Codificada por Lua ☾
Última Atualização: 18/04/25
O amor nos ensina tudo. Até sobre nós mesmos. — Orgulho e Preconceito, Jane
Austen
A pior coisa de estar na fossa não é a dor no peito, nem a cara inchada de tanto chorar. É o maldito algoritmo do YouTube. Ele sempre sabe. Sempre.
Sério, aquilo seria algum tipo de bruxaria digital? Uma inteligência artificial treinada exclusivamente para me afundar ainda mais no abismo da minha própria desgraça emocional? Porque, de verdade, se existe uma tecnologia capaz de detectar sofrimento humano e maximizar o estrago, é essa.
Primeiro vinham os vídeos de casais perfeitos, sorrindo em cenários ensolarados, trocando olhares cheios de amor e promessas eternas. Depois, como se a humilhação ainda não estivesse completa, surgiam os coachs motivacionais, cuspindo frases como "ELE VAI TE VALORIZAR QUANDO VOCÊ PARAR DE CORRER ATRÁS".
Ah, vai se foder.
Como se fosse fácil assim. Como se fosse só acordar um dia e decidir que sou uma pessoa evoluída, emocionalmente equilibrada e pronta pra virar a versão glow de mim mesma. Se fosse tão simples, eu já teria seguido minha vida sem olhar pra trás. Teria, sei lá, começado a fazer yoga.
Aliás, yoga é um caralho. Porque eu tentei essa merda, também.
Eu tentei. Juro que tentei. Vi uma influencer iluminada falando sobre "alinhar as energias" e "se conectar com o eu interior" e pensei: ok, talvez meu eu interior esteja precisando de um soco na cara, mas vamos tentar. O que custa?
Resumo da experiência? Eu quase caí de cara no chão tentando uma pose chamada "cachorro olhando pra baixo". E quer saber? Talvez eu seja mesmo um cachorro olhando pra baixo, fodida, apaixonada e sem dignidade. E agora, eu tô aqui, de moletom gigante, com um coque tão desgrenhado que parece quase uma declaração de falência pessoal, encarando a tela do celular como se dali fosse sair alguma coisa mágica que pudesse me ajudar.
Eu só queria dar uma resposta para o Jimin. Só isso. Mas como é que se responde a uma pergunta que nunca foi feita em voz alta? Como se coloca em palavras algo que sempre esteve ali, pairando no ar, engasgado na garganta, pulsando no silêncio? Eu queria dizer que o amo. Queria cuspir essa verdade de uma vez, sem rodeios, sem medo, sem me importar com o que viria depois. Porque, por mais que tudo dentro de mim seja um borrão de incertezas—um emaranhado de orgulho, caos e contradição—ele é a única coisa que nunca mudou. A única coisa que, em meio ao turbilhão, permanece intacta, sólida, inegável. Ele é a porra da minha certeza. A única que eu tenho. E talvez, a única que eu sempre tive.
Afundei no sofá, o celular trêmulo nas mãos, e, contra todo e qualquer instinto de autopreservação, digitei no YouTube: "como expressar sentimentos sem parecer uma completa imbecil".
E aí me bateu o pânico.
E se alguém visse isso? E se, num golpe do destino, meu celular fosse parar nas mãos erradas? Ou pior—e se eu morresse subitamente, ali mesmo, e esse fosse meu último histórico de pesquisa? Meu legado? A prova definitiva de que, por trás da minha fachada de pessoa minimamente funcional, eu era, na verdade, um desastre ambulante, um ser humano incapaz de articular um simples "eu amo você", sem soar como uma adolescente de 14 anos prestes a escrever um textão no Tumblr?
Por instinto, olhei para os lados. Sozinha. Óbvio. Como se, num roteiro tragicômico da vida, alguém fosse simplesmente materializar-se na minha sala só para me flagrar nesse momento de autossabotagem extrema.
Suspirei fundo, como se isso fosse apagar minha própria vergonha, e cobri a tela com a mão. Como se um gesto ridículo como esse pudesse me proteger do julgamento invisível do universo. Apertei enter e senti um leve pesar no coração.
Pesar porque eram 3:27 da manhã. Porque eu tinha uma prova no dia seguinte. Uma prova importante. Uma prova que, muito provavelmente, determinaria meu futuro acadêmico—talvez até profissional. Mas, em vez de estar dormindo, estudando ou minimamente fingindo que me importava, eu estava aqui: tentando aprender a dizer o óbvio sem me sentir uma completa idiota.
— Oi, gente! No vídeo de hoje, eu vou ensinar vocês a expressarem seus sentimentos de forma clara e segura, sem medo de serem vulneráveis!
Pausei o vídeo. A youtuber sorria mais do que o necessário, cheia de energia e positividade, como se confessar sentimentos fosse um tutorial simples de maquiagem e não um salto no abismo.
— Sem medo de ser vulnerável… E se eu tiver pavor? Se a simples ideia de abrir a boca e falar "Jimin, eu te amo" me der vontade de enfiar a cabeça no ralo da pia?
Falei olhando o sorriso forçado da garota e respirei fundo. Dei play de novo.
— Primeiro passo: identifique o que você sente. Nomeie seus sentimentos.
Pisquei, exausta. Fechei os olhos, e minha mente foi direto para ele. Park Jimin.
O cabelo perfeitamente bagunçado, os fios caindo sobre os olhos sem esforço algum. A pele macia, as mãos pequenas e firmes, o jeito distraído de mexer na gola do moletom quando estava nervoso. O resmungo abafado quando dormia, um hábito de infância que nunca perdeu. A voz rouca chamando meu nome—às vezes rindo, às vezes brigando, mas sempre me encontrando.
E o sorriso.
Merda. O sorriso.
Aquele que ele tentava esconder quando me provocava, que começava no canto dos lábios e se espalhava devagar, como um incêndio, consumindo tudo.
Ok. Eu realmente amo Park Jimin.
O peso dessa constatação caiu sobre mim como um soco no estômago, mais uma vez.
Suspirei e continuei prestando atenção no vídeo. A youtuber ainda gesticulava exageradamente, cheia de certezas que eu não tinha.
— Você pode começar dizendo frases simples, como: "Eu gosto muito de você e me sinto feliz quando estamos juntos".
Pausei mais uma vez.
— Pelo amor de Deus. Isso é ridículo, . Ridículo.
Eu sou um desastre. É isso. Uma escrota. Uma covarde do caralho.
Jimin era um professor de sedução muito melhor do que essa mulher. Ele nunca me ensinou com palavras fofinhas ou frases prontas. Ele ensinava na prática. Nos olhares, no toque, no jeito que me puxava pra perto quando eu tentava fugir.
O vídeo seguiu para o próximo tópico:
— Agora, pratique com alguém de confiança! Treine dizer em voz alta!
Joguei o celular de lado e enterrei o rosto no travesseiro, dando um grito abafado.
— Faz o favor, YouTube, cala a boca.
E foi ali, no meio do quarto escuro, com o cheiro dele ainda impregnado na minha cama, que finalmente entendi.
Eu amo Jimin, sem explicação lógica.
Sem técnica de coach.
Sem precisar "praticar com alguém de confiança".
Eu simplesmente amo.
E não faço a menor ideia do que diabos fazer com isso.
A luz do sol invadia meu quarto, atravessando a cortina e iluminando a bagunça ao redor—cadernos abertos, roupas jogadas, um copo esquecido na mesa e algumas cartelas de calmantes vazias. Eu encarei o teto por longos segundos, numa tentativa patética de negociação interna. Talvez, se ficasse ali parada o suficiente, o dia simplesmente desistisse de começar.
Não funcionou, obviamente.
Aceitei meu destino: levantar e fingir que minha vida não estava um completo caos emocional. Me arrastei até o banheiro, liguei a torneira e joguei água no rosto. Talvez lavar a cara também lavasse o desespero, né?
Spoiler: não lavava.
Levantei o olhar para o espelho e, ah, perfeito. Olheiras profundas, cabelo desgrenhado, expressão de quem passou a madrugada vendo vídeos idiotas e tendo epifanias assustadoras sobre o próprio coração.
Incrível. Exatamente o que um dia normal de faculdade precisava.
Troquei de roupa no modo automático, joguei a mochila nas costas e tentei lembrar onde tinha parado na última lista de codificação.
Listas de codificação.
Meu Deus.
A pior parte de fazer Engenharia Biomédica não era a matemática infernal, nem os relatórios quilométricos, nem os experimentos que te faziam questionar se a ciência realmente valia a pena.
Era essa porra de programação.
Se o código rodava, o professor queria que otimizássemos. Se estava otimizado, a explicação estava errada. E se tudo estivesse certo, alguém sempre sugeria uma abordagem "mais eficiente". Suspirei, sentindo uma dor de cabeça já se formar.
Eu amava o curso, de verdade. A ideia de usar tecnologia para melhorar vidas, desenvolver próteses, aprimorar equipamentos médicos… Era incrível. Mas às vezes, só às vezes, eu queria poder entregar um código assim:
"Executa. Não trava. Agora me deixa em paz e não fode minha vida.”
Peguei meu café e saí de casa antes que desistisse completamente da vida acadêmica. O aroma forte da bebida deveria me manter alerta, mas nem mesmo a cafeína parecia capaz de domar o turbilhão de pensamentos que se embolavam na minha cabeça.
A manhã estava fria, e o vento cortante castigava minha pele, como se quisesse me punir por algo. Ou talvez fosse só minha consciência projetando minha própria culpa no mundo ao redor. Algo completamente confortável, obviamente.
E então, ao chegar na universidade, o incômodo se transformou em algo mais palpável.
Ele já estava lá.
Merda.
Por que diabos Jimin sempre era o primeiro rosto que eu via naquela faculdade? Não importava o caminho que eu escolhesse, a porta por onde entrasse, a rota que traçasse para evitar esse momento inevitável. Lá estava ele. Como se fosse um marcador na minha vida, a porra de um fantasma, assombrando cada canto, cada maldito corredor, cada espaço onde eu tentava respirar sem sentir o peso do que não dissemos.
Eu podia me esconder, mudar de direção, fingir que não vi. Mas nada mudaria o fato de que, toda vez que nossos olhos se encontravam, meu coração insistia em lembrar que, no fundo, fugir nunca foi uma opção.
Talvez o universo me odeie.
Sério, não vejo outra explicação. Algumas pessoas nascem com sorte, encontram dinheiro no chão, pegam ônibus no exato momento em que ele chega, descobrem o amor da vida delas numa fila de padaria. E eu? Eu sou forçada a encarar meu ex-quase-alguma-coisa todas as manhãs, como se estivesse presa num episódio ruim de uma série cômica que só o destino acha engraçada.
Talvez eu tenha cometido algum crime em outra vida. Talvez eu tenha sido uma imperatriz malvada, responsável por arruinar romances alheios, e agora estou pagando o preço, sendo forçada a viver nesse looping emocional infernal. Ou talvez o universo só esteja entediado e tenha decidido me usar como entretenimento.
Se for isso, parabéns, cosmos. Espero que minha vida esteja sendo um ótimo reality show.
Olhei para Jimin.
E o pior? Ele estava lindo. Como sempre.
Filho da puta.
Encostado na pilastra, exalando aquele charme irritante de quem parece ter saído direto de uma campanha de perfume importado. Mão enfiada no bolso da calça, a outra gesticulando casualmente enquanto conversava com Jeongyeon — a bonitona do maldito dia. Aquele cabelo perfeitamente bagunçado de um jeito que só ele conseguia, e a jaqueta de couro… a porra da jaqueta de couro.
A mesma que eu segurei entre os dedos naquela noite.
E foi aí que minha mente me apunhalou pelas costas. Sem dó. Sem aviso.
Me jogou de volta para o calor da pele dele contra a minha, os sussurros arrastados dizendo meu nome, o toque firme dos dedos percorrendo meu corpo como se quisesse me decorar. Como se cada centímetro meu fosse algo que ele nunca quisesse esquecer.
Mas ali estava ele.
Sorrindo. Tranquilo.
Como se nada daquilo tivesse significado porra nenhuma.
Enquanto eu estava presa nesse maldito limbo emocional, ele parecia… bem. Ótimo, na verdade. Rindo com Jeongyeon, deixando que ela tocasse o braço dele como se tivesse todo o direito do mundo. Ele nem gosta de quem fala tocando nele.
Mas, talvez Jimin seja dela agora.
