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Codificada por: Cleópatra

Finalizada em: 22/07/2024
— Se preparem para partir! Cuidado com o material! Tem muito dinheiro em equipamento dentro dessas caixas, se algo acontecer será tirado do bolso de vocês. Você aí, acha que eu não vi que soltou a caixa descuidadamente?
— Professor se acalme, vai estourar uma veia antes de sequer navegar — coloquei uma caixa no chão do convés com cuidado.
Ergui os olhos para o céu, fazendo sombra para conseguir observar o céu azul sem nuvens e o sol intenso, a brisa estava morna com um cheiro salgada e soprava do mar calmo. Limpei o suor da testa e me apoiei na borda do barco vendo os últimos equipamentos sendo carregados. Faltava pouco para partir.
Coloquei a mão no bolso, e puxei uma moeda dourada. Disforme, com o desenho de um soldado ao lado de três círculos. Um tesouro que meu avô disse pertencer à perdida, e lendária cidade de Atlântida.
A água sempre esteve no centro dos maiores mistérios do mundo, do surgir da vida às criaturas escondidas nas sombras das suas profundezas. Desde o começo das eras um livro cheio de memórias indecifráveis, inspirador de mitos e fantasias. Delicado, e equilibrado a perfeição, prendendo em suas ondas um poder altamente destrutível e completamente imprevisível. Oceano inquieto, e ainda assim, maravilhoso.
Esfreguei o relevo da moeda com o dedo, foram cinco anos pesquisando e procurando investidores para conseguir realizar uma expedição. Com o apoio de satélites e toda a tecnologia que conseguimos decidimos um local, e após dias testando é hoje que mergulhamos para valer.
— E aí gata, pronta para ficar rica?
— Nila — cumprimentei a nossa operadora de equipamentos e geóloga. Os cabelos curtos de um tom de azul brilhavam como nunca, a pele acobreada quase fazia dela uma musa. A garota tirou os óculos escuros pendurado na gola na regata branca, o colocando sobre os olhos.
— Para alguém que está esperando por isso a tantos anos, não parece muito animada.
— Ainda não parece real — respondi —, tudo que a humanidade sabe sobre Atlântida vem de um punhado de páginas escritas por Platão. Quantas pessoas já a procuraram e não tiveram uma resposta concreta?
— Mas eles não me tinham no time, ou meus sonares olhando todo o leito — a garota lançou um sorriso para mim —, falando em olhar…
Sua voz se tornou baixa e Nila pediu para eu abaixar.
— Se eu fosse você daria uma boa analisada no capitão do navio — disse quase num sussurro —, ele faz seu tipo.
A empurrei para longe e guardei a moeda de volta no bolso — Viemos aqui para trabalhar, então coloque sua bunda na cabine e confira os modelos 3D. Professor Kailan! Todo o equipamento já foi carregado!
Acenei para o homem que estava no segundo andar do barco mudando repentinamente de assunto, o capitão parecia estar ali também. Não cheguei a ver seu rosto, apenas as costas largas e os cabelos escuros.
Minha consciência me alertou para manter o foco, então, logo desviei os olhos para o oceano atlântico cintilante que estávamos prestes a navegar. Aproveitei essa partida para trocar minhas vestes de mergulho e revisar as informações que tinha.
Além das colunas de Hércules, entre montanhas, rica em habitantes, rios e lagos. Existia uma ilha insular com anéis terrestres e portos circulares. É lá que reside o verdadeiro mar, a terra que deve ser chamada de continente. Nessa terra chamada Atlântida, vivem muitos reis que governam para além do continente. Com revelado poderio de valentia e força, se destacou entre os povos na coragem e nas artes da guerra. Vitória sempre os contemplando ao dominar quem os atacava.
Junto de tanta grandeza, um sismo em proporção, um dilúvio que caiu numa noite e um povo engolido de única vez pela terra. Atlântida desapareceu de igual forma, afundada no mar.
Essas palavras de Platão foi o que inflamou pesquisadores através dos séculos para ir atrás da cidade perdida. Que inspirou histórias e levou do mar para terra inúmeras histórias de fantasia.
— Certo — professor Kailan bateu uma palma — Nila, me explique de novo como funciona.
— Estou usando um sonar de varredura lateral, ele tem dois transdutores. Ondas sonoras são emitidas e batem no fundo do mar, o sinal volta direto para o computador mapeando para imagem qualquer anomalia.
— Ótimo, quanto tempo?
— Ainda 30 minutos para nos aproximarmos das coordenadas, Nila pode colocar o sonar na água em quinze e começar a testar.
Kailan esfregou as mãos e ajeitou os óculos, abaixando os fios grisalhos no topo da cabeça. Já na casa dos seus 60 anos, o professor de arqueologia marinha tinha uma figura esbelta e levemente curvada para frente. Sem esposa ou filhos, dedicou sua vida aos estudos de civilizações antigas. Depois que o contatei para apresentar minha tese sobre Atlântida, nunca mais ficamos sem nos falar.
Enquanto meu pai verdadeiro despreza minha profissão e chama de bobagem, o professor se anima e debate acaloradamente as mais diversas teorias e conspirações sobre a cidade perdida.
Apesar de sentir falta de um apoio familiar, não posso culpar o primeiro, seu ressentimento é justificado. A vontade e a paixão que tenho pelo mito de Atlântida veio de meu avô que passou a vida no mar, quando forçado a deixar as ondas para trás foi tomado por delírios deixando de reconhecer a própria família e resmungando com vozes invisíveis suas descobertas imaginárias.
