Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 24/03/2025.— , o que aconteceu? — questionou, encostando seu ombro no armário ao lado do dela.
— O quê? — Ela o encarou, enquanto pegava o livro da próxima aula. Ele arqueou as sobrancelhas como se dissesse é sério? A menina apenas suspirou e balançou a cabeça negativamente. — Desculpa, eu não estava prestando atenção, mas não é nada.
— Sua próxima aula é de física.
— Eu sei que minha próxima aula é física. — bufou. — Por que você…
Em vez de responder, Steve apontou para o módulo em suas mãos com um sorrisinho convencido. franziu o cenho em confusão, mas suas dúvidas cessaram assim que ela colocou os olhos no livro de história que segurava.
— Isso não prova nada. — revirou os olhos com teimosia, o que, normalmente, teria sido o suficiente para distraí-lo de tudo, entretanto, sua aflição estava crescendo cada vez que ela se esquivava.
— É claro que não — ele zombou, sendo ignorado pela garota à medida que ela trocava os livros. Steve suspirou, pousando as mãos sob os braços dela com delicadeza. — , o que aconteceu? — Sua pergunta estava oca de curiosidade e repleta de preocupação.
Aquilo conseguiu desarmá-la, como sempre. Seus olhos castanhos e o cuidado genuíno que Steve tinha pelas pessoas sempre conseguiam quebrar qualquer parede que ela subisse entre si mesma e ele.
— É besteira.
A resposta dele chegou sem hesitação, tão certeira quanto um míssil:
— Não é besteira se te chateia. — As mãos dele ainda não deixaram de tocar a pele dela, e Steve sentiu as pontas dos seus dedos formigarem. Ele gostava disso, gostava de como se sentia quando a tocava. — Está bem. São meus pais, só não quero conversar sobre isso aqui.
Foi necessária toda sua força para se afastar dela, mas ele o fez com um sorriso em seu rosto, simplesmente porque ela ainda estava ali.
— Tudo bem, eu vou à sua casa hoje à noite.
— Steve, qual é? — Ela riu, trancando o armário com o livro certo em mãos dessa vez. — É quinta, meus pais…
— Nem vão saber que eu estive lá, eu sou como um ninja — prometeu, imitando movimentos que deveriam se assemelhar a golpes ninjas, mas se pareciam com uma dança robótica. — Não é a primeira vez que subo pela sua janela.
contorceu o nariz.
— Do jeito que você diz, parece que estamos namorando escondido.
Ela riu da ideia, embora tudo que Steve queria dizer fosse: isso seria tão ruim assim?
Assim, era bom que Tommy e Carla aparecessem, porque ele não achava que seria capaz de não dizer isso.
— E aí, pombinhos? — Tommy cumprimentou os dois com um sorriso malicioso. Apesar de saber que Steve ainda não tinha tomado uma atitude, ele tentava não-tão-sutilmente empurrar os dois juntos com insinuações estúpidas. O rei do colégio de Hawkins com problemas para pegar uma garota era um prato cheio e inesperado para provocações. E renderia 20 dólares para ele caso seu amigo não tomasse iniciativa antes do final do ano. Apostas com a Carla eram as melhores. — Temos um problema.
— O babaca do Tommy quer assistir um filme babaca na sexta — Carla anunciou, mascando seu chiclete de menta rotineiro.
— Não é um filme babaca, é uma história sobre assassinato! — seu namorado exclamou, como se tivesse sido ofendido.
— É um carro assassino, é babaca. — Ela soprou uma bolha de chiclete e pocou. — Então, o que vocês dois preferem: Christine, o carro assassino, ou Negócio Arriscado?
— Eu não posso ir ao cinema essa sexta — respondeu, antes que Steve pudesse, ganhando olhares questionadores dos amigos.
Steve se prontificou em transmitir as expressões confusas em palavras:
— Por que não?
— Eu vou sair com o Jonathan. — Ela deu de ombros, bufando ao encontrar três rostos surpresos. — Eu disse isso para vocês ontem!
— Pensei que era uma piada, ele é tão…
— Legal. — Ela interrompeu a voz maldosa a amiga. — Ele é legal.
— Tanto faz. — Carla mastigou o chiclete um pouco mais antes de responder. — Podíamos fazer um encontro triplo!
— Isso é uma boa ideia! Steve queria chamar a Nancy para sair. — deu uma cotovelada em Harrington, que continuava quieto.
