Revisada/Codificada por: Calisto
Última Atualização: 15/12/2024Eu sei que ele é o grande Primeiro General do rei, Sorrengail, irmão mais velho da General Comandante, Lilith Sorrengail, porém uma coisa é certa, se o rei me chamou… A coisa está feia para o meu lado, como diria o meu irmão mais velho, Adam.
O palácio faz jus a tudo o que dizem, é enorme e com decorações de ouro em formatos de dragões para todos os lados. Eu e meu pai andamos por corredores e mais corredores e mais corredores, e ao chegarmos em uma imensa porta com o triplo do meu tamanho, nós paramos. Meu pai se virou para mim com um olhar afiado e avaliativo, endireitei minha postura e ergui um centímetro a mais o meu queixo, fazendo o meu genitor sorrir minimamente.
— Preciso que você se comprometa com o que o rei te pedir, poucos tem essa chance na sua idade, . — Movo levemente minha cabeça para confirmar que entendi. — Não me desaponte. — Com um último olhar cortante pra mim, meu pai bate duas vezes na porta, e uma voz estrondosa responde com um simples “Entre”.
Adentramos a sala iluminada pelas luzes mágicas nos castiçais, que dá um ar misterioso ao ambiente, o escritório do rei é maior do que muita coisa que já vi. O rei está sentado em uma grande mesa com o mapa de Navarre na parede, do outro lado da sala, uma mesa contém as táticas de guerra do exército, porém o que mais me chama atenção é uma enorme escultura de cabeça de dragão na parede com olhos vermelhos sangue que parecem enxergar a minha alma e todos os meus segredos e pecados.
— Sentem-se, aceitam café ou chá? — o rei pergunta, sentado despreocupadamente de sua cadeira, apontando para os dois bules.
— Bom dia, Majestade, aceito um café e creio que prefira chá — meu pai diz, fazendo uma reverência sincronizada comigo.
— Bom dia, Majestade, sim, aceito chá. — Ando devagar até a cadeira ao lado do meu pai, que pega a xícara de café, dada pelo rei, que em seguida me entrega a minha xícara de chá. — Obrigada, Majestade. — Ao pegar a xícara, me sento, esperando que um dos dois comece a falar.
— Agradeço que tenha concordado em vir, , quero que saiba que tem a minha torcida para que seja a melhor cavaleira da sua turma. — Sua expressão é tranquila, porém o vinco entre suas sobrancelhas revela que eu não estava ali só para saber que tinha a torcida do rei. — Mas isso não é nada que um Sorrengail já não saiba fazer. — Seu sorriso para mim tem um ar tenebroso.
— Sim, toda a família é excepcional, Majestade. — Meu pai entra na onda do rei, e ambos ficam falando sobre os pontos fortes da nossa família, ver aquilo me irrita e eu corto os dois.
— O que quer de mim? — digo.
O rei me encara um pouco surpreso e um pouco, mas só um pouco, admirado, já o meu pai... se pudesse atear fogo pelos olhos, eu seria uma pilha de cinzas.
— O que disse? — Ver o rei se fazendo de desentendido sobre algo que ele claramente ouviu me irrita.
— Eu perguntei o que quer de mim. Vossa Majestade já tem a lealdade da minha família, quase todos os nossos integrantes são membros importantes de Navarre que o senhor mesmo escolheu, meu primo morreu praticamente no meio da Batalha de Aretia, meu irmão quase foi pelo mesmo caminho. — Quanto mais eu falo, mais o rei parece satisfeito. — Então eu perguntei, o que Vossa Majestade quer de mim? — Me forço a terminar ou eu acabaria indo longe demais.
— A coroa precisa de um favor. — O rei se levanta e vai até a estante que fica no canto da parede, destrancando uma gaveta e pegando uma pasta. — Como sabe, Navarre tinha um inimigo principal, Fen Riorson, mas todos sabem que ele deixou um sucessor para dar continuidade a tudo que ele planejava fazer contra Navarre. — O rei Tauri coloca a pasta na minha frente e se senta.
Movida única e exclusivamente pela curiosidade, abro a pasta e me deparo com um par de olhos ônix me encarando e, acima da cabeça, o nome que carrega a marca e o peso de todas as tragédias que aconteceram na Batalha. Xaden Riorson.
— Essa pasta contém informações sobre o filho de Fen Riorson? — Eu não consigo tirar os olhos da imagem na pasta, aqueles olhos estão me hipnotizando.
Vendo a minha situação, meu pai fecha a pasta delicadamente.
— Não é só isso que estou te entregando — o rei continua falando. — Muitos habitantes de Navarre não se sentem seguros vendo o novo líder da rebelião andando livremente e despreocupadamente pelas ruas, e o descontentamento do povo está se refletindo na relação deles com a coroa. Muitos já não sentem mais confiança na minha liderança e isso precisa mudar, para ontem. — Sua ruga entre as sobrancelhas fica ainda maior. O rei esfrega os olhos e, olhando inteiramente para mim, continua. — Exatamente por isso pedi que seu pai a chamasse, seu irmão estava fora de cogitação por ter outras responsabilidades importantes no momento, sua prima Mira está à frente de uma base e Violet… — Tauri faz uma pausa, acompanhada de uma careta. — Sem dúvidas, não. Você, além de ter sido a minha primeira opção, me parece a melhor escolha.
