Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 09/04/2025— Anda... logo... vocês dois! — ofegou a morena, tirando os cabelos compridos do rosto e ajeitando a mochila novamente nos ombros.
—Você se esquece que... não temos mais... quinze anos! — respondeu um dos homens, igualmente sem fôlego. O papagaio piou alto. — Cala a boca, Jack!
Os três chegaram ao portão exaustos, curvando-se para regular a respiração. deu uma espiada no relógio em seu pulso, e seu pai puxou o antigo relógio de bolso de sua família; ainda tinham cinco minutos sobrando, o que a fez sorrir de satisfação. O homem a olhou por um longo segundo, tinha um sorriso triste no rosto. Passara anos de sua vida longe da filha e agora teria que deixá-la partir por mais um bom tempo para um lugar onde ele sabia que ele e o amigo ao seu lado não eram bem-vindos. Entretanto, a felicidade dela era tudo o que mais importava no mundo para ele, e sempre foi o sonho da garota conhecer a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde os dois amigos estudaram e se tornaram os bruxos que eram. Já tiveram dias melhores, ele admitia, mas também tiveram muitos piores e o homem se arrepiava só com a mera lembrança do passado.
— Até logo, padrinho — murmurou a garota ao jogar os braços em volta do homem alto e esguio, cujo rosto marcado por cicatrizes sorria com ternura para a afilhada.
— Não faça nada que nós não faríamos. — Ele lançou uma piscadela. — Talvez nem o que faríamos.
A bruxa riu com vontade, pois sabia bem o que o pai e os tios aprontaram na sua época de escola. Ela se virou para o pai, sua garganta começando a formar um nó quando viu que os olhos do homem marejaram.
— Por favor, não chora — ela resmungou, abraçando o bruxo, que era mais baixo que o tio, mas alguns centímetros mais alto que ela, com muita força.
O homem a afastou e, ainda segurando seus braços, deu uma boa olhada para ela, como se quisesse memorizar cada detalhe de sua filha antes de vê-la partir. Então, ele reparou em algo pendurado no seu pescoço. Era um cordão preto com um potinho de vidro minúsculo preso nele. Dentro, havia uma flor que se movia suavemente como se houvesse uma brisa eterna e leve dentro do pequeno pote.
— Conheço esse colar. — Seu pai tocou o objeto com seus dedos trêmulos e tatuados. — Dei à sua mãe na semana que nos conhecemos. Essa é uma mini Flor-Que-Nunca-Morre. É uma junção de nossos mundos, sabia? O meu e o dela.
— Ela me deu quando… ela… ela disse que eu ia precisar mais do que ela — respondeu com a voz embargada, sem conseguir completar seu raciocínio, sem que sentisse uma vontade enorme de cair no choro.
— E está em ótimas mãos — o bruxo sorriu, acariciando o rosto da filha. — Cuide com carinho, ok? Ele será seu companheiro para sempre.
— Para sempre — afirmou a mais nova com um sorriso leve no rosto e lágrimas nos olhos, tocando o cordão.
— Prometa que vai mandar uma carta assim que chegar, certo? Jack provavelmente chegará antes de você, então já estará lá. Tem certeza que não esqueceu nada? Tome cuidado com as pessoas de lá, querida, mas aproveite cada segundo e... — O homem foi interrompido pela voz que anunciava a última chamada para o voo 147 com destino à Londres.
Os bruxos tinham diversas maneiras mais fáceis de viajar pelo mundo. Bruxos foragidos, como o pai de , tinham opções mais limitadas. Por conta disso, eles optaram por um transporte trouxa que dificilmente entregaria a localização dele. Chegando em Londres, um bruxo da confiança de seu padrinho a levaria para a estação de trem King’s Cross e, a partir daquele ponto, estaria por conta própria.
— Eu te amo muito — ele completou.
— Também te amo, pai. Vocês dois, por favor, tomem cuidado. — A garota abraçou ambos novamente e se abaixou para falar com Jack, o papagaio. — Te vejo em algumas horas, parceiro.
O pássaro gritou “tchau” e ficou repetindo até a garota sumir pelo longo corredor que a levava ao interior do avião. O homem fungou, sem conseguir segurar algumas lágrimas que desceram teimosas pelo seu rosto.
— Se acalme, Almofadinhas, ela sabe se cuidar sozinha — disse Remus Lupin, apertando o ombro do amigo. — Puxou os pais.
O outro bruxo sorriu em resposta e, relutantes, ambos deram as costas, carregando a gaiola até o exterior do aeroporto e abrindo a pequena portinha de ferro, tirando o papagaio de dentro.
— Cuide dela por mim, Jack — disse o rapaz, acariciando a cabeça com penas verdes do pássaro. — E entregue isto a Dumbledore.
O bruxo amarrou um pedaço pequeno de papel na pata do pássaro, deixando-o pronto para sobrevoar o céu azul límpido da Amazônia.
— Ah, não esqueça de mandar lembranças ao Harry Potter… Diga a ele que seu padrinho está com saudades.
Black não teve férias. Pelo menos, não no mesmo tempo que os demais alunos de Hogwarts. No Brasil, onde ela morava, as férias de verão eram no ínicio do ano. Sempre fazia muito calor em Manaus e, para a sua sorte, morava ao lado de uma cachoeira e um lago que a ajudavam a relaxar e se refrescar durante os dias quentes. Infelizmente, por segurança sua e de seu pai, ela não pôde compartilhar essa informação com seus colegas de cabine, então permaneceu calada boa parte da viagem enquanto observava pela janela o céu escurecer. Ela ouvia a conversa dos colegas e sentia seus olhares às vezes recaindo nela quando sussurravam algo inaudível. Seria assim pelo próximo ano, ela previu.
A garota colocou seu uniforme novo, pegou seus pertences e esperou o corredor esvaziar um pouco para poder sair do trem. Ao sair da cabine, pensando estar seguro, seus pés se prenderam em algo e ela tropeçou. Sem conseguir se segurar, ela tombou para a frente e caiu em cima da sua própria mala, ficando imediatamente vermelha de vergonha.
— Olha por onde anda, novata! — Ouviu uma voz arrastada dizer com tom de deboche.
Ela olhou para trás e se deparou com o garoto mais pálido e loiro que já vira na vida, Seus olhos, frios como os rios congelados daquela região, eram de um tom de azul quase cinza. Suas íris brilharam tão intensamente que pôde jurar que estavam prateadas.
Atrás do garoto, se encontravam dois “guarda-costas”, os quais Black julgou serem seus amigos. Os três riram da garota enquanto ela pedia desculpas, encabulada.
— Você não deveria estar aqui, esse vagão é só para o quarto ano.
— Eu sou do quarto ano! — ela exclamou com raiva.
— Como, se eu nunca te vi antes? — o loiro a questionou, olhando-a com curiosidade.
— Deixa ela em paz, Malfoy! — disse uma voz feminina atrás do grupo. , ainda caída em seu malão, não conseguia ver quem era, mas sentia gratidão por aquela desconhecida. O tal Malfoy revirou os olhos e ignorou a pessoa.
— Aposto que é sangue ruim igual a Granger — resmungou o garoto, passando por cima de e sua mala, e saindo do vagão com seus dois colegas o seguindo como dois cachorrinhos.
— Não liga para ele — disse um garoto ruivo, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. — Draco é um babaca.
— Obrigada — murmurou, constrangida, limpando as mãos nas vestes depois de se erguer do chão. Ela observou, agora com mais clareza, outros dois jovens se aproximando do ruivo. — Sou . .
— Sou Ronald Weasley, mas pode me chamar só de Rony — brincou o ruivo, fazendo-a dar um leve sorriso involuntário.
— Eu sou Hermione Granger — apresentou-se a garota ao lado de Rony, com cabelos cacheados volumosos e castanhos. — E esse é Harry…
— Mas você provavelmente já sabe disso — interrompeu Rony.
— Para com isso, Ron — murmurou o tal Harry, constrangido.
demorou seu olhar nele por um tempo. Sim, ela sabia quem ele era. Harry Potter, o garoto da cicatriz em forma de raio, o único sobrevivente da maldição Avada Kedavra, o bruxo responsável pela ruína de Lord Voldemort... O afilhado de seu pai.
— Não tem como não saber, não é? — ela tentou disfarçar o nervosismo, porém, serviu apenas para deixar o garoto ainda mais aborrecido. — Muito prazer.
Deixando o clima estranho para trás, os quatro saltaram do trem com suas coisas em mãos e continuaram a conversa do lado de fora.
— Você é a garota do intercâmbio, certo? — perguntou Hermione. — Seja muito bem-vinda, você vai adorar Hogwarts!
— Obrigada. Sou eu sim, vim da Escola de Magia Castelobruxo, no Brasil.
— BRASIL!? — exclamou Rony. — Uau, eu sempre quis conhecer o Brasil! Deve ser lindo lá.
Diferente do loiro, os olhos brilhantes de Ron eram de um tom de verde claro, gentil, que a fazia lembrar das folhas da floresta no auge da primavera. Era muito fácil se perder neles, o que demandou um grande esforço para desviar o olhar.
— É sim. Meio quente, se comparado com a Inglaterra, mas muito bonito.
— Vou convencer a mamãe de ir te visitar nas próximas férias, o que acham? — perguntou o ruivo aos seus outros dois amigos que imediatamente concordaram, animados com a ideia.
apenas sorriu e fingiu também achar uma ótima ideia, mesmo isso sendo um pouco impossível. Seria muito arriscado para seu pai, e ela não suportava a ideia de perdê-lo novamente.
— Sabe, você me lembra muito alguém... — falou Gringer, coçando o queixo. — Esses olhos... já os vi antes.
A garota desviou o rosto, apavorada com a possibilidade de descobrirem tão rápido que ela era filha de Sirius Black. As instruções eram claras: não deixar ninguém saber, nem mesmo Harry, enquanto não fosse seguro. Os únicos que tinham essa informação eram Hagrid, o guardião das chaves de Hogwarts, e o diretor da escola, Alvo Dumbledore. Ela não os conhecia ainda, mas, segundo seu pai, ela saberia na mesma hora quem eles eram e sentiria no mesmo instante que podia confiar neles.
Após acharem um espaço mais vazio entre o mar de alunos, os meninos avistaram um homem gigante e sorridente por cima das cabeças dos jovens. Era impossível não vê-lo, já que seu tamanho era o triplo de qualquer outro bruxo presente. Harry, Rony e Hermione acenaram animados para o gigante, que acenou de volta, abrindo caminho até o grupo.
— Hagrid, essa é a , a intercambista — apresentou Hermione após cumprimentar o amigo.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda à Hogwarts, ! Dumbledore me falou tudo sobre você... — disse ele, dando uma piscadela para a garota. — e me deixou responsável por levá-la até o castelo em segurança.
— Espera, ela não vai com a gente? — indagou Rony, com grande chateação na voz.
— Desculpe, Rony, ordens do diretor. Carga preciosa — respondeu Hagrid, apoiando sua mão enorme no ombro de , que deixou escapar um gemido ao sentir o peso dele, mas sorriu para o homem.
Após os dois se despedirem dos meninos, Hagrid pegou as malas de e a levou até um barco vazio.
— Espere aí enquanto irei buscar os alunos do primeiro ano — disse o homem, voltando quase correndo o caminho que tinham acabado de fazer.
A garota esperou uns bons quinze minutos, observando a água escura que parecia conversar com ela. Sua relação com a natureza, em especial com a água dos rios, das lagoas e dos mares, era inexplicável. Ela sentia que cada gotícula de H2O conversava com ela, independentemente de onde estivesse. Ela encostou as pontas dos dedos na água gelada, aliviada por finalmente poder ter algum contato com ela, até ver a sombra de Hagrid escurecer o barco.
Ela respirou fundo e entrou no barco, equilibrando-se sem dificuldades, já que era um dos principais veículos da Castelobruxo. O transporte balançou violentamente quando o meio gigante entrou nele e teve que se segurar nas laterais do barco para não cair. Sentiu como se o barco fosse virar de cabeça para baixo mas, para a sua sorte, nada aconteceu. Uma chuva leve começou a cair e logo se transformou em uma tempestade; apenas se deliciou com as gotas caindo em sua pele.
Após alguns minutos no lago, com Hagrid remando e todos os outros barcos o seguindo, quebrou o silêncio.
— Por que não veio mais ninguém com a gente? — questionou-o, quase gritando para ser ouvida acima do barulho da chuva.
— Normalmente eu venho nesse barco sozinho, mas hoje você é minha convidada especial — respondeu com um sorriso. — Mas eu queria trocar umas palavrinhas com você em particular.
Hagrid ficou em silêncio na espera de a garota assentir, e ela assim fez, aguardando em seguida, que ele continuasse.
— Eu sei que você é filha do Sirius, entende? Também sei sobre sua mãe e, bem, sobre o que aconteceu com ela.
sentiu um frio na barriga. Sirius havia lhe falado sobre como Hagrid era um homem bom, mesmo assim, não sabia se devia confiar nele, pois, assim como grande parte do mundo bruxo, ele poderia odiar seu pai.
— Dumbledore confia muito em mim, assim como eu confio muito nele. Me deu uma segunda chance por acreditar em mim e acreditar que sou uma pessoa boa. Ele fez o mesmo com seu pai e eu sei que não foi a toa. Grande homem, o Dumbledore. — Ele fez uma pausa e observou a garota que, por sua vez, mantinha os olhos atentos em sua direção. — Se Alvo confia em Sirius e acredita que ele é uma pessoa boa, então também acredito.
sorriu para o homem que retribuiu, ruborizado.
— Seu segredo está a salvo comigo — finalizou ele. — Agora, me conte como foi ter uma mãe sereia. Deve ser fascinante!
Pelos dez minutos seguintes, contou à Hagrid o máximo que conseguiu sobre sua vida na Castelobruxo. Ela explicou sobre sua conexão com a natureza por causa de sua mãe e sobre o único poder que herdou dela: as visões. O professor de Trato das Criaturas Mágicas a ouvia, encantado, mas ficou desapontado quando recusou a oferta de ir falar com os sereianos que viviam no lago para participarem de uma aula sua. Ela tinha contato com as criaturas no Brasil, afinal, eram sua família. Contudo, por não ser uma sereia e sim uma bruxa, ela não era tão bem-vinda assim, e imaginava que os sereianos também não seriam receptivos.
Após os minutos de conversa, reparou no monumento enorme atrás do seu mais novo amigo. Aquele era o castelo de Hogwarts e não se parecia em nada com sua escola de magia no Brasil. deixou escapar um “uau” e não disfarçou seu olhar admirado. Mesmo embaixo da tempestade, o castelo era encantador. Todas as luzes estavam acesas e a fumaça saía das chaminés. Tudo isso, junto com a chuva, deixava o lugar ainda mais convidativo e aconchegante.
— Lindo, não é? Anos vivendo nesse lugar e ainda não me acostumei com a beleza — disse Hagrid ao desembarcarem do barco. Colocou as malas de junto a uma pilha de malas em frente à escadaria e, alguns segundos depois, elas sumiram.
— Hagrid! — exclamou, assustada, e apontou para onde antes estavam suas malas e de seus colegas.
— Ah, não se preocupe! Elas estão em segurança dentro do castelo, indo para o seu dormitório. A sua deve estar no escritório de Dumbledore, pois ainda terá que passar pela seleção para saber onde ficará esse ano.
— Seleção? Ficar onde?
Rubeo riu da cara confusa que a garota fez e explicou brevemente a ela tudo sobre as casas de Hogwarts (Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal) e sobre o Chapéu Seletor. sabia muito pouco sobre isso, Sirius não gostava muito da ideia da filha querer tanto ir para Hogwarts, então nunca entrava em detalhes e dificultava a pesquisa dela para não incentivá-la. O homem tinha muitos traumas e não o culpava. Contudo, ela puxou sua teimosia, e ali estava, diante da escola que seu pai frequentou e viveu muitos desses traumas.
— Harry, Rony e Hermione são da Grifinória. Essa era minha casa e também a de seu pai. Não é possível que seu pai não lhe contou nada!