Assim como o primeiro, já nos últimos meses de vida de meu avô também sofri com suas crises e palavras raivosas, motivadas pela mente deturpada. Porém, mais importante do que as chateações causadas, prefiro me lembrar dos sonhos criados vendo as ondas quebrarem na areia em frente sua pequena casa de praia. Se não fossem aqueles dias repletos de magia, não estaria onde estou hoje.
— Temos imagens aparecendo — Nila gritou —, embora eu ache que são apenas rochas na areia.
Me aproximei de onde a garota estava e olhei o monitor. Eram imagens de bordas arredondadas com tamanhos diferentes e distância aleatórias — Provavelmente.
— Algo feito por mãos humanas teria mais consistência, retângulos e espaçamentos — apontei para a tela — Até mesmo formas geométricas precisas. Pelo menos dá para conferir que o SALT está funcionando.
— É claro que está — bateu na minha perna pedindo para sair da frente de sua mochila, pegando um caderno cheios de coordenadas marinhas —, ainda estamos nos aproximando da onde pegamos as evidências maiores da última vez.
Nila puxou um lápis do miolo e em seguida o colocou atrás da orelha, aproximando o rosto da tela. Nas folhas surradas pelo sol e respingos de mar haviam descrições precisas das formas mapeadas previamente. A geógrafa conferia minuciosamente os dados para garantir que estamos no caminho certo e também nenhuma estrutura passou desapercebida.
— Estamos nos aproximando do local principal, está vendo como as formas estão se tornando mais únicas? Isso é realmente intrigante — comentou — espera um pouco… Isso aqui não estava aqui antes.
A garota levantou os óculos escuros e em seguida traçou a tela com o dedo, me aproximei para ver o que chamou sua atenção, eram algumas linhas com um aparente erro. Algo parecido como um erro de leitura que fez surgir pequenos quadrados escuros. Em simultâneo, escutei soar dos céus, um trovão.
Ergui a cabeça para ver algumas nuvens se formando, por enquanto, não o suficiente para realizar uma tempestade. O que fazia os barulhos soarem ainda mais peculiares.
— Que merda é essa? — Nila também olhou para cima, chacoalhando os ombros, os esfregando em seguida.
— Deve ter sido apenas um glitch — afirmei.
— Estou com calafrios , não tenho uma sensação como essa desde que fui ao triângulo das bermudas para conduzir meu doutorado.
Baguncei seus cabelos — É psicológico, mantenha os olhos na tela, devemos parar em pouco tempo.
Respirei fundo ainda olhando para os céus, um vento soprou forte me fazendo virar o rosto. Apesar de não dividir as mesmas crenças com Nila, a mudança repentina de tempo não estava prevista, porém, se fosse de alguma maneira prejudicial à marinha local iria nos avisar.
— O que a criança está reclamando? — professor Kailan gritou do segundo andar do barco.
— Nada professor — ela mesma respondeu em alta voz mandando um sinal de joia com o dedo, resmungando entre os dentes de forma baixa para ele não ouvir —, nada mesmo. Diga ao capitão para começar a diminuir a velocidade estamos nos aproximando do local secreto.
Nila mudou a voz nas últimas palavras dando um ar de teoria da conspiração, prendi os cabelos, e terminei de vestir o equipamento de mergulho. Eventualmente o barco foi parando e conforme chegamos no local, consegui ver nas imagens as rochas que pareciam paredes se desenhando.
Parte do que Platão descreveu, círculos concêntricos que formavam uma cidade rodeada e água e um único canal.
— Está pronta? — Kailan perguntou se aproximando.
— Como nunca estive antes — guardei a moeda num bolso especial que ficava amarrado a câmera. Testei o oxigênio e verifiquei as demais medições para garantir que não iria morrer sem ar ou ter a cabeça explodindo pela pressão.
— Quando quiser então — o homem bateu no meu ombro.
Em seguida, depois de respirar fundo e olhar para o horizonte, dei um passo para fora do barco deixando o corpo cair na água. Alguns minutos para me acostumar e então testar o rádio de comunicação e a imagem da câmera.
— Tudo ótimo — Nila levantou a mão — pode ir e fazer a sua coisa.
Mordi a válvula de oxigênio, e deixei o corpo afundar. Nem mesmo peixes havia por ali, apenas uma imensidão azul que ficava mais escura na distância. Acima da minha cabeça para ver somente o casco do barco e a superfície.
Lentamente me aproximei dos discos que eram tão estranhos nas imagens.
Bom, muito bom, nos dê uma imagem mais próxima , a parecem ser restos seccionais de colunas.
Me aproximei das pedras empilhadas no leito procurando exatamente o que ele queria, havia uma possibilidade de serem pedras de moinho — talvez da Idade Romana —, iria depender se no centro haviam quadrados ou círculos.
Para colunas o espaço quadrado no meio das sessões servia para manter a estrutura, é dessa maneira que eram construídas. O motivo para serem quadradas é para evitar se moverem conforme o tempo passasse, pois tinham um centro de madeira. Não parecia ser colunas, como estavam empilhadas era difícil encontrar alguma que mostrasse com clareza o centro.
-
O som parou, cortando a voz do professor. Virei para cima e vi um imenso clarão, esperei para receber uma nova mensagem. Mas não recebi nada.
