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Última Atualização: 30/04/2025— Porque você acorda tão cedo mesmo quando não temos nenhuma aula?
soltou uma risada suave, dando o último ajuste nos brincos e se virando para me encarar.
— Porque eu gosto de aproveitar o dia, . — ela respondeu, sorrindo. — E você devia fazer o mesmo, sabia? Já estamos na Coreia há seis meses e você ainda não conheceu metade dos lugares incríveis daqui.
Revirei os olhos, me espreguiçando na cama.
— E você quer que eu comece por onde? — perguntei, levantando e jogando os cabelos para trás.
— Bom, hoje eu vou para aquele café novo perto do rio Han. Dizem que tem a melhor vista de Seul! — respondeu animada. — Quer vir comigo?
Hesitei por um instante, tentando esconder minha ansiedade. Meus pensamentos estavam voltados para o show de hoje à noite. Era minha chance de ver o de perto pela primeira vez, um sonho que eu carregava desde que descobri a música deles.
— Vou ter que passar. Tenho que terminar umas leituras e... — comecei a inventar uma desculpa, mas me interrompeu, erguendo uma sobrancelha.
— Leituras? , hoje é o show do ! Achei que você estaria nervosa demais para se concentrar em qualquer coisa — provocou ela, rindo. — Aliás, você decidiu o que vai vestir?
Mordi o lábio, tentando disfarçar o nervosismo que crescia. Claro que estava nervosa, mas admiti-lo parecia dar ainda mais força àquele turbilhão de emoções.
— Pensei em algo simples. Nada que chame muito a atenção, sabe? — respondi, sem muita convicção.
balançou a cabeça, rindo.
— “Nada que chame a atenção”? Você vai conhecer o seu futuro marido, ! — ela brincou, revirando meu guarda-roupa com rapidez.
Ri da bobagem, tentando não mostrar o quanto as palavras dela faziam meu coração disparar. sempre exagerava, mas eu sabia que no fundo ela queria me ver realizada.
— Vai lá, se arruma! — disse, já pegando um vestido leve, de um tom azul que me caía bem. — Você nunca sabe o que pode acontecer.
Sorri agradecida e peguei o vestido de suas mãos. À medida que eu o segurava contra o corpo, meu reflexo no espelho me encarava com olhos reluzentes e nervosos. Talvez estivesse certa… e talvez eu estivesse apenas tentando controlar o que era impossível de prever.
olhou para o relógio em seu pulso e franziu o cenho.
— Eu preciso ir agora, senão vou perder o ônibus — ela disse, apressada, mas com um brilho carinhoso nos olhos.
Quando me aproximei para acompanhá-la até a porta, largou sua bolsa por um instante e me envolveu em um abraço apertado. Senti seu perfume suave e a familiaridade de sua presença, e quase consegui relaxar por um momento.
— , se eu não conseguir voltar a tempo para te ver antes de você sair para o show… — começou, afastando-se apenas o suficiente para me encarar nos olhos. — Eu só quero que você saiba que eu desejo que esse seja um dos melhores dias da sua vida.
Eu sorri, sentindo um calor acolhedor no peito.
— Você merece viver esse sonho, ouvir suas músicas favoritas ao vivo e, quem sabe, receber um olhar especial do seu bias — ela continuou, dando-me uma piscadela animada. — Então, se jogue de cabeça e aproveite cada momento. Não pense demais, só viva!
— Vou tentar, — murmurei, engolindo a emoção.
Ela me deu um último aperto e recuou, pegando a bolsa.
— Agora, vá arrasar hoje à noite! E, se conseguir alguma coisa incrível, me mande mensagem na mesma hora! — completou com um sorriso largo antes de sair, acenando rapidamente.
A porta se fechou e o quarto ficou em um silêncio quase ensurdecedor. Por um instante, senti um vazio pela ausência de , mas também uma expectativa que crescia, me dando coragem para o que viria a seguir.
Quando decidi vir para a Coreia como intercambista, pensei que seria uma aventura emocionante e repleta de descobertas, e realmente foi. No entanto, a realidade me pegou desprevenida. Os primeiros meses foram desafiadores: a língua, os costumes, as pessoas, tudo parecia girar ao meu redor em uma velocidade que eu não conseguia acompanhar. Senti falta de casa, da minha família, das ruas familiares da minha cidade na Itália e até das conversas despreocupadas com meus amigos de lá.
Mas, aos poucos, comecei a encontrar pequenas coisas que me faziam sentir acolhida. , por exemplo, foi um verdadeiro presente; sua energia e entusiasmo eram contagiantes, e ela logo se tornou mais do que uma colega de quarto, era quase uma irmã. A universidade também começou a fazer mais sentido com o tempo, e minhas tardes na biblioteca se tornaram momentos de conforto em meio à agitação da cidade.
E, é claro, havia o . Desde que descobri a banda, suas músicas se tornaram minha trilha sonora, algo que me conectava a esse novo lugar. Nos dias em que eu me sentia perdida ou deslocada, colocava meus fones de ouvido, aumentava o volume e deixava que suas vozes e melodias me lembrassem por que eu estava ali. Era estranho pensar que, do outro lado do mundo, pessoas que nem sabiam da minha existência conseguiam me fazer sentir um pouco mais em casa.
Encarei meu próprio olhar refletido, e percebi que havia uma determinação nova nos meus olhos, algo que antes eu não reconhecia. Vir para a Coreia havia sido uma das decisões mais difíceis da minha vida, mas também a mais transformadora. Eu estava crescendo, aprendendo, me arriscando, mesmo que isso me assustasse.
Suspirei e fechei a torneira, dando uma última olhada para mim mesma antes de sair do banheiro. Hoje, eu teria uma chance de viver algo que sempre imaginei. E talvez, só talvez, esse novo capítulo na minha vida estivesse apenas começando.
Havia uma conversa aberta com minha mãe, então decidi mandar uma mensagem para atualizá-la sobre o dia.
: Buongiorno, mamma! Come stai oggi?
(Bom dia, mãe! Como você está hoje?)
Alguns segundos depois, as bolinhas indicando que ela estava digitando apareceram, seguidas por sua resposta rápida e calorosa:
Mamma: Buongiorno, tesoro! Sto bene, e tu? Pronta per il concerto?
(Bom dia, querida! Estou bem, e você? Pronta para o show?)
Eu sorri, imaginando o entusiasmo dela ao perguntar. Mesmo de longe, minha mãe sempre foi minha maior incentivadora, mesmo que ela não entendesse completamente minha paixão por música coreana.
: Sì, sono emozionata! Non vedo l'ora. Ma sono anche un po' nervosa, non so perché.
(Sim, estou animada! Mal posso esperar. Mas também estou um pouco nervosa, não sei por quê.)
Ela respondeu quase imediatamente, como se estivesse esperando uma chance para me tranquilizar:
Mamma: È normale, tesoro. Questo è un momento speciale per te. Vivi tutto con il cuore aperto e goditi ogni secondo.
(É normal, querida. Este é um momento especial para você. Viva tudo de coração aberto e aproveite cada segundo.)
Suspirei, sentindo uma onda de calma se espalhar pelo meu corpo. Minha mãe sempre soube o que dizer.
: Grazie, mamma. Ti scriverò tutto dopo.
(Obrigada, mãe. Vou te contar tudo depois.)
Mamma: Va bene. Ti voglio bene.
(Tudo bem. Te amo.)
: Anch'io ti voglio bene.
(Também te amo.)
Coloquei o celular ao lado e fechei os olhos por alguns segundos, tentando absorver a tranquilidade daquela troca. Era reconfortante saber que, apesar da distância, minha mãe sempre estava ali, me apoiando.
Abri os olhos e olhei para o relógio. Ainda havia tempo antes de me arrumar completamente, mas a ansiedade começava a crescer em mim. Hoje não era um dia comum, e eu sabia que algo especial me esperava, mesmo sem saber exatamente o quê.
Depois de alguns minutos de pura tranquilidade, decidi que era hora de começar a me arrumar. Levantei da cama, ainda enrolada na toalha, e caminhei até o guarda-roupa. Com cuidado, puxei o cabide que havia separado na noite anterior: uma saia preta de tecido leve que caía suavemente sobre as pernas, uma blusa cropped branca com detalhes de renda e um casaco jeans oversized. Era confortável e estiloso, perfeito para o show, e não tão quente para suportar a multidão que me esperava.
Vesti-me lentamente, ajustando cada peça para que ficasse perfeita. Olhei-me no espelho pequeno do quarto, inclinando a cabeça para os lados. O visual estava simples, mas eu gostava assim. Penteei meu cabelo e deixei-o solto, seus fios lisos caindo de forma elegante sobre os ombros. Era simples e natural, do jeito que eu gostava, sem a necessidade de muito esforço. Decidi não exagerar na maquiagem — apenas um delineado leve, um pouco de máscara de cílios e um batom nude que destacava meus lábios.
Depois de pronta, voltei para a cama e peguei minha bolsa, esvaziando seu conteúdo sobre o colchão para ter certeza de que não esqueceria nada. Era um ritual quase automático: conferi o ingresso para o show, guardado em um envelope especial; o passe de transporte, devidamente carregado; e meu celular com o carregador portátil, essencial para o dia inteiro fora.
Adicionei também uma garrafa de água, alguns lanches pequenos e um pacote de lenços de papel. Por fim, coloquei uma pequena bandeira da Itália dobrada com cuidado no bolso da bolsa, algo que sempre levava comigo em ocasiões especiais. Para mim, era como uma forma de carregar um pedaço de casa, mesmo estando tão longe.
Quando terminei, fechei a bolsa com um sorriso satisfeito e a pendurei no ombro. Dei uma última olhada pelo quarto, tentando lembrar se havia deixado algo para trás, mas parecia que tudo estava sob controle. Meu coração já começava a bater mais rápido, uma mistura de expectativa e nervosismo.
Hoje seria um dia inesquecível, e eu estava pronta para vivê-lo.
Depois de me vestir, sentei-me diante do pequeno espelho sobre a mesa para fazer minha maquiagem. Escolhi uma base leve para uniformizar a pele, seguida de um blush suave que dava um ar saudável ao meu rosto. Passei um delineador preto com precisão, realçando meus olhos, e finalizei com uma camada de máscara de cílios que alongava os fios. Para os lábios, optei por um gloss cor de pêssego, que complementava o visual sem chamar muita atenção.
Enquanto guardava os produtos de volta na nécessaire, ouvi a porta do quarto se abrir. entrou carregando duas sacolas grandes, e um sorriso animado estampava seu rosto.
— Voltei! — ela anunciou, colocando as sacolas na mesa ao lado da entrada. — Comprei algumas coisas que você vai adorar.
— O que você trouxe? — perguntei, curiosa, enquanto me levantava para dar uma olhada.
puxou de uma das sacolas um pequeno chaveiro com o logo do e o balançou no ar.
— Não pude resistir quando vi isso. Achei que seria perfeito para você hoje.
Eu ri, pegando o chaveiro de suas mãos e o observando com cuidado.
— É muito fofo! Obrigada, .
— Tem mais — ela continuou, tirando um pacote de snacks coreanos. — Para você levar e não passar fome na fila. Sei que vai ser um longo dia.
Meu sorriso se alargou. sempre pensava nos pequenos detalhes, algo que eu apreciava muito.
Ela se aproximou, me puxando para um abraço apertado e disse com a voz cheia de emoção:
— Se eu não te encontrar antes de você ir para a fila, quero que saiba que desejo que esse seja um dos melhores dias da sua vida. Aproveite cada momento, . Você merece.
Eu a abracei de volta, sentindo meus olhos ficarem levemente úmidos com o carinho dela.
— Obrigada, . Prometo que vou aproveitar.
Ela se afastou, sorrindo.
— E agora, me conta: como você está se sentindo? Nervosa, animada...?
— Um pouco dos dois, para ser honesta. Ainda parece um sonho que eu vou ver o ao vivo.
deu uma risadinha e começou a organizar suas compras enquanto eu terminava de preparar minhas coisas. O dia já estava começando de uma maneira especial, e meu coração batia mais rápido com a expectativa do que estava por vir.
começou a ajeitar o restante das sacolas sobre sua cama, organizando tudo com cuidado enquanto eu guardava o chaveiro na bolsa, já imaginando como ele ficaria preso ao zíper.
— Vou tomar um banho rápido — disse , pegando uma toalha e um conjunto de roupas limpas. — Mas me espera, tá? Quero que a gente almoce juntas antes de você ir para a fila.
Eu sorri, balançando a cabeça em concordância.
— Claro, sem problemas. Ainda temos tempo.
Ela deu um sorriso satisfeito antes de entrar no banheiro, fechando a porta atrás de si. Enquanto a água do chuveiro começava a correr, aproveitei para revisar mais uma vez minha bolsa, garantindo que tudo estivesse no lugar.
