Codificada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 17/05/2025.Enquanto seus amigos riam e conversavam animadamente, sentou-se em silêncio, observando as luzes piscantes e a multidão dançando ao som da música alta. Ele se sentia como um peixe fora d'água, ansiando pela calma e pela beleza da arte, longe da agitação da balada.
Distraído pelos seus pensamentos, pegou o celular no bolso e começou a folhear algumas fotos que tinha tirado recentemente. Cada imagem capturava um momento único, uma emoção palpável congelada no tempo. Ele se perdeu na profundidade das cores e na composição das imagens, encontrando consolo na familiaridade de sua arte.
Enquanto isso, um grupo de pessoas se aproximou da mesa, convidando os amigos de para se juntarem a eles na pista de dança. Ele observou-os se levantarem com entusiasmo, prontos para se juntarem à festa, enquanto ele preferia ficar onde estava, perdido em seu próprio mundo de pensamentos e inspiração.
Sem querer se afastar completamente da diversão, decidiu pegar seu celular e começar a capturar algumas imagens da balada. Ele se levantou silenciosamente, deslizando pela multidão com um olhar atento, procurando por momentos que capturassem a energia e a vibração do ambiente. Com cada clique, ele se sentia mais conectado à sua arte, encontrando beleza até mesmo na agitação da balada.
caminhou pela pista de dança, seu olhar atento buscando ângulos interessantes e momentos efêmeros para capturar com seu celular. Ele fotografou a energia contagiante dos dançarinos, os flashes de luzes coloridas e até mesmo os detalhes sutis das expressões faciais das pessoas ao seu redor. Cada clique era uma tentativa de congelar a atmosfera vibrante da balada, transformando-a em arte através de sua lente.
Após alguns minutos imerso em sua fotografia, sentiu-se revigorado pela criatividade e pela inspiração que fluíam dentro dele. Com um sorriso sutil nos lábios, ele decidiu voltar para a mesa onde seus amigos ainda estavam reunidos, compartilhando risadas e histórias animadas.
Ao se aproximar, foi recebido com sorrisos calorosos e gestos amigáveis. Ele se sentou entre eles, sentindo-se mais conectado do que antes, tanto com sua arte quanto com seus amigos. Enquanto continuavam a conversar e aproveitar a noite juntos, percebeu que, mesmo em um ambiente tão diferente do seu habitual, ainda era possível encontrar beleza e significado em cada momento, especialmente quando compartilhado com aqueles que mais importavam para ele.
Enquanto aguardava no bar pela próxima cerveja, notou uma mulher de vestido preto deslizando pela pista de dança. Seus movimentos eram graciosos e cativantes, destacando-se entre a multidão em movimento. Ele não conseguia desviar o olhar, hipnotizado pela elegância e pela energia que ela emanava.
Quando o barman finalmente retornou com sua cerveja, agradeceu, mas seus olhos ainda estavam fixos na misteriosa mulher de vestido preto. Ele não conseguia resistir à tentação de continuar observando-a, sua mente inundada por uma curiosidade crescente.
Enquanto ela dançava, os feixes de luz brilhavam ao seu redor, criando uma aura quase mágica. sentiu-se intrigado pela forma como ela parecia completamente à vontade consigo mesma, perdida em sua própria dança como se fosse a única pessoa na pista.
Mesmo depois de pegar a cerveja, permaneceu parado no bar, sua atenção totalmente voltada para a mulher de vestido preto. Ele se viu cativado não apenas pela sua beleza exterior, mas também pela aura de mistério e confiança que ela exalava. Sem perceber, ele se viu torcendo para que ela continuasse dançando, ansioso para absorver cada momento dessa experiência inesperada.
Enquanto o álcool começava a fazer efeito, decidiu se aventurar pelo ambiente movimentado da balada. Ele se levantou da mesa, sentindo-se um pouco mais confiante do que antes, e começou a se mover pela multidão em direção aos banheiros.
No corredor estreito que levava aos banheiros, sentiu-se um pouco desorientado pela mistura de luzes e sons ao seu redor. De repente, ele se chocou com alguém, quase perdendo o equilíbrio. Antes que pudesse cair, uma mão firme o segurou, ajudando-o a se estabilizar.
Ao levantar os olhos para a pessoa que o tinha ajudado, se deparou com a mulher de vestido preto mais uma vez. Seus olhares se encontraram em um momento de surpresa mútua, seguido por um sorriso cordial dela.
— Desculpe por isso! — ela disse, sua voz suave e calma — Você está bem?
assentiu, sentindo-se um pouco envergonhado pela situação.
— Sim, sim, estou bem. Acho que o álcool está começando a fazer efeito.
Ela sorriu compreensivamente.
— Acontece com todo mundo aqui. Às vezes é difícil navegar por essa multidão.
concordou, agradecendo silenciosamente por sua gentileza.
Eu sou , aliás...
Ela retribuiu o gesto, sem oferecer seu próprio nome:
— Prazer em conhecê-lo, . Eu estava observando você na mesa ali. Gosta de tirar fotos, não é?
Surpreso pela observação dela, acenou com a cabeça.
— Sim, eu sou um professor de educação artística. Adoro capturar momentos.
E assim começou uma conversa animada entre os dois, enquanto continuavam a se apoiar no corredor movimentado da balada. Apesar de não saber os nome da garota, uma conexão espontânea começou a se formar, impulsionada pela magia do momento e pela energia vibrante ao seu redor.
Após algum tempo conversando com a mulher de vestido preto, percebeu que era hora de partir. Ele agradeceu pela conversa agradável e trocou um último sorriso com ela antes de se despedir e se afastar em direção à saída da balada.
Do lado de fora, acenou para um táxi que passava pela rua movimentada. Ele entrou no veículo, sentindo-se cansado, mas satisfeito com a noite inesperadamente interessante que havia tido.
Enquanto o carro se afastava, pegou o celular e viu a entrada recente na lista de contatos. Um sorriso se formou em seus lábios ao ver o nome "Little Black Dress" associado ao número desconhecido.
Ele sabia que aquela noite na balada tinha sido especial, cheia de encontros fortuitos e momentos memoráveis. E agora, com o número de "Little Black Dress" salvo em seu celular, ele mal podia esperar para ver o que o futuro reservava. Com um suspiro de contentamento, recostou-se no banco do carro, ansioso pelas possibilidades que estavam por vir.
chegou à sua boutique, um espaço encantador decorado com toques vintage e peças únicas de roupas e acessórios. Ela foi recebida pelas funcionárias com sorrisos calorosos e cumprimentos animados.
— Ciao, ! Como foi o seu fim de semana? — perguntou Soo-jin, uma das funcionárias mais antigas da loja.
— Oi, Soo-jin! Foi ótimo, obrigada. Espero que o de vocês também tenha sido bom. — respondeu , retribuindo o sorriso.
Enquanto Soo-jin e as outras funcionárias continuavam a trabalhar em suas tarefas, decidiu fazer uma breve reunião para discutir os próximos passos da boutique.
— Meninas, vamos nos reunir rapidamente na sala de reuniões? — chamou , atraindo a atenção das funcionárias.
Elas se reuniram na sala, sentando-se ao redor da mesa enquanto começava a falar.
— Primeiramente, gostaria de agradecer a todas pelo trabalho árduo e dedicação. Estamos fazendo um ótimo trabalho mantendo a boutique em funcionamento e proporcionando aos nossos clientes uma experiência única de compra.
As funcionárias sorriam, encorajadas pelas palavras de .
— Como vocês sabem, estamos nos aproximando da temporada de outono e inverno, então é hora de começarmos a preparar nossa coleção sazonal. Gostaria de ouvir suas ideias e sugestões sobre as peças que gostariam de incluir e as tendências que acham que serão populares...
Durante a reunião, as funcionárias compartilharam suas ideias e opiniões, contribuindo para o planejamento da próxima coleção da boutique. ouviu atentamente, valorizando a contribuição de cada uma delas para o sucesso da loja.
Após a reunião, as funcionárias voltaram ao trabalho, motivadas e inspiradas pela discussão produtiva. sorriu, satisfeita com o progresso feito e animada com o que o futuro reservava para sua boutique de roupas vintage.
Enquanto estava concentrada em revisar alguns papéis no escritório da boutique, seu celular vibrou, indicando a chegada de uma mensagem. Curiosa, ela pegou o dispositivo e deslizou a tela para ver o conteúdo da mensagem. Seus olhos se arregalaram ligeiramente ao ler as palavras:
Oi! Você é a menina de vestido preto que conversou comigo na festa ontem, não é?
ficou momentaneamente surpresa e confusa. Ela não se lembrava de ter conversado com alguém em uma festa recente, muito menos usando um vestido preto. No entanto, sua curiosidade foi instigada pela mensagem inesperada de um número desconhecido.
decidiu responder, digitando cuidadosamente uma mensagem de volta. Ela não conseguia evitar a curiosidade em relação a esse estranho que acreditava tê-la confundido com outra pessoa.
Enquanto digitava, notou que a mensagem incluía uma foto do remetente. Ela observou a imagem com curiosidade e surpresa, achando o desconhecido incrivelmente atraente. Seus olhos se fixaram na foto por alguns momentos, absorvendo cada detalhe.
Depois de uma breve ponderação, decidiu seguir em frente e enviar uma resposta. Sua curiosidade superava qualquer hesitação que pudesse sentir.
Oi! Sim, eu mesma... Mas não me lembro muito bem de ter conversado com você na festa. Como você conseguiu meu número?
franzia o cenho ao perceber a frieza na resposta da moça de vestido preto. Ele encontrava-se um pouco confuso e surpreso com a reação dela, considerando o tom amigável que tinham compartilhado na festa. Mesmo assim, ele decidiu explicar e responder à mensagem:
Conversamos no corredor dos banheiros, sobre arte, museus, poesia, eu acho... Bom, você mesma me deu seu número! Só não me disse seu nome...
Ele digitou as palavras com cuidado, tentando transmitir uma sensação de calma e clareza em sua resposta. Afinal, ele não queria que ela se sentisse desconfortável ou pressionada, apenas queria esclarecer a confusão e reacender a conversa que haviam começado na festa.
Com a mensagem enviada, esperou, ansioso para ver como ela responderia e se eles poderiam continuar sua conversa a partir dali. Ele ainda se lembrava da mulher de vestido preto que o havia intrigado naquela noite, e mal podia esperar para descobrir mais sobre ela.
engoliu seco, sentindo um nó se formar em sua garganta ao perceber que, provavelmente, a tal garota á que ele se referia, havia errado o número de telefone durante a troca na festa, ou talvez ele tenha anotado incorretamente. A possibilidade de uma falha tão simples a deixou um pouco constrangida por ele.
Observando novamente a foto de , notou os interesses em comum que haviam também entre os dois: arte, museus, poesia... Ela sentiu uma pontada de interesse renovado ao perceber que talvez houvesse uma conexão genuína ali, apesar do equívoco inicial.
Com um suspiro discreto, decidiu arriscar e dar continuidade à conversa:
Ah sim! Me lembro, que indelicadeza da minha parte. Me chamo , e você é...? Não me lembro do seu nome e etc.
Ela digitou as palavras, tentando transmitir um tom amigável e descontraído, enquanto esperava pela resposta de . Embora ainda se sentisse um pouco desconcertada pela situação, a perspectiva de conhecer melhor o interessante rapaz que havia mandado aquela mensagem por engano a deixava animada.
Após receber a mensagem de , sorriu, sentindo-se satisfeito por ela ter respondido. Ele decidiu então enviar uma nova mensagem:
Que tal nos encontrarmos para um jantar esta noite? Conheço um ótimo restaurante que serve comida deliciosa e tem uma atmosfera legal... O que acha?
Enquanto aguardava a resposta de , sentia-se animado com a possibilidade de passar mais tempo com ela e aprofundar a conexão que parecia ter surgido entre eles.
Enquanto isso, segurava o celular, sentindo uma mistura de emoções. Por um lado, ela estava intrigada e interessada em passar mais tempo com . Por outro lado, ela se preocupava com a possibilidade de o equívoco em relação ao número de telefone prejudicar a situação.
Após ponderar por alguns instantes, tomou uma decisão. Ela sabia que não era a garota que conversou com na festa, mas ainda assim sentia uma conexão com ele e estava disposta a arriscar.
Com determinação, ela digitou uma resposta:
Claro! Só me dizer o restaurante e o horário...
Ela bloqueou o celular e sentiu o coração acelerar no peito. E se aquilo tudo desse muito errado? “Mas e se desse muito certo?”, pensou ela logo em seguida antes de soltar um sorriso carregado de ansiedade.
O que aconteceria a seguir entre e ?
Pegou alguns brincos discretos e então encarou o laço rosa que pareceu chamar por ela… colocou os brincos e então pegou o laço com as duas mãos. Foi para a frente do espelho e prendeu parte do cabelo para trás usando o laço. Se encarou mais algumas vezes e resolveu que deixaria o laço, havia gostado, ele tinha dado um charme a mais no look. Depois foi se maquiar, optando também por uma maquiagem bem discreta, e então colocou uma música pop para tocar enquanto se maquiava, para distrair a mente.
Depois de pronta, conferiu o horário no celular e então voltou a se olhar no espelho. Avaliou-se mais uma vez e se perguntou como o tal estaria vestido...
Ela piscou algumas vezes pensando: e se ela estivesse vestida totalmente o oposto do que a tal moça do vestido preto estaria vestida? E se ela fosse completamente diferente da garota e percebesse isso ao bater os olhos nela?
Era melhor deixar aquilo quieto, poderia dar muito errado. Ela pegou o celular pronta para mandar uma mensagem para o desconhecido, mas quando abriu a conversa dele no Kakao Talk, ele começou a digitar. Talvez ele mesmo fosse cancelar, então esperou.
"Já estou saindo, tem certeza que não quer que eu te busque?" e logo em seguida ele enviou uma selfie dele dentro do carro.
abriu a foto e encarou o rosto simétrico e bonito de , que sorria para a foto sem mostrar os dentes, a baixa luz do carro evidenciava o quanto os lábios dele eram rosados. umedeceu os próprios lábios enquanto encarava a foto.
Não era justo cancelar tão em cima da hora não é? A cabeça dela conflitava pesadamente entre: arriscar e ir nesse encontro correndo o risco dele descobrir toda a verdade e acabar tratando-a muito mal ou cancelar tudo correndo o risco de perder a oportunidade de conhecer alguém incrível... não necessariamente de forma romântica, ou sexual, mas uma grande amizade poderia nascer ali independentemente das intenções de , não é?
fechou os olhos respirando fundo e então quando soltou o ar pela boca, abriu os olhos decidida.
"Nos encontramos lá. Já estou chamando meu carro aqui, não se preocupe." e finalizou a mensagem com um emoji de uma carinha piscando.
estacionou o carro em uma das últimas vagas do estacionamento do local e então caminhou até a entrada do mesmo. Resolveu que esperaria por lá na porta, para que ela não se sentisse constrangida por ter que entrar sozinha e procurar por ele no bar.
De repente sentiu as mãos começarem a suar assim que esfregou as palmas das mesmas uma na outra. Como seria aquele encontro agora que os dois estavam sóbrios? Pelo menos na primeira hora... será que ela gostaria dele sem muita bebida no cérebro? As mãos suaram ainda mais.
E se ela o achasse desinteressante, massante, feio, chato ou sei lá... umedeceu os lábios ficando nervoso. Ele não ia há encontros fazia muitos anos e só agora com a adrenalina tomando conta de seu corpo ele pensou que não sabia muito bem como agir em situações como aquela.
não queria estar bêbado outra vez para falar com ela, ele queria se lembrar nitidamente daquele momento. Mas e se ele só conseguisse se soltar a agir, ficando bêbado? Balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos que podiam levá-lo a se sabotar antes mesmo de ele se encontrar com e aí então ele viu uma silhueta feminina se aproximar enquanto ele balançava a cabeça.
— -sshi? — ele se virou na direção da voz suave que o chamava.
O tom incerto na voz de foi perceptível aos ouvidos de que espontaneamente desceu os olhos pelo corpo esguio de , fazendo a mesma corar levemente.
percebendo, que a mesma havia ficado vermelha, tratou de se retratar, desajeitadamente:
— Desculpe, eu só não estava pensando se você não vai ficar com frio... — umedeceu os lábios.
engoliu seco enquanto apertava a alça da grande bolsa, ficando ainda mais vermelha.
— Ah! Talvez eu fique um pouco, conforme for esfriando, mas tudo bem! — ela deu de ombros.
então encarou os detalhes do rosto dela. tinha um rosto harmonioso e delicado, com uma pele clara e impecável que parecia brilhar suavemente sob a luz do letreiro do restaurante. Seu rosto era oval, conferindo-lhe uma aparência graciosa e equilibrada. As maçãs do rosto eram levemente salientes, destacando sua expressão amigável.
Seus olhos eram pequenos, mas, expressivos, com um brilho intrigante que sugeria profundidade e curiosidade. As pálpebras eram suavemente delineadas, realçando seus olhos castanhos escuros, que pareciam refletir uma luz interior. As sobrancelhas bem definidas emolduravam seus olhos, conferindo-lhe uma aparência confiante e serena.
O nariz de era pequeno e elegante, complementando a delicadeza de seu rosto. Seus lábios, cheios e bem desenhados, tinham um tom natural de rosa que acentuava seu sorriso gentil. O queixo levemente arredondado completava a simetria de seu rosto, acrescentando um toque de suavidade à sua beleza.
Ele não se lembrava muito bem dela, estava bem alterado quando a conheceu, mas se lembrava que havia a achado incrivelmente bonita. O tom de voz dela parecia mais agudo do que estava agora, mas ele poderia estar enganado, já que, bom, estava bêbado.
Tentando afastar o nervosismo, ofereceu um sorriso hesitante.
— Vamos entrar? Está começando a esfriar aqui fora.
assentiu, sorrindo levemente, e os dois caminharam juntos em direção à entrada do restaurante, cada um imerso em seus próprios pensamentos sobre o que aquela noite poderia trazer.
— Você reservou mesa? — ela começou a caminhar.
se apressou e logo a alcançou ficando a seu lado.
— Sim! Reservei uma mesa para nós, aqui costuma ficar cheio... sabe? Já veio aqui?
fez que não com a cabeça encarando os próprios pés.
— Mas dei uma olhada nas fotos. Achei muito interessante inclusive. Me pareceu uma boa escolha...
Ela ergueu os olhos para encará-lo, e sorriu para ela, gostando do que ouviu.
— Imaginei que você fosse gostar, caso não conhecesse, pelo pouco que me lembro da nossa conversa na festa.
engoliu seco quando ele fez menção à tal festa "em que se conheceram".
— Ah sim! E do que mais você se lembra?
Hyo— Jin parou de andar quando eles chegaram ao final da fila para entrar no bar.
— Eu estava muito bêbada, me desculpe por não me lembrar. — ela mentiu.
respirou profundamente e então os dois se encararam.
— Não precisa se desculpar, eu também não me lembro com clareza, estamos quites!
A gargalhada contagiante que ele soltou fez sorrir, contagiada e aliviada ao mesmo tempo. Ele pareceu não perceber que ela não era a garota que ele achava que ela era... pelo menos por enquanto. Mas afinal de contas, quais eram as chances de ele de repente se lembrar da verdadeira aparência da garota real? Afinal ele havia deixado claro que não se lembrava com clareza, e estava perto o suficiente para reparar na aparência dela, e teria notado caso se lembrasse com clareza ou até minimamente da aparência da verdadeira garota do vestidinho preto. Não é?
A fila começou a andar e colocou as mãos nos bolsos da calça jeans que ele usava. A noite estava fria em Seul, mas estava tão nervosa que parecia anestesiada.
— Você foi à exposição Bulgari Serpenti? Eu ainda não fui, gostaria muito de ir, ouvir falar muito bem...
sorriu sem mostrar os dentes e balançou a cabeça.
— Eu não me importaria em ir novamente... caso você me convidasse, é claro.
Foi a vez de corar levemente as bochechas. A fila andou mais um pouco.
— Eu adoraria ter você como companhia...
Se encararam outra vez e achou bonitinho ele ficar vermelho.
— O que você faz mesmo? Desculpe perguntar novamente, não me lembro... — riu.
— Eu sou professor de artes em uma universidade aqui de Seul!
, totalmente surpresa com a profissão de , abriu a boca, encantada. viu os olhos negros da garota a seu lado brilharem e ele sorriu, orgulhoso.
— Ah, uau! — ela finalmente conseguiu dizer, admirada — Que incrível!
deu de ombros, enquanto a fila andava mais um pouco, eles seriam os próximos.
— Você acha? — ele coçou a nuca rapidamente.
— Claro! Poxa, você ensina arte para as pessoas... incrível! Eu adoraria ter feito faculdade de artes, mas eu não teria o apoio dos meus pais!
Foi a vez de dar de ombros.
Antes que pudesse questionar o porque e ir mais a fundo no assunto, chegou a vez deles. Ele informou ao recepcionista que havia feito uma reserva para dois em seu nome e o recepcionista confirmou a mesma antes de solicitar que um garçom os levasse até a mesa reservada.
