Tamanho da fonte: |

Codificada por: Electra

Última Atualização: 15/07/2024

Depois de uma viagem de quase um dia, o ônibus vindo do Oregon finalmente estacionou. A jovem passageira se levantou, espreguiçando-se. Sentia a bunda quadrada depois de passar tanto tempo sentada. Tinha sido a primeira vez que quase terminou de ouvir toda a sua playlist de música no seu novíssimo MP3.
Mas os incômodos da cadeira desconfortável ou do corredor cheio de pessoas lentas não importava. Não agora em que ela havia chegado em Los Angeles. Porque ela teria o melhor verão de todos.
Ficava arrepiada só de pensar em tantas formas de aproveitar o dia. E aquele era apenas o começo. Seu coração batia acelerado, todas as perspectivas.
Ela só tinha uma certeza: iria fazer aquele verão valer a pena.

🎸🎤🎵

A banda Sunset Curve podia ser composta de adolescentes, que geralmente eram vistos como preguiçosos e sem perspectiva, mas, quando se tratava de música, todos os seus integrantes se entregavam de corpo e alma. E era por isso que Luke, Reggie e Alex estavam ensaiando desde às oito da manhã em uma velha garagem, sentindo falta apenas do outro guitarrista, Bobby, que fora arrastado para uma viagem com os pais para visitar a família. Essas eram as desvantagens de não ser independente.
Depois de uma quinta tentativa de aperfeiçoar um verso que Luke estava compondo, a porta da garagem foi subitamente aberta.
— Ahn, desculpe atrapalhar, meninos. — Era Jackson, um amigo dos pais de Alex que morava na casa e emprestava a garagem para eles. — Mas o telefone está tocando sem parar. Qual de vocês é o Reginald?
Reggie levantou a mão, assustado por estar sendo chamado.
— Sua mãe quer falar com você. E, por favor, atenda logo — Jackson falou, parecendo não aguentar mais o barulho do toque do telefone que o tirou de seu confortável sofá.
— Por que eu me convenci que não seria ruim dar o telefone daqui para ela? — ele reclamou com um muxoxo, saindo em seguida.
Alex ficou batucando distraidamente na bateria, enquanto Luke olhava a partitura na sua frente. Não estava ruim. Mas não estava sentindo a conexão que deveria estar sentindo, aquela satisfação pessoal de que tinha acertado, e nem a satisfação de adorar a própria composição. E, para ele, se não o agradava, como conseguiria fazer os outros gostarem?
Os passos de Reggie retornando o trouxeram de volta à realidade
— Gente — eles ouviram a voz do baixista, que havia retornado —, eu vou ter que ir?
— O quê? Por quê? Você mal chegou — Luke reclamou.
— Na verdade, ele chegou há três horas atrás — Alex o corrigiu.
— Tanto faz. Ele sempre fica até o final.
— Eu sei! — Reggie reclamou, parecendo a ponto de chorar. — Mas minha mãe me ligou e me mandou voltar para casa.
— Por quê? — Alex ficou curioso.
Reggie suspirou, parecendo frustrado e chateado como se fosse uma criança que havia tido seu presente de natal arrancado.
— ele respondeu simplesmente.
As lembranças de Luke viajaram para quando, há cinco anos atrás, a prima insuportável de Reggie, , havia passado uma semana de férias na Califórnia. A mãe do baixista insistira que ele fizesse companhia à menina. Ou seja, ela ficou perseguindo os três amigos a semana inteira. Ficava atrapalhando seus ensaios, tagarelava sem parar um minuto, chorava para a mãe de Reggie quando eles não brincavam com ela, forçando-os a fazerem suas vontades, e ainda admitiu estar completamente apaixonada por Luke antes de tentar beijá-lo na praia. Por sorte, ele correu a tempo.
Isso sem contar o último dia, quando Luke veio mostrar que tinha ganhado sua tão sonhada guitarra de presente por passar de ano com boas notas, e quis porque quis segurá-la. Luke, obviamente, não deixou, e ela tentou arrancar o instrumento de suas mãos. No final, ela arrebentou uma corda novinha em folha.
Luke a odiava e nunca iria perdoá-la por isso. Nunca.
Os três garotos engoliram em seco, partilhando uma raiva e um desgosto comum. Por isso, muito apreensivo, o guitarrista se forçou a perguntar para Reggie.
— O que ela tem a ver com você ter que ir embora? — Ele torcia que estivesse errado, torcia que tivesse outro motivo.
Reg fez sua costumeira cara de chateação quando anunciou.
— Ela veio pra cá. Vai passar uma semana de férias aqui.
Os três garotos xingaram, mentalmente e em voz alta, a situação. Estavam fadados a perderem uma semana de férias completa.
— Bom, é melhor você ir, mas, se ela perguntar, eu morri — Luke falou, guardando suas coisas para se retirar também.
— E eu estou na Albânia — Alex acrescentou.
— Por que eu não consigo ter uma desculpa também? — Reggie reclamou.
— Porque a família é sua — o baterista retrucou, com um olhar de pena, mas aliviado que poderia fugir da situação.
— Então, semana que vem voltamos com os ensaios. Sem ofensas, Reggie, mas tente não entrar em contato comigo nos próximos dias. Eu vou estar propositalmente me escondendo — Luke comentou, acenando tchau para eles.
— Esperem! Vocês não podem me abandonar! — Reg quase implorava.
— Tenta sugerir pra sua mãe fazer algo com ela. Sabe, de mulher pra mulher — Alex disse, tentando animar o amigo.
— Eu vou tentar. E se não conseguir, eu fujo de casa, ah, mas isso eu juro pra vocês!

