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Codificada por Lua ☾
Última Atualização: 15/02/25

Com exceção de você
Eu não gosto de ninguém no recinto
E eu não quero mentir
Mas eu não quero te contar a verdade
“Stop The World I Wanna Get Off With You”
— Arctic Monkeys —


O príncipe Daemon Targaryen retornara da guerra em Stepstones há apenas algumas voltas de lua, mas já estava irremediavelmente entediado. O grande baile de máscaras da Fortaleza Vermelha, oferecido por seu irmão — o rei Viserys I — para celebrar a chegada do novo ano e fortalecer alianças, era o evento mais aguardado das Terras da Coroa. Nos últimos dias, a corte inteira não parava de falar nem por um segundo sobre a celebração. Gostando ou não, Daemon tivera que vestir sua linda máscara de dragão e preparar-se para uma noite de formalidades maçantes. Jamais ligara muito para a importância daquelas festividades. Os bailes eram sempre iguais: cheios de lordes, damas e cavaleiros chatos e enfadonhos; todos querendo puxar o saco do rei para obterem mais riquezas, títulos e terras.
Horas de baile, e Daemon ainda não havia se acostumado a estar usando aquela máscara. Ele já tinha entendido que a peça era bonita. Ouviu isso de todas as mais lindas moças com quem dançara. Mas o fato era que a máscara não o transformava em alguém incógnito, afinal, era só olhar para ele, suas roupas e seus cabelos, e o mistério acabaria. Todos sabiam quem ele era, e todos o rodeavam porque queriam estar com o príncipe. Por um momento, sentiu falta de sua guerra em Stepstones e a glória por ter matado pessoalmente o príncipe Craghas Drahar.
Seus olhos vagaram até a jovem princesa Rhaenyra, que dançava com um lorde qualquer que gostaria de se tornar seu futuro marido. Desde que seu irmão havia nomeado a filha Princesa de Pedra do Dragão, a herdeira do trono, todos queriam isso. Agora, no entanto, eles achavam que tudo o que a princesa podia buscar era um bom marido, pois enxergavam o que ela não queria enxergar: que, no futuro, proclamariam o filho de Alicent como herdeiro do Viserys porque, diferente dela, Aegon era um homem.
Futuras guerras por vir… Daemon suspirou e encheu sua taça de vinho. Assim que deu o primeiro gole, seu olhar capturou uma figura enigmática em um deslumbrante vestido preto. Quem é aquela mulher?, perguntou-se de imediato. Como ele poderia não tê-la visto mais cedo? Talvez devesse ter prestado mais atenção.
O olhar penetrante do príncipe Daemon não passou despercebido por , afinal, estava olhando para ele. Era difícil não encará-lo. O homem estava lindo demais em suas vestes chiques que misturavam o vermelho e preto da casa Targaryen. E, deuses, bem sabia como ele havia ficado ainda mais bonito com aquele cabelo curto. Ela percebera no mesmo dia que o príncipe retornara de Stepstones. Não se falava de outra coisa nas cozinhas do castelo, então ela se obrigara a espreitar os corredores até que pudesse vê-lo para checar se era mesmo tudo aquilo que estavam falando. E era. Era melhor ainda.
Assim que se recuperou do pequeno choque inicial, desviou o olhar e se aproximou de uma das mesas, em busca de algo para beber. Escolheu o dourado da Árvore, justamente por ser um dos mais caros. Aquela era a sua noite especial, uma noite que jamais se repetiria. Precisava aproveitá-la ao máximo. Era uma plebeia, afinal de contas. Uma plebeia com um trabalho relativamente bom, já que trabalhar na Fortaleza Vermelha não era para qualquer um, mesmo sendo uma criada de cozinha. Tinha que deleitar-se em sua noite de dama nobre até o último segundo, pois quando os sinos tocassem, anunciando a chegada do novo ano, toda a magia se minguaria como a lua no céu; mas diferente dela, não voltaria a crescer e brilhar. Não era assim que funcionava com os plebeus.
Um tanto afastado, o príncipe ainda observava a mulher misteriosa bebericar seu vinho. Era intrigante demais. Levou a mão para trás da cabeça, para esfregar seu cabelo, agora curto; um pequeno hábito que havia adquirido. Ele não tirou os olhos da moça. Não ousaria, não depois de vê-la devolvendo-lhe o olhar por um breve momento. Por que não a reconheço?, questionou-se, por que nada nela me dá uma dica de quem pode ser?
bebeu aquele doce, doce vinho. Doce como os sete céus. Deuses, pensou, empolgada, eu nem preciso de sete desejos esta noite. Ela segurou um sorriso divertido, afinal, pareceria uma maluca se fosse vista rindo sozinha pelos cantos. Ainda mais quando fingia ser uma rica lady de alguma casa nobre. Provou algumas iguarias e saboreou o máximo possível aquele fino vinho. Foi então que percebeu que o príncipe ainda tinha seus olhos de dragão sobre ela, descaradamente encarando-a. O quê? Ele acha que vou caminhar até ele só por estar me olhando? Só porque ele é um príncipe?, pensou consigo mesmo, divertindo-se mais do que deveria. Ele que espere sentado.
E lá ele se manteve, sentado e a observá-la enquanto ela apreciava um bom dourado da Árvore. Boa escolha, avaliou. Daemon não se importava pela mulher misteriosa ter notado o seu olhar predatório. Ele queria que fosse assim. Esforçou-se para evitar um sorrisinho de satisfação ao admirar a curva dos lábios da garota enquanto ela bebia, quase delicada demais. Maldita seja. Ela o levaria à loucura se continuasse ignorando-o daquele jeito. Desejava saber se a sete vezes maldita lady de fato o ignorava ou se o fazia apenas para provocá-lo. No entanto, não queria ceder em seu joguinho pessoal e ir até ela para perguntá-la ele mesmo. Qual será o seu próximo passo, misteriosa lady?
A pergunta interna do príncipe foi respondida de uma maneira enviesada quando outra pessoa inesperada se intrometeu em seu caminho. Um homem, um pouco mais alto que ela, galante. Suas roupas não indicavam a que casa nobre pertencia. Poderia ser um lorde, um cavaleiro, um filho qualquer de algum fidalgo. A máscara não os deixava saber. Daemon queria saber se era um pretendente ou apenas um admirador. também.
— Ah, olá, meu lorde — ela cumprimentou-o com polidez enquanto largava a taça, agora vazia, sobre a mesa. — Ou seria Sor?
Os olhos dela vagaram de forma discreta até Daemon Targaryen, apenas para checar se ele ainda a observava. Uma sensação estranha se apossou dela ao perceber que sim. São as pequenas vitórias, pensou.
— Seria Sor, sim, sou um cavaleiro ungido — respondeu o homem misterioso. — Posso ter a honra de tirá-la para dançar, minha lady?
sorriu. Fora tratada como uma nobre a noite inteira, e ainda não havia se acostumado. Nunca se acostumaria.
— Ora, mas é claro, meu bom Sor.
pousou sua mão sobre a dele e o seguiu para a pista. Daemon dardejou-os com o olhar. A garota se movia graciosamente. E era, de fato, uma ótima dançarina. Seus olhos seguiram cada movimento e cada curva do corpo dela como um predador que tinha sua presa escolhida há muito, muito tempo. O vinho até tornara-se esquecido em sua mão, tamanho era o empenho em focar em sua pequena lady misteriosa. E , gostando da atenção, lançara olhares furtivos ao príncipe por cima do ombro de seu ótimo companheiro de dança.
Quando a dança acabou, o cavaleiro misterioso a agradeceu e a elogiou. Cavalheiresco como deveria ser. E outro homem cruzou o caminho dela logo em seguida. Um homem não, um garoto, mais jovem do que ela própria. Ela aceitou a dança, claro, seria estranho se não aceitasse e, até aquele instante, não havia motivo para negar. Mas aquele não era um companheiro de dança muito bom. Devia ter faltado às aulas quando criança. Malditos lordezinhos, xingou mentalmente. Ela, sendo plebeia, jamais tivera aulas como os fidalgos, mas o garoto nem para aproveitar a oportunidade servia.
Além de pouco habilidoso, logo suas mãos começaram a vagar por onde não deveriam. Deu mais uma olhada para o rosto do garoto enquanto dançava. Deuses, mesmo com a máscara, ela conseguia reconhecê-lo como um daqueles garotos afortunados da corte… do tipo que colocava as mãos sujas nas criadas. sempre detestou esse tipo de pequenos lordes. Ainda assim, continuou sua dança. Era o que o costume dos nobres exigia.
Até Daemon, que permanecia sentado em seu canto, conseguia ver o modo como as mãos daquele garoto se moviam para onde não deveriam. Ele tentava tocá-la, senti-la. Era só olhar para o rosto da mulher misteriosa para ver que ela não estava gostando nem um pouquinho daquilo. Deuses, que garotinho imundo, irritou-se Daemon.
Pelos sete infernos, essa música não vai acabar nunca?, pensou consigo mesma. Ela não era do tipo que desejasse a morte de pessoas da classe dela, mas nesse momento queria muito que o cantor se engasgasse até a morte para que ela pudesse parar de dançar com o futuro lorde idiota. Aquela maldita dança era capaz de transformá-la na mais devota das mulheres. Se pudesse, ficaria de joelhos e faria uma prece aos sete deuses por um milagre dos sete céus para salvá-la. Talvez eu devesse usar um dos sete desejos da tradição.
Daemon também resmungava mentalmente sobre a duração daquela música besta. E então passou a se questionar se não deveria ele mesmo interferir e acabar com a dança deles. Cerrou os dentes ao notar como ela tentava educadamente resistir aos avanços do garoto mascarado. Mas educação não levaria a nada com aquele idiota. Estreitou os olhos e apertou a taça com força. A canção continuava a ecoar pelo Grande Salão, o som dos instrumentos enchendo o recinto de alegria para alguns, e raiva para outros. Daemon poderia facilmente ir até lá e puxá-la para longe. O jovem rapaz teria que ceder. Ninguém diria não a um príncipe. Ainda mais se tratando de Daemon Targaryen.
Depois do que lhe pareceu uma eternidade assistindo àquela cena incômoda, o príncipe se levantou. Ele bateu a taça de vinho contra a mesa. Não aguentava mais. Precisava afastá-la daquele… porco. Tinha que intervir o quanto antes.
Enquanto isso, tentava se esquivar pela milésima vez de outro toque indesejado do maldito lordezinho idiota. Se ela estivesse no meio de uma taverna, já teria dado um belo soco na cara dele. Mas aqui não era , a plebeia; era uma moça nobre que tinha que se ater aos bons costumes… mesmo que a tratassem mal. A lógica dos malditos nobres a fazia querer revirar os olhos.
