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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 10/09/2024

Los Angeles, 10 de junho de 2018



O fogo furioso devorava a mansão à beira-mar. As chamas subiam altas, iluminando a noite como um vulcão em erupção. O cheiro de fumaça e enxofre era sufocante, como um presságio de tragédia. O som das chamas era ensurdecedor, como uma tempestade violenta.
Os bombeiros e a polícia chegaram rápido, mas era tarde demais. A casa estava em ruínas, consumida pelo fogo.
Entre os escombros, os bombeiros encontraram dois corpos carbonizados. Eram do juiz Henry e de sua esposa, a advogada criminal Louise .
A polícia começou a investigar, mas logo ficou claro: o incêndio não havia sido um acidente. Foi intencional.
Poucos minutos depois, uma jovem morena chegou ao local. Era , a filha dos . Em estado de choque, com os olhos arregalados e lágrimas escorrendo, ela não conseguia acreditar que seus pais estavam mortos.
Ela se aproximou da cena do incêndio, olhando impotente para a destruição. Podia ver os destroços da casa onde cresceu e imaginava seus pais lá dentro, lutando para sobreviver.
Com o peito apertado e em prantos, ela caiu no chão, sem forças, sendo amparada por alguém que não conseguiu identificar naquele momento.
Um policial se aproximou, a expressão grave.
— Meus pais... Eles estão lá dentro? — perguntou , com a voz trêmula.
O policial assentiu.
— Sim, senhorita. Encontramos os corpos nas ruínas.
Um grito de desespero rasgou o silêncio, e chorava descontroladamente, incapaz de aceitar a dura realidade. Seu lar, seu refúgio, havia sido aniquilado, e sua família, brutalmente assassinada.
Seu melhor amigo, Benjamin, ajoelhou-se na frente dela, tentando consolá-la com um abraço apertado e um beijo na testa.
— Estou aqui com você. Vamos superar isso juntos.
— Ben, eu preciso de você. Preciso que me ajude a encontrar quem fez isso — ela murmurou, sua voz carregada de uma determinação sombria.
Benjamin assentiu, resoluto.
— Vou te ajudar, . Não importa o que for preciso, vamos encontrar os responsáveis.
Juntos, eles juraram não descansar até que a justiça fosse feita. Naquele momento, entre as ruínas fumegantes e a devastação, nascia uma promessa de vingança e redenção.




Atualmente, Janeiro de 2022
Manhattan, Nova York

O Apartamento 510 na Barrow Street esbanjava cheiro de cigarros e álcool, e estourava um remix de alguma música do Chris Brown. A cada milímetro quadrado do pequeno lugar, havia pessoas se beijando, conversando ou quase transando em meio ao caos. Como isso era possível?

se dirigiu até a cozinha em busca de álcool para esquecer tudo o que havia acontecido no decorrer do dia. Pegou um copo vermelho, encheu de Vodka e repetiu a dose mais duas vezes, sentindo a garganta queimar em todas elas.

Sua cabeça doía, seu peito estava apertado e seus olhos ardiam com as lágrimas insistindo em cair, mas ela não iria permitir. Não hoje, não ali.

Se dirigiu até a sala em busca do moreno que era a razão de toda aquela bagunça, e encontrou a mesma cena de todos os finais de semana: Dante estava agarrado aos beijos com uma loira siliconada em seu colo enquanto ela esfregava os seios na cara dele.
Não era uma surpresa. Eram incontáveis as vezes que flagrou a mesma cena em momentos como esse.

Na última, viu o cretino do seu namorado chupando os seios de uma garota, enquanto outra rebolava nua no colo dele. E tudo isso na cama onde o casal costumava dormir. Como ele pode ser tão estúpido e canalha com alguém que só o deu amor e devoção?

Mas ali, naquele momento, foi a gota d’água.

estava cansada de tudo aquilo: festas regadas à álcool, drogas e traições vindas da pessoa com quem esteve nos últimos 3 anos. Como alguém se sujeita a isso por tanto tempo? Bom, nem ela mesma sabia. Como diziam, “o amor é cego”.

Era uma noite de sábado, um dos mais frios que já houvera nos últimos meses. A garota vestiu seu casaco e saiu em direção a um dos poucos lugares que estava aberto naquele horário. Precisava pensar, sair daquele ambiente que tanto lhe fazia mal.

