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Uma das coisas que mais apreciava em Aegon eram seus olhos. Enquanto os seus próprios eram de um tom claro de verde, elétricos e vivos como tempestades de raios, os do tio eram delicados e brilhantes, num doce tom de lilás que lhe remetia a jacintos.
Faria sentido, pensava consigo mesma. Jacintos eram flores que simbolizavam tristeza, melancolia, e o sentimento era constante nos olhos de Aegon, que sempre parecia estar à beira do choro. Ela nunca conhecera alguém tão triste, tão vazio, e se perguntava se era isso que a atraía para ele como uma mariposa fixada à luz.
O sol de fim de tarde iluminava seu rosto enquanto o príncipe encarava o céu arroxeado e, quando percebeu que o observava, soltou um ronco de riso pelo nariz.
— O que tanto olha, Princesa? — perguntou num tom debochado e quase provocativo.
revirou os olhos enquanto deitava a cabeça na mão sustentada pelo cotovelo na grama úmida. Tinham conseguido roubar aquele momento a sós na comemoração do dia do nome de Viserys, fugindo escondidos do castelo e indo a cavalo até uma parte reclusa de Mataderrei.
— Irá me contar o que lhe deixou tão tristonho mais cedo a ponto de escapar das festividades do dia do nome do rei?
Aegon colocou um sorriso no rosto, mas seus olhos estavam levemente avermelhados. sabia o que aquilo significava. Havia chorado.
— Trouxe morangos. — ela pegou a cesta que havia trazido, abrindo-a e tirando de lá um vidro cheio de morangos açucarados. — Escolhi-os eu mesma dos que Daemon trouxe para mim de sua última viagem.
A expressão de Aegon mudou com a menção de seu tio.
— Daemon traz muitos presentes para você, hein… — disse lentamente, observando o vidro de morangos.
— Claro que sim, sou sua favorita.
Aegon pegou um dos morangos e o mordeu, murmurando algo baixinho para si mesmo, com uma pitada de aborrecimento na voz. pensou que parecia um “aposto que é”, e um pequeno sorriso brincou em seus lábios.
— Agora, ñuha prūmia[1], diga-me por que estava chorando mais cedo. — a princesa limpou um pouco de açúcar do canto da boca de Aegon, sorrindo levemente. Era o quão próximos eles eram.
Aegon congelou por um segundo com a pergunta, perplexo que ela houvesse percebido que ele estava chorando nas festividades, mas aquela era . Nunca deixava de se surpreender com o quão perceptiva a garota era.
Ele suspirou.
— Por que você acha que eu estava chorando?
— Seu nariz estava o dobro do tamanho normal.
Aegon suspirou novamente, sem energia para discutir.
— Promete que não irá pensar menos de mim se eu te contar?
A princesa lhe lançou um olhar de escárnio, jogando um morango aos lábios tão rosados quanto a fruta.
— Sabe que eu nunca pensaria menos de você, não importa o que faça.
Aegon sentiu seu coração encher-se de ternura. Queria ter metade da fé em si que tinha nele. Seus ombros caíram e ele sentou-se na grama, evitando encará-la, comendo outro morango.
— Tive outra discussão com minha mãe.
Ela revirou os olhos verdes, o movimento lembrando ao príncipe a copa das árvores bruxuleando ao vento.
— O que a megera fez desta vez?
Aegon balançou a cabeça, frustrado. Apesar de tudo, gostava da forma como falava sem papas na língua. Não lhe era segredo a antipatia da princesa pela Rainha… na verdade, não era segredo para ninguém, pois, apesar de respeitá-la como regente, não fazia questão de esconder suas emoções.
— Eu realmente tenho que responder sua pergunta? Você já sabe o que ela disse e do que ela me chamou.
— Você sabe que isso diz muito mais sobre ela do que sobre você, certo?
Aegon passou a mão pelos cabelos prateados, frustrado.
— Eu sei... É que... dói. Estou tentando tanto, estou tentando ser melhor, mas sinto que nunca sou o suficiente. Não importa o que eu faça, minha mãe nunca está feliz comigo.
— Aeg... Sua mãe nunca está feliz com nada. Ela é cronicamente miserável. — ela segurou seu queixo, fazendo-o encará-la. — Alicent não tem o direito de tratá-lo assim. Isso só mostra o quanto ela realmente se odeia.
Aegon reconheceu a tentativa da garota de animá-lo e a amou por isso. Ele acenou com a cabeça após suas palavras, encarando seus olhos de verão.
— Eu sei... Mas não consigo deixar de buscar a aprovação dela. Só quero vê-la sorrir, só quero que ela aprecie as coisas que faço, mas nunca é o suficiente. É como se eu não fosse digno do amor dela... ou do amor de ninguém.
— Não diga isso. Sabe que não é verdade. — soou séria, seus olhos estudando seu rosto.
Aegon evitou encará-la, seus olhos dirigindo-se para suas mãos em seu colo, puxando a pele do canto das unhas.
— Mas por que eu sinto que é? Não importa o que eu faça, nunca é o suficiente. Meu pai sempre preferiu Rhaenyra, minha mãe sempre preferiu Helaena e só reclama do meu comportamento. Como eu deveria acreditar que sou digno de qualquer amor quando tudo o que pareço receber é ódio?
agarrou-lhe as mãos para que não se machucasse, encarando seus olhos de uma maneira determinada que nunca havia feito antes.
— Vamos embora.
Aegon franziu a testa.
— Já quer ir? Mas nem escureceu ain…
— Não daqui, bobo. De Porto Real. Da corte, da maldita Fortaleza Vermelha. Vamos embora daqui. Pegaremos algumas bolsas de ouro e voaremos para Essos, para… Pentos, ou qualquer outro lugar. Algum lugar alegre e animado.
O coração de Aegon pulou uma batida quando ela agarrou-lhe as mãos, e choque e descrença eram visíveis em seu rosto. Ele nunca sequer considerou que a princesa iria querer fugir com ele, mas a ideia de estar em algum lugar novo, longe do ódio de sua mãe e de sua família, parecia boa demais para ser verdade.
— Quer… fugir comigo? Está falando sério?
— Levaríamos nossos dragões e iríamos a festas, e visitaríamos muitas cidades! Nossa vida seria nada além de diversão, carnavais e música!
Aegon sentiu seu coração começar a acelerar e pôde sentir uma explosão repentina de esperança enchendo seu peito e seus olhos. Uma vida de festas, música e apenas diversão com parecia um paraíso. Ele não ousou sonhar que isso poderia ser possível, mas agora, enquanto ela falava tão empolgadamente, ele pôde sentir que era uma possibilidade real, os sons de suas risadas e imagens dos dois felizes dançando e bebendo tomando sua mente.
— E nós simplesmente... iríamos. Voaríamos para longe em nossos dragões e nunca mais voltaríamos?
— Bem… quero dizer, poderíamos voltar quando nosso ouro acabasse, se não encontrássemos uma forma de ganhar mais. — a princesa deu de ombros.
— Você é louca... Você sabe disso, certo? Estaríamos abandonando nossas famílias... nossas vidas... nossos títulos. Sua família nunca nos perdoaria. Minha família nunca nos perdoaria. Seríamos considerados foras da lei, .
deu uma risadinha, seus olhos brilhando.
— Vamos, Aegon. Vai ser uma aventura! E se acabarmos encontrando Saera Targaryen? Ouvi dizer que ela ainda administra uma casa de travesseiros em Volantis!
Aegon não conseguiu evitar rir junto com a garota; sua excitação e entusiasmo eram contagiantes. A ideia de uma aventura, de se libertar dos limites de suas responsabilidades e encontrar alguém como Saera Targaryen parecia atraente. Ele apertou a mão de , esperança e empolgação visíveis em seus olhos lilases.
— Você está falando sério, não está? Você realmente quer fazer isso... Quer fugir comigo e ter uma aventura como nenhuma outra?
— Estou falando seríssimo. Levaríamos apenas uma bolsa com algumas roupas e um pouco de ouro, e iríamos aprender a nos virar sozinhos.
Aegon sentiu seu coração acelerar com sua determinação, e o fato de ela estar disposta a jogar tudo para cima por ele era um sentimento quase inacreditável. Mas, no fundo, ele sabia que não podia deixar essa oportunidade passar.
— Acha mesmo que eles vão nos deixar levar ouro e roupas? Eles vão suspeitar que estamos indo embora e tentar nos impedir…
— Ninguém saberá, bobo. Nós teremos cuidado. E não podemos contar a ninguém! Jure!
Aegon assentiu, sua excitação crescendo, e ele apertou levemente a mão de em asseguração, encarando-a fundo nos olhos.