Ela ia sair com a porra do Jonathan?
— É, só que os primeiros encontros com o Steve Harrington são apenas com o Steve Harrington. — Deu uma desculpa, vestindo um sorriso de lado. revirou os olhos, apesar do pequeno sorriso em seu rosto.
O sinal estridente se intrometeu na conversa, sinalizando que era hora de todos irem para as suas respectivas classes.
— Se eu me atrasar de novo, o senhor Sprink me mata. — Carla revirou os olhos, dando um selinho em Tommy antes de se afastar.
— E eu vou fumar, quer dizer, aula de sociologia. — Tommy riu de si mesmo, acenando enquanto andava para o lado oposto da sua aula. — Até, babacas.
Assim que eles saíram, encarou-o.
— Umas oito hoje?
— O quê? — Steve piscou, ainda atordoado com a notícia anterior.
— Você disse que ia passar…
— É, eu sei. Eu sei. — Ele assentiu, adicionando quase que inconscientemente: — Certeza de que não quer chamar o Jonathan?
Para a sua sorte, tomou aquilo como uma provocação, rindo e batendo em seu ombro de leve enquanto caminhava até a sua classe.
— Cala a boca!
— Só dizendo, já que está tão apaixonada por ele… — Steve entrou na brincadeira, apesar de sentir como se pudesse vomitar a qualquer momento. E se ela estivesse apaixonada por ele?
— É só um encontro, idiota. — Ele suspirou aliviado, ela não notou entre seu riso. — É bom trazer pizza.
E é claro que ele levou. De queijo, com bastante ketchup e mostarda, mesmo que ele odiasse o cheiro daquela coisa amarela. Parecia o melhor encontro do mundo, com a pizza favorita de e a pessoa preferida de Steve Harrington.
Ele se apressava pela casa, o quarto toque ecoando na solidão de belos e caros cômodos. Steve chegou ao telefone no quarto toque e atendeu com um sorriso.
— Alô? — ele perguntou, quase sem ar pela corrida do andar de cima até a cozinha.
Não era a sua mãe, quem dirá o seu pai que estava do outro lado da linha. E se fosse qualquer outra pessoa, isso tiraria o sorriso do rosto dele e colocaria uma carranca, além de render reclamações e choramingos por muito tempo até ele conseguir ir dormir. Só que não era qualquer pessoa.
— Acordado a essa hora? — riu, e ele checou o relógio pela primeira vez desde que acordou no meio da noite, animado e ansioso por talvez não ter que jantar sozinho no dia seguinte. — Esperando o telefonema de alguma garota?
— A garota que eu queria já me ligou — ele disse honestamente, apesar do tom brincalhão em sua voz. Claro que ela tomou aquilo como uma piada, como um flerte que ele não quis dizer seriamente.
— Cuidado, a Nancy pode ficar com ciúmes — ela brincou de volta, e Steve sabia que não devia tentar ler nas entrelinhas, porque elas estavam vazias e ele só acabaria inventando palavras para se machucar com elas mais tarde. Assim, ele só deu de ombros, apesar de ela não ver, e respondeu:
— Nancy é bem legal, diferente das outras. — Ele não estava mentindo. Nancy era incrível, divertida, inteligente e, por trás da obsessão em seguir as regras, espontânea. Steve encarou o azul da piscina através da janela da cozinha, dando um sorriso ao se lembrar dele e Nancy nadando de roupas apenas um dia atrás. Ela era maravilhosa. — Mas…
— Mas o quê?
Mas ela não é você.
— Mas eu quero saber do seu encontro com o estranho do Jonathan.
— Qual é? Ele não é tão estranho assim. — Ele arqueou as sobrancelhas, e quase parecia que ela podia ver sua expressão, já que logo respondeu: — Só um pouquinho.
— Então?
— Eu não acho que devia dar trabalho, sabe? Quer dizer, devia dar um pouco de trabalho…
Ele enrugou a testa, mais confuso do que quando a conversa começou.
— O que quer dizer?
— Relacionamentos — disse, como se aquela palavrinha explicasse tudo. Quando recebeu apenas um "ah" em concordância, ela continuou: — Eu acho que a expectativa dos relacionamentos é melhor do que a realidade.