O Joe’s Pizza era definitivamente o seu lugar favorito. Ambiente caloroso, cheiro inconfundível de dar água na boca e, o melhor de tudo: a pizza mais gostosa da cidade. Adentrou o lugar, sentou-se na última mesa próxima à janela e esperou o garçom vir colher o seu pedido: pizza de muçarela e soda. Enquanto apreciava a vista, pensava no que deveria fazer.

Estava decidida a pôr um fim no relacionamento que só a desgastava e causava sentimentos horríveis toda vez que olhava para o seu namorado. O primeiro ano foi o melhor: sempre saíam, ele dava presentes e a levava para todos os lugares possíveis. Até que começou: os tapas, violências emocionais e psicológicas, as traições… o começo do pesadelo.

Não que ela tivesse algum tipo de dependência em Dante, mas ele era tudo o que a garota conhecia. Ele foi o primeiro em tudo: beijo, relações sexuais, namoro. Se conheceram pouco depois que a garota chegou em NYC, e, no decorrer dos meses, a paixão foi surgindo. Sabe o típico cara atraente com sorriso encantador e sedutor? Pois bem, ele era exatamente assim no começo. Mas agora, nem o reconhecia mais.

Precisava acabar com toda aquela bagunça que a vida dela virou. Estava com dificuldade de concentração na Universidade, havia se isolado completamente do mundo exterior e mal comia ou bebia. Quem a olhava, poderia ter certeza que a garota estava pior que um zumbi.

Duas horas depois, ela decidiu voltar ao apartamento. Após um longo caminho de chuva e o clássico jazz tocando em alguma rua do bairro, finalmente chegou ao prédio marrom em que morava. O cheiro de álcool e cigarros ainda infestava o lugar, porém a música alta que há algumas horas vinha do apartamento vizinho, havia sumido. Finalmente teria paz?

Ela entrou e, em questão de segundos, se jogou no sofá. Tirou o casaco, o tênis e se permitiu chorar depois de longas semanas, esvaindo o sentimento de culpa e decepção do seu peito. Respirou fundo e massageou as têmporas. Precisava relaxar senão iria surtar completamente.

Antes que pudesse se levantar, o celular começou a tocar e ela sabia exatamente quem era graças ao som de Rihanna cantando “Man Down”.

Call On

— O que você quer, Dante?
— Onde você se meteu, ? Te procurei no apartamento inteiro e não te achei.
— Me procurou? Porque, da última vez que vi você, estava com uma das suas putas no colo quase transando na sala de estar.
— Volta pra casa, preciso de você.
— Essa é a sua casa, não minha. E não, quero ficar longe de você. Estou cansada, Dante, bem cansada. Falaremos amanhã.
— Não estou afim de me estressar, . Quero você no meu apartamento em 5 minutos.
— Já disse que não, porra! Você sabe o quanto eu estou cansada de ver a mesma cena todo final de semana? Os últimos três anos não serviram de nada, certo? Então, por favor, me deixe em paz ao menos hoje, Vitiello.
— Você é a minha namorada. Isso está fora de cogitação, já falei que te quero aqui. O tempo está passando, docinho.
— A partir de hoje, não sou mais. Deveria ter pensado nisso antes de ficar com aquelas vadias e me deixar sozinha no seu apartamento enquanto se pegava com elas. Aproveite sua solteirice, babaca.

Call Off


Desligou o monitor do celular e o deixou tocar.
Estava se sentindo leve, como há muito tempo não sentia. Acreditava que iria se enterrar em comédias românticas e sorvete de Flocos, mas para sua surpresa, não.

Dante não merecia aquilo. Não merecia que ela derramasse uma única lágrima, não depois de tudo.

respirou fundo, se despiu e foi em direção ao banho. Precisava relaxar e sabia exatamente para onde ia.

Colocou uma saia, um body preto quase transparente, meia calça e um salto 15cm. Estava, literalmente, vestida para matar. O que era melhor para superar um relacionamento fodido do que boas doses de Vodka e Martinis? Absolutamente nada.
Chamou um táxi e foi em direção ao bar mais balado de NY. Uma fila quilométrica com pessoas de diferentes estilos aguardava, todos impacientes pelo seu momento de entrar no lugar.
Depois de longos vinte minutos, a garota entrou e foi em direção à ilha de drinks. O lugar estava absolutamente lotado, com pessoas na maior pegação em cada milímetro da pista de dança. Ao som de algum remix de How Deep Is Your Love, virou mais algumas doses de Vodka e partiu em direção à pista. Se espremendo entre a multidão e com movimentos soltos devido ao álcool, começou a dançar.

