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Codificada por: Cleópatra

Finalizada em: 09/08/2024

Gritos tomavam os corredores doentiamente brancos por toda sua extensão ecoando estridentes. Horror em sua mais pura forma transformado em berros doloridos, que apenas cessavam, quando chegava o fim; e as crianças ganhavam um pirulito junto de um curativo de desenhos, por serem — supostamente —, corajosas o suficiente para concluir o exame de sangue.

aguardava na recepção da clínica incomodada, nunca vira tantas crianças se juntarem num mesmo dia para exames. Encostada no canto, balançando nervosamente a perna enquanto sentada numa cadeira dura, nada ergonômica e potencialmente projetada para ser desconfortável, tentava ignorar todo aquele ambiente perturbador. Dando mais voz à teoria de que a sala de espera fora projetada para ser desconfortável.

De olhos fechados, tentava ignorar o esbravejar vigoroso dos pequenos que vinham e perfuravam seus ouvidos. Porém, sem sucesso. É uma garota grande, só que isso não a isenta da aversão a agulhas e exames que exigem de objetos serem introduzidos em seu corpo com uma permissão legal para isso.

— Srta. — uma voz fina a chamou forçando a sair do mantra pessoal, pegou a bolsa e o casaco jogado no assento ao lado e se levantou pedindo licença para passar por um casal de idosos que também aguardavam para entrar na agulha.

— Por favor, por esse caminho. É um exame padrão, certo? Serão necessárias apenas algumas ampolas e então estará liberada — a moça gentil sorriu —, vai acabar antes mesmo de conseguir pensar na dor.

Soltando o ar travado em seu pulmão, sentiu seus ombros doerem quando a tensão se foi. — Está tão aparente meu nervosismo?

— Só um pouco querida — ela indicou uma pequena cabine onde havia uma cadeira com apoio para os braços junto de várias seringas, ampolas e elásticos. — Pode deixar o casaco e a bolsa aqui no canto, alguém já vem cuidar de você.

— Obrigada — foi tudo que conseguiu responder enquanto sentava no que, para ela, se assemelhava a cadeira elétrica. Comicamente aquele estofado era mais confortável do que os assentos da sala de espera, engoliu seco e olhou para o teto por um instante, por que tudo naquele lugar tinha que ser branco? Não poderia menos ser um tom de cinza-claro? Entendia toda a questão da área da saúde, mas chegava a doer os olhos e criar um certo pânico todo aquele… Nada.

— Pronta?

A garota olhou para frente para ver uma enfermeira com um grande sorriso estampado no rosto. Tinha uma parte das bochechas levemente coradas, olhos estreitos em formato de arco e incomuns íris amareladas. Parecia jovem julgando pelo penteado que a lembrava a boneca 'Pucca', porém num tom bonito de loiro-areia, apesar dos fios desalinhados.

— Sim — sorriu em retorno, sentindo o próprio rosto esquentar por talvez ficar tempo demais encarando a enfermeira.

— Sou Toga Himiko — disse animada colocando a prancheta do lado —, vou tirar seu sangue com agulha que faz chu-chu!

Nessa altura estava convencida de que a garota era mais nova, que falar com a entonação animada e termos de criança era uma técnica psicológica para que ela mesma não ficasse nervosa. Algo que incrivelmente funcionou, pois naquele mesmo momento se viu rindo.

— Geralmente a veia no braço é difícil de pegar, então é melhor furar na mão — comentou evitando olhar enquanto ela preparava os equipamentos. Apesar de estar mais tranquila, não a fazia gostar do ambiente.

— Demora mais, só que não tem problema — respondeu Toga sem deixar o sorriso vacilar do rosto, ter alguém como ela trabalhando na clínica parecia um bálsamo —, assim podemos conversar, não é?

— Claro, porque não — desviou o olhar no momento em que Toga passou o algodão imbuído em líquido nas costas de sua mão.

A garota a segurou com cuidado, acariciando a pele com movimentos circulares de maneira lenta e quase sensual. Apertando de leve o local onde passava suas veias, sabia ser apenas parte do trabalho, mas não conseguiu evitar o arrepio que subiu sua coluna quando ela se curvou para ver as veias — ao menos parecia por isso —, deixando a camisa do uniforme mostrar muito mais pele que necessário.

se sentiu mal por encarar o corpo da jovem tão deliberadamente e virou o rosto o cobrindo com a mão livre, tentando de alguma forma recuperar o pouco de honra que tinha. Brigava mentalmente com si mesma, a forçando a juntar ‘suas merdas’ e parar com toda aquela flutuação de sentimentos.

Foi então que sentiu o beliscão da agulha e caiu na besteira de olhar para a mão, pela ampola transparente viu o primeiro esguicho de sangue manchar o plástico e em seguida pulsar enchendo o recipiente. Um vermelho-escuro e viscoso, tão denso que refletia a luz branca acima de sua cabeça como se estivesse banhado em verniz.