— Eu juro. Juro que não contarei a ninguém. Mas temos que ter cuidado. Ninguém pode descobrir o que estamos fazendo, especialmente minha família. Eles não podem saber o que estamos planejando.
A princesa se adiantou, tirando a adaga de Aegon da bainha e erguendo-a, espetando a ponta do dedo indicador, um pequeno rubi de sangue brotando do ferimento.
— Jure.
Aegon observou-a com surpresa, avaliando a seriedade do juramento. Após um instante, concordou com a cabeça, pegando a adaga de sua mão e fazendo o mesmo no dedo, uma careta afetando sua expressão com a mordida afiada da adaga. Ele entrelaçou suas mãos, a sua grande e desajeitada na bela e macia mão de , as duas gotas de sangue tornando-se uma ao colarem os cortes.
— Eu juro pela minha vida.
[1]Meu coração.


Aquela semana havia sido reservada para planejar a empreitada, e se mostrou ainda mais esperta e sagaz do que Aegon lhe dava crédito. O plano parecia infalível: iriam se disfarçar de servos para fugir do castelo por uma das passagens secretas de Maegor e, quando estivessem perto do Fosso dos Dragões, livrar-se-iam das roupas e seguiriam como se fossem apenas dar um passeio com os dragões, já que os Guardiões de Dragão raramente se intrometiam na vida dos príncipes e princesas valirianos. Quando dessem por falta dos dois, já estariam a meio caminho de Pentos.
E assim, arrumou sua bolsa discreta com apenas algumas peças de roupa e duas bolsinhas com dragões de ouro, prata e bronze, o que conseguira surrupiar em uma semana. Surpreendentemente, isso lhe fora fácil. Pegara uma das roupas das criadas do varal e uma touca para esconder os cabelos prateados, vestindo um couro de voo normal por baixo do vestido de tecido gasto.
Xingou-se ao olhar no espelho. Não tinha feições ordinárias o suficiente para aquilo. Pelo menos não havia herdado os olhos lilases dos valirianos, ou seria descoberta na certa. Certificou-se pela enésima vez se não dava para ver-lhe as madeixas de luar, pegando a bolsa e olhando uma última vez para os seus aposentos antes de pressionar o ponto na parede que se abriria para as passagens. O cheiro úmido de coisa guardada invadiu-lhe as narinas, fazendo uma careta deformar suas feições. Deuses, como fedia ali.
O som de suas botas no chão era a única coisa que podia ouvir, além de goteiras em algum lugar distante. O “tap tap” das solas de couro estranhamente lhe acalmava. Quando chegou ao ponto que Aegon havia lhe instruído a ir, já que ele conhecia muito melhor as passagens por usá-las para ir à cidade no meio da noite, viu que ele ainda não havia chegado. Um calafrio lhe percorreu a espinha. Será que ele havia desistido? Não iria mais? Deixaria-a ali esperando até amanhecer para voltar aos aposentos com a sensação de derrota? decidiu sentar-se no chão, a bolsa escorregando pelo braço enquanto ela podia ouvir os barulhos do castelo começarem a se acalmar, como um bebê no seio da mãe.
Após o decorrer de mais ou menos meia hora, pôde ouvir passos e uma risadinha. Virou-se e deu de cara com Aegon. Sentiu como se o peso do mundo saísse de seus ombros, suspirando.
— Por que diabos demorou tanto? Sete Infernos!
— Está ridícula nessa roupa.
Aegon deu uma rodadinha para mostrar suas próprias vestes, cambaleando. retorceu os lábios numa expressão de desgosto, levantando-se e caminhando até o tio, agarrando-lhe pelas bochechas, aproximando o nariz de sua boca.
— Bebeu? — vociferou, encrespando os lábios, os dentes à mostra. — Francamente, Aegon!
— Apenas um trago para coragem, ! Apenas isso, eu juro! — ela sabia que ele estava mentindo, mas apenas revirou os olhos, empurrando-o para trás pelo aperto de sua mão.
observou a bolsa que ele trazia consigo, muito parecida com a sua.
— Quanto de ouro conseguiu?
— Três bolsinhas. Meu pai nem notará.
Ela suspirou, concordando com a cabeça. Por fim, ajeitou os cabelos de Aegon por baixo do capuz que ele usava para que não aparecessem, assim como havia feito com os dela, avaliando-o de longe para certificar-se que tudo estava no lugar.
— Vamos, idiota.
puxou Aegon pela mão, e os dois caminharam até uma escada que levava para fora do castelo, atravessando o Portão do Rei sem levar nem um segundo olhar dos guardas. A princesa sorriu levemente ao perceber que seu plano, até então, havia funcionado. Os dois desceram pelas ruas até penetrarem no coração da Baixada das Pulgas, avante à Colina de Rhaenys. A cidade ganhava vida ao redor deles. Crianças corriam nas ruas estreitas a brincar, mulheres apertavam os seios contra os vestidos para se venderem, e alguns bardos tocavam por moedas perto de uma estalagem. Uma senhora agarrou a mão de , oferecendo-se para ler seu futuro, e Aegon apenas continuou andando, puxando a princesa.
— Tem de ignorá-los. Senão, vão arrancar-lhe até o último tostão. — ensinou, enquanto colocava uma moeda de bronze no decote de uma das muitas prostitutas que passavam por ali.
— Não chame atenção para si! — sibilou, fazendo-o soltar uma risada jovial.
Os dois se aproximaram do Fosso, parando em uma viela escura para se trocarem. Arrancaram os panos de si, dando lugar aos couros de montaria. Aegon observou enquanto ela removia seu disfarce, e não conseguiu deixar de sorrir ao observar sua aparência. As roupas de couro de montaria só serviam para destacar sua beleza, e ele se pegou encarando-a por alguns segundos a mais do que deveria.
Ele limpou a garganta, tentando recuperar a compostura.
— Definitivamente não parece mais uma garota da cozinha. Se é que já pareceu uma.
— Ótimo. Vamos precisar estar com a melhor aparência possível. Vamos. — eles caminharam em direção ao fosso dos dragões, e a princesa sorriu docemente para um dos guardiões de dragão, jogando seu charme. — Vamos fazer um voo noturno. Traga nossos dragões. — ordenou em alto-valiriano, num tom que não abria margem para discussão.
O rapaz concordou com a cabeça.
Dārilaros.[1] — reconheceu respeitosamente antes de se afastar, falando com os outros guardiões para trazerem Sunfyre e Asaprata.
Aegon surpreendeu-se com o quão perfeito era o Alto-Valiriano da garota, já que ele mesmo apenas sabia algumas palavras perdidas, seu conhecimento enferrujado.
— Com quem aprendeu? — perguntou, curioso.
A princesa deu um risinho sapeca, já sabendo que ele não gostaria da resposta.
— Daemon.
Aegon revirou os olhos. Sempre Daemon, Daemon, Daemon.
— Claro que foi o seu precioso Daemon.
— Irá mesmo discutir sobre isso neste momento? Não está em expectativa? E se não trouxerem os dragões? E se mandarem um dos guardiões avisar aos guardas neste exato momento?
Aegon abriu e fechou a boca algumas vezes como um peixe fora d’água, seus olhos lilases se arregalando. E se? Era uma pergunta válida. Sentiu suas mãos começarem a suar.
Em poucos momentos, porém, os guardiões vinham trazer seus respectivos dragões, e Sunfyre soltou um urro animado ao ver seu montador, dando um leve empurrão com o focinho em seu peito. Aegon sorriu, acariciando sua enorme cabeça. Havia poucas coisas na vida que o deixavam mais feliz do que estar com seu dragão.
sorriu levemente, observando-os de longe. Sempre admirara a conexão que o tio tinha com Sunfyre, o belo dragão dourado. Após cumprimentar Asaprata, andou timidamente até Aegon que, percebendo o que ela pretendia, ergueu a mão em sua direção. Quando a pegou, ele colocou-a no dorso de Sunfyre, que soltou um leve zunido em resposta, aceitando sua carícia.
riu levemente, chamando-o pela palavra em Valiriano que significava “lindo” e dizendo o quão majestoso ele era na mesma linguagem, até que Asaprata soltou um ganido exigente, demandando atenção também. Aegon observou a princesa e o jeito que sorria, seu coração dando uma volta que ele não soube como explicar.
— Última chance para desistir. Não irei ficar chateado. — provocou-a, observando sua reação.
riu quase com escárnio, seus olhos esverdeados brilhando com astúcia.
— Eu não perderia isso por nada neste mundo.
[1]Princesa (também pode significar príncipe).