— Então está me pedindo um favor em nome da coroa? — Arqueio a sobrancelha esquerda, tentando ligar os pontos daquilo tudo na minha cabeça.
— Em outras palavras, sim, é isso que estou te pedindo. — Após um longo, suspiro o rei começa a ser direto. O monarca se inclina sobre a mesa e cruza as mãos. — Preciso que faça um acordo comigo. Se você se mostrar a melhor da sua turma, que eu creio que será, lhe darei uma posição de confiança no exército como comandante, capitã ou o que quiser.
Sua oferta está sendo boa demais, sinal que o que eu teria que fazer em troca poderia custar muito alto.
— E em troca disso, eu teria que fazer exatamente o que? — Há três possibilidades rondando a minha cabeça, ou eu teria que me enfiar na rebelião, ou descobrir a jogada deles ou, a ideia que eu menos gostei e que me causa arrepios, ter que matar alguém.
O rei aproxima a cadeira da mesa, suspira profundamente e cruza novamente as mãos, sem nunca tirar os olhos atentos a cada movimento de mim.
— Você, Sorrengail, sem deixar provas contra a sua pessoa, terá que matar Xaden Riorson.
O QUÊ?! Eu terei que fazer o quê?
De pé, ao lado da cama, olhei para a mochila que estava pronta desde antes do sol nascer, com o essencial para sobrevivência, mas sem ficar pesada demais, tendo no máximo 9 quilos. Resultado de não ter conseguido voltar a dormir depois da conversa com o Rei. Ele achava que eu era louca? Que tinha uma parte do cérebro faltando?
Matar uma pessoa em si não era uma tarefa difícil. O problema era quando queriam que você matasse um cara que era puro músculo, tinha quase o dobro da sua altura e odiava a sua família. NÃO DAVA! Eu tinha treinamento desde criança, mas eu não era uma divindade e nem tinha um dragão ainda, ou seja, não tinha um sinete. E também seria assinar um atestado de óbito, o cara era o líder da rebelião e eles eram milhares, e eu era uma só. E isso tudo se eu chegasse a atravessar o parapeito, pra começo de conversa.
Despertei dos meus devaneios ao ouvir batidas na porta do meu quarto. Murmurei audivelmente um “Entre” meio sem emoção, e meu irmão mais velho entrou como se fosse o dono do quarto.
— Bom dia, raio de sol, dormiu bem? — Adam perguntou, se jogando na minha cama, ao lado da mochila, folgado. Puxei a mochila para o lado para ver meu irmão direito.
— Bom dia, Adam, não dormi nada bem. — Esfreguei os olhos de frustração, enquanto o folgado se ajeitava, colocando os braços embaixo da cabeça. — Papai te contou?
— O que o velho deveria me contar? Que vocês foram ver o rei no meio da madrugada? Ou que você tem que dar um fim no Riorson? Ou que você tá se cagando tanto de medo que nem parece uma Sorrengail? — Adam tinha uma sobrancelha arqueada para mim, e eu revirei os olhos e me joguei ao seu lado.
— Eu não estou me cagando de medo! É normal ter receio quando você nunca matou alguém na vida. — Dei de ombros e ele me olhou em descrença, erguendo as sobrancelhas. — Ok, eu tô com medo, está tão na cara assim? — perguntei, escondendo o rosto nas mãos
— Eu não queria dizer, mas, sim, tá evidente que você está com medo, dá pra sentir no ar a sua volta, irmãzinha. — Adam gentilmente tirou as minhas mãos do rosto, assim que olhei pra ele, Adam abriu os braços, sabendo que eu precisava de um abraço, e me joguei nele. — Não precisa ficar assim, você sempre terá o meu apoio. Se você quiser matar o Riorson, eu ajudo, se quiser fugir, eu também ajudo. Mas a gente precisa ir agora, raio de sol.
Soltei o meu irmão e encarei o teto. Se eu quisesse fugir, agora era o momento, me sentei decidida a pedir para o Adam me ajudar a fugir. Quando abri a boca para implorar sua ajuda, minha mãe entrou no quarto.
Depois da batalha de Aretia, minha mãe se tornou amiga e conselheira da rainha. Minha mãe não era do exército, mas sempre lutou muito bem, principalmente depois que foi ligada a um imenso dragão rabo de espada Azul, seu sinete permitiu que ela tivesse uma força inigualável e uma imensa rapidez. Assim que minha mãe chegou perto o suficiente, ela me puxou para um abraço apertado e deu um beijo na minha testa.