🎸🎤🎵

Luke estava sentado de frente para a televisão, hipnotizado pelo desenho animado que passava e comendo um pacote de salgadinhos. Normalmente, estaria ensaiando, mas com a prima de Reggie por perto, isso estava fora de questão, e o bloqueio criativo não o deixava compor. Por isso, acabou ali, se distraindo e perdendo tempo com os programas.
Isso era, até sua mãe atrapalhá-lo.
— Luke! Telefone!
— Já vou! — ele respondeu, mas não se mexeu.
A mãe apareceu na sala, impaciente.
— Luke Patterson, é o seu amigo Reginald. Você pode atendê-lo?
O garoto pulou do sofá, correndo para o aparelho.
— E aí?
— Cara, eu preciso sair daqui.
— Uou, calma, me conta o que tá rolando. — Luke se sentou para escutar o amigo.
— Eu passei a noite toda trancado no quarto desde que ela chegou. Eu tive que acordar cinco horas da manhã para tomar café e não encontrar com ela na cozinha. Ainda estou todo dolorido do abraço que ela me deu quando chegou. Ela é um monstro! — o amigo choramingava.
— Eu sinto muito, Reggie — Luke falou, embora parte de si sentisse alívio por fugir da garota.
— Eu também, cara. Mas pelo menos minha mãe acabou de sair com ela para o shopping.
— Mano, isso é ótimo! Podemos nos encontrar!
— Por favor, eu não aguento mais olhar o papel de parede do meu quarto — Reggie reclamou.
— Ensaio em meia hora. Vou ligar para o Alex. Falou! — Luke disse, animado, desligando a chamada e discando para a casa de Alex.
— Alô? — Ouviu a voz do amigo.
— Ensaio na garagem em meia hora!
— Uou, pera aí. E o nosso plano para se esconder?
— A mãe de Reggie levou ela para algum shopping. Estamos livres!
—Não brinca! Bom, não tenho nada melhor para fazer mesmo. Até daqui a meia hora então!
— Valeu — Luke se despediu, o sorriso em seus rosto cada vez maior. Afinal, não seria um dia completamente perdido.
Trocou de roupa, pegou a sua querida guitarra, que estaria segura de mãos curiosas, e correu para fora para já sair com sua bicicleta.
— Aonde está indo, Luke? — Sua mãe apareceu na porta, surpresa com sua ida repentina.
— Ensaio da banda. — Ele acenou, já se preparando para sair.
— Luke! Você não pode usar seu tempo inteiro para ensaiar com essa bandinha!
Ele fechou os olhos e respirou fundo antes de se virar para sua mãe.
— Essa bandinha se chama Sunset Curve, e eu vou ensaiar o quanto eu quiser. Você nem tem porque reclamar, eu tô de férias!
— Exato, e você vai começar a receber os resultados das universidades e convites para entrevistas... Você precisa se preparar! — a sra. Patterson falava, preocupada com o que o filho iria fazer com sua vida.
— Me preparar para o que exatamente? — ele perguntou, irritado.
— Se preparar para o seu futuro!
— De uma vez por todas, entenda que o meu futuro é essa banda. E só ela.
— Essa banda é uma fase, filho. Você precisa de garantias.
— Você nunca vai me entender. Tchau, Emily. Não me espere cedo.
Ele saiu pedalando rapidamente, deixando a mãe desolada para trás, escutando apenas um chamado desolado:
— Luke...
Cada vez estava mais difícil conviver com sua mãe. Afinal, o que para ela era um hobbie adolescente, para ele era a melhor coisa do mundo. Era tudo o que conseguia se imaginar fazendo em um futuro feliz. E fazendo bem! Se ela ao menos se importasse em escutar o que ele escrevia...
Deixou a mente espairecer enquanto pedalava, com o vento da Cidade dos Anjos batendo em seu rosto. Mal percebeu quando chegou na garagem, distraído como estava.
Quando passou pelas portas da garagem, sentiu todos os pensamentos ruins sumirem. Estava de volta ao seu conforto, ao local em que ele podia ser ele mesmo e sonhar com futuros palcos, compor melodias e letras, tudo estava ali. Naquele local que, para alguns, poderia ser um depósito, mas para quatro jovens, era a esperança.
— Luke! — Ele ouviu a voz de Reggie. — Você chegou cinco minutos adiantado!
— E pelo visto vocês também! — Ele riu ao ver o baterista e o baixista já a postos.
— Na verdade, eu cheguei sete minutos adiantados. Reggie chegou quinze.
— Vocês não sabem o inferno que eu estou vivendo. Mesmo trancado no quarto, eu ouço a risada dela vindo da cozinha me assombrar!
— Não se preocupe, agora você está no espaço seguro do ensaio da Sunset Curve — Alex confortou o amigo.
— O que a gente tá esperando? Vamos tocar! — Luke disse, conferindo a afinação da própria guitarra, elétrico para sentir a música percorrendo seu corpo.
— Alex, na sua contagem — o guitarrista falou.
— Um! Dois! Um, dois, três e...
A música alta começou a percorrer o ambiente, a caixa de som vibrando com os instrumentos. E era apenas o aquecimento. Mas nada naquela banda era feita pela metade. Até no aquecimento, eles tinham em mente que estavam tocando para milhares de pessoas e não podiam errar, mesmo que no final a garagem estivesse sempre vazia.
Por isso, todos se surpreenderam a ouvir uma voz:
— Uau, que sonzinho maneiro!
Os instrumentos pararam abruptamente e os musicistas se assustaram. Quem estava ali?
Então, uma garota surgiu do canto da sala. Estiveram tão focados tocando que nem a perceberam entrando. E Luke não sabia como não tinha percebido sua presença. A garota era bonita demais para seu próprio bem, com seus cabelos cacheados e um rosto esculpido pelos anjos.
Ele abriu um dos seus melhores sorrisos de canto, ignorando o gritinho de Reggie, e se adiantou, com a mão estendida.
— Oi, eu sou Luke.
A menina abafou uma risadinha, olhando-o com uma sobrancelha erguida.
— Eu sei.
O guitarrista estava completamente confuso, até que o baixista se pronunciou, nervoso, a voz saindo três tons mais aguda que o normal:
— Não era para você estar no shopping?
Luke olhou em choque para a menina da sua frente. Como não a tinha reconhecido? Ainda tinha o mesmo sorriso gigante, os mesmos olhos brilhantes e agitados. Mas estava tão mais... atraente, por mais que odiasse admitir. Droga, a garota mais irritante e chata que ele conhecia estava bonita de uma maneira que poderia ser considerada ilegal.
— Seu pai ligou para sua mãe no meio do caminho. Brigaram porque, de acordo com ele, ela ia gastar todo o dinheiro que ele conquistou no trabalho. Foi bem desconfortável — comentou, os olhos muito expressivos com tudo o que ela falava. — De qualquer jeito, voltamos pra casa, a tia ficou bem malzinha e eu fui te procurar no seu quarto. Você não tava lá, mas achei um papel na sua cama com o endereço daqui e imaginei que aqui você estaria. Quem diria, eu acertei!
— A gente ensaia aqui há anos e você ainda confere o endereço? — Alex falou, entre ironia e raiva para Reggie, num sussurro.
— Eu não tenho boa memória espacial — ele choramingou.
— E como você chegou aqui? — Luke indagou.
— Ah, tinha o ônibus que eu devia pegar, o ponto onde saltar e depois para onde andar. — Ela deu de ombros, rindo, um timbre que parecia menos irritante agora.
— Nem o ônibus, Reginald? — Alex falou entredentes.
— São muitas paradas — o baixista se contentou a falar.
Reggie parou e olhou suplicante para Luke. O garoto percebeu que Alex também o encarava. Ele engoliu em seco, percebendo que ia ter que lidar com a situação sozinho. Se virou para a garota bonita, mas mentalizou que ela era cruel o suficiente para arrebentar uma corda de guitarra.
— Bom, apesar das informações que Reggie deixou tão à mostra, esse ensaio é privado, então, ahn... tchau. — Luke deu às costas para ela.
— Ah, mas eu não vou embora. — sorriu, e Luke sentiu alguma coisa se revirar na sua barriga. — Eu vou ficar e assistir. Não tem problema, certo, Luke?
— É, não tem não — ele falou, sem pensar, mas percebeu os olhares feios que recebiam. — Quer dizer, claro que tem! Precisamos de, ahn...
— De privacidade. Ouviu, ? Isso quer dizer que você vai embora — Reggie reclamou.
— Agora — Alex completou. Para o garoto falar desse jeito, tinha que estar muito fora de si.
— Por favor, eu fico quietinha. — Ela fez biquinho.
Os três garotos se encararam, perdidos. Estavam em um beco sem saída. Sabiam muito bem que, quando a garota queria algo, ela conseguia.
— Tá bom — Reggie falou, por fim. — Mas nem um pio!
Ela passou a mão na frente dos lábios, fingindo fechar a boca com um zíper, e se sentou em um banco no canto da garagem, um sorriso gigante no lábio.
— Bom, er, então vamos ensaiar — Luke anunciou, e todos voltaram a ajeitar os próprios instrumentos, esperando a contagem de Alex para recomeçar a música onde haviam parado.

