Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 04/06/2025"Me deixa em paz, Tate!" pensei, me comunicando com ele como podia, porque era assim que lobos se comunicavam, além dos clássicos uivos e latidos. Pelo menos os transmorfos, e isso é o que eu sou.
Meu nome é , tenho dezoito anos e sou uma loba transmorfa. Descobri com 15 anos quando tive minha primeira, dolorosa e traumática transformação. Também descobri que herdei isso de Carlos, o meu pai, o responsável por me ensinar tudo o que eu sei até onde pôde, antes de ser assassinado junto com minha mãe enquanto tentavam me defender a dois anos atrás. O assassino? Ele estava bem atrás de mim.
Tate era um lobo obcecado por mim e fez de tudo para conseguir me aprisionar no muquifo que ele chamava de "casa". Eu morava em Clallam County e, depois que meus pais morreram, ele me trouxe para a casa dele com a promessa de que cuidaria de mim, e eu acreditei, antes de descobrir que ele atacara meus pais. Esse infeliz acabou com minha vida, me acorrentou, não me alimentava e me impedia de virar loba. Depois de longos anos, eu finalmente consegui fugir dele. Só que ele não ia desistir tão fácil.
"Você se acha tão forte, docinho, mas não é nada sem mim!" ele rosnou em resposta, aumentando a velocidade de sua corrida. Quando eu arrisquei olhar para trás, ele havia sumido. Olhei para todos os lados e não o encontrava. Isso não era nada bom, então aumentei minha velocidade para não dar chance de ele me atacar. Contudo, era tarde demais. Senti um empurrão na lateral do meu corpo e me vi sendo arremessada contra uma árvore grossa e antiga. Resmunguei de dor com o impacto, tentando me levantar e falhando ao sentir uma mordida na perna traseira, meu corpo foi imediatamente arrastado pela mata. Comecei a dar chutes e um deles acertou seu rosto em cheio, o fazendo cair desacordado. Inconsciente, ele voltou à sua forma humana. Com muito esforço, consegui me levantar e me aproximei dele, vendo que sua cabeça sangrava. Meu Deus, seria possível que eu o matara? Eu havia finalmente me livrado daquele monstro?
De repente, ele abriu os olhos e agarrou meus pelos, me olhando com ódio. Mordi seu braço com força e o fiz me soltar, dando uma cabeçada nele, o fazendo cair de novo, aproveitando-me da sua fragilidade humana. Saí mancando, ainda em forma de lobo, e me afastei o máximo possível dele, até ganhar vantagem, antes que ele acordasse para vir atrás de mim (e eu precisaria de muita vantagem, já que não podia mais correr).
Eu andei pelo que pareceram horas, sempre beirando a estrada para que eu não me perdesse em uma mata desconhecida, deixando um rastro do sangue que saía em abundância do meu machucado. Minha perna doía a cada passo, e era possível que eu tivesse quebrado alguma costela. Uma vantagem de ser loba é que eu já podia sentir meu corpo se curando, no entanto, não seria um processo rápido, se eu não parasse para descansar. O problema é que eu não podia parar, tinha que continuar andando.
Então, andei mais, e mais, andei até perder totalmente a noção do tempo, até perceber que estava escuro demais para a minha própria segurança. Eu não aguentava mais, já estava me arrastando ao invés de andar.
Foi quando eu ouvi um farfalhar de folhas e galhos quebrando. Em alerta, olhei em volta, com o pavor dominando minha mente e acelerando meu coração, sabendo exatamente quem poderia ser. Foi quando ele apareceu, na sua forma humana, com um taco de baseball na mão, o mesmo taco que ele usava para me bater quando eu o desobedecia. Como ele havia ido da floresta para casa e para onde eles estavam, em tão pouco tempo, era realmente um mistério que eu não estava disposta a desvendar.
— Achou mesmo que eu não ia te encontrar, né? — murmurou, dando uma risada que me deu um frio na espinha.
Esse era o meu fim, igual ao dos meus pais, pelas mãos da mesma pessoa. Eu já não tinha mais força para correr ou lutar, tudo o que me restou foi chorar e uivar, sem esperança que alguém me socorresse a uma hora daquelas. Tate foi se aproximando, com o taco levantado, e só deu tempo de eu fechar os olhos antes de sentir a primeira pancada. Esperei por outra, rezando para que minha morte fosse rápida e acabasse com aquela dor, mas não veio. Quando abri meus olhos, com certa dificuldade, vi que havia outro lobo ali, rosnando para ele. Tate se transformou em lobo, rosnando de forma ameaçadora, e tentou atacar. Porém, o outro lobo era gigante, muito maior que Tate, com pêlos marrons e sedosos que minha mente confusa e perdida sentiu vontade de poder tocar; ele foi muito mais rápido. O lobo correu até Tate e o jogou longe, e a última coisa que vi foi Tate sair correndo e o outro lobo se aproximando de mim.
"Qual o seu nome?" o lobo questionou, sua voz grave e preocupada invadia minha mente. Algo se remexeu dentro de mim, ao mesmo tempo que eu tentava pescar a informação básica em minha memória, me surpreendendo por ela não estar na ponta da minha língua.
"..." respondi, tentando organizar meus pensamentos. Tudo girava, e eu já não conseguia manter os olhos abertos.
", confia em mim, vai ficar tudo bem" ele falou antes de se transformar novamente em humano. Seus traços embaçados foram tudo o que eu vi antes de finalmente apagar.
— Vai com calma, garota, você levou uma pancada e tanto. — Ouvi uma voz feminina dizer, se aproximando da cama.
A pessoa acendeu a luz do quarto e tive que fechar os olhos na mesma hora. Por mais que algo dentro de mim me dissesse para correr, meu corpo se recusava a atender qualquer comando, enfraquecido e dolorido como estava; até pensar era uma tortura, tudo parecia uma bagunça em minha mente. As lembranças de como fui parar naquele quarto simplesmente não vinham, por mais que eu tentasse.
— Trouxe um chá para acelerar mais ainda a recuperação. Sempre funciona nos meninos — continuou a mulher, sorrindo. Tentei observar seu rosto, e ele não era nada familiar. Ela tinha uma cicatriz que atravessava sua face, o que me fez desviar os olhos, me sentindo desconfortável.
— Onde estou? — questionei com a voz rouca. Eu tentava buscar alguma informação na memória, mas era como um quadro em branco: não tinha nada. — Quem é você?
— Sou Emily, esposa do Sam. — Ela me encarou, esperando ver algum sinal de compreensão. — O lobo que te salvou ontem.
— Lobo? — questionei, me sentando com dificuldade. Finalmente consegui algum controle do meu corpo.
— Sim, querida — ela respondeu com gentileza, mas me olhou, confusa.
— Eu... Eu não me lembro de nada — falei, sentindo meu coração acelerar em desespero. — E-eu preciso sair daqui!
Levantei-me depressa e logo me arrependi. Tudo girou ao meu redor e eu certamente iria cair de cara no chão de madeira, se não fosse por um par de braços me segurar no momento exato que meus joelhos falharam. Me apoiei no desconhecido em um ato automático, tentando permanecer.
— Opa, aonde você vai? — ele falou aos risos.
Eu olhei nos olhos brilhantes e castanhos do homem em uma nova tentativa de reconhecer onde raios eu estava e senti algo repuxar dentro de mim, como se um nó fosse dado entre nós dois. Esse toque, essa risada, o sentimento estranho de que, bem no fundo eu o conhecia a vida inteira, mesmo não tendo lembrança alguma daquela pessoa... Tudo me fez surtar. Comecei a gritar, ignorando toda a dor que eu estava sentindo quando senti os braços dele me agarrarem.
— Calma, eu não vou te machucar, confia em mim! — ele falava, me levando de volta para cama.
— Jacob, solta ela, isso só vai piorar as coisas! — a mulher falou.
Mesmo estando deitada, o quarto inteiro ainda girava. Minha visão ficou embaçada de novo e eu apaguei.
Um longo tempo depois, acordei com tudo escuro novamente. Levantei com menos dificuldade que antes, sentindo um grande alívio, pois, se nada mais girou ou doeu, eu poderia sair correndo daquele lugar. Fui tateando as paredes até encontrar o interruptor. Dessa vez, meus olhos se adaptaram rápido à claridade, mas meu corpo ainda reclamava um pouco do simples esforço de andar. O que tinha acontecido para eu estar daquele jeito?
Olhei no espelho que tinha no quarto e me assustei ao me encarar, não reconhecendo nenhum traço próprio. Notei que eu tinha cabelos pretos e compridos que chegavam à altura abaixo dos meus seios, estava com uma camiseta enorme preta com desenhos de motocicletas e uma calça xadrez de moletom que estava um tanto larga na cintura. Meus olhos eram castanhos, assim como minha pele negra em um tom claro, quase avermelhado. Eu não sabia que era assim, era como se nunca tivesse me visto antes.
Respirei fundo e abri a porta do quarto com cuidado, caminhando até a sala na ponta dos pés. A televisão estava ligada em algum canal com programa de comédia, dava para ouvir a risada da plateia a cada piada feita. Essa era minha casa? Aqueles estranhos eram minha família?
No sofá, distraído com a televisão, havia um homem que logo percebi não ser o mesmo que me segurou antes do desmaio.
— Quem é você? — questionei em voz alta, pegando-o de surpresa.
— Que bom que acordou — falou com um sorriso. Ele se levantou, mas não se aproximou muito; a alguns passos de distância, ele levantou as mãos para cima, em sinal de redenção. — Não vou te machucar, ok?
— Quem é você? — repeti a pergunta. — Onde estou? Por que eu não faço ideia de quem eu sou?
— Calma, uma pergunta de cada vez! — ele respondeu aos risos, mas logo parou de rir ao ver que eu não achei graça alguma. — Eu sou o Sam Uley, lobo alfa da alcateia de La Push. Você está na minha casa. — Ele abriu os braços para indicar o local em que estávamos. — Que, no caso, fica em La Push. Você é a , uma loba que encontrei sendo atacada na floresta e isso é tudo o que sei sobre você.
Fiquei o encarando, tentando absorver as informação e mantê-las no meu cérebro instável. Por que eu não conseguia me lembrar de nada?
— Eu... Eu sou daqui?
— Quase certeza que não, porque certamente já teriamos te visto antes. Mas, infelizmente, não sei de onde você é — ele respondeu, me olhando com curiosidade. — Parece que você perdeu toda a sua memória... Vem, por que não se senta no sofá e a gente conversa direito?
O olhei, desconfiada, e o vi virar os olhos.
— Eu vou sentar na poltrona, ok? A uma distância segura de você. Acredite em mim quando eu digo que não vou te machucar, eu te trouxe para dentro da minha casa para a sua segurança. Eu só quero ajudar, eu prometo — ele disse, parecendo um tanto frustrado.
Me sentei no sofá, me sentindo ridícula por inconscientemente confiar em um homem que nunca vi antes. Como prometido, Sam Uley sentou na poltrona e abaixou o volume da televisão. Pela luz do aparelho, consegui ver seus traços. Sam tinha o mesmo tom de pele castanho avermelhado, olhos pretos como jabuticabas e corpo musculoso e definido. No ombro direito, havia uma tatuagem, parecendo ser um desenho indígena, como uma mandala.
— Você disse que sou uma loba? — questionei, incerta se havia entendido corretamente.
— Sim e eu sou um lobo. Foi assim que te encontramos, estávamos... procurando por algo na floresta quando ouvi você uivar.
Assenti, tentando absorver mais uma informação que parecia ter saído de um livro de fantasia.
— Então tem outros?
— Por enquanto, tem mais seis.
— E Emily? É uma loba? — questionei, e o vi sorrir, divertindo-se com minha confusão.
— Não, Emily é só humana. E minha esposa.
Era estranho, mas toda essa história de lobo não me parecia tão absurda. Era como se eu soubesse de tudo isso antes, e provavelmente eu sabia.
— Que dia é hoje?
— Hoje é dia 20 de janeiro de 2012, segunda-feira, exatamente... — ele olhou para um relógio na parede da cozinha — meia noite e meia. Você apagou por dois dias, praticamente — ele respondeu.
O olhei,, assustada, colocando a mão na cabeça como se isso fizesse tudo se resolver.
— Você realmente não se lembra de nada? Dos seus pais, alguma família? Alguma matilha de lobos que você faça parte? — ele perguntou, e eu apenas neguei com a cabeça, deixando meus ombros caírem com a mesma decepção que ele expressou em sua face. — Eu tinha esperanças de que você soubesse quem foi o cara que te atacou.
— Desculpe, mas minha cabeça é como se fosse um papel em branco — respondi, frustrada.
Uma angústia gigante se apoderou do meu coração quando ele perguntou dos meus pais, com o sentimento duplicado por não lembrar nem ao menos os rostos deles.
— Está com fome? — ele perguntou, se levantando e indo em direção à cozinha.
Sem responder em voz alta, me levantei e o acompanhei, observando tudo ao redor. Sam fez dois sanduíches para ele e dois pra mim. Eu nem questionei a quantidade, pois estava com muita fome e senti que precisava repor minhas energias, então devorei o primeiro sanduíche em segundos. Uley não me julgou, apenas sorriu, satisfeito, e me serviu suco de laranja com a orientação de tomar o máximo possível de suco e água nos próximos dias para me hidratar.
— Pelo menos seus machucados estão quase cem por cento curados — ele falou, tomando um gole.
— Vantagens de ser loba... — soltei, distraída, sentindo que já falara aquilo alguma vez antes. Sam me olhou, surpreso, mas não questionou de onde eu tirei a informação. Também estranhei, mas compartilhei de seu silêncio.
Então, Sam começou a me falar tudo sobre La Push, desde a floresta até as incríveis praias locais. Falou sobre a tribo dos quileutes, os lobos e sobre os “frios” que habitavam Forks, sem se aprofundar muito nesse assunto. Quando acabamos de comer, os dois pareciam cansados demais para continuar a conversa. Eram três da manhã e, por mais que tenha dormido por dois dias, eu poderia usar um pouco mais de descanso. Percebi que Sam também estava exausto, então cada um foi para o seu quarto.
No corredor, paramos um de frente para o outro, ele deu boa noite e eu disse o que não havia dito até então, mas sabia que precisava:
— Obrigada por me salvar.
— Não há de quê — ele respondeu, sorrindo, e me esperou fechar a porta do quarto para entrar no dele.
Deitei na cama e fiquei olhando o teto, revisando as informações que Sam me passou. Meu cérebro parecia começar a se encher novamente, porém, ainda havia um vazio incômodo nele. Rolei na cama pelo que pareceram horas até pegar no sono de novo.
Toda noite, nos últimos três dias, eu acordei gritando, não foi diferente naquela quarta manhã, dando início ao caos que seria aquele dia. Me levantei bruscamente, em busca de ar, mas logo percebi que eu não estava sozinha.
— Ei, está tudo bem, eu estou aqui!
Um garoto, um pouco menor e aparentemente mais novo que Sam — mas igualmente alto e forte — falou ao me ouvir gritar, vindo me abraçar como se me conhecesse há anos. O reconheci como o cara que impediu minha queda alguns dias atrás. No entanto, antes de ver que era ele, pensei ser Sam, o dono da casa. Foi apenas quando meus olhos se acostumaram com a escuridão do quarto que eu percebi ser um completo estranho.
Contudo, a sensação que senti quando ele me abraçou foi a mesma que senti quando ele evitou minha queda, uma corrente elétrica passou por meu corpo. Não gostei nada de o ter ali novamente, agindo como se me conhecesse há anos. Me desvencilhei de seus braços.
— Me solta! — gritei, empurrando-o com toda a minha força.
Para minha surpresa e dele também, o garoto foi arremessado contra o armário do quarto, quebrando a porta do móvel no meio. Olhei espantada para a cena dele desnorteado, tentando, assim como eu, entender o que aconteceu. O ar parecia não chegar em meus pulmões e minhas mãos tremiam sem parar.
— C-calma, , sou eu! Jacob! — ele falou ao se levantar, extremamente confuso. Então eu o conhecia?
O tal Jacob tentou se aproximar, então me levantei da cama para me afastar. Olhei em cima da escrivaninha que ficava ao lado e encontrei uma tesoura, a única coisa que eu poderia usar como arma. A segurei com o máximo de firmeza que o tremor permitia e apontei para Jacob que já ameaçava dar passos em minha direção.
— Se afasta! — berrei, tremendo. — Socorro! Sam!
Comecei a gritar, as lágrimas caindo soltas dos meus olhos por conta do pavor. O garoto me olhava chateado, com dor estampada nos olhos e por todo seu rosto. A decepção era clara, mas eu não conseguia entender o que eu havia feito de errado para ele agir assim. Em que mundo ele vivia para achar que poderia abraçar uma desconhecida, achando que ela lidaria bem com isso?
— Eu não vou te machucar — ele sussurrou, levantando as mãos.
Alguma coisa nele me era familiar, era realmente como se eu o conhecesse a vida toda. Entretanto, não importava o que eu fizesse, eu não conseguia me lembrar, então ele era um estranho até que me provassem o contrário.
Abrindo a porta no instante seguinte, Sam e Emily chegaram, ofegantes, no quarto, ainda de pijamas e cabelos bagunçados de quem ainda estaria dormindo se pudesse. Me senti culpada por, mais uma vez, atrapalhar a paz do casal.
— O que houve? — perguntou Sam em tom de alerta, varrendo o quarto com os olhos e se assustando ao perceber o armário destruído. Então, olhou para Jacob, que abaixou a cabeça como um filhote de cachorro perdido.
— Quem é ele? Por que ele está aqui? — perguntei, desesperada, ainda apontando a tesoura na direção do estranho.
Emily caminhou em minha direção com cautela e tirou a tesoura da minha mão, colocando-a de volta na escrivaninha, dessa vez em uma das gavetas.
— , esse é o Jacob Black. Vocês... bom, ele teve um imprinting quando te salvou — ela explicou, com calma. Eu a encarava sem entender.
— Teve o quê? E-eu não... Eu não sei do que você está falando, eu não o conheço — falei, confusa, passando a mão na cabeça. — Eu achei que Sam havia me salvado!
— Isso é impossível, eu sei o que eu senti! — exclamou o tal Jacob, claramente perturbado.
Eu agarrei o braço de Emily por instinto, me encolhendo, assustada, atrás da mulher, e ela sussurrou que estava tudo bem e repetiu que ele não iria me machucar. Algo em mim dizia para confiar nela porque eu sabia que era verdade, porém, não sabia dizer o porquê.
— Espera lá fora, Jake — Sam murmurou, acompanhando o garoto para fora. Jacob parou na porta e me olhou com tristeza e raiva uma última vez antes de sair.
Comecei a chorar igual criança, ainda abraçando Emily. O que foi aquilo? Por que eu sentia que o conhecia, mas não conseguia me lembrar de nada? O que foi aquela corrente elétrica que passou por mim?
Me sentei novamente na cama e ainda estava sentindo arrepios quando Emily deixou o quarto para pegar uma nova troca de roupas para mim. Abracei minhas pernas e fiquei encarando a gaveta em que a tesoura estava, me perguntando de onde eu tinha tirado coragem de usar aquilo como uma arma, se é que eu conseguiria de fato machucar alguém, pois não era o que meu instinto me dizia.
Depois de tomar um banho demorado e me vestir com um conjunto de moletom cinza que Emily me emprestou, me olhei no espelho enquanto tentava arrumar a bagunça que era o meu cabelo. Tinha pequenas cicatrizes por toda parte compartilhando espaço com alguns machucados mais graves que, segundo Sam, não deveriam demorar muito mais para curar. De fato, eu podia senti-los se curando sozinhos, com mais rapidez do que uma pessoa normal se curaria daqueles cortes. Olhei em volta e, tirando o armário recém-quebrado, tudo era limpo e organizado. Emily cuidava do local de forma impecável enquanto eu apenas causei caos desde o momento que pisei ali. Ansiava mais do que nunca a volta das minhas memórias para que eu pudesse ir para casa e deixar de ser um peso para aquelas pessoas tão boas.
