Codificada por Lua ☾
Última Atualização: 17/05/2025
O mundo que conhecemos desapareceu. O que restou da antiga civilização são ruínas corroídas pelo tempo e pelo caos. Prédios, que um dia tocaram o céu com orgulho, agora jazem como esqueletos enferrujados, cobertos por uma vegetação rebelde que tomou de volta o que era seu. As cidades, antes vibrantes, foram engolidas pela poeira e pelo silêncio, enquanto o mar – implacável e infinito – avança sobre a terra, reclamando territórios outrora dominados por humanos.
Na Coreia do Sul, as cicatrizes são ainda mais profundas. Os anos de conflito, desastres naturais e o colapso global deixaram a península fragmentada, isolada do restante do mundo. O que uma vez foi um centro de inovação e tecnologia se transformou em um arquipélago de ilhas decadentes, onde apenas os mais fortes sobrevivem. A água se tornou o bem mais precioso, os alimentos são escassos, e a lei do mais forte impera.
Os oceanos, agora traiçoeiros e sem controle, são o novo palco dessa luta pela sobrevivência. Piratas governam as águas que cercam o que sobrou da civilização, navegando em embarcações improvisadas, saqueando o que encontram e travando guerras pelo controle dos escassos recursos. Alianças são raras, traições são comuns, e a esperança... essa se perdeu junto com as cidades que afundaram no mar.
As lendas dizem que, em algum lugar nas profundezas do oceano, ainda existem tesouros escondidos que podem mudar o destino do mundo. Mas, para encontrá-los, é preciso enfrentar não apenas os perigos do mar, mas também os piratas que o governam – cada um deles com seus próprios sonhos, segredos e cicatrizes.
Entre esses sobreviventes, há um nome que causa pavor em todos que se aventuram pelos mares: Os Corvos do Abismo, o bando de piratas mais temidos das águas do leste. Liderados pelo implacável Hongjoong, eles são conhecidos por sua crueldade, inteligência estratégica e pela habilidade de aparecer e desaparecer nas sombras do oceano, como corvos famintos em busca de presas. Suas embarcações são modificadas com peças de metal enferrujado, velas negras rasgadas, e símbolos de destruição que fazem qualquer adversário hesitar antes de enfrentá-los.
Hongjoong, o capitão, é um gênio da estratégia. De olhos penetrantes e mente afiada, ele sempre parece estar dois passos à frente de todos. Cada decisão que que toma é precisa, fria e calculada. A sobrevivência do grupo depende de sua liderança, e todos o seguem com uma lealdade que beira o fanatismo.
Seonghwa, o imediato, é a mão direita de Hongjoong, um guerreiro silencioso e meticuloso. Ele é o equilíbrio entre a fúria do capitão e a necessidade de manter a tripulação unida. Sua presença impõe respeito, e ele raramente fala – mas quando o faz, suas palavras são finais.
Yunho e San são os braços da força bruta do grupo. Yunho, com sua estatura imponente e seu humor ácido, e San, conhecido pela ferocidade em batalha, são aqueles que intimidam qualquer um que se aproxime do navio. Os dois juntos formam um par letal, capazes de dizimar inimigos sem piedade.
Mingi e Wooyoung são os mestres da arte da pilhagem e do caos. Mingi, um estrategista impetuoso e explosivo, se destaca pela sua habilidade de destruir e reaver qualquer recurso que a tripulação precise. Wooyoung, por outro lado, é a alma rebelde e ousada, sempre disposto a se arriscar pelo tesouro mais improvável, seduzindo adversários e os enganando com seu charme traiçoeiro.
Yeosang, de olhos calculistas, é o responsável pelas táticas silenciosas. Um especialista em infiltração e assassinatos, ele é a sombra que precede a morte. Raramente visto, ele ataca quando menos se espera, e seu nome é sussurrado entre os poucos que sobreviveram para contar histórias sobre ele.
Por fim, há Jongho, o mais jovem do grupo, mas ninguém se engana com sua aparência. Sua força física e sua determinação de ferro o tornaram um dos piratas mais temidos, apesar de sua idade. Ele é o símbolo de que, na tripulação de Hongjoong, todos são armas letais, prontos para defender sua bandeira a qualquer custo.
Juntos, eles não são apenas piratas – são lendas vivas, assombrando o oceano em busca de glória, riquezas e o controle total dos mares. Ninguém ousa enfrentar os Corvos do Abismo sem pagar um preço caro. Mas há rumores de que um novo grupo surgiu, ameaçando o domínio de Hongjoong e sua tripulação…
Enquanto os Corvos do Abismo espalham terror e poder pelo oceano, há outro nome que corre como uma tempestade entre os marinheiros: As Serpentes de Prata, uma tripulação de piratas composta por mulheres tão letais quanto misteriosas. Se os Corvos são a força bruta, as Serpentes são a astúcia personificada – e lideradas por uma capitã que todos temem e respeitam: .
, a capitã das Serpentes, é um gênio frio e enigmático. Conhecida por sua mente afiada e uma presença que parece envolver todos em um silêncio mortal, ela comanda seu navio com autoridade inquestionável. Com seus olhos sempre atentos e gestos calculados, faz com que qualquer oponente subestime seu poder apenas para ser destroçado por suas táticas implacáveis. Ela não luta apenas com força, mas com inteligência, e suas estratégias, assim como suas ordens, são seguidas sem hesitação.
, sua primeira imediata, é tão carismática quanto letal. Sua beleza esconde uma perigosa habilidade de manipular e enganar seus adversários. tem o dom de fazer com que seus inimigos se apaixonem pela morte, conduzindo-os a uma armadilha com apenas um sorriso. Ela é o charme da tripulação, a face da sedução que esconde punhais afiados.
é a navegadora e guardiã do conhecimento do grupo. Com um vasto entendimento dos mapas e do comportamento imprevisível dos mares, ela é quem guia as Serpentes de Prata pelas rotas mais perigosas – aquelas que nenhum outro pirata ousaria seguir. Mas sua mente analítica esconde um lado selvagem, que surge quando necessário, fazendo dela uma oponente imprevisível.
, a artilheira, é uma especialista em armas e explosivos. Suas mãos ágeis controlam o caos que as balas e canhões causam no campo de batalha. Com um sorriso desafiador, adora a adrenalina da destruição e vive para ver seus inimigos sucumbirem à tempestade de metal e pólvora que ela desencadeia.
é a especialista em infiltração e espionagem. Seu silêncio e habilidade de se mover nas sombras a tornam essencial para as missões mais delicadas. Muitas vezes, ela já esteve dentro das bases inimigas antes mesmo que percebessem. Seus olhos calculadores sempre estão um passo à frente, e sua habilidade de desaparecer na escuridão é lendária.
, por outro lado, é a alma rebelde e criativa da tripulação. Ágil e destemida, ela vive pela emoção do risco e é conhecida por suas acrobacias impossíveis em combate. Sua habilidade com espadas é incomparável, e sua velocidade confunde qualquer adversário que se atreva a enfrentá-la. Seu sorriso desafiador é a última coisa que muitos inimigos veem antes de cair.
Gaehyeon, a mais nova das Serpentes, mas de coração forte e indomável, é a força emocional que une a tripulação. Sua juventude não é fraqueza, mas combustível para sua coragem. Ela é impulsiva, sim, mas sempre encontra uma maneira de transformar seus erros em vitórias inesperadas. Ninguém subestima Gaehyeon e sai ileso.
As Serpentes de Prata navegam pelos mares como predadoras silenciosas, rápidas e mortais. Juntas, essas mulheres forjaram uma irmandade onde cada uma sabe seu papel, e todas estão dispostas a proteger o que é delas a qualquer custo. A rivalidade com os Corvos do Abismo cresceu com o tempo, e os encontros entre eles são sempre intensos, como duas forças da natureza se colidindo.
No horizonte, há rumores de que os Corvos e as Serpentes estão destinados a algo maior que a simples rivalidade. Mas em um mundo onde confiança é uma moeda escassa e o mar é o único que dita as regras, qualquer laço pode ser quebrado pela sobrevivência.
A noite estava escura, apenas o brilho fraco da lua iluminava a vastidão do oceano. O som das ondas quebrando contra o casco do navio dos Corvos do Abismo era abafado pelo vento que assobiava entre as velas desgastadas. O silêncio pesado pairava no ar, um prenúncio da tempestade que estava por vir – não das águas, mas da batalha iminente.
Hongjoong estava no convés, seus olhos atentos fixos no horizonte. Ele sentia o perigo antes mesmo de vê-lo. Seus instintos nunca falhavam.
— Eles estão próximos — murmurou, e sua voz firme cortou o silêncio como uma lâmina.
Seonghwa estava ao seu lado, sempre quieto, mas com uma mão repousando sobre o cabo de sua espada, pronto para agir a qualquer sinal. O ar ao redor deles estava carregado de expectativa.
— Vão tentar nos pegar de surpresa, ele disse, sem desviar o olhar do mar — Mas nós vamos surpreendê-los primeiro.
De repente, uma sombra escura emergiu na linha d'água. Um navio inimigo, com velas negras como a noite, avançava rapidamente na direção deles, sem hesitação. Eles tinham sido encontrados.
— Alerta de ataque! — gritou Wooyoung, já subindo em uma das cordas para alcançar os canhões. Seu sorriso excitado contrastava com a tensão que crescia entre a tripulação — Finalmente, alguma diversão!
Yunho e San se moveram em sincronia, prontos para o combate corpo a corpo. Yunho, com seu físico imponente, arrastava enormes barris de pólvora para preparar os canhões, enquanto San afiava suas lâminas, os olhos brilhando com antecipação.
— Espero que estejam preparados para uma surra! — San murmurou, ajustando o cinto de facas.
Mingi e Yeosang já estavam no posto de comando, posicionando-se para coordenar o ataque. Mingi, sempre explosivo, não conseguia esconder sua impaciência.
— Vamos afundar eles de uma vez! — ele gritou, puxando a corda de um dos canhões, esperando o sinal de Hongjoong.
O capitão manteve-se calmo, mesmo com o perigo iminente.
— Esperem… — disse ele, com os olhos frios analisando a situação. Ele não era um homem de agir por impulso — Esperem até que eles estejam mais perto. Queremos que eles pensem que têm a vantagem.
Jongho, o mais jovem, mas de força descomunal, já estava posicionado na lateral do navio, pronto para a abordagem. Ele não precisava de muito incentivo; seu sangue fervia pela batalha que se aproximava.
— Só diga quando, capitão. — disse ele, ajustando o peso do machado em suas mãos.
O navio inimigo estava quase ao alcance. As bandeiras tremulavam no vento, e os piratas do outro lado já preparavam suas armas, acreditando que o ataque seria um sucesso fácil. O erro deles.
— Agora! — gritou Hongjoong, e o caos foi liberado.
O som ensurdecedor dos canhões ecoou pela noite, e as primeiras bolas de ferro cortaram o ar, atingindo o navio inimigo com força brutal. Explosões de madeira e faíscas voaram pelo convés adversário, criando um cenário de destruição instantânea.
Seonghwa foi o primeiro a saltar, espada em punho, liderando a investida ao embarcar no navio inimigo. Ele se movia com precisão cirúrgica, abatendo oponentes com golpes rápidos e fatais, como uma sombra implacável.
San e Yunho vieram logo atrás, os dois como uma força imparável. San, com suas lâminas gêmeas, cortava inimigos com uma agilidade assustadora, enquanto Yunho, com sua força descomunal, destruía qualquer obstáculo que ousasse cruzar seu caminho.
Wooyoung e Mingi, sempre no meio do caos, coordenavam a destruição com canhões e granadas improvisadas, rindo como se fosse uma brincadeira mortal.
— Cuidado para não acabar com todos de uma vez, Mingi! — Wooyoung gritou enquanto uma explosão iluminava o convés ao lado deles.
No meio da batalha, Yeosang se movia nas sombras, silencioso como a morte. Ele não lutava de frente, mas seus ataques inesperados derrubavam os mais fortes e os mais descuidados, sempre atacando quando menos esperavam.
Hongjoong, do alto, observava a cena. Seu olhar frio e calculado nunca desviava. Cada movimento de sua tripulação seguia seu plano perfeitamente. Ele era o cérebro da operação, e sua tripulação era a lâmina afiada que ele usava para cortar qualquer obstáculo.
Quando o sol começou a surgir no horizonte, os sons de batalha diminuíram. O navio inimigo estava em ruínas, destroçado, e os poucos sobreviventes foram jogados ao mar. Os Corvos do Abismo haviam vencido mais uma vez, com sangue e glória.
— Isso foi divertido — disse San, limpando o sangue de sua lâmina enquanto olhava para os destroços do navio inimigo — Mas espero que o próximo seja um desafio maior.
Hongjoong apenas sorriu de canto, enquanto a tripulação voltava ao seu navio. Eles eram lendas vivas nos mares devastados – e nada, nem ninguém, ousava desafiá-los e sair ileso.
As águas agitadas do oceano refletiam a luz da lua enquanto o navio Serpentes de Prata cortava as ondas com uma elegância mortífera. O silêncio no convés era quase ensurdecedor, pois as mulheres que ali se preparavam eram mestres da furtividade. Enquanto a maioria dos piratas preferia gritos de guerra e caos, elas eram o sussurro que vinha antes da morte.
, a capitã, estava na proa, observando calmamente o navio mercante que se aproximava lentamente. A emboscada estava pronta. Seus olhos calculavam cada detalhe, já antecipando os próximos passos de suas inimigas. Com um leve movimento de cabeça, ela deu o sinal.
foi a primeira a agir. Com um sorriso malicioso, ela desapareceu nas sombras, seus pés movendo-se silenciosamente pelo convés enquanto se preparava para infiltrar-se no navio adversário. Sua tarefa: neutralizar qualquer resistência antes que o caos começasse.
— Silêncio e estratégia... sempre o caminho mais eficaz. — Ela sussurrou para si mesma.
, a navegadora, mantinha o controle firme do leme, guiando as Serpentes por uma rota que lhes desse a vantagem no ataque. Suas mãos firmes manipulavam o navio com precisão, fazendo parecer que estavam sendo levadas pelo vento enquanto, na verdade, se posicionavam para o golpe fatal.
— Vamos pegar eles desprevenidos… —Ela disse com um sorriso astuto.
