Tamanho da fonte: |

Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 17/03/2025

Los Angeles, 10 de junho de 2018



O fogo furioso devorava a mansão à beira-mar. As chamas subiam altas, iluminando a noite como um vulcão em erupção. O cheiro de fumaça e enxofre era sufocante, como um presságio de tragédia. O som das chamas era ensurdecedor, como uma tempestade violenta.
Os bombeiros e a polícia chegaram rápido, mas era tarde demais. A casa estava em ruínas, consumida pelo fogo.
Entre os escombros, os bombeiros encontraram dois corpos carbonizados. Eram do juiz Henry e de sua esposa, a advogada criminal Louise .
A polícia começou a investigar, mas logo ficou claro: o incêndio não havia sido um acidente. Foi intencional.
Poucos minutos depois, uma jovem morena chegou ao local. Era , a filha dos . Em estado de choque, com os olhos arregalados e lágrimas escorrendo, ela não conseguia acreditar que seus pais estavam mortos.
Ela se aproximou da cena do incêndio, olhando impotente para a destruição. Podia ver os destroços da casa onde cresceu e imaginava seus pais lá dentro, lutando para sobreviver.
Com o peito apertado e em prantos, ela caiu no chão, sem forças, sendo amparada por alguém que não conseguiu identificar naquele momento.
Um policial se aproximou, a expressão grave.
— Meus pais... Eles estão lá dentro? — perguntou , com a voz trêmula.
O policial assentiu.
— Sim, senhorita. Encontramos os corpos nas ruínas.
Um grito de desespero rasgou o silêncio, e chorava descontroladamente, incapaz de aceitar a dura realidade. Seu lar, seu refúgio, havia sido aniquilado, e sua família, brutalmente assassinada.
Seu melhor amigo, Benjamin, ajoelhou-se na frente dela, tentando consolá-la com um abraço apertado e um beijo na testa.
— Estou aqui com você. Vamos superar isso juntos.
— Ben, eu preciso de você. Preciso que me ajude a encontrar quem fez isso — ela murmurou, sua voz carregada de uma determinação sombria.
Benjamin assentiu, resoluto.
— Vou te ajudar, . Não importa o que for preciso, vamos encontrar os responsáveis.
Juntos, eles juraram não descansar até que a justiça fosse feita. Naquele momento, entre as ruínas fumegantes e a devastação, nascia uma promessa de vingança e redenção.




Atualmente, Janeiro de 2022
Manhattan, Nova York

O Apartamento 510 na Barrow Street esbanjava cheiro de cigarros e álcool, e estourava um remix de alguma música do Chris Brown. A cada milímetro quadrado do pequeno lugar, havia pessoas se beijando, conversando ou quase transando em meio ao caos. Como isso era possível?

se dirigiu até a cozinha em busca de álcool para esquecer tudo o que havia acontecido no decorrer do dia. Pegou um copo vermelho, encheu de Vodka e repetiu a dose mais duas vezes, sentindo a garganta queimar em todas elas.

Sua cabeça doía, seu peito estava apertado e seus olhos ardiam com as lágrimas insistindo em cair, mas ela não iria permitir. Não hoje, não ali.

Se dirigiu até a sala em busca do moreno que era a razão de toda aquela bagunça, e encontrou a mesma cena de todos os finais de semana: Dante estava agarrado aos beijos com uma loira siliconada em seu colo enquanto ela esfregava os seios na cara dele.
Não era uma surpresa. Eram incontáveis as vezes que flagrou a mesma cena em momentos como esse.

Na última, viu o cretino do seu namorado chupando os seios de uma garota, enquanto outra rebolava nua no colo dele. E tudo isso na cama onde o casal costumava dormir. Como ele pode ser tão estúpido e canalha com alguém que só o deu amor e devoção?

Mas ali, naquele momento, foi a gota d’água.

estava cansada de tudo aquilo: festas regadas à álcool, drogas e traições vindas da pessoa com quem esteve nos últimos 3 anos. Como alguém se sujeita a isso por tanto tempo? Bom, nem ela mesma sabia. Como diziam, “o amor é cego”.

Era uma noite de sábado, um dos mais frios que já houvera nos últimos meses. A garota vestiu seu casaco e saiu em direção a um dos poucos lugares que estava aberto naquele horário. Precisava pensar, sair daquele ambiente que tanto lhe fazia mal.

O Joe’s Pizza era definitivamente o seu lugar favorito. Ambiente caloroso, cheiro inconfundível de dar água na boca e, o melhor de tudo: a pizza mais gostosa da cidade. Adentrou o lugar, sentou-se na última mesa próxima à janela e esperou o garçom vir colher o seu pedido: pizza de muçarela e soda. Enquanto apreciava a vista, pensava no que deveria fazer.

Estava decidida a pôr um fim no relacionamento que só a desgastava e causava sentimentos horríveis toda vez que olhava para o seu namorado. O primeiro ano foi o melhor: sempre saíam, ele dava presentes e a levava para todos os lugares possíveis. Até que começou: os tapas, violências emocionais e psicológicas, as traições… o começo do pesadelo.

Não que ela tivesse algum tipo de dependência em Dante, mas ele era tudo o que a garota conhecia. Ele foi o primeiro em tudo: beijo, relações sexuais, namoro. Se conheceram pouco depois que a garota chegou em NYC, e, no decorrer dos meses, a paixão foi surgindo. Sabe o típico cara atraente com sorriso encantador e sedutor? Pois bem, ele era exatamente assim no começo. Mas agora, nem o reconhecia mais.

Precisava acabar com toda aquela bagunça que a vida dela virou. Estava com dificuldade de concentração na Universidade, havia se isolado completamente do mundo exterior e mal comia ou bebia. Quem a olhava, poderia ter certeza que a garota estava pior que um zumbi.

Duas horas depois, ela decidiu voltar ao apartamento. Após um longo caminho de chuva e o clássico jazz tocando em alguma rua do bairro, finalmente chegou ao prédio marrom em que morava. O cheiro de álcool e cigarros ainda infestava o lugar, porém a música alta que há algumas horas vinha do apartamento vizinho, havia sumido. Finalmente teria paz?

Ela entrou e, em questão de segundos, se jogou no sofá. Tirou o casaco, o tênis e se permitiu chorar depois de longas semanas, esvaindo o sentimento de culpa e decepção do seu peito. Respirou fundo e massageou as têmporas. Precisava relaxar senão iria surtar completamente.

Antes que pudesse se levantar, o celular começou a tocar e ela sabia exatamente quem era graças ao som de Rihanna cantando “Man Down”.

Call On

— O que você quer, Dante?
— Onde você se meteu, ? Te procurei no apartamento inteiro e não te achei.
— Me procurou? Porque, da última vez que vi você, estava com uma das suas putas no colo quase transando na sala de estar.
— Volta pra casa, preciso de você.
— Essa é a sua casa, não minha. E não, quero ficar longe de você. Estou cansada, Dante, bem cansada. Falaremos amanhã.
— Não estou afim de me estressar, . Quero você no meu apartamento em 5 minutos.
— Já disse que não, porra! Você sabe o quanto eu estou cansada de ver a mesma cena todo final de semana? Os últimos três anos não serviram de nada, certo? Então, por favor, me deixe em paz ao menos hoje, Vitiello.
— Você é a minha namorada. Isso está fora de cogitação, já falei que te quero aqui. O tempo está passando, docinho.
— A partir de hoje, não sou mais. Deveria ter pensado nisso antes de ficar com aquelas vadias e me deixar sozinha no seu apartamento enquanto se pegava com elas. Aproveite sua solteirice, babaca.

Call Off


Desligou o monitor do celular e o deixou tocar.
Estava se sentindo leve, como há muito tempo não sentia. Acreditava que iria se enterrar em comédias românticas e sorvete de Flocos, mas para sua surpresa, não.

Dante não merecia aquilo. Não merecia que ela derramasse uma única lágrima, não depois de tudo.

respirou fundo, se despiu e foi em direção ao banho. Precisava relaxar e sabia exatamente para onde ia.

Colocou uma saia, um body preto quase transparente, meia calça e um salto 15cm. Estava, literalmente, vestida para matar. O que era melhor para superar um relacionamento fodido do que boas doses de Vodka e Martinis? Absolutamente nada.
Chamou um táxi e foi em direção ao bar mais balado de NY. Uma fila quilométrica com pessoas de diferentes estilos aguardava, todos impacientes pelo seu momento de entrar no lugar.
Depois de longos vinte minutos, a garota entrou e foi em direção à ilha de drinks. O lugar estava absolutamente lotado, com pessoas na maior pegação em cada milímetro da pista de dança. Ao som de algum remix de How Deep Is Your Love, virou mais algumas doses de Vodka e partiu em direção à pista. Se espremendo entre a multidão e com movimentos soltos devido ao álcool, começou a dançar.

Estava se sentindo bem como há muito tempo não sentia. Seus movimentos se intensificaram junto a música, o que a fez tomar alguns Martinis e, logo em seguida, mais Vodka. Sentia o álcool preencher todo o seu corpo e, caramba, era bom. Precisava daquilo.

Percorreu os olhos pelo lugar, tentando encontrar alguma figura conhecida e, como se o destino estivesse brincando com ela, avistou a última pessoa que gostaria de ver. Vestido com uma regata preta e calça da mesma cor, Vitiello a encarava com um ar sério, seus olhos penetrando a sua alma. Sabia que ele estava magoado e, naquele momento, com raiva por ela estar ali.

Mas naquele momento, ela não se importava. Enquanto o álcool estivesse nas suas veias, Dante Vitiello não existia. Era somente ela e a música.

Voltou a dançar como antes, com movimentos seguindo o ritmo da música e se deixou ser livre. Sentiu mãos envolverem sua cintura guiando seus movimentos, e gostava daquilo. Seus quadris se mexiam com destreza enquanto dançava ao som de algum funk que tinha quase certeza que era brasileiro.

Em algum momento da noite, quando se deu conta, estava em cima do balcão da ilha de drinks. Com uma taça de martini na mão, estava rebolando e sendo observada pela multidão que assobiava e gritava, incentivando a continuar o show. E ela continuou, sem se importar com absolutamente nada e nem ninguém.

Estava leve, livre e mais solta que nunca. Sentia que estava verdadeiramente pronta para recomeçar e ter a vida que sempre quis.

Enquanto estava ali dançando para todas aquelas pessoas desconhecidas, olhava para elas e via os olhares de admiração e desejo, causando sensações gostosas. Há muito tempo não se sentia desejada, e ver homens ali, doidos por um minuto da sua atenção, a fazia se sentir como a mulher mais linda e gostosa do mundo.

Antes mesmo que pudesse continuar dançando, sentiu mãos puxando-a com força. Conhecia bem aquele toque e sabia a quem pertencia, mas não conseguia acreditar que ele seria tão cretino em estar fazendo aquilo depois de tudo.

