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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 12/08/2024

No aeroporto internacional da cidade de Manaus, uma jovem corria ofegante pelo saguão, empurrando um carrinho onde estava um malão de couro enorme e pesado e uma gaiola com um papagaio tagarelando. Ela ajeitava a mochila que teimava em cair de seus ombros. Dois homens na casa dos 30 e poucos anos corriam sem fôlego em seu encalço, os cabelos negros e compridos de um deles voando com o vento. precisava chegar ao portão de embarque em dez minutos ou perderia o vôo tão esperado para Londres, Inglaterra.
— Anda... logo... vocês dois! — ofegou a morena, tirando os cabelos compridos do rosto e ajeitando a mochila novamente nos ombros.
—Você se esquece que... não temos mais... quinze anos! — respondeu um dos homens, igualmente sem fôlego. O papagaio piou alto. — Cala a boca, Jack!
Os três chegaram ao portão exaustos, curvando-se para regular a respiração. deu uma espiada no relógio em seu pulso, e seu pai puxou o antigo relógio de bolso de sua família; ainda tinham cinco minutos sobrando, o que a fez sorrir de satisfação. O homem a olhou por um longo segundo, tinha um sorriso triste no rosto. Passara anos de sua vida longe da filha e agora teria que deixá-la partir por mais um bom tempo para um lugar onde ele sabia que ele e o amigo ao seu lado não eram bem-vindos. Entretanto, a felicidade dela era tudo o que mais importava no mundo para ele, e sempre foi o sonho da garota conhecer a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde os dois amigos estudaram e se tornaram os bruxos que eram. Já tiveram dias melhores, ele admitia, mas também tiveram muitos piores e o homem se arrepiava só com a mera lembrança do passado.
— Até logo, padrinho — murmurou a garota ao jogar os braços em volta do homem alto e esguio, cujo rosto marcado por cicatrizes sorria com ternura para a afilhada.
— Não faça nada que nós não faríamos. — Ele lançou uma piscadela. — Talvez nem o que faríamos.
A bruxa riu com vontade, pois sabia bem o que o pai e os tios aprontaram na sua época de escola. Ela se virou para o pai, sua garganta começando a formar um nó quando viu que os olhos do homem marejaram.
— Por favor, não chora — ela resmungou, abraçando o bruxo, que era mais baixo que o tio, mas alguns centímetros mais alto que ela, com muita força.
O homem a afastou e, ainda segurando seus braços, deu uma boa olhada para ela, como se quisesse memorizar cada detalhe de sua filha antes de vê-la partir. Então, ele reparou em algo pendurado no seu pescoço. Era um cordão preto com um potinho de vidro minúsculo preso nele. Dentro, havia uma flor que se movia suavemente como se houvesse uma brisa eterna e leve dentro do pequeno pote.
— Conheço esse colar. — Seu pai tocou o objeto com seus dedos trêmulos e tatuados. — Dei à sua mãe na semana que nos conhecemos. Essa é uma mini Flor-Que-Nunca-Morre. É uma junção de nossos mundos, sabia? O meu e o dela.
— Ela me deu quando… ela… ela disse que eu ia precisar mais do que ela — respondeu com a voz embargada, sem conseguir completar seu raciocínio, sem que sentisse uma vontade enorme de cair no choro.
— E está em ótimas mãos — o bruxo sorriu, acariciando o rosto da filha. — Cuide com carinho, ok? Ele será seu companheiro para sempre.
— Para sempre — afirmou a mais nova com um sorriso leve no rosto e lágrimas nos olhos, tocando o cordão.
— Prometa que vai mandar uma carta assim que chegar, certo? Jack provavelmente chegará antes de você, então já estará lá. Tem certeza que não esqueceu nada? Tome cuidado com as pessoas de lá, querida, mas aproveite cada segundo e... — O homem foi interrompido pela voz que anunciava a última chamada para o voo 147 com destino à Londres.
Os bruxos tinham diversas maneiras mais fáceis de viajar pelo mundo. Bruxos foragidos, como o pai de , tinham opções mais limitadas. Por conta disso, eles optaram por um transporte trouxa que dificilmente entregaria a localização dele. Chegando em Londres, um bruxo da confiança de seu padrinho a levaria para a estação de trem King’s Cross e, a partir daquele ponto, estaria por conta própria.
— Eu te amo muito — ele completou.
— Também te amo, pai. Vocês dois, por favor, tomem cuidado. — A garota abraçou ambos novamente e se abaixou para falar com Jack, o papagaio. — Te vejo em algumas horas, parceiro.
O pássaro gritou “tchau” e ficou repetindo até a garota sumir pelo longo corredor que a levava ao interior do avião. O homem fungou, sem conseguir segurar algumas lágrimas que desceram teimosas pelo seu rosto.
— Se acalme, Almofadinhas, ela sabe se cuidar sozinha — disse Remus Lupin, apertando o ombro do amigo. — Puxou os pais.
O outro bruxo sorriu em resposta e, relutantes, ambos deram as costas, carregando a gaiola até o exterior do aeroporto e abrindo a pequena portinha de ferro, tirando o papagaio de dentro.
— Cuide dela por mim, Jack — disse o rapaz, acariciando a cabeça com penas verdes do pássaro. — E entregue isto a Dumbledore.
O bruxo amarrou um pedaço pequeno de papel na pata do pássaro, deixando-o pronto para sobrevoar o céu azul límpido da Amazônia.
— Ah, não esqueça de mandar lembranças ao Harry Potter… Diga a ele que seu padrinho está com saudades.