— Oh céus — precisou fechar os olhos sentindo imediatamente a cabeça leve pender para o lado, por sorte estava sentada caso contrário teria ido ao chão naquele mesmo momento. Suas pernas estavam moles como manteiga a ponto de derreter, mesmo que tentasse não conseguia nem mover o dedão dos pés.

A risada da enfermeira Toga alcançou seus ouvidos, supunha que a ocasião era realmente engraçada para quem estava vendo de fora, respirou fundo esperando que acabasse aquele momento de tortura. O primeiro clique soou e então só restavam mais algumas.

— São quantas ampolas no total? — perguntou com a voz entrecortada.

— Oito no total.

— Espero que ainda sobre sangue no meu corpo depois disso — comentou mais para si do que a enfermeira com certo sarcasmo e amargor.

— Geralmente se estima que uma pessoa tem aproximadamente 75 ml/kg de sangue então até um litro você fica bem — comentou com certa animação. — Depois disso, com a perda por ferimentos graves ou hemorragias é preciso fazer uma fusão, a perda de 40% do total geralmente significa morte iminente.

Definitivamente não precisava daquelas informações, talvez se fossem jogadas em seu colo durante um jantar onde já estivesse entorpecida por algum álcool que suas amigas a forçaram beber, apenas entraria na onda e riria, falando qualquer besteira. Porém, naquele momento em particular fez seu estômago revirar. Sentia em sua garganta, o incômodo, e no peito o pulsar de uma ânsia.

— Desculpe — pediu de maneira trêmula, engolindo saliva como se fosse areia. — Pode pegar um copo de água? Estou passando um pouco mal.

Toga, olhava atentamente a ampola, não se importando muito com que a paciente estava falando. Completamente fascinada pelo frasco sendo preenchido pelo vermelho intenso, enchendo pelo que ela mentalmente cantava como chu-chu. Às vezes mais rápidos, outros mais lentos, dependendo de como o paciente estava e a velocidade dos seus batimentos cardíacos.



Chu-chu, era tão brilhante.

Chu-chu, tão bonito.

Chu-chu, parecia delicioso.



— Enfermeira Toga?

A paciente a chamou mais uma vez, irritada por ser arrancada do seu transe, ergueu os olhos para encontrar seu rosto pálido e respiração entrecortada. Nada disse, então a garota pediu novamente.

— Pode pegar um copo de água para mim? Por favor?

— Por quê? — diferente de todas as entonações usadas previamente, a maneira que a enfermeira respondeu foi seco, áspero. Completamente diferente da pessoa animada que até então havia interagido.

odiava a sensação de estar atrapalhando alguém, no meio de seu trabalho principalmente, porém, precisava realmente de algo para manter dentro do seu corpo o que devia permanecer nele.

— Estou passando um pouco mal — respondeu por fim sentindo a vergonha e a fragilidade a tomar, era uma pessoa patética por não aguentar um mero exame de rotina.

A enfermeira com cara de boneca não se mexeu de imediato e pela primeira vez deixou morrer o sorriso grande e brilhante, tendo na expressão apenas lábios pressionados numa linha fina. Seu humor mudou novamente quando se afastou.

— Farei isso — um riso fino e histérico saiu de seus lábios —, mas só porque minha nova amiga é tão fofa!

Foi apenas alguns segundos entre ela pegar o líquido e voltar, ter o gelado da água descendo sua garganta fazendo o caminho no interior do seu corpo a fez se acalmar um pouco. Não disse mais nada à enfermeira, mas essa parecia resmungar alguma música em tons baixos enquanto trocava as ampolas.

— Pronto, já acabou!

Finalmente estaria livre daquele terror, ajustou os fios de cabelos percebendo as pontas de seus dedos frios pelo nervosismo. A agulha deixou seu corpo e a enfermeira se inclinou em direção ao furo, ela não viu por conta da cabeça cheio de fios claros em sua frente, mas foi passado um novo algodão molhado e em seguida colado um adesivo cor-de-rosa destinado a crianças.

Ela estava mais que pronta para sair do laboratório e voltar a sua vida normal, a cabeça estava leve e talvez desmaiasse no momento que voltasse a andar. Porém, não iria suportar ficar mais um segundo no local, tudo que precisava fazer, era conseguir se manter de pé até o estacionamento onde sua carona estava esperando.

— São até 15 dias para os resultados aparecerem no site — Toga disse pegando sua mão e colocando um cartão com os dados de acesso.

— Certo, obrigada — respondeu pegando a bolsa e o casaco, nisso a garota ainda não havia soltado. Num gesto inesperado, ela se curvou beijando as costas de sua mão como se fosse uma princesa ou alguma pessoa digníssima de respeito.

— Fique bem, querida .

A mais velha puxou o braço rapidamente com um sorriso nervoso e saiu do local praticamente correndo. Os passos apressados a levaram direto para o estacionamento, e ao carro de cor preto em que — sua melhor amiga —, aguardava. Dentro, a morena tinha um óculos escuro sobre os olhos e o banco estava mais inclinado do que o ergonômico para dirigir.

