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Revisada por: Sagitário♐

Última Atualização: 31/5/25
No obscuro véu do destino, uma profecia ancestral ecoa,
Da união proibida entre o oculto e o desconhecido brota,
Uma criança concebida sob o véu da magia obscura,
Nascida do amor proibido, marcada pela sina sinistra.

Sob a luz pálida da lua, ela crescerá cintilante,
O coração pulsante de trevas, destinada à perdição,
Ao atingir a maioridade, seu destino será selado,
Como uma marionete das sombras, seu caminho traçado.

Uma amante das trevas, seu coração pertencerá ao além,
Em seus lábios, o beijo da morte, em suas veias, o veneno do além,
Ela se entregará aquele que anda a noite, senhor das noites sem fim,
E juntos, erguerão o trono dos mortos vivos, destinados ao abismo.

A humanidade se curvará diante de sua sombra impiedosa,
Escravizada pela fome voraz dos filhos da noite tenebrosa,
Sob o reinado dos noturnos, o mundo conhecerá o medo,
E a profecia sombria se cumprirá, selando o destino sem remédio.




EM ALGUM LUGAR NA REGIÃO DA NORUEGA, DOIS ANOS ATRÁS...


O vento gelado soprava pelas estreitas ruas da cidade norueguesa de Yurdisvik, trazendo consigo o aroma fresco do mar e o eco distante dos fiordes. As casas de madeira, pintadas em tons de azul e verde, se erguiam em meio à paisagem rústica envolta por montanhas majestosas, suas janelas adornadas com cortinas de renda que tremulavam suavemente com a brisa gelada do Ártico.
Era uma cidade encantadora, mas também misteriosa, onde as sombras pareciam dançar nas vielas estreitas e os segredos se escondiam nas paredes de pedra.
No coração de Yurdisvik, situava-se um pequeno café de aspecto antiquado, com mesas de madeira escura e cadeiras de ferro forjado. O aroma do café recém-torrado pairava no ar, misturando-se com o cheiro adocicado de bolos caseiros.
Era ali que Igor Montgomery, um homem de olhos verdes que pareciam brilhar com a intensidade de uma floresta em chamas, com porte físico robusto, moldado pela disciplina militar, e sua pele escura contrastava com o branco imaculado da neve que cobria as ruas lá fora.
O homem se encontrava sentado, imerso em seus próprios pensamentos ocultos sob uma máscara de calma aparente.
À sua frente, sobre a mesa de madeira desgastada, repousava um antigo livro pequeno, suas páginas amareladas pelo tempo e sua capa adornada com símbolos complexos, porém, repleto de palavras antigas e enigmas obscuros; um tesouro esquecido pelos séculos que guardava os segredos do destino. Igor observava o livro com uma expressão séria, como se buscasse decifrar seus segredos ocultos.
Com um movimento rápido e preciso, ele ativou o comunicador preso discretamente à sua orelha, murmurando baixinho:
Agente Ártemis... — A voz suave, mas carregada de autoridade. — Atualização de status do mensageiro do ninho.
Seus olhos varreram furtivamente o ambiente, procurando pelo mensageiro que deveria se aproximar. A tensão estava presente em cada músculo de seu corpo, pois sabia que os membros daquele ninho eram astutos e qualquer movimento em falso poderia comprometer sua missão.
Ele permaneceu alerta, seus sentidos aguçados como as presas de um lobo na escuridão da noite.
Uma voz sussurrou em seu ouvido através do comunicador:
O mensageiro está a caminho. Está vindo do Norte. Mantenha-se alerta, agente Apolo. Eles são perspicazes, e seu líder não hesitará em impedir a aproximação se suspeitar que você não está sozinho.
O coração de Igor acelerou enquanto ele aguardava, seus sentidos aguçados e sua mente alerta para qualquer sinal de perigo iminente. A atmosfera ao seu redor era carregada de suspense, como se o próprio ar estivesse impregnado com o segredo que ele buscava desvendar.
Ergueu-se da cadeira com uma graça felina, seus músculos tensos e prontos para o que estava por vir.
Igor observava atentamente os frequentadores do café, cada movimento, cada gesto, em busca de qualquer sinal do mensageiro que se aproximava.
E então, ele o viu.
O homem se aproximou com uma elegância natural, sua figura alta e esbelta cortando o ar gélido como uma lâmina afiada. Seus cabelos escuros estavam meticulosamente arrumados, contrastando com a palidez de sua pele e o brilho penetrante de seus olhos azuis gelados, que pareciam penetrar a alma de quem cruzasse seu caminho, emanando uma aura de mistério e alto perigo. Ele vestia um sobretudo cinza impecável e roupas de grife que exalavam sofisticação e poder.
O mensageiro se aproximou de Igor com a elegância de um predador, estendendo a mão como um gesto de cumprimento. Igor capturou o olhar do homem, reconhecendo nele a determinação e a sagacidade próprias dos membros de um ninho poderoso.
Uma frase sussurrada escapou dos lábios do mensageiro:
A escuridão será subjugada pela luz.
Igor apertou a mão do mensageiro, correspondendo ao cumprimento de maneira firme e discreta. Ambos se sentaram, os olhares se cruzando em um jogo de intenções ocultas. O mensageiro exibia um posicionamento refinado, uma leve sedução em seus gestos calculados, que contrastava com a firmeza implacável de Igor.
Igor, não deixando de notar a aura intrigante que envolvia o mensageiro, iniciou:
— Você não me parece ser apenas um mensageiro comum do ninho. — observou ele, seu tom carregado de curiosidade.
O mensageiro riu, desviando elegantemente o olhar para o livro de capa surrada sobre a mesa, o reconhecendo.
— Este livro é considerado uma bíblia de esperança para algumas criaturas — explicou ele, sua voz suave como seda, o dedo pálido apontando de maneira elegante para o objeto em cima da mesa de madeira. — Presságios de um futuro em que essas criaturas não precisam mais se esconder em sociedades ocultas, reprimindo suas culturas e desejos.
Igor ponderou as palavras do mensageiro, sua expressão séria revelando as profundezas de suas preocupações.
— Existem razões para que os humanos comuns vivam sem conhecimento real do Mundo das Sombras — argumentou ele, franzindo o cenho. — Poderia haver caos desproporcional para ambos os mundos. Claro, que, como se já não houvesse caos desproporcional mesmo sem essa revelação.
O mensageiro pareceu concordar, mantendo o ar misterioso que o envolvia. Ele então perguntou sobre o item requisitado, desviando habilmente a conversa para o assunto em questão.
Com um gesto rápido, Igor retirou um pequeno frasco escuro do bolso e o colocou sobre a mesa.
— Dentro deste frasco está um pouco do sangue do indivíduo que estamos investigando há anos — revelou ele, seu olhar fixo no mensageiro.
Os olhos do mensageiro se fixaram no frasco, e por um instante, uma sombra de vermelho parecia dançar em suas írises azuis gélidas. Era como se o próprio sangue corresse por suas veias, despertando uma sede ancestral.
Quando o homem se aproximou para pegar o frasco, Igor o deteve com um gesto firme.
— É crucial confirmar se este sangue possui propriedades mágicas — exigiu. — Além disso, é importante saber quando poderei me encontrar com o líder do ninho.
O mensageiro desviou o olhar do frasco para Igor, sua expressão assumindo um tom sombrio e sério. Então, com um sorriso enigmático, ele se levantou da cadeira e fez uma leve reverência.
— Você está olhando para ele — declarou com uma voz carregada de autoridade. — Sou Brunno Warrant, líder do ninho de vampiros de Yurdisvik.
O momento de revelação trouxe consigo uma atmosfera carregada de tensão e horror. Enquanto Brunno se identificava como líder do ninho, Igor sentiu-se mergulhado em um abismo de incertezas. Ele se viu obrigado a reconsiderar cada movimento, cada palavra trocada naquele café sombrio.
Quando Brunno se sentou novamente à mesa, Igor não pôde deixar de notar a elegância calculada em seus gestos.
— Peço humildes desculpas por tê-lo enganado, com um disfarce tão... dissimulado. — Sorriu de maneira comedida, uma leve faísca cintilando em seus olhos azuis. — Porém, me intriga os propósitos de uma repentina aliança entre a sua organização, que... diga-se de passagem, nos últimos tempos, vem se preocupando mais em julgar e caçar meus semelhantes, ao contrário de propor uma aliança.
Igor deixou de lado a pose firme e riu com a afirmação de Brunno, uma risada que continha vestígios de nervosismo.
— Há rumores de que você é o único vampiro capaz de detectar magia adormecida em sangue — respondeu, buscando manter a compostura. — Por isso, a colaboração de seu ninho foi solicitada, pois você é o único a nos dar a prova cabal.
Brunno retribuiu o riso, seus olhos brilhando com interesse, e concordou com a cabeça confirmando a habilidade.
Ele pegou o frasco com o sangue e o abriu, inalando o líquido com um movimento circular. Então, sem hesitar, levou o frasco até os lábios e ingeriu o conteúdo, seus olhos se acendendo em um azul mais brilhante e suas presas surgindo como facas afiadas capazes de cortar até um fio de luz.
Enquanto observava o ato, Igor sentiu uma pontada de desconfiança e temor. Os olhos de Brunno haviam piscado com um leve traço avermelhado antes de ele beber o líquido, no momento em que primeiro avistou o frasco instantes atrás. Mas a sensação foi momentaneamente dissipada quando Brunno fechou os olhos e pareceu apreciar o sabor do sangue.
Brunno balançou a cabeça de um lado para o outro, se deleitando com o sabor do líquido. Seus olhos se fecharam por um instante antes de ele soltar uma risada, surpreendendo Igor.
— Esse é o sangue de um rapaz que estamos investigando há tanto tempo — comentou Igor, sua voz cautelosa.
Brunno riu e cruzou as pernas elegantemente, suas presas ainda à mostra, Igor sentiu-se novamente alerta.
— Este sangue não possui propriedades de magia adormecida — revelou o vampiro em tom sombrio, seus olhos azuis sendo tingidos por traços de vermelho. — Entretanto, existem outras particularidades essenciais que merecem ser levadas em conta, não apenas pela Organização Venator, como claro... por mim.
Igor sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto observava Brunno.
— O que seria? — perguntou, sua voz como um sussurro carregado de tensão, seus dedos formigavam e suas panturrilhas queimavam.
Brunno riu novamente, um som que ecoava como o chiar de uma criatura das sombras.
— Este sangue pertence a um garoto — anunciou ele, sua voz reverberando com uma intensidade sinistra. — E por ironia do destino, é seu irmão adotivo, Alexander.
O choque se espalhou pelo rosto de Igor enquanto ele processava a revelação. Não havia como ele saber essa informação, a menos que tenha descoberto somente através de algumas gotas de sangue. A sua mente girou com pensamentos tumultuados.
Brunno se aproximou, seus olhos cintilando de um jeito predatório e seu sorriso se alargando com malícia.
— Seu irmão é o alvo desse espetáculo para verem se de fato é a tal criança profetizada a trazer a destruição do mundo humano e do mundo das sombras — confirmou o vampiro a pergunta silenciosa de Igor, suas presas reluzindo à luz fraca do café. — E é por isso que você está aqui. Para protegê-lo.
Igor se contorceu na cadeira, seu coração batendo com uma intensidade frenética, tentando se libertar da sensação de sufocamento que o envolvia. Ele tossiu, sentindo o ar rarefeito em seus pulmões, suas veias queimando como fogo.
— E qual o seu interesse com ele ser ou não a criança da profecia? — perguntou Igor, sua voz um sussurro fraco.
Brunno se aproximou ainda mais, seus olhos vermelhos encarando os de Igor com uma intensidade hipnótica. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios enquanto ele respondia:
— Você me entregou a única peça que faltava para colocar em prática o fim da humanidade.
Igor tentou tocar seu comunicador para emitir um alerta vermelho para Agente Ártemis, mas uma súbita síncope o acometeu. Lutando contra as amarras invisíveis que o prendiam à cadeira, sua mente gritando por liberdade.
Brunno se afastou, seu olhar fixo em Igor.
— Você não tem escolha, meu caro. — Sua voz, um sussurro venenoso que adentrou as profundezas de sua mente.
Igor se contorceu, tentando se libertar, mas seus músculos estavam rígidos como pedra. Brunno se afastou, sorrindo de forma sinistra, seus olhos agora totalmente vermelhos.
— Então vamos começar com algo fácil... Seu irmão prefere homens ou mulheres? — indagou debochadamente, enquanto o corpo de Igor, contra sua vontade, levantava-se e seguia o vampiro para fora do café, como um servo obediente diante de seu mestre sombrio.




