Codificada por Lua ☾
Última Atualização: 29/05/25
O amor nos ensina tudo. Até sobre nós mesmos. — Orgulho e Preconceito, Jane
Austen
A pior coisa de estar na fossa não é a dor no peito, nem a cara inchada de tanto chorar. É o maldito algoritmo do YouTube. Ele sempre sabe. Sempre.
Sério, aquilo seria algum tipo de bruxaria digital? Uma inteligência artificial treinada exclusivamente para me afundar ainda mais no abismo da minha própria desgraça emocional? Porque, de verdade, se existe uma tecnologia capaz de detectar sofrimento humano e maximizar o estrago, é essa.
Primeiro vinham os vídeos de casais perfeitos, sorrindo em cenários ensolarados, trocando olhares cheios de amor e promessas eternas. Depois, como se a humilhação ainda não estivesse completa, surgiam os coachs motivacionais, cuspindo frases como "ELE VAI TE VALORIZAR QUANDO VOCÊ PARAR DE CORRER ATRÁS".
Ah, vai se foder.
Como se fosse fácil assim. Como se fosse só acordar um dia e decidir que sou uma pessoa evoluída, emocionalmente equilibrada e pronta pra virar a versão glow de mim mesma. Se fosse tão simples, eu já teria seguido minha vida sem olhar pra trás. Teria, sei lá, começado a fazer yoga.
Aliás, yoga é um caralho. Porque eu tentei essa merda, também.
Eu tentei. Juro que tentei. Vi uma influencer iluminada falando sobre "alinhar as energias" e "se conectar com o eu interior" e pensei: ok, talvez meu eu interior esteja precisando de um soco na cara, mas vamos tentar. O que custa?
Resumo da experiência? Eu quase caí de cara no chão tentando uma pose chamada "cachorro olhando pra baixo". E quer saber? Talvez eu seja mesmo um cachorro olhando pra baixo, fodida, apaixonada e sem dignidade. E agora, eu tô aqui, de moletom gigante, com um coque tão desgrenhado que parece quase uma declaração de falência pessoal, encarando a tela do celular como se dali fosse sair alguma coisa mágica que pudesse me ajudar.
Eu só queria dar uma resposta para o Jimin. Só isso. Mas como é que se responde a uma pergunta que nunca foi feita em voz alta? Como se coloca em palavras algo que sempre esteve ali, pairando no ar, engasgado na garganta, pulsando no silêncio? Eu queria dizer que o amo. Queria cuspir essa verdade de uma vez, sem rodeios, sem medo, sem me importar com o que viria depois. Porque, por mais que tudo dentro de mim seja um borrão de incertezas—um emaranhado de orgulho, caos e contradição—ele é a única coisa que nunca mudou. A única coisa que, em meio ao turbilhão, permanece intacta, sólida, inegável. Ele é a porra da minha certeza. A única que eu tenho. E talvez, a única que eu sempre tive.
Afundei no sofá, o celular trêmulo nas mãos, e, contra todo e qualquer instinto de autopreservação, digitei no YouTube: "como expressar sentimentos sem parecer uma completa imbecil".
E aí me bateu o pânico.
E se alguém visse isso? E se, num golpe do destino, meu celular fosse parar nas mãos erradas? Ou pior—e se eu morresse subitamente, ali mesmo, e esse fosse meu último histórico de pesquisa? Meu legado? A prova definitiva de que, por trás da minha fachada de pessoa minimamente funcional, eu era, na verdade, um desastre ambulante, um ser humano incapaz de articular um simples "eu amo você", sem soar como uma adolescente de 14 anos prestes a escrever um textão no Tumblr?
Por instinto, olhei para os lados. Sozinha. Óbvio. Como se, num roteiro tragicômico da vida, alguém fosse simplesmente materializar-se na minha sala só para me flagrar nesse momento de autossabotagem extrema.
Suspirei fundo, como se isso fosse apagar minha própria vergonha, e cobri a tela com a mão. Como se um gesto ridículo como esse pudesse me proteger do julgamento invisível do universo. Apertei enter e senti um leve pesar no coração.
Pesar porque eram 3:27 da manhã. Porque eu tinha uma prova no dia seguinte. Uma prova importante. Uma prova que, muito provavelmente, determinaria meu futuro acadêmico—talvez até profissional. Mas, em vez de estar dormindo, estudando ou minimamente fingindo que me importava, eu estava aqui: tentando aprender a dizer o óbvio sem me sentir uma completa idiota.
— Oi, gente! No vídeo de hoje, eu vou ensinar vocês a expressarem seus sentimentos de forma clara e segura, sem medo de serem vulneráveis!
Pausei o vídeo. A youtuber sorria mais do que o necessário, cheia de energia e positividade, como se confessar sentimentos fosse um tutorial simples de maquiagem e não um salto no abismo.
— Sem medo de ser vulnerável… E se eu tiver pavor? Se a simples ideia de abrir a boca e falar "Jimin, eu te amo" me der vontade de enfiar a cabeça no ralo da pia?
Falei olhando o sorriso forçado da garota e respirei fundo. Dei play de novo.
— Primeiro passo: identifique o que você sente. Nomeie seus sentimentos.
Pisquei, exausta. Fechei os olhos, e minha mente foi direto para ele. Park Jimin.
O cabelo perfeitamente bagunçado, os fios caindo sobre os olhos sem esforço algum. A pele macia, as mãos pequenas e firmes, o jeito distraído de mexer na gola do moletom quando estava nervoso. O resmungo abafado quando dormia, um hábito de infância que nunca perdeu. A voz rouca chamando meu nome—às vezes rindo, às vezes brigando, mas sempre me encontrando.
E o sorriso.
Merda. O sorriso.
Aquele que ele tentava esconder quando me provocava, que começava no canto dos lábios e se espalhava devagar, como um incêndio, consumindo tudo.
Ok. Eu realmente amo Park Jimin.
O peso dessa constatação caiu sobre mim como um soco no estômago, mais uma vez.
Suspirei e continuei prestando atenção no vídeo. A youtuber ainda gesticulava exageradamente, cheia de certezas que eu não tinha.
— Você pode começar dizendo frases simples, como: "Eu gosto muito de você e me sinto feliz quando estamos juntos".
Pausei mais uma vez.
— Pelo amor de Deus. Isso é ridículo, . Ridículo.
Eu sou um desastre. É isso. Uma escrota. Uma covarde do caralho.
Jimin era um professor de sedução muito melhor do que essa mulher. Ele nunca me ensinou com palavras fofinhas ou frases prontas. Ele ensinava na prática. Nos olhares, no toque, no jeito que me puxava pra perto quando eu tentava fugir.
O vídeo seguiu para o próximo tópico:
— Agora, pratique com alguém de confiança! Treine dizer em voz alta!
Joguei o celular de lado e enterrei o rosto no travesseiro, dando um grito abafado.
— Faz o favor, YouTube, cala a boca.
E foi ali, no meio do quarto escuro, com o cheiro dele ainda impregnado na minha cama, que finalmente entendi.
Eu amo Jimin, sem explicação lógica.
Sem técnica de coach.
Sem precisar "praticar com alguém de confiança".
Eu simplesmente amo.
E não faço a menor ideia do que diabos fazer com isso.
A luz do sol invadia meu quarto, atravessando a cortina e iluminando a bagunça ao redor—cadernos abertos, roupas jogadas, um copo esquecido na mesa e algumas cartelas de calmantes vazias. Eu encarei o teto por longos segundos, numa tentativa patética de negociação interna. Talvez, se ficasse ali parada o suficiente, o dia simplesmente desistisse de começar.
Não funcionou, obviamente.
Aceitei meu destino: levantar e fingir que minha vida não estava um completo caos emocional. Me arrastei até o banheiro, liguei a torneira e joguei água no rosto. Talvez lavar a cara também lavasse o desespero, né?
Spoiler: não lavava.
Levantei o olhar para o espelho e, ah, perfeito. Olheiras profundas, cabelo desgrenhado, expressão de quem passou a madrugada vendo vídeos idiotas e tendo epifanias assustadoras sobre o próprio coração.
Incrível. Exatamente o que um dia normal de faculdade precisava.
Troquei de roupa no modo automático, joguei a mochila nas costas e tentei lembrar onde tinha parado na última lista de codificação.
Listas de codificação.
Meu Deus.
A pior parte de fazer Engenharia Biomédica não era a matemática infernal, nem os relatórios quilométricos, nem os experimentos que te faziam questionar se a ciência realmente valia a pena.
Era essa porra de programação.
Se o código rodava, o professor queria que otimizássemos. Se estava otimizado, a explicação estava errada. E se tudo estivesse certo, alguém sempre sugeria uma abordagem "mais eficiente". Suspirei, sentindo uma dor de cabeça já se formar.
Eu amava o curso, de verdade. A ideia de usar tecnologia para melhorar vidas, desenvolver próteses, aprimorar equipamentos médicos… Era incrível. Mas às vezes, só às vezes, eu queria poder entregar um código assim:
"Executa. Não trava. Agora me deixa em paz e não fode minha vida.”
Peguei meu café e saí de casa antes que desistisse completamente da vida acadêmica. O aroma forte da bebida deveria me manter alerta, mas nem mesmo a cafeína parecia capaz de domar o turbilhão de pensamentos que se embolavam na minha cabeça.
A manhã estava fria, e o vento cortante castigava minha pele, como se quisesse me punir por algo. Ou talvez fosse só minha consciência projetando minha própria culpa no mundo ao redor. Algo completamente confortável, obviamente.
E então, ao chegar na universidade, o incômodo se transformou em algo mais palpável.
Ele já estava lá.
Merda.
Por que diabos Jimin sempre era o primeiro rosto que eu via naquela faculdade? Não importava o caminho que eu escolhesse, a porta por onde entrasse, a rota que traçasse para evitar esse momento inevitável. Lá estava ele. Como se fosse um marcador na minha vida, a porra de um fantasma, assombrando cada canto, cada maldito corredor, cada espaço onde eu tentava respirar sem sentir o peso do que não dissemos.
Eu podia me esconder, mudar de direção, fingir que não vi. Mas nada mudaria o fato de que, toda vez que nossos olhos se encontravam, meu coração insistia em lembrar que, no fundo, fugir nunca foi uma opção.
Talvez o universo me odeie.
Sério, não vejo outra explicação. Algumas pessoas nascem com sorte, encontram dinheiro no chão, pegam ônibus no exato momento em que ele chega, descobrem o amor da vida delas numa fila de padaria. E eu? Eu sou forçada a encarar meu ex-quase-alguma-coisa todas as manhãs, como se estivesse presa num episódio ruim de uma série cômica que só o destino acha engraçada.
Talvez eu tenha cometido algum crime em outra vida. Talvez eu tenha sido uma imperatriz malvada, responsável por arruinar romances alheios, e agora estou pagando o preço, sendo forçada a viver nesse looping emocional infernal. Ou talvez o universo só esteja entediado e tenha decidido me usar como entretenimento.
Se for isso, parabéns, cosmos. Espero que minha vida esteja sendo um ótimo reality show.
Olhei para Jimin.
E o pior? Ele estava lindo. Como sempre.
Filho da puta.
Encostado na pilastra, exalando aquele charme irritante de quem parece ter saído direto de uma campanha de perfume importado. Mão enfiada no bolso da calça, a outra gesticulando casualmente enquanto conversava com Jeongyeon — a bonitona do maldito dia. Aquele cabelo perfeitamente bagunçado de um jeito que só ele conseguia, e a jaqueta de couro… a porra da jaqueta de couro.
A mesma que eu segurei entre os dedos naquela noite.
E foi aí que minha mente me apunhalou pelas costas. Sem dó. Sem aviso.
Me jogou de volta para o calor da pele dele contra a minha, os sussurros arrastados dizendo meu nome, o toque firme dos dedos percorrendo meu corpo como se quisesse me decorar. Como se cada centímetro meu fosse algo que ele nunca quisesse esquecer.
Mas ali estava ele.
Sorrindo. Tranquilo.
Como se nada daquilo tivesse significado porra nenhuma.
Enquanto eu estava presa nesse maldito limbo emocional, ele parecia… bem. Ótimo, na verdade. Rindo com Jeongyeon, deixando que ela tocasse o braço dele como se tivesse todo o direito do mundo. Ele nem gosta de quem fala tocando nele.
Mas, talvez Jimin seja dela agora.
O ciúme subiu pelo meu peito como fogo, queimando tudo no caminho antes que eu pudesse conter. Não aquele ciúme passivo e discreto, mas aquele violento, irracional, que sufoca antes mesmo de você entender o porquê.
E pela primeira vez, eu me permiti admitir: eu estava fodida.
Mas, qual é o apaixonado que não está?
É tipo uma regra universal, né? Se você ama, você está automaticamente ferrado de alguma forma. Ou você está lá, flutuando num mar de rosas, com aquele sorriso ridículo estampado no rosto, ou você está se afogando num oceano de inseguranças e dúvidas. Não tem meio-termo. Não tem salvação.
Vi isso em algum vídeo idiota no desgraçado do YouTube. O amor não vem com manual de instruções, só com o aviso de que o "acidente" vai acontecer — e vai ser feio.
E eu? Eu já estou no meio da batida. Uma versão distorcida de mim mesma. Uma garota que não sabia se queria gritar ou desaparecer. Que não sabia se queria puxar Jimin para longe ou virar as costas e fingir que não via nada.
Fui direto para o meu armário, tentando ignorar a vontade ridícula de olhar para trás e ver se Jimin ainda estava lá. Óbvio que estava. Rindo. Tranquilo. Como se o universo inteiro não estivesse desmoronando dentro de mim.
Segurei a alça da mochila com força, respirei fundo e bati a porta do armário com mais força do que o necessário. O som ecoou pelo corredor, chamando a atenção de algumas pessoas.
Um exagero? Talvez. Mas era isso ou socar a parede. Ou socar Jimin. Ou socar a Jeongyeon.
— Nossa — uma voz conhecida soou atrás de mim. — O que o armário te fez dessa vez?
Fechei os olhos. Ótimo. Jisoo. E, só para constar, dessa vez nem uma barra inteira de chocolate seria capaz de me salvar.
Virei devagar, forçando um sorriso casual que provavelmente só piorou minha cara de desastre.
— Só… um dia difícil. Mais um, aliás.
Jisoo arqueou uma sobrancelha. Ela não comprava desculpas baratas.
— Aham. Um dia difícil — repetiu, cruzando os braços. — Por acaso esse dia difícil tem um metro e setenta e cinco, cabelo perfeito e atende pelo nome de Park Jimin?
Minha expressão deve ter entregado tudo, porque ela abriu um sorrisinho satisfeito.
— Sabia! Você tá com ciúmes.
Bufei, voltando a mexer no armário apenas para evitar o olhar dela.
— Não tô com ciúmes.
— … — Jisoo deu um passo à frente, apoiando o cotovelo na porta aberta do meu armário. — Você quase quebrou esse negócio porque viu o Jimin rindo com a Jeongyeon. Se isso não é ciúme, então eu sou uma batata.
Suspirei, largando a mochila lá dentro.
— Não é só isso, ok?
— O que rolou esse final de semana? — Jisoo me olhou com uma intensidade que me fez morder o lábio inferior involuntariamente. — Vocês estavam meio afastados, né?
— Sim, mas aí eu saí com o Eunwoo… — Respirei fundo, já sabendo onde isso ia dar. — Ele foi um total arrombado comigo, tipo, rei dos arrombados, e aí eu chorei pra caralho e decidi dar um rolê na casa do Jimin. Ele… se declarou pra mim como em um filme de romance, sabe? Naquela chuva fodida que aconteceu no sábado. Foi lindo, perfeito e, bom, a gente transou. Várias vezes.
Jisoo me encarou como se tivesse acabado de assistir a um filme de terror, a boca entreaberta, tentando absorver o que eu acabara de jogar no ar.
Respirei fundo.
— É, eu transei com ele. E transaria mais vezes porque eu estou fodida por esse canalha.
O silêncio que se seguiu foi quase cômico. Jisoo piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar a informação, e então soltou um suspiro dramático, encostando a testa no meu armário.
— Meu Deus do céu.
— É, eu sei.
— Meu Deus do céu!
— Jisoo...
— MEU DEUS DO CÉU!
Revirei os olhos.
— Dá pra parar de repetir isso?
Ela me olhou como se eu tivesse acabado de dizer que vendi um rim na deep web.
— , você dormiu com o Jimin e não me contou?
— Eu tô contando agora!
— Não, você deveria ter me ligado na MESMA NOITE! Eu sou sua amiga, eu merecia essa fofoca em tempo real!
Cruzei os braços, sem paciência.
— O ponto não é esse. — Eu soltei, tentando manter a calma. Jisoo estreitou os olhos, já desconfiada.
— Então, qual é o ponto?
Suspirei, passando as mãos pelo rosto, tentando organizar a bagunça que minha vida parecia ter virado.
— O Jimin se declarou pra mim e eu não consegui dizer o mesmo, porque, você sabe, eu sou um desastre com tudo isso. Aí o Eunwoo apareceu na minha porta, pedindo perdão por ter sido um filho da puta, e quando eu percebi, a casa virou um campo de batalha. No fim, pra evitar uma cena ainda maior, eu disse que o perdoava. E agora o Park tá puto, e com razão.
Jisoo me olhou com uma expressão misturada entre compaixão e ceticismo.
— Alguém já te disse que sua vida parece um dorama? Mas, tipo, sem o romance fofo e a trilha sonora emocionante. — Jisoo fez uma pausa, umedecendo os lábios antes de acrescentar com um sorriso levemente maldoso. — Um dorama bem ruim, aliás.
— Nossa, obrigada pelo apoio moral, Jisoo. Era exatamente esse incentivo que eu precisava. — Revirei os olhos, fechando a porta do armário e cruzando os braços.
Ela me ignorou completamente.
— Quer saber? Você precisa de um café. E de um plano.
— Um plano?
Jisoo assentiu como se estivesse prestes a me apresentar uma solução revolucionária.
— Sim. Porque bater portas de armário e se afogar em crise existencial não tá te levando a lugar nenhum, né? — Ajeitou a bolsa no ombro e segurou meu braço, já me puxando pelo corredor. — Olha, eu sei que tá tudo uma bagunça agora, mas você não precisa lidar com isso sozinha. Se tem uma coisa que aprendi com meus próprios surtos emocionais, é que ficar parada só piora tudo. Então, antes de mais nada, você precisa decidir o que realmente quer. Depois disso, a gente dá um jeito.
Suspirei, já sentindo que Jisoo estava prestes a me arrastar para um plano mirabolante.
— O que você pretende fazer?
Ela sorriu como se essa fosse a pergunta mais óbvia do mundo.
— Você tá falando com Kim Jisoo. Eu pretendo resolver sua vida.
—Tem aulas de sedução nesse meio?
Ela arqueou uma sobrancelha, me analisando como se já soubesse exatamente a resposta.
— Considerando seu histórico de zero flertes bem-sucedidos e sua tendência a fugir quando as coisas ficam emocionantes… sim, com certeza tem.
— Isso vai ser um desastre. Mais um pra conta de
— Claro que vai. Mas pelo menos vai ser divertido.
E, pela primeira vez no dia, eu ri de verdade. Porque, no fim, essas malditas aulas de sedução não eram só uma piada do destino—eram o meu próprio karma batendo à porta.
Park Jimin
Estar apaixonado é uma desgraça.
Sério. Dizem que é bonito, que é o sentimento mais nobre do mundo, mas ninguém fala sobre o lado caótico da coisa. Sobre como a paixão te pega de jeito e te vira do avesso, te deixa completamente vulnerável, sem controle sobre nada.
Eu já me entreguei pra isso antes, já achei que sabia como lidar. Mas com ? Com ela nunca foi simples. Na verdade, nada é simples com aquela mulher.
Eu sei que ela tem dificuldade em se abrir. Sei que sentimentos, para ela, são como uma língua estrangeira — confusa, cheia de nuances e regras que ela nunca teve paciência para aprender. Sei que se declarar não é fácil, que admitir o que sente é praticamente um campo minado onde cada palavra errada pode detonar algo dentro dela.
E eu aceito isso.
Porque quando se trata de , eu sempre estive disposto a esperar. Sempre estive pronto para entender os silêncios, para decifrar os olhares, para aceitar que talvez eu nunca tenha as palavras exatas que queria ouvir.
Mas então, ela perdoou Eunwoo.
Assim. Tão fácil.
E é aí que eu me pergunto: por quê?
Por que, pra mim, ela nunca consegue encontrar as palavras certas, mas pra ele, bastou um pedido de desculpas? Por que eu precisei me despir de toda a minha coragem, colocar meu coração na mesa e ainda assim sair de mãos vazias, enquanto ele, depois de tudo, foi absolvido como se nada tivesse acontecido?
Ela diz que foi pra evitar confusão. Eu conheço o suficiente para saber que isso é verdade. Ela odeia drama desnecessário, odeia brigas que não levam a lugar nenhum. Mas eu não consigo evitar o gosto amargo da dúvida. Meu orgulho tá ferido. Pra cacete. Meu coração, mais ainda. E por mais que eu tente entender, uma parte de mim só quer saber: se eu tivesse sido o cara que errou, ela me perdoaria tão fácil assim?
Eu queria odiá-la por me deixar nesse estado. Mas quando olho pra , eu só consigo pensar em uma coisa: que eu tô completamente, irremediavelmente apaixonado por essa criatura. E, merda, eu soltei uma risada interna, daquelas que fazem o peito vibrar, quando a vi chegando na faculdade.
ficou parada do outro lado do corredor, olhando na minha direção com uma expressão que poderia facilmente derreter aço. Sério, se olhares matassem, eu já estaria enterrado. No começo, pensei que era só minha mente pregando peças. Mas então, vi a maneira como ela cruzou os braços, o olhar indo direto pra minha mão—que, por acaso, Jeongyeon tocava enquanto falávamos sobre algo completamente irrelevante.
Ah. Ela estava com ciúmes.
E não qualquer tipo de ciúmes. Aquele ciúme mal disfarçado, o que faz a pessoa agir como se não desse a mínima, mas, ao mesmo tempo, parecer a personificação da raiva contida. Tentei me concentrar na conversa, mas era impossível. Principalmente porque, no momento seguinte, fez questão de abrir um armário com um movimento tão agressivo que até o corredor inteiro parou por um segundo.
Ela realmente estava com ciúmes.
Eu deveria me sentir vingado, satisfeito até. Mas, na real? Só conseguia achar um pouco engraçado. E, talvez, um pouco fofo. Quer dizer, era horrível estar brigado com ela, mas ver tentando fingir que não estava se remoendo por dentro? Isso tinha seu próprio charme.
Será que ela percebeu que, enquanto ela queimava de raiva ali do outro lado, tudo o que eu queria era atravessar esse maldito corredor e beijá-la até ela esquecer por que estava brava?
O dia se arrastou como uma tartaruga cansada.
Não importa quantas vezes eu olhasse pro relógio, os minutos pareciam ter entrado em um contrato vitalício com a eternidade. E o motivo? O teste final. O maldito teste que poderia decidir se eu terminaria esse semestre como um vencedor ou como um sobrevivente ferido no campo de batalha acadêmico. Fazer Publicidade e Propaganda parecia a escolha perfeita anos atrás. Criatividade, campanhas fodas, eventos gigantes… Mas ninguém me avisou que no pacote também vinha um combo de noites sem dormir, professores que acham que você é o novo Steve Jobs e prazos mais apertados que calça skinny. Passei os últimos dias atolado num trabalho sobre estratégias de marketing digital, tentando criar um conceito inovador o suficiente pra não levar uma bronca do professor que acha que tudo já foi feito antes. Minha cabeça estava frita, meu cérebro rodando em 2% de bateria, e eu só queria um tempo pra respirar.
Mas o pior nem era o curso. Era a eterna comparação com meu pai. “Entretenimento? Propaganda? Jimin, isso não é carreira, é hobby.” Ele sempre quis que eu seguisse algo mais “sério”. Algo mais “seguro”. Algo mais parecido com o que ele faria.
Ele queria um filho que vestisse farda, que falasse sobre honra e segurança pública, que seguisse um caminho que ele respeitava. No lugar disso, eu tinha escolhido um curso onde a gente discutia o impacto emocional das cores no consumidor e fazia brainstorming em paredes cheias de post-its coloridos.
Talvez fosse por isso que eu levava essa porra tão a sério. Talvez eu quisesse provar que era bom nisso. Ou talvez eu só fosse um teimoso do caralho.
E então tinha ela. Claro que tinha.
tinha feito uma prova hoje também. Mas, diferente de mim, que estava me matando pra defender uma campanha de café sustentável, ela estava resolvendo equações que pareciam feitiços antigos. Engenharia Biomédica. Só de ouvir o nome do curso, meu cérebro já dava tela azul. Desde que éramos crianças, ela sempre foi a mais inteligente. A pessoa que entendia matemática como se fosse fofoca. Que desmontava e montava coisas como se fosse fácil. Que via sentido na porra da física. Por isso, Einstein. O apelido começou na nossa infância, e eu nunca mais parei de chamar.
E, claro, ela sempre odiou.
O pensamento me fez rir sozinho enquanto eu passava pelo corredor da faculdade, finalmente me sentindo um pouco mais leve.
O que durou exatamente cinco segundos.
Porque foi só eu dobrar a esquina e sentir um leve impacto no meu corpo, após esbarrar em alguém.
— Puta merda, olha por onde...
Só quando ergui os olhos percebi quem eu tinha acabado de atropelar.
.
E, pela cara dela, eu já sabia que essa conversa não ia ser tranquila.
—Conheci você mais educado, Park Jimin.
Eu dei um passo atrás, tentando recuperar o equilíbrio, mas não consegui evitar as batidas fortes, intensas do meu coração, que parecia que iria sair pela boca a qualquer momento.
— Sério, ? Foi você que estava parada no meio do caminho. — Minha voz saiu mais cortante do que eu queria. A olhei dentro dos olhos e os flashes da nossa última noite se espalharam pela minha mente completamente perturbada. Merda. Eu preciso sair daqui antes que eu a agarre e a beije aqui mesmo. —Eu realmente preciso ir embora, agora.
Dei as costas, mas senti a mão leve de me segurar. Engoli em seco e respirei fundo, tentando manter o foco.
Não queria punir . Não. Longe disso. Punir era o último dos meus desejos. O que eu mais queria era que ela entendesse a merda que estava acontecendo dentro de mim. Mas, porra, eu precisava que ela soubesse que eu também estava magoado. Eu também estava me despedaçando por dentro. Eu me senti idiota por ter me exposto daquela maneira, sem saber se ela realmente queria o mesmo ou se estava apenas com medo de arriscar. Então, sim, eu precisava que ela soubesse. Não porque eu queria machucá-la, mas porque ela precisava entender a merda em que tudo isso se transformou. Eu me declarei e me senti totalmente dele, vulnerável, esperando uma resposta que não veio. E isso, fodeu com tudo.
—Jimin, sério? —Ela falou com uma mistura de incredulidade e frustração, o tom de voz abafado pela falta de respostas. Ela alisou meu braço, o toque leve, mas com um peso imenso que parecia sufocar tudo o que eu estava tentando entender. Eu umedeci os lábios, tentando processar o que estava acontecendo, mas as palavras simplesmente não saíam. — A gente vai mesmo ficar assim, um com o outro?
— Eu já falei, . —Soltei meu braço de leve e apertei a alça da mochila com força. —Eu preciso de uma resposta sua. Preciso saber o que diabos se passa dentro de você.
Ela me encarou, o olhar fixo, como se tentasse decifrar alguma coisa em mim. Ou talvez tentasse encontrar coragem para dizer o que tanto evitava. O silêncio entre nós ficou ainda mais pesado, o tipo de silêncio que parece gritar no fundo da garganta, mas nenhum de nós tinha coragem de quebrá-lo.
— Eu ainda não sei o que você quer que eu diga. De verdade. —A voz dela saiu quase com raiva, mas também com um toque de desespero. —Você se declarou, Jimin e, porra, foi lindo. E o que aconteceu depois? A gente transou, e agora o que eu devo fazer?
—Que tal se abrir um pouco e dizer o que acha disso tudo?
Ela bufou, passando a mão pelos cabelos, visivelmente frustrada.
— Eu tô tentando, caralho! Mas você não entende que eu simplesmente não consigo?
Soltei um riso seco, incrédulo.
— Não, . Você sabe como fazer isso. Só não quer admitir.
Ela abriu a boca para retrucar, mas fechou logo em seguida. E foi isso. O silêncio que me matava, de novo.
— Eu tô aqui, me expondo, me fodendo todo por você, enquanto você só... trava. — Passei a mão pelo rosto, tentando manter a calma. — Se eu significasse alguma coisa pra você, você teria me dado qualquer resposta, nem que fosse um "Jimin, eu não sinto o mesmo". O perdão pro Eunwoo foi mais fácil, certo?
Ela arregalou os olhos, indignada.
— Você tá falando merda.
— Então me prova que eu tô errado! — Dei um passo à frente, e ela desviou o olhar. — Porque até agora, a única coisa que eu vejo é você fugindo.
Ela respirou fundo, parecendo travar uma guerra interna.
— Eu tenho medo, Jimin.
A confissão saiu num sussurro, e eu senti um aperto no peito.
— Medo de quê? De mim? — Minha voz quebrou no final, e eu odiei isso. Ela negou rápido.
— Medo de estragar tudo. De me jogar nisso e acabar te perdendo. De machucar você.
Fechei os olhos por um segundo, tentando segurar a porra da lágrima que já ardia nos meus olhos.
— Você já tá me machucando, . Porque eu tô aqui, disposto a tentar, e você tá me deixando no escuro. —Murmurei, rouco. —Eu não queria que isso fosse assim, mas, eu continuo firme no que te falei naquele maldito dia: por favor, não me procure. Não até saber dizer uma resposta decente pra mim.
As palavras saíram, mas eu quase desejei poder engoli-las de volta. Quase.
Ela piscou algumas vezes, como se meu pedido fosse um tapa na cara. E talvez fosse. Mas eu não podia mais ficar ali, esperando por um sinal que talvez nunca viesse.
Sem dizer mais nada, passei por ela, sentindo meu peito apertar a cada passo. O silêncio dela me seguia como um fantasma, um lembrete cruel de que eu estava saindo dali com menos do que entrei.
Eu queria que ela me chamasse. Que segurasse meu braço, que dissesse qualquer merda, que me desse um motivo para ficar.
Mas tudo que eu ouvi foi o barulho dos meus próprios passos se afastando.
“Você não ama alguém porque ela é perfeita. Você ama apesar de ela não ser.”
— Jodi Picoult, A Guardiã da Minha Irmã
— Jodi Picoult, A Guardiã da Minha Irmã
Dizem que o chocolate já foi símbolo do amor.
Séculos atrás, ele era oferecido como prova de afeto, presente de enamorados, parte essencial de grandes gestos românticos. Aí veio a porra da industrialização, a merda do capitalismo, e o chocolate virou… isso. Uma tentativa desesperada de enganar o coração com açúcar enquanto você tenta ignorar que está com o peito em frangalhos.
O cheiro de chocolate estava por toda parte enquanto Jisoo falava sobre a função de cada um. Uma maluca. Barras abertas, embalagens amassadas, uma montanha de bombons espalhados sobre a mesa. Eu segurei um pedaço entre os dedos, observando a textura macia se desfazer com o calor da minha pele antes de levá-lo à boca. O sabor doce se espalhou na língua, mas não trouxe o conforto que eu esperava. Porque mesmo que aquele gosto fosse completamente aconchegante, não conseguiu dissipar a sensação estranha e indigesta que tive quando um certo desgraçado de cabelo perfeito me olhou completamente decepcionado.
Jimin.
O cara que sempre tem um sorriso pronto. Que faz piada no meio do caos. Que acolhe até com o olhar. Ver ele sem tudo isso? Ver o sorriso murchar, os olhos perderem o brilho e a voz sair fria e magoada? Foi como assistir o sol apagar. E, pior ainda, saber que fui eu que puxei o interruptor. Jimin sempre foi o tipo de pessoa que escondia a dor pra não incomodar. Que dava risada mesmo quando o peito tava apertado. E por isso doeu tanto. Porque naquele dia, ele não escondeu nada. Ele só me olhou como se eu tivesse quebrado algo dentro dele. E talvez tenha quebrado mesmo.
O sofá parece mais um campo de guerra: embalagens abertas, bombons derretendo no canto da almofada, e Jisoo — a grande guru do amor moderno — tentando me convencer de que ainda dá tempo de consertar tudo.
— Você tá com cara de quem já desistiu da vida, sabia? — ela resmunga, entrando na sala com uma expressão de quem já perdeu as esperanças. — Sério, , se eu visse essa cena sem contexto, ia achar que você foi largada no altar.
—É quase isso, ok?
— E ainda por cima largada com estoque de bombons e zero dignidade — ela completou, jogando os chocolates na mesa de centro e se jogando no sofá com a naturalidade de quem já viu esse colapso acontecer antes.
Revirei os olhos.
— Tá vendo isso aqui? — apontei pra barra de chocolate meio amarga na minha mão — É a única coisa que não me julga no momento.
— Amiga, até esse chocolate tá triste com você. Ele é 70% cacau e 100% vergonha alheia.
Jisoo pegou um dos bombons e mordeu com gosto, como quem está prestes a resolver o problema do século.
— Tá. Chega de drama. A gente vai fazer isso dar certo. Você vai declarar o que sente por Jimin.
Suspirei, afundando ainda mais no sofá.
— Você acha que tem como... ensinar alguém a se declarar? Tipo, ensinar mesmo? Com passo a passo?
Jisoo sorriu. Um sorriso perigoso, desses que vêm logo antes de uma ideia maluca.
— ... você esqueceu com quem tá falando? Eu sou Jisoo. E essa é oficialmente a sua primeira aula de Sedução Avançada: Expressando Sentimentos Sem Parecer Um Robô Queimado. Vamos começar com o básico: você vai dizer tudo o que sente como se estivesse dando uma aula. Didática, direta e com emoção.
—Você sabe que eu tenho traumas com aulas de sedução, certo?
— Exatamente por isso que estou aqui. Sua supervisora emocional, com chocolate e zero paciência pra você se fazendo de sonsa.
Ela se levantou do sofá num salto, pegou um lápis (que não faço ideia de onde surgiu) e o colocou atrás da orelha como uma professora sádica e empenhada.
— Aluna , vamos lá. Imagine que Jimin está na sua frente. O que você sente?
— Vergonha, pânico, vontade de sair correndo...
— Emoções válidas, mas não ajudam no nosso objetivo. Tenta de novo.
— Eu sinto... falta dele. Tipo, constante. Como se qualquer música me lembrasse ele, como se toda piada que eu escuto parecesse sem graça porque ele não tá rindo comigo.
Jisoo sorriu satisfeita e assentiu.
— Aí sim! Tá vendo? Você só precisava destravar a boca e deixar o coração sair pela garganta!
Revirei os olhos, mas confesso que um micro sorriso escapou.
— Muito bem. Agora que você abriu o coração, vamos aos fundamentos da sedução emocional. Caneta e papel?
— Eu tô segurando um chocolate derretido.
— Serve. Primeira dica: olho no olho. Sempre. O olhar firme diz: “eu estou aqui, fodida, mas com coragem”. Nada de desviar como se tivesse visto um ex na fila do mercado.
— Tá, mas e se eu travar?
— Piscadinha. Funciona tipo Ctrl+Alt+Del da vergonha. Reinicia o sistema.
Ela andava de um lado pro outro como se tivesse num TED Talk.
— Dica número dois: toque leve. Nada invasivo. Um toque no braço, no ombro... mostra proximidade e interesse, mas respeita o espaço do outro. Flertar é arte, não MMA.
— Isso vai dar tão errado…
— Não deu errado quando você estava transando com ele, .