Os dois voaram por algumas horas até chegarem em Pentos e deixaram os dragões do lado de fora da cidade, transpassando seus portões, os olhos guiando-se para todos os lugares. girou o corpo e olhou em volta com um sorriso extasiado no rosto. Era tão diferente de Porto Real! Sentiu a mão de Aegon entrelaçar-se na sua, e o príncipe os guiou pelas ruelas, sempre seguindo as outras pessoas para ter certeza de que não se meteriam em algum lugar perigoso.
Fitas de cores diferentes pendiam dos prédios, dando um visual alegre às ruas. Algumas pessoas os olhavam com curiosidade, porém não engajavam em diálogo, apenas reconhecendo suas presenças.
— Conseguimos, ! Estamos livres! — Aegon soltou, empolgado, enquanto puxava-a para si e abraçava-a pela cintura, girando-a despretensiosamente. soltou um gritinho alegre, rindo e lhe dando tapinhas nos ombros para que a colocasse no chão.
— Conseguimos. Nossa, não acredito que realmente escapamos! — ela escorregou pelo corpo de Aegon, e os dois continuaram o caminho até chegarem a uma estalagem chamada “O Suspiro da Donzela”.
O príncipe riu do nome enquanto finalmente soltava a mão de .
— Parece apropriado.
— Anda, estou exausta. Preciso de comida e cama. — os dois entraram na estalagem, sendo invadidos pelo cheiro de bebida e suor, apenas alguns poucos gatos pingados em mesas isoladas ainda ali. Ao caminharem até a estalajadeira — uma mulher de meia idade de olhos estranhamente esbugalhados e uma grande verruga acima do lábio —, notou os olhares de Aegon para as moças que ali estavam a se oferecer para os homens restantes. Ela revirou os olhos discretamente com um meio sorriso. O tio não mudaria nunca.
— Um quarto ou dois? — a estalajadeira questionou, olhando-os de cima a baixo curiosamente.
Aegon e se entreolharam, de repente constrangidos. Haviam conversado sobre aquilo, precisavam economizar o ouro que haviam trazido. Se ficassem sem nada, iriam ter duas opções: voltar para Porto Real com o rabo entre as pernas — o que Aegon já explicitamente dissera que não faria —, ou terem de recorrer a… métodos inortodoxos que nenhum dos dois gostaria de pensar.
— Nós vamos… um quarto. — Aegon disse, por fim, após limpar a garganta e se enrolar todo na resposta, o que arrancou uma risadinha sincera de .
A estalajadeira concordou com a cabeça, sua expressão não entregando nada, e caminhou pela estalagem num pedido silencioso para que a seguissem. Os dois jovens pegaram as bolsas, que agora pareciam ser mais pesadas do que realmente eram, e a seguiram até um quarto pequeno com uma lareira, uma cama não muito espaçosa, uma pequena mesa de carvalho gasta e descascada e duas poltronas puídas.
— Bem… não é a Fortaleza Vermelha, isso é certo. — murmurou, olhando em volta. Aegon soltou uma risadinha debochada.
— Já vi piores.
— Você não é parâmetro para nada.
Aegon novamente riu e encostou seu ombro no dela num humor brincalhão. Jogou a bolsa ao lado da cama, já se sentindo à vontade.
— Ainda tem jantar? — perguntou à estalajadeira, que ainda os observava, serviente.
— Temos um caldo grosso de coelho, um pouco de pão fresco e um pouco de queijo para esta noite. Se preferirem algo mais pesado, temos carne assada com crosta de ervas. Para beber, temos cerveja.
Aegon escolheu a carne e a cerveja, o caldo e o pão. A mulher concordou com a cabeça e a princesa catou algumas moedas de cobre, lhe pagando. Após parecer satisfeita com a quantidade de dinheiro, a estalajadeira acenou com a cabeça e anunciou num tom monótono que traria a comida logo, logo.
Quando a mulher saiu, suspirou e colocou a bolsa do lado oposto da cama, se jogando no colchão. Ela soltou um grunhido de desagrado ao sentir a falta das penas a qual era acostumada.
— Não gostei. — resmungou, arrancando uma risada de Aegon, que sentou-se ao seu lado, testando o colchão.
— Esperava penas, princesa? Não, não. Apenas palha para nós. Já deseja voltar para Porto Real?
— Vá à merda.
Aegon sorriu e deitou a cabeça no travesseiro.
— Ora vamos, não é tão ruim.
não respondeu, apenas suspirou e afofou o travesseiro o máximo que conseguiu antes de deitar sua cabeça. Não era nada como sua cama na Fortaleza Vermelha, mas obviamente não esperava que fosse. Era o suficiente. Melhor que dormir no chão.
— Sem arrependimentos, então? — Aegon estudou seu rosto, quase desafiando-a a dizer o contrário.
deu de ombros e ergueu uma sobrancelha muito loira.
— Nenhum.
Eles riram juntos até a estalajadeira voltar ao quarto com uma travessa cheia de comida. Ela colocou-a na mesa e os dois se levantaram depressa. Atacaram a comida assim que a mulher se retirou, se banqueteando em temperos e sabores desconhecidos.
— Deuses, isso tem um gosto muito melhor do que a comida que nos davam na Fortaleza Vermelha... Estou morrendo de fome. — A princesa lambeu os dedos ao pegar um pedaço da carne de coelho, devorando-a em uma só bocada. Aegon surpreendeu-se com a voracidade da garota enquanto sorria levemente para ela.
Ele dedicou-se a devorar a carne assada e a cerveja na mesma empolgação, o que não lhe foi muito difícil, pois também estava faminto. Logo, os dois estavam de barriga cheia, prontos para irem para a cama após um dia cansativo e cheio de tensão. Após a estalajadeira voltar e retirar os pratos, foi até a porta, trancando-a e colocando uma das cadeiras contra a maçaneta, certificando-se de que estava bloqueada.
— O quê? Sou neurótica, não quero ninguém entrando no meio da noite e roubando nosso ouro — acrescentou após uma encarada de Aegon, que a observava com um meio sorriso confuso. Ele não conseguiu evitar achar suas tendências neuróticas adoráveis, porém admiráveis, considerando que estavam em uma terra longínqua com pessoas estranhas. Cuidado nunca era demais.
Ela certificou-se que as janelas estivessem trancadas e voltou-se para o príncipe. Observou-o com escrutínio, pronta para trocar de roupa e se jogar na cama.
— Então, como faremos isso? Irá se virar ou…?
Ele foi arrancado dos pensamentos de como ela era mais preparada e cuidadosa que ele jamais seria e ergueu as sobrancelhas em surpresa.
— Ah… sim, sim. Irei me virar. Avise quando estiver pronta — pediu e virou-se de costas, coçando a nuca envergonhadamente.
certificou-se de que ele não iria olhar antes de pegar uma camisola da bolsa e começar a remover seus couros de montaria. O tecido macio da peça escorregou pelo seu corpo como as águas de uma cachoeira, e ela segurou uma risada ao ver Aegon parado como se houvesse engolido um cabo de vassoura.
— Pode olhar. — Ela guardou as roupas na bolsa e começou a destrançar o cabelo.
Aegon a encarou por alguns momentos, surpreso com a peça que ela escolhera. A seda acentuava as curvas da princesa, e ele nunca cansava de se surpreender com a beleza de . Os cabelos caíram à sua volta como prata líquida e ele precisou conter um suspiro, tirando a camisa enquanto ela penteava-os com os dedos.
— O que está fazendo? — ela questionou ao vê-lo deitar na cama apenas com a peça de baixo da roupa.
— Eu durmo nu. Não consigo dormir com muita roupa — justificou enquanto fazia uma careta. Conseguira ao menos manter a peça de baixo para não desrespeitá-la, mas se sentia preso dormindo com muitas roupas.
soltou um resmungo e puxou os lençóis ao deitar-se na cama. Virou-se então de barriga para baixo e assoprou a vela de sua mesa de cabeceira, a luz da lua vinda das janelas lhe jogando em uma penumbra.
— Então… Acho que seguiremos partilhando a cama, não é? — Aegon puxou conversa enquanto encarava o teto.
— A não ser que deseje dormir no chão — a princesa respondeu, sempre astuta.
Aegon soltou uma risada de deboche e negou com a cabeça.
— Não, não. Aqui está bom, obrigado, prefiro o conforto.
Ela soltou um suspiro de prazer ao abraçar o travesseiro e fechar os olhos, pronta para descansar. Aegon sorriu levemente, o som estranhamente reconfortante. Ele pôde sentir o calor do seu corpo ao lado dele, e sua frequência cardíaca começou a acelerar. O príncipe tentou se distrair ao encarar o teto e contar as travas de madeira, mas não conseguiu evitar olhares furtivos para . Seus lábios se entreabriram ao notar como a luz suave acentuava as curvas do seu corpo.