O brilho de fogo nos olhos de aumentava à medida que se preparava para ativar os canhões. Ela acariciava os projéteis com uma delicadeza perturbadora.
— Vamos fazer chover metal e pólvora sobre eles. — Murmurou.
Quando levantou a mão, puxou a corda, e o primeiro tiro ecoou como um trovão sobre as águas. Explosões rasgaram o casco do navio inimigo.
já estava a bordo do navio mercante. Como uma sombra, ela deslizava pelas escotilhas e corredores, incapacitando guardas antes que pudessem sequer perceber que ela estava lá. Seu rosto impassível não demonstrava emoção alguma enquanto deixava corpos inconscientes pelo caminho.
— Missão cumprida. — Murmurou ao ajustar o capuz, desaparecendo em um beco do navio.
, a tempestade em forma humana, foi a primeira a pular para o navio inimigo, suas espadas em mãos e o corpo ágil girando no ar antes de cair sobre os piratas adversários. Ela dançava entre eles, rápida e letal, seus movimentos quase impossíveis de acompanhar. Os gritos dos homens caindo ao chão só a incentivavam mais.
— Isso é diversão de verdade! — Ela riu, cortando o ar ao seu redor.
Gaehyeon, apesar de jovem, se movia com uma coragem que fazia os corações vacilarem. Ela havia escalado as cordas até o ponto mais alto do mastro inimigo, observando a cena de destruição abaixo de si. Com uma faca entre os dentes, ela saltou sobre a tripulação inimiga com gritos de pura adrenalina, suas lâminas afiadas cortando o ar enquanto derrubava qualquer um que cruzasse seu caminho.
— Eles não sabiam com quem estavam lidando.
Do convés do Serpentes de Prata, observava enquanto suas companheiras dominavam o navio mercante. Tudo ocorria conforme o planejado. Ela sabia que, com o caos semeado por sua tripulação, não demoraria para que o capitão do navio mercante se rendesse.
Mas naquele momento de vitória iminente, enquanto as ondas batiam suavemente contra os cascos dos navios em batalha, uma visão no horizonte fez estreitar os olhos. Outro navio. Não, um monstro dos mares. Suas velas negras eram inconfundíveis. O sangue de gelou por um instante.
Ela soube imediatamente. Aquela tripulação era o único verdadeiro desafio que ainda restava nos mares destruídos. Eles eram a força bruta, os predadores que não conheciam limites. E agora, eles estavam ali, se aproximando.
— Capitã… — falou de repente, os olhos fixos no horizonte — Eles estão vindo.
não precisava perguntar quem "eles" eram. Ela sabia. Sua mente começou a girar, formulando uma estratégia enquanto sentia o frio da antecipação correr por sua espinha.
— Preparem-se. — ordenou, sua voz baixa mas cheia de comando — Esse jogo está apenas começando.
O vento carregava o aroma de pólvora e ferro, enquanto o silêncio entre as duas tripulações era um prelúdio para o que estava por vir. Os Corvos do Abismo vinham de um lado, as Serpentes de Prata aguardavam do outro. As águas que os separavam pareciam mais traiçoeiras que nunca.
E naquele instante, o destino dos mares estava prestes a mudar.
No convés dos Corvos, Hongjoong, o capitão, observava a aproximação do navio feminino com olhos penetrantes. Sua mão segurava firmemente o corrimão, os nós dos dedos brancos, enquanto o peso da responsabilidade crescia em seus ombros.
– Elas não vão recuar! – Ele murmurou, um sorriso enviesado se formando em seus lábios. – Mas também não vamos.
San estava ao lado dele, um brilho perigoso nos olhos.
– Parece que encontramos rivais à altura, capitão. Isso vai ser interessante.
Yeosang, sempre analítico, estava focado nos detalhes. Ele conseguia ver as figuras ágeis das mulheres se movimentando pelo convés do Serpentes, ajustando armas, verificando os mastros, preparando-se para a batalha.
– Elas estão prontas. Esse não será um confronto comum.
Enquanto isso, no Serpentes de Prata, o clima era tão denso quanto o ar antes de uma tempestade.
, a capitã, mantinha uma expressão fria, mas seu coração batia como um tambor. Ela sabia que os Corvos do Abismo não eram como os outros piratas que haviam enfrentado antes.
– A calmaria é o prenúncio do caos… – ela disse, mais para si mesma do que para a tripulação.
, no leme, lutava para conter a adrenalina que pulsava em suas veias.
– Eles são grandes, capitã. E são rápidos.
– Não importa – respondeu , sua voz carregada de uma confiança quase arrogante enquanto ajustava os canhões. – Grandes ou pequenos, todos afundam do mesmo jeito.
afiava suas lâminas com movimentos metódicos, mas seus olhos estavam fixos no navio adversário.
– Eles parecem perigosos – ela admitiu, um sorriso selvagem surgindo em seu rosto. – Mal posso esperar.
, sempre silenciosa, preparava suas ferramentas com precisão. Seu foco não estava no medo ou na expectativa, mas na tarefa que teria pela frente.
– Se eles querem guerra, vão ter.
Quando os dois navios finalmente se aproximaram o suficiente para que suas bandeiras fossem visíveis, o silêncio entre as tripulações tornou-se ensurdecedor.
Nos Corvos, Wooyoung deu um passo à frente, com um sorriso provocador.
– Então são elas? As famosas Serpentes? Achei que fossem lendas.
No Serpentes, Gaehyeon estreitou os olhos ao ouvir os comentários vindos do outro lado.
– Eles estão nos subestimando. Isso vai ser divertido.
Os mares pareciam segurar o fôlego, como se até mesmo as águas estivessem curiosas para ver o que aconteceria a seguir…
Ambos os capitães, Hongjoong e , trocaram olhares de desafio. Era um encontro de forças, de egos e de estratégias. Um momento que marcaria o início de algo muito maior do que uma simples batalha.
Enquanto as tripulações aguardavam o sinal para o primeiro movimento, uma pergunta pairava no ar: seria este o começo de uma rivalidade ou de uma aliança inesperada?
E assim, com o oceano como testemunha, o jogo começou…
Hongjoong manteve o olhar fixo na figura da capitã adversária. Seus olhos eram duas chamas desafiadoras, e ele quase podia sentir a força que emanava dela mesmo à distância. Ele inclinou levemente a cabeça, um sorriso carregado de superioridade surgindo em seus lábios.
– Não as machuquem muito – ele disse, a voz firme cortando o silêncio que dominava o convés. – Elas ainda são mulheres. Podem ser úteis como... prisioneiras. Ou algo mais.
San, ao ouvir o comentário, ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. Era raro ele questionar as ordens de Hongjoong, mas havia algo no tom casual e despreocupado do capitão que o incomodava.
Yeosang, por outro lado, lançou-lhe um olhar breve, quase imperceptível, antes de retornar sua atenção ao navio adversário.
Do outro lado, no Serpentes de Prata, o vento carregou as palavras de Hongjoong como uma flecha direta para os ouvidos de . Ela cerrou os dentes, os punhos fechando-se ao lado do corpo.
– Prisioneiras? – ela repetiu baixinho, a voz repleta de veneno. – Eles acham que podem nos subjugar como fazem com qualquer outro.
, ao lado dela, soltou uma risada amarga.
– Eles estão brincando com fogo. Vamos mostrar exatamente quem está no comando aqui.
não desviou o olhar de Hongjoong, seu sorriso lentamente se transformando em algo perigoso, predador.
– Se eles acham que somos apenas mulheres indefesas, vão aprender do jeito mais difícil.
Com um movimento rápido, ela ergueu o braço, sinalizando para que as armas fossem preparadas.
– Nenhuma piedade. Eles vão lembrar para sempre que as Serpentes de Prata não são brinquedos para homens arrogantes.
A tensão aumentava a cada segundo, como uma tempestade prestes a explodir. O confronto que se desenhava prometia não ser apenas uma batalha física, mas também uma colisão de vontades e crenças.
E, no fundo, ambos os capitães sabiam que este seria o início de algo que mudaria o curso de suas vidas – e do oceano que chamavam de lar.
Com um grito de comando de , o Serpentes de Prata avançou como uma flecha em direção ao navio adversário. As águas foram divididas violentamente pela proa do barco, que atingiu o casco dos Corvos do Abismo com um impacto ensurdecedor.
O convés do navio masculino balançou perigosamente, e alguns dos piratas quase perderam o equilíbrio. O choque arrancou Hongjoong de seus pensamentos, e ele agarrou o corrimão, os olhos arregalados enquanto tentava processar a ousadia das mulheres.
– Mas que diabos?! – gritou San, tentando se segurar enquanto o navio tremia.
Antes que pudessem reagir, as tripulantes do Serpentes já haviam lançado cordas e ganchos, escalando com rapidez e agilidade o navio inimigo. Em segundos, elas estavam no convés, cada uma com uma postura feroz e determinada.
foi a primeira a desembarcar. Ela avançou com passos firmes, seus olhos imediatamente encontrando os de Hongjoong e, logo em seguida, os de Yeosang, que se postava ao lado do capitão. Ela sacou sua espada, apontando-a para ambos.
– Então é você o grande capitão que acha que pode transformar mulheres em escravas? – sua voz era fria, carregada de sarcasmo. – Vamos ver quem será subjugado hoje.
Hongjoong tentou responder, mas sentiu-se desarmado pela intensidade dela. Yeosang deu um passo à frente, o olhar duro fixo em .
Enquanto isso, havia se posicionado com destreza diante de Seonghwa, um sorriso provocador nos lábios.
– Você parece tão sério... Vamos ver se consigo mudar isso.
estava frente a frente com Mingi, que a observava com uma mistura de surpresa e cautela. Ela inclinou levemente a cabeça, avaliando-o.
– Você é grande, mas será que é rápido?
, com uma adaga em mãos, encarou Wooyoung, que parecia dividido entre fascínio e confusão.
– Você gosta de falar, não é? – ela perguntou, a voz suave, mas ameaçadora. – Vamos ver se tem coragem de agir.
, por sua vez, havia cercado Yunho, que tentou recuar, mas ela o seguiu com determinação.
– Ficar parado não vai te salvar, grandão.
Sua já tinha San sob sua mira, o sorriso dela era perigoso.
– Você parece arrogante... aposto que não vai durar muito.
estava frente a frente com Jongho, que mantinha uma postura firme apesar do caos ao seu redor. Ela girou a espada com habilidade, avaliando-o.
– Você parece ser o mais calmo deles... mas calma não vence batalhas.
Os dois grupos estavam agora separados apenas pelo espaço de um punho. Espadas e armas foram erguidas, o som metálico cortando o ar como um aviso.
Hongjoong ergueu o queixo, recuperando parte de sua compostura, e encarou .
– Você é corajosa, eu dou isso a você. Mas invadir nosso navio foi um erro.
sorriu, um brilho selvagem nos olhos.
– O erro foi subestimar a gente.
E assim, o silêncio foi quebrado pelo som da primeira lâmina cruzando o ar. O destino dos Corvos do Abismo e das Serpentes de Prata estava prestes a ser selado – com sangue, suor e algo muito mais perigoso: a faísca de algo inesperado.
O choque entre as duas tripulações começou como uma tempestade repentina. foi a primeira a atacar, sua lâmina cortando o ar em direção a Hongjoong, que conseguiu erguer sua espada a tempo de bloquear o golpe. O som do metal contra metal ecoou pelo convés, enquanto os dois capitães se estudavam em uma dança mortal.
Ao lado, Yeosang avançou para ajudar Hongjoong, mas era rápida. Com um movimento calculado, ela girou o corpo e desferiu um chute contra o peito de Yeosang, que cambaleou para trás, a surpresa estampada no rosto.
– Você precisa de ajuda, capitão? – ela provocou, o tom carregado de ironia.
Enquanto isso, se movia com graça felina ao redor de Seonghwa, sua adaga cintilando sob a luz do sol. Seonghwa era habilidoso, desviando dos ataques com precisão, mas parecia brincar com ele, atacando e recuando como uma caçadora testando sua presa.
– Você vai apenas fugir, ou vai lutar de verdade? – ela provocou, um sorriso desafiador nos lábios.
No centro da batalha, Mingi tentava conter , que se movia como uma sombra ao seu redor. Ela desferiu um golpe em sua direção, e ele bloqueou com força, suas espadas se cruzando em uma explosão de faíscas.
– Você tem força – admitiu, recuando um passo antes de atacar novamente. – Mas força bruta não é tudo.
Wooyoung estava em apuros. o pressionava com movimentos rápidos e precisos, sua adaga cortando o ar com ameaças certeiras. Ele tentou desviar, mas tropeçou, quase perdendo o equilíbrio.
– Você fala demais para alguém que luta tão mal… – zombou, seus olhos brilhando de diversão.
– Eu só estava aquecendo! – ele retrucou, tentando recuperar sua postura, mas o sorriso de mostrava que ela não estava convencida.
Em outra parte do convés, desafiava Yunho, que fazia o possível para se defender de seus ataques rápidos. Ela girou a espada, desferindo golpes que o fizeram recuar.
– Você é grande, mas parece lento – ela comentou, inclinando a cabeça enquanto o avaliava.
– Só estou me segurando para não machucar você… – Yunho respondeu com um sorriso nervoso, mas apenas riu.
San e estavam presos em um confronto feroz. Ambos lutavam com intensidade, suas espadas colidindo em um ritmo frenético.
– Você é bom – Sua admitiu entre os ataques. – Mas não o suficiente para me vencer.
– Eu nunca perco – San respondeu, um brilho competitivo nos olhos.
encarava Jongho, que parecia mais focado e calculista do que o resto de sua tripulação. Ele bloqueava seus ataques com precisão, mantendo a calma mesmo diante de seus movimentos agressivos.
– Você é diferente dos outros… – observou, tentando encontrar uma brecha em sua defesa.
– Eu também percebi isso sobre você – Jongho respondeu, seu tom baixo, mas firme.
O convés estava tomado pelo som de espadas, passos e gritos. O cheiro de pólvora e sal se misturava ao ar, e o sol queimava intensamente sobre os combatentes.
Hongjoong e continuavam em um duelo feroz no centro do caos. Ele investiu com força, mas ela desviou com agilidade, o sorriso dela se ampliando a cada movimento.