O ciúme subiu pelo meu peito como fogo, queimando tudo no caminho antes que eu pudesse conter. Não aquele ciúme passivo e discreto, mas aquele violento, irracional, que sufoca antes mesmo de você entender o porquê.
E pela primeira vez, eu me permiti admitir: eu estava fodida.
Mas, qual é o apaixonado que não está?
É tipo uma regra universal, né? Se você ama, você está automaticamente ferrado de alguma forma. Ou você está lá, flutuando num mar de rosas, com aquele sorriso ridículo estampado no rosto, ou você está se afogando num oceano de inseguranças e dúvidas. Não tem meio-termo. Não tem salvação.
Vi isso em algum vídeo idiota no desgraçado do YouTube. O amor não vem com manual de instruções, só com o aviso de que o "acidente" vai acontecer — e vai ser feio.
E eu? Eu já estou no meio da batida. Uma versão distorcida de mim mesma. Uma garota que não sabia se queria gritar ou desaparecer. Que não sabia se queria puxar Jimin para longe ou virar as costas e fingir que não via nada.
Fui direto para o meu armário, tentando ignorar a vontade ridícula de olhar para trás e ver se Jimin ainda estava lá. Óbvio que estava. Rindo. Tranquilo. Como se o universo inteiro não estivesse desmoronando dentro de mim.
Segurei a alça da mochila com força, respirei fundo e bati a porta do armário com mais força do que o necessário. O som ecoou pelo corredor, chamando a atenção de algumas pessoas.
Um exagero? Talvez. Mas era isso ou socar a parede. Ou socar Jimin. Ou socar a Jeongyeon.
— Nossa — uma voz conhecida soou atrás de mim. — O que o armário te fez dessa vez?
Fechei os olhos. Ótimo. Jisoo. E, só para constar, dessa vez nem uma barra inteira de chocolate seria capaz de me salvar.
Virei devagar, forçando um sorriso casual que provavelmente só piorou minha cara de desastre.
— Só… um dia difícil. Mais um, aliás.
Jisoo arqueou uma sobrancelha. Ela não comprava desculpas baratas.
— Aham. Um dia difícil — repetiu, cruzando os braços. — Por acaso esse dia difícil tem um metro e setenta e cinco, cabelo perfeito e atende pelo nome de Park Jimin?
Minha expressão deve ter entregado tudo, porque ela abriu um sorrisinho satisfeito.
— Sabia! Você tá com ciúmes.
Bufei, voltando a mexer no armário apenas para evitar o olhar dela.
— Não tô com ciúmes.
— … — Jisoo deu um passo à frente, apoiando o cotovelo na porta aberta do meu armário. — Você quase quebrou esse negócio porque viu o Jimin rindo com a Jeongyeon. Se isso não é ciúme, então eu sou uma batata.
Suspirei, largando a mochila lá dentro.
— Não é só isso, ok?
— O que rolou esse final de semana? — Jisoo me olhou com uma intensidade que me fez morder o lábio inferior involuntariamente. — Vocês estavam meio afastados, né?
— Sim, mas aí eu saí com o Eunwoo… — Respirei fundo, já sabendo onde isso ia dar. — Ele foi um total arrombado comigo, tipo, rei dos arrombados, e aí eu chorei pra caralho e decidi dar um rolê na casa do Jimin. Ele… se declarou pra mim como em um filme de romance, sabe? Naquela chuva fodida que aconteceu no sábado. Foi lindo, perfeito e, bom, a gente transou. Várias vezes.
Jisoo me encarou como se tivesse acabado de assistir a um filme de terror, a boca entreaberta, tentando absorver o que eu acabara de jogar no ar.
Respirei fundo.
— É, eu transei com ele. E transaria mais vezes porque eu estou fodida por esse canalha.
O silêncio que se seguiu foi quase cômico. Jisoo piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar a informação, e então soltou um suspiro dramático, encostando a testa no meu armário.
— Meu Deus do céu.
— É, eu sei.
— Meu Deus do céu!
— Jisoo...
— MEU DEUS DO CÉU!
Revirei os olhos.
— Dá pra parar de repetir isso?
Ela me olhou como se eu tivesse acabado de dizer que vendi um rim na deep web.
— , você dormiu com o Jimin e não me contou?
— Eu tô contando agora!
— Não, você deveria ter me ligado na MESMA NOITE! Eu sou sua amiga, eu merecia essa fofoca em tempo real!
Cruzei os braços, sem paciência.
— O ponto não é esse. — Eu soltei, tentando manter a calma. Jisoo estreitou os olhos, já desconfiada.
— Então, qual é o ponto?
Suspirei, passando as mãos pelo rosto, tentando organizar a bagunça que minha vida parecia ter virado.
— O Jimin se declarou pra mim e eu não consegui dizer o mesmo, porque, você sabe, eu sou um desastre com tudo isso. Aí o Eunwoo apareceu na minha porta, pedindo perdão por ter sido um filho da puta, e quando eu percebi, a casa virou um campo de batalha. No fim, pra evitar uma cena ainda maior, eu disse que o perdoava. E agora o Park tá puto, e com razão.
Jisoo me olhou com uma expressão misturada entre compaixão e ceticismo.
— Alguém já te disse que sua vida parece um dorama? Mas, tipo, sem o romance fofo e a trilha sonora emocionante. — Jisoo fez uma pausa, umedecendo os lábios antes de acrescentar com um sorriso levemente maldoso. — Um dorama bem ruim, aliás.
— Nossa, obrigada pelo apoio moral, Jisoo. Era exatamente esse incentivo que eu precisava. — Revirei os olhos, fechando a porta do armário e cruzando os braços.
Ela me ignorou completamente.
— Quer saber? Você precisa de um café. E de um plano.
— Um plano?
Jisoo assentiu como se estivesse prestes a me apresentar uma solução revolucionária.
— Sim. Porque bater portas de armário e se afogar em crise existencial não tá te levando a lugar nenhum, né? — Ajeitou a bolsa no ombro e segurou meu braço, já me puxando pelo corredor. — Olha, eu sei que tá tudo uma bagunça agora, mas você não precisa lidar com isso sozinha. Se tem uma coisa que aprendi com meus próprios surtos emocionais, é que ficar parada só piora tudo. Então, antes de mais nada, você precisa decidir o que realmente quer. Depois disso, a gente dá um jeito.
Suspirei, já sentindo que Jisoo estava prestes a me arrastar para um plano mirabolante.
— O que você pretende fazer?
Ela sorriu como se essa fosse a pergunta mais óbvia do mundo.
— Você tá falando com Kim Jisoo. Eu pretendo resolver sua vida.
—Tem aulas de sedução nesse meio?
Ela arqueou uma sobrancelha, me analisando como se já soubesse exatamente a resposta.
— Considerando seu histórico de zero flertes bem-sucedidos e sua tendência a fugir quando as coisas ficam emocionantes… sim, com certeza tem.
— Isso vai ser um desastre. Mais um pra conta de
— Claro que vai. Mas pelo menos vai ser divertido.
E, pela primeira vez no dia, eu ri de verdade. Porque, no fim, essas malditas aulas de sedução não eram só uma piada do destino—eram o meu próprio karma batendo à porta.
Park Jimin
Estar apaixonado é uma desgraça.
Sério. Dizem que é bonito, que é o sentimento mais nobre do mundo, mas ninguém fala sobre o lado caótico da coisa. Sobre como a paixão te pega de jeito e te vira do avesso, te deixa completamente vulnerável, sem controle sobre nada.
Eu já me entreguei pra isso antes, já achei que sabia como lidar. Mas com ? Com ela nunca foi simples. Na verdade, nada é simples com aquela mulher.
Eu sei que ela tem dificuldade em se abrir. Sei que sentimentos, para ela, são como uma língua estrangeira — confusa, cheia de nuances e regras que ela nunca teve paciência para aprender. Sei que se declarar não é fácil, que admitir o que sente é praticamente um campo minado onde cada palavra errada pode detonar algo dentro dela.
E eu aceito isso.
Porque quando se trata de , eu sempre estive disposto a esperar. Sempre estive pronto para entender os silêncios, para decifrar os olhares, para aceitar que talvez eu nunca tenha as palavras exatas que queria ouvir.
Mas então, ela perdoou Eunwoo.
Assim. Tão fácil.
E é aí que eu me pergunto: por quê?
Por que, pra mim, ela nunca consegue encontrar as palavras certas, mas pra ele, bastou um pedido de desculpas? Por que eu precisei me despir de toda a minha coragem, colocar meu coração na mesa e ainda assim sair de mãos vazias, enquanto ele, depois de tudo, foi absolvido como se nada tivesse acontecido?
Ela diz que foi pra evitar confusão. Eu conheço o suficiente para saber que isso é verdade. Ela odeia drama desnecessário, odeia brigas que não levam a lugar nenhum. Mas eu não consigo evitar o gosto amargo da dúvida. Meu orgulho tá ferido. Pra cacete. Meu coração, mais ainda. E por mais que eu tente entender, uma parte de mim só quer saber: se eu tivesse sido o cara que errou, ela me perdoaria tão fácil assim?
Eu queria odiá-la por me deixar nesse estado. Mas quando olho pra , eu só consigo pensar em uma coisa: que eu tô completamente, irremediavelmente apaixonado por essa criatura. E, merda, eu soltei uma risada interna, daquelas que fazem o peito vibrar, quando a vi chegando na faculdade.
ficou parada do outro lado do corredor, olhando na minha direção com uma expressão que poderia facilmente derreter aço. Sério, se olhares matassem, eu já estaria enterrado. No começo, pensei que era só minha mente pregando peças. Mas então, vi a maneira como ela cruzou os braços, o olhar indo direto pra minha mão—que, por acaso, Jeongyeon tocava enquanto falávamos sobre algo completamente irrelevante.
Ah. Ela estava com ciúmes.
E não qualquer tipo de ciúmes. Aquele ciúme mal disfarçado, o que faz a pessoa agir como se não desse a mínima, mas, ao mesmo tempo, parecer a personificação da raiva contida. Tentei me concentrar na conversa, mas era impossível. Principalmente porque, no momento seguinte, fez questão de abrir um armário com um movimento tão agressivo que até o corredor inteiro parou por um segundo.
Ela realmente estava com ciúmes.
Eu deveria me sentir vingado, satisfeito até. Mas, na real? Só conseguia achar um pouco engraçado. E, talvez, um pouco fofo. Quer dizer, era horrível estar brigado com ela, mas ver tentando fingir que não estava se remoendo por dentro? Isso tinha seu próprio charme.
Será que ela percebeu que, enquanto ela queimava de raiva ali do outro lado, tudo o que eu queria era atravessar esse maldito corredor e beijá-la até ela esquecer por que estava brava?
O dia se arrastou como uma tartaruga cansada.
Não importa quantas vezes eu olhasse pro relógio, os minutos pareciam ter entrado em um contrato vitalício com a eternidade. E o motivo? O teste final. O maldito teste que poderia decidir se eu terminaria esse semestre como um vencedor ou como um sobrevivente ferido no campo de batalha acadêmico. Fazer Publicidade e Propaganda parecia a escolha perfeita anos atrás. Criatividade, campanhas fodas, eventos gigantes… Mas ninguém me avisou que no pacote também vinha um combo de noites sem dormir, professores que acham que você é o novo Steve Jobs e prazos mais apertados que calça skinny. Passei os últimos dias atolado num trabalho sobre estratégias de marketing digital, tentando criar um conceito inovador o suficiente pra não levar uma bronca do professor que acha que tudo já foi feito antes. Minha cabeça estava frita, meu cérebro rodando em 2% de bateria, e eu só queria um tempo pra respirar.
Mas o pior nem era o curso. Era a eterna comparação com meu pai. “Entretenimento? Propaganda? Jimin, isso não é carreira, é hobby.” Ele sempre quis que eu seguisse algo mais “sério”. Algo mais “seguro”. Algo mais parecido com o que ele faria.
Ele queria um filho que vestisse farda, que falasse sobre honra e segurança pública, que seguisse um caminho que ele respeitava. No lugar disso, eu tinha escolhido um curso onde a gente discutia o impacto emocional das cores no consumidor e fazia brainstorming em paredes cheias de post-its coloridos.
Talvez fosse por isso que eu levava essa porra tão a sério. Talvez eu quisesse provar que era bom nisso. Ou talvez eu só fosse um teimoso do caralho.
