Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 30/05/2025. “Apresentações podem ser boas ou ruins, isso é algo que acontece
Às vezes é bom apenas parar para relaxar e descansar.”
— Mr. Simple / Super Junior
Era para ser umas simples férias, mas o acaso adora realizar surpresas.
Eu havia graduado recentemente pela PUC-Minas, no curso de Arquitetura e Urbanismo. Depois de 5 anos, muitos estudos, noites mal dormidas e estressantes estágios, meu pai concordou que eu deveria ter um pouco de descanso na casa dos meus tios. Inicialmente, nada contra, a não ser o fato de enfrentar 25 horas de voo até Seoul, do outro lado do mundo. Minha tia, Ana, era a irmã mais nova do meu pai e havia se casado com um coreano, o tio Han, e ambos tinham uma filha de 8 anos, chamada ChoHee.
Após alguns questionamentos sobre a opção da casa dos meus tios, ao invés da bolsa de intercâmbio para Milão, com o desejo de aprender mais sobre design de mobiliário italiano, finalmente me rendi à proposta asiática. Até chegar à página dois e descobrir que minha viagem para lá não era bem para aproveitar como me venderam, pois meu pai havia descolado outro estágio para mim, no escritório de arquitetura de um amigo do tio Han. Isso é tão legal que me emociona, ironicamente falando. Desembarquei na sexta de manhã no Aeroporto Internacional de Incheon, localizado a 30 minutos de Seoul.
Estava tudo tranquilo, até que percebi algo estranho.
— Estranho, era para a tia Ana estar aqui — eu disse comigo mesma, ela nunca se atrasava.
Esperei por algumas horas. Então decidi me aventurar e pegar um táxi até Seoul, passando mais algum tempo de deslocamento tentando contatar minha família local. Chegando à cidade, desci do carro e inventei de encontrar o endereço sozinha, indo de metrô. Felizmente, eu sabia falar coreano, pois tio Han sempre que podia me dava aulas de hangul pelo Skype. Rapidamente, a manhã se tornou tarde e comecei a me preocupar com a noite, afinal, um país desconhecido, ruas escuras e celular descarregado não era uma boa combinação. Após algumas voltas sem saber me localizar direito, encontrei um ponto de ônibus e pude me sentar no banco para esperar. Estava pensando no que poderia fazer para reverter minha situação, até que 4 elementos suspeitos viraram a esquina. Eu coloquei minha mala mais perto de mim e segurei forte. Ajeitei minha mochila nas costas. Era óbvia minha cara de turista perdida, mas mantive minha calma.
Os 4 homens se aproximaram de mim entre risos e altas gargalhadas, dava para sentir o cheiro de Soju de longe. Um deles estava com um canivete nas mãos, brincando com um outro de camisa amarela. Nessa altura, eu já me encontrava em pânico por dentro.
— Olha, uma princesa estrangeira — disse o homem do canivete.
— Está perdida, querida? — O terceiro homem de camiseta preta sorriu. — Podemos te ajudar.
— Não… — Eu engoli seco ao ver o quarto homem de boné verde tocar na minha mala. — Eu estou esperando o ônibus.
— Mas isso deve estar pesado. — O homem de boné levantou minha mala, enquanto os outros começaram a tocar no meu cabelo.
— Por favor, não toquem em mim — disse, me levantando do banco. — E nem na minha mala. — Tentei pegar a mala de volta. Ao fazer isso, me desequilibrei e caí. Ao olhar para o chão, percebi alguém se aproximar.
— Deveriam deixá-la em paz — disse uma quinta voz, grossa, firme e áspera.
“Você é como um anjo que me deixou em algum lugar.”
— 1004 (Angel) / B.A.P
Eu levantei minha cabeça e vi um anjo de jaqueta preta e jeans surrados. Não entendi por que, mas meus olhos brilhavam ao ver ele.
— Não se meta, amigo, ela não é da sua conta — disse o homem de boné.
— Não vou repetir, se afastem dela.
Eles riram do meu anjo protetor, e o homem de regata preta foi pra cima dele já com os punhos fechados. O anjo desviou e revidou com uma cotovelada e uma joelhada na barriga do homem, o jogando no chão. Os outros três ficaram furiosos e partiram para briga. Com facilidade, o anjo desviou dos golpes, desarmou o homem do canivete e deixou os quatro jogados no chão em dores. O homem do canivete sussurrou alguma coisa que não consegui entender.
Eu me levantei, respirando fundo e tentando não me intimidar, mas por dentro estava tremendo de medo e pânico:
— Você está bem? — Ele me olhou por um momento e depois direcionou seu olhar para os quatro homens, que estavam saindo correndo.
— Sim. — Eu segui o olhar dele, depois peguei minha mochila. — Quem você acha que é? Não pode pegar a mala dos outros para bater nas pessoas. — Eu juro que tentei ser educada, mas ver minha mala quase estragada foi tenso.
— Eu te salvei. — Ele balançou a cabeça negativamente, soltando um suspiro de desapontamento. — Um simples obrigado bastaria.
— Eu estava me saindo muito bem sem sua ajuda. — Eu assumo que não foi nada inteligente de minha parte falar isso, mas uma pessoa orgulhosa como eu era raro agradecer as pessoas por algo.
— Que seja. — Ele deu de costas, dando alguns passos em direção ao norte.
— Ei, pra onde vai? — perguntei meio revoltada pela reação dele.
— Por que quer saber? Você consegue se virar sozinha. — Ele continuou caminhando.
— EI!!! — eu gritei.
— O quê? — Ele se virou e me olhou um pouco irritado.
— Eu não te pedi pra me salvar, mas, já que o fez, por que não faz o serviço completo e me leva pra um lugar seguro? — sugeri, rezando para dar certo.
— O quê? — Ele me olhou meio sem reação. — Eu vou me arrepender disso — sussurrou para si mesmo. — Vem comigo.
“Coração frio, baby!
Olhos frios, baby!
Vamos lá!”
— AH.Mi.GO / SHINee
Sorri disfarçadamente, peguei minha mala e o segui. Nós caminhamos por um bom tempo até chegar a uma rua estreita. Entrando nela, paramos frente a um edifício com aparência gasta, adentramos o lugar e descemos algumas lanças de escada. Ele morava, ou se escondia, em um porão que ficava no subterrâneo do prédio.
Ao entrar, coloquei minhas coisas ao lado da porta e encostei na parede. O espaço era amplo e sem divisórias com todos os ambientes integrados, até o box de tomar banho podia ser visto, pois era de vidro, somente o lavabo, que tinha uma parede de madeira, ou sei lá o que dividindo, superficialmente parecia mais um drywall. Ele caminhou até o que parecia ser a sala, retirou sua jaqueta, a jogando no sofá, e, se virando para mim, me olhou tranquilamente:
— Vai ficar aí? — perguntou, dando uma breve risada.
— Não costumo entrar na casa de estranhos — respondi, ainda observando os detalhes do lugar, principalmente o teto, onde o encanamento era exposto.
— Neste momento, eu posso ser tudo, exceto um estranho para você.
— Eu nem sei seu nome — eu retruquei.
— Digo o mesmo. — Ele se sentou ao lado da jaqueta.
— — respondi.
— — ele respondeu, dando um sorriso de canto.
Peguei minha mochila e dei alguns passos até uma das poltronas que havia em frente ao sofá.
— Posso? — perguntei a ele, mostrando meu celular e carregador.
Ele riu e apontou para minha mala. Eu me virei e vi que tinha um interruptor. Ri baixo e fui. Depois que coloquei meu celular para carregar, voltei para poltrona e me sentei. ainda me observava, seu olhar era atraente e envolvente, me deixava hipnotizada.
— Mora aqui sozinho? — perguntei, tentando deixar minha mente longe de pensamentos pecaminosos.
— Sim e não.
— Devo entender? — insisti.
— Eu tenho um gato, mas geralmente ele me deixa sozinho.
— Legal, um homem com um gato. — Eu ri baixo. — Espero que não seja um matador de aluguel.
— Quem sabe. — Ele riu com ironia.
Ok, admito que ele era lindo, mas aquele sorriso me assustou um pouco:
— E sua família? — continuei.
— Não está entre nós — ele respondeu tranquilamente — Está com fome?
Depois que ele perguntou, meu cérebro se lembrou das horas que passei sem comer nada desde que desembarquei em Seoul:
— Sim — respondi, elevando minha mão direita à barriga. Senti um fundo negro naquela hora.
Ele se levantou e foi em direção à parte que era a cozinha, pegando duas panelas. Ligou o fogão e começou a cozinhar algo que parecia macarrão e vegetais. A comida cheirava bem. Me levantei e fui até ele, fiquei o observando por um tempo.
— Isso é raro de onde eu venho — comentei.
— Um homem cozinhando? — perguntou ele.
— Sim, não é comum ver isso no Brasil, apesar de ter alguns poucos que cozinham bem.
Ele riu.
— Eu já visitei o Brasil algumas vezes.
— E gostou? — Eu o olhei tranquilamente.
— As mulheres de lá são lindas. — Ele me olhou fixamente, enquanto ainda misturava uma das panelas.
— Eu deveria agradecer? — Eu sorri de leve, puxando outro sorriso dele.
Ele olhou para a panela e despejou o conteúdo em uma tigela de porcelana.
— Está pronto — ele disse.
— O que é?
— Ramen, já comeu?
— Sim — respondi com satisfação. — Meu tio é coreano, me ensinou a fazer.
Espera, só agora me lembrei da minha família. Mas o que adiantava ligar se nem meu próprio número de cor eu sei e meu celular ainda estava carregando? Nos sentamos na bancada que ficava entre a sala e a cozinha. Comecei a comer e, após alguns instantes, percebi que ele ainda olhava para mim.
— Ops. — Eu sorri meio sem graça. — Acho que…
— Não estou esperando que agradeça. — sorriu de leve. Céus, e que sorriso. — Bom apetite.
Essa era a frase que eu realmente queria ouvir. Eu amava a comida da minha mãe, mas a comida dele era outro nível de sabores.
“Apenas sorria hoje,
Porque com seu brilhante sorriso faz todos felizes.”
— Mr. Simple / Super Junior
“Eu acredito que tudo vai sair do jeito que você acha que vai.”
— Hello / SHINee
Eu me espreguicei assim que senti o cheiro do café entrar em minhas narinas. Estava tão quentinho debaixo dos cobertores que nem queria abrir os olhos, mas, mesmo assim, eu já sentia meu estômago reclamar. A noite havia sido tão longa que até cheguei a pensar que ainda estava no Brasil, porém a realidade veio após despertar quase antes do amanhecer e observar meu anfitrião em seu sono profundo no sofá.
— Bom dia! — disse, me espreguiçando mais um pouco e já levantando da cama.
— Parece que dormiu bem. — Ele me olhou, estava com uma xícara de café em sua mão, a degustando.
— Sim, seu colchão é muito bom, gostei dele — eu brinquei. — Estou surpresa por ter me cedido sua cama.
— Por quê? — Ele me olhou curioso.
— Bem, se fosse no Brasil, nossa noite teria sido um tanto complicada — comentei.
Não sabia ao certo como os homens daquela cultura se comportavam diante de uma mulher estranha.
— Imagino. — Ele sorriu com malícia.
— Eu… — confesso que olhar pra esse sorriso já está começando a acabar comigo. — Preciso ligar para minha família.
Eu caminhei até meu celular, o tirei da tomada e liguei.
— Eles devem estar preocupados — disse ele, indo para o box de vidro.
Eu liguei primeiro para minha tia. Depois de vinte minutos inventando uma história e tentando acalmá-la, consegui encerrar a ligação. Quando minha mãe atendeu, foi mais 10 minutos no viva-voz, ouvindo ela e meu pai dizerem que eu estava num país estranho e precisava ser mais cuidadosa. Eu não consegui me concentrar muito, pois ainda estava no box fazendo não sei o quê, e isso estava me deixando nervosa e curiosa.
— Eles se acalmaram? — ele perguntou, assim que desliguei o celular.
“No seu caso, eu não sei, eu estou te avisando
Você está em perigo agora
Para de me provocar
Eu nem mesmo sei o que fazer.”
— Growl / EXO
Eu estava concentrada no meu aparelho, até que levantei minha cabeça. Por que eu fiz isso? Ele estava somente de toalha. Meus olhos ficaram sem controle e eu só conseguia me focar no abs. dele, como dizem nos dramas: de chocolate.
— Tudo bem? — ele me perguntou, segurando o riso.
— O quê? — Eu olhei meio envergonhada para ele. — Ah, estão todos bem. Teoricamente, eu estou em um hotel. — Eu me levantei do sofá, respirando fundo. Precisava de 4 litros de água bem gelada.
caminhou até um suporte de madeira que tinha suas roupas penduradas e pegou uma camisa e uma calça jeans. Eu logo virei meu rosto. Minutos depois, senti um aroma instigante no ar. Aquilo era um perfume ou um gás hipnotizante? Senti meu coração pulsar mais acelerado. Devia estar perto da querida TPM, meus hormônios deviam estar inquietos.
Eu peguei minhas coisas e o olhei.
— Preciso de um mapa.
— Eu te levo. — Ele pegou umas chaves que estavam em cima da bancada da cozinha.
— Não precisa. — Eu ajeitei a mochila nas costas.
Ele caminhou até mim, parando em minha frente e pegou minha mala.
— Serviço completo, lembra? — disse, sorrindo de forma maliciosa que fez minhas pernas bambearem.
Foram algumas horas de carro, até que finalmente encontrei o endereço da tia Ana. Ele me deixou na esquina do quarteirão, eu desci do carro e peguei minhas coisas. Ele desceu também, deu a volta e se encostou na lateral do carro, me olhando com um sorriso de canto:
— Pensei que fosse serviço completo — instiguei.
— Conte três casas à frente, lado direito. — Ele permaneceu imóvel, me olhando. — Não se preocupe em agradecer, já percebi que não é boa nisso.
— Que bom que notou. — Eu sorri e me virei, indo em direção à casa da tia.
Ao entrar pelo portão, passei pelo jardim da entrada, caminhando pela trilha de madeira que levava até a varanda. A casa era do estilo tradicional coreano, porém com dois andares. Mesmo que da rua aparentasse uma construção pequena, estando na parte interna, me transmitia bastante amplitude. Quando entrei na casa, tia Ana estava descendo as escadas, e o tio Han vendo um programa de variedades na TV.
— ! — disse ela, com um brilho nos olhos, empolgada por me ver bem. — Estávamos preocupados.
— Oh, . — Tio Han se levantou do sofá, sorrindo. — Que bom que conseguiu chegar em segurança.
— É, eu demorei para achar o endereço, mas cheguei bem.
— Eu levo sua mala. — Tio Han pegou minhas coisas e subiu as escadas.
Eu sorri e curvei um pouco a cabeça, demonstrando agradecer. Tio Han não se chateava mais com meu jeito de ser e minhas manias, mas, como ele sempre foi gentil comigo, eu sempre tentava demonstrar respeito e gratidão, mesmo que não fosse meu costume.
— Mas me explica direito como você se perdeu. Onde passou a noite? — perguntou tia Ana, me puxando para sala e me sentando no sofá.
As perguntas dela começaram a martelar em minha mente. Em poucos instantes, eu fui relembrando de cada detalhe do que havia acontecido na noite anterior até chegar ao sorriso de pura malícia de . E que sorriso. Eu expliquei aos meus tios novamente o que havia acontecido comigo. É claro que 100% da história foi pura criatividade da minha mente calculista.
“A batida está acelerando
Está mais alto mais e mais
Eu já passei do limite
Estou em choque e-elétrico choque.”
— Electric Shock / F(x)
Passei o domingo arrumando minhas coisas no meu novo quarto, colocando minhas mensagens do whatsapp em dia e atualizando meu instagram. Logo na segunda, minha vida de recém-universitária formada iria se iniciar, e bem cedo fui ao escritório da família Lee, onde eu conheceria o Sr. Chang Hee, amigo do tio Han.
Quando cheguei em frente ao prédio, observei rapidamente a moderna fachada de vidro, uma edificação de dois andares, toda branca, tão elegante que parecia mais ser de uma agência de publicidade que de uma construtora. Na recepção, fui recepcionada por uma atendente, que me direcionou a subir as escadas, e, chegando à parte superior, vi um homem concentrado em suas atividades, com suas mãos apoiadas sobre uma mesa de vidro, analisando uma planta arquitetônica.
Tamanha concentração me fez ficar impressionada.
— Com licença — eu disse, num tom alto.
— Sim. — Ele levantou sua face e me olhou, levantando sua postura, e se afastou da mesa.
— Posso falar com o senhor Chang Hee? — indaguei.
— Ele não está. — O homem deu alguns passos até mim, com o olhar curioso. — Você deve ser a , a sobrinha brasileira do senhor Han.
— Sim. — Eu o olhei de cima a baixo. — Como sabe meu nome?
— Sou , filho de Chang Hee. — Ele esticou sua mão direita em cumprimento. — Prazer.
— Igualmente. — Eu apertei a mão dele, aceitando.
Seu olhar era sereno e cativante, e seu sorriso meigo.
“Sim, vamos nessa!
Desafie a si mesmo, espalhe sua personalidade, faça isso!”
— One Shot / B.A.P
“Yo garota você é fantástica,
Você me faz voar.”
— Fantastic / Henry
Passaram pouco mais de 2 semanas, era sexta e eu estava visitando a obra de uma galeria de arte em Busan com . Passamos o dia tentando explicar as modificações que eu havia realizado no projeto em relação à fachada principal do novo prédio. Os engenheiros me olhavam de uma forma nada amigável, mas enfim tudo se resolveu, graças à paciência e tranquilidade de e minha persistência com bons argumentos.
Ao final da tarde, me convidou para um café. Confesso que estava com um buraco negro no lugar do estômago, minha glicose tão baixa que nem uma bala de caramelo resolvia. A cafeteria escolhida foi a Coffee Dream. Nos sentamos em uma mesa perto da vidraça que dava para rua lateral, o lugar ficava na esquina do quarteirão. O lugar tinha sua decoração em uma temática voltada para viagens, como uma volta ao mundo. Pedimos duas tortas de chocolate, um café para ele e um cappuccino para mim.
Percebi em minha discrição que ele não parava de me olhar.
“Você não conseguiu tirar os olhos de mim,
Desde a primeira vez que me viu.”
— Volume Up / 4minute
Ficamos conversando sobre a obra por alguns, minutos até que:
— Homem de sorte ele — comentou
— Quem? — perguntei, sem entender.
— A aliança. — Ele apontou para a minha mão direita.
Eu olhei para o objeto em meu dedo. Assumo que a aliança era grossa, então não tinha como não notar, mas eu já estava tão acostumada com ela em meu dedo que nem me importava mais.
— Bem… Apesar de haver uma aliança, meu coração está vazio. — Eu dei um breve sorriso. — Me acostumei a ficar com ela que nem percebo quando uso.
— Faz muito tempo que seu coração está vazio? — indagou ele.
— Alguns meses. — Eu imaginava que ele já estivesse interessado em mim, afinal, ele passava mais tempo me olhando do que concentrado nos projetos. — Por quê?
— Nada. — Ele sorriu, disfarçando a curiosidade.
— E você? — Eu esperei por um momento até que a moça que nos atendia colocasse o pedido na mesa e se retirasse. — Como está seu coração?
— Batendo setenta e duas vezes por minuto — ele brincou, me fazendo rir. — A casa está vazia também.
Fixou seu olhar ainda mais em mim, que até me senti constrangida por segundos. Tentei disfarçar o sorriso, mas era óbvio que meu ego não deixava. Apesar de ainda manter as imagens da minha primeira noite em Seoul com , eu não poderia perder a oportunidade e ignorar essa investida dele.
“Então, nós nos encontramos aquele dia,
Você ainda tem um inocente olhar no rosto,
Não consigo esquecer esse seu lado.”
— kiss kiss kiss / SHINee
Desviei meu olhar para a rua, ainda segurando o sorriso, até que percebi que havia um homem estranho do outro lado. Foquei em seu braço, vendo a ponta do que parecia ser uma tatuagem. Ao me ver lhe encarando, o homem tentou disfarçar começando a mexer no celular. Não acreditei muito, pois há uma semana eu tenho pressentido estar sendo vigiada. No início, achei que fosse meu lado neurótico de perseguição, mas agora tinha certeza. Havia pessoas me vigiando, o motivo é que eu não sabia. Tentei disfarçar minha preocupação e voltei minha atenção para . Ele já havia entrado no assunto do próximo projeto, mas a única coisa que eu consegui entender era projeto de paisagismo e jardim de inverno de uma empresa de entretenimento, ou coisa parecida.
me levou de volta para o albergue que eu estava hospedada. Segundo as palavras de minha tia, eu já deveria ter comprado ou alugado um carro, assim teria mais mobilidade pelas ruas, já que sempre me perdia nos transportes públicos e não queria pagar caro com táxis. Entretanto, queria mesmo era aproveitar as caronas do , pois se mostravam mais interessantes. Assim que ele parou o carro na esquina da rua, eu sorri e saí. Depois de todos esses dias convivendo comigo, ele já havia percebido meu jeito de demonstrar agradecimento, e, claro, tio Han havia alertado sobre isso. Após ele dar a ré, eu me virei em direção ao albergue e comecei a caminhar, então senti uma pessoa me agarrar e tampar minha cara com um pano umedecido com alguma coisa não muito cheirosa.
Em segundos, meu corpo cambaleou e perdi minha consciência.
“Eu fui realmente burro, aonde eu fui?
Quando eu tinha um plano sobre a apresentação
Eu deveria ter ficado ao seu redor
Em vez disso, eu fiz você se sentir mal.”
— Super Hero / Lunafly
“Eu não tenho o manto para voar no céu,
Não tenho botas que me fazem voar rápido como o vento,
Apenas para lutar imprudentemente,
Eu não posso parecer como em um filme.”
— Hero / Super Junior
Aos poucos, eu fui acordando. Tentei abrir meus olhos para ver o que estava acontecendo, mas minha visão ainda estava embaçada. Eu respirei fundo, senti que estava sentada em uma cadeira, totalmente amarrada. Ouvi algumas vozes distantes, mas não reconhecia nenhuma. Eu mantive meus olhos fechados, fingindo ainda estar desmaiada. Comecei a prestar atenção no que falavam.
— Tem certeza de que é ela? — disse a primeira voz, era de um homem, um pouco rouca e abafada.
— Sim — disse a segunda voz, era de uma mulher, meio fina e baixa, mas firme. — Eles a trouxeram há poucas horas.
Céus, ela disse poucas horas???
Há quanto tempo fiquei desacordada???
E meus tios???
Eles devem estar surtando com minha falta de notícias. Finalmente, eu levantei minha cabeça e fingi estar acordando.
— Você consegue me entender? — disse o homem. Ele era até charmoso, estava com uma blusa de manga longa de tricô e gola rolê, seu olhar sereno e tranquilo.
— Sim — eu disse a ele. — Onde estou? O que quer de mim?
Mantive minha encenação, demonstrando estar fraca, deixando minha voz baixa. Olhei à minha volta e percebi que estávamos em um galpão abandonado.
— , onde ele está? — disse o homem.
— Uh?! — Eu não entendia o porquê da pergunta, se nem conhecia direito e só o tinha visto uma única noite. — Eu não sei.
— Você foi vista com ele — insistiu o homem.
— Talvez tenha sido um mal-entendido — disse a mulher.
— Não foi. Ele a defendeu de nós — disse aquele homem estranho do canivete da primeira noite. Eu reconhecia aquele rosto e aquela voz.
O homem da voz rouca me olhou novamente.
— Então diga, onde ele está? — perguntou novamente, alterando seu tom de voz.
— Eu não sei — eu sussurrei.
— Talvez tenha sido uma coincidência — a mulher disse. — Lugar errado, hora errada, Yun.
— Chega com isso, Minzy. Ela está com ele — disse Yun.
— Presta atenção, Yun. E se a menina não tiver nada a ver com isso? — Ela olhou para o outro homem. — , considere isso.
Ele olhou para a mulher e depois olhou para mim.
— Vou perguntar pela última vez — começou ele.
— , por favor — interrompeu Minzy.
— Onde está ele? — finalizou, num tom sério e frio.
“Eu sei que pode ser tarde agora,
E eu sei que estou assumindo,
Mas eu estou aqui e eu sou um super-herói,
E eu posso te salvar.”
— Super Hero / Lunafly
— Procurando por mim? — chegou, andando tranquilamente em nossa direção. — Se queria me ver, poderia ter ligado.
Admito, ele era tão debochado quando eu, sua chegada foi surpreendente.
— . — engoliu seco. Eu senti que seus olhos se enfureceram. — Finalmente.
— Solte ela — disse . — Seu problema é comigo.
— Não. — Ele retirou uma arma que estava atrás das costas, escondida na calça.
Assim, Yun retirou sua arma também. Neste momento, eu prendi o fôlego, temendo o pior. Afinal, seria eu a estar no meio do fogo cruzado.
— Sempre do modo mais difícil. — sorriu de canto e fechou os punhos.
Por mais que eu quisesse fechar meus olhos, minha vontade de saber o que ocorreria foi maior. atirou primeiro, desviou. Quando Yun foi atirar, o desarmou, dando um soco em sua cara e pegando sua arma. Minzy se abaixou, se escondendo. Enquanto e trocavam tiros, eu estava no meio do fogo cruzado, tentando me desamarrar.
“Eu sei que estive longe
Mas eu posso te salvar agora”
— Super Hero / Lunafly
Quando as balas acabaram, aproveitou a oportunidade em que estava recarregando sua arma para desarmá-lo. Ambos trocaram socos e chutes. Quando conseguiu pegar sua arma, deu um giro, seguido de um chute na mão dele, o fazendo jogar a arma longe. deu outro chute nele, seguido de um soco, o derrubando. Ele correu até mim e começou a me desamarrar:
— Você está bem? — perguntou .
— Na medida do possível — respondi.
Assim que ele desfez o último nó, ele pegou em minha mão direita e, antes que pudesse pegar sua arma que estava longe, nós saímos correndo. Quando estávamos chegando à porta de saída, eu olhei para trás e vi que Yun havia sido baleado no braço esquerdo. Não pude observar mais, pois uma bala havia acertado a parede ao meu lado, era atirando em nós. Do lado de fora do galpão, corremos até a moto de e saímos o mais rápido de lá. e Yun entraram em um carro e começaram a nos seguir, mas conseguiu despistá-los, entrando em uma rua estreita. Eu olhei para o céu, o dia já estava amanhecendo.
Neste momento, eu pensei em meus tios e na história que contaria a eles desta vez.
“Eu vou me levantar para enfrentar
Todas as grandezas, fatalmente
Quando estou com você
Eu fico mais forte.”
— Divine / Girls’ Generation
nos levou para uma casa perto do Rio Nakdong, que fica a poucos quilômetros de Busan. Era uma casa antiga, seus móveis velhos aparentavam o estado de desgaste pelo tempo. Nós entramos, ele jogou as chaves da moto em uma mesinha de centro que estava frente ao sofá de madeira com estofado de tecido camurça. Notei a fina camada de poeira em cima.
— Você está bem? — disse ele, ao olhar para mim.
— Sim, e você? — Eu respirei fundo ao olhar para a face dele, seu olho esquerdo inchado com uma mancha enorme e sua boca com vestígios de sangue. — Se tiver primeiros socorros, eu posso te fazer um curativo.
— Não precisa. — Ele caminhou em direção a um corredor, dava para o quarto e o banheiro.
Eu peguei meu celular que estava no meu bolso e liguei para minha tia. A essa altura, ela com certeza já havia ligado para o albergue. E não era de se esperar, minha caixa de mensagens já estava lotada e com mais de sessenta mensagens no aplicativo coreano de conversas chamado kakaotalk. Ao atender o telefone, tia me perguntou como eu estava. Inventei que tinha deixado o celular silencioso para dormir melhor. Quando desliguei, enviei uma mensagem para , dizendo que me atrasaria na última visita à obra que seria às nove da manhã.
Eu olhei para frente quando desliguei o celular. estava encostado na parede, de braços cruzados, me olhando.
— Espero que não esteja esperando um agradecimento — disse, com leveza, mesmo sentindo meu corpo ainda trêmulo. — Afinal, foi você que me colocou nessa situação.
Ele riu baixo e descruzou os braços.
— Não estou surpreso com isso — disse, caminhando em minha direção. — Conseguiu falar com sua família?
— Sim, disse que estava dormindo.
— Você é boa com histórias. — Ele sorriu, parando em minha frente.
— Você ainda não viu nada — eu sibilei, controlando meus olhos e os desviando para o centro da sala. — Quem é ?