– É isso que você chama de liderança? – ela provocou, sua espada deslizando perigosamente perto dele.
Hongjoong apertou os dentes, sua determinação crescendo.
– Você não vai sair desse navio como entrou.
– Quem disse que quero sair? – rebateu, desferindo um golpe que o fez recuar.
A batalha continuava, cada lutador travado em um embate que era tanto físico quanto mental. Mas, enquanto os golpes eram trocados, algo mais pairava no ar – uma tensão que ia além do confronto, algo que ninguém ainda ousava nomear.
E assim, enquanto o sol começava a descer no horizonte, tingindo o céu de laranja e vermelho, o destino dos dois grupos começava a ser entrelaçado de maneiras que nenhum deles poderia prever.
As Serpentes de Prata lutavam com ferocidade pura. Não hesitavam, não recuavam, não demonstravam medo – apenas foco e intenção. Cada golpe era certeiro. Cada movimento, ensaiado com a precisão de quem treinou para matar. E o mais assustador: nenhuma delas parecia cansada.
, com o rosto sério e o olhar cortante, duelava com Hongjoong como se ele fosse apenas mais um entre muitos. Ela avançava com força e técnica, sua espada cortando o ar a centímetros do rosto dele, fazendo o capitão recuar a cada novo ataque.
Hongjoong tentava manter o controle, mas estava desequilibrado. Não por causa da habilidade dela – que, por si só, já seria o bastante –, mas por algo mais profundo. Uma parte dele hesitava. Seus golpes vinham com força contida, como se inconscientemente tivesse medo de feri-la.
E percebeu.
— Você está me poupando? — ela perguntou entre um ataque e outro, a respiração controlada — Acha que vai sair inteiro só porque sou mulher?
— Não é isso…— Hongjoong começou, bloqueando outro golpe, mas ela não esperou por uma resposta.
— É exatamente isso.
Com um giro rápido, chutou o peito dele, fazendo-o cair de costas no convés.
Do outro lado, Seonghwa estava completamente cercado pela agilidade de , que se movia ao redor dele como uma tempestade. Ele tentava manter a compostura, bloquear, calcular — mas ela não lhe dava espaço para respirar.
— Você está hesitando…— ela sussurrou ao passar por ele com uma pirueta e deslizar sua lâmina próxima ao pescoço dele — Vai me subestimar também?
Seonghwa não respondeu. Ele estava tentando. Tentando lutar de verdade. Mas algo o impedia de ir até o fim. A delicadeza no rosto dela não combinava com a fúria nos golpes. Era desconcertante.
, com frieza cirúrgica, estava quase encurralando Mingi, que, por mais que tivesse força e explosividade, não conseguia acompanhá-la. Ela era rápida demais. E mortal.
Mingi recuava com os olhos arregalados, o corpo suando. Tentava atirar golpes, mas sempre hesitava no último segundo.
— Você é como um fantasma… — ele murmurou — Não dá pra acertar você.
— Você só não tem coragem de tentar. — Ela respondeu, e sua espada riscou o ar bem próxima à garganta dele.
Wooyoung estava em desespero. Tentava fazer graça, se esquivar, manter o charme habitual… mas não estava ali pra brincar. Ela avançava com calma, fria como uma lâmina mergulhada em gelo. Seus golpes vinham rente à pele dele – cada um mais próximo que o anterior.
— Você está tremendo! — ela comentou, com um sorriso enigmático — Isso é medo ou desejo?
Wooyoung engoliu em seco, sem resposta.
se movia com leveza felina ao redor de Yunho, e cada golpe dela fazia seu coração acelerar – mas não apenas pela adrenalina da batalha. Era pelo desconforto de perceber que estava perdendo o controle.
Ela não mostrava piedade. Nenhuma pausa. Nenhum sinal de dúvida.
— Por que não me ataca com tudo? — ela perguntou, a respiração estável enquanto pressionava o ataque — Está com medo de quebrar alguma coisa?
Yunho não conseguia responder. Ele não queria machucá-la. Mas ela claramente não tinha esse mesmo receio.
San tentava acompanhar , mas era como tentar conter uma tempestade com as próprias mãos. Ela era rápida, selvagem e imprevisível. Seus golpes vinham de ângulos impossíveis. San se defendia, mas sentia sua guarda ruir a cada movimento.
— Você é bom com palavras, mas não sabe o que fazer com uma mulher que não recua, né? — o provocou, com uma risada afiada.
— Você... luta como se estivesse dançando. — San estava sem fôlego — Uma dança mortal.
— Exatamente! — ela respondeu. E girou no ar, desferindo uma estocada que raspou o ombro dele.
, frente a frente com Jongho, encarava-o como uma leoa silenciosa. Ele era forte, concentrado, mas hesitava. E ela notava. A cada golpe bloqueado, a cada recuo milimétrico, ela sentia o peso da dúvida nos olhos dele.
— Você está se segurando…. — ela disse, os olhos cravados nos dele — Acha que vai me quebrar?
— Não quero matar alguém que não merece morrer. — Ele respondeu, honesto.
— E quem te disse que eu não mereço?
atacou, e o impacto fez Jongho dar dois passos para trás.
As Serpentes de Prata eram impiedosas, e os Corvos do Abismo, por mais perigosos que fossem, estavam vacilando. Não por falta de força, mas porque não estavam preparados para lutar contra algo que não conseguiam entender: mulheres que não pediam misericórdia — e não ofereciam nenhuma.
A batalha era brutal. Mas por trás de cada golpe, havia algo mais. Algo que crescia, silencioso, em meio ao som metálico das espadas.
Uma tensão que ainda não tinha nome.
Mas que, em breve, não poderia mais ser ignorada.
O embate entre e Hongjoong chegava ao ápice. O capitão tentava manter o foco, mas os olhos da mulher à sua frente o consumiam. Ela não recuava, não hesitava, não tremia. Cada golpe que desferia vinha com a precisão de quem não via diferença entre lutar e vencer — era a mesma coisa.
Hongjoong bloqueou mais um ataque, os braços já começando a ceder com o cansaço. Ele tentou contra-atacar, mas desviou com agilidade e, em um movimento rápido e certeiro, girou a espada e a deslizou por seu flanco.
O som do corte foi abafado pelo silêncio que se seguiu. Um filete de sangue escorreu pela lateral do corpo de Hongjoong, manchando sua camisa preta e tingindo o convés de vermelho.
O capitão cambaleou, caindo de joelhos, os olhos arregalados pela dor — e, mais do que isso, pela surpresa.
— Hongjoong! — gritou Yeosang, avançando, mas foi parado pelo olhar duro de e pela lâmina erguida por ela, ainda manchada de sangue.
Foi o suficiente.
A cena congelou o convés. Um a um, os Corvos do Abismo pararam de lutar. O som das espadas caiu em silêncio. San, Yunho, Mingi, Wooyoung... todos abaixaram as armas, desorientados, tentando processar o que estavam vendo.
Seonghwa ergueu as mãos devagar, olhando ao redor e sentindo o mesmo desconforto que tomava conta dos outros: eles haviam perdido.
As Serpentes de Prata estavam intactas. Suadas, ofegantes, com feridas leves — mas vitoriosas. As mulheres se reuniram no convés central, ao redor dos piratas rendidos, como predadoras em volta da presa caída.
, sem dizer nada, caminhou lentamente até onde Hongjoong estava, ainda ajoelhado, pressionando a lateral com a mão. Ela se abaixou diante dele, ficando na altura de seu rosto. Os dois estavam próximos. Muito próximos.
O sangue manchava a lateral do corpo dele, o rosto suado e contraído pela dor. Ela, em contraste, parecia perfeitamente controlada, os olhos fixos nos dele como se pudesse enxergar além da carne e do orgulho ferido.
Seus rostos estavam a poucos centímetros. Os lábios perigosamente próximos. O silêncio que se fez ao redor era denso, carregado. Ela sorriu de canto, mas o olhar permanecia duro.
— Vamos negociar…— sussurrou ela, com a voz baixa, firme e letal. — Ou nós matamos vocês.
Por um segundo, o mundo parou. E ali, no meio do oceano, entre dois navios que ainda balançavam pelas ondas de uma batalha recente, a história começou a mudar.
Não havia mais vitória. Havia domínio.
E o olhar de Hongjoong, mesmo ferido, reconhecia isso. E talvez... algo mais.
O silêncio permanecia. O mar balançava suavemente os dois navios agora colados um ao outro, como se o oceano soubesse que, naquele momento, o controle havia mudado de mãos.
Hongjoong mantinha o olhar cravado no de , tentando manter a compostura mesmo com a dor latejante em sua lateral. Mas ela sabia. Sabia que ele estava vulnerável, que o orgulho dele sangrava tanto quanto o corte em seu corpo. E foi exatamente por isso que sorriu.
Sem qualquer aviso, ela empurrou sua espada mais um pouco, aprofundando a lâmina cravando-a um pouco mais no ferimento. Não foi um movimento letal — foi calculado. Apenas o suficiente para fazer o capitão ranger os dentes de dor e soltar um gemido abafado.
— Pra você entender que isso aqui não é uma conversa entre iguais — ela sussurrou, com a voz baixa e firme — Isso aqui é uma decisão sua entre sobreviver… ou sangrar até a morte no próprio convés.
Yeosang deu um passo à frente, a mão indo automaticamente para a pequena arma presa à cintura.
— Solte ele! — rosnou, o olhar flamejante.
Mingi e San também se retesaram, instintivamente preparando-se para reagir. Yunho já flexionava os dedos. O instinto protetor tomava conta da tripulação — mas eles se esqueceram de um detalhe.
As Serpentes de Prata não vacilavam.
Num piscar de olhos, cada uma delas moveu-se com precisão fulminante. Um só som de aço deslizando no ar foi suficiente para que todos congelassem.
já estava com a adaga rente à garganta de Wooyoung, tão perto que ele sequer teve tempo de piscar.
encostou a ponta da espada sob o queixo de Jongho, obrigando-o a erguer o olhar.
girou as espadas e cruzou ambas no pescoço de San, com um sorriso debochado e provocador.
, firme e silenciosa, posicionou sua lâmina na clavícula exposta de Yunho, que sequer se mexeu.
, atrás de Mingi, já o havia encostado à parede do mastro com a frieza de quem não sentia absolutamente nada.
Gaehyeon surgiu ao lado de Seonghwa como um sussurro, a ponta de sua adaga pressionando a lateral da garganta dele.
E , sem sequer virar o rosto, girou o punho da espada ainda cravada em Hongjoong, fazendo-o soltar um suspiro entre dor e frustração.
— Um só movimento de vocês, — ela disse, firme — E seus pescoços viram lembrança.
O silêncio que se seguiu foi mais alto que qualquer explosão. Os Corvos do Abismo estavam travados. Pela primeira vez em muito tempo — talvez pela primeira vez na vida — estavam à mercê de alguém. E esse alguém era um bando de mulheres que não estavam ali para fazer prisioneiros... estavam ali para dominar.
se inclinou um pouco mais para frente, sua boca próxima ao ouvido de Hongjoong, a respiração quente contra a pele dele.
— Agora sim… — ela murmurou, com um meio sorriso no canto dos lábios — Vamos negociar capitão.
E pela primeira vez, o capitão dos Corvos não respondeu. Apenas permaneceu ali, ferido, humilhado… e estranhamente fascinado.
A lâmina ainda pressionava o ferimento de Hongjoong, a dor latejava em ondas pelo seu corpo, mas era o orgulho ferido que queimava mais.
Ele ergueu os olhos para , ofegante. Havia algo naquela mulher — algo que ia além da ameaça. Era domínio, estratégia, controle absoluto da situação. E, mais do que tudo, ele sabia reconhecer um inimigo que valia a pena temer… e talvez manter por perto.
— Se quer negociar, fale… — ele murmurou, com a voz rouca — Mas tire a maldita espada de dentro de mim.
o observou por mais um instante. Ele ainda era teimoso, ainda carregava no olhar o desejo de reagir. Mas não havia mais resistência. Apenas o reconhecimento: ela venceu. Por ora.
Com um leve movimento, ela puxou a lâmina para fora. O sangue escorreu mais livremente, e Hongjoong pressionou o ferimento com a mão, respirando fundo para não cair de vez.
, , e as outras mantinham as armas nas gargantas dos homens, mas aguardavam a ordem da capitã.
ficou de pé e olhou ao redor. Os piratas estavam imóveis, derrotados e ainda assim inteiros. Ela sabia que poderia ter acabado com todos. Mas sabia também que aquela tripulação — com toda a sua força, ousadia e recursos — poderia ser muito mais útil viva.
— Você quer manter seus homens vivos, Hongjoong? — ela começou, andando em círculos lentos ao redor dele — Quer manter seu navio flutuando? Sua reputação? Porque depois de hoje… ela está afundando junto com o orgulho de vocês.
Hongjoong cerrou os dentes, mas assentiu.
— Vá direto ao ponto.
Ela parou diante dele novamente, cruzando os braços.
— Podemos continuar jogando esse jogo, se preferir. Posso dominar o que sobrou de vocês. Fazer de vocês nossos prisioneiros. Ou... — ela se inclinou levemente — Podemos unir forças.
Atrás dela, San soltou uma risada abafada
— Unir forças? Depois disso tudo?
, ainda com as lâminas cruzadas em seu pescoço, apertou um pouco mais.
— Acha que tem espaço pra deboche aqui, bonitinho?
nem virou. Continuou firme:
— Vocês têm poder, estrutura, equipamentos. Nós temos estratégia, velocidade e disciplina. Vocês nos subestimaram — e perderam. Mas nós reconhecemos o potencial de vocês. O mundo lá fora é muito maior do que esse convés.
Ela deu um passo à frente, olhando Hongjoong nos olhos.
— Façamos uma sociedade. Uma aliança. Metade do que conquistarmos será nosso. Metade de vocês. Mas tudo será comandado por ambas as lideranças. Nenhum passo sem o outro. Nem ordens solitárias. Não é submissão. É equilíbrio.
O capitão a encarou por longos segundos, processando. A ideia era absurda… e ao mesmo tempo, brilhante. A verdade era que, mesmo se tentasse contra-atacar agora, perderia. E mesmo se esperasse, as Serpentes de Prata não pareciam do tipo que deixariam isso passar. Mas uma aliança… uma união forçada de forças… talvez fosse o único caminho.