— , sua tia é irredutível quanto a ida da Violet para Basgiath, mesmo sabendo que Violet pode morrer, ela ainda sim vai mandar sua prima para lá, então se você puder ajudar Violet no que você conseguir, a amizade de vocês só vai se fortalecer mais e sua tia não perderá outro filho. — Eu já imaginava que tia Lilith faria isso com a pobre da Violet, mas a filha era dela, não podíamos nos meter em como Lilith educava seus filhos.
— Como já imaginava que a tia Lilith faria isso, eu já iria ajudar a Vi, mas tem a minha palavra, mãe, ajudarei a Vi no que estiver ao meu alcance e não deixarei que ela faça nada estupido. — Coloquei a mochila nas costas e segui minha mãe até a porta, onde ela me deixou passar na frente.
Esperei por ela e meu irmão e escutei os cochichos dos dois.
— Por que você saiu ontem antes do seu pai sair? Ele ficou me perguntando onde você estava e eu tive que mentir por você de novo, Adam. — Minha mãe estava irritada, mas também preocupada.
— Você sabe que eu tinha que avisá-lo, principalmente porque ele me prometeu protegê-la, as duas terão um alvo marcado na testa assim que pisarem no quadrante, não posso deixar nada acontecer com ela. — Houve uma pausa em que escutei suspiros dos dois. — E também, eu tinha que entregar umas coisas que prometi para aquele idiota.
Dei uns passos para frente para não parecer que fiquei bisbilhotando a conversa dos dois, exatamente como estava.
— Vamos logo, ou eu irei me atrasar, principalmente porque temos que encontrar a Violet no caminho! — gritei e continuei caminhando pelos corredores da fortaleza da qual eu tinha o prazer, ou desprazer, de chamar de casa.
Meu irmão me alcançou e continuamos andando na frente da nossa mãe, que encontrou o guarda dela e estava perguntando sobre seus compromissos.
No meio do caminho, encontramos Mira e Violet, que abriram largos sorrisos ao nos verem. Nesse ponto e por causa do horário, eu sabia que minha mãe nos deixaria para poder ir cumprir sua agenda.
— Bom dia, Mi, bom dia, Vi. — Dei um abraço em cada uma e esperei minha mãe cumprimentá-las para me despedir. — Já precisa ir? — Pude ver de relance meu irmão enchendo o saco da Mira.
Minha mãe se aproximou e me deu um último abraço.
— Sim, se cuide e fique de olho na sua prima. — Minha mãe se virou para a Violet. — Estou torcendo por você, Violet, infelizmente vocês duas já irão chegar sendo os principais alvos, tenha cuidado com todos, e se puder aprender a lutar com a , será de grande ajuda pra você mesma.
Minha mãe se despediu de nós e se encaminhou para os corredores que levavam à saída da fortaleza. Nós quatro continuamos indo em direção a parte administrativa da fortaleza, que por dentro estava silenciosa, mas do lado de fora havia um alvoroço. Pelas janelas, vi milhares de candidatos abraçando seus entes queridos e se despedindo nos campos logo abaixo do portão principal. Pelo que eu e Violet vínhamos testemunhando todos os anos, a maioria das famílias mantinha seus candidatos até o último minuto. As quatro estradas que levavam à fortaleza estavam entupidas de cavalos e carroças, principalmente onde convergiam em frente ao colégio, mas eram as vazias, à beira dos campos, que me atormentavam, elas eram para os corpos.
Quando vimos o portão principal, meu irmão me puxou para um abraço.
— Se cuide, se proteja, não faça nada estupido e o principal, não morra e não deixe ninguém te matar. — Ele me soltou e me segurou pelos braços e, olhando no fundo dos meus olhos, continuou. — Eu te amo, Raio de Sol, vai lá e volte com o melhor dragão. — Ele me deu um beijo na testa e entramos no pátio lotado após o portão principal.
Instrutores, comandantes, minha tia e meu pai estavam reunidos informalmente, esperando que a loucura fora dos muros se tornasse a ordem lá dentro. Ao passarmos por eles, meu pai piscou para mim e eu devolvi. Tia Lilith, como sempre um poço de frieza, nem sequer olhou para as filhas. De todas as portas da escola de guerra, o portão principal era o único que nenhum cadete ia entrar hoje, já que cada quadrante tinha sua própria entrada e instalações. O que na minha visão era só um pretexto para cada quadrante ficar se vangloriando em cima dos outros, já que cada entrada era decorada de um jeito diferente.
No meio do caminho, Mira se virou para nós duas, e enquanto eu parei instantaneamente, Violet derrapou uns centímetros para frente, sendo parada por mim, que segurei seu braço. Ia ser um longo ano.
— Assim que estiverem lá dentro, encontrem Dain — Mira disse, simplista, e voltou a andar.
— Dain Aetos? — perguntei para a minha prima, olhando confusa para o meu irmão, já que ele, assim como eu, não gostava do filho do coronel Aetos, e voltamos a acompanhar o ritmo acelerado da Mira.