Os dois seguiram o garçom, lado a lado, e então se sentaram na mesa separada para os dois. Durante o trajeto, passeou os olhos pelo lugar capturando os detalhes que mais lhe chamavam atenção.
O restaurante/pub tinha um ambiente acolhedor e convidativo, com uma decoração que misturava elementos modernos e rústicos. As paredes eram adornadas com tijolos à vista, iluminadas por luzes suaves que criavam um clima intimista. Espalhados pelas paredes, havia quadros de artistas locais, dando um toque de criatividade e arte ao espaço.
O teto era adornado com luminárias de estilo industrial, pendendo sobre mesas de madeira polida, cada uma decorada com pequenos arranjos florais. As cadeiras, confortáveis e elegantes, eram estofadas em couro marrom escuro, complementando a paleta de cores quente do ambiente.
Um bar central dominava o espaço, com prateleiras repletas de garrafas de bebidas dispostas de maneira organizada e esteticamente agradável. Havia uma seleção de cervejas artesanais, vinhos e coquetéis, todos preparados por bartenders habilidosos que adicionavam um toque de espetáculo ao servir.
Ao fundo, uma pequena área de palco sugeria que, em certas noites, o local oferecia música ao vivo. Mesas menores próximas ao palco indicavam um espaço dedicado a apresentações mais íntimas.
Enquanto caminhavam pelo restaurante, notou que as janelas amplas permitiam uma vista parcial da cidade iluminada, adicionando um charme extra ao ambiente. Ela capturava cada detalhe, encantada com a combinação de conforto e sofisticação que o lugar oferecia.
Os dois seguiram o garçom até uma mesa reservada perto de uma das janelas, onde poderiam desfrutar da vista e da atmosfera acolhedora do restaurante. Quando se sentaram, sorriu, satisfeito por ter escolhido um lugar que parecia agradar a .
Já acomodados em sua mesa, um de frente para o outro, os olhares se encontraram outra vez. O restaurante estava com os aquecedores ligados, e agradeceu internamente por isso.
— Porque seus pais não aprovariam você cursar artes? — ele retirou o celular do bolso.
umedeceu os lábios, e observou desbloquear o celular e levá-lo até o QR CODE que havia na mesa.
— Ah porque os meus pais sonhavam que eu fosse médica! — ela riu pelo nariz.
— E você se tornou médica? Não me lembro se perguntei sobre sua profissão...
— Não... passei bem longe do que eles queriam. Aliás, sempre estive bem longe de ser a filha que eles queriam que eu fosse.
se deu conta que havia falado demais quando sentiu a mão de tocar a sua levemente por cima da mesa. Os dois se olharam e rapidamente retirou a mão da dela, sentindo-se envergonhado por ter reagido de forma tão emocionada.
— Eu não quero parecer fraca meu Deus, muito menos parecer uma perdedora com baixa auto estima... — ela umedeceu os lábios se dando conta de que falara demais outra vez — Não que eu não me sinta assim, mas...
— Ei! — a interrompeu, colocando a mão sobre a dela outra vez — Não precisa me explicar... eu vou adorar ouvir você falar mais sobre isso. Se você quiser é claro...
piscou os olhos algumas vezes ainda sem acreditar que não estava apenas sendo educado e galante.
— Você está sendo educado! — ela retirou a mão debaixo da dele com delicadeza para abrir o zíper da bolsa — Ninguém gosta de mulheres com síndrome de perdedora.
— E se eu disser que me identifico? — a gargalhada dele ecoou por seus ouvidos outra vez — Também estou longe de ser o filho que meus pais gostariam que eu fosse, especialmente por ser o único filho homem numa família cheia de mulheres.
pegou o celular dentro da bolsa e então foi para a câmera do mesmo.
— Seus pais não gostam de ter um filho professor universitário? — ela abriu o cardápio do local no celular.
suspirou pesadamente.
— Conhece a Hanwha Techwin? — encarou , e fez que sim, que não conhecia a maior empresa de de vigilância por vídeo da Coreia do Sul — Meu pai é um dos sócios majoritários... então eu sendo o único filho de um pai machista, ele me preparou durante toda a vida para substituí-lo nos negócios. Mas eu abandonei o curso de administração no primeiro semestre e fui para o curso de artes.
— Uau, ! — piscou os olhos mais algumas vezes.
— Então, fui expulso de casa e deserdado oficialmente do testamento do meu pai. — ele soltou um risinho de escárnio — E nós não nos falamos desde então.
abriu a boca mais uma vez, incrédula.
— Mentira?
voltou a gargalhar e depois olhou para , e ela conseguiu perceber que os olhos dele estavam levemente marejados e ela logo soube que ele era uma pessoa transparente, ficou nítido o quanto aquela situação toda o machucava profundamente. sentiu compaixão, ela sabia exatamente o que era ser a filha problema, a rejeitada, a filha que nunca deu orgulho aos pais e etc. Então foi a vez dela colocar a mão sobre a dele na mesa e o olhar com admiração e benignidade.
— Não se preocupe, já não dói mais como antes.
— Então vamos mudar de assunto, é melhor, não?
Ela retirou a mão sobre a dele e ajeitou o short que havia subido um pouco mais por suas pernas.
— Vamos falar de você agora... você queria ter feito artes, mas acabou fazendo o que?
O garçom voltou a aparecer e então perguntou aos dois se eles já haviam decidido, então eles resolveram voltar suas atenções para o cardápio em seus celulares para fazerem o pedido ao garçom que aguardou pacientemente que eles se decidissem e fizessem seus pedidos.
— Eu me formei em administração! — ela respondeu quando o garçom deixou os dois sozinhos novamente.
— Trabalha na área? — ajeitou sua cadeira, chegando a mesma mais para frente.
— Digamos que sim! Comprei um brechó de roupas vintage. — ela deu de ombros.
— Uma empresária, uau! — ele gargalhou outra vez fazendo ela sorrir.
revirou os olhos de brincadeira e sentiu suas bochechas corarem.
— Não exagera! — ela riu — Tenho uma lojinha, bem modesta. Mas amo o que faço, acabei me apaixonando por moda ao abrir o brechó.
— Isso que importa não é? Amar o que faz... — sorriu, orgulhoso, pois também amava o que fazia.
— É! Pensando por esse lado, realmente. — assentiu com a cabeça.
— E porque você acabou pulando de artes para administração?
suspirou.
— Conhecendo meus pais como eu conheço, eu não tive nem coragem de dizer à eles que tinha vontade. Era o sonho deles que eu fizesse medicina, ou direito. Mas nunca me interessei genuinamente por essas áreas, diferente do meu irmão, que hoje é um grande advogado. O orgulho da família.
revirou os olhos. Ele e o irmão não conversavam há anos, nem nas pouquíssimas reuniões de família que ele aparecia hora ou outra. Porque? Ele simplesmente se achava superior á basicamente todos da família, que eram de origem bem humilde, e quando começou a faculdade de administração, ele ficou com vergonha, dizia que esse curso era "coisa de gente sem futuro que não sabia o que queria, que não levaria á uma carreira brilhante como os pais sonhavam para os dois".
— Sei como é! Apesar de meu pai não deixar as minhas irmãs trabalharem diretamente na administração da empresa, por serem mulheres, elas tem cargos importantes lá, então...
assentiu para ele.
— Eu acabei fazendo o curso de administração porque a minha família fez muita pressão para que eu me formasse em alguma coisa que pelo menos pudesse me dar um futuro, então acabei escolhendo administração. — deu de ombros mais uma vez.
Enquanto ele balançava a cabeça em negativa, mordeu o lábio receosa.
De repente os dois acabaram ficando em silêncio enquanto se encaravam. começou então a reparar com mais calma e atenção o rosto do homem até então desconhecido sentado à sua frente... o rosto dele parecia desenhado. O nariz pontudinho e perfeito, o queixo também tinha a pontinha puxada para baixo, e ela quase sorriu quando reparou que a boca dele tinha o formato de um coração, com uma pintinha pequena no lábio inferior. Os olhos puxadinhos, parecendo apenas dois riscos, de um preto intenso...
percebeu os olhos dela passeando por seu rosto e então sentiu o coração acelerar levemente. Ela o estava observando, e agora de perto e na claridade. E o pior, sem estar bêbada. E se ela estivesse começando a se arrepender do encontro agora que estava sóbria e observando ele de tão perto?
— Quantos anos você tem mesmo? — ela levou a mão até o brinco na orelha e mexeu nele.
— Tenho trinta anos! — ele corou — Você parece ser mais nova do que eu me lembro.
corou as bochechas e engoliu seco.
— Ah! Quantos anos você acha que eu tenho então?
— Vinte e cinco? — ele ergueu uma sobrancelha.
— Acertou! — ela engoliu seco outra vez — Não me lembro se te disse a minha idade ou não...
Ela mentiu outra vez e então olhou por cima do ombro de , fingindo observar a banda que iria tocar.
— Não me lembro mais! — ele fez um muxoxo — Isso é um problema para você?
— O que? Você não se lembrar?
"Isso é ótimo na verdade", ela pensou.
— Não! — ele balançou a cabeça — A nossa diferença de idade...
voltou a passear os olhos pelo rosto bem desenhado de . Ela nunca havia namorado antes, aliás ela nunca havia se apaixonado antes, ela costumava se afundar nos estudos e no trabalho, sempre juntando dinheiro para conseguir abrir o próprio negócio, que ela mal tinha tempo para paquerar, namorar ou se envolver com alguém por mais de uma noite. Tinha muitos amigos, que hora outra viravam amigos coloridos por um momento, mas não passava disso. E nenhum deles era tão mais velho assim.
Enquanto ela o observava, a insegurança de gritou. Era nítido que ela não esperava que ele tivesse aquela idade.
— Se for um problema, tudo bem! — ele se adiantou.
— Não! — respondeu — Eu só estava pensando que nunca havia feito amizade ou algo do tipo com alguém mais velho. Então vai ser algo completamente novo para mim, só isso!
— Amizade? — sussurrou mais para si mesmo do que para ele — Claro! Você é uma garota nova, seu círculo de amigos deve ser bem restrito a pessoas da sua idade, lógico!
Enquanto ele balançava a cabeça em negativa, mordeu o lábio mais uma vez.
As bebidas que eles haviam pedido, chegaram à mesa e logo deu um longo gole de sua cerveja.
— Eu disse amizade porque temos muitas coisas em comum, oppa! — ela encolheu os ombros — Você não se interessaria por uma garota de vinte e cinco anos, dona de um brechó vintage, conhecendo tantas mulheres interessantes como professor universitário.
— Quem te disse isso? — ele engoliu seco — Me interessei assim que pus meus olhos em você... e isso nunca tinha acontecido.
Foi a vez de levar seu drink aos lábios, tomando do líquido para tentar não corar com a investida tão direta de . E ele continuou:
— Na verdade eu nem sei como tive coragem o suficiente de te chamar para sair, eu sou muito reservado e não sei direito como fazer essas coisas, então me desculpe se eu estiver sendo muito direto, ou inconveniente.
fez que não para e sentiu as bochechas corarem ao afirmar para ele que ele não estava sendo inconveniente.
— Você não está sendo inconveniente... só não achei que seria tão interessante assim aos seus olhos quando nos encontrássemos de novo.
— Eu sinto como se te conhecesse há tempos já, como se não fossemos estranhos. Desde a festa na boate eu tive essa sensação...Você diz meu nome como se estivesse em seus lábios, soa familiar de maneiras que eu não consigo explicar. Soube na hora, quando olhei nos seus olhos, e eu disse pra mim mesmo: não é surpresa que não somos estranhos, estranhos esta noite. — ele umedeceu os lábios — Deve ser coisa de vidas passadas, eu sinto como se eu já estive aqui antes e isso parece certo...Não, essa não é a primeira vez, pra você e eu, não somos estranhos.
também estava sentindo a mesma coisa... uma estranha conexão, como se de fato a tal garota que ele havia conhecido na festa fosse mesmo ela e não ela fingindo ser quem não é...
— Eu também! — ela umedeceu os lábios — Acho que isso é bom, não é?
soltou uma risada nervosa. Se sentiu um pouco mal por estar mentindo para .
— Muito bom! — ele sorriu calorosa e abertamente.
"Que sorriso bonito!" ela pensou enquanto sentia o coração saltar.
Logo as duas porções que eles pediram chegaram também e a banda começou a se apresentar.
— Posso colocar minha cadeira do seu lado? — ele viu corar — Para conseguir ver a banda tocar, eles são muito bons!
pareceu relaxar um pouco e fez que sim para o moreno, que rapidamente aproximou a cadeira da dela e se sentou novamente. Os ombros se encostaram, e voltou a ficar um pouco tensa.
Então os dois enquanto comiam, engataram um papo sobre música, e descobriram que tinham mais isso em comum. Algumas conversas precisavam ser ao pé do ouvido, devido ao barulho que a música fazia hora ou outra e isso causava arrepios em ambos.
A conexão entre os dois seguiu se aprofundando durante a noite.
estava começando a ficar "altinha" então resolveu que estava na hora de ir embora. Mesmo que a noite estivesse incrivelmente agradável e divertida, ela sabia seus limites e os respeitava.
— Acho que está na hora de ir embora, ie! — ela falou ao pé do ouvido dele.
olhou as horas do celular e se deu conta que já eram quase três da manhã.
— Uau! Quase três da manhã, você tem razão!
Os dois pagaram a conta, aliás, , já que ele não deixou que ela pagasse nada e então eles saíram do bar. O gelado do vento cortante fez cruzar os braços e se encolher com a sensação O vento gelado chicoteou seu rosto, fazendo suas bochechas arderem levemente e o nariz formigar. Seus olhos lacrimejaram instantaneamente, enquanto ela piscava rapidamente para afastar a umidade. A sensação do vento frio contra a pele exposta era quase dolorosa, como pequenas agulhas de gelo espetando seu rosto.
Ela puxou os braços mais firmemente contra o corpo, tentando conservar o calor enquanto inclinava a cabeça ligeiramente para baixo para se proteger do vento. O cabelo esvoaçava ao redor de seu rosto, os fios dançando descontroladamente com a força do ar gelado.
notou o desconforto de e rapidamente tirou o casaco, oferecendo-o a ela.
— Aqui, use meu casaco. Vai te aquecer um pouco.
hesitou por um momento, mas a sensação do frio era intensa demais para recusar. Ela aceitou o casaco com um sorriso agradecido, vestindo-o e sentindo o calor imediato da peça de roupa. O cheiro sutil e agradável de impregnava o tecido, trazendo uma sensação de conforto adicional.
— Obrigada, -sshi, — ela disse, puxando o casaco mais para perto do corpo e sentindo-se um pouco mais protegida do vento implacável.
— Vou levar você em casa. Por favor, não diga não! — ele juntou as mãos uma na outra, implorando — Está muito frio e tarde para você pegar um carro, então aceite a minha carona !
Ela sorriu sem mostrar os dentes e então fez que sim para ele, aceitando a carona. Caminharam até o estacionamento e abriu a porta do carro para ela, como um verdadeiro cavalheiro.
Quando ele ligou o aquecedor do carro, fechou os olhos e soltou um suspiro de alívio. sorriu, observando-a relaxar.
— Aonde você mora? — ele perguntou.
— Seongbuk ku!
Boa parte do caminho foi feito em silêncio, o quentinho do carro e a bebida acabaram fazendo com que permanecesse de olhos fechados. vez ou outra olhava para ela e sorria.
Quando eles estavam quase chegando, abriu os olhos.
— Nossa, acho que cochilei um pouco. Me desculpe!
fez que não para ela enquanto sorria.
— Não tem problema, eu gostei de observar você dormindo, tão calma e serena... linda!
corou violentamente e viu que ele também.
Quando eles chegaram no prédio dela, se olharam. Como eles deveriam se despedir um do outro? Ambos levaram o rosto para frente, meio desajeitados como se quisessem deixar um beijo na bochecha um do outro, mas as pontas dos narizes se encostaram rapidamente, e ambos ficaram sem graça.
Os olhos de pousaram nos lábios de e depois subiram para seus olhos, e ela fez a mesma coisa. A bebida deixava corajosa...
— Posso beijar você, oppa?
arregalou levemente os olhos, surpreso com a pergunta inesperada. Ele hesitou por um segundo, mas então começou a aproximar seus lábios dos de , interpretando suas palavras como um convite para um beijo nos lábios. percebeu o mal-entendido e engoliu seco.
— Eu quis dizer na bochecha mesmo, mas já que você faz questão... — ela disse, a voz ligeiramente trêmula, mas com um sorriso brincalhão.
Como dito anteriormente: a bebida lhe dava coragem, e a sensação de estar com a fazia querer arriscar. Com um impulso súbito, ela se inclinou e pressionou seus lábios contra os dele.
O beijo começou suave, hesitante, como se ambos estivessem tentando sentir o terreno. Os lábios de eram macios e quentes contra os dela, e ele correspondeu ao beijo com delicadeza, envolvendo o rosto de com uma das mãos. O toque dele era gentil, mas firme, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
À medida que o beijo se aprofundava, uma sensação de calor se espalhou pelo corpo de . Ela se aproximou mais, sentindo o coração bater acelerado. , por sua vez, deixou que sua outra mão descansasse levemente na cintura dela, trazendo-a mais para perto. Os movimentos eram lentos e exploratórios, como se ambos estivessem saboreando cada momento.
Quando finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes. abriu os olhos lentamente, encontrando o olhar intenso de . Os dois sorriram, compartilhando uma conexão que ia além das palavras.
— Acho que a bebida realmente me deixa corajosa... — murmurou, suas bochechas coradas.
riu suavemente, ainda sentindo o sabor do beijo nos lábios.
— Bem, nesse caso, ainda bem que você teve coragem.
Ela sorriu para ele, sentindo uma mistura de euforia e nervosismo.
— Obrigada pela carona, -sshi. Eu me diverti muito hoje.
— Eu também, . Foi uma noite maravilhosa.
Com um último sorriso, saiu do carro e acenou antes de entrar no prédio. a observou até que ela desaparecesse de vista, sentindo uma sensação de expectativa para o próximo encontro.
As lembranças de Natais passados invadiram sua mente. As festas eram sempre grandes, extravagantes e... superficiais. A família dela, tão focada em conquistas, bens materiais, e status, parecia encontrar um prazer peculiar em exibir tudo o que tinham. Os Natais não eram sobre conexão ou afeto, eram uma vitrine para mostrar quem tinha mais sucesso, mais dinheiro, mais poder. Sempre havia uma tensão no ar, uma competição não dita, e , desde pequena, sentia que não se encaixava naquele mundo.
Ela lembrava das conversas intermináveis sobre negócios, imóveis, carros luxuosos e viagens caras. As perguntas sobre sua vida pessoal vinham sempre carregadas de um julgamento sutil, como se ela nunca estivesse à altura do que esperavam dela. Mesmo quando tentava participar, sentia-se pequena, quase invisível. Quantas vezes ela havia se diminuído, tentando caber em espaços que simplesmente não lhe pertenciam?
fazia de tudo para agradar. Tentava se moldar às expectativas, silenciar suas próprias necessidades e ambições para evitar os olhares desaprovadores, os comentários velados. Mas nunca era suficiente. Nada que ela fizesse era digno de destaque ou orgulho nos olhos deles. Ela não tinha grandes conquistas materiais para exibir, não se encaixava no molde perfeito que a família tanto prezava. E, com o tempo, ela percebeu que cada esforço para agradar só a afastava mais de si mesma.
As memórias eram dolorosas. Ela se via como uma peça fora do lugar, tentando, em vão, fazer parte de um quebra-cabeça que não a aceitava. Era sufocante. E agora, com mais um Natal se aproximando, sabia que não queria passar por isso novamente.
Ela pegou o celular e, com os dedos ligeiramente trêmulos, digitou uma resposta para a mãe. Não era fácil dizer "não" à família, mas dessa vez ela tinha que fazer isso por si mesma.
"Mãe, obrigada pelo convite, mas já tenho outros planos para o Natal. Vou passar com uma amiga. Espero que entendam. Um beijo."
apertou o botão de enviar e, imediatamente, sentiu o coração acelerar. Era a primeira vez que ela se recusava a ir à festa, a primeira vez que colocava seus próprios sentimentos à frente das expectativas familiares. Ela sabia que a resposta da mãe provavelmente viria carregada de desapontamento ou até mesmo surpresa, mas estava decidida. Este Natal seria diferente. Este Natal seria dela, e não uma repetição das antigas feridas.
Ela suspirou fundo, aliviada e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu uma pequena fagulha de liberdade acender dentro de si.
Com o Natal se aproximando, o brechó em que trabalhava estava mais movimentado do que nunca. As vendas aumentavam a cada dia, e o fluxo constante de clientes mantinha ocupada do momento em que abria as portas até o fechamento.
Ela mal teve tempo para respirar entre organizar as araras, atender os clientes e cuidar das transações no caixa. A loja, sempre cheia de vida, parecia ainda mais agitada com as pessoas em busca de presentes de última hora ou de roupas especiais para as celebrações. O ambiente era um misto de ansiedade e entusiasmo, e tentava acompanhar o ritmo.