— E se eu recusar? — Ele perguntou, só por orgulho.
arqueou uma sobrancelha e apontou com o queixo para os membros da própria tripulação.
— Eu mato você. Lentamente. Aliás, mataremos um por um. Mas você primeiro.
Hongjoong suspirou, soltando um leve riso nasal.
— Você é mesmo o diabo de saia que dizem.
— E você é mais inteligente do que eu esperava. — Ela retrucou, estendendo a mão.
Lenta e dolorosamente, Hongjoong ergueu a dele. As palmas se encontraram num aperto firme, tenso, cheio de ressentimento — mas também de reconhecimento.
Atrás deles, as garotas recuaram as armas ao sinal de , e os Corvos respiraram, mas não ousaram se mover ainda. A tensão permanecia.
soltou a mão de Hongjoong e deu um passo atrás.
— A partir de agora, Corvos e Serpentes governarão juntos. Pelos mares... e pelo que ainda resta desse mundo.
Um novo silêncio caiu, denso, carregado de tudo o que ainda viria.
E ninguém ali sabia ao certo o que seria mais perigoso: serem inimigos… ou aliados.
A luz do sol queimava alto, refletindo na madeira do convés e no suor que escorria pela nuca de San enquanto ele socava o saco de pancadas pendurado em uma das estruturas reforçadas do navio. Seus músculos contraíam com cada golpe, os punhos enfaixados se movendo com precisão e força bruta. O som seco dos socos ecoava ritmado, como um tambor de guerra.
o observava de longe, encostada numa das colunas do navio, os braços cruzados e um leve sorriso brincando nos lábios. Ele era bom. Disciplinado. Rápido. Mas estava... desperdiçando força.
Quando San finalmente parou para pegar uma garrafa d'água e respirar, enxugando o rosto com a barra da camisa — que se levantou o suficiente para exibir o abdômen suado —, caminhou até o centro do convés.
Sem dizer nada, ela parou diante do saco de pancadas.
San a observou enquanto bebericava da água, curioso.
— Vai me elogiar ou me desafiar? — ele perguntou com um meio sorriso.
Ela ignorou a provocação, girando os ombros com naturalidade.
— Você soca bem — começou, enquanto enfaixava rapidamente os punhos — Mas tá colocando muita força onde devia ter técnica.
San arqueou uma sobrancelha, ofendido de leve.
— Ah, é? Quer me ensinar a socar agora?
Ela olhou por cima do ombro, com um olhar lento e preciso que poderia tanto matar quanto seduzir.
— Não. Quero ensinar a acertar.
Antes que ele respondesse, começou a demonstrar.
Ela deu dois passos, firme, e lançou um direto com o braço direito — rápido, seco, e com um giro perfeito do quadril. O saco se balançou com força. San percebeu de imediato a diferença: ela não estava apenas batendo. Estava canalizando o corpo inteiro no golpe, como se cada parte dela estivesse envolvida no impacto.
Ela lançou um jab de esquerda. Depois um cruzado. Cada golpe fluía com naturalidade, como se seu corpo fosse feito pra aquilo. Não havia hesitação, nem desperdício de energia. Apenas controle.
— Você luta com raiva — disse ela, sem parar de golpear — Mas raiva cega. Técnica vence.
San cruzou os braços, observando com mais atenção. Não havia como negar: ela era boa. Melhor do que ele imaginava. Melhor do que ele queria admitir.
Ela deu o último golpe — um gancho de esquerda tão limpo que fez o saco girar — e então se virou lentamente para ele, ofegante, com um brilho perigoso nos olhos.
— Quer tentar de novo? — provocou, erguendo um dos punhos, ainda com o peito subindo e descendo em ritmo acelerado.
San se aproximou, devagar. Os dois estavam a poucos passos um do outro agora, o calor do sol misturando-se ao calor que nascia no ar entre eles.
— Você sempre é assim? — ele perguntou — Tão mandona?
— Só quando estou certa — Ela respondeu sem desviar o olhar.
San sorriu de lado, sacudindo a cabeça.
— Não sei se quero aprender ou te desafiar para uma luta agora.
Ela deu um passo à frente.
— Então faz os dois.
E naquele instante, no meio do convés, sob o sol escaldante e o som do mar ao fundo, o treino deixou de ser só treino. A faísca entre eles tinha mais energia do que qualquer soco que já haviam desferido.
San deu um leve sorriso ao encarar o desafio nos olhos de . Ele deu dois passos à frente, até que estivessem frente a frente — tão próximos que ela podia sentir a respiração dele roçando sua pele quente pelo esforço.
— Sem regras? — ele perguntou, a voz grave, como um sussurro elétrico.
Ela sorriu.
— Comigo? Nunca tem.
San ergueu os punhos, postura de combate, mas os olhos ainda fixos nela. Sua, em resposta, deu um leve giro com o pé e assumiu sua base, firme, equilibrada, e com um brilho travesso nos olhos. Aquilo não seria só treino — seria uma provocação com formato de luta.
Ele avançou primeiro, tentando um jab leve, apenas para testar. Ela bloqueou com facilidade, desviando para o lado com o corpo colado ao dele por um segundo a mais que o necessário.
— Você tá me testando ou tá com medo de me encostar? — Ela perguntou, os lábios perto demais da mandíbula dele.
San recuou, sorrindo, mas dessa vez com um olhar mais afiado. Tentou um cruzado de direita, mais direto. Ela abaixou com agilidade, deslizando pelo lado dele, o corpo roçando nas costas dele ao passar.
— O problema é que você pensa demais antes de bater — Ela provocou, agora atrás dele.
Ele girou rápido, tentando surpreendê-la com um chute lateral, mas ela se defendeu com o antebraço e empurrou o corpo contra o dele, os dois caindo no chão com um baque surdo. San por baixo, ela por cima.
A respiração dele travou. O rosto de pairava sobre o seu, os cabelos meio bagunçados, o corpo leve, mas firme, pressionando o dele. O silêncio se alongou.
Ela não se mexeu.
Ele tampouco.
As mãos dele estavam nas coxas dela, que pressionavam suas laterais com firmeza. A mão esquerda dela apoiava-se no peito suado dele. O olhar de não desviava do dele — firme, penetrante… carregado de alguma coisa que nenhuma espada sabia cortar.
Por um segundo, a linha entre batalha e desejo ficou turva demais para distinguir.
San sentiu o coração acelerar. Ela era um desafio. Uma ameaça. E, ao mesmo tempo, uma maldita tentação.
Ela arqueou uma sobrancelha, a voz vindo rouca:
— Vai se render, San?
Ele quase respondeu com um beijo.
Quase.
Mas então virou o rosto de leve, soltando um riso nasal e desviando o olhar.
— Você é mais perigosa do que parece — Murmurou, com a voz baixa e tensa.
Ela inclinou o rosto, a boca quase encostando no ouvido dele.
— Eu sei.
E só então, se levantou, rápida e leve, como se nada tivesse acontecido. Limpou as mãos nas calças, ajeitou o top e olhou por cima do ombro com aquele sorriso debochado que já estava se tornando sua marca registrada.
— Bom treino, garotinho.
San permaneceu no chão por mais alguns segundos, encarando o céu, tentando recuperar o fôlego — não do treino, mas dela.
— Você vai me matar ainda, .
Do outro lado do convés, ela só riu.
— Vai ter que merecer primeiro.
A cozinha do navio dos Corvos do Abismo era o único lugar onde Wooyoung reinava sem contestação. Era apertada, quente, cheia de panelas penduradas, temperos improvisados e fumaça pairando no ar — mas era o território dele. Sempre fora. E ninguém ousava invadir.
Ou quase ninguém.
Ele mexia algo em uma panela grande quando ouviu passos se aproximando. Girou o corpo com uma colher de pau em punho, pronto para espantar qualquer curioso.
Mas parou no meio do movimento quando viu quem era.
.
Ela entrou como se fosse dona do espaço, amarrando o cabelo em um coque desleixado enquanto analisava os ingredientes sobre a bancada com olhos treinados.
Wooyoung franziu o cenho.
— O que você tá fazendo aqui?
Ela o ignorou por alguns segundos, pegando uma faca e começando a cortar cebolas com uma habilidade surpreendente.
Ele deu um passo mais perto.
— Ei. Eu perguntei o que você tá fazendo aqui…
— Cortando cebolas — Ela respondeu, sem tirar os olhos da tábua.
— Não seja engraçadinha. Ninguém entra na minha cozinha. Ninguém! — Ele disse com firmeza, apontando a colher para ela como uma espada de madeira.
— Você devia colocar essa regra na porta então — retrucou, com calma — Porque agora tem sete bocas a mais nesse navio faminto. Ou você vai alimentar todas sozinho?
Wooyoung revirou os olhos. “
— Eu cozinho pra minha tripulação. Vocês que se virem com as sua.
parou de cortar por um segundo e o olhou com aquele sorriso levemente debochado.
— Ótimo. Você alimenta seus garotinhos mimados e eu cuido das mulheres de verdade.
Ela voltou a cortar como se o assunto estivesse encerrado.
Wooyoung cruzou os braços, claramente irritado.
— Você não pode simplesmente invadir meu espaço e—
— Wooyoung… — ela falou seu nome com calma, mas com uma firmeza que cortava como faca afiada. — Se você quer bancar o orgulhoso, tudo bem. Só não reclame quando o cheiro da nossa comida for melhor que a sua.
Ele piscou, ofendido.
— Você tá me desafiando na cozinha? Na minha cozinha?
— Não. — ela ergueu os olhos, sorrindo — Só estou afirmando uma verdade.
O silêncio entre eles ficou denso. A panela borbulhava. A faca cortava em ritmo constante. E Wooyoung não conseguia decidir se estava mais irritado ou impressionado.
Ele girou nos calcanhares, bufando.
— Só não encosta nas minhas panelas favoritas.
sorriu, vitoriosa.
— Nem queria. As minhas são melhores.
Por um tempo, a cozinha ficou em relativo silêncio — ou pelo menos o mais próximo disso, considerando as faíscas invisíveis que voavam de um lado ao outro.
Wooyoung cortava legumes com força desnecessária, os lábios contraídos, enquanto mexia uma panela improvisada com a tranquilidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
— Isso tá muito salgado — Ele comentou do nada, passando por trás dela e inclinando-se sutilmente para cheirar o conteúdo da panela. Sua voz veio baixa, bem perto do ouvido dela.
— Você nem provou — Ela retrucou, sem se mover. Mas a verdade era que, por um instante, o cheiro dele se misturou ao do alho e do caldo quente, e aquilo a distraiu.
— Não preciso. Tenho instinto de chef.
— Ah, então é isso que chamam de ego na cozinha.
Wooyoung sorriu de canto, pegou uma colher e provou o próprio molho. Fez uma careta exagerada, só pra provocar.
— Perfeito. Apimentado, forte, com personalidade… bem diferente do que você tá fazendo aí.
— Claro. Não é todo mundo que tem coragem de servir o próprio veneno em forma líquida.
Ele soltou uma risada nasal.
— Você tem resposta pra tudo, hein?
— Sou uma mulher preparada para tudo. Especialmente para vencer qualquer batalha que me meto.
E então veio o momento…
Ambos se viraram ao mesmo tempo, prontos para pegar algo da bancada. Acabaram parando a poucos centímetros um do outro.
Ficaram ali. Olhos nos olhos. A respiração dividindo o mesmo espaço.
O ar entre eles ficou pesado de repente, quente não por causa do fogão ou das panelas borbulhantes, mas pela tensão que se formava como vapor invisível. ergueu os olhos, e Wooyoung encarou os dela. Pela primeira vez, nenhum dos dois parecia ter uma resposta afiada na ponta da língua.
As mãos se moveram devagar. Os rostos próximos. Os pensamentos perigosos.
Ele podia beijá-la ali. Agora. E ela não parecia que impediria.
Mas foi justamente Wooyoung quem se afastou primeiro.
Rapidamente, ele girou o corpo, pegou uma colher, bateu contra a panela com força exagerada.
— Melhor terminarmos logo isso antes que a comida queime e alguém morra de fome — ou de drama. — ele disse, fingindo leveza, mesmo com a respiração ainda alterada.
o observou por um segundo, olhos semicerrados, como se estivesse vendo algo que ele mesmo tentava esconder. Mas, em vez de pressioná-lo, ela apenas sorriu de canto e voltou ao que fazia.
— Como quiser, chef.
E, mesmo de costas para ela, Wooyoung sentiu aquele maldito sorriso dela queimando mais do que qualquer pimenta que já havia usado na vida.
O sol já havia desaparecido no horizonte quando atravessou o convés em silêncio, os passos firmes ecoando pelas tábuas de madeira. A bordo do navio dos Corvos, agora parcialmente sob o comando das Serpentes, ela seguia por um corredor estreito até parar diante da porta entreaberta da cabine do capitão.
Ela empurrou sem bater.
Lá dentro, Hongjoong estava deitado em sua cama, a respiração ainda pesada. A lateral do tronco estava enfaixada, com o curativo recém-feito. Sentado ao lado dele, Yeosang ajeitava os últimos pedaços de pano, os dedos ágeis e precisos.
Ao perceber a presença de , Yeosang ergueu o olhar e franziu o cenho. Os olhos escuros fitaram os dela com algo entre frieza e raiva contida.
— Veio se certificar de que ele ainda está vivo? Ou quer terminar o que começou? — ele disparou, seco.
permaneceu imóvel por um segundo, o olhar calmo e controlado. Depois entrou por completo, fechando a porta atrás de si.
— Se eu quisesse matá-lo, Yeosang… você sabe que ele já estaria morto.
Yeosang apertou o curativo com mais força do que o necessário, fazendo Hongjoong soltar um leve grunhido.
— Cuidado, Yeosang — o capitão murmurou.
— Foi mal. — Respondeu ele, mas os olhos continuavam presos em .
Ela deu alguns passos pela cabine, observando o espaço. Era organizado, mas marcado pela personalidade de Hongjoong: mapas dobrados com cuidado, anotações rabiscadas, instrumentos náuticos e um cheiro levemente metálico no ar — sangue seco e pólvora.
— Você devia estar agradecido — ela disse, virando-se para Yeosang — Poderia estar cuidando de um cadáver agora.