A hora se passou, e Aegon ainda estava bem acordado. Ele tentou ficar confortável, mas a cama parecia muito apertada e as memórias do corpo torneado da princesa continuavam a dançar em sua mente como uma cortesã voluptuosa. Ele podia ouvir sua respiração suave e isso não o estava ajudando a relaxar. Olhou para a princesa, e observou-a enquanto ela estava deitada de bruços, suas pernas enroladas nas cobertas. Ele não pôde deixar de notar como a camisola subiu, revelando a pele lisa de suas pernas e coxas.
O príncipe sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto olhava para as pernas e coxas expostas de . Sua frequência cardíaca acelerou e ele sentiu um calor se acumular na boca do estômago, como se houvesse levado uma rajada de fogo de dragão. Não conseguiu de jeito nenhum desviar o olhar, e pensou em como seria fácil estender a mão e tocar a pele macia de .
Ele cerrou os punhos e tentou lutar contra o desejo crescente dentro dele. Lembrou-se de que ela estava dormindo, confiando nele, e que ele não deveria estar tendo esses pensamentos.
Porém, quanto mais ele tentava resistir, mais forte o desejo se tornava. Pôde sentir suas roupas íntimas ficarem desconfortáveis enquanto seu corpo começava a reagir à visão do corpo torneado de . Com um pequeno suspiro frustrado, tentou encontrar uma maneira de se distrair dos pensamentos que inundavam sua mente. Esfregou o rosto abruptamente e desviou o olhar, tentando se concentrar em qualquer outra coisa, mas a imagem da garota, num sono pesado e tão perto dele, estava gravada em sua mente.
Era como se sua mão coçasse, uma coceira desagradável que o incitava a estendê-la e tocar a pele cremosa e imaculada da princesa. Aegon umedeceu os lábios e pressionou-os juntos. Seus dedos se estenderam até a garota devagar e pararam a milímetros de distância, pairando sobre sua pele como nuvens em um céu de tempestade. Sete Infernos! Por que não conseguia seguir em frente? Faria com qualquer garota, mas… era diferente.
Por fim, cedeu aos instintos. Seus dedos traçaram levemente a pele macia da coxa da princesa. Como se houvesse sido queimado por fogovivo, removeu-os e finalmente puxou os lençóis. Cobriu-a, escondendo sua nudez. Era o mínimo que podia fazer por ela, que havia se desprendido da vida que tinha para ir embora com ele.
Daria tudo por , faria tudo por ela. Era um juramento que fizera a si mesmo no momento que os dois deixaram Porto Real.


A manhã veio e, com ela, a perspectiva de explorarem a cidade. ) acordou com o coração batendo forte de excitação, apenas a imaginar as coisas que descobririam naquele primeiro dia em terras novas.
Um pequeno sorriso brotou em seus lábios, porém ela não foi longe, sentindo-se acorrentada. Quando olhou para baixo, viu um dos braços de Aegon fortemente envolto em sua cintura, prendendo-a contra si enquanto ressonava baixinho. ) grunhiu e tentou se soltar, mas aquilo apenas fez com que Aegon a apertasse mais forte e resmungasse levemente. Seu rosto se retorceu em uma careta de desagrado enquanto dormia.
— Está me sufocando — ela avisou enquanto se mexia novamente para acordá-lo.
Aegon resmungou novamente enquanto soltava um suspiro sonolento e seu braço afrouxou o aperto em volta da garota. Ele esfregou os olhos e encarou-a, grogue, seu rosto ainda meio enterrado em seu cabelo.
— Desculpe. Devo ter me agarrado a você enquanto dormia.
— Velho hábito? — ela perguntou em deboche, também levemente grogue.
Aegon assentiu devagar, seus olhos ainda quase fechados.
— É, acho que sim. Sou conhecido por me agarrar a travesseiros e cobertores enquanto durmo.
O príncipe deixou escapar um pequeno bocejo e a puxou para mais perto dele, seu corpo ainda quente e firme contra o seu. Esfregou então seu rosto no pescoço de , e ela sentiu um arrepio. Ainda assim, a garota não se afastou, mas soltou um som de agrado. Seus corpos se alinharam novamente.
Aegon suspirou levemente enquanto a princesa soava satisfeita e se aconchegava mais perto dele. Ele pôde sentir o calor irradiar do corpo de e saboreou a sensação de pele contra pele. Inalou profundamente e o cheiro do seu cabelo invadiu suas narinas. Soltou outro pequeno bocejo.
Mmm... Isso é gostoso.
— Bem, não se acostume. E lembre-se de abaixar o braço, está esmagando minhas tetas — ela brincou, embora não fosse tão mentira assim.
Aegon soltou uma risadinha e sua mão se moveu para baixo para descansar em seu estômago em vez de seu peito. Ele gentilmente deu um tapinha no estômago da princesa em brincadeira, um meio sorriso ainda em seus lábios.
— Desculpe por isso. Não percebi que estava apertando. Serei mais cuidadoso da próxima vez.
Ele soltou outro pequeno suspiro, seu corpo ainda pressionado confortavelmente contra o dela. Ele pôde sentir sua respiração suave e quente contra seu braço enquanto estavam deitados juntos, e aquilo lhe deu confiança para tornar a pegar no sono, assim como .
Eles acordaram novamente quando o sol brilhou alto no céu e uma batida na porta ecoou pelo quarto, o que fez os dois soltarem um grunhido de desagrado.
— Deve ser a criada com o desjejum. Vá checar, sim? — empurrou Aegon em direção à porta, e o garoto teria caído da cama se não houvesse se segurado na cabeceira.
— Está bem, está bem.
Aegon levantou-se e esticou as costas. Bocejou e ajeitou a peça de baixo para se mostrar mais composto, seus cabelos prateados jogados para todos os lados enquanto ele abria a porta com um olhar cansado e sonolento.
Uma jovem criada loira se encontrava de pé do lado de fora, enquanto equilibrava uma bandeja com vários itens de café da manhã. Ela abaixou a cabeça respeitosamente quando ele apareceu na porta.
— Bom dia, meu príncipe. Trouxe desjejum. Por conta da casa — disse a menina, sua voz suave e educada.
se mexeu na cama e soltou um som de deleite. Estava faminta. Porém, as palavras da criada adentraram seus ouvidos e invadiram seu cérebro, e ela hesitou, perguntando-se se havia ouvido direito ou se era apenas um hábito.
Quando deu-se conta, deu um pulo da cama.
— Do que o chamou? — questionou ao ir até a porta e quase atropelar Aegon com a bandeja de comida, que parecia não ter percebido nada de estranho.
A empregada olhou para , surpresa em seu rosto com a explosão repentina da garota. Ela olhou de volta para Aegon, sem saber como responder.
— Ah, e-eu peço desculpas, princesa — gaguejou, suas bochechas ficando vermelhas enquanto ela se perguntava mentalmente o que havia feito de errado. — Eu simplesmente o chamo de “Príncipe” porque... bem, ele é o Príncipe de Westeros. É apenas uma forma de respeito.
Os olhos de se arregalaram, e Aegon pareceu se dar conta naquele exato momento do que estava fora de lugar, suas sobrancelhas se erguendo em surpresa.
— Como sabe quem somos? — ela questionou novamente, cruzando os braços de maneira desconfiada enquanto Aegon colocava a bandeja na mesa.
A criada hesitou e seus olhos terrosos se moveram nervosamente de um lado para o outro entre Aegon e . Ela pôde ver a desconfiança na expressão da mais nova, e abaixou a cabeça, mexendo nervosamente nos dedos.
— E-eu sinto muito, minha senhora, — gaguejou novamente, sua voz agora cheia de uma pitada amarga de medo. — Eu reconheci o príncipe pela descrição. Muitas pessoas aqui em Pentos estão cientes da realeza de Westeros... E não é difícil reconhecer o cabelo prateado dos Targaryen.
suspirou e abriu a bolsa. Tirou de lá dois dragões de ouro e caminhou até a garota.
— Pedimos por discrição. Pode fazer isso? — perguntou enquanto tomava a mão da jovem. Enfiou as moedas nela e as fechou enquanto mantinha-a em seu aperto. — Negue todos os rumores. Diga que somos de Lys. Mesmo que ninguém acredite, já é um começo.
Os olhos da criada brilharam ao ver as duas moedas, decerto mais do que ela já ganhara na vida. Ela acenou com a cabeça freneticamente, os lábios entreabertos em choque.
— Claro, minha senhora — respondeu, sua voz cheia de gratidão. — Não mencionarei uma palavra a ninguém, e negarei todos os boatos. Sei como discrição é importante, seu segredo está a salvo comigo.