E então tinha ela. Claro que tinha.
tinha feito uma prova hoje também. Mas, diferente de mim, que estava me matando pra defender uma campanha de café sustentável, ela estava resolvendo equações que pareciam feitiços antigos. Engenharia Biomédica. Só de ouvir o nome do curso, meu cérebro já dava tela azul. Desde que éramos crianças, ela sempre foi a mais inteligente. A pessoa que entendia matemática como se fosse fofoca. Que desmontava e montava coisas como se fosse fácil. Que via sentido na porra da física. Por isso, Einstein. O apelido começou na nossa infância, e eu nunca mais parei de chamar.
E, claro, ela sempre odiou.
O pensamento me fez rir sozinho enquanto eu passava pelo corredor da faculdade, finalmente me sentindo um pouco mais leve.
O que durou exatamente cinco segundos.
Porque foi só eu dobrar a esquina e sentir um leve impacto no meu corpo, após esbarrar em alguém.
— Puta merda, olha por onde...
Só quando ergui os olhos percebi quem eu tinha acabado de atropelar.
.
E, pela cara dela, eu já sabia que essa conversa não ia ser tranquila.
—Conheci você mais educado, Park Jimin.
Eu dei um passo atrás, tentando recuperar o equilíbrio, mas não consegui evitar as batidas fortes, intensas do meu coração, que parecia que iria sair pela boca a qualquer momento.
— Sério, ? Foi você que estava parada no meio do caminho. — Minha voz saiu mais cortante do que eu queria. A olhei dentro dos olhos e os flashes da nossa última noite se espalharam pela minha mente completamente perturbada. Merda. Eu preciso sair daqui antes que eu a agarre e a beije aqui mesmo. —Eu realmente preciso ir embora, agora.
Dei as costas, mas senti a mão leve de me segurar. Engoli em seco e respirei fundo, tentando manter o foco.
Não queria punir . Não. Longe disso. Punir era o último dos meus desejos. O que eu mais queria era que ela entendesse a merda que estava acontecendo dentro de mim. Mas, porra, eu precisava que ela soubesse que eu também estava magoado. Eu também estava me despedaçando por dentro. Eu me senti idiota por ter me exposto daquela maneira, sem saber se ela realmente queria o mesmo ou se estava apenas com medo de arriscar. Então, sim, eu precisava que ela soubesse. Não porque eu queria machucá-la, mas porque ela precisava entender a merda em que tudo isso se transformou. Eu me declarei e me senti totalmente dele, vulnerável, esperando uma resposta que não veio. E isso, fodeu com tudo.
—Jimin, sério? —Ela falou com uma mistura de incredulidade e frustração, o tom de voz abafado pela falta de respostas. Ela alisou meu braço, o toque leve, mas com um peso imenso que parecia sufocar tudo o que eu estava tentando entender. Eu umedeci os lábios, tentando processar o que estava acontecendo, mas as palavras simplesmente não saíam. — A gente vai mesmo ficar assim, um com o outro?
— Eu já falei, . —Soltei meu braço de leve e apertei a alça da mochila com força. —Eu preciso de uma resposta sua. Preciso saber o que diabos se passa dentro de você.
Ela me encarou, o olhar fixo, como se tentasse decifrar alguma coisa em mim. Ou talvez tentasse encontrar coragem para dizer o que tanto evitava. O silêncio entre nós ficou ainda mais pesado, o tipo de silêncio que parece gritar no fundo da garganta, mas nenhum de nós tinha coragem de quebrá-lo.
— Eu ainda não sei o que você quer que eu diga. De verdade. —A voz dela saiu quase com raiva, mas também com um toque de desespero. —Você se declarou, Jimin e, porra, foi lindo. E o que aconteceu depois? A gente transou, e agora o que eu devo fazer?
—Que tal se abrir um pouco e dizer o que acha disso tudo?
Ela bufou, passando a mão pelos cabelos, visivelmente frustrada.
— Eu tô tentando, caralho! Mas você não entende que eu simplesmente não consigo?
Soltei um riso seco, incrédulo.
— Não, . Você sabe como fazer isso. Só não quer admitir.
Ela abriu a boca para retrucar, mas fechou logo em seguida. E foi isso. O silêncio que me matava, de novo.
— Eu tô aqui, me expondo, me fodendo todo por você, enquanto você só... trava. — Passei a mão pelo rosto, tentando manter a calma. — Se eu significasse alguma coisa pra você, você teria me dado qualquer resposta, nem que fosse um "Jimin, eu não sinto o mesmo". O perdão pro Eunwoo foi mais fácil, certo?
Ela arregalou os olhos, indignada.
— Você tá falando merda.
— Então me prova que eu tô errado! — Dei um passo à frente, e ela desviou o olhar. — Porque até agora, a única coisa que eu vejo é você fugindo.
Ela respirou fundo, parecendo travar uma guerra interna.
— Eu tenho medo, Jimin.
A confissão saiu num sussurro, e eu senti um aperto no peito.
— Medo de quê? De mim? — Minha voz quebrou no final, e eu odiei isso. Ela negou rápido.
— Medo de estragar tudo. De me jogar nisso e acabar te perdendo. De machucar você.
Fechei os olhos por um segundo, tentando segurar a porra da lágrima que já ardia nos meus olhos.
— Você já tá me machucando, . Porque eu tô aqui, disposto a tentar, e você tá me deixando no escuro. —Murmurei, rouco. —Eu não queria que isso fosse assim, mas, eu continuo firme no que te falei naquele maldito dia: por favor, não me procure. Não até saber dizer uma resposta decente pra mim.
As palavras saíram, mas eu quase desejei poder engoli-las de volta. Quase.
Ela piscou algumas vezes, como se meu pedido fosse um tapa na cara. E talvez fosse. Mas eu não podia mais ficar ali, esperando por um sinal que talvez nunca viesse.
Sem dizer mais nada, passei por ela, sentindo meu peito apertar a cada passo. O silêncio dela me seguia como um fantasma, um lembrete cruel de que eu estava saindo dali com menos do que entrei.
Eu queria que ela me chamasse. Que segurasse meu braço, que dissesse qualquer merda, que me desse um motivo para ficar.
Mas tudo que eu ouvi foi o barulho dos meus próprios passos se afastando.
“Você não ama alguém porque ela é perfeita. Você ama apesar de ela não ser.”
— Jodi Picoult, A Guardiã da Minha Irmã
— Jodi Picoult, A Guardiã da Minha Irmã
Dizem que o chocolate já foi símbolo do amor.
Séculos atrás, ele era oferecido como prova de afeto, presente de enamorados, parte essencial de grandes gestos românticos. Aí veio a porra da industrialização, a merda do capitalismo, e o chocolate virou… isso. Uma tentativa desesperada de enganar o coração com açúcar enquanto você tenta ignorar que está com o peito em frangalhos.
O cheiro de chocolate estava por toda parte enquanto Jisoo falava sobre a função de cada um. Uma maluca. Barras abertas, embalagens amassadas, uma montanha de bombons espalhados sobre a mesa. Eu segurei um pedaço entre os dedos, observando a textura macia se desfazer com o calor da minha pele antes de levá-lo à boca. O sabor doce se espalhou na língua, mas não trouxe o conforto que eu esperava. Porque mesmo que aquele gosto fosse completamente aconchegante, não conseguiu dissipar a sensação estranha e indigesta que tive quando um certo desgraçado de cabelo perfeito me olhou completamente decepcionado.
Jimin.
O cara que sempre tem um sorriso pronto. Que faz piada no meio do caos. Que acolhe até com o olhar. Ver ele sem tudo isso? Ver o sorriso murchar, os olhos perderem o brilho e a voz sair fria e magoada? Foi como assistir o sol apagar. E, pior ainda, saber que fui eu que puxei o interruptor. Jimin sempre foi o tipo de pessoa que escondia a dor pra não incomodar. Que dava risada mesmo quando o peito tava apertado. E por isso doeu tanto. Porque naquele dia, ele não escondeu nada. Ele só me olhou como se eu tivesse quebrado algo dentro dele. E talvez tenha quebrado mesmo.
O sofá parece mais um campo de guerra: embalagens abertas, bombons derretendo no canto da almofada, e Jisoo — a grande guru do amor moderno — tentando me convencer de que ainda dá tempo de consertar tudo.
— Você tá com cara de quem já desistiu da vida, sabia? — ela resmunga, entrando na sala com uma expressão de quem já perdeu as esperanças. — Sério, , se eu visse essa cena sem contexto, ia achar que você foi largada no altar.
—É quase isso, ok?
— E ainda por cima largada com estoque de bombons e zero dignidade — ela completou, jogando os chocolates na mesa de centro e se jogando no sofá com a naturalidade de quem já viu esse colapso acontecer antes.
Revirei os olhos.
— Tá vendo isso aqui? — apontei pra barra de chocolate meio amarga na minha mão — É a única coisa que não me julga no momento.
— Amiga, até esse chocolate tá triste com você. Ele é 70% cacau e 100% vergonha alheia.
Jisoo pegou um dos bombons e mordeu com gosto, como quem está prestes a resolver o problema do século.
— Tá. Chega de drama. A gente vai fazer isso dar certo. Você vai declarar o que sente por Jimin.
Suspirei, afundando ainda mais no sofá.
— Você acha que tem como... ensinar alguém a se declarar? Tipo, ensinar mesmo? Com passo a passo?
Jisoo sorriu. Um sorriso perigoso, desses que vêm logo antes de uma ideia maluca.
— ... você esqueceu com quem tá falando? Eu sou Jisoo. E essa é oficialmente a sua primeira aula de Sedução Avançada: Expressando Sentimentos Sem Parecer Um Robô Queimado. Vamos começar com o básico: você vai dizer tudo o que sente como se estivesse dando uma aula. Didática, direta e com emoção.
—Você sabe que eu tenho traumas com aulas de sedução, certo?
— Exatamente por isso que estou aqui. Sua supervisora emocional, com chocolate e zero paciência pra você se fazendo de sonsa.
Ela se levantou do sofá num salto, pegou um lápis (que não faço ideia de onde surgiu) e o colocou atrás da orelha como uma professora sádica e empenhada.
— Aluna , vamos lá. Imagine que Jimin está na sua frente. O que você sente?
— Vergonha, pânico, vontade de sair correndo...
— Emoções válidas, mas não ajudam no nosso objetivo. Tenta de novo.
— Eu sinto... falta dele. Tipo, constante. Como se qualquer música me lembrasse ele, como se toda piada que eu escuto parecesse sem graça porque ele não tá rindo comigo.
Jisoo sorriu satisfeita e assentiu.
— Aí sim! Tá vendo? Você só precisava destravar a boca e deixar o coração sair pela garganta!
Revirei os olhos, mas confesso que um micro sorriso escapou.
— Muito bem. Agora que você abriu o coração, vamos aos fundamentos da sedução emocional. Caneta e papel?
— Eu tô segurando um chocolate derretido.
— Serve. Primeira dica: olho no olho. Sempre. O olhar firme diz: “eu estou aqui, fodida, mas com coragem”. Nada de desviar como se tivesse visto um ex na fila do mercado.
— Tá, mas e se eu travar?
— Piscadinha. Funciona tipo Ctrl+Alt+Del da vergonha. Reinicia o sistema.
Ela andava de um lado pro outro como se tivesse num TED Talk.
— Dica número dois: toque leve. Nada invasivo. Um toque no braço, no ombro... mostra proximidade e interesse, mas respeita o espaço do outro. Flertar é arte, não MMA.
— Isso vai dar tão errado…
— Não deu errado quando você estava transando com ele, .
Quase engasguei com o pedaço de chocolate.
— JISOO! — Arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. — Isso foi baixo. Isso foi um puta golpe baixo!
— Ué, tô mentindo? Você já teve contato físico bem mais avançado com esse homem, e agora tá surtando por um toque no ombro?
— É completamente diferente! — Resmunguei, tentando parecer ofendida, mas até eu sabia que não tinha defesa.
— Só é diferente porque agora você quer tocar o coração dele também. E isso dá mais medo, eu sei. Mas você precisa lembrar que ele já viu o seu corpo. Agora deixa ele ver sua alma também.
— Ok, agora você foi profunda. Isso me assusta mais do que a parte do toque.
Jisoo deu de ombros, já abrindo outro bombom como se tivesse acabado de dar uma aula de filosofia emocional.
