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Revisada por Vênus 🌪️
Atualizada em: 03.08.2024

— Aí está você! — A voz de um dos únicos amigos de verdade que eu tinha arrancou minha atenção do bar, mas não o suficiente para olhá-lo.
Aquele suspense todo estava sendo um saco.
Era a festa de noivado do meu melhor amigo e eu sabia que ele estava ansioso para me apresentar para sua noiva.
Quem preparava uma festa de noivado sem nem sequer apresentar a noiva aos amigos?
Ele mesmo.
.
Eu nem sei porque ainda me surpreendia.
Quando finalmente olhei para ele tudo que eu conseguia sentir era uma puta inveja, não que eu tivesse motivos. O problema é que para mim a vida sempre foi uma competição e relacionamentos não era algo que eu conseguia estar em primeiro lugar.
Tudo parecia fácil para ele.
Sem empecilhos.
E comigo?
Bom, meu coração jamais poderia pertencer a alguém de novo.
— Vai bancar o ranzinza justo hoje, ? — Sua mão tocou meu ombro e eu dei o último gole no quarto Whisky que eu já tinha tomado em menos de quarenta minutos.
Maldito vício.
— Eu sempre sou — sentenciei, rindo.
Eu nunca o tinha visto tão bem arrumado. Na maior parte do tempo, ele estava com as calças jeans pretas surradas, coturno e camisas com o logo de alguma banda de rock dos anos 80.
— Eu sei, tô bonitão. — O filha da puta tinha um sorriso de ponta a ponta, não poderia culpá-lo.
Encontrar o amor da sua vida é algo que te muda completamente, é como descobrir que se tem o universo inteiro só para você. Te sufoca, mas também te liberta.
Eu sufocaria para o resto da vida.
— Então, é agora que vou conhecer a sortuda, Sr. ? — debochei.
Ele estava tão feliz que nem ligou para as minhas brincadeiras e apenas soltou uma risadinha sem graça
Merda.
Meu melhor amigo estava apaixonado pra caramba.
De repente comecei a me sentir ansioso.
Procurei por alguma mulher que fosse o tipo do meu amigo, mas nenhuma chamou minha atenção.
— Eu sei que aí no fundo desse seu coração gelado você está ansioso para conhecê-la — debochou da minha cara.
— Então anda logo!
Acompanhei quando ele fez sinal para onde deveríamos ir. Era ridículo pensar que eu nunca tinha conhecido a mulher com quem ele ia se casar, mas respeitava a decisão do meu amigo em manter sua vida o mais privada possível. Eu também não estava muito presente no último ano, havia passado a maior parte do tempo viajando em nossas folgas.
, essa é , minha noiva.
Meus pés ficaram paralisados quando ele apontou para uma mulher de cabelos longos, que estava de costas para nós. Meu coração gelou.
De repente foi como se eu não fosse mais um homem no auge dos meus quase trinta anos e sim um garoto de dezessete.
Eu só poderia estar imaginando coisas.
Pisquei diversas vezes, quando seus olhos encontraram os meus, ao se virar.
Sufoquei a gargalhada que eu queria soltar e senti minha garganta quase arrebentar.
A minha vida era uma grande ironia.
Uma bem filha da puta.