🎸🎤🎵


Meia hora após o início do ensaio, os pés impacientes da garota se balançavam, e os meninos começaram a se desconcentrar. Por fim, Luke, relembrando o porquê ele queria evitá-la o máximo possível, não conseguiu se manter calado.
— Algum problema? — ele perguntou, entre dentes, parando de tocar.
A garota olhou para eles, parecendo surpresa de ver a interrupção.
— Ah, não é nada.
E voltou a balançar as pernas.
Alex bufou.
, se você não disser o que você quer, não vamos poder ajudar.
— Ah, eu só estava pensando em como o dia tá bonito demais para ficarmos trancados em uma garagem. Reginald, você mora de frente pra praia! E está trancado aqui em um dia de sol!
— Não estamos trancados aqui, estamos ensaiando e nos divertindo — Reggie replicou.
— Tô vendo a diversão. Passar a mesma música várias vezes até alguma inspiração surgir. E sempre recusando um público. Se ficaram irritados com minhas pernas, imagina se alguém se entediasse!
— Ninguém nunca se entediaria com Sunset Curve! — Luke replicou, irritado.
— E nós tocamos para o público! — Alex respondeu, ofendido.
— Ah, é? Que público? A poeira?
— Nós tocamos fora da garagem! — Reggie exclamou.
— Aonde? — perguntou.
Os três se encararam e demoraram alguns segundos antes de Alex responder.
— Tocamos em clubes de livros.
A gargalhada de aumentava conforme a carranca dos meninos se definia. Ela os estava humilhando no ponto em que mais os feria.
— Já saquei. Tudo bem, vamos logo.
— Nós não vamos a lugar nenhum! — Alex resmungou.
— Ah, é?
— Isso mesmo. Você já tá invadindo nosso ensaio. Então faça o favor de ficar quieta ou ir embora, porque nós ficaremos aqui! — Luke afirmou, convencido.