— Ah, e se der errado, a gente finge que tropeçou. Sempre tem como sair pela tangente, minha filha. —Ela deu um sorriso e me permiti fazer o mesmo —Agora escuta a terceira e mais importante: dizer o que sente, mas sem pressionar. Tipo: “Eu sei que talvez não seja o momento certo e que você esteja magoado, mas eu não queria ir embora sem dizer que... eu gosto de você. Muito. E que tudo ficou estranho depois que eu percebi isso.”
— Isso é real, Jisoo?
— Real, útil, e se quiser eu imprimo em papel couche. A sedução verdadeira é vulnerável, . Não tem a ver com batom vermelho ou frases prontas, tem a ver com coragem. Coragem de dizer: “olha, eu sou um caos, mas eu sou seu caos.”
— Isso é tão cafona que chega a ser bonito.
— Obrigada. Eu me inspiro em comédias românticas e traumas não resolvidos.
—Suas dicas são maravilhosas, mas é meio difícil colocar em prática quando ele praticamente fez questão de me apagar da vida dele. — Suspirei, jogando a almofada no chão. — Jimin não quer nem olhar na minha cara! Eu até mandei nosso meme preferido, mas ele visualiza e some! Se ele pudesse me bloquear da vida real, ele já tinha feito.
— Ok, drama queen, respira — Jisoo respondeu, empurrando outro bombom na boca antes de continuar. —Sobre isso, eu meio que já pensei numa solução.
— Jisoo...
— Vou dar uma festa aqui em casa amanhã.
— O quê?
— Uma festinha íntima. Só alguns amigos... e o Jimin.
— JISOO!
— Relaxa! Ele já confirmou presença. Agora você só precisa confirmar que vai ter coragem.
Fiquei em silêncio, observando Jisoo mastigar mais um chocolate como se tivesse acabado de salvar o mundo com uma fala espirituosa. E talvez, de algum jeito torto, ela tivesse mesmo. Porque, no fim, não era sobre a forma perfeita de tocar, nem sobre dizer as palavras certas. Era sobre o risco. Sobre se permitir ser vista — por completo.
Gostar de alguém nunca foi o problema. O difícil era ter coragem de mostrar que gosta. De deixar a pele fina da alma exposta, de segurar o olhar mesmo quando tudo em você quer desviar. A coragem não mora nos grandes gestos ou nos beijos de cinema. Ela vive no instante antes do impulso, quando o peito aperta e ainda assim você vai.
É aí que mora o verdadeiro ato de sedução: não em conquistar o outro, mas em se entregar com verdade — mesmo sem garantia de ser correspondida.
Talvez fosse esse o único jeito de vencer o medo: atravessando ele.
Mesmo tremendo. Mesmo tropeçando nas palavras. Mesmo com a voz falhando no meio da frase. Coragem, no fim, é isso. Sentir tudo... e ainda assim, escolher dizer.
O vestido vermelho abraçava meu corpo como se conhecesse cada curva, cada pedaço de pele onde a memória ainda morava. Havia algo simbólico naquela escolha. O vermelho sempre foi a cor da ousadia, da paixão, da coragem. E, naquela noite, eu precisava de todas as três. E um pouco da porra da tequila, também.
A lingerie por baixo era ainda mais simbólica. Vermelha também. Aquele que foi presente dele e que eu, na minha idiotice, nunca tive coragem de usar. Até agora. Passei o batom com mãos trêmulas. O vermelho nos lábios parecia mais ousado do que qualquer palavra que eu tinha ensaiado nas últimas horas. E olha que eu tentei. Tentei escrever. Apaguei. Gravei áudio. Chorei ouvindo. Treinei na frente do espelho, mas a minha própria voz me dava vontade de rir de nervoso. Nenhuma frase parecia certa. Nenhum roteiro funcionava. Sempre acabava com a minha voz falhando e o coração mais confuso do que antes. Não, eu não quero ser perfeita. Porque perfeição é a desculpa dos covardes pra não sentir de verdade. Eu só queria que ele me ouvisse. E, talvez, me entendesse.
Suspirei fundo, como se isso pudesse aliviar o nó no estômago. Peguei o celular, pedi o táxi e, enquanto esperava, me olhei no espelho uma última vez. Uma última chance de voltar atrás. Mas não voltei.
Quando dei por mim, já estava no elevador, sentindo o coração bater mais rápido do que o normal. Minutos depois, a porta do apartamento da Jisoo se abriu e fui recebida por uma mistura indecente de risadas, cheiro de vinho barato e um rock aleatório que alguém tinha colocado no modo repeat.
Ela estava encostada na bancada da cozinha, com uma taça na mão, os olhos um pouco brilhantes demais e o sorriso meio torto. A Jisoo bêbada era tipo uma fada madrinha com diploma em esculacho e zero noção de limite.
— Você demorou, caralho! — ela gritou, abrindo os braços como se estivesse reencontrando alguém que voltou da guerra. — A festa já começou e eu já tô na fase do “vou mandar mensagem pro meu ex”.
—Você não seria maluca de fazer isso, certo?
— ... — Jisoo me puxou mais pra perto, os olhos arregalados como se tivesse feito uma descoberta científica. — Você tá… gostosa. Tipo, nível parar o trânsito.
— Meu Deus, para de gritar.
— Eu não tô gritando, eu tô constando um FATO! — ela apontou pra mim com a taça meio vazia. —Essa lingerie tá te moldando como se tivesse sido costurada por deuses gregos bêbados e pervertidos.
— Eu tô com um vestido por cima, você nem tá vendo a lingerie.
— Mas eu sei. Eu sinto. Tá no ar. Tem cheiro de mulher decidida com peito erguido e rímel à prova de lágrimas.
— Você tá muito bêbada.
— E você tá muito gata. Sério, se eu fosse homem, eu dava em cima de você agora mesmo. Com poesia. E um pix de 200 reais.
—Você tá querendo dizer que eu estou parecendo uma prostituta?
— Não! — Jisoo arregalou os olhos, ofendidíssima, e balançou a taça como se isso reforçasse o ponto dela. — Eu tô dizendo que você tá parecendo uma mulher tão irresistível que inspira arte... e investimento financeiro.
—Ah, ótimo!
— O quê? Não posso valorizar a minha amiga? — ela riu e me abraçou de lado. — Olha, eu sei que você tá nervosa. Eu sei que seu coração tá pulando igual chinelo de mãe em briga. Mas você precisa confiar em si mesma. Você é intensa, . E o Jimin sempre enxergou isso.
— Ele tá bravo comigo.
— Porque ele se importa. Porque ele é apaixonado. E você vai até ele, não como uma heroína de comédia romântica que tropeça e derruba vinho na calça branca dele. Vai como a mulher que finalmente entendeu que sentir demais é um presente, não um defeito.
— Eu não sei nem o que dizer…
— Então diz com o olhar. Com o toque. Com o silêncio. Mas diz alguma coisa, caralho! Só não volta pra casa arrependida por não ter tentado.
Eu respirei fundo e soltei um sorriso, enquanto colocava um pouco de alguma bebida desconhecida no meu copo. Tinha gosto de desespero com limão, mas a essa altura, qualquer coisa que queimasse a garganta parecia bem-vinda.
— Você ensaiou esse discurso?
— Óbvio que não. Eu tô bêbada, isso foi tudo improviso. Mas foi lindo, né?
— Infelizmente… foi.
Eu respirei fundo.
—Só um copo disso não vai resolver meus problemas. — Resmunguei, pegando o segundo.
— Você vai cair antes do Jimin chegar — Jisoo comentou, rindo e apoiando as mãos nos quadris.
— Melhor cair bêbada do que sóbria e idiota.
Segundo copo. Queimou de novo. Mais forte. Talvez meu corpo estivesse tentando me avisar que essa era uma péssima ideia. Mas minha cabeça gritava mais alto: "você vai encarar isso agora ou nunca".
— Isso, garota. Coragem líquida é o que move essa história de amor — Jisoo comentou, me incentivando como se eu estivesse prestes a subir num ringue. E de certa forma, eu tava.
— Eu vou morrer — murmurei, tremendo os dedos ao colocar o copo vazio sobre a bancada. — E no meu túmulo vai estar escrito: “Morreu tentando não parecer uma idiota.”
— Mas vai morrer gostosa — ela piscou. — E de batom vermelho.
Tava começando a acreditar que talvez… só talvez… eu fosse conseguir.
Aí a porta da sala se abriu.
E o inferno pessoal de começou.
Park Jimin entrou como se o tempo tivesse dado uma pausa só pra ele. Todo de preto. Calça jeans escura, camiseta justa o suficiente pra mostrar os braços e o ombro tatuado que me tirava o ar desde o primeiro dia. Casaco jogado por cima, boné também preto, aba baixa escondendo metade do rosto — mas não o suficiente pra esconder o olhar.
Ele tava gato.
Não. Ele tava um absurdo. Um ataque. Um atentado emocional com pernas. Que mexia com as minhas pernas.
Minha boca abriu sozinha. Só que não pra falar.
Pra tossir.
Me engasguei com a bebida, tossi alto, bati no peito, tudo enquanto Jimin dava dois passos pra dentro da festa — e olhava direto pra mim.
— Meu Deus — sussurrei, entre uma tosse e outra. — Eu literalmente me engasguei com a presença dele. Isso é inédito.
Jisoo segurava a risada tão mal que parecia ter levado um choque.
—Não se preocupa, amiga. —Ela bateu de leve nas minhas costas, tentando me ajudar. —Dizem que homens se excitam com mulheres que se engasgam.
— Não faz contato visual! — Cochichei desesperada, ignorando a fala da minha amiga e virando de costas. — Não olha! Ele tá vindo? Jisoo, ele tá vindo??
— Ele tá indo falar com o idiota do Sung Hoon. — Ela respondeu, animadíssima, como quem anuncia a chegada de um boy de reality show. — E você vai ficar exatamente aí. Nada de fugir pro banheiro. Nada de pular da sacada.
— Eu odeio você.
— Eu sou sua fada madrinha, senhorita vergonha alheia. Vai dar tudo certo.
Eu me virei lentamente e tentei manter a compostura, observando ele conversar com o amigo idiota dele, mas aí os nossos olhares se encontraram e eu engoli em seco. Ele só me olhou. E não foi um olhar qualquer — foi aquele tipo de olhar que a gente sente antes de perceber. Que atravessa a pele, passeia por dentro e encontra cada parte que a gente tenta esconder.
Os olhos dele estavam fixos nos meus, e por um segundo, tudo ficou em silêncio. A música da festa ficou distante, o barulho das conversas virou um ruído abafado. Era só ele. E eu. E aquele maldito silêncio que gritava mais do que qualquer palavra.
E naquele segundo — ou milênio, sei lá — eu senti meu peito doer. Porque ele me olhava e fazia todas as nossas memórias voltarem. O toque suave dele nos meus cabelos. O jeito que ele ria, o jeito que ele me tocava. O som da voz dele me chamando de "linda", como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
Merda, merda, merda!
Eu precisava sair dali.
Meus pés se moveram antes da minha dignidade conseguir protestar. Empurrei gente no caminho, tropecei em alguém que dançava com uma taça na mão e murmurei um “Desculpa, tô passando mal” só pra manter alguma aparência, minimamente, louvável. Mas todo mundo viu. Eu tava em colapso.
Entrei no banheiro e tranquei a porta como se estivesse fugindo da polícia. Me apoiei na pia, respirei fundo e encarei meu reflexo. O rímel ainda tava no lugar, o batom um pouco borrado, e a expressão? A de uma mulher que claramente não estava preparada pra nada daquilo.
— Eu sou uma fraude — murmurei pro espelho. — Eu treinei. Jisoo me deu aulas. Eu li textos no Pinterest, vi vídeos na merda do Youtube. Eu usei lingerie. E eu. Me. Engasguei.
Soltei o ar devagar, tentando não me desesperar mais do que o necessário.
A verdade é que eu podia estar vestida de desejo e ensaiada em sedução, mas bastou ele aparecer pra tudo desmoronar. Porque não era sobre a pose. Era sobre ele. E eu amo esse desgraçado.
Suspirei, me endireitei, tirei uma toalhinha de papel do dispenser e limpei o borrado nos lábios.
— Tá tudo sob controle — falei alto, pra ver se convencia a mim mesma. —Você vai tomar um ar, beber mais um pouco e vai dizer tudo que sente, ok? Tá tudo bem — menti descaradamente.