Entre ajudar uma cliente indecisa a escolher um casaco vintage e atender às perguntas de outra sobre acessórios, ela mal conseguia parar para um gole de café. O telefone da loja não parava de tocar, com consultas sobre reservas de peças ou horários de funcionamento. Ao final do dia, se sentia exausta, mas havia um certo orgulho no ar. O brechó estava prosperando, e o movimento constante trazia um senso de realização.
Embora o dia tenha sido corrido e cansativo, havia algo de gratificante em ver as pessoas encontrando peças únicas e se encantando com o charme do brechó. O Natal podia estar se aproximando com toda a sua pressão familiar, mas no trabalho, sentia que estava no controle. Mesmo assim, ao fechar a loja, ela não pôde evitar sentir um alívio. A noite estava fria, e ela sabia que precisava de um momento para si, longe da agitação.
No horário de almoço, saiu do campus universitário em direção a um café próximo, decidido a fazer algo especial. Com o Natal chegando, ele queria surpreender e garantir que o segundo encontro deles fosse tão memorável quanto o primeiro. Enquanto tomava um café rápido, ele entrou no site da exposição Bulgari Serpenti e, com poucos cliques, comprou dois ingressos.
O sorriso em seu rosto se alargou quando recebeu a confirmação dos ingressos no celular. Ele fez questão de tirar uma foto dos dois ingressos juntos, o nome da exposição destacado, e anexou à mensagem que estava prestes a enviar para .
"Oi, !
Não sei se você toparia um segundo encontro comigo, mas comprei esses dois ingressos para a exposição Bulgari Serpenti e confesso que adoraria a sua companhia, mesmo que você já tenha ido... E se depois a gente fosse jantar também? Se você quiser… Que tal?”
O nervosismo começou a tomar conta de logo após ele apertar "enviar". O barulho sutil da notificação saindo parecia ecoar mais alto do que o normal, e agora, a espera pela resposta de parecia interminável. Ele não conseguia parar de pensar: “Será que ela vai aceitar? E se ela não quiser um segundo encontro?” Essas perguntas rodavam em sua mente, fazendo-o se sentir inquieto.
Para tentar aliviar a ansiedade que subia por sua garganta, ele decidiu que precisava ocupar suas mãos e sua mente com algo. Pegou as chaves de casa e desceu até o porão, onde ficava seu estúdio de pintura – um refúgio pessoal que há tempos ele não visitava com frequência.
Lá, o cheiro familiar de tinta, madeira e verniz o recebeu, trazendo uma pequena sensação de conforto. Ele acendeu a luz suave do ambiente e se aproximou de um quadro que havia começado meses atrás, mas nunca terminara. O esboço inacabado refletia uma fase de sua vida em que ele estava perdido, sem foco.
Agora, talvez por causa da ansiedade ou da nova energia que sentia ao estar mais próximo de , ele queria voltar àquela tela. Pegou um pincel, sentindo o peso confortável em suas mãos, e começou a aplicar as primeiras camadas de tinta, misturando cores e formas com movimentos rápidos. O processo sempre lhe trouxe paz, e mesmo que sua mente ainda estivesse focada na possível resposta de , aos poucos ele se entregou à pintura, permitindo que as camadas de tinta o ajudassem a acalmar o turbilhão de emoções.
Entre uma pincelada e outra, seu celular vibrou de leve no bolso, fazendo seu coração disparar mais uma vez.
parou de pintar assim que sentiu o celular vibrar em seu bolso. Seu coração deu um salto, como se todas as emoções que ele tentava controlar com a pintura voltassem com força total. Por alguns segundos, ele ficou apenas segurando o aparelho, tentando reunir coragem para olhar a mensagem. Sabia que qualquer resposta de poderia mudar o rumo do que eles estavam construindo, e isso o deixava ainda mais nervoso.
Ele limpou a mão manchada de tinta em um pano que estava sobre a mesa e, com um último suspiro, desbloqueou o celular. Ali, na tela, estava a resposta de .
ficou surpresa ao ver a mensagem de aparecer na tela de seu celular. Ela hesitou antes de abri-la, um turbilhão de pensamentos passando por sua cabeça. “Ele ainda quer me ver?”, pensou, incrédula. Após o encontro anterior, acreditava que seria só mais um encontro casual, algo que não se repetiria. Parte de si achava que havia percebido que ela não era a garota que ele achava ser – a garota do vestidinho preto, bêbada, que ele conheceu na festa. Talvez o encanto tivesse se dissipado, ou talvez ele já tivesse notado as inconsistências.
Porém, ali estava ele, mandando uma mensagem e querendo um segundo encontro.
Ela encarou a foto dos ingressos com um sorriso se formando aos poucos. Algo dentro dela dizia que ele estava sendo sincero, que ele queria conhecê-la mais, independentemente do que tenha ocorrido naquela festa. O nervosismo deu lugar a um misto de alívio e expectativa. sentiu o peito aquecer. “Ele realmente me quer por perto... mesmo depois de tudo.”
Com o coração batendo forte e os dedos ligeiramente trêmulos, ela começou a digitar a resposta.
"Oi, oppa! :) Fiquei surpresa de receber sua mensagem... Achei que o encanto do vestidinho preto já tinha passado rs. Mas eu adoraria ir à exposição com você, e um jantar depois soa perfeito. Então, sim, eu topo nosso segundo encontro. :)”
sentiu o calor subir pelo corpo ao ler a mensagem. Um sorriso espontâneo se espalhou por seu rosto, tão largo que seus olhos quase se fecharam. Ele soltou o ar que nem havia percebido estar prendendo, sentindo uma mistura de alívio e excitação percorrer seu corpo. As dúvidas e o nervosismo que o atormentavam minutos antes desapareceram. Ela disse sim.
Segurando o celular com uma mão e o pincel com a outra, não pôde deixar de rir sozinho. o queria ver de novo. Isso significava que talvez, apenas talvez, eles pudessem criar algo real.
Agora, ele só precisava garantir que o segundo encontro fosse inesquecível.
encarava o celular com um misto de alívio e ansiedade. A proposta de a havia deixado mais leve, mas agora, o nome da mãe piscava na tela, trazendo de volta o peso que ela tentava evitar. Tinha enviado uma mensagem simples, educada e firme, explicando que este ano passaria o Natal com uma amiga, algo que já havia decidido e não queria mudar. Mas, conhecendo sua mãe, sabia que a resposta não seria tão simples quanto sua mensagem.
Ela respirou fundo antes de abrir o chat, já esperando a reação que estava por vir.
", eu não acredito que você está nos abandonando assim, justo no Natal! Toda a família estará reunida, como sempre foi. Você vai mesmo preferir passar com uma amiga do que com seus pais e parentes? É uma escolha sua, claro, mas saiba que eu e seu pai estamos muito decepcionados. Esperávamos mais consideração de sua parte."
O texto longo, carregado de culpa, fez o coração de afundar. As palavras da mãe nunca falhavam em provocar aquela sensação familiar de inadequação. Era como se, não importava o quanto ela tentasse, nunca fosse o suficiente para agradar ou se encaixar nas expectativas da família. Era um ciclo interminável de exigências e frustrações.
Ela sentiu o nó se formar na garganta. Sabia que a resposta seria essa, mas, mesmo assim, era difícil ignorar o peso emocional que isso trazia. As festas de Natal sempre foram mais uma obrigação do que uma celebração. Cada ano era marcado por comparações entre primos, discussões sobre sucesso profissional, conquistas financeiras e pressões sobre sua vida pessoal, como se ela estivesse em constante falta por não se adequar ao padrão de perfeição que os outros pareciam seguir.
Lembrava-se de todas as vezes que tentara agradar, se esvaziando para caber no molde que sua família exigia. Sempre se sentindo pequena em meio às conversas sobre status, sempre sufocada pelas expectativas. Natal não era um momento de alegria para , era uma lembrança de que, para sua família, ela nunca era suficiente.
Ela olhou para a resposta da mãe e, por um momento, sentiu a vontade de ceder, de responder algo conciliador, algo que amenizasse a situação. Mas então lembrou-se da promessa que fez a si mesma. Este ano seria diferente. Pela primeira vez, não iria se sacrificar para se encaixar em um espaço que não era feito para ela.
respirou fundo e, em vez de ceder, digitou calmamente sua resposta:
"Mãe, eu entendo que vocês estão decepcionados, mas preciso seguir com meus planos. Eu preciso deste tempo para mim. Espero que entendam."
Ela apertou "enviar" e, com isso, fechou os olhos por um instante, sentindo a tensão em seus ombros diminuir um pouco. Era doloroso, mas necessário. Este Natal seria dela.
Assim que enviou a mensagem para a mãe, seu celular vibrou de novo. Desta vez, a notificação iluminou a tela com o nome de . Seu coração bateu um pouco mais rápido, e ela não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seus lábios ao abrir a mensagem.
Assim que enviou a mensagem para a mãe, seu celular vibrou de novo. Desta vez, a notificação iluminou a tela com o nome de . Seu coração bateu um pouco mais rápido, e ela não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seus lábios ao abrir a mensagem.
"Eu estava pensando... você prefere que a gente se encontre direto na exposição, ou posso te buscar? Eu adoraria te buscar, mas deixo a escolha com você :)"
sentiu o calor subir em seu peito ao ler a mensagem. Depois de todas as dúvidas que havia tido — se ele realmente iria procurá-la, se aquela noite tinha sido apenas algo passageiro —, lá estava ele, querendo passar mais tempo com ela e se mostrando tão atencioso quanto antes.
Ela riu baixinho, se perguntando como alguém como , que parecia tão natural e despretensioso, podia ter ficado interessado nela a ponto de sugerir outro encontro. Pensou em como ele havia se mostrado diferente do que imaginava, e a sensação de que ele estava interessado por quem ela realmente era, não apenas pela impressão do "vestido preto", a fazia se sentir especial.
Com um toque leve de nervosismo e um pouco de empolgação, ela começou a digitar sua resposta.
“Eu acho que seria ótimo se você pudesse me buscar :) Já que o clima está ficando mais frio, seria legal ir de carro. Além disso, podemos ir conversando durante o caminho. O que acha?"
Ela releu a mensagem e enviou, sentindo uma mistura de expectativa e ansiedade pelo que estava por vir. Era o início de algo novo, e
clima está ficando mais frio, seria legal ir de carro. Além disso, podemos ir conversando durante o caminho. O que acha?"
Ela releu a mensagem e apertou "enviar", sentindo uma mistura de expectativa e ansiedade pelo que estava por vir. Era o início de algo novo, e se permitia sentir a excitação tomar conta de si. Talvez, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitisse ser vista de verdade, sem tantas máscaras ou receios. Enquanto aguardava a resposta de , ela se sentiu estranhamente em paz com o que estava por vir, como se algo dentro dela dissesse que era certo dar esse próximo passo.
Com a loja finalmente mais calma, aproveitou o tempo para organizar o estoque, dobrando cuidadosamente as roupas que estavam fora de lugar e conferindo o inventário. Ela pegou seu caderno de anotações, fazendo uma lista dos produtos que precisavam ser repostos e logo começou a contatar os fornecedores para garantir que as novas peças chegariam a tempo para as vendas de fim de ano.
O som do sino da porta, que anunciava novos clientes, ficou cada vez mais raro à medida que o dia avançava, e respirou fundo, satisfeita com o progresso que havia feito. Quando o relógio marcou o horário de fechar, ela desligou as luzes do brechó, trancou a porta e, com um suspiro de alívio, se preparou para finalmente encerrar o expediente.
deu uma última olhada no espelho, ajeitando os fios de cabelo e respirando fundo para conter a ansiedade que borbulhava em seu peito. Quando o som da campainha ecoou pelo apartamento, seu coração disparou. Havia autorizado a entrada dele na portaria, mas não esperava que ele fosse tão pontual… Ela sabia que era , e não pôde evitar o nervosismo que tomou conta de si.
Com passos lentos, caminhou até a porta, hesitando por um breve segundo antes de abri-la. Lá estava ele, de pé, sorrindo de forma suave e calorosa. usava um casaco longo, elegante, e parecia tão nervoso quanto ela.
Oi... — murmurou, um sorriso tímido — surgindo em seus lábios.
— Oi. — Ele respondeu, a voz tranquila, mas os olhos entregando sua expectativa. — Está pronta?
Ela assentiu, pegando a bolsa enquanto fechava a porta atrás de si. Ao saírem, se aproximou um pouco mais, oferecendo o braço de forma sutil.
— Posso? — ele perguntou, referindo-se ao gesto de cavalheirismo.
sorriu, achando doce a atitude, e aceitou o braço dele, se sentindo estranhamente segura com aquele gesto simples.
Enquanto caminhavam juntos em direção ao carro, a tensão entre os dois parecia se dissipar aos poucos, sendo substituída por uma calma expectativa do que aquela noite poderia trazer.
e entraram no elevador, ainda com um toque de nervosismo no ar. O espaço fechado parecia fazer com que o silêncio ficasse mais presente, mas não desconfortável. olhou de soslaio para , observando-a com discrição, enquanto ela mantinha o olhar fixo no painel de controle do elevador.
Ele limpou a garganta, tentando aliviar a tensão.
— Eu estava pensando… — começou, com um sorriso suave — Você gosta de música no carro? Eu tenho uma playlist pronta, mas se preferir podemos só conversar.
sorriu de volta, relaxando um pouco com a tentativa dele de quebrar o silêncio.
— Eu gosto de música, sim. — Respondeu com um tom calmo, mas curioso — Qual estilo você costuma ouvir?
abriu a boca para responder, mas antes que pudesse falar algo, as portas do elevador se abriram na portaria. Eles saíram juntos, caminhando lado a lado até a porta de vidro que levava ao estacionamento. A noite fria já os esperava do lado de fora, e , como um reflexo, acelerou os passos para abrir a porta do carro para , fazendo um gesto para que ela entrasse.
— Cavalheiro de novo. — comentou em tom brincalhão, antes de se acomodar no banco do passageiro.
— Só tentando causar uma boa impressão. — Ele sorriu, fechando a porta suavemente e contornando o carro para ocupar o banco do motorista.
Assim que ligou o carro, ativou o aquecedor e ajustou o volume da playlist que já estava tocando baixinho, um jazz tranquilo que parecia perfeito para a noite que começava. fechou os olhos por um segundo, sentindo o calor acolhedor preencher o ambiente. Ela abriu um pequeno sorriso, contente com o clima descontraído que já se formava entre eles.
— Pronta? — ele perguntou, olhando para ela com um brilho nos olhos.
— Pronta. — Ela confirmou, agora com mais confiança, e deu partida, os dois a caminho da exposição.
Enquanto o carro percorria as ruas iluminadas da cidade, o silêncio confortável entre os dois foi preenchido pela melodia suave que vinha dos alto-falantes. olhava pela janela, vendo as luzes de Natal piscando nas vitrines das lojas e nas árvores da avenida. O clima festivo contrastava com a tranquilidade que sentia ao lado de . Ela se pegou sorrindo, lembrando-se de como havia imaginado que ele não a procuraria mais, mas ali estavam eles, juntos novamente, indo a um segundo encontro.
, ao volante, também se sentia tranquilo, embora seu coração ainda batesse um pouco mais rápido do que o normal. Ele estava ansioso, mas a presença de ao seu lado o acalmava de alguma forma. De vez em quando, ele olhava de canto de olho para ela, admirando seu perfil sob a luz suave do painel do carro. Era difícil acreditar que tudo isso estava acontecendo tão naturalmente, depois de tantos pensamentos e expectativas que ele havia alimentado.
Ao se aproximarem da galeria de arte onde aconteceria a exposição Bulgari Serpenti, diminuiu a velocidade, virando a cabeça para .
— Estamos quase chegando. — ele disse com um sorriso. — Nervosa?
Ela virou o rosto para ele, seus olhos brilhando sob as luzes da rua.
— Um pouco, mas no bom sentido. — respondeu, rindo. — É bom estar aqui com você.
sorriu, contente com a resposta. Quando finalmente estacionaram o carro, ele saiu rapidamente para abrir a porta para ela, repetindo o gesto cavalheiro de antes. agradeceu e saiu do carro, ajeitando o casaco para se proteger do frio. se aproximou, oferecendo o braço para ela, e juntos caminharam em direção à entrada da exposição.
— Pronta para ser encantada por joias e arte? — ele perguntou, com um sorriso.
— Mais do que pronta. — ela respondeu, sorrindo de volta.
Quando entraram no edifício, a decoração luxuosa e as peças expostas começaram a chamar a atenção de imediatamente. Ela olhou ao redor, encantada com o ambiente, e sentiu que aquela noite seria, de fato, memorável.
observou-a por um momento, satisfeito ao ver que ela estava gostando, antes de a guiar para o salão principal da exposição.
À medida que caminhavam pela exposição, se sentiu à vontade para compartilhar suas impressões. Ela já havia estado ali antes, mas, sozinha, a experiência havia sido mais introspectiva, um momento para ela se conectar com a arte de forma pessoal. Agora, com ao seu lado, a percepção parecia se expandir.
Eles pararam diante de uma das vitrines onde uma peça icônica da Bulgari estava em exibição: um colar com uma serpente intricadamente detalhada. As escamas em pedras preciosas brilhavam sob a iluminação suave. apontou para o colar.
— Essa peça sempre me fascinou. — disse ela, olhando para . — A serpente é um símbolo tão poderoso... Representa transformação, renovação, mas também pode ser algo mais sombrio, como traição ou tentação. Eu gosto dessa ambiguidade. Acho que todo mundo, em algum momento, já foi um pouco de cada coisa.
a olhou, admirado com a profundidade do comentário. Ele havia notado o quanto era observadora e sensível desde o primeiro encontro, mas vê-la agora, tão à vontade ao compartilhar suas reflexões, o fazia perceber ainda mais a riqueza de sua personalidade.
— Eu nunca tinha pensado nisso desse jeito. — ele confessou, cruzando os braços enquanto observava o colar com um novo olhar. — Mas faz sentido... E acho que a arte sempre provoca isso, né? Uma interpretação pessoal, que reflete o que estamos vivendo no momento.
sorriu, gostando de como a conversa fluía entre eles.
— Exatamente. Da primeira vez que vim aqui, sozinha, — ela continuou, com um tom mais suave — eu olhava para essas peças e pensava no peso da solidão, de como elas pareciam desprovidas de vida sem alguém para apreciá-las. Mas hoje, estando com você, é como se elas tivessem mais significado. O olhar do outro transforma o que vemos.
ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Ele a observou com um sorriso, sentindo o calor crescer entre eles.
— Fico feliz de estar aqui com você para dividir isso, então. — ele disse, com sinceridade.
Eles continuaram andando pela exposição, parando em frente a outras peças. comentava sobre o design, as pedras preciosas e os detalhes intricados das criações. a ouvia atentamente, vez ou outra acrescentando um comentário ou perguntando algo, interessado em conhecer sua perspectiva.
Em uma das vitrines, uma tiara adornada com diamantes e esmeraldas chamou a atenção de ambos. se aproximou, examinando-a com um olhar crítico.
— Essa aqui... tem um ar de realeza, né? Mas, ao mesmo tempo, sinto que é um peso usar algo assim. Não só o valor, mas o que isso simboliza. Parece que exige algo da pessoa que a veste. — ela comentou, cruzando os braços.
sorriu, brincando.
— Talvez a pessoa que usasse precisasse de uma coragem extra. Quem sabe essa tiara daria um pouco mais de ousadia para quem vestisse? — ele disse, com um olhar sugestivo.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Talvez... Mas não sei se preciso de mais ousadia depois daquela pergunta no carro. — ela disse, mordendo de leve o lábio, lembrando-se de quando pediu para beijá-lo.
riu junto, seu rosto corando levemente ao lembrar do momento.
— Talvez você esteja certa. — ele respondeu, divertido. — E, de qualquer forma, você já é muito mais corajosa do que imagina.
Eles continuaram explorando a exposição, sempre trocando ideias, comentários e risos, e, com cada troca, o laço entre eles parecia se fortalecer.
Após terminarem de explorar cada detalhe da exposição, e saíram juntos do local, imersos em uma atmosfera de leveza e cumplicidade. O restaurante que havia escolhido não ficava muito longe, e ele sugeriu que caminhassem até lá.
— Acho que uma caminhada vai ser boa depois de tanta arte para processar, né? — ele disse com um sorriso, olhando para ela.
concordou, e os dois seguiram lado a lado pelas ruas bem iluminadas, onde as decorações de Natal já começavam a brilhar nas vitrines e postes. O clima estava fresco, mas não gelado como na noite anterior. cruzou os braços, sentindo o leve frio no ar, mas a proximidade de a mantinha aquecida de outra forma.
— Seul é realmente linda à noite. — comentou, observando as luzes cintilantes que enfeitavam as árvores ao longo do caminho. — Faz tudo parecer tão mágico, quase como se fosse um cenário de filme.
assentiu, concordando enquanto olhava ao redor. Ele, por um momento, desviou o olhar para , que admirava a paisagem com os olhos brilhando.
— Acho que a companhia também deixa tudo mais especial. — ele comentou, sua voz suave, mas cheia de intenção.
o encarou por um segundo, surpresa com a frase direta, e sorriu, sentindo as bochechas esquentarem. Ela balançou a cabeça de leve, mas seu coração acelerou com o comentário, uma mistura de nervosismo e entusiasmo.