🎸🎤🎵

Luke queria poder dizer que ao menos resistiu por quinze minutos. Mas ele cedeu em sete. Pelo menos não foi como Reggie, que se entregou antes dos cinco primeiros minutos.
Já era humilhante tocar com uma caixa na sua frente para as pessoas depositarem dinheiro (e conseguir ao todo 4 dólares e 65 centavos), porém a situação piorava. O vento jogava areia em seus olhos, desconcentrando-o.
E, para piorar, decidiu nadar com alguns desconhecidos com quem ela havia feito amizade. E ela estava perigosamente bonita com aquele biquíni, e ele sabia que não era o único a reparar.
— Luke, dá pra ter foco aqui? — Alex questionou, irritado. Ele odiava tocar na praia, pois não conseguia transportar sua bateria.
— Quê? Eu to focado!
— É, focado no mar. Perdeu alguma coisa lá? — Alex parecia estar contendo um sorriso mínimo.
— Que que você tá insinuando, Alex? — Reggie perguntou, sem entender nada.
— É, qual é a sua? — Luke completou.
— Sabe, Reggie, acho que Luke vai fazer parte da sua família — o baterista debochou.
O garoto ficou um minuto olhando confuso para o nada, antes de abrir um sorriso gigante.
— Mamãe te adotou?!
— Não, seu idiota, ele tá afim da sua prima!
— O QUÊ?! — o baixista exclamou tão alto, perplexo, que muitos ao redor o encararam.
— Fala sério, Alex, eu? Afim da ? Nada a ver.
— Então para de encarar ela e foca na música, cara!
— Eu já tava focando! — Luke estava irritado, mas não com Alex. Com ele mesmo. Como podia se trair assim?
Respirou fundo e decidiu que o amigo tinha razão (não que ele fosse admitir). Devia focar na música e somente na música. Ela era seu foco, sua base, sua força.
No entanto, seus planos foram frustrados quando voltou para perto deles com seus dois novos “amiguinhos" da praia.
— E aí, galera? Já estão sentindo minha falta?
Alex tossiu por cima do “Não” de Reg.
— Esses são Paul e Jerry. Eles também tocam e falaram que estavam querendo ouvir o som da Sunset Curve! E eu fiz propaganda boa, viu? — Ela piscou, rindo, e os outros logo a acompanharam.
— Fala aí! Sou Jerry — o moreno cumprimentou.
— E eu sou Paul — o ruivo disse. — Tem algum som aí pra animar a gente?
— Vamos tocar a nossa última! — Reggie respondeu, já que Luke estava incapacitado com algum sentimento sombrio e desconhecido dentro de si.
Mesmo assim, Luke pegou seu violão e sentiu os acordes virem naturalmente para si. Era diferente tocar com aquele instrumento, mas tão mágico quanto qualquer música que ele podia produzir.
Estavam no refrão quando ele levantou os olhos e viu rindo para Jerry. Ele trincou os dentes, confuso, e tocou de forma um pouco mais violenta que o normal. Aquilo pareceu chamar a atenção da menina. Ela se virou para ele e o encarou com seus olhos intensos e brilhantes. Luke não soube o porquê, mas simplesmente pareceu certo improvisar aquele trecho. Tudo veio instintivamente. Era só olhar para ela que os acordes pareciam se tocar sozinhos.
No fim, não apenas Paul, Jerry e os aplaudiram, como também um público de quinze pessoas. O guitarrista ficou assustado, sem ter percebido a aproximação dos outros, mas sentindo seu coração disparar com aquela adrenalina única de se apresentar para as pessoas
— E não esqueçam, meninas, para qualquer festa ou momento oportuno, é só ligar para a Sunset Curve. A melhor banda da cidade dos anjos! — Reggie falava para um grupo de quatro meninas, piscando para elas, que davam risinhos.
O sucesso com o sexo oposto parecia ser de família, já que possuía sua própria rodinha ao seu redor. Luke estava a ponto de acabar com aquela palhaçada, quando sentiu um cutucão de Alex.
— Cara, aquele solo improvisado ficou muito bom. A gente podia tentar repetir isso amanhã e aproveitar para uma nova música.
— Pra que aproveitar para uma nova música? Deixe para uma nova música um novo solo — Luke o dispensou, sentindo a adrenalina de tocar. Tocaria cinquenta músicas diretas com a energia que sentia.
— Luke! Acha que tem inspiração pra tudo isso? — Alex mantinha os olhos arregalados.
O guitarrista olhou de relance para . Ela acenou para ele, sorrindo genuinamente. Graças a ela, eles haviam tocado em público. E o mesmo público havia gostado.
— Acho que entrei em uma onda de inspiração — o garoto simplesmente respondeu ao amigo.
O que está acontecendo comigo?, Luke pensou.