— Eu espero que tenham um bom motivo para terem me acordado tão cedo — se jogou na cadeira da sala de reuniões com o seu mau humor de sempre.
Não gostava de acordar cedo e do que se lembrava, não tinha nada importante para eles conversarem.
Tudo estava resolvido, certo?
Ele observou do outro lado da mesa e viu a cara de poucos amigos de Tyler e Connor, então sabia muito bem do que se tratava.
A maldita ideia.
— Não me diz que me trouxeram aqui para falar sobre…
— Nossa pausa? — o interrompeu. — Você achou mesmo que iríamos acatar sua decisão como a última?
Não era nada daquilo, o rapaz apenas achou que eles o apoiariam.
, nós não estamos parando para sempre…— Connor tentou apaziguar a situação. Ele era o mais centrado da banda.
— Cara, nós precisamos desse tempo — Tyler tentou ajudar, mas a cara de não foi das melhores. — Estamos há mais de dois anos sem férias…
— Só porque você não tem alguém... — parou de falar ao ver os olhos do amigo endurecerem.
Porra, ele não queria falar daquele jeito, mas não aguentava mais o egoísmo do amigo.
— Achei que éramos melhores amigos — soou sarcástico.
O clima dentro da sala só ficava pior.
só queria levantar e ir embora. Eles não tinham ideia do que uma pausa na carreira seria capaz de fazer com ele. Nos últimos sete anos nunca ficaram mais do que dois meses parados.
Como ele sobreviveria a um ano longe dos palcos? Da sua música?
Era uma loucura do caralho e que ele não estava disposto a enfrentar.
— Eu não concordo, é isso — insistiu.
— Nós sempre votamos e a maioria concorda que precisamos dessa pausa — foi direto.
— Isso é sobre sua paixão misteriosa, ? — explodiu. — Vai foder com a banda por causa de uma qualquer?
O silêncio se formou.
Eles nunca tinham brigado nos sete anos de estrada, mas tudo parecia ruir entre eles bem ali.
— Podemos ao menos negociar? — quis saber, um pouco mais calmo.
Ele amava aqueles caras e a banda. Não queria destruir tudo.
— Cara…. — estava puto da vida.
— Se acalmem — Connor chamou a atenção dos outros dois. — O que sugere, ?
Ele pensou por um tempo, queria dizer tudo para eles. Explicar seus reais motivos pelos quais estaria fodido se ficasse tempo demais em pausa.
Queria contar a eles todos os demônios que carregava.
O verdadeiro significado para seus relacionamentos fracassados, uma mulher por noite, bebidas em excesso e o seu jeito depressivo de ser.
Mas se limitou a dizer o que talvez os convenceria:
— 6 meses.
Todos se entreolharam. deixou bem claro em seu olhar que não concordava, mas fez um meneio positivo com a cabeça e então saiu da sala.
— Que merda — balbuciou.
não era só um integrante da banda, ele era seu melhor amigo também.
— Relaxa, ele vai esquecer isso rapidinho — Tyler riu e ele soube bem a que se referia.
— Então nos vemos por aí — se despediu dos companheiros de banda e saiu.
Um desespero tomou conta de seu coração.
Ele de fato não tinha alguém e sua família estava fora de cogitação, então para onde iria?
Antes mesmo de encontrar uma resposta, o toque de seu celular o tirou de seus pensamentos desesperados. O nome de sua mãe apareceu na tela e ele franziu o cenho, porque não era para ela estar ligando.
Deveria estar em lua de mel.
, querido? — A voz dela não estava normal e o coração dele se apertou.
— Está tudo bem?
— Preciso que venha para Holmes Chapel, é o John.

