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Codificada por: Cleópatra (Mari)

Finalizada em: 20/07/2024
Fazia mais ou menos 30 minutos que eu estava sentada no sofá, abraçando meus joelhos, segurando uma taça de vinho pra ver se eu conseguia engolir aquele convite de casamento. Era sério aquilo?! Eu mal tinha saído da cidade, ok, talvez eu estivesse exagerando. Fazia 4 anos que eu tinha saído de Barbacena para vir trabalhar no Rio de Janeiro, mas mesmo assim. Eu podia estar um pouco ausente da vida do meu melhor amigo, porém, tinha sido a vida adulta que tinha me mastigado diversas vezes, cuspido e ainda pisado em cima.

Era difícil se virar na cidade grande sozinha.

A última namorada que o tinha tido foi no segundo ano do ensino médio, e achei que seria a última, já que ele tinha uma vocação excelente para ser um belo de um galinha. Eu sei, não deveria falar assim do meu melhor amigo, no entanto, ele era mesmo um grande cafajeste. Perdi as contas de quantos respingos recebi das bebidas que garotas jogaram nele, ou de quantos tapas na cara presenciei, ou até mesmo só um: vai se foder. Nosso ensino médio foi animado, mas a faculdade superou todas as minhas expectativas.

O melhor dia da minha vida ainda era ter visto o atravessando o jardim dos dormitórios pelado por que ele dormiu com a namorada de alguém, e o cara foi levar café da manhã na cama pra garota e o teve que pular a janela. E bom, eu assisti de camarote sentada na cafeteria da faculdade; bons tempos. Contudo, hoje, não lembro qual foi a última vez que ouvi a voz dele; nos falamos toda semana, mas apenas por mensagens.

Eu sentia falta dele, sentia falta dele todo maldito dia.

Às vezes sentia vontade de largar meu emprego e voltar para aquela cidade que eu odiava, só para sentar na pracinha em frente a igreja e passar horas conversando com ele. A única coisa que eu não odiava no interior era ele, sempre quis ir embora daquele lugar. não, ele se estabeleceu quando abriu um bar na cidade, diferente de todas aquelas espeluncas que tinham por lá. Ele amava o interior, gostava da proximidade das pessoas, da paz que rondava a cidade e de ele poder ficar atrás do balcão lendo enquanto os outros bebiam no seu bar.

Eu odiava tudo que envolvia meu passado e aquela cidade. Odiava as pessoas tomarem conta da vida alheia, odiava a calma e a tranquilidade com que os anos passavam naquele lugar. Apesar de às vezes sentir falta da tranquilidade, não era isso que eu queria todos os dias da minha vida. Quando finalmente chegou a ida para faculdade, foi libertador, eu e o tínhamos combinado desde a adolescência em ir estudar em BH, seria como nossa primeira experiência como adultos.

Ledo engano, se aquilo fosse a vida adulta eu estaria bem feliz.

A vida adulta… ela te engole e você nem vê, um casamento é anunciado e você nem conhece a noiva do seu melhor amigo.

Não que eu tenha dado importância, lembro de ele ter comentado há algumas semanas, ou seriam meses?! Não quis saber a respeito, sempre mudava de assunto ou inventava uma desculpa para simplesmente abandonar a nossa conversa. Aquele assunto não me deixava nem um pouco confortável, muito pelo contrário, ficava extremamente desconfortável. Entretanto, nunca poderia cobrar algo que nem mesmo eu fui capaz de fazer.

Dizer que sou e sempre fui apaixonada por ele.



[...]



Voltar para Barbacena me dava arrepios, era essa a sensação, mas eu não podia faltar ao casamento da melhor pessoa que eu tinha na minha vida; por mais que isso arrancasse meu coração do peito. Eu queria vê-lo feliz, mesmo que não fosse comigo.

! — Olhei para trás e vi aquele homem imenso, os braços torneados, o sorriso que sempre enfeitava o rosto bonito e os olhos espremidos ao expressar a felicidade em me ver.

Foi cena de filme, confesso, mas fizemos completamente de forma natural. Corremos um em direção ao outro em meio àquela rodoviária e ele me tirou do chão ao me abraçar. Meu coração bateu tão rápido, 4 anos, 4 anos sem vê-lo e ele ainda tinha o mesmo efeito sobre mim.

Eu o amava pra caralho, não conseguia nem esconder.

— Achei que veria você virar um velho ranzinza de asilo, idiota. — Soquei o braço dele e ri. Ele pegou minha mala e colocou o braço sobre meu ombro.

— Seu sonho, me ter como companhia na cadeira de balanço. — Tirei o braço dele de mim e o empurrei para longe, estirando o dedo.

— Vai a merda, ! — Ele colocou minha mala na parte de trás da caminhonete e sorriu.

— Também senti sua falta, baixinha. — Bufei e entrei no carro. — Minha mãe quer te ver.

— Também quero ver a tia Hana e o tio , mas preciso ver meus pais.

— Eles estão fazendo a rota de venda, , só voltam a noite. Minha mãe fez pão de queijo, bolo de fubá e tem uma puta lata de doce de leite.

— Tudo isso pra mim? — Forcei uma cara de surpresa.

— Você sabe que a minha mãe te adora e… Faz 4 anos… — Senti sua voz pesar e isso me deixou tão triste.

Nunca foi minha intenção abandonar as pessoas que eu amava, mas estava tão eufórica quando consegui o emprego na editora; parecia que eu finalmente conseguiria dar um passo em direção ao futuro que eu queria. E com a ida pro RJ, tudo desenrolou mais rápido do que eu achei, em 1 ano e 8 meses eu tinha virado editora chefe e o cargo me consumiu mais rápido do que gostaria. Era o meu sonho e eu estava vivenciando ele, porém, sempre sentia que faltava algo… Olhei para , que dirigia calmamente com os olhos na estrada de barro.

Ou quem sabe faltava alguém.

— Tia Hana! — Sai do carro e corri para abraçar a senhora .

— Minha filha, senti tanto a sua falta. — Ela beijou o topo da minha cabeça e sorriu. — Não passe tanto tempo sem nos visitar, mocinha.

— Pode deixar!

Depois daquele café da tarde reforçado, me puxou para me levar ao nosso antigo esconderijo. Havia uma cachoeira que poucos sabiam da existência dela, e nós nunca contamos para ninguém sobre aquilo; era o nosso lugar. Sentamos na pedra grande na beira do rio e ele me olhava de forma incerta, não estava entendendo o que se passava na cabeça dele.

— O que houve?

— Eu achei que não viria…

— Eu jamais perderia seu casamento, , você é a minha pessoa preferida no mundo, esqueceu?

— Você também é a minha. — Ele olhou para os lados, como quem vê se tem alguém ouvindo. — Não deixa a saber disso. — Começamos a rir e parecia que eu tinha voltado no tempo. Por algum motivo, estar ali com me fazia mais feliz do que qualquer outra coisa.