— Acho que quanto menos você souber melhor. — Ele se virou em direção à parte da cozinha. — Está com fome?
— Sempre estou. — Eu respirei fundo e me sentei numa cadeira de balanço que havia frente à janela, dei o impulso com meu pé direito, levantei meus pés e deixei a cadeira se mover sozinha.
Eu olhei para a janela, o mover das árvores, minha mente estava fervendo de perguntas que por hora não seriam respondidas. Eu fechei meus olhos por um minuto, finalmente consegui sentir meu corpo cansado. Não consegui abrir meus olhos de novo, me joguei no sono literalmente.
“Meu papai me disse uma vez,
"Estando com alguém que você ama,
vai fazer você ser uma pessoa mais forte".”
— Indestructible / Girls’ Generation
Abri meus olhos aos poucos. Pude perceber que já era noite. Estava deitada sobre uma cama, com certeza foi ele quem me colocou lá, me levantei e caminhei até a sala. Ele estava sentado no sofá, mantendo sua atenção voltada para fora da casa. Ele apontou para a mesa de jantar e permaneceu em silêncio. Eu olhei para a mesa, tinha um sanduíche preparado. Sem pensar em mais nada, eu comi e tomei o conteúdo da lata de suco que estava ao lado.
Tentei não olhar para ele, passei pela sala e saí para a varanda. Me debrucei no beiral e fiquei olhando para o horizonte por um tempo. Alguns minutos depois, ouvi o ranger da porta, era ele saindo. caminhou até mim e se debruçou no beiral ao meu lado.
— Ele é meu primo — começou a dizer, num tom baixo. — Não posso contar tudo, quanto menos você souber…
— Melhor será — completei. — Só me diga por que ele tentou te matar.
— Eu desonrei minha família. — Ele suspirou fraco. — Fui deserdado.
Respirando fundo, ele olhou para baixo, como se estivesse escondendo seus sentimentos. Eu fiquei o olhando por um momento, então me virei e encostei minha mão direita sobre as dele.
— Imagino que seja difícil para você. — Eu respirei fundo, procurando mais algo para dizer. — Sei como é para vocês, prezam sua honra diante da família.
— O mais louco é que não me arrependo de nada. — Ele virou a cabeça e me olhou, parecia sincero. — Se fosse para voltar no tempo, faria tudo de novo.
Neste momento, percebi a tristeza no seu olhar e as lágrimas formadas no canto dos seus olhos.
— Posso fazer algo para te ajudar?
— Sim. — se virou para mim e, segurando minha mão, puxou meu corpo, me abraçando. — Me deixe te abraçar somente, só preciso disso — ele sussurrou em meu ouvido.
Fiquei surpresa com o abraço dele e, sem reação, só permaneci imóvel, respirando fundo, controlando as aceleradas batidas do meu coração. Confesso que nunca fui uma pessoa sensível ou emotiva. Desde a adolescência, as pessoas me acham fria e distante. Mas, naquele momento, a única coisa que eu queria fazer era protegê-lo como ele me protegeu.
“Este indestrutível e inquebrável
Vínculo que nunca vai se quebrar
Nossas almas são almas gêmeas (almas gêmeas)
Por exemplo,
Mesmo se parecer que você está prestes a cair de um penhasco
Eu definitivamente não vou soltar a sua mão
Indestrutível...
Porque eu vou proteger você até o fim.”
— Indestructible / Girls’ Generation
“O seu amor continua mexendo comigo assim,
Apenas imaginando eu consigo encher o mundo com você,
Porque uma neve que cai corresponde a uma lágrima sua.”
— Miracles In December / EXO
Amanheceu e nós dois ainda estávamos na varanda conversando. havia me contado que Minzy e ele já tinham tido um relacionamento no passado, mas agora apenas a considerava uma amiga. Que bela amiga, pensei comigo. Fiquei observando o nascer do sol por alguns minutos, até que voltei para dentro e peguei meu celular, desta vez eu tinha que bolar uma história super convincente para minha tia e para . Eu liguei e, após o primeiro toque, tia Ana atendeu:
— Querida, estou desesperada sem notícias suas.
— Calma, tia, eu estou bem.
— Que alívio. já retornou de viagem, ele disse que você não tinha aparecido na obra ontem de manhã.
— Ele deve estar preocupado. — Eu estava me saindo uma péssima funcionária.
— Sim, ele pensou que você tinha vindo na frente por nossa causa.
— Oh, não. — Eu respirei fundo e me sentei no sofá. — Eu ainda estou em Busan, mas não se preocupe, tia, eu fiquei por causa de um projeto pessoal meu.
Me despedi da minha tia e desliguei o celular.
— Não podemos voltar hoje — disse ele, ao entrar.
— Não posso ficar aqui para sempre — retruquei.
— Amanhã à tarde, eu prometo.
— Nada contra sua família, mas eles devem saber que eu e você não somos próximos. — Eu suspirei, tentando não demonstrar minha chateação.
— É um tanto complicado eu dizer isso a eles. — Ele riu baixo. — Mas certamente o problema não é minha família.
Ele parecia saber de algo que iria além do seu primo e aquele confronto, pelo menos era o que eu notava em suas expressões sérias.
— Isso quer dizer o quê? — Eu o olhei com firmeza. — Que eu vou ficar sendo sequestrada a cada duas semanas?
— Não se preocupe com isso. — Ele caminhou até a cozinha. — Pedi uma pessoa para te proteger.
— Ah, legal. — Eu dei um riso de ironia. — E meus tios irão entender perfeitamente.
— Não se preocupe, esta pessoa será tão discreta que nem você vai perceber a presença dela — assegurou ele.
— Só acredito vendo. — Eu virei meu rosto para a janela.
Não estava animada a passar mais um dia naquela cabana, mas não podia reclamar, e as horas demoraram a passar. Eu até tentei me distrair caminhando um pouco em volta da casa com o pôr do sol, mas, para , não era seguro para mim ficar do lado de fora. No dia seguinte, segunda-feira à tarde, ele me levou ao aeroporto de Busan. Enquanto eu me sentei no banco esperando, se afastou de mim e caminhou até um homem que estava parado perto do balcão onde se comprava as passagens, ele trocou algumas palavras com o homem e retornou com um bilhete de passagem e uma mala nas mãos. Eu achei estranho, mas, quando ele se aproximou de mim, eu reconheci que a mala era minha.
— Aqui está. — Ele colocou a mala diante de mim e me entregou a passagem.
— Como conseguiu pegar no albergue? — indaguei.
— Não importa, seu voo sai daqui dez minutos.
— Você não vai comigo? — perguntei.
— Não. — Ele se virou de costas e acenou com a cabeça para o homem.
— É ele quem vai me proteger? — indaguei, olhando bem para o homem estranho que estava de capuz.
— Quanto menos souber melhor. — Ele permaneceu de costas para mim, parado, olhando para o relógio.
Dez minutos depois, eu me despedi dele e fui para a plataforma onde embarcaria no avião. Quando desembarquei no Aeroporto Internacional de Incheon, liguei imediatamente para , expliquei meio entre linhas porque eu havia desaparecido de repente e disse que compensaria minha falta de profissionalismo. Meu compreensivo chefe me disse para não ficar preocupada, me agradeceu por ter ligado e me disse que eu poderia voltar ao trabalho na terça. Quando eu cheguei em casa, cumprimentei meus tios e fui para meu quarto, estava cansada e queria muito um momento de paz e descanso.
“É de todo meu coração, baby, meu coração que está cheio de você.
Coloque sua mão no meu peito, está batendo
Você é tudo na minha mente, mesmo nos dias difíceis do mundo
Você me faz sentir vivo em um dia cansativo.”
— All My Heart / Super Junior
Enfim amanheceu. Tomei meu café da manhã e fui direto para o escritório. Ao chegar, me acomodei na sala que tinha organizado para mim e comecei a trabalhar no projeto de paisagismo do restaurante do Hotel Kingdom. Eu sempre tive afinidades com paisagismo, tirando a parte dos estudos de terreno e curvas de nível, porém, o que sempre me tirava o sono em meus projetos era a parte luminotécnica. Lightdesign nunca tinha sido meu forte, e, para um hotel de luxo, teria que exigir o dobro da minha atenção.
— Bom dia — disse , ao bater na porta que estava aberta.
— Bom dia. — Eu olhei e sorri.
— Como está?
— Bem. — Eu suspirei fraco. — Apesar dos contratempos.
— Já disse para esquecer isso, está tudo bem — assegurou ele. — Todos temos projetos pessoais.
— Ok. — Eu ri. — Hum, tive algumas ideias para o espelho d’água, quer dar uma olhada agora?
— Claro. — Ele se aproximou da minha mesa. — A propósito, antes que eu me esqueça, vamos a um jantar hoje.
— Jantar? — Eu o olhei surpresa. — Alguma comemoração em especial?
— Sim. — Ele sorriu. — Depois de alguns meses em negociação, vamos renovar nossa parceria com uma das maiores construtoras de Seoul e Busan.
— Interessante. — Eu sorri de canto. — Fico feliz pelo escritório.
— É, meu pai está muito feliz. — Ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. — A família dona da construtora é muito conceituada e conhecida no ramo, e nossas famílias são próximas há gerações.
— Que bom. — Eu desviei meu olhar dele para a planta do projeto que estava em cima da mesa.
— Bem. — Ele seguiu meu olhar. — Vamos terminar isso.
— Na medida do possível — eu brinquei, tirando alguns risos dele.
Nós passamos o resto da manhã revisando o projeto e finalizando as ideias para o jardim do hotel. Após o almoço, eu pedi ao para sair mais cedo. Aproveitei para ir ao shopping e comprar um vestido para o jantar. Nunca fui de roupas formais e para mim um jeans sempre resolvia tudo, porém, país diferente, cultura diferente. Eu precisava demonstrar minha seriedade profissional, descobri que na Coreia a estética e seu modo de vestir para certas ocasiões são levados a sério. Quando eu cheguei ao shopping Namdaemun Market, rodei, olhando algumas vitrines, tentando encontrar algo que me chamasse atenção. Andei por alguns minutos, sentindo uma sensação estranha de estar sendo vigiada, mas tentei não ficar preocupada, talvez fosse pelo que tinha acontecido comigo no final de semana, ou pelo protetor invisível que havia arrumado para mim.
Foi quando eu encontrei, bem ao fundo de uma loja de roupas sofisticadas, bem discreto e esquecido em um cabide, um vestido amarelo claro, de modelagem tubinho. Eu o peguei e conferi a numeração. Por sorte, era a minha. Considero que aquele vestido estava me esperando. Eu experimentei no provador só para ter certeza. Ao sair, fui até o caixa pagar. Quando saí da loja, um homem se aproximou de mim e, me pegando pela mão, me puxou consigo:
— Ei! — Eu tentei soltar minha mão, mas ele estava me segurando tão forte que desisti de resistir.
Nós entramos em várias lojas, até que paramos em uma loja masculina. Ele me levou até o provador que ficava aos fundos da loja e entrou comigo.
— Ei! Quem você pensa que é para me puxar até um provador aleatório? — eu reclamei, segurando meu pulso.
Ele estava olhando entre o tecido e olhou para mim, fazendo sinal de silêncio. Nós passamos alguns instantes nos olhando, até que ele se certificou de algo, olhando para fora do provador.
— Me desculpe. — Ele curvou um pouco a cabeça.
— O que aconteceu?
— Quatro homens estavam te seguindo desde que você saiu do escritório. — Ele respirou fundo, me olhando.
— Hum… — Eu desviei meu olhar para o espelho, vendo nosso reflexo, enquanto ele permanecia me olhando. — Isso está virando rotina, me seguirem.
— Eu tentei manter distância, mas…
— Sem problemas. — Eu ri. — Então você é o amigo do ?
— Sim. — Ele olhou para o espelho também e sorriu. — Pode me chamar de Jinho.
— Estava mesmo curiosa para conhecer o protetor invisível que ele tinha arrumado para mim.
Nós rimos por um momento, ficamos mais alguns minutos esperando, até que ele me levou de moto até a esquina da rua onde meus tios moravam. Eu desci da moto, e ele levantou seu capacete:
— Está em segurança, agora — disse ele, dando um sorriso.
— Gostaria de saber por quanto tempo. — Eu olhei para a casa da minha tia. — Bem, tenho que ir.
— Espera.
— O que foi? — Eu olhei para ele.
— Não conte ao que ficamos sozinhos em um provador.
— Por quê? — Eu ri baixo, meio curiosa.
— Só não diga. — Ele respirou fundo. — Por favor.
Eu concordei ainda intrigada e caminhei até a casa da minha tia.
“Todo dia eu tento, eu realmente estou quase lá
Ficamos mais perto de um bom tempo,
diga adeus a todas as dificuldades.”
— Sexy, Free & Single / Super Junior
me buscou às 7 da noite em ponto. Ele me levou ao Chosun Hotel. Ouvi dizer que a comida do restaurante dele era boa, porém cara, mas enfim, quem iria pagar não seria eu. Mais uma construção luxuosa que tinha a oportunidade de ver de perto, cada detalhe da iluminação, a disposição das vigas estruturais, a modernidade na escolha dos revestimentos. Sentamos em uma mesa localizada mais ao centro do restaurante, esperamos alguns minutos, até que o pai de chegou, acompanhado de um homem. De longe, eu não consegui enxergar sua face, mas quando se aproximaram…
— Que bom que já chegaram — disse o senhor Lee.
— Sim, pai, não faz muito tempo — comentou , e voltando o olhar para mim. — , este é um dos herdeiros da família Chang que te falei, .
— Boa noite. — Ele me olhou com um sorriso malicioso.
— , esta é nossa arquiteta junior — disse o senhor Lee, me apresentando a ele com satisfação. — Uma aquisição promissora ao nosso escritório.
Eu permaneci em silêncio, tentando digerir o que tinha acabado de acontecer.
estava sentado na minha frente, agindo como se não me conhecesse depois do que havia feito comigo. Por fora, eu deixava minha face transparecer estar calma e tranquila, seguia o ritmo do seu teatro, mas, por dentro, sentia meu coração acelerar com uma sensação estranha de insegurança.
"A escuridão deste mundo te faz perder as forças?
Isso é engraçado, você está bem?
Não posso ficar aqui parado e observando
Mesmo se cair e esbarrar-se inúmeras vezes, levante-se!"
— The Boys / Girls’ Generation
“Você está em perigo,
Você mexeu com a pessoa errada, saia daqui,
Porque eu, porque eu sou perigoso.”
— Badman / B.A.P
Nunca me senti tão insegura quanto naquele jantar, tendo que encarar os olhares de como se não o conhecesse, afinal, eu quase morri por causa dele. Nem sei como consegui manter minha compostura. Quando cheguei em casa, mandei uma mensagem a , contando o que havia ocorrido, ele não disse nada sobre isso, somente pediu para eu encontrá-lo no cinema. De início, eu não entendi, mas percebi que era um local estratégico para despistar as pessoas que me seguiam.
Como era quarta, eu não iria ao escritório, então resolvi tirar o dia para dormir e descansar, ainda não tinha superado os acontecimentos do final de semana. Ao final da tarde, me ligou, dizendo que o edifício do escritório iria passar por uma reforma e que eu poderia trabalhar em meus projetos em casa. Eu suspirei aliviada pela notícia, home office era tudo o que precisava no momento e não sei se conseguiria manter minha pose de profissional por mais tempo perto de . A noite apareceu, eu me arrumei e fui para o cinema. Quando cheguei à bilheteria, a moça me entregou um ingresso sem que eu dissesse uma só palavra. Eu peguei, entrei na sala e sentei em uma poltrona bem ao fundo, no canto direito. Alguns minutos depois que o filme começou, uma pessoa se sentou ao meu lado. Permaneci em silêncio, esperando alguma palavra:
— Gosta de filmes de romance? — disse tranquilamente.
— Não muito — respondi.
— Nem eu. — Ele riu baixo, pois tinha alguns casais duas fileiras à nossa frente.
— Não foi para assistir ao filme que viemos, não é?
— Não. — Ele me entregou um pacote. — Coloque isso.
Eu peguei o pacote e abri, tinha um boné e uma blusa grande de moletom.
— Para que isso?
— Somente coloque — ele insistiu, olhando para o telão da sala.
— Ok. — Eu respirei fundo e coloquei ainda intrigada. — Pronto, e agora?
Ele me olhou e, ajeitando meu boné, pegou em minha mão e se levantou, me puxando consigo. Saímos pelos fundos do shopping em silêncio e caminhamos alguns quarteirões até chegar ao carro dele. Entramos e deu a partida.
— Para onde vamos?
— Surpresa.
Eu o olhei curiosa, mas permaneci em silêncio, olhando a paisagem pela janela do carro. Duas horas depois, chegamos ao litoral. estacionou próximo ao cais e me levou até um dos iates que havia lá.
— Que tal conhecer o lado bom da história? — ele sugeriu.
— Uau! — Eu olhei o iate, admirada. Era grande e lindo, além de ostentar luxo como todos do mesmo estilo. — Vou adorar, mas…
— Mas!?
— Meus tios.
— Diga a eles o que sempre diz.
Eu ri. Aquilo era uma proposta tentadora e o pior era o conselho dele. passou de anjo protetor para mal caminho inteiro.
— Ok! — Eu ri. — Você me convenceu.
Eu peguei meu celular e enviei uma mensagem à minha tia, o que mais eu poderia inventar a não ser dizer que iria aproveitar o recesso do escritório para conhecer alguns pontos turísticos da arquitetura tradicional coreana, tudo para meu projeto independente que nem existia.
— Pronto! — disse, guardando o aparelho no bolso.
— Que bom! — Ele sorriu de canto.
Céus, que sorriso.
Entrei no iate e caminhei um pouco, vendo o design do lugar, conferindo cada detalhe. Logo desci umas escadas, encontrando um quarto. Era realmente luxo combinado ao conforto. Uma cama enorme de casal ao fundo, um armário de laca branca pouco mais a frente, com um frigobar ao lado e uma bancada de madeira de demolição. Caminhando até o centro, me virei para o lado e vi uma estação de trabalho. Reconheci meu notebook em cima da mesa de vidro e minha pasta de projetos.
— Claro que ele pensou em tudo — eu disse comigo mesma. — , seu mafioso.
Eu ouvi uma risada vindo atrás de mim, era ele rindo debochadamente.
— Tomei a liberdade de trazer seu trabalho, já que você não vai ao escritório o resto da semana mesmo — explicou ele, com serenidade.
— Como sabia? — Eu o olhei curiosa.
— Preciso te pedir desculpas.
— !? Como você sabe? — insisti com firmeza.
— Grampeei seu celular. — Seu tom ficou baixo.
— O quê? — Eu o olhei meio indignada. — Você sabe o que significa a palavra privacidade?
— Me desculpe, eu fiquei preocupado com você.
— Pois não se preocupe mais. — Eu me afastei dele, indo em direção à escada.
— Espera. — Ele pegou em meu braço, virando meu corpo em direção a ele. — Eu não quero que nada te aconteça, principalmente por minha causa. — Ele me olhou por um momento. Via a sinceridade no seu olhar, que parecia me corroer por dentro. — Depois que te coloquei em perigo e soube que tomou a frente da construtora para colaborar com o escritório do senhor Lee, não consegui pensar em outra coisa a não ser te proteger.
— , eu entendo. Ainda estou chateada, mas entendo. — Respirei fundo.
Nos olhamos por um tempo, até que ele percebeu que ainda estava segurando meu braço. Ele soltou e se afastou.
— Vou dar a partida, ainda quer ir?
— Sim. — Eu dei um sorriso fraco.
Por mais que eu soubesse que ele queria meu bem, não podia ignorar o fato dele ter invadido minha privacidade, mas enfim, gostei de ouvir aquelas palavras. Subi novamente para a parte superior do iate e me sentei na parte frente à cabine de comando, olhei para o céu e fiquei por um tempo olhando as estrelas, sentindo a brisa da noite, enquanto o iate se movimentava. Minutos depois, senti o iate ancorar no meio do nada, ele se aproximou e sentou ao meu lado.
— Estou começando a suspeitar deste passeio — disse, segurando o riso.
— Não se preocupe, não te farei nenhum mal — ele disse, dando um sorriso malicioso ao olhar para mim.
— Eu sei. — Eu o olhei, tentei não olhar, mas olhei seu rosto, seus olhos. Não conseguia pensar em nada, nenhum dos perigos que eu corria estando com ele.
foi se aproximando de mim, senti meu coração acelerar na hora. Eu fechei os olhos, senti ele acariciar meu rosto. Quanto mais ouvia sua respiração próxima de mim, mais meu coração acelerava. Ele aproximou seu rosto ainda mais do meu.
— Acho melhor você descansar, amanhã será um longo dia na ilha de Jeju — ele sussurrou em meu ouvido e se afastou de mim, se levantando.
Eu abri meus olhos e o olhei, ele estava caminhando em direção à cabine.
Eu permaneci paralisada. Não sabia se estava decepcionada ou com raiva do que não aconteceu e eu queria que acontecesse. Me levantei meio contrariada e desci as escadas para a parte inferior. Me joguei na cama e respirei fundo. Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Não me permitia chorar por isso, não por isso.
“O sol brilha sobre mim durante todo o dia
Eu quero ser sua garota,
mas eu provavelmente estou mudando por dentro
Eu fico mais confortável quando estou ao lado dele
eu quero mantê-lo à vista.”
— Creating Love / Personal Taste OST (4minute)
Amanheceu, eu me levantei e subi. Olhei em volta, e o iate já estava ancorado no porto.
— Bom dia! — ele disse, encostado no beiral do iate.
— Bom dia. — Eu o olhei, tentando não demonstrar minha frustração. — E para onde vamos agora?
— Menina apressada — brincou . — E o café da manhã?
Ele sorriu e piscou de leve.
— Foi você quem disse que o dia seria longo — disse, num tom de ironia, o olhando.
— Venha, vamos tomar café. — Ele se afastou do beiral e pegou em minha mãe, me levando para a parte traseira do iate. Subimos uma outra escada que ficava ao lado da cabine de comando. Ao chegarmos ao terraço, tinha uma mesa preparada com frutas e guloseimas.
— Nossa — eu disse.
— Gostou?
— Onde conseguiu tudo isso?
— Confeitarias existem. — Riu. — E elas abrem às 7 da manhã.
— Ok. — Eu me aproximei da mesa e me sentei em uma das cadeiras. — Isso parece gostoso. — Peguei um cupcake de chocolate.
— Bom apetite.
— Essa é minha frase favorita. — Eu sorri, sentindo o cheiro gostoso que vinha do café que eu derramava na xícara.
Minutos depois, saímos para iniciarmos nosso tour pela ilha. Ele me levou à feira da cidade, fiquei encantada com tudo ao meu redor. Havia uma senhora, que ele chamou de ajumma, em uma barraquinha de bijuterias. Eu me aproximei um pouco, vendo seus colares, acabei comprando um pingente no formato de asas de anjo. Caminhamos por algumas horas com ele me contando as histórias do lugar. Ao final da tarde, fomos a um restaurante que ficava frente à praia principal, e comemos um delicioso churrasco de frutos do mar.
Após o jantar, caminhamos um pouco pela praia, até que eu me sentei na areia de frente para o mar.
— Está cansada? — ele perguntou, se sentando ao meu lado.
— Um pouco.
— Eu disse que o dia seria longo — ele brincou.
— Sim, disse. — Eu suspirei fraco. Permaneci olhando o mar. — Aqui é lindo!
— Sim, há tempos que não venho. — Ele ficou em silêncio por um momento. — Não assim à passeio.
— Saiu da máfia, mas a máfia não saiu de você? — eu brinquei, rindo.
— Um pouco. — Ele riu junto. — Mas, apesar de linda, as lembranças daqui não são agradáveis.
— Hum. — Eu o olhei. — Você pode trocar as lembranças antigas pelas de agora.
— Boa sugestão. — Ele me olhou e sorriu, depois tombou seu corpo, deitando sobre a areia.
Eu deitei meu corpo também. Permanecemos em silêncio por um tempo, olhando as estrelas.
— Me bateu uma saudade de casa agora — eu comentei.
— Como são seus pais? — perguntou ele, curioso.
— Hum. — Eu ri de leve. — Ao mesmo tempo que são preocupados, eles são liberais. No final, são compreensivos.
— Isso é bom.
— Você sente falta de estar com sua família? — eu perguntei, virando minha face, o olhando.
— Sim, mais da minha mãe.
— Quem sabe um dia isso não se resolva.
Ele me olhou e sorriu, um sorriso de gratidão.
— Vamos?! — Ele se levantou.
Assenti com o rosto.
Nós retornamos ao iate, e ele foi direto para a cabine de comando. Enquanto isso, eu desci as escadas, indo para o quarto. Me sentei na cadeira frente à mesa da estação de trabalho, liguei meu notebook e comecei a trabalhar nos meus projetos. Não estava com sono e tinha que adiantar algumas pranchas técnicas para enviar para . Ao amanhecer, eu parei um pouco e tirei um cochilo. Na hora do almoço, me acordou, ele havia preparado ramen para comermos. Quando subi, vi que o iate estava novamente ancorado no meio do mar. Eu andei até a parte traseira e me debrucei no beiral, olhando para o céu.
— Que tal um mergulho? — sugeriu ele, ao se aproximar de mim.
— Hum. — Eu ri. — Adoraria, mas não sei nadar.
— Sem problemas, eu aproveito por você. — Ele piscou de leve e se afastou.
Eu andei até a beirada do iate e me sentei, colocando meus pés na água. Fiquei olhando-o, enquanto ele dava seus mergulhos. Às vezes, ele jogava água em mim para descontrair, e eu retribuía. se aproximou do iate e conversamos mais um pouco sobre mim, ele não parava de perguntar como era minha vida no Brasil. A noite chegou, e ele fez alguns sanduíches para nós. Permanecemos um tempo sentados no chão do terraço.
— Então, vocês estão juntos? — ele perguntou.
— Vocês quem? — Eu o olhei sem entender.
— Você e . — Esclareceu ele.
— Por que a pergunta? — Segurei o riso.
— Curiosidade. — Ele olhou para frente, disfarçando. — O modo como ele te olha e se preocupa com você, ele parece estar interessado.
— É. — Eu suspirei fraco, estava tentando entender até onde ele iria com as perguntas e suposições. — Eu já percebi isso.
— Hum — ele murmurou baixo.
Eu olhei para frente também. Passamos mais alguns minutos em silêncio, nem mesmo as águas do mar faziam barulho, tudo calmo e tranquilo.
— Você sente algo por ele? — perguntou de repente.
— Por que quer saber? — Eu ri baixo. — Está com ciúmes?
Ele riu, tentando disfarçar.
— Só curiosidade… — se aproximou de mim, virando seu corpo e o colocando frente ao meu. — Afinal…
— Afinal? — Eu respirei fundo, tentando acalmar meu coração que já estava acelerando novamente por causa dos seus movimentos.
— Afinal, se você estivesse… — Ele jogou seu corpo em cima do meu, apoiando suas mãos ao lado na altura da minha cintura, mantendo uma pequena distância entre nossos corpos. — Não estaria aqui, não é mesmo?
— Ah!? — Neste momento, eu já havia perdido toda noção de tempo e espaço, nem mesmo sentia meus sentidos.
— Então… — Ele aproximou seu rosto do meu. — Voltaremos amanhã. Boa noite.
Ele se afastou de mim e se levantou.
Eu queria ter sido uma mosca para ver minha cara nessa hora. Mais uma vez ele me deixou louca. Manhã de domingo, ao acordar, me espreguicei na cama. Senti o iate balançar um pouco, acho que ele estava ancorado novamente. Eu demorei um pouco para me levantar, meu trauma do segundo quase beijo ainda fluía em minha mente. Quando subi as escadas para a parte superior, notei que não estava no iate. Estranhei no início, mas vi que havíamos voltado ao cais onde embarcamos, talvez ele tivesse ido buscar seu carro.
Minutos depois, o avistei meio ao longe, estava segurando um jornal e lendo, enquanto caminhava em direção ao cais. Eu saí do iate e permaneci o olhando. Logo vi um reflexo que me chamou atenção, era um homem que vinha mais ao longe, atrás dele, como se estivesse o seguindo.
— — eu gritei. — Cuidado!
Permaneci olhando em meio desespero. Quando vi que ele estava com dois fones no ouvido, saí correndo o mais rápido que pude em sua direção, o gritando ao ver o homem apontar uma arma para ele.
— Não!
Eu soltei um grito desesperado. Quando cheguei perto dele, já o abraçando, rodei nossos corpos, ficando de costas para o homem. Eu fechei meus olhos ao ouvir um barulho alto, era como uma bomba sendo lançada perto de nós. Senti meu corpo congelar na hora, minhas pernas se enfraqueceram e eu desabei nos braços dele.
