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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: Julho/2024.

Eu não entendia como alguém gostava tanto de uma festa, mas gostava. Tudo para ele era motivo para festejar. Tudo mesmo. Vizinho novo. Festa. Time favorito ganhou. Festa. Notas boas no final do bimestre. Festa. O tempo está bom. Festa! O cara simplesmente pegava o dinheiro dele, comprava bebida e chamava geral. Não que eu estivesse reclamando. Adorava ir às festas que ele dava, até porque se não gostasse eu estaria muito ferrado, pois minha presença era indispensável quando éramos melhores amigos e porque morávamos juntos. De qualquer forma, lá estava eu, em mais uma festa do . Celebrando o quê? O solstício de verão. Isso mesmo. Louco, mas também tinha sido o final das aulas e estávamos oficialmente de férias. Não tinha nada com que nos preocuparmos a não ser se no dia seguinte faria sol ou não. É, realmente o dia estava bom para uma festa. O ar quente estava demais para ficarmos dentro de casa apenas tomando cerveja enquanto víamos alguma série na Netflix.

Passei a mão em meu cabelo, sentindo que estava começando a ficar com calor com aquele tanto de gente. O ar e ventiladores espalhados por todos os lados não estava dando vazão, então caminhei até o lado de fora da casa, a fim de entrar na piscina já que tinha várias pessoas lá dentro. Senti um braço passando em volta do meu pescoço e olhei para o lado, vendo ali com um baita sorrisão. Ele me estendeu uma garrafa de cerveja que peguei logo e dei um belo gole, pelo menos estava gelado.

deve estar chegando. Ele teve que ir buscar o irmão dele no aeroporto, acho que ele vai passar o verão aqui — comentou comigo, como se eu estivesse procurando , nosso amigo.

— Não sabia que o irmão dele viria para os EUA. sempre vai para a França passar o verão com ele — falei, achando aquilo estranho.

Não conhecia o cara, só tinha ouvido rumores ou o pouco que contava sobre ele. dizia que os pais o mandaram morar com a avó alegando que a velha precisava de cuidados especiais. Só que o que diziam era algo totalmente diferente, as pessoas alegaram que eles tiveram que ser separados porque chegaram a se pegar freneticamente e os pais descobriram. Eu duvidava bastante que fosse fazer isso com seu irmão, eu o conhecia o suficiente para saber que nunca faria isso, além de ser nojento e loucura demais. Outros falavam que o problema em si era que eles faziam tanta merda quando se juntavam que os pais não aguentaram ter que pagar para os outros ficarem de bico fechado. Escutava também que ele tinha traficado há um tempo e teve que fugir quando acabou devendo aos caras com quem comprava as drogas. As pessoas ousavam até mesmo falar que ele era um sugar baby e tinha achado um velho que o bancasse na Europa. Mas o que assombrava o nome dele e o que todos falavam além de todas as histórias, era que ele tinha matado o babaca do ex-namorado, golpe único na cabeça com um martelo, então havia o ajudado a esconder o corpo. Este nunca foi encontrado, nem a arma do crime, mas ele teve que ir embora depois. De qualquer forma, seu nome era , ele estava de volta e eu não fazia ideia de quem era o cara, porque quando cheguei à cidade, ele já tinha ido embora. o conheceu, cresceu junto deles e nem ele ousava falar nada, mantinha a versão de . Para ser sincero, não o queria conhecer, porque, independente do que tinha feito, ele carregava encrenca nas costas e eu detestava esses tipos de pessoas.

— É, mas parece que ele está vindo e trazendo a velha junto. Saudades da família, qualquer coisa assim. — Pegou a garrafa e bebeu um pouco. — O é foda, sinto saudades a maior parte do tempo. Você vai gostar dele.

— Ih, era afim dele? — Tirei a cerveja da sua mão, dando um sorriso e dando um gole na bebida. — Mas duvido muito que eu vá gostar.

— Uma época eu queria beijá-lo, mas depois passou. — Deu de ombros. — Hoje em dia, meu foco é outro. — Ergueu o queixo em direção a , minha prima, que estava dentro da piscina com , minha melhor amiga. Dei uma cotovelada de leve em sua costela para ficar atento. — Do que você está falando? Nem o conhece.

— Tira o olho da . — apenas riu e isso me fez revirar os olhos totalmente. Ele podia ser meu melhor amigo, mas sabia o que fazia com as pessoas, por isso que não queria ele perto da minha prima. — Você sabe do que estou falando. — Ouvi ele estalando a língua no céu da boca.

— Não tenho culpa se sua prima é a garota mais interessante da cidade. — Dei o dedo do meio para e o ridículo apenas gargalhou. — Não, não sei do que você está falando, . — Agora meu amigo me olhava levemente irritado, então fingi não notar.

— Rumores.

— Você é um babaca por achar que qualquer uma dessas palhaçadas é real. — Me soltou com certa brutalidade.

— Ah, tanto faz, . Só não acho que vou gostar de um cara que nem a família a quer por perto — rebati, o que era verdade.

Independente dos rumores serem verdadeiros ou não, não voltava para casa tinha anos, isso queria dizer que não o queriam ali, era algo bem óbvio, então logo não era alguém que deveria prestar. Certo como dois mais dois eram quatro.

me encarava irritado e eu apenas me lixei para isso. Ele podia ficar com a cara que quisesse, mas sabia que eu não estava mentindo. Então me virei e saí andando, passando pelo meio da galera e indo para a cozinha pegar algo para beber.

Quando cheguei, abri a geladeira e vi umas garrafas com uns drinks já prontos. Peguei uma rosa, pela cor parecia bom. Coloquei em um copo e dei uma golada enorme, mas cuspi em seguida dentro da pia, sentindo o gosto horrível na boca. Não sabia que bosta era aquela, mas tinha um gosto amargo e parecia remédio, do tipo de xarope de morango que te davam para beber à força quando criança. Tomei uma cerveja que estava ali do lado, na esperança de tirar o gosto horrível da boca, mas não adiantou. Eu precisava escovar os dentes e ficar com o enxaguante bucal durante uma meia hora na boca para ver se aquele gosto horrível saía de minha língua.

Subi as escadas e entrei no banheiro, peguei minha escova e enchi de pasta. Comecei a escovar meus dentes e a esfregar minha língua, até que alguém abriu a porta em um rompante, me fazendo arregalar os olhos e me virar. Um garoto com uma camisa preta com estampas de girassol entrou, já abaixando sua bermuda jeans preta juntamente à cueca, correndo em direção ao vaso e se sentando nele, até que me olhou.

— Foi mal. Eu não sabia que estava ocupado, a porta estava aberta e eu estava muito apertado — disse, enquanto nós dois ouvíamos ele fazendo xixi. Aquilo era sério? — Já estou acabando — avisou, como se estivesse comendo um pedaço de bolo.

Continuei olhando para ele, vendo seus olhos extremamente claros me encararem de volta. Sentia que conhecia aqueles olhos de algum lugar, mas não fazia ideia de onde. Seu cabelo escuro estava preso em um coque em cima de sua cabeça e tinha fios soltos para todos os lados. Não sabia se era proposital, mas tinha ficado bonito, lhe dava um charme. Meu olhar desceu, vendo suas unhas pintadas de amarelo. Aquilo me fez erguer uma sobrancelha de leve, não estava acostumado a ver caras de unhas pintadas, mas até que tinha ficado bonito nele.

— Terra chamando menino da escova de dentes, com pasta babando no canto da boca. — Ele sacudiu os braços, me fazendo piscar algumas vezes, percebendo que estava falando comigo. — Opa, voltou. — Ele sorriu, e achei bonito. — Não que eu me importe muito, mas você está olhando demais e eu preciso me levantar para sair daqui e te deixar acabar de escovar os dentes, então vira para lá rapidinho, por favor. — Abanou a mão no ar, indicando que eu deveria olhar para o outro lado.

Me virei, encarando meu reflexo no espelho e vi que a pasta tinha pingado em minha camisa. Ótimo, agora teria que trocar. Cuspi na pia e enxaguei minha boca, sentindo que estava queimando por conta do tempo que fiquei com aquela porcaria, mas pelo menos o gosto tinha ido embora. Ainda assim, usei um enxaguante bucal e peguei a toalha para secar meu rosto.

— Ih, sujou de pasta. Deixa eu limpar antes que manche. — O garoto apontou para meu peito e pegou a toalha de rosto que estava em minha mão, então a molhou um pouco e começou a esfregar onde estava sujo. — Licença aí. — Então enfiou a mão por debaixo de minha camisa e colocou sua palma onde estava o sujo.

Fiquei olhando com atenção o que fazia, parecia que já tinha feito aquilo muitas vezes, o que era engraçado em pensar. Ele esfregava com mais força e molhava um pouco mais a toalha, até que saiu tudo. Tirou a mão dali e senti o tecido gelado se colar contra meu peito. O cara pegou o secador que estava pendurado na lateral do armário e colocou a toalha por debaixo da minha blusa, então começou a secar com o jato quente. Pensei em falar que não precisava, mas deixei, porque eu tinha gostado e achado fofo como estava se preocupando em me ajudar. Certamente não tinha ideia de que eu era dono da casa e que meu armário estava lotado de camisas bem do outro lado do corredor. Ele tinha um sorrisinho bonitinho enquanto fazia aquilo tudo, criando covinhas em suas bochechas. Percebi que as unhas da outra mão estavam pintadas de preto com perfeição e ele não se importava de que seu esforço fosse estragá-las, o que dizia que estava apenas ligando em me ajudar, independente de qualquer coisa. Também reparei nos anéis que estavam em seus dedos, eram vários e todos muito bonitos, assim como suas pulseiras e colares, algo diferente do que eu costumava ver e lidar. Uni as sobrancelhas em questionamento de quem era aquele garoto. Não era nenhum dos caras que costumava chamar, ou algum dos amigos de ou . Ele tinha um estilo diferente dos garotos que eu conhecia.

Alguém bateu à porta do banheiro, fazendo nós dois levarmos um susto, ele certamente por estar concentrado em secar minha camisa e eu por estar focado olhando seus detalhes. Encaramos juntos a porta, que já foi se abrindo e uma cabeça apareceu para olhar o que estava acontecendo. Era e ele uniu as sobrancelhas, como se estivesse tentando entender o que estava havendo ali.

— Por um momento, pensei mesmo que você tinha lavado o cabelo na pia e estava secando agora — ele falou com o cara, que riu e virou o secador de cabelo em sua direção. — Não faz. — Escondeu o rosto e nos olhou de novo depois. — Já conheceu meu irmão, ?

— Seu... — encarei o garoto à minha frente, que agora desligava o secador e passava a mão em meu peito — irmão?

— Está seco. — Ele sorriu para mim com seus olhos se fechando quando fez aquilo.

— Ih, pronto. Se apaixonou por uma alisada no peito. Está de parabéns, . Esse é seu novo recorde. — Eles riram e eu ainda o encarava, tentando achar o assassino de ex-namorados.

— Não seja idiota, . Ele não se apaixonou por isso e sim quando mijei na frente dele. — Ele fez uma careta, rindo em seguida.

— Você é nojento. Certamente, o traumatizou. , já tinha visto um garoto mijando? — perguntou, me fazendo encará-lo no mesmo instante, com as sobrancelhas unidas.

— Como se ele tivesse me dado muita escolha — respondi, tentando voltar ao normal.

— Mas você tinha e ainda ficou me olhando com cara de pateta. A porta estava aberta, meu amor. Era só sair. — Ele deu de ombros e saiu andando, pegando a mão de seu irmão e o puxando. — Seu amigo é estranho. — Ainda consegui ouvir mesmo que tivessem saído do banheiro.

Agora eu quem era o estranho ali. O garoto entrou no banheiro sem bater, já abaixando a bermuda, fez xixi na minha frente como se eu nem estivesse ali e depois eu quem sou o estranho da história. Ah, francamente. Precisava ter paciência, isso sim. Talvez ele fosse mesmo o louco que dava marteladas na cabeça dos outros, sua aparência não queria dizer nada. De qualquer forma, era melhor manter distância. Não queria me envolver em problemas. Até mesmo pensei em não descer de novo para a festa, mas eu seria um idiota enorme se fizesse isso. iria ficar furioso comigo se eu sumisse, ainda mais se depois descobrisse o motivo real. Eu precisava descer.



Me olhei no espelho e passei a mão em meu cabelo, o ajeitando, depois encarei minha camisa, que agora estava seca e limpa, e eu não quis pensar que tinha sido que havia feito aquilo por mim sem nem ao menos me conhecer. Não queria dizer nada, não queria dizer quem ele era ou deixava de ser. Por que eu ainda estava pensando nesse cara mesmo?

Me virei e saí do banheiro. Desci, voltando para a festa e indo pegar uma cerveja, nada mais de bebidas coloridas aquela noite. Peguei uma garrafa e fui para o lado de fora, vendo dentro da piscina junto com , e . Já sentada na borda com os pés na água, estava , conversando bem animada com eles, rindo e tudo mais. Aquilo me incomodou, porque não quis meus amigos perto dele, mas precisava entender que era irmão do , então não podia fazer muita coisa, mas eu não precisava me juntar a eles. Eu estava sendo chato e bem imbecil, me xingaria por isso mais tarde. Até que pareceram notar minha presença.

— Entra aí, . A água está ótima. — chamou, todo empolgado.

— Dessa vez eu passo. — fiz uma pequena careta, tomando um pouco da minha cerveja.

— Larga de frescura, entra na água. — falou, dando um sorriso e me jogou um pouco de água, o que me fez dar um pequeno passo para trás.