— Apenas o que ele e os Marotos aprontaram pelos corredores… — ela fez uma careta como se pedisse desculpas. O gigante balançou a cabeça, dando uma gargalhada. — Então um chapéu vai decidir em qual eu me encaixo melhor? — ela perguntou.
— Exatamente.
Na Castelobruxo, eles não eram divididos por casas, apenas em anos e turmas, então a ideia era um tanto esquisita, mas se tratava de apenas mais uma novidade em seu novo mundo mágico.
O gigante manteve a garota ao seu lado enquanto voltava sua atenção para os alunos do primeiro ano que se reuniram, tremendo de frio e encharcados, em volta dele para ouvirem um breve discurso desejando boas-vindas aos alunos novos. Todos pareciam tão impressionados quanto .
— E sejam bem-vindos à Hogwarts! — finalizou Hagrid, recebendo uma salva de palmas.
Hagrid acompanhou os alunos do primeiro ano até o Salão Principal. Eles olhavam em volta com deslumbre, admirando cada canto do castelo. Com todos aqueles quadros, escadas (que com certeza se perderia facilmente) e os fantasmas andando livres pelo castelo, não sabia para o que olhava primeiro. Ela avistou de longe o trio Harry, Hermione e Rony, que, assim que a viram, acenaram para ela, sinalizando para que se aproximasse. Porém, assim que deu um passo em direção ao grupo, um balão grande e vermelho cheio de água caiu em cima da cabeça de Rony Weasley. se deteve a poucos passos do trio quando um segundo balão caiu aos pés de Harry, quase acertando Hermione. Todos que estavam no local começaram a correr para todos os lados, tentando se proteger, fazendo se afastar cada vez mais dos novos colegas. Desviando dos alunos, ela correu em direção à uma porta dupla enorme e observou a confusão a uma distância quase segura.
— PIRRAÇA! — berrou uma voz zangada em meio ao caos. Uma bruxa de cabelos grisalhos olhava furiosa para o poltergeist que flutuava no alto do castelo, dando gargalhadas e piruetas enquanto derrubada ainda mais balões. — Desça já aqui, AGORA!
— Não estou fazendo nada! — respondeu Pirraça, ainda gargalhando.
decidiu esperar a confusão acabar para sair de onde estava, mas não foi preciso esperar muito. As portas atrás dela se abriram e uma voz grave murmurou para ela:
— Seja muito bem-vinda à Hogwarts, .
— ! Ah, finalmente te achei! — disse Hagrid, tentando recuperar o fôlego. — Vejo que já conheceu o Professor Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts.
— Olá — respondeu, tímida, forçando um sorriso simpático em seus lábios trêmulos com todo o seu corpo.
Por mais simpático que o diretor fosse, era sempre muito intimidador estar na presença de um bruxo como ele, cuja fama atravessava os oceanos.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Srta. . Espero que Hogwarts esteja à altura de Castelobruxo — disse o senhor de forma simpática e formal, transmitindo calma e segurança em sua fala.
Era engraçado ouvir o sobrenome de sua mãe ser dito por alguém estrangeiro, já que Sirius e Remus já falavam um português tão impecável que o sotaque quase não era perceptível. Ela deteve a vontade de corrigir a forma como era falada, tendo em mente que teria apenas que se acostumar. Era claro que não poderia jamais usar o sobrenome Black, por mais fácil que fosse para os demais.
— É melhor do que eu imaginei, senhor — respondeu a garota, ainda olhando em volta com admiração.
— Pode me chamar apenas de Dumbledore ou Professor Dumbledore, se preferir. A palavra senhor... faz eu me sentir um velho, algo que eu definitivamente não sou — declarou Dumbledore, dando uma piscadela para a garota.
Ela o olhou e, definitivamente, ele era velho. Entretanto, seu olhar tinha a doçura de uma criança na manhã de Natal, com um brilho infantil e confortante, mesmo sabendo que não havia inocência alguma no diretor, tamanha era sua inteligência e seu poder. sorriu e concordou com ele, concluindo que ele tinha toda a razão.
— Vamos, , já está na hora do jantar — disse Hagrid, encaminhando a garota para dentro do salão, acompanhado de Alvo Dumbledore, e deixando toda a confusão para trás.
Os alunos que já haviam entrado no Salão a olhavam com curiosidade enquanto os três se encaminhavam para uma mesa comprida com várias cadeiras já ocupadas. observou os outros professores presentes que também a olhavam, alguns de forma simpática e outros nem tanto, e se sentou em uma cadeira pequena entre Hagrid e Dumbledore. Mal alcançava a mesa de tão baixa que era a cadeira, e sua altura não ajudava em nada. Ela voltou a olhar em volta e seus olhos recaíram sobre o único professor que a encarava com seriedade.
— Aquele de cabelos pretos e nariz pontudo é o professor de Poções, Severo Snape — sussurrou Hagrid, inclinando-se o máximo que conseguiu em direção a aluna. — Do outro lado de Dumbledore está a professora Minerva McGonagall, vice-diretora. Ótima mulher, a Minerva.
olhava um por um enquanto Hagrid apresentava os professores, notando que não houve muitos elogios ao professor Snape. Não estranhou, já que tudo o que já ouviu a respeito do homem não era das melhores coisas.
Ao lado esquerdo da Professora McGonagall estava um homenzinho pequeno que Hagrid disse ser o professor Flitwick, de Feitiços, que conversava animado com a Professora Sprout, mestra de Herbologia. A mulher, sentada ao lado de Sprout, o gigante disse ser Sibila Trelawney, professora de Adivinhação. retribuiu o aceno animado que a professora lhe deu, voltando a atenção ao meio-gigante. Ao lado de Hagrid, estava uma cadeira vazia que ele disse ser do novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o qual não sabia ainda quem seria.
— Eu terei aula com todos eles? — perguntou , olhando cada um.
— Acredito que com a maioria.
— Terei com você? — ela perguntou, em expectativa, desejando ter sempre a companhia do gentil bruxo ao seu lado.
— Com certeza! — respondeu, animado, com um sorriso infantil e inocente que parecia com o do diretor.
observou o resto dos alunos entrarem e seguirem para as quatro grandes mesas em cada canto do salão. Pelas cores diferentes de suas vestes, cada mesa representava uma das casas. Passando os olhos pelas mesas, ela conseguiu observar os cabelos brancos como a neve do garoto que a provocou no trem. Na mesa ao lado, estava seus novos amigos (ao menos desejou que fossem). Era naquela mesa que ela queria sentar. Ao segurar seu colar, desejou poder ver o futuro. Se ao menos tivesse controle do seu dom, poderia acabar com sua ansiedade.
Com o mesmo sentimento, ela viu a Professora Minerva sair da cadeira dela e caminhar apressada para os fundos do salão e, minutos depois, voltar com um banquinho de três pernas com um chapéu velho e remendado em cima. Ela se encaminhou para a porta onde uma fila enorme de alunos a aguardavam. Eles seguiram Minerva pelo longo corredor e se enfileiraram no meio do salão, tão encharcados quanto os demais alunos.
Após uma breve explicação do que fariam ali (a tal seleção que Hagrid contou à mais cedo), o chapéu começou a cantar uma música estilo camponesa, contando a história das Casas.
Eu era recém-feito,
Viviam quatro bruxos de fama,
Cujos nomes todos ainda conhecem:
O valente Gryffindor das charnecas,
O bonito Ravenclaw das ravinas,
O meigo Hufflepuff das planícies,
O astuto Slytherin dos brejais. Compartiam um desejo, um sonho, Uma esperança, um plano ousado
De, juntos, educar jovens bruxos, Assim começou a Escola de Hogwarts.
Cada um desses quatro fundadores Formou sua própria casa, pois cada Valorizava virtude vária
Nos jovens que pretendiam formar. Para Gryffindor os valentes eram Prezados acima de todo o resto; Para Ravenclaw os mais inteligentes
Seriam sempre os superiores;
Para Hufflepuff, os aplicados eram Os merecedores de admissão;
E Slytherin, mais sedento de poder, amava aqueles de grande ambição. Enquanto vivos eles separaram
Do conjunto os seus favoritos
Mas como selecionar os melhores, Quando um dia tivessem partido?
Foi Gryffindor que encontrou a solução
Tirando-me da própria cabeça
Depois me dotaram de cérebro
Para que por eles eu pudesse escolher!
Coloque-me entre suas orelhas,
Até hoje ainda não me enganei.
Darei uma olhada em sua cabeça
E direi qual a casa do seu coração!”
Todos no Salão deram uma salva de palmas ao final da canção. Minerva foi para o lado do Chapéu Seletor e anunciou em voz alta:
— Esse ano teremos uma seleção mais do que especial. Temos conosco uma convidada, uma intercambista diretamente da Escola de Magia Castelobruxo, do Brasil, que passará o próximo ano em Hogwarts. Ela terá a honra de se juntar à uma das nossas Casas e viver com vocês mais uma emocionante jornada aqui na escola.
sentiu seu coração disparar quando a fenda no chapéu se mexeu como uma boca e exclamou seu nome para o salão todo ouvir. Dumbledore lhe deu leves tapinhas no ombro como incentivo para se levantar, e ela assim fez, caminhando, receosa, até o banquinho. Minerva deu um sorriso incentivador e confortante, e ela sentiu as mãos trêmulas suarem frio, se assustando ao sentir o peso do Chapéu Seletor em sua cabeça.
— Hum, minha nossa! Há anos não vejo alguém dessa família... — murmurou o chapéu, e desejou que o resto do salão não estivesse ouvindo. — Seu pai teria feito grandes coisas na Sonserina, e você também fará…
“Eu não quero Sonserina!”, ela pensou depressa, apertando os olhos e pensando com toda a força nos seus recém amigos sentados à mesa da Grifinória.
— Ah, escolha interessante... Mesma casa do seu pai, então?
— Sim! — respondeu em um sussurro, sem saber se sua resposta valeria de algo.
— Grifinória! — o Chapéu exclamou alto, fazendo abrir os olhos, assustada, e ver que todos na mesa da Grifinória, sua nova Casa, a aplaudiam de pé. Ela sorriu, aliviada, e se levantou, indo correndo se sentar entre Harry e Rony.
— Legal! Eu estava torcendo para você cair na nossa casa! — disse Harry com um sorriso de orelha a orelha.
— Por um segundo eu achei que você ia para a Sonserina... — murmurou Rony, olhando-a, preocupado.
— Não seja bobo, Rony, a é legal, jamais se juntaria a eles — respondeu Hermione, tão feliz quanto seus amigos.
não comentou com eles sobre o que o Chapéu disse, apenas sorriu, ainda atordoada com toda a agitação do momento. Os demais alunos a parabenizaram, o que foi um grande conforto.
Os quatro ouviram os outros alunos serem selecionados e aplaudiram todas as vezes que a Grifinória recebia um novo membro. E já se podia ouvir o barulho vindo da barriga de Rony quando, um por um, os últimos novatos se encaminharam para o banquinho.
— Ah, anda logo! — gemeu Rony, massageando o estômago.
— Ora, Rony, a seleção é muito mais importante do que a comida — disse um fantasma, na hora em que “Madley, Laura!” tornava-se aluna da Lufa-Lufa.
o observou, encantada e assustada ao mesmo tempo, sem conseguir disfarçar. A cabeça do fantasma estava quase caindo, pendurada com alguns poucos nervos e músculos fantasmagóricos. Não havia fantasmas na Castelobruxo, eles ficavam apenas na floresta em volta e os alunos eram proibidos de falar com eles, mantendo apenas o respeito mútuo, então era estranho demais que eles tivessem tanto contato com um fantasma.
— Claro que é, se a pessoa já está morta! — retrucou Rony, emburrado.
— Nick Quase Sem Cabeça, essa é a , nossa intercambista — disse Hermione, fuzilando Rony com o olhar pelo comentário que ele fez. O fantasma, porém, pareceu não ter se importado com o que o ruivo falou.
— Ah, sim! Seja muito bem-vinda, estou muito feliz que você esteja na nossa Casa! — disse o fantasma, fazendo uma reverência e segurando a cabeça para não cair.
Harry percebeu o espanto da colega e sussurrou no ouvido dela, explicando que cada casa tinha um fantasma e o deles era o Nick, que teve a cabeça quase decepada, e agora carregava esse fardo depois de sua morte. agradeceu com um sorriso tímido e tentou evitar olhar a cabeça pendurada do tal fantasma.
Finalmente, com “Whitby, Kevin” (Lufa-Lufa!), encerrou-se a seleção. A Professora Minerva apanhou o Chapéu e o banquinho e levou-os embora.
— Já não era sem tempo! — exclamou Rony, apanhando os talheres e olhando, esperançoso, para seu prato dourado.
o observou e se pegou pensando no quão adorável Rony parecia ser. Seu pai iria repreendê-la caso soubesse desse seu pensamento, lembrando-a que seu foco eram os estudos e somente isso. O garoto retribuiu o olhar, ruborizando violentamente, e a garota também sentiu suas bochechas queimarem. Como resposta, ela sorriu, e ele apenas conseguiu retribuir, pois sentiu que, se tentasse falar algo, iria balbuciar palavras sem nexo algum. Quando a garota olhou para Harry, o mesmo olhava meio chocado para Rony e , balançando a cabeça e tentando segurar o sorriso.
O Professor Dumbledore se levantou. Sorria para os estudantes, os braços abertos em um gesto de boas-vindas. Agora todos o olhavam com expectativa, prontos para atacar a comida a qualquer segundo.
— Só tenho duas palavras para lhes dizer... — começou ele, sua voz grave ecoando pelo salão. — Bom apetite!
— Apoiado! Apoiado! — disseram Harry e Rony em voz alta enquanto as travessas vazias se enchiam magicamente diante dos seus olhos.
Nick Quase Sem Cabeça ficou observando tristemente os alunos encherem os pratos, soltando um longo suspiro.
— Ah, agora sim! — disse Rony, com a boca cheia de purê de batatas.
— Vocês têm sorte de que haja uma festa esta noite, sabem — disse o fantasma. — Hoje cedo tivemos problemas na cozinha.
— Por quê? O que aconteceu? — perguntou Harry com a boca cheia de carne.
— Pirraça, é claro — disse Nick, sacudindo a cabeça, que se desequilibrou perigosamente. O fantasma puxou a gola fantasmagórica mais para cima. — A história de sempre, sabem? Ele queria vir à festa e, bom, isto está fora de cogitação, vocês sabem como ele é: absolutamente selvagem, não pode ver um prato de comida sem querer atirá-lo longe. Reunimos um conselho de fantasmas, Frei Gorducho foi a favor de dar uma chance a Pirraça, mas muito prudentemente, na minha opinião, o Barão Sangrento fez pé firme.
olhou ao redor, parando para observar cada mesa e seus componentes enquanto Nick Quase Sem Cabeça continuava a falar sobre Pirraça. Essa seria sua vida pelos próximos meses: conversas com fantasmas, quadros que se mexem e falam, corujas voando com cartas ao invés de papagaios e tucanos... Era muito diferente da sua escola no Brasil, contudo, ela não achou nada ruim. A única coisa que incomodava seu coração era a saudade que estava do seu pai, lembrando-se de que precisava enviar uma carta para ele ao amanhecer.
A morena parou seu olhar na mesa da Sonserina e observou os alunos. Será que ela se daria bem entre eles? Conhecera Malfoy e seus amigos no trem e não gostou nada do que aconteceu. Mas e se ela realmente pertencesse àquela mesa e não à mesa que estava? Fora o seu pai, os integrantes da família Black não eram bruxos que poderíamos chamar de boas pessoas, e todos foram para a Sonserina. Não conheceu nenhum deles, mas ouviu as histórias que Sirius contou, o que não a fez querer realmente conhecê-los.
Draco Malfoy cruzou o olhar com o dela e se deteve ali, observando-a com curiosidade. Parecia um jogo de quem desviaria o olhar primeiro. o olhava com a mesma curiosidade e intensidade e, estranhamente, ele parecia não querer parar de olhá-la.
— ? — chamou Rony. — Não está mudando de ideia, está?
— Como assim? — ela perguntou, não entendendo bem o que o garoto estava querendo perguntar. Desviou os olhos com relutância para lhe dar atenção.