O príncipe Daemon se aproximava no momento em que o garoto escorregava sua mão até os quadris da mulher misteriosa. Aquilo foi demais. Daemon deu um tapinha no ombro dele, um toque um pouco mais forte do que o necessário.
— Chega — falou em um tom que não abria brecha para discussões. Ele não estava nada feliz. — Isso já foi longe demais.
— Me-meu príncipe? — o garoto tropeçou em suas próprias palavras.
não falou nada. Apenas ergueu os olhos para fitar o belo príncipe parado ali com uma cara de poucos amigos. A curiosidade brilhava nos olhos dela como fogo de dragão.
— Você está incomodando a moça — sibilou o príncipe, sua expressão severa. — Suas mãos estão vagando por onde não deveriam.
— Meu príncipe — interviu ela, exageradamente cordial. — Só estávamos dançando, nada mais.
Ela forçou um sorrisinho. Era uma grande mentira, os três sabiam bem disso, mas seria educado da parte dela tratar do assunto daquela maneira. E não queria nenhuma briga ou cena que chamasse atenção indevida. Ninguém poderia descobrir que ela era uma impostora, ou toda a magia da noite se apagaria como uma vela assoprada por alguém.
— Vá! — Daemon ordenou ao garoto, oferecendo sua mão para a mulher. — Eu assumirei a partir daqui.
— Si-sim, é claro, meu príncipe — gaguejou outra vez, corando levemente.
assistiu o lordezinho idiota tirar suas mãos sujas de cima dela como se ela tivesse contraído escamagris de repente. Contente por vê-lo, enfim, se afastar, a garota pegou na mão de Daemon, o aceitando como seu próximo par de dança.
— Meu príncipe — cumprimentou educadamente e inclinou a cabeça em um sinal de respeito.
— Minha lady — respondeu com um aceno de cabeça.
Ele segurou a mão enluvada e não pôde deixar de se perguntar se a pele da garota era tão macia quanto aquela luva preta. Talvez fosse. Tudo nela parecia combinar, então por que isso também não combinaria? Até a pequena pérola da luva, na altura de seu pulso, combinava com o modo como seus olhos brilhavam. Daemon posicionou-se para dançar, antes que fosse acusado de estar a encarando por muito tempo. Repousou as mãos na cintura dela, onde deveriam ficar durante uma dança. E então eles começaram a dançar e a maldita canção sem fim agora parecia sete vezes bendita.
— Então você viu aquele garoto me incomodando e decidiu que era a sua hora de bancar o príncipe charmoso que vem resgatar a donzela em apuros? — alfinetou, com um pequeno sorriso nos lábios.
— Aquele garoto tinha as mãos passeando sobre você como se o seu corpo fosse a maldita Estrada do Rei. — Daemon a segurou perto enquanto se moviam com a música, seguindo o ritmo. — Eu apenas intervim para te salvar dele.
— Então veio mesmo me resgatar — notou. Apesar da diversão, suas palavras tinham um tom afiado. — E agora, meu príncipe? Devo lhe agradecer?
— Deveria me agradecer, sim — respondeu, sem esconder a presunção.
De olhos fixos nela, esperou pela reação. Não sabia o que viria a seguir, afinal, não a conhecia — ou ao menos acreditava que não. Deuses, ela estava tão próxima, que era impossível não pensar sobre isso. Ele podia inalar o perfume dela, e aquilo, de algum modo, incendiava seu corpo.
— Eu lhe agradeço educadamente, meu príncipe. Me ajudou, de fato. Aquele garoto estava me irritando — admitiu ela. — Embora eu não precisasse de você para me salvar.
— Bem, eu não ficaria parado assistindo àquele porco com as mãos onde não deveria. — Ele bufou.
— O Rei do Mar Estreito… Foi assim que se chamou, não? O rei de… sei lá o quê… agora se preocupa com moças sendo tocadas por jovens garotos na frente dele? — provocou. — E não apenas com sua guerrinha particular em Stepstones?
Daemon estreitou os olhos e cerrou a mandíbula. Ele a segurou mais firme, seus corpos mais próximos, porém ainda mantendo a distância social. Tecido do vestido, tecido das luvas… Deuses, o príncipe só queria tocar a pele dela, ainda que suas palavras fossem cortantes.
— E por que não me preocuparia? Homens passando a mão onde não devem em momento inoportunos quando a garota claramente não está gostando…? É patético! — Revirou os olhos. — E sim, eu passei anos lutando em Stepstones. E daí? Alguém tinha que lutar.
— E daí… nada. Eu particularmente tenho um grande interesse por guerreiros — ressaltou. — O que não significa que eu goste de você, é claro.
— É claro — disse. — Então por que dançar comigo?
A moça era agressiva. Daemon gostava disso. A música que parecia infinita agora se aproximava de seu fim, mas ele não tinha a intenção de se afastar até que fosse absolutamente necessário.
— Não é como se eu tivesse escolha, é? — Sorriu, espirituosa. — Eu prefiro estar com um homem do que com um garotinho idiota. E, no fim das contas, você é o príncipe. Eu não posso simplesmente dizer não para o príncipe nesse tipo de situação social.
— Como se não tivesse escolha? Você poderia ter deixado a pista de dança — indicou, com um pequeno sorriso nos lábios. Seus olhos desceram, admirando a maneira como vestido caía sobre sua forma, assentando-se às pequenas curvas. Ele apertou mais as mãos na cintura dela. — O pequeno idiota tinha toda a sua atenção. Você parecia ansiosa para entretê-lo.
— A canção teve seu fim — disse ela, ignorando momentaneamente as observações dele. — Dançaremos outra?
— Você quer isso? — perguntou ele.
Seus corpos mantinham-se próximos, ainda que não dançassem. Daemon queria dançar outra música. Deuses, ele dançaria todas as canções da noite com ela se fosse possível. Era uma ótima desculpa para segurá-la perto dele sem levantar suspeitas. Assim, poderia continuar a sentir o calor do corpo dela através de suas roupas.
Você quer, meu príncipe? Porque eu sou apenas uma garota inocente nos braços de um homem mais velho. — Levou uma das mãos à testa, fingindo desfalecer. — Que escolha uma ladyzinha como eu poderia ter?
— Tem uma boca bem grande, não é, ladyzinha? — comentou. Era ele quem deveria ter o controle da situação, não ela. No entanto, não conseguia evitar sentir-se atraído pelos seus comentários atrevidos. — Pode continuar dançando ou ir embora.
— Você também pode continuar dançando ou ir embora — salientou. — Veio me resgatar, meu príncipe, e já teve sucesso. Quer ficar e dançar?
— Sim, eu posso ficar — cedeu. Ele não estava pronto para deixar o momento acabar, não antes que ele se deleitasse com cada pequena parte.
— Então eu também posso ficar. — Sorriu de lado, vitoriosa.
— Bom — disse ele.
Eles voltaram a dançar, sempre respeitando as distâncias necessárias. estava gostando daquilo muito mais do que seria saudável. Daemon também. Ele gostaria de entender o que havia nessa mulher misteriosa que o atraía tanto. O cheiro de mel e flores que exalava dela era, com certeza, uma das coisas. Mas nem de longe era a única.
— O que foi que estava dizendo antes? — perguntou ela. — Ah, é mesmo. Você acabou de dizer que eu parecia ansiosa para entreter aquele garotinho idiota… É isso o que pensa de mim, meu príncipe?
— Não — disse ele —, mas você parecia bem apegada ao idiota.
— O que quer dizer com apegada? — ofendeu-se e o príncipe riu. — Diga!
Ele a puxou para perto, talvez perto demais, porém não se importou.
— Sabe bem o que quero dizer — falou, sua respiração batendo na bochecha dela. Assim podia sentir ainda mais seu cheiro inebriante que o deixava completamente intoxicado por ela. — Estava lá, dançando com ele.
— Não tive outra escolha a não ser continuar dançando. Eu tenho bons modos — defendeu-se. A verdade era que não podia fazer uma cena porque temia que os nobres descobrissem sua verdadeira identidade e a expulsassem.
— Bons modos… — Ele quase riu. — Então foram as boas maneiras que a compeliram a manter-se dançando com aquele garoto nojento? Quão… nobre da sua parte.
— Ah, sim, muito engraçado. — Ela revirou os olhos. — Não é nobre no sentido que a palavra merece, nisso você está certo. Mas é tão nobre quanto as outras pessoas nobres daqui — cuspiu as palavras. tinha um desdém pelos fidalgos e suas vidas como qualquer pessoa do povo comum deveria ter.
Daemon fixou o olhar em seus olhos espertos. Uma garota nobre falando assim, refletiu ele. Era impossível não notar uma antipatia pela nobreza no modo como se referia a eles. Era algo que o príncipe, por mais que quisesse, não podia deixar de admirar.
— Sinto que não é muito a favor dos nobres e seus… estilos de vida — comentou.
Nossos estilos de vida — corrigiu-o, incluindo os dois na equação. Era melhor garantir que não seria deixada de fora dessas menções, afinal, nem ele e nem ninguém ali sabia que ela não era da laia deles. — E não, não sou. Um garoto idiota pode colocar as mãos onde não deveria durante uma dança social, mas uma garota não pode fazer nada para impedir? Que belos e nobres modos!
O príncipe Daemon assentiu, um sorriso surgindo no canto dos lábios como o sol em uma gélida manhã.
— Como sugeriria pará-lo, então? — Suas mãos cravaram-se na cintura dela, mantendo-a firme contra ele, bem perto enquanto dançavam. Inspirou profundamente, ainda intoxicado pelo seu cheiro.
— Quer dizer… o que eu estava me segurando para não fazer aqui no meio do Grande Salão? — verificou. — Eu honestamente estava querendo dar um soco na cara dele.
— Ah, é? — O príncipe riu. — Queria mesmo dar um soco nele?
— Você não? — rebateu ela. — Do jeito que olhou para o pobre garoto, tenho certeza de que ele pensou que o cortaria ao meio.
— Talvez se eu tivesse a minha espada comigo — brincou. — Me pergunto o que você teria feito se eu não estivesse aqui.
— Infelizmente, não teria feito nada. — Ela fez um beicinho, descontente. — Se estivéssemos em uma taverna, eu poderia simplesmente ter batido nele e ninguém se importaria muito. Mas não aqui.
— Ah, uma garota de taverna… — notou. — Está acostumada com tavernas, então?
— Não, eu nunca…! — Ela parou de repente. Se continuasse, ele a pegaria na mentira, então transformou sua fala em uma meia-verdade. frequentava tavernas, vivia ao lado de uma, mas ele não precisava saber dessa parte. — Devo confessar, meu príncipe, que já saí furtivamente uma vez ou outra para visitar uma taverna enquanto fingia ser uma pobre garota da cidade.
— Sair furtivamente para tavernas? — disse ele. — Por que, nos sete infernos, uma pequena lady como você faria uma coisa dessas?