Quase engasguei com o pedaço de chocolate.
— JISOO! — Arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. — Isso foi baixo. Isso foi um puta golpe baixo!
— Ué, tô mentindo? Você já teve contato físico bem mais avançado com esse homem, e agora tá surtando por um toque no ombro?
— É completamente diferente! — Resmunguei, tentando parecer ofendida, mas até eu sabia que não tinha defesa.
— Só é diferente porque agora você quer tocar o coração dele também. E isso dá mais medo, eu sei. Mas você precisa lembrar que ele já viu o seu corpo. Agora deixa ele ver sua alma também.
— Ok, agora você foi profunda. Isso me assusta mais do que a parte do toque.
Jisoo deu de ombros, já abrindo outro bombom como se tivesse acabado de dar uma aula de filosofia emocional.
— Ah, e se der errado, a gente finge que tropeçou. Sempre tem como sair pela tangente, minha filha. —Ela deu um sorriso e me permiti fazer o mesmo —Agora escuta a terceira e mais importante: dizer o que sente, mas sem pressionar. Tipo: “Eu sei que talvez não seja o momento certo e que você esteja magoado, mas eu não queria ir embora sem dizer que... eu gosto de você. Muito. E que tudo ficou estranho depois que eu percebi isso.”
— Isso é real, Jisoo?
— Real, útil, e se quiser eu imprimo em papel couche. A sedução verdadeira é vulnerável, . Não tem a ver com batom vermelho ou frases prontas, tem a ver com coragem. Coragem de dizer: “olha, eu sou um caos, mas eu sou seu caos.”
— Isso é tão cafona que chega a ser bonito.
— Obrigada. Eu me inspiro em comédias românticas e traumas não resolvidos.
—Suas dicas são maravilhosas, mas é meio difícil colocar em prática quando ele praticamente fez questão de me apagar da vida dele. — Suspirei, jogando a almofada no chão. — Jimin não quer nem olhar na minha cara! Eu até mandei nosso meme preferido, mas ele visualiza e some! Se ele pudesse me bloquear da vida real, ele já tinha feito.
— Ok, drama queen, respira — Jisoo respondeu, empurrando outro bombom na boca antes de continuar. —Sobre isso, eu meio que já pensei numa solução.
— Jisoo...
— Vou dar uma festa aqui em casa amanhã.
— O quê?
— Uma festinha íntima. Só alguns amigos... e o Jimin.
— JISOO!
— Relaxa! Ele já confirmou presença. Agora você só precisa confirmar que vai ter coragem.
Fiquei em silêncio, observando Jisoo mastigar mais um chocolate como se tivesse acabado de salvar o mundo com uma fala espirituosa. E talvez, de algum jeito torto, ela tivesse mesmo. Porque, no fim, não era sobre a forma perfeita de tocar, nem sobre dizer as palavras certas. Era sobre o risco. Sobre se permitir ser vista — por completo.
Gostar de alguém nunca foi o problema. O difícil era ter coragem de mostrar que gosta. De deixar a pele fina da alma exposta, de segurar o olhar mesmo quando tudo em você quer desviar. A coragem não mora nos grandes gestos ou nos beijos de cinema. Ela vive no instante antes do impulso, quando o peito aperta e ainda assim você vai.
É aí que mora o verdadeiro ato de sedução: não em conquistar o outro, mas em se entregar com verdade — mesmo sem garantia de ser correspondida.
Talvez fosse esse o único jeito de vencer o medo: atravessando ele.
Mesmo tremendo. Mesmo tropeçando nas palavras. Mesmo com a voz falhando no meio da frase. Coragem, no fim, é isso. Sentir tudo... e ainda assim, escolher dizer.
O vestido vermelho abraçava meu corpo como se conhecesse cada curva, cada pedaço de pele onde a memória ainda morava. Havia algo simbólico naquela escolha. O vermelho sempre foi a cor da ousadia, da paixão, da coragem. E, naquela noite, eu precisava de todas as três. E um pouco da porra da tequila, também.
A lingerie por baixo era ainda mais simbólica. Vermelha também. Aquele que foi presente dele e que eu, na minha idiotice, nunca tive coragem de usar. Até agora. Passei o batom com mãos trêmulas. O vermelho nos lábios parecia mais ousado do que qualquer palavra que eu tinha ensaiado nas últimas horas. E olha que eu tentei. Tentei escrever. Apaguei. Gravei áudio. Chorei ouvindo. Treinei na frente do espelho, mas a minha própria voz me dava vontade de rir de nervoso. Nenhuma frase parecia certa. Nenhum roteiro funcionava. Sempre acabava com a minha voz falhando e o coração mais confuso do que antes. Não, eu não quero ser perfeita. Porque perfeição é a desculpa dos covardes pra não sentir de verdade. Eu só queria que ele me ouvisse. E, talvez, me entendesse.
Suspirei fundo, como se isso pudesse aliviar o nó no estômago. Peguei o celular, pedi o táxi e, enquanto esperava, me olhei no espelho uma última vez. Uma última chance de voltar atrás. Mas não voltei.
Quando dei por mim, já estava no elevador, sentindo o coração bater mais rápido do que o normal. Minutos depois, a porta do apartamento da Jisoo se abriu e fui recebida por uma mistura indecente de risadas, cheiro de vinho barato e um rock aleatório que alguém tinha colocado no modo repeat.
Ela estava encostada na bancada da cozinha, com uma taça na mão, os olhos um pouco brilhantes demais e o sorriso meio torto. A Jisoo bêbada era tipo uma fada madrinha com diploma em esculacho e zero noção de limite.
— Você demorou, caralho! — ela gritou, abrindo os braços como se estivesse reencontrando alguém que voltou da guerra. — A festa já começou e eu já tô na fase do “vou mandar mensagem pro meu ex”.
—Você não seria maluca de fazer isso, certo?
— ... — Jisoo me puxou mais pra perto, os olhos arregalados como se tivesse feito uma descoberta científica. — Você tá… gostosa. Tipo, nível parar o trânsito.
— Meu Deus, para de gritar.
— Eu não tô gritando, eu tô constando um FATO! — ela apontou pra mim com a taça meio vazia. —Essa lingerie tá te moldando como se tivesse sido costurada por deuses gregos bêbados e pervertidos.
— Eu tô com um vestido por cima, você nem tá vendo a lingerie.
— Mas eu sei. Eu sinto. Tá no ar. Tem cheiro de mulher decidida com peito erguido e rímel à prova de lágrimas.
— Você tá muito bêbada.
— E você tá muito gata. Sério, se eu fosse homem, eu dava em cima de você agora mesmo. Com poesia. E um pix de 200 reais.
—Você tá querendo dizer que eu estou parecendo uma prostituta?
— Não! — Jisoo arregalou os olhos, ofendidíssima, e balançou a taça como se isso reforçasse o ponto dela. — Eu tô dizendo que você tá parecendo uma mulher tão irresistível que inspira arte... e investimento financeiro.
—Ah, ótimo!
— O quê? Não posso valorizar a minha amiga? — ela riu e me abraçou de lado. — Olha, eu sei que você tá nervosa. Eu sei que seu coração tá pulando igual chinelo de mãe em briga. Mas você precisa confiar em si mesma. Você é intensa, . E o Jimin sempre enxergou isso.
— Ele tá bravo comigo.
— Porque ele se importa. Porque ele é apaixonado. E você vai até ele, não como uma heroína de comédia romântica que tropeça e derruba vinho na calça branca dele. Vai como a mulher que finalmente entendeu que sentir demais é um presente, não um defeito.
— Eu não sei nem o que dizer…
— Então diz com o olhar. Com o toque. Com o silêncio. Mas diz alguma coisa, caralho! Só não volta pra casa arrependida por não ter tentado.
Eu respirei fundo e soltei um sorriso, enquanto colocava um pouco de alguma bebida desconhecida no meu copo. Tinha gosto de desespero com limão, mas a essa altura, qualquer coisa que queimasse a garganta parecia bem-vinda.
— Você ensaiou esse discurso?
— Óbvio que não. Eu tô bêbada, isso foi tudo improviso. Mas foi lindo, né?
— Infelizmente… foi.
Eu respirei fundo.
—Só um copo disso não vai resolver meus problemas. — Resmunguei, pegando o segundo.
— Você vai cair antes do Jimin chegar — Jisoo comentou, rindo e apoiando as mãos nos quadris.
— Melhor cair bêbada do que sóbria e idiota.
Segundo copo. Queimou de novo. Mais forte. Talvez meu corpo estivesse tentando me avisar que essa era uma péssima ideia. Mas minha cabeça gritava mais alto: "você vai encarar isso agora ou nunca".
— Isso, garota. Coragem líquida é o que move essa história de amor — Jisoo comentou, me incentivando como se eu estivesse prestes a subir num ringue. E de certa forma, eu tava.
— Eu vou morrer — murmurei, tremendo os dedos ao colocar o copo vazio sobre a bancada. — E no meu túmulo vai estar escrito: “Morreu tentando não parecer uma idiota.”
— Mas vai morrer gostosa — ela piscou. — E de batom vermelho.
Tava começando a acreditar que talvez… só talvez… eu fosse conseguir.
Aí a porta da sala se abriu.
E o inferno pessoal de começou.
Park Jimin entrou como se o tempo tivesse dado uma pausa só pra ele. Todo de preto. Calça jeans escura, camiseta justa o suficiente pra mostrar os braços e o ombro tatuado que me tirava o ar desde o primeiro dia. Casaco jogado por cima, boné também preto, aba baixa escondendo metade do rosto — mas não o suficiente pra esconder o olhar.
Ele tava gato.
Não. Ele tava um absurdo. Um ataque. Um atentado emocional com pernas. Que mexia com as minhas pernas.
Minha boca abriu sozinha. Só que não pra falar.
Pra tossir.
Me engasguei com a bebida, tossi alto, bati no peito, tudo enquanto Jimin dava dois passos pra dentro da festa — e olhava direto pra mim.
— Meu Deus — sussurrei, entre uma tosse e outra. — Eu literalmente me engasguei com a presença dele. Isso é inédito.
Jisoo segurava a risada tão mal que parecia ter levado um choque.
—Não se preocupa, amiga. —Ela bateu de leve nas minhas costas, tentando me ajudar. —Dizem que homens se excitam com mulheres que se engasgam.
— Não faz contato visual! — Cochichei desesperada, ignorando a fala da minha amiga e virando de costas. — Não olha! Ele tá vindo? Jisoo, ele tá vindo??
— Ele tá indo falar com o idiota do Sung Hoon. — Ela respondeu, animadíssima, como quem anuncia a chegada de um boy de reality show. — E você vai ficar exatamente aí. Nada de fugir pro banheiro. Nada de pular da sacada.
— Eu odeio você.
— Eu sou sua fada madrinha, senhorita vergonha alheia. Vai dar tudo certo.
Eu me virei lentamente e tentei manter a compostura, observando ele conversar com o amigo idiota dele, mas aí os nossos olhares se encontraram e eu engoli em seco. Ele só me olhou. E não foi um olhar qualquer — foi aquele tipo de olhar que a gente sente antes de perceber. Que atravessa a pele, passeia por dentro e encontra cada parte que a gente tenta esconder.
Os olhos dele estavam fixos nos meus, e por um segundo, tudo ficou em silêncio. A música da festa ficou distante, o barulho das conversas virou um ruído abafado. Era só ele. E eu. E aquele maldito silêncio que gritava mais do que qualquer palavra.
E naquele segundo — ou milênio, sei lá — eu senti meu peito doer. Porque ele me olhava e fazia todas as nossas memórias voltarem. O toque suave dele nos meus cabelos. O jeito que ele ria, o jeito que ele me tocava. O som da voz dele me chamando de "linda", como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
Merda, merda, merda!
Eu precisava sair dali.
Meus pés se moveram antes da minha dignidade conseguir protestar. Empurrei gente no caminho, tropecei em alguém que dançava com uma taça na mão e murmurei um “Desculpa, tô passando mal” só pra manter alguma aparência, minimamente, louvável. Mas todo mundo viu. Eu tava em colapso.
Entrei no banheiro e tranquei a porta como se estivesse fugindo da polícia. Me apoiei na pia, respirei fundo e encarei meu reflexo. O rímel ainda tava no lugar, o batom um pouco borrado, e a expressão? A de uma mulher que claramente não estava preparada pra nada daquilo.
— Eu sou uma fraude — murmurei pro espelho. — Eu treinei. Jisoo me deu aulas. Eu li textos no Pinterest, vi vídeos na merda do Youtube. Eu usei lingerie. E eu. Me. Engasguei.
Soltei o ar devagar, tentando não me desesperar mais do que o necessário.
A verdade é que eu podia estar vestida de desejo e ensaiada em sedução, mas bastou ele aparecer pra tudo desmoronar. Porque não era sobre a pose. Era sobre ele. E eu amo esse desgraçado.
Suspirei, me endireitei, tirei uma toalhinha de papel do dispenser e limpei o borrado nos lábios.
— Tá tudo sob controle — falei alto, pra ver se convencia a mim mesma. —Você vai tomar um ar, beber mais um pouco e vai dizer tudo que sente, ok? Tá tudo bem — menti descaradamente.
Embora eu estivesse tremendo por dentro, com o coração batendo rápido demais e a sensação de que meus pés podiam falhar a qualquer momento, eu queria ver aquele desgraçado de perto, queria saber qual o perfume que ele estava usando e queria, de alguma forma, me comunicar com Park Jimin. Eu não sabia se era coragem ou desespero — talvez os dois —, mas alguma coisa me empurrava pra frente.
E, talvez, isso fosse um bom começo.
O ar lá fora estava gelado, e eu senti o impacto no rosto como um tapa que eu provavelmente merecia. Meus saltos afundaram um pouco na grama do jardim da frente, e eu respirei fundo como se o mundo inteiro coubesse nos meus pulmões. Só queria silêncio. Só queria não estar tremendo.
E isso só piorou quando eu o vi.
Merda.
Ele tava lá.
Jimin.
Encostado num carro preto qualquer, segurando um copo com o resto de alguma bebida, o boné virado pra trás e o olhar no céu como se as estrelas tivessem respostas que eu nunca consegui dar.
Eu parei. Ele não. Continuou encarando o infinito. Mas eu sabia. Ele sabia.
E então ele olhou pra mim.
Aquele olhar de novo.
Dei alguns passos, quase sem pensar. Ele virou o rosto, me viu. E eu sorri. Fraco, pequeno, meio torto e comecei a falar. Todo o plano, todas as frases ensaiadas, as lições da Jisoo, o maldito discurso com começo, meio e fim... sumiram. Evaporaram. Porque quando o Jimin tava ali, na minha frente, com aquele olhar que sempre me desmontou, só existia ele. Ele. E o jeito que ele fazia tudo dentro de mim parecer urgente demais pra ser guardado.
— Você... fica bonito de preto — falei, com a voz baixa e abraçando meus próprios braços devido ao frio. — Tipo, irritantemente bonito.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu. Só ficou me olhando. Daquele jeito. O jeito que fazia meu coração tropeçar e minha boca esquecer qualquer ensaio.
— Eu... — engoli seco. Merda. Respira, . — Eu sei que provavelmente essa é a última coisa que você quer agora. Me ouvir. Mas eu vou falar mesmo assim.
Ele não se mexeu. E nem precisou. O silêncio dele dizia tudo. E ainda assim, eu continuei.
— Eu sou uma idiota. Uma covarde. Uma garota com um vestido apertado demais e um batom um pouco borrado, tentando parecer corajosa, quando na verdade só queria correr pra longe e fingir que não sinto porra nenhuma. Mas eu sinto. E tô cansada de fingir.
Engoli o choro que ameaçava rasgar minha garganta e encarei ele. Porque se era pra cair, que fosse de cabeça.
— Eu não sei quando diabos eu descobri isso, mas quero que saiba: não foi uma descoberta tranquila, pacífica ou cheia de rosas e todas essas merdas românticas. Porque doeu quando você foi embora e só aí que eu me toquei do quanto eu estava envolvida pra cacete na sua vida. —Suspirei, criando coragem para seguir adiante. —Eu amo você, Jimin. Amo tanto que parece que meu peito vai explodir. Que me trava. Que me quebra. Que me fode inteira, entende? Você sempre foi o cara que me fazia rir quando eu queria desaparecer. O moleque que me puxava pela mão no recreio e dizia que ninguém ia mexer comigo. Você sempre esteve ali. E eu... eu sempre fui atrás de você porque, porra, era seguro.
Minha voz falhou. Mas segui.
— Você foi meu ponto de paz quando o mundo parecia desabar. O idiota que me irritava, mas que me fazia sentir pisando na terra só por existir. E eu fui burra. Muito. Porque eu passei a vida inteira achando que precisava te proteger de mim. Do que eu sentia. Como se amar você fosse algo errado. Como se você merecesse alguém melhor, alguém mais leve, mais... sei lá. Alguém menos fodida.
Suspirei, com raiva de mim mesma.
— Mas quer saber? Foda-se. Eu tô aqui. Com o coração escancarado, mesmo tremendo por dentro, mesmo morrendo de medo de você me olhar e dizer que já foi. Que passou. Que não tem mais jeito. Mas eu precisava falar. Porque te perder sem lutar seria mais covarde do que tudo o que eu já fiz.
Dei um passo à frente, sentindo minha respiração entrecortada pelo turbilhão de emoções que me consumia. Foi então que vi: uma lágrima solitária deslizou pelo rosto dele, traçando um caminho silencioso em meio à penumbra. Aquela lágrima carregava o peso de anos. Anos em que ele foi meu porto seguro, meu protetor desde os dias de infância, quando eu tropeçava e ele estava lá para me erguer. Anos em que meus passos, quase instintivamente, seguiam os dele, buscando sua sombra, sua presença, seu calor.
Ver essa lágrima, testemunhar sua vulnerabilidade, fez meu coração se apertar de um jeito que palavras não poderiam descrever.
— Eu gosto de você, Jimin. Desde sempre. Desde antes de entender o que era gostar de alguém. Desde que você me deu metade do seu lanche e me chamou de sua melhor amiga. Desde que meus pés aprenderam o caminho de te seguir. E agora eles estão aqui, de novo, parados na sua frente, esperando. Porque se ainda tiver um espaço aí dentro... por menor que seja... eu queria entrar. Só preciso de um espacinho. Uma fresta. Um canto empoeirado aí dentro que ainda lembre de mim. Eu prometo não fazer muita bagunça, mesmo sendo um pouco caótica, por vezes. Mas, eu só quero ficar. Te fazer rir de novo — daquele jeito bobo que você sempre tenta esconder. Quero te ver dançar sozinho pela casa, te encher o saco quando você reclamar da minha série ruim, e te lembrar que, sim, você tem medo de borboletas, e eu vou rir toda vez que você sair correndo fingindo que não. —Ele deixou mais algumas lágrimas caírem e largou o copo em algum lugar, olhando fixamente nos meus olhos e então eu continuei. —Quero ser abrigo nos dias ruins. Quero ouvir suas teorias malucas às três da manhã, e te fazer esquecer que o mundo machuca às vezes. Eu só… quero fazer você feliz. E se você deixar, Jimin, eu juro que dessa vez eu fico. Por nós dois.
Ele abaixou o olhar por um segundo. E quando voltou a me encarar, parecia outro. A expressão dura deu lugar a uma vulnerabilidade que ele nunca mostrava. Aquela lágrima ainda brilhava na curva do rosto. A respiração dele vacilou. E, por um instante, eu achei que ele fosse virar as costas. Mas ele deu um passo à frente, enquanto a adrenalina tomava conta de cada célula do meu ser.
— Eu te amo, . Caralho, eu te amo tanto que às vezes parece que eu vou explodir por dentro.
E então veio o toque — quente, urgente, desesperado. A mão dele na minha nuca, o corpo colado ao meu como se a gente tivesse sido feito pra se encaixar naquele exato segundo do universo. O beijo não foi doce. Foi intenso, fodido, cheio de saudade, raiva, amor e de tudo mais que a gente tentou esconder até aqui.
Ele me beijou como quem encontra casa. E eu beijei de volta como quem voltou pra ela.
“Amei-a contra a razão, contra a promessa, contra a paz, contra a esperança, contra a felicidade, contra todos os desencorajamentos que poderiam existir.” — Charles Dickens, Grandes Esperanças
Park Jimin
Existem coisas na vida que são boas. Pra caralho. Tipo um orgasmo daqueles que tira sua alma do corpo por alguns segundos. O gosto do primeiro gole de uísque descendo rasgando a garganta, depois de uma semana desgraçada. Uma risada alta num dia pesado. A sensação de estar indo bem em uma prova que você se fodeu para entender o conteúdo. Mas nenhuma dessas porras chega perto do que eu tô sentindo agora. Porque ouvir dizendo que precisa de um mísero espaço para permanecer na minha vida, que gosta e me ama, com um vestido vermelho e olhos brilhantes é como estar em um paraíso. Um paraíso que eu achei que nunca fosse pisar. Merda, como foi bom ouvir dela... ouvir da boca dela toda aquela declaração, com aquele tremor leve na voz, como se ela tivesse medo e coragem ao mesmo tempo. Porra, isso me desmontou.
Os dedos dela sobem pela minha nuca, puxam meu cabelo, apertam meu ombro com uma força que eu nunca tinha sentido. E ao mesmo tempo em que ela me devora, ela me salva. Porque, no meio desse caos que é amar alguém, eu encontrei paz na boca dela. No toque, no jeito que ela se encaixa em mim como se tivesse sido feita pra isso. E talvez tenha sido mesmo.
me tira do eixo, me quebra em pedaços e me reconstrói tudo de novo. Ela me olha como se enxergasse além do meu nome, da minha história, das merdas todas que eu finjo carregar com leveza. E agora, nesse momento, com a língua dela roçando na minha, com o coração batendo tão forte que parece explodir no peito, eu entendo que nada nunca fez tanto sentido quanto isso. Quanto ela. Eu amo essa mulher. Amo o jeito que ela fala, que sorri torto quando quer disfarçar emoção, o jeito que ela me desafia e depois me beija como se quisesse cravar o nome dela na minha pele. E porra, que merda linda é essa de amar alguém e finalmente ser amado de volta.
Como é que eu aguentei viver sem isso, mesmo por alguns dias? Sem esse toque, sem esse olhar, sem esse amor maldito que me destrói e me levanta na mesma intensidade? Eu a seguro como se não tivesse amanhã. Como se o mundo fosse acabar a qualquer momento e essa fosse a última chance de provar do céu que é a boca dela. Ela se joga em mim como se quisesse me atravessar, me habitar, me marcar. A língua dela encontra a minha com sede, com fome, com essa mistura insana de carinho e necessidade. E eu vou junto. Me deixo ir. Porque foda-se o orgulho, foda-se o medo, foda-se o que vem depois. Agora é ela. Só ela.
— Jimin... — ela se afastou por alguns segundos, tentando recuperar a respiração, com os lábios ainda entreabertos e a testa encostada na minha. Os olhos estavam fechados, como se ela precisasse de ar, mas não quisesse se afastar de mim de verdade. — Eu não tô aguentando... Eu preciso de você. Agora.
A respiração dela batia quente contra minha pele e o coração parecia querer pular do peito. Eu olhava pra e só conseguia pensar em como era possível alguém ser tão filha da puta de bonita. O vestido vermelho colava nas curvas dela de um jeito indecente. Cada centímetro daquele tecido parecia um convite direto pro inferno, e eu tava mais do que pronto pra ir sorrindo.
— Vem comigo. — Murmurei, segurando firme a mão dela e guiando em direção ao carro. Ela não questionou. Só me seguiu.
— A gente... a gente vai...? — Ela começou, com uma voz baixa, meio nervosa, meio excitada.
Abri a porta de trás do carro com um sorriso nos lábios e me virei pra ela.
— Já transou no carro? — Perguntei, só pra provocar, dando um sorriso ladino.
Ela arregalou os olhos por um segundo.
— O quê?! Não... nunca. — Murmurou. E aí veio aquele olhar. Aquele misto de vergonha e tesão, com um toque de desafio.
Não consegui evitar a risada baixa, meio rouca.
— Então parabéns, linda. Hoje você vai riscar isso da lista.
Ela arqueou uma sobrancelha, com aquele sorrisinho de canto que me deixava fora de mim, e rebateu, sem perder o tom provocativo:
— De transar num carro ou de transar em um Audi?
Soltei uma gargalhada abafada e a encarei, mordendo o lábio. Meu corpo inteiro reagiu na hora. sabia exatamente o que dizer, o quanto cutucar pra me deixar doido. E o pior (ou melhor), era que ela fazia isso naturalmente, como se nem percebesse o estrago.
— De todas as opções possíveis. Mas já que você tocou no assunto... — puxei ela pela cintura de novo, colando nossos corpos — ...vamos fazer valer o preço do carro, né?
Ela mordeu o lábio pra segurar o riso, mas os olhos diziam outra coisa. Puro desejo.
— Então não me decepcione, Park.
— Não sei fazer isso, amor. — Sussurrei antes de jogar ela no banco de trás.
O banco de trás do carro virou o nosso universo em questão de segundos. Assim que fechei a porta, o som do mundo lá fora sumiu, e tudo que sobrou foi o barulho das nossas respirações aceleradas, dos beijos molhados, da pele deslizando contra pele. caiu no estofado com um riso nervoso, meio embriagado de mim. O vestido vermelho subiu perigosamente nas coxas dela, e eu me ajoelhei entre elas, puxando os tecidos com uma pressa quase desesperada.
— Isso é loucura — ela sussurrou, a voz trêmula, carregada de desejo.
Inclinei o rosto e deixei um beijo lento na clavícula dela, sentindo o corpo inteiro reagir sob o meu toque. Subi até o pescoço, roçando a boca na pele quente e arrepiada, e murmurei:
— Sabe o que é loucura de verdade?
Pausei, soltando uma risada baixa contra a pele dela.
— Você estar gostosa assim, com essa porra desse vestido vermelho… me deixando à beira do surto.
Apertei a cintura dela, roçando minha boca até a curva da mandíbula.
— Porque eu não aguento olhar pra você e não querer te foder por inteiro… te fazer minha. Com força. Com vontade. Até você esquecer o próprio nome e só lembrar do meu.
Ela gemeu baixinho, arrastando as mãos pelo meu peito até chegar na barra da minha camisa. Me olhou com aqueles olhos fodidos de desejo, mordendo o lábio inferior antes de deslizar os dedos por dentro da minha calça. E então me tocou.
Soltei um suspiro arrastado, encostando a testa na dela.
— Olha o que você faz comigo… — sussurrei, ofegante, sentindo os dedos dela envolverem meu pau completamente rígido, dolorido de tesão, pulsando na mão pequena e quente.
— Você tá tão duro — ela sussurrou, surpresa, quase em reverência. —Caralho, Park Jimin. Como você é gostoso.
Soltei uma risada baixa, rouca, o peito subindo e descendo rápido.
— A culpa é sua, baby. A porra dessa roupa. A sua boca. As coisas que você diz. Você nem faz ideia do que estrago que tá causando aqui.
Sem conseguir mais me controlar, deslizei a mão pela coxa dela, sentindo a pele quente e trêmula sob meus dedos, enquanto me masturbava com lentidão. O toque dela era firme, mas provocante. Uma tortura deliciosa. Cada movimento da mão dela fazia meu corpo inteiro contrair, como se cada centímetro da minha pele estivesse em combustão.
Empurrei o tecido do vestido até ter espaço pra alcançar a calcinha. Não tirei. Só afastei pro lado, com pressa, com fome, com a urgência de quem já esperou demais.
E ali estava ela. Molhada. Tão fodidamente molhada que eu quase gemi alto.
— Caralho, … — murmurei, passando os dedos com delicadeza, provocando. — Você tá escorrendo por mim. Tá sentindo isso?
Meus dedos roçaram o clitóris devagar, depois em círculos, enquanto eu sentia a mão dela acelerar no meu pau. Ninguém falou nada. Mas tava ali — uma tensão não dita, uma disputa de quem enlouquecia o outro primeiro. Ela gemeu alto, o quadril se movendo contra minha mão, me dando mais espaço, mais liberdade.
Então eu a penetrei com dois dedos, de uma vez só.
E o gemido que escapou da boca dela me fez perder o fôlego. As mãos dela se moviam mais rápido, firme em torno do meu pau, me arrancando gemidos baixos. Quase uma provocação, um desafio silencioso.
— Isso, caralho… assim — ela arfou, apertando os olhos. — Porra, Jimin...
Inclinei o rosto, minha testa encostando na dela, ofegantes, suados.
Meus dedos continuavam dentro dela, indo fundo, deslizando com facilidade por toda aquela lubrificação quente que só aumentava. apertava meu pau com mais força, mais ritmo, e eu comecei a perder o controle.
— Merda... — gemi, jogando a cabeça pra trás. — … porra, eu tô quase gozando só com a sua mão.
Ela soltou uma risadinha entre um gemido e outro, claramente satisfeita com o efeito que tava causando. Mas não dava mais. Meu corpo inteiro gritava por ela.
— Eu preciso te comer — sussurrei, quase suplicando, sentindo os músculos do meu abdômen se contraírem, lutando pra segurar. — Agora. Do jeito que for. Aqui mesmo. Com essa porra desse vestido subido até a cintura.
Soltei os dedos dela devagar, ainda sentindo o calor grudado na minha pele. E quando puxei a calcinha dela pro lado de novo, encarei os olhos dela, completamente dilatados.
Ela me empurrou de leve contra o banco, os olhos fixos nos meus. Sem dizer uma palavra, subiu no meu colo com a confiança de quem sabia exatamente o que queria — e era eu.
Toda ela tremia, mas não hesitava.
Segurou meu ombro com uma mão, a outra guiando meu pau até a entrada dela.
E quando encaixou… porra. Precisei de alguns segundos para me recuperar da sensação quente, fodida, de que era estar dentro daquela mulher.
Deixei um gemido escapar, rouco, arranhado, quase um grito engolido.
— Caralho... — sussurrei, afundando as mãos na bunda dela, puxando pra mais perto, mais fundo. — Você tá tão molhada, tão quente, tão gostosa...
Ela começou a se mover devagar, rebolando com calma, completamente no controle de tudo. Minhas mãos subiram, agarrando os seios dela por baixo do vestido, sentindo os mamilos duros contra meus dedos.
Ela começou a acelerar.
O quadril dela subindo e descendo com mais força, mais urgência, os gemidos ficando mais altos, mais desesperados.
O som do nosso sexo ecoando pelo carro, indecente, molhado, perfeito.
— ... — gemi, apertando o quadril dela com força, guiando o movimento, ajudando, querendo mais — você vai me fazer gozar assim...
Ela soltou uma risada curta, entre gemidos.
Suada, descabelada, com o vestido completamente fora do lugar e os olhos brilhando como se estivesse em transe.
— Então goza. Dentro de mim.
Aquilo quebrou qualquer controle que eu ainda fingia ter.
Me inclinei pra frente, envolvi um dos seios dela com a boca, chupando com força, enquanto as mãos puxavam a bunda dela contra mim, batendo, gemendo, falando palavrão no ouvido dela.
— Você é minha... porra, você é minha.
Ela rebolava mais rápido, mais forte, e de repente o corpo dela estremeceu.
— Jimin! — Gemeu, as unhas cravando nos meus ombros, enquanto gozava em cima de mim, se apertando ao redor do meu pau.
Eu não aguentei. O calor, o aperto, o som dela… tudo explodiu de uma vez.
Grunhi alto, quase um rosnado, segurando o quadril dela com força e gozando fundo, inteiro, dentro dela.
O carro inteiro parecia balançar, mas o silêncio veio rápido. Só os nossos corpos ainda ofegantes, colados, suados.
O cheiro do sexo preenchendo o carro, e os nossos risos abafados começando a escapar no meio da bagunça.
deixou a testa cair no meu ombro, rindo baixinho.
— Isso foi... — ela tentou, mas a frase morreu ali, afogada no riso.
— Delicioso. — completei, rindo junto, com a cabeça encostada no banco. — Mas, tenho que confessar que foi insano.
caiu contra meu peito, ainda montada em mim, o corpo quente, a pele grudando na minha.
A testa dela repousava no meu ombro, e eu passava a mão pelas costas nuas dela, num carinho lento, quase inconsciente.
— Isso foi loucura… — ela sussurrou, com um riso abafado.
— A melhor loucura da minha vida — respondi, ainda tentando recuperar o fôlego.
Ela ergueu o rosto devagar, os olhos brilhando, e me deu um beijo leve, preguiçoso, como se estivesse saboreando o gosto do momento.
— Você tá todo... — ela olhou pra baixo e deu uma risadinha, sem nem terminar a frase.
— Você também não tá muito apresentável não, viu — murmurei, deslizando os dedos pela coxa dela até onde o vestido subia demais. — Mas ainda assim, é a coisa mais linda que eu já vi.
— Jimin... — sussurrou, com a voz mais baixa, quase hesitante. — Eu posso te dizer uma coisa?
Segurei o rosto dela com as duas mãos, puxando pra perto, pra que ela visse nos meus olhos.
— Claro, linda. Fala comigo.
Ela respirou fundo, e mesmo ainda com as bochechas coradas, os olhos vidrados em mim, falou com uma firmeza que me atingiu no peito.
— Eu amo você. De verdade.
O mundo parou por um segundo. Sério. O tempo ficou mudo.
Eu só conseguia olhar pra ela, tão linda, tão fodidamente entregue, sentada em mim como se sempre tivesse pertencido ali.
— Repete. — pedi, num sussurro rouco, a testa colada na dela. — Diz de novo, só pra eu ter certeza que ouvi direito. Eu sei que eu já tô sendo chato, mas...
— Eu te amo, Jimin.
Soltei um suspiro carregado, tipo um alívio, tipo um grito que ficou preso dentro de mim por tempo demais.
— Porra, . — Murmurei, colando nossos lábios num beijo urgente, quase desesperado. — Eu também te amo. Desde antes de saber que isso aqui era amor.
Beijei o rosto dela, os olhos, a boca, o pescoço — como se fosse minha primeira chance e também a última.
— Você é minha, . Não tem mais volta.
Ela sorriu contra minha boca, com aquele brilho que acabava comigo.
—Eu sou sua, meu amor.
Tem coisa melhor do que isso? Sério. Porque se tiver, eu nunca experimentei — e olha que eu já vivi muita merda boa nessa vida.
tava deitada no meu peito, desenhando círculos imaginários com a ponta dos dedos, como se tivesse todo o tempo do mundo. E talvez tivesse mesmo. Porque ali, com ela grudada em mim, eu não precisava de mais nada. Ela tava confortável, tranquila, com aquele sorrisinho de canto que sempre ferrava comigo. E, puta que pariu, era como se eu tivesse inalado gás do riso.
Sabe aquele momento em que a risada vem do nada, sem motivo? Que você fica rindo à toa, parecendo um idiota? Então. Era isso. Só que a causa do meu surto era o sorriso dela. Bastava ela sorrir, e eu já tava doidão, leve, feliz. Como se tivesse tomado uns cinco balões de gás do sorriso da e tivesse flutuando em cima da porra do mundo.
Eu sorria de volta sem nem perceber. Meu rosto se mexia sozinho. Tipo: “olha lá o idiota apaixonado”.
E eu era mesmo. Com orgulho.
— Sabe o que é mais engraçado? — ela murmurou, com aquele tom leve, debochado, que me fazia querer puxar ela pra mais perto, só pra ver onde isso ia dar.
— Hm?
— A Jisoo meio que me ajudou nisso tudo.
— Como assim? No vestido?
— No vestido, na coragem, no plano todo. Mas não pergunta como, tá? Segredo de amigas.
Revirei os olhos divertido.
— Como assim “segredo de amigas”? Que merda é essa? Vocês tavam tramando pelas minhas costas?