O sol nascente pintava o céu da Louisiana com tons dourados e rosados, enquanto os primeiros raios da manhã se infiltravam pelas frestas das cortinas do quarto de Alexander Montgomery. Após dois longos anos na França, ele despertou naquele ambiente familiar, em sua casa em Blue Lagoon. O cheiro da terra molhada e doce do Sul inundava o ar, trazendo consigo uma sensação de nostalgia misturada com um toque de culpa e luto.
Seus olhos azuis, com delicados toques esverdeados, abriram-se lentamente para o quarto familiar, absorvendo cada detalhe como se fosse a primeira vez. As prateleiras repletas de livros antigos e novos, testemunhas silenciosas de seus devaneios e aventuras literárias. Os tons claros das paredes, que refletiam uma serenidade há muito perdida em meio à agitação do mundo. Os quadros contemplativos que adornavam as paredes, capturando momentos efêmeros de beleza e melancolia. E, é claro, o enorme espelho que ocupava uma parede inteira, onde Alex costumava admirar sua própria vaidade, o reflexo imperfeito de sua alma inquieta.
A cama macia, com lençóis brancos como nuvens, era um convite ao descanso após a longa jornada de volta. Mas Alex não podia se dar ao luxo de se entregar ao sono. Ele se ergueu da cama com uma graciosidade quase etérea, seus cabelos loiros dourados caindo em ondas suaves até os ombros. Seu rosto, angelical e marcado pela juventude de seus dezoito anos, contrastava com a magreza de seu corpo, uma visão do pecado envolta em uma aura de inocência.
Diante do espelho, Alex avaliou seu estado físico com uma mistura de nostalgia e autocrítica. Seus olhos azuis refletiam a profundeza de suas próprias dúvidas e arrependimentos, enquanto seus lábios finos pressionavam-se em uma linha tensa. Ele sabia que seu retorno a Blue Lagoon não seria fácil, que o peso de suas escolhas passadas ainda o assombrariam como uma sombra indelével.
Com um suspiro resignado, Alex afastou-se do espelho e dirigiu-se à escrivaninha minimalista que ficava de frente para a janela. Ele se sentou em sua cadeira de madeira desgastada pelo tempo, sentindo o calor do sol acariciar sua pele através do vidro. Era um dia como tantos outros na cidade à beira do rio, mas para Alex, era o começo de uma jornada de redescoberta e perdão, uma chance de reconciliar-se consigo mesmo e com aqueles que deixou para trás.
Em cima da escrivaninha, um porta-retratos chamou a atenção de Alex. Nele, uma imagem congelada no tempo capturava um momento de felicidade: era como se o sorriso radiante de seu pai, John Montgomery, pudesse iluminar até mesmo as sombras mais escuras de sua memória. John era um homem negro de meia-idade, com o porte de um soldado e as cicatrizes de um guerreiro. Suas feições lembravam muito as de seu irmão Igor, mas as marcas em seu rosto contavam histórias que iam além de uma vida de disciplina puramente militar. Ao lado dele, Arya, a mãe de Alex, irradiava uma beleza etérea, com seus cabelos ruivos flamejantes e uma pele leitosa com um leve bronzeado. Seu sorriso era como o sol, capaz de aquecer até mesmo os dias mais frios.
Na foto, John abraçava Arya com ternura, seu olhar transbordando de amor e devoção. Abaixo do casal, Alex montava nas costas de Igor, os dois irmãos sorrindo para a câmera como se não houvesse preocupações no mundo. Era uma imagem de harmonia e felicidade, um lembrete de um tempo que parecia tão distante agora.
O momento de contemplação foi interrompido por batidas suaves na porta do quarto de Alex. Ele chamou para entrar, e a porta se abriu revelando Arya, sua mãe. Ela era uma visão de beleza cansada, seus olhos carregando o peso de uma dor oculta, mas seu sorriso era gentil e acolhedor.
— Pode entrar! — ele chamou suavemente, e a porta se abriu para revelar sua mãe, Arya. Seus olhos fadigados, mas ainda brilhantes, encontraram os de seu filho com uma mistura de amor e tristeza.
— Alex... — ela murmurou, cruzando o espaço entre eles para abraçá-lo com força. O cheiro familiar de sua mãe envolveu Alex, trazendo uma sensação reconfortante de lar. — Senti tanto a sua falta, querido.
O coração de Alex se aqueceu com o amor materno quando os lábios de sua mãe tocaram sua testa, sendo uma emoção que ele não sentia há muito tempo.
— Eu também senti sua falta, mamãe — admitiu, os olhos marejados de emoção. — E de casa.
Arya afastou-se observando o filho com um misto de orgulho e surpresa, segurando o rosto de Alex entre as mãos.
— Você está tão bonito, meu filho — disse com um sorriso triste. — Morar com a vovó fez bem para você.
Alex corou ligeiramente diante do elogio, seus olhos azuis brilhando com gratidão e sua timidez secreta vindo à tona.
— Não, mamãe, quem ficou mais linda foi você! — ele respondeu sinceramente. — Só estou feliz por estar de volta
Um sorriso triste cruzou o rosto de Arya enquanto ela acariciava a bochecha de Alex.
— Venha, querido... — ela disse gentilmente. — Vamos tomar café juntos. Temos muito o que conversar.
Alexander foi até a cama, sentindo o tecido macio do suéter deslizar por seus braços. Era reconfortante vestir algo familiar em um momento de retorno à sua antiga casa. Ele seguiu sua mãe para fora do quarto, deixando para trás a foto que havia despertado tantas lembranças.
A casa dos Montgomery era uma mistura de amor e tradição, com uma arquitetura clássica e delicada que refletia a influência da família na sociedade de Blue Lagoon. Eles eram um dos nomes fundadores da cidade, e a casa, com suas colunas imponentes e jardins bem cuidados, era um símbolo de prestígio e poder.
Para Alexander, no entanto, ser parte de uma família importante trazia um fardo adicional. Como adotado, ele sempre se sentira um pouco fora do lugar, colocado em um pedestal angelical perante sua família. Seu pai, John, o idolatrava, assim como sua avó e sua mãe, Arya, que o superprotegia e mimava. Mas era seu irmão, Igor, quem o mantinha ancorado à realidade.
Igor sempre fora realista com o irmão mais novo, explicando-lhe como o mundo podia ser cruel e brutal. Ele o ensinara a enfrentar os desafios com coragem e determinação, mas também lhe mostrara o valor da compaixão e do amor. Apesar de suas diferenças, Igor era a âncora de Alex, uma presença constante em um mundo cheio de incertezas.
Ao chegarem à porta do quarto de Igor, Alex sentiu um aperto no peito. Ele hesitou por um momento antes de abrir a porta e entrar. O quarto de seu irmão era uma extensão de sua personalidade pragmática e realista. As paredes eram pintadas em tons monocromáticos, sem muitas decorações além de um pôster da banda The Fray e um violão no canto da parede.
Mas o que chamou a atenção de Alex foi um detalhe que ele nunca havia percebido antes: um enorme quadro coberto com um lençol branco, apoiado em um cavalete de madeira. Ele olhou para a mãe em busca de uma explicação.
Arya entrou no quarto junto com ele, observando o quadro com um olhar triste.
— Seu irmão decidiu pintar um presente para o seu aniversário de dezoito anos — explicou ela. — Mas ele nunca teve a chance de terminar.
Alex olhou para o quadro coberto, sentindo uma mistura de emoções. Ele sabia o quanto significava para Igor criar algo tão pessoal e significativo. Era um lembrete doloroso da passagem do tempo e das oportunidades perdidas.
Arya tocou carinhosamente o ombro do garoto, trazendo-o de volta à realidade.
— Vamos, meu amor... — disse ela com suavidade. — Vamos tomar o café da manhã e conversar um pouco.
Alex assentiu e seguiu sua mãe para fora do quarto. Eles caminharam pelos corredores da casa, um lugar que exalava uma mistura de amor e tradição. As paredes eram adornadas com retratos de família e obras de arte escolhidas com cuidado, cada peça contando uma parte da história dos Montgomery. As colunas imponentes e os tetos altos davam à casa um ar de grandeza, enquanto os móveis elegantes, mas confortáveis, revelavam um ambiente acolhedor. O jardim, visível pelas amplas janelas, era meticulosamente cuidado, um símbolo do prestígio e poder da família na sociedade de Blue Lagoon.
Enquanto desciam a escadaria principal, Alex passava os dedos pelas grades de madeira polida, sentindo a textura familiar sob suas mãos. Ele lembrou-se de descer aquelas mesmas escadas correndo quando criança, com Igor sempre um passo à frente, rindo e desafiando-o a acompanhá-lo. A nostalgia misturava-se com uma sensação de perda e luto, como se parte de sua infância tivesse ficado para trás de forma irrevogável.
Ao chegarem à cozinha, um cômodo amplo e iluminado, Arya começou a preparar o café da manhã. A mesa de madeira maciça no centro da cozinha estava já posta com uma toalha de linho branco e louças finas, prontas para uma refeição em família. Alex sentou-se em uma das cadeiras, observando a mãe com carinho enquanto ela se movia com graça e eficiência, preparando café e pães frescos.
— Então, querido... — começou Arya, tentando puxar conversa. — Como foi seu tempo na França com sua avó?
Alex suspirou ruindo levemente e começou a contar.
— Ela contratou dezenas de professores para mim. Desde tutores de francês para melhorar minha fluência, até professores de defesa pessoal e esgrima. Foi... meio intenso, mas aprendi muito. Até que eu levo jeito com a espada.
Arya franziu o cenho, demonstrando um leve desconforto com a atitude da sogra.
— Sua avó sempre teve uma maneira muito... particular de fazer as coisas — disse ela, tentando desconversar sobre os treinamentos. — E quando foi que você decidiu se tornar modelo?
Alex ficou um pouco tímido com a pergunta, desviando o olhar.
— A vida de garotinho rico e mimado bancado pela avó me fez desejar fazer mais com o meu tempo lá. Um dia, meu professor de francês me chamou de garçon photogénique e disse que eu deveria tentar modelar. Acabei me interessando pela fotografia e, bem... foi assim que começou.
Arya riu suavemente, aproximando-se da mesa com uma bandeja de pães frescos.
— Fiquei surpresa ao receber aqueles envelopes pardos com as fotos do estúdio. Você realmente leva jeito para isso.
Alex sorriu, apreciando o momento de leveza entre eles.
— Foi uma experiência interessante, mamãe. Mas estar de volta aqui, com você e o papai, isso é o que realmente importa para mim.
Arya olhou para o filho com ternura, sentindo uma onda de amor e proteção.
— Eu também estou feliz que você esteja de volta, querido. Sei que temos muito a conversar e a reconstruir, mas estamos juntos nisso.
Enquanto tomavam o café da manhã, Alex sentia-se reconectando lentamente com seu lar. Cada palavra trocada, cada lembrança compartilhada, era um passo em direção à cura e ao entendimento. A casa dos Montgomery, com toda sua imponência e história, voltava a ser um símbolo de amor e união, um lugar onde ele poderia encontrar um novo começo.
A manhã em Blue Lagoon estava especialmente calma. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas da cozinha, criando padrões dançantes no chão de madeira polida. Alex e Arya estavam à mesa, rindo e compartilhando histórias. O som do riso deles ecoava pela casa, um som há muito perdido, mas finalmente reencontrado.
— E... ele sabia que era você o tempo todo? — Arya perguntou entre risos, referindo-se a uma das histórias engraçadas que Alex estava contando sobre suas travessuras na França.
— Sim, no final, ele percebeu — Alex respondeu, também rindo. — Foi hilário!
Então, Arya, com um sorriso matreiro, mudou de assunto, indagando casualmente:
— E... ele sabe que você está de volta?
A pergunta foi um balde de água fria. O sorriso de Alex desapareceu, e ele ficou imóvel, os olhos fixos em algum ponto invisível. O nome não precisava ser mencionado. Ambos sabiam de quem estavam falando.
— Não, ele não sabe — Alex respondeu finalmente, com a voz mais baixa. — Fred não sabe que voltei da França.
Arya, tentando compreender o filho, assentiu lentamente.
— Eu entendo, querido. Mas acho que você deveria ter contado. Ele, mais que qualquer um, sentiu a sua falta.
Alex fechou os olhos por um momento, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar.
— Nós deixamos de ser velhos amigos quando aquela noite aconteceu, mãe. Fred já é bem grandinho e sabe superar as coisas.
Antes que Arya pudesse responder, a porta da cozinha se abriu, e John Montgomery entrou. Ele era um homem de meia-idade, de porte militar, com cicatrizes que contavam histórias de uma vida de disciplina e batalhas. Seus olhos verdes, tão parecidos com os de Igor, se arregalaram ao ver Alex.
— Alex! — John exclamou, correndo para o filho e o agarrando em um abraço protetor e paternal. — Meu garoto, como eu senti a sua falta!
Alex sentiu-se seguro nos braços do pai, como há muito não se sentia.
— Eu também senti sua falta, pai.
A conversa entre pai e filho fluiu naturalmente, como se tentassem compensar o tempo perdido. John olhava para o filho com orgulho, notando como ele havia crescido e mudado.
— Como foi morar com sua avó na França? — John perguntou, curioso.
Antes que Alex pudesse responder, Arya interveio.
— A matriarca Montgomery criou uma rotina de treinamentos intensa para ele — disse ela, com um tom levemente crítico.
— Ah, minha mãe nunca muda. Treinamentos intensos, hein? — John trocou um olhar cúmplice com a esposa, tentando disfarçar a surpresa de maneira suspeita. Ele riu, tentando aliviar a tensão. — Eu lembro da minha infância com muitas aulas de filosofia, latim e piano. Minhas articulações doem só de lembrar os acordes de alguma sinfonia de Bach.
Alex riu junto com o pai, sentindo um calor familiar que aquecia seu coração. A nostalgia permeava o ar, e apesar das distâncias emocionais que ainda existiam entre eles, havia uma conexão inegável, uma ligação que os mantinha unidos como família.
A conversa continuou fluindo entre memórias do passado e planos para o futuro. Cada palavra dita, cada olhar trocado, era um passo na direção de curar as feridas do passado e reconstruir os laços que o tempo e a dor haviam tentado desfazer. A casa dos Montgomery, com toda a sua imponência e história, continuava sendo um refúgio de amor e proteção, um lugar onde Alex podia começar a encontrar a si mesmo novamente.