— Você está olhando muito para a mesa da Sonserina, não está pensando em mudar para lá, está?
— Acredito que não seja permitido — a garota respondeu ao dar uma risada, achando graça da preocupação de Rony.
— Claro que não, mas não sei se as regras se aplicam a você.
— Por que não se aplicariam? McGonagall deixou bem claro na minha carta de admissão que eu serei tão estudante de Hogwarts quanto vocês. E, mesmo assim, estou feliz aqui, ok? Não se preocupe.
O mais novo dos meninos Weasley sorriu, aliviado, corando novamente. Ele voltou sua atenção para a comida, mas logo parou e a olhou de novo enquanto levava uma colher de ensopado para a boca.
— Seria muito triste se você fosse pra Sonserina, sabe? Sinto que você é muito especial. Odiaria que isso acontecesse.
sorriu em resposta e seu coração se aqueceu um pouco. Rony era uma graça, tinha sido adorável e legal desde o momento que se viram pela primeira vez. Ela se pegou pensando na dor que sentiria ao partir, caso se apegasse muito à Hogwarts. Essa foi uma promessa que fez a si mesma antes de embarcar no avião: não se apegar a nada nem a ninguém.
Obviamente, já estava quebrando a promessa.
se deliciava com a comida, fazia horas que não colocava nada na boca por conta do nervosismo, nem mesmo os doces deliciosos que passaram oferecendo no trem a caminho para Hogwarts. Ela nunca imaginou que as refeições britânicas conseguiriam ser tão deliciosas.
— Ah, o de sempre — respondeu Nick Quase Sem Cabeça, sacudindo os ombros. — Causou prejuízos e confusão. Utensílios e panelas por toda parte. Sopa para todo lado. Deixou os elfos domésticos loucos de terror…
Um som alto de metal batendo em algo assustou a todos em volta. Hermione derrubou sua taça, fazendo o suco de abóbora escorrer pela mesa, manchando de laranja mais de um metro de pano branco, mas nem se importou. Com um movimento rápido, sacou sua varinha e limpou a sujeira antes que caísse na roupa dos amigos.
— Tem elfos domésticos aqui? — Mione perguntou, encarando Nick Quase Sem Cabeça com uma expressão de horror no rosto. — Aqui em Hogwarts?
— Claro que sim — disse o fantasma, parecendo surpreso com a reação da garota. — O maior número que existe em uma habitação na Grã-Bretanha, acho. Mais de cem.
— Eu nunca vi nenhum! — exclamou Hermione, horrorizada.
— Bom, eles raramente deixam a cozinha durante o dia, não é? Saem à noite para fazer limpeza… Abastecer as lareiras e coisas assim... Quero dizer, não é esperado que fiquem à vista. Essa é a marca de um bom elfo doméstico, que não se saiba que ele existe.
Hermione ficou olhando o fantasma com extrema indignação. Começou a questioná-lo sobre diversas coisas em relação às condições de trabalho dos elfos domésticos.
— Tem elfos domésticos no Brasil? — sussurrou Rony, se aproximando da garota. se arrepiou e se assustou ao sentir o rosto do ruivo tão próximo do seu ouvido. Ao se virar, percebeu que eles estavam a poucos centímetros de distância.
— Tem — ela limpou a garganta, dando de ombros. — Mas eles recebem pelo trabalho deles, tem assistência médica, férias... — parou de falar ao ver o choque no rosto do garoto.
— Não conte isso a Mione! — ele sussurrou, se certificando que Hermione não o ouvia.
— Por quê? — respondeu , confusa. Ela olhou Mione, que ainda falava, irritada, chocada com tudo que ouvia sobre os elfos da escola.
— Trabalho escravo — disse a garota, respirando com força pelo nariz. — Foi isso que preparou este jantar. Trabalho escravo.
E recusou-se a continuar comendo.
Quando as sobremesas também tinham sido devoradas e as últimas migalhas desaparecidas dos pratos, deixando-os limpos e brilhantes, Alvo Dumbledore tornou a se levantar. O burburinho das conversas que enchiam o Salão cessou quase imediatamente, de modo que somente se ouvia o batuque da chuva forte do lado de fora. Era impressionante o respeito que o bruxo impunha em todos e o olhou com ainda mais admiração.
— Então! — exclamou Dumbledore, sorrindo para todos. — Agora que já comemos e molhamos a garganta, preciso mais uma vez pedir sua atenção para alguns avisos. O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avisá-los de que a lista dos objetos proibidos no interior do castelo este ano cresceu, passando a incluir ioiôs-berrantes, frisbees-dentados e bumerangues-de-repetição. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do Sr. Filch, se alguém quiser lê-la.
Os cantos da boca de Dumbledore tremeram ligeiramente em claro sinal de que ele estava tentando não rir.
Ele continuou:
— Como sempre, eu gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade é proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, àqueles que ainda não chegaram à terceira série.
— Você vai adorar Hogsmeade — sussurrou Harry, logo se endireitando para voltar a ouvir Dumbledore.
— Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano não realizaremos a Copa de Quadribol entre as Casas.
— Quê!? — exclamaram Harry e Rony com indignação. Potter olhou para Fred e George, seus companheiros no time de quadribol, que pareciam tão indignados quanto ele.
Os três xingaram Dumbledore em silêncio, aparentemente espantados demais para falar algo.
— Vocês têm quadribol aqui? Legal! — exclamou , sendo repreendida por Harry apenas com o olhar. Ela percebeu que não era um bom momento para se animar com o esporte.
Dumbledore continuou:
— Isto se deve a um evento que começará em outubro e irá prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que vocês irão apreciá-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts…
Interrompendo seu discurso, ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e o bater das portas do Salão Principal ao serem escancaradas. Entre elas, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta, apareceu um homem. Todas as cabeças no Salão viraram-se para o estranho, repentinamente iluminado por um relâmpago que cortou o teto. Ele baixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos e começou a caminhar em direção à mesa dos professores.
Um ruído metálico e abafado ecoava pelo lugar a cada passo que ele dava. Quando alcançou a ponta da mesa, virou à direita e mancou pesadamente até Dumbledore. Mais um relâmpago cruzou o teto. Hermione prendeu a respiração e deu um pulo no banco e agarrou o braço de Rony, que ruborizou na mesma hora. O relâmpago revelou nitidamente as feições do homem e seu rosto era diferente de qualquer outro que a garota já vira. Parecia ter sido castigado sem piedade pelo tempo, cada centímetro da pele do estranho parecia ter cicatrizes. A boca lembrava um rasgo diagonal e faltava um bom pedaço do nariz. Mas eram os seus olhos que o tornavam assustador.
Um deles era pequeno, escuro e penetrante. O outro era grande, redondo como uma moeda, em um tom azul-elétrico vivo. O olho mágico se movia continuamente, sem piscar, e revirava para cima, para baixo, e de um lado para o outro, independentemente do olho normal — depois virava para trás, apontando para o interior da cabeça do homem, de modo que só o que as pessoas viam era o branco da córnea.
observou o estranho se aproximar de Dumbledore, apertar a mão do bruxo com a mão direita igualmente cheia de cicatrizes e lhe dizer algo inaudível. Dumbledore assentiu com a cabeça e sorriu, indicando ao homem o lugar vazio à sua direita, onde ela se sentara antes da seleção.
— Gostaria de apresentar-lhes o nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Dumbledore com animação em meio ao silêncio. — Professor Alastor Moody.
Era comum os novos membros do corpo docente serem recebidos com aplausos animados, mas nem os colegas, nem os estudantes bateram palmas, exceto, é claro, por Dumbledore e Hagrid.
— Moody? — murmurou Harry para Rony. — Olho-Tonto Moody? O que o seu pai foi ajudar hoje de manhã?
— Deve ser — disse Rony baixo, levemente assombrado.
Dumbledore limpou a garganta outra vez.
— Como eu ia dizendo — recomeçou ele, sorrindo para o mar de alunos à sua frente, todos ainda paralisados e mirando Olho-Tonto Moody —, teremos a grande honra de sediar um evento extraordinário nos próximos meses, um evento que não é realizado há um século. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts.
— O senhor está BRINCANDO! — Fred Weasley exclamou em voz alta.
Quase todos riram e Dumbledore deu risadinhas de prazer em resposta, sem conseguir se segurar.
— Não estou brincando, Sr. Weasley, embora, agora que o senhor menciona, ouvi uma excelente piada durante o verão sobre um trasgo, uma bruxa má e um leprechaun que entram num bar…
A Profa Minerva pigarreou alto, chamando a atenção do velho bruxo.
— Hum... Mas talvez não seja hora... Onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo! Bom, alguns de vocês talvez não saibam o que é esse torneio, de modo que espero que aqueles que já sabem me perdoem por dar uma breve explicação e deixem sua atenção vagar livremente.
“O Torneio Tribruxo foi criado há uns setecentos anos, como uma competição amistosa entre as três maiores escolas européias de bruxaria — Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campeão é eleito para representar cada escola e os três campeões competem em três tarefas mágicas. As escolas se revezam para sediar o torneio a cada cinco anos, e todos concordam que é uma excelente maneira de estabelecer laços entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades — isso, é claro, até a taxa de mortalidade se tornar tão alta que o torneio teve de ser interrompido.”
— Taxa de mortalidade? — sussurrou Hermione, parecendo extremamente assustada. deu de ombros, igualmente intrigada.
Mas, aparentemente, sua ansiedade não foi compartilhada pela maioria dos alunos no salão; muitos murmuravam entre si, excitados com a notícia, e os próprios amigos estavam bem mais interessados em saber sobre o torneio do que em se preocupar com o que aconteceu a centenas de anos atrás.
— Durante séculos, houve várias tentativas de reiniciar o torneio — continuou Dumbledore. — Nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Cooperação Internacional em Magia e de Jogos e Esportes Mágicos decidiram que já era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o verão para garantir que, desta vez, nenhum campeão seja exposto a um perigo mortal.
“Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegarão com a lista final dos competidores de suas escolas em outubro e a seleção dos três campeões será realizada no Dia das Bruxas. Um julgamento imparcial decidirá que alunos terão mérito para disputar a Taça Tribruxo, a glória de sua escola e o prêmio individual de mil galeões.”
— Estou nessa! — sibilou Fred Weasley para os colegas de mesa, o rosto exibindo uma careta animada.
Aparentemente, ele não era o único que estava se vendo como campeão de Hogwarts. Em volta, se via vários rostos animados e ansiosos, cochichando uns com os outros sobre a grande novidade.
— Ansiosos como eu sei que estarão para ganhar a Taça para Hogwarts, os diretores das escolas participantes, bem como o Ministério da Magia, concordaram em impor este ano uma restrição à idade dos contendores. Somente os alunos que forem maiores, isto é, tiverem mais de dezessete anos, terão permissão de apresentar seus nomes à seleção. — Dumbledore elevou ligeiramente a voz, pois várias pessoas haviam protestado indignadas ao ouvir suas palavras, e os gêmeos Weasley, de repente, pareciam furiosos. — Isto é uma medida que julgamos necessária, pois as tarefas do torneio continuarão a ser difíceis e perigosas, por mais precauções que tomemos, e é muito pouco provável que os alunos abaixo da sexta e sétima séries sejam capazes de dar conta delas. Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campeão de Hogwarts.
Seus olhos azul-claros cintilavam ao cruzarem com os rostos rebelados de Fred e George.
— Portanto, peço que não percam tempo apresentando suas candidaturas, se ainda não tiverem completado dezessete anos.
Houve protestos em todas as mesas. Os gêmeos Weasley (que eram idênticos um com o outro, mas muito diferentes de Rony) estavam enlouquecidos e indignados.
— As delegações de Beauxbatons e de Durmstrang chegarão em outubro e permanecerão conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estenderão as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco e que darão o seu generoso apoio ao campeão de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora já está ficando tarde e sei como é importante estarem descansados para começar as aulas amanhã de manhã. Hora de dormir!
Um som desafinado de cadeiras sendo arrastadas e pessoas falando alto ressoou pelo Salão. observou vários alunos resmungando, insatisfeitos com o fato de não poderem se inscrever no torneio. Fred e George Weasley eram dois deles.
— Ei, Fred, George — gritou Rony, chamando os irmãos com um aceno de mão em meio à multidão. Eles vieram em sua direção, ainda com a cara fechada e resmungando. Quando chegaram à entrada do castelo, os dois se aproximaram dos meninos.
— Que foi? — perguntou um dos gêmeos com rispidez. ainda não sabia identificá-los e acreditou que não seria nunca capaz de tal desafio.
— Essa é a , a intercambista. , esses são meus irmãos, George e Fred — apresentou Rony.
— Muito prazer — disse a garota, estendendo a mão para os gêmeos que, quando a viram, suavizaram seus rostos bravos.
— Sou o Fred — falou um dos gêmeos, segurando sua mão e fazendo uma reverência.
— E eu sou o George — disse o outro, segurando a outra mão da garota e fazendo a mesma reverência. Ao mesmo tempo, os dois deram beijos nas mãos de , fazendo-a corar violentamente.
Rony não gostou nada do que viu, e suas orelhas ficaram vermelhas feito tomates.
— É um prazer conhecê-la, sinto muito pela nossa reação, mas... — começou George.
— Mas o prêmio de mil galeões seria perfeito para nossa lo... — Fred foi interrompido por George, que pigarreou alto e o repreendeu com o olhar. — Para a nossa família — completou, meio sem jeito.
— Seria mesmo — concordou Rony, aborrecido, enquanto subiam as escadas para a torre da Grifinória.
Os gêmeos continuaram discutindo estratégias para enganar os juízes e entrar na competição, uma espécie de disputa de ideias malucas para ver qual seria a mais eficaz.
— O que vocês acham? — perguntou Rony a Harry, e Hermione. — Seria legal, não seria? Mas faz sentido eles quererem apenas os mais velhos, não sei se já aprendemos o suficiente.
— Eu decididamente não aprendi. — Ouviu-se a voz tristonha do garoto que os meninos haviam apresentado como Neville Longbottom durante o jantar. — Mas imagino que a minha avó vai querer que eu experimente, ela está sempre falando que eu devia lutar pela honra da família. Eu terei que... Opa!
O pé de Longbottom afundou direto por um degrau no meio da escada. Havia muitos desses degraus velhos e bichados em Hogwarts e era normal que a maioria dos alunos antigos saltassem esse determinado degrau, porém, a memória de Neville era incrivelmente fraca. Harry e Rony o agarraram pelas axilas e o puxaram para cima.
— Você está bem? — perguntou , olhando feio para uma armadura que rangia alto, rindo do garoto.
— Estou sim. Obrigada, — respondeu Neville, constrangido, mas com um sorriso simpático.
Os garotos se dirigiram à entrada da torre da Grifinória, que ficava escondida atrás de uma grande pintura a óleo de uma mulher gorda com um vestido de seda rosa, rodeada de frutas, comidas e plantas.
— Senha? — perguntou ela quando os garotos se aproximaram.
— Asnice — disse George. — Lembre-se dessa palavra, . Todas as entradas das Salas Comunais das Casas possuem uma forma de entrar, a nossa é essa senha. Às vezes mudam, mas você ficará sabendo.
— Farei meu melhor para lembrar — a garota respondeu, fazendo uma careta e repetindo mentalmente a palavra na tentativa de gravá-la na memória.
O retrato girou para a frente, expondo um buraco na parede pelo qual todos passaram. Um fogo aceso na lareira aquecia a sala comunal circular, mobiliada com móveis antigos nos tons de madeira escura, vermelho e dourado velho, com estantes repletas de livros e paredes cheias de quadros e objetos decorativos. O lugar cheirava a baunilha e madeira queimada, não era enorme, mas muito aconchegante.
ouviu Hermione murmurar “trabalho escravo” enquanto fuzilava as chamas da lareira com raiva. Rony revirou os olhos, porém, optou por não comentar nada para não estressar ainda mais a amiga. Sabia que, quando ela estava assim, o melhor era deixá-la em paz.