Incrédula, bateu no vidro acordando a mulher que cochilava, pulou no banco do motorista assustada pelas batidas e rapidamente abriu a porta para que entrasse.

— Céus, você está pálida.

— Prefiro morrer do que ter que fazer esse exame novamente.

— Você pode morrer se não fizer os exames que precisa, isso sim.

A garota jogou o casaco no banco de trás soltando a bolsa nos pés, mexendo as mãos na frente do rosto, levantando alguns dedos e abaixando os outros, murmurando sozinha.

— Que diabos você está fazendo?

— Quantos dedos tem aqui? — ergueu três dígitos.

— Eles te drogaram lá dentro?

— Caralho , responde, quantos dedos está vendo?

— Três sua ridícula — bateu a mão para longe de seu rosto, tirando os óculos escuros e colocando o par com lentes transparentes que ficavam no painel do veículo. Viu também perdido entre algumas moedas, uma bala, e pegou o doce estendendo para a amiga —, coloque alguma glicose para dentro.

— Quanto tempo faz que isso está aí?

— Quer, ou não quer?

puxou o papel colorido estourando na boca a bala com formato de coração e gosto de morango. Respirando fundo em seguida, o carro ainda não estava se movimentando, então encarou que a observava com cautela, questionando com o olhar toda aquela movimentação estranha.

— Vamos sair logo daqui, então que conto — respondeu esfregando uma mão na outra, foi apenas quando deixaram o estacionamento e saíram da rua do laboratório que se sentiu confortável a falar.

Descreveu detalhadamente o que aconteceu, fazendo apontamentos sobre as crianças chorando até chegar na enfermeira de atitudes peculiares. Confessou ter olhado com certo interesse para a jovem, porém focou nas sensações estranhas, as alterações de humor e até o beijo galante nas costas da sua mão.

— Foi muito estranho — concluiu apoiando a cabeça na mão olhando para a rua. — E sobre os dedos. Tenho certeza que o exame dizia oito ampolas, só que pensei ver pelo menos dez, pensei que minha visão poderia estar duplicada.

— Será que a garota viu errado? Se bem que é estranho — acabou por concordar —, amiga pelo menos acabou e você não precisa mais voltar. Já que foi tão boazinha e fez seu exame, levo a gente para comer num lugar legal.

— Não me trate como criança, fofinha. Preciso mesmo é de uma dose de álcool — rebateu, recebendo apenas uma risada em resposta. Pelo menos ter pedido dispensa do trabalho no jornal, para fazer o exame no fim da tarde, tinha algo de vantajoso.

O restaurante escolhido era num boulevard gastronômico famoso da cidade, geralmente sempre estava cheio, contudo, pelo horário conseguiram um bom lugar num dos melhores deles. Foram as primeiras clientes e não se importavam realmente com isso, a dupla estava mais interessada em alimentar as lombrigas em seus estômagos com o máximo que suas carteiras poderiam suportar.

Já estavam no lugar por pelo menos duas horas, conversando sobre tudo um pouco, vendo a noite cair e as cadeiras serem ocupadas por todo tipo de pessoas.

— Seu noivo não vai reclamar de não ter chamado ele? — perguntou girando o gelo restante no copo com um canudo, balançou a cabeça em resposta sorrindo

— Se estivesse na cidade, talvez, mas está viajando a trabalho. Provavelmente tenho que vim com ele depois de novo, não que eu esteja reclamando — acionou o botão chamando o garçom logo em seguida. O homem se aproximou com um tablet para receber o pedido das duas mulheres referente às sobremesas.

Pelo menos naquela noite, conseguiu deixar para trás e esquecer de toda a tensão que se acumulou em seus músculos pelos eventos que viveu durante a tarde. Depois de cada uma devorar um bolo quente com sorvete, a deixou na porta de sua casa.

era uma garota tranquila, não tinha muitos desejos em relação ao mundo, então passava a maioria dos dias em sua casa. Saindo apenas com seus amigos quando convidada, indo trabalhar na redação do jornal da cidade diariamente. Era apenas uma pessoa que tinha sonhos guardados numa gaveta, escolhendo viver uma vida estável e não se aventurar nos caminhos que a vida lhe proporcionava. Poderia ser medo, mas, no fundo, sabia apenas ser uma pessoa acomodada, sem forças para fazer mudanças. Talvez fosse um dos motivos por que ainda morava na casa de seus pais, não tinha que se preocupar com alimento, ou lavar roupas, apenas estavam ali quando precisava.

Quando entrou na casa foi recebida pelos sofás fofos com cor terracota e o tapete felpudo verde-musgo. Não tinha ninguém na sala, tão pouco acordado, mirou o relógio na parede percebendo ser pouco mais de dez horas da noite. Já era um horário em que seus pais já estavam dormindo há algum tempo.