— O Jonathan fez alguma coisa com você? Ele te machucou? — Steve disse instintivamente, pronto para pegar o carro e dirigir até a casa daquele babaca e bater nele se fosse necessário.
Ele sabia que podia se defender muito bem, ainda assim, ele não iria deixar ninguém a machucar, de nenhum jeito.
— Não, não. Não é isso. Assistimos Jaw 3.
Sua resposta o tranquilizou e sua mão, que ele nem notou que estava semicerrada, abriu com facilidade. Ao menos uma mancada no primeiro encontro e não um problema significativo.
— Você odeia filmes de tubarão — disse quase que instantaneamente.
— Eu sei.
— Por que não disse a ele?
— Eu disse. Ele achou que eu estava com medo. — Quando Steve piscou, ele quase pôde assistir o rosto dela se formando na parte de trás da sua mente, como um filme em um telão de drive-in, a feição que ela estava exibindo. Porém, ao abrir os olhos, era só ele em sua casa vazia.
— Babaca — Harington comentou distraidamente, consciente de que seu problema com filmes de tubarão estava longe de um medo irracional (aquele troféu era para os filmes de macacos, especialmente Planeta dos Macacos), mas, sim, de uma série de maratonas enjoativas com seus irmãos mais novos.
A linha ficou muda por um momento, e ele decidiu abrir a geladeira e tirar um suco. A voz de só ressoou quando ele estava quase terminando o copo.
— Eu só estava pensando em toda essa coisa de conhecer alguém…
— Às duas da manhã — ele implicou, em um tom de voz divertido.
— Sim — ela zombou em retorno, entretanto, parecia se dar conta do horário de repente. — Esquece, eu devia te deixar dormir.
— Eu te disse que podia me ligar quando quisesse e quis dizer isso. — Foi tudo que Steve respondeu, sinceridade em carne viva quando conversava. Ele trocou o telefone de ouvido, se sentando na bancada. — O que você está pensando?
Ela suspirou antes de continuar.
— Eu sei que é só um primeiro encontro bobo e ele não precisa saber tudo sobre mim, mas conhecer alguém de verdade dá tanto trabalho, e todo o resto de um relacionamento dá mais trabalho ainda.
— Você quer um relacionamento com o Jonathan? — Ele piscou, tentando entender o que estava dizendo e ser um bom amigo, apesar da sua pele estar queimando e todo o seu corpo parecer doer ao pensar nela com outra pessoa, ao pensar nela amando outra pessoa. Steve se afastou um pouco do telefone, respirando fundo antes de pressioná-lo contra o seu ouvido e bochecha. Se ela estava feliz, então ele também iria estar. Simples.
— Não, acho que não. — Uma sensação de conforto o segurou. Steve se apegou a isso. — Eu só queria que relacionamentos fossem mais fáceis.
— Acho que tem que dar trabalho.
— Sério?
— É. — Ele assentiu para si. — O tipo de trabalho bom, não o tipo do trabalho dos meus pais ou os seus.
— Eles ainda não chegaram? — Ela suavizou a voz, e ele deu uma risada anasalada.
— Não, e não tenho ideia de quando irão.
— Sinto muito.
— Tudo bem. — Dessa vez, sua voz soou mais terna. — E os seus pais?
— Ainda brigando todo dia. — Ela deu uma risada anasalada. — Ainda bem que um cara com cabelo bonito me deu um cassette player.
— Tem outro cara com cabelo bonito? Eu tenho que dar um soco nesse idiota.
Ela riu, uma risada de verdade e não aquela que os dois davam para cobrir o desconforto de conversar sobre aquele tipo de assunto, o tipo de assunto que cortava até o osso. Ela riu, e isso causou um riso real nele também. Eles sempre riam depois de compartilharem algo que doía, como crianças que assinam seus nomes no gesso de alguém com um osso quebrado. Uma pequena lembrança de que não era tão ruim, de que não estavam sozinhos.
— O que você acha que é o tipo de trabalho bom? — perguntou, depois de alguns minutos. Ele pensou um pouco.
— Conhecer alguém de verdade sem achar um saco — Steve contou, parecendo bem satisfeito com sua conclusão. — Aprender só porque você quer saber.
— Parece bem legal — ela concordou, com um ar sonhador, com expectativa. — Ainda estar interessado depois de conhecer assim.
— É bem legal.
Não leia as entrelinhas, Steve. Só tem papel em branco.
