Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: Outubro/2024.Quando o ônibus finalmente chegou, ela entrou sem hesitar, ansiosa para chegar logo em casa. Sua cama era a única coisa em que conseguia pensar naquele momento. Pagou a tarifa na máquina com seu cartão, como de costume. Não havia ninguém além dela e do motorista, o que a deixou aliviada, já que odiava quando os bêbados a incomodavam, o que era muito comum naquele horário. Ela decidiu sentar-se no meio, do lado direito do ônibus, em um dos bancos virados de lado, como os metrôs.
estava tão impaciente que até escolher uma música parecia impossível, trocando de faixa a cada cinco segundos. Focada no celular, não percebeu quando o ambiente dentro do ônibus começou a esfriar. A neblina lá fora, antes leve, tornava-se cada vez mais espessa a cada metro que o veículo avançava. A escuridão nas ruas parecia absorver qualquer luz, o que era incomum. Inquieta, olhou pela janela por um momento, estranhando o aumento da escuridão, mas logo voltou a se distrair com a música. "Deve ser só cansaço", pensou, tentando se convencer.
Foi então que o ônibus parou novamente. Um rapaz entrou, e , meio distraída, o observou de relance. Ele vestia uma jaqueta de couro preta, com uma camiseta branca por baixo, jeans e botas escuras, uma combinação curiosamente semelhante à dela. O rapaz se sentou do lado esquerdo, bem do outro lado do veículo, à frente da garota, e deu um sorriso quase amigável, embora algo em seus olhos parecesse… diferente. Ela retribuiu o sorriso, mas desviou o olhar rapidamente para a janela ao seu lado direito. "Bonito, mas estranho", pensou, tentando ignorar seu instinto, que lhe dava a sensação crescente de que algo estava errado.
A neblina lá fora agora era densa como uma parede, e a cidade parecia ter desaparecido completamente, o que a deixou inquieta, desejando que seu ponto de descida chegasse logo. De repente, o ônibus passou violentamente por uma lombada, e o impacto foi tão forte que sua bolsa caiu do colo, espalhando todos os seus pertences pelo chão. O sentimento ruim no estômago de aumentava. Ela se abaixou rapidamente para pegar suas coisas, se sentindo exposta e desconfortável naquela situação.
— Droga — murmurou, enquanto recolhia os seus itens do chão, ainda tremendo do susto que havia passado.
O motorista, um homem de meia-idade com uma expressão cansada, olhou pelo retrovisor, claramente perturbado. — Está tudo bem aí atrás? — Ele parou o veículo.
O rapaz se levantou para ajudá-la, sua presença estava perto demais para o que parecia confortável naquela atmosfera estranha. — Só a bolsa dela que caiu — disse ele, se abaixando para pegar alguns objetos que haviam rolado para a frente do ônibus.
— Sinto muito — disse o motorista, com a voz pesada de preocupação, agora mais perto dos passageiros. — A neblina está tão espessa que mal consigo ver a estrada. Não lembrava da lombada aqui…
pegou o último item e suspirou ao ver o celular desligado, tentou ligá-lo, mas todas as tentativas foram falhas.
— Ah, ótimo, como se eu já não tivesse problemas o suficiente — reclamou para si.
— Um celular você compra outro. — O rapaz sorriu de novo, mas desta vez havia algo em seu tom que a fez arrepiar. — Melhor do que se fosse você que tivesse voado pelo ônibus, não acha?
não conseguiu responder àquela provocação um tanto macabra. Apenas jogou suas coisas de volta na bolsa e se sentou novamente, agora sentindo o ambiente ainda mais opressor. Talvez fosse apenas o cansaço falando alto, e ela estivesse levando tudo para o lado pessoal. O motorista voltou para o seu lugar e tentou ligar o ônibus, mas as luzes começaram a piscar, como se estivessem prestes a apagar completamente. O visor da câmera de segurança, fixado na parede do veículo, chiava, a imagem distorcida como uma televisão antiga fora de sintonia. Um ruído estático começou a sair do rádio, baixo e perturbador, e sentiu o corpo ficar tenso, o coração batendo mais rápido que o normal. O ambiente dentro do ônibus, agora imerso em um jogo perturbador de luzes piscantes e estática oscilante, parecia se transformar em algo irreal, como uma orquestra do mal querendo perturbá-los.