Depois de colocar a chave na pequena mesa de madeira no caminho, seguiu para a cozinha onde pegou uma garrafa de água. Costumava sempre ter uma próxima à cama, e sendo uma preguiçosa nata, não desceria as escadas após colocar o pijama apenas para isso. As escadas da casa rangeram quando subiu os degraus em direção ao segundo andar, no fundo do corredor, conseguia ouvir o ronco suave de seu pai, não escondendo o sorriso ao lembrar que ele sempre negava o fato quando comentavam sobre os barulhos.

No lado oposto, atrás de uma porta manchada, estava seu pequeno mundo. Assim que a abriu, sentiu bater de leve no armário que tinha logo atrás, andou se esquivando dos móveis andando pelos corredores estreitos do espaço. Havia um charme e um conforto naquela confusão apertada que era o quarto, soltou a bolsa e o casaco na cama e logo em seguida adentrou o banheiro.

Sentia o cheiro do restaurante impregnado em suas roupas, então fez bom uso de um banho perfumado e uma máscara de limpeza. Sentia o mentol fresco na pele e uma sensação de tranquilidade embalando seus passos no fim da noite. Ainda tinha algum tempo julgando ser uma sexta-feira, não iria trabalhar no dia seguinte, poderia dar linhas a alguns pensamentos antes de dormir.

Trabalhava na redação do jornal da cidade, e apesar de passar o dia escrevendo, no conforto de seu quarto continuava a escrever. Não as pautas chatas que os superiores mandavam, mas sim os pensamentos sem pé e nem cabeça que vinham correndo em sua direção durante o dia. Um mundo inteiro nascido de uma música, heróis inspirados em seus colegas de trabalhos, vilões que moravam nas cavernas da sala de revisão. Com apenas os posters do quarto de testemunha, escrevia e descrevia os pensamentos num documento sem nome do computador.

Naquele momento não seria diferente, sentou e com as mãos sobre as teclas ponderou sobre peculiaridades que aconteceram durante seu exame. Seria interessante gravar aqueles sentimentos, a angústia que foi esperar o exame com os gritos ensurdecedores das crianças rasgando seus ouvidos. O nervosismo que fazia seu coração bater forte no peito, a boca seca, a língua colada no fundo dela quando se sentiu mal na cadeira do laboratório e por fim, o incômodo que a enfermeira trouxe com suas mudanças de humor e gestos exagerados.

Mesmo sozinha em seu quarto teve arrepios em lembrar da garota, não achava que ela era ruim nem algo do tipo, mas seus olhos pareciam a despir para além da pele. Como se estivesse enxergando seus órgãos ainda em funcionamento.

Terminou o texto com a sensação de liberdade que foi deixar a prisão de paredes brancas e voltar a ver um mundo inteiro de cores. Ter colocado a situação em palavras havia tirado um peso de suas costas, se sentia mais leve, e também sonolenta. Não quis desligar a máquina, apenas a colocou em descanso abaixando a tela e se deitou na cama fofa em seguida. Colchão e cobertor estavam gelados, esfregou os pés um contra o outro numa tentativa de os esquentar e trouxe a manta até o nariz cobrindo a parte inferior do rosto, pouco a pouco se deixando afundar no mundo de Morfeu.



Não era uma visão bonita, em sua frente apenas rochas acinzentadas, grandes, pequenas, pontudas, de todas as formas, o chão de terra batida levantava poeira quando o vento dançava entre suas ruínas. O corpo preso a coluna exposto pela frente estava dolorido, os braços abertos em sua totalidade foram acorrentados com firmeza, o ferro dos grilhões feria os pulsos arrancando as camadas de pele de maneira lenta e dolorosa.

Os tons avermelhados da ferrugem surgiram depois de muito tempo exposto ao sol e chuva daquela prisão ao ar livre. A dor da tortura eterna, um ciclo infinito que recomeçava a cada amanhecer, para si desejava apenas a morte, só que era uma libertação grandiosa demais. Sim, sua pena, seus crimes, foram punidos com o sofrimento eterno.

Músculos estavam puxados até seu limite, doloridos, tremiam pelo esforço. Qualquer pequeno movimento vinha carregado da mais profunda agonia, não sendo o suficiente a mente em frangalhos delirava. O que eram os rios que vertem dos seus pulsos? Percorriam as colunas e vales de seu corpo até se misturar com a terra e criar uma poça de cheiro metálico. E os pontos pretos em sua visão? Aqueles que zuniam constantemente circulando sua mente, criando uma sinfonia na base de seus ouvidos.

E as asas, sim as asas. Sumiam durante a noite, voltavam durante o dia, escuras como a noite, reluzentes como prata. Penas de nanquim iam e vinham incessantemente, constantemente, lhe rasgavam a pele com garras de estilete, arrancavam suas entranhas com bicos de ferro, puxavam de dentro de seu corpo nacos de carne crua pintadas de vermelho.

Todo dia.

Sem descanso.