— Me solta, Dante! Tá me machucando, mas que merda!
— O que caralho você tá fazendo, sua vadia? — Os olhos do rapaz transmitiam uma fúria nunca vista antes, e a força com que a segurava era assustadora.
— Isso não é da sua conta.
— Acha legal dançar em cima do balcão com um monte de filhos da puta te comendo com os olhos?! Era isso o que você queria?
— E se for?! Está com ciúmes vendo a mulher que você perdeu dançando para outras pessoas, Dante Vitiello?
— SUA VADIA DE MERDA! — O som estridente do tapa ecoou pelo lugar, chamando atenção de algumas pessoas próximas, mas que não se meteram. — VOCÊ É MINHA, , MINHA!
— EU ERA SUA, DANTE! NÃO SOU A PORRA DA SUA PROPRIEDADE, AGORA ME DEIXA!

deu um soco no estômago do garoto, que se desestabilizou e a soltou, dando a oportunidade perfeita para a garota sair correndo dali.

Pegou um táxi imediatamente e saiu em direção ao seu apartamento. Estava assustada, chorando copiosamente e só queria que aquela noite acabasse.

Mas o que a garota mal sabia era que, ali, era só o começo de uma vida de terror.

Seja bem-vinda ao Inferno, Doce .



"Every breath you take,
every move you make,
every bond you break,
every step you take,
I'll be watching you."
Every Breath You Take" – The Police



acordou no dia seguinte com a cabeça latejando, o corpo pesado e os olhos ainda inchados pelo choro da noite anterior. As memórias do confronto com Dante e a fuga apressada do bar inundaram sua mente, fazendo-a questionar se havia realmente terminado tudo com ele. A sensação de liberdade que experimentou ao dançar e se sentir desejada agora parecia distante, quase irreal.
Ela se levantou, tentando afastar os pensamentos, e se arrastou até a cozinha para preparar um café forte. Cada gole quente parecia reviver sua determinação. Ela precisava se manter firme. Dante era passado, e ela se recusava a voltar atrás.
Ao verificar o celular, encontrou várias mensagens não lidas e chamadas perdidas, todas de Dante. Seu coração acelerou ao abrir a primeira mensagem:

"Você acha que pode simplesmente ir embora assim? Eu não sou um qualquer, ."

Ela suspirou, deletando a mensagem sem responder. A segunda mensagem era ainda mais perturbadora:

"Você não vai conseguir fugir de mim. Preciso de você, e você sabe disso."

O estômago de revirou. Ela sabia que Dante não desistiria tão facilmente, mas a insistência dele era sufocante.

Deletou as mensagens, ignorando as outras, e decidiu se concentrar no seu dia. Precisava ir para a universidade, ocupar a mente com algo mais produtivo.
O campus estava movimentado, como sempre, mas ela se sentia estranhamente isolada. A presença de Dante ainda pairava sobre ela como uma sombra. Mesmo rodeada de colegas e barulhos típicos da cidade, sentia-se observada. A paranoia começou a rastejar em sua mente, mas ela a afastou, repetindo para si mesma que estava segura.

Não conseguia se concentrar nas aulas, a todo momento sentia que ele iria aparecer e perturbar ainda mais a sua vida. Como ela poderia continuar vivendo dessa forma?
Após as aulas, decidiu não voltar imediatamente para casa. Caminhou sem rumo pelas ruas de Nova York, tentando encontrar algum consolo no caos urbano. Mas, por mais que se esforçasse para ignorar, a sensação de ser seguida permanecia. Olhou ao redor várias vezes, mas não viu ninguém que reconhecesse. Estava apenas sendo paranoica, certo?
Eventualmente, se forçou a voltar para o apartamento. Ao entrar, o cheiro familiar de cigarro e álcool a atingiu novamente, trazendo de volta lembranças do que havia deixado para trás. Ela fechou a porta e se encostou nela, respirando fundo. Estava sozinha, finalmente. Ou pelo menos era o que achava.
Foi até o sofá, onde havia deixado o celular, e viu que havia mais mensagens. Suas mãos tremiam ao desbloquear a tela.

"Eu sei que você está em casa. Não adianta se esconder."

O arrepio que percorreu sua espinha a fez deixar o celular cair no chão. sentiu a respiração acelerar, o peito apertar. Ele estava do lado de fora? Como sabia que ela havia voltado? Aterrorizada, correu até a janela e olhou para a rua, mas não viu sinal de Dante. Apenas carros passando, pessoas apressadas, tudo normal.
Ela fechou as cortinas com um puxão, tentando bloquear não só a visão da rua, mas também a sensação de vulnerabilidade que a assolava. De repente, a paz que pensou ter encontrado em seu próprio espaço se transformou em algo opressor. O apartamento parecia menor, as paredes mais próximas.
O celular vibrou mais uma vez, e ela hesitou antes de pegar o aparelho. Mais uma mensagem de Dante:

"Você pode tentar me ignorar, mas eu sempre estarei aqui. Não vai se livrar de mim tão facilmente, ."

Ela soltou um grito frustrado, arremessando o celular no sofá. Ele a estava enlouquecendo.

Não podia permitir que ele tivesse esse poder sobre ela, não mais. Mas a presença dele era como um veneno, infiltrando-se em cada parte da sua vida, mesmo à distância.
sabia que precisava tomar uma decisão. Ela podia tentar continuar ignorando, mas o comportamento de Dante estava se tornando mais obsessivo e imprevisível. Talvez fosse hora de procurar ajuda, contar para alguém o que estava acontecendo. Mas quem? Ela havia se afastado de tantas pessoas…
A noite caiu, e se trancou no apartamento, com todas as luzes apagadas, exceto a do quarto. Deitou-se na cama, exausta, mas o sono parecia impossível. Cada som, cada estalo, parecia amplificado na escuridão. A ideia de que Dante pudesse estar lá fora, esperando, a aterrorizava.
Ela finalmente cedeu ao cansaço, mas seus sonhos foram povoados por imagens distorcidas de Dante, seu rosto irado, sua voz fria e possessiva ecoando em sua mente. Quando acordou, suando frio, soube que estava longe de se sentir livre.
O terror estava apenas começando.

—--------------------------------------------------------------------------------------------

O amanhecer em Nova York sempre foi uma cena que apreciava. O brilho suave do sol nascente refletido nas janelas dos arranha-céus, o som distante de táxis e ônibus se misturando ao zumbido da cidade que nunca dorme. Mas naquela manhã, enquanto as primeiras luzes penetravam pelas frestas das cortinas, ela não sentiu o conforto de sempre. Algo estava errado, muito errado.
Seu corpo estava cansado, a cabeça latejando e o estômago revirado. A insônia da noite anterior a deixara exausta, e as memórias do dia passado ainda queimavam como brasas. O confronto com Dante, as mensagens ameaçadoras, a sensação constante de ser observada. Tudo contribuía para o caos que agora habitava sua mente. Ela precisava encontrar uma forma de se libertar, mas a cada tentativa, era como se estivesse se afundando mais.
Quando finalmente se levantou da cama, as pernas estavam trêmulas, quase cederam. Ela forçou-se a caminhar até a cozinha, os pés descalços tocando o chão frio de madeira. A promessa de um café forte era o único incentivo para continuar.
Enquanto esperava a máquina terminar de preparar a bebida, seus pensamentos vagavam para Dante. Onde ele estaria agora? Estaria do lado de fora, esperando por ela?
Um arrepio percorreu sua espinha, e ela rapidamente fechou a cortina da cozinha, bloqueando a vista da rua. Sentiu-se tola por agir assim, mas a paranoia estava enraizando-se em sua mente. Sabia que ele estava obcecado, mas até que ponto Dante poderia ir?
Ela pegou o celular, hesitando antes de ligar a tela. Havia várias notificações, todas de Dante. O coração dela disparou enquanto lia as mensagens.

"Você acha que pode se esconder de mim?"
"Eu conheço todos os seus passos, . Não adianta fugir."
"Você não vai se livrar de mim."

Cada mensagem parecia mais ameaçadora que a anterior. As mãos de começaram a tremer. Aquele não era o Dante que ela conheceu; aquele era alguém que ela não reconhecia mais, alguém perigoso. Ela precisava tomar uma atitude, mas o quê? Ir à polícia? Contar para alguém? E se ele estivesse mesmo observando cada movimento dela?
Tomou um gole do café, tentando clarear a mente. Tinha que se concentrar. Havia compromissos naquele dia, aulas a frequentar, uma rotina a seguir. Não podia permitir que ele a quebrasse, não podia deixar Dante vencer.
Depois de se vestir apressadamente, saiu do apartamento. O ar frio da manhã a fez estremecer, mas ao mesmo tempo trouxe um alívio momentâneo. Apressou-se em direção ao metrô, sentindo-se vulnerável a cada passo. Os olhos dela varriam a multidão, procurando por um rosto familiar, mas todos pareciam estranhos. A cidade estava cheia, mas ela se sentia sozinha.
No metrô, a sensação de ser observada voltou. Ela se sentou perto da porta, os olhos nervosos fixos na entrada do vagão, esperando ver Dante surgir a qualquer momento. Mas ele não apareceu. A viagem seguiu seu curso, mas não conseguiu relaxar. Suas mãos apertavam a alça da bolsa com tanta força que os dedos ficaram brancos.
Quando finalmente chegou à universidade, o campus estava vibrante como sempre. Estudantes apressados passavam por ela, falando em seus celulares, rindo em pequenos grupos, como se o mundo não tivesse preocupações. sentia-se como uma estranha naquele ambiente, como se uma barreira invisível a separasse do restante das pessoas.
No entanto, ela se forçou a agir normalmente, a participar das aulas e a interagir com colegas. Mas a sombra de Dante estava sempre presente, uma ameaça que não podia ser ignorada. Ela verificava o celular a cada intervalo, esperando mais mensagens, mais sinais de sua presença obsessiva. Mas, durante aquelas horas, não houve nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Um alívio passageiro que só aumentava sua ansiedade.
Depois das aulas, decidiu que não voltaria imediatamente para casa. Caminhou pelo campus, sem rumo, tentando clarear a mente. Pensou em ligar para uma amiga, mas percebeu que havia se afastado de todos nos últimos meses. Dante a havia isolado sem que ela percebesse. Agora, estava sozinha, sem ninguém para confiar.
Ela continuou andando, o ar frio da tarde fazendo suas bochechas arderem. O céu estava nublado, ameaçando chuva, mas ela não se importava. Precisava de tempo para pensar, para decidir o que fazer. As opções giravam em sua mente, cada uma parecendo mais difícil que a anterior. Voltar para casa parecia a mais segura, mas era lá que ele poderia encontrá-la. E se ela fosse para um hotel? Mas por quanto tempo conseguiria se esconder?
Seus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem que chegou ao seu celular, o som agudo ecoando em seus ouvidos como um alarme. Com a respiração presa, ela pegou o aparelho, hesitando antes de abrir a notificação. Era de Dante.

"Estou esperando por você."