— Talvez… — ela disse, rindo.
—Reveja suas amizades, linda. —Eu disse na brincadeira, mexendo nos cabelos de —A Jisoo não bate bem da cabeça.
— Bobo — ela disse, se ajeitando melhor, agora traçando uma linha invisível até meu ombro. — Ela só... me lembrou que eu tinha que ir atrás do que eu queria. E que, se eu continuasse esperando o momento perfeito, eu ia perder tudo.
— Ela disse isso mesmo?
— Entre taças de vinho e alguns chocolates. Sabe que ela é viciada, né?
— Vocês estavam bêbadas?
— Talvez.
— Isso explica você aparecendo com aquele pedaço de pano indecente e me fodendo com três palavras.
Ela riu alto, e eu juro que o som da risada dela fez meu peito esquentar.
— Você gostou?
— , se eu pudesse, moldava aquela roupa no seu corpo e mandava emoldurar. Aquele negócio me fez perder o juízo.
Ela ergueu a cabeça e me olhou com aquele brilho nos olhos, travessa.
— Você já não tinha muito juízo, gatinho.
— E você acabou de destruir o restinho que eu tinha.
— Jimin…
— Hm?
— Eu tô com medo. De como tudo isso me faz bem.
Beijei o canto da boca dela, devagar.
— Não precisa ter medo. Eu também tô com o coração na mão, mas, pela primeira vez, ele tá batendo no lugar certo.
Ela sorriu, e quando eu a puxei pra mais perto, abraçando forte, senti que nada mais no mundo importava.
Porque ali, no silêncio do meu quarto, com nossos corpos colados e o coração dela batendo perto do meu, tava tudo certo. Tudo certo pra caralho.
“Não consigo apontar a hora, o lugar, o olhar ou as palavras que lançaram a base. Foi há tempo demais. Eu já estava no meio disso tudo antes de perceber que havia começado.” — Jane Austen, Orgulho e Preconceito
Acordar ali, com o corpo encaixado no dele, a pele quente contra a minha, o som da respiração tranquila dele no meu ouvido, era como existir dentro de um sonho bom que se recusa a terminar. Era cedo, mas meus olhos já estavam abertos há um tempo, observando os detalhes da cena que se repetia em câmera lenta no meu peito — a forma como o braço dele pesava com carinho sobre a minha cintura, os dedos entrelaçados aos meus, o calor da presença dele me cobrindo mais do que qualquer coberta. E eu só conseguia sorrir. Porque eu tinha dito que amava ele e, depois disso, o sexo explodiu como se fosse a porra de uma bomba de hidrogênio. E não era mais segredo, nem medo, nem confusão — era amor mesmo, simples, bonito, leve, morando nele e agora, finalmente, morando em mim também. Me senti viva, inteira, como se todas as partes quebradas dentro de mim tivessem se juntado no exato momento em que ouvi ele sussurrar que também me amava, enquanto passava as mãos desesperadas pelo meu corpo, praticamente sedento por minha pele.
Eu queria poder engarrafar aquilo, guardar em um potinho, deixar na estante pra abrir sempre que o mundo lá fora ficasse barulhento demais. Queria eternizar aquele exato momento, em que a vida parecia caber entre os lençóis amassados e o peito dele, onde meu mundo agora morava. A pele dele tinha um cheiro que eu reconheceria até de olhos fechados — uma mistura de sabão, calor e alguma coisa que era só dele, só minha também, agora. Passei a ponta dos dedos devagar pela clavícula dele, depois pelo queixo, desenhando cada pedacinho como se pudesse decorar, como se quisesse garantir que aquilo era real, que ele tava mesmo ali, dormindo com aquele meio sorriso nos lábios, como se sonhasse com alguma coisa boa.
— Isso faz cócegas… — a voz dele saiu rouca, arranhada pelo sono e pelo tanto de gemido que tinha escapado dele durante a noite.
Sorri sozinha. Continuei passando os dedos pela clavícula dele, só de implicância. Ou, talvez, um novo vício havia sido descoberto.
— E se eu disser que é de propósito? Você tem um trapézio quase perfeito. Isso é excitante pra cacete.
Ele abriu um olho só, me olhando com aquela cara amassada de sono que eu achava a coisa mais linda do mundo. Tinha uma covinha preguiçosa no canto do sorriso.
— Tarada — murmurou, puxando meu corpo mais pra perto, até colar meu peito no dele. — Não satisfeita com o que a gente fez a noite toda?
— Eu só tava te admirando, seu convencido.
— Aham. — Ele beijou minha testa, depois meu nariz, depois ficou ali, com a boca colada na minha pele por uns segundos. — Meu Deus, eu tô morto. Literalmente sem força. Acho que você me drenou até a alma.
— Isso é um elogio?
— É uma denúncia — ele riu baixinho. — Mas uma denúncia feliz. Aliás… — ele bocejou, escondendo o rosto no meu pescoço — O que você quer comer? Precisamos repor nossas energias.
— De comida ou de você?
Ele soltou um suspiro dramático, rolando de barriga pra cima.
— , como você consegue pensar em sexo agora? Você por acaso é uma máquina?
— Uma máquina movida a você, talvez.
Ele riu, passando a mão pelo rosto.
— Tá, sério agora… tem arroz, tem kimchi, tem uns tteokbokki congelados, mas eu posso pedir qualquer coisa. Só me promete que vai usar roupas porque se você aparecer na cozinha daquele jeito de novo, fodidamente sexy, eu vou acabar te jogando em cima da pia. —Ele deu um sorriso canalha —E tenho chances de falhar miseravelmente porque, bem, minha perna está fraca. Eu nunca tinha transado tanto a ponto de me dar cãibras. Você tem noção disso?
— Isso é o que dá subestimar minha resistência.
Ele riu, aquele riso rouco e quente que fazia meu peito derreter, e me puxou de leve pela nuca, colando os lábios nos meus em um beijo preguiçoso, gostoso, cheio de carinho.
Quando se afastou, encostou a testa na minha e sussurrou, com a voz ainda meio arrastada:
— Ah, quase ia me esquecendo… bom dia, meu amor.
Sorri, completamente entregue.
— Bom dia, meu amor.
Levantar foi um desafio quase cômico. Jimin reclamou das pernas como se tivesse corrido uma maratona, e eu ri, claro — não com muita empatia, já que ele mesmo tinha causado isso. Ele foi atrás de mim até a cozinha, de camiseta larga e cabelo bagunçado, e parecia injustamente bonito daquele jeito relaxado.
Jimin mexia o arroz na panela com uma concentração quase cômica, franzindo o cenho, como se aquilo fosse um experimento de laboratório.
— Sabe que quando eu era pequeno, achava que arroz pronto era mágica? Tipo, você coloca um negócio duro na água e ele vira comida. Minha avó ria toda vez que eu falava isso.
— A sua avó ria de tudo que você fazia. — encostei o queixo no ombro dele, sorrindo. — Inclusive quando você colocou arroz no meu sapato “pra ver se ele crescia”. Você sempre foi mimado por ela.
— Que mentira! — Ele me olhou incrédulo, com a colher ainda parada no ar. — Tá, talvez um pouco. Mas eu era fofo, não era?
— Fofo e completamente maluco. — ri, mordendo um pedaço de melancia. — Você também achava que se colocasse fita no nariz, ele ia ficar mais fino.
— E você colocou fita junto comigo! — ele apontou, fingindo ofensa. — Era cúmplice, não adianta se fingir de vítima.
— Cúmplice nada. Eu só não queria te deixar sozinho na sua maluquice.
— Hm, claro. — Ele se aproximou, roubando um pedaço da minha fruta com os dedos e levando à boca. — Você adorava minhas maluquices. E ainda adora, vai...
— Talvez eu adore mesmo. — Murmurei, encostando a testa na dele com um sorriso preguiçoso. —Inclusive, transar dentro de um carro é o top 1 de todas elas, só para constar. — Acrescentei com um sorriso safado, encostando a testa na dele.
Jimin riu baixinho, aquele riso rouco de quem ainda tava com a memória fresca do que aconteceu na noite passada.
— Eu deveria me preocupar que essa seja sua referência de maluquice favorita? — Ele arqueou uma sobrancelha, me puxando pela cintura até sentar no banco da cozinha, me encaixando no colo dele com a maior naturalidade do mundo. —Não sei se já pensei em ficar com alguma ninfomaníaca, antes.
— Você que devia se orgulhar. — Dei um beijo leve no pescoço dele. — Poucos têm essa criatividade toda.
— Criatividade, é? — Ele mordeu o lábio, fingindo pensar. — Isso porque você não viu a ideia que eu tive pra hoje à tarde.
— Aí vamos nós de novo com esse mistério. — Revirei os olhos, mas com o coração rindo por dentro. —Sabe que eu não gosto de surpresas.
— Você também dizia que não gostava de relacionamentos adocicados, e olha só agora. — ele ergueu as sobrancelhas, convencido, e me roubou mais um pedaço de fruta, como se isso reforçasse o argumento.
— Presunçoso. — Murmurei, mas já rindo.
— Realista. — Ele piscou, apoiando o queixo no meu ombro. — Mas relaxa, não é nada maluco. Nem envolve carro nenhum… não dessa vez. Mas, se quiser usar outros elementos que tenham lá, eu não vou reclamar. Meus fetiches agradecem.
— Jimin! — Bati de leve no braço dele, indignada e rindo ao mesmo tempo. — Nós temos uma reputação a zelar, sabia?
— Ah, mas elas estão em boas mãos. — Ele respondeu, a voz mais baixa agora, com um carinho que me fez querer ficar ali pra sempre. — Confia em mim, vai? Só hoje. Prometo que vai ser o tipo de surpresa que você vai querer repetir.
— Hm… tá bom. Mas só porque você fez um café da manhã incrível. E porque seu cabelo tá fofinho. — Fiz um carinho bagunçado nos fios lisos e pretos.
— Sabia que seu ponto fraco era meu cabelo. — Ele sorriu vitorioso. — E depois sou eu o mimado pela vó.
— Você é o mimado da vó. E meu também, se continuar me tratando assim. —Completei, rindo baixo, enquanto ele colocava as duas mãos na cintura, daquele jeitinho convencido que só ele sabia fazer.
— Ah, então eu sou realmente seu agora? — Ele arqueou uma sobrancelha, se aproximando devagar, com aquele sorriso de canto que já vinha com manual de instrução pra desestabilizar o emocional.
— Sempre foi. — Respondi, dando de ombros, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba emocional com a maior tranquilidade do mundo.
Ele parou por um segundo, só me olhando. A expressão mudou, ficou mais suave. Como se ele tivesse ouvido uma música que ele amava e não ouvia há anos.
— Tá... é oficial. — ele murmurou, puxando minha mão devagar e beijando meus dedos com cuidado. — Eu vou ter que fazer algo muito bom hoje. Pra ficar à altura disso. — Espero que você saiba que você já é o suficiente só por existir do meu lado.
A tarde chegou devagar, tingindo o céu com tons de laranja e dourado, enquanto eu tentava processar que, pela primeira vez, eu estava realmente vivendo aquelas coisas que casais fazem nos filmes — e, não, não tô falando só do beijo na chuva ou daquelas promessas dramáticas. Falo do pacote completo: transamos mais uma vez (mesmo sob protesto de Jimin que insistia em dizer que não aguentava, mas o canalha era mais fácil do que eu pensava. Não conseguia negar fogo), tomamos banho juntos — o que teoricamente era pra ser algo rápido, mas acabou virando outra sessão de beijos, risadas e uma guerra de espuma que deixou metade do banheiro parecendo um cenário de desastre natural.
Depois disso, nos aventuramos a cozinhar o almoço juntos, e por “aventuramos” eu quero dizer: quase incendiamos a cozinha tentando fazer diversas proteínas, já que o Park dizia que tava fraco, que precisava de alimento real, que mal sentia as pernas e que o corpo dele era agora uma extensão do meu — e, com todo respeito ao romance fofinho, eu só conseguia rir enquanto ele se apoiava no balcão como se tivesse subido o Monte Everest.
— Eu li uma vez que o recorde mundial de… você sabe… é tipo vinte vezes num dia. — falei casual, como se estivesse comentando sobre o clima.
Jimin parou no meio do movimento, os hashis no ar, me olhando como se eu tivesse dito que ia invadir o pentágono.
— Vinte? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Quem foi esse ser mitológico? Um guerreiro lendário?
— Um cara chamado Horst Schulz, se não me engano. Anos 80, acho. Um cientista mediu. Foi tipo… por motivos acadêmicos, claro. — Dei de ombros, fingindo seriedade.
— Horst Schulz? — Ele repetiu, rindo. — Como que alguém se sujeita a esse tipo de coisa? Morrer fazendo sexo? Masoquismo, será?
— Pois é, talvez eu devesse me inspirar nele. Virar a Schulz feminina.
— Não, obrigado. — Ele estendeu a mão na direção da minha cintura e me puxou de leve, com aquele sorriso derrotado. — Uma Schulz já é mais do que meu corpo consegue aguentar.
— Fraco. — Provoquei.
— Inocente. — Ele retrucou, com os olhos brilhando de riso. — Só tô tentando sobreviver à Einstein do Caos. Mas se quiser quebrar mais algum recorde depois do almoço… me dá só uns vinte minutos.
— Te dou trinta. Sou generosa.
Fizemos tudo rindo. E isso era novo pra mim. A leveza, o depois. O depois do “eu te amo”, o depois do sexo, o depois do banho… o depois de tudo. Porque com ele, até o silêncio parecia uma conversa boa.
E agora, enquanto ele me puxa pela mão com aquele olhar cheio de mistério, dizendo que "a hora chegou", eu só consigo pensar que se todas as surpresas forem assim, talvez eu aprenda a gostar delas.
O carro seguia por uma estrada familiar, mas o caminho já não era o mesmo de antes — ou talvez eu é que tivesse mudado, porque tudo ao redor parecia mais bonito. Jimin dirigia com uma mão só no volante, os dedos da outra entrelaçados aos meus desde que saímos de casa. O sol da tarde tocava o rosto dele de um jeito quase cinematográfico, e por um instante, tive vontade de congelar aquele momento e viver ali pra sempre.
No rádio, uma música antiga tocava baixinho, daquelas que a gente costumava cantar juntos no ensino médio só pra irritar os professores. E claro que ele começou a cantar alto, com a voz rouca e sem o menor pudor.
— “Tell me whyyyyy—”
— Jimin, se você cantar Backstreet Boys no volume máximo de novo, eu juro que vou pular do carro em movimento. — Brinquei, tentando manter a seriedade, mas já rindo.
— Vai nada. Você me ama demais pra isso. — Ele sorriu convencido e apertou minha mão. —E eu canto bem, ok?
— Talvez... — fiz charme, virando o rosto pra disfarçar o sorriso.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, só ouvindo a música, com aquela paz confortável que só existe entre quem se conhece há muito tempo. Mas claro que minha curiosidade logo voltou com força total.
— Tá, agora você vai me dizer pra onde a gente tá indo. — falei, me inclinando pra frente, tentando espiar o GPS. — Você tá me deixando nervosa com esse mistério todo. E eu ainda não gosto de surpresas, lembra?
— Confia em mim. — Ele riu, tirando o celular do suporte pra que eu não visse. — Você vai gostar.
— Isso é o que todo homem misterioso diz antes de levar a garota pra um lugar esquisito. Tipo... um matagal. Ou um parque temático com palhaços.
— Palhaços? Sério? — Ele me lançou um olhar indignado. — Eu sou muito mais criativo que isso, .
— Então fala logo. Vai, só uma dica.
— Não. — Ele negou, divertido. — Mas eu deixo você tentar adivinhar. Três tentativas.
— Hmm... cinema?
— Não.
— Algum restaurante novo?
— Frio. Nossa, você é péssima de palpites.
— Ah! Vamos pular de paraquedas?
— Eu te amo, mas você acha MESMO que eu ia conseguir pular de um avião com essas pernas aqui? — Apontou pro próprio joelho, ainda com o drama do pós-sexo. — Mal consigo subir escada hoje.
— Verdade. Você é um idoso sexy, mas um idoso.
— Ei!
Caímos na risada de novo, e logo o clima foi ficando mais calmo, mais suave. A cidade foi ficando pra trás, as árvores aumentando ao redor da estrada, o som do motor se misturando à brisa da tarde.
E então, finalmente, ele reduziu a velocidade e virou à direita, entrando por um caminho de terra.
Meus olhos arregalaram na hora.
— Jimin... isso é...?
— A nossa antiga escola. — Ele confirmou com um sorriso nostálgico.
O portão enferrujado ainda estava ali, entreaberto, como se tivesse esperando pela gente esse tempo todo. O prédio estava igual e completamente diferente. Um paradoxo, eu sei. O tempo tinha feito seu trabalho — as paredes descascadas, os azulejos rachados, as janelas cobertas de poeira. Mas havia algo ali que resistia ao tempo. Talvez fossem as lembranças. Ou talvez fosse o fato de estarmos juntos de novo, voltando ao ponto de partida como se tudo tivesse sido planejado desde sempre.
— Meu Deus... — sussurrei, passando a mão pelos azulejos do corredor principal. — Eu tinha esquecido do cheiro disso aqui. É tipo... giz velho, suor e infância.
— E merenda duvidosa. — Ele completou, rindo.
— Aquele suco roxo que parecia combustível de foguete. — Eu gargalhei.
— E os bolinhos de arroz que você odiava. — Ele olhou pra mim com aquele brilho nos olhos, cúmplice. — Eu sempre comia os seus.
— Só porque queria impressionar. — Zombei.
— E funcionou. — Ele piscou, passando por mim e abrindo a porta da antiga sala do 3º ano.
O sol da tarde entrava pelas janelas tortas, iluminando partículas de poeira no ar. A sala estava vazia, mas bastou um segundo pra memória preencher cada canto. As carteiras, os cartazes coloridos, a professora com o coque sempre torto. E ali, no fundinho da sala, a nossa antiga dupla de carteiras, lado a lado como sempre.
— A gente era insuportável. — Falei, me sentando ali com um suspiro. — Não deixava ninguém copiar a lição, e você dava cola pra sala inteira.
— Eu era democrático. — Ele deu de ombros. — Você, elitista. Se achava porque era filha dos cientistas e sabia matemática como se fosse uma porra quase inata.
— Ei! — Empurrei o ombro dele de leve. — Só valorizava meu trabalho.
Ele riu, e por um instante, o tempo realmente voltou. Era como se ainda fôssemos crianças, sem cicatrizes, sem medos, só com os corações batendo alto por uma amizade que a gente ainda não entendia.
Jimin abaixou-se, abrindo a mochila e tirando um envelope pequeno, já amarelado.
— Tem uma coisa que eu nunca te mostrei. — Ele disse, meio tímido.
— O quê...? — Franzi a testa, curiosa.
Ele me entregou com cuidado, como se fosse uma relíquia. Quando abri, a caligrafia dele — ainda meio torta e espaçada — fez meu coração dar um pulo.
"Quer ser minha amiga?"
Abaixo da pergunta, um quadradinho escrito “sim” e outro “não”, com corações ao redor. Um bilhetinho simples, infantil. Mas que nunca tinha chegado até mim.
— Eu escrevi isso no primeiro dia em que vi você. — Ele disse, passando a mão pela nuca, nervoso. — Mas fiquei com vergonha. Então guardei.
— E guardou até hoje...? — Minha voz saiu baixa, apertada pelo impacto.
— Era importante. Eu tinha que guardar... porque foi naquele dia que você virou tudo. Mesmo sem saber.
Fiquei olhando pra ele com os olhos marejados, o coração batendo em lugares que eu nem sabia que existiam.
— Se eu tivesse recebido isso na época, teria marcado o “sim” umas dez vezes. — Falei, tentando sorrir, mas a emoção já me engolindo inteira.
Ele sorriu também, tímido, mas com os olhos brilhando.
— Bom... hoje eu trouxe outro bilhetinho. — Ele disse, tirando um segundo papel do bolso, dobrado igualzinho ao primeiro.
Tentei pegar, mas Jimin foi mais rápido, puxando com um sorriso que denunciava nervosismo e carinho, tudo ao mesmo tempo.
— Mas antes, eu preciso dizer umas coisas... — a voz dele ficou mais baixa, quase um sussurro entre nós dois. E, de repente, o mundo lá fora ficou mais longe.
— Eu sei que isso aqui é novo pra você. Esse sentimento... essa entrega... esse amor. Sei que você cresceu aprendendo a se virar sozinha. Que aprendeu a não esperar por ninguém. Que amar, pra você, sempre foi mais perigoso do que bonito. Como andar descalça num chão cheio de cacos — às vezes dá pra seguir, mas sempre sangra um pouco.
Meus olhos já estavam marejados antes mesmo de perceber. Porque era como se ele tivesse invadido minha alma e dito em voz alta tudo aquilo que eu nunca soube explicar.
— Mas porra, ... — ele riu baixinho, meio sem jeito, passando a mão na nuca. — Eu olho pra você e só consigo pensar: que sorte do caralho eu dei. Porque você podia ter ido embora, podia ter continuado fingindo que não sentia nada, podia ter me deixado pra trás... mas não. Você ficou. Você escolheu ficar.
Ele deu um passo mais perto. Meu peito já era só um nó.
— Você é difícil. É teimosa. Fecha a cara por nada e fala com os olhos antes da boca. Mas é exatamente isso que eu amo. Eu amo o jeito que você tenta não demonstrar que se importa, mas se importa pra caralho. O jeito que finge ser forte o tempo todo, quando na real tá só tentando não desmoronar. Eu amo cada pedaço seu — até os que você acha que ninguém aguentaria. Porque aguentar você não é um peso. É um privilégio.
Ele abriu o papel, tremendo um pouco. E eu já tava chorando.
"Fica comigo? Não só hoje. Nem só nos dias bons. Fica comigo quando você quiser gritar, quando achar que amar é uma merda e que fugir seria mais fácil. Fica mesmo assim. Eu seguro tua mão. Eu espero tua raiva passar. Eu te amo até quando você não consegue se amar. Só… fica."
Abaixo, dois quadradinhos:
☐ É claro que sim.
☐ Tô pensando... mas já te amo.
Ele levantou os olhos, com aquele sorriso torto, quase tímido, mas cheio de coragem.
— Então, ... namora comigo? Não desse jeito certinho que o mundo espera, mas do nosso jeito. Bagunçado, intenso, meio louco, caótico como você… mas, de verdade.
Eu fiquei em silêncio, sentindo o peso das palavras dele, como se cada sílaba tivesse um peso imenso, uma carga que eu não sabia como carregar. Ele estava ali, olhando para mim, com um olhar tão vulnerável e forte ao mesmo tempo, que me fez querer encolher de tanta intensidade.
Eu vi a mão dele tremendo, ele estava esperando por algo que eu nem sabia como responder. Como é que você responde a uma declaração dessas, quando seu coração está batendo em um ritmo atípico? Quando você nunca soube como deixar alguém entrar tanto assim na sua vida e, de repente, essa pessoa se torna tudo?
Eu olhei para ele, tentando conter as lágrimas que já caíam desesperadamente pelo meu rosto. Porque, merda, ele estava certo. Ele me fez sentir coisas que eu nem sabia que poderia sentir. Ele me fez olhar para o amor como algo que não era apenas uma palavra, mas uma construção. Algo que não precisava de pressa, mas da verdade. Eu queria gritar, mas as palavras estavam presas. Porém, olhando aqueles olhos, foi que eu percebi.
Não precisava de argumentos ou explicações.
Eu só me aproximei, as mãos trêmulas, e toquei o rosto dele. Porque, sim, eu sabia. Ele era meu. E eu era dele, de uma maneira que eu nunca soube entender.
— Eu te amo, Jimin. — As palavras saíram mais suaves do que eu imaginei, mas com a verdade que eu sempre quis esconder. Eu encostei minha testa na dele, fechando os olhos, tentando respirar como se isso fosse o suficiente para me manter calma. — Sim. Eu vou ser sua, porque sempre fui. Mas, agora é de um jeito que ninguém mais entende, porém do meu jeito. — E com isso, eu o beijei.
E aquele beijo foi minha resposta. Foi nossa resposta. A resposta que não precisa de explicações, só de uma alma que finalmente encontrou a outra.
E eu soube naquele momento que as palavras, por mais que fossem bonitas ou poéticas, nunca seriam suficientes para descrever o que eu sentia por ele.
“Aconteça o que acontecer amanhã, ou pelo resto da minha vida, estou feliz agora… porque eu te amo.” — Audrey Niffenegger, A Mulher do Viajante no Tempo
Dizem que praia e romance combinam como vinho e fondue. Ou como beijo na chuva e final de comédia romântica. E por mais clichê que pareça, eu entendo o apelo. O mar tem esse efeito estranho na gente — como se cada onda apagasse um pedaço do passado, das dúvidas, dos medos. Como se o som da água soubesse contar segredos que a gente sempre teve vergonha de dizer em voz alta. E a maresia... ah, a maresia sempre fez tudo parecer mais urgente. Mais vivo. Mais real. Eu sei que ela é bem nojenta, por vezes. Dá a sensação de que você está grudento, sujo, desidratado, mas mesmo assim, tem algo nela que, curiosamente, me abraça. Que me faz sentir como se eu estivesse dentro de um filme antigo, daqueles em que os personagens nem precisam falar tanto — eles só se olham e a gente entende tudo. Um lugar chamado “Notting Hill” é em Londres, mas podia ser facilmente em Gangneung, se a Julia Roberts trocasse a cafeteria inglesa por um quiosque coreano e dissesse: “Não esqueça que eu sou apenas uma garota, parada na frente de um rapaz pedindo a ele que a ame” com o som das ondas ao fundo.
E por mais que o vento bagunce o cabelo, e a areia insista em entrar onde não foi convidada, tem uma poesia silenciosa em estar ali. Tem algo bonito no descompasso da respiração quando a água gela os pés e o coração aquece por outro motivo.
E foi por isso — e só por isso, juro — que eu disse sim quando Jimin apareceu com aquele sorriso suspeito e falou:
“Vamos pra praia.”
Ele nem precisou argumentar muito. Disse que era só uma escapada rápida para comemorar que as coisas estavam dando certo entre nós já que, agora, éramos oficialmente namorados. Que o Audi erótico —meu novo apelido carinhoso para o maldito carro— estava com o tanque cheio. Que ele tinha uma playlist pronta, um lugar reservado e… que eu ia adorar. Porque eu estaria lá e poderia ser qualquer espaço, pois se me tivesse, já valeria a pena.
Eu já me apaixonei por menos, confesso. Por muito menos.
Mas aqui estou eu. Em um carro com um leve aroma de lavanda, indo rumo ao mar, com o coração batendo feito bateria de carnaval. E tudo o que consigo pensar é que, se a vida fosse um filme, essa seria a cena onde o casal principal finalmente se permite.
Se permite o quê?
Tudo. Porque estar com Jimin era isso, no final das contas.
— Cuidado com a estrada, namoradinho. — murmurei, quando senti seus lábios tocarem de leve o dorso da minha mão. Ele ainda mantinha uma das mãos no volante, mas a outra era minha desde que a gente saiu de casa.
— Não consigo evitar. Sua mão fica me chamando. — ele sorriu de lado, com aquele ar de charme malicioso que ele dominava como ninguém. — E também… é um sistema de recompensa. Um beijo por não ter mexido no ar-condicionado desde que entramos. Você é frienta demais.
— Você é ridículo. — revirei os olhos, mesmo sorrindo. — Isso aqui é um sequestro ou uma viagem de casal? Porque eu fui enganada. Achei que vinha ver o mar, não virar bonequinha de copiloto.
— Bonequinha sexy de copiloto, por favor. — ele corrigiu, tirando os óculos escuros por um segundo só pra me lançar aquele olhar que sempre dava tilt no meu cérebro. — E se você continuar falando desse jeito, eu vou encostar o carro agora mesmo e mostrar como esse título tem benefícios.
— Você é um perigo. — resmunguei, fingindo cruzar os braços, mesmo com a mão ainda presa à dele. — Aposto que nem sabe pra que lado fica Gangneung.
— Claro que sei! — ele fez uma pausa dramática. — Tá… mais ou menos. Mas o GPS sabe. E o GPS também aprovou esse plano. Disse que "Jimin finalmente tá fazendo algo certo com a vida dele."
— Mentiroso! — gargalhei. — Você vai acabar se perdendo e me levando pra uma fazenda de girassóis.
— O que seria incrível, aliás. Imagina só você no meio dos girassóis. Ia parecer comercial de xampu.
— Tá, mas por que Gangneung? — perguntei, recostando no banco com a cabeça virada pra ele. — Tem praia mais perto, sabia?
— Tem. Mas não tem o pôr do sol de Gangneung. — ele respondeu como se fosse óbvio, os olhos ainda fixos na estrada, mas com um sorrisinho convencido no canto dos lábios.
— Você fala como se tivesse nascido lá. — provoquei, rindo.
— Quase. Nasci no hospital errado, talvez. Porque meu espírito claramente é de lá. — ele piscou pra mim. — E você ainda não viu a cafeteria que eu achei. Tem uma vista que parece que o céu e o mar decidiram se beijar só ali, naquela janelinha de vidro.
— Isso foi quase poético, Park Jimin. — levei a mão ao peito, teatral. — Quem é você e o que fez com o meu namorado debochado?
— Ele continua aqui, mas de vez em quando deixa o romântico escapar. — ele disse, e mais uma vez beijou minha mão, dessa vez com um carinho que fez meu estômago girar. — E também… tem um motivo pra ser Gangneung. Quero criar memórias com você em lugares que a gente não conheça. Só nossos, sabe?
— Uau. — murmurei, sentindo aquele calor bom invadir meu peito. — Se você continuar assim, vai acabar me fazendo chorar na estrada.
— Não precisa chorar não, amor. Odeio ver você triste e, além disso, vai borrar o rímel e depois vai falar que eu sou o culpado. — ele soltou uma risada baixa. — E, sinceramente, não quero parar no meio do caminho pra caçar cotonete e água micelar.
— Esse é o casal do ano, gente. Ele sabe o que é água micelar. — brinquei, mas meu coração estava derretido, escorrendo igual sorvete ao sol.
—E você acha que essa pele de bebê não tem cuidados?
—Acho que já sei quem é a princesa da relação. —falei sorrindo e Jimin revirou os olhos, dando mais um beijo na minha mão.
Ele me olhou de relance, e o olhar dele dizia tudo o que as palavras ainda não tinham dado conta de dizer. Era só o começo da viagem, mas eu já sabia que aquele fim de semana teria gosto de história boa pra contar — daquelas que a gente guarda com carinho, igual conchinha de praia dentro da bolsa.
Gangneung nos recebeu com o céu pintado em tons de dourado e azul, como se o universo soubesse que a gente precisava de um cenário bonito pra começar essa nova memória. O sol estava preguiçoso, descendo devagar, e o cheiro da maresia entrou pela fresta da janela assim que Jimin desligou o ar-condicionado.
— Chegamos, madame. — ele anunciou, fazendo uma pequena reverência debochada no volante. — Pode parar de fingir que estava cochilando só pra não ter que conversar comigo na estrada. Aliás, alguém já te disse que você é uma péssima companheira de viagem, amor?
— Eu não estava fingindo. — falei com a voz arrastada. — Só entrei em modo economia de energia. E, bem, você sabe para o quê, né?
—Eu amo namorar uma pervertida. — ele respondeu com aquele sorriso torto que me fazia querer beijar e socar ele ao mesmo tempo. — Mas, falando sério... olha isso.
Ele apontou pra janela, e eu segui seu olhar. Era bonito mesmo. As ruas tranquilas, algumas lojinhas com letreiros coloridos e cafés charmosos com mesinhas do lado de fora. Dava vontade de viver ali. De ficar pra sempre.
— Nossa. — murmurei. — Parece cidade de filme indie. Falta só a trilha sonora com banda folk e um cachorro de rua fofo atravessando a rua.
— Relaxa que isso também tem. Eu pesquisei. — ele soltou uma risadinha, já manobrando o carro pra estacionar em frente ao hotel. — E, sim, antes que pergunte: tem vista pro mar. Não poderia ser diferente.
— Você tá tentando me conquistar ou me fazer casar com você? — brinquei, mas com aquele fundinho de verdade que escapou sem querer.
Jimin desligou o carro e se virou pra mim, ainda sorrindo.
— Os dois, se der. Mas hoje, só quero ver você feliz. Tipo… tranquila, sem pressa, com areia no pé e minha camiseta grande demais pra você. — ele deu um beijo no meu ombro antes de sair do carro. — Tá pronta para viver isso com Park Jimin?
—Estou pronta para viver qualquer coisa com você, seu bestão.
O saguão do hotel era tão bonito quanto as fotos que ele havia me mostrado mais cedo — madeira clara, plantas em vasos bem cuidados e um cheirinho de chá de lavanda que me deu vontade de morar ali. Jimin entrou com a mochila jogada nas costas, o cabelo bagunçado do vento e aquele sorriso idiota de quem sabia que estava arrasando. E, pra ser justa… ele estava mesmo.
— Eu me recuso a carregar aquela mala preta de novo. — ele sussurrou no meu ouvido enquanto nos aproximávamos da recepção. — Ela pesa mais que você, . Tem um corpo escondido ali dentro?
— Claro que não. Eu só não fazia ideia do que vestir para impressionar meu namorado, então eu trouxe várias coisas. Eu sou indecisa e você sabe disso. Não queria ter que viver com a culpa de não ter trazido alguma coisa.
—As vezes você é tão estranha... —O fuzilei com olhar e ele me deu um beijo no canto da boca, rindo —mas, eu gosto disso.
Antes que eu pudesse retrucar, a funcionária do hotel, uma moça baixinha com um sorriso simpático demais, nos atendeu com o entusiasmo de quem estava assistindo um romance se desenrolar ao vivo.
— Olá, sejam bem-vindos! — ela disse, digitando alguma coisa no sistema. — Vocês são o casal do quarto com vista para o mar, certo?
Jimin assentiu, ainda com o braço solto ao redor da minha cintura.
— Isso mesmo.
— Ah, que delícia. Lua de mel? — ela perguntou com a voz empolgada, os olhos brilhando de curiosidade.
— Quase isso. — ele respondeu, olhando pra mim com aquele olhar apaixonado que fazia minhas pernas esquecerem de andar. — É o test drive, moça. Se ela me aguentar esse final de semana, a gente se casa.
Eu soltei uma risada que ecoou no saguão. A funcionária deu uma risadinha tímida, um tanto constrangida, e continuou o atendimento como quem fingia não ter ouvido aquilo.
— Jimin! — dei um tapinha no braço dele, ainda rindo. — Você é impossível.
— O quê? Você mesma disse que essa viagem era pra ver se eu servia como namorado em tempo integral. Tô apenas sendo honesto com a administração do hotel. Vai ver eles usam isso em algum tipo de avaliação.
— Você é uma pessoa cômica demais, Park. — murmurei, pegando a chave do quarto enquanto ele fazia um carinho distraído na minha mão. —E, sim, eu também amo isso.
Subimos com os risos ainda soltos e as mãos entrelaçadas, como se aquele momento fosse só nosso — e era. Cada passo até o quarto parecia um pedacinho de um filme que, dessa vez, a gente tinha escolhido estrelar juntos. E quando entramos no quarto… bom, vamos dizer que a vista era linda. Mas nem se compara ao jeito que ele me olhou quando me joguei na cama e afundei no colchão macio, fingindo ser a princesa mimada que eu nasci pra ser.
— Eu sabia que você ia amar isso. — ele disse, deitando do meu lado.
— Gangneung não tinha chance contra mim. Eu vim pra ser mimada. E com essa cama... — rebati, com um sorriso malicioso. —Pra ser muito bem comida, também.
