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Revisada/Codificada por: Calisto

última Atualização em: 09/09/2024
— Beleza, pessoal, estão liberados — disse a professora. — Próxima aula, quero que todos tenham lido o texto, porque vamos debater. — A essa altura ninguém mais estava prestando atenção nela, metade da turma já tinha saído.
Levantei a cabeça da carteira, acordando de um sono digno de nota, alisei o rosto para tirar as marcas. Enquanto os grupinhos saíam rápido da sala, eu guardava as coisas que foram tiradas da mochila por motivo nenhum, já que a aula foi usada apenas para botar o sono em dia. Olhei pela janela e o sol estava alto e forte, franzi o cenho. Me levantei, coloquei uns óculos de sol, puxei um maço de paiol da mochila, escolhi um e acendi assim que saí da sala. Desci a rampa fumando e sentindo o sol queimar minha pele. Minas não tem mar, mas tem sol de litoral, pensei.
Estava na porta do departamento quando ouvi alguém me chamar:
— Oh, maluca. — Olhei e era . — Você já tem grupo pro trabalho de 431?
— Você tá ficando abusado, hein, moço — falei. — Mas eu vou fazer sozinha esse trampo aí.
— Por quê? — perguntou o intercambista.
— Porque geral juntou grupo e me largaram de fora, e como eu não tô a fim de me humilhar pra entrar em grupo nenhum, vou fazer sozinha.
— Eu tô sem grupo também — ele disse, dando um sorrisinho. — Bora fazer juntos?
— Por mim, beleza, cara — respondi, dando de ombros. — Você já tem ideia de tema?
— Ainda não, mas posso pensar sobre.
— Tranquilo então — falei.
— Vai pra onde agora? — ele perguntou, tirando os óculos de sol da mochila e colocando no rosto.
— Vou na lanchonete da piscina, tô com muita fome — respondi, apontando na direção do lugar.
— Opa! Então vou com você, tô indo pra lá também — ele disse, e eu concordei.
Saímos do departamento e fomos andando em direção à piscina. Eu havia estranhado muito o fato de ter ficado sem grupo. Ele era um dos poucos intercambistas do nosso curso, e o único que não era latino, então chamava mais atenção que os demais. Tirando isso, adiciona-se o fato de ele ser um cara muito bonito: alto, corpo atlético, olhos e cabelos levemente ondulados. Com todos esses fatores ele, rapidamente, se tornou alvo de cobiça de todes do curso, até aquelas pessoas que não se interessam por homens queriam se aproximar dele, nem que fosse só para saber como era ser um intercambista no Brasil.
Eu era o extremo contrário. Primeiro que não era intercambista, então zero fator extra pra mim. Além disso, eu, quando entrei na faculdade, era muito na minha, bem antissocial mesmo, tinha muita dificuldade de fazer amizades e puxar papo com pessoas desconhecidas. Então, por um tempo, conversava apenas com uma menina que havia feito ensino médio comigo. Porém, por ironia do destino, ela trocou de curso e de faculdade, e eu acabei ficando meio isolada. Havia, sim, pessoas com quem eu conversava na nossa sala, mas não eram meu amigos de verdade, apenas “amigos de convivência", digamos assim. Nesse contexto, eu já conhecia , já havíamos conversado algumas vezes, mas nada de muito memorável, mas ele era bem legal comigo.
e eu trocamos algumas dúzias de palavras no trajeto até a piscina, mas nada de relevante. Chegamos lá e, obviamente, a piscina estava lotada, nada mais justo devido ao calor que estava fazendo, porém, minha preocupação naquele momento não era o calor, e sim a minha fome.
Quando entramos na lanchonete, apaguei o cigarro e joguei a bituca fora, parei diante do expositor de salgados e fiquei analisando as opções, queria algo gostoso e pesado! Fiquei em dúvida entre um quibe e uma coxinha, mas por fim, a segunda opção foi a vencedora. Pedi ao atendente o salgado, fui pagar e aproveitei para reabastecer meu estoque de pirulitos.
— Você é um cara bem saudável, hein? — comentei jogando os pirulitos na mochila. havia feito uma escolha bem oposta à minha: um sanduíche natural e um suco de laranja.
— Ah, eu tento. Quero ficar em boa forma pra continuar jogando basquete — respondeu enquanto nos sentávamos em uma das mesas externas do pátio da piscina.
— Basqueteiro — comentei mais pra mim que pra ele. — Os meninos da física que gostam de jogar basquete, nunca vi.
— Verdade — ele respondeu rindo —, eu jogo com eles direto. Muito fominhas. — Eu murmurei algo em concordância, estava com a boca cheia.
— Queria jogar, mas tenho muita pouca prática — falei, limpando a oleosidade da boca. — Capaz de me machucar toda rapidão.
