Codificada por: Vênus 🌪️
Atualizada em: Jul/2024colocou os brinquedos na estante, virando o corpo.
E uma risadinha contagiante a fez sorrir mais do que de costume.
estava ali, parado à porta da brinquedoteca, com um sorriso travesso brincando em seus lábios rosados.
— Oi, tia !
Exclamou, não deixando de correr em direção aos braços da mulher que o afagou carinhosamente.
se abaixou para receber o abraço caloroso do garotinho, sentindo-se inundada por sua felicidade.
Deixou seu olhar cair sobre os cabelos dourados, os olhos azuis como o oceano e as bochechas rosadas pelo frio que fazia nas ruas londrinas naquele dia.
Foi impossível não sorrir ao vê-lo ali. Entre os pequenos que frequentavam o local, era um dos seus favoritos, sempre trazendo um sorriso ao seu próprio rosto cansado.
E, mesmo sabendo exatamente de quem ele era filho, tentava ao máximo esquecer o fato de que o casal quase sempre aparecia na brinquedoteca para levar o filho. Ambos em dias separados, claro.
sentia uma pontada de desconforto toda vez que ou vinham buscar . Não que ela não gostasse deles, pelo contrário. Eram pessoas amigáveis, simpáticas, sempre agradecendo pelo cuidado dispensado a . Mas, havia algo nas entrelinhas daquelas visitas que a deixava inquieta, algo que ela preferia não explorar e deixar que toda curiosidade fosse dissipada na atenção que podia dar ao garotinho.
De longe, observou a cabelereira loira da sra. sumindo pela entrada da Fun4Kids e, como de costume, não se surpreendeu com o fato. era uma modelo conhecida e parecia dar tudo de si pela sua carreira. Tanto que, poderia contar nos dedos quais os dias conseguiu trocar algumas palavras com a mulher, dando notícias de e suas atividades no lugar.
E , bom, parecia ainda mais ocupado do que ela. Fazia parte de uma banda famosa — que era encantada, vale lembrar — e algumas vezes que apareceu na brinquedoteca, veio carregado de fotógrafos e alguns seguranças.
Mas, por mais que admirasse de várias formas, precisava admitir que sua ausência na vida de era uma constante decepção.
Respirou fundo.
Apesar de tudo, sabia que não cabia a ela julgar as escolhas do casal.
Para ser sincera, só queria o melhor para , queria vê-lo feliz e amado, pois o garotinho merecia mais do que tudo. E não conseguia entender como alguém conseguia ser capaz de deixá-lo em segundo plano.
— Ei, — passou os dedos pelos fios loiros do menino, os ajeitando. — Como foi seu dia? Se divertiu?
recuou um pouco, seus olhos azuis brilhando de excitação.
— Foi incrível, tia ! Teve uma caça ao tesouro na escola e eu encontrei um tesouro de verdade!
— Caramba, , isso é demais! — respondeu, na mesma animação. — Você é um verdadeiro explorador, rapazinho. — Eu sou, né?
Ele assentiu, deixando uma risadinha escapar.
Deu uma última olhada para e saiu para brincar, outra vez. Desta, com um sorriso nos lábios, o mesmo de quando viu sua tia quando chegou à brinquedoteca.
Continuou a observar brincar por mais algum tempo, se deixando envolver pela energia contagiante do menino. Apesar de todas as preocupações que pairavam em sua mente, o sorriso radiante de era uma luz que dissipava qualquer sombra de dúvida.
Ele merecia toda a felicidade do mundo, e faria o possível para garantir que ele a encontrasse, mesmo que fosse apenas durante as horas que passava na brinquedoteca.
Enquanto continuava imersa dentro de sua própria cabeça, Joanna se aproximou, sua expressão séria provavelmente já adivinhava o que se passava na mente de .
— parece mais animado a cada dia que vê você aqui.
sorriu suavemente ao ouvir as palavras de Joanna, sentindo um calor reconfortante em seu peito. A presença de e a conexão especial que compartilhavam eram uma fonte constante de alegria em sua vida, e saber que ele se sentia feliz em sua companhia era um presente inestimável.
— Ele é uma criança incrível, não é? — respondeu, o olhar ainda fixo no garotinho. — Às vezes, parece que ele traz um brilho extra para este lugar.
— Seria ainda melhor se os pais dele pudessem ver isso. Não sabem o que estão perdendo ao não passar mais tempo com ele.
ficou quieta por alguns segundos, sentindo uma mistura de tristeza e compaixão.
— Não sabemos como é a rotina deles ao certo, Jo. E não quero julgar ninguém.
Joanna deixou os olhos caírem sobre . Claramente aquela era uma das coisas que mais admirava na amiga; a incrível capacidade de simplesmente ignorar as preocupações maiores em prol dos pequeninos que brincavam ali, e isso incluía os assuntos ligados à seus pais.
simplesmente ignorava qualquer que fosse a questão que pudesse magoar ou decepcionar as crianças, diretamente.