— Não! — ele soltou um grito de desespero. — , não, por favor, fale comigo.
Eu abri meus olhos lentamente, minha visão estava embaçada, mas pude perceber as lágrimas nos seus olhos. Ouvi mais disparos, perto e longe. Minha mente já se encontrava tão atordoada que não conseguia focar no que acontecia ao meu redor. Ajoelhado no chão do cais, comigo em seus braços, gritava meu nome. Aos poucos, sua voz foi ficando mais distante. Eu sentia o gosto amargo do meu sangue invadir minha boca.
Será que era assim morrer?
Uma sensação estranha e uma dor agonizante. Eu ouvi pela última vez a voz dele gritar meu nome, então perdi minha consciência.
Não sei o que acontecerá comigo,
você é a minha única cura,
Não irei conseguir viver se eu não tiver você.
— Symptoms / SHINee
“Você é como um anjo que
me deixou em algum lugar,
Eu preciso de você.”
— 1004 (Angel) / B.A.P
Fui despertando aos poucos. Ainda de olhos fechados, tentei voltar aos meus sentidos e comecei a ouvir um barulho chato e incômodo. Ouvi algumas pessoas falando, não conseguia entender o quê. Instantes depois, o barulho do que seria uma porta se fechando. Senti outro desconforto de imediato, percebi que não era minha cama. Abri os olhos devagar, a claridade doía minhas vistas meio embaçadas ainda. Aos poucos, fui reconhecendo que estava em um quarto de hospital, mas o que eu estava fazendo ali? Tentei me levantar e senti uma forte dor nas costas, como se tivessem feito um buraco nela. Me senti mais perdida que cego em tiroteio.
Logo um homem de jaleco branco entrou, deveria ser o médico. Ele estava acompanhado da tia Ana. Eu tentei respirar fundo, aqueles aparelhos ligados em mim me incomodavam e minhas costas ainda doíam.
— Olá, querida — disse minha tia, com um sorriso singelo no rosto. — Que bom que já acordou.
— Bem como prevíamos. Ela está se recuperando rápido — disse o médico.
— Doutor Chang Ki, quando ela terá alta?
— Se continuar progredindo assim, em breve. — O médico acenou com a face e saiu.
Tia Ana me olhou com carinho.
— Como está, querida? — Ela segurou minha mão, mantendo um sorriso singelo no rosto.
Parecia querer me trazer conforto.
— Tirando as dores e a falta de percepção do espaço, estou bem. — Eu tentei respirar fundo, mas senti certa dificuldade. Olhei à minha volta. — Por que estou em um hospital?
— Oh, céus, você não se lembra? — Ela me olhou com preocupação.
— Não, não consigo lembrar de nada. — Minha voz estava baixa, me sentia cansada e minha cabeça meio zonza ainda.
— Querida, eu também não sei, era isso que eu iria te perguntar. — Ela parou por um momento, tentando encontrar palavras. — Alguns oficiais da polícia estão aqui para tomar seu depoimento. O que faremos agora?! — ela sussurrou para si.
— Estamos em Seoul? — indaguei.
— Sim, querida. Quando soubemos que você estava internada aqui, viemos o mais rápido possível — contou ela.
— Estou há quantos dias aqui em Seoul? — A falta de informações me preocupava.
— Três semanas — respondeu ela.
Três semanas?
— O quê? — Eu a olhei assustada. Não podia nem mesmo me mover na revolta, pois em meu corpo todo, tudo doía. — Quando vou poder sair daqui?
— Como o médico disse, em breve.
Passei mais dois dias no hospital, me recuperando. Os médicos fizeram uma série de exames, meu corpo estava bem, 100% de recuperação, mas na minha mente o médico havia diagnosticado perda de memória repentina devido ao trauma do possível acidente que eu sofri. Isso explicava o imenso vazio que eu sentia no meu coração. Quando eu cheguei em casa, tia Ana me ajudou a caminhar até o quarto. Percebi que meu notebook não estava lá.
Por mais que eu tentasse me lembrar, não conseguia, sentia minha cabeça doer ainda mais. O desconforto em minhas costas era o motivo de eu estar no hospital, mas o que teria causado isso, um assalto talvez? Eu ainda não me conformava em não me lembrar das últimas três semanas, como eu não me lembrava que já estava na Coreia. Tia Ana também não sabia de muita coisa, uma enfermeira havia dito que um estranho me encontrou e ligou para a emergência, me levaram para o hospital e lá viram que eu estava com meus documentos e meu celular, então ligaram para ela.
Será que…
Eu não conseguia mesmo pensar em nada, em nenhuma possibilidade, sentia somente um vazio dentro de mim, como se eu tivesse perdido algo ou alguém. Passei a manhã sentada na poltrona perto da janela, vasculhando meu celular. Tinha somente mensagens para a tia com explicações óbvias demais. Eu me conhecia muito bem para saber que aquelas explicações não eram reais. Foi quando encontrei um número não conhecido e o nome que dei a esse número:
Smooth Criminal.
“Isso não acabou até que esteja acabado.”
— Gotta Be You / 2NE1
— Smooth Criminal — sussurrei para mim. — Quem será você?
Tia Ana bateu na porta do quarto e entrou, eu tinha visitas. Eu guardei meu celular e coloquei uma blusa de moletom, ajeitei meu cabelo e desci para ver quem era. Será que meus pais tinham vindo para Seoul também? Quando cheguei à sala, havia um homem parado, conversando com o tio Han e outro perto da janela, com uma xícara nas mãos.
— Boa tarde — eu disse, ao descer o último degrau.
— Oh, . — Tio Han sorriu para mim. — Que bom que está bem disposta agora.
— Annyeonghaseyo, eu lamento o que aconteceu com você — disse o homem ao lado do tio Han. — Nós já nos conhecemos, trabalhamos juntos. Sou .
— Me desculpe, mas não me lembro de você. — Eu respirei meio fraco. — Não me lembro de nada.
— Sua tia nos contou — disse o outro homem. Ele me olhou de forma tranquila e colocou a xícara na mesa de centro. — É realmente triste que tenha se ferido em um país tão distante do seu.
— Infelizmente, existe violência em todos os lugares — disse tia Ana, ao entrar na sala com uma bandeja com biscoitos.
— E você é quem? — Eu olhei séria para o homem, não conseguia me sentir confiante perto dele.
— . — Ele sorriu de canto. — Sou sócio do escritório onde você trabalha.
— Hum. — Eu desviei o olhar. — Eu tenho mesmo um emprego.
— Foi sobre isso que viemos também. — se aproximou de mim. — Sei que não está totalmente recuperada, por isso vou adiar todos os projetos que estava participando.
— Não — eu disse. — Faço questão de continuar. Quem sabe o trabalho não estimula minha mente a se lembrar de algo, não conseguiria ficar em casa.
— Tem certeza? — Ele me olhou preocupado.
— Acho uma boa ideia — concordou e olhou para mim. — precisa estimular sua mente.
— Sim, sim, às vezes o trabalho pode ajudar. — Tio Han sorriu para mim.
— Se quer. — assentiu. — Mas se eu ver que está se esforçando demais…
— Eu estou bem, — afirmei, o olhando com segurança. Agora sim, essa era eu.
conversou comigo mais um pouco sobre o escritório, que ainda estava de reforma e que eu poderia trabalhar em casa. Eu tentei manter minha atenção nele, mas meus olhos sempre seguiam os movimentos de , que estava conversando com o tio Han. Tia Ana os convidou para jantar, e eles não puderam recusar, pois tio Han havia aberto uma garrafa valiosa de Soju coreano. Eu ajudei a tia a colocar a mesa, enquanto brincava de adivinhação com ChoHee. Quando sentamos todos, senti meu coração pulsar mais forte. se sentou em minha frente, seu olhar para mim era tão intenso. Eu parei por um momento e comecei a ver alguns flashes de lembranças. Me vi sentada em uma cadeira, amarrada, e ele lutando com um homem.
Fechei meus olhos, senti uma breve dor de cabeça.
— O que foi querida? — disse tia Ana, que estava sentada ao meu lado.
— Nada, só uma dor. — Eu me levantei. — Me desculpem, mas preciso me retirar.
Eu corri até meu quarto e me tranquei nele, senti uma forte dor na cabeça que arrancava até lágrimas de mim. Quanto mais eu queria que ela parasse, mais ela doía, e a cena de lutando com aquele homem que eu não conseguia ver o rosto persistia em continuar em minha mente, me fazendo sentir mais dor ainda.
Me deitei, embrulhando meu corpo no edredom. Fechei meus olhos e tentei esvaziar minha cabeça, não queria pensar em nada, queria somente relaxar e ficar em paz. Algumas horas depois, me levantei e fui até a cozinha, tia Ana ainda estava guardando os pratos do jantar.
— Está tudo bem, querida? Você saiu tão desnorteada da mesa.
— Está sim, tia. — Eu peguei um copo de água e comecei a tomar. — Minha cabeça começou a doer, mas estou bem, sim.
— Que bom. Se precisar de algo, não hesite em me chamar. — Ela sorriu ao terminar de guardar o último prato.
— Não se preocupe, tia, estou bem. — Eu caminhei até a pia e lavei o copo, me virei e voltei ao quarto.
Não queria deixar minha tia mais preocupada, não queria trazer problemas para ela, problemas os quais eu nem fazia ideia de qual era sua dimensão. Ao amanhecer, recebi uma mensagem de , ele estava me convidando para dar um passeio e tomar café com ele. Eu sentia aquela sensação de desconfiança, mas eu percebi que ele era o motivo que me fez ter aqueles flashes. Será que eu era próxima dele?
Pelo sim, pelo não, eu aceitei.
“Então eu sinto sua falta (eu penso em você)
e preciso de você (eu todo dia),
Ainda ouço sua voz,
Volte para mim (somente você a mim),
Para perto de mim (eu tenho),
Você é como um anjo.”
— 1004 (Angel) / B.A.P
Nos encontramos em uma cafeteria chamada Coffee House. Nos sentamos frente à vidraça da lateral, eu sentia que aquele era um ambiente meio familiar. não parava de me olhar. Assim que a atendente veio, ele pediu um café para ele e cappuccino de chocolate para mim e um pedaço da torta que havia atiçado meus olhos quando a vi, ao entrar. Fiquei surpresa por ele saber que cappuccino de chocolate era minha preferência.
— Estou vendo pelo seu olhar que está bem melhor hoje — disse ele.
— Meu olhar? — Eu sorri. — O que meu olhar diz?
— Que você é uma mulher confiante. — Ele olhou para mim por um tempo. — É uma pena que não se lembre de mim. Bem, mas acho que é melhor assim.
— Por que seria melhor assim?
— Porque teríamos uma oportunidade de nos conhecer melhor, começar de novo. — Ele sorriu de canto.
Eu me mantive em silêncio. Desviei meu olhar para a rua, realmente não confiava nele, e depois dessas palavras “começar de novo”.
Comecei a sentir que meu relacionamento com antes do meu acidente não era muito bom. Será que tivemos desavenças no escritório? Senti meus pensamentos se desviarem por um momento, até que vi, do outro lado da rua, uma pessoa nos vigiando. Ele estava de capuz e jeans surrados, tive a sensação de ter visto aquela cena antes.
— Então, , como nos conhecemos? — perguntei, um pouco curiosa, virando meu olhar para ele.
— Meio complicado. — Ele deu um breve riso. — Em um jantar.
— E o quão próximos nós somos? — perguntei, sendo direta. Eu não sabia como, mas sentia que ele estava mentindo.
— Ainda não sei medir. — Ele segurou em minha mão de leve. — Mas podemos definir isso a partir de agora.
Eu não sabia como definir o caráter dele, mas sentia uma ponta de charme misturada à sedução vinda do modo como ele me olhava. Era como se ele quisesse que eu lembrasse, mas ao mesmo tempo quisesse que eu baseasse minha opinião em relação a ele a partir daquele ponto. Quem era , era um enigma para mim, um enigma que eu queria desvendar.
Eu olhei para o lado, a atendente já estava nos servindo. Eu a esperei se retirar e olhei para ele novamente.
— Devemos ter muito tempo para isso então. — Eu sorri. — Mas, para começar, você acertou na escolha. Eu adoro cappuccino de chocolate.
Eu senti no seu sorriso uma certa satisfação, eu iria jogar seu jogo para saber até onde iríamos. Sabia que quanto mais passasse perto dele, mais eu teria chance de me lembrar de algo, e eu estava certa. Em um breve momento, senti aquela dor novamente e me veio alguns flashes de outras lembranças. Eu estava em uma casa estranha, parada perto de um sofá e vi um homem saindo de um box. O fato de não conseguir ver o rosto do homem me deixava irritada, mas o fato de ver claramente a linha do seu abdômen me fazia ficar meio assustada. Será que aquele homem era ? Ou outra pessoa? Me lembrei de imediato o número desconhecido do meu celular. Será que o Smooth Criminal era essa pessoa?
Nós tomamos café, conversando sobre outros assuntos como arte e música. Deixei escapar que eu gostava de lírios. Depois que saímos da cafeteria, ele me levou para dar uma volta pelo rio Cheonggyecheon, me contou como foi o processo de revitalização e como as obras ocorreram, ele entendia muito sobre o assunto. era uma pessoa superficialmente interessante à primeira vista, um homem educado e gentil, um pouco misterioso, principalmente por aparentar ser muito observador.
— Este lugar é mesmo lindo, o governo fez bem em investir. — Eu olhei para a ponte. — Um belo cartão-postal.
— Sim. — Ele respirou fundo. — Tão belo quanto você.
Eu sorri, permanecendo em silêncio. Numa fração de segundos, comecei a sentir minha cabeça doer novamente, meu corpo cambaleou, e me segurou em seus braços. Ergui minha face automaticamente e o olhei nos olhos. Senti o choque. Comecei a ver ele lutando com aquele homem novamente e vi ambos trocarem tiros. Era como se eu estivesse revivendo aquela cena naquele instante.
Eu fechei os olhos e me vi correndo para porta com o homem. Quando olhei para trás, estava parado, com uma arma na mão, apontando para mim. Senti meu corpo congelar no mesmo instante que ele atirou, eu desmaiei.
“Onde você está?
Você não pode ouvir minha voz?”
— Memories / Super Junior
Quando acordei, estava novamente na cama do hospital, e estava parado perto da janela, olhando para fora. Eu ergui meu corpo, estava intrigada. Aquilo era mesmo uma lembrança, ou fantasias da minha cabeça? Quem era ele? Quem era ? E quem era o outro homem?
— Que bom que acordou — disse ele, calmamente. — Estava pensando se deveria ligar para sua tia.
— Que bom que não ligou, só foi uma dor passageira. — Eu o olhei. — Estamos aqui há quanto tempo?
— Duas horas. — Ele se virou e olhou para mim. — Se lembrou de algo? Ou alguém?
— Não.
Eu desviei meu olhar. Por que estava mentindo não sei, mas tinha certeza de que não confiaria nele. Ficamos mais um tempo no hospital, até o médico me dar autorização para ir. se responsabilizou por mim. Quando saímos, na rua eu vi um rosto meio familiar. Bem, eu não conhecia, mas sentia que já havia visto antes. Era um homem que estava encostado em um carro, comendo alguma coisa. Ele me olhava como se quisesse falar alguma coisa. Será que nos conhecemos? me levou para casa, eu queria muito tentar juntar as peças. Se aquilo era uma lembrança, não era o que aparentava ser.
Tia Ana estava curiosa para saber sobre o passeio. Eu contei a ela com toda paciência as partes que importava, ela dizia que parecia uma boa pessoa. Eu me desviei um pouco das perguntas dela sobre minha memória e subi as escadas. Quando cheguei ao meu quarto, liguei meu celular e havia uma mensagem de , ele queria que eu visitasse uma exposição em uma galeria de arte no centro da cidade com ele na sexta à tarde. Mandei uma mensagem aceitando o convite, senti que precisava mesmo desviar minha atenção para coisas normais da vida, assim não sentiria muitas dores de cabeça. Os dias se passaram em um piscar de olhos, eu mantinha até então minha atenção nos projetos que havia enviado para mim, eram interessantes e tomavam muito o meu tempo.
Sexta havia chegado, e à tarde me encontrei com nesta galeria. Nós demos algumas voltas pelos ambientes, conversando sobre os quadros que estavam expostos. se esforçava para me ajudar a me lembrar dele, contava como eram nossas tardes de trabalho, até que mencionou que tínhamos viajado para Busan. Eu senti algo estranho dentro de mim quando ouvi esta palavra, me desviei dele e fui em direção ao banheiro. Quando entrei no corredor, o homem do carro na saída do hospital estava lá. Ele passou por mim como se não me conhecesse.
Entrei no banheiro, sentindo aquelas velhas dores de cabeça. Eu já estava nervosa por não lembrar, irritada com as dores e ansiosa para descobrir tudo que havia de oculto em minhas lembranças. Decidi que se fosse para sentir aquelas dores novamente, eu sentiria pela última vez e iria me lembrar de tudo desde quando eu cheguei aqui até o dia em que acordei sem memória. Me tranquei em um reservado, fechei meus olhos e, mesmo com as fortes dores, me concentrei.
— Tenho que me lembrar — repeti várias vezes. — Tenho que me lembrar.
Era como se minha mente fosse uma sala vazia, cheia de pequenas imagens em movimento. Eu estava no centro, olhando todas aquelas imagens borradas. Comecei a caminhar em direção a uma delas e parei em sua frente. Respirei fundo e toquei. A imagem se expandiu de uma vez, e eu me deparei no meio do que estava acontecendo nela.
Me vi parada no ponto de ônibus, vi um homem me defendendo. Comecei a me transportar por várias imagens diferentes de mim com aquele homem…
Em seu apartamento, na cabana, fugindo em uma moto, todo o mesmo homem, o mesmo olhar, até que tudo se resumiu em uma única imagem, eu nos seus braços caída. Tinha levado um tiro protegendo aquele homem, o rosto começou a se tornar familiar para mim, finalmente eu havia começado a me lembrar dele.
Eu abri os olhos, respirando fundo, me lembrava de tudo. E a palavra que eu tanto procurava em minha mente apareceu:
— — eu disse em voz alta.
"Como seu anjo da guarda, irei bloquear esse vento forte
Mesmo se todos se virarem contra você
Em dias difíceis, eu irei enxugar todas as suas lágrimas
Se ao menos eu posso ser esse tipo de pessoa
Onde quer que formos, será o paraíso."
— Angel / EXO
“Você é como um anjo que me deixou em algum lugar,
Eu preciso de você.”
— 1004 (Angel) / B.A.P
Eu me lembrava de , me lembrava de tudo que havia acontecido, principalmente me lembrava do motivo de eu ter acordado no hospital, eu havia levado um tiro para salvar ele. Eu saí do banheiro e comecei a procurar pelos corredores o homem que passou por mim, eu me lembrava dele também, Jinho, o amigo que colocou para me proteger.
— Eu sabia que não tinha ido embora — eu disse, ao chegar perto dele.
— Então se lembrou de mim? — perguntou ele, mantendo sua atenção no quadro que estava na parede à sua frente.
— Me lembrei de tudo. — Eu hesitei por um momento. — Jinho, a última coisa que me lembro era do gritando meu nome. Onde ele está?
— Eu não sei. — Ele me olhou. — Tenho suspeitas.
— ? — Eu desviei meu olhar para a vidraça atrás de nós.
— Acho que não.
— , eu estava te procurando — disse , ao se aproximar de nós. — Jinho, o que está fazendo aqui?
— Vocês se conhecem? — Eu olhei para .
— Sim. — disfarçou. — Bem, estudamos juntos no ensino médio.
— Acho melhor eu ir. — Jinho se afastou um pouco de nós. — Nos vemos depois, .
— Até. — Eu o olhei indo. — , você poderia me levar para casa?
— Está tudo bem?
— Não estou me sentindo bem, preciso mesmo ir.
— Tudo bem.
Eu não indagaria nada. Para todos os efeitos, ainda estava sem memória. Ele me levou até seu carro e deu a partida. Demorou alguns minutos até ele estacionar em frente à casa da tia Ana. Eu me despedi rapidamente dele e saí do carro. Esperei dar partida e ir embora. Quando me virei, notei que tinha outro carro parado na porta, reconheci logo.
— Voltei, tia — eu disse, ao entrar, fechando a porta.
— Oh, que bom, minha flor. — Tia Ana veio da sala, acompanhada por . — Estávamos te esperando.
— Boa noite, — disse ele.
— . — Eu olhei para minha tia. — Onde está tio Han?
— Foi ao mercado para mim com ChoHee. Bem, vou deixá-los mais à vontade. — Tia voltou para cozinha tranquilamente.
— Não parece surpresa em me ver — disse ele, se aproximando de mim.
— Bem. — Eu disfarcei, não pretendia dizer a ele que me lembrava de tudo. — Eu reconheci seu carro na porta.
— Ah, denunciado pelo meu carro. — Ele riu de canto.
— Parece que sim. — Eu me direcionei para a escada até ele me pegar pelo braço. Eu o olhei, tentando não demonstrar receio.
— Você está estranha. — Ele me olhou, um olhar profundo, como se tentasse ler minha mente.
— Estranha como? — Eu sorri, tentando disfarçar.
— Está fugindo de mim. — Ele se aproximou mais. — Está com medo de mim?
— Eu? — Eu ri, tentando disfarçar o nervosismo. — Como pode achar isso?
Eu realmente estava com medo. Será que ele sabia de algo sobre meu passeio com ou meu encontro com Jinho?
— Por que está mentindo? — Ele acariciou meu rosto. — Eu realmente queria que fôssemos próximos.
— … — Eu respirei fundo, ele estava se aproximando ainda mais.
— Ops — disse tia Ana, ao entrar. — Me desculpem.
— Tia. — Eu me afastei dele. — Bem.
— Eu estou atrapalhando? — Ela olhou para ele meio sem graça.
— Não, de forma alguma. — sorriu suavemente.
— Chegamos em segurança — disse tio Han, ao entrar com ChoHee.
— Omma, eu ganhei chocolate — disse ChoHee, ao correr até minha tia, mostrando o embrulho.
— Que bom, mas só depois do jantar. — Ela sorriu. — Agora vá indo lavar as mãos.
— Tudo bem. — Ela saiu correndo em direção ao banheiro de visitas.
— Você vai ficar para o jantar, não é? — disse tio Han para .
— Bem, eu não sei — disse ele, voltando o olhar para mim.
Parecia um pedido de permissão.
— Ah, por favor, fique — insistiu tia Ana.
— Sim, eu comprei duas garrafas de Soju, não quero tomá-las sozinho — completou tio Han.
— Bem, se não for incômodo. — sorriu de leve.
— Sua presença é sempre bem-vinda. — Eu sorri para ele, mas no fundo estava insegura.
Eu subi até meu quarto e tomei uma ducha rápida. Troquei de roupa e desci bem na hora que tia Ana estava colocando os pratos na mesa. Nos sentamos, ao meu lado, eu tentei manter calma e ficar tranquila, mas não conseguia. Em minha mente, algo me dizia que sabia que eu já havia me lembrado de tudo e que ele tinha algo a ver com o sumiço de .
“Não importa o quão longe estivermos um do outro,
se fechar meus olhos,
Veja, nossos corações estão conectados.”
— All My Love Is For You / Girls Generation
— Sua comida está uma delícia como sempre — elogiou o tio Han.
— Sim, muito gostosa, me faz lembrar da minha mãe — completou .
— Que bom que gostaram. Ainda tenho muito o que aprender da culinária coreana, mas sigo no conhecimento. — Tia Ana olhou para ChoHee, que estava sentada ao seu lado. — Come tudo, se não, nada de chocolate.
— Vou sim, estou comendo bem — disse ChoHee, com um sorriso fofo.
— Você não me disse como está a reforma no escritório. — Eu olhei para . — Vai demorar muito para terminar?
— Acho que umas duas semanas, mais ou menos.
— Você terá muito tempo para ficar em casa então — brincou tio Han. — Pode trabalhar no seu projeto particular.
— Que projeto? — eu perguntei, disfarçando, sabia que era aquele projeto que não existia, mas que sempre servia como meu álibi.
— Ah, me esqueci que ainda não se lembra. — Ele foi servindo seu copo e o de com o Soju. — Mas com certeza vai se lembrar, eu vi você desenhando um dia.
— Hum. — Eu desviei meu olhar para o relógio que estava. — Eu espero isso também.
Após o jantar, tio Han e foram para sala, eles tinham a missão de terminar a segunda garrafa. Eu ajudei tia Ana com os pratos e a organizar a cozinha. Enquanto isso, ChoHee foi para sala de tv ver desenho.
— Hum, eu senti que apareci na sala em uma hora inapropriada mais cedo — comentou tia Ana, enquanto lavava as vasilhas.
— Tia. — Eu peguei uma das panelas para secar com o pano de prato. — Por que pensou assim?
— Ele ia te beijar, não ia? — Ela colocou o último prato no escorredor e fechou a torneira, me olhando. — Não é novidade que os olhares dele para você são de interesse.
— Tia Ana. — Eu a olhei. — Ele não ia me beijar. Bem, eu não sei.
— Está com medo de ficar apaixonada. — Ela cruzou os braços. — Ele me parece uma boa pessoa, e Han o conhece desde criança.
— Há mais do que um simples medo de me apaixonar, tia. — Eu a olhei. — Mas isso é coisa minha.
Tia Ana me abraçou de leve, nós terminamos de guardar tudo e fomos para a sala. Quando chegamos, vimos mais umas três garrafas desconhecidas em cima da mesa.
— É impressão minha ou deveria ter somente uma garrafa nessa mesa? — disse tia Ana, ao colocar a mão na cintura, olhando sério para tio Han.
— Bem, eu não me contive diante de um companheiro tão agradável — explicou tio Han, dando sinais de princípio de embriaguez.
— Tio, acho melhor o senhor não continuar — eu disse, rindo.
— Eu também — concordou tia Ana. — , pegue alguns lençóis no armário do seu quarto para .
— Como? — eu e dissemos juntos.
— Isso mesmo, não vou deixar dirigir neste estado. — Tia Ana ajudou tio Han a se levantar. — Se ambos não têm consciência, eu tenho por vocês.
— Não precisa se preocupar, eu pego um táxi — disse ele.
— Não é um convite, é uma ordem. — Tia Ana estava séria. — Vamos, querido, está na hora de dormir.
Eu subi juntamente a tia Ana e tio Han, fui para meu quarto e peguei um lençol e uma colcha para ele, além de um travesseiro. Ao passar pelo corredor, vi tia Ana entrando no quarto de ChoHee junto a ela e desci as escadas ainda rindo. Quando cheguei à sala, estendi o lençol no sofá e dei a colcha e o travesseiro para .
— Me desculpe por isso, mas não sei dizer não para seu tio. — Ele me olhou, pegando as coisas da minha mão.
— E quem sabe? — Eu ri. — Acho que nem a minha tia consegue dizer não para ele.
— Mas estou feliz por estar aqui. — Ele colocou as coisas no sofá. — Quer ajuda com as garrafas?
— Ah, sim. — Eu ri. — Será uma boa ajuda.
— Que bom.
me olhou com uma suavidade, me fez por um momento esquecer tudo que ele tinha feito no passado. Não acreditava, mas será essa a verdadeira face dele? Eu não sabia, mas comecei a ter uma certa vontade de conhecê-lo um pouco mais, mesmo sabendo dos riscos que poderia ocorrer. Mas o fato de a tia Ana ter falado que tio Han o conhecia me deixou meio balançada. Ele me ajudou a jogar as garrafas no lixo da rua. Quando voltamos para dentro de casa, eu me virei para escada, quando ele pegou em minha mão.
— Espera.
— O quê? — Eu o olhei, não sentia mais aquele receio de sempre.
— Eu quero realmente saber o que você acha sobre mim. — Ele respirou fundo, sua voz também tinha traços de não estar totalmente sóbrio. — Não quero que tenha medo, ou algo do tipo… Não sou essa pessoa.
— Que pessoa? — Eu sorri de leve. — Não estou entendendo.
— Você sabe do que estou falando.
Eu realmente sabia do que ele estava falando, senti que ele queria que eu assumisse tudo, mas eu não conseguia. Pela primeira vez, eu conseguia ver alguma verdade no seu olhar, havia uma parte boa em que eu estava começando a conhecer. Uma parte que eu estava com medo de gostar, estava com medo de criar um laço de amizade, ou algo a mais com ele. Eu ainda pensava que pudesse ter feito alguma coisa ruim com .
— Acho que devemos ir dormir. — Eu desviei meu olhar para a escada. — Você não está tão mal como meu tio, mas… — Não consegui terminar, me beijou de repente.