O trem para Hogwarts foi desacelerando conforme se aproximava da estação de Hogsmeade. Era possível ouvir os jovens bruxos de todas as cabines pegando as bagagens e se preparando para sair, conversando entre si sobre assuntos diversos, mas principalmente sobre como foram as férias daquele ano e o que esperavam para o próximo.
Black não teve férias. Pelo menos, não no mesmo tempo que os demais alunos de Hogwarts. No Brasil, onde ela morava, as férias de verão eram no ínicio do ano. Sempre fazia muito calor em Manaus e, para a sua sorte, morava ao lado de uma cachoeira e um lago que a ajudavam a relaxar e se refrescar durante os dias quentes. Infelizmente, por segurança sua e de seu pai, ela não pôde compartilhar essa informação com seus colegas de cabine, então permaneceu calada boa parte da viagem enquanto observava pela janela o céu escurecer. Ela ouvia a conversa dos colegas e sentia seus olhares às vezes recaindo nela quando sussurravam algo inaudível. Seria assim pelo próximo ano, ela previu.
A garota colocou seu uniforme novo, pegou seus pertences e esperou o corredor esvaziar um pouco para poder sair do trem. Ao sair da cabine, pensando estar seguro, seus pés se prenderam em algo e ela tropeçou. Sem conseguir se segurar, ela tombou para a frente e caiu em cima da sua própria mala, ficando imediatamente vermelha de vergonha.
— Olha por onde anda, novata! — Ouviu uma voz arrastada dizer com tom de deboche.
Ela olhou para trás e se deparou com o garoto mais pálido e loiro que já vira na vida, Seus olhos, frios como os rios congelados daquela região, eram de um tom de azul quase cinza. Suas íris brilharam tão intensamente que pôde jurar que estavam prateadas.
Atrás do garoto, se encontravam dois “guarda-costas”, os quais Black julgou serem seus amigos. Os três riram da garota enquanto ela pedia desculpas, encabulada.
— Você não deveria estar aqui, esse vagão é só para o quarto ano.
— Eu sou do quarto ano! — ela exclamou com raiva.
— Como, se eu nunca te vi antes? — o loiro a questionou, olhando-a com curiosidade.
— Deixa ela em paz, Malfoy! — disse uma voz feminina atrás do grupo. , ainda caída em seu malão, não conseguia ver quem era, mas sentia gratidão por aquela desconhecida. O tal Malfoy revirou os olhos e ignorou a pessoa.
— Aposto que é sangue ruim igual a Granger — resmungou o garoto, passando por cima de e sua mala, e saindo do vagão com seus dois colegas o seguindo como dois cachorrinhos.
— Não liga para ele — disse um garoto ruivo, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. — Draco é um babaca.
— Obrigada — murmurou, constrangida, limpando as mãos nas vestes depois de se erguer do chão. Ela observou, agora com mais clareza, outros dois jovens se aproximando do ruivo. — Sou . .
— Sou Ronald Weasley, mas pode me chamar só de Rony — brincou o ruivo, fazendo-a dar um leve sorriso involuntário.
— Eu sou Hermione Granger — apresentou-se a garota ao lado de Rony, com cabelos cacheados volumosos e castanhos. — E esse é Harry…
— Mas você provavelmente já sabe disso — interrompeu Rony.
— Para com isso, Ron — murmurou o tal Harry, constrangido.
demorou seu olhar nele por um tempo. Sim, ela sabia quem ele era. Harry Potter, o garoto da cicatriz em forma de raio, o único sobrevivente da maldição Avada Kedavra, o bruxo responsável pela ruína de Lord Voldemort... O afilhado de seu pai.
— Não tem como não saber, não é? — ela tentou disfarçar o nervosismo, porém, serviu apenas para deixar o garoto ainda mais aborrecido. — Muito prazer.
Deixando o clima estranho para trás, os quatro saltaram do trem com suas coisas em mãos e continuaram a conversa do lado de fora.
— Você é a garota do intercâmbio, certo? — perguntou Hermione. — Seja muito bem-vinda, você vai adorar Hogwarts!
— Obrigada. Sou eu sim, vim da Escola de Magia Castelobruxo, no Brasil.
— BRASIL!? — exclamou Rony. — Uau, eu sempre quis conhecer o Brasil! Deve ser lindo lá.
Diferente do loiro, os olhos brilhantes de Ron eram de um tom de verde claro, gentil, que a fazia lembrar das folhas da floresta no auge da primavera. Era muito fácil se perder neles, o que demandou um grande esforço para desviar o olhar.
— É sim. Meio quente, se comparado com a Inglaterra, mas muito bonito.
— Vou convencer a mamãe de ir te visitar nas próximas férias, o que acham? — perguntou o ruivo aos seus outros dois amigos que imediatamente concordaram, animados com a ideia.
apenas sorriu e fingiu também achar uma ótima ideia, mesmo isso sendo um pouco impossível. Seria muito arriscado para seu pai, e ela não suportava a ideia de perdê-lo novamente.
— Sabe, você me lembra muito alguém... — falou Gringer, coçando o queixo. — Esses olhos... já os vi antes.
A garota desviou o rosto, apavorada com a possibilidade de descobrirem tão rápido que ela era filha de Sirius Black. As instruções eram claras: não deixar ninguém saber, nem mesmo Harry, enquanto não fosse seguro. Os únicos que tinham essa informação eram Hagrid, o guardião das chaves de Hogwarts, e o diretor da escola, Alvo Dumbledore. Ela não os conhecia ainda, mas, segundo seu pai, ela saberia na mesma hora quem eles eram e sentiria no mesmo instante que podia confiar neles.
Após acharem um espaço mais vazio entre o mar de alunos, os meninos avistaram um homem gigante e sorridente por cima das cabeças dos jovens. Era impossível não vê-lo, já que seu tamanho era o triplo de qualquer outro bruxo presente. Harry, Rony e Hermione acenaram animados para o gigante, que acenou de volta, abrindo caminho até o grupo.
— Hagrid, essa é a , a intercambista — apresentou Hermione após cumprimentar o amigo.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda à Hogwarts, ! Dumbledore me falou tudo sobre você... — disse ele, dando uma piscadela para a garota. — e me deixou responsável por levá-la até o castelo em segurança.
— Espera, ela não vai com a gente? — indagou Rony, com grande chateação na voz.
— Desculpe, Rony, ordens do diretor. Carga preciosa — respondeu Hagrid, apoiando sua mão enorme no ombro de , que deixou escapar um gemido ao sentir o peso dele, mas sorriu para o homem.
Após os dois se despedirem dos meninos, Hagrid pegou as malas de e a levou até um barco vazio.
— Espere aí enquanto irei buscar os alunos do primeiro ano — disse o homem, voltando quase correndo o caminho que tinham acabado de fazer.
A garota esperou uns bons quinze minutos, observando a água escura que parecia conversar com ela. Sua relação com a natureza, em especial com a água dos rios, das lagoas e dos mares, era inexplicável. Ela sentia que cada gotícula de H2O conversava com ela, independentemente de onde estivesse. Ela encostou as pontas dos dedos na água gelada, aliviada por finalmente poder ter algum contato com ela, até ver a sombra de Hagrid escurecer o barco.
Ela respirou fundo e entrou no barco, equilibrando-se sem dificuldades, já que era um dos principais veículos da Castelobruxo. O transporte balançou violentamente quando o meio gigante entrou nele e teve que se segurar nas laterais do barco para não cair. Sentiu como se o barco fosse virar de cabeça para baixo mas, para a sua sorte, nada aconteceu. Uma chuva leve começou a cair e logo se transformou em uma tempestade; apenas se deliciou com as gotas caindo em sua pele.
Após alguns minutos no lago, com Hagrid remando e todos os outros barcos o seguindo, quebrou o silêncio.
— Por que não veio mais ninguém com a gente? — questionou-o, quase gritando para ser ouvida acima do barulho da chuva.
— Normalmente eu venho nesse barco sozinho, mas hoje você é minha convidada especial — respondeu com um sorriso. — Mas eu queria trocar umas palavrinhas com você em particular.
Hagrid ficou em silêncio na espera de a garota assentir, e ela assim fez, aguardando em seguida, que ele continuasse.
— Eu sei que você é filha do Sirius, entende? Também sei sobre sua mãe e, bem, sobre o que aconteceu com ela.
sentiu um frio na barriga. Sirius havia lhe falado sobre como Hagrid era um homem bom, mesmo assim, não sabia se devia confiar nele, pois, assim como grande parte do mundo bruxo, ele poderia odiar seu pai.
— Dumbledore confia muito em mim, assim como eu confio muito nele. Me deu uma segunda chance por acreditar em mim e acreditar que sou uma pessoa boa. Ele fez o mesmo com seu pai e eu sei que não foi a toa. Grande homem, o Dumbledore. — Ele fez uma pausa e observou a garota que, por sua vez, mantinha os olhos atentos em sua direção. — Se Alvo confia em Sirius e acredita que ele é uma pessoa boa, então também acredito.
sorriu para o homem que retribuiu, ruborizado.
— Seu segredo está a salvo comigo — finalizou ele. — Agora, me conte como foi ter uma mãe sereia. Deve ser fascinante!
Pelos dez minutos seguintes, contou à Hagrid o máximo que conseguiu sobre sua vida na Castelobruxo. Ela explicou sobre sua conexão com a natureza por causa de sua mãe e sobre o único poder que herdou dela: as visões. O professor de Trato das Criaturas Mágicas a ouvia, encantado, mas ficou desapontado quando recusou a oferta de ir falar com os sereianos que viviam no lago para participarem de uma aula sua. Ela tinha contato com as criaturas no Brasil, afinal, eram sua família. Contudo, por não ser uma sereia e sim uma bruxa, ela não era tão bem-vinda assim, e imaginava que os sereianos também não seriam receptivos.
Após os minutos de conversa, reparou no monumento enorme atrás do seu mais novo amigo. Aquele era o castelo de Hogwarts e não se parecia em nada com sua escola de magia no Brasil. deixou escapar um “uau” e não disfarçou seu olhar admirado. Mesmo embaixo da tempestade, o castelo era encantador. Todas as luzes estavam acesas e a fumaça saía das chaminés. Tudo isso, junto com a chuva, deixava o lugar ainda mais convidativo e aconchegante.
— Lindo, não é? Anos vivendo nesse lugar e ainda não me acostumei com a beleza — disse Hagrid ao desembarcarem do barco. Colocou as malas de junto a uma pilha de malas em frente à escadaria e, alguns segundos depois, elas sumiram.
— Hagrid! — exclamou, assustada, e apontou para onde antes estavam suas malas e de seus colegas.
— Ah, não se preocupe! Elas estão em segurança dentro do castelo, indo para o seu dormitório. A sua deve estar no escritório de Dumbledore, pois ainda terá que passar pela seleção para saber onde ficará esse ano.
— Seleção? Ficar onde?
Rubeo riu da cara confusa que a garota fez e explicou brevemente a ela tudo sobre as casas de Hogwarts (Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal) e sobre o Chapéu Seletor. sabia muito pouco sobre isso, Sirius não gostava muito da ideia da filha querer tanto ir para Hogwarts, então nunca entrava em detalhes e dificultava a pesquisa dela para não incentivá-la. O homem tinha muitos traumas e não o culpava. Contudo, ela puxou sua teimosia, e ali estava, diante da escola que seu pai frequentou e viveu muitos desses traumas.
— Harry, Rony e Hermione são da Grifinória. Essa era minha casa e também a de seu pai. Não é possível que seu pai não lhe contou nada!
— Apenas o que ele e os Marotos aprontaram pelos corredores… — ela fez uma careta como se pedisse desculpas. O gigante balançou a cabeça, dando uma gargalhada. — Então um chapéu vai decidir em qual eu me encaixo melhor? — ela perguntou.
— Exatamente.
Na Castelobruxo, eles não eram divididos por casas, apenas em anos e turmas, então a ideia era um tanto esquisita, mas se tratava de apenas mais uma novidade em seu novo mundo mágico.
O gigante manteve a garota ao seu lado enquanto voltava sua atenção para os alunos do primeiro ano que se reuniram, tremendo de frio e encharcados, em volta dele para ouvirem um breve discurso desejando boas-vindas aos alunos novos. Todos pareciam tão impressionados quanto .
— E sejam bem-vindos à Hogwarts! — finalizou Hagrid, recebendo uma salva de palmas.
Hagrid acompanhou os alunos do primeiro ano até o Salão Principal. Eles olhavam em volta com deslumbre, admirando cada canto do castelo. Com todos aqueles quadros, escadas (que com certeza se perderia facilmente) e os fantasmas andando livres pelo castelo, não sabia para o que olhava primeiro. Ela avistou de longe o trio Harry, Hermione e Rony, que, assim que a viram, acenaram para ela, sinalizando para que se aproximasse. Porém, assim que deu um passo em direção ao grupo, um balão grande e vermelho cheio de água caiu em cima da cabeça de Rony Weasley. se deteve a poucos passos do trio quando um segundo balão caiu aos pés de Harry, quase acertando Hermione. Todos que estavam no local começaram a correr para todos os lados, tentando se proteger, fazendo se afastar cada vez mais dos novos colegas. Desviando dos alunos, ela correu em direção à uma porta dupla enorme e observou a confusão a uma distância quase segura.
— PIRRAÇA! — berrou uma voz zangada em meio ao caos. Uma bruxa de cabelos grisalhos olhava furiosa para o poltergeist que flutuava no alto do castelo, dando gargalhadas e piruetas enquanto derrubada ainda mais balões. — Desça já aqui, AGORA!
— Não estou fazendo nada! — respondeu Pirraça, ainda gargalhando.
decidiu esperar a confusão acabar para sair de onde estava, mas não foi preciso esperar muito. As portas atrás dela se abriram e uma voz grave murmurou para ela:
— Seja muito bem-vinda à Hogwarts, .