— Você tem razão, mas… Isso não é triste? — questionou. a olhou. — É difícil não sentir uma pontada de mágoa ao ver tão radiante aqui, sabendo que seus pais não estão presentes para testemunhar isso.
concordou com um aceno de cabeça, sua expressão refletindo um misto de compaixão e determinação.
— Sei como se sente, Jo. Mas, o importante é que estamos aqui pra ele, certo? E isso tem sido suficiente.
Joanna deixou o corpo descansar em uma das enormes almofadas coloridas e continuou a observar as crianças.
Notou brincando agitado com os coleguinhas ao redor e em como aquilo parecia deixar satisfeita só de ver.
— Ele parece estar se divertindo muito.
— Parece mesmo. Quase como se quisesse gastar todas as energias aqui — riu fraco, pegando uma bola plástica que havia sido jogada em sua direção, a devolvendo — É bom vê-lo assim.
— E, acho que o mais legal de tudo, é o fato de que, além de amar esse lugar, vocês compartilham uma conexão inexplicável. É lindo ver como vocês dois se entendem tão bem.
Um calor reconfortante se espalhou pelo peito de ao ouvir as palavras de Joanna. Se sentia ainda mais feliz em saber que era notável o quão cuidadosa e atenciosa ela era com .
— Obrigada, Jo — agradeceu, erguendo o corpo. ajeitou o macacão, que usavam como uniforme e olhou para a amiga. — Você também é uma parte importante disso tudo, sabe, não é?
Deu uma piscadela.
Joanna sorriu, ainda levando na brincadeira. Sabia o quão era grata por toda sua ajuda na Fun4Kids. Mesmo tendo se conhecido na empresa, há poucos anos, havia criado uma amizade para o resto da vida.
— Então juntas somos uma dupla imbatível.
Afirmou, arrancando uma gargalhada da mulher ao seu lado.
— Parece que sim — balançou a cabeça. — E essa dupla ainda tem muito o que fazer por hoje.
Joanna parou ao seu lado, assim que se levantou e deixou um sorrisinho animado surgir em seus lábios.
— Hora de colocar as crianças pra cansar!
Uma música tranquila ecoava os cômodos da Fun4Kids quase como se não fosse audível para quem quer que estivesse ali. Ao redor, várias crianças brincavam espalhadas pelo chão forrado com tatame colorido e macio.
estava sentada ao chão, da forma mais confortável possível e estava a seu lado, deitado de barriga para baixo, aparentemente concentrado em montar um Lego baseado em algum personagem da Disney, além de estarem cercados de blocos de construção e bonecos.
Só que, ao contrário de quando chegou, parecia um tanto cabisbaixo para o garotinho divertido que conhecia.
— Ei, , você está quietinho aí. Tudo bem?
continuou a olhar para as minúsculas peças.
— Ah, tia … Eu estava pensando…
— Hm… Você estava pensando em quê? — perguntou, interessada.
O garotinho suspirou, deixando o olhar cair sobre rapidamente antes de voltar a focar nos brinquedos.
— É que... Às vezes sinto falta de ter meus pais mais perto, sabe? Todos os meus amigos falam que passam o tempo todo com os pais deles, e eu…
pressionou os lábios e parecia forçar olhar para baixo, só para não ter que olhar para com seus olhinhos tão tristes.
E aquilo havia partido o coração de .
A mulher colocou uma das mãos gentilmente em seu ombro.
— Entendo, . É natural sentir falta dos seus pais, especialmente quando você vê outras crianças com os delas. Mas, você sabe que tem muitas pessoas aqui que te amam e cuidam de você, não é?
— Eu sei, tia . Gosto muito de você. Gosto muito de brincar com você também.
Sorriu de canto.
sentiu o coração aquecer com as palavras sinceras de e com o sorriso adorável que ele ofereceu. Ela se abaixou para ficar na altura do garotinho e segurou delicadamente suas mãos.
— E eu gosto muito de você também, . Brincar com você é sempre uma das melhores partes do meu dia.
— Sério?
Perguntou, já segurando uma risadinha. Seus olhos azuis brilhavam.
assentiu, um sorriso suave adornando seus lábios.
— Claro que é. Nós sempre nos divertimos muito, não é? Ainda mais com esse tantão de brinquedo.
assentiu animadamente, seus olhos transparecendo puro entusiasmo.
— Obrigado, tia . É muito legal ficar aqui com você. E montar tooodo esse Lego com você — ele abriu os braços, o que fez a mulher rir só de ver em como o simples o deixava extremamente feliz. — Você é uma das melhores tias do mundo, tia !
A mulher sorriu suavemente, se sentindo abençoada por momentos como aquele. Amava o que fazia, e conseguia amar ainda mais quando tinha crianças como junto de si.
— Não precisa agradecer, . Você também é muito especial para mim.
O garotinho pareceu não ter ouvido muito bem a última frase já que voltou sua concentração diretamente para as peças que se encaixavam minuciosamente.
o observou mais uma vez antes de se levantar e, assim que colocou os olhos no relógio, se deu conta de que logo já seria hora de ir para casa.
Não só ela, como também.
— Nos vemos na sexta!