Foi então que senti as correntes mudando, é difícil de me manter no lugar quanto o próprio oceano está me empurrando para longe do barco. Precisei usar a corrente da âncora para subir, no meio do caminho minha visibilidade caiu e precisando fazer força para me manter e usando mais oxigênio.
Foi nesse instante, num lapso de visão, que vi cintilar de leve com a pouca luz que chegava até ali, a moeda de ouro afundando em direção às ruínas.
Temps- barc- agora-
O oxigênio é suficiente, a força da corrente é o principal problema. Kailan teria que me desculpar, mas não posso perder aquele tesouro e deixar ser engolido pelo atlântico. Ignorando qualquer aviso, voltei a afundar mergulhando atrás do círculo dourado.
Para o meu azar, ele foi pego na corrente e acabou muito mais longe do que a posição original do barco, e da âncora. Os clarões de possíveis raios ainda iluminavam a superfície, e a distância se tornou uma preocupação.
Tentando usar as pedras no fundo, me puxei voltando para a corrente. Porém, a minha sorte continuava a se provar inexistente. Uma das nadadeiras prendeu numa fenda entre rochas, enquanto lutando contra a onde que tentava me afastar e soltar o pé, não percebi a âncora que se soltou. Recebi apenas a dor da batida, que arrancou de mim parte do equipamento e me fez soltar o pouco que mantinha próxima da embarcação.
Se até então estava tentando manter a calma, no momento que vi oxigênio vazar do cabo, perdi completamente a racionalidade. Tentei me livrar os itens mais pesados como a câmera e alguns medidores. Pressionei o furo, para manter o oxigênio circulando e tentei emergir o mais rápido possível.
O colete salva-vidas não inflou, ansiedade começou a se rastejar no fundo da minha mente, sussurrando venenos em voz baixas, reafirmando algo que eu já sabia. O mar é traiçoeiro, isso também se aplica ao fundo dele.
Forçava as pernas a ponto de sentir os músculos contraindo abaixo da roupa de mergulho, mas a superfície parecia como um sonho distante. Não tinha muito oxigênio, apesar de estar tentando segurar, uma boa parte vazou entre os dedos. Minha visão estava embaçada e por mais que esticasse as mãos em direção à embarcação, o corpo não saía do lugar.
Tomei no último fôlego de oxigênio, os últimos traços de força e nadei como nunca. Brigando contra a força da água e a pressão, lutando com o velho mar para manter a vida. Infelizmente, vontade não vale nada, da realização de um sonho a uma sepultura sub-aquática.
Me agarrei a moeda a medida que escuridão vinha para me abraçar, tendo como última visão a superfície turbulenta.




Minha cabeça estava pesada, pulsava intensamente, doía como se tivesse levado uma pancada. O último momento da minha lembrança, era de desespero. A água que invadiu meu pulmão e impediu de respirar, o ar que não vinha, a tosse que não tinha vento e o golfo de ar que colocava para dentro ainda mais água salgada e areia.
Me virei para o lado ainda sem ter pleno controle sob meus sentidos, estava deitada sobre uma superfície macia e sedosa, a claridade me impediu de abrir os olhos, mas o ar estava um pouco frio e parecia naturalmente úmido.
— Senhorita! Pelo amor aos corais, está viva! Rápido chamem o curandeiro da corte, mandem as enguias mensageiras para o rei!
— Quê? — as imagens ainda estavam embaçadas, eram apenas borrões de cores e silhuetas disformes, inevitavelmente se aproximaram. No susto, sem saber o que estava acontecendo, sai da cama ainda sentindo o corpo vacilar e então os joelhos cederem. As mãos tentaram agarrar algo para se segurar, mas tudo que consegui pegar fora um tecido mole que parecia ser a toalha de uma mesa. Levando junto ao chão tudo que estava em cima dela.
Dessa vez, além da dor da batida também tinha aquelas feitas pelos cacos que voaram para todos os lados.
— Senhorita! — uma voz estridente e jovial se aproximou, meu rosto foi segurado entre duas mãos frias e depois de um sopro que pareceu o vento que precede a chuva. Vinha visão voltou, e quando isso aconteceu um grito rompeu minha garganta.
A criatura que tinha tocava meu rosto tinha a pele azulada, no topo da testa sua pele era de um tom de azul-escuro que ficava gradualmente mais claro a medida que descia em direção ao queixo e se fixava num tom claro. Olhos como algas luminescentes e cílios brancos como a espuma do mar. Dentre os cabelos longos e escuros, guelras nasciam, uma para cada lado da cabeça, onde um humano normalmente teria os ouvidos.
Seu rosto foi tomado por tristeza, e imediatamente a figura me soltou franzindo o cenho e parecendo preocupada.
Olhei para baixo, sobre as pernas tomadas de pequenos cortes havia também um tecido leve azul e branco com bordados espiralados com fios de outro. Transparente como a nascente de um rio imaculado, enfeitados com conchas e pérolas igualmente alvas.
Minha respiração acelerou e levantei as mãos, havia uma cicatriz na costa da minha mão esquerda que nunca estivera ali antes. Novamente um pulsar intenso na cabeça que arrancou dos meus lábios um sibilo de dor, de alguma forma tudo aquilo parecia familiar como um sonho distante a muito escondido no inconsciente.
Foi então que as portas duplas do quarto se abriram num estrondo, por ela passou um homem de peito nu. Havia um tecido de aparência escamosa e cintilante amarrada na cintura, porém o mais impressionante era o tridente que tinha em mãos. A criatura que estava ao meu lado abriu passagem e o homem se ajoelhou na minha frente, os cabelos escuros como o fundo do oceano estavam envoltos numa rica coroa de conchas e prata porém o que me prendeu e roubou as falas da língua foram seus olhos, brilhantes como o mais puro ouro.