Ele se levantou, alto e tenso, encarando-a.
— Você fala de gratidão como se tivesse feito um favor. Como se não tivesse nos humilhado em nosso próprio convés.
sorriu de canto, o olhar afiado.
— Eu chamo de lição. Humilhação é um efeito colateral.
Yeosang deu um passo à frente, irritado.
— Você se acha no direito de mandar aqui só porque venceu uma batalha? Não pense que isso vai durar.
— Não preciso pensar. Eu sei. — ela respondeu, cruzando os braços, se aproximando também.
Agora estavam frente a frente. A tensão entre os dois preenchia o ar da cabine. Não era só raiva. Era eletricidade. Os olhos trocavam farpas, os corpos se desafiavam sem tocar. Nenhum dos dois recuava.
— Você me irrita — Yeosang rosnou, os olhos fixos nos dela.
— Ótimo. Sinal de que estou fazendo algo certo. — respondeu, mais baixo.
Eles estavam tão próximos que conseguiam sentir a respiração um do outro. Os olhares se enfrentavam como espadas prestes a colidir. Yeosang parecia prestes a falar — ou a fazer algo que claramente não devia.
— Chega! — veio a voz rouca de Hongjoong, cortando o clima como uma navalha.
Os dois se viraram para ele. O capitão mantinha-se deitado, o rosto pálido pela dor, mas os olhos atentos — e perigosos.
— Isso aqui não é um duelo de egos… — ele disse — Não se esqueçam que agora estamos todos no mesmo navio. Literalmente.
Yeosang respirou fundo, desviando o olhar. apenas sorriu, dessa vez com um toque mais suave.
Relaxa, capitão. Só vim ver se você ia aguentar a primeira noite de aliança.
— E a resposta? — Hongjoong arqueou uma sobrancelha.
o encarou por um instante, o olhar curioso.
— Está respirando. Já é mais do que eu esperava.
Ela se virou para sair, mas antes de atravessar a porta, lançou um último olhar para Yeosang.
— Te vejo por aí, docinho.
Yeosang apenas cerrou os dentes, mas não respondeu.
A porta se fechou.
Na cabine, o silêncio voltou.
Hongjoong fechou os olhos, exausto, mas um leve sorriso surgiu nos lábios.
— Vocês dois vão me dar dor de cabeça...
Ele precisava de silêncio. Ou pelo menos achava que precisava.
— Você parece entediado.
A voz veio leve, casual, mas com aquele toque que ele já reconhecia de longe. Quando levantou os olhos, estava parada ao lado dele, braços cruzados, os cabelos presos num coque frouxo, uma sobrancelha arqueada e um leve sorriso no canto da boca.
Yunho desviou o olhar de volta para a pistola desmontada em sua frente.
— Não é tédio. Só… estou descansando.
Ela caminhou devagar, dando uma volta em torno dele como se o estivesse analisando.
— Você tem cara de quem está pensando demais. Aposto que tá se perguntando como fomos capazes de colocar vocês de joelhos naquela batalha.
Yunho soltou um riso baixo, abafado.
— Na verdade, estou tentando esquecer isso.
— Hum… eu não.
Ela parou atrás dele e se inclinou levemente, espiando por cima de seu ombro.
— Vocês são fortes. Isso é fato. Mas têm esse negócio de… hesitar. Medir força como se o mundo ainda tivesse regras.
— Talvez a gente só respeite certos limites.
deu a volta e se colocou à frente dele, forçando-o a encará-la.
— E talvez seja isso que enfraquece vocês. Limites demais.
Yunho a observou por um instante. Ela era mais baixa que ele, mas tinha uma presença que preenchia o espaço. Os olhos dela tinham aquele brilho de quem já tinha visto mais dor do que gostaria — e se moldado a partir disso.
— Você sempre foi assim? — ele perguntou, sincero. — Tão certa de tudo?
Ela cruzou os braços, pensativa por um segundo.
— Sempre fui obrigada a ser. No nosso mundo, fraqueza é um convite pra ser esmagada. Então sim, eu me tornei boa nisso.
— Em parecer forte?
— Em ser forte. Mesmo quando não queria.
O silêncio entre os dois se estendeu. Yunho deixou a arma de lado, apoiando os cotovelos nos joelhos, encarando o chão por um momento antes de levantar os olhos novamente para ela.
— Eu te vi lutar. Você é rápida. Precisa ser. É como se não quisesse dar tempo pra sentir nada.
— Porque não quero.
A resposta veio seca, mas não agressiva.
Yunho se levantou devagar. Ele era mais alto, e por um instante ela teve que levantar o queixo para continuar olhando nos olhos dele. Mas não recuou.
— Você luta como se o mundo devesse alguma coisa a você — ele disse, a voz mais baixa, mas firme. — Como se estivesse cobrando uma dívida o tempo todo.
manteve os olhos nele, mas a expressão suavizou levemente.
— E você… luta como se ainda houvesse algo a proteger. Como se estivesse tentando manter alguma coisa viva dentro de si.
Eles estavam muito próximos agora. As palavras vinham mais baixas, carregadas de algo que nem os dois sabiam nomear. O vento passava devagar entre eles, e por um instante, tudo ao redor pareceu se calar.
Yunho levou a mão até o corrimão atrás dela, sem tocá-la, mas se inclinando um pouco. Ela não se afastou. Apenas o observou com o mesmo olhar calmo — desafiador, mas curioso.
— Você me desconcerta — ele murmurou.
— Porque eu não sou o que você esperava?
— Porque você me faz querer abaixar a guarda…
O coração dela acelerou com aquelas palavras. Por fora, manteve o controle. Por dentro, sentiu o equilíbrio vacilar por um segundo. Mas não seria ela a ceder primeiro.
— Então não abaixa — respondeu em tom baixo, firme. — Porque eu ainda não decidi se gosto de você com ela levantada.
Yunho sorriu. Um sorriso pequeno, mas genuíno.
— Justo.
Eles ficaram ali mais um instante. Olhos nos olhos. Nem avanço, nem recuo. Só tensão — densa, elétrica, presente. Uma promessa não dita.
Mas antes que algo além da troca de olhares acontecesse, deu um passo para o lado, quebrando o contato visual.
— Até mais, Yunho.
E se afastou caminhando com passos lentos, firmes, como se nada tivesse acontecido. Mas o sorriso que ela escondia nos lábios dizia o contrário.
Yunho permaneceu ali, ainda parado, com a sensação de que havia sido atingido por algo invisível — e com a estranha vontade de ser atingido de novo.
Ela caminhou lentamente, sem pressa, mantendo os passos firmes pelo convés como se nada tivesse acontecido. Como se o coração não estivesse batendo alto demais. Como se o calor no estômago não estivesse crescendo a cada passo que a afastava dele.
não olhou para trás. Não precisava. Sabia que ele ainda estava lá, parado, observando. E isso a deixava… inquieta.
— Idiota — murmurou para si mesma, mas o sorriso teimava em subir no canto da boca.
Ela encostou-se discretamente ao parapeito de madeira que contornava o navio, fingindo olhar o horizonte. O céu estava começando a se tingir de tons dourados e azulados, as ondas suaves refletindo a luz com um brilho quase pacífico — quase.
Mas a paz era tudo que ela não sentia por dentro.
Era pra ser só uma conversa. Uma provocação qualquer. Algo pra testar limites e reafirmar o controle. Mas então Yunho... falou daquele jeito. Olhou daquele jeito. Como se enxergasse o que nem ela queria admitir.
Como se a entendesse.
fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Aquilo era perigoso. Estar próxima demais. Sentir demais. Ela havia construído uma fortaleza ao redor de si mesma por anos. Cada pedra colocada com cuidado, cada tijolo cimentado com a promessa de nunca mais baixar a guarda. Nunca mais depender. Nunca mais se permitir ser tocada de verdade.
Mas ele...
Ele a olhava como se ela fosse mais do que sua lâmina afiada. Como se por trás da força, da agilidade e da postura de guerreira, houvesse alguém que ele queria desvendar — e proteger.
E era exatamente isso que assustava.
apoiou os cotovelos no parapeito, abaixando um pouco a cabeça, o cabelo se soltando aos poucos do coque frouxo com a brisa. Tentava acalmar o próprio corpo. A mente, no entanto, seguia repetindo a voz dele:
“Porque você me faz querer abaixar a guarda.”
Ela mordeu o lábio, impaciente. Ele não devia ter dito aquilo. Não com aquela calma, aquela firmeza. Não quando ela estava tão acostumada a viver entre muros.
— Maldito grandalhão — sussurrou, a voz abafada contra o próprio braço.
Ela ficou ali por mais alguns minutos, apenas observando o céu, tentando recuperar o equilíbrio que sentia escorregar entre os dedos.
sabia lutar contra qualquer coisa. Contra homens armados, contra piratas traiçoeiros, contra o próprio passado. Mas sentimentos?
Aquilo era um campo de batalha para o qual ela ainda não tinha estratégia.
E, no fundo, talvez o que mais a irritasse fosse não saber se queria vencê-lo… ou apenas continuar lutando contra ele, só pra manter o fogo aceso.
Seonghwa limpava calmamente o convés superior do navio, as mãos hábeis manuseando um pano úmido e uma pequena escova. Era um gesto quase terapêutico — os movimentos precisos, o olhar fixo na madeira, a mente finalmente livre do barulho dos outros. Desde a batalha, ele estava em silêncio. Observando. Refletindo. Não sobre a derrota — mas sobre o que ela havia revelado.
— Você é mais detalhista do que eu imaginava.
A voz doce, mas carregada de intenção, cortou o ar tranquilo como uma navalha sobre seda. Ele não precisou olhar para saber quem era. O tom, o ritmo, o timbre — tudo nela era afiado demais para ser confundido.
Ele ergueu os olhos devagar e encontrou encostada em uma das colunas de madeira, os braços cruzados, o queixo levemente erguido e aquele sorriso intrigado que parecia permanente nos lábios dela. Havia algo nela que lembrava uma faísca: pequena, bela… e absolutamente capaz de causar um incêndio.
— Melhor do que parecer desleixado — respondeu ele, voltando ao que fazia.
Ela caminhou devagar até ele, os passos leves, quase silenciosos. Quando chegou perto o suficiente, ajoelhou-se ao lado dele, como quem não precisava de convite.
— Eu te observei na luta — disse, pegando um pano extra e passando na madeira também. — Você não lutava com raiva. Você... parecia dançar.
Seonghwa parou o movimento, o olhar se voltando lentamente para ela.
— A raiva nos deixa cegos. Eu prefiro ver tudo ao redor.
— Então você é do tipo que analisa antes de atacar?
— Só ataco quando sei que vale a pena.
Os olhos dela brilharam por um segundo. Um elogio escondido? Uma provocação? nunca recusava um duelo, verbal ou físico.
— E lutar contra mim? Valeu?
Seonghwa manteve o olhar no dela por um tempo que passou do aceitável. Aqueles segundos suspensos carregavam mais tensão do que um embate com espadas.
— Ainda estou decidindo.
riu com o canto da boca. Era engraçado como ele era diferente dos outros. Quieto. Controlado. Mas não fraco. Não submisso. A calma dele era um tipo de força que ela ainda estava tentando decifrar.
— Você é... difícil de ler — comentou, inclinando o corpo um pouco mais para perto, os olhos fixos nele. — Gosto disso.
— Você prefere gente que grita o que sente?
— Prefiro gente que sente.
Os dois ficaram em silêncio. O som do pano sendo torcido, as ondas quebrando suavemente ao redor do navio, o farfalhar da lona das velas — tudo preenchia aquele momento suspenso entre uma provocação e outra.
Seonghwa largou o pano por fim e se virou por completo para ela, com calma.
— Por que veio aqui, ?
Ela se aproximou só um pouco mais, o rosto a poucos palmos do dele. Os olhos de ambos estavam sérios agora. Mais intensos.
— Porque você me intriga.
— Isso pode ser perigoso.
— Eu gosto do perigo.
O olhar dele desceu brevemente até os lábios dela, mas voltou rápido. Contido. Calmo.
— Você está brincando comigo?
Ela piscou devagar. A resposta veio quase em sussurro:
— Não. Estou tentando entender por que, mesmo depois de tudo, você ainda me olha como se eu fosse feita de cristal.
Seonghwa inclinou o corpo levemente para frente. O rosto perto demais do dela, a voz firme:
— Porque eu sei que, por trás dessa força... tem algo que você não mostra pra ninguém. E eu não gosto de quebrar o que ainda pode florescer.
Por um segundo, parou de respirar.
Ela queria responder. Provocar. Rir. Mas tudo travou. Porque a calma dele… era real. E ela não estava acostumada com isso.
Então, como quem percebe que está ficando tempo demais sob o sol, ela se levantou de repente, ajeitando o cabelo com um gesto rápido.
— Você é perigoso de outro jeito. Um jeito que não dá pra prever — disse, virando-se de costas. — Isso é pior do que qualquer lâmina.
E então, antes de sair, ela olhou por cima do ombro, o sorriso voltando.
— Mas isso também me dá mais vontade de voltar amanhã.
E foi embora. Deixando Seonghwa com os olhos fixos onde ela estivera — e com a estranha certeza de que aquela garota ainda ia bagunçar a ordem perfeita do mundo dele.
O som dos passos dela se afastando desapareceu aos poucos, até que tudo ao redor voltou ao que era antes: o mar, as velas, o pano úmido ainda na mão dele. Mas o que estava dentro dele… isso já não era o mesmo.
Seonghwa permaneceu ajoelhado por mais alguns segundos, os olhos fixos no nada, como se ainda pudesse vê-la ali — encarando-o, desafiando-o, tirando-o do eixo com um simples olhar e meia dúzia de palavras afiadas.
Ele suspirou, baixando o olhar para o pano agora esquecido sobre o convés.
Aquela garota...
era tudo o que ele tentava evitar. Imprevisível, inquieta, ousada demais. Seu tipo preferido de problema — e o tipo que ele sempre fez questão de manter à distância. Mas havia algo nela que o puxava. Não era apenas a maneira como ela lutava ou como falava. Era o que vinha por trás da provocação, algo que ele enxergava com clareza, mesmo que ela tentasse esconder.
Ela era como uma arma bonita demais para ser deixada de lado. Mas perigosa demais para ser tocada sem cuidado.