[...]


Estar ali já era maçante o suficiente para mim, mas ter que sorrir vendo beijar e abraçar outra era torturante. Cada vez que eu dava um gole em meu champanhe, era como se fosse mais fácil assistir tudo aquilo e ter que forçar uma felicidade que não existia. Para mim, meu coração doía e era o pior dia da minha vida, enquanto para ele era um dia especial. Isso tudo fazia com que me sentisse culpada por não estar sorrindo de forma verdadeira, tudo que eu queria era sumir dali e que ninguém sentisse a minha falta.

! — Olhei para o lado e vi o melhor amigo do , tentei ser simpática e sorri. — Parece que finalmente cresceu.

— São os saltos, .

— Tem razão. — Ele riu, estava brincando comigo, sempre foi assim e nunca me senti mal pela minha altura. — Como está se saindo na cidade grande?

— Digamos que bem… Moro em meu próprio apartamento e tenho um emprego que paga bem.

Quando foi que meu sonho foi resumido a isso? Por que eu não disse que estava feliz vivendo o melhor momento da minha vida? O que há de errado comigo?!

— Eu vou… — deixei a taça em cima de uma mesa de canto — ao banheiro, já volto.

Saí o mais rápido possível dali e fui direto para a cozinha, peguei uma bebida mais forte e sai pela porta dos fundos. Sentei no balanço, feito de pneu de caminhão, olhei para o outro ao lado e lembrei das tantas tardes que eu e o passamos ali. Era uma das nossas coisas favoritas, assistir ao pôr do sol depois de um banho na cachoeira. Respirei fundo e virei um gole da garrafa de whisky que eu sabia que o tio escondia no armário da cozinha. Se o ensaio do jantar de casamento já estava sendo difícil daquele jeito, o que eu faria quando dissesse sim no altar e eu teria que enterrar tudo que eu sinto de vez?

Quando senti que a bebida tinha me deixado menos suscetível a ter um colapso, voltei para dentro da casa.

— Eu sabia que tinha deixado uma garrafa aqui. — Arregalei os olhos e apenas sorriu, olhando para a minha mão que segurava a garrafa que ele falava.

— Desculpa, tio.

— Tudo bem, menina. Agora passa pra cá antes que sua tia volte pra cozinha. — Entreguei a garrafa e ele se serviu em um copo baixo. — Como está com tudo isso? — Dei de ombros.

— Estou… — senti um amargor em minha boca — feliz pelo .

— Não adianta mentir, menina, te conheço há tempo demais pra saber quando esses olhos verdes mentem. — Mordi o lábio com força. — Meu filho foi muito lento pra perceber, não é? — Arregalei os olhos, tentando buscar uma mentira em minha mente, uma desculpa, qualquer coisa que me tirasse da saia justa, mas ele estava certo; além de não perceber, eu também não tomei nenhuma iniciativa. — Ainda não é tarde, filha. — Meu coração disparou.

! — Virei rapidamente, reconhecendo aquela voz. — Estava te procurando, quero tirar uma foto com você! — Forcei um sorriso e ele me puxou pela mão. — Papai… — Ele repreendeu o homem por estar bebendo algo tão forte.

— Não diga pra sua mãe. — Ele piscou o olho direito, mais para mim do que para o seu filho.

Apesar de não querer, entendi o recado.

Chegamos na sala e ele pediu para o fotógrafo tirar uma foto nossa, coloquei o sorriso mais verdadeiro que pude no rosto e o flash iluminou o ambiente. Olhei para o lado assim que ele olhou para mim e nós sorrimos um para o outro, e aquele sim era o mais verdadeiro dos sorrisos. O flash iluminou o ambiente novamente e virei rapidamente sem graça. Não queria fazer uma cena e muito menos ser odiada pela noiva dele, em breve… esposa.

Já fazia horas que eu estava ali, deveria ter ido para casa há muito tempo, mas toda vez que ia me despedir, não me deixava ir embora. Ele estava claramente feliz, e eu só queria me esconder. Subi a escada devagar, a casa ainda estava bem cheia e todos distraídos e bêbados demais para me notar. Entrei no quarto que eu conhecia bem, por mais que o tivesse se mudado dali há anos, tia Hana manteve tudo do mesmo jeito. Até os pôsteres de livros e filmes que ele amava. Sorri, admirando aquilo, e me veio uma nostalgia das tardes que passávamos jogando video games.

Dei mais alguns passos e passei os dedos por alguns livros que ainda estavam na estante, ele devia ter levado a maioria para o novo apartamento, que ficava acima do bar dele. Ouvi barulho de algo caindo no banheiro e assim que olhei para a porta, ela estava entreaberta, porém consegui ver a pelo reflexo. Em seguida ouvi um gemido e uni as sobrancelhas, já que quando subi, estava na sala. Fiquei estática no meio do quarto, não conseguia me mexer, aquilo não podia estar acontecendo. Aquela vagabunda estava traindo meu melhor amigo debaixo do teto da tia Hana? No jantar de ensaio do casamento deles?!

Dei passos largos e abri a porta de supetão, e o que mais me chocou foi encontrar no meio das pernas dela. Dei dois passos para trás, aterrorizada com aquilo; sua noiva e seu melhor amigo lhe traindo daquele jeito, naquela ocasião.

, não é…

— Nem ouse, … — Interrompi a frase que eu tinha certeza que seria esdrúxula. — Espero que até sexta vocês contem pro , se não eu irei.

, foi apenas…

— Não fale comigo… — Encarei ela e queria tanto dar um tapa na cara dela, mas respirei fundo tentando manter o controle. — Você não merece o , e nem você … — Voltei a olhar para o . — Você deveria ter vergonha de se dizer amigo de alguém.

Saí dali pisando duro, peguei minha bolsa no caminho e não vi mais ninguém na minha frente. Fui andando até em casa, consumida pela raiva e pelo arrependimento de não ter acabado com aquela festa ali mesmo. Desmascarando a grande filha da puta que era a na frente de todo mundo. Contudo, eu não me perdoaria pelo sofrimento que iria causar em , esse arrependimento seria muito pior.





Acordei pedindo mais uma vez que tudo que aconteceu tivesse sido um sonho, mas era real e mais uma vez virei e vi meu celular tocando. Fazia três dias que evitava , eu não conseguiria olhar pra ele e não contar a grande cuzona que era a futura esposa dele. Eu não sabia o que me fazia sentir mais raiva: ela ter feito aquilo, ou se quando ela contasse, a aceitasse mesmo assim. Também era isso que eu estava evitando descobrir. Virei meu celular com a tela para baixo e levantei da cama, tomei um banho rápido e desci para o café da manhã.

Tinha chegado o dia.