— O que estão fazendo parados? — a voz pareceu fazer as paredes tremerem e o ar se revolver tamanha força presente — Onde está o curandeiro?
— A caminho majestade.
Ele soltou o tridente que pareceu ficar parado no ar e se abaixou fazendo uma menção de me pegar no colo, tentei o afastar, mas de novo uma dor de cabeça intensa me acometeu. Me forçando a curvar o corpo para frente sem ter o que fazer quando ele me tomou nos braços, levando de volta para a cama.
Diferente do outro toque, esse era quente e firme. Contra a minha pele fria se tornou um apaziguador.
— Curandeiro Nereid e a Sacerdotisa Thalassa se apresentando majestade. Benção a onda eterna e honra ao mar vivo.
Essa pequena frase, me fez paralisar completamente. Ergui a cabeça para o homem que ainda me segurava pelos ombros.
— Poseidon?
O franzido em sua testa suavizou e a cabeça se inclinou em minha direção para um beijo repentino, ele segurou a lateral do meu pescoço, o indicador se curvando nos cabelos da minha nuca. Havia um desejo de deixar o contato mais profundo do que um simples tocar de lábios, mas parecendo usar de todo seu controle se afastou mantendo o rosto próximo ao meu.
— Ao menos se lembra do meu nome.
Dentro da boca mordi a língua, e aquela dor também era real. Demorou um pouco, mas eu sabia exatamente o cenário em que eu me encontrava.
“Benção a onda eterna e honra ao mar vivo”, é uma frase característica de um livro. Um dos meus favoritos. Não é incomum encontrar autores que exploram o campo do romance entre os deuses gregos e humanos modernos, essa em particular, tinha como protagonista também uma arqueóloga. O enredo, que usa minha profissão como ponto-chave, me trouxe um nível mais profundo de identificação com os personagens que também estavam explorando o oceano.
A protagonista se chama May, uma arqueóloga marinha que foi convidada a participar de uma expedição sub-aquática para explorar destroços de um recém-descoberto navio milenar nas águas profundas além do Mar Mediterrâneo. Durante essa descida, o grupo foi atacado por uma criatura desconhecida e gigantesca, a falha nos equipamentos do submarino e a distância da superfície os força a encontrar uma alternativa.
Uma caverna com um bolsão de ar surge como uma benção divina, e a medida que exploram esse local abandonado pela superfície. Descobrem ser uma passagem para a cidade perdida de Atlântida, e da pior forma, capturados pelos moradores da cidade perdida.
Porém, tudo muda na audiência com o rei dos mares. Poseidon.
O protetor dos navegantes e marinheiros, olhou para os humanos modernos com certa curiosidade. E inesperadamente disse que podiam usar seu reino para consertar os equipamentos antes de voltarem a superfície.
A paixão de May pelo oceano e pelo reino, cativa o deus já conhecido por seus relacionamentos, entre cenas doces, quentes e tempestuosas o amor entre os dois nasce criando toda uma disputa entre os moradores de Atlântida e dando uma brecha para um conflito romper.
Existe um momento, logo nos últimos capítulos, depois que os gigantes dos mares são derrotados, onde May é envenenada pelo ferrão de uma dessas criaturas abissais e colapsa. O quarto, as vestes, e todo o cenário em que me encontro agora, parece ser a cena que desenrola depois que a personagem principal acorda.
A qual, inesperadamente, eu pareço possuir no momento. Por dentro , por fora May.
— Senhorita, ainda tem alguns resquícios de veneno no corpo — disse o curandeiro Nereid medindo meu pulso —, o choque pode ter bagunçado um pouco suas memórias. Afinal, faz pouco mais de um mês que os humanos da superfície estão em Atlântida.
Certo, humanos da superfície, muitos povos e muitas raças vivem em Atlântida em harmonia. Nereid é como um humano comum, pálido pela falta de sol, mas familiar aos olhos.
— É uma benção que as boas marés trazem — a voz fina e nasalada fez um choque passar na minha coluna. E imediatamente senti o rosto franzir.
A sacerdotisa de Poseidon tinha uma mão sobre o colo quase nu, os olhos estreitos com o queixo levantado. O vestido branco e puro se agarrava as suas formas voluptuosas de uma maneira sensual, como descrito no livro, ela tinha uma beleza deslumbrante e altamente perigosa.
Sabendo da sua obsessão com Poseidon, e todos os motivos que a tornam vilã da história, mais ainda.
A mulher de longos cabelos dourados, amava loucamente a Poseidon, e durante todas as cenas e sequências maquinou formas de interromper a recém-descoberta paixão entre o deus e May. Sua última investida resultando na quase destruição de Atlântida.
— Não seja cínica — disse com a voz ainda um pouco rouca — os abissais nunca atacaram a cidade. Só existem duas pessoas com encanto o suficiente para os controlar, e apenas um estava na cidade no dia do ataque.
— Senhorita, é possível que esteja me acusando?
— Sim — respondi, não porque é o que a personagem fazia originalmente. Mas porque é o que eu gostaria de ter feito quando li, se morri na minha realidade e vim parar num livro de fantasia, que seja feita a minha vontade.
Segurei o braço de Poseidon — Na torre mais alta do santuário das Marés, num baú escondido atrás das paredes de corais. Vai achar uma pérola ametista, é com ela que Thalassa controlou os abissais para atacar.