A mensagem era simples, mas carregava uma ameaça implícita. O coração de disparou, e ela olhou ao redor, procurando por ele. Mas, mais uma vez, não o viu em lugar algum. No entanto, isso não aliviava sua ansiedade. Pelo contrário, a incerteza a deixava ainda mais apavorada.
Decidiu, então, voltar para o apartamento, ainda que relutante. A caminhada de volta foi rápida, cada passo ecoando em sua mente como um alerta. O bairro estava mais silencioso do que de costume, e a sensação de estar sendo seguida tornou-se mais intensa. Quando chegou ao prédio, hesitou antes de entrar, olhando ao redor uma última vez. Nada parecia fora do comum, mas a inquietação não a abandonava.
Subiu as escadas com pressa, o coração martelando no peito. Ao chegar ao seu andar, parou abruptamente. A porta do apartamento estava entreaberta. O sangue fugiu de seu rosto, e ela sentiu uma onda de pânico a tomar. A chave estava em sua mão, mas ela não a havia usado ainda. Alguém havia entrado.
Com uma respiração trêmula, empurrou a porta, que rangeu em protesto. O apartamento estava escuro, as cortinas ainda estavam fechadas como ela havia deixado. O ar estava pesado, carregado de uma tensão que ela não conseguia explicar. Sentiu-se como uma presa em uma armadilha, sabendo que algo estava muito errado.
— Tem alguém aí? — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro, mal acreditando que havia falado.
Silêncio.
Ela deu um passo para dentro, o coração batendo forte. O silêncio era quase ensurdecedor, cada pequeno som amplificado pelo medo. A sala estava exatamente como ela havia deixado, nada parecia fora do lugar. Mas a porta aberta era um sinal claro de que algo havia acontecido.
Cautelosamente, ela caminhou até o quarto, os passos leves e controlados. A porta estava encostada, e ela empurrou-a com cuidado. O quarto estava escuro, a cama desarrumada como sempre. Mas algo a fez parar. Na cama, havia uma rosa vermelha, suas pétalas espalhadas sobre o lençol branco.
Ela sentiu o estômago revirar, um medo frio subindo por sua espinha. Aquela rosa não estava ali antes. Dante havia estado ali.
De repente, o celular vibrou em sua mão, fazendo-a quase soltá-lo. Com as mãos trêmulas, ela desbloqueou a tela e leu a mensagem que havia acabado de chegar.

"Gostou da minha surpresa?"

soltou um gemido sufocado, o pânico a dominando completamente. Ele esteve no seu quarto, tocou em suas coisas, deixou aquela rosa ali como um sinal de sua presença. Ela se sentiu violada, invadida de uma forma que nunca imaginou ser possível. Aquele não era mais o Dante que ela conhecia, aquele era um monstro.
Ela não conseguia mais ficar ali. Pegou uma mochila e começou a enfiar algumas roupas e itens essenciais dentro dela, as mãos ainda trêmulas. Não tinha um plano, só sabia que precisava sair, fugir dali. Mas para onde? Não tinha para onde ir, ninguém em quem confiar. Estava sozinha nessa.
Antes de sair, olhou para a cama uma última vez, para a rosa que parecia agora um símbolo do terror que estava vivendo. Sentiu lágrimas arderem nos olhos, mas se recusou a chorar. Não podia demonstrar fraqueza, não agora.
Saiu do apartamento apressadamente, sem se preocupar em trancar a porta. Desceu as escadas quase correndo, o medo crescendo a cada passo. Quando chegou à rua, olhou ao redor desesperadamente, procurando por um táxi, um ônibus, qualquer coisa que a tirasse dali. A chuva começava a cair, grossas gotas molhando seu rosto, mas ela mal notou.
Finalmente, avistou um táxi se aproximando e fez sinal para que parasse. Entrou no carro, ofegante, e deu o endereço de um hotel qualquer da região.
Suas mãos estavam trêmulas, seu peito doía e a sensação de falta de ar a consumia. Estava em pânico.
Então era isso? Sua vida havia virado um filme de terror por conta de um término de namoro? Porque, se a resposta fosse sim, sabia que não sobreviveria muito tempo.



“What started out as a simple altercation
Turned into a real sticky situation
Me just thinking on the time that I'm facing
Makes me wanna cry

Man Down - Rihanna


finalmente alcançou o hotel após o que pareceu ser a mais longa das noites. Sua mente ainda estava atordoada com os eventos das últimas horas — a invasão do apartamento, a correria, o medo constante de estar sendo seguida. O The Chelsea Hotel, um pequeno refúgio no centro da cidade, parecia um porto seguro, mesmo que temporário. O prédio, uma estrutura antiga com uma fachada de tijolos vermelhos e janelas altas, exalava uma aura de tranquilidade.

O recepcionista, um homem de meia-idade com um bigode desalinhado, ofereceu-lhe um sorriso cansado, mas amigável, enquanto ela pegava a chave do quarto.

— Quarto 214, segundo andar. Se precisar de alguma coisa, estarei aqui a noite toda — ele disse, entregando a chave.

agradeceu com um aceno silencioso e se dirigiu ao elevador, cada passo ecoando no chão de mármore polido do saguão.

O elevador, um cubículo antigo com portas de metal rangentes, subiu lentamente, permitindo que a garota refletisse sobre os eventos das últimas horas. A invasão do apartamento ainda estava fresca em sua mente. A sensação de pânico, o coração batendo descompassado, a maldita rosa em sua cama... tudo isso parecia uma cena saída de um filme de terror. Mas isso era sua realidade, e ela não podia escapar.

Finalmente, o elevador parou, e saiu apressada, se sentindo observada pelas paredes estreitas e pelos longos corredores desertos. Chegou à porta do quarto 214 e, com as mãos trêmulas, destrancou a porta, entrou e a trancou novamente atrás de si.

O quarto era modesto, mas acolhedor: paredes pintadas de um azul suave, uma cama de casal com lençóis brancos imaculados, uma pequena escrivaninha ao lado da janela coberta por grossas cortinas de veludo. O som abafado do trânsito e da cidade se misturava com o zumbido suave do aquecedor, criando uma atmosfera quase calmante.

se permitiu respirar fundo pela primeira vez em horas. Trancou a porta, verificou a janela e certificou-se de que as cortinas estavam bem fechadas. Só então, se permitiu relaxar.
Ela colocou a bolsa sobre a cama e tirou o celular, hesitando antes de ligar o aparelho. Sua mente ainda estava em um estado de alerta, cada pequena vibração ou som fazendo seu coração acelerar. Ao ligar o celular, uma enxurrada de notificações invadiu a tela, mas o que a preocupava era a ausência de mensagens de Dante. Ele tinha que estar furioso. Ela sabia disso. Ele sempre ficava assim quando sentia que estava perdendo o controle sobre ela.

Enquanto tentava processar seus pensamentos, uma vibração inesperada fez com que ela quase deixasse o celular cair. Um número desconhecido piscava na tela. Ela ficou paralisada, seu coração martelando no peito. Quem seria? Ela cogitou não atender, mas algo dentro dela, uma mistura de curiosidade e medo, a fez pressionar o botão de atender.

— Alô? — Sua voz saiu quase num sussurro, frágil e hesitante.

Do outro lado, silêncio. Um silêncio tão profundo que fez com que ela pensasse que a ligação havia caído. Mas então, ela ouviu. Uma respiração pesada, controlada, como se alguém estivesse muito perto, tentando se manter calmo. Seu corpo inteiro se arrepiou, o terror rastejando por sua pele.

— Quem está aí? — ela perguntou, a voz trêmula.

Nada. Apenas a respiração. Ela esperou, o silêncio crescendo como uma onda prestes a engolir tudo. Quando finalmente não aguentou mais, desligou abruptamente, seu corpo inteiro tremendo. Ela deixou o celular na cama, como se o objeto fosse capaz de causar-lhe algum mal por si só.

Tentando afastar o pânico crescente, se dirigiu ao banheiro. Olhou-se no espelho, seus olhos refletindo o medo que estava tentando reprimir. Lavou o rosto com água fria, esperando que o choque da temperatura clareasse sua mente. Precisava se acalmar.
Precisava pensar racionalmente.

Mas quando voltou ao quarto, o celular vibrou novamente. O mesmo número. Dessa vez, ela decidiu ignorar, desligando o aparelho e o jogando longe. Sentou-se na beira da cama, sua mente lutando para encontrar algum consolo no silêncio que se seguiu. O quarto estava escuro, exceto por uma lâmpada de cabeceira que lançava uma luz fraca e amarelada, mal iluminando os cantos do cômodo. O isolamento, que antes parecia ser um refúgio, agora parecia sufocante.
Depois de algum tempo, o cansaço finalmente começou a pesar sobre ela. Deitou-se na cama, mas os pensamentos não paravam. As memórias dos últimos dias giravam em sua mente, se misturando com um turbilhão de emoções — raiva, medo e tristeza. Seu corpo estava exausto, mas sua mente se recusava a descansar.

O sono veio de forma fragmentada, com pesadelos que a arrancavam do pouco descanso que conseguia. Em um dos sonhos, ela estava de volta ao apartamento, com Dante a seguindo de perto, sua presença opressiva como uma sombra que não podia ser afastada. Em outro, ela estava presa, incapaz de gritar por ajuda enquanto mãos invisíveis a seguravam no escuro.

Acordou sobressaltada, seu corpo coberto de suor frio. O coração ainda martelava no peito, e o medo era tão real que quase esperava ver Dante ao seu lado, sorrindo de forma maliciosa. Mas o quarto estava vazio. Ela se sentou na cama, respirando fundo, tentando se livrar da sensação de terror que persistia.

Quando finalmente ligou o celular novamente, uma série de mensagens de texto não lidas apareceu. Todas vindas do mesmo número desconhecido. Hesitante, ela abriu as mensagens. A maioria delas era composta por longos momentos de silêncio, mas a última tinha algo diferente. Era um áudio.

apertou o play, e o som que saiu a fez congelar. Era a voz de uma mulher, suave, quase melodiosa, mas as palavras não faziam sentido. Era uma canção, uma melodia que conhecia bem demais. "Man Down" da Rihanna. A música que tocava toda vez que Dante ligava para ela. O coração de parou por um instante. Dante estava brincando com ela, e ele estava mais perto do que jamais imaginara.

Ela tentou controlar o pânico, mas cada fibra do seu ser estava em alerta. Correu até a janela e espiou através das cortinas. As ruas estavam cheias de vida, mas tudo parecia deslocado, como se estivesse assistindo a um filme em que não fazia parte. Será que ele estava ali, escondido em algum lugar, apenas esperando para dar o próximo passo?

sabia que não podia ficar ali. Dante estava brincando com sua sanidade, e quanto mais tempo passasse, mais ele a destruiria. Ela precisava de um plano, precisava sair daquela cidade, daquele país, se fosse necessário. Mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era tentar resistir à onda de pânico que ameaçava engoli-la.

O telefone vibrou novamente, e, com mãos trêmulas, ela olhou para a tela. Uma nova mensagem, do mesmo número. Abriu, e o conteúdo era simples, mas devastador:

"Você não pode fugir de mim, docinho. Eu sempre vou encontrar você."

deixou o celular cair no chão, o som ecoando pelo quarto silencioso. Ela estava presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar, e Dante estava determinado a nunca deixá-la escapar. Dante estava brincando com sua sanidade, e ela estava presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.