🎸🎤🎵

No dia seguinte, o grupo percebeu que não havia como se livrar de . E não sabiam honestamente se queriam.
Ela tinha uma grande dificuldade de ouvir os outros. Mas tinha ideias geniais que deixaram Luke muito surpreso.
— Vocês viram o que vai ter sexta na costa leste? — perguntou, e todos já estavam se acostumando que, mesmo se soubessem, deveriam deixá-la falar.
— O quê? — Reggie perguntou.
— Um festival de música! E o campeão pode gravar uma demo!
— Um festival? — Os olhos de Luke se arregalaram.
— Tá surdo? — Alex revirou os olhos.
— Quanta sensibilidade, meu amigo. — O guitarrista empurrou de leve o baterista, mas sem reclamações. Aquilo... era uma possibilidade única.
— Vocês vão tocar, né? Aqui, olhem o panfleto! Vocês precisam ir. Olha o palco!
estendeu um papel impresso. As luzes do palco pareciam iluminar todos os sonhos deles.
— Não é o Orpheu... — Alex começou, embora não parecesse reclamar.
— Mas, com o prêmio, conseguiríamos uma demo que nos deixaria mais perto de conseguir tocar lá — Luke ponderou.
— Mas estamos sem o Bobby. Em um festival, o ideal seria a banda toda estar completa.
— Quem é o Bobby? — questionou, curiosa.
— Nosso outro guitarrista — seu primo respondeu.
— O segundo — Luke frisou. Seu orgulho não podia se manter calado.
— Bom, não devo ser como o Bobby, mas posso ajudar com isso. Eu toco! — sorria de orelha a orelha.
A banda se olhou, um procurando no outro a solução para a situação. A menina podia estar mais legal, mas ela não podia estragar a chance deles. E o pior, todos eles sabiam que a garota não aceitaria um não. Era teimosa e, quando queria algo, não escutava mais ninguém até ter o que queria.
Luke pigarreou ao perceber que os amigos empurrariam aquilo para ele, e falou:
, nós agradecemos muito a oferta, mas o tempo é curto para ensaiar, quem sabe numa próxima.
— Ah, mas eu aprendo as músicas! Acho que até sei algumas já! — A menina se empolgou.
, para! Você nem toca guitarra! — Reggie exclamou.
— Claro que toco!
— Para de brincadeira. Olha, a gente agradece, mas não dessa vez, ok? — Alex frisou, o desespero lhe invadindo. Ele odiava confrontos e dava para ver sua ansiedade conforme ele batucava na própria perna.
— Me deem uma chance! Tipo, um teste! Pra banda!
— Mas a vaga já tá preenchida. Pelo Bobby! — o baixista frisou.
— É temporário, até eu ir embora. Só pro festival! Vocês podem até gravar a demo com o Bobby!
, não temos tempo, temos que ensaiar. Já falamos que não. Não estraga o momento, ok? — Luke completou.
A garota pareceu profundamente magoada. Ela avançou para frente e agarrou a guitarra de Luke, que o mesmo segurava.
— Me deixa tentar.
O pânico subiu pela garganta de Luke. Aquela cena era parecida demais com o que aconteceu quando eles tinham 12 anos, quando estragou sua corda novinha. A raiva irracional o invadiu e ele segurou a guitarra mais fortemente. A garota ficou ainda mais triste. Ela olhou para todos ali e soltou o instrumento.
-- Eu só queria tentar.
Depois de falar isso, ela saiu correndo.
O silêncio que invadiu o estúdio foi constrangedor.
A banda não sabia o que fazer. Então eles só observaram ir e retornaram ao ensaio, sem muita energia.