Desejei bom dia aos meus pais, dei um beijo na bochecha da minha mãe, peguei uma xícara de café e sentei à mesa junto ao meu pai.

— Filha, a garota do ‘teve aí mais cedo, queria falar com você.

Quase me engasguei quando ouvi "a garota do ", normalmente me chamavam assim no colégio e isso me deixava toda animada, por mais que eu tivesse fanficado todo um relacionamento inexistente entre nós só por isso.

— O que ela queria, pai?

— Não sei, ela disse que voltava depois.

— Achei que a noiva deveria estar se arrumando para o casamento. — quase protestou. Acho que minha mãe sabia da minha paixão platônica pelo e gostaria de estar indo para o meu casamento com ele.

Confesso que até eu gostaria que essa fosse a realidade. O que eu ‘tô falando?!

— Mamãe, talvez ela queira que eu faça algo especial pro .

— Hm.

Ela apenas murmurou emburrada, e eu quase ri, mas segurei, se não ela ficaria irritada. Assim que engoli mais um pedaço de bolo de laranja, ouvi a campainha.

— Eu atendo. — Levantei e percorri o corredor até chegar à porta da frente para abrir. — … O que quer?

— Podemos conversar? — Respirei fundo e olhei para dentro de casa. Vi minha mãe espiando pela porta da cozinha e dei dois passos para fora, fechando a porta em seguida.

— Vamos até o estábulo.

Fomos caminhando em um silêncio desconfortável; o caminho era longo demais. Meus pais tinham uma fazenda grande, criavam gado, tinham alguns cavalos e plantações pequenas, apenas para vender na região. Chegamos no estábulo e sentei em uma pequena pilha de feno.

— O que quer aqui? — Fui ríspida, não conseguia esconder a minha raiva.

— Eu conversei com o … — Ela olhava para o chão e acariciava as mãos.

Ah, então era por isso que ele estava me ligando? Pra avisar que o casamento tinha sido cancelado? Isso seria um ótimo bom dia, deveria ter atendido. Cruzei os braços, esperando as próximas palavras.

— E o que eu tenho a ver com isso pra você vir até aqui no dia do seu casamento?

— Queria pedir para não tocar mais no assunto, ele ficou bem abalado, mas expliquei tudo pra ele. Eu estava muito bêbada, acabei perdendo o controle e…

Parei de escutar no momento em que ela disse "expliquei tudo pra ele", ele iria mesmo casar com aquela mulher?!

— Como? — Cortei a fala dela, estava atônita!

— Nós nos resolvemos, espero que a gente possa se dar bem, , você é a melhor amiga dele.

Era sério aquilo?!

— Estou decepcionada com o meu melhor amigo, essa é a verdade. — Ri sem qualquer humor. — E não, não nos daremos bem, , eu vou aturar você pelo . — Levantei e saí andando. — Conhece o caminho da saída, não é?

Nem esperei por uma resposta; corri, corri até sentir meus pulmões arderem pedindo oxigênio. Pedindo que eu parasse e descansasse por pelo menos alguns minutos, então me joguei na grama em meio a uma pequena colina. Conseguia ver uma parte da cidade dali, conseguia ver a fazenda dos pais do , que era ao lado da dos meus. Chorei, chorei por decepção e pela esperança que egoístamente senti naquele dia. Pensei que talvez tivesse sido o destino me dando uma segunda chance para finalmente ter coragem de dizer para o que eu o amo. Contudo, estava enganada; ele aceitou a desculpa esfarrapada que aquelazinha inventou, e isso me matou um pouquinho por dentro.

Voltei para casa e comecei a me arrumar após o almoço. O casamento era no fim da tarde e a voz na minha cabeça dizia para eu não ir, para pegar o primeiro ônibus para o Rio de Janeiro e pedir desculpa por ter surgido um imprevisto no trabalho. Mentir por mensagem era mais fácil. No entanto, eu não conseguiria viver com essa falta; tinha que aceitar a escolha dele, mesmo que essa escolha não parecesse certa para mim. Eu e meus pais seguimos caminho para a fazenda dos 's, peguei meu celular da bolsa e vi que tinham 12 ligações perdidas do .

Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo.

Assim que meu pai estacionou a caminhonete, vimos o altar montado no jardim, e cadeiras brancas espalhadas para os convidados assistirem a cerimônia. Mais a frente varais de luzes, mesas e cadeiras com arranjos de flores, a mesa com o bolo, doces e uma decoração lindíssima. Uma coisa era certa, se tivesse sido a a escolher tudo, a vagabunda tinha bom gosto. Caminhei até a varanda da casa principal e vi tia Hana vir correndo em minha direção assim que colocou os olhos em mim.

— Mocinha, o está desesperado, disse que só desce pra casar depois que falar com você! — Ela foi falando e me empurrando escada acima, me pôs em frente a porta que era do quarto dele e finalizou: — Vamos, converse com meu menino.

Sorri para ela e afirmei com a cabeça, meu coração estava acelerado demais para falar algo sem a minha voz tremular. Tia Hana desceu apressada, deixando-me plantada ali no corredor; céus, nunca fiquei tão nervosa na minha vida. Coloquei a mão na fechadura e dei duas batidas na madeira, então a abri, vendo sentado na cama com as mãos apoiando sua cabeça. Entrei e fechei a porta, dei alguns passos e coloquei a mão em seu ombro, fazendo-o olhar para mim.

! — Ele levantou e me abraçou. — Onde estava? Te liguei várias vezes, você sumiu durante três dias!

— Desculpa, estava ajudando meus pais. — Ele se afastou de mim e olhou-se sério.

— Você sempre arrumou tempo pra mim, não me dê desculpas! — Virei de costas e caminhei até a estante; se ele continuasse me olhando nos olhos, eu iria desabar. — Tudo bem, desculpa, não deveria ter gritado, estou muito nervoso.

— Não estou chateada… O que houve?

— Ontem eu tive a pior noite da minha vida, fiquei pensando no que eu estava fazendo, tive dúvidas, achei que o melhor era não me casar… — Nunca concordei tanto com uma afirmação na vida. — A é uma mulher incrível, mas…

— É, se tem um "mas", está com problemas, — disse, interrompendo-o. — Poderia ter pensado nisso antes de… — Parei de falar assim que lembrei que a disse o quanto ele tinha ficado abalado e achei melhor não continuar.

— Antes de? Pedir ela em casamento? Eu sei, deveria ter conversado com você sobre isso, mas sempre que ia falar dela você mudava de assunto, percebi que não estava interessada em saber sobre a minha vida.

— Sempre tive interesse na sua vida, , isso nunca mudou. — Virei para ele. — Só não estava pronta… para essa etapa da vida.

— Achou que eu iria ficar pra sempre solteiro, ?

— Olha, sim… — cruzei os braços e empinei o nariz —, sempre foi um cafajeste.