Senti meu estômago reclamar de fome, mas também de nervosismo ao ouvir muitas vozes do lado de fora do quarto. Quando sai do cômodo, todo o barulho cessou. Andei receosa até a mesa entre a sala e a cozinha com alguns pares de olhos me encarando. Vi a silhueta de Emily na cozinha e reconheci Sam, sentado à mesa. Já os outros garotos eram novidade para mim. Olhei para a única pessoa que mantinha a cabeça baixa, parecendo se concentrar somente no cereal, os ombros tensos pareciam estar usando toda sua força para não cair. Eu sabia quem era, e sabia que lhe devia um pedido de desculpas.
— Sente-se, querida — disse Emily gentilmente, colocando um prato de panquecas quentinhas na mesa.
Elas não duraram um segundo; Sam e os outros garotos, que julguei serem de sua matilha, atacaram o prato, ouvindo uma reclamação de Emily por não terem guardado para mim. Abracei meus prórios braços e andei com cautela até a mesa, me sentando no único lugar vago, infelizmente do lado de Jacob, que não queria olhar para mim.
— Bom dia, . Está melhor? — perguntou Sam de boca cheia depois de colocar na boca um pedaço enorme de panqueca. Dei de ombros em resposta, vendo a frustração passar por seus olhos com mais uma resposta vaga.
— , eu sou o Quill — falou um dos garotos desconhecidos, ainda cheio de panquecas na boca.
Dei um pulo assustado quando ele estendeu sua mão na minha direção, e o ele recuou, parecendo imediatamente chateado e envergonhado. Jacob finalmente levantou a cabeça, os olhos arregalados de terror e preocupação. Logo em seguida, desviou o olhar para o colega sentado do seu lado na mesa redonda, fuzilando-o com raiva.
— Eu disse pra não fazer isso, Quill! — repreendeu o outro jovem em um tom alto que era piada chamar de sussurro, apesar de ser o que tentou fazer. — Foi mal, , ele é muito emocionado. Meu nome é Embry — completou, dando uma piscadela.
— Desculpa — murmurei, minha voz falhando.
Todos me olharam, apreensivos. Toda aquela cautela estava me dando nos nervos, no entanto, eu não podia culpá-los, podia? Dei motivos de sobra para pisarem em ovos comigo.
Respirei fundo e estendi a mão para Quill, que aceitou, satisfeito e sorridente. Ele era muito quente, então confirmei que também era um lobo, logo, da matilha de Sam. Fiz o mesmo com Embry, que também sorria radiante.
— Também te devo desculpas — murmurei, olhando para um Jacob que voltou a encarar o cereal intocado. Ele não moveu um músculo, parecendo ficar ainda mais tenso. Um nervo se moveu em seu maxilar.
— Ela está falando com você, Jake. — Ouvi a voz grave de Sam do meu lado.
Jacob me encarou, finalmente, mas com tristeza, os olhos sustentando os meus por longos segundos, como se implorasse por algo que eu não sabia dizer o quê. Toda vez que o olhava, um arrepio passava pela minha espinha. Por fim, ele suspirou, parecendo exausto.
— Tanto faz — respondeu, levantando da mesa e indo até a cozinha. Meus ombros caíram.
— Liga não, ... Quer dizer, — começou Embry, passando a mão pela nuca.
— é legal, podem me chamar assim — respondi, tentando sorrir para encorajá-lo.
Emily chegou com mais panquecas exclusivamente para mim, batendo na mão de Quill quando o garoto tentou roubar uma. No mesmo instante, ouvimos a porta da frente bater, e todos viraram a cabeça na direção do som. Sam suspirou, frustrado, ao perceber que havia sido Jacob.
— Eu o machuquei muito? — perguntei com cautela.
— Não fisicamente — respondeu Quill, recebendo um tapa na cabeça dado por Embry com bronca.
— Ele está... Frustrado. Mas não é sua culpa. Eu te explicarei tudo, , quando for a hora. Agora preciso que você coma algo e descanse bastante.
E assim eu fiz, não ousando desobedecê-lo. Comi várias panquecas e um copo grande de suco de laranja. Eu não percebi o quão faminta estava até sentir o cheiro daquelas panquecas e do almoço que Emily já começava a preparar. Emily era uma cozinheira de mão cheia; ela e Sam eram ótimos anfitriões. Já Quill e Embry eram divertidos e me fizeram companhia pelo resto do dia, contando mais sobre La Push, o lugar que agora sabia estar.
Mesmo com toda a distração, eu não podia deixar de olhar de tempo em tempo pela janela, observando as árvores não tão distantes da floresta, procurando uma ameaça desconhecida que eu sentia estar ali.
Enquanto os meninos jogavam um videogame complicado demais para acompanhar, fui atrás de Sam na garagem nos fundos da casa. Ele estava mexendo em um carro azul velho, parecendo uma picape antiga. Sua regata branca e sua jeans rasgada estavam sujas de terra e graxa, parecendo um verdadeiro mecânico.
— Já se cansou dos meninos? — ele perguntou, sorrindo, sem olhar para mim, mas sabendo de alguma forma quem era.
Forcei um sorriso, dando uma olhada em volta. Sentei-me em um caixote de madeira perto do carro e fiquei observando-o fuçar na roda dianteira.
— Encontrei essa lata-velha a algumas semanas atrás, ela tem me ajudado a... distrair um pouco.
— Bem bonita — respondi com sinceridade.
— Gosta de carros? — ele perguntou, me olhando fundo nos olhos, esperando algum sinal de que eu recuperasse totalmente as lembranças. Não veio nada.
— Não sei... — dei de ombros, me sentindo frustrada. Imediatamente quis trocar de assunto, não querendo forçar meu cérebro tão cedo. — Por que Jacob ficou tão chateado, se eu já pedi desculpas pelo que fiz?
Sam suspirou, levantando e indo até um balcão de madeira para pegar um pano.
— Acho que não dá para adiar muito mais a nossa conversa — lamentou, encostando-se na lateral do carro enquanto limpava as mãos. — Existe uma coisa, que te contarei com mais detalhes em breve... — Ele fez uma pausa quando me viu rolar os olhos com impaciência. — Tudo no seu tempo, . Te contarei o que posso — ele continuou, com calma. — Essa coisa é o sentimento mais forte que um lobo pode sentir por alguém.
— Ele sentiu por mim? — perguntei, e Uley apenas assentiu.
— É um sentimento muito forte mesmo, como se finalmente sua vida tivesse um novo sentido, um novo propósito. É como se apaixonar, mas com a certeza absoluta de que você e aquela pessoa passarão o resto da vida juntos. No momento em que você sente essa coisa… você tem certeza de que aquela pessoa é seu passado, seu presente e seu futuro.
Não soube dizer se era o melhor momento para dizer que eu senti algo, mas não era nada parecido com a descrição que Sam acabara de dar. O arrepio toda vez que via Jacob, a corrente elétrica que percorria meu corpo quando nos tocamos. Era como se meu organismo reagisse ao seja lá o que fosse que ele estivesse me contando.
— Ele não pode ficar bravo por não ter sido recíproco — falei, enrugando a testa, incomodada com aquela questão. — Nem ao menos me lembro de quem sou.
— Essa é a questão... É sempre recíproco — ele disse, me olhando, preocupado. — Não é normal não ser.
— Mas…
— Você não sentiu, não é?
— Pelo menos, não tão intenso como você contou, mas... — ponderei se deveria confessar ou não. Por fim, suspirei e decidi que Sam era a pessoa certa para isso. — Eu sinto algo, sinto que o conheço toda vez que o vejo, mas nem de longe é como você disse.
— Não queria falar agora, mas acredito que seja por causa da falta de memória. — Sam riu ao ver a confusão em meu rosto; nunca fui boa em disfarçar meus sentimentos: eles ficavam estampados na minha cara. — É como se, nesse momento, sem suas memórias, você não fosse você mesma. Entende?
— Acho que sim... — respondi com sinceridade, porque eu realmente me sentia como se não fosse eu mesma, fazia muito sentido. — Sam, você acha que... Não sei, talvez isso seja permanente?
— Duvido muito e espero sinceramente que não, mas não sou um médico – ele respondeu e se aproximou, limpando as mãos em um trapo mais sujo que sua roupa. — Infelizmente, não dá para você ir a um médico convencional, então teremos que esperar para ver. De qualquer forma, estaremos aqui para te ajudar. Seremos sua família enquanto não encontrar a sua, está bem?
A palavra família pareceu acender algo em mim, um click soou em meu cérebro e trouxe uma lembrança do que soube imediatamente ser minha família. Foi como se eu tivesse destrancado todas as lembranças que tinha deles. Meu pai e minha mãe, sorrindo para mim, enquanto passeávamos em um parque. Depois, outra lembrança mais forte, meu pai agora era um lobo grande e marrom escuro, rosnando alto, enquanto minha mãe me segurava firme nos braços. Logo a imagem mudou e ambos estavam jogados no chão, ensanguentados. Sem vida.
— ? — Ouvi uma voz distante chamar, e então voltei à realidade. Sam me olhou, alarmado, uma de suas mãos em meu ombro, os olhos fixos em mim. Senti meu rosto úmido e percebi que estava chorando.
— O que houve? — Quill perguntou, correndo com Embry em nossa direção. Emily veio atrás, sua cicatriz se misturando com as linhas de preocupação que se formaram em seu rosto.
— Eu... Me lembrei dos meus pais... — consegui responder, olhando para Sam.
— Só deles? — Embry perguntou, parecendo aliviado, mas ainda preocupado ao mesmo tempo.
— Só. Eles... Eles estão mortos. Sam… — Procurei seu olhar, desesperada. — Eu acho… eu acho que eu os matei — choraminguei, deixando-me cair nos braços do alfa do grupo.
— Você está bem? — perguntou Jacob, se ajoelhando na minha frente. Seus olhos negros escaneavam meu rosto, a procura de qualquer ferimento, dor ou, percebi, sinal de que se lembrava dele também.
Ele segurou na minha mão, apertando-a com firmeza. Aquela corrente elétrica de sempre percorreu meu corpo. Foi tudo tão automático que Jacob não teve tempo de hesitar ou pensar no que havia feito, era como se ele tivesse uma necessidade de se certificar de que eu estava bem. Não o coloquei para correr daquela vez, apenas assenti rapidamente, apertando sua mão de volta quando ele ameaçou tirá-la. Isso pareceu maravilhá-lo, então ele não a soltou. Quil se levantou e deixou Jake sentar ao meu lado, ainda sem soltar nossas mãos.
— , esses são Jared, Seth e Paul — apresentou Emily, apontando para cada um deles que responderam com um aceno simples.
Assim que respondi com um tímido “olá”, Sam entrou na sala, secando o cabelo com uma toalha. Acenou para todos e deu um beijo demorado em Emily, que sorriu e pegou sua toalha. De longe dava pra ver a tal "coisa" que Sam falou, era quase palpável. Olhei para minha mão entrelaçada com a de Jacob e foi como se acendessem uma lareira no meu peito, meu coração se aqueceu de conforto e segurança que eu não sabia o por quê, mas tinha certeza que vinham dele.
— Bom, estava querendo fazer essa reunião desde a chegada da — começou Sam, após sentar em uma das poltronas de frente ao sofá da sala de estar que agora parecia pequena por estar abarrotada de gente. — Eu ia esperar mais tempo, mas devido a acontecimentos recentes, decidi que agora é a melhor hora para isso.
Jake permanecia fiel ao meu lado, pude senti-lo ficar tenso com a fala de Sam. Embry estava do meu outro lado, Quil sentou-se no braço do sofá ao lado de Jacob e Jared no outro braço ao lado de Embry, como um esquadrão resignado para minha segurança. Paul sentou em uma cadeira ao lado de Sam, e permanecia com a cara de poucos amigos e os braços cruzados. Seth foi o único que sentou no chão e Emily sentou na poltrona ao lado de Sam, segurando a mão dele, tão fiel a ele quanto Jacob a mim.
— Como vocês já sabem, eu e Jacob a encontramos na floresta depois de ser atacada pelo que eu acredito ter sido outro lobo. perdeu as memórias e não lembra muito de quem ela era e de como veio parar em La Push — resumiu Sam, observando os meninos para garantir que estavam prestando atenção. — Hoje, depois de alguns dias aqui conosco, ela finalmente se lembrou de seus pais, o que me leva a crer que, felizmente, não vai ser um dano permanente. Mas não é sobre isso que quero falar e sim sobre o fato de que... Bom, se todos concordarem, eu gostaria que fizesse parte da matilha enquanto não recupera a memória.
Todos permaneceram em silêncio. Olhei em volta para ver suas reações. Jacob obviamente estava com um sorriso no rosto, apesar de se esforçar para não demonstrar. Os outros meninos também pareciam estar contentes com isso. Todos, exceto por um.
— Uma garota? Na nossa matilha? — reclamou Paul, olhando de mim para Sam.
— Por que não? — questionou Quil. — Ela é legal, você vai ver quando parar de besteira e passar um tempo com ela.
— Não acho boa ideia. Quero dizer, será que ela consegue nos acompanhar? – Paul continuou argumentando.
— Ela não precisa nos acompanhar, cada um de nós tem um ritmo e com o tempo ela pega o jeito — protestou Jared, recebendo um sorriso de aprovação de Quil e Jacob.
— Não confio nela. E se ela estiver mentindo sobre a perda de memória e alguém a mandou para, sei lá… nos matar?
Tentei não me ofender, afinal, se eu não me lembrava de meu passado, como poderia garantir que eu, de fato, não estava ali para causar mal a eles? Em contrapartida, os demais meninos se ofenderam por mim.
— Não fale besteira — Embry argumentou, sua indignação sendo compartilhada pelos demais. — Ela é o imprinting de Jacob, de qualquer forma ela estará presente em nossas vidas de agora em diante.
— Imprinting unilateral — ironizou Paul, cruzando os braços e recostando na cadeira. — Ainda não acho boa ideia... Desculpa, Sam, sou contra.
Seguiu-se uma avalanche de protestos dos meninos, com um Sam exausto tentando apaziguar os ânimos. A palavra imprinting ecoava em minha mente, sendo a segunda vez que eu ouvia naquela casa e, ainda assim, sem saber o que era. Jake estava quieto, passando o polegar em círculos na minha palma e me olhando preocupado. Desde a hora que chegou e segurou minha mão, ele ficava me olhando de tempo em tempo, como se esperasse um novo surto por causa do contato ou algo parecido, mas não me senti com vontade de largar sua mão tão cedo.
Todos ficaram imediatamente quietos quando Sam levantou a mão.
— , o que você acha? — ele falou, sua voz séria e grave.
— Eu… — Olhei para os demais, que me encaravam em espectativa. — Eu não quero ser um incômodo, Sam — respondi com sinceridade, e mais uma vez houve protestos dos meninos dizendo que eu deveria ser da matilha e que eu não iria atrapalhar em nada. Me incomodava ser, novamente, o centro das atenções.
— Você não é nenhum incômodo — Jacob sussurrou no meu ouvido, fazendo cada pelo do meu corpo arrepiar. O olhei, meio assustada com o poder que ele tinha sobre mim, e ele apenas sorria como se estivesse alheio sobre isso.
— É óbvio que é por causa do imprinting! — Ouvi alguém gritar no meio do falatório.
— Paul! — exclamou Emily, reprovando-o com o olhar.
— O quê? É verdade! Duvido que discordariam de mim, se não fosse pelo imprinting que nem ao menos sabemos se é verd…
— Já chega, Lahote! — gritou Sam, se levantando com toda a autoridade que ele tinha.
Encolhi-me, assustada, sentindo Jacob soltar minha mão apenas para passar seu braço pelos meus ombros e me abraçar de lado. Ele estava quente e olhava com raiva na direção de Paul, como se pudesse queimá-lo com suas íris.
— Para que esconder dela? — disse Paul, muitos tons mais baixo que antes. Ele estava de cabeça baixa, evitando olhar para Sam.
— O momento de contar tudo a ela vai chegar, e isso quem irá decidir sou eu.
— Mas você sabe que estou certo…
— Está me desafiando, Paul? — Sam deu um passo na direção do garoto, que pareceu se encolher ainda mais.
Senti pena do rapaz, então decidi levantar e intervir na situação. Jacob ficou surpreso com a movimentação repentina, mas me deixou ir.
— Está tudo bem, Sam. Eu posso encontrar outro lugar para ficar. Não brigue com ninguém por minha causa, por favor — disse, ficando entre ele e o pobre Paul.
— Você vai ficar e será muito bem-vinda à matilha. A maioria é a favor e eu, como Alfa, decido que ficará. A decisão final é minha — disse sério, mas com um leve sorriso de satisfação.
Paul se levantou e me olhou com raiva, depois pediu autorização ao Sam para ir embora e o Alfa concedeu, vendo-o virar as costas e sair da casa, batendo a porta. Fiquei extremamente frustrada. Tentei defendê-lo e o ingrato reagia daquele jeito? Não pude evitar me sentir uma intrusa, mesmo que eu realmente não quisesse ir embora. Fosse por Jacob ou por todos os presentes naquela sala, eu me sentia bem, protegida, segura e confortável, coisas que, no fundo, eu sabia que não sentia há muito tempo. Sentia que ali era meu lugar.
— Bem-vinda à matilha de lobos de La Push — Sam disse, sorrindo, e todos exclamaram comemorações e ameaçaram se levantar para virem nos abraçar, mas Sam os impediu com um aceno de mão.
— Ainda não acabou — continuou, e indicou o lugar vago ao lado de Jake para eu voltar a me sentar. Fui recebida com leves tapinhas nas costas e um abraço de Jacob, fazendo meu coração, já acelerado, disparar.
— Como eu disse mais cedo, foi atacada por outro lobo, alguém que ela não se lembra. Eu o vi muito rápido, não pude ver muito seu corpo, me preocupei em ajudar Jacob a resgatá-la. A questão é: precisamos protegê-la e ficar atentos caso ele volte.
Quando Sam disse aquilo, senti a mão de Jacob apertar a minha com mais força. Seu corpo todo ficou tenso e ele apenas assentia em concordância com o alfa, sem me olhar.
— Faremos de tudo para proteger nossa nova irmãzinha — animou-se Embry, apertando meu ombro de leve.
Eu já estava me acostumando com todo aquele contato, pois percebi que não adiantava nada me esquivar, eles eram assim e, agora que fazia parte do grupo, eu teria que aceitar. Não era de todo ruim; na realidade, ter um pouco de afeto era uma novidade boa.
— Claro, sem deixar de lado suas obrigações. Lembrem-se que temos de ajudar os Cullen — continuou Sam, olhando significativamente para Jake.
— Quem são os Cullen? — perguntei, e logo senti Jacob se remexer ao meu lado.
— Eles são os frios de Forks... — respondeu Embry, afetando a voz para parecer que estava contando uma história de terror.
— Os chupa-sangue... — continuou Seth, com o mesmo tom.
— E eles fedem — completou Quil, torcendo o nariz.
— Eles são vampiros — concluiu Jared, sem brincadeiras. — Nós existimos porque eles existem.
Estremeci com aquela palavra. Era de se esperar que uma garota que se transformasse em loba não se chocasse com o fato de vampiros existirem, mas eu me impressionei mesmo assim. E saber que eles estavam por perto era um tanto assustador.
— Vampiros são meio que nossos inimigos naturais, mas temos um pacto há séculos com os que vivem aqui — explicou Jacob. — Vivemos em harmonia, podemos dizer assim...
— Entendi — respondi, incerta, ainda um pouco assustada. Depois de alguns segundos, quebrei o silêncio. — Sam, o que é o tal insprit que Paul falou?
Jacob se enrijeceu de novo, ficando extremamente tenso ao meu lado. No mesmo instante, ele se levantou e foi até a cozinha. Sam suspirou, parecendo incomodado.
— Acho que não tem como prolongar mais, Jake — disse Sam. Jacob apenas deu de ombros e continuou a se servir de água, ficando de costas para nós. Franzi a testa ao perceber que ele não voltaria tão cedo.
— O nome correto é imprinting, querida — explicou Emily com aquela paz que a voz dela transmitia. Ela olhou para o marido, incentivando-o a continuar.
— É aquele sentimento que te expliquei mais cedo, o sentimento mais forte que um lobo pode ter. Acontece no segundo em que você conhece a pessoa, independentemente de idade, raça, cor e credo.