E ainda assim, ali estava ele. Tentando entender por que, entre tantas pessoas naquele navio, era ela que o fazia sentir como se estivesse em campo minado — prestes a explodir, mesmo quando tudo estava em silêncio.
Seonghwa se levantou devagar, limpando as mãos na calça. Andou até a lateral do navio e apoiou os braços no corrimão, o olhar perdido no mar que se estendia até o infinito. A brisa agora parecia mais quente, mais densa. Ou talvez fosse só ele, tentando esfriar algo que não queria admitir que havia se acendido.
Ela o acusara de olhá-la como se fosse feita de cristal.
E ele odiava que ela estivesse certa.
Havia algo nela que despertava sua vontade de proteger — e isso o deixava desconfortável. Porque claramente não queria ser protegida. Ela queria ser enfrentada, desafiada, compreendida… talvez, um pouco, até admirada.
E ele… ele já começava a fazer tudo isso sem nem perceber.
Ele apoiou a testa no antebraço, fechando os olhos por um instante. Respirou fundo.
— Não é o momento — murmurou para si mesmo. — E ela não é uma distração que eu posso me dar ao luxo de ter.
Mas o problema de repetir frases assim era que, quanto mais ele dizia… mais falsas elas soavam.
Seonghwa ergueu o olhar de novo para o mar, buscando uma resposta que talvez só viesse com o tempo. Ou com o próximo encontro.
Porque, no fundo, ele sabia: ela voltaria amanhã.
E ele não estava pronto para dizer que não queria isso.
Mingi sempre treinava quando o navio estava em calmaria. Ele precisava do peso do corpo em movimento para manter a mente no lugar. Para alguém tão impulsivo, a ação era a única forma de equilíbrio.
Mas naquela tarde, o equilíbrio estava prestes a ser rompido.
Ele estava terminando uma sequência de repetições com o tronco nu, suado, quando ouviu o som leve e certeiro de passos atrás dele. Não barulhentos. Não invasivos. Mas determinados — como tudo que ela fazia.
.
— Vai continuar socando o ar ou vai enfrentar alguém de verdade?
A voz dela veio baixa, mas com o mesmo tom de desafio frio que sempre carregava. Ele se virou devagar, passando o braço sobre o rosto para secar o suor, e a encarou. Ela já estava com a postura de combate, vestindo preto dos pés à cabeça, o olhar cortante como uma lâmina disfarçada de olhar bonito.
— Você quer lutar comigo agora? — Mingi perguntou, franzindo uma sobrancelha com meio sorriso. — Ou só veio ver se eu caio de cansaço?
— Quero testar sua resistência. E seu foco.
Ele deu dois passos à frente. Ela não recuou.
— Tá bem. Mas aviso logo… eu toco.
— Eu também — ela respondeu, com um leve arquear de sobrancelha. — E quando eu toco, deixo marcas.
Sem esperar por mais palavras, ela avançou.
O primeiro golpe de foi um chute baixo, rápido, que Mingi conseguiu aparar com o antebraço. Mas ela girou o corpo com agilidade e tentou um segundo chute, que ele desviou por pouco.
Ela era técnica. Precisa. Sem movimentos desnecessários.
Ele era força. Instinto. Velocidade bruta.
A colisão dos dois foi inevitável.
Mingi tentou agarrar o pulso dela em um movimento de contra-ataque, mas escapou com uma torção, o corpo colando ao dele por um instante, os rostos próximos, respirações misturadas.
Ela sorriu de leve.
— Lento.
Ele respondeu com uma risada baixa, provocadora, e num segundo movimento, segurou sua cintura e girou, usando o próprio corpo como alavanca para desequilibrá-la. caiu de costas contra o chão de madeira — mas ele caiu junto, o corpo pesando sobre o dela.
As mãos dela foram instintivamente para o peito dele, mas não o empurraram de imediato.
Estavam ofegantes.
Corpos colados.
O rosto de Mingi pairava sobre o dela. O cabelo dele caía um pouco sobre a testa, a boca entreaberta, o calor do corpo irradiando como uma fornalha.
— Isso é parte do treino? — ela perguntou, com a voz mais baixa.
— Isso é o efeito colateral — ele respondeu, e sua voz veio grave, mais arrastada, mais honesta do que deveria ser.
Ela não desviou os olhos.
Ele também não.
As mãos de , ainda sobre o peito dele, deslizaram levemente, apenas alguns centímetros. O suficiente para sentir o batimento acelerado. Para deixá-lo saber que ela percebia. Que ela sentia.
Um toque. Dois. Quase nada.
Mas para Mingi, parecia tudo.
— Vai continuar em cima de mim ou vai me dar espaço pra revidar? — ela murmurou, os lábios perigosamente próximos dos dele.
Ele não respondeu de imediato. Se inclinou um pouco mais, até que os narizes quase se tocassem, até que o mundo ao redor parecesse prestes a derreter.
— Você vai revidar mesmo se eu não der espaço, não vai?
— Sempre.
Foi ele quem recuou primeiro, rolando para o lado com um gemido baixo, ofegante, mas não de exaustão — de frustração. O corpo pulsando, a pele arrepiada, o autocontrole implodindo.
sentou-se devagar, ajeitando o cabelo e o olhar, como se nada tivesse acontecido.
— Você até que aguenta bem — disse, levantando-se com elegância. — Mas ainda está vulnerável.
— E você é pior que veneno — ele respondeu, ainda sentado, passando as mãos nos cabelos.
— Eu sei.
Ela virou-se de costas e começou a se afastar. Mingi observou cada passo dela, cada curva, cada linha do corpo que se afastava como uma tentação em forma humana.
Ela parou por um segundo antes de sair do alcance da visão.
— Quando quiser continuar… estarei disponível.
E então sumiu escada abaixo.
Mingi soltou uma gargalhada abafada, jogando o corpo para trás e deitando no convés, os braços abertos, o peito subindo e descendo.
Ainda ofegante, Mingi continuou deitado no convés por alguns minutos, tentando não pensar em — o que, claro, era impossível. O corpo dele ainda parecia em combustão. Cada toque que ela dera parecia ter deixado marcas invisíveis na pele.
Ele passou as mãos pelo rosto, soltando um suspiro arrastado.
Foi então que ouviu passos pesados e despreocupados vindo na direção dele.
— Você tá caído aí por drama… ou porque finalmente tomou uma surra? — San apareceu no campo de visão, com as mãos nos quadris e uma garrafa de água pendurada nos dedos. O sol pegava de leve no rosto dele, e o sorriso debochado era impossível de ignorar.
Mingi soltou um riso nasal, sem se mexer.
— Talvez os dois.
San se aproximou e se agachou ao lado dele, olhando com curiosidade real agora.
— Quem foi? Yunho? Jongho? Porque se for o Yeosang, eu vou zoar você pro resto da viagem.
— .
San parou.
Arqueou as sobrancelhas.
Depois soltou um assobio lento e incrédulo.
— Ah, merda. Isso explica o jeito que você tá deitado aí como se tivesse visto Deus.
Mingi fechou os olhos e riu, passando as mãos pela nuca.
— Mano... ela é... — ele procurou palavras, mas nenhuma parecia suficiente. — Ela me desmontou com um golpe e depois… me desmontou de outro jeito.
San ergueu uma sobrancelha.
— Outro jeito, tipo…
Mingi virou o rosto e olhou para ele, sério.
— Ela ficou embaixo de mim. A gente tava no chão. Numa posição que... cara, se alguém tivesse visto...
— Aiai. — San caiu sentado no convés ao lado dele, gargalhando. — E você fez o quê?
— Nada.
— Nada?
— Nada, San. Eu travei. Ela olhou pra mim com aquele olhar frio de quem decide se te beija ou te mata, e eu simplesmente... recuei.
San caiu para trás, batendo as mãos no peito de tanto rir.
— Você recuou. O Mingi. O cara que pula de um navio pro outro como se fosse playground... recuou de uma garota?
— Ela não é uma garota. Ela é um alerta de perigo em formato de mulher. Se eu beijasse ela aqui, talvez eu acordasse amarrado no porão. Ou pelado. Ou morto. Ou... as três coisas.
San ainda ria, mas agora olhava com mais atenção.
— Você gostou.
— Eu... — Mingi hesitou. — Cara, eu não sei. É que... não é só o jeito que ela luta. É o jeito que ela controla. Como se soubesse o efeito que tem e usasse isso como arma. E o pior... é que eu tô tipo… viciado já.
San o observou em silêncio por alguns segundos, depois deu um gole na água.
— Sabe o que eu acho?
— O quê?
— Que ela gostou também. Porque se não tivesse gostado... você não estaria aqui se perguntando o que aconteceu. Você estaria sangrando.
Mingi riu de novo, dessa vez mais leve. Ficou olhando pro céu por alguns segundos antes de responder.
— Isso é o que mais me assusta, San. Acho que... eu quero mais.
San deu um tapinha nas pernas dele e levantou.
— Então se prepara, irmão. Porque mulher assim não se conquista. Se sobrevive a ela.
E saiu, rindo, deixando Mingi ali, com a cabeça girando, o coração acelerado e um novo pensamento martelando no fundo da mente:
“Se sobreviver a ela for o preço... talvez valha a pena pagar.”
Era noite no convés, e quase todos já haviam recolhido-se. O céu estava claro, salpicado de estrelas, e o som do mar era mais presente que nunca. Um clima de calma... quase ilusório.
Jongho estava encostado em uma das colunas de apoio do navio, os braços cruzados, observando o horizonte escuro com o que parecia ser sua expressão padrão: séria, inabalável, contida. Ele era como a parte do mar que ninguém via — profunda, densa, perigosa só pra quem ousasse se aproximar demais.
Foi por isso que ela se aproximou.
Siyeon.
Ele percebeu sua presença pelo som firme dos passos e pela forma com que o silêncio pareceu se alterar sutilmente. Não era como as outras. Não fazia questão de anunciar sua chegada — mas também não passava despercebida.
Ela parou ao lado dele, ombro a ombro, olhando na mesma direção.
— Silêncio te acalma ou te perturba?
A pergunta veio calma, mas com uma ponta de algo mais... pessoal.
Jongho respondeu sem desviar o olhar do mar.
— Depende de quem está ao meu lado.
Ela sorriu de leve, como se já esperasse por algo assim. Ficaram quietos por mais alguns segundos. O vento passava entre eles, carregando o cheiro salgado e os resquícios da batalha que ainda ecoava nos ossos.
— Você me enfrentou como se eu fosse mais forte do que você — disse ela, finalmente olhando para ele. — Por quê?
Ele demorou para responder. Depois virou-se devagar, os olhos sérios encontrando os dela.
— Porque você é.
Siyeon piscou, como se não estivesse acostumada a receber aquele tipo de resposta. Franqueza assim... não era comum. Principalmente de um homem. Principalmente dele.
— Você me segurou — ela comentou. — Eu percebi. Podia ter me vencido.
— E você podia ter me machucado de verdade — ele retrucou.
O olhar dela endureceu um pouco. Mas não de raiva. De reconhecimento.
— E por que não fez isso?
— Porque eu queria ver o que aconteceria se eu não vencesse você.
Siyeon deu um passo para o lado, girando devagar para encará-lo de frente. A luz fraca da lua tocava seus traços afiados, o cabelo levemente bagunçado pela brisa.
— E gostou do que viu?
Jongho soltou o ar pelo nariz. Não sorriu, mas os olhos suavizaram.
— Me fez pensar mais do que deveria.
Ela se aproximou, devagar, os olhos cravados nos dele. Parou perto o suficiente para que seus ombros quase se tocassem novamente. Agora frente a frente.
— Eu te observei também — disse ela, a voz baixa. — Você é o mais controlado entre eles. O mais perigoso. Mas tem algo em você que segura... que não deixa sair.
Ele olhou para ela por alguns segundos.
— Você quer ver o que tem por baixo?
— Eu quero ver se você me deixar chegar perto.
Por um momento, a tensão entre eles se tornou palpável. Nenhum se movia, mas havia algo nos olhos dos dois que parecia se atrair como gravidade.
Ela ergueu a mão devagar, sem pressa, e tocou o peito dele — bem sobre o coração. Os olhos de Jongho não se moveram, mas o corpo inteiro pareceu prender a respiração.
— Está acelerado — ela sussurrou.
— Estou vivo — ele respondeu.
Siyeon sorriu, abaixando a mão devagar.
— Então estamos no mesmo barco.
Ela se afastou um pouco, mas sem virar as costas.
— Boa noite, Jongho.
Ele assentiu, ainda parado no mesmo lugar.
— Boa noite, Siyeon.
E ela se foi, descendo para a parte interna do navio, com os passos firmes como sempre… mas com a mente cheia de imagens que ele não sairia tão cedo.
Jongho ficou ali por longos minutos, a respiração lentamente voltando ao normal. O mar seguia calmo. Mas por dentro… a tempestade tinha só começado.
Wooyoung e se encaravam de tempos em tempos, como se ainda competissem mentalmente pelo melhor tempero. beliscava distraidamente alguns pedaços de carne, de pernas cruzadas sobre o banco, enquanto observava San pelo canto do olho com um sorrisinho contido. Yunho e trocavam poucas palavras, mas os olhares entre os dois diziam muito mais do que qualquer conversa. Mingi se sentava ao lado de , que estava quieta, mas com o corpo levemente inclinado na direção dele, como se a presença dele fosse algo que seu corpo reconhecia mesmo quando a mente não admitia.
Jongho, calado, comia em silêncio. ao seu lado fazia o mesmo — mas seus olhos estavam atentos a cada pequena reação dele.
estava sentada à ponta oposta da mesa, em pé de igualdade com o lugar que antes era sempre de Hongjoong. Ela não se desculpava por isso. Era onde a liderança deveria estar.
— Precisamos começar a organizar os próximos passos — ela começou, com a voz firme, olhando para todos. — A aliança está feita, mas não sobrevive sem propósito. O controle das rotas marítimas do sul ainda está em disputa. E temos informação de que um antigo arsenal pode estar intacto em Hwasun.
Um murmúrio percorreu a mesa.
foi a primeira a se manifestar.
— Se for verdade, podemos ter acesso a combustível, munição e peças.
completou:
— E acesso a um porto seguro para reabastecimento.