Ela olhou ao redor do quarto, como se a resposta pudesse estar ali, em algum lugar. Mas tudo que encontrou foi o mesmo vazio opressor que havia sentido desde que Dante começara sua perseguição. precisava de um plano, mas cada tentativa de pensar em algo era interrompida pela crescente sensação de que ele estava próximo, observando-a, esperando o momento certo para agir.

O telefone tocou novamente, o mesmo número, a mesma ameaça silenciosa. não atendeu desta vez. Não podia. Estava trancada em um ciclo de medo e pânico, incapaz de ver uma saída. A noite parecia interminável, e a sensação de que estava sendo caçada não a deixava em paz.

O telefone vibrou, indicando a chegada de uma nova mensagem e a morena sabia de quem se tratava. Desbloqueou a tela e sentiu um frio percorrer o seu corpo:

"Você pode correr, , mas nunca pode se esconder de mim. Eu sempre vou te encontrar."

Ela precisava sair dali. Mas para onde? E como poderia escapar de alguém que parecia estar em todos os lugares, que conhecia cada movimento seu? A única coisa que sabia era que, enquanto estivesse ali, Dante continuaria a atormentá-la.

E ela não tinha forças para resistir por muito mais tempo.



“I sat alone in bed till the morning
I'm crying, they're coming for me
And I tried to hold these secrets inside me
My mind's like a deadly disease”
Control - Halsey

não aguentava mais ficar ali parada, o peso do medo crescendo dentro dela a cada segundo. Seu corpo inteiro estava em alerta, os músculos tensionados, prontos para uma fuga desesperada. Ela sabia que, se não fizesse algo, acabaria cedendo ao desespero. Precisava reagir antes que Dante a quebrasse por completo.
Ela precisava de um novo plano.
começou a vasculhar suas coisas rapidamente, pensando em qualquer lugar onde Dante não poderia encontrá-la. Fora do país? Alguma cidade pequena, remota? Mas antes que pudesse decidir, algo a fez parar. Um ruído. Um clique baixo, quase imperceptível, vindo da porta do quarto.
Seu coração disparou, e seus olhos se fixaram na maçaneta que se movia, devagar. recuou, o pânico tomando conta. Ela não tinha muito tempo. Pegou uma cadeira e empurrou contra a porta, bloqueando qualquer tentativa de entrada.
O barulho parou por um momento, e a respiração de se acelerou. Mas então, uma batida suave e deliberada soou.
... abre a porta.
A voz grave do outro lado doía em sua alma, paralisando-a. Ela sabia quem era. Não havia como Dante estar ali tão rápido, mas o terror a impedia de pensar com clareza. Suas mãos tremiam, e ela olhava ao redor, procurando uma saída, mas não havia para onde correr. O medo a tinha encurralado.
— Eu sei que você está aí. Sei que está assustada, mas podemos resolver isso. Não seja boba. — A voz de Dante soava quase calma, como se estivesse lidando com uma criança teimosa.
sentiu lágrimas quentes escorrerem por seu rosto. Ela não queria abrir a porta. Não queria enfrentá-lo. Mas sabia que, se continuasse ali, ele entraria de qualquer jeito.
De repente, o som de passos no corredor interrompeu a pressão de Dante na porta. Ela ouviu uma voz desconhecida cumprimentando Dante, e logo depois, o som de seus passos se afastando. Ela suspirou, mas o alívio foi breve.
Uma nova mensagem apareceu no celular de . Era o mesmo número.

"Vejo você. Já estou mais perto do que você pensa."

mal conseguia respirar. O que isso significava? Ele estava aqui, dentro do hotel? Do outro lado da porta? Seus pensamentos corriam desenfreados, se chocando uns contra os outros enquanto ela tentava, em vão, encontrar uma saída. Mas tudo parecia embaçado, distorcido.
Ela correu até a janela e espiou pelas cortinas pesadas. Lá fora, o caos da cidade continuava, indiferente ao seu pânico. Os carros passavam, pessoas caminhavam apressadas, como se o mundo estivesse perfeitamente normal. Mas para ela, cada sombra parecia uma ameaça, cada movimento na rua, uma indicação de que Dante estava mais perto. Não conseguia mais distinguir o perigo real do imaginário.
De volta ao quarto, o ar parecia ficar mais denso, mais sufocante. O zumbido do aquecedor, antes reconfortante, agora soava como uma trilha sonora macabra. E então ela ouviu novamente. A batida suave na porta.
, vamos conversar. Sei que você está me ouvindo.
A voz de Dante, baixa e cheia de veneno, parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo. Ela sabia que ele estava lá fora, mas algo em sua mente começava a vacilar. Será que ele estava realmente ali? Ou será que tudo isso era uma ilusão? O medo estava distorcendo sua percepção, tornando-a incapaz de confiar até em seus próprios sentidos.
A respiração de ficou mais pesada. Ela apertou os olhos com força, tentando clarear a mente, mas a sensação de estar sendo observada aumentava a cada segundo. Quando abriu os olhos novamente, quase caiu para trás. No reflexo da janela, por um breve segundo, ela viu a silhueta de um homem. Seus olhos arregalaram-se em pânico. Virou-se rapidamente, mas o quarto estava vazio.
"Não pode ser...", sussurrou para si mesma, sentindo as pernas fraquejarem. Será que Dante estava dentro do quarto? Ela já não sabia mais se podia confiar no que via. Correu até o banheiro, trancando-se lá dentro, sentindo o espaço apertado como um abrigo temporário. Mas o espelho a confrontou novamente. Seu próprio reflexo a encarava com olhos arregalados e descontrolados, quase irreconhecíveis. Era como se ela estivesse se desintegrando por dentro.
As batidas na porta do quarto voltaram, dessa vez mais altas, mais insistentes. O som fazia eco na mente de , misturando-se com seus pensamentos desordenados. Ela colocou as mãos nos ouvidos, tentando abafar o barulho, mas a voz de Dante parecia penetrar em sua cabeça de qualquer maneira.

"Você não pode fugir de mim, . Eu sempre vou encontrar você."

A frase, repetida como um mantra, ecoava no quarto e dentro de sua mente. Ela começou a questionar tudo. E se Dante nunca tivesse realmente saído de sua vida? E se ele estivesse ali desde o início, manipulando tudo? Talvez ele estivesse no controle o tempo todo, brincando com sua sanidade. O som das batidas parecia sincronizar com as batidas do coração dela, em um ritmo enlouquecedor.
Desesperada, ela desbloqueou o celular novamente. Queria ligar para a polícia, para alguém, qualquer um que pudesse ajudá-la. Mas quando abriu o aplicativo de chamadas, algo ainda mais perturbador apareceu. A lista de chamadas recentes estava cheia de ligações para Dante. Cada uma delas mostrava sua duração exata, como se tivesse falado com ele repetidamente nas últimas horas. Mas isso não fazia sentido. Ela não o tinha ligado, tinha?
— Isso não pode ser real… Isso não pode estar acontecendo! — disse para si mesma, lágrimas escorrendo por seu rosto.
Mas quando deslizou o dedo para ler as mensagens antigas, o conteúdo a fez estremecer. Todas as mensagens recentes que ela havia enviado para Beatrice, sua amiga, estavam marcadas como entregues... para Dante. Como se cada pedido de ajuda, cada palavra de desespero, tivesse ido direto para ele.
Um som atrás dela a fez girar. A porta do banheiro estava entreaberta. Ela tinha certeza de que a havia trancado. sentiu um frio percorrer sua espinha, uma sensação de que, de alguma forma, o quarto estava se fechando ao redor dela. Ela se levantou devagar, sentindo-se observada, cada movimento calculado, enquanto o zumbido do aquecedor parecia crescer em intensidade, como uma voz distorcida que murmurava ao fundo.
E então, de repente, as luzes do quarto piscam. O corredor, visível através da fresta da porta, agora estava escuro. Tudo à sua volta parecia mais ameaçador, como se o hotel inteiro estivesse se transformando em uma armadilha. olhou em volta, desorientada, tentando entender se aquilo era real ou se sua mente estava brincando com ela.
O celular vibrou mais uma vez, o som parecendo mais alto do que nunca no silêncio do quarto. Ela sabia o que estava por vir, mas, mesmo assim, olhou para a tela. Uma nova mensagem, do mesmo número. O que leu a fez sentir que o chão havia sido arrancado debaixo de seus pés:

"Olhe pela janela, ."

Seus olhos foram automaticamente atraídos para a janela, e, apesar de cada fibra de seu ser implorar para que ela não olhasse, algo dentro dela a forçou a espiar por entre as cortinas. Lá embaixo, na calçada movimentada, Dante estava parado, sorrindo, olhando diretamente para o hotel.
Ela recuou, as pernas enfraquecendo, e caiu de joelhos no chão. O som abafado de sua respiração desesperada ecoava no quarto escuro. Não havia mais distinção entre pesadelo e realidade. Ela estava presa, e Dante, de alguma forma, parecia ser capaz de controlar cada pensamento, cada batimento de seu coração.
sentiu como se estivesse se afogando em uma escuridão sem fim, onde a única certeza era que ela nunca mais escaparia.
estava encolhida no chão do quarto, com os olhos fixos na porta entreaberta. A luz suave da lâmpada de cabeceira parecia cada vez mais fraca, quase como se o quarto estivesse sendo devorado por uma escuridão crescente. Sua mente tentava desesperadamente processar o que acabara de acontecer. Dante. Lá fora, observando. Mas será que ela realmente o viu? Ou era mais uma alucinação?
Ela esfregou o rosto com força, como se pudesse apagar a confusão crescente, mas nada parecia ajudar. Seu corpo estava trêmulo, e a sensação de pavor tomava conta de cada célula. O zumbido do aquecedor continuava em sua cabeça, agora se transformando em algo quase insuportável, como se vozes sussurrassem em sua mente. A cada segundo que passava, o quarto parecia mais distorcido. As paredes pareciam se mover, ficando mais próximas, pressionando-a.
Ela se forçou a ficar de pé, cambaleando até a janela. Seus dedos hesitaram antes de puxar novamente a cortina, mas quando finalmente olhou, a rua estava vazia. Nenhum sinal de Dante. O fluxo constante de carros e pedestres tinha voltado ao normal, indiferente ao seu desespero.
— O que está acontecendo comigo? — murmurou, ofegante, com o coração ainda batendo descontrolado.
Será que estava enlouquecendo? Cada evento, cada visão, parecia mais desconexo do que o anterior. Ela voltou para o centro do quarto, onde o celular ainda piscava no chão. O aviso de uma nova mensagem, o mesmo número desconhecido, brilhou na tela.
Ela hesitou, o terror congelando-a no lugar. Era uma armadilha, ela sabia. Cada vez que olhava o celular, cada vez que lia uma nova mensagem, Dante parecia mais perto. Mas não resistiu. Pegou o aparelho e desbloqueou a tela com as mãos trêmulas.
A mensagem era curta, mas devastadora:

“Você acha que pode escapar? Estou dentro de você, .”