— O que foi? — Estalou a língua. — Uma pequena lady não pode ter um pouquinho de diversão?
— Uma pequena e nobre lady, visitando uma taverna da cidade por vontade própria… — Seus dedos deslizaram pelo material sedoso do vestido dela, ainda na altura de sua cintura. Ele queria sentir mais do que aquilo. Queria sentir a pele macia e quente da garota sob seus dedos. — Você é realmente estranha.
— E você não parece desapontado — denotou.
— Talvez eu goste de mulheres um tanto… afiadas. — O sorriso nunca deixou seus lábios.
Claro que gosta. — revirou os olhos, mas não pôde esconder o sorriso que iluminava seu rosto. — Vi você uma vez quando estava na taverna.
Era verdade. Obviamente não era uma senhora nobre fingindo ser uma garota pobre. Era uma plebeia bebendo um corno de cerveja na taverna ao lado de onde morava. Estava sendo apenas ela mesma. Então reconhecera o príncipe sentado na outra mesa. Algo nela chamara a atenção dele, que viera até ela. No início, pensara que ele a teria reconhecido como uma criada das cozinhas do castelo, mas logo percebera o óbvio: que os nobres, sejam eles da família real ou não, tendiam a não prestar a mínima atenção aos criados que o serviam. No entanto, o príncipe demonstrara-se interessado nela, mesmo sendo claramente uma qualquer. , porém, não deixara nada acontecer entre os dois. Achara-o muito velho para ela na época. Agora, que era mais velha, pensava diferente.
— É mesmo? — perguntou ele, tomado pela curiosidade. — Quando?
— Antes de Stepstones — revelou. — Por quê? Está tentando descobrir quem é a jovem garota por trás da máscara?
Sim, ele estava. Deuses, ela é tão linda, pensou. Seu olhar mantinha-se fixo nos olhos dela, admirando-os do jeitinho que mereciam.
— Nós temos uma conexão? — indagou, interessado.
— Não sei, meu príncipe, nós temos? — provocou.
Um calor lhe subiu o corpo. A garota era, de fato, ousada. E Daemon gostava disso. Gostava muito. A aparência dela, o modo como o seu corpo parecia se encaixar no dele enquanto dançavam. Deuses, o príncipe desejava levá-la para os seus aposentos o quanto antes. E o pior era que ele ainda nem sabia quem ela era.
— Acho que sim, minha lady — respondeu.
— Está falando de agora? — Suas mãos apertaram os ombros dele. — Ou do passado, naquela taverna?
— Ambos — falou antes que pudesse se conter. Era difícil pensar direito quando ela o tocava daquele jeito, para mostrar que também tinha um certo poder sobre ele, e não apenas o contrário.
— Hmm, isso é interessante. — Ela umedeceu os lábios. — Nós nunca fomos para a cama, caso esteja se perguntando isso sobre o nosso passado. Foram apenas olhares trocados e algumas palavras suas.
— É uma pena — disse em voz baixa, seu coração acelerou. Sete infernos, como ele a queria.
— Que eu não tenha caído nas suas conversas e me entregado a você? — sugeriu.
— A parte de não cair nas minhas conversas eu poderia perdoar. — Uma de suas mãos se moveu para as costas dela, segurando-a firme perto de si. O príncipe quase ignorava o fato de estarem dançando no meio do salão com dezenas e dezenas de olhos atentos sobre eles. — Agora não ter ido para a cama comigo, isso é uma verdadeira pena… a maior de todas até agora.
— Ah, você realmente acha? — O sorriso de se alargou. — Você nem sabe quem eu sou.
— Por isso mesmo é uma pena — falou. Era tão frustrante quanto atraente o modo como ela parecia querer mantê-lo no escuro sobre sua identidade. Quase como um jogo. E Daemon estava decidido a descobrir quem ela era, uma hora ou outra. — Por acaso, você não vai me contar, vai?
— E para onde iria toda a diversão se eu te contasse? — Ela riu.
De algum modo, as provocações o faziam desejá-la ainda mais. Seu olhar vagou até os lábios convidativos da garota e, em um movimento automático, o príncipe inclinou-se para frente. Ele só queria arrancar a máscara dela, revelar seu rosto e nome para a corte inteira. E então a levaria para os seus aposentos e faria tudo o que pudesse com ela até o nascer do sol do novo dia, do novo ano.
— Eu farei valer a pena a perda da diversão — murmurou.
— Não tenho certeza de que você faria — importunou. — Para ser honesta, estou um pouco surpresa com o que está acontecendo entre nós. Pensei que nunca superaria a jovem princesa Rhaenyra.
Os músculos do príncipe se retesaram e ele estreitou os olhos.
— Como sabe disso?
Como ela sabia? Fofoca da criadagem da cozinha, óbvio. Se trabalhasse fora da Fortaleza Vermelha não saberia de tanto. Ainda assim, podia apostar que algo ainda chegaria até ela; ao menos se tivesse os amigos certos — e ela tinha. Contudo não podia dizer isso a ele.
— Se surpreenderia com as coisas que um bom ouvido atento pode ouvir por aí — foi enigmática.
O príncipe não gostou. Não queria saber da princesa naquele momento. Puxou a mulher misteriosa contra si com mais ímpeto para que ela o sentisse de verdade e percebesse que era ela quem ele estava querendo agora.
— Não estamos falando da minha sobrinha — avisou, entredentes.
— Foi o que eu pensei — sussurrou em seu ouvido. — Sempre terá uma coisa com a princesa Rhaenyra.
A verdade era que não se importava com isso. Apenas tocara no assunto para provocá-lo, incomodá-lo. Ela gostava do jogo, talvez até amasse. Era divertido. E as respostas de Daemon demonstravam que o joguinho valia a pena.
— Está sendo atrevida com a sua boca — alertou-a, os lábios quase tocando sua orelha. Se ela não parasse, o príncipe tinha certeza que seria capaz de beijá-la bem ali, no meio do Grande Salão. Que se foda as consequências, pensou. A mulher o enlouquecia.
— Eu sempre sou atrevida com a minha boca — respondeu com um sorriso.
O príncipe mexia com ela, agora mais do que nunca. Sua respiração acelerada a denunciava. Ele afastou-se apenas um pouquinho para poder olhá-la nos olhos outra vez.
— Terei que usar a minha boca para calar a sua, minha lady? — questionou mais baixinho ainda. — Seria esse o único jeito de te fazer parar de falar?
— É uma pena que não possa fazer isso bem aqui. — Um sorrisinho travesso brincou em seus lábios. — Seria muito divertido ver você tentar.
— Ah, seria mesmo divertido te calar, pequena lady. — A mão dele moveu-se pelas costas dela, apertando, já que esse era o único jeito de tocá-la naquele momento. — Fazer você, enfim, parar de tagarelar…
Seus olhos vagaram para a boca dela. Ela sabia exatamente o que fazer ou dizer para atiçá-lo. Era incrível. E ele estava cada vez mais tentado a capturar os lábios dela e fazê-la se calar. Não por realmente querer calá-la — não queria, gostava do efeito que suas palavras tinham nele —, mas porque desejava beijá-la e senti-la mais do que nunca. Queria ver as reações da mulher aos seus toques.
— Seria, não seria? — Mordeu o lábio inferior, sedutora. — Ah, olha só, a canção acabou. — Eles pararam de dançar. — Foi um prazer dançar com você, meu lindo príncipe.
— A música pode ter acabado, minha lady — disse ele, sem soltá-la. — Mas não estou pronto para te deixar ir embora.
Sua voz soara quase desesperada, porém, pela primeira vez em muito tempo, ele não se importou nem um pouco.
— Que tal se tomássemos um vinho, então? — propôs. — Eu amo dançar, amo mesmo, mas já dancei demais hoje. Não voltarei à pista até que os sinos toquem.
Os sinos, pensou Daemon. Ele poderia se agarrar a essa esperança. Se ainda não tivesse descoberto a identidade da mulher misteriosa, quando os sinos soassem, anunciando o fim deste ano e a chegada do próximo, descobriria quando os sinos tocassem. Só tinha que ficar ao lado dela até a hora chegar. Tinha certeza de que não faltava muito agora. E não era como se estivesse fazendo nenhum sacrifício. Se possível, queria estar ao lado dela até que o sol nascesse pela manhã.
Deuses, o que estava acontecendo com ele?

Se você estiver pronta, estou disposto e apto
Ajude-me a colocar minhas cartas na mesa
Você é minha e eu sou todo seu
“Lay Your Hands On Me”

— Bon Jovi —


O humor do príncipe Daemon Targaryen avivou-se por saber que a garota misteriosa também queria ficar perto dele. Tudo se tornava mais apetitoso quando era recíproco.
— Vamos tomar uma taça de vinho, então.
Ele afastou seus corpos, mas ainda manteve a mão sobre a parte inferior das costas dela enquanto a levava para a mesa mais próxima. Apenas escolhera aquela porque estava vazia. De outro modo, teria a feito andar mais até outra mesa em que eles pudessem ter uma privacidade fingida.
— Ou duas taças — acrescentou em um tom cantado. — Ou três, ou quatro…
— Podemos compartilhar quantas taças de vinho você quiser — disse a ela com um sorriso. — E mais.
Seu polegar esfregou as costas da garota através do material do vestido. Seus dedos queimavam com o impulso de tocar sua pele nua. Seu âmago queimava por isso, por ela. Era cedo, porém.
— Então me sirva a minha primeira delas — pediu ela. queria saborear o prazer que era um príncipe a servir, em vez de ela ser quem os servia, como sempre fora. Seria a única vez na vida, isto era certo, mas ficaria para a memória.
O príncipe sorriu. Jamais negaria o pedido. Levou-a até a mesa e puxou uma cadeira para ela. Assim que assentou-se no lugar, ele colocou outra cadeira ao lado dela e sentou-se também.
— Qual vinho você gostaria, minha lady? — Daemon olhou bem para ela, deixando seu perfume o preencher outra vez. Estavam sentados quase perto demais, mas ele achava que ainda não era perto o suficiente.
— Permitirei que faça a escolha, meu príncipe — concedeu.
— Que tal um dourado da Árvore? — Ele pegou a jarra de vinho mais próxima.
— É o melhor — aprovou. E um dos mais caros, acrescentou em pensamento.
— Aprecio o belo gosto que tem, minha lady. — Sorriu ao servir uma taça para ela e outra para ele. — Notei que bebia este vinho em específico quando te vi pela primeira vez.
— Ah, então vai admitir que, de fato, estava me encarando todo aquele tempo — disse ela. — Eu aprecio o gosto do dourado da Árvore.
