Revisada por vênus. 🛰️ até o capítulo 4 | Aurora Boreal 💫 do capítulo 5 em diante.
Atualizada em: 07/04/2025
Dois dias depois, meu celular voltou a tocar. Era difícil eu receber ligações então já sabia quem era mesmo antes de atender.
— Oi. Este telefone ainda é da ? — A voz falou inteiramente em inglês. Graças ao esforço absurdo de minha mãe, e não graças ao meu pai americano ausente, meu inglês era ótimo, obrigada.
— Sim, este telefone ainda é meu. Quem deseja falar? — Minha voz saiu especialmente rude, já eu sabia exatamente quem estava falando do outro lado. — Oi, , aqui é o Tobey, você se lembra de mim? Seu meio-irmão? — Perguntou a voz dele. Não consegui decifrar se era algum tipo de preocupação encubada ou apenas uma atuação boba para me fazer amolecer.
— Lembro sim. Meu irmão riquinho e famoso que nunca deu a mínima para mim, ou para a minha família aqui no Brasil. Estava muito ocupado filmando seu milésimo filme do Homem-Aranha que não conseguiu ligar para ver se eu havia morrido de Covid? — Soltei tudo sem dar um puxão de ar, que no fim da frase a voz foi perdendo a força.
— Uau. — Ele apenas disse, provavelmente se arrependendo de ter ligado.
— O que você quer? — Perguntei, arrumando minhas coisas pois eu tinha um encontro marcado com meus amigos. Abri o guarda-roupa enquanto ele gaguejava sem saber por onde começar.
— Bom, eu... Primeiramente, eu gostaria de me desculpar por todos estes anos que fui absolutamente negligente quanto à nossa família. Sei principalmente que nosso pai não foi um homem que honrou sua palavra, e muito menos deu qualquer tipo de garantia para a sua família. Não consigo nem imaginar como deve ter sido difícil a sua vida, com um pai ausente. E novamente, peço desculpas por não ter feito o papel de irmão mais velho. — Ele disse, tão rápido quanto eu. Mas não tão despreparado. Ele provavelmente esperava que eu, no mínimo, fosse pedir uma explicação plausível.
— Maguire, eu não espero nada de vocês há anos. Minha vida seguiu sim, sem meu irmão mais velho e meu pai de sangue. Mas, não graças a vocês, não cresci sem um pai. Cresci com uma mãe independente que fez tudo por mim, que depois de arrumar a bagunça que vocês fizeram, casou-se novamente com o homem que hoje é o meu pai. — Expliquei-me, sem querer ser bruta ou ignorante. Apenas falei a verdade.
— , eu... — Ele tentou falar. Interrompi:
— Não me chame de . — Agora sim eu estava sendo bruta e ignorante. Ele pigarreou e continuou:
— , eu sinto muito por isso. Do fundo do meu coração. Eu sou um cara idiota e mesquinho, que a fama subiu à cabeça e acabei esquecendo de onde eu vim. Não posso me desculpar pelo meu pai, ele faleceu há alguns anos, e se ele tivesse algo para falar com você, creio que o teria feito, como estou fazendo agora. — Ele suspirou. Parecia cansado, talvez perdido. Minha cabeça foi longe, enquanto minha mão passava pelas roupas do guarda-roupa penduradas no cabide. Passei poucos anos da minha vida com Tobey. Quando nasci, ele tinha 19 anos, já tinha uma carreira consolidada em Hollywood, mas era um adolescente reservado e gostou de passar um tempo com a irmãzinha. Seu pai e minha mãe se conheceram no Brasil, ela era garçonete e ele um dono de empresa de construção civil que estava estudando as possibilidades de abrir uma empresa no país do carnaval. Se apaixonaram e me tiveram. Minha mãe, a inocente garçonete, não se casou com ele no papel, então o homem acabou abandonando-nos quando eu tinha quatro anos. Tobey enviava algumas cartinhas no Natal até fazer uns vinte e três anos, e depois disso, nunca mais manteve contato.
Minha mãe sofreu muito com aquela perda, e custou a se curar daquela ferida aberta. Fiz ela me levar ao cinema para assistir todos os filmes do “maninho”, mesmo que ninguém acreditasse de verdade em mim.
— Tobey, eu tenho 28 anos. Não tenho mais idade para ficar brincando de família com você. Sei que você sente muito, e no fundo isso mexe comigo, mas você não acha que é muito tarde? Você está com o quê? 40 anos? Está casado e com filhos? Olha quanta parte de nós que perdemos. — Respondi depois do meu devaneio. Ouvi um suspiro do outro lado da linha. — Me responde de verdade, para que você ligou?
— Eu quero reaver nossa amizade. Quero ter você na minha vida de novo. Tenho dois filhos lindos que eu gostaria que você conhecesse. — Ele mal me deixou terminar a frase. A urgência na voz dele me mostrava um desespero quase palpável. — Não sei se consigo fazer isso, minha vida está muito bem estruturada agora. Tenho uma casa, um bom emprego, minha família me ama e me apoia em qualquer decisão. Você não pode me ligar depois de vinte anos e fingir que sempre fez parte disso.
— Eu sei que não posso mudar o que foi feito, mas me dá uma chance de mudar o futuro. Me dá quinze dias. Me dá uma oportunidade de te mostrar que ainda sou seu irmão. — A voz dele suplicava. Meus olhos se encheram de água. Minha mãe era a única coisa que passava na minha cabeça. Se ela ficasse magoada com isto, eu nunca iria me perdoar.
Fiquei em silêncio e perdi a noção do tempo, enquanto minha cabeça martelava com a sensação de que ele realmente sentia muito. Por que ele iria puxar assunto depois de todo esse tempo?
— Por favor, , me deixa fazer a coisa certa, para variar.
— Preciso falar com a minha mãe primeiro. Se ela achar uma péssima ideia, pode esquecer. — Porra, obrigado! Isso! Você está me fazendo muito feliz. Obrigado! Obrigado! — Ele disse a segunda palavra em português e meu coração de pedra amoleceu por um momento.
— Não se anime tanto. Ainda estou brava com você. — Desliguei o telefone e joguei-me na cama, completamente absorta em pensamentos.
Desci do avião com certa urgência. Depois da primeira conversa, eu e Tobey acabamos nos aproximando bastante, fizemos ligações de vídeo e conversamos por horas, colocando todas as fofocas em dia.
Na realidade, acabei o conhecendo de verdade agora, o que eu lembrava era algo distorcido e infantil da minha cabeça de quatro anos de idade. Porém, tenho muito mais lembranças dele do que do meu verdadeiro pai. Isto é, provavelmente, proveniente de minha mãe, que basicamente excluiu aquele homem da minha vida. Obrigada, mãe.
Minha mãe ficou chocada num primeiro momento, depois amoleceu o coração assim como eu. Acho que puxei esse coração mole dela, pois na primeira chamada de vídeo que fiz com eles, minha mãe desatou a chorar e agradecer por ele ter vindo atrás de nós depois de todo este tempo. Tobey foi muito simpático com ela e extremamente empolgado para falar português, mas creio que ele não andou praticando nesse tempo em que estivemos afastados e tudo acabou sendo um grande fiasco. Fui a intérprete. Essa ligação foi extremamente dramática e muito importante para a minha decisão de ir até ele no fim das contas.
Meu coração saía pela boca enquanto eu andava pela sala de desembarque. Engoli a seco quando vi várias pessoas esperando seus respectivos colegas com plaquinhas e sorrisos com olhos sinceros, e a plaquinha que segurava “ ” não era diferente. Ele usava um boné azul escuro na cabeça, uma máscara descartável no rosto, um casaco de moletom marrom e calça jeans, um cara comum na multidão. Não corri ao seu encontro para não chamar a atenção, mas o abracei forte quando cheguei ao seu alcance. Nunca em toda minha vida eu achei que um abraço pudesse transmitir tantos sentimentos, até o dia em que dei esse abraço. O ato durou pelo menos dois minutos inteiros e não foi de maneira alguma constrangedor, não falamos absolutamente nada e aquilo me tranquilizava. Tobey fungou e só assim percebi que ele chorava feito um bebê. Cortei o abraço e sorri, passando a mão no seu ombro em um ato de carinho sem proximidade.
— Eu tenho tanta coisa para dizer, que nem sei por onde começar. — Falou, fungando. Os olhos marejados de uma felicidade implícita em sua fala. Nesse momento, percebi que fiz a coisa certa. Meu irmão estava solitário de um recém divórcio, a casa vazia, as crianças indo apenas nos fins de semana marcados. Meu coração aqueceu dentro do meu peito, e doeu de saber que eu poderia ter feito alguma coisa antes dele vir falar comigo. Não o fiz por orgulho. — Não pensa nisso agora, vamos atrás da minha mala e vamos sair daqui antes que te reconheçam. — Eu disse, indicando a direção oposta de onde eu havia acabado de vir.
— Você é muito ingênua. Já me reconheceram desde que saí de casa. Estão em todos os lugares, olha. — Apontou para um homem que estava à nossa esquerda com uma câmera nas mãos e deu um tchauzinho. — Piorou bastante depois dos boatos do novo filme do Homem-Aranha, estão atrás de algum encontro que eu tenha com o Tom Holland ou o Andrew Garfield, mas ainda estamos mantendo a discrição. O filme lançou aqui há apenas duas semanas e muita gente não viu, vai melhorar depois do Red Carpet.
— Que absurdo! — Exclamei indignada. Ele deu de ombros e seguimos para pegar minha mala e irmos para a sua casa.
— Então, — Disse ele, quando chegamos à sua casa. — Seja bem-vinda à minha humilde residência. Deixa eu já te levar para o seu quarto para você já deixar as suas coisas lá. Depois podemos pedir uma pizza, o que acha? Está muito cansada? Se não, podemos sair para jantar também, posso te mostrar a cidade. Los Angeles não é tão famosa quanto Nova Iorque, mas tem o seu charme. — Estou meio cansada da viagem sim, podemos fazer algo mais caseiro, se você não se importa. — Falei, enquanto subíamos as escadas.
— Pizza, então. — Ele disse. Seguimos até o quarto que deveria ser meu, e ele abriu a porta. As paredes eram azul marinho, e os detalhes eram feitos em gesso branco. Havia uma enorme cama de casal, e uma escrivaninha de maneira. De frente para nós, do outro lado do quarto, havia um espelho, e só assim consegui ver nós dois ao mesmo tempo. Ele notou que eu sorri para nossos reflexos e acabou sorrindo também.
Lá estava eu, do outro lado do mundo, com um parcialmente desconhecido sorrindo para mim através de um espelho. Nossas feições não eram tão parecidas, exceto talvez pelo nariz e os olhos — eu não tinha olhos azuis como os dele, mas o formato era muito parecido e, em meu olho esquerdo, tinha algo chamado heterocromia, onde um quarto do meu olho era azul, e o resto era castanho claro como o de minha mãe. O olho direito era castanho claro também. Tobey estava de cabelos cortados, diferente da última vez que eu o havia visto em vídeo chamada. Seus olhos estavam ligeiramente inchados da choradeira, os ombros caídos, mas mesmo assim o sorriso permaneceu, fazendo o meu se alargar ainda mais.
— Obrigada por me convencer a vir, estou muito feliz, Tobey. — Falei sincera, ainda olhando para o nosso reflexo no espelho.
— Eu também estou. Você não faz ideia. Inclusive... — Ele colocou minha mala de qualquer jeito ao lado da escrivaninha e pegou a mala pequena que eu trazia no ombro, colocando-a em cima da cama. — Deixa eu te mostrar algo.
Ele me puxou pela mão e me guiou até o que eu supus ser seu quarto, que tinha as paredes pintadas em um tom de verde militar lindo, abriu o closet e em uma gaveta mais afastada das outras, ele retirou uma caixa.
Sentou-se na cama com a caixa e me chamou com a mão.
Dentro havia todos os tipos de recordações possíveis sobre sua pequena vida no Brasil. Havia uma foto dele muito mais jovem, com uma criancinha no colo que reconheci muito bem — meus cabelos eram muito mais claros do que são hoje. Em outra foto, ele está sorrindo e segurando nas minhas mãozinhas enquanto estou tentando dar meus passos atrapalhada. Havia pelo menos umas dez fotos daquele mesmo dia. Ele havia guardado também meus poucos cartões de Natal e alguns dos presentes que eu mandei: uma pulseira escrita Tob & com várias miçangas coloridas, uma correntinha prateada com um pingente da bandeira do Brasil, e uma caixinha de paçocas vazia. O único presente que eu realmente lembro era a pulseira de miçanga, lembro de fazê-la com minha mãe. — Eu amava isso aqui. Devia ter pedido para você trazer. — Falou ele balançando o pote vazio.
— Podemos fazer qualquer dia, deve ter a receita na internet. — Dei de ombros e vi seus olhos brilharem.
— Você acha?
— É claro. — Respondi rindo da sua cara. E voltamos a atenção para a caixa. Ele me mostrou os cartões postais que minha mãe havia feito em meu nome e até alguns exemplares dos gibis da turma da Mônica, verdadeiras relíquias com direito à almanaques e tudo.
Fiquei realmente sentida por todo aquele carinho que emanava dele enquanto me mostrava a caixa. Era visível que ele tinha um sentimento forte com tudo aquilo e simplesmente o abracei novamente.
— Me desculpa, , de verdade, eu fui um completo idiota por te abandonar. Eu era jovem, estúpido e sem noção. Não me deixa fazer isso nunca mais. — Eu te desculpo, Tob, peço desculpas por ter sido tão rígida com você no início, mas eu não te conheço mais, tive que me proteger. — Respondi.
— Você não tem que se preocupar em me pedir desculpas, eu sou o único errado da situação, você era uma criança quando tudo aconteceu. — Ele soltou do abraço e me olhou nos olhos. Aqueles olhos azuis profundos e encantadores. O nosso momento foi quebrado pelo meu telefone, era minha mãe fazendo uma ligação de vídeo.
— Oi, mãe. — Atendi.
— Oi, dona Miranda. — Tobey disse totalmente em português, abanando a mão logo atrás de mim.
— Oi, meus queridos. — Ela ficou visivelmente afetada, por nos ver finalmente juntos. — Como foi a viagem, ? Pedro está perguntando como você está. — Pedro era o meu pai não oficial, o homem que me assumiu e que eu amava como se fosse o verdadeiro pai da minha vida.
— Estou bem, a viagem foi boa. Estávamos aqui vendo algumas lembrancinhas que o Tobey guardou durante todos esses anos. — A conversa foi demorada e divertida. Mostrei a ela as fotos e prometi que iria fazer cópias para levar quando eu voltasse. Comentei sobre a paçoca e ela me passou uma receita de família que, segundo ela, era moleza.
A noite seguiu sem mais surpresas, comemos pizza, conversamos sobre muitas coisas e segui para minha cama, me despedindo de um irmão feliz e sonolento que me levou até o quarto antes de seguir para o seu. Dormi feito uma criancinha. Acordei sentindo cheiro de café da manhã.
— Espero que goste de panquecas e ovos mexidos, pois são as únicas coisas que sei fazer para café da manhã.
— Você nem precisava se preocupar com isso. — Puxei uma cadeira para me sentar, enquanto ele finalizava as panquecas. — Na próxima, deixa que eu faço, quero te mostrar algumas coisas que sei fazer. — Falei. Sou formada em gastronomia há cinco anos e hoje trabalho como sous chef em um restaurante bem badalado de Florianópolis. Continuei: — Então, ontem você mencionou o Tom Holland e o Andrew Garfield... O que você pode me dizer sobre isto? Ele virou para mim, cerrando os olhos e eu sorri travessa, sabendo que ele não podia falar muita coisa ainda.
— O que você quer realmente saber? — Notei que não era o que ele queria fazer, mas eu estava com um vale intitulado: sou a irmã mais nova e você está me devendo muita coisa, faça o que eu pedir ou posso ficar magoada. E eu não vou negar que estava usando isto a meu favor. Dei meu melhor sorriso encorajador e vi que ele cedeu.
— Você tem que me prometer que não vai falar isso a ninguém, ou eu posso levar uma multa milionária. — Ele disse, apontando a espátula de virar panqueca para mim. — Ok, eu prometo. Quero saber como você se sentiu, como foi a experiência? Você fez apenas pelo dinheiro, ou sentiu uma pontinha de nostalgia? — Primeiro você tem que entender que todo ator só faz filmes pelo dinheiro. É o nosso trabalho. Segundo, eu fiz porque gostei da nostalgia, gosto de como o universo Marvel está se solidificando nessa nova fase, e gostei de contracenar com outros homens-aranha. No fim de tudo, foi muito divertido. Fiz uma boa amizade com Tom e Andrew, coisa que eu não achei que fosse acontecer. Dei um gritinho afetado e ele sorriu.
— Falando nisso, você está oficialmente convidada para me acompanhar no tapete vermelho que irão fazer no fim de semana, já que o filme já estreou mundialmente há um mês e a minha presença e a do Drew não é mais uma novidade tão bombástica. — Ele disse, dando atenção à frigideira.
— Nossa, é sério? — Perguntei pasma.
— Claro, alugo uma limusine, e podemos ir escolher um vestido qualquer dia desses. Se você quiser ir, é claro.
— É claro que eu quero ir! — Falei mais rápido do que deveria, mas quem em sã consciência não iria? Conhecer gente famosa, conhecer a Zendaya, Marissa Tomei e quem sabe (se Deus quiser) Robert Downey Jr. Meu coração palpitou só de pensar.
— Ai, que bom! Eu estava guardando este convite especialmente para você. — Disse ele, feliz da vida.
Tomamos café conversando sobre o filme e diversos outros que ele havia feito. Comentei que alguns eu havia deixado de assistir por estar na fase de distanciamento dele. Conversamos também sobre a sua amizade com Leonardo DiCaprio, que sempre foi uma fonte de curiosidade minha, e sobre o seu namoro com Kirsten Dunst.
— O meu namoro com Kirsten foi absolutamente marketing. Isso existe mais do que você imagina, e tudo o que acontece, a imprensa usa como o estopim de algo. É bem triste saber como as coisas realmente acontecem por trás das câmeras... — Tobey foi interrompido por uma batida de porta esquisita. Não era da porta da frente, e pensei que pudesse ser da sua ex-mulher entrando pela garagem. Ele se levantou fazendo sinal de “um minuto” para mim, e seguiu até a porta misteriosa. Voltou alguns minutos depois, com o olhar meio perdido e um pedido de desculpas implícito em seu rosto.
— Cara, eu tive que dar três voltas no quarteirão para despistar os... — Uma voz desconhecida com um sotaque expressivamente inglês adentrou a cozinha e parou no ar, provavelmente quando notou que Tobey não estava sozinho. Soltei minha xícara de café e travei um instante quando vi Tom Holland parado logo à minha frente.
— Meu Deus, cara, por que você não falou que estava acompanhado? Eu sou idiota, mas tenho o mínimo de noção. Desculpa, moça, ele normalmente está sozinho quando eu faço esse tipo de visita.
— Ele pegou esse costume quando estávamos lendo o script, e acabou que virou uma tradição ele vir aqui de vez em quando. — Meu irmão explicou.
— Isso se chama amizade, acho que ele não conhece esse conceito ainda. — Tom falou esticando o braço até mim. — Eu sou Tom, é um prazer.
— Tom, essa é minha irmã. — Tobey disse, ainda achando estranho essa intromissão, provavelmente pensando que eu poderia me assustar ou me arrepender. A questão é que eu estava adorando.
— A famosa . — Ele disse enquanto eu apertava sua mão. Famosa? Então Tobey falava de mim para os colegas de trabalho?!
— É um prazer, Tom, eu sou . — Apertei sua mão e chacoalhei por um instante. — Tom era um dos poucos que sabia sobre a sua vinda, ficou realmente feliz que você aceitou vir. Acho que foi um dos poucos que viu a maré de merda que eu estava durante as gravações. — Tobey disse dando de ombros e pegando sua caneca de café de volta da mesa. — Quer um café?
— Não, não, já estou de partida, não quero incomodar vocês. — Ele disse aparentemente sem graça.
— Que isso, você não está incomodando. — Eu disse. Não vou negar que meu coração estava ligeiramente descompassado no momento. Eu sempre soube que meu irmão era famoso, mas eu não estava preparada para aquilo. Eu estava de pijamas! Tentei me manter calma por fora, mas eu tinha sim, uma parte de mim que era uma tiete assumida.
— Na verdade, estou sentindo que sou eu que estou incomodando. Vou dar um pouco de privacidade para vocês e vou lá em cima tomar um banho, ok? — Virei minha xícara de café com tudo, apertei levemente a mão de Tobey em despedida, e passei com certa urgência pela porta da cozinha. Durante o trajeto, ainda consegui ouvir naquele sotaque maravilhoso:
— Uau, ela é adorável.
Desci as escadas esperando que Tom não estivesse mais ali, mas ele estava. Tentei dar meia volta sem ser percebida, mas Tobey me chamou. Entrei na cozinha e vi um Tom Holland com os olhos vermelhos e as mãos cruzadas em cima da mesa.
— Sim? — Perguntei sem saber muito bem o que fazer.
— Dentro do congelador, tem um pote de sorvete... — Ele não precisou dizer mais nada. Peguei o mesmo, e três bowls que estavam em uma prateleira ao lado da geladeira. E colheres na gaveta.
— O que houve? — Perguntei ainda perdida. Sentando-me com eles à mesa. — Lembra da conversa que estávamos tendo antes dele chegar? Que Hollywood tem seus casais...?
— Ah, não! Não, não, não me diz que você e a Zendaya são apenas marketing? — Perguntei horrorizada. Tobey abriu o pote de sorvete e deu a colher à Tom. — Sim. Você não faz ideia de como é difícil às vezes. Eu gosto dela, gosto demais. Mas como amigo. Foi como nossa relação começou. Ela teve que terminar outra relação que tinha para começar a me namorar. Tem muita coisa envolvida. Estamos apenas esperando a première terminar, e a poeira do filme baixar para podermos ter nossas vidas de volta. Algumas coisas são um saco. — Ele disse pegando uma colherada de sorvete. — Eu e o seu irmão tivemos uma conexão instantânea no set, e depois, conversando um pouco melhor, vimos que tínhamos bastante em comum.
— É, nós dois estávamos passando por fases ruins e acabamos nos dando bem por isso. — Tobey comentou, também pegando um pouco de sorvete. Peguei um pouquinho só para não ficar deslocada, mas estava achando absurdo o fato de tomar sorvete essas horas da manhã.
— Nem sei o que dizer. — Admiti. — Estou arrasada. Não sabia que a vida de vocês era assim, não sei se conseguiria viver assim.
— Meu Deus, vamos trocar de assunto, não quero deixar sua irmã baixo astral no segundo dia dela aqui. — Tom riu um pouco e pegou mais um pouco de sorvete. Tentou trocar de assunto: — Você é muito bonita, tem certeza de que tem algum parentesco com esse cara aqui?
Caí na gargalhada enquanto Tobey o olhava com certa indignação.
— Cara! — Disse ele.
— O quê? Só estou dizendo que ela é bonita, não é mentira. — Voltou a dizer, e então eu notei que ele era exatamente aquela pessoa bondosa e carismática que se vê na internet, até certo ponto ingênua. Tobey continuava sem palavras. — Obrigada Tom, você deixou meu dia mais feliz. — Eu olhei em seus olhos e ele sorriu de volta, com a colher de sorvete entre os dentes.
— Uaaaau! Seus olhos... — Ele disse aproximando o rosto do meu para ver melhor. Seu cheiro era maravilhoso, assim como sua pele. Deixei-o examinar meus olhos por alguns segundos. — Incrível! — Seu hálito de sorvete bateu no meu rosto e, por um microssegundo, minha guarda de mulher independente, livre e coração de pedra amoleceu.
Tobey pigarreou e ele se afastou de mim. Fiz meu maior olhar de sonsa para ele, que repreendeu Tom apenas com o olhar e o menino se endireitou na cadeira. Olha, eu não me importaria se Tom Holland, o queridinho da América no momento, me achasse bonita e meus olhos incríveis, já que eu já havia desistido de achar um homem brasileiro para mim... Quem sabe um inglês mais novo que eu, com um sorriso encantador e com um cheiro que podia me desmontar em pedaços, podia me dar uma chance.
Nem mesmo Tom apareceu mais para me encantar com seu carisma absurdo de britânico. Tobey me levou a uma avenida chiquérrima para escolher um vestido e marcar um cabeleireiro para me montar no dia do tapete vermelho. Eu quis me fazer de durona na frente dele, mas estava completamente sem estruturas para esse dia e ainda seria a primeira aparição dos três juntos em público após o filme. Ele participaria de entrevistas, fotos maravilhosas e eu estaria ao seu lado com pessoas do mais alto escalão de Hollywood (eu estava mesmo esperançosa que Robert Downey Jr. estivesse presente). Meus joelhos cediam só de pensar muito no assunto. Entenda: eu era uma mera mortal, vinda do Brasil, onde as pessoas achavam que eu andava com um macaco nos ombros. Escolhemos meu vestido em uma loja que eu não sabia nem pronunciar o nome. Era um vestido vermelho, que teve um caimento perfeito no meu corpo com padrões brasileiros de bunda (confesso que peito não era meu forte). O decote do vestido vinha até minha barriga, as alças eram bem finas e, nas costas, a tira fina das alças fazia alguns cruzamentos antes de fechar com um laço, deixando à mostra minhas tatuagens esquisitas que eu amava. O zíper invisível vinha do meio das minhas costas até minha bunda. Quando saí do provador, o vendedor deu um gritinho fino e correu para amarrar as tiras nas minhas costas.
Tobey tapou a boca caída com a mão e confirmou com a cabeça.
— É esse. — falou com os olhos sorrindo. — Você gostou?
— Gostei, mas tem certeza? Não é muito revelador? — me olhando no espelho, percebi que ele tinha uma fenda na perna direita. Na fenda, dava para notar um detalhe em branco, como se fosse o forro do vestido, mas não era.
— Claro que não, menina. Você está feroz. Consigo sentir meu sangue latino pulsando de longe. — o vendedor disse, estalando os dedos. Empurrou meu ombro para eu dar uma voltinha.
— Eu também gostei bastante. — falei sem graça, olhando todos os detalhes no espelho gigantesco.
— Vocês conseguem fazer alguma alteração no vestido? — Tobey perguntou, colocando a mão no queixo.
— Nós não costumamos fazer quando muda o design do vestido, senhor. Mas qual seria a sua sugestão? Posso passar aos meus superiores... — o vendedor falou simpático.
— Teria como trocar aquele tecido branco na fenda por um azul? As cores do Homem-Aranha, sabe como é... — ele tentou ser o mais charmoso que pôde. E eu vi a guarda do vendedor baixar.
— Vou ver o que posso fazer pelo senhor. Creio que seja possível, pois não muda o design, apenas a cor do tecido. — ele anotou o detalhe em uma prancheta e chamou uma moça para fazer os retoques de altura do vestido enquanto falava com o gerente.
Nem dois minutos depois, ele voltou com uma caixa de tecidos para Tobey escolher o tom de azul que ele queria, e eu dei risada vendo como tudo era fácil quando se tinha dinheiro e um nome. Eu estava realmente bonita naquele vestido. Com o penteado perfeito e a sandália que havíamos escolhido na loja anterior, eu estaria pronta para acompanhar alguém à altura de Tobey Maguire, o Peter Parker preferido de uma geração.
O sábado chegou, e com ele, o meu nervosismo absoluto quanto ao tapete vermelho.