Levando um susto, se virou para trás e se deparou com um senhor alto de longos cabelos brancos e barba tão longa quanto, da mesma cor. Ele sorriu com sima, os olhos quase fechados atrás dos óculos meia lua que pareciam estar prestes a cair da ponta do comprido nariz. Suas vestes eram azul-bebê com estrelas brancas combinando com o chapéu pontudo de mesma estampa. Ela soube quem era antes mesmo de Hagrid chegar até eles, esbaforido.
! Ah, finalmente te achei! — disse Hagrid, tentando recuperar o fôlego. — Vejo que já conheceu o Professor Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts.
— Olá — respondeu, tímida, forçando um sorriso simpático em seus lábios trêmulos com todo o seu corpo.
Por mais simpático que o diretor fosse, era sempre muito intimidador estar na presença de um bruxo como ele, cuja fama atravessava os oceanos.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Srta. . Espero que Hogwarts esteja à altura de Castelobruxo — disse o senhor de forma simpática e formal, transmitindo calma e segurança em sua fala.
Era engraçado ouvir o sobrenome de sua mãe ser dito por alguém estrangeiro, já que Sirius e Remus já falavam um português tão impecável que o sotaque quase não era perceptível. Ela deteve a vontade de corrigir a forma como era falada, tendo em mente que teria apenas que se acostumar. Era claro que não poderia jamais usar o sobrenome Black, por mais fácil que fosse para os demais.
— É melhor do que eu imaginei, senhor — respondeu a garota, ainda olhando em volta com admiração.
— Pode me chamar apenas de Dumbledore ou Professor Dumbledore, se preferir. A palavra senhor... faz eu me sentir um velho, algo que eu definitivamente não sou — declarou Dumbledore, dando uma piscadela para a garota.
Ela o olhou e, definitivamente, ele era velho. Entretanto, seu olhar tinha a doçura de uma criança na manhã de Natal, com um brilho infantil e confortante, mesmo sabendo que não havia inocência alguma no diretor, tamanha era sua inteligência e seu poder. sorriu e concordou com ele, concluindo que ele tinha toda a razão.
— Vamos, , já está na hora do jantar — disse Hagrid, encaminhando a garota para dentro do salão, acompanhado de Alvo Dumbledore, e deixando toda a confusão para trás.
Os alunos que já haviam entrado no Salão a olhavam com curiosidade enquanto os três se encaminhavam para uma mesa comprida com várias cadeiras já ocupadas. observou os outros professores presentes que também a olhavam, alguns de forma simpática e outros nem tanto, e se sentou em uma cadeira pequena entre Hagrid e Dumbledore. Mal alcançava a mesa de tão baixa que era a cadeira, e sua altura não ajudava em nada. Ela voltou a olhar em volta e seus olhos recaíram sobre o único professor que a encarava com seriedade.
— Aquele de cabelos pretos e nariz pontudo é o professor de Poções, Severo Snape — sussurrou Hagrid, inclinando-se o máximo que conseguiu em direção a aluna. — Do outro lado de Dumbledore está a professora Minerva McGonagall, vice-diretora. Ótima mulher, a Minerva.
olhava um por um enquanto Hagrid apresentava os professores, notando que não houve muitos elogios ao professor Snape. Não estranhou, já que tudo o que já ouviu a respeito do homem não era das melhores coisas.
Ao lado esquerdo da Professora McGonagall estava um homenzinho pequeno que Hagrid disse ser o professor Flitwick, de Feitiços, que conversava animado com a Professora Sprout, mestra de Herbologia. A mulher, sentada ao lado de Sprout, o gigante disse ser Sibila Trelawney, professora de Adivinhação. retribuiu o aceno animado que a professora lhe deu, voltando a atenção ao meio-gigante. Ao lado de Hagrid, estava uma cadeira vazia que ele disse ser do novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o qual não sabia ainda quem seria.
— Eu terei aula com todos eles? — perguntou , olhando cada um.
— Acredito que com a maioria.
— Terei com você? — ela perguntou, em expectativa, desejando ter sempre a companhia do gentil bruxo ao seu lado.
— Com certeza! — respondeu, animado, com um sorriso infantil e inocente que parecia com o do diretor.
observou o resto dos alunos entrarem e seguirem para as quatro grandes mesas em cada canto do salão. Pelas cores diferentes de suas vestes, cada mesa representava uma das casas. Passando os olhos pelas mesas, ela conseguiu observar os cabelos brancos como a neve do garoto que a provocou no trem. Na mesa ao lado, estava seus novos amigos (ao menos desejou que fossem). Era naquela mesa que ela queria sentar. Ao segurar seu colar, desejou poder ver o futuro. Se ao menos tivesse controle do seu dom, poderia acabar com sua ansiedade.
Com o mesmo sentimento, ela viu a Professora Minerva sair da cadeira dela e caminhar apressada para os fundos do salão e, minutos depois, voltar com um banquinho de três pernas com um chapéu velho e remendado em cima. Ela se encaminhou para a porta onde uma fila enorme de alunos a aguardavam. Eles seguiram Minerva pelo longo corredor e se enfileiraram no meio do salão, tão encharcados quanto os demais alunos.
Após uma breve explicação do que fariam ali (a tal seleção que Hagrid contou à mais cedo), o chapéu começou a cantar uma música estilo camponesa, contando a história das Casas.

Há mil anos ou pouco mais,
Eu era recém-feito,
Viviam quatro bruxos de fama,
Cujos nomes todos ainda conhecem:
O valente Gryffindor das charnecas,
O bonito Ravenclaw das ravinas,
O meigo Hufflepuff das planícies,
O astuto Slytherin dos brejais. Compartiam um desejo, um sonho, Uma esperança, um plano ousado
De, juntos, educar jovens bruxos, Assim começou a Escola de Hogwarts.
Cada um desses quatro fundadores Formou sua própria casa, pois cada Valorizava virtude vária
Nos jovens que pretendiam formar. Para Gryffindor os valentes eram Prezados acima de todo o resto; Para Ravenclaw os mais inteligentes
Seriam sempre os superiores;
Para Hufflepuff, os aplicados eram Os merecedores de admissão;
E Slytherin, mais sedento de poder, amava aqueles de grande ambição. Enquanto vivos eles separaram
Do conjunto os seus favoritos
Mas como selecionar os melhores, Quando um dia tivessem partido?
Foi Gryffindor que encontrou a solução
Tirando-me da própria cabeça
Depois me dotaram de cérebro
Para que por eles eu pudesse escolher!
Coloque-me entre suas orelhas,
Até hoje ainda não me enganei.
Darei uma olhada em sua cabeça
E direi qual a casa do seu coração!”