A noite caía sobre Blue Lagoon, cobrindo a cidade com uma manta de estrelas e um brilho suave de luzes urbanas. Após uma tarde cheia de risos e memórias com seus pais, Alexander subiu as escadas em direção ao seu quarto. O reencontro familiar havia aquecido seu coração, mas a sensação de nostalgia ainda pairava no ar. Ele se jogou na cama, sentindo o conforto familiar de seu refúgio pessoal.
Seu celular emitiu um som de notificação, e ele pegou o aparelho, observando a tela se acender. Havia dezenas de notificações de suas redes sociais e mensagens privadas. Um grupo de mensagens chamou sua atenção: "Me & My Girlies", onde ele estava junto com suas amigas Barbara, Claire e Clara. No momento, Clara não estava falando com ele, o que adicionava uma camada de tristeza às suas lembranças.
Alexander riu ao ver a quantidade de notificações e abriu o grupo de mensagens. A conversa estava agitada, com Barbara e Claire tentando marcar um encontro com ele.

Me & My Girlies

Barbara:

Gente, o Alex voltou da França! 😍✨
14:35
Claire:
Sério? Que incrível!
Precisamos marcar algo! 🎉
14:37
Barbara:
Sim!
O que acha de amanhã à tarde?
Pode, Alex?
14:40
Claire:
Ótima ideia!
Amanhã eu tô livre depois das 16h.
15:01
Barbara:
Alex? Tá aí?
21:15
Claire:
Acho que ele deve estar ocupado com a família, né?
Vamos esperar um pouco mais.
22:03
Barbara:
Gente, eu mal posso esperar para vê-lo!
Tanta coisa pra contar! 💖
22:15
Claire:
Vamos fazer uma surpresa se ele não responder até amanhã?
22:30
Barbara:
Sim!!! Vamos nos encontrar na praça e esperar ele lá.
22:35

Alex:
Oi meninas! Estou aqui!
Sim, voltei hoje e passei o dia com meus pais.
Vamos nos encontrar amanhã, sim!
16h na praça, então?
22:40



Barbara:
Aeeee!!! Até amanhã, Alex!
Sentimos muito a sua falta! 🥰
22:42
Claire:
Até amanhã, Alex!
Não vemos a hora de te abraçar!

Alex sorriu, sentindo um calor no coração ao ler as mensagens das amigas. Era reconfortante saber que ele ainda era querido e lembrado. No entanto, uma notificação de mensagem privada chamou sua atenção. Ele viu uma mensagem de Claire e outra de um número desconhecido. Decidiu abrir a mensagem de Claire primeiro.

Claire (Visto por último às 22:45)

Oi Alex, só queria dizer que estou muito feliz que você voltou.
Sei que as coisas foram difíceis antes de você ir, mas quero que saiba que estou aqui para você, não importa o que aconteça. 💖

Alex sorriu novamente, sentindo uma mistura de gratidão e saudade. Claire sempre fora uma amiga leal e carinhosa. Ele então abriu a mensagem do número desconhecido, curioso para ver quem poderia ser.

Número Desconhecido (Visto por último às 21:30)

Olá, Alex. Bem-vindo de volta a Blue Lagoon.
Temos muito o que conversar.
Encontro você amanhã no cemitério às 19h.

Uma sensação de desconforto percorreu Alex ao ler a mensagem enigmática. Quem poderia ser? E o que queriam conversar com ele? Ele não reconhecia o número e não havia assinatura.
Deixando o mistério de lado por um momento, Alex decidiu focar na parte positiva de sua volta. Ele finalmente iria rever suas amigas queridas e, quem sabe, tentar reconstruir algumas partes de sua vida que foram deixadas para trás. Com esses pensamentos, ele colocou o celular na mesa de cabeceira e se deitou, deixando o cansaço do dia tomar conta de seu corpo. Fechou os olhos, esperando que o sono trouxesse sonhos melhores e menos complexos do que a realidade que enfrentava.
🦇




Blue Lagoon, Louisiana
Fevereiro de 1890.


A cidade, com suas ruas de paralelepípedos e arquitetura charmosa, era um símbolo de prosperidade e tradição. Naquela noite, o ar estava impregnado com a expectativa e a alegria de um baile em homenagem aos fundadores da cidade. As mansões iluminadas lançavam sombras dançantes nas calçadas, e os salões ressoavam com risos e música.
Dentro da mansão Montgomery, o salão principal estava repleto de figuras elegantes. Homens em smokings impecáveis e mulheres com vestidos luxuosos rodopiavam pelo salão, suas risadas e conversas misturando-se à música suave da orquestra. As luzes dos candelabros refletiam-se nas joias, criando um ambiente de brilho e sofisticação.
A chegada de Mattew Warrant, um jovem de aparência marcante e intrigante, foi um evento que causou murmúrios entre os convidados. Fazia décadas desde que a família Warrant havia deixado Blue Lagoon, e o retorno de um dos seus membros provocava curiosidade e um certo desconforto.
Mattew foi anunciado pelo mestre de cerimônias com uma voz solene:
— Senhoras e senhores, tenho o prazer de anunciar a chegada de Mattew Warrant.
Todos os olhares se voltaram para a entrada, onde Mattew fez sua aparição. Ele era uma figura impressionante, trajando um terno negro perfeitamente ajustado. Sua pele branca e pálida contrastava com os cabelos castanhos bem penteados. Seus olhos verdes, semelhantes a esmeraldas, brilhavam com uma intensidade que parecia atravessar as almas daqueles que ousavam encará-lo. Ele nunca sorria, sempre mantendo uma expressão séria e um ar de mistério.
Mattew adentrou o salão com uma postura ereta e confiante. Ele pegou uma taça de vinho de um garçom que passava e começou a circular pelo baile, seus passos lentos e deliberados. Ele observava os convidados com um olhar atento, como se procurasse algo ou alguém.
Os murmúrios aumentaram à medida que ele passava. As conversas variavam entre sussurros curiosos e comentários discretos.
— É ele mesmo? — uma mulher cochichou para sua amiga. — O filho do Warrant assassinado?
— Dizem que sim. A família deixou a cidade logo após a morte do patriarca. Um mistério nunca resolvido.
Mattew ignorava os cochichos, concentrando-se em sua própria busca. Aproximou-se de um grupo de senhores discutindo sobre negócios locais. Um deles, visivelmente mais velho e com uma bengala ornamentada, virou-se para Mattew com um sorriso falso.
— Mattew Warrant, não é? Faz muito tempo desde que vimos um Warrant em Blue Lagoon.
— De fato — respondeu Mattew com uma voz profunda e calma. — Estou aqui para honrar a memória da minha família.
O velho senhor arqueou uma sobrancelha, intrigado.
— Memória... sim, a memória de seu pai é uma sombra que paira sobre esta cidade.
— Mais uma razão para estar aqui — replicou Mattew, seus olhos verdes fixos nos do velho. — Para dissipar sombras e trazer à luz o que precisa ser revelado.
Os olhos do velho se estreitaram, mas ele não respondeu. Mattew deu um leve aceno de cabeça e continuou seu caminho, seus passos ecoando suavemente no piso de mármore.
Enquanto Mattew se movia pelo salão, ele não podia deixar de notar a reação das pessoas. Algumas o evitavam, outras o observavam com uma curiosidade mal disfarçada. Poucos ousavam se aproximar. Era como se ele carregasse uma aura de mistério e perigo, um lembrete vivo de eventos sombrios do passado.
Parou perto de uma janela grande que dava para o jardim iluminado pela lua. Observou o reflexo na taça de vinho, pensando nas décadas que havia passado desde sua transformação. A vida que conhecia antes havia desaparecido, substituída por uma existência solitária e cheia de segredos.
Uma jovem, corajosa ou talvez apenas curiosa, aproximou-se dele. Tinha cabelos loiros encaracolados e olhos azuis que brilhavam com uma mistura de timidez e determinação.
— Senhor Warrant, é uma honra conhecê-lo. Eu sou Elizabeth Montgomery — disse ela, estendendo a mão com um sorriso genuíno.
Mattew pegou a mão dela delicadamente, inclinando-se ligeiramente em um gesto de respeito.
— O prazer é meu, senhorita Montgomery.
— Sinto muito pela perda de sua família. Espero que Blue Lagoon possa ser novamente um lugar de conforto para você.
Mattew soltou a mão dela e deu um leve sorriso, que mais parecia um fantasma de emoção.
— Agradeço suas palavras. O tempo dirá.
Elizabeth hesitou, mas antes que pudesse dizer mais, Mattew se afastou, perdido em seus próprios pensamentos. A presença de Elizabeth o fez lembrar que, mesmo em meio à escuridão e ao luto, havia pequenos lampejos de humanidade que ele ainda podia reconhecer.
O baile continuou, mas para Mattew Warrant, aquela noite era mais do que uma celebração. Era um retorno às raízes, uma oportunidade de confrontar fantasmas do passado e talvez, apenas talvez, encontrar um caminho de redenção em meio à culpa e ao luto que o acompanhavam por tantos anos.

Elysium
Cidade-Sede do Conselho das Sombras
Dias Atuais.