— Eu mudei, ok? — Falou como se fosse óbvio. — Nunca vai me perdoar por ter te colocado em algumas enrascadas por isso, não é? — Ele riu.

— Tem coisas que não se perdoam, . — Torci os lábios e desviei meus olhos dos dele.

— Qual foi,

— Voltando ao seu problema… — Balancei o indicador e fui até a janela, vendo alguns convidados chegando e respirei fundo.

— Sim, desviamos do foco, isso sempre acontece e já me sinto menos nervoso. É sempre bom conversar com você. — Senti que ele estava rindo com aqueles malditos dentes alinhados, caninos protuberantes e o sinal perto do queixo evidenciando ainda mais seu charme barato; revirei os olhos. — Não foi fácil,

Franzi o cenho ao ver chegando no casamento. poderia até perdoar a por aquilo por estar apaixonado, mas não perdoaria . Eu ainda conhecia o meu melhor amigo, ou será que não?! Virei pra ele, encarando-o irritada.

— É sério que você perdoou ? Eu estava até tentando engolir você aceitar a desculpa que aquela vagabunda inventou, mas aceitou desculpar o que se diz seu melhor amigo?

— Do que está falando, ? — Ele franziu o cenho e então me dei conta que ela não tinha dito nada! Tentou encobrir seu segredo sujo, fazendo com que eu ficasse preocupada com , pois ela sabia que eu não iria querer magoá-lo. Manipuladora, desonesta e traidora. Maldita cobra! — ? — Senti sua mão em meu ombro. — Sobre o que está falando?

As palavras sumiram da minha boca, a garganta secou e senti um arrepio gelado tomar conta do meu estômago. Eu não posso deixar ele casar com aquela mulher, não posso.

— A te traiu… — Ele arregalou os olhos, dando alguns passos para trás, e tentei alcançá-lo. — Eu… , pedi pra ela contar pra você, ela foi até minha casa e disse que tinha falado tudo… — Vi ele sentar na cama, completamente perdido. — Que você… tinha perdoado ela…

— Você sabia? — Seus olhos negros me olharam raivosos. — Você sabia e não me falou nada?!

, eu não queria magoar você, eu não conseguiria mentir pra você, por isso me isolei na fazenda, não quero te ver triste nunca nessa vida…

— E em que mundo está onde você esconder isso de mim seria me fazer feliz, ?!

— Eu…

— E ? Você viu os dois juntos? — O levantou transtornado, gritando e eu já sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Apenas afirmei com a cabeça. — Quando? Onde você os viu, ?

Olhei para o banheiro, que tinha a porta aberta, e engoli em seco; não precisei dizer mais nada para que ele entendesse e passasse as mãos pelo cabelo nervoso. Eu me abraçava, acariciava meus braços tentando me acalmar ou me consolar. Eu estava tão despedaçada, nunca o vi tão angustiado.

— Me desculpe, … Achei que fazer isso seria o melhor.

— Só… saia daqui, .

… — Seu nome saiu como um sopro pelos meus lábios.

— Saia! — gritou sem nem mesmo me olhar.

Abri a porta e dei de cara com a tia Hana.

— O que houve, filha?

Olhei para trás e continuava estático no meio do quarto, apenas passei por ela e saí dali. Desviei de todas as pessoas que passei pelo caminho, corri o máximo que pude, e quando vi estava na cachoeira do arco-íris, como chamávamos o nosso cantinho especial. Sentei na pedra que sentamos muitas vezes juntos e deixei que todas as lágrimas saíssem de mim. Eu estava tão mal, sentia a culpa me corroer por dentro.

Eu não queria perdê-lo.



[...]



Entrei no banheiro para dar um jeito na minha maquiagem, a minha sorte era que eu não tinha exagerado, apenas um batom vermelho, rímel à prova d'água, o que já me ajudou bastante, e delineador. Dei um jeito como pude e sentei na cadeira ao lado da minha mãe. chegou e foi até o altar, ficando lá com as mãos para trás, esperando a noiva. Parecia que ele realmente iria perdoá-la, não importava quem contasse; talvez ele a amasse o suficiente para passar por cima disso. Quando o olhar dele se direcionou a mim, eu abaixei a cabeça; eu sentia tanto por tudo aquilo.

A música começou e, quando olhei para trás, vinha caminhando lentamente, sorrindo de forma graciosa para todos. O vestido dela era lindo, não podia negar, com pedrarias na saia e um corpete delineando a cintura fina; ela segurava um buquê de rosas vermelhas. Achei bem sem personalidade, o que me fez pensar que foi a tia Hana que organizou a decoração e isso me levou a pensar que se ela não teve interesse na decoração do próprio casamento, qual era o interesse dela em casar com ?

A cerimônia começou e o juiz de paz disse coisas lindíssimas, mas nem conseguia chorar, achava que já tinha chorado tudo que podia. Além de não conseguir chorar por motivos óbvios: aquele casamento era uma grande mentira.

— Se tiver alguém que se opõe a este matrimônio, fale agora ou cale-se para sempre.

Pensei muito em falar algo, seria um ótimo clichê de novela das 9, porém eu já tinha magoado o suficiente meu melhor amigo; o melhor a se fazer era eu ficar calada para sempre.

, aceita como seu legítimo esposo?

— Sim.

Ela deu um sorriso que me deu vontade de vomitar; eu estava pronta para levantar e sair dali, não queria fazer cena, mas eu não estava suportando assistir aquilo. Fiz tudo para não magoá-lo e acabei fazendo exatamente o oposto, era a minha pessoa favorita no mundo, sempre foi. Mesmo que ele me odiasse, mesmo que ele nunca mais falasse comigo, continuaria sendo essa pessoa no meu coração.

— Não.

Ouvi aquilo e automaticamente levantei a cabeça, vi as pessoas chocadas ao ouvirem a resposta de , e gelei dos pés a cabeça.

? — perguntou assustada e todos estavam sem entender nada.

— Talvez queira casar com o meu melhor amigo, , aquele que você estava trepando na porra do meu banheiro!

Eu arregalei os olhos e tampei a minha boca que estava escancarada. Céus, o que ele estava fazendo?! Vi os olhos da se voltarem para mim.

— Foi você! — Ela deu passos em minha direção e eu levantei em um impulso, mesmo sem saber o que fazer. — Você acabou com meu casamento!

— Não ouse culpá-la, você estragou tudo transando com meu melhor amigo debaixo do meu teto! — a segurou pelo pulso e ela o encarou novamente.

— Sempre foi ela, não é? De nada adiantou todo esse tempo que ela te abandonou aqui e eu catei os pedaços!

Franzi o cenho sem entender nada, a mãe de chegou por trás dela e falou algo inaudível, talvez tentando acalmá-la.

— Você continua apaixonado por ela! — gritou, apontando para mim e seus pais a levaram rapidamente para dentro da casa.