— Amor, o café da manhã é incluso. — ele sussurrou, antes de me puxar pra perto de novo.
A noite em Gangneun era linda. Pra cacete. As luzes da cidade começavam a se acender como vaga-lumes preguiçosos, e o céu se tingia daquele azul escuro que só existe em cidades litorâneas — profundo, estrelado e um pouco úmido. Jimin estava na varanda do quarto, encostado na grade, observando o mar com as mãos nos bolsos e o vento bagunçando ainda mais o cabelo dele. Por um instante, eu só observei. Ele ali parecia ter saído de uma daquelas cenas de filme francês, todo existencialista, tipo "O amor à beira-mar". Um tormento para minhas pernas e autocontrole.
— Quer sair? — perguntei, me aproximando devagar e abraçando ele por trás. — Caminhar um pouco antes do jantar? Ou você tá muito ocupado bancando o galã de doramas?
— Galã de doramas, é? Nada mal. — ele sorriu e virou o rosto na minha direção. — Mas, pro seu governo, lindinha, o galã de doramas estava pensando em tudo o que aconteceu nos últimos dias. E de como eu estou feliz agora.
— Hum... — apertei a bochecha dele com carinho. — Então esse galã tá virando um poeta?
— Só quando o roteiro envolve você. — ele disse, puxando minha mão e beijando o dorso com aquele ar que misturava charme e tranquilidade. — Vem, vamos andar. Mas só se prometer que não vai se apaixonar ainda mais por mim em contraste com as luzes da cidade.
— Tarde demais, Park. — sorri de canto. — Isso aconteceu lá atrás, quando você me entregou aquele bilhetinho ridículo na escola.
— Ridículo?! Aquele bilhete era uma obra-prima emocional, . Você não entende a profundidade daquilo. — ele colocou a mão no peito, teatral.
— Claro que entendo. Foi o começo de tudo. — murmurei, encostando a cabeça no ombro dele enquanto caminhávamos pela calçada em frente ao mar, a brisa batendo leve, o céu se pintando em tons de rosa e dourado.
— É. Foi mesmo. — ele disse mais baixo, com um sorriso bobo no rosto. — E o melhor de tudo é saber que o “quer ser minha amiga?” virou isso aqui.
—É, e agora eu tô com vontade de comer alguma coisa na rua. Tipo, sei lá, peixe frito num palito, alguma bobagem romântica assim.
Descemos andando devagar, de mãos dadas. As ruas perto da praia estavam cheias de casais, barracas de comida, lanternas acesas, e o som de um violão vindo de algum lugar próximo. Gangneung parecia ter entrado em modo romance pra receber a gente.
— Olha, amor, ali. — Jimin apontou uma barraquinha com espetinhos de lula grelhada. —Comidas de barraquinhas são ótimas, mesmo que sejam de procedência duvidosa. — Ah, claro. Mas se eu passar mal, você que vai segurar meu cabelo e colocar série pra eu ver enquanto agonizo no banheiro.
— E ainda faço chá. — ele piscou. — Sou o pacote completo.
Comemos andando, parando de vez em quando pra ver os vendedores de souvenirs, as mesinhas de pulseiras artesanais, as crianças correndo com bexigas nas mãos. Tudo parecia calmo, bonito. Como se o mundo tivesse dado uma trégua só pra gente viver aquele instante.
Quando chegamos mais perto da areia, Jimin tirou os sapatos e puxou minha mão.
— Vem. Vamos molhar os pés.
— Tá frio! — reclamei, mesmo já tirando meus tênis.
— E é por isso que a gente anda de mãos dadas. Aquecimento emocional.
O mar estava gelado, claro. E eu xinguei ele, óbvio. Mas também dei risada, porque no fim era isso: a gente, rindo, bobo, molhando os pés no mar gelado como dois adolescentes descobrindo que amor pode ser leve.
Ele me puxou pela cintura e encostou a testa na minha.
— Isso aqui tá parecendo o final de um filme.
— A gente tá no meio do filme, Jimin.
— Tomara que nunca acabe.
E quando ele me beijou ali, com os pés molhados, a brisa salgada e o céu aberto em cima da gente, eu soube que não importava o roteiro — enquanto ele estivesse no elenco, eu ia querer todas as cenas.
A volta foi tranquila. Estávamos cansados para explorar toda a cidade, como Jimin pretendia. Gangneung à noite tinha um charme meio encantado, como se a cidade soubesse guardar segredos de verão e amores em construção. O cheiro da brisa misturada com sal e churrasquinho de rua parecia envolver tudo numa nostalgia imediata — daquelas que você sente mesmo quando ainda está vivendo o momento.
As ruas estavam mais silenciosas, mas não solitárias. Passamos por casais sentados em banquinhos de frente pro mar, lojinhas já fechando e luzinhas penduradas piscando devagar, como se acenassem pra gente. Era tudo meio bucólico, meio filme indie romântico, mas com um toque de comédia — afinal, estávamos nós dois, e isso por si só já garantia alguma trapalhada a qualquer segundo. E mesmo com o vento frio pegando leve no fim da noite, minha mão não soltou da dele nem por um segundo.
— Me recuso a acreditar que você comprou isso. — comentei, rindo enquanto ele balançava a miniatura de um polvo sorridente com tentáculos coloridos.
— Esse polvo tem um propósito. Vai ficar no painel do audi erótico. Nosso talismã de viagens. — ele respondeu com toda a seriedade do mundo, o que só me fez rir mais.
— Isso é brega.
— Isso é amor, . Aprende. — ele piscou, entrelaçando os dedos nos meus enquanto cruzávamos a entrada do hotel. O céu já estava escuro, mas a cidade ainda brilhava em tons quentes, refletindo no vidro das portas automáticas.
Assim que passamos pelas portas do hotel, a recepcionista — a mesma de antes — sorriu de novo. Um sorriso largo demais, simpático demais. Do tipo que durava mais do que o necessário e mirava exclusivamente no rosto de Jimin.
— Senhor Park! — ela disse, ajeitando o crachá que já estava no lugar certo. — Espero que esteja gostando da estadia. Se precisar de qualquer coisa, qualquer mesmo… estou por aqui.
"Qualquer coisa", ela disse. Com ênfase. Olhei direto pra ela, sem disfarçar.
— Estamos bem, obrigada. — respondi antes que ele pudesse abrir a boca. Peguei o braço dele e dei um leve puxão, como quem diz: “vamos subir AGORA”.
Mas é claro que o canalha amou a situação.
— Uau… isso foi... possessivo. — ele disse assim que entramos no elevador, tentando esconder o sorriso idiota. — Você vai marcar território? Urinar em mim, talvez? — Jimin! — bati com a mão no braço dele, rindo, apesar da vontade real de jogá-lo contra a parede do elevador. — Ela tava te comendo com os olhos. Tava me dando um pouco de indigestão, confesso. Queria que eu vomitasse lula duvidosa em cima dela?
— Tadinha, … ela só foi educada. Talvez um pouquinho encantada com meu charme natural. Nada que você já não saiba, claro. — ele piscou, convencido até a alma.
Cruzei os braços e virei de lado, bufando de leve.
— Tá se achando só porque sabe que é bonito. E gostoso. E cheiroso. E fofo. E sexy. Ridículo. Se gostou das investidas, por que não vai atrás dela, então? Dorme na recepção com ela. Aposto que aquela enxerida vai achar um espacinho pra você.
Ele gargalhou, se inclinando pra mim.
— Awn, meu amorzinho ciumenta, sabe que eu tô brincando com você. — falou com a voz mais melosa possível e eu revirei os olhos, enquanto ele me puxava. — Vem cá. Dá um beijinho. Prometo que só quero você. Mesmo que tenha gente aqui que esteja claramente pronta pra me sequestrar, me levar num carrinho de bagagem e me esconder na lavanderia do hotel.
— Tá. Agora você tá se achando mesmo. — falei, mas rindo, porque era impossível não rir com ele.
O elevador apitou no nosso andar e, antes que a porta abrisse, ele segurou meu rosto com as duas mãos e deu um beijo longo e calmo. Tão calmo que quase esqueci o surto anterior.
— Eu só vejo você, . Sempre foi você. — murmurou perto da minha boca, e eu derreti.
Assim que a porta do quarto se fechou atrás da gente, tirei os sapatos no mesmo segundo. Meus pés já estavam pedindo socorro, e o carpete macio parecia um prêmio depois da caminhada pela orla.
— Que dia, hein? — falei, jogando minha bolsa sobre a poltrona. — Vai direto pro banho ou quer que eu vá primeiro?
Jimin estava do outro lado do quarto, pegando uma garrafinha de água na mesinha. Me olhou, distraído.
— Pode ir, amor. Eu tô de boa aqui, hidratando esse corpinho que você insiste em exaurir diariamente.
Revirei os olhos com um sorriso maroto.
— Drama.
— Realismo.
Entrei no closet e fechei a porta com cuidado. Tirei o vestido devagar, deixando minha nova aquisição, a lingerie rosa bebê— nada muito planejado, mas definitivamente eficaz — e prendi o cabelo em um coque frouxo.
Abri a porta como quem não quer nada. Ele estava virado de costas, ainda bebendo água, distraído olhando o celular apoiado na cômoda.
— Jimin? — chamei, andando até o meio do quarto. —Preciso da sua ajuda...
Quando ele virou, foi automático.
Engasgou com a água. Tossiu alto, os olhos arregalados, como se tivesse visto um fantasma enquanto eu dava um sorriso curto.
— Você tá... — ele começou, mas nem conseguiu terminar. Bateu no peito com a mão, tentando recuperar o ar, enquanto a garrafinha tremia entre os dedos. — Porra, .
— Oi? — fingi espanto, ajeitando a alça do sutiã como quem realmente acreditava estar trajando um pijaminha básico. — Que foi?
— Você apareceu assim do nada! — ele disse, ainda tossindo, vermelho, suando, em pane total. — Quase morri afogado com a água.
Me aproximei lentamente, com um sorriso ladino.
— E você vai fazer o quê, senhor Park? Me prender?
Ele largou a garrafa de lado, ainda tentando recuperar o juízo — mas já com aquele olhar de que o controle remoto da situação tinha trocado de mãos.
— Eu vou fazer coisa pior.
Sorri.
— Ótimo, estou contando com isso.
Jimin se levantou e deu um leve chupão no meu pescoço, enquanto deslizava os dedos na alça da lingerie. Não sei o que diabos ele tinha nas mãos, mas eu só consegui pensar em como eu queria sentir cada centímetro daquele homem dentro de mim. Completamente enterrado. Como resposta, esfreguei minha mão por cima da calça justa, fazendo com que ele arfasse e respirasse fundo. Sorri ao perceber o volume se formando rápido. Era tão gostoso sentir o efeito que eu causava nele, sem precisar de muitas coisas.
—Amor... —ele praticamente gemeu —Por que você faz isso comigo, huh? Quer acabar comigo, mesmo?
—No bom sentido, meu amor —desafivelei o cinto dele com calma, sem perder o contato visual. Os olhos de Jimin estavam escuros de desejos ao passar por cada pedacinho do meu busto decotado pela peça intima —Caso não saiba, eu não estou dentro de um quarto com você para ficar rezando, né?
—Mas a ideia de ver você ajoelhada, chupando meu pau, mexe com a minha cabeça.
—Bom, podemos concretizar isso em questão de segundos —eu mordi o lábio inferior do meu namorado, puxando os cabelos dele com uma força leve —Mas, antes, preciso que veja como minha boceta está molhada. Toda para você. —Peguei a mão esquerda de Jimin e a enfiei dentro da lingerie, dando um sorriso ladino e sem tirar os olhos do coreano.
—Caralho! —Jimin passou os dedos pelo meu clitóris totalmente úmido —Eu amo saber que te deixo desse jeito, amor. Tão minha. Porra, tão gostosa.
Ele esfregou com mais força e eu mordi o lábio inferior, gemendo uma sequência de coisas que não faziam sentido. Porque quando aquele canalha estava em contato direto com meu corpo, nada mais tinha lógica. Nossas línguas brincavam em uma espiral alucinante enquanto ele me masturbava com destreza, talento. Jimin me direcionou até a cama macia e me deitou, ficando por cima. Tirou os dedos por alguns segundos apenas para se despir e não pude deixar de sentir um leve espasmo no corpo inteiro ao ver o abdômen dele, definido e lindo. Nada exagerado. O suficiente para me deixar excitada e com vontade de tê-lo para sempre. Jimin me penetrou com dois dedos e aumentou a velocidade conforme eu gemia imersa na sensação que ele me proporcionava. Minha respiração descompassou ao ouvi-lo xingar, então enfiei minha mão por dentro da boxer de Jimin, ouvindo o suspirar mais alto ao fazer os movimentos de vai e vem no pau estritamente duro e levemente molhado na cabeça.
—Amor, chega a ser humilhante... —Jimin encostou a testa na minha, tentando recuperar o fôlego —O jeito que meu pau fica duro só em pensar em te comer. Você é tão dele, linda.
—Eu sou sua, Jimin. Toda sua.
Nossos olhos se encontraram e ele me deu um sorriso canalha, antes de passar a língua pelos lábios. Merda, aquilo era excitante pra porra. A forma como o desgraçado em olhava era fodidamente inexplicável.
— Senta na cama, amor. — pedi, em um tom baixo, quase um sussurro.
Ele obedeceu, como se o meu comando fosse a única coisa que fizesse sentido naquele momento. E talvez fosse.
Ajoelhei-me entre suas pernas com calma, as mãos subindo devagar pela coxa dele até alcançar a barra da boxer. A abaixei com a lentidão de quem saboreia cada segundo, cada reação. O músculo do maxilar dele saltou quando puxei o tecido para baixo, expondo o pau que já pulsava forte, duro, impaciente. Gostoso.
— ... — ele murmurou, os dedos se fechando no lençol.
Olhei para cima e sorri, provocante.
— Shh… deixa eu cuidar de você.
Aproximei o rosto, encostando os lábios com suavidade primeiro, como quem beija algo sagrado. A ponta da língua deslizou lenta na cabeça, provocando um arrepio visível por todo o corpo dele. E então, sem aviso, o envolvi por completo, quente, molhada, faminta.
Ele jogou a cabeça para trás com um gemido rouco, segurando meus cabelos.
— Caralho…
O som da voz dele me incentivou ainda mais. Movimentos ritmados, profundos, a mão deslizando na base enquanto a boca fazia o resto — como se eu estivesse moldando prazer com cada gesto, com cada toque.
Ele segurou meus cabelos com cuidado, os quadris retesando sob minha boca.
— Se continuar assim, eu… — a frase se perdeu em outro gemido, mais alto dessa vez. E eu continuei com um pouco mais de velocidade, sem perder o contato visual com meu namorado, que tinha o maxilar trincado —Porra, ! Eu vou gozar, cacete.
—Não é isso que você quer, amor?
—Sim. Mas dentro de você. — ele rosnou, puxando meu rosto com as duas mãos e me beijando com urgência, como se estivesse tentando me engolir inteira.
Antes que eu pudesse provocar mais, ele me ergueu pelas coxas com facilidade, me jogando na cama com um olhar faminto. Meus cabelos se espalharam pelo travesseiro e eu sorri, satisfeita.
Mas durou pouco.
Jimin ajoelhou entre minhas pernas e, em questão de segundos, deslizou meus fios de lingerie para o lado, encarando meu centro com um misto de desejo e reverência. Ele passou os dedos na minha boceta com suavidade primeiro, espalhando minha excitação já evidente, e depois se inclinou — o calor da respiração dele me fazendo arfar antes mesmo do toque.
— Agora é minha vez de te torturar, linda. — ele disse, antes de afundar o rosto entre minhas pernas.
O primeiro toque da língua em contato com meu clitóris sensível me arrancou um gemido rouco que ecoou pelo quarto. Ele começou devagar, circulando com precisão, a ponta da língua firme e ritmada, como se soubesse exatamente o que fazer pra me levar à loucura. Minhas mãos foram instintivamente pro cabelo dele, puxando com força, tentando me ancorar em alguma realidade.
— Porra, Jimin… — suspirei, sentindo meu corpo inteiro vibrar.
Ele sorriu contra minha pele, e logo depois sugou meu clitóris com vontade, alternando com movimentos mais lentos e molhados. Cada nova investida fazia meus quadris subirem, procurando mais, pedindo mais.
— Isso… — gemi, os olhos se fechando. — Assim… não para.
Mas ele era cruel. Parou por um segundo, me olhando com a boca brilhando e o sorriso mais sacana que eu já tinha visto.
— Tão gostosa assim só pra mim.
E voltou com ainda mais intensidade. Agora com dois dedos deslizando dentro de mim, acompanhando o ritmo da língua. Eu me desfazia, desmoronava, me perdia no meio de tudo.
— Eu vou… — falei, em um sussurro entrecortado, — Eu vou gozar, porra.
Ele me olhou de baixo e gemeu contra mim, acelerando o ritmo.
— Eu vou te comer agora, ok? — ele praticamente rosnou, a voz baixa, rouca, carregada de urgência. — Porque você tá molhada demais e meu pau tá implorando por você.
Eu não consegui responder. Só assenti, arfando, o corpo inteiro tremendo de antecipação.
Jimin subiu por cima de mim com os olhos fixos nos meus, os cabelos caindo um pouco na testa suada, e a respiração descompassada. Ele se posicionou entre minhas pernas com uma mão, e com a outra, segurou meu rosto como se quisesse guardar aquela imagem pra sempre.
— Olha pra mim, . — ele sussurrou, encostando a testa na minha. — Eu quero lembrar do seu rostinho quando eu entrar em você. Ninguém mandou usar essa porra de lingerie.
E então ele me penetrou com força, de uma vez, me arrancando um gemido alto, desesperado, quase selvagem. Era como se ele finalmente tivesse encontrado o lugar certo no mundo.
— Caralho… — ele grunhiu, com os olhos fechados por um segundo. — Você é tão apertada… parece que foi feita só pra mim. Sob medida.
Cada estocada era firme, profunda, ritmada. Ele me pegava com fome, com entrega, como se não existisse mais nada fora daquele quarto. Minhas pernas se prenderam ao redor da cintura dele por instinto, como se meu corpo soubesse que não queria deixá-lo sair nunca mais.
— Você gosta, né? — ele perguntou entre dentes, aumentando a velocidade. — Gosta de ser minha assim?
— Porra, Jimin… — gemi, enterrando as unhas nas costas dele. — Eu sou sua. Só sua.
Ele segurou meus pulsos acima da cabeça, dominando cada centímetro, me fazendo sentir vulnerável e completamente dele.
— Então geme mais, gostosa. — ele sussurrou no meu ouvido. — Queria que esse hotel inteiro soubesse quem tá te fodendo agora.
—Você vai me deixar louca, Park Jimin.
Ele continuava dentro de mim, os movimentos cada vez mais intensos, até que de repente parou, com a respiração pesada, e me olhou com aquele olhar travesso, já meio suado, todo maldito e lindo.
— Vira de costas pra mim. — ele pediu baixo, quase implorando, enquanto me dava um selinho rápido, urgente. — Quero você de quatro agora.
Meu corpo respondeu antes mesmo da minha cabeça processar. Me virei devagar, sentindo o arrepio correr pela espinha enquanto ele deslizava as mãos pela minha cintura e me puxava pra trás, com um cuidado bruto, como se eu fosse preciosa demais e, ao mesmo tempo, a coisa que ele mais queria destruir naquela noite.
Ele me penetrou de novo, mais fundo ainda naquela posição, arrancando de mim um gemido rouco que me fez morder o travesseiro.
— Assim… isso… — ele arfava, as mãos apertando minha cintura com força. — Você não tem noção do que faz comigo.
As estocadas estavam ritmadas, intensas, e o som dos nossos corpos se encontrando preenchia o quarto, junto dos meus gemidos e dos palavrões dele.
— Tá sentindo? — ele perguntou, a voz falhando um pouco. — Meu pau inteiro dentro de você, amor… Porra, você é um vício.
Os movimentos estavam cada vez mais urgentes, como se nossos corpos soubessem que o fim estava perto, mas quisessem prolongar o prazer o máximo possível.
— Jimin… — chamei, arfando, sentindo o clímax se aproximando feito uma onda gigante prestes a me engolir. — Eu… não vou aguentar, amor.
— Também não — ele respondeu entre gemidos roucos, a voz embargada. — Goza comigo, linda. Vem comigo, agora.
E foi quando ele se inclinou sobre minhas costas, beijando meu ombro, sua mão escorregando entre minhas pernas e tocando meu clitóris com precisão, que meu corpo simplesmente explodiu.
— Ah, porra! — rosnei, perdendo o ar, o corpo inteiro tremendo enquanto sentia cada músculo se contrair em torno dele. — Jimin!
Ele gemeu contra minha pele, enterrando-se uma última vez com força, e então veio também, com um gemido fraco e descontrolado.
— Caralho… — ele sussurrou, o corpo colado ao meu, ainda dentro de mim. — Você é tudo. Tudo.
A gente ficou assim, ofegantes, suados, bagunçados. E eu tive certeza que, se aquilo fosse um sonho, eu não queria acordar.
A espuma dançava lenta sobre a água quente, e o vapor parecia abraçar a gente com calma, como se o tempo tivesse parado só pra assistir. Ele entrou atrás de mim, com aquele cuidado que só quem ama de verdade tem — como se meu corpo fosse algo raro, e meu silêncio, sagrado.
Senti seus braços me envolverem por trás, seu queixo se apoiar no meu ombro, e a respiração dele misturar-se à minha.
— Se eu cantar, você promete não fugir? — ele sussurrou, com a voz rouca e embargada de riso.
— Se prometer não afundar meu cabelo… — murmurei, sem abrir os olhos.
— Promessa. — ele respondeu. — Mas não garanto que minha desafinação não te faça reconsiderar.
E então ele começou.
Devagar, baixinho, quase num sussurro, como se não cantasse com a boca, mas com o coração. As palavras saíam cruas, doces, sem afinação, mas cheias de intenção. Era uma serenata pra uma plateia de um — só eu e a noite, e a certeza de que, mesmo sem aplausos, aquela era a melhor apresentação do mundo.
Não segurei o riso quando reconheci a música. Ele cantarolava um clássico antigo, como quem tinha decorado pra mim, só pra mim, só pra esse momento.
— Isso é tortura emocional — brinquei, encostando mais minha cabeça na dele.
— Isso é amor, minha princesa. Amor mal cantado, mas amor mesmo assim.
Ficamos ali. Pele com pele. Coração com coração. Nenhum barulho além da água, da espuma e da respiração entrecortada de quem não precisa mais de promessas grandiosas. Porque o amor, de verdade, se revela nas pequenas coisas — no cantar desafinado, no toque que não precisa dizer nada, no “fica” silencioso de um abraço na banheira.
E talvez a água esfrie, talvez a música acabe, talvez o dia seguinte seja menos bonito. Mas naquela noite, naquela banheira, entre vapor, braços e risos, eu soube:
Eu estava segura. E amada.
E isso bastava.
“Me apaixonei como se adormece: devagar, e então de uma vez só.”
— John Green, A Culpa é das Estrelas
— John Green, A Culpa é das Estrelas
Park Jimin
O céu ainda era uma tela em branco quando abri os olhos. Silencioso, com aquele azul profundo prestes a se transformar em algo mais quente, mais vivo.
Ao meu lado, o som mais bonito da madrugada: a respiração suave dela.
, dormindo feito uma bagunça de cabelo e lençol, com a minha blusa cobrindo metade do corpo e um short minúsculo que claramente me provocava até em sonho. E mesmo assim, parecia um poema ali. Um verso calmo, desses que a gente lê devagar, com medo de acabar.
Eu sempre fui um cara de palavras — mas tem coisa que nem isso dá conta. Tipo o jeito que ela dorme agarrada no travesseiro como se o mundo fosse acabar. Ou o suspiro que solta quando mexo no cabelo dela. Ou a forma absurda com que meu peito parece pequeno demais pra guardar tudo o que sinto quando olho pra ela. Sorri quando ela se mexeu, mais uma vez.
Me inclinei devagar, beijando o ombro dela, e sussurrei:
— Ei, amor. Acorda.
Ela gemeu um "não", enterrando o rosto no travesseiro.
— Juro que vale a pena — insisti, rindo baixo.
— São cinco da manhã, Jimin — ela respondeu com a voz rouca e indignada. — Se não for pra ver Jesus Cristo multiplicando vinho na praia, eu não quero.
Eu ri. Alto demais, talvez.
— Não prometo vinho… mas acho que posso compensar depois. —Dei mais um beijo no rosto dela —Vai, é uma surpresa que você vai amar.
Ela virou de lado e me encarou com os olhos semicerrados.
— Outra surpresa, Park Jimin?
— Achei que fosse romântico. — Dei de ombros, tentando não rir com o drama matinal. — E você tá linda demais pra estar emburrada.
Ela bufou.
— Eu tô com cara de um poodle molhado.
— Um poodle molhado sexy.
jogou um travesseiro em mim, e eu aceitei o golpe com um sorriso idiota no rosto. Porque mesmo brava, mesmo meio zumbi, ela era a minha coisa favorita.
— Vai, levanta — falei, puxando os lençóis com um movimento rápido. — O dia vai nascer, e você prometeu que ia confiar em mim.
Ela resmungou, mas levantou. Pisou no chão ainda sonolenta, ajeitando a blusa larga no corpo, e foi até o banheiro. Antes de entrar, me olhou por cima do ombro:
— Você é um desgraçado romântico. Demais para o meu gosto.
— E você ama.
Ela fechou a porta com um sorriso escondido. E eu fiquei ali, parado por um segundo, pensando que se a vida fosse feita só disso — de madrugadas bobas, de risos entre travesseiros, de amor em silêncio — então eu já tinha tudo. Tudo mesmo.
Ela saiu do banheiro andando devagar, tropeçando nas próprias pernas e prendendo o cabelo de qualquer jeito. Tinha a minha blusa cobrindo quase até os joelhos e um olhar de quem tava pronta pra matar alguém. Acredito que, na cabeça dela, esse alguém seria eu.
— Porque você ainda não me disse pra onde a gente tá indo, hein? — ela disse impaciente, bocejando e pegando uma garrafinha d’água. — Isso é sequestro?
— É surpresa, amor. Larga de ser curiosa— falei, tentando conter o sorriso enquanto ajeitava a mochila.
— Eu não suporto mais surpresas, Jimin. Meu corpo tá implorando por uma cama. Eu tô com dor até em lugar que eu nem sabia que podia doer.
Soltei uma risada pelo nariz, massageando a lombar discretamente.
Porque, verdade seja dita...
Eu também tava fodido.
Minhas costas estavam um caos, meu pescoço travado e meu joelho provavelmente pediu demissão durante a madrugada. Mas o que eu ia dizer? Que a noite passada tinha acabado comigo? Que a mulher da minha vida tinha me deixado mancando?
— Você acha que tá destruída? — Comentei, rindo. — Minha lombar foi pra casa do caralho e não voltou até agora. A cada passo, parece que levei uma porrada nas costas com um taco de beisebol.
Ela arqueou uma sobrancelha, divertidíssima.
— É o preço de ser bom de cama, né?
— É o preço de ser vítima de uma mulher que claramente tava querendo me matar com tanto tesão — respondi, apontando pra ela. — E conseguiu. Parabéns. Tô vivendo à base de adrenalina, analgésico e amor próprio agora.
Ela gargalhou e colocou a garrafinha sobre a cômoda.
— E mesmo assim, me tira da cama às cinco da manhã?
— Vai valer a pena. Prometo. Tem mar, tem uma vibe linda, e...ops, quase falei!
Fiz mistério com um sorriso de canto.
— Me lembra de nunca mais deixar você escolher o destino de uma viagem.
— Me lembra de sempre trazer uma câmera quando você acorda assim.
— Idiota.
Chegamos na praia quando o céu ainda era de um azul profundo, com tons alaranjados começando a escorrer pelo horizonte, como tinta em aquarela. As ruas estavam silenciosas, o vento era frio o suficiente pra fazer ela se encolher dentro da blusa — a minha blusa, diga-se de passagem — e o som das ondas vinha suave, quase como se o mar estivesse cochichando segredos só pra gente.
—Olha esse céu, amor. Você me odeia agora? — Perguntei, saindo do carro e contornando até o lado dela.
— Eu vou te matar com um chinelo se isso for só uma caminhada aleatória à beira-mar. — ela respondeu, bocejando alto, ainda de braços cruzados. — Me tirar da cama antes do sol nascer… isso é coisa de sociopata, Jimin.
Eu ri e estendi a mão pra ela.
— Confia em mim, Curie. Só mais um pouquinho.
Ela desceu do carro com a elegância de um gato preguiçoso e me deu aquele olhar torto que eu já tinha aprendido a traduzir: tô cansada, tô com sono, mas ainda te amo pra caralho.
Andamos pela areia úmida, ela tentando equilibrar o chinelo e amaldiçoando as pedrinhas geladas que entravam no pé.
— Ai, que ideia idiota… — ela murmurou. — Tô parecendo uma participante eliminada de Largados e pelados.
— Nossa, você me deu uma ideia absurda agora. —Segurei a mão dela com mais firmeza —Eu amaria estar largado e pelado aqui com você, linda.
—Acho que você está safado demais para quem não aguenta mais sexo porque tá com a lombar fodida.
Andamos mais alguns metros até chegar numa estrutura simples, mas charmosa, parecida com um mirante antigo, quase um farol de pedra esbranquiçada, meio gasto pelo tempo. Subimos os poucos degraus em silêncio — ela resmungando baixinho, ainda reclamando da areia, do frio, do sono — e quando chegamos ao topo, fomos recebidos por uma visão que parecia coisa de filme.
O mar aberto se estendia à nossa frente como um espelho partido de céu, e a luz alaranjada do amanhecer tocava a água com uma delicadeza que me deu vontade de pedir desculpa por qualquer barulho. Era como se o mundo tivesse diminuído o volume só pra gente ouvir o coração batendo.
— AI! — ela gritou de repente, agarrando meu braço com força. — Vi um! Eu vi um, caralho!
— Um quê, amor? Um espírito? — Brinquei, rindo.
— Um golfinho! — Ela apontou, os olhos arregalados. — Olha lá! Pulou de novo!
E como se o universo estivesse jogando confete em cima da nossa cabeça, mais dois saltaram, brincando, rodopiando no ar. A alegria dela era tão genuína que me deu um nó na garganta. Um nó que, se eu pudesse, jamais iria querer desatar.
Ela olhou pra mim, com aquele sorriso bobo de criança vendo mágica, e disse:
— Você é doido. Quem acorda alguém pra ver golfinhos?
— Um homem apaixonado. — Respondi, sem hesitar.
Ela mordeu o lábio, aquele gesto que sempre me deixava idiota, e se encostou na grade do farol, esperando ansiosamente que os golfinhos pulassem mais uma vez.
— Sabe por que eu queria te trazer aqui? — Perguntei, me aproximando dela, com os olhos fixos na dança dos animais lá embaixo.
— Porque eu sou a namorada mais linda do planeta? — Ela sorriu, mas eu vi o rubor nas bochechas.
— Também. Mas tem mais.
Respirei fundo, o vento frio batendo no rosto, o cheiro do mar se misturando com o perfume dela.
— Golfinhos são mamíferos que escolhem seus pares por afinidade. Eles não são obrigados a viver em bando. Eles ficam juntos porque querem. Eles cuidam uns dos outros, se protegem, se curam. E... eles lembram quem salvou ou fez bem pra eles, mesmo depois de anos.
Ela ficou em silêncio, com os olhos marejando devagar, como quem não sabia se sorria ou chorava.
— Eu não sei o que a gente foi em outras vidas, — continuei — mas nessa aqui… eu queria ser seu golfinho. Ficar perto de você porque eu escolhi. Cuidar de você porque me faz bem. E lembrar de cada momento bom... porque você é a melhor parte de tudo.
Ela virou o rosto na minha direção, os olhos brilhando de emoção.
— Jimin… — ela repetiu meu nome baixinho, a voz embargada. — Para. Eu vou chorar.
— E se chorar, tudo bem — sorri, pegando a pequena caixinha de veludo que estava no bolso do meu casaco desde antes dela acordar. Meu coração tava numa mistura insuportável de paz e nervoso, mas minha mão estava firme quando entreguei pra ela.
— Mas antes… abre isso.
Ela olhou pra mim, depois pra caixinha, depois de novo pra mim.
— Você tá me zoando.
— Não tô. Abre, vai. Antes que eu desmaie ou um golfinho venha me julgar por ser lento.
Com os dedos ainda trêmulos e gelados, ela abriu a caixinha. Lá dentro, um anel simples, elegante, com uma pedrinha azul-clara no centro — da cor exata do mar naquela manhã. Não era sobre ostentação. Era sobre significado.
— Isso é…?
— Um anel de compromisso. Uma forma de dizer que estamos juntos em mais uma coisa — falei antes que ela precisasse perguntar. — Eu não quero te pedir em casamento agora. Mas eu quero te prometer. Que mesmo quando a gente brigar, mesmo quando você reclamar do ar-condicionado ou tentar roubar todas as minhas camisetas… eu vou continuar aqui. Por escolha. Como os golfinhos idiotas.
Ela cobriu a boca com a mão, os olhos cheios d’água. E me abraçou. Forte. Com tudo. Com corpo, alma, e todas as manhãs que a gente ainda vai viver junto.
— Você é maluco — ela riu no meu pescoço. — E eu amo você. Tão, tão ridiculamente.
— Eu sei. E você nem me viu pelado com um golfinho ainda. Espera só.
Ela ainda tava com os olhos marejados quando me puxou de volta, as mãos no meu rosto, o nariz geladinho roçando no meu.
— Você me ferra todo dia, sabia?
— Só retribuindo, minha linda — sussurrei, antes de encostar minha boca na dela.
O beijo começou calmo, doce, com gosto de promessa nova e maresia. Mas, como sempre, bastou um deslize, um suspiro mais profundo… e já tava tudo pegando fogo de novo.
— Porra… — murmurei contra os lábios dela, tentando me controlar, mas já sentindo meu corpo inteiro reagir. — Eu não aguento mais ficar excitado, . Tô sensível. Meu pau tá tipo... em luto de tanta pancada.
Ela caiu na risada, a testa colada na minha.
— E a culpa é minha?
— Óbvio que é! — soltei, rindo, enquanto tentava recuperar o fôlego. — Você acorda com minha camiseta, de shortinho, essa boca… e ainda chora por causa de um anel? Tá tentando me foder, é isso?
Ela me deu um beijo daqueles que não resolvem nada. Pelo contrário. Um beijo rápido, provocante, só pra me ferrar mais.
— A gente ainda tem umas horinhas antes de voltar pro hotel, sabia?
Ela falou isso baixinho, com aquele olhar safado que me desmonta inteiro.
— … — gemi, já sentindo o corpo todo implorar.
— Você me acordou, Jimin. Agora lida com isso. — E aí ela riu. Mas não foi qualquer risada. Foi aquela gargalhada gostosa, da alma, que vibra no peito. — Se fosse inteligente, usaria esse tempinho com sabedoria.
Eu arqueei uma sobrancelha, desafiado.
— Ah, não subestime minha inteligência, meu bem. Eu pesquisei pra cacete sobre golfinhos, comportamento migratório, melhores horários de aparição, até a porra da fase da lua eu considerei. — dei um passo na direção dela, sem tirar o sorriso dos lábios. — Tudo pra te impressionar. Mas se preferir, posso usar o tempo restante aqui pra te lembrar, bem devagarinho, de todas as aulas de sedução que você teve comigo. Ou você esqueceu que eu fui o melhor professor que você já teve?
—É, então é melhor deixarmos para quando estivermos no hotel.
Ela sorriu alto, e aquele som era melhor do que o barulho suave das ondas, mais doce que o canto dos golfinhos — era o tipo de coisa que fazia o mundo parecer em paz por um segundo.