Todos no Salão deram uma salva de palmas ao final da canção. Minerva foi para o lado do Chapéu Seletor e anunciou em voz alta:
— Esse ano teremos uma seleção mais do que especial. Temos conosco uma convidada, uma intercambista diretamente da Escola de Magia Castelobruxo, do Brasil, que passará o próximo ano em Hogwarts. Ela terá a honra de se juntar à uma das nossas Casas e viver com vocês mais uma emocionante jornada aqui na escola.
sentiu seu coração disparar quando a fenda no chapéu se mexeu como uma boca e exclamou seu nome para o salão todo ouvir. Dumbledore lhe deu leves tapinhas no ombro como incentivo para se levantar, e ela assim fez, caminhando, receosa, até o banquinho. Minerva deu um sorriso incentivador e confortante, e ela sentiu as mãos trêmulas suarem frio, se assustando ao sentir o peso do Chapéu Seletor em sua cabeça.
— Hum, minha nossa! Há anos não vejo alguém dessa família... — murmurou o chapéu, e desejou que o resto do salão não estivesse ouvindo. — Seu pai teria feito grandes coisas na Sonserina, e você também fará…
Eu não quero Sonserina!”, ela pensou depressa, apertando os olhos e pensando com toda a força nos seus recém amigos sentados à mesa da Grifinória.
— Ah, escolha interessante... Mesma casa do seu pai, então?
— Sim! — respondeu em um sussurro, sem saber se sua resposta valeria de algo.
— Grifinória! — o Chapéu exclamou alto, fazendo abrir os olhos, assustada, e ver que todos na mesa da Grifinória, sua nova Casa, a aplaudiam de pé. Ela sorriu, aliviada, e se levantou, indo correndo se sentar entre Harry e Rony.
— Legal! Eu estava torcendo para você cair na nossa casa! — disse Harry com um sorriso de orelha a orelha.
— Por um segundo eu achei que você ia para a Sonserina... — murmurou Rony, olhando-a, preocupado.
— Não seja bobo, Rony, a é legal, jamais se juntaria a eles — respondeu Hermione, tão feliz quanto seus amigos.
não comentou com eles sobre o que o Chapéu disse, apenas sorriu, ainda atordoada com toda a agitação do momento. Os demais alunos a parabenizaram, o que foi um grande conforto.
Os quatro ouviram os outros alunos serem selecionados e aplaudiram todas as vezes que a Grifinória recebia um novo membro. E já se podia ouvir o barulho vindo da barriga de Rony quando, um por um, os últimos novatos se encaminharam para o banquinho.
— Ah, anda logo! — gemeu Rony, massageando o estômago.
— Ora, Rony, a seleção é muito mais importante do que a comida — disse um fantasma, na hora em que “Madley, Laura!” tornava-se aluna da Lufa-Lufa.
o observou, encantada e assustada ao mesmo tempo, sem conseguir disfarçar. A cabeça do fantasma estava quase caindo, pendurada com alguns poucos nervos e músculos fantasmagóricos. Não havia fantasmas na Castelobruxo, eles ficavam apenas na floresta em volta e os alunos eram proibidos de falar com eles, mantendo apenas o respeito mútuo, então era estranho demais que eles tivessem tanto contato com um fantasma.
— Claro que é, se a pessoa já está morta! — retrucou Rony, emburrado.
— Nick Quase Sem Cabeça, essa é a , nossa intercambista — disse Hermione, fuzilando Rony com o olhar pelo comentário que ele fez. O fantasma, porém, pareceu não ter se importado com o que o ruivo falou.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda, estou muito feliz que você esteja na nossa Casa! — disse o fantasma, fazendo uma reverência e segurando a cabeça para não cair.
Harry percebeu o espanto da colega e sussurrou no ouvido dela, explicando que cada casa tinha um fantasma e o deles era o Nick, que teve a cabeça quase decepada, e agora carregava esse fardo depois de sua morte. agradeceu com um sorriso tímido e tentou evitar olhar a cabeça pendurada do tal fantasma.
Finalmente, com “Whitby, Kevin” (Lufa-Lufa!), encerrou-se a seleção. A Professora Minerva apanhou o Chapéu e o banquinho e levou-os embora.
— Já não era sem tempo! — exclamou Rony, apanhando os talheres e olhando, esperançoso, para seu prato dourado.
o observou e se pegou pensando no quão adorável Rony parecia ser. Seu pai iria repreendê-la caso soubesse desse seu pensamento, lembrando-a que seu foco eram os estudos e somente isso. O garoto retribuiu o olhar, ruborizando violentamente, e a garota também sentiu suas bochechas queimarem. Como resposta, ela sorriu, e ele apenas conseguiu retribuir, pois sentiu que, se tentasse falar algo, iria balbuciar palavras sem nexo algum. Quando a garota olhou para Harry, o mesmo olhava meio chocado para Rony e , balançando a cabeça e tentando segurar o sorriso.
O Professor Dumbledore se levantou. Sorria para os estudantes, os braços abertos em um gesto de boas-vindas. Agora todos o olhavam com expectativa, prontos para atacar a comida a qualquer segundo.
— Só tenho duas palavras para lhes dizer... — começou ele, sua voz grave ecoando pelo salão. — Bom apetite!
— Apoiado! Apoiado! — disseram Harry e Rony em voz alta enquanto as travessas vazias se enchiam magicamente diante dos seus olhos.
Nick Quase Sem Cabeça ficou observando tristemente os alunos encherem os pratos, soltando um longo suspiro.
— Ah, agora sim! — disse Rony, com a boca cheia de purê de batatas.
— Vocês têm sorte de que haja uma festa esta noite, sabem — disse o fantasma. — Hoje cedo tivemos problemas na cozinha.
— Por quê? O que aconteceu? — perguntou Harry com a boca cheia de carne.
— Pirraça, é claro — disse Nick, sacudindo a cabeça, que se desequilibrou perigosamente. O fantasma puxou a gola fantasmagórica mais para cima. — A história de sempre, sabem? Ele queria vir à festa e, bom, isto está fora de cogitação, vocês sabem como ele é: absolutamente selvagem, não pode ver um prato de comida sem querer atirá-lo longe. Reunimos um conselho de fantasmas, Frei Gorducho foi a favor de dar uma chance a Pirraça, mas muito prudentemente, na minha opinião, o Barão Sangrento fez pé firme.
olhou ao redor, parando para observar cada mesa e seus componentes enquanto Nick Quase Sem Cabeça continuava a falar sobre Pirraça. Essa seria sua vida pelos próximos meses: conversas com fantasmas, quadros que se mexem e falam, corujas voando com cartas ao invés de papagaios e tucanos... Era muito diferente da sua escola no Brasil, contudo, ela não achou nada ruim. A única coisa que incomodava seu coração era a saudade que estava do seu pai, lembrando-se de que precisava enviar uma carta para ele ao amanhecer.
A morena parou seu olhar na mesa da Sonserina e observou os alunos. Será que ela se daria bem entre eles? Conhecera Malfoy e seus amigos no trem e não gostou nada do que aconteceu. Mas e se ela realmente pertencesse àquela mesa e não à mesa que estava? Fora o seu pai, os integrantes da família Black não eram bruxos que poderíamos chamar de boas pessoas, e todos foram para a Sonserina. Não conheceu nenhum deles, mas ouviu as histórias que Sirius contou, o que não a fez querer realmente conhecê-los.
Draco Malfoy cruzou o olhar com o dela e se deteve ali, observando-a com curiosidade. Parecia um jogo de quem desviaria o olhar primeiro. o olhava com a mesma curiosidade e intensidade e, estranhamente, ele parecia não querer parar de olhá-la.
? — chamou Rony. — Não está mudando de ideia, está?
— Como assim? — ela perguntou, não entendendo bem o que o garoto estava querendo perguntar. Desviou os olhos com relutância para lhe dar atenção.
— Você está olhando muito para a mesa da Sonserina, não está pensando em mudar para lá, está?
— Acredito que não seja permitido — a garota respondeu ao dar uma risada, achando graça da preocupação de Rony.
— Claro que não, mas não sei se as regras se aplicam a você.
— Por que não se aplicariam? McGonagall deixou bem claro na minha carta de admissão que eu serei tão estudante de Hogwarts quanto vocês. E, mesmo assim, estou feliz aqui, ok? Não se preocupe.
O mais novo dos meninos Weasley sorriu, aliviado, corando novamente. Ele voltou sua atenção para a comida, mas logo parou e a olhou de novo enquanto levava uma colher de ensopado para a boca.
— Seria muito triste se você fosse pra Sonserina, sabe? Sinto que você é muito especial. Odiaria que isso acontecesse.
sorriu em resposta e seu coração se aqueceu um pouco. Rony era uma graça, tinha sido adorável e legal desde o momento que se viram pela primeira vez. Ela se pegou pensando na dor que sentiria ao partir, caso se apegasse muito à Hogwarts. Essa foi uma promessa que fez a si mesma antes de embarcar no avião: não se apegar a nada nem a ninguém.
Obviamente, já estava quebrando a promessa.