🎸🎤🎵

O dia do festival estava cada vez mais perto, mas Luke não se sentia animado como devia.
não apareceu mais no ensaio. O que deveria ser um alívio, trazia na verdade um peso de culpa no coração deles. E a culpa era um sentimento que não contribuía muito para a música animada que eles desejavam tocar. Os ensaios estavam sendo um desastre.
— É isso! Já chega! Precisamos achar a ! — Alex foi a voz da razão. — Enquanto não nos ajeitarmos com ela, a culpa vai nos corroer e não vamos conseguir tocar.
— Eu nunca achei que deixaria de fugir dela para correr atrás dela — Reggie contemplou.
— Mas como vamos encontrá-la? Ela pode estar em qualquer lugar! — Luke expressou o que se passava em sua cabeça, transtornado.
— Com certeza não vamos encontrá-la sentados aqui nessa garagem — Alex contemplou.
— Eu posso ver se minha mãe sabe onde ela foi — Reg se ofereceu, logo depois fazendo uma careta. — Isso ainda é tão estranho.
— Luke, vamos nos dividir pela praia. Você pega a costa leste, e eu pego a costa oeste.
— Ok.
E assim os músicos partiram, cada um com seu destino, mas o objetivo em comum: encontrar a garota mais irritante do país, mas também a única que poderia libertá-los da culpa e deixá-los livres para tocar.
Luke percorreu por uma hora a areia da praia. Estava começando a enxergar a beleza que dizia ter naquele lugar. Estava sempre tão perto, que ele esquecia de dar valor. A areia ventava em seu olho, mas também era macia sob seus pés. E a brisa com cheiro de mar podia ser deliciosa.
Estar ali só o fez pensar em como as pessoas o aplaudiram depois de se apresentar na praia. E como tinha sido graças à , que insistira que eles vivenciassem a vida fora da garagem. A culpa triplicou em seu peito.
Seus pensamentos estavam tão fixos na menina que teve quase certeza que estava alucinando quando a viu na beira da água, os olhos fechados e aproveitando o vento. Ela era linda, mas não só por sua beleza exterior. Algo parecia brilhar dentro dela, como uma energia muito forte.
Ele se acomodou ao lado dela, tentando não assustá-la, anunciando sua presença caso ela quisesse sair dali. Ela simplesmente continuou do jeito que estava.
— Achei que você ia estar chateada em um canto — Luke falou baixinho.
Sem abrir os olhos, sorriu.
— E perder o tempo das minhas férias aqui? Vocês têm isso aqui todo dia, mas eu não. Nenhuma chateação ou bobagem vai me impedir de aproveitar tudo o que essa cidade tem de melhor, cada segundo. Dizem que é a cidade na qual sonhos se realizam. Mas eles não se realizam com a gente sentado esperando, precisamos viver todos os segundos com intensidade e em direção ao que queremos.
Luke ficou embasbacado. Aquelas palavras tiveram mais impacto nele do que ele queria admitir. Talvez, ele pensou, a praia não fosse a única coisa a qual ele estivesse deixando de dar valor.
Ficou tão impressionado que não percebeu que rabiscava algo na areia. Se inclinou mais para perto para ver. E ficou ainda mais impressionado e confuso.
Linhas eram preenchidas por algumas bolinhas, o canto esquerdo marcado por uma clave de sol. Era uma partitura. Ele começou a tocá-la em sua cabeça.
— Espera aí... Esse é o solo que eu toquei na praia.
— Era muito bonito. Ele ficou na minha cabeça todos esses dias.
— Mas... como?
deu de ombros levemente.
— Eles chamam de ouvido absoluto. Desde que mamãe descobriu, eu entrei na banda da escola e comecei a ter aulas particulares também. Aprendi a tocar oito instrumentos por enquanto, mas nenhum supera a energia de tocar guitarra. — Ela fez uma pausa, olhando para o horizonte. — Naquele dia, que a corda da sua guitarra arrebentou… Lembra? Você tinha me dado ideia de um trecho para completar sua música.
— Você só estava tentando tocar? — Ele estava em choque.
Ela assentiu, mais tímida do que jamais tinha a visto.
Se Luke não estivesse sentado, com certeza teria caído. Não só quase correra o risco de perder uma amiga, como também quase perdeu uma grande adição para sua banda. Nunca se sentiu tão estúpido.
— Me desculpa por arrebentar sua corda — ela disse. — E me desculpa por ser inconveniente. Eu sei que eu devia parar e ouvir, mas, às vezes, minha cabeça só está com ideias demais para conseguir escutar o mundo de fora. Só o meu de dentro já tem informações demais.
— Desculpa não te deixar fazer o teste. Eu não deveria ter te julgado sem nem te escutar. Você... reconsideraria a ideia? — ele perguntou, constrangido, mexendo no cabelo.
sorriu de orelha a orelha, finalmente o olhando nos olhos. Ele nunca esteve tão curioso para escutar o que se passava na mente de alguém.
— Mas é claro!