— E por que não admitiria? Não poderia esperar que eu não olhasse. — Deu uma boa olhada para ela, demorando-se mais do que o necessário em seus lábios suaves e delicados. — Estava observando você, querendo saber quem era esta mulher misteriosa. Ainda quero, a propósito. — Fitou aqueles lindos olhos como se fosse capaz de ver por trás da bela máscara. — Então não tinha como não notar que estava bebendo um bom dourado da Árvore. Preciso admitir que você tem, de fato, um bom gosto, minha misteriosa lady.
Ele gostou do som das palavras saindo de sua boca. Continuaria chamando-a assim até que ela se cansasse e pedisse para ele parar.
— Gosto de coisas doces de vez em quando, meu príncipe — reconheceu. — Embora deva ter notado que, por vezes, posso ser um tanto amarga com minhas palavras.
— De fato. — Ele abriu um sorriso largo. — Tem uma língua espirituosa, misteriosa lady.
— E você parece gostar. — Ela tomou dois ou três golinhos de seu delicioso vinho doce.
Daemon voltou a posicionar sua mão na parte inferior das costas dela, entre ela e a cadeira. O príncipe se viu desejando saborear os lábios macios e carnudos da garota. Queria saber se eram tão doces quanto um dourado da Árvore, ou se eram ainda melhores. Deuses, como ele queria!
— Eu não me importaria em provar para ver se gosto mesmo — sussurrou e bebeu um gole do seu vinho, sem tirar os olhos dela.
riu. Ela não pôde evitar. Setes infernos, ele era tão… atraente.
— Tenho certeza de que não faria isso. Não aqui. Mas, se quer saber… — hesitou, preparando o seu melhor tom desafiador. — Acho que eu também não me importaria se você provasse.
O príncipe sorriu em resposta, e então umedeceu seu lábio inferior. A mulher lhe dava cada vez mais abertura, e ainda o desafiava a fazer coisas que não deveria. Era perfeito. Ele só tinha que manter a luxúria sob controle, ao menos mais um pouquinho.
— Estou feliz que concordamos, minha misteriosa lady.
ajeitou-se na cadeira. Não era como se estivesse desconfortável. Muito pelo contrário. Estava tão confortável que nem o vinho que bebia seria capaz de levar embora a vontade de apertar as coxas uma contra a outra. Sete infernos, o que este homem está fazendo comigo?, resmungou em pensamento. As pernas dos dois quase se tocavam, tamanha era sua proximidade. Ela agradeceu aos deuses por aquela enorme mesa escondê-los, ao menos da cintura para baixo, do resto do baile.
limpou a garganta, esforçando-se para ignorar o quão íntimo tudo aquilo soava.
— Você fez seus sete desejos para o ano que está por vir? — perguntou, mudando o foco do assunto.
Daemon foi pego de surpresa. Seus olhos estavam ocupados demais seguindo cada pequeno movimento que a garota fazia. Seu sangue esquentava imaginando coisas muito impróprias para um salão lotado de gente.
— Sete desejos? — perguntou, quase desdenhoso. Ele não tinha intenção de fazer nem sequer um, afinal, não acreditava que se realizariam. Talvez agora, com ela…?
— Suponho que isto seja um não — aceitou. — As lanternas voarão para o céu sem nenhum de nossos pedidos, então, porque eu também não fiz nem sequer um. Embora deva confessar que quase usei um desses sete desejos quando estava dançando com aquele lordezinho idiota. — Ela sorriu. — Quase desejei por um milagre para me tirar daquela situação.
— Um milagre, é? — O príncipe reprimiu um sorriso. — E que milagre acha que poderia ter vindo de um desses pequenos desejos, misteriosa lady?
— Nenhum, na verdade. É só uma canção da Fé dos Sete para nos dar esperança para sonharmos com um belo porvir. Não acredito muito nesse tipo de superstição. — deu de ombros. — Mas eu estava desesperada para me livrar do garoto sem fazer uma grande cena.
— Ah, uma pobre e indefesa dama. Uma donzela em apuros — comentou em tom zombeteiro. — Você precisa de um príncipe para vir e salvá-la do perigo?
— Não, eu não preciso. Nunca precisei, para ser honesta. — Um arrepio percorreu seu corpo conforme Daemon continuava a acariciar suas costas. — Mas fiquei feliz por você ter vindo, sabia? Por mais que eu poderia muito bem ter lidado com a situação sozinha, claro.
deu um apertão na perna dele, próximo ao joelho. Foi um movimento automático para enfatizar o que estava dizendo. Ela só se deu conta do que fazia quando já era tarde demais para parar. Deuses!, pensou Daemon. O sangue bombeava em suas veias como fogo líquido, e o toque casual apenas servira para deixá-lo mais excitado com a sete vezes maldita garota misteriosa.
— Estou certo que poderia se virar sozinha — respondeu, a voz baixa e rouca. — Você parece ser capaz de fazer tudo muito bem, sozinha ou não.
— Bem, eu posso mesmo. — Tomou um longo gole de seu vinho e lambeu os lábios, abrindo um sorrisinho presunçoso para ele. A mente do príncipe navegou em uma tempestade de indecências enquanto sua mão continuava o carinho nas costas dela. — Você realmente está interessado, não é?
A pergunta foi séria. pegou a jarra e encheu sua taça. Estava mais do que óbvio para os dois que Daemon estava interessado. Ela só não imaginava o quanto. Cada pequena parte do corpo do príncipe já ardia por ela.
— Você não tem ideia do quanto, minha misteriosa lady — confessou.
— Posso ser honesta com você, meu príncipe? — perguntou.
— É claro — respondeu quase rápido demais. Seria incapaz de negá-la qualquer coisa naquele momento, não quando seu corpo fervia por ela.
— Acredito que só esteja interessado porque não sabe quem eu sou… porque ainda sou uma mulher misteriosa para você, e isso te excita. — Olhou bem para ele. — E quando os sinos baterem, toda essa magia se desvanecerá em um piscar de seus lindos olhos.
O príncipe sorriu, mas seu peito apertou. Talvez a garota estivesse certa. A beleza encantadora dela era inegável. Não havia máscara que fosse capaz de esconder isso. No entanto, o interesse inicial dele se dera justamente por ela ser um mistério para ele. E, se fosse pensar bem, o modo como ela conseguira atraí-lo tão facilmente com este fascínio incógnito estava além de sua compreensão.
— Não posso negar isso — admitiu, mesmo sem saber se era mesmo verdade. Porque agora, nesse exato momento, tudo o que queria era mais dela, de sua proximidade e da luz que cintilava em seus olhos vivazes. Com máscara, ou sem. Não importava.
— Isso também significa que, ainda que tivéssemos a oportunidade de ficarmos sozinhos… — começou ela. — Quando as roupas e as máscaras fossem retiradas, esse interesse desapareceria.
Não, não desaparecia. Nisso, Daemon sabia que ela estava errada. O interesse havia se tornado grande demais para se dissipar como a escuridão pela manhã. Seus olhos dispararam para os lábios carnudos da garota antes de vagar para os olhos que o fitavam tão atentamente. Queria tanto beijá-la e provar que ela estava errada.
— Que tal descobrirmos? — falou antes que sua mente pudesse raciocinar se deveria ou não ter aberto a boca.
Daemon estava tão fisgado por tudo o que ela dizia ou fazia, que era difícil pensar direito. De jeito nenhum isso acabaria com o badalar dos sinos da meia-noite. Ele não permitiria. E quando Daemon Targaryen cismava com alguma coisa, ele ia até o fim.
— E quebrar uma tradição, tirando as nossas máscaras antes da meia noite? — Ela deu dois tapinhas na perna dele, sua mão ainda ali. — Eu não ousaria! Mas admito que foi uma boa tentativa.
— Tem tanto medo assim de quebrar uma pequena tradição? — provocou, um sorriso cativante em seus lábios.
— E se eu tiver? — brincou. — Não sei o que estará me esperando nos sete infernos.
Aquilo arrancou uma pequena risada do príncipe. Seus olhos mantinham-se focados nela. Deuses, ele queria mais. Estava quase perdendo a compostura.
— Está tentando insinuar que serei o culpado por arrastá-la para os sete infernos? — Seus dedos se apertaram mais contra as costas dela, o carinho tornou-se mais intenso.
— Não se preocupe, príncipe Daemon. — Ela acariciou sua perna suavemente em uma resposta ao toque dele. — Acho que eu consigo muito bem tomar esse caminho por mim mesma.
Daemon mordeu o lábio para se conter. Suas calças se apertaram mais.
— Está tentando me matar, misteriosa lady? — Sua língua deslizou devagar por seu lábio inferior.
— E que chance uma jovem mulher como eu teria contra aquele que detém a Irmã Sombria? — Riu, mas seus olhos cintilavam admiração.
Deuses, esse olhar, pensou. Ela podia estar certa sobre não ter chance contra ele quando se tratava de luta, mas ali era diferente. A garota com certeza estava em vantagem. O príncipe queria fazer tudo o que fosse possível com ela, e estava a um passo do precipício, a um passo de não se importar mais com a presença de tanta gente ao redor.
— Você se subestima — apontou.
— Não, eu não tenho esse tipo de problema, meu príncipe. Conheço bem os meus poderes — assegurou ela. Para provar o que dizia, deslizou a mão para cima na perna dele apenas por um segundo, e então voltou para o lugar de antes, perto do joelho. — E eu conheço os seus também.
Daemon fechou os olhos, um reflexo aos atos instigantes da garota. Seus dedos cravaram mais forte nas costas dela enquanto seu interior queimava. Ela sorriu para ele, vitoriosa. Havia gostado de sentir a reação dele a ela.
— Você… que provocante você é, misteriosa lady. — Seu olhar brilhava com uma mistura caótica de desejo, necessidade e uma pitadinha de aborrecimento por se ver vencido, rendido a ela.
— Viu só? — Ela umedeceu os lábios. — Talvez você tenha me subestimado.
O príncipe desejou com ainda mais força provar de sua doce boca conforme observava a língua dela deslizar devagar por aqueles lábios deliciosos. Seus dedos tremiam contra as costas dela. Ele gostaria de puxá-la para o seu colo e beijá-la até que ambos fossem incapazes de respirar. E a cada minuto, a vontade se intensificava.
— Talvez eu tenha — reconheceu. Então inclinou o rosto mais para perto dela e sussurrou: — Está querendo me tentar a tomar certas decisões ruins?
— Quais delas? Tipo me tocar sem ninguém ver ou me beijar na frente de todo mundo? — Olhou para os lábios do príncipe de modo a provocá-lo. — Não acho que precise ser tentado a tomar decisões ruins, Daemon. Você é capaz de fazer isso muito bem sozinho… Assim como eu também sou, para a sua sorte.
A mulher estava o desafiando, não estava? O coração dele martelava no peito. Ele gostava de desafios. Poderia estragar toda a farsa de um baile de máscaras perfeito que haviam se esforçado tanto para fazer se apenas a puxasse para si e fizesse tudo o que queria com ela bem ali. Todo mundo veria, todo mundo saberia. Puxou-a um pouco mais para perto de si, tanto quanto suas cadeiras permitiam.