— Então, o que foi que ele aprontou na cozinha? — perguntou Rony, voltando a falar sobre Pirraça.
se deliciava com a comida, fazia horas que não colocava nada na boca por conta do nervosismo, nem mesmo os doces deliciosos que passaram oferecendo no trem a caminho para Hogwarts. Ela nunca imaginou que as refeições britânicas conseguiriam ser tão deliciosas.
— Ah, o de sempre — respondeu Nick Quase Sem Cabeça, sacudindo os ombros. — Causou prejuízos e confusão. Utensílios e panelas por toda parte. Sopa para todo lado. Deixou os elfos domésticos loucos de terror…
Um som alto de metal batendo em algo assustou a todos em volta. Hermione derrubou sua taça, fazendo o suco de abóbora escorrer pela mesa, manchando de laranja mais de um metro de pano branco, mas nem se importou. Com um movimento rápido, sacou sua varinha e limpou a sujeira antes que caísse na roupa dos amigos.
— Tem elfos domésticos aqui? — Mione perguntou, encarando Nick Quase Sem Cabeça com uma expressão de horror no rosto. — Aqui em Hogwarts?
— Claro que sim — disse o fantasma, parecendo surpreso com a reação da garota. — O maior número que existe em uma habitação na Grã-Bretanha, acho. Mais de cem.
— Eu nunca vi nenhum! — exclamou Hermione, horrorizada.
— Bom, eles raramente deixam a cozinha durante o dia, não é? Saem à noite para fazer limpeza… Abastecer as lareiras e coisas assim... Quero dizer, não é esperado que fiquem à vista. Essa é a marca de um bom elfo doméstico, que não se saiba que ele existe.
Hermione ficou olhando o fantasma com extrema indignação. Começou a questioná-lo sobre diversas coisas em relação às condições de trabalho dos elfos domésticos.
— Tem elfos domésticos no Brasil? — sussurrou Rony, se aproximando da garota. se arrepiou e se assustou ao sentir o rosto do ruivo tão próximo do seu ouvido. Ao se virar, percebeu que eles estavam a poucos centímetros de distância.
— Tem — ela limpou a garganta, dando de ombros. — Mas eles recebem pelo trabalho deles, tem assistência médica, férias... — parou de falar ao ver o choque no rosto do garoto.
— Não conte isso a Mione! — ele sussurrou, se certificando que Hermione não o ouvia.
— Por quê? — respondeu , confusa. Ela olhou Mione, que ainda falava, irritada, chocada com tudo que ouvia sobre os elfos da escola.
— Trabalho escravo — disse a garota, respirando com força pelo nariz. — Foi isso que preparou este jantar. Trabalho escravo.
E recusou-se a continuar comendo.
Quando as sobremesas também tinham sido devoradas e as últimas migalhas desaparecidas dos pratos, deixando-os limpos e brilhantes, Alvo Dumbledore tornou a se levantar. O burburinho das conversas que enchiam o Salão cessou quase imediatamente, de modo que somente se ouvia o batuque da chuva forte do lado de fora. Era impressionante o respeito que o bruxo impunha em todos e o olhou com ainda mais admiração.
— Então! — exclamou Dumbledore, sorrindo para todos. — Agora que já comemos e molhamos a garganta, preciso mais uma vez pedir sua atenção para alguns avisos. O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avisá-los de que a lista dos objetos proibidos no interior do castelo este ano cresceu, passando a incluir ioiôs-berrantes, frisbees-dentados e bumerangues-de-repetição. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do Sr. Filch, se alguém quiser lê-la.
Os cantos da boca de Dumbledore tremeram ligeiramente em claro sinal de que ele estava tentando não rir.
Ele continuou:
— Como sempre, eu gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade é proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, àqueles que ainda não chegaram à terceira série.
— Você vai adorar Hogsmeade — sussurrou Harry, logo se endireitando para voltar a ouvir Dumbledore.
— Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as Casas.
— Quê!? — exclamaram Harry e Rony com indignação. Potter olhou para Fred e George, seus companheiros no time de quadribol, que pareciam tão indignados quanto ele.
Os três xingaram Dumbledore em silêncio, aparentemente espantados demais para falar algo.
— Vocês têm quadribol aqui? Legal! — exclamou , sendo repreendida por Harry apenas com o olhar. Ela percebeu que não era um bom momento para se animar com o esporte.
Dumbledore continuou:
— Isto se deve a um evento que começará em outubro e irá prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts…
Interrompendo seu discurso, ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e o bater das portas do Salão Principal ao serem escancaradas. Entre elas, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta, apareceu um homem. Todas as cabeças no Salão viraram-se para o estranho, repentinamente iluminado por um relâmpago que cortou o teto. Ele baixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos e começou a caminhar em direção à mesa dos professores.
Um ruído metálico e abafado ecoava pelo lugar a cada passo que ele dava. Quando alcançou a ponta da mesa, virou à direita e mancou pesadamente até Dumbledore. Mais um relâmpago cruzou o teto. Hermione prendeu a respiração e deu um pulo no banco e agarrou o braço de Rony, que ruborizou na mesma hora. O relâmpago revelou nitidamente as feições do homem e seu rosto era diferente de qualquer outro que a garota já vira. Parecia ter sido castigado sem piedade pelo tempo, cada centímetro da pele do estranho parecia ter cicatrizes. A boca lembrava um rasgo diagonal e faltava um bom pedaço do nariz. Mas eram os seus olhos que o tornavam assustador.
Um deles era pequeno, escuro e penetrante. O outro era grande, redondo como uma moeda, em um tom azul-elétrico vivo. O olho mágico se movia continuamente, sem piscar, e revirava para cima, para baixo, e de um lado para o outro, independentemente do olho normal — depois virava para trás, apontando para o interior da cabeça do homem, de modo que só o que as pessoas viam era o branco da córnea.
observou o estranho se aproximar de Dumbledore, apertar a mão do bruxo com a mão direita igualmente cheia de cicatrizes e lhe dizer algo inaudível. Dumbledore assentiu com a cabeça e sorriu, indicando ao homem o lugar vazio à sua direita, onde ela se sentara antes da seleção.
— Gostaria de apresentar-lhes o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Dumbledore com animação em meio ao silêncio. — Professor Alastor Moody.
Era comum os novos membros do corpo docente serem recebidos com aplausos animados, mas nem os colegas, nem os estudantes bateram palmas, exceto, é claro, por Dumbledore e Hagrid.
— Moody? — murmurou Harry para Rony. — Olho-Tonto Moody? O que o seu pai foi ajudar hoje de manhã?
— Deve ser — disse Rony baixo, levemente assombrado.
Dumbledore limpou a garganta outra vez.
— Como eu ia dizendo — recomeçou ele, sorrindo para o mar de alunos à sua frente, todos ainda paralisados e mirando Olho-Tonto Moody —, teremos a grande honra de sediar um evento extraordinário nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.
— O senhor está BRINCANDO! — Fred Weasley exclamou em voz alta.
Quase todos riram e Dumbledore deu risadinhas de prazer em resposta, sem conseguir se segurar.
— Não estou brincando, Sr. Weasley, embora, agora que o senhor menciona, ouvi uma excelente piada durante o verão sobre um trasgo, uma bruxa má e um leprechaun que entram num bar…
A Profa Minerva pigarreou alto, chamando a atenção do velho bruxo.
— Hum... Mas talvez não seja hora... Onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo! Bom, alguns de vocês talvez não saibam o que é esse torneio, de modo que espero que aqueles que já sabem me perdoem por dar uma breve explicação e deixem sua atenção vagar livremente.
“O Torneio Tribruxo foi criado há uns setecentos anos, como uma competição amistosa entre as três maiores escolas européias de bruxaria — Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campeão é eleito para representar cada escola e os três campeões competem em três tarefas mágicas. As escolas se revezam para sediar o torneio a cada cinco anos, e todos concordam que é uma excelente maneira de estabelecer laços entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades — isso, é claro, até a taxa de mortalidade se tornar tão alta que o torneio teve de ser interrompido.”
— Taxa de mortalidade? — sussurrou Hermione, parecendo extremamente assustada. deu de ombros, igualmente intrigada.
Mas, aparentemente, sua ansiedade não foi compartilhada pela maioria dos alunos no salão; muitos murmuravam entre si, excitados com a notícia, e os próprios amigos estavam bem mais interessados em saber sobre o torneio do que em se preocupar com o que aconteceu a centenas de anos atrás.
— Durante séculos, houve várias tentativas de reiniciar o torneio — continuou Dumbledore. — Nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo mortal.
“Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final dos competidores de suas escolas em outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões.”
— Estou nessa! — sibilou Fred Weasley para os colegas de mesa, o rosto exibindo uma careta animada.
Aparentemente, ele não era o único que estava se vendo como campeão de Hogwarts. Em volta, se via vários rostos animados e ansiosos, cochichando uns com os outros sobre a grande novidade.
— Ansiosos como eu sei que estarão para ganhar a Taça para Hogwarts, os diretores das escolas participantes, bem como o Ministério da Magia, concordaram em impor este ano uma restrição à idade dos contendores. Somente os alunos que forem maiores, isto é, tiverem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção. — Dumbledore elevou ligeiramente a voz, pois várias pessoas haviam protestado indignadas ao ouvir suas palavras, e os gêmeos Weasley, de repente, pareciam furiosos. — Isto é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas, por mais precauções que tomemos, e é muito pouco provável que os alunos abaixo da sexta e sétima séries sejam capazes de dar conta delas. Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campeão de Hogwarts.
Seus olhos azul-claros cintilavam ao cruzarem com os rostos rebelados de Fred e George.
— Portanto, peço que não percam tempo apresentando suas candidaturas, se ainda não tiverem completado dezessete anos.
Houve protestos em todas as mesas. Os gêmeos Weasley (que eram idênticos um com o outro, mas muito diferentes de Rony) estavam enlouquecidos e indignados.
— As delegações de Beauxbatons e de Durmstrang chegarão em outubro e permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estenderão as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem descansados para começar as aulas amanhã de manhã. Hora de dormir!
Um som desafinado de cadeiras sendo arrastadas e pessoas falando alto ressoou pelo Salão. observou vários alunos resmungando, insatisfeitos com o fato de não poderem se inscrever no torneio. Fred e George Weasley eram dois deles.
— Ei, Fred, George — gritou Rony, chamando os irmãos com um aceno de mão em meio à multidão. Eles vieram em sua direção, ainda com a cara fechada e resmungando. Quando chegaram à entrada do castelo, os dois se aproximaram dos meninos.
— Que foi? — perguntou um dos gêmeos com rispidez. ainda não sabia identificá-los e acreditou que não seria nunca capaz de tal desafio.
— Essa é a , a intercambista. , esses são meus irmãos, George e Fred — apresentou Rony.
— Muito prazer — disse a garota, estendendo a mão para os gêmeos que, quando a viram, suavizaram seus rostos bravos.
— Sou o Fred — falou um dos gêmeos, segurando sua mão e fazendo uma reverência.
— E eu sou o George — disse o outro, segurando a outra mão da garota e fazendo a mesma reverência. Ao mesmo tempo, os dois deram beijos nas mãos de , fazendo-a corar violentamente.
Rony não gostou nada do que viu, e suas orelhas ficaram vermelhas feito tomates.
— É um prazer conhecê-la, sinto muito pela nossa reação, mas... — começou George.
— Mas o prêmio de mil galeões seria perfeito para nossa lo... — Fred foi interrompido por George, que pigarreou alto e o repreendeu com o olhar. — Para a nossa família — completou, meio sem jeito.
— Seria mesmo — concordou Rony, aborrecido, enquanto subiam as escadas para a torre da Grifinória.
Os gêmeos continuaram discutindo estratégias para enganar os juízes e entrar na competição, uma espécie de disputa de ideias malucas para ver qual seria a mais eficaz.
— O que vocês acham? — perguntou Rony a Harry, e Hermione. — Seria legal, não seria? Mas faz sentido eles quererem apenas os mais velhos, não sei se já aprendemos o suficiente.
— Eu decididamente não aprendi. — Ouviu-se a voz tristonha do garoto que os meninos haviam apresentado como Neville Longbottom durante o jantar. — Mas imagino que a minha avó vai querer que eu experimente, ela está sempre falando que eu devia lutar pela honra da família. Eu terei que... Opa!
O pé de Longbottom afundou direto por um degrau no meio da escada. Havia muitos desses degraus velhos e bichados em Hogwarts e era normal que a maioria dos alunos antigos saltassem esse determinado degrau, porém, a memória de Neville era incrivelmente fraca. Harry e Rony o agarraram pelas axilas e o puxaram para cima.
— Você está bem? — perguntou , olhando feio para uma armadura que rangia alto, rindo do garoto.
— Estou sim. Obrigada, — respondeu Neville, constrangido, mas com um sorriso simpático.
Os garotos se dirigiram à entrada da torre da Grifinória, que ficava escondida atrás de uma grande pintura a óleo de uma mulher gorda com um vestido de seda rosa, rodeada de frutas, comidas e plantas.
— Senha? — perguntou ela quando os garotos se aproximaram.
Asnice — disse George. — Lembre-se dessa palavra, . Todas as entradas das Salas Comunais das Casas possuem uma forma de entrar, a nossa é essa senha. Às vezes mudam, mas você ficará sabendo.
— Farei meu melhor para lembrar — a garota respondeu, fazendo uma careta e repetindo mentalmente a palavra na tentativa de gravá-la na memória.
O retrato girou para a frente, expondo um buraco na parede pelo qual todos passaram. Um fogo aceso na lareira aquecia a sala comunal circular, mobiliada com móveis antigos nos tons de madeira escura, vermelho e dourado velho, com estantes repletas de livros e paredes cheias de quadros e objetos decorativos. O lugar cheirava a baunilha e madeira queimada, não era enorme, mas muito aconchegante.
ouviu Hermione murmurar “trabalho escravo” enquanto fuzilava as chamas da lareira com raiva. Rony revirou os olhos, porém, optou por não comentar nada para não estressar ainda mais a amiga. Sabia que, quando ela estava assim, o melhor era deixá-la em paz.
, a professora McGonagall falou que você ficaria com a cama ao lado da minha. Quer subir agora? — disse Hermione, soltando um bocejo no final da frase.
olhou em volta, encantada com a beleza daquela sala e desejando poder aproveitar cada cantinho dela. Entretanto, seu cansaço falou mais alto, o fuso horário ainda bagunçando seu sono, e ela concordou com um balanço de cabeça, seguindo Granger em direção às escadas depois de dar boa noite a todos. De repente, ela ouviu Rony exclamar seu nome, a fazendo parar no meio do caminho.
— Dorme bem, — ele disse, sorrindo com timidez. — Qualquer coisa estamos, ali no dormitório dos meninos.
— Você a chamou para falar só isso? — perguntou Hermione, revirando os olhos. — Vocês não podem subir no nosso dormitório e nem a gente no de vocês.
— Por que você é tão estraga prazeres, Mione? — reclamou Rony, aborrecido.
— Boa noite para você também! — respondeu Mione, subindo as escadas com passos fortes.
— Boa noite, meninos — disse , seguindo Hermione em direção ao dormitório. — Desculpe, Hermione.
Ela olhou as outras meninas se acomodando em suas camas. reconheceu Gina Weasley, irmã mais nova de Rony, no canto do dormitório ao lado da cama de Hermione, e do outro lado havia uma cama vazia com sua mala à sua espera.
— Não tem porquê se desculpar, — respondeu Mione, sorrindo. — É que eles são tão bobos às vezes, chega a irritar! Não sei como eu aguento aqueles dois…
sorriu para a colega que se deitou na cama logo em seguida. A morena seguiu seu exemplo e, após trocar de roupa, se deitou, caindo em um sono profundo após aquele dia tão cansativo.