🎸🎤🎵

Agora que havia escutado sua história, não foi exatamente surpresa para Luke que a garota tocasse incrivelmente bem.
O teste dela foi aprovado fervorosamente pela banda inteira, que se lamentou que a garota morasse em outro estado e tão longe. Nunca iriam dizer para Bobby, mas ela era muito melhor que ele.
Eles ensaiaram pelos dois dias que os distanciavam do festival. Eles se arrependiam de não terem aceitado a garota mais cedo, no entanto, ela pegava as músicas extremamente rápido. Não só pegou a música como fez alterações magníficas que deixaram todos confiantes.
Ao lado de , Luke sentia que poderia compor diversas músicas novas, mas nenhuma conseguiria captar seu brilho e energia interior. Eles deram uma dupla e tanto alterando as composições e as melhorando. Nunca havia produzido tão bem, nem com Alex e Reggie. Não admitiria em voz alta por parecer extremamente bobo, mas havia se tornado sua musa.
A noite do festival finalmente chegou e o grupo não poderia estar mais elétrico. Eles marcaram de se encontrar na costa leste, uma hora antes do início do festival, para se inscreverem.
Luke vestiu uma regata preta e se olhou no espelho, satisfeito com o resultado de seu reflexo. Pegou sua guitarra e as chaves de casa, descendo as escadas correndo.
— Luke! Para onde você vai?
A voz da mãe o fez travar e xingar mentalmente. Ele se virou para ela, que estava no topo da escada com uma camisola.
— Já te disse, tocar no festival com a banda.
Ela franziu a boca com desgosto.
— E você vai assim? Leve pelo menos um casaco.
— Mãe, é verão!
— Você não pode ficar gripado! Assim que passar esse festival, você precisa de saúde para estudar!
— Quantas vezes eu já te disse que não vou estudar?! — Luke exclamou, jogando as mãos para o alto, em completa irritação. — Caraca, parece que eu falo com as paredes.
— Olha como você fala comigo…
— Como? Indignado que minha própria mãe não me escuta?
— Com desrespeito!
— Não é como se você me respeitasse de volta.
Ele encarou a mãe por um segundo antes de virar de costas e descer a escada.
— Luke, quer carona? — o pai ofereceu.
— Não, valeu.
Ele não conseguiria aceitar, não depois de brigar com a mãe e saber que o pai aproveitaria os minutos para encher seu saco também. Por isso, ele foi de bicicleta, o que custou seu horário, já que foi o último a chegar.
Era tanto pedir para escutar um “boa sorte, você consegue"?
O guitarrista avistou Alex e Reggie, sorrindo e acenando para ele. Ao se aproximar, a integrante temporária da banda se revelou atrás dos outros dois.
O coração de Luke pareceu parar por um segundo, antes de voltar a bater ainda mais rápido. estava linda. Seus cabelos soltos voavam com a brisa da noite que vinha do mar. O vestido branco abraçava seu corpo e refletia as luzes do palco. Mas nada se comparava ao sorriso em seu rosto. Nada no mundo poderia superar aquele sorriso gigante.
Talvez Luke estivesse mais óbvio do que imaginava, porque ele ouviu rapidamente o pigarro de Alex.
— Reggie, vamos nos inscrever.
— Mas já? Vai com o Luke, eu tô cansado.
Alex suspirou, agarrando o braço do amigo.
— Vamos agora.
riu dos dois, e Luke não pode deixar de sorrir diante daquela cena. Então, percebeu que ela o encarava. Esperando.
— É... noite bonita, né?
Ela balançou de leve a cabeça em negação, rindo, e estendeu a mão.
— Vem, vamos dar uma volta.
As mãos dos dois se encaixaram perfeitamente. Ele sentia os calos dela decorrente aos ensaios intensos dos últimos dias, que combinavam com os seus próprios. o guiou pela multidão enquanto ele olhava em volta. A praia estava lotada. Ele tocaria na frente de todas aquelas pessoas. Eles tocariam.
Os dois chegaram na parte cercada de barracas de comidas. Luke sabia que estava quieto demais.
— Então... Quer um cachorro quente?
— Acho que é demais para meu estômago ansioso. Que tal uma pipoca?
Luke sorriu para ela.
— Uma pipoca no capricho, madame.
Os dois dividiram o pacote de pipoca, rindo e compartilhando suas expectativas. Luke se perguntava se ela sempre havia sido assim e ele que nunca reparara. Ou não era maduro o suficiente para ver a beleza de sua energia.
Voltaram para perto da calçada e encontraram Alex e Reggie com a inscrição em mãos.
— Estamos inscritos! — Reggie comemorou. — E o cara da inscrição deu em cima do Alex, então temos boas chances de ganhar.
— Quê? Eu… Não… Eu… — A voz do baterista ficou mais aguda que o normal. — Ele não deu em cima de mim.
— Gente, nem acredito que vamos tocar aqui! — vibrou, contente. — Eu sempre quis tocar para além do teatro da escola.
Luke refletiu o peso das palavras dela e do papel na mão do amigo. Estava feito. A música deles tocaria ali.
De repente, as luzes mudaram, e alguma coisa na atmosfera também. As pessoas começaram a vibrar e se aproximar mais do palco, ao mesmo tempo em que o sol sumia no horizonte.
— Senhoras e senhores! — um homem disse do palco, parecendo ter uns 30 anos, vestindo uma jaqueta de couro apesar do calor. — Sejam todos bem-vindos ao California Fest!
A plateia toda gritou, e o grito dos integrantes (oficiais e temporários) da Sunset Curve se juntou aos outros.
O festival enfim começou e os quatro não conseguiram deixar de se maravilhar com a música que eram apresentadas ali. Pessoas extremamente talentosas e originais dominavam a plateia com ritmo intenso que acompanhava as batidas do coração de Luke. Aquele era o seu lugar.
A alegria era, no entanto, acompanhada de uma ansiedade crescente, com a vez deles se aproximando a cada nome que era chamado. Eles eram o número dezesseis, e este parecia estar a uma eternidade de distância, ao mesmo tempo que se aproximava com velocidade.
Na apresentação da banda número quinze, eles se aproximaram do palco pela parte de trás, mostrando o papel de inscrição para um segurança, que liberou a passagem deles. Eles se espremeram entre a produção para alcançar a lateral do palco, assistindo tudo de lá.