Embora eu estivesse tremendo por dentro, com o coração batendo rápido demais e a sensação de que meus pés podiam falhar a qualquer momento, eu queria ver aquele desgraçado de perto, queria saber qual o perfume que ele estava usando e queria, de alguma forma, me comunicar com Park Jimin. Eu não sabia se era coragem ou desespero — talvez os dois —, mas alguma coisa me empurrava pra frente.
E, talvez, isso fosse um bom começo.
O ar lá fora estava gelado, e eu senti o impacto no rosto como um tapa que eu provavelmente merecia. Meus saltos afundaram um pouco na grama do jardim da frente, e eu respirei fundo como se o mundo inteiro coubesse nos meus pulmões. Só queria silêncio. Só queria não estar tremendo.
E isso só piorou quando eu o vi.
Merda.
Ele tava lá.
Jimin.
Encostado num carro preto qualquer, segurando um copo com o resto de alguma bebida, o boné virado pra trás e o olhar no céu como se as estrelas tivessem respostas que eu nunca consegui dar.
Eu parei. Ele não. Continuou encarando o infinito. Mas eu sabia. Ele sabia.
E então ele olhou pra mim.
Aquele olhar de novo.
Dei alguns passos, quase sem pensar. Ele virou o rosto, me viu. E eu sorri. Fraco, pequeno, meio torto e comecei a falar. Todo o plano, todas as frases ensaiadas, as lições da Jisoo, o maldito discurso com começo, meio e fim... sumiram. Evaporaram. Porque quando o Jimin tava ali, na minha frente, com aquele olhar que sempre me desmontou, só existia ele. Ele. E o jeito que ele fazia tudo dentro de mim parecer urgente demais pra ser guardado.
— Você... fica bonito de preto — falei, com a voz baixa e abraçando meus próprios braços devido ao frio. — Tipo, irritantemente bonito.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu. Só ficou me olhando. Daquele jeito. O jeito que fazia meu coração tropeçar e minha boca esquecer qualquer ensaio.
— Eu... — engoli seco. Merda. Respira, . — Eu sei que provavelmente essa é a última coisa que você quer agora. Me ouvir. Mas eu vou falar mesmo assim.
Ele não se mexeu. E nem precisou. O silêncio dele dizia tudo. E ainda assim, eu continuei.
— Eu sou uma idiota. Uma covarde. Uma garota com um vestido apertado demais e um batom um pouco borrado, tentando parecer corajosa, quando na verdade só queria correr pra longe e fingir que não sinto porra nenhuma. Mas eu sinto. E tô cansada de fingir.
Engoli o choro que ameaçava rasgar minha garganta e encarei ele. Porque se era pra cair, que fosse de cabeça.
— Eu não sei quando diabos eu descobri isso, mas quero que saiba: não foi uma descoberta tranquila, pacífica ou cheia de rosas e todas essas merdas românticas. Porque doeu quando você foi embora e só aí que eu me toquei do quanto eu estava envolvida pra cacete na sua vida. —Suspirei, criando coragem para seguir adiante. —Eu amo você, Jimin. Amo tanto que parece que meu peito vai explodir. Que me trava. Que me quebra. Que me fode inteira, entende? Você sempre foi o cara que me fazia rir quando eu queria desaparecer. O moleque que me puxava pela mão no recreio e dizia que ninguém ia mexer comigo. Você sempre esteve ali. E eu... eu sempre fui atrás de você porque, porra, era seguro.
Minha voz falhou. Mas segui.
— Você foi meu ponto de paz quando o mundo parecia desabar. O idiota que me irritava, mas que me fazia sentir pisando na terra só por existir. E eu fui burra. Muito. Porque eu passei a vida inteira achando que precisava te proteger de mim. Do que eu sentia. Como se amar você fosse algo errado. Como se você merecesse alguém melhor, alguém mais leve, mais... sei lá. Alguém menos fodida.
Suspirei, com raiva de mim mesma.
— Mas quer saber? Foda-se. Eu tô aqui. Com o coração escancarado, mesmo tremendo por dentro, mesmo morrendo de medo de você me olhar e dizer que já foi. Que passou. Que não tem mais jeito. Mas eu precisava falar. Porque te perder sem lutar seria mais covarde do que tudo o que eu já fiz.
Dei um passo à frente, sentindo minha respiração entrecortada pelo turbilhão de emoções que me consumia. Foi então que vi: uma lágrima solitária deslizou pelo rosto dele, traçando um caminho silencioso em meio à penumbra. Aquela lágrima carregava o peso de anos. Anos em que ele foi meu porto seguro, meu protetor desde os dias de infância, quando eu tropeçava e ele estava lá para me erguer. Anos em que meus passos, quase instintivamente, seguiam os dele, buscando sua sombra, sua presença, seu calor.
Ver essa lágrima, testemunhar sua vulnerabilidade, fez meu coração se apertar de um jeito que palavras não poderiam descrever.
— Eu gosto de você, Jimin. Desde sempre. Desde antes de entender o que era gostar de alguém. Desde que você me deu metade do seu lanche e me chamou de sua melhor amiga. Desde que meus pés aprenderam o caminho de te seguir. E agora eles estão aqui, de novo, parados na sua frente, esperando. Porque se ainda tiver um espaço aí dentro... por menor que seja... eu queria entrar. Só preciso de um espacinho. Uma fresta. Um canto empoeirado aí dentro que ainda lembre de mim. Eu prometo não fazer muita bagunça, mesmo sendo um pouco caótica, por vezes. Mas, eu só quero ficar. Te fazer rir de novo — daquele jeito bobo que você sempre tenta esconder. Quero te ver dançar sozinho pela casa, te encher o saco quando você reclamar da minha série ruim, e te lembrar que, sim, você tem medo de borboletas, e eu vou rir toda vez que você sair correndo fingindo que não. —Ele deixou mais algumas lágrimas caírem e largou o copo em algum lugar, olhando fixamente nos meus olhos e então eu continuei. —Quero ser abrigo nos dias ruins. Quero ouvir suas teorias malucas às três da manhã, e te fazer esquecer que o mundo machuca às vezes. Eu só… quero fazer você feliz. E se você deixar, Jimin, eu juro que dessa vez eu fico. Por nós dois.
Ele abaixou o olhar por um segundo. E quando voltou a me encarar, parecia outro. A expressão dura deu lugar a uma vulnerabilidade que ele nunca mostrava. Aquela lágrima ainda brilhava na curva do rosto. A respiração dele vacilou. E, por um instante, eu achei que ele fosse virar as costas. Mas ele deu um passo à frente, enquanto a adrenalina tomava conta de cada célula do meu ser.
— Eu te amo, . Caralho, eu te amo tanto que às vezes parece que eu vou explodir por dentro.
E então veio o toque — quente, urgente, desesperado. A mão dele na minha nuca, o corpo colado ao meu como se a gente tivesse sido feito pra se encaixar naquele exato segundo do universo. O beijo não foi doce. Foi intenso, fodido, cheio de saudade, raiva, amor e de tudo mais que a gente tentou esconder até aqui.
Ele me beijou como quem encontra casa. E eu beijei de volta como quem voltou pra ela.
“Amei-a contra a razão, contra a promessa, contra a paz, contra a esperança, contra a felicidade, contra todos os desencorajamentos que poderiam existir.” — Charles Dickens, Grandes Esperanças
Park Jimin
Existem coisas na vida que são boas. Pra caralho. Tipo um orgasmo daqueles que tira sua alma do corpo por alguns segundos. O gosto do primeiro gole de uísque descendo rasgando a garganta, depois de uma semana desgraçada. Uma risada alta num dia pesado. A sensação de estar indo bem em uma prova que você se fodeu para entender o conteúdo. Mas nenhuma dessas porras chega perto do que eu tô sentindo agora. Porque ouvir dizendo que precisa de um mísero espaço para permanecer na minha vida, que gosta e me ama, com um vestido vermelho e olhos brilhantes é como estar em um paraíso. Um paraíso que eu achei que nunca fosse pisar. Merda, como foi bom ouvir dela... ouvir da boca dela toda aquela declaração, com aquele tremor leve na voz, como se ela tivesse medo e coragem ao mesmo tempo. Porra, isso me desmontou.
Os dedos dela sobem pela minha nuca, puxam meu cabelo, apertam meu ombro com uma força que eu nunca tinha sentido. E ao mesmo tempo em que ela me devora, ela me salva. Porque, no meio desse caos que é amar alguém, eu encontrei paz na boca dela. No toque, no jeito que ela se encaixa em mim como se tivesse sido feita pra isso. E talvez tenha sido mesmo.
me tira do eixo, me quebra em pedaços e me reconstrói tudo de novo. Ela me olha como se enxergasse além do meu nome, da minha história, das merdas todas que eu finjo carregar com leveza. E agora, nesse momento, com a língua dela roçando na minha, com o coração batendo tão forte que parece explodir no peito, eu entendo que nada nunca fez tanto sentido quanto isso. Quanto ela. Eu amo essa mulher. Amo o jeito que ela fala, que sorri torto quando quer disfarçar emoção, o jeito que ela me desafia e depois me beija como se quisesse cravar o nome dela na minha pele. E porra, que merda linda é essa de amar alguém e finalmente ser amado de volta.
Como é que eu aguentei viver sem isso, mesmo por alguns dias? Sem esse toque, sem esse olhar, sem esse amor maldito que me destrói e me levanta na mesma intensidade? Eu a seguro como se não tivesse amanhã. Como se o mundo fosse acabar a qualquer momento e essa fosse a última chance de provar do céu que é a boca dela. Ela se joga em mim como se quisesse me atravessar, me habitar, me marcar. A língua dela encontra a minha com sede, com fome, com essa mistura insana de carinho e necessidade. E eu vou junto. Me deixo ir. Porque foda-se o orgulho, foda-se o medo, foda-se o que vem depois. Agora é ela. Só ela.
— Jimin... — ela se afastou por alguns segundos, tentando recuperar a respiração, com os lábios ainda entreabertos e a testa encostada na minha. Os olhos estavam fechados, como se ela precisasse de ar, mas não quisesse se afastar de mim de verdade. — Eu não tô aguentando... Eu preciso de você. Agora.
A respiração dela batia quente contra minha pele e o coração parecia querer pular do peito. Eu olhava pra e só conseguia pensar em como era possível alguém ser tão filha da puta de bonita. O vestido vermelho colava nas curvas dela de um jeito indecente. Cada centímetro daquele tecido parecia um convite direto pro inferno, e eu tava mais do que pronto pra ir sorrindo.
— Vem comigo. — Murmurei, segurando firme a mão dela e guiando em direção ao carro. Ela não questionou. Só me seguiu.
— A gente... a gente vai...? — Ela começou, com uma voz baixa, meio nervosa, meio excitada.
Abri a porta de trás do carro com um sorriso nos lábios e me virei pra ela.
— Já transou no carro? — Perguntei, só pra provocar, dando um sorriso ladino.
Ela arregalou os olhos por um segundo.
— O quê?! Não... nunca. — Murmurou. E aí veio aquele olhar. Aquele misto de vergonha e tesão, com um toque de desafio.
Não consegui evitar a risada baixa, meio rouca.
— Então parabéns, linda. Hoje você vai riscar isso da lista.
Ela arqueou uma sobrancelha, com aquele sorrisinho de canto que me deixava fora de mim, e rebateu, sem perder o tom provocativo:
— De transar num carro ou de transar em um Audi?
Soltei uma gargalhada abafada e a encarei, mordendo o lábio. Meu corpo inteiro reagiu na hora. sabia exatamente o que dizer, o quanto cutucar pra me deixar doido. E o pior (ou melhor), era que ela fazia isso naturalmente, como se nem percebesse o estrago.
— De todas as opções possíveis. Mas já que você tocou no assunto... — puxei ela pela cintura de novo, colando nossos corpos — ...vamos fazer valer o preço do carro, né?
Ela mordeu o lábio pra segurar o riso, mas os olhos diziam outra coisa. Puro desejo.
— Então não me decepcione, Park.
— Não sei fazer isso, amor. — Sussurrei antes de jogar ela no banco de trás.
O banco de trás do carro virou o nosso universo em questão de segundos. Assim que fechei a porta, o som do mundo lá fora sumiu, e tudo que sobrou foi o barulho das nossas respirações aceleradas, dos beijos molhados, da pele deslizando contra pele. caiu no estofado com um riso nervoso, meio embriagado de mim. O vestido vermelho subiu perigosamente nas coxas dela, e eu me ajoelhei entre elas, puxando os tecidos com uma pressa quase desesperada.