— Espera aqui um pouquinho, linda. Vou buscar um suco de melancia bem gelado pra gente.
— Se for quente, eu não vou querer, hein? — ela riu, preguiçosa, encostada na mureta do farol com os pés descalços na areia.
— Exigente, do jeitinho que eu gosto. — Sorri e me inclinei, deixando um selinho estalado nos lábios dela. — Já volto, amor.
Ela assentiu, voltando a fitar o mar, com aquele jeito sereno que só aparece quando ela realmente se permite desacelerar. O que é bem raro.
Caminhei até a barraca improvisada, um daqueles cantinhos que parecem ter sido esquecidos pelo tempo, mas que carregam uma alma inteira. Lá estava um senhor de camisa branca meio amarelada pelo sol, com cara de quem viveu umas três vidas, chapéu de palha e mãos firmes cortando melancia com a precisão de quem faz isso há décadas.
— Bom dia, senhor. —dei um sorriso gentil e ele me retribuiu —Quero dois sucos de melancia, bem gelados. Acho que minha garota tá meio desidratada.
— Claro, meu jovem. — Ele disse, cortando a melancia com precisão, antes de dar uma olhada na direção de . —Sua namorada é linda.
— Eu sei. — Sorri. — E não é só por fora.
— Dá pra ver. — Ele assentiu. — Ela olha pra você como minha mulher olhava pra mim… antes dela ir embora.
Eu o encarei, curioso.
— Sinto muito.
— Não sinta. Quando a gente ama de verdade, a dor é só mais uma forma de lembrar que valeu a pena. — Ele me olhou por cima dos óculos. — Você já entendeu isso, né?
Respirei fundo, observando de longe, com a brisa bagunçando o cabelo dela.
— Acho que sim. Às vezes ela me tira do sério, me provoca, briga com a minha lombar… — ri. — Mas eu nunca estive tão certo de algo na vida.
Ele riu também, entregando os dois copos com suco.
— Então cuida dela.
— Eu cuido.
— E agradece aos golfinhos. Eles sabem das coisas.
Soltei uma risada, pegando os sucos e entregando umas notas para ele.
— Eles foram meus cúmplices hoje.
— Amor de verdade é assim… aparece quando a gente já nem tava procurando mais. Mas quando chega, é impossível não reconhecer.
Voltei com os dois copos na mão, ainda ouvindo o eco da última frase dele.
virou-se com um sorriso, os olhos brilhando.
— Demorou tanto que pensei que tinha sido sequestrado por uma seita de adoradores de melancia.
— Quase isso. Encontrei um sábio do amor.
— É mesmo? — Ela pegou o copo e tomou um gole, me olhando com deboche. — E o que o sábio disse?
— Que eu sou um homem de sorte. — Respondi, tomando um pouco do suco. — E que se eu não cuidar de você, ele vem pessoalmente puxar meu pé de noite.
Ela riu e se aninhou no meu ombro, ainda com o copo nas mãos. A brisa soprava leve, o sol beijava nossos rostos, e o gosto do suco gelado parecia uma dessas memórias que a gente guarda pra sempre. Com ela ali do meu lado, era impossível não sentir o coração mais quente que o próprio sol de Gangneung.
"Eu desejo que você saiba que tem sido o último sonho da minha alma."— Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades
Eu nunca soube que golfinhos podiam me fazer chorar.
E isso foi a coisa mais aleatória da minha vida inteira que, talvez, ainda esteja pela metade. Tá, eu sei. Parece ridículo. Eu, chorando por causa de um bicho que salta no mar? Não é como se fosse um pedido de casamento no Empire State, nem uma serenata no meio da chuva. Era só uma praia. Um pôr do sol comum. E alguns golfinhos dançando com o vento, como se flutuassem entre os fios dourados do céu que ainda estava amanhecendo. Simples. Natural. Até bobo, talvez, pra qualquer um que visse de fora. Mas não era sobre os golfinhos.
Era sobre ele. Sobre nós.
Sobre o jeito que Jimin segurou minha mão quando o primeiro deles apareceu, como se soubesse exatamente o que aquilo significava. Como se estivesse me entregando o mundo inteiro sem dizer uma palavra. Ele foi perfeito. É, eu sei que o desgraçado sempre foi bom com mulheres, mas eu não sabia que chegava a esse nível. Desde o cuidado em me acordar (apesar da minha cara emburrada e o palavrão atravessado na garganta), até o jeito como ele segurou minha cintura quando me assustei ao ver a primeira criatura no mar.
E eu chorei. Sim, chorei. Com os olhos marejados e o coração mais mole que mousse de maracujá, ali estava eu: , a mulher que enfrentou as malditas aulas de sedução para saber como chegar em alguém de uma forma menos idiota, que tinha crush em um escroto maconheiro, que derrubou um Cosmopolitan na camiseta branca de um garçom gato, porque tropeçou no próprio salto e perdeu o equilíbrio. Mas bastou um golfinho saltando, o mar calmo e o maldito olhar do Jimin pra eu desmoronar, completamente. Ele me olhou com aquele sorrisinho de canto, como se tivesse planejado o universo inteiro só pra me ver feliz. E eu chorei. Porra, que ódio. Eu devia estar rindo, debochando, soltando uma das minhas ironias. Mas chorei, simples assim.
E ele só riu, daquele jeito desgraçado dele com um sorriso de canto, quase tímido, como se tivesse conspirado com o universo inteiro só pra me ver feliz. E exatamente naquele instante, eu não me senti vista. Me senti escolhida. E talvez esse tenha sido uma sensação que superou a de ver todo aquele cenário que me tirou o ar.
A cena, de fora, devia estar patética. Uma comédia romântica de quinta, daquelas que passam à tarde, com trilha sonora barata e falas improvisadas. Uma mulher de blusa larga, com cara de sono e cabelo bagunçado, soluçando de emoção enquanto golfinhos davam piruetas. E do lado dela, o cara mais gostoso e apaixonado do planeta, segurando sua mão como se estivesse fazendo uma promessa silenciosa. Poético? Talvez. Ridículo? Com certeza. Mas foda-se. Porque eu me senti a mulher mais amada do mundo.
O anel apareceu como quem não quer nada. Sem discurso ensaiado, sem trilha de filme, sem ajoelhar. Ele apenas tirou do bolso e colocou na minha mão, com a tranquilidade de quem não promete eternidade, mas entrega presença.
"É você. Sempre foi." — ele não disse. Mas meu coração ouviu mesmo assim.
E aí fodeu tudo.
Porque eu nunca tive isso.
Nunca tive alguém que me olhasse sem pressa, sem filtro, sem tentar me consertar. Que enxergasse beleza no caos, amor nas rachaduras, poesia até nas minhas olheiras de TPM. O amor, pra mim, sempre foi barulho. Com ele, virou a porra de um silêncio confortável, incapaz de ser explicado.
O anel parecia uma pedra preciosa e a julgar pela caixinha, talvez tenha sido caro. Pra cacete. Mas, não era sobre o preço ou qualidade. Era lembrança e promessa. Era o retrato do que a gente construiu e o mapa do que ainda estava por vir. Não era "pra sempre" — era enquanto fizer sentido. E fazia. Com todas as células do meu corpo.
Ter tudo isso com o Jimin era diferente. Tinha gosto de liberdade. De céu limpo depois da tempestade. De beijo que acalma, de abraço que ancora. Porra, tinha exatamente o sabor do suco de melancia gelado num dia quente. De riso depois da lágrima. De alma com alma, sem disfarce.
E, puta merda... como é bom amar assim.
E, mais ainda: como é bom ser amada desse jeito.
— Tá admirando muito esse anel aí… — a voz dele veio mansa, e logo senti os braços envolvendo meus ombros, com o corpo dele colando no meu. — Vai casar com ele ou comigo?
— Depende… ele não ronca, não solta piada ruim e, principalmente, não me acorda às cinco da manhã pra ver um bando de peixinhos fazendo acrobacia.
— Ei! — Ele riu, fingindo ofensa, com aquele tom teatral que só o Jimin tem. — Foi uma experiência espiritual, tá bom? E nem vem com essa armadura. Você chorou. Pode ser que tenha sido ridículo, mas você chorou.
— Chorei de sono também. Isso conta?
Ele encostou os lábios no meu ombro e murmurou um beijo ali, quente como confissão.
— Vai negar que foi bonito? Que por um segundo, você me olhou como se eu fosse o final feliz que você nem sabia que queria?
— Não foi fingimento. É que você realmente se acha o protagonista do k-drama. Só faltou a OST tocando ao fundo e a câmera lenta.
— Ai, ai… — ele levou a mão ao peito, teatral. — A mulher que eu amo debocha do meu momento mais romântico. Isso devia ser crime.
— Amar você já é uma infração das leis da sanidade, amor.
Ele sorriu, aquele sorriso que desarma, e disse com um suspiro:
— Mesmo assim, eu te levo pro hotel. Minha lombar tá implorando socorro, a areia me invadiu em lugares que não deveriam ser explorados por grãos, e eu tô precisando, com urgência, de uma cama. E de você. Ou das duas coisas juntas.
— Que sorte a sua… — girei o anel no dedo, encarando o reflexo dourado sob a luz suave. — Se você for bonzinho, talvez eu até te deixe dormir colado em mim. Talvez.
— … depois de hoje, eu durmo até no chão. Desde que seja com você do meu lado.
— Dramático.
— Não. — Ele me olhou com tanta ternura que meu peito apertou. — Apaixonado. Fodidamente apaixonado.
Aquela palavra ficou no ar por um segundo a mais. Não dita em tom leve, mas como um sussurro de verdade absoluta.
Ele bagunçou meu cabelo, e a gente riu como se fosse fácil ser feliz assim, entre areia grudada na pele, piadas bobas e um amor que não precisava de palco pra ser grandioso.
Nos levantamos e começamos a andar devagar pela areia comos chinelos na mão, os passos em silêncio, só nossos risos preenchendo o espaço entre o mar e a manhã.
E talvez, pra muita gente, Gangneung fosse só uma cidadezinha litorânea no mapa.
Mas pra mim, Gangneung era o lugar onde eu deixei de fugir.
O lugar onde amar deixou de ser um risco, e virou abrigo.
O lugar onde ele me enxergou… e tudo fez sentido.
Chegar ao hotel com Jimin ao meu lado era como voltar pra casa depois de ganhar na porra de uma loteria emocional, só que, no lugar do prêmio em dinheiro, eu tinha o cara mais lindo da Coreia me olhando como se eu fosse o bilhete premiado dele. E isso já é demais. O cheiro do mar ainda grudado no meu cabelo, o sal seco marcando minha pele como se dissesse “você viveu hoje” e meu coração, inflado, cheio de coisa que nem poesia bêbada daria conta de explicar. O anel brilhava sutil no meu dedo, quase tímido, mas o toque da mão dele era firme, possessivo, quente.
Atravessamos o saguão parecendo dois adolescentes que tinham acabado de cometer um crime e se safado com um beijo roubado e um plano de fuga. A gente ria por nada, se cutucava com o ombro, trocava olhares que diziam tudo o que a gente não tinha coragem de confessar em voz alta. Eu devia estar com aquela cara de quem caiu de cara no amor. E quer saber? Que se foda. Que se foda a pose, o filtro, o mundo.
Fomos interrompidos pelo pigarrear da recepcionista toda montada no salto, maquiagem impecável, perfume provavelmente mais caro que minha conta bancária e um sorriso que não era pra mim. Era pra ele.
Desgraçada.
Ela me olhou com aquele cumprimento genérico de boas-vindas, mas quando os olhos pousaram no Jimin… demoraram. Demoraram muito. Tipo “escaneando cada centímetro do seu tórax com o olhar”.
Franzi a testa e senti o sangue quente começar a subir pela nuca.
— Senhor Park — ela disse, com aquela voz doce que dava vontade de cuspir fora. — Estávamos esperando vocês. Preparamos um café especial para os hóspedes. Se quiser, posso acompanhá-lo até o salão e servir pessoalmente.
Jimin soltou aquele risinho envergonhado, como quem tá pensando “puta merda, socorro”, mas tentando manter a educação.
Dei um passo à frente, enrosquei meu braço no dele com gosto e sorri. Aquele sorriso afiado, educado, perigoso. Aquele que grita “quer brincar comigo, princesa? Vai sair queimada.”
— Que gracinha, né? Um cafezinho sempre cai bem, né, amor?
Ele só concordou, meio rindo.
— Mas avisa que nosso cronograma é meio atípico. Antes do café… — fiz uma pausa, olhando direto nos olhos dela, só pra garantir que ia gravar — …tem sobremesa. No quarto.
Jimin gargalhou. Gargalhou alto, daquele jeito escandaloso que ele tem quando realmente se diverte. E a recepcionista travou. Tela azul. Sinal de Wi-Fi oscilando. Recalculando rota.
— Agradecemos a atenção, de verdade — Continuei, ainda com um sorriso como quem mata e depois oferece flores. — Mas vamos direto pro nosso andar. Estamos… bem satisfeitos por enquanto.
Ela ainda tentou recuperar a dignidade, tropeçando nas palavras e oferecendo ajuda com qualquer coisa, mas Jimin já me puxava pro elevador, rindo como um idiota apaixonado, e eu nem precisei perguntar: ele tava puto de orgulho.
— Você é um perigo público — ele disse, encostando a testa na minha quando a porta do elevador fechou.
— Eu só protejo o que é meu — murmurei, girando o anel no dedo devagar, como quem sabe o valor da porra toda.
— Então fudeu. Porque eu também.
Entramos no quarto e tudo pareceu silenciar de repente. A brisa ainda soprava pelas frestas da janela, trazendo o som abafado das ondas, como se o mar lá fora estivesse sussurrando “vocês dois se foderam lindamente nesse negócio de amar”. Jimin jogou a mochila na poltrona, os chinelos foram chutados pro lado e me olhou com aquele meio sorriso lazarento que arregaçava minhas defesas com mais eficiência que qualquer discurso bonito.
— Você foi simplesmente foda lá embaixo — ele disse, se aproximando. — A recepcionista deve estar revendo as escolhas de vida dela. Eu amo ver você assim possessiva. Tipo, “Park Jimin é meu”. Isso excita pra caramba.
— Eu só fiz o que qualquer mulher sensata faria quando outra tenta servir mais que café pro namorado dela.
— Porra… é tão bom ouvir isso de você. — A voz dele veio mais grave, mais próxima, roçando contra a minha pele como se estivesse descobrindo uma camada nova do mundo, ou de mim.
Ele colou o corpo no meu, os olhos intensos como se estivessem tentando memorizar cada expressão minha.
— E que bom que isso é mais que oficial, agora.
— Ótimo, esse anel parece ser caro. Não é como se fosse um brinde de cereal.
Ele riu, daquele jeito sacana e fofo que só ele sabia fazer, e me puxou pela cintura, encostando a testa na minha com uma ternura que me desmontava toda vez.
— Achei que era uma promessa de que você ia continuar sendo a pessoa mais insuportavelmente linda da minha vida.
— Então interpretou certo, Park.
Os nossos lábios se encontraram devagar, como se já tivessem se beijado mil vezes, mas ainda assim quisessem confirmar cada detalhe de novo. O beijo tinha calor, mas não urgência. Era como um reencontro de almas que nunca chegaram a se perder. Macio. Quente. Íntimo.
Jimin deslizou as mãos até minha cintura, me ergueu com uma facilidade absurda e me levou até a cama como se meu corpo tivesse sido feito pra estar ali, encaixado no dele. E talvez tivesse mesmo. Porque com ele, tudo simplesmente fazia sentido.
Nos jogamos juntos no colchão, rindo entre beijos, entre provocações sussurradas e carinhos lentos que iam se intensificando sem aviso. Ele passou os dedos pelas minhas costas com uma atenção que dava arrepios, os olhos mergulhados nos meus como se estivesse lendo um livro que ele nunca queria terminar.
— Você é tão linda… — sussurrou, a voz carregada de desejo enquanto os lábios roçavam minha clavícula. — Até quando tá prestes a matar alguém com um olhar.
O beijo, antes calmo, foi mudando. Ganhando peso, vontade. Não era pressa, era tesão. Era aquela urgência contida que mora entre dois corpos que se querem faz tempo e não precisam dizer mais nada.
As mãos dele subiram por debaixo da minha blusa com uma gentileza que me tirou o fôlego. O toque dele não era apressado, mas era preciso. Sabia exatamente onde acender cada centímetro da minha pele.
— Tira. — murmurei contra a boca dele, puxando a barra da blusa entre nós.
Ele me olhou com aquele sorriso torto, maldito, que eu sabia que vinha carregado de intenções.
— Com prazer.
E puxou o tecido com calma, tipo abrindo um presente que ele esperou a vida toda pra ter. As mãos dele desceram até minha cintura, e num movimento firme, ele tirou o resto da minha roupa, sem desviar o olhar nem por um segundo. Senti a respiração dele pesar quando me viu completamente nua. Jimin se deitou por cima de mim, encaixando os quadris entre minhas pernas com uma lentidão provocante. O calor entre nós já era insuportável, e quando ele roçou a intimidade dele na minha, ainda por cima do tecido da boxer, um gemido escapou da minha garganta.
— Você já tá molhada assim só com meus beijos? — ele sussurrou, com um sorriso safado nos lábios. — Eu devia fazer isso o dia inteiro.
Sem esperar resposta, ele desceu, arrastando a boca pela minha pele, devorando cada parte com a língua e os dentes. Quando chegou entre minhas coxas, me olhou como se estivesse prestes a se perder. E perdeu.
A língua dele tocou meu clitóris com precisão, e meu corpo arqueou imediatamente. Ele sabia exatamente o que fazia — sem pressa, mas com malícia. A cada lamber, a cada sugada leve, ele me deixava mais perto do limite. Eu agarrei os lençóis, o nome dele escapando dos meus lábios num sussurro entrecortado.
— Jimin... por favor...
Ele levantou o rosto, os lábios úmidos e os olhos escuros de desejo.
— Gosto quando você implora assim, meu amor.
Se livrou da última peça de roupa e voltou a se deitar sobre mim. O toque da pele quente dele contra a minha me fez arfar, e quando ele me penetrou devagar, senti o mundo parar por um segundo.
— Olha pra mim. — ele pediu, a voz rouca, enquanto se movia lentamente dentro de mim. E eu olhei. Porque naquele momento, ele era meu. E eu era completamente dele.
Ele se moveu dentro de mim com lentidão no começo, saboreando cada segundo. O olhar dele cravado no meu era firme, possessivo, e ao mesmo tempo cheio de carinho. Uma mão segurava minha cintura, a outra acariciava meu rosto com delicadeza, contrastando com a intensidade dos nossos corpos colidindo.
— Você é minha, . — ele murmurou, os olhos ardiam de desejo e sentimento. — Só minha.
— Sua. — respondi ofegante, os dedos cravando nas costas dele. — Sempre fui tua.
O quadril dele acelerou o ritmo, e eu senti cada estocada me puxar mais fundo pra ele, não só fisicamente, mas inteira. Era como se ele me quisesse de corpo, alma e até pensamento.
— Não quero mais nada, além de você. — ele continuou, beijando meu pescoço entre uma respiração e outra. — Cada parte tua... cada suspiro... esse corpo, esse olhar... tudo é meu.
— E você é meu. — falei quase chorando, perdida na sensação dele dentro de mim. — Ninguém nunca me teve assim... ninguém nunca vai ter.
Ele colou nossas testas, os movimentos ficando mais intensos, mais profundos. Os gemidos se misturavam com palavras abafadas.
— Eu te amo, . — ele sussurrou, no exato momento em que nossos corpos explodiram juntos, como se o mundo tivesse se curvado só pra caber a gente dois ali.
E por alguns segundos, não existia Gangneung, nem frio, nem o som da rua lá fora. Só o calor dele, e aquele amor que, finalmente, era nosso.
O ritmo dele aumentou, os movimentos ficando mais erráticos, mais desesperados. Ele já não tentava mais conter nada — e eu também não. Estávamos em sintonia, perdidos um no outro, como se nossos corpos soubessem exatamente o caminho até o fim.
— Não para... — supliquei, sentindo o clímax se aproximar com força. — Jimin, eu tô... eu...
— Eu sei, linda. Eu também.
Ele me envolveu com mais força com o quadril dele batendo no meu com urgência, e quando senti o corpo dele tremer, o meu explodiu junto.
A onda nos tomou de uma vez só, tipo um incêndio que consumia tudo. Eu gritei o nome dele, ofegante, com as pernas trêmulas ao redor da cintura dele, enquanto ele deixava escapar um gemido rouco, profundo, enterrando-se completamente dentro de mim.
O tempo parou.
E, mesmo com o coração disparado, a respiração entrecortada e o corpo exausto, eu encontrei os olhos dele ali, tão perto dos meus.
— Eu te amo, Jimin. — sussurrei, com a voz embargada, mas firme. — Eu te amo tanto...
Ele sorriu, ofegante, com os olhos marejados de emoção e desejo.
— Talvez o universo já tenha cansado de ouvir isso da gente... — murmurou, colando os lábios nos meus com um selinho lento, quase reverente. — Mas foda-se. Eu continuaria dizendo mil vezes... porque amar você é a única coisa que faz sentido.
E então ele me encarou com aquela mordida no lábio, aquele olhar intenso, cravando aquela verdade em mim.
Aquilo não era só amor. Era destino. Era casa. Era tudo.
A respiração dele ainda pesava contra minha pele, mas aos poucos o quarto foi sendo preenchido por um silêncio gostoso, daquele que só existe depois de se amar sem pressa. Jimin rolou pro meu lado com um suspiro dramático e me puxou pra cima do peito dele, onde o coração ainda batia acelerado como uma canção feita só pra mim.
— Sabia que o mundo podia acabar agora... e eu não ia querer estar em outro lugar? — ele murmurou, os dedos passeando pelas minhas costas nuas.
Sorri, encostando o rosto no pescoço dele.
— O mundo pode até acabar... mas se for com você assim, me segurando desse jeito, eu nem me importo.
Houve um instante de silêncio, até ele soltar um gemido cansado.
— Mas se o mundo não acabar... será que ele pode mandar uma porção de frango frito e um pouco de Gimpab? Tô com as pernas bambas e zero energia. Você acabou comigo esse final de semana.
Soltei uma risada contra a pele dele.
— Uau, tão romântico. Shakespeare tremeu agora.
Ele riu também, e levantou um pouco o rosto pra me olhar com aquele brilho moleque no olhar.
— Amor e fome coexistem, sabia? Eu posso te amar e querer carboidrato ao mesmo tempo.
— Isso é muito sexy da sua parte.
— Eu sei. — ele piscou, depois suspirou mais fundo, voltando ao tom sério. — Mas... às vezes eu me pergunto se mereço isso. Você. Esse sentimento todo. Porque eu nunca senti assim. Nunca amei assim. Você me desmonta e me constrói ao mesmo tempo.
Levantei o rosto e o encarei, acariciando o maxilar dele com carinho.
— Não é sobre merecer, Jimin. É sobre sentir. É sobre encontrar paz no meio do caos... e decidir ficar. Mesmo com medo. Mesmo com cicatriz.
Ele fechou os olhos por um segundo, como se gravasse aquilo na alma.
— Se for com você... eu quero tudo. Os dias bons, os ruins, os medos, as manhãs com você bagunçada e o café que a gente sempre esquece no fogo. Quero uma vida, mesmo que demore, mesmo que a gente erre.
— Você é o erro que eu escolheria todos os dias, até virar acerto. — respondi. — E o amor... o amor, eu acho que é isso. Ficar mesmo quando tudo grita pra correr.
Ele me puxou mais pra perto, a mão no meu rosto com aquela delicadeza firme que só ele tem.
— Fica comigo pra sempre?
— Já fiquei. Desde o primeiro beijo, eu nunca mais fui embora.
Eu me aconcheguei ainda mais no peito dele, ouvindo os batimentos que agora se misturavam aos meus. A leveza do momento parecia a única coisa verdadeira. As palavras trocadas, os sorrisos, os olhares... tudo isso era mais do que um acaso. Estar ali, com ele, parecia mais do que certo. Era inevitável.
Talvez o destino não fosse mesmo um grande plano traçado, mas uma soma de momentos pequenos e absurdamente certos. Como aquele silêncio depois do riso, aquele toque depois do caos. Como ele. Como nós.
— Como pode ser tão fácil? — murmurei, quebrando o silêncio sem quebrar a paz.
Jimin me olhou com aquele olhar que ri antes da boca.
— Porque já era pra ser assim. —Ele bagunçou meu cabelo e deu um beijo — Mas se você permitir que a gente desça, de mãos dadas, bem casal mesmo, ignore completamente aquela recepcionista assanhada e me deixe tomar um café decente... eu juro que caso com você. Agora. Na frente dela. E ainda te dou um beijo de filme só pra humilhar.
Soltei uma risada gostosa, sentindo o peito leve.
— Permissão concedida, senhor Park. — falei com um sorrisinho provocador, apoiando o queixo no peito dele. — Mas só se você prometer pegar dois pães de queijo e não reclamar do açúcar do café.
Ele fingiu pesar a proposta, dramático.
— Pela sua mão e sua risada... eu enfrentaria até uma vida inteira de manhãs sem café, se fosse com você.
"Por você, eu iria até o inferno. E se você estivesse lá, chamaria de lar." — Madeline Miller, “A Canção de Aquiles”
O som das malas deslizando pelo corredor do meu apartamento era quase terapêutico depois de um fim de semana que pareceu durar uma eternidade. Não que eu esteja reclamando — longe disso —, mas nada se compara ao conforto de voltar pra casa depois de uma viagem. Principalmente quando ela envolve areia grudando até na alma, maresia que deixa o cabelo um caos e ventos fortes o suficiente pra te fazer questionar suas escolhas. Não sou fã. Nem um pouco. Mas, no fim das contas, mesmo com todos esses perrengues, a verdade é que Gangneung havia deixado marcas invisíveis em mim — risadas, olhares demorados e aquela sensação estranhamente de que algo entre eu e Jimin havia, finalmente, mudado.
Ele caminhava ao meu lado, distraído, cantarolando uma melodia qualquer que grudou na nossa cabeça desde o carro. Às vezes, ele fazia isso: espalhava beleza sem perceber, exatamente como quem respira sem esforço. E eu fingia não notar, como quem tem medo de admitir que está completamente entregue. Mas, não tinha como negar isso. Pelo menos, não mais.
Meu coração ainda estava ancorado nas manhãs preguiçosas do hotel, nas conversas baixas antes de dormir e na forma como ele me olhava quando achava que eu não estava vendo. E, sinceramente? Eu estava vendo. Eu estava sentindo tudo.
Por mais que eu tentasse racionalizar, catalogar sentimentos como se fossem fórmulas numéricas —algo que minha mente engenheira insistia em fazer—, havia coisas que simplesmente escapavam da lógica. Como o jeito que ele pegou minha mão quando eu me assustei com uma onda, ou o modo como ele elogiou minha risada logo depois que eu falei que odiava ela. Quem faz isso? Quem escolhe exatamente as partes que você esconde para chamar de favoritas?
Deixamos as malas largadas no canto da sala como se o mundo lá fora pudesse esperar mais um pouco. E podia. Pelo menos por alguns minutos.
— Vem cá, minha namorada linda. — disse com aquele sorrisinho bobo que eu começava a entender como um efeito colateral da presença dele.
Jimin se jogou no meu colchão com um suspiro alto, afundando entre os lençóis bagunçados que a gente não teve tempo de arrumar antes da viagem. Eu o segui, sem dizer uma palavra, deitando ao lado dele, colocando, quase que em modo automático, meu braço em volta do abdômen maravilhoso do meu namorado.
O silêncio que se formou entre nós não era desconfortável. Pelo contrário. Era daquele tipo raro, onde duas pessoas podem simplesmente existir juntas, sem precisar preencher o espaço com nada além da própria presença.
Ele mexia nos meus cabelos com a ponta dos dedos, enquanto eu traçava círculos invisíveis no antebraço dele. Era bom. Porra, era bom demais.
— Confesso que, mesmo com a areia entrando em lugares em que ela não foi convidada, eu não queria voltar. — confessei, minha voz abafada pelo moletom dele. — Lá parecia que o mundo tinha desligado. Só existia a gente.
— E agora que voltamos... ainda existe a gente. — ele respondeu, firme, com um beijo na minha testa. — E eu tô muito disposto a não deixar essa bolha estourar. Mesmo aqui nessa realidade tristonha de provas, relatórios, e essa sua mania fofa de tentar organizar a vida acadêmica com post-its.
— Olha o desrespeito com minha metodologia científica, Park. — murmurei, rindo fraco.
— Desrespeito nada. Eu só gosto de ver como você funciona. — ele disse, agora mais sério. — Você é toda experimental. Mas aí você me olha como se a lógica deixasse de existir. Isso me fode.
Meu coração parou por um segundo. A mão dele ainda estava nos meus cabelos, mas agora fazia um carinho lento, quase reverente.
— Por que você sempre sabe o que dizer? — perguntei baixinho.
— Porque eu te amo. — ele disse. Assim. Simples. Natural. Como se já estivesse dentro dele há muito tempo. — E, quando a gente ama, , a gente entende até os silêncios. A gente decora as entrelinhas. E mesmo que você nunca diga, eu já sei: seu coração fala comigo antes mesmo da sua boca tentar.
Meus olhos se fecharam automaticamente, como se o corpo precisasse absorver a frase com calma. Um calor bom subiu do peito até a garganta. Apertei o moletom dele com os dedos, escondendo um sorriso bobo.
— Eu também te amo. — sussurrei, como se fosse a primeira vez, porque eu nunca iria me cansar de dizer aquilo.
Ele me apertou contra o peito e ficamos ali por mais um tempo. O mundo, lá fora, ainda podia esperar.
— Tá... eu juro que não quero estragar esse momento. Tipo, de verdade. Eu amo estar aqui, ouvindo você dizer que me ama, e eu tô completamente fodido por você. Mas... — ele suspirou, passando a mão pelo rosto. — Preciso abrir o maldito e-mail que chegou ontem. Tá me corroendo por dentro, linda.
—Qual e-mail?
— As notas da apresentação. Do trabalho. Da merda da faculdade.
Ele disse assim. Simples. Como se não estivesse falando da coisa mais importante do semestre. E eu arregalei os olhos.
— Oi? Como assim você não me avisou?
— Porque a gente tava em Gangneung, namorando, transando e comendo lula de barraquinha. Prioridades, .
— Jimin, eu não acredito nisso.
— O quê? Eu tava sendo feliz. Esqueci que era estudante por 48 horas, me deixa.
— Você teve um dia inteiro pra me contar isso! Você dormiu do meu lado sabendo que tinha um e-mail com o poder de destruir ou salvar nossa sanidade e ficou calado?
— Dramática.
Ele riu, puxando o celular do bolso com uma calma absurda pra alguém que, segundos antes, disse estar “fodido” por dentro.
— Você quer abrir comigo ou vai continuar me julgando com esse olhar de decepção acadêmica?
—Espera, preciso me preparar.
Ele revirou os olhos e deu um sorriso divertido, antes de beijar o canto da minha boca.
—Se preparar para comemorar, né? Porque, bem, você é a Einstein do Caos. Não te dei esse apelido à toa, gata.
Suspirei, fingindo drama.
— Se a gente não passou, eu sumo do país.
— Relaxa. Se for pra fugir, a gente foge junto. Você sabe que não vai a lugar nenhum sem mim.
Suspirei mais uma vez e afundei o rosto no travesseiro. Ser aprovado depois de semanas de crise existencial, surtos silenciosos e um consumo absolutamente irresponsável de cafeína devia, no mínimo, render uma porra de uma medalha olímpica. Ouro. Pódio. Fogo de artifício. Uma orquestra de fundo enquanto a gente levantava um troféu feito de código-fonte bugado, gráficos mal diagramados e lágrimas — muitas lágrimas.
Mas não. Óbvio que essa merda não ia ser assim.
Provavelmente, o que chegou foi um e-mail seco. Frio. Um “parabéns” que parecia ter sido cuspido por um robô em depressão. Zero emoção. Zero empatia. Eu queria gritar, correr pelada pela rua, bater na porta da vizinha fofoqueira só pra dizer que, talvez, eu tenha vencido na vida. Profissional, claro. Mas, como sou uma mulher de classe (relativa), resolvi tombar de costas na cama e berrar no travesseiro, abafando o grito do desespero com um toque de dignidade.
Jimin soltou uma gargalhada alta ao meu lado, ainda com o celular na mão.
—Você é muito esquisita, . —Ele tirou o travesseiro do meu rosto, divertido —Você tá bem aí?
— Não. Quero que alguém me traga uma placa escrito “você tentou” e uma garrafa de vinho barato. — Resmunguei. — Eu não tô pronta pra saber se passei naquela prova, Jimin. Se eu abrir o e-mail agora e tiver uma nota insuficiente, eu juro que vou pedir cidadania em algum país que respeite meu esforço emocional.
— ... a gente vai rir disso depois. — ele disse, puxando meu braço e me puxando pra cima dele com aquele ar debochado que me fazia querer bater e beijar ele ao mesmo tempo. — Mas, se nada der certo, eu começo meu império: Aulas de Sedução, by Park Jimin.
Arregalei os olhos, fingindo choque.
— Com direito a apostila em PDF e módulo bônus com olhar triangular, beijos, etc?
— E vídeos tutoriais com minha voz sussurrando frases genéricas de efeito — ele rebateu, baixando o tom com cara de filho da puta. — Tipo... “O corpo fala” ou “a confiança começa no seu olhar”.
— EU VOU TE PROCESSAR, SEU CANALHA! — gritei, metendo o travesseiro nele com força. — Isso é crime, porra!
— Crime por qual motivo, senhorita?
— Aulas de sedução by Park Jimin. — repeti, debochada, meio escondida atrás do travesseiro. — Você acha mesmo que eu quero namorar um coach de gente carente e desesperada?
— Ei! — ele fingiu indignação, mas a risada entregava. — Não subestime meu potencial, linda. Eu podia fazer uma fortuna com isso. Módulos sobre linguagem corporal, olhares estratégicos e as cores ideais pra uma boa lingerie? Porra, eu ia ser rico pra cacete.
— A recepcionista do hotel de Gangneung ia ser a primeira a comprar. — disparei, seca, cruzando os braços. — Atirada do caralho.
Silêncio.
Daquele tipo que ele saboreia antes de soltar a risadinha mais filha da mãe — e mais irresistível — da história.
— ... você ainda tá pensando na recepcionista? — ele perguntou, com um sorriso maldito brotando no canto da boca e os olhos brilhando como se tivesse ganhado na loteria. — Amor, você ainda tá com ciúmes?
— Tô com memórias, porra! — retruquei rápido demais. — Memória de você agradecendo a senha do wi-fi a ela com aquele seu sorrisinho de vagabundo. Desculpa se minha mente é boa e meu orgulho é frágil, tá?
Ele gargalhou alto, tombando de costas na cama como se eu tivesse contado a melhor piada da vida dele.
— Meu Deus do céu, você é a coisa mais linda que já apareceu na minha vida. — colocou a mão no peito, dramatizando. — , a gênia da engenharia, sensível ao Park Jimin versão “pilantra por conexão”.
— Cala a boca, seu desgraçado. — joguei o travesseiro nele de novo, mesmo rindo. — Eu podia ter pedido, tá? Mas não, lá foi você com seu sorriso de propaganda de pasta de dente, voz de comercial de perfume e aquele olhar 45 graus.
— Não era 45. Era 33. Técnica avançada. Módulo seis. Não chegamos nessa parte, porque nos apaixonamos antes dessa aula.
— Vai se foder.
— Você me ama.
Revirei os olhos e me joguei na cama de novo, virando o rosto pro lado. Mas meu coração tava batendo tão rápido que parecia ter bebido café puro com energético.
