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Codificada por: Fer (Lyra)

Última Atualização: 22/07/2024

Era um dia normal na vida de . Ouvira pela manhã, quando rolava pelas redes sociais brevemente enquanto esperava a filha acordar, que ele estava na cidade. A banda inglesa faria dois shows ali, em Nova York – em um só dia eles não compensariam a multidão de fãs nova iorquinas que os esperaram por tanto tempo, foi o que disse o apresentador do perfil de notícias.
Os planos dela incluíam ficar em casa, com a filha, e descansar; fazia muito tempo que não tinha uma quinta-feira livre. Matt, porém, chegara animado até a casa delas e convencera Olivia a dar um passeio, que a garotinha concordou de imediato. Os dois fizeram com que a mãe topasse também, irredutíveis.
Era um dia normal na vida de .
Até um aparente desconhecido aproximar-se dela. observava Matt e Olivia enquanto, mirando a vitrine de uma luxuosa loja de brinquedos, o homem tentava convencer a menininha de que um jipe elétrico era muito mais legal do que uma casa da Barbie.
? – o desconhecido chamou, também surpreso.
Ela virou-se repentinamente, mas o movimento pareceu ter sido em câmera lenta aos olhos dele.
–O que diabos você está fazendo aqui? – a descontração do passeio no shopping acabara. ficou tensa e respondeu rudemente. Fazia quase seis anos.
Ela olhou involuntariamente na direção da filha e de Matt, distraídos ainda com os brinquedos. Foi então que ele apercebeu-se da criança e do homem agachados atrás dela, discutindo sobre bonecas.
–Resolvendo coisas no shopping, obviamente – ele respondeu com a mesma dose de grosseria, falhando propositalmente em adereçar à pergunta que ela, de fato, havia feito – Você se casou, então, com Matthew? – perguntou, arrogante, encarando o loiro mais ao longe com desdém – Sabe que era exatamente assim que eu imaginava que seria?
Ele aproximou-se mais dela apenas para deixar claro seu desdém.

Olivia e Matt discutiam arduamente.
–Não, tio Matt, eu já falei que eu quero uma casa da... – ela começara a argumentar, mas foi interrompida por Matthew.
–Está bem, está bem, Liv! Mas o que você acha de perguntarmos a opinião da sua mãe? – os dois, concentrados na vitrine, não tinham notado o homem que falava com .
–Tá bem, tio. Mas ela vai concordar comigo! – a menininha mostrou a língua para ele e correu para a mãe – Mamãe, mamãe!

O coração de quase saiu pela boca quando ouviu a filha chamando-a. Nutria esperanças de que ela se distraísse com Matt tempo suficiente para que ela despistasse a presença indesejada.
–O que foi, querida? – respirou fundo e abaixou-se, ignorando o homem ao seu lado.
Matt observava ainda perto da loja, embasbacado e petrificado ao notar o homem à frente de .
–Quem é esse? – perguntou Olivia, desconfiada, percebendo um nervosismo na mãe.
–O é um amigo da mamãe. De muito tempo atrás. – explicou, os olhos ameaçando marejar – Por que você e o tio Matt não entram na loja e escolhem seu presente de aniversário? Mamãe já vai.
–Tá bem, mamãe. – ela sorriu e correu até Matt, que olhava preocupado para . Mesmo quando ele segurou a mão da garotinha e foi arrastado para a porta da loja, não desgrudou os olhos da amiga.
Ela apenas murmurou um "está tudo bem" para ele e pediu para que seguisse.
seguia a criança com o olhar, até que passou a mirar o vazio depois que ela cruzou o pórtico da loja.
–Não, eu não me casei com Matt. – ela suspirou, irritada – Eu e ele continuamos apenas bons amigos.
–A menina... – ele começou, semicerrando os olhos, tentando formular uma frase coerente, sem saber ao certo como continuar. Temendo, também, colocar aquele pensamento em palavras.
–O que tem a minha filha?
–Não é filha do Matthew? – foi o que conseguiu formular, finalmente.
Era exatamente onde ele deveria chegar. Era também onde ela temia que chegasse.
acenou que não, pesarosamente, de olhos fechados.
–Quantos anos ela tem? – ele perguntou adquirindo uma cor púrpura, de repente – Quantos malditos anos ela tem?
–Ela vai fazer cinco, . Não que seja da sua conta. – cortou, furiosa com a maneira como ele estava falando da filha, fazendo menção de sair – Eu preciso ir... – começou a formular, mas foi interrompida.
–Não pode ser, . – ele bufou, sem saber o que dizer – Ela não pode ser...
–Ela é, . – disse, com uma tristeza evidente nos olhos.
, então, reparou no quão parecidos eles eram. Os mesmos traços, a mesma pele pálida, os mesmos olhos azuis. A garota herdara pouco de .
–Como você pôde...? – inquiriu retoricamente, desesperadamente, levando uma das mãos à cabeça.
–Se você não se importar, preferia não discutir isso com uma celebridade no meio de um shopping. – pediu com algum sarcasmo na voz – Além disso, minha filha está me esperando.
–Ei, , você não pode simplesmente me deixar aqui depois dessa revelação! – ele bradou, frustrado, puxando-a pelo braço.
Ela olhou de seu braço para cima, para a figura frustrada e vermelha de , e retirou a mão dele de si com uma calma furiosa.
–Eu não fiz revelação nenhuma, . Agora, se você me dá licença...
–Seu cartão. – ele pediu – Para que eu possa te ligar. – continuou, tentando ficar calmo e pensar direito.
Ela cogitou contrariar o pedido, mas Olivia e Matt a estavam esperando. Suspirou resignada e abriu a bolsinha de grife que levava, oferecendo um cartão.
–Quando podemos conversar? Hoje à noite? – ele indagou, fitando os próprios pés.
–Amanhã à noite. No La Lune.
La Lune era uma conhecida rede de hotéis, cuja sede ficava, justamente, em Nova York. concordou com a cabeça, se perguntando se e como ela sabia que estava hospedado lá, e a viu desaparecer pela loja de brinquedos.




, tem certeza que você... – Matt começou, enquanto ela colocava os brincos.
