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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 18/07/2024

Tudo que ela diz para mim significada nada

Pisquei várias vezes, rezando para que aquilo não fosse verdade.
Não podia ser!
Minha mandíbula parecia ter dado tchau ao meu corpo e caído a uns bons metros de onde eu estava, simplesmente não podia acreditar.
— Eu não posso fazer isso, . Me desculpe. — Ouvi sua voz dizer, mas meu cérebro não acompanhou suas palavras. Vi Mellie sair correndo com seu vestido branco e véu pela mesma porta que havia entrado alguns minutos atrás. À minha frente ainda estavam os padrinhos alinhados, cada um deles com o rosto mais surpreso do que o meu.
Olhei para o lado, vendo várias pessoas me encararem, algumas ainda estavam com o rosto virado para a porta por onde a mulher que pensei ser o amor da minha vida havia acabado de sair correndo.
Engoli a seco, conseguindo resgatar minha mandíbula para o lugar certo e senti meus olhos arderem.
veio até mim enquanto as vozes começaram a falar. Todas ao mesmo tempo. Senti minhas pernas moles. Era tudo que eu precisava naquele momento: desmaiar.
— Vem cá, . — Reconheci a voz de dizer, sua mão pegando na minha e puxando-me para algum lugar.
Minha mente fechou-se enquanto eu via as pessoas passarem por mim. Alguns tentavam falar comigo, outros me olhavam com pena, mas só e sua irmã pareciam realmente querer fazer algo para me ajudar.

? — Ouvi dizer em minha frente. Ele abaixou-se para entrar no meu campo de visão. — Vamos embora, cara?
Consegui desligar as vozes na minha cabeça. me olhava com pena nos olhos, mas eu não tinha como julgá-lo. foi a primeira a me abraçar quando levantei, com seu vestido brega cheio de babados que Mellie havia escolhido para as damas de honra.
Seus braços me agarraram com força, sua cabeça deitando em meu ombro.
— Não ache que gosto de você só porque estou sendo legal. Ok? — ela sussurrou em meu ouvido e beijou minha bochecha.
Quando afastou seu rosto, vi a mancha de maquiagem que escorria de seus olhos e estavam no meio da bochecha.
Ela passou a mão no rosto rapidamente.
— São lágrimas de felicidade — disse, recompondo sua personalidade. — Essas lágrimas são de inveja por ela ter conseguido te fazer um merda melhor do que eu.
— Vá se foder, — consegui falar. Ela riu.
, a irmã mais nova de meu melhor amigo, era a única pessoa que conseguia me irritar incessantemente. Estava uma disputa acirrada para saber se naquele momento eu odiava mais Mellie ou ela.
— Cara — me chamou. — Vamos encher a cara? A bebida está toda paga.
— Achei que nunca iria me convidar — falei, sorrindo. Eu não queria que eles soubessem que meu coração estava completamente estraçalhado por dentro.
— Vão na frente, vou tirar esse vestido horripilante — disse enquanto eu, , e Arthur íamos até o bar do salão que estava alugado em meu nome para o baile.
— Sua cara é horripilante, o vestido é até bonitinho — comentei enquanto ela tirava o sapato para jogar em minha direção.

foi para trás do balcão do bar. Todos os convidados haviam ido embora, meus pais tentaram falar comigo, mas pedi para mandá-los embora, pois eu estava sem cabeça para qualquer tipo de discussão, fosse para me defender ou dizer que eu era um completo idiota.
Mellie havia me abandonado no altar. Quais as chances de a conversa ser boa? Ou seria para xingá-la ou seria para sentir piedade de mim e, na pior das hipóteses, para dizer que sou um babaca por ter confiado naquela mulher. Nenhuma das opções pareciam ser boas para conversar.
nos serviu com uma dose de whisky.
— Por favor — eu disse depois de virar a primeira dose. — Não falem sobre o que aconteceu. Eu só quero encher a cara com os meus melhores amigos.
— Quem disse que sou sua amiga? — gritou da porta enquanto vinha caminhando com seu sapato alto estralando a cada passo. — E o mais importante: cadê a minha dose?
riu e pegou outro copo. Ela passou para trás do balcão também.
— Que a fonte nunca seque — disse ela enquanto levantava o copo para brindar conosco.
Meu copo já estava vazio, mas brindei mesmo assim.
— Bebeu sem brindar, dez anos sem transar — ela disse, piscando para mim. Os caras riram e eu dei de ombros. Continuamos a beber, sem parecer ter hora para voltar.

— Eu nunca... — falei, rodando o copo em minha mão, fazendo o líquido quase sair do mesmo — brinquei de Barbie.
Vi e Arthur bebendo a dose de tequila em sua frente.
— Eu nunca me machuquei jogando futebol — disse sem nem pensar. Eu, e bebemos, ela e Arthur trocaram um high-five, comemorando.
— Eu nunca transei em um avião — disse, dando de ombros, deixando a competição de lado. , Arthur e beberam.
— Eu nunca beijei uma garota. — Foi a vez de Arthur. Eu, , Arthur e bebemos.
Eu já sabia desse segredinho de , mas os outros ficaram surpresos, ela apenas deu de ombros. Eu adorava saber os podres dela para poder jogar contra sua cara em algum momento.
— Eu nunca beijei um homem — disse, como se fosse óbvio.
— Vocês estão fazendo complô contra mim?! — a garota perguntou, visivelmente alterada.
— Estamos, ! — Arthur disse, rindo. — Só agora você percebeu?
— Meu deus! Estou cercada de idiotas. Daqui a pouco começo a fazer strip-tease — disse ela, fingindo estar revoltada. Todo mundo riu.
— A gente iria gostar, ! — brincou.
— Ei! — protestou, defendendo a irmã. — Ninguém vai ficar pelado aqui.
— Eu te protejo desses monstros, vem cá — Arthur disse, abrindo os braços para ela. Ao invés de atravessar o balcão e abraçá-lo, subiu no balcão e agarrou seu pescoço, derrubando copos e fazendo Arthur quase cair do banco. Aquela cena quase me fez mijar de rir.
— Acho que tem gente que bebeu demais — disse, brincando.
— Quem? — disse, soltando Arthur do abraço. — Eu não, estou só começando!
Caímos na risada de novo e voltamos ao jogo, dessa vez sem avacalhar com (com a minha exceção, é claro).