— A recepcionista tava mesmo interessada. — murmurei só pra provocar.
— Só tinha uma pessoa me interessando naquele hotel — ele respondeu sem nem hesitar, encostando a testa na minha. — A que dividiu o travesseiro comigo. Literalmente.
Silêncio. Dessa vez, do bom.
Daquele que aquece o peito e bagunça os pensamentos, mesmo quando tudo parece em ordem. Ele sorriu. Aquele sorriso desgraçado. O sorriso que eu sabia exatamente onde ia dar: beijo, toque, arrepio. Caos.
E veio.
Lento no começo, como se ele estivesse decifrando minha boca com calma, sem pressa, como se o mundo lá fora não existisse. As mãos dele escorregaram até a minha cintura, me puxando sem cerimônia, e eu fui. Porque com ele, eu sempre vou.
O beijo ficou mais faminto. Mais urgente. Daqueles que arrancam o ar, a noção e qualquer vontade de parar. Meu corpo colado no dele, meus dedos enroscados nos fios da sua nuca, e o coração disparado como se quisesse sair pela garganta.
A mão dele desceu pela minha coxa, provocando um arrepio tão violento que eu arqueei o corpo no reflexo, buscando mais. O calor entre a gente já era palpável, quase insuportável.
Foi quando ele parou.
Literalmente. Parou.
— Caralho. — murmurou, respirando fundo e passando a mão pelo rosto. — Eu juro por Deus, eu quero muito isso aqui, porque você é sempre a porra de um incêndio, mas...
— Mas...? — minha voz saiu arrastada, confusa, ainda meio tonta do beijo.
— A gente precisa abrir aquele maldito e-mail. — ele disse, encarando o teto como se isso fosse um castigo divino. —Aquela porra tá me comendo vivo por dentro desde ontem.
— Você tá me dizendo que vai interromper isso aqui... pra abrir o e-mail da faculdade?
— Tô dizendo que, se eu não abrir agora, eu vou surtar no meio de uma situação que claramente exige concentração. — ele respondeu, já tateando o celular.
Ele desbloqueou o aparelho como quem estava desarmando uma bomba, os olhos grudados na tela com a concentração de um cirurgião em final de plantão.
—Odeio ver você tenso assim. Nem combina —Mordi o lábio inferior, observando o corpo dele enrijecer mais um pouco. — Fala comigo.
Ele virou o celular na minha direção, os olhos fixos na tela. No topo do e-mail, o nome da universidade. Assunto: Resultados Finais – 8º semestre.
— É agora. — ele sussurrou.
— É agora. — repeti, sentando na cama, o celular entre nós dois, e o silêncio preenchendo cada centímetro do quarto.
— A gente abre juntos? — ele perguntou, a voz mais baixa do que o normal.
— Sempre. — sorri nervosa.
Com a ponta do dedo, toquei na notificação. A tela levou uma eternidade pra carregar, como se o universo estivesse brincando com nossos nervos.
Finalmente, os nomes apareceram.
E, ao lado deles, o que parecia impossível depois de tantas madrugadas viradas, choros abafados e vontade de largar tudo: Aprovado.
— A gente passou… — murmurei, quase sem acreditar.
Jimin piscou algumas vezes, depois sorriu. Aquele sorriso lento, cheio de alívio.
Nos olhamos, em silêncio, por um segundo. Um silêncio bom. Do tipo que guarda tudo que não dá pra dizer em voz alta.
— A gente realmente passou. — repeti, rindo baixinho. — Isso significa que vencemos na vida?
— Ou que enganamos bem o suficiente. — ele riu, deitando de novo e puxando minha mão.
— Eu sinceramente achei que ia dar ruim. — falei, me sentindo completamente aliviada. — Principalmente quando você apareceu com aquele projeto sobre café sustentável feito com… sei lá o quê.
— Com grão reciclado e embalagem biodegradável de fibra de coco. Um clássico moderno.
— Você só não ganhou zero porque tem carisma. E porque é bonito pra cacete.
Ele sorriu daquele jeito que fazia meu estômago revirar.
— Bonito o suficiente pra ser pai dos seus filhos?
A frase veio tão rápida, tão do nada, que eu congelei no lugar.
— O quê? — soltei, piscando.
— É, tipo... um dia, né? — ele deu de ombros, tentando parecer casual, mas o brilho no olhar entregava tudo. — Uma casa com plantas que eu provavelmente vou esquecer de regar, um cachorro chamado Minguk e... uma versão sua de fralda correndo pela sala.
— Você tá falando sério?
— Tô. — ele respondeu, simples, direto. — Não agora. Mas eu penso nisso. E, sinceramente? Não consigo imaginar com mais ninguém além de você.
Fiquei muda. Porque quando a pessoa certa fala a coisa certa, tudo o que resta é sentir.
Ele só me olhou, tranquilo. Como se tivesse dito “passa o sal” e não que queria construir uma vida comigo.
— Você quer ter filhos comigo? — repeti, num sussurro.
— Quero tudo com você, . Véu, terno, uma música cafona tocando na igreja enquanto você entra com um vestido de noiva e todas essas merdas que fizeram a gente acreditar que é símbolo do romantismo. Quero até as noites sem dormir, as birras, os desenhos animados e a gente discutindo se nosso pequeno caótico pode comer doce antes do almoço.
A única resposta que consegui dar foi um beijo. Daqueles longos, com gosto de “eu também”.
— E se for uma garotinha? — perguntei depois, com a cabeça no peito dele.
— Vai ter seu gênio e meu cabelo. Um perigo.
— Acho que vai ser um perigo lindo.
—Exatamente igual a você, meu amor — Respondeu, me dando um selinho estalado. — Mas, enquanto nosso periguinho não chega, agora sim, a gente pode voltar ao que importa.
— E o que importa? — perguntei, já sabendo a resposta.
Ele mordeu o lábio inferior com aquele maldito olhar safado.
— Você. Sem travesseiros no meio. Sem interrupções ou e-mails. —Ele se virou, ficando por cima de mim e beijando meu pescoço —E, se possível, sem roupa.
— É, eu acho que amei a sua ideia. — sussurrei, antes de puxá-lo pelo pescoço e beijá-lo com todo meu fervor.
Se arrumar pra ir a uma pub deveria ser algo simples. Rápido. Quase automático. Mas naquele dia, parecia um ritual de sacrifício. Mas, é claro que ainda não se acostumou com o memorando dessa cultura de feminilidade, aquela que exige base, delineado simétrico e uma calça jeans que te abrace sem te sufocar. Como se a dignidade feminina dependesse da precisão de um pincel chanfrado.
E é justamente por conta disso que me rendi aos vestidos.
Fluídos. Livres. Sem botão apertando a barriga que eu ganhei estudando pra prova final e comendo pizza e chocolates suíços da Jisoo.
E Jimin aprova. Na verdade, Jimin aplaude. Segundo ele — e eu cito — "muito mais prático de tirar em uma emergência". Lê-se: urgência sexual, porque, segundo o próprio canalha, "tesão tem pressa".
Claro, ele fala isso com aquele sorriso de canto de boca e os olhos semi-fechados, como se estivesse narrando uma cena de filme francês proibido para menores. E eu, contra toda lógica, sempre me derreto. Feito manteiga na panela errada.
Enquanto passava o batom — errando a linha pela terceira vez, como se minha boca tivesse entrado em guerra com a minha coordenação motora — me peguei encarando o reflexo com aquele olhar típico de quem não confia nem na sorte que tem. Ah, foda-se se o batom ficar borrado.
Porque, vamos lá: eu tô namorando o Park Jimin. O Park Jimin. Dono dos sorrisos mais indecentes já registrados em território humanitário.
O cara me levou pra Gangneung num fim de semana que parecia ter sido escrito por Nora Ephron em surto criativo. Me disse que me ama com a calma de quem comenta a porra do clima. A gente transou como se o mundo fosse acabar na segunda, viu golfinhos, ele me deu um anel de compromisso cheio de promessas sussurradas e agora estamos comemorando nossa possível aprovação na universidade.
Tudo isso no mesmo mês.
Sabe aquela sensação de que alguma coisa tá errada só porque tudo tá certo demais? Então.
Não era drama. Era histórico de guerra. A minha vida nunca teve trilha sonora feliz e, se tivesse, seria instrumental, tocada num violino desafinado. Agora, eu sou engenheira biomédica. Mesmo tendo feito meu melhor, virado noites e entregado um projeto sólido, ainda parecia surreal a ideia de estar vencendo. Profissionalmente. Emocionalmente. Romanticamente.
E o Jimin é o mais inacreditável. O pai dele sempre sonhou com um filho policial. Honrado, estável, engravatado, talvez com um bigode simbólico de autoridade. Aquelas fantasias de pai tradicional que acha que a estabilidade vem no contracheque e não na saúde mental. Um típico da sociedade coreana. Mas, aí o desgraçado foi lá e escolheu publicidade. Disse que queria contar histórias. Ele sabe que é bom nisso. E contou mesmo. Foram tantos meses falando de café sustentável com paixão que eu, por um segundo, acreditei que ele tinha inventado o grão, plantado, colhido e torrado com as próprias mãos. Fez a sala rir. Fez a professora rir. Fez até a planta do canto parecer interessada.
Injusto, né?
Enquanto isso, eu quase entrei em combustão espontânea tentando apresentar meu projeto de biossensores, suando por todos os poros da alma, com a garganta seca e um PPT que parecia conspirar contra mim. Mas, a verdade é que o maldito me deixa orgulhosa.
Orgulho daquele que dá raiva, sabe? Tipo quando ele sorri e a professora derrete, enquanto você tá lá, com olheiras de quem negociou com a morte pra terminar um projeto. Ou quando ele explica a campanha de marketing como se estivesse narrando um filme da Pixar — com plot, clímax e final emocionante — e você se pega batendo palma como uma trouxa apaixonada.
Ele tem esse dom irritante de fazer tudo parecer fácil. A vida, o amor, o futuro. E, de quebra, ainda por cima fazia parecer sexy.
Jimin é o tipo de pessoa que consegue conquistar a banca, o motorista do ônibus e a moça da cafeteria, tudo na mesma manhã. Enquanto eu luto pra sobreviver, ele arranca aplausos.
— Já tá pronta?
Jimin perguntou, e eu me virei para olhar. Porra. Era sério isso? O infeliz de camiseta básica preta, calça jeans, um tênis, cabelo meio bagunçado, uma corrente fina no pescoço e aquele filho da puta que dava vontade de ajoelhar e agradecer aos deuses da genética. Casual. Lindo. Criminosamente gostoso.
— Você sabe que eu te odeio, né? — resmunguei, cruzando os braços.
— Odeia nada. Tá me olhando como se fosse me devorar. E, se quiser, eu tô aceitando a proposta.
—Safado.
— E todo seu. — Ele me abraçou por trás, colando o corpo no meu com a cara de quem sabia exatamente o efeito que causava. Deu um beijo demorado no meu pescoço, lento, firme, com aquela maldita intenção que fazia minha espinha inteira se arrepender de ter posto roupa. — Você é perfeita, .
Arfei. Literalmente arfei. Como se ele tivesse encontrado um botão secreto de desligar meu cérebro e ligar todos os outros sistemas vitais.
— Você fala isso só pra me fazer esquecer o batom meio borrado.
— Eu falo isso porque é verdade. E porque o batom borrado só prova que você é humana. O resto do mundo que tente ser bonito. Você só precisa ser você.
Virei de frente. A cara dele era de paz. Aquela paz que a gente acha que nunca vai encontrar.
— Para de falar assim ou eu cancelo a pub e te jogo na cama.
— Ué. Eu sou publicitário, amor. Persuasão é meu ponto forte.
Ele piscou. E eu desejei que essa vida — essa vida bonita demais pra ser verdade — nunca passasse da validade. Talvez eu merecesse esse momento. Talvez a vida tivesse decidido, finalmente, me dar um intervalo de paz.
— Bora, minha namorada genial? — ele estendeu a mão. — Vamos brindar à nossa quase-formatura, ao nosso romance tórrido e à melhor cerveja do bairro.
Peguei a mão dele, sorrindo e nos direcionamos para fora do meu apartamento. O caminho até a pub foi confortável. Acho que essa é a palavra. Não tinha música alta, nem urgência, nem silêncio constrangedor. Só uma playlist baixinha tocando Norah Jones no rádio e a mão dele entrelaçada na minha por cima do câmbio. Um novo costume dele. Uma vibe meio “isso aqui é nosso”, sabe?
Eu olhava pela janela e pensava em como era estranho — e ao mesmo tempo bonito — sentir paz num carro, que tinha um polvo de pelúcia colorido, a caminho de uma comemoração. Eu, que costumava viver à base de checklists mentais, “e se?”, em looping e previsões catastróficas em 4K, agora estava ali. Tranquila. Respirando. Feliz. Com ele, tudo parecia no ritmo certo. Até o trânsito colaborava, como se Seul tivesse recebido um aviso divino de que era noite de romance.
— Se você encostar a cabeça no vidro mais uma vez, vai me deixar com medo de que esteja refletindo demais — Jimin disse, de canto, ainda com os olhos na rua, mas com aquele sorrisinho no canto da boca que mexia com todas as células do meu corpo.
— E se eu estiver?
— Eu te beijo até você esquecer o motivo. E se continuar insistindo, beijo mais forte. Aí você desiste, ou desmaia.
Ri. Claro que ri. E aproveitei o sinal vermelho pra roubar um beijo rápido, só pra não perder o costume — nem a vantagem.
Quando chegamos, ele estacionou como quem já conhecia cada centímetro daquele bairro. Mas eu fiquei alguns segundos paralisada, com a mão na maçaneta, encarando a fachada da pub. A porta se abriu e fui engolida pela memória. As paredes de tijolos aparentes, os sofás de couro escuro, as garrafas atrás do balcão alinhadas com uma precisão quase erótica — tudo estava igual. Até o garçom de blazer vinho com cara de quem odiava gente feliz ainda estava lá.
—Eu acho que lembro desse lugar... —franzi o cenho observando cada detalhe, enquanto Jimin me direcionava com um sorriso de canto.
—Ah, ótimo! Fiquei com medo de que tivesse esquecido. —Ele sorriu, entrelaçando os dedos nos meus como se fôssemos dois adolescentes disfarçados de adultos. Me guiou pelas mesas com aquela confiança irritante e irresistível. — Foi exatamente aqui que aprendemos que o corpo fala.
As lembranças daquela noite vieram como uma avalanche. Foi ali. Naquela porra de pub que nos beijamos depois de anos. Um beijo técnico. Didático. Como quem repete fórmula na lousa. Só que meu corpo inteiro entrou em curto-circuito, como se tivesse aprendido uma nova língua sem querer.
— Aprendemos?
— Sim, porque esse lance de “o corpo fala” serviu pra mim também. — Ele bagunçou os cabelos com uma risada abafada. — Afinal, eu beijei você e meu corpo gritou. Se tivesse demorado mais dois segundos, eu ia precisar de um banho de água gelada. Tipo, gelada pra caralho.
— E decidiu que beijar outra naquela noite era a melhor opção? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, com o veneno escorrendo com classe.
Ele travou por meio segundo, depois soltou o ar devagar, como quem já sabia que esse momento ia chegar.
— Eu tava tentando fingir que você não significava porra nenhuma. Aliás, falhei miseravelmente.
— Ah, entendi. Então me beija, surta, e resolve passar a língua em outra como mecanismo de defesa?
— Eu tava confuso, cacete! — ele disse, erguendo as mãos em rendição. — Você me deu um puta beijo, estava de vestido, de salto, de lingerie e depois simplesmente saiu andando como se não tivesse acabado com o meu psicológico. Eu entrei em pânico!
Cruzei os braços.
— E achou uma boca aleatória no meio da multidão?
— Você acha que eu me orgulho disso?
— A parte do “gelada pra caralho” parecia orgulhosa.
Ele riu, um pouco envergonhado, um pouco safado — a mistura clássica de Jimin.
— Olha, se serve de consolo… aquele beijo não significou nada.
— Péssimo consolo.
— Mas esse aqui significa tudo. — ele segurou meu rosto com as duas mãos, me olhando do jeito que sempre desarma minhas defesas. — , você é o caos mais bonito que já bagunçou minha vida.
Fingi pensar por um segundo, só pelo drama.
— Tá perdoado. Parcialmente.
— Aceito. Mas só se tiver beijo agora.
— Um beijo pedagógico? — provoquei, me aproximando.
— Dessa vez, sem intenção de ensinar. Só de sentir.
E foi exatamente o que a gente fez.
A noite avançou com o tipo de leveza que só vem quando a gente não precisa fingir nada. Rimos demais. Bebemos um pouco mais do que o socialmente recomendado. Dançamos como se a playlist tivesse sido feita só pra nós — e talvez tivesse mesmo, considerando que Jimin subornou o DJ com dois shots e um pedido sussurrado no ouvido.
Em algum momento, estávamos os dois sentados num sofá de canto, dividindo uma porção de batata frita como se fosse caviar, enquanto falávamos mal da vida acadêmica e das regras injustas dos métodos da universidade.
— Preciso de mais uma bebida. — ele anunciou, levantando devagar. — Tá com cara de quem quer tequila ou vinho? Pensa bem, amor. Essa escolha pode mudar o rumo da noite.
— Só traz o que te trouxer de volta rápido. — respondi, sorrindo. —Talvez um soju seja a melhor opção.
—Eu amo namorar essa gatinha pervertida e alcoólatra.
—Vai logo, seu besta.
Me recostei no sofá, ainda sorrindo com a última piada do Jimin, quando senti um movimento vindo do lado. Virei o rosto achando que fosse o garçom com nossa bebida.
Mas não.
Era... Park Seojoon?
Mais alto do que eu lembrava. Mais bonito também — o que era irritante. Camisa escura com as mangas dobradas, copo de uísque na mão, e um leve desequilíbrio no andar que só podia significar uma coisa: álcool nível perigoso.
— … — ele disse, arrastando meu nome como quem saboreia. O sorriso torto e os olhos brilhando mais do que deviam. — Ainda mais linda do que naquela noite. É, bem que eu disse, uma mulher como você é difícil esquecer.
Revirei os olhos tão forte que quase vi meu próprio cérebro.
— Seojoon… que surpresa. — respondi, tentando manter a voz neutra, mesmo com meu corpo inteiro gritando "merda merda merda".
Ele deu uma risada rouca e sentou ao meu lado sem ser convidado. Chegou perto. Perto demais. O suficiente pra eu sentir o cheiro amadeirado do uísque e do ego.
— Sabe que eu nunca esqueci aquela noite, né? — ele falou, apoiando o braço no encosto do sofá, me cercando sem encostar, mas quase. — Você sumiu. Fiquei esperando, sei lá… uma continuação.
Revirei os olhos, mais uma vez.
— Aquela noite não foi o começo de nada, Seojoon. Foi só... uma noite. Que acabou.
Ele soltou uma risadinha baixa.
— Fala isso, mas tá com esse mesmo olhar. O mesmo de antes.
— O único olhar que você vai tá vendo é o de quem tá sem paciência.
E aí veio o momento exato. O segundo em que o ar mudou de temperatura.
— Tá acontecendo alguma coisa aqui? — a voz veio às minhas costas, firme e baixa.
Não ameaçadora. Muito pior: controlada.
Jimin.
Acho que todo mundo tem aquele instante da vida em que o tempo desacelera. Em que tudo congela por um segundo antes da merda bater no ventilador.
O meu foi exatamente quando Park Jimin deu um passo à frente.
E depois mais um.
— Jimin… — chamei, já me levantando.
Mas ele não ouviu. Ou ouviu, e simplesmente escolheu ignorar. O corpo dele tava duro, o maxilar travado, e o olhar era de quem não ia recuar nem fodendo.
Seojoon ainda segurava o copo de uísque como se fosse um prêmio de consolação, com aquele sorrisinho preguiçoso que só funcionava com quem não conhecia o histórico dele. Mas ali… ali, ele estava a dois segundos de levar uma aula prática de limite.
— Qual é, cara… — Seojoon começou, confuso. — É só uma conversa.
Jimin parou bem na frente dele. Os dois praticamente do mesmo tamanho. Só que Jimin... Jimin parecia maior, embora tivesse uma estatura bem menor.
— Conversa é quando duas pessoas falam. Quando uma invade o espaço da outra sem ser chamada, isso tem outro nome.
— Tá exagerando.
— Tô? — Jimin riu, aquele riso sem humor nenhum. — Então vamos resolver isso aqui, rapidinho. Um por um. Você quer alguma coisa com a minha mulher, sim ou não?
Silêncio.
E foi nesse silêncio que eu percebi:
Fodeu.
Respirei fundo, tentando processar rápido, mas minha mente só gritava “porra, Park Jimin, não agora!”
Mas era tarde. Ele já tinha travado o olhar no alvo. Corpo tenso. Queixo erguido. E aquele brilho nos olhos que precede o caos.
“Quero que saiba que você foi o último sonho da minha alma.” — Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades
Park Jimin
Às vezes, a vida parece um filme mal montado. Um desses velhos, dos anos 70 — com som estourado, cortes bruscos, cenas soltas que mais confundem do que contam alguma coisa. Um caos estético. Um tropeço na narrativa. Mas, de vez em quando, acontece uma tomada perfeita. Um instante que encaixa. Um frame que segura o mundo no lugar.
No meu caso, foi o fim de semana em Gangneung.
Eu não fazia ideia de que aquela porra de viagem, boa pra caralho, ia me curar. Nem que fosse só um pouco. Mas curou. Foi como assistir Before Sunrise pela primeira vez, só que do lado de dentro da tela. Dois estranhos que se entendem com o olhar, falando bobagem como se fossem grandes verdades, e verdades como se fossem só bobagens íntimas. E o tempo parecia desacelerar só pra dar espaço pro sentimento acontecer direito.
Eu olhava pra ela e tudo fazia sentido. Tudo era possível.
E não era só pela beleza que todo mundo via — aquela beleza que chega antes, que vira a cabeça de qualquer um. Era outra coisa. Um tipo de luz que não se aprende, que nasce junto. Ela falava e o mundo parecia menos barulhento. Tinha um jeito de escutar que fazia a gente querer contar tudo. E rir. E ficar. Mesmo sem querer, ela amarrava as pessoas nela, com uma palavra, com um silêncio. é isso. Presença. Memória.
Às vezes, eu me pegava lembrando da gente criança, correndo feito dois desesperados pelo quintal dos pais dela, como se não existisse mundo lá fora. Ela sempre mais lenta, porém mais esperta e mais dona das próprias vontades. O que gerava intensos conflitos entre nós dois. Mandona. Brilhante. Já sabia tudo com nove anos. Eu achava aquilo irritante. E fascinante.
Crescer com ela foi como dividir um segredo que ninguém mais entendia. E agora, vê-la ali, tão mulher, tão minha, me dava essa sensação estranha de ter ganhado algo que sempre foi meu, mas que eu nunca ousei tocar até agora.
Talvez seja por isso que, agora, com o pub inteiro ao redor, meu sangue esteja fervendo.
Porque quando você encontra algo precioso demais, o instinto não pergunta. Ele age.
E ver aquele cara — aquele idiota com cara de comercial de perfume — se inclinando na direção dela, como se tivesse algum direito, como se ela não fosse minha... não deu. Foi como levar um soco sem aviso. Eu notei tudo. O tensionar sutil dos ombros dela. O sorriso educado, apertado, que ela só usa quando tá desconfortável. O copo idiota na mão dele. O tom de voz que se fingia casual. Tudo errado. Tudo.
Minha visão afinou. O bar virou ruído. Foco único: os dois.
— Tá acontecendo alguma coisa aqui? — minha voz saiu baixa. Firme. Cirúrgica.
Não era uma pergunta. Era uma sentença.
O cara congelou. Ela também. E por um segundo, tive certeza de que eu tinha chegado no exato momento em que precisava. Ele ainda segurava o copo, achando que era charme.
E ela... Deus, ela estava linda. Linda de um jeito quase cruel, porque até desconfortável, a era a visão mais bonita daquele lugar.
Ela falou meu nome. Acho que pediu calma. Mas já era tarde.
Já tinha ultrapassado a fronteira do autocontrole. O sangue corria rápido, quente, como se tivesse música de guerra dentro de mim. Cada passo até ele foi como uma batida de tambor dentro do peito.
— Qual é, cara... — ele disse, tentando soar confuso. — É só uma conversa.
Conversa?
Segurei o riso.
— Conversa é quando duas pessoas falam. Quando uma invade o espaço da outra sem ser chamada, isso tem outro nome.
Ele tentou rir. Achando que eu era só mais um namorado ciumento com pose de herói.
— Tá exagerando.
— Tô? — soltei, num riso seco que não alcançou os olhos. — Então vamos resolver isso logo. Um por um. Você quer alguma coisa com a minha mulher, sim ou não?
Eu sabia que ela não ia gostar. Que não ia aprovar o que eu estava prestes a fazer. Mas o instinto, às vezes, é mais alto que a razão. Eu já tava pronto. Pronto pro que fosse.
Mas antes que ele pudesse responder, senti os dedos dela no meu peito. Um toque leve. Quase um sussurro da pele.
Como se ela tivesse apertado o botão de emergência que só ela sabia onde ficava.
— Jimin, amor... para. — A voz dela veio mansa, mas firme. Carinhosa e certeira como uma flecha no centro do meu peito. — Não vale a pena. Já estamos chamando atenção. Vamos aproveitar a noite, por favor.
E então, ela olhou pro cara. Mas não foi um olhar qualquer.
Foi um ponto final.
— Seojoon, vai embora. — disse com uma calma tão afiada que ele não teve escolha. — Você está atrapalhando. Eu tenho um namorado agora. Entendeu?
A frase saiu da boca dela com a firmeza de quem sabe exatamente onde pisa — como quem fecha um livro com a última linha perfeita. Um ponto final, seco e elegante.
E o melhor de tudo? Foi como se ela tivesse me pendurado no peito uma medalha de ouro. Brilho puro. Uma parte de mim se encheu de orgulho. A outra... surpresa. sempre teve esse dom de transformar situações desconfortáveis em declarações silenciosas. Naquela noite, diante de meio pub curioso e um idiota perdido, ela me escolheu. Sem rodeios. Sem meias palavras.
O tal do Seojoon, visivelmente constrangido, nos lançou um último olhar torto — algo entre "não entendi" e "acho que perdi". Murmurou uma desculpa qualquer, do tipo que se dissolve no ar antes de fazer sentido, e se afastou com um sorrisinho derrotado no canto da boca.
— Ah, claro… me desculpem, namorados — resmungou, como quem finalmente sacou o roteiro do qual não era protagonista. E sumiu.
Cruzei os braços e soltei o ar, deixando a tensão escorrer pelos ombros. A vontade de estourar o copo de uísque na cabeça dele foi embora junto com a figura patética que ele deixou no rastro.
virou pra mim com aquele sorriso de canto, carregado de ironia e doçura na mesma medida.
— Jimin, você precisa parar de ser tão briguento, tá?
— Briguento? Eu só queria bater nele com classe. Nada exagerado… só desestabilizar o topete ridículo dele. Você viu aquilo? Parecia um monumento ao ego masculino.
Ela arqueou a sobrancelha.
— E você conseguiria alcançar?
Pisquei, ofendido.
— Perdão?
O sorriso dela se abriu como uma provocação bem medida.
— Nada, nada… só pensei que talvez você seja como aqueles cachorrinhos pequenos com alma de rottweiler. Corajoso, mas… compacto.
— Você tá me comparando com um chihuahua, ?
Ela tentou manter a pose, mas a risada escapou pelos cantos da boca.
— Olha, eu sou a . A mulher que te ama apesar dos seus modestos centímetros de fúria. Pra mim, o que importa não é o tamanho, é a qualidade. — Fez uma pausa dramática, me olhando de cima a baixo, e completou com um brilho nos olhos — E no seu caso, a qualidade é tão densa que chega a ser concentrada.
Ri, balançando a cabeça, e dei um passo em direção a ela, com aquele olhar de “você não presta, mas é minha perdição”.
— Então se acostuma, amor. Essa qualidade concentrada vai ser sua pelo resto da vida.
Ela riu, me empurrou de leve e se jogou nos meus braços, com a alegria tranquila de quem sabe que encontrou o lugar certo.
— Você é impossível, Jimin.
— Pode me chamar de impossível. Só não me mande embora.
— Às vezes eu penso em te mandar pra lua.
— Tudo bem. Só me promete que vai comigo. Se eu não for, vou acabar arrumando briga com algum marciano metido também.
Ela soltou uma risada abafada contra o meu peito, e eu juro que senti o mundo dar uma pausa. Aqueles segundos em que ela me olhou, com os olhos brilhando e os lábios entreabertos, pareciam ter sido tirados de uma daquelas cenas lentas de filme europeu — onde tudo se resume a dois olhares que se reconhecem, mesmo quando o caos tá do lado de fora. Eu a puxei pela cintura, sem dizer mais nada. E ela veio. Como sempre vinha, com a alma primeiro, e a boca logo depois.
O beijo foi menos sobre desejo e mais sobre certeza.
De que ali era o lugar.
De que era ela, sempre foi.
De que, mesmo quando o mundo parece um roteiro mal escrito, com cortes abruptos e falas atravessadas, a gente ainda encontra uma cena boa o bastante pra salvar o filme inteiro.
Ninguém te prepara pro depois do “felizes para sempre”.
A gente cresce assistindo aos beijos finais dos filmes, achando que o crédito sobe junto com o fim dos problemas. Mas a verdade é que, depois do beijo, vem a porra do boleto. Vem o despertador tocando cedo. Vem a pasta de dente espremida do lado errado.
E, surpreendentemente, vem a felicidade também.
Porque eu e Jimin, sem nem perceber, começamos a fazer o "para sempre" acontecer nas coisas pequenas. Encontramos um emprego, dividimos os dias, os cafés, os fones de ouvido e até a última fatia de pizza, sob os meus protestos. E, quando percebi, estávamos praticamente morando juntos — mesmo sem uma cerimônia oficial ou chave duplicada. Era mais assim: se ele esqueceu uma camiseta aqui e eu comecei a dormir melhor com ela, já era. Game over. Lar, doce caos.
Os últimos meses?
Se eu tivesse que resumir seriam: sexo, trabalho, mais sexo, café forte, sorrisos tortos, respirações sincronizadas durante o sono, e sexo de novo, porque, sinceramente, o Jimin parece ter assinado um contrato invisível com a luxúria e o carinho ao mesmo tempo.
Era tipo assim: de manhã, ele me dava café e beijo na testa. À noite, me jogava contra a parede com uma urgência que só quem tem tesão entende. E no meio disso tudo, a gente ainda dava conta do mundo, mesmo que, às vezes, o mundo tivesse que esperar cinco minutinhos a mais enquanto a gente “resolvia uma tensão”. E o mais bizarro? Nunca ficou só físico. Mesmo com toda a intensidade, sempre teve aquele algo além.
Depois do caos do corpo, vinha o silêncio bom. Claro que nem tudo eram flores. Tinha TPM, mau humor, discussão por causa de qual lado da cama era de quem. Mas tinha também aquela sensação esquisita e deliciosa de que, finalmente, eu tinha encontrado meu lugar. Mesmo que ele estivesse roncando no sofá com meia cara coberta de pipoca. Então sim, os últimos meses foram agitados. Intensos. Quentes. E, acima de tudo, nossos. E quer saber? Se isso for a tal da rotina… eu tô perdidamente apaixonada por ela.
O mais engraçado é que os nossos pais, que descobriram que estávamos namorando por conta de uma foto que o Jimin postou, não só aprovaram tudo como comemoraram. Tipo, pra caramba. Meus pais nem acreditavam em amor, mas ficaram felizes ao saber que eu estava amando. Sim, fizeram questão de abrir um vinho chileno, que claramente estava guardado pra um casamento ou fim do mundo, e brindar nossa "união". Disseram que tinham apostado na gente desde o início, e gritaram “eu sabia!” com os olhos brilhando de vinho caro e orgulho.
E eu? Eu só ria. Ria da coincidência bonita que foi a vida nos empurrar pra esse mesmo endereço emocional. Ria da forma como ele ainda me irritava com as piadinhas, mas agora eu respondia com um beijo. Ria do nosso jeitinho torto de caber no mundo um do outro.
Porque, no fundo, era isso:
A gente não tava criando um conto de fadas. Tava escrevendo um manual — bem bagunçado, com post-its e rabiscos — sobre como amar alguém todo dia, mesmo quando a louça acumula.
Sorri com meus pensamentos e prendi meus cabelos em um coque, suspirando fundo. Eu estava tentando dobrar uma camiseta quando Jimin me puxou para o meio da bagunça — a bagunça de malas, de roupas espalhadas pela cama, de coisas que a gente ia levar e coisas que a gente ia esquecer e que, no fundo, nem eram importantes. O que importava mesmo era o fato de termos conseguido uns dias de folga, uma escapada merecida, uma viagem que parecia pequena no calendário, mas enorme pra gente. Íamos para a casa do pai do Jimin, no interior. Um lugar maravilhoso que íamos sempre na infância. Meus pais também estariam lá. Sim, os quatro. Na mesma casa. Com a gente. Por vontade própria. O que, honestamente, era um milagre. Um pouco assustador também. Eles realmente estavam felizes por mim e por Jimin.
— … — Ele disse, com aquele olhar de quem está prestes a começar uma conversa que eu não posso evitar.
— Hum?
— Você não vai esquecer de levar as... lingeries, né? — Ele deu um sorrisinho que era mais travesso do que fofo, e eu olhei pra ele como se ele fosse um menino travesso, que sabia exatamente o que estava fazendo.
Eu suspirei, colocando a mão na cintura, e fechei a mala com um suspiro exagerado.
— Sério, Jimin? — Perguntei, tentando não rir. —Na casa dos seus pais, a gente não vai poder fazer nada. Você tem ciência disso, certo?
Ele parou de dobrar as roupas por um segundo e me olhou com uma cara de quem acabou de levar um balde de água fria.
— O quê? Você vai fazer isso comigo? Ficar na casa dos meus pais e nada de deflorar minha namorada? — Ele fez uma cara de drama exagerado, colocando a mão sobre o peito como se estivesse desolado. — Eles sempre quiseram netinhos. Vão nos agradecer depois.
Eu me contive para não rir, mas logo deixei escapar uma gargalhada.
— Ah, coitado de você. Vai ter que se contentar com os jantares fofos dos seus pais, mas sem sexo. — Eu fiz uma carinha de quem estava realmente chateada, exagerando nas palavras. — Como você pode propor isso? E o respeito, hein?
Ele deu um suspiro profundo, quase teatral, e se jogou na cama com a expressão de quem acabou de perder uma batalha épica.
— Isso é tortura emocional, . É isso que é. Como você quer que eu funcione num ambiente cheio de travesseiros florais, bolo de laranja e proibições implícitas de gemidos?
— Ué, funciona igual, só que sem atividades de risco. — Dei de ombros, tentando esconder o riso.
Ele virou o rosto lentamente pra mim, com aquele olhar ultrajado, como se tivesse atingido por uma bala.
— Você acha que eu vou me segurar num quarto com você, depois de semanas em que a nossa rotina foi basicamente trabalho? A gente só transou duas vezes. DUAS VEZES. Eu vou morrer.
— A gente pode se abraçar. Tipo um retiro espiritual. — Falei com a cara mais fofa do mundo.
— Retiro espiritual, ? Que porra é essa? Você quer me matar.
— É um novo conceito, amor. Castidade no campo. Seus pais vão amar.
Ele cobriu o rosto com um travesseiro e gemeu.
— Eles querem netos! Eles já me mandaram link de berço e tudo! Você tá indo contra os sonhos da minha família!