🎤🦋


tinha aguentado muito bem nos últimos anos, mas agora tudo parecia ruir. Seus pensamentos estavam a mil e depois da ligação ele mal teve tempo de passar em casa, fazer as malas ou sequer processar tudo.
Como sua vida tinha se transformado nisso?
A música tocava baixo no alto falante do carro e normalmente o acalmaria, mas não dessa vez, não com o acúmulo de frustração que carregava. Queria poder parar no tempo e mudar algumas coisas, trazer outras de volta. Mas era bobeira, isso jamais seria possível.
Assim que cruzou a placa Bem-vindo a Holmes Chapel, seu coração pulou em desespero, foi como se um soco o atingisse e ele sufocou um grito de desespero. De dor.
Não deveria estar ali, mas jamais se perdoaria se não estivesse.
O vilarejo ainda estava igual ao que ele se lembrava, com algumas pequenas modificações, é claro, mas ele ainda reconhecia boa parte.
decidiu, então, rodar por um tempo. Passou em uma sorveteria, foi ao seu antigo colégio, visitou alguns outros pontos e depois de quase uma hora decidiu que deveria ir para casa. Deveria enfrentar seus medos.
Ao estacionar, seu coração quase parou, era como se tivesse voltado no tempo. Como se os anos não tivessem passado. Por um momento quase conseguiu sentir aquela presença lhe dizendo que tudo ficaria bem.
A voz calma em seu ouvido.
O sorriso.
O perfume que era só dela.
Seus olhos arderam.
, vai ficar tudo bem…. — A voz calma soou em seus ouvidos.
Arrepios percorreram os braços de e ele sufocou o desespero e segurou as lágrimas em seus olhos.
— Eu queria muito acreditar nisso… — Ele nem sabia porque respondeu, mas não conseguiu evitar.
De repente, um flash de luz tomou seus olhos.
— Ficou adorável. — Mostrou a polaroide.
riu de leve.
Ele respirou fundo e então saiu do carro em um rompante como se nunca tivesse acontecido. Não queria pensar em nada daquilo, precisava focar no agora.
Em tudo que teria de lidar depois de entrar naquela casa.
Braços envolveram seu pescoço ao dar alguns passos em direção a entrada e ele pensou ser Gema, sua irmã, mas ficou espantado ao ver quem era.
— Lexie? — Sua expressão era de espanto.
A garota ruiva o encarou com um pesar nos olhos e um sorriso tímido. Lexie Collins era a última pessoa que ele esperava ver de novo. Não se falavam há anos e ele nem sabia ao certo como reagir com o reencontro, ainda mais em um momento nada apropriado.
— Eu sei, você não merece, mas…
Ele sorriu diante das palavras dela e finalmente correspondeu ao abraço. Ele a apertou tão forte que pode escutar um muxoxo de dor vindo por parte dela.
— Eu nem sei o que dizer…. — ele murmurou, meio sem jeito ao se afastar.
— Qual é, . — Lexie deu um soco de leve em seu braço. — Sem drama, por favor.
Tudo que ele conseguiu fazer foi rir, e então, quando a porta se abriu, o peso voltou ao seus ombros e uma tristeza tomou conta de suas expressões.
— Eu sinto muito, — Lexie falou baixo e chamou sua atenção.
— Obrigado… — Ele depositou um beijo na cabeça de Lexie e a encarou. — Te vejo depois?
Lexie respondeu com um simples “claro, estarei por perto” e ele foi em direção a mulher com os olhos vermelhos e esbugalhados parada na porta de entrada da casa.
Sua mãe o abraçou forte e logo ele sentiu um tremor em seus braços. Ela estava chorando.
a segurou com firmeza e a deixou colocar tudo para fora ali mesmo. Nem sabia se Lexie assistia tudo, mas não se importou. Que tipo de filho seria se não a consolasse?
Depois de alguns minutos, a mulher se acalmou e o encarou ao se afastar.
— Você está tão diferente, querido. — Ela segurou o rosto do filho e o analisou bem no fundo dos olhos.
O conhecia muito bem para saber o quanto era difícil para ele estar ali.
— E você cada dia mais bonita, dona Trisha. — deu um beijo na bochecha dela e então foi levado para dentro da casa.
Pessoas em seus trajes pretos caminhavam pelas dependências do lugar, algumas conhecidas e outras nem tanto. O cheiro de comida estava presente no ar e sentiu-se quase nostálgico. Se não fosse pelas circunstâncias, ele até poderia estar feliz em voltar para casa depois de tanto tempo.
Ele passou por alguns cômodos, mas se limitou a ficar no primeiro andar. Ainda não se sentia pronto para enfrentar alguns fantasmas do passado.
— Querido, é tão bom te ver. — Uma de suas tias o parou ao alcançar o jardim. — Pena que não em circunstâncias melhores, eu sinto muito, John ficaria tão feliz em te ver….
quase riu da ironia. Não tinha sequer pensado em John de fato até escutar o nome dele e sentiu seu coração ser esmagado, sua respiração ficou descompassada e sua visão embaçou por alguns instantes.
— Pode me dar licença?
saiu andando o mais rápido que conseguiu. Suas mãos tremiam sem parar, seu coração batia acelerado e a sudorese parecia aumentar a cada passo dado.
Ele mal conseguia respirar.
Se não fossem pelas paredes, onde ele se escorou até encontrar o banheiro no fundo do corredor, teria caído.
A sensação era de que sufocaria a qualquer instante e ele nem mesmo acendeu as luzes, precisava acalmar seus ânimos. Sua cabeça estava a mil.
Para o seu azar, ele não conseguiu se manter em pé e deslizou até o chão.
Sem saber o que fazer ou sequer controlar o que acontecia, caiu em um choro desesperado. Sufocante.
Sentia-se completamente sozinho, e de fato, estava.
Maldita hora para uma pausa na carreira.
Foi seu último pensamento antes de tudo apagar.