A sacerdotisa pareceu perder a alma por um momento, sua feição debochada se desmontou.
— Prendam-na até que seja feita uma verificação, guardas! — sua voz chamou pelo grupo — Verifiquem imediatamente.
— Meu senhor — a loira tentou se livrar do aperto dos guardas, as joias de ouro se mexendo com seu movimento exasperado —, não pode acreditar nessa criatura! Tudo começou a dar errado quando esses humanos da superfície chegaram aqui! Eu, eu estive ao lado de vossa majestade todo esse tempo, me dediquei de corpo e alma a cidade! A você!
Num puxão, e com um grito irritado, ela tomou o braço se ajoelhando em seguida — Essa feiticeira que veio da superfície está soprando cantos de Eris em seus ouvidos!
Poseidon que até então me tinha dos braços se levantou, o calor aconchegante de seu corpo se dissipando em seguida. Com firmeza ele pegou o cabo do tridente, o girando com destreza e apontando na direção do meu pescoço.
— Se o que esta mulher diz se provar mentira, será punida de acordo com seus crimes — disse mantendo os olhos nos meus. Não era mentira, então não tive porque temer, sustentei seu olhar com firmeza. Até porque no momento em que nossos olhos se cruzaram se tornava difícil desviar.
— De igual forma, a lei de Atlântida se aplica a você — Poseidon bateu o cabo do tridente no chão, uma onde se choque passando pelo quarto. — Parece duvidar do meu senso de julgamento perante a situação, eu ainda sou um olimpiano. Ainda sou o deus dos mares, acreditar que seria facilmente enganado é um insulto por si só.
Aos gritos, Thalassa foi arrastada pelos guardas, causando em mim — a leitora ávida do livro —, uma imensa sensação de satisfação. May… Não tinha tanta confiança em si para se defender contra os abusos feitos pela sacerdotisa. Mesmo descobrindo sobre os feitos, ela ainda demorou a falar.
Originalmente ela ficaria quieta, e só depois de decidir partir de Atlântida e voltar ao mundo moderno foi que revelou todas as moléstias verbais sofridas. E nesse ponto já era tarde demais, fazendo do livro uma parcela da porcentagem que não tem um final feliz onde o casal fica junto. May não estava disposta a largar tudo que era, a carreira e o futuro, tão pouco o deus sairia de seus domínios por uma humana.
Ele era eterno, ela passageira. Talvez em algum ponto no futuro, em outra época os dois poderiam voltar a se cruzar, selando assim um destino escrito pelas águas do oceano e pelo amor que transcendia a própria lenda de Atlântida.
Triste, mas não amargo, tudo aconteceu da maneira que devia ser.
Respirei fundo e me virei para a figura encolhida no canto estendendo a mão — Desculpe por gritar com você alteza.
Eurýale foi desde o início a companhia mais sincera que May teve, a ensinou sobre os costumes. Princesa da raça Ondiana, cresceu praticamente isolada, tendo um pequeno vislumbre do que era o mundo pelos olhos da arqueóloga e também suas histórias. Juntas, deram risada e também criaram bons momentos.
De longe uma das minhas personagens favoritas. A ver acuada no canto com lágrimas nos olhos apertou meu coração.
Ela se aproximou pegando minha mão e se sentando ao meu lado — Me desculpe, devia ter que impedido e ir atrás das tropas.
— Teria acontecido de qualquer jeito.
Nereid se adiantou para tratar dos machucados no corpo que não era meu, enquanto isso Poseidon se manteve de braços cruzados, observando com um franzido no rosto. Assim que os machucados foram tratados, o deus comandou para que todos se afastassem.
Nem mesmo o maior dos romancistas teria palavras o suficiente para descrever a presença e a beleza etérea de Poseidon. O coração dentro do peito, batia por ele, ansiedade se acumulava como as ondas que beijavam a costa de um penhasco. A presença do deus no quarto andando em minha direção trouxe a sensação de que as marés podiam mudar a cada passo seu.
Novamente ele se sentou ao meu lado, o tridente travado em ar por uma força invisível.
— Todos os sinais que Thalassa me deu, escolhi ignorar e veja onde isso nos trouxe. Quase a perdi, mesmo tendo acabado de te encontrar — seus dedos acariciaram alguns fios de cabelos, os colocando atrás da minha orelha.
— Ela é uma das suas sacerdotisas, se esse vínculo fosse moldado com desconfiança o que restaria? — não podia perder a chance de encenar a minha cena favorita. Aquela que sabia exatamente a página onde começava, que tinha decorada na mente e trazia borboletas ao estômago.
— Cada ser divino ou mortal é responsável por suas próprias escolhas. Posso ser o deus dos mares, mas não posso controlar as ações de todos que vivem sob as ondas. Minha tolice quase a levou direto para Hades, sem escolha, qual a diferença disso e de um assassinato?
Poseidon levantou meu rosto para poder encarar seus olhos mais uma vez, mais encantadores do que qualquer melodia de sereia.
— Assim como as ondas do mar nunca cessarão, meus sentimentos por você devem permanecer comigo pela eternidade. Mesmo que volte para a superfície, serei egoísta o suficiente para segurar um pedaço do seu coração. Então, esse será meu mais precioso tesouro.
Como a própria maré que sobre a praia, seus lábios se curvaram sobre os meus.