Levantei antes de Tobey, algo que me acostumei a fazer desde o segundo dia. Eu já estava me sentindo em casa. Nossa relação se fortaleceu muito depois de alguns dias de conversa intensa, contei a ele sobre meus relacionamentos fracassados e a minha promessa boba de que não iria mais me apaixonar por qualquer um, e muito menos baixar a guarda com facilidade. Contei sobre meu gato, Jacquin, e expliquei a ele sobre a origem do nome (MasterChef Brasil), e informei que minha mãe estava com ele no momento. Contei sobre meus melhores amigos, os gêmeos Johnson e Baby, e meus colegas de trabalho.
Enquanto pensava em como minha vida havia mudado da água para o vinho, fiz um pequeno café da manhã para nós dois: omelete francesa, com torradas, avocado e tomates.
— Vou acabar ficando mal-acostumado. — ouvi a voz de Tobey dizer enquanto ele puxava um jornal que já havia sido deixado acima do seu lugar na bancada de café, por sua governanta, Beth.
— Bom, você está fazendo tanta coisa por mim, estou ficando sem graça. — brinquei.
— Eu não estou fazendo nada, nada comparado ao que devia ter feito desde o início. — ele disse em um tom sério. — Você sabe disso.
Coloquei a omelete no prato, derramei um fio de azeite em cima, acomodei as torradas ao lado e o servi. Meu prato já estava posto no meu novo lugar na bancada.
— Preciso estar no cabeleireiro às 13 horas, você consegue me levar? — perguntei, mudando de assunto. Ele soltou o jornal, admirou o prato à sua frente, bateu uma foto e concordou com a cabeça.
Conversamos um pouco sobre nossos horários e deixamos tudo pré-agendado para não nos perdermos.
Meu cabelo parecia ter sido desenhado pelos deuses, eu nunca havia sentido ele tão cheiroso e tão sedoso na vida. Estava preso por uma trança lateral que saía de cima da minha orelha direita e ia até a nuca, onde iniciava um coque desfiado; cada mecha estava em sintonia e nada saía do lugar se não fosse programado. A maquiagem era outro show à parte: eu nunca tinha utilizado tanta maquiagem e, ao mesmo tempo, me sentido tão natural. A maquiadora disse que eu tinha uma pele ótima e uma cor linda. Elogiou minhas sobrancelhas grossas e minha boca carnuda (obrigada, mãe). Ela desenhou um delineado perfeito em cima de uma sombra quase sem cor aparente, mas com um brilho nude que parecia o próprio carnaval quando eu piscava. Explicou que, como meu vestido já era bem colorido, o rosto não precisava ser tanto. E que um delineado bem feito valia por mil sombras. Nos lábios, colocou um nude escuro, quase marrom. Disse que minha paleta de cores combinava muito com cores terrosas, e eu nem sabia o que isso queria dizer direito, mas acreditei quando vi meu rosto esculpido no reflexo do espelho, e meus olhos marejaram.
— Você não é LOUCA de chorar! — brigou comigo e veio correndo com um cotonete para enxugar meus olhos.
Dei uma risada gostosa.
Quando todo o trabalho estava feito, já passava das 17h30. Meu irmão havia me informado que sairíamos de casa às 18h para chegarmos ao local às 18h45. A maquiadora e o cabeleireiro me abraçaram calorosamente; ela explicou que a maquiagem só sairia com demaquilante, que eu poderia ficar tranquila quanto a isso, e o homem me disse que meu cabelo só desmancharia se um furacão passasse por nós. Respirei tranquila quando saí do lugar, indo direto ao carro de Tobey, que já estava perfeitamente alinhado em seu terno caro, cheiroso como apenas um ricaço como ele poderia estar. O cabelo penteado perfeitamente para trás, a gravata azul-escura, exatamente do mesmo tom do tecido interno do meu vestido.
Minhas mãos suavam quando chegamos ao local.
Ele olhou para mim sorrindo carinhosamente:
— Fica tranquila, são só algumas pessoas famosas. Nenhuma delas é mais bonita do que você. Então não tem por que ter medo. A única coisa que diferencia elas de você é a quantidade de dinheiro; talento, você tem de sobra. Então não deixa eles pisarem em você. Brilha como a estrela que você é. Fica sempre ao meu lado e segura minha mão se você achar que precisa. — ele beijou meu rosto. Foi a primeira vez que ele me beijou, e eu imediatamente me senti confiante. O motorista já tinha saído do carro para abrir a porta para nós.
A multidão lá fora era absurda, ensandecida e completamente barulhenta.
Estavam lá para ver Tobey, eu podia sentir. Andrew Garfield havia entrado no carro antes de nós, e o barulho foi ensurdecedor.
— Mais uma coisa, não se abale com os flashes, ou você vai sair fazendo careta em todas as fotos. Finge que é só mais um dia. Que você está fazendo um prato que faz todos os dias. Aquela omelete maravilhosa que você fez para mim hoje de manhã. — disse ele, e eu respirei fundo antes de o motorista abrir a porta.
Tobey saiu e a multidão ovacionou. Durante minutos que me pareceram intermináveis, ele deu alguns acenos para os flashes e esticou a mão para mim, que ainda estava dentro do carro.
Saí de lá e os flashes continuaram, a multidão continuou gritando seu nome. Os seguranças tiveram trabalho, e eu fiquei encantada em ver como Tobey tinha um talento natural para aquilo. Com certeza saí fazendo careta nas primeiras fotos, até meus olhos se acostumarem com tudo aquilo. Ele estava gracioso, o peito estufado, um sorriso no rosto, e foi ele quem pegou minha mão. Talvez estivesse querendo um apoio moral, talvez estivesse querendo me dar apoio moral, ou talvez, só talvez, ele estivesse emocionado de me ter ao seu lado.
Eu gostava imensamente dessa ideia.
O caminho era reto até onde o resto dos atores estava. Todos sabiam que Tobey havia chegado, apenas pelo barulho. Batemos algumas fotos sozinhos; Tobey fez questão de me abraçar pelo ombro em algumas, sorrindo como se o mundo precisasse daquilo. E eu realmente precisava; eu via em seus olhos o quão orgulhoso ele estava.
Tom veio diretamente até nós e abraçou Tobey com força.
Ele estava absolutamente lindo em um terno preto e gravata borboleta; no rosto, usava um óculos de grau que eu já havia visto em algumas outras entrevistas no Instagram. A plateia e as câmeras pareciam ter tudo que queriam naquele abraço, até o momento em que Andrew chegou por trás de Tom, deu um tapa em sua bunda e entrou no abraço. O público pirou. Os flashes pareciam ser apenas um holofote ligado em nosso rosto; não paravam nem por um milésimo de segundo. Fiquei ao lado deles, ligeiramente afastada, rindo feito uma boba. A química deles era tão palpável quanto no filme, e mais incrível do que isso era como Andrew Garfield era bonito pessoalmente.
Ele estava com os cabelos ligeiramente mais compridos do que no filme e muito bem penteados. O terno era cinza; eu podia ver, por dentro, um colete bem cinturado e uma gravata preta.
Os três juntos renderam pelo menos dez minutos de risadas e fotos completamente espontâneas. Eu me divertia ouvindo as palavras deles, e logo Tobey me puxou para perto. Tom logo veio me cumprimentar (Deus do céu, não me faça virar meme enquanto beijo esses dois deuses gregos que são colegas de trabalho do meu irmão mais velho), beijou minha mão num ato exagerado de cumprimento, e Andrew, que nem me conhecia até o momento, pegou minha outra mão e beijou também, me fazendo ficar tão vermelha que dei uma risada alta. Os flashes não paravam um segundo. Tom me abraçou e disse que estava muito feliz de me ver ali; eu o agradeci e disse que também estava feliz de estar ali. Andrew me puxou para um abraço também, para não ficar para trás em frente às câmeras.
— É um prazer finalmente te conhecer, irmã Maguire. — ele praticamente gritou no meu ouvido para que eu pudesse ouvir. Não quis corrigir meu sobrenome na frente de todas aquelas câmeras, então apenas sorri e respondi:
— É um prazer te conhecer também, espetacular Andrew Garfield. — o ato de eu me aproximar da sua orelha em frente às câmeras certamente foi um erro, pois o cheiro daquele homem me arrebatou com toda a força possível. Juro que tonteei e dei um passo para trás.
Ele entendeu a brincadeira que fiz e sorriu. Batemos algumas fotos, os quatro, e seguimos em frente, onde se encontravam os demais atores do filme. Para minha grande decepção, Robert Downey Jr. não se fez presente (não havia motivo algum para ele estar ali, mas meu coração de tiete tinha esperança), mas Benedict Cumberbatch fez o papel de galã mais velho e eu babei nele como qualquer mulher normalmente faria. Que homem elegante, meu Deus... Foi tão simpático comigo quanto os demais; a mulher dele o acompanhava.
Encontrei Jamie Foxx, Jason Batalon, Marisa Tomei e a maravilhosa, esplêndida e majestosa Zendaya. Meu coração foi a mil quando a vi, que mulher, meus amigos.
A noite passou como um borrão de flashes. Encontrei diretores, produtores e mais tanta gente que não lembrava o nome nem da metade. Tobey veio me avisar, em algum momento, que iríamos ter um afterparty quando tudo acabasse.
O evento inteiro durou muito mais do que uma hora. Uma hora de fotos e mais fotos, pequenas entrevistas com revistas e sites de entretenimento. Alguns cartões, bonecos e sabe-se lá mais o que os fãs pediam, com os braços esticadíssimos para que um deles pegasse.
Era nítido que meu irmão era o preferido: quando ele se aproximava da multidão, eles queriam quebrar as grades, os gritos eram ensandecidos, e os flashes aumentavam. Em quase todas as entrevistas que ele deu, ele me apresentou como sua irmã, antes que os tabloides falassem algo errado e doentio sobre nós. O que não seria difícil, levando em conta que eu era claramente latina ao seu lado. Minha pele se bronzeava com facilidade, estávamos no verão do Brasil, e eu não perdia a chance de ir para o sol.
O afterparty seria na casa de Jamie Foxx. Ele também era um homem de respeito dentro do seu terno azul, simpático e divertido como aparentava ser, me arrancou boas risadas enquanto apresentava sua inacreditável mansão.
— , caso você esteja desconfortável e queira ir embora, por favor, me avise. — Tobey me chamou para um canto quando foi cada um para o seu lado. — E não quero bancar o pai neurótico, mas não beba nada do copo de ninguém. O pessoal aqui pega pesado de verdade. — falou ele, colocando o dedo indicador sobre uma narina disfarçadamente.
— Ok. Obrigada por avisar. — eu já imaginava esse tipo de coisa, mas foi bom ele me relembrar para que eu não parecesse uma idiota caipira no meio do tanque de tubarões.
Ele me levou até a sala central, onde havia uma mesa cheia de bebidas de todos os tipos possíveis, frutas que eu nem conhecia, e potes chiques de vidro, com açúcar, sal e sabe-se lá mais o quê.
— Quer que eu te ajude? — perguntou ele apreensivo. Eu sorri, pegando a coqueteleira.
Num movimento rápido, cortei rodelas de laranja, toranja e limão. Fiz um drink simples, parecido com caipirinha, mas sem a tradicional cachaça. Dei um gole para ele experimentar e seus olhos brilharam.
Dividi a coqueteleira em dois copos grandes, coloquei duas folhinhas de hortelã em cima, e quando terminei, Andrew fucking Garfield aplaudiu do outro lado da mesa.
Ele se aproximou, visivelmente admirado. Cumprimentou Tobey mais uma vez e falou algo em seu ouvido, meu irmão deu uma risada alta e respondeu a ele, que veio sorrindo até mim.
— Seu talento com essas facas me deixou apreensivo. — brincou, seu hálito batendo em minha orelha.
— Você não viu nada. — respondi no mesmo tom brincalhão, e ele riu mais ainda.
— Foi exatamente o que seu irmão disse a mim. — ele disse, e eu ri. — Posso experimentar? — perguntou ele, apontando para o meu drink. Entreguei meu copo a ele, sem piscar um segundo, lembrando do aviso que meu irmão havia dado antes.
Tobey veio até mim rindo.
— Não precisa ficar olhando fixamente, pode dar uma disfarçada. Não fique tão tensa, ok? Vou dar só uma voltinha, fique aqui com o Drew, confio nele. — Tobey disse, me dando mais um beijinho no rosto e falou algo no ouvido de Andrew antes de sair.
— Ele disse que se eu não cuidasse de você, ele cortaria minhas bolas e daria para você cozinhar com feijão. — ele terminou a frase dando uma alta risada, devolvendo-me meu copo. — Está uma delícia, consegue fazer um para mim depois? — indicou o próprio copo, que estava com outra bebida no momento.
— Claro. — dei de ombros, a música finalmente começou a tocar e consegui relaxar um pouco os ombros.
— Você não é muito de falar, né? — ele disse, me empurrando pelos ombros para fora da casa, onde a música estava menos alta e as pessoas estavam mais espalhadas.
— Cara, eu falo, falo até demais. É só que é muita coisa rolando ao mesmo tempo, estou com uma maquiagem de pelo menos três milímetros de espessura, um salto mais alto do que jamais usei, um vestido que deve valer milhões da cor do Homem-Aranha! Conheci tanta gente famosa na última hora que não consigo contar nos dedos, e estou aqui agora, falando com Andrew Garfield e ele está prestando atenção no que estou falando, mesmo com esse sotaque esquisito e meu inglês horroroso. — soltei tudo de uma vez e ele deu uma risada jogando a cabeça para trás.
— Você tem que entender que pessoas famosas são pessoas normais, a gente trabalha, anda de carro, estuda, come e vai ao banheiro, assim como todo mundo. — ele disse, tomando um gole da sua bebida enquanto a voz da Cardi B preenchia o ambiente. — Você não é diferente de nós, e melhor ainda, você é da família. O que deixa tudo mais interessante.
Eu pude jurar que a última parte da frase teve um “quê” de malícia, mas achei sexy demais para achar estranho.
— Aliás, seu sotaque não tem nada de esquisito, e seu inglês é ótimo. — ele disse, tirando o paletó e colocando no encosto de um mini sofá que havia ali perto. Nos sentamos. Se Andrew Garfield ficava bem de terno, ele ficava muito melhor de colete, com a manga da camisa dobrada até o antebraço e aquele cabelo perfeitamente arrumado e propositalmente bagunçado até certo ponto.
— Obrigada, é muito gentil da sua parte. — tomei mais um gole da minha bebida. — Você pretende ficar de babá a noite toda? — perguntei rindo. — Não quero ser a sua empata foda, sei me virar. — quis parecer mais durona do que realmente era.
— Babá? Meu Deus, quantos anos você tem? Acho que você sabe se virar muito melhor do que eu com aquelas facas. Na verdade, estou aqui porque sei que você pode me proteger melhor do que meus seguranças. — ele disse divertido. Dei uma risada; ele era muito bom, tenho que admitir.
— Você entendeu o que eu quis dizer. — dei um empurrão leve no seu ombro.
— Não sei a que você está se referindo quando disse empata foda. — tomou mais um gole da sua bebida, olhando as pessoas se divertindo à nossa frente. — Estou conversando com a mulher mais bonita da festa. — olhou de canto para ver a minha reação.
Mantive a compostura. Mesmo que a garotinha dentro de mim quisesse sapatear de alegria, uni as sobrancelhas e respondi:
— Você está completamente errado, Marisa Tomei e Zendaya estão nessa festa. — tomei mais um gole da minha bebida, o rosto completamente sério.
— Bom, você está certa. Uma delas é dezenove anos mais velha do que eu, e a outra é treze anos mais nova, uma delas já namorou Robert Downey Jr. e a outra namora o mais novo queridinho da América. Acho que você está certa, eu devia mesmo ir até elas. — ele terminou de falar em um tom tão irônico que dei uma risada alta. — Você tem uma risada ótima.
— Meu Deus, Garfield, você não para nunca? — perguntei entre um riso e outro, e ele bebeu mais de sua bebida.
— Depende, está funcionando ou não? — perguntou ele, levantando as sobrancelhas em curiosidade.
— Não decidi ainda. — falei séria e me levantei para fazer outro drink. Virei-me para perguntar se ele queria um também e acabei pegando-o no flagra, analisando minha bunda com a boca entreaberta.
Aquilo podia ter deixado meu lado feminista furioso em outra época, mas empoderei a majestosa gostosa que havia dentro de mim, e Andrew querido, se você queria um pouco desse suco, você teria que merecer.
No timing perfeito, quando cheguei à mesa das bebidas, “No Scrubs” começou a tocar.
Desta vez peguei morangos e mirtilos para fazer a mistura da bebida, que ficou tão boa quanto a primeira, e enquanto eu a fazia, Tobey se aproximou de mim.
— Como estão as coisas por aqui? — falou pegando meu copo e tomando um gole, virando os olhos para cima em êxtase. — Caralho, está muito bom.
— Obrigada. As coisas estão bem, tirando o fato de que Andrew fucking Garfield está dando em cima de mim. — falei séria, para ver qual seria a sua reação.
— , você é adulta. Se achar que está ruim, dá um fora e pronto, ok? Se achar que precisa de ajuda, me fale agora. Você é dona da sua vida, não quero ser o cara que vai te privar da sua própria vida. — falou ele em um tom realmente sério, porém virando meu copo mais uma vez.
— Ok, Tob, obrigada pelo apoio. Estou bem, só queria saber o quão bem você está com isso. — falei sorrindo.
— Se você tivesse dezoito anos, a conversa seria diferente. Você tem vinte e oito, é um mulherão da porra, dona da própria vida. Mas se achar que precisa de ajuda, estou aqui. Está bem? — ele me devolveu meu celular que estava com ele desde o tapete vermelho. — Estou no andar de cima, conversando com Jamie e mais um pessoal, não hesite em me chamar.
— Obrigada. — beijei seu rosto, e notei que ele ficou surpreso. Sorriu adoravelmente em retribuição.
Virei-me em direção ao jardim, que era onde eu estava anteriormente, levando dois copos, e lá estava ele, conversando com Tom e Zendaya. Meu coração deu um pulo, quando eu me acostumaria com isso?
— Hey, Maguire! — Tom falou abrindo os braços em minha direção. Abracei-o com as mãos ocupadas. Ele estava mais animado do que deveria, provavelmente estava bebendo algo mais forte do que meus drinks.
— Hey! — falei animada também. Zendaya se aproximou para me dar um beijo no rosto. Beijei-a. — Ok, aproveitando que vocês estão aqui, preciso corrigir antes que isso vire uma febre: eu não sou Maguire. Meu sobrenome é .
— Não!! — Tom disse desapontadíssimo. — Mas você é a caçula Maguire! Você pode sair do Maguire, mas o Maguire não pode sair de você.
Todos riram, entreguei meu copo a Andrew.
— Caralho, que coisa boa. — Andrew ofereceu seu copo a Tom. E eu fiquei “sozinha” com Zendaya por um segundo.
— Você está linda. — ela disse sorrindo. — É bom ter alguma mulher da minha idade para conversar.
— EU estou linda? Olha só você! — falei pegando sua mão e fazendo-a dar uma volta. — Você está maravilhosa, gata.
Ela pareceu relaxar um pouco, vendo que comigo não havia rivalidade feminina. Entramos em uma conversa longa sobre isso, em como ainda existia rivalidade feminina no mundo, onde as pessoas e a imprensa viviam colocando mulheres umas contra as outras, sendo que as mesmas deviam se apoiar a todo custo.
Nossa epifania durou pelo menos uns dez minutos. Nosso santo bateu quase que imediatamente.
Houve um momento em que percebemos que os homens haviam parado de falar, e notamos que eles estavam nos olhando conversar, com as cabecinhas encostadas uma na outra.
— Vocês são muito fodas! — Tom falou com entusiasmo. Eu e Zendaya – eu nunca me acostumaria com isso – demos risada.
— Vamos lá, Tom? — Zendaya falou mexendo a sobrancelha, indicando que era para nos deixar sozinhos.
Naquele momento, me caiu a real de que eles eram um casal falso, e me senti mal ao ver como eles tinham que engolir tudo aquilo praticamente 24 horas por dia. Me pareceu o próprio inferno.
Eles saíram, me deixando sozinha com Andrew.
— Você tem muito talento, sabia? — falou ele, indicando a bebida em suas mãos, porém me olhando nos olhos. — Meu Deus, seus olhos são lindos.
Dei uma risada, estava acostumada com aquele tipo de reação, mas nem sempre era para falar que são lindos, às vezes um “esquisito” também fazia parte do elogio.
— É o meu ¼ Maguire. — brinquei e ele se divertiu.
— Bom, pelo menos você pode dizer que tem olhos azuis. — ele deu de ombros. Tomei um gole da minha bebida.
— Olhos azuis são superestimados. Você sabia que pessoas de olhos azuis têm mais problemas de visão do que pessoas de olhos castanhos? — ergui as sobrancelhas, e ele sorriu sabendo que ganhou pelo menos essa.
— Bom, não sei se você notou, mas tenho olhos castanhos. — falou ele, piscando freneticamente perto do meu rosto, fazendo-me rir.
— Notei sim, Andrew. — aquele cheiro tão perto de mim assim poderia ser perigoso.
Até então, Andrew estava sendo um cara legal e divertido, como ele aparentava ser. Ficamos batendo papo e flertando por um bom tempo e ele não parecia estar abalado pela minha guarda ligeiramente alta para ele. Pensei que ele fosse mudar o rumo quando se levantasse para ir ao banheiro, ou que não estaria mais no “nosso sofá” quando eu voltasse do banheiro, mas ele sempre estava lá. Sinal de que estava disposto a me aturar. Fiz alguns drinks até estarmos bêbados. Meu irmão aparecia vez ou outra para ver como estávamos e me admitiu que estava trocando saliva com uma mulher no andar de cima. Dei um high-five com ele e caímos na risada. O álcool já estava bem mais alto em nossas veias.
Em um certo momento, iniciou-se uma sequência de funks brasileiros, e não pude segurar meu corpo, dancei sentada como uma mocinha comportada, mas a minha vontade era levantar a bunda para cima e dançar feito a Anitta, mesmo que não tivesse a metade da desenvoltura que ela tinha para dançar. Não me aguentei, levantei-me e chamei Andrew para dançar comigo enquanto absolutamente todos pulavam e dançavam. Explodi de felicidade ao ouvir as músicas com a letra tão boba, mas que me lembravam meus amigos e meu país. Andrew não estava entendendo nada, mas me acompanhou até o meio das pessoas e até se embalou no ritmo da música. Dancei feito uma doida, cantando a plenos pulmões. A verdade é que eu não gostava muito de funk, mas quando você está em uma festa americana, cercado apenas por pessoas que não falam uma singela palavra em português, aquilo era o paraíso. A música acabou e eu já estava sem fôlego, voltamos ao “nosso” sofá dando gargalhadas sobre a minha loucura repentina e expliquei que era apenas pela alegria de ouvir português. Iniciamos uma conversa sobre a tradução das músicas e eu tentei explicar que não era sobre o que elas diziam, e sim sobre a batida envolvente que fazia a gente querer dançar. Ele não comprou muito a minha ideia, então acabei empurrando seu ombro, alegando que ele não compreendia o Brasil.
A festa estava ficando cada vez mais pesada, pessoas se jogavam na piscina, mesmo estando frio, a música tocava frenética, e tinha gente caindo pelo gramado ao nosso lado. Parecia coisa de videoclipe.
— Essa festa foi de zero a cem muito rápido, ou nós estamos muito velhos para isso? — ele perguntou próximo ao meu pescoço, pois eu estava olhando na direção contrária à dele. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram, e ele notou.
— Acho que um pouco dos dois, talvez. — falei rindo. Para falar a verdade, estava começando a ficar com sono. Senti algo ser colocado sobre meus ombros e vi Andrew fazendo o maior clichê de todos: colocou seu paletó sobre meus ombros. Um doce de menino, achando que me arrepiei de frio, quando na verdade foi sua voz ao pé do meu ouvido.
— Você está a fim de ir embora? Posso falar com seu irmão, se quiser... — ele acariciou meu ombro sobre o paletó.
— Claro que não, estou de boa. — falei dando de ombros.
— Você está morta de sono. Como você mesma me listou no começo da festa, você fez mil coisas hoje das quais não está acostumada. Deve estar morta de cansada. Vamos. — ele se levantou e me puxou pelos dois braços. Me fingi de mole, fazendo-o rir. — Vamos até o seu irmão.
Ele me guiou pelas pessoas, segurando minha mão. Subimos para o segundo andar, onde encontrei Tobey conversando com uma mulher muito bonita que eu não conhecia. Andrew falou algo em seu ouvido, e seus olhos azuis encontraram os meus, como se o ponto da conversa fosse eu — e era, é claro. Me adiantei e fui até o outro ouvido de Tobey.
— Pode ficar aí, Tob, vou chamar um Uber. — falei sorrindo, não querendo incomodar de maneira alguma.
— Deixa de ser boba, , o Drew te leva. — ele disse piscando. Só então entendi que Andrew, na verdade, estava avisando que me levaria para casa, e não pedindo para que Tobey me levasse. Tobey me deu as chaves de casa, e eu as agarrei com força.
Andrew me levou em casa — na verdade, seu motorista nos levou. Durante o trajeto, ele explicou que não gostava de dirigir nos Estados Unidos. Quando o carro parou em frente ao portão da casa de Tobey, virei-me para lhe dar um beijo no rosto, mas ele já estava abrindo a porta do carro para me levar até a porta.
— Entenda. — ele disse, notando minha cara surpresa. — Se eu não te entregar sã e salva em casa, amanhã terei o próprio Homem-Aranha vindo arrancar minhas bolas.
Dei uma risada, enquanto ele me acompanhava até a porta. Minha sandália já estava em minhas mãos.
— Obrigada por ficar ao meu lado hoje. — falei quando finalmente chegamos, e eu abri a porta. Subi um degrau e, ainda assim, fiquei mais baixa do que ele.
— Não foi nenhum esforço, sua presença é muito agradável. E convenhamos que seu irmão estava precisando de uma festa daquelas.
— Estava sim. Fiquei feliz por ele. — admiti, colocando as mãos no bolso do paletó que eu ainda vestia. Lembrei-me de devolvê-lo. E Andrew, cheio de clichês que eu já havia notado, me veio com essa:
— Pode ficar, outro dia eu tenho uma desculpa para passar aqui. — piscou e sorriu, aquele sorriso maldito com os dentes bonitos. Eu adorava homens com dentes bonitos, era algo que me chamava muito a atenção. Ele deu um passo em minha direção, o sorriso parou de repente e seus olhos se fixaram apenas em uma coisa: minha boca. E eu, sendo esperta como sou, lambi os lábios, para ver a reação que ele teria. Meu pai amado, me ajuda nesse momento, porque faz tanto tempo que não beijo que estou com medo de fazer fiasco. Consegui ver um meio sorriso antes de nossas bocas se colarem.