Estava se sentindo bem como há muito tempo não sentia. Seus movimentos se intensificaram junto a música, o que a fez tomar alguns Martinis e, logo em seguida, mais Vodka. Sentia o álcool preencher todo o seu corpo e, caramba, era bom. Precisava daquilo.

Percorreu os olhos pelo lugar, tentando encontrar alguma figura conhecida e, como se o destino estivesse brincando com ela, avistou a última pessoa que gostaria de ver. Vestido com uma regata preta e calça da mesma cor, Vitiello a encarava com um ar sério, seus olhos penetrando a sua alma. Sabia que ele estava magoado e, naquele momento, com raiva por ela estar ali.

Mas naquele momento, ela não se importava. Enquanto o álcool estivesse nas suas veias, Dante Vitiello não existia. Era somente ela e a música.

Voltou a dançar como antes, com movimentos seguindo o ritmo da música e se deixou ser livre. Sentiu mãos envolverem sua cintura guiando seus movimentos, e gostava daquilo. Seus quadris se mexiam com destreza enquanto dançava ao som de algum funk que tinha quase certeza que era brasileiro.

Em algum momento da noite, quando se deu conta, estava em cima do balcão da ilha de drinks. Com uma taça de martini na mão, estava rebolando e sendo observada pela multidão que assobiava e gritava, incentivando a continuar o show. E ela continuou, sem se importar com absolutamente nada e nem ninguém.

Estava leve, livre e mais solta que nunca. Sentia que estava verdadeiramente pronta para recomeçar e ter a vida que sempre quis.

Enquanto estava ali dançando para todas aquelas pessoas desconhecidas, olhava para elas e via os olhares de admiração e desejo, causando sensações gostosas. Há muito tempo não se sentia desejada, e ver homens ali, doidos por um minuto da sua atenção, a fazia se sentir como a mulher mais linda e gostosa do mundo.

Antes mesmo que pudesse continuar dançando, sentiu mãos puxando-a com força. Conhecia bem aquele toque e sabia a quem pertencia, mas não conseguia acreditar que ele seria tão cretino em estar fazendo aquilo depois de tudo.

— Me solta, Dante! Tá me machucando, mas que merda!
— O que caralho você tá fazendo, sua vadia? — Os olhos do rapaz transmitiam uma fúria nunca vista antes, e a força com que a segurava era assustadora.
— Isso não é da sua conta.
— Acha legal dançar em cima do balcão com um monte de filhos da puta te comendo com os olhos?! Era isso o que você queria?
— E se for?! Está com ciúmes vendo a mulher que você perdeu dançando para outras pessoas, Dante Vitiello?
— SUA VADIA DE MERDA! — O som estridente do tapa ecoou pelo lugar, chamando atenção de algumas pessoas próximas, mas que não se meteram. — VOCÊ É MINHA, , MINHA!
— EU ERA SUA, DANTE! NÃO SOU A PORRA DA SUA PROPRIEDADE, AGORA ME DEIXA!

deu um soco no estômago do garoto, que se desestabilizou e a soltou, dando a oportunidade perfeita para a garota sair correndo dali.

Pegou um táxi imediatamente e saiu em direção ao seu apartamento. Estava assustada, chorando copiosamente e só queria que aquela noite acabasse.

Mas o que a garota mal sabia era que, ali, era só o começo de uma vida de terror.

Seja bem-vinda ao Inferno, Doce .



"Every breath you take,
every move you make,
every bond you break,
every step you take,
I'll be watching you."
Every Breath You Take" – The Police



acordou no dia seguinte com a cabeça latejando, o corpo pesado e os olhos ainda inchados pelo choro da noite anterior. As memórias do confronto com Dante e a fuga apressada do bar inundaram sua mente, fazendo-a questionar se havia realmente terminado tudo com ele. A sensação de liberdade que experimentou ao dançar e se sentir desejada agora parecia distante, quase irreal.
Ela se levantou, tentando afastar os pensamentos, e se arrastou até a cozinha para preparar um café forte. Cada gole quente parecia reviver sua determinação. Ela precisava se manter firme. Dante era passado, e ela se recusava a voltar atrás.
Ao verificar o celular, encontrou várias mensagens não lidas e chamadas perdidas, todas de Dante. Seu coração acelerou ao abrir a primeira mensagem:

"Você acha que pode simplesmente ir embora assim? Eu não sou um qualquer, ."