Todo dia, sem descanso, servia de alimento para os pássaros famintos. Abutres e corvos atraídos pelo cheiro da carniça, entranhas e miúdos expostos ao sol.

Algo pousou em sua cabeça, as garras finas, perfurando de leve o seu couro cabeludo, os cabelos sebosos pendiam para frente junto de seu rosto, tentara espiar o que era apenas para ser recebida pelas penas cor de areia de seu novo carrasco. Um olho dourado em fenda que piscava lento enquanto fitava o próprio reflexo em sua orbe, um grasnar estridente que parecia conversar com sua loucura.

Faminto, sádico, com um riso distorcido, se alimentou do próprio espelho da alma.





Quando acordou o incômodo atrás do olho estava presente, nem mesmo um colírio conseguiu tirar a sensação de tê-lo arrancado por uma ave sanguinária de maneira brutal.

Na semana seguinte ao exame de sangue o sonho perdurou por alguns dias de maneira repetida, era perturbador sonhar o mesmo dia após dia. Revivendo incessantemente as sensações que vinham com ele, culpava também sua matéria quinzenal pela atribulação.

, sua matéria de castigos da mitologia grega fez sucesso entre os editores, ouvi dizer que o pessoal da arte está se empenhando dessa vez.

Seu chefe se apoiou na divisória entre sua mesa e a de seu colega, animado pelos bons resultados do setor.

— Que bom, fico feliz — sorriu em retorno, se sentindo menos animada do que gostaria.

— Como é aquele famoso — estalou os dedos tentando se lembrar —, o que tinha o fígado devorado por corvos.

— Prometeu — explicou a dona da matéria.

— Isso! Eles vão fazer a ilustração principal desse em específico.

Sua colega, , afastou a cadeira do próprio cubículo — Comia o fígado? Que tipo de castigo é esse?

Assim como , também a conhecia de longa data, inclusive cursaram jornalismo juntas, tendo apenas meses de diferença entre suas contratações. Seu trabalho era mais voltado a matérias ligadas à saúde, bem diferente de que cuidava de fatos curiosos e estranhezas.

Respirou fundo antes de proclamar um dos motivos de seus sonhos estranhos.

— Prometeu foi um titã que deu origem aos homens e todos os animais junto de seu irmão Epimeteu. Para tornar os seres humanos mais inteligentes, e supostamente superiores aos outros, roubou o fogo do céu e entregou aos homens. Zeus não gostou e condenou ele a ficar 30 mil anos acorrentado no topo de um monte com o fígado exposto do que aves de alimentavam todos os dias.

— Que coisa horrível, e o irmão fez o quê?

parou por um segundo — Realmente é uma boa pergunta, não fui tão longe nas minhas pesquisas.

— Acho que para você deixar seu irmão preso sendo comida de passarinho por 30 mil anos, tem que ser muito babaca.

deixe uma continuação escrita do que aconteceu com o irmão, vamos fazer disso uma série. Pessoas gostam deste tipo de coisa, comece a trabalhar. , bom trabalho com a matéria sobre saúde mental.

Tão rápido quanto veio, o homem se foi e a amiga se virou roubando um chiclete da mesa vizinha sem pedir.

— Mais que uma matéria é um manual de sobrevivência para essa redação, guarde uma cópia do meu texto na sua gaveta , estou avisando.

A garota riu alto e voltou a encarar a tela de seu computador — Farei isso. A propósito, quer sair no almoço? É dia de promoção naquele restaurante da rua aqui do lado.

— Você me quebra falando comida e promoção na mesma frase — estendeu a mão por cima da divisória recebendo um high-five como confirmação.

Seu chefe deu a matéria do próximo mês, então nem precisaria pensar muito, passou o restante do dia pesquisando, visitando bibliotecas e os mesmos historiadores que a ajudaram com a matéria anterior. No fim, o pobre do Epimeteu também não teve um final feliz, porém bem melhor do que o do irmão.

O tempo voou e logo se viu no prazo para imprimir os exames de sangue, o retorno com seu médico estava marcado, então tudo estaria certo. Seus pais e amigos iriam parar de pegar em seu pé para cuidar da saúde. Admitia que não levava a vida mais saudável do mundo, mas não era tão ruim assim, tinha seus méritos; bebia água na quantidade indicada, 35ml por kilo de peso.

Viu sua mãe na cozinha quando chegou em casa a noite, ela gritou algo quando passou pela porta subindo direto para o quarto. Um banho para tirar o cheiro do escritório era tudo que precisava, o lugar tinha um odor peculiar de tinta, papel e mofo impregnado em suas paredes, tudo envolto pelo tabaco que vinha do cigarro da sala dos editores.

Felizmente logo foi substituído pelo frescor de seus sabonetes, com a toalha envolta no pescoço, após se vestir, ligou o notebook. Cruzou as pernas sobre a cadeira, em seguida pegou o cartão com login e senha e entrou no site do laboratório para resgatar seus exames, ou pelo menos essa era sua ideia, só que nada constava lá.