–Que outra escolha tenho eu, Matt? – suspirou, mirando-se no espelho. Os longos cabelos loiríssimos estavam displicentemente arrumados em ondas, metade presos, e ela só se dera ao trabalho de passar uma maquiagem leve. Seria uma longa noite.
alisou o sobretudo bege que usava sobre um vestido de corte elegante e voltou a mirar o amigo.
–Eu não sei o que eu vou fazer, Matt, sinceramente. Mas quero pôr um fim nessa história. Ele não vai querer nada com a Liv, de qualquer forma. – ela deu de ombros.
–Você não sabe, ... Por que ele marcaria o jantar, então?
–Foi um choque para ele. Eu tenho certeza que agora, pensando bem, ele vai decidir apenas voltar a ser o ídolo das garotinhas. Não tem espaço para ela na vida dele.
–Com você falando assim, nem parece que vocês dois...
–Esse "nós dois" ficou pra trás, Matt. é agora , o delírio das adolescentes. – ela satirizou – Quero mais é que ele volte logo pra Inglaterra.
Matt deu um sorrisinho torto e um beijo na testa de , reassegurando-a.
–Olivia, tudo pronto? – inquiriu a mãe, ao que recebeu uma resposta positiva da garotinha – Obrigada de novo, Matt. Eu volto o mais rápido possível.
Matthew acomodou Olivia no banco de trás do próprio carro e acenou para , que saía em direção a sua Mercedes-Benz.
O La Lune era o lugar queridinho das celebridades nos últimos anos. Não era incomum topar com atrizes e atores de Hollywood ou músicos famosos que aproveitavam o estilo furtivo e luxuoso do hotel boutique. topou o lugar de imediato justamente porque também estava hospedado lá.
Quando o horário combinado com chegou, ele desceu a longa e imponente escadaria que levava ao refinado restaurante do hotel que refletia o mesmo estilo de art noveau do restante do lugar.
Foi até a mesa reservada numa área apartada de todo o resto, mais silenciosa e reservada, que contava com pouquíssimas mesas e atendimento exclusivo, e escolheu uma garrafa de vinho enquanto esperava pela acompanhante. Pelo tipo da reserva, pensou que ela queria mesmo era esbanjar o dinheiro de vocalista de uma banda de rock famosa que ele tinha.
chegou impecável. Deixou que um dos garçons a ajudasse a despir o sobretudo e acomodou-se na cadeira defronte a . O garçom serviu o vinho escolhido pelo acompanhante em sua taça.
–Acho que você tem algumas coisas pra me explicar, – ele falou entredentes, bebendo um longo gole de vinho depois.
–Você foi embora, e eu descobri que estava grávida. – ela deu de ombros.
–Por acaso existe telefone, e-mail, mensagem de texto. O que você preferir. – ele bufou, a veia da têmpora começando a saltar – Você poderia ter me contado!
–E o que você teria feito de diferente, ? – perguntou, ácida, sem perder a compostura – Você não podia voltar. E era impossível que eu fosse para a Ing... – a mulher loira foi interrompida.
–Você não foi com a gente porque não quis! Caralho! – ele esbravejou, não se segurando e dando um soco leve na mesa requintada.
O olhar de foi da mesa onde as taças e os talheres tremiam até alcançar os olhos do acompanhante.
–Eu não tinha como me manter lá, você sabe disso! Além do mais, eu precisava cuidar da sua avó, se você ainda se lembra dela.
–Não diga isso! – ele estremeceu em meio à raiva. As palavras de eram calmas e bem escolhidas – Não fale da minha avó – disse entredentes, bebendo mais vinho.
apenas acenou negativamente, as sobrancelhas erguidas, e chamou o garçom. Pediu seu prato favorito e mais uma garrafa de vinho. ainda arfava ao apontar qualquer coisa do cardápio quando o jovem que os atendia se direcionou a ele.
Após um longo período de silêncio em que os dois apenas bebericaram de suas taças, falou:
–Eu teria voltado, . No momento em que você tivesse me contado eu teria voltado. – disse mais para a mesa do que para a mulher na sua frente, balançando de leve a taça.
–Você não teria sido feliz se tivesse voltado, . Nós dois sabemos bem disso. – ela murmurou, encarando fixamente o homem de olhos azuis.
–E você acha que estou feliz agora, descobrindo tudo isso? – inquiriu, magoado.
–Você teria nos culpado a vida toda por não ter realizado seu sonho, . A mim e à minha filha. – pontuou a sentença com um longo gole de vinho.
–Ela não é sua filha, – a voz continha o mesmo tom magoado, os olhos brilhavam demais, ameaçando lacrimejarem e a boca seguia levemente aberta em descrença.
–Sim, ela é. Você vai ficar quantos dias em Nova York? Dois? Três? – ela debochou – Você vai voltar para a Inglaterra, . Você não deveria nem estar aqui, perdendo seu tempo falando comigo.
–Nunca passou pela sua cabeça que ela talvez possa precisar de um pai?
–Até hoje, por incrível que pareça, temos lidado bem com isso. Matt supre a maior parte.
respirou fundo, tentando se controlar. Lágrimas vinham aos olhos dele ao refletir sobre o passado e mais lágrimas ainda se formavam ao pensar em que grande vilão o futuro se tornara.
–Então além de não me contar sobre a existência da minha filha você ainda arrumou outro pai para ela? – ele bradou, irritado, dando um soco de verdade na mesa que acomodaria o jantar.
Lágrimas de raiva escorreram e ele resmungou coisas inteligíveis.
–Controle-se, , todo mundo está olhando para nós.
–Como eu poderia me controlar, , como?
–Ela não chama Matt de pai, . Ele não é pai dela. – contou, amenizando a própria provocação de antes. Só queria que as deixasse em paz o mais rápido possível.
–Ele é a única figura paterna que ela conhece, ! – a veia da têmpora estava prestes a explodir – Ela não sente falta de um pai. Não existe lugar para mim nessa vidinha que você criou para vocês.