Aegon e agradeceram com um aceno de cabeça e a criada curvou-se obedientemente antes de se retirar. O príncipe fechou a porta e virou-se para a sobrinha com um rabo de olho enquanto se apoiava na mesa, seus músculos do braço flexionando-se.
— Bem, isso foi interessante. Acha que ela contará a alguém? Devemos confiar que manterá a palavra?
— Manterá se sabe o que é bom para ela — retrucou , que nunca machucara sequer uma mosca. Seus olhos moveram-se freneticamente enquanto ela mordiscava o canto da unha nervosamente.
Aegon notou seu nervosismo e caminhou até ela. Tirou-lhe os dedos de alcance, e entrelaçou a mão na sua.
— Ei, está tudo bem. Lhe deu moedas, ela pareceu ansiosa para ficar de boca fechada. Tudo ficará bem.
— Deveríamos mudar de estalagem a cada semana.
Aegon concordou enquanto compreendia a necessidade de cautela.
— Sim, provavelmente é uma boa ideia. É melhor não ficar muito tempo em um lugar.
Ele esfregou a mão de suavemente numa tentativa de acalmar seus nervos.
— Podemos nos mudar para uma pousada diferente amanhã de manhã, se isso fizer você se sentir melhor. Não temos pressa. Viemos para viver uma vida de diversão, não de nervosismo.
— Temo o que pode acontecer se nos encontrarem. O que se passaria a nós? Seríamos obrigados a voltar? Você se casaria com Helaena, e eu… O que fariam de mim? Achariam que eu estava arruinada, que fugimos juntos para nos casarmos ou algo assim, e eu não conseguiria um casamento. Não quero viver sob olhares de deboche e ser alvo de fofocas uma vida inteira, não tenho temperamento para isso.
— Ei… — Aegon puxou-a contra si e a abraçou, seu queixo no topo da cabeça de . — Não seremos encontrados. Nada acontecerá. Eu tenho a você, e você a mim. É tudo que precisamos, .
Ela fungou, o cheiro de Aegon acalmando-a. Ele cheirava a lar.
— Promete?
— Eu juro. Nunca deixarei nada de mal acontecer a você, . Deve acreditar nisso.
ergueu os olhos úmidos que brilhavam como pequenas pedras de jade, encarando os seus de ametista.
— Eu acredito. — Foi tudo que disse enquanto encostava a cabeça no peito de Aegon novamente, permitindo que ele a consolasse. Confiava nele com sua vida. Afinal de contas, o que lhe restava agora?


Uma volta completa da lua e ninguém havia os encontrado. Aegon e continuaram se divertindo, vivendo e indo a festas de rua. O príncipe frequentava casas de travesseiro e a princesa fazia o que bem entendesse, o que era uma mudança e tanto em suas vidas. Era bom… embora estranhamente solitário após um tempo.
Os dois voltavam de uma das boas festas extravagantes, se jogando na cama de uma nova estalagem, “O Marinheiro Errante”. As palhas daquele colchão eram particularmente fedidas, mas aquilo não importava mais com o quão cansados chegavam após farrearem a noite inteira.
caiu na cama, rindo sofregamente por causa do álcool. Aegon fez o mesmo e ergueu-se em cima dela sobre as mãos, observando-a enquanto a acompanhava nas risadas.
— Estou um caco — ela reclamou enquanto torcia os dedos nos cabelos prateados do príncipe. — Quanto tempo passamos fora? Três dias?
— Três dias — Aegon concordou, com um meio sorriso. Sua cabeça girava enquanto ele se jogava ao lado dela e encarava o teto. — Aquela festa foi algo de outro mundo. Não acho que já tenha visto tanta extravagância em um lugar só. Deuses, o anão pelado…
soltou um gritinho e riu novamente, cobrindo o rosto enquanto corava.
— Oh, não! A coisa chegando-lhe aos joelhos! — Ela riu alto novamente, batendo no ombro de Aegon. — Será que era de verdade?
— O que seria se não fosse, ? Gigantismo? Para um anão, é meio impossível, não acha? — Aegon debochou, fazendo-a gargalhar novamente. Ele tapou-lhe os lábios. — Irão nos expulsar novamente, se controle!
— Não estou embriagada.
— E eu não sou um príncipe.
— Tecnicamente, não é mesmo. Abdicamos de tudo quando fugimos, não foi?
Aegon a observou em silêncio por alguns momentos.
— Sente falta?
— Nem um pouco.
Ele sorriu com a falta de hesitação dela, concordando com a cabeça. Também não sentia falta de ser apenas mais um peão no jogo dos tronos. Era exaustivo ter de fingir para todas aquelas pessoas, ser o príncipe perfeito que ele sabia que não nascera para ser.
Ali, com , podia ser quem quisesse. Ela nunca lhe julgava, e aquilo lhe era libertador. Poderia fazer o que tivesse vontade, sabendo que ela voltaria aos seus braços para dormir na noite seguinte, e aquilo era suficiente. Se aceitavam como eram.
— Achei que fosse ficar com aquela garota, a morena que você estava perseguindo a noite inteira. Ela era muito bonita.
Aegon sorriu levemente.
— Ah, sim, ela era. E muito… flexível. — Riu, lembrando-se dos acontecimentos daquela noite.
soltou um frouxo de riso, batendo em seu ombro, ainda corada por todo o vinho que bebera.
— Você não tem jeito.
— Ei, não posso evitar se as mulheres me amam — ele provocou, sua voz pingando com falsa arrogância. — Elas se jogam aos meus pés, praticamente implorando por minha atenção. É uma vida difícil, eu te digo.
— Oh, coitadinho! — zombou enquanto apertava-lhe as bochechas.
Aegon sorriu e mostrou a língua, aproveitando a brincadeira. Ele deixou que lhe apertasse suas bochechas, seus olhos brilhando de diversão.
— Oh, ai de mim! Pobre de mim, constantemente tendo que suportar a adoração e o desejo de inúmeras mulheres bonitas.
Ele exagerou na expressão, fingindo estar atormentado por sua aparente popularidade. ainda ria, mas, de repente, sua expressão murchou, seus olhos evitando encará-lo. Aegon franziu a testa, observando-a, em alerta por sua súbita mudança de humor.
?
— Apenas… melancolia de fim de noite. Só isso — assegurou, acariciando-lhe os cabelos, levemente mais longos, alcançando-lhe os ombros agora.
Aegon franziu a testa levemente, não totalmente convencido pela resposta da princesa, porém, não querendo ser invasivo.
— Você tem certeza? Sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, certo? Espero não ter dito algo que tenha lhe chateado...
— Não! Não, não, não — ela o interrompeu, uma mão em seu ombro. — Não é nada com você, é besteira, sério. Nem irei dizer nada, irá me achar estúpida.
Aegon balançou a cabeça e se aproximou um pouco mais de na cama, sua expressão gentil, mas curiosa.
— Ei, duvido que seja algo estúpido, caso contrário você não estaria assim — disse suavemente, afastando-lhe uma mecha de cabelo do rosto. — Vamos, você pode me dizer. Eu não irei julgar, eu prometo.
hesitou, mas por fim soltou um suspiro, olhando para a janela, o céu salpicado de estrelas começando a mudar de cor de acordo com o quanto a hora do rouxinol se aproximava.
— Acha que estão procurando por nós? — perguntou num sussurro, estendendo a mão para o céu debilmente, deixando-a cair em seguida. — Sinto falta deles.
A expressão de Aegon suavizou-se e ele estendeu a mão para pegar a dela, apertando-a gentilmente. Ele conseguiu ouvir a dor em sua voz, e isso tocou seu coração, sentindo compaixão e lembrando-se de repente do quão jovem realmente eram. Oras, tinha quinze anos, ele dezessete. Eram tão jovens, como ela não sentiria falta da mãe, sendo que se davam tão bem?
— Eu sei que deve ser uma droga sentir que ninguém está nos procurando — tentou, sua voz baixa e dotada de simpatia pelos sentimentos de . — Mas talvez... talvez isso seja uma coisa boa? Talvez signifique que eles estão respeitando nossa decisão e nos dando algum espaço.
Ela hesitou, mas, por fim, deu de ombros, encarando os olhos lilases de Aegon na penumbra aconchegante.
— Estou me divertindo muito com você, não ache que…
— Não, . Eu sei o que quer dizer. Também estou me divertindo muito, não se preocupe. — Aegon beijou-lhe o dorso da mão, sorrindo levemente.
A princesa hesitou novamente.
— Sente falta de alguém?
Aegon franziu a testa, pensando. Sentia? Nunca havia parado para pensar na família por nem sequer um momento, mas agora que ela lhe questionara aquilo, permitiu-se sentir alguma coisa.