Depois, sentei-me na cama e peguei o celular, navegando rapidamente pelas redes sociais para passar o tempo. Vários posts de outros fãs do já enchiam a timeline, todos empolgados para o show de logo mais. A energia era contagiante, e meu coração batia mais rápido a cada vez que pensava no momento em que estaria lá, no meio da multidão, vivendo um dos maiores sonhos da minha vida.
De tempos em tempos, lançava um olhar para a porta do banheiro, ouvindo cantarolar alguma música que eu não conseguia identificar. Era um hábito dela, e eu sempre achava engraçado o quanto ela parecia relaxada mesmo nos momentos mais simples.
"Isso vai ser perfeito," pensei comigo mesma, enquanto o dia se desenrolava de forma quase mágica.
Poucos minutos depois, saiu do banheiro já vestida com uma roupa casual e confortável, enquanto secava os cabelos com uma toalha.
— Você está praticamente pronta, né? — ela perguntou, lançando um olhar na minha direção enquanto se sentava na beira da cama para calçar os tênis.
— Só conferindo as coisas mais uma vez — respondi, abrindo a bolsa mais uma vez para garantir que tudo estivesse no lugar.
Enquanto passava os olhos pelos itens, lembrei-me do chaveiro que havia me dado. Sorri ao pegá-lo e o prendi ao zíper principal da bolsa, onde ficou balançando alegremente.
— Ficou perfeito aqui — disse, levantando a bolsa para mostrar a ela.
— Sabia que ia combinar! — respondeu com um sorriso, satisfeita. — Agora, só falta você garantir que ele traga sorte no show de hoje.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Vamos ver.
começou a passar uma escova pelos cabelos úmidos, murmurando algo sobre o clima lá fora e sobre as filas gigantes que provavelmente já estavam se formando no local do show. Enquanto isso, eu fechei a bolsa com cuidado e a coloquei sobre o ombro, sentindo-me cada vez mais pronta para o grande momento.
— Pronto, agora é só almoçar, e você estará oficialmente preparada para viver o dia mais épico de todos — disse, levantando-se e ajeitando a roupa.
— Então vamos. Estou morrendo de fome — respondi, tentando ignorar o nervosismo que começava a se acumular no fundo do estômago.
Ela sorriu e acenou para que eu a seguisse. Peguei minha bolsa e saímos juntas do quarto, descendo as escadas da universidade em direção à rua. O plano era almoçarmos em um pequeno restaurante próximo, onde costumávamos ir quando queríamos algo diferente da comida do refeitório.
O sol brilhava com força, e a brisa leve fazia as árvores ao redor balançarem suavemente. caminhava ao meu lado, animada, enquanto conversávamos sobre o que pediríamos e sobre o dia cheio que eu tinha pela frente. Cada passo me aproximava do que prometia ser um dos dias mais marcantes da minha vida.
No restaurante, sentamos em uma mesa próxima à janela, onde a luz do sol iluminava delicadamente o ambiente. analisava o cardápio como se fosse sua primeira vez ali, mesmo já sabendo de cor o que o lugar oferecia.
— Acho que vou de bibimbap hoje — ela decidiu, fechando o menu. — E você?
— Vou no clássico kimchi jjigae. Preciso de algo que me dê energia para aguentar a fila.
Depois de fazermos os pedidos, começamos a conversar sobre o show.
— Você deve estar explodindo de ansiedade, né? — perguntou, apoiando o queixo nas mãos enquanto me observava com um sorriso divertido.
— Ansiedade é pouco — admiti, rindo. — Eu ainda não acredito que vou ver o e os outros ao vivo. Parece surreal.
— Tenho certeza de que vai ser incrível. Mas, honestamente, quero saber de outra coisa... E se, por acaso, ele te notar?
Eu ri, balançando a cabeça.
— , por favor. Ele nem vai me enxergar no meio de tanta gente.
— Nunca diga nunca! — Ela piscou, maliciosa.
Mudamos o rumo da conversa para a vida na Coreia, algo que sempre parecia inesgotável. Falamos sobre como eu tinha me adaptado à cultura, os lugares que já tinha visitado e as comidas que mais gostava. , que era coreana, sempre ria das minhas tentativas desajeitadas de falar algumas expressões locais, mas também elogiava meu esforço em aprender.
Quando o almoço chegou, comemos com calma, aproveitando cada momento. Eu sabia que esse seria um dos últimos momentos tranquilos antes da longa espera na fila e da agitação do show.
Assim que terminamos, pediu a conta, insistindo em pagar.
— Considere isso um presente para te dar sorte hoje — disse, sorrindo enquanto guardava a carteira.
Saímos do restaurante e caminhamos em direção à estação de metrô mais próxima. A rua estava movimentada, cheia de pessoas apressadas indo e vindo, e o clima de ansiedade em meu peito crescia a cada passo.
Ao chegarmos à entrada da estação, me puxou para um abraço apertado.
— Boa sorte, . Divirta-se e aproveite cada segundo. Quero todos os detalhes depois!
— Obrigada, . Te conto tudo, prometo.
Ela acenou enquanto eu descia as escadas da estação, meu coração batendo rápido com a expectativa. O show ainda estava a algumas horas de distância, mas eu já podia sentir que algo especial estava prestes a acontecer.
O trajeto de metrô até o local do show foi uma mistura de nervosismo e excitação. O vagão estava cheio, mas por sorte consegui um assento depois de algumas paradas. Enquanto o trem se movia, observei pela janela as paisagens urbanas da cidade, com seus prédios altos e letreiros coloridos, que pareciam ganhar vida sob a luz do início da tarde.
Ao meu redor, algumas pessoas também pareciam estar a caminho do show, vestindo camisetas com o logo do ou segurando lightsticks brilhantes. Troquei sorrisos tímidos com uma garota ao meu lado, que usava uma mochila cheia de pins com os rostos dos integrantes do grupo.
Quando finalmente desci na estação próxima ao local, a atmosfera já era diferente. A energia era palpável, com grupos de fãs caminhando juntos, conversando animadamente e segurando banners e cartazes. Segui o fluxo de pessoas até avistar a enorme arena onde o show aconteceria, o coração batendo cada vez mais rápido.
Ao chegar, a fila já se formava, serpenteando ao redor do quarteirão. Apesar da espera que me aguardava, a empolgação no ar era contagiante. Respirei fundo, ajustei minha bolsa no ombro e me preparei para o que prometia ser um dos dias mais inesquecíveis da minha vida.
Na fila, a espera parecia tanto longa quanto curta, como se o tempo fosse brincando com minha paciência. O som de risadas e conversas animadas preenchia o ar, tornando impossível ignorar o entusiasmo coletivo que nos unia ali. Eu estava cercada por fãs que, assim como eu, compartilhavam a mesma paixão.
Uma garota ao meu lado puxou assunto ao notar o lightstick na minha mão.
— É a sua primeira vez vendo o ? — ela perguntou, os olhos brilhando.
— Sim — respondi, sorrindo. — E você?
— Segunda vez! Eles são incríveis ao vivo. Você vai amar!
A conversa fluía naturalmente, e logo outras pessoas ao nosso redor se juntaram. Falamos sobre nossas músicas favoritas, discutimos teorias sobre o setlist e rimos de memes que só os fãs entenderiam.
Em meio à interação, observei meu próprio lightstick, que estava seguro em minhas mãos. O brilho suave do objeto simbolizava mais do que uma simples decoração; era como um lembrete físico de tudo o que eu sentia por aquele grupo. Passava os dedos sobre os detalhes do design, imaginando como seria ver o oceano de luzes acesas dentro da arena.
De tempos em tempos, a ansiedade se infiltrava em minha mente. Eu mexia na bolsa, conferindo os ingressos e os itens que havia trazido, temendo ter esquecido algo importante. Mas, sempre que a inquietação me dominava, o entusiasmo das pessoas ao meu redor me puxava de volta para a euforia do momento.
O sol ia baixando lentamente, e a fila avançava em passos pequenos, mas constantes. Cada movimento nos aproximava do momento pelo qual todas havíamos esperado, e a expectativa era quase tangível. Enquanto me envolvia nas conversas e observava a movimentação ao redor, não conseguia evitar a sensação de que aquele dia era só o começo de algo muito maior.
O momento de entrar na arena finalmente chegou, e meu coração batia tão rápido que parecia ecoar em meus ouvidos. Mostrei meu ingresso na entrada, onde uma funcionária uniformizada escaneou o código e me entregou um folheto com instruções e um mapa do local.
— Assento marcado? — perguntei, apenas para ter certeza.
— Sim, sua seção está indicada aqui — respondeu a funcionária, apontando para o número destacado no papel.
Segui as placas e os fluxos de pessoas até o corredor indicado, o entusiasmo crescendo a cada passo. Ao entrar na área principal da arena, precisei de alguns segundos para absorver o cenário diante de mim. O espaço era imenso, mas ao mesmo tempo acolhedor, como se a energia de cada fã já estivesse enchendo o lugar antes mesmo do início do show.
Um atendente me acompanhou até o meu assento, que ficava incrivelmente perto do palco. Meu coração quase parou ao perceber a proximidade. O palco era enorme, mas parecia ainda mais grandioso com as luzes que dançavam suavemente, iluminando os detalhes da estrutura. As grades e escadas que eu reconhecia dos vídeos de shows anteriores estavam ali, quase ao alcance dos meus olhos.
Sentei-me, ajustando a bolsa no colo e segurando meu lightstick com força, como se fosse meu amuleto para aquela noite. Olhei ao redor, observando as pessoas chegando e se acomodando. O burburinho das vozes, os flashes das câmeras e o som de passos apressados criavam uma trilha sonora caótica e mágica.
O palco parecia um portal para outro mundo, e eu sabia que, quando as luzes se apagassem e os primeiros acordes ecoassem, nada mais importaria. Ajustei-me na cadeira, respirei fundo e, por um momento, apenas sorri, maravilhada com a ideia de que aquele sonho estava prestes a se tornar realidade.
A ansiedade se misturava com a euforia enquanto eu esperava pelo início do show. Ao meu redor, a energia era contagiante. Algumas fãs próximas puxaram assunto, e logo estávamos comentando sobre as músicas que mais esperávamos ouvir e sobre os momentos icônicos de shows anteriores.
— Qual é a sua música favorita? — perguntou uma garota com um lightstick decorado com fitas brilhantes.
— Difícil escolher, mas acho que é "Say My Name" — respondi, sorrindo.
— Ótima escolha! Espero que toquem hoje — disse ela, animada.
Entre risadas e histórias compartilhadas, o tempo parecia passar mais rápido. Para tentar conter a ansiedade, me levantei algumas vezes para dançar ao som das músicas que tocavam enquanto os telões exibiam clipes e teasers do grupo. Algumas fãs me acompanharam, e logo estávamos criando uma pequena festa improvisada em nossos lugares.
Também aproveitei para comer alguns snacks que havia me dado e estavam na bolsa. Um pacote de biscoitos e uma garrafa de água me ajudaram a manter a energia enquanto a tarde se transformava lentamente em noite. Olhei para o palco várias vezes, quase como se esperasse que, a qualquer momento, o grupo surgisse ali por mágica.
Conforme o céu escurecia e as luzes da arena começavam a se destacar, o burburinho de vozes crescia em volume. Era como se todos soubessem que o momento estava se aproximando. Fãs ao meu redor seguravam firmemente seus lightsticks, e algumas tiravam fotos ou gravavam vídeos para registrar a atmosfera antes do show começar.
A cada minuto que passava, meu coração batia mais rápido. O anúncio de que o espetáculo estava prestes a começar ecoou pelos alto-falantes, arrancando gritos de empolgação de todos os cantos. Ajustei-me no assento, segurando meu lightstick com mais força. A hora havia chegado, e eu estava pronta para viver o que, com certeza, seria uma das experiências mais incríveis da minha vida.
As luzes se apagaram instantaneamente e então eu segurei a lightstick próxima á meu peito, tentando acalmar meu coração, mas o que veio a seguir só fez ele acelerar ainda mais.
Um estrondo reverberou por todo o estádio, como um trovão cortando o céu. O telão se acendeu com a introdução do show, e os gritos ao meu redor se intensificaram tanto que parecia impossível que algo pudesse ser mais alto—até que a primeira batida da música ecoou pelos alto-falantes, fazendo o chão vibrar sob meus pés.
Meu corpo inteiro se arrepiou quando luzes vermelhas e azuis começaram a piscar em sincronia com a batida. O logo do brilhou no telão, e naquele instante, nada mais no mundo existia além daquele momento.
E então, eles apareceram.
Um por um, os integrantes surgiram no palco, silhuetas perfeitamente recortadas contra as luzes intensas. Meu grito morreu na garganta por um segundo, substituído por uma sensação de incredulidade pura. Eles estavam ali, de verdade, bem diante dos meus olhos.