A lua cheia iluminava a cidade mágica de Elysium, oculta dos olhos dos humanos comuns. Localizada num véu mágico próximo à Itália e França, Elysium era um refúgio seguro para todas as criaturas sobrenaturais. Vampiros, lobisomens, bruxas, fadas e até wendigos coexistiam num equilíbrio fino. A cidade misturava o encanto da magia com toques modernos, onde carruagens encantadas passavam por ruas pavimentadas e iluminadas por lamparinas que flutuavam no ar.
Mattew caminhava pelas ruas de Elysium, seu casaco negro esvoaçando levemente com o vento. Seus passos firmes e silenciosos, um reflexo da urgência que sentia. Ele estava se dirigindo à sede do Conselho das Sombras, o centro do poder no mundo sobrenatural.
O prédio do Conselho era uma magnífica obra de arte, combinando a arquitetura gótica com elementos renascentistas. Torres altas e janelas de vitrais coloridos se erguiam contra o céu noturno, dando ao edifício um ar ao mesmo tempo majestoso e intimidante.
Ao atravessar os grandes portões de ferro, Mattew adentrou o salão principal. O interior era ainda mais impressionante, com pilares altos esculpidos em detalhes intrincados e candelabros de cristal que lançavam um brilho suave sobre o mármore negro do chão. No centro do salão, três tronos imponentes destacavam-se, simbolizando o poder e a autoridade do Conselho das Sombras.
Sentada no trono à esquerda estava Francesca Warrant, a irmã gêmea de Mattew. Seus cabelos castanhos caíam em ondas suaves, e seus olhos esmeralda brilhavam com uma mistura de doçura e perigo. Francesca possuía um estilo meigo e dócil, mas qualquer um que subestimasse sua capacidade descobriria rapidamente o quão fatal ela poderia ser.
No trono central estava Lucien Warrant, o mais modificado dos irmãos. Sua pele esbranquiçada como mármore, olhos de cor violeta e cabelos platinados davam-lhe uma aparência etérea. Lucien era comedido, sério e elegante, exalando uma aura de ameaça constante.
Skyler Warrant, o mais jovem dos irmãos, ocupava o trono à direita. Transformado aos 10 anos, ele mantinha uma aparência angelical e infantil. Seus cabelos pretos e olhos azuis contrastavam com a crueldade e sadismo que ele frequentemente demonstrava. Skyler era uma presença perturbadora, a mistura perfeita de inocência aparente e brutalidade pura.
Mattew aproximou-se dos tronos, curvando-se levemente em respeito.
— Francesca, Lucien, Skyler... — saudou ele com um aceno de cabeça.
Francesca foi a primeira a falar, seu sorriso suave contrastando com a intensidade de seu olhar.
— Mattew, é bom vê-lo.
Lucien, com seu olhar penetrante, observava Mattew atentamente.
— Mattew, sua presença aqui significa que algo importante aconteceu. Fale.
Skyler, com um sorriso malicioso, não perdeu a oportunidade de provocar.
— Ah, o grande caçador de Brunno retorna. Não ficou com sede dessa vez, Mattew?
Mattew ignorou a provocação de Skyler, concentrando-se em Lucien.
— Brunno se movimentou novamente. Desta vez, parece ter encontrado um forte candidato para a realização da profecia.
Os olhos de Lucien estreitaram-se, demonstrando preocupação.
— Por que demorou tanto para reportar essa informação?
Mattew respirou fundo antes de responder.
— Ao seguir o rastro de Brunno, encontrei uma de suas aberrações. Era meio vampiro, meio bruxo, com o poder de fogo. Tive que exterminá-lo, o que me atrasou.
Skyler bufou irritado.
— Um híbrido atrapalhou nossos planos de capturar Brunno? Espero que não tenha perdido o rastro dele.
— Deixe Mattew terminar. — Francesca levantou a mão, interrompendo Skyler. — O que mais descobriu?
Mattew continuou.
— O híbrido tentou me atrasar, mas consegui retornar ao antigo ninho de Brunno na Noruega. Lá, descobri que ele pegou um refém da Organização Venator. Esse refém tem ligação com o novo alvo de Brunno e sabe para onde ambos foram.
Lucien inclinou-se para frente, a tensão evidente em seu rosto.
— E para onde Brunno está se dirigindo?
Mattew olhou diretamente para Lucien, sua expressão sombria.
— Brunno está retornando ao lar de nossa família ancestral, Blue Lagoon.

Blue Lagoon, Louisiana
Dias atuais...


O começo da tarde em Blue Lagoon estava ensolarado, com um céu azul sem nuvens e o calor suave típico da Louisiana envolvendo a cidade. Alexander caminhava pelas ruas de paralelepípedo em direção à famosa Praça dos Fundadores, o coração da cidade. As árvores frondosas ladeavam o caminho, suas sombras desenhando padrões no chão, enquanto o som distante de pássaros completava o cenário tranquilo. O aroma das flores que circundavam a praça chegava até ele, e Alex sentia-se em casa, envolvido por uma nostalgia profunda que lhe trazia à mente memórias de sua infância.
A Praça dos Fundadores era o orgulho de Blue Lagoon. O local combinava o charme de uma praça interiorana com o luxo e o cuidado que somente uma cidade fundada por famílias poderosas poderia manter. No centro, erguiam-se estátuas dos quatro fundadores da cidade: Winston Warrant, Evelyn Montgomery, Mark Spier e Holanda Avery. Suas figuras de bronze brilhavam ao sol, eternamente imóveis, mas com uma imponência que parecia dar vida ao passado glorioso de Blue Lagoon.
Alexander parou diante das estátuas, admirando-as como sempre fazia. A de Winston Warrant era a que mais lhe chamava atenção, talvez pela sua expressão austera, como se o fundador estivesse constantemente analisando tudo à sua volta. Ele suspirou, perdido em pensamentos. Blue Lagoon sempre o deixava dividido entre o orgulho de pertencer a algo tão grandioso e o peso que essa história trazia consigo.
De repente, Alex sentiu uma presença. Ele olhou para trás e deparou-se com um gato preto de olhos amarelos intensos. O susto inicial logo foi substituído por alívio, e ele riu baixinho.
— Ah, é só você, amiguinho. — disse ele, ajoelhando-se para acariciar o gato.
O felino ronronou em resposta, esfregando a cabeça na mão de Alex, que sentiu a maciez do pelo do animal. Por um momento, tudo parecia calmo, mas então Alex teve novamente a sensação de estar sendo observado. Seu coração acelerou, e ele virou-se abruptamente.
— Boo! — gritaram duas vozes em uníssono.
Barbara e Claire estavam ali, rindo ao ver a expressão assustada no rosto de Alex. Ele deu um passo para trás, respirando fundo para recuperar o fôlego, enquanto suas amigas gargalhavam, visivelmente satisfeitas com o pequeno susto.
— Vocês quase me mataram de susto! — disse Alex, rindo enquanto a adrenalina ainda corria por suas veias.
O gato, no entanto, reagiu de forma diferente. Seus pelos se arrepiaram, e ele emitiu um miado agressivo, seus olhos amarelos fixos nas duas garotas. Barbara e Claire recuaram um pouco, claramente assustadas com a atitude do animal.
— Ei, calma, gatinho! — disse Alex, agachando-se novamente para acariciar o gato, que logo se acalmou com o toque familiar de suas mãos.
— Desde quando você anda com gatos assustadores por aí? — perguntou Barbara, ainda olhando desconfiada para o animal.
Barbara era o que muitos chamariam de "a garota perfeita". Seus cabelos loiros e lisos caiam em cascata sobre seus ombros, sempre bem penteados e com um brilho que parecia digno de um comercial de shampoo. Seus olhos eram claros e penetrantes, e seu corpo, magro e esguio, vestia roupas das últimas coleções de grifes caras, sempre impecáveis. Mas ela não era apenas um rostinho bonito; Barbara era uma das alunas mais inteligentes de Blue Lagoon. Nas férias, enquanto muitos passavam o tempo na praia ou se divertindo, ela viajava para acampamentos de verão com foco em ciências e química. Seu fascínio pelo funcionamento das coisas, especialmente pela composição molecular, a destacava em todas as disciplinas de ciências.
— Eu não encontrei o gato, ele me encontrou! — respondeu Alex com um sorriso, continuando a fazer carinho no felino, que agora parecia bem mais relaxado. — Ele só apareceu quando eu estava olhando as estátuas.
— Hmm, gatos misteriosos não são um bom sinal, segundo a minha avó — brincou Claire, ajustando seus óculos com um gesto delicado.
Claire era um contraste interessante a Barbara. Seus cabelos castanhos eram mais curtos, quase sempre presos em um rabo de cavalo, e seus olhos escuros e profundos davam a ela um ar inteligente e introspectivo. Usava óculos de grau com uma armação elegante, que delineava perfeitamente seus lábios finos e realçava sua beleza clássica. Apesar de sua aparência de "nerd", Claire era, na verdade, a capitã das líderes de torcida do time local, os Blue Lagoon Stingers, algo que poucos associavam com seu jeito reservado e intelectual. Ela era doce e encantadora, mas quando se tratava de liderar as garotas no campo, seu lado determinado e enérgico se revelava.
— Vocês estão exagerando! Ele é só um gato — disse Alex, rindo e levantando-se novamente. — E, além disso, ele me escolheu. Isso deve significar alguma coisa, não?
Barbara olhou para Claire com uma sobrancelha arqueada, claramente cética, mas então deu de ombros, voltando a atenção para Alex.
— Bem, desde que esse gato não resolva atacar de novo, estamos bem. Agora, onde você esteve se escondendo? Nós estávamos morrendo de saudade! — exclamou Barbara, aproximando-se para abraçá-lo.
Claire sorriu e se aproximou também, abraçando o amigo logo depois. Alexander sentiu-se envolvido pelo calor de suas melhores amigas, como se as preocupações que tinha em relação ao passado e às responsabilidades familiares pudessem esperar. A Praça dos Fundadores continuava a ser o centro daquela pequena cidade, um símbolo de tradição, história e amizade — exatamente o que ele precisava naquele momento.
— Sabe, é bom estar de volta. Acho que finalmente posso dizer que estou em casa — disse ele, com um sorriso suave, enquanto acariciava o gato que se mantinha quieto ao seu lado.
A Praça dos Fundadores, com suas estátuas imponentes e flores coloridas, era testemunha silenciosa de mais um reencontro entre aqueles que compartilhavam a história de Blue Lagoon, agora prontos para escreverem juntos um novo capítulo.
A tarde em Blue Lagoon seguia com uma brisa leve, carregando o calor do verão em ondas suaves enquanto Alexander, Barbara e Claire caminhavam em direção à sorveteria mais famosa da cidade. O céu, tingido por um azul sem nuvens, refletia a calma do lugar, mas os risos e conversas animadas entre eles traziam vida às ruas da cidadezinha. As fachadas dos prédios, com suas varandas em ferro forjado e janelas altas, lembravam Nova Orleans, porém, com um toque único de Blue Lagoon.
Eles se aproximaram da sorveteria, um charmoso edifício em tons pastéis, com janelas amplas e cortinas brancas que balançavam suavemente com a brisa. O letreiro da loja, em um tom de rosa suave, anunciava “Doce Encanto”, e o aroma de waffles frescos se misturava com o de sorvete caseiro, criando uma atmosfera acolhedora. O ambiente interior era ainda mais convidativo, decorado com cores suaves, mesas em azul-claro e verde-menta, e cadeiras estofadas que davam ao local um ar retrô. O balcão, repleto de potes de vidro com doces coloridos, adicionava um toque lúdico, como se fossem crianças entrando em uma loja de guloseimas.
— Aqui está exatamente como me lembrava! — comentou Alex com um sorriso, sentindo-se em casa mais uma vez enquanto eles se acomodavam numa das mesas próximas à janela. — É bom ver que algumas coisas nunca mudam.
Barbara e Claire riram, e enquanto esperavam o pedido, a conversa logo virou para o tempo que Alex passara fora.
— E então? Como foi a vida na França? — perguntou Barbara, inclinando-se para ele, curiosa. — Aposto que viveu grandes aventuras!
Alex riu, balançando a cabeça.
— Aventura? — ele repetiu, ainda rindo. — Passei mais tempo em salas de treinamento e com professores de idiomas do que qualquer outra coisa. Não foi nem de perto o que vocês devem estar imaginando.
Claire riu, pegando sua colher e mexendo distraidamente no sorvete de baunilha que acabara de chegar.
— Não acredito! — disse Barbara, puxando o celular da bolsa e deslizando a tela. — Então como você explica isso? — Ela mostrou a Alex uma foto de paparazzi tirada durante seu tempo na França. Ele aparecia ao lado de outro rapaz, ambos rindo e andando juntos por uma rua parisiense.
Alex riu ao ver a foto, mas logo explicou.
— Ele? Ah, isso não foi nada. — Ele balançou a cabeça. — Era só um dos fotógrafos do ensaio que eu fiz. Acabamos nos tornando amigos, e ele me acompanhou durante um tempo, só isso.
Barbara, porém, pareceu um pouco frustrada, cruzando os braços.
— Antes da viagem, você sabia como se divertir, Alex. Sabia causar. — Ela lhe lançou um olhar sugestivo, como se quisesse que ele voltasse a ser aquela versão despreocupada de si mesmo.
Claire, percebendo o tom mais sério na conversa, interveio rapidamente.
— É fácil causar quando você tem um irmão influente para te tirar de qualquer confusão... — comentou ela, com um tom mais leve, mas direto. — Ele fazia o que queria, com quem queria, sem se preocupar com as consequências.
Barbara virou-se para Claire, claramente discordando.
— Eu nunca gostei muito desse Alex sem limites, mas não posso negar que ele era mais... livre. Agora parece que ele está mais conservador, mais preso a... alguma coisa. — Ela olhou para Alex, quase esperando que ele retrucasse.
Alex abriu a boca para responder, mas Barbara levantou a mão, interrompendo-o.
— Vou retocar minha maquiagem — disse ela, levantando-se de maneira brusca e caminhando em direção ao banheiro.
Claire suspirou, lançando um olhar de desculpas a Alex.
— Desculpa. Barbara não está sendo muito justa. Clara passou um bom tempo envenenando a cabeça dela enquanto você estava fora. Você sabe como elas são próximas.
Alex deu de ombros, tentando parecer despreocupado, mas o peso das palavras de Barbara ainda ecoava dentro dele.
— Deixa para lá. — disse ele, com um meio sorriso. — Eu sabia que seria uma questão de tempo até que ela percebesse. O desaparecimento do Igor me fez repensar muitas coisas. Tenho tentado ser alguém melhor, sabe? Guardar meu lado sombrio... por enquanto.
Claire olhou para o amigo, refletindo sobre o que ele disse, antes de mudar de assunto.
— E você e o Fred? Já se viram desde que voltou?
Alex balançou a cabeça.
— Não, e eu quero que continue assim. As coisas entre nós... bom, não terminaram muito bem.
Claire pareceu surpresa com a resposta, mas continuou.
— Alex, muita coisa mudou enquanto você esteve fora. Fred não é mais só aquele repetente de ano... Ele virou líder da equipe de natação. E pra piorar, está namorando a garota mais famosa da escola.
— Quem? — Alex perguntou, curioso.
— Barbara... — disse Claire, casualmente, como se não fosse um grande segredo.
Alex quase se engasgou com seu sorvete, rindo de surpresa.
— Sério? Ela não mencionou nada!
Claire deu de ombros.
— Segundo ela, o Fred pediu para não contar. Porque, você sabe, vocês dois não se falam mais.
Antes que Alex pudesse responder, Barbara voltou à mesa, sorrindo.
— Perdi algo interessante? — perguntou ela, sentando-se novamente.
— Ah, só estava parabenizando você pelo namoro. — respondeu Alex, ainda rindo da novidade.
Barbara sorriu, um pouco tímida.
— Não disse nada porque o Fred pediu. Ele acha que vocês não estão se falando...
Alex assentiu.
— Bem, ele está certo. Nossa última conversa não foi das melhores.
— Vocês são tão infantis! — retrucou Barbara, cruzando os braços. — Precisam resolver isso logo.
— Eu vou pensar no caso. — respondeu Alex, dando um sorriso de canto. Mas algo chamou sua atenção do outro lado da rua.
Pela janela da sorveteria, ele viu uma figura misteriosa, envolta em uma espécie de névoa. O coração de Alex acelerou, e ele estreitou os olhos, tentando focar melhor. A pessoa estava parada, observando-os.
— Alex? — Claire chamou, notando a distração dele.
Ele olhou rapidamente para a amiga, mas quando voltou seu olhar para fora, a figura já havia desaparecido. O vazio deixado pelo desaparecimento criou uma tensão silenciosa no ar, e Alex sentiu uma pontada de preocupação, algo que ele não conseguia explicar.
— O que foi? — perguntou Barbara, notando o súbito silêncio dele.
— Nada... — respondeu Alex, ainda um pouco abalado. — Acho que vi alguém.