Ela olhou ao redor e percebeu que o garoto havia se movido, agora sentado ao seu lado, o rosto parcialmente iluminado pela lanterna de seu celular. O susto foi inevitável. fechou os olhos e colocou a mão no peito, tentando se acalmar.
— Você tem problema? — disse, quando conseguiu recuperar o fôlego.
— Desculpa pelo susto, só queria dizer que não precisa se preocupar — ele disse, quase como um sussurro, como se soubesse que palavras muito altas poderiam chamar algo pior. — O motorista vai resolver. — Sorriu levemente para ela.
O conforto que ele tentou transmitir não surtiu efeito em . O ônibus estava completamente imóvel, as luzes finalmente haviam cessado de piscar, e o silêncio lá fora era quase desesperador. Nenhum som de vida, nem carros, nem pessoas. Apenas o vazio absoluto.
Antes que pudesse responder, uma sensação estranha a fez perceber a presença de uma terceira pessoa ali:
— O celular de vocês tem sinal? — perguntou o motorista, se virando para os dois, já sabendo qual seria a resposta.
olhou para seu telefone e no reflexo do "espelho preto" da tela desligada viu a luz fraca do celular do garoto. Seu aparelho nem ligava, como poderia ter sinal?
— Meu celular nem liga — ela respondeu em voz baixa.
— O meu também está sem nada — disse o rapaz ao seu lado, ainda olhando para a tela apagada.
— Eu vou sair para procurar ajuda — disse o motorista, a voz agora carregada de uma preocupação que ele tentava esconder. — Preciso que vocês venham comigo. Não é seguro ficar dentro do veículo.
Sem alternativa, e o rapaz seguiram o motorista para fora do ônibus. O vento gelado os recebeu como um presságio, cortando suas peles como lâminas invisíveis. Ela abraçou o próprio corpo, tentando se proteger do frio intenso que não fazia sentido naquela época do ano. Nunca tinha presenciado algo como esse clima. A neblina era tão densa que mal conseguia enxergar um metro à frente.
— Não há ninguém por perto — murmurou o rapaz, quebrando o silêncio.
— Vou dar uma volta para ver se encontro ajuda. Vocês fiquem aqui e observem o ônibus para mim. Se alguém passar, peçam ajuda, por favor — o motorista disse, antes de se afastar, entrando naquele véu da escuridão.
observou, nervosa, enquanto o homem desaparecia na neblina, seus passos ecoando até sumirem por completo. O silêncio que restou era esmagador. Minutos se passaram, e nada. Nenhum som, nenhum movimento. Apenas o vazio.
— Ele está demorando — disse o rapaz, agora mais próximo dela.
— Isso não faz sentido — respondeu , a voz trêmula de medo. — Algo aqui está muito errado. Não deveria estar tão escuro, nem tão frio assim.
O rapaz assentiu, tentando aliviar o clima.
— Quem diria que a gente pegou o ônibus direto para o Ártico.
— Pois é — disse, rindo da tentativa de piada.
— A propósito... — o rapaz disse, quebrando o silêncio com a voz baixa, quase hesitante. — Meu nome é . .
— Jiongkookie — tentou repetir o nome, de forma engraçada, fazendo-o rir. Ele repetiu para que ela entendesse a pronúncia.
— Pode me chamar de , se preferir. — Após algumas tentativas, ele disse, sorrindo.
— … Bem melhor — disse ela, fazendo um joinha. — . . — Ela sorriu e fez uma pausa. — Mas pode me chamar de . — Ela esticou a mão para cumprimentar o rapaz, que imediatamente reagiu à ação da garota.
— Certo, . — abriu um sorriso maior, e notou que até seus olhos sorriram, o que a encantou, a fazendo retribuir o sorriso. — Então… Sempre pega o ônibus para o Ártico, dona ? — ele brincou, olhando para ela com um ar divertido.
— Só quando tem alguém interessante pra fazer a viagem valer a pena — respondeu, dando de ombros enquanto sorria.
— Interessante, hein? — ele disse, se inclinando ligeiramente, divertido. — Acho que posso aceitar esse elogio.
— Não se empolga, ainda tô decidindo — ela retrucou, rindo baixinho.
— Sem pressão — respondeu, com um brilho no olhar. — Mas, se ficarmos mais tempo juntos, pode ser que você mude de ideia sobre mim.
riu, agora mais à vontade.
— Veremos, , veremos.