— Já falei que não quero. — rebati, e o sorriso dele sumiu certamente sem graça.

— Deixa ele pra lá. — já me lançou um olhar recriminador e virou de costas para mim.

— Ih, tem alguém com o humor alterado. — comentou, olhando tanto em minha direção e depois na de .

— Não tem ninguém alterado aqui. — disse, mas claramente alterado.

— Nossa, imagina se estivesse, não é?! — deu um sorrisinho para mim fazendo suas covinhas afundarem em suas bochechas, e eu achei aquilo extremamente irritante.

— Liga não, ele é hostil às vezes. — falou, rindo um pouco.

— Problema é dele, quem está perdendo não sou eu. — ele deu de ombros e bebeu um pouco de sua Coca-Cola.

O que achava engraçado é que eles continuavam falando de mim como se eu não estivesse nem ali. Revirei meus olhos e saí andando para qualquer lugar que fosse, menos perto deles. Me sentei no sofá do jardim e fiquei ali olhando eles de longe, como se o garoto fosse afogar qualquer um dos meus amigos a qualquer instante. Até que apareceram uns amigos meus com umas outras meninas e eles acabaram me distraindo, conversando comigo sobre coisas aleatórias enquanto bebíamos um bocado.

Então não sei como e quando aconteceu, mas, de repente, estava beijando uma das meninas que estava conversando com a gente enquanto dançávamos na sala junto às outras pessoas. Já estava meio bêbado, ou mais do que isso. Só sei que as luzes piscavam de um jeito que me deixava tonto e enjoado.

Soltei a garota e fui para o banheiro, acabei vomitando e resolvi tomar um banho para ver se aquela merda passava. Fiquei sentado na banheira, sentindo a água fresca bater em meu corpo. Mandei mensagem para o perguntando onde ele estava, mas não tive resposta, enviei outra dizendo que estava no banheiro colocando meu fígado para fora e mais uma vez nada.

Permaneci ali por um tempo. Ninguém apareceu, tinha sumido assim como , e . Certamente, estavam se divertindo com aquele cara. Eu já o detestava antes de conhecê-lo. Queria que fosse embora logo. Tinha levado meus amigos, feito eles ficarem com raiva de mim, era culpa dele que eu estava sozinho agora. não teria me deixado beber tanto, e Charli provavelmente estariam aqui comigo, tentaria ajudar também se tivesse condições de ficar de pé, porque geralmente ele ficava pior do que eu.

Ouvi alguém bater na porta e isso me fez erguer a cabeça.

— Está ocupado. — falei, com a língua enrolada, não sabendo se tinha realmente colocado as palavras na ordem certa. Tanto faz.

— Era só para ver se você estava aqui dentro. — abriu a porta com um sorriso. — Meu Deus, você está de roupa embaixo do chuveiro. — aquilo não pareceu uma pergunta.

— Vai embora. — mandei e me encarei vendo que ele tinha razão, eu realmente tinha esquecido de tirar a roupa.

— Você precisa de ajuda, eu não vou embora. — rebateu e se aproximou desligando a água.

— Eu não gosto de você. Sai daqui. — bati com a mão no registro fazendo a água ligar novamente.

— Tudo bem. Não me importo, mas meu irmão gosta de você e não vou te deixar aí nesse estado. — respondeu fechando a água novamente e me pegando pelos pulsos. — , você é pesado e molhado, preciso que me ajude a te ajudar.

— Não pedi sua ajuda. — puxei meus pulsos com força fazendo ele perder o equilíbrio e quase cair em cima de mim, mas se segurou na parede que eu estava encostado. — Some daqui, cara. — mandei, sentindo meu estômago embrulhar novamente.

— Você está pálido, molhado e claramente bêbado. Você pode, por favor, sair da banheira, . — pediu com educação e isso me fez olhá-lo de baixo.

— Foda-se.

— Você já pode parar, , não tem ninguém olhando. — falou como se eu fizesse aquilo para chamar atenção dos outros.

Não queria chamar atenção de ninguém, queria que aquele maldito garoto sumisse! Mas ele ainda estava na mesma posição, se segurando na parede e me olhando de cima com seu cabelo preso, alguns fios soltos em sua nuca caindo agora por cima de seus ombros lhe dando um ar largado. Sua camisa aberta agora fazia sombra em mim e eu pude ver seu peito e barriga tatuados, e não quis pensar em como os desenhos gravados em sua pele eram bonitos, e nem em como seu corpo era forte e definido. De qualquer forma a posição que estava deixava seu rosto no escuro, mas eu ainda conseguia ver seus olhos, seu olhar era diferente, parecia que tinha estrelas neles, um brilho que vinha de dentro para fora, lembrava os fogos de 4 de julho. Eu gostava deles, eram bonitos e iluminavam o céu escuro, faziam aparecer sorrisos nos rostos das pessoas de um jeito solto, feliz, inocente, totalmente em admiração, a forma mais pura que um sorriso poderia ter. Meu sorriso poderia ter vindo se eu gostasse daquele cara, se não quisesse que fosse para o mais longe possível de mim naquele momento, não queria olhar para seu rosto, mas ele estava ali e não parecia que iria embora mesmo que eu berrasse mandando sumir dali, do meu banheiro, da minha casa, da minha cidade, da vida dos meus amigos.

Continuei olhando para , pensando em como poderia fazer com que fosse embora, mas tudo o que fiz foi virar o rosto e vomitar.

— Ótimo. Sai daí de dentro, . Agora! — ele segurou meu braço com força e me puxou para fora da banheira, meu corpo estava mole e eu acabei caindo nos seus pés.

— Me deixa.

— Cala a boca. — mandou, parecendo irritado agora me puxando até o vaso. — Vomita mais, você precisa colocar para fora. — senti suas pernas se encaixando nas laterais do meu corpo e sua mão segurou minha testa.

— Não quero vomitar mais. — reclamei querendo que me soltasse.

— Não me faça enfiar o dedo na sua garganta. — apenas aviso em um tom que me fez realmente acreditar que faria isso. — Anda, vomita. — sua outra mão apertou meu estômago com força me fazendo realmente vomitar.

Fechei meus olhos me sentindo tonto, mas estava se segurando com força, me impedindo de cair deitado. Ele reclamava de algo sobre não atender o celular e depois colocou seu aparelho no banco que tinha do lado do vaso. Sua mão em meu estômago me apertou novamente, fazendo com que eu ficasse enjoado, e acabei vomitando mais uma vez enquanto ele segurava minha testa. Dessa vez, me senti melhor, até mesmo recobrei um poucos os sentidos. Pareceu que ele notou, então me ajudou a sentar em cima do vaso com a tampa fechada e me entregou a escova, falando algo sobre escovar os dentes.

Fiz o que pediu e cuspi na pia, já que era do lado. tirou minha camisa molhada e passou a toalha pelo meu rosto, cabelo, peito e barriga, me secando. Eu não entendia porque ele estava fazendo isso comigo, mas não tinha forças para discutir ou fazer qualquer discurso que declarasse que não gostava dele nem um pouco. Suas mãos grandes me puxaram para cima e me jogaram na parede oposta de um jeito bruto, eu ainda estava um pouco tonto, mas o vi tirar minha bermuda, me deixando só de cueca.

O cara então me puxou para frente e tive que me segurar nele para não cair e isso o fez dar um passo para trás. Pensei que iríamos cair, mas ele não deixou que isso acontecesse. Saímos do banheiro e passamos pelo corredor, entrando no primeiro quarto que ele achou, que por acaso era o meu.

Andamos até minha cama, onde ele me ajudou a deitar, se sentando do meu lado porque acabou caindo por causa do meu peso. Fiquei olhando para , que agora passava a mão em meu cabelo, o colocando para trás já que estava caído em meu rosto. Segurei seu pulso para que parasse com aquilo, então vi seus dedos se fechando e seu olhar se encontrando com o meu. Tinha algo naqueles olhos que parecia estar recuando agora e isso foi claramente entendido quando puxou seu pulso com força de minha mão. Então se levantou e me cobriu com delicadeza.

— Tira essa cueca molhada. — apenas falou antes de sair, fechando a porta e me deixando no escuro.

Tirei minha cueca, que realmente estava molhada, sentindo que estava mesmo me incomodando e fiquei sem nada mesmo. Uni as sobrancelhas, olhando as luzes do lado de fora batendo no teto, percebendo que não estava mais rolando música lá embaixo, acho que a festa tinha acabado.

Então comecei a pensar em . Quem era aquele cara? Por que ele não tinha ido embora quando eu havia sido grosso? Ainda mais quando disse que não gostava dele? Por que ele tinha ficado e me ajudado? Era mesmo por causa do ? Só poderia ser, pois não tinha outro motivo para isso. Ai, que inferno! Essa gente esquisita entrando nos lugares sem permissão, fazendo as coisas que eu não queria, se metendo onde não era chamada. Eu o detestava! Me virei para o lado e abracei meu travesseiro, enfiando meu rosto nele não querendo pensar mais naquele sujeitinho.



Não tinha visto quando peguei no sono, mas sabia que tinha acordado sentindo a boca seca e minha cabeça doendo.

Abri meus olhos tentando entender como tinha ido parar em minha cama sem nada e com ninguém ao meu lado. Tá, tanto faz. Se tivesse sido bom, pelo menos estaria lembrando de algo.

Levantei e peguei uma samba-canção minha que estava na poltrona. Olhei a hora e não chegava a ser seis da manhã. Ouvi uma música baixa vindo da área da piscina, então caminhei até a janela para ver se a festa ainda estava rolando e tudo o que vi foi com um saco de lixo pegando a sujeira que o pessoal tinha deixado para trás enquanto dava uns passinhos de dança engraçados ao som de How Do You Sleep?, ele também cantava umas partes tentando imitar a voz do Sam.

Acabei rindo, vendo que tentava imitar o Sam Smith dançando, mas falhou totalmente, só que ele não pareceu nem ligar para isso e continuou lá todo empolgado. Eu tinha que admitir que aquela quebrada de cintura que o Sam dava no refrão não era fácil de fazer, já tinha tentado e me obrigado a fazer junto com ela. Tudo o que parecemos foi duas minhocas com cãibra se torcendo, porque tinha que ter uma boa coordenação para levantar a perna e jogar o quadril da forma correta. E a única parte que conseguimos fazer com perfeição foi levantar o braço e jogar o corpo para trás. E agora tentando coreografar no quintal estava sendo tão engraçado quanto eu e minha prima.

Cruzei meus braços e me encostei no batente olhando o irmão de se divertindo muito sozinho catando o lixo. provavelmente tinha caído bêbado em algum canto junto à , e com toda certeza não tinham conseguido ficar acordadas até aquela hora, então o garoto estava ali totalmente sozinho, com sua música e dancinha. Era até mesmo bonitinho.

Até que um cara apareceu no portão do quintal e ficou lá parado, olhando que estava de costas para ele, super distraído. Achei aquilo estranho, mas não falei nada, fiquei esperando para ver o que iria acontecer. Então ele finalmente se virou e levou um baita susto quando viu o sujeito, soltando o saco de lixo e ficando totalmente parado onde estava. Vi suas mãos se fechando com força, ele parecia nervoso.

— Se veio para a festa, ela já acabou. — falou gesticulando para que ele olhasse ao redor.

— Eu não vim para a festa. Falaram que você tinha voltado, precisei ver com meus próprios olhos para acreditar. — o cara o olhava de um jeito estranho.

— Vai embora, Calvin. — mandou com um tom de voz irritado, quase como um rosnado.

— Eu não vou a lugar nenhum.

— Eu vou gritar se você não sair daqui agora! — já começou a aumentar seu tom de voz.

— Vai, grita, pode começar. Todos devem estar bêbados demais para te ouvir. — então ele avançou para cima dele que já se virou e saiu correndo.

Merda. Me virei e corri para a parte debaixo da casa, descendo as escadas o mais rápido que consegui, me esquivando das garrafas de vidro que estavam espalhadas pelo caminho. Peguei o meu taco de beisebol atrás da porta da cozinha e comecei a andar lentamente, sem fazer barulho. Sem sinal da e muito menos do tal de Calvin.

Será que ele o pegou antes que eu conseguisse chegar? Minha cabeça latejava, mas isso não estava me importando no momento. Segui para a sala, vendo deitado no sofá enorme junto a , e , os quatro amontoados um em cima do outro. Eles nem sequer se mexiam, estavam ferrados no sono.

Ouvi um barulho de garrafa caindo vindo da sala de jantar, então fui até lá. A garrafa não tinha quebrado, mas rolava pelo chão agora em minha direção. A parei com o pé e continuei andando olhando para os lados. Passei pelo corredor e quando cheguei ao hall, uma mão me puxou para trás, me fazendo entrar no armário que tinha ali onde guardávamos nossos casacos de frio mais pesados. A mão gelada e grande tampou minha boca e isso me fez arregalar os olhos, vendo com o indicador em seus lábios, pedindo silêncio.

Olhei uma alça de couro pendurada em seu ombro e notei que era da espingarda do . O cara me empurrou para trás, ficando na minha frente, então se posicionou e apontou para a porta. Eu podia ouvir sua respiração pesada, seus fios de cabelo mexendo no ar por causa daquilo, seu corpo todo estava rígido e ele segurava a arma com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Não demorou até que ouvíssemos passos e a porta foi aberta.