— Uai, se você quiser, eu posso te ajudar.
— Nhe — resmunguei. — Sei lá, a gente vê isso aí — falei dando outra mordida no meu salgado.
— Às vezes, eu esqueço desse seu ânimo todo — ele disse, rolando os olhos e bebendo o suco.
— Ah, cara, esportes não são o meu rolê, sabe? — falei. — Talvez um dia eu anime jogar com você.
!! — Um cara, Paulo, se aproximou de nós. — Cara, não te achei no final da aula, tem uma vaga no nosso grupo, bora? — O recém chegado apenas me ignorou.
Eu havia sido ignorada propositalmente, e eu sabia disso. Paulo e eu tínhamos um péssimo histórico. Ele, quando éramos calouros, era um dos caras mais desejados do nosso ano, assim como . Paulo era um cara alto, forte, um belo sorriso e uma voz sedutora, mas não fazia nem um pouco o meu tipo — não que eu tivesse um, mas se tivesse, ele não seria parte do grupo —, eu o achava um pouco arrogante.
Então, em um belo dia, estávamos em uma festa da turma e ele pediu para ficar comigo, e eu disse não. Porém, como um belo machista que era, ele achou isso um insulto, pois como a menina mais isolada da sala não ia querer beijar aquele deus grego que ele julgava ser? Impossível! Com isso, ele me xingou de algumas coisas e depois disso passou a me difamar sempre que a situação era propícia para tal. E era esse babaca que era um dos melhores amigos de .
— Ah, cara, eu fui ao banheiro um pouquinho antes da aula acabar, voltei, já tinha todo mundo saído — explicou. — Mas eu tô de dupla com a . — Paulo fez uma caretinha suave, quase imperceptível. — Cabe dois no seu grupo?
— Ih, cara, a gente já tá em 3, faltava só tu pra fechar 4…
— Então nem rola, já tô com ela. — deu de ombros. — No próximo a gente faz, suave?
— Suave! — Paulo sentou junto com a gente e os dois começaram a trocar ideia sobre algum assunto que não era relevante.
Fiquei quietinha na minha, comendo minha coxinha. Quando acabei, pesquei um pirulito de dentro da mochila e coloquei na boca. Virei de costas pra mesa, apoiei os cotovelos no tampo da mesa e joguei a cabeça pra trás, sentindo o sol na pele. A presença de Paulo me incomodava. Peguei meu celular e comecei a mexer no instagram, para passar o tempo. Poucos minutos depois, recebi uma mensagem de uma das meninas que morava comigo:
, tamo pensando em fazer um rock aqui hj, que cê acha?”
“Sextou, , bora que bora” respondi, animada
“Passa na distribuidora e compra umas bebidas então, depois a gente divide. Laurinha falou que vai arranjar uns paiero com aquela mina da sociais. Aí tá no esquema já”
“Suave, , vou agora. Daqui a pouco chego em casa”
— Oh, , vou ter que ir embora, depois a gente troca ideia do trabalho, tá? — falei, me levantando, agradecida por ter um pretexto para sair dali.
— Uai, mas já? Nem falamos nada ainda!
— É, mas tem tempo ainda pra isso. Preciso resolver umas paradas com as meninas lá de casa, entende? — falei, jogando um pirulito pra ele. — Depois eu te mando mensagem pra combinar tudo, pode ser?
— E eu tenho escolha?
—- Nossa, que coisa hein? Drama…
- Tá de boa, . Vai tranquila — ele disse, sorrindo. — Depois a gente se fala.
Peguei minha mochila e fui embora da lanchonete. Coloquei meus fones de ouvido e fui andando rumo à distribuidora, sem pressa nenhuma. Chegando lá, troquei uma ideia com os meninos que trabalhavam lá, que já eram conhecidos nossos, porque sempre salvavam a gente quando resolvíamos fazer uma festa assim de última hora. Comprei algumas bebidas, uns galões de água, pedi para entregarem e fui pra casa.
Quando cheguei em casa, as meninas estavam sentadas na sala, animadíssimas com a festa.
! — me puxou pra sentar com elas. — A deu ideia de chamar o Pedro pra ser DJ, o que você acha?
— Uai, por mim beleza! — respondi, tirando os sapatos e o óculos de sol. — Pedrão manda bem na música — comentei. — Eu comprei lá as bebidas, aproveitei e comprei água porque a nossa já tá no fim. Daí mês que vem vocês compram, pode ser?
— Pode! — disse. — Era minha vez, aí a gente troca. — Concordei com a cabeça.
— Quem vocês vão chamar? — perguntei, deitando no colo da . — Porque eu não tenho nem ideia. Ainda mais em cima da hora assim.
— Vou chamar as meninas do futsal e umas amigas do meu curso — disse.
— Vai chamar seu namorado não? — perguntei, levantando a sobrancelha. Os dois tinham uma relação... complicada.
— Ah, tô pensando sobre — disse ela, debochada.
— Ó, isso vai dar ruim, amiga, presta atenção… — alertou. — Eu vou chamar meus amigos também.
