
Ultimamente, os comentários em seus vídeos estavam cada vez mais lotados de um tipo específico de pedido:
"Quando vai gravar com uma estrangeira?"
"Imagina um vídeo com uma ocidental? Ia ser um estouro!"
"Deixa a gente ver esse contraste, !"
E ele sabia exatamente o motivo por trás disso.
Com um público majoritariamente feminino e estrangeiro, era natural que essas mulheres quisessem se ver representadas, ou até mesmo fantasiassem estar no lugar da parceira do vídeo. Era uma forma de se imaginar naquela situação — no toque, no ritmo, no contraste entre culturas, corpos e idiomas. Uma curiosidade que ele entendia e, claro, pretendia explorar.
Muitas seguidoras se “voluntariavam” nos comentários e mensagens privadas, dizendo que topariam gravar com ele se estivessem na Coreia. Outras mandavam apenas sugestões ousadas, quase sempre anônimas, mas com detalhes o suficiente para ele perceber o quanto estavam interessadas.
Mas ele não queria qualquer uma.
Por isso mesmo, tinha surgido como um raio inesperado — uma estrangeira já ali, em solo coreano, misteriosa, vulnerável, e com um motivo urgente para aceitar. A química não era algo que se forçava, e por mais que ela ainda estivesse hesitante, ele sentia que havia potencial ali. Algo genuíno. Algo que as câmeras captariam com força.
passou a mão pelo queixo, pensativo.
Mas ele precisava de uma resposta. Logo.
Se não topasse em breve, ele teria que considerar outras opções — talvez até bancar uma parceira de fora, como algumas agências sugeriram. Mas isso custava tempo, dinheiro e, pior, envolvia logística demais.
E ele não tinha paciência para logística.
A verdade é que o nome de já estava ficando preso na mente dele mais do que deveria. E isso… era um problema.
No mesmo instante em que passava os olhos pelos comentários em seu último vídeo, pensando na resposta de que ainda não havia chegado, ela estava em seu apartamento, deitada no colchão fino, encarando o teto com os olhos arregalados.
O som do interfone ecoou no ambiente silencioso, fazendo seu corpo pular como se tivesse levado um choque. Ela não esperava ninguém. E sabia que, quando não se espera... é porque o pior vem.
Com o coração acelerado, ela se arrastou até o interfone e apertou o botão com os dedos trêmulos.
— Quem é? — a voz dela saiu falha.
— Você sabe quem é, docinho — respondeu uma voz masculina, arrastada, como se se divertisse com o pânico dela. — Dois dias, lembra? Hoje conta. Tô só passando pra avisar que a gente não esquece. Nem perdoa. E se não tiver o dinheiro… amanhã você acorda com menos dentes.
O clique do interfone sendo desligado soou como um tiro no peito de .
Ela recuou, cambaleando até o sofá, onde desabou em silêncio. O medo corroía tudo. A garganta apertada, o estômago revirando. Ela tentou conter as lágrimas, mas elas vieram mesmo assim, quentes e silenciosas.
Foi então que viu o celular sobre a mesinha.
O nome dele ainda estava salvo: .
Ela pegou o aparelho com as mãos tremendo e, por um segundo, hesitou. Pensou no que aquilo significava. Em como não era o que ela queria, mas era o que ela precisava.
Porque, naquele momento, entre morrer nas mãos de agiotas e gravar um vídeo que não mostraria nem o rosto... a decisão estava feita.
Ela respirou fundo, digitou a mensagem com os dedos trêmulos e apertou “enviar”.
: Eu topo.
Mal sabia ela que, do outro lado da cidade, assim que a notificação apareceu na tela do celular, não conseguiu esconder o sorriso de canto que surgiu em seus lábios.
Finalmente.
não perdeu tempo.
Poucos segundos depois de ler a mensagem, ele já estava digitando a resposta com precisão e objetividade.
: Ótimo. Já deixei tudo preparado. Podemos nos encontrar hoje mesmo?
: Sim. Só me diga o lugar.
Em menos de uma hora, estavam sentados novamente à mesma mesa da cafeteria em que se viram pela primeira vez. Mas dessa vez, estava mais alerta, embora ainda trêmula. Tinha o casaco fechado até o pescoço, e as mãos entrelaçadas sobre o colo. , por outro lado, estava calmo — profissional até demais para alguém prestes a fazer uma proposta tão íntima.