A conversa continuou, mas o desconforto de Alex permaneceu, como se algo sombrio estivesse prestes a acontecer em Blue Lagoon.




A noite em Blue Lagoon estava fervendo, e o Bronze, a casa noturna mais famosa entre os jovens da cidade, era o epicentro daquele turbilhão de energia. O prédio tinha uma estética única, uma mistura intrigante de estilos industriais, artísticos e modernos. Os muros de tijolos expostos contrastavam com neons brilhantes, e as luminárias de ferro forjado pendiam do teto, projetando sombras sobre os corpos em movimento. O som pesado da música pulsava, reverberando nas paredes e no chão, fundindo-se com os batimentos cardíacos de quem estivesse ali dentro.
Ao entrar no Bronze, a sensação de euforia era imediata, um arrepio que subia pela espinha causado pela dança de luzes e pelo calor dos corpos que se espremiam na pista de dança. O ar estava carregado de perfume, álcool e luxúria. Jovens se movimentavam em sincronia, amontoados, seus corpos colados, trocando olhares, toques, beijos e, sem dúvida, segredos. A energia era inebriante, quase palpável.
No centro de tudo, estava Alexander. Ele se movia como um predador, com uma graça indiscutível que hipnotizava todos ao seu redor. Seus olhos azuis, realçados por um delineado preciso que os tornava perigosamente felinos, varriam o ambiente, absorvendo a atenção sem nem precisar tentar. As luzes piscavam em um ritmo frenético, e a forma como os flashes de neon dançavam sobre seu corpo apenas acentuava sua presença. Sua pele, levemente suada pelo calor da pista, brilhava sob as luzes.
Alexander estava vestindo uma calça de couro preta, justa ao ponto de quase parecer pintada em seu corpo, moldando suas pernas e destacando seus quadris. O cropped que ele usava era curto, com a frase provocativa “Sex is a Bitch!” escrita em letras prateadas e brilhantes. O tecido parava logo abaixo de seu peito, deixando à mostra seu abdômen esculpido — não exageradamente definido, mas o suficiente para atrair olhares. Correntes prateadas pendiam de sua calça, balançando suavemente a cada movimento, e uma jaqueta de couro pendia de seus ombros, completando o visual com um toque de despreocupada rebeldia. Em seu pescoço, uma gargantilha de couro preto ajustada, adicionando um toque sutil de subversão.
Ele se movia com uma habilidade quase sobrenatural, sua dança era pura eletricidade. Os corpos ao redor se aproximavam dele como se fossem atraídos por algum tipo de magnetismo. Mãos desconhecidas se aventuravam por sua cintura, dedos deslizavam por sua pele, agarrando-se a ele como se quisessem roubar um pedaço de sua energia. Ele não se importava, apenas deixava-se levar. Era como se o ritmo da música estivesse fundido a cada célula de seu corpo, controlando seus movimentos com precisão e graça.
As palavras obscenas sussurradas em seu ouvido, incompreensíveis devido à música alta e ao frenesim, chegavam até ele como uma brisa quente, um misto de tentação e provocação. Ele apenas sorria de canto, continuando sua dança, ignorando o que ou quem estava ao seu redor. Não importava. Naquele momento, Alexander era o centro do universo, e cada batida da música era uma extensão de sua própria alma.
Seus cabelos estavam ligeiramente desarrumados, caindo de forma provocante sobre sua testa. Seus lábios, cobertos por um brilho rosado, refletiam a luz suave do local, convidativos e sedutores. De vez em quando, ele mordia levemente o lábio inferior, um gesto involuntário que atraía olhares ainda mais intensos. O ambiente ao seu redor parecia derreter-se na intensidade de seus movimentos, criando uma aura quase mística, onde o desejo e a atração comandavam.
Ele não falava, não precisava. Seu corpo falava por si, e cada olhar que ele trocava com alguém na multidão era suficiente para transmitir tudo o que as palavras não conseguiam. A música mudava de faixa, o ritmo se tornava mais lento, mas isso não o impedia de continuar. Alexander deixou-se levar, deslizando pelas batidas lentas com a mesma fluidez e confiança, enquanto os corpos ao redor continuavam a buscar o dele.
Em algum momento, ele sentiu uma presença mais intensa se aproximar. Não eram apenas mãos anônimas dessa vez, mas uma presença que parecia carregar um peso, uma força que ele não havia sentido antes. Ele se virou, seus olhos brilhantes capturando a luz fraca do local enquanto ele tentava identificar quem ou o que estava ali. Uma figura nas sombras, talvez, observava-o, mas em meio à dança e ao calor, era difícil distinguir. Ele suspirou, deixando o momento de tensão passar, enquanto voltava ao ritmo hipnotizante da música e da dança, a adrenalina ainda correndo por suas veias.
Naquele instante, Alexander era pura liberdade, sem limites, sem amarras.
Tudo ao redor era uma tempestade de som e luz, mas Alexander sabia que precisava sair. A música, os corpos suados e os olhares provocativos começaram a perder seu apelo à medida que a exaustão tomava conta. Ele deslizou para fora da pista de dança, passando pelas mesas cheias de jovens conversando animadamente e pelo balcão onde o bartender atendia pedidos freneticamente. Ao empurrar as portas duplas de vidro, o ar fresco da noite o envolveu como um alívio.
Do lado de fora, o céu da Louisiana estava encoberto por nuvens pesadas, e o aroma de terra úmida misturava-se ao leve cheiro de cigarro que vinha da área de fumantes do estabelecimento. Ele tirou o celular do bolso para verificar a hora: 2:03 da manhã. O brilho da tela iluminou brevemente seu rosto, destacando a tensão que se formava em sua expressão. Um leve suspiro escapou enquanto a ansiedade o invadia.
Seus pais. Eles provavelmente já tinham percebido sua ausência, e, embora soubesse que isso não era novidade, a ideia de um confronto ao chegar em casa o deixou inquieto.
Antes de partir, seus olhos vagaram pela rua deserta. Blue Lagoon tinha uma beleza peculiar à noite, mesmo em áreas mais agitadas como aquela. As lanternas de ferro forjado derramavam uma luz quente sobre as calçadas de tijolos, e as sombras das árvores balançavam suavemente ao vento. Ele se permitiu respirar fundo, tentando acalmar o turbilhão em sua mente.
Foi nesse momento que uma lembrança emergiu, nítida como se estivesse acontecendo ali, naquele instante. O Bronze ainda era o ponto de encontro favorito de Alexander e seus amigos antes de sua viagem para a França. Naquela época, ele, Fred, Barbara, Claire e Clara costumavam estender as noites de diversão ao se aventurarem pela trilha da floresta, que começava atrás da boate. Fred, sempre ousado, liderava o grupo, enquanto Clara protestava nervosamente sobre os perigos de andar na floresta à noite. Barbara ria, zombando da cautela da amiga, e Claire mantinha um sorriso tranquilizador que parecia dizer "estamos bem". Alexander se lembrava de rir junto com eles, sentindo-se invencível na companhia daqueles que o conheciam melhor.
A trilha levava diretamente ao antigo cemitério de Blue Lagoon, um local que, apesar de seu potencial para ser assustador, era uma das áreas mais serenas da cidade. Era ali que o grupo se sentava por horas, conversando, compartilhando segredos e sonhos enquanto as estrelas brilhavam acima. Ele sentiu um sorriso surgir em seus lábios enquanto essa lembrança o preenchia de uma nostalgia agridoce.
"A trilha..." ele murmurou para si mesmo.
Fazia anos que não passava por ali. Talvez fosse mais seguro pegar o caminho pela estrada, mas algo na ideia de revisitar aquele atalho o atraía. Ele guardou o telefone no bolso, ajustou o cropped e começou a caminhar em direção à entrada da trilha.
A entrada da trilha ficava atrás do Bronze, escondida por arbustos densos e uma pequena cerca que não fazia mais do que demarcar o terreno. Alexander empurrou os galhos para o lado, seus dedos tocando a madeira áspera da cerca enquanto ele a escalava com facilidade. O som abafado da música do clube começou a desaparecer, substituído pelo som rítmico dos grilos e o farfalhar das folhas. A floresta parecia viva, e cada passo de Alexander sobre a terra úmida fazia um leve estalo que ecoava na escuridão.
O ar estava mais frio ali, carregado com a umidade que subia do solo. As árvores, altas e antigas, pareciam se inclinar sobre ele, como guardiãs silenciosas daquele caminho. Apesar do silêncio quase absoluto, havia algo de inquietante no ambiente. Os olhos de Alexander se moviam de um lado para o outro, captando cada sombra que parecia dançar nas bordas de sua visão periférica.
Ele caminhava devagar, absorvendo os detalhes que o cercavam. O lugar parecia o mesmo, mas havia algo diferente naquela noite, algo que ele não conseguia definir.
"É só sua mente pregando peças!" ele disse a si mesmo, tentando afastar o leve arrepio que subia por sua espinha.
Enquanto avançava pela trilha, a sensação de ser observado começou a surgir. Era sutil no início, quase imperceptível, mas logo se tornou impossível de ignorar. Alexander parou abruptamente, girando nos calcanhares para olhar para trás. Não havia nada além de escuridão e árvores imóveis. Ele riu nervosamente, sacudindo a cabeça.
— Paranoia — murmurou, mas seus pés começaram a se mover um pouco mais rápido.
A lembrança de seus amigos, de suas risadas e conversas, parecia cada vez mais distante. A floresta agora estava carregada de tensão, e cada ruído parecia amplificado. O som de um galho se partindo à distância fez seu coração acelerar. Ele parou novamente, desta vez segurando a respiração, tentando ouvir melhor.
Nada.
Quando ele voltou a caminhar, seus passos eram mais rápidos, quase apressados. Ele estava ciente de cada som ao seu redor, de cada sombra que parecia se esticar e se contrair com a luz escassa da lua que mal atravessava as copas das árvores.
De repente, ele ouviu...
Passos. Não os seus, mas de alguém mais. Eles estavam longe, mas o suficiente para que ele os distinguisse do som ambiente. O coração de Alexander começou a martelar no peito. Ele não estava mais sozinho naquela trilha.
A adrenalina começou a correr em suas veias, e ele olhou para trás novamente. Nada. Ainda assim, os passos continuavam, agora mais próximos. Ele tentou se convencer de que era apenas outro jovem saindo do Bronze, talvez tomando o mesmo atalho que ele, mas a sensação de perigo não o deixava.
Alexander começou a andar mais rápido, quase correndo agora. A trilha parecia interminável, e o som dos passos atrás dele continuava. Quando ele finalmente avistou a saída para o cemitério, sentiu um alívio momentâneo, mas algo o fez parar. Ele se virou uma última vez, seus olhos fixando-se na escuridão da trilha.
Uma sombra se movia ali, grande e indefinida, como se fosse parte da floresta.
— Quem está aí? — ele perguntou, sua voz firme, mas carregada de cautela.
Não houve resposta. Apenas silêncio.
A sombra parou, e por um momento, Alexander sentiu como se o tempo tivesse congelado. Então, ela se moveu novamente, desaparecendo na escuridão da floresta. Alexander respirou fundo, tentando recuperar a calma. Ele sabia que precisava continuar, mas a sensação de que algo estava errado permanecia com ele enquanto ele atravessava os portões do cemitério.
A tensão no ar era quase insuportável, e ele sabia que aquela noite estava longe de terminar.
A lua cheia espiava por entre as copas das árvores, iluminando de forma intermitente o caminho sinuoso do cemitério de Blue Lagoon. Alexander atravessou os portões de ferro enferrujado com o coração ainda acelerado, a lembrança dos passos na floresta fresca em sua mente. O lugar, que um dia fora cenário de noites tranquilas com os amigos, agora parecia mais ameaçador. O ar tinha um peso quase tangível, e o som de seus próprios passos ecoava entre as lápides cobertas de musgo.
Ele enfiou as mãos nos bolsos, tentando disfarçar a inquietação. "É só um cemitério!" disse a si mesmo, olhando ao redor. As estátuas de anjos com rostos serenos e asas abertas, as cruzes de pedra e as catacumbas antigas contavam histórias de séculos passados. A melancolia do lugar costumava ser reconfortante, mas naquela noite, cada sombra parecia mais profunda, cada som mais agudo.