— , a professora McGonagall falou que você ficaria com a cama ao lado da minha. Quer subir agora? — disse Hermione, soltando um bocejo no final da frase.
olhou em volta, encantada com a beleza daquela sala e desejando poder aproveitar cada cantinho dela. Entretanto, seu cansaço falou mais alto, o fuso horário ainda bagunçando seu sono, e ela concordou com um balanço de cabeça, seguindo Granger em direção às escadas depois de dar boa noite a todos. De repente, ela ouviu Rony exclamar seu nome, a fazendo parar no meio do caminho.
— Dorme bem, — ele disse, sorrindo com timidez. — Qualquer coisa estamos, ali no dormitório dos meninos.
— Você a chamou para falar só isso? — perguntou Hermione, revirando os olhos. — Vocês não podem subir no nosso dormitório e nem a gente no de vocês.
— Por que você é tão estraga prazeres, Mione? — reclamou Rony, aborrecido.
— Boa noite para você também! — respondeu Mione, subindo as escadas com passos fortes.
— Boa noite, meninos — disse , seguindo Hermione em direção ao dormitório. — Desculpe, Hermione.
Ela olhou as outras meninas se acomodando em suas camas. reconheceu Gina Weasley, irmã mais nova de Rony, no canto do dormitório ao lado da cama de Hermione, e do outro lado havia uma cama vazia com sua mala à sua espera.
— Não tem porquê se desculpar, — respondeu Mione, sorrindo. — É que eles são tão bobos às vezes, chega a irritar! Não sei como eu aguento aqueles dois…
sorriu para a colega que se deitou na cama logo em seguida. A morena seguiu seu exemplo e, após trocar de roupa, se deitou, caindo em um sono profundo após aquele dia tão cansativo.
“Oi, pai. Gostaria de ter mandado uma carta ontem mesmo, mas estava muito tarde e, depois daquele banquete maravilhoso, eu não pude fazer mais nada além de ir dormir.
Boas notícias! Entrei na Grifinória! E até agora ninguém descobriu que sou sua filha. Fiz amizade com Harry, Rony e Hermione e, eu sei, prometi não me apegar a ninguém, mas é tão difícil! Eles são todos tão incríveis, exatamente como você me disse que seriam. Hagrid e Alvo Dumbledore foram excepcionais ao me receberem em Hogwarts. Eu me sentiria totalmente em casa, se ao menos você e o padrinho estivessem aqui.
Sinto sua falta, pai. Muito mesmo. Espero que tudo esteja bem aí onde está. Aguardo ansiosa por sua resposta!
Para sempre, sua filha.”
Para a segurança de seu pai, o texto foi todo escrito em português. Ela sabia que ele e Remus entenderiam e, se caísse em mãos erradas, as chances de conseguirem ler seriam mínimas. deu um beijo no pedaço de pergaminho, como se beijasse a bochecha de seu pai, e o amarrou na pata esquerda de Jack, dando um petisco para ele como agradecimento. O papagaio piou animado e ficou repetindo a palavra “obrigado” até sumir de vista.
Ao retornar para o dormitório, a garota percebeu que a maioria das meninas já havia saído do quarto e, provavelmente, ido tomar o café da manhã. tomou o banho mais rápido que conseguiu e se vestiu mais rápido ainda, chegando ao Salão Principal ofegante e quase sem ar. Todos a olhavam com desconfiança. Ronald Weasley abriu um sorriso enorme ao ver a colega se sentar ao lado de Hermione, ficando de frente para ele e Potter.
— Bom dia — ela murmurou, envergonhada.
— Bom dia! — os dois meninos responderam, animados.
— Bom dia, — Mione disse, sua voz um tanto séria e acusatória. — Onde estava hoje cedo?
— Eu tive que mandar uma carta para meu padrinho — ela disse com pressa, logo se ocupando em beber um gole do leite quente que surgiu na sua frente. Hermione a olhou, desconfiada, mas percebeu que encerrou o assunto.
— Como foi sua primeira noite em Hogwarts? — perguntou Harry, sorrindo com um pedaço de torta em sua boca.
— Muito confortável — ela respondeu, retribuindo o sorriso.
Potter começou a contar sobre sua primeira noite e como ele dormiu tão pesado por causa da cama confortável que quase perdeu a hora durante a primeira semana inteira, causando gargalhadas da amiga que se divertia com as histórias. Rony olhou a situação com certo incômodo. Não era possível que até mesmo a nova amiga iria achar Harry mais interessante que ele. No dia anterior, quando a conheceu, um fio de esperança de que talvez, finalmente, aquele ano fosse diferente, de que aquele ano encontraria alguém que o enxergasse de verdade, surgiu dentro de si. Esse mesmo fio estava prestes a se romper ao ver aquela troca de sorrisos entre e seu melhor amigo.
Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho forte de asas batendo e piados das corujas entrando no Salão Principal, cada uma indo em direção ao seu respectivo dono. Harry olhou para cima, esperançoso, mas Edwiges, sua coruja branca como a neve, não apareceu. Já a de Hermione chegou até ela, deixou um jornal enrolado, e levantou voo quando a garota depositou um sicle, indo embora com a mesma rapidez com que entrou.
Hermione abriu o jornal e sumiu atrás dele. espiou pelos cantos dos olhos a amiga ao lado, que lia, concentrada, cada linha impressa no papel.
— Ah, não! — Mione exclamou, assustada. Em seguida, abaixou o tom de voz. — Sirius!
— O que tem ele? — exclamou Harry, puxando o jornal e rasgando-o ao meio antes que pudesse ler a matéria.
se controlou para não puxar a varinha e fazer os cabelos rebeldes do amigo sumirem, tamanha a raiva que sentiu. Seu coração bateu rápido demais, lhe tirando o fôlego. Ela queria desesperadamente saber o que aconteceu com Sirius, mas não podia de forma alguma entregar que ele era seu parente. Seu cérebro tentava trabalhar em meio ao desespero, pensando no que fazer sem se entregar no primeiro dia.
— Todos sabem que Sirius Black é um assassino perigoso... Blá blá blá... Assassinato em massa... — Hermione lia a parte menos importante da matéria com impaciência. — Aqui! Fontes afirmam que o fugitivo se esconde em Londres! Meu Deus… Com certeza foi Lúcio Malfoy! Ele estava muito estranho na estação, ficava olhando um ponto fixo e depois nos olhava com a mesma frieza.
sentiu seu coração parar por alguns segundos, seu estômago despencou. O ponto fixo que o homem olhava não era seu pai e sim ela mesma. A lembrança dos olhos cinzas e frios de um homem alto de cabelos pálidos que se fixaram nela na estação ainda lhe causava arrepios. Lúcio Malfoy, como Draco Malfoy… Agora fazia sentido ela ter tido a impressão de já ter visto o aluno da Sonserina antes de tropeçar na frente dele. Ele estava com o pai quando o bruxo mais velho a reconheceu, mas… como? Ela não era tão parecida com o pai e duvidava que o homem havia conhecido sua mãe. Por que ele a olhava tão claramente?
Sem pensar muito, ela pediu licença e saiu correndo, sem responder aos protestos dos meninos para que a garota ficasse. Ela tinha que falar com seu pai e não podia, essa era a pior agonia que a garota já sentira na vida.
continuou correndo até chegar à porta da sala de Dumbledore e parou, ofegante, sem certeza se queria mesmo entrar. A gárgula pediu a senha, porém, ela não fazia ideia de qual era, é claro. Começou a chorar, cansada por não saber o que fazer com o desespero que só crescia dentro de si.
— Posso ajudá-la, Srta. ? — Ela ouviu a voz da Professora Minerva McGonagall ao seu lado, assustando-a. — A vi sair correndo do Salão, aconteceu algo?
— Perdão, professora, mas não posso lhe contar. Preciso falar com o Professor Dumbledore, é urgente.
Minerva pareceu perceber o desespero da aluna, sem falar nas lágrimas que ainda caíam livres pelo rosto dela. A professora murmurou a senha e a gárgula girou, revelando uma escada em espiral. McGonagall apontou para os degraus, indicando para que subisse na sua frente. A mulher a seguiu, ambas sentiram a escada se mexer, elevando-as até a porta de madeira sem que elas precisassem subir todos os degraus. Minerva deu duas batidas com a varinha e a porta se abriu sozinha. deu passos receosos para dentro, admirando a beleza do lugar enquanto secava suas lágrimas.
— Ora, que honra tê-las em minha sala! — Ouviu-se a voz de Dumbledore ecoar pelo espaço. reparou que tinha um jornal aberto em sua mesa. — Eu imagino o motivo de estar aqui, .
— Eu a vi do lado de fora, Alvo. Estava chorando, desesperada para falar com o senhor — disse Minerva, se aproximando da mesa junto com a aluna.
— Muito obrigada, Minerva. Imagino que você tenha lido o jornal.
— Li sim, senhor. Por isso vim atrás dela — disse McGonagall.
— Você sabe? — perguntou , espantada. Minerva apenas assentiu.
— Não se preocupe, seu segredo está a salvo comigo, Senhorita Black — a professora sorriu com sima, apertando levemente o ombro da jovem. — Agora, se me dão licença, preciso voltar ao Salão.
— Obrigada, Minerva — Dumbledore agradeceu e em seguida apontou para a cadeira acolchoada na frente de sua mesa. — Sente-se, . Você leu o jornal, certo?
assentiu e se rompeu em lágrimas de novo, fazendo com que o diretor se levantasse e andasse até o seu lado, afagando suas costas em um ato de carinho.
— Eu estraguei tudo! — ela afirmou entre soluços. — Eu não deveria ter vindo! Eu preciso voltar pro Brasil, eu preciso me trancar na Castelobruxo com meu pai até ele ser inocentado e…
— Não fale besteira, minha jovem — Alvo a interrompeu, retornando para sua cadeira. — Primeiramente, senhorita, eu te aceitei aqui não apenas por ser filha de Sirius, um dos bruxos mais geniais de sua época, mas por ser uma das alunas mais talentosas da Castelobruxo que, acredito com todas as minhas forças, irá agregar muito à nossa escola.
— Mas Lúcio me reconheceu, na estação, ele pareceu saber quem eu era…
— Lúcio não estava olhando para você naquele dia, — o diretor a olhou com seriedade. — Ele estava olhando para o que pensou ser seu pai. E ele não estava enganado, Sirius foi muito descuidado…
— Meu pai? — ela exclamou, horrorizada. — Mas… como? Ele estava no Brasil! Ele não veio comigo!
— Ora, você é uma bruxa e não sabe as várias maneiras de teletransporte! Me surpreende que tenha ido de avião até Londres.
— Não queria chamar atenção… — respondeu, a voz saindo em um sussurro.
— Entendo — ele disse, assentindo. — De qualquer maneira, não se preocupe. Eu sei onde seu pai está e estou garantindo a segurança dele. Peço que confie em minhas humildes palavras e não diga nada ao Harry, está bem? Eles ainda não sabem a verdade, não é?
— Não, não sabem — a garota disse, ainda apreensiva. — Tem certeza que ele está bem, senhor? Você me diria se algo estivesse errado, não diria?
— Você será a primeira a saber — ele respondeu, sorrindo com sima. — Agora vá, não vai querer perder a fascinante aula de Herbologia.
Com certa relutância, obedeceu o diretor e correu pelo caminho cheio de lama até a estufa onde aconteceria a aula com a adorável professora Sprout, responsável pela casa Lufa-Lufa. Seus amigos a olharam com surpresa e desconfiança ao repararem em seu rosto inchado e marcado pelas lágrimas secas.
— Onde você estava? — perguntou Hermione.
— Por que saiu correndo daquela forma? — perguntou Harry.
— Está tudo bem? — perguntou Rony, claramente o mais preocupado entre os três.
— Está sim, agora está — a garota mentiu. — A torta não me fez bem.
— Ah, sei como é. Um dia eu comi uma dessas e passei horas no banheiro, mas pelo menos não precisei assistir a aula do narigudo seboso — Rony riu, parecendo mais aliviado.
— Claro, você comeu a torta inteira! E Snape te passou dois metros de pergaminho sobre as principais poções para dor de barriga, lembra?
— Foi muito útil — o ruivo respondeu, fazendo uma careta para a amiga que apenas revirou os olhos em resposta.
deu risada, sentindo o conforto que sempre sentia ao lado dos amigos, eles sempre tinham o poder de deixar tudo mais leve, mesmo nos momentos mais difíceis.
A aula seria com a turma do quarto ano da Lufa-Lufa que estava totalmente eufórica por finalmente poder entrar em seu ambiente favorito.
Rony se apressou em conseguir dois bancos vazios na grande bancada repleta de vasos com plantas horrorosas, uma espécie que nunca havia visto antes, mesmo com a vasta variedade de vegetações presentes no Brasil. A menina se sentou ao lado do ruivo, que sorriu largo ao recebê-la. Hermione e Harry se olharam, não muito felizes com mais essa interação. Eles conheciam Rony bem demais para saber que ele não considerava a intercambista apenas uma amiga e não queria que o amigo se machucasse quando chegasse a vez da garota partir, por mais incrível que ela fosse.
sentiu que alguém, além dos seus três amigos, a observava. Ela olhou em volta, tentando descobrir quem era, e seus olhos cruzaram com dois pares de olhos claros de um aluno da Lufa-Lufa que estava em pé ao lado da professora com um sorriso largo no rosto e a cabeça levemente inclinada para o lado, como se a garota a quem observava fosse o objeto mais curioso que já encontrara na vida. As bochechas dela queimavam em vergonha e permaneceu assim mesmo quando ela desviou o rosto, repetindo em sua mente para ter foco.
— Queridos alunos, sejam bem-vindos à primeira aula de Herbologia do semestre! — a Professora Sprout exclamou, recebendo vários aplausos e assobios animados como resposta. Ela pediu silêncio com as mãos, sorrindo, animada. — Hoje terei um ajudante impecável, o melhor aluno de Herbologia que eu já tive…
— Até parece… — Neville protestou baixinho, parecendo chateado.
— ...monitor da Lufa-Lufa e um dos nossos melhores jogadores de Quadribol que gentilmente aceitou usar seu horário vago para me ajudar! Estou falando, é claro, de Cedrico Diggory!
As bochechas do garoto ruborizaram com violência enquanto recebia aplausos animados da turma da Lufa-Lufa e alguns poucos da turma da Grifinória. Hermione aplaudia, empolgada, soltando um longo suspiro, acompanhada de outras meninas da mesa. o achou adorável, merecedor das palmas que recebia. Rony e Harry reviraram os olhos, reclamando de toda a bajulação.
— Ele definitivamente não é tudo isso — disse Rony, parecendo chateado.
— Ele não joga quadribol tão bem assim… — resmungou Harry, cruzando os braços.
— Vocês são patéticos quando ficam com ciúmes! — Hermione disse, fazendo rir ao concordar.
A morena olhou novamente em direção ao loiro, que agora falava com alguns alunos da sua casa, rindo de algo que eles disseram. Ela parecia hipnotizada, não sentia vontade de parar de olhá-lo tão cedo, mas teve que fazê-lo quando Rony chamou sua atenção.
— Ah, droga, você também? — ele questionou com irritação na voz.
— Eu o quê? — ela perguntou, confusa.
— Está toda caidinha pelo Diggory! — Neville se intrometeu, parecendo igualmente irritado.
— Não estou, não! — ela retrucou na defensiva. — Só estou curiosa para conhecê-lo, a professora fez uma ótima propaganda.
— Sei… — Rony respondeu, fuzilando o lufano que ainda estava do outro lado da estufa. — Tenho certeza que ele enfeitiçou todas as garotas do colégio para adorarem ele…
A professora Sprout explicou o que eram aquelas plantas e para o que serviam. O nome era Bubótuberas, ela tinha algumas bolas amareladas nojentas que, para a infelicidade de todos, eles teriam que espremer. Segundo a professora, aquele pus era um remédio maravilhoso para as acnes, entretanto, era necessário recolhê-lo com extremo cuidado (com luvas e óculos de proteção) para colocar nas garrafas.
— Ótimo trabalho, meninos! A Madame Pomfrey vai ficar muito feliz! — disse a professora enquanto passava pelos alunos, vendo-os recolher cada gota.