A música explodiu, e a arena inteira se transformou em um mar de luzes dançantes. Cada movimento deles no palco era feroz, carregado de energia bruta, e eu mal sabia para onde olhar. Meus olhos saltavam de um integrante para o outro, até que, inevitavelmente, encontrei aquele que fazia meu coração bater ainda mais forte: .
Ele estava ainda mais deslumbrante ao vivo, se movendo com uma intensidade hipnotizante, como se o palco fosse uma extensão natural de seu corpo. Seu olhar era afiado, sua presença arrebatadora. Meu peito se apertou quando ele passou pela passarela, perto o suficiente para que eu enxergasse até as gotas de suor escorrendo por sua têmpora.
Minhas mãos tremiam ao segurar a lightstick, seguindo o ritmo da música sem nem perceber. Pulei, cantei, gritei até minha voz falhar. O coração parecia pequeno demais para conter tudo o que eu sentia naquele momento. Era surreal. Inacreditável.
Cada música parecia carregar uma nova onda de emoção, e eu me deixei levar completamente, sem medo de parecer exagerada. Afinal, aquele era o momento pelo qual eu havia esperado tanto. E eu faria cada segundo valer a pena.
***
Tremendo de emoção, deslizei a mão até minha bolsa e peguei o celular, desbloqueando-o rapidamente para gravar alguns momentos. A câmera tremia levemente, não só por causa da empolgação que tomava conta do meu corpo, mas também pelo impacto da música e dos gritos ensurdecedores ao meu redor.
Os integrantes estavam espalhados pelo palco e pela passarela, e um por um, eles se aproximavam das áreas onde os fãs estavam. Meu coração deu um salto quando parou perto de onde eu estava, acenando para os ATINYs que o chamavam freneticamente. Ele jogou beijos para a multidão, sorrindo de forma encantadora antes de seguir para o outro lado.
veio logo depois, apontando para alguém na plateia e rindo antes de fazer um gesto fofo. e também passaram interagindo, acenando e mandando corações para os fãs que estavam perto de mim. Tentei focar a câmera neles, mas em alguns momentos, simplesmente parei de gravar só para aproveitar a sensação de estar ali, tão perto de tudo.
O primeiro bloco do show passou em um turbilhão de luzes, batidas e performances intensas. Eu pulava, cantava e me entregava completamente àquela experiência, deixando que a energia dos meninos no palco tomasse conta de mim. Durante as pausas entre as músicas, eles conversavam com o público, e para minha surpresa, eu conseguia entender quase tudo o que diziam.
O intercâmbio na Coreia realmente havia feito diferença no meu coreano. Mesmo no meio de tantos gritos e da excitação do momento, eu conseguia captar as piadas e as mensagens dos membros, acompanhando as reações do público com uma sensação de pertencimento que me enchia de alegria.
Cada sorriso, cada palavra, cada interação me fazia sentir que todo o esforço para estar ali tinha valido a pena. E o show ainda estava apenas começando.
***
Enquanto o VCR passava na tela eu aproveitei para me hidratar um pouco enquanto as garotas ao meu lado e por todo o estádio vibraram com o vídeo, assim que tampei a garrafa vi a parte de no VCR passar pelo telão e meu coração deu um salto. Era inevitável. Não importava quantas vezes eu o tivesse visto em fotos, vídeos ou até mesmo ali, ao vivo no palco – ele sempre conseguia me deixar hipnotizada.
Seu rosto perfeitamente esculpido, os olhos intensos e expressivos, o sorriso travesso que carregava uma mistura viciante de carisma e ousadia… Tudo nele parecia ter sido feito para chamar atenção. Mas não era apenas sua beleza que me fazia admirá-lo tanto.
era magnético de um jeito que ia além da aparência. Sua energia explosiva nos palcos, sua entrega a cada coreografia, sua voz que, mesmo não sendo a principal do grupo, carregava emoção de um jeito que me arrepiava. Ele tinha uma presença cativante, algo que o tornava impossível de ignorar. Mas, acima de tudo, era sua personalidade que realmente me conquistava.
Ele era brincalhão, espontâneo e caótico, alguém que parecia iluminar qualquer ambiente com sua risada inconfundível. E, ao mesmo tempo, era extremamente leal e carinhoso com aqueles que amava. Sempre admirei a forma como ele demonstrava sua amizade e devoção ao grupo, como fazia questão de valorizar os fãs, como colocava paixão em tudo o que fazia.
Assistindo ao VCR, percebi que estava sorrindo sem nem perceber. Não era só um ídolo para mim. era alguém que me inspirava, que fazia com que meu coração batesse mais forte de um jeito que eu não sabia explicar. E agora, ali, tão perto dele, essa sensação se intensificava ainda mais.
Quando o VCR terminou e as luzes voltaram a se apagar, meu coração parecia mais calmo, mas as minhas mãos ainda tremiam levemente, o que me fez praguejar em italiano, já que as minhas filmagens ficariam terríveis. A música começou a ecoar no estádio, as batidas retumbando no meu peito enquanto as luzes se acendiam em flashes coloridos, criando um efeito hipnotizante. Eu me puxei para o presente, sentindo o calor da excitação me consumir de novo.
Eu estava tão imersa no momento que me esqueci até da leve tremedeira nas minhas mãos. O som da música, os gritos ao meu redor, as vozes dos meninos cantando suas partes, tudo isso me fazia perder a noção de qualquer outra coisa. Eu dançava, pulava, e deixava a energia do estádio me levar. Mas, no fundo, uma parte de mim estava constantemente focada em um lugar: .
Cada vez que ele se movia pelo palco, meu olhar se fixava nele, tentando gravar cada gesto, cada sorriso que ele lançava para o público. Quando ele se aproximava da passarela, meu coração dava outro salto, mas eu tentava me concentrar no show, na performance incrivelmente impecável que ele estava oferecendo.
Em um momento, enquanto ele dançava com os outros membros, a multidão ao meu redor parecia se agitar ainda mais. Eu o observei de perto, vendo seus olhos se moverem sobre a plateia, como se procurassem alguém específico, e, de repente, algo inacreditável aconteceu… Ele me viu.
Nosso olhar se cruzou a poucos metros de distância, e, por um segundo, o mundo ao meu redor desapareceu. O caos, a gritaria, as luzes piscando… tudo parecia sumir, deixando apenas aquela conexão breve entre nós.
E, com um sorriso largo e radiante, ele acenou para mim. Meu coração praticamente parou por um instante, e eu quase não consegui reagir. Aquele gesto simples, porém significativo, fez com que eu sentisse uma explosão de emoção, e eu, ainda atônita, acenei de volta.
A sensação de estar sendo notada por ele, de estar ali, em meio a tudo, foi indescritível. Eu estava tão próxima de algo que até então parecia um sonho distante. Mas ali estava ele, , com aquele sorriso contagiante e aquele aceno que me fez sentir como se nada mais no mundo importasse.
Meus olhos vagaram pela plateia, como costumava ser, eu gostava de olhar nos olhos do máximo de ATINYs que eu conseguisse, pois sabia o quanto aqueles momentos eram importantes para elas, e para mim também. Elas eram mais do que apenas fãs para mim; eram a razão pela qual eu estava ali, a razão pela qual o sonho do se tornava realidade a cada show, a cada encontro.
Eu não sabia como explicar, mas sempre que via uma sorrindo para mim, ou quando me viam de perto, sentia uma conexão. Era como se pudéssemos compartilhar uma emoção, uma energia indescritível, só nossa. Elas não eram apenas rostos na multidão, mas uma extensão do que significava estar no palco. Cada grito, cada palavra de apoio, cada gesto de carinho me alimentava, me dava forças para continuar e me fazia perceber o quão afortunado eu era.
Eu olhava para elas com gratidão, com o coração transbordando de amor, porque sabia que sem elas, nada disso seria possível. E, ao ver uma fã feliz, de olhos brilhando, com aquele brilho no rosto, eu também me sentia feliz. Era como se eu pudesse sentir o amor delas pulsando no ar, envolta em cada aceno, cada grito e cada aplauso.
Era um amor verdadeiro, um amor que transcende qualquer palavra. Eu não sabia como retribuir tudo o que elas me davam, mas sabia que tinha que fazer o meu melhor. E era isso o que me motivava, o que me fazia olhar para elas com a certeza de que, ao final do show, elas estariam indo para casa com um pedaço de mim, e eu, com certeza, levaria um pedaço delas comigo.
Estar de volta à Coreia, depois de tantos meses fora, estava sendo um sentimento indescritível. Cada cidade, cada palco que visitávamos ao redor do mundo era uma experiência única, mas terminar a turnê no meu país tinha um significado especial. Eu sentia uma conexão ainda mais profunda com cada que estava ali, assistindo ao show, aplaudindo, cantando. Eu sentia o calor do apoio deles de uma forma que só poderia ser sentida quando estamos em casa. Não havia nada que se comparasse a isso.
Os rostos que passavam diante de mim eram todos diferentes, mas todos igualmente intensos em suas emoções. Eu amava poder olhar para cada um deles, ver as reações, as expressões de alegria, de excitação, e sentir que estávamos compartilhando um momento único. Era incrível como um simples olhar podia gerar um impacto tão grande, como se cada um de nós fosse um elo na grande corrente de energia que existia entre nós, o e .
Enquanto observava o público, tentando captar o máximo de cada reação, meus olhos se fixaram em uma garota em particular. Ela estava próxima ao palco e ao começo da passarela e parecia hipnotizada, tanto que nem filmava o show, mas sua presença era inconfundível. Havia algo nela que se destacava, algo que não podia ser ignorado. Ela não era apenas mais uma fã na multidão; sua expressão parecia mais intensa, seu olhar mais focado, como se estivesse completamente imersa no momento.
Ela não era coreana, isso era evidente, mas era exatamente isso que a tornava ainda mais única. Sua aparência era diferente, mas não de uma maneira que a fizesse parecer deslocada. Ao contrário, ela se destacava de uma forma atraente, como se fosse uma peça especial daquele grande quebra-cabeça de rostos e vozes ao redor. Havia algo de cativante nela, algo que me fez sentir uma curiosidade espontânea…
Eu a observava, sem querer, perdido na forma como ela reagia à minha performance, ao show. Era como se eu tivesse encontrado algo interessante entre tantas outras pessoas, e eu me vi querendo entender mais sobre ela. Ela parecia tão... genuína. Talvez fosse o jeito como ela segurava a lightstick com tanta devoção, ou o jeito que seus olhos brilhavam ao olhar para o palco. Mas, por algum motivo, ela estava se tornando o centro da minha atenção, sem que eu pudesse evitar.
E então, de repente, ela olhou para mim. Nosso olhar se cruzou, e naquele instante, o resto do público, o barulho, as luzes, tudo desapareceu. Eu sabia que havia algo ali, algo que merecia mais do que apenas uma olhada rápida. Eu queria me lembrar daquele rosto, daquele olhar, da energia que ela me transmitia.
Acenei para ela, tentando parecer normal, tentando não deixar transparecer de forma evidente que aquele olhar havia mexido tanto comigo e ela devolveu o aceno parecendo aumentar o sorriso à medida que acenava de volta para mim.
Depois daquele primeiro contato, era impossível não procurá-la no meio da multidão. Mesmo enquanto dançava, cantava e interagia com os fãs ao redor, meus olhos insistiam em voltar para o mesmo ponto, tentando encontrá-la novamente. Havia algo nela que me prendia, algo na forma como seus olhos brilhavam toda vez que eu olhava em sua direção.
Eu tentei me manter focado na performance, seguir os passos com precisão, cantar cada nota com a mesma energia de sempre, mas era difícil ignorar a presença dela. Entre uma troca de posição no palco e outra, minha visão a encontrava de novo, e cada vez que isso acontecia, eu sentia uma onda estranha percorrer meu corpo. Ela estava curtindo cada segundo, completamente entregue à música, cantando junto, movendo o lightstick no ritmo das batidas, reagindo a cada interação nossa no palco como se estivesse vivendo o melhor dia da sua vida.
E talvez fosse.
E, de alguma forma, saber disso me fez sorrir. Eu sabia que, para muitas ATINYs, aquele era um momento inesquecível, algo pelo qual esperaram por muito tempo, economizaram dinheiro, planejaram, sonharam. Sempre fiz questão de retribuir esse carinho, de olhar nos olhos delas e garantir que sabiam o quanto significavam para nós. Mas essa garota... ela me fazia sentir algo diferente. Eu não sabia o que era, mas estava ali, pulsando, me deixando inquieto de um jeito bom.