— Em resumo, vamos todas chamar os amigues — disse, levantando pra pegar um pacote de biscoito. — Cobrar 5 reais só pra cobrir os custos e bora.
— Eu vou chamar ninguém não — falei. — Tô bolada com a galera, me largaram sem grupo outra vez. — Emburrei a cara.
— Esse povo só vacila com você, hein?! — disse, passando a mão no meu cabelo. — Coisa mais chata!
— Eu nem ligo mais, eles que se lasquem — falei, dando de ombros. — Bem que vocês podiam trocar de curso… — Pensei alto.
Nós morávamos juntas desde o nosso ano de calouras. e faziam bioquímica e a fazia educação física, eu fazia arquitetura. era aquele tipo de pessoa que era impossível não amar, super alto astral, sempre tinha algum conselho bom pra dar, e sempre tava on pra beber depois da aula! , para os íntimos, era uma pessoa controversa, com ela era 8 ou 80, ame-a ou deixe-a, mas eu amava. era a mais distraída de todas nós, sempre esquecia de algo, perdia aula porque dormia demais, esquecia dia de prova e tudo mais, mas ela era uma amiga de ouro, sempre ali pra dar um carinho. Nós quatro fizemos amizade muito rápido e, sempre que dava, estávamos juntas. Elas eram meu refúgio.
, me empresta aquele seu vestido de renda hoje? — perguntou. — Tô querendo dar uma causada.
— Empresto, amiga — disse, rindo. — Pode pegar lá no meu armário, mas devolve ele inteiro, viu? Sem selvageria!
— Até parece! — Ela fez uma cara afetada. — Sou uma anja! — completou, se levantou e foi pro meu quarto.
— Mas, hein, cê precisa se afastar dessa galera aí, . Povo mais tóxico — disse. — Eles sempre te largam de fora das coisas.
— Se eu me afastar, vou ficar isolada! — falei. — Não que eu vá me humilhar por eles, mas são os únicos que conversam comigo todo dia, acho que seria pior se ficasse sozinha sempre.
— Mas de que adianta eles ficarem com você só quando é conveniente pra eles, e quando você precisa, eles somem? — ela completou.
— Ah, , eu já sei como eles são, tô acostumada.
— Não devia! A gente não pode se acostumar a ser mal tratada! Toma rumo! — E deu um tapinha na minha testa me fazendo rir.
— Pode deixar — respondi. — Agora eu vou tomar um banho e me arrumar, tem muita coisa pra fazer hoje ainda! — Levantei do colo dela e fui me banhar.
Entrei debaixo do chuveiro e deixei a água quente me relaxar um pouco. Fiquei pensando sobre o que a tinha dito e sobre como ela estava certa, mas eu também tinha minha parcela de razão. Fiquei mórbida pensando na rejeição e afastei os pensamentos da minha mente, foquei na festa que iríamos dar e comecei a me animar. Depois de lavar meu corpo e meu cabelo, saí revigorada do chuveiro. Me sequei, coloquei uma roupa velhinha, penteei o cabelo e saí do banheiro.
As meninas já tinham começado a faxina. Ajudei a a tirar o “sofá” -- leia-se colchão e pallets — da sala e colocar no meu quarto. Depois começamos a fazer o gummy com aqueles ingredientes de qualidade duvidosa, mas ficou do jeito que a gente gostava, docinho e mortal. Lá pelas tantas, a moça do cigarro passou em casa e deixou a encomenda. Pedrão chegou logo depois e começou a preparar os seus apetrechos sonoros na mesa de jantar. e eu fizemos uma espécie de caipirinha de larga escala e posicionamos junto com os outros galões de gummy. Tudo pronto pra festa, fomos nos arrumar.
Fiquei conversando com Pedrão um tempo, para fazer sala e não largar ele sozinho lá, até as meninas terminarem de arrumar. Então fui para o quarto dar um jeito na aparência. Coloquei um short jeans, um top faixa branco, um kimono colorido e um chinelo. Sentei na escrivaninha pra fazer uma maquiagem básica quando vi que tinha uma ligação perdida no meu celular. Era do . Liguei de volta:
Alô?
— Oi, é a — falei. — Por que me ligou? Aconteceu alguma coisa? — perguntei.
Não, eu só queria discutir sobre o trabalho — falou do outro lado da linha.
— Você precisa perder essa mania de ligar pras pessoas — falei, colocando a ligação no viva-voz pra poder me maquiar. — Não é muito comum fazer isso aqui no Brasil.
Eu sei. Uma hora eu acostumo. — Deu uma risadinha. — Mas, e aí, aproveitando que já estamos conversando, o que você tá pensando?
— Sei lá, pensei em fazer daquele capítulo de Habitações sociais nos anos pós monarquia — respondi enquanto passava a base no rosto. — Mas não sei se dá pano pra manga.
Manga? O que tem a ver manga? — perguntou, confuso, e eu ri.
— É uma expressão, cara.
Ah, entendi! Mas eu gostei do tema — animou-se. — Quer vir aqui amanhã de manhã começar?