Na manhã seguinte, acordou antes de todas as meninas. O céu era uma mistura dos tons escuros da madrugada com o laranja amarelado do nascer do Sol e o fuso horário ainda atrapalhava sua cabeça. Mas ela agradeceu por isso, pois queria enviar a carta para seu pai antes que alguém acordasse. A garota calçou suas pantufas, vestiu seu roupão novo com as cores da Grifinória e saiu da Sala Comunal na ponta dos pés. Antes, ela pegou um pedaço de pergaminho e uma pena, sentando-se no chão e apoiando o papel na mesa de centro em frente a lareira para escrever a carta, que dizia:

“Oi, pai. Gostaria de ter mandado uma carta ontem mesmo, mas estava muito tarde e, depois daquele banquete maravilhoso, eu não pude fazer mais nada além de ir dormir.
Boas notícias! Entrei na Grifinória! E até agora ninguém descobriu que sou sua filha. Fiz amizade com Harry, Rony e Hermione e, eu sei, prometi não me apegar a ninguém, mas é tão difícil! Eles são todos tão incríveis, exatamente como você me disse que seriam. Hagrid e Alvo Dumbledore foram excepcionais ao me receberem em Hogwarts. Eu me sentiria totalmente em casa, se ao menos você e o padrinho estivessem aqui.
Sinto sua falta, pai. Muito mesmo. Espero que tudo esteja bem aí onde está. Aguardo ansiosa por sua resposta!

Para sempre, sua filha.”