A cada nova música, eu me pegava discretamente desviando o olhar na direção dela. Quando tínhamos que correr pelo palco e interagir com diferentes lados da arena, eu tentava, de alguma forma, encontrar um ângulo para vê-la mais uma vez. E, toda vez que conseguia, lá estava ela: os olhos fixos em mim, como se sentisse que eu estava procurando por ela.
Eu me perguntava se ela percebia. Se sabia que, entre milhares de pessoas, de alguma forma, ela tinha capturado minha atenção de um jeito que eu não conseguia explicar.
E eu não sabia se queria entender ou apenas aproveitar aquele momento por mais um pouco.
A segunda parte do show começou com ainda mais intensidade. Cada música parecia mais forte, mais viva, como se os meninos tivessem guardado o melhor para depois. Eu já tinha gritado tanto que minha garganta começava a arranhar, mas nem isso me impedia de cantar junto, mesmo que minha voz se perdesse no meio das outras milhares ao redor.
Eu segurava o celular com uma das mãos, tentando registrar o máximo possível. Queria guardar tudo — os passos da coreografia, os sorrisos, os pequenos gestos, as falas entre uma música e outra. Queria me lembrar de cada segundo quando estivesse de volta ao dormitório, revendo os vídeos em silêncio e tentando convencer a mim mesma de que aquilo tudo realmente tinha acontecido.
O lightstick continuava aceso na outra mão, e eu o balançava no ritmo da música, enquanto meus olhos insistiam em procurar por ele. .
Desde o momento em que ele me olhou — não, me viu — e acenou, algo dentro de mim havia mudado. Aquilo tinha feito meu coração se agitar de um jeito que nem mesmo as luzes, as músicas ou a atmosfera elétrica da arena tinham conseguido antes. De vez em quando, eu me perguntava se tinha sido coisa da minha cabeça, se ele só estava acenando aleatoriamente... Mas sempre que nossos olhos se cruzavam de novo, meu coração confirmava: não, aquilo era real.
Os telões se apagaram por um instante, e os integrantes começaram a se reunir no centro do palco, rindo entre si, trocando olhares cúmplices. foi o primeiro a pegar o microfone:
— ! — ele disse, animado, ofegante da última performance. — Hoje não é um dia qualquer, vocês sabem, né?
O público respondeu em coro, um grito uníssono que arrepiou minha pele.
— É Valentine’s Day! — completou , com um sorriso encantador.
Gritos. Muitos gritos. Eu mesma gritei junto, surpresa e animada.
— E como forma de agradecimento por todo o amor que vocês nos dão... — continuou — ...cada um de nós vai descer do palco agora pra escolher uma especial e entregar uma rosa!
A gritaria foi tão alta que me vi rindo de puro nervoso. Meu coração disparou. Olhei ao redor e todas as meninas próximas a mim estavam surtando, mãos na boca, outras se abanando, algumas pulando no mesmo lugar. E eu ali, completamente atônita, tentando absorver o que aquilo significava.
Uma rosa. De um deles. Entregue em mãos.
A luz suave de Valentine’s Day começou a tocar ao fundo enquanto os meninos pegavam as rosas que foram trazidas por uma equipe de staff. Um a um, eles começaram a descer do palco — acompanhados de seguranças, é claro — e começaram a caminhar pelos setores da arena.
Cada passo que eles davam fazia a multidão vibrar, e eu vibrava junto, mesmo sem esperar ser escolhida. Apenas assistir àquilo tudo de perto já era surreal.
Vi se aproximar de uma menina duas fileiras à minha frente. Ela começou a chorar antes mesmo de ele entregar a flor. , mais longe, dançava com a rosa nas mãos, fazendo graça com os fãs enquanto procurava por alguém. subiu em uma pequena plataforma próxima da lateral e estendeu a rosa para uma menina que tremia como uma folha ao vento.
Meus olhos buscavam , como sempre. Ele ainda estava no palco, com a rosa nas mãos, olhando a plateia com atenção. Meu coração começou a bater mais forte, como se pressentisse algo.
Ele deu um passo. Depois outro.
E então desceu do palco.
Sem hesitar.
Sem procurar em volta.
Seus olhos estavam fixos. Em mim.
Eu soube no exato momento.
Meu corpo travou. Não conseguia me mover. Nem piscar. As pessoas ao redor estavam gritando, empurrando, tentando chamar a atenção dele, mas era como se ele não visse mais ninguém.
Ele caminhava em minha direção.
Com a rosa na mão.
E um sorriso pequeno, contido, mas certo — como se já soubesse desde o início exatamente o que estava fazendo.
Meu coração bateu tão alto que abafou o som da música. E, por um instante, o mundo inteiro desapareceu. Só restava ele. E aquele momento que eu nunca, nunca mais esqueceria.
parou bem na minha frente. O tempo pareceu se esticar como elástico, suspenso entre a batida suave da música e o som abafado da minha respiração acelerada. Os gritos ao nosso redor soavam distantes, como se tudo estivesse submerso em água.
Seus olhos estavam nos meus. Fixos. Intensos. Quentes.
Com delicadeza, ele estendeu a rosa para mim, sem desviar o olhar nem por um segundo. Eu tremia. Minhas mãos estavam suadas e o coração quase dolorido de tão rápido que batia, mas mesmo assim, consegui pegar a flor. Nossos dedos se tocaram por um instante — breve, quase imperceptível — mas o suficiente para me fazer prender a respiração.
Ele se inclinou um pouco mais, o suficiente para chegar perto do meu rosto. Senti seu perfume, uma mistura de calor e algo amadeirado que me envolveu por completo.
— Meu segurança vai falar com você, ok? — ele sussurrou em coreano, baixo o suficiente para que só eu ouvisse. A voz dele era rouca e firme, e minha mente levou alguns segundos para processar o que aquilo significava.
Eu apenas balancei a cabeça, sem conseguir dizer uma única palavra. Ele me lançou um último olhar, como se quisesse se certificar de que eu havia entendido, e então começou a se afastar. Mas, mesmo enquanto voltava para o palco, ele ainda olhava por cima do ombro, como se algo ali o puxasse de volta.
Segundos depois, um homem alto, de jaqueta preta, parou ao meu lado. Tinha os olhos atentos, mas o rosto calmo. Ele se abaixou um pouco para ficar na minha altura e disse com discrição:
— Me afirme com a cabeça se sim ou não.
Ele me estendeu discretamente um bilhete dobrado em quatro. Minhas mãos ainda seguravam a rosa, agora um pouco amassada pela força com que eu a apertava. Com esforço, soltei uma das mãos e peguei o papel.
Minhas mãos tremiam enquanto eu o abria.
“Você quer assistir ao restante do show no backstage?
Se sim, precisaremos te retirar discretamente.
Fingir que está passando mal seria a melhor forma.
A decisão é sua. — W.”
Meu estômago deu um nó, e senti o mundo girar levemente. Eu reli o bilhete mais uma vez para ter certeza de que não estava alucinando. Mas não, estava ali. Claro. Direto.
Levantei os olhos lentamente e encarei o segurança. Então, com o coração martelando contra minhas costelas e o bilhete ainda entre os dedos, balancei a cabeça. Uma única vez. Para baixo.
Sim.
Eu não fazia ideia do que me esperava, mas sabia de uma coisa: estava prestes a cruzar uma linha invisível entre o sonho e a realidade — e não havia mais volta.
O palco nunca me pareceu tão pequeno.
Desci os degraus devagar, mas com o coração acelerado. Sentia cada passo vibrar sob meus pés como se o mundo estivesse me empurrando na direção certa — e, de certa forma, estava.
Ela estava lá. Exatamente onde eu lembrava. Como se o universo tivesse deixado um marcador invisível em volta dela.
Não olhei para os lados. Não procurei outra pessoa. Eu já sabia. Desde o momento em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, algo dentro de mim simplesmente soube. Ela era diferente. Não apenas por se destacar fisicamente, por ser estrangeira entre tantos rostos coreanos. Mas por aquela energia quieta que ela transmitia. Um contraste bonito com o caos ao redor.
Quando parei em frente a ela, tudo desacelerou. Os gritos pareciam distantes, abafados, como se estivéssemos dentro de uma bolha só nossa.
Ela estava com o lightstick na mão, a outra tremendo levemente. Os olhos arregalados, mas firmes. Aqueles segundos de silêncio entre nós foram mais intensos do que qualquer verso que eu já cantei.
Estendi a rosa, sem tirar os olhos dos dela. Era só uma flor, eu sabia. Mas naquele momento, carregava um significado que nem eu conseguia traduzir. Quando seus dedos tocaram os meus ao pegá-la, senti uma onda de calor subir pelos braços — uma reação instintiva, como se meu corpo estivesse tentando memorizar o toque dela.
Me inclinei, apenas o suficiente para que minha voz alcançasse seu ouvido. Ela merecia saber.
— Meu segurança vai falar com você, ok? — murmurei, com a voz mais baixa do que eu pretendia.
Ela assentiu, e por um segundo, desejei que ela tivesse dito algo. Qualquer coisa. Um "sim", um "ok", uma frase em coreano, inglês, ou qualquer outro idioma. Mas ela apenas me olhou. E aquele olhar foi mais que suficiente.
Afastei-me devagar. Cada passo parecia mais difícil que o anterior. Eu sentia meu corpo querendo se virar de novo, voltar para perto. Mas não podia. Não ali. Não ainda.
Antes de me afastar por completo, olhei por cima do ombro. Ela ainda estava me observando. Segurava a rosa com as duas mãos, como se fosse feita de vidro.
Quando vi meu segurança se aproximando, tirei o pequeno bilhete do bolso da jaqueta e entreguei a ele com um único olhar. Ele sabia o que fazer. Confiança total. Discrição absoluta.
Voltei ao palco com o coração ainda fora de ritmo. Meus lábios se curvaram num sorriso discreto, mas autêntico.
Eu não sabia o que viria depois. Mas pela primeira vez em muito tempo, eu estava disposto a descobrir.
Guardei o bilhete dobrado dentro da bolsa com as mãos trêmulas, enquanto o segurança me observava em silêncio, esperando o momento certo. O plano era simples, mas meu coração parecia não ter recebido esse memorando — ele batia tão forte que eu tinha certeza de que todas ao meu redor podiam ouvir.
Respirei fundo, apertei a rosa contra o peito, fechei os olhos por um segundo… e comecei a me inclinar, como se estivesse tonta.
— Com licença… — ouvi o segurança dizer alto, já me segurando com firmeza. — Ela precisa sair, está passando mal.
As pessoas próximas imediatamente se afastaram um pouco, preocupadas. Eu ouvi algumas murmurarem coisas como “ela ficou emocionada demais” ou “ai meu Deus, alguém ajuda”, mas eu mantive a cabeça baixa, como se realmente estivesse prestes a desmaiar.
O segurança me guiou com firmeza e rapidez por uma saída lateral do setor. Assim que atravessamos o corredor entre a multidão e a zona técnica, tudo ficou mais silencioso — abafado, quase secreto. Meu coração ainda pulsava como se estivesse tentando escapar do meu peito.
Caminhamos por um corredor estreito até chegarmos a uma porta metálica com uma placa pequena e discreta: STAFF ONLY. O segurança me fez sinal para entrar primeiro. Eu engoli em seco e passei pela porta.
O backstage era completamente diferente do caos da arena. Mais escuro, silencioso, iluminado por algumas luzes técnicas, pessoas com rádios e fones de ouvido andando de um lado para o outro em ritmo coordenado.
Foi então que um homem mais velho, vestindo roupas pretas e com uma prancheta nas mãos, parou na minha frente. Tinha uma expressão cansada, mas curiosa. Seus olhos me analisaram de cima a baixo, e por um momento, achei que ele fosse me mandar embora.
Ele cruzou os braços e soltou uma risada leve, meio descrente.
— Sortuda você, garota… — disse em inglês, com um leve sotaque coreano. — O nunca nos pediu isso. Pisquei. Tentei entender. Ele estava falando sério?
Antes que eu conseguisse responder, ele olhou para o segurança que me acompanhava, assentiu com a cabeça, e completou:
— Espere aqui. Ele vai querer falar com você depois do show.
Meu corpo estava imóvel, mas minha mente corria em círculos. Eu estava ali. No backstage. Porque me escolheu. E agora… agora eu teria que esperar.
Com a rosa ainda nas mãos e o coração completamente fora do eixo, tudo que consegui fazer foi sentar onde me mandaram, tentando processar o impossível: o dia que começou com nervosismo e gritos agora se transformava num capítulo que eu jamais teria ousado sonhar.
Achei que me deixariam ali, sentada no canto do backstage, esperando até que tudo terminasse. Mas, para minha surpresa, o manager — após um rápido olhar no rádio preso ao cinto — murmurou algo para o segurança ao meu lado e fez um gesto com a cabeça.
— Venha comigo. Vamos te levar até a lateral do palco. pediu que você pudesse assistir ao restante do show daqui.