Ele abriu a mochila que trazia consigo e retirou uma pasta transparente e de dentro dela, duas vias do contrato, e uma caneta.
— Como eu te disse, tudo será feito com clareza. Nada de surpresas. Aqui está o contrato que diz exatamente o que vai acontecer, os limites definidos, o pagamento, os direitos de imagem — ou, no seu caso, a ausência deles.
Ele empurrou o documento na direção dela.
— Eu li e reli — continuou — com minha agência e advogado. Está tudo legalizado. Você não será identificada. Nada de rosto, nomes, localização, nada. O foco é no corpo, no toque, na conexão. E você pode parar a qualquer momento.
pegou os papéis com mãos hesitantes e começou a ler. O contrato era direto. Especificava que ela teria controle sobre o que aconteceria, que nenhuma imagem seria publicada sem o consentimento final dela, que o pagamento seria feito antes da gravação. E ali, com letras bem visíveis, estava o valor: 6.000.000₩.
— Isso… isso é bem mais do que eu devo. — ela sussurrou, os olhos marejando novamente.
assentiu.
— Porque eu não quero que você se sinta comprada. Quero que você sinta que está fazendo isso com dignidade. Você não me deve nada depois. O valor cobre a gravação e o seu silêncio.
Ela mordeu o lábio e continuou lendo cada cláusula, com a respiração pesada. Quando chegou ao fim, ergueu os olhos para ele.
— E você também assina?
— Claro. — Ele puxou a outra via. — Aqui está a minha. Já assinada. Quando você estiver pronta, assina a sua também.
pegou a caneta, hesitou por um último segundo… e então assinou.
O nome dela, escrito em letras firmes, foi a confirmação de que não havia mais volta.
recolheu os papeis com cuidado e os guardou na pasta.
— Vamos fazer isso do jeito certo. Você vai ver.
apenas assentiu, engolindo em seco. Ainda não sabia o que sentir — alívio, medo, ou ambos ao mesmo tempo.
Mas agora… tudo estava em movimento.
Após os dois assinarem os contratos e guardar sua via na pasta, ele se recostou na cadeira e observou por um instante. Ela ainda parecia tensa, mas havia algo diferente em seu olhar — talvez determinação.
— Podemos fazer isso ainda hoje, se você se sentir pronta — ele disse com calma. — Quanto mais rápido, melhor pra você. E pra mim também.
hesitou por alguns segundos, mas acabou assentindo.
— Hoje à noite, então.
— Te mando o endereço mais tarde. É perto do centro. Apartamento discreto, sem movimentação suspeita.
Ela assentiu novamente, silenciosamente. entendeu que não precisava dizer mais nada naquele momento. Então se levantaram e se despediram com um breve aceno de cabeça.
— Se cuida, .
— Você também.
Ao chegar em casa, jogou a bolsa no sofá e soltou o corpo ali mesmo, tentando respirar fundo, mas foi interrompida por uma notificação no celular.
Era uma mensagem dele.
: Acabei de transferir metade do valor como garantia. Confere aí. É pra você pagar parte da dívida e respirar melhor. O restante você recebe assim que a gravação terminar. Te mandei também o endereço e o horário combinado.
Ela arregalou os olhos e abriu o aplicativo do banco. A quantia estava lá. 3.000.000₩.
levou a mão à boca, surpresa com a pontualidade e… a confiança. Ele não precisava ter feito aquilo. Mas fez.
Em poucos minutos, ela havia feito a transferência para a conta dos agiotas — não toda a dívida, mas uma boa parte. O suficiente para comprar tempo.
Pela primeira vez em semanas, sentiu o peito um pouco menos esmagado.
Sentada na beira da cama, com o celular ainda nas mãos, a curiosidade bateu mais forte do que o medo.
Ela digitou o nome dele na aba de pesquisa da plataforma de vídeos adultos que ele havia mencionado por alto durante o encontro.
Em poucos minutos, ela havia feito a transferência para a conta dos agiotas — não toda a dívida, mas uma boa parte. O suficiente para comprar tempo.
Pela primeira vez em semanas, sentiu o peito um pouco menos esmagado.
Sentada na beira da cama, com o celular ainda nas mãos, a curiosidade bateu mais forte do que o medo.
Ela digitou o nome dele na aba de pesquisa da plataforma de vídeos adultos que ela havia lido por alto no contrato.