— Então, que tipo de comida vamos comer? — ela perguntou, mudando o foco da conversa, mas ainda sorrindo, tentando disfarçar o leve constrangimento.
— É um restaurante de comida italiana. Nada muito chique, mas tem uma massa excelente. — respondeu, entrando no ritmo dela. — Espero que goste!
— Eu adoro massas! — ela respondeu de imediato, animada. — Acho que vai ser perfeito.
Eles continuaram caminhando em um silêncio confortável por alguns minutos, enquanto se aproximavam do restaurante. As ruas, ainda movimentadas pelo clima de fim de ano, pareciam mais animadas, com casais e famílias passeando, o som de risadas e música ambiente preenchendo o espaço. sentia-se estranhamente à vontade ao lado de , como se o segundo encontro estivesse fluindo naturalmente, sem aquela tensão nervosa do primeiro.
Ao virarem a esquina, o restaurante apareceu à vista, acolhedor e iluminado, com grandes janelas que permitiam uma visão interna do ambiente elegante e tranquilo. Havia uma placa discreta com o nome do local, e o aroma irresistível de massa fresca e molho temperado já podia ser sentido do lado de fora.
— Aqui estamos. — disse, fazendo um gesto para que ela entrasse primeiro.
sorriu e seguiu à frente, seu coração ainda acelerado com a expectativa da noite que só parecia melhorar.
Depois de se acomodarem em uma mesa próxima à janela, de onde podiam ver as luzes cintilantes da rua, e receberam os cardápios e começaram a analisar as opções.
— Tudo parece tão bom que eu nem sei o que escolher. — comentou, passando os olhos pelas descrições detalhadas dos pratos de massa e risotos.
— Eu sempre fico tentado a pedir a mesma coisa porque sei que é ótimo... mas, talvez hoje eu tente algo diferente. — sorriu para ela, antes de olhar novamente o menu. — O que acha do ravioli de ricota com molho de manteiga e sálvia?
— Parece incrível. — sorriu de volta. — Acho que vou de lasanha à bolonhesa. Faz tempo que não como uma boa lasanha.
— Ótima escolha. — concordou com entusiasmo.
O garçom logo veio à mesa, e ambos fizeram seus pedidos. Enquanto esperavam, a conversa fluiu naturalmente.
— E como está a loja com as festas de fim de ano chegando? Imagino que esteja bem movimentada. — perguntou, recostando-se na cadeira com interesse.
suspirou, soltando um pequeno riso cansado.
— Você nem imagina. — ela começou. — O brechó fica uma loucura nessa época do ano. Todo mundo procura algo diferente, seja para presentes ou para compor algum look especial para as festas. Tenho que reorganizar o estoque quase todos os dias, e os pedidos aos fornecedores são constantes. Hoje foi um pouco mais calmo, mas ainda assim, não para.
Ela fez uma pausa, inclinando-se levemente para a frente.
— Eu adoro ver as pessoas encontrando peças únicas, sabe? Mas tem dias que mal consigo respirar de tão corrido que é.
sorriu compreensivo, apoiando os cotovelos na mesa.
— Parece exaustivo, mas também gratificante. — ele comentou. — De qualquer forma, agora você está aqui, relaxando um pouco. Acho que é merecido, né?
— Com certeza. — riu, agradecida pelo alívio da correria.
— No meu caso, o ritmo está bem diferente. — começou a falar sobre sua própria experiência. — Com o recesso de fim de ano na universidade, as coisas estão mais calmas. As aulas terminaram e, apesar de alguns projetos em andamento, tenho mais tempo livre. Até estranhei um pouco, depois de meses tão intensos.
o olhou com uma expressão de curiosidade.
— Deve ser bom ter esse tempo para respirar, não é? Especialmente depois de tanto trabalho. Você consegue relaxar ou acaba pensando no que ainda precisa fazer?
deu uma risada suave.
— Um pouco dos dois, pra ser sincero. Mas estou tentando aproveitar o momento, sabe? Voltei a pintar, algo que tinha deixado de lado por falta de tempo. É como se o fim de ano me desse uma desculpa para desacelerar e focar em coisas que eu gosto, mas que acabo sempre adiando.
sorriu, interessada.
— Isso é incrível! Deve ser uma sensação ótima voltar a fazer algo que você ama.
— É, realmente é. — concordou, seus olhos brilhando. — E eu estava pensando em te mostrar um pouco do meu trabalho... talvez quando você tiver tempo.
— Eu adoraria! — ela respondeu com entusiasmo, genuinamente curiosa.
Enquanto conversavam, o garçom retornou com os pratos, e ambos se preparam para desfrutar da refeição, felizes por estarem juntos e descobrindo cada vez mais sobre o outro.
Enquanto aproveitavam a refeição, a conversa os levou naturalmente às festividades de fim de ano.
— Então, você tem algum plano especial para o Natal? — perguntou casualmente, cortando um pedaço de sua massa.
, que estava saboreando sua lasanha, hesitou por um momento antes de responder.
— Na verdade, minha mãe me convidou para a festa de Natal da família, como todos os anos. Mas... — ela fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. — Eu não vou. Decidi que este ano quero algo diferente. Sempre me sinto deslocada nessas festas, como se não pertencesse de verdade, sabe? É sempre sobre aparências, sobre quem tem mais e quem conquistou mais. Não quero passar por isso de novo.
acenou, compreendendo, e a apoiou com um olhar de empatia.
— Faz sentido. Às vezes, precisamos nos afastar de ambientes que não nos fazem bem.
assentiu, sentindo-se acolhida pela compreensão dele. Depois de uma breve pausa, ela perguntou:
— E você? O que faz no Natal?
baixou o olhar, seu tom mudando ligeiramente, mais introspectivo.
— Bem... — ele começou, mexendo a comida com o garfo de forma distraída. — Na verdade, eu sempre passo o Natal sozinho. Não tenho muito contato com minha família. Faz anos que não vejo meu pai, e não sou muito próximo de outros parentes. Então, acaba sendo só mais um dia para mim.
o olhou com surpresa e, ao mesmo tempo, com tristeza.
— Você passa o Natal sozinho? — ela repetiu suavemente, como se tentasse processar a ideia.
deu de ombros, um sorriso tímido aparecendo em seus lábios.
— É... meio que virou tradição. Eu tento ocupar a mente com algo, assistir filmes, preparar algo diferente para comer... mas é sempre meio solitário.
sentiu um aperto no peito, imaginando-o sozinho em uma época que, para muitos, significava estar rodeado de entes queridos. Ela hesitou antes de perguntar:
— E você... sente falta de passar o Natal em família?
respirou fundo, pensativo.
— Às vezes, sim. Acho que todos queremos esse tipo de conexão em algum nível. Mas ao mesmo tempo, eu me acostumei. Meu pai e eu nunca fomos muito próximos, e depois que perdemos contato, meio que aceitei que as coisas seriam assim.
não sabia exatamente o que dizer, mas a sinceridade e vulnerabilidade dele tocaram seu coração.
— , eu... sinto muito por isso. — ela disse, genuinamente. — Não consigo nem imaginar como deve ser.
a olhou com um pequeno sorriso reconfortante.
— Não precisa se desculpar. Faz parte da vida, sabe? Algumas coisas simplesmente acontecem, e a gente tem que aprender a lidar. Mas... esse ano, talvez não seja tão solitário. — ele acrescentou, os olhos suavizando ao encontrar os dela.
retribuiu o sorriso, sentindo uma mistura de empatia e uma vontade de estar presente para ele.
— Talvez não seja. — ela respondeu, sem precisar dizer mais.
O que ficou no ar, porém, era uma promessa silenciosa de que, neste ano, nenhum dos dois precisaria passar essa época sozinhos.
Depois de terminarem o prato principal, e deram uma olhada no cardápio de sobremesas. Eles riram brevemente sobre quem era mais "formiga", enquanto sugeria algo com chocolate.
— Que tal dividirmos uma torta de chocolate? — ele perguntou com um sorriso.
assentiu, achando a ideia perfeita. Logo depois de fazer o pedido, eles relaxaram em meio ao clima confortável do restaurante.
Foi então que , sentindo-se mais à vontade, olhou para , refletindo sobre o que ele havia compartilhado sobre o Natal. Antes que pudesse pensar muito, as palavras escaparam.
— Você sabe... — ela começou, hesitante, mas determinada. — Já que nós dois vamos passar o Natal sozinhos... — ela deu uma pausa, um pouco nervosa. — O que acha de passarmos a véspera de Natal juntos?
arregalou os olhos, claramente surpreso. Ele abriu a boca para falar, mas as palavras demoraram a sair.
— Eu... claro, seria... — ele parou e passou a mão pelos cabelos, desviando o olhar como se estivesse se perguntando se aquilo era uma boa ideia. — Ou... eu estou indo muito rápido? — disse baixinho, mais para si do que para ela.
sorriu com a honestidade dele e rapidamente balançou a cabeça.
— Não, não acho que você esteja. — ela disse com confiança. — Faz sentido, não faz? Estamos nos conhecendo, e ambos ficaríamos sozinhos de qualquer forma... Por que não passarmos juntos?
, ainda um pouco surpreso, deu um sorriso pequeno, mas genuíno, sentindo o alívio da aceitação dela.
— Tem razão. — ele concordou. — Acho que vai ser bem melhor do que qualquer outro Natal que eu poderia imaginar.
retribuiu o sorriso, sentindo uma leveza no ar entre eles, como se a decisão que haviam acabado de tomar trouxesse uma nova e doce possibilidade para o que ainda estava por vir.
A loja estava para fechar, havia dado folga para as vendedoras, já que apesar de corrido, o movimento na véspera de Natal era menos intenso e acreditou que daria conta do recado. olhou para a tela do celular mais uma vez, lendo e relendo a mensagem da mãe enquanto respirava fundo, tentando afastar a irritação crescente. Não queria deixar que aquilo estragasse o resto do seu dia, especialmente quando ainda tinha trabalho a fazer.
A sineta na porta do brechó tocou, anunciando a chegada de mais uma cliente. ergueu o olhar e ofereceu um sorriso acolhedor.
— Bem-vinda! Se precisar de ajuda, é só chamar. — disse, com um tom gentil, apesar do cansaço.
A cliente, uma jovem que parecia procurar algo específico, agradeceu e começou a explorar as araras. se ocupou dobrando algumas peças que haviam sido provadas e recolocando outras no lugar. O silêncio confortável do brechó era interrompido apenas pelo som suave de uma playlist de jazz natalino tocando ao fundo.
Pouco tempo depois, a cliente se aproximou do balcão com um vestido nas mãos, sorrindo timidamente.
— Acho que encontrei o que precisava. Esse vestido é perfeito!
sorriu, sentindo uma pontada de satisfação ao ver o brilho de entusiasmo nos olhos da cliente.
— Ótima escolha! Esse modelo é muito querido por aqui. — disse, embalando a peça com cuidado e finalizando a venda.
Assim que a cliente saiu, outra entrou, seguida por um jovem que parecia estar procurando um presente. o ajudou a escolher um cachecol de lã que ele garantiu ser “a cara” da pessoa especial que receberia o presente. Entre risadas, agradecimentos e pequenas trocas de palavras gentis, o tempo passou rápido.
Quando o último cliente saiu, fechou a porta e girou a placa para o lado que dizia “Fechado”. Ela encostou a testa na porta por um momento, soltando um longo suspiro.
— Feito. — murmurou para si mesma, sentindo o peso do dia começar a se dissolver.
apagou as luzes principais do brechó, deixou apenas a iluminação suave de algumas vitrines acesas e começou a organizar o caixa e verificar o estoque pela última vez. O clima mais calmo da loja parecia refletir seu estado de espírito, apesar das mensagens insistentes da mãe ainda estarem em sua mente.
Com tudo pronto, pegou sua bolsa e o casaco pendurado no encosto de uma cadeira. Enquanto fechava a porta e ajustava a tranca, ela olhou para o céu já escurecido e puxou o celular para enviar uma mensagem rápida para .
“Acabei de fechar a loja. Agora estou indo para casa me arrumar. Ansiosa para te ver mais tarde!”
colocou o celular no bolso e sorriu para si mesma, sentindo-se leve. A noite de Natal seria diferente de todas as outras, e, desta vez, ela estava genuinamente animada para o que estava por vir.
caminhava apressado pela calçada, equilibrando duas sacolas de compras em uma mão enquanto segurava o celular na outra, verificando a lista de itens que ele ainda precisava encontrar. O frio da noite começava a apertar, e ele ajeitou o cachecol em torno do pescoço, soltando uma nuvem de vapor com a respiração.
Ao sentir o celular vibrar, ele parou por um instante e desbloqueou a tela. O sorriso apareceu de imediato ao ler a mensagem de .
“Acabei de fechar a loja. Agora estou indo para casa me arrumar. Ansiosa para te ver mais tarde!”
Ele não conseguiu conter o calor que a mensagem trouxe, mesmo no frio da noite. O entusiasmo dela parecia tão genuíno quanto o seu, e isso fazia o esforço de preparar algo especial valer ainda mais a pena.
— Ela está ansiosa também... — murmurou para si mesmo, digitando uma resposta rápida: “Já estou cuidando de tudo por aqui. Mal posso esperar para te ver. 😊”
Guardou o celular no bolso e voltou sua atenção à lista. Ele ainda precisava encontrar algumas coisas para o jantar improvisado que fariam juntos, além de um pequeno detalhe decorativo para tornar o momento mais especial. entrou em um mercado, vasculhando prateleiras à procura de algo prático, mas significativo.
Depois de uma rápida busca, encontrou uma vela aromática com uma embalagem discreta e elegante. Ele colocou no carrinho junto com alguns itens prontos que economizariam tempo na cozinha: um prato de massa fresca, um vinho tinto e uma torta de chocolate que parecia tentadora. Satisfeito, pagou as compras e voltou para o carro.
Assim que acomodou as sacolas no banco de trás, sentou-se ao volante e apoiou a cabeça no encosto do assento, fechando os olhos por um instante antes de dar partida. Foi nesse momento que flashes embaçados começaram a surgir…
Lábios vermelhos. Um vestido preto ajustado. A risada suave de alguém misturada ao som abafado de música.
Ele franziu as sobrancelhas, tentando organizar as imagens desconexas que piscavam em sua mente. A noite da festa ainda parecia envolta em névoa, como um sonho que ele não conseguia lembrar completamente. As cenas eram fragmentadas, quase táteis, mas sempre escapavam antes que ele pudesse tentar encaixar as peças.
Tudo o que restava era a sensação intensa de que, mesmo naquela confusão, algo havia mudado. Algo havia começado.
abriu os olhos e sacudiu a cabeça, rindo de si mesmo.
— Isso não importa agora. — murmurou, ligando o carro e dirigindo até o próximo mercado.
Por mais que aquele mistério pairasse em sua mente, o que importava era o presente, e estava ali, presente e real, pronta para compartilhar uma noite que prometia ser memorável.
chegou em casa sentindo o corpo pesado após um dia cheio, mas o coração leve com a perspectiva do que estava por vir. Largou a bolsa sobre o sofá e seguiu diretamente para o banheiro, sem sequer ligar as luzes da sala. A porta rangeu levemente ao se fechar atrás dela, abafando o som da cidade lá fora.
Ela se despiu sem cerimônias, deixando a água quente do chuveiro escorrer por seu corpo e relaxar cada músculo tenso. Enquanto a espuma do sabonete deslizava, pensava em , no jeito simples e leve que ele tinha de aparecer em sua vida, trazendo uma calmaria que ela nem sabia que precisava. "Por que eu estou tão nervosa para essa noite?", perguntou-se mentalmente, rindo sozinha, com a testa apoiada contra o azulejo frio.
Quando saiu do banho, o vapor havia tomado conta do pequeno banheiro, e ela se enxugou lentamente, aproveitando a sensação reconfortante da toalha quente. seguiu para o quarto, parando diante do guarda-roupa. Por alguns segundos, ficou encarando os cabides com vestidos que poderiam facilmente ser escolhidos para a ocasião. Um preto elegante, um vinho que realçava seu tom de pele, até mesmo uma blusa brilhante com saia justa. Mas nenhum deles parecia certo.
— Formal demais... — murmurou, balançando a cabeça.
A última coisa que queria era passar a impressão de estar se esforçando para parecer algo que não era. Ela sabia que a apreciava pelo que ela demonstrava ser, sem máscaras ou disfarces. E, mais do que isso, o que ela queria para aquela noite era conforto. Algo que refletisse a leveza de dividir uma véspera de Natal com alguém que a fazia se sentir viva de novo.
Sem pensar muito mais, puxou uma calça larga de moletom, com estampa camuflada em tons de verde e bege, e vestiu-a rapidamente. Combinar calça de moletom com uma blusa parecia uma escolha pouco convencional para a ocasião, mas a peça cor da pele, de mangas longas e mais justinha, trouxe um equilíbrio inesperado. A touca da mesma cor completou o visual casual e acolhedor, deixando-a com uma aparência despretensiosa, mas, ainda assim, encantadora.
Ela se olhou no espelho, ajeitando a touca com as mãos.
— Perfeito. — disse para si mesma, com um sorriso satisfeito.
"Se ele me convidou para um Natal a dois, então ele vai me ter exatamente como eu sou."
Apressou-se a colocar um perfume suave, apenas para deixar um rastro discreto, e pegou o celular sobre a cama. Conferiu o horário e viu que tinha tempo suficiente para dar uma ajeitada no apartamento antes de ir para o apartamento de . Mas antes de qualquer coisa, mandou uma mensagem:
“Já estou pronta. Espero que você não se importe que eu tenha escolhido o conforto ao invés do glamour. 😂”
O celular vibrou quase de imediato com a resposta dele.
“Isso só prova que o bom gosto não precisa de esforço. Quando quiser pode vir! 😊”
sorriu para a tela, sentindo o coração acelerar um pouco. tinha um jeito de transformar até as mensagens mais simples em algo que deixava seu dia melhor.
Ela pegou a sacola com os itens que separou para a noite — alguns aperitivos e uma garrafa de vinho que encontrou no brechó em uma edição limitada, perfeita para ocasiões especiais. Parou no espelho do hall para conferir o visual uma última vez e ajeitou a touca, como se aquilo fizesse toda a diferença.
— Pronto, é agora — disse para si mesma, antes de sair e trancar a porta.
O elevador parecia mais lento do que o normal, e enquanto descia, ela não conseguia evitar o nervosismo. Era algo simples: uma noite de Natal entre duas pessoas que estavam se conhecendo. Mas, ao mesmo tempo, havia uma carga especial em tudo aquilo.
Já na rua, o ar frio da véspera de Natal tocou seu rosto, trazendo um contraste agradável ao calor do banho recente. caminhou com passos tranquilos até a entrada do prédio de , que ficava a apenas alguns quarteirões de distância. O percurso foi curto, mas suficiente para ela organizar seus pensamentos, imaginando como seria aquela noite.
Ao chegar, tocou o interfone, e a voz de veio quase de imediato, com um calor que a fez sorrir novamente.
— Suba, a porta já está aberta!
Ela entrou no prédio, sentindo o nervosismo se dissipar conforme subia os degraus. Quando chegou ao andar dele e a porta se abriu, encontrou no batente, um sorriso acolhedor no rosto e um avental meio desajeitado amarrado na cintura.
— Bem-vinda, . Feliz Natal antecipado.
Ela soltou uma risada ao notar o avental.
— Feliz Natal antecipado para você também... Vejo que já está no clima.
— Não disse que seria algo caseiro? — ele respondeu, gesticulando para ela entrar. — Estou tentando ser o anfitrião perfeito.
entrou, sentindo o aroma aconchegante do ambiente. O apartamento dele era simples, mas extremamente acolhedor, com luzes suaves e uma pequena árvore de Natal improvisada no canto da sala.
— Acho que essa vai ser uma noite inesquecível — ela disse, colocando a sacola no balcão.
— Eu espero que seja — respondeu, com um brilho nos olhos.
Ele estendeu a mão para pegar as sacolas que carregava antes mesmo de ela colocar sobre o balcão.
— Deixe isso comigo — ele disse com um sorriso. — Você é minha convidada, afinal.
— Obrigada, mas não precisa me tratar como uma rainha, sabe? — ela respondeu, rindo.
— Não tem nada a ver com realeza, é só boa educação — ele piscou enquanto seguia para a cozinha com as sacolas.
observou enquanto ele desaparecia por um momento, apenas para reaparecer na porta da cozinha com a mesma energia calorosa de antes.
— Fique à vontade. A casa é simples, mas pode explorar, sentar onde quiser... e se quiser colocar algo na playlist, o som está conectado ali — ele apontou para o canto da sala, onde um pequeno sistema de som descansava sobre uma prateleira.
Ela assentiu, sentindo-se já à vontade com o tom acolhedor do apartamento.
— Certo, vou dar uma olhada.
Enquanto isso, começou a organizar as coisas na cozinha, retirando as garrafas e os aperitivos da sacola.
— Você realmente se superou com isso aqui, . Esse vinho parece incrível — ele comentou, virando a garrafa para ler o rótulo.
— Achei que combinava com a ocasião. Só espero que você goste — ela respondeu, observando a árvore de Natal improvisada no canto.