— Está abusando da sorte, misteriosa lady? — murmurou.
— Ah, eu estou? — perguntou. — Ou estou fazendo exatamente o que desejo?
Um sorrisinho formoso desabrochou em seus lábios como a mais bela flor. Seu corpo já pulsava pelo dele. Era inegável. Daemon deslizou a mão das costas dela para o lado do quadril até que chegasse a sua coxa. Seus dedos se apertaram contra a carne por cima do longo vestido enquanto puxava a perna dela para o seu lado, afastando-a levemente da outra.
— Continue forçando a sorte — alertou ele. — E eu farei mais do que te beijar aqui, na frente de todo mundo.
— Ah, você fará? — quase riu, embriagada com a situação. Tomou mais um gole de vinho. Ela não tinha nada a perder. — E que tal me contar o que se passa pela sua cabeça, meu príncipe?
Ele rosnou, seus olhos percorreram o rosto mascarado dela, dando a devida atenção a cada pequena parte. Então mordeu o lábio em uma tentativa vã de acalmar a queimação em suas veias.
— Tive pensamentos bem obscenos sobre você, misteriosa lady. — Apertou os dedos em sua coxa. — Muitos destes pensamentos, em pouco tempo.
— Ah, tenho certeza que teve. — Sua respiração saía um pouco pesada.
Cada centímetro de seu corpo já vibrava de desejo. E ambos sabiam que, apesar de não poder beijá-la, Daemon poderia tocá-la. A mão dela estava pousada sobre a perna dele há um bom tempo, e ele agora tocava sua coxa. A mesa escondia parte deles de modo que ninguém vira os toques trocados entre eles. Um pouco de cuidado era tudo o que bastava. E o príncipe Daemon ansiava por ela, por qualquer coisa dela. Queria tocá-la mais, sentir sua pele sob os dedos, seus lábios contra os dele.
— Gostaria de ouvir exatamente o que eu estive pensando? — sondou.
— É claro que gostaria — assentiu. já estava mais a fim dele do que pretendia, completamente intoxicada pelo Príncipe Canalha. Não havia mais motivos para recuar. Sem contar que ela poderia sonhar e se lembrar disso por todas as outras noites de sua vida. — Me diga tudo.
— Tenho lidado com muitos pensamentos obscenos e impróprios sobre o seu corpo misterioso — falou baixinho, devagar, deixando que ela absorvesse bem as palavras. — De tudo o que eu quero fazer com você, tudo o que quero fazer para você…
— E…? — incentivou-o a continuar.
— E eu quero fazer tudo. Aqui. Agora. — Cravou mais forte os dedos em sua coxa para enfatizar. — Quero seus lábios nos meus. Eu quero te beijar até que não consiga mais respirar e me implore para parar.
— E me tocar — completou por ele, de olhos fechados.
O modo como aquelas três palavras soaram como um pedido, um desejo, uma súplica, só fez a necessidade ardente do príncipe aumentar.
— Sim, minha misteriosa lady. Eu quero te tocar, tocar em cada pequena parte de você — confidenciou. — Quero que sinta os meus dedos por toda a sua pele. Quero beijar seu pescoço e ouvir os sons bonitos que fará…
— Eu… — ela tentou falar, mas tudo o que conseguia fazer era respirar.
Pela primeira vez em muito tempo, foi pega sem palavras. Ela queria que ele a tocasse. Queria senti-lo, de qualquer jeito que fosse. Deuses, as coisas que dissera apenas a deixaram mais… sedenta.
E Daemon não mentira. As palavras eram mais do que verdadeiras. Desejava tocá-la, prová-la, senti-la. Adoraria ver sua reação a toques íntimos e ouvi-la gemer o nome dele. Precisava, mais do que tudo, escutar os sons que sairiam da boca dela quando estivesse com ele, pele contra pele.
tomou outro gole de vinho, como se a bebida pudesse apagar o seu fogo quando, na verdade, apenas o aumentava. Daemon observou-a de perto. Seus pescoço se movendo com a bebida em sua garganta, a maneira como seus lábios se enrolavam na borda da taça. Deuses… Não podia deixar de imaginar sua boca sobre a dele. Daemon precisava dela, e estava mais do que claro para ele que ela o correspondia. Então deslizou a mão devagar, posicionando-a entre suas coxas, ainda sobre o vestido, e a tocou.
conteve um arfado e respirou fundo, tentando controlar a respiração. O príncipe quase sorriu ao vê-la daquele jeito. Era isso que ele queria. Moveu os dedos sobre o tecido. A mão dela apertou-se em sua perna quando Daemon aumentou a intensidade do toque. Seus olhos fixos em cada pequena reação dela, sua própria respiração ficando mais pesada. Descobrira que amava observar o modo como ela reagia a ele. Ambos amaldiçoaram mentalmente a existência do vestido entre eles. O príncipe sabia que havia perdido todo o senso de cuidado. Apesar de a mesa esconder parte deles, qualquer um que olhasse com a devida atenção saberia o que estavam fazendo.
— Pare — murmurou ela, com o copo na frente da boca. — Não podemos fazer isso aqui.
O som da respiração dela, das palavras, o jeito que estava ofegante… Tudo só o fazia querê-la ainda mais. Acariciou-a devagar antes de afastar a mão, mantendo-a sobre sua coxa. Recostou-se, então, na cadeira, tentando recuperar ao menos um pouco da compostura.
— Está certa, não podemos.
Deuses, ele ainda sentia o calor dela sob seus dedos. E tudo o que queria fazer era continuar. No entanto, manteve a mão apenas sobre a coxa dela, sem deixar de acariciá-la. Quando percebeu que ainda cravava seus dedos na perna do príncipe, afrouxou o aperto.
— Meu príncipe, eu… — Sua voz foi interrompida pelo badalar dos sinos.
O som só podia significar que era hora de se despedir deste ano e dar boas-vindas ao próximo. A hora de tirar as máscaras enfim havia chegado. O príncipe a encarava. Não sabia se queria que ambos tirassem as máscaras. Não se isso significasse o fim do que estavam tendo. As pessoas celebravam o ano novo no Grande Salão e removiam suas máscaras, contentes. Era como se Daemon e fossem os únicos silenciosos e imóveis.
O príncipe levou as mãos à própria máscara e a tirou. Então olhou bem para a mulher misteriosa, tentando memorizar tudo o que pudesse antes que ela se revelasse. Mas não se moveu. Daemon se perguntava os motivos de a moça estar tão hesitante em se revelar para ele. Será que não desejava que o momento acabasse? Ou não queria se mostrar por causa de quem era?
— Devo dizer que o que aconteceu aqui é impossível para nós, meu príncipe — disse ela.
Em parte, era verdade, Daemon tinha que admitir. Era tudo apenas uma grande fantasia, uma tentação maravilhosa, um presente dos deuses. Mas ela ainda estava ali, ainda tinha a mão na perna dele, ainda vestia a máscara. O príncipe sabia que ele queria mais, e imaginava que ela quisesse também.
— Você pode dizer isso — falou em voz baixa, as mãos apertando-se contra a máscara de dragão que antes usava. — Mas não posso negar que quero argumentar contra.
se levantou de ímpeto, tudo para ficar longe dele. De outro modo, não seria capaz de fazer o que precisava.
— Receio não poder me revelar a você, meu príncipe. — Ela deu um passo para trás. — Por mais que eu quisesse.
Daemon contraiu os dedos em uma tentativa de se conter para não esticar o braço na direção dela e puxá-la de volta como um garoto desesperado. Tinha que entender que ela estava fora do alcance. Por mais que eu quisesse?, refletiu ele. Não fazia sentido. Assim como também não fazia sentido o quanto Daemon queria que ela ficasse. Se a noite havia sido mesmo uma fantasia, ele desejava que não tivesse um fim. Era esse o tipo de desejo que as pessoas colocavam nas lanternas dos sete desejos?, perguntou-se.
— Por quê? — indagou, por fim, a voz ainda baixa. — Por que não pode se revelar a mim? Somos inimigos ou algo do tipo?
— Não! Eu… Eu… Eu só… não posso — suspirou. — O tempo para máscaras acabou, assim como o meu.
deu mais dois passos para trás, sem tirar os olhos dele. Ela não queria ir, não desejava abandonar aquele pequeno momento mágico, porém não tinha escolha. Então virou as costas e saiu correndo.
O príncipe odiou aquela resposta. Ele já estava ligado à ideia dela, apegado à sua misteriosa lady. A pequena hesitação dela lhe deu esperanças, no entanto. Seus olhos vagaram para a luva preta com uma pequena pérola que havia permanecido sobre sua perna quando a garota se levantara de rompante. Ainda possuía algo que pertencia a ela. Tinha que encontrá-la para lhe devolver a luva. Sabia que não era nada além de uma desculpa barata, mas agarrou firme no tecido sedoso da luva.
Ele precisava encontrá-la, não importava o que acontecesse.
E faria isso ainda esta noite.

Nós temos uma história
Mas eu estou prestes a mudar o final
“Be Your Everything”

— Boys Like Girls —


O príncipe Daemon Targaryen não se demorou a pensar sobre o assunto. Largou a máscara de dragão em cima da mesa, levantou-se do assento e saiu do Grande Salão sem pestanejar. Seu olhar varreu os corredores da Fortaleza Vermelha na esperança de um vislumbre da garota. Queria encontrá-la, escutar suas palavras tentadoras outra vez, ver a dama por trás da máscara e tomá-la em seus braços.
Após investigar com alguns guardas, descobriu que a linda moça mascarada de vestido preto havia saído do castelo. Buscou por sua capa e a vestiu para que não chamasse tanto a atenção dos plebeus pelas ruelas de King’s Landing. Então saiu pelos portões do castelo em busca de sua misteriosa lady. Não deveria ser tão difícil de encontrar uma garota vestida daquele jeito vagando pela cidade. Mesmo se usasse um manto para cobrir parte de si, o vestido ainda daria um jeito de chamar atenção. Todo mundo a teria visto.
Quando precisou falar com transeuntes, assim o fez, e pagou aqui e ali pelo que pudessem compartilhar sobre o paradeiro dela. Depois de caminhar e investigar por um longo, longo tempo, as informações o levaram a uma taverna. Uma garota de taverna, é?, refletiu. Ela tinha lhe dito que saía de fininho para ir a tavernas como uma moça plebeia qualquer.
O príncipe encarou a placa sobre a entrada da dita taverna. O desenho bem pintado mostrava a silhueta de sete pequenas mulheres verdes ao redor de um carvalho com aparência de antigo. Representava bem o seu nome: As Sete Dríades. Daemon respirou fundo antes de passar pela porta.