Os desejos reprimidos do primeiro contato se soltaram, era como ter o oceano inteiro nos meus braços, andas de desejos e vontades que fugiam do meu controle e nasciam do cerne do corpo emprestado. Doce, intenso, salgado. Sem um sequer segundo para respirar.
Mãos entremeadas nos tecidos finos como veios de riachos que se juntam para formar um rio, correnteza de toques que traziam calafrios e tremores de prazer.
Sua boca deixou a minha por um segundo, tentei arfar, mas novamente fui tomada por uma segunda onda de vontades.
Uma, duas, três…
Minha visão começou a se tornar embaçada, mergulhado sobre mim, o ar faltava o beijo era um afogamento que fez eu me perder mais uma vez nas profundezas desconhecidas. E não era de uma maneira romancista e metafórica.
Era real.

Minhas vias respiratórias ardiam, senti meu corpo se virar para jogar para fora a água acumulada nos pulmões e as lágrimas vindo aos olhos embaçados. Minhas mãos afundaram no que pensei ser areia, quando uma tosse fez tremer até mesmo a espinha de tão forte. Rouca parecia estar raspando todo o caminho para fora do meu corpo, senti os cabelos úmidos grudarem no rosto e quando me virei, vi um vulto escuro e familiar.
— Poseidon?
— Não, o capitão dele. Embora já tenha ouvido essa cantada antes — um riso soou e em seguida tive ajuda para sentar. — Deu sorte arqueóloga. Se não tivéssemos encontrado essa ilhota, duvido que qualquer um de nós estaria vivo agora.
Levantei a mão para a cabeça, com um sibilo de dor — Droga, parece que meu cérebro está querendo sair do meu crânio.
— Com licença — sua mão levantou um pouco dos meus cabelos, os jogando para trás delicadamente —, você deve ter batido com a cabeça. Não parece ter um ferimento externo, mas deixará um hematoma.
O homem quem vi o rosto pela primeira vez se sentou ao meu lado, seus olhos eram de um tom amarelado que me lembrava uma pepita de ouro bem polida em contraste com os cabelos escuros que mesmo úmido se mantinha em pé. Estava descalço e com as mesmas vestes que o vi mais cedo enquanto comandava o barco.
A condição de pouca vida parece ter criado na minha cabeça um cenário fantasioso baseado num livro que li e que guardo a sete chaves na cabeceira da minha cama. Fazendo o afogamento resultar num sonho lúcido demais, com uma das minhas cenas favoritas.
— O que aconteceu? — eu estava com a minha roupa de mergulho e recobrando gradualmente as lembranças de afogar no fundo do oceano.
— Uma tempestade nos acertou, se formou tão rapidamente que nem a guarda costeira conseguiu nos avisar a tempo. De repente o professor teve a comunicação cortada com você e quando vimos que não estava subindo, pulei no mar.
— Sem trajes de mergulho?
— Pratico snorkel, foi um pouco perigoso, mas você estava no meio do caminho, então ajudou.
Fiz uma careta pensando no quanto ele havia arriscado sua vida para salvar a minha. A pressão na área de mergulho com cilindro é bem diferente daqueles que praticam a outra modalidade.
Senti um cutucão na minha bochecha — Não adianta fazer essa cara, não vou deixar alguém morrer numa viagem minha, é péssima para os negócios.
— Se você morrer é um problema — rebati —, quem iria tocar os negócios?
— Uma respiração boca-a-boca e já está preocupada desse jeito comigo? Me sinto honrado.
Calor tomou meu rosto me fazendo olhar para o outro lado, abracei meus joelhos afundando as pontas do pé na areia. Tentei não pensar em como ele havia me salvo do afogamento, mas parece que não foi possível. Quando desviei, vi também que ainda havia muitas nuvens escuras de chuva no horizonte, sobre o oceano, um véu branco de chuva se aproximava.
— O que é essa ilha? — perguntei.
— É uma ótima pergunta — respondeu o capitão —, não me lembro de ter qualquer porção de terra acima do mar no ponto onde estava mergulhando.
Ele se levantou e em seguida estendeu a mão para me ajudar a fazer o mesmo.
— Impossível surgir uma ilha do absoluto nada.
— Quem sabe, o oceano é um lugar misterioso — quando me puxou, ele se manteve segurando a minha mão —, meu nome é Kuroo a propósito. Kuroo Tetsurou.
Puxei os dedos nervosamente, engolindo seco. — Obrigada, por me salvar.
— Ao seu dispor — um sorriso gatuno surgiu em seu rosto. Um vento forte soprou fazendo o topo das árvores na praia se agitarem, me forçando a virar de costas para evitar que a areia entrasse nos olhos.
— É melhor procurar um abrigo — Kuroo disse —, aquela tempestade não vai demorar muito para chegar.
Acompanhar o capitão do barco para numa mata desconhecida, não parecia uma boa decisão, porém eu não tinha muitas escolhas. Ou era confiar no cara que se arriscou para me salvar ou, ficar exposta à tempestade na praia.
Após andar um pouco, ele pareceu achar algo como uma trilha, um caminho onde as árvores eram mais afastadas e permitia duas pessoas andarem lado a lado. Apenas a alguns metros de distância começaram a aparecer algumas formações menos naturais.
Pedras, empilhadas e também em forma de caminho, que continuavam mata adentro.
— São sulcos carrinho — apontei para as faixas fundas que pareciam cortar a ilha — esses cortes nas rochas serviam para transportar pedras maiores. Se colocava pedras circulares dentro como rodas e empurrava.