–Matt é realmente o mais próximo de um pai que ela conhece. Não tenho o que dizer. – murmurou baixinho, focando sua atenção no prato decorado que estampava seu lado da mesa.
tentava, em vão, se recompor. O garçom que agora servia o jantar que haviam escolhido olhava de soslaio para o homem nervoso, desconfiado.
–Está tudo certo, Srta. ? – perguntou o rapaz, temeroso.
–Sim, está, Jake. Obrigada. – ela assentiu, educada.
–Como você sabia o nome do garçom? – ainda com raiva e na falta do que dizer, perguntou, curioso, ainda recusando-se a olhar para ela enquanto remexia no prato.
–Você não leu a plaquinha no avental dele, ? – inquiriu retoricamente, começando a comer.
Foram longos minutos de silêncio. Até a música ambiente parecia ter parado de tocar e o falatório no salão ao lado também parecia ter cessado. Eram só eles, o passado compartilhado e a comida. comia tranquilamente e bebericava o vinho. tinha desistido de tentar comer qualquer coisa e virava mais uma taça de vinho.
Em desespero, acendera um cigarro.
tossiu, incomodada.
–Está tentando me matar intoxicada? – reclamou, abanando as mãos para espantar a fumaça.
colocou mais vinho na própria taça, descansando o cigarro em um cinzeiro.
Displicentemente, Samatha acabara de comer, ajeitando os talheres com cuidado no prato e tomando um pequeno gole do vinho que ainda restava em sua taça.
–Por que raios você me procurou, ? – ela perguntou, sem rodeios, o vinho fazendo seu trabalho – Eu jurava que você não me ligaria ontem.
Ele tomou o cigarro entre os dedos novamente.
–Eu descobri que eu tenho uma filha! – ele exclamou, indignado, soltando a fumaça pela boca – Como eu não te ligaria, ?
–Eu não consigo engolir isso. Você é uma celebridade internacional agora, , por que você procuraria se envolver novamente com uma coisa do passado? Eu não vou cobrar que você a assuma.
, eu não sou uma maldita celebrid...’ – começou, mas ela prontamente o interrompeu.
Estreitando os olhos, uma possibilidade surgiu na mente de – Você não está aqui para me oferecer dinheiro para não contar para a mídia, está?
–O que? Por que eu...? – ele balançou o cigarro na mão, sem entender de primeira mão – Então é sobre isso. Você aceitou jantar e escolheu a melhor mesa desse restaurante chiquérrimo para me pedir dinheiro. – ele bufou, estourando repentinamente – Eu achei que você fosse diferente, , mas vocês são todas iguais!
levantou-se, púrpura de raiva, apagando o cigarro no cinzeiro e sacando a carteira. A mulher estarreceu, seu maxilar cedeu e o cenho franziu.
–Tome, ! Quanto você quer em ressarcimento por ter criado a minha filha? – ele começou a tirar notas da carteira e jogá-las na mesa. também levantara-se – Hein? Quantos dólares? – ele jogava as notas, possesso.
Os olhos dela lacrimejaram visivelmente.
–Eu não quero absolutamente nada vindo de você, . E o jantar na melhor mesa de um restaurante caríssimo é por minha conta. – ela disse, calma – Vicent, Douggie – chamou, baixinho, olhando para um dos cantos do salão.
arfava, a carteira ainda na mão. Dois homens enormes vestidos em ternos pretos apareceram, direcionando-se somente à mulher presente.
–Por favor, cavalheiros, escoltem este homem para fora, por favor – pediu, mirando as notas jogadas na mesa.
Uma a uma, as recolheu e devolveu a ele, antes que fosse levado para fora.
–Eu nunca, , nunca aceitarei dinheiro seu, ainda mais se for para criar a minha filha. Faça o favor de nunca mais voltar.
, eu... – ele, agora novamente em si, tentou – em vão – falar.
–Cavalheiros, por favor. – ela acenou e os dois conduziram para fora. desabou em lágrimas na mesa do jantar assim que saiu de sua linha de visão.
–Ei, ei – disse aos seguranças que o tratavam de forma rude – ‘Eu sou , da banda...’ – começou, mas foi rapidamente interrompido por Vicent.
–Não nos importa quem você é, rapaz. Esse hotel está cheio de celebridades. Você estava incomodando a Srta. . – disse de maneira automática – E você deve realmente tê-la incomodado, porque em todos os anos em que trabalho aqui você é o primeiro que sai dessa forma, com a própria Srta. pedindo para que você seja retirado da companhia dela. – completou, com um tom um pouco mais pessoal.
–A trabalha aqui? – perguntou franzindo o cenho, sem entender.
–A Srta. é dona do hotel, Senhor. – informou o outro segurança – Mas se o senhor, que estava jantando em companhia dela, não sabe, quem sou eu pra dizer? – ele fez piada e saiu fazendo graça com o colega sobre o vocalista.
Ele teria que acessar o hotel novamente pela porta principal. Que merda. Mas nada perto das outras merdas que tinham se sucedido desde que trombara com e sua filha no shopping.
ficou lá, embasbacado, enquanto a brisa gelada brincava com seus cabelos. Como ela podia ser dona daquele hotel?




? – perguntou Matt assustado ao abrir a porta.
Ela não chorava mais, mas o rosto ainda tinha um resquício de vermelho e os olhos grandes estavam inchados.
–Matt, vim buscar a Olivia – informou, concisa.
–Ei, o que aconteceu? Ele te machucou? – perguntou, a feição se contorcendo com preocupação.
–Não, Matt. Amanhã. Amanhã eu te conto o que você quiser saber. Agora eu simplesmente não... – ela não terminou a frase, ganhando como resposta de Matthew apenas um aceno de compreensão – Onde está a Olivia?
–Ela acabou dormindo enquanto via um filme com a Sarah... – ele sorriu de lado, indicando o sofá com a cabeça.
espiou e sorriu também ao ver a garotinha adormecida no sofá da casa do padrinho. Com cuidado, a mãe pegou-a no colo, quase se esquecendo da terrível noite que passara com o pai da menininha.
–Quer que eu a leve, ? – perguntou, prestativo.
Ela acenou negativamente com a cabeça.