Mas antes que pudesse continuar, Yeosang cruzou os braços e soltou um comentário seco:
— E onde exatamente entra o Hongjoong nisso?
O ambiente congelou por um segundo. Todos se viraram para ele.
Seonghwa, sentado ao lado dele, não disse nada, mas apoiou a mão no braço do amigo com um olhar claro de apoio.
encarou Yeosang por alguns segundos.
— Hongjoong está ferido. Precisa de repouso. Alguém precisa manter as coisas andando até que ele possa retomar seu posto.
— Isso não te transforma na comandante da nossa tripulação — Yeosang rebateu, sem levantar a voz, mas deixando claro o tom de desafio. — Essa aliança foi feita com base no equilíbrio. Não na dominação.
apoiou os cotovelos na mesa, o olhar cortante fixo nele. A tensão entre os dois era tão densa que quase tinha forma.
— E ninguém aqui está tentando dominar ninguém. Mas se ficarmos esperando ele se levantar, as outras tripulações que vagam por essas águas vão tomar o que era pra ser nosso. Você quer perder território por orgulho?
— Não é orgulho — Yeosang rebateu. — É respeito.
— Então respeite a liderança que está de pé — ela retrucou, a voz um pouco mais baixa, mas cheia de aço. — Ou quer continuar agindo como um adolescente ferido porque sua confiança foi quebrada por uma mulher?
A frase caiu como uma bomba sobre a mesa. Houve um silêncio imediato.
Mingi arregalou os olhos. Wooyoung quase cuspiu a água que estava bebendo. sorriu de canto. nem disfarçou o levantar de sobrancelha.
Yeosang encostou-se lentamente para trás, os olhos fixos nos dela, a mandíbula travada.
— Eu não luto com palavras, . Prefiro deixar que minhas ações falem por mim.
Ela ergueu o queixo levemente.
— Então age. Porque, por enquanto, tudo o que fez foi questionar quem está segurando o navio pra não afundar.
Seonghwa, até então em silêncio, finalmente falou, com a voz calma e precisa:
— Os dois têm razão. Mas não é aqui que vamos decidir quem lidera mais ou quem comanda melhor. A prioridade deve ser a sobrevivência. E para isso, precisamos estar unidos — mesmo que seja por obrigação, não por vontade.
desviou os olhos, respirando fundo.
Yeosang apenas virou o rosto.
A tensão diminuiu — mas não sumiu.
O jantar seguiu com menos conversa e mais pensamentos pesados. Mas a semente havia sido plantada: o equilíbrio era frágil. E por mais que dissessem que eram aliados... ainda existia fogo nos olhos de quem não sabia se estava pronto pra confiar.
Ou se queria mesmo ceder o próprio poder.
— Ei capitão. Seu jantar. — abriu a porta com um dos pés, já que com as duas mãos ela carregava uma bandeja improvisada com o jantar de Hongjoong.
Ele abriu os olhos com certa dificuldade, os remédios usados por Yeosang acabaram derrubando-no um pouco, e claro, a dor ainda era forte, aguda, ele havia perdido sangue, e observou o quão pálido ele ainda estava.
Mas ainda assim ele permanecia bonito, na verdade ela não pode deixar de reparar que ele era um homem bonito, conforme havia ouvido falar.
Hongjoong levou alguns segundos para reagir. Os olhos pesados, meio cerrados pela dor e pelo efeito dos analgésicos, abriram devagar quando ouviu a voz dela. Um leve gemido escapou de seus lábios quando tentou se sentar na cama, apoiando-se com um dos braços enquanto o outro pressionava a lateral ferida.
entrou devagar, fechando a porta com o calcanhar e se aproximando com passos firmes, mas silenciosos. Colocou a bandeja sobre uma pequena mesa lateral e, pela primeira vez desde que tudo havia começado, permitiu-se observá-lo de verdade.
Não como inimigo. Não como aliado. Apenas como homem.
Os fios castanhos, agora desgrenhados pelo suor e pelo repouso forçado, caíam de forma desordenada sobre a testa úmida. O rosto, mesmo pálido, ainda mantinha seus contornos firmes — maxilar marcado, queixo ligeiramente pontudo, os lábios entreabertos pela respiração lenta e irregular. Era um tipo de beleza austera. Não a de um homem que se esforçava para parecer bonito... mas de alguém que simplesmente era.
E mesmo ferido, talvez sobretudo ferido, havia uma vulnerabilidade nele que chamava a atenção.
passou os olhos pelas clavículas expostas sob a camisa aberta, manchada de sangue seco. O curativo improvisado por Yeosang envolvia boa parte do flanco esquerdo dele, e a pele, normalmente morena, estava mais clara do que deveria. Ainda assim, os músculos sob a pele denunciavam força — um tipo de força contida, como pólvora esperando por um estopim.
Ela se deu conta de que havia parado de se mover. Apenas o observava.
Hongjoong finalmente ergueu os olhos e encontrou os dela. Havia cansaço em seu olhar, sim, mas também havia algo mais… algo que reconhecia o silêncio entre eles.
— Vai ficar só encarando assim... ou vai me alimentar também? — ele disse com um meio sorriso, rouco pela dor e pela ironia.
estreitou os olhos, mas não disfarçou o pequeno levantar de canto de boca.
— Eu trouxe comida, não paciência.
Ela pegou uma das tigelas da bandeja e se sentou ao lado da cama, ainda observando enquanto ele lutava para ajustar a postura. O movimento arrancou dele um suspiro contido de dor.
— Você devia ficar deitado — disse ela, num tom quase baixo demais para ser ouvido.
— E você devia continuar me odiando — retrucou, apoiando as costas na cabeceira com dificuldade. — Mas aqui estamos.
olhou para ele por alguns segundos. Depois, pegou a colher, mergulhou no caldo e soprou levemente antes de estendê-la.
— Abre a boca, capitão.
Hongjoong hesitou. Mas então abriu.
E naquele momento simples — entre uma colher de sopa e um silêncio compartilhado — algo invisível começou a mudar. Um território novo foi sendo traçado entre eles. Não com mapas ou armas.
Mas com olhares longos demais.
E vontades que ainda não tinham nome.
Hongjoong engoliu a primeira colherada em silêncio, os olhos ainda presos nos de . Ela, por sua vez, manteve a expressão firme, mas havia algo no modo como segurava a colher — preciso demais, cuidadoso demais — que entregava mais do que gostaria.
— Isso tem gosto de remorso — ele murmurou, limpando os lábios com as costas da mão.
— Tente gratidão. Pode ser um tempero novo pra você.
Ela mergulhou a colher de novo e repetiu o gesto, soprando o caldo com a mesma concentração de antes. Hongjoong inclinou levemente a cabeça, como se estivesse analisando não só a comida, mas o gesto em si.
— Você sempre cuida assim dos seus inimigos feridos? — ele provocou, com a voz ainda arrastada, mas mais firme.
— Só dos que me divertem — respondeu ela, colocando mais uma colher em sua boca.
— Então você se diverte me vendo sangrar?
— Um pouco.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, até que ele soltou um suspiro leve, quase um riso abafado.
— Pensei que me mataria. Naquele convés… achei que você fosse me atravessar de vez.
— Eu também pensei. — Ela não piscou. — Mas tive uma ideia melhor.
— Me manter vivo pra me torturar lentamente?
— Algo assim.
parou por um momento, os olhos voltando a examiná-lo. Agora mais de perto, via com mais clareza a tensão em torno dos olhos dele, a pele fria de febre mal controlada, o corpo que tremia sutilmente quando ele tentava parecer firme. E ainda assim, ele zombava. Provocava.
“Sobrevivente teimoso.”
Ela não pôde evitar o sussurro:
— Você tem sorte de ainda estar aqui.
Hongjoong a encarou. A expressão dele suavizou um pouco.
— E você? Tem sorte de eu não ter forças para discutir.
Ela riu de leve, e por um instante o ar entre eles pareceu mais leve. Mais... humano.
pousou a colher de lado e se levantou, alisando a barra da blusa. Caminhou até o pequeno armário e pegou um pano limpo, voltando em silêncio. Molhou-o com água fresca e, sem pedir permissão, inclinou-se sobre ele e começou a passar o pano pela testa suada.
Hongjoong cerrou os olhos, não pela dor — mas pelo toque. Frio. Suave. Deliberado. Aquilo não era apenas um gesto de cuidado. Era um toque que carregava tudo o que não podia ser dito.
— Você parece outra pessoa agora — ele murmurou, a voz mais baixa.
— Não se acostume.
Ela terminou de limpar o suor e voltou a encará-lo de perto. Os rostos estavam próximos. A respiração dele roçava a pele dela. E por um segundo — longo demais pra ser ignorado — os dois ficaram ali, parados, como se o mundo do lado de fora não existisse.
— … — ele começou, mas não terminou.
Ela se afastou devagar, os olhos ainda nele, mas o corpo recuando.
— Descanse. Amanhã o mar volta a exigir decisões.
E com isso, virou-se e caminhou até a porta.
Antes de sair, porém, ela parou, ainda de costas para ele.
— E se tiver sorte de novo… talvez eu volte com sobremesa.
E então saiu, sem dar a ele a chance de responder.
Hongjoong permaneceu ali, olhando para a porta fechada, o peito subindo e descendo devagar. Não sabia o que doía mais: o ferimento em seu corpo… ou a vontade crescente de vê-la voltar.
O som da porta se fechando atrás de si ecoou mais alto do que deveria no corredor estreito. permaneceu parada por um momento, as costas ainda voltadas para o quarto, os olhos fixos no vazio à frente. O pano úmido ainda estava em sua mão, esquecida, como se o toque recente na pele quente de Hongjoong tivesse deixado vestígios invisíveis em seus próprios dedos.
Respirou fundo.
Mas não ajudou.
O cheiro dele ainda estava ali.
A imagem dos olhos dele — meio fechados, meio atentos — ainda queimava atrás das pálpebras.
E o pior de tudo: o som da voz dele continuava ecoando por dentro, rouca, lenta, desarmada.
Ela caminhou até o final do corredor e apoiou as mãos na amurada, encarando o mar escuro sob a luz fraca da lua. O ar da noite era mais frio ali, mais real. Tentava usar isso pra esfriar os pensamentos.
Mas não adiantava.
Ela conhecia os efeitos da adrenalina. Da guerra. Do poder. Sabia que, às vezes, um corpo em estado de combate confunde tensão com desejo. Sabia racionalizar tudo — sempre soube.
Mas não era isso.
Não só isso.
— Ele te pegou de jeito, não foi?
A voz leve e maliciosa atrás dela quebrou seu transe. virou-se devagar e encontrou encostada na parede lateral, os braços cruzados e o rosto parcialmente iluminado pelo luar. A expressão dela era curiosa… mas também cúmplice.
— Do que você tá falando? — perguntou, voltando o olhar pro mar.
— Do jeito que saiu do quarto dele — respondeu, aproximando-se aos poucos. — Seus passos são sempre firmes. Decididos. Mas agora… pareciam hesitantes. Quase... confusos.
soltou um riso curto, sem graça.
— Está imaginando coisas.
se apoiou ao lado dela na amurada, os olhos fixos no horizonte também.
— Talvez. Mas eu conheço esse tipo de silêncio. O silêncio que fica quando a gente sente algo que não deveria.
permaneceu calada, o maxilar tenso. A brisa noturna agitava seus cabelos soltos e expunha a pele arrepiada dos braços. Mas não era o frio. Não mais.
— Ele é... irritante — murmurou, por fim. — Teimoso. Arrogante. E mesmo sangrando, não cala a boca.
— Mas tem olhos bonitos — completou , sorrindo.
olhou de relance para ela, tentando conter o início de um sorriso também.
— Você deveria estar dormindo.
— E você deveria estar odiando ele.
Silêncio.
inclinou o corpo um pouco mais, a voz agora mais baixa, quase um sussurro.
— Vai se permitir sentir... ou vai cortar isso pela raiz?
respirou fundo. Sentiu o sal do mar se misturar à vontade de responder com firmeza, como sempre fazia. Mas não respondeu. Porque, pela primeira vez, não tinha certeza.
pousou a mão no braço dela, num gesto rápido de apoio.
— Cuidado, . Às vezes o que parece fraqueza… é só um outro tipo de força.
E com isso, afastou-se com a mesma leveza com que surgiu, sumindo no corredor.
ficou sozinha de novo. Mas agora, com a certeza de que havia alguém observando — e entendendo — o que nem ela estava pronta pra dizer em voz alta.
E, ao longe, atrás da porta fechada, Hongjoong dormia… sem saber que tinha deixado uma ferida nova no corpo de sua rival.
Uma que nenhum curativo seria capaz de fechar.
As Serpentes de Prata deixaram o navio dos Corvos do Abismo em silêncio — um silêncio espesso, estranho, incômodo.
Não era algo comum vindo delas.
Acostumadas a caminhar em grupo como tempestade, as sete mulheres preenchiam os espaços com sua presença marcante: risadas altas, passos confiantes, conversas cruzadas e olhares que intimidavam até o mais destemido dos piratas. Elas não apenas chegavam — elas tomavam conta. Onde uma estava, todas estavam. E onde todas estavam, o ambiente mudava.
Mas naquela noite, ao cruzarem o convés em direção ao próprio navio, não houve piadas, nem provocações.
Nem mesmo o som ritmado das botas ecoou com a mesma arrogância habitual.
ajeitava as luvas com os olhos baixos. seguia de braços cruzados, séria. sequer olhou para trás. mantinha a expressão fechada, mas os ombros denunciavam tensão. parecia distante, distraída. andava com passos mais lentos do que o normal, como se carregasse algo nos ombros além do peso das armas. E , sempre a primeira a erguer o queixo e liderar com a voz, seguiu em silêncio absoluto — o olhar fixo no horizonte, como se cada passo fosse uma linha desenhada com precisão demais para admitir hesitação.
A ausência de som era quase ensurdecedora. Os homens do navio — normalmente aliviados com a partida delas — agora trocavam olhares confusos, desconcertados.
San, que costumava zombar de , apenas as observou partir, com a testa levemente franzida. Wooyoung, geralmente o primeiro a provocar , sequer abriu a boca. Yunho manteve o olhar em , como se tentasse decifrar o que havia mudado desde a noite anterior. Mingi olhou discretamente para , o maxilar tenso. Jongho e cruzaram olhares por um breve instante — e ambos desviaram ao mesmo tempo. Seonghwa, atento como sempre, observava tudo em silêncio, enquanto Yeosang mantinha os braços cruzados, os olhos seguindo até que ela sumisse do campo de visão.