— Só estou fora do Quadrante há três anos, mas pelo que ouvi, ele está em uma boa posição e vai mantê-las seguras. — Ao olhar para trás, ela viu o sorriso estampado na cara da irmã e voltou a andar. — Não sorria assim, Violet, ele é do segundo ano, não brinque com alunos do segundo ano. Se você quer transar, e você deveria, então foda com alguém do seu próprio ano. Nada é pior do que cadetes fofocando que você dormiu até ficar em segurança. — Ao virar mais uma vez para trás, ela apontou o dedo para mim. — E isso se aplica a você também, .
Eu e meu irmão não conseguimos segurar a risada. Pois sabíamos que Mira dormiu com alguém do terceiro ano quando estava no primeiro.
— Falou a santa da família Sorrengail. — Meu irmão definitivamente fazia os piores comentários, nos piores momentos, pois eu não consegui segurar a risada, assim como a Violet. E Mira olhou como se fosse arrancar a pele do Adam.
— Continue, Adam, continue. Teine está precisando mesmo fazer um lanchinho — Mira disse, com raiva, o que só fez meu irmão rir mais ainda.
Entre risadas e provocações, atravessamos os portões, deixando a fortaleza, e nos juntamos ao caos organizado.
Cada uma das seis províncias de Navarre enviou a sua parcela deste ano de candidatos ao serviço militar, uns são voluntários, outros condenados como punição, mas a maioria era recrutada. A única coisa que tínhamos em comum aqui em Basgiath era que passamos no exame de admissão, tanto escrito quanto em um teste de agilidade, que passei em primeiro lugar, o que significava que pelo menos não acabaríamos como forragem para a infantaria na linha de frente, aqueles canalhas se achavam demais.
Quanto mais nos aproximamos da torre sul, mais a atmosfera ficava tensa. O quadrante principal ficava ao lado da montanha Basgiath, como se fosse cortada de uma cordilheira do próprio pico. A extensa e imponente estrutura se elevava sobre a multidão, com suas ameias de pedra de altura histórica, construídas para proteger o alto crescimento da torre interna e torres defensivas em cada um de seus cantos.
A maioria da multidão à nossa frente se movia para se alinhar na base da torre norte, a entrada do Quadrante de Infantaria, o imenso grupo de arrogantes. Parte da massa de gente seguia em direção ao portão atrás de nós, o Quadrante de Curandeiros, esses eram mais amigáveis que os da Infantaria, que consumiam o extremo sul da fortaleza. A entrada para o Quadrante dos Cavaleiros nada mais era do que uma porta fortificada na base da torre, assim como a entrada da infantaria ao norte. Mas enquanto os candidatos à infantaria podiam caminhar direto para seu quadrante no nível do solo, nós, os candidatos a cavaleiros, escalaríamos. Injusto.
Mira, Violet, Adam e eu nos juntamos à fila dos pilotos, esperando para assinar, e eu e Violet cometemos o erro de olhar para cima. Bem acima de nós, cruzando o vale que dividia o colégio principal da cidadela, ainda mais alto e imponente do Quadrante dos Cavaleiros, estava o Parapeito, a fina ponte de pedra que estava prestes a separar os candidatos a cavaleiros dos cadetes nas próximas horas.
Eu não podia acreditar que estava prestes a cruzar essa…. coisa.
— Eu acho que alguns podem ir na minha frente, não estou me sentindo bem. — Fingi uma tontura e Violet riu. Em contrapartida, Mira se aproximou de mim e puxou minha orelha.
— Você vai subir e vai atravessar aquela merda sem pensar muito, vista a carapaça de Sorrengail na frente de todos — disse, apontando o dedo contra minha testa, por ser uns centímetros mais alta.
Em meio ao caos controlado que éramos, agora havia apenas dois à nossa frente, uma mulher com uma mochila cheia, com seu cabelo castanho escuro preso em várias fileiras de tranças curtas que apenas tocavam a pele de seu pescoço. O segundo era o loiro musculoso com uma mulher chorando por ele.
Nesse momento, eu vestia a famosa carapaça de Sorrengail, face inexpressiva, postura ereta e olhar ameaçador e frio. Mas uma coisa chamava minha atenção, a relíquia no braço de alguns ao nosso redor, que o dragão do general Melgren deu a todos os filhos da rebelião quando seus pais foram executados. Nada como a política, torta, de Navarre sobre punir as crianças para que mais pais não cometessem traição, mas o que poderíamos fazer? Ninguém parecia disposto a contrariar um dragão.
Mira explicou essa parte para Violet, porque ao contrário dela, de quem a general Lilith escondia tudo, meu pai me levava para todas as reuniões, ele queria ensinar uma criança de 10 anos a lidar com a política de Navarre, como disse, política torta.
E nesse momento, Mira se lembrou de alguma coisa que faz seu sangue desaparecer de seu rosto, ela agarrou uma alça da mochila da Violet e uma alça da minha mochila, virando-nos para ela.