Ao longe, ele ouviu vozes. Eram abafadas, quase como sussurros. Por um momento, pensou estar imaginando coisas, mas então uma risada alta cortou o ar, carregada de uma energia despretensiosa e juvenil. A tensão em seus ombros diminuiu.
"Talvez sejam só outros jovens?" pensou. A ideia de não estar completamente sozinho trouxe um leve alívio.
Conforme se aproximava do som das vozes, Alexander viu a familiar estátua do Arcanjo Miguel se erguendo diante dele. Ela era imponente, com quase três metros de altura, esculpida em mármore branco agora manchado pelo tempo. O arcanjo segurava uma espada apontada para baixo, simbolizando vitória sobre o mal. Era ali que ele e seus amigos costumavam se reunir, sentados na base da estátua, compartilhando confidências e risadas. Mas naquela noite, o lugar não estava vazio.
Quatro rapazes ocupavam o espaço, suas risadas ecoando pelo cemitério. Dois estavam encostados na estátua e os outros sentados em sua base, com latas de cerveja em mãos e uma caixa de som portátil tocando música alta e vibrante, em total contraste com a serenidade do ambiente. Alexander parou ao avistá-los, o instinto lhe dizendo para evitar o grupo. Eles eram mais velhos, provavelmente universitários, e o ar de desdém e confiança que emanavam não parecia convidativo.
Decidido a não chamar atenção, Alexander desviou o olhar e continuou andando mantendo o passo firme, mas sem pressa que pudesse parecer suspeita. Ele ouviu o som metálico de latinhas sendo jogadas ao chão e sentiu o coração apertar.
"Ignore, apenas siga em frente!" repetiu para si mesmo.
Mas então, uma voz carregada de sarcasmo cortou o ar:
— Ei, garoto! Pra onde tá indo com tanta pressa? — O tom era brincalhão, mas havia algo nele que fez a espinha de Alexander gelar.
Ele se virou ligeiramente para olhar, percebendo que dois dos rapazes agora estavam de pé, observando-o com sorrisos que não eram exatamente amigáveis. Ambos usavam jaquetas de universidade, típicas de membros de times esportivos, com as iniciais bordadas em dourado. Eles eram altos, com uma postura que exalava um misto de poder e desprezo.
— Só queremos conversar! — gritou outro, enquanto dava alguns passos em sua direção.
Alexander não respondeu. Ele focou os olhos no caminho à frente e acelerou o passo. Podia ouvir o som das latas chutadas para longe e o riso abafado dos outros dois rapazes que ainda estavam junto à estátua. O desconforto crescia a cada segundo, especialmente quando ouviu um dos dois que o seguiam gritar novamente:
— Ei, não precisa correr, garoto. A gente não morde... muito.
Os passos atrás dele ficaram mais rápidos. Alexander sentiu a adrenalina disparar em seu corpo. Ele sabia que estava sendo seguido e que ignorar os rapazes não seria o suficiente para se livrar deles. A cada vez que um deles chamava por ele, o tom soava mais próximo, mais provocativo.
— Vamos lá, cara! Devagar aí! — insistiu um deles, rindo.
Alexander lutou contra o impulso de correr. Sabia que, se o fizesse, poderia parecer ainda mais vulnerável, mas sua mente gritava para que se afastasse dali o mais rápido possível. Ele olhou rapidamente por cima do ombro e viu os dois rapazes seguindo-o com passos longos e despreocupados, como se estivessem brincando com ele.
Mas onde infernos estavam os outros dois?
Essa pergunta o atormentava. Não fazia ideia de para onde os outros dois rapazes tinham ido, e a possibilidade de serem uma ameaça invisível o deixava ainda mais nervoso. Ele respirou fundo, tentando manter a calma, mas sentiu o pânico crescendo.
O cemitério, que antes parecia um refúgio, agora parecia um labirinto sem saída. Cada lápide era uma barreira, cada estátua, uma sombra ameaçadora. Ele sabia que precisava encontrar uma maneira de sair dali, e rápido.
"Se eu conseguir chegar ao portão sul, estarei na rua principal", pensou.
Mas o portão sul ainda estava a alguns distantes metros de distância, e os passos dos rapazes agora eram quase sincronizados com os seus.
— Qual é, só queremos conversar! — gritou um deles novamente, sua voz agora mais séria, com um toque de impaciência.
Alexander sabia que, naquele momento, suas opções estavam se esgotando.
— Cara, você anda rápido, hein? — um deles zombou, com um tom de provocação que o fez encolher por dentro.
— Dá pra ir mais devagar? — resmungou o outro, o tom de voz carregado de irritação controlada. — Olha pra gente, não somos uma ameaça. Só queremos conversar.
Alexander ignorou, o coração disparado e a respiração ofegante. Ele sabia que não era seguro parar ou responder. Aquilo não era uma simples brincadeira; a tensão crescente no ar o denunciava.
Quando achou que poderia ganhar alguma distância, cometeu o erro de olhar para trás novamente, na esperança de calcular o espaço entre ele e os perseguidores.
Foi uma decisão que logo lamentaria.
Ao girar o rosto para frente, viu as figuras dos outros dois rapazes surgindo de um ângulo cego, bloqueando completamente o caminho à frente. Eles apareceram de repente, como se o tivessem esperado o tempo todo, sorrindo de maneira inquietante. Suas sombras se alongavam sob o luar, criando a ilusão de predadores preparados para o ataque.
Antes que pudesse reagir, Alexander sentiu mãos firmes agarrando seus braços, uma pela esquerda e outra pela direita. Os dois que estavam atrás o haviam alcançado, prendendo-o no lugar.
— Ei, calma aí, docinho! — disse um deles com um sorriso forçado. — A gente só quer conversar, não precisa entrar em pânico.
Alexander tentou se soltar, mas a força combinada dos dois era esmagadora. Ele se debateu, o pânico crescendo, mas era como lutar contra grandes correntes de ferro.
— Olha só o que temos aqui, galera... — comentou um dos rapazes segurando-o pelo braço esquerdo, seu olhar descendo para as roupas. — Parece que alguém saiu do Bronze querendo chamar atenção.
Os outros riram em uníssono, suas vozes soando como um coro de chacais.
O rapaz continuou:
— Sério, cara, que calça é essa? Isso aí tá colado na sua pele ou o quê? — Ele estalou a língua em falso desagrado. — Bem justinho, hein? Mostrando cada detalhe.
Alexander se sentiu exposto, o rosto queimando de vergonha e raiva. Sua calça de couro preta estava justa, quase como uma segunda pele, moldando suas pernas e destacando seus quadris de maneira provocativa. O cropped que usava, com a frase brilhante “Sex is a Bitch!”, deixava seu abdômen parcialmente à mostra, revelando uma definição leve, mas atraente. Era um visual que ele usava para se sentir confiante, mas naquele momento parecia um alvo para o escárnio cruel dos rapazes.
Outro rapaz, que até então estava quieto, aproximou-se lentamente.
Ele era mais alto, com cabelos bagunçados e olhos que cintilavam à luz da lua. Com um sorriso perigoso, ergueu a mão e acariciou o rosto de Alexander, que virou o rosto instintivamente, tentando escapar do toque.
— Calma, calma... — ele murmurou, a voz baixa e perigosa. — Não precisa ficar assim. Só tô admirando sua pele. — Seus dedos roçaram a bochecha do garoto vulnerável, que se encolheu ao toque gélido e invasivo. — Tão macia. Tão branquinha. E esses olhos... Azuis como gelo.
Alexander engoliu em seco, tentando controlar o desespero que ameaçava transbordar. O toque o enojava, mas ele sabia que qualquer movimento brusco só pioraria a situação.
O rapaz mais impaciente do grupo, que parecia ser o líder, finalmente interveio. Ele tinha uma postura rígida, e seus olhos fixos em Alexander emanavam impaciência e um certo prazer sádico.
— Para de enrolar, — ele rosnou, segurando o rosto de Alexander com força, obrigando-o a encarar seus olhos. — Não se faça de difícil. Não estamos pedindo, garoto.
Alexander tentou se soltar mais uma vez, mas o rapaz apertou sua mandíbula, tornando o movimento impossível. O líder olhou para os outros e deu um sorriso perverso antes de dar a ordem:
— Levem ele mais pra dentro. Não queremos que o nosso novo brinquedinho fuja, não é?
Os outros riram, e os dois que seguravam Alexander começaram a arrastá-lo com força. Ele lutou, mas não adiantava. Estava cercado, preso, e suas chances de escapar diminuíam a cada passo que davam para longe da saída.
A lua cheia continuava brilhando no céu, testemunha silenciosa do cerco que se fechava ao redor de Alexander no coração do cemitério.
A paisagem desolada do cemitério era ainda mais sinistra naquela área inexplorada. A lua cheia filtrava-se por entre galhos retorcidos de árvores antigas, iluminando de forma inquietante as estátuas góticas e as catacumbas sombrias. O ar estava impregnado com o cheiro de terra revirada e vegetação úmida, um lembrete de que a morte rondava cada centímetro daquele lugar.
Alexander foi arrastado até uma cova aberta cercada por túmulos recentes. O solo solto ao redor sugeria que alguém havia sido enterrado ali há poucos dias. Ele foi jogado brutalmente ao chão, caindo com força sobre o gramado úmido. Instintivamente, começou a se arrastar para longe, a terra fria grudando em suas mãos e joelhos.
Os quatro rapazes pararam a alguns metros dele, trocando olhares cúmplices e sorrindo com um prazer sádico. Seus olhos brilhavam com um misto de excitação e perigo, transformando a noite em um espetáculo de tensão sufocante.
— E então, o que vamos fazer pra nos divertir? — perguntou um deles, inclinando a cabeça para o lado, como um animal estudando sua presa.
— O que quisermos... — respondeu outro, soltando uma risada baixa. — Afinal, estamos diante do garoto mais soltinho da cidade.
A gargalhada deles ecoou entre os túmulos, amplificando o desconforto que apertava o peito de Alexander. Ele se levantou lentamente, mantendo os olhos nos agressores, a mente girando em busca de uma saída.
— Ei, reconheci ele assim que o vi — disse o terceiro, apontando para Alex com desdém. — Esse aí é o irmão bastardo do queridinho do reitor da universidade, aquele tal Igor Montgomery que desapareceu. Sempre se gabando de como virou uma figura de respeito.
— Que piada! — murmurou outro, balançando a cabeça. — Porque todo mundo sabe que o bastardo aqui é famoso por outros motivos. Aposto que metade dos caras da universidade já ouviu falar dele... ou esteve com ele.
O comentário provocou risadas ainda mais altas. O segundo rapaz continuou, com um sorriso de escárnio:
— O meu primo, Isaac, vivia se gabando do desgraçado. Disse que o garoto aqui é fogoso pra caramba. Sempre aceitou tudo. Ao contrário das garotas das fraternidades, que adoram fazer charme.
A humilhação subiu como fogo pelo corpo de Alexander. Ele apertou os punhos, o coração disparado, mas com uma determinação começando a se formar em meio ao medo.
O líder do grupo, o mais impaciente, deu um passo à frente, os olhos brilhando com uma mistura de desprezo e excitação.
— Então é isso... — ele decretou, olhando para os amigos. — Já que Isaac fez tanta propaganda, eu vou ser o primeiro a provar.
Alexander ergueu-se de uma vez, a postura firme e defensiva. Ele podia sentir o pânico fervendo em suas veias, mas sua mente se agarrou a uma memória específica: um ensinamento de um de seus tutores na França.
"A melhor defesa é o ataque. Nunca espere que eles façam o primeiro movimento se puder evitá-lo."
— Não encostem em mim — Alexander disse, a voz tremendo, mas cheia de uma firmeza inesperada.
Os rapazes pararam por um momento, surpresos com a reação. O líder riu, zombando do tom desafiador.
— Ah, docinho, é um contra quatro. Vai fazer o quê? Dançar pra gente?
Sem aviso, ele avançou.
Alexander recuou apenas um passo antes de explodir em ação, movendo-se rápido como uma serpente. O treinamento básico que aprendera na França guiou seus movimentos. Ele se abaixou e girou o corpo, usando o peso e o impulso do agressor contra ele.
O rapaz tropeçou, perdendo o equilíbrio, e Alexander o derrubou com um golpe seco no ombro. O agressor caiu a alguns metros de distância, batendo o rosto no chão.