Seus olhos esquadrinharam cada mesa em busca de sua misteriosa lady. Das mulheres presentes, nenhuma usava um vestido nobre. Talvez já tivesse trocado de roupa. Seu olhar vagou até as três moças que possuíam a mesma cor de cabelo dela. Duas tinham cabelos presos, mas não com o penteado que ela usava. A terceira tinha os cabelos longos caindo sobre as costas. Qual delas se parece mais com uma nobre fingindo-se de plebeia?, perguntou-se ele.
bebia uma boa cerveja. Depois de todo aquele doce gosto do dourado da Árvore, precisava voltar aos seus gostos normais, comuns. Um homem com uma capa escura passou em sua frente e sentou-se um pouco mais ao longe na longa mesa. Alannys, a dona da taverna, colocou um corno de bebida à frente dele, mas ele não bebeu. Quando ergueu a cabeça e olhou ao redor, viu seu rosto. Pelos sete infernos, ele me encontrou, resmungou em pensamento. Por sorte, lembrou-se de que o príncipe não a conhecia vestida de plebeia e com o rosto desnudo. Sem contar que seus cabelos agora lhe caíam sobre os ombros e costas. Ele não a reconheceria.
Daemon continuava a varrer com o olhar todos os presentes na taverna, principalmente aquelas três mulheres. Então seus olhos capturaram a moça dos cabelos soltos, na outra ponta da mesa, olhando de volta para ele. O príncipe demorou um pouco para perceber que era ela. Ele se viu sem palavras. Era mesmo a sua lady misteriosa? Tinha que ser. Só precisava ouvir sua voz para confirmar, mas seu coração já martelava insistentemente em seu peito.
desviou o olhar. Não havia razão para responder aos olhares dele ali. O príncipe abriu a boca para falar algo, mas a moça que a servira antes gritou:
, quer mais uma?
A garota dos cabelos soltos, que ele agora acreditava que fosse sua lady misteriosa, confirmou com a cabeça. Maldita seja, xingou em pensamento. Se ao menos falasse algo… Ele teria que fazê-la falar, de um jeito ou de outro. Precisava da confirmação.
, é? — levantou a voz e sorriu de lado.
… O nome soava tão belo quando saía de seus lábios. E era, de fato, um nome bonito que combinava com o seu lindo rosto, coberto ou descoberto. Para a grande frustração do príncipe, apenas anuiu com um aceno. Ela não vai falar, reconheceu, um tanto irritado e, mais do que isso, sentindo-se desafiado. Daemon se levantou, aproximando-se pelo outro lado da mesa, e sentou-se na frente dela. Ele sorriu, encantado, seus dedos se contraindo com o desejo de estender a mão até ela. Queria tocá-la, puxar essa tal de para cima dele e… Deuses, as coisas que ele desejava fazer se ela fosse mesmo quem ele achava que era.
— Não vai dizer nada, ? — provocou.
— E por que eu deveria dizer algo a você? — retrucou antes que pudesse se conter. Era uma garota feroz, afinal de contas.
A respiração do príncipe falhou. Aquela voz doce e afiada com aquela pitadinha de atrevimento… Deuses, ele sabia que a identificaria em qualquer lugar. O sorriso em seus lábios se alargou e uma espécie estranha de felicidade o preencheu por inteiro.
— Eu sabia! Reconheceria você em qualquer vestido, com ou sem máscara. — Ele apontou para ela. — Mas tenho que admitir que gosto mais deste em você, isso que só te vi sentada aí.
— Ah, é mesmo? — rebateu baixinho, para ninguém mais ouvir. — Está dizendo que gosta mais de mim em um vestido barato de plebeia do que naquele vestido preto esplêndido do baile de máscaras?
— Barato ou não, você está linda nele — falou sem nem pensar, seu olhar era faminto. — Eu te aceitaria em qualquer vestido que usasse.
Alannys aproximou-se para entregar um novo corno de cerveja para e deu uma espiada nos dois antes de sair. Era uma grande amiga dela e obviamente estava curiosa pelo homem na capa, que claramente flertava com ela. esperou a amiga se afastar o suficiente para voltar a falar.
— Você não precisa ser cortês aqui. — Ela tomou um pequeno gole da cerveja. — Ambos sabemos que você me preferiria sem ele.
O príncipe arqueou as sobrancelhas. As palavras ousadas da garota enviaram uma onda quente por seu corpo, transformando seu sangue em fogo líquido. Era verdade. Ele a queria, queria tomá-la para si e preferia, de fato, vê-la sem o vestido, afinal da outra vez fora justamente a peça que ficara no caminho.
— Eu com certeza preferiria muito isso — disse sem nenhum resquício de timidez.
— Claro que sim. — Ela mordeu o lábio.
— Foi aqui que eu te vi no passado? — perguntou ele e ela assentiu com a cabeça. — Devo ter vindo pouquíssimas vezes.
— Enquanto eu estava presente, aquela foi a única mesmo — comentou. — Ouvi dizer que frequenta lugares ainda mais baixos.
— Não consigo distinguir se é uma crítica, um elogio ou apenas uma afirmação. — Ajeitou o capuz para que os outros não vissem quem ele era. Como não respondeu, tocou em outro assunto. — Sete Dríades, é? Frequenta muito aqui?
— Alannys costuma dizer que eu sou uma das sete. — O sorriso em seu rosto era quase afetuoso ao mencionar a mulher que a servira mais cedo. — Ela é a dona da taverna.
— Você é uma dríade, então? — provocou. — Um espírito da floresta?
— Da floresta, eu não sei. — tomou um gole de cerveja. — Mas com certeza sou uma ninfa protetora do Sete Dríades. Eu praticamente moro aqui.
— Faz sentido — aceitou. — E tem ideia de por que sua… amiga escolheria o número sete?
— Que os deuses me perdoem, mas obviamente é um trocadilho zombeteiro com a Fé dos Sete. — Ela usou o corno de bebida para esconder sua risadinha. — Mas então, estou curiosa… Como faz quando está em meio ao povo comum? Simplesmente não diz o seu nome ou mente, inventando algum?
— Não digo, é claro. Mas e você? — investigou, sem nunca desviar o olhar dela. — Usa seu nome verdadeiro quando vem aqui ou será que é uma lady misteriosa até mesmo para a mulher da taverna por quem parece ter tanto apreço?
— Está tentando perguntar se é realmente o meu nome? — Ela ergueu uma sobrancelha. — Sim, eu me chamo . Recebi esse nome quando nasci.
— E qual o nome da sua Casa, ? — perguntou, enfim, para acabar com o mistério.
— Quer mesmo saber a verdade? — indagou. — Depois não tem mais volta.
Para ela, já não faria diferença. Contar a ele sobre ser plebeia não mudaria nada agora que já partira do festim na Fortaleza Vermelha. A não ser que o príncipe a fizesse ser demitida e expulsa do castelo. E então teria que arrumar um novo trabalho, mas nada além disso.
— Sim. — A palavra saiu mais rápido do que ele pretendia. Seu coração batia forte. Ele precisava saber. Mesmo que isso não fosse mudar absolutamente nada. E o príncipe nem entendia por que isso era tão importante para ele, por que ela era tão importante.
— Não vai gostar da minha resposta — avisou.
— E por que eu não gostaria da sua resposta, ? — Seu cenho franziu-se e a maneira como disse o nome dela soou quase possessiva.
— Porque eu não levo um nome de casa nobre — deixou escapar, sentindo-se aliviada por revelar sua origem. — Eu sou uma Waters.
Os olhos dele se abriram mais enquanto ele absorvia a informação. Waters, o nome dado aos bastardos de pai ou mãe nobre nas Terras da Coroa. era uma bastarda de algum nobre da região, uma moça do povo comum. O coração do príncipe ainda retumbava em seu peito, e ele não entendia porque tinha sido um tanto reconfortante saber quem ela era. E se era uma bastarda, não havia família nobre que o impedisse de se aproximar.
Waters — pronunciou em tom suave, apreciando o gosto daquele nome na ponta de sua língua. Tinha vontade de continuar repetindo, como se aquelas fossem as mais doces palavras existentes na língua comum.
— Sou eu. — Levantou a mão de forma brincalhona e deu uma risadinha antes de beber mais um pouco.
O peito do príncipe apertou-se com uma sensação estranha e desconhecida. Tudo por causa daquela sete vezes maldita Waters. Daemon não conseguia tirar os olhos de cima dela. Estudou o seu belo rosto, o jeito como seus cabelos caíam sobre os ombros, seu vestido de plebeia, o modo como bebia sua cerveja… Pelos sete infernos, até mesmo a postura da garota. Ele podia imaginá-la exatamente assim em qualquer outro lugar… em sua cama, principalmente.
— Bem, Waters… — saboreou o nome em seus lábios outra vez.
— O que foi?
Os olhos do príncipe dispararam ao redor deles para se certificar de que nenhum ouvido curioso estava próximo demais. Então apoiou os braços na mesa e inclinou-se para frente.
— Eu quero você, — abaixou a voz. — Quero muito.
— Mesmo sabendo que sou uma moça de nascimento baixo, uma bastarda que invadiu o seu caro e magnífico baile de máscaras e, pior ainda, que trabalha nas cozinhas do castelo? — Os olhos da garota se arregalaram ao constatar que havia acabado de revelar ser uma criada de cozinha da Fortaleza Vermelha. — Maldita seja eu e a minha boca grande.
O príncipe arqueou uma sobrancelha, processando a nova informação. Esforçou-se para conter um riso ao vê-la se amaldiçoando por ter contado mais de sua vida. Daemon não se importava que ela fosse de origem humilde, que fosse uma serva. Não agora. O fato de ela trabalhar no castelo só o fazia criar novas perspectivas em sua cabeça por causa da proximidade.
— Sim, mesmo sabendo disso — admitiu, sem nenhuma vergonha, enquanto sua mente continuava a se encher de imagens dela. — É ainda mais atraente agora que sei quem é.
— Me diga uma coisa: essa é a sua maneira de comemorar a chegada do novo ano? — interpelou. — Fodendo uma plebeia?
Uma mistura de sorriso e risada brotou nos lábios dele. A pergunta ousada só fez seu desejo aumentar.
— Não era exatamente o que eu tinha em mente, não, embora isso não signifique que a ideia não seja tão atraente quanto você. — Ele estendeu a mão e a pousou sobre a dela, agarrando-a. Deuses, queria tocá-la mais do que aquilo. — Eu tinha… tinha planos diferentes em mente. Você acendeu uma necessidade em mim, .
— O que quer dizer com planos diferentes? — Ela inclinou-se para frente, ficando o mais próxima possível que a mesa entre eles permitia.