Ela suspirou, deletando a mensagem sem responder. A segunda mensagem era ainda mais perturbadora:

"Você não vai conseguir fugir de mim. Preciso de você, e você sabe disso."

O estômago de revirou. Ela sabia que Dante não desistiria tão facilmente, mas a insistência dele era sufocante.

Deletou as mensagens, ignorando as outras, e decidiu se concentrar no seu dia. Precisava ir para a universidade, ocupar a mente com algo mais produtivo.
O campus estava movimentado, como sempre, mas ela se sentia estranhamente isolada. A presença de Dante ainda pairava sobre ela como uma sombra. Mesmo rodeada de colegas e barulhos típicos da cidade, sentia-se observada. A paranoia começou a rastejar em sua mente, mas ela a afastou, repetindo para si mesma que estava segura.

Não conseguia se concentrar nas aulas, a todo momento sentia que ele iria aparecer e perturbar ainda mais a sua vida. Como ela poderia continuar vivendo dessa forma?
Após as aulas, decidiu não voltar imediatamente para casa. Caminhou sem rumo pelas ruas de Nova York, tentando encontrar algum consolo no caos urbano. Mas, por mais que se esforçasse para ignorar, a sensação de ser seguida permanecia. Olhou ao redor várias vezes, mas não viu ninguém que reconhecesse. Estava apenas sendo paranoica, certo?
Eventualmente, se forçou a voltar para o apartamento. Ao entrar, o cheiro familiar de cigarro e álcool a atingiu novamente, trazendo de volta lembranças do que havia deixado para trás. Ela fechou a porta e se encostou nela, respirando fundo. Estava sozinha, finalmente. Ou pelo menos era o que achava.
Foi até o sofá, onde havia deixado o celular, e viu que havia mais mensagens. Suas mãos tremiam ao desbloquear a tela.

"Eu sei que você está em casa. Não adianta se esconder."

O arrepio que percorreu sua espinha a fez deixar o celular cair no chão. sentiu a respiração acelerar, o peito apertar. Ele estava do lado de fora? Como sabia que ela havia voltado? Aterrorizada, correu até a janela e olhou para a rua, mas não viu sinal de Dante. Apenas carros passando, pessoas apressadas, tudo normal.
Ela fechou as cortinas com um puxão, tentando bloquear não só a visão da rua, mas também a sensação de vulnerabilidade que a assolava. De repente, a paz que pensou ter encontrado em seu próprio espaço se transformou em algo opressor. O apartamento parecia menor, as paredes mais próximas.
O celular vibrou mais uma vez, e ela hesitou antes de pegar o aparelho. Mais uma mensagem de Dante:

"Você pode tentar me ignorar, mas eu sempre estarei aqui. Não vai se livrar de mim tão facilmente, ."

Ela soltou um grito frustrado, arremessando o celular no sofá. Ele a estava enlouquecendo.

Não podia permitir que ele tivesse esse poder sobre ela, não mais. Mas a presença dele era como um veneno, infiltrando-se em cada parte da sua vida, mesmo à distância.
sabia que precisava tomar uma decisão. Ela podia tentar continuar ignorando, mas o comportamento de Dante estava se tornando mais obsessivo e imprevisível. Talvez fosse hora de procurar ajuda, contar para alguém o que estava acontecendo. Mas quem? Ela havia se afastado de tantas pessoas…
A noite caiu, e se trancou no apartamento, com todas as luzes apagadas, exceto a do quarto. Deitou-se na cama, exausta, mas o sono parecia impossível. Cada som, cada estalo, parecia amplificado na escuridão. A ideia de que Dante pudesse estar lá fora, esperando, a aterrorizava.
Ela finalmente cedeu ao cansaço, mas seus sonhos foram povoados por imagens distorcidas de Dante, seu rosto irado, sua voz fria e possessiva ecoando em sua mente. Quando acordou, suando frio, soube que estava longe de se sentir livre.
O terror estava apenas começando.