Mesmo palavras de compaixão significam nada

Acordei ouvindo meu celular tocar, minha cabeça quis explodir. Peguei-o e vi que era Mellie ligando. Notei também que eu, e dormimos na mesma cama. Cutuquei para que ele atendesse para mim. Eu não queria ouvir as palavras de compaixão daquela bruxa. apenas resmungou e virou para o outro lado.
acordou e resmungou antes de levantar a cabeça e olhar em volta.
— É a Mellie. — Dei o celular para ela.
Ela pareceu pensar.
— Quero que escute e depois meta a boca — eu disse sem nem pensar.
pegou o telefone e colocou no ouvido.
— Alô — a garota em minha frente falou, gemendo. Um gemido rouco e realista que fez os pelos do meu braço de arrepiarem. — , para, eu estou no telefone — gemeu novamente. Era engraçado, eu queria rir, mas tudo que fiz foi abrir a boca, vendo como aquela garota podia fingir algo tão bem antes mesmo de acordar direito. Por alguns segundos, ouvi a voz baixinha de Mellie enquanto andava pelo quarto. Percebi que estava jogado no sofá. não a deixou terminar a frase e desligou. Pareci acordar de um transe.
— Calma — ela disse antes de eu reclamar. — Ela vai ligar de novo.
Assim que ela terminou a frase, o telefone voltou a tocar.
— Olha, Mellie, nós enchemos a cara ontem. Não sei onde está. Fiquei com o celular dele, pois sabia que isso ia acontecer. Você não pode simplesmente abandoná-lo no altar e achar que no outro dia vai estar tudo bem. Eu nunca gostei de ti, você sabe disso. Mas eu sou a única pessoa que pode fazer merda para ele. Você não pode tirar isso de mim e achar que está tudo bem. Agora você é a mulher que o abandonou no altar e isso faz de ti a mulher que eu mais odeio na face da Terra. Porque eu nunca vou conseguir vencer isso — disse e ela retrucou. — Eu estou pouco me fodendo que você está arrependida, é bom que esteja mesmo, pois você perdeu a pessoa mais merda do universo! E sabe de uma coisa? Eu vou levá-lo para conhecer umas mulheres de verdade, porque mulher de verdade não faz os outros de trouxa. Abandoná-lo no altar eu até consigo entender: não era o que você queria. Ok. Mas ligar no outro dia só mostra que você é uma pessoa instável e que não sabe o que quer. Fica uns dias sozinha e decide o que você quer. Não vai voltar correndo para ele hoje, para amanhã largá-lo de novo. Ele não é brinquedo e muito menos você. Dê valor a si mesma antes de querer brincar com os outros — disse tão séria que fiquei com medo. — E outra coisa: Não fode com ele de novo, porque só eu posso fazer isso.
— Obrigado — falei, levantando a mão para pegar o celular novamente.
— Nem a pau que você vai pegar esse celular de novo — ela disse, brava. — Não ouviu o que eu disse? Só eu posso te fazer um merda.
Virei os olhos, sentindo meu estômago revirar. Foi naquele momento que percebi que não estávamos em nenhum dos quartos que poderia ser de algum de nós.
— Onde estamos? — perguntei enquanto ela se espreguiçava.
— Em Vegas — ela disse como se fosse a coisa mais normal do universo.
— E o que estamos fazendo em Vegas?
— Estamos passando a sua Lua de Mel — falou ela. — Ontem pareceu uma ótima ideia.
levantou-se e foi correndo para o banheiro. Ouvimos o barulho dele vomitando.
— Bom dia, flor do dia! — berrou para que ele ouvisse e caímos na risada.
Ele saiu de lá minutos depois, ainda respirando pesado.
— Não me deixem mais beber. Nunca mais! — falou, jogando-se no sofá.
— Ah, que pena. É nosso maior objetivo aqui. Somos recém-casados — disse.
— Quem é recém-casado?
— Nós — falou ela, apontando para mim. — E eles — disse, apontando para e , que ainda dormia.
— Cadê o Arthur? — perguntou com a mão nas têmporas.
— Arthur foi para casa, disse que tinha que trabalhar hoje — continuou.
— Cara, como que tu consegues lembrar disso tudo? — resmungou com a cara no travesseiro.
— É um dom divino — respondeu ela, como se não tivesse bebido no dia anterior. Amarrou os cabelos e foi para a sacada.
— Como viemos para cá? — perguntei.
— Rachamos um Uber — disse ela. — Somos bêbados conscientes. Vamos continuar com essa de recém-casados, porque ganhamos essa suíte dupla e uma entrada para um evento que está tendo no hotel — continuou ela, sorrindo com malícia.

Estou me sentindo abatido e eu odeio o som do nada

— Sai da porra do banheiro ! — bati na porta pela milésima vez.
— Calma, meu chuchu. Assim nossos vizinhos vão achar que não somos recém-casados — ela falou do outro lado da porta. — Tem mais um zilhão de banheiros nessa suíte, vai em outro.
— O e o estão nos outros — expliquei sem perder a paciência.
— Então vai encher o saco deles — respondeu.
— Eles acabaram de entrar. Você está aí faz quase uma hora. Não adianta passar maquiagem, você vai continuar com essa cara de bruxa malcomida — falei, virando os olhos.
— Malcomida é a sua ex-noiva, por isso ela te largou. — Eu já esperava por aquilo, ela sabia como me irritar. Abriu a porta, mandando um beijinho no ar. Aquilo deveria me deixar triste, mas não deixava porque era ela que estava falando.

Fomos até a recepção para saber se a suíte dupla fazia parte do pacote que eu e Mellie havíamos comprado ou se seria pago por fora. Perguntamos também sobre os eventos do fim de semana e onde podíamos comprar roupas, já que havíamos esquecido da nossa bagagem.
e entraram nos personagens muito mais rápido do que eu e .
— Vocês vão estragar tudo, seus lixos — sussurrou.
— Eu não posso ser casada com o ? — sussurrou de volta. — Ele é muito mais bonito e legal.
— Não! — disse, bravo. morria de ciúmes de , ele sempre estava brincando demais com e provavelmente ficaria com ela, se ela desse alguma chance. Seu alarme de irmão mais velho estava gritando naquele momento. Agora fazia sentido o motivo de eu ser “recém-casado” com . Provavelmente foi que insistiu, pois sabia que nós não dormiríamos juntos se ficássemos sozinhos.
— Agora eles já nos viram assim, não dá para trocar — expliquei, querendo ajudar .
— Está realizando seu sonho, né, ? Se casando comigo — ela riu.
— Meu maior pesadelo virou realidade: você sendo íntima comigo — falei, virando os olhos.
— Vocês conseguem — sussurrou, mostrando sua mão dada com a de . — Nós somos um casal, vocês também têm que ser!
esticou a sua mão para mim. Apertei-a com força, a fazendo fincar as unhas nas costas da minha mão. Os dois sorriram falsamente.
Na recepção, a moça explicou que o quarto era cortesia, já que um dos casais que o haviam reservado havia desistido de última hora e nós chegamos pedindo um quarto extra. Explicou também que havia um concurso de casais no auditório que faziam alguns sorteios, apresentações e brincadeiras interativas com os recém-casados e que no dia seguinte haveria um show de uma banda surpresa no palco principal, além de um baile para os casais se divertirem. Tudo estava incluso na reserva do quarto, então era livre para nós. Ela explicou também que havia uma loja de roupas no final da avenida, isso ela explicou dando uma olhada em nossos trajes: eu, de camisa social branca aberta no colarinho e com a manga dobrada até os cotovelos; de camisa social azul clara e paletó azul marinho sem gravata; de camisa social branca e gravata borboleta preta e com um vestido justo, listrado de preto e branco, que ela havia trocado no dia anterior antes de começarmos a beber.