— Isso é loucura — ela sussurrou, a voz trêmula, carregada de desejo.
Inclinei o rosto e deixei um beijo lento na clavícula dela, sentindo o corpo inteiro reagir sob o meu toque. Subi até o pescoço, roçando a boca na pele quente e arrepiada, e murmurei:
— Sabe o que é loucura de verdade?
Pausei, soltando uma risada baixa contra a pele dela.
— Você estar gostosa assim, com essa porra desse vestido vermelho… me deixando à beira do surto.
Apertei a cintura dela, roçando minha boca até a curva da mandíbula.
— Porque eu não aguento olhar pra você e não querer te foder por inteiro… te fazer minha. Com força. Com vontade. Até você esquecer o próprio nome e só lembrar do meu.
Ela gemeu baixinho, arrastando as mãos pelo meu peito até chegar na barra da minha camisa. Me olhou com aqueles olhos fodidos de desejo, mordendo o lábio inferior antes de deslizar os dedos por dentro da minha calça. E então me tocou.
Soltei um suspiro arrastado, encostando a testa na dela.
— Olha o que você faz comigo… — sussurrei, ofegante, sentindo os dedos dela envolverem meu pau completamente rígido, dolorido de tesão, pulsando na mão pequena e quente.
— Você tá tão duro — ela sussurrou, surpresa, quase em reverência. —Caralho, Park Jimin. Como você é gostoso.
Soltei uma risada baixa, rouca, o peito subindo e descendo rápido.
— A culpa é sua, baby. A porra dessa roupa. A sua boca. As coisas que você diz. Você nem faz ideia do que estrago que tá causando aqui.
Sem conseguir mais me controlar, deslizei a mão pela coxa dela, sentindo a pele quente e trêmula sob meus dedos, enquanto me masturbava com lentidão. O toque dela era firme, mas provocante. Uma tortura deliciosa. Cada movimento da mão dela fazia meu corpo inteiro contrair, como se cada centímetro da minha pele estivesse em combustão.
Empurrei o tecido do vestido até ter espaço pra alcançar a calcinha. Não tirei. Só afastei pro lado, com pressa, com fome, com a urgência de quem já esperou demais.
E ali estava ela. Molhada. Tão fodidamente molhada que eu quase gemi alto.
— Caralho, … — murmurei, passando os dedos com delicadeza, provocando. — Você tá escorrendo por mim. Tá sentindo isso?
Meus dedos roçaram o clitóris devagar, depois em círculos, enquanto eu sentia a mão dela acelerar no meu pau. Ninguém falou nada. Mas tava ali — uma tensão não dita, uma disputa de quem enlouquecia o outro primeiro. Ela gemeu alto, o quadril se movendo contra minha mão, me dando mais espaço, mais liberdade.
Então eu a penetrei com dois dedos, de uma vez só.
E o gemido que escapou da boca dela me fez perder o fôlego. As mãos dela se moviam mais rápido, firme em torno do meu pau, me arrancando gemidos baixos. Quase uma provocação, um desafio silencioso.
— Isso, caralho… assim — ela arfou, apertando os olhos. — Porra, Jimin...
Inclinei o rosto, minha testa encostando na dela, ofegantes, suados.
Meus dedos continuavam dentro dela, indo fundo, deslizando com facilidade por toda aquela lubrificação quente que só aumentava. apertava meu pau com mais força, mais ritmo, e eu comecei a perder o controle.
— Merda... — gemi, jogando a cabeça pra trás. — … porra, eu tô quase gozando só com a sua mão.
Ela soltou uma risadinha entre um gemido e outro, claramente satisfeita com o efeito que tava causando. Mas não dava mais. Meu corpo inteiro gritava por ela.
— Eu preciso te comer — sussurrei, quase suplicando, sentindo os músculos do meu abdômen se contraírem, lutando pra segurar. — Agora. Do jeito que for. Aqui mesmo. Com essa porra desse vestido subido até a cintura.
Soltei os dedos dela devagar, ainda sentindo o calor grudado na minha pele. E quando puxei a calcinha dela pro lado de novo, encarei os olhos dela, completamente dilatados.
Ela me empurrou de leve contra o banco, os olhos fixos nos meus. Sem dizer uma palavra, subiu no meu colo com a confiança de quem sabia exatamente o que queria — e era eu.
Toda ela tremia, mas não hesitava.
Segurou meu ombro com uma mão, a outra guiando meu pau até a entrada dela.
E quando encaixou… porra. Precisei de alguns segundos para me recuperar da sensação quente, fodida, de que era estar dentro daquela mulher.
Deixei um gemido escapar, rouco, arranhado, quase um grito engolido.
— Caralho... — sussurrei, afundando as mãos na bunda dela, puxando pra mais perto, mais fundo. — Você tá tão molhada, tão quente, tão gostosa...
Ela começou a se mover devagar, rebolando com calma, completamente no controle de tudo. Minhas mãos subiram, agarrando os seios dela por baixo do vestido, sentindo os mamilos duros contra meus dedos.
Ela começou a acelerar.
O quadril dela subindo e descendo com mais força, mais urgência, os gemidos ficando mais altos, mais desesperados.
O som do nosso sexo ecoando pelo carro, indecente, molhado, perfeito.
— ... — gemi, apertando o quadril dela com força, guiando o movimento, ajudando, querendo mais — você vai me fazer gozar assim...
Ela soltou uma risada curta, entre gemidos.
Suada, descabelada, com o vestido completamente fora do lugar e os olhos brilhando como se estivesse em transe.
— Então goza. Dentro de mim.
Aquilo quebrou qualquer controle que eu ainda fingia ter.
Me inclinei pra frente, envolvi um dos seios dela com a boca, chupando com força, enquanto as mãos puxavam a bunda dela contra mim, batendo, gemendo, falando palavrão no ouvido dela.
— Você é minha... porra, você é minha.
Ela rebolava mais rápido, mais forte, e de repente o corpo dela estremeceu.
— Jimin! — Gemeu, as unhas cravando nos meus ombros, enquanto gozava em cima de mim, se apertando ao redor do meu pau.
Eu não aguentei. O calor, o aperto, o som dela… tudo explodiu de uma vez.
Grunhi alto, quase um rosnado, segurando o quadril dela com força e gozando fundo, inteiro, dentro dela.
O carro inteiro parecia balançar, mas o silêncio veio rápido. Só os nossos corpos ainda ofegantes, colados, suados.
O cheiro do sexo preenchendo o carro, e os nossos risos abafados começando a escapar no meio da bagunça.
deixou a testa cair no meu ombro, rindo baixinho.
— Isso foi... — ela tentou, mas a frase morreu ali, afogada no riso.
— Delicioso. — completei, rindo junto, com a cabeça encostada no banco. — Mas, tenho que confessar que foi insano.
caiu contra meu peito, ainda montada em mim, o corpo quente, a pele grudando na minha.
A testa dela repousava no meu ombro, e eu passava a mão pelas costas nuas dela, num carinho lento, quase inconsciente.
— Isso foi loucura… — ela sussurrou, com um riso abafado.
— A melhor loucura da minha vida — respondi, ainda tentando recuperar o fôlego.
Ela ergueu o rosto devagar, os olhos brilhando, e me deu um beijo leve, preguiçoso, como se estivesse saboreando o gosto do momento.
— Você tá todo... — ela olhou pra baixo e deu uma risadinha, sem nem terminar a frase.
— Você também não tá muito apresentável não, viu — murmurei, deslizando os dedos pela coxa dela até onde o vestido subia demais. — Mas ainda assim, é a coisa mais linda que eu já vi.
— Jimin... — sussurrou, com a voz mais baixa, quase hesitante. — Eu posso te dizer uma coisa?
Segurei o rosto dela com as duas mãos, puxando pra perto, pra que ela visse nos meus olhos.
— Claro, linda. Fala comigo.
Ela respirou fundo, e mesmo ainda com as bochechas coradas, os olhos vidrados em mim, falou com uma firmeza que me atingiu no peito.
— Eu amo você. De verdade.
O mundo parou por um segundo. Sério. O tempo ficou mudo.
Eu só conseguia olhar pra ela, tão linda, tão fodidamente entregue, sentada em mim como se sempre tivesse pertencido ali.
— Repete. — pedi, num sussurro rouco, a testa colada na dela. — Diz de novo, só pra eu ter certeza que ouvi direito. Eu sei que eu já tô sendo chato, mas...
— Eu te amo, Jimin.
Soltei um suspiro carregado, tipo um alívio, tipo um grito que ficou preso dentro de mim por tempo demais.
— Porra, . — Murmurei, colando nossos lábios num beijo urgente, quase desesperado. — Eu também te amo. Desde antes de saber que isso aqui era amor.
Beijei o rosto dela, os olhos, a boca, o pescoço — como se fosse minha primeira chance e também a última.
— Você é minha, . Não tem mais volta.
Ela sorriu contra minha boca, com aquele brilho que acabava comigo.
—Eu sou sua, meu amor.
Tem coisa melhor do que isso? Sério. Porque se tiver, eu nunca experimentei — e olha que eu já vivi muita merda boa nessa vida.
tava deitada no meu peito, desenhando círculos imaginários com a ponta dos dedos, como se tivesse todo o tempo do mundo. E talvez tivesse mesmo. Porque ali, com ela grudada em mim, eu não precisava de mais nada. Ela tava confortável, tranquila, com aquele sorrisinho de canto que sempre ferrava comigo. E, puta que pariu, era como se eu tivesse inalado gás do riso.
Sabe aquele momento em que a risada vem do nada, sem motivo? Que você fica rindo à toa, parecendo um idiota? Então. Era isso. Só que a causa do meu surto era o sorriso dela. Bastava ela sorrir, e eu já tava doidão, leve, feliz. Como se tivesse tomado uns cinco balões de gás do sorriso da e tivesse flutuando em cima da porra do mundo.
Eu sorria de volta sem nem perceber. Meu rosto se mexia sozinho. Tipo: “olha lá o idiota apaixonado”.
E eu era mesmo. Com orgulho.
— Sabe o que é mais engraçado? — ela murmurou, com aquele tom leve, debochado, que me fazia querer puxar ela pra mais perto, só pra ver onde isso ia dar.
— Hm?
— A Jisoo meio que me ajudou nisso tudo.
— Como assim? No vestido?
— No vestido, na coragem, no plano todo. Mas não pergunta como, tá? Segredo de amigas.
Revirei os olhos divertido.
— Como assim “segredo de amigas”? Que merda é essa? Vocês tavam tramando pelas minhas costas?
— Talvez… — ela disse, rindo.
—Reveja suas amizades, linda. —Eu disse na brincadeira, mexendo nos cabelos de —A Jisoo não bate bem da cabeça.
— Bobo — ela disse, se ajeitando melhor, agora traçando uma linha invisível até meu ombro. — Ela só... me lembrou que eu tinha que ir atrás do que eu queria. E que, se eu continuasse esperando o momento perfeito, eu ia perder tudo.
— Ela disse isso mesmo?
— Entre taças de vinho e alguns chocolates. Sabe que ela é viciada, né?
— Vocês estavam bêbadas?
— Talvez.
— Isso explica você aparecendo com aquele pedaço de pano indecente e me fodendo com três palavras.
Ela riu alto, e eu juro que o som da risada dela fez meu peito esquentar.
— Você gostou?
— , se eu pudesse, moldava aquela roupa no seu corpo e mandava emoldurar. Aquele negócio me fez perder o juízo.
Ela ergueu a cabeça e me olhou com aquele brilho nos olhos, travessa.
— Você já não tinha muito juízo, gatinho.
— E você acabou de destruir o restinho que eu tinha.
— Jimin…
— Hm?
— Eu tô com medo. De como tudo isso me faz bem.
Beijei o canto da boca dela, devagar.
— Não precisa ter medo. Eu também tô com o coração na mão, mas, pela primeira vez, ele tá batendo no lugar certo.
Ela sorriu, e quando eu a puxei pra mais perto, abraçando forte, senti que nada mais no mundo importava.
Porque ali, no silêncio do meu quarto, com nossos corpos colados e o coração dela batendo perto do meu, tava tudo certo. Tudo certo pra caralho.