— Independentemente de idade? — questionei, chocada. Todos soltaram um riso, menos Jake que ainda estava tenso, se demorando para beber um simples copo de água.
— Sim, você pode sentir isso até por um recém-nascido, mas nesse caso não será nada relacionado a algo romântico, você será como um amigo, um protetor ou até como um irmão para a pessoa, será o que ela necessitar naquela determinada fase da vida.
Olhei novamente para Jake, que agora se apoiava na bancada da pia, nos observando à distância.
— Jacob sentiu isso por mim, não é? — perguntei, sem tirar os olhos dele.
— Sim, senti — ele respondeu, parecendo levemente irritado. — Mas aparentemente você não e eu não queria contar para você enquanto suas memórias não voltassem, porque até então nós não sabíamos que existia imprinting unilateral.
— E não existe — disse Sam com seriedade. — O que aconteceu, Jake, é que não está sendo ela mesma. Ela não tem todas as suas memórias, ela não sabia nada além de seu nome. Ela está incompleta e enquanto não recuperar tudo, não sentirá o imprinting. Mas não significa que não aconteceu com ela.
Os meninos soltaram exclamações de surpresa, vendo que aquilo realmente fazia sentido. Jacob deixou seus ombros caírem e mordeu o lábio inferior, parecendo sentir alguma dor que não era física.
— Bom, então temos que ajudar nossa maninha a melhorar da cabeça! — brincou Quil, recebendo um tapa meu que nem fez cócegas.
Depois disso, fiquei tirando algumas dúvidas sobre assuntos de lobos e vampiros, esperando Jacob voltar para o sofá, mas ele não o fez. Mesmo depois de Sam liberar os meninos, eles não quiseram ir embora. Ficaram jogando algumas partidas de videogame até dar a hora de eles irem fazer vigilância na floresta para tentarem encontrar a tal Victoria que Sam explicou ser uma vampira que estava perseguindo uma humana por quem um dos vampiros era apaixonado. Todos foram, menos Jake. Emily foi tomar um banho, dando uma chance para eu me aproximar dele.
— Vai morar aqui na cozinha? — brinquei, pegando um copo de água enquanto ele comia alguns poucos biscoitos de Emily que por milagre sobraram.
Ele me deu um sorriso leve com resposta.
— Fico feliz de te ver assim, menos…
— Arisca? Agressiva? — questionei.
— Assustada e machucada — ele completou, dando um meio sorriso.
— Me desculpa — eu disse, me apoiando na bancada em que ele se apoiava e roubando um de seus biscoitos.
— Eu já disse que está tudo bem, o machucado já melhorou há horas…
— Não por isso, Jake, mas... Por não conseguir sentir o imprinting.
— Ah... isso. — Ele pareceu ligeiramente triste. — Também não tem problema, não é sua culpa…
— Mesmo assim... Olha, eu... Eu sinto algo, toda vez que você me toca ou me olha... — disse, ruborizando, tentando não encará-lo. — É como se uma corrente elétrica percorresse todo meu corpo. Meu coração se aquece quando estou com você e eu te conheço a o que, oito horas? Se isso não é imprinting, não sei o que é.
Jacob soltou uma risada tímida.
— Te garanto que é muito mais que isso. Mas fico feliz em saber que se sente assim ao meu lado.
Ele então ficou de frente para mim e se aproximou, segurando meu rosto com suas mãos quentes e macias. Era ridículo o quão rápido meu coração batia em reação ao toque dele, meu corpo todo formigava onde sua pele tocava a minha e seu perfume me deixava tonta de uma forma deliciosa. Senti como se eu pudesse passar minha vida inteira naqueles braços. Atordoada, deixei o biscoito cair no chão de tão trêmulas que ficaram minhas mãos.
— É como se nada mais existisse, como se tudo o que importasse no mundo fosse você e apenas você. Tudo o que eu vivi até o momento em que eu te vi perdeu todo o significado — sussurrou, com sua boca a centímetros da minha. Ele ia me beijar, eu sentia isso, e eu ia permitir, pois estava completamente entregue a ele.
Se não fosse pelo barulho da porta se abrindo.
Jake me olhou, divertido, e tentou se aproximar de novo, mas eu me afastei, colocando uma mão em seu peito para impedi-lo e saindo da emboscada que ele me prendeu entre seu corpo e a bancada. Com imprinting ou não, eu não estava pronta para tanta proximidade e tantos toques. Mesmo que eu ansiasse por eles.
Jacob pareceu confuso, frustrado e um tanto chateado. Mesmo assim, não insistiu.
— , eu…
— Desculpa, Jake — sussurrei, antes de me afastar e ir apressada para meu quarto. Ele não me seguiu.
Fiquei deitada no escuro, encarando o teto com minha cabeça a mil. Era insuportável tentar puxar algo da memória e não ter absolutamente nada, o sentimento de frustração era constante. Eu sabia que estava lá e isso era o que mais me frustrava. Quem foi o lobo que me atacou? Por que ele atacou? Onde ele estaria agora? Por que não conseguia corresponder o maldito imprinting com Jacob? Ele me fazia bem, me sentia segura ao seu lado. Não podia negar que senti uma vontade absurda e quase irresistível de beijá-lo naquela hora, então por que não fiz isso?
Uma batida na porta interrompeu meus devaneios, levantei em um pulo e corri para abrir na esperança de ser aquele que ocupava meus pensamentos.
— Tá ocupada? — disse Embry. Tentei não demonstrar a pontada de decepção que me atingiu.
— Não… pode entrar — falei, acendendo a luz do quarto e indicando o interior. Embry olhou em volta e sorriu.
— Já morei aqui, sabia? Quando me transformei, decidi não voltar para a casa dos meus pais. Ainda falo com eles, claro, mas é bom ter nossa independência — ele falou com um sorriso nostálgico. — Essa foi minha cama por um bom tempo.
— Ela é muito confortável — comentei, me sentando ao mesmo tempo que ele. A cama balançou e não pude evitar a risada.
Nos sentamos na vertical, encostando nossas costas na parede fria, mantendo as pernas esticadas. A minha quase não alcançava a lateral da cama, já o garoto ao meu lado podia balançá-las livremente.
— Que bom te ver rindo — ele disse, me deixando vermelha de vergonha.
— Não sou uma bruxa, sabe? — falei, fingindo chateação.
— Eu sei, você é uma loba. Esse é outro conto de terror — ele sorriu, brincalhão, e foi impossível não imitá-lo. — Jake está todo chateado lá fora. O que você fez?
Dei de ombros em resposta, desmanchando o sorriso. De repente, o fio solto na coberta parecia muito interessante.
— Ele ainda está lá? Achei que tivesse ido embora…
— Ele não vai sair do seu lado tão cedo. Ele... ama você. Muito. E vai te proteger a todo custo, mesmo que esse custo seja a vida dele.
— Mas... Embry, ele me conhece há um dia!
— Isso é o imprinting, . Quando senti-lo, você vai entender tudo.
Olhei, pensativa, para minhas mãos, agora caídas em meu colo.
— E se eu não sentir nada?
Embry arregalou os olhos e coçou a nuca, era possível ver as engrenagens de seu cérebro funcionando. Por fim, deu de ombros.
— Não acho que isso seja possível, para ser sincero.
— Então não é o sentimento mais forte que o lobo pode sentir — retruquei, cruzando os braços.
O jovem me encarou com ema e soltou um suspiro, expressando, assim, sua vontade de poder resolver tudo que estava embolado em minha cabeça. Eu sentia uma profunda gratidão por Sam e Emily me acolherem, porém, também sentia pelos meninos por estarem tão dispostos a não só me acolherem, mas também tentarem me ajudar a melhorar. Tudo isso parecia ser apenas de graça, uma vontade genuína de ajudar alguém como eles. Já que eu não tinha mais meus pais, eu não me importaria de ficar com eles para sempre, com ou sem memória. Desejava profundamente que eles pensassem o mesmo a meu respeito.
— , tem coisas na nossa história que ninguém consegue explicar. Nem mesmo o sabichão do Sam — ele disse, um riso contido escapando. — Fica em paz, você vai ter suas memórias de volta e vai conseguir sentir tudo o que o nosso querido Jake está sentindo.
— Obrigada, Embry. É bom saber que posso contar com vocês.
Ele sorriu e apertou minha bochecha com os dedos e desviou antes que eu pudesse dar um tapa em sua mão. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro até que senti um cutucão no braço. Olhei para Embry e ele sorria feito bobo.
— Com imprinting ou não, você já tá caidinha por ele — acusou-me, dando risada.
— Não fala besteira, não estou não! — retruquei mais defensiva que o necessário. Àquela altura, eu já sabia que Embry estava um pouco certo, mas jamais iria assumir para outra pessoa que não fosse Sam. Além do mais, quem me garantia que ele não sairia correndo para contar ao amigo? Afinal, seria lógico que a lealdade dele tendesse mais para Jake do que para a garota que acabou de conhecer.
— Relaxa! Seu segredo está guardado a sete chaves — respondeu, dando uma piscadela.
Revirei os olhos em resposta, fazendo-o gargalhar alto. Nesse momento, Jacob passou pela porta aberta e voltou dois passos, parou de frente para a porta e nos olhou, confuso.
— Estou interrompendo algo? — disse, parecendo levemente irritado. Seu olhar indagador estava direcionado mais para Embry que para mim, o que me fez encolher os ombros.
— Não, cara, ela é todinha sua! — respondeu Embry, saltando da cama e dando um tapinha no ombro de Jacob antes de ir para a sala.
Em questão de segundos ouvimos um "bolo! Eu te amo, Emily!" seguido de um "só não conta para o Sam que eu disse isso". Jacob observava a cena, encostado no batente da porta. Depois me olhou, os olhos carregados de algo melancólico.
— Quer dar uma volta? — ele perguntou, indicando com a cabeça a direção da porta de entrada.
Ponderei por longos segundos antes de concordar com um aceno de cabeça.
Saímos do quarto lado a lado, eu evitando tocá-lo o máximo possível e ele respeitando essa minha vontade. Encontramos Emily sozinha na sala, comendo uma fatia do bolo e assistindo a um reality show sobre donas de casa.
— Tem mais bolo em cima da mesa, crianças — ela disse, dando um sorriso leve, esbanjando calma.
— Vamos dar uma volta no quarteirão e já voltamos para comer, ok? — disse Jacob, vestindo uma jaqueta de couro marrom.
Invejei aquela cena por um segundo, observando como Emily, apesar da vida que levava, ainda era uma mulher comum, com gostos comuns, algo que eu nunca tive. De alguma forma, a mulher me lembrou de minha mãe e uma pontada de dor atingiu meu coração. Por reflexo, botei a mão no peito e massageei levemente, encarando o chão de madeira da varanda.
— Está tudo bem? — perguntou Jacob enquanto fechava a porta atrás de nós.
— Está sim, eu só... Senti saudades.
— De mim? — ele disse em tom de brincadeira, mas com esperança contida em cada letra. Fiz uma careta, sem querer responder a verdade. — Sei que não — completou com um sorriso amarelo.
Minhas mãos estavam enfiadas no bolso do moletom cinza, já as dele balançavam ao lado do corpo, esperando silenciosamente por um toque.
— Emily me lembrou da minha mãe. Ela era... Normal. Comum.
— Seu pai era o lobo? — perguntou Jacob, apenas assenti com a cabeça. — Sam contou que você se lembrou deles. Também contou que... Você acha que os matou... Por que acha isso?
Seu tom era cauteloso, como se tivesse medo de que qualquer palavra fosse um gatilho para um novo surto que ameaçaria sua vida ou me fizesse sair correndo. Apreciei seu cuidado e queria poder dizê-lo que não faria nada daquilo novamente, mas como eu poderia garantir aquilo com minha cabeça estando tão incerta?
— Só estava nós três na lembrança. Acho que foi um pouco depois da minha primeira transformação. Ainda não sabia... Me controlar.
Jake apenas concordou com a cabeça, olhando para a frente enquanto passávamos em frente às outras casas da rua. Do lado esquerdo, estava a floresta escura e cheia de árvores velhas, enormes e majestosas. Olhei de relance a mão de Jacob, balançando distraída enquanto ele mesmo se perdia em pensamentos. Uma vontade absurda de segurar sua mão me atingiu e logo estava sentindo o calor que emanava de sua pele encostando na palma da minha mão. Ele parou por um segundo e me olhou, surpreso, eu apenas fingi não ser comigo e continuei andando.
— Não acho que tenha sido você — ele falou, quebrando o silêncio depois de mais um tempo de caminhada. — Não acho que você seja capaz disso.
— Isso é o Jacob ou o imprinting falando? — respondi. Ele riu, achando graça na minha pergunta.
— É o Jacob. O imprinting não te deixa cego, não te muda por completo, ele só te acrescenta.
— Como está sendo para você? — perguntei, sem ter certeza se queria saber a resposta. Ele ponderou por um segundo antes de responder.
— Está sendo... Complicado, confuso, doloroso…
— Doloroso? — perguntei, assustada, parando de andar. Ele também parou e me encarou, buscando a melhor forma de me explicar o que sentia.
— Dói saber que você não sente o mesmo e não saber se um dia irá sentir. Parece que a qualquer momento posso te perder e essa é a dor insuportável.
— Se serve de consolo, eu me sinto péssima com isso — respondi com sinceridade.
— Serve sim — ele falou aos risos. Acompanhei sua risada, curtindo um pouco o som que vinha dele.
— O que você sentiu quando me viu na floresta?
Jake passou a mão pela nuca, envergonhado, antes de responder.
— Foi… estranho. Eu tinha a urgência de te socorrer, mas no momento que te vi caída eu simplesmente não consegui reagir, o imprinting me atingiu em cheio, me enfraqueceu na hora. Se não fosse por Sam avançando naquele lobo… Eu não teria conseguido fazer nada, eu caí de joelhos na sua frente.
Apenas assenti, sem ter muito o que responder. Para quebrar o silêncio, Jacob mudou de assunto e começou a falar com mais empolgação sobre quando ele se transformou em lobo pela primeira vez, sobre sua convivência com os meninos e sobre seu pai, Billy Black. Ouvir sobre sua vida me fez ter uma dúvida que, no fundo, fez um incômodo atingir meu estômago e, involuntariamente, meu coração.
— Jacob... Você namorava antes de... Antes do imprinting? Você tem alguém?
O moreno limpou a garganta e mexeu no cabelo com a mão livre, visivelmente desconfortável.
— Bom, não exatamente. Eu não namorava ninguém, mas... — ele pausou, parecendo escolher cada palavra que ia falar.
— Gostava de alguém — afirmei por ele, observando Jake concordar com um movimento de cabeça. Isso me fez sentir algo estranho, um leve incômodo que nunca havia sentido antes. Não era bom, no entanto, não me sentia no direito de sentir aquilo.
— O nome dela é Bella. Bella Swan. Se lembra dos Cullen que comentamos hoje de tarde? — Concordei de mau gosto. — Ela está com Edward.
— Mas se ela era alguma coisa sua…
— Nunca passou de amizade, apesar de eu ter sido muito apaixonado por ela — confessou, meio incomodado. — Tentei por muito tempo ficar com ela, mas ela e Edward... Por mais que não goste daquele cara pálida, eu não consigo mais negar que eles foram feitos um para o outro.
— Mas, se você não teve o imprinting com ela, por que insistiu?
Nesse momento, encontramos um banco de pedra ao lado de um ponto de ônibus, de frente para a floresta. Sem soltar as mãos, nos sentamos na pedra fria e úmida como o tempo.
— Eu não acreditava muito nessa história de imprinting, não aceitava que ela não fosse o meu. Essa paixão me deixava meio cego, talvez seja a maior diferença entre paixão e o nosso imprinting. O segundo é natural, leve. O primeiro é…
— Sufocante — concluí, e ele suspirou.
— Enfim, no momento em que te vi naquela floresta e senti tudo aquilo... Eu soube de vez que nunca foi ela e nunca mais seria.
Jake ficou me olhando, fazendo círculos na minha mão com o polegar. Eu sustentei o olhar, admirando o brilho daqueles olhos tão escuros.
— Ela também é vampira? — perguntei, e ele soltou uma risada sem graça alguma.
— Se fosse por ela, Edward a teria transformado faz tempo. Mas ele foi ético e inteligente e não deixou isso acontecer. Odeio admitir que pelo menos ele cuida dela de forma impecável, chega a ser irritante.
— Parece até que está com ciúmes — eu disse de repente, sem conseguir conter um leve incômodo em meu tom de voz.
— Não, juro que não estou! É só que ele ainda fede para mim, literal e metaforicamente.
— Vampiros fedem? — perguntei, e Jake caiu na risada. — Ei, eu nunca cheguei perto de um, pelo menos não que eu me lembre.
— Sim, eles fedem muito para nós e a gente para eles. É insuportável.
Enquanto Jacob continuava a contar sobre os vampiros de Forks serem tipo “vegetarianos” e não chuparem sangue humano, um arrepio forte atingiu meu corpo. Ele parou de falar quando ouvimos um farfalhar de folhas e barulho de galhos quebrando vindo da direção da floresta. Não havia vento algum.
— Deve ser um cervo, tem muitos por aqui — falou Jacob, sem nenhuma convicção. — Acho melhor voltarmos para casa, está ficando tarde.
Sem pestanejar, nos levantamos em um salto e começamos a refazer o caminho para a casa de Sam. O aperto que nossas mãos davam se intensificou, como se ambos estivessem com medo de que o que quer que estivesse atrás de nós fosse nos levar embora. Foi quando mais uma onda de arrepio passou por mim, me fazendo congelar no asfalto. Jacob parou de repente, parecendo sentir algo também.
— — falou uma voz grave e arrastada atrás de nós. No mesmo instante nos viramos, Jacob se colocando em minha frente. — Onde você pensa que vai? Querendo fugir de novo?
A voz do homem ecoou no vazio da estrada e eu congelei. A voz era estranhamente familiar, mas não importava por quanto tempo eu o encarasse, eu não conseguia reconhecê-lo.
— Conhece ele? — Jacob murmurou para mim, no entanto, não respondi de imediato.
O estranho é que eu sentia que conhecia o homem de meia idade parado a alguns metros de distância. Ele me dava arrepios, fazia algo dentro de mim gritar que aquilo era muito perigoso.
— Não sei — respondi em um sussurro.
— Não se lembra de mim? — questionou o homem, parecendo ter ouvido toda a conversa. — Logo eu, seu alfa favorito! Assim você me magoa, querida!
O homem ameaçou se aproximar, dando risada como se toda a situação fosse muito cômica, porém ele parou quando viu Jacob mostrar os dentes e rosnar, me colocando ainda mais atrás de si.
— Vai embora — o garoto disse, apertando os dentes, os caninos pareciam prontos para rasgar a garganta daquele homem.
— Achou mais um cãozinho para maltratar, ? Já não basta o que fez comigo?
— Eu não te conheço! Por favor, vá embora! — falei, sentindo lágrimas caírem sem permissão.
— Não sem antes pegar o que é meu!
E ao falar isso, o homem se transformou em um lobo cinza queimado enorme, com dentes e olhos amarelados que me davam arrepios. No mesmo instante, Jacob se transformou também, soltando um uivo longo em seguida.
Foi tudo muito rápido. O lobo cinza correu na direção do lobo marrom, mas foi arremessado para longe por ele. Jacob rosnou alto para mim e eu entendi que ele queria que eu corresse. Minha vontade era me transformar e ficar para ajudar, mas eu sabia bem que ainda não estava 100% recuperada do meu último ataque e uma luta dessa poderia agravar a perda de memória. Então comecei a correr em direção de volta à casa de Sam, contudo, parei quando ouvi um dos lobos gemer de dor. Quando virei, Jacob estava atirado no chão, com muito sangue embaixo dele e ainda em sua forma de lobo.
— Jacob! — gritei ao correr em sua direção, ignorando seu pedido. Agachei-me para ver se ele estava vivo e uma onda de alívio me atingiu ao ver que ele ainda respirava, mesmo que com dificuldade.