Tudo girava, do que ela estava falando?! Eu abandonei ele aqui e ela juntou os pedaços? era apaixonado por… mim?! Senti a mão de minha mãe em meu braço e olhei para o lado, não conseguia raciocinar. Sentia meu coração pulsando em meus ouvidos, meu estômago embrulhando e minhas mãos suando. Olhei para frente e vi me olhando como se me pedisse desculpa por ter me envolvido naquele barraco digno de novela. Tudo que conseguia pensar era: ele era mesmo apaixonado por mim?

— Preciso sair daqui…

— Vamos, filha.




Parte de mim sabia que não era certo me casar com a , mas não imaginava a maldita traíra que ela era. Ver de novo sacudiu tudo dentro de mim, principalmente quando ela sumiu durante três dias. Aquilo me fez retornar ao momento em que ela foi embora de Barbacena, tudo que eu queria era pedir para ela ficar, mas com que argumentos?! Tantos anos se passaram e eu esperei pelo momento certo de falar o quanto eu amava aquela baixinha; o quanto ela fazia eu me sentir a pessoa mais especial do mundo; o quanto eu adorava ouvir a risada dela, ver os sorrisos, admirar sua determinação e personalidade.

era a porra da mulher da minha vida.

Quando conheci a , ela me encontrou desolado e despedaçado pela partida da , então ficamos amigos e ela me consolou, animou, e me fez começar a viver minha vida novamente. Por mais que muitas vezes eu tivesse recaídas e quisesse ir até o Rio de Janeiro e me declarar para , esperando um grande final de uma comédia romântica. O que dizer? Sou um grande fã de literatura e um romance me prende da mesma forma que um livro de suspense.

Eu e a acabamos nos envolvendo, e por muito tempo eu mantive apenas um sexo casual entre amigos. No entanto, ela queria mais e eu achei que seria uma boa ideia oficializar, já que queria seguir em frente. Já tinha quase 30 anos, não podia ficar preso a minha paixão de infância, esperando que quem sabe um dia ela voltasse para o interior apenas para ficar com um idiota que nem coragem teve para dizer tudo que sentia. Entendi que era o momento, eu gostava da , ela fazia com que aquele buraco em meu peito não ficasse mais tão presente. Contudo, eu estava enganado, ver naquela rodoviária fez com que eu me visse como aquele garoto de 19 anos outra vez.

Era ela.

Tudo virou uma bola de neve na minha cabeça, questionando-me se estava fazendo a escolha certa. Por que não parecia ser o certo? Por que eu sentia que me casar com faria muito mais sentido mesmo depois de tanto tempo? Mesmo eu olhando para ela e sentindo vontade de beijá-la, de abraçá-la, de ficar com ela pro resto da minha vida, eu não conseguia dizer, não conseguia me declarar. Parecia que se eu o fizesse tudo acabaria, ela me odiaria por ter estragado o que a gente tinha e nunca mais falaria comigo. Eu preferia tê-la ao meu lado como melhor amiga do que não ter.

— Filho… — Ouvi a voz da minha mãe e me virei. — O que aconteceu entre vocês? Nunca vi vocês gritarem um com o outro. — Fui até ela e a abracei. — Me conte o que houve, , estou ficando preocupada.

Fechei a porta do quarto e sentei na cama; contei tudo para ela, como a foi ardilosa para não escancarar a merda que ela tinha feito. foi o que mais me decepcionou, nunca esperava algo desse tipo vindo dele. Éramos amigos desde a adolescência, conheci ele na escola e desde então fazíamos tudo juntos, menos quando estava com a . Meus momentos com ela eram prioridade, não que não saíssemos os três juntos, mas eu e a sempre fomos prioridade na vida um do outro. Talvez esse tenha sido meu erro, não havia reciprocidade com a , ou com .

— Eu nunca gostei dela, ! Quem não quer organizar o próprio casamento?

— Como?

— Eu escolhi toda a decoração do casamento, meu filho. Ela mal me dava bola quando perguntava alguma opinião. — Minha mãe cruzou os braços e fez cara de má, eu conhecia aquela expressão no rosto da dona Hana. — Você vai mostrar pra essa mulherzinha que você não é idiota.

— Mãe, por que não me falou isso?

— Porque achei que você amava ela, queria vê-lo feliz, assim como a ! Que deve ter sofrido durante todos esses dias por não falar a verdade pra você.

— Mamãe, eu preciso falar com a , ela deve estar arrasada comigo, não deveria ter falado daquela forma com ela.

— Não deveria mesmo! A garota te ama desde o fundamental, . — Fiquei olhando-a, completamente perdido. — Você é mesmo um idiota…

— Eu já sei o que preciso fazer.

— Espero que dessa vez faça a escolha certa. — Ela deu um beijo em minha testa e saiu do quarto.


[...]


, aceita como sua legítima esposa?

— Não.

Falei decidido, seria ali que iria desmascará-la. Ela não iria se fazer de santa após esse casamento, ela não iria jogar meu nome e o da minha família no lixo. Sabia do que ela era capaz depois de fazer o que fez.

? — olhou para mim com os olhos apreensivos e ouvi as pessoas murmurarem coisas que não conseguia ouvir.

— Talvez queira casar com o meu melhor amigo, , aquele que você estava trepando na porra do meu banheiro!

A raiva me dominou ao ver a expressão dela; ela nem ousou esconder ou desmentir o que eu tinha acabado de falar.

— Foi você! — Ela deu passos em direção a , que levantou assustada. — Você acabou com meu casamento!

— Não ouse culpá-la, você estragou tudo transando com meu melhor amigo debaixo do meu teto! — gritei, segurando seu pulso; ela não iria gritar e humilhar a minha garota.

— Sempre foi ela, não é? — voltou a me olhar nos olhos. — De nada adiantou todo esse tempo que ela te abandonou aqui e eu catei os pedaços! — Ela nem sequer tentou bancar a inocente, eu estava perplexo com a cara de pau dela. — Você continua apaixonado por ela! — gritou, apontando para a e eu queria dizer que ela nunca esteve tão certa de algo, mas os pais dela a levaram antes que o escândalo fosse maior.

Olhei para em um pedido de desculpas mudo, porém eu soube que ela estava perdida e quebrada, assim como eu. Eu a conhecia bem demais para não saber o que se passava em sua mente. Ela saiu acompanhada de seus pais e eu daria um tempo para ela, nós precisávamos de um tempo pra absorver tudo aquilo antes de conversarmos. Olhei para a minha mãe e ela curvou os lábios para mim, aprovando o que eu tinha feito. Meu pai pedia educadamente para que todos fossem embora e eu afrouxei a gravata em meu pescoço e saí dali.

Precisava respirar.