“Não consigo apontar a hora, o lugar, o olhar ou as palavras que lançaram a base. Foi há tempo demais. Eu já estava no meio disso tudo antes de perceber que havia começado.” — Jane Austen, Orgulho e Preconceito
Acordar ali, com o corpo encaixado no dele, a pele quente contra a minha, o som da respiração tranquila dele no meu ouvido, era como existir dentro de um sonho bom que se recusa a terminar. Era cedo, mas meus olhos já estavam abertos há um tempo, observando os detalhes da cena que se repetia em câmera lenta no meu peito — a forma como o braço dele pesava com carinho sobre a minha cintura, os dedos entrelaçados aos meus, o calor da presença dele me cobrindo mais do que qualquer coberta. E eu só conseguia sorrir. Porque eu tinha dito que amava ele e, depois disso, o sexo explodiu como se fosse a porra de uma bomba de hidrogênio. E não era mais segredo, nem medo, nem confusão — era amor mesmo, simples, bonito, leve, morando nele e agora, finalmente, morando em mim também. Me senti viva, inteira, como se todas as partes quebradas dentro de mim tivessem se juntado no exato momento em que ouvi ele sussurrar que também me amava, enquanto passava as mãos desesperadas pelo meu corpo, praticamente sedento por minha pele.
Eu queria poder engarrafar aquilo, guardar em um potinho, deixar na estante pra abrir sempre que o mundo lá fora ficasse barulhento demais. Queria eternizar aquele exato momento, em que a vida parecia caber entre os lençóis amassados e o peito dele, onde meu mundo agora morava. A pele dele tinha um cheiro que eu reconheceria até de olhos fechados — uma mistura de sabão, calor e alguma coisa que era só dele, só minha também, agora. Passei a ponta dos dedos devagar pela clavícula dele, depois pelo queixo, desenhando cada pedacinho como se pudesse decorar, como se quisesse garantir que aquilo era real, que ele tava mesmo ali, dormindo com aquele meio sorriso nos lábios, como se sonhasse com alguma coisa boa.
— Isso faz cócegas… — a voz dele saiu rouca, arranhada pelo sono e pelo tanto de gemido que tinha escapado dele durante a noite.
Sorri sozinha. Continuei passando os dedos pela clavícula dele, só de implicância. Ou, talvez, um novo vício havia sido descoberto.
— E se eu disser que é de propósito? Você tem um trapézio quase perfeito. Isso é excitante pra cacete.
Ele abriu um olho só, me olhando com aquela cara amassada de sono que eu achava a coisa mais linda do mundo. Tinha uma covinha preguiçosa no canto do sorriso.
— Tarada — murmurou, puxando meu corpo mais pra perto, até colar meu peito no dele. — Não satisfeita com o que a gente fez a noite toda?
— Eu só tava te admirando, seu convencido.
— Aham. — Ele beijou minha testa, depois meu nariz, depois ficou ali, com a boca colada na minha pele por uns segundos. — Meu Deus, eu tô morto. Literalmente sem força. Acho que você me drenou até a alma.
— Isso é um elogio?
— É uma denúncia — ele riu baixinho. — Mas uma denúncia feliz. Aliás… — ele bocejou, escondendo o rosto no meu pescoço — O que você quer comer? Precisamos repor nossas energias.
— De comida ou de você?
Ele soltou um suspiro dramático, rolando de barriga pra cima.
— , como você consegue pensar em sexo agora? Você por acaso é uma máquina?
— Uma máquina movida a você, talvez.
Ele riu, passando a mão pelo rosto.
— Tá, sério agora… tem arroz, tem kimchi, tem uns tteokbokki congelados, mas eu posso pedir qualquer coisa. Só me promete que vai usar roupas porque se você aparecer na cozinha daquele jeito de novo, fodidamente sexy, eu vou acabar te jogando em cima da pia. —Ele deu um sorriso canalha —E tenho chances de falhar miseravelmente porque, bem, minha perna está fraca. Eu nunca tinha transado tanto a ponto de me dar cãibras. Você tem noção disso?
— Isso é o que dá subestimar minha resistência.
Ele riu, aquele riso rouco e quente que fazia meu peito derreter, e me puxou de leve pela nuca, colando os lábios nos meus em um beijo preguiçoso, gostoso, cheio de carinho.
Quando se afastou, encostou a testa na minha e sussurrou, com a voz ainda meio arrastada:
— Ah, quase ia me esquecendo… bom dia, meu amor.
Sorri, completamente entregue.
— Bom dia, meu amor.
Levantar foi um desafio quase cômico. Jimin reclamou das pernas como se tivesse corrido uma maratona, e eu ri, claro — não com muita empatia, já que ele mesmo tinha causado isso. Ele foi atrás de mim até a cozinha, de camiseta larga e cabelo bagunçado, e parecia injustamente bonito daquele jeito relaxado.
Jimin mexia o arroz na panela com uma concentração quase cômica, franzindo o cenho, como se aquilo fosse um experimento de laboratório.
— Sabe que quando eu era pequeno, achava que arroz pronto era mágica? Tipo, você coloca um negócio duro na água e ele vira comida. Minha avó ria toda vez que eu falava isso.
— A sua avó ria de tudo que você fazia. — encostei o queixo no ombro dele, sorrindo. — Inclusive quando você colocou arroz no meu sapato “pra ver se ele crescia”. Você sempre foi mimado por ela.
— Que mentira! — Ele me olhou incrédulo, com a colher ainda parada no ar. — Tá, talvez um pouco. Mas eu era fofo, não era?
— Fofo e completamente maluco. — ri, mordendo um pedaço de melancia. — Você também achava que se colocasse fita no nariz, ele ia ficar mais fino.
— E você colocou fita junto comigo! — ele apontou, fingindo ofensa. — Era cúmplice, não adianta se fingir de vítima.
— Cúmplice nada. Eu só não queria te deixar sozinho na sua maluquice.
— Hm, claro. — Ele se aproximou, roubando um pedaço da minha fruta com os dedos e levando à boca. — Você adorava minhas maluquices. E ainda adora, vai...
— Talvez eu adore mesmo. — Murmurei, encostando a testa na dele com um sorriso preguiçoso. —Inclusive, transar dentro de um carro é o top 1 de todas elas, só para constar. — Acrescentei com um sorriso safado, encostando a testa na dele.
Jimin riu baixinho, aquele riso rouco de quem ainda tava com a memória fresca do que aconteceu na noite passada.
— Eu deveria me preocupar que essa seja sua referência de maluquice favorita? — Ele arqueou uma sobrancelha, me puxando pela cintura até sentar no banco da cozinha, me encaixando no colo dele com a maior naturalidade do mundo. —Não sei se já pensei em ficar com alguma ninfomaníaca, antes.
— Você que devia se orgulhar. — Dei um beijo leve no pescoço dele. — Poucos têm essa criatividade toda.
— Criatividade, é? — Ele mordeu o lábio, fingindo pensar. — Isso porque você não viu a ideia que eu tive pra hoje à tarde.
— Aí vamos nós de novo com esse mistério. — Revirei os olhos, mas com o coração rindo por dentro. —Sabe que eu não gosto de surpresas.
— Você também dizia que não gostava de relacionamentos adocicados, e olha só agora. — ele ergueu as sobrancelhas, convencido, e me roubou mais um pedaço de fruta, como se isso reforçasse o argumento.
— Presunçoso. — Murmurei, mas já rindo.
— Realista. — Ele piscou, apoiando o queixo no meu ombro. — Mas relaxa, não é nada maluco. Nem envolve carro nenhum… não dessa vez. Mas, se quiser usar outros elementos que tenham lá, eu não vou reclamar. Meus fetiches agradecem.
— Jimin! — Bati de leve no braço dele, indignada e rindo ao mesmo tempo. — Nós temos uma reputação a zelar, sabia?
— Ah, mas elas estão em boas mãos. — Ele respondeu, a voz mais baixa agora, com um carinho que me fez querer ficar ali pra sempre. — Confia em mim, vai? Só hoje. Prometo que vai ser o tipo de surpresa que você vai querer repetir.
— Hm… tá bom. Mas só porque você fez um café da manhã incrível. E porque seu cabelo tá fofinho. — Fiz um carinho bagunçado nos fios lisos e pretos.
— Sabia que seu ponto fraco era meu cabelo. — Ele sorriu vitorioso. — E depois sou eu o mimado pela vó.
— Você é o mimado da vó. E meu também, se continuar me tratando assim. —Completei, rindo baixo, enquanto ele colocava as duas mãos na cintura, daquele jeitinho convencido que só ele sabia fazer.
— Ah, então eu sou realmente seu agora? — Ele arqueou uma sobrancelha, se aproximando devagar, com aquele sorriso de canto que já vinha com manual de instrução pra desestabilizar o emocional.
— Sempre foi. — Respondi, dando de ombros, como se não tivesse acabado de jogar uma bomba emocional com a maior tranquilidade do mundo.
Ele parou por um segundo, só me olhando. A expressão mudou, ficou mais suave. Como se ele tivesse ouvido uma música que ele amava e não ouvia há anos.
— Tá... é oficial. — ele murmurou, puxando minha mão devagar e beijando meus dedos com cuidado. — Eu vou ter que fazer algo muito bom hoje. Pra ficar à altura disso. — Espero que você saiba que você já é o suficiente só por existir do meu lado.
A tarde chegou devagar, tingindo o céu com tons de laranja e dourado, enquanto eu tentava processar que, pela primeira vez, eu estava realmente vivendo aquelas coisas que casais fazem nos filmes — e, não, não tô falando só do beijo na chuva ou daquelas promessas dramáticas. Falo do pacote completo: transamos mais uma vez (mesmo sob protesto de Jimin que insistia em dizer que não aguentava, mas o canalha era mais fácil do que eu pensava. Não conseguia negar fogo), tomamos banho juntos — o que teoricamente era pra ser algo rápido, mas acabou virando outra sessão de beijos, risadas e uma guerra de espuma que deixou metade do banheiro parecendo um cenário de desastre natural.
Depois disso, nos aventuramos a cozinhar o almoço juntos, e por “aventuramos” eu quero dizer: quase incendiamos a cozinha tentando fazer diversas proteínas, já que o Park dizia que tava fraco, que precisava de alimento real, que mal sentia as pernas e que o corpo dele era agora uma extensão do meu — e, com todo respeito ao romance fofinho, eu só conseguia rir enquanto ele se apoiava no balcão como se tivesse subido o Monte Everest.
— Eu li uma vez que o recorde mundial de… você sabe… é tipo vinte vezes num dia. — falei casual, como se estivesse comentando sobre o clima.
Jimin parou no meio do movimento, os hashis no ar, me olhando como se eu tivesse dito que ia invadir o pentágono.
— Vinte? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Quem foi esse ser mitológico? Um guerreiro lendário?
— Um cara chamado Horst Schulz, se não me engano. Anos 80, acho. Um cientista mediu. Foi tipo… por motivos acadêmicos, claro. — Dei de ombros, fingindo seriedade.
— Horst Schulz? — Ele repetiu, rindo. — Como que alguém se sujeita a esse tipo de coisa? Morrer fazendo sexo? Masoquismo, será?
— Pois é, talvez eu devesse me inspirar nele. Virar a Schulz feminina.
— Não, obrigado. — Ele estendeu a mão na direção da minha cintura e me puxou de leve, com aquele sorriso derrotado. — Uma Schulz já é mais do que meu corpo consegue aguentar.
— Fraco. — Provoquei.
— Inocente. — Ele retrucou, com os olhos brilhando de riso. — Só tô tentando sobreviver à Einstein do Caos. Mas se quiser quebrar mais algum recorde depois do almoço… me dá só uns vinte minutos.
— Te dou trinta. Sou generosa.
Fizemos tudo rindo. E isso era novo pra mim. A leveza, o depois. O depois do “eu te amo”, o depois do sexo, o depois do banho… o depois de tudo. Porque com ele, até o silêncio parecia uma conversa boa.
E agora, enquanto ele me puxa pela mão com aquele olhar cheio de mistério, dizendo que "a hora chegou", eu só consigo pensar que se todas as surpresas forem assim, talvez eu aprenda a gostar delas.
O carro seguia por uma estrada familiar, mas o caminho já não era o mesmo de antes — ou talvez eu é que tivesse mudado, porque tudo ao redor parecia mais bonito. Jimin dirigia com uma mão só no volante, os dedos da outra entrelaçados aos meus desde que saímos de casa. O sol da tarde tocava o rosto dele de um jeito quase cinematográfico, e por um instante, tive vontade de congelar aquele momento e viver ali pra sempre.