🦋


encarou a mensagem no celular e suspirou frustrada. Não era uma má notícia, só era complicada.
Sua vida toda era, na verdade.
Queria poder ficar na cama o resto do dia, já que era sábado e não precisaria trabalhar. Porém, não podia. Era dia de visita e ela jamais poderia faltar. Não gostava nem de pensar nas consequências se fizesse isto.
Mesmo a contragosto, ela levantou da cama, tomou seu banho de sempre, engoliu qualquer coisa e preparou seu café preto que foi colocado em uma garrafa térmica. Era a mesma coisa de sempre, como um castigo que ela estava cansada de cumprir.
E se deixasse de ir? Não, não era uma opção, e ela sabia disso.
O trânsito estava calmo e conseguiu chegar ao lugar na metade do tempo. não sabia se isso era bom ou ruim, porque ao mesmo tempo que queria acabar com aquilo de uma vez por todas, desejava protelar o máximo possível.
Era uma confusão de sentimentos sem fim.
estacionou o carro e estacou dentro dele. Por que precisava ser sempre assim? Já fazia oito meses e ela nunca conseguia se acostumar. O nervosismo sempre se fazia presente, como uma navalha corroendo sua pele.
Você consegue. Você consegue.
Observou o prédio e quis dar meia volta. O Sanatorium Hostfield Center ainda era intimidador aos seus olhos, mesmo após oito meses o visitando religiosamente. Era enorme e antigo, construído por volta dos anos sessenta e teve apenas pequenas reformas com a intenção de modificar um pouco sua forma original.
De amenizar a imagem assustadora.
Claramente não deu certo. Foi o que pensou ao caminhar para dentro do lugar.
— Bom dia, sou , estou aqui para ver Giordana . — abriu seu melhor sorriso para a recepcionista do outro lado do balcão.
— Seus documentos? — A mulher pediu e ela os forneceu. — Aqui, preencha esse formulário, por favor.
encarou os papéis e sentiu uma certa vontade de desistir, mas logo começou a preencher as perguntas quase que involuntariamente.
8 meses.
Sabia do tempo, mas parecia muito mais ao ler e escrever sobre. Muita coisa tinha mudado, mas ela ainda não conseguia lidar com tudo. Tinha medo que a qualquer momento as coisas pudessem voltar ao que eram antes.
Um arrepio percorreu a espinha de e ela devolveu o formulário a contragosto.
— Pode vir comigo. — Uma voz soou ao seu lado e ela viu que era uma enfermeira desconhecida.
Tão rápido?
observou o lugar com a mesma apreensão de sempre, como se fosse sua primeira vez. As paredes brancas eram intimidadoras e deixavam o ambiente ainda mais sem vida, ela achava que nunca iria se acostumar.
Passar a mão pelos cabelos repetidas vezes foi o que a relaxou durante todo o percurso até o quarto de número 608.
— Como ela está hoje? — A pergunta saltou de seus lábios antes de rodar a maçaneta.
— Muito bem, falou sobre a sua visita desde a hora que acordou. — A enfermeira, Lucy, como ela leu em seu crachá, sorriu compreensiva.
retribuiu o sorriso e respirou fundo, para então rodar a maçaneta, ao passo que deu um leve salto depois de entrar e escutar a porta bater com força atrás dela.
A mulher que aparentava ter cerca de seus quarenta e cinco anos e olhos negros iguais aos de a abriu um sorriso assim que seus olhos se cruzaram.
Apesar do tempo de internação, falta de acesso a maquiagens e qualquer coisa para se arrumar, o tempo tinha sido generoso com ela, lhe concedendo uma boa aparência de cara limpa.
Aos olhos da mais nova ela parecia muito melhor do que na última visita, a pele de Giordana estava mais corada e sua expressão suave. Ela então saiu das cobertas e cruzou as pernas para encarar , que logo se ajeitou em uma bancada de madeira.
— Oi, mãe. — abriu um sorriso ao terminar de se acomodar.
Giordana sorriu novamente, mas não disse nada.
— Sou eu, a — ela engoliu em seco. — Sua filha…
A mulher soltou uma risada abafada que arrepiou cada pelo de .
— Não seja boba, . — Giordana abriu um sorriso assustador. — Sei quem você é.
Ela encarou a mãe por alguns instantes, além de melhor, algo parecia diferente nela.
— Senti sua falta. — Giordana a encarava sem piscar e isso causava um certo nervosismo em . — Você está diferente…
O coração da mais nova palpitou, ela não tinha como saber.
— Desculpa não ter vindo antes, eu ando bem atolada com o trabalho…. — mentiu.
Não era bem o trabalho que vinha ocupando boa parte do seu tempo, mas sua mãe não tinha como saber e jamais contaria a verdade.
Ela não tinha mais o poder de controlar sua vida.
— Não minta para mim, .
Os olhos de se arregalaram e ela engoliu em seco.
Conhecia muito bem aquele tom de voz.
— Sei que isso tem a ver com algum garoto, sei das coisas, me contam elas. — Giordana abriu um sorriso estranho.
queria sair correndo, mas não o fez. Apenas se remexeu impaciente onde estava e desviou os olhos de sua mãe para se recuperar.
Não podia perder a cabeça, não com ela.
— Vamos falar de você, só te vejo duas vezes por mês. — decidiu mudar de assunto, era o melhor a se fazer.
Giordana a encarou por alguns instantes e a garota achou que iria sufocar, mas logo a mulher abriu um sorriso de ponta a ponta. E então, saltou da cama e sentou-se bem ao seu lado.
Não se surpreendeu com a mudança de humor repentina.
Era difícil de acompanhar, mas ela se esforçava. Precisava se esforçar.
Foi então que ela reparou nas roupas de sua mãe. Giordana usava um vestido branco com flores azuis e a garganta de se fechou ao passo que lembranças nublaram seus pensamentos e ela não conseguiu mais aguentar.
Coisas eram arremessadas e barulho de vidros sendo quebrados atingiam os ouvidos de e ela não conseguia sequer se mover. Em um canto da sala ela se viu ajoelhada ao encarar o vestido branco de flores se aproximar.
O grito que saltou de sua garganta foi tudo o que ela conseguiu compreender.
— Filha, você está me ouvindo? — Giordana colocou a mão sobre a de , que se retraiu. — Você não precisa ter medo de mim, não mais.
Ela sorriu nervosa.
— Não estou com medo, você me assustou, só isso. — desviou o olhar, não queria encarar o vestido.
Então se levantou para se afastar um pouco, precisava de espaço.
— Poderia ter uma janela aqui, né? — mudou de assunto.
— Desculpa ter colocado este vestido. — a encarou. Ela sabia do vestido e mesmo assim o fez? Uma raiva a consumiu, mas não disse nada. — Eu estou melhorando agora, o médico até disse que eu logo poderei ir para casa. Ele disse que sou a paciente mais dedicada que ele já viu.
Voltar para casa? A mente de gritou e sentiu a sala começar rodar.
— O quê?
— É, ele disse que logo estaremos juntas de novo, eu e você. Para sempre.
Não, aquilo não poderia acontecer. Não para .
— Eu preciso ir — respondeu ao caminhar em direção a porta, mas foi parada por uma mão em seu ombro. — Você lembra das regras, sem toques.
Giordana deu um passo para trás incrédula, a raiva evidente em seu olhar.
— Você quer que eu vá para casa, né? — Sua mãe perguntou ao encará-la no fundo dos olhos.
a encarou por alguns instantes, então se virou, deu duas batidas na porta e quando se abriu ela saiu sem dizer nada.
A chuva caia torrencialmente do lado de fora, mas nem isso foi capaz de apagar o calor que lambia a pele de . Ela fervia em raiva, frustração e impotência. De repente sentiu como se estivesse andando em círculos.
Ela bateu a porta do carro com força e deixou as lágrimas caírem descontroladas.
Não sabia mais o que a fazia se sentir pior, a notícia por parte de sua mãe ou o fato de desejar do fundo do coração que jamais se concretizasse.