O celular caiu de suas mãos com um baque surdo. Dentro de si? O que isso significava? Ela sentiu o pânico começar a sufocá-la novamente. Sua respiração ficou pesada, os batimentos cardíacos descompassados. O que quer que estivesse acontecendo, era como se Dante tivesse se infiltrado não apenas em sua vida, mas em sua própria mente.
Ela correu para o banheiro, trancando-se novamente. Precisava de ar, de espaço, de um momento para pensar. O reflexo no espelho a encarou de volta, mas dessa vez, algo estava diferente. Seus olhos, antes cheios de vida, agora pareciam vazios, opacos, como se uma parte dela estivesse desaparecendo.
Ela piscou, tentando focar melhor, mas a visão se tornou ainda mais distorcida. No espelho, sua imagem parecia sorrir — um sorriso que não correspondia à expressão de medo em seu rosto real. Seu reflexo ria de forma sinistra, zombando dela. recuou, os olhos arregalados. Isso não era possível. Estava imaginando coisas.
De repente, a risada cessou, e o reflexo voltou ao normal. O quarto ficou em completo silêncio, apenas o eco de sua respiração irregular preenchendo o espaço. Ela estava à beira de um colapso. Precisava sair dali, fugir desse hotel, fugir de tudo. Mas para onde? E se Dante estivesse realmente em todos os lugares?
Saindo do banheiro em passos trôpegos, começou a andar de um lado para o outro, sentindo como se o chão estivesse se movendo sob seus pés. O quarto parecia encolher, e os ruídos da cidade lá fora se tornaram ensurdecedores. Cada buzina, cada passo, soava como um trovão em sua mente. Ela se aproximou da porta, a mão já estendida para a maçaneta. Precisava sair dali. Mas então, uma nova vibração vinda do celular que ainda estava no chão a fez parar.

“Não adianta, . Eu sempre vou estar com você, onde quer que vá.”

Ela caiu de joelhos. O terror era tão real que parecia esmagá-la. O som da mensagem, o reflexo sorridente, a presença de Dante em todos os lugares... não havia mais escapatória. A confusão e o medo se misturavam com a exaustão mental, e ela começou a questionar cada lembrança recente. Será que Dante realmente a estava seguindo, ou ela estava criando tudo em sua mente? Será que as ligações, as mensagens, eram reais ou apenas frutos de sua paranoia?
A sanidade de estava se desfazendo rapidamente, e ela não conseguia mais discernir o que era real e o que era fantasia. As batidas na porta voltaram, agora mais insistentes. Ela recuou, encostando-se na parede, o olhar fixo na porta. Cada batida parecia sincronizar com os batimentos frenéticos de seu coração.
— Por favor… por favor, pare… — ela sussurrou, cobrindo os ouvidos.
Mas as batidas continuaram. E, de repente, a maçaneta começou a girar lentamente.
Ela sabia que não podia ficar ali, esperando. Precisava reagir. Precisava lutar. Mas contra o quê? Dante, o terror psicológico, ou sua própria mente traidora?
Ela respirou fundo e correu em direção à porta. Com as mãos trêmulas, destrancou-a e saiu para o corredor. O ar estava mais pesado ali, como se todo o hotel estivesse preso em um pesadelo com ela. As paredes pareciam se mover, distorcendo sua visão, enquanto o chão tremia sob seus pés. Ela começou a correr, mas os corredores pareciam intermináveis. Nenhuma saída à vista.
De repente, ao longe, ela viu a silhueta de alguém. Parou bruscamente, o coração martelando no peito. Dante? Não conseguia distinguir. A figura estava no fim do corredor, imóvel, como se estivesse observando. Uma onda de pânico a atingiu. Ela deu um passo para trás, sentindo-se como um animal encurralado.
Então, a silhueta começou a se aproximar.
A figura no final do corredor avançava lentamente, como um predador se aproximando de sua presa. Cada passo era acompanhado pelo eco que reverberava nas paredes do hotel, criando uma sensação sufocante de claustrofobia. recuou instintivamente, seus pés hesitando em cada movimento. Seu corpo inteiro tremia, uma mistura de pânico e exaustão mental a deixando à beira de um colapso.
— Quem está aí? — Sua voz saiu fraca, quase inaudível.
A silhueta parou por um momento, como se contemplasse sua pergunta, mas não houve resposta. O silêncio era uma resposta ainda mais perturbadora. Os corredores se distorciam ao redor dela, como se o espaço estivesse dobrando sobre si mesmo, e a figura à sua frente parecia crescer, assumindo uma forma mais ameaçadora. Ela tentou se afastar, mas suas pernas estavam como chumbo, pesadas, imóveis.
O medo tomou conta, e a mente de entrou em uma espiral. Não conseguia distinguir mais o que era real. Será que havia mesmo alguém ali? Ou sua mente estava pregando peças, criando fantasmas que se alimentavam de seu terror?
Sem pensar, girou nos calcanhares e começou a correr na direção oposta. Os corredores intermináveis agora pareciam se fechar ao redor dela, como se as paredes fossem engolir sua existência. O som de seus próprios passos ressoava por todo o ambiente, como uma música de suspense orquestrada por sua própria paranoia. Ela corria cegamente, sem direção, com o único pensamento sendo fugir.
Ao virar uma esquina, sua visão turva captou uma porta de saída. Uma esperança efêmera brilhou em sua mente — uma saída, finalmente. Ela correu com todas as suas forças, sentindo o chão se distorcer e balançar sob seus pés, como se estivesse em um barco à deriva em meio a uma tempestade.
Empurrou a porta com força, sentindo o ar frio da madrugada bater em seu rosto. Estava fora do hotel. As ruas, antes distantes, agora pareciam mais próximas. Carros passavam lentamente, os sons da cidade voltando a parecer normais, quase reconfortantes. Mas mesmo com o alívio de estar ao ar livre, a sensação de ser observada não desaparecia. O terror continuava a pulsar em suas veias.
olhou ao redor freneticamente, como se esperasse que Dante surgisse de alguma esquina escura a qualquer momento. As sombras das árvores dançavam sinistramente sob a luz dos postes, e cada figura que passava por ela parecia uma ameaça. Precisava de segurança, de proteção, mas a sensação de que Dante estava em todos os lugares a sufocava.
Ela sentiu o celular vibrar novamente no bolso de seu casaco. Tremendo, hesitou antes de tirar o aparelho. Mais uma mensagem do mesmo número desconhecido.

“Isso foi divertido, mas eu não terminei com você. Vejo você em breve.”

deixou o celular cair no chão, o som da queda parecendo ensurdecedor no silêncio da rua deserta. Sua mente estava em colapso. Não conseguia mais distinguir o real do imaginário. Dante estava dentro de sua cabeça, manipulando cada parte de sua sanidade, e ela sabia que não poderia continuar assim por muito tempo.
Ela precisava pensar. Precisava agir antes que ele a destruísse completamente.
Cambaleando, atravessou a rua em direção a um pequeno café ainda aberto, suas luzes piscando fracamente, como se estivessem prestes a apagar. Entrou no local quase vazio, sentando-se em uma das mesas ao fundo, com a visão voltada para a porta. O aroma de café recém-passado preenchia o ar, mas o cheiro familiar não trouxe conforto. Pelo contrário, a deixou ainda mais alerta, como se algo estivesse fora do lugar.
O atendente a observava de longe, mas não disse nada. Ela podia ver seu reflexo no espelho atrás do balcão, o rosto pálido e marcado pelo cansaço. Seus olhos não pareciam os seus, como se estivesse observando uma estranha. Será que essa era ela agora? Uma versão distorcida de si mesma?
Seus pensamentos começaram a clarear, mesmo que apenas por um momento. Ela sabia que a situação não melhoraria se continuasse na cidade. Dante estava brincando com sua mente, e cada novo dia trazia mais medo, mais desespero. Não havia escapatória enquanto permanecesse ali, cercada por lembranças e fantasmas. A única solução era fugir. Não apenas do hotel, mas da cidade. Talvez do país.
Mas para onde? O mundo de Dante era vasto; suas conexões, profundas. Ele a encontraria aonde quer que fosse, ela sabia disso. Mas, pelo menos, ganharia tempo. Tempo para pensar, para se reorganizar, para encontrar uma forma de lutar contra ele.
olhou ao redor, os olhos fixos na rua lá fora. A cidade que um dia lhe trouxe conforto agora era um campo de batalha. Precisava sair dali antes que Dante a destruísse completamente, e antes que ela perdesse o pouco de sanidade que lhe restava.
Decidida, ela pegou o celular do chão, ignorando as mensagens não lidas. Sabia o que precisava fazer. Iria embora. Fugir da cidade. E dessa vez, ele não a encontraria tão facilmente. Ela traçaria um plano, encontraria um lugar para desaparecer e, com sorte, encontraria uma forma de se libertar de Dante de uma vez por todas.



“This is my fight song
Take back my life song
Prove I'm alright song
My power's turned on
Starting right now I'll be strong”
Fight Song - Rachel Platten