— Acabei de me lembrar. — Sua voz saiu em um sussurro e sua expressão ficou estranha. — Fiquem bem longe de Xaden Riorson. — Ela não poderia ter um conselho diferente? Como sobreviver à primeira semana sem que alguém te mate? Ou maneiras de despertar o seu sinete? Como se dar bem em qualquer situação? Mas ela continuou: — Ele é do terceiro ano e ele vai matar vocês no segundo que descobrir quem vocês são.
Ótimo. Maravilha. Quem eu tinha que matar, ia querer me matar também. Uhul, estava muito mais animada agora, prima, obrigada.
— Mas o que diabos ele tá fazendo aqui se o pai dele era o Grande Traidor? — Violet perguntou. Sinceramente, Lilith, você não contou nada a sua filha!?
— Todos os filhos dos líderes foram recrutados como punição pelos crimes de seus pais — Adam respondeu, soltando nós duas da Mira e nos movendo para o lado, junto com o movimento da fila. — Meu pai me disse que eles nunca esperaram que Riorson passasse pelo Parapeito. Então eles imaginaram que um cadete iria matá-lo, mas uma vez que seu dragão o escolheu, não teve mais como simplesmente retirá-lo do quadrante, principalmente depois que ele ascendeu como líder de ala.
E o rei esperava que eu, EU, matasse esse cara? Patético.
— Ele jurou lealdade a Navarre, mas não acho que isso o deterá no que diz respeito a vocês. Depois de atravessar o Parapeito, porque vocês vão conseguir, encontrem Dain — Mira repetiu e eu revirei os olhos, ela estava pior que meu pai. — Ele colocará vocês duas em seu esquadrão e espero que se mantenham longe do Riorson, o mais longe que puderem. — Ela estava repetindo tanto isso, que só para contrariá-la, o destino colocaria uma de nós no esquadrão do Riorson. Ela nos agarrou com mais força de novo. — Fiquem. Longe. Dele.
Eu e Violet nos olhamos e repetimos juntas “Entendemos, capitã”, e Mira pareceu se acalmar.
— Próximo. — Uma voz chamou de trás da mesa de madeira que carregava os rolos do Quadrante dos Cavaleiros.
O cavaleiro marcado que eu não conhecia estava sentado ao lado de um escriba que…. Eu não conhecia, e as sobrancelhas prateadas do homem erguem-se sobre seu rosto envelhecido quando encara Violet
— Violet Sorrengail? — o homem de quase meia idade pergunta.
Deixei Violet e Mira irem na frente para falar com meu irmão.
— Não se deixe levar tanto pela nossa prima, às vezes ela pode extrapolar. — Ele segurou meus ombros. — Não importa de que esquadrão você seja, você será a melhor. — Adam me puxou para um abraço e sussurrou no meu ouvido: — Não se aproxime tanto do Aetos, não confio nele e sei que você também não. — Ao me soltar, ele me olhou nos olhos. — Entendido, Sorrengail? — Adam fez uma imitação estranha do nosso pai.
— Entendido Sorrengail — respondi, rindo.
E nesse momento escutei o “Próximo”, anunciando ser a minha vez. Ao dar um passo para a frente, o cavaleiro marcado me encarou, esbanjando tédio, e o escriba ao seu lado engoliu em seco, pois eu estava rindo e um segundo depois os encarava com o rosto inexpressivo e o olhar de gelo, e então perguntou meu nome.
— Sorrengail — disse, simplista, e o cavaleiro mudou completamente de expressão ao ver meu irmão ao meu lado.
— Adam Sorrengail? Você não deveria estar em um dos acampamentos na linha de frente? — o cara perguntou, exasperado, e com uma expressão estranha.
— Sim, eu deveria, mas meu pai mudou a minha função. Só vim acompanhar minha irmã e irei para outra base — Adam respondeu, fazendo uns sinais estranhos com a sobrancelha enquanto eu assinava o rolo.
— Bom, você sabe o caminho. — O cara apontou para a porta aberta na torre. Parecia ameaçadoramente escuro lá dentro e eu lutei contra o desejo de correr pela minha vida para o outro lado.
Me forcei a seguir o meu irmão até a porta, onde ele se virou para mim.
— Vai lá e não me deixe! Nosso pai é um porre para que eu o aguente sozinho — disse, me empurrando de leve para onde eu deveria ir. Com o seu sorriso debochado habitual, ele fez o caminho de volta, enquanto eu só escutava os caras falando de como queriam ser parecidos com ele, e as garotas suspirando pelo meu irmão.
Com um suspiro frustrado, eu segui pelo caminho ameaçador, vendo a longa escada em espiral mal iluminada pelas janelas. Não podia deixar nada me abalar agora, já passei por muita coisa durante meu treinamento, não ia ser agora que eu ia desistir ou dar para trás. E muito menos me deixar ameaçar por qualquer outro cadete.
Mais acima na escada, vi Violet conversando com uma garota e um cara e, ao me aproximar dos três, escutei a conversa.