Não foi o beijo suave que eu achei que seria; Andrew me empurrou para dentro de casa e me prensou contra a parede, nossas línguas se misturaram e minha mão seguiu para a sua nuca, a outra agarrando o tecido do seu colete na cintura. Seu cheiro me deixou desnorteada por alguns segundos, e acabei esquecendo como se respira. Suas mãos geladas estavam por dentro do paletó, tocando minha pele quente. Uma delas apertava minhas costas, me puxando mais para perto, e a outra estava na barra inferior do meu vestido, sobre a minha bunda, mas sem ultrapassar o limite permitido que eu havia criado na minha cabeça. Sua língua era ágil e habilidosa, e seus lábios eram macios, tão macios que tive vontade de morder — e foi exatamente o que fiz. Parti nosso beijo, o fazendo suspirar enquanto dava um leve puxão em seu lábio inferior. Ao invés de voltar a beijar minha boca, ele desceu os beijos pelo meu queixo, mandíbula e pescoço, onde puxou o ar dramaticamente e falou:
— Caralho, esse cheiro está me deixando louco a noite inteira. — não posso fingir que eu estava bem com aquele sotaque sussurrado no meu ouvido. Minhas pernas já estavam bambas e o meu semblante de mulher brava já estava dando tchauzinho lá da esquina. Eu queria aquele homem, com aquela pegada e aquele pênis roçando na minha virilha, no meu quarto agora, me dando o tapa que a minha bunda merecia. Segurei seu cabelo pela nuca e guiei sua boca novamente à minha. Sua mão que estava em minha bunda desceu e me deu um impulso para que eu enrolasse minhas pernas em sua cintura, e foi o que eu fiz. Suas mãos automaticamente pousaram em minha bunda e seu tronco ficou colado ao meu, e assim pude sentir sua ereção com toda a força possível. Eu sorri entre o beijo, ainda demorando um pouco para aceitar que aquilo estava mesmo acontecendo: Eu estava mesmo beijando Andrew Garfield, beijos estes que estavam deixando ele de pau duro e me fazendo implorar por mais.
E então, tão rápido quanto o beijo se iniciou, o mesmo terminou. Andrew me deu um selinho molhado, cheirou mais uma vez o meu pescoço, como se quisesse guardar o cheiro para si, e se afastou devagar da parede para que eu conseguisse encostar meus pés no chão com calma. Um medo repentino de que eu não conseguisse me manter em pé tomou conta de mim, mas senti minhas pernas firmes. Não falei nada, mas uni as sobrancelhas quando voltamos à porta, e ele riu:
— Não me entenda mal, Maguire. Eu quero, só queria ter certeza de que você também quer. — ele lambeu os lábios ligeiramente rosados. — E sei que você está cansada. Podemos continuar isto em algum momento em que você não esteja assim.
— Você é bem convencido, sabia disso? — perguntei, juntando a sandália que eu nem sei como foi parar no chão. Sua ereção ainda era visível pela calça sob medida.
— Sei sim, eu sou convencido e você beija muito bem. Então acho que estamos quites. — falou ele, afastando-se e acenando para mim enquanto entrava no carro.
— E quem disse que vamos continuar isso em algum momento? — tentei me fazer de durona, mesmo que instantes atrás estivesse completamente perdida.
— Qual é, Maguire, nós dois sabemos que isso não vai acabar aqui. — piscou e fechou a porta do carro.
Acordei e olhei para o meu celular, que até então estava abandonado, e sentei-me na cama de supetão. Mais de 50 mil pessoas haviam me seguido no Instagram naquela noite. Pessoas respondiam meus stories e me enviavam directs. No Reels só dava vídeos meus, trechos em que Tobey e eu nos olhávamos e sorríamos cúmplices, com frases dizendo:
“Amor de irmãos”
“Só quem tem irmão entende esse olhar”
“Eu amo os irmãos Maguire”
Havia um artigo inteiro no BuzzFeed falando sobre minha vida e como minha atitude havia salvado Tobey do terrível divórcio.
Havia vídeos e mais vídeos de Tom Holland e Andrew à minha frente beijando minha mão com os dizeres:
“Eu só queria ter a sorte da irmã do Tobey”
“É errado shippar?”
“Quero uma fanfic na minha mesa para ontem”
“Zendaya, cuidado!”
Havia também um artigo completo na E! sobre o meu vestido e minha postura na première.
Fiquei zonza. No geral, as pessoas gostaram de mim. Não que eu precisasse de aprovação, mas era terrivelmente assustador ter seu nome divulgado em toda a internet.
Tobey não tinha redes sociais, o que tornava as coisas mais difíceis. Respondi os directs que eram dos meus amigos e resolvi bloquear a opção de responder stories.
Desci as escadas e Tobey já estava lá.
— Bom dia, como foi a noite? — perguntei, querendo saber se ele tinha trazido a mulher para casa ou não.
— Na verdade, foi ótima. Seu irmão não perdeu a forma durante esse tempo casado. — gabou-se brincalhão, e eu dei um tapa no braço dele, rindo.
— E como foi com o Andrew?
— Você quer mesmo saber? — perguntei unindo as sobrancelhas. Eu ainda sentia a pressão dos lábios dele contra os meus. Estava com preguiça de fazer algo para comer, então apenas acompanhei Tobey nas frutas que estavam no centro da bancada, junto com uma boa xícara de café que Beth já havia passado.
— Sim... Não sei... Talvez? — respondeu ele, arqueando as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Ele foi muito gentil comigo a noite inteira, flertamos bastante... E vou te poupar de qualquer outro detalhe, porque tem coisas que os irmãos não precisam saber. — disse, tomando um gole rápido de café. Ele riu, concordando.
— E hoje, o que faremos? — perguntei, mudando de assunto.
— Hoje você vai conhecer os meus filhos. — disse ele, sorridente. Comemorei, pois já havia perguntado tanto sobre eles que Tobey estava ficando chateado por não conseguir me apresentar a eles pessoalmente até então. Não é que ele não pudesse, ele podia, mas não queria forçar a ex-mulher a nada que pudesse interferir na divisão de guarda que o juiz ainda estava decidindo.
Por enquanto, a divisão era de duas semanas com cada um, o que era a melhor opção para ambos. Mas ela poderia entrar com algum recurso dizendo que ele era muito ocupado e que as crianças passavam mais tempo com babás do que com ele, o que poderia reduzir consideravelmente o tempo de guarda dele se ela conseguisse provar. Ela podia? Não sei, mas ele não queria mexer em time que está ganhando.
Quando as crianças estavam com ela, os domingos eram dele, e vice-versa. Porém, como era época de provas e Tobey estava todo ocupado com entrevistas, divulgação do filme e etc., ele conversou com ela para ficar com as crianças apenas nos fins de semana. Eu desconfiava de que eu tinha algo a ver com isso também.
Ele preferiu ir buscar as crianças sozinho, e não o julguei por isso.
Enquanto esperava ele voltar com meus sobrinhos... sobrinhos. Era estranho dizer isso. Tomei um bom banho para tirar qualquer resquício de maquiagem que eu não tivesse conseguido remover ontem, pois estava meio bêbada. Fiz todo o meu skincare e fui para a sala esperá-los.
Um minuto depois que me sentei para assistir a um episódio qualquer de The Office, a campainha tocou.
Ouvi os passos de Beth se aproximando para abrir, mas avisei que eu atenderia.
— Finalmente posso tocar a sua campainha e entrar pela porta da frente! — Tom Holland, em pessoa, falou assim que abri a porta. Depois, ficou quieto ao me ver. — Desculpe, ainda não estou acostumado com você aqui. — e já abriu os braços para um abraço que retribuí. Me peguei pensando em como eles tinham essa ligação estranha, se só haviam feito um filme juntos. Será que era o poder do Homem-Aranha unindo esses caras? Porra, ele era o Tom Holland, não tinha amigos não? Parei por um segundo, pensando que ele talvez se sentisse tão confortável porque ninguém mais entendia o que ele estava passando. E que, no fim, eu não devia me meter na vida dos outros.
— Tudo bem. — apenas falei, sorrindo. — O Tob não está. Ele foi buscar os filhos pra eu conhecer. Quer entrar? Ele já deve estar chegando.
Ele pareceu pensar por um instante.
— Acho melhor não. Não quero me intrometer no lance de família de vocês. — eu podia dormir ouvindo ele lendo um livro com esse sotaque maravilhoso. Harry Potter, talvez? Eu amava como eles falavam Poh-er.
— Você sabe que não vai se intrometer, certo? — perguntei, sabendo que Tobey não se incomodaria.
— Vou sim. Tenho esse problema, sabe? Não consigo perceber o quanto tô incomodando. Mais tarde eu volto, ou outro dia. É só que estou com uma ótima notícia e quero contar a ele em primeira mão. — Tom parecia empolgado, até ligeiramente ansioso.
— Tem certeza? — perguntei, levantando uma sobrancelha.
— Tenho sim, pequena Maguire. Até outro dia. — falou ele, me dando um beijo no rosto e saindo tranquilamente até o carro.
— Vou avisar ao Tobey que você esteve aqui. — falei um pouco mais alto para ele ouvir, e ele fez um joinha com a mão antes de entrar no carro.
Aquela cena me fez lembrar de ontem e pensar em como duas pessoas podiam ser tão diferentes.
Devo admitir que não pesquisei muito sobre a vida dos meus sobrinhos antes de encontrá-los pessoalmente. No entanto, eu estava esperando crianças. Crianças de, no máximo, 10 anos.
Meu irmão trouxe uma adolescente de 15 anos e um pré-adolescente de 12. Eu não fazia ideia do que eles gostavam ou não gostavam. Por sorte, depois que Tom foi embora, ao invés de assistir à televisão, resolvi fazer um bolo para recepcioná-los, e isso acabou quebrando um pouco o gelo.
— Por que você não me contou que eram dois adolescentes? — cochichei para Tobey enquanto nós dois observávamos, encostados na pia, aqueles dois lindos espécimes de grandes olhos azuis e cabelos loiros que caíam em cachos largos.
— Achei que você sabia! — ele se defendeu, falando no mesmo tom que eu.
— Eu não sei lidar com adolescentes, principalmente com adolescentes que não criei. Do que eles gostam?
Otis adorou o bolo, já estava na terceira fatia. Ruby comeu apenas uma e agora olhava para o celular, entediada. Senti o desespero subir pela minha cabeça em menos de um segundo: eu seria a tia chata!
— Otis, vai devagar no bolo. Não quero você tendo outra indigestão. — Tobey falou, rindo, e Ruby também riu.
— Da última vez, Otis cagou na calça. — Ruby disse, olhando para mim e caindo na gargalhada. Dei uma risada também, mas me contive para que Otis não se sentisse mal.
Ele virou-se para mim e disse:
— É que eu adoro bolo. — a boca estava toda lambuzada da cobertura de ganache que eu havia feito. — Foi você que fez?
Concordei com a cabeça.
— Uau, você pode fazer outro à tarde? Pra eu levar pra comer na casa da minha mãe. — ele disse, encantado.
— Só se você me ajudar. — fiz a tentativa, e ele gostou da ideia.
Tobey olhou para mim com orgulho, como quem diz: “Viu só? Você tem jeito.”
— Nossa! Essa daqui é você? — Ruby disse, virando o celular para nós. Na tela, a foto que aparecia era Tom me abraçando. Ela deslizou o dedo sobre a tela, e depois apareceu a foto em que os dois estavam beijando minhas mãos.
— Ruby tem um crush no Tom. — Tobey me informou, cochichando. Apenas assenti, disfarçadamente.
— Essa sou eu, sim. — falei, colocando o cabelo para trás da orelha, meio sem graça.
— Que sortuda! Eu queria ir a uma première assim, mas o papai nunca nos leva! — ela bufou, largando-se sobre a mesa.
— O pai de vocês não leva porque a mãe de vocês não deixa. — Tobey falou simplesmente, dando de ombros.
— Bom, talvez ela esteja certa, e esse não seja o melhor lugar pra vocês irem. É muita invasão de privacidade. — falei, dando de ombros também. — Eu fui, e hoje, na internet, só aparecem essas fotos, pessoas misturando meu sobrenome com o deles e criando teorias de que eu deveria namorar com eles. Talvez, só talvez, eu ache que vocês estão muito novos pra esse tipo de relação com a internet. — expliquei, e Ruby deu de ombros, como quem diz "whatever".
— Então você conheceu o Tom? Como ele é pessoalmente? Papai só diz que ele é um banana. — falou ela, e Tobey caiu na risada.
— Não fale isso para os outros, querida. — advertiu, ainda rindo.
— Ele é um amor de pessoa. Falando nisso, esteve aqui meia hora antes de vocês chegarem. Disse que tinha uma novidade pra te contar e que talvez voltasse aqui hoje mesmo. — falei mais para Tobey do que para Ruby.
— Ah, papai, chama ele pra vir aqui! Antes que ele vá embora pra Inglaterra. Vai que ele se apaixona por mim! Por favor, por favor! — Ruby suplicou, enquanto o irmão ainda se empanturrava de bolo.
— Ele é dez anos mais velho que você, querida, e está namorando, lembra? — explicou Tobey, enquanto tirava o resto de bolo da mesa e colocava na geladeira.
Ela voltou a ficar emburrada, como uma adolescente normal. Otis, que até então não havia dito nada além de elogiar o bolo e pedir mais, levantou o moletom que usava e mostrou a todos o tamanho da barriga espichada dele. Caímos na gargalhada.
Por fim, seria mais fácil do que eu realmente estava preocupada. Era só entender o que era BTS, TikTok, Harry Styles (em carreira solo, pois fiquei sabendo que One Direction já estava ultrapassado) e, por algum motivo que eu não havia entendido, Taylor Swift. Ela era da minha época de adolescente e ainda está em alta. Como isso é possível? Decidimos assistir a um novo filme da Disney, enquanto Otis e Ruby fizeram as dancinhas que estavam em alta na internet. Passamos o dia inteiro com eles. Ensinei-os a falar algumas palavras em português, Tobey e eu contamos nossa história, e, no fim da tarde, Otis e eu fomos fazer o bolo, enquanto Tobey e Ruby conversavam sobre qualquer aleatoriedade.
Otis ficou absolutamente encantado com minha habilidade na cozinha e admitiu que adorava tudo relacionado à culinária. Disse que gostaria muito de fazer um curso, mas que a mãe dele não o incentivava porque não era uma "boa profissão". Me frustrei por um segundo, corri para o segundo andar, peguei meu dólmã e meu toche blanche, que estavam na minha mala, e levei a ele.
Fiz ele vestir a roupa, e por um momento achei que fosse a criança mais feliz do mundo. Correu para a sala para mostrar ao pai e à irmã, fez pose para as fotos e disse que queria um igualzinho quando crescesse. Meu ego e minha felicidade foram às alturas. Tobey olhou para mim do outro lado da sala com os olhos marejados. Por que aquilo estava na minha mala? Não sei, mas valeu a pena trazer.
Fizemos o bolo juntos. Ensinei-o a usar uma batedeira planetária e o dosador, fiz ele me prometer que não ia contar à mãe dele que deixei ele usar uma faca de verdade, e o ensinei a cortar o chocolate em lascas. Ele sugeriu usarmos morango no recheio, e foi isso que fizemos. No final, virou um naked cake de chocolate com morango. O bolo ficou tão lindo que Ruby fez um TikTok exclusivamente para apresentá-lo, onde deixou bem explícito que eu era a tia que fez o Tom Holland e o Andrew Garfield se curvarem diante de mim. Não neguei nem pedi para ela excluir essa parte. Ela queria engajamento com os seguidores; eu queria engajamento com meus sobrinhos.
Já eram 20h quando Tobey saiu para levá-los. Fiquei limpando a bagunça que fizemos na cozinha.
— Sra. Maguire, pode deixar que eu limpo a bagunça. — Beth veio até mim, tentando me enxotar da cozinha. Dei uma risada.
— Beth, de onde eu venho, quem faz a sujeira faz a limpeza. Não se preocupe comigo, pode ir. — falei, querendo ser simpática, e ela aceitou de bom grado. Quando estava saindo da cozinha, a porta da frente tocou.
— Pode deixar que pelo menos isso eu faço. — ela disse sem graça e seguiu até a porta.
Um minuto depois, ouvi aquele sotaque que já me soava familiar.
— Ouvi dizer que você fez um bolo e tanto.
Virei-me apenas para mostrar minhas mãos sujas de sabão como desculpa por não cumprimentá-lo corretamente.
— Dá até pra escolher, tem de chocolate e chocolate com morango. Aceita um pedaço? — perguntei de costas para ele. Eu usava um short "mom jeans" de cintura bem alta e uma blusa com estampa de melancias por dentro do short.
— Olha, se não for muito trabalho, vou aceitar um pedaço do de chocolate com morango. — ele disse, com as mãos dentro do bolso da calça, encostado no batente da porta da cozinha.
— Pelo amor de Deus, Tom, entre e fique à vontade. A casa não é minha, mas você a conhece melhor do que eu. Tob já deve estar vindo. — eu disse, agoniada com toda aquela formalidade dele. Ele ficou em silêncio, mas sorriu enquanto puxava uma banqueta para se sentar.
Sequei as mãos. Eu não gostava de servir coisas malfeitas. Sou uma cozinheira sous-chef de um restaurante renomado e ganhador de uma estrela Michelin, ainda mais para uma pessoa como Tom Holland. Por esse motivo, peguei um morango na fruteira, uma faca no meu estojo e fatiei o morango em menos de um minuto, de modo que ele ficou parecendo um leque. Peguei um prato branco, cortei uma fatia generosa do bolo, acomodei o morango ao lado e, da geladeira, peguei uma bisnaga com o restinho da geleia de morango que havia sobrado do bolo. Fiz um risco certeiro ao lado da fatia, de modo que o prato ficou parecendo um quadro contemporâneo.
Tom estava boquiaberto.
— Como você fez isso em menos de um minuto? — perguntou, enquanto eu apenas dava de ombros, depois de me gabar na frente dele daquele jeito. A verdade era que eu amava cozinhar, então, qualquer oportunidade que eu tinha de fazer algo bem-feito, eu fazia.
— É prática, não precisa achar que é algo fora do normal. — falei, indo pegar um garfo para ele na gaveta de talheres.
— Foi muito bom! Confesso que fiquei com um pouco de medo desse kit de facas. — ele disse, pegando um pedaço do bolo. Fechou os olhos e mexeu a cabeça para os lados, como se estivesse curtindo a vibe. — Meu Deus, que bolo... — nem terminou a frase, pois já enfiou outro pedaço na boca.
Eu sorri, vitoriosa, enquanto ele terminava o pedaço.
Terminei a louça rapidamente enquanto ele comia o bolo e, enquanto passava um paninho na pia, ouvi sua voz tão perto de mim que acabei dando um pulo:
— Esse bolo foi a segunda melhor coisa que me aconteceu hoje. — ele disse enquanto colocava o prato na pia, sem maldade. Fiz a desentendida e não lavei o prato, pois a pia já estava impecável.
— Sério? E qual foi a primeira? — perguntei, cruzando os braços, vendo-o voltar ao seu lugar na bancada.
— Estou esperando seu irmão chegar pra contar. — ele disse, fechando os olhos como quem diz "espera e verás".
Sentei-me junto a ele para lhe fazer companhia.
Eu não tinha assunto para puxar com ele. Ficamos em um silêncio constrangedor por volta de um minuto, até ele quebrá-lo:
— Você viu as fotos de ontem? Ficaram ótimas. Você estava linda. — disse sem graça, olhando a própria mão enquanto falava.
— Ah, obrigada. Você também estava. — falei, tão sem graça quanto ele. — Você fica ótimo de óculos, devia usar mais vezes. — não o deixei responder. — Eu vi algumas fotos, sim. Alguns vídeos também. Na verdade, fiquei meio assustada com como a internet é rápida nesse quesito.
— Você se acostuma logo. Eles gostaram de você. Você é exótica, é completamente diferente do seu irmão, então é carne fresca pra comentarem. Ontem, a novidade era Tobey e Andrew, então foi normal que focassem em você também. — ele disse, dessa vez olhando para mim. — E o seu vestido, com as cores do Homem-Aranha, só fez tudo ficar ainda mais divertido.
— O vestido foi ideia do Tobey. — admiti. — Você toma alguma coisa? Quer uma cerveja? Acho que tem aqui em algum lugar... — falei, levantando-me para pegar na geladeira.
— Vou aceitar. Preciso comemorar.
— Você está deixando muito suspense no ar. Estou ficando com medo dessa notícia. — comentei. Peguei duas long necks que havia na geladeira, abri com o auxílio de um pano e entreguei uma a ele, que logo levou a garrafa à boca para tomar um gole.
— NÃO! — gritei, mais alto do que deveria, e ele paralisou com a garrafa encostada na boca. — Bebeu sem brindar, dez anos sem transar!
— O quê?!
— É algo que só faz sentido no Brasil, porque tem rima, mas é algo muito sério. — falei, levantando minha garrafa até ele, que, ainda meio assustado, brindou comigo.
— Você me assusta, sabia? — ele bebeu um gole da cerveja, me olhando com as sobrancelhas unidas. — Dez anos sem transar... Isso não faz sentido nenhum.
— Bom, dizem que dá azar beber sem brindar. Você não sabia? Nesse caso, o azar é ficar dez anos sem transar.
— Dez anos sem transar é um absurdo! — ele disse, indignado.
— Quem ficou dez anos sem transar? Você? — Tobey entrou na cozinha de supetão, nos assustando.
— Sua irmã está lançando uma praga brasileira em mim. Disse que vou ficar dez anos sem transar. — Tom resmungou, bebendo mais um gole.
— Bom, você já passou 25 anos da sua vida sem transar. O que são mais dez? — Tobey brincou, me fazendo rir, e Tom arremessou a tampinha da garrafa nele.
— Vão se foder vocês dois! Estão tirando sarro da minha cara!
Tobey nos acompanhou na cerveja e colocou um pacote de amendoim no meio da mesa para beliscarmos. Tom estava completamente ansioso, mas aguardava Tobey sentar conosco para iniciar a conversa. Por um momento, me senti uma intrusa.
— Tom, você prefere que eu saia? Estou sendo completamente invasiva.
— Claro que não, mas será que você não poderia colocar uma musiquinha para animar? — comentou ele, sorrindo.
Fui até a Alexa mais próxima e pedi para ela tocar No Scrubs na casa inteira. Essa música vagava pela minha mente desde ontem à noite e nada fazia com que saísse. Talvez escutá-la ajudasse. Voltei para a cozinha, e ele me aguardava para dar a notícia. Tobey arqueou as sobrancelhas e levantou os ombros como quem diz: “Tô entendendo nada”.
— Então... — ele esfregou as mãos. — Minha assessora me ligou hoje de manhã e disse que eu e Zendaya estamos livres pra terminar o namoro. Só precisamos dar uma entrevista pra algum meio de comunicação famoso, ela até sugeriu uma lista, pra nos explicarmos melhor, dizer que não havia química ou algo assim. E pronto! Estou livre!
Tobey e eu aplaudimos. Tobey inclusive se levantou e eles se abraçaram, um abraço longo que encheu os olhos de Tom de lágrimas.
— Você não sabe como é difícil. — disse Tobey para mim. — Só quem já esteve em uma relação dessas entende como é estar preso por um contrato milionário, fazer aparições e entrevistas falsas, e não poder se envolver com ninguém enquanto o contrato não for revogado, por medo de que a imprensa veja algo estranho.
— Eu amo a Zen, amo de verdade, do fundo do meu coração. — Tom complementou. — Ela é sensacional, uma mulher excepcional, mas, quando a gente se beijava, eu sentia como se estivesse beijando um irmão. Não uma irmã, um irmão mesmo, de tão forte que nossa ligação como amigos era. Ela sente exatamente o mesmo. Por sorte, ainda nos gostamos. Seu irmão não pode dizer o mesmo.
Olhei para Tobey com pena nos olhos, e ele os baixou imediatamente.
— Eu nem sequer gostava de Kirsten. Ela era uma colega de trabalho e nada mais. Foi bem difícil manter as aparências... Por sorte, a internet não era como é hoje, senão com certeza teria sido mil vezes pior. — ele tomou um gole da cerveja. — Me lembro perfeitamente do dia em que me disseram que podíamos terminar. Foi um alívio absurdo.
— Eu nem consigo imaginar. É pior do que um relacionamento abusivo. — falei, por fim.
— O relacionamento abusivo está nas entrelinhas dos contratos. São preços a se pagar pelo sucesso. Infelizmente, os tabloides ainda mandam bastante. — disse Tobey, intercalando com a cerveja. — Em filmes com público adolescente, isso é muito comum. Lembra de Crepúsculo? Da Stewart e do Pattinson? Mesma coisa.
— E o Andrew e a Emma? — perguntei, finalizando minha cerveja e levantando-me para disfarçar minha curiosidade.
— Ah, não. — Tom falou, como se eu tivesse ofendido. — Eles foram de verdade. Andrew sente até hoje.
Peguei uma cerveja para cada.
— O deles foi real. Teve contrato, mas não teve mentira. — Tobey explicou melhor.
— Pessoa certa, momento errado. — disse Tom, aceitando a cerveja que ofereci.
— Como assim, momento errado? — perguntei.
— Você nunca ficou com uma pessoa e, depois, pensou: “Se eu tivesse conhecido essa pessoa com uns 35 anos, eu casaria com ela; hoje ainda não estou pronta para casar”? — perguntou Tobey, terminando a cerveja que tinha nas mãos.
— Não. Acho que ainda não encontrei essa pessoa. — falei, sincera, dando de ombros.
— Bom, um dia você vai conhecer. E pode ter certeza de que o Drew ainda pensa nisso quando deita a cabeça no travesseiro algumas noites. Emma era a alma gêmea dele. — disse Tom, soltando um suspiro longo e romântico. — É por isso que ele não está aqui hoje. Ele não tem a mesma história que nós, não se conectou como nós.
— Olha, se for parar pra pensar, quem mais deve ter sofrido foi ele. O de vocês teve mentira e sofrimento. O dele teve verdade e sofrimento. Vocês sabiam que o de vocês ia acabar em algum momento; ele não queria que acabasse, mas acabou. — falei, levantando uma das sobrancelhas, enquanto eles se entreolhavam.
— Nunca pensei por esse lado. — Tom falou, sem graça.
— Pensem bem. São situações opostas. Vocês estavam infelizes durante o relacionamento; ele estava extremamente feliz. No término, vocês explodiram de felicidade; já ele... — deixei a frase no ar. Andrew parecia muito bem no tempo em que passamos juntos. Afinal, já fazem alguns bons anos que o relacionamento dele com Emma acabou, mas nunca se sabe o que se passa dentro da cabeça de cada um. Espero realmente que ele esteja bem.
Por pelo menos um minuto, todos ficamos em silêncio, apreciando nossas cervejas e a música, que já havia mudado para Tongue Tied.
— Essa música me deixa feliz. Vamos fazer uma festa pra comemorar! Chamamos só os mais chegados. Preciso extravasar essa alegria sem fim que está dentro de mim! Vai ser a primeira festa em que vou estar solteiro em um bom tempo. — disse Tom, entornando a cerveja que eu havia dado de uma só vez.
Tobey, o recém-divorciado que parecia ter voltado aos 20 anos, fez exatamente a mesma coisa, batendo a cerveja com força sobre a mesa:
— Vamos! Eu preciso de festa. Sou um recém-divorciado, porra!
— Vocês parecem dois adolescentes. — falei, fingindo que não ia adorar uma festa com aqueles dois.
— Você pode ficar feliz, nós vamos convidar o Andrew... — Tobey disse e levantou-se rápido para se esconder. Levantei a mão para lhe dar um tapa, mas ele escapou. Dei uma olhadela para Tom, que sorria sem qualquer tipo de manifestação de ciúmes. O que era óbvio. — Brincadeira, maninha. — disse ele, beijando o topo da minha cabeça.
— É claro que vamos convidar ele. Estou com peso na consciência depois do discurso que você nos deu sobre ele estar na pior, sem superar a Emma. — Tom riu, e Tobey o acompanhou.
— Eu não disse que ele estava na pior, só disse... Ah, vocês entenderam! — eles caíram na gargalhada.
Ficou decidido: na quarta-feira, teríamos uma festa na casa de Tobey, e até o fim de semana teríamos mais uma festa que não ficou decidida onde.
— Temos mais uma festa pra organizar, mas essa tem que ser com tempo. — olhei sugestiva para Tobey, que pareceu pensar por tempo demais.
— Seu aniversário? — Tom sugeriu, e Tobey arregalou os olhos, envergonhado.