Fomos até a loja e compramos algumas roupas mais normais para usar naquele fim de semana. me puxou para um canto:
— Cara, tudo bem para você a gente fazer isso? — perguntou, visivelmente preocupado.
Dei de ombros.
— Isso é bom, . Eu me distraio um pouco. Não quero ficar em casa chorando e pensando na merda que eu sou por ela ter me deixado. Eu estou bem — falei.
— Tudo bem. Mas se você achar que não está bem, me avisa que vamos para casa no mesmo instante — ele disse, dando algumas batidas no meu ombro.
— Obrigado, cara — retribuí o carinho dele e segui para escolher algumas cuecas.
Na volta das compras, entregou uma aliança dourada para cada um de nós. A minha ficou meio larga, mas dava para o gasto.
— Gastei quatro dólares com elas. Por favor, finjam que se importam — disse ela, rindo.
— Você é um gênio, maninha — disse, beijando seu rosto.
Depois das compras, voltamos para os quartos para trocarmos de roupa.
— Que tal uma piscina? — perguntou . — O evento de casais começa depois do almoço... Podemos aproveitar duas horas tranquilas na piscina do hotel.
foi o primeiro a aceitar, dando um salto rápido enquanto já retirava a camisa, ficando apenas com o calção de praia que ele já estava usando. Assim que pulou, veio atrás sem nem pensar direito. Os três ficaram me olhando, esperando minha resposta.
— Vão vocês, vou dormir mais um pouco — comentei, não querendo soar muito depressivo.
— Vamos lá, , ficar aqui vai ser pior. Vamos aproveitar esse fim de semana juntos. Semana que vem você fica deprê — disse, sorrindo.
— Isso, cara! Vamos aproveitar o agora — concordou e me dei por vencido sem muita chorumela. Eu podia ir e ficar quietinho em uma espreguiçadeira, ficar trancado no quarto não seria muito bom para minha cabeça mesmo.
rolou os olhos quando viu que eu iria junto.

E eu não consigo lembrar de ter me apaixonado por você

Os dedinhos de enlaçaram os meus quando a porta do elevador se abriu e ela até fingiu arrumar uma mecha do meu cabelo antes de sairmos em direção à área coberta da piscina.
e foram até o bar atrás de bebidas enquanto e eu procurávamos uma mesa vaga. Não encontramos uma vaga, mas encontramos uma com alguns lugares sobrando e um casal aparentemente normal sentado. Pedimos para ficar ali e iniciou uma conversa com o casal sentado à mesa. Não demorou muito para ela falar:
— Vamos tomar um banho, amor? — perguntou, sorrindo, puxando meus braços em direção à piscina.
— Claro, meu docinho de... — falei.
Ela largou minha mão quando chegamos à beirada da piscina e me empurrou para dentro. Emergi, a vendo rir da minha cara e dar um salto gracioso para dentro.
— Não precisamos fazer esse papel de casal perfeito, mas precisamos no mínimo fingir que nos damos bem — ela disse quando emergiu, tirando o cabelo do rosto.
— Posso fazer isso — falei, dando de ombros. — Não sei se você consegue.
— É claro que eu consigo, bebê — ela disse, jogando um pouco de água em mim.

Ficamos na piscina até a hora do almoço e acabamos concordando em ir almoçar com Cindy e Maurice, o casal da mesa. Agora que eu tinha que ficar o tempo inteiro de mãos dadas com , eu via como casais são patéticos de andar para todos os lados de mãos dadas como se fossem dois idiotas que morreriam por ficar com as mãos separadas.
— Você está notando como é idiota o fato dos casais ficarem o tempo inteiro de mãos dadas? — perguntei, baixinho, para que só ela ouvisse.
— Você não tem noção de como estou agoniada de segurar essa sua mão melada — ela retrucou. — Não aguento mais, vou ter que lavar minha mão com soda cáustica quando chegar no quarto.
Dei uma risada. e nos olharam estranho.
— Vou ter que passar soda cáustica no meu cérebro para esquecer de você me chamando de nomes carinhosos — retruquei. — Parece que estou vivendo meu maior pesadelo.
— Seu sonho reprimido é transar comigo, — ela disse enquanto nos servíamos no buffet. As mãos finalmente separadas.
— Meu sonho reprimido é você namorando com qualquer pessoa para parar de me encher o saco. Você nunca namorou ninguém, por isso é reprimida sexualmente e desconta em mim — falei, servindo-me de cenouras e brócolis.
— Quem te disse que sou reprimida sexualmente?
— Ninguém precisa me dizer, eu vejo isso — expliquei a ela, pegando batata frita.
— Você precisa de óculos então, meu amor — ela disse, rindo. — Se tem uma coisa em que eu não sou reprimida é no sexo. Posso te mostrar.
Parei a fila do buffet, olhando-a, desacreditado.
— Foi uma brincadeira, seu merda — disse ela, me puxando.
— Você está louca para transar comigo! — exclamei alto, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. — Está jogando esse verde para ver qual é a minha reação!
— Com certeza, — ela rolou os olhos. — Estou louquinha para transar contigo. Como se eu não tivesse o mínimo de amor à minha vida e respeito ao meu corpo.
— Pode negar o quanto quiser — falei, convencido. — Você não vai sossegar enquanto não entrar em minhas calças, sei disso. Mas não vou facilitar para você.
— Vai à merda, .