Revirou cada aba, saiu e entrou de novo sem ter sucesso. Contou nos dedos os quinze dias e até havia se passado um somando dezesseis, só podia haver algum engano.

— Não tem o que fazer — sua mãe disse no momento do jantar — liga pela manhã e qualquer coisa passa lá a tarde. Para desmarcar a consulta depois só daqui a dois meses.

Tanto trabalho extra.

Durante toda manhã, assim como a tarde infernizou a vida das pobres atendentes, sabia que elas não tinham culpa. Mas o retorno sobre o que havia acontecido nunca veio, sempre era ‘vamos verificar e retornamos’, estava à beira de ter uma síncope quando pediu para seu chefe uma dispensa de meia hora mais cedo para pegar um táxi e ir até o outro lado da cidade cobrar pessoalmente. Com sorte sairia de lá com os exames em mãos.

— Realmente não está no sistema.

— Sim, eu vi isso meu bem, por esse motivo vim até aqui — respondeu com um toque de fúria já tomando sua voz. — Não tem como o sangue simplesmente sumir não é?

A atendente torceu o nariz — Não, só um segundo, vou chamar a supervisora.

Apoiada no balcão, abaixou a cabeça, erguendo a mão até o ombro e o apertando de leve. Passos se aproximaram e assim que pararam ergueu os olhos, tomou um susto quando viu um rosto sorridente de boneca e cabelos cor de areia bem na frente de seu rosto.

— Minha amiga , também está fofa hoje.

Toga a enfermeira tinha o rosto a pouca distância do seu, o sorriso largo se erguia como uma meia-lua, destacando as bochechas coradas e os caninos afiados.

Sorriu sem saber como reagir, salva pela atendente que voltou para seu lugar acompanhada de uma mulher mais velha. Ligações, conversas e após trinta minutos de um belo chá de cadeira recebeu o retorno de que seu exame de sangue foi excluído do sistema.

— Não é possível, e agora faço o quê? Preciso passar por toda tortura novamente?

— Sinto muito, mas é o necessário.

— Enfermeira-chefe, eu tenho quase certeza de que imprimi esses exames ontem, junto de alguns outros. Alguém disse que viria buscar — outra das garotas comentou. — Toga!

Chamou a ajudante que apareceu quase pulando pelo corredor.

— Se lembra daqueles exames que eu te entreguei? Alguém veio buscar?

— Não, mas deixei no escritório ao lado da caixa laranja.

A primeira moça que a atendeu, abaixou a cabeça resmungando baixo — Me desculpe, achei ser um descarte e coloquei dentro da caixa.

— Céus, a incompetência de vocês me assombra, vocês possuem boca. Perguntem o que é preciso fazer com o material antes de tomar uma atitude. Onde está a caixa? Já foi para o lixo?

— Toga levou embora — apontou a mesma que lembrou dos exames —, ela tem um tio que recicla papel, não é? Ele faz bom uso desse tipo de coisa.

— Sim, está comigo. Por sorte ainda não fiz nada com ela, se quiser pode vir até a minha casa pegar , não é tão longe daqui é possível ir andando.

Um calafrio percorreu sua espinha, não era uma situação suspeita demais? Só que era o preço a se pagar para não entrar na agulha novamente e nem perder a consulta por ter que esperar mais quinze dias pelo resultado.

— É o que me resta fazer, certo?

— Toga pode finalizar hoje, e resolver logo isso — a enfermeira-chefe ordenou —, vocês da recepção, vamos fazer uma reunião depois do expediente.

Tristes as meninas concordaram e em poucos minutos se viu parada do lado de fora aguardando a garota de riso solto.

Era por seus exames, só faria isso por eles.

— Podemos ir! — num instante ela segurou o braço de mantendo o corpo perto — Achei que não ia ver você de novo, estou tão feliz!

Toga agia e se vestia como uma colegial, fofa, porém ainda havia algo completamente enervante que fazia até os pelos da sua nuca se arrepiarem. A mais velha só não conseguia discernir se era por uma coisa boa ou ruim.

— Então, onde é sua casa? — mudou de assunto rapidamente vendo alguns olhares recaírem sobre si na rua. Discretamente pegou o telefone mandando uma mensagem para suas amigas.

— Perto.

Poucas ruas foram dobradas até que o prédio cinza de poucos andares aparecesse em sua visão, ele por si só não era muito simpático. Toga a guiou para dentro e insistiu para que entrasse enquanto pegava os exames.

— Não pode ficar parada no corredor, vamos entre, entre! Quer um chá? Vou fazer um chá para você.

— Não precisa, eu realmente só quero os exames.

Foi então que seu rosto fechou e o sorriso deixou seus lábios — Eu tive todo o trabalho de vir com você até aqui, pegar seus exames que poderiam estar no lixo. Por que não quer tomar meu chá? Você me odeia?