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O amanhecer em Nova York sempre foi uma cena que apreciava. O brilho suave do sol nascente refletido nas janelas dos arranha-céus, o som distante de táxis e ônibus se misturando ao zumbido da cidade que nunca dorme. Mas naquela manhã, enquanto as primeiras luzes penetravam pelas frestas das cortinas, ela não sentiu o conforto de sempre. Algo estava errado, muito errado.
Seu corpo estava cansado, a cabeça latejando e o estômago revirado. A insônia da noite anterior a deixara exausta, e as memórias do dia passado ainda queimavam como brasas. O confronto com Dante, as mensagens ameaçadoras, a sensação constante de ser observada. Tudo contribuía para o caos que agora habitava sua mente. Ela precisava encontrar uma forma de se libertar, mas a cada tentativa, era como se estivesse se afundando mais.
Quando finalmente se levantou da cama, as pernas estavam trêmulas, quase cederam. Ela forçou-se a caminhar até a cozinha, os pés descalços tocando o chão frio de madeira. A promessa de um café forte era o único incentivo para continuar.
Enquanto esperava a máquina terminar de preparar a bebida, seus pensamentos vagavam para Dante. Onde ele estaria agora? Estaria do lado de fora, esperando por ela?
Um arrepio percorreu sua espinha, e ela rapidamente fechou a cortina da cozinha, bloqueando a vista da rua. Sentiu-se tola por agir assim, mas a paranoia estava enraizando-se em sua mente. Sabia que ele estava obcecado, mas até que ponto Dante poderia ir?
Ela pegou o celular, hesitando antes de ligar a tela. Havia várias notificações, todas de Dante. O coração dela disparou enquanto lia as mensagens.

"Você acha que pode se esconder de mim?"
"Eu conheço todos os seus passos, . Não adianta fugir."
"Você não vai se livrar de mim."

Cada mensagem parecia mais ameaçadora que a anterior. As mãos de começaram a tremer. Aquele não era o Dante que ela conheceu; aquele era alguém que ela não reconhecia mais, alguém perigoso. Ela precisava tomar uma atitude, mas o quê? Ir à polícia? Contar para alguém? E se ele estivesse mesmo observando cada movimento dela?
Tomou um gole do café, tentando clarear a mente. Tinha que se concentrar. Havia compromissos naquele dia, aulas a frequentar, uma rotina a seguir. Não podia permitir que ele a quebrasse, não podia deixar Dante vencer.
Depois de se vestir apressadamente, saiu do apartamento. O ar frio da manhã a fez estremecer, mas ao mesmo tempo trouxe um alívio momentâneo. Apressou-se em direção ao metrô, sentindo-se vulnerável a cada passo. Os olhos dela varriam a multidão, procurando por um rosto familiar, mas todos pareciam estranhos. A cidade estava cheia, mas ela se sentia sozinha.
No metrô, a sensação de ser observada voltou. Ela se sentou perto da porta, os olhos nervosos fixos na entrada do vagão, esperando ver Dante surgir a qualquer momento. Mas ele não apareceu. A viagem seguiu seu curso, mas não conseguiu relaxar. Suas mãos apertavam a alça da bolsa com tanta força que os dedos ficaram brancos.
Quando finalmente chegou à universidade, o campus estava vibrante como sempre. Estudantes apressados passavam por ela, falando em seus celulares, rindo em pequenos grupos, como se o mundo não tivesse preocupações. sentia-se como uma estranha naquele ambiente, como se uma barreira invisível a separasse do restante das pessoas.
No entanto, ela se forçou a agir normalmente, a participar das aulas e a interagir com colegas. Mas a sombra de Dante estava sempre presente, uma ameaça que não podia ser ignorada. Ela verificava o celular a cada intervalo, esperando mais mensagens, mais sinais de sua presença obsessiva. Mas, durante aquelas horas, não houve nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Um alívio passageiro que só aumentava sua ansiedade.
Depois das aulas, decidiu que não voltaria imediatamente para casa. Caminhou pelo campus, sem rumo, tentando clarear a mente. Pensou em ligar para uma amiga, mas percebeu que havia se afastado de todos nos últimos meses. Dante a havia isolado sem que ela percebesse. Agora, estava sozinha, sem ninguém para confiar.
Ela continuou andando, o ar frio da tarde fazendo suas bochechas arderem. O céu estava nublado, ameaçando chuva, mas ela não se importava. Precisava de tempo para pensar, para decidir o que fazer. As opções giravam em sua mente, cada uma parecendo mais difícil que a anterior. Voltar para casa parecia a mais segura, mas era lá que ele poderia encontrá-la. E se ela fosse para um hotel? Mas por quanto tempo conseguiria se esconder?
Seus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem que chegou ao seu celular, o som agudo ecoando em seus ouvidos como um alarme. Com a respiração presa, ela pegou o aparelho, hesitando antes de abrir a notificação. Era de Dante.