— Tenho certeza de que vou gostar. Além disso, você já trouxe uma ótima companhia, o que faz qualquer vinho ser ainda melhor — ele disse, aparecendo novamente à porta da cozinha.
desviou o olhar para esconder um sorriso, o calor subindo ao rosto.
— E você, precisa de ajuda com algo? — ela perguntou, apontando para a cozinha.
— Não, está tudo sob controle por aqui. Você só precisa relaxar e aproveitar — ele disse, gesticulando para que ela se acomodasse no sofá.
Ela obedeceu, afundando no estofado macio enquanto olhava ao redor, apreciando os pequenos detalhes do lugar. O toque pessoal de estava em cada canto, desde os quadros na parede até a maneira como as luzes suaves criavam um ambiente acolhedor.
— Esse lugar realmente é a sua cara, sabia? — ela comentou, enquanto ele retornava para a sala, agora com um par de taças na mão.
— Isso é um elogio? — ele perguntou, entregando uma das taças a ela.
— Definitivamente.
sorriu, ergueu sua taça e olhou para ela.
— Então, ao Natal mais inesperado de todos.
— E talvez o mais memorável — completou, brindando com ele.
ajustou a intensidade da chama na lareira, criando um ambiente ainda mais acolhedor. Satisfeito com o resultado, ele voltou ao sofá e se sentou ao lado de , segurando sua taça com uma expressão relaxada, mas levemente pensativa.
— Sabe, depois de passar mais tempo com você, algo tem me intrigado — ele começou, inclinando-se um pouco em direção a ela. — Eu me perguntei se você costuma ir a baladas com frequência, porque, sinceramente, não parece ser o seu tipo de ambiente.
sentiu o corpo ficar rígido por um instante, as palavras dele parecendo tocar exatamente no ponto que a fazia questionar suas escolhas. Ela sorriu, tentando manter a compostura, mas o nervosismo a fez apertar a taça com um pouco mais de força.
— Por que acha isso? — ela perguntou, a voz um pouco mais baixa.
riu, balançando a cabeça.
— Só uma impressão. Você parece mais... caseira, sabe? Tipo alguém que prefere algo mais íntimo, como isso aqui — ele gesticulou para o ambiente ao redor. — Isso me faz pensar em como nos conhecemos naquela noite. Eu também não sou de frequentar baladas, então... foi meio que uma coincidência estranha, né?
O estômago de deu um nó. Ela desviou o olhar para a lareira, o calor agora parecendo sufocante. Engoliu seco, sentindo o peso do segredo que vinha guardando. Não era como se estivesse mentindo descaradamente, mas a verdade era que ela não era a garota do vestidinho preto que ele imaginava. Pelo menos, não no sentido que ele acreditava.
— Sim... foi uma coincidência — ela respondeu, mantendo o sorriso o mais natural possível.
franziu levemente a testa, mas não em desconfiança, apenas em curiosidade.
— É engraçado pensar nisso, né? Como a vida coloca as pessoas nos lugares certos, mesmo que não pareçam combinar com a gente — ele disse, levando a taça aos lábios e tomando um gole.
tentou acompanhar o clima leve, mas sentiu um peso em seu coração. Cada vez que mencionava aquela noite, ela sentia que estava se afundando mais em algo que não sabia como resolver.
— É... a vida tem umas formas engraçadas de fazer isso — ela concordou, sem muita convicção, antes de rapidamente mudar de assunto: — A propósito, a lareira está perfeita. Você tem um talento para criar o ambiente ideal.
Ele riu, aceitando a mudança de assunto sem questionar.
— Acho que é meu lado perfeccionista falando. Mas obrigado — ele respondeu, sorrindo calorosamente.
Enquanto ele começava a contar uma história sobre como quase queimou uma panela na primeira vez que tentou cozinhar, tentava relaxar e aproveitar o momento. Mesmo assim, no fundo da mente, a dúvida persistia: até quando poderia evitar a verdade?
se ajeitou no sofá, inclinando-se um pouco mais para perto de . Com um gesto natural e cheio de carinho, ele passou um dos braços ao redor dela, apoiando-o no encosto do sofá, mas a trazendo suavemente para mais perto.
— Você parece um pouco tensa — ele comentou, o tom de voz tranquilo, mas com um toque de preocupação. — Está tudo bem?
sentiu o calor do braço dele e a proximidade reconfortante que ele oferecia. Por um momento, a tensão em seu corpo permaneceu, como se ela ainda estivesse em alerta, mas algo na maneira como a olhou fez com que ela deixasse escapar um suspiro e, finalmente, se permitisse relaxar.
— Acho que estou só... pensando demais — ela admitiu, encostando-se nele, sentindo o ritmo constante de sua respiração, que parecia quase terapêutico.
abaixou levemente a cabeça, o rosto mais próximo do dela, e esboçou um sorriso reconfortante.
— Pensando no quê? Quer dividir?
mordeu levemente o lábio inferior, hesitando. Ela poderia contar a ele tudo o que a estava atormentando, mas naquele momento, a ideia de estragar a paz que finalmente haviam alcançado era insuportável.
— Nada importante — respondeu, inclinando a cabeça de leve contra o ombro dele. — Só coisa da minha cabeça mesmo.
Ele não insistiu. Apenas a apertou levemente contra si, como se dissesse, sem palavras, que estava ali para o que ela precisasse.
— Bem, seja lá o que for, espero que você se sinta à vontade para me contar quando quiser. Por enquanto, só relaxe, tá bom?
sorriu, sentindo um calor diferente dentro de si, algo entre a gratidão e a sensação de ser acolhida.
— Tá bom — respondeu, quase num sussurro.
E então ficaram ali, em silêncio, mas não era um silêncio desconfortável. Era o tipo de silêncio que falava por si, cheio de cumplicidade e tranquilidade. A lareira crepitava baixinho, espalhando uma luz suave pelo ambiente, enquanto eles aproveitavam a companhia um do outro, sem pressa.
levantou-se com um sorriso tímido, ajustando a touca enquanto olhava para .
— Com licença, posso invadir sua cozinha? Acho que é hora de trazer algo para acompanharmos esse vinho.
riu baixo e acenou com a cabeça.
— Fique à vontade. É tudo seu.
Ela seguiu até a cozinha, encontrando alguns snacks que havia comprado mais cedo. Selecionou algumas opções simples: uma bandeja de queijos, um pouco de castanhas e biscoitos salgados. Colocou tudo em uma tigela e voltou para o sofá, onde já estava servindo mais vinho para os dois.
— Trouxe reforços — anunciou, depositando a tigela na mesa de centro e se ajeitando novamente ao lado dele.
— Você pensa em tudo — brincou, pegando um pedaço de queijo e erguendo a taça. — À nossa noite.
— À nossa noite — ela repetiu, brindando com ele antes de dar um pequeno gole no vinho.
Eles começaram a beliscar os snacks enquanto a conversa fluía naturalmente, até que os olhos de recaíram em um quadro abstrato que decorava uma das paredes da sala.
— Esse é lindo — comentou, apontando para a obra. — Foi você quem fez?
sorriu, meio envergonhado, e assentiu.
— Foi, sim. Faz parte de uma série que eu estava explorando há um tempo, algo sobre movimento e emoções.
inclinou a cabeça, intrigada.
— Parece que tem muita coisa por trás disso. Você ainda pinta né?
Ele deu de ombros, pensativo.
— Sim, mas confesso que ultimamente ando meio devagar. Tenho alguns quadros prontos e outros inacabados em um quartinho da bagunça.
— Quartinho da bagunça? — ela repetiu, rindo.
— Sim, o lugar onde eu jogo tudo que não sei onde guardar — ele respondeu com humor. — Mas, se você quiser, posso te levar lá para ver.
Os olhos de brilharam de curiosidade.
— Sério? Eu adoraria.
assentiu, levantando-se do sofá e estendendo a mão para ela.
— Então vamos. Não prometo um lugar organizado, mas quem sabe você não me dá umas ideias para terminar os quadros inacabados?
pegou a mão dele com um sorriso animado, sentindo uma pontinha de expectativa crescer dentro dela enquanto ele a conduzia em direção ao quartinho.
guiou pelo corredor até uma porta estreita no fim. Ele girou a maçaneta com um suspiro, quase como se estivesse se preparando para se desculpar pela confusão que ela encontraria ali dentro.
— Bem-vinda ao meu santuário caótico — disse, acendendo a luz.
O quartinho era pequeno, mas cheio de personalidade. Paredes forradas com prateleiras abarrotadas de materiais de pintura: pincéis de todos os tamanhos, tubos de tinta, paletas manchadas com cores vibrantes e até alguns potes de argila seca. Havia quadros empilhados contra as paredes, alguns cobertos por lençóis brancos, outros expostos, como se aguardassem a aprovação final do artista.
entrou com cuidado, observando tudo ao redor.
— Eu esperava algo bagunçado, mas isso... isso é incrível, .
Ele soltou uma risada baixa, esfregando a nuca.
— Você é gentil demais. Para mim, parece mais um reflexo da minha mente desorganizada.
Ela se aproximou de um dos quadros parcialmente finalizados, com traços dinâmicos e cores intensas.
— Este aqui — apontou —, parece que está em movimento, quase como se dançasse.
aproximou-se, ficando ao lado dela enquanto olhava para a pintura.
— Foi essa a ideia — disse, a voz suave. — Queria capturar a energia, mas acho que nunca soube como finalizar.
virou-se para ele, sorrindo.
— Talvez não precise ser finalizado. Às vezes, a beleza está em algo inacabado, imperfeito.
ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras, antes de virar o rosto para ela.
— Você tem uma maneira de enxergar as coisas que me faz repensar tudo.
riu suavemente, desviando o olhar.
— Acho que é só o vinho falando.
— Não, definitivamente não é o vinho — ele rebateu, com sinceridade.
Um silêncio confortável pairou entre eles por um instante, enquanto continuava explorando os quadros. Finalmente, ela se voltou para ele com um brilho nos olhos.
— Você deveria continuar. Mesmo que não saiba como terminar, só o ato de criar já parece valer a pena.
sorriu, tocado pela observação.
— Talvez eu precise de uma musa para isso.
Ela arqueou uma sobrancelha, brincalhona.
— E está insinuando que eu deveria me candidatar ao cargo?
Ele riu, recostando-se na parede.
— Não vou negar que você seria perfeita para o papel.
Os dois trocaram um olhar cúmplice antes de soltar um suspiro divertido.
— Bom, então acho que minha visita ao quartinho da bagunça foi mais produtiva do que eu esperava.
estendeu a mão para ela novamente, e juntos eles saíram do quartinho, deixando para trás as pinturas que, de alguma forma, pareciam ter ganhado nova vida com aquela troca de ideias.
De volta ao sofá, ajeitou as almofadas para que ambos ficassem mais confortáveis. Ele se acomodou primeiro, puxando gentilmente para perto, como se o espaço entre eles fosse algo que ele não conseguisse suportar.
— Você tem um talento natural para interpretar arte — ele comentou, oferecendo um dos snacks para ela.
aceitou, mastigando enquanto considerava as palavras dele.
— Acho que sempre me interessei por arte de alguma forma. Mas nada tão sério quanto você.
arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Nada tão sério? Isso soa como alguém que tem um segredo a revelar.
Ela riu, brincando com o copo de vinho na mão.
— Não é um segredo exatamente. Eu pinto algumas coisas, mas nada grande ou... expressivo. Só... coisas menores, sabe?
— Menores como? — ele pressionou, visivelmente intrigado.
encolheu os ombros, levemente envergonhada.
— Telas pequenas, papel... às vezes até em cadernos. É mais uma forma de relaxar do que qualquer outra coisa.
inclinou a cabeça, analisando-a com um sorriso no rosto.
— Por que sinto que você está se subestimando?
— Não estou! — ela exclamou, rindo. — É sério. Não é algo que eu compartilho com as pessoas porque não acho que seja algo que valha a pena ser mostrado.
— Agora você me deixou ainda mais curioso.
brincou com a borda do copo, desviando o olhar.
— Talvez, um dia, eu mostre para você. Se você prometer não julgar.
colocou a mão sobre a dela, aquecendo-a com um gesto suave.
— , a arte não é sobre julgamento. É sobre expressão. O que quer que você crie, tenho certeza de que tem algo único e especial.
Ela olhou para ele, o calor das palavras tocando-a mais profundamente do que esperava.
— Você é bom nisso, sabia?
— Bom em quê? — ele perguntou, genuinamente curioso.
— Em fazer as pessoas se sentirem vistas.
sorriu, apertando levemente a mão dela.
— E você é boa em esconder talentos. Acho que estamos quites.
Os dois riram, deixando a conversa fluir para outras nuances sobre arte, inspirações e momentos criativos. Enquanto compartilhavam mais snacks e um pouco mais de vinho, o clima entre eles continuava leve, mas com uma profundidade que crescia com cada troca de olhares e cada nova revelação.
estava confortável ao lado de , a conversa fluindo como se o mundo ao redor não existisse. No entanto, o relógio na parede chamou sua atenção.
— Acho que já está na hora de começarmos a preparar a ceia, não acha? — ela sugeriu, se levantando com um sorriso.
acompanhou o movimento dela com o olhar, sua expressão refletindo um toque de preguiça.
— Tem razão. Mas, vou precisar da sua supervisão, chefe.
riu, ajustando a touca na cabeça.
— Vamos ver se você é tão bom na cozinha quanto é com pinceis.
No entanto, antes que ela pudesse se dirigir à cozinha, o celular vibrou no bolso de sua calça. O nome da mãe apareceu na tela, fazendo suspirar.
— É a minha mãe. Vou atender rapidinho.
apenas assentiu, se levantando também para começar a organizar as coisas na cozinha.
caminhou para o lado oposto da sala e atendeu.
“, você tem um momento?”
“Claro, estou um pouco ocupada, mas pode falar.”
Do outro lado da linha, a voz da mãe parecia um misto de preocupação e irritação.
“Eu ainda não consigo acreditar que você realmente vai passar o Natal longe da sua família. Seu pai está chateado, você sabe disso, não sabe?”
fechou os olhos por um momento, respirando fundo para manter a calma.
“Mãe, eu já expliquei. Não é sobre vocês. É sobre eu precisar desse tempo para mim, para me permitir experimentar algo diferente.”
“Diferente como? Passar a noite de Natal sozinha?”
hesitou, mordendo o lábio.
“Não estou sozinha. Estou com alguém.”
A declaração causou um breve silêncio do outro lado da linha.
“Com alguém? Quem?”
“Um amigo” — respondeu, sabendo que detalhar qualquer coisa só pioraria a situação.
“Amigo? Ou algo mais?”
apertou a ponte do nariz, sentindo a exaustão da conversa.
“Mãe, eu realmente preciso ir. Estamos prestes a começar a preparar a ceia.”
“Tudo bem. Mas, ... só espero que você saiba o que está fazendo.”
“Eu sei, mãe. Feliz Natal para vocês.”
“Feliz Natal, querida.”
encerrou a ligação e voltou para onde já estava separando alguns ingredientes na bancada. Ele levantou os olhos para ela, percebendo a tensão em seus ombros.
— Tudo bem? — ele perguntou com suavidade.
deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça.
— Nada que não passe. Vamos começar?
— Vamos — ele respondeu, entregando um avental para ela com um sorriso tranquilizador.
Juntos, mergulharam na preparação da ceia, com tentando esquecer a conversa com a mãe e focar na leveza e na companhia acolhedora de .
amarrou o avental em volta da cintura enquanto observava vestir o dela, tentando esconder um sorriso.
— Pronta para se aventurar na culinária comigo? — ele provocou, já cortando alguns vegetais.
— Acho que a pergunta certa é: você está pronto para me acompanhar? — ela retrucou, piscando para ele enquanto se aproximava da bancada.
Os dois começaram a trabalhar em harmonia, rindo de pequenos deslizes e se provocando gentilmente. , concentrado em lavar as verduras, não percebeu quando pegou uma pitada de farinha e jogou levemente sobre ele.
— Ei! — ele exclamou, olhando para a blusa agora marcada de branco. — Isso foi uma declaração de guerra, .
Ela riu, tentando se afastar antes que ele revidasse, mas não foi rápida o suficiente. pegou um pouco de farinha e devolveu o ataque, acertando a touca dela.
— ! Minha touca! — ela protestou, mas ria tanto que não parecia realmente brava.
— Não tenho culpa se você começou! — ele disse, divertido.
Quando tentou se aproximar para mais uma ofensiva, ligou a torneira e, sem aviso, espirrou um pouco de água em direção a ela.
— Ah, não acredito que você fez isso! — ela disse, entre risadas.
— Considero um empate técnico — ele disse, rindo ao vê-la tentando limpar o rosto com as mangas da blusa.
— Empate nada — ela retrucou, aproveitando que ele estava desprevenido para espirrar um pouco de água nele também.
O riso deles ecoava pela cozinha, criando um clima leve e descontraído. Depois de alguns minutos, ambos estavam um pouco molhados e com farinha no rosto e nas roupas.
— Agora estamos parecendo dois cozinheiros desastrosos — ele comentou, ainda rindo enquanto tentava limpar a própria camisa.
se aproximou com um sorriso, pegando um pano úmido para ajudar.
— Não. Estamos parecendo duas pessoas que sabem se divertir enquanto cozinham.
sorriu, olhando para ela com carinho enquanto ela passava o pano delicadamente pelo seu rosto.
— Acho que é o Natal mais divertido que já tive em muito tempo.
— Ainda nem começamos a ceia — ela disse, piscando.
— Então estou ansioso pelo resto da noite — ele respondeu, a voz suave.
Os dois trocaram um olhar cúmplice antes de voltarem a se concentrar na comida, embora a leveza do momento continuasse presente, enchendo o ambiente de uma energia calorosa e especial.
se acomodou na cadeira, ajeitando o guardanapo sobre o colo, e seus olhos percorreram a mesa. Só então notou os detalhes que antes haviam passado despercebidos: duas velas altas e temáticas, com desenhos delicados de flocos de neve, exalavam um aroma suave de pinho. A chama tremulante lançava sombras suaves pela sala, criando um clima aconchegante e intimista.
Perto da mesa, uma modesta árvore de Natal decorava o canto da sala. Pequenas luzes piscavam em tons quentes, e os enfeites simples, mas cuidadosamente escolhidos, mostravam a atenção de aos detalhes.
Ela sorriu, tocada pela preocupação dele em criar uma atmosfera especial.
— Você realmente pensou em tudo, não é? — comentou, olhando para ele com admiração.
deu de ombros, um leve rubor colorindo suas bochechas.
— Eu só queria que a noite fosse agradável. Não faço isso com frequência... bom, na verdade, nunca fiz — ele admitiu, soltando uma risada sem graça.
— Está perfeito — ela respondeu, sincera, enquanto pegava o copo de vinho e erguia em um brinde improvisado. — Ao Natal e a uma companhia inesperada.
riu, levantando seu próprio copo.
— Ao Natal e às boas surpresas.
Os dois brindaram, o som suave do vidro ecoando pela sala, e começaram a servir a comida. Conversaram enquanto comiam, compartilhando histórias e risadas entre as garfadas.
notou como prestava atenção em cada detalhe, até mesmo em como ele enchia o prato dela com cuidado para não faltar nada. Quando um momento de silêncio confortável caiu entre eles, ela olhou para ele com gratidão.
— Sabe, é engraçado como algumas coisas podem parecer simples, mas têm um impacto enorme — ela disse, indicando as velas e a árvore. — Isso aqui... significa mais do que você imagina.
inclinou a cabeça, interessado.
— Como assim?
— Eu não esperava que essa noite fosse assim. Eu estava preparada para algo... sei lá, mais casual. Mas isso... — Ela olhou ao redor, um sorriso tímido nos lábios. — Você fez tudo parecer especial.
sorriu, um brilho suave nos olhos.
— Bom, você também tem sua parcela de culpa nisso.
riu, o coração aquecido. Enquanto continuavam a jantar, ela se sentiu cada vez mais confortável, percebendo que talvez aquela fosse uma das noites mais marcantes de sua vida.
colocou o último prato no escorredor e enxugou as mãos com um pano de prato. Ao seu lado, estava terminando de limpar a pia, os movimentos lentos e tranquilos, como se quisesse prolongar aquele momento.
— Pronto — ele disse, olhando para o resultado do trabalho em equipe. — Acho que conseguimos deixar tudo impecável.
— Conseguimos, sim. Equipe de primeira — ela respondeu, com um sorriso.
olhou para o relógio na parede e percebeu que faltavam poucos minutos para a meia-noite. A leve ansiedade misturava-se ao calor confortável que sentia ao lado dele. Ela se virou, apoiando-se no balcão, observando enquanto ele organizava os utensílios.
Tomando coragem, ela deu alguns passos até ficar perto o suficiente para sentir o perfume amadeirado dele. ergueu o olhar, surpreso com a proximidade dela, e inclinou a cabeça, curioso.
— O que foi? — ele perguntou, um sorriso brincando em seus lábios.
sorriu, sentindo o coração acelerar.
— Queria te desejar um feliz Natal antes da meia-noite. E... agradecer por essa noite incrível.
abaixou o pano de prato que segurava e se virou completamente para ela, apoiando as mãos no balcão atrás de si.