— Sem condições — cortei. — Inclusive, vamos dar uma festinha aqui em casa hoje, se quiser, pode vir. 5 dinheirinhos só — convidei.
Gostei da ideia, hein! Que horas começa? — perguntou.
— Ah, umas 21h, por aí — falei, terminando meu contorno. — Você sabe onde eu moro?
Sei não.
— Te mando a localização por Whatsapp então, qualquer coisa me manda mensagem.
Prometo que não vou ligar — brincou e eu ri. — Mais tarde eu apareço aí então! Até!
— Até. — Desliguei a ligação.
Terminei minha maquiagem, passei um perfuminho e fui para a sala encontrar o pessoal. me xingou por estar de chinelo, mas eu argumentei que eu estava dentro da minha própria casa e não ia calçar tênis (vocês não concordam comigo?), por fim ela se deu por vencida e parou de encher a paciência. Pedrão colocou um pancadão para tocar e dar uma animada nas anfitriãs. Ficamos ali dançando e conversando por um tempo até a galera começar a chegar.
A sala foi enchendo aos poucos. Estava dançando do lado do Pedrão quando meu celular vibrou.
“Tô na porta”, era
“Fala pra que eu que te chamei”, respondi.
“Okay”
Continuei dançando e bebendo até ele aparecer. Podia ter sido de boa, até que eu vejo o Paulo chegando junto com ele. Revirei os olhos. Revistei o local com os olhos até achar a .
Estava indo na direção dela quando segurou meu braço:
— Oi! Casa legal, hein? — falou, sorrindo.
— Obrigada — falei, meio seca. — As bebidas estão ao lado da porta. Sinta-se a vontade. — Apontei e saí pra falar com a .
— Chamou o intercambista, foi? — Ela já lançou a pergunta antes de eu falar qualquer coisa.
— Chamei, mas aquela bosta do Paulo veio junto. Não quero ele aqui — reclamei.
— Pede pro Pedrão pra tirar ele, uai — ela falou como se não fosse nada. — Fala que vai reembolsar todos os 5 reais dele, mas que ele não foi convidado, portanto, não vai poder ficar. — E continuou dançando tranquilamente. Não era só comigo que Paulo tinha problemas, era com a casa toda.
E como ela sugeriu, eu fiz. Fui e cochichei no ouvido do DJ o que estava rolando e pedi para que ele tirasse o cara do rolê. Ele concordou sem nem pestanejar, porque também não gostava do Paulo, e foi para perto do cara. Fiquei lá na mesa olhando a situação, com medo de dar escândalo, mas ele tinha colocado a música bem alta pra evitar isso. Era um DJ preparado, digamos. Consegui ver tentando argumentar, mas Pedrão foi incisivo e não voltou atrás. Por fim, ele escoltou o Paulo até a porta, explicou pra a situação, ela devolveu o dinheiro dele e fechou ele pra fora.
estava meio em choque, parado no meio da sala com uma cara de taxo. Pedrão voltou para onde eu estava e falou “Tudo certo, babaca expulso com sucesso”, eu ri e agradeci. Fiquei ali, dançando com ele por um tempinho, depois fui pegar uma bebida, pois meu copo havia esvaziado. Estava enchendo a caneca quando veio falar comigo.
— Por que expulsaram o cara assim? — questionou, meio bravo.
— Ninguém aqui de casa gosta dele, não era pra você ter chamado ele — falei, colocando gelo na bebida. — Convidado não tem convidado.
— Eu não sabia, qual é o problema com ele? Digo, o que rolou pra vocês não gostarem dele? — perguntou, enchendo o próprio copo.
— Tirando o fato de ele ser um completo babaca com todas as meninas que ele conhece, ele adora falar mal de mim pelas minhas costas. — Dei um gole no álcool. — Já brigou com o Pedro por conta de nada, e coisas do gênero.
— Não sabia disso — ele disse, espantado. — Ele nunca falou mal de você pra mim…
— Pra você né, anjo — falei, rolando os olhos. — Mas é basicamente isto a história.
— Desculpa pelo problema, eu não sabia — falou.
— Tá tranquilo, não foi 100% sua culpa. Só 90% — brinquei, e ele riu. — Vou te apresentar pras meninas, vem comigo. — Peguei ele pelo braço e fui apresentá-lo pras minhas amigas.
Apresentei ele pra elas, e pouco tempo depois, ele se enturmou com todo mundo e se soltou. Conversamos bastante na festa, dançamos e bebemos bastante. No final das contas, ele não deu conta de acompanhar o nosso pique e passou mal, colocamos ele no “sofá” no meu quarto, e continuamos na festa.
Quando todo mundo tinha ido embora, juntamos o lixo bem mais ou menos, trancamos tudo e fomos para nossos respectivos quartos. Quando entrei no meu, estava completamente desacordado, perda total. Coloquei um lençol por cima dele pra proteger dos pernilongos, catei meu pijama, fui ao banheiro me trocar e lavar o reboco da cara, voltei pro quarto, deitei na minha cama e apaguei.