— Sorrengail como a...? — a garota perguntou para a Violet.
— Sim, exatamente — minha prima respondeu, tentando se concentrar nos degraus, mas me viu bem atrás dela e abriu um sorriso, fazendo os outros dois olharem pra mim.
— A general? — o curioso perguntou para a Vi, que confirmou com a cabeça, e ele se virou para mim. — E você, é irmã dela? Vocês se parecem.
— Não, somos primas — respondi educadamente enquanto subíamos.
— Então você é filha do General do rei. — E ele reparou nos nossos espartilhos com escamas de dragão, o da Violet era tão verde que chamava atenção de longe, o meu já era mais discreto, um azul marinho tão escuro que parecia preto. Presente do Feirth, dragão da minha mãe.
— Belos couros — elogiou o estranho.
— Os meus são cortesia da minha irmã, o dela foi a mãe que deu — Violet respondeu, meio sem fôlego.
— Eu me pergunto quantos candidatos caíram da escada e morreram antes mesmo de chegar ao Parapeito — a garota perguntou, sem muita expectativa de resposta.
— Dois no ano passado. — Me lembrei instantaneamente dos gritos, e Violet completou:
— Bem, três se você contar a garota que um dos caras que caiu levou junto. — O ritmo da Violet estava aos poucos, ficando lento. E subimos em silêncio por cinco minutos, até chegarmos no topo, onde a fila parou.
— Eu sou Rhiannon Matthias, a propósito — disse, um pouquinho ofegante da subida.
— Dylan. — O cara loiro deu um aceno cheio de entusiasmo para nós três.
— Violet — minha prima respondeu um pouco tímida, e a mais ofegante dos quatro e olhou para mim.
— . — Dei um sorriso aos dois desconhecidos.
— Sabia que você tem o nome de uma antiga deusa? — disse Rhiannon, toda empolgada, e eu neguei com a cabeça, mesmo que já soubesse. — , a deusa da guerra e da sabedoria. Agora quero ainda mais te conhecer, garota. — Rhiannon tinha brilho nos olhos agora, e eu senti minhas bochechas ficando quentes.
— Sinto que esperei minha vida inteira por este dia. — Dylan mudou a posição da sua mochila nas costas.
— Você acredita que realmente conseguimos fazer isso? É um sonho tornado realidade — a garota voltou a falar. Naturalmente, todos os outros candidatos estavam entusiasmados por estar aqui. Porém, percebi que Violet estava diferente, ficou quieta e estava olhando para a única saída enquanto os dois continuavam a conversa acalorada e entusiasmada.
No meio da quietude estranha, Violet perguntou para Rhiannon que tamanho ela calçava. É o que, Violet?
— Seus pés, que tamanho eles são? — Rhiannon me olhou confusa, eu dou de ombros e ela respondeu:
— Oito.
— Eu uso sete, vai doer pra caramba, mas quero que você pegue meu sapato esquerdo. —Essa garota tinha endoidado de vez.
— Desculpe? — Rhiannon olhava para Violet como se ela tivesse enlouquecido, e talvez realmente tivesse.
— Estas são botas de cavaleiro. Eles agarraram melhor na pedra. Seus dedos dos pés ficarão enrugados e ligeiramente machucados, mas pelo menos você terá uma chance de não cair se a chuva começar. — Entendi o ponto da Violet e toquei seu ombro, chamando sua atenção para mim.
— Eu calço oito, Vi, eu troco com ela, estou com as minhas botas também. — Olhei para Rhiannon, que ainda não entendeu, e acabei perdendo um pouco a paciência. — Violet está tentando fazer com que você não caia e morra tentando atravessar o parapeito, entendeu? — perguntei, tirando o sapato esquerdo.
Rhiannon pareceu entender, tirou correndo o sapato esquerdo e me deu. Ao calçar seu sapato branco, senti o arrependimento bater, mas já estava feito e já era a nossa vez de subir.
O Parapeito reivindicava cerca de quinze por cento dos candidatos a piloto. Cada prova no quadrante, incluindo esta, era projetada para testar a habilidade de um cadete de cavalgar. Se alguém não conseguia andar pelo comprimento da estreita ponte de pedra acompanhado de ventania e chuva, então com certeza não conseguia manter o equilíbrio e lutar nas costas de um dragão.
A altura me fez segurar meu estômago, eu respirei devagar enquanto andava pela borda atrás de Dylan, Rhiannon e Violet, enquanto tentava me concentrar no que ia ter que fazer assim que atravessasse.
Pelo canto do olho, vi dois cavaleiros esperando na entrada, que nada mais era do que um buraco na parede da torre, isso não poderia ser mais animador. E para me distrair reparei nos dois à nossa frente.
Um com as mangas rasgadas registrava nomes enquanto os candidatos iam para o quadrante, ou para a morte. O outro, que raspou todo o cabelo com exceção de uma faixa na parte superior central que ficou feio, com todo o respeito, instruía Dylan enquanto ele se posicionava, dando tapinhas no peito como se o anel escondido ali fosse lhe trazer sorte. Doce ilusão.