Disse, para uma das crianças que se despedia arduamente ao passar pela saída da Fun4Kids, acompanhada de seus pais. permanecia ao lado da porta, observando cada uma delas ser recebida calorosamente por seus pais.
Mesmo ainda de pé, observava sentado em um dos banquinhos na recepção, onde costumavam ficar esperando seus pais na saída.
Percebeu que o garotinho já estava agasalhado e esperava pacientemente. Seu rosto exibia uma expressão tranquila, como se tivesse aceitado a ausência de seus pais sem questionar. E que, mais uma vez, estavam atrasados.
parecia resignado à rotina de esperar, como se fosse algo que ele já estivesse acostumado, mas sabia que por trás da fachada de calma, podia haver uma torrente de sentimentos e perguntas sem resposta.
Se perguntou o que sentia, sentado ali, vendo todas as outras crianças partirem com seus pais, enquanto os seus próprios pareciam sempre atrasados ou ausentes. Imaginou se ele se perguntava por que seus pais nunca chegavam na hora certa, ou se ele se preocupava se eles viriam buscá-lo.
sentiu seus olhos arderem levemente. Não achava justo com o garotinho, da mesma forma que também não queria julgar seus pais sabe-se lá o porquê.
Respirou fundo.
Sabia que, como cuidadora de , tinha a responsabilidade não apenas de cuidar dele enquanto estava na brinquedoteca, mas também de ser uma presença amorosa e confiável em sua vida, especialmente nos momentos em que seus pais não estavam presentes.
Justamente como aquele.
Com um suspiro suave, ela decidiu se juntar a ele, sentando-se ao seu lado.
— Oi, . Tá com frio?
Os olhos azuis do garotinho se redirecionaram para ela.
— Não, tia. Até que tá bem quentinho aqui — abraçou o próprio corpo.
sorriu para , apreciando sua inocência e resiliência diante das circunstâncias.
— Que bom que está se sentindo confortável.
Inevitavelmente, sentiu se aconchegando um pouco mais ao seu lado compartilhando o calor de sua presença enquanto esperavam juntos.
Mesmo o silêncio se passando, ainda que não desconfortável, havia uma conexão silenciosa entre eles, uma compreensão mútua.
E, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, a porta da brinquedoteca se abriu novamente, revelando a figura elegante de . notou imediatamente a expressão cansada em seus olhos, misturada com uma pitada de desconforto.
— Boa tarde, . Oi, !
— Boa tarde, .
respondeu com um aceno de cabeça, sentindo uma onda de empatia por . Sabia que não devia ser fácil para ela também.
sorriu, sem mostrar os dentes e se colocou de pé.
— Oi, mamãe.
— Sinto muito pelo atraso, meu amor. Prometo recompensar de alguma forma. Desculpe o atraso, , mais uma vez.
— Não se preocupe. Está tudo bem. estava se divertindo muito, não é, ?
O pequeno assentiu assiduamente.
balançou a cabeça, parecendo grata pela compreensão de .
— Fico feliz em ouvir isso. Obrigada por cuidar dele, . Até mais.
A expressão de era séria e direta, mas havia uma nota de gratidão em sua voz que apreciava.
Ela se virou para ir embora, mas logo se aproximou em abraçar a brinquedista rapidamente, antes de se despedir.
o envolveu em um abraço caloroso, sentindo o afeto do garotinho irradiar calor e carinho. Retribuiu o abraço com ternura, sabendo o quão importante era para sentir-se amado e cuidado.
— Até logo, . Tenha uma boa noite com a mamãe.
sorriu, seus olhos azuis brilhando com inocência e alegria.
— Tchau, tia . Obrigado por brincar comigo.
sentiu seu coração derreter diante da gratidão sincera de .
— Não precisa agradecer desde que eu te veja na sexta, hein?
assentiu animado e, com uma última olhada e aceno de , os dois se afastaram. Mesmo que a relação entre e fosse complexa, sabia que havia amor ali, mesmo que não fosse expresso da maneira mais tradicional.
Quando finalmente desapareceram pela porta, sentiu uma mão repousar gentilmente em seu ombro. Se virou para encontrar Joanna ao seu lado, com uma expressão pra lá de engraçada.
— Uh. Não consigo gostar dessa mulher.
— Joanna! — levou uma das mãos até a boca da amiga. As duas se entreolharam e começaram a rir. — Você tem que admitir que ela é uma figura intrigante.
— Intrigante é uma palavra educada para descrever . Mas sério, , às vezes me pergunto se ela tem algum tipo de emoção.
riu outra vez, sabendo que Joanna estava apenas expressando o que muitos ali pensavam sobre .
— Não sei. E é melhor não focarmos nisso agora, temos muito o que fazer antes de ir embora. Está vendo aquela sala? Você começa por lá.
— Eu?! — Joanna reclamou. — Argh. Tudo bem! Mas só porque você insistiu.
Deu uma piscadela, arrancando um sorrisinho de canto da amiga.
respirou fundo, pensando em vagamente.
Talvez a confusão da família fosse maior do que pensava.