— Claro. Dia 14 de fevereiro. — Tobey fez questão de falar a data para me mostrar que sabia.
— No Dia dos Namorados? — Tom perguntou intrigado.
— No Brasil não é Dia dos Namorados, então, para mim, é só mais um dia. — expliquei, e ele ficou animado.
— Vamos fazer uma festa temática! Não necessariamente do Dia dos Namorados, mas você tem que fazer. — Tom disse mais empolgado do que eu esperava. Ou ele era muito empolgado com festas, ou estava muito empolgado para passar o Dia dos Namorados solteiro. Mas, pelo que eu me lembre, o Dia dos Namorados nos Estados Unidos é uma festa meio triste para os solteiros. Porém, isso podia muito bem ser apenas uma versão boba de filmes de romance que eu havia criado na minha cabeça depois de muitas comédias românticas assistidas.
— Só se você vier vestido de cupido. — falei, sorrindo persuasiva, piscando um dos olhos e mordendo levemente a ponta da língua. Tom mordeu o lábio inferior, unindo as sobrancelhas.
— E trabalhar como pombo-correio a festa inteira, levando cartinhas de uma pessoa a outra sem contar quem foi. — Tobey disse, no mesmo tom que eu, desafiando-o com uma sobrancelha levantada.
— Ela já tinha me convencido, cara. Você não precisava ter tentado ser sexy pra cima de mim.
Conversamos mais um pouco e acabamos decidindo que minha festa seria, sim, temática do Dia dos Namorados, com corações vermelhos e rosas por todos os lados. Haveria um estande onde as pessoas escreveriam bilhetes, e um cupido, que não precisaria ser necessariamente o Tom, faria as entregas. Haveria também — exigências de Tobey — um estande onde alguém faria todos os tipos de drinks que eu quisesse, para que ninguém mais me pedisse esse tipo de coisa durante minha própria festa. Tobey deixou à vontade para eu pedir o que quisesse, então solicitei que houvesse docinhos brasileiros no modo mais tradicional possível: brigadeiros, beijinhos, cajuzinhos, casadinhos e leite ninho com Nutella. E, é claro, a playlist devia ter algumas músicas brasileiras para que eu pudesse cantar quando estivesse bêbada.
Os dois gostaram das ideias, e Tobey anotou tudo em um app no seu celular, para que lembrássemos de tudo depois. Criou até um lembrete com a Alexa para não esquecermos da festa, como se fosse possível depois de tantos planos.
Meu coração ficou quentinho depois de todo esse planejamento. Seria a última semana que eu passaria aqui, e seria muito bom passar meu aniversário com Tobey depois de tantos anos.
Eu sentia que nosso laço estava mais forte do que nunca e seria eternamente grata por aquela ligação que ele fez e mudou completamente a minha vida.
Tobey me levou para passear, visitamos alguns lugares históricos e compramos uma Polaroid em uma loja de esquina para registrarmos alguns momentos juntos. Pedimos para as pessoas tirarem fotos nossas, compramos óculos iguais e sorvetes, fizemos caretas e rimos até nossas barrigas doerem. Nunca achei que estaria neste lugar um dia, sendo feliz e rindo com meu irmão enquanto nos divertíamos de verdade e tentávamos apagar tudo o que havia passado.
Eu já sentia um amor por ele que era difícil descrever. Não achei que ia esquecer o passado tão rápido, mas ver que ele ainda era o irmãozão que eu lembrava fazia meu coração ficar quentinho. Tantas noites passei em claro, pensando em minha mãe, em como ela havia sido forte, e agora, ao lado dele, eu via ainda mais o quanto ela sofreu para esquecer, também, o filho que ela nunca teve, mas que havia apagado da sua vida. Tobey era amigável, carinhoso e gentil, o completo oposto do que os paparazzi normalmente registravam dele. Ele parava para tirar fotos com fãs e assinar papéis, as crianças apontavam para ele e acenavam, e o sorriso em seu rosto nunca saía de lá. Mas o encontro com qualquer fotógrafo escondido o fazia fechar o rosto imediatamente e resmungar baixinho até supostamente estarmos fora de vista. Acabei me acostumando, mais facilmente do que esperava, com essa vida de irmão famoso, já que, para mim, ele era apenas o meu irmão mais velho.
Algumas horas depois de voltarmos de nosso passeio, fotos nossas já estavam na internet. Títulos exagerados e atraentes estavam no topo das manchetes de colunas bobas de fofoca:
“Irmãos Maguire se divertem durante tarde ensolarada de inverno”;
“Veja 10 motivos para amar os irmãos Maguire”;
“ Maguire e as suas tatuagens descoladas”;
“ Maguire: tudo o que você precisa saber sobre a meia-irmã de Tobey Maguire”.
Cliquei nesta última opção por curiosidade e acabei vendo bobagens das quais já esperava:
" , 28 anos, é a mais nova queridinha do momento. Depois de aparecer de surpresa no red carpet acompanhando seu recém-divorciado irmão Tobey Maguire, a brasileira arrancou suspiros de toda a plateia, mostrando toda a sua simpatia ao lado de todo o elenco do filme Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Além da beleza exótica, a moça mostrou bom gosto e requinte ao utilizar um vestido modificado especialmente para a première do filme, com maquiagem e cabelos que disputavam frente a frente com ninguém menos do que Zendaya.
Continue lendo abaixo para saber todos os detalhes da vida dessa mulher que arrasou com o coração de todos os fãs que foram à première para ver Tobey Maguire e se surpreenderam com a agradável surpresa."
O artigo seguia com detalhes inexplicáveis sobre a minha vida, inexplicáveis porque eu não sabia como haviam desenterrado tantas coisas sobre mim. Não costumo utilizar muito as redes sociais, com exceção do Instagram, então acabei me preocupando com os meios de investigação. De qualquer maneira, não me importei muito com aquilo, mesmo sabendo que era por esses motivos que meu irmão abominava os paparazzi.
— Sei que você não se preocupa muito com isso, mas me desculpe por todo esse incômodo que estão te dando na mídia. Você sabe que não suporto isso, certo? Mas, infelizmente, não tem como lutar, eles são invencíveis. — disse Tob, colocando a cabeça para dentro do meu quarto, depois de dar uma batidinha na porta.
— Não se preocupe com isso. Não vou dizer que é a vida que eu pedi, mas não me arrependo de ter vindo. — respondi, e ele sorriu amigavelmente.
— À noite vou te levar para comer sushi, o que acha? — perguntou ele, ainda apenas com a cabeça na porta.
— Acho ótimo. Você sabia que eu amo culinária japonesa? — perguntei, pois não lembrava de ter dito.
— Não, aprendi lendo o artigo sobre 10 curiosidades sobre você. — disse ele, dando risada, enquanto eu arremessava uma almofada em sua direção.
Tomei banho e me arrumei para irmos ao restaurante. Escolhi uma calça jeans rasgada e um cardigã listrado com cores pastéis. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo bem alto e soltei alguns fios próximos da orelha. Nada de maquiagem.
Desci as escadas ao encontro de Tobey e percebi que ele não estava sozinho. Meu coração deu um pulo forte em meio aos batimentos normais quando avistei aquele sorrisinho travesso novamente: Andrew.
Beijei seu rosto enquanto ele me analisava dos pés à cabeça com aqueles olhos bondosos, mas ardilosos que tinha. Seu cheiro estava maravilhoso, o que eu supus ser algo recorrente.
— Drew apareceu de surpresa, quer te perguntar algo. — Tobey sorriu sacana para mim. Uni as sobrancelhas e cruzei os braços, dando minha atenção a Andrew.
— Bom, eu gostaria de saber se você se interessaria em ir à première de Tick, Tick… Boom! como minha acompanhante. Não se sinta pressionada, é que eu tenho direito a acompanhante, mas não tenho necessidade disso. Só achei que você fosse gostar, já que acompanhou seu irmão nesse fim de semana e… — sua voz foi sumindo aos poucos.
— O que você acha, Tob? — perguntei, dando atenção a Tobey. Eu não sabia o que pensar. Não sabia se era bom ou ruim. A opinião sincera de Tobey seria uma grande ajuda. — Seja sincero.
— , não vejo por que não. Vocês dois se deram bem desde o primeiro momento em que se encontraram. A não ser que você ache que seja um problema, não tenho motivos para você não ir. — Tobey disse, dando de ombros e coçando a cabeça. Eu via sinceridade no seu olhar e, na verdade, via também um brilho que talvez dissesse "seja você mesma".
— Quando é? — perguntei, unindo as sobrancelhas e olhando no fundo dos olhos castanhos daquele estranho que havia me prensado contra a parede alguns dias atrás. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram; por sorte, não estavam à vista.
— Quinta-feira. Na verdade, é na sexta, mas teríamos que sair daqui na quinta. — ele respondeu, colocando as mãos na cintura. — Ei, está tudo bem se você não quiser ir, de verdade. É só que gostei da sua companhia no fim de semana e achei interessante repetir a dose.
Eu via sinceridade no seu olhar. Não sei como essa minha leitura de personalidades funciona, mas não costuma falhar.
Bom, vamos aos fatos. Primeiro de tudo: não sou comprometida. Segundo: ele aparentemente também não. Terceiro: se ele está chamando, não é só por educação, pois podia simplesmente nem mencionar nada disso e eu provavelmente nem ficaria sabendo. Quarto: ele era um cara lindo, cheiroso, charmoso, famoso e absolutamente tentador. E quinto: eu não conseguia encontrar motivos para não ir.
— Claro, por que não? — falei, levantando as mãos e sorrindo. Andrew soltou o ar pela boca e sorriu tão abertamente que guardei aquela imagem em uma caixinha separada no meu cérebro. Tobey sorriu também e o convidou para ir conosco comer sushi. Andrew negou fervorosamente, dizendo que tinha compromissos, e agradeceu-me.
Passei o jantar inteiro avoada, minha cabeça nas nuvens enquanto Tobey fazia os pedidos.
— Você está bem? — perguntou ele, unindo as sobrancelhas, enquanto passava um pouco de wasabi sobre o seu salmão.
— Estou sim, só estou... — perdi as palavras. — Avoada? Minha cabeça ainda não digeriu o convite de Andrew. Está tudo indo tão rápido.
— Se você não está confortável com isso, posso ligar para ele ou passar o número dele para você. Ele é estranho assim mesmo, você se acostuma. Ele é um cara do bem. Só gostou de você. Ele e Tom, para falar a verdade.
Eu o encarei, virando a cabeça ligeiramente para a esquerda, mostrando minha confusão.
— Ah, , qual é. — riu da minha cara. — Os dois estão caidinhos por você. Por que você acha que Tom aceitou se vestir de cupido no seu aniversário? Por que você acha que Andrew veio pessoalmente te chamar para acompanhá-lo?
— Por que eles estão sem opção? — sugeri, pegando um pouco de gengibre, colocando sobre meu sushi e levando-o à boca.
— Na verdade, é o oposto. Opção eles têm de monte. Agora, uma opção bonita, conhecida, que não é famosa a ponto de causar um escândalo, porém confiável o suficiente para saber que não vai sair correndo para o jornal local contando o que vocês fizeram e onde... — ele disse, suspirando no final. — Você não sabe como é difícil encontrar alguém assim. Por isso, entendo o fato de eles estarem encantados por você.
— Eles não estão encantados, Tob, para com isso. Que besteira. Eu estar encantada por eles é algo entendível. O contrário é, no mínimo, absurdo. Eu sou a , lembra? A garota caipira do sul do Brasil que nunca havia andado de metrô até os 20 anos de idade.
— ... — ele iniciou a fala.
— Pode me chamar de . — o interrompi. Desde a primeira ligação que ele me fez no ano passado, ele não me chamava mais pelo apelido. Achei que já estava na hora de devolver esse crédito.
Juro que pude ver seus olhos brilharem. Tobey segurou minhas duas mãos sobre a mesa e baixou a cabeça, sorrindo. Porém, quando levantou, as lágrimas corriam teimosas por suas bochechas.
— Ei. — chamei-o e fiz carinho em suas mãos. — Não é grande coisa.
— É sim, . Quando você falou aquilo para mim, foi um chamado. Meu coração se despedaçou, sabe? Obrigado por estar dando essa oportunidade de me reconstruir. Isso é muito importante para mim.
— Você é importante pra mim também. — olhei em seus olhos, e tudo que pude ver foi orgulho e admiração. Meu sentimento era recíproco.
— Você é uma das mulheres mais incríveis e talentosas que já tive o prazer de conhecer. Não se subestime. Se empodere e faça aqueles dois paspalhos comerem areia por você.
Terminamos de comer e continuamos falando aleatoriedades até o restaurante quase fechar.
No dia seguinte, Tob adiou a festa que havia combinado com Tom para o fim de semana, já que nem eu nem Andrew estaríamos presentes, e Tom pareceu aceitar numa boa. Fomos também atrás de um vestido para eu usar e contratamos os serviços do mesmo cabeleireiro e da mesma maquiadora, que viajariam até o hotel onde ficaríamos para me preparar.
À tarde, Tobey iria a uma entrevista/podcast para falar oficialmente pela primeira vez sobre o filme. Resolvi ficar em casa. Não queria parecer a pessoa intrometida que ia a todos os lugares para procurar holofotes.
Fiz uma ligação para meus melhores amigos para contar os babados mais fortes.
A semana seguiu sem muitas novidades, com exceção da internet completamente devastada pelo iminente término de Tom e Zendaya, que foi meticulosamente analisado online, palavra por palavra do anúncio. Alguns diziam que estavam apenas fazendo aquilo para chamar mais atenção para o filme, outros afirmavam que não era verdade e sim apenas uma piada de mau gosto, e ainda houve quem citasse meu nome maldosamente como o motivo de tudo. Tive que respirar fundo para engolir esse comentário desnecessário. Por sorte, nem eu seguia Tom nas redes sociais, nem ele me seguia, o que acabou acalmando os nervos dos internautas investigadores.
Quinta-feira chegou, e com ela uma ansiedade dentro de mim que eu não sabia como controlar. Depois do meio-dia, minhas malas estavam feitas, e meu vestido, devidamente embalado, repousava sobre o sofá.
Tobey me abraçou sorrindo, dizendo coisas bobas como: “Minha menininha está crescendo” e “Estarei contando os dias para ver minha abobrinha de volta”.
Andrew passou por ali à tarde e me ajudou a colocar as coisas no carro junto com o motorista. Despedi-me de Tobey e entrei no carro, com o coração a mil. Na minha cabeça, só ouvia a voz de Tobey dizendo: “Se empodere e faça aqueles dois paspalhos comerem areia por você”. Será que eu tinha capacidade para isso?
— Parabéns pelo Globo de Ouro, foi muito merecido. — falei assim que entramos no carro. Ele sorriu de forma singela.
— Obrigado. Não dei muita bola porque o boicote é real e precisa ser ouvido. Mas, obrigado mesmo. Fico lisonjeado de saber que você assistiu ao filme. — ele disse, expressando-se com as mãos. Ele tinha esse costume. Mais uma nota mental: seu sotaque era tão gostoso quanto o de Tom. Não era tão carregado, mas era maravilhoso.
— Nossa, fico muito feliz em saber que o boicote foi algo geral. Obrigada por fazer parte disso. — sorri, realmente agradecida, e ele retribuiu com um sorriso discreto, virando o rosto de lado. Meu coração derreteu.
— Qual é a cor do vestido? — Andrew trocou de assunto. Seu cabelo estava bagunçado, e ele usava óculos escuros.
Eu vestia um casaco fino sobre uma regata básica preta com um decote quadrado, calça jeans e chinelos amarelos. No rosto, usava meus óculos escuros em forma de coração, que comprei com Tobey alguns dias antes. Pareciam um Ray-Ban aviador, mas em formato de coração, um charme. — Roxo escuro, vinho. — falei, olhando pela janela. Seria minha primeira aparição com um deles sem a presença do meu irmão. Ele pareceu notar que eu estava nervosa e apertou minha mão.
— Relaxa, viu? Não estamos fazendo nada de errado, e você não deve satisfação a ninguém. — apertei sua mão de volta e, ah, Jesus, aquele cheiro. Eu teria que aturar aquele perfume dentro de um avião por uma hora e meia. Eu podia, certo?
No aeroporto, não tiramos os óculos, seguindo a sugestão dele, e seguimos discretamente até o check-in.
Na fila para passar pelo detector de metais, uma criança o reconheceu e começou um pequeno burburinho até ele ir cumprimentar a criança com um soquinho. Estávamos de máscara e óculos, e ainda assim ele era reconhecido! Eu nunca reconheceria nem o Roberto Carlos em pessoa se ele aparecesse assim na minha frente.
Antes de embarcarmos, tiramos uma foto com uma das aeromoças (ela insistiu para que eu participasse), e aquilo foi absolutamente surreal para mim. — Como está se sentindo? — perguntou ele, caridoso, quando nos sentamos em nossas poltronas.
— Parece que estou vendo minha vida em terceira pessoa. É surreal. — suspirei fundo. — Você se acostuma. Eu juro. Até com o que não é bom. — ele disse, no momento com os óculos sobre a cabeça, puxando os cabelos para trás.
— E o que você consideraria ruim? — perguntei apenas para puxar assunto. Ele suspirou como se dissesse: “A lista é longa.”
— Acho que o principal é o assédio. Eu poderia ter uma vida normal, sabe? As pessoas não entendem que é um trabalho. Com a internet em alta do jeito que está, fica bem difícil ter uma vida próxima do normal. Está bem distante disso no momento. — admitiu ele, e eu vi como isso afeta a vida deles. Queria poder tirar isso tudo dos ombros de todos. Seria como um presente pessoal meu. Infelizmente, a única coisa que posso fazer é tentar não piorar a situação.
Conversamos o voo inteiro sobre o assédio moral que a internet promove hoje, alienando tudo e todos com informações passadas de maneira errada e distorcida. A conversa entre nós simplesmente fluía sem esforço. Chegamos em São Francisco em praticamente uma hora, em um voo tranquilo e sem turbulências.
No hotel, fomos direcionados aos nossos próprios quartos, que ficavam lado a lado, e combinamos de nos encontrar em duas horas para jantarmos. O jantar foi tranquilo, no próprio hotel, que servia pratos incríveis. Andrew me deixou escolher o seu prato, com um quê de “me surpreenda”, e acabei pedindo um menu mais mediterrâneo para mim e mais francês para ele. De entrada, recebi tiras de peixe em um molho de limão-siciliano e tomates confitados, e ele, raviólis de camarão com molho branco. Experimentamos o prato um do outro como um casal de namoradinhos em início de namoro. Para o prato principal, recebi legumes grelhados, alhos assados e frango com muito manjericão fresco. Ele recebeu carré de cordeiro, com um purê de batatas impecável e molho de laranja. Ele amou o prato que escolhi e disse que eu poderia escolher tudo o que ele fosse comer a partir de agora. De sobremesa, ele recebeu um mil-folhas clássico e eu, um sorvete de nata com uma calda de figos divina. Andrew adorou tudo, e fomos rindo para os quartos depois de tomarmos uma garrafa de vinho inteira.
Me despedi dele na porta, sem dar a chance de que ele me agarrasse novamente como havia feito na última despedida, algo que ainda não havia saído da minha cabeça. Apenas beijei seu rosto rapidamente e fechei a porta sorrindo, com a agilidade que só uma pessoa que teve muitos dates ruins no Tinder podia ter. E essa pessoa era eu.
Não consegui ver a sua expressão antes de fechar a porta, mas, cinco minutos depois, recebi uma mensagem no celular.
“Tenho medo do trauma que devo ter causado em você pra que tenha fechado a porta com tanta habilidade e velocidade. Andou treinando em casa?”
Dei uma risada alta quando li a mensagem.
“Causou trauma nenhum, pode ficar tranquilo! Corri, pois tenho que dormir cedo pra amanhã não estar com olheiras.”
Enviei logo em seguida.
“Ok! Você está certa. Só não precisa fugir da próxima vez. Minha bochecha está formigando. Agora não sei se é da força que você colocou ou se é trabalho das borboletas.”
Meu coração palpitou. Borboletas? Sério, Andrew? É assim que você quer jogar, o bonzinho apaixonado?
“Borboletas nunca são um bom sinal. Tome cuidado.”
Assim, encerrei a conversa.
No dia seguinte, acordei mais tarde do que deveria. Dei um pulo da cama e corri para o salão principal para tomar café. Andrew já estava lá, com seus óculos escuros. Ele usava um moletom preto e bermudas, como se o friozinho que fazia não o afetasse da cintura para baixo. O lugar era aberto, e uma luz solar maravilhosa tomava conta do ambiente.
— Nossa, dormi feito uma pedra. Perdi completamente a hora. — falei sem graça ao chegar à mesa. Ele fez um gesto dramático para olhar o relógio e disse: — Eu quase não notei, mas confesso que seu cabelo e seus olhos denunciam. Mas não se preocupe, você está radiante.
Eu não sabia o que era ironia e o que não era. Apenas ri enquanto o garçom trazia o expresso que eu havia pedido. Tomei um gole, e a bebida quente pareceu me preencher por inteiro. Eu nunca fui muito de café, realmente não gosto. Mas existem dias e momentos em que só um café pode salvar.
— Puta merda, que café bom. — falei completamente em português, e Andrew franziu as sobrancelhas me encarando.
— Você está elogiando o café em português? — perguntou, segurando o riso, e eu apenas dei de ombros, tomando o resto da xícara em um só gole. — Fala mais alguma coisa em português, eu gostei.
— Agora que você falou que gostou, não consigo. Fiquei com vergonha. — respondi, sentindo minhas bochechas esquentarem. Ele deu uma risada gostosa.
— Ok, então fale aleatoriamente, sem eu estar esperando. Foi muito bom de ouvir. — ele disse, dando atenção ao celular enquanto eu buscava algumas frutas para beliscar.
Às onze da manhã, Carlos e Genevieve chegaram para começar a me arrumar. Eu os aguardava já de banho tomado.
Meu vestido era completamente de veludo, bem colado ao corpo. A parte de cima era estilo ciganinha, deixando meus ombros completamente à mostra, com mangas compridas. O comprimento do vestido era pouco abaixo do joelho, com uma pequena fenda para facilitar os movimentos. O decote era em formato de coração, sem ser, de forma alguma, vulgar. Carlos colou unhas postiças compridas em mim, pintou-as da mesma cor do vestido e aplicou uma base fosca, que fez toda a diferença no resultado final. Nos cabelos, ele fez uma trança espinha de peixe embutida, com tantas camadas que levou horas para deixá-la perfeita. Como da outra vez, deixou alguns fios soltos propositalmente, e a trança frouxinha dava ao look um ar menos sério. No rosto, Genevieve fez um delineado novo, que na ponta puxava outro traço em direção ao côncavo. Eu jamais teria a capacidade de fazer algo assim sozinha. Depois de algumas horas, eu estava novamente impecável.
Gen e Carlos deram as mãos e me aplaudiram emocionados quando dei uma voltinha. Nós nos dávamos muito bem, e eu sentia que nos veríamos novamente em breve.
Quando eles foram embora, já estava na hora de irmos, já que passamos um tempo conversando. Descobri que eles trabalhavam com várias celebridades e que estavam com Tobey há mais de cinco anos. Ao sair do quarto, Carlos cochichou no meu ouvido:
— Vai lá e mata aquele gostoso do coração. Depois me conta como foi o babado. — piscou enquanto a porta do elevador se fechava.
Bati na porta do quarto de Andrew, mas aparentemente ele já havia saído. Desci até o hall de entrada, onde ele me aguardava sentado em uma poltrona, distraído com o celular.
Pigarreei ao seu lado, e só então ele ergueu os olhos, percorrendo meu corpo dos pés à cabeça, com a boca se abrindo a cada centímetro que subia.
— Meu Deus. — ele apenas soltou. Pigarreou e continuou: – Você está maravilhosa.
Agradeci educadamente.
— Você também não está tão mal. — brinquei. Ele estava lindo, com um blazer preto e uma camisa branca por baixo, cujo colarinho desabotoado dispensava gravata. Por um momento, imaginei aquele colarinho todo manchado com meu batom, mas apaguei a imagem antes que fosse tarde.
Ele me guiou até o carro, e seguimos para um local que eu não fazia ideia de onde era.
No caso daquele filme, eu conhecia apenas a Vanessa Hudgens. Havia um ou outro rosto familiar, provavelmente de outros filmes, mas eu não sabia os nomes de todos, como sabia nos filmes da Marvel.
Andrew, com certeza, era a estrela mais esperada, principalmente após o Globo de Ouro. Na verdade, aquele evento não era uma première, mas sim uma turnê bancada pela Netflix para promover o filme, afinal, agora ele era um vencedor de estatueta.
Chegamos ao local, que não estava tão cheio como o evento da semana anterior. Havia muitos fãs e fotógrafos, mas nada comparado à majestade do trio de Homens-Aranha.
— Está tudo bem? — Andrew me perguntou antes de sairmos do carro, segurando minha mão mais uma vez.
— Está sim. — respondi, respirando fundo. Seu perfume estava especialmente forte e delicioso.
— Obrigado por fazer isso. Vou colocar a mão na sua cintura para bater fotos, tudo bem para você? — coçou a sobrancelha, sem graça. Eu gostava do fato de ele ser tão confiante em alguns momentos e extremamente envergonhado em outros. Era óbvio que não tiraríamos fotos afastados, completamente longe um do outro. Também não posaríamos de mãos dadas, o que indicaria algo mais sério. Então, o abraço pela cintura era a melhor opção para um “estamos juntos sim, mas pode não significar nada”.
Chegou a nossa vez de sair do carro. O motorista abriu a porta e os flashes iniciaram com fervor.
Andrew saiu primeiro, e a chuva de luzes se intensificou. Os gritos da plateia ficaram mais altos e ouviam-se aplausos de todos os cantos. Ele estendeu o braço até mim, e quando fiquei ao seu lado, alguns gritos pareciam ainda mais intensos. Os flashes não paravam um segundo.
Seguimos para o tapete vermelho, e os logotipos da Netflix preenchiam uma parede preta que formava um caminho que parecia não ter fim. Andrew sorria, abanava a mão e mandava beijos para a plateia e para os fotógrafos. Alguns jornalistas já gritavam coisas incompreensíveis, e ele sorriu ainda mais ao passar a mão pela minha cintura. Fizemos algumas poses, e ele ainda me fez dar uma voltinha antes de seguirmos em frente. Logo atrás de nós surgiu Vanessa Hudgens, que também arrancou muitos gritos e flashes da imprensa.
Vanessa e ele se cumprimentaram com um longo abraço, e eu dei espaço para que fossem fotografados juntos.
Ela me cumprimentou também, sorrindo simpática, deu um beijo no meu rosto, trocamos algumas palavras e seguimos em frente.
Andrew foi entrevistado um milhão de vezes e muito elogiado por sua performance e pelo Globo de Ouro. Ele sempre me incluía nas entrevistas, brincando comigo, mexendo no meu cabelo ou me abraçando pela cintura. Eu apenas sorria e respondia de forma breve quando alguma pergunta era direcionada a mim.
Muitas vezes fomos questionados se éramos o mais novo casal de Hollywood, e negávamos todas as vezes, dizendo que éramos apenas amigos nos apoiando. A resposta, com certeza, não seria convincente para a internet, mas eles não teriam provas de nada que passasse de amizade ou, no máximo, de uma pegação. Continuaríamos firmes com as respostas.
A noite passou tranquila. De vez em quando, Andrew cochichava no meu ouvido. Ouvi coisas como:
“Se essa entrevista durar mais um segundo, vou mijar nas calças.”
“Eu adorei as suas unhas.”
“Meu rosto está sujo de batom?”
“Essa cor fica muito bem em você.”