–Pode deixar que eu assumo agora, Matt. – ela deu um beijo na bochecha dele – A única coisa que preciso é ir para casa. Muito obrigada por tomar conta dela.
–Você tem certeza de que não quer deixar a Liv aqui? – inquiriu, franzindo a sobrancelha loira com preocupação sobre os olhos acinzentados – Foi uma noite difícil, deixe ela dormindo aqui pra pensar direito no que aconteceu, .
–Não, Matt. Eu agradeço, mas preciso dela mais do que nunca. – sussurrou, caminhando para o carro e ajeitando a garotinha nos braços.
–Boa noite, . Fique bem.
–Obrigada mesmo, Matt. Mande um beijo para Sarah. – ela sorriu o quanto os acontecimentos daquela noite permitiam e ligou o carro.


–Matt? O que foi? – acordou num salto, atendendo ao celular. Piscou longamente, sentindo os olhos inchados por conta do choro da noite anterior, até conseguir focalizar o relógio do speaker ao seu lado. Já eram mais de onze horas da manhã.
Olivia foi o que primeiro veio à sua cabeça, antes mesmo de conseguir ouvir a resposta do amigo. Ela provavelmente já estava acordada. Desceu as escadas correndo.
Bom dia pra você também, – ele respondeu brincalhão do outro lado da linha – É o seguinte: a Sarah e eu estamos passando aí. Ela e a Olivia vão ter um dia de meninas enquanto você me conta o que aconteceu ontem. E nem pense em recusar, não é um pedido. Além de que, nós já estamos quase chegando conseguia imaginar o sorrisinho ladino de Matthew mesmo sem o ver.
–Ok, manda chuva. Vou avisar a Liv. Agradeça a Sarah, por favor.
Foi ideia dela. Você pode agradecer pessoalmente daqui a pouco.
A loira desligou e saiu andando pela casa à procura da filha. Suspirou quando a encontrou quietinha, sentada no chão sobre o tapete felpudo que o adornava, assistindo a um desenho qualquer na enorme televisão na sala de TV. Ela também tinha uma tigela com cereal no colo. se sentiu a pior mãe do mundo.
Olivia estava tão entretida que nem notou quando a mãe sorrateiramente se sentou ao seu lado e a puxou para um abraço apertado, que fez a garotinha gargalhar.
–Por que você não acordou a mamãe, Liv? – inquiriu, sentando a filha em seu colo e roubando um punhado de cereais da tigela.
–Porque eu já sou grande, mamãe. Não precisava acordar você pra pegar o cereal pra mim. Nem pra ligar a TV. – completou, orgulhosa.
sorriu com a ingenuidade da filha perante aquele descuido dela e apertou-a ainda mais no abraço.
–Ah, então você não precisa mais de mim, é? – brincou a mãe, beijando carinhosamente o rostinho de Olivia, que sorriu discordando e logo voltou a se concentrar no desenho – Querida, o tio Matt acabou de ligar dizendo que a tia Sarah vai passar te pegar daqui a pouquinho pra vocês terem um dia de meninas. O que você acha? – perguntou, acariciando os cabelos da pequena em seu colo.
–Eba! Eu vou almoçar com a tia Sarah? Você também vai, mamãe? – respondeu, sorridente, virando-se com expectativa para a mãe.
–Sim, você vai almoçar com ela, mas hoje vão ser só vocês duas, tudo bem? A mamãe vai aproveitar para resolver algumas coisas com o tio Matt enquanto isso. Ok?
–Ok, mamãe! – não precisou de muito para que ela concordasse, sorridente, deixando o colo da mãe e indo se acomodar no sofá.
tomava chá e beliscava algumas torradas quando Matt buzinou, alardeando sua chegada, e Olivia correu para abrir a porta para o padrinho.
–Tio Matt! – comemorou, abraçando-o. Nem parecia que ela o tinha visto na noite anterior. Matthew prontamente a pegou no colo.
–Oi, loirinha! – ele a beijou na bochecha – Dormiu bem?
Olivia fez que sim com a cabeça e acenou para Sarah, que entrou logo atrás do namorado, dando um beijinho na cabeça da menina.
–Bom dia, Liv! Pronta pra ter um dia de meninas? – inquiriu, de bom humor.
Sarah tinha o cabelo curto e loiro, porém de um loiro alguns tons mais escuros que o de e Olivia. Por entre os fios super estilizados adivinhavam-se mechas cor de rosa, que a menininha achava o máximo. Ela era uma produtora de moda de considerável renome em Nova York e Olivia simplesmente a adorava.
recebeu as visitas ainda com a xícara de chá na mão, escutando piadas sobre acordar extremamente tarde naquele dia.
–Liv, você ainda tá de pijama, sua dorminhoca! – constatou Matthew, encarando mais atentamente a garotinha em seu colo.
–Matt, você não quer ir lá em cima colocar uma roupa nela? – pediu a amiga, sorrindo pidona para ele.
–Vamos lá, gatinha. Vamos achar uma roupa pra você. – o padrinho se prontificou, pegando a mão de Olivia e seguindo com ela para o andar de cima.
Minutos depois, quando já havia arrumado a mochila que a filha levaria no passeio e estava apenas conversando amenamente com Sarah na sala de estar, Matthew e a menininha desceram as escadas. Ela usava um vestido bege e fofo, uma tiara grande de laço vermelho e galochas que pareciam uma toalha de piquenique, estampada de xadrez branco e vermelho.
–Galochas, Liv? – inquiriu a mãe, rindo – Você espiou pela janela, por acaso? Não tá chovendo!
–Eu gosto delas, mamãe. – Olivia disse baixinho, encarando os pés – Deixa, por favor.
só conseguiu acenar com a cabeça, sorrindo. Como recusar?
Matthew devolveu um sorriso brincalhão para a amiga, entregando-lhe um casaco que combinava com a roupa da menininha.
–Ela também fez essa carinha pra mim, não é, gatinha? – ele piscou um olho para a afilhada – E ela fica muito fofa de galocha. – admitiu ele, por fim.
A mãe não podia discordar. Olivia ficava absolutamente adorável de galochas.