Depois do almoço fomos para o auditório, onde teria o concurso de casais.
e estavam se dando muito bem como casal. Se houvesse algum prêmio para casal com mais química, acho que eles ganhariam tranquilamente. Todos que passavam por nós murmuravam “olha só, que bonitinhos”. Eles não estavam disfarçando ou querendo empurrar a homossexualidade só para um, para que o outro fosse o “macho” da relação, que geralmente era o problema dos héteros. Eles se aceitavam e brincavam de maneira bonitinha e eu achava que eles terem aceitado aquilo tão bem era por serem amigos íntimos de Arthur, o que os fazia se saírem tão bem no papel. E achava que um pouco era para não estragar o meu fim de semana também.
Na entrada do auditório, uma moça nos deu uma senha e indicou lugares que podíamos nos sentar. Não demorou muito para o local encher de casais e o apresentador chegar para começar com as brincadeiras.
— Bom, vou sortear alguns casais e esses devem vir para o palco para conseguirmos iniciar a primeira parte do show. Estejam livres para recusar, se quiserem — falou ele no microfone enquanto uma assistente vinha trazer um pote de acrílico com alguns papéis dentro.
— Qual é o nosso número mesmo? — me perguntou com a voz meio desesperada
— 289 — falei.
— Você quer ir? — perguntou ela, relutante. Era nítido que ela não queria ir.
— Claro que sim. E você vai também, estamos pagando essa merda.
— Tudo bem — suspirou, derrotada.
— O primeiro casal que vai subir para o palco é o casal 403!
— Caralho. É a gente — falou, ficando pálido.
Eu e caímos na gargalhada vendo os dois tremerem feito varas verdes enquanto sorriam amarelo para o resto do pessoal que já os aplaudiam.
— Qual o nome de vocês? — O apresentador perguntou quando os dois já estavam no palco.
— Eu sou .
— E eu sou .
usava uma polo preta com listras amarelas, um short jeans e all star nos pés. usava uma camisa do Chelsea, um calção de banho preto e chinelos de dedo. Os dois de mãos dadas estavam vermelhos como dois pimentões contra a luz do refletor, as pessoas ainda os aplaudiam.
Os sorteios continuaram até seis casais subirem ao palco e a brincadeira começar.
Primeiro, as assistentes pediam para o casal sentar em cadeiras com pelo menos dois metros de distância, depois davam um quadro e um canetão aos participantes e o apresentador fazia perguntas simples para que os dois respondessem e, se as respostas fossem diferentes, o casal era desclassificado.
— Acho que eles conseguem passar dessa. Eles se conhecem desde pequenos, certo? — perguntou uma ansiosa.
— Sim, acho que eles conseguem — respondi. — Mas é lixo com datas.
— Verdade.
O apresentador fez a primeira pergunta:
— Qual dos dois é mais mandão?
Fácil.
. — Eu e concordamos sem precisar pensar.
Foi o que os dois escreveram.
A segunda pergunta foi feita para os parceiros do lado esquerdo.
— Qual a comida preferida do seu parceiro?
A pergunta era de para . As respostas eram iguais: pizza de calabresa.
Dois casais foram eliminados nessa.
As perguntas seguiram:
Qual o tamanho do pé do seu parceiro? (42)
Qual a atividade preferida do seu parceiro? (Sexo)
Qual o número de vezes que seu parceiro vai ao banheiro? (3)
Quem era o mais mulherengo antes do casamento? (Os dois)
e estavam ganhando o amor da plateia tão rápido que, se eles errassem alguma questão, provavelmente iam pedir mais uma chance para eles.
Por fim, eles acabaram ganhando.
Mais seis casais foram chamados para o palco.
Depois mais seis.
E depois disso chamaram nosso número.
— Tem certeza que quer fazer isso? — perguntou ela, nervosa.
— Claro. Qual a pior opção?
— A gente errar na primeira pergunta e voltar para o lugar.
Dava para aceitar aquilo.

Isso é agonia e você sabe pelo que está me fazendo passar

Subimos até o palco de mãos dadas.
— E esse casal bonito, como se chamam?
— Eu sou .
— E eu .
— Há quanto tempo vocês são casados?
— Um dia — respondeu, sorrindo.
— Ah, que legal! — O apresentador esperou todos pararem de bater palmas. — Bom, estão preparados? Já entenderam as regras, não é?
— Sim — respondemos juntos.
Seguimos para nossas cadeiras separadas e recebemos um quadro e o canetão enquanto os outros casais foram sendo sorteados.
E lá começaram as perguntas, minhas mãos suavam mais do que quando vi Mellie entrando na igreja, e meu coração palpitava mais do que quando a vi saindo.
Olhei, nervoso, para e ela mostrou a língua para mim. Sorri amarelo.
— Qual o maior medo do seu parceiro? — A pergunta foi feita para a fileira de mulheres. riu abertamente.
Bom, ela sabia que eu morria de medo de palhaços. Mas, pela risada maléfica, eu diria que ela escreveria “ser abandonado no altar” ou “casar comigo”.
Sendo que aquilo era uma competição de casais em que queríamos agradar ao público, decidi chutar pela nossa conversa de mais cedo e escrevi “casar com ela”.
Todos os casais anteriores acertaram e a pressão caiu sobre nós quando o apresentador se aproximou.
— E então, qual é o maior medo do seu maridão? — ele perguntou e se acabou de rir quando virou a placa que dizia “casar comigo”.
A plateia inteira explodiu em risos. E riram mais ainda quando viram a resposta correta no meu quadro.
A próxima pergunta foi feita para os maridos.
— Qual o hobbie favorito da sua parceira?
Não pensei duas vezes: me irritar.
uniu as sobrancelhas, escrevendo no quadro. Eu ri sozinho, pensando que tínhamos a chance de ganhar aquela competição.
Dois casais foram eliminados. Um deles, inclusive, saiu aparentemente brigado pela mulher ter respondido “me amar” e o cara “jogar futebol”.
— E, então, , qual o hobbie favorito da sua gata?
Virei o quadro, dando meu maior sorriso, e a plateia caiu na gargalhada novamente. virou o quadro que dizia “irritá-lo o mais profundamente possível”.
— Não é possível! — Até o apresentador riu vendo a nossa cara.
A próxima pergunta foi feita para as mulheres:
— Qual o maior sonho do seu parceiro?
Na hora que ele terminou a pergunta, eu e rimos alto. A plateia se divertiu.
Não pensei muito na hora de escrever “entrar nas calças dela”.
Mais um casal saiu do jogo.
— E do nosso casal favorito, qual o maior sonho do seu parceiro? — perguntou o apresentador para .
Ela tapou o rosto, fingindo estar envergonhada, e virou o quadro, arrancando mais risadas da plateia: “entrar nas minhas calças”. Nossas respostas bateram mais uma vez. Vi e comemorando lá da plateia e eu simplesmente não conseguia parar de rir.
Tinham mais dois casais contra nós.
Próxima pergunta:
— Essa é para dificultar: qual é o apelido que ele mais gosta de ser chamado?
Eu precisava pensar como naquele momento se eu quisesse ganhar. Ela com certeza não colocaria algo “fofo”. Tentei regredir naqueles dias que estávamos passando mais próximos e lembrei de todas as mil vezes que ela me chamou de merda.
Achei que seria um bom chute. Escrevi “merda” e fiz um desenho de um montinho de bosta com algumas mosquinhas em cima. Espiei e ela escrevia, mordendo a língua, concentradíssima.
Mais um casal havia sido eliminado. O casal em nossa frente comemorou e logo o apresentador estava em nós novamente.
— O casal mais do contra que eu já vi por aqui! — Ele nos apresentou e novamente a plateia aplaudiu. — Do que você mais gosta de ser chamado, ?
Virei minha placa e as risadas saíram de novo, mesmo que com um ar de susto.
— Meu deus, não pode ser! — O apresentador caiu na gargalhada novamente enquanto seguia para o lado de .
virou a placa e consegui ler um “meu merdinha” com vários coraçõezinhos desenhados do lado para amenizar.
levantou-se rapidamente e me deu um beijo no rosto e bagunçou meu cabelo como se pedisse desculpas por estar me fazendo passar aquela vergonha. Empurrei-a de volta para sua cadeira, fingindo estar magoado. A plateia vibrou, parecíamos celebridades.
— Tudo bem, tudo bem. Vamos para a próxima pergunta: como foi a primeira vez de vocês?
Merda.
Uni as sobrancelhas, pensando em algo que poderia servir no momento.
O que escreveria? Bati o pé no chão, ficando nervoso.
Escrevi a primeira coisa que veio em minha cabeça: um pesadelo.
O casal na nossa frente errou e só seria desclassificado se nós acertássemos. Caso contrário, teríamos outra pergunta. Era a nossa chance de errar.
O apresentador foi até , ela rindo com tanta naturalidade que fiquei hipnotizado por seus dentes bem alinhados e seu cabelo mal amarrado por causa da piscina. Ela usava um vestido bordô que mais parecia uma camisa polo comprida e bem acinturada, nos pés um chinelo colorido. Peguei-me olhando demais para ela enquanto ela virava o quadro na direção da plateia.
“Meu maior pesadelo” estava escrito.
Esperei o apresentador vir na minha direção e virei o quadro sem muito drama.
A plateia explodiu mais uma vez e senti braços agarrando meu pescoço. Não entendi o motivo de ela fazer aquilo, mas abracei-a também e girei-a uma vez antes de soltá-la.
— Parabéns ao casal! Vocês se merecem! Eles não se merecem, pessoal? — perguntou o apresentador e todos gritaram e aplaudiram. — e ! — Ele nos saudou mais uma vez e descemos do palco com uma coroa de flores na cabeça, assim como e que já nos esperavam na porta de saída.
— E aí, casalzão da porra?! — disse, rindo, e riu mais ainda.
— Vocês foram foda! — disse, pulando em nossos ombros.