— Você já conheceu uma pessoa assim?
— Só uma vez, já.
— O sol está aparecendo — ela anunciou, com outra pergunta ardendo em sua garganta. Ele virou a cabeça, notando o céu em tons laranjas e dourados, prestes a puxar o sol para o seu lugar. Imaginar o rosto dela na parte de trás da sua mente ainda era mais bonito do que isso. — Obrigada, Steve.
— Pelo quê? — Ele piscou, um pouco desorientado.
— Por ter me conhecido.
Em sua defesa, o babaca mereceu.
— Qual é o seu problema? — ele esbravejou, como um cachorro irritado após morder o dono.
Aquilo só deixou Steve com mais raiva.
— O meu problema? Isso é sério, cara? — Riu com ironia, passando a manga da camisa no nariz. Não doía (obrigado, adrenalina), mas iria doer depois. — Para de ser um babaca.
— E por que eu sou um babaca? — Jonathan sorriu com escárnio, seus dentes manchados de vermelho dando um ar macabro ao ambiente festivo. Até a música tinha sido pausada em prol da briga.
— Cara, só pede desculpas — Steve advertiu, dando a chance de resolver aquilo de outro jeito.
— Desculpas por falar a verdade? — O cheiro de álcool emanava de todos os cantos da casa, mas principalmente de Jonathan. — A puta…
Aquilo era o suficiente.
Steve o atacou com uma força descomunal, empurrando o menino contra a parede e o segurando pela gola da camisa. Seus olhos resplandeciam fúria cega, seus punhos quase brancos por conta da pressão em sua camisa. Ele parecia um animal enjaulado, que conseguiu fugir do circo e estava prestes a atacar quem o tinha colocado. Assim como em todo espetáculo, a plateia acompanhou os movimentos com euforia, animados pelo que estava prestes a acontecer.
— Termine. A. Frase — ele rosnou, sua calma sendo apenas um apelido para frieza. — Eu disse termine a sua frase.
Orgulhoso demais para recuar aos olhos de um respeitável público, Jonathan simplesmente retrucou:
— A puta da parou de sair comigo, porque estava ocupada demais dando pra você.
— Resposta errada.
O soco de Steve foi aplaudido e saudado com gritos encorajadores, assim como o próximo, o depois dele e o depois daquele. Ele estava além da fúria, aquele era o encontro com o ódio tanto quanto era dos nós dos dedos dele com o queixo, mandíbula, nariz e cenho de Jonathan.
— Steve! Para! — a única pessoa que estava em sua mente gritou desesperada, e ele largou o outro para olhar para . Ela arregalou os olhos, parecendo estar assustada. Espera, ela estava com medo dele? Aquilo era pior que dez socos, ou estudar ciência. — Steve, atrás…
Ela terminou de falar, já que o gancho direito de Jonathan atingiu a parte de trás da cabeça de Steve. Ele caiu, colocando a mão em sua nuca com um grunhido de dor, enquanto Jonathan aparecia em cima dele com um sorriso covarde e um rosto ensanguentado. Ele não disse nada, continuando a desferir golpes em um homem caído sem nenhum remorso, até que Tommy empurrou-o para longe dele.
— Já chega dessa porra!
A raiva.
É claro, a sua raiva não era como a raiva dos outros. Sim, podia ser alta às vezes. Estúpida. Irracional, até. Besta.
Ainda assim, ela não saía tacando soco em cada babaca que a tirava do sério.
— Eu sei que você está com raiva… — Steve anunciou, sentado na privada do banheiro de Tommy, enquanto limpava os seus machucados com uma carranca.
— Não me diga, Sherlock — ela respondeu com ironia, colocando um algodão com antisséptico no canto da boca dele.
— Aí — ele reclamou da ardência. Apesar de ela saber que Steve tinha se colocado naquela posição, ela não conseguiu evitar a agonia calamitosa em seu coração ao vê-lo assim. Ainda assim, toda a sua simpatia estava sendo escondida sob um sorriso sarcástico, enquanto ela pegava um band-aid e murmurava um desculpa. — Está me punindo por ser um idiota, ou só é uma péssima enfermeira?
— Um pouco dos dois — admitiu, pressionando gelo em sua testa. — Não sei o que te deu na cabeça.
— É sério? — Ele bufou, como se a razão detrás daquele show estivesse banhada em obviedade. — Ele entrou aqui te chamando de puta, te desrespeitando…
— E daí?