Os amigos escolheram o restaurante de sempre para esse almoço, logo após Sarah ter saído para almoçar e passear com a loirinha. Era um nada refinado diner não muito longe do hotel, um dos que eles costumavam frequentar quando adolescentes.
Era um lugar com uma atmosfera acolhedora e calma e sempre que precisavam conversar mais do que curtir o lugar ou a comida, iam parar lá. Claro, eles poderiam almoçar no refinadíssimo restaurante do hotel. Ou até mesmo no café do La Lune, que era mais despojado, mas aquele lugar era sempre associado ao trabalho de ambos os amigos.
Naquele dia precisavam de um lugar que remetesse ao passado.
–E aí? Pronta para me contar como foi a grande noite? – inquiriu Matt, assim que a comida chegou à mesa, uma pitada de preocupação podia ser percebida em seu tom habitualmente calmo.
suspirou, tentando colocar os pensamentos em ordem.
–Eu só tive a confirmação de que ele é realmente um babaca completo. – decidiu-se, por fim, por aquela sentença, mexendo distraidamente o canudo dentro do copo sem conseguir encarar Matthew – Ele acabou a noite jogando dinheiro para mim, Matt. – completou depois de algum tempo, piscando para evitar lágrimas.
As feições do loiro mudaram e ele se ajeitou na cadeira com preocupação, pescando uma batata frita em seu prato.
, eu quero saber tudo. Tudo. Não vou me contentar com duas frases mal formuladas e você sabe disso. – ele arqueou uma sobrancelha loira para a amiga.
Ela suspirou mais uma vez, resignada, começando a contar todos os acontecimentos e conversas do dia anterior. Detalhadamente, desta vez.
Matt passou a língua pelos lábios, refletindo acerca das declarações da amiga.
–E agora o que não vai acontecer nunca mais na vida é ele chegar perto da minha filha, Matt. – concluiu .
O loiro contorceu-se no estofado do restaurante, tentando raciocinar.
, lembra quando eu te falei que, se por algum acaso um dia o voltasse, você teria que ter calma? – lembrou, encarando fixamente a amiga do outro lado da mesa.
–Não me venha com essa, Matthew. Ele, ele jogou dinheiro em mim por eu ter criado a minha própria filha! Isso é além do absurdo. – a mulher acenou negativamente, as duas mãos nas laterais da cabeça, os cotovelos apoiados na mesa.
–Eu imagino o quanto isso foi horrível, . E também me deixa puto, você sabe. Você sabe o quanto eu amo a Olivia e que eu nunca fui um grande fã do , mas esse lance do dinheiro parece ter sido um mal entendido. Vocês dois estavam nervosos, você achou que ele tinha te chamado para conversar para te dar dinheiro para não contar à mídia e ele achou que você estava pedindo dinheiro por ter criado a Liv. , a atitude dele foi ridícula, mas eu tenho certeza que tem mais nessa história – considerou Matt, sério – E antes que você me interrompa, eu só estou dando um voto de confiança dessa vez porque por quais outros motivos ele teria te convidado para jantar e saber da Liv?
–Não sei, Matthew, eu não sei. E sinceramente não quero saber. Eu sei que dei uma chance e ele fodeu tudo. Fazia mais de cinco anos que não tínhamos contato nenhum, droga, e é assim que ele age? – exclamou, pesarosa, evitando que lágrimas fujonas escorressem por seu rosto. Desviou o olhar, tentando, em vão, fazer com que o amigo não notasse seus olhos marejados.
–Eu não to dizendo pra você perdoar ele ou algo do tipo, . É só que uma hora ou outra você vai ter que encarar o fato de que o pai da Liv existe e anda por aí. Ou, no caso, por aqui, em Nova York. Ele agiu mal e muito mal, mas como eu também já te disse em algum lugar do passado, ele não sabia de nada disso. Deve ser um baque muito grande descobrir que tem uma filha de quase cinco anos. – argumentou Matthew, fazendo a loira perder o semblante de raiva e ficar repentinamente sem expressão – Ainda mais com toda a história de vocês, .
Ela deu uma mordida demorada no hambúrguer em sua mão, mais preocupada em pensar do que em comer; tentava resistir, mas os olhos insistiam em marejar. Respirou fundo, deixando o hambúrguer de lado. Matt segurou a mão dela sobre a mesa.
–Pensar na história toda é o que me deixa mais triste sobre a noite de ontem, Matt. – ela sorriu fraco, mordendo o lábio inferior – O que eu conhecia teria vindo atrás de mim incessantemente depois do que aconteceu. É o que eu te disse: ele só queria garantir que a imagem dele fosse preservada, não queria nada com a Olivia. – ela não pretendia admitir aquilo em voz alta e doeu mais do que podia imaginar. Deixou-se, então, derrubar algumas lágrimas teimosas.
Não importava o que Matt dissesse quando não havia iniciativa nenhuma do próprio . Era triste aceitar que ele tinha se tornado uma pessoa completamente diferente da que ela costumava conhecer bem no passado. Naquele momento, apenas desejava nunca ter reencontrado o homem. Permanecer na ignorância das atitudes dele teria sido mais feliz.
Terminaram de comer em silêncio, Matthew e . Algumas lágrimas ainda escorriam enquanto a loira dava as últimas bocadas no sanduíche.
Pagaram a conta e seguiram para o carro de Matt, estacionado na rua de trás.
, por favor, não chore mais. – pediu o loiro, parando no meio da calçada para encarar a amiga – Você já chorou o suficiente quando ele foi embora.
–Eu sei, Matt. Naquela época eu chorava por nós dois, por saber que não iríamos mais estar juntos. Agora o que me pega é a Liv. Não somos mais só nós dois nessa história. – ela respondeu, alisando, nervosa, as calças e incitando Matt a seguir em frente até o carro.
jogou sua bolsa para o banco de trás assim que entrou no carro do amigo, num gesto típico. Matt, ao invés de logo ligar o automóvel, tirou o celular do bolso ao ouvir um bip. Ele abriu a foto que Sarah lhe havia enviado e sorriu.
–Olha, – cutucou a amiga, entregando o celular para ela – Parece que essas duas estão se divertindo.