Qual o propósito de dar voltas por nada?

Voltamos para o nosso quarto ainda rindo da competição.
Fui tomar um banho para tirar o cloro da piscina e fiquei muito tempo pensando em como fazia tempo que eu não ria daquele jeito sem necessariamente estar bêbado. Ouvi alguém bater na porta e desliguei o chuveiro.
— Já vai — respondi.
— Anda, ! Vou mijar na porra da calça.
— Tem um zilhão de banheiros nesse quarto e blá blá blá — imitei sua voz estridente, fazendo-a bufar do lado de fora do banheiro.
— Vou te matar enquanto você estiver dormindo — ela falou, provavelmente com o rosto colado na porta, pois sua voz saiu abafada.
— Trate de fazer o serviço bem feito. Se não, vou voltar para te atormentar — respondi, rindo, enxugando-me calmamente.
Saí do banheiro depois de alguns bons minutos apenas de cueca e recebi vários socos no ombro de uma que não sabia se corria para entrar no banheiro ou se me enchia de porrada.
É claro que os socos dela não machucavam, pois suas mãos eram do tamanho de cupcakes, mas a intenção era maior do que sua força e aquilo me irritava. Apenas ignorei-a e segui para as sacolas de roupas que havíamos comprado. Ela desistiu indo para o banheiro.
— Da próxima vez, vou mijar nas suas roupas — ela disse, já dentro do banheiro.
— Mije nas minhas e eu vou mijar em você — eu apenas disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Me poupe de ver seu pênis, — falou antes de fechar a porta.
— Vai ser o dia mais feliz da sua vida... — comentei, procurando uma calça jeans preta que eu havia comprado. — Você viu a minha calça preta?
— Sim. Eu trouxe para o banheiro para mijar nela — disse com a voz abafada por causa da porta fechada.
— Você não é louca! — falei, voltando para a porta do banheiro.
Ouvi sua risada. Bati algumas vezes com força.
, você está brincando, certo?
— Ué, não vai mijar em mim agora? — perguntou ela, se divertindo.
— Você parece uma criança. Tem certeza que tem 25 anos?
Ela abriu a porta do banheiro vestindo apenas a parte de cima do biquíni e a minha calça preta que ficou meio larga nela, mas não a ponto de cair.
— Vamos lá, , só estou tentando te fazer rir — brincou ela, pondo as mãos na cintura.
— E por que você iria querer fazer isso? — perguntei, unindo as sobrancelhas.
— Você passou por bastante merda. Estou tentando fazer a sua cabeça ficar ocupada o tempo inteiro — ela disse, dando de ombros.
— E isso significa me irritar a toda hora, me xingar e roubar as minhas roupas?
— Ah, vai dizer que você não está adorando ser paparicado desse jeito? — perguntou ela, desfilando com meu jeans, parando na frente do espelho e fazendo pose. — Essa calça ficou muito bem em mim — disse. Eu fui atrás dela no espelho e flexionei meus braços.
— Não tão bem quanto eu fico com essa cueca — retruquei.
— Falando nisso, você está desnecessariamente nu nesse momento. Coloca uma roupa. — disse ela, rindo, e empurrando meu ombro para trás. Segurei suas mãos.
— Só estou desnecessariamente nu, porque você está com a minha calça — expliquei e ela cerrou os olhos.
— Isso não é desculpa.
— Me dá minha calça, é a única calça jeans que eu comprei — falei pausadamente, não queria “irritá-la”.
— O que é seu é meu, meu amor — ela disse, mexendo a mão que eu ainda estava segurando, indicando o anel dourado que ela havia comprado. Empurrei-a contra a cama e subi sobre suas pernas para impedi-la de me chutar, ela logo começou a me socar de novo, batendo em meus braços e peito enquanto eu desabotoava minha calça e tentava puxá-la para baixo enquanto ela gritava e até tentava me morder.
— Para com isso, seu demônio! — falei quando ela conseguiu dar uma mordida em meu ombro. Ela simplesmente não tinha forças para me empurrar de cima dela.
Consegui puxar a calça até metade da sua coxa. estava se divertindo muito com aquilo, estava podendo me dar socos absolutamente de graça. Tive que sair de cima dela para conseguir puxar a calça pelos seus pés.
Àquela essa altura, eu já estava gargalhando também. Quando ela viu que eu teria que sair de cima, já se prontificou a fugir de mim pelo outro lado da cama, mas consegui puxar os seus pés antes de ela conseguir fazer aquilo. puxou os pés de volta com força, fazendo eu cair em cima do seu corpo. A ouvi soltar um gemido de dor, mas gargalhar logo em seguida.
Sua respiração batia no meu rosto com tanta naturalidade que, por um momento, esqueci o que eu estava fazendo ali. Suas mãos passaram dos meus ombros para minha nuca e meus olhos seguiram para a sua boca. Meu coração mais parecia uma bateria e naquele instante era só o que eu queria ouvir.
Porém, ouvimos e se aproximando do lado de fora do quarto e saí de cima dela, puxando por fim minha calça por suas pernas, já que estavam praticamente na metade.
Coloquei-a antes que eles chegassem. permaneceu na cama, aparentemente paralisada, apenas de biquíni. Olhei-a uma última vez antes de voltar ao banheiro para arrumar meus cabelos ainda molhados.
entrou no quarto logo depois e provavelmente gelou quando viu apenas de biquíni na cama. Eu tinha que admitir que tinha um corpo legal. não era tão idiota de achá-la atraente, mas eu nunca admitiria isso para ela.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou . — Ouvi risadas, achei que um dos dois estava matando o outro.
não sabe brincar! — disse, fingindo-se de emburrada.
, fala para a que ela é uma pessoa adulta, por favor — falei com o semblante sério, mas querendo rir.
— Estou vendo que vocês dois são adultos — disse, saindo do quarto. — Vocês vão querer ir na festa de hoje?
— Acho que vou ficar de boa hoje — falei, sem querer chamar atenção.
— Ah, cara! — suspirou.
— Está tudo bem, é sério — respondi. — Só estou afim de ficar um tempo sozinho, assistir um filme, sei lá...
— Nós viemos aqui para ficar contigo. Se você vai ficar, nós também vamos — disse, cruzando os braços.
— Nós viemos para cá bêbados, ninguém realmente concordou com nada — retruquei.
— Então vamos ficar bêbados de novo! — disse, alegre demais da conta. — Vamos, , prometo que não vou te irritar. Vou ser tão doce que algodão-doce não vai derreter na minha boca.
— Você não tem como negar uma promessa dessas, cara — riu, apertando as bochechas da irmã.
— Tudo bem. Eu vou! — suspirei. — Vou cobrar essa doçura de algodão-doce, ok?
piscou para mim e saiu.