🦋


sentiu sua cabeça mais pesada do que nunca e quase não teve coragem de abrir os olhos. Estava escuro e de primeira não reconheceu o ambiente, mas logo sua visão foi se normalizando e ele soube.
Era o seu antigo quarto.
Ele respirou fundo e tentou se lembrar do que aconteceu. Tudo veio a sua mente muito rápido e desejou ter esquecido.
Foi uma crise das fortes, tinha certeza.
Contudo, não se lembrava como tinha chegado ao seu quarto, ou do velório e nem mesmo do enterro.
Será que não tinha ido a nenhum dos dois? Uma culpa o assolou.
Ele não queria, mas precisou levantar, não podia fugir para sempre. saiu da cama e tateou em busca do interruptor até encontrá-lo. Quando a luz se acendeu soube que seu quarto não tinha mudado em nada, estava exatamente do mesmo jeito de sete anos atrás. Parecia até loucura.
Ele passou os olhos pelo local e então uma estante repleta de livros chamou sua atenção. O título de Orgulho e Preconceito de Jane Austen saltou aos seus olhos e ele logo o retirou da prateleira. respirou fundo e então abriu na primeira página.
Tinha uma frase e uma assinatura.
.
O nome reverberou em sua mente. Era a primeira vez desde que tinha chegado à cidade e foi tão doloroso quanto ele esperava que seria.