Olhei para o lobo cinza, preparada para me transformar e atacá-lo, mas não foi necessário. Um lobo preto maior que os outros dois saiu de dentro da floresta e pulou no lobo cinza, o arremessando para longe. Outro lobo um pouco menor e com pelos caramelos saiu da floresta e se colocou na nossa frente, dando uma olhada para verificar se estava tudo bem. Ao ver seus olhos, tive certeza de que era Quil. Acenei com a cabeça para confirmar que Jacob estava vivo e que estava tudo bem.
Após alguns segundos em que os dois lobos recém-chegados rosnaram para o intruso, ele deu meia volta e foi embora.
Quando voltei a olhar para Jacob, ele havia voltado para a forma humana. Peguei o casaco que ele havia tirado antes de se transformar e coloquei em cima dele, evitando olhar seu corpo nu a todo custo. Nesse meio tempo, Quil e Sam voltaram para suas formas humanas e colocaram suas bermudas escondidas na floresta.
— Como ele está? — perguntou Sam, se agachando ao meu lado.
— Está perdendo muito sangue, Sam! Temos que levá-lo ao hospital! — exclamei com desespero, minhas mãos apertavam o casaco em cima de seu corpo na esperança de estar estancando algo.
— Não podemos levá-lo para o hospital, iriam fazer muitas perguntas, não acha? Só está levando mais tempo que o normal para se curar porque foram machucados mais profundos — respondeu Quil, pensativo.
— O que faremos? — perguntei com a voz embargada e o peso da culpa me atingindo em cheio.
— Vamos levá-lo para a casa dele para que possa descansar e esperar que se cure — falou Sam, claramente preocupado.
Então o alfa o pegou no colo e começou a caminhar em direção à casa dos Black como se Jacob não pesasse mais que um punhado de folhas caídas no asfalto úmido. Enquanto caminhava com eles, eu olhava para trás, um medo enorme e insuportável crescendo dentro de mim. Naquele momento, tive certeza de duas coisas, primeiro: eu conhecia aquele homem e algo me dizia que eu deveria temê-lo. E segundo: eu poderia morrer caso perdesse Jacob Black.
Embry correu até nós para saber se estava tudo bem comigo também e só saiu do meu lado quando lhe garanti que estava tudo bem mesmo. Quil e Seth foram para a casa de Sam garantir a segurança de Emily enquanto o alfa não podia voltar para lá e fiquei aliviada ao ver que Paul se prontificou em ir junto, finalmente mantendo sua carranca julgadora longe de mim. Agora, além de Jacob, só restavam Sam, Embry, Jared e Billy Black.
O pai de Jacob era um homem de meia idade com cabelos negros lisos e compridos, preso a uma cadeira de rodas. A calma que emanava dele era impressionante, mesmo com seu filho no estado em que estava. Comparando-os, a semelhança era inegável.
Sam colocou Jacob no sofá e, após verificar os ferimentos, Billy foi para a cozinha, fez uma mistura com ervas e óleos e aplicou sobre os machucados do filho. Jacob estava acordado, quase inconsciente, porém protestou ao sentir a dor quando seu pai aplicou a pomada caseira. Em questão de segundos, Jake estava dormindo relaxado, e Sam o carregou novamente, dessa vez até o quarto.
— Ele vai ficar bem — disse Billy após alguns segundos, sua voz grave ecoando pela sala de estar pequena e amadeirada. Eu estava sentada no sofá ao lado de Embry, enquanto Jared e Sam conversavam algo na mesa de jantar dos Black, as feições sérias e preocupadas deixavam meus nervos um tanto aflorados.
— Estava ansioso para te conhecer, minha jovem — falou Billy, me pegando de surpresa, pois não o vi se aproximar. — Jacob me falou sobre você e, bom, não temos uma nova menina no grupo há muito tempo. Seja muito bem-vinda.
— Obrigada, Sr. Black.
— Pode me chamar de Billy, querida. Agora me conta, o que aconteceu exatamente?
Nesse momento, Sam e Jared se aproximaram, um sentando no sofá e o outro na poltrona ao meu lado. Tentando puxar o máximo de detalhes que conseguia, contei como tudo aconteceu para o trio de homens os quais eu tinha toda a atenção, desde o momento em que saímos da cabana até nos encontrarem.
— Você o conhece? Se lembrou de algo? — perguntou Jared.
— Eu não me lembrei de nada. Pode parecer loucura, mas... Eu sinto que o conheço. Sei que o conheço. Ele faz parte do meu passado, mas não consigo me lembrar dele, não consigo lembrar de nada! — falei, minha voz aumentando o tom a cada palavra, a frustração explícita.
Coloquei a cabeça entre minhas mãos e deixei as lágrimas caírem livres, soluçando alto. Embry me envolveu com um abraço, dizendo que estava tudo bem.
— Não está tudo bem! Por minha culpa, Jake está machucado e vocês todos estão em perigo, como pode estar tudo bem?
— Não se culpe, , sério. A gente passa por coisas do tipo o tempo todo — falou Jared, esticando-se para tocar meu joelho.
— Realmente não é sua culpa, . E não se preocupe com Jacob, ele ficará bem — garantiu Billy. Levantei a cabeça, enxugando as lágrimas antes de encará-los, grata pelas palavras, mesmo que não surtisse muito efeito em mim.
— Quando estávamos na forma de lobo, o homem falou que você é dele. Ficou repetindo isso e pedindo pra te devolvermos para ele — disse Sam, pensativo.
— Não, por favor, não façam isso! - exclamei apavorada. — E-eu não sei o por quê, mas eu sinto que ele não foi bom para mim, eu tenho medo dele. Não me entregue, por favor, eu imploro!
— Não faremos isso, , fica calma! — respondeu Sam, parecendo assustado com minha reação. — Você faz parte da nossa matilha agora, nós iremos te proteger, não se preocupe.
— E o que faremos agora? — perguntou Embry, se dirigindo a Sam.
— Não podemos deixar a desprotegida, nem Jake e nem Emily. Se ele estava tão perto assim de casa, ele provavelmente a farejou até lá — respondeu Sam, pensativo.
— E provavelmente até aqui — murmurei, sentindo uma pontada de culpa. — Me desculpem.
— Pare de se culpar, , é sério — repetiu Jared em um tom cansado. — Bom, faremos essa proteção, mas não podemos deixar de ajudar os Cullen como havíamos prometido. Victoria ainda está por aí, invadindo as nossas terras e ameaçando os frios de Forks.
— Resolveremos isso amanhã — disse Sam, suspirando, exausto. — Por hora, vamos descansar e planejar melhor. Jared e Embry, se importam de dormir aqui essa noite?
Ambos falaram que tudo bem, eles dormiriam, e Billy Black se adiantou em pegar cobertas e travesseiros com a ajuda de Jared.
— , vamos — disse Sam, já abrindo a porta.
— Sam, eu não vou deixar o Jacob — falei com firmeza e seriedade. O homem deu um leve sorriso, tentando inútilmente contê-lo.
— Tem certeza? — perguntou, já com a porta aberta.
— Absoluta. Ele está assim por minha causa, eu não sairei daqui até ele melhorar.
Sam suspirou alto e deu de ombros. Ele se aproximou de mim e me abraçou, prometendo voltar cedo no dia seguinte. Assim que ele saiu, Embry sorriu sugestivamente para mim.
— Então quer dizer que teve o imprinting com o Jake, é? Está toda protetora…
— Não fala besteira, é só a culpa mesmo — respondi, sabendo claramente que não era verdade.
Imprinting ou não, eu não podia negar que tinha sentimentos fortes por Jacob Black. Mesmo se não estivesse machucado, seria um prazer inegável passar a noite com ele. Algo dentro de mim implorava para que eu ficasse perto dele o máximo possível e, se a oportunidade estava ali, não iria deixá-la passar.
Billy e os meninos prepararam o sofá-cama para os dois dormirem. Eu perguntei ao mais velho se teria problema dormir no quarto com Jake, recebendo um sorriso enorme em resposta, seguido de um animado “é claro que não tem problema!”.
E assim fiz, dei boa noite a todos, ajudei Embry a colocar um colchão ao lado da cama de Jacob, peguei uma camiseta dele (a mais larga que pude achar) e me troquei no banheiro. Fiquei observando-o desacordado na cama, parecendo levemente mais pálido que o normal. Deixei algumas lágrimas caírem enquanto sentia meus olhos pesarem antes de adormecer.
Dois dias inteiros passaram e Jacob ainda não acordara. Eu fiquei encarregada de passar a tal pomada nos ferimentos que ainda não tinham curado, mas estavam cada vez melhores. Eu dormi todas as noites na casa dos Black, esperando notícias trazidas por Sam; nada havia mudado. Ele me trouxe mais algumas roupas emprestadas por Emily e não protestou em me deixar ficar lá. Os meninos se dividiram entre dormir na casa dos Black e na casa de Sam, fazendo a proteção de todos da melhor forma possível.
Na terceira manhã após o ataque, despertei, sentindo que alguém me observava. Esse alguém era Jacob, sentado no chão entre sua cama e meu colchão. As pernas estavam dobradas, os braços apoiados nos joelhos e sua feição não poderia ser melhor.
— Bom dia — ele falou, sorridente.
— Bom dia… — murmurei com a voz falhando. Estava feliz e surpresa em vê-lo acordado, mas gostaria de ter dormido um pouco mais. — Como você está?
— Novinho em folha. E você?
— Aliviada — respondi, me sentando no colchão e esfregando os olhos. — Você nos deu um baita susto. Pensei que não acordaria nunca.
— Valeu a pena para te ver viva. E você não vai se livrar de mim tão cedo — retrucou, dando uma piscadela. — E essa camiseta ficou perfeita em você.
— Ah, foi mal… me senti um pouco sufocada com o moletom da Emily.
— Sem essa, agora ela é sua — ele respondeu, sem tirar o sorriso do rosto. Eu sorri em resposta, depois dando um bocejo em seguida.
— Obrigada, Jake. Sério, se não fosse por você…
— Se não fosse por mim, você não estaria na rua naquela hora — ele interrompeu, parecendo ligeiramente chateado. — Eu te devo desculpas por te colocar em perigo.
— Nem pensar, a culpa não foi sua! Ele estava atrás de mim, Jacob, a culpa foi minha! — protestei, vendo-o sentar no colchão, de frente para mim.
— Não é muito cavalheiro da minha parte se eu não assumir a culpa, então…
Enquanto nós dois discutíamos aos risos sobre quem era o culpado, um sentimento de alívio nos tomando por completo, Embry bateu na porta que já estava aberta.
— Bom dia, casal! — disse, animado, me fazendo virar os olhos com a palavra "casal". — Como você está, Jake?
— Ótimo e morrendo de fome! — respondeu Jacob, virando-se para mim em seguida. — Está com fome?
Minha barriga roncou em resposta, protestando os dias em que ingeri pessimamente uma quantidade ridícula de comida, pois não saía do lado de Jacob. Os dois seguiram para fora do quarto enquanto eu me arrumava e tentava parecer decente. Coloquei uma calça jeans que Sam pegou de Emily, mas sem tirar a camisa de Jacob que eu peguei na noite passada, odiando admitir o quão bom era poder ter seu cheiro em mim por tanto tempo.
Porém, além do cheiro dele, meu nariz começou a arder com um cheiro muito forte, inexplicavelmente insuportável. Tampei o nariz ao sair do quarto. Chegando à sala, encontrei todo mundo, inclusive Emily, espalhados pela sala de jantar.
Porém, eles não estavam sozinhos. Na sala de estar, sentados com uma postura invejável, estavam os que julguei serem os frios que os meninos tanto falavam, e eu estava certa. Havia oito deles pelas minhas contas, espalhadas entre sofás, poltronas e alguns em pé. Todos brancos como as nuvens, bonitos ao extremo; a beleza deles chegava a incomodar meus olhos. Agora a casa dos Black parecia minúscula com o tanto de pessoas dentro.
— Bom dia — murmurei, sem graça, ouvindo um coro um tanto animado de "bom dia" vindo de quase todos.
Emily adiantou-se em minha direção e me abraçou, dizendo o quão grata ela estava por eu estar bem e como sentiu minha falta naqueles dias. A abracei de volta, absorvendo todo aquele calor maternal que ela emanava. Logo me arrependi de ter tirado a mão do nariz, o cheiro ardia de novo.
— , essa é a famosa família Cullen da qual sempre citamos — disse Sam, me levando até os impecáveis seres sentados no sofá.
Todos se levantaram ao me aproximar, o que fez o cheiro piorar. Não pude evitar torcer o nariz, arrancando uma risada de um deles.
— Adoro a reação dos novatos — disse o garoto que deu a risada.
Ele era alto, moreno e com o corpo esculpido e definido com perfeição. Seu sorriso torto com os caninos afiados o deixava mais bonito ainda, o que era irritante.
— É um prazer finalmente conhecê-la, . Sou o Dr. Carlisle Cullen, mas pode me chamar apenas de Carlisle — apresentou-se um dos homens, o qual era loiro, alto e desnecessariamente bonito.
Minha feição de surpresa foi inevitável.
— Doutor? Tipo médico? Como isso é possível? — questionei, apertando sua mão firme e gelada como um iceberg. Ele deu risada, achando graça da minha confusão.
— Costume, força e muitos anos de sobra para estudar, é tudo o que posso dizer — respondeu com seu sorriso simco. — Bom, essa é minha família.
Então ele apresentou um por um: sua esposa Esme Cullen, uma mulher gentil de cabelos loiros alaranjados, tão linda quando o marido; Emmett Cullen, o moreno brincalhão; Rosalie Hale, teoricamente seria sua irmã, mas era sua esposa, uma mulher loira, séria, elegante e extremamente bonita como os demais.
Alice Cullen, uma morena de cabelos curtos repicados, um sorriso lindo e muito simca com seu marido, Jasper, um homem muito loiro e parecendo sempre estar sentindo dor fisíca, o que quase me fez querer perguntar se estava tudo bem com ele.
Por fim, fui apresentada a Edward Cullen, o vampiro com cabelos cor de ouro e a mão entrelaçada com uma garota tão pálida quanto eles, mas que não cheirava nada mal. Ela era Bella Swan, humana… e ex-paixão de Jacob.
— Fico feliz em finalmente conhecer sua namorada, Jacob — ela comentou, sorrindo leve.
— Não somos namorados — respondi rápido, um pouco ríspida. Ela me olhou com certa vergonha, o que me fez logo me arrepender de ter sido um tanto seca na resposta.
— Sam, tem como falar agora por que os caras-pálidas estão aqui? — disse Quil, virando uma cadeira e sentando nela ao contrário, apoiando os braços no encosto.
Ouvi Emmett e Alice rirem do "caras-pálidas", o que me fez ficar em certa dúvida se deveria simzar com eles ou não. Logo, todos se calaram para prestar atenção em Sam e Carlisle.
— Eles estão aqui para falar sobre a tal vampira que está atrás de Bella — começou Sam. — Eles descobriram coisas importantes. Por favor, pode falar, Dr. Cullen.
— Obrigado, Sam — começou Cullen, cruzando os braços. — Como todos sabem, Victoria está atrás de Bella por vingança ao que fizemos ao parceiro dela, o James.
Arrisquei olhar para a tal Bella, que estava abraçando com força o braço de Edward, que não tirava os olhos dela. Nesse momento me perguntei se os vampiros também tinham o imprinting ou algo parecido, porque a conexão e o amor entre os dois era quase palpável.
— James era um perseguidor, um stalker incontrolável. Quando tinha um alvo, ele só parava quando conseguia o que queria e infelizmente tivemos que por um fim nele. Desde então, ela tem atacado os moradores de Forks — continuou o doutor.
Nessa hora, senti Jacob passar os braços em volta dos meus ombros e eu o olhei assustada com o que acabara de ouvir. Eles mataram outro vampiro? Por causa da humana?
— Porém desconfiamos de que ela não esteja mais sozinha. Ela encontrou outro stalker, talvez tão perigoso quanto James. Mas parece que ele tem um objetivo diferente do dela.
— E como vocês descobriram isso? — perguntou Billy.
— Alice viu Victoria com outro homem em suas visões — respondeu Edward, esfregando as mãos.
— E o que isso tem a ver com a gente? Muda algo? É só mais um pra matar, fácil — disse Paul, cruzando os braços.
— Essa é a questão... — começou Alice, receosa. — Ele não é um vampiro. Ele é um lobo.
A tensão na sala aumentou consideravelmente. Todos os lobos se olharam alarmados. Um lobo matando no nosso território? Poderia ser um de nós? Eu olhei pra cada um dos meninos, todos pareciam desesperados. Menos Jacob, que tinha uma feição indecifrável. Parecia um misto de raiva e confusão.
— Você sabe dizer se... bom, nem sei como perguntar isso! — começou Jared, se embolando com as palavras. — Alice, por acaso é um dos nossos?
Nesse momento, todos voltaram a atenção para Alice. Admirei a coragem de Jared de perguntar o que todo mundo estava pensando.
— Sinceramente, eu não sei, nunca o vi antes — ela respondeu, parecendo frustrada. — A visão era muito escura e ele se transformou em lobo, mas eu nunca vi nenhum de vocês se transformando.
— Qual era a cor do pelo dele? — perguntou Jacob, extremamente sério. Dava para sentir seu corpo ficando cada vez mais tenso ao meu lado e senti a necessidade de fazer algo para acalmá-lo, só não sabia o que poderia fazer no momento, já que eu mesma estava tão tensa quanto ele.
— Cinza — respondeu Alice. — Um cinza meio queimado.
Senti meu coração parar. Jacob respirava fundo, claramente com raiva.
— Ele era grande, o pelo tinha algumas falhas... — continuou Alice, parando ao ver o estado em que Jacob ficara. Ele se sentou em uma cadeira e eu permaneci imóvel em frente a lareira da sala de estar. — Mas, de novo, estava escuro demais, era difícil enxergar algo.
— Carlisle… Jacob e foram atacados por um lobo com essas características a algumas noites atrás — começou Sam, passando a mão nos cabelos nervosamente. — Ele afirmava que era dele e que ele viera buscá-la.
— Então esse é o objetivo dele? Levar a ? — perguntou Embry, se aproximando de mim e do grupo.
— Por que ele se juntaria com Victoria? Isso não faz sentido, ela é uma vampira! — completou Emmett.
— Na verdade, tem sim algum sentido — disse Edward, parecendo finalmente acordar dos seus pensamentos. — Stalkers tendem a ser minuciosos e planejadores. Victoria se juntou a ele para poder ter a quem culpar pelos ataques aos humanos. Talvez ele acredite que, ajudando Victoria a pegar Bella, acabe fazendo com que Jacob se distraia por ele... se importar com ela — concluiu, olhando para nós dois. – Com vocês ocupados ajudando a nós, o caminho fica livre para chegar até a . Um está usando o outro.
Um silêncio constrangedor se estendeu pela sala, e todos sabiam que Edward estava certo e fazia mesmo sentido.
— É claro que me importo com ela — confessou Jacob, em tom baixo, mas que foi possível ouvir no silêncio que estava na sala.
Involuntariamente, meu coração doeu ao ouvir aquilo. Então ele ainda se importava com ela? Depois de todo esse tempo e tudo o que aconteceu na vida dos dois e de toda a história de imprinting? Eu me senti culpada durante dias à toa?v A pior coisa de ser tão expressiva era não saber esconder meus sentimentos ou pensamentos. Jacob percebeu, pela minha feição, o que provavelmente se passava em minha cabeça.
— Bella é minha melhor amiga, eu sempre vou me importar! — continuou a se justificar quando viu que ninguém falaria nada.
Então nossos olhares finalmente se cruzaram, os dele pareciam pedir perdão. O meu carregava dor. Eu não aguentei sustentar.
— Bom, e que faremos agora? — murmurou Rosalie, parecendo um tanto entediada com a conversa.
— Caçamos os dois e os matamos — disse Sam, sem enrolação.
— Matar outro lobo!? Você ficou maluco? Nós temos regras, não matamos lobos! — Paul argumentou, alterado.
— Olhe como fala comigo, Paul… E não, eu não fiquei louco. Você ouviu o que o Dr. Cullen disse, ele não vai parar enquanto não conseguir o que quer. Foi assim com James, será assim com ele, sendo um lobo ou não.