Eu acho difícil manter uma conversa e estar com ela é só uma irritação

Chegamos ao salão de festas por volta das dez da noite. Os dedinhos de segurando minha mão já não pareciam mais um incômodo tão grande, principalmente quando vi que todos que chegavam à festa estavam do mesmo jeito. Aquele era um dia para se divertir com os amigos, não “caçar” mulheres. e sabiam disso e mesmo assim estavam ali, rindo conosco. Eu nunca fui muito de “caçar” mulheres, pois sempre tive Mellie ao meu lado. Começamos a namorar há uns três anos, parecia certo, apesar de brigas bobas. Todo casal tem brigas bobas, certo? Foi o que eu pensei. Por mais que eu sentisse a sua falta, meu coração estava preenchido com meus amigos. E eles estavam certos em não querer me deixar sozinho com meus pensamentos suicidas, eu precisava do apoio deles no momento.
Por isso, puxei minha falsa esposa para o bar.
— Vai querer o que, meu chuchu? — perguntei a ela, que pegou o cardápio que ficava no balcão.
— Cerveja, meu coisinho — respondeu ela.
— Duas cervejas — pedi e o barman prontamente nos entregou.
— Ei! Vocês são o casal engraçado do concurso! — Um casal se aproximou de nós.
— Oi! Somos sim — respondeu, passando uma das mãos por minha cintura. No mesmo momento, passei minha mão por seu ombro, nos abraçando de lado.
— Nós morremos de rir com vocês dois! Vocês foram demais! — exclamou a moça. — Sou Meredith e esse é meu marido, Shane.
— É um prazer conhecer vocês.
— Nós não fomos tão bons. Fomos eliminados na primeira rodada, contra aquele casal gay — Shane falou, sorrindo.
— Ah, eles são nossos amigos. Vieram conosco — falei, sorrindo também. — Mas que pena que não conseguiram ganhar...
— É, somos um casal ótimo. Mas vocês dois... Vocês dois têm algo a mais. Parece que se amam de maneira diferente — a garota disse de maneira simpática.
— Com certeza ela me ama de maneira diferente — admiti, brincando. — Essa mulher é absolutamente psicótica.
— Psicótica é o cu da vó, seu abusado! — Ela me deu uma cotovelada, fazendo os dois rirem.
— Viram? Vocês fazem parecer tão natural. Foram feitos um para o outro — Meredith disse, simpática, pegando o seu drink que o barman trouxe.
— É... Fomos... — falei, sorrindo.
— Então a gente se vê, pessoal. Foi um prazer — eles falaram, se afastando. Bebi um gole da minha cerveja que estava esquentando em minha mão.
— Você prometeu ser doce — falei em seu ouvido.
— E eu não estou sendo?
— Você acabou de me dar uma cotovelada! — eu disse e ela esfregou o lugar em que o seu cotovelo havia atingido.
— Desculpa, bebê, não achei que fosse te magoar assim — ela disse e eu rolei os olhos.
— Se continuar nessa brutalidade, vou para o meu quarto.
— Pode ir, vou te perseguir — ela disse, tomando sua cerveja, e eu virei os olhos.
Alguém no palco começou a falar.
— Boa noite, pessoal! Em dez minutos, a banda surpresa vai começar a tocar os melhores sucessos do momento, mas antes eu gostaria de pedir para os casais vencedores da rodada para subirem no palco para presentearmos eles com mais um fim de semana aqui no hotel.
— Puta merda! — disse, me puxando para o palco sem nem pensar muito.
Toda a vergonha e tremedeira que ela teve antes de subir no palco algumas horas atrás havia sumido.

Seu braço me puxou com força até o palco, onde mais alguns casais já estavam subindo. Do palco, pude perceber que e preferiram ficar de fora, eles abanaram para nós. devolveu o aceno feliz da vida.
A assistente de palco nos posicionou, um casal ao lado do outro, e o apresentador nos cumprimentou.
— Bom, como hoje é a noite de núpcias dos nossos casais, queremos presentear o casal com mais química com um final de semana com tudo pago pelo hotel, como forma de agradecimento por terem escolhido o Hotel & Cassino Greek King — ele disse, sorrindo, e o pessoal aplaudiu. — E nada melhor do que um bom beijo para mostrar toda a química que nossos competidores podem ter, certo?
Quando ele terminou a frase, senti a mão de apertar a minha com tanta força que pude jurar que minhas unhas iam pular para longe dos dedos. Olhei-a e seus olhos arregalaram-se, e juro que pude ver sua boca mexer em forma de “fodeu”.
Um por um, os casais foram dando beijos. Alguns menos a vontade apenas se beijaram no rosto, outros até arriscaram um selinho e os mais despojados deram beijos realmente fogosos. Eu não fazia ideia de como fugiria daquilo.
Eu não queria beijar .
Eu não queria beijar ninguém.
Muito menos .
Estavam cada vez mais perto de nós e eu já nem sentia mais meus dedos de tanto que aquele pequeno ser humano apertava minha mão.
— E o casal do contra? — O apresentador sorriu para nós.
— Nós estávamos agora mesmo conversando sobre como os outros casais se dedicaram a isto. Não queremos participar dessa vez. — disse, visivelmente nervosa. A plateia reclamou.
— Os dois pombinhos estão com vergonha? — perguntou ele.
— Bastante — admiti. — Não gostamos de muitas demonstrações de afeto em público.
— É só um beijinho — ele disse e a plateia bateu palmas, incentivando.
— Acho que... — tentei rebater, mas senti as mãos de , uma em cada lado do meu rosto, e seus lábios colando nos meus. Por uma fração de segundos, achei que fosse ser um beijo técnico mal executado, mas sua língua invadiu minha boca com pressa e minhas mãos agarraram sua cintura puxando-a mais para perto. Sua boca tinha gosto de cerveja e era exatamente daquilo que eu estava precisando. Ouvi a plateia ovacionar, batendo palmas com toda a força, e, por mais que tenha sido rápido, pude sentir o tempo passando devagar como aqueles vídeos em câmera lenta que a gente faz com o iPhone. Nos separamos sem fôlego.
— Bem, parece que novamente temos um casal vencedor! — falou o apresentador, pegando na minha mão e levantando-a.
Novamente a plateia pulou, comemorando. Senti braços agarrando meu pescoço e vi que tinha se pendurado em mim, comemorando. Agarrei sua cintura e a rodei levemente. Ela beijou minha bochecha antes de me soltar.
Eu não estava mais estranhando todo aquele afeto.