— Fala qualquer merda que eu juro que atiro na sua cabeça. — ele rosnou para Calvin, que apenas ergueu as mãos, se afastando enquanto andava em sua direção. Eu realmente acreditei que ele fosse atirar. — Vai embora. — disse com calma, e o cara foi andando de costas até a porta da frente, a abriu e saiu.

caiu de joelhos na minha frente soltando a arma, e começou a chorar enquanto todo seu corpo tremia. Larguei o taco e fui até ele rapidamente, me abaixando à sua frente, então o peguei, fazendo com que se levantasse. Seus braços envolveram meu pescoço e seu rosto se escondeu em meu ombro enquanto sentia suas lágrimas molhando minha pele. Não falei nada, apenas nos encaminhamos para a cozinha e fiz com que se encostasse no balcão.

Me virei e peguei um copo, enchendo de água gelada, voltando e pegando uma de suas mãos, colocando o copo em sua palma. Ele bebeu a água toda e me devolveu o copo como uma criança triste. Eu só via as lágrimas rolando de forma silenciosa pelo seu rosto, não emitia nenhum som e isso estava apertando demais meu coração. Era como se ele não quisesse que ninguém o ouvisse.

Sua pele estava sem cor, suas mãos geladas e seus olhos estavam fechados, seus lábios comprimidos como se estivesse tentando engolir o choro. Passei a mão em seu rosto, colocando alguns fios soltos para trás de sua orelha, suas lágrimas estavam marcando toda sua pele pálida. Queria que parasse de chorar, mas não sabia o que fazer para que isso acontecesse. Então apenas o abracei. Suas mãos tatearam a pele de minhas costas e a seguraram com força. Ele apoiou sua testa em meu ombro, abaixando sua cabeça. Seu corpo dava pequenos pulos, indicando que estava reprimindo o choro, e eu alisei suas costas, indicando que não precisava fazer isso. Respirei fundo, fechando meus olhos.

Talvez só estivesse cansado da viagem. Segundo , ele tinha vindo direto da França para cá, e agora o garoto o assustou, isso pode ter feito o estresse aumentar e não conseguia parar de chorar. Minhas mãos desceram e seguraram sua cintura, o puxando para perto, então o abracei encostando meu rosto em seu ombro largo.

Logo dei um passo para trás o fazendo vir comigo. Seus braços subiram e envolveram meu pescoço como se quisesse se esconder mais. Não falei nada, apenas andei com ele abraçado em mim pela casa até chegar em meu quarto.

Deitei com nós dois na minha cama e se encolheu em meu peito. Apesar de estar calor, o abracei encostando meu queixo em sua cabeça.

It's just another downpour, don't let it get the best of you — cantei baixinho para ele a letra de Burn Out, do Imagine Dragons porque ela simplesmente veio em minha mente naquele momento e achei que poderia se encaixar para ele. — It's only up from the floor, light everything inside of you.

Senti seus ombros se encolherem mais e eu acariciei suas costas, indicando que estava tudo bem. Não sabia porque estava fazendo aquilo, eu nem gostava dele, mas vê-lo daquele jeito acabou comigo. Chorando, tremendo, apavorado e totalmente perdido. Não podia deixá-lo no chão daquele jeito, seria desumano.

Então cheguei à conclusão de que não importava quem ele era, precisava ajudar e foi isso que eu fiz, não mudava as coisas em nada, eu continuava não gostando daquele garoto. Não estava errado em achar que ele atraía confusão. Mal tinha chegado e o peguei com uma arma na mão, pronto para atirar em um cara. Ok, podia ser só para fazer com que ele fosse embora, mas também podia não ser. Achava realmente que iria atirar pelo seu tom de voz, ainda mais pelo jeito que segurava aquela arma, e o sujeito o conhecendo melhor do que eu também acreditou nisso. Então pronto, era perigoso e claramente um problema.

Será que era o traficante que ele tinha ficado devendo? Bem, tinha jeito de ser. Isso fazia uma das versões serem verdade, mas ainda tinha a parte de ter matado seu ex. tinha mesmo o ajudado a esconder o corpo? Ele não parecia que concordaria, mas era o irmão mais novo dele, faria qualquer coisa para protegê-lo. Minha cabeça doía e quanto mais eu pensava naquilo, mais latejava.

Respirei fundo, percebendo que tinha se acalmado por conta da sua respiração estar leve demais. Mexi minimamente, chegando para trás e vi que ele havia dormido, seu rosto todo molhado indicando que tinha chorado até apagar. Um sorriso triste veio em meus lábios.

O olhando daquele jeito, parecia tão inocente, segurando seu pulso onde certamente antes estava usando mais força, com seus lábios minimamente entreabertos, com alguns fios de cabelo colados em seu rosto. Deixei meus dedos passarem pelo seu cabelo em um carinho leve e parece que isso o acordou, mas apenas se virou para o outro lado, enfiando um dos seus braços embaixo do travesseiro e o deixando esticado.

Percebi que a parte de dentro do seu pulso tinha uma tatuagem de girassol, mas embaixo dela havia uma cicatriz de um corte profundo atravessado, era onde ele estava segurando antes. Isso me fez franzir os lábios. tinha tentado se matar? Aquilo não se encaixava no resto das histórias. Certamente, deve ter sido depois que tinha ido embora.

Ver aquela marca fez tudo dentro de mim se revirar, sentindo uma tristeza ainda maior por saber que ele tinha tentado tirar sua própria vida. Engoli o bolo em minha garganta quando meu peito começou a parecer ficar sufocado. Não queria saber mais nada daquele garoto, porque sentia que ele estava me afundando só por estar ao seu lado.

Então me levantei e me deitei no chão, levando apenas meu travesseiro. O abracei e me obriguei a fechar os olhos, mas mesmo que eu quisesse muito, não consegui pegar no sono tão facilmente. Fiquei me virando de um lado para o outro, procurando uma posição confortável com todas as cenas daquela noite se revirando em minha mente.

Sabia a causa daquilo, era e não o chão onde eu estava deitado.



Quando acordei, percebi que estava deitado no chão. Minha cabeça doía e minha boca estava seca. A ressaca tinha me pegado de jeito. Então desci, vendo a casa já toda arrumada e deitado em uma boia dentro da piscina. Ele me olhou por cima de seus óculos escuros e voltou a fingir que não me via.

Revirei os olhos e fui para a cozinha tentar me lembrar do que aconteceu na noite anterior. Vinham alguns flashbacks em minha mente depois que me sentei no sofá do jardim. Então me lembrei que passei mal e acabei no banheiro. Qualquer coisa veio à minha mente com o irmão do sentado atrás de mim, segurando minha testa, eu falando que não gostava dele. Depois o vi limpando a área da piscina, até que um cara apareceu. chorando, a marca em seu pulso, ele deitada em minha cama. Entendi porque eu tinha dormido no chão.

Segurei no balcão e respirei fundo. Deveria parar de beber, porque não era possível fazer tanta merda assim. Não estava acreditando que tinha falado que não gostava dele. Eu era um imbecil mesmo. Mesmo que fosse verdade, ele não precisava ficar sabendo. Agora já tinha ido, dane-se.

Me virei, peguei uma garrafa de água e voltei para a piscina, poderia arrancar alguma coisa de , ele geralmente era língua solta. Me sentei em uma cadeira na sombra, como quem não queria nada, e fiquei ali por um tempo, tomando minha água.

— Que horas o pessoal foi embora? — comecei perguntando apenas puxando assunto.

— Deve ter mais ou menos uma hora. — informou com sua boia indo de um lado para o outro na piscina. — Você viu a indo embora? — adorei ter perguntado, porque me daria margem para continuar no assunto com ele.

— Não. Eu vi só ele de manhã limpando aqui fora quando me levantei para ir ao banheiro. Por quê? — quis saber enquanto o olhava esperando qualquer coisa.

— Ele foi embora sem avisar. tentou ligar, mas o celular estava desligado. — uni levemente as sobrancelhas achando estranho, não sabia se deveria comentar algo do que aconteceu.

— Entendi. — foi o que falei me remexendo na cadeira como se fosse desconfortável. — Você conhece algum Calvin? — a pergunta fez me encarar na mesma hora.

— Tive a infelicidade de conhecer um. Por quê? — ele tinha aquele olhar de que sabia que eu estava escondendo algo.

— Quem é?

— O ex namorado babaca da . Mas por que você quer saber? — ele insistia, e fiquei surpreso por saber aquilo. Será que era a mesma pessoa? Precisava só de mais um pouco de informação para lhe contar.

— Aquele que ele matou com o martelo? — me olhou como se eu tivesse falado o maior absurdo do mundo.

não mata nem uma formiga. Aquele babaca sumiu, não está morto, mas bem que eu queria que estivesse. Não acredito que você realmente levou a sério os boatos! — meu amigo estava bem puto e eu apenas dei de ombros, era o que todo mundo falava, então tinha que ter algum fundo de verdade. — Vai se foder, . — ele jogou água em mim.

— Ué, você queria que eu não acreditasse? É a única história que todo mundo conta igual. — rebati um pouco nervoso também.

— Mas não quer dizer que seja verdade! — achava engraçado como defendia seu amigo e isso me irritava um pouco. — Por que você está perguntando desse merda?

— Ele esteve aqui pela manhã.

— Ele o quê? — pulou da boia afundando na piscina. — Seu idiota, você só me fala isso agora? — submergiu já me xingando e saindo da água. — Que inferno, . — saiu correndo para dentro de casa escorregando, mas se segurou para não cair. — Cadê a merda do celular? — me levantei indo atrás dele, porque queria saber de fato o que estava acontecendo.

— O que está acontecendo? — quis saber, e me olhou apenas puto, já achando seu celular.

— Não importa. Você nem gosta dele mesmo. — respondeu e saiu andando, mas fui atrás.

— Importa sim. Me conta. — pedi, só que a resposta de foi seu dedo do meio.

! — disse ao telefone. — O Calvin esteve aqui atrás da . — avisou e ficou em silêncio por um momento. — É. O quem falou, ele não sabia quem era. — me lançou um breve olhar. — Ele ainda não apareceu? — isso me fez unir as sobrancelhas realmente ficando preocupado com a situação. — Não quero saber. Eu estou indo me vestir agora. Vamos virar essa cidade de cabeça para baixo até achá-lo! — prendi meus lábios em linha reta me sentindo mal por não ter visto a hora que tinha ido embora. — Ok, nos encontramos no posto de gasolina no centro. — logo depois encerrou a ligação.

— Eu vou ajudar, posso ir de moto. — falei. ficou me olhando por alguns segundos.

— Ok, tanto faz. — se virou e subiu para o quarto.

Fiquei parado alguns segundos olhando para o nada. estava puto comigo por não ter falado antes que o ex namorado morto do tinha aparecido aqui? Era isso mesmo? Eu só podia estar ficando louco ou qualquer coisa parecida! Porque não fazia sentido algum! E eu lá ia saber quem ele era? Não tinha como saber quando ninguém me contava porra nenhuma! Aquilo me deixou puto. Qual era a dificuldade de abrir a boca e contar a bosta da verdade? De qualquer forma, ele tinha sumido e a gente precisava encontrá-lo.

Subi para meu quarto, troquei de roupa e peguei a chave da minha moto. Desci e já tinha ido. Aquilo me deixou um pouco mais puto com a bosta da situação, porque não tinha necessidade nenhuma dele agir daquele jeito.

Peguei meu capacete e saí de casa, indo o mais rápido possível até o posto para encontrar com e . Quando cheguei, os dois ainda estavam no posto abastecendo os carros. Desci da moto e fui até eles. me deu um abraço apertado, agradecendo por ter avisado sobre o tal de Calvin, mas o apenas entrou na loja de conveniência. Resolvi abastecer minha moto também.

— O que está pegando? Por que está tão puto com esse cara? — perguntei para , porque ele tinha mais paciência e parecia estar disposto a me contar.

— Meu irmão não foi embora para fazer companhia para a nossa avó na França quando nosso avô morreu. Ele morreu desde quando nascemos. — cruzou os braços e se encostou na lateral do carro. Sabia que aquilo era mentira! — foi embora porque aqui não era seguro para ele ficar. O Calvin é surtado, acha que meu irmão é obrigado a ficar com ele de qualquer forma. — fiz uma careta com aquilo.

— Todo mundo acha que ele estava morto. — falei, causando uma risada em .

— Ele fugiu e a família dele deu como desaparecido. — deu de ombros e negou com a cabeça, a abaixando. — Em uma festa de halloween, o pessoal estava me enchendo o saco para falar o que tinha acontecido de verdade. Era um jogo de verdade ou consequência e eu escolhi verdade. Então me perguntaram por que tinha ido embora. — tinha aquele olhar de garoto travesso e eu esperava que falasse logo. — Aproveitei que era dia das bruxas e quis assustar o pessoal. Inventei a história de que ele tinha o matado com uma martelada na cabeça e tivemos que esconder o corpo. — eu fiquei olhando para ele, não acreditando que tinha feito isso. — Não tinha corpo, nem martelo, eu tinha 17 anos, logo os adultos e nem a polícia acreditaram. — acabou rindo daquilo. — Mas a galera realmente achou que era verdade, mesmo conhecendo meu irmão e sabendo que ele nunca faria isso.

— Pessoal quer sempre a pior parte das pessoas. — comentei me sentindo pior ainda por ter acreditado realmente naquilo. — E o que aconteceu de verdade? Tá, ele é maluco e quer ficar com a todo custo. Mas por que ele fugiu?

— Isso você vai ter que perguntar para , ele não gosta que a gente fale sobre e me fez prometer que não contaria a ninguém. — ergui uma sobrancelha. Eu não era ninguém, era um dos melhores amigos dele!