Meu coração tropeçou no peito como se tivesse perdido o ritmo.
— Sério? — perguntei, quase num sussurro.
O manager apenas lançou um meio sorriso, como quem não queria comentar mais sobre o assunto, e virou-se para seguir adiante. Eu o segui, ainda atônita, atravessando uma série de corredores e cortinas pretas até chegar a um espaço estreito, mas privilegiado.
Dali, eu podia ver o palco de uma perspectiva completamente diferente. Estava praticamente ao lado dele — tão perto que conseguia ouvir as respirações pesadas dos meninos entre as músicas, ver os figurinos em detalhes, os gestos rápidos trocados entre os integrantes.
O público não conseguia me ver, mas dali, eu podia ver tudo.
Encostei-me discretamente a uma pilastra metálica e abracei a rosa contra o peito, como se fosse meu talismã.
A música seguinte começou e, mesmo com a adrenalina ainda me dominando, eu senti os pés começarem a bater no ritmo. Era impossível ficar parada.
Eu ainda estava assistindo ao mesmo show. Mas agora... era como se estivesse em um universo paralelo.
dançava no palco com a mesma energia feroz de antes, mas a cada vez que ele se aproximava da lateral, seus olhos buscavam o escuro onde eu estava. E eu sabia que ele me via. Sabia.
Era como se, agora, houvesse uma linha invisível entre nós, feita de olhares rápidos e silêncios carregados. Eu não fazia ideia do que aquilo tudo significava, mas não precisava entender naquele momento.
Eu só sabia de uma coisa:
Eu estava vivendo o impossível. E ainda não tinha acabado.
O restante do show passou diante dos meus olhos como uma sequência de cenas em câmera lenta e, ao mesmo tempo, rápido demais. Cada música me parecia mais intensa, como se o palco inteiro estivesse em chamas — e, em certo nível, estava mesmo. A energia do era algo que ultrapassava qualquer gravação, qualquer vídeo de internet.
Estar ali, a poucos metros do palco, vendo cada detalhe, ouvindo as vozes deles ecoarem sem filtro direto dos microfones, sentindo a vibração do chão, era algo que eu jamais conseguiria descrever com precisão.
Mas o que mais me desconcertava... era ele.
.
Mesmo no meio das coreografias mais explosivas, mesmo quando os holofotes trocavam de direção ou o palco girava, meus olhos o seguiam. Era automático. Era inevitável. E, de tempos em tempos, ele olhava discretamente para o canto onde eu estava. Pequenos segundos, nada escancarado — mas suficientes para que eu sentisse meu corpo inteiro responder com arrepios.
Ele não sorriu. Não fez nada óbvio. Mas eu sabia. Eu sentia.
Quando o show se aproximou do fim, os integrantes se alinharam no palco, agradecendo ao público com reverências profundas, sorrisos e mensagens emocionadas. Eu bati palmas, aplaudi até as mãos doerem. Ri e me emocionei junto com os outros fãs.
Mas, no fundo, meu coração já estava preso no que viria depois.
Assim que as cortinas se fecharam e as luzes da arena se apagaram, ouvi passos atrás de mim. O mesmo manager de antes se aproximou com um aceno discreto.
— Ele pediu para que você o acompanhasse agora. — disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu respirei fundo. Apertei a rosa. E fui.
A terceira parte do show exigia mais energia, mais controle, mais precisão. Mas pela primeira vez em muito tempo, minha concentração estava dividida.
Ela estava ali. Na lateral. E eu sabia.
Mesmo com a escuridão escondendo parte de seu rosto, mesmo com a movimentação dos técnicos ao redor, eu a via. Sentia sua presença pulsando como um segundo compasso no ritmo da música.
Eu me perguntava se ela conseguia perceber o quanto aquilo era novo para mim. O quanto me tirava do eixo, de um jeito que não era ruim — era instigante.
Durante Answer, eu vi que ela estava com a rosa ainda nas mãos. Aquilo mexeu comigo de um jeito estranho. Era como se aquele gesto simbólico tivesse criado uma ponte invisível entre nossos mundos — e agora ela estava do outro lado, onde poucos chegavam.
Houve um momento, no final de Turbulence, em que me virei por impulso, buscando seu olhar. E ela estava me olhando. Não havia euforia. Não havia grito. Havia apenas... verdade.
Quando o show acabou, caminhei com os outros até a parte de trás do palco. Estávamos suados, ofegantes, com o corpo vibrando ainda no ritmo das luzes, das vozes, da multidão. Os membros se abraçaram, riram, comentaram momentos engraçados. Eu sorri com eles, claro. Mas no fundo... minha cabeça já estava em outro lugar.
Com ela.
Sabia que o manager já havia ido buscá-la. E sabia, com uma certeza estranha e inabalável, que aquele encontro não era uma coincidência.
Era só o começo.
Eu estava suado, exausto e com a adrenalina ainda pulsando nas veias. A roupa do encore ainda grudava na pele, mas meu corpo nem sentia. Eu não conseguia parar de olhar para o corredor, onde ela surgiria a qualquer momento.
Os outros membros estavam espalhados pelo camarim: com uma toalha sobre a cabeça, sentado no chão alongando as pernas, e rindo de algo que viram no celular de . Era aquele pós-show familiar, com energia leve, piadas internas e alívio. Mas dentro de mim... o clima era outro.
Tenso. Afiado. Quente.
Quando o manager entrou de volta e fez um gesto com a cabeça, meu estômago se contraiu. Ela estava ali.
Ela entrou devagar, como se estivesse pisando num território proibido — o que, de certo modo, era verdade. Carregava a rosa que eu havia lhe dado como se fosse sagrada. E quando seus olhos encontraram os meus, senti o ar ao redor ficar mais denso. Mais real.
Tentei sorrir com naturalidade, não queria que ela achasse que aquilo era algum tipo de truque barato. Queria que ela soubesse que eu era só... eu. Que aquilo não era um jogo.
— Ah... é ela? — perguntou , erguendo uma sobrancelha, curioso.
— A garota da rosa? — completou , já se levantando com aquele jeito brincalhão de sempre.
— Calma aí — disse, erguendo uma mão, tentando controlar a situação antes que ficasse constrangedora demais. Dei um passo à frente, mantendo o tom leve. — Não façam parecer estranho.
Eles me olharam como se eu tivesse acabado de confessar um segredo antigo.
— Você nunca fez isso antes — murmurou , baixinho, quase como se estivesse surpreso demais para comentar alto.
olhava ao redor, visivelmente sem saber onde colocar as mãos, os olhos, ou sequer o corpo. Eu podia ver que ela estava desconfortável com tantos olhares e atenção. E eu não queria isso. Não naquele momento.
Me aproximei devagar, sem pressa, mas também sem hesitação.
— Oi — disse, em inglês. Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. — Está tudo bem?
Ela assentiu, com um sorriso tímido, mas havia algo nos olhos dela que dizia mais do que palavras poderiam.
— Desculpa por tudo isso... eu só... — passei a mão pela nuca, procurando as palavras. — Não queria que você achasse que foi por impulso. Eu te vi lá... e algo em você me chamou atenção. De verdade.
Ela sorriu de novo, e dessa vez, o sorriso foi mais completo. Leve.
— Foi um pouco surreal, pra ser sincera — ela respondeu, e seu sotaque italiano ficou evidente, suave, bonito.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, se aproximou por trás de mim e cochichou em coreano:
— Hyung... você tá nervoso?
— Cala a boca — murmurei de volta, com um sorriso discreto.
Voltei para ela.
— Você fala coreano? — perguntei, hesitante.
Ela assentiu com a cabeça.
— Estudo aqui há seis meses — respondeu, dessa vez em um coreano quase impecável.
Meu queixo caiu um pouco e, ao fundo, ouvi uma gargalhada abafada de .
— Uau — deixei escapar. — Então você entendeu tudo... inclusive quando eu disse que meu segurança falaria com você?
— Entendi — ela disse, divertida. — Por isso eu balancei a cabeça.
Eu ri, e foi automático, sincero. Minha risada escapou como se finalmente o gelo tivesse se quebrado.
— Posso... te mostrar onde a gente costuma descansar depois do show? Só nós dois — ofereci, mas de forma calma, deixando claro que ela podia dizer não.
olhou ao redor, e eu também. Os meninos ainda nos observavam, mas com expressões mais curiosas do que provocativas agora.
Ela respirou fundo, segurou a rosa com mais firmeza, e então disse:
— Eu adoraria.
E naquele instante, algo dentro de mim se aquietou. Pela primeira vez naquela noite, me senti exatamente onde eu devia estar.
Quando a porta se abriu e me pediram para entrar, meu coração quase me traiu. Eu achei que já tivesse sentido tudo naquela noite — o impacto do show, o olhar dele, a rosa, o convite... mas nada se comparava ao momento em que coloquei os pés naquele camarim.
O cheiro de suor recente, perfume e energia ainda crua pairava no ar. E ali estavam eles. Todos. Os oito.
Os rostos que eu conhecia de vídeos, fotos, fancams... de repente eram reais. Tão reais. me lançou um olhar curioso, já tinha um sorriso travesso estampado no rosto, e os outros pareciam surpresos, mas nenhum deles mais do que eu.
E então, meus olhos encontraram os dele.
.
Não havia mais luzes coloridas, música alta, multidão. Só ele. E o jeito que me olhava — direto, como se estivesse tentando passar uma mensagem silenciosa que nem ele conseguia traduzir direito.
Quando ele deu um passo à frente, senti meu corpo se preparar para algo, como se todo o meu sistema nervoso reconhecesse que aquele momento era diferente.
— Oi — ele disse em inglês. A voz era mais suave de perto, menos performática, mais... real.
— Está tudo bem?
Assenti com um sorriso pequeno. O nervosismo era tanto que eu mal conseguia confiar na minha própria voz.
Ele tentou explicar, parecia um pouco sem graça, passando a mão na nuca de um jeito meio fofo, meio aflito.
— Não queria que você achasse que foi por impulso... Eu te vi lá... e algo em você me chamou atenção. De verdade.
E eu? Bom, eu mal conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Mas a forma como ele falava… não era a de um idol falando com uma fã. Era a de um garoto tentando se fazer entender.
— Foi um pouco surreal, pra ser sincera — eu consegui dizer, tentando não parecer ridícula. E sim, meu sotaque entregou tudo de cara.
Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso, e aquilo me arrancou um sorriso mais confiante.
— Você fala coreano? — ele perguntou, parecendo ainda mais surpreso.
— Estudo aqui há seis meses — respondi em coreano, com a voz firme e clara, mesmo que por dentro eu estivesse derretendo.
Quando vi o espanto suave tomar conta do rosto dele, seguido por uma risada espontânea, meu peito se aqueceu. A risada de era como um raio de sol depois da chuva. Sincera. Solta.
E por um momento, nós dois parecíamos os únicos naquele ambiente, mesmo com os outros membros lançando olhares curiosos e comentários em voz baixa. Eu notei, claro. Mas também notei que ninguém parecia debochado ou grosseiro. Era mais como se todos estivessem tentando entender o que, exatamente, estava acontecendo ali.
Então, ele me perguntou se eu queria que ele me mostrasse onde descansavam depois dos shows. Só nós dois. O convite foi tão suave, tão respeitoso, que eu não consegui nem hesitar.
Olhei ao redor. Os olhares agora pareciam mais cúmplices do que julgadores.
Apertei a rosa com mais força, sentindo as pétalas roçarem minha pele como se fossem lembrar: você está aqui. Isso está mesmo acontecendo.
— Eu adoraria — respondi, com o coração na garganta e um sorriso que escapou sem pedir permissão.
E então, ele sorriu de volta. Como se aquele pequeno “sim” tivesse sido tudo o que ele precisava. E talvez… fosse mesmo.
Caminhei ao lado dele em silêncio por alguns corredores dos bastidores, com o som abafado da equipe recolhendo coisas ao fundo, e meu coração parecendo mais barulhento que qualquer coisa ao redor. Eu não fazia ideia de para onde estávamos indo, mas também não me importava. Estar ali, ao lado dele, já era mais do que qualquer plano que eu pudesse ter imaginado.
De vez em quando, eu lançava olhares discretos. Ele estava com o cabelo bagunçado do show, a maquiagem quase toda desfeita pelo suor, e mesmo assim… ou talvez exatamente por isso, ele estava ainda mais bonito. Mais real.
— Ainda está tudo bem? — ele perguntou, virando um pouco o rosto para mim, com aquele sorrisinho de canto que parecia sempre estar prestes a virar gargalhada.
— Uhum — murmurei, com um sorriso tímido. — Só… tentando não surtar internamente.
Ele riu, e dessa vez, a risada completa veio. Aquela risada inconfundível, meio aguda, meio de bruxa, que eu tinha escutado mil vezes em vídeos — e agora ela estava ali, a menos de um metro de mim, por minha causa.