— Não me vem com essa chantagem emocional, Park Jimin. — Cruzei os braços, rindo. — Um passo de cada vez. Primeiro, sobrevivemos ao bolo da sua mãe. Depois, a gente pensa nos berços.
Ele tirou o travesseiro do rosto e me olhou com um sorriso esperto.
— Então você tá dizendo que depois do bolo da minha mãe, a gente pode negociar?
— Talvez. — Pisquei. — Se você não roncar muito e não me deixar conversar sozinha no meio da mesa com seus tios conservadores.
— Negócio fechado. — Ele se levantou num pulo, animado e abriu uma das minhas gavetas. —Eu amo essa vermelha, me deixa excitado só de imaginar você nela. É humilhante, inclusive. —Ele jogou a lingerie na cama sem olhar pra trás —Leva essa rosa também. E essa preta. Porra, você fica muito gostosa de preto.
— Você é um caso perdido.
— Prioridades, . Eu posso sobreviver sem wi-fi, sem sinal no celular... mas não sem isso aqui. — Apontou para a lingerie como se fosse item de primeira necessidade. — É quase humanitário você levar.
— Você é um pervertido muito convincente.
— Sou só um homem apaixonado, previsivelmente desesperado. — Ele disse, puxando-me pela cintura. — E com uma imaginação ativa. Muito ativa.
O portão de madeira rangia suavemente enquanto Jimin estacionava o carro na entrada de cascalho. A casa à frente parecia saída de um conto de final feliz: dois andares, telhado escuro, janelas grandes com molduras brancas, vasos de flores nas sacadas e um jardim tão bem cuidado que dava até raiva de tão perfeito. Árvores altas ladeavam a propriedade, e uma trilha de pedras levava até a varanda da frente, onde luzes amarelas piscavam como vaga-lumes encantados.
Mal desligamos o carro, a porta da frente se escancarou como se tivesse sido chutada por um raio de alegria.
— Aí estão os pombinhos! — gritou o Sr. Park, com os braços abertos e um sorriso largo que denunciava a saudade.
— Oi, pai! — Jimin sorriu, saindo do carro e correndo pra abraçá-lo como um garotinho que voltou do acampamento.
— ! — a mãe do Jimin veio até mim em passos apressados, ajeitando os óculos no rosto. — Olha só essa princesa, que coisa mais linda! Como é bom ter visto você crescer. Está radiante! — Ela me deu um abraço apertado e um beijo estalado na bochecha. — Tô de olho, Park Jimin.
— Eu sou só amor e respeito, senhora Park. — ele respondeu, com o tom mais inocente que já usou na vida. Eu rolei os olhos.
Atrás deles, meus pais surgiram pela lateral da casa, como se fizessem parte de uma entrada ensaiada — o que, honestamente, não duvido. Minha mãe ajeitou os cabelos presos num coque desalinhado e sorriu como quem acaba de confirmar uma hipótese antiga. Ela olhou para mim e para Jimin como quem examina um experimento de sucesso.
— Hipótese confirmada, querido: a convivência prolongada entre duas pessoas com química visível resulta em namoro estável e comportamentos absurdamente previsíveis. — ela declarou para o meu pai divertida, já com os braços cruzados e aquele tom sarcástico de sempre.
— Eu estou rodeado de gênios. E ele são meu sogros. — Jimin murmurou, dando um passo para abraçar o meu pai —Vou pedir pra vocês estarem sempre traduzindo o que falam, porque eu ainda não cheguei nesse nível.
Meu pai deu uma risadinha satisfeita, batendo de leve nas costas de Jimin ao retribuir o abraço. Minha mãe me abraçou e, por um segundo, senti o mundo ficar um pouco mais calmo. Ela me olhou com um sorrisinho sapeca e piscou como se dissesse "eu sabia que vocês iam parar aqui."
A mãe do Jimin foi logo pegando nossas malas, mesmo com a gente protestando, e nos puxou pra dentro. A casa por dentro era ainda mais acolhedora: o chão de madeira escura rangia de forma charmosa, móveis rústicos se misturavam com detalhes modernos — sofás de linho claro, almofadas coloridas, uma lareira acesa mesmo com o tempo ameno, quadros com fotos antigas e flores frescas em praticamente todos os cantos.
— Tá igualzinho ao que eu lembrava. — murmurei, encantada.
— O quarto de vocês tá no andar de cima, primeira porta à esquerda. Tem vista pro bosque. — minha sogra falou, já pegando uma das nossas malas. —A cama já está arrumada.
Jimin me lançou um olhar rápido e cheio de segundas intenções.
— Cama arrumada, hein? — ele sussurrou no meu ouvido. — O universo está a nosso favor.
— Nem pense nisso. Tem quatro adultos nessa casa, todos com ouvidos funcionando. — eu respondi em um sussurro, sorrindo de canto.
— É, mas tem uma jacuzzi nos fundos.
— Jimin.
Ele levantou as mãos, como quem se rendia.
— Só tô dizendo, puramente informativo. Nunca se sabe quando uma oportunidade aparece.
Revirei os olhos e subimos juntos, enquanto Jimin fazia alguma brincadeira sem graça com Sr. Park. E eu pensei que talvez não fosse apenas o lugar, ou os pais, ou o cheiro de café vindo da cozinha. Era ele. E era nós. E tudo isso junto era absurdamente bom.
O quarto estava silencioso, banhado pela luz morna do entardecer que entrava pelas cortinas semiabertas. Jimin estava deitado de lado, o rosto tranquilo, a respiração ritmada como quem sonha com algo bom. Seus cabelos caiam levemente sobre a testa, e meus dedos deslizavam por eles num carinho automático, quase ritual. Ele suspirou baixinho, entregando-se de vez ao sono. Sorri. Aquele homem era um caos delicioso. E agora dormia como um anjo no meio das nossas malas desfeitas e da bagunça gostosa de tudo que estávamos construindo.
Me levantei devagar, pegando um casaco qualquer, e desci. O som suave das folhas dançando ao vento guiava meus passos até a beira do lago. O céu refletia tons de rosa e dourado na água, e por um instante, tudo pareceu absurdamente calmo.
Foi aí que vi minha mãe, sentada na varanda, uma caneca de chá nas mãos e o olhar perdido naquele horizonte líquido. Ela me viu e sorriu daquele jeito de sempre — meio cúmplice, meio sabichona.
— Eu sabia que você desceria. Sempre hiperativa demais para se manter dentro de um cômodo. Ainda que tenha o Jimin nele.
Me sentei ao lado dela, puxando os joelhos contra o peito.
— Ele dormiu. Com o meu cafuné, claro.
— Cafuné é droga pesada quando se ama. — ela disse, tomando um gole de chá. — E algo me diz que o meu genro está viciado.
Sorri. Era verdade.
Olhei para frente, sentindo o vento gelado tocar o rosto. Por dentro, era como se algo estivesse se abrindo devagar, depois de muito tempo fechado.
— Mãe... por que você nunca acreditou no amor?
Ela me olhou com ternura, como quem já sabia que essa pergunta um dia viria.
— Não é que eu não acreditava, . Eu só achava que ele era um erro de cálculo. Eu ainda acho, na verdade, porque foi algo que seus avós colocaram em mim, também. Uma distração perigosa num mundo que exige precisão. Eu sempre fui mais exata do que intuitiva. Preferia fórmulas a promessas.
— E eu cresci achando que o amor era tipo uma falha do sistema.
— Era o que eu dizia, não era? “Não se perca em alguém. Se encontre em si.”
— Eu tentei, mãe. Tentei tanto. Mas aí veio ele. E... eu me perdi.
Meus olhos arderam. A voz saiu baixa.
— E pela primeira vez, me perder foi bom.
Ela me puxou com calma e me abraçou. E o mundo inteiro pareceu caber naquele gesto.
— Eu tô tão assustada. — confessei, com a voz embargada. — Porque é real. É de verdade. E quando é real dá medo de perder.
— Amar é isso, filha. É se arriscar com tudo. É colocar o coração nas mãos de alguém e torcer pra que ele segure com carinho.
Encostei o rosto no ombro dela, sentindo as lágrimas escorrendo sem que eu tentasse impedir.
— Eu amo ele, mãe. Eu amo mesmo. Não sei se foi quando aquele canalha me dava apelidos idiotas na infância ou se foi quando ele achou que era uma boa ideia a gente se beijar. Não sei, mas não foi uma descoberta calma. Só aconteceu.
Ela riu, apertando meu braço.
— Ele sempre foi seu ponto fraco. Até quando você fingia que odiava ele.
— Eu nunca odiei. — murmurei. — Eu só não sabia como lidar. Porque ele sempre fez meu mundo perder o eixo.
Minha mãe me olhou com olhos marejados e sorrisos contidos.
— Você é a mulher mais corajosa que eu conheço, . E saber amar depois de tanto tempo tentando não sentir é a sua maior vitória. Fico feliz, de verdade, que tenha o Jimin nisso.
— Às vezes eu penso se ele vai ficar. Se vai continuar quando a rotina vier, quando os dias forem difíceis...
— Essa dúvida é normal. Até na ciência, a gente testa hipóteses com variáveis novas o tempo todo. Mas tem uma coisa que nenhum cálculo explica...
— O quê?
Ela me olhou com olhos úmidos e sorriso suave.
— Ah, minha Einstein do Caos. Talvez o amor não seja uma equação mal resolvida... — ela disse, sorrindo. — Talvez seja só uma fórmula secreta que a gente não entende. Mas sente. E justamente por isso faz sentido no coração. Não na lógica.
Nos abraçamos de novo, dessa vez mais forte, mais longo. Ali, naquela varanda, com o som do lago e os olhos marejados, eu entendi que amar Jimin não era o fim do meu controle — era o começo da minha liberdade.
Park Jimin
Acordei com o silêncio.
Não o silêncio vazio, mas aquele silêncio cheio. Cheio de ausência, de cama fria do lado esquerdo, de lençol bagunçado onde ela deveria estar.
Estiquei a mão e toquei o espaço ao meu lado, ainda com os olhos fechados. Nada. Nenhum fio de cabelo preso no travesseiro, nenhum joelho encostando no meu. Só o cheiro dela. Morno. Presente demais pra parecer justo.
— ? — chamei, com a voz ainda arranhada pelo sono. Nenhuma resposta.
Me espreguicei devagar, sentindo aquela preguiça boa que vem depois de um dia longo e uma noite melhor ainda. Vesti a primeira camiseta que encontrei pela frente, cocei a cabeça e saí pelo corredor, sendo guiado por um som que eu conheço melhor do que minha própria risada: a gargalhada da .
Quando cheguei na varanda, parei na porta e encostei no batente, quieto, observando a cena.
Ela estava sentada entre as duas mulheres mais perigosas que eu conheço: minha mãe e a mãe dela. Um trio de sorrisos, taças de vinho pela metade e olhos brilhando com memórias que eu jamais teria coragem de dividir.
— ...e ele era obcecado por um dragão de pelúcia! — minha mãe contou, rindo tanto que quase derrubou o vinho. — Dormia com aquilo abraçado e dizia que era um guardião.
— Meu Deus, isso explica tanto — ria alto, com as mãos no rosto, as bochechas coradas. — Isso é pior do que a história da apresentação de ciências com as meias trocadas?
— Nada é pior que aquilo — respondeu a mãe dela, dramática. — Mas é adorável ver que o menino virou homem, mesmo sendo um homem que ainda briga com as almofadas quando perde algum joguinho.
Elas riram juntas, e ali, naquela luz baixa da varanda, no reflexo do lago calmo, eu vi algo que me atingiu com mais força do que qualquer coisa naquela semana: ela era parte da minha vida. E agora era parte da minha família. Natural. Linda. Radiante. Como se sempre tivesse pertencido ali. Foda-se se estavam falando dos meus podres da adolescência.
— Ei — chamei, saindo da sombra com um sorriso preguiçoso. — Tô sendo caluniado?
virou o rosto pra mim, os olhos ainda marejados de rir, e abriu um sorriso largo.
— Ah, você não tem noção.
— Então é melhor me servir uma taça também, porque eu quero participar da queima pública da minha reputação.
Minha mãe riu, se levantando com o copo na mão.
— A gente te deixa com ela, filho. Eu e a Olivia vamos preparar a sobremesa. Mas cuidado, ela sabe tudo agora.
— Ótimo — murmurei, me aproximando de e olhando pra ela com carinho. — Assim você vai pensar duas vezes antes de duvidar da minha coragem de dormir com um dragão guerreiro.
Ela riu de novo e eu beijei sua testa, levando sua mão até a minha. O jantar foi uma delícia. Não só pela comida — que, aliás, estava maravilhosa, com aquele toque de comida feita com tempo, afeto e ervas frescas que só pais felizes sabem preparar — mas pela sensação de estar. Estar ali, entre risadas, talheres batendo de leve, conversas cruzadas sobre futuro, lembranças de infância, planos que ninguém tinha coragem de dizer em voz alta. ria com meus pais como se já fizesse parte daquilo há anos. E fazia. Mesmo quando ainda não fazia.
Houve um momento, em que ela passou a mão nos cabelos, distraída, e olhou pra mim de um jeito quase cúmplice — e eu soube que precisava subir. Precisava tê-la só pra mim por umas horas. Um tempo egoísta entre nós dois, antes que o mundo decidisse pedir de volta a gentileza da nossa fuga.
Subimos devagar, com os pés descalços nos degraus de madeira antiga. E assim que entramos no quarto, ela virou de costas, prendeu o cabelo num coque torto e disse:
— Eu tô com tanto sono que não sei nem se consigo trocar de roupa.
— Eu te ajudo — murmurei, me aproximando por trás, as mãos suaves nas curvas que já eram meu lar.
O cabelo dela caía pelas costas, solto agora, como se até ele tivesse desistido de manter alguma ordem. estava de costas pra mim, com a pele quente sob meus dedos e o cheiro de lavanda e tempo bom impregnado em tudo.
— Deita — pedi baixinho, como quem faz uma oração.
Ela virou o rosto por cima do ombro, os olhos iluminados por uma mistura de carinho e desejo que só ela sabia conjurar. Obedeceu sem dizer uma palavra, completamente despida.
Me ajoelhei ao lado da cama, só observando por um segundo, sentindo meu corpo dar sinais com poucos estímulos. Porque era esse efeito que causava em mim. O corpo dela já era conhecido, mas nunca comum. Cada curva, cada dobra, cada suspiro, era como se o mundo se reorganizasse toda vez que eu encostava nela. Passei a ponta dos dedos pela lateral de sua coxa, subindo devagar, até chegar na cintura e puxá-la delicadamente pra perto de mim.
Beijei sua barriga, depois os seios, depois a clavícula. Ela se arrepiou.
— Por que você me olha assim? — ela sussurrou, a voz rouca.
— Porque eu ainda não acredito que você é real — respondi, deixando meu rosto afundar na curva do seu pescoço. — E porque eu tô tentando não chorar antes de transar com você.
Ela riu baixinho, e era o som mais bonito do mundo.
Deslizei pra dentro devagar, os olhos presos nos dela, e ela soltou um gemido contido, os lábios entreabertos. Me movi com calma, como se nosso corpo fosse uma carta escrita à mão — cada movimento, uma linha de um texto antigo que só nós sabíamos ler.
Ela me puxou pra mais perto, as pernas ao redor da minha cintura, os dedos cravando levemente minhas costas. Era um vai e vem lento, compassado, profundo. Nossos corpos falavam mais do que qualquer coisa que eu pudesse dizer. E, mesmo assim, as palavras vieram.
— Casa comigo.
Ela congelou por um segundo, os olhos arregalados.
— O quê?
Parei de me mover, os dedos ainda entrelaçados nos dela.
— Casa comigo, . Não agora, não amanhã. Mas um dia. Me deixa cuidar de você, brigar contigo por coisas idiotas, e te amar até quando a gente tiver rugas nos olhos e dor nos joelhos. Me deixa ser seu lar.
Ela piscou, e os olhos encheram de lágrimas. Rápido. Sem cerimônia.
— Isso é uma armadilha? Porque pedir alguém em casamento enquanto está dentro dela deveria ser considerado golpe baixo...
Eu ri contra seus lábios, os dois com a testa colada.
— Então? — sussurrei, ainda sem sair de dentro.
Ela me beijou. Um beijo longo, com gosto de sim.
—Se alguém um dia me perguntar como foi o meu pedido de casamento, eu juro que vou te matar.
—Prometo que quando acabarmos isso aqui, eu penso em algo mais decente.
Eu sorri, sentindo algo que não era tesão. Ia além de qualquer coisa. E quando nos movemos de novo, não foi mais só sexo.
Foi o começo do resto da nossa vida.
“Eu quero tudo de você, para sempre, você e eu, todos os dias.” — Nicholas Sparks, The Notebook
Park Jimin
Eu nunca levei o casamento a sério. Pra quê, afinal?
Culpa dos filmes, talvez. Ou das separações que vi ao meu redor. Gente que prometia o mundo em um altar só pra, dois anos depois, mal se olhar na rua. Meu tio é um claro exemplo disso. No casamento dele, ele chorou tanto durante os votos que parecia ter perdido alguém — e não ganhado. Dizia que ela era sua alma gêmea, sua outra metade. Um ano e meio depois, ele se mudou pra Busan dizendo que o casamento tinha sido um “erro” e agora vive num cômodo com um gato chamado Choi.
Então não, eu não acreditava em casamento. Achava que era um teatro com flores e promessas demais, só isso. Eu achava que casamento era isso: um script mal escrito, cheio de falas bonitas e finais improváveis. Uma falácia embalada em véus e promessas.
Mas e quando a gente encontra a porra de uma mulher que muda tudo? Que ri de um jeito que desarma os teus piores dias. Que te olha como se visse mais do que você mostra. Que reclama de frio e, no minuto seguinte, te esquenta inteira com a risada. Quando você encontra uma mulher resmunga até quando dorme, fala sozinha enquanto dobra roupa, e te deixa completamente desnorteado só por prender o cabelo num coque torto... Aí, meu amigo, você entende.
Entende que os dias ficam mais leves, mais bonitos. Que até o silêncio ao lado dela tem som — e é o som da paz. Com ela, você para de correr. Você quer ficar. Quer construir. Quer lembrar dos dias comuns como se fossem especiais, só porque ela estava neles.
E é exatamente nesse momento, que deve ser um evento canônico da vida dos homens, que uma chave vira: o casamento deixa de parecer um palco de show de horror. Vira um lar. Um lar que tem cheiro de café recém passado e domingo preguiçoso. Um lar que mora no toque dela, no jeito como ela segura meu rosto quando me beija, como se fosse a coisa mais frágil e mais certa do mundo. Um lar que não é feito de paredes ou endereço fixo, mas do riso que ela solta no meio de uma frase, do olhar que diz “fica” mesmo quando ela não diz absolutamente nada.
E, talvez, seja a casa mais bonita onde eu já morei.
O riso dela fora de hora, as brigas que duravam cinco minutos porque a gente não sabia ficar sem se falar, os olhares que diziam “fica” mesmo quando a gente fingia não se importar.
Ela era a teoria que eu não queria provar — até que me provou errado.
Me mostrou que o amor não é perfeito, nem lógico, mas é insistente. Quente. Vivo. Cheio de entrelinhas e jeitos silenciosos de dizer "eu escolho você de novo, todos os dias".
E eu quis isso. Quero isso.
Eu não achei que ia pedir ela em casamento daquele jeito, embora eu já tivesse planejado isso na minha cabeça mil vezes, desde que vi fazendo um simples jantar após um dia intenso de trabalho. Algo caseiro, simples, mas que me deu vontade de vivenciar todos os dias da minha vida. Depois disso, até pedi ajuda pro Yoongi. Fiquei feito um adolescente inseguro, mandando foto de anel e perguntando: “E aí, hyung, esse aqui é brega?”. O filho da puta só me mandou um emoji de vômito e depois disse:
“Esse tá menos ridículo.”
Apoio emocional nota mil, mas vou lembrar dessa merda quando eu for escolher a porra do meu padrinho.
Mas aí, eu e estávamos ali, juntos, com o mundo inteiro parecendo caber no corpo dela, e eu só soube. Soube que não dava pra esperar mais, que o momento era aquele. Acho que, quando você encontra a pessoa certa, todas as regras desmoronam. Não existe o momento perfeito — existe o sentimento certo.
E caramba, como era ela. Sempre foi. Só que, mesmo depois daquele pedido suado, bagunçado e com respiração entrecortada (literalmente), eu sabia que ela merecia mais. Então eu acordei cedo, com o coração disparado e os cabelos todos bagunçados, porque queria fazer do jeito certo também. E do jeito decente, obviamente. Com flores. Com um anel. Com ela vendo nos meus olhos que não era só desejo — era decisão. Era pra sempre.
Fiquei observando dormir serenamente, como se o mundo lá fora não existisse — como se tudo que fosse importante estivesse ali, naquele quarto, entre lençóis amarrotados e a respiração tranquila dela. O cabelo castanho caía em mechas suaves sobre o travesseiro, e os lábios entreabertos pareciam guardar um segredo bonito, desses que a gente só entende com o tempo. Ela tinha uma ruguinha entre as sobrancelhas, que aparecia sempre que sonhava intensamente. Ou quando me xingava por deixar as meias no chão.
Sorri.
Ali, entre o silêncio e o nascer do sol filtrando pelas cortinas, eu soube de novo — como se o meu corpo já soubesse antes de mim — que era ela. Era sempre ela.
Me inclinei devagar, sem pressa nenhuma, e beijei o ombro dela com carinho. Depois, um beijo na bochecha. E por fim, nos lábios. Suave, como quem agradece.
— ... — sussurrei, ainda sem coragem de quebrar completamente o encanto do sono. — Acorda, meu amor. Tenho uma coisa pra te dizer.
Ela se remexeu, abrindo os olhos devagar, sonolenta, e eu quase ri do jeitinho que ela tentava entender o mundo ainda meio desacordada.
— Jimin...? — a voz rouca, baixa, me desmontando.
—Em carne, osso e cheio de amor pra dar. — sorri, deslizando os dedos pelo cabelo dela — E, talvez, um pouco mais nervoso do que eu gostaria de admitir.
—Você? Nervoso? Me acordou pra mentir uma hora dessas? — ela murmurou, ainda com a testa franzida, a voz carregada de sono e sarcasmo.
—Sua sorte é que eu te amo pra caralho, . —arqueei uma sobrancelha e vi ela dar o primeiro sorriso do dia —Só tenho umas coisinhas pra te dizer. — continuei, me ajeitando ao lado da cama antes de me ajoelhar no chão de madeira fria. Tirei do bolso a caixinha que eu tinha escondido dentro do bolso.
Ela piscou algumas vezes, o olhar agora bem mais atento.
— Jimin…?
— Espera. Me deixa falar antes que eu comece a chorar igual um idiota.
sentou-se devagar, puxando o lençol até a cintura. Seus olhos estavam fixos em mim como se ela estivesse tentando memorizar cada segundo. E talvez estivesse mesmo. Eu tava ajoelhado, com o coração disparado e o anel na mão como se fosse um adolescente burro e apaixonado — o que, tecnicamente, eu era. Tinha passado a madrugada inteira repassando o que ia dizer, embora no fundo soubesse que, com , nada precisava ser ensaiado. Bastava ser verdadeiro.
—Eu nunca fui o cara que acreditava em promessas. — comecei, sentindo o peso do momento bater. — Talvez porque já ouvi gente demais dizendo que amor não dura. Que paixão é só um acidente químico. Que o tempo desgasta tudo. E é por isso que não criava raízes com ninguém, pra quê?
Soltei uma risadinha baixa, sem conseguir desgrudar os olhos dela, que me olhava fixamente. O sol invadia o quarto como se abençoasse a cena, e ela ali, com os cabelos bagunçados e aquela expressão de quem ainda estava entre o sonho e a realidade, era o cenário mais bonito que eu já tinha conhecido.
—Mas aí, você apareceu. Com essa sua mania irritante de ser sarcástica, de dar a porra do sorrisinho malicioso só pra me desestabilizar, com esse abraço que parece entender até os silêncios que eu nunca consegui explicar. Você entrou na minha vida como um furacão que entra em casa depois de um dia longo demais. E, por algum motivo estranho e paradoxo, de repente, tudo ficou mais leve.
Ela soltou um riso sonoro, deixando uma lágrima cair. Me aproximei e a enxuguei rapidamente, acariciando o rosto de com o polegar.
— Sabe as malditas aulas de sedução? — perguntei, e ela consentiu com um sorriso brilhante. — Elas eram pra salvar você do seu jeito que você mesma julgava estranho. Mas foram elas que me salvaram. Porque, além de me aproximarem de você, me ensinaram, de um jeito torto e lindo, que amar alguém não é dominação, é liberdade. Que estar com você não é perder nada. É ganhar tudo.
Respirei fundo.
— E isso me ferra. Me fode. Porque você me dá a porra do "pra sempre", e eu nunca soube lidar com essa palavra. Mas com você, o pra sempre parece uma ideia incrivelmente perfeita.
Ela mordeu o lábio inferior e eu senti meus olhos marejarem.
— Você é meu lar, . E não um lar de paredes e móveis, mas de pele, de cheiro, de paz. Um lar onde a gente se embriaga de riso, onde briga por travesseiro, onde cozinha panquecas irregulares e ama sem manual. Um lar onde eu posso ser tudo. Idiota. Inseguro. Porque mesmo eu sendo essas merdas todas, você olha pra mim como se eu ainda fosse suficiente.
Segurei a mão gélida de , sem conseguir esconder o tremor nos meus dedos.
— Eu já te pedi em casamento ontem, de um jeito completamente inapropriado— falei com um sorriso torto, vendo o brilho nos olhos dela. — E talvez não tenha momento mais verdadeiro do que aquele, porque tava bom pra cacete e foi a voz da minha alma. Mas eu quis fazer isso direito. Como os românticos fazem. Quis acordar cedo, pegar algumas flores do jardim dos meus pais, ajoelhar, dizer tudo o que eu sentia, e te pedir mais uma vez. Porque com você, eu faria isso todos os dias, mil vezes, sem cansar.
Abri a caixinha. O anel refletia a luz do quarto, mas nem chegava perto do que refletia o olhar dela.
— Então... . Você quer casar comigo?
— Então... . Você quer casar comigo?
Eu olhei para ele ajoelhado, com o coração inteiro nos olhos e segurando a respiração. Um indício de que estava nervoso. Senti um silêncio se formar dentro de mim. Mas, não aquele silêncio ensurdecedor; daqueles barulhos, que gritam e fazem sua alma tamborilar como uma escola de samba. Do tipo que só existe quando tudo se encaixa. Quando a vida faz sentido por estar ali, exatamente onde você está.
Inspirei fundo. Porque eu precisava dizer tudo que estava dentro desse silêncio barulhento. E ele merecia ouvir.
— Eu poderia dizer só “sim”, Jimin. Poderia gritar esse “sim” pro universo inteiro se você quisesse. —sussurrei, sentindo minha garganta fechar com a emoção que subia como uma maré alta que, dessa vez, não faria me afundar e, sim, mergulhar. —Mas o que eu estaria fazendo, exatamente? Como é que eu digo “sim” para uma coisa que já é? Porque é isso. Já é nós, desde o primeiro “você é péssima nisso’ nas malditas aulas de sedução.
Ri com lágrimas caindo pelo rosto, lembrando das nossas raízes tortas e do quanto aquele desgraçado me salvou sem nem ter percebido.
—Você não me ensinou só a olhar diferente ou saber ter uma postura de destaque pra pessoas enxergarem que eu pertenço ao lugar. Você me ensinou a sentir, a confiar. Porra, você me ensinou a amar! —Me aproximei, ajoelhando junto dele, e senti meus olhos se encherem. Ele também estava chorando, mas tentou disfarçar com aquele sorriso torto. -Porque eu cresci achando que amor era só mais um erro que pessoas não sabiam calcular. Talvez uma ilusão que o cérebro inventa pra não lidar com a merda da solidão. Mas aí você apareceu. E foi como se tudo que eu sempre tentei provar com lógica e razão... ruísse. E eu amei esse colapso. Eu amei cair.
Toquei o rosto dele com carinho, sentindo a pele quente, a respiração falha. Ele tremia. E eu também.
— Porque com você, Jimin, a vida ficou mais leve. Até os dias difíceis são suportáveis se você estiver lá.
Sorri, com lágrimas escorrendo.
— Eu poderia simplesmente dizer “sim”. Mas “sim” parece pouco perto do que eu sinto agora. Porque você é uma fome constante. É isso que você é pra mim, Jimin. Você é essa fome de viver mais, de ser melhor, de amar sem amarras. E eu nunca pensei que alguém fosse me fazer sentir assim, como se eu tivesse esperado por isso a vida inteira, mesmo sem saber.
As lágrimas dele já escorriam, mas ele sorria.
— Então, se isso aqui é um pedido e você precisa da confirmação de algo que já foi testado, averiguado, constatado, então... Sim. Sim, pra tudo que a gente é. Sim, pra tudo que ainda vamos ser. Sim, pra todas as vezes que eu for cair e você estender a mão antes mesmo que eu peça. Sim, Park Jimin. Porque amar você não é uma escolha. É uma certeza gravada em mim, como uma fórmula que finalmente deu certo.
E quando eu terminei, ele não disse nada. Só me abraçou tão forte que meu mundo inteiro coube ali.
—Não era você que tinha problemas com declarações e falar o que sente? —Ele falou com a voz abafada —Você me fodeu com essa resposta agora. Nem quero imaginar o que pode vir no dia do nosso casamento.
— Não se anima muito — falei, soltando um risinho. — Talvez eu use inteligência artificial pra escrever meus votos. Vai que eu travo na hora.
Ele se afastou só o suficiente pra me olhar com indignação genuína.
— O quê?!
—Ué, sei de sites que fazem textos belíssimos. Poéticos. Profundos. A tecnologia surgiu pra ajudar a gente, Jimin.
— Você tá brincando comigo, né?
— Não se preocupa, amor. Eu só uso IA quando é sério.
— Ah não. Ah NÃO. Você vai fazer essa IA dizer que me ama no altar? Vai deixar uma máquina levar o crédito do seu romantismo? Eu vou processar.
— Vai processar quem, Jimin? O site?
— Vou processar você por danos sentimentais. Não aceito traições e isso é traição emocional com a porra de um robô. Isso é, sei lá, Black Mirror?
Eu já estava rindo tanto que quase perdi o equilíbrio. Ele cruzou os braços, teatralmente ofendido, mas com aquele brilho nos olhos que só aparecia quando ele tava completamente entregue.
— Tá bom — falei, me aproximando e entrelaçando meus dedos nos dele. — Nada de inteligência artificial, eu juro. Os votos vão sair direto daqui — toquei no meu peito — mesmo que eles venham todos embaralhados, com gagueira e lágrimas no meio.
Ele soltou um suspiro dramático, mas sorriu.
— Você é impossível, .
— E você é muito sortudo, Park Jimin.
Ele riu baixo, depois me puxou para um selinho leve, que terminou com os nossos narizes se encostando e meu coração batendo como se quisesse sair pela boca. Quando abriu os olhos, me encarou daquele jeito que só ele conseguia — como se eu fosse um milagre que ele ainda não entendia completamente.
— Você me tira do sério, me confunde, me desafia — ele disse. — Mas mesmo assim... eu te escolheria. Mil vezes. Mesmo se o universo me desse todas as alternativas possíveis, eu ainda escolheria me casar com você.
E foi aí que minhas pernas ameaçaram falhar.
— Tô começando a achar que é você quem tá usando inteligência artificial. — sussurrei, meio sem fôlego.
— Não — ele sorriu, tocando de leve meu rosto. — Isso aqui sou eu. Sem filtro. Sem ajuda. Só... completamente seu.
Ficamos em silêncio por um momento. Só o som do nosso próprio coração preenchendo o quarto. Batendo intensamente. Pulsante.
— Esse assunto me deu fome. Tipo, fome real.
Revirei os olhos, divertida.
—E qual a novidade?
—Espero que esteja pronta pra fazer os próximos jantares pro seu marido esfomeado, noiva.
Rindo, entrelaçamos as mãos e descemos juntos. A escada rangeu como sempre, e o cheiro de café fresco, pão na chapa e alguma geleia suspeita invadiu o ar. A típica manhã de domingo na casa dos Park.
Ao chegar na cozinha, todos os olhares viraram pra nós. Os pais do Jimin estavam à mesa, rindo com os meus — o tipo de cena que já parecia familiar demais pra chamar de “encontro entre famílias”.
— Aí estão os dorminhocos! — disse a mãe dele, com a xícara na mão. — Tudo bem com vocês?
— Tudo ótimo — respondeu Jimin, abrindo um sorriso tão idiota quanto lindo. — A minha noiva só me fez chorar, mas fora isso, excelente.
Todos congelaram por um segundo. E então, como num script de comédia romântica:
— NOIVA?! — disseram em uníssono, quase derrubando a mesa.
Minha mãe já estava em pé. O pai do Jimin gargalhava como se tivesse apostado nisso com alguém. A mãe dele começou a bater palminhas, emocionada, e meu pai olhava pra nós como quem já sabia desde o começo.
— Eu sempre soube que essa amizade ia dar nisso — disse a senhora Park, balançando a cabeça com um sorriso vitorioso. — Era muito “só amigos” pra ser verdade.
— Demoraram mais do que eu esperava, mas tá perdoado — completou meu pai, servindo mais café.
— A gente só queria ter certeza — falei, corando.
— Vocês sempre foram a certeza — disse minha mãe, com aquele olhar que me desmontava mais do que qualquer declaração.
—Então, acho melhor a gente começar os preparativos, não é? —meu sogro falou animado —Hoje, o soju e a cerveja são por minha conta.
Todos rimos e Jimin apertou minha mão por debaixo da mesa. Seus dedos estavam quentes, vivos. Como se dissesse “é aqui”. E eu senti. Porra, eu senti como se todas as células do meu corpo estivessem acendendo ao mesmo tempo.
Enquanto todo mundo falava, misturando risadas, planos exagerados de casamento e histórias antigas que já escutei mil vezes, eu só conseguia olhar em volta e pensar como tudo ali parecia certo. Tão absurdamente certo.
A vida é engraçada. Ela bagunça tudo antes de arrumar. Joga a gente no caos, nos faz duvidar até das coisas mais obvias, e depois, do nada, entrega um momento simples —no meu caso, uma manhã qualquer, o cheiro perfeitamente bom de café, uma mesa cheia de gente que eu amo, e a mão do Jimin segurando a minha, debaixo da toalha floral — e tudo encaixa. Encaixa como uma peça de quebra de cabeça.
Não era sobre o anel no dedo. Nem sobre o fato de estarmos noivos. Era sobre algo muito maior. Era sobre sentir paz. Uma paz que não grita, que não precisa de esforço, que só... existe.
E ali, entre o som das xícaras se batendo, os pais discutindo quem chorou mais, e ele sorrindo pra mim como se fosse fácil me amar, eu tinha certeza de uma coisa:
Eu não estava começando uma nova vida. Eu estava voltando.
Voltando pra um lugar onde eu nunca precisei me explicar. Voltando pra um amor que me conhece até nas minhas versões mais difíceis. Voltando pra mim mesma.
Porque lar nunca foi só uma casa. Lar, pra mim, sempre foi gente.
E naquele instante, no meio daquela confusão bonita, eu percebi que, enfim, estava em casa.
Park Jimin
A vida andava cansativa demais. Não só pelo trabalho que parecia sugar cada gota de energia que eu tinha, mas pela sensação constante de que o tempo nunca era suficiente. Desde que voltamos da casa dos meus pais, tudo parecia girar num ritmo acelerado demais. As reuniões, as agendas, as preocupações... e mesmo quando eu fechava a porta do apartamento, a mente não desligava.