Eles se sentiam mais leves, mesmo com o cenário bizarro ao redor. A companhia um do outro trazia uma sensação de segurança. No entanto, um som gutural ecoou de algum lugar além da neblina. Era inumano, profundo, como um rosnado macabro que arrepiou ambos, fazendo seus corações dispararem, seus olhos estavam à procura de identificar de onde vinha o barulho aterrorizante.
— O que foi isso? — sussurrou, a voz falhando enquanto ela tentava manter a calma.
— Eu... não sei — respondeu o rapaz, também tentando decifrar o que acabara de ouvir. — Mas não parece humano.
Ambos olharam ao redor em busca da origem do som, mas algo na neblina parecia se mover, e o medo conseguia distorcer a visão e os sentidos dos dois. O silêncio enlouquecedor do ônibus voltou, mas agora parecia carregado, como se algo estivesse à espreita, apenas esperando o momento certo para atacar sua presa.
— Precisamos sair daqui! — exclamou, agitada. — Está escuro demais, frio demais, e esse som... aquilo não era normal! — ela falava rápido, como se as palavras pudessem afastar o medo. — Nada aqui faz sentido! O que a gente faz, ?
Ele permaneceu quieto, as mãos nos bolsos, os olhos observando a neblina ao redor. A tensão no ar era palpável, mas não se deixava levar pelo pânico. Ele sabia que esperava uma resposta, qualquer coisa que trouxesse um pouco de clareza para o que estavam vivendo, mas ele não parecia disposto a oferecer mais do que o silêncio. O que quer que ele estivesse pensando, não compartilhava com ela.
— Hey, , você me ouviu? — continuava, com a voz cada vez mais alta. — O que está acontecendo? Como vamos sair daqui?
, sem desviar os olhos do horizonte oculto pela névoa, respirou fundo. Ele sabia que precisava pensar, precisava manter o controle da situação. Mas suas respostas eram poucas, e a verdade, oculta em suas ações, permanecia escondida sob a fachada de calma.
— Fala alguma coisa! — insistiu, parando na frente dele, o rosto marcado pelo desespero crescente. — Você tem um plano, certo? Porque eu estou surtando aqui!
a observou por um segundo, avaliando a situação sem deixar transparecer muito. Ele sabia que o pânico dela não ajudaria em nada. Estava ciente de que ela esperava uma solução rápida, mas, em vez de responder às perguntas dela, ele manteve o silêncio por mais alguns instantes.
— por favor... — implorou, sem paciência para mais mistério. — Fala comigo!
Finalmente, ele quebrou o silêncio, mas de forma calculada.
— Vamos sair daqui — ele disse, sem dar detalhes. — Só precisamos manter a calma.
A resposta era vaga, quase insuficiente, mas o tom de sua voz transmitia uma falsa segurança. Ele desviou o olhar de e voltou a encarar a névoa, como se algo o estivesse chamando.
— E vamos para onde? — perguntou, seu desespero era evidente. — Nada aqui faz sentido!
— Confia em mim. — Foi tudo o que ele disse.
Era uma promessa breve, sem explicações. começou a andar rapidamente, e o seguiu, ainda com dúvidas, sem saber exatamente o que fazer. Enquanto caminhavam pelas ruas desertas de Peabody, o cenário ao redor parecia familiar, mas ao mesmo tempo uma Peabody perdida no tempo.
A neblina ao redor parecia ter se instalado permanentemente, envolvendo os estabelecimentos e as ruas. A escuridão fazia com que as luzes dos postes parecerem insignificantes, mal iluminando o caminho. olhou para um ponto específico, reconhecendo uma loja de conveniência, mas notou que o local estava mais degradado do que se lembrava. As letras "JM" estavam pintadas na placa, um detalhe que ela achou familiar, mas não conseguia lembrar de onde.
— Isso está muito bizarro — murmurou, compartilhando seus pensamentos em voz alta. — Peabody não é assim... não pode ser assim.
permaneceu em silêncio por mais alguns minutos, como se estivesse processando o que dizer. Ele estava mais pensativo do que o normal, e percebeu que algo o incomodava, mas ele não deixava transparecer completamente.
— As ruas... O jeito que tudo está vazio. — Ele finalmente quebrou o silêncio, sem olhar para ela. — Parece que estamos no mesmo lugar, mas... abandonado. Quase como se a cidade tivesse sido esquecida por todos.
— O que você acha que está acontecendo? — ela perguntou, a voz hesitante.
parou por um momento, olhando para a região, as lojas fechadas, as ruas vazias. Ele pensou em como poderia abordar o assunto sem assustá-la mais do que ela já estava. Mas decidiu ser direto.