Para a segurança de seu pai, o texto foi todo escrito em português. Ela sabia que ele e Remus entenderiam e, se caísse em mãos erradas, as chances de conseguirem ler seriam mínimas. deu um beijo no pedaço de pergaminho, como se beijasse a bochecha de seu pai, e o amarrou na pata esquerda de Jack, dando um petisco para ele como agradecimento. O papagaio piou animado e ficou repetindo a palavra “obrigado” até sumir de vista.
Ao retornar para o dormitório, a garota percebeu que a maioria das meninas já havia saído do quarto e, provavelmente, ido tomar o café da manhã. tomou o banho mais rápido que conseguiu e se vestiu mais rápido ainda, chegando ao Salão Principal ofegante e quase sem ar. Todos a olhavam com desconfiança. Ronald Weasley abriu um sorriso enorme ao ver a colega se sentar ao lado de Hermione, ficando de frente para ele e Potter.
— Bom dia — ela murmurou, envergonhada.
— Bom dia! — os dois meninos responderam, animados.
— Bom dia, — Mione disse, sua voz um tanto séria e acusatória. — Onde estava hoje cedo?
— Eu tive que mandar uma carta para meu padrinho — ela disse com pressa, logo se ocupando em beber um gole do leite quente que surgiu na sua frente. Hermione a olhou, desconfiada, mas percebeu que encerrou o assunto.
— Como foi sua primeira noite em Hogwarts? — perguntou Harry, sorrindo com um pedaço de torta em sua boca.
— Muito confortável — ela respondeu, retribuindo o sorriso.
Potter começou a contar sobre sua primeira noite e como ele dormiu tão pesado por causa da cama confortável que quase perdeu a hora durante a primeira semana inteira, causando gargalhadas da amiga que se divertia com as histórias. Rony olhou a situação com certo incômodo. Não era possível que até mesmo a nova amiga iria achar Harry mais interessante que ele. No dia anterior, quando a conheceu, um fio de esperança de que talvez, finalmente, aquele ano fosse diferente, de que aquele ano encontraria alguém que o enxergasse de verdade, surgiu dentro de si. Esse mesmo fio estava prestes a se romper ao ver aquela troca de sorrisos entre e seu melhor amigo.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho forte de asas batendo e piados das corujas entrando no Salão Principal, cada uma indo em direção ao seu respectivo dono. Harry olhou para cima, esperançoso, mas Edwiges, sua coruja branca como a neve, não apareceu. Já a de Hermione chegou até ela, deixou um jornal enrolado, e levantou voo quando a garota depositou um sicle, indo embora com a mesma rapidez com que entrou.
Hermione abriu o jornal e sumiu atrás dele. espiou pelos cantos dos olhos a amiga ao lado, que lia, concentrada, cada linha impressa no papel.
— Ah, não! — Mione exclamou, assustada. Em seguida, abaixou o tom de voz. — Sirius!
— O que tem ele? — exclamou Harry, puxando o jornal e rasgando-o ao meio antes que pudesse ler a matéria.
se controlou para não puxar a varinha e fazer os cabelos rebeldes do amigo sumirem, tamanha a raiva que sentiu. Seu coração bateu rápido demais, lhe tirando o fôlego. Ela queria desesperadamente saber o que aconteceu com Sirius, mas não podia de forma alguma entregar que ele era seu parente. Seu cérebro tentava trabalhar em meio ao desespero, pensando no que fazer sem se entregar no primeiro dia.
— Todos sabem que Sirius Black é um assassino perigoso... Blá blá blá... Assassinato em massa... — Hermione lia a parte menos importante da matéria com impaciência. — Aqui! Fontes afirmam que o fugitivo se esconde em Londres! Meu Deus… Com certeza foi Lúcio Malfoy! Ele estava muito estranho na estação, ficava olhando um ponto fixo e depois nos olhava com a mesma frieza.
sentiu seu coração parar por alguns segundos, seu estômago despencou. O ponto fixo que o homem olhava não era seu pai e sim ela mesma. A lembrança dos olhos cinzas e frios de um homem alto de cabelos pálidos que se fixaram nela na estação ainda lhe causava arrepios. Lúcio Malfoy, como Draco Malfoy… Agora fazia sentido ela ter tido a impressão de já ter visto o aluno da Sonserina antes de tropeçar na frente dele. Ele estava com o pai quando o bruxo mais velho a reconheceu, mas… como? Ela não era tão parecida com o pai e duvidava que o homem havia conhecido sua mãe. Por que ele a olhava tão claramente?
Sem pensar muito, ela pediu licença e saiu correndo, sem responder aos protestos dos meninos para que a garota ficasse. Ela tinha que falar com seu pai e não podia, essa era a pior agonia que a garota já sentira na vida.
continuou correndo até chegar à porta da sala de Dumbledore e parou, ofegante, sem certeza se queria mesmo entrar. A gárgula pediu a senha, porém, ela não fazia ideia de qual era, é claro. Começou a chorar, cansada por não saber o que fazer com o desespero que só crescia dentro de si.
— Posso ajudá-la, Srta. ? — Ela ouviu a voz da Professora Minerva McGonagall ao seu lado, assustando-a. — A vi sair correndo do Salão, aconteceu algo?
— Perdão, professora, mas não posso lhe contar. Preciso falar com o Professor Dumbledore, é urgente.
Minerva pareceu perceber o desespero da aluna, sem falar nas lágrimas que ainda caíam livres pelo rosto dela. A professora murmurou a senha e a gárgula girou, revelando uma escada em espiral. McGonagall apontou para os degraus, indicando para que subisse na sua frente. A mulher a seguiu, ambas sentiram a escada se mexer, elevando-as até a porta de madeira sem que elas precisassem subir todos os degraus. Minerva deu duas batidas com a varinha e a porta se abriu sozinha. deu passos receosos para dentro, admirando a beleza do lugar enquanto secava suas lágrimas.
— Ora, que honra tê-las em minha sala! — Ouviu-se a voz de Dumbledore ecoar pelo espaço. reparou que tinha um jornal aberto em sua mesa. — Eu imagino o motivo de estar aqui, .
— Eu a vi do lado de fora, Alvo. Estava chorando, desesperada para falar com o senhor — disse Minerva, se aproximando da mesa junto com a aluna.
— Muito obrigada, Minerva. Imagino que você tenha lido o jornal.
— Li sim, senhor. Por isso vim atrás dela — disse McGonagall.
— Você sabe? — perguntou , espantada. Minerva apenas assentiu.
— Não se preocupe, seu segredo está a salvo comigo, Senhorita Black — a professora sorriu com sima, apertando levemente o ombro da jovem. — Agora, se me dão licença, preciso voltar ao Salão.
— Obrigada, Minerva — Dumbledore agradeceu e em seguida apontou para a cadeira acolchoada na frente de sua mesa. — Sente-se, . Você leu o jornal, certo?
assentiu e se rompeu em lágrimas de novo, fazendo com que o diretor se levantasse e andasse até o seu lado, afagando suas costas em um ato de carinho.
— Eu estraguei tudo! — ela afirmou entre soluços. — Eu não deveria ter vindo! Eu preciso voltar pro Brasil, eu preciso me trancar na Castelobruxo com meu pai até ele ser inocentado e…
— Não fale besteira, minha jovem — Alvo a interrompeu, retornando para sua cadeira. — Primeiramente, senhorita, eu te aceitei aqui não apenas por ser filha de Sirius, um dos bruxos mais geniais de sua época, mas por ser uma das alunas mais talentosas da Castelobruxo que, acredito com todas as minhas forças, irá agregar muito à nossa escola.
— Mas Lúcio me reconheceu, na estação, ele pareceu saber quem eu era…
— Lúcio não estava olhando para você naquele dia, — o diretor a olhou com seriedade. — Ele estava olhando para o que pensou ser seu pai. E ele não estava enganado, Sirius foi muito descuidado…
— Meu pai? — ela exclamou, horrorizada. — Mas… como? Ele estava no Brasil! Ele não veio comigo!
— Ora, você é uma bruxa e não sabe as várias maneiras de teletransporte! Me surpreende que tenha ido de avião até Londres.
— Não queria chamar atenção… — respondeu, a voz saindo em um sussurro.
— Entendo — ele disse, assentindo. — De qualquer maneira, não se preocupe. Eu sei onde seu pai está e estou garantindo a segurança dele. Peço que confie em minhas humildes palavras e não diga nada ao Harry, está bem? Eles ainda não sabem a verdade, não é?
— Não, não sabem — a garota disse, ainda apreensiva. — Tem certeza que ele está bem, senhor? Você me diria se algo estivesse errado, não diria?
— Você será a primeira a saber — ele respondeu, sorrindo com sima. — Agora vá, não vai querer perder a fascinante aula de Herbologia.
Com certa relutância, obedeceu o diretor e correu pelo caminho cheio de lama até a estufa onde aconteceria a aula com a adorável professora Sprout, responsável pela casa Lufa-Lufa. Seus amigos a olharam com surpresa e desconfiança ao repararem em seu rosto inchado e marcado pelas lágrimas secas.
— Onde você estava? — perguntou Hermione.
— Por que saiu correndo daquela forma? — perguntou Harry.
— Está tudo bem? — perguntou Rony, claramente o mais preocupado entre os três.
— Está sim, agora está — a garota mentiu. — A torta não me fez bem.
— Ah, sei como é. Um dia eu comi uma dessas e passei horas no banheiro, mas pelo menos não precisei assistir a aula do narigudo seboso — Rony riu, parecendo mais aliviado.
— Claro, você comeu a torta inteira! E Snape te passou dois metros de pergaminho sobre as principais poções para dor de barriga, lembra?
— Foi muito útil — o ruivo respondeu, fazendo uma careta para a amiga que apenas revirou os olhos em resposta.
deu risada, sentindo o conforto que sempre sentia ao lado dos amigos, eles sempre tinham o poder de deixar tudo mais leve, mesmo nos momentos mais difíceis.
A aula seria com a turma do quarto ano da Lufa-Lufa que estava totalmente eufórica por finalmente poder entrar em seu ambiente favorito.
Rony se apressou em conseguir dois bancos vazios na grande bancada repleta de vasos com plantas horrorosas, uma espécie que nunca havia visto antes, mesmo com a vasta variedade de vegetações presentes no Brasil. A menina se sentou ao lado do ruivo, que sorriu largo ao recebê-la. Hermione e Harry se olharam, não muito felizes com mais essa interação. Eles conheciam Rony bem demais para saber que ele não considerava a intercambista apenas uma amiga e não queria que o amigo se machucasse quando chegasse a vez da garota partir, por mais incrível que ela fosse.
sentiu que alguém, além dos seus três amigos, a observava. Ela olhou em volta, tentando descobrir quem era, e seus olhos cruzaram com dois pares de olhos claros de um aluno da Lufa-Lufa que estava em pé ao lado da professora com um sorriso largo no rosto e a cabeça levemente inclinada para o lado, como se a garota a quem observava fosse o objeto mais curioso que já encontrara na vida. As bochechas dela queimavam em vergonha e permaneceu assim mesmo quando ela desviou o rosto, repetindo em sua mente para ter foco.
— Queridos alunos, sejam bem-vindos à primeira aula de Herbologia do semestre! — a Professora Sprout exclamou, recebendo vários aplausos e assobios animados como resposta. Ela pediu silêncio com as mãos, sorrindo, animada. — Hoje terei um ajudante impecável, o melhor aluno de Herbologia que eu já tive…
— Até parece… — Neville protestou baixinho, parecendo chateado.
— ...monitor da Lufa-Lufa e um dos nossos melhores jogadores de Quadribol que gentilmente aceitou usar seu horário vago para me ajudar! Estou falando, é claro, de Cedrico Diggory!
As bochechas do garoto ruborizaram com violência enquanto recebia aplausos animados da turma da Lufa-Lufa e alguns poucos da turma da Grifinória. Hermione aplaudia, empolgada, soltando um longo suspiro, acompanhada de outras meninas da mesa. o achou adorável, merecedor das palmas que recebia. Rony e Harry reviraram os olhos, reclamando de toda a bajulação.
— Ele definitivamente não é tudo isso — disse Rony, parecendo chateado.
— Ele não joga quadribol tão bem assim… — resmungou Harry, cruzando os braços.
— Vocês são patéticos quando ficam com ciúmes! — Hermione disse, fazendo rir ao concordar.
A morena olhou novamente em direção ao loiro, que agora falava com alguns alunos da sua casa, rindo de algo que eles disseram. Ela parecia hipnotizada, não sentia vontade de parar de olhá-lo tão cedo, mas teve que fazê-lo quando Rony chamou sua atenção.
— Ah, droga, você também? — ele questionou com irritação na voz.
— Eu o quê? — ela perguntou, confusa.
— Está toda caidinha pelo Diggory! — Neville se intrometeu, parecendo igualmente irritado.
— Não estou, não! — ela retrucou na defensiva. — Só estou curiosa para conhecê-lo, a professora fez uma ótima propaganda.
— Sei… — Rony respondeu, fuzilando o lufano que ainda estava do outro lado da estufa. — Tenho certeza que ele enfeitiçou todas as garotas do colégio para adorarem ele…
A professora Sprout explicou o que eram aquelas plantas e para o que serviam. O nome era Bubótuberas, ela tinha algumas bolas amareladas nojentas que, para a infelicidade de todos, eles teriam que espremer. Segundo a professora, aquele pus era um remédio maravilhoso para as acnes, entretanto, era necessário recolhê-lo com extremo cuidado (com luvas e óculos de proteção) para colocar nas garrafas.