Aquilo era nojento, mas estava se divertindo com as palhaçadas e caretas que Rony e Harry faziam, sempre reprovados por Hermione que coletava com toda a concentração e seriedade do mundo. ria com vontade quando sentiu alguém se aproximar por trás, se enfiando entre ela e Neville, que protestou quando quase derramou seu pus na mesa. Ela parou de rir na mesma hora, suas mãos parecendo suar mais ainda dentro das luvas. Sentiu suas bochechas queimarem ao ver o quão próximo Cedrico estava, morrendo de vergonha por estar usando aqueles óculos de proteção ridículos. Rony e Harry também pararam de rir, e agora o olhavam com raiva. Hermione observava boquiaberta, na expectativa do que iria acontecer em seguida.
— Olá, pessoal — ele cumprimentou os meninos e Hermione com um sorriso e voltou a atenção para a garota. — Acho que ainda não nos conhecemos. Sou Cedrico Diggory, mas pode me chamar de Ced. E você?
Ele estendeu a mão, mas a afastou e soltou uma risada ao ver a luva melecada de
. Ela deu um sorriso amarelo, envergonhada.
— Sou , intercambista da Castelobruxo.
— Ah, sim, a brasileira! — ele respondeu, sorrindo largo, se inclinando na bancada, sem tirar os olhos brilhantes dela nem por um segundo. — Estava ansioso para conhecê-la!
— Estava? — ela perguntou, sem disfarçar a surpresa.
— Estava, é? — Rony também perguntou, a mesma raiva nos olhos estava presente na voz. Ele rangeu os dentes tão forte que jurou que quebrariam.
— Sim, estava — ele respondeu, parecendo se divertir com as reações. — A Professora Sprout disse maravilhas sobre suas notas em herbologia na sua escola, gostaria muito de conhecer mais sobre a variedade de plantas mágicas que existem no Brasil que você certamente deve conhecer.
— P-posso te dar aulas, se quiser — a garota gaguejou e se sentiu uma boba por isso.
Rony fincou sua pá em um dos vasos e por muito pouco a planta não explodiu uma de suas bolsas de pus.
— Eu iria adorar! Te encontro na biblioteca no final do dia? — Diggory perguntou, e a garota assentiu na mesma hora.
Com um aceno simpático, ele se despediu de todos e voltou a falar com os outros alunos, auxiliando-os com suas plantas. No fim da aula, Hermione entrelaçou o braço com o de enquanto a turma saía da estufa. A intercambista se sentiu animada com esse ato de amizade. Não tinha muitos amigos em Castelobruxo, sempre foi o mais reservada possível, principalmente com a volta de seu pai. Mas sua animação não era apenas por isso e sim com o fato de que tinha acabado de ser convidada para ensinar herbologia, sua matéria favorita, para um garoto encantador. Mione estava tão empolgada quanto ela, dizendo o quão sortuda era por ter um encontro com Cedrico.
— Não é um encontro! — Rony protestou, alcançando o passo apressado das amigas. — Dá pra acreditar nesse cara? Pedindo para a ensinar herbologia! Afinal, ele não é o melhor aluno na matéria da Sprout?
— Rony, relaxa! Você ainda é meu aluno preferido de Hogwarts — a morena brincou, fazendo os olhos do ruivo se iluminarem.
Os três seguiram para o espaço amplo e aberto ao lado de uma casa de madeira caindo aos pedaços, com uma fina fumaça branca saindo pela chaminé. Aquela era a cabana de Hagrid, de onde ele saiu pela impressionantemente pequena porta de madeira (se comparada ao tamanho do próprio gigante), seguido por Canino, seu fiel cachorro de estimação. Para o desagrado da turma da Grifinória, a turma que lhe faria companhia nessa aula era a da Sonserina.
Malfoy observou a turma da outra casa com certo desgosto, incomodado com o fato de que estavam chegando animados demais para a aula, fazendo-o torcer o nariz arrebitado. Achava-os naturalmente patéticos, mas essa adoração pelo professor de Trato das Criaturas Mágicas o irritava mais ainda. E ali, dentre os primeiros a se aproximarem, estavam os queridinhos de Hagrid, o “trio de ouro”. Bom, agora era o quarteto de ouro. Draco se pegou novamente observando a nova aluna, sua curiosidade crescendo em seu interior e seus olhos o traindo mais uma vez, como todas as vezes que ela estava por perto, incapaz de resistir à observação. Mexeu, ansioso, em seu anel, forçando-se a desviar o olhar para qualquer outro ponto menos perigoso.
— Sejam bem-vindos, meus caros alunos! — Hagrid exclamou, animado. Os grifinórios o saudaram com a mesma animação, mas os sonserinos apenas resmungaram coisas inaudíveis.
O professor continuou falando sobre a aula, explicando como seria o decorrer do semestre. Ele lançou uma piscadela animada para , que retribuiu com a mesma empolgação. Em seguida, explicou sobre as pequenas criaturinhas que cuidariam naquela aula: Explosivins. Larvas grandes que, como se soltassem gases, fogos saíam de seus rabos, fazendo-os se deslocar por alguns bons centímetros para a frente. Os alunos se assustaram ao vê-los dentro dos caixotes. já havia visto de tudo em seus anos na Castelobruxo, mas os animais mágicos da Europa eram algo à parte.
Os olhos da brasileira começaram a observar tudo, amando a natureza em sua volta, tão diferente do que estava acostumada. Ela cruzou com o olhar frio que a encarou com desprezo no trem, porém, com curiosidade durante o banquete da noite passada. Draco se aproximou, fazendo a garota estremecer levemente, torcendo para que ninguém percebesse. Ele parou ao seu lado, recebendo olhares de reprovação de Harry, Hermione e, claro, Rony Weasley.
— Está olhando o que, sangue-ruim? — o ouviu murmurar.
— Você estava me olhando primeiro — ela respondeu em voz baixa, sem tirar os olhos de Hagrid que ainda falava sobre as adoráveis criaturas. — Como tem tanta certeza que não sou puro sangue, se não conhece minha família?
— Porque você me irrita tanto quanto os sangue-ruins, é fácil reconhecer gente igual a você — ele retrucou, como se cuspisse as palavras.
— Nunca fiz nada contra você, Malfoy — ela respondeu, finalmente encarando o garoto com certa raiva e impaciência.
— Ah, fez sim… Tem alguma coisa muito errada com você e eu vou descobrir o que é. Você não é tão santa assim como todos acham que é.
— Algum problema, Draco? — a voz de trovão do professor ressoou alta pelo espaço aberto, fazendo ambos se assustarem e o olharem na mesma hora. pôde jurar que o garoto tremeu um pouco antes de dar sua resposta.
— Tenho sim! — ele falou, se afastando da garota. — O que esses bichos nojentos fazem? Para o que servem?
— Isso é na próxima aula, Malfoy. Hoje iremos apenas alimentá-los. Como nunca os criei antes, teremos que testar alguns alimentos diferentes. Temos ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada, por gentileza.
torceu o nariz ao se aproximar dos baldes com fígados de sapo ao lado de Rony, que fazia a mesma careta. Após muitas queimaduras e cortes, os alunos conseguiram alimentar alguns dos bichos com o fígado nojento e alguns ovos. Hermione comentou que eles chegavam até um metro e meio de comprimento, deixando-os assombrados. Rony continuava com o rosto fechado, parecendo extremamente chateado, mesmo quando, mais tarde, se sentaram à mesa da Grifinória e a comida surgiu no prato. A comida sempre o animava, contudo, ele segurava o garfo com raiva e mastigava com mais raiva ainda. Hermione estava faminta, pois, desde que descobriu que os elfos cozinhavam no subsolo do castelo, ela evitava comer. Mas não aguentou por muito mais tempo, acabou devorando toda a comida que aparecia no prato. Nem ela, nem Harry perguntaram ao amigo o que estava acontecendo, mas decidiu perguntar, incomodada com o silêncio e desconfiada do motivo de ele estar tão nervoso. Quando o garoto se levantou e começou a caminhar em direção à saída, deixando os amigos confusos para trás, ela se levantou e foi atrás dele.
— Rony, o que houve?
— Nada — ele respondeu com rispidez, sem diminuir os passos.
Rony a olhou de lado e sentiu uma pontada no peito ao ver a chateação no rosto da garota. Ele parou, ficando de frente para ela.
— Desculpa, é que hoje foi um pouco difícil ficar ao seu lado.
— Como é? — ela perguntou, indignada. — Hoje foi meu primeiro dia! Eu sou tão ruim assim? Primeiro Malfoy, agora você?
— O que Draco te disse? — Ron perguntou, suavizando a feição do rosto.
— Disse que eu o irritava, sendo que nunca fiz nada pra ele! — ela exclamou, começando a ficar irritada. — Quer saber? Eu não vim aqui para fazer amizades ou agradar vocês, não ligo se não gostam de mim, eu vim para estudar e é nisso que tenho que focar.
deu dois passos largos em direção às escadas antes de Rony alcançá-la e segurar seu braço, impedindo-a de seguir caminho.
— Escute, Draco é um filho da mãe babaca que não sabe o que diz, aquele garoto tem sérios problemas! — ele falou, ainda irritado, agora por um novo motivo. — Mas definitivamente não é essa a razão para ter sido tão difícil ficar com você hoje.
— Então qual é o motivo? Espero que tenha uma boa explicação porque você me deixou bem chateada com o que disse, Ronald Weasley.
A forma como ela disse seu nome e sobrenome fez o peito do ruivo pesar. Ele respirou fundo algumas vezes para tomar coragem antes de finalmente se explicar.
— , desde o momento em que te vi dentro do trem, eu… e-eu não sei explicar, mas fiquei hipnotizado por você! — confessou, seu rosto ficando cada vez mais vermelho. — E quando vi que você gostou da gente e quis ficar por perto, por Merlin, eu surtei de felicidade.
— Ron…
— Não me interrompa, por favor, preciso aproveitar esse momento de coragem — ele disse, parecendo ofegante. — Por muito tempo fomos só nós três e agora tem você e você não fugiu da gente, você está aqui! Então veio aquele babaca do Diggory e depois o Malfoy e, sei lá… Não quero que você se afaste, . Pode ser egoísmo meu? Sim, com toda certeza. Mas eu gosto de você e sei que não posso nem competir com eles, então fico feliz em ter pelo menos sua amizade, por mais difícil que isso seja.
abriu a boca várias vezes, sem conseguir responder nada. Não esperava por essa resposta, mesmo vindo dele. Rony estava com ciúmes ou apenas não queria perder a nova amiga? Não sabia dizer ao certo, mas de qualquer jeito ela gostou do que ouviu. Seu pai odiaria saber daquilo, mesmo adorando a família Weasley. Ele não queria que ela fosse estudar lá, porém a deixou ir para que ela pudesse adquirir mais conhecimentos além do maravilhoso ensino que a Castelobruxo oferecia. Sua condição foi: não se distraia com garotos, faça amizade apenas com Harry Potter e seus amigos, confie fielmente em Dumbledore. A segunda e terceira tarefa eram fáceis: ela adorava Harry e cia, e Alvo Dumbledore era uma das melhores pessoas que ela já conheceu. Mas a primeira estava cada vez mais difícil e ela tinha que deixar isso claro para Rony.
— Ron… Eu não sei o que dizer, de verdade — ela respondeu com sinceridade. — Você é incrível, mesmo, mas eu não posso ter distrações. Então não se preocupe em relação às aulas com o Diggory, serão realmente apenas aulas. Muito menos com Malfoy, eu quero distância dele! Mas também não quero que tenha… esperanças, sabe?
Os ombros do menino caíram, em visível sinal de decepção, mesmo assim, ele manteve um sorriso leve no rosto. Harry e Hermione apareceram, estavam com dúvida se deveriam se aproximar ou não. Eles apenas apontaram para a escada e foram por aquele caminho, observando por sobre os ombros para ver se os dois os seguiam.
— Contanto que não nos troque por eles, eu aceito as condições — Ronald disse, passando o braço direito pelos ombros da nova amiga e seguindo o caminho que os amigos acabaram de fazer.
— Combinado — ela respondeu, rindo, sentindo um peso sair de seu peito.
Um nome chamou sua atenção no velho pergaminho. Draco Malfoy caminhava com pressa em um corredor ao lado do seu e, segundo o mapa, eles estavam prestes a se cruzar. Ela dobrou o pedaço de pergaminho, sussurrando “malfeito, feito” como Harry a ensinou, e o enfiou em suas vestes segundos antes de o sonserino a encontrar. Ele pareceu surpreso ao interromper quase bruscamente seus passos apressados.
— Onde pensa que vai, ? — o garoto murmurou com sua voz arrastada, cruzando os braços ao chegar perto dela.
— Não é da sua conta, Malfoy — ela retrucou, vendo-o trincar os dentes de raiva. — Está sem seus cachorrinhos hoje?
— Você se acha tão incrível e interessante, não é? Só por ser de outra escola — ele respondeu, se aproximando ainda mais de enquanto ela apenas recuava, mas sem abaixar a cabeça. — Aposto que consigo fazer você diminuir esse seu ego.
— Gostaria de te ver tentar — ela retrucou. ameaçou se afastar, mas ele se colocou na frente dela novamente. — Sai da frente, Draco.
O garoto não se afastou, nem disse nada. Ele apenas a olhou da mesma forma que sempre olhava: com curiosidade e intensidade, seus olhos azuis e frios em contraste com os olhos escuros e quentes de . Era ridículo, mas ela adorava esse jogo de quem iria desistir e desviar o olhar primeiro. Sempre ansiava pela sua vitória.
Nenhum dos dois parecia querer fazer isso, no entanto, Draco o fez apenas para olhar para os lábios delicados da garota, odiando com todas as forças a vontade que sentiu de encostar os próprios lábios nos dela novamente. Se xingou de fraco, se forçando a lembrar que ela era amiga do Potter e, portanto, sua inimiga. Sem falar sobre a desconfiança de seu pai: ela era provavelmente a filha de Sirius Black, o fugitivo de Azkaban que todos estavam procurando e que sabia demais. Entretanto, seus lábios, tão convidativos, faziam seu cérebro rodar em confusão.
encostou a mão no peito de Draco na intenção de empurrá-lo para longe, porém, no mesmo instante, uma névoa já conhecida tomou conta da sua mente no segundo em que o tocou, e sua força se esvaiu de seu corpo. Ela teve a sensação de que iria desmaiar, pois realmente perdeu todos os sentidos. Mas estava acordada e sentiu quando as mãos surpreendentemente quentes seguraram seus braços para que ela não caísse.
sentiu como se flutuasse. Era estranha a sensação, normalmente não se sentia assim quando tinha visões. Seus pés finalmente tocaram o solo duro de concreto, e ela percebeu que estava em um dos corredores de Hogwarts, o mesmo que estava há alguns segundos com Draco. caminhou com cuidado, impressionada por não fazer nenhum ruído. Avistou uma porta aberta e caminhou até ela, sua intuição lhe avisando que precisava entrar naquela sala. Ouviu vozes altas vindo daquele lugar, e não se surpreendeu quando viu Draco e Lúcio discutindo. O homem puxou a manga da própria veste, apontando para uma espécie de tatuagem marcada em seu braço que ela desejou poder enxergar melhor o desenho.
— Essa marca não significa nada para você, garoto!? — Lúcio murmurou entre dentes. — Logo terá uma dessas em seu braço e você deveria se orgulhar disso! Não se recusa um pedido do Lorde das Trevas! Você sabe a vergonha que nos fez passar?
— Eu levo à sério! — Draco retrucou com raiva. — Mas eu preciso ser um bruxo melhor antes de me dedicar a ele! Do que adianta, se eu não souber nada? Estes testes e desafios que me mandam fazer… Eles só atrapalham minhas aulas, pai!
— Você está se apegando a ela, não está? — o homem perguntou, parecendo furioso. Draco ficou em silêncio, apertando os lábios. — Você é uma piada!
— não é uma pessoa ruim…
— Ela é filha de Sirius Black! — Lúcio gritou. — Ela é uma traidora do sangue igual a ele!
— Não fale assim dela! — Draco berrou, parecendo transtornado. — Você não a conhece e não sabe se ela realmente é filha dele!