— Você tá indo bem — ele disse, divertido. — Tem gente da equipe que surta mais do que você.
Caminhamos até uma porta discreta, ao lado de um camarim auxiliar. Ele abriu e me deu passagem. Era uma sala simples, com um sofá largo, uma mesa com garrafinhas de água, algumas toalhas jogadas e uma TV desligada. Tinha cara de lugar onde eles esperavam entre ensaios ou descansavam depois de entrevistas.
Fechei a porta atrás de mim com cuidado, e por um momento, o silêncio entre nós ficou carregado. Não de tensão… mas de expectativa.
se jogou no sofá de um jeito confortável, espalhando os braços pelo encosto e me olhando como se estivesse curioso pra ver o que eu faria a seguir.
— Pode sentar — disse, apontando com a cabeça.
— Obrigada.
Sentei-me na outra ponta do sofá, mantendo uma distância educada, mesmo que tudo dentro de mim gritasse para me aproximar. Segurei a rosa no colo, como se fosse um escudo.
— Você tá bem quieta — ele comentou, inclinando um pouco a cabeça para me observar melhor. — Assim, não que eu ache ruim. Mas... o que tá passando pela sua cabeça agora?
Respirei fundo. Aquela era a pergunta que eu mesma não conseguia responder direito.
— Acho que eu ainda tô tentando entender como vim parar aqui — confessei, olhando para a rosa. — Tipo… eu vim para um show. Pra cantar, chorar, gritar, como qualquer fã. E agora tô… aqui. Com você.
Ele assentiu lentamente, e seus olhos ficaram mais sérios por um instante.
— Pra ser honesto… eu também tô tentando entender.
Aquilo me pegou de surpresa.
— Você pareceu tão certo. Quando veio até mim…
— Eu estava. Quer dizer, eu tô. — Ele deu de ombros. — Eu só… não sei explicar. Eu vi você na plateia e… pronto. Como se tivesse alguém batendo no meu ombro dizendo: é ela.
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Era muito pra absorver. Mas meu coração acreditava em cada palavra. Não porque eu queria, mas porque… sentia.
— Você me notou mesmo entre tanta gente? — perguntei, com a voz mais baixa, como se não quisesse quebrar o encanto.
— Foi impossível não notar você.
Eu encarei os olhos dele, tentando encontrar a hesitação, a dúvida, qualquer sinal de que aquilo fosse apenas um momento passageiro, um impulso. Mas o olhar dele era firme. Sincero.
E quando ele sorriu de novo, um pouco mais suave, um pouco mais fundo, senti meu corpo todo responder.
— E agora? — perguntei, antes que ele perguntasse primeiro. — O que acontece depois disso?
Ele inclinou a cabeça, pensativo, e respondeu:
— Agora… a gente respira. E vê onde isso nos leva.
E pela primeira vez naquela noite, eu parei de pensar. Apenas deixei o coração seguir.
O silêncio entre nós não era desconfortável. Era um silêncio carregado — de presença, de atenção, de algo que parecia se formar no ar sem pressa. se recostou ainda mais no sofá, cruzando uma perna sobre a outra, o olhar tranquilo e curioso sobre mim.
— Então… — ele começou, com um sorriso leve. — O que te trouxe pra Coreia? Intercâmbio, eu sei. Mas por quê aqui?
— É, acho que todo mundo pergunta isso — respondi, relaxando um pouco mais contra o encosto do sofá. — Sempre me perguntam se foi por causa do K-pop.
— E foi? — ele arqueou a sobrancelha com um ar brincalhão.
— Em parte, sim — admiti com um sorriso tímido. — Mas não só por isso. Eu sempre gostei da cultura coreana. Da língua, da comida, dos filmes… Queria viver algo fora da minha zona de conforto. A Coreia parecia o lugar certo pra isso.
Ele assentiu devagar, como se estivesse realmente absorvendo cada palavra.
— Sair de casa assim… não é fácil.
— Não foi mesmo — confessei. — Os primeiros meses foram um caos. Me senti completamente deslocada. Eu chorava no mercado por não conseguir achar o arroz certo. E tinha dias que eu só queria comprar pão e não conseguia dizer nada no caixa.
Ele riu, e foi uma risada genuína, de quem entendia a vulnerabilidade, e não estava rindo de mim, mas comigo.
— Aposto que agora você sabe mais coreano do que alguns trainees estrangeiros — disse, brincando.
— Provavelmente. Mas ainda fico nervosa quando alguém me responde muito rápido. É como se meu cérebro falasse: "amiga, você estudou isso, mas hoje não vai dar".
jogou a cabeça para trás e riu alto outra vez, e dessa vez, eu me permiti rir junto, mais solta, mais leve.
— E o ? — ele perguntou depois de um instante. — Quando a gente apareceu na sua vida?
Suspirei, encarando a rosa ainda em minhas mãos.
— No meio do caos. Tava me sentindo perdida, sabe? E um dia, por acaso, me mandaram um vídeo de vocês. Foi uma performance... acho que de Answer. Eu nem sabia quem era quem, só fiquei parada assistindo, sentindo meu peito apertar e, ao mesmo tempo, se abrir. Era energia pura. Verdade.
Senti minhas bochechas esquentarem, mas continuei:
— Vocês viraram um tipo de... abrigo. Um lugar seguro dentro do barulho.
Quando levantei os olhos, encontrei o dele. E ele estava me olhando de um jeito que fez tudo à minha volta sumir mais uma vez.
— Eu não sei se alguém já te disse isso, mas você fala de um jeito que faz a gente querer escutar.
Eu engoli em seco. Ele não dizia aquilo para me impressionar. Era só o jeito dele — transparente, intenso, real.
— Talvez eu só nunca tive alguém ouvindo de verdade.
O ar pareceu ficar mais denso entre nós. Não de forma incômoda, mas como se o tempo tivesse decidido desacelerar de propósito.
apoiou os cotovelos nos joelhos, o corpo ligeiramente inclinado pra frente, me encarando com suavidade.
— E agora tem.
Meu coração perdeu um compasso. Ou talvez tivesse batido tão forte que eu não ouvi o intervalo.
Eu sorri. Sincera. Leve. E pela primeira vez naquela noite… não me senti só uma fã falando com seu ídolo. Me senti vista. De verdade.
Estava tudo tão calmo naquele momento, tão diferente do turbilhão que tinha sido o show e da minha própria cabeça desde que recebi aquela rosa, que por um instante me esqueci completamente de onde estava.
Esqueci que ele era . Esqueci que eu era só… eu.
Ali, sentada naquele sofá de bastidores, sentindo a intensidade silenciosa da presença dele, eu só sabia que queria prolongar aquilo. Sentir um pouco mais daquilo que não tinha nome, mas preenchia o ar entre nós como música sem letra.
— — ele disse meu nome pela primeira vez, e meu corpo inteiro reagiu como se tivesse sido chamado de um sonho.
— Him?
— O nome combina com você. — E sorriu. Um sorriso pequeno, quase contido. — É forte e delicado ao mesmo tempo.
Eu nem tive tempo de responder. Um bater leve na porta nos interrompeu.
— -ssi? — era a voz de um dos managers. — Precisamos liberar o espaço em dez minutos. A equipe de limpeza vai entrar.
Eu congelei. A realidade me atingiu como um vento frio. Claro que aquilo teria um fim. Claro que esse momento era emprestado.
Vi respirar fundo e inclinar a cabeça pra trás por um segundo, como quem ponderava algo. Quando a porta se fechou de novo e o som dos passos se afastou, ele se virou pra mim.
— Não quero que você vá embora assim — disse, direto. — Não agora.
Meu coração disparou.
— …
— Calma — ele ergueu as mãos, sorrindo. — Eu sei que tudo isso tá acontecendo rápido. Mas eu não faço esse tipo de coisa. De verdade. Não quero que você ache que isso é só um impulso meu ou… qualquer coisa estranha.
Assenti devagar. Eu acreditava nele. Não porque queria, mas porque sentia que era verdade.
— O que você tem em mente? — perguntei, baixinho.
Ele passou a mão pelo cabelo, ainda suado, e se levantou. Começou a andar devagar, pensativo.
— Você mora no dormitório da sua universidade, certo? — perguntou, e eu assenti. — E eu sei que já é tarde e que você tá longe de casa...
Ele parou na minha frente.
— Mas eu pensei… talvez você pudesse sair comigo, depois. Não agora. Eu só… queria continuar essa conversa. Sem figurino, sem luzes, sem corredor apertado de bastidor. Só eu. E você.
Por um instante, eu não consegui respirar. O mundo lá fora ainda estava de pé. Mas o meu parecia suspenso.
— Você tá me convidando pra sair? — perguntei com um meio sorriso, tentando disfarçar o caos interno.
— Tô te convidando pra continuar isso. Seja o que for. — E me olhou fundo, como se tentasse me dizer com os olhos o que ainda não tinha coragem de colocar em palavras.
Meu sorriso se alargou.
— Então acho que eu aceito.
Ele soltou o ar num riso aliviado, quase surpreso. Como se, mesmo sendo , não tivesse certeza de que eu diria sim.
— A gente vai dar um jeito — ele disse, mais pra ele mesmo do que pra mim.
E naquele instante, o tempo retomou seu curso. Mas agora, não parecia que ia nos arrastar pra longe — parecia que nos dava uma nova chance de seguir.
Juntos.
Eu sabia que o tempo estava acabando. Os minutos que tínhamos ganhado estavam escorrendo pelas bordas, e logo alguém entraria ali para nos lembrar que o palco, os bastidores e tudo mais precisava voltar à ordem do mundo real.
Mas eu também sabia de outra coisa: eu não podia deixar ela sair dali como se tivesse sido só mais uma fã sortuda, como se aquilo tudo não tivesse significado absolutamente nada.
Porque significou. E muito.
Ela me olhava com os olhos calmos, mas havia algo de intenso por trás deles, como se estivesse absorvendo cada detalhe daquele momento, gravando tudo em silêncio. Eu conhecia aquele olhar. Era o mesmo que eu usava quando queria me lembrar de alguma coisa para sempre.
Me aproximei dela devagar, tentando não quebrar a bolha que havíamos criado.
— Eu sei que não posso te prender aqui — comecei, e minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. — Mas também não quero que isso termine agora.
Ela não disse nada. Só me olhava, esperando. Me escutando de verdade.
Tirei o celular do bolso da calça com certa hesitação. Aquilo não era algo que eu fazia. Nunca fiz. E o fato de estar ali, com a tela já desbloqueada e a mão estendida, era quase surreal até pra mim.
— Me dá seu número? Ou seu KakaoTalk, se for mais fácil. Só… pra gente continuar essa conversa depois. Com calma. Em um lugar onde eu não esteja coberto de suor e você não esteja segurando uma rosa como se fosse uma bomba-relógio.
Ela riu, e o som foi leve. Quente. Como se a tensão dentro de mim tivesse sido dissolvida pela risada dela.
— Claro — respondeu, pegando o próprio celular da bolsa.
Nos aproximamos um pouco mais, e nossos dedos se tocaram brevemente quando ela digitou os dados no meu aparelho. Foi só um instante, mas senti o toque dela como se fosse mais forte do que deveria ser. Simples, mas presente.
Quando finalizei o cadastro com o nome “ 🌹”, percebi que estava sorrindo. Um sorriso pequeno, quase involuntário. Mas verdadeiro.
— Pronto — disse. — Agora não tem mais como fugir.
Ela me olhou de lado, com aquele brilho nos olhos que já me derrubava desde o palco.
— Não vou fugir.
E, por um segundo, eu desejei poder segurá-la ali por mais tempo. Dizer mais. Fazer mais. Mas a porta se abriu novamente e, dessa vez, o manager não perguntou. Só nos lançou um olhar gentil, porém firme. A hora tinha chegado.
— Eu levo você até a saída com segurança — eu disse. — Só… espera minha mensagem, ok?
Ela assentiu. E antes de virar para sair, olhou para mim uma última vez. E sorriu.
Não foi um sorriso de quem estava dizendo adeus. Foi de quem estava dizendo: começamos por aqui.
E aquilo era tudo o que eu precisava.
Voltei para o camarim com passos mais leves do que deveria, considerando o cansaço pós-show. Não era o corpo que parecia flutuar — era a cabeça, a mente, como se ainda estivesse preso naquela troca de olhares, naquela troca de número, naquela sensação de que algo enorme e invisível tinha começado ali.
Mas, obviamente, a paz durou exatos três segundos.
— OLHA QUEM VOLTOU! — gritou assim que me viu atravessar a porta, batendo palmas de maneira dramática.
— O Romeu moderno — completou , jogando uma toalha enrolada na minha direção, que eu desviei com facilidade.
— Já colocou ela na speed dial? — provocou, rindo enquanto terminava de colocar os sapatos.