Acordei no outro dia já eram quase uma da tarde. Olhei para o lado e me assustei com deitado no colchão no chão, havia esquecido completamente dele. Senti minha cabeça latejar fortemente, me levantei, prendi o cabelo do melhor jeito que deu e fui para a sala.
As meninas estavam sentadas na mesa, já que o sofá estava ocupado, com cara de morte assim como eu.
— Bom dia, anjas — falei com a voz toda estranha. — Ou boa tarde, sei lá.
— Quer um café, amiga? — perguntou, e eu assenti. — Ressaca braba, bicho.
— Nem fala — respondi, pegando a xícara que ela estendia pra mim. — Lembro de pouca coisa, gente. — começou a rir loucamente. — Ih, qual foi? Me conta.
— Você não lembra que a beijou o Pedrão?! — ela revelou, e eu engasguei com o café.
— Sério?! — Olhei embasbacada pra , que estava toda vermelha. — Como que eu esqueci disso?!
— E não só beijou né, princess?! — completou a zoação. — Ele tá dormindo lá no quarto dela!
— Choque de monstro! — exclamei. — Nunca imaginaria. — E comecei a rir.
— Acontece, gente! — falou, tentando limpar a barra dela. — Deu vontade, peguei mesmo!
— Tá certa, amiga, é só gastação! — falei, me sentando. — Pedrão é tudo para todas.
Peguei um pão de queijo e fiquei ouvindo elas contarem as fofocas da noite anterior. Depois de tomarmos café, levantamos e fomos limpar a sala. Como todo lugar depois de uma boa festa, a sala estava um nojo, o chão grudento de bebida derramada, alguns lixos perdidos que não foram recolhidos antes, a mesa das bebidas toda emporcalhada... um caos. Então pegamos nosso arsenal de limpeza e começamos a batalha. Ajudei a limpar o chão enquanto as outras lavavam os galões e limpavam os móveis sujos. Por fim, depois de muito esforço, tudo estava limpo. Faltava só voltar com o sofá para o lugar, mas ele estava ocupado.
Fui ao meu quarto ver se tinha acordado e o encontrei no exato momento que abriu os olhos. Com os cabelos totalmente desgrenhados e a cara amassada, ele olhou para os lados, confuso, passou a mão na cabeça, aparentemente sentindo os efeitos do álcool da noite anterior. Demorou pra ligar o cérebro, mas, quando o fez, me achou parada na porta.
— Nossa, mas o que rolou? — ele perguntou.
— O senhor bebeu demais e deu teto preto — falei, rindo da cara dele. — Aí colocamos você aí pra dormir.
— Jesus, eu não lembro de quase nada. — ele falou, balançando a cabeça. — Eu fiz alguma merda?
— Merda não, mas aprendeu a fazer o quadradinho — falei, rindo, e ele riu de volta.
— Que cena, posso até imaginar…
— Levanta aí, preciso do sofá — falei.
— Isso é seu sofá? — ele disse, rindo. — Criativo.
— Econômico, eu diria — respondi. — Vem, tem café e pão de queijo lá na cozinha.
Ele se levantou, ajeitou a roupa como pôde, calçou o tênis e foi até a cozinha comigo. O deixei lá comendo e fui pegar o sofá. Colocamos tudo no lugar e fui arrumar o meu quarto, que tava uma bagunça também. Dobrei as cobertas, que de nada serviam num calor daqueles, ajeitei a cama, guardei as maquiagens que estavam espalhadas pela escrivaninha, completamente misturadas com meus materiais de aula. Por fim, resolvi trocar de roupa. Fechei a porta, peguei um short de moletom e uma regatinha simples e comecei a me vestir. Quando já estava terminando de vestir a blusa, ouvi:
— NOSSA, DESCULPA! — E a porta fechando rapidamente.
Não tinha entendido nada, terminei de colocar a blusa e saí. Achei parado na frente da porta parecendo uma acerola de tão vermelho.
— Eu devia ter batido! Desculpa! — ele disse, apavorado.
— Fica tranquilo, cara, eu tava de costas e quase toda vestida já. Você viu o quê? A parte de trás do meu sutiã? — falei, acalmando-o. — Né possível, que viu mais?
— Não, nada mais! — ele disse. — Nossa, segunda bola fora em menos de 24 horas.
— Mais uma e pode pedir música no fantástico — brinquei, e ele riu sem jeito. — Comeu? — perguntei, e ele assentiu
— Acho que vou pra casa, preciso de um banho — disse, torcendo o nariz. — Depois a gente se fala, beleza?
— Beleza — falei. — Te levo lá fora.
Levei ele até a porta, trocamos mais meia dúzia de palavras, ele me abraçou e foi embora.
Passei o resto do dia morta na ressaca e gastando o mais novo casal da casa: e Pedrão.
Preciso explicar para vocês o que era o Pedro. Era um cara sensacional! Ele já estava na faculdade quando nós entramos, e provavelmente sairia depois de todas nós, mas desde que nos conhecemos, ele virou quase um agregado da nossa república. Ele era um cara alto — bem alto —, magro, cabelos cacheados na altura dos ombros, pele sempre queimada de sol, e uma barbichinha sem muita imponência adornava seu rosto fino. Era aquele tipo de pessoa que matava aula para ir fumar na beirada da piscina, enquanto tocava um violãozinho, que sempre tinha um questionamento aleatório na cabeça, e sempre rendia um bom papo. Ele e eram um casal um tanto... impensável.
Naquele dia, nenhum de nós prestou para absolutamente nada. O jantar foi delivery e cigarro. Não tínhamos condições de fazer qualquer coisa além disso.