“Aquele cara ali é o ser mais chato com quem já tive que contracenar na vida.”
“Você está muito cheirosa.” Este comentário veio seguido de um beijo no meu ombro, que acabou gerando muitos flashes.
“Esta mulher estava muito interessada em você.”
Depois de algumas horas e sem nenhum after-party, seguimos para o hotel. Antes, passamos no McDonald’s e pedimos tanta coisa que foi cansativo pegar tudo no drive-thru e colocar no carro.
Nos enfurnamos no quarto de hotel dele e solicitamos duas garrafas de champanhe caríssimas pelo serviço de quarto.
Andrew atendeu com um Big Mac na mão e trouxe a bandeja até nós. Abriu a garrafa e me serviu, jogando-se no sofá em seguida.
— Quatro horas se arrumando para ficar me aturando e aturando outras pessoas chatas durante duas horas, e voltar para o hotel impecável para comer Big Mac... O que você acha disso? — perguntou, brindando comigo e bebendo a taça de uma só vez.
— Acho muito aceitável. — respondi, bebendo e, em seguida, terminando meu Big Mac. Com exceção das sandálias, eu ainda estava impecável: de vestido, com o cabelo perfeito e a maquiagem também. Nem o batom tinha saído depois de algumas mordidas.
— Você não deve bater bem da cabeça. O que vão falar lá no Brasil quando seu chefe descobrir que você está comendo McDonald’s?
— Eu possivelmente poderia perder meu cargo, mas ele nunca vai saber disso. — quando terminei a frase, Andrew pegou o celular e apontou para mim.
Eu sorri, com uma caixinha de batata frita em uma das mãos e a taça de champanhe na outra. Click.
— Agora você está nas minhas mãos. — brincou, mexendo no celular e colocando uma estação de rádio.
— Nem nos seus sonhos. — respondi, mostrando a língua.
— Ah, nos meus sonhos você está nas minhas mãos, sim. — ele de repente ficou com o semblante sério. — E as minhas mãos estão em você.
— Vai se foder. — sussurrei em português, mordendo os lábios, e ele fechou os olhos sorrindo.
— Porra, , assim você me mata. — meu apelido em seu sotaque era a melhor coisa que eu podia ouvir naquele momento. Por sorte, estávamos afastados.
Por esse motivo, larguei a batatinha pela metade, enchi minha taça de champanhe e fui até a grande janela de vidro que ficava no final do quarto. Era uma sacada infinita, já que sacadas tradicionais eram proibidas em hotéis daquela região.
Ouvi ele se aproximando devagar; seu cheiro chegou antes de sua presença física. Sem salto, meu rosto ficava na altura do pescoço dele. Ele parou ao meu lado, também apenas segurando a taça de champanhe.
— Obrigado por me acompanhar hoje. Foi muito gentil da sua parte. — disse, com sinceridade. Tomei um gole da minha taça. A paisagem da cidade à noite era linda.
— Não foi esforço nenhum, você é uma boa companhia, Garfield. — lancei-lhe um olhar de canto de olho; ele sorria e me encarava.
— Você está se tornando minha companhia preferida nos últimos meses. Como conseguiu isso? É algum tipo de feitiço brasileiro? — perguntou, aproximando-se. Sua mão tocou levemente minhas costas, sem qualquer pressão, apenas encostada.
— É sim. Fiz um ritual no fim do ano, consegui um pouco de cabelo seu pela internet e, aparentemente, deu certo. — respondi calma e baixinho, fazendo-o rir pelas narinas.
— Deu muito certo. Agora preciso aprender para fazer contigo... Você me ensina? — perguntou baixinho como eu, tão calmo quanto a sua voz. Ele foi aproximando seu rosto do meu, mesmo que eu ainda olhasse apenas para frente. Minha respiração falhou, e ele percebeu. A tensão sexual era palpável. Seu nariz roçou minha bochecha, descendo até o meu pescoço, onde depositou um beijo suave. Continuei tomando meu champanhe enquanto ele descia o rosto até minha clavícula. Fechei os olhos, suspirando descompassada. Ele já havia notado como meu corpo reagia ao seu toque e tive a impressão que se divertia com isso. Deu um último beijo no meu ombro e subiu seu rosto pelo mesmo caminho de onde havia descido. Quando seu nariz voltou ao lado da minha bochecha, ele virou meu rosto suavemente, e eu colei nossas bocas com a urgência que já sentia entre minhas pernas.
Suas mãos seguiram diretamente para minhas costas: uma na altura das costelas e a outra na curva onde começava minha bunda. Como da primeira vez, uma de minhas mãos segurava seu rosto, enquanto a outra ainda segurava aquela taça idiota. Nossas línguas já se enroscavam como as conhecidas que eram. Tive que separar o beijo.
— Espera, eu preciso... — falei, balançando a taça. Ele revirou os olhos, mostrando a dele, que estava apoiada no reforço inferior da janela que, por mais que não abrisse, tinha um reforço de metal de largura suficiente para segurar nossas taças.
— Achei que você fosse mais esperta. — brincou, escondendo o rosto no meu pescoço. Minha mão mal largou a taça e já foi direto em sua orelha para lhe dar um tapa.
— Deu? Posso te beijar à vontade sem intromissões? — ele ergueu a sobrancelha. Seu rosto estava tão perto que eu podia contar as pintinhas próximas do seu nariz. Suas mãos passeavam devagar por minhas costas, enquanto meus braços estavam em volta do seu pescoço. Não precisei responder, pois nossos lábios se colaram novamente, sem qualquer dificuldade. Dessa vez, não quis ser a bobinha. Nossas línguas se misturaram, e eu coloquei minha mão em sua nuca para intensificar o beijo. Andrew estava indo devagar, provavelmente com medo de me assustar, já que ontem eu havia fugido dele sem muita explicação. Hoje, eu não pretendia fugir.
Espalmei minha mão livre em seu peito e a deslizei até seu ombro, fazendo seu blazer deslizar ligeiramente para trás. Ele entendeu o recado e retirou as mãos das minhas costas para tirá-lo. Sem partir o beijo, Andrew passou um braço por baixo da minha bunda, impulsionando-me para que eu pendurasse minhas pernas em sua cintura. Porém, com isso, meu vestido acabou subindo até a cintura, já que era muito colado e elástico. Ele pareceu gostar da minha nudez parcial, já que espalmou uma das mãos na minha coxa, sem deslizar até minha bunda. A outra mão me segurava pelas costas. Ele tinha uma força que eu desconhecia, pois foi nos guiando sem partir o beijo, que parecia ficar ainda melhor a cada passo que dava. O gosto de sua boca se misturava com a minha de uma forma que simplesmente parecia certo.
Encostamos em algo que reconheci como o sofá, e eu parti o beijo para me acomodar.
Andrew tinha os olhos sedentos percorrendo todo o meu corpo. O vestido estava todo enrugado na minha cintura, cobrindo apenas parte da minha virilha, mas a calcinha preta aparecia parcialmente. Ele notou a tatuagem gigante que eu tinha na coxa esquerda e a analisou por alguns segundos, passando os dedos sobre ela. Eu tinha outras tatuagens, mas não era o momento de falar sobre elas. Sorri, puxando-o pelo colarinho da camisa. Colamos nossas bocas novamente, e o Andrew da outra vez pareceu vir à tona, prensando meu corpo contra o sofá. Porém, não deixei isso acontecer; ainda agarrada ao seu colarinho, o empurrei para que ele se sentasse e passei minha perna por sua cintura, sentando no seu colo. Ele pareceu gostar daquilo, e suas mãos começaram a procurar o zíper do meu vestido enquanto as minhas mãos desabotoavam sua camisa. Parti o beijo para descer pelo seu pescoço, arrancando-lhe suspiros. Beijei seu pescoço, mordi levemente o lóbulo da sua orelha e seu queixo.
— Achei que você fosse mais esperto. — devolvi o comentário, e ele deu uma risada gostosa enquanto eu guiava suas mãos até o zíper do meu vestido. Ergui os braços quando ele trouxe o vestido para cima. Seu pênis já dava bons sinais havia algum tempo, mas, quando ele tirou meu vestido, sua empolgação contra minha virilha me fez revirar os olhos. Eu usava um sutiã tomara que caia, amarrado pela frente como um pequeno espartilho. Andrew beijou toda a extensão do meu colo, enquanto suas mãos passeavam livremente pela minha bunda. Tiramos sua camisa e a regata básica que ele usava por baixo. Eu não esperava que ele fosse tão definido e sorri enquanto ele subia os beijos do meu colo para o meu pescoço. Mas, antes que colássemos nossas bocas novamente, meu celular tocou.
Bufei, realmente brava, e Andrew o alcançou para mim. No visor, dizia “Mãe” e, ao fundo, aparecia uma foto minha com ela, abraçadas.
— É sua mãe? — perguntou ele. Concordei com a cabeça. — Por favor, atenda. Roubei sua regata e vesti de qualquer jeito. Era uma chamada de vídeo. Minha mãe adorava chamadas de vídeo.
— Oi, mãe. — falei, saindo do seu colo e indo para mais longe. Eu não sabia como devia estar, mas certamente não estava em condições apresentáveis para falar com ela.
— Oi, filha! Nossa, que maquiagem linda! Aonde você vai? — perguntou, sorrindo, enquanto colocava alguma comida na boca.
— Eu já fui. Estava em uma première de um filme, acredita?
— Nossa, mas você tá muito chique mesmo. Olha só, Pedro, como ela tá bonita. — eu amava aquela inocência que minha mãe tinha intrínseca. Ela moveu a câmera, e Pedro me olhou sorrindo e dando tchauzinho. Acenei de volta, tomando cuidado para ficar de frente para Andrew, de modo que ele não aparecesse no fundo da ligação.
— Como vocês estão? — perguntei. Notei que estavam bebendo cerveja e comendo amendoins, algo que faziam nas sextas-feiras.
— Estamos bem, tomando nossa cervejinha de sexta e lembrando de vocês. O Tobey tá por aí? — notei que Andrew reconheceu o nome e me olhou interessado.
— Na verdade, estou em um hotel em outra cidade. Vim a uma première com um amigo dele. — não havia motivos para mentir para a minha mãe.
— Nossa, querida, tome cuidado com esses estranhos. Gente famosa é doida. — ela disse, e eu dei uma risada.
— É verdade, mãe, mas o Tobey disse que eu podia confiar nele, e foi o que fiz. Se eu amanhecer morta, coloquem a culpa nele. — brinquei, e Pedro deu uma risada.
— Para com isso, sua tola. Ele é gatinho, pelo menos? — perguntou minha mãe, e vi a mão de Pedro empurrando seu ombro. Dei uma risada.
— É gatérrimo, mãe. E aparentemente tá afim de mim.
— Não me admira! Você tá linda! Imagina quando estava com o vestido... Que cor era?
— Vinho.
— Uh-lalá! — disse ela, se abanando e rindo. — Mas então tá bom, linda. Só queríamos ver como vocês estavam. Outra hora a gente se fala, tá bom? Qual é o nome do gatão? Quero pesquisar fotos dele no Google. — disse na maior cara dura, e eu dei uma risada alta.
— Andrew Garfield. — eu disse, e Andrew arregalou os olhos à minha frente. — Mas não fica achando besteira e contando fofocas para suas amigas. — Tá bom, é o nosso segredinho. — ela fez sinal de “shh”.
Nos despedimos, e joguei-me no sofá ao lado dele.
— Você estava falando de mim para a sua mãe? — perguntou, convencido. — Ela perguntou do Tobey, e eu disse que havia ido a uma estreia com um colega dele... — expliquei. — Ela perguntou seu nome porque queria pesquisar você no Google. — falei, dando uma risada, e ele me acompanhou.
— Eu amei o jeito como você falou meu nome a ela, com um sotaque bem brasileiro. — ele disse, fazendo um carinho sem segundas intenções na minha coxa.
— É, se eu falasse de um jeito muito americanizado, talvez ela não conseguisse digitar corretamente. — expliquei, e ele pareceu entender. Ele me fez mais algumas perguntas sobre minha mãe, e notei que o clima havia ido embora. Então, apenas continuamos conversando, ele sem camisa, eu com a sua blusa. Comemos mais McDonald's e acabamos dormindo por ali mesmo.
Eu gostava de como nossa relação estava, nos dávamos muito bem e tudo parecia estar no lugar correto. Ele sabia que em menos de um mês eu estaria voando de volta ao Brasil, e que devíamos aproveitar esse momento do jeito que dava, se eram apenas um beijos sem transa, que fosse, se era apenas uma conversa legal sobre como o tempo estava esquisito, estava tudo bem também. Mas uma coisa estava clara na minha cabeça: Eu queria transar com Andrew, e ele também queria transar comigo. Era só questão de tempo para esse tipo de coisa acontecer.
Chegamos em L.A. e Tobey nos aguardava no aeroporto.
— Hey, — falou ele, me dando um abraço aconchegante. Cumprimentou Andrew com um aperto de mãos e um abraço cheio de risos.
— Você cuidou dela? — perguntou, num tom brincalhão, e Andrew deu uma risada gostosa.
— Cuidei sim. Não foi, ? — perguntou ele, lambendo os lábios e levantando uma das sobrancelhas. Meu coração ainda descompassava com meu apelido saindo pela sua boca.
Tobey deu um empurrão em seu ombro, rindo.
— Assim não, cara!
— Eu já te disse para não perguntar detalhes dos quais você não quer saber. — Entrei na brincadeira, levantando os ombros. Andrew deu mais uma risada gostosa, eu poderia ficar ouvindo aquela risada o dia inteiro.
Seguimos para fora do aeroporto, fingindo não notar os fotógrafos.
— Como foi lá? — perguntou Tob, quando entramos no carro, achei incrivelmente fofo o fato dele ter ido nos buscar no aeroporto e ainda dar carona para Andrew. Acho que eu subestimava a amizade deles, já que quem vivia na casa de Tob era Tom.
— Foi bom, ainda bem que quis ir comigo, se não, seria bem menos interessante. Teria ido ao aeroporto sozinho, viajado sozinho, ficado no hotel sozinho. É bom ter companhia — Andrew respondeu tranquilamente.
— Fico feliz em ter ajudado — falei, bagunçando seu cabelo, já que eu estava no banco de trás do carro, igual uma criança.
— E o vestido, ? O pessoal da maquiagem e do cabelo foram direitinho? — Tob perguntou, me olhando pelo retrovisor.
— Tudo perfeito, eles são muito bons.
— Fico feliz que tenha dado tudo certo, então. — Suspirou ele, feliz. — Queria aproveitar, , para te convidar para ir conosco no programa do Jimmy Fallon semana que vem. Minha agente acabou de me lembrar, já está marcado há algum tempo.
— Meu Deus, vocês acham uma boa ideia eu ir junto? — perguntei, sem saber o que dizer.
Jimmy Fallon! Quando eu me acostumaria com esse tipo de situação em que meu irmão mais velho me colocava?
— Claro, por que seria uma ideia ruim? — Andrew respondeu minha pergunta, com outra pergunta.
— Não sei, só fico com medo. Esse mundo de vocês, famosos, é um mundo novo para mim.
— Deixa de ser boba. Vai dar tudo certo — Tobey disse, sorrindo com os olhos pelo retrovisor.
Deixamos Andrew na casa que ele normalmente ficava quando tinha que passar tempo na América, já que a sua casa era na Inglaterra. Tob nos guiou até sua casa, explicando que a festa estava de pé, e que Tom estava muito animado para tudo. Não parava de mandar mensagens dizendo que convidou não sei quantas pessoas, ele queria mesmo comemorar.
— Então é bom você se preparar para ter bastante gente famosa aqui mais tarde. Mas não sei, acho que você já se acostumou com isso, certo? — Tobey disse, me olhando de canto de olho para ver minha reação.
— Tob, você é famoso. Tipo, muito famoso. Se eu não me acostumar com isso, vou me acostumar com o quê? Já me acostumei com Andrew e Tom, já bati papo com a Zendaya e com a Vanessa Hudgens. Conheci Jamie Foxx e Benedict Cumberbatch... Se isso não for o suficiente para eu me acostumar, não sei o que é.
— Bom, fica mais fácil de se acostumar quando você está pegando um deles — ele disse, rindo, e levou um tapão no ombro.
— Não estou pegando ninguém. Foi você que disse que era para deixar eles comendo na minha mão — expliquei.
— Eu sei, mas não precisava deixar ele babando por você. É maldade — ele disse, estacionando o carro na garagem.
— Eu... Ele não está babando. Deixe de ser babaca — falei, saindo do carro.
— Só estou falando o que estou vendo — ele disse, dando de ombros.
— Para de colocar coisa na minha cabeça — falei, unindo as sobrancelhas.
— , de verdade, você é gata. Você é até gata demais para eles. Não estou colocando coisas na sua cabeça, você só precisa aceitar isso — Tob disse, abrindo a porta e entrando em casa.
A sala já estava diferente. O sofá estava encostado na parede, dando mais espaço no centro, tinha um aparelho de karaokê conectado à TV e a mesinha que normalmente tinha fotos da família tinha tantas bebidas que dava para fazer uma foto conceitual no Pinterest.
— Você está maluco Tob. Eles são Tom Holland e Andrew Garfield, sabe? Atores famosos, bonitos e muito bem—sucedidos. Um deles namorou a Zendaya e o outro namorou a Emma Stone.
— E você não perde nenhum pouco para elas. Então para de se rebaixar.
Eu realmente precisava ir ao mesmo psicólogo que Tobey ia, eu gostava de como ele lidava com a autoestima e de como ele me tratava sem ser a irmãzinha indefesa. Eu gostava do adulto que ele havia se tornado, um homem emponderado e feminista, me deixava cheia de orgulho.
Passamos o dia sem grandes novidades, assistimos ao novo filme da Netflix no seu quarto e depois disso, começamos a nos arrumar para a festa.
Escolhi um vestido frente única de seda que eu só usava em ocasiões especiais no Brasil, o comprimento batia no meio das minhas coxas, a cor dele era um rosa bem clarinho, como champanhe, e nas costas ele tinha tiras fininhas como o primeiro vestido que usei no tapete vermelho do Homem—Aranha. Pedi para Tobey amarrar para mim e ele perdeu alguns bons minutos tentando dar o laço perfeito.
Deixei meus cabelos soltos e naturais, ondulados provenientes da mistura do lindo cacheado da minha mãe com os cabelos lisos de meu pai.
Fiz uma maquiagem simples, e até certo ponto, leve, pois eu não sabia me maquiar sozinha a ponto de considerar uma maquiagem pesada, caprichei no delineado até onde minha capacidade conseguia, passei bastante iluminador e um batom vermelho fosco que deixava minha boca no maior estilo Angelina Jolie, obrigada, mãe, por estes lábios maravilhosos.
Nos pés optei por um tênis branco de couro, que não condizia com o vestido que eu usava, mas me deixava com uma vibe mais caseira, do jeito que eu gostava.
Batemos fotos um do outro com a Polaroid e batemos selfies juntos que ficariam eternizadas na nova caixinha de madeira que Tobey havia escolhido para as novas recordações.
— Você está linda, maninha — Tobey disse, me fazendo dar uma voltinha, ele também estava, com uma camisa preta com o colarinho desabotoado, e as mangas dobradas até o antebraço, calças jeans que pareciam ter sido desenhadas a ele, e sapatos pretos.
— Você também está gato.
Descemos até a sala, fiz uma caipirinha de vodca para mim e Tob pegou uma cerveja. Escolhi uma música aleatória para tocar e começamos a jogar truco enquanto esperávamos os convidados. Minha mãe havia ensinado truco a Tobey e ele realmente adorava, dizia que era muito melhor e mais empolgante do que Poker.
Durante uma música de SZA, a campainha tocou e Tobey foi atender.
Tom o abraçou animado, trazia em suas mãos uma garrafa de vodca e uma de champanhe, ele deixou as garrafas na mesa com o restante das bebidas e veio em minha direção sorrindo, ele estava lindo, usava um blazer preto e uma blusa de botões com desenhos de folhas de palmeiras e flores coloridas. Atrás de Tom, entrou Jacob Batalon e mais dois rapazes que eu não conhecia. Abracei Tom e ele beijou meu rosto. Cumprimentei todos.
Tobey voltou com taças de champanhe da cozinha, animado.
Jacob pegou o champanhe que Tom trouxe e não sabia nem como retirar o plástico que envolvia o arame. Dei uma risada e tomei a garrafa dele com educação. Peguei um saca-rolhas que havia em cima da mesa, que normalmente vinha com uma faquinha de serra para este tipo de embalagem. Menos de um minuto depois, eu já estava fazendo festa antes de tirar a rolha com facilidade, sem fazer sujeira no chão. Enchi todos os copos presentes.
— À amizade — Jacob disse, levantando a sua taça.
— À liberdade — Tom disse, levantando a sua também.
— À maturidade — Tobey disse rindo, fazendo o mesmo.
— À felicidade — falei, acompanhando Tobey na risada.
— Aeeee! — Os dois que restaram só gritaram e brindamos.
Pude jurar que durante todo o momento do brinde, Tom não tirou os olhos de mim, mas creio que era coisa da minha cabeça. Virei a taça.
Aos poucos, foram chegando mais e mais pessoas, pessoas conhecidas e desconhecidas, que pareciam se conhecer há anos. Eu estava acompanhando Tom e Jacob, que descobri ser um amor de pessoa, me afeiçoei ele imediatamente. Batemos fotos juntos para postar nos stories do Instagram e, com certeza, viraríamos notícia. Jacob fez vídeos meus com Tobey, bumerangues e filtros bobos. Demo boas risadas.
Fiquei famosa por minhas caipirinhas e a todo minuto pessoas vinham me pedir para fazê-las, eu sempre fazia, sorrindo e enchendo eles de álcool.
Tom bebeu três e já estava vendo estrelinhas.
— O que você colocou aqui dentro? Drogas?! Logo você, irmã Maguire? — perguntou ele, balançando o copo, derramando bebida no chão.
— Com certeza não, vem cá. Vamos tomar uma água — falei, puxando-o pela mão, levando-o até a cozinha. Peguei uma garrafa de água na geladeira. Ele bebeu quase inteira.
— Porra, eu estava precisando disso — falou, suspirando, tirou o blazer e passou as mãos no cabelo.
— Claro que estava. Caipirinha é forte e você aparentemente não está acostumado com bebida alcoólica — falei, no maior estilo mãe protetora.
— ‘Tá bom, mãe — ele disse, empurrando meu ombro. Ouvimos um barulho que parecia ser do karaokê e os olhos de Tom brilharam. — Vamos, eu adoro karaokê.
Quem gosta de karaokê, na vida real? Achei que era coisa de filme de adolescente bobo. Me enganei completamente, pois Tom fucking Holland aparentemente adorava.
Seguimos para a sala, o lugar estava cheio, grupinhos de pessoas estavam espalhados pelo ambiente inteiro e, em frente à TV, algumas pessoas se afastaram para dar espaço para a pessoa que iria cantar. E lá estava Jacob, ele acenou quando viu Tom e o chamou.
A música já havia sido escolhida e era “Leave The Door Open” do Silk Sonic.
Dei risada, vendo os dois cantarem a música que visivelmente havia sido ensaiada. Os dois arrancaram risadas e aplausos de todos, e logo outras pessoas começaram a cantar também. Peguei minha bebida e dei uma volta, procurando Tobey, ele estava do lado de fora, ao lado da piscina, conversando com pessoas que eu não conhecia. Ele me chamou e me apresentou a todos, que foram muito simpáticos e me cumprimentaram. Fiquei ali por um tempo e acabei avistando Andrew do outro lado da piscina, conversando com algumas pessoas. Ele me viu e piscou sorrindo. Assim como todos os Homens-Aranha daquela festa, ele também estava lindo, usava uma calça social clara, uma camisa branca e por cima um colete de lã, que poderia ter ficado péssimo em qualquer pessoa, mas combinava perfeitamente com ele e com a ocasião.
Ele se aproximou e me abraçou.
— E, aí, Maguire, como você está linda — disse, com um sorriso no rosto, seu cheiro me fez lembrar da nossa última pegação. — Gostei disso. — Ele se referiu aos meus cabelos soltos naturais.
— Obrigada. Gostei disso — falei, me referindo ao colete, e ele sorriu de lado, fofo como sempre.
— Como você está? — perguntou ele, bebendo.
— Estou bem, ligeiramente bêbada — admiti, rindo frouxo. — E você?
— Estou bem também, mas não cheguei ao seu patamar ainda... Não tenho um certo alguém me fazendo drinks — falou ele, arqueando as sobrancelhas, esperando minha reação.
— Não tem porque não quis. Era só ter pedido — expliquei, fazendo cara de convencida.
— MAGUIRE! — Tom gritou da porta dos fundos. Eu olhei, e vi que Tobey também olhou. — Vem cantar no karaokê. — ele disse, dessa vez nitidamente para mim. Tobey deu risada no fundo e eu dei de ombros, indo na sua direção. Virei minha caipirinha e deixei em uma mesa, quando entrei em casa. Notei que Andrew veio atrás de mim, ele não iria querer perder aquele grande show.
— Não sei que música cantar — admiti no ouvido de Tom e ele virou os olhos.
— Sabe sim. Todo mundo sabe que música cantar no karaokê, só não tem coragem de dizer — ele disse, me olhando sério. E eu realmente tinha uma música para cantar. Sussurrei em seu ouvido e ele sorriu, gritando um “Yeah”. Me deu o microfone e, bom, eu já estava com o álcool gritando em minhas veias.
A música de Elton John começou a tocar e fiz o possível para manter o sotaque inglês como o dele. Minha voz não era nem um pouco parecida com a daquele muso, mas tentei ficar séria, mesmo querendo dar gargalhadas.
I miss the Earth so much I miss my wife
(Sinto tantas saudades da Terra, sinto saudades da minha esposa)
It's lonely out in space
(É solitário lá fora, no espaço)
On such a timeless flight
(Num voo infinito assim)
And I think it's gonna be a long, long time
(E acho que vai demorar muito, muito tempo)
'Til touchdown brings me 'round again to find
(Até que a aterrissagem me traga de volta para descobrirem)
I'm not the man they think I am at home
(Que não sou o homem que acham que eu sou em casa)
Oh, no, no, no
(Oh, não, não, não)
I'm a rocket man
(Sou um astronauta)
Rocket man, burning out his fuse up here alone
(Um astronauta perdendo a calma aqui em cima, sozinho)
Cantei esta parte e pude jurar que os olhos de Andrew queimavam minha pele. Tom e Jacob dançavam juntos, batendo palmas, assim como alguns outros convidados, todos com a nostalgia à flor da pele, todo mundo amava Rocket Man.
Aquela música me representava de certa forma, uma pessoa perdida no espaço, sem entender como tudo aquilo realmente funcionava, mas indo no fluxo que tudo ao meu redor me levava.
And all this science I don't understand
(E eu não entendo toda essa ciência)
It's just my job five days a week
(É apenas o meu trabalho por cinco dias da semana)
A rocket man
(Um astronauta)
A rocket man (Um astronauta)
Eu já estava me achando o próprio Elton John, jogando meus cabelos, fingindo tocar um piano invisível e fazendo passinhos bobos, já que eu não era uma exímia dançarina e, neste caso, muito menos cantora. Mas o pessoal parecia estar se divertindo, então cantei a música inteira neste mesmo estilo, fingindo um sotaque e dando risadas.
A música terminou e os aplausos vieram com tudo, Tom pulou em meus ombros animado e seguimos para fora da casa, rindo, Andrew nos acompanhou.
— Tom está afim de você — Andrew sussurrou no meu ouvido e eu cerrei os olhos, o examinando. Eu, com certeza, precisava de água. — Está tudo bem, não sou ciumento — ele completou, brincando, e eu o empurrei de leve.