— Não! De jeito nenhum, é só que estou cansada, não quero te atrapalhar — olhou envolta do apartamento não vendo nada de suspeito, apenas um cheiro de alvejante bem forte. Tão intenso que fazia suas vias arderem, coçou o nariz rapidamente.

— Vamos tomar um chá! — a personalidade novamente deu uma virada e ela andou até a cozinha.

Não tinham fotos, ou muitos móveis, Toga parecia ser alguém sozinha, talvez — olhando com bons olhos —, só era uma pessoa feliz em ter companhia. Ela mesmo só levou amigos para casa depois dos dezesseis anos e se lembra de ter ficado ansiosa por dias esperando as amigas que via com frequência passar uma noite.

A loira voltou com dois copos cheios de uma bebida marrom turva, chá gelado pronto, se permitiu sorrir. Não tinha muito o que fazer, apenas transferir da garrafa para o copo.

Toga bebeu do chá esperando com ansiedade que a companhia fizesse o mesmo, deu dois longos goles e então colocou a bebida de lado — Onde estão os exames?

— Relaxa porque não termina o chá?

— Desculpe se está com alguma impressão errada, mas eu realmente vim só pegar os exames — ela ergueu a mão para explicar —, se não tiver eles, vou embora.

— Tá, está aqui nos fundos — ela explicou e andou até um quarto, de longe conseguia ouvir os barulhos de coisas sendo movimentadas, mas não parecia papel.

A garota acariciou os braços, desconfortável com a situação, pequenas gotas de suor se formaram em sua testa. De repente sua boca ficou seca e a língua grudou no fundo dela, com um amargor sem tamanho. Dando voz ao desespero, pegou o copo de chá terminando de beber o restante, não foi de nenhuma ajuda, o líquido embolou em sua garganta e fez doer os músculos na hora de engolir.

Passou a mão na testa se livrando da umidade, abanando o calor crescente em sua pele da maneira que podia. De repente a bolsa em seu ombro ganhou toneladas, ou foram suas pernas que perderam a força, recuou até o pequeno balcão se apoiando, piscando forte para retomar o foco e respirando pela boca.

Ela havia mandado a mensagem de socorro, certo?

Do quarto, Toga sorriu quando ouviu o som abafado de algo caindo sobre o carpete, alinhou suas facas verticalmente na cama já manchada de vermelho e voltou para o cômodo original. estava caída lutando contra as drogas em seu sistema sem sucesso, vulnerável, fraca como um filhote de pássaro que caiu do ninho.

A enfermeira se aproximou da garota com passos leves se abaixando em seguida a livrando do peso da bolsa e arrumando os fios de cabelos que estavam colados com suor em sua testa para trás. Acariciado com os polegares, as bochechas coradas, seus bonitos e inocentes olhos lutavam para ficar abertos, mas não para conter as lágrimas acumuladas em seus cantos.

— Não se preocupe , vou fazer você se sentir muito bem.

Toga selou os lábios com o garota, serpenteando a língua por seu lábio inferior, o travando entre os dentes. A mordida que deu na carne macia arrancou um suspiro da loira quando sentiu o gosto metálico envolver sua boca, quente era muito mais delicioso do que quando bebido direto de um tubo.

Mordeu a bochecha deixando cravada a marca de seus dentes, tão macias que sentia que podia as mastigar ali mesmo, enquanto ainda presa ao corpo. Foi então que se lembrou que estava na sala, os vizinhos iriam reclamar se vissem as manchas em seu carpete, de novo.

Pelo braço, sem cuidado, arrastou o corpo quase desmaiado até o quarto, onde o jogou descuidadamente no colchão sujo. Tal como uma carne no balcão de açougue. Sentou sobre a cintura de , sem cerimônia. A garota estava descabelada com marcas vermelhas pelo rosto e os lábios inchados pelas mordidas.

— Fofa. Tão fofa, se eu for como você as pessoas vão gostar de mim? Né, ?

Não havia resposta além de grunhidos e resmungos incompreensíveis, um peito que saltava como se estivesse com um princípio de convulsão. Os braços ainda moles sem controle se moveram tentando proteger o corpo de alguma forma, sem efeito.

Toga pegou a primeira das facas enquanto segurava ambos pulsos da garota com a outra mão, resmungando uma melodia alegremente. A lâmina cortou as linhas que prendiam a camisa social de botões, revelando debaixo do tecido o conjunto de lingerie simples preto.

A ponta da lâmina começou a trilhar seu caminho raspando a pele da altura do umbigo, subindo pelo centro do corpo, cortando a junção do sutiã no caminho e descansando na altura do pescoço. Deixou que faca ficasse equilibrada no seu pescoço e com as mãos em concha tomou os seios da garota nas mãos, sentindo sua maciez, e o pulsar do coração que era tão forte a ponto de fazer o tórax de se mover.

Os dedos de Toga dedilhavam pelos ombros percorrendo a extensão dos ombros até os pulsos da garota, os levantando como se fossem os de uma marionete.