Caminhei por algum tempo até chegar na cachoeira do arco-íris, como apelidamos o nosso lugar. Tirei a roupa, ficando apenas de cueca e entrei na água, mergulhei sentindo-a gelada ao meu redor. Estiquei as pernas e os braços e fiquei boiando ali, olhando o topo das árvores sendo banhados pelos últimos raios solares do dia. Prestei atenção na minha respiração e mexia os dedos devagar pela água, aquilo sempre me acalmou, ficar ali apenas comigo mesmo. Perdi as contas de quantas vezes levei o meu sofrimento até ali e o descarreguei naquela água, como se ela me purificasse de tudo.

No domingo pela manhã, peguei pães de queijo recheados, que minha mãe havia feito, e entrei no carro em direção a fazenda dos 's. Respirei fundo assim que desci do carro, caminhei a passos lentos e pesados até a varanda da frente. Sentia um peso imenso sobre minhas costas, queria conversar com a e me entender com ela. Explicar tudo que aconteceu e principalmente o que a falou, ela devia estar perdida imaginando mil coisas. Apertei a campainha e o tio Kizashi atendeu.

— Oi, filho, bom dia.

— Oi tio, bom dia. — Pigarreei, estava tão sem graça, sentindo uma vergonha inimaginável. — Poderia falar com a ?

— Ela não está, . — Ouvi a voz da tia , que apareceu logo atrás do senhor Kizashi. Franzi o cenho sem entender. — Ela voltou para o Rio.

Parecia que eu tinha perdido o chão ou a capacidade de manter minhas pernas firmes no chão. Apoiei minha mão no batente da porta.

, poderia ter convidado o garoto pra entrar pelo menos.

— Ele deveria se arrepender de fazer a minha passar por aquilo. — A mulher resmungou e foi-se para dentro da casa.

, eu sabia que você viria… — Seu saiu de dentro da casa e fechou a porta. — Tome… — puxou um papel do bolso e me entregou —, se o que eu sempre vi entre vocês dois é verdadeiro, saberá o que fazer com isso. — Ele piscou para mim e entrou.

Caminhei cabisbaixo até o carro, estava arrasado; ela não se despediu de mim, não mandou sequer uma mensagem. Ela não queria falar comigo, era claro para mim. Bati no volante com raiva e com mágoa de mim mesmo; doía, doía como o inferno ficar sem ela novamente. Desta vez nem pude me despedir e ainda acabamos nesta situação. Abri o punho e vi o papel que Kizashi tinha me dado, assim que o abri, eu sorri, era sobre isso que ele falava.

Cheguei em casa e subi a escada correndo, estava com quase todas as minhas coisas na casa dos meus pais devido ao casamento. Até as malas prontas para a lua de mel; que patético. Peguei uma das malas, algumas coisas que precisava do banheiro, meu notebook e carregador do celular.

— Pra onde vai? — Minha mãe apareceu na porta do meu quarto.

— Atrás da minha garota, mãe.

— Sempre sonhei em você dizer isso. — Ela sorriu; passei por ela dando um beijo no topo da cabeça. — Juízo, garoto!

— Pode deixar!


[...]


Um pouco mais de cinco horas depois eu estava perdido no Rio de Janeiro; até tentei usar o GPS, mas aquela merda parecia estar tirando uma com a minha cara. Parei em um ponto de táxi e perguntei pelo endereço escrito no papel, então finalmente consegui achar o prédio. realmente tinha se dado bem na vida, seguiu o sonho dela e conseguiu se estabelecer na cidade grande. Fiquei pensando se ela estaria em casa, claro que era domingo, mas ela estaria ali?!

Procurei um lugar para estacionar e entrei no prédio, não tinha ninguém na portaria, estranhei aquilo, mas se o destino estava sendo bondoso comigo eu não iria reclamar. Entrei no elevador e esperei chegar no 7° andar, saí andando pelo corredor procurando o apartamento 704. Cheguei em frente a porta e ali, em frente a grande interrogação do que aconteceria, senti um nervosismo e uma ansiedade tomar conta do meu corpo. Perdi completamente a coragem que tinha me dominado lá em Barbacena, céus, por que ela me abandonou?! Respirei fundo e levantei a mão, abaixei, virei de costas e passei as mãos pelo rosto e cabelo.

— Vamos, , você consegue. O máximo que vai acontecer é ela nunca mais falar com você… — Bati a mão na minha testa. — Isso não foi um bom encorajamento, idiota.

? — Virei o rosto para o lado e vi com uma roupa de ginástica, eu sinceramente não sabia o que dizer e falei a coisa mais idiota que poderia:

— Surpresa. — Sorri amarelo e ela franziu o cenho.

— Eu vi a sua pequena discussão interna, , não precisa fingir. — Ela caminhou até mim, colocou a chave na fechadura e abriu a porta, passando por ela e deixando-a aberta. Fiquei olhando para dentro do apartamento e ela se virou. — Não vai entrar?

Entrei e fechei a porta, vi ela andando até a cozinha ampla, que era integrada com a sala, e logo tinha uma varanda grande em todo o comprimento do apartamento, que dava para ver um pouco do mar de Copacabana. Vi ela pegar água na geladeira, dois copos, e servir para nós dois. empurrou, no que julguei ser mármore, um dos copos em minha direção, peguei-o e dei alguns goles, tentando ganhar tempo, já que não sabia nem por onde começar.

— Vamos…

Ela cruzou a sala e abriu a porta de vidro da varanda, foi até uma pequena mesinha e acendeu um incenso, pegou uma carteira de Marlboro, tirou um cigarro e acendeu. Arqueei uma das sobrancelhas. Ela ainda fumava? Disse para mim que ia parar após a faculdade.

— Sim, eu ainda fumo, , mas só de vez em quando.

— Eu não disse nada.

— Nem precisava… — Ela virou pra mim com aquele olhar inquisidor, eu sabia que ela queria saber o que eu fazia ali.

— Não sei por onde começar…

— Pelo começo, .




Depois do meu monólogo contando de como fiquei acabado quando ela deixou a cidade, de como conheci e ela me fez acreditar que eu poderia ser feliz sem ao meu lado; de como achei que tinha superado o quanto eu a amava desde sempre, mas que era burro o suficiente para só perceber isso na faculdade. E mesmo percebendo, não tive coragem o suficiente para me declarar, não fui honesto quanto a todos os sentimentos que tinha no peito por ela.

Falei também sobre o quanto ela mexeu comigo quando voltou no fim de semana passado, de como percebi que eu não conseguiria ficar sem ela nunca mais. Porém, mesmo percebendo a burrada que tinha feito, iria casar por achar que jamais teria o amor dela além da amizade. Minha voz já falhava quando tentei explicar o quanto me sentia mal por ter feito aquilo no casamento, por mais que a tenha feito o que fez, eu não precisava ter humilhado ela.