— Então entregue o que ele quer! — gritou Paul, me olhando com raiva. - Ela só causou problemas desde que chegou, Jacob poderia ter morrido naquela noite!
— Mas não morri! — exclamou Jacob, se levantando com raiva. — Ninguém vai tirar a ou a Bella daqui, sem discussão.
— Agora ela faz parte da matilha, Paul. Ela fica. Aceite isso de uma vez — disse Sam com a firmeza de um Alfa, o que fez Paul abaixar a cabeça.
— Olha, não posso deixar de concordar com o lobinho ali — começou Rosalie, erguendo uma das mãos como se pedisse permissão para falar. — Deixe que a leve, assim Victoria ficará sozinha e nós a matamos mais fácil, como sempre foi o plano, simples assim! — concluiu, dando de ombros quando todos da sua família chamaram sua atenção.
Jake se levantou com raiva e rosnou para ela, fazendo com que todos os vampiros se levantassem e ficassem na defensiva, mostrando seus lindos dentes cor de marfim. Menos Esme e Carlisle, que apenas pediam calma aos demais. E Bella, que o olhava, assustada.
Os lobos não ficaram de fora, também se postando ao lado de Jacob e rosnando para os convidados, menos Billy, Sam e eu, que não sabia como reagir
. Emily, sempre fiel ao lado de Sam, pedia calma aos meninos. Eu só conseguia pensar em como Paul e Rosalie estavam certos. Se o problema era eu, por que não me entregar? Isso facilitaria tudo.
— Eles têm razão – exclamei, tentando falar mais alto que todos, fazendo com que ficassem em silêncio. Jacob voltou à posição normal, me olhando, incrédulo.
— Não fala besteira... — ele começou, mas eu fiz um gesto com a mão para que ele me deixasse falar.
— Ele é a coisa mais próxima do meu passado, por mais medo que eu tenha dele. Se eu me entregar, ele não virá atrás de vocês e deixará Victoria sozinha, vocês lobos não vão precisar quebrar nenhuma promessa ou pacto e vocês vampiros matam ela e se livram de mais um problema. Os dois lados não brigam e todos saem ganhando — falei, e um silêncio absurdo se instalou na sala. Quill o quebrou soltando uma gargalhada totalmente inapropriada.
— Todos saem ganhando!? , como você acha que vamos ficar sem você? — disse o garoto, indignado.
— Ainda temos tanto o que fazer juntas! — disse Alice, logo parecendo se arrepender do que disse. — Ok, talvez eu tenha tido algumas visões da gente passeando no shopping e fazendo festa do pijama com a Bella…
— Quantos anos você tem, treze? — perguntou Rosalie, revirando os olhos.
— Cento e dezenove lindos anos — respondeu Jasper, olhando, apaixonado, para a morena ao seu lado, que sorriu toda boba.
— Nós vamos dar um jeito, mas você e a Bella continuarão com a gente a qualquer custo — disse Edward, abraçando sua amada e lhe dando um beijo na testa. Ela pareceu derreter com o mais leve toque vindo dele.
No momento seguinte se desenvolveu uma conversa intensa sobre como iam resolver o problema. Jacob se sentou na cadeira e olhava um ponto fixo para além da janela, totalmente focado em seus pensamentos. Olhei para Bella e a mesma apontou com a cabeça para a porta da casa e se levantou, caminhando naquela direção. Eu a segui com cuidado para que não chamasse muita atenção e saí com ela, me sentando ao seu lado na escada da varanda dos Black.
A vista da floresta do outro lado da estrada passava certa paz, contrapondo o caos dentro da cabana. Bella também observava as árvores mexerem com a brisa, ficando alguns segundos em silêncio comigo. Eu ainda tinha algumas dúvidas em relação à mulher ao meu lado, ainda sentia um pouco de incerteza nessa ligação que ela tinha com Jacob, o que não deveria me incomodar, mas incomodava e muito.
— Que confusão nós causamos, hein? — brincou ela, logo vendo que não tiraria uma risada de mim. — Olha, me desculpe por mais cedo... como Jacob disse que vocês tiveram um imprinting, eu achei que estariam juntos.
— Não precisa se desculpar, é meio confuso mesmo — respondi, olhando para as minhas mãos. — Não senti o imprinting, Sam disse que por eu ter perdido a memória, é como se eu não estivesse completa, como se eu não fosse eu mesma. É exatamente assim que eu me sinto e o imprinting simplesmente não veio.
Bella assentiu com a cabeça, olhando para a floresta de novo.
— Sabe, Jacob é um grande amigo — começou Bella, ainda olhando reto. — Ele é uma das pessoas mais incríveis que conheço e me ajudou muito em um momento bem específico que precisei. Eu vou fazer de tudo pra que você fique aqui com ele, se isso o fizer feliz.
Sorri, agradecida. Eu senti que ela estava sendo sincera, pude sentir também uma certa ema por ela. Bella não parecia querer meu mal, muito menos o de Jacob. E, da forma como ela e Edward agiam, era impossível que ela tivesse qualquer resquício de sentimento por Jake. Me peguei desejando que a visão de Alice não estivesse errada.
— Eu.. sinto algo por ele — confessei, envergonhada. — É como se tivesse alguma coisa dentro de mim tentando sair, mas faltando algo.
— Falta você estar completa — ela respondeu, e eu concordei.
— Mas eu não posso colocar ele em perigo, nem os outros meninos. Nem mesmo Paul. Eles foram muito bons para mim desde o dia que me encontraram, eu jamais vou me perdoar se algo acontecer a eles por minha culpa.
— Eu entendo perfeitamente o que está sentindo. Mas confesso que fiz a burrice de me entregar para o James quando ele estava atrás de mim, quase morri quando ele me atacou. A ideia de algo acontecer com eles, com minha família e principalmente com Edward… era insuportável. Só que hoje em dia eu vejo que tenho que estar aqui, não consigo mais imaginar uma vida sem eles — ela disse, dando uma olhada para a janela onde podia ver os cabelos dourados de Edward. Ele se virou para a janela, flagrando os nossos olhares, e lançou um sorriso tímido para a amada antes de retomar a conversa com Sam e Carlisle.
— Eu só queria minhas memórias de volta — confessei depois de alguns segundos em silêncio, olhando para longe. — Talvez isso resolva as coisas.
Bella me observou por longos segundos e mudou de assunto ao ver que eu estava ficando chateada, e me contou tudo sobre sua vida com os vampiros desde o dia que se mudou para Forks, contou sobre sua amizade com Alice e de como Rosalie também não gostava dela no começo, assim como Paul não gostava de mim. Saber que alguém naquele caos entendia minimamente o que eu estava passando dava um certo conforto.
Nesse momento, Sam e Billy saíram pra varanda acompanhando os Cullen. Eu e Bella nos levantamos e ela correu para os braços de Edward. Olhei para a porta esperando ver Jacob sair, mas ele não estava ali.
— O que resolveram? — perguntou Bella, abraçando Edward de lado.
— Decidimos manter o plano, caçar os dois e manter vocês duas em segurança — respondeu Carlisle com confiança.
— Isso significa nada de sair de casa sozinhas — disse Sam, olhando para as duas, mas demorando seu olhar em mim. Entortei a boca, descontente, mas obediente.
— Também significa tirar da sua cabeça a ideia de se entregar, — falou Billy, com a voz séria.
— Já conversamos sobre isso — disse Bella, piscando um olho para mim e vindo me abraçar. — Pense em Jacob — ela sussurrou no meu ouvido antes de me soltar.
Todos começaram a se despedir, Alice me abraçou e colocou um papel dobrado no bolso da jaqueta de Jake que eu vestira antes de sair da casa. Rosalie nem olhou na minha cara, mas Emmett também me abraçou, animado. Jasper apenas acenou, sorrindo, sempre com uma cara assustada e simca ao mesmo tempo.
Quando entramos, os meninos também começaram a se despedir, e Emily falou pra eu pegar minhas coisas porque íamos voltar para casa e não tinha mais necessidade de eu dormir lá. Olhei em volta, procurando por Jacob. Não pude contestar dessa vez, já que eu também dava certo trabalho para Billy. Ele não podia ficar se preocupando em ter uma pessoa a mais para alimentar ou cuidar, além do risco que ele corria me abrigando ali.
— Ele está na garagem — disse Embry, me pegando de surpresa. — Pode se despedir dele, eu enrolo o Sam.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu com os outros. Passei no quarto de Jacob, dando uma boa olhada em tudo. Cada detalhe dizia algo sobre ele: os livros na estante, os sapatos sujos e gastos organizados em um canto, o armário organizado em contraste com a cama bagunçada, os pôsteres de motos e carros colados nas paredes e um quadro lindo com um desenho de uma matilha de lobos na floresta. Era como estar dentro dele e eu sentiria falta de passar os dias ali.
Peguei uma mochila que Seth me emprestou, coloquei todas as roupas emprestadas por Emily e saí do quarto, indo em direção à garagem nos fundos da casa.
Ele estava ali, mexendo em uma moto, parecendo frustrado por não conseguir tirar uma peça presa. Ele atacou uma ferramenta longe e passou as mãos pelo cabelo, respirando fundo várias vezes antes de ver que eu estava ali. Sorri amarelo para ele.
— Estou indo pra casa com Sam e Emily — falei, me aproximando. Apoiei minha mochila na bancada de madeira e comecei a tirar a jaqueta para devolvê-la.
— Não, fica com ela — disse Jacob, colocando suas duas mãos nos meus braços, fazendo a já conhecida corrente elétrica passar pelo meu corpo. — Ficou linda em você.
— Desse jeito eu vou ficar com seu guarda-roupa inteiro... — falei, sorrindo envergonhada, recolocando a jaqueta. Ele sorriu de volta, mas logo o desfez. A tristeza estava estampada em seu rosto.
— Olha, sobre o que eu falei de me importar com a Bella... — começou, mas o interrompi, colocando a mão em seu rosto e o polegar em seu lábio. Ele me olhou um pouco chocado, desacostumado com essa aproximação da minha parte.
— Eu até fiquei chateada, mas depois que conversei com ela, entendi tudo. E está tudo bem. Acho linda a pessoa que você é, você é um amigo incrível — falei, sem tirar minhas mãos do seu rosto.
— Fico aliviado. Em parte... — ele falou, fazendo uma careta. — Vou ter que passar um tempo em Forks, então, por favor, não faça nenhuma besteira enquanto eu estiver longe, ok?
— Tipo...? — perguntei, sorrindo, brincalhona.
— Tipo se entregar pro tal lobo stalker... — ele falou, mas parecia ter mais alguma coisa.
— O que mais? — perguntei, vendo-o desviar o olhar.
— Não se envolver com ninguém... Principalmente com Embry — ele soltou, parecendo envergonhado em dizer isso. E com razão.
— Jake, isso é loucura... — comecei, e o vi rolar os olhos.
— Eu vejo o jeito que ele te olha, e você está sempre perto dele, você ainda não teve o maldito imprinting e…
— Jake, eu estou aqui agora, não estou? — questionei, interrompendo-o. — Com imprinting ou não, eu estou aqui. Com você.
Pude ver os olhos dele se encherem de lágrimas. Jacob encostou sua testa na minha e fechou os olhos, eu fiz o mesmo. Toda essa situação era insuportável para mim, mas nunca parei para pensar em como era para Jacob sentir tudo o que estava sentindo sozinho. Ficamos alguns segundos assim antes de ele se afastar o suficiente para me olhar, trocando a atenção entre meus olhos e minha boca. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e meu corpo formigava inteiro querendo seu toque mais do que nunca. Ele se aproximou, e eu fechei os olhos, completamente entregue.
Mas o beijo nunca aconteceu, porque Emily apareceu bem na hora.
— , nós temos que... Ah meu Deus, me desculpem! — ela disse, girando nos calcanhares e voltando para dentro de casa.
Jacob suspirou de frustração e, apressadamente, eu lhe dei um beijo na bochecha antes de sair correndo atrás de Emily.
Em um dia relativamente quente, Emily e os meninos me levaram até Port Angeles para fazer compras para preencher o recém-arrumado armário que eu quebrei no dia que "ataquei" Jake. Os meninos juntaram suas economias e compraram um celular para mim, simples, mas eficaz. Prometi para todos eles que, assim que possível, eu arranjaria um emprego e pagaria tudo de volta, no entanto, Emily e os meninos protestaram, falando que eram presentes por todos os aniversários e natais que não passamos juntos antes de nos conhecermos, e aquilo aqueceu meu coração da forma mais gostosa possível.
Descobri que o papel que Alice colocou na minha jaqueta era o número do celular dela e de Bella, o que me deixou bem feliz. Porém, preferi não mandar mensagem por enquanto. Era melhor esperar as coisas se acalmarem antes de tentar fazer amizade com os teoricamente inimigos.
Jacob foi para Forks e eu não o vi durante todo o resto do inverno e as duas primeiras semanas da primavera. Ele continuava com Bella e os vampiros. Às vezes, voltava para vigiar a floresta, mas nunca conseguia parar para me ver. Os únicos que iam me ver eram Quil, Seth e Embry, que se tornaram grandes amigos, ouso dizer os melhores. Jared ia às vezes e Paul não vinha quase nunca, e, quando vinha, ignorava minha existência. Não que eu fizesse qualquer questão que ele me notasse. Ele ainda me odiava e eu deixei de me importar com isso.
— , você é horrível nesse jogo, fala sério! — exclamou Embry, rindo ao me ver morrer pela terceira vez em um jogo de matar zumbis que eles estavam viciados.
— Faz três semanas e você não aprendeu nada! — completou Seth, enchendo a boca de Cheetos.
— Qual é, meninos, eu perdi a memória... — respondi, rindo, devolvendo o controle para Quil jogar a próxima rodada e me levantando para pegar um copo de suco.
— Ah, não, de novo usando a carta do "perdi minha memória". Isso não cola mais, maninha! — falou Quil, quase esmurrando o controle ao iniciar a partida.
Soltei uma gargalhada, sabendo bem que agora a desculpa servia apenas para deixar o assunto mais leve. Sam chegou na mesma hora e entrou com duas sacolas de compras na mão, Emily entrou logo atrás com mais duas sacolas e eu corri para ajudá-la. Comigo e os meninos sempre presentes, o estoque de comida acabava muito rápido.
— Boa notícia! — exclamou Sam, deixando suas sacolas na bancada da cozinha.
— Jacob está voltando? — perguntei como fazia ocasionalmente, sem reais esperanças. Já faziam algumas semanas que eu deixara de perguntar isso a Sam, porém não custava tentar.
— Melhor! Consegui te matricular na escola, você começa semana que vem com os meninos.
Seguiu-se um coro de "legal!" e "boa, Sam!" dos garotos, sem tirarem os olhos da televisão. Fiz uma careta.
— Sam, eu tenho mesmo que ir para o colégio? — resmunguei, na esperança de que ele sentisse alguma pena de mim e decidisse me deixar em casa. Não funcionou.
— Vai te fazer bem, . Vai poder sair um pouco, conhecer gente nova... E não se preocupe, pois você vai estar segura com os meninos e dentro da escola — ele respondeu, colocando as compras na geladeira.
Embry se aproximou enquanto eu rolava os olhos, suspirando. Ele pegou uma maçã, colocou um dos braços em volta dos meus ombros e deu uma mordida, dando uma piscadela pra mim.
— É só o último ano, , vai passar rápido — falou, me encorajando.
Algumas semanas atrás, eu fiz uma prova para testar meus conhecimentos e fiquei muito impressionada por saber responder quase tudo. As respostas simplesmente vinham e eu julguei que pelo menos eu ia à escola na minha "vida com memórias", como eu gostava de chamar agora.
— Relaxa, maninha, eu e os meninos vamos cuidar de você — disse Embry, sorrindo desdenhoso e com a boca cheia. Eu ouvi os meninos xingarem os zumbis, e disse:
— Uau, agora me senti mais segura. — Ri da cara que Embry fez, fingindo se ofender. — Quem mais frequenta a escola?
— Eu, Quil, Seth, Paul e... Jake — ele respondeu, dando outra mordida na maçã e me olhando receoso ao citar o último nome.
Ele e as pessoas que ficaram esse tempo comigo sabiam bem o quão chateada eu estava por Jacob ainda não ter voltado. O que deveria ser apenas duas semanas se tornaram quatro, e agora faziam dois meses. Eu ainda não sentira o imprinting e isso me frustrava, sentia que ficar longe dele não ajudava em nada. Jacob deve ter se cansado também, então talvez não seja assim tão poderoso. Sam odeia quando falo isso, ele diz que é desrespeito à nossa cultura. Ele tem me ensinado muito sobre a cultura dos lobos em geral, mas especialmente em La Push. Também temos treinado, só que ele ainda não deixava eu me transformar em lobo tanto quanto eu gostaria, tendo medo que retardasse a evolução com a memória. Mas que evolução?
Eu ainda tinha pesadelos, sempre o mesmo: o tal lobo correndo atrás de mim e da minha família, eu procurando por meus pais e não conseguindo encontrá-los. Depois, eu os encontrava mortos, assim como na minha memória. Agora eles faziam um pouco mais de sentido, já que eu tinha visto o tal lobo. Eu ainda acordava gritando, mas, dessa vez, Jacob não estava lá para me acolher.
A semana passou mais rápido do que eu gostaria e chegou o meu primeiro dia de aula. Eu escolhi uma camiseta preta de manga longa sem estampa, uma calça jeans clara de cintura alta com cinto preto simples e um tênis branco novinho que dava dó de usar. Deixei meu cabelo solto e fiquei sem maquiagem nenhuma. Apesar de Emily ter me dado algumas, eu nem sabia como usá-las.
Fomos todos na van de Sam, mas quem dirigia era Emily. Eu esperei Jacob chegar de manhã, contudo, ele não foi com a gente, e Paul foi com seu próprio carro, me evitando como sempre.
Então éramos somente eu, Seth, Quil e Embry, como sempre. Eles eram Os Três Mosqueteiros e eu, o D'artagnan, mas confesso que senti certo receio em não saber se Jacob estaria comigo em meu primeiro dia.
— Boa sorte, meus amores — Emy disse com um sorriso carinhoso no rosto. — Me liguem se precisarem de alguma coisa.
Nos despedimos e Emily ficou esperando entrarmos no colégio antes de ir embora. Todos os alunos olhavam para mim, como se eu fosse um bicho estranho e exótico. De certo modo, eu era sim, mas eles não sabiam disso. Antes de passar pelas portas do colégio, senti um frio na espinha. Olhei para trás e procurei o homem que infernizava e invadia meus sonhos, certa de que ele estava por ali. Não havia ninguém que eu conhecesse.
— ? — Seth me chamou, preocupado. — Relaxa, estamos aqui com você.
— Eu sei — respondi com um sorriso incerto, ainda olhando em volta.
Desisti de procurá-lo e me virei, seguindo os meninos para dentro do prédio. Eles me acompanharam até uma sala com a placa "secretaria" em letras garrafais pendurada na porta. Paul, que nos encontrou na frente da escada, apenas seguiu reto, sem nem olhar para trás.
— Ah, finalmente o segundo ano... — disse Seth, suspirando feliz. — Mais um ano e estou livre.
— Bom, maninha, vamos ter que te deixar aqui — falou Quil, não prestando muita atenção em mim, mas sim nas líderes de torcida que passavam por eles e davam risadinhas. — Nos vemos mais tarde!
— Espera, vocês vão me deixar sozinha? — respondi, meio desesperada. Porém os dois já tinham ido se misturar com as meninas, me deixando para trás.
— Relaxa, eu te espero aqui — disse Embry, sorrindo e ajeitando a mochila. Sorri, agradecida, e respirei fundo antes de entrar na sala, indo até um balcão onde havia duas moças que, para meu alívio, pareciam simcas. Uma delas me deu um papel com o horário das minhas aulas, me falou as regras da escola brevemente e me entregou um mapa explicando onde ficava tudo. A outra moça me deu a senha e o número do meu armário e me dispensou.
Quando me virei, Embry estava sentado em um dos bancos da sala e levantou um papelzinho azul. Quando cheguei perto, eu vi que era uma advertência.