Não demorou para o perfil aparecer. A imagem de capa era discreta, sensual, sem ser vulgar. Tinha milhares de seguidores. E os vídeos, todos bem produzidos, com iluminação suave, estética limpa e uma energia que ela não esperava.
clicou em um dos vídeos gratuitos. Era ele, sozinho, olhando direto para a câmera. A forma como falava, como se estivesse conversando com quem assistia, era íntima… cativante.
Ela engoliu em seco, sentindo um calor estranho subir pelo corpo.
— Merda… — sussurrou.
Agora ela entendia por que tanta gente pagava por aquilo. E essa noite, seria ela do outro lado da câmera com ele.
O vagão do metrô balançava suavemente, mas o coração de parecia muito mais instável do que qualquer movimento do trem. Ela estava sentada perto da janela, com os fones no ouvido, embora nenhuma música tocasse. Era só uma forma de se proteger do mundo ao redor, de fingir uma calma que não existia.
O celular estava guardado na bolsa, mas as imagens que havia visto mais cedo continuavam rodando vivas na mente.
Ela tentou se concentrar em qualquer outra coisa — nas luzes que passavam pela janela, nos rostos cansados à sua frente, na voz automática que anunciava a próxima estação — mas tudo levava de volta a ele.
.
A forma como ele olhava para a câmera. Era como se, por alguns minutos, tivesse olhado diretamente para ela.
Seu tom de voz baixo, carregado de intenção. As palavras escolhidas com cuidado, como se estivesse conduzindo quem assistia a uma fantasia montada sob medida. Não havia vulgaridade. Era sensualidade crua e confiante.
O modo como suas mãos deslizavam pelo próprio corpo, os sussurros, o controle absoluto sobre cada movimento… aquilo mexeu com ela de um jeito que ela não esperava — e não queria admitir.
Era diferente de tudo que já tinha visto.
Ela mordeu o lábio e apertou as coxas discretamente, como se seu próprio corpo estivesse começando a reagir só de lembrar. O calor em sua pele crescia, e ela tentou inspirar fundo.
Não era só vergonha ou nervosismo.
Era algo mais profundo.
Um tipo de antecipação.
Ela não sabia o que a esperava naquela noite, mas uma parte dela… queria saber.
O sol já havia desaparecido no horizonte quando chegou ao endereço enviado por . O prédio era discreto, limpo, com aparência moderna e tranquila — nada que chamasse atenção. Um homem comum não imaginaria que, atrás de uma daquelas portas, conteúdos íntimos e desejados por milhares estavam sendo gravados.
Ela parou em frente a portaria do prédio e apertou o número do apartamento dele no interfone. A voz dele dizendo que estava descendo logo foi ouvida por ela.
Quando ele apareceu, vestindo uma calça preta e uma camiseta simples, lisa e da mesma cor da calça, não conseguiu evitar de passear os olhos rapidamente pelo corpo dele, se lembrando sem querer de como ele era sem aquelas roupas. Umedeceu os lábios e engoliu seco.
— Oi — disse ele, cabelo um pouco bagunçado, como se tivesse acabado de sair do banho. — Entra.
Ela atravessou o pequeno portão de grades marrom e então mordeu o lábio sentindo o estômago revirar de nervosismo. Eles caminharam juntos até o elevador e entraram. Silêncio. Chegaram ao andar dele e o seguiu até o corredor que levava ao apartamento de número 200.
entrou devagar, olhando ao redor. O apartamento era impecavelmente organizado, com tons neutros, iluminação aconchegante e um aroma suave no ar. Tudo era muito… normal. Quase reconfortante.
— Quer beber alguma coisa antes? Água, suco, chá… vinho? — ele ofereceu, fechando a porta atrás dela.
— Água, por favor — respondeu com a voz baixa, mas firme.
foi até a cozinha e trouxe um copo, entregando a ela com um meio sorriso gentil.
— Obrigada.
Ela bebeu em silêncio, ainda observando tudo com uma atenção nervosa. Percebeu os equipamentos na sala — câmera, tripé, algumas luzes posicionadas estrategicamente. Nada ameaçador. Tudo profissional.
— Eu sei que deve estar com mil coisas passando pela cabeça — ele disse, pegando um tablet que estava sobre a bancada. — Então antes de tudo, quero que veja isso. Aqui tem o roteiro básico do que vamos gravar hoje. Você pode mudar qualquer coisa. Cortar, acrescentar, refazer. A gente só começa quando você estiver confortável.