— E isso significa?
— Que era uma ilha habitada e que possivelmente tem um templo, ou algo parecido.
Kuroo continuou andando — É bom confirmar logo então, a tormenta que se aproxima não vai ser gentil.
Dito isso, escutamos um trovão ressonar acima das árvores, o lampejo da luz mal atravessando as folhas.
— Vamos apressar o passo.
Era uma subida, eventualmente minha hipótese de ter sido uma cidade foi se confirmando, não tive como parar para analisar com mais cuidados todos os objetos e indícios de civilizações que estavam dispostos ali. Mas algumas características pareciam claras, como possíveis tigelas e estatuetas quebradas durante o caminho.
— Ali — Kuroo parou depois de subir um degrau mais alto e me ajudar em seguida — parece que está certa. E ainda tem um teto para nos proteger.
Todas as formas dos supostos edifícios eram circulares, com diversos restos de pilares, o templo que estávamos tinha poços e veios fluviais que caracterizavam uma divindade de água.
A chuva chegou até nós e não demorou até que os projetos de cisternas se enchessem e fizesse correr os rios por aquela cidade desconhecida.
— Ei — Kuroo me chamou —, acho que você vai querer ver isso aqui.
Do outro lado da parte coberta ele levantou a mão indicando um corredor, andei até ele e o que apontou foi um painel colorido pintado numa parede adjacente.
A figura estava sentada num trono feio de ondas, na mão havia um tridente, diferente do que geralmente era representado. Não tinha barba, mas sim cabelos pretos curtos junto de uma coroa de conchas.
— É um templo de Poseidon — afirmei — explica as meias estátuas de boi com relação ao mito do Touro de Creta. Os cavalos e também as conchas entalhadas nas rochas, está tudo aqui, são simbologias relacionadas ao deus do mar.
— Se eu não soubesse ser seu trabalho, ia pensar que é apaixonada pelo cara.
— Quem? Poseidon? Até parece, pelos mitos e a história pode até ser — respondi e tratei de mudar de assunto ainda tendo uma lembrança lívida do sonho lúcido. — Como uma ilha como essa está tão escondida? Tem certeza que não sabe qual é?
Kuroo fez uma careta — Acha que sou o quê? Por que eu iria esconder uma ilha de uma arqueóloga?
— Interesse próprio? Pode ser mais um pirata do que um bom capitão de expedição arqueológica — cutuquei seu peito o acusando — vendendo os itens encontrados na ilha no submundo da história.
O homem segurou minha mão contra o peito, senti seu coração batendo tranquilo — Se eu fosse adepto da pirataria, você devia ficar um pouco mais preocupada, não? Afinal, descobriu minha fonte secreta de vendas, talvez eu tenha que te silenciar aqui mesmo.
A mão livre se levantou para o meu pescoço, levantando a minha cabeça para olhar nos seus olhos. Uma prisão dourada que fazia o resto do ambiente se tornar embaçado e focar apenas neles.
— Mas iria tirar todos meus méritos de te salvar — um riso ecoou cortando até mesmo o som da chuva, nisso ele se afastou —, também não faz sentido eu ser um pirata e deixar todas essas moedas aqui.
Kuroo apontou para o poço na frente da gravura, cheio de água com a sujeira sendo filtrada, pequenos pontos luminosos eram vistos no fundo. Eram oferendas.
— O que me lembra — ele colocou a mão no bolso —, essa aqui é sua.
Sua mão se abriu relevando a moeda de Atlântida que meu avô me deu, aquela que fez eu me afogar em primeiro lugar.
— Não vai me chamar de tola? Por colocar a vida em risco por conta de uma moeda?
— Quem sou eu para falar algo da sua vida? Parece importante, de qualquer maneira, quem tem que se decidir ao que se segurar, e o que deixar para trás é você.
— Está certo sobre isso — suspirei —, e então vamos ficar esperando aqui como náufragos? Devemos procurar uma bola de vôlei para chamar de Wilson?
Kuroo deu uma alta risada — Uma bola de vôlei seria um bom passatempo, mas não. Vamos esperar a chuva passar. Não dá para criar uma fogueira na praia, nem fixar um sinal com a ventania — ele começou a rumar pelo espaço aberto — temos algumas boas horas de dia, apesar de estar escuro, são duas da tarde.
Ele deu uma pausa olhando para o céu — Geralmente essas tempestades passam rápido.
— Parece que você conhece bem o mar.
— Se quero navegar por ele é meio que obrigatório — respondeu, me fazendo repensar na pergunta obvia. Mais uma vez Kuroo riu e se sentou no chão de pedra gasto e sujo. — Vim para Europa ainda pequeno, meu pai resolveu que os mares orientais do Japão eram muito frios para ele.
— Você ainda tem um pouco de sotaque, costuma falar japonês em casa? — questionei.
— Não. Passei boa parte da juventude lá — explicou —, voltei após me formar no ensino médio para assumir os negócios da família.
— E é o que você queria? Ou tinha outro sonho?
Kuroo resmungou — Não me vejo preso num escritório, pode pensar ser apenas uma obrigação. Mas é realmente meu desejo, talvez minha família tenha influenciado, só que no fim a escolha é minha.
Enquanto essa conversa acontecia, gradualmente a chuva foi diminuindo até que tudo que restou foram os pingos acumulados caindo das copas das árvores quando as nuvens se foram. Como o capitão disse, manter os sinais na praia são vitais.
