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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 19/07/2024
O Homem-Aranha já não era mais o mesmo.
Não era mais o garoto cujos olhos brilhavam encantados encontrando grandeza na vida. Não era mais aquele jovem folgazão cheio de sonhos, que lutava e almejava se tornar um símbolo de esperança para o sofrido povo da impessoal e fria cidade de Nova York.
O tempo dava seus sinais nele, os últimos oito anos não foram o que se pode chamar de gentis. Não pela lombar travada, ou pelos fios da barba mal feita crescendo constantemente e pinicando sob a máscara, nem sequer pelas inúmeras cicatrizes que colecionava por debaixo do traje, não.
Mais velho, mais pragmático, mais atordoado; diferente em todos os sentidos que se pode aplicar à palavra.
Há oito anos, tornara-se, oficialmente, o inimigo número um da cidade de Nova York. O uniforme, antes símbolo de esperança, pareceu se incumbir de um vermelho intenso, furioso, impetuoso, sangrento.
O Homem-Aranha não era mais o mesmo. Não desde o fatídico dia em que matou Harry Osborn.
A polícia não foi capaz de descobrir o motivo, ou, talvez, não tivessem se esforçado tanto. Era fácil ter um vilão, alguém a quem odiar, a quem direcionar toda a culpa.
E foi fácil. Em um curto período, todos já se convenceram a odiá-lo; os que eram neutros a ele, tomaram finalmente uma posição, os que já desgostavam dele — como J.J. Jameson —, tiveram cada vez mais alcance para dissipar seus pensamentos e fazer campanha contra o mascarado.
Concomitantemente, o Homem-Aranha passou a ficar mais violento, cruel, vil. Como se respondesse aos desejos da mídia, sedenta por relatar sempre a síncope de caráter do ex-amigão da vizinhança, e, logicamente, lucrar muito em cima disso.
Não que fosse inocente, longe disso. Mas quanto mais torciam e vibravam para sua queda, menos ele segurava seus socos. Mais criminosos se tornavam vítimas, e, com sequelas incorrigíveis, comas e paraplegias, menos seus crimes importavam. E menos o Homem-Aranha se parecia com um herói.
O povo nova-iorquino sentia medo. Medo do homem que costumava ser seu símbolo de esperança. A máscara, antes signo de inspiração, impessoal, transformava-o em algo menos que humano, indigno de compaixão. Ele era um monstro.
Um assassino. Era tudo o que viam no uniforme agora.
E Peter Parker, o homem por trás do traje vermelho e azul, sentia-se cada vez mais sozinho.
Já não tinha motivação suficiente para sua vida comum, também. Após uma perda dilaceradora, refugiou-se na máscara. Preferia estar balançando pelas teias entre os edifícios num frio cortante que voltar para seu apartamento excruciantemente vazio.
Então, ser o Peter Parker tornava-se uma parte cada vez menor de sua rotina. Ele evitava ao máximo, dizia para si mesmo não ter tempo para as “coisas de Peter”.
Largara o promissor estágio que havia conseguido com o doutor Otto Octavios poucos meses depois de começar; largara a faculdade de seus sonhos. Mudara-se para um deprimente apartamento caindo aos pedaços e pagava seu aluguel com o dinheiro que fazia vendendo fotos do Homem-Aranha para veículos como o Clarim Diário, contribuindo em primeira mão para os ataques públicos contra si mesmo.
E sabia que, nem tão no fundo assim, achava que merecia todas aquelas manchetes. Era, também, uma forma de punir a si mesmo.
Contava nos dedos quantas vezes por mês tinha contato com sua tia May, não por falta de tentativas da parte da mulher. Peter achava que a protegeria assim, ficando longe do monstro.
Às vezes, pensava em desistir de tudo; se o odiavam tanto, que se virassem sozinhos, certo? Contudo, infelizmente, sabia bem que assim que saísse de cena, as coisas piorariam, a polícia não era páreo para os criminosos do calibre que ele enfrentava. Podiam abominá-lo, mas sem ele, estariam em mãos muito piores.
Era sua maldição: com grandes poderes, vinham grandes responsabilidades. Como seu tio Ben lhe disse uma vez.
Mas estava já cansado de conter seus poderes, cansado de carregar em suas costas o peso de uma responsabilidade tão esmagadora. Quando enfrentava um desses imbecis, garantia-se de que não levantassem para tentar outra vez.
Porque não existem segundas chances. Ou você fazia, ou não fazia. Se ele não foi agraciado com o milagre de uma segunda tentativa, seus inimigos não seriam.
Sendo assim, enquanto um deles não for bom o suficiente para matá-lo de primeira, não terá a sorte de se levantar e tentar de novo.
Peter Parker não era mais o mesmo. Não desde o dia em que Harry Osborn matou Gwen Stacy, o amor de sua vida.
(...)
Parte Um: Everlasting Blue

“Oi, sou eu... Peter. Esta tarde, passei em frente àquele restaurante japonês que você gostava. Se eu tivesse algum dinheiro sobrando, teria comido lá. Mas a quem estou enganando? Até hoje não saberia olhar o cardápio e pedir algo dentre aqueles nomes parecidos. Você que fazia isso, e eu acabava gostando do que você escolhia. Sempre ficava tudo bem, no fim das contas.
... Acha que isso pode acontecer, ainda? Digo, as coisas darem certo no final. Estou tendo dificuldade para acreditar nisso, ultimamente.
Eu costumava confiar que o bem sempre segue o mau, que as coisas podem mesmo ficar ruins antes de melhorarem, mas não sei mais.
Quer dizer, eu queria que as coisas melhorassem, não necessariamente muito, mas eu não me queixaria se isso acontecesse, é claro... Quando vejo o rumo que minha vida tomou, eu não... (suspiro). Hum, o ponto é que elas só têm sido ruins.
...
A tia May me ligou de novo, ela segue preocupada comigo, depois de todos esses anos. Tenta me aconselhar, dizer que eu preciso seguir em frente, que me ver assim não é o que você ia querer.
E eu ri. Nem sei se foi de escarnio ou o quê, espero que a May não tenha levado a mal, é só que... Sei lá.
São aquelas coisas que todos dizem: “a vida não para, não se prenda ao passado”, como se eu fosse te esquecer. Eu não vou.
Não vou esquecer o jeito que você ria, a forma que sua franja caia pelos olhos quando crescia, o som gracioso da sua risada ou o jeito que você tocava a pontinha do nariz quando estava com alergia. (risos).
...
Tá bem, preciso te contar sobre o meu dia.
Começou como um erro.”



Continua...


Nota da autora: Oi, aqui é a Zuila! Esta fic está nos meus rascunhos há anos, desde que assisti Sem Volta Para Casa, e agora fui coagida a postar. Literalmente veio de 01 fala do Peter do Andrew que eu estou milkando hahaha Se pedirem, eu continuo 💜
E se você gostou de Spider-man: Lilac, sabe do que mais você vai gostar também? Minha outra fanfic Until The End. Tem a mesma temática (marvel, luto, romance e drama). Por uma vez mais, aqui foi Zuila escrevendo uma atualização sob a luz da lua ☾⋆

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