— Precisava sim, ela foi uma vagabunda, manipuladora, ardilosa! A mulher só não perde pra Nazaré Tedesco, ! — se exaltou, levantando do sofá; já estávamos sentados na sala dela após dividir uma pizza. — E ainda quis me colocar como cúmplice! Cúmplice por enganar e entregar o homem que eu amo de bandeja pra ela!

— O que você disse? — Levantei com os olhos arregalados.

— Eu amo você, seu idiota! — Vi os olhos verdes brilhando das lágrimas e comecei a sorrir, a felicidade me envolveu no mesmo instante. Abracei ela com força, tirei seus pés do chão e senti o perfume floral do seu shampoo no seu cabelo recém lavado invadindo meu olfato, fazendo-me sentir todo o poder que aquela mulher tinha sobre mim.

— Me desculpa, . — Coloquei-a no chão, coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e acariciei sua bochecha sem tirar os olhos dos seus.

— Logo terá pelo que me pedir desculpas, .

— Hã?

— Se não me beijar logo…

Sorri e puxei-a pela nuca. Rocei meu nariz no seu, desci pelo cantinho de sua bochecha até chegar em seu queixo, deixando uma mordiscada ali, e logo rocei os lábios nos seus, sentindo a maciez de sua pele sob a minha. Sua mão subiu até meu rosto enquanto a outra se mantinha em minha cintura. Encaixamos nossos lábios de olhos fechados, aproveitando o momento, aproveitando cada sensação que nos invadia; eu tinha certeza que ela sentia o mesmo. Os arrepios pelos braços, o frio na barriga e a vontade de exagerar nos toques. Segurei sua cintura com força e a colei em meu corpo, entreabri a boca e chupei sua língua.

Senti ela se afastar e a entendi mesmo antes de fazer, seu impulso no chão me disse tudo. Peguei-a pelas coxas e a encaixei em meu quadril, suas mãos passeavam pelas minhas costas. Dei alguns passos e nosso beijo continuou sedento e molhado; sentia meu corpo inteiro em frenesi e aquilo era uma loucura. Nunca na minha vida senti nada parecido beijando alguém, mas venhamos e convenhamos, não é alguém, ela é a porra da mulher da minha vida!

— É a porta no fim do corredor. — Foi tudo que ela disse antes de nós sermos abraçados pelos lençóis confortáveis de sua cama.

Beijei seu pescoço, seu ombro, desci e levantei a camiseta larga que ela usava; então pude, pela primeira vez, admirar seus seios desnudos e durinhos de tesão. E esse tesão era por mim. Beijei com lasciva o bico de cada um deles, apertei suas costelas com as mãos, beijei sua barriga e cheguei na barra de seu short. Olhei para cima e a vi vermelha feito um pimentão, não me contive e comecei a rir. Voltei até seu rosto e acariciei seu maxilar e sorri, beijei a ponta do nariz arrebitado e encostei nossas testas.

— Se não estiver pronta pra isso, não precisamos…

— Estou pronta, sempre estive, , mas depois disso não haverá volta. — Ela olhou fundo dentro dos meus olhos. — Tem certeza que não vai se arrepender?

— Me arrependo todos os dias de não ter te beijado antes, .

Vi ela dar o mais lindo dos sorrisos e me beijar com afinco, sua língua brincava com a minha dentro de nossas bocas. Sua mão puxou meu cabelo e suas pernas enrolaram em minha cintura, apertei sua coxa grossa e a beijei com volúpia. Escorreguei os dedos para dentro do seu short, apertando sua bunda na sequência, e ela sorriu em meus lábios e mordeu o inferior.

— Me ama, … Me ama como sempre quis fazer.

— Eu vou te amar todos os dias da minha vida, . Você é a minha garota, sempre foi.

Vi ela sorrir e os olhos brilharem, aquilo me fazia bem para caralho e eu ia fazer de tudo para sempre ter aquele sorriso e aquele olhar direcionado a mim.


[...]


Respirei fundo mesmo antes de abrir os olhos. Senti aquela presença em meu peito, ela estava ali, agarrada em mim. Abri os olhos e vi os cabelos rosas espalhados pelo meu ombro, braço e lençóis. sempre gostou do cabelo, cortou uma vez no fundamental e odiou, prometeu a si mesma que nunca mais cortaria. Sorri com a lembrança e tirei ela devagar de cima de mim, levantei com cuidado e vesti minha calça. Fui até a cozinha e comecei a procurar algo para o café da manhã, mas não havia nada na geladeira. Comecei a ficar preocupado, olhei a dispensa e apenas alguns salgadinhos, pacotes de massa de bolo pronto e macarrão instantâneo.

— Eu sempre peço comida, antes que pense que estou me alimentando mal. — Virei e vi a cena mais linda de toda a minha vida: usando a minha camiseta, cobrindo-a até o meio das coxas grossas; o cabelo preso no alto, bagunçado de uma noite de amor. A mulher era linda até quando acordava. — Bom dia. — Vi ela se aproximar e ficar a minha frente. Eu estava sem palavras, era isso, e ela envergonhada sem saber como se comportar.

— Bom dia, minha pequena. — Eu não sabia muito bem também, aquilo tudo era novo pra mim, pra nós. Selei nossos lábios.

— Eu tomo café no caminho pra empresa, quer ir comigo?

— Não seria meio…

— Eu sou a editora chefe da empresa, , vou apenas levar um amigo que queria muito conhecer a sede de uma das melhores empresas de livros e revistas. — Ela sorriu daquele jeito que eu sabia que ela estava tramando algo.

— Se você diz… — Dei de ombros. — Preciso pegar minha mala no carro.

— A chave está no cestinho perto da porta, vou tomar banho enquanto isso. — Ela tirou minha camiseta, ficando apenas de calcinha, e me entregou. — Vai precisar disso. — Me olhou com a maior cara de safada e sumiu no corredor.

Que garota…

Chegamos na empresa de e ela me apresentou seus colegas de trabalho, a empresa, sua sala e tudo que ela fazia ali. Tudo que vi em teoria na faculdade, eu estava vendo ao vivo e a cores. Realmente, não tinha como não se apaixonar por aquele mundo sendo amante da literatura. Na hora do almoço fomos até um dos restaurantes preferidos da , fizemos uma refeição maravilhosa e então ela me levou até a praia. Caminhamos, tomamos água de côco e depois ela me mostrou alguns lugares que ela gostava. O Rio de Janeiro era mesmo lindo e aquele lugar cativava qualquer um que passasse por ali.

No fim de tarde ela me levou para um bar para assistir o pôr do sol com vista para a lagoa da Tijuca. Era lindo o lugar, ela pediu um drink e eu uma cerveja. Coloquei minha mão sobre a dela, que estava apoiada na mesa, atraindo os olhos verdes para os meus, que não cansavam de admirar a beleza daquela mulher.