Olhei por cima de meu ombro ouvindo um barulho e vi chegando em um carro e em outro. As duas de óculos escuros, certamente escondendo as olheiras. Olhei para meu amigo de volta estreitando meus olhos. Algo me dizia que sua felicidade não era à toa. As meninas desceram do carro e vieram até nós, mas parou do lado de e ficou. Apenas observei enquanto minha prima perguntava de . O que estava acontecendo ali? Eu não fiquei perto uma noite e as coisas tinham mudado? Pensei em falar algo, mas o clima estava estranho demais para qualquer um dos meus comentários.

voltou com um pack de Coca-Cola na mão e alguns doces. Açúcar era tudo que precisávamos mesmo. Então saí dali para pagar a gasolina e comprar qualquer coisa para comer antes de sair por aí embaixo do sol procurando .

Não queria pensar que eu era um babaca e burro por ter acreditado no que os outros falavam, mas também não queria gostar do cara que estava fazendo minha cabeça virar do avesso em menos de vinte e quatro horas. Aquilo era loucura, ele tinha chegado roubando toda a atenção e invadindo minha mente de forma que me deixava desconfortável. Inferno.

Eu pensava em seus olhos, via exatamente ele me olhando de cima, segurando a parede para não cair, os tons que seus olhos que continham, o brilho dentro neles. Quem era ele? Aquela pergunta ecoava de forma incansável.

Estava no caixa pagando as coisas até que vi um Jeep preto parando do lado de fora. De repente, saiu dele com a mesma roupa de ontem, mesmo cabelo e... Meus óculos escuros? Deixei as coisas em cima do balcão e já saí da loja, empurrando a porta de vidro com certa brutalidade, fazendo que fosse até o canto e voltasse. Aquilo só podia ser sacanagem. Como assim ele estava ali no posto como se nada tivesse acontecido? o abraçava agora, de forma como se estivesse checando que estava tudo bem.

— O que o Calvin fez? — quis saber, e nisso me olhou.

— Ele não fez nada, só quis me irritar. — aquilo era mentira, ele queria assustá-lo, ou levá-lo para qualquer lugar.

— Onde você estava? — cheguei perguntando mesmo, porque não era possível uma pessoa ser tão descarada daquele jeito.

— Desculpa, quem é você mesmo? — ele simplesmente virou e soltou aquilo como se nunca tivesse me visto. Aquele cara era louco! — Ah sim, ninguém. Dá licença. — pisquei, tentando entender o motivo daquilo.

— Você é bem maluco, sabia? O “ninguém” quer os óculos de sol dele de volta. — falei, eu não era obrigado a nada. Tinha ajudado ele para estar me tratando daquele jeito.

— Hm, é seu? Achei jogado pela casa. Depois te devolvo. — Nem sequer me olhou e pareceu também não ter se importado em tê-lo chamado de maluco.

— Eu quero agora. — cruzei os braços, esperando que me devolvesse. As meninas apenas viravam o rosto de um lado para o outro, esperando a resposta que daríamos, seria engraçado se eu não estivesse tão puto naquele momento.

, dá um tempo. — se meteu, e o olhei já puto, mas ele me ignorou. — , onde você foi quando saiu lá de casa? Seu celular não estava recebendo ligação, ficamos preocupados.

— Fui embora andando para casa. — deu de ombros, como se nada demais tivesse acontecido. — É, meu celular descarregou e não achei a porcaria do carregador na hora que cheguei e logo depois minha avó me chamou para ir ao mercado com ela, estamos voltando agora, parei para abastecer. — explicou tranquilamente apontando para o carro com o polegar. Olhei para ele e vi uma senhora sentada no banco do carona. — Não me preocupei porque o celular da vó estava com carga, achei que qualquer coisa poderiam ligar para ela. — pensando por esse lado fazia sentido.

— Nem lembrei de ligar para a vó. — falou deixando seus ombros caírem. — De qualquer forma você está bem, isso que importa. — ele deu um sorriso e abraçou seu irmão novamente.

— Se o Calvin aparecer de novo avisa a gente. — pediu, e apenas concordou com a cabeça. — Aparece lá em casa mais tarde, vamos fazer uma noite de jogos.

— Vamos? — questionei quando a ideia não tinha sido compartilhada comigo antes.

— Vamos. Se não quiser, não precisa participar. — meu amigo rebateu, e eu lhe dei o dedo do meio já me virando.

Entrei na loja, paguei só pela gasolina mesmo e saí de lá do mesmo jeito que antes, quase derrubando a porta. Passei por todo mundo sem falar nada, porque eu estava puto da vida com o e , que estavam dando show sem a menor porra da necessidade, e subi na minha moto. Coloquei meu capacete e me mandei daquele posto, mas não fui para casa porque não estava com vontade de cruzar com por algumas horas.



Estava em meu quarto vendo filme, quando chegou, entrando sem bater e se deitando ao meu lado, pegando um pouco da minha pipoca. A olhei, esperando para ver o que falaria, mas ela só ficou calada, olhando o que passava na TV. Então fiquei na minha. Não ia perguntar o motivo de estar ali para não parecer grosseiro e só achar que minha amiga tinha ido atrás de mim para pedir algo.

Logo os créditos começaram a subir e me estiquei na cama para levantar e pegar alguma coisa para fazer. Estava entediado e tinha passado o dia no quarto.

— Me conta. O que está pegando entre você, e ? — foi bem direta, o que indicava que ela não estava com paciência para enrolação.

Olhei para minha amiga alguns segundos. Então era isso que queria, saber o que estava acontecendo. Ótimo. De qualquer forma, não custava nada contar também.

— Eu falei merda sem pensar, aí está puto comigo agora, e pelo que parece, até ir embora. — dei de ombros, como se não ligasse para isso.

— Então você quer que ele vá embora para as coisas ficarem bem novamente. — não tinha pensado ainda por esse lado, mas podia ser. — O que você disse para o ? — ela me olhava de forma calma.

— É, porque desde que esse cara chegou as coisas ficaram estranhas. Ele está acabando com as nossas férias de verão. — falei, exasperado e vi minha melhor amiga revirando os olhos. — Disse que não iria gostar de um cara que nem a própria família quer. — dei de ombros, porque não era para fazer tanto alarde com aquilo, eu tinha meu direito de gostar de quem quisesse. — Mas ele está com essa superproteção para cima dele e ficou puto com isso. Só porque gosta dele, acha que todo mundo tem que gostar também.

, você está se ouvindo? — questionou, me olhando com atenção, então encarei seus olhos, tentando achar o problema. — Ok, tudo bem não querer gostar dele, mas não precisava ter falado isso para o . Você não sabe nada sobre a vida de . — olhei para o lado. tinha razão, mas não falaria isso a ela. — Não pode tomar conclusões com base no que esse bando de fofoqueiros fala. Você sabe como é essa cidade, eles amam uma desgraça. — levantei meus ombros, como se não ligasse. — é o melhor amigo do , ou era, não importa. Ele só está preocupado e duvido que ache que você é obrigado a gostar dele.

— E por acaso você sabe a verdade? Porque parece que todos vocês sabem, menos eu. — rebati, levemente irritado, me sentindo excluído.

— O que aconteceu no passado dele não é problema nosso. Você não está pensando com clareza, está com raiva por causa do . Meu melhor amigo não julga as pessoas assim. — jogou em minha cara, me fazendo ficar calado. — Você deveria estar gastando seu tempo tentando conhecê-lo e não querendo saber a verdade do que aconteceu há sete anos.

— Só porque te convém. — rebati, cruzando meus braços, olhando para a TV.

— O que isso me convém, ? — ela perguntou, um pouco irritada.

— Você está afim do , logo convém ficar de boas com o irmão dele. — e, naquele momento, só pela forma que bufou, pensei que fosse pegar qualquer objeto que estivesse em seu alcance e jogar na minha direção.

— Você está ficando maluco! Depois é o o maluco da história. Pensando melhor, você mereceu o fora mesmo. — Então se levantou e saiu, me deixando ali sozinho.

Ótimo, além de ter brigado com o , agora tinha feito a ficar puta comigo, certamente também estava com raiva por ter chamado seu irmão de maluco, só faltava a virar a cara para mim. Aí sim seria a cereja do bolo. Perfeito! Aquele cara tinha conseguido acabar com as minhas férias em apenas um dia. Ele podia voltar de onde veio e ficar lá para sempre! Inferno.

Dei um tapa no balde vazio de pipoca, fazendo ele voar longe. Quer saber, foda-se todos eles. Eu tenho mais o que fazer também.

Me levantei, fui ao banheiro, me arrumei e saí sem dar satisfação, vendo todos na sala jogando um jogo qualquer de tabuleiro. Por mim, eles podiam comer as pecinhas.

Sai batendo a porta e subi em minha moto indo para qualquer lugar bem movimentado da cidade. Parando em um bar que tinha pessoas até para o lado de fora de pé na calçada bebendo. Achei qualquer canto para estacionar e fui até lá. Encontrei alguns conhecidos. Até que vi um par de olhos azuis me encarando. Uni as sobrancelhas vendo que o conhecia. Era o tal de Calvin.

Franzi meu lábios sabendo que não deveria fazer isso, mas eu não estava pensando muito como mesmo disse. Talvez estivesse mesmo louco, só que precisava de alguma resposta.

Entrei no bar, peguei duas cervejas e fui até o moreno de olhos claros, lhe entendendo uma long neck. E olhou para minha mão por um tempo e depois seus olhos foram subindo pelo meu braço até alcançar meus olhos. Algo naquele tom castanho me incomodou, mas não sabia bem o que era.

Ele pegou a cerveja da minha mão, a abriu e deu um belo gole ponderando com a cabeça. Fiz o mesmo, mas meus olhos estavam fixos em seu rosto.

te mandou vir falar comigo? — perguntou logo de cara, o que me fez rir de leve.

— Não. Ele nem sonha que estou aqui. — respondi dando de ombros não dando a mínima para aquilo. — Mas já que você foi direto, posso ser também. — rebati vendo um sorriso brotar em seus lábios.

— Gosto quando são diretos. — lambeu seus lábios me olhando por inteiro.

— O que rolou entre vocês? — questionei logo vendo Calvin rir com aquilo.

— Namoramos por um tempo, até ele surtar de ciúmes e me atacar com o martelo. — estreitei meus olhos com aquilo. — Quis terminar, mas ele não deixou. Começou a me perseguir e me ameaçar, então tive que ir embora escondido. Como chama mesmo aquele lance da polícia no programa de vítima?

— Programa de proteção à vítima. — respondi seco, mas aquilo era mentira. — São rumores. disse que inventou isso para as pessoas pararem de perguntar sobre o .

— E você acreditou? — ergueu as sobrancelhas. — Ele quase me matou. Se quiser posso te mostrar o exame de corpo de delito. — deu de ombros. — O seu amiguinho é um psicopata que deveria estar preso. Se eu fosse você tomaria cuidado. — riu fraco, e eu não conseguia acreditar naquilo mesmo que Calvin estivesse falando.

— E o que você foi fazer então na minha casa hoje cedo? Você estava ameaçando ele. — acusei, e eu nem sabia o motivo de estar agindo daquela forma. Eu nem ligava para .

— Estava? De qualquer forma fui até lá para dizer que deveria se entregar para a polícia. — bebeu mais um gole da cerveja.

Aquilo me parecia tão absurdo que sentia que estava perdendo meu tempo ali tentando descobrir a verdade. Claramente Calvin estava debochando da minha cara como todo o resto.

— Eu vi você chegando e falando com ele. Não me faça de bobo. — pedi tentando manter a minha calma.

— Claro que viu. — rolou os olhos. — que te contou do jeito dele como foram as coisas. Não acredite no que ele diz, aquele garoto adora inventar mentiras. — estalou a língua no céu da boca. — Você parece ser legal, deveria ficar longe dele. — então chegou um pouco mais perto de mim.

— Eu já entendi. Obrigado pelo aviso. — falei dando um passo para trás e me virando, mas ele segurou meu braço com força. — Me solta. — mandei sentindo seus dedos apertando com mais força.

— Estou falando sério. Fica longe do . — disse bem sério em meu ouvido agora, quase em um rosnado.

Apenas puxei meu braço com força para que me largasse e sai andando dali o quanto antes. Aquele cara era louco, e algo me dizia que aquela história toda era totalmente o contrário.



Os dias foram passando e eu quase não parava em casa, especialmente quando o pessoal estava lá. Só que às vezes era complicado e eu acabava esbarrando com alguém chegando ou saindo.

Até precisei comer antes de dormir, porque o idiota tinha esquecido de parar em qualquer lugar e comprar algo pronto. Além de estar tarde para pedir qualquer coisa, só tinha pizzaria aberta e eu não estava afim de pizza.

Desci sem falar com ninguém, porque logo quando cheguei também não fiz isso. Fui para a cozinha, encostando a porta para não ouvir as risadas deles e muito menos a conversa. Joguei meu celular em cima no balcão, tocando minha playlist favorita e abri a geladeira, vendo o que tinha lá. Peguei ovos, maionese, queijo, bacon, carne de hambúrguer e, claro, uma cerveja gelada, porque estava um calor insuportável.

Tocava Feel You Now, do The Driver Era. A música me fazia balançar a cabeça e cantar junto enquanto pegava a frigideira e enchia de manteiga.

Can you put me down? — joguei a carne dentro da frigideira e me virei para pegar o pão.

Então vi entrando, trancando a porta e olhando bem sério para a minha cara. Peguei uma fatia de queijo que estava no pote sobre o balcão e enfiei na boca, encarando o garoto estranho, esperando que fizesse qualquer coisa a não ser ficar me olhando com um olhar matador. Talvez estivesse planejando minha morte com um martelo e eu não ligava para isso.