— Você é idiota, sabia disso? — A bebida com certeza falava mais alto, mas eu sorria.
— Infelizmente, estou ciente deste fato — ele disse sorrindo, completamente convencido. Virei os olhos dramaticamente.
— Que bom, pois é irritante. Tem horas que você é um amor, e tem horas que é um idiota. Como consegue fazer para manter as duas personalidades tão bem misturadas? — Conversávamos baixo, pelo menos, eu achava que sim.
— Ah, são muitos anos de treino. Uma hora você se acostuma. — Ele piscou para mim e seguiu seu caminho até o grupo de pessoas que ele estava inicialmente.
— Maguire, você é incrível. Tem algo que você não saiba fazer? — perguntou Tom, sentando-se em uma cadeira junto de uma mesa livre no meio do jardim.
— Olha quem fala, Tom. — Não pude conter um sorriso, sentando ao lado dele com cuidado, pois meu vestido era meio curto.
— Você sabe cozinhar, fazer drinks perfeitos, sabe abrir champanhe feito uma donzela, canta e dança... Está bem difícil de competir — disse ele, brincando, seu sorrisinho fofo me encantando.
— E quem disse que isso é uma competição? — perguntei, unindo as sobrancelhas.
— Está vendo? Além de tudo, você é sensata — Tom disse, sorrindo. Passamos um tempo ali sentados no jardim, conversando. Logo mais, Tobey nos acompanhou e Andrew também veio.
Eles brincaram e trocaram carícias, vendo que eram o centro das atenções mesmo sem querer, fiquei apenas admirando aqueles três homens maravilhosos à minha frente, rindo feito uma boba, pensando o que, em nome de Deus, eu havia feito para ter aquela vista privilegiada que eu estava tendo. Conversamos sobre besteiras de bêbados, com Tobey pegando no meu pé enquanto os dois falavam sobre quem havia cantado melhor, onde Andrew defendia a performance de Tom e Tom defendia a minha performance. Era óbvio que Andrew estava zoando Tom, mas ele não parecia notar, o que deixava tudo muito mais engraçado.
— Você faz outro drink para mim? — perguntou Tom, sorrindo bobo, passando a mão sobre os cabelos.
— Claro. — Creio que eu nunca conseguiria dizer não a este pedido, feito com tanta fofura envolvida. Levantamo-nos sem chamar muita atenção, deixando Tob e Andrew conversando sobre um grupo de mulheres que estava mais à frente. Tobey sempre me olhando de soslaio para ver minha reação.
Fomos até a cozinha, onde já tinha uma tábua com algumas coisas ali que eu havia usado, misturei algumas frutas e fiz uma caipirinha com duas doses de vodca e uma de água para ele.
Ele estava ao meu lado, olhando cada passo e cada coisa que eu fazia, como se quisesse aprender. Entreguei a ele o copo, com uma fatia de morango na beirada, e ele sorriu em agradecimento. Deu um grande gole na bebida e a colocou de volta na pia.
— Eu vou fazer algo que estou querendo fazer desde a primeira vez que te vi, ok? — ele disse, aquele sotaque me deixando zonza. Colocou uma das mãos no meu rosto e fechou os olhos, fechei os olhos também, sabendo o que viria em seguida, porém, antes de qualquer coisa, ouvimos um barulho alto da porta de correr se abrindo e nos afastamos rapidamente.
— Ah, sim, eu nem consigo imaginar o que vocês estavam prestes a fazer — Tobey disse, dando uma risada alta. Olhei para Tom e ele estava completamente sem graça, passando a mão sob a nuca. Dei uma risada também. Limpei o canto da sua boca com o dedão, brincando. Tom não sabia se sorria, ou se saía correndo.
— Cara, relaxa. Não sou dono de ninguém, minha irmã é bem grandinha. Inclusive é mais velha que você, então pode muito bem te dar uma surra — falou Tob, colocando a mão no ombro dele, o deixando ligeiramente menos tenso.
Tobey pegou uma garrafa de água e saiu da cozinha, ainda rindo.
Tom me olhou, mordendo o lábio inferior.
— Você vai me dar uma surra?
— Se você der motivos para isso... — respondi, rindo, empurrando-o. Ele pegou o copinho dosador que eu estava usando para fazer os drinks, encheu de tequila e tomou um shot, encheu novamente e me ofereceu. O que poderia dar errado? Tomei.
— Vamos cantar mais uma música no karaokê, quero ver o que mais você sabe fazer — ele disse, me puxando pela mão.
Aquela tequila desceu queimando. Senti meu corpo ligeiramente mais mole do que de costume.
Tom pegou o microfone, o pessoal já o ovacionou enquanto ele procurava a música para cantar. O começo conhecido de Blinding Lights tocou e todo mundo voltou a berrar.
I've been tryna call
(Eu tenho tentado ligar)
I've been on my own for long enough
(Eu estou sozinho há tempo demais)
Maybe you can show me how to love, maybe
(Talvez você possa me mostrar como amar, talvez)
I'm going through withdrawals
(Estou passando por recaídas)
You don't even have to do too much
(Você nem precisa fazer muito)
You can turn me on with just a touch, baby
(Você pode me excitar com apenas um toque, amor)
Tom cantou, dando pequenas olhadelas para mim, mas a maior parte do tempo estava de olhos fechados. Eu sentia aquela tequila fervilhar dentro de mim e sorri enquanto ele cantava desajeitado aquela música cheia de significados. Jacob aplaudia no ritmo da música no sofá e até vi Andrew no meio da multidão, dando risada e aplaudindo o colega.
Quando ele terminou a música e todos começaram a aplaudir fervorosamente, corri ao banheiro para ver como eu estava antes de cantar novamente. Meus olhos estavam nitidamente bêbados. Não havia mais batom na minha boca e meus cabelos estavam mais revoltados do que no início da noite. Tirando isso, aparentemente estava tudo certo.
Saí do banheiro e Jacob já veio me buscar para que eu fosse a próxima a cantar.
— Gente, eu estou mais bêbada do que deveria, então ignorem as idiotices que eu fizer durante a performance — eu falei ao microfone e todos deram risadas, se divertindo.
O início de Kiss me more de Doja Cat começou a tocar e notei as pessoas animadas com aquilo. Dei uma risada alta ao microfone, sabendo que aquilo seria divertido. Tom me olhava com olhos admirados, mas no fundo da sala, eu via outro par de olhos tão admirado quanto.
We hug and yes, we make love
(Nos abraçamos e sim, fazemos amor)
And always just say "Goodnight"
(E sempre nos desejamos boa noite)
And we cuddle, sure, I do love it
(E nós nos abraçamos, com certeza eu amo isso)
But I need your lips on mine
(Mas eu preciso de seus lábios nos meus)
Na minha cabeça, eu soava exatamente como Doja Cat, mas eu sabia que minha voz estava horrível. A plateia aplaudia no ritmo da música e eu estava animada para continuar aquele absurdo de música que eu tive a coragem de iniciar. Fiz o mesmo de antes e cantei fazendo pequenos passos bobos, apenas para dizer que estava dançando. Às vezes, dava giros e rebolava a bunda, apenas para dar o toque latino que eu sabia que tinha fervendo em meu sangue.
Can you kiss me more?
(Você pode me beijar mais?)
We're so young, boy
(Somos tão jovens, garoto)
We ain't got nothin' to lose, oh, oh
(Não temos nada a perder, oh, oh)
It's just principle
(É apenas princípio)
Baby, hold me
(Amor, me abrace)
'Cause I like the way you groove, oh, oh
(Porque eu gosto do seu jeito de curtir, oh, oh)
Eu juro que Tom estava mais animado do que deveria com a música, pensando bem, não era mais do que deveria, a música era simples e a letra era bem direta. Cada pessoa que estivesse ouvindo saberia o que eu queria dizer com aquilo. Não havia outro jeito de esperar que ele estivesse.
Boy, you write your name, I can do the same
(Garoto, você escreve seu nome, eu posso fazer o mesmo)
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la
(Oh, eu amo o sabor)
All on my tongue, I want it
(Tudo na minha língua, eu quero)
Boy, you write your name, I can do the same
(Garoto, você escreve seu nome, eu posso fazer o mesmo)
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la-la
(Oh, eu amo o sabor)
All on my tongue, I want it
(Tudo na minha língua, eu quero)
Terminei a música e literalmente todo mundo gritou junto com Tom, alguns assoviaram e eu fiz uma reverência exagerada, tropeçando.
— Porra, — Tom exclamou mais uma vez, apenas rindo divertido. — Assim você vai me matar do coração. Meu pobre coraçãozinho não aguenta.
Saímos da sala rindo, enquanto as pessoas ainda aplaudiam e comemoravam, Tom me puxou para o quarto mais próximo, que na verdade era um escritório, onde Tobey guardava suas estatuetas, prêmios, scripts e esses tipos de coisa.
Ele parou em minha frente, me encarando despretensiosamente e fez algo que deixou meu coração feliz.
Segurou meu rosto com as duas mãos e me perguntou:
— Você está bem? — disse, me olhando profundamente nos olhos, tão perto que eu via suas sobrancelhas bagunçadas fio a fio.
Eu estava bêbada, sim, mas não achava alucinando ou a ponto de vomitar e não ter ciência de meus atos, mesmo assim achei melhor prevenir.
— Estou, mas por mais que eu tenha cantado aquela música, não estou bem o bastante para fazer qualquer coisa — expliquei, fazendo sinal e ele deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás.
— Maguire, você é hilária.
Uni as sobrancelhas, esperando-o se recompor para explicar.
— Como você sabe, faz alguns meses que eu não faço esse tipo de coisa, sabe, por conta da Zen, não podia simplesmente correr o risco de que descobrissem e tivesse uma recepção negativa do filme.
— Ok — respondi, sabendo que vinha mais coisa.
— Então, , quando eu tiver essa chance, quero estar sóbrio, para lembrar de cada momento, sabe?
— Isso é muito sensato — concordei, séria, afinal, em nenhum momento ele disse que seria comigo. Apenas que queria estar sóbrio. Olha, não seria um esforço tremendo ter que transar com Tom Holland, isso eu posso assegurar.
— O álcool dá muitas sensações boas, e infelizmente, perda de memória e arrependimento normalmente também vêm junto — acrescentei e ele riu, colocando as mãos em minha cintura, pus meus braços em volta do seu pescoço.
— Exatamente, por este motivo, transar sóbrio sempre vai ser a melhor opção, ou no máximo, com uma taça de vinho ou duas — explicou e eu concordei.
— Ok, então a minha apresentação anterior não tem nada a ver com o fato de você ter, por acaso, me levado diretamente a um quarto?
— Maguire, o que eu mais quero agora é te levar a um quarto — ele disse, olhando em meus olhos novamente, com as sobrancelhas unidas e um sorrisinho nos lábios. — Eu só preciso saber se você também quer isso, enquanto está sóbria. Pois não sei você, mas eu fico muito mais corajoso quando estou bêbado e tenho medo de que você só esteja afim de mim por causa da bebida.
Aquilo era uma pontada de insegurança que eu estava vendo sob aquela linda casca de Tom Holland?
— Em algum momento, a gente descobre. — Pisquei e segui meus lábios ao encontro dos dele, mas antes que isso acontecesse, Tom se desvencilhou de meus braços e vomitou sobre meus pés.
Com certeza, o pior deles era o fato de eu ter cantado uma péssima música, em um péssimo momento, e Tom fucking Holland, tão bêbado quanto eu, vomitando restos de comida misturado com bile sob meu par de tênis preferidos.
— Bom dia, Maguire. — Ouvi aquele sotaque que eu já amava e meu coração deu um pulo. Abri os olhos, desta vez por completo, procurando de onde a voz vinha e o vi me olhando pelo espelho do banheiro que dava diretamente de frente com a cama.
— Tom? — perguntei, sentando-me. A pontada na cabeça deu um grito em minha mente. — O que você está fazendo aqui?
Olhei para baixo por instinto: eu estava com o vestido da noite anterior. Mais torto do que deveria, mas menos do que poderia estar.
— Você me pediu para ficar, lembra? — Ele riu, com a boca cheia de espuma. — Peguei uma escova de dentes nova que estava na gaveta, tudo bem?
— Na verdade, não lembro — admiti e ele virou o rostinho, sorrindo sem mostrar os dentes, um amor.
— Você ficou preocupada comigo, insistiu para eu dormir aqui e ficar de olho em mim — ele disse, rindo divertidamente.
— Tom, nós... Fizemos algo do qual eu possa me arrepender?
— É claro que não, querida — ele disse, enxaguando a boca. — Nós tivemos uma conversa sobre isso ontem a noite...
— Disso eu lembro — falei, colocando as mãos nas têmporas.
— Então, sou um homem de palavra. — Ele estufou o peito, aparentemente orgulhoso por fazer o mínimo, mas não entrei neste mérito, pois ele era realmente legal. Eu podia ser bem rabugenta de manhã, principalmente de ressaca.
Ouvi alguém bater levemente na porta.
— ? — Era a voz de Tobey. — Posso entrar?
— Claro — falei, vendo Tom arregalar os olhos no banheiro e trancando a respiração, como se isso fosse o fazer ficar invisível.
Ele abriu a porta, os olhos tão vermelhos quanto os meus provavelmente estavam.
— Ei, estou indo buscar Ruby e Otis, tá bem? Você conhece algum segredo de café da manhã para matar ressaca?
— Posso pensar em algo, também estou precisando — admiti.
— Hey, Holland — Tobey o cumprimentou rindo e Tom saiu do banheiro, com as mãos entrelaçadas em frente ao corpo e com os ombros caídos, a postura de quem pede desculpas. Tobey fingiu não notar isto.
— Fica para o café, cara, meus filhos estarão aqui logo. Minha filha vai gostar de te ver aqui — disse, completamente de boa. — , vou lá. Beijo.
Tom me aguardou tomar banho, e saí do banheiro renovada, apenas com uma dorzinha de leve de cabeça, nada que um litro de água com limão e algum doce não curasse.
Ele me acompanhou também durante a minha preparação de café da manhã, onde conversamos animadamente sobre a festa de ontem. Tom era amor, inocência e simpatia, assim como ele aparentava ser nas entrevistas que normalmente aparecia, eu gostava da sua companhia. E ele, aparentemente gostava da minha.
Fiz limonada suíça, waffles e uma cobertura de brigadeiro mole (minha tentativa de ganhar de vez o coração de Otis), omeletes estilo brasileiro com presunto, queijo e tomates, e cortei algumas frutas que haviam sobrado do dia anterior e fiz uma salada de frutas.
Quando as crianças chegaram e eu estava terminando de colocar as coisas na mesa, Tobey me ajudou, enquanto Ruby não sabia se morria ali mesmo e caia dura no chão, ou se corria para abraçar Tom com todas as forças.
— Papai! Você podia ter me avisado! Estou parecendo uma bruxa!! — ela disse, visivelmente indignada, ela usava um vestido preto com alças regata com uma blusa de lã branca por baixo, nos pés um tênis colorido lindo. Estava muito estilosa, e Tom gargalhou abrindo os braços para recepcioná-la. Vi que Tobey agradeceu com os olhos, enquanto ela o abraçava com força, ele com certeza ganharia pontos com ela por Tom estar ali.
Otis, por outro lado, estava mais admirado com os pratos que eu havia feito, me abraçou, me beijou e perguntou tudo que eu havia feito. E já começou a se servir sem dar muita moral a Tom, achei engraçado o fato dele e Ruby serem tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo, era nítido o fato de que Otis gostava muito mais de mim do que ela, mas eu culpava as suas idades mais do que tudo.
Todos comeram com avidez, o que me deixava sempre muito feliz. Minha dor de cabeça foi embora com os waffles com calda de brigadeiro e a limonada, sendo assim, nem precisei tomar um remédio para ficar 100 % bem.
Conversamos um pouco sobre como foi a semana dos dois, Ruby sempre puxando assunto com Tom e perguntando a opinião dele, que foi extremamente amável em todas as respostas. Ele sabia lidar com crianças e, principalmente, com fãs.
Otis contou da sua semana, intercalando assuntos sobre os novos jogos do PlayStation 5, coisa que eu não conhecia muito, mas fingi interesse em tudo que ambos falavam, Tobey fazia o mesmo, assim como Tom, que hora ou outra eu pegava olhando de soslaio em minha direção, porém depois de meia hora, ele levantou-se, avisando que ia embora. Tobey me cutucou para levá-lo até a porta.
— Então, irmã Maguire, obrigado por me aturar bêbado ontem à noite — disse ele, quando chegávamos a porta. — E, Deus, me desculpe pelo vômito, prometo que vou te recompensar por isso e vou te dar um par de tênis novos.
— Eu quem agradeço. Eu não estava muito diferente de você — admiti e ele sorriu de lado, fazendo meu coração se derreter.
— Você está a fim de jantar hoje? Uma coisa mais calminha e possivelmente menos carregada de álcool? — Estalou os dedos da mão, de maneira ligeiramente nervosa. Eu achava realmente fofo o fato dele ficar nervoso com esses pequenos gestos, me faziam lembrar que eles também são tão humanos quanto eu.
— Claro. Desde que você me prometa que não terá um karaokê — brinquei e ele sorriu novamente, como ele estava com o sorriso frouxo hoje.
— Prometo — disse, fazendo uma cruz sobre o coração. — Te pego às sete? — perguntou, mordendo o lábio inferior e arqueando as sobrancelhas.
— Perfeito — falei, sorrindo. Notei que ele queria ir embora, mas estava se segurando para sair. Será que Tom Holland, o cara mais amável da América no momento, estava envergonhado a ponto de não saber me beijar em uma despedida? Os sinais estavam ali, o sorriso sem graça, os olhos mirando o chão, os pés inquietos e alguns olhares furtivos aos meus lábios. Eu sabia que era uma mulher que podia fazer aquilo. Por esse motivo, dei um passo em sua direção, segurei seu rosto delicadamente, fazendo-o olhar para mim e colei nossas bocas.
Foi um selinho apenas. Separei nossas bocas e ele sorriu, soltei seu rosto.
— Até mais tarde — ele disse, ainda sem perder o sorriso completo que mostrava todos os seus dentes, ele estava radiante. Abriu a porta e saiu, dando uma olhadela para trás e abanando a mão. Eu sorri e devolvi o aceno.
Meu Deus. Nesse momento a ficha caiu. Encostei minhas costas na porta e deslizei até o chão: eu estava há duas semanas nos Estados Unidos e já havia beijado Andrew Garfield e Tom Holland. Eu estava começando a acreditar no que Tobey vivia me dizendo e meu coração disparou, quase saindo pela boca. Não era humanamente possível que eu, , uma mulher adulta, de classe média, que vive com um gato chamado Jacquin, tem um carro popular financiado e uma casa simplória no sul do Brasil, estava realmente encantando os dois homens mais populares do momento, certo? Uma pessoa absolutamente normal... Ok, eu não me considero feia, estou com tudo em cima, vou para a academia periodicamente, cuido da minha alimentação e faço todos os self-cares possíveis, com meu rosto, meu cabelo e minha pele, mas ainda assim, me considero uma pessoa normal. Tobey deixou claro que o fato de eu ser uma pessoa que eles podiam confiar, que não ia pular em cima deles por serem famosos, e que provavelmente não faria escândalos como bater uma foto nossa transando para lançar na internet, podia muito bem ter influenciado o fato deles terem gostado mais de mim do que de qualquer outra garota. Talvez meu charme brasileiro possa ter ajudado, porém gosto de pensar que foi única e exclusivamente por conta de eu ser irmã de quem sou, e tenho um passe de credibilidade embutido.
— Tia ! Você saiu com OS DOIS? — Ruby praticamente gritou da cozinha, me fazendo pular de onde eu estava, saindo do meu devaneio.
Voltei para a cozinha e vi Tob segurando o riso, enquanto Otis ainda comia sem dar muita bola para o fato de eu ter saído com os dois. Tecnicamente, eu não havia saído com Tom, mas não entrei nesse mérito.
— Desculpe? — Me fiz de desentendida. Ruby me espreitou com seus olhos azuis sagazes.
— Você já ficou com Tom E Andrew? Isso é tão injusto! — ela disse, cruzando os braços com um beiço que eu poderia tropeçar.
— Quem te disse isso? — perguntei, tentando de maneira alguma transparecer minha indignação que poderia ser confundida com culpa no cartório.
— Papai.
— Ei! Não me meta nisso, só te falei que Tio Drew e Tio Tom estavam apaixonados pela sua Tia — ele disse, levantando as mãos, se defendendo.
— Meu Deus, Tobey! — falei, rindo. — Agora estão apaixonados? Cada dia que passa, você inventa uma coisa nova. Eles me conhecem há duas semanas, não estão apaixonados por ninguém. Tom terminou o namoro dele faz dois dias! — Respirei fundo. — Querida, não escute essas besteiras do seu pai.
Ela pareceu aliviada, e na verdade, eu não sabia muito bem o motivo de todo aquele auê, mas eu não a culpo, pois na sua idade eu queria me casar com Danny Jones, na verdade, com qualquer um dos integrantes do McFly, mas Danny sempre foi meu preferido. E eu também ficaria indignada se minha tia simplesmente estivesse saindo com Danny e Dougie ao mesmo tempo, sem motivo aparente.
Aguardei meus sobrinhos irem para a sala para contar a Tobey que Tom havia me convidado para jantar.
— Como você se sente com tudo isso? — perguntou, juntando os pratos na mesa, me ajudando a colocar tudo no lugar.
— Honestamente, não sei. — Suspirei, olhando em seus olhos azuis.
— Eu quero que, no mínimo, você esteja confortável. Não quero você aceitando ir jantar com ele, por ele ser o Tom Holland, sabe? Se você não quiser, não se sinta pressionada a aceitar — ele disse, levando os pratos até a lava louças.
— Sim, eu entendo. Creio que estou confortável com isso. Só estou com medo de estragar alguma coisa, para você ou para ele — expliquei e ele pareceu entender.
— Você diz estragar nossa imagem ou algo assim? — Ele cruzou os braços, encostando-se na bancada.
— Sim. Tenho medo de fazer algo que possa prejudicar vocês.
— — Tobey disse, rindo. — Eu tenho vídeos e mais vídeos na internet falando palavrões absurdos aos paparazzis, fumando maconha e mais alto que uma pipa. Gente famosa só faz merda. É sério, relaxa, não vai ser minha irmã mais nova com uma carreira de cozinheira famosa em ascensão que vai prejudicar minha carreira ou a de Tom.
— Leo DiCaprio? — perguntei, sorrindo e mordendo os lábios.
— Sim... — ele disse, distraído, e depois arregalou os olhos. — NÃO! Ele está fora de cogitação.
— Ahhh, Tob, eu largava o Tom e o Andrew para ficar com o Leonardo DiCaprio — brinquei, mostrando a língua e ele empurrou meus ombros.
— Você é louca! Louca E insaciável — Tobey disse, unindo as sobrancelhas, dando uma gargalhada.
— Não posso fazer nada se todos os seus colegas de trabalho e amigos são lindos e famosos. — Dei de ombros.
— E são caidinhos por ti... — continuou ele. — Leo com certeza estaria caidinho por você também, você é o exato tipo dele: jovem, linda e ingênua.
— Olha só, mais um motivo para você me apresentar ele — adicionei e ele deixou escapar mais uma risada.
— Você está impossível hoje — disse ele. E mudou de assunto: — O que acha de um almoço piquenique?
— Acho uma ótima ideia, o dia está lindo. — Não estava frio como eu achei que estaria em toda a minha estadia ali.
Avisamos as crianças que faríamos um piquenique e nenhum dos dois mostrou muita empolgação, mas isto não abalou nossa vontade. Pedi a ajuda de Otis para preparar uma cesta com comida, enquanto Tob pediu a ajuda de Ruby para escolher alguns jogos para levarmos. Meia hora depois, estávamos com tudo pronto para irmos. Usei meu novo óculos em forma de coração e Tobey também, enquanto as crianças nos olhavam estranho. Quando chegamos no parque Griffith, as crianças pareceram ficar mais animadas por conta do telescópio que havia dentro do prédio principal que eu, obviamente, não sabia da existência.
Esticamos no chão uma grande toalha xadrez que eu não tinha ideia do porquê Tobey tinha em sua casa, Ruby sentou-se ao meu lado, observando Tobey e Otis jogarem bola e logo pediu meus óculos emprestado para fazer selfies.
Bati uma foto dos dois brincando no meu celular e fiz um storie no meu Instagram, em seguida bati uma foto da cesta, aberta, mostrando as frutas que estavam dentro e boa parte da toalha xadrez. Ficou uma foto conceitual linda que mais tarde eu postaria.
Perguntei o que Ruby fazia no celular e ela me mostrou um pouco do Tiktok, coisa que eu não tinha, pois achava que não tinha mais idade para tal, demos risadas de algumas coisas bobas e Ruby entrou em seu próprio Instagram para batermos selfies com filtros bobos também, ela me seguiu e a segui de volta. Eu sentia a tecnologia e redes sociais estavam me ajudando a entrar naquele coraçãozinho mais difícil de penetrar, Ruby olhou todo o meu perfil e perguntou de algumas fotos no Brasil, onde entramos em uma conversa legal sobre hábitos brasileiros e lugares que ela podia ir conhecer no futuro, então aproveitei a deixa para convidá-la a ir para lá, Ruby adorou a ideia e disse que ia convencer a sua mãe a deixá-la passar as férias lá.
Notei que outra pessoa havia me seguido naquele momento e mostrei à Ruby que Tom Holland tinha me seguido no Instagram. Ela deu um mini ataque.
— Ele meio que me convidou para jantar com ele hoje, você acha que devo ir? — perguntei, querendo saber da sua reação. Ela abriu a boca e empurrou meu ombro.
— Oi? Que tipo de pergunta é essa, tia ? É o Tom Holland! É claro que deve ir, eu iria se fosse comigo. — Foi honesta. Não consegui decifrar se estava de algum modo decepcionada ou com ciúmes.
— Você me ajuda a escolher a roupa que devo ir? — perguntei novamente, vendo que ela ficou feliz em ter essa opção.
— Claro, você tem que estar maravilhosa! Meu Deus, eu estou surtando, sabia? Achei que fosse ficar com ciúmes, mas no fundo eu sei que estou muito nova para ele... — disse ela, rindo e tampando o rosto.
— Olha... Hoje, com certeza você é muito nova, mas tenho que te dizer que Andrew Garfield é uns dez anos mais velho do que eu. — Arqueei as sobrancelhas e ela abriu a boca.
— Tia, o papai estava dizendo a verdade? Você realmente saiu com os dois?
— Shhhh. Podem ter paparazzis aqui com o dom da leitura labial — falei, tapando sua boca com a mão. Ela riu, se divertindo, vi que sua risada chamou a atenção de Tobey e Otis, que se uniram a nós. Comemos sanduíches de frango com maionese que eu e Otis preparamos, e de sobremesa tinha morangos com suspiro. Ensinei-os a jogar pife (cacheta), depois brincamos com um jogo que era algo muito parecido com Imagem & Ação. Foi um momento genuíno em família e eu quis bater algumas fotos com a nova polaroid, pois sei que minha mãe adoraria ver aquele momento, então batemos várias fotos, fazendo poses, caretas e rindo como um bando de idiotas. Foi um dia gostoso.
No final da tarde, Ruby cobrou nossa ida para casa, já que tinha um trabalho a fazer: me ajudar a escolher uma roupa para o meu jantar com Tom. Juntamos nossas coisas e seguimos para casa de Tobey.