Mas, chegando em casa, era como se todo aquele peso pudesse — pelo menos por algumas horas — se dissolver entre as paredes que e eu construímos juntos. Aquele lugar era o meu refúgio. O único espaço onde eu podia largar a armadura e simplesmente ser. As conversas sobre o casamento estavam acontecendo, claro. Mas, diferente do que muita gente imagina, pra gente não era sobre grandes festas, vestidos enormes ou listas intermináveis de convidados. Nada disso fazia sentido.
A ideia era algo simples. Um momento só nosso, com quem realmente importa. Sem pressão, sem formalidades desnecessárias. Uma celebração do que já tínhamos construído — do jeito que a gente é. Eu até brincava que o único requisito era ter um bom café e música boa, porque, pra mim, casamento precisava ser leve. Como o amor que a me dava todos os dias, do jeito estranho dela. Estranho porque, também, ela estava sedenta por sexo, ultimamente. Tipo, pra cacete. Como se tivesse colocado na cabeça que queria transformar a nossa casa numa espécie de quartel-general do sexo. Longe de mim reclamar. Confesso, inclusive, que não tem nada de ruim em ser obrigado a atender a essa demanda com a maior dedicação do mundo.
Suspirei fundo assim que abri a porta da nossa casa. Joguei as chaves do carro em um lugar qualquer e me afundei no sofá, sentindo cada músculo do meu corpo pedir socorro. Só queria me enterrar ali e esquecer do mundo. Fiquei exatamente cinco minutos com os olhos fechados, antes de sentir meu celular vibrando no bolso, me fazendo xingar mentalmente imediatamente, pensando eu que seria algum dos velhos rabugentos que tirou a porra da minha paz nas últimas semanas. Mas, ao ver o nome da tela, minha testa franziu automaticamente.
“Amor”, piscava incessantemente no visor do meu telefone. estava em casa, ela havia me dito que tinha saído mais cedo da empresa. Suspirei mais uma vez, atendendo.
—Amor?
—Oi, linda. Pensei que você estivesse em casa.
—Eu estou em casa. Ouvi você abrindo a porta, por que não subiu ainda?
—Ah, e por que você está me ligando, sendo que estamos sob o mesmo teto?
Franzi a testa, sem entender.
—Que tipo de noivo você é, Park Jimin? Venha ver sua mulher agora mesmo.
Sorri cansado, passando as mãos pelos cabelos que, agora, estavam mais curtos.
—Até daqui um minuto, .
Desliguei o celular e me levantei, suspirando. Subi as escadas, sentindo um arrepio estranho no meu corpo. As luzes estavam diferentes, mais apagadas e eu podia jurar que eu estava ouvindo uma música fraquinha, algo com uma batida lenta, quase hipnótica. Abri a porta do quarto devagar, olhando ao redor com estranheza. A primeira coisa que senti foi o cheiro. Um aroma adocicado e quente no ar — talvez baunilha com canela, ou algum óleo que ela sabia que me deixava tonto. Velas estavam espalhadas por pontos estratégicos, lançando sombras dançantes nas paredes. A playlist era descaradamente sensual. Engoli em seco, sentindo meu corpo tremer. não estava brincando.
E ali, no centro de tudo, estava ela, saindo da penumbra e, quando finalmente a vi por inteiro, minha garganta secou. usava um conjunto vermelho rendado, preso por fitas finas que mais pareciam ter sido desenhadas à mão no corpo dela.
E ela sabia o impacto que causava. Sabia e se aproveitava disso como uma criminosa.
— Achei que ia ter que te buscar no sofá, Park. —Ela ajeitou os cabelos de uma forma completamente sexy, fazendo meu corpo dar a porra dos primeiros sinais como um adolescente —Você está atrasado pra aula.
— A-aula? — foi tudo que consegui dizer, engolindo seco enquanto a desgraçada dava um sorrisinho.
—É, eu andei pesquisando mais um pouco sobre aulas de sedução. Acho que estamos precisando revisar uns módulos mais intensos. — ela respondeu, parando na minha frente, com os dedos já alcançando a barra da minha camisa. — Tira. Agora.
O dia cansativo simplesmente evaporou. Eu nem pensei. Obedeci como se fosse minha única função no mundo. A camisa caiu no chão, junto com o resto do meu juízo.
se afastou um pouco, pegando uma cadeira que estava estrategicamente colocada no canto do quarto. Sentou como se estivesse no trono e cruzou as pernas.
—Gostou da minha lingerie, amor? —Ela passou as mãos pelo corpo e eu senti o sangue começar a se acumular no meu pau —Eu lembrei de uma vez que você me disse, sabe. É a cor do pecado. Da fome. Da provocação.
Ela passou as mãos por cada detalhe da porra da lingerie enquanto eu estava hipnotizado pelos movimentos.
— Eu pesquisei. Psicologia das cores. Vermelho aumenta a frequência cardíaca, causa excitação, deixa as pessoas mais vulneráveis.
— Isso é injusto.
— Isso é aula, Park. Presta atenção. — Ela disse de novo, com um sorriso carregado de malícia enquanto passava a língua pelos lábios.
Me senti um idiota parado ali, duro enquanto ela levantava e desfilava diante de mim como se o quarto fosse uma passarela e eu, só mais um aluno prestes a falhar miseravelmente no teste.
— Sabe o que mais eu descobri? — Ela virou de frente pra mim e se encostou na beirada da cama, braços cruzados abaixo dos seios, o que fez o decote parecer ainda mais indecente. — Que homens têm reações mais intensas a estímulos visuais. Então, nada melhor que uma aula prática.
Ela desamarrou lentamente uma das fitas do quadril, mas não tirou nada. Só deixou frouxo o suficiente pra me torturar.
— ... — eu tentei dar um passo, mas ela ergueu o dedo, mandando parar.
— Regra número dois: você só encosta quando eu mandar.
Eu ri, nervoso, pressionando a mão na base do meu pescoço pra conter a vontade de agarrar ela ali mesmo.
— Isso aqui não é uma aula. É tortura.
— Tudo depende da perspectiva.
Ela se aproximou de novo, roçando o corpo no meu e subindo nas pontas dos pés pra sussurrar no meu ouvido:
— Quer saber qual é o próximo módulo?
— Qual? — sussurrei, quase arfando.
— O poder da antecipação.
E aí ela passou a mão por dentro da minha calça, só de leve, sem realmente tocar onde eu mais precisava. Depois virou de costas, me deixando com a respiração falhando, e deitou na cama como se fosse a própria Vênus em rendas vermelhas.
— Vai continuar aí? — ela repetiu, deitada no meio da cama com as pernas cruzadas, uma sobrancelha arqueada e aquele maldito sorriso de quem sabe exatamente o que está fazendo.
Minha vontade era correr, pular por cima dela e fazer a lingerie voar em pedaços — mas eu engoli seco. Tinha algo na forma como ela me olhava… como se estivesse me treinando.
— Regra número três — ela continuou, deslizando a mão pelo próprio abdômen, passando devagar entre os seios até pousar na cintura. — A paciência é o afrodisíaco mais subestimado do mundo.
— Você tá inventando essas regras agora, né? — murmurei, já ofegante, as mãos cerradas ao lado do corpo.
— E você tá contestando a professora?
Ela estalou a língua no céu da boca.
— Menos um ponto.
— Porra, …
— Silêncio.
Ela se sentou, deixando a renda se ajustar de um jeito quase indecente nos quadris, e pegou uma taça de vinho que eu nem tinha percebido ali. Deu um gole sem pressa, os olhos em mim o tempo todo, e depois mordeu o lábio inferior como se quisesse me destruir.
— Você tá me enlouquecendo.
— Essa é a intenção.
Ela se arrastou de joelhos até a beirada da cama, e ali, de frente pra mim, esticou uma das pernas e começou a tirar a cinta-liga como quem desembrulha um presente valioso. Devagar. Dolorosamente sensual.
— Regra número quatro: provocar é uma arte. E eu sou artista plástica nas horas vagas.
Eu juro por tudo que é sagrado, meu cérebro desligou por três segundos.
— Tá gostando da aula, amor?
— Tô… tô quase tendo um colapso nervoso, mas tô.
Ela riu, e o som foi a coisa mais sacana que eu já ouvi.
— Ainda tem mais um módulo. O mais importante.
— Por favor. Me fala que esse é prático.
apenas sorriu. Eu juro que tentei. Me deitei na cama, respirei fundo, fechei os olhos. Achei que se eu fingisse que estava no controle, o corpo obedeceria. Porra nenhuma. Ela subiu com calma, engatinhando como se cada movimento fosse coreografado pra me quebrar em pedaços.
— Regra número cinco — ela murmurou ao se aproximar da minha orelha, com a voz baixa, quente, envolvente. — Não encosta. Só sente.
Ela se sentou em cima de mim. Não de um jeito direto — não, ela era cruel. Posicionou as coxas de cada lado da minha cintura, sem permitir o mínimo contato onde eu mais precisava.
Meus braços estavam ao lado do corpo, tensionados, e quando tentei tocá-la, ela segurou meus pulsos com firmeza e os prendeu acima da minha cabeça.
— Nem pensa.
— …
— Silêncio, Jimin. Você está na minha aula.
Ela começou a rebolar devagar, friccionando o quadril contra o meu, sem dar acesso, sem entregar nada. Só me deixando à beira da morte. A fricção era sutil, mas o suficiente pra me deixar arfando. A cada vez que deslizava o quadril, soltava um suspiro — como se aquilo fosse mais prazeroso pra ela do que pra mim.
— Tá sentindo isso? — sussurrou no meu ouvido. — Cada parte do meu corpo tá pedindo o seu. Mas eu gosto de ver você implorar primeiro.
Ela tirou a própria alça do sutiã com os dentes, com uma lentidão obscena, e então deslizou as mãos pelos próprios seios.
— Isso é tortura — gemi, tentando me mover, sem sucesso.
— Isso é controle — corrigiu, rindo baixo. — Eu esperei o dia inteiro por isso. E você… você vai receber exatamente o que merece.
Ela finalmente se inclinou, com os seios colando no meu peito, e mordeu minha clavícula. Depois subiu até o queixo, até minha boca, mas parou a milímetros.
— Quer me beijar?
—Porra, quero!
—E o que mais?
— Quero foder você. Inteira. De joelhos, deitada, por cima, por baixo, como quiser. — Minha voz saiu rouca, desesperada, quase patética. — Só para de me torturar, pelo amor de Deus.
Ela soltou uma risada baixa, maliciosa, e deslizou os dedos pela minha barriga, devagar, como quem conhece o mapa do tesouro e sabe exatamente onde a dinamite tá enterrada.
— Isso é um pedido ou uma súplica, Park?
— É um grito. Interno. Mas real.
Ela se inclinou de novo, finalmente roçando os lábios nos meus, ainda sem beijar de verdade. soltou um riso rouco, provocante, e mordeu de leve o meu lábio inferior, só pra depois escapar novamente. A porra do toque dela sumia sempre que eu tentava reagir.
— Tá desesperado assim, amor? — Ela arqueou uma sobrancelha, a voz cheia de ironia. — E olha que a aula nem começou de verdade.
Se virou de costas, de propósito, rebolando devagar enquanto tirava a parte de cima da lingerie. Aquele pedaço de pano escorregando da pele dela parecia sacrilégio. E eu só pude olhar. Só olhar, porque ela ainda não tinha me autorizado a fazer nada.
—Eu amo o efeito que eu causo em você —ela olhou pro meu volume, mordendo o lábio inferior —E você realmente está com fome de mim, não tá?
Eu gemi. Literalmente.
— , eu tô implorando, cacete.
Ela sorriu, sentando sobre mim, sem deixar encostar. Só torturando.
Ela rebolava devagar no meu colo, sem realmente tocar, a calcinha vermelha marcando a pele dela de um jeito indecente. Eu estava duro. Quente. E completamente à mercê. Mas aí, ela cometeu um erro.
Ela se inclinou pra me provocar de novo, dizendo algo sobre “resistência ser essencial numa aula de sedução”. Mas eu já tinha esperado demais. E eu conhecia o corpo dela bem demais.
Esperei o momento exato. Quando ela se inclinou sobre mim de novo, roçando de leve o quadril no meu, eu segurei firme sua cintura com as duas mãos e empurrei pra baixo — de leve, só o bastante pra ela sentir. Só o bastante pra minha ereção pressionar exatamente onde ela mais queria.
Ela arfou. Literalmente perdeu o ritmo da respiração.
— Tá vendo? — murmurei no ouvido dela, com a voz rouca, arrastada. — A fome é dos dois. Você já tá toda molhada, baby.
tentou manter o controle. Tentou manter o jogo. Mas seu quadril se moveu sozinho, por reflexo. Ela gemeu baixinho, as mãos apertando meu peito, o olhar escorregando do meu rosto pro próprio corpo.
— Isso não tava no roteiro... — murmurou, como se falasse com ela mesma.
— Então reescreve — sussurrei. — Ou melhor: deixa eu dirigir essa cena agora.
Ela mordeu o lábio, com os olhos brilhando, dividida entre continuar o domínio ou se entregar logo. Mas o corpo dela já falava por si: os mamilos rijos, o ventre tremendo, a calcinha praticamente encharcada contra mim.
— Droga, Jimin… — gemeu, e pela primeira vez, a voz dela saiu falha, quase desesperada.
Eu sorri, puxando o lóbulo da orelha dela entre os dentes.
— Aula cancelada, professora?
Ela riu, arfando, e me beijou com força. Agora sim, sem distância. Sem controle.
Ela me puxou pra perto num beijo que já veio com sede. A língua dela invadia a minha, disputando espaço, e eu não estava nem um pouco disposto a recuar. Soltei um gemido preso enquanto as mãos dela agarravam meu cabelo, puxando forte.
— Seu maldito… — ela sussurrou rouca entre os beijos, mordendo meu lábio inferior com força — Você vai me enlouquecer ainda, Park Jimin.
A língua dela traçou uma linha lenta e provocante no meu pescoço, e o cheiro dela me queimava por dentro. Senti o corpo dela tremendo contra o meu, as pernas tentando envolver minha cintura.
— Você é um filho da puta irresistível — ela gemeu, apertando meus ombros.
— E você é uma professora cruel demais, sabia? — retruquei, me perdendo no jeito que ela me dominava, me fazia perder o controle.
O quarto estava quente, a respiração embaraçada e os olhos brilhando de desejo. Eu já não conseguia mais segurar nada, só queria queimar com ela, destruir cada pedaço dessa tensão acumulada.
— Só estou começando, amor — murmurou, ajoelhada entre minhas pernas, o corpo dela tão próximo que eu podia sentir o calor exalando da pele dela.
Enquanto eu tirava cada peça de roupa, sentindo meu corpo quase em chamas, ela me observava com aqueles olhos que brilhavam de desejo e malícia. Quando ela viu meu pau duro, pulsando, a boca se curvou num sorriso diabólico — e aquilo foi como gasolina no meu fogo interno. Ela deslizou as mãos pelas minhas coxas, firmes e delicadas ao mesmo tempo, subindo devagar, como se estivesse saboreando o caminho. Quando finalmente agarrou meu membro, sua pele quente me arrepiou por completo. Ela passou a língua lentamente pela glande, fazendo um traço úmido e provocante que me tirou o ar da garganta.
— Porra, ... — eu tentei falar, mas ela não deixou.
A boca dela me engoliu inteiro, chupando e lambendo com uma vontade que me deixou quase maluco. Ela mordia de leve, sugava forte, fazia cada movimento que me fazia perder o controle.
Meu corpo se arqueou involuntariamente, um gemido rouco escapando dos meus lábios, enquanto minhas mãos tentavam se agarrar ao lençol — mas ela não deixava eu me firmar, dominava cada segundo com aquela técnica que me deixava sem reação.
Ela alternava entre chupadas longas e profundas e lambidas rápidas, fazendo meu prazer subir como uma onda impossível de conter. Eu sentia o suor escorrer pela pele, o coração acelerado, as pernas tremendo — um fogo selvagem que só sabia acender.
— Você tá tão ferrado comigo hoje —ela parou por alguns segundos e me chupou com mais força, fazendo eu trincar o maxilar, sem aguentar.
—E se você continuar assim, eu vou gozar.
Ela não respondeu. Só continuou. Com mais velocidade, mais força, mais vontade. Porque é exatamente o que aquela desgraçada queria. Olhei pra e ela manteve o contato visual, fazendo com que eu perdesse completamente todo o meu pensamento. A boca dela me engoliu inteiro, chupando e lambendo com uma vontade que me deixou quase maluco. Ela mordia de leve, sugava forte, fazia cada movimento que me fazia perder o controle. Eu agarrei o lençol, a cabeça jogada pra trás, gemendo alto, o corpo tremendo de tanto tesão, até sentir tudo se liberar dentro da boca dela. Ela levantou o olhar e me encarou, aquela provocação toda estampada no rosto.
— Você vai me matar ainda — murmurei, puxando a para cima do meu corpo.
Ela riu contra a minha boca, com aquele ar vitorioso e ainda completamente no controle. Mas eu já não estava mais disposto a deixar ela comandar tudo.
Segurei sua cintura com força, inverti as posições e a joguei de costas na cama. O olhar dela se acendeu.
— Ah, então agora você vai revidar?
— Não. — rosnou, minha voz grave encostando na pele dela. — Agora eu vou foder você até você esquecer seu próprio nome. Como eu prometi.
Ela mordeu o lábio, já abrindo as pernas com pressa, e eu me encaixei entre elas, passando os dedos na boceta molhada, só pra sentir o quanto ela já estava escorrendo.
— Porra, … Você tá completamente molhada.
A penetrei com os dois dedos e fui aumentando a velocidade. Minha respiração estava ofegante e tudo que existia na minha cabeça era fumaça. Cada célula do meu corpo estava em chamas.
—Por favor — suplicou baixinho, gemendo. Completamente entregue.
Sorri, sentindo um pingo de suor cair no meu peitoral, e me posicionei na boceta da minha noiva, provocando um pouco. Deslizei para dentro dela de uma vez só. O gemido que escapou da garganta de foi alto, quase selvagem. E eu perdi qualquer noção de limite.
Metia fundo, com força, como se precisasse gravar meu nome dentro dela. As unhas de arranhavam minhas costas, e ela rebolava contra mim, pedindo mais, pedindo tudo.
— Fala, — grunhi. — Fala quem te deixa assim.
— Você… porra, Jimin… — ela arqueou o corpo. — Só você!
Comecei a beijar seu pescoço, a mandíbula, os seios que saltavam com cada estocada. Cada gemido dela me deixava mais perto da beira. Ela me apertava por dentro como se quisesse me sugar até a alma.
— Isso… assim, amor — ela gemeu, e sua voz embargada me deixou ainda mais fora de mim. — Você vai me fazer gozar desse jeito.
—Calma, linda.
Ela ainda arfava, o corpo tremendo sob o meu, mas eu não tinha terminado. Nem perto disso.
— Vira de costas — ordenei, e ela obedeceu sem hesitar, o cabelo grudado na pele pelo suor, os olhos quase fechados de prazer.
Segurei sua cintura com firmeza e a puxei de joelhos, deixando-a empinada na minha frente, as mãos agarrando os lençóis como se tentasse se manter no mundo real.
— Assim — murmurei, passando a glande entre seus lábios novamente, só para provocar, fazendo ela rebolar, impaciente. — Você fica perfeita assim. Toda minha. A coisa mais linda que eu já vi.
Ela gemeu, se pressionando contra mim, e eu cedi — deslizei pra dentro de novo, devagar no começo, só pra sentir a pressão perfeita que ela fazia. Depois, com mais força. Mais entrega. O som da pele contra pele preenchia o quarto junto com os gemidos abafados no travesseiro.
— Porra, … — Segurei seu cabelo, puxando levemente a cabeça dela pra trás. — Você vai me fazer gozar de novo nessa posição.
— Então goza — ela arfou, jogando o quadril pra trás com força. — Goza sentindo tudo. Sentindo como eu sou sua.
As estocadas ficaram mais rápidas, mais profundas. Um ritmo urgente, desesperado. Como se nossos corpos quisessem se fundir. E quando ela apertou de novo, gozei ali mesmo, agarrado a ela, gemendo alto, com a cabeça encostada nas suas costas nuas. O corpo dela tremeu, e ela gritou meu nome no auge do prazer, se desfazendo embaixo de mim.
— Tá viva aí? — murmurei, ainda dentro dela, rindo fraco.
—Eu preciso estar viva. —Ela suspirou —Precisamos de um banho. As surpresas ainda não acabaram. — ela disse baixinho, puxando meu braço e deslizando devagar da cama. — Vamos. A água já deve estar quente.
— Você preparou até o banho? — resmunguei, meio desacreditado. — O que mais você planejou, mulher?
—Se você vir comigo, vai descobrir.
Seguimos até o banheiro, nossos corpos ainda sensíveis, meio trôpegos, meio grudados, como se fôssemos parte um do outro. Quando abri a porta, encontrei o cenário: vapor subindo suavemente da banheira, velas acesas de novo — só que agora o perfume era mais leve, quase adocicado. Pétalas na água. Ridículo. Romântico. Perfeito.
Entrei com ela na banheira, e o calor da água misturado ao calor que ainda restava entre nós pareceu me arrancar um suspiro da alma. se encaixou entre minhas pernas, costas coladas no meu peito.
— Tá tudo muito perfeito — murmurei contra o pescoço dela, os olhos fechando devagar.
— E vai ficar ainda mais — ela respondeu, se inclinando para fora da banheira, com cuidado, e pegando uma pequena caixa no chão do banheiro. Branca, com um lacinho azul em cima.
— O que é isso? — perguntei desconfiado.
Ela sorriu, colocando a caixinha nas minhas mãos molhadas.
— Abre logo.
Revirei os olhos, mas o coração já batia mais rápido de novo. Desatei o laço devagar, ainda incrédulo com o que estava vivendo naquela noite. E então, quando abri a tampa, me deparei com um par minúsculo de meias brancas. Com a frase bordada: Hi, Daddy!
Travei. A respiração. O corpo. O mundo.
— Você tá de sacanagem...
— Bem clichê, eu sei — ela respondeu rindo, olhando pra mim por cima do ombro. — Você sabe, não sou a pessoa mais criativa do mundo. Fui no Pinterest, Youtube e numa lojinha de bebês em Gangnam. Aí eu vi isso e não resisti.
Fiquei alguns segundos calado, olhando para as meias minúsculas na caixinha. Depois olhei pra . Depois para as meias de novo. E aí o pânico bateu.
— Espera aí. Espera. A gente… — me afastei dela de repente, fazendo a água transbordar um pouco pra fora da banheira. — A gente acabou de transar. Como dois selvagens. Tipo, muito! E se eu… porra, e se eu machuquei o bebê?!
— Jimin! — ela riu, cobrindo o rosto com as mãos. — Você não machucou nada, pelo amor de Deus! É só um feto. Protegido dentro de uma bolsa com um liquido que amortece choques mecânicos.
—Feto? —a olhei incrédulo. —Como você pode falar isso com seu filho? Meu Deus, nosso filho. Caralho, eu vou ser pai!
A ficha caiu como uma avalanche. Eu estava nu, molhado, com espuma até no pescoço, e completamente em pânico. Eu não sabia se era o vapor da água ou a porra da mistura de sentimentos que me fez arder por dentro. Meus olhos começaram a marejar antes mesmo de perceber. Não era choro desesperado. Era aquele tipo que vem devagar, quando o coração transborda. Quando tudo que você é e tudo que você sente explode no mesmo lugar.
me olhou e, no segundo em que viu minhas lágrimas, ela se calou. Só me abraçou. Só ficou ali. Me deu a única resposta que eu precisava: a presença dela.
— Eu achei que tava cansado demais pra fazer qualquer coisa hoje — murmurei, a voz rouca. — Mas aí você vem com essa notícia e, puta merda, , você me destrói. No melhor sentido. Você muda tudo.
Ela segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou como se selasse uma promessa. Daquelas que a gente não precisa falar em voz alta, mas que ficam gravadas na pele, no osso, na alma. Um beijo salgado, de lágrima e riso.
Quando nos afastamos, eu encostei a testa na dela de novo. E ali, no meio daquela banheira quase fria, com a espuma sumindo e a água mansa, eu entendi.
Nada nunca mais seria só sobre mim. E isso me deixou em paz.
Porque amar a era isso: o caos que vira lar. A loucura que vira abrigo. E agora, esse amor tinha batimentos próprios. Tinha um começo de vida crescendo, mesmo que a gente ainda nem soubesse o nome.
Eu nunca imaginei que me sentiria tão inteiro sendo dividido por três.
E foi assim que terminou aquela noite: dois corpos colados, um coração novo pulsando entre nós, e a certeza de que, no meio da confusão que é o mundo, eu tinha encontrado o que mais importava.
Minha casa. Minha mulher. Minha família.
Às vezes, a vida simplesmente dá certo. Não de uma forma ensaiada ou perfeita, mas do jeito mais bonito possível — meio torto, meio desacreditado, tropeçando em promessas antigas, mas ainda assim… certo. Pra cacete. Foi o que eu senti quando ouvi o choro da Luna pela primeira vez. Um choro miúdo, forte, que me rasgou por dentro de tanta emoção. Não imagina que um dia eu poderia ser mãe, justamente por conta da minha total falta de habilidade com bebês, crianças ou qualquer coisa semelhante a isso. Mas, quando eu olhei para o lado e vi Jimin, chorando mais que a nossa filha que tinha acabado de nascer, eu percebi que era exatamente aquilo que eu queria pra mim, para todo o resto da minha vida. Mas, a verdade, é que a vida começou a dar certo muito antes disso. Talvez, a partir do momento em que descobrimos que era uma menina. Estávamos na sala fria com aquele gel insuportável escorrendo pela minha barriga enquanto Jimin tagarelava sobre várias coisas ao mesmo tempo. Mas, quando a médica revelou o sexo, nosso universo parou por um segundo. O ar ficou denso, e eu me lembro exatamente da forma como ele me olhou — como se tivesse visto o futuro inteiro ali, dentro de mim. “É uma menina.” Ele riu, depois chorou, me beijou a testa com aquele cuidado que só ele sabe ter e sussurrou algo como “ela vai ser meu mundo”. E foi. Dias depois, sem me contar nada, ele apareceu com uma tatuagem nas costas. As fases da lua, alinhadas com perfeição, marcadas para sempre na pele. Disse que era por ela. Pela nossa filha. Pela luz dela em todas as fases. Mas eu sabia que era mais do que isso. Era por nós. Pelas noites longas, pelas mudanças que vivemos, pelas versões que fomos um do outro até chegar ali. Ele mesmo escolheu o nome. Luna. Porque, segundo ele, ela teria o brilho da lua, a calma do mar e a força de recomeçar sempre, em qualquer fase. E eu nunca mais esqueci daquele instante, na verdade, não tive nem como contestar porque o desgraçado foi perfeito demais nas palavras. E porque foi ali que entendi, de verdade, que o Jimin não seria só o homem da minha vida — ele seria o homem da vida da nossa filha. E isso, só isso, já faria tudo valer a pena.
Decidimos que oficializar nosso casamento só faria sentido quando a maternidade ficasse um pouco mais leve, quando pudéssemos aproveitar de verdade aquele momento sem pressa, sem o peso do cansaço constante. E esse dia chegou, entre sorrisos e olhares cheios de amor, em Gangneung — o exato lugar que já tinha um pouco da nossa história, do nosso jeito, do nosso lar e o maldito suco de melancia viciante.
Enquanto a festa acontecia, eu observava Jimin com Luna no colo. Ele dava a mamadeira para ela, que parecia ser uma cópia miniatura dele: o jeitinho doce, os olhos brilhando de curiosidade. Aquela cena me derretia por dentro. Em volta, nossos amigos e familiares riam, celebravam, dançavam — tudo com a leveza e a sinceridade que sempre quisemos para nossa vida.
—Não sei qual foi o lote de chocolates que você comprou, mas, isso aqui tá acabando comigo! —A voz cheia de Jisoo me tirou do transe, me arrancando uma gargalha sincera já que ela estava com as mãos cheias de chocolate. —Se eu soubesse, teria adiantado esse casamento a tempos!
—Ainda bem que tem mais dentro do buffet. Foram todos feitos pensando em você, mesmo.
Ela arregalou os olhos, colocando mais uma trufa de chocolate amargo na boca.
—Em mim? Por que?
—Porque, caso você não lembre, você faz parte disso aqui.
Apontei com os dedos para tudo ao meu redor.
—Ah, claro que eu lembro. Inclusive, não consigo me esquecer que você sumiu da festa que eu armei pra transar com ele a noite inteira. Sua sorte é que eu sou a favor de reconciliações com sexo selvagem.
—Jisoo! Eu sou uma mulher casada agora e mãe de família.
— E é justamente agora que as coisas começam a esquentar. Li em algum lugar que a libido da mulher aumenta depois da maternidade. Ou seja, que o Jimin se prepare que os irmãos da Luna chegam em breve.
Sorri em negação, sentindo o cansaço do dia pesar nos meus ombros.
—Mas, sabe a real, ? Ver você assim, tão feliz, tão completa, não tem preço. Arrisco dizer que é mais valioso que isso aqui —Ela me mostrou um chocolate —Você merece tudo isso e muito mais. E eu tô aqui, do seu lado, sempre pronta pra celebrar cada momento dessa vida linda que você tá construindo.
Jisoo sorriu, os olhos brilhando de emoção, e me puxou para um abraço apertado.
— Obrigada, de verdade, por estar aqui comigo, amiga. Desde sempre. Não é fácil se manter sã na vida de .
—É, mas quem precisa de sanidade? —Jisoo deu uma piscadinha e deu um sorriso. —Agora, se me der licença, eu vou atrás de mais dessas brincadeiras aqui.
Eu respirei fundo, sentindo um calor gostoso no meu coração enquanto observava Jisoo se afastar devagar. Olhei em volta e meus pés logo se direcionaram para onde meu marido estava. Jimin estava sentado em uma poltrona que fazia parte da decoração, com Luna aninhada no colo que tinha os olhinhos quase fechados de sono.
—Oi, esposa. — ele disse com a voz suave, enquanto acariciava a cabeça da nossa filha. —A sua amiga está acabando com o estoque de chocolates da festa. Isso é doença, sabia?
Luna abriu os olhinhos por um instante e esticou os bracinhos em minha direção, fazendo um som baixinho e gostoso que só bebê sabe fazer.
—Ah, e o seu amigo Yoongi também está acabando com o estoque de Whisky da festa. —Peguei nossa pequena nos meus braços, observando cada detalhe da beleza dela. —Isso também é doença, vulgarmente conhecida como alcoolismo. Sem julgamentos com a Jisoo, certo?
Jimin riu baixinho e me puxou para perto, envolvendo meu corpo com o dele.
—Só vou ficar quieto porque, de certa forma, os dois nos ajudaram a chegar até aqui. —Ele me deu um selinho —E chegar até aqui, significa que consegui tudo o que mais queria na minha vida inteira, não é, princesinha do papai?
Ele brincou os dedinhos de Luna e me direcionou pelo jardim do salão de festas, que dava a vista perfeita para o mar de Gangneung. O céu estava pintado em tons de ouro e lavanda, como se o tempo tivesse parado só pra gente respirar aquele instante.
— Você percebe? —Jimin falou baixinho, olhando para o mar. —Foi tudo tão caótico no começo, mas agora a gente tá aqui. Você, eu, ela. E parece que o mundo todo faz sentido.
Eu me virei pra ele, sentindo o vento bater leve no rosto. Luna se aconchegou ainda mais no meu peito, entregue, segura.
— Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei isso —sussurrei. —A paz, a leveza, você.
Jimin sorriu com os olhos brilhando com uma doçura que sempre me desmontava.
— Não é sobre perfeição, . É sobre escolha. E eu escolheria você em todas as versões da nossa história. Com caos, com cansaço, com as fraldas dessa mini big bang e com as madrugadas sem dormir. Porque, no fim, é tudo sobre vocês.
Eu sorri, sentindo meus olhos se encherem d’água, mas sem deixar cair. Em vez disso, beijei de leve a pontinha do nariz dele e encostei minha testa na dele, como a gente sempre fazia quando as palavras não davam conta.
— Engraçado, né? Eu só queria aprender a flertar… —sussurrei, com um sorriso torto. —E acabei descobrindo o que é amar de verdade.
Me afastei um pouco, olhando pra ele, pra nossa filha, e depois pro mar.
— Você foi meu melhor amigo, meu professor de sedução, meu caos, meu riso favorito. A gente se desencontrou, se irritou, se achou de novo —e no meio disso tudo, sem que eu percebesse, você virou minha casa.
Respirei fundo, deixando a brisa fria bater no rosto.
— Eu nunca acreditei muito em destino, mas se isso aqui não for obra dele, então o universo tem um senso de humor inacreditável. Porque, como você disse, no fim, era você o tempo todo.
—Eu amo você, . —Ele me deu um selinho demorado. —E também amo você, minha pequena. —Ele beijou a testa de Luna.
—E nós amamos você, Park Jimin. Mais do que palavras podem dizer.
Ele sorriu. E eu soube. Era isso. Sempre foi ele. Mesmo quando a gente não sabia o que era amor. Mesmo quando eu fugia e ele fingia não se importar. Mesmo quando tudo parecia difícil demais pra continuar. A verdade é que, no meio de tanta bagunça, de tantas versões de mim tentando dar certo com o mundo, foi com ele que eu me encontrei.
Porque tem pessoas que passam. Tem amores que marcam. E tem a gente. Que, por mais que tenha demorado, sempre soube — de algum jeito silencioso, teimoso, bonito — que era pra ser assim.
Nós dois.
Desde sempre.
E pra sempre.
FIM!
Nota da autora: Acabou. E eu não estava pronta para isso.
Queria começar agradecendo, de verdade, a cada pessoa que leu, comentou, surtou, riu, chorou, se apaixonou ou teve vontade de jogar o celular na parede por causa deles. (Não julgo, porque eu também tive, KKKK)
Mas, sabe, Anne e Jimin foram uma tempestade linda de escrever. Caóticos, intensos, apaixonados e um pouquinho perdidos — como a maioria de nós, né? Obrigada por acolherem essa história, por darem vida a cada linha com suas reações, por me fazerem companhia capítulo após capítulo. Escrever essa fanfic foi mais do que só escrever. Foi dividir um pedaço do coração com vocês. E saber que ela tocou alguém, mesmo que por um instante, já valeu tudo.
Então, do fundo do caos, da emoção e da eterna loucura desses dois:
Obrigada por viverem Seduction Classes comigo. Que vocês lembrem que a confiança começa no olhar, que vermelho é a cor do desejo e que uma mulher bonita nunca pode perder um sábado à noite.
A gente ainda se vê por aí!
Com todo o carinho e gratidão do mundo,
Ray💜
Queria começar agradecendo, de verdade, a cada pessoa que leu, comentou, surtou, riu, chorou, se apaixonou ou teve vontade de jogar o celular na parede por causa deles. (Não julgo, porque eu também tive, KKKK)
Mas, sabe, Anne e Jimin foram uma tempestade linda de escrever. Caóticos, intensos, apaixonados e um pouquinho perdidos — como a maioria de nós, né? Obrigada por acolherem essa história, por darem vida a cada linha com suas reações, por me fazerem companhia capítulo após capítulo. Escrever essa fanfic foi mais do que só escrever. Foi dividir um pedaço do coração com vocês. E saber que ela tocou alguém, mesmo que por um instante, já valeu tudo.
Então, do fundo do caos, da emoção e da eterna loucura desses dois:
Obrigada por viverem Seduction Classes comigo. Que vocês lembrem que a confiança começa no olhar, que vermelho é a cor do desejo e que uma mulher bonita nunca pode perder um sábado à noite.
A gente ainda se vê por aí!
Com todo o carinho e gratidão do mundo,
Ray💜
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