Em uma das fotos, Liv se lambuzava com um mini hambúrguer, o entorno da boca sorridente todo sujo de milk shake. Na outra, Sarah e ela mostravam as unhas pinks idênticas, fazendo careta para a câmera.
sorriu verdadeiramente.
–A Sarah é demais. – concluiu ela, devolvendo o telefone ao amigo – Ah, Matt, me deixa no hotel, por favor? Preciso olhar uma papelada que deixaram lá. – pediu, recebendo um “sim, senhorita” bem humorado como resposta.
pausou ao ouvir um barulho de celular tocando.
–A Sarah outra vez? – perguntou, espiando para o lado de Matt, que guardava o próprio celular no bolso.
–Não. Acho que é o seu, . – concluiu, apertando finalmente o botão que ligava o motor.
se contorceu toda até conseguir alcançar a bolsa jogada no banco de trás do carro. Era um número desconhecido, mas, como era seu telefone pessoal, atendeu mesmo assim.
–Olá? – disse para o aparelho ao mesmo tempo em que gesticulava para Matthew que podia seguir com o carro enquanto ela falava ao telefone.
? – a voz rouca e pesarosa que soou do outro lado da linha causou um frio na espinha da mulher. Ela empalideceu.
Matthew encostou o carro novamente quando viu a face lívida da amiga. Ele sussurrou um “é ele?” para , recebendo um aceno positivo como resposta.
–Porra, o que você ainda quer? – devolveu, ácida – Eu nunca te dei meu número pessoal, .
Não importa como eu consegui. Precisava falar diretamente com você. Agora. Eu quero conversar. – ele disse, parecendo exponencialmente mais desesperado a cada frase – Por favor.
–Em que mundo você acha que merece uma outra conversa, ?
Por favor, se encontre comigo hoje de novo. – pediu novamente, baixo, como se estivesse sem forças – Eu não vou tomar muito do seu tempo.
–La Lune. Você tem quinze minutos. – ela decidiu, sob o olhar aprovador do amigo ao seu lado, que era melhor resolver isso de uma vez por todas.

dessa vez usava preto, uma maquiagem combinando. Muito mais a mulher dona de uma rede de hotelaria em ascensão do que a garota que se sentira quando estivera com da última vez.
Também não queria demorar-se muito esta noite. Prometera à garotinha que voltava cedo para casa. Por esse motivo, pedira adiantadamente vinho; não daria a ele o tempo de um jantar.
Ela já esperava com o vinho balançando de leve na mão quando ele chegara, todas as defesas prontas. acabaria com aquilo de uma vez. Ela e Olivia não mereciam. Quando se aproximou, a mulher encarou-o com um brilho de raiva no olhar. A única coisa que restou a ele fazer foi abaixar os olhos e suspirar, colocando as mãos nos bolsos.
Esta noite era quem parecia ter saído do passado, se não fosse pelas roupas caras. O cabelo estava bagunçado como ela lembrava; o blazer de grife meio caído, meio amassado, a camisa fechada sem preocupação nenhuma.
, contudo, estava irredutível; o ar pomposo, superior. Usava um colar de diamantes que custava anos de salário, sapatos altos e elegantes e o cabelo cuidadosamente ajeitado em um coque alto e bem preso.
Agora podia ver quem realmente se tornara. Nesta noite ele conseguia ver de quem os seguranças estavam falando; não era a mesma pessoa que ele conhecera.
, boa noite. – ele cumprimentou com a cabeça, puxando a cadeira. O olhar permanecia baixo e perdido.
–Boa noite, . – ela acenou firmemente com a cabeça com indiferença.
Um garçom se apressou a encher a taça pertencente a .
–Srta. . – o garçom cumprimentou – Senhor – voltou-se para o homem – Gostariam de fazer o pedido?
–Não se preocupe, Julian, não vamos jantar hoje. Será uma conversa rápida. – disse mais para o acompanhante do que para o funcionário.
–Estarei aqui, se precisarem. – o jovem se prontificou e saiu sorrindo para a chefe.
... – ele começou, arrependendo-se de chamá-la pelo apelido – Eu não sei o que dizer. Me perdoe. – ele pediu, sem coragem de encará-la – Eu não sabia... Você não me disse que era dona deste hotel!
–Eu não precisava ter dito. Não importa quem eu sou, ou dona do que, . – ela pontuou, o ressentimento tomando conta da voz – Você acha mesmo que os dólares que você jogou na mesa pagariam qualquer coisa que fosse relacionada à minha filha?
–Pelo amor de Deus, , me ouça! Eu tinha bebido demais, estava nervoso... Eu passei a noite anterior e esta em claro, pensando em tudo isso. Eu jamais poderia imaginar que ia chegar aqui e... – ele suspirou, desistindo perante o olhar de desdém dela.
–Eu não ligo pra nada disso, , absolutamente nada. – ela bebericou o vinho – Eu só aceitei vir até aqui para pôr um ponto final nisso. Faça seus shows, voe de volta para a Inglaterra e não nos procure. Rasgue meu cartão, delete meu número. – ela instruiu, os olhos ardendo em lágrimas. Não sabia mais se eram de raiva ou tristeza.
, por favor... – ele pediu, mordendo os lábios – Você não sabe o quanto eu estou arrependido por ontem. Eu estava irritado e confuso, eu queria que você sentisse o mesmo que eu estava sentindo, a mesma frustração. Eu queria que você sentisse o que tinha feito a mim ao escondê-la. – admitiu, fechando os olhos e suspirando.
, você teve escolha ao ir embora. Eu não. Não me culpe como se fosse eu quem tivesse ido para a Inglaterra em busca do meu sonho e a escondido lá. Eu estive aqui o tempo todo. – ela bebeu um gole longo do vinho, limpando uma lágrima que escorrera ao virar a taça – Tanto que me encontrar foi ridiculamente fácil. Tudo o que você precisou foi ir ao shopping.
Ele suspirou, sem jeito, olhando para as mãos no colo; mordeu os lábios.
–Eu queria ter sabido sobre ela. – foi o que ele encontrou dentro de si para dizer, sem fitar a acompanhante.