— Me advertiram por estar fora da sala em horário de aula — ele falou, dando um sorriso torto. — Vou ter que esperar o diretor.
— Mas você explicou que estava me esperando? — perguntei, chocada.
— Falei , mas... Bom, eu tenho certa fama por aqui — ele respondeu, rindo. Virei os olhos com a gracinha dele. — Foi mal, mas você consegue ir sozinha para a primeira aula? Prometo que te encontro na porta da sua sala no segundo tempo, qual é a primeira aula?
— Biologia... — murmurei com desânimo, olhando o papel.
— Ótimo, não é muito longe daqui. Desculpa mesmo, mana — ele falou de novo, dando um dos seus sorrisos encantadores. Não resisti e sorri de volta, lhe dando um beijo na bochecha antes de sair da sala.
Fui até meu armário com ajuda do mapa e coloquei meus livros dentro. Prendi na parte de dentro do armário uma foto minha com Seth, Quil e Embry, me lembrando de tirar outra com o resto da matilha assim que possível para decorar meu novo armário, além de deixar como fundo de tela do meu novo celular. Novo celular, novo armário, nova vida, novas memórias... Eu ainda tinha que me acostumar com tudo isso.
— Oi, gatinha nova! Como vai?
Olhei para o lado apenas para encontrar um loiro com uma daquelas blusas do time da escola da cor azul. Ele sorria pra mim, encostado no armário ao lado do meu como se me conhecesse há anos. Não parecia ser uma ameaça, mas não queria dar qualquer abertura a alguém novo sem os meninos estarem comigo.
— Oi — respondi de forma seca e cortante.
— Ah, já vi que a gatinha é arisca — ele falou, mordendo o lábio inferior ao me olhar dos pés a cabeça. — Meu nome é Christopher, mas pode me chamar de Chris, e você?
— Você não devia estar na sua aula? — retruquei, batendo o armário com força antes de lhe dar as costas.
— Devia, mas fiquei sabendo que tinha uma gatinha linda andando sozinha pela escola, não pude deixar de conferir e olha... Que gatinha mais deliciosa é essa, hein?
Parei de andar e me virei para encará-lo, tentando expressar todo o ódio que estava sentindo.
— Para de me chamar de gatinha ou vai se arrepender — respondi, ríspida, antes de retomar o caminho que fazia.
— Vai mesmo me dar as costas? — ele falou, acelerando o passo até ficar do meu lado.
Não respondi e continuei andando, pensando que, se o ignorasse, ele iria embora. Me enganei, pois o garoto entrou na minha frente e me segurou com força pelos braços, me fazendo soltar o livro e o caderno da minha aula. — Onde você pensa que vai? — questionou com rispidez, me apertando mais forte.
— Me solta, seu idiota! — Tentei me soltar com cuidado, evitando usar a força que eu sabia que tinha para não machucá-lo, por mais que eu quisesse muito. Como iríamos explicar uma garota como eu com uma força extrema? — Pra que tanta pressa? Não vou deixar você ir embora sem me dar um beijinho. É ritual de boas-vindas das novatas! — falou Christopher, aproximando perigosamente a boca dele da minha.
— Me solta! — eu exclamei, enquanto virava a cara para que ele não acertasse o beijo. Àquela altura, eu já havia me decidido que o machucaria de qualquer forma, mas não foi preciso.
— Solte ela agora, Christopher — uma voz grossa ecoou pelo corredor, e eu a reconheci na mesma hora. Christopher soltou apenas um braço meu e se afastou um pouco.
Olhei para Jacob, sentindo um alívio e uma euforia instantânea tomarem conta de mim. Ele vestia uma camiseta preta gola “V” que ficava justa em seu corpo, uma calça preta e um allstar branco e gasto, como sempre. Ele estava lindo, o que também não era nenhuma novidade, e meu coração acelerou ainda mais. Fiquei tão hipnotizada que nem reparei quando Christopher me soltou por completo e se aproximou do garoto recém-chegado.
— O que você quer, Black? — perguntou Christopher. — Sai daqui, seu otário.
— Eu quero que você deixe a em paz — Jake falou com voz controlada, mas cruzando os braços na frente do peito. Sua postura o fazia parecer ainda mais alto do que era.
— Jacob, vamos, deixa quieto — falei, me apressando para o seu lado e puxando o braço dele, que não moveu um centímetro. Eu poderia ter a força de loba, mas Jacob Black era 10 vezes mais forte.
— Pelo que eu saiba, ela não tem dono, então eu posso brincar à vontade — Christopher começou a caminhar em minha direção e eu estava preparada pra fugir, mas Jake foi incrivelmente mais rápido que eu e se jogou em cima de Christopher, dando um soco em seu rosto e segurando ele com força no chão.
O pavor tomou conta de mim. Eu não era forte o suficiente para impedir Jake, mas não sabia como chamar os meninos para ajudar sem alarmar a escola inteira.
— Jacob, para! — pedi, tentando mesmo assim tirar ele de cima do imbecil caído no chão. Pude senti-lo tremer em minhas mãos e surgiu um desespero de que ele fosse se transformar ali, no meio do corredor.
— Vá pra sua sala! — ele exclamou para mim. Continuei tentando puxá-lo, pensando no que fazer: correr ou ajudar? Christopher se debatia no chão como um peixe fora d'água e Jacob segurava seu pescoço, parecia prestes a matá-lo.
Por algum milagre, Embry chegou correndo, tentando separar a briga.
— Vai pra sua sala, , eu dou um jeito — ele falou, mas eu não queria ir.
— Vai logo! — Jake exclamou, entre os dentes. Relutante, peguei minhas coisas desajeitadamente e corri em direção à sala.
— Ah, você deve ser a , a aluna nova! Você estava na secretaria, certo?
Ainda sem conseguir falar nada e com o coração quase explodindo, apenas assenti, já sentindo o olhar de todos em mim. Entreguei o papel que as secretarias pediram que entregasse para os professores assinarem e caminhei com a professora até o meio da sala, parando na frente de todos. Pude ver que Paul estava ali. Ele me encarou e desviou os olhos. Achei que ele estava só sendo desagradável e me ignorando, porém acompanhei seu olhar até a cadeira vaga do lado dele.
— Seja muito bem-vinda, querida — a professora murmurou ao me devolver o papel. Agradeci e fui para o fundo da sala, me sentando ao lado de Paul.
A professora retomou a aula sobre mamíferos enquanto eu tentava acalmar meu coração que batia muito forte. Eu lançava olhares para Paul, querendo poder contar o que acontecera. Ele me olhou e fez um gesto como se perguntasse o que tinha acontecido. Mordi o lábio, olhando, receosa, para a professora.
Depois de longos segundos, eu o olhei de novo e ele sibilou "está tudo bem?". Consegui ler seus lábios e respondi, negando com a cabeça. Ele passou a me observar, preocupado. Então ele pegou o celular e digitou, logo senti o meu vibrar. Peguei discretamente o celular, tomando cuidado para a professora não ver.
Paul: O que aconteceu? Ouvi vocês lá fora.
: Um cara me assediou no corredor, Jake apareceu, surtou e atacou ele. Embry foi ajudar a acalmar ele, mas os dois me mandaram sair de lá.
Ele me olhou, assustado. Eu olhei para a frente e fingi anotar algo sobre a aula enquanto o esperava responder.
Paul: atacou?? Ele se transformou? Por que você entrou na sala?
Sua mensagem foi seguida por vários emojis com cara de raiva. Ele tinha toda a razão, eu não deveria ter entrado, deveria ter ficado para ajudar. Fui uma covarde.
: Ele não se transformou... pelo menos não enquanto eu estava lá.
Assim que ele leu a mensagem, Paul levantou a mão e disse:
— Professora, estou me sentindo meio mal, posso ir à enfermaria?
— Claro, Paul, precisa de acompanhante? — ela perguntou com sua voz angelical.
Esperei que ele falasse que sim para eu poder ir com ele, mas Paul apenas me olhou com cara de debochado antes de falar "não" e sair da sala. Bufei, frustrada e agoniada por não saber o que estava acontecendo. Era inútil mandar mensagem para Jacob, seria surpreendente se ele tivesse ao menos trazido o celular para a escola. Então mandei mensagem para Paul, que parou de me responder depois de sair da sala. Tentei Embry, Quil e Seth, nenhuma resposta. Quando o sinal tocou, saí correndo para fora da sala e dei um encontrão em Jacob, que me segurou firme para não cair para trás.
— Meu Deus, Jake, o que foi aquilo? — falei, abraçando sua cintura com força.
Ele me abraçou de volta, apoiando a cabeça em cima da minha e pareceu relaxar o corpo. Me separei dele para olhá-lo por inteiro, procurando algum machucado ou algum roxo. Soltei o ar, aliviada por ver que ele estava bem.
— Vamos, não quero que se atrase para mais uma aula — ele falou, segurando minha mão com firmeza. Se não fosse pela minha inabitual força, eu reclamaria do aperto. Ele ainda estava tenso, mas parecia não querer tocar no assunto.
— Jacob, o que você fez com ele? — questionei, e vi seu maxilar ficar tenso.
— Seus dois próximos tempos são história, né? — ele perguntou e eu apenas assenti com a cabeça. — Seu horário é o mesmo que o meu, Embry vai nos encontrar lá. Paul e os meninos já foram para as salas deles e…
— Não foi isso que eu te perguntei, Jake — eu disse, parando de andar e ficando de frente pra ele e cruzando os braços. Ele suspirou, vendo que eu não ia desistir.
— Não vai nem dizer que sentiu minha falta? — ele falou, tentando descontrair. O olhei com seriedade.
— Ainda estou brava com você por causa disso, mas esse não é o assunto agora, Jake. Você... — olhei em volta para ver se era seguro falar. — Você se transformou?
— Na escola? Ficou maluca!? — ele falou, rindo, voltando a andar e segurando de novo a minha mão. — Ele está vivo, se é o que quer saber.
— Do jeito que você se jogou em cima dele e deu aquele soco... A última vez que te vi assim foi quando fomos atacados — falei, sussurrando a última parte.
Ele me olhou com certa pena, finalmente percebendo o quão preocupada eu fiquei.
— Relaxa, eu não fiz nada de mais, apenas dei um susto. Agora ele vai pensar duas vezes antes de mexer com minha… com você — disse Jacob, ficando sério de repente.
Chegamos à sala e Jacob foi para o fundo, guardando um lugar para mim ao seu lado. Embry estava na outra fileira, fazendo com que eu ficasse no meio dos dois. Parei na mesa do professor e ele assinou o papel sem nenhum ânimo, me desejou boas vindas e eu me encaminhei para o meu lugar. Se dependesse dos meninos, eu só sentaria no fundo da sala em todas as aulas. Embry explicou que aquele era apenas um substituto e que o professor de história era mais interessante que aquilo.
— Formem duplas para assistirem ao filme e escrevam considerações sobre ele — disse o homem com desânimo e, em um segundo, Jacob estava colado em mim.
Embry se juntou com uma loira e pareceu se esquecer da nossa existência. O filme era sobre alguma guerra envolvendo a França que eu senti já ter assistido antes e tentei puxar na memória onde eu tinha visto, mas parecia mais com um deja vu do que com uma memória. Ninguém mais parecia estar prestando atenção depois que apagaram as luzes. O professor não aguentou e acabou caindo no sono, assim como muitos alunos. Olhei para Embry e fiquei chocada ao ver que ele e a tal loira estavam se beijando indiscretamente, mas ninguém parecia ligar. Eu abaixei a cabeça e a deitei nos meus braços, observando Jacob que parecia ser o único prestando atenção e fazendo anotações.
— Eu já vi esse filme — sussurrei pra Jake, tirando a atenção dele. — Depois eu faço as considerações.
— Você se lembra? — ele perguntou baixinho, encostando sua cabeça nos braços assim como eu fiz. Balancei a cabeça, indicando que mais ou menos.
— Me lembro de frequentar a escola por um tempo... — falei, tendo alguns flashbacks meus em corredores e aulas, andando com amigos e almoçando em grupo. Eu tinha amigos, e meu coração doeu em pensar neles.
Cheguei mais perto dele. Jacob descruzou os braços só para passar um deles pelos meus ombros, ainda apoiando a cabeça no outro e se aproximando ainda mais. Nossos rostos ficaram quase colados, eu conseguia sentir a respiração dele chegando em mim. Ele começou a fazer carinho no meu cabelo com a mão que estava no meu ombro, me deixando sonolenta.
— Obrigada por me salvar de novo — sussurrei.
— Eu sempre vou te salvar — ele respondeu, também sussurrando. — Ele te machucou?
— Não — respondi, sentindo meus olhos pesados. — Mas me prometa que você nunca irá se machucar? Eu jamais me perdoaria caso algo acontecesse com você.
— Prometo tentar — ele disse, chegando mais perto. O nariz dele roçava no meu, me dando arrepios bons.
— Ainda estou brava com você por não ter vindo me ver por tanto tempo — falei, fechando os olhos, me deliciando com o carinho que ele fazia.
— Eu vou te compensar — ele disse, beijando a ponta do meu nariz, e essa foi a última coisa que eu ouvi antes de cair no sono.
Jacob me acordou segundos antes de o professor acender as luzes. Por sorte eu não tive nenhum sonho ou pesadelo que me fizesse acordar gritando e acho que isso se devia ao fato de Jacob estar ali, me abraçando.
O professor nos mandou fazer uma redação de mil palavras sobre o filme com a nossa dupla. Seria um prazer fazer o trabalho com a minha.
Embry saiu abraçado com a loira que Jacob me contou ser uma “ficante” meio fixa de Embry. Ele gostava muito dela, mas não queria namorar sério por não querer magoá-la quando ele tivesse o imprinting com outra pessoa. Isso me fez lembrar do que acontecera com Bella e Jacob e como devia ser triste saber que aquela pessoa que você gosta tanto não poderá ser sua.
Chegando à mesa do refeitório, Paul e Seth eram os únicos que já estavam lá; Paul estava de cara fechada como sempre. Nos sentamos à mesa redonda depois de pegarmos algumas coisas para comer e reparei que Jacob o olhou bravo, dando um cutucão nele por baixo da mesa. Paul suspirou, quase bufando.
— , foi mal por te deixar sozinha na sala — ele murmurou meio a contragosto.
— Sem problemas, o importante é vocês estarem bem — disse, sorrindo, pois era a pura verdade.
Ele abriu um sorriso meio relutante e um tanto forçado, mas logo o fechou. Olhei pelo refeitório enquanto dava garfadas no purê de batatas que eles serviram e meus olhos se cruzaram com os de Christopher. Ele desviou o olhar, mas percebi a tempo que um dos olhos estava avermelhado e inchado, quase ficando roxo, além de um corte feio na bochecha que ainda sangrava, apesar do curativo. Logo Embry e Quil chegaram à mesa com a bandeja quase transbordando de comida.
— Vocês deixaram o menino sangrando e com olho roxo? — perguntei, incrédula.
— Vocês vírgula, isso foi Jake e Paul — disse Embry, sorrindo. — Eu e os meninos apenas separamos a briga.
— Paul? Você fez isso por mim? — O olhei, fingindo estar incrédula. — Meu Deus, pensei que você me odiasse…
— Não é pra tanto — ele respondeu, virando os olhos. — E você é nossa irmã agora, tenho que te defender — concluiu, fingindo indiferença.
Sorri e me levantei, dando a volta na mesa para ir até ele, o abraçando por trás.
— Obrigada mesmo assim — falei, apertando mais o abraço enquanto os meninos nos provocavam falando "que fofo!" e provocando Paul.
— Ok, ok, não abusa — ele falou, tentando conter um sorriso ao tirar meus braços de si mesmo.
— Olha, eu tenho certeza de que não foram só os olhos que ficaram roxos! - disse Quil, nos fazendo cair na risada com o que ele deixou a entender.
Jacob teve as mesmas aulas que eu nos três últimos tempos. Quando estávamos saindo do colégio, eu o questionei se era coincidência ou se ele havia mudado o horário para o mesmo que o meu. Ele apenas piscou com um olho e sorriu, sem responder.
Emily veio buscar os meninos, mas eu fui com Jacob em sua picape Ford antiga, mas funcional e que ele mesmo montou. Mas ele só me deixou no Sam e teve que ir para casa ver seu pai, tendo uma ótima desculpa para adiarmos nossa conversa.
E o resto do dia foi mais tranquilo, com os meninos jogando videogame ao invés de fazerem o dever de casa e eu e Embry fazendo nosso dever para não acumular. Nenhum de nós tocamos no assunto sobre o que aconteceu no colégio, mas eu sabia que seria por pouco tempo, pois nenhum deles conseguia guardar um segredo de Sam.
Quando sai do quarto para tomar café da manhã, me surpreendi com Jacob sentado à mesa com Sam e Emily, que me saudaram com um bom dia caloroso. Observei Jake me olhando chocado, de cima a baixo, me deixando vermelha de vergonha.
— Uau — Jacob falou quando me sentei ao seu lado. — Você está... Você está muito…
— Toma, Jake — falou Sam, entregando um guardanapo para o moreno ao meu lado, arrancando uma risada minha e de Emily. — Limpa essa baba toda.
O garoto pegou o papel, revirando os olhos sem conseguir evitar um sorriso pela brincadeira.
— Obrigada, Jake, agora para de olhar, está me deixando com vergonha — falei, sorrindo. Ele se inclinou e me deu um beijo na bochecha, sussurrando “você está linda” no meu ouvido, fazendo meu corpo todo arrepiar.
Tomamos o café enquanto contávamos a Sam sobre o dia de ontem, deixando de lado a parte em que os meninos deram um jeitinho naquele assediador. Dessa vez, fui com Jacob em seu carro e Emily saiu para buscar os meninos. Percebi que essa provavelmente seria a rotina dali em diante, e isso era um tanto reconfortante. Mas então percebi que Jake não estava fazendo o caminho ao colégio — ele estava fazendo o caminho oposto.
— Hm, Jake... Eu acho que o colégio é para o outro lado, não? — questionei, olhando pela janela.
— Você está certa, mas o que acha de termos nosso primeiro encontro? — ele perguntou, sorridente. — Uma oportunidade de finalmente termos um momento só para nós dois.
— Jacob, por mais que eu até goste da ideia... — ele revirou os olhos ao ouvir o “até goste” — eu não posso faltar no segundo dia de aula!
— Deixei Embry e Paul encarregados de prestarem atenção e pegar as matérias pra gente — ele disse, dando uma piscadela. Ótimo, nosso futuro acadêmico dependia dos dois. Bufei, derrotada.
— Certo, e para onde vamos? — perguntei, aceitando que não tinha fundamento discutir com o teimoso Jacob Black.
— Vamos a um dos pontos turísticos mais famosos de La Push... — ele respondeu, fazendo suspense.
— Que seria...? — instiguei depois de ver que ele não ia completar a frase.
— A Second Beach, a praia mais bonita da região — respondeu, sorridente. — Temos que aproveitar esse sol milagroso, não é sempre que temos um dia como hoje.
Confesso que a ideia foi ótima, uma praia em um dia daqueles era o que eu mais queria.
— Só esqueceu de um detalhe, Jake: eu não tenho nenhum biquíni aqui comigo — apontei, olhando a roupa que eu definitivamente não queria molhar.
— Pedi pra Emily pegar um nas suas coisas — ele falou, ainda sorrindo e parecendo convencido por ter planejado toda a surpresa.
— Espera... Ela sabe disso? — perguntei, chocada.
— Querida, a ideia da praia foi dela. E outra, eu não ia sumir com você sem avisar seus responsáveis — ele respondeu, divertindo-se com meu choque.
— Sam também sabe? — perguntei, ficando cada vez mais chocada. Ele apenas assentiu com a cabeça. — Não acredito que eles deixaram… você é realmente muito persuasivo.
— Obrigado — ele respondeu, recebendo aquilo como um elogio.
Jake ligou o rádio em uma música calma e praiana, nos fazendo entrar no ritmo. Cada vez mais eu gostava da ideia daquele encontro e quanto mais nos afastamos, mais longe eu deixava os problemas. Eu sorria toda vez que olhava para Jacob e o via cantarolando a música do rádio, sempre sorridente.