Ele entregou o aparelho nas mãos dela, e deslizou os dedos pela tela. As cenas eram descritas com clareza, em uma ordem simples, sem nada forçado ou agressivo. Apenas um fluxo de toques, olhares, beijos… e a sugestão de conexão real. Tudo respeitoso, com paradas incluídas sempre que ela quisesse.
Ela engoliu em seco e assentiu.
— Eu… acho que consigo. — Seus olhos buscaram os dele. — Só estou com medo.
— Eu sei — ele respondeu, se aproximando um pouco mais, mas ainda mantendo distância respeitosa. — E é por isso que a gente vai devagar. Você está no controle o tempo todo.
respirou fundo.
Ela estava ali. E dessa vez, não por obrigação, mas por escolha.
Mesmo que essa escolha fosse a mais louca de sua vida.
terminou de ler o roteiro e passou o tablet de volta, ainda segurando o copo de água com a outra mão. Seus olhos vagaram pela sala até pararem discretamente nos equipamentos.
— A gente começa… vestidos mesmo? — perguntou, tentando soar casual, mas a tensão em sua voz a traiu. — Ou você já quer que eu tire a roupa? Sei lá, pra uma… avaliação ou algo do tipo. Vai que eu não esteja à altura, né?
Ela riu de forma nervosa, desviando o olhar, mas antes que o silêncio se prolongasse, soltou uma risada leve, sincera, e balançou a cabeça.
— … — ele disse, ainda com um sorriso no rosto — Acredito que é mais fácil começarmos vestidos. É bem mais confortável pra você.
Ela ergueu os olhos e encontrou o olhar dele, que agora estava mais suave.
— E eu não vou avaliar nada — completou ele, com convicção — Tenho certeza de que você está mais do que à altura do que meus seguidores querem ver.
As bochechas dela coraram de leve, e, pela primeira vez desde que entrou no apartamento, um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
— Você fala isso com tanta certeza… — murmurou.
— Porque é verdade. E, sinceramente? — ele deu de ombros, ainda com aquele mesmo tom tranquilo — Confiança é muito mais sexy do que qualquer padrão de corpo. Se você confiar em si mesma, eles vão sentir.
Ela assentiu devagar, absorvendo cada palavra.
Sim, ainda estava nervosa.
Mas pela primeira vez, sentia que não seria exposta. Seria guiada.
E, talvez… até desejada.
— Vamos para o quarto? — perguntou com suavidade, estendendo uma das mãos na direção dela, não como quem exige, mas como quem convida.
hesitou por um segundo antes de aceitar. Seus dedos tocaram os dele, quentes e firmes, e ela se deixou guiar pelo corredor estreito até o cômodo que seria o palco daquela experiência.
O quarto era limpo, com uma cama de lençóis brancos e iluminação suave já posicionada nos cantos, criando um clima quase cinematográfico. Nada parecia vulgar — pelo contrário, o ambiente transmitia uma estética delicada, cuidadosa, quase íntima.
— Pode se deitar? — ele pediu, apontando para o centro da cama.
Ela arqueou uma sobrancelha, confusa.
— Agora?
— Só pra eu ajustar o ângulo da câmera — ele explicou, já pegando o tripé e olhando pelo visor. — Quero garantir que seu rosto não apareça em nenhum momento, nem por acidente.
assentiu, engolindo em seco, e caminhou até a cama. Sentou-se primeiro com cuidado e depois deitou-se de costas, mantendo o casaco fechado ao redor do corpo. O colchão era macio, e por um instante, ela fechou os olhos, tentando respirar fundo.
Ouviu o clique da lente sendo girada, depois o som do tripé sendo movido para um lado e depois para o outro.
— Isso — murmurou , mais para si mesmo. — Perfeito. Sua cabeça vai ficar fora do quadro o tempo todo. E os cortes que eu fizer depois vão manter o foco no toque, no movimento... na tensão. Não se preocupe com o resto.
abriu os olhos e olhou para ele. Ele estava completamente concentrado, profissional, sem nenhum traço de julgamento no olhar.
— Se sentir que precisa parar a qualquer momento, a palavra é “âmbar”, tá? Nem precisa explicar. A gente pausa.
Ela assentiu.
— Entendi.
sorriu de leve, satisfeito.
