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Revisada por: Calisto

Última Atualização: 19/072024

Os corredores do castelo estavam vazios, alguns deles apenas iluminados fracamente pela lua. O silêncio reinava por todos os lados, assobiando suas canções no anoitecer. A grande maioria dos quadros ressonava de maneira tranquila, assim como os estudantes, deitados confortavelmente em suas camas fofas nos salões comunais. Já fazia algumas horas desde o toque de recolher, e pela penumbra lá fora, com certeza passava da meia-noite.
Sirius Black, provavelmente, não era a única pessoa acordada naquele horário, mas certamente era o único com coragem para desafiar as regras da escola e se esgueirar pelos corredores.
O rapaz tinha uma expressão atenta em seu rosto enquanto caminhava da forma mais silenciosa que podia, se encolhendo no menor sinal de movimento e parando imediatamente para ouvir melhor caso algum barulho se fizesse presente.
A adrenalina percorria suas veias de uma forma gostosa, o que lhe proporcionava uma vontade de rir de uma forma engraçada. Era sempre em situações de perigo ou risco de ser pego quebrando as regras que ele se sentia mais vivo.
Aproveitando-se das sombras, Black arriscou correr alguns metros, tendo certeza de que ficava na ponta dos pés durante o ato, mas antes que pudesse achar graça das coisas que sua mente era capaz de projetar, a sensação de pânico tomou conta de si.
Por fugazes segundos, ele pôde jurar que ouvira uma porta sendo aberta próximo demais de onde o rapaz estava. Se fosse algum dos professores, sua cota de detenções ia aumentar ainda mais.
Não que ele ligasse, mas precisava fazer logo aquilo que havia lhe tirado da cama.
Certificando-se de que não havia passado de brincadeiras de sua própria cabeça, Sirius voltou a caminhar de forma sorrateira, sorrindo enviesado assim que conseguiu se esgueirar para fora do castelo.
A lua daquela noite era crescente, e iluminava os campos da escola de uma forma genuinamente bonita, porém Black não tinha tempo para ficar observando paisagens noturnas, então em vez de parar ele prosseguiu com sua caminhada.
Seus dedos apertaram o embrulho que carregava por baixo da capa, trazendo-o contra seu corpo, como em um gesto para conferir se o objeto ainda estava ali, então apressou seus passos e não hesitou em adentrar a Floresta Proibida.
Sempre que percorria aquele terreno, Sirius tinha a sensação de que até o ar ao seu redor mudava. Era como se qualquer som que viesse do castelo não fosse capaz de alcançar as copas das árvores, e o mesmo se aplicava à luz da lua, já que em questão de minutos o rapaz precisou acender uma luz na ponta de sua varinha para que pudesse enxergar por onde passava.
Se ele ouvia o farfalhar rente aos ouvidos, como se algo soprasse sua pele? Definitivamente, sim, assim como Sirius era capaz de captar com distinção os uivos que cortavam a noite e um barulho de cascos que vez ou outra trazia a impressão de serem também passadas humanas.
Ao contrário do que muitos pensavam, sua imprudência possuía limites. E foram esses mesmos limites que o impediram de seguir muito adiante. Um resquício de sua consciência mostrou-lhe que se embrenhar demais na floresta jamais seria uma boa ideia.
Assim que parou, Sirius deu uma boa olhada ao seu redor, apenas para não perder o costume de verificar se estava realmente sozinho, e ao constatar o óbvio, passou a procurar o local perfeito.
Seus olhos analisaram cada canto, até mesmo alguns galhos podres atirados no chão. Então uma das árvores lhe atraiu como se gritasse a ele que lhe notasse. Aquilo era um carvalho, talvez? Black jamais saberia dizer, mas tinha certeza de que, se Remus estivesse ali, teria a solução daquele pequeno ‘mistério’.
Se olhasse para cima, Sirius não conseguiria distinguir até onde aquela árvore iria, mas quando seu olhar se direcionava para baixo, suas raízes eram bastante visíveis. E após uma análise rápida delas, percebeu um formato que lembrava muito alguma toca de coelho.
Aquele era o local perfeito.
Esfregou as mãos uma na outra, cheio de empolgação, então tirou o embrulho de dentro da capa, observando-o por alguns segundos antes de se abaixar e escondê-lo ali na toca de coelho.
Perfeito, sua empreitada havia sido bem sucedida e, no dia seguinte, ele poderia comemorar com o restante dos marotos.
— Sabe, Black, quando alguém foge durante a noite para esconder algo na Floresta Proibida, o mínimo que se espera é a cautela para não ser pego e a inteligência para escolher um lugar menos óbvio do que as raízes de um carvalho. — Uma voz feminina fez com que Sirius se sobressaltasse.
Soltou uma risada anasalada, negando com a cabeça antes de procurar a dona da voz com o olhar, já que sabia muito bem de quem se tratava.
— Será que é falta de inteligência mesmo? Acho que justamente por ser um lugar manjado que jamais suspeitariam que há algo escondido nessas raízes — respondeu, no mesmo instante em que seus olhos foram de encontro à , encostada despreocupadamente naquela mesma árvore, que agora ele tinha a confirmação de ser um carvalho.