A música continuava tocando, certamente agora a trilha sonora do meu assassinato, e eu até que gostava dela, era uma boa música. Vendo que certamente ainda estava pensando o que faria com meu corpo, aproveitei e o olhei melhor, percebendo que estava de com uma camisa de botões preta e bem larga, com ela aberta quase toda exibindo suas tatuagens que tinham em sua barriga e peito. Mas logo desviei meu olhar, não tinha muito cabimento ficar olhando para ele também.

— Você é um babaca escroto do caralho. — soltou aquilo de um jeito agressivo que me fez erguer as sobrancelhas, então olhei por cima de meu ombro. Ele estava mesmo usando aquele tom comigo? — Não se faça de idiota! — o encarei e vi que estava vindo na minha direção. — Qual é a porcaria do seu problema? — me empurrou pelos ombros com força, me fazendo bater contra a parede.

— Claramente, você pirou de vez! — rebati, ficando irritado com aquilo tudo. — E se quer saber, a porcaria do meu problema é precisar olhar para a sua cara o verão inteiro. — respondi logo, se ele queria tanto saber. E tudo o que fez foi rir. — Agora é engraçado?

— Eu vou resolver a porcaria do seu problema. — disse, e se aproximou rápido.

O doido segurou minha nuca, me puxando para cima e se impulsionou para baixo, juntando seus lábios nos meus. Arregalei meus olhos, achando aquilo a coisa mais absurda do mundo, então segurei sua cintura para afastá-lo de mim e no segundo que abri a boca para reclamar por causa daquela merda toda, sua língua tomou a minha com voracidade.

O que ele achava que estava fazendo? Suas mãos me seguraram com mais força, fazendo a minha apertar sua cintura, e o afastei. Ouvi sua risada e isso me fazia encará-lo querendo achar a piada, que claramente era eu.

— Você pega muita pilha fácil, . — disse, me olhando e dando uns passos para trás, passando o polegar pelo seu lábio inferior. — Baby, come on, come on — cantou aquela parte da música, olhando dentro dos meus olhos enquanto dava um sorrisinho.

Aquilo me provocou e ele sabia muito bem disso, dava para ver em seus olhos e ainda gostava. Não iria ficar assim, não mesmo.

— Vai se foder. Por que você tem que ser louco assim? — soltei, indo em sua direção.

— Porque esse é meu jeitinho. — falou, quando o peguei pela coxas, o erguendo e colocando sentado sobre o balcão. — Que mexe com a sua cabeça. — sussurrou, se inclinando para frente e passando sua língua pelo meu lábio inferior enquanto me olhava nos olhos. — Te fazendo odiar pensar em mim o tempo inteiro. — estreitei meus olhos com aquilo, ele fazia de propósito.

— Então é só para me irritar? — mesmo que já soubesse a resposta, queria ouvir. — É só isso que você quer?

Minhas mãos foram subindo pelas suas coxas enquanto entrava no meio de suas pernas, deixando nossos corpos mais próximos. Se ele podia me provocar, eu podia fazer isso de volta. Senti sua respiração bater contra a minha, deixando meus lábios bem próximos dos dele, esperando por sua resposta enquanto olhava dentro de seus olhos, tentando descobrir onde queria chegar com aquilo tudo. Senti seu pé subindo pelo jeans da minha calça e depois descendo, deixando um sorrisinho surgir em seu rosto.

— Não. Já consegui o que eu quero. — respondeu, deixando seu olhar cair para meus lábios e suas mãos foram subindo pelos meus braços até chegarem em meus ombros, os apertando. — Você relaxado para me ouvir. — então jogou seu corpo para trás, se apoiando com as duas mãos na superfície do balcão. Ele me deixava confuso demais, não dava para entender. — Confesso que foi melhor que o esperado. — seu sorrisinho me fez ir para trás, mas suas pernas me impediram, pois subiram rapidamente, envolvendo minha cintura. Respirei, levemente irritado, já cansado daquilo. — Ainda não. — disse, voltando a ficar perto e minhas mãos apenas o soltaram, se apoiando no balcão, esperando acabar com seu teatrinho. — Eu vou te soltar, só preciso que você me ouça, ok? — seu pedido me fez prender meus lábios em uma linha reta.

— Ok. — disse, de má vontade, mas suas pernas me soltaram mesmo assim.

— Seu hambúrguer vai queimar. — avisou, apontando para a frigideira.

— Culpa sua. — corri até lá, virando-o e vendo que tinha queimado um pouco.

— Sempre mais fácil me culpar do que assumir que o único problema aqui é você não aceitar nada quando eu estou envolvido. — aquilo me fez olhá-lo. — Tudo bem, eu posso aceitar a culpa se você me der apenas uma chance de mostrar que não sou a bruxa má do Oeste. — estava sorrindo, olhando para mim. — É sério, . Eu só quero que você fique conosco. — aquilo tinha me pegado desprevenido. — Eles estão sentindo sua falta. Não param de falar do e como ele é foda e o melhor amigo deles. Pelo amor de Deus, eu não aguento mais ouvir histórias sobre você! — na última parte ele fechou os olhos com força. — Eu quero conhecer o das histórias e não ficar ouvindo falar dele o tempo todo. — soltou um suspiro, deixando seus ombros caírem e finalmente desviou o olhar. — Então, por favor, volta a falar com o , eu não aguento mais ele chorando no meu ouvido por sua causa. — riu um pouco, me fazendo rir junto.

— Ele está chorando muito? — perguntei, tirando o hambúrguer do fogo e pegando um prato.

— O tempo inteiro. — olhei por cima de meu ombro, vendo revirando os olhos. — Mimimi, o não fala comigo. Mimimi, o não gosta mais de mim. Mimimi, mimimi, mimimi. — ele fez uma careta, me tirando outro riso. — Vamos, não aguento mais, cara. — sorriu, dando um riso depois. — Ninguém aguenta. Estamos em tempo de enfiar um sapato na boca dele, você não faz ideia! — acabei gargalhando imaginando a cena, eu sabia bem como era irritante às vezes.

— Vou pensar no caso. — comentei, e se jogou para trás no balcão como se estivesse chorando. — Ok, eu volto a falar com ele. — então o garoto se levantou, pulando do balcão de uma só vez.

— Nunca duvidei de você, . — falou, de um jeito brincalhão. — Então... — veio andando em minha direção e passou a mão em minhas costas. — Você, como um bom amigo, vai fritar hambúrguer para todo mundo. — o olhei no mesmo instante. — Eu ajudo. — fez um bico, erguendo as sobrancelhas. — Estamos com fome? — sugeriu, rindo depois. — Vai, eu te dou um beijinho depois. — estreitei meus olhos para ele. — Ok, sem beijinho.

— Pega a carne no freezer. — o empurrei com minha bunda para que fosse logo antes que eu desistisse. — Ovos e bacon também.

— Sim, senhor. — respondeu, de um jeito engraçado.

Neguei com a cabeça, rindo daquilo tudo. não existia, sério. Logo ele já estava colocando tudo no balcão e começou a fritar os ovos enquanto eu fazia o hambúrguer. Ele ficava dançando de um lado para o outro enquanto fazia as coisas, cantando as letras de algumas músicas que conhecia e às vezes fazia alguma palhaçada, me causando risadas.

Até que ele não era tão péssimo assim. Mas o que não me saía da cabeça era o lance dele ter me beijado. Qual era a verdadeira intenção? E se eu tivesse retribuído em vez de afastá-lo? Por que ele tinha feito aquilo? Sentia que aquelas perguntas iriam fazer minha mente fritar que nem aqueles hambúrgueres. Uma coisa aquele garoto tinha razão, ele estava mexendo com a minha cabeça.

colocou seis pratos sobre o balcão e cada hambúrguer montado perfeitamente dentro de cada um. Depois colocou seis cervejas ali e então se virou com as mãos na cintura e um sorriso enorme.

— Eu te daria uma estrelinha se tivesse uma aqui. — brincou, chegando mais perto, parando na minha frente. — Mas posso te dar isso. — se abaixou um pouco e deu um beijo na minha bochecha, que me fez virar o rosto de leve para o mesmo lado que o dele. me olhou e a gente estava bem perto ainda. — Você pode me beijar, se quiser. — disse, com calma, baixo e me encarando com atenção, até respirou fundo como se tivesse prendendo o ar.

— Por que você faz isso? — perguntei, tocando de leve em sua cintura. — Fica mexendo com a minha cabeça.

— Real não é a minha intenção. — seus olhos estavam fixos no meu e pude ver o brilho neles igual ao dia que nos conhecemos. Era como se ele usasse uma máscara e escondesse aquilo. Não deveria quando parecia que tinha algo intenso nele. — Só falei aquilo para te provocar. — confessou, levantando um pouco o ombro, então colocou a mão em meu braço. — Eu precisava chamar a sua atenção de algum jeito, sabia que não iria me ouvir se chegasse pacificamente, só iria me atacar e pronto. Tinha que ter certeza se eu era a causa do problema. — deu um pequeno sorriso fechado, como se estivesse chateado com aquele fato, e sua mão foi se soltando aos poucos, isso me fez segurar sua cintura com mais firmeza, indicando que não era para se afastar, não agora. — Eu quero te conhecer. — podia ver que estava sendo sincero.

, está vivo? — a voz da minha prima que vinha da porta da cozinha fez nós dois pularmos, nos afastando. — , você não matou o menino, né? — então tentou abrir a porta. — Gente, o negócio está estranho. Ninguém responde e a porta está trancada.

Aquilo fez nós dois rimos e correu até a porta, a destrancando. olhou para o garoto como se a analisasse vendo se estava tudo bem, depois me encarou, vendo se eu estava bem, em seguida intercalou, olhando um pouco para cada um, só então que se deu conta do que estava sobre o balcão e começou a gritar, chamando os outros. apareceu na cozinha apavorado, achando que realmente tinha acontecido algo, tirando mais risadas nossas.

, não me mata do coração. — falou, com a mão no peito.

— Apesar de querer, ainda não matei seu irmão, relaxa. — falei com ele, dando uma risada e me deu o dedo do meio. — Ih, voltou a ficar raivoso?

— Só para não perder o costume. — disse, dando uma pequena risada. — Viu, eu disse que conseguia. — estalou os dedos e apontou para seu irmão.

— Você apostou com eles que conseguia conversar comigo? — perguntei, achando graça.

— É, mais ou menos. — fez um sinal com a mão. — Mais complexo que isso. Basicamente, era fazer você me engolir mesmo, por bem ou por mal. — comentou, rindo mais e acabei fazendo o mesmo.

— E o que você ganharia com isso? — quis saber.

— O parando de encher o saco de todo mundo! — acusou, apontando para meu amigo, fazendo todo mundo rir. — Eu te disse que ele estava perturbando a gente.

— Eu não acredito que você falou para ele! Seu linguarudo! — rebateu, irritadinho, fazendo todo mundo rir. — Ow, X9 morre cedo, hein. — fez um gesto que indicava que estava de olho nele.

, shiu. — falou, com um sorriso no rosto, causando risada em todos nós.



Voltei a falar com como tinha pedido, não que tivesse sido um sacrifício, porque no fim das contas nós apenas esquecemos o que houve e nem ao menos tocamos no assunto. E conforme os dias iam se passando, meus olhos não queriam sair daquele garoto por mais que tentasse e me esforçasse para não falar com ele, ou simplesmente não puxar assunto, era difícil. Algo nele fazia algo dentro de mim se aquecer lentamente, o que me fazia ir direto em sua direção e querer olhar dentro de seus olhos, procurando por aquele brilho que só eles tinham.

Eu até podia me enganar e dizer que não pensava em quase sempre, mas ele se mantinha doce em minha memória todas as noites quando ia dormir. Queria ignorar aquilo, os pensamentos, o jeito que me sentia quando ouvia sua voz do andar debaixo falando que tinha chegado toda vez que passava pela porta da frente de minha casa, e todas as vezes eu falhava. Era como lutar uma guerra que não poderia ser vencida. De uma forma misteriosa, aquele garoto cheio de segredos, o qual disse que não iria gostar, tinha entrado embaixo da minha pele e me feito morder a própria língua com força. Ele tinha me pegado nas entrelinhas e agora não sabia como fugir.

Agora estava me revirando em minha cama tentando dormir. O calor não ajudava em nada, e parecia que o ar condicionado não estava dando vazão. Eu colocava a culpa da minha falta de sono nessas coisas, e não no fato de não conseguir parar de pensar em nem por um momento. Aquele beijo na cozinha, que não foi exatamente um beijo por ter sido rápido demais para isso, ainda me assombrava. Me pegava voltando naquele momento repetidas vezes de forma incansável. Suas palavras me envolvendo, seu olhar dentro no meu, seus lábios finos e aquele sorriso que era algo que não poderia se colocar em palavras de tão bonito que era.

Droga. Não podia estar pensando em daquela forma. Mas uma coisa eu sabia que tinha razão, ele tinha conseguido entrar em minha mente e mexer com ela de uma forma que ninguém havia feito. Eu nem ligava para as pessoas, mas aquele cara tinha me feito ligar para ele desde quando soube que estava voltando para casa.

Passei a mão em meu cabelo e cobri meu rosto querendo gritar por causa daquilo tudo. Inferno. Eu estava dentro de um. Era isso. Levantei da minha cama, peguei meu cigarro e saí do quarto subindo as escadas para o sótão. Iria deitar um pouco no telhado e ficar olhando as estrelas para tentar distrair minha cabeça.