Não consegui assimilar o que estava acontecendo, o beijo foi tão surpreendente para mim, acho que acabei retribuindo um pouco. O que deu em mim? Um toque de doçura misturava a sensação de desespero vindo dele. se afastou de leve, acho que nem ele esperava essa reação de sua parte.
— Mianheyo, . — Ele olhou para o lado. — Não sei o que me deu.
— Bem, acho melhor eu subir. — Eu subi as escadas correndo.
Não encontrava palavras para definir o que estava sentindo. Eu, que tanto esperava um beijo de , acabei recebendo um de . Eu só queria sair do centro de todo esse mistério e ter uma vida normal. Me joguei na cama, pelo menos dormindo eu teria um pouco de sossego, ou pelo menos era isso que eu desejava.
“Eu preciso de você, garota
Por que eu me apaixono e
Digo adeus sozinho?
Eu preciso de você, garota
Por que eu preciso de você mesmo sabendo que vou me machucar?”
— I Need U / BTS
Ao amanhecer, quando desci para a cozinha, vi que já não estava na sala. Achei estranho, será que ele já tinha ido embora?
— Ele já foi, se é isso que está se perguntando — disse a tia Ana.
— Tia. — Eu a olhei. — Não vi que estava aí.
— Seu tio ainda está dormindo, eu vou levar ChoHee para escola.
— Ok. — Eu me despedi de ChoHee, dando um beijo sem sua testa e fui para a cozinha.
— O café já está pronto — gritou tia Ana, ao sair pela porta.
— Sem problema. — Eu ri, esse era meu jeito de agradecer a ela.
Eu tomei um café reforçado, voltei para o quarto e liguei para Jinho. Ele me disse que tinha um forte palpite de onde estava, eu não hesitei em saber se era perigoso, eu só queria encontrar ele. Estava preocupada e queria tirar esse pensamento que estava mesmo envolvido. Tomei uma ducha rápida e fria para me acalmar, coloquei um conjunto de moletom cinza, peguei minha bolsa transversal e saí. Quando cheguei em frente ao endereço que Jinho me enviou, era um hotel que parecia luxuoso. Mas é claro que eu teria surpresas, apareceu ao lado de Jinho.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei a ele.
— Estou aqui para te impedir de fazer uma loucura — disse .
— Loucura? — Eu olhei para Jinho. — O que você disse a ele?
— O necessário.
— Se possivelmente está aqui, eu vou procurar com ou sem a ajuda de vocês — avisei.
Não ligava se Jinho tinha dado com a língua nos dentes e revelado o retorno de minha memória.
— , isso pode ser perigoso — disse .
— Já estive em situações piores — disse, me lembrando tiro que levei.
— Não vamos conseguir te fazer mudar de ideia? — disse Jinho.
— Não. — Eu o olhei séria e firme.
Ambos não tiveram escolha a não ser assentir ao meu desejo. Eu e entramos pela entrada da frente, enquanto isso, Jinho entrou pela dos funcionários. fez o check-in naturalmente e pegou duas chaves. Eu não entendi por quê, mas percebi que teríamos que ser discretos. Eu olhei de relance para as chaves, número 118. Pegamos o elevador e nos encontramos com Jinho no décimo oitavo andar.
— Então, pegaram? — disse Jinho.
— Aqui está? — sacudiu as chaves. — Que bom, vamos entrar e esperar.
Eu fiquei em silêncio, tentava entender que esquema era aquele entre Jinho e , eles pareciam próximos demais para quem só havia estudado o ensino médio. Tentei não me focar nisso e me manter fixa em encontrar . Passamos uns trinta minutos no quarto esperando, foi quando Jinho recebeu uma mensagem no celular.
— É agora — disse ele, ao guardar o celular no bolso. — Temos que ser rápidos.
— Está pronta? — me olhou.
— Sim.
Por mais que eu não soubesse o que aconteceria ao sairmos daquele quarto, eu estava confiante que tudo terminaria bem, de alguma forma. Jinho pegou algumas ferramentas desconhecidas para mim e foi até a porta ao lado do quarto que havia pegado. Será que estava lá?
“Mesmo se parecer que você está prestes a cair de um penhasco
Eu definitivamente não vou soltar a sua mão
Indestrutível...
Porque eu vou proteger você até o fim.”
— Indestructible / Girl's Generation
Depois de mexer no segredo da fechadura, ele conseguiu abrir. Quando entramos, eu levei um choque a primeiro momento. estava amarrado em uma cadeira, desmaiado. Seu rosto estava sangrando, ele havia apanhado muito.
— . — Eu corri até ele tentando me manter calma. — O que fizeram com você?
— Me ajuda aqui — disse Jinho para , ao se aproximar, tentando desamarrar as cordas.
— — sussurrou , como se estivesse acordando.
— Não fala — eu disse. — Você precisa poupar energia.
— Vocês estão aqui — disse , ao entrar de repente pela porta.
— Foi você, não foi? — Eu caminhei até ele e o empurrei.
— Não. — Ele segurou em meus braços. — Não foi eu, e as pessoas que fizeram isso estão voltando, precisamos ser rápidos.
— Terminamos — disse , ajudando Jinho a segurar .
— Que bom. Vão pelos fundos, saída de emergência. — segurou em minha mão com sua mão esquerda e pegou sua arma com a mão direita. — Nós vamos distraí-los pela frente.
— Vamos? — Eu olhei para a arma dele, respirei fundo, acho que não estava preparada para aquilo.
— Vocês vão ficar bem? — perguntou .
— Não se preocupe. Cuide do , eu cuido dela. — Os olhos de estavam firmes e, mesmo naquela situação, eu me senti segura com aquele olhar.
Nós saímos do quarto rapidamente. Com um pouco de dificuldade, e Jinho pegaram o elevador de carga dos funcionários. ainda segurava em minha mão. Nós andamos com cautela pelo corredor. Quando viramos, o primeiro tiro acertou a parede ao meu lado, nós recuamos e atirou na direção deles. Eu não sabia quem e nem quantos eram, mas os tiros eram muitos e não paravam. Eu e corremos até o elevador e entramos pela porta da escada de emergência.
Descemos alguns lances de escada, sempre nos desviando das balas, aqueles homens estavam nos seguindo e pareciam não ter motivos para desistir de nos alcançar. Nunca imaginei que chegaria a um ponto da minha vida que viveria momentos de adrenalina como esse. me puxou e saímos em outro andar, ele não tinha ideia do que fazer e de onde me levar, até que olhou para a parede ao lado do elevador de serviços e viu uma pequena porta por onde as camareiras jogavam as toalhas sujas para lavanderia.
— Ah, não. — Eu dei um passo para trás, já prevendo o que ele queria fazer. — Eu não vou pular aí dentro.
— Ou você entra. — Ele abriu a porta. — Ou nós morremos, porque eu não vou deixar você aqui.
Sem pensar em mais nada, eu entrei e fechei meus olhos enquanto caía. No fundo, tinha um grande cesto de roupas sujas que amorteceu nossa queda. caiu logo atrás de mim, me pegou pela mão novamente, me levantando, e saímos correndo de novo. Eu me lembrei do dia em que eu e fugimos dele e de Younghee. Se me dissessem que eu viveria aquele momento ao lado de , eu não acreditaria.
Ao chegar à rua, seguimos até o carro dele, no qual mal entramos e mais tiros vieram em nossa direção. Colocando o cinto de segurança rapidamente, ele deu a partida. A perseguição durou alguns quarteirões, eram três carros nos seguindo. Eu gostaria de saber quem odiava tanto para seguir até mesmo seu primo. Foi então que seguiu por uma rua movimentada e conseguiu despistar eles. Mais algum tempo no volante entrando e saindo de ruas aleatoriamente, mesmo não sendo mais seguidos, queria garantir minha segurança logo. Mesmo estando naquela situação, eu não conseguia esquecer o rosto machucado de . Quem poderia ter tão sangue frio de fazer aquilo com ele? Eu o vi em poucos minutos e senti meu coração pulsar mais forte. Não sabia se ficava aliviada porque ele estava em segurança, ou agoniada por não saber se ele estava realmente bem.
parou em frente a um portão de grade. Eu olhei mais atentamente, tinha um muro grande em volta. Ele esperou o portão se abrir e seguiu. Aos poucos, fui percebendo que aquele lugar se tratava de uma mansão e o jardim era lindo, cheio de flores e pequenos arbustos muito bem aparados. Avistei de longe uma piscina que parecia ser grande e seu formato de um piano, isso me deixou impressionada, ou melhor, o que me deixou impressionada foi o tamanho da mansão. Sua cor da fachada era azul claro, com os beirais das portas e janelas pintados de branco, as sacadas dos quartos eram brancas também, com os guarda-corpos de vidro. Uma bela arquitetura moderna, combinada ao clássico romano.
estacionou em frente à mansão. Ele respirou fundo e me olhou. Eu o olhei de volta, vendo um sorriso no canto do seu rosto, mas parecia estar segurando mais o riso, com certeza minha cara estava mesmo engraçada.
— Chegamos — disse ele. — Bem vinda à casa da família Chang.
Senti meu coração congelar e se aquecer ao mesmo tempo, se isso fosse possível de acontecer.
“Levados pela brisa ao seu mundo, yeah
Eu vou bem perto de você e você me pergunta de onde eu vim
Você me perguntou inocentemente, então eu respondi que era segredo
Porque se nós apenas andarmos juntos assim
Aonde quer que formos, será o paraíso.”
— Angel / EXO
“Apresentações podem ser boas ou ruins,
isso é algo que acontece
Às vezes é bom apenas parar pra relaxar e descansar.”
— Mr. Simple / Super Junior
Nós saímos do carro, eu olhei para o lado direito e vi de longe conversando com um senhor que aparentava ter seus 50 anos de idade, cabelos grisalhos e de terno cinza. Não era o seu pai. Será que era o pai de ? Ou ? Eu estava muito curiosa para saber mais sobre essa família Chang. Logo uma senhora se aproximou de nós, ela estava com um sorriso muito simpático, vestia uma saia plissada salmão e uma camisa feminina branca, cabelos presos formando um coque e brincos que pareciam de pérola. Com certeza era esposa daquele senhor.
— Oh, então esta é a moça que ajudou no resgate do nosso . — Ela me abraçou apertado. — Komawo.
— Eu não fiz nada, senhora, talvez tenha até atrapalhado. — Eu me encolhi meio tímida.
— Modéstia. — sorriu de canto. — Ajumma, esta é , e, , esta é Chang ShinHe, mãe do .
— Oh, tenho certeza que ajudou sim, arriscou sua vida pelo nosso por duas vezes. — Ela me olhou com gentileza. Eu sei que ela estava se referindo ao tiro que eu tinha levado.
— Seu filho também me salvou algumas vezes. — Eu devolvi a gentileza com outro sorriso.
— , querido, seu tio quer falar com você. — Ela segurou em minha mão. — E a senhorita, vamos te acomodar, você precisa descansar.
assentiu com a face e se afastou de nós. Ela me puxou de leve, entrando pela mansão. O lugar era realmente lindo e muito bem decorado, até eu que sou arquiteta fiquei impressionada. Ao passar pela porta de entrada, tinha um pequeno hall em que tiramos os sapatos e trocamos pelos chinelos. Depois entramos na sala, tinha uma escada bem no meio, que levava aos quartos do segundo andar. Atrás da escada, ficavam a sala de estar com uma lareira invejável. Eu vi de relance que, mais ao fundo, ficava a sala de jantar e um corredor que seria para a cozinha. Tons neutros no mobiliário, as paredes em um branco gelo e uma significativa quantidade de vasos de plantas espalhados nos ambientes. A vegetação parecia ser o ponto de cor ali. Nós subimos as escadas e ela me levou até o quarto onde eu ficaria.
— Espero que fique confortável — disse ela, parando na porta.
— Ah, sim. — Eu entrei meio com receio ainda. — Eu vou descansar bem.
Me curvei um pouco, como um pequeno gesto de agradecimento.
— Vou te deixar sozinha. — Ela recuou e fechou a porta.
Eu olhei à minha volta. A cor do quarto era um amarelo claro, móveis modernos e bonitos decoravam tudo. Tinha uma cama de casal do lado esquerdo e a entrada para o closet e banheiro estava no lado direito. Ao fundo do quarto, tinha a varanda, que dava vista para o jardim. Uma mensagem de minimalismo e estilo escandinavo. Caminhei um pouco e olhei rapidamente pela porta da varanda, ainda estava conversando com o senhor Chang e . Fiquei curiosa para saber o assunto. Será que estavam tentando descobrir quem tinha feito aquilo tudo?
Eu senti meu corpo cansado, isso não era muita surpresa, ainda mais depois de tudo que eu havia passado. Entrei no closet bem devagar, fiquei espantada com aquelas peças de roupas e sapatos que estavam nas araras e prateleiras de vidro iluminadas com fita de led, parecia até que já estava preparado para mim. Entrei no banheiro, e nossa, mais luxuoso que banheiro de hotel cinco estrelas, me fazendo lembrar quando cursei a disciplina de arquitetura de interiores na faculdade. Isso me deixou muito espantada, será que a família de era tão poderosa assim?
Bem, se eu estava ali, iria mesmo aproveitar.
Tirei minha roupa e tomei uma ducha bem quente, aquilo estava mesmo renovando minhas forças. Deixei aquela água quente cair bem sobre minhas costas, senti um breve alívio. Lavei meus cabelos, relaxei, eu realmente precisava. Ao passar pelo closet, comecei a olhar algumas das roupas devidamente penduradas e dobradas, e, para minha real surpresa, eram todas do meu tamanho. Coloquei uma blusa de moletom cinza que tinha o símbolo de um grupo de kpop e uma calça jeans preta. Quando voltei ao quarto, senti os olhares chamativos daquela cama que parecia ser tão macia. Sem pensar duas vezes, me joguei nela.
Minha cabeça se esvaziou de repente, meu corpo cedeu ao aconchego das cobertas e eu dormi, nunca dormi tão bem e confortável na minha vida. Não senti nem mesmo as horas passarem. Quando acordei, já era noite e logo me lembrei que existiam pessoas que poderiam estar preocupadas comigo.
— Tia Ana — eu disse, após acordar repentinamente e me lembrar dela.
Oh, não acredito que novamente teria que inventar algo para meus tios, e desta vez uma boa história.
— Não se preocupe.
Eu reconhecia aquela voz. Logo levantei meu olhar e olhei em direção à porta do quarto, estava lá, encostado na parede, com um lindo sorriso no rosto, de braços cruzados e detalhe, sem camisa. Oh, por que sem camisa? Mas eu percebi que sua barriga estava com alguns curativos. Eu olhei em seu rosto, ainda tinha algumas marcas de roxo e vestígios de feridas. Mesmo ele estando ali na minha frente, todos aqueles ferimentos me deixavam triste, meu anjo havia sofrido.
— Como sabe? — Eu sorri automaticamente.
— Já cuidamos de tudo. — Ele se afastou da parede e caminhou até mim. Aquele seu olhar malicioso ainda permanecia intacto.
— Cuidaram de tudo? — Eu ri. — O que inventaram?
— Nada demais. — Ele se sentou perto de mim. — Você está bem?
— Eu que deveria fazer essa pergunta — respondi, ainda desconfiada.
— Talvez. — Ele riu. — Mas foi arriscado, tudo que você fez.
— Fala de invadir um hotel ou de levar um tiro? — Eu o olhei meio que brincando, mas eu vi em sua face a preocupação.
— Quando você levou aquele tiro… — Ele parou por um momento. — Meu mundo parou de fazer sentido, estava com medo de perder você.
— Eu sou forte, você jamais se livraria de mim. — Eu sorri de leve.
— Sabe do que estou falando. — Ele me olhou sério. — Eu te coloquei nesse mundo sem ver as consequências.
— , eu estou bem. — Eu segurei de leve na mão dele. — Estou aqui.
— Poderia não estar. — Ele respirou fundo. — O pior é que a culpa foi minha.
— Não foi, não deve se culpar, você poderia estar morto agora.
— Mas você estaria segura. — Ele virou sua face, olhando para a porta da varanda. Soltou um suspiro fraco. — Eu tentei me afastar de você, mas não consegui, não consegui me afastar.
— E eu não quero que se afaste. — Eu o abracei no impulso, fazendo ele retribuir. — Você faz parte da minha vida agora.
— Estou atrapalhando? — disse , ao aparecer na porta, dando dois toques.
— Não — respondeu , se afastando de mim.
— Está tudo bem com você, ? — disse ele, entrando.
— Sim, estou bem. — Eu o observei se aproximando. — Acho que eu deveria te explicar tudo o que aconteceu, não é? — disse inocentemente.
— Não precisa. — disfarçou o riso.
— Como assim? — Eu o olhei, depois desviei meus olhos para . — O que está acontecendo?
— Somos amigos de infância, eu sei de tudo. — deixou sair uma risada rápida. — Bem, só não sabia que você estava mais afundada nessa história que raiz de árvore — brincou ele.
— Oh. — Eu o olhei indignada. — Não acredito.
— Nossos pais são sócios de muitos anos, se é que me entende. — Ele riu junto a .
— Você deveria ver sua cara agora. — riu um pouco mais de mim.
— Espera, eu preciso de um tempo pra absorver toda essa informação. — Eu respirei fundo. — Faz sentido o fato de ter entrado para a construtora, nem quero imaginar os negócios por trás disso.
— Faz bem — disse .
— Como eu sempre te digo, quanto menos, souber melhor — concordou .
— Seus mafiosos. — Eu os olhei sem mais reação, fazendo ambos rirem de mim. — Saiam daqui, preciso descansar.
— Mais? — me olhou admirado. — Já anoiteceu, não está com fome?
— Bem. — Eu coloquei minha mão direita na barriga e senti um leve fundo. — Agora que tocou no assunto, me sinto meio vazia.
— O nome disso é fome — brincou .
— Vocês dois estão muito engraçadinhos hoje — reclamei.
— Felicidade em ver que você está em segurança — retrucou .
— Então o jantar deve estar quase pronto, vamos descer? — sugeriu .
— Eu topo — disse, me levantando da cama.
Nós descemos as escadas entre risos e piadas, nunca imaginaria que os dois homens que demonstravam interesse por mim se conheciam, e pior, eram amigos de infância, e pior, era primo de e tinha me beijado, e também era amigo de . Essa situação estava me deixando um pouco desnorteada.
“Deixe-me ver os sentimentos que você possui por mim.”
— Show Me Your Love / Super Junior & TVXQ
— Aí está ela — disse a senhora Chang, sorrindo. — Descansou bem, querida?
— Oh, sim. — Eu sorri de volta. — Descansei muito bem, o quarto é bem acolhedor.
— . — Tio Han entrou na sala com o senhor Chang. — Que bom que está bem, sua tia estava preocupada.
— Eu imagino, tio Han. — Eu o olhei, ele estava tão tranquilo e calmo. Será que tinham mentido tão bem assim para ele?
— Mas ela está mais calma agora. — Tio Han sorriu de leve. — Ela viajou com ChoHee para visitar seus pais.
— Meus pais? — Eu me espantei. — Por quê?!
— Não imagina? — disse , ao meu lado.
— Tio Han. — Eu tentei não demonstrar insegurança. — O senhor também...
— Eu e o YeongHwa, assim como ChangHe — ele olhou para o senhor Chang — somos amigos de infância. Nossas famílias trabalham juntos por várias gerações, e sou advogado deles.
— Oh, não — eu sussurrei para mim mesma, não acreditava que tio Han com aquela cara de tranquilo e pacífico também era da máfia, mas fazia sentido, já que ele havia dito à tia Ana que conhecia desde criança.
As peças estavam se encaixando.
— Agradeço o que fez por nós — disse o senhor Chang. — Espero que esteja bem, já está em segurança agora.
— Acho que é muita surpresa para um dia só — disse , do meu outro lado, tentando explicar minha reação.
— E a tia Ana? Sabe? — Eu o olhei preocupada.
— Não. — Ele me olhou com carinho. — E peço que permaneça assim, para a segurança dela e de nossa filha, por isso elas estão em viagem.
— Realmente é muita coisa para um único dia — eu concordei, me sentindo meio zonza.
— Você está bem? — disseram e juntos, me amparando.
— Estou... — Eu tentei me manter em equilíbrio. — Só tentando assimilar tudo.
A senhora Chang me trouxe um copo com água e açúcar, eu realmente precisava chegar ao eixo certo. Permaneci sentada no sofá, pensando em tudo que tinha ouvido e presenciado o dia todo. Enquanto tio Han e o senhor Chang foram para o escritório conversar, sentou ao meu lado, seu olhar demonstrava uma grande preocupação comigo, principalmente por minha reação depois de saber que ele e tio Han eram parte de tudo aquilo.
sentou em uma poltrona que tinha ao lado da lareira e ficou em silêncio, pensativo, olhando o fogo. Será que ele sabia do beijo que tinha me roubado? E estava perto da janela, olhando o jardim, sempre reservado, mas eu percebi que ele estava mesmo olhando meu reflexo que era formado no vidro da janela. Em silêncio, esperamos mais um pouco, até que a senhora Chang nos chamou para o jantar. O cheiro estava tão maravilhoso que minha fome havia aumentado ainda mais. Nos reunimos todos na sala de jantar, a mesa repleta de alimentos, meus olhos brilharam na mesma hora.
— Bom apetite a todos. — A senhora Chang, sempre sorridente, me lançou um olhar gentil. Eu sabia que ela sempre seria grata a mim por ter salvado a vida de .
— Komawo omma, vou comer bem. — Ele sorriu e me olhou.
— Komaweyo, ajumma — disse , me olhando discretamente.
— Komaweyo, ajumma, também vou comer bem. — sorriu e olhou para mim também, acho que os três estavam esperando algum tipo de agradecimento vindo de mim.
— O cheiro está muito bom, com certeza vou me alimentar muito bem. — Eu olhei para o três, um a um, e eles riram de repente juntos.
— O que foi? — disse o senhor Chang.
— Nada, appa. — o olhou de leve, acho que ele estava mesmo feliz por estar de volta ao lar, com sua família.
— Eles são uns bobos. — Eu sorri ao ver a senhora Chang, que estava sentada ao meu lado, começar a me servir. — A senhora é muito gentil.
— Sou assim com pessoas que merecem, querida. — Ela colocou meu prato em minha frente. Eu a olhei, tentando não ficar receosa por suas palavras.
— É bom estar entre amigos — disse tio Han, dando um sorriso de satisfação.
— Sim, mas e como vamos ficar agora? — disse , em seu tom sério. — Não sabemos quem fez isso.
— Não podemos ficar parados sem dar uma resposta — concordou .
— Também estou de acordo — completou . — Hoje foi eu, amanhã pode ser o ou .
— Não é assunto para o jantar, meninos — disse a senhora Chang, ao servir o marido.
— ShinHe está certa, trataremos disso amanhã. — O senhor Chang desviou seu olhar para mim, e logo eu entendi o que ele queria dizer.
— Já sei, quanto menos eu souber, melhor — disse, tentando sussurrar, mas não conseguindo.
Todos começaram a rir, com certeza era de mim, era como se eu tivesse tirado o dia para divertir eles.
— Garota esperta — elogiou o senhor Chang. — Estou admirando-a ainda mais.
— O senhor não viu nada — disse , me lançando seu olhar único, me deixando sem graça.
O jantar foi mesmo proveitoso, sempre com algumas piadas de e , piadas estas sobre mim é claro, eu me diverti muito. Tio Han ficaria na mansão também até que todo aquele problema fosse resolvido. Por mais que todos dissessem que eu estava protegida, eu ainda não me sentia segura, não sei se era por tudo que havia nos acontecido, mas algo me dizia que ainda não tinha acabado.
“Quanto mais eu te conheço, meu coração estremece
Tudo que eu consigo fazer é sorrir
Será que devo tentar te roubar um beijo?
Isso vai me fazer ficar mais perto do seu coração?”
— Standy By Me / Boys Over Flowers OST (SHINee)
Eu fui para o quarto que estava, escovei meus dentes e me troquei para dormir novamente. Quando saí do closet, estava na porta me olhando.
— Está mesmo tudo bem? — disse ele. Seu olhar era de preocupação, acho que ele também não se sentia seguro ainda.
— Bem... — Eu desviei meu olhar. — Todos dizem que estou em segurança agora.
— Não foi isso que perguntei.
— Estou bem. — Eu o olhei. — É isso que quer ouvir?
— Não. — Ele caminhou até mim e parou em minha frente, respirou fundo. — Você passou por muitas coisas hoje.
mexeu suavemente em meus cabelos, dando um sorriso tão lindo e envolvente. Ele retirou a presilha que estava prendendo meu cabelo, senti minha franja cair sobre meus olhos e permaneci imóvel aos seus gestos. Ele se aproximou ainda mais de mim, podia sentir sua respiração. Minhas pernas ficaram bambas naquela hora. Ele foi se aproximando ainda mais, eu realmente esperava que ele fosse me beijar, fechei meus olhos.
— Tenha um bom descanso — ele sussurrou em meu ouvido e beijou de leve minha testa, senti meu corpo arrepiar. — Boa noite.
Ele se afastou de mim e saiu. Levei uns dez minutos para voltar ao normal e absorver tudo que ele tinha feito, e pela terceira vez tinha me deixado com cara de boba. Como ele conseguia fazer isso comigo? Acho que eu ainda fico maluca com ele e suas ações, será que aquilo era uma estratégia para me conquistar? Se fosse, ele estava realmente conseguindo. Voltei para o banheiro e lavei meu rosto, tinha que voltar para realidade, voltar ao meu eixo. Quando saí… Tentei segurar o riso, a noite estava realmente começando, estava na porta. Não acreditava naquilo, será que tinham se juntado para me deixarem realmente louca?
— Do que está rindo? — perguntou ele, dando um leve sorriso de canto. Seu olhar era tranquilo, não malicioso como o de , mas era profundo e tinha uma intensidade fora do normal.
— Nada. — Eu respirei fundo. — Pensamentos aéreos, mas o que te traz aqui?
— Bem, eu vi saindo, fiquei sem saber se poderia ou não vir aqui. Afinal, hoje foi um dia muito tumultuado para você.
— É, foi mesmo. — Eu dei alguns passos até ele. — Surpreendente tudo que aconteceu comigo hoje, muitas revelações para um dia só.
— Sim. — Ele ficou me olhando por um momento. Senti uma certa timidez, os olhares dele sempre me deixavam assim.
— Mas não vou te atrapalhar, você precisa descansar essa linda cabecinha. — Ele se aproximou um pouco de mim e encostou de leve seus lábios em minha testa, demorou um pouco.
Por um breve momento, senti uma leve brisa passar por mim. No estado em que havia me deixado, eu não deveria sentir mais nada, mas meu coração não estava sabendo nem quantas batidas ele estava fazendo por minuto.
— Boa noite e bons sonhos. — Ele se afastou de mim e, com a mão direita, tirou minha franja da direção dos meus olhos e colocou atrás da minha orelha, novamente fiquei sem reação.
Ele saiu e fechou a porta. Eu passei a mão em meu cabelo, rindo da situação. Bem, só faltava mais um. Fui até a varanda e fiquei olhando para a porta, esperando entrar. Não sei se queria isso, mas esperava que isso acontecesse. Para minha surpresa, não aconteceu, ele não entrou e isso me deixou mais louca ainda, aqueles três realmente queriam me enlouquecer e estavam conseguindo. Me afastei da varanda e caminhei até a porta, por que será que eu esperava que, quando abrisse, estaria lá na porta, pronto para bater? Abri a porta no impulso, mas não tinha ninguém, um grande silêncio estava formado naquela mansão.
— Não acredito que fiz isso — eu sussurrei para mim mesma, não acreditava mesmo que eu estava entrando no jogo deles. Será que era divertido os três brigarem pela mesma garota? Meu ego agradecia, mas minha saúde física e mental, não.
Eu senti uma breve sede e caminhei cuidadosamente pelo corredor, não queria fazer nenhum barulho. Desci as escadas lentamente e fui em direção à cozinha. Quando entrei…
— Não deveria estar acordada — disse , encostado na bancada, segurando um copo com água. Ele me olhou de baixo para cima e deu um sorriso misterioso que só ele tinha.
— Me deu sede. — Eu me encolhi, um pouco tímida, estava com outra blusa de moletom azul marinho, que tinha alguns strass e um short branco. Percebi que aquele olhar lindo dele estava sendo focado em minhas pernas.
Eu caminhei tranquilamente até o armário, peguei um copo e fui até a geladeira, despejei um pouco da água que estava em uma garrafa meio verde. Ele continuou em silêncio, me observando. Seus olhares também tinham efeitos de me fazer ficar louca. Apesar de ter conhecido naquelas circunstâncias do galpão, eu havia me aproximado dele nos últimos dias, e isso me deixava com medo de mim mesma.
