Revisada por: Polaris
Última Atualização: 29/10/2024Com seus corredores imponentes e salões grandiosos, o hotel oferecia a cada um de seus hóspedes uma experiência única, e era perfeito para Jonathan, que só precisava de um escape para sua vida extremamente agitada.
Qualquer pessoa que conhecesse Blake falaria do quanto o homem era curioso e de como sua avidez pelo desconhecido já havia o colocado em diversas furadas.
Foi movido por essa curiosidade incessante que Jonathan resolveu explorar todos os cômodos possíveis do Hotel Espectral. Munido de sua câmera, que carregava para onde ia, cada um de seus passos era documentado enquanto se aventurava.
De início, não encontrou nada muito diferente do que se esperava em um hotel: corredores vazios, hóspedes saindo ou entrando em seus quartos, e alguns funcionários que o encaravam com um ar que beirava a desconfiança, porém nada o intimidava.
A iluminação fraca e as paredes cobertas por tapeçarias antigas carregavam ainda mais a atmosfera do ambiente. O silêncio parecia envolvê-lo como um manto pesado, e os passos de Jonathan ecoavam contra o piso frio dos corredores estreitos. Suas sombras dançavam nas paredes de forma fantasmagórica e a cada andar que subia, a sensação de que estas o observavam aumentava.
O vislumbre de uma porta semiaberta fez Blake parar subitamente. Aquela ala do hotel parecia completamente esquecida e algo lhe dizia para não avançar. No entanto, a mesma curiosidade que o guiou até ali não o permitiria desistir. Não tão perto.
Ao empurrar a porta, o rangido da madeira quebrou o silêncio. Jonathan não demorou para identificar que o ambiente mergulhado em sombras era uma suíte, onde havia uma grande cama de casal com um dossel de madeira, um guarda-roupas entalhado e uma pequena mesa próxima à janela. O tapete do centro estava encardido e, em um dos lados da cama, havia uma mesa de cabeceira com uma vitrola em cima dela. Grossas teias de aranha atravessavam o ambiente e os móveis cobertos de poeira denunciavam há quanto tempo ninguém aparecia por lá. O rapaz se perguntou o motivo, e, quando tentou acender a luz, descobriu que a lâmpada estava queimada.
Novamente, não se intimidou e usou a lanterna do celular para continuar a explorar e gravar tudo.
Um espirro foi o primeiro protesto e talvez um sinal de que ele não deveria se atrever a adentrar ainda mais o cômodo, porém Blake, mais uma vez, não deu ouvidos, e fez questão de documentar cada canto que apareceu em seu campo de visão. Seu nariz coçou por dentro e ele soube que sua rinite estava prestes a dar as caras, porém, por tudo o que via, valia muito a pena.
Quem diria que em um hotel tão esplêndido haveria um quarto empoeirado!
Então ele o viu.
Posicionado a apenas alguns metros da cama, um grande lençol branco o cobria, mas, ainda assim, seria impossível não o notar.
Sem hesitar, Jonathan se aproximou e puxou o tecido fedendo a mofo. Espirrou quando a poeira veio toda em sua direção, porém o incômodo imediatamente se transformou em fascínio assim que seus olhos pousaram no objeto à sua frente.
Com uma moldura dourada e envelhecida, coberto por inscrições em um idioma que ele não reconhecia, havia um espelho que devia ter pouco mais de um metro de altura.
Diferente do resto do cômodo e até mesmo da própria moldura, nada interferia no reflexo. Não havia sujeira, rachaduras ou sequer um arranhão.
Aquilo deixou Jonathan intrigado.
Sua mão se estendeu para tocar sua superfície, porém algo o deteve e a sensação súbita de que devia correr dali finalmente o fez recuar pela primeira vez.
Dois passos.
Então as inscrições se iluminaram de uma ponta à outra, como se o convidassem a se aproximar mais uma vez.
Embasbacado, Blake o fez.
— Será que isso é um espelho encantado? E se eu tentar fazer um pedido? — Deveria se sentir idiota por pensar algo como aquilo, porém não se importou. Estava só e poderia facilmente editar o vídeo se nada acontecesse.
Jonathan respirou profundamente e buscou concentração. O brilho do espelho pareceu aumentar e ele pôde jurar que seu próprio reflexo tremeu.
— Quero viajar o mundo descobrindo artefatos como esse. E quero ficar mundialmente famoso por isso. — O pedido veio do âmago de seu ser e apenas a ideia de aquilo se realizar trouxe a ele uma extrema euforia.
Uma risada escapou de seus lábios, seu corpo tremeu mais e Blake negou com a cabeça quando, logo após externar seu desejo, enxergou seu próprio reflexo piscar para ele.
Estava imaginando coisas. Aquilo provavelmente era apenas um espelho comum.
Um barulho estridente o fez pular de susto e, com o coração saltando até a boca, Jonathan percebeu que a vitrola havia começado a tocar sozinha uma melodia que ele não conhecia, porém não havia disco e, até onde havia visto, ela não estava ligada.
— Mas o que…
— Jonathan! — uma voz sussurrou em seu ouvido e, com um sobressalto, o rapaz tornou a encarar seu reflexo no espelho.
As inscrições douradas brilhavam como nunca, os olhos de Blake se arregalaram e, antes que pudesse fazer qualquer outro movimento, antes mesmo que pudesse pensar no que acontecia, duas mãos o agarraram pelos ombros e o puxaram para dentro do espelho.
A câmera de Jonathan caiu com um baque surdo, ainda apontando para seu reflexo. O celular do rapaz se espatifou ao lado dela e ainda emitia a luz da lanterna quando sua tela se rachou.
O brilho da moldura se apagou aos poucos, a silhueta de Blake desapareceu e, de repente, era como se nada tivesse acontecido. O espelho então permaneceu ali, esquecido em uma ala deserta do Hotel Espectral.
Ao contrário do desejo desesperado de seu coração, se não fossem as duas evidências caídas ali naquele cômodo, ninguém sequer teria ideia da existência de Jonathan Blake.
Isso se alguém desse sua falta o suficiente para ir atrás dele afinal.