Lúcio se espantou com a reação do filho, porém não pôde deixar de sentir orgulho, pois foi para isso que ele o criou, para se defender desta forma, independentemente de quem fosse. Mas esse apego sentimental na filha de um dos homens que mais odiava, ah, isso sim o preocupava. Já , escondida atrás da porta, pulou de susto com o grito e se surpreendeu por ele defendê-la com tanto fervor. Lúcio Malfoy se recompôs, e seu olhar causou um arrepio na garota.
— Trate de se desapegar logo e descubra onde Black está! — o homem falou, agarrando com firmeza o braço do garoto e batendo com sua bengala em uma das mesas de madeira, causando mais um susto na garota. — Nem que você tenha que matar aquela bastarda sangue ruim!
recobrou os sentidos e se assustou ao ver os olhos de Draco arregalados e preocupados tão próximos aos dela, a mão pálida segurando seu rosto com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo, como se quisesse protegê-la, mas com medo de machucar. Ela estava deitada no chão e estavam apenas os dois no corredor deserto. Ela se sentou, vendo-o respirar, aliviado.
— Você está bem, ? Que merda foi essa? — ele perguntou. o olhou com raiva e desviou o olhar para o braço coberto do garoto. Sentiu vontade de esticar o braço e puxar a manga de sua capa para ver se ele já tinha a mesma marca que o pai, mas se deteve. — Me responde, garota!
— Me deixe ir, Draco — falou, sua voz saindo em um sussurro fraco ridículo. Ela pigarreou, tentando recuperar um pouco de confiança. — Ou melhor, me deixe em paz!
Os dois se levantaram juntos. Draco a olhou sem entender nada, ainda muito preocupado. Mesmo relutante, ele deu um passo para o lado, e a garota saiu quase correndo pelo corredor deserto.
parecia não conseguir recuperar o fôlego, nem todo ar do mundo era o suficiente. Odiava admitir a si mesma que ficou afetada pela aproximação de Malfoy, mas a visão deixou claro quais eram as reais intenções dele e de seu pai. Era demais para sua cabeça, os Malfoys a queriam morta, assim como queriam a morte de seu pai. A desconfiança de Draco, a forma como ele a olhava, parecendo estudá-la e saber exatamente quem ela era ou que ela estava guardando um segredo; tudo fazia sentido agora. Ele sabia, ele entrou naquele castelo sabendo quem deveria procurar. Mas estava um passo à frente deles, e não os deixaria ganhar tão cedo.
Cedrico batucava impacientemente na mesa de madeira enquanto checava o relógio a cada minuto, ansioso para sua primeira aula particular de Herbologia. Está bem, talvez não fosse pela aula que ele estava ansioso e sim pela garota que seria sua professora. Diggory não parou de pensar em desde o segundo em que a viu na cerimônia de escolha. Não pôde deixar de se decepcionar quando ela foi escolhida para a Grifinória e não para Lufa-Lufa, mas usou como desculpa a vontade de aumentar seus conhecimentos para que pudesse passar um tempo com ela.
Também não pôde deixar de se decepcionar quando viu o quão próxima ela estava de Rony Weasley quando viu que a garota passou a aula inteira aos risos e cochichos com o colega da mesma casa que ela, além de não desgrudar dele, de Hermione e de Harry Potter. A competição seria tão acirrada quanto os jogos de quadribol, o qual ele dominava com maestria.
Um sorriso largo surgiu em seu rosto quando a morena entrou correndo pela porta dupla da biblioteca, sendo repreendida por Madame Irma Pince, a bibliotecria de Hogwarts. Cedrico se levantou quando a viu olhar em volta a procura dele, e acenou para chamar sua atenção. continuou andando em sua direção, dando um sorriso breve e fraco ao sentar-se à mesa. Ela parecia tensa e assustada, olhando para a porta como se esperasse que alguém tivesse seguido-a até lá.
— Está tudo bem? — ele perguntou ao ver que ela continuava séria e sem fôlego.
— Está sim — ela exclamou, balançando a cabeça. — Desculpe o atraso, esse castelo é grande demais, acabei me perdendo.
— Eu entendo, demorei vários meses para saber onde fica cada lugar, e me perco até hoje — ele respondeu com uma risada no final, fazendo-a finalmente abrir um sorriso sincero.
O lufano poderia jurar por todos os deuses que aquele era o sorriso mais lindo que ele havia visto em toda a sua vida. Ele poderia observá-la pela eternidade e jamais se cansaria. Se sentiu o homem mais sortudo do mundo por poder ter aquele sorriso só para ele. Bom, pelo menos por algumas horas.
— Eu trouxe alguns livros que eu uso na Castelobruxo, mas acabei de perceber que está tudo em português… — fez uma careta, como se pedisse desculpas.
— , somos bruxos, se esqueceu? — o garoto falou com uma sobrancelha levantada.
Ele puxou a varinha de dentro das vestes, abriu um dos livros e olhou em volta para garantir que ninguém estivesse ouvindo.
— Verbis Transferendum Aglicus — Ced sussurrou com um sorriso travesso nos lábios.
começou a folhear o livro e viu as palavras de cada página se embaralharem para se transformarem na sua tradução perfeita em inglês. Ela o olhou espantada e maravilhada, pois não conhecia aquele feitiço.
— Eu vou ter que usar esses livros no Brasil, você sabe disso, não é? — ela sussurrou, rindo baixinho.
— Para sua sorte, eu sei o feitiço para desfazer, é o… É o…
abriu a boca em um mix de susto e indignação quando Cedrico fingiu não saber o feitiço, fazendo o garoto gargalhar alto demais ao ver sua preocupação. Irma apareceu do seu lado em um segundo, mandando-o ficar quieto. Ele deu um pulo, se assustando, e os dois jovens seguraram o riso enquanto a supervisora se afastava.
— Verbis Naturalis — ele sussurrou, e as palavras voltaram ao seu idioma natural.
— Incrível… — ela sussurrou com os olhos brilhando fixos no livro. Ela levantou o olhar, cruzando-o com os verdes claro de Diggory, trocando um sorriso tímido. — Acho que estamos enrolando muito, logo a biblioteca vai fechar.
Dessa vez quem fez o feitiço foi a própria , se segurando para não soltar um grito empolgado quando funcionou. Ela começou com uma breve explicação sobre a matéria que tinha na Castelobruxo, explicando que o clima de lá era bem diferente da Escócia, muito mais quente e tropical, então muitas plantas de lá não sobreviveriam na Europa. Cedrico falou sobre as pesquisas maravilhosas que Newt Scamander, ex-aluno (e lufano) de Hogwarts e renomado pesquisador da área de criaturas mágicas e Herbologia, fez no Brasil, e contou que isso foi o que fez Cedrico se interessar mais no assunto.
Depois de mais algumas risadas baixas e várias leituras dos livros que trouxe, Cedrico constatou tristemente que faltavam cinco minutos para fecharem a biblioteca. Madame Irma já passava de mesa em mesa para avisar os alunos, mas, para poupar o tempo dela, Cedrico e arrumaram suas coisas e levantaram, caminhando lado a lado para a saída. O lufano não a deixou carregar os livros, colocando-os na mochila que ele carregava nas costas. Em um ato de coragem, Diggory segurou a mão quente de , e se impressionou com o quão pequena e macia ela era, desejando poder tocar sua pele o tempo todo. Caramba, o que estava acontecendo com ele? Nunca se sentira assim por nenhuma garota, nem mesmo por Cho Chang, que tinha começado a ter um relacionamento antes das férias.
Eles foram conversando enquanto caminhavam até a Sala Comunal da Grifinória; se impressionava com a facilidade em que o garoto a fazia rir ou com que tirava um sorriso de seu rosto, mesmo com mil e uma preocupações na cabeça. E se sentiu frustrada quando chegou em frente ao quadro da Mulher Gorda, que se deliciava com um cacho de uvas e uma taça de vinho. Cedrico tirou os livros da mochila e entregou para a garota, ele estava igualmente frustrado. As horas que passou com ela foram as melhores que tivera em muito tempo, mas passaram rápido demais. Ele só queria poder passar a noite inteira em sua companhia.
— Obrigada pela aula de hoje, foi realmente produtiva — ele falou com um sorriso largo.
— Não precisa agradecer, eu estava mesmo precisando me distrair um pouco — ela respondeu, dando um sorriso fraco, não querendo se despedir tão cedo. — Obrigada por me acompanhar, Cedrico.
— Pode me chamar de Ced, Cedrico é muito formal — ele falou, fazendo-a rir.
— Ok, Ced! — a garota brincou, balançando a cabeça depois de rir. — Nos vemos amanhã?
— Com toda certeza! — ele respondeu com animação, ajeitando a mochila nos ombros. Antes de se virar, Cedrico se inclinou e deu um beijo na bochecha da garota, fazendo-a corar no mesmo instante. — Até amanhã.
ficou paralisada, com a mão na bochecha, enquanto observava o garoto se distanciar cada vez mais. Seu coração estava ridiculamente acelerado e tinha sido apenas um beijo na bochecha, e se fosse algo mais sério como um beijo na boca? Seus pelos se arrepiaram com o pensamento, porém foi um arrepio muito bom.
— Foco, ! — ela sussurrou para si mesma.
— Esta não é a senha, querida — a mulher no quadro falou.
— Senha? — perguntou. Dando um tapa na própria testa, se lembrou que precisava de uma senha para entrar. — Merda, a senha!
— Sim, a senha — a mulher repetiu, comendo mais uvas.
— Senhora, eu não me lembro, mas eu sou da Grifinória! Olhe minhas vestes! — a garota disse, apontando para si mesma. — Por favor, me deixe entrar!
— Sem senha você não irá entrar.
exclamou um palavrão com raiva, deixando seus livros caírem no chão. Então o quadro fez um barulho e se moveu, abrindo a passagem. Viu os cabelos ruivos e bagunçados de Rony aparecerem do outro lado, os braços cruzados fazendo seus músculos se destacarem por causa da regata que usava. A garota desviou os olhos, obrigando-se a não dar atenção a algo tão fútil. Xingou mentalmente todos os palavrões possíveis, sem querer lidar com mais um garoto naquele dia.
— Como foi a aula? — ele perguntou, desanimado, sem sair da entrada.
— Eu te contarei todos os detalhes extraordinários de uma simples aula de herbologia, Ron, só me deixe entrar antes — ela resmungou com ironia, visivelmente cansada.
Ele entortou a boca, contrariado, mas se afastou do portal, deixando-a passar. Hermione e Harry estavam sentados nas poltronas perto da lareira, onde e Rony se juntaram, lado a lado, sentados no sofá. O clima parecia tenso, imaginou se eles estavam brigando antes de ela chegar.
Harry dobrou, apressado, um pequeno pedaço de pergaminho e enfiou dentro de um livro, deixando claro que não era para ver. A garota lhe devolveu o mapa, agradecendo pela ajuda, e não perguntou sobre o papel.
— , antes de você contar todos os detalhes do seu encontro com Cedrico… — Mione riu ao ver Rony Weasley trincar os dentes. — Tinha um papagaio na janela do dormitório, ele estava com esse pergaminho com seu nome.
Os olhos de brilharam ao ver o pedaço de papel na mão da amiga. Ela o pegou com ansiedade, desenrolando-o para ler na mesma hora.
— Eu não li, só peguei porque ele parecia estar com pressa, ficava bicando a janela sem parar — a garota completou.
— Obrigada, Mione — ela respondeu, sorrindo em agradecimento.
— Você tem um papagaio ao invés de uma coruja? — Rony perguntou impressionado. — Legal.
— Jack é bem divertido — ela respondeu, distraída, ansiosa para conseguir ler a carta. — Queria poder vê-lo, uma pena ele não ter esperado.
quase chorou ao ler a letra trêmula de seu pai.
“Querida ,
Meu peito dói de saudades. Alguns dias longe é tempo demais depois de quase uma vida distantes. Como estão as coisas? Já se meteu em alguma confusão?
Estou preocupado com Harry, ele tem sentido dores na cicatriz e isso não é bom. Diante disso e da saudade que estou da minha filha, decidi ir para o norte. Só ficarei tranquilo quando estiver perto de vocês. Não se preocupe, estou protegido, Dumbledore e Aluado têm me ajudado muito. Harry provavelmente já sabe que estou indo (mandei uma carta para ele também), mas continue guardando segredo sobre nosso parentesco, está bem?
Ah, irei precisar de Jack por alguns dias, prometo devolvê-lo em breve!
Confie em mim, pequena, eu confio em você. Para sempre, seu pai.”
engoliu em seco e secou os olhos quando terminou de ler a carta, sentindo seu coração bater tão forte que poderia quebrar sua caixa torácica. Sirius não podia vir, ele sabia dos riscos! Por que se arriscar por tão pouco? Harry parecia estar ótimo, e uma semana era pouco tempo para se desesperar e vir atrás dela, ela pensou. Ele ter ido para Londres já tinha sido uma loucura, agora para mais perto — sabe-se lá onde — era pior ainda. parou para pensar: se o homem escondeu sobre sua ida à Londres, quanto mais ele estaria escondendo?
Ela respirou fundo e fechou os olhos enquanto enrolava o papel, tentando não pensar algo ruim sobre seu pai. Seu objetivo era o contrário: provar que ele era um homem bom e injustiçado. Quando abriu seus olhos, se deparou com os três amigos encarando-a com ansiedade para saber o que tinha na carta.
— É do meu pai — ela falou, dando de ombros. — Só queria saber como estão as coisas e disse que vai precisar de Jack por alguns dias.
— Poxa vida, queria conhecê-lo! — Rony falou, fazendo uma careta.
— M-meu pai? E-ele é só um cara normal, p-por que iria querer conhecê-lo? — a garota gaguejou, visivelmente nervosa.
— Eu estava falando do Jack — Weasley retrucou, sem entender a reação da garota. — Está tudo bem? Aconteceu algo lá fora? Você está estranha.
— Está tudo ótimo — ela mentiu, já perdera as contas de quantas vezes contou aquela mentira naquele dia.
Ela finalmente reparou em Potter, em como ele não parecia nada bem e igualmente preocupado, as rugas em sua testa deixariam marcas no futuro. Cutucava freneticamente a sua cicatriz, pensativo e totalmente alheio à conversa. Ele se levantou, de repente parecendo furioso.
— Harry… — começou Hermione, parecendo cansada.
— Vou me deitar, vejo vocês amanhã. — E, batendo os pés, Harry subiu a escada até seu dormitório.
— O que deu nele? — perguntou, já imaginando a resposta. Os dois amigos se olharam, pensando no que responder.
— Problemas de família — mentiu Hermione, coçando a nuca. — Agora nos conte tudo sobre Cedrico!
Para poupar Rony, falou apenas o básico. Não se surpreendeu quando Hermione disse que já conhecia o feitiço de tradução, mas o ruivo ficou tão impressionado quanto a brasileira ficara.
Contudo, sem muito clima para ficarem conversando, logo eles subiram para seus respectivos quartos. Quando as duas já estavam deitadas, sentiu Hermione inquieta em sua cama.
— ? — a garota sussurrou, levantando um pouco a cabeça.
— Sim?
— Como é o seu pai? Ele também é um bruxo?
Black gelou com a pergunta de Hermione e se perguntou se as emoções do dia não iriam acabar nunca. se apoiou com o braço, levantando metade do corpo para poder enxergar a amiga. Ela a olhava com receio e curiosidade.
— Ele é sim — ela confessou, pensando que poderia falar um pouco da verdade sobre seu pai sem revelar quem ele era. — Um dos melhores que eu conheço.
— Uau — Mione respondeu. — E sua mãe?
— Ela… Faleceu há alguns anos — respondeu, ignorando o nó em sua garganta. — Mas não era bruxa.
— Eu sinto muito — Hermione disse com sincera tristeza na voz. — Seu pai é do Brasil?
— Não — a morena respondeu automaticamente, sem pensar.
— Ele estudou aqui, não foi?