— E daí? — Steve repetiu exasperado. Como ela não podia ver que nenhum cara tinha o direito de tratá-la como menos do que o mundo? — Ele é um babaca e….
— E eu precisava da sua proteção? — incitou, exibindo a sua raiva como alguém expõe uma joia nova, como se fosse um acessório comprado. Ela sabia que não estava sendo injusta, Steve tinha agido como um estúpido e deveria ouvir um sermão. Ainda assim, ela não conseguia deixar a sensação de que estava usando a raiva como um disfarce. Não totalmente injusta, mas certamente meio desonesta.
Além de estar irritada por ele ter se submetido aos joguinhos de Jonathan, ela também estava com medo de perdê-lo, de ele se machucar assim. Esse sentimento era aterrorizante, assim como a maioria das coisas que ela sentia por Steve.
— Não é o que eu quis dizer. Eu sei que você pode se cuidar sozinha — ele explicou, a sinceridade em sua voz emaranhada na ternura que ele só tinha por ela, sempre conseguindo desarmá-la.
— Então por que isso?
Furiosa por quase perdê-lo, por ele ser estúpido, por ele estar com dor, por ele a fazer sentir assim.
— Eu me descontrolei, eu acho — Steve respondeu, balançando a cabeça. — Eu perdi o controle, tá bom? Eu agi como um babaca.
— Um babaca, não. Apenas idiota e um pouco imbecil.
Sua raiva era boa em esconde-esconde, sua raiva protegia a sua vulnerabilidade sob suas asas, deixava ela atrás de si como uma mãe com uma criança assustada, sua raiva era segura. As outras coisas eram ferozes como aquele combate: o jeito que sua pele acendia quando Steve a tocava, o jeito que ele parecia conseguir ler a sua mente, o jeito que ele sempre escolhia as coisas favoritas dela, o jeito que ele sempre queria ouvi-la, o jeito que ele era… Simplesmente ele.
Tão doce e gentil, ainda que pudesse agir como um idiota. Steve era real, ele amava filmes de comédia (principalmente de faculdade), tinha olhos tão sinceros, piadas pessimamente engraçadas e um gosto para músicas. Ele sentia falta do pai, que sempre estava viajando a negócios, e da mãe, que sempre estava com o pai por não confiar no marido. Ele era surpreendente bom com crianças para um filho único, péssimo no fliperama, bom dirigindo e tinha medo de aranhas. Ele era capaz de comer nove fatias de pizza, tinha um cabelo incrível, era popular e tinha beijado quase todas as meninas da escola. Ainda assim, ele parecia o clássico loverboy dos anos oitenta. Ela queria saber mais dele.
E ele estava sangrando no banheiro. O babaca do seu melhor amigo, que demorou demais para intervir em uma luta que nem mesmo deveria ter acontecido.
Apesar do momento de contemplação, Steve interpretou aquele pseudo silêncio, aturdido pelo som abafado das canções e barulhos das pessoas do outro lado, como um indício de que ela ainda estava pensativa sobre o jeito que tinha o assistido.
— Desculpa. Eu realmente não queria te assustar. — Ele abaixou a cabeça, envergonhado pelos seus atos e por estar em uma luz ruim. Ela estava certa como sempre, aquilo poderia ter sido cuidado de outro jeito.
Apesar da situação, riu.
— Steve, eu acabei de te ver perder uma briga. Eu não estou com medo de você.
— Eu não perdi a briga! — Ele ergueu a cabeça com um bufo, fazendo uma careta, enquanto ela limpava os cortes em sua mão. — No começo, eu estava por cima.
— E depois? — Steve revirou os olhos. — A primeira metade é sua e a segunda é do babaca.
— Então por que está tremendo? — ele questionou, segurando a mão trêmula dela entre as suas. — Se disse que não está com medo, então por que está tremendo?
— Só estou nervosa — mentiu, afastando sua mão dele. Apesar de toda a dor dos curativos, a expressão no rosto de Steve nunca pareceu tão angustiada quanto quando ela se retraiu ao seu toque.
Aquilo quase a quebrou. Quase.
— Você não treme quando está nervosa — ele disse, menos como uma acusação e mais como um fato certeiro e sem hesitação. Como se ele estivesse conversando sobre a palma da sua mão.