— O agradecimento é mútuo. Você tornou o Natal, que geralmente é só mais um dia para mim, em algo especial.
deu mais um passo à frente, os olhos fixos nos dele. Sua voz saiu quase num sussurro:
— Feliz Natal, .
Ele sorriu, abaixando a cabeça por um momento antes de erguer o olhar novamente.
— Feliz Natal, .
Sem pensar muito, se inclinou, os rostos próximos o suficiente para sentir a respiração um do outro. fechou a distância restante, e seus lábios se encontraram em um beijo suave, quase hesitante no início, mas que rapidamente ganhou intensidade.
Era um beijo carregado de tudo o que as palavras não haviam sido capazes de expressar até então. Gratidão, conforto, e algo mais profundo que começava a brotar entre eles.
Quando se afastaram, apenas o suficiente para se olharem, acariciou levemente o rosto dela, ainda com um sorriso nos lábios.
— Acho que esse é o melhor Natal que já tive.
riu suavemente, sentindo as bochechas corarem.
— E estamos só começando.
passou os dedos distraidamente pelo cabelo enquanto os dois ainda estavam próximos ao balcão, os resquícios do beijo ainda pairando entre eles. Ele deu um sorriso tímido e sugeriu:
— O que acha de vermos um filme? Nada muito longo, só para continuar a noite...
olhou para ele, hesitando por um momento antes de soltar uma risadinha.
— Parece tentador, mas está ficando tarde, . Eu realmente deveria voltar para casa. Mesmo morando perto, é melhor eu ir.
O sorriso de vacilou levemente, e ele passou a mão pela nuca, parecendo lutar com algo que queria dizer. Finalmente, respirou fundo e soltou:
— Você pode dormir aqui...
o encarou, surpresa, enquanto ele apressava-se em completar, quase nervoso:
— Quer dizer, eu durmo no sofá, e você pode dormir no quarto. É só que... eu não quero que o Natal acabe para nós dois ainda.
Ela ficou em silêncio por um momento, absorvendo a proposta. Havia algo tão genuíno em sua hesitação e no brilho de seus olhos que ela não conseguiu evitar sorrir.
— ... — começou, a voz suave. — Você tem certeza? Não quero te incomodar.
Ele riu baixinho, balançando a cabeça.
— Incomodar? Acho que nunca gostei tanto da ideia de ter companhia como agora.
mordeu levemente o lábio, ainda ponderando. Finalmente, deu um pequeno aceno de cabeça.
— Tudo bem, eu fico. Mas só se você não se importar de dividir o sofá comigo para vermos o filme.
riu, claramente aliviado e animado ao mesmo tempo.
— Fechado. Agora, vamos escolher o filme.
Ele a conduziu para a sala, onde o conforto e o calor da lareira criavam o cenário perfeito para o desfecho de uma noite que, para ambos, já havia se tornado inesquecível.
e se acomodaram juntos no sofá, escolhendo um filme leve e descontraído para encerrar a noite de Natal. O som do filme ecoava suavemente pela sala, mas grande parte da atenção de ambos estava um no outro. Entre risadas espontâneas e comentários sobre as cenas, eles compartilhavam mais snacks e um pouco de vinho, criando uma atmosfera de cumplicidade que parecia se fortalecer a cada momento.
As conversas fluíam naturalmente, intercaladas por olhares significativos e beijos roubados. relaxava mais a cada instante, sentindo-se confortável na presença de , enquanto ele, por sua vez, parecia incapaz de esconder a felicidade de tê-la ali.
Quando o filme terminou, eles continuaram conversando por mais algum tempo, as risadas diminuindo para sussurros suaves enquanto o ambiente se tornava mais íntimo. Em algum momento, percebeu que ela estava lutando contra o sono e levantou-se, esticando os braços em um gesto decidido.
— Vou arrumar o quarto para você. É o mínimo que posso fazer, considerando que você aceitou ficar.
sorriu com ternura, observando-o se afastar em direção ao quarto. Ele retornou poucos minutos depois, esfregando as mãos.
— Prontinho. Está tudo arrumado para você. Roupa de cama nova, toalha limpa... só falta você se sentir em casa.
Ela se levantou, um pouco relutante em se afastar do sofá e da companhia dele, mas agradecida pela gentileza.
— Obrigada, . Por tudo isso.
Ele deu um sorriso caloroso, colocando as mãos nos bolsos.
— Boa noite, . Ou melhor, feliz Natal de novo.
Ela riu baixinho antes de se aproximar para deixar um beijo leve na bochecha dele.
— Feliz Natal, .
Com isso, ela se dirigiu ao quarto, enquanto ele apagava as luzes da sala, deixando o calor do momento e a tranquilidade daquela noite mágica pairarem no ar.
se ajeitou no sofá da sala da própria casa, cercado por travesseiros e almofadas e se cobriu com o cobertor que estava lá já, pronto para finalmente dormir. Suspirou profundamente, sentindo o corpo relaxar após a intensidade daquele dia. O silêncio confortável da noite tomava conta do ambiente, interrompido apenas pelo som distante de carros na rua e pelo sutil crepitar da lareira, que ainda mantinha a sala aquecida.
Ele sorriu para si mesmo, recordando cada detalhe da noite ao lado de . A risada dela, o jeito como ela parecia à vontade mesmo em um ambiente novo, e a maneira como ela o fazia sentir que não estava sozinho naquela data que, há tanto tempo, carregava apenas memórias solitárias.
Virou-se de lado, ajeitando o travesseiro sob a cabeça, mas não conseguiu fechar os olhos imediatamente. Sua mente voltou para a cena final antes de ela se retirar para o quarto. O beijo suave que ela deixou em sua bochecha, a gratidão genuína em seu olhar, e a energia reconfortante que parecia emanar dela.
olhou na direção do corredor que levava ao quarto. A porta estava fechada, mas o simples fato de saber que ela estava ali, a poucos metros de distância, enchia seu coração de uma paz inesperada.
Ele se perguntou se isso poderia ser o começo de algo mais. Algo que ele não esperava, mas que já parecia essencial. Com um sorriso ainda estampado no rosto, finalmente fechou os olhos, deixando-se levar pelo cansaço e pela doçura das lembranças daquela noite de Natal.
Enquanto isso, no quarto, também tinha dificuldades para pegar no sono. Aconchegada na cama arrumada por , ela olhava para o teto, os pensamentos repletos de momentos compartilhados. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentia completamente acolhida.
E assim, o silêncio da madrugada acolheu os dois, embalados pelo calor do momento, enquanto a promessa de um novo dia se desenhava no horizonte, carregando a possibilidade de um futuro juntos.
Além dos quadros, uma estante discreta ocupava parte da parede ao lado da janela. Estava repleta de livros sobre arte, fotografia e até alguns romances, misturados com pequenos objetos que pareciam ter um valor sentimental – uma câmera antiga, um porta-retrato virado para a parede, algumas miniaturas de esculturas.
A cama onde estava deitada era espaçosa e coberta por lençois macios em tons neutros, transmitindo um conforto acolhedor. A luz suave da manhã atravessava as cortinas parcialmente abertas, iluminando o ambiente com um brilho cálido e tranquilo.
suspirou, deixando-se envolver pelo clima intimista do quarto. Cada detalhe parecia contar um pouco mais sobre , sobre quem ele era além do que deixava transparecer. E, naquele momento, ela se deu conta de como queria continuar descobrindo mais sobre ele.
Se desfez dos cobertores, jogando-os para o lado e então se levantou. Espreguiçou-se como fazia todas as manhãs e então caminhou em direção à porta, pisando na ponta dos pés, não sabia se ele já estava acordado ou não, e não queria acordá-lo com nenhum tipo de barulho.
Seus olhos percorreram o corredor à procura do banheiro. O apartamento não era muito grande, então não deveria ser difícil encontrá-lo. Passou por uma porta entreaberta e espiou discretamente lá dentro, vendo o espaço pequeno, repleto de telas encostadas na parede e uma prateleira desorganizada com tubos de tinta, pinceis e materiais de arte. O famoso "quartinho da bagunça" que havia mostrado na noite anterior.
Ela sorriu de leve, mas seguiu em frente. Logo, encontrou outra porta, esta fechada. Virou a maçaneta devagar e, para sua sorte, era o banheiro.
Ao entrar, respirou fundo, relaxando um pouco mais. O banheiro era bem organizado, com uma decoração simples e funcional. Havia uma toalha pendurada ao lado da pia e alguns objetos pessoais de espalhados ali — um creme de barbear, um frasco de colônia, uma escova de dentes e um vidro de hidratante com um aroma que ela reconheceu da noite anterior.
Se aproximou do espelho, prendendo o cabelo em um coque bagunçado e lavando o rosto com água fria para despertar de vez. Olhou-se no reflexo por alguns segundos, percebendo como se sentia estranhamente confortável ali, como se aquele lugar já lhe fosse familiar de alguma forma.
De repente, o som de um bocejo longo vindo da sala a fez se sobressaltar. estava acordando.
se atreveu a pegar a pasta de dentes que havia disposta ali sobre a pia e despejou um punhado em seu dedo indicador, levando o mesmo aos dentes para escová-los mesmo que superficialmente.
Enquanto esfregava os dentes com o dedo, sentiu um movimento atrás de si e, pelo reflexo do espelho, viu parado na porta do banheiro, os olhos ainda meio sonolentos e o cabelo bagunçado. Ele vestia apenas uma camiseta larga e uma calça de moletom, e seu olhar preguiçoso se iluminou levemente ao vê-la ali.
— Ah… bom dia — ele murmurou, coçando a nuca enquanto escondia um sorriso. — Essa é uma técnica nova de escovação porque você esqueceu a escova de dentes em casa?
, pega de surpresa, arregalou levemente os olhos e se virou para ele, ainda com a pasta de dente na boca. Engoliu em seco — ou tentou, já que a espuma da pasta atrapalhava — e deu um sorriso culpado.
— Eu… achei que não teria problema — murmurou, tampando a boca com a mão. — Desculpa, eu deveria ter perguntado antes.
riu baixinho, cruzando os braços.
— Você podia ter pedido uma escova extra, sabe? Tenho algumas guardadas.
Ela estreitou os olhos, meio envergonhada.
— Agora você me diz?
Ele ergueu as mãos em rendição.
— Tudo bem, tudo bem. Espera aí.
deu meia-volta e, poucos segundos depois, retornou com uma escova de dentes nova ainda na embalagem. Ele a entregou para , que pegou o item com uma mistura de gratidão e constrangimento.
— Aqui, agora você pode fazer direito.
Ela pegou a escova e balançou a cabeça, rindo baixo.
— Obrigada.
se encostou no batente da porta, observando-a com um olhar divertido enquanto ela começava a escovar os dentes de verdade.
— Fica à vontade, tá? A casa é sua também… pelo menos enquanto estiver aqui.
parou por um momento, encarando-o pelo espelho. Algo na forma como ele disse aquilo fez seu peito aquecer. Ela apenas assentiu e voltou à sua escovação, sentindo que aquela manhã já estava começando de um jeito inesperadamente confortável.
Assim que ela saiu do banheiro viu em seu quarto, arrumando a cama em que ela dormiu e foi até lá.
— Ei! Eu deveria estar fazendo isso, sou sua visita. — sentiu as bochechas ficarem vermelhas.
— Justamente por isso que eu to arrumando, visitas não mexem com isso. — piscou para ela enquanto terminava de esticar a roupa de cama — Me espera lá na sala, que tal nós tomarmos café numa padaria? Ou você tem compromisso?
mordeu o lábio pensando na proposta e amando poder passar mais tempo com ele…
— Não! Quer dizer, estou pensando em ir almoçar com meus pais hoje, mas o café da manhã é todo seu!
Assim que as palavras saíram de sua boca, sentiu o rosto esquentar ainda mais. Era como se tivesse soado empolgada demais, e a forma como a olhava, com um sorriso de canto e as sobrancelhas levemente erguidas, só tornava tudo pior.
Sem dar tempo para que ele respondesse, ela girou nos calcanhares apressadamente.
— Eu… vou esperar na sala! — disse rápido, quase tropeçando nos próprios pés ao sair do quarto.
Ouviu a risada baixa de atrás de si, e isso só fez seu rosto arder ainda mais.
Ao chegar na sala, soltou um suspiro profundo, levando as mãos ao rosto por um instante. Sentia-se boba por ficar tão nervosa com interações simples como essa, mas era impossível evitar. tinha um jeito descontraído que a deixava confortável e inquieta ao mesmo tempo.
Respirou fundo algumas vezes e tentou se recompor, caminhando até o sofá e se sentando. Quando apareceu pouco depois, ainda de pijamas, ela fingiu estar distraída observando a lareira apagada.
— Só me dá um minuto, vou me aprontar rapidinho. — disse com um sorriso antes de seguir para o banheiro.
o observou sumir pelo corredor e soltou um suspiro discreto. Ainda sentia o rosto quente, mas pelo menos agora tinha um tempo para se recompor.
Enquanto ele fazia sua higiene matinal, ela caminhou devagar pela sala, observando melhor os detalhes do apartamento. O ambiente era aconchegante, com tons neutros e detalhes que refletiam a personalidade dele, principalmente os quadros espalhados pelas paredes.
Pouco depois, retornou ao quarto para trocar de roupa. Escolheu algo casual, quente e confortável, ajeitou os cabelos rapidamente e então olhou ao redor. Os sapatos de estavam próximos à cama, e o celular dela descansava sobre o criado-mudo. Pegou os dois, certificando-se de que ela não esqueceria nada.
Ao voltar para a sala, encontrou distraída olhando para um quadro na parede.
— Ei, acho que você vai precisar disso. — Ele ergueu os sapatos e o celular dela com um sorriso brincalhão.
piscou algumas vezes antes de virar na direção dele, sentindo o rosto esquentar ao perceber que tinha deixado seus pertences para trás.
— Ah! Verdade… obrigada. — Pegou os itens das mãos dele rapidamente, calçando os sapatos de forma um pouco apressada.
riu baixo, balançando a cabeça.
— Agora sim, pronta?
Ela assentiu, tentando soar natural.
— Sim! Vamos?
Dessa vez, ele não segurou a risada. Apenas abriu a porta, esperando que ela saísse primeiro, e juntos seguiram para a padaria, prontos para aproveitar mais um momento agradável naquela manhã.
puxou a cadeira para que ela se sentasse e sorriu em agradecimento, depositando a bolsa no próprio colo, retirando o celular de lá. Respirou fundo e então mandou uma mensagem para a mãe:
“Bom dia! Como passaram a véspera do Natal? Se vocês quiserem, podemos almoçar juntos hoje… Beijos. 😘”
passava os olhos pelo cardápio, fazia algum tempo que ele não tomava seus cafés da manhã fora de casa. Depois de alguns segundos, ele ergueu o olhar para e então estendeu o cardápio na direção dela:
— Você vai almoçar com os seus pais, não é? Melhor não comermos algo muito pesado então.
— Estou esperando para ver se eles vão querer a minha presença no almoço de Natal… então não sei. — deu de ombros — Mas melhor comer algo leve mesmo, você tem razão.
ergueu a mão e então apertou a ponta do nariz dela que encolheu os ombros enquanto ria.
— Acha que eles estão muito chateados com a sua escolha de ontem? Aliás, o que você disse para eles?
— Não entrei em muitos detalhes pelo bem da minha saúde mental, só disse que queria passar de uma forma diferente, e que não estaria sozinha.
Um garçom se aproximou dos dois, questionando se eles já desejavam fazer seus pedidos e pediu um croissant de presunto com queijo e um capuccino e optou por um croissant de doce e um expresso sem açúcar.
— Sem açúcar mesmo? — arregalou levemente os olhos enquanto via o celular vibrar sobre a mesa — Realmente a vida adulta chegou para você.
riu da expressão surpresa dela e apoiou os braços na mesa, se inclinando um pouco para perto.
— Já faz um bom tempo que eu tomo sem açúcar. No começo foi difícil, mas depois me acostumei.
ainda o olhava com uma expressão de falsa indignação, o que o fez rir mais.
— Sério, além de sentir melhor o sabor real do café, também é mais saudável. Açúcar em excesso pode causar um monte de problemas, sabia? E como eu já como doces de vez em quando, prefiro equilibrar.
Ela balançou a cabeça devagar, cruzando os braços.
— Uau, parece até um nutricionista falando.
— Eu tento. — piscou, divertido.
riu, pegando o celular para ver a notificação enquanto ele continuava:
— Você deveria tentar também. Começa tirando um pouquinho de açúcar por dia, quando perceber, já vai estar tomando puro sem nem sentir falta.
Ela ergueu uma sobrancelha, desviando o olhar do celular para ele.
— Não sei, acho que ainda não cheguei nesse nível de evolução.
gargalhou, balançando a cabeça.
— Tudo bem, um dia você chega lá.
Os dois trocaram sorrisos antes de voltar sua atenção para a tela do celular, verificando se era resposta da mãe, enquanto recostava na cadeira, satisfeito por compartilhar um momento tão leve e divertido com ela.
A mãe havia respondido de forma bem direta a mensagem e não se surpreendeu:
“O almoço começa ao meio dia, não se atrase.”
suspirou pesadamente e deixou o celular de lado de novo e voltou sua atenção para que a analisava com cuidado.
— Deixa eu adivinhar? — ele se inclinou um pouco mais para frente — Seus pais?
— Ah! — ela suspirou de novo — Nada demais, mas pelo menos me deixaram comparecer ao almoço de família.
— E você quer mesmo ir a esse almoço?
começou a mexer na ponta do guardanapo sobre a mesa e olhou para o papel branco à sua frente. Ela amava seus pais, sem dúvida, mas havia algo de complicado naquele almoço de Natal. O calor da mesa, a comida gostosa, a convivência familiar... tudo aquilo trazia um conforto imenso. Mas, ao mesmo tempo, sabia que seria um dia cheio de expectativas, conversas quase forçadas e, provavelmente, uma pressão silenciosa que sentia a cada reunião de família.
Ela se lembrava das inúmeras vezes que sua mãe a havia questionado sobre sua vida pessoal, sobre o que estava acontecendo, e das expressões desconfortáveis de seu pai quando ele tentava disfarçar sua preocupação com o fato de não se envolver em algo sério. Havia uma cobrança que não era dita, mas estava ali, pairando no ar, sempre que a família se reunia.
— Eu... eu amo eles. — disse, finalmente quebrando o silêncio. Suas palavras foram suaves, quase para si mesma. — É só que... eu sei o que esperar desse almoço, sabe? Eles vão me olhar de um jeito diferente, como sempre. Perguntas sobre trabalho, sobre namoro, sobre a vida... e eu sei que eles não entendem bem minhas escolhas.
Ela soltou uma risada amarga, passando as mãos pelos cabelos.
— Eu só não sei se consigo lidar com isso agora. Quero muito estar com eles, mas... tem algo nessa cobrança que me consome.
observava atentamente, sem interromper, apenas escutando. Ele sabia que esse dilema era real para ela, e não queria apressá-la em nenhuma decisão.
— Então, você não quer ir... mas ao mesmo tempo, quer. — Ele disse, mais como uma afirmação do que uma pergunta. — É difícil, eu entendo.
Ela assentiu lentamente, respirando fundo.
— Eu deveria ir. Afinal, é Natal... Não posso simplesmente me afastar de tudo isso.
Ele sorriu com suavidade, tocando a ponta dos dedos no guardanapo que ela estava segurando.
— Não tem problema se você não for. Só... saiba que você sempre tem uma escolha. Você é quem decide como passar seu tempo, e ninguém pode te pressionar a ser alguém que você não é, nem fazer algo que não queira fazer.
o olhou por um momento, e pela primeira vez no dia, ela sentiu um alívio pequeno, mas importante, de ouvir alguém dizer isso. Afinal, com , ela se sentia livre para ser ela mesma, sem a necessidade de se encaixar em uma expectativa alheia.
O garçom voltou com os pedidos feitos mais cedo pelos dois e os depositou delicadamente sobre a mesma, e ambos agradeceram. Em silêncio eles começaram a comer e a beber de seus cafés. Mas ainda analisava em silêncio.
— … — ele chamou depois de beber mais um pouco do café.
Ela ergueu os olhos para ele, ainda mastigando um pedaço do croissant e assentiu, como se dissesse a ele que ele podia falar.
— E se eu fosse com você? Quer que eu vá? Talvez isso diminua a pressão, e tire o foco de você diretamente… eles vão focar em mim.
parou por um momento, o croissant ainda na boca, enquanto suas palavras começaram a fazer sentido em sua mente. Ela engoliu o pedaço e olhou para , um pouco surpresa com a proposta. A ideia de ele ir com ela, de ele estar ali ao lado, a fez pensar nas possibilidades. Ela sabia que teria que lidar com as perguntas de sempre, os olhares curiosos e as expectativas da família, mas, talvez, com ali, a dinâmica fosse diferente.
Ela imaginou a cena: a mesa de Natal com os pais, o olhar de sua mãe, as perguntas sobre a vida pessoal, o trabalho, os relacionamentos... Mas com ali, ela não precisaria se sentir tão exposta. Ele poderia ser uma espécie de escudo, algo que a faria se sentir mais à vontade. Ele tinha a capacidade de afastar a tensão e, com sua presença tranquila, poderia suavizar a pressão que ela sempre sentia nas reuniões familiares.