— Eu… — Ele tomou o último gole que estava no seu copo e se aproximou de mim, me olhou por um momento.
— Você?! — Eu dei um passo para trás, não estava com receio, mas havia me beijado antes, não sóbrio, mas eu ainda me lembrava do gosto dos seus lábios, não podia acontecer aquilo de novo.
— Mianhaeyo. — Ele levou sua mão e mexeu em meus cabelos suavemente, seu pedido de desculpas estava perigoso demais.
Fechei meus olhos e respirei fundo, os abri novamente e o olhei. Vi um breve brilho no seu olhar. tinha um charme incomum e isso me assustava. Mas o que mais estava mexendo comigo era o fato dele também mexer no meu cabelo, isso me deixava ainda mais indefesa.
— Por que está me pedindo desculpas? — Eu não entendia, mas conseguia ver uma certa verdade no seu olhar, e que olhar, não perdia nem um pouco para os outros dois mosqueteiros.
— Acho melhor conversarmos amanhã. — Ele se aproximou mais e me deu um beijo de leve na testa, e completamos o terceiro beijo do dia. — Boa noite.
Ele saiu em silêncio, e de novo paralisei com aquilo tudo. Eu tomei toda água que tinha colocado no copo, coloquei ele na bancada e me virei, saindo da cozinha. Desejava não encontrar mais ninguém, não até amanhã, e, para minha sorte, consegui chegar ao meu quarto tranquila e calma. Entrei no quarto e me joguei na cama, precisava esvaziar minha mente, mas não conseguia. , e , quanto menos eu queria pensar neles, mais eu pensava e sentia minha pulsação acelerar. Eu estava mesmo ficando louca, mas não queria sentir nada por pelo menos uma semana. Eu sentia algo forte por , como uma atração magnética que não me deixava ficar longe dele.
Ao mesmo tempo, eu tinha um carinho grande por e havia me apegado à sua companhia, principalmente no escritório. E agora estava mais próxima de , e depois do que ele havia dito de manhã:
“Ou você entra, ou nós morremos, porque eu não vou deixar você aqui.”
Aquelas palavras tinham mexido comigo. Será que ele teria coragem de se arriscar por mim? Eu não sabia mais o que estava sentindo, mas estava com medo que os três estivessem gostando de mim.
“Oh, minha, ser assim está ok pra mim?
Perco minha mente
Estou apaixonada por você,
eu devo ter perdido a cabeça.”
— Falling In Love / 2NE1
“Talvez seja amor; não importa onde eu te veja,
Meu coração se enche de emoções.”
— My Heart is Touched / Personal Taste OST (SeeYa)
Amanheceu lentamente. Fui acordando aos poucos, sentindo o sol entrar pela porta da varanda. Me espreguicei na cama, virei para o canto, abri meus olhos e fiquei olhando para a parede por alguns minutos, pensando em tudo que estava acontecendo na minha vida.
— Não vai levantar, bela adormecida? — brincou , já estava tão acostumada com sua voz.
— O quê? — Eu me levantei rápido e o olhei. Me senti meio zonza, mas voltei ao normal. — O que faz aqui?
— Vim conferir se ainda está viva — ele brincou, estava encostado na porta do quarto, me olhando tranquilamente.
— Por quê?
— Já passa de uma da tarde. — Ele riu de leve.
— Sério? — Eu passei a mão direita em meus cabelos. — Nossa, apaguei total então.
— Isso foi seu corpo chegando ao lugar.
— Se você diz assim. — Eu me descobri e me levantei, me espreguiçando de novo. — Espero que seus pais não pensem que sou preguiçosa.
— Jamais. — Ele se afastou um pouco da porta. — Está com fome?
— Você ainda pergunta?
— Te espero lá fora. — Ele piscou para mim e saiu rindo.
Eu ri também e caminhei até o closet. Como estava um sol bonito, resolvi colocar um vestido floral que encontrei na arara dos vestidos, ele era bonito e longo de tecido fino, caiu bem no meu corpo. Eu comecei a dar uma olhada nas roupas que tinha lá e concluí que realmente eram todas meu número. Isso não me deixou nenhum pouco surpresa e admirada, ainda mais agora que conhecia um pouco mais a família Chang.
Quando saí do quarto, estava me esperando na porta.
— Demorou, Cinderela — brincou ele.
— Estava fazendo uma inspeção no closet. Descobri que tudo era meu número. — Eu o olhei, segurando o riso. — Curioso, não?
— Sim. — Ele riu. — Vamos, sua refeição a aguarda.
Descemos em direção à cozinha, porém eu fui barrada na sala por . Ele estava tão diferente sem aquela roupa formal que costumava usar, mais simples e esportivo.
— Bom dia, Jasmim — disse ele, com um breve sorriso singelo.
— Buenos dias, senhor. — Eu ri.
— Bem, acho que devo te sequestrar e te levar até seu café da manhã. — Ele riu também.
— Pensei que tivesse passado de meio-dia.
— Não se preocupe com isso. — riu.
— Então vamos? — estendeu a mão direita.
— Mas não vamos à cozinha? — Olhei para .
— Vá com ele e tenha uma boa refeição. — sorriu para mim.
Eu não sabia o que estavam armando, mas segurei na mão de . Ele me conduziu até a porta de saída da casa. Antes de sairmos, olhei para , ele estava para atender seu celular. Já fora da casa, me levou por um caminho pelo jardim até chegarmos a um pequeno coreto que ficava no meio de um lago que pertencia à propriedade. Caminhamos por uma ponte de madeira muito fofa até chegar lá.
Ao entrar, me deparei com uma mesa cheia de comida, aquilo já me engordava só de olhar.
— Uau! — Aquilo sim me deixou surpresa e admirada.
— Vejo que gostou.
— Adorei — sussurrei, sentindo meus olhos brilharem com aquilo tudo.
— Bom apetite.
Me sentei em uma das cadeiras e fiquei alguns segundos olhando para a mesa, escolhendo o que comeria primeiro. se sentou ao meu lado e manteve sua atenção em mim. Eu comecei pelo croissant que estava me paquerando desde que tinha sentado, me servi de uma xícara de chocolate quente e comecei a degustar aquilo tudo. Me senti nas nuvens.
— Estava mesmo com fome — brincou ele.
— Só há uma coisa que eu gosto de fazer mais que dormir. — Levantei o garfo com o bolo de laranja. — Comer.
— Estou vendo. — Ele riu de mim e olhou para o lago.
— Aqui é tão calmo. — Eu tomei um gole do chocolate. — Nem parece que lá fora acontece tanta coisa.
— É. — Ele continuou olhando o lago. — Todos que entram nessa casa ficam com vontade de nunca sair dela.
— Acho que não será diferente comigo. — Eu ri. — Aqui é realmente tão calmo, e é como se nos atraísse.
— Isso se chama sensação de segurança. — Ele me olhou, dando um sorriso tão lindo. — É isso que está sentindo neste momento.
Ele tinha razão, eu realmente estava me sentindo segura agora. Terminei de tomar meu café tranquilamente, estava mesmo com tanta fome que nem parava para conversar com . Ele ficou em silêncio, me observando.
— Esse foi o melhor café da minha vida. — Eu o olhei sorrindo.
— Que bom que gostou. — Ele se levantou. — Que tal uma caminhada?
— Bem, depois de tanto comer, acho que vou precisar mesmo. — Eu soltei uma gargalhada. — Para manter a boa forma.
Ele riu de mim e pegou minha mão, me guiando para fora do coreto. Caminhamos novamente pela trilha de pedra portuguesa do jardim. Eu estava encantada com as flores tão bem cuidadas e os arbustos tão lindos com suas folhas brilhando à luz do sol.
— O jardineiro está de parabéns — eu disse, ao olhar para a palmeira à minha direita.
— Não existe jardineiro. — Ele riu. — A ajumma que cuida de todo o jardim.
— Você está de brincadeira? — Eu o olhei.
— Não. — Ele me olhou tranquilamente. — É a mais pura verdade. Ela ama plantas.
— Incrível. — Eu olhei para o lado, tinha um canteiro de rosas brancas. — Ela é uma especialista, esse jardim é incrível.
— Ajumma sempre surpreende com suas qualidades.
Eu me virei para frente e vi se aproximando de nós com um sorriso meio misterioso que só ele fazia. Nós paramos, esperando ele chegar.
— Como foi o café, Rapunzel? — Ele segurou o riso, deixando seu rosto sério.
— Delicioso. — Eu o olhei. — Quando foi que combinaram de me tratar assim?
— Assim como? — perguntou .
— Bela Adormecida, Cinderela, Jasmim, agora Rapunzel. — Eu o olhei.
— Eu não sei de nada — respondeu , segurando o riso.
— Sei. — Eu olhei para , ele estava com a mão na boca, disfarçando e segurando o riso. — E você?
— Eu o quê? — Ele se fez de desentendido.
— Bem, antes que isso fique mais interessante. — pegou em minha mão e entregou a . — Deixo esta linda princesa em seus cuidados.
— Vou protegê-la com minha vida. — Ele pegou minha mão e me lançou aquele olhar que me fazia bambear. — Vamos, alteza.
— Vocês estão brincando, não é? — Eu não sabia qual era o esquema do dia, mas, assim como na noite anterior, eles me levariam à loucura de novo.
— Vou sair primeiro. — se afastou de nós.
permaneceu segurando em minha mão. Ficamos nos olhando por um tempo. Bem, eu tentava desviar meu olhar dele.
— Vamos continuar nossa conversa?
— Se quiser.
Era diferente estar com cada um deles, já conseguia diferenciar tudo, o modo como se aproximavam, como me olhavam, como sorriam. Cada um tinha uma característica distinta de me tratar, e com o tom de voz era assim também. Diferente de e , tinha uma voz mais grossa e num tom enigmático.
“Agora na minha frente existem duas pessoas brilhantes
E eu que estou agindo pobremente
Embora eu tente me repreender por ser um idiota
Meu coração continua se curvando na sua direção.”
— Aside / SHINee
Caminhamos um pouco mais pelo jardim, até que ele me levou ao orquidário que ficava um pouco próximo ao lago. O lugar era como uma cúpula de vidro com armações em madeira. abriu a porta para mim e nós entramos. Eu fiquei admirada com aquelas orquídeas tão lindas e bem cuidadas, ajumma tinha mesmo boas mãos para jardinagem. Parei perto da bancada de mármore que tinha lá e permaneci com minha atenção voltada para a janela que dava vista para o lago.
— Ontem — eu comecei, quebrando o silêncio — você me pediu desculpas. — Sim. — Ele me olhou. — Te pedi desculpas. — Pelo quê? — Por te colocar em perigo. — Ele olhou para janela. — O tiro, o resgate de , tudo foi culpa minha.
— Até você querendo se desculpar por isso? — Eu o olhei séria.
— É porque eu sou o real culpado. — Ele desviou seu olhar para o chão, estava com a face meio triste.
— Não é sua culpa. — Eu respirei fundo. — Se é por eu ter me aproximado do , eu quis me aproximar dele. — Sim, mas ele tinha se afastado. — Ele parou por um momento. — E então eu te sequestrei, pensando que conseguiria atrair ele. — Acho que deveria pedir essas desculpas ao por atirar nele, não para mim. — Aquelas balas não eram de verdade. — Ele respirou fundo e continuou olhando para o lago. — Eu estava atraindo ele porque descobrimos que queriam matá-lo. — Então ele me olhou. — Quando o vi, meu ressentimento foi maior, mas nunca machucaria meu primo e nem você. — Não poderia ter resolvido com uma boa conversa? — Sim, por isso te peço desculpas. — Eu não preciso te desculpar. — Me afastei da bancada e caminhei em direção a ele, parando em sua frente. — Assim como , eu me aproximei de você porque eu quis. — Aí está o problema, eu não quero que se aproxime de mim. — Ele me olhou sério. — Não sou uma pessoa boa. Todos que se aproximam de mim acabam morrendo, e não quero que isso aconteça a você.
Ele se afastou e saiu. Senti meu coração na mão, eu que não queria me aproximar de . Descobri que ele não era assim um vilão, mas uma pessoa solitária e triste. Porém tinha que admitir que me aproximei dele porque realmente quis, seu lado misterioso me atraía de uma forma inexplicável. Saí pela porta e fiquei o vendo ir em direção à mansão. Voltei minha visão para a sacada principal e vi conversando com . Era meio louco aquilo tudo acontecendo comigo, os três sempre me tratando da mesma forma agora me deixava sem reação. Me sentei na escada e fiquei olhando o céu, pensando nas palavras de , em seu tom de voz frio e seu olhar triste. Não queria que isso me fizesse ficar mais apegada nele, mas se ele queria que me afastasse, por que me beijou?
Louco, justo quem eu menos queria.
Passei alguns minutos pensando na vida, nos meus pais, na tia Ana, em ChoHee, se eles estavam realmente em segurança como me disseram. Me levantei e comecei a passear um pouco pelo jardim, quando vi a senhora Chang ajoelhada, plantando algumas mudas de margaridas em um dos canteiros que estava vazio. Eu me aproximei devagar e fiquei a olhando em silêncio. — Oh, querida, não a vi se aproximando — disse ela, ao ver minha sombra.
— Bom dia, senhora Chang. — Ah, sem formalidades, pode me chamar de ajumma. — Ela sorriu gentilmente. — Dormiu bem? — Ah, sim, ajumma. O quarto, o colchão, tudo extremamente confortável. — Que bom — disse, se voltando para o canteiro e colocando outra muda de margarida. — Ajumma, posso te fazer uma pergunta? — Eu me sentei no chão ao seu lado. — Sim. — Ela me olhou com atenção. — Então, a senhora sempre soube de tudo? — De tudo… Os negócios? — Sim. — Bem, na verdade eu soube no dia do meu casamento. — Ela deu um riso baixo, parecia recordar a lembrança. — Uma família inimiga invadiu nossa festa. — Uau — eu sussurrei. — Minha família era dona de uma floricultura e meu pai fazia algumas transações para a família dele. Em uma de suas visitas, nos conhecemos. Ele se interessou por mim logo de cara, mas meu pai não queria que eu me aproximasse. Foi no nosso casamento que eu entendi o porquê. — E a senhora não tem medo de tudo isso? — Aprendi a conviver. Sei que sou um ponto de apoio para o meu marido. Acho que sem mim ao seu lado, ele já teria se rendido. — Ela sorriu gentilmente e voltou a olhar para a margarida que estava plantando. — Medo todos sentem, mas devo permanecer forte aos olhos do meu marido, assim ele se sente mais forte também.
Eu a olhei admirada, suas palavras de alguma forma me transmitiam segurança. Nós conversamos um pouco mais sobre a sua vida, e ela compartilhou alguns segredos de família sobre jardinagem. Ajumma era, sim, uma mulher com qualidades surpreendentes.
“A razão pela qual eu escolhi você
É porque você é o maior dom da minha vida
Porque você me levanta.”
— Fantastic / Henry
As horas se passaram, e eu estava em frente ao espelho do banheiro do meu quarto. Tinha acabado de tomar meu banho, me espreguicei um pouco e bocejei de leve. Comecei a sentir um leve cansaço, eu havia passado o resto da tarde cuidando das margaridas com a ajumma. Troquei minha roupa e desci. Fui em direção à cozinha, estava sentindo um delicioso cheiro entrar em minhas narinas. Quando cheguei, me encostei na porta e fiquei olhando a cena imprevisível.
, e estavam cozinhando. Segurei o riso para não chamar a atenção deles e fiquei os olhando por um tempo.
— Se o gosto estiver tão saboroso quanto o cheiro, poderei recomendar vocês ao masterchef — eu brinquei.
— Ah. — me olhou. — Você está aí.
— Há quanto tempo está nos vigiando? — perguntou .
— Poucos minutos. — Eu sorri. — Vocês estavam tão concentrados.
— Bem, esperamos que consiga comer bem hoje. — riu de leve.
Eles eram tão gentis, e agindo assim em sincronia me deixavam cada vez mais louca. Os pais de e o tio Han haviam saído para um jantar de negócios, e os três ficaram com o dever de me proteger e alimentar. Era divertido vê-los trabalhando juntos. Isso me deixava ainda mais preocupada, o quão próximos eram e o fato de demonstrarem algo por mim. Não queria ficar entre eles. Após o jantar, ficamos conversando um pouco na sala. ficou encostado no beiral da janela, enquanto se sentou perto da lareira, eu me sentei no chão, me encostando no assento do sofá, e se sentou ao meu lado no sofá.
— Posso fazer algumas perguntas? — Olhei para a lareira.
— Sim. — me olhou. — Mas as respostas dependem do que vai perguntar.
— Quanto menos souber, melhor — completou .
— Estou começando a odiar esta frase.
Eles riram de mim.
— Então, o que quer perguntar? — perguntou .
— Minha família está mesmo em segurança? — Olhei para .
— Sim. — Ele me olhou de volta.
— Vocês descobriram quem atirou em mim? — Virei minha face e olhei para .
— Sim. — olhou para como se estivessem conversando através do olhar.
— Terei que ficar aqui por muito tempo? — Olhei para .
— Não. — sorriu de canto. — Vamos para Tóquio amanhã.
— O quê? — Eu fiquei meio espantada. — Tóquio?
— Sim. — continuou. — A construtora vai iniciar um projeto em Tóquio, e você será nossa arquiteta responsável.
— Projeto?! Responsável?! — Eu não estava entendendo mais nada. — Como?
— Não se preocupe com os detalhes. — se afastou um pouco da janela. — Quando chegar, irá saber do que precisa saber.
— Já está tarde. — se levantou e caminhou até mim, estendeu sua mão. — Vamos?
— Agora que estava ficando interessante. — Eu segurei em sua mão, e ele me puxou, me levantando.
— Está na hora de ir pra cama, senhorita Tiana.
Eles riram de mim, me segurei para não xingar um por um. Eu e subimos as escadas com ele segurando minha mão suavemente. Ao chegar em frente à porta do meu quarto, ele abriu para mim e sorriu de canto.
— Boa noite, Ariel.
— Vocês realmente tiraram o dia para me colocar de princesa da Disney. — Eu o olhei admirada.
— Bem, você é a nossa princesa. — Ele tocou minha face de leve. — Teremos um longo dia amanhã, te desejo bons sonhos.
Eu entrei no quarto e ele fechou a porta. Eu estava curiosa para saber o que realmente aconteceria em Tóquio e qual o motivo para irmos para lá.
“Às vezes é bom apenas parar pra relaxar e descansar
Porque tudo tem seu te-te-te-te-tempo.”
— Mr. Simple / Super Junior
“Em todo o mundo,
Estou viciado em você, garota mágica.”
— Magic / Super Junior
O dia amanheceu, e eu fui acordando lentamente, foi uma tranquila noite de sono. Abri meus olhos e olhei para a porta.
— Bom dia — disse .
— Bom dia. — Eu me espreguicei, erguendo meu corpo e me sentando na cama. — Então você que veio me buscar hoje?
— Não exatamente. — Ele riu um pouco. — Mas vim pedir que arrume suas malas antes de descer.
— Ah, a viagem para Tóquio. — Eu olhei para a direção do closet. — Devo presumir que aquelas roupas farão parte da mala?
— Como já percebeu, são todas suas. — Ele sorriu de canto. — Estamos te esperando para o café, então não demore.
Ele abriu a porta para se retirar.
— — eu o chamei, e ele se virou, me olhando.
— Sim.
— Vamos todos?
— Mais ou menos. Somente e irão conosco. — Ele piscou para mim. — Mas não se preocupe, seu tio irá buscar sua tia no Brasil.
— Não seria muito arriscado?
— Está tudo sob controle. — Ele saiu, fechando a porta.
Tudo sob controle, por que será que essas palavras não soavam tão seguras assim? Me levantei e fui até o closet, peguei uma das malas que estavam encostadas em um canto e abri. Tentei me decidir de forma rápida quais roupas levaria, mas era impossível em meio a tantas possibilidades. Depois que terminei, fechei a mala e coloquei na porta do quarto. Assim que retornei para o closet e escolhi que roupa usaria naquele momento, desfrutei de uma ducha rápida e me vesti. Com tudo pronto, segui para sala.
— Finalmente — disse caminhando até mim. Ele pegou a mala e saiu para fora da casa.
— Desculpe a demora. — Eu caminhei tranquilamente até o sofá, olhei para a mesa de centro, que estava com uma bandeja de café. — Devo presumir que isso é para mim?
— Não conseguimos te esperar — disse , com um sorriso presunçoso. — Você demora muito.
— Não vejo graça nisso. — Eu peguei um pedaço do bolo de chocolate e comecei a mordiscá-lo. — Hum, está gostoso.
— Que bom que gostou — disse , ao entrar novamente. — Foi que fez.
— E por falar em , onde ele está? — eu perguntei, e realmente só agora eu estava notando sua ausência.
— Nos esperando no aeroporto — respondeu .
Eu permaneci em silêncio, terminando meu café da manhã. Sentia mesmo que depois da nossa conversa havia se afastado um pouco mais de mim, e deveria me sentir aliviada com isso, mas o fato de ter ele meio distante me incomodava. Quando chegamos ao aeroporto de Incheon, pegamos um jatinho particular da família Chang, o luxo e o conforto do jatinho eram surpreendentes. Enquanto eu me sentei em uma poltrona aleatória, se sentou pouco à frente, se sentou na fileira ao meu lado, e ficou na cabine do piloto. Duas horas depois, já estávamos desembarcando no aeroporto particular da família de , e já havia um carro à nossa espera. Eu pensei que ficaríamos em uma casa super luxuosa, mas eles preferiram me levar para o apartamento de , que ficava ao leste do bairro Minato. Uma cobertura invejável e muito bem confortável, com uma decoração moderna e clean, com poucos móveis e muito espaço ao estilo minimalismo asiático.
— Estou impressionada — disse, ao entrar no apartamento. — É muito espaçoso aqui.
— gosta de espaço para dar festas — brincou .
— Ah, sim — concordou , entre risos.
— Só não gosto de acumular coisas — explicou .
— Pois eu adorei a decoração. — Toquei de leve no papel de parede, sentindo sua textura. — Você tem bom gosto .
— Hum. — Ele me olhou. — Uma pessoa que reconhece meu bom gosto.
Nós rimos disso, e continuaram fazendo mais alguns comentários engraçados sobre suas idas passadas em Tóquio. Eu me instalei em um dos quartos, e como não sabia quanto tempo ficaria, decidi não desfazer a mala por enquanto. Caminhei até a varanda do quarto e fiquei olhando o movimento dos carros na rua em frente ao edifício.
— Está pensativa. — A voz era de .
— Muitas coisas estão acontecendo. — Eu o olhei. — Nem parece que estou há pouco tempo aqui na Ásia.
— Acho que sou responsável por todo esse movimento em sua vida. — Ele sorriu de canto.
— E eu agradeço por isso. — Eu sorri de volta. — É emocionante essa sensação de adrenalina.
— Tirando as partes perigosas. — Sua face estava suave e tranquila, mas sua voz firme e séria.
— Tenho três homens para me proteger. — Respirei fundo e caminhei de volta para o quarto.
— Sim, e sempre terá.
— Nossa. — Eu parei meio sem reação por aquelas palavras. — Daqui a pouco, vou acreditar que realmente sou uma princesa.
— É a nossa. — Ele se aproximou de mim, sorrindo. — Nossa bela princesa.
— E vocês são meus três mosqueteiros — eu brinquei, o fazendo rir.
— Gostei da ideia. — Ele me olhou profundamente. Com um sorriso gentil, acariciou meus cabelos.
— Podemos atrapalhar? — perguntou , da porta, com ao seu lado.
— Olha Athos e Porthos. — Eu ri, brincando.
— Devemos presumir que é o Aramis. — rindo junto. — E você nosso D'Artagnan.
— Bem, eu não tinha pensado nisso. — Eu continuei rindo, me afastei um pouco de . — Mas então, o que vai acontecer agora?
— Garota apressada — disse . — Vamos visitar o local da obra com nossos clientes daqui dois dias.
— E por que viemos hoje? — Eu o olhei curiosa.
— Porque fomos convidados para uma festa — respondeu . — Apesar de eu não gostar da ideia de você ir.
— Seria tão perigoso assim? — Olhei para .
— Um pouco. — Ele respirou fundo. — Mas estaremos com você, e te conhecendo o pouco de tempo que conheço, ficaria brava se não fosse conosco.
— Que bom que me conhece. — Eu sorri. — Não se preocupe, , eu tenho vocês para me proteger.
Eu estava me acostumando com essa ideia de ter os três ao meu redor, cuidando de mim de todas as formas, me sentia, sim, protegida com os três. Mesmo sabendo que aquela festa poderia ser perigosa para mim e uma armadilha para pegar eles, eu estava muito ansiosa para aquela noite. Como não sabia o que iria vestir e nem tinha levado roupa para esse tipo de ocasião, se ofereceu para me levar às compras, enquanto isso, e iriam preparar tudo que eles precisavam para irmos para esta festa. Por que será que eu estava suspeitando que esta organização estava relacionada com armas?
“Eu não preciso de um mapa, meu coração me leva a você
Mesmo que o caminho seja perigoso, eu não posso parar agora
Eu nunca me esqueci de você por apenas uma hora
Se eu só posso vê-la no final do horizonte distante.”
— Black Pearl / EXO
Eu havia me esquecido que passar uma tarde com era divertido e descontraído, ele sempre tinha assuntos diversos que me prendiam totalmente. Quando retornamos ao apartamento de , fui direto para meu quarto me preparar para a noite. tinha muito bom gosto para escolher roupas femininas, acho que já tinha ouvido dizer que ele tinha uma irmã da mesma idade que eu, isso fazia sentido.
— Então, como estou? — Eu fiquei parada na porta do corredor para os quartos, olhando os três. Eles estavam lindos, cada um com um terno de uma cor. de azul marinho, de grafite, e de vermelho bordô.
— Além de nossas expectativas — disse , com aquele olhar que me arrepiava o corpo todo.
— Uma linda princesa. — sorriu de leve.
Eu olhei para , ele se manteve em silêncio, mas conseguia ver no seu olhar tudo que queria me dizer. havia escolhido um vestido verde água perolado para mim. caminhou até mim e, retirando do bolso um colar de pérolas, colocou em meu pescoço.
— Agora, sim, está completa. — Ele me olhou, sorrindo de canto. — A cada dia mais linda.
Eu não conseguia me manter intacta com aquele olhar, me fazia perder a noção do tempo e espaço apenas com aquele olhar dele. Não demoramos muito para chegar à mansão que seria a festa, não era tão bonita e chamativa quanto da família Chang, mas tinha seu luxo à parte. Nós descemos do carro e caminhamos em direção à porta. Eu olhei para a expressão dos três, e ambos estavam sérios e concentrados, seus olhares fixos em um ponto, um homem que estava na porta, como se estivesse nos esperando.
— Bem-vindos à minha casa, senhores. — O homem sorriu de canto, seu olhar era como de uma serpente, impenetrável e falso, senti um certo receio na hora. Ele estava trajando um terno preto risca giz com gravata cinza, era alto como os três e tinha uma certa beleza. Ele olhou para mim. — E senhorita.
— Agradecemos o convite. — segurou em minha mão com firmeza, senti uma insegurança vinda dele.
— Não vão me apresentar essa bela dama? — Ele continuava me olhando fixamente.
— Esta é — disse . — Nossa nova arquiteta.
— Hum. — Ele me olhou de baixo para cima. — Interessante, muito bonita.
— Eu sei. — Eu o olhei firme. — Todos dizem isso de mim.
Eu não sabia quem era aquele homem, mas, vendo a reação de e os outros, senti que deveria tratá-lo com indiferença. Nós entramos na casa, havia muitas pessoas lá e algumas percebi que eram conhecidas deles. Não demorou muitos minutos e foi puxado pelo braço por uma mulher de vermelho, eu tentei acompanhar seus movimentos, mas acabei o perdendo de vista. se esbarrou em um amigo, que o pegou de conversa. Enquanto isso, continuou segurando firme em minha mão, acho que ele estava com mais receio de acontecer algo ruim do que eu. Ele me levou para o jardim, ficamos caminhando um pouco.
— Você está preocupado, não é? — Eu parei e o olhei.
— Acho que você também me conhece. — Ele olhou para o arbusto ao nosso lado.
— Quem é ele?
— Yejun. — Ele desviou o olhar para o céu. — Mas…
— Não. — Eu o interrompi. — Pare com essa frase de quanto menos eu souber melhor.
— . — Ele me olhou.
— , vamos admitir que sabendo ou não estarei correndo perigo. — Eu o olhei sério. — Então diga.