"Estou esperando por você."

A mensagem era simples, mas carregava uma ameaça implícita. O coração de disparou, e ela olhou ao redor, procurando por ele. Mas, mais uma vez, não o viu em lugar algum. No entanto, isso não aliviava sua ansiedade. Pelo contrário, a incerteza a deixava ainda mais apavorada.
Decidiu, então, voltar para o apartamento, ainda que relutante. A caminhada de volta foi rápida, cada passo ecoando em sua mente como um alerta. O bairro estava mais silencioso do que de costume, e a sensação de estar sendo seguida tornou-se mais intensa. Quando chegou ao prédio, hesitou antes de entrar, olhando ao redor uma última vez. Nada parecia fora do comum, mas a inquietação não a abandonava.
Subiu as escadas com pressa, o coração martelando no peito. Ao chegar ao seu andar, parou abruptamente. A porta do apartamento estava entreaberta. O sangue fugiu de seu rosto, e ela sentiu uma onda de pânico a tomar. A chave estava em sua mão, mas ela não a havia usado ainda. Alguém havia entrado.
Com uma respiração trêmula, empurrou a porta, que rangeu em protesto. O apartamento estava escuro, as cortinas ainda estavam fechadas como ela havia deixado. O ar estava pesado, carregado de uma tensão que ela não conseguia explicar. Sentiu-se como uma presa em uma armadilha, sabendo que algo estava muito errado.
— Tem alguém aí? — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro, mal acreditando que havia falado.
Silêncio.
Ela deu um passo para dentro, o coração batendo forte. O silêncio era quase ensurdecedor, cada pequeno som amplificado pelo medo. A sala estava exatamente como ela havia deixado, nada parecia fora do lugar. Mas a porta aberta era um sinal claro de que algo havia acontecido.
Cautelosamente, ela caminhou até o quarto, os passos leves e controlados. A porta estava encostada, e ela empurrou-a com cuidado. O quarto estava escuro, a cama desarrumada como sempre. Mas algo a fez parar. Na cama, havia uma rosa vermelha, suas pétalas espalhadas sobre o lençol branco.
Ela sentiu o estômago revirar, um medo frio subindo por sua espinha. Aquela rosa não estava ali antes. Dante havia estado ali.
De repente, o celular vibrou em sua mão, fazendo-a quase soltá-lo. Com as mãos trêmulas, ela desbloqueou a tela e leu a mensagem que havia acabado de chegar.

"Gostou da minha surpresa?"

soltou um gemido sufocado, o pânico a dominando completamente. Ele esteve no seu quarto, tocou em suas coisas, deixou aquela rosa ali como um sinal de sua presença. Ela se sentiu violada, invadida de uma forma que nunca imaginou ser possível. Aquele não era mais o Dante que ela conhecia, aquele era um monstro.
Ela não conseguia mais ficar ali. Pegou uma mochila e começou a enfiar algumas roupas e itens essenciais dentro dela, as mãos ainda trêmulas. Não tinha um plano, só sabia que precisava sair, fugir dali. Mas para onde? Não tinha para onde ir, ninguém em quem confiar. Estava sozinha nessa.
Antes de sair, olhou para a cama uma última vez, para a rosa que parecia agora um símbolo do terror que estava vivendo. Sentiu lágrimas arderem nos olhos, mas se recusou a chorar. Não podia demonstrar fraqueza, não agora.
Saiu do apartamento apressadamente, sem se preocupar em trancar a porta. Desceu as escadas quase correndo, o medo crescendo a cada passo. Quando chegou à rua, olhou ao redor desesperadamente, procurando por um táxi, um ônibus, qualquer coisa que a tirasse dali. A chuva começava a cair, grossas gotas molhando seu rosto, mas ela mal notou.
Finalmente, avistou um táxi se aproximando e fez sinal para que parasse. Entrou no carro, ofegante, e deu o endereço de um hotel qualquer da região.
Suas mãos estavam trêmulas, seu peito doía e a sensação de falta de ar a consumia. Estava em pânico.
Então era isso? Sua vida havia virado um filme de terror por conta de um término de namoro? Porque, se a resposta fosse sim, sabia que não sobreviveria muito tempo.


Continua...


Nota da autora: Ansiosa para esse Universo novo! <3

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