Por outro lado, também sabia que isso poderia complicar as coisas. não era alguém de sua família, e talvez seus pais ficassem um pouco surpresos, ou até desconfortáveis, com sua presença. Além disso, seria um pouco estranho, não? Ele não poderia ser o "escudo" por muito tempo, e ela teria que encarar os questionamentos em algum momento. Mas, ao mesmo tempo, ela não queria afastar . Ele estava ali, disposto a apoiá-la, e isso significava algo para ela.
O que seria melhor? Enfrentar o almoço sozinha, com tudo o que ele implicaria, ou aceitar a ajuda de , mas arriscar tornar a situação mais complicada?
Ela respirou fundo e tentou pesar as opções, sentindo-se mais confusa do que nunca.
— Eu... não sei. — murmurou, encarando o café à sua frente. — Acho que seria bom... Mas, ao mesmo tempo, me sinto estranha. Sei lá, não sei se você quer se meter nisso.
Ela riu sem graça, tentando suavizar a situação.
— Eu não sei o que é pior... Ir sozinha ou ter você lá e arranjar mais perguntas ainda.
— Se não quisesse me meter, eu não tinha ofertado . Quem sabe assim eles não fiquem com vergonha e mudam a forma de te tratar, já que tem alguém te acompanhando. Posso até fingir ser seu namorado, se quiser.
engoliu seco. Será que mais uma mentira para o currículo faria tanta diferença assim? Ela encarou que esperava a resposta.
— Tá. É meio dia o almoço e meus pais odeiam atraso.
— Meio dia em ponto estaremos batendo na porta dos seus tios, seus pais não vão nem acreditar.
E lá estava o sorriso que iluminava tudo nos lábios dele de novo e sentiu o estômago revirar.
Ela abriu a porta do passageiro e entrou, sendo imediatamente acolhida pelo calor do interior do carro — e pelo sorriso dele.
— Bom dia de novo — ele disse, com aquele olhar tranquilo que sempre fazia as coisas parecerem menos assustadoras.
— Bom dia. — respondeu, sorrindo de volta. Assim que fechou a porta, reparou nos fios escuros de ainda úmidos, caindo displicentemente sobre a testa. — Você tomou banho agora há pouco?
— Há uns dez minutos — ele riu, ligando o aquecedor. — Eu perdi a noção do tempo mexendo nas roupas. Queria parecer apresentável.
abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, se inclinou levemente e depositou um beijo suave no canto da boca dela — um gesto simples, mas que a deixou completamente sem reação por um instante. O coração dela vacilou, e o calor subiu direto para o rosto.
— Isso foi... inesperado. — ela murmurou, rindo baixinho.
— Bom. Começamos com coragem. Quem sabe isso me ajuda lá com os seus pais. — ele piscou.
Ela balançou a cabeça, sorrindo, enquanto ele colocava o endereço da casa dos tios dela no GPS. O silêncio entre eles era confortável, mas antes que ele colocasse o carro em movimento, se virou um pouco no banco, com o semblante mais sério.
— ... antes da gente chegar, só queria esclarecer uma coisa.
Ele tirou os olhos da tela do GPS e olhou para ela, atento.
— Eu falei para os meus pais que levaria alguém especial, sim... mas eu também disse que estamos nos conhecendo. Pedi para não fazerem suposições ou exagerarem nas reações. Eu não quero que você se sinta pressionado, e também não quero que finja ser algo que a gente ainda não é.
assentiu imediatamente, o olhar firme e compreensivo.
— O que você decidir, está decidido. — respondeu, com uma honestidade que confortou na hora. — Eu só quero estar lá por você, do jeito que você quiser.
Ela soltou um suspiro aliviado, sentindo o nó no peito se desfazer aos poucos.
— Obrigada por isso. De verdade.
— Só estou cumprindo meu papel de... pessoa especial — ele respondeu, com um sorriso leve, enquanto dava partida no carro.
E com isso, os dois seguiram pelas ruas tranquilas da cidade, prontos — ou quase — para o desafio que era um almoço de Natal em família.
Enquanto o carro avançava pelas ruas enfeitadas com luzes natalinas, se pegou observando a paisagem pela janela, mas seus pensamentos estavam longe dali. Sentia o estômago levemente embrulhado, não por medo exatamente, mas pela expectativa do que encontraria. Ainda assim, a presença de ao seu lado tornava tudo mais suportável.
Ele dirigia com calma, atento ao GPS e à música suave que tocava no carro, mas vez ou outra lançava olhares rápidos para ela, como se quisesse garantir que ela estava bem.
— Você tá quieta. — ele comentou, sem tirar os olhos da estrada.
sorriu de canto, voltando o olhar para ele.
— Só… organizando mentalmente todas as respostas que posso dar para perguntas desconfortáveis. — brincou.
— E se a gente inventasse algumas respostas bem absurdas? Tipo… “nos conhecemos em um retiro espiritual no topo de uma montanha”. — ele sugeriu, arrancando uma risada sincera dela.
— Ou “ele salvou minha vida quando eu tropecei na rua e quase fui atropelada por uma kombi do yakult”. — ela completou, rindo ainda mais.
— Melhor ainda! Isso com certeza mudaria o foco do interrogatório. — respondeu, divertido.
A leveza daquele momento dissipou um pouco da tensão que ainda pesava nos ombros dela. Em poucos minutos, o carro dobrou a esquina da rua onde ficava a casa dos tios de . A fachada já estava visível — discreta, mas decorada com pequenas luzes pisca-pisca e uma guirlanda na porta. Alguns carros estavam estacionados na frente, o que significava que a família já estava reunida.
Ela respirou fundo.
— É aqui. — disse, olhando para a casa como se estivesse se preparando para entrar num território de campo minado.
encostou o carro com cuidado e desligou o motor, virando-se levemente para ela.
— Ei… — chamou, com a voz baixa. — Vai dar tudo certo. Você não está sozinha, lembra?
olhou para ele, sentindo os olhos arderem brevemente. Assentiu devagar, e então sorriu.
— Obrigada por estar aqui. De verdade.
— Sempre que precisar. — ele respondeu, com um olhar tão genuíno que fez o coração dela bater diferente.
E assim, com os nervos ainda presentes, mas com uma dose nova de coragem, ela abriu a porta e desceu do carro. fez o mesmo e, sem dizer mais nada, estendeu a mão para ela. entrelaçou os dedos nos dele, respirou fundo uma última vez… e juntos caminharam em direção à casa.
Conforme se aproximavam da casa, sentia cada passo pesar mais que o anterior — mas a mão de apertada à sua dava o equilíbrio que ela precisava. O som abafado de risadas e conversas escapava pela porta semiaberta, e as luzes de Natal piscavam suavemente, lançando reflexos dourados nas janelas.
Ela parou um segundo antes de subir o primeiro degrau da varanda, o coração acelerado.
— Ainda dá tempo de fugir. — sussurrou com um sorriso nervoso.
se inclinou levemente em sua direção.
— Tarde demais. Já me comprometi com o almoço e a possível kombi do yakult.
Ela riu baixinho, respirou fundo e tocou a campainha.
A porta se abriu quase de imediato, revelando uma mulher de meia-idade com os cabelos perfeitamente arrumados e um sorriso que durou exatos dois segundos antes de se transformar em um olhar inquisidor.
— ! — a mãe exclamou, abraçando a filha com entusiasmo exagerado. Em seguida, os olhos dela foram direto para . — E você deve ser...?
tentou manter o tom leve.
— Mãe, esse é o . Lembra que eu comentei que viria com uma pessoa especial?
— Claro que lembro. — a mãe disse, estendendo a mão para ele, o sorriso voltando, mas ainda com um toque de curiosidade evidente. — Prazer, querido. Seja muito bem-vindo.
— O prazer é meu, senhora . Obrigado por me receber. — respondeu educadamente, apertando sua mão com firmeza.
Antes que ela pudesse iniciar o interrogatório, um homem — o pai de — apareceu no corredor, seguido de dois primos adolescentes curiosos.
— Finalmente chegou! Já estávamos nos perguntando onde a senhorita estava. — o pai falou, e então olhou para com um misto de surpresa e expectativa. — E trouxe companhia…
— , esse é meu pai. Pai, esse é o . — ela disse, com a voz controlada.
— Seja bem-vindo, rapaz. — o pai cumprimentou, e respondeu com a mesma educação.
Logo, foram convidados a entrar. O interior da casa era familiar para : o mesmo cheiro de comida assando no forno, os enfeites natalinos posicionados exatamente como sempre, e as vozes familiares ecoando pelos cômodos. Mas, desta vez, ela não se sentia sozinha.
Enquanto a mãe dela ajudava com o casaco, se mostrando prestativa e gentil, o observava com um sentimento estranho crescendo dentro do peito.
Não era apenas gratidão.
Era a sensação de que, mesmo em meio a um ambiente que sempre a fazia se encolher, ela podia respirar — porque, ali do lado, estava alguém que fazia tudo parecer mais leve.
E naquele instante, ela soube que aquele almoço teria um significado completamente novo.
seguiu com até a sala de jantar, onde a maior parte da família já estava reunida em torno da longa mesa decorada com uma toalha vermelha bordada, pratos alinhados com guardanapos dourados e uma travessa fumegante no centro, exalando o cheiro irresistível de comida caseira.
As conversas cessaram por alguns segundos assim que eles entraram, como se o simples fato de ela aparecer com alguém fosse uma interrupção importante — ou um acontecimento digno de nota.
— Olha só quem resolveu dar as caras! — brincou um dos tios, já com a taça de vinho na mão. — E ainda trouxe convidado!
Todos os olhares se voltaram para , e ele, mesmo sob o súbito foco, manteve um sorriso calmo e educado. sentiu o aperto nos dedos dele aumentar discretamente, mas não de insegurança — e sim como se dissesse "tô contigo nessa."
— Gente, esse é o — ela começou, tentando soar despreocupada, mas com o coração acelerado. — Ele é professor de artes, e estamos nos conhecendo. Eu comentei que viria com alguém especial, então… aqui está ele.
— Professor de artes? — uma das tias comentou, inclinando-se para frente. — Que interessante! E onde vocês se conheceram?
abriu a boca para responder, mas se adiantou com um sorriso descontraído.
— Em uma situação improvável e um tanto curiosa. Mas acho que foi isso que tornou o encontro ainda mais especial.
A resposta foi vaga o suficiente para matar a curiosidade sem alimentar especulações. Alguns riram, outros assentiram com expressões satisfeitas. A tensão no ar suavizou, e logo o tio da ponta da mesa bateu palmas.
— Vamos nos sentar, ou a comida vai esfriar!
soltou a mão de com delicadeza, puxando a cadeira para ela antes de se sentar ao seu lado. Conforme os pratos começaram a ser servidos e as conversas retomaram com naturalidade, sentiu o peso da expectativa familiar diminuir.
se envolvia com leveza, respondendo perguntas com bom humor, fazendo os mais jovens rirem e os mais velhos sorrirem com simpatia. Ele não tentava se exibir, nem parecer o par perfeito — apenas estava ali, presente, sendo ele mesmo.
E, por algum motivo, isso era exatamente o que ela precisava.
Enquanto partia um pedaço de rabanada no prato, olhou discretamente para o lado, observando interagir com seus tios como se já os conhecesse há tempos. E então, pela primeira vez em muitos natais, ela se sentiu em paz naquela mesa. Como se, finalmente, estivesse sentada ali do jeito certo.
A refeição seguia animada, como era de se esperar em um típico almoço de Natal em família. Entre garfadas generosas de arroz com castanhas e pedaços de tender cobertos de molho agridoce, os tios disputavam quem havia comprado o presente mais caro para os filhos, enquanto uma das primas mais novas falava com entusiasmo sobre a viagem que faria no réveillon com o namorado “herdeiro de uma rede de cafés artesanais”.
— Eu disse pra ele que só viajo se for de executiva, né? Afinal, meu tempo também vale dinheiro — ela disse, empinando o queixo, e todos riram com certo exagero.
forçou um sorriso enquanto mordia lentamente a pontinha de um pão, tentando se manter alheia à competição velada de quem exibia mais conquistas ou extravagâncias por cima da mesa. Ao seu lado, notava os sorrisos dela ficarem mais curtos e menos naturais, como se ela estivesse se encolhendo aos poucos na cadeira.
— E a sua loja, filha? — perguntou uma das tias. — Já pensou em expandir? Talvez abrir uma filial em Gangnam? Conheço gente que trabalha com espaço comercial por lá, posso te apresentar…
respirou fundo, ajeitando a postura.
— Obrigada, tia, mas por enquanto estou feliz com o tamanho e o lugar onde estou. Gosto de fazer as coisas no meu ritmo.
apenas observava, atento. Ele já entendia que, embora todos ali parecessem simpáticos, havia um tipo de tensão invisível naquela mesa — uma expectativa constante para que se moldasse a um ideal de sucesso ou prestígio que não era exatamente o dela.
Foi então que a campainha tocou.
Imediatamente, a mãe de levantou-se, limpando as mãos no guardanapo com agilidade.
— Deve ser o Sawon! Ele disse que viria depois do almoço com a namorada nova!
No mesmo instante, como se seu corpo tivesse recebido um choque invisível, enrijeceu na cadeira. Seu sorriso sumiu, e seus ombros pareceram pesar de repente. sentiu a mudança imediata e voltou o olhar para ela, sem disfarçar a preocupação.
Ela não disse nada, mas apertou o garfo com mais força que o necessário.
Foi nesse instante que se lembrou de quando eles se encontraram pela primeira vez fora da boate, no restaurante escolhido por ele, sobre o irmão. Sobre como era difícil crescer ao lado dele, que sempre foi o “filho exemplo”, competitivo, sarcástico e sempre pronto para diminuí-la com um comentário sutil. E de como há anos eles não conversavam
Agora, vendo-a travar daquele jeito, entendeu o quanto a presença de Sawon era desconfortável para ela.
Ele esticou o braço por baixo da mesa, tocando de leve o joelho dela, oferecendo apoio sem palavras. E ela, mesmo sem olhar diretamente para ele, soltou o ar devagar… e se agarrou àquele toque como se fosse o único ponto de firmeza em meio ao caos que se aproximava.
O barulho da porta sendo aberta ecoou pela casa, seguido por uma sequência animada de cumprimentos e vozes novas se misturando à bagunça da sala de jantar. A mãe de falava alto, em tom acolhedor, como se estivesse recebendo um rei.
— Entrem, entrem! A comida ainda está quente!
As cadeiras rangeram e algumas cabeças se viraram em direção à entrada. manteve os olhos em , que continuava encarando o prato à sua frente, imóvel. O sorriso que tentava sustentar havia se desfeito por completo, dando lugar a um olhar distante — o tipo de olhar de quem se prepara para uma batalha silenciosa.
Sawon entrou no cômodo com a mesma presença de sempre: passos firmes, o cabelo impecável, um casaco de grife sobre os ombros e um sorriso seguro no rosto. Ao seu lado, vinha uma jovem elegante, com feições delicadas e uma expressão contida, quase ensaiada.
— Olha ele aí! — exclamou um dos tios. — O grande Sawon!
— Desculpem o atraso. Trânsito absurdo — disse ele, tirando o casaco e cumprimentando um por um com tapinhas nos ombros e um charme automático. Quando seus olhos passaram por , ele simplesmente a ignorou — como se ela fosse mais uma decoração na mesa de Natal.
permaneceu estática, nem mesmo fingiu um sorriso. Era sempre assim. Há anos. Nenhum “olá”, nenhum “como vai”. Nenhuma tentativa de ponte.
, observando a cena, sentiu o desconforto crescer dentro do peito. Ainda com a mão repousando sob a mesa, ele discretamente entrelaçou seus dedos aos dela. Dessa vez, apertou de volta, como se dissesse: obrigada por estar aqui.
A mãe deles, por outro lado, não perdia tempo tentando mascarar as rachaduras.
— Sawon, querido, venha se sentar aqui ao lado da sua prima! , você se importa de puxar uma cadeira?
A frase caiu como um tiro abafado no ambiente. engoliu seco, mas não se mexeu. Não olhou para a mãe, nem para o irmão. Apenas disse, sem tirar os olhos do prato:
— Tem lugar sobrando do outro lado da mesa.
viu a tensão crescer nos ombros dela e decidiu intervir com leveza.
— Posso ajudar a pegar uma cadeira, se quiserem. — disse com um tom tão educado quanto firme.
A mãe hesitou, parecendo por um instante incomodada com o envolvimento de , mas logo disfarçou com um sorriso falso.
— Ah, claro, claro… Sentem-se onde se sentirem à vontade!
Sawon apenas sorriu e seguiu até o lugar que lhe foi indicado, puxando a cadeira com um gesto elegante. Em nenhum momento olhou para a irmã.
manteve a postura, mas sua mandíbula estava tensa. sabia que, por dentro, ela devia estar se segurando com tudo que tinha. Ele aproximou um pouco mais a cadeira da dela, sem chamar atenção, e falou baixo, apenas para que ela ouvisse:
— Estou aqui, tá? Pra tudo.
Ela não respondeu com palavras. Apenas virou um pouco o rosto em direção a ele e assentiu com sutileza. Era o bastante.
O almoço de Natal estava só começando, mas pela primeira vez, não se sentia completamente sozinha naquela mesa.
Sawon logo se tornou o centro da atenção, como era de costume. Mal havia se sentado, e já começava a contar, com aquele tom de falsa modéstia que beirava o exibicionismo, suas últimas conquistas.
— A equipe do projeto em Londres me chamou para liderar a expansão no primeiro trimestre do ano que vem — disse, casualmente, enquanto servia-se de arroz — mas ainda estou avaliando se vale a pena deixar meu cargo atual. A promoção veio com um bônus generoso, sabe como é…
— Isso sim é sucesso, hein! — comentou um dos tios, batendo na mesa com a palma aberta.
— Que orgulho, filho. — disse a mãe, sorrindo para ele com brilho nos olhos. — Desde pequeno, sempre foi determinado.
— E essa moça linda? — perguntou uma das tias, olhando para a namorada dele com curiosidade. — Muito prazer, querida. Deve ser uma mulher de sorte.
A namorada respondeu com um sorriso educado, acenando discretamente, enquanto Sawon tomava a frente mais uma vez:
— Ah, sim. Nos conhecemos num evento privado de networking, em Gangnam. Foi uma conexão imediata. Muito além da aparência — ele olhou ao redor, como se estivesse dando uma aula —, é a inteligência dela que me cativa. Formada em relações internacionais, fluente em três idiomas... uma mente brilhante.
Mais elogios e aplausos velados seguiram-se. Alguns brindes foram erguidos, os sorrisos se multiplicaram. Era como se ele ocupasse um pedestal invisível, como se tudo ao redor orbitasse em torno de sua perfeição meticulosamente construída.
, ao lado de , permanecia calada. A comida no prato já estava fria, esquecida. Ela tentava manter a compostura, mas a sensação era a mesma de todos os anos anteriores: o nó na garganta, o incômodo de ser comparada sem nem ser mencionada, a invisibilidade que vinha acompanhada de um silêncio cheio de julgamento.
De repente, largou os talheres devagar, afastando o prato como quem desiste da batalha.
— Eu perdi a fome. — murmurou, a voz baixa, mas firme o suficiente para escutar.
Ele a olhou de imediato, preocupado.
— Quer sair um pouco? — sussurrou.
Ela respirou fundo, desviando o olhar para não encontrar o do irmão ou da mãe.
— Você se importaria se a gente fosse embora? — perguntou, com um sorriso contido e melancólico nos lábios. — Eu sei que é cedo, mas… eu só… não consigo mais fingir que está tudo bem.
assentiu na hora, sem hesitar.
— Claro que não me importo. Vamos agora, se você quiser.
Ela assentiu, aliviada, como se aquele gesto fosse um bote salva-vidas em meio à maré sufocante de sorrisos falsos e glórias alheias.
Sem causar alarde, começou a juntar os pertences deles discretamente. se levantou logo em seguida, os olhares distraídos da mesa ainda voltados para a estrela do almoço — e isso, para ela, foi um alívio. Só queria sair dali. E agora, pelo menos, não estava sozinha.
respirou fundo, ajeitou a alça da bolsa no ombro e deu um passo à frente, tentando manter a voz firme e educada enquanto se dirigia à mesa:
— O almoço estava delicioso, como sempre. — ela disse, com um pequeno sorriso que escondia o cansaço emocional. — A comida da tia sempre tem gosto de Natal de verdade.
Alguns olhares se voltaram para ela, e então completou:
— Mas a gente vai indo, tá? Feliz Natal pra todos.
A mãe, que acabava de colocar a travessa com a rabanada no centro da mesa, ergueu os olhos rapidamente, confusa.
— Já, minha filha? Mas nem provaram a sobremesa! — disse com o tom um pouco mais alto, o guardanapo ainda nas mãos. — E o rapaz? Mal teve tempo de aproveitar!
Todos da mesa olharam em direção a , esperando por alguma explicação — talvez que ele pedisse desculpas, ou que ficasse um pouco mais. Mas ele, calmo e educado, apoiou-se na beirada da cadeira antes de se levantar, ajeitando a gola do casaco.