— Ótimo trabalho, meninos! A Madame Pomfrey vai ficar muito feliz! — disse a professora enquanto passava pelos alunos, vendo-os recolher cada gota.
Aquilo era nojento, mas estava se divertindo com as palhaçadas e caretas que Rony e Harry faziam, sempre reprovados por Hermione que coletava com toda a concentração e seriedade do mundo. ria com vontade quando sentiu alguém se aproximar por trás, se enfiando entre ela e Neville, que protestou quando quase derramou seu pus na mesa. Ela parou de rir na mesma hora, suas mãos parecendo suar mais ainda dentro das luvas. Sentiu suas bochechas queimarem ao ver o quão próximo Cedrico estava, morrendo de vergonha por estar usando aqueles óculos de proteção ridículos. Rony e Harry também pararam de rir, e agora o olhavam com raiva. Hermione observava boquiaberta, na expectativa do que iria acontecer em seguida.
— Olá, pessoal — ele cumprimentou os meninos e Hermione com um sorriso e voltou a atenção para a garota. — Acho que ainda não nos conhecemos. Sou Cedrico Diggory, mas pode me chamar de Ced. E você?
Ele estendeu a mão, mas a afastou e soltou uma risada ao ver a luva melecada de
. Ela deu um sorriso amarelo, envergonhada.
— Sou , intercambista da Castelobruxo.
— Ah, sim, a brasileira! — ele respondeu, sorrindo largo, se inclinando na bancada, sem tirar os olhos brilhantes dela nem por um segundo. — Estava ansioso para conhecê-la!
— Estava? — ela perguntou, sem disfarçar a surpresa.
— Estava, é? — Rony também perguntou, a mesma raiva nos olhos estava presente na voz. Ele rangeu os dentes tão forte que jurou que quebrariam.
— Sim, estava — ele respondeu, parecendo se divertir com as reações. — A Professora Sprout disse maravilhas sobre suas notas em herbologia na sua escola, gostaria muito de conhecer mais sobre a variedade de plantas mágicas que existem no Brasil que você certamente deve conhecer.
— P-posso te dar aulas, se quiser — a garota gaguejou e se sentiu uma boba por isso.
Rony fincou sua pá em um dos vasos e por muito pouco a planta não explodiu uma de suas bolsas de pus.
— Eu iria adorar! Te encontro na biblioteca no final do dia? — Diggory perguntou, e a garota assentiu na mesma hora.
Com um aceno simpático, ele se despediu de todos e voltou a falar com os outros alunos, auxiliando-os com suas plantas. No fim da aula, Hermione entrelaçou o braço com o de enquanto a turma saía da estufa. A intercambista se sentiu animada com esse ato de amizade. Não tinha muitos amigos em Castelobruxo, sempre foi o mais reservada possível, principalmente com a volta de seu pai. Mas sua animação não era apenas por isso e sim com o fato de que tinha acabado de ser convidada para ensinar herbologia, sua matéria favorita, para um garoto encantador. Mione estava tão empolgada quanto ela, dizendo o quão sortuda era por ter um encontro com Cedrico.
— Não é um encontro! — Rony protestou, alcançando o passo apressado das amigas. — Dá pra acreditar nesse cara? Pedindo para a ensinar herbologia! Afinal, ele não é o melhor aluno na matéria da Sprout?
— Rony, relaxa! Você ainda é meu aluno preferido de Hogwarts — a morena brincou, fazendo os olhos do ruivo se iluminarem.
Os três seguiram para o espaço amplo e aberto ao lado de uma casa de madeira caindo aos pedaços, com uma fina fumaça branca saindo pela chaminé. Aquela era a cabana de Hagrid, de onde ele saiu pela impressionantemente pequena porta de madeira (se comparada ao tamanho do próprio gigante), seguido por Canino, seu fiel cachorro de estimação. Para o desagrado da turma da Grifinória, a turma que lhe faria companhia nessa aula era a da Sonserina.
Malfoy observou a turma da outra casa com certo desgosto, incomodado com o fato de que estavam chegando animados demais para a aula, fazendo-o torcer o nariz arrebitado. Achava-os naturalmente patéticos, mas essa adoração pelo professor de Trato das Criaturas Mágicas o irritava mais ainda. E ali, dentre os primeiros a se aproximarem, estavam os queridinhos de Hagrid, o “trio de ouro”. Bom, agora era o quarteto de ouro. Draco se pegou novamente observando a nova aluna, sua curiosidade crescendo em seu interior e seus olhos o traindo mais uma vez, como todas as vezes que ela estava por perto, incapaz de resistir à observação. Mexeu, ansioso, em seu anel, forçando-se a desviar o olhar para qualquer outro ponto menos perigoso.
— Sejam bem-vindos, meus caros alunos! — Hagrid exclamou, animado. Os grifinórios o saudaram com a mesma animação, mas os sonserinos apenas resmungaram coisas inaudíveis.
O professor continuou falando sobre a aula, explicando como seria o decorrer do semestre. Ele lançou uma piscadela animada para , que retribuiu com a mesma empolgação. Em seguida, explicou sobre as pequenas criaturinhas que cuidariam naquela aula: Explosivins. Larvas grandes que, como se soltassem gases, fogos saíam de seus rabos, fazendo-os se deslocar por alguns bons centímetros para a frente. Os alunos se assustaram ao vê-los dentro dos caixotes. já havia visto de tudo em seus anos na Castelobruxo, mas os animais mágicos da Europa eram algo à parte.
Os olhos da brasileira começaram a observar tudo, amando a natureza em sua volta, tão diferente do que estava acostumada. Ela cruzou com o olhar frio que a encarou com desprezo no trem, porém, com curiosidade durante o banquete da noite passada. Draco se aproximou, fazendo a garota estremecer levemente, torcendo para que ninguém percebesse. Ele parou ao seu lado, recebendo olhares de reprovação de Harry, Hermione e, claro, Rony Weasley.
— Está olhando o que, sangue-ruim? — o ouviu murmurar.
— Você estava me olhando primeiro — ela respondeu em voz baixa, sem tirar os olhos de Hagrid que ainda falava sobre as adoráveis criaturas. — Como tem tanta certeza que não sou puro sangue, se não conhece minha família?
— Porque você me irrita tanto quanto os sangue-ruins, é fácil reconhecer gente igual a você — ele retrucou, como se cuspisse as palavras.
— Nunca fiz nada contra você, Malfoy — ela respondeu, finalmente encarando o garoto com certa raiva e impaciência.
— Ah, fez sim… Tem alguma coisa muito errada com você e eu vou descobrir o que é. Você não é tão santa assim como todos acham que é.
— Algum problema, Draco? — a voz de trovão do professor ressoou alta pelo espaço aberto, fazendo ambos se assustarem e o olharem na mesma hora. pôde jurar que o garoto tremeu um pouco antes de dar sua resposta.
— Tenho sim! — ele falou, se afastando da garota. — O que esses bichos nojentos fazem? Para o que servem?
— Isso é na próxima aula, Malfoy. Hoje iremos apenas alimentá-los. Como nunca os criei antes, teremos que testar alguns alimentos diferentes. Temos ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada, por gentileza.
torceu o nariz ao se aproximar dos baldes com fígados de sapo ao lado de Rony, que fazia a mesma careta. Após muitas queimaduras e cortes, os alunos conseguiram alimentar alguns dos bichos com o fígado nojento e alguns ovos. Hermione comentou que eles chegavam até um metro e meio de comprimento, deixando-os assombrados. Rony continuava com o rosto fechado, parecendo extremamente chateado, mesmo quando, mais tarde, se sentaram à mesa da Grifinória e a comida surgiu no prato. A comida sempre o animava, contudo, ele segurava o garfo com raiva e mastigava com mais raiva ainda. Hermione estava faminta, pois, desde que descobriu que os elfos cozinhavam no subsolo do castelo, ela evitava comer. Mas não aguentou por muito mais tempo, acabou devorando toda a comida que aparecia no prato. Nem ela, nem Harry perguntaram ao amigo o que estava acontecendo, mas decidiu perguntar, incomodada com o silêncio e desconfiada do motivo de ele estar tão nervoso. Quando o garoto se levantou e começou a caminhar em direção à saída, deixando os amigos confusos para trás, ela se levantou e foi atrás dele.
— Rony, o que houve?
— Nada — ele respondeu com rispidez, sem diminuir os passos.
Rony a olhou de lado e sentiu uma pontada no peito ao ver a chateação no rosto da garota. Ele parou, ficando de frente para ela.
— Desculpa, é que hoje foi um pouco difícil ficar ao seu lado.
— Como é? — ela perguntou, indignada. — Hoje foi meu primeiro dia! Eu sou tão ruim assim? Primeiro Malfoy, agora você?
— O que Draco te disse? — Ron perguntou, suavizando a feição do rosto.
— Disse que eu o irritava, sendo que nunca fiz nada pra ele! — ela exclamou, começando a ficar irritada. — Quer saber? Eu não vim aqui para fazer amizades ou agradar vocês, não ligo se não gostam de mim, eu vim para estudar e é nisso que tenho que focar.
deu dois passos largos em direção às escadas antes de Rony alcançá-la e segurar seu braço, impedindo-a de seguir caminho.
— Escute, Draco é um filho da mãe babaca que não sabe o que diz, aquele garoto tem sérios problemas! — ele falou, ainda irritado, agora por um novo motivo. — Mas definitivamente não é essa a razão para ter sido tão difícil ficar com você hoje.
— Então qual é o motivo? Espero que tenha uma boa explicação porque você me deixou bem chateada com o que disse, Ronald Weasley.
A forma como ela disse seu nome e sobrenome fez o peito do ruivo pesar. Ele respirou fundo algumas vezes para tomar coragem antes de finalmente se explicar.
, desde o momento em que te vi dentro do trem, eu… e-eu não sei explicar, mas fiquei hipnotizado por você! — confessou, seu rosto ficando cada vez mais vermelho. — E quando vi que você gostou da gente e quis ficar por perto, por Merlin, eu surtei de felicidade.
— Ron…
— Não me interrompa, por favor, preciso aproveitar esse momento de coragem — ele disse, parecendo ofegante. — Por muito tempo fomos só nós três e agora tem você e você não fugiu da gente, você está aqui! Então veio aquele babaca do Diggory e depois o Malfoy e, sei lá… Não quero que você se afaste, . Pode ser egoísmo meu? Sim, com toda certeza. Mas eu gosto de você e sei que não posso nem competir com eles, então fico feliz em ter pelo menos sua amizade, por mais difícil que isso seja.
abriu a boca várias vezes, sem conseguir responder nada. Não esperava por essa resposta, mesmo vindo dele. Rony estava com ciúmes ou apenas não queria perder a nova amiga? Não sabia dizer ao certo, mas de qualquer jeito ela gostou do que ouviu. Seu pai odiaria saber daquilo, mesmo adorando a família Weasley. Ele não queria que ela fosse estudar lá, porém a deixou ir para que ela pudesse adquirir mais conhecimentos além do maravilhoso ensino que a Castelobruxo oferecia. Sua condição foi: não se distraia com garotos, faça amizade apenas com Harry Potter e seus amigos, confie fielmente em Dumbledore. A segunda e terceira tarefa eram fáceis: ela adorava Harry e cia, e Alvo Dumbledore era uma das melhores pessoas que ela já conheceu. Mas a primeira estava cada vez mais difícil e ela tinha que deixar isso claro para Rony.
— Ron… Eu não sei o que dizer, de verdade — ela respondeu com sinceridade. — Você é incrível, mesmo, mas eu não posso ter distrações. Então não se preocupe em relação às aulas com o Diggory, serão realmente apenas aulas. Muito menos com Malfoy, eu quero distância dele! Mas também não quero que tenha… esperanças, sabe?
Os ombros do menino caíram, em visível sinal de decepção, mesmo assim, ele manteve um sorriso leve no rosto. Harry e Hermione apareceram, estavam com dúvida se deveriam se aproximar ou não. Eles apenas apontaram para a escada e foram por aquele caminho, observando por sobre os ombros para ver se os dois os seguiam.
— Contanto que não nos troque por eles, eu aceito as condições — Ronald disse, passando o braço direito pelos ombros da nova amiga e seguindo o caminho que os amigos acabaram de fazer.
— Combinado — ela respondeu, rindo, sentindo um peso sair de seu peito.


Continua...


Nota da autora: Oi, meus amores!! Veio ai o capítulo de TES onde nossa protagonista conhece o querido, icônico, amado por todos: Cedrico Diggory!! ♥️ Espero que possam matar as saudades da fic com esse capítulo fofo! Obrigada por lerem e não esqueçam de comentar!!
Ah, um adendo: eu amo Harry Potter, amo as histórias que crio dentro desse universo, mas não concordo e não compactuo com as atrocidades que a autora da saga falou e continua falando em relação às pessoas transsexuais. As pessoas trans e toda a comunidade LGBTQIA+ merecem respeito, e a JK Rowling é uma velha nojenta que a única coisa boa que fez na vida foi a saga mesmo. Vou deixar aqui o link de uma ONG que acolhe pessoas trans e travestis para que possamos ajudá-las a terem o mínimo de dignidade:

Casa 1 - https://www.casaum.org/

Nota da beth: Eu adoro a forma como você insere tão naturalmente a na história, além de todo o cuidado em mesclar a nacionalidade/cultura dela com o novo ambiente 💜

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