— E aí, -ssi? — chamou, no tom brincalhão de líder que fingia ser sério. — Vai apresentar oficialmente ou vai deixar a imprensa descobrir sozinha?
Revirei os olhos e joguei uma almofada na direção dele.
— Vocês são insuportáveis — murmurei, rindo, mas meu sorriso me traía completamente.
Eles sabiam. Não precisava explicar. Só de olhar pra minha cara, dava pra ver que não era qualquer coisa.
passou por mim, dando um tapinha no meu ombro.
— Falando sério agora… você nunca olhou pra ninguém daquele jeito antes. Foi meio assustador.
— Assustador? — repeti, arqueando uma sobrancelha.
— Assustador de… sincero — corrigiu , ainda com um sorriso divertido.
Eu só balancei a cabeça, aceitando a zoação. Era melhor rir com eles do que tentar explicar algo que eu nem conseguia direito.
Logo fomos chamados para irmos até a van que nos levaria para a área externa, onde aconteceria o send-off — aquele momento final, em que nos despedimos rapidamente dos fãs selecionados que compraram a experiência.
Entrei na van me jogando no banco do fundo. sentou do meu lado imediatamente, com no banco da frente, já se virando pra falar comigo.
— Então… — começou, esticando as palavras. — Vai falar ou a gente vai ter que descobrir tudo pelos tabloides amanhã?
Suspirei e passei as mãos pelos cabelos ainda úmidos.
— Eu vi ela na plateia — disse, sem rodeios. — Não sei explicar. Só… sabia que tinha que fazer alguma coisa.
— Isso tem nome — disse , rindo. — Cúpido. Tá ferrado.
— E ela? — perguntou, curioso. — Parecia nervosa?
Sorri, lembrando do jeito dela segurando a rosa com as duas mãos, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
— Estava. Mas ela também parecia… diferente. Não foi como com as outras fãs. Não foi só emoção ou gritaria. Era... outra coisa.
Ficaram em silêncio por alguns segundos. Mesmo eles, com toda a zoeira, sabiam reconhecer quando algo era sério.
— Vai ver era pra ser — disse simplesmente, olhando pela janela.
Olhei também, deixando o silêncio preencher a van.
Talvez fosse. Talvez tudo tivesse começado hoje mesmo, ali no meio de uma multidão, com um olhar e uma rosa.
Mas de uma coisa eu já sabia: eu não ia deixar aquilo simplesmente acabar.
Não depois de ter sentido o que senti.
O send-off era um dos momentos que eu costumava gostar. Era rápido, simples, mas tinha algo especial em ver os rostos das ATINYs mais de perto, mesmo que por poucos segundos. Era um tipo de gratidão silenciosa, um fechamento respeitoso entre nós e quem esteve ali por horas nos apoiando.
Mas, dessa vez, eu não estava totalmente ali.
Cumprimentei cada fã com um sorriso, um aceno ou uma frase breve. Mas minha mente voltava sempre para o mesmo lugar. Para ela. Para .
A imagem dela ali, com a rosa ainda nas mãos, sentada no sofá apertando os dedos como se estivesse tentando conter o mundo, não saía da minha cabeça.
"Será que ela já chegou no dormitório?", pensei, enquanto dava o último aceno e seguia com os outros para a van. "Será que ela tá bem?"
Assim que entramos e a porta deslizou para fechar, peguei o celular. A luz azulada da tela cortou a escuridão suave do interior do veículo. Rolei até o nome que eu já tinha salvo mais cedo: 🌹.
Minhas mãos hesitaram um segundo. Eu não queria parecer apressado. Nem desrespeitoso. Mas também… não queria esperar.
[Mensagem enviada - 23:18]
“Você chegou bem?”
Foram só três palavras. Mas eu quase ouvi meu coração ao prender a respiração enquanto esperava.
Alguns minutos depois, a notificação acendeu. Ela tinha respondido.
[Mensagem recebida - 23:22]
"Sim, cheguei agora. Ainda meio zonza com tudo... mas bem."
Sorri. O tipo de sorriso que não se explica, que nasce sem permissão.
[Mensagem enviada - 23:23]
"Fico feliz. Queria te ver de novo... mas não quero invadir seu tempo de descanso. Você pareceu cansada."
Ela demorou um pouco mais para responder dessa vez.
[Mensagem recebida - 23:27]
"É, estou exausta na verdade. Preciso dormir e tentar assimilar tudo isso. Mas eu também queria te ver de novo."
Meu peito aqueceu com aquela última frase.
[Mensagem enviada - 23:28]
"E se a gente se visse amanhã à noite? Só nós dois. Jantar tranquilo. Eu prometo descrição total. Posso mandar alguém da produção te buscar."
Dessa vez, a resposta veio mais rápido.
[Mensagem recebida - 23:30]
"Acho que eu adoraria." Inclinei a cabeça para trás, sorrindo para o teto da van como um adolescente. Meus dedos voaram pela tela.
[Mensagem enviada - 23:31]
"Então é um encontro. Mando os detalhes amanhã de manhã. Dorme bem, ."
[Mensagem recebida - 23:32]
"Boa noite, ."
Fechei o celular, sentindo o coração desacelerar só um pouco. Era real. Tudo isso era real.
E amanhã à noite… eu teria uma nova chance de estar com ela. Sem palco. Sem multidão.
Sem nada além do que havia começado ali — com um olhar, uma rosa, e algo que eu ainda não sabia nomear…
Mas já sentia crescer.
Quando cheguei no dormitório, o mundo ainda parecia um pouco inclinado. Como se o chão estivesse levemente fora de eixo e eu estivesse caminhando entre sonho e realidade. Passei pela recepção da universidade quase flutuando, com a rosa ainda nas mãos e o celular apertado contra o peito, como se fosse um amuleto.
Subi as escadas devagar, sem nem lembrar como meus pés se moviam, até empurrar a porta do quarto com cuidado. A luz estava acesa e , como eu já esperava, estava sentada na cama com o notebook no colo — os fones de ouvido pendurados no pescoço e um pacote de salgadinho aberto ao lado.
Assim que me viu, arregalou os olhos e deixou o computador de lado como se tivesse levado um choque.
— ?! — ?! — respondi no mesmo tom, completamente sem energia para começar pelo começo.
Ela correu até mim, os olhos varrendo meu corpo, minhas mãos, o rosto, como se esperasse ver hematomas ou um cartaz de “fui abduzida”.
— Você sumiu! Eu vi umas mensagens no grupo falando que uma garota tinha passado mal no setor VIP e que foi levada pelos seguranças. E depois disseram que a rosa do foi pra uma estrangeira. Eu... , EU SABIA! — disse, me agarrando pelos ombros. — Era você?!
Assenti devagar, e o sorriso dela foi tão instantâneo quanto uma explosão.
— Oh mio Dio. Me conta. Me conta tudo. AGORA.
Joguei a mochila no chão, sentei na cama como se meu corpo estivesse enfim consciente do quanto estava cansado, e entreguei a rosa a ela como se fosse uma prova material do impossível.
— … eu não sei nem por onde começar.
— Do começo. Ou do meio. Ou do momento em que ele encostou a rosa em você! Escolhe! — ela disse, quase pulando na cama ao meu lado.
Suspirei, e então deixei tudo sair.
Falei do show, da sensação de estar tão perto do palco, das interações com os outros membros. Falei da forma como me olhou, como andou em minha direção sem hesitar, do aceno, do sussurro. Do segurança, do bilhete, do plano maluco pra fingir que eu estava passando mal.
Os olhos de ficaram do tamanho de pratos. Ela cobria a boca com a mão, incrédula.
— E ele disse pra você esperar uma mensagem? E…? Você recebeu?
Sem dizer nada, destravei o celular e entreguei a ela. A conversa com aberta bem ali na tela. Vi seus olhos se moverem rapidamente pela troca de mensagens, até ela arregalar os olhos mais uma vez.
— … ele te chamou pra sair amanhã?! — ela sussurrou como se alguém estivesse grampeando nosso quarto. — Ele vai mandar alguém te buscar? Isso é tipo… nível fanfic premium!
— Eu sei! — exclamei, tampando o rosto com as mãos. — Eu ainda acho que posso acordar a qualquer momento.
Ela se jogou na cama de costas, olhando pro teto como se processasse tudo de novo.
— Você entende que isso é maior do que ganhar um meet & greet, né? Isso é ele. Te procurando. Querendo te ouvir. Querendo ver você de novo.
Assenti devagar, ainda abraçando a almofada com força.
— E é por isso que eu tô com medo. E se isso for só um momento? E se ele mudar de ideia?
se virou para mim, os olhos firmes, sérios por um segundo.
— E se não for?
Ela segurou minha mão.
— E se isso for o começo de algo que só acontece uma vez na vida?
Respirei fundo, encarando o teto junto com ela.
Talvez fosse.
E amanhã, eu descobriria.
O dia seguinte ao show começou com o céu limpo e o coração acelerado.
e eu tomamos café juntas no refeitório da universidade, e mesmo entre goles de café preto e pedaços de pão com geleia, o assunto era um só: ele.
— Você precisa estar calma — ela dizia, fingindo ser racional, mas com os olhos brilhando mais do que o normal. — Você vai jantar com o . O . E tá aí, de camiseta de algodão, comendo como se nada tivesse acontecido.
— O que você queria que eu fizesse? Usasse um vestido de gala pro café da manhã?
— Sim. Seria simbólico.
Rimos juntas, mas havia um nervosismo sutil por trás de tudo. Mesmo nos momentos de silêncio, o peso da expectativa preenchia o ar como vapor.
Depois do café, voltamos pro quarto e tentamos estudar. Nos sentamos com nossos notebooks abertos, apostilas espalhadas pela mesa. Eu encarei a mesma página por quase meia hora sem absorver uma única palavra.
estava igual. Ela tentava disfarçar, fazendo anotações aleatórias, mas vez ou outra eu pegava ela me olhando e sorrindo como se não acreditasse que aquilo tudo estava realmente acontecendo.
— Isso é impossível — ela bufou, empurrando o livro pra longe. — Como é que a gente vai focar em metabolismo energético depois do que rolou ontem?
— Eu não tô nem focando na minha respiração, quanto mais em glicólise.
Fechamos os materiais e desistimos oficialmente de fingir que o dia seria produtivo.
Na hora do almoço, fomos até um restaurante pequeno próximo à universidade. A comida era boa, mas eu mal consegui comer direito. Tudo parecia estranho. Os talheres pareciam pesados, os sons ao redor amplificados demais, como se o mundo estivesse girando mais rápido que o normal.
— Você acha que ele vai me achar... normal demais? — perguntei, mexendo no prato sem realmente comer.
— — disse, séria. — Você é o equilíbrio perfeito entre normal e maravilhosa. É por isso que ele te notou.
Passeamos um pouco pela região depois do almoço, tentando “esfriar a cabeça”, mas nada parecia funcionar. No meio da tarde, deitamos cada uma na sua cama, e ficamos em silêncio por um bom tempo, só rolando o feed do celular sem realmente ver nada.
Até que ele vibrou.
Levantei o aparelho e senti o coração disparar quando vi a notificação de um número desconhecido.
[Mensagem - 18:44]
“, aqui é Minjae, da equipe do . O carro sairá às 19:30 em ponto. O motorista estará no portão principal da universidade. Ele estará com crachá da KQ. Qualquer dúvida, me avise por aqui.”
Sentei-me de um pulo. me olhou, alarmada.
— É ele? É a equipe dele?!?
Assenti, quase sem fôlego, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o celular vibrou de novo.
[Mensagem de - 18:45]
“Tá tudo certo? Não me deixa plantado, hein 😳”
— Ele mandou mensagem! — soltei, quase gritando.
bateu palmas como se fosse uma mãe em casamento de novela. Eu respondi:
[Mensagem enviada - 18:46]
“Tudo certo. Tô pronta. Nervosa, mas pronta.”
[ - 18:47]
“Eu também tô nervoso. Mas já gostei de saber que você vem.”
A partir dali, tudo parecia ganhar cor. O céu fora da janela, que antes era só um pano de fundo azul, agora parecia iluminado por dentro. Era real. Ele queria me ver. Ele tinha arrumado tudo pra isso acontecer.
E em menos de uma hora… estaria me esperando.
Depois das mensagens, não houve mais como disfarçar. O quarto virou um redemoinho de roupas, escovas, perfumes e batons testados no pulso. me ajudava a escolher tudo com o foco de quem montava uma boneca de edição limitada.
— Essa blusa tá dizendo “sou discreta, mas você vai lembrar de mim” — ela comentou, segurando uma peça de tecido preto leve. — E com aquele colarzinho fino? Perfeita.
— Eu tô tremendo — admiti, olhando meu reflexo no espelho pela milésima vez.