No dia seguinte, acordei melhor das pernas. Levantei, fui ao banheiro, lavei meu rosto, e fui lanchar. As meninas, e o Pedro, ainda estavam dormindo, então comi sozinha. Fiz aquele cafézinho coado bem forte para dar um ânimo, um pãozinho com manteiga e uma bananinha, para arrematar. Depois de me alimentar, senti um pouco de saudades de casa, da minha mãe e da comida dela, resolvi então fazer uma das suas receitas mais icônicas para o almoço: Lasanha de carne moída! Dei uma olhada nos armários, mas não tínhamos nada para fazer o prato, então resolvi ir ao supermercado comprar.
Voltei ao meu quarto, arrumei a cama, vesti um short jeans, uma camisa larga, calcei um chinelo, prendi o cabelo num rabo de cavalo alto, peguei minhas coisas e saí de casa. Cheguei no mercado, peguei um carrinho e fui andando sem rumo. Adorava fazer mercado. Já tinha pegado algumas coisas quando encontrei o Paulo. Ele me olhou de cima a baixo e torceu o nariz. — Por que me expulsou? — Por que não expulsaria? — retruquei, sem paciência. — Sei nem pra que você foi, não gosta de ninguém que mora lá e sabe que a gente não gosta de você. — E tenho razão de não gostar, não é? — falou, desgostoso, e foi embora. Em pleno domingo de manhã e eu tinha que encontrar com aquele mau agouro. Balancei a cabeça e continuei minhas compras. Resolvi fazer uma musse de maracujá de sobremesa, aproveitei e comprei algumas coisas que eu precisava também.
Terminei minha tarefa, paguei e rumei para a minha casa. O sol ainda estava quente, muito quente, apesar de ser de manhã, e, a cada passo, aumentava a minha preguiça. Por fim, venci o meu caminho. Cheguei em casa, coloquei as compras em seus devidos lugares e voltei pro meu quarto.
Abri a janela, arrumei a cama, acendi um cigarro, me sentei na cama e resolvi mandar mensagem para .