— Ah, é que temos um compromisso depois daqui. Um almoço... digamos, prolongado. — disse com um sorriso simpático. — Prometi levar a uma galeria que abriu hoje só para convidados. Faz parte de um circuito fechado com alguns artistas contemporâneos — é algo que ela comentou que tinha muito interesse em ver.
O silêncio que se seguiu foi quase audível.
A mãe piscou, parecendo sem palavras por um segundo — e não era comum vê-la assim. Uma das tias parou com o garfo no ar. Um primo adolescente soltou um "uau" em voz baixa.
, que até então observava com um misto de curiosidade e surpresa pela desculpa tão elaborada e convincente, sentiu o peito se aquecer. Ele havia conseguido, com um toque de elegância, sair daquela situação sem criar conflito — e ainda por cima despertando, pela primeira vez em muito tempo, um tipo de admiração silenciosa da família dela.
— Ah... entendi. — a mãe disse, tentando recuperar a compostura. — Que chique. Bom... então aproveitem.
— A gente vai, sim. — respondeu, mantendo o sorriso educado, mas agora com um olhar cheio de cumplicidade para .
Ele se virou para a mesa, fazendo um gesto breve de despedida.
— Foi um prazer conhecer todos vocês. Obrigado pela recepção. E feliz Natal.
o acompanhou até a porta, ouvindo alguns dos familiares comentarem baixinho atrás de si, como se finalmente tivessem percebido algo que sempre esteve ali.
Quando saíram e a porta se fechou atrás deles, ela soltou um longo suspiro, como se estivesse deixando aquele peso todo do outro lado da parede.
— “Galeria contemporânea só para convidados”? — ela perguntou, ainda um pouco rindo.
deu de ombros, com um sorrisinho nos lábios.
— Achei que daria um toque mais sofisticado do que “precisamos fugir daqui o quanto antes”.
Ela riu de verdade dessa vez.
— Eu devia te levar para todos os jantares de família. Você é o melhor plano de fuga que já tive.
— Sempre à disposição. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela entrelaçar. E ela aceitou, grata por tê-lo ali.
Do lado de fora da casa dos tios, o ar fresco da tarde bateu no rosto de como um alívio imediato. Ela e caminharam lado a lado até o carro, mas, dessa vez, a tensão não vinha da família — e sim daquela sensação mansa de liberdade, de ter tomado a decisão certa.
Já dentro do carro, enquanto ele dava partida, olhou pela janela por alguns segundos antes de se virar para ele.
— Você... — ela começou, com um meio sorriso. — Tá com algum outro plano pra hoje? Digo, além da galeria fictícia que você inventou brilhantemente?
riu, os olhos ainda no retrovisor enquanto saía da vaga.
— Não. Meu cronograma termina exatamente aqui: te salvar do constrangimento e inventar uma desculpa convincente.
Ela mordeu o lábio inferior, pensativa por um segundo.
— Então... você quer subir comigo? Lá em casa.
virou o rosto devagar na direção dela, o sorriso suave permanecendo nos lábios, agora acompanhado de um brilho curioso nos olhos.
— Quero.
assentiu, o coração aquecendo com a resposta simples e certa.
— Não tem galeria de arte… mas tem café, cobertor, e talvez alguns filmes ruins pra gente rir.
— Perfeito. — ele respondeu. — Muito mais interessante do que qualquer circuito de arte fechado.
Ela riu, ajeitando-se no banco, agora mais leve.
E enquanto o carro seguia pelas ruas da cidade em direção ao apartamento dela, sabia que, apesar do início tenso daquele dia, ela estava terminando o Natal de um jeito que jamais imaginaria — com alguém que havia entrado em sua vida por engano… mas ficado por escolha.
O carro estacionou em frente ao prédio de , e os dois subiram juntos, agora em silêncio confortável, aquele tipo de silêncio que só existe quando a presença do outro já se tornou familiar.
No elevador, ela encostou-se levemente à parede acolchoada, e , ao lado, observava o painel acender os andares com um meio sorriso nos lábios — como se estivesse guardando aquele momento em uma memória boa, daquelas que se revisitam mais tarde, com carinho.
Assim que chegaram ao andar dela, destrancou a porta com naturalidade e entrou primeiro, acendendo as luzes e ele entrou logo atrás, soltando um leve “com licença” como se aquilo fosse uma espécie de ritual.
— Pode entrar. Fica à vontade — disse, já tirando o casaco e deixando a bolsa sobre a cadeira próxima.
cruzou a porta devagar, os olhos explorando o ambiente com curiosidade sutil. O apartamento dela era pequeno, mas extremamente acolhedor — com tons quentes, móveis com personalidade, e detalhes que revelavam muito sobre quem ela era: quadros vintage nas paredes, velas aromáticas sobre a estante, uma manta dobrada com cuidado no canto do sofá e pilhas de revistas e livros de moda, arte e design.
Ele sorriu ao ver uma prateleira com pequenas pinturas emolduradas — provavelmente feitas por ela.
— Seu apartamento tem a sua cara. — comentou, com um brilho nos olhos.
— Isso é bom ou ruim? — ela gritou da cozinha, rindo enquanto amarrava o cabelo em um coque frouxo.
— É ótimo. Tem alma. É… vivo.
— Que bom que você acha. — ela respondeu, abrindo o armário e pegando um pacote de pipoca. — Porque é aqui que vamos encarar o pior filme do streaming.
— Mal posso esperar — ele disse, andando lentamente pela sala, analisando os pequenos detalhes enquanto ela ligava o fogão e colocava a panela no fogo.
mexia distraidamente o óleo e o milho, o som familiar do estouro começando a preencher o ambiente.
— Se quiser escolher o filme, o controle tá ali no sofá. Só ignora as indicações do algoritmo, ele acha que eu só assisto romance adolescente e reality show culinário.
riu, já se acomodando no sofá, mas ainda com os olhos fixos nela por alguns segundos, admirando a leveza que ela transmitia quando estava em casa.
Era diferente vê-la ali, naquele ambiente onde ela era dona de si, e ele se sentiu privilegiado por estar testemunhando aquilo.
— Sabe… — ele comentou, ainda sorrindo — eu acho que esse pode ser o melhor pós-Natal da minha vida.
virou o rosto rapidamente, os olhos encontrando os dele por um breve segundo, e o coração dela pulou no peito antes de ela se virar de volta para o fogão, com um sorriso bobo nos lábios.
— Ainda nem viu a minha pipoca especial. Espera só.
Na sala, já havia se espalhado no sofá, com as pernas esticadas e o controle remoto na mão, explorando as opções de filme no catálogo.
— Tô entre um musical duvidoso com atores que parecem estar sempre suando... ou uma comédia romântica de Natal com título ridículo. — ele anunciou, divertido.
— A de Natal, obviamente. — respondeu, desligando o fogo. — Estamos em clima de celebração, mesmo que tardio.
Ela despejou a pipoca pronta em uma tigela generosa, adicionando manteiga derretida, um toque de sal e — o toque secreto — um punhado de açúcar mascavo por cima. Misturou tudo com cuidado, enquanto murmurava um impressionado “uau” ao ver a cena pela fresta da cozinha.
— Eu devia estar anotando essa receita. — ele disse, quando ela entrou na sala com a tigela entre as mãos.
— Essa é exclusiva para convidados especiais. — respondeu, entregando a tigela para ele e se jogando no sofá ao seu lado, cruzando as pernas.
A comédia romântica começou com todos os clichês possíveis: cidade coberta de neve, uma protagonista atrapalhada, e um mocinho que parecia bom demais pra ser verdade. Mas nada daquilo realmente importava — o filme era só um pano de fundo para a sensação boa que se instalava entre eles.
Entre uma colherada de pipoca e outra, passava o braço ao redor dos ombros de , e ela se aninhava contra o peito dele com naturalidade. Os dois riam juntos de diálogos ridículos e trocavam comentários em voz baixa, como se fossem cúmplices de um segredo antigo.
sentia o calor do corpo dele ao lado do seu e a batida constante do coração de , e por um instante, fechou os olhos — só para guardar aquela sensação com mais clareza.
Nenhum som de discussão, nenhuma comparação ou tensão no ar. Ali, só existiam os dois.
— Ei — ele murmurou depois de um tempo, com o rosto próximo ao dela. — Isso aqui… é o meu tipo de Natal.
Ela sorriu, virando o rosto até seus olhos encontrarem os dele.
— O meu também.
E então, sem pressa e sem necessidade de palavras, seus lábios se encontraram mais uma vez — dessa vez, com a calma de quem finalmente se sente em casa.
O beijo começou suave, exploratório — como se ambos ainda estivessem tentando decifrar o gosto um do outro, o tempo certo, a intensidade exata. Mas à medida que os segundos passaram, as hesitações se dissolveram, e o toque se aprofundou, ganhando calor, desejo e entrega.
sentiu os dedos de se firmarem em sua cintura, puxando-a para mais perto, enquanto o corpo dela se virava, buscando mais dele. A tigela de pipoca ficou esquecida sobre a mesinha, e o filme continuava passando, mas as vozes da tela pareciam distantes, irrelevantes.
Ela subiu uma das mãos até o pescoço dele, os dedos deslizando pela nuca úmida, sentindo a pele quente sob seus toques. , por sua vez, deslizou os lábios para o maxilar dela, depois para a linha do pescoço, deixando beijos lentos e espaçados que fizeram a respiração dela falhar.
— … — ela sussurrou, a voz embargada pela tensão doce do momento.
Ele voltou a encará-la, os olhos fixos nos dela como se pedissem permissão — não com palavras, mas com presença.
— Não quero. — ela respondeu antes mesmo que ele terminasse, sua mão encontrando o peito dele, sentindo o coração dele bater acelerado sob a camiseta.
O beijo recomeçou com mais urgência agora, e a maneira como ela se acomodou no colo dele foi natural, como se estivessem dançando uma coreografia ensaiada inconscientemente. acariciava as costas dela por baixo da blusa de moletom, os dedos deslizando com carinho, mas também com desejo contido.
A touca que ela usava deslizou para trás e caiu sobre o sofá, revelando os cabelos soltos. Ele sorriu entre um beijo e outro, puxando uma mecha para trás da orelha dela.
— Eu te acho linda — murmurou, e o tom da voz, rouco e baixo, arrepiou a espinha de .
Ela sorriu de volta, os olhos brilhando em meio à penumbra suave da sala.
— E você me faz sentir... leve.
O momento era deles. Sem pressão, sem pretensão. Apenas dois corpos e duas almas se encontrando de um jeito novo, mais íntimo, mais livre.
sentiu as mãos de subirem devagar por suas costas, por dentro do moletom largo que ela vestia, como se ele quisesse memorizar cada centímetro da pele dela. Os dedos dele eram firmes e cuidadosos ao mesmo tempo — traçando caminhos sem pressa, como se cada toque dissesse silenciosamente "eu te vejo, eu te sinto, e eu quero estar aqui."
Ela se inclinou mais para ele, com os joelhos de cada lado do corpo dele, e a respiração dos dois começou a se misturar — quente, curta, impaciente. O beijo continuava, profundo, cheio de vontades ditas apenas entre os lábios. A língua dele roçava na dela em movimentos lentos, seguros, como se eles estivessem redescobrindo o que era desejo com calma, sem pressa de chegar, apenas aproveitando o caminho.
desceu os lábios pela mandíbula dela, traçando uma linha suave até a base do pescoço, onde deixou um beijo mais demorado, mais úmido. Os dedos de se entrelaçaram nos cabelos ainda levemente úmidos dele, puxando com delicadeza quando a boca dele encontrou seu ponto mais sensível na curva do ombro.
— Você tem noção do que tá fazendo comigo? — ele sussurrou contra a pele dela, a voz rouca, entrecortada pelo calor do momento.
Ela mordeu o lábio inferior, os olhos semiabertos, o coração pulsando com força dentro do peito.
— Acho que sim… — respondeu, passando as mãos pelo peitoral dele, sentindo os músculos se contraírem sob a camiseta.
O toque dela era mais curioso do que ousado, como quem explora algo precioso e quer entender onde o outro vibra, onde respira mais fundo, onde suspira. Quando os dedos dela deslizaram sob a barra da camiseta dele, não disse nada — apenas levantou os braços e permitiu que ela a retirasse, revelando o tronco nu à luz suave da sala.
Os olhos de percorreram o corpo dele com uma mistura de desejo e ternura. Ele não era só bonito — havia algo em que fazia seu corpo parecer um lugar seguro, como se deitar sobre ele fosse mais do que físico… fosse necessário.
Ela se inclinou outra vez, deixando um beijo demorado sobre o centro do peito dele, sentindo o cheiro da pele, o calor da proximidade. fechou os olhos por um instante, os dedos pousando na cintura dela, agora por dentro da blusa justinha.
A blusa subiu devagar pelas mãos dele, revelando a pele quente do ventre de , e eles pararam por um segundo, os olhos se encontrando com intensidade.
Não havia vergonha. Não havia medo. Só aquele tipo de silêncio que antecede o inevitável — e que, naquele caso, era o início de algo real.
sorriu de leve, os olhos mergulhados nos dela.
— Isso… ainda parece leve pra você?
assentiu, sem hesitar, a mão pousada sobre o coração dele.
— Parece certo.
E foi assim, entre beijos lentos, toques sinceros e a cumplicidade de quem já havia atravessado outras tempestades, que eles continuaram se descobrindo ali — no sofá, sob a manta esquecida, no calor de um Natal que, finalmente, era só deles.
A luz da manhã filtrava-se pelas cortinas da sala, tingindo o ambiente com um tom dourado suave. A lareira apagada e a tigela de pipoca esquecida no chão eram os únicos rastros do que havia acontecido ali na noite anterior, além da presença ainda adormecida de , deitado no sofá com o braço estendido sob o corpo de , que repousava junto a ele.
Ela foi a primeira a abrir os olhos.
Ainda meio sonolenta, passou os olhos pelo ambiente, sentindo o corpo aquecido sob o cobertor que haviam puxado no meio da madrugada. O peito de subia e descia lentamente, e ela ficou ali por alguns minutos, apenas observando. Era estranho — e bom — ver alguém assim, tão perto, tão sereno.
Com cuidado para não acordá-lo, ela deslizou do sofá e caminhou até a cozinha, ainda de meias, os cabelos um pouco bagunçados. Preparou café em silêncio, sem música, sem pressa. A simplicidade daquele gesto, naquela manhã, parecia grandiosa. Um começo tranquilo, sem máscaras.
— Esse cheiro me acordaria em qualquer planeta — ela ouviu a voz rouca de vindo da sala.
riu baixinho, se virando com uma caneca já em mãos.
— Café de verdade. Sem açúcar, como você gosta, senhor saúde.
Ele se aproximou com passos lentos e cabelo desalinhado, mas com um sorriso leve no rosto — um que ela ainda não tinha visto, talvez por ser tão matinal e desprevenido.
— Achei que você fosse fugir.
— Tava considerando. Mas o café me prendeu.
Eles sentaram juntos à pequena mesa da cozinha, onde comeram em silêncio confortável. Depois, enquanto explorava o apartamento com curiosidade respeitosa, os olhos dele pousaram em uma prateleira discreta, onde havia cadernos de anotações, pinceis secos num copo de cerâmica, e algumas folhas soltas.
Ele puxou um dos cadernos, folheando com cuidado. Lá estavam rabiscos de roupas vintage, anotações de tecidos, ideias para o brechó... e então, em uma das páginas centrais, um pequeno auto retrato. Era simples, traçado a lápis, mas delicado. Carregava um olhar melancólico e uma assinatura mínima no canto inferior.
— Você desenha a si mesma? — ele perguntou com a voz baixa, como se invadisse algo íntimo.
congelou por um instante ao ouvir a pergunta, ainda à mesa, e depois se levantou, indo até ele devagar.
— Às vezes. Quando tô tentando entender quem eu sou.
Ela não tentava esconder o caderno, mas seus olhos evitaram os dele por alguns segundos.
— Esse aí foi numa época em que eu me sentia… invisível.
olhou para o desenho de novo, depois para ela.
— Mas o traço é forte. Preciso discordar do tema.
Ela finalmente o encarou, surpresa com a sensibilidade da resposta.
— Você enxerga as pessoas de um jeito muito bonito, .
— Só quando elas são bonitas por dentro também.
Um silêncio suave se instalou entre os dois. Ele fechou o caderno com delicadeza, como se tivesse acabado de ler algo sagrado.
— Você não é invisível, . E se um dia se sentir assim de novo… pode me chamar. Eu enxergo você.
Ela sorriu com os olhos marejados e, ao invés de responder, apenas se aproximou e o abraçou. Não era um abraço cheio de desejo como na noite anterior — era calmo, firme, como quem diz: “obrigada por me ver.”
E naquela manhã silenciosa e cheia de significados, sem declarações nem promessas, eles sabiam que algo tinha se transformado. E que não havia mais como voltar atrás.
Mais tarde naquela manhã, com a louça do café lavada e os dois sentados no tapete da sala, encostados no sofá, o clima estava calmo, mas sentia uma agitação diferente dentro do peito. estava desenhando algo em um caderninho dela com um lápis qualquer, rabiscando formas distraidamente, e ela apenas o observava, os pensamentos emaranhados como fios de um novelo impossível de desembaraçar.
Ela queria dizer algo. Precisava dizer. Mas as palavras se formavam e desfaziam antes mesmo de alcançarem a garganta.
— Posso te perguntar uma coisa? — ela finalmente soltou, a voz um pouco mais baixa do que o habitual.
ergueu os olhos imediatamente, com aquele olhar receptivo que ele sempre oferecia quando ela falava sério.
— Claro.
Ela respirou fundo, apertando as mãos no colo.
— Ontem… essa conexão, essa coisa entre nós… foi real pra você?
Ele franziu levemente a testa, sem entender o motivo da pergunta de imediato.
— … — começou com calma — sim. Pra mim foi muito real. Desde o início. E eu não tô dizendo isso pra te agradar ou te prender a nada. Eu senti algo com você que há muito tempo não sentia com ninguém.
Ela assentiu com um leve movimento de cabeça, mas o nó na garganta não se desfez. Seus olhos fugiram dos dele.
— É que eu… às vezes me pergunto se isso tudo não foi só… o calor do momento. Uma mistura de vinho, Natal, carência...
encostou o caderno no sofá e se virou um pouco mais pra ela, o tom agora mais sério.
— Você se sentiu usada? Ou mal por ontem?
Ela balançou a cabeça rápido.
— Não! Não foi isso. Foi bom. Foi… bonito. Mas talvez bom demais. E por isso dá medo.
Ela suspirou, passando a mão pelo rosto.
— E também tem outra coisa.
— Tá tudo bem — ele murmurou. — Pode falar.
Ela demorou um pouco, mas finalmente voltou o olhar para ele. Os olhos estavam brilhando, não de emoção... mas de um peso acumulado.
— Eu não sou a garota que você acha que conheceu na balada.
O silêncio foi imediato, e a confissão parecia ecoar entre eles.
continuou parado, mas não demonstrou choque — apenas esperou.
— Eu… não era a garota do vestido preto que você conheceu naquela noite. — ela explicou, agora num tom mais baixo, mais contido. — A mensagem que você mandou não era pra mim. Foi um engano. Mas eu… eu respondi mesmo assim. Porque tinha alguma coisa na sua mensagem que me fez querer continuar.
Ela fez uma pausa, apertando os próprios joelhos.
— Eu juro que eu ia contar. Só… fui adiando. E aí você foi sendo tão gentil. E ontem aconteceu tudo aquilo, e agora... — ela desviou o olhar, tentando conter as lágrimas. — Eu tô aqui, e você tá aqui, e eu tô com medo de você se arrepender de tudo quando perceber que eu não sou quem você acha que eu sou.
ficou em silêncio por mais um momento. E então, com a mesma tranquilidade que sempre trazia consigo, se aproximou um pouco mais, tocando de leve a mão dela.
— ... — disse, num tom baixo, mas firme. — Eu acho que você tá se esquecendo de uma coisa muito importante.
Ela piscou, confusa.
— Eu não conhecia aquela garota do vestido preto. Eu mal lembrava do rosto dela. Estava bêbado, confuso. A mensagem que mandei... podia ter ido pra qualquer pessoa.
Ele sorriu, com doçura.
— Mas foi pra você.
Aquelas palavras, simples e honestas, bateram fundo no peito dela.
— E foi você quem respondeu. Foi você quem se conectou comigo desde o primeiro "oi". Foi com você que eu falei sobre arte, sobre vida, sobre café sem açúcar. Foi você que eu beijei. Que eu quis. Que eu quero.
não conseguiu conter uma lágrima que escorreu silenciosa.
— Eu me sinto tão… culpada.
— E eu te sinto tão... verdadeira. — ele disse, com um carinho imenso no olhar. — E se a mensagem foi um engano… talvez tenha sido o melhor engano da minha vida.
Ela riu, ainda emocionada, e finalmente deixou o corpo tombar contra o dele, que a acolheu como sempre fazia: com calma, com ternura, com espaço para ela ser quem fosse.
E naquele momento, sem mais máscaras e sem mentiras, se permitiu acreditar que talvez, só talvez, ela pudesse ser amada exatamente do jeito que era.