— Ótimo. Agora… quando estiver pronta, me avisa. A gente começa devagar. No seu tempo.
se sentou lentamente, o coração batendo com força no peito. A tensão estava ali — o medo, a ansiedade — mas também havia algo novo surgindo. Uma sensação de controle.
Ela respirou fundo e disse, com a voz baixa, mas decidida:
— Estou pronta.
posicionou a câmera com precisão, checando mais uma vez o enquadramento. Apertou o botão de gravação e a luz vermelha se acendeu silenciosamente no topo do equipamento.
, deitada sobre os lençóis brancos, se ajeitou com calma, encostando as costas na cabeceira da cama. Suas pernas estavam dobradas e juntas, e as mãos repousavam nervosas sobre o colo. Ela olhou para ele, sentindo o coração acelerar no peito.
caminhou até ela com passos lentos, a expressão mais séria agora. Seu olhar estava concentrado, mas não havia frieza nele — havia intenção. Desejo contido.
Ele parou diante da cama e subiu devagar, com o joelho afundando suavemente o colchão enquanto se aproximava do corpo dela.
— Tudo bem? — murmurou, apenas para ela escutar.
assentiu com a cabeça. A respiração dela já estava um pouco mais pesada.
ergueu a mão, e com delicadeza, pousou os dedos na lateral do pescoço dela. A palma de sua mão estava quente e firme, envolvendo aquele espaço com um cuidado quase reverente.
Ela sentiu um arrepio percorrer o corpo. A conexão do toque foi imediata.
Ele se aproximou ainda mais, seus rostos a poucos centímetros de distância. O olhar dele estava cravado no dela — intenso, penetrante, como se dissesse mais do que qualquer palavra poderia.
E então, finalmente, seus lábios se encontraram.
O beijo começou devagar, como uma promessa. Ele não tinha pressa. Queria que ela sentisse. Que confiasse. A mão no pescoço a segurava com firmeza, mas não com força. Era como se ele a ancorasse ali, no presente, longe do medo, da dívida, do mundo.
fechou os olhos, entregando-se por um instante àquele toque. O gosto dos lábios dele era quente, suave, envolvente. E por mais que tudo aquilo ainda parecesse surreal, naquele momento, ela não se sentia fora do lugar.
Ela se sentia... presente.
Os lábios de se moviam com precisão, mas sem agressividade. Ele sabia exatamente como conduzir, como explorar sem ultrapassar, como fazer cada segundo do beijo parecer necessário. sentia-se imersa em uma onda morna e constante, como se todo o resto tivesse silenciado ao redor.
O toque da mão dele no pescoço desceu devagar até o ombro dela, seus dedos percorrendo o tecido da blusa como se estivessem desenhando o caminho antes de explorar. A outra mão apoiou-se no colchão, ao lado do corpo dela, aproximando ainda mais os dois.
O beijo foi ficando mais profundo. A língua dele roçou levemente os lábios dela, pedindo passagem. cedeu, sentindo o calor subir por sua pele como se estivesse sendo acesa por dentro. Havia algo na forma como ele a beijava — um cuidado firme, um domínio suave — que fazia sua resistência derreter aos poucos.
levou uma das mãos à nuca dele, puxando-o com mais força, sentindo a própria urgência crescer. O nervosismo ainda estava lá, sim, mas misturado agora com algo muito mais instintivo. Desejo cru.
Os beijos desceram pelo maxilar dela, então pelo pescoço. A boca de era quente e envolvente, marcando um caminho lento até a clavícula, onde ele depositou beijos suaves, quase silenciosos, fazendo-a suspirar.
Os dedos dele, antes sobre o tecido, começaram a deslizar com mais confiança. Não havia pressa — apenas a certeza de que cada movimento era planejado, estudado, feito para deixá-la confortável e entregue.
A câmera continuava gravando em silêncio, captando a intensidade daquele momento, mas para , ela já não existia mais.
Havia apenas ele.
E o modo como, com gestos tão precisos, a fazia esquecer o medo, a dívida, o mundo.
voltou a subir os lábios até os dela, retomando o beijo com mais intensidade. Não havia mais hesitação. Seus corpos já se entendiam. A urgência era clara, mas ainda assim, controlada. Cada movimento parecia milimetricamente calculado para provocar, testar os limites — e ultrapassá-los aos poucos.