Quando chegamos à praia, fiquei sem fôlego com a beleza da paisagem. Haviam rochas altas onde as ondas se quebravam, galhos e troncos secos, parecendo esqueletos, decoravam a areia. Ventava um pouco, ficando em perfeito equilíbrio com o calor. Ela estava quase deserta, tirando dois surfistas distantes aproveitando as ondas altas.
— Caramba, Jake... É realmente lindo — falei, suspirando. Ele apenas sorriu em resposta.
Jacob tirou uma bolsa de trás da caminhonete e uma cesta de piquenique de palha com um pano dobrado em cima. Ele remexeu na bolsa e tirou uma sacola de pano com um maiô azul marinho e uma canga branca dentro.
— Onde você quer que eu me troque? — perguntei, colocando a mão na cintura.
Ele apenas desviou os olhos e apontou para uma casinha de madeira que tinha há alguns metros. Eu entrei e ele ficou do lado de fora, ainda cantarolando a música que estávamos ouvindo no carro. Quando saí, observei seu queixo cair e ele ficou com a mesma cara de bobo que ele estava no café da manhã.
— Acho que nunca vou deixar de me surpreender com a sua beleza — ele disse, abraçando minha cintura com o braço livre e depositando um beijo no meu pescoço.
Minhas pernas ficaram bambas na mesma hora, e me demorei de propósito enquanto guardava as coisas na bolsa de pano para poder me acalmar ao efeito que ele causava em mim. Ele então entrelaçou nossas mãos e começamos a caminhar pela areia da praia. Fechei os olhos enquanto ele me guiava, sentindo a brisa batendo no rosto e bagunçando meus cabelos agora soltos. De repente, o senti diminuir os passos até parar totalmente, me puxando de volta quando acabei dando dois passos para frente.
— Vamos parar aqui para o piquenique — ele disse, esticando a toalha.
Eu o ajudei com a cesta, tirando algumas coisas de dentro. Tinha sanduíches, frutas, biscoitos e água de coco. Ele tinha feito o serviço completo.
— Confessa: foi Emily quem preparou, não foi? — perguntei, pegando um morango.
— Acha que não sou capaz? — ele respondeu, fingindo estar ofendido. Eu só consegui rir da cara dele. — Eu fiz os sanduíches e quebrei o coco para tirar a água… — ele confessou, dando uma piscadela.
— Eu estou realmente impressionada — falei com sinceridade, sorrindo largo. — Obrigada, Jake, está perfeito.
Recebi um sorriso em resposta enquanto ele comia um cacho de uvas e olhava as ondas quebrarem. Também comecei a observar o mar, fechando os olhos e aproveitando o barulho das ondas, o único som que se fazia no momento.
— Me desculpa pelo tempo que eu sumi — ele falou de repente, me fazendo abrir os olhos e olhar para ele. Jake me olhava com certa dificuldade, os olhos quase fechados por causa da luz do Sol. — Eu senti sua falta todos os segundos que passei em Forks — completou, chegando mais perto.
Percebi que ele queria me beijar, então peguei um morango e enfiei na minha boca, o fazendo rir. Não era momento para beijo, apesar de algo dentro de mim gritar de vontade de beijá-lo. Precisávamos ter aquela conversa, e um beijo com certeza não facilitaria as coisas.
— Eu admito que também senti sua falta — confessei, fazendo-o sorrir largo. Revirei os olhos, sem conter o sorriso.
— Eu sabia! — ele falou, rindo, e tomando um gole do suco.
— Você é muito convencido… — murmurei, brincando, comendo mais um morango. — Quando você volta para Forks?
Fiz a pergunta sem querer realmente ouvir a resposta. Evitei seu olhar, caso não fosse uma notícia realmente boa.
— Não tão cedo. Sam e meu pai não querem que eu perca as aulas — ele respondeu e logo começou a rir quando levantei uma sobrancelha. — Um dia não tem problema, mas se eu voltar para Forks, eu perderia semanas de aula, entendeu?
— Entendi. Mas então você vai deixar a Bella desprotegida? — o questionei, tentando não demonstrar o leve incômodo que eu sentia com a situação.
— Victoria e o tal lobo deram uma trégua e Edward vai ficar mais em casa, ela não precisa tanto assim de mim. Além disso, eles também voltarão para a escola deles — ele respondeu, dando de ombros e terminando seu cacho de uva. Roubei a última uva e o vi abrir a boca, fingindo estar indignado.
— Talvez eu possa ir com você para Forks da próxima vez — comentei como quem não quer nada, dando um gole no suco. Jacob me olhou como se eu fosse louca e eu apenas dei de ombros.
— O quê? Eu estava querendo mesmo ver Alice e Bella, conhecer um lugar novo... — continuei, o vendo suspirar de frustração, me deixando um pouco irritada. — Olha, vocês precisam parar de me tratar como se eu fosse de porcelana. Caramba, sou uma loba como vocês! Eu sei me defender sozinha!
— Eu sei, , não duvido da sua capacidade! Mas se colocarmos vocês duas juntas, fica muito mais fácil para eles pegarem vocês, não acha? Mantendo cada uma em uma cidade, eles ficam mais vulneráveis se tentarem se separar. Faz sentido?
— Faz sim... — respondi, pensativa, apesar de contrariada.
— Agora vamos, por favor, mudar de assunto e aproveitar esse dia lindo que temos só pra nós? — pediu, fazendo biquinho com a boca. Eu não resisti e sorri, concordando.
Ficamos mais um tempo conversando e comendo. Depois de algumas horas, fomos andar um pouco na beira do mar, o que acabou virando uma guerra de água, resultando em ambos caindo na água e rindo demais para conseguirem se levantar. Aproveitamos que o mar havia ficado mais calmo e decidimos ficar nadando um pouco na água, mesmo que ela estivesse um pouco fria demais. Era incrível como Jacob fazia eu me sentir mais leve, mais calma. Os problemas pareciam sumir quando eu ficava ao seu lado, ao mesmo tempo que eu sentia que ele era a solução para todos eles. Eu não me sentia incompleta quando estava com ele, e essa era uma sensação maravilhosa.
Jacob e eu ficamos nos encarando por um tempo, mexendo lentamente os braços e pernas para ficarmos no mesmo lugar já que as ondas sumiram. Ele foi se aproximando aos poucos, com metade do rosto na água e a outra metade para fora, sem quebrar o contato visual. Permiti que ele me abraçasse embaixo da água, passando seus braços pela minha cintura e afundando seu rosto no meu pescoço. Eu passei meus braços pelos seus ombros e enrosquei meus dedos no seu cabelo, fechando os olhos e aproveitando aquela sensação boa e o calor que emanava do corpo dele, não querendo sair dali nunca mais. Ele se afastou e me olhou da forma como ele sempre me olhava — com carinho e desejo. Acariciei seu rosto, moldando-o com as mãos enquanto a água escorria pela pele bronzeada.
— Você é lindo — falei, vendo-o abrir um sorriso enorme.
— Eu sei — ele respondeu em tom de brincadeira, me fazendo virar os olhos.
— Meu Deus, que convencido! — brinquei, fazendo-o gargalhar.
Eu continuei contornando o rosto dele com os dedos quando paramos de rir. Ele fechou os olhos, mas continuou sorrindo, dessa vez era ele quem se deliciava com meu carinho. Olhei para ele e, meu Deus, como alguém conseguia ser tão bonito?
As borboletas no meu estômago davam piruetas, o arrepio toda vez que a gente se tocava estava ali presente e eu sabia que não era o frio. Eu me aproximei mais, segurando seu rosto com as duas mãos para que ele não se movesse. Ele não sorria mais, mas continuava com os olhos fechados, como se apenas aguardasse algo.
Então finalmente juntei nossos lábios, fazendo meu corpo entrar em êxtase. Foi como se o tempo parasse e uma avalanche de sentimentos invadisse cada célula minha. Todas as lembranças vieram de uma vez, sem pedir licença, fazendo minha cabeça girar. Meu passado, meus pais, Tate... E todos os meus momentos com Jacob passaram pela minha mente, momentos que nem mesmo tínhamos vividos ainda, como se fosse nosso futuro. Eu finalmente recuperei minhas lembranças. E finalmente tive meu imprinting com Jacob Black.
— O que aconteceu? O beijo foi tão ruim assim? — perguntou, confuso, me segurando com mais firmeza.
— N-Não, óbvio que não... — coloquei a mão na testa, sentindo a cabeça latejar. — Jake, eu… eu lembrei de tudo. E eu finalmente tive o imprinting — respondi, passando a mão pelos cabelos molhados.
Eu ainda podia sentir meu corpo todo formigando, como se tivesse levado um choque e a corrente elétrica ainda passasse pelo meu corpo. Não sabia o que pensar, o turbilhão de sentimentos fazia meu coração bater descompensado. Além, é claro, de eu ter dado meu primeiro beijo em Jacob. Não podia acreditar que aquilo bastou para tudo mudar dentro de mim.
— É sério? — ele exclamou, eufórico. Eu assenti e ele começou a pular na água e berrar de felicidade, me abraçando e me girando, me fazendo gargalhar.
Eu estava igualmente feliz, porém, não pude evitar ficar mal pelas lembranças que tive. Quando ele me soltou, comecei a sair da água, deixando para trás um Jake que ainda comemorava, e fui em direção à nossa toalha, sentando-me nela e enfiando a cabeça em minhas mãos. Jacob veio atrás, me alcançando rápido.
— , espera! — ele exclamou, parando ao ver minhas lágrimas rolarem soltas pelo rosto já molhado. — Por que você está chorando? Isso é uma coisa boa, não é? Você está esperando por isso há meses!
— Eu sei, Jake, mas... — comecei a responder, passando a mão pelos cabelos e querendo arrancá-los. — Não fui eu que matei meus pais, foi o Tate! Aquele filho da pu....
— Espera, quem é Tate? — Jacob perguntou, confuso, se sentando ao meu lado.
— O tal lobo que está me perseguindo, ele se chama Tate. Ele fazia coisas horríveis comigo, Jake, ele é um monstro! — falei, deixando o choro vir com força. Jacob me abraçou forte e ficou repetindo que ia ficar tudo bem, que íamos pegá-lo logo e aquilo ia acabar.
— Jake, eu quero matar ele. Quero pegá-lo com minhas próprias mãos, eu juro que nunca senti tanto ódio por alguém como estou sentindo agora! — falei, tremendo de raiva ou frio, sinceramente não soube distinguir.
— Você não está sozinha nessa, ok? Faremos isso juntos. — Jacob buscou meu olhar, segurando meu rosto e secando minhas lágrimas. — Por favor, , não tente fazer nenhuma besteira. Promete?
Jake esticou o dedo mindinho para que selasse a promessa. Achei graça do gesto infantil contrastando com o rosto sério, e não pude evitar dar uma risada. Entrelacei meu dedo no dele e disse “prometo”, tentando ser o mais sincera possível.
— Agora, onde estávamos mesmo? — ele perguntou, fingindo estar tentando lembrar de algo.
Ele sorriu enquanto me puxava pela cintura e começou a beijar meu pescoço, traçando um caminho até a minha boca. O imprinting estava ali, em cada detalhe do momento, com toda a sua força. O beijo de Jacob era a coisa mais perfeita do mundo, sua boca parecia ter sido feita detalhada e especialmente para mim, sob medida. Ele intensificou o beijo quando puxei de leve seus cabelos, e me fez deitar na areia, se deitando por cima, sem depositar seu peso em mim, e voltou a beijar meu pescoço. Eu não conseguia parar de sorrir, tentando deixar todas as preocupações e medos de lado.
— Eu podia ficar te beijando o dia inteiro — ele falou, entre um beijo e outro.
— Então fica, por favor — respondi, fazendo-o sorrir. Meu Deus, eu amava fazê-lo sorrir.
— Eu adoraria, mas prometi pra Sam que te levaria de volta às seis da tarde e agora são... — ele fez uma pausa para olhar seu relógio de pulso. — Droga, são sete horas.
Eu o olhei, espantada, enquanto nós dois voltávamos a nos sentar. Olhei para o céu e ele realmente estava escurecendo, como todo fim de tarde. Além disso, começou a esfriar, e por sorte nós aguentamos bem o frio, mas Jacob se preveniu e trouxe dois de seus moletons fechados para a gente se vestir. Peguei meu celular na bolsa de pano e soltei um palavrão quando vi vinte ligações perdidas de Sam e Emily, além de uma avalanche de mensagens dos meninos perguntando onde estávamos.
— O que foi? — Jake perguntou, distraído, e eu apenas lhe entreguei o celular. — Merda… Foi mal, eu perdi a noção do tempo.
— Relaxa, estamos juntos nessa, querido. Aguentaremos a bronca juntos — falei, sorrindo, enquanto ele dava a partida.
Sam já nos esperava do lado de fora de sua casa quando chegamos, acompanhado por Emily, Quil, Seth, Paul e Embry, os dois últimos parecendo tão furiosos quanto o alfa.
— Você enlouqueceu, Black? — ele gritou assim que saltamos do carro. — Você disse seis horas! São sete e meia, já está quase escuro!
— Vocês são dois irresponsáveis — disse Paul, cruzando os braços. — E se acontecesse alguma coisa com você? Ou pior, com a ?
Tentei não sorrir largo com a reação de Paul. O coração de gelo dele estava tão derretido quanto o mar que estávamos nadando a alguns minutos atrás.
— , devolve o celular, já que você não o usa! — exclamou Embry, eu apenas fiz uma careta para provocá-lo.
Jacob revirou os olhos, esperando todos falarem o que quisessem antes de responder:
— Pessoal, nós estamos bem. Aliás, mais do que bem — ele falou, sorrindo para mim enquanto segurava minha mão. — recuperou as memórias. E ela teve o imprinting!
Todos nos olharam chocados, sem falar nada por longos segundos.
— Então... Você se lembrou de tudo? — perguntou Emily, a única que parecia não estar tão brava com a gente, mesmo que ainda parecesse preocupada.
— Sim... De tudo — respondi. No mesmo momento, todos começaram a comemorar, esquecendo totalmente o motivo de estarem bravos com nós dois.
Emily veio me dar o seu já conhecido abraço maternal. Os meninos foram mexer com Jacob, provocando-o como sempre. Embry me abraçou forte, até me levantar do chão. Os outros meninos também; até mesmo, Paul, que agora parecia gostar um pouco mais de mim. Toda aquela energia era muito boa e agora eu sabia que fazia tempo que não me sentia tão feliz assim. A raiva e a tristeza não tinham espaço naquele momento.
Entramos em casa e os meninos deram a ideia de pedir pizza. Seth correu para o telefone antes mesmo de Sam autorizar a compra. Uley me prometeu não tocar no assunto das lembranças agora e eu o agradeci por isso, pois não queria estragar o clima da noite. Depois da janta, todos foram embora, exceto Jacob, que decidiu me esperar para tomar banho e aproveitou para tomar um também. Ele perguntou a Sam se eu podia dormir na casa dele aquela noite e, com certa relutância, o alfa deixou. Durante o jantar, ele deu todo um sermão sobre o atraso, falando o quão perigoso era para nós dois ficarmos sozinhos por muito tempo, longe dos olhos dele e da ajuda dos meninos. Nós pedimos várias desculpas, mas não estávamos tão arrependidos assim. Jake não tirava o sorriso do rosto, e era uma delícia vê-lo tão radiante.
Antes de ir embora, eu fui falar com Sam, que lavava a louça sozinho na cozinha.
— Sam, eu sei que combinamos de falar sobre as lembranças amanhã, mas tem uma coisa importante que talvez seja bom antecipar, eu acho — falei, e o vi secar as mãos em um pano de prato ao se virar na minha direção.
— Pode falar.
— O nome dele é Tate Miller — falei. Sam levantou as sobrancelhas, surpreso.
— O cara que te atacou? — perguntou e eu assenti. — Se lembra de mais alguma coisa dele?
— Eu lembrei de absolutamente tudo, Sam... — falei, estremecendo com as lembranças que não saíam da minha mente. — Ele era um amigo dos meus pais. Nós não tínhamos uma matilha, mas Tate era o mais próximo disso. Ele vivia na nossa casa, nós nunca…
Eu parei, pensando na cena dos meus pais mortos na sala de estar daquela casa horrorosa de Tate. Pisquei algumas vezes para as lágrimas não caírem e senti Sam apertar minha mão, me encorajando a continuar.
— Nós nunca imaginamos que ele fosse uma má pessoa. Até que ele começou a mudar o comportamento dele alguns meses antes de ele... De ele matar meus pais — continuei, ignorando o nó que se formou na minha garganta.
“Quando me transformei com dezesseis anos, Tate não saía da nossa casa e ficava muito grudado em mim. Ele se voluntariou para ajudar meu pai no meu treinamento, começou a me buscar na escola todos os dias e me levava para sair, pagava almoços, me dava presentes... Nós nunca questionamos de onde ele tirava todo aquele dinheiro, até ele começar a falar sobre usar nossa transformação para assaltar casas de pessoas muito ricas ou até mesmo de empresas. O plano dele envolvia matar essas pessoas e pegar tudo o que eles tinham, sem deixar rastro.
“Ele achava que éramos os seres mais poderosos do mundo e que poderíamos escapar de qualquer crime que cometêssemos. Também deu a ideia de se casar comigo… Meus pais obviamente surtaram com a ideia e ficaram horrorizados quando souberam que ele já tinha feito isso antes e que era assim que ele conseguia o dinheiro. Os dois expulsaram Tate de casa e pediram para que ele nunca mais chegasse perto da gente, e ele realmente respeitou o pedido e durante algumas semanas, não tivemos nenhuma notícia dele, mas ouvimos sobre um novo serial killer que tinha como foco assassinar pessoas ricas para roubar tudo o que tinham.
“Meu pai se sentiu responsável por isso, pois Tate era como um irmão para ele. Então ele fez a burrice de ir atrás de Tate, na casa dele, e foi aí que tudo aconteceu.”
Quando finalizei, percebi que Jake se aproximou do balcão da cozinha e prestava atenção na conversa. Meu rosto estava úmido por causa das lágrimas que caíram sem minha permissão.
— Eu sinto muito, — Jake falou, contornando o balcão e me abraçando forte.
— Isso é realmente útil, , obrigada por compartilhar. Saber mais detalhes sobre Tate vai nos ajudar e encontrá-lo. Eu vou falar com Dr. Cullen o mais rápido possível — ele falou com seriedade, apertando meu ombro. Depois, sorriu leve para mim e me abraçou tão forte quanto Jacob.
— Não se preocupe, vamos cuidar de você, está bem?
Eu apenas assenti, retribuindo o abraço. Durante todas aquelas semanas, Sam se tornou o melhor amigo que eu poderia ter, mas eu podia sentir a energia paternal que vinha dele, e esse era o tipo de amor que eu tinha por Sam e por Emily. Eles eram os pais que eu perdi, eram as pessoas para quem eu entregaria todo aquele amor que sentia por meus pais e que não podia mais entregar a eles. Eu daria minha vida por eles, como sempre achei que deveria ter dado por meus pais.
— Juízo vocês dois e cuidado! — falou Emily quando estávamos saindo de casa. Nós acenamos aos dois e partimos.
Mesmo a casa de Jacob sendo na mesma rua, decidimos ir de carro por segurança, já que tínhamos abusado um pouco da sorte. Billy Black não estava em casa, ele ia passar alguns dias em Forks com o pai da Bella. Jacob me olhou, receoso, mordendo o lábio inferior.
— Você está bem? Teve um dia e tanto... — ele perguntou. Suspirei alto, virando o rosto para ele e sorrindo com sinceridade.
— Estou sim, por incrível que pareça... — respondi, esticando a mão para segurar a dele. Ele sorriu, sem tirar os olhos da rua, e levou minha mão até seus lábios para depositar um beijo nela.
Eu e Jacob fomos direto para o já conhecido quarto dele e logo perguntei onde estava o colchão extra para eu dormir. Ele riu e perguntou se eu estava falando sério, eu apenas dei de ombros.
— Você não quer dormir comigo? Na minha cama? — ele perguntou enquanto me abraçava pela cintura e me dava um beijo delicado. Como eu poderia negar?