–Eu realmente não te entendo. Você é uma maldita celebridade, , jogando dinheiro nas pessoas como se você fosse a única pessoa no mundo a tê-lo. Não sei por que você está atrás da minha filha. – disse com os olhos marejados e um semblante de dor – Eu não conheço você, e não quero esse tipo de pai para a minha filha.
calou. Apoiou os cotovelos na mesa e afundou a cabeça nas mãos. O salão todo girava aos seus olhos. Nada fazia sentido. ali, vestida como a grande empresária que agora era. Ele, usando aquelas malditas roupas de grife.
Não parecia que eles se conheciam há tanto tempo, que conheciam um ao outro tão bem, que tinham sido amigos antes de qualquer romance, que se amavam antes de se darem conta.
Quando ergueu os olhos para encará-la, eles estavam vermelhos. mordia desesperadamente o lábio inferior.
–Como você não me conhece, ? – perguntou, num sussurro indignado, limpando a garganta depois – Nós fomos praticamente criados juntos! Eu sou a mesma pessoa, em cinco anos eu não…
–O que eu conheci jamais faria o que você fez ontem. – ela interrompeu, encarando-o de volta com olhos brilhantes – Eu conhecia o garoto que cresceu comigo, o , me perdoe. Não conheço.
–Eu sou a mesma pessoa, ! Para você, eu nunca serei , eu...
–Você foi ontem. Na primeira vez que pudemos realmente conversar durante todos esses anos você fez questão de deixar claro quem você era agora e o dinheiro que você tinha. Não é isso que eu quero ou ensino para minha filha.
–A noite de ontem vai me perseguir pelo resto da vida – ele admitiu, brincando com os próprios dedos sobre a mesa luxuosa – Mas eu não sou assim, . Eu continuo sendo a mesma pessoa.
–Quem dera você fosse, . E quem dera você tivesse usado seus milhões pra falar de outro assunto que não fosse a minha filha. Aí, talvez, eu tivesse entendido e te perdoado.
–Eu não espero o seu perdão, . Eu tenho noção do quão chateada você deve ter ficado. Mas eu quero que você entenda o quanto eu quero conhecer a... – ele parou, de súbito, o maxilar cedendo – Eu sou um bastardo filho da puta. Você tem razão. Eu não sei nem o nome da minha filha.
mordeu o lábio e lágrimas vagarosas dominaram seu rosto alvo. Todo o autocontrole que ela reservara para esta noite se esvaíra. Como eles tinham chegado naquele ponto?
–Eu nunca imaginei que chegaria o dia em que nós teríamos uma criança juntos e eu não soubesse de absolutamente nada. Nem o dia do aniversário. Nem a aparência ao certo. Nem o nome. – ele riu ironicamente, descrente – A que ponto nós chegamos, .
Ela começou a soluçar desesperadamente perante a segunda fala de . Aquele era seu calcanhar de Aquiles. Ele estendeu a mão para alcançar a dela sobre a mesa, os dois chorando juntos.
–Por que você não me contou, ? – perguntou mais uma vez naquela noite – Olhe o que nós nos tornamos!
–Você teria voltado, . – ela afirmou, limpando os olhos com um guardanapo de pano do colo – Mas não de bom grado. Teria desistido de todo o seu sonho por nós; e não foi fácil até aqui, como você pode pensar. Eu me tornei o que você ouviu falar há pouquíssimo tempo, ainda é novidade para nós. Criá-la foi difícil, e eu tinha medo que você passasse o resto da vida infeliz e nos culpando. Eu escolhi, .
O rosto dele contorceu-se mais em dor. Ele sabia ser verdade, sabia tanto que chorou mais, apertando forte a mão da mulher sob a sua.
–Você fez bem em ficar com Matthew. Ele cuidou melhor de vocês duas do que eu jamais sonharia em cuidar.
–Você sabe que não há nada entre Matt e eu, apesar de ele ter sido realmente incrível durante todos esses anos.
–Como não há nada entre vocês, ? Ele cria a sua filha! A nossa filha. – ele praguejou, soltando a mão pequena de .
–Matt é um amigo maravilhoso, e também é meu sócio no hotel. Você sabe que ele teve uma fase quando a gente era mais novo, mas foi tão ridículo que rimos disso até hoje. E ele não cria Olivia, . Matt é apenas o padrinho dela. – puxou a mão dele de volta, a dela ficando por cima dessa vez, falando calmamente pela primeira vez na noite.
–Olivia? – perguntou, confuso pelas emoções, sem conseguir raciocinar direito para compreender a frase.
–Minha filha. – ela abriu um sorriso leve ao mencionar a garotinha.
–O nome dela é Olivia? – inquiriu mais uma vez, emocionado, focando sua atenção integralmente na mulher à sua frente.
–Não poderia ter sido nenhum outro. – ela acariciou a mão de , limpando uma lágrima.
–Vovó chegou a conhecê-la?
–Não. E eu não teria nem contado a ela sobre a gravidez se ela não tivesse percebido. – sorriu com as lembranças, mas falava com tristeza.
–Por quê?’ – perguntou, franzindo o cenho.
–Ela estava muito doente, . Não tinha que ter mais uma preocupação. E eu achei que ela te contaria mesmo contra a minha vontade, o que ela não fez. Dona Olivia sabia das coisas, e ela sabia que era o melhor não te contar.
–Vovó concordou com isso, ? Não vejo como.
–Ela concordou porque era o que eu tinha decidido e porque ela sabia quais seriam as consequências da sua volta precoce. Desculpa, , mas eu não estava disposta a pagar por elas. Nem a deixar que Olivia pagasse.
–Por isso ela te deixou o hotel... – ele comentou retoricamente, ligando os pontos em sua cabeça.
–Sobre o hotel... – começou, usando a máscara de mulher de negócios que devia ter sido feita para reuniões administrativas – Ele está no seu nome, . Eu passei para seu nome quando as reformas terminaram. Você era o herdeiro oficial da sua avó.