A adrenalina começou a bombear o sangue de Luke rapidamente, fazendo com que ele se sentisse nervoso e animado. Se sentisse vivo. Estava a um minuto de pisar no palco, e aquele minuto o separava do resto de sua vida inteira.
Ele sentiu uma mão quente e delicada encontrar a sua. Luke se virou para o lado e encontrou olhando para ele com um sorriso elétrico, ao mesmo tempo que reconfortante. Ele retribuiu, então olhou para todos os seus amigos.
— Independente do resultado, eu queria agradecer vocês — ele disse, de repente tomado de emoção. — Não existe banda melhor no mundo do que a Sunset Curve, e tá na hora da Califórnia também saber disso.
— Califórnia hoje, Paris amanhã — Alex disse.
— E depois Inglaterra — completou.
— E, por fim, Brasil!
Os três encararam Reggie, confusos.
— Tá de brincadeira? Aquele país é enorme, se a gente fizer turnê lá, vamos ser tão famosos quanto o Queen no Rock in Rio.
Antes que pudessem retrucar, a banda finalizou a apresentação, e uma onda de aplausos tomou a praia. O coração de Luke começou a tocar em seus ouvidos, abafando tudo ao seu redor.
Havia chegado a vez deles. Sunset Curve foi anunciada para todos, embora não passasse de um ruído no ouvido de Luke. O grupo subiu no palco e testou os instrumentos, conectando os cabos certos e testando o microfone. Luke tentou não olhar muito para a frente, ou então ia se perder naquela multidão que não tinha fim.
Porém, no momento em que as mãos de Luke tocaram o primeiro acorde, e as caixas de música explodiram com o seu som, seu medo foi substituído por pura euforia.
Ele tocou com o público e para o público. A energia era única, eles estavam completamente sincronizados e harmonizados, tocavam como um. E , com seu jeito único, era como um ponto de luz e inspiração para o grupo. Quando Luke olhava para ela, sentia sua música melhorar. Ela representava alegria, emoção e música. Tudo o que ele mais amava. E algo dentro dele dizia que, se ele convivesse mais com ela, seria apenas uma feliz consequência amá-la também.
Cantou a plenos pulmões e acertou todos os acordes. Em certo ponto, percebeu que a plateia havia aprendido o refrão e cantava de volta, preenchendo seu coração com o som mais lindo que ele já havia escutado em toda a sua vida. Ele não queria que aquilo chegasse ao fim. Passaria horas e horas apenas tocando e vibrando com toda aquela gente.
No último acorde, Luke estava completamente suado e realizado, feliz por saber que havia dado seu melhor, assim como toda a sua banda. Eles se entreolharam, sorrindo, no último segundo de silêncio antes de o mundo se transformar.
Os aplausos foram ensurdecedores. Descendo do palco, eles foram cercados por diversos fãs recém conquistados, além de escutarem elogios da produção do evento. Todos exibiam sorrisos que pareciam tatuados no rosto, porque não sumiam em nenhum momento. O grupo se entreolhou, a energia do palco ainda preenchendo suas veias.
— Isso... foi muito incrível! — Reggie comemorou.
— Obrigado por ter nos convencido a participar, — Alex agradeceu, sincero.
— Obrigada vocês por me deixarem tocar!
— A gente conseguiu, galera, foi demais! — Luke acrescentou.
O olhar de Luke encontrou o de , e ele sentiu um puxão esquisito na barriga: tão intenso quanto a emoção de subir em um palco. Eles sorriram um para o outro.
Alex novamente entrou em ação.
— Vamos, Reggie, vamos comprar algo pra comer.
— Você quer sair de novo? Parece até que quer ficar a sós comigo.
— Sério, Reginald? De verdade? — Alex falou, revirando os olhos e puxando o baixista com ele.
Luke se virou para os olhos intensos da garota e pigarreou.
— É... Você foi muito bem.
Para sua surpresa, no entanto, caiu na gargalhada.
— Ah, cala a boca — ela disse, antes de puxá-lo para um beijo.
Na primeira vez em que tentou beijá-lo, eles também estavam em uma praia. E ele correu o mais rápido possível para longe dela. Agora, aquela seria a última coisa que ele faria.
Suas bocas se encaixaram como se fosse para ser assim. Luke se sentiu no paraíso com a sensação de ter a garota para si. Sua boca quente e suas mãos pequenas em seu cabelo o preencheram de tantas emoções intensas que ele desejou que aquilo nunca mais acabasse. Aquilo era mais intenso que qualquer show no qual pudesse tocar.
Eles se separaram somente para recuperar o fôlego.
... O que vou fazer quando você for embora amanhã?
Ela colocou um dedo sobre a boca dele.
— Por que você pensa tanto no amanhã? Vamos aproveitar o que a gente tem hoje.
Foi difícil afastar as preocupações. Era difícil não pensar que iria perdê-la. Na verdade, ele verdadeiramente só conseguiu se distrair quando o produtor do evento subiu novamente no palco.
— Por decisão unânime dos juízes, os vencedores são... Sunset Curve!
Os quatro berraram e se abraçaram. Naquele momento, eram os adolescentes mais felizes e sortudos do mundo. Eles subiram no palco para pegar seu prêmio, ainda sem acreditar. E passaram o resto da noite com sorrisos gigantes colados em seus rostos.
— Não acredito que ganhamos mesmo! — Alex comemorou.
— Não tinha fé na gente, cara? — Luke brincou.
— E ainda ganhamos uma grana extra. Podemos fazer camisetas da banda! — Reggie exclamou.
— Isso é tão idiota — Alex contestou.
— Não se preocupe, vou providenciar uma para você no tamanho gatinha.
Os dois começaram a discutir, e Luke sentiu uma mão envolver a sua. Não sabia se jamais iria se acostumar com o sentimento que o preenchia quando segurava sua mão e sorria para ele. Nem com o que ele sentia ao vê-la sorrir.
Mas ele não precisava pensar no futuro. Apenas no hoje. E ele o viveria como se não houvesse amanhã.






Fim.


Nota da autora: Essa foi a primeira história que eu escrevi inspirada diretamente em alguma música (a música de mesmo título) e foi escrita inicialmente em janeiro de 2021. É com MUITA felicidade que, depois de algumas revisões e até algumas cenas extras, ela esteja de volta! Espero que vocês aproveitem essa história levinha tanto quanto eu amei escrevê-la! E obrigada, de coração, por ter chegado até aqui e ter lido <3

Se você encontrou algum erro de codificação, entre em contato por aqui.