“Eu lhe repasso este livro, na esperança de que toque a sua alma,
tanto quanto tocou a minha”

.

fechou o livro de forma brusca e o retornou para a estante. Pensar sobre ou seu passado não era bom, não era saudável e ele não tinha voltado para Holmes Chapel para se torturar daquela forma.
Não de novo.
Ele saiu do quarto e então desceu as escadas com pressa. Não tinha mais ninguém na casa e já estava escuro do lado de fora.
? — A voz calma de sua mãe o chamou. — Você está se sentindo melhor, meu filho?
Do que ela estava falando? Só teve uma crise e precisou dormir…
— Você passou muito mal e Lexie te ajudou a ir para a cama… — Trisha explicou.
Merda. Foi muito pior do que ele aparentemente se lembrava.
— Eu perdi o velório e o enterro? — A culpa o corroeu.
Trisha o encarou com pesar ao afirmar com um meneio de cabeça.
— Mãe, me desculpa,eu….
— Está tudo bem, . — Ela o tranquilizou. — Foi uma cerimônia linda, mas muito triste, talvez foi melhor assim…
sentiu-se ainda mais culpado diante da compreensão de sua mãe. Ela era boa demais.
— Eu preciso de um pouco de ar. — Foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de sair porta a fora.
Lexie estava sentada bem de frente para a porta de entrada e ele se assustou ao vê-la ali.
— Lexie?
! — Ela se levantou e foi para perto dele, os olhos expressivos. Ela estava chorando? — Você está melhor?
— Eu é que pergunto — chegou mais perto da ruiva. — Você está bem?
Lexie o encarou por alguns instantes e ele soube. Compartilhavam da mesma dor.
— Quer sair daqui? — O homem sugeriu.
Nem precisou de uma resposta e os dois foram até seu carro. Ele nem sabia para onde estava indo, mas dirigiu mesmo assim.
— Às vezes acho que nunca vou esquecê-la. — Lexie começou a dizer e de soslaio a viu encarar a cidade passar. — A morte de John trouxe tudo de volta, sabe? Às vezes acho que tem algo de errado comigo, .
O cantou ficou em silêncio, não sabia ao certo o que dizer a ela porque compreendia muito bem o sentimento.
— Você acha que sou louca, né?
— Eu acho que ela era sua melhor amiga, então é bem compreensível.
— Como conseguiu, ? — Dessa vez ela o encarava.
Ele tinha acabado de parar o carro de frente para um bar qualquer. Talvez uma bebida pudesse ajudar.
— Não sei do que está falando, Lexie — foi sincero.
— Esquecê-la.
O choque tomou conta de seu rosto. É isso que ela pensava?
— Desculpa eu… — Lexia não soube o que dizer ao ver a expressão dele. — Você foi embora,
Um aperto tomou o coração do cantor. Sentia-se péssimo pelo que fez, mas não sabia ao certo se teria sido muito diferente se tivesse ficado.
Os dois se encararam, Lexi não queria ser dura com ele. não sabia o que dizer para consertar as coisas. Nada que saísse de sua boca seria capaz de confortá-los.
— Quer tomar alguma coisa? — ele sugeriu, talvez fosse melhor não falar sobre aquilo.
— Claro.
O bar não era dos melhores, mas também não era horrível. pediu uma cerveja e Lexie escolheu um vinho tinto seco. Muitas pessoas comprimentaram o rapaz, a maioria para dizer que sentiam muito pela morte de seu padrasto, outros para parabenizá-lo. Às vezes ele quase se esquecia de que era tão famoso.
Nenhum dos dois teve muita coragem de dizer nada e um silêncio desconfortável se formou entre eles por um bom tempo, até que Lexie iniciou uma conversa.
— Você sabia que compraram a casa?
a olhou com uma expressão confusa.
— A casa em que morava.
— Não, eu não sabia — foi tudo que conseguiu responder.
Era estranho pensar em outra pessoa morando ali.
— Eu conheço a dona, ela é muito gente boa. — Lexie tomou um gole de seu vinho e sorriu. — Consegui sentir a presença dela quando estive lá, não mudou muita coisa…
— Você foi na casa? — estava surpreso e espantado ao mesmo tempo.
Como será que ele se sentiria em ir até lá?
De repente sentiu uma vontade inexplicável de estar dentro daquela casa de novo. Ao menos uma ultima vez.
— Posso te levar lá se quiser — a mulher sugeriu, como se fosse capaz de ler seus pensamentos.
não sabia ao certo o que responder, parecia uma ideia muito absurda, mas ele não conseguiu se refrear do sentimento de curiosidade.
Ele piscou algumas vezes e respirou fundo.
Não queria chegar perto demais das lembranças, mas também não queria deixá-las no passado por completo.
— Você acha que tudo bem mesmo? Digo…eu ir até lá, não quero incomodar.
— Claro, vou mandar uma mensagem para ela agora mesmo — Lexie sorriu e começou a digitar em seu telefone. — Agora é só esperar ela responder.
No meio tempo que se seguiu eles ficaram em silêncio novamente. aproveitou para olhar seu telefone e viu que tinha algumas mensagens e ligações perdidas, a maioria delas eram de Tyler, Connor e . A essa altura eles provavelmente sabiam sobre a morte de John e queriam se certificar de que ele estava bem.
até pensou em responder, mas por hora achou que seria bom ter um pouco de espaço. Os três pareceram bem putos mais cedo naquela reunião e não queria ter o sentimento de que o ligaram só por causa do que aconteceu.
Retornaria as ligações em um outro momento.
— Ela topou, podemos ir?
— Claro…. — respondeu meio incerto, mas a acompanhou quando viu a mulher levantar.