Mas quando cheguei na frente da janela que daria acesso para o telhado, uni as sobrancelhas, vendo que estava aberta. Bem, podia ser que tinha tido a mesma ideia que eu. Dei de ombro e segui até lá. E quando coloquei a cabeça para fora vi que quem estava ali era , deitado em uma almofada, olhando para o céu de uma forma totalmente distraída, como se o mundo ao seu redor não existisse, e fosse apenas ele e aquelas estrelas acima de nós.

Fiquei olhando por um tempo, e percebi que estava admirando ele deitado ali, e isso me fez rir fraco. Neguei com a cabeça. O que eu estava fazendo? Definitivamente, seja o que for, não deveria estar fazendo. Pensei em voltar para o quarto, mas sabia que não iria conseguir dormir. Então respirei fundo. O que eu iria perder se subisse no telhado e ficasse olhando para a noite junto com ? Acho que nada.

Tomei um pouco de ar e segurei o batente da janela e me puxei para o lado de fora, subindo o telhado com cuidado para não escorregar. Fui até e me sentei perto sem falar nada, e apenas ficamos em silêncio. Peguei meu cigarro no bolso e o acendi, dando uma tragada longa vendo a brasa queimando na ponta.

— Pensei que continuaria fugindo de mim até que eu fosse embora. — comentou me fazendo olhá-lo com cima de meu ombro.

— Foi algo que pensei em fazer. — comentei dando um pequeno sorriso e vendo ele se sentar chegando mais perto. — Por que não foi para casa? — ele deu de ombros já pegando o cigarro que estava entre meus dedos e tragando, olhando para as outras casas da minha vizinhança. — Eu encontrei com o Calvin aquele dia de noite, depois que você chegou. — achei que seria justo falar aquilo para .

Seus olhos se viraram para meu rosto me encarando por alguns segundos antes de soltar a fumaça para cima, me devolvendo o cigarro. Pelo seu olhar achei que se levantaria e iria embora.

— Aposto que ele disse que tentei matá-lo com o martelo. — disse rindo fraco e acabei fazendo a mesma coisa. — Sabia. Ele se aproveita de tudo mesmo. — estalou a língua no céu da boca. — Ele não era desse jeito quando nos conhecemos. — deu um sorriso triste. — As coisas mudaram de uma forma que foi impossível de controlar.

— Você quer falar sobre isso? — perguntei, o olhando de uma forma que estaria tudo bem se ele não falasse, sinceramente acho que não importava mais saber se aquilo era verdade ou não.

— Você quer ouvir? — rebateu e eu apenas afirmei com a cabeça por fim.

— Mas se for algo que te incomode, não precisa. — contei baixinho dando um pequeno sorriso para ele.

— Você é muito gentil quando não está sendo grosso. — sorriu abertamente me fazendo rir um pouco.

— É, às vezes eu tento. — brinquei vendo negar com a cabeça fazendo alguns fios de cabelo caírem sobre seu rosto de forma adorável, mas logo ele os colocou para trás da sua orelha.

— Nós sempre tivemos problema com ciúmes, eu mesmo sou de uma forma que às vezes não queria ser. — fez uma careta com aquilo e olhou para frente. Balancei minha cabeça e traguei meu cigarro pensando que talvez poderia ser parte da verdade então o que o Calvin disse. — Mas ele... Calvin era possessivo de uma forma bizarra. Teve um momento que ele não queria mais deixar meu irmão chegar perto de mim, falava que não gostava dele. O que não é totalmente mentira. Só que mesmo assim. Ele fez com que eu me afastasse de todos os meus amigos. — suspirou e abaixou a cabeça. — Eu tinha que ser apenas dele o tempo inteiro. Deus me livre se não atendesse ou respondesse alguma mensagem dele na hora. Era uma guerra sem fim.

— Por que você não terminou com ele? — perguntei simplesmente soltando a fumaça pelo nariz.

— Você já esteve dentro de um relacionamento abusivo? — eu senti o peso de suas palavras e neguei com a cabeça. — É difícil sair, . Em alguns casos a única forma de sair é a morte. — meu olhar foi para ele me lembrando do corte em seu pulso na mesma hora. — E foi quase isso que aconteceu. Nós começamos a discutir porque eu não aguentava mais aquilo, Calvin estava me matando de dentro para fora. — abaixou a cabeça e respirou fundo. — Eu disse que ia embora. Tinha comprado uma passagem só de ida para a França. Iria ficar lá com a minha avó por um tempo, faria isso sem avisar, mas por mais que odiasse tudo no nosso relacionamento, eu ainda gostava demais dele. — ergueu seu rosto e encarou meus olhos que estavam fixos nele agora, prendendo a minha respiração como se tivesse receio do que viria a seguir. — Quando me virei para ir, ele simplesmente não deixou. Falou que eu seria dele para sempre, e que não podia ir simplesmente daquele jeito. — fechou os olhos negando com a cabeça e torcendo seus lábios. Eu o encarava preocupado com aquela história que estava me contando, e sentia que estava falando a verdade apenas pela forma que me olhava. — Eu consegui me livrar dele para sair de sua casa, mas Calvin pegou uma garrafa e a lançou contra mim, mas não me acertou. Aquilo foi a gota d'água. Naquele momento sabia que nunca mais queria olhar para a cara dele. Tentei sair novamente, mas ele veio para cima de mim pegando o gargalo quebrado da garrafa tentando me cortar com aquilo. — esticou seu braço em minha direção me deixando ver seu girassol por dentro de seu pulso, o corte longo que tinha por debaixo dele. — Eu segurei seu braço, mas ainda assim ele conseguiu me cortar com a garrafa quebrada em um impulso. Sangrava tanto que pensei que iria morrer, mas pelo menos isso o assustou o suficiente para me soltar e se afastar.

— Eu tinha pensando... — levei meus dedos até o corte em seu pulso sentindo a pele fina que tinha se formado onde tinha a cicatriz. Então tirei os de sua pele por saber que estava ficando com vontade de subir meus dedos pelo seu braço.

— Que tentei me matar para me livrar do que estava acontecendo. — completou minha frase, e eu concordei com a cabeça me sentindo menos mal por não ter sido de fato aquilo. — Gosto demais de mim para me machucar por causa de alguém que nunca me mereceu. — aquilo me fez sorrir de leve para ele, feliz por saber disso.

— O que houve depois? — quis saber o resto da história, porque ele já tinha começado mesmo.

— Eu fiz pressão em cima do corte com um pano que achei no balcão da cozinha e fui para o hospital. Faltou apenas três milímetros para que ele não pegasse na minha veia. — sorriu de leve e passou os dedos por cima da cicatriz. — Denunciei Calvin, mas não deu em nada, ninguém sabia onde ele tinha se metido. Eu já estava com a viagem marcada, então apenas fui embora. Precisava ficar longe daqui e de tudo o que tinha acontecido para que pudesse ficar bem de novo. Foi uma das melhores decisões que tomei. Finalmente fiquei em paz. — fiquei aliviado em saber que ele tinha conseguido ficar bem depois de tudo. — Estava assim até voltar para cá. — lhe lancei um olhar rapidamente por causa disso entendendo perfeitamente o que queria dizer. — Mas não vou deixar ele estragar minhas férias, até porque preciso aproveitar vocês quando logo no final delas vou voltar para a França de novo. — apesar de já saber que só tinha vindo para cá passar o verão, fiquei levemente incomodado por ouvir de sua boca que iria embora.

— Eu sinto muito por ter acreditado nos rumores, e ter deixado que isso afetasse meu julgamento sobre você. — falei dando um sorriso pequeno, mas empurrou meu ombro de leve rindo um pouco. — Hey. — soltei rindo junto com ele.

— Relaxa, , você é neurótico demais. Eu nem ligo para isso. — deu de ombros me fazendo negar com a cabeça e tragar meu cigarro novamente. — Até porque eu acredito demais no universo. Então se fosse para você falar comigo, isso aconteceria de qualquer jeito. — abriu um sorriso enorme. — Está tudo bem. — e eu não consegui, apenas sorri para ele de volta. — Vem, deita aqui. — me puxou pelo ombro arrancando uma risada minha.

Me deitei ao lado dele dividindo com sua almofada e meu cigarro. Ficamos ali até o sol nascer. Olhando as estrelas, ficando apenas em silêncio, e às vezes conversando sobre qualquer coisa bem aleatória. Até que ele era bem divertido, tinha conseguido me tirar boas risadas ao decorrer da noite. E mesmo que negasse, eu sabia que aquilo não seria o bastante.

Poderia ficar por noites sem dormir apenas para olhar seu rosto e poder me lembrar dele depois que fosse embora.

Eu estava fodido.



Depois de um mês, estávamos descendo a rua em direção ao centro, para uma festa que teria em um prédio antigo. Todos conversando, rindo um bocado e ansiosos para o que iria rolar naquela noite. Meus olhos vagavam às vezes por , que andava na frente com e . Não entendia como ele tinha um sorriso tão bonito.

Voltando à festa, os organizadores tinham ficado reformando por meses e prometeram cinco andares diferentes de festa. Cada andar seria uma coisa. No térreo, o tema era de América do Norte, iriam tocar as músicas de cantores daqui e Canadá. No primeiro, era Europa, logo era customizado com a cultura de lá. No segundo, era América do Sul e seguia o estilo dos outros, música latina e tudo mais. O terceiro tinha ficado com África. O quarto era da Ásia. E o último andar era a área onde eles prometeram colocar até mesmo exposições e comidas típicas, também chamaram os melhores tatuadores da região para ficarem a noite toda tatuando a galera, além de ser área de fumante na parte externa. Para cada andar, tinha um ingresso, mas compramos o vip, que nos dava direito a circular por todo o prédio. Seria uma puta festa quando os DJ mais famosos tinham sido chamados para tocar. Pessoas de outras cidades e estados tinham vindo para cá por causa dela. Por isso, decidimos vir a pé, porque sabíamos que não teria lugar para estacionar e também porque iríamos beber até passar mal, teríamos sorte se conseguíssemos achar o caminho de volta para casa quando amanhecesse.

Assim que paramos na frente do prédio, a fila estava enorme, mas por sorte a vip era a menor. Logo conseguimos entrar. Seguimos para o bar do térreo e já pegamos algo para beber. Estava começando a encher ainda. Tocava uma música eletrônica qualquer que eu não fazia ideia do nome e nem de quem era. Nós ficamos dançando um pouco ali e logo o lugar estava lotado, mas ainda dava para se mexer.

— Vou dar uma volta. Vou lá na Ásia. — avisou a gente, por cima da música.

— Vai fazer o que na Ásia? — perguntou, fazendo uma careta.

— A mesma coisa que estou fazendo aqui. — disse, rindo, girando e jogando o cabelo na cara do meu amigo.

— Quer companhia? — ofereci, mordendo minha língua por aquilo.

— Não precisa, pode ficar com eles. Qualquer coisa eu mando mensagem. — me dispensou, e saiu andando.

Fiquei ali com os outros, até que decidimos subir para a Europa para ver como era. A música estava boa, o ambiente tinha ficado bem foda, tinha pessoas de todos os estilos e algumas que me agradavam bastante, mas eu simplesmente não conseguia ficar ali. Minha mente não estava naquele lugar e eu não conseguia parar de pensar em . Aquilo estava me deixando louco, então apenas me virei e saí andando sem falar nada com ninguém. Ouvi me chamando, mas apenas fiz um sinal com a mão indicando que era para me deixar.

Deslizei meus dedos por entre os fios negros de meu cabelo, o tirando de meu rosto enquanto passava pelos outros e me desviava de algumas garotas que até mesmo ficavam paradas no meu caminho me olhando. Peguei o elevador e me encostei na parede, me olhando no espelho mesmo que a luz neon ali dentro não ajudasse muito. Desci quando chegou a Ásia e respirei fundo, olhando para os lados. Como os outros pisos, ali também estava cheio. A música ali era diferente, apesar de ser eletrônica também. Sua batida tinha uns toques que nunca imaginava ouvir em uma festa.

Comecei a circular por entre as pessoas, sabendo muito bem o que eu estava procurando. Meus olhos passavam de forma minuciosa pelo lugar em busca de um único garoto, aquele dos olhos brilhantes, do sorriso que fazia as suas covinhas quererem aparecer, puxando sem que eu desse conta um meu, o que tinha amarelo como cor favorita e que adorava girassóis. Não sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, não existia nenhuma explicação e para ser sincero não queria uma.

As luzes piscavam, todos pulavam, cantavam, dançavam e eu continuava o buscando de forma incansável. Até que parei em um canto e me encostei na parede, foi aí que o vi. O tecido de sua camisa larga e aberta até a altura de sua barriga saltando conforme seu corpo se movia no ritmo da batida que fazia compasso com tudo dentro de mim. O cabelo batendo contra a pele exposta de seu peito em uma dança perfeita, suas mãos deslizando pelos fios, os jogando de um lado para o outro quando pareciam lhe incomodar, se divertindo com isso sem medo de se perderem no meio da bagunça que seu dono fazia. Seus olhos, embora fechados, ainda tinham brilho por cima deles, era glitter prateado, ele sabia fazer com que brilhassem mesmo que não estivessem abertos, nunca perdia o encanto. Os lábios estavam moldados em um sorriso largo, aquele que fazia o meu querer fazer companhia para o dele. Podia ver pela abertura de sua camisa sua pele tatuada, que mudava de cor conforme a iluminação, estava suada ou poderia ser apenas mais glitter. De qualquer forma, reluzia a luz que batia contra ela, fazendo meus dedos coçarem querendo tocá-la.

fazia passos aleatórios que casavam exatamente com a música que tocava, como se tivesse ensaiado aquilo a sua vida toda. Suas botas chelsea batiam contra o piso liso de forma sincronizada, um depois o outro, então os dois juntos, então mudavam, giravam, pulavam. E tudo o que eu fiz foi sorrir enquanto o olhava dançando de longe, admirando sua leveza, sua confiança e principalmente como era auto suficiente. Ele não precisava de ninguém para estar naquele andar, naquela festa, naquela dança, ele estava feliz por estar ali consigo mesmo e eu nunca estragaria seu momento. Algumas pessoas achavam aquilo solitário, estar no meio de tantas pessoas e estar sozinho, mas eu via de outro jeito, o mesmo jeito que aquele garoto via. Ele parecia um pássaro voando, lindo e livre, totalmente liberto de todas as amarras que o prendiam ao chão, que o levaram direto para o abismo. estava sendo apenas ele mesmo, sem medo.