— Eu estaria mentindo se dissesse que não — admitiu, calmamente, por fim. — Às vezes, sinto falta dos meus irmãos, de Ser Criston... até de minha mãe, mesmo que não tivéssemos o melhor relacionamento no final. Mas... não sei, parte de mim também está feliz por estar longe de todo esse drama e pressão.
A garota soltou um grunhido estrangulado.
— Ser Criston?
Aegon riu, feliz pela atmosfera ficar mais leve.
— Ei, o homem praticamente criou a Aemond e a mim, certo? É um cara legal.
fez uma careta, porém não respondeu. Aegon não pressionou, conhecia bem o desgosto da princesa pelo cavaleiro e não era de hoje.
— Tenho certeza de que colocaram algo em nosso vinho, sabe? Não me lembro de quase nada desses três últimos dias.
Aegon soltou um riso nasalado, quase um ronco.
— Você provavelmente está certa. Esses Pentoshis realmente sabem como deixar o vinho forte — respondeu, com um sorriso. — Eu mesmo tenho algumas memórias um tanto... confusas dos últimos dias. Talvez devêssemos deixar o álcool de lado por um tempo, hein?
— Às vezes me pergunto se minha virgindade ainda está intacta após todas essas festas — brincou, observando sua reação.
Aegon riu com vontade do comentário, seus olhos brilhando com uma pitada de diversão.
— Bem, posso lhe garantir que definitivamente ainda está — retrucou, mordaz como a picada de uma víbora. — Mas talvez eu deva ficar de olho em você nessas festas. Certificar-me de que algum bêbado não lhe atraia para um canto e tire vantagem.
— E como exatamente você pode me garantir? — a princesa questionou no mesmo tom, observando-o com atenção. — Eu realmente tenho trocado saliva com muitos homens ultimamente.
O sorriso de Aegon se alargou ainda mais, seus olhos percorrendo seu rosto.
— Ah, é? Você tem aproveitado bem seu tempo aqui, não é? — provocou.
Ele estendeu a mão, passando um dedo levemente pelo queixo de , seu toque leve como uma pena. Inclinou-se então para mais perto, sua voz caindo para um sussurro baixo.
— Bem, posso garantir que nada disso aconteceu. Você ainda é uma donzela.
— Como sabe? — perguntou também num sussurro, seus olhos entreabertos encarando-o, fazendo o estômago de Aegon se revirar sem nenhuma relação com o álcool.
O olhar de Aegon se fixou no seu, sua expressão de repente ficando mais séria. Ele moveu lentamente a mão para segurar-lhe rosto, seu polegar traçando pequenos círculos contra sua bochecha.
— Porque eu conheço você — disse, suavemente. — Eu sei que você não é do tipo que baixa a guarda tão facilmente. Você pode ter ido a festas e trocado beijos com homens, mas você não é do tipo que vai além. Você é cuidadosa e consciente de suas ações, mesmo que tenha bebido muito.
riu levemente, deleitando-se em seus toques.
— É verdade. Gosto do quanto me conhece.
Aegon retribuiu o sorriso, sua mão ainda gentilmente em volta de sua bochecha.
— É engraçado, não é? — Seu tom se tornou mais contemplativo. — Nós nos conhecemos por toda a nossa vida, mas, de alguma forma, parece que após a última lua, nos conhecemos ainda melhor. De uma forma diferente, é claro.
— É quase cômico. Mesmo nunca havendo nenhuma intimidade física entre nós, nos conhecemos mais que muitos amantes.
Ele concordou, rindo levemente enquanto ainda acariciava-lhe a bochecha, um gesto confortante e familiar.
— É, é estranho, não é? Nós nem somos amantes e estamos dividindo uma cama há algum tempo, como um casal. Mas honestamente, por mais estranho que pareça, eu não me importo nem um pouco.
— Sim, porque gosta de dormir cheirando meu cabelo, seu esquisito.
Aegon riu, estreitando os olhos de brincadeira para a princesa, fingindo ofensa com seu comentário.
— Ei, não precisa me chamar assim — protestou, com um tom indignado e fingido. — Seu cabelo tem um cheiro bom. Não é minha culpa que eu não consiga evitar enterrar meu nariz nele quando estamos juntos na cama.
Quando estamos juntos na cama... Até a frase parece estranha. É tão engraçado… — Ela colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Aegon apreciou o gesto, deleitando-se em seu toque, como sempre fazia.
— Sim, acho que soa um pouco estranho — Aegon respondeu, seu olhar nunca deixando o dela. — Mas, novamente, toda a nossa situação é estranha, não é? Quero dizer, quem imaginaria que acabaríamos dividindo uma cama e fugindo do reino juntos?
riu.
— Deuses, devemos estar loucos.
— Sim, devemos estar — o príncipe concordou com um sorriso. — Fugindo juntos, vivendo como fugitivos e agora dormindo na mesma cama... qualquer outra pessoa pensaria que perdemos a cabeça.
— E não se esqueça de que quase dobramos o ouro que trouxemos. Eu não tinha ideia de que prosperaríamos tanto.
O sorriso de Aegon se alargou com a menção de suas novas riquezas.
— É mesmo, não é? Tenho que admitir, não esperava que estivéssemos fazendo tanto ouro aqui. É meio incrível, não é? Estamos vivendo como reis, graças a um monte de apostas e seus olhinhos aterrorizantemente observadores.
— E meus dedos leves. — acenou os dedos na frente de seus olhos. — Minhas patas de gatinho manso.
Aegon riu enquanto observava-a balançar os dedos em sua frente, balançando a cabeça em falsa desaprovação.
— Ah, claro, como eu poderia esquecer dos seus “dedos leves?” Você é uma verdadeira batedora de carteiras — provocou, seu tom de voz quase orgulhoso. — Você se tornou bem habilidosa em roubar bolsas e joias sem que ninguém perceba, eu admito.
tocou o colar que usava, uma das últimas aquisições da quinzena anterior.
— Isso eu me tornei, mesmo.
Aegon notou o jeito que ela tocava a peça, rindo levemente.
— Ah, sim, essa sua última peça — disse, seu tom cheio de admiração. — É linda. Você tem um talento especial para colocar as mãos nas melhores joias, ao que parece.
— Uma princesa sempre será uma princesa, mesmo que tenha desistido do título. — Sorriu. — Posso te perguntar uma coisa?
Aegon franziu a testa, curioso.
— Claro, sabe que sou um livro aberto.
— Por que acha que nós nunca fodemos?
A garganta de Aegon secou de repente com o quão direta ela havia sido, seus olhos lilases se arregalando em surpresa.
— Uau, essa é uma pergunta bem direta. — Ele passou a mão pelo cabelo, quase desconfortável. — Eu acho... Eu nunca pensei muito sobre isso. Nós sempre fomos próximos, mas acho que sempre houve algo me segurando.
— O que lhe segura? Fode qualquer coisa com um buraco, por que não eu?
Aegon suspirou, sua expressão ficando mais séria. Ele sabia que esse era um assunto delicado, mas ele queria ser honesto com ela. Lhe devia pelo menos isso.
— Não é só sobre o físico, . Há... há muito mais nisso. — Hesitou por um momento, tentando encontrar as palavras certas para explicar seus sentimentos. — Você é importante para mim. Você é minha família, e eu... eu não quero apenas “te foder” como uma mulher qualquer, entendeu?
ponderou suas palavras, suspirando.
— Eu entendo. Mas… você foderia?
Aegon encontrou seu olhar, seus olhos buscando os dela enquanto ele refletia sobre sua pergunta. Era uma pergunta difícil de responder, e ele estava claramente surpreso com isso, abrindo e fechando os lábios repetidamente, mexendo com a impaciência de .
— Eu... eu não sei — admitiu, honestamente. — Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei sobre isso. Você é atraente, não há como negar. Mas eu…
Ele soltou um suspiro, claramente dividido. sentiu sua expectativa explodir em pedaços, evitando encará-lo. Esperava uma resposta totalmente diferente, e aquilo lhe desagradara.
— Posso lhe fazer outra pergunta? — questionou, desesperada para fugir daquele tópico.
— Eu… claro.
— Já esteve com outro homem antes?
Aegon ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Eu? Eu não. Deuses. O que lhe deu essa ideia? De onde veio essa pergunta? — perguntou enquanto sentia o rosto esquentar.
— Bem, você fode tudo que tenha um buraco, eu pensei…
Ele pareceu visivelmente desconfortável enquanto expressava sem rodeios sua suposição sobre suas preferências sexuais.
— Achou errado, viu? Só estive com mulheres e não tenho planos de mudar isso.
riu.