— Você está certa. — Ele sorriu de leve. — Yejun era um sócio da nossa família e nos traiu entregando informações sobre os nossos negócios para uma família inimiga.
— Foi ele que atirou em mim?
— Não, mas tenho certeza de que está envolvido nisso.
— oppa? — disse uma voz feminina atrás de nós.
— Minzy? — Ele a olhou surpreso.
— Quando eu vi meu irmão aqui, fiquei sem reação.
— Irmão? — Eu olhei para .
— é irmão dela.
— Ah, oi, arquiteta. — Ela me olhou, não demonstrando muita afeição, acho que era por causa de .
— Oi.
— oppa. — Ela segurou na mão dele. — Preciso te contar algo.
— Acho melhor eu procurar os outros dois. — Eu soltei a mão de . — Te vejo daqui a pouco.
— Mas… — Ele deu um impulso para segurar minha mão novamente
— Eu ficarei bem, tenho mais duas pessoas para me guardar.
Eu me afastei deles, indo em direção à casa novamente. Desta vez, entrei pela porta da cozinha, era impressionante os detalhes do porcelanato na parede.
— Espero que minha casa tenha lhe deixado impressionada — disse Yejun, ao se aproximar de mim.
— Ela é muito bem decorada. — Eu o olhei, não demonstrando fraqueza ou medo. — Apesar de ter alguns pontos que me incomodam.
— Como?
— Como esta bancada de mármore Carrara. Apesar de ser uma pedra valiosa, não acho que fique bem em um ambiente como a cozinha, isso eu mudaria.
— Interessante. — Ele se aproximou um pouco mais de mim. — Posso te contratar para resolver isso, a arquitetura de interiores é muito bem vista no Japão.
— Imagino. O que seria da sociedade moderna sem a arquitetura?
— Curioso. — Ele tocou de leve em meu cabelo.
— O que é curioso?
— Como uma mulher de tão longe conseguiu despertar o interesse de três homens tão diferentes. — Direto e perceptivo.
Ele olhou fundo em meus olhos, como se estivesse me lendo. Uma sensação ruim passou por mim, eu pude ver em seus olhos que ele mantinha uma certa raiva de , e .
— Falando assim, parece até que os conhece bem.
— E conheço, tão bem que você nem imagina. — Ele fixou seu olhar em meus lábios. — Estou me perguntando se um deles já deu o primeiro passo.
— Por que isso te importaria?
— Bem, como eu disse, curiosidade. — Ele riu. — Mas aposto que foi .
— Por quê?
— Porque não é qualquer mulher que leva um tiro por um homem que não tenha intimidade.
Eu recuei dois passos, me lembrando daquele tiro. Realmente não tinha pensado dessa forma, mas naquele momento eu tinha dado minha vida para salvá-lo.
— Eu gosto de inverter os papeis, às vezes uma mulher também pode salvar um homem. — Mantive meu olhar firme.
— Verdade. — Ele se aproximou mais de mim e sussurrou em meu ouvido. — Mas você não é qualquer mulher, e uma hora terá que escolher quem irá salvar dentre os três.
Ele se afastou de mim com um sorriso de deboche na face e ficou me olhando. Eu parei por um instante tentando absorver aquelas palavras. O que aquilo significava? Que eles estavam em perigo? Pela primeira vez, eu senti muito mais que insegurança com relação a tudo, eu estava com medo, medo de que pudesse acontecer algo ruim com meus três mosqueteiros.
“Você vai se machucar! Fuja ou você vai se machucar!
Às vezes ser corajoso demais pode ser ruim.”
— Face / Nu'Est
“Você confiará em mim?
Eu vou te encontrar, mesmo em seus sonhos
Será que você só olha para mim?
Eu vou te amar para sempre.”
— With You / B.A.P
— Achei você — disse , ao entrar na cozinha. Ele caminhou até mim, mantendo seu olhar fixo em Yejun. — Está tudo bem, ?
— Sim. — Eu olhei para , fazendo ele desviar sua atenção para mim. — Encontramos sua irmã, ela está com .
— Eu vi a Minzy de longe. — Ele segurou em minha mão. — Vamos, está na hora de ir para casa.
— Mas tão cedo? — disse Yejun, se encostando na bancada, nos olhando.
— Somos arquitetos e nossa profissão requer dedicação. — entrelaçou nossos dedos e seguiu em direção à porta, me puxando consigo.
Ele me guiou entre as pessoas até chegarmos à frente da casa. Caminhamos até o carro e entramos.
— Não vamos esperar os outros?
— Não. — Ele deu a partida e seguiu até o apartamento de .
Quando chegamos, eu fui diretamente para meu quarto, troquei de roupa e lavei meu rosto, ainda estava me sentindo imobilizada por causa das palavras de Yejun. Se ele estava mesmo planejando algo contra os três ou um deles, eu deveria avisar.
— Estava mesmo tudo bem? — perguntou , parado na porta do quarto.
— Não. — Eu me encolhi um pouco, estava perto da janela e permaneci olhando a rua. — Ele disse umas coisas que me deixou...
Parei por um momento, tentando reprimir as lágrimas que estavam se formando no canto dos meus olhos.
— O que ele disse? — caminhou até mim, permanecendo ao meu lado, me olhando.
— Ele falou do tiro que levei no lugar de . — Eu olhei para o chão. — , ele disse que uma hora eu teria que escolher qual de vocês eu iria salvar.
— Não deveria levar isso para seu coração. — segurou de leve em meus braços, virando meu corpo para ficarmos frente a frente. — Ele estava tentando te assustar.
— Mesmo que fosse somente para me assustar, eu fiquei pensando naquelas palavras. — Eu o olhei, senti a primeira lágrima cair. — Eu não sei quantas vidas ainda tenho para salvar vocês, e não quero escolher quem salvarei da próxima vez.
— Minha mulher maravilha. — Ele envolveu seus braços na minha cintura, me abraçando, encostou seu queixo em minha cabeça e sussurrou: — Não iremos deixar que gaste mais nem uma vida, não vamos deixar que nada aconteça a você.
— E eu não vou deixar que nada aconteça a vocês. — Eu me afastei dele em lágrimas. — Você, e fazem parte da minha vida agora.
— Eu sei. — me olhou com gentileza e serenidade. Sorrindo levemente, ergueu sua mão direita e limpou um pouco minhas lágrimas. — Você faz parte da nossa vida também.
Ele se aproximou lentamente de mim. Em um piscar de olhos, senti seus lábios tocarem os meus e fechei meus olhos automaticamente. Mesmo seu beijo sendo suave e doce, eu conseguia sentir o sal de minhas lágrimas. Eu me afastei um pouco, mas continuei aninhada nos seus braços. Por um breve momento, pensei na ironia que estava sendo ser beijada por ele, de quem eu menos esperava receber um beijo. Permanecemos um longo tempo ali, abraçados em silêncio. Eu estava me sentindo mais calma, mas minha preocupação não havia saído do meu coração.
— Está tudo bem aqui? — perguntou , ao entrar.
— Sim. — se afastou de mim um pouco. — Nossa princesa só estava com maus pensamentos, mas está tudo bem agora. — Ele me olhou. — Não é mesmo?
— Sim. — Eu olhei para . — Estou um pouco melhor agora, só preciso de uma longa noite de sono.
— Então, acho melhor te deixarmos sozinha — disse , olhando para .
— Concordo. — assentiu, se dirigindo para a porta.
Eu esperei até eles saírem, fui até a porta e a fechei. Caminhei até a cama e me sentei, olhando para janela. Por mais que devesse descansar, eu não estava com sono suficiente para dormir. Passei algumas horas olhando para a janela, pensando em tudo que havia acontecido na minha vida. Comecei a me lembrar da forma que conheci cada um deles e de como me aproximei ainda mais de forma espontânea, até mesmo de .
Enfim chegou o dia em que visitaríamos o terreno onde seria construído o próximo projeto da construtora. Como eu e seríamos os arquitetos responsáveis, passamos o dia todo com os engenheiros, concentrados na planta inicial do espaço que seria uma galeria de arte. ficaria cuidando da parte burocrática do projeto, enquanto , ele havia saído de manhã cedo e passado o dia todo sem dar um sinal de vida.
— Estou animada com este projeto — disse, ao entrarmos no apartamento.
— Percebemos — disse , rindo. — Pelo menos agora vai poder fazer o que realmente gosta.
— Eu gosto de sair por aí escapando de tiros também — brinquei, fazendo eles rirem.
— Como consegue brincar com uma coisa séria? — perguntou , se sentando no sofá.
— Se eu não rir, posso acabar chorando — expliquei. — Estou com fome, quem aceita lamen?
— Hum, você cozinha? — perguntou , segurando o riso.
— Não sou como vocês, mas aprendi algumas coisas com o tio Han. — Eu caminhei em direção à cozinha, os deixando rindo na sala.
Gastei um pouco mais de trinta minutos preparando. Tentei fazer o mínimo de bagunça possível, mas era visível meu desastre na cozinha. Organizei um pouco toda minha bagunça e, quando terminei, e entraram na cozinha entre risos.
— Posso saber o motivo da graça?
— estava me contando uma piada — respondeu tranquilamente. — Hum, o cheiro está maravilhoso.
— Hum, sei. — Eu peguei a panela com cuidado e coloquei em cima de um descansador de panelas que estava em cima da mesa.
— Vamos comer bem hoje — disse , se sentando na cadeira.
— Espero que sim. — Eu ri. — Onde está ?
— Resolvendo alguns assuntos dele — respondeu .
— Ah. — Eu me sentei, servindo o prato de .
— Está com ciúmes? — brincou .
— Não, claro que não. — Eu entreguei seu prato. — Por que eu estaria?
— Vamos fingir que não — disse , ao pegar seu prato e se servir. — Apesar dos seus olhos confirmarem.
Eu permaneci em silêncio. Não queria admitir, mas meu coração sempre batia mais forte por , e era dele que eu esperava tanto um beijo. Comemos tranquilamente, até que chegou. Ele passou por nós em silêncio e foi para seu quarto.
“Pensamentos transbordando,
Esse é meu amor, aumentando mais e mais
Não posso dizer imediatamente,
Quero dizer algum dia,
Como se levasse mil anos,
Sempre ao seu lado.”
— 1000 Nen Zutto Soba Ni Ite / SHINee
Eu terminei de comer, peguei uma tigela e coloquei um pouco. Por mais que isso fosse confirmar o que tinha falado, eu estava preocupada com ele. Caminhei até seu quarto e bati na porta, entrando. Ele estava sentando na janela, olhando a rua.
— Oi. — Eu entrei lentamente. — Trouxe isso, caso esteja com fome.
— Já comi. — Sua voz estava seca e áspera, ele continuou com sua atenção voltada para rua.
— Me desculpe. — Eu coloquei a tigela na mesinha ao lado da porta e me virei para sair.
— Espera!
— Hum?! — Eu me virei novamente, o olhando.
— Mianhaeyo. — Ele se levantou e caminhou até mim, parando em minha frente. — Não deveria agir assim com você.
— Não foi nada. — Eu me encolhi um pouco. — Eu que não deveria ter entrado.
— Mianhaeyo. — Ele me puxou para perto, me abraçando. — Acho que não estou conseguindo controlar meus sentimentos.
— E o que está sentindo? — eu sussurrei, me aninhando nos seus braços.
— Acho melhor não falarmos disso agora. — Ele acariciou de leve meus cabelos.
Mesmo ele dizendo que era para esquecer suas palavras frias comigo, eu não conseguia parar de me perguntar se ele tinha visto me beijando, ou se havia contado a ele do nosso beijo. Será que estava com ciúmes de mim? Se estava, por que ele não assumia logo que gostava de mim? Uma semana depois, após a apresentação do projeto, enquanto e ficaram acertando os últimos detalhes do início da obra, resolvi caminhar um pouco pelo pequeno jardim que havia em frente ao edifício do cliente. Senti um pouco de fome e caminhei até o outro lado da rua. Entrei em uma cafeteria e me sentei bem ao fundo.
— Boa tarde, senhorita. Deseja algo? — perguntou a atendente, ao se aproximar.
— Sim, claro. — Eu olhei rapidamente o cardápio. — Eu vou querer um chocolate quente e uma torta de maçã, por favor.
— Sim, sim, perfeitamente anotado. — A atendente se afastou um pouco, retornando ao balcão.
Demorou alguns minutos para trazer meu pedido. Eu curvei a cabeça um pouco como agradecimento e comecei a comer. Estava tudo tranquilo, até que comecei a me sentir estranha. Parei por um momento e olhei em direção à porta. Um homem começou a caminhar em minha direção. Não conseguia ver direito seu rosto, pois minha visão começou a ficar embaçada. Senti minha cabeça ficar meio zonza, meu corpo lentamente foi perdendo os sentidos, até que perdi a consciência.
Quando acordei, tive um pouco de dificuldade para retomar meus sentidos. Assim que minha visão voltou ao normal, percebi que eu estava em uma cela estranha e um pouco fria também, sua iluminação era precária. Eu estava deitada em uma cama velha, que só tinha um colchão duro, forrada com um cobertor xadrez. Eu respirei fundo, tentando assimilar tudo que estava acontecendo, onde eu estava e como havia parado ali. Então me lembrei do último lugar que eu estava, a cafeteria. Mas é claro que poderiam ter colocado algo no meu chocolate quente, e só vinha um nome possível na minha cabeça.
— Yejun — eu sussurrei para mim.
De repente, ouvi um barulho vindo do lado de fora da cela, e começaram a mexer na fechadura da porta de ferro. Era ele mesmo. Yejun entrou, acompanhado de uma mulher misteriosa. Ela era um pouco alta e meio magra, tinha os cabelos castanhos e uma pequena pinta embaixo do olho direito, seu rosto era delicado e sua pele parecia um veludo.
— Então já acordou — disse ele, com um ar de superioridade.
— Onde eu estou? — O olhei séria e firme.
— Bem longe deles. — Ele sorriu de canto. — Acho que ainda não conhece a JiYoon. Ela é uma velha conhecida dos seus protetores.
— Estava curiosa para conhecer a estrangeira que salvou . — Ela me olhou com indiferença.
— Sabe tanto assim sobre mim. — Eu a olhei. — Então deve saber que eles irão me encontrar.
— Estamos contando com isso. — Ela deu alguns passos até mim. — Sabe, , eu tenho uma dívida com , e estou ansiosa para pagar.
Naquele momento, eu me lembrei da história que tinha me contado, da garota que ele tinha salvado, que o fez brigar com sua família. Será que era ela?
— Você não vai se sair bem nessa, Yejun — eu disse de forma áspera. — Não vou deixar você me usar para machucá-los.
— Veremos quantas vidas você ainda tem. — Ele saiu rindo, acompanhado de JiYoon.
Eu respirei fundo, tentando não me desesperar, mas não conseguia parar de pensar na segurança de , e . Estava tão preocupada com eles que nem me importava mais comigo. Porém, algumas perguntas pairavam sobre minha mente: onde eu estava e como eu iria escapar dali.
“Não posso dar um passo para trás nesse caminho sem fim
Woo woo woo, não se abale
Não posso cair nesse momento de confusão
Woo woo woo, há somente uma chance.”
— One Shot / B.A.P
“Eu sei que pode ser tarde agora
E eu sei que estou assumindo
Mas eu estou aqui e eu sou um super-herói
E eu posso te salvar.”
— Super Hero / Lunafly
— on
Eu ainda me sentia angustiado, uma sensação ruim estava sob meu coração. Não conseguia parar de pensar nela, se ela estava mesmo em segurança. Eu confiava em e , mas tinha medo de que algo ruim pudesse acontecer a ela. Passei o dia caminhando pelo parque de Tóquio. Queria muito esquecer o que meus olhos haviam visto naquela noite, aquele beijo que havia dado a ela. Não imaginava que mexeria assim comigo, eu estava mesmo com ciúmes de , mas por que era tão difícil assim para eu admitir?
Meu celular tocou de repente, era .
Não acreditei em suas palavras de início, meu corpo congelou e permaneci paralisado por um tempo. Ele ficou meu chamando do outro lado da linha por alguns instantes, mas eu não conseguia reagir. Sentia um nó em minha garganta, um aperto no meu coração. Ela estava em perigo novamente e mais uma vez por minha causa. Se eu não tivesse me afastado, ela estaria comigo agora. Entrei em meu carro e segui em direção ao apartamento de . Quando cheguei, eles estavam fazendo algumas ligações.
— Onde ela está? — perguntei, ainda apreensivo.
— Não sabemos ainda — disse , ao desligar o celular. — Mas acionei todos os nossos contatos. A secretária do seu appa está rastreando o celular dela.
— Por que eu a deixei sozinha?! — Eu me virei para a porta e soquei a parede, estava sentindo raiva de mim mesmo. — Se acontecer algo com ela…
— Calma, . — me olhou. — Vamos achá-la e ela ficará em segurança novamente. Eu vou me encontrar com Younghee, ele disse que encontrou uma pessoa que talvez tenha a visto na cafeteria em frente àquele edifício.
— Eu vou com você. — Eu me afastei da parede e o olhei.
— Acha que está com a cabeça fria para isso? — Ele me olhou sério.
— Se eu não for, irei enlouquecer. — Segurei as lágrimas no canto dos meus olhos, assentiu com a face.
permaneceu no apartamento para esperar por alguma notícia dos nossos contatos, enquanto isso e eu fomos até o local escolhido por Younghee. Era uma antiga fábrica que ficava o sul da cidade de Tóquio. Quando entramos, Younghee estava em pé, com seu celular na mão e ficou nos olhando em silêncio enquanto nos aproximávamos dele. Ao seu lado, havia uma garota com uma roupa colegial, sentada em uma cadeira que parecia velha.
— Então, é esta sua informante? — perguntou .
— Sim, hyung. — Ele olhou para garota. — Ela afirmou ter visto na cafeteria onde trabalha.
— Diga o que sabe. — Eu a olhei fixamente.
— Bem, eu. — Ela respirou fundo, tentando não gaguejar. — Eu só trabalho lá meio período, e, naquele dia, uma mulher estranha entrou, dizendo que era a nova contratada. Foi esta mulher que atendeu a moça que procuram.
— E você sabe como levaram ela?
— Eu não vi tudo de perto, porque fico no caixa, mas…
— Diga logo. — Eu alterei um pouco o volume da minha voz, estava começando a ficar fora de mim.
— Se acalme, , ela está tentando nos ajudar.
— Eu vi quando a mulher estranha colocou algo no chocolate dessa moça. Em poucos minutos, a moça desmaiou. É tudo o que sei.
— E você sabe o nome dessa mulher estranha?
— Ela se apresentou como JiYoon.
— Oh, não. — me olhou, eu engoli seco. — Agradeço sua ajuda. Younghee a levará de volta em segurança.
— Tudo bem. — A moça deu um sorriso leve, ainda me olhando um pouco assustada.
me pegou pelo braço, me arrastando para fora da velha fábrica. Quando chegamos ao lado de fora, ele me soltou e me deu um soco no rosto, me derrubando no chão.
— Parabéns, . — Ele respirou fundo, tentando se controlar. — Seu ato de heroísmo do passado agora está colocando em risco a vida da garota que te salvou por duas vezes.
Ele deu alguns passos para perto do seu carro, olhando para o céu. Eu permaneci caído, me sentei e fiquei olhando para o chão, não queria lembrar do passado, o que tinha feito agora iria repercutir na vida dela. Não me perdoaria se se ferisse por minha causa, pelo que fiz.
“Eu fui realmente burro, onde eu fui?
Quando eu tinha um plano sobre a apresentação
Eu deveria ter ficado ao seu redor
Em vez disso, eu fiz você se sentir mal.”
— Super Hero / Lunafly
— Cinco anos atrás —
Eu não estava satisfeito com o que meu appa havia decidido, não concordava em ferir uma pessoa que parecia inocente. Já estava cheio de toda aquela vida cheia de tiroteios e rivalidades. Nascer em uma família da máfia não era divertido, e, sim, perigoso. Aquela vida não era para mim, não queria mais aquilo tudo, e não deixaria minha família machucar uma inocente.
Era madrugada. Tentei me encher de coragem para ir contra todos, mas só conseguia imaginar o quanto minha omma ficaria triste com isso, porém estava decidido. Vesti minha jaqueta preta e saí do quarto em silêncio, estavam todos dormindo e eu não seria visto. Desci as escadas correndo e quando cheguei perto da porta.
— Você vai mesmo fazer isso? — perguntou uma voz, era .
— Vou. — Permaneci de costas, olhando a porta.
— Sabe que se sair, ahjussi não aceitará sua volta — disse ele, num tom amargo. — , somos sua família, ainda assim vai nos trair? Por uma garota?
— Estou apenas seguindo meu coração. — Eu abri a porta e saí.
Esta era uma decisão que não voltaria atrás. Entrei no meu carro e dei a partida. Sabia que eles iriam agir mais rápido agora, segui em direção à casa da família Kim. Estacionei a poucos metros do portão principal, saí do carro e corri até o muro. Escalei e pulei rapidamente, havia alguns seguranças fazendo a ronda. Me escondi atrás de alguns arbustos, esperei um tempo e corri até a mansão. Escalei uma das paredes laterais com um pouco de dificuldade e entrei em uma das janelas do segundo andar.
Era o quarto dela. JiYoon estava deitada em sua cama, dormindo. Dei alguns passos até sua cama e me sentei ao seu lado.
— Hum?! — Ela se remexeu na cama e abriu seus olhos lentamente. — ?! — Ela se assustou um pouco ao me ver e levantou um pouco seu corpo, se sentando. — Oppa, o que faz aqui? É perigoso!
— Vim para te proteger. — Eu a olhei, tentando não a deixar mais assustada.
— Me proteger de quê?
— Da minha família. — Desviei meu olhar para o chão e respirei fundo. — Eles querem atacar sua família, mas eu não concordo com isso.
— . — Ela ergueu sua mão e tocou em meu rosto, me fazendo olhar para ela. — Você se colocou contra sua família por mim?!
— Não deixarei que eles te machuquem. — Eu a olhei com carinho. — Você é especial para mim.
— Oppa! — Ela jogou seu corpo sobre o meu, me abraçando. — Saranghae oppa!
— Eu sei. — Sorri de canto.
De repente, a porta do seu quarto se abriu, era seu pai.
— Você aqui! — Ele apontou sua arma para mim.
— Senhor Kim. — Eu me levantei e fiquei olhando.
— Não, appa! — Ela se levantou também e se colocou na minha frente. — oppa está aqui para nos ajudar.
— Saia da frente, JiYoon — ele gritou. — Não quero ajuda de um Chang.
— Atire nele e matará sua filha. — Ela segurou em minha mão.
— Senhor Kim, vim para avisar que minha família quer atacar sua casa. — Eu abaixei minha cabeça em respeito.
— Atacar?!
— Sim. — Eu levantei minha face e o olhei sério. — Vim porque não concordo com o que querem, e acho que conversando esta guerra deveria ter um fim de paz. — Eu respirei fundo e olhei para JiYoon. — Quero proteger sua filha.
— Appa. — Ela soltou minha mão e caminhou até ele. — Eu e oppa temos sentimentos um pelo outro, ele não quer nosso mal.
— Se é assim. — O senhor Kim abaixou a arma. — Devemos te tirar daqui minha pequena.
— Appa, eu não vou sem você — disse ela, começando a lacrimejar. — Appa, vamos juntos.
— Esta briga é entre mim e YeongHa. — Ele olhou para mim. — Eu e seu pai temos muitos ressentimentos, e não quero que caia sobre minha filha. Tire-a daqui e a coloque em segurança.
— Estou aqui para isso. — Me curvei de leve em agradecimento por ele confiar em mim.
— Espero vocês no escritório, sejam rápidos.
Ele saiu do quarto e JiYoon me olhou em lágrimas, correu até mim e me abraçou forte. Eu acariciei seus cabelos de leve, teria que ser forte por nós dois.
— Sempre estarei aqui para você — eu sussurrei de leve em seu ouvido.
Bem de longe, começamos a ouvir alguns barulhos. O som foi ficando cada vez mais alto, e mais alto, eram tiros. Eu não acreditava que minha família e seus aliados já estavam atacando a casa do senhor Kim. JiYoon me olhou com medo e receio.
— Calma, você ficará em segurança, eu prometo.
Eu a ajudei a colocar algumas roupas em sua mochila rapidamente, a olhei e peguei em sua mão. Descemos rapidamente as escadas, a sala já estava totalmente em desordem. Eu a abaixei, estavam atirando na casa continuamente. Desviando das balas, corremos até o escritório do pai dela.
— Ah, aí estão vocês. — Ele nos olhou e em sua face a preocupação estava refletida.
— Appa, vamos conosco, juseyo! — disse ela desesperada.
— Não. Aqui está, quero que fique com isso. — Ele entregou um envelope grande para ela.
— Appa. — Ela pegou sem entender nada.
— Saranghae, minha pequena. — Ele a abraçou forte, me olhando. — Cuide bem dela.
— Appa, saranghaeyo! — Ela o olhou.
— Eu cuidarei dela com a minha vida. — Eu peguei na mão dela novamente.
O senhor Kim apertou alguma coisa embaixo de sua mesa e logo uma porta secreta se abriu entre a estante de livros.
— Sigam as luzes e estarão seguros — disse o senhor Kim.
Nós assentimos, e mesmo JiYoon ainda relutando, eu a puxei comigo. Sua segurança era o que mais importava naquele momento.
“Algo se quebrou e foi embora,
Até as lágrimas já secaram,
Aqueles que usam armaduras sentem o peso,
Você não pode fazer isso!”
— MAMACITA / Super Junior
“Eu abro meus olhos e vejo a luz do sol
Eu vejo as horas em meu celular
Eu coloco as roupas que usei ontem à noite
E corro até a porta.”
— Coffee Shop / B.A.P
— on
— Continuação: Cinco anos atrás —
Caminhei até a janela e observei as árvores ao redor, com certeza estávamos bem longe do centro da cidade. JiYoon ficou parada no meio da sala, olhando para o chão em silêncio. Olhei para ela, as lágrimas ainda escorriam de seus olhos. Eu caminhei até ela e a abracei, queria poder apagar toda aquela tristeza de sua memória.
— Oppa — ela sussurrou. — Nunca mais verei meu pai?
— Não sei — eu sussurrei de volta, a envolvendo ainda mais nos meus braços. — Mas eu estou aqui, e não vou te deixar.
— Komaweyo oppa! — Ela se aninhou nos meus braços ainda mais.
Não sabia o que fazer e nem como a deixaria em segurança, mas iria protegê-la com minha vida se fosse preciso. Me afastei um pouco dela e segurei firme em sua mão, a olhando suavemente.
— Não podemos ficar aqui — disse, olhando para a janela. — Temos que encontrar outro lugar.
— O envelope. — Ela olhou para o envelope que seu pai a havia dado ainda em suas mãos e me olhou. — Talvez tenha algo importante aqui.
— Sim. — Eu peguei o envelope e abri, havia alguns documentos com a foto dela e duas passagens.
— Será que appa já esperava pelo pior? — Ela me olhou.
— Não sei, mas acho que este é o nosso destino agora. — Li rapidamente o destino que estava escrito nas passagens. — Vamos para a Flórida.
Eu guardei as passagens no bolso e os documentos dela em sua mochila. Tirei meu celular do bolso e fiz uma ligação para um amigo. Demorou alguns minutos até que ele entendeu a urgência do meu pedido e concordou em me encontrar no aeroporto. Saímos da cabana e caminhamos por algumas horas por uma trilha de pedregulhos até encontrar a estrada. Eu a deixei escondida perto de uma placa que havia na estrada e caminhei até um posto de gasolina que ficava poucos metros dali. Sem que percebessem, peguei um dos carros que estava estacionado e segui até JiYoon. Ela entrou no carro, e eu acelerei até o aeroporto de Busan.
— Que bom que já está aqui, Jinho — disse, ao me aproximar do meu amigo com JiYoon.
— Bem, quando você diz que é urgente, eu acredito que seja mesmo — ele brincou. — Vamos agora?
— Sim. — Eu olhei para JiYoon e entreguei a mochila dela para Jinho.
— Oppa, você não vem comigo? — perguntou ela.
— Não. — Eu entreguei as passagens para ela. — Mas vou te encontrar lá. Jinho irá te proteger até eu chegar.
— Não, oppa, sem você eu não vou. — Ela pegou em minha mão e me olhou com medo.
— JiYoon, eu prometo. — Eu a abracei forte, demonstrando que iria a proteger sempre. — Eu vou te encontrar lá.
— Vou te esperar, oppa! — Ela deu um beijo leve em minha face e se afastou com Jinho, indo em direção ao portão de embarque.