Hermione perguntou como se já soubesse a resposta. O sorriso em seu rosto era de pura compreensão, e naquele momento soube que nada se poderia esconder de Hermione Granger. A garota sentiu certo alívio com a ideia de poder falar sobre Sirius com alguém, mas se perguntou se seu pai ficaria decepcionado por ela não ter guardado o segredo por mais de uma semana.
Como não respondeu nada, Hermione considerou o silêncio como uma confirmação.
— Eu sabia que Sirius não viria só por causa da cicatriz do Harry. Os tais “acontecimentos extraordinários”, era sobre você que ele falava — a jovem sussurrou, sorrindo. — Uau, Sirius tem uma filha! Jamais iria imaginar isso!
— Mione, por favor, não conte a Harry ou a Rony — implorou, se sentando na cama. Sua amiga também se sentou, olhando em volta.
— Abaffiato — a garota sussurrou com um aceno rápido e discreto da varinha. — Ninguém vai nos ouvir.
Então contou tudo, desde sua mãe até a condição que herdou dela, contou sobre as visões (sem mencionar a visão com Draco) e sobre Sirius ter voltado ao Brasil, detalhou o primeiro encontro deles e lhe mostrou a carta que ele mandou.
— Ele está vindo por minha causa — falou, apertando as mãos em pura ansiedade.
— Bom, se te serve como consolo, Harry está se sentindo igualmente culpado — Granger respondeu, lhe devolvendo o pergaminho.
— Ele não tinha mesmo que ter contado sobre a cicatriz. Ele não conhece meu pai? Impulsivo para caramba, sem ligar para as consequências quando o assunto envolve quem ele ama.
— Na verdade, nós também não tivemos muito tempo com ele — Hermione falou com chateação. — Ele saiu daqui e foi direto te encontrar. Não sabíamos que ele estava no Brasil.
— Mione… — sussurrou, mesmo sabendo que um feitiço as protegia. — Preciso que guarde segredo por mais algum tempo, está bem? Tentarei convencer Sirius a não vir para cá e preciso da sua ajuda.
— Conte comigo! — a amiga respondeu, animada. — Mas só amanhã, hoje estou exausta.
E sentindo a mesma exaustão, concordou e se deitou na cama, apagando no mesmo segundo.
A última aula do dia era a que deixava mais apreensiva. Severo Snape claramente não gostava dela (nenhuma surpresa, pois ela andava com Harry Potter e cia, e ele os detestava), e ela não fazia esforços para gostar dele. Das poucas coisas que Sirius Black contou sobre seus anos em Hogwarts, Snape foi uma delas, e ele não falou coisas boas.
— Na aula de hoje, iremos aprender sobre poções para curar mordidas de animais mágicos marinhos. Dumbledore acha que será importante — a voz grave e arrastada de Snape ecoou pela masmorra enquanto ele andava entre as mesas. — Em duplas, quero que abram na página 31 do livro Animais Fantásticos e Onde Habitam, uma exceção por conta do tema. Leiam o capítulo inteiro sobre criaturas marinhas de diversos lugares.
Rony imediatamente abriu na página solicitada e passava o dedo sobre as linhas e desenhos feitos por Newt Scamander. percebeu que era sobre esse livro que Cedrico falou no dia anterior, o que a fez viajar para as memórias daquelas poucas horas com ele na biblioteca, memórias essas que acalentavam seu coração ansioso…
— Olha, aqui fala sobre o Brasil! — Rony sussurrou, apontando, animado, para um parágrafo que falava sobre salamandras carnívoras que viviam na água doce e podiam mudar de tamanho, alcançando até três metros de comprimento ou encolher até três centímetros.
os conhecia de cor e salteado, sabia exatamente qual poção usar para o veneno daqueles animais traiçoeiros, já que seu próprio padrinho havia sido mordido por um enquanto nadavam no rio próximo ao Castelobruxo a alguns anos atrás. Se não fosse por seu vasto conhecimento em poções, provavelmente Remus Lupin não teria sobrevivido.
Aproveitando um minuto de distração da colega, Rony começou a desenhar na borda do livro. Primeiro fez flores, depois um peixe mal feito, mas foi interrompido enquanto escrevia a frase de uma música que o fazia lembrar da garota.
— Fala sério Ron, olha o que está fazendo no meu livro! — ela murmurou o mais baixo possível. — Eu adoraria o autógrafo do Newt, não o seu!
— Eu sou bem mais interessante que ele — o garoto provocou, dando um sorriso convencido.
— Weasley e , o livro está mais interessante do que minhas orientações sobre o que devem fazer?
Os dois amigos se olharam, assustados, antes de levantarem a cabeça e dar de cara com Snape os encarando de braços cruzados.
— Quer a verdade? — Rony respondeu. colocou a mão na boca, segurando o riso, mas Harry não se deteve e soltou uma gargalhada alta.
Eles perceberam o erro cometido assim que viram Snape fuzilá-los com os olhos. Ele caminhou até Potter, os braços cruzados com firmeza, e vociferou:
— Menos trinta pontos para a Grifinória! Dez de cada um! — abriu a boca para protestar, mas Snape apontou seu dedo comprido para ela. — Se reclamar, são mais trinta!
passou a aula inteira em silêncio, cochichando apenas quando necessário com sua dupla. Em um determinado momento de distração, se lembrou que a aula era com a Sonserina (os queridinhos do Snape), e arriscou um olhar pela sala. É claro que Draco a encarava enquanto seu colega fazia tudo sozinho. A mesma curiosidade de sempre estava ali, presente, só que dessa vez também tinha algo a mais. Ele pareceu estar com raiva, ou nojo, não soube dizer. Não era ela quem deveria odiá-lo? Por que parecia o contrário?
A poção para alergia causada pela escama do peixe-dragão era simples demais: algumas algas marinhas com frutas silvestres e lesmas, um clássico da bruxaria. O líquido espesso precisava ficar azul marinho com um brilho prateado, e assim ficou. Rony ficou extremamente animado e impressionado e disse que jamais conseguiria chegar em tal resultado sozinho, ficando eufórico pela expectativa de receber uma nota boa em Poções pela primeira vez em quatro anos (a contragosto de Snape). Granger e Potter também chegaram a um ótimo resultado, o que não agradou em nada o professor.
— É isso que vocês chamam de poção? — Snape exclamou, fazendo cara de nojo. pôde jurar que ouviu Draco rir alto, fazendo surgir um leve e breve sorriso no rosto do professor.
— Está exatamente como pede a descrição no livro, está vendo? — retrucou, apontando para a o parágrafo que dizia em detalhes como deveria ficar a aparência final.
— Você quer me ensinar a dar aula de poções, ? — Snape deu um tapa na mesa deles, assustando-os. — Se eu digo que não está bom, é porque não está bom! Vocês farão quatro metros de pergaminho explicando em detalhes como devem ficar cada preparação que tem neste capítulo.
— Quatro!? — exclamou Rony, indignado.
— Agora são seis! — Snape retrucou, dando as costas para a turma.
sentiu seu sangue esquentar enquanto guardava os materiais em sua mochila, reprimindo a vontade de atacar um livro pesado na cabeça de Snape. Quando finalmente foram liberados, o professor a deteve na porta, fazendo-a se irritar ainda mais.
— Sua aula acabou, senhor. Preciso ir para a próxima — ela falou, rangendo os dentes. não queria perder a razão, seus pais lhe ensinaram a sempre ser superior ao seu oponente e nunca esquecer a educação, mesmo que em certas situações fosse difícil demais se controlar.
— Prepotente como o pai, não é, Black? — ele falou, fazendo prender a respiração ao ouvir seu outro sobrenome. — Se acha tão esperta… Convivi anos com Sirius, pensou mesmo que eu não iria saber? Garota tola.
— Vá em frente, conte aos seus amiguinhos Comensais! — ela o desafiou, levantando o queixo o mais alto que conseguia para fingir não estar se tremendo inteira. — Acha que tenho medo de vocês? Eu sou filha de Sirius Black e Artemisa , sou da casa Grifinória! Coragem é meu segundo nome, Professor Snape.
O homem deu um sorriso irônico, reação a qual definitivamente não esperava.
— Sabia que esses olhos eram familiares — ele murmurou. — Confesso que eu não tinha certeza, mas você acabou de confessar. Parece que não é tão inteligente assim, Black.
Severo deu um passo discreto para o lado, deixando o caminho livre para sair da sala. Porém, as pernas dela não pareciam querer responder, tamanha era a frustração e o choque pelo que tinha acabado de fazer. Ela se sentiu a pessoa mais burra do mundo por entregar a informação de bandeja para um dos caras que mais odiava seu pai em todo o mundo bruxo, ao mesmo tempo que se sentia a mais desesperada. queria correr até não conseguir mais, queria fugir de Hogwarts e encontrar seu pai antes que fosse tarde demais. Ela queria bater em si mesma, sem piedade, pois ela não merecia misericórdia alguma. Foi uma péssima ideia vir para essa escola, o pai dela estava certo! E agora, por sua grande irresponsabilidade, ele corria grande risco.
E foi isso que fez: saiu correndo sem rumo algum. Desceu as escadas às pressas, passou pela enorme porta, quase atropelando alguns colegas da Corvinal, e foi para o jardim. Sentiu as lágrimas caírem, frustrada por não ter conseguido pensar em uma solução rápida. A essa altura, Snape já devia ter falado com os Comensais e eles não teriam piedade alguma com ela e seu pai, não mediriam esforços para encontrá-lo. Isso se já não tivesse encontrado, porque Sirius ainda não havia respondido o seu recado e ela não fazia ideia de onde ele estava.
estava tão distraída e corria tão rápido que foi jogada para trás quando bateu de frente com algo enorme. Ela não se lembrava de ter paredes ou rochas no meio do jardim, e quando olhou para cima, descobriu que não era nada disso, era apenas Hagrid com Canino latindo enlouquecido. O cão correu até a garota e, a pegando de surpresa, começou a lamber seu rosto enquanto ela se sentava. Hagrid também se aproximou com desespero e preocupação em sua face gentil, pedindo desculpas. — Não foi sua culpa, Hagrid. Eu que não estava prestando atenção — a garota disse, se levantando.
— Você está bem? — ele perguntou, ajudando-a. — Canino, deixe a garota em paz!
O cachorro sentou, abanando seu rabo enorme. sorriu para o cão, acariciando sua cabeça.
— Snape descobriu que sou filha do Sirius — ela confessou, sentindo um nó se formar em sua garganta. — Não sei o que fazer, Hagrid! Estou surtando! Acho que vou pedir para Dumbledore me expulsar… É, é isso! Vou falar com ele, vou encontrar meu pai e…
— Ei, ei, ei, pode parar! — Hagrid falou, se agachando para ficar próximo da garota. — Você não vai a lugar algum! Se tem uma coisa que admiro em Snape… Bom, talvez a única coisa que admiro nele, é sua lealdade a Alvo Dumbledore.
— Lealdade ao Dumbledore!? — A voz dela saiu esganiçada tamanha a indignação que sentiu. — Ele com toda certeza trabalha com os Comensais! Ele é um deles!
— , Severo não trabalha para Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado há anos, desde… — Hagrid se deteve, percebendo que falaria algo que não deveria ser revelado. — Bom, a questão é: se Dumbledore falar com ele, Snape não fará nada.
ponderou o que o professor disse, tentando decidir se confiava em suas palavras. Não que ela não confiasse nele, mas não confiava nem um pouco em Snape.
— Sabe o que você precisa? — disse Hagrid, se erguendo. — De um pouco de água.
— Obrigada, Hagrid, mas não estou com sede.
— Não é desse tipo de água que estou falando — o gigante respondeu, apontando para o lago ao lado deles. — Deve sentir falta de poder nadar como fazia no Brasil, não é?
O rosto da jovem bruxa se iluminou. A simples ideia de voltar a nadar a deixava eufórica. Hagrid segurou sua mão minúscula e a puxou em direção ao lago escuro e gelado.
— Vou estar em minha cabana se precisar de algo. E não se preocupe, ninguém vem por aqui nesse horário.
A garota tirou sua capa e esperou o gigante estar longe o suficiente para tirar o resto das roupas e entrar na água gelada apenas com as roupas íntimas. Fechando os olhos, ela tocou o colar, fazendo o objeto brilhar embaixo d'água. Duas fendas finas, parecendo cortes, se formaram em seu pescoço, possibilitando que a mesma inalasse a água como se respirasse o ar. O presente de sua mãe era muito mais que um simples colar; o objeto lhe permitia respirar embaixo d’água para que a garota ficasse o tempo que quisesse com sua família por parte de mãe, por mais que eles não fossem assim tão amigáveis com ela.
Aquela era a melhor sensação que sentira desde que chegou no colégio, mas mesmo se tentasse muito, não conseguia sentir a mesma liberdade que costumava sentir em Manaus. Aquele não era seu lugar, ela sentiu isso. Seu pensamento apenas se confirmou quando, ao nadar para mais fundo, enxergou um grupo de sereianos se aproximando. Eles eram bem diferentes de sua família ou de qualquer outra sereia que encontrava em seu país natal. As armas afiadas em suas mãos (facões e tridentes) a fizeram tremer. Como pôde esquecer das criaturas que moram no lago? É claro que Hagrid não esqueceu, e a aluna entendeu o plano do gigante quando se lembrou da vontade do homem de fazê-la conversar com os sereianos e convencê-los de participar de uma aula deles.
“Me desculpem, não lembrei que esse lago era ocupado”, ela falou, usando o colar para se comunicar com as criaturas, como fazia com sua família. Torceu para que eles entendessem.
“Você não é daqui.” o maior deles, parecendo ser o líder, se aproximou mais dela, sem largar seu tridente.
“Não, não sou. Sou do Brasil, aluna da escola Castelobruxo”
“Castelobruxo? E o que faz em Hogwarts?”
“Intercâmbio, passarei o ano inteiro aqui”
Os sereianos se olharam, desconfiados; eles não costumavam receber alunos ou outros bruxos além de Dumbledore e Hagrid. Mais dois deles, uma fêmea e um macho, se aproximaram do líder, empunhando a mesma arma em mãos.
“E você é uma bruxa?”, a fêmea perguntou, chegando mais perto ainda da garota. sentiu seu coração acelerar, xingando Hagrid mentalmente pela ideia. A sereiana tocou seu colar que ainda brilhava forte. “Como consegue nos entender?”
“Meu pai é um bruxo, minha mãe era uma sereia. Eu sou apenas bruxa, mas herdei muitos talentos da minha mãe.”
Um murmurinho se espalhou entre eles, surpresos. Eles a olhavam com tamanha curiosidade que deixou extremamente desconfortável.
“Eu vou sair, está bem? Não queria incomodar.”
“Não! Fique!” o líder falou, eufórico. “Esse colar… Há tempos não vejo algo assim.”
“Ah… Certo.”
“Você faz feitiços embaixo d'água?” o outro sereiano a interrompeu, encantado. Todos eles se aproximaram, formando um círculo em volta da menina.
“Nunca tentei…” respondeu, olhando em volta. “Eu realmente preciso ir…”
“Volte em breve!” a fêmea exclamou, mexendo em seus cabelos. “Ela pode voltar, pai?”
“Deve.” ele respondeu com firmeza, ainda olhando com certa curiosidade para o colar.
acenou e nadou de volta para a superfície o mais rápido possível. Ela tocou em seu colar e os cortes se desfizeram; em seguida, pegou sua varinha e, apontando para seu corpo semi nu, secou-se com apenas um movimento e um feitiço preciso. O céu já havia escurecido drasticamente, o que dificultava enxergar qualquer coisa em volta. Enquanto vestia sua saia, ouviu um barulho atrás de um dos arbustos altos e percebeu que não estava sozinha. Com a varinha firme em sua mão direita, ela girou o corpo, tentando enxergar no escuro.
— Lumos! — ela exclamou, e sua varinha se iluminou ao seu comando, entregando a silhueta que ela menos queria ver no momento.
— Então é esse o seu segredo, — Malfoy falou, saindo de trás do arbusto mais próximo e sendo iluminado pela luz azulada. manteve sua varinha apontada para o sonserino, que andava sem medo em sua direção.
— Do que está falando? Eu estava apenas nadando — ela falou, seu coração ainda acelerado. Ela temeu que ele tivesse visto a interação com as criatura marinhas, seria mais uma coisa para usar para provocá-la.