No rádio, uma música antiga tocava baixinho, daquelas que a gente costumava cantar juntos no ensino médio só pra irritar os professores. E claro que ele começou a cantar alto, com a voz rouca e sem o menor pudor.
— “Tell me whyyyyy—”
— Jimin, se você cantar Backstreet Boys no volume máximo de novo, eu juro que vou pular do carro em movimento. — Brinquei, tentando manter a seriedade, mas já rindo.
— Vai nada. Você me ama demais pra isso. — Ele sorriu convencido e apertou minha mão. —E eu canto bem, ok?
— Talvez... — fiz charme, virando o rosto pra disfarçar o sorriso.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, só ouvindo a música, com aquela paz confortável que só existe entre quem se conhece há muito tempo. Mas claro que minha curiosidade logo voltou com força total.
— Tá, agora você vai me dizer pra onde a gente tá indo. — falei, me inclinando pra frente, tentando espiar o GPS. — Você tá me deixando nervosa com esse mistério todo. E eu ainda não gosto de surpresas, lembra?
— Confia em mim. — Ele riu, tirando o celular do suporte pra que eu não visse. — Você vai gostar.
— Isso é o que todo homem misterioso diz antes de levar a garota pra um lugar esquisito. Tipo... um matagal. Ou um parque temático com palhaços.
— Palhaços? Sério? — Ele me lançou um olhar indignado. — Eu sou muito mais criativo que isso, .
— Então fala logo. Vai, só uma dica.
— Não. — Ele negou, divertido. — Mas eu deixo você tentar adivinhar. Três tentativas.
— Hmm... cinema?
— Não.
— Algum restaurante novo?
— Frio. Nossa, você é péssima de palpites.
— Ah! Vamos pular de paraquedas?
— Eu te amo, mas você acha MESMO que eu ia conseguir pular de um avião com essas pernas aqui? — Apontou pro próprio joelho, ainda com o drama do pós-sexo. — Mal consigo subir escada hoje.
— Verdade. Você é um idoso sexy, mas um idoso.
— Ei!
Caímos na risada de novo, e logo o clima foi ficando mais calmo, mais suave. A cidade foi ficando pra trás, as árvores aumentando ao redor da estrada, o som do motor se misturando à brisa da tarde.
E então, finalmente, ele reduziu a velocidade e virou à direita, entrando por um caminho de terra.
Meus olhos arregalaram na hora.
— Jimin... isso é...?
— A nossa antiga escola. — Ele confirmou com um sorriso nostálgico.
O portão enferrujado ainda estava ali, entreaberto, como se tivesse esperando pela gente esse tempo todo. O prédio estava igual e completamente diferente. Um paradoxo, eu sei. O tempo tinha feito seu trabalho — as paredes descascadas, os azulejos rachados, as janelas cobertas de poeira. Mas havia algo ali que resistia ao tempo. Talvez fossem as lembranças. Ou talvez fosse o fato de estarmos juntos de novo, voltando ao ponto de partida como se tudo tivesse sido planejado desde sempre.
— Meu Deus... — sussurrei, passando a mão pelos azulejos do corredor principal. — Eu tinha esquecido do cheiro disso aqui. É tipo... giz velho, suor e infância.
— E merenda duvidosa. — Ele completou, rindo.
— Aquele suco roxo que parecia combustível de foguete. — Eu gargalhei.
— E os bolinhos de arroz que você odiava. — Ele olhou pra mim com aquele brilho nos olhos, cúmplice. — Eu sempre comia os seus.
— Só porque queria impressionar. — Zombei.
— E funcionou. — Ele piscou, passando por mim e abrindo a porta da antiga sala do 3º ano.
O sol da tarde entrava pelas janelas tortas, iluminando partículas de poeira no ar. A sala estava vazia, mas bastou um segundo pra memória preencher cada canto. As carteiras, os cartazes coloridos, a professora com o coque sempre torto. E ali, no fundinho da sala, a nossa antiga dupla de carteiras, lado a lado como sempre.
— A gente era insuportável. — Falei, me sentando ali com um suspiro. — Não deixava ninguém copiar a lição, e você dava cola pra sala inteira.
— Eu era democrático. — Ele deu de ombros. — Você, elitista. Se achava porque era filha dos cientistas e sabia matemática como se fosse uma porra quase inata.
— Ei! — Empurrei o ombro dele de leve. — Só valorizava meu trabalho.
Ele riu, e por um instante, o tempo realmente voltou. Era como se ainda fôssemos crianças, sem cicatrizes, sem medos, só com os corações batendo alto por uma amizade que a gente ainda não entendia.
Jimin abaixou-se, abrindo a mochila e tirando um envelope pequeno, já amarelado.
— Tem uma coisa que eu nunca te mostrei. — Ele disse, meio tímido.
— O quê...? — Franzi a testa, curiosa.
Ele me entregou com cuidado, como se fosse uma relíquia. Quando abri, a caligrafia dele — ainda meio torta e espaçada — fez meu coração dar um pulo.
"Quer ser minha amiga?"
Abaixo da pergunta, um quadradinho escrito “sim” e outro “não”, com corações ao redor. Um bilhetinho simples, infantil. Mas que nunca tinha chegado até mim.
— Eu escrevi isso no primeiro dia em que vi você. — Ele disse, passando a mão pela nuca, nervoso. — Mas fiquei com vergonha. Então guardei.
— E guardou até hoje...? — Minha voz saiu baixa, apertada pelo impacto.
— Era importante. Eu tinha que guardar... porque foi naquele dia que você virou tudo. Mesmo sem saber.
Fiquei olhando pra ele com os olhos marejados, o coração batendo em lugares que eu nem sabia que existiam.
— Se eu tivesse recebido isso na época, teria marcado o “sim” umas dez vezes. — Falei, tentando sorrir, mas a emoção já me engolindo inteira.
Ele sorriu também, tímido, mas com os olhos brilhando.
— Bom... hoje eu trouxe outro bilhetinho. — Ele disse, tirando um segundo papel do bolso, dobrado igualzinho ao primeiro.
Tentei pegar, mas Jimin foi mais rápido, puxando com um sorriso que denunciava nervosismo e carinho, tudo ao mesmo tempo.
— Mas antes, eu preciso dizer umas coisas... — a voz dele ficou mais baixa, quase um sussurro entre nós dois. E, de repente, o mundo lá fora ficou mais longe.
— Eu sei que isso aqui é novo pra você. Esse sentimento... essa entrega... esse amor. Sei que você cresceu aprendendo a se virar sozinha. Que aprendeu a não esperar por ninguém. Que amar, pra você, sempre foi mais perigoso do que bonito. Como andar descalça num chão cheio de cacos — às vezes dá pra seguir, mas sempre sangra um pouco.
Meus olhos já estavam marejados antes mesmo de perceber. Porque era como se ele tivesse invadido minha alma e dito em voz alta tudo aquilo que eu nunca soube explicar.
— Mas porra, ... — ele riu baixinho, meio sem jeito, passando a mão na nuca. — Eu olho pra você e só consigo pensar: que sorte do caralho eu dei. Porque você podia ter ido embora, podia ter continuado fingindo que não sentia nada, podia ter me deixado pra trás... mas não. Você ficou. Você escolheu ficar.
Ele deu um passo mais perto. Meu peito já era só um nó.
— Você é difícil. É teimosa. Fecha a cara por nada e fala com os olhos antes da boca. Mas é exatamente isso que eu amo. Eu amo o jeito que você tenta não demonstrar que se importa, mas se importa pra caralho. O jeito que finge ser forte o tempo todo, quando na real tá só tentando não desmoronar. Eu amo cada pedaço seu — até os que você acha que ninguém aguentaria. Porque aguentar você não é um peso. É um privilégio.
Ele abriu o papel, tremendo um pouco. E eu já tava chorando.
"Fica comigo? Não só hoje. Nem só nos dias bons. Fica comigo quando você quiser gritar, quando achar que amar é uma merda e que fugir seria mais fácil. Fica mesmo assim. Eu seguro tua mão. Eu espero tua raiva passar. Eu te amo até quando você não consegue se amar. Só… fica."
Abaixo, dois quadradinhos:
☐ É claro que sim.
☐ Tô pensando... mas já te amo.
Ele levantou os olhos, com aquele sorriso torto, quase tímido, mas cheio de coragem.
— Então, ... namora comigo? Não desse jeito certinho que o mundo espera, mas do nosso jeito. Bagunçado, intenso, meio louco, caótico como você… mas, de verdade.
Eu fiquei em silêncio, sentindo o peso das palavras dele, como se cada sílaba tivesse um peso imenso, uma carga que eu não sabia como carregar. Ele estava ali, olhando para mim, com um olhar tão vulnerável e forte ao mesmo tempo, que me fez querer encolher de tanta intensidade.
Eu vi a mão dele tremendo, ele estava esperando por algo que eu nem sabia como responder. Como é que você responde a uma declaração dessas, quando seu coração está batendo em um ritmo atípico? Quando você nunca soube como deixar alguém entrar tanto assim na sua vida e, de repente, essa pessoa se torna tudo?
Eu olhei para ele, tentando conter as lágrimas que já caíam desesperadamente pelo meu rosto. Porque, merda, ele estava certo. Ele me fez sentir coisas que eu nem sabia que poderia sentir. Ele me fez olhar para o amor como algo que não era apenas uma palavra, mas uma construção. Algo que não precisava de pressa, mas da verdade. Eu queria gritar, mas as palavras estavam presas. Porém, olhando aqueles olhos, foi que eu percebi.
Não precisava de argumentos ou explicações.
Eu só me aproximei, as mãos trêmulas, e toquei o rosto dele. Porque, sim, eu sabia. Ele era meu. E eu era dele, de uma maneira que eu nunca soube entender.
— Eu te amo, Jimin. — As palavras saíram mais suaves do que eu imaginei, mas com a verdade que eu sempre quis esconder. Eu encostei minha testa na dele, fechando os olhos, tentando respirar como se isso fosse o suficiente para me manter calma. — Sim. Eu vou ser sua, porque sempre fui. Mas, agora é de um jeito que ninguém mais entende, porém do meu jeito. — E com isso, eu o beijei.
E aquele beijo foi minha resposta. Foi nossa resposta. A resposta que não precisa de explicações, só de uma alma que finalmente encontrou a outra.
E eu soube naquele momento que as palavras, por mais que fossem bonitas ou poéticas, nunca seriam suficientes para descrever o que eu sentia por ele.
Continua...
Nota da autora: Oie, amigas! 💜
Se vocês chegaram até aqui, primeiro: um abraço apertado. Segundo: obrigada por confiarem nessa história e sentirem tudo com o coração tão aberto. Estou sentimental, porque estamos chegando ao fim. 🥹
E, sobre esses capítulos… Eles são sobre o amor que não precisa gritar, mas que fala — e fala bonito. Anne e o Jimin, do jeitinho torto e único deles, estão aprendendo a falar a mesma língua. E escrever esse momento foi como abrir o peito e deixar o coração bater em voz alta. Eu sorri, suspirei, e sim, também chorei (sou dessas). Porque às vezes a gente não precisa de grandes declarações... só de alguém que olhe pra gente e diga: “tô aqui, mesmo quando você não souber como pedir.”
Obrigada por viverem essa história comigo.
Nos vemos no próximo capítulo que, sim, promete mais e mais desse casal.
Com amor,
Ray
Se vocês chegaram até aqui, primeiro: um abraço apertado. Segundo: obrigada por confiarem nessa história e sentirem tudo com o coração tão aberto. Estou sentimental, porque estamos chegando ao fim. 🥹
E, sobre esses capítulos… Eles são sobre o amor que não precisa gritar, mas que fala — e fala bonito. Anne e o Jimin, do jeitinho torto e único deles, estão aprendendo a falar a mesma língua. E escrever esse momento foi como abrir o peito e deixar o coração bater em voz alta. Eu sorri, suspirei, e sim, também chorei (sou dessas). Porque às vezes a gente não precisa de grandes declarações... só de alguém que olhe pra gente e diga: “tô aqui, mesmo quando você não souber como pedir.”
Obrigada por viverem essa história comigo.
Nos vemos no próximo capítulo que, sim, promete mais e mais desse casal.
Com amor,
Ray
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