O barulho do motor sendo desligado fez soltar a respiração auditivamente, então ele tirou a chave do contato e saiu do carro junto de Lexie. Ele ainda não conseguia acreditar que tinha concordado com a maluquice de ir até ali, mas não dava mais para desistir.
Não queria desistir.
Seu coração batia sem parar e um medo tomou conta de cada célula de seu corpo, mas mesmo assim ele acompanhou a garota ruiva até a porta de entrada.
Não demorou muito para uma mulher simpática aparecer em seu campo de visão e dar espaço para eles entrarem na casa.
não sabia o que sentir. Tudo era muito confuso.
— Lex. — Ele escutou a voz da dona da casa de longe, mas não se atentou muito ao que conversavam.
Sem perceber, o rapaz deu alguns passos na casa e seguiu um pouco para longe de onde as duas estavam. Seus olhos captavam muitas coisas, seu corpo as sentia e seu coração tentava não vacilar diante da emoção.
Era muita coisa para assimilar.
— Lembra que te falei do , Jane?
Ele saiu do transe ao ouvir seu nome sair da boca da amiga e só então se deu conta de que estava quase na cozinha.
estacou meio sem jeito.
— Nem precisava, né? — Jane sorriu para ele, que ficou meio sem jeito. — O famoso , é um prazer!
— Só , por favor — pediu com educação.
Era estranho ser tratado diferente só por causa de sua fama.
— Bom, , pode ficar à vontade. — Jane apontou para a casa e sorriu para ele.
— Eu vou estar aqui embaixo, tudo bem? — Lexie o encarou com cumplicidade e o cantor apenas assentiu.
Não queria deixar transparecer o quanto estava surtando por dentro.
Ir até ali era com certeza uma péssima ideia, mas ele não teve coragem de desistir.
não precisou de muitos passos no andar de baixo para notar que a casa foi reformada, mas isso não o impediu de sentir como se tivesse voltado no tempo. Então seu passado bem diante dos seus olhos o esmagar sem piedade.
Sem perceber seus pés passaram a se mover e subiu a escada para ir em direção ao segundo andar da casa. Era lá que ficava o quarto de e foi para onde ele se dirigiu sem pensar duas vezes.
Onde mais poderia ir?
Ao entrar no quarto não precisou de muito, em segundos, ele sentiu que não era mais , mas apenas , um garoto de dezessete anos experimentando os prazeres do primeiro amor.
estava tão concentrada em ler Orgulho e Preconceito pelo que parecia ser a quinta vez. a observava.
A garota se encontrava sentada em uma espécie de bancada que ficava bem de frente para a janela, com as pernas cruzadas, os cabelos caindo sobre os ombros e segurava seu livro com apenas uma mão. A outra era usada para enrolar diversas vezes uma mecha de cabelo.
adorava aquela mania. Também amava as expressões que ela produzia, como se estivesse lendo aquele livro pela primeira vez.
O rapaz não se segurou e abriu um sorriso.
Soube pela forma como ela franziu os senhor e abriu o mais lindo dos sorrisos que lia uma de suas partes preferidas. Era encantador.
poderia ficar horas observando a garota e nunca se cansaria, apesar da briga na noite anterior ele não conseguia ficar bravo com ela por muito tempo. Então sem conseguir se conter, ele se aproximou, elevou as pernas de , sentou-se e as colocou sobre seu colo.
fechou o livro, suspirou pesado e então o encarou.
— É tudo bobagem, sabe disso, né?
a encarou por alguns instantes. Não queria começar uma briga de novo.
— Eu querer namorar você, é bobagem, então? — fingiu uma irritação, mas logo sorriu.
riu ao encará-lo. Seus olhos diziam muitas coisas que ela não conseguia colocar em palavras.
— “Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.” — recitou calmo e deixou perplexa.
Ele estava recitando uma frase de Orgulho e Preconceito. Sabia como ganhá-la.
— Pesquisou na internet? — a garota provocou.
— Não, eu li mesmo — admitiu. — Até que é legalzinho.
riu, e então saiu de onde estava para ficar mais próxima do rapaz.
Ela o encarou por alguns instantes, então levou uma de suas mãos até o rosto dele e o focou bem no fundo de seus olhos.
— Eu amo você,
quase conseguiu sentir o toque dos lábios dela e não conseguiu suportar a dor em seu peito.
Tudo era demais.
Voltar para Holmes Chapel.
A cidade.
As lembranças.
John.
Em um rompante ele saiu do quarto, desceu as escadas e foi embora, sem nem mesmo avisar Lexie ou Jane.
Precisava ficar sozinho e exatamente para onde ir.