A manhã estava clara e tranquila quando o avião pousou suavemente no Aeroporto Internacional de Los Angeles. O sol brilhava forte no céu azul sem nuvens, e o calor leve e familiar trouxe um sentimento nostálgico a . Depois de tanto tempo em uma montanha-russa de medos e perseguições, ela finalmente sentia que estava dando o primeiro passo para longe da sombra que Dante havia projetado em sua vida.
Los Angeles, a cidade onde cresceu, agora seria o palco de seu recomeço. Ela não voltava ali desde a morte de seus pais. Cada esquina, cada rua, cada memória daquele lugar carregava uma mistura de tristeza e carinho, mas desta vez, queria focar apenas nas boas lembranças. Ela se prometera que esta seria uma nova fase — uma vida sem medos, sem sombras.
Enquanto caminhava pelo terminal, puxando sua mala pequena, respirou fundo, absorvendo o ar fresco da manhã. As palmeiras alinhadas do lado de fora do aeroporto balançavam suavemente com o vento, e os sons da cidade — buzinas ao longe, conversas animadas, o murmúrio constante de pessoas indo e vindo — eram um contraste revigorante com os momentos de tensão pelos quais havia passado.
Do lado de fora, ela chamou um táxi e deu o endereço de um pequeno apartamento que havia alugado na semana anterior, em um bairro tranquilo e afastado do centro, próximo de onde morou quando era mais jovem. A viagem pelas ruas largas e conhecidas trouxe um alívio inesperado. As lojas e prédios, o vai e vem das pessoas, tudo parecia convidá-la a redescobrir um pedaço de si mesma que havia ficado perdido no tempo.
O táxi estacionou em frente a um edifício modesto de três andares, cercado por árvores frondosas. desceu, olhou para o prédio com um sorriso suave nos lábios e pagou a corrida. Sentia-se estranhamente em paz ao caminhar até a entrada, carregando sua mala com uma leveza que não sentia há meses. Era como se, finalmente, o peso da angústia estivesse ficando para trás, enterrado em uma vida que ela decidira abandonar.
O apartamento era simples, mas exatamente o que ela precisava. As janelas largas deixavam a luz natural entrar e iluminavam o ambiente de forma suave, quase acolhedora. As paredes claras, o piso de madeira e a decoração minimalista faziam com que o lugar parecesse pronto para uma nova história. caminhou lentamente pelo pequeno espaço, tocando os móveis novos, sentindo a sensação de liberdade crescendo dentro de si.
Depois de uma rápida organização, saiu para explorar a vizinhança. As ruas arborizadas e calmas eram exatamente o oposto do caos interno que ela sentira nos últimos tempos. Cada passo parecia uma reafirmação de que ela havia feito a escolha certa. Los Angeles era um lugar onde ela poderia se redescobrir, construir uma nova vida longe de tudo que a havia assombrado.
No caminho, ela passou por um pequeno café, cujas mesas externas estavam repletas de clientes conversando e aproveitando o calor do dia. Sem hesitar, decidiu parar. Pediu um expresso e se sentou na varanda, apreciando a simplicidade daquele momento. As memórias de sua infância começaram a ressurgir, trazendo à tona lembranças dos passeios com seus pais, das tardes ensolaradas no parque, dos risos despreocupados.
Sentia-se livre. Pela primeira vez em muito tempo, a angústia de estar sendo perseguida havia desaparecido. Claro, sabia que ainda havia um longo caminho pela frente, e que Dante não desistiria tão facilmente, mas agora ela tinha uma nova força dentro de si. Estava determinada a não permitir que ele destruísse sua vida novamente.
Enquanto observava as pessoas passarem na calçada, sorriu. Los Angeles era o lugar certo. Aqui, ela começaria de novo. E, pela primeira vez em muito tempo, ela acreditava que poderia, de fato, encontrar a felicidade.
passou o resto da tarde explorando o bairro. A sensação de liberdade a envolvia, como uma brisa suave em um dia quente. Ela caminhou por ruas tranquilas, admirando as casas coloridas e os jardins bem cuidados. As pessoas que passavam pareciam felizes e despreocupadas, e sentiu um brilho de esperança crescer dentro de si. A cada passo, sua confiança aumentava.
Encontrou um parque nas proximidades, onde as crianças brincavam e os adultos se reuniam para conversar. Lembrou-se de quando era pequena e costumava vir ali com seus pais. A imagem de sua mãe sorrindo enquanto a empurrava em um balanço a fez sentir um aperto no coração, mas era um aperto doce, uma saudade acompanhada de amor.
decidiu que precisava fazer algo especial para honrar essa nova fase. Voltou para o apartamento, pegou seu caderno de anotações e um lápis, e retornou ao parque. Sentou-se em um banco sob uma árvore frondosa, deixando o sol quente aquecer seu rosto enquanto escrevia. Ela começou a esboçar um plano, uma lista de coisas que gostaria de realizar nesta nova vida.

1. Explorar novos lugares: vislumbrar a cidade com novos olhos, descobrir cafés, livrarias e parques que não conhecia.
2. Fazer novos amigos: abrir-se para as pessoas e permitir que novas relações florescessem.
3. Retomar a pintura: sempre fora uma paixão, mas que havia sido esquecida nas últimas semanas. A ideia de transformar seu apartamento em um espaço criativo a enchia de entusiasmo.
4. Buscar um emprego: com a mente mais leve, estava determinada a encontrar uma nova oportunidade, algo que a motivasse a acordar todos os dias com um sorriso no rosto.
Enquanto escrevia, a brisa leve e o canto dos pássaros criavam um ambiente sereno. sentiu que, finalmente, estava em sintonia consigo mesma. A lista crescia a cada nova ideia que surgia, e ela se pegou sorrindo, ansiosa pelo que estava por vir.
Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, decidiu que era hora de voltar para casa. Ao chegar ao apartamento, ligou o rádio e deixou a música preencher o ambiente. Cada batida fazia com que a alegria pulsasse em seu coração, e ela se permitiu dançar livremente pela sala, deixando os medos e inseguranças para trás.
Naquela noite, não se sentiu sozinha. Com as luzes do apartamento acesas e a música preenchendo o espaço, ela começou a visualizar a vida que havia sonhado. Não seria fácil, mas estava disposta a lutar por ela. A ideia de recomeçar em Los Angeles a inspirava, e ela estava determinada a fazer desse lugar um lar novamente.
Antes de dormir, se sentou na cama e refletiu sobre sua jornada. Embora as memórias de Dante ainda a assombrassem, ela se lembrou de que tinha o poder de moldar seu próprio futuro. Ele não poderia controlá-la para sempre. A vida era dela, e ela tinha o direito de ser feliz.
Com um sorriso nos lábios, ela se deitou, sentindo-se mais leve do que em muito tempo. Através das sombras do passado, uma nova luz começava a brilhar, e estava pronta para acolhê-la.



A tarde estava tranquila no parque, e encontrava uma paz que não sentia havia meses. Sob a sombra de uma árvore frondosa, ela rabiscava em seu caderno, imersa em pensamentos sobre seu recomeço. Ao seu redor, o som de crianças rindo e pássaros cantando criava uma melodia serena, embalando suas reflexões. O sol brilhava quente, mas a sombra da árvore proporcionava um alívio confortável. Ela estava tão absorta que quase não percebeu quando uma figura masculina se aproximou.
— Desculpe incomodar, mas você está usando essa caneta? — disse uma voz profunda e levemente rouca.
ergueu os olhos, um pouco surpresa. Diante dela, estava um homem de porte casual, mas com uma aura que exalava confiança. Ele tinha cabelos castanhos ligeiramente bagunçados, olhos escuros e penetrantes e um sorriso discreto que parecia calculado, mas não invasivo. Vestia uma camisa branca de botão, dobrada até os cotovelos, e jeans escuros, completando o visual de um homem que sabia como chamar atenção sem parecer que se esforçava para isso.
— Essa aqui? — perguntou, pegando a caneta ao lado de seu caderno. — Pode pegar.
— Obrigado. — Ele sorriu ao aceitar a caneta, mas não saiu de imediato. Em vez disso, se sentou em um banco próximo, mas não longe o suficiente para que a conversa acabasse ali.
Ele abriu um pequeno caderno e começou a escrever algo, aparentemente concentrado. voltou ao seu caderno, tentando ignorar a presença dele, mas não conseguia evitar a sensação de que estava sendo observada. A pausa durou poucos minutos antes de ele voltar a falar.
— Você parece bem concentrada. Escrevendo algo importante?
ergueu os olhos novamente. Havia algo na maneira como ele falava — descontraída, mas com um toque de curiosidade genuína — que a fez relaxar um pouco.
— Apenas reorganizando minha vida. — Ela deu de ombros, tentando manter a resposta breve.
— Reorganizar é bom. — Ele assentiu, olhando para o caderno dela como se tentasse decifrar o que estava escrito. — Às vezes, quando tudo fica confuso, só uma nova página resolve.
sorriu levemente. — É exatamente isso. Nova página, nova cidade... novo tudo.
— Los Angeles pode ser o lugar perfeito para isso. — Ele fez uma pausa, como se estivesse refletindo sobre algo. — Sou , a propósito. Moro por aqui.
Ela o observou por um momento antes de responder. Havia algo na postura dele que parecia equilibrar charme e mistério.
. Acabei de me mudar para cá.
— Bem-vinda, . Espero que Los Angeles te trate bem. — O sorriso dele era caloroso, mas seus olhos pareciam analisar cada movimento dela.
A conversa seguiu de forma natural, quase inesperada para . recomendou lugares pela cidade: uma livraria charmosa em um bairro próximo, um mercado ao ar livre que acontecia aos finais de semana, e mencionou um café local que, segundo ele, tinha os melhores expressos de toda a região. Ela não sabia dizer se era apenas o alívio de estar longe de Dante ou algo na energia de , mas sentiu-se estranhamente à vontade.
— E você? O que você faz por aqui? — perguntou, sentindo-se um pouco mais confiante em levar a conversa adiante.
— Trabalho com negócios da família. Nada muito interessante. — Ele deu de ombros, desviando o olhar por um instante antes de retornar para ela. — Mas gosto de vir aqui ao parque para relaxar. Parece que é um bom lugar para encontrar inspiração, não?
Ela assentiu. — Definitivamente. É um dos motivos pelos quais escolhi esse bairro. Precisava de um lugar tranquilo.
Por um momento, o silêncio se instalou entre os dois, mas não era desconfortável. parecia estar refletindo sobre algo enquanto também observava o parque ao redor. Já aproveitava a rara sensação de normalidade.
Quando o sol começou a se inclinar no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, apontou para o próprio relógio.
— Acho que já está ficando tarde. Preciso ir, mas espero que a gente se esbarre de novo. Talvez no mercado de sábado?
sorriu, mas manteve a cautela. — Talvez.
Ele se levantou, guardando o caderno no bolso interno da jaqueta, e acenou com um gesto descontraído. — Foi um prazer conhecer você, . Até logo.
Ela o observou enquanto ele se afastava, misturando-se às outras pessoas no parque. era simpático e cativante, mas havia algo nele que a fazia hesitar. Talvez fosse apenas resquício dos traumas recentes, ou talvez fosse aquele sexto sentido que ela aprendera a não ignorar. Ainda assim, a experiência havia sido bem-vinda. Pela primeira vez em muito tempo, ela havia conversado com alguém sem a sombra de Dante pairando sobre ela.
Quando voltou para o apartamento, o rosto de ainda pairava em sua mente. Ela não sabia se o reencontraria, mas, de alguma forma, aquele breve encontro parecia o primeiro passo para abrir espaço para o novo em sua vida. Mal sabia ela que aquele homem, com seu sorriso calculado e palavras gentis, estava muito mais conectado ao seu destino do que poderia imaginar.
A manhã seguinte amanheceu clara e quente, com o sol já brilhando forte pelas janelas do pequeno apartamento. se sentou na cama, esticando os braços enquanto a luz do dia aquecia sua pele. Havia algo diferente naquele dia — um impulso de explorar, de redescobrir Los Angeles com novos olhos.
Depois de um café da manhã rápido, ela vestiu um short jeans, uma blusa leve e confortável, calçou tênis e pegou uma mochila pequena. Decidiu começar o dia na praia, lugar que sempre a trouxe tranquilidade quando era mais jovem. Pegou um ônibus em direção à Santa Monica, sentindo o vento quente da cidade enquanto olhava pela janela, observando as ruas movimentadas e o caos organizado de Los Angeles.
Chegando ao píer, foi recebida pelo som das ondas quebrando suavemente na areia, misturado às risadas de crianças e ao murmúrio de conversas animadas. O aroma de sal e de comidas fritas das barracas no píer a envolveu. Ela caminhou até a areia, tirou os tênis e sentiu a textura quente e granulada sob seus pés. O toque da água fria em seus dedos foi revigorante, como se estivesse lavando as preocupações que ainda insistiam em pairar sobre ela.
Enquanto caminhava pela praia, permitiu-se relaxar. Sentou-se em um trecho mais isolado, abriu um caderno que trouxera na mochila e começou a rabiscar pensamentos e planos. As palavras fluíam como as ondas, ora suaves, ora intensas, mas sempre presentes. Sua lista de desejos e objetivos crescia, uma pequena celebração de sua decisão de recomeçar.
Depois de algum tempo, decidiu explorar o píer. Os artistas de rua, com suas músicas e performances, criavam uma atmosfera vibrante e convidativa. Parou em uma barraca de sorvete e comprou um cone de baunilha. O doce fresco combinava perfeitamente com o calor do dia. Ela caminhou sem pressa, apreciando cada detalhe ao seu redor, desde as crianças brincando no carrossel até os casais caminhando de mãos dadas.
Mais tarde, alugou uma bicicleta em uma loja próxima e pedalou pela Marvin Braude Bike Trail, sentindo o vento bagunçar seus cabelos enquanto admirava a vista deslumbrante do oceano à sua esquerda e a cidade movimentada à sua direita. Cada pedalada era como um passo em direção à liberdade que tanto buscava. riu sozinha ao perceber que não se sentia tão viva há meses.
Ao fim do percurso, resolveu parar em um pequeno café que encontrou pelo caminho. O local era acolhedor, com mesas de madeira e plantas penduradas nas paredes. Pediu um smoothie e sentou-se no lado de fora, onde podia observar o movimento das pessoas. Cada rosto, cada história implícita, fazia se sentir mais conectada ao mundo ao seu redor.
De volta ao centro da cidade, decidiu visitar o Grand Central Market. O lugar era uma explosão de cores, cheiros e sons. Caminhou pelos corredores, experimentando pequenos petiscos e comprando frutas frescas para levar para casa. Cada detalhe do mercado parecia contar uma história, e ela se sentiu como uma peça de algo maior, mais vibrante.
Ao fim do dia, o cansaço começava a bater, mas era um cansaço bom, cheio de momentos memoráveis. Pegou o ônibus de volta para o apartamento, segurando uma sacola com as frutas que comprara e um buquê de flores coloridas que havia decidido levar para alegrar o ambiente.
Assim que chegou em casa, colocou as flores em um vaso improvisado e preparou uma pequena salada com as frutas frescas. Sentou-se à mesa perto da janela, apreciando o entardecer que pintava o céu com tons alaranjados e rosados. O som distante da cidade começava a diminuir, dando lugar ao silêncio tranquilo da noite.
Depois do jantar, foi até a pequena varanda do apartamento e se sentou com uma xícara de café. Observou as luzes da cidade e deixou a brisa noturna acariciar seu rosto. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se parte do mundo novamente, conectada à sua nova vida. Ela sabia que os desafios ainda existiam, mas momentos como aquele faziam tudo valer a pena.
Antes de dormir, pegou o caderno onde escrevera pela manhã e adicionou mais algumas linhas à sua lista:
● Conhecer lugares históricos da cidade.
● Participar de um evento local.
● Continuar escrevendo todos os dias.
● Aprender algo novo.
Com um sorriso nos lábios e o coração leve, fechou o caderno e apagou as luzes. A escuridão do quarto parecia menos assustadora agora.
A cidade, com todas as suas possibilidades, a aguardava para mais um dia de descobertas.