Senti meu coração apertado ao deixar ela ir sozinha, mas tinha que saber o que havia acontecido com seu appa e minha família.
--
— on
Às vezes nem tudo acaba bem como queremos, e por mais que o inimigo de nossa família e assassino dos meus pais estava morto, havia uma peça fora do lugar. tinha feito sua escolha e não dava para voltar atrás, ele tinha traído a nossa família. Ainda não tinha conseguido voltar para casa, estava desnorteado com todos os acontecimentos, ainda mais com as atitudes da pessoa que mais considerava em minha vida. Dirigi no meu carro por um longo tempo sem rumo, até que estacionei em frente à minha antiga casa.Desci do carro e caminhei até o portão, ainda mantinha a chave no meu chaveiro e destrancando a fechadura entrei. Aquele lugar me trazia muitas lembranças boas e uma muito dolorosa. O dia da morte dos meus pais ainda estava gravado naquele lugar. A cada passo meu, era como se aquele momento acontecesse novamente.
“Eu abro meus olhos e vejo a luz do sol
Eu vejo as horas em meu celular
Eu coloco as roupas que usei ontem à noite
E corro até a porta.”
— Coffee Shop / B.A.P
— Sabia que viria para este lugar. — Sua voz baixa e firme ainda era mantida.
— O que faz aqui? — eu perguntei, tentando não olhar para ele.
— Quero saber o que aconteceu, como acabou — respondeu ele, dando alguns passos para mais perto de mim.
— Você nos traiu e ainda quer saber como acabou, ? — O olhei com raiva, controlando meus impulsos para não o socar. — Por uma garota.
— Ela era inocente e não me arrependo de salvá-la. — Ele desviou seu olhar para o chão. — Você é mais que um primo ou amigo, tenho você como irmão.
— Se me considerasse seu irmão, não teria feito isso. — Tentei controlar minha voz, mas, a cada palavra, saía mais alta.
— Sei que o pai dela é responsável pela morte do tio e da tia, mas não permitiria que fizessem mal à pessoa que tenho em meu coração.
Eu não aguentei, não conseguia controlar minha revolta, não conseguia acreditar que ele havia se apaixonado pela filha do homem que matou meus pais. Estava com tanta raiva em meu coração. Não me segurei e dei um soco em sua cara, o jogando no chão.
— Saiba que neste momento só tenho ressentimentos com relação a você.
— Eu sei. — Ele limpou o vestígio de sangue que saiu de sua boca e se levantou. — Espero que me perdoe um dia.
— Levará tempo para isso. — Eu me virei, seguindo em direção ao portão. — Vamos, você ainda deve olhar nos olhos do ahjussi.
assentiu, me seguindo, ele realmente tinha que conversar com seu appa, e, por mais que eu já soubesse o que iria acontecer com ele, permaneci em silêncio durante todo o caminho. Quando chegamos à casa do tio Chang, ele já estava à nossa espera, na porta, com a ajumma ShinHe ao seu lado. Todos os seguranças estavam ao redor da casa, o senhor Lee e também estavam presentes.
— Appa. — se aproximou cautelosamente, com sua face abaixada. — Mianhaeyo.
— Como se atreve a voltar aqui. — Ele o olhou com raiva nos olhos. — Você traiu sua família, traiu a memória dos seus tios, traiu , que o considera um irmão.
— Não podia deixar uma inocente morrer, não por causa do passado.
— Este passado custou a vida do meu irmão e da sua esposa — tio Chang gritou com fúria. — Você não é mais meu filho.
— Yeobo, não diga assim — disse ajumma, intervindo. — É nosso filho.
— Meu filho, não. — Ele olhou para . — Não o quero em minha frente nunca mais. — Ele se afastou e entrou para dentro da casa.
Ajumma correu até e o abraçou. Ela prometeu que faria ahjussi mudar de ideia, mas com certeza ele estava tão magoado quanto eu naquele momento. deu um beijo de leve na testa dela, prometendo que ficaria bem e que um dia voltaria a conquistar a confiança do ahjussi.
— . — Ele caminhou até mim. — Mais uma vez, mianhaeyo.
— . — se aproximou. — Para onde você vai agora?
— Vou cumprir uma promessa.
— Vai voltar para ela. — Eu não conseguia deixar de dizer de forma amarga.
— Ela não tem nada a ver com tudo isso. — Ele me olhou. — E não vou deixá-la desprotegida.
— Morreria por ela? — perguntei a ele.
— Neste momento, sim. — Ele me olhou fixamente. — Você atiraria em mim por isso?
— Neste momento, ainda estou pensando nisso. — Eu me afastei um pouco e joguei as chaves do meu carro para ele. — Me devolva quando puder.
Ele pegou as chaves e me olhou, sorrindo de canto. Por mais que estivesse magoado com ele, ainda era meu irmão de coração e não iria deixar de ajudar, por mais que isso fosse contra minha vontade própria.
--
— on
Eu estava agradecido à por sua pequena e significativa ajuda. Eu o considerava meu irmão também e sabia que, mesmo magoado comigo, eu poderia contar com ele. Entrei em seu carro e parti dali. Segui dirigindo pela estrada principal até Incheon, iria pegar um voo até a Flórida. Eu tinha uma promessa e não deixaria de cumpri-la.Um amigo de Jinho já estava me esperando no aeroporto, peguei minha passagem com ele e um passaporte falso, quanto menos eu fosse reconhecido nos lugares a partir daquele momento, seria melhor. Desembarquei no Aeroporto Internacional de Orlando na noite do dia seguinte e fui ao encontro deles. Jinho havia marcado na porta de uma lanchonete perto do aeroporto.
— Oppa. — Ela correu até mim e me abraçou. — Senti sua falta!
— Eu também senti a sua. — Retribuí o abraço, a envolvendo em meus braços. — Como você está, JiYoon?
— Agora com você estou bem, oppa.
— Não vou te deixar mais. — Eu peguei em sua mão, entrelaçando nossos dedos. — Estou aqui para cumprir minha promessa.
Eu já havia pesquisado alguns lugares da cidade que poderíamos ficar. Me despedi de Jinho, o agradecendo por ter cuidado dela. Pegamos um táxi e seguimos em direção a um endereço que tinha pegado com . Apesar de não concordar também com minha decisão, ele estava me ajudando muito.
O lugar onde ficaríamos era parecido com um estúdio fotográfico, um apartamento vazio e amplo, que ficava no último andar de um prédio ao sul de Orlando, em um bairro mais calmo e simples. Queria mantê-la o mais escondida e segura possível, pelo menos até meu appa se esquecer que ela existia.
— Ficaremos aqui por algum tempo — eu disse, colocando a mochila dela no chão ao lado da porta.
— Desde que esteja comigo, ficarei bem, oppa. — Ela me olhou com carinho. — Komaweyo por estar aqui, por estar comigo.
— Sempre estarei. — Eu sorri de leve e me aproximei um pouco mais dela.
— Saranghae oppa. — E sorriu para mim.
— Eu sei.
Eu estava me arriscando por ela, mas ainda não sabia se meu sentimento por ela era o mesmo que ela sentia por mim. Mesmo assim, suavemente aproximei meus lábios dos dela e a beijei de leve.
“O que nós tínhamos era tão bonito, sabe
Você me ensinou como amar.”
— Love Song / Big Bang
Eu deveria ser cuidadoso e me amar mais,
desse jeito eu nunca irei me machucar
É como se eu não conseguisse respirar,
desde meu nascimento até agora
— My Answer / EXO
— Atualmente —
Nos dois primeiros dias, eu não comi nada do que levaram para mim, suspeitei que estivesse com veneno ou algo do tipo, mas enfim comecei a pensar, se eu queria fugir daquele lugar, eu teria que estar forte e saudável; se eu não comesse, ficaria fraca. E por fim cheguei à conclusão de que Yejun não me machucaria, pois eu era o motivo para levar meus três mosqueteiros até ele, então comecei a comer o que ele me mandava.
— O que não me mata, me torna mais forte — eu sussurrei, ao pegar a tigela de ramen que o guarda tinha deixado no chão, ao lado da minha cama.
A comida não era tão ruim ao paladar, mas excedia no tempero, isso me fazia pensar que estávamos em algum país que gostava de comida apimentada, um detalhe que cortava vários países da minha lista. Outra coisa era que Yejun não me levaria para um país tão longe assim, isso se ainda não estivéssemos no Japão, ou na Coreia. Era outro mistério que eu deveria desvendar além de como sair daquela cela. Minutos depois que acabei de comer, coloquei a tigela novamente no chão. Vi um pedaço de papel aparecendo debaixo da cama e, me abaixando, olhei para ver o que tinha. Era minha bolsa de tecido xadrez que estava comigo, certamente eles tinham revistado a bolsa e jogado ela debaixo da cama. Eu a peguei, limpando a sujeira, e sentei na cama. Remexi as coisas dentro dela para verificar se estava faltando algo e, sim, era meu celular.
Como eu iria contatar os três agora?
Naquele momento, eu não estava tendo nenhum pouco de esperança, mas seria persistente e otimista. Coloquei a bolsa nos pés da cama e olhei para o teto, suspirando fraco. Tinha que pensar em algo rápido e preciso. Em minutos distraída, a cela se abriu, era JiYoon.
— Acordada? — Ela entrou, acompanhada pelo guarda.
— O que você quer? — Eu a olhei, não me intimidando. desviei meu olhar para o guarda, que recolheu minha tigela.
— Tão arrogante esse seu olhar. — Ela respirava tranquilamente, olhando em volta como se estivesse analisando a cela. — Ainda me pergunto como conquistou eles, alguém tão… — Ela parou por um momento e me olhou. — Insignificante ou prepotente, ainda estou tentando te classificar.
— Certamente eles viram algo que não tem em você — eu retruquei meio audaciosa e louca.
— Prepotente, acho que te classifiquei. — Ela deu um passo para frente. — já deve ter mencionado sobre mim. Olhando para você, ele mudou muito de gosto. Fico me perguntando se os outros dois ainda estão na disputa ou desistiram do prêmio.
— Eles são meus amigos, nada mais que isso.
— Claro. — Ela deu um pequeno sorriso de deboche.
— Você é a garota que ele salvou.
— Sim. — Ela respirou fundo e olhou para o teto como se estivesse se lembrando do passado. — Sou bem mais que isso. Eu e fomos mais próximos do que possa imaginar. Até que um dia eu acordei e ele não estava mais lá.
— Talvez ele tenha acordado também — eu sussurrei, segurando o riso com aquela indireta meio trocadilho.
— Acho que não entendeu. — Ela me olhou novamente. — Quando eu e ele nos conhecemos, ele namorava Minzy. Nos tornamos amigos mesmo com nossas famílias rivais e nos apaixonamos. Ele me prometeu que seu coração seria somente meu, mesmo com a distância. — Ela sorriu novamente. — Você pode achar que virá por sua causa, mas está enganada, ele virá por mim, porque eu ainda estou no coração dele. Por isso ele jamais deixou que outra garota se aproximasse dele.
— Por que está falando isso?
— Hum, digamos que já consegui o que queria. — Ela deu uma gargalhada estranha e nebulosa. — Onde está mesmo aquele seu olhar arrogante?
Ela saiu da cela rindo. Senti um frio na espinha na hora, mas fiquei com aquelas malditas palavras na mente. Será que ainda gostava dela? Por isso nunca demonstrou gostar de mim? Era estranho pensar daquela forma, por aquele ângulo, mas não tomaria minha mente com aquela ação baixa de JiYoon.
Depois de passar a noite em claro, tive uma ideia um tanto surreal. Eu havia notado que o guarda não era uma pessoa muito perceptiva e inteligente, enfim eu simularia uma fuga para fugir. Meio louco, mas eu era louca mesmo. A cela era um tanto estreita na parte dos fundos e um pouco escura também, então eu esperei até anoitecer. Caminhei até os fundos da cela e comecei a subir, apoiando minhas mãos na parede da frente e meus pés na parede de trás. Era arriscado eu cair de lá e quebrar todos os meus ossos, mas eu tinha que ficar na altura que não dava para me ver devido ao escuro. A parede era meio úmida e tinha cheiro de mofo, tive que ser forte para não vomitar naquele lugar. Quando o guarda entrou, não me vendo, revirou a cama e todo o lugar. Ele saiu correndo e deixou a porta da cela aberta, era exatamente aquilo que eu estava querendo. Desci o mais rápido que pude, peguei minha bolsa que estava jogada no chão e saí correndo da cela. Não sabia em que direção iria, mas faria o possível para chegar até a porta de saída.
Não sabia ao certo quantos metros de muitos corredores que corri, mas já estava me sentindo cansada com aquele percurso. Eu tinha que pensar em qual direção iria para não correr em círculos. Ouvi algumas vozes surgindo pelos corredores, estavam todos procurando por mim agora. Após escolher mais uma vez entre direita ou esquerda, fui pela direita desta vez e corri por um corredor que a cada momento parecia mais e mais estreito e menor. Vi uma pequena faixa de luz vinda do fundo dele. Quando cheguei, era uma grade de ventilação meio enferrujada. Percebi que já estava um pouco encurvada por causa da altura do teto. Sentei no chão e chutei a grade com os dois pés até ela se soltar. Passei pela abertura e olhei para o céu estrelado, a lua estava cheia e iluminava tudo com certa clareza. Olhei em minha volta, eu estava às margens do que parecia ser um rio. Não me dei o luxo de observar mais nada e comecei a correr pela orla, precisava encontrar uma estrada ou algo do tipo.
“Uma pessoa bem pequena e fraca, o seu amor
Tem mudado tudo
Toda a minha vida, todo o meu mundo.”
— Miracles in December / EXO
Foi então que me deparei com uma rua cheia de barracas e pessoas por todos os lados. Algumas pessoas me olharam estranho, não era para menos, eu estava suja, cansada, mal cheirosa, estava acabada. Olhei para algumas placas e letreiros que estavam nas ruas que passava, a escrita era muito diferente do coreano e japonês, porém eu reconhecia aquela escrita de algum lugar. Parei em frente a uma placa e fiquei olhando para ela por um bom tempo. Puxando mais a fundo na minha memória, me lembrei de um filme que tinha visto.
— Não acredito — sussurrei para mim mesma, me lembrando o nome do filme. — Obrigada, My Little Thing Called Love — e respirando fundo —, estou em Bangkok.
Não sabia se ficava feliz em saber onde eu estava, ou se ficava mais desesperada ainda em conseguir sair de lá. Em um piscar de olhos, senti algo acertar minha nuca com força, me fazendo perder a consciência novamente. Acordei sentindo uma forte dor no local acertado, abri meus olhos e estava na maldita cela novamente. Yejun estava sentado na cama ao meu lado, eu me encolhi um pouco.
— Calma. — Ele sorriu de leve. — Você deve essa dor a JiYoon, foi ela que te encontrou, e admito que fiquei impressionado, você é esperta e muito determinada.
— Nem me darei o trabalho de perguntar como me encontrou — disse quase em sussurro.
— Entendo. — Ele riu, se levantando. — Espero que não se sinta desconfortável, mas é por questões de segurança. — Ele apontou para minha perna direita.
Eu segui meu olhar junto e vi uma corrente amarrada à minha perna, não havia percebido aquilo em mim. Yejun saiu da cela sem dizer mais nada, ainda não queria acreditar que estava naquele lugar novamente.
— on
Havíamos passado todos aqueles dias sem dormir direito, procurando algum sinal dela. Nem mesmo o rastreador que havia implantado em seu celular estava funcionando, era óbvio que Yejun quebraria. Eu tentava me manter calmo, mas estava mais nervoso que os outros, e pior, era tudo minha culpa. estava em risco por minha causa, e eu não sabia como consertar tudo aquilo e deixá-la segura novamente.— E então? — disse, ao entrar na sala.
— acabou de receber uma ligação, parece que ela foi vista. — estava sentado no sofá e manteve seu olhar para a vista da varanda.
— Onde? — perguntei ansioso.
— Era mesmo ela — disse , ao entrar na sala.
— Onde? — se levantou e o olhou.
— Está melhor, ? — me olhou.
— Sim. — Eu o olhei. — Por favor, nos responda.
— Bangkok. — Ele desviou seu olhar de mim para . — Alguns informantes da família a viram correndo pelas ruas. Me enviaram a foto, confirmei.
— A cidade é grande. — se virou para a porta e pegou o celular. — Precisamos de uma localização mais precisa.
— Acho que sei onde ela pode estar — eu me pronunciei.
— Como? — me olhou.
— Yejun a pegou porque ele nos quer, nós três, e se JiYoon está mesmo envolvida, há um lugar em Bangkok que servia como um esconderijo para seu pai, fomos lá uma vez — expliquei.
— Acha mesmo que eles podem estar lá? — me olhou.
— Sim, eles querem que encontremos ela.
— Então não será um elemento surpresa — concluiu . — Mas sim uma entrada triunfal.
— Aconteça o que acontecer, ela ficará em segurança novamente — eu afirmei com precisão.
sorriu de canto, como uma aprovação pelas minhas palavras. assentiu com a face. Estávamos prontos e com um foco, resgatar nossa princesa.
“Indestrutível...
Porque eu vou proteger você até o fim.”
— Indestructible / Girls’ Generation
“Você e eu fomos borrados e apagados
O mundo é o mesmo, mas quando olho em volta,
Apenas você não está ao meu lado.”
— My Love, My Kiss, My Heart / Super Junior
— Espero que não esteja ansiosa para ver seus amigos — disse Yejun. — Bem, eu já não sei se dará tempo de vê-los.
— O que irá fazer? — Senti meu corpo congelar.
— O que deveria há muito tempo.
— Espera. — JiYoon o olhou. — Não está pensando em matá-los, não é?
— Querida, acha mesmo que eu vou perder a oportunidade? — Ele acariciou a face dela.
— Mas, … — Ela demonstrou uma insegurança, certamente seus planos não eram os mesmos dele.
— Oh, está assim porque ele te salvou uma vez? — Ele sorriu de canto. — Esqueça o passado, querida. Foi você quem propôs o plano.
— Não tinha mortes no meu plano. — O olhar dela estava um pouco assustado.
— Por isso mudei para o meu. — Ele suspirou e olhou para o guarda. — Leve ela daqui.
— O quê? — JiYoon tentou se soltar do guarda. — O que está fazendo?
— Te impedindo de estragar meus novos planos.
Assim que o guarda saiu, a levando à força, começamos a ouvir alguns tiros vindo dos corredores.
— Interessante, parece que eles chegaram mais cedo que o previsto. Acho que não terei problema em deixar a cela aberta, já que, com as correntes, não sairá tão facilmente.
Naquele momento, eu só sentia aflição por tudo que estava acontecendo. Não sabia o que fazer, então comecei a gritar o nome deles, assim, se me ouvissem, seguiriam o caminho até me encontrarem. E foi o que aconteceu. Quando eles entraram na cela, soltei um suspiro de alívio por vê-los.
— Vocês. — Eu me levantei sorrindo.
— Ouvimos sua voz — disse .
— Estou tão feliz que poderia abraçá-los agora, mas estou acorrentada. — Mesmo naquela louca situação, eu não conseguia deixar de sorrir por eles estarem ali inteiros.
— Vamos resolver isso. — olhou para e acenou com a face.
— Sim. — se aproximou de mim e, se abaixando, pegou dois arames pequenos do bolso da calça, começou a mexer na fechadura do cadeado que estava prendendo as correntes.
— Sério isso? — Eu olhei. — Pensei que só funcionasse em filmes.
— Pense que estamos em um filme então. — destravou o cadeado, e os outros dois riram. — Agora vamos para casa — disse ele, ao retirar as correntes da minha perna.
— Vamos.
me pegou pela mão e nós quatro saímos correndo pelos corredores. Chegamos a um grande galpão, e bem ao fundo, perto da porta, Yejun estava nos esperando com JiYoon alguns passos à sua frente. Um aperto no coração me veio de repente, estava com medo que algo acontecesse com um dos três.
— Bem-vindos, amigos — disse Yejun.
— Não vai nos intimidar, Yejun. — o olhou com fúria.
— JiYoon. — a olhou não muito surpreso, mas vi a preocupação em seus olhos.
Olhei com mais atenção para JiYoon e percebi que ela estava um pouco aflita, não mais que eu, mas parecia nervosa. Nos aproximamos um pouco, o suficiente para ver que Yejun estava com uma arma apontada para a cabeça dela. Então fazia um pouco de sentido o que ela havia me dito. foi para me buscar, mas acabaria sendo por ela.
— Deixe-a — disse .
— Hum, acho que não. — Yejun sorriu cinicamente. — Mas você poderá escolher: salvar sua estrangeira, ou sua antiga namorada.
— Não fique por mim, oppa. — JiYoon fechou seus olhos, uma lágrima escorreu.
— Vão. — nos olhou. — Estarei bem atrás de vocês.
— Tem certeza? — o olhou, e ele assentiu com a face.
— Então vai salvá-la novamente. — se virou.
— Não me peça para ir também. — me olhou. — Estarei bem atrás de vocês.
Eu não queria deixá-lo, meu coração estava mais apertado do que nunca e tinha a sensação de que aquilo tudo não acabaria bem para um dos três. apertou minha mão e me puxou junto a . Quando saímos, do lado de fora o tiroteio já estava armado. Havia alguns homens que trabalhavam para a família de no local e que estavam confrontando os capangas de Yejun.
Não conseguia manter o foco e sempre olhava para trás. e também começaram a atirar contra os capangas. Nos escondemos atrás de algumas caixas para que eles recarregassem as armas.
— Ele não está atrás de nós. — Eu olhei mais uma vez para a porta de onde saímos.
— Ele virá, não se preocupe. — recarregou sua arma e segurou em minha mão. — , me dá cobertura, vou levá-la até o carro.
— Pode ir. — destravou a arma. — Ficará tudo bem, .
sorriu de canto e beijou de leve minha testa, me abraçando. Eu senti como se fosse uma despedida e algumas lágrimas escorreram no canto dos meus olhos. Eu o olhei e, com um sorriso na face, limpou minhas lágrimas.
— Eu e chegaremos juntos.
Assim que piscou seu olho direito, me puxou consigo e corremos no meio daquele fogo cruzado. Eu mantive meu olhar alternado em , as caixas onde estava, a porta do galpão, o carro, não conseguia me concentrar em mais nada. Em um momento de susto quando um barril explodiu próximo de nós dois, eu tropecei e caí. Mais alguns tiros vieram em nossa direção.
me puxou com força e, segurando em minha cintura, aproximou de leve nossos corpos e me guiou até saímos do meio do tiroteio.
— on
Assim que eles saíram, mantive meu foco em JiYoon e me concentrei, não poderia dar nenhum movimento brusco para não colocar a vida dela em risco.— Não se preocupe, JiYoon, vai ficar tudo bem. — Eu olhei para seu rosto, ainda conseguia enxergar aquela garota tímida e delicada por quem me senti atraído um dia. Em silêncio, ela estava em lágrimas.
— Fazendo promessas que não pode cumprir, ? — Yejun riu.
— Pare de se esconder atrás de uma mulher inocente e me enfrente como um homem.
— Se acha assim, te mostrarei quem é o homem. — Ele bateu com a arma na cabeça de JiYoon, a desmaiando, e atirou em minha direção.
Eu me desviei e, pegando minha arma, atirei de volta. Trocamos alguns tiros até que consegui chegar perto dele e socar sua cara. Ele caiu no chão e sua arma se soltou da mão, escorregando para um pouco longe dele. Yejun se levantou, limpando o sangue que escorria do nariz e veio para cima de mim. Trocamos alguns socos e chutes. Ele, assim como eu, tinha conhecimento em lutas corpo a corpo e era muito habilidoso.
Demoramos um pouco naquele confronto, até que Yejun conseguiu me derrubar. Ele andou até sua arma e a pegou, apontando para mim. Ele sorriu sarcasticamente, sua boca tinha alguns vestígios de sangue.
— Um morto vale mais que três vivos. Sua hora chegou, . — Ele preparou o gatilho.
Senti meu coração paralisar por um momento e fechei meus olhos. Se fosse para morrer, seria com a imagem da garota mais corajosa que conheci, . Logo ouvi o som de um tiro. Meu corpo gelou, mas não era eu. Então, ao abrir os olhos, Yejun estava estirado no chão, e um pouco próximo da porta. Eu sorri, me levantando, estava feliz de ver o rosto dele. Corri até JiYoon e encostei meu dedo no pulso dela.
— Então? — perguntou , ao se aproximar de nós.
— Está bem, só desmaiada. — Eu o olhei. — E ?
— a levou em segurança. Acho que agora estamos bem.
— off
--Assim que chegamos ao carro, me afastei de e percebi que minha roupa estava ensanguentada. Comecei a me desesperar.
— Ai, não. — Eu descolei a blusa do meu corpo.
— Fique tranquila, não foi com você — disse , com uma voz um tanto baixa.
Eu ainda não tinha olhado para sua face, mas ele estava começando a suar um pouco. Olhei para sua blusa e estava com um buraco e esvaindo sangue.
— , você. — Eu retirei minha blusa de frio e a pressionei no lugar onde ele havia sido baleado.
— Vai ficar tudo bem. — Ele respirou fundo. — Vou te levar daqui em segurança.
— Para. — Eu encaixei seu braço em meu ombro. — Sou eu que vou te levar daqui em segurança, e não discuta.
Ele sorriu de leve e assentiu. Eu o coloquei no banco do carona e corri até o outro lado. Assim que entrei, me empurrou de leve em cima do volante e atirou. Eu olhei e era um homem que estava nos seguindo. Fechei a porta do carro e dei a partida, estava nervosa, mas tinha que manter a calma. Se acontecesse um acidente com nós dois naquele carro, ele poderia morrer e eu também.
Assim que coloquei o pé no acelerador, alguns tiros acertaram a traseira do carro, eram alguns homens nos seguindo de moto. pegou sua arma e, recarregando, atirou contra eles, ele conseguiu derrubar um, mas o outro se encostou do lado onde eu estava. Respirei fundo, joguei o carro para direita e depois lancei para cima do homem, o fazendo cair da moto. Acelerei um pouco mais, em direção à estrada principal. Quando chegamos ao grande centro de Bangkok, estacionei em frente a um hospital e comecei a pedir por socorro em inglês.
Logo os enfermeiros e paramédicos vieram com a maca e colocaram em cima, o levando para dentro. Eu os acompanhei até a porta da UTI. Estava nervosa, sem meios de comunicação, preocupada com o estado de e aflita, pois e haviam ficado para trás. Eram muitos sentimentos que invadiam meu coração e não me deixavam ter esperanças de que realmente tudo ficaria bem.
“Eu estou te chamando ansiosamente, assim
Não vá, baby, suas asas ficarão molhadas.”
— Moonlight / EXO
“Quando eu perco meu caminho na floresta escura
Quando minha alma jovem está chorando
Guie-me como uma luz,
Como um milagre
Antes dessa vida acabar.”
— Life / SHINee
— , o que faz aqui? — perguntou, já demonstrando preocupação. — O que aconteceu? Você está bem?
— Estou, não é nada comigo, mas… — Limpei uma lágrima prestes a cair. — foi atingido, e agora estou esperando aqui.
— Não se preocupe. — Ele me abraçou de imediato. — Ele vai ficar bem, tudo vai ficar bem novamente.
— Tomara — sussurrei. — Não me perdoaria se acontecesse algo com ele por minha causa.
— Não diga isso — disse , parando ao nosso lado. — Nós que te colocamos em risco.
— E ele foi ferido me salvando — retruquei.
— Ei, . — se afastou um pouco de mim e me olhou com carinho. — Não pense isso. ficará bem, e o que importa é que você está segura agora.
— Acho que só ficarei bem quando tiver certeza de que ele realmente vai ficar bem — disse, me sentando na cadeira, em um suspiro fraco.
Ficamos esperando por mais um tempo. JiYoon aparentemente estava bem e tinha sido liberada pela enfermeira que a atendeu. Ela manteve uma certa distância de onde eu estava, tendo a companhia de . Finalmente, o médico responsável saiu da sala de cirurgia, vindo em minha direção. e JiYoon se aproximaram também.
— E então? — perguntei.
— A cirurgia foi um sucesso, e o paciente está fora de risco.
— Que boa notícia — disse .
— Ele está consciente? — perguntei.
— Sim, e somente uma pessoa pode entrar.
— Entre primeiro, — disse , com segurança.
— Eu posso? — Olhei para o médico.
— Sim, por ser a guardiã dele — o médico respondeu.
Eu segui o médico pelo corredor central até chegarmos em frente ao quarto onde estava instalado. Entrei sozinha e fechei a porta. Olhei atentamente para todos aqueles aparelhos ligados a ele e respirei fundo, ainda não conseguia deixar de me sentir culpada pelo tiro que ele tinha levado. Talvez se eu tivesse corrido mais rápido, ou pensado em um outro jeito de sairmos em segurança sem ter que passar no meio do fogo cruzado, ele teria saído sem nenhum arranhão.