Nos deitamos juntos e nos enfiamos debaixo da coberta. Eu o abracei e me aconcheguei em seus braços, já estava prestes a fechar os olhos quando ele me virou e ficou por cima, colando nossos lábios novamente.
— Não vou te deixar dormir tão cedo. — E voltou a me beijar.
Não tentei protestar, apenas o deixei intensificar o beijo enquanto passava a mão por seus cabelos recém lavados. Seu beijo naquele momento era mais profundo, menos urgente. Ele parecia curioso para conhecer cada detalhe nos meus lábios sem pressa alguma.
Agora eu estava mais acordada do que nunca. Eu o fiz sentar e fiquei por cima dele, em seu colo, com ele segurando minha cintura com firmeza e me puxando contra si, brincando com a barra da minha camiseta e sem afastar nossos lábios. Passei a mão por seu peito definido e por sua barriga, por baixo da camiseta, sentindo-o se arrepiar com meu toque.
Respirando pesado, Jacob começou a levantar minha camiseta para começar a provocação e a tirou por completo. Meu rosto queimou de vergonha. Por mais que eu quisesse que ele avançasse ainda mais, aquela era a primeira vez que um garoto me olhava daquela forma. Jacob me olhou de cima a baixo, parecendo maravilhado com o que via.
— Eu já disse hoje o quão linda você é? — ele perguntou, começando a beijar meu pescoço, me deixando totalmente arrepiada e entregue.
— Só umas dez vezes — brinquei aos risos, me ajeitando melhor em seu colo.
— Então vou falar onze: você é linda — ele disse, me beijando de novo.
Sua mão começou a brincar com o fecho do meu sutiã, mas, antes que ele pudesse tirá-lo, eu segurei suas mãos por um segundo, impedindo-o de abrir.
— Jake… — murmurei, enquanto ele ainda beijava meu pescoço.
— Hmm — ele gemeu, sem parar os beijos.
— Eu sou virgem — falei de uma vez só, e o senti interromper os beijos na mesma hora. Ele me olhou, assustado, parecendo ter esquecido completamente desse pequeno fator.
— Ah, nossa — ele falou, passando a mão pelos cabelos, meio sem fôlego e sem graça. — A gente não precisa fazer nada se não quiser…
— Não, eu quero! Quero muito! — retruquei, dando um beijo demorado nele para confirmar o quanto desejava aquilo.
— Só queria te avisar e pedir para ir com calma.
— Tem certeza? — ele perguntou, e eu assenti, mordendo o lábio inferior.
Eu o vi sorrir leve, acariciando minhas costas com uma mão e meu rosto com a outra.
— Eu jamais te machucaria, meu amor — ele respondeu, me beijando com toda a delicadeza. Finalmente o deixei soltar a peça de roupa que ele queria tanto tirar.
Naquela noite, Jake cumpriu o que prometera. Algo surgiu dentro de mim, um sentimento inexplicável, mas que não me importava em sentir para o resto da vida. Ah, eu o amava! E eu sabia disso antes de todos aqueles sentimentos loucos aparecerem. No entanto, o que eu estava sentindo naquela noite, envolvida pelos braços nus de Jacob enquanto ambos caíam no sono, era muito mais do que amor. Bom, era o imprinting.
Eu queria levantar, mas não queria que ele acordasse. Tentei me mover o mais devagar possível e logo me arrependi. Jake abriu os olhos lentamente, incomodado com a luz que vinha da janela. Ele me olhou e sorriu largo, fazendo-me derreter novamente em seus braços.
— Bom dia… — ele murmurou com a voz rouca, esfregando os olhos.
—Bom dia — respondi, acariciando seu rosto. — Não queria te acordar, desculpa.
— Relaxa... Que horas são? — ele perguntou, ainda sonolento.
Me estiquei por cima dele para pegar o celular e vi na tela de bloqueio que eram 9:30 da manhã. Virei a tela pra ele, que respondeu com uma careta.
— Perdemos a aula... De novo — reclamei, vendo-o rir da minha cara. — Não ri, Jake! Eu só fui para a aula um dia na minha primeira semana!
— Relaxa, meu amor — ele falou, beijando meu pescoço. — Nós vamos conseguir recuperar, temos todo o semestre pela frente.
Eu entortei a boca e olhei pensativa para a tela do celular.
— Ainda dá tempo de assistir as últimas aulas — falei, forçando um sorriso. Ele revirou os olhos e se sentou na cama.
— Temos que ir no Sam — ele respondeu. — Ele me pediu ontem à noite para irmos lá depois da aula, mas podemos ir agora.
Gemi em reprovação, com preguiça de levantar, e o vi dar risada. O olhei com estranheza.
— Que foi? — perguntei.
— Lembrei de você gemendo ontem à noite — ele respondeu, dando uma piscadela.
Eu abri a boca em choque, sentindo meu rosto esquentar de vergonha. As minhas memórias da noite passada ainda estavam frescas, é claro, e era um grande esforço não deixar meu corpo reagir a elas.
— Jacob Black, você é ridículo! — falei, dando um tapa em seu braço, fazendo-o gargalhar ainda mais.
Ele foi o primeiro a levantar, quando se espreguiçou, já fora dos lençóis, pude ver que ele estava só com a cueca box. Mordi o lábio, me perguntando se daria tempo de repetirmos o que fizemos na noite anterior.
Mas Jake foi tomar banho primeiro e nem ousamos tomar um banho juntos, porque sabíamos que íamos demorar muito. Quando cheguei à cozinha, depois do meu banho, ele já tinha preparado café e omeletes para nós, com a mesa arrumada e flores em um vaso. Ele tirou uma das margaridas e me entregou, me puxando para um beijo demorado.
— Omelete? Você me impressiona a cada dia — o provoquei, vendo-o sorrir e me mostrar a língua.
Antes que pudesse voltar a me beijar, o celular dele tocou. Nos olhamos, preocupados, quando vimos o nome de Sam no visor, achando estranho, pois ele só ligava quando era uma emergência. O que poderia ser emergência às dez horas da manhã de uma sexta-feira? Já imaginei que ele iria nos dar uma bela bronca por termos faltado a aula de novo, com certeza.
— Bom dia, Sam — Jacob disse, animado. — Olha, acabamos perdendo a hora e não fomos para o colégio, mas prometo que semana… — ele parou de falar, de repente ficando sério. — Sam, calma... Ok, mas qual foi a última vez que a viram? — Jacob perguntou, passando a mão pelo cabelo curto.
Me soltei dele e continuei olhando-o, vendo a preocupação aumentar em seu rosto. Ele agora andava de um lado para o outro e eu tentava assimilar as perguntas que ele fazia a Sam, ouvindo a voz urgente do Alfa do outro lado da linha. Meu coração estava acelerado.
— Estamos indo aí — disse antes de encerrar a ligação. Quando voltou a me olhar, seu rosto era uma mistura de preocupação e tristeza, beirando o desespero. — Temos que ir, a Emily sumiu.
— O quê!? — exclamei, caminhando a passos largos até ele, que procurava pelas chaves. — Como assim ela sumiu, Jacob? O que aconteceu?
— Ela saiu para buscar os meninos, mas não foi na casa de nenhum deles e não voltou mais. Quando Sam foi atrás dela, encontrou a van largada na estrada. Ele... — Jake suspirou e passou a mão pelo rosto antes de completar a frase. — Ele sentiu o cheiro do Tate dentro da van, o mesmo cheiro que sentiu quando te encontrou e quando Tate nos atacou.
Meu coração parou. O que eu mais temia havia acontecido: um deles estava em perigo por minha causa. Me apoiei na mesa, de repente sem conseguir respirar direito, me sentindo tonta. Se algo acontecesse com Emily, eu jamais iria me perdoar.
— , nós temos que ir — Jacob disse com firmeza, já perto da porta com nossos casacos na mão. O encarei, derrotada, e tudo o que pude fazer foi me recompor e o seguir para o carro.
Os ventos estavam fortes e gélidos, mesmo com o sol forte, parecendo adivinhar que nosso dia seria frio de qualquer jeito. Jacob disse que a polícia de Forks e de La Push estavam procurando por ela também, o que, em partes, não era tão vantajoso para nós. O pai de Bella, Charlie, era um grande amigo de Billy, mas totalmente alheio a todas as coisas que sua filha estava envolvida: vampiros e lobos. Então ele não estava procurando com a mesma mentalidade que nós, ele estava procurando por um sequestrador ou serial killer comum, não um lobo assassino e stalker acompanhado de uma vampira com sangue de vingança nos olhos.
Chegamos à casa dos Uley e meu coração se partiu ao ver Sam chorando, desesperado, na escada da varanda. Saber que alguém tão forte como Sam estava naquele estado me preocupava muito, e saber que aquilo tudo era minha culpa me despedaçou por dentro. Nos aproximamos com receio, vendo-o tremer descontroladamente.
— Embry e Paul foram buscar os meninos — ele falou entre um soluço e outro, a voz falhando. Sentei ao seu lado e o abracei, deixando-o soluçar sob meu ombro.
— Me desculpa, Sam — falei, deixando minhas lágrimas caírem junto as dele. — É tudo minha culpa.
Ele não respondeu, apenas continuou chorando enquanto víamos Embry e Paul chegarem com os meninos. Me levantei e me aproximei da van com Jacob e meu estômago embrulhou ao sentir o cheiro forte de Tate. A raiva subiu de tal forma que eu tive que me controlar para não me transformar. Me afastei o máximo possível, enquanto Jacob continuava olhando para dentro do veículo com a raiva estampando seu rosto — era insuportável ficar ali perto. Meu celular tocou, e meu coração parou ao ver o nome na tela.
— Emily! Meu Deus, que bom! Onde você está? — falei com certo desespero, pronta para gritar aos meninos que havia encontrado Emy. No entanto, a resposta que tive não foi a que esperava.
— Olá, . — Ouvi a voz rouca e agora muito familiar que me dava náuseas. Senti tudo em volta girar. — Me responda apenas com o que eu mandar ou sua querida Emily vai virar meu café da manhã. Entendeu? Responde sim ou não.
Meu corpo gelou. Eu engoli em seco antes de responder com a voz trêmula e fraca.
— Sim.
— Ótimo, agora você vai se afastar dos outros e, se perguntarem, diga que é da sua escola, ok?
— Ok — respondi em voz baixa, mas, por dentro, eu estava querendo gritar.
Jake me olhou, preocupado, e ameaçou se aproximar. Eu levantei a mão e disse que era da secretaria escola, me afastando mais do grupo.
— Onde vocês estão? — perguntei, trincando os dentes com raiva.
— Se eu contar, você promete vir sozinha? — ele provocou aos risos.
— Eu não estou brincando, Tate! Deixa-a em paz, você quer a mim! Emily não tem nada a ver com isso! — falei, tentando não elevar a voz.
— E que graça teria te ter tão fácil? Assim é mais divertido — ele retrucou, gargalhando. Sua risada era maquiavélica, me atingia como uma faca. — Mas agora a graça acabou, . Estou um tanto cansado desses seus guarda-costas não saírem do seu lado.
— O que você quer que eu faça? — perguntei, vendo Jacob me olhar de longe, desconfiado. Levantei o polegar para indicar que estava tudo bem, mas ele não pareceu acreditar, ele me conhecia bem até demais.
— Estou exatamente onde você me deixou, mas você tem que vir sozinha. Nada do seu namoradinho ou dos seus “irmãozinhos”, muito menos Sam, ou ela morre — ele falou, sério, e desligou.
Segurei as lágrimas enquanto meu cérebro trabalhava a mil. Ele falou para não chamar os meninos da matilha de La Push, mas não falou nada sobre os vampiros de Forks. Voltei para onde os meninos estavam e os vi se prepararem para procurá-la pela floresta.
— Está tudo bem? — Jake perguntou, me olhando, preocupado.
— Sim, a escola não estava achando a autorização de Sam e Billy sobre ontem e eles me questionaram porque eu faltei... — menti, tentando disfarçar meu próprio nervosismo.
— Estranho, eles não me ligaram... — ele questionou.
— Eles iam te ligar, mas encontraram as autorizações enquanto falavam comigo — menti de novo, pensando rápido em mais detalhes caso ele me questionasse de novo, mas ele apenas deu de ombros. Era horrível ter que mentir para ele, porém ver seu rosto bastava para lembrar que não podia deixar nada machucá-lo.
— Sam, vou avisar os Cullen, talvez eles possam ajudar — falei ao homem para fugir do assunto com Jacob, e ele apenas concordou, desanimado.
Logo ele e os meninos foram entrando na floresta e apenas Jacob e Embry ficaram comigo. Entrei em casa com a desculpa de que iria usar o telefone fixo e busquei na agenda o número de Alice, que atendeu no primeiro toque.
— Até que enfim, achei que não iria ligar nunca — ela falou em seu tom animado de sempre.
— Alice, eu preciso muito da sua ajuda.
— Pode deixar que eu já sei de tudo — ela respondeu. — Tive uma visão com Emily e Tate há alguns minutos e da nossa conversa também.
— Então avise Carlisle, acho que Victoria pode estar com ele.
— Acertou na mosca, gatinha. Eu os vi juntos em uma casa de madeira cinza, caindo aos pedaços, no meio de um bosque — ela falou em um fôlego só. — Iremos te buscar em alguns minutos, ok?
— Estou te esperando — respondi, tentando assimilar tudo. — Ah, peça à Bella para não contar nada a Jacob, ok?
— Fique tranquila. Segredinho nosso.
Expliquei a Alice todo o plano que estava pensando, deixando de fora alguns detalhes que provavelmente ela não iria concordar, e, assim que desligamos, pensei sobre a descrição que a vampira me deu. A imagem da casa onde passei os últimos anos apareceu na minha cabeça e tudo fez sentido. O lugar que eu o deixei… na realidade era o lugar do qual eu fugi, o local em que ele me torturava dia e noite antes que eu conseguisse escapar. Pensar em voltar àquele lugar me deixava sem ar. Contudo, nenhum trauma me impediria de salvar Emily.
Respirei fundo e fui para o jardim fazer companhia para Jacob e Embry.
— Avisei os Cullen, eles vão encontrar vocês na floresta — falei com o nervosismo tomando conta da minha voz. — Vocês deveriam ir.
— E te deixar sozinha!? — Jacob falou, me olhando, apavorado. Ele balançou a cabeça furtivamente. — Está maluca?
— Alice e Edward estão vindo para ficar comigo, eles chegam em segundos. Eu vou ficar bem, te prometo. Não vou sair de casa — menti, me sentindo mal no mesmo segundo por estar contando tantas mentiras para Jacob. Ele me olhou com descrença, nada feliz em me deixar nas mãos dos vampiros.
— Então ficaremos até eles chegarem — disse Embry, cruzando os braços e me olhando com desconfiança.
Em menos de cinco minutos, Edward estacionou seu Volvo preto na rua de terra em frente à casa de Sam. Os dois saíram usando óculos de Sol, a pele exposta brilhando feito diamante era hipnotizante. Meu Deus, eu nunca ia me acostumar com a beleza deles. Nem com o cheiro forte ardendo no meu nariz.
— Podem ir, meninos, nós cuidaremos da sua garota — disse Alice, piscando para os dois que continuavam de braços cruzados. Ela correu na minha direção e me deu um abraço apertado, mas muito gelado em contraste com minha pele sempre quente.
— Quem está cuidando de Bella? — perguntou Jacob, sua voz grave estava séria.
— Rosalie, Jasper e Esme foram buscá-la em casa. Seu pai está com Charlie. Apenas Carlisle e Emmett foram ajudar vocês — respondeu Edward, apertando a mão dos meninos e vindo me cumprimentar.
— Não temos tempo a perder, vão logo! — falei, fazendo um gesto para que eles seguissem para a floresta.
Jacob me olhou, ainda desconfiado, e se aproximou a passos largos. Ele segurou meu rosto com as duas mãos enquanto eu segurava sua cintura pela camiseta, não querendo largá-lo nunca mais. Sabia que ele estaria longe de Tate e Victoria, mas o medo de ele ou os meninos se machucarem estava sempre presente e, naquele momento, me incomodava como nunca. Então, ele remexeu em seu bolso e puxou um cordão de prata com um pingente pequeno balançando. Jake fez a corrente parar de balançar e eu pude ver que o pingente era um pequeno lobo dentro de uma lua crescente, tudo em prata igual à corrente. O olhei com os olhos marejados e me virei para ele poder prender o colar em meu pescoço — aproveitando para espantar as lágrimas —, sentindo o objeto gelado contra minha pele. Eu me virei e o toquei com delicadeza, engolindo o nó em minha garganta.
— Queria te dar em um momento mais adequado, mas estou sentindo que talvez seja a melhor hora.
— Obrigada, Jake — respondi, com a voz claramente embargada. — É lindo.
Jacob pigarreou, parecendo estar com a mesma dificuldade de se livrar do choro.
— Eu volto assim que possível, está bem? Me promete que não vai fazer nenhuma besteira? — ele sussurrou com o rosto próximo ao meu, a preocupação presente em sua voz e em seus olhos. Eu o beijei em resposta, querendo que aquele beijo não acabasse nunca.
— Eu te amo — falei, vendo-o sorrir.
— Eu também te amo — ele respondeu, me beijando de novo. Não precisei prometer nada, não precisei mentir de novo, mas a culpa ainda assim me assolava.
— Agora vai logo! — falei ao empurrá-lo, que saiu correndo para a floresta com Embry ao seu lado.
Consegui vê-los se transformar ao adentrarem por entre as árvores, e meu coração se apertou. Aquela poderia ser a última vez que eu os veria, o sentimento de que ainda não tínhamos vividos o suficiente juntos pesou meu peito. Não era exagero, eu conhecia Tate bem o bastante para saber o quão perigoso ele era quando estava com raiva.
E ele estava sempre com raiva.
— Vamos, eu sei onde fica a casa — falei quando finalmente consegui me recuperar, mas de repente raciocinei que, se Victoria estivesse lá, ela sentiria o cheiro deles antes de Tate e isso colocaria Emily em perigo.
— Relaxa, vamos ficar a uma distância segura. Atacaremos quando você avisar — Edward disse, indo em direção ao carro, como se tivesse lido meus pensamentos. E ele realmente leu, concluí, me lembrando de quando Bella me contou que o infeliz tinha aquele poder.
Trinquei meus dentes.
— Sem ler meus pensamentos, por favor! — pedi, irritada, me sentando no banco traseiro do carro.
— Às vezes é inevitável, foi mal — ele deu de ombros, rindo.
— Pois então tente evitar — falei séria. Alice me olhou e esticou a mão para trás para segurar a minha, percebendo o quão nervosa eu estava.
— Fica tranquila, vai dar tudo certo. Vocês todos vão voltar em segurança — ela disse, e eu sorri levemente em resposta, tentando não pensar na parte do plano que eu escondera dela.
Decidi não levar em consideração o fato de Alice ver o futuro. Não queria criar expectativas, nem esperar pelo melhor. Aquelas palavras de conforto poderiam ter vindo com sinceridade por causa de uma visão em que tudo, de fato, dava certo. No entanto, poderia apenas vir da bondade da vampira, e de sua vontade de me ver com um humor um pouco melhor antes de me entregar para a morte.
Seguimos o GPS e chegamos em um pouco mais de meia hora com a velocidade com que Edward dirigia. Ele parou há alguns quilômetros de onde ficava a casa de Tate, entre Clallam County e Forks. Olhei para a janela com o coração acelerado. Eu me lembrava do bosque com perfeição e ele me dava arrepios. Me lembrei do ataque, da longa caminhada enquanto eu sangrava, de Sam me socorrendo… parecia que tinha acontecido a anos atrás, mas foram apenas há alguns meses. Era estranho pensar em como o tempo passou rápido e ao mesmo tempo sentir que minha vida mudou completamente nesse curto período e no quanto eu vivi nos breves dias em La Push.
E minha vida realmente mudou. Aconteceram tantas coisas e agora eu sentia que era o fim. Era minha obrigação fazer com que o mínimo de pessoas saíssem machucadas dessa história, mesmo que, para isso, eu tivesse que sair machucada. Ou até mesmo sem vida.