— Quero te puxar por cima da mesa até o meu colo agora mesmo, te segurar perto de mim, beijar cada centímetro do seu pescoço. — Deixou um suspiro escapar, incapaz de segurar a resposta honesta. Seu polegar continuava acariciando a pele do pulso de .
— Nós… — A respiração da garota ficou pesada e seus olhos se fecharam. Sete infernos, ela queria isso. — Estamos em uma taverna. Não podemos fazer esse tipo de coisa aqui. — Não podiam mesmo. Ainda assim, ele conseguira fazê-la imaginar.
— Isso não me impediu antes, impediu? — O príncipe sorriu de lado.
— Não me impediu também, mas estávamos em um baile onde eu era uma desconhecida. Aqui, todo mundo me conhece. — Desvencilhou sua mão da dele e se levantou. — Venha comigo, meu quarto é do outro lado. — Ela deu um passo para trás e apontou para os cornos, agora vazios. — Não se esqueça de pagar as bebidas… E pague bem.
As sobrancelhas do príncipe se ergueram com a ousadia, e seu sorriso aumentou. Não hesitou em levantar-se, jogando algumas moedas para pagar a taverneira — mais moedas do que o necessário. Ele seguiu sua misteriosa lady, que agora sabia se chamar . O príncipe mal podia esperar para ver o que Waters reservava para ele.

Mas não há mais nada a perder
Quando não há mais nada a esconder
E eu juro por todos os deuses
Eu sinto tudo esta noite com você
“I Feel It All Over”

— The Maine —

Daemon acompanhou sua lady não mais tão misteriosa assim pelo corredor ao fundo que dava para os quartos. A garota claramente não era a única moradora fixa do local. Essa era a realidade dos plebeus; dos que tinham lugar para morar, é claro, porque muitos nem um quarto tinham. Era inegável que os dois eram de mundos diferentes. Mas aquilo não importava para o príncipe. Não agora.
Waters não olhou para trás nem sequer uma única vez para verificar se o homem de fato a seguia. Mesmo que não pudesse ouvir o som de suas botas, sabia que ele a acompanharia. Afinal de contas, havia perambulado pela cidade à procura dela e, após descobrir quem era e de onde vinha, não fora embora.
O príncipe quase esbarrou em quando ela parou em frente a uma porta. Estava focado demais em admirar o modo como o vestido caía sobre o seu corpo e em imaginá-lo sair de cima dela e cair no chão. tirou uma chave de um bolso interno perto do decote e se atrapalhou com o objeto por um momento antes de conseguir enfiá-lo na fechadura. Daemon absorvia cada detalhe daquela moça que era tão distinta de todas as outras damas do festim.
Assim que entraram, ela fechou a porta e desceu a tranca.
— Lar doce lar. — Apontou o pequeno quarto. — É assim que as pessoas normais vivem, meu príncipe… caso esteja curioso.
Daemon lançou uma breve olhadela ao local. Nada luxuoso. Nada nem perto de um luxo verdadeiro. Deu de ombros. A única coisa que importava esta noite estava agora em pé, encostada na velha porta.
— Só existe uma coisa sobre a qual estou curioso. — Seu olhar predatório demorou-se sobre ela.
— O que foi? — perguntou em tom de provocação. — Vai me dizer que tem um fetiche por garotas plebeias que são pelo menos uma década mais novas que você?
Ele não podia negar que a moça era atraente, tentadora, linda, e parecia amar provocá-lo, o que só tornava tudo ainda mais… excitante. Aproximou-se dela, quase a encurralando contra a porta. Sua idade não importava. Era jovem, sim, mas não era nenhuma criança. Era uma mulher adulta. E era ela quem ele queria.
— Se eu dissesse que sim, o que você diria? — desafiou-a.
— Que eu não estou nada bem em ser o fetiche de alguém, nem mesmo de um príncipe — desdenhou. — Eu desejo ser mais. Quero significar mais do que um mero fetiche nojento.
— Você significa mais — admitiu.
Não era nenhuma mentira. Ele não sabia explicar, mas havia algo ali. Algo com o qual não tivera contato até conhecê-la no baile de máscaras.
— Talvez. — Desviou dele e jogou a chave em cima de uma pequena mesa. — Você me surpreendeu esta noite, sabia?
— Ah, é? — Seus lábios se curvaram em um sorriso e ele ergueu uma sobrancelha. — E como foi que te surpreendi, minha lady?
— Vindo aqui no Sete Dríades. Por ter me encontrado — explicou. — Nunca pensei que você me seguiria pela cidade.
— Então você me subestima, , se realmente acreditava que eu deixaria você ir depois dos nossos momentos no baile. Não passaria o resto da minha vida tendo apenas um gostinho seu. E eu farei qualquer coisa para ter outro e outro e outro. — Ao aproximar-se, pegou a luva preta que trazia no bolso de sua capa e pressionou-a contra a mão dela. — Aqui, a sua luva. Se esqueceu dela quando fugiu de mim.
— Ah, que bom que me devolveu. É tão linda, eu amei tanto. É uma pena que não terei a oportunidade de usá-la outra vez, já que não estou planejando invadir nenhuma outra festa real nesse ano que acabou de começar. — Ela riu um pouco ao largar a luva ao lado da chave. — Talvez eu as venda e consiga um bom dinheiro.
— Talvez não precise nem vendê-las e nem invadir lugar algum. — Ele baixou a voz, como se o que dizia fosse apenas um segredo entre os dois: — Tenho certeza de que poderia solicitar a sua presença de várias maneiras sem precisar de uma festa da realeza para isso.
— Ah, claro. Mas os jeitos que sua mente pervertida pensou não exigem o uso de delicadas luvas pretas com uma perolazinha de enfeite. — Balançou a cabeça, rindo. — Eu estava falando sobre um grande evento na corte. Não sou parte deles, de vocês, sou uma serva. Hoje foi só uma brincadeirinha para mim, uma criança brincando de ser lady.
— Pode ter sido apenas uma pobre garotinha brincando de ser lady. — Os olhos do príncipe demoraram-se no corpo dela outra vez, seus pensamentos cada vez mais obscenos. — Mas, deuses, isso acendeu algo em mim.
Eu acendi — ela o corrigiu.
— Você acendeu — reconheceu, por fim.
— Confesso que já tinha percebido — confidenciou. — Quando poderia ter fingido que a razão pelo qual veio atrás de mim era para devolver a luva, você simplesmente se esqueceu dela e me disse que só um gostinho de mim não era o suficiente para você.
— E não é — enfatizou. — Jamais será.
Ergueu os olhos para encontrar o olhar dela, tão faminto quanto o seu. Um sorrisinho ainda brincava no canto de seus lábios, a mente inundada por pensamentos pecaminosos. Ele a queria, precisava dela. Ela sentia a mesma necessidade ardente. Eles queriam mais um do outro. Muito mais.
— Então por que não prova mais um gostinho? — Umedeceu os lábios. — Só tome cuidado, meu príncipe, meu colchão é de palha. As coisas por aqui não são como você está acostumado.
— Não me importa do que o seu colchão é feito, . — Estalou a língua.
— E com o que se importa, então, Daemon? — Deu um passo na direção dele, deixando apenas uma pequena distância entre eles.
— Com você. — Ele levantou a mão e roçou seus dedos pelo rosto dela. Seu polegar acariciou o lábio inferior da garota, mas seus olhos não se desviaram dos dela. — Eu me importo com tudo que se trata de você.
— Eu realmente te conquistei, não foi? — perguntou.
Daemon segurou o queixo de , mas antes que pudesse responder ou fazer qualquer coisa, ela mesma o beijou. Seus corações retumbaram em seus peitos. O príncipe agarrou sua cintura em um gesto automático e puxou-a para mais perto. Seus lábios compartilhavam da mesma fome e pareciam nunca ter o suficiente um do outro.
estava tão, mas tão faminta por ele, tão sedenta. Aquele homem tinha acendido o fogo dos sete infernos dentro dela. E ela tinha feito o mesmo com ele. No castelo, precisavam se conter, mas aqui não havia motivos para isso. Daemon permitiu que suas mãos vagassem pelo corpo da garota. Seus dedos se cravaram na cintura dela enquanto a beijava com mais força, com mais ímpeto, com mais e mais vontade. Waters era o pecado mais doce para o príncipe Daemon, uma tentação gostosa que ele não conseguia resistir.
Ele a levantou sem dificuldade e a fez envolver as pernas na cintura dele. Não hesitou em levá-la para a cama. Tudo isso, sem nunca quebrar o beijo. Deitou-a sobre o colchão e pressionou-se contra ela. Precisava de mais. A garota mordeu o lábio inferior dele com um pouco mais de força do que deveria e soltou uma risadinha. Em resposta, Daemon devorou seus lábios antes de beijar-lhe também a bochecha e parou ao lado de seu ouvido.
— Você me conquistou, sim, — confessou em um sussurro rouco, desejando se perder nela. — Você acendeu uma necessidade em mim com apenas um gostinho, e agora esse desejo não para de queimar.
— Então você deve tomar um cuidado especial com esse gostinho a mais que está provando agora — alertou, mas ele não queria nem saber. Seus lábios voltaram para a boca da garota enquanto suas mãos agarravam os quadris dela e ele se impelia contra ela. — Cuidado para não se apaixonar por mim, meu príncipe — sussurrou sedutoramente. — Não, melhor ainda: cuidado para não ficar obcecado por mim.
— E como sabe se já não estou obcecado por você? — Os lábios dele roçavam nos dela enquanto falava. Como poderia não estar ao menos levemente obcecado por Waters? Estava viciado nela, em seu gosto, em sentir seu corpo contra o seu.
— Ah, certo — disse ela. — Talvez tenha sido por isso que andou pela cidade inteira procurando por mim, sua misteriosa lady.
ajudou-o a se despir enquanto eles ainda se beijavam. A necessidade que tinham um pelo outro, o desejo que compartilhavam ficava cada vez mais claro em seus toques e suspiros. Daemon afastou-se apenas o suficiente para livrá-la do vestido e, então, admirar seu corpo exposto como um animal faminto por uma bela presa. Queria tomá-la para si, fazê-la pronunciar o seu nome no melhor dos momentos. O príncipe estava, de fato, obcecado por ela.
Quando, enfim, conseguiram se livrar das malditas roupas, jogaram-nas para o lado, para o chão. Daemon pressionou-se contra ela, sem nada entre eles dessa vez. Agarrou suas coxas com vontade e puxou suas pernas para as laterais da cintura dele. Sua mão escorregou até o quadril dela e apertou a carne macia. Queria fazer tantas coisas com ela, que nem sabia por onde começar.
— Por que está tão silencioso, meu príncipe? — Impeliu-se na direção dele, em busca de mais contato.
— Tenho coisas mais… importantes para fazer no momento. — Capturou seus lábios em um beijo breve e afoito. — Quero devorar cada centímetro de você, . Preciso ouvir seus gemidos.