— Já ouviu falar de SeteAlém? — ele perguntou, ainda sem encará-la diretamente.
franziu o cenho.
— SeteAlém? Isso não é aquela lenda urbana? Tipo, gente que pega um ônibus e acaba em uma realidade paralela? — Quando se tocou do que havia dito, a garota arregalou os olhos, entendo a pergunta do garoto.
— Exatamente — ele respondeu. — Então... isso que estamos vendo, o ônibus como portal, a neblina, as ruas vazias... São algumas das coisas que as pessoas dizem quando falam de SeteAlém.
Ela ficou em silêncio por um instante, tentando processar o que ele dizia. O arrepio em seu corpo era tão intenso que chegava a causar uma dor leve. A ideia de estar em um lugar como SeteAlém parecia absurda, mas tudo começou a fazer sentido de repente.
— Não pode ser isso — ela murmurou. — Isso é só uma história para assustar as pessoas... não pode ser real. — Tentou convencer.
— Eu também achava isso — respondeu, finalmente olhando para ela. — Mas olha ao redor, . O silêncio, a neblina... a única coisa que falta são as pessoas estranhas que sempre aparecem nessas histórias.
sentiu um aperto no peito ao ouvir isso. A ideia de que poderiam encontrar pessoas — ou algo pior — naquelas ruas vazias a deixava ainda mais inquieta.
Enquanto passavam por mais uma esquina, ela olhou para as lojas abandonadas e reconheceu algumas fachadas, mas todas pareciam envelhecidas, como se tivessem sido esquecidas há muito tempo. Ela olhou novamente para a placa da loja com as letras "JM", agora um pouco mais apagada e desgastada do que ela lembrava.
— E se for verdade? — ela perguntou, a voz hesitante. — O que fazemos?
não respondeu de imediato, seus passos mais firmes agora, como se estivesse decidindo o próximo movimento.
— Ainda não sei — ele finalmente disse, a voz controlada. — Mas precisamos continuar andando. Ficar parados aqui só vai nos deixar mais vulneráveis.
olhou ao redor mais uma vez, sentindo que a qualquer momento algo poderia emergir da névoa ou das ruas desertas, o silêncio estava na cola, envolvendo passo a passo.
Quando viraram a esquina, o som de passos ecoou pela rua vazia. Não os seus passos, mas algo mais. e pararam ao mesmo tempo, trocando um olhar rápido e alarmado. Figuras começaram a aparecer de dentro da neblina — um grupo de pessoas caminhando na direção deles, as silhuetas estavam distorcidas por causa da neblina, e os rostos se escondiam nas sombras.
sentiu o corpo todo ficar tenso, enquanto chegava mais perto dela, como se instintivamente quisesse protegê-la daqueles seres. Quando o grupo chegou mais perto, percebeu que havia algo errado com eles. As roupas pareciam antiquadas, como se fossem de outra época, e seus olhos, embora visíveis, estavam vazios, sem emoção, com um tom escuro assustador. Eram cinco ao todo, caminhando devagar, cada movimento estranhamente mecânico.
Um dos homens, o que parecia ser o líder, parou diante deles, os olhos fixos nos dois, e então falou, a voz baixa e urgente:
— Vocês não deveriam estar aqui.
franziu a testa, confuso.
— Como assim?
— Vocês precisam sair. AGORA. — Foi o que uma mulher que estava ao lado do líder disse, dando um passo em direção aos visitantes, os olhos dela estavam assustadoramente arregalados, como se estivesse mais apavorada que os dois, como se fosse possível. — Esse lugar aqui... não é para gente como vocês.
sentiu um arrepio correr por todo o corpo, desta vez muito mais forte que todos os outros, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o líder falou de novo, com o tom mais alto, quase como uma advertência final:
— Vocês têm pouco tempo. Se ficarem muito mais... não conseguirão sair.
olhou para , os olhos agora cheios de urgência.
— Vamos — ele disse rapidamente, pegando na mão da garota e saindo dali, sem esperar mais uma palavra daquele grupo estranho.
Quando eles começaram a correr para trás, a neblina ao redor parecia se fechar, e o grupo desapareceu no meio daquela neblina, os dois não tinham coragem para olhar para trás, apenas seguiram em frente, deixando apenas o silêncio desconfortante. Eles não sabiam para onde ir, mas sabiam que tinham que se mover. E rápido.