— Bonito, né? — surgiu do meu lado, como se estivesse ali o tempo inteiro.

— Lindo. — respondi, e não era realmente à sua beleza que me referi.

— Por que não vai lá dançar com ele? — quis saber, me fazendo sorrir ainda mais.

— Porque estou admirando. E não quero estragar o momento dele. — não conseguia tirar os olhos de nem por um segundo.

— Bonita a forma como gosta dele. É intenso. — aquilo me fez piscar como se tivesse voltado para a realidade.

— Não gosto dele. — falei, logo, olhando para a minha prima dessa vez.

— Não sei porque ainda perde seu tempo em mentir para mim quando crescemos juntos. — rebateu, olhando para a pista de dança. — Não tem nada demais em falar que gosta dele, .

— Isso iria me contradizer.

— Está tudo bem, nós fazemos isso o tempo inteiro. — deu dois tapinhas em meu braço e saiu andando. — Estamos indo lá em cima comer algo. — informou, alto, antes de sumir no meio da multidão.

Fiquei ali com cara de idiota, vendo minha prima indo embora, até que olhei para de volta e agora ele estava parado na pista, me encarando um pouco sério. Então veio andando em minha direção, me encarando fixamente enquanto tentava se desviar das pessoas, algumas até o esbarravam, fazendo recuar um passo, mas nada o fazia parar. Quando chegou mais perto, pude ter o vislumbre de seus olhos que me faziam nunca querer desviar. Sua mão pegou a minha sem que nenhuma palavra fosse dita e ele se virou, me fazendo acompanhá-lo de volta até a pista.

Paramos e olhou para cima, encarando o teto, então fiz o mesmo, vendo que tinha vários fios vermelhos cruzando por todos os lados, mas todos estavam se encontrando bem acima de nós. Isso me fez sorrir, eu conhecia aquela lenda. Diziam que quando nascemos uma linha vermelha é presa no nosso dedo e ela te leva até outra pessoa que está destinada a você. O fio poderia se embolar às vezes, ficar preso em nós que parecem que nunca seriam desatados, mas não importava, com o tempo você encontraria a outra pessoa que estava no final do seu fio e ali você saberia que nasceram para ficarem juntos. Nós éramos um nó ou o final do fio? De qualquer forma eu não tinha como saber.

Desci meu olhar e consegui ver o rosto de erguido, olhando para o teto com um sorriso lindo, tal qual parecia que estava encarando as estrelas e conversando com elas, totalmente maravilhado, parecendo estar dentro de seu próprio universo. O que ele deveria estar pensando? A mesma coisa que eu? Mas, sinceramente, aquilo perdeu totalmente o sentido quando seu rosto desceu e seus olhos se encontraram com os meus. Naquele momento em que meu ar ficou preso dentro de meus pulmões e o tempo começou a ficar mais lento, eu soube que não importava se ele era apenas um nó ou a ponta do meu fio, porque tudo o que precisava fazer era chegar mais perto daquele garoto e tocar em sua pele para saber que tudo aquilo era real.

Cheguei mais perto dele e deixei minha mão tocar seu rosto enquanto olhava dentro de seus olhos, vendo as estrelas que existiam dentro deles. Eram tão lindos. Sua pele estava quente e por onde meus dedos passavam o glitter rebatia a luz, parecendo que estavam acendendo, como se brilhasse com meu toque. Então seu sorriso foi diminuindo aos poucos, se transformando em um pequeno e doce, fazendo o meu vir e tomar conta de meu rosto. Não importava o que eu falasse, ou não falasse, poderia fugir, correr para o lugar mais distante do mundo e ainda assim... Continuaria gostando daquele garoto, que agora me olhava de uma forma que não tinha como me fazer mentir, ele queria que fosse apenas eu, sabia disso.

Até que minha outra mão pegou sua cintura suavemente e o puxou para perto de mim, fazendo que desse um pequeno passo, sua mão direita segurou seu ombro e a esquerda subiu lentamente pelo meu braço, até que seus dedos seguraram meu pulso, depois desceram, fazendo um carinho leve em minha pele com o polegar. Seus olhos estavam fixos nos meus, não se desviavam nem por um segundo. Cheguei mais perto, deixando minha testa encostar na sua e a ponta dos nossos narizes se intercalaram.

Respirei fundo e deixei meus olhos se fecharem enquanto juntava meus lábios nos de . Senti ele se abaixar um pouco e sua mão se fechou no tecido de minha camisa, assim como a outra segurou meu pulso com certa pressão. Então toquei sua língua com a minha sem a menor pressa, porque eu queria sentir cada segundo daquele beijo. Minha mão apertou sua cintura e o puxei um pouco mais para baixo, o trazendo para perto de mim, enquanto passava meus lábios por cima dos dele, sentindo que queria mais, gostando daquele beijo de um jeito perigoso, porque era simplesmente delicioso. Não tinha nenhuma pretensão ali que não fosse apenas aquilo, apenas um beijo, como se fosse a primeira vez. Meu coração estava acelerado, minha respiração querendo ficar pesada por não estar puxando muito ar e eu tinha me esquecido como era se sentir daquele jeito. tinha me levado a sentir os sentimentos mais crus que poderíamos ter e isso me fazia ficar eufórico.

Ele se afastou um pouco, me dando um selinho, e voltou para sua altura, soltando meu ombro e pulso, então apenas abraçou minha cintura, deitou seu rosto em meu ombro, mas uma de suas mãos subiram parando em meu peito. Tudo o que fiz foi abraçá-lo de volta, encostando meu queixo ao lado de sua cabeça, e fechei meus olhos, tentando fazer tudo dentro de mim voltar a se acalmar.

— Talvez a gente... — comecei a falar, mas me interrompeu.

— Não. — ele disse, e seus braços me apertaram de leve, se afrouxando em seguida. — Não me acorde. — pediu, fazendo um sorriso vir em meus lábios. — Vamos continuar sonhando.

— Eu deveria perguntar se você é real. — estava afirmando, porque tinha momentos que ele apenas parecia que não existia.

— Você quer que eu seja real? — seu rosto se desencostou de meu ombro e ele ergueu a cabeça para poder me olhar.

— Quero. — respondi, olhando dentro de seus olhos. — Você quer que eu seja?

— Eu sei que você é real. — sua mão alisou de leve meu peito. — Eu ouvi. — então nasceu um pequeno sorriso em seus lábios. — E é lindo.

Era meio difícil acreditar que aquelas palavras tinham mesmo saído de sua boca, mas era real. Era sendo ele mesma e sendo alguém que nunca imaginava que seria. Aquele garoto tinha conseguido me surpreender de formas inimagináveis, ele ia de um extremo ao outro, era uma bagunça, mas uma bagunça perfeita que a transformava em única. Eu me amaldiçoava por ter pensado tanta merda sobre ele, por ter acreditado no que os outros falavam, e principalmente por não ter me permitido conhecê-lo de verdade antes.



e suas festas infernais, ou infinitas como costumava dizer, e aquilo sempre me tirava um riso. De qualquer forma não aguentava mais, mesmo que gostasse de festas, ainda mais depois do que rolou, meu amigo achava que aquilo era para ser comemorado o tempo inteiro. Fala sério! Eu só tinha ficado com , não que isso se resumisse apenas em um beijo, pois sentia que era além disso, mas aquilo não sairia da minha mente, porque em pouco tempo as férias chegariam ao final e ele partiria. Não queria ficar pensando naquilo, especialmente quando estávamos juntos, não acabaria não aproveitando os nossos momentos, que foram se tornando especiais para mim. Aquele garoto me fazia rir de um jeito tão bom que eu me esquecia do resto do mundo. Não sabia como, mas havia conseguido me pegar, e eu não queria ser solto, não agora pelo menos.

Então, sem que Li percebesse, fugi de nossa própria casa com , e fomos para a casa dele. Seus pais tinham ido com sua avó passar o final de semana na casa de seus tios na cidade vizinha, então o lugar estava no maior silêncio possível, quando até mesmo estava enfiado naquela festa, junto com e . Seria só nós dois o resto da noite, e era o que eu realmente queria, apreciar aqueles momentos com aquele garoto que tinha estrelas nos olhos. Ele me fazia ver o universo todo apenas de encarar aqueles orbes.

Assim que chegamos fomos até a cozinha pegar algo para comer, e levar para o telhado, porque pensamos em ficar um pouco lá em cima curtindo a noite, pois tínhamos adquirido esse hábito desde o dia que o peguei fazendo aquilo. Até que parei e fiquei olhando para fazendo pipoca na pipoqueira elétrica, ele sorria vendo cada milho saltando como se até naquilo houvesse algum tipo de beleza extraordinária, mas eu tinha certeza que para aquele garoto deveria ter quando seus olhos viam o mundo de um jeito como o resto não conseguia.

A campainha tocou me fazendo olhar por cima de meu ombro, e logo olhei para que estava encarando a mesma direção que eu estava antes, agora com suas sobrancelhas unidas tentando descobrir quem poderia ser essa hora da noite. Ele se mexeu para ir lá ver.

— Pode deixar que eu vejo. Cuida da pipoca. — falei piscando um olho para ele e dando um sorriso, o fazendo me dar um seu deixando aquelas covinhas perfeitas se formarem em suas bochechas.

Me virei e fui até a porta da frente, onde a campainha foi tocada novamente antes que eu conseguisse atender. Certamente algum vizinho querendo algo, ou coisa do tipo. Segurei a maçaneta com certa força e a girei, fazendo a porta se abrir, e quando a puxei, meus tons castanhos se depararam com um par de azuis que me olharam com raiva quando viu quem havia atendido.

— O que você está fazendo aqui? — Calvin já disparou em um tom bem irritadiço me fazendo unir as sobrancelhas por tamanha ousadia. — Eu falei para você ficar longe dele! — rosnou apontando o dedo em minha direção.

— Acho que eu quem deveria estar fazendo essa pergunta. — rebati segurando a maçaneta com mais força pronto para bater aquela porta na cara daquele sujeito petulante.

me chamou. — estreitei meus olhos em sua direção.

— Me poupe, Calvin. — eu não iria discutir com gente louca, então empurrei a porta para fechar, mas sua mão segurou a madeira com força me impedindo. — Solta essa merda antes que eu enfie a mão na sua cara. — grunhi para ele perdendo a pouca paciência que eu tinha, empurrando a porta.

— Cadê o ? — quis saber já aumentando o tom de voz. — Eu preciso falar com ele!

— Precisa bosta nenhuma! Se manda! Ele não quer ver a sua cara nem pintada de ouro e cravejada de diamante. — e nisso aquele babaca empurrou a porta com tudo já me pegando pela camisa em seguida. — Me solta, seu surtado! — mandei, mas seu punho já acertou a lateral do meu rosto me fazendo cair em cima do móvel que tinha no hall.

— Mas que inferno está acontecendo aqui?! — ouvi a voz de tomar o lugar com um tom de irritação que eu ainda não conhecia. — Sai da minha casa, Camel! — esbravejou e senti suas mãos me puxando para cima. — O que esse idiota fez? — perguntou segurando meu rosto e fazendo uma careta enquanto eu lambia o canto de meu lábio que estava ardendo.

, solta essa babaca. — Calvin mandou e já o encarou com raiva. — Agora! — berrou me fazendo arregalar os olhos, o cara era completamente louco. — Eu mandei você soltar ele. — então puxou para trás com força fazendo com que suas mãos soltassem meu rosto e se afastasse de mim.

Tudo foi muito rápido. Quando pisquei meus olhos já estava rolando no chão com Calvin aos socos, e não era brincadeira, eles estavam pegando para se machucar, tanto que o chão já estava até sujo de sangue. Corri até eles puxando Calvin de cima de e o jogando contra uma parede a qual fez até os quadros que estavam pendurados nela cair com o impacto. Ele veio para cima de mim, mas o empurrei de novo, então já veio por trás de mim tentando pegar Calvin, e tive que empurrá-lo pelo peito, só que ao contrário do outro garoto, ele era maior e mais pesado, então quase não surtiu efeito.

— Parem! — mandei elevando a minha voz olhando que estava com o nariz sangrando e molhando seu peito de tanto que sangrava. Prendi os lábios em uma linha reta, e encarei Calvin que tinha o supercílio cortado. — Vai embora, cara! Não tem nada para você aqui. Chega. está comigo, ele não quer mais nada contigo. — umedeci meus lábios tentando não travar com as próprias palavras que falei. — Se continuar eu vou chamar a polícia e todos nós sabemos que as coisas vão piorar se isso acontecer. — seus olhos azuis olharam para trás de mim, certamente encarando agora.