A mão dele deslizou da cintura até a barra da blusa dela, levantando-a com lentidão. Seus dedos roçaram a pele da barriga, e prendeu a respiração. O toque era quente e firme, mas ainda gentil. Como se ele soubesse que cada centímetro exigia permissão — mesmo que silenciosa.
Ela ergueu os braços devagar, permitindo que ele a ajudasse a tirar a peça. Agora, com a blusa deixada de lado, a observou com atenção, sem pressa alguma. Não havia julgamento em seus olhos — apenas desejo puro e uma admiração silenciosa.
— Linda… — murmurou, baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse.
A palavra a fez estremecer, mais do que qualquer toque.
Ele voltou a beijá-la no pescoço, então entre os seios ainda cobertos pelo sutiã. Suas mãos passaram pelas laterais do corpo dela, subindo e descendo com calma, despertando reações involuntárias — os pelos arrepiados, a pele quente, os suspiros curtos que já não conseguia controlar.
desceu os beijos até a barriga, devagar, como se quisesse memorizar o caminho. Os dedos dele estavam agora na barra da calça que ela usava, e quando ele a olhou, pedindo permissão apenas com o olhar, ela assentiu, mordendo o lábio.
A peça foi descendo pelas pernas finas, revelando a pele pálida sob a luz suave.
agora estava quase nua, e mesmo que seu coração ainda batesse descompassado, ela não sentia vergonha — sentia… poder.
se posicionou novamente entre as pernas dela, subindo os beijos pelas coxas com uma reverência silenciosa, como se cada toque fosse uma entrega mútua. Os olhos dele voltaram aos dela por um instante.
— Lembra da palavra de segurança? — perguntou com a voz baixa, a respiração dele já quente contra sua pele.
— Âmbar — ela respondeu, quase num sussurro.
— Exato — ele sorriu, e então voltou a beijá-la.
A entrega estava acontecendo. E com ela, o medo se desfazia pouco a pouco, substituído por uma sensação nova, arrebatadora — de desejo, de controle, de liberdade.
voltou a subir o corpo, seus lábios encontrando novamente os de , agora com mais intensidade. Ela sentia as mãos dele percorrerem suas costas, ágeis, mas cuidadosas, até alcançarem o fecho do sutiã.
Ele hesitou por um segundo, dando espaço caso ela quisesse mudar de ideia. Mas , agora entregue ao momento, apenas ergueu os braços, os olhos fixos nos dele.
O sutiã deslizou por seus ombros com leveza, revelando a pele sensível e o cuidado recente: a peça era nova, rendada, em um tom vinho profundo, que contrastava lindamente com a pele dela. havia escolhido com atenção. Com o dinheiro que transferiu, comprou algo que a fizesse sentir bonita, segura — sensual. Nada daquelas peças velhas e gastas que carregavam lembranças de outros tempos.
segurou o tecido com delicadeza, como se compreendesse o significado daquilo, e o deixou de lado. Seus olhos desceram pelo corpo dela e pararam, por um instante mais longo, logo abaixo dos seios.
Duas tatuagens pequenas, porém marcantes, adornavam a pele delicada. Abaixo do seio direito, a palavra em letras finas e bem desenhadas: DIVINE.
E do lado esquerdo, outra, mais ousada, como uma espécie de sussurro em forma de declaração:
be lilith. never eve.
não disfarçou o sorriso, e seus olhos voltaram aos dela com uma mistura de surpresa e admiração.
— Isso… — ele murmurou, passando os dedos suavemente próximo à pele marcada pela tinta — é ainda mais interessante do que eu esperava.
mordeu o lábio, entre envergonhada e satisfeita com a reação dele.
— Fiz quando cheguei aqui… — sussurrou. — Queria lembrar a mim mesma do que sou capaz. E do que eu nunca mais quero ser.
assentiu, como se entendesse mais do que dizia em palavras. Ele se inclinou e depositou um beijo suave logo abaixo da tatuagem DIVINE, depois outro sob a frase rebelde do lado esquerdo, como uma reverência silenciosa à escolha dela.
— Isso vai deixar todo mundo maluco — ele disse contra a pele dela, a voz baixa, carregada de desejo.
sentiu um arrepio tomar conta do corpo inteiro. E, pela primeira vez, percebeu que não era apenas uma mulher endividada tentando sobreviver. Ali, naquele momento, ela era algo mais. Algo desejado. Algo... divino.