— Por que está tão na defensiva? Beijei uma garota na festa, não foi tão ruim.
Ele a encarou, o queixo caindo. A garota lançava uma atrás da outra, não cansava de tirar-lhe dos eixos!
— Beijou uma mulher? Não sabia que se interessava por mulheres, também. — Um meio sorriso brincou em seus lábios, pensamentos nada nobres transpassando sua mente.
— Bem, eu também não sabia, mas ela veio até mim e eu pensei… por que não? Ela era muito bonita.
Aegon concordou em compreensão, um sorriso irônico puxando o canto dos lábios.
— Ah, então ela veio até você, hein? Ela devia ser uma verdadeira beldade, então. E você só pensou em, ah, experimentar um pouco?
— O que acontece em Pentos fica em Pentos, não é? — riu, girando uma das mechas de cabelo dele nos dedos, lhe lançando um olhar charmoso.
Aegon assentiu, uma mistura de curiosidade e ciúmes se agitando dentro de si. Ele sabia que não podia culpá-la por se divertir, mas uma pequena parte dele não conseguiu deixar de sentir um pouco de inveja.
— E como foi, então? O beijo, quero dizer.
deu de ombros.
— Não muito diferente de beijar um homem quando de olhos fechados.
— Entendo — ele disse, seu sorriso se alargando. — Então, não importa para você se é um homem ou uma mulher, contanto que o beijo seja bom?
— Acho que sim. Nunca beijei tantas pessoas antes de estar aqui, então acho que gosto muito de beijar. Tenho de aproveitar.
Aegon sorriu de lado, afastando-lhe o cabelo do pescoço, inclinando-se para sentir o aroma que conhecia tão bem.
— Você definitivamente está aproveitando ao máximo nosso tempo aqui, não é? Aproveitando sua liberdade e saciando seus desejos.
mordeu o lábio inferior para evitar qualquer som de sair, sua mão indo pra a nuca do garoto, incitando-o.
— Assim como você.
Aegon não pôde discutir. Ele definitivamente teve sua cota de aventuras desde que chegou em Pentos, entregando-se aos vícios e folias da cidade.
— Você me pegou aí. — Ele riu contra seu pescoço, arrepiando os pelos da nuca da princesa. — Somos uma dupla de hedonistas, não somos?
— Tenho quase certeza de que, em nove ou dez voltas da lua, vários bebês com cabelos prateados estarão chorando em seu caminho para este mundo.
— Você provavelmente está certa — admitiu, balançando a cabeça. — Afinal, nós temos sido bem desenfreados. Eu não ficaria surpreso se várias das minhas antigas parceiras acabassem carregando meus bastardos.
pensou em suas palavras, absorvendo-as.
— Isso não… te incomoda?
Aegon levou um momento para considerar sua pergunta, um lampejo de incerteza cruzando suas feições.
— Honestamente — começou, — provavelmente deveria me incomodar mais do que incomoda... mas não posso dizer que estou particularmente preocupado com isso. Não conheço esses bebês, nem conheço as mulheres que serão mães deles. Não é como se eu tivesse qualquer intenção de ser pai dessas sementes.
suspirou. Um homem, deveras.
— Deveríamos tentar dormir. O sol está nascendo. — Ela levantou-se da cama, desamarrando o vestido e deixando-o se acumular ao seu redor, já acostumada a ter Aegon e seus olhares por perto.
Aegon observou-a se trocar sem muita preocupação, claramente acostumado com a cena agora. Ele mesmo começou a tirar a camisa e desabotoar as calças, se preparando para se acomodar.
— Com sono, já? — perguntou brincando enquanto levantava o cobertor e rastejava para seu lado habitual do colchão. Ele esticou os braços, abrindo espaço para em seu abraço.
A garota soltou um som de deleite enquanto se deitava, aconchegando-se contra ele como fazia todas as noites.
— Exausta.
Aegon envolveu seus braços em volta dela enquanto se acomodava, puxando-a para perto.
— Eu posso imaginar — respondeu, descansando a bochecha contra o topo de sua cabeça. — Você correu e bebeu muito hoje à noite. Não é surpresa que esteja cansada.
— Nós dois, não é? — ergueu a cabeça para encará-lo.
Ele riu baixinho, suas mãos distraidamente traçando as costas esguias da garota para cima e para baixo. Ele estudou seu rosto por um momento, admirando sua beleza na luz fraca do amanhecer que se aproximava.
— Sim, certamente temos estado ocupados ultimamente, não é? Toda essa bebida, apostas e correria...
— Eu espero que nunca acabe. — soltou um suspiro feliz enquanto tornava a se aconchegar contra Aegon, expressando o que ele mesmo pensava.
O príncipe sorriu com suas palavras, sentindo uma pontada de afeição tomar conta dele. Sabia que essa vida de lazer não poderia possivelmente durar para sempre, mas compartilhava do sentimento. Era um tempo de diversão despreocupada, um alívio dos fardos e estresses de suas vidas deixadas para trás.
— Eu também — respondeu, com sinceridade, sua mão subindo para afastar alguns fios soltos de cabelo prateado do rosto de , um meio sorriso em seus lábios enquanto ele a observava. — Eu realmente espero que isso nunca acabe.


O sol nascera e Aegon ainda não conseguira pregar o olho, ressonando tranquilamente em seus braços. A respiração da princesa o acalmava, sim, mas não conseguia desligar sua mente de tudo que conversaram naquela madrugada. Observou-a dormindo tão pacificamente, seu rosto delicado parecendo ainda mais jovem do que já era.
. Ei, . — Sacudiu-a levemente, tentando despertá-la. — Não consigo dormir.
— E por isso quis me acordar também? — ela retrucou, ainda de olhos fechados. — Tente mudar de posição.
— Não quero.
revirou os olhos, suspirando, abrindo os belos olhos-de-jade.
— O que espera que eu faça? Que o entretenha até que tenha sono? — Parecia irritada, e Aegon fez uma careta.
— Converse comigo. Como imagina seu futuro? — Aegon perturbou, sacudindo-a de leve novamente para que acordasse por completo.
— Eu numa cama de colchão de penas dormindo.
! Não seja chata!
— Eu? Chata? Você não quer me deixar dormir!
— Por favor! — ele insistiu, esfregando o nariz contra sua testa como um gatinho que pedia colo. — Não me deixe sozinho.
grunhiu de frustração, abrindo os olhos abruptamente.
— Isso é chantagem emocional.
— Responda minha pergunta.
ficou em silêncio, pensando no que responder, e Aegon quase julgou que ela havia adormecido novamente, pronto para sacudi-la mais uma vez quando ela tornou a falar.
— Quero contar aos meus filhos um dia a história de quando a mamãe e o tio Aegon viveram em Pentos por um tempo.
Aegon riu levemente, seu peito sacudindo e quase fazendo com que a garota pegasse no sono de novo. Ele imaginou a princesa como uma mãe, contando essa mesma história para seus filhos. Era uma bela imagem, embora uma parte dele se perguntasse o que eles pensariam sobre esse conto selvagem.
— Seus filhos irão se perguntar se você enlouqueceu, contando histórias sobre nós vivendo como libertinos bêbados em Pentos.
Ela riu levemente, os olhos ainda fechados.
— Meu marido irá me desonrar.
Aegon riu junto, apreciando o humor sarcástico de , sua risada lhe aquecendo o peito.
— Talvez ele faça isso — provocou, seus olhos brilhando de alegria. — E ele certamente terá algumas perguntas para seu “querido tio”.
levantou os olhos, encarando-o de súbito.
— Vou te contar um segredo.
Aegon observou-a com curiosidade, erguendo levemente as sobrancelhas.
— Ah, é? E que segredo é esse? Adoro segredos.
lhe deu um sorriso sapeca.
— Quando minha mãe se casou com Daemon, eu costumava sonhar que o roubaria dela e me casaria com ele eu mesma — proclamou, corando. — Eu tinha nove anos, veja bem.
Aegon fechou a cara, um bico lhe tomando os lábios.
— Você é obcecada por ele, não é? Que coisa bizarra. Tudo que pensa se relaciona ao Daemon. Por acaso seu primeiro beijo também foi com o meu famigerado tio?
— Não. Foi com o Aemond, quando eu tinha onze anos.
Ele arregalou os olhos, a sensação de um soco no estômago fazendo sua respiração entrecortar-se.
— O quê?
A garota deu de ombros.
— Não pode negar que eu tenho um tipo — brincou, observando-o.
— Sim. Homens insípidos.
— Nem sabe o que essa palavra significa.
— Não sou burro, ! Claro que sei. São homens sem graça e sem personalidade nenhuma — entoou, cheio de si.