— Então me devore, Daemon. — Beijou-o e chupou seu lábio inferior, dando-lhe uma mordida provocante. — Eu quero você… agora.
Correspondeu ao beijo com ainda mais fome, como se ela fosse a única refeição a que valia dar a devida atenção. Agarrou os pulsos dela e prendeu-os acima de sua cabeça. Desceu seus beijos pelo pescoço dela, alternando entre lambidas, mordidinhas e leves chupões.
— Eu quero você, — sussurrou contra a pele suave dela.
— Então me tome — exigiu ela. — Ou será que eu terei de lhe tomar?
Ele soltou um resmungo misturado com um gemido em resposta à ousadia de . Levou seus lábios de volta à boca dela.
— Diga que me quer — ofegou.
— Eu quero você, Daemon Targaryen. — Esfregou seu corpo contra o dele para mostrar o quanto ela o queria. — Você me quer?
— Eu quero você, Waters, minha misteriosa lady. — Mordeu o lábio dela com mais avidez. A fricção o deixara louco por ela, mais do que já estava. — Deuses, eu te quero tanto.
— Eu amo quando você me chama de sua “misteriosa lady”, mesmo que agora já saiba quem eu sou.
deslizou a mão entre seus corpos para tocá-lo. Daemon estremeceu levemente contra ela, arfando em resposta a seus toques íntimos.
— Eu te chamo de qualquer coisa que você quiser — declarou baixinho, entre ofegos incessantes.
— Você está tão pronto para mim quanto eu estou para você, meu bem — sussurrou em seu ouvido enquanto usava sua mão livre para acariciar seu cabelo curto. — Tão, tão pronto.
— Deuses, ! — Afastou o rosto de seu pescoço para olhar em seus lindos olhos e impeliu seu quadril contra a mão dela. — Eu te quero tanto, mas tanto.
empurrou-o e o fez deitar-se de costas na cama. Não aguentava mais esperar. Subiu em cima dele e encaixou-o nela. Espalmou as mãos em seus abdômen e moveu-se contra ele, devagarinho, saboreando o momento enquanto tentava segurar um gemido de prazer. Em um reflexo, Daemon cravou os dedos em seus quadris e ajudou-a nos movimentos, seus olhos fixos nos dela. O príncipe estava em puro júbilo, cada centímetro de seu corpo em chamas, ardendo por ela, só por ela.
— arfou e ergueu-se para encará-la de perto.
— Continue dizendo o meu nome desse jeito e eu vou me desfazer — murmurou, seus lábios roçando nos dele.
Ambos moviam seus quadris em uma dança feroz e gostosa. Ela cravou as mãos em suas costas e arranhou, querendo tudo do príncipe. As mãos dele, pelo contrário, deslizaram para cima; uma apertou seu seio com desejo e a outra agarrou o seu cabelo, fazendo-a arquejar. Daemon precisava ouvir a graciosa voz dela, ouvi-la dizer o quanto ele a afetava.
— Diga-me o que sente, — pediu. Ele queria tudo dela, tudo o que ela pudesse lhe dar. Tudo isso e muito mais.
— Eu… eu… — arfou alto. — Você está me deixando louca.
— Como? — incentivou-a a dizer mais enquanto continuavam a se mover juntos e suas mãos ainda trabalhavam no seio e nos cabelos dela. Escutar seus gemidos, suspiros e respiração ofegante já o enlouquecia, mas ele queria mais. Queria que ela falasse.
— Me tocando desse jeito enquanto eu monto em você. — Sua voz era um gemido prolongado. — Agarrando o meu cabelo para me expor assim. — Deslizou as mãos pelo rosto dele até o seu cabelo, o qual afagou em um carinho gostoso e deu uma leve puxadinha. — Me olhando com esses olhos de dragão que tiram o meu fôlego…
Aquelas palavras somadas aos gemidos adicionaram combustível ao fogo que queimava dentro dele, sobre ele. Puxou-a para outro beijo apenas para senti-la ofegar contra a sua boca enquanto ele fazia exatamente o mesmo. Aqueles sons o deixavam ensandecido. Deuses, como uma simples mulher podia fazê-lo sentir-se tão fora de controle quando ele sempre fora aquele a controlar tudo? Como tudo o que sentia agora podia vir apenas dela? Tinha que ser um feitiço. Estava enfeitiçado. Não havia outra explicação.
— Me conte mais — praticamente implorou.
— Não — sussurrou contra sua boca. — É a sua vez. Diga à sua misteriosa lady aqui o que você está sentindo.
— Deuses, eu poderia descrever tudo de tantas maneiras — ofegou. — Mas nunca fui bom com palavras. Acho melhor você sentir.
Puxou-a contra ele para que seus peitos se tocassem e deixou um rastro de beijos quentes no pescoço dela. Seus dedos deslizaram suavemente pelo corpo de até chegarem entre suas coxas. Começou a tocá-la enquanto ela ainda rebolava no colo dele. Daemon queria lhe dar mais prazer, queria ouvi-la gemer e chamar por ele, desejava que a garota sentisse tudo dele de todas as maneiras possíveis. Beijou-a com uma necessidade desenfreada correndo por cada canto de seu corpo, e então levou os lábios até a lateral do rosto dela.
— Diga o meu nome — sussurrou em seu ouvido.
— Me faça dizer — desafiou-o, apesar de estar sofrendo para formar qualquer pequena frase por causa do prazer de tê-lo dentro de si e a reverenciando com seus dedos ao mesmo tempo.
Aquilo arrancou um sorrisinho do príncipe. Ele nunca foi de recusar um desafio. Segurou-a mais forte e aumentou a velocidade e a rispidez dos movimentos de sua mão. Seus lábios e língua apreciaram avidamente cada pedacinho do pescoço dela, dando mordidinhas de vez em quando.
— Diga o meu nome, . — Subiu suas mordidas até a boca dela.
— Não — gemeu ela, quase rindo.
Após um beijo insistente naqueles lábios obstinados, deslizou os lábios outra vez pelo seu pescoço, e então para a clavícula, até parar em um de seus seios. Olhou para cima, para ela.
— Você é muito teimosa, não é? — provocou-lhe com uma leve mordidinha.
Ele amava o quão teimosa e desafiadora ela era. Não havia como negar. Abocanhou o seio dela, chupando, mordiscando e beijando enquanto aumentava a força de suas estocadas, sem jamais deixar de tocá-la com os dedos. Os sons deliciosos que deixava escapar enchiam o quarto, tornando difícil que o príncipe se concentrasse em seus movimentos. Tudo ao seu redor era um borrão completo, exceto e seu saboroso corpo. Waters era a única coisa que ele podia ver, tocar e sentir. A única que ele queria ver, tocar e sentir.
Subiu o rosto de novo para murmurar em seu ouvido:
— Diga o meu nome, misteriosa lady.
— Faça valer a pena e… — Ela parou para soltar um suspiro alto. — Faça valer a pena, e vai me ouvir dizer.
— Ah, eu farei. — O príncipe intensificou seu toque. Queria ouvi-la gemer o seu nome. Esse era um desafio que ele não estava disposto a perder. — Diga. O. Meu. Nome. Minha misteriosa lady.
Os gemidos, arfados e ofegos o preenchiam completamente, fazendo-o querer mais e mais daquilo. Sabia que poderia se desfazer a qualquer momento por causa dos sons que ela fazia, agarrada a ele tanto quanto à sua própria determinação de segurar o nome dele em seus lábios até o último momento possível. Mas Daemon era determinado a vencer, ainda mais um desafio desses.
— sussurrou no ouvido dela, o nome soando quase como um comando desesperado.
Sua respiração ficava mais pesada e errática enquanto seus dedos aceleravam ainda mais. Seus beijos tornaram-se sedentos; suas estocadas, famintas. Era apenas uma simples palavra que o tiraria dos eixos para todo o sempre. Queria ouvi-la ofegar seu nome, clamar por ele. Pelos sete infernos, Daemon queria senti-la se perder nele e para ele, assim como ele agora se perdia nela, para ela.
— Continua — pediu, ofegante, seu prazer mais do que dobrado pelo que a mão dele fazia com ela junto de todo o resto.
— Não planejo parar — disse ele. — Não até te ouvir clamar por mim do jeitinho que quero que faça.
Os lábios dela se curvaram em um sorriso voluptuoso antes de capturar os dele. queria senti-lo mais e mais, como se não fosse suficiente tê-lo dentro dela, a agarrando, a tocando, a beijando, tomando-a por inteiro para si.
— Deuses, , eu anseio por você. Desejo-a tanto que poderia me perder em você a cada dia que passa — sussurrou contra seus lábios deliciosos. — Eu não sei o que fez comigo, mas funcionou.
Era tudo o que ela precisava. Essas palavras, o crescimento da necessidade do príncipe por ela, os dedos dele trabalhando no melhor dos ritmos, os quadris se movendo em sincronia, a troca de calor de seus corpos, o beijo feroz e desejoso, os olhos dele nos dela… Aqueles malditos olhos de dragão que ela agora adorava.
— Ah, Daemon… — Soltou um gemido prolongado quando a onda de prazer quebrou sobre ela como em um mar tempestuoso. Seu corpo tremia e seus músculos se contraíam de uma forma gostosa que a fazia querer alcançar ainda mais o toque físico.
Ela dissera o nome dele. Sua cabeça deu mil e uma voltas ao receber exatamente o que precisava. Deixou os sons magníficos que fazia ao estremecer o preencherem por inteiro. Deleitou-se neles… e nela. Aumentou a intensidade das estocadas, sem ousar desviar o olhar da mulher que o enfeitiçara perfeitamente bem. E então também se desfez, segurando-a mais perto do que seria possível, e repousou sua testa sobre a dela.
Daemon a queria, precisava dela. Ele a desejava, desejava seu corpo, seus lábios, a maneira como encaixavam-se nos dele, os sons que ela fazia apenas para ele. Estava viciado, obcecado por ela. Enfeitiçado. E esse fato o excitava e o assustava ao mesmo tempo. Queria viver e reviver aquele momento pelo resto de seus dias.



Continua...


Nota da autora: Gente do céu (dos sete céus???), TML ganhou astroaposta do mês de janeiro e eu to surtando aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Juro, tenho um amor especial por todas as minhas outras fics (as várias com o Aemond inclusas), mas minhas fav do momento assim, que tão sendo meu amorzinho maior são CRY (a do Criston — Can’t Resist You) e essa daqui. Enfim… aproveitei que eu tinha esse cap prontinho já e mandei a att pra comemorar!!! E ainda foi bem o capítulo com um hotzinho, viu só hahaha deu bem certinho hahahaha Espero que estejam gostando. Vem muito mais pela frente. Já posso avisar que essa fic vai mesmo ficar enorme. Vejo vocês em breve <3

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