— Temos coisas mais importantes acontecendo. — tentou, e tudo que Steve emitiu foi um sorriso.
— Você é uma coisa importante.
Então ela colocou as mãos em seu rosto e o beijou. Ele retornou o beijo com fervor, tentando transmitir tudo que sentia ali. Os seus machucados pareciam remendados, a ansiedade dela parecia calada, a gravidade parecia ter sido desligada, e aquilo? Aquilo quase parecia com amor.
Steve a beijou como se a amasse.
Apesar de ela ser mais impaciente, Steve com certeza era o mais rápido em tomar decisões. Talvez porque ele não pensava muito nas consequências, mas nem todo o tempo do mundo mudaria a sua decisão, não quando se tratava de . Ele conseguia segurar um pouco para si antes de tê-la, mas como ele devia se portar agora que sabia o gosto dos seus lábios e os sons que ela fazia quando ele a tocava? Ele tinha tido ela uma vez e já estava viciado. Ele queria aquela sensação para sempre. Suas entrelinhas cheias tornando-se a história principal.
Então, enquanto andava de um lado para o outro em seu quarto, pensando em todas as possibilidades de conversa com ele, Steve estava escalando até a sua janela.
Estava aberta, como sempre.
— … — Ela deu um pulo e cobriu a boca antes que pudesse gritar e acordar seus pais. Ela era adorável, e Steve só queria beijá-la. — Desculpa.
— Steve, o que você está fazendo aqui? — Ela tentou usar o escudo, usar um tom de voz ríspido para transparecer raiva, mas ele caiu para o lado de dentro do seu quarto desajeitadamente e ela só queria rir. — Que belo ninja.
— Achei que deveríamos conversar — ele disse, assim que se levantou, e abraçou a si mesma.
Ela ainda não estava pronta, mas era melhor tirar a bala de uma vez.
— Eu concordo. — Ela se apressou para magoar a si mesma antes que ele pudesse, atropelando as palavras, enquanto sua alma se partia um pouquinho a cada sílaba. — Eu quero pedir desculpas por ontem, eu não devia ter te beijado. A situação era estranha, e você tinha acabado de bater a cabeça. Eu só devia ter tomado conta de você. Eu estava sendo uma babaca. Podemos esquecer tudo isso.
— Não.
— Não? — Ela piscou repetidamente. Steve não queria ser mais seu amigo?
— Não. — Aproximou-se dela, aumentando a tensão, como no momento que a luz está vermelha, mas prestes a ficar verde. Observar o rosto dele chegando mais perto era como encarar uma cortina antes do show começar.
— Sim?
Ou… Ou ele queria outra coisa. Um sorriso esperançoso apareceu em seu rosto.
— Sim. Quer dizer, sim para não. — Ele inclinou a cabeça em confusão, mas toda sombra de dúvida se dissipou quando ele colocou as mãos em suas bochechas. — Eu não quero esquecer o que aconteceu ontem à noite.
— Nem a parte em que você perdeu a briga? — ela brincou, apesar das suas duas mãos implorarem para segurá-lo.
— Eu não perdi a briga… completamente. — Steve acariciou sua pele. Ele a queria tanto quanto a madrugada clamava por uma vista. Ele precisava dela mais do que nunca. — Eu não quero esquecer o que aconteceu ontem com você. Eu nunca esqueço nada sobre você.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que isso é o trabalho bom. — Seus olhos castanhos transbordavam sinceridade e carinho, como se ele estivesse olhando para a sua. — Quero dizer que eu sei por que você acha filmes de tubarão chatos e nunca irei te obrigar a assistir um. Quero dizer que acho pizza com mostarda nojento, mas comeria isso todo dia só para estar com você. Quero dizer que eu não me sinto sozinho com você. Quero dizer que estou apaixonado por você, .
Tinha tantas coisas que ela queria dizer, tantas. Porém, parada no meio do seu quarto, com Steve em seus braços, ela só queria apressar tudo e ser dele. Todo o seu corpo queimava como brasas separadas da fogueira que desesperadamente querem voltar ao fogo. O único pensamento em sua mente era o eco do nome dele e de uma coisa que precisava ser dita:
— Eu também estou apaixonada por você, Steve Harrington.
Quando Steve a beijou de novo, era quase amor.
Aquilo poderia ser amor.
Então o beijou de volta.
Ele sabia, era amor.