— Sabe que isso é o que menos os descreve, não é? De qualquer forma, eu tinha nove anos quando fantasiava isso, não é como se eu fosse pôr em prática. Eu amo a minha mãe.
Aegon soltou um riso nasalado.
— Quer dizer que o faria se a odiasse?
— E quem sabe?
Aegon revirou os olhos, seus braços se afrouxando ao redor dela.
— O que o Daemon tem de tão especial? Oras, o que o imbecil do meu irmão tem?
— Eu tinha nove anos, Aegon! Ele era tudo que eu achava que queria em um marido.
— Então, o que exatamente você estava procurando em um marido na idade madura e tenra de nove anos? — ele perguntou, apesar da irritação, com um meio sorriso. — E Daemon Targaryen era realmente a personificação de todos os seus desejos?
— Alto, um guerreiro, um Cavaleiro de Dragão, corajoso, belicoso… — Ela contou nos dedos, enumerando cada qualidade. — Alguém que morreria para me proteger. Eu tinha ideais muito românticos.
— E muito bonito, eu assumo? Porque meu tio e meu irmão estão defasados nesse quesito.
arfou, erguendo as sobrancelhas.
— Claro que não! Os dois são muito bonitos! Mas a beleza deles é diferente da sua, só isso.
Aegon riu levemente com aquilo.
— Diga-me, . Como é minha beleza?
Ela pensou por uns momentos, encarando-o, a luz do sol entrando pelas janelas e formando um halo de luz acima de sua cabeça, assemelhando-a a uma deusa, pelo menos aos olhos do príncipe.
— Delicada. Quase feminina. Do tipo que fariam estátuas e bustos em homenagem.
Aegon sentiu as bochechas esquentarem, estranhamente vulnerável.
— Tenho cara de mulher, então? — Tentou fazer uma piada para disfarçar, perdido nos olhos de e na forma como ela o encarava, seus lábios entreabertos.
A princesa bufou, revirando os olhos.
— É, Aegon. Tão bonito quanto uma menina — retrucou, malcriada.
Ele a observou com um meio sorriso, suas palavras reverberando em sua mente. o achava bonito. Deuses, aquilo mexia com ele de formas que não compreendia.
— E quanto ao seu gosto atual em homens? Quais qualidades você está procurando agora? — Encheu o peito, erguendo o queixo e se fazendo de confiante.
manteve-se em silêncio.
— Eu não sei.
Aegon levantou uma sobrancelha, surpreso com a resposta. Ele gentilmente levantou uma mecha de cabelo do rosto belo da princesa, colocando-a atrás da orelha.
— Você não sabe? — repetiu com um pequeno sorriso nos lábios, sua voz suave como uma pluma. — Certamente deve haver algumas qualidades que você acha atraentes em um homem, além de simplesmente ser bonito.
— Eu acho que… alguém gentil. Com um bom coração, e embora firme, também piedoso. Alguém que não leve a vida tão a sério.
Ele ouviu a descrição, seu sorriso se alargando conforme ela falava. Um lampejo de reconhecimento cruzou seu rosto à menção das poucas preferências.
— Bom, gentil e alegre, hein? — ele repetiu, refletindo sobre suas palavras em sua mente. De muitas maneiras, essas qualidades o descreviam... e ainda assim ele não conseguia se livrar da sensação desconfortável de que ele não era o tipo de pessoa por quem realmente se sentiria atraída.
— E você? Você já desejou se casar por amor? Ou conhecer a cama de todas as donzelas dos sete reinos lhe é suficiente? — questionou, afiada como a ponta de uma adaga de aço-valiriano, nunca perdendo seu corte.
A brincadeira sobre seus muitos casos não o incomodara nem um pouco. Na verdade, Aegon se orgulhava de sua reputação de mulherengo, vendo isso como um distintivo de honra. Mas a pergunta sobre se casar por amor o fez hesitar, seu sorriso vacilando ligeiramente. Ele contemplou, demorando um momento antes de responder.
— Honestamente, nunca pensei muito sobre amor. Casamento sempre foi sobre alianças e herdeiros para mim — admitiu, calmamente.
— Bem, agora não precisa mais ser. Agora, estamos livres — ela o lembrou. — O que você procuraria em uma mulher?
Ele suspirou pesadamente, refletindo sobre a pergunta. Aegon nunca havia pensado muito sobre amor antes, tendo sido criado para pensar no casamento como uma ferramenta política. Mas agora, nesta nova vida que eles construíram para si em Pentos, as coisas eram diferentes, e ele se pegou realmente ponderando o que gostaria em uma parceira.
— Você realmente espera que eu lhe dê uma resposta séria? Explanar assim meus desejos e vontades mais íntimos? — provocou, com um sorriso no rosto.
— Eu lhe disse o meu! — chiou, fazendo beicinho.
Ele riu do quão mimada a princesa era, a expressão parecendo muito cativante em seu rosto. Estendendo a mão, ele segurou seu queixo gentilmente, seu polegar correndo ao longo de seu lábio inferior.
— Tudo bem, eu vou te dizer — cedeu, entrando no jogo. Seu rosto assumiu uma expressão mais séria. — Uma mulher que é feroz, mas gentil. Inteligente, com uma sagacidade afiada e mente mais afiada ainda. Ela deve ser forte e independente, mas não ter medo de me deixar assumir a liderança quando necessário. Ela também deve ser bonita, é claro.
— Claro — brincou, mordiscando seu dedo em brincadeira, os olhos nos seus.
Ele riu enquanto ela mordia–lhe o dedo, a sensação enviando um choque pelo seu braço. Os dedos dele apertaram o queixo de um pouco mais forte, segurando-a firmemente.
— Sim, eu tenho que ter minhas mulheres bonitas — concordou, um sorriso torto no rosto. Então ele continuou, seu olhar segurando o dela atentamente. — Mas isso é apenas físico. O que importa mais para mim é a personalidade. Eu quero alguém que me desafie, que não se curve a todos os meus caprichos. Alguém que seja minha igual.
Shiera sorriu, concordando com a cabeça.
— Ela será uma mulher sortuda.
Ele soltou-lhe o queixo, sua mão se movendo para acariciar seu rosto, seus dedos traçando-lhe a mandíbula. Havia um olhar suave, quase melancólico em seus olhos enquanto ele olhava fixamente para .
— De fato, ela seria — ele murmurou, sua voz baixa e aveludada. Um momento de silêncio passou-se enquanto ele estudava seu rosto antes de falar novamente. — Posso te fazer uma pergunta?
bocejou, os olhos começando a ficar pesados novamente.
— Vá em frente.
Ele limpou a garganta, sentindo-se repentinamente nervoso de forma incomum. Encarou-a com uma expressão séria, enquanto finalmente fazia a pergunta que queria.
— Você já... já se apaixonou antes?
Ela abriu os olhos abruptamente quando ele perguntou aquilo, olhando fixamente nas tempestades de jacintos dele.
— Sinceramente?
Ele notou a mudança de expressão, a maneira como os olhos de se arregalaram, e um lampejo de curiosidade passou por seu rosto. Ele assentiu, sua mão gentilmente correndo pelas madeixas macias da garota enquanto ele a encarava, atento.
— Sim, sinceramente.
— Não acho que tenha, não. E você? — Ela o encarou da mesma maneira, em expectativa, os grandes olhos verdes brilhando.
Ele olhou-a por um momento, seus dedos brincando preguiçosamente com seu cabelo. Ele ponderou sua resposta, tentando lembrar se ele realmente já amara alguém antes... e não encontrou nada.
— Não — ele finalmente admitiu em um tom suave, uma leve carranca em seu rosto. — Eu também acho que não. Não verdadeiramente.
suspirou.
— É meio triste, não acha?
— Se você se apaixonar um dia… como acha que será?
Ela pensou por uns momentos, e novamente Aegon pensou que ela havia caído no sono, dessa vez resignado em deixá-la dormir quando ela finalmente falou.
— Algo de outro mundo.
Ele sorriu levemente, achando a resposta adequada, embora um pouco ambígua. Ele se moveu, sua mão correndo pelos cabelos de novamente enquanto ele falava com um tom suave.
— De outro mundo... Isso parece um pouco vago, você não acha?
— Eu não… — respondeu antes de tornar a pegar no sono, recomeçando a ressonar. Aegon a encarou por alguns momentos, seu polegar acariciando sua têmpora. Com um beijo na testa, o príncipe deixou-a dormir, sua mente ainda mais bagunçada que antes.




Continua...


Nota da autora: E vamos de mais uma fic de HOTD! Confesso que é meu hiperfoco atualmente, como já disse, esperem mais trocentas fics KKKKKKKKKKKKK espero que gostem da jornada dos meus bebês!


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