Ao longe, vi um terceiro do outro lado do parapeito e meu coração simplesmente parou. Era ele, a montanha de músculos que eu tinha que matar, Xaden Riorson. Antes que ele percebesse que estava o encarando, eu desviei o olhar para meus pés. Esse cara era mais alto e mais forte do que eu imaginava. Estava ferrada!
— Vejo vocês três do outro lado! — Dylan gritou por cima do ombro com um sorriso animado antes de pisar no parapeito, com os braços bem abertos, e eu senti um arrepio na espinha. Que não chova, que não chova. Um dos cavaleiros disse algo que eu simplesmente não consegui mais ouvir. Mas Rhiannon me trouxe à realidade.
— Vocês estão prontas para isso, Sorrengail's? — ela perguntou, avançando para que registrassem seu nome.
Xaden POV:
Horas atrás
Eu odiava ser acordado no susto, mas infelizmente para mim, quanto mais Adam sabia disso, mas ele insistia em fazer.
Devia ser entre duas e três da manhã quando o imbecil simplesmente começou a esmurrar a porta do meu quarto. Ele não tinha vida pra cuidar, não? Mas eu não tinha escolha, tinha que abrir logo a porta ou ele a derrubaria. Me levantei da cama, murmurando todos os xingamentos dos quais eu me lembrava, enquanto tentava acordar. Abria a pobre porta que estava sofrendo nas mãos do Sorrengail.
— Diga logo o que quer e me deixe dormir. — Seu sorriso de quem sabia que era idiota me irritava. Deixei que ele entrasse sozinho enquanto eu ia no pequeno banheiro lavar o rosto.
— Bom dia, dorminhoco, estava tendo seu soninho da beleza? — Adam perguntou, se sentando em duas grandes caixas que ele arrastou para dentro.
— Eu só não te mato, porque daria muito trabalho. — Sentei na cama um pouco mais desperto e reparei melhor nas caixas. — Que caixas são essas? Foi expulso de casa? — Adam revirou os olhos para mim e abriu a caixa de cima, que estava cheia de mantimentos.
— A de baixo são os equipamentos que você pediu. — Ergui as sobrancelhas, em menos de duas semanas, ele conseguiu o que precisávamos, por isso eu gostava de trabalhar com o Sorrengail. — Mas não foi exatamente por isso que vim aqui, ainda mais nessa hora.
Adam me deixou completamente confuso, se não foi para entregar as caixas, foi para que então? Atrapalhar meu sono? Mas seu tom me deixou curioso e um pouco apreensivo.
— Diga de uma vez, sem enrolação, Adam. — Se inclinando na minha direção, ele falou mais baixo ainda:
— Sabemos que o rei mandaria alguém para te matar, certo? — Confirmei com a cabeça, essa não era uma novidade. — Antes de trazer as caixas, fiquei sabendo para quem o rei deu essa função. — Ele parecia preocupado, mas não comigo, o que deu nele, hein? — Você se lembra da minha irmã, certo? — Confirmei com a cabeça. — Então, ela que vai te matar.
Fiquei estático por uns segundos, o rei mandou uma garota pra me matar? Eu sabia que ele ficaria louco um dia, só não sabia que esse dia estaria tão perto.
— Você tem certeza, Adam? — Aquilo não estava encaixando na minha cabeça. Por que mandar uma garota para me matar?
— Certeza absoluta, Riorson, e eu posso imaginar o porquê de Tauri ter escolhido a . — Tinha esquecido que a irmã do Adam tinha o nome da deusa da guerra. — Ela faz treinamento desde os 8 anos, ela domina todas as armas, é ótima em luta corpo a corpo, consegue ser bem irritante quando quer, tem uma língua afiada.
— Certo, mas ser irritante e ter língua afiada é característica de todo Sorrengail. — Ele deu risada. — Diga logo o que quer, tenho que voltar a dormir. — Me joguei para trás na cama.
— Só vim cobrar a promessa que você me fez de proteger a . E a propósito, deixaram isso pra você. — Jogou uma carta no meu rosto. — Tenha bons sonhos, princesinha. — O canalha saiu rindo.
— Se eu prometi proteger a , eu a protegerei enquanto estiver ao meu alcance, e quando eu te deitar na porrada, você vai ver a princesinha, idiota. — Sua risada ficou mais alta antes de ele me deixar em paz.
Tirando a carta do rosto, resolvi abrir e ler logo. Era uma carta escrita pelo próprio rei pedindo, na verdade, ordenando, que eu tivesse em meu esquadrão Violet Sorrengail, a baixinha frágil que talvez morresse na primeira semana, se atravessasse o parapeito, e Sorrengail, a prodígio da família. Junto com a carta, ele mandou também a foto das duas. Violet era bonita, mesmo com a expressão de doente. Nariz pequeno, olhos claros iguais aos da mãe, boca pequena um pouco pálida.