— Não precisa ficar com vergonha — Toga a mexeu cruzando os braços moles sem movimento —, você pode me tocar também.

Levantou uma das mãos, de dedos frios até o rosto, sentindo uma sensação desconhecida, fechando os olhos para aproveitar o momento de afago. Uma risada maníaca surgiu em seus lábios.

— Disse que sou fofa? — continuou respondendo às vozes em sua mente com um sorriso distorcido. — Você é muito mais.

A lâmina no pescoço escorregou para o lado, com um clicar de língua insatisfeito a loira soltou ambos braços de maneira teatral voltando apertar entre os dedos o cabo de madeira.

O corpo de estava perdido, mas a alma estava presa atrás das dos olhos que vertiam lágrimas. Os grito embaralhados surgiam apenas em sua mente, e era ainda pior do que usar a própria voz, pois não ficava rouca. Pedido atrás de pedido, clamor para todos os nomes que podia se lembrar, esperança que diminuiu a cada corte.

O primeiro veio bochecha, aquela que Toga disse querer mastigar, a trilha de vermelho escorreu pelo pescoço se acumulando na clavícula, quente e viscoso de um vermelho brilhante. Como sonhou em tê-lo direto da fonte nas semanas seguintes a do exame, cru em sua pureza. Ela se arrepiou sobre as roupas e tremeu com seu corpo se curvando em deleite, eroticamente se esfregando contra entre suas coxas. A garota pegou a mão caída ao lado do corpo e cortou as pontas dos dedos pressionando contra sua língua como canudos, chegava a ter lágrimas nos olhos tamanho prazer que naquele momento. Tinha vontade de mergulhar em suas entranhas e apenas sair quando restasse apenas o corpo seco.

Ela não aguentava esperar mais, seu interior pulsava pedindo por mais, desejava mergulhar em de todas as maneiras, esticou a mão até a faca maior, vermelho escorria de sua boca manchando o pescoço e as vestes. Tremores percorrendo seu interior chegando às pernas e suas dobras.

— Desculpe — passou a língua pelo lábio. — Você é tão gostosa, que vou ter que te matar.



~*~



achou estranha a mensagem que recebeu da amiga, sabia de toda a luta com o laboratório, mas não entendeu como os exames foram parar na casa de uma funcionária. partilhava do mesmo sentimento, havia um agouro a percorrendo a cada momento, uma aflição inexplicada que a fez sair com a amiga atrás de . Abençoado fosse a tecnologia e a localização em tempo real, não demorou a encontrar o prédio de aparência cinza e mal cuidada.

— Não tem nenhuma resposta — disse.

— Invadir é crime, é melhor esperar a polícia chegar e dar um jeito.

— Se eles derem um jeito né? — reclamou com o homem tendo plena consciência de que em alguns casos de nada adiantava, num segundo olhou para trás como se tivesse sentido algo passando por suas costas, só então viu o vermelho e azul das viaturas se aproximando.

O trio saiu do carro, explicando brevemente a situação e conseguindo de alguma forma convencer os homens de que algo estava errado.

Queriam estar errados, mas não estavam.

nunca iria se esquecer de como ficou paralisada ao ver o corpo de sua preciosa amiga em retalhos, sem vida, violado até mesmo depois da morte, pálido pela perca de quase todo o sangue do corpo e com ossos expostos através da carne. Além disso, o sorriso do seu algoz de orelha a orelha andando para a viatura de polícia completamente coberto de vermelho.

O quão torturante devia ter sido aguardar em silêncio enquanto a vida escapava de seus dedos?

Para ela restava apenas se lamentar e colecionar inúmeras perguntas que nunca teriam respostas, sempre embaladas pela dor de perder uma sonhadora.

Não teria mais a mão passando bilhetes por cima das divisórias, ou de quem roubar balas e outras besteiras escondidas na gaveta. Na mesa ao lado da sua restariam apenas as memórias de alguém que nunca iria voltar.

Como um último trabalho se forçou a terminar a matéria sobre Epimeteu, doloroso, mas sentia ser o necessário para finalizar os assuntos da amiga na terra. Não acreditava em céu ou inferno, mas que fosse o suficiente para que seu espírito continuasse em paz.

Teclou as últimas frases da matéria com os olhos embaçados pelas lágrimas que caíam.



Pandora, a esposa de Epimeteu abre a caixa que lhe foi incumbida de proteger, regida pela curiosidade. A caixa, continha todos os males que viriam para tornar a vida do homem em um caos, e apesar de tentar a fechar rapidamente, a maioria já havia escapado para o mundo, restando dentro apenas o mal da esperança.



Dizia Friedrich Nietzsche,“ A esperança é o pior de todos os males, pois ela prolonga o sofrimento do homem”.






Fim...


Nota da autora: Obrigada por ler até aqui!
Referências de escrita:
Dahmer, Um Canibal Americano | Netflix
Conversations with a Killer: Jeffrey Dahmer Tapes | Netflix

Até mais, Xx!

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