Estou cheio de suas patéticas explicações

— O que foi aquilo?! — perguntou quando nos aproximamos deles. A pergunta não foi em tom de ciúmes, foi em tom de surpresa. estava tão surpreso quanto ele e não apresentou sinais de ciúmes também.
— Foi a gente ganhando um fim de semana de graça no hotel! — disse , rindo igual uma idiota.
— Vocês estão estranhos — disse, unindo as sobrancelhas para nós.
Apenas demos de ombros.
A banda surpresa era, na verdade, uma versão anã dos Beatles, que começou tocando “Love Me Do”. Depois de nos recuperarmos dos risos da banda, resolvemos ficar perto do bar para poder beber bastante. E foi o que nós fizemos.
Acabamos percebendo que a banda era realmente boa e, de acordo com a evolução das músicas, os integrantes iam trocando de roupa... No fim o pequeno John Lennon já estava de cabelos compridos e pronto para fugir com a Yoko.
— Vem dançar, meu docinho — me puxou para dançar “Strawberry Fields Forever”. Ela me abraçou e deitou sua cabeça no meu peito enquanto me embalava ao ritmo lento da música. Passei meus braços por suas costas e ficamos abraçados, dançando sem qualquer irritação.
— Estou gostando dessa algodão-doce — comentei ao seu ouvido.
— Não se acostume, amanhã a malvada volta — ela disse, sorrindo.
— Não adianta mais se fazer de durona, você já conseguiu me beijar, . O próximo passo é entrar nas minhas calças — brinquei e ela me beliscou.
— Saiba que aquele beijo foi puramente profissional — ela disse, desencostando a cabeça do meu peito e me encarando de sobrancelhas unidas.
— Foi tão profissional que você enfiou a língua na minha garganta — irritei-a de propósito e adorei ver seu semblante bravo.
— Você também não foi a pessoa mais relutante quanto a minha língua na sua garganta. — disse, afiada.
— O que eu poderia fazer? Morder a sua língua? Te empurrar para longe? O mais sensato seria acompanhar — dei de ombros.
Conduzi-a pelo salão enquanto a música calma tocava ao fundo. Vi por um momento nos olhando, suas sobrancelhas unidas denunciavam que aquilo não parecia certo.
Estava estampado na sua cara que aquilo não fazia sentido nenhum na sua cabeça: eu e , abraçados, dançando uma música lenta juntos, como se realmente nos déssemos super certo. Nós trocávamos várias faíscas, xingamentos e ofensas, mas era nossa maneira de dizer “eu te amo”. Provavelmente eu nunca admitiria aquilo, mas era minha melhor amiga tanto quanto era meu melhor amigo. Eu cresci puxando o cabelo daquela garota, ao mesmo tempo que ela cresceu caçoando do meu nariz. Eu estava lá quando ela ficou menstruada pela primeira vez e EU fui o seu primeiro beijo em um jogo de verdade ou consequência. Ela esteve comigo na minha primeira volta de carro e estava lá no meu primeiro “sete minutos no paraíso” com a garota mais gata da escola.
Por mais irritante que aquele ser humano fosse, eu não conseguiria viver minha vida sem suas implicâncias e brincadeiras idiotas que às vezes saíam de controle, como da vez em que ela me atropelou dando a ré no carro e se negou a prestar socorro por que achou que eu estava fazendo mais do que realmente era (eu havia quebrado um braço). Ou quando ela começou um rumor na escola de que eu tinha pinto pequeno que repercutiu até eu ter a minha primeira vez com uma (corajosa) garota que começou a desmentir o boato. Como eu poderia viver sem essa criatura na minha vida?
— Podia ter me acompanhado sem a língua, já que você se incomodou tanto. Mas não, você enfiou a SUA língua na minha garganta também — ela disse, convencida. — Admite , você adorou o beijo.
— Já tive melhores — falei em um tom tão convencido quanto o dela e ela riu, jogando a cabeça para trás.
— Eu duvido muito disso. Pode admitir, não vou contar para ninguém. — Era o álcool no meu sangue ou estava flertando comigo? Suas mãos estavam na minha nuca e eu nem tinha visto como elas foram parar ali.
— Você está louca que eu fale isso para que VOCÊ possa admitir que eu fui a melhor boca que você já beijou na vida — falei, rindo, e ela virou os olhos
— Já tive melhores — ela brincou, mostrando a língua.
— Então me deixa fazer melhor — falei, juntando nossas bocas sem pensar muito. Ela não relutou ou exclamou surpresa, as coisas simplesmente fluíram: sua língua tocando na minha, seus dedos enlaçando meus cabelos e a voz do Paul e do John (cover) cantando ao fundo. Minhas mãos permaneceram em sua cintura enquanto as suas saíam do meu cabelo, voltavam para minha nuca e vez ou outra passeavam por meu rosto. Eu até queria passear minhas mãos pelo seu corpo, mas tinha medo de que eu pudesse levar um bom soco de , de ou, principalmente, dela mesma. Suas mãozinhas eram como mãos de criança, mas a dor poderia ser real.
Seus lábios doces de vodca com suco vez ou outra sugavam o meu lábio inferior, fazendo-me desacreditar de que aquela ali era mesmo com seu vestido vermelho decotado e sandálias tão altas e que ainda não a faziam ficar da minha altura. Separei nossos lábios.
— O que acabou de acontecer aqui? — ela perguntou, escondendo o rosto em meu pescoço.
— Eu estava te mostrando que eu fui a melhor boca que você já beijou na vida — expliquei.
— Essa foi a desculpa mais patética que eu já ouvi na minha vida — ela disse, rindo.
— Patética é você — rolei os olhos, fazendo-a rir. Eu adorava a bêbada que ria de tudo.
A música acabou e voltamos ao nosso lugar perto do bar. e fingiram que não viram nada enquanto eu e bebíamos mais uma dose de qualquer coisa que nos serviam. Daquela vez foi gin com tônica.