Mas a foto da me pegou desprevenido. Por mais que se parecesse com a prima, ela era extremamente diferente. O nariz era empinadinho, os olhos verdes brilhantes amendoados eram os mais lindos que já vi, a boca bem desenhada, vermelha e convidativa. Todo o contorno do rosto e o conjunto de tudo a fazia ser a garota mais linda que já vi. E o olhar de predador e expressão feroz era o que mais me fez encarar sua foto por longos minutos, até ser despertado por Sgaeyl.
— Riorson? Tem algo de errado? Você não está nem respirando direito — perguntou, com um tom risonho.
— Vai se ocupar com outra coisa, Sgaeyl, quem sabe com o seu companheiro? — Interpretei como risada o barulho que ecoou na minha cabeça, odiava suas escapadas noturnas, ela ficava assim depois.
— Eu estava com ele até minutos atrás, inclusive ele disse que está sentindo que o cavaleiro dele vai entrar nesse ano. — Isso era bom, mais dragões que ano passado.
— Não me falará o nome dele? — Seu suspiro irritado soou tão forte que ela só podia estar bem próxima.
— Você saberá quando tiver que saber. — Com isso, ela me bloqueou. Dragão irritante.
Atualmente
Encarei os dois candidatos à minha frente, que atravessavam o Parapeito com a mesma mistura de coragem e desespero que vi centenas de vezes antes. A chuva começava a ameaçar, carregada no horizonte, e eu sorri de canto ao observar o céu escurecendo. O Parapeito estava prestes a reivindicar algumas vítimas, como sempre.
Dylan era o próximo. Ele avançava com confiança, mas eu mal prestei atenção nele, sabia que, na metade do caminho, ele iria cair. Em vez disso, meus olhos encontraram algo muito mais interessante: Sorrengail.
Ela estava na fila logo atrás de Rhiannon e Violet, mas não consegui ignorar a maneira como se movia como uma predadora, e para a minha infelicidade, ela era muito mais bonita que na foto. Sua postura era ereta, o olhar fixo, mas havia um leve franzir em sua testa. A menina prodígio não era invencível afinal. No entanto, algo em sua presença a separava de todos os outros. Diferente dos outros cadetes que já cruzaram o Parapeito, ela não hesitava. Era como se soubesse que estava sendo observada. E ela estava. Por mim, que não conseguia tirar os olhos dela.
levantou os olhos por uma fração de segundo antes de prestar atenção na prima, que estava atravessando o parapeito, e nossas linhas de visão se cruzaram. Um arrepio percorreu minha espinha — ela sabia. sabia exatamente quem eu era, assim como eu sabia quem ela era. O rei a mandou para me matar. Que presente adorável.
Minha expressão permaneceu inalterada, mas por dentro, o sangue ferveu com antecipação. Não sabia se a ideia de ter um inimigo tão calculista me enfurecia ou me excitava. Talvez ambos.
POV
Os ventos no Parapeito eram mais traiçoeiros do que eu imaginava. Cada passo era uma batalha contra a gravidade, mas meus pés estavam firmes graças a minha bota, que também salvou Rhiannon. Ainda assim, minha mente não conseguia se desligar do olhar que senti sobre mim momentos atrás.
Xaden Riorson. Ele era tudo o que Mira e Adam descreveram e mais. Imponente, letal e com uma aura de perigo que gritava que ele era um sobrevivente do tipo mais perigoso. Ele me encarou como se pudesse enxergar diretamente em minha alma, como se soubesse exatamente o que estava destinado a acontecer entre nós. Meu estômago se revirou, mas não de medo. Era algo mais... instintivo.
“Concentre-se, .” Minha voz interna me deu um tapa metafórico enquanto eu respirava fundo e dava o próximo passo. À minha frente, Violet seguia esperando por mim, mas a preocupação em seu rosto era evidente. Ela estava lutando para se manter o mais imóvel possível para não me distrair.
Quando finalmente atravessei para o outro lado, a tensão em meus ombros diminuiu um pouco. Uma vitória. Porém, não tinha tempo para celebrar. Pois, assim que pisei ali, a ficha do que teria que fazer recaiu sobre mim de novo e, para completar, Riorson está encostado na parede, com os braços cruzados, como se estivesse esperando especificamente por mim.
— Sorrengail. — Sua voz era um barítono grave que parecia reverberar diretamente no meu peito. Ele não sorria, mas seus olhos ônix brilhantes se acendiam com uma intensidade inquietante. — Bem-vinda ao inferno.
Eu me forcei a erguer o queixo, encarando-o diretamente. Não importava o que ele soubesse ou quem ele fosse, eu não ia recuar.
— Inferno? Achei que Navarre já tivesse me preparado para algo pior. — Minha resposta foi tão cortante quanto uma lâmina, e, por um momento, vi algo que pareceu... aprovação cruzar seu rosto antes de desaparecer.
Era isso. O jogo havia começado. Ele era o inimigo que precisava derrotar, mas seria em meus próprios meios.