Em casa, deixei Ruby analisando minhas roupas enquanto fui tomar banho novamente. Saí do quarto de roupão e vi que tinham seis combinações diferentes de roupas espalhadas pela cama, Ruby se ofereceu para fazer um penteado no meu cabelo para fazermos um Tiktok com todas as combinações de roupas e deixar que seus seguidores decidissem qual roupa eu deveria usar. Aceitei. Não podia perder aquela oportunidade de me vincular com minha sobrinha adolescente, por este motivo, sentei-me no chão enquanto ela sentava sob a cama, atrás de mim, com pentes, escovas e prendedores de cabelo. Ela mexia em meu cabelo enquanto eu me maquiava como sempre: estilo amador; fiz um delineado estilo gatinho que só pegava no finalzinho dos olhos, passei uma dose moderada de blush, e nos lábios um gloss com muito glitter furta cor. Ruby fazia dois coques na parte de cima da minha cabeça e deixava metade dos cabelos soltos na parte de trás.
As roupas que ela havia separado variavam de vestidos floridos com sandálias altas, até calça jeans com cropped de lã. Filmamos todas as roupas, fiz dancinhas e demos tantas risadas que Otis e Tobey vieram até o quarto para ver qual era o motivo da risada, como levava tempo para editar o vídeo, deixamos os meninos escolherem o look que foi unânime: Um macacão de um tecido molinho, com cortes estratégicos abaixo dos seios e na mesma região das costas, onde a parte de baixo do macacão se mantinha presa apenas pelas laterais do meu corpo, e nos pés, uma sandália de salto médio com tiras grossas e coloridas. Eu fiquei ótima com a escolha, já que era chique o bastante para um lugar mais fino e despojado o suficiente para ir num lugar mais simples. Elogiei Ruby e lhe avisei que tinha bons olhos para aquilo, que deveria investir mais em moda e ela ficou lisonjeada.
Tobey pediu uma pizza para eles, enquanto eu aguardava a chegada de Tom, meu coração palpitava descompassado enquanto eu fingia estar calma, dei uma olhada nas redes sociais e vi que muita coisa rolava entre a fanbase do novo filme do Homem-Aranha, haviam muitas colagens com músicas apaixonadas e fotos minhas com Andrew na première de Tick, Tick, Boom... Uma delas era a foto dele beijando meu ombro, vídeos de nós dois rindo e cochichando um no ouvido do outro, em outra, nós estávamos negando uma pergunta sobre sermos namorados e depois nos olhando nos olhos. Ainda era esquisito me ver assim, em terceira pessoa. Não consigo entender como eles acham isso normal, às vezes minha memória confundia a realidade com as montagens e acaba ficando impossível não “shippar” Magarfield.
Outras eram colagens com fotos de hoje à tarde, que já tinham caído na internet, Tobey, seus filhos e eu, nos divertindo como pessoas comuns. Não consigo entender a fissura que as pessoas tinham de fotografar este tipo de coisa. Vi alguns vídeos de entrevistas de Tom e Zendaya, ainda desacreditada que era um amor falso. Ouvi quando um carro estacionou e logo havia alguém batendo na porta. Abri-a com um sorriso e encontrei um Tom absolutamente encantador, com um suéter de gola alta e os óculos que usou no dia da première, estava lindo e sorriu assim que me viu.
— Só um minuto, vou avisar que estou indo — falei, apontando o dedo na direção da cozinha. Ele acenou com a cabeça.
Dei um beijinho na cabeça de cada um. Mas Tob me chamou antes de eu sair e cochichou no meu ouvido:
— Não faça nada que eu não faria, ou que você não faria no Brasil, ou que decepcione a sua mãe. — E beijou meu rosto carinhosamente, como meu padrasto faria.
— Pode deixar.
Tom abriu a porta do carro para mim e deu a volta para entrar do outro lado, informou o local ao motorista e seguimos.
— Você está linda — disse, de forma absolutamente carinhosa.
— Obrigada, foi a Ruby que escolheu a roupa e fez meu penteado — falei e sorri de boca fechada, tentando ser tão fofa quanto ele.
— Eu tenho certeza de que qualquer coisa que você vestir ficaria ótimo, mas ela escolheu muito bem. — Ele mexeu nos cabelos, algo que eu já havia notado que ele fazia quando estava ligeiramente nervoso.
— Chega de me deixar sem graça, Tom — falei, rindo, lambendo os lábios e ele riu.
— Ok, desculpa — disse. — Você sabe dirigir? — Mudou de assunto para não ficar o silêncio constrangedor.
— Sim, mas só carros manuais. Nunca tentei dirigir carros automáticos — expliquei e ele ficou maravilhado.
— Nossa, então você deve andar igual o Toreto! — A animação nos seus olhos era contagiante.
— Não. — Dei risada. — Eu dirijo normalmente, no Brasil é muito mais comum carros manuais do que automáticos, então não é como se eu soubesse algo a mais do que os outros — expliquei. — Mas acho que consigo me virar com um carro automático em uma emergência.
— Entendi. Eu só sei dirigir carro automático e do outro lado da estrada. Não consigo andar na América. No Brasil é igual aqui, certo?
— Sim, isso é algo que não estranhei quando vim para cá. Mas tem bastante coisa cultural que é diferente. Não sei se conseguiria ficar aqui por muito tempo — admiti. — Estou com saudades de casa, principalmente de falar português. É muito difícil ficar traduzindo tudo na sua cabeça, buscando palavras para conseguir se expressar — desabafei e ele concordou com a cabeça.
— Eu já faço um esforço fodido para conseguir fazer meu sotaque americano, fico pensando em falar em outra língua. Deve ser absurdo — ele disse e eu sorri pela sua compaixão.
O carro estacionou em uma rua completamente escura, o encarei com as sobrancelhas unidas.
— Você me trouxe aqui para me matar, Tom? Logo você? — brinquei e ele riu, jogando a cabeça para trás.
— Não, pode ficar tranquila. Prometo que você vai ficar bem — disse, abrindo a porta do carro e saindo para abrir a minha. Desci do carro. De salto, eu ficava pouca coisa mais alta do que ele, Tom parecia não se importar com isso, não depois de namorar Zendaya por meses.
Ele me levou até uma porta branca grande, empurrou-a, pois não haviam trincos e já reconheci o lugar como sendo o depósito de uma cozinha. Estávamos entrando na cozinha de algum restaurante, sinal de que ele queria privacidade e provavelmente conhecia o proprietário do lugar. Ele me guiava ao meu lado, com sua mão tocando a parte descoberta de minhas costas, passamos por mais duas portas de empurrar antes de chegarmos na cozinha do local. O lugar era majestoso, uma cozinha digna de um restaurante magnífico. Tudo muito bem cuidado, o chão impecável, as bancadas limpíssimas e todos os cozinheiros muito bem organizados, o cheiro encheu minha boca de água.
Tom parou ao meu lado, vendo que eu estava maravilhada com o local, e me deu um segundo para admirar, tinha um cozinheiro fazendo alligot em uma panela, que dava vontade de mergulhar dentro de tão sedoso, em outro canto, uma cozinheira cortando medalhões de mignom e em outra bancada, um garoto cortando talos perfeitos de aspargos. Tudo estava em ordem e em uma coordenação que enchiam meu peito de admiração, haviam mais outros três cozinheiros que não consegui analisar o que faziam, mas no momento, ninguém estava fazendo nenhum prato, apenas preparavam as coisas para iniciar os chamados dos garçons.
Tom seguiu até o chef e o cumprimentou sorrindo.
— , esse é Tomás, o chef desse restaurante. Ele é um grande conhecido dos famosos aqui e já tem um cantinho reservado aqui na cozinha para quem não quer a intromissão de paparazzis — disse e piscou para o chef, que me cumprimentou, apertei sua mão com força. — É mais comum do que você pensa.
— É um prazer imenso — falei, encantada com o homem. Ele não parecia ser muito mais velho do que eu, mas com certeza tinha uma bagagem absurda para comandar um lugar como aquele.
— Tomás, essa é , ela é uma cozinheira lá no Brasil — Tom me apresentou e o homem charmoso sorriu para mim.
— Eu pude notar que seus olhos entendem o que está acontecendo aqui — ele disse, com um sotaque que não consegui desvendar de primeira, eu não era muito boa com sotaques.
— Entendem muito bem. Sou sous chef em um restaurante no sul do Brasil — eu expliquei e ele ergueu as sobrancelhas sorrindo.
— Que elegante sous chef — ele disse, não notei maldade em seu elogio. — Quer dar uma voltinha na cozinha, então? — Ofereceu com simpatia.
— Claro! — eu disse, absolutamente animada e Tom riu da minha reação.
Tomás nos ofereceu lencinhos no estilo bandana e Tom não sabia o que fazer com eles. Passei o meu por baixo do meu cabelo solto e dei um nozinho atrás nos meus coques frontais, ele entendeu que era para amarrar na cabeça para não cair cabelo na comida. Fez o mesmo, mas com o nó virado para a nuca.
Seguimos Tomás pelas bancadas, cada uma mais organizada do que a outra, explicou que o restaurante tinha acabado de abrir e seus cozinheiros estavam atrasados com o mise en place, por conta do pedido de última hora de Tom, mas que eles não o deixariam na mão. Enquanto os garçons faziam os pedidos, eles estavam colocando tudo em ordem. A bancada das saladas já estava em perfeita harmonia, as proteínas já estavam cortadas e variavam entre medalhão de mignon, cogumelos, carré de cordeiro, lagosta e magret de pato e foie gras. Os acompanhamentos eram outro show à parte, lindos caldos, purês sedosos, risotos cremosos e uma sopa de ervilha que brilhava num tom de verde perfeito. Tudo era lindo, parecia uma sinfonia, meus olhos brilhavam, minhas mãos coçavam e minha boca salivava. A organização da cozinha, a coordenação dos cozinheiros, tudo era maravilhoso de se ver. Era incrível.
Terminamos o tour e eu e Tomás estávamos animados em uma conversa sobre as diferenças de cultura entre os restaurantes, não em limpeza, mas na disposição dos lugares e pratos, Tom apenas nos observava curioso. Terminamos nossa conversa animados um com o outro e Tom nos guiou para nossa mesa reservada no canto da cozinha, onde a iluminação era mais fraca e aconchegante.
— Uau, você entende mesmo de cozinha — ele disse sorrindo, enquanto tirava a bandana da cabeça. Fiz o mesmo.
— É o meu trabalho, Tom, é a mesma coisa que eu ficar admirado com você enquanto contracena com alguém — respondi e ele concordou.
— Ok, é só que dá para ver que você ama isto. Está nos teus olhos o tempo inteiro. Confesso que fiquei com medo de te trazer aqui, porque talvez você ficasse tipo “Meu Deus, já não basta todos os dias de trabalho, no lazer tenho que vir aqui também”... — ele imitou meu sotaque com maestria e eu caí na gargalhada.
— Você me imitou muito bem! — expliquei e ele riu também. — Mas então, eu ficaria assim se você estivesse me levando ao restaurante que eu trabalho, sabe?
— Entendi, entendi. Fico feliz que você tenha gostado. — Ele sorriu sincero e eu o acompanhei.
Um garçom apareceu com uma garrafa de vinho, informou que era o melhor da sua coleção e nos serviu. Brindamos e tomamos um gole cada.
— Então, , me conte mais sobre você — falou, virando um pouco o rosto, estreitando os olhos como se estivesse desvendando um enigma.
— O que você quer saber? — perguntei, tomando mais um gole daquele vinho maravilhoso e lambendo os lábios em seguida, ele me seguiu com os olhos.
— Sobre a sua vida, eu só sei que você é brasileira, cozinheira e irmã de Tobey Maguire — explicou ele, arqueando as sobrancelhas.
— Bom, por onde eu começo? — Fiquei perdida. — Eu moro no sul do Brasil, minha mãe era garçonete quando conheceu o pai de Tob, eles ficaram lá até eu fazer quatro anos de idade, tive uma infância bem humilde, e fiz o possível para recompensar minha mãe quando cresci, trabalhei como garçonete, assim como ela, para conseguir pagar minha faculdade e consegui uma boa oportunidade como trainee durante um estágio. Depois disso, as coisas melhoraram bastante... — falei, tomando mais um gole de vinho. Tom prestava atenção nas minhas palavras. Ele tinha os braços cruzados sob a mesa e seu rosto estava levemente inclinado para a direita, mania esta que notei que ele tinha o hábito de fazer.
— Sua mãe permaneceu solteira depois do pai de Tob? — perguntou ele, também tomando um gole do vinho.
— Não, ela se casou com Pedro alguns anos depois e, bom, eu o considero meu pai. Ele esteve presente em muitos momentos da minha vida inteira e sou eternamente grata por minha mãe ter encontrado ele para compartilhar a sua vida. Eles são feitos um para o outro — falei, sorrindo. Peguei meu celular e mostrei uma foto dos dois para ele, que os achou adoráveis.
— Você mora sozinha lá?
— Moro, na verdade, não, moro com meu gato, Jacquin — falei, dando uma risadinha pelo nariz e ele sorriu.
— Você tem um gato? Eu adoro gatos, prefiro cachorros, mas gatos são demais! — Ele pegou o seu celular e mostrou sua foto de proteção de tela: ele abraçado com um cão lindo todo cinza com o peito branco.
— Meu Deus, que coisa mais linda! — falei, pegando seu celular para analisar melhor a foto.
— O nome dela é Tessa — ele disse, orgulhoso.
— Ela é linda. Adoro cães, mas não gosto de tê-los, prefiro o dos outros — falei, devolvendo seu celular e tomando mais um gole de vinho.
— Nossa, isso é maldoso — ele disse, escondendo o celular como se estivesse ofendido.
— Não é maldoso, é a verdade. Gosto de pensar que tenho uma identidade que se identifica mais com gatos. Você é, sem sombra de dúvidas, uma personalidade de cão — falei simplesmente, ele abriu a boca para contestar, mas deu de ombros.
— Você está certa, eu sou uma pessoa-cão.
O garçom se aproximou pedindo licença e nos entregou o menu, Tom correu os olhos pelo menu e pediu a Opção 1 do cardápio, que seguia uma linha mais contemporânea, desta vez pedi a opção mais clássica e confesso que foi apenas porque a sobremesa era Petit Gateau e eu estava precisando desesperadamente de um chocolate.
Continuamos conversando sobre nossas vidas pessoais, ensinei algumas palavras em português a ele: vinho, taça, cachorro, gato e croissant (que ele me explicou ser uma sina com seus fãs) e até o convenci a adotar um gato de rua quando voltasse à Londres, coisa que ele só aceitou com a condição de que eu fosse um dia lá conhecê-lo.
Ele me perguntou meus livros preferidos, meus músicos preferidos, minhas cores preferidas e comidas. Eu descobri que ele era disléxico, morava perto da sua mãe, que dançava desde os cinco anos e que seu pai era um comediante famoso na Inglaterra. A entrada chegou e ele decidiu bater uma foto para postar nos stories do Instagram, informando que gostava de deixar os fãs curiosos.
A comida daquele restaurante era a melhor coisa que eu havia comido desde que cheguei nos Estados Unidos e deixei isto bem claro a Tom e Tomás, quando estávamos de partida. Tom não parava de sorrir desde que dividimos o Petit Gateau, e eu realmente estava começando a achar que era apenas a felicidade de poder sair com quem ele quisesse e onde ele quisesse, era uma felicidade genuína que me divertia. O garçom nem sequer trouxe a conta, Tom apenas levantou-se da mesa quando terminamos e estendeu a mão até mim, para que eu o acompanhasse.
Tomás despediu-se de nós com apertos de mão calorosos e uma promessa de que iria me chamar para cozinhar um dia com ele. Eu apenas aceitei, sabendo que não iria acontecer, pois aquele tipo de coisa não acontecia com garotas como eu.
Seguimos até o carro, com Tom falando sobre como ele estava com a barriga cheia, me fazendo gargalhar.
O motorista guiou-nos pela cidade, que estava linda, admirei as palmeiras na avenida principal de Beverly Hills, enquanto o rádio tocava alguma música do Shawn Mendes.
— Como você está se sentindo? — perguntei, depois de um momento em silêncio entre nós.
— Feliz, satisfeito, livre. — Ele escolhia uma palavra e acabava mudando de opção logo em seguida. Dei uma risada. — É bom sair com uma pessoa que você não está saindo só por conta de um contrato.
— Fico lisonjeada de saber que fui a escolhida para tal momento — brinquei e ele riu fechando os olhos e fazendo sinal de negativo com a cabeça.
— É aí que você se engana, você não entendeu nada, — respondeu ele e uni as sobrancelhas, o encarando. — Foi você que me escolheu, você só não sabe disso ainda.
Eu não sabia como responder aquilo, na verdade eu nem sequer tinha entendido muito bem o que ele quis dizer, porque quando ele o disse, seus olhos estavam completamente colados em minha boca e a única coisa decente que consegui pensar foi que minha boca ainda tinha gosto de chocolate, o que poderia ser uma boa opção para um beijo com Tom Holland.
Por este motivo, aproximei-me dele, seus olhos castanhos queimavam minha pele, de tamanha intensidade, lambi meus lábios e ele sorriu mais uma vez. Uma de suas mãos acariciou meu rosto e eu acompanhei seu sorriso enquanto seu rosto vinha de encontro ao meu. Nossas respirações se misturaram quando ele falou:
— Seus olhos são incríveis. — E colou nossas bocas de maneira calma. Tenho quase certeza de que minha língua o assustou por um milésimo de segundo, eu sempre esquecia de que o beijo de língua não é natural em todo o mundo. De qualquer maneira, ele me acompanhou, sua mão desimpedida seguiu até minha cintura, tocando minha pele exposta pela abertura da minha roupa. Coloquei uma de minhas mãos em sua nuca e puxei seu cabelo de leve, ele suspirou alto:
— Porra, , não faz isso comigo. ‘Tô na seca tem um tempão — admitiu, rindo, e dei uma risada alta antes de voltarmos a nos beijar. Desta vez o beijo ganhou intensidade, sua língua se misturou com a minha com muito mais facilidade e sua mão pressionava minha cintura, enquanto a outra seguia para minha nuca, onde a pressão exercida ali me fazia virar os olhos nas órbitas. Seus lábios se encaixavam perfeitamente nos meus e hora ou outra, Tom mordiscava os meus, me fazendo delirar. Seu cheiro já podia ser anotado em minha mente como motivo de perigo e seus braços fortes pareciam um imã para as minhas mãos, que adoraram passear por ali, em seu peitoral bem definido. O beijo ganhou cada vez mais intensidade e eu podia jurar que até os vidros estavam embaçando por conta do calor que fazia ali dentro. Suas mãos já sentiam-se livres para passear da minha cintura para minhas pernas, as minhas mãos bagunçavam tanto seu cabelo que qualquer um saberia o que estávamos fazendo ali, inclusive achariam que foi mais do que o que realmente fizemos. Separávamos o beijo sem fôlego, porém já juntávamos nossas bocas novamente, como um casal de adolescentes que não tinha muito tempo para perder e que realmente a qualquer momento o carro iria parar. Foi o que aconteceu logo depois.
Sentimos o carro parar, no que supus ser na frente da casa de Tobey e Tom acariciou meu queixo, antes de me dar um selinho de despedida.
— Obrigada pela noite, Tom, me diverti muito — falei, com sinceridade, e ele sorriu abertamente.
— Eu também me diverti muito, obrigado por me fazer companhia — disse, sem tirar o sorriso do rosto, o que eu achei extremamente adorável.
Saí do carro e entrei no portão, sentindo seu olhar em minhas costas, e acenei da porta quando meus olhos se encontraram com os dele a última vez naquela noite.
Meus pensamentos varreram os acontecimentos da noite anterior e eu sorri antes de responder:
— Foi ótimo, me diverti bastante. — Ele pareceu analisar meu sorriso antes de sentar-se.
— Hmm, e você já tem um preferido? — perguntou, maliciosamente, eu podia sentir o seu tom de deboche.
— Do que você está falando? — Me fiz de desentendida, mesmo sabendo que aquilo não iria funcionar.
— Ah, você sabe, se ambos te convidassem para sair hoje? Com qual deles você iria? — perguntou, levando sua xícara de café fumegante até a boca, com seu sorrisinho cínico ainda nos lábios.
— Não vou te dar esse gostinho Tob, nem comece. Você sabe que estou apenas aceitando as oportunidades que a vida está me dando — o respondi e ele concordou com a cabeça. — E você sabe também que a minha preferência, em primeiro lugar, é sempre você.
Tobey riu, mas pude ver em seus olhos que ele gostou da resposta e seu ego inflou um pouco antes de continuar:
— Mudando de assunto, você vai querer ir ao programa do Jimmy Fallon esta semana? Lembra que comentei contigo no dia da festa?
Eu não era a maior fã de programas de auditório e entrevistas, pelo menos não daquele estilo que não tinha um conteúdo realmente relevante e era mais para matar o tempo, mas realmente gostei do convite. Eu nunca havia ido à um programa de TV, muito menos com plateia e muito menos ainda acompanhando pessoas famosas, então com certeza seria algo que eu teria a possibilidade de riscar da minha lista de coisas a fazer.
— Claro que sim! Meu Deus, que pergunta besta. Quando será?
— A gravação amanhã, não lembro quando o programa vai ao ar. A minha agente me avisou, eu só esqueci mesmo — ele disse, dando de ombros.
— AMANHÃ?! — perguntei, quase me engasgando com a uva que havia colocado na boca.
— Sim, aparentemente Kendall e Kylie Jenner cancelaram a presença em cima da hora e eles anteciparam a nossa ida, que convém muito com a agenda dos dois britânicos que teriam que ir e voltar para do Reino Unido para cá por causa desse talk-show. E acabou que você ainda está aqui, então deu tudo certo — ele disse, tranquilamente, como se aquilo fizesse parte do seu dia a dia: essas mudanças de calendário em cima da hora. E realmente fazia, ele apenas ia seguindo o fluxo que sua agente planejava.
— Mas o que devo vestir? Não faço ideia do que usar num evento assim, nunca tive o hábito de assistir muitos talk-shows para saber o que usar. Muito menos um do Jimmy…
— , relaxa. Hoje a gente vai atrás de algo para você usar, não se preocupa com isso — ele disse, rindo do meu desespero.
A verdade era que não era só aquilo que estava me procurando, e sim o fato de ter que lidar com Tom e Andrew ao mesmo tempo e, desta vez, eu já havia me envolvido com os dois. Ok, foi só um beijo de ambas as partes, mas porra! Minha vida ainda estava de cabeça para baixo e aquilo ali não ajudava em nada. Eu sei que não devo nada a ninguém, e é só tratar os dois igualmente, sem problema algum, mas eu nunca fiquei com dois caras ao mesmo tempo, não sei como isso funciona. E se Tom decidisse me cumprimentar com um selinho?! Eu não sei o que se passa na cabeça dele e obviamente ele não faria isso, mas… e se o fizesse? Meus pensamentos foram longe enquanto eu comia o mix de frutas vermelhas que estava em minha frente, tão longe que Tobey teve que me puxar de volta.
— Não me diz que você está pensando em como vai lidar com os dois ao mesmo tempo? — ele disse, rolando os olhos dramaticamente. Soltei um risinho nervoso pelo nariz.
— Eu não… — tentei me defender, mas ele me interrompeu novamente.
— , respira. — Sua voz era calma e leve. — Você não deve nada a nenhum dos dois. Eu não sei até que ponto vocês foram, mas isso não torna vocês propriedade uns dos outros. Se foi só beijo, aí mesmo é que você não tem que se preocupar. Os dois sabem que você não vai ficar aqui para sempre e só querem aproveitar os momentos de vocês juntos e eu imagino que você pense o mesmo — ele disse, de forma que pareceu aguardar a minha confirmação e eu concordei com a cabeça. — É sobre isso, você não é uma propriedade e você não tem que se preocupar em como eles vão reagir, já que vocês são todos adultos. Tenho minhas dúvidas se já posso considerar Tom um adulto, mas se você não tem um problema com isso, não sou eu que terei — ele disse, por fim.
— Ok, Tob, obrigada por me acalmar. Você sempre me dá esses sermões que me deixam com a consciência menos pesada — admiti, rindo, e ele riu junto.
— É o meu papel de irmão mais velho, e convenhamos que sou eu que estou te colocando nessa emboscada, então nada mais justo do que eu tentar te ajudar a sair disso. — Deu de ombros. Terminamos de comer e continuei contando a ele mais detalhes sobre a noite anterior.
À tarde, Tobey me levou em uma loja para escolher uma roupa para o programa, segundo ele, o entrevistado devia ir com uma roupa mais produzida, mas que o pessoal da plateia podia ir com uma roupa simples. Como havia a possibilidade de que Jimmy viesse a trocar uma ideia comigo, já que houve tanta comoção na internet quanto a mim, ele disse que eu podia ir um pouco mais elegante do que o resto da plateia, e era isso que estávamos procurando. Uma roupa simples para eu não me destoar, mas elegante o suficiente para que eu não fosse qualquer uma. Foi exatamente isto que Tobey falou à vendedora quando fomos atendidos. A loja era linda, eu me sentia a própria Julia Roberta em Uma Linda Mulher, enquanto passava por araras com roupas mil e uma cores. A vendedora me trouxe um conjunto de calça e blazer de alfaiataria, na cor rosa bebê, era lindo e fui ao provador. A calça tinha um caimento perfeito e acabava acentuando as curvas da minha cintura fina e da minha bunda, o comprimento dela ia até meus tornozelos. Por baixo do blazer, uma camisa mais despojada, branca com algumas manchas de tie dye, além disso, ela tinha um nó no comprimento, que a deixava com um ar de cropped, mas como a calça tinha a cintura bem alta, minha pele nem chegava a aparecer, era o comprimento perfeito. O blazer por cima era liso, básico e lindo, me olhando no espelho, eu sentia como se aquela roupa fosse minha, combinava muito comigo. Saí do provador, e Tobey me analisou.
— Você está linda — disse, sorrindo, os olhos cheios de sentimento. — Você gostou?
— Gostei. Mas tenho medo de que seja demais, sabe? — expliquei, dando uma voltinha na frente do espelho. Eu estava ótima mesmo, a vendedora tinha um olho bom para este tipo de coisa.
— Não é demais. Não se preocupe com isso — Tobey disse, gentil, e a vendedora concordou:
— Se me permite — disse ela, simpática. — Caso você esteja com medo de que seja algo muito sério por causa do blazer, use com um tênis e vai quebrar um pouco junto com a blusa. Você tem pés pequenos, então com o tênis certo, vai continuar lindo sem ser tão sério.
— Está vendo? Vamos atrás de um tênis então — disse Tob, divertido.
Voltamos para casa com mais sacolas do que a própria Jenna Rink em De repente 30, roupas, sapatos, acessórios e mais acessórios. Tobey escolheu uma roupa para si também, uma camisa rosa de botões e um blazer azul escuro, os sapatos e a calça seriam garimpados em casa.
À noite, fomos jantar em uma pizzaria realmente italiana, com massa caseira feita com fermentação natural, minha boca salivava só de pensar nisso e fizemos uma ligação de vídeo com minha mãe durante a janta, conversamos um pouco e pude notar como o português de Tobey estava melhorando. Ele estava fazendo aulas com uma professora particular brasileira quase todos os dias em que eu estava ali. Me ofereci para ensiná-lo, mas ele já havia fechado o pacote com a moça quando eu cheguei nos Estados Unidos. Minha mãe, por outro lado, chorava feito uma bebezinha vendo-o falar tão bem em português. Eu sabia que havia feito a coisa certa quando via aquele tipo de cena na minha frente, minha mãe estava orgulhosa de mim, estava feliz e agradecida por estarmos unidos novamente. Como ela mesma havia dito: Tobey, seu pai foi um idiota, mas fico feliz que a idiotice não continuou na linhagem. Ela o considerava o filho que nunca teve, e eu ficava muito feliz de vê-los daquele jeito.