Os outros três ficaram estáticos por um momento, seus sorrisos desvanecendo-se em expressões de surpresa e raiva. Alexander se reposicionou rapidamente, assumindo novamente a pose de ataque. Seus olhos azuis brilhavam com uma determinação feroz, os punhos cerrados e prontos para reagir ao próximo movimento.
— Quem é o próximo? — Alexander perguntou, sua voz baixa e carregada de desafio.
O silêncio que se seguiu foi interrompido pelo som de grilos distantes e o farfalhar das folhas ao vento. Mas ele sabia que a luta estava longe de terminar.
Aquele canto esquecido do cemitério, envolto em sombras de árvores centenárias, tornava-se o palco de uma luta desigual, cada ruído amplificado pelo silêncio opressivo ao redor.
Alexander mantinha sua posição defensiva, os músculos tensos, o coração batendo com tanta força que parecia que podia explodir. Os olhos azuis dele faiscavam, desafiando os três rapazes que o encaravam com desprezo renovado. O primeiro rapaz ainda estava no chão, gemendo de dor enquanto limpava a terra do rosto.
Um segundo rapaz avançou, murmurando algo entre os dentes, um som mais selvagem do que articulado. Alex reagiu rapidamente, girando o corpo e levantando o joelho em um movimento que atingiu o estômago do agressor com força suficiente para arrancar o ar de seus pulmões. O rapaz dobrou-se ao meio, caindo de joelhos enquanto emitia um gemido de dor.
O som dos outros dois correndo ecoou como trovões no silêncio. Mal tendo tempo de se virar antes que o terceiro rapaz o acertasse com um empurrão violento, desequilibrando-o. Ele caiu sobre uma lápide gasta, sentindo a pedra fria e áspera contra as costas. Antes que pudesse reagir, o quarto rapaz estava sobre ele, agarrando seus braços enquanto o terceiro desferia um soco brutal em seu abdômen.
O impacto arrancou-lhe o fôlego, e uma dor aguda irradiou por todo o seu corpo. Outro soco veio, desta vez em seu rosto. Ele sentiu o gosto metálico do sangue encher sua boca, enquanto sua visão tremulava por um instante.
— Segurem ele! — gritou o líder, que agora se levantava, a expressão distorcida pela raiva e pela humilhação.
Os dois que estavam sobre Alexander o puxaram para cima, torcendo seus braços para trás com força suficiente para fazer seus ombros arderem. Ele tentou lutar, chutando e se contorcendo, mas os dois o seguravam com brutalidade implacável.
O líder se aproximou lentamente, limpando o sangue que escorria de um corte no lábio inferior. Seus olhos brilhavam com uma mistura de fúria e um prazer sádico. Ele ergueu a mão, gesticulando para que os outros colocassem Alexander de joelhos.
— Vamos ver o quão corajoso você é agora, seu merda... — disse ele, a voz baixa, mas carregada de um tom ameaçador que fez os pelos da nuca de Alexander se arrepiarem.
Os rapazes obedeceram, empurrando Alexander para baixo até que seus joelhos tocassem a terra úmida. Ele sentiu o frio penetrar suas roupas, a sujeira grudando em sua pele, mas manteve a cabeça erguida, recusando-se a mostrar submissão.
— Você devia saber seu lugar — continuou o líder, inclinando-se para encará-lo diretamente. — Mas, sabe, talvez seja bom você aprender essa lição do jeito mais difícil.
Alexander cuspiu sangue no chão, a respiração pesada e irregular, mas seus olhos não vacilaram. Ele sabia que precisava manter a calma, mesmo com o medo crescente apertando seu peito. A ameaça implícita naquelas palavras pairava no ar como uma lâmina prestes a cair.
Os outros três rapazes riam ao redor, como hienas esperando para se banquetear com o terror de sua presa. O líder estalou os dedos, e o som seco ecoou, cortando o silêncio.
— Segurem ele firme! — ordenou, enquanto o suspense no ar se tornava quase insuportável.
O cenário ao redor parecia ainda mais sombrio agora. As sombras das árvores pareciam se alongar, como se o próprio ambiente estivesse conspirando contra Alexander. Seu coração batia tão alto que mal conseguia ouvir os sons ao redor, mas sua mente estava afiada, buscando desesperadamente uma maneira de escapar daquela situação.
Seus joelhos estavam afundados na terra úmida, as mãos dos agressores apertando-o com força suficiente para marcar sua pele. O cheiro de terra recém-remexida e flores murchas enchia o ar, misturando-se com a sensação de sangue seco em seus lábios.
— Segurem ele firme, droga! — o líder dos rapazes repetiu, a voz carregada de uma malícia gélida. Ele se abaixou, aproximando-se de Alexander como um predador saboreando o momento antes do ataque final.
Alexander fechou os olhos com força, o corpo enrijecido de puro medo. O som de um zíper sendo aberto cortou o silêncio, e seu coração quase parou. Uma onda de pânico absoluto percorreu seu corpo. Ele tentou se soltar, mas o peso das mãos que o seguravam era insuportável.
E então, como se a noite tivesse decidido intervir, um som ecoou na distância. Era leve no início, quase imperceptível, mas o suficiente para fazer os agressores hesitarem.
— O que foi isso? — um deles perguntou, a voz tensa.
O líder parou, erguendo o rosto na direção do som. Uma expressão de irritação cruzou seu rosto antes de ele estalar os dedos para dois dos rapazes.
— Vão ver o que é, porra! — ordenou, apontando na direção de onde o ruído viera.
Os dois obedeceram, resmungando algo enquanto se afastavam. O som de seus passos sobre folhas secas foi desaparecendo na escuridão, deixando Alexander sob a guarda de apenas um dos rapazes. O líder permanecia à frente, os olhos fixos em Alexander como se estivesse avaliando sua próxima jogada.
Por um breve momento, tudo ficou quieto novamente, o silêncio apenas quebrado pela respiração pesada de Alexander e pelo ocasional farfalhar das árvores ao vento.
Mas então vieram... os gritos.
Eles começaram como murmúrios distantes, quase confusos, antes de se transformarem em gritos de puro desespero. Eram vozes masculinas, cheias de súplica e terror, ecoando pelo cemitério como fantasmas clamando por ajuda.
O rapaz que segurava Alexander congelou, suas mãos relaxando por reflexo. Ele virou o rosto na direção dos gritos, seus olhos arregalados.
— O que diabos...? — murmurou, mas antes que pudesse terminar a frase, outro grito cortou o ar, ainda mais próximo.
Aproveitando o momento, Alexander tentou se levantar, mas uma mão firme o empurrou de volta. Desta vez, não foi com força — era o peso de alguém que já não tinha mais a mesma convicção.
— Joga ele na cova! — o líder rosnou, a voz carregada de irritação.
Ele parecia menos preocupado com os gritos do que os outros, mas seus olhos também traíam um leve traço de incerteza.
Alexander tentou resistir, mas o rapaz que o segurava o empurrou com força. Ele tropeçou para trás, o chão parecendo desaparecer sob seus pés enquanto caía na cova recém-aberta. A terra cedeu sob ele, cobrindo suas mãos e roupas enquanto ele aterrissava com um baque surdo.
Lá de dentro, o mundo parecia ainda mais opressor. Alexander podia ouvir os gritos com mais clareza agora, misturados com o som de algo — ou alguém — se movendo rapidamente pela área.
O líder deu um passo para trás, o corpo tenso enquanto olhava ao redor.
— Que merda tá acontecendo? — ele sibilou, olhando para o único rapaz que restava com ele.
Antes que pudesse obter uma resposta, outro grito — desta vez mais próximo e cheio de puro terror — cortou o ar.
Alexander, encolhido no fundo da cova, tentou estabilizar sua respiração. Ele podia ouvir o coração martelando em seus ouvidos, cada batida ecoando como um tambor. Ele apertou os olhos, tentando ignorar o medo sufocante que ameaçava consumi-lo.
Então, silêncio.
Um silêncio tão absoluto que parecia antinatural.
O líder olhou em volta, as mãos tremendo ligeiramente. Ele abriu a boca para dizer algo, mas não teve tempo. Um som pesado, como um corpo caindo, ecoou do outro lado da cova.
Alexander abriu os olhos. Tudo o que conseguia ver era a borda da cova acima, mas o silêncio seguinte foi mais assustador do que qualquer som que ele já havia ouvido.
Algo — ou alguém — estava ali, na escuridão, e ele sabia que o verdadeiro perigo ainda estava por vir.
Alexander abriu os olhos, o coração martelando no peito como se quisesse escapar dali. A escuridão da cova era opressora, mas foi o movimento na borda que o congelou de medo. Antes que pudesse reagir, algo — ou melhor, alguém — desceu desajeitadamente, caindo ao seu lado com um baque seco.
Era o líder dos rapazes.
Alexander tentou rastejar para longe, mas o rapaz foi mais rápido, agarrando-o pelas costas com uma força que parecia motivada pelo puro desespero. Em um movimento rápido, o rapaz sacou um canivete do bolso e pressionou a lâmina gelada contra o pescoço de Alexander.
— Não se mexe, seu merdinha! — ele rosnou, a voz rouca e cheia de ódio.
Alexander sentiu o fio da lâmina contra sua pele, afiada o suficiente para cortar ao menor movimento errado. O cheiro metálico de sangue misturado com terra úmida invadiu suas narinas. Ele fechou os olhos com força, tentando controlar a respiração trêmula.
— Por favor... por favor, me deixa ir... — ele implorou, a voz embargada.
O líder riu, mas era um som quebrado, sem qualquer traço de humor.
— Isso é culpa sua, sabia? — ele cuspiu, pressionando o canivete com mais força. — Se você não tivesse se feito de difícil, dado o que a gente queria... meus amigos estariam vivos agora!
As palavras cortaram Alexander mais fundo do que o canivete poderia. Ele se engasgou, entre o medo e a incredulidade.
— Você... você não pode estar falando sério... — murmurou, a voz trêmula.
O líder o sacudiu como se fosse um boneco de pano, aproximando o rosto suado e cheio de fúria do dele.
— Não tá acreditando em mim? — ele gritou, os olhos arregalados, quase alucinados. — Você os matou! Cada um deles!
Alexander começou a rir, mas era um riso descontrolado, quase histérico, nascido de puro desespero. Ele sabia que estava à mercê de alguém que havia cruzado a linha entre a razão e a loucura. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a temperatura ao seu redor pareceu cair de repente.
Um silêncio absoluto tomou conta do ambiente, como se o próprio cemitério tivesse prendido a respiração.
Alexander sentiu primeiro o cheiro: algo metálico e pútrido, como sangue misturado com carne apodrecida. Então ele viu.
Uma sombra se materializou na borda da cova, alta e inumana, com proporções que pareciam erradas de alguma forma. Dois olhos brilhantes, como brasas, queimavam na escuridão, fixando-se neles com uma intensidade que fez Alexander tremer.
Na mão direita da figura sombria, algo balançava de forma grotesca. A luz fraca da lua revelou o que era: a cabeça decapitada de um dos rapazes que havia atacado Alexander.
O líder soltou um grito sufocado, seu corpo paralisado de terror.
— O que... o que é isso? — ele sussurrou, a voz agora um sussurro rouco.
Alexander não respondeu. Ele não conseguia. Cada fibra de seu ser estava congelada, dividida entre o pavor absoluto e a estranha certeza de que aquela coisa estava ali por ele.
A figura desceu na cova com um movimento quase sobrenatural, silencioso e gracioso como um predador. Os olhos vermelhos nunca deixaram Alexander, e, por um momento, ele sentiu que o tempo havia parado.
O líder, percebendo o perigo iminente, soltou Alexander e levantou o canivete como um escudo inútil.
— Fica longe! — ele gritou, recuando até ser pressionado contra a parede da cova. — Fica longe de mim!
A criatura inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse estudando o rapaz. Então, em um movimento rápido e brutal, ela se lançou sobre ele.
Os gritos do líder ecoaram pelo cemitério, mas Alexander mal os registrou. Ele estava encolhido no canto oposto da cova, os olhos arregalados enquanto observava a cena. O sangue escorria pela terra, encharcando o solo com um brilho escuro e viscoso.
Quando o silêncio finalmente voltou, Alexander não conseguiu se mexer. Ele sabia que a criatura ainda estava ali, e que, desta vez, ela olhava diretamente para ele.