— Até que seu argumento é válido — ela disse, após alguns segundos usados para refletir sobre a afirmação dele. — E ele faria um sentido razoável, se você não se deixasse apanhar em flagrante. — Então sorriu enviesado.
A primeira reação de Black ao ouvir aquelas palavras havia sido de indignação, afinal, quem disse que ele havia deixado que o apanhasse? Não ele, que sempre se esgueirava pelos corredores do castelo quando deveria estar dormindo no salão comunal da Grifinória. Pensou em protestar, mas então o rapaz percebeu um outro detalhe bastante relevante.
— Quer dizer então que você estava me seguindo, ? — A encarou com interesse, sorrindo da mesma forma enviesada que ela, mas sentindo que suas entranhas se reviraram de nervosismo.
Era assim que Black se sentia todas as vezes que passava por perto de . A princípio, ele até tentou negar para si mesmo o quanto a garota lhe atraía, mas com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais difícil tanto recusar quanto disfarçar. Às vezes, ele até cogitava se não possuía alguma espécie de ímã, só assim poderia ser explicado o quanto aquela garota tinha o poder de puxá-lo inteiro em sua direção.
, astuta como era, não apenas havia percebido as intenções de Black, como gostava de usar cada oportunidade que lhe surgia para provocar o garoto. Primeiro, porque achava engraçado ver como ele ficava nervoso, mesmo mascarando isso com toda a postura ousada. Segundo, porque ela mesma não poderia negar que o sentimento era recíproco. Sirius era exatamente o tipo de garoto problema com o qual ela adoraria se encrencar.
A garota então se desencostou da árvore em que estava e deu alguns passos na direção de Black, ficando próxima demais dele, já que o rapaz não recuou.
— Não sei de onde vem esse seu ego enorme, Black, mas tenha certeza de que te seguir até a Floresta Proibida nunca foi um item na minha lista — retrucou, e um pequeno movimento dele os deixaria colados um ao outro. Sirius estava cada vez mais tentado a fazer isso.
— E mesmo assim, estamos aqui, não é? — Precisou fechar as mãos em punho para não ceder às suas vontades.
— Mesmo assim, estamos aqui. Embrenhados na Floresta em plenas duas horas da manhã. — deixou um sorriso de canto moldar seus lábios.
— Duas da manhã? Não imaginei que fosse tão tarde — Sirius comentou, levemente surpreso. A impressão que tinha era que o tempo acelerava quando encontrava a garota.
— Mais um pouco, e talvez você visse algumas coisas interessantes por aqui — segredou, mas, de repente, ele não se via tão curioso assim para saber.
— Vejo algo interessante bem aqui na minha frente — confessou, fazendo a garota erguer a sobrancelha sutilmente.
— Então passei de fofoqueira para alguém que lhe interessa? Acho que já está na hora de você decidir o que quer, Black. — Sirius pôde sentir que algo dentro dele gritava a resposta.
— Eu quero sair com você, . — Num impulso, as palavras escaparam de seus lábios.
ficou surpresa, já que não esperava uma confissão como aquela, e muito menos um convite como aquele.
— Sair comigo? — repetiu, apenas para ter certeza de que havia entendido corretamente.
— Sim, sair com você — ele confirmou, e ela se sentiu animada de um jeito completamente diferente para ela.
— Tudo bem, Black. Eu aceito. — As entranhas dele, que antes se reviravam de nervosismo, passaram então a revirar de empolgação. — Mas com uma condição.
Sirius não queria demonstrar a pequena frustração ao ouvir aquilo, nem mesmo seu nervosismo, que havia duplicado, porém não conseguiu evitar. se deliciou com aquela reação, então prosseguiu antes mesmo que ele se pronunciasse.
— Quero saber o que foi que você escondeu ali. — Acenou com a cabeça na direção das raízes entocadas.
Black analisou as feições da garota, procurando por algo que denunciasse uma brincadeira de sua parte, mas no fundo ele sabia que não era.
— Temos um acordo então — concordou, esperando a informação privilegiada.
— Muito bem. Então na sexta, quando formos a Hogsmeade — acertou os detalhes só para ganhar um pouco de tempo.
— Na sexta. Agora desembuche — falou, perdendo um pouco da paciência.
— Certo. No embrulho tem um caderno velho — confessou, fazendo com que a garota quase praguejasse baixinho, limitando-se apenas a fazer uma careta de confusão.
— Um caderno velho? E por que, por Merlim, você se deu o trabalho de vir enterrá-lo aqui? — questionou.
Sirius então abriu um sorriso enviesado, lhe encarando como se todas as respostas estivessem ali.
— Isso, , é uma conversa para uma outra hora. — Piscou na direção dela e, sem nem se despedir de forma apropriada, sumiu pelo lugar de onde havia vindo.



FIM


Nota da autora: Eu amo essa short. Ela foi tão gostosinha de escrever! Prometo que a continuação dessa vez vem mesmo.
Se quiser acompanhar tudo o que eu escrevo, me siga lá nas redes sociais.
Beijos e até a próxima,
Ste a.k.a. Saturno

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