Ela sorriu e disse:

— Pedi para tirar férias…

— Como? — Arregalei os olhos.

— Vou voltar para Barbacena com você, se você me aceitar como companheira de viagem, é claro.

— Eu te aceito como minha companheira de vida, , se me permitir ser o seu.

Ela sorriu e suspirou; mantinha a face serena e olhou para as nossas mãos unidas, dedos entrelaçados e voltou a me encarar.

— Tudo que eu sentia falta aqui nessa cidade era você, e agora está aqui comigo. — Senti meu coração bater mais rápido, talvez minhas mãos tivessem começado a suar um pouco. — Entendi que onde você estiver eu vou estar em paz, .

— Então eu estarei sempre com você.


[...]


— Filho… — senti o abraço da minha mãe —, sinto muito que tenha voltado sozinho… — Ela passou a mão pelo meu rosto e me olhava com uma expressão de tristeza, então sorri e saí da frente da porta, onde estava parada, sorridente segurando sua bolsa. — !

— Oi, tia Hana. — Minha mãe a abraçou.

— Você perdeu a fé em mim muito rápido, mãe — falei, forçando irritação.

— Desculpe, prefiro pecar pelo excesso. — Ela deu de ombros e saiu levando para a cozinha. — Vamos, fiz seu preferido. Meus biscoitos de goiabada.

Aquelas duas foram feitas para serem da mesma família.

Depois de um belo café da tarde, fomos ver os pais de . quase bateu em mim e na própria filha, disse que éramos dois idiotas e que se tivéssemos sido menos lentos, teríamos evitado um escândalo na cidade. Concordo com ela em partes. Nos despedimos dos meus futuros sogros, se a me permitir ser seu namorado, e fomos para o meu apartamento. Apresentei meu espaço, pequeno, mas o suficiente para um homem solteiro, o que não era mais a realidade naquele momento. Contudo, conseguimos arrumar tudo para nos receber de forma aconchegante por ali e aquele seria nosso lugar pelos próximos 15 dias.



[...]



Sentamos na nossa pedra de sempre na cachoeira arco-íris, assisti tirar o vestido longo amarelo que ela usava, ficando apenas de biquíni. Tirei a camiseta e ela encostou no meu peitoral. Estávamos ali, curtindo o nosso momento, ali era o nosso cantinho, onde todos os nossos traumas, medos, inseguranças foram amparados. Estar ali com ela dessa forma enchia meu peito de felicidade, tudo aquilo era especial para nós dois.

— Como faremos? — Ela atraiu minha atenção de repente.

— O quê? — Não entendi ao certo sobre o que ela estava falando.

— Isso, , eu no Rio e você aqui, como faremos isso? — Ela parecia preocupada e isso me deixou em alerta, talvez fosse melhor discutirmos isso depois.

— Está realmente pensando nisso agora?

— Claro que estou, eu preciso ir embora em dois dias! — Ela se afastou e virou para mim. — Eu não quero mais ficar longe de você.

— Nem eu de você, . — Acariciei seu rosto e beijei sua testa.

— Eu largo meu emprego e volto pra cá, não quero que abra mão do seu bar. — Ela disse tudo de uma vez, atropelando as palavras, e eu sabia o quanto ela podia ser impulsiva quando queria algo. Foi assim que foi para o Rio de Janeiro com a cara e a coragem. No entanto, o que ela não sabia era que eu já tinha pensado a respeito e já tinha me decidido.

— E se eu levá-lo para o Rio?

, não é um carro pra você levar para outro estado! — Ela me deu um soco no ombro.

— Ai, isso doeu, ok?! — Esfreguei o local que recebi o golpe.

— Era essa a intenção. — Ela cruzou os braços e empinou aquele nariz já arrebitado, puxei-a para meu colo e fiz cosquinhas para desfazer aquela cara amarrada. — Não, não, para, ! — Ela ria enquanto falava, então parei e beijei seus lábios, logo os olhos verdes estavam fixos em mim.

— Estou falando sério.

— Não posso deixar que faça isso.

— Mas… tenho uma condição. — Ignorei a censura dela e continuei.

, não vou pedir que você deixe aquilo que tanto queria…

… — peguei as mãos dela e olhei bem naqueles olhos verdes que eu tanto adorava —, você é e sempre foi tudo que eu queria... — Os olhos dela encheram de lágrimas e ela pulou em meu colo, me abraçando.

— Qual é a condição? — falou baixo, sem deixar o conforto do nosso abraço.

— Que você construa esse novo bar comigo.

Ela se afastou e olhou para mim de forma surpresa, porém feliz, com um sorriso estampado em seu rosto.

— Essa é a melhor condição…




8 meses depois…


— Mesa 4 pediu uma porção de pastéis de queijo e dois chopes artesanais. Mesa 8, outra cerveja puro malte e mais duas porções de batata frita. — Um dos garçons, que estava com a gente desde o início, entregou-me o pedido e foi atender outra mesa.

, preciso que pegue mais guardanapos lá no estoque — falei enquanto pedia para o cozinheiro adiantar os pedidos.

— Pode deixar.

Vi ela rebolar aquela bunda gostosa dentro da saia apertada que usava no escritório. Ela continuou na empresa, porém com um expediente reduzido. Quando ela pediu as contas, seu chefe implorou para que ela ficasse; aparentemente, era a melhor editora que tinha passado por ali. Então ele aceitou o que ela pediu, não era ruim para ela, adorava trabalhar na editora, mas também queria cumprir a promessa de ficar a frente comigo no bar que construímos do zero; juntos.

Corri até os fundos do bar e me encostei no batente da porta, olhando ela se esticar no banquinho para pegar o pacote de guardanapos que ficava na última prateleira.

— Precisa de ajuda, senhorita ? — Falei galante, beirando a obscenidade, e ela se virou, torcendo os lábios.

— A gente não precisa de guardanapos, não é?!

— Não, eu preciso de você. — Fechei a porta com o pé, agarrei suas nádegas trazendo-a para meu colo e encostando suas costas na parede mais próxima. Beijei-a com malícia, delineando aqueles lábios com a minha língua, desci para o pescoço e logo o decote delicioso ganhou a minha atenção. Sentir o gosto da pele dela na ponta da língua era um dos meus gostos favoritos.

— Eu amo você mesmo sendo um pervertido.

— E eu amo você mesmo se fazendo de santa.

— Gosta da safada? — Ela desceu do meu colo, virou de costas se apoiando na estante, e puxou a saia para cima, me deixando completamente extasiado pela visão do seu rabo sem nenhum pano para cobrir. — Aqui está ela, senhor .

Dei um tapa forte e finalizei:

— Minha garota.


Fim.


Nota da autora: Sou nova nesse mundo de histórias interativas e espero me dar bem por aqui, adoro escrever e minha intenção sempre é levar emoções para meus leitores, então se divirtam! Beijos

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