Bom dia, princesa da Disney

Mandei e esperei a resposta, até que senti o celular vibrar.

Bom dia, senhorita

Bom saber que está vivo hahaha


Depende do ponto de vista, sabe? Hahaha

Quer vir aqui mexer no trabalho hoje?


Nós precisávamos começar esse troço.

Pode ser depois do almoço? Acordei quase agora

Uai, pode. Quando se tiver a fim de vir, me avisa

Tranquilo então

Encontrei seu amigo hoje

Que amigo?

Paulo


Ih, e aí? O que rolou?

Nada demais, ele só foi o babaca que ele sempre foi. Tudo dentro do normal

Depois eu vou querer saber dessa história de vocês melhor

“História de vocês” parece até que a gente namorava. Credo

Realmente hahahaha imagino que seja a última coisa na sua to do list”

Não é como se eu tivesse uma
Vamos fazer uma hoje então.O que fazer antes de se formar

Ih, maluco, sai fora.


Hahaha, consigo te ouvir falando isso. Vou tomar banho, depois a gente se fala”

OK
Ainda era relativamente cedo, então sentei na escrivaninha e comecei a estudar sobre o trabalho, fiz algumas marcações e anotações que achei que seriam relevantes pra discussão, depois fui fazer o almoço. A essa altura, as meninas já tinham acordado, então fizemos tudo juntas. Quando ficou pronto, sentamo-nos à mesa como uma boa família tradicional brasileira que éramos, e atacamos a comida.
— Nossa, , isso aqui tá muito bom! — falou.
— Tá mesmo! — concordou.
— Receita da minha mãe — falei. — Deu uma saudade da comida dela hoje, aí resolvi fazer.
— Nossa, que você se sinta tão inspirada assim mais vezes! — comentou. — Brilhou, princesa!
— A chef aqui agradece! — falei, brincando.
Terminamos de comer, limpamos tudo e deitamos na sala pra conversar. Conversa vai, conversa vem, eis que a solta:
— Você não sabe o que o Paulo falou de você, ! — Já revirei os olhos só de imaginar
— O quê? — perguntei
— Eu tô só repassando a fofoca, porque obviamente ele não veio falar comigo — ela explicou. — Mas, me disseram que ele andou espalhando por aí que você é uma escrota, que não sabe aceitar brincadeira e que expulsou ele da festa a troco de nada, mandou o segurança agredir ele e tudo mais.
— Ele adora me chamar de escrota — falei. — Acho que um escroto reconhece o outro…
— E parece pescador aumentando a história, credo — comentou.
— Imagina nossa festa com segurança e tudo, achei chique — debochei.
— Vou colocar essa atribuição no meu currículo — Pedrão brincou.
— Que cara mais chato, meu Deus — falou. — Ele deve te amar muito pra gastar tanto tempo da vida dele tentando te difamar.
— Não é como se isso fosse afetar a minha vida de alguma forma — falei —, afinal de contas, ninguém naquele departamento gosta de mim.
— Só o intercambista.
— Ah, tem ele, mas eu nem me iludo — falei, dando de ombros. — Ele é gente boa e tals, mas logo, logo ele volta pra bolha dele, onde o Paulo tá bem instalado.
— Que péssimas amizades esse cara tem, nossa — disse, e eu assenti. — Mas mudando de assunto, porque não quero gastar meu tempo com esse babaca do Paulo, e você e o Pedro, ? -- E aí o assunto rendeu pra outros lados.
ia sair com o namorado e as outras ficaram com sono, portanto nos separamos e fomos para os nossos quartos. Liguei para a minha mãe, ficamos fofocando por algum tempo para matar a saudade e depois desliguei. Acabei cochilando depois disso, e acordei com a campainha tocando.
Levantei no susto e fui atender, toda amassada e desgrenhada. Abri a porta e dei de cara com .
— Isso é hora de dormir, madame? — debochou
— Não enche, cara — resmunguei. — Entra — falei e dei espaço para que ele passasse. — Bora lá pro meu quarto. — E fomos.
Ele se sentou na cama, abriu o notebook, pegou a xerox e suas anotações e ficou olhando pra minha cara, eu estava parada no batente da porta, esperando ele terminar tudo.
— Que foi? — perguntou
— Tô sem saco pra trabalho hoje — reclamei. — Vou pegar um café e já volto. — Peguei minha xerox com as anotações e dei pra ele. — Dá uma olhada aí por enquanto. — Saí e fui pra cozinha.
Peguei a garrafa de café, duas xícaras, um pacote de biscoito e voltei pro quarto.
— Eita, banquete — brincou.
— A gente vai demorar pra acabar, vim prevenida — falei, colocando as coisas na mesa. — Esse assunto vai render, eu acho. — Servi café para nós dois, entreguei uma xícara pra ele e me sentei na cadeira. — E aí, o que achou das minhas ideias?