Era como se uma tempestade houvesse passado, e os destroços não fossem visíveis… mas todos soubessem que algo havia se quebrado.
Ou talvez algo tivesse começado a se formar. Algo que ninguém — nem mesmo elas — estava pronto para nomear.
— Acho que precisamos de álcool — Jongho quebrou o silêncio enquanto voltava para a aprte de dentro do navio, mas parou antes de entrar, ao reparar nos amigos observando o horizonte em silêncio — Vamos, cambada! Precisamos beber um pouco e colocar tudo que está nos incomodando para fora.
Aos poucos os piratas começaram a se mover, vagarosamente em direção ao mais novo. O primeiro foi Yunho, logo depois San, Mingi, Wooyoung, Seonghwa e por último Yeosang.
Jongho terminou de servir os amigos com uma dose caprichada de uísque que ficava sempre disponível na estante que decorava a sala do navio. Os sete homens, — sem a presença do capitão, estavam jogados no pequeno sofá, que cabia apenas quatro deles e espalhados pelo tapete de pele de algum animal que haviam matado durante alguma batalha qualquer.
Wooyoung foi o primeiro a quebrar o silêncio:
— Vocês acharam que íamos perder? Em algum momento daquela batalha? Sejam sinceros…
O estalo do gelo no copo de Mingi respondeu antes das palavras. Ele tomou um gole generoso antes de soltar, com o olhar perdido no teto:
— Quando a cravou a espada no Hongjoong, eu... não sabia se era o fim da luta ou o começo de outra muito pior.
San, que estava esparramado no canto do sofá com um dos braços por cima do encosto, bufou e ergueu o copo.
— Eu sabia que elas eram rápidas. Mas não daquele jeito. Aquela mulher, a ... — ele fez uma pausa curta, sem completar o pensamento, apenas sorvendo o uísque com olhos semicerrados.
— É. A me desarmou sem nem bagunçar o cabelo — Yunho comentou, sentado com as costas encostadas na lateral do sofá e as pernas estendidas no tapete. — E o pior é que ela ainda me olhou como se estivesse entediada.
Jongho, mais calado do que o habitual, se acomodou no chão com a garrafa na mão. Enchia os copos quando preciso, mas não dizia nada. Até invadir os pensamentos. E desde então… silêncio demais.
— O problema — disse Yeosang, por fim, com o copo entre os dedos e os olhos cravados no líquido âmbar — é que nós subestimamos elas. Todos nós. Achamos que estávamos no controle. Que éramos os donos do convés.
— E não estávamos? — Wooyoung rebateu, apesar da ironia mais branda no tom. — A gente ainda tá aqui, e elas voltaram pro navio delas.
Seonghwa, sentado com elegância no braço do sofá, respondeu com calma:
— Elas voltaram porque quiseram. Não porque nos venceram.
O silêncio se impôs de novo. Dessa vez mais pesado.
Jongho ergueu o copo e falou pela primeira vez:
— Elas não lutam pra impressionar. Nem pra provar nada. Elas lutam porque sabem que, se não forem as mais fortes, viram história. E não do tipo que alguém vai lembrar.
As palavras dele ficaram ali, flutuando. Verdadeiras demais.
Mingi riu de canto, tentando aliviar a tensão:
— Tá poético hoje, hein, Jongho.
— Não é poesia. É constatação.
San olhou para os amigos, o copo agora vazio.
— Então o que a gente faz agora?
Yeosang foi o primeiro a responder:
— Espera o Hongjoong melhorar. E observa. Muito.
— E se a gente acabar ficando... do lado errado disso tudo? — perguntou Yunho, sem olhar pra ninguém.
Dessa vez, foi Seonghwa quem respondeu com um tom mais firme:
— Então mudamos o lado. Mas nunca traímos a tripulação.
Todos assentiram. Não era uma conversa qualquer. Era o tipo de conversa que moldava os próximos dias. As próximas decisões.
— Um brinde — disse Wooyoung, levantando o copo. — Aos erros, às surpresas... e às mulheres que não vieram pra brincar.
— Nem pra obedecer — completou Mingi, tocando o copo no dele.
Um a um, os Corvos brindaram. Um gesto simples, mas carregado de algo que todos sentiam e ninguém sabia nomear: admiração? receio? desejo?
Ou talvez apenas a certeza de que aquela aliança mudaria tudo.
Mesmo que nenhum deles estivesse pronto para admitir… que já havia mudado.
O som abafado dos copos se encontrando ainda ecoava pelo cômodo quando a porta da sala rangeu lentamente. Não foi com força, não foi com pressa — mas com o peso de alguém lutando contra a própria limitação.
Todos os olhares se voltaram ao mesmo tempo.
Hongjoong.
A figura magra e pálida do capitão surgiu na moldura da porta, uma mão agarrada ao batente e a outra pressionada contra o curativo no flanco esquerdo. Ele vestia uma camisa fina, aberta até a metade, suada e manchada em alguns pontos. Os cabelos colados na testa denunciavam o esforço. Mas os olhos… os olhos dele ainda estavam ali. Firmes. Penetrantes. Com aquele brilho característico de quem, mesmo ao meio da tempestade, ainda é o homem no leme.
Yeosang foi o primeiro a levantar-se de imediato.
— Você deveria estar deitado, hyung.
Hongjoong ergueu uma das mãos, como se silenciasse não apenas Yeosang, mas o mundo inteiro.
— Já estou deitado há tempo demais.
Mingi levantou-se em dois passos e segurou o braço livre do capitão, apoiando-o sem dizer nada. Seonghwa puxou uma das cadeiras mais confortáveis, e Jongho encheu outro copo de uísque antes mesmo que ele sentasse.
Hongjoong deixou-se cair na poltrona com um gemido baixo, a testa suada, os dentes cerrados. Mas não reclamou. Apenas pegou o copo da mão de Jongho e tomou um gole direto, sem respirar.
O silêncio que se seguiu foi respeitoso, carregado de alívio e reverência.
— Estavam falando de mim? — ele perguntou por fim, o tom mais arrastado, mas com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Estávamos falando delas — disse Wooyoung, direto.
— Mesma coisa — completou San, jogando uma amendoim na boca.
Hongjoong soltou um leve riso nasal. Depois olhou para todos os rostos à sua volta.
— E chegaram a alguma conclusão?
Yeosang pigarreou, cruzando os braços.
— Que elas são perigosas. E que a aliança é frágil, mas... talvez necessária.
— Que a gente não pode subestimá-las nunca mais — disse Jongho, sério.
— E que você devia ter nos chamado pro convés quando levou aquela espadada — murmurou Wooyoung, meio sério, meio brincando.
Hongjoong riu de leve, depois fechou os olhos por um instante.
— Eu chamei, só não foi em voz alta.
Todos riram. Um riso curto, aliviado. Porque ele estava ali. Porque ainda era ele.
Seonghwa observava de forma mais analítica, mas com uma ponta de orgulho no olhar. Mingi, agora sentado no chão ao lado do capitão, o encarava com respeito silencioso.
Hongjoong então abriu os olhos e olhou para o teto por um tempo.
— Eu não gosto de dividir o navio. Nem decisões. Mas… essa guerra não é mais só nossa. E talvez esteja na hora de aprendermos a lidar com outras forças.
Yeosang franziu o cenho.
— Você quer ceder?
O capitão virou o rosto devagar, olhando nos olhos do amigo.
— Não. Eu quero vencer. E pra isso… talvez seja hora de admitir que força não é mais a única coisa que nos mantém vivos.
Silêncio.
Wooyoung ergueu o copo.
— Ao velho mundo que ficou pra trás… e ao novo, que já começou.
Todos brindaram. Até Hongjoong, com as mãos ainda trêmulas. Porque ele sabia. Eles todos sabiam.
As Serpentes de Prata não tinham apenas invadido o navio.
Tinham invadido o curso da história.
E ninguém ali sairia o mesmo depois disso.
— Bom dia piratas. — A voz grave de ecoou nos ouvidos de Yeosang e Seonghwa.
Os dois que estava ajustando os mastros do navio dos Corvos, ergueram os olhos para ela, mas somente Seoghwa respondeu:
— Bom dia capitã. — A voz dele soou meio amarga, o que fez soltar uma gargalhada rápida
— Pode me deixar a sós com esse docinho aí ao seu lado?
Yeosang voltou a olhar para ela, a cara de poucos amigos de sempre, os cabelos vermelhos sendo tocados pelo vento. Os músculos dele tencionaram automáticamente quando Seonghwa assentiu e olhou para ele.
— Juízo vocês dois. — murmurou Seonghwa, antes de se afastar lentamente, como se já soubesse que aquele "diálogo" tinha mais a ver com disputa do que com diplomacia.
Yeosang permaneceu de costas para por alguns segundos, a mandíbula travada, os dedos ainda firmes na corda do mastro, como se ela fosse a única coisa que o mantinha no controle.
— Vai me dizer que veio conversar, não provocar — ele disse enfim, sem virar o rosto.
— Posso fazer os dois — respondeu , já descendo os degraus que levavam até onde ele estava, o som das botas ecoando firmes. — Não sou muito de seguir uma regra só.
Yeosang bufou, soltando a corda com mais força do que deveria. Por fim, virou-se para encará-la. Os olhos dourado-escuros o fitavam com algo entre irritação e algo que ele preferia não nomear.
— Você quer que eu te aceite como o quê, exatamente?
— Como líder. Parceira. Capitã temporária. Escolha o título que quiser, docinho — disse ela, aproximando-se mais um passo, cruzando os braços. — Mas aceita.
— Você não entende. Isso aqui — ele gesticulou ao redor, o navio, o mar — é dele. Do Hongjoong. E mesmo ferido, ele ainda é o centro disso tudo.
— E eu não tô tentando tirar isso dele — rebateu , a voz baixa e firme. — Só estou mantendo esta merda flutuando até ele poder remar de novo. Se você não consegue ver isso… então está mais cego do que pensei.
Yeosang fechou o punho por um instante, mas se conteve. Ela se aproximava mais a cada frase, como se testasse não só os limites da conversa, mas os dele. E ele odiava admitir — mas aquilo o deixava em alerta. No pior e no melhor sentido.
— Eu luto por e com ele — disse ele, devagar. — Não por você.
— Então lute por ele me respeitando — ela retrucou, agora a apenas um passo de distância.
Os olhares se encontraram. O vento jogava os cabelos vermelhos dele de um lado, os escuros dela do outro. Era como se o ar entre eles vibrasse. Como se aquele fosse o verdadeiro campo de batalha.
— Você tem resposta pra tudo, não é? — ele perguntou, a voz mais baixa, mais contida.
— Não. Mas tenho coragem pra falar o que precisa ser dito.
Yeosang encarou-a por mais alguns segundos. E então, deu um passo à frente.
Agora, estavam perto demais. Tão perto que qualquer palavra poderia ser substituída por um movimento. Tão perto que o cheiro dela — sal, couro, metal, algo doce e distante — o atingiu antes que ele pudesse se proteger.
— Você provoca — ele disse.
— E você recua — ela devolveu.
O olhar dele caiu brevemente para os lábios dela. Ela notou.
não se mexeu. Só ergueu um pouco o rosto, desafiando-o. O vento parecia ter cessado, o mundo parecia ter parado. Apenas o som do mar ao fundo ainda lembrava que havia algo além daquele instante.
Yeosang ergueu a mão. Tocou levemente o maxilar dela com os dedos enfaixados, quase sem encostar. Mas o quase já era o suficiente para acelerar tudo por dentro.
— Eu não vou me render a você — ele sussurrou.
— Não quero rendição — respondeu ela, quase sem voz. — Só quero que pare de fugir.
O nariz dele roçou o dela por um instante.
Quase…
Mas então ele fechou os olhos, respirou fundo, e deu um passo para trás.
— Cuidado, capitã — disse, num tom que misturava ironia e sinceridade. — Se chegar tão perto, pode se queimar.
sorriu de canto, fria e felina.
— Eu sou o fogo, Yeosang.
E então virou-se, deixando-o ali, sozinho entre as cordas, o vento e uma vontade absurda de voltar o tempo cinco segundos… só pra ver o que aconteceria se não tivesse recuado.
— Ainda respirando?
A voz tranquila e precisa de Seonghwa surgiu atrás dele, fazendo Yeosang quase saltar. O mais velho se aproximou com um cantil na mão e o olhar atento de quem viu mais do que deveria.
— Vai me dizer que não ouviu nada disso? — Yeosang perguntou, pegando o cantil e bebendo sem esperar permissão.
— Eu vi vocês de cima, pela vela principal. Não ouvi tudo. Mas vi o suficiente pra saber que você saiu perdendo alguma coisa ali.
Yeosang limpou a boca com o dorso da mão e devolveu o cantil.
— Ela me irrita.
— Ela te desafia — corrigiu Seonghwa, se encostando ao mastro ao lado. — E você não sabe o que fazer com isso.
— Ela quer dominar tudo.
— Ou talvez só queira ser ouvida.
Yeosang virou o rosto, encarando o mar ao longe. Seus olhos não piscavam, mas seu maxilar ainda estava tenso.
— Não posso ceder, hyung. Se eu ceder, tudo isso vira bagunça. O navio vira dela. O respeito vira dela.
Seonghwa ficou em silêncio por alguns segundos antes de dizer:
— E o seu orgulho... também vira dela?
Yeosang fechou os olhos.
— Eu não confio nela.
— Então olha de novo — disse Seonghwa, sério agora. — Porque às vezes, quem mais desafia... é quem mais está tentando ficar.
Yeosang permaneceu calado.
Seonghwa deu um leve tapinha no ombro dele e se afastou em direção à escada que levava ao interior do navio.
Antes de desaparecer, disse sem virar o rosto:
— Mas se quiser continuar se enganando, posso mandar alguém ajustar os mastros por você.
E sumiu.
Yeosang respirou fundo, apoiou-se na amurada e sentiu o vento mais frio contra o rosto. Queria que isso apagasse o calor da lembrança.
Mas não apagou.
Continua...
Nota da autora: Sem nota!
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