Comemos duas pizzas antes de irmos embora, uma mais maravilhosa do que a outra. Conversamos sobre nossas famílias e como o tempo estava passando rápido naqueles dias em que eu estava ali. Minhas férias estavam acabando e a realidade da minha vida no Brasil estava voltando à tona, logo eu estaria em Florianópolis de novo, mas não posso negar que estava com saudades das praias geladas e de falar minha língua natal. Família e amigos eu nem levo em consideração, pois a saudade é inexplicável, mas a minha praia e meu português estavam me fazendo mais falta do que eu realmente esperava.
No dia seguinte, acordei empolgada e fiz um Croque Mounseir para mim e um para Tobey. Ele comeu com tantos elogios que fiquei com o ego inflado. Conversamos um pouco em como seria a nossa agenda e seguimos o cronograma. O programa era gravado no fim da tarde, então precisávamos pegar um voo para NY, almoçar algo simples lá e depois Genevieve e Carlos fariam a sua mágica.
O voo foi calmo, viajamos de primeira classe, assim como quando viajei com Andrew. Eu estava começando a me acostumar com os voos, que sempre foi algo que eu tive bastante medo, porém, dizem que chega um determinado número de voos que você se acostuma e não era mentira, eu estava me acostumando. Quando chegamos, fomos direto ao hotel, colocamos nossos pertences nos devidos quartos e descemos para o lobby para almoçar. Em menos de meia hora, Gen e Carlos estavam chegando para nos arrumar.
Eu estava esbaforida! Não estava acostumada com tanta correria assim, apenas dentro de uma cozinha e não no dia a dia. Quatro horas dentro de um avião, mais meia hora para almoçar, depois ir correndo tomar um banho para fazer cabelo e maquiagem... Eu, com certeza, não funcionava assim. Mas tive que engolir tudo e aceitar que minha vida seria assim por enquanto, não sei se aguentaria. Elogiei Tobey por isso e ele deu de ombros, afinal, era apenas mais um dia para ele. Normal.
Depois do meu banho, Gen veio fazer minha maquiagem primeiro, enquanto Carlos arrumava Tobey. Dessa vez, ela fez uma maquiagem genuinamente leve, com um marrom claro em minhas pálpebras, um coraçãozinho rosa com delineador no canto de cada olho e um batom nude com bastante gloss nos lábios. Depois, Carlos escovou meus cabelos e os deixou propositalmente ondulados e esvoaçantes, com a desculpa de que se fizesse um penteado, o look pudesse voltar a ficar muito sério. Colou unhas postiças em meus dedos novamente, desta vez em um degradê que saía do branco na raiz e nas pontas era de um rosa claro que combinava perfeitamente com meu blazer. E assim, eu estava pronta novamente para um novo desafio: TV show.
Encontrei Tobey no lobby do hotel, absolutamente lindo, com uma calça de alfaiataria azul escura como o blazer, e a camisa rosa por baixo com os botões do colarinho abertos. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados para o lado. Ele sorriu quando me viu e me abraçou orgulhoso.
— Você está linda — disse, segurando minha mão e me guiando ao carro. Estávamos exatamente no horário. Se pegássemos qualquer trânsito, iríamos nos atrasar.
Chegamos ao prédio onde eram feitas as gravações do programa, o lugar era lindo e enorme, haviam tantas portas e corredores que eu me perderia com facilidade, se uma moça não estivesse nos guiando lá dentro. O lugar era uma bagunça organizada: pessoas correndo para todos os lados, câmeras, fios, pranchetas, crachás e tickets. Me deram um crachá que dizia “acompanhante” e depois colocaram outro por cima que dizia “plateia”. Eles levaram eu e Tobey para um camarim, e Tobey logo fechou a porta e me olhou rindo:
— Você está apavorada. — Deu uma gargalhada, levando a cabeça para trás.
— Estou! — admiti, rindo também. Me abanei com a mão, sentindo um calor de nervosismo subindo pelo meu tronco. — Acho que prefiro a cozinha quando vem um crítico, a emoção é diferente, você sabe o que tem que fazer. Aqui eu ‘tô simplesmente perdida.
— Relaxa, , você está indo bem. Só quero que você se sinta à vontade, então qualquer problema, me avisa. Não passa perrengue. Ok? — Tob disse, sorrindo em compaixão.
Respirei fundo e devolvi o sorriso. Tirei meu blazer e dei uma volta pelo camarim, tentando recuperar minha respiração de volta.
Uma batida leve na porta me fez voltar à realidade.
— Hey, man! — Ouvi a voz de Tobey e eu já sabia que só podia ser um dos dois. Virei-me e, descobri que não estava preparada par aquilo: Andrew estava absolutamente maravilhoso.
Os dois se abraçaram e trocaram palavras que não ouvi, pois estava completamente hipnotizada. Ele usava calças pretas e um suéter preto de gola alta, seu cabelo estava penteado para trás e a barba por fazer. Juro que meu coração descompassou com tamanha beleza, e tive que me controlar para não ficar com a boca escancarada enquanto ele vinha até mim sorrindo, aquele sorriso cheio de malícias que ele sabia fazer muito bem.
— Como você está, pequena Maguire? — perguntou para mim, beijou meu rosto e me abraçou calorosamente. Seu cheiro me abraçou junto, me deixando boba.
— Estou bem, e você, Garfield? — perguntei enquanto ainda estávamos abraçados e pude ver Tobey fazendo um coraçãozinho com as mãos, rindo da minha cara. Rolei os olhos para ele.
— Ótimo — ele apenas disse, simpático. — O que está rolando aqui?
Ele se referiu a mim, porém perguntando a Tobey.
— está nervosa, nunca participou de um programa de televisão antes — explicou, e eu continuei me abanando, andando de um lado para o outro no camarim. Já não sabia mais se o abano era por conta do programa ou por conta do homem que acabou de me abraçar. Só sei que minhas mãos suavam e tive que ligar o ar-condicionado para me deixar mais tranquila.
Tobey e Andrew continuaram conversando feito dois cavalheiros, os cabelos e as roupas impecáveis, e eu parecendo uma bruxa, suando, nervosa e besta. Só eu para aceitar um convite desses.
Menos de cinco minutos depois, a porta do camarim tocou de novo, dessa vez, a batida esquisita e sem ritmo, a mesma que Tom fazia lá na casa de Tobey. Meu coração descompassou novamente e Tobey abriu a porta, Tom, como usualmente, já estava falando:
— Eu sabia que você só podiam estar aqui, bati na porta do Andy e estava vazio, era claro que aqui seria o esconderijo secreto. Meu Deus, que quarto gela... — Tobey o puxou para um abraço para que ele se calasse.
Tom também não ficava para trás, estava tão maravilhoso quanto os dois homens que o cumprimentavam. Usava uma calça cinza que parecia ter sido desenhada para ele, uma camisa branca com o colarinho desabotoado e as mangas perfeitamente dobradas até o antebraço. Ele cumprimentou os dois que estavam próximos da porta e veio até mim sorrindo, aquele sorriso que mostrava todos os dentes, e me abraçou calorosamente, seu cheiro era completamente diferente dos demais e também me deixou de pernas bambas. Ele soltou o abraço, segurou meus ombros e deu um beijo na minha bochecha, sem tirar o sorriso do rosto.
— Tudo certo, irmã Maguire? — perguntou ele, seus cabelos estavam naturais e ligeiramente puxados para trás, estavam crescendo bem, alguns cachinhos já se formavam sob sua testa.
— Tudo, sim — apenas disse, ainda mais nervosa do que antes. Tinha como eu não estar nervosa, sabendo que: primeiro, logo eu estaria conhecendo Jimmy Fallon; segundo, que eu estaria participando de um programa dele, e existia uma possibilidade, mesmo que mínima, dele querer conversar comigo; terceiro, eu estava na presença de dois homens particularmente formidáveis, lindos, charmosos e encantadores; e quarto, mas não menos importante, eu havia beijado os dois e me apavorava o fato de que em algum momento isso viesse à tona.
— Ela está fingindo! — Andrew disse, rindo. — Está nervosa por conta do programa.
Dei um sorriso amarelo e os três riram da minha cara. Tobey estava amando tudo aquilo, seus olhinhos maliciosos rodavam todo o ambiente, para que nada passasse despercebido. Miserável.
— Não tem por que ficar nervosa, — Tom disse, ficando por trás de mim e apertando duas mãos em meus ombros, fazendo uma massagem.
— Ah, sim, é muito fácil para vocês três falarem isso. Os três bonitões de Hollywood que já tiveram um bilhão de entrevistas na vida — falei, unindo as sobrancelhas. — ‘Bora cozinhar um ovo poche para ver se vocês não vão ficar nervosos. — Bufei e eles caíram na gargalhada, Tom continuava fazendo massagem em meus ombros.
— Você fica engraçada quando está irritada, — Tob disse, me fazendo virar os olhos.
— Irritada e nervosa — Andrew fez questão de acrescentar.
— Relaxa, Maguire, não é nada demais — Tom disse, e saiu de trás de mim, piscou um olho quando foi ao encontro dos outros. Eu apenas bufei mais uma vez com ar-condicionado deixando minhas mãos geladas.
Depois de alguns minutos, uma moça veio até o quarto e pediu para que eu fosse com ela até a plateia. Tobey segurou minhas mãos e me desejou boa sorte, dizendo que tudo ficaria bem.
Segui com ela pelo emaranhado de corredores e chegamos ao local onde eram feitas as entrevistas, o palco era gigantesco e ainda estava vazio, pela TV parece ser algo pequeno e aconchegante, mas na realidade, eram apenas jogos de câmera muito bem executados. As pessoas na plateia estavam espalhadas com pelo menos duas cadeiras de distância e alguns minutos depois, a banda começou a subir no palco, algumas pessoas aplaudiram sem muito entusiasmo. Aos poucos, as pessoas foram chegando, os operadores de câmeras, algumas pessoas com headphones e sabe-se lá o que mais. Por fim, cerca de vinte minutos depois, tudo parecia estar pronto para iniciar. Um letreio luminoso entre a plateia e o palco tinha instruções de como seria a experiência, de onde e quando fosse para aplaudir, estaria escrito ali, e quando fosse para ficar em silêncio, ou de pé, e assim por diante. Fizeram um teste e todos acompanharam as instruções obedientes, inclusive eu. O nervosismo acabou dando uma acalmada quando me afastei dos causadores dos meus problemas e só fiquei ligeiramente ansiosa para ver a entrada de Tobey. Depois de mais alguns minutos que me pareceram eternos, Jimmy Fallon entrou, aplausos. Ele fez um monólogo didático e engraçado sobre como ele já era adulto quando o primeiro filme do Tobey havia sido lançado, então ele não entendia muito bem este estado eufórico do resto do país, mas que como as contas dele deviam ser pagas, ali estava ele.
A banda tocou a música tema e ele chamou Tom primeiro, eles se cumprimentaram, trocaram algumas palavras e Tom ficou de pé enquanto ele chamava os demais. Em segundo lugar, ele chamou Andrew, que cumprimentou Tom e Jimmy e colocou-se ao lado de Tom, também em pé. A cada chamada, a plateia aplaudia exatamente como estava no letreiro. O próximo, obviamente, foi meu irmão, que entrou com energia no palco e cumprimentou os colegas e também Jimmy. Os três deram tchauzinho para a plateia, que estava mais animada com todos os três juntos, e sentaram-se.
A entrevista iniciou com Jimmy perguntando como foi a experiência e todos eles responderam entusiasmados sobre como foi e em como eles criaram um vínculo de amizade forte durante as gravações. Eles brincavam um com o outro, com respostas divertidas e leves, Tom era nitidamente o mais carismático, Andrew era o mais divertido e Tobey era o mais sério, era gostoso ver como as personalidades refletiam nos seus personagens e em como eles se complementavam. Jimmy perguntou a eles como foi esse processo de guardar segredo por dois anos e todos falaram que foi algo realmente difícil, Tom fez piada dizendo que evitava toda entrevista que podia, por motivos óbvios, e Tobey e Andrew deram risada dele enquanto apenas disseram que mentiam e pronto.
A entrevista continuou durante, pelo menos, meia hora tranquila e leve, como o programa de Jimmy Fallon normalmente era (por menos que eu visse, eu sabia que ele era um comediante leve), e em um momento, “após os comerciais”, Jimmy disse que tinha uma brincadeira para eles, mas que antes, ele tinha uma pergunta especial para lhes fazer.
— Eu tenho uma pergunta, na verdade, não é bem uma pergunta, mas... Os fãs estão curiosos, a plateia está curiosa e, bom, a internet está pirando. Então não posso deixar de falar isso. — Ele fez uma pausa dramática e um músico sagaz fez uma batidinha na bateria. O silêncio se instalou no ambiente e ele disse:
— , falem.
A plateia caiu na risada, já que um olhou para o outro sem saber o que falar. Meu coração parou. Deu um baque surdo e eu senti minhas mãos molhadas.
— Bom, posso falar primeiro? — Tobey perguntou, levantando as mãos.
— Claro. Deve — Jimmy disse, rindo. Era a primeira vez que Tobey ia falar de mim abertamente, sem segredos ou paparazzis batendo fotos nossas escondidos.
— é minha irmã apenas por parte de pai, meu pai se apaixonou pela sua mãe em uma viagem a negócios no Brasil. Nós nos afastamos quando eu tinha uns vinte e três anos, e ela tinha quatro. Ficamos basicamente vinte anos sem nos falar, e agora, depois de ser convencido por estes dois. — Tobey apontou para Tom e Andrew. — Eu a convenci de que devíamos nos reaproximar. E é isto que estamos fazendo desde então — Tob disse, abanando a mão para mim e eu devolvi o aceno, enquanto a plateia fazia “Awn”.
— Nossa, que história maravilhosa! Que bom que vocês estão tendo essa oportunidade de se reencontrar. Ah, oi, , não sabia que você estava aqui! — Jimmy disse, abanando a mão para mim também, a simpatia em pessoa. — Depois eu te dou mais atenção, primeiro quero ouvir algumas palavras desses dois aqui. — A plateia estourou em risadas novamente.
Jimmy ficou encarando Tom e Andrew para ver qual deles iria falar primeiro. Meu coração parecia uma escola de samba. Os dois ficaram sem saber o que dizer, Tom arriscou algumas palavras e apenas gaguejou. Jimmy estava ADORANDO tudo aquilo, ele sabia que tinha acertado em perguntar sobre mim. Tobey ria abertamente também.
— Bom, creio que posso ajudar vocês um pouquinho — Jimmy disse, movendo-se sobre a cadeira e retirando um envelope de baixo do seu balcão. — Tenho algumas fotos aqui que estão deixando a internet em surto coletivo.
Surto coletivo era o que estava acontecendo em meu peito. E eu não podia esboçar muita reação, pois havia uma câmera mirando apenas em mim.
A primeira foto que ele mostrou foi a foto da première do filme do Homem-Aranha, onde os dois estavam beijando minhas mãos. A plateia ovacionou. Ufa, soltei um pouco de ar. A segunda foto era Andrew beijando meu ombro, com os olhos completamente vidrados em mim. A plateia ovacionou novamente, desta vez com um pouco mais de entusiasmo.
A terceira foto era uma foto nitidamente tirada escondida, e era eu e Tom jantando no restaurante anteontem. Era nítido que era um jantar particular e na foto, Tom ria abertamente enquanto eu tomava um gole na taça de vinho. A plateia foi à loucura, bateram palmas e gritaram, era exatamente o tipo de reação que Jimmy queria. Ele sorriu vitorioso.
Quando a plateia calou-se, Andrew foi o primeiro a falar:
— Bom, é uma ótima pessoa. Uma mulher incrivelmente divertida e uma companhia excepcionalmente agradável. — Seu sotaque deixava aquelas palavras ainda mais bonitas. — Eu a conheci na primeira foto, como vocês podem ver, e a convidei para ser minha companhia na segunda foto. Eu... Acabei deixando esse beijo no ombro escapar, por ela estava extraordinariamente cheirosa naquele dia, e eu, inclusive, disse isto a ela antes do ato. Um beijo no ombro amigável e sem segundas intenções. — Ele mal terminou a frase e a plateia gritou novamente, aplaudindo. Por fim, ele concluiu, galanteador demais para o meu gosto:
— Somos apenas grandes amigos — disse, sorrindo, mandando um beijo para mim com as duas mãos. Eu só conseguia rir, e nada mais, minhas bochechas estavam ardendo.
Tobey se divertia como nunca!
Todos os olhos correram para Tom, ele respirou fundo.
— Acho que Andrew descreveu corretamente, é maravilhosa e uma ótima companhia. Não sei se vocês sabem, mas ela é uma cozinheira profissional e, bom, eu tinha o contato desse cara no restaurante e quis leva-la para conhecer o ambiente... — Jimmy interrompeu Tom, fazendo todos rirem.
— Você está me dizendo que esta foto representa o fato de que você estava a levando para conhecer um restaurante?
— Absolutamente — Tom disse, sorrindo com as bochechas coradas.
A plateia aplaudiu, rindo.
— , minha querida, você quer ter a opção de ajudar seu amigo Tom? — Jimmy falou, me encarando, segurando o riso. Em menos de meio segundo, já havia alguém ao meu lado com um microfone ligado.
Dei uma risada nervosa ao microfone, arrancando mais risadas de todos.
Levantei-me.
— Primeiramente boa noite a todos. Jimmy, é um prazer imenso estar aqui, obrigada pelo convite. E sobre as fotos, sinto lhe informar que todos foram verdadeiros em suas respostas. Eu realmente sou irmã de Tobey — falei e todos riram novamente. — Andrew realmente elogiou meu perfume no momento daquela foto e o beijo no ombro foi algo tão simples e bobo que nenhum de nós pensou que fosse causar todo esse alvoroço. E sobre Tom, é verdade, eu sou uma cozinheira profissional no Brasil e ele me levou lá com a melhor das intenções, na verdade, eu fiquei muito mais tempo vendo os cozinheiros trabalharem e conversando com o chef, do que jantando. De qualquer maneira, creio que a foto de nós jantando era muito mais interessante.
Quando terminei de falar, todos aplaudiram, inclusive os entrevistados que sorriam para mim, um mais adorável do que o outro.
— Ok — Jimmy disse, quando os aplausos cessaram. — Vamos todos fingir que acreditamos nisso, e vamos fingir que a internet também acreditou.
Depois de algumas piadas e muitas risadas, Jimmy finalmente mudou de assunto.
Bom, a internet que pegue leve comigo! Estou aqui há poucos dias, e também há poucos dias, o término entre Tom e Zendaya aconteceu, sei que não tem absolutamente nada a ver com a minha vinda, mas o timing não foi o melhor possível a meu favor.
O programa seguiu com uma brincadeira, onde vários famosos usavam a máscara do Homem-Aranha e eles tinham que adivinhar quem eram, eles ficaram atrás de balcões com um botão vermelho no meio e quem tivesse mais pontos ganhava. O programa foi muito divertido e agradável. Quem ganhou a brincadeira no final foi Tom, que acertou onze das vinte celebridades, sendo que, na verdade, ele só era mais rápido do que os outros ao apertar o botão.
Após as gravações se encerrarem, Jimmy Fallon em pessoa veio até mim se apresentar e pediu desculpas por me envolver em tudo e por não me avisar anteriormente, mas ele queria uma reação genuína de todos, inclusive minha. Falei que não tinha problemas (e realmente não tinha) e só o informei que ele quase me matou do coração. Tobey se aproximou de nós, envolveu meu pescoço com o braço e deu um beijo em minha têmpora. Trocamos mais algumas palavras e batemos algumas selfies, todos juntos para Jimmy postar nas redes sociais. O programa iria ao ar dentro de uma semana.
No carro, Tobey me pediu desculpas por aquilo tudo e disse que não fazia ideia de que iriam me expor daquele jeito, expliquei que não ligava, desde que não prejudicassem eles, afinal, as fotos não mostravam nada demais, eu só precisava ter o psicológico preparado para o tipo de coisas que poderiam falar na internet. Como Tobey já me disse uma vez, tem que levar com leveza, pois se for tudo a ferro e fogo, você acaba pirando.
Seguimos para o hotel, onde Tom e Andrew também estavam hospedados, e fomos direto ao bar, jogar conversa fora.
— Então, , o nervosismo foi necessário? — Tobey me perguntou, bebendo um gole do seu whisky que havia pedido. Estávamos todos no balcão do bar, haviam muitas mesas livres, mas acabamos ficando por ali mesmo.
— Você ainda me faz essa pergunta? — Empurrei seu ombro, rindo. Ele riu também, assim como os demais.
— No momento em que ele falou em fotos, eu já sabia que seria alguma coisa relacionada à ela. — Andrew admitiu, rindo, ele havia pedido um whisky também.
— Minhas mãos estavam pingando suor, achei que ia ter um trecho no coração — eu disse, arrancando mais risadas deles.
— Acho que você está exagerando, . Não foi nada demais — Tobey disse, dando seu sorriso malicioso. Tom, que até então não havia se pronunciado, disse:
— Acho que conseguimos contornar bem a situação, não tem porquê se preocupar, .
Todos caímos na risada.
— Tom, você é tão ingênuo — falei, passando a mão no seu ombro. Tobey e Andrew concordaram, Tom ficou visivelmente desconfiado.
— Vocês acharam que a desculpa não foi convincente?
— O problema não foi a desculpa, Holland — Andrew explicou, se divertindo com tudo aquilo. — Foi a sua reação, a sua gagueira.
— Mesmo que for verdade, as pessoas não vão comprar a ideia — Tobey terminou.
— Porra, eu não tinha pensado nisso. Desculpa, — ele disse, sincero, com as sobrancelhas unidas.
— Que isso, Tom, já foi. A sua reação foi honesta, você ficou nervoso. É bom saber que não sou a única que fico nervosa. — Arqueei as sobrancelhas e peguei minha vodca com suco de laranja que o barman acabava de me entregar. Levantei o copo.
— Às reações humanas — falei a primeira coisa que apareceu na minha cabeça.
— À honestidade — Tom disse, me acompanhando.
— À ingenuidade — Andrew disse também.
— Ao amor — Tobey disse, caindo na risada. Brindamos. E eu olhei para Tobey com cara feia, ele apenas deu de ombros. Ele pegou o celular, digitou algo e logo o meu celular vibrou, Tom e Andrew estavam conversando sobre qualquer coisa e não notaram.
Tobey: Quer apostar que um deles vai bater na porta do seu quarto hoje?
: O quê? Você está louco! Nenhum deles vai bater em porta alguma!
Tobey: Hahahahaha Acho que vai ser o Andrew, o Tom é muito devagar. Vamos fazer assim: se nenhum deles bater, eu te devo um presente, se Tom bater você me deve um presente, mas se o Drew bater, você vai ficar me devendo uma hospedagem na sua casa quando eu for ao Brasil.
: FEITO!
Não é possível que Tobey vai acertar sempre, ele está se divertindo muito com esse meu caso peculiar e isso está me irritando profundamente. Em poucas semanas, Tobey já havia tomado de volta o seu lugar de irmão mais velho irritante que eu nunca tive. Sou melhor amiga de irmãos gêmeos e eles são exatamente assim, um pegando no pé do outro a todo segundo. No fundo, bem no fundo, eu gosto do fato de que estamos entrando neste nível de amizade, mas ao mesmo tempo, aquilo me irritava de um jeito inegável.
— , quantas tatuagens você tem? — perguntou Andrew, absolutamente do nada, me tirando de meu pequeno devaneio.
— Como diabos vocês chegaram nesse assunto? — perguntei, unindo as sobrancelhas, e Tobey me olhou de soslaio, com aquele sorrisinho malicioso que dizia “Viu? Estavam falando de você”.
— Tom estava falando que quer fazer uma tatuagem em homenagem ao Homem-Aranha, e uma coisa foi levando a outra — Andrew explicou, como se fosse óbvio, dando de ombros e terminando seu copo de Whisky, balançou o copo para o barman, que já entendeu o recado.
— Tenho oito tatuagens — falei simplesmente, tomando um gole da minha bebida.
— E elas têm significado? — Tom perguntou, curioso.
— Algumas sim, outras, eu apenas gostei do desenho e o tatuador estava com horário livre. — Dei de ombros, os três sorriram com a minha simplicidade na fala.
— E tem alguma da qual você se arrepende? — Desta vez, era Tobey que estava curioso.
— Até o momento, não. Gosto das minhas tatuagens, mostram diferentes momentos da minha personalidade — expliquei.
— ‘Tá vendo? — Andrew levantou as sobrancelhas para Tom.
— Tom, você tem dinheiro para um caralho. Faz logo essa tatuagem, só pensa bem no lugar em que você vai fazer e se você se arrepender, é só apagar. Hoje em dia, já tem tecnologia para isso.
— Mas não apaga perfeitamente — Tom justificou.
— Então faça algo pequeno, de modo que você possa cobrir com outra coisa. — Ergui os ombros.
— Pare de persuadir assim o menino, . Ele é muito influenciável e você está sendo uma má influência para ele — Andrew disse, tapando as orelhas de Tom dramaticamente. Todos demos risadas.
— Bom, eu sou uma pessoa suspeita a falar mesmo. Eu adoro gente tatuada. Acho que todo mundo tinha que se tatuar uma vez na vida — expliquei, fazendo cara de esnobe.
— Você faria uma tatuagem comigo? — Tobey perguntou de repente, aparentemente motivado pelo meu discurso.
— Mas é claro que sim — falei, sorrindo, acariciando sua mão.
— Então ‘tá, vai pensando em algo que podíamos fazer em dupla.
Eu sorri emocionada, aquilo representava muito para mim: Tobey querendo fazer uma tatuagem comigo aos 46 anos de idade. Aquilo com certeza significava algo, e assim, minha irritação de irmã mais nova havia passado. Fiquei sorrindo o resto da noite, enquanto falávamos sobre aleatoriedades até a hora de dormir. Fui a primeira a subir.
Tomei um banho, tirei a maquiagem, fiz todo o meu tratamento de skincare e coloquei meu pijama, que era uma regata branca com letras rosas escrito: “Ma milkshake brings all da boys to the yard!” e uma calça com manchas pretas como uma estampa de vaquinha.
Liguei a TV e entrei no Youtube, coloquei uma música d’O Terno para matar a saudade do meu país e me deitei na cama. Mexi no celular, respondendo as mensagens de meus amigos e família, e alguns minutos depois disso, ouvi uma batida na porta.
Meu coração deu um pulo.
Continuei deitada, fingindo não ter ouvido a batida. Porém, seja quem fosse, estava determinado a me esperar. Levantei-me com calma. Passei um perfuminho, pois não sou completamente idiota. Abri a porta e lá estava ele.
O sorriso completamente convencido e uma das sobrancelhas abaixada.
— Não consigo parar de pensar nas suas oito tatuagens e em como eu quero procura-las uma por uma — Andrew disse, lambendo os lábios sem pressa nenhuma.
Continua...
Nota da autora: Eu morro escrevendo essas cenas, e fico mais morta ainda pensando em tudo que essa PP já passou num período tão curto de tempo hahahahahah A sorte de milhões da gata.
Espero que estejam gostando e façam uma autora feliz comentando! Muito obrigada <3
💫
nota galática da beth: Ai, gente, tô quase roendo minhas unhas de ansiedade desse triângulo sem saber para quem torcer #sos
Espero que estejam gostando e façam uma autora feliz comentando! Muito obrigada <3
nota galática da beth: Ai, gente, tô quase roendo minhas unhas de ansiedade desse triângulo sem saber para quem torcer #sos
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