— Eu te amo, . — soltou em um tom de choro deixando seus ombros caírem. — Me dá mais uma chance, por favor. — tentou se aproximar, mas não deixei. — Sai da frente, merda! — mudou para um tom agressivo de novo, o que me fez crer que aquilo era só a porra de um teatrinho ridículo.

— Você não ouviu o ? Eu estou com ele agora. Tudo o que eu sinto por você é repulsa, Calvin. Vai embora. — pediu calmamente e senti sua mão segurando a minha, então a apertei demonstrando que não iria soltar. — Me deixa em paz, por favor. Eu não aguento mais isso. — Então lágrimas desceram dos olhos azuis do moreno e eu achava aquilo tão falso que nem ao menos conseguia acreditar, para mim aquilo era só uma obsessão louca.

, por favor... — tentou mais uma vez, e agora chegando mais perto, mas me afastei levando comigo, e seus tons azuis me fuzilaram.

— Chega, Calvin. Não me chama mais assim. Vai embora. — permaneceu com o mesmo tom de antes.

— Me dá pelo menos apenas mais um beijo. — suplicou me fazendo torcer os lábios com certo nojo por aquilo. Qual parte ele ainda não tinha entendido que não queria nem chegar perto dele?

— Não. Mais nada. Eu não quero mais te ver. Vai embora. Nós terminamos tem muitos anos. Só pare. — disse e me puxou para mais perto de si, passando sua mão pela minha cintura, me abraçando. Segurei o sorriso que quis sair de meus lábios por causa disso, sabia que era uma provocação. — Eu não quero mais nada contigo, Calvin. — soltou bem devagar para ver se assim o garoto entendia.

— Você pelo menos gosta dele? — questionou erguendo seu queixo em minha direção.

— Isso não te diz respeito. Agora, vá embora. — pediu mais uma vez.

Então Calvin se virou e saiu andando, mas parou na porta segurando no batente e ficou ali por alguns segundos. Minha mão apertou a de esperando que aquele cara fosse aprontar qualquer merda, mas ele apenas se virou olhando para nós por alguns segundos. Meu ar parou. Por que ele não desistia logo depois de tudo o que havia falado? Não tinha sentido ele continuar com aquilo. E tudo o que fez foi dar um pequeno sorriso.

— Espero que você seja feliz, . — apenas desejou me fazendo ficar com cara de espanto, e finalmente foi embora.

Ouvi soltando o ar e eu fiz o mesmo olhando para a porta ainda aberta, sentindo o vento nos acertando de leve. O que tinha acabado de acontecer ali? Então por um momento parei para pensar em tudo o que tinha rolado naquela briga onde soltei que estava comigo, e ele confirmou isso. Aquela parte rodeava a minha mente me perturbando de forma estranha. Nós estávamos juntos? Não poderíamos, porque ele iria embora. Certamente que falou aquilo só para ver se Calvin largava de seu pé. Mas outra parte também me deixou pensativo, quando seu ex-namorado o questionou se gostava de mim, a resposta que deu sobre aquilo tinha sido vaga, mas uma parte de mim queria saber a verdade. De qualquer forma eu nem deveria estar pensando sobre isso.

Soltei a mão dele e fui até a porta, a fechando e trancando dessa vez, vai que Calvin voltasse com uma arma, ou quem sabe um martelo, e tentasse nos atacar. Vai saber, ele parecia bem louco para o meu gosto.

Assim que me virei vi que o nariz de ainda sangrava, e isso me fez ir em sua direção e o levar até o banheiro. Não falamos nada, apenas o coloquei sentado no vaso com a tampa abaixada, então sai rapidamente indo até a cozinha e pegando gelo. Enrolei em um pano de prato e voltei, mas antes olhei seu nariz para ver se não tinha quebrado ou deslocado, mas ele parecia estar em perfeito estado.

— Assoa o nariz para o sangue desceu, ele não pode voltar. — pedi fazendo com que se levantasse e fosse até a pia, então mais sangue desceu quando fez o que falei. Depois fez de novo, e na segunda já saiu menos. — Vem, senta. — o puxei para se sentar. — Não leva a cabeça para trás. Deixa ela um pouco para frente, e respira pela boca. — disse, e coloquei gelo em seu nariz. — Segura. — falei e peguei papel e colocando embaixo para que ele não se sujasse mais. — Segura aqui também. Eu vou te limpar. — avisei e me virei, pegando a toalha de rosto e a molhando.

Me abaixei na frente de abrindo sua camisa deixando seu peito tatuado exposto, então passei a toalha ali olhando cada desejo mais de perto, limpando seu peito sem a menor pressa, admirando como era forte e muito bonito. Aquilo me fez prender o ar por alguns segundos, mas tentei não pensar nisso, e o quanto senti vontade de beijar sua pele naquele momento. Então meus olhos subiram, e vi como seu tom de estava intenso sobre mim. Senti meu coração se acelerar e eu não consegui desviar. Droga. O que ele estava fazendo comigo? Fui tomado pelo desejo de juntar nossos lábios, mas não o fiz, não era hora para isso.

Voltei a limpá-lo, agora seu pescoço. E fui subindo até chegar em seu queixo, mas estava limpo, pois ele tinha lavado quando assoou o nariz. Sua mão desceu tirando o papel, e agora não descia mais sangue. Me deu visão de seus lábios, e como eles estavam levemente avermelhados. E meio que sem pensar, passei meu polegar pelo seu inferior, mas sua mão segurou meu pulso me fazendo subir o olhar até encontrar o seu. Então me puxou para cima, e sua outra mão soltou o gelo, me pegando pela cintura e me fazendo sentar em seu colo, me deixando surpreso por esse ato.

— Eu não aguento você fazendo isso. — sussurrou, sua voz estava rouca, e me causou um arrepio intenso. — Eu quero tanto te beijar. — contou me fazendo piscar os olhos lentamente. — Mas preciso esclarecer umas coisas.

— Você não precisa esclarecer nada, . — falei segurando a lateral de seu rosto, então seus olhos se fecharam. Cheguei mais perto para beijá-lo, mas ele não deixou que eu fizesse isso, abaixando um pouco sua cabeça. — Ok, fale. — soube que não me permitiria juntar nossos lábios se não o deixasse falar.

— Nós estamos juntos, ? — ergueu a cabeça após sua pergunta, me fazendo abrir um pouco mais meus olhos. — Nós estamos juntos para você? — reformulou, e sinceramente eu não sabia o que dizer.

— Você quer que estejamos juntos? — devolvi com a voz incerta.

— Não faça isso. Me responde, por favor. — sua mão apertou minha cintura de leve.

— Eu quero estar junto com você, mas não posso fazer isso sozinho. — fui sincero, e deixei meu polegar passar em sua bochecha. — Mas também não adianta muito, logo você voltará para a França. — ele negou de leve com a cabeça e lambeu seus lábios.

— Se eu falasse que não quero mais voltar para a França, adiantaria? — seu questionamento fez tudo dentro de mim se revirar com força, e meus olhos ficaram vidrados nos seus. — Porque eu estou cogitando essa ideia.

— Você tem uma vida lá. Vai mesmo deixar isso para trás? — eu precisava mesmo saber se era isso que ele realmente queria.

— Mas eu sinto falta da minha vida aqui. E sei que se eu for embora, vou sentir ainda mais, especialmente de você. — aquilo foi capaz de roubar o meu ar. — Porque eu quero estar contigo. — prendi meus lábios em uma linha reta, meu coração estava tão acelerado naquele momento que achava que poderia ouvir de longe. — Sei que pode não dar certo, mas eu nunca saberei se não ficar e tentar. — respirou profundamente e sua mão afagou minha cintura. — Eu gosto de você, . — seus olhos estavam em um tom de verde muito forte naquele momento, e tinha aquele brilho intenso neles que me fazia querer morar ali.

— Então fica, . Fica comigo. — cheguei mais perto e encostei minha testa na dele, então fechei meus olhos sabendo o quanto aquilo era difícil. — Eu gosto de você, . — finalmente admiti dando um pequeno sorriso.

— Vou ficar. — sussurrou passando seus lábios de leve sobre os meus, e eu podia sentir que ele também sorria. — Era só isso que eu precisava saber. — se afastou. — Vem comigo.

Me levantei com sua mão apertando de leve minha cintura, então saímos do banheiro. foi apagando todas as luzes por onde passávamos deixando a casa em uma escuridão total, aquilo me fez sorrir de leve curioso para saber o que ele pretendia fazer. Segui seus passos confiando nele, segurando sua mão e não questionando nada.

Até que entramos em seu quarto. Ele fechou a porta e soltou minha mão, tirando aquela camisa suja e a jogando em qualquer canto. Eu apreciava a cena pela luz que vinha da janela aberta, vendo as curvas de seu corpo e como eram perfeitas. tirou o tênis também, ficando apenas com sua calça jeans clara.

Então me olhou e se sentou em sua cama, que ficava embaixo da janela, e bateu duas vezes para que me sentasse na sua frente. Sorri de leve com aquilo e fui até lá, tirando o meu tênis e me sentando onde pediu de pernas cruzadas. Ele não falou nada, apenas ficou me olhando. Aquela luz fraca entrando o fazia parecer um anjo sentado ali. Não resisti e deixei as pontas de meus dedos tocarem seu rosto como se fosse uma porcelana frágil, com medo que fosse quebrar ao meu toque. Sua pele era tão quente e aveludada, que de forma involuntária fiz um carinho em seu maxilar sentindo aquele toque agradável deslizar pelos meus dedos como água.

Meus olhos estavam fixos agora por onde meus dedos tocavam, admirando a beleza daquele ato e de como seus traços eram belos visto daquele ângulo. Senti vontade de dizer o quanto era lindo, mas parecia que a magia terminaria se algum som além de nossas respirações fosse emitido. Eu só queria ouvir o silêncio e sentir aquilo que transbordava dentro de mim por causa daquele garoto. Ele me hipnotizava sem precisar me olhar, suas formas faziam com que meus olhos perdessem total controle e tivessem vida própria, e isso era só porque estava observando seu rosto. Não ligava para seu corpo mesmo que soubesse ou pelo menos achasse o que estava por debaixo de suas roupas. Os pequenos detalhes em eram o que me chamava atenção.

Deixei que as pontas de meu indicador e dedo médio vagarem pelo contorno de seu queixo, subindo até seus lábios tocando primeiro o inferior e depois o meio do superior, sentindo como eram macios, vendo a forma que se abriram de leve por causa do meu toque, fazendo os meus ficarem do mesmo jeito e soltar um suspiro leve.

Meu olhar subiu até seus olhos procurando por aquele tom verde que me fascinava, aquele brilho que só ele tinha, mas não os encontrei, porque estavam escondidos de mim por seus olhos estarem fechados em uma leveza que fez tudo dentro de mim cintilar. Um pequeno sorriso me tomou por ver como parecia ter se desprendido de tudo e estava apenas ali comigo, sentindo cada toque meu em seu rosto. Era tão bonito vê-lo daquela maneira.

Deixei as pontas de meus dedos deslizarem por sua bochecha e meu rosto se aproximou do dele, fechando meus olhos, passando a ponta de meu nariz pelo seu bem devagar por saber que deveria estar dolorido, sentindo sua respiração se misturando com a minha. Até que permitir que meus lábios se intercalarem com os dele, beijando o seu lábio inferior suavemente, sentindo os seus bem suavemente beijando o meu superior da mesma forma. Como se beijássemos uma rosa.

Me afastei abrindo meus lábios sentindo a ponta do meu nariz esbarrar pelo seu, e sua língua tocou a ponta da minha como leite morno e canela. Quente e doce. Com um leve gosto de mel. Tomei sua boca na mesma proporção que ele tomava a minha, em um beijo calmo igual a brisa que entrava pela janela aberta e batia em meu cabelo.

As pontas dos meus dedos pressionaram levemente sua pele diante da sensação gostosa que aquele beijo estava me dando, fazendo minha respiração ficar um pouco pesada. E mesmo se fosse preciso, eu não conseguiria parar de beijar , porque o toque de seus lábios nos meus era o sinônimo da perfeição. Então eu soube que naquele momento, mesmo que se um dia não fizesse mais aquilo, que seu beijo se tornaria inesquecível para mim.

Depois se um tempo, um tomando a boca do outro naquela calma toda, sentindo cada segundo de nossos toques, permiti minha língua uma última vez deslizar pela dele e me afastei, passando a ponta de dela pelo seu lábio superior e soltando o ar, ou pelo menos tentando recuperar o que eu perdi naquele beijo.

Aos poucos abri meus olhos e pude encaram o semblante sereno de que ainda tinha os olhos fechados, até que os abriu vagarosamente me olhando com aquele verde que quase não dava para ver por causa de suas pupila estarem muito dilatadas devido a luz fraca que vinha do lado de fora. Mas tinha algo naquele olhar, era diferente das outras maneiras que já havia me olhando. Não sabia dizer o que era, só sabia que tinha me feito olhar para ele daquela mesma maneira, era intenso e suave ao mesmo tempo. Uma dopamina.

Não havia mais saída para mim, e sinceramente não queria mais uma. A única coisa que eu desejava era aquele homem que estava sentado bem ali na minha frente, o qual falei que nunca gostaria, o mesmo que agora fazia o meu coração ficar acelerado apenas em me olhar. Eu havia me tornado dele sem que tivesse me dado conta disso, e ainda assim, mesmo preso ali, me sentia totalmente livre. Livre junto com ele.


FIM


Nota da autora: Sem nota.

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