A luz branca envolvia Alexander como uma neblina ofuscante, tão intensa que era impossível discernir onde terminava o brilho e começava o mundo ao seu redor. Ele piscou, tentando focar sua visão, mas tudo parecia um borrão. Fragmentos de vozes cortavam o silêncio, palavras que ecoavam distantes e distorcidas:
— Hemorragia estabilizada...
— Possíveis traumas psicológicos...
— Monitorar...

Os sons se misturavam em uma cacofonia indistinta.
Então, vieram os flashes.
Alexander viu as mãos firmes dos rapazes o agarrando, arrastando seu corpo sobre a terra úmida do cemitério. Ouviu o som das latas de cerveja sendo chutadas para longe. Um sorriso cruel e as palavras que ainda ecoavam em sua mente:
O irmão bastardo do queridinho da universidade...
Ele se engasgou em sua própria respiração enquanto mais flashes o atingiam. O líder dos rapazes, o canivete brilhando à luz pálida da lua. As estátuas sombrias ao redor, como guardiãs silenciosas de um destino cruel.
Mais vozes surgiram ao seu redor, agora mais próximas, carregadas de urgência. Ele viu os rostos de dezenas de pessoas, mas estavam distorcidos, nublados, como se fossem figuras em um sonho.
— Fique com a gente, Alexander!
De repente, o rosto de sua mãe emergiu entre os borrões. Os olhos dela estavam cheios de desespero, enquanto os lábios tremiam em palavras inaudíveis. Seu pai estava logo atrás, o semblante rígido, mas os olhos traíam uma dor profunda.
Mais flashes.
A criatura.
Os olhos vermelhos intensos, brilhando com uma fome que transcendia o físico. As sombras ondulantes que se estendiam ao seu redor como um manto vivo. Os gritos dos rapazes se transformando em súplicas e, então, em silêncio absoluto.
Alexander abriu os olhos de repente, puxando o ar como se tivesse emergido de um mergulho profundo. Ele estava em um quarto branco, o aroma estéril de antisséptico invadindo suas narinas. O bip constante de monitores cardíacos era um lembrete insistente de onde ele estava.
Um hospital.
Ele tentou se sentar, mas seu corpo protestou, um misto de dor e fraqueza. Quando olhou para o lado, o terror voltou a envolvê-lo como uma maré negra.
Ali, diante de sua cama, estava a criatura.
A sombra imensa parecia mais sólida agora, como se o quarto não fosse capaz de contê-la completamente. Os olhos vermelhos o encaravam, brilhantes e hipnotizantes, como duas brasas vivas em um rosto sem contornos.
Alexander abriu a boca para gritar, mas nenhum som saiu. A criatura inclinou a cabeça para o lado, como se o estudasse. Então, um grunhido profundo reverberou pelo quarto, mas não pelo ar. Ele sentiu o som dentro de sua cabeça, como uma vibração que o deixava tonto.
— Prometido...
A voz gutural ecoou em sua mente, carregada de algo que misturava desejo, posse e uma ameaça latente.
Ele se desesperou, virando rapidamente para o lado e apertando o botão de emergência preso à lateral da cama. Seus dedos tremiam enquanto apertava repetidamente, o coração martelando em seu peito.
O som de passos veio quase instantaneamente, e a porta do quarto se abriu.
— Alexander?
Alexander virou o rosto, esperando ver médicos ou enfermeiros. Mas quem entrou no quarto não era uma figura em jaleco branco.
Era um homem alto, esbelto e incrivelmente belo. A luz fraca do quarto hospitalar acentuava os traços perfeitos de seu rosto: a pele alva e sedosa parecia quase brilhar, enquanto os olhos azuis profundos fixaram-se nele com uma intensidade desconcertante. Os cabelos pretos estavam impecavelmente cortados, caindo levemente sobre a testa de um jeito que parecia ao mesmo tempo casual e meticulosamente planejado.
Ele vestia uma jaqueta de couro marrom que moldava seus ombros largos e uma camisa preta justa que acentuava a musculatura definida. Quando ele deu mais um passo para dentro, Alexander pôde sentir um aroma sutil de tabaco e algo amadeirado, um cheiro que parecia combinar perfeitamente com a presença quase predatória do homem.
— Brunno Warrant, detetive provisório. Sou o novo responsável pelas investigações policiais em Blue Lagoon.
A voz dele era baixa e suave, mas tinha uma firmeza que carregava autoridade. Ele se aproximou, parando ao lado da cama de Alexander e olhando diretamente para ele.
— Você parece ter passado por muita coisa, garoto. Preciso de algumas respostas... se estiver em condições de falar.
Alexander olhou de Brunno para a criatura, mas esta havia desaparecido, como se nunca tivesse estado ali. Seu corpo inteiro tremia, mas ele conseguiu balbuciar:
— E-eu... o que você está fazendo aqui?
Brunno ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso curvando os lábios.
— A pergunta certa é: o que aconteceu com você, Alexander? E, talvez mais importante... por que sinto que sua figura é o ponto central de tudo?


Continua...


Nota do autor: Revisitar The Darkness mais de onze anos após ter escrito seu primeiro rascunho é como abrir um baú antigo e reencontrar uma versão minha que ainda acreditava que tudo era possível, especialmente quando a caneta estava em minha mão (ou os dedos no teclado).
Essa história nasceu como uma fanfic, uma mistura apaixonada de The Vampire Diaries com Crepúsculo, dois universos que despertaram em mim, quando mais novo, o desejo de contar histórias sobrenaturais com emoção, intensidade e personagens imperfeitos. Eu não fazia ideia, na época, que esse impulso criativo me levaria a construir algo tão maior.
Com o tempo, The Darkness foi se transformando. As reescritas, os desvios de trama, as ideias ousadas e os personagens que se recusaram a ser apenas arquétipos... tudo isso deu cor própria à história. É verdade que, em alguns momentos, você ainda pode encontrar ecos das minhas influências iniciais — e eu as carrego com orgulho. Mas o que existe aqui agora é meu. Um mundo com sua própria mitologia, sua própria voz, suas próprias regras. Um universo compartilhado onde cada criatura, cada magia e cada sombra carrega um pedaço da minha alma.
Eu tomei liberdades. Reinventei lendas. Desafiei o que já estava escrito sobre vampiros, bruxas, lobisomens, caçadores e outros seres. E, talvez, essa seja a maior magia de todas: a liberdade de criar.
Se você chegou até aqui, obrigado. Obrigado por me acompanhar nessa jornada tão pessoal, tão antiga e tão nova ao mesmo tempo. Eu espero de coração que você sinta o que senti ao escrever: o frio na espinha, a empolgação, o encantamento e, acima de tudo, o amor por contar histórias.
Nos vemos nas próximas páginas.
Nas próximas sombras.

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