— Claro que tá. Você está indo jantar com o homem que te entregou uma rosa no palco. Quer ficar como?
Nos olhamos e caímos na risada. Aquilo ajudou. Aliviou um pouco a tensão que pesava nos ombros.
Acabei vestindo uma calça de alfaiataria clara, uma blusa preta de mangas compridas e levemente transparentes nos punhos, e amarrei o cabelo em um meio-rabo delicado. Maquiagem leve, perfume sutil. Nada gritava "encontro com um idol", e era justamente isso que me deixava mais segura.
Às 19h25, peguei a bolsinha, respirei fundo e me aproximei da porta.
me abraçou forte, ainda segurando a rosa que eu tinha deixado no nosso criado-mudo.
— Manda mensagem assim que chegar, tá? E lembra que, se ele te olhar do jeito que te olhou ontem, você já ganhou.
Desci com o coração na garganta.
O carro preto já estava esperando em frente ao portão principal da universidade, exatamente como a mensagem dizia. O motorista, vestido com um terno escuro e crachá da KQ pendurado no pescoço, abriu a porta com um sorriso discreto.
— Boa noite, senhorita .
— Boa noite…
Entrei e fechei a porta com cuidado. O interior do carro era confortável, silencioso, com um aroma leve de lavanda. Conforme o veículo começava a andar, olhei pela janela, vendo a cidade ganhar vida sob as luzes da noite.
Estava mesmo acontecendo.
A cada quilômetro, meu coração batia mais forte. Não era só nervosismo. Era antecipação. Desejo. Curiosidade.
E um medo bom. Aquele tipo de medo que só aparece quando algo importante está prestes a acontecer.
O carro diminuiu a velocidade em uma rua arborizada e silenciosa, longe do centro movimentado. Parou diante de uma entrada discreta, com uma pequena placa metálica em coreano e inglês: “Haneul Private Garden – reservas somente”.
O motorista desceu, contornou o carro e abriu a porta para mim.
— Ele está esperando lá dentro.
Assenti com um sorriso tímido, ainda agarrando a alça da bolsa com força. Meus pés pisaram no chão como se fosse território sagrado.
Respirei fundo uma última vez.
E entrei.
Me disseram que ela já havia chegado.
E mesmo assim, meu coração disparou como se fosse a primeira vez que eu estivesse subindo num palco. Mas não era um palco — não tinha plateia, nem luzes piscando, nem batida pulsante ecoando nos ouvidos. Tinha só o silêncio elegante do restaurante, o aroma suave de jasmim no ar e a mesa que pedi que preparassem ao lado das janelas de vidro, com vista para o jardim externo iluminado por pequenas lanternas.
Escolhi aquele lugar porque era calmo. Reservado. Sem holofotes. Eu queria que ela me visse fora do cenário onde estava acostumada. Queria que ela fosse o centro.
Quando ouvi passos se aproximando do salão principal, levantei automaticamente, como se um ímã me puxasse para a frente.
E então vi ela entrar.
Meu corpo inteiro reagiu. Sutilmente, mas completamente. Ela estava linda. Mas não era uma beleza montada, exagerada. Era aquela beleza leve, natural, que se nota mais nos detalhes — no jeito como ela olhava ao redor com delicadeza, nos dedos apertando a alça da bolsa como se buscassem segurança, na calma nervosa com que caminhava.
Quando nossos olhos se encontraram, eu senti o tempo desacelerar. De novo.
Ela parou por um instante, como se estivesse se perguntando se aquilo ainda era real. E eu entendi. Porque eu estava me perguntando a mesma coisa.
— Você veio — disse, sorrindo.
— Eu disse que viria.
A voz dela tinha um sotaque suave, firme, quase íntimo agora. E por um momento, eu apenas fiquei ali, parado, admirando o fato de que ela estava mesmo diante de mim.
Me aproximei e estendi a mão, meio sem saber se devia fazer isso ou não. Mas ela aceitou. Sua mão era morna, pequena, e mesmo com o toque rápido, senti uma calma estranha se instalar dentro de mim.
— Vamos sentar? — ofereci.
Ela assentiu, e puxei a cadeira pra ela com um gesto quase automático, como se meu corpo soubesse o que fazer mesmo enquanto minha mente ainda tentava entender por que aquela noite parecia tão importante.
Sentei em frente a ela e por alguns segundos nenhum de nós disse nada. Mas não era um silêncio desconfortável. Era o tipo de silêncio que acontece quando duas pessoas estão se observando pela primeira vez de verdade — sem distrações, sem multidão, sem filtro.
— Confesso que fiquei com medo de você mudar de ideia — falei, com um sorriso de canto.
Ela riu baixinho, passando o dedo pela borda do copo d’água.
— Confesso que quase mudei. Mas , minha colega de quarto — ela fez uma pausa, sorrindo — me ameaçou emocionalmente se eu não viesse.
— Então eu devo agradecer à .
Ela me olhou por alguns segundos. Longos, firmes.
— Você parece… diferente fora do palco.
— Para melhor ou pior? — perguntei, fingindo uma expressão séria.
— Mais real. Mais humano.
Aquela resposta me pegou de um jeito que eu não esperava. Porque ela não estava me elogiando. Ela estava me vendo. E aquilo era muito mais valioso.
— E você... — comecei, apoiando os antebraços na mesa — parece mais corajosa do que ontem.
Ela sorriu de lado.
— Talvez eu esteja fingindo bem.
— Ou talvez esteja só começando a entender que tem espaço pra você nesse lugar todo.
Ela me olhou outra vez. E eu soube que aquele jantar não era apenas um gesto educado.
Era um início.
E eu não ia desperdiçar.
O garçom nos trouxe os primeiros pratos — entradas leves e cuidadosamente montadas. Eu não fazia ideia do que pedir, então deixei o chef sugerir o cardápio da noite. Queria que tudo fosse tranquilo. Natural. Sem roteiros.
Ela agradeceu em coreano com um leve aceno de cabeça, e percebi que os garçons nem tinham reagido com surpresa. Ela falava com a fluidez de quem já tinha se esforçado muito para se adaptar. E isso me fez admirá-la ainda mais.
— Sabe... — comecei, mexendo nos hashis antes de tocar a comida — você é mais quieta do que imaginei.
— Imaginou? — ela arqueou a sobrancelha, rindo. — Você me imaginava antes disso?
— Bom... depois de te ver no show, pensei em como seria conversar com você. E na minha cabeça, você falaria mil palavras por minuto.
Ela sorriu com os olhos e respondeu:
— Eu sou mais de ouvir. Observar. Absorver primeiro, falar depois.
— Isso explica por que você parecia tão... presente ontem. Como se estivesse vivendo o show por dentro.
— Eu tava vivendo. Cada segundo. — Ela olhou para o prato por um momento, depois para mim. — Mas não imaginava que ele fosse me trazer até aqui.
Houve uma pausa curta. Não porque não havia mais o que dizer — mas porque estávamos digerindo o que aquilo significava.
— E agora que está aqui? — perguntei, sem disfarçar o interesse. — Como se sente?
Ela brincou com o guardanapo sobre as pernas.
— Um pouco assustada. Um pouco encantada. Um pouco... grata. Tudo junto.
A honestidade dela me desarmava. Não tinha nada ensaiado. Nada moldado pra me agradar. Era só ela — a mesma garota de ontem, mas agora diante de mim, inteira.
— Você quer saber como eu me senti? — perguntei, apoiando o queixo na mão, os cotovelos na mesa.
— Quero.
— Eu me senti puxado. Literalmente. Como se algo tivesse me empurrado para sua direção. Eu podia ter escolhido qualquer pessoa. Mas não consegui parar de olhar pra você.
Ela desviou os olhos, visivelmente tocada. Os dedos dela encostaram sem querer no meu, e ela pareceu hesitar por um instante… mas não recuou. Deixou ali. Uma aproximação sutil. Intencional.
Segurei esse pequeno gesto com cuidado, como se fosse frágil demais pra ser apressado.
— Você tem medo disso? — perguntei.
— Do quê?
— De mim. Disso. Do que pode acontecer.
Ela me olhou, séria por um segundo.
— Sim. Mas… o medo não me impediu de vir. Então, talvez, não seja um medo tão ruim assim.
A respiração saiu dos meus pulmões como se eu tivesse esperado por aquela frase. Sorri de novo, e dessa vez, inclinei um pouco mais o corpo na direção dela. Nossos rostos estavam mais próximos. As luzes do restaurante refletiam nos olhos dela, e pela primeira vez desde o palco, eu tive certeza absoluta de que aquilo era real.
— Sabe qual foi a última vez que eu jantei com alguém e me senti assim? — perguntei em voz baixa.
— Assim como?
— Curioso. Desarmado. E um pouco fora de mim.
Ela balançou a cabeça, sorrindo de canto.
— Nunca?
— Nunca.
E naquele silêncio seguinte, algo se alinhou entre nós. Não havia urgência. Não havia pressa. Mas havia um começo que se firmava com cada troca de olhar, com cada frase dita no tempo certo.
E eu já não queria mais imaginar ela longe de mim.
Terminamos o jantar aos poucos, como se nenhum dos dois quisesse dar o último gole ou o último olhar para o prato vazio. A conversa tinha virado um fio contínuo entre nós — às vezes leve, às vezes mais séria, mas sempre carregada de uma energia difícil de explicar.
Eu tinha parado de me preocupar com o que dizer e comecei só a viver. E ele… ele parecia confortável também, como se estivesse se permitindo um tipo de paz que não encontrava com frequência.
— Quer ir embora ou... — ele começou, passando o dedo pelo copo. — Ainda tem um lugar aqui que gosto muito. É só um terraço pequeno, nos fundos. Nada especial. Mas é tranquilo.
Meu primeiro instinto foi hesitar. Já estava tarde, e minha cabeça ainda parecia girar em câmera lenta desde ontem. Mas havia algo no jeito como ele me olhava que me fez dizer:
— Eu topo.
sorriu, como se não esperasse a resposta, mas estivesse torcendo por ela.
Fomos guiados discretamente até a parte de trás do restaurante por um dos funcionários. O caminho era feito por uma pequena escada de pedra e uma porta que parecia esquecida. Lá em cima, havia um terraço escondido — pequeno, acolhedor, com algumas lanternas penduradas e almofadas largas sobre sofás de madeira. A vista era da cidade adormecendo: prédios com luzes espaçadas, um céu limpo e o som distante do tráfego leve.
Sentei no sofá ao lado dele, de lado, virada parcialmente para encará-lo. Uma funcionária nos trouxe dois copos de chá quente — o dele era algo com gengibre, o meu, chá de flores. E por alguns minutos, só ouvimos a noite.
— Aqui ninguém me procura — ele disse, baixinho, como se não quisesse que o terraço ouvisse. — Quando o dia é muito pesado, ou quando preciso lembrar que sou só uma pessoa… venho pra cá.
— E hoje? — perguntei. — Por que me trouxe aqui?
Ele virou o rosto na minha direção devagar. A luz fraca tocava seu perfil e suavizava todos os traços que, horas atrás, brilhavam no palco.
— Porque com você… eu não sinto que preciso representar nada.
Meu peito apertou. Aquilo me desmontava. Mais do que a rosa, mais do que o palco, mais do que as palavras bonitas.
— Eu nunca imaginei que você fosse assim — confessei.
— E você imaginava que estaria aqui?
— Nem nos meus sonhos mais malucos.
Ele riu, abaixando um pouco a cabeça.
— Que bom que nem tudo precisa fazer sentido. Às vezes só precisa… acontecer.
Por alguns segundos, ficamos em silêncio. Nossas mãos estavam próximas sobre a almofada, mas não se tocavam. Nossos ombros se encostavam de leve, mas sem firmeza. E ainda assim, o espaço entre nós era carregado de alguma coisa não dita.
Ele olhou para minha boca.
Foi rápido.
Mas eu vi.
E ele percebeu que eu vi.
Ele desviou o olhar de novo para a vista e soltou um suspiro leve, como se dissesse ainda não.
E eu entendi.
Ele não queria apressar. Nem estragar.
Ficamos mais alguns minutos ali, conversando sobre bobagens, rindo baixinho, dividindo o silêncio confortável de quem, mesmo no desconhecido, encontra abrigo um no outro.
Quando o carro finalmente chegou para me buscar, ele me acompanhou até a porta.
Segurei a alça da bolsa com força. Não queria ir. Mas sabia que aquela noite já era mais do que eu podia pedir.
Ele abriu a porta pra mim, e antes que eu entrasse, disse, com um meio sorriso:
— Ainda quero descobrir mais sobre você.
Eu parei, encarei seus olhos uma última vez, e respondi:
— Então você vai ter que me ver de novo.
Entrei. A porta se fechou. E pela primeira vez… não senti medo do que viria.
Só vontade.