É por isso que eu esqueci de que havia me apaixonado por você

Novamente acordei com o toque de meu celular e pulei da cama procurando-o pelo quarto. Notei que estava jogada no sofá ainda dormindo e aproveitei para mexer nas suas coisas, já que o som do celular vinha de lá.
— Alô?
? — Era Mellie novamente, não estava ligando do seu celular, pois não reconheci o número. — , por favor, fala comigo.
— Estou aqui — apenas respondi, sentando na beirada da cama. Minha cabeça queria explodir.
— Me desculpa pelo que fiz... mas fiz com motivo. Eu realmente não estava pronta — ela disse, me deixando enjoado. Suas palavras apertaram em meu peito, fazendo a bebida que estava em meu estômago querer voltar.
Levantei-me, indo ao banheiro.
— Tudo bem, Mellie, você não precisa se desculpar ou se explicar. Só para de me ligar e seguimos em frente. Passa lá na minha casa, pega suas coisas para eu fingir que você foi só criação da minha mente perturbada.
— Tudo bem — ela disse, segurando o choro. Desliguei o celular e vomitei no vaso sanitário.
Vi uma sombra surgir na porta.
— Dá para vomitar mais baixo, seu merda? — perguntou , fechando a porta com violência. Ri comigo mesmo, sabendo que o momento algodão-doce de havia acabado.
Saí do banheiro depois de um banho e notei que estava deitada na cama. Troquei de roupa enquanto ela dormia e voltei a deitar na cama.
— Vai vomitar mais? — perguntou , de costas para mim.
Fechei os olhos, analisando como estava meu estômago. Parecia tudo ok.
— Creio que não.
— Ok. Então posso tentar algo? — perguntou ela, ainda de costas.
— Acho que sim — falei, ainda de olhos fechados, com o braço sob o rosto.
Senti sua mão afastar meu braço, e sua perna passar por cima de mim. sentou-se sobre meu corpo e colou nossas bocas.
Assim como a minha boca, a sua tinha gosto de menta, minhas mãos guiaram-se sozinhas para suas pernas descobertas e sua língua encontrou a minha sem muito trabalho. Não foi um beijo suave como o do dia anterior. Assim que nossas línguas se encontraram, foi como um pavio se acendendo, suas unhas agarraram minha nuca e meus dedos pressionaram suas coxas. Nossas bocas brigando por controle.
Separei nossas bocas e mordi seu queixo, descendo beijos para seu pescoço, fazendo-a se arrepiar. Minha pele também estava arrepiada. Aquilo não parecia errado. puxou meus cabelos, fazendo eu me afastar de seu pescoço e voltou a colar nossas bocas, fazendo meu amigo pênis dar sinal de vida no andar de baixo. Ela pareceu não se importar. Minhas mãos deslizaram de suas pernas para suas costas enquanto ela descia seus beijos para o meu pescoço.
Ouvi a porta se abrir, eu e paramos o que estávamos fazendo para olhar quem era.
— Ok. — fechou os olhos, respirando fundo. — O que diabos aconteceu com vocês?
— Falta de sexo — eu e dissemos juntos e caímos na gargalhada.
— Vocês são doentes — disse, sério. — , posso falar contigo rapidinho?
Ela saiu do meu colo e seguiu para fora do quarto.
Não sei o que falou com ela, mas a garota pegou suas coisas e saiu do quarto tão rápido que não tive tempo de conseguir chamá-la. Logo depois ele entrou no quarto.
— Cara, não sou eu que quero ter que te dizer isso, mas transar com a não vai te fazer esquecer a Mellie. E eu sei que você só está fazendo isso porque quer ficar com a cabeça ocupada tempo o bastante para esquecê-la — disse sem graça. — Olha, a gosta de ti. Ela sempre gostou e eu sei que você sempre gostou dela também. Mas dá um tempo para a sua cabeça. Vocês têm uma química de merda que sempre deu muito certo, não vão querer estragar tudo isso em cinco minutos, né?
— Eu... — tentei falar, mas ele me interrompeu.
— Eu quero que isso aconteça. Eu quero meu melhor amigo com a minha irmã, mas vai com calma, porra.

Como podemos continuar dessa forma?

Encontrei-a na recepção do hotel.
! — chamei e ela olhou para trás, virando os olhos logo em seguida. Ri sozinho. Aproximei-me dela.
— Não vai embora — pedi.
— Quem disse que eu vou embora, animal? Estou pegando nosso vale fim de semana gratuito. — Ela balançou os cupons na mão.
— Eu quero ficar contigo — falei sem pensar direito. — Só que não é o momento perfeito para isso. Será que podemos ir devagar?
— Você já é devagar por natureza. Isso quer dizer que vai ser no maior estilo lesma? — perguntou ela, unindo as sobrancelhas.
— Ai, que saudades que eu já estou da algodão-doce — falei, ironizando, e ela sorriu.
— Você nunca mais vai vê-la — disse.
— Eu sei. É exatamente o que eu quero — expliquei, aproximando-me dela e passando minhas mãos por sua cintura. — Podemos continuar dessa forma?
— Na forma de lesma com a perna quebrada? — perguntou ela, passando as mãos pelo meu pescoço.
— Sim.
— Podemos ir até um pouco mais devagar que isso, se você preferir — ela disse, aproximando nossos rostos até nossos narizes se encostarem. — Mas não quero ser a sua distração para que você a esqueça. — disse, olhando em meus olhos.
— Eu gosto da tua companhia irritante mais do que qualquer companhia — comentei, olhando em seus olhos também.
— Eu sempre soube que você tinha uma quedinha por mim, — disse ela, convencida.
— Eu tenho mesmo. Mas você tem que admitir que também tem por mim — retruquei.
— Nem morta — falou ela, rindo. — Minha felicidade é te irritar.
— A minha era também, até você me beijar — dei de ombros, já esperando que ela zoasse com a minha cara.
— Eu sabia! — disse ela. — Acha que podemos fazer isso funcionar? Devagarinho?
— Eu quero fazer isso funcionar — respondi. — Você quer? — perguntei, roçando nossos lábios.
— Quero — ela respondeu, lambendo os lábios.
— Beijem logo, porra! — Ouvimos gritar de longe. — Estamos a quinze minutos aqui, apostei 50 dólares nessa merda de beijo.
— Vai se fuder, ! — e eu gritamos de volta.



Fim.


Nota da autora: Assim como a música da McFly que inspirou essa fanfic, eu queria algo intenso, porém divertido. Por mais que a letra seja um tanto forte, a batida alegre acaba amenizando a situação e era isso que eu queria passar na fic. Tomara que tenha dado certo. Não sei escrever fics de amor e ódio, mas sempre foi um sonho de princesa meu. Espero do fundo do meu coração que tenham gostado! E, se chegou até aqui, me diz o que achou <3

Nota da beth: Uma short de fake dating baseada em uma música do McFly era tudo o que eu precisava e não sabia hahahahaha que delícia de história, definitivamente foi uma história que deu certo 💜

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