Não muito depois que ele conseguiu acender uma fogueira, fomos visitados por um barco da guarda costeira. O barco dele, Poseidon, havia emitido um sinal de duas pessoas desaparecidas. Sentada num canto no escritório dos agentes marítimos já no cais, com um cobertor sobre os ombros e girando a moeda entre os dedos, fiquei pensando se meu sonho realmente terminaria ali.
Foi quando Nila apareceu correndo e se jogou em mim, me abraçando pelos ombros e chorando como uma criança. Por um momento ela se afastou segurando meu rosto entre as mãos e balbuciando frases desconexas, mais uma vez ela agarrou minha cabeça me forçando a ficar com o rosto sufocado entre seus seios.
Juntei os quatro dedos da mão e acertei sua costela num movimento de lâmina, ela reclamou e me soltou. Arfei por ar mais uma vez.
— Céus, eu me salvei de um afogamento, quer me matar sufocada de novo? — reclamei.
— Pensei que te perdemos — Nila abriu o berreiro esfregando as mãos nos olhos — o capitão desceu e a comunicação foi cortada, depois o barco se afastou e então-
Ela voltou a chorar, bati a mão no seu ombro — Estou bem Nila, não foi dessa vez.
! — mias um grito dessa vez do professor Kailan.
Ele devia estar decepcionado com a expedição falha, esperamos aquele dia por tanto tempo. E até a tempestade tudo estava indo muito bem.
— Desculpe professor, tudo deu errado. Era para ser nossa grande descoberta.
O mais velho colocou as mãos no meu ombro — Prefiro discutir apenas teorias pelo resto da vida, do que perder sua companhia.
— Eu também — Nila nos abraçou ao mesmo tempo —, mesmo professor se comportamento como um velho rabugento às vezes.
Os dois começaram a discutir terminando naquela aventura atrás de Atlântida de uma maneira bem diferente daquela que planejamos, e isso já fazia mais de um ano.
Depois do resgate tentamos reencontrar a ilha, mas aquela que me lembro pareceu desaparecer do mapa. Aquela que a guarda costeira disse ter nos resgatado não tinha nada a ver com a que tinha gravada na mente. Kailan voltou para a universidade para dar aulas e Nila continua embarcando em qualquer expedição que precisa de sua ajuda.
Encontrei meu lugar no museu da cidade, trabalhando na curadoria da exposição sobre os mistérios da cidade perdida de Atlântida e outros mitos que envolvem o mar.
Olhei para o teto do apartamento, o sol nasceu e se convidou para entrar pelas janelas iluminando o ambiente. Do alto, com uma vista do quarto para o mar, conseguia observar a água cintilante e o céu completamente limpo.
O braço cruzado na minha cintura me puxou, um suspiro pesado e sonolento soando do dono dele.
— No que está pensando?
— Na expedição do ano passado — respondi —, sabe que Nila disse no momento em que entramos no barco que o capitão era meu tipo.
Virei na cama para poder ver os olhos de Tetsurou, apoiando as mãos em seu rosto, acariciando a pele com delicadeza. A moeda de ouro que herdei do meu avô ainda tinha boas lembranças, mas agora tinha outros círculos cor de ouro mais importantes na minha vida.
— Sempre achei ela esperta — ele voltou a fechar os olhos, uma das suas pernas subiu nas minhas e a cabeça buscou apoio no meu pescoço. — É por isso que a primeira vez que ela nos viu junto ficou sorrindo para o vento?
Dei risada, deixando os dedos correr os cabelos escuros em sua nuca — Provavelmente.
— Ela disse algo sobre você ter encontrado seu próprio rei do mar.
Meus movimentos pararam por um momento, e sua mão subiu de leve pela minha cintura, contra meu pescoço senti o sorriso nascendo. Engoli seco e mantive os olhos fixos no teto.
— Não sei do que está falando.
— Tem certeza? Tenho a impressão de vi algo parecido com aquele livro nada juvenil que você deixa guardado na cabeceira da cama. Não sabia que a minha namorada gosta de ler esse tipo de coisa.
— Assim como tem livros infanto-juvenil, também tem literatura adulta. Sou uma adulta, o que tem de estranho nisso? — rebati — É envolvente, e bem escrito…
Kuroo levantou a cabeça — Então quer dizer que a sua fantasia é dormir com Poseidon numa cama de bolhas e ter o tridente dele-
— É só uma história! — interrompi — Só porque leio não quer dizer que reflete as minhas vontades sexuais.
Assim que essas palavras deixaram a minha boca, eu a cobri, esse tipo de fala é exatamente o que ele estava esperando. Apoiando a mão no travesseiro ao lado da minha cabeça e se levantando. Tetsurou ajoelhou me mantendo entre suas pernas se sustentando nas pernas definidas para não me esmagar.
— Parece que vou precisar dar duro para tirar esse bastardo do rei dos mares da sua cabeça — ele segurou a barra da camiseta a levantando acima da cabeça e a jogando em cima da cadeira do quarto. — Talvez eu deva mudar o nome do meu barco também.
— Para o quê? Poseidon foi o nome que seu pai deu.
— Meu velho não vai se importar, na verdade, já está na hora. Que tal algo que fará você sempre voltar para mim, para o meu mar e para as minhas ondas?
Tetsurou se inclinou para deixar os lábios encontrar com os meus.
— E o que seria?
— Atlantis.


Fim.


Nota da autora: Oya Oya Oya! Obrigada por ler até aqui, até mais! Nadi, Xx!

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