A noite em Los Angeles tinha aquele charme que só a cidade podia oferecer. As ruas estavam vivas, cheias de luzes piscando, risadas e o som abafado de música escapando pelas portas de bares e clubes. sentia uma certa inquietação naquela noite. Depois de dias explorando a cidade, decidiu que precisava sair de sua zona de conforto. Talvez um bar fosse exatamente o que ela precisava para relaxar.
Vestiu-se com cuidado. Escolheu um vestido preto ajustado, de tecido leve, que valorizava sua silhueta sem ser excessivo. Seus cabelos castanhos, soltos em ondas naturais, emolduravam seu rosto de pele impecável. Nos lábios, um batom vermelho que contrastava com a delicadeza de sua expressão. Ela olhou no espelho antes de sair, e, por um instante, mal reconheceu a mulher que via. Estava decidida a se reconectar com o lado confiante que havia perdido.
O bar que escolheu ficava no centro da cidade, em um prédio antigo com uma fachada de tijolos aparentes e uma discreta placa de neon que piscava a palavra "LUX". Ao entrar, foi imediatamente envolvida pelo aroma de madeira envelhecida misturado ao leve toque de uísque e um perfume cítrico que parecia pairar no ar. A música era um jazz moderno, com acordes que preenchiam o ambiente sem se tornarem invasivos.
As luzes baixas criavam uma atmosfera intimista, e as mesas de madeira escura estavam ocupadas por pequenos grupos de pessoas conversando em tons baixos. No fundo, um bar comprido exibia fileiras de garrafas iluminadas por uma luz âmbar, enquanto o barman, vestido de forma impecável, preparava coquetéis com movimentos precisos. caminhou lentamente até o balcão e escolheu um banco em um canto menos movimentado. Ela queria observar sem ser observada.
— Um martini, por favor, com limão — pediu ao barman, que acenou com a cabeça.
Enquanto esperava, seus olhos percorreram o ambiente. Havia algo reconfortante naquele lugar, algo que a fazia esquecer, mesmo que por instantes, tudo o que havia deixado para trás. O som do gelo sendo agitado no shaker pelo barman, o murmúrio das conversas e as notas suaves do saxofone criavam uma harmonia quase hipnotizante. Foi então que ela sentiu. Não viu, mas sentiu uma presença. Como se alguém a estivesse observando. Virou-se levemente, e seus olhos encontraram um par de írises intensamente castanhas que pareciam brilhar à luz baixa.
estava ali.
Ele estava sentado a alguns metros de distância, apoiado no balcão. Vestia uma camisa de linho preta, com os primeiros botões abertos, revelando um pescoço forte e levemente bronzeado. O tecido ajustava-se perfeitamente ao seu corpo atlético. Seus cabelos escuros estavam penteados de forma casual, mas cuidadosamente arrumados. Havia algo nele que exalava controle, mas também perigo. Ele segurava um copo de uísque na mão, girando o líquido com uma calma calculada enquanto a observava com um leve sorriso.
sentiu o coração acelerar, mas tentou disfarçar. Pegou seu martini, deu um gole e manteve os olhos fixos na bebida. Mas a intensidade do olhar dele era quase impossível de ignorar. Antes que pudesse se recompor completamente, levantou-se e caminhou na direção dela.
— Parece que temos um talento para cruzar o caminho um do outro — disse ele, com aquela voz grave e tranquila que parecia ressoar no fundo da alma dela.
ergueu os olhos, tentando manter a compostura. — Ou talvez você esteja me seguindo, .
Ele riu, um som baixo e genuíno, e se inclinou levemente contra o balcão, ao lado dela. — Se fosse esse o caso, eu não admitiria, admitiria?
— Provavelmente não. — Ela sorriu de lado, tentando esconder o nervosismo.
— Então, o que te traz aqui esta noite? — perguntou ele, tomando um gole de seu uísque.
deu de ombros, tentando parecer casual. — Só queria sair um pouco. E você?
— O mesmo. — fez uma pausa, olhando-a com uma intensidade quase desconcertante. — Mas tenho que admitir, encontrar você aqui tornou a noite muito mais interessante.
Ela sentiu um leve rubor subir às bochechas, mas se recusou a deixar que ele percebesse o quanto isso a afetava. Decidiu virar o jogo.
— E o que faz você ser tão bom em deixar as pessoas intrigadas, ? Parece que você coleciona segredos.
Ele inclinou a cabeça, como se ponderasse a resposta. — Talvez eu apenas saiba que algumas coisas são mais interessantes quando não são ditas.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, mas não era um silêncio desconfortável. Havia algo na presença dele que a fazia sentir-se simultaneamente desarmada e alerta. era um enigma, e não sabia se queria decifrá-lo ou simplesmente ficar fascinada por ele.
— Você dança? — perguntou ele de repente, quebrando o silêncio.
Ela riu suavemente. — Não sei se sou boa nisso.
— Sorte a minha. — Ele estendeu a mão para ela, o olhar confiante e sedutor. — Não estou procurando uma parceira profissional.
hesitou por um momento, mas a curiosidade — e talvez algo mais — a venceu. Ela colocou a mão na dele, sentindo o calor e a firmeza de seu toque. a guiou até uma pequena pista de dança no canto do bar, onde algumas pessoas já se moviam ao som da música que havia mudado para um blues sensual.
A música era "At Last", na voz aveludada de Etta James. reconheceu a melodia imediatamente, o que tornou o momento ainda mais intenso. Ele a segurou com uma mão em sua cintura e outra segurando delicadamente a dela. Não era uma dança elaborada, mas os movimentos eram lentos e em sintonia. mantinha os olhos fixos nos dela, como se o resto do mundo tivesse desaparecido. sentiu o coração acelerar novamente, mas desta vez não tentou esconder. Havia algo eletrizante na proximidade deles, algo que a fazia esquecer o passado e o futuro.
Enquanto dançavam, ela notou detalhes que antes não havia reparado. O leve cheiro amadeirado do perfume dele, a forma como seus lábios curvavam-se em um sorriso discreto, a firmeza com que ele a conduzia sem ser invasivo. Era como se cada movimento, cada respiração, fosse cuidadosamente calculado para deixá-la à vontade e, ao mesmo tempo, em alerta.
Quando a música terminou, se inclinou ligeiramente para sussurrar em seu ouvido. — Obrigado pela dança, . Acho que acabei de descobrir meu novo momento favorito da noite.
Ela sorriu, sentindo-se ao mesmo tempo lisonjeada e vulnerável. Mas antes que pudesse responder, ele se afastou levemente, ainda segurando sua mão.
— Vamos, vou te acompanhar até sua mesa.
seguiu, tentando processar a mistura de emoções que ele provocava. Enquanto se sentavam novamente, ela percebeu que era muito mais do que parecia à primeira vista. E, por mais que tentasse manter o controle, sabia que ele a afetava de uma forma que ninguém mais conseguia.
A noite seguiu com conversas que fluíam tão naturalmente quanto o ritmo da música ao fundo. Ele falava pouco sobre si, sempre devolvendo as perguntas para ela, mas sem parecer evasivo. Ela, por sua vez, notou como ele tinha o talento de fazê-la baixar a guarda. As histórias que compartilhava pareciam insignificantes, mas cada palavra vinha carregada de algo implícito, como se ele soubesse muito mais do que deixava transparecer.
Em um momento, ela comentou sobre a decoração do bar, e sorriu levemente. — É curioso como os detalhes mais sutis chamam sua atenção. Nem todo mundo percebe isso.
— Talvez eu apenas preste atenção demais — respondeu ela, brincando.
— Ou talvez você veja coisas que outros não conseguem. Isso é algo raro. — Ele a olhou de forma significativa, e sentiu que havia mais naquelas palavras do que uma simples observação.
Quando a noite começou a se dissipar, percebeu que não queria que o momento acabasse. era um mistério, uma presença que parecia simultaneamente serena e perigosa. E, mesmo sabendo que havia algo nele que exigiria cautela, não conseguia negar a atração que sentia.
Antes de se despedirem, ele inclinou-se levemente, segurando a mão dela por um momento a mais do que o necessário. — Espero que nossos caminhos continuem se cruzando, .
Ela apenas sorriu, sem palavras, enquanto o via se afastar pelo bar, deixando-a com o coração acelerado e a mente repleta de perguntas. A noite, que começara como uma simples tentativa de distração, tornou-se um marco. Mas, no fundo, sabia que a presença dele carregava um peso que ela ainda não compreendia. E, mesmo assim, não conseguia se afastar. Não ainda.