— Está silenciosa — comentou ele, abrindo seus olhos. — Espero que não esteja pensando bobagens.
— Meus pensamentos não são bobagens. — Me aproximei da cama, o olhando. — Mas não consigo deixar de sentir que a culpa é minha.
— Acho que já te falaram que a culpa não é sua. — Ele sorriu de leve. — Fomos nós que te colocamos em perigo.
— Mas…
— , nossa família está acostumada com essas coisas. — O sorriso se transformou em uma risada fraca. — Você é a nossa princesa que se transformou numa mulher maravilhosa.
— Não diga, vai mudar para hq’s agora? — Eu ri com a brincadeira dele.
— Mas, mesmo aqui nesta cama, estou feliz por isso que aconteceu. — Seu olhar estava sereno e tranquilo.
— Não entendi.
— Da forma que nos conhecemos, quem diria que em algum momento iria se preocupar comigo.
— Realmente, nossa relação sofreu mudanças drásticas. — Eu ri. — Mas me senti mais leve depois que te conheci melhor.
— Não sabe o quanto fico feliz por isso.
Ficamos um pouco em silêncio nos olhando. Quando e entraram no quarto, eles estavam sérios, porém tranquilos.
— Yah, não podemos te deixar sozinho por alguns minutos que sai levando tiro de graça — brincou .
— Estava distraído olhando para uma garota bonita — respondeu ele, com outra brincadeira.
— Com certeza ela é realmente bonita — concordou .
— Ok, meu ego está realmente se agradando das palavras de vocês, mas o que aconteceu é sério.
— Está no passado — disse com convicção. — E quem nunca levou um tiro que saia do quarto.
Todos ficaram em silêncio se olhando e depois começamos a rir daquilo, era surpreendente, mas todos já tínhamos levado um tiro, e eu estava feliz por fazer parte daquilo, mesmo tendo passado por um momento de risco no passado.
— E o que vamos dizer a todos agora? — Olhei para . — Até a recuperação de não podemos voltar para casa.
— Não se preocupe, já pensou em tudo. — olhou para o amigo.
— Sim, para todos, ainda estamos no Japão — confirmou .
— E minha tia? Ela já voltou? — perguntei preocupada.
— Sim. — caminhou até a janela. — Como uma forma de proteção, seu tio decidiu mudar de endereço.
— E para onde vamos agora?
— Ainda não sabemos, mas será um lugar seguro certamente.
— Posso fazer uma pergunta? — Me sentei nos pés da cama de . — E nada de falarem quanto menos eu souber melhor. Acho que já passamos desta fase.
— Pergunte. — sorriu de leve.
— Quantos inimigos vocês têm? — Fui inocente nessa pergunta, fazendo os três rirem de mim.
— Só por curiosidade, qual o sentido de sua pergunta? — me olhou curioso.
— Preciso ver se tenho vidas suficientes para quando voltarmos para a Coreia — respondi de forma espontânea.
— Uah, nossa mulher gato está cheia de adrenalina — brincou .
— Você também? — Eu o olhei.
— Por quê? — perguntou sem entender.
— Eu a chamei de mulher maravilha. — riu de leve. — Viu, ? Não é nada combinado.
— Olha para mim. — Me virei para ele. — Essa é a cara de uma pessoa que não acredita.
— Yah — reclamou . — É verdade.
— Eu já volto. — Saí do quarto sem dar mais explicações para eles.
Precisava me trancar no banheiro, lavar meu rosto e buscar meu equilíbrio físico-emocional, pois ainda sentia dentro de mim toda aquela adrenalina de fuga e estrondos de explosões. Lavei meu rosto algumas vezes, juntamente a uma parte dos meus braços. Percebi alguns arranhões pelo meu corpo, fiquei por um tempo me olhando no espelho. Meu ego realmente estava agradecido pelos elogios deles, porque, me vendo agora no espelho, eu estava um horror, minha roupa meio rasgada e suja, meu cabelo desalinhado e meu rosto com o cansaço estampado.
— Impressionante — disse uma voz feminina vinda de trás de mim.
— Hum?! — Eu me virei e olhei, era JiYoon. — Você.
— Estou impressionada com o grau de intimidade que você tem com eles. — Ela estava encostada na parede ao lado da porta, me olhando. — Eu já estive nessa posição, ser amiga deles.
— Como? — Aquilo era um tanto surpreendente para mim, apesar de não saber nada daquela história.
— É inacreditável, mas um dia nós quatro fomos amigos inseparáveis — iniciou ela, seu olhar estava atento em mim e em meus movimentos. — Crescemos juntos, estudamos juntos, e, dos três, eu sempre fui mais próxima de . Como já sabe, fomos namorados um dia.
— E por que essa realidade mudou? — perguntei curiosa.
— Após a formatura do ensino médio, descobrimos que meu pai tinha um envolvimento com a morte dos pais de . — Ela suspirou fraco. — Nossas famílias que não tinham uma relação diplomática muito boa. Apesar da minha amizade com eles, passamos a ser inimigos declarados, mas foi o único que não descontou o erro do meu pai em mim.
— Ele foi uma pessoa sábia, soube separar as coisas. Os filhos não têm culpa do erro dos pais — observei, concordando com a atitude dele.
— é mesmo diferente. — Ela sorriu, desviando seu olhar para o chão. — Ele é o tipo de pessoa que dá a chance para conhecer o melhor lado de uma pessoa. Ele salvou minha vida.
— Ele me contou um pouco sobre isso, sobre ter ficado longe da família por ter salvo uma garota — comentei.
— Eu era a garota, e olha como fui grata, coloquei a vida dele, de duas pessoas que foram meus amigos e a sua em risco.
— Más escolhas todos temos. Você agora tem a chance de escolher fazer o certo. — Eu estava tranquila por conversar com ela naquele momento, estava conhecendo um outro lado de JiYoon.
— Eu realmente pensei que ele iria com você naquela hora, mas ele ficou por mim. — Ela sorriu de leve. Vi uma ponta de esperança em seus olhos. — Pensei que me odiasse, mas ele continua o mesmo que eu me lembrava há anos.
— E? — Eu não estava nenhum pouco interessada nesta parte da história.
— Não quero que me leve a mal. — Ela me olhou novamente. — Mas, mesmo não sabendo nada sobre os sentimentos dele por você, não vou desistir do .
Ela se curvou um pouco e saiu do banheiro. Eu fiquei sem reação por um momento e depois olhei para o espelho automaticamente, não tinha palavras para expressar o que estava sentindo naquele momento, mas uma coisa tinha que concordar com JiYoon: eu também não sabia nada sobre os sentimentos de por mim e isso me irritava um pouco.
“Não importa cada noite que esperei
Cada rua ou labirinto que cruzei
Porque o céu tem conspirado a meu favor
E a um segundo de render-me te encontrei.”
— Creo en Ti / Lunafly
“Eu ainda não posso controlar isso
Por favor, não brinque comigo
Por que você continua na frente?
Eu não sei, eu não sei o que vai acontecer.”
— Adore U / Seventeen
— Tudo bem? — perguntou , aparecendo na porta.
— Sim. — Eu me debrucei de leve no guarda-corpo da varanda e fiquei olhando para o jardim.
— Hum. — Ele deu alguns passos até mim, percebi que estava me olhando. — Você não parece confortável aqui.
— Ficar na casa de uma pessoa que me manteve em cativeiro por dias, acho que ninguém ficaria confortável — expliquei.
— Sabe que, se quiser, mudamos de lugar — reforçou ele.
— Não. — Eu me afastei um pouco e o olhei. — precisa de um lugar assim, tranquilo, para se recuperar.
— Tem certeza? — insistiu ele.
— Tenho, mesmo não confiando nela, confio em vocês.
sorriu de leve e me abraçou carinhosamente, rindo baixo. Ele deveria me achar uma pessoa louca por ainda querer ficar perto deles e de todo esse perigo que os rodeia. Mas eu era, sim, muito louca, não conseguia me imaginar longe deles e de toda aquela adrenalina que eu sempre me jogava quando estava com eles.
— Hum — murmurou , aparecendo da porta.
— Ah, . — Eu me afastei de meio sem graça.
— Me desculpe por atrapalhar — disse ele, dando um sorriso fraco.
— Não atrapalha. — sorriu de leve. — Eu e estávamos conversando.
— E ?
— Está bem acomodado — respondeu.
— Então vou ver ele.
Eu me afastei deles, saindo da varanda e indo até o quarto que estava instalado. Ao passar pela sala, vi JiYoon dando algumas ordens para a cozinheira, não liguei muito e segui para onde queria mesmo. Entrei no quarto dele, dando dois toques na porta. estava em pé, perto da janela, olhando o jardim. Estava surpresa por ter se levantado sem ajuda.
— O que você acha que está fazendo? — perguntei.
— Estou vendo a paisagem — respondeu ele, tranquilamente.
— E como se levantou?
— Com as pernas. — Ele riu de leve e olhou para mim. — Ei, eu só levei um tiro, não estou inválido.
— O médico disse para não fazer esforço. — Eu cruzei os braços. — Isso que dá me preocupar com vocês, ficam brincando e rindo de mim.
— Minha heroína. — Ele deu alguns passos até mim. — Eu estou bem.
— Estou percebendo. — Suspirei fraco. — A vida de vocês sempre foi agitada assim?
— Um pouco, já tivemos dias melhores e piores. — Ele riu.
— Quando fala assim?! — Eu realmente não tinha entendido o que ele queria dizer.
— Já tivemos tempos de paz — explicou.
— Ah. — Eu o olhei, ficando um pouco curiosa sobre as histórias deles. — Mas por que sua família é tão atacada?
— Somos os melhores. — Ele sorriu de canto.
— Isso não é resposta. — O olhei séria, mas desviei o olhar para a janela.
— Minha família controla cinquenta por cento da economia da China, Korea e Japão, alguns nos chamam de reis da Ásia.
— Uau. — Respirei fundo, tentando absorver aquilo de forma a entender o grau do perigo que era estar com eles.
— Espero que não tenha ficado com medo por causa disso.
— Não. — Eu ri de leve e o olhei. — Só não imaginava que vocês fossem tão influentes assim. Por isso tentam derrubar um de vocês?
— Basicamente — concordou, de forma tranquila, com serenidade no olhar. Parecia que aquela realidade para ele era mais do que normal e rotineira. — Era mais calmo antes, pois dividíamos o controle com a família da JiYoon, mas teve algumas divergências no passado.
— É, fiquei sabendo de uma parte da história. — Uma parte bem pequena para tanta coisa que certamente rodeava o passado dele — Mas, e quanto à família do ?
— Nossas famílias são amigas e sócias, desde sempre foi assim. Se um prospera, todos prosperam. Se atinge um, atinge todos.
— Mesmo com esse perigo todo, é bonito ver como cuidam um do outro.
— Mais lindo ainda é ver como se preocupa com nós três. — Ele sorriu de leve, um sorriso natural e doce.
— Me preocupo, porque gosto de vocês.
— Até de mim? — Ele me olhou um pouco surpreso.
— Claro — respondi naturalmente. — Você não sabe o quanto eu chorei porque tinha levado um tiro.
— Pensei que fosse dor na consciência, porque foi por você.
— Ha... Ha... Como você mesmo disse, estava distraído ao olhar para uma mulher bonita — brinquei.
Nós rimos um pouco, até que abriu a porta, nos chamando para o jantar. aA comida da cozinheira de JiYoon era gostosa, tinha um cheiro suave e um sabor maravilhoso. Após o jantar, ficamos por um tempo na sala. e JiYoon estavam na varanda, pareciam ter muito assunto para colocarem em dia.
— Se continuar assim, eles vão perceber — comentou .
— O quê? — Eu o olhei.
— Você olhando para a varanda — insistiu ele. — Não para de olhar para eles.
— Imaginação sua.
— Concordo com ele. — sentou ao meu lado no sofá. — Está na sua cara o ciúme estampado.
— Não, não estou com ciúmes. — Desviei meu olhar para a lareira. — Vocês estão vendo coisas.
— Já percebemos sua preferência. — olhou para a varanda. — É uma pena que aquele idiota ainda não tenha visto também.
— Nisso eu concordo, ele é mesmo um idiota — disse, olhando para baixo.
— Quem é idiota? — perguntou , entrando acompanhado de JiYoon.
— Um homem que não percebe que uma garota incrível gosta dele e fica dando ouvidos para quem não merece. — desviou seu olhar para a janela, em um suspiro fraco.
— Que homem é este? — perguntou JiYoon.
— De um filme brasileiro que estava contando para eles — disse, encerrando aquela conversa e me levantando. — Acho que vou dormir.
“Então relaxe, pare de se preocupar,
Você pode acreditar que estou 100% certo,
E 100% de certeza, você pode deixar de lado todas suas preocupações.”
— Just right / GOT7
— Bom dia — disse a voz que eu sempre iria reconhecer.
— O que está fazendo aqui a essa hora da manhã, ?
— Bem, já passou da hora do almoço. — Ele riu um pouco, estava parado em frente à janela, com as mãos no bolso da calça.
— Ah, eu sempre perco a percepção do tempo quanto estou com vocês. — Ergui meu corpo, ficando sentada na cama.
— Como foi sua noite?
— Tranquila e de um longo descanso. — Eu ri um pouco, me lembrando do sonho engraçado que tive com coelhos. — Acho que meu corpo estava mesmo precisando disso.
— Imagino. — Ele me olhou serenamente. — Está mesmo tudo bem?
— Sim, por quê?
— Nada.
— Você parece até um modelo quando fica parado assim.
— Você acha? — Ele sorriu de canto maliciosamente. — E qual o grau da minha beleza quando fico assim?
— Não vou dizer. — Eu ri, me levantando da cama. — Por que quer saber?
— Brincadeira, mas...
— Mas?
— Eu sei que aquela conversa do não era sobre um filme.
— Como sabe?
— Por incrível que pareça, sei quando está mentindo.
— Sabe?
— Sei. — Ele deu alguns passos até chegar perto de mim. — Não só sei quando está mentindo, como também sei quanto está nervosa ou ansiosa — reforçou ele.
— Não diga?! — Ri de leve. — Acha mesmo que me conhece?
— Claro, você é a garota que me salvou… bem, mais de duas vezes.
— Hum, seu mafioso. — Eu desviei meu olhar. — Não vai achando que gastarei minhas outras vidas para te salvar.
— E por que devo achar que não?! — Ele se aproximou ainda mais e tocou minha face de leve, me fazendo olhar para ele. — O que está tentando esconder de mim?
— Por que quer saber a verdade?
— Porque estou curioso pelo fato dos seus olhos sempre estarem em mim. — Ele deu um sorriso meio presunçoso. — Era sobre mim que estavam falando, não era?
— Convencido. — Desviei meu olhar para o lado novamente, e ele virou minha face com cuidado para não me machucar.
— Garota, seu olhar te denuncia. — Seu sorriso no canto dos lábios continuou. — Então sou um idiota por não perceber que gosta de mim?
— O quê? — Eu tossi um pouco. — Concordo com a parte do idiota, mas o que te faz achar que gosto de você?
— Então?! — Ele se aproximou ainda mais de mim, deixando nossas faces bem próximas, eu podia sentir sua respiração e ele a minha. — Você gosta ou não de mim?
— O que vai acontecer se eu te responder? — Eu tentei me afastar, mas ele me pegou pela cintura, mantendo meu corpo perto do dele. Por mais que eu tentasse manter minha sanidade mental, ele sabia mesmo me deixar zonza.
— Bem, você terá que responder para saber. — Ele deu um pequeno sorriso.
— Se eu disser que não? — Era complicado manter meu olhar no dele, aqueles olhos lindos e profundos que me tiravam o sono.
— Vou saber se mentir. — Sua voz grossa e ao mesmo tempo suave fazia meu corpo arrepiar.
— Se eu admitir? — perguntei meio curiosa pela reação dele. Será que ele iria finalmente me beijar?
— Está esperando pelo meu beijo? — perguntou, num tom de provocação.
— Hum!? — Agora eu não estava entendendo mais nada.
— Tenho que admitir que quando te vi beijando o me senti mal, e depois quando soube que também havia te beijado, fiquei com mais ciúmes de você. — Seu olhar sincero me constrangia. Por essa confissão eu não esperava.
— Ciúmes?! — Não conseguia acreditar que ele estava com ciúmes de mim.
— Me perguntei se realmente deveria continuar gostando de você, já que meus melhores amigos também estavam interessados. — Ele sorriu de canto, me deixando ainda mais louca. — Mas estava com medo de não ser aquele que você queria.
— Você nem imagina que é o único que eu queria que me beijasse. — Pronto, falei. Queria mesmo ele para mim. Mesmo sem beijo, eu estava apaixonada por ele.
— Eu sabia. — Com o sorriso mantido em seu rosto, ele aproximou seus lábios dos meus.
— — sussurrei de leve, fechando meus olhos.
Eu poderia até dizer que finalmente ele tinha me beijado, mas, depois de um longo momento naquela posição e esperando por uma ação dele, se afastou de mim. Aquela não tinha sido a primeira vez que ele brincava com meus sentimentos. Abri meus olhos, sem entender. Seu olhar para mim era tão doce que não tinha coragem de bater nele. Logo um sorriso espontâneo apareceu em sua face.
— Você não terá um beijo meu — disse ele.
— O quê? — Estava perplexa. — Não?!
— Você me terá por completo.
Nosso fundo musical é o som da nossa respiração
Quero nadar, perdido em sua voz quando chama o meu nome
Quero te conhecer mais.
— Just One Day / BTS
“Épocas quentes, quando você abriu meus olhos,
Toda a minha vida, eu só preciso de você,
E eu preciso reconhecer,
Que mesmo se você disser que não me quer, ou me fizer sofrer,
Você vai ser a única pessoa pra mim.”
— Hot Times / SM The ballad
— Tenho medo quando as mulheres colocam esse tipo de sorriso no rosto — disse , parado na porta, de braços cruzados.
— Hum?! — Eu me virei para ele. — Como? Onde? ?
— Ele foi ao aeroporto comprar nossas passagens — respondeu ele, segurando o riso.
— Nossas, de todo mundo? — reforcei.
— Não, minha e sua, vamos voltar para Tóquio. Ainda temos um projeto para colocar em prática. — Ele riu de leve. — A vida não é só de tiros e explosões.
— Ah, sim, essa só é a parte básica da vida de vocês. — Eu ri junto. — Finalmente vou voltar à minha rotina normal de arquiteta?
— Talvez.
— Às vezes até me esqueço meu propósito inicial de ter ido para Seoul.
— Você passou por muitas coisas em pouco tempo, nem sei como conseguiu acompanhar o ritmo. — Ele me olhava tranquilamente. — Mas estou curioso, o que rolou aqui nesse quarto? saiu rindo daqui.
— Aquele babaca gosta de fazer hora com minha cara. Quando eu me cansar, ele vai se arrepender.
— Hum, ele não te beijou. — Concluiu . — Não se preocupe, ele sempre foi assim com as garotas. Pode perguntar para JiYoon e a Minzy, vão confirmar o que estou dizendo.
— Se ele acha que pode fazer isso comigo também, está muito enganado. — Cruzei os braços com raiva.
— Pare de manter esse ódio no coração. — Ele caminhou até mim e pegou minha mão. — Venha, você precisa comer algo.
— Me dê dois minutos.
Entrei no banheiro, passando pelo closet. Tomei uma ducha quente e coloquei roupas confortáveis. Fiquei um pouco dentro do closet, pensando no que tinha dito, eu realmente tinha passado por muita coisa, porém, ainda assim, depois de tudo aquilo, estar perto deles me deixava ainda mais animada. Voltei para o quarto, ele ainda estava me esperando. Descemos as escadas tranquilamente e, quando chegamos à cozinha, estava com um copo na mão, tomando água. Eu me sentei na banqueta perto da bancada principal e fiquei acompanhando os passos de com o olhar.
— Então, que cara é essa? — perguntou .
— Acordei de mau humor — respondi.
— Traduzindo, foi um idiota com você — disse , rindo. — Yah, não entendo como as mulheres se atraem por ele. Com dois caras à disposição, você ainda olha para ele.
— Também gostaria de saber — disse , preparando meu lanche.
— Não posso me distanciar por um minuto que vocês já acham que podem roubar minha garota — disse , ao entrar na cozinha.
— Sua garota? — Eu o olhei embasbacada. — Com que direito você acha que pode falar assim?
— Com base no que aconteceu alguns minutos atrás. — Ele riu, se aproximando de mim. — Me desculpem, amigos, mas esta linda heroína se declarou para mim.
— Yah, e ainda fala como se merecesse — resmungou . — Se você fizer ela sofrer, vou roubar ela para mim.
— Entra na fila — disse . — Meu anjo da guarda gosta de vilões, então acho que tenho mais chances que você, .
— Vão sonhando, ela jamais vai olhar para vocês enquanto eu estiver diante dos seus olhos — retrucou com segurança.
— Ei! — eu intervi. — Eu ainda estou aqui, então parem de ser tão orgulhosos.
— Só disse a verdade. — me olhou seriamente, porém com sua face suave, dando um sorriso simples. — Ou você não está apaixonada por mim?
— Yah — gritei. — Pare de sorrir para mim, e não estou apaixonada por você, ou melhor, só sentirei algo por você quando merecer.
— Então, antes que isso vire uma dr de casal — colocou um prato com dois sanduíches na minha frente e um copo de suco —, vamos comendo, que heroínas também sentem fome.
— Obrigada, . — Ignorei totalmente , que ficou rindo de mim, e comecei a comer.
— E você, por que não foi comprar as passagens? — perguntou .
— Não precisou, eles vão no jatinho particular — respondeu ele, se sentando na banqueta ao meu lado e olhando para mim. — Meu pai está mandando outro para nós dois.
— Vocês vão para Seoul? — perguntei.
— Não — respondeu . — Vamos resolver outro assunto em outro lugar.
— O quê? — Eu o olhei preocupada. — Você nem se recuperou ainda, vão arrumar confusão de novo?
— Não se preocupe. — acariciou meus cabelos. — Não faremos nada arriscado, afinal você não vai estar lá para nos salvar.
— Não tem graça. — Eu o olhei séria. — Estou falando sério.
— Eu também. — Ele sorriu. — Fique tranquila, vamos voltar para você.
— Agora entendi por que ele sempre foi o mais popular — brincou . — Até eu fiquei apaixonado agora.
— Yah. — Olhei para ele. — Pare de brincadeiras, . Já disse que não estou apaixonada.
— Vai negar até eu te beijar? — tocou de leve no meu rosto, me fazendo olhar para ele.
— Somos adultos, se lembra? Essas suas brincadeiras de adolescente estão me cansando. — O olhei séria. — Agora quem não quer te beijar sou eu. — Me levantei da banqueta e peguei meu copo de suco e o prato. — Vou comer no meu quarto.
“Não ligo se é veneno, tomo tranquilamente
Nenhuma tentação pode ser mais doce ou forte que você.”
— Last Romeo / Infinite
As horas se passaram comigo no quarto colocando minhas ideias em ordem, estava começando a pensar que seria mesmo bom para mim voltar ao trabalho. Me concentrar nos projetos seria ótimo para não pensar em catástrofes, ou ter pesadelos com meus dias de cativeiro. Seria difícil me esquecer daquele lugar frio e úmido, me esquecer do tiro que levou por mim, me esquecer do rosto de cheio de sangue quando resgatamos ele. Eu tinha certeza de que não me esqueceria, mas tentaria não pensar muito nisso, não tinha mesmo muitas vidas para salvá-los, mas ainda não queria ser isca para seus inimigos. Eu só queria estar perto deles sem me preocupar com o resto, esse era o lado negativo de se saber de tudo. Acho que agora entendia aquela bendita frase:
“Quanto menos souber, melhor.”
Deveria ter parado quando me disse ela pela primeira vez, ou me afastado quando ele me resgatou do primeiro sequestro, ou quando me aproximei de e minhas memórias voltaram. Eu tive muita oportunidade para me afastar de tudo aquilo, mas meu lado aventureira não me deixou, e meu coração também não.
— Ainda está brava comigo? — perguntou , batendo de leve na porta.
— Veio tirar onda com a minha cara? — perguntei num tom meio áspero.
— Não, vim para saber se está tudo bem.
— Enquanto vocês estiverem de pé e inteiros — respondi.
— É uma via de mão dupla. Também sempre iremos nos preocupar com você.
— Eu sei, mas não sei agir como você. — O olhei. — Não sei esconder minha preocupação.
— Percebi isso, e fico feliz. — Ele se aproximou de mim. — Apesar dos riscos.
— Me diga a verdade, para onde vocês vão? — Me levantei, mantendo minha atenção nele.
— Acho que essa parte da história você não precisa saber. — Ele sorriu fraco. — Apenas tenha em mente que vamos voltar.
— Queria ter a força que sua mãe tem, ela parece ser mais calma que eu nessas horas.
— Acredite, você é mais forte do que pensar. — Ele pegou em minha mão e me puxou para sua direção, me abraçando. — Já disse, vamos voltar para você.
— É o que eu espero — sussurrei, respirando fundo.
me ajudou a organizar algumas coisas dentro da bolsa que tinha comprado para mim, felizmente eles haviam resgatado meus documentos que estavam com Yejun também. Eu e seguimos para o aeroporto particular e de jatinho partimos para Tóquio. Doeu um pouco ver e ficarem para trás, mas resolvi não pensar muito neles ou no que provavelmente iriam fazer.
Aproveitei as horas de voo para dormir um pouco mais. assim que chegamos A Tóquio, fomos direto para o apartamento de . O lugar estava todo arrumado e limpo, como se estivesse mesmo nos esperando. me deixou por alguns minutos sozinha. Ele tinha ido comprar algumas coisas para comermos, nossa noite seria tranquila, mas no dia seguinte voltaríamos para nossa rotina da construtora.
— Boa noite e durma bem — disse ele, da porta do quarto.
— Boa noite. — Eu sorri de leve. — Até amanhã.
— Até. — Ele saiu em direção ao corredor.
Me espreguicei na cama, estava animada para o dia seguinte. Dormi rapidamente e assim que amanheceu acordei. Quando saí do quarto e cheguei à sala, me olhou admirado por eu ter acordado sozinha.
— Não estou te reconhecendo — brincou ele. — Você sempre demora para acordar.
— Acho que é a ansiedade pelo trabalho, finalmente farei algo que domino.
— Hum. — Ele riu. — Vamos tomar café primeiro, nossa reunião será daqui duas horas, temos tempo.
— Tudo bem, estava mesmo com fome. — Eu ri, também indo me sentar na cadeira.
— Eu vi que minhas coisas estão intactas, que bom que cuidaram de tudo — disse, pegando a caixa de leite.
— Garota estranha. — Ele riu. — Posso te fazer uma pergunta meio louca?
— Diga.
— Por que você não agradece? — Sua cara estava confusa.
— Bem, é coisa minha, sou mesmo um pouco estranha, mas acredite, se eu te agradecer por algo algum dia, se considere sortudo. — Eu ri de leve. — O café está muito bom.
— Vou levar seu elogio como um agradecimento — brincou ele.
— Como quiser. — Assenti sem menor preocupação. — Nossa reunião de hoje será sobre o projeto da galeria?
— Não, vamos iniciar outro projeto — respondeu ele, despejando um pouco de café em sua xícara. — Será uma arquitetura mais industrial, faremos as novas instalações de uma fábrica de sabonetes.
— Hum, interessante. — Mantive minha atenção no bolo de chocolate que estava no meu prato. — E hoje faremos os estudos preliminares?
— Digamos que sim, vamos visitar as instalações atuais para termos uma base, eles querem demolir tudo para construir algo mais funcional e sustentável.
— Entendi. Bem, acho que terei muito trabalho. Se querem algo sustentável, seria legal reaproveitarmos muitas coisas da velha instalação.
— Boa observação. — Assentiu ele. — Está bem animada mesmo.
— Sim, vou trabalhar. — Eu ri.
— Não se preocupe que depois que adiantarmos o projeto, poderemos voltar para Seoul.
— E quando os outros vão voltar? — perguntei.
— Não sei, mas acho que não vai demorar.
— Não posso mesmo saber para onde foram?
— Não, desta vez, não. — Seu olhar tranquilo não me enganava.
Eu tinha certeza de que era algo sério e perigoso.
“Oh eu sei que você está mentindo sem nem olhar,
Oh não importa o que você diz agora,
Oh nem pense em inventar mais desculpas.”
— No F.U.N / Seventeen (Team A)