— Estou falando do seu corpo. Seu segredo é que atrás das roupas sem graça que usa, você esconde um corpo que… Bom, não é de se jogar fora.
— Você é nojento, Draco.
o olhou com raiva, sem acreditar no que ouviu. Ao mesmo tempo, ela quis dar um tapa na própria cara quando sentiu seu corpo esquentar ao perceber o desejo nos olhos azuis do garoto. Ele estava perigosamente perto, e se aproximava cada vez mais, sem se importar com a varinha ainda levantada em sua direção. A ponta dela encostou em seu peito, a luz sendo bloqueada pela sua camisa branca do uniforme. Então, apenas se virou para onde estavam suas botas na intenção de terminar de colocá-las de uma vez para ir embora, murmurando “Nox” para apagar a luz.
Se odiando com todas as forças, Draco mordeu os lábios enquanto observava suas pernas agora cobertas pelas botas, desejando conseguir se afastar da garota. Ela parecia ter um ímã que o fazia querer ficar cada vez mais perto, tornando impossível se manter longe. Em um lapso de loucura, o bruxo agarrou o braço de , fazendo-a ficar novamente de frente para ele.
— Ninguém dá as costas para um Malfoy. — E com uma rapidez impressionante, ele colou seus lábios nos dela.
Ah, céus. Draco achava que estava louco por desejar isso desde o dia em que a garota tropeçou na sua frente no trem. Mas ali, naquele momento, ele soube que estava realmente indo à loucura. E o fato de não ter se afastado e sim retribuído o beijo com voracidade e raiva, o fez perder a noção dos seus atos. Ele segurou seu rosto com um carinho que nunca pensou que ele teria, e ela se deixou levar pelo momento. Depois de toda a merda daquele dia, o beijo e o toque de Malfoy estavam sendo o auge. A língua macia de Draco lutando contra a sua, as mãos segurando firme o rosto dela… Odiava admitir que adorou cada segundo daquilo. Ela puxava os cabelos platinados do garoto, impedindo-o de se afastar um centímetro sequer. Mal sabia ela que ele não queria mesmo fazer tal coisa.
arfou quando os lábios do sonserino deram uma trégua aos seus próprios lábios, beijando seu rosto como se fosse a coisa mais delicada que já teve em suas mãos, causando-lhe arrepios e palpitações. Contudo, como se de repente criasse consciência, abriu os olhos e afastou Draco de si, irritada consigo mesma por ter deixado tal coisa acontecer quando deveria estar resolvendo problemas maiores. Beijar o suposto inimigo não ajudava em nada. Ela o empurrou com força com as duas mãos, o deixando frustrado e confuso.
— O que foi? — ele perguntou, tentando se aproximar novamente.
— Fica longe, Draco, é sério! — ela retrucou, esticando o braço e fazendo com que ele parasse onde estava. Os dois arfavam, tentando recuperar o fôlego, sem muito sucesso.
— Ah, vai agir como se não tivesse gostado do beijo? — o garoto questionou com uma risada irônica, levantando os braços com indignação.
Ela terminou de vestir a capa com pressa, sem olhar para ele e sem responder nada. Então se virou e começou a ir embora, mas Draco a impediu novamente, se metendo na frente dela com raiva nos olhos.
— Não finja que você não queria isso, , eu sei que queria tanto quanto eu ou não teria retribuído!
— A única coisa que eu quero de você, Malfoy, é distância! — ela exclamou a frase com irritação, como se não fosse uma das maiores mentiras que já contara. — Mantenha essas mãos nojentas bem longe de mim!
E, com passos firmes, saiu em direção ao castelo sem olhar para trás, sabendo exatamente o que iria fazer em seguida, algo que deveria ter feito desde o momento em que saiu da sala de Snape. Draco pegou uma pedra grande que estava na beira do lago e a jogou com toda a sua força contra a árvore mais próxima, dando um grito de raiva que assustou os pássaros em volta. Não conseguia acreditar em sua idiotice, achando que poderia ignorar o pedido de sua família e se divertir com ao invés de investigá-la. Se sentiu um tolo quando o pensamento “ela não é apenas diversão” passou por sua mente. Draco Malfoy, apaixonado? Até parece.
Passando, apressada, pelas mesas compridas do Salão Principal, caminhou em linha reta até Dumbledore. Ignorou seus amigos, que a chamaram quando ela passou por eles, e sustentou o olhar de Snape que acompanhava a garota até ela parar de frente para o diretor, interrompendo a conversa calorosa que Alvo estava tendo com a professora Minerva. Moody parou de cortar o seu bife e ficou olhando a cena com uma curiosidade. Era ridículo o quanto a garota tremia, o ar parecia não querer entrar em seus pulmões de jeito nenhum. Ela ficou em silêncio, perdendo toda a coragem de falar com o diretor assim que ele a olhou.
— ! Pensei que não iria jantar hoje! — o bruxo falou, sorridente, se abaixando para olhar a aluna. — Está tudo bem?
— E-eu… Preciso falar com você.
— Você está morrendo? — ele a questionou. — Alguém está morrendo?
— Bom… Eu espero que não, mas…
— Então acredito que dê para esperar o fim desse delicioso jantar, não é? — ele falou da forma mais doce possível. Seu olhar, no entanto, tentava alertá-la de algo. — Você precisa comer algo.
assentiu. Mesmo frustrada, ela entendeu o recado, então deu as costas aos professores após pedir licença, caminhando lentamente até a mesa da Grifinória. Não sentia um pingo de fome, muito pelo contrário, sentiu náuseas quando viu toda aquela comida surgir em seu prato.
— Onde você estava? — Harry perguntou, claramente preocupado. — Você sumiu depois da aula de Poções, aconteceu alguma coisa?
— Estava com Hagrid — justificou com mau humor, lançando um olhar para o gigante que devorava uma enorme coxa de frango. Não era totalmente mentira.
— Mas ele chegou há um tempão! — Rony a questionou, desconfiado.
— Tive que passar no dormitório… — ela respondeu, olhando significativamente para Hermione que soube no mesmo instante que acontecera algo relacionado a Sirius.
Hermione começou a tagarelar sobre as atividades das aulas do dia, reforçando que no fim de semana iriam se juntar para finalizar todos elas. Rony protestou, dizendo que não passaria seu sábado fazendo lições, já agradeceu mentalmente pela amiga ter mudado de assunto. Enquanto mexia em seu purê de abóbora sem a mínima vontade de comê-lo, passou os olhos pelo Salão e se deteve na mesa da Lufa-Lufa. Sempre encantador, Cedrico ria de algo que os colegas falavam. Os olhos dele pareceram brilhar ao perceber que ela o olhava. acenou com timidez, dando um sorriso leve. Diggory abriu um sorriso largo, acenando, animado, de volta. Com a confusão, ela esquecera completamente sobre as aulas com Ced. Ela então pegou um guardanapo e encostou a varinha no papel branco, onde apareceram as palavras “Me desculpe, não consigo te ver hoje. Amanhã serei toda sua, está bem? - ”. Com mais um toque da varinha, o papel dobrou-se em um origami perfeito e voou até o prato do lufano que leu a mensagem com um sorriso triste no rosto. Cedrico deu de ombros e sorriu largo, sinalizando que estava tudo bem. Rony bufou alto ao lado da garota e atacou o spaghetti que estava em seu prato, devorando-o com raiva.
As portas do Salão abriram com um baque alto e uma corrente de vento forte os atingiu, bagunçando os cachos de . Draco entrou marchando, fuzilando a garota com os olhos, sem desviá-los até chegar à sua mesa. Ele ignorou os amigos e continuou a encarando com raiva; tudo o que ela queria era cavar um buraco e se esconder nele.
Agradeceu aos céus quando a refeição acabou, ignorando os protestos dos amigos e correndo novamente até Dumbledore. Draco esbarrou propositalmente em seu ombro quando ela passou por ele na clara intenção de provocá-la. Juntando todas as suas forças, ela o ignorou e seguiu seu caminho.
— Será que podemos conversar agora, senhor? Por favor? — falou ao alcançar o diretor perto da saída lateral do salão. Dumbledore a olhou com curiosidade por cima dos seus óculos.
— Claro, vamos até meu escritório.
Seguindo o homem que era muitos centímetros mais alto, saiu sem olhar para trás, ansiosa para se afastar das confusões em que se meteu durante o dia. Se lembrou da última carta que seu pai enviou, perguntando se ela já tinha se metido em problemas. Ah, se ele a visse agora…
— Como posso ajudá-la, senhorita ? — Dumbledore perguntou, se sentando do outro lado da mesa.
— Snape descobriu que sou filha de Sirius — ela falou sem delongas, apertando as mãos em claro sinal de nervosismo. Explicou como tudo aconteceu enquanto o diretor a ouvia com atenção. — Ele já deve ter falado para os Comensais e agora com certeza eles já estão atrás do meu pai.
— — começou o diretor, tirando seus óculos meia-lua e cruzando as mãos em cima da mesa. —, Snape não é mais um Comensal.
— Você não acredita mesmo nisso, não é? — ela perguntou com indignação. Alvo apenas soltou um suspiro alto. — Meu Deus…
— Eu tenho meus motivos para acreditar que ele mudou de lado, . Motivos que não se cabem ao momento — ele respondeu com seriedade. — Seu pai está bem, estamos cuidando dele. Lupin tem mandado notícias, eles estão em segurança.
— Por que ele mesmo não me manda notícias? — ela questionou, chateada. — Estamos esperando há dias!
— Estamos? — Dumbledore perguntou, inclinando a cabeça. — Harry sabe sobre…?
— Não, não sabe — ela o interrompeu. — Mas tem mandado cartas para ele também e meu pai responde quando consegue. Mas já fazem dias e nada.
— Eu lhe garanto que ele está bem. Lembre-se que é arriscado demais ele ficar mandando cartas. Mas você será a primeira a saber se algo acontecer, já lhe disse isso. Confie em mim.
— Certo… — ela concordou, a contra gosto.
— Snape já havia me contado. Se ele fosse contar aos Comensais, acredito que não perderia o tempo dele me contando, não é?
— É… acho que não.
— Fique tranquila, Srta. . Apenas aproveite seus dias em Hogwarts, está bem?
assentiu e se levantou, pronta para sair da sala.
— ? — ele a chamou, fazendo-a se virar novamente. — Cuidado com o Draco Malfoy. Ele é um aluno genial, entretanto, não acredito que seja boa companhia para você.
engoliu em seco, se perguntando como Dumbledore sabia da aproximação dos dois. Ficou com isso martelando na cabeça enquanto ia para a Sala Comunal da Grifinória. Parou em frente ao quadro, desta vez com a senha na ponta da sua língua, quando foi abordada por Rony Weasley antes que a porta se abrisse. Ele estava com um suéter vermelho com a letra R, inicial de seu nome, bordado na frente. Ele segurava uma cesta de palha em uma das mãos.
— Já vai dormir? — ele perguntou, dando um sorriso torto encantador.
— Acho que sim, estou exausta — ela murmurou, também sorrindo. apontou para a cesta — O que é isso?
— Pensei em te levar para comer algo já que mal tocou em seu prato hoje — ele respondeu, dando de ombros e ficando com as bochechas ligeiramente coradas.
Ron esticou a mão livre e enrolou um dos cachos soltos de em seus dedos, sentindo a maciez dos fios contra sua pele. Ele daria tudo para sentir o aroma de seus cachos ou de seu pescoço, ou o sabor dos seus lábios. Era uma tortura ficar ao lado dela sem poder tocá-la como desejava.
mordeu o lábio, ponderando se deveria aceitar ou não o convite. Estava realmente exausta, mas não pôde mais fingir quando sentiu o estômago reclamar de fome. Então ela aceitou o convite, se permitindo se animar um pouco e fazendo Rony sorrir como uma criança que acabara de ganhar um presente. Ele soltou seu cacho apenas para segurar sua mão, puxando-a para longe do quadro. Usando o Mapa dos Marotos, os dois viraram vários corredores e subiram muitas escadas antes de chegarem em um canto da escola que ainda não conhecia. Era uma das várias torres do castelo, mas parecia estar abandonada e inutilizada. Ron esticou uma coberta comprida no chão empoeirado perto de uma das janelas da torre e se sentou, convidando para fazer o mesmo. A cesta estava repleta de pães e doces, com uma garrafa de suco de uva e duas taças de metal. O garoto acendeu algumas velas para iluminar o lugar.
— Como conseguiu tudo isso, Weasley? — perguntou, enfiando um pedaço de bolo de cenoura na boca e gemendo ao sentir o sabor. O ruivo ficou boquiaberto com a cena, incapaz de responder. — Ron?
— O-os gêmeos! — ele gaguejou, balançando a cabeça para sair do transe. — Meus irmãos sempre conseguem comida na cozinha, não sei como.
— Legal! — ela exclamou, sorrindo.
Ronald bebericou o suco sem tirar os olhos da garota, tentando criar coragem para perguntar o que ele queria.
— Então… Cedrico Diggory, hein?
A bruxa se engasgou com o suco quando ouviu a pergunta e teve que tossir algumas vezes para melhorar.
— O que tem ele?
— Ah, me diga você — ele retrucou, tentando não parecer tão ciumento quanto se sentia. — Acha ele legal?
— Sim, ele é legal — ela respondeu com uma risada. — Ainda não entendi onde você quer chegar, Weasley.
— Você gosta dele? Tipo, pra valer? — ele perguntou de uma vez, desviando os olhos. Rony se sentiu um idiota assim que as palavras saíram de sua boca.
— Ron, ele é só meu amigo — ela respondeu, sorrindo com ternura. — Já te disse, esse definitivamente não é o meu foco agora.
Ela mandou para longe as lembranças do seu beijo com Draco Malfoy, sabendo que aquilo foi apenas um surto de misturas de sentimentos acumulados e que não aconteceria de novo, de jeito nenhum. Ao invés disso, focou em Rony que estava na sua frente, com o mesmo sorriso fofo de sempre e os olhos brilhantes na luz fraca das velas. Era sempre muito divertido ficar com ele, o tempo passava deliciosamente rápido quando estavam juntos; fossem nas aulas ou nos tempos vagos. Com Rony, as coisas pareciam mais leves e simples, como se tudo fosse se resolver em um passe de mágica, e isso eles tinham de sobra. o adorava, com toda certeza. A última coisa que ela queria era ferir os sentimentos do ruivo por causa dos seus sentimentos conflituosos.
Os dois mudaram de assunto e continuaram comendo e conversando, revezando a comida com as gargalhadas que davam toda vez que um dos dois contava uma história engraçada ou uma piada muito ruim. Quando chegou a hora de ir, se surpreendeu quando desejou que a noite não acabasse ali. Os dois andaram na ponta dos pés e usaram novamente o mapa. Ao pararem em frente às escadas que levavam aos dormitórios, já na Sala Comunal, segurou a mão do amigo, impedindo-o de subir.
— Obrigada por hoje, sério. Eu estava precisando disso. Não só da comida, mas da distração.
— Eu que agradeço. Você é a melhor companhia de todas — ele respondeu, se aproximando dela e segurando seu rosto com as duas mãos.
prendeu a respiração e sentiu seu coração acelerar, pensando que estava prestes a receber o segundo beijo do dia e que, diferente do outro, ela realmente desejava que esse acontecesse. Porém, Rony apenas beijou sua testa, um beijo demorado e cheio de sentimento. Depois beijou a ponta de seu nariz e uma de suas bochechas, um beijo igualmente demorado... E se limitou a isso, dando um sorriso triste enquanto admirava a boca bem definida e levemente rosada da garota, deslizando delicadamente o polegar pelos lábios úmidos e quentes.
— Boa noite, — ele falou, bagunçando os cabelos dela que, como resposta, protestou, lhe dando um leve tapa no braço e deixando escapar uma risada.
— Boa noite, Ron — ela respondeu, correndo escada acima, desejando que Hermione e Gina já estivessem dormindo pesado.
E, para sua sorte, elas estavam, e pôde finalmente dar adeus ao dia mais confuso e complicado que ela já teve desde que chegou à Hogwarts.