🦋


saiu do banho sem a certeza de que estava se sentindo melhor. Sua cabeça parecia prestes a explodir e seus pensamentos estavam uma confusão desde a visita.
As palavras de sua mãe ainda reverberaram dentro de sua mente.
Eu estou melhorando agora, o médico até disse que eu logo poderei ir para casa.
Ela caminhou até a cozinha com a sensação daquela voz próxima demais. Precisava de um copo de água, ou talvez de algo mais forte.
É, ele disse que logo estaremos juntas de novo, eu e você. Para sempre.
Um arrepio percorreu sua espinha e então decidiu que água não seria o suficiente. Precisava de algo mais forte.
Sem muita paciência, encontrou uma garrafa de vinho e ao encher a taça a virou de uma só vez. Se não estivesse segurando na bancada, provavelmente teria desabado ali mesmo. Suas pernas estavam moles e seu corpo todo tremia.
Não queria surtar, não podia. Não depois de tudo o que conquistou nos últimos oito meses.
Era tão injusto.
Você quer que eu vá para casa, né?
A bile lhe subiu até a garganta e quase a fez sufocar.
— Não, eu não quero! — conseguiu colocar para fora o que estava entalado.
E foi então que ela desabou, sentindo-se uma garotinha e não a mulher adulta que era.
sentou no chão da cozinha sem se importar o quão humilhante aquilo poderia ser. Não tinha mais forças para segurar o que sentia.
Não queria aceitar que sua vida seria arruinada daquela forma de novo.
— Eu não posso fazer isso de novo…— O desespero em sua voz era palpável.
Já passava das dez horas da noite e deveria estar dormindo para o dia seguinte. Seria cheio e havia esperado muito tempo pelo que aconteceria.
Por que tudo precisava ser tão difícil?
não era do tipo que se entregava, mas ali, naquele momento, ela se deixou sentir o que precisava. Já estava segurando aqueles sentimentos por tempo demais e não aguentava mais.
Precisava botar para fora de uma vez por todas.
Lágrimas rolaram por um tempo que ela nem conseguiu calcular, a bateria de seu celular já havia morrido e as luzes programadas na Alexa já tinham se apagado. Eram apenas ela, seus sentimentos conturbados e a dor em seu peito.
E teria ficado ali por muito mais tempo, se não fosse o barulho da campainha que soou alto diante do silêncio na casa.
Não esperava por ninguém e por isso, seu coração gelou.
Ela não aguentaria mais nenhuma notícia ruim, então decidiu ignorar, mas o barulho não cessou.
Sem ter o que fazer a mulher se levantou, vestiu um moletom por cima da blusa e foi até a porta.
respirou fundo, segurou a maçaneta da porta, girou e depois de alguns segundos torturantes a abriu.
… Não está feliz em me ver?





Continua...


Nota da autora: Oi, amores, tudo bem?
Voltar com essa fic e uma NOSTALGIA inexplicável. Eu sou completamente apaixonada por Oblivium, então estou MUITO FELIZ.
Tiveram algumas modificações, mas nada que altere a experiência de vocês. Eu espero muito que gostem!

xoxo, Vane.


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