O sol dourado de Los Angeles brilhava intensamente, refletindo sobre as ondas suaves que se quebravam ao longo da costa de Venice Beach. caminhava pela cidade com passos calmos, sentindo a brisa salgada bagunçar seus cabelos castanhos. Ela tinha passado as últimas horas distribuindo currículos em diferentes estabelecimentos, buscando uma oportunidade de emprego que lhe trouxesse estabilidade e, principalmente, paz.
A cidade era viva, cheia de energia e possibilidades. Cada esquina parecia contar uma história, e se permitia absorver aquele ambiente novo. Desde que chegara a Los Angeles, sentia que poderia reconstruir sua vida, afastando-se dos fantasmas do passado que insistiam em persegui-la. Mas, para isso, precisava de um emprego.
Vestia uma blusa branca de linho, levemente solta, e uma calça jeans de cintura alta que lhe proporcionava conforto sem perder a elegância. Nos pés, sapatilhas simples, mas estilosas. Segurava uma pasta fina contendo algumas cópias do seu currículo, revisadas cuidadosamente na noite anterior.
Caminhando pelas ruas ensolaradas, ela observava vitrines de lojas e pequenos estabelecimentos em busca de placas que indicassem oportunidades de trabalho. Algumas cafeterias e boutiques tinham anúncios, mas nenhum parecia exatamente o que ela queria. Até que seus olhos encontraram um pequeno café charmoso com uma placa pendurada na porta de vidro: "Estamos contratando!".
O lugar se chamava "Seaside Coffee & Bakery". Era um estabelecimento acolhedor, com paredes em tons de areia e detalhes em azul, remetendo ao mar logo à frente. Grandes janelas de vidro permitiam a entrada abundante da luz do sol, criando uma atmosfera aconchegante e relaxante. Do lado de fora, algumas mesas estavam dispostas sob guarda-sóis brancos, onde clientes tomavam seus cafés tranquilamente enquanto admiravam o movimento da praia.
respirou fundo antes de entrar. O aroma do café recém passado se misturava com o cheiro de pão quentinho e croissants recém-saídos do forno. O ambiente interno era ainda mais convidativo: móveis de madeira rústica, prateleiras repletas de grãos de café importados e doces artesanais expostos em uma vitrine de vidro. Ela se aproximou do balcão, onde uma mulher de sorriso gentil e cabelos grisalhos estava atendendo um cliente. Quando a senhora terminou o pedido, olhou para com um brilho curioso nos olhos.
— Olá! O que posso fazer por você hoje? — perguntou a mulher.
sorriu, sentindo-se surpreendentemente à vontade.
Apontou para a placa na porta. — Ainda estão contratando?
A mulher arqueou as sobrancelhas, parecendo surpresa. Então, deu um sorriso caloroso.
— Ah, querida, por acaso estamos sim! Meu nome é Margaret, sou a dona do Seaside Coffee. Estamos precisando de uma nova barista para o turno da manhã. Você tem experiência com café?
hesitou por um momento, mas decidiu ser sincera.
— Para ser honesta, nunca trabalhei como barista antes, mas aprendo rápido e sou muito dedicada. Tenho experiência com atendimento ao público e sou apaixonada por café.
Margaret inclinou levemente a cabeça, observando-a com atenção. Havia algo na postura de que transmitia sinceridade e determinação.
— Gosto da sua honestidade. Aqui, mais do que habilidades com café, prezamos um bom atendimento e um ambiente acolhedor. Se você estiver disposta a aprender, podemos fazer um teste. Que tal começar amanhã cedo? Assim você conhece a rotina e vê se gosta do trabalho.
O coração de acelerou com a proposta. Ela não esperava que fosse tão rápido, mas aquilo era exatamente o que precisava.
— Eu adoraria! Muito obrigada pela oportunidade, Margaret.
A dona da cafeteria sorriu, assentindo.
— Ótimo! Venha às sete da manhã e vista algo confortável. E não se preocupe, eu mesma irei te ensinar tudo. Tenho certeza de que vai se sair bem.
saiu da cafeteria com um sorriso genuíno. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava no caminho certo. Caminhou pela orla da praia, sentindo-se leve. O vento suave acariciava seu rosto, e ela permitiu-se aproveitar aquele momento simples de felicidade.
Quando chegou em casa, preparou-se para o dia seguinte com animação. Escolheu uma blusa bege de mangas curtas e um jeans confortável, deixando tudo separado para a manhã seguinte. Antes de dormir, sentou-se na cama com uma xícara de café e olhou pela janela. A cidade estava silenciosa, iluminada apenas pelas luzes suaves dos postes e pelos farois distantes dos carros.
No dia seguinte, o despertador tocou às seis da manhã. se levantou rapidamente, tomou um banho revigorante e vestiu-se com a roupa que havia escolhido. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo simples e calçou seus tênis. Antes de sair, pegou uma fatia de pão e comeu apressada, sentindo uma mistura de nervosismo e empolgação.
Ao chegar à cafeteria, Margaret já estava lá, arrumando algumas xícaras no balcão. Ao vê-la, sorriu.
— Bom dia, ! Pronta para aprender?
— Bom dia! Com certeza! — respondeu, animada.
Margaret lhe entregou um avental marrom com o logo do estabelecimento e começou a mostrar como funcionava a cafeteira profissional, explicando as diferenças entre os tipos de grãos e a importância de cada detalhe na preparação de um bom café.
Os primeiros minutos foram um pouco desajeitados, mas conforme o tempo passava, foi pegando o jeito. Aprendeu a espumar o leite corretamente, a preparar um expresso perfeito e até a fazer pequenos desenhos na espuma do cappuccino. Atender os clientes era a parte mais fácil para ela, que sempre teve um jeito acolhedor e comunicativo.
Ao meio-dia, Margaret bateu palmas, satisfeita.
— Tenho que admitir, você aprendeu mais rápido do que eu esperava! Acho que temos uma nova barista oficial.
sorriu, sentindo-se realizada. Trabalhar ali não era apenas uma questão financeira, era uma chance de recomeçar. E, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que estava exatamente onde deveria estar.

O primeiro dia de trabalho de na pequena cafeteria amanheceu com um céu limpo e uma brisa suave vinda do oceano. O som das ondas quebrando na areia misturava-se ao burburinho discreto da cidade despertando. Era uma manhã perfeita, e ela sentia um misto de ansiedade e animação ao atravessar as ruas em direção ao seu novo emprego.
Vestindo seu uniforme — uma camisa branca de botões e um avental azul claro —, se sentia confortável. Prendeu os cabelos em um coque frouxo, deixando algumas mechas soltas ao redor do rosto. Ela queria causar uma boa impressão, e ao mesmo tempo, sentir-se à vontade. Assim que entrou na cafeteria, foi recebida pelo aroma reconfortante de café fresco e pelo sorriso caloroso de Elena, sua supervisora.
— Bom dia, ! Está pronta para o seu primeiro dia? — perguntou Nina, a gerente, enquanto finalizava uma xícara de cappuccino para um cliente.
— Bom dia! Sim, estou animada e um pouco nervosa — confessou , rindo suavemente.
— Não se preocupe, vai dar tudo certo. A equipe aqui é muito tranquila, e os clientes costumam ser amigáveis. Vou te mostrar o básico antes que o movimento aumente, ok?
assentiu e a seguiu até o balcão. A cafeteria, apesar de pequena, tinha um charme especial. As prateleiras de madeira repletas de grãos de café, os quadros com ilustrações de Venice Beach e as mesas rústicas davam ao lugar uma atmosfera aconchegante. O cheiro de pães recém-assados misturava-se ao perfume do café moído na hora, criando um ambiente acolhedor.
Nina começou ensinando os detalhes sobre o cardápio, como preparar os diferentes tipos de café e as sobremesas mais pedidas pelos clientes fiéis. prestava atenção em cada explicação, memorizando os passos e pegando rapidamente o jeito das máquinas. O tempo passou rápido enquanto ela treinava o preparo de um café latte, e em pouco tempo, já estava ajudando a atender os primeiros clientes.
— Aqui está seu mocha, senhor — disse ela a um cliente sorridente que lia um livro enquanto esperava.
— Obrigado! — respondeu ele, dando um gole e fazendo um gesto de aprovação. — Está ótimo.
Ela sorriu satisfeita, sentindo-se mais confiante. Conforme as horas avançavam, a cafeteria começou a encher. Grupos de amigos se reuniam em torno das mesas, alguns turistas entravam curiosos para experimentar o café artesanal, e até mesmo moradores da região já conhecidos passavam para pegar seus pedidos habituais.
— Ei, bem-vindo de volta! O de sempre? — perguntou Nina a um senhor de cabelos grisalhos que acabara de entrar.
Ele sorriu ao reconhecê-la. — Sim, um expresso duplo, por favor.
— Saindo em um instante! — respondeu ela, sentindo uma satisfação genuína ao atender clientes frequentes.
Durante a pausa para o almoço, sentou-se na pequena varanda lateral da cafeteria, onde era possível ver o movimento das ruas e ouvir o som das ondas. Pegou um croissant e um café gelado, aproveitando o momento para respirar fundo e absorver tudo o que havia acontecido naquele dia. Sentia-se feliz. Pela primeira vez em muito tempo, não estava fugindo de nada. Estava apenas vivendo.
A loira se juntou a ela com um sorriso no rosto. — E então, como está sendo o primeiro dia?
— Melhor do que eu imaginava — disse , sinceramente. — O ambiente aqui é incrível, e eu já estou me sentindo parte da equipe.
— Fico feliz em ouvir isso. Você tem um jeito muito bom com os clientes, e aprendeu tudo muito rápido. Acho que vai se sair muito bem por aqui.
agradeceu, sentindo um calor confortável no peito. Era bom ouvir algo assim, especialmente depois de tudo pelo que havia passado. Ela olhou para a praia ao longe, onde algumas pessoas caminhavam tranquilamente, e sentiu-se, pela primeira vez em muito tempo, em paz.
O restante do dia transcorreu sem problemas. continuou atendendo, aprendendo mais sobre os hábitos dos clientes e trocando sorrisos com aqueles que voltavam pela segunda ou terceira vez no dia. Quando o relógio marcou o final de seu turno, ela retirou o avental e se despediu de Elena e dos colegas, sentindo-se satisfeita com seu primeiro dia de trabalho.
Ao sair da cafeteria, sentiu a brisa do mar acariciar seu rosto e sorriu para si mesma. Estava recomeçando, construindo uma nova rotina, um novo lar. E naquele momento, ela soube que, talvez, tivesse encontrado um lugar onde realmente pertencia.


Continua...


Nota da autora: Ansiosa para esse Universo novo! <3

Se você encontrou algum erro de codificação, entre em contato por aqui.



Barra de Progresso de Leitura
0%