–É este mesmo o antigo hotel da vovó? – perguntou, olhando em volta. Recebeu uma confirmação de – Eu sabia que ficava nesta rua quando decidimos ficar no Tribeca, mas achei que tinha sido demolido. Está tudo tão diferente por aqui. – disse, encantado e surpreso – O hotel é seu, , você investiu dinheiro nele, não é justo.
–Este hotel é a sede da rede La Lune, mas é o único no qual o Matt não tem parte. Comprei a parte dele para poder passar para o seu nome. Eu usei o que sua avó me deixou para me sustentar e sustentar a Olivia; agora que estamos estabilizadas, estou devolvendo o que é seu, . O jurídico deixou tudo pronto para quando houvesse uma oportunidade, eu te passo os contatos depois.
, o hotel é seu, eu não quero nada. Minha avó o deixou para você, não para mim, e foi merecido. Eu não cuidei dela até o fim como você, nem estive aqui, na verdade. Não vim nem para o funeral. Você merece isso.
, você é neto dela, eu não era nada. Ela teve que alterar o testamento para conseguir acertar isso legalmente.
–Você foi muito mais neta dela do que eu desde que você e seu pai chegaram aqui, .
–Bem, o dia em que você quiser reclamar o hotel, lembre-se de que ele é seu. – finalizou, dando de ombros.
–Você acha que há... Que há alguma possibilidade de eu conhecer a Olivia? Não consigo imaginar voltar para a Inglaterra sem ao menos vê-la... – considerou calmamente, encarando a mulher nos olhos ao mesmo tempo que analisava suas reações.
... – ela começou, afastando a mão da dele cuidadosamente.
–Por favor, . Eu sei que não estou em condições de pedir nada, mas como eu vou poder ficar mais cinco meses em turnê sem sequer tê-la visto de perto? Eu prometo que não vou fazer nada que possa magoá-la, ou você...
–Você já magoou o suficiente, . Eu tenho medo que você tenha um surto como o de ontem na frente dela, eu não conseguiria... – foi interrompida por um embasbacado.
A expressão dele era de dor; os olhos arregalados, ameaçando marejar.
–Eu só quero poder vê-la, . – ele suspirou, passando uma das mãos pelos cabelos há muito desalinhados – Eu nunca faria nada que machucasse nenhuma de vocês duas. Espero que algum dia você possa me perdoar por ontem.
, o que eu preciso que você entenda é que tudo mudou muito, nossas vidas mudaram muito; você mudou muito. Como eu posso confiar em alguém que conheci há apenas...? – ele interrompeu-a novamente.
–Não ouse dizer isso, . Não como se nós não tivéssemos namorado por anos, ou como se não nos conhecêssemos a vida toda. Hipocrisia não lhe cai bem. – ele pediu de forma brusca, mas uma lágrima solitária ousou escorrer pelo maxilar trincado de raiva.
–Eu não estou sendo hipócrita, ! Eu só não posso deixar você se aproximar de Olivia para machucá-la indo embora, como fez comigo. Eu tenho medo que ela goste de você, . Você vai embora em alguns dias, qual o propósito disso? – desabafou, enterrando novamente o rosto nas mãos. As lágrimas traçavam um caminho de manchas vermelhas pelo rosto alvo.
–Eu tenho uma filha, o que você espera, ? Que eu simplesmente finja que não sei e volte correndo para a Inglaterra? – inquiriu em resposta, magoado e ferido – Eu não posso voltar sem conhecê-la... Isso tem me deixado maluco, eu preciso vê-la, .
–Vocês são parecidos demais, ... Fora todo o resto, não quero que a vida dela vire de cabeça para baixo porque o pai dela é uma celebridade. Essa é uma questão que precisa ser planejada com calma, preciso pensar melhor sobre as consequências de tudo isso… Não faria nada bem para sua carreira, além do mais, e o Thomas ficaria doido com isso.
–Me perdoe por ser uma celebridade, . Se eu soubesse que custaria tudo isso, nunca teria saído daqui. – ele ironizou, mas o semblante chateado remanescia – Os meninos também sentem sua falta, sabe? Até o Tommy. Eles não têm nada a ver com Olivia, e eu não quero prejudicar nenhuma de vocês com isso... Mas quem sabe se ela não soubesse que eu... Que eu sou o... Pai dela. – ele experimentou falar a palavra, e sorriu de leve com a sensação – Não me importa agora, se eu puder conhecê-la.
–Está bem, , está bem. Vou buscá-la na casa do Matt assim que sairmos daqui, se você quiser vir junto.
Ele não respondeu, apenas sorriu o sorriso mais radiante que já vira.
–Obrigado, . – foi tudo que ele disse, limpando uma lágrima fujona – É tão difícil estar aqui com você, sabe, e nós dois vestidos com essas estúpidas roupas de grife, nos tratando como se tivéssemos sido apenas conhecidos durante a vida toda... Eu realmente preferia você usando meu moletom em qualquer armário do hotel da vovó. – admitiu, sorrindo triste – Eu não sou a celebridade egocêntrica que você acha que eu me tornei.
Ele beijou com carinho as costas da mão da mulher ao final da frase. não conseguiu controlar o choro. Os pensamentos a levavam para um passado simples, feliz e distante.
–Eu também preferia, ... – ela suspirou longamente, segurando firme a mão de contra a sua – Eu passei tanto tempo, todos esses anos, tentando fugir do tempo feliz que a gente viveu. Mesmo com Olivia como prova, eu consegui. Mas agora, com você aqui, é simplesmente impossível... – desabafou, passando a mão sobre o rosto avermelhado.
limpou as últimas lágrimas com um movimento do dedão, ainda a uma mesa de distância da companheira de jantar.


Continua...


Nota da autora: Oies! Primeiramente, muito feliz em retornar para o mundo das fics. Escrever aquece meu coração e alimenta minha alma, além de ser um prazer poder compartilhar um pouquinho dessa paixão com vocês. Essa foi minha primeira fic interativa, diretamente de 2015 (não acredito que faz quase 10 anos!) e tá sendo uma alegria enorme voltar pra ela. Essa história nunca saiu da minha cabeça e agora é um ótimo momento para ela voltar pro mundo <3 espero que vocês gostem, também, e que compartilhem comigo o que acharam, estou ansiosa!

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