Depois de ficarmos boas horas discutindo o tema do trabalho, destacando os pontos que queríamos abordar, montando slides e tudo mais, eu disse:
— Ai, cansei, . — Me desmontei na cadeira.
— Pode me chamar de — ele disse, e eu assenti. — E eu cansei também. Acho que já desenvolvemos bastante coisa por hoje.
— Verdade, até bebemos o resto do café! — falei, balançando a garrafa vazia. — Se a gente não for bem nesse trabalho, vou ficar bem brava — comentei, me levantando e alongando a coluna.
Minha lombar ardia de ter ficado tanto tempo sentada naquela cadeira, minha má postura cobrava seus preços nesses momentos. Alonguei os braços e meus ossos estalaram. também se levantou, alongou o pescoço e esticou as pernas. Ele desligou seu computador e começou a guardar suas coisas, enquanto isso eu peguei um cigarro e fui pra janela fumar. Eu sabia que faz mal pra saúde, mas não ligava muito.
— Sabe, o Paulo falou umas paradas bem chatas de você ontem — disse, terminando de guardar tudo.
— Nenhuma novidade até aqui — falei, olhando pra fora.
— Você tinha razão, ele é um babaca — ele disse, balançando a cabeça. — Eu gosto dele, mas depois que você comentou da briga, eu me atentei mais.
— Muita mentirada — pontuei. — Tem gente que tem duas caras, e você só conhecia uma das dele.
Ele concordou com a cabeça, andou até a janela, se apoiou no peitoril e deu uma respirada funda. Depois olhou pra mim e, com um gesto, pediu um trago do cigarro. Me assustei, pois não sabia que ele fumava, mas entreguei o paiero para ele. tragou e pouco depois expeliu a fumaça branca.
— Não sabia que você fumava —comentei, levantando a sobrancelha.
— Só de vez em quando — respondeu, me devolvendo o cigarro. — Deu vontade.
— Normal — falei. — É assim que começa… — debochei e ele riu.
Um dos pontos destacáveis de se morar em Minas Gerais eram os morros. Apesar de cansar muito pra subir os dito cujos, do topo se tem uma boa vista algumas vezes. Nossa casa ficava em uma colina relativamente alta da cidade, bem no final, então, da minha janela, dava pra ver o horizonte longe e todo o Skyline da cidade praticamente. Nesse dia em específico, o pôr do sol tomou um tom alaranjado maravilhoso. Por isso, ficamos durante um tempo observando o sol descer o seu caminho e fumando, apenas, em silêncio.
, eu tô com fome — disse subitamente e eu ri. — Tá rindo de quê?
— De como esse comentário foi aleatório! — Apaguei o cigarro no cinzeiro. — Olha, tem um resto de almoço na geladeira, se você quiser.
— Ah, nem. — Torceu o nariz. — Queria outra coisa.
— Tipo…?
— Pizza!
— Tem uma pizzaria no final da rua, não é das melhores pizzas do mundo, mas é boa — falei.
— Vamos lá?! — perguntou, animado.
— Vamos, uai — respondi. — Só preciso arrumar essa bagunça antes — completei e ele assentiu.
Peguei as xícaras, a garrafa de café e o pote onde estavam os biscoitos, levei tudo pra cozinha. Estava meio bagunçada, mas eu não estava com pique, nem tempo, pra arrumar, então só lavei o que a gente tinha sujado e voltei pro quarto. estava empoleirado na janela mexendo no celular.
Tirei os chinelos, catei uma sapatilha de dentro do guarda-roupa, peguei minha carteira e uma bolsa. Dei uma arrumada bem porca na minha mesa, apenas empilhei os papéis, tirei alguns lixinhos e fechei o notebook.
— Tô pronta — avisei.
— Então vamos! — falou, se desencostando da parede e pegando sua mochila.
Saímos da minha casa e fomos descendo a ladeira. Apesar de não estar de dia, o calor ainda maltratava, mas, por sorte, uma brisa fresca passava por nós. Acabamos por voltar a falar do trabalho enquanto caminhávamos, pontuando algumas coisas que haviam passado despercebidas, e reclamando do prazo que a professora havia nos dado — esse segundo tópico tomou o maior tempo. Por fim, chegamos à pizzaria.
Era um restaurante pequeno, mas charmosinho. As paredes eram revestidas até a metade de pedras, e o restante pintadas de um bege reconfortante. As mesinhas eram de madeira roliça e todas tinham um forrinho xadrez no topo. O cheiro de pizza era apenas perfeito. Principalmente pra quem estava com fome, como nós estávamos.
Por causa do calor, escolhemos uma mesa que ficava na parte de fora do lugar, aproveitando a brisa que ainda corria. Sentamo-nos e logo o garçom veio colher nossos pedidos. Pedimos dois chopps e uma pizza pequena.
— Tudo o que eu precisava depois de horas sentado era um chopp bem geladinho — ele disse.
— Falou e disse! — concordei, sorrindo para o garçom que vinha com as duas canecas. — Saúde!
— Saúde! — completou e brindamos antes de darmos uma boa golada em nossos copos.
— Trincando! Assim que é bom — falei, lambendo a espuma dos lábios. — Mas, hein, me fala, todos os seus amigos são babacas igual ao Paulo ou não? — brinquei, e ele riu.
— Poxa, cara, eu nem tinha percebido o quanto ele era babaca. Vou falar com ele sobre isso.
— Ih, nem estressa! Falei brincando, aquele lá não tem solução.
— Não, cara! Ele não pode continuar falando essas merdas de você e de outras pessoas por aí.
— Cão que ladra não morde, . Não precisa se preocupar — falei e dei um gole na minha bebida. — Além do mais, não é como se eu tivesse uma reputação pra zelar.
— Todos têm uma reputação.
— A minha é de esquisita. — Dei uma risada amarela. — Paciência.
— Eu não te acho esquisita, você é meio quieta, mas não é esquisita. — Dessa vez, foi ele quem bebeu. — Mas, de qualquer forma, ele não pode falar essas coisas assim. — Deu uma coçadinha no queixo. — Mudando completamente de assunto, tenho uma pergunta que quero te fazer tem um bom tempo.
— Ah, tem? — Levantei a sobrancelha, indagando-o.
— Tenho. — Deu um risinho debochado. — Eu te conheço desde sempre como . Qual é o seu nome real? ? — ele perguntou, e eu comecei a rir. — Por que tá rindo?
— Você nunca parou pra ler a folha de chamada, ? — Ele negou com a cabeça. — Ai, ai, mas meu nome não é ! É .
é tipo a capa do seu nome! — Eu olhei pra ele sem entender a referência. — Capa, ! Que cobre.
— Tipo a do Drácula? — perguntei, rindo.
— Isso! — exclamou e riu. — de Bram Stocker. — E fez sinal de presas com os dedos na frente da boca, me fazendo gargalhar.
— Ai, cara, você não existe! — falei, ainda rindo.
Ficamos bastante tempo ali, comendo, bebendo e jogando conversa fora. ficou em choque quando descobriu que meu sobrenome era , segundo ele, era algo inimaginável. Ele me contou sobre como foi o choque cultural dele quando chegou no Brasil e sobre como, até hoje, se embolava com as expressões e gírias. Depois que comemos e bebemos bastante, me acompanhou até a porta de casa, apesar de eu insistir que não precisava, afinal eu já estava na minha rua, mas ele argumentou que não era seguro deixar andando sozinhas durante a noite, pois elas poderiam atacar um humano com seus poderes de vampiro. Não consegui contra-argumentar.
Depois de chegar em casa, tomei um banho gostoso, escovei meus dentinhos e fui me deitar.



Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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