Codificada por: Cleópatra
Última Atualização: 31/10/2024
O início da manhã era marcado pelo sol tímido que raiava no horizonte da zona sul de Londres, tomando toda a extensão de arranha-céus e residências verticais que eram típicas daquela região. Os passarinhos começavam a dar os primeiros pios nas árvores de Carvalho, abrindo as asas em um espreguiçar preguiçoso e partindo em busca de alimento, deixando os filhotes aninhados em um conforto maternal sobre o emaranhado de galhos e folhas que formam os ninhos. Que previsível seria a vida de um pássaro se permanecessem pelo resto de suas vidas nos ninhos, cuidados e alimentados pela mãe que os abastece.
Talvez se a vida seguisse essa dinâmica constante, não seríamos capazes de prestigiar os diferentes pássaros existentes, frutos de uma evolução intensa e necessidades imprevisíveis. Bicos grandes, profundos, adaptados para tocas de insetos, ou até mesmo para a pesca em rios. E as penas? Penas densas, outras finas, algumas semelhantes à plumas. As cores integram os mais diversos tipos de combinação: camuflagem, texturas, e mimetismo. Que sorte a dos pássaros de serem passíveis de mudanças necessárias, e fazerem disso instrumento de maior beleza e evolução.
Mas é claro que, os seres humanos não saem ilesos da natureza metamórfica das mudanças da vida. Que sorte a nossa, vivermos momentos bonitos e imutáveis que nos fazem ser quem nós somos: únicos.
- Tem certeza que vai conseguir se cuidar, querida? - o Sr. Cheveron virou o rosto em direção à filha, comprimindo os lábios em uma expressão em dúvida. Stella deu um sorriso mínimo ao pai, tombando a cabeça para o lado levemente - você só esteve em Gloucestershire antes, tenho medo que você não se adapte à Hogwarts. Você sabe que lá as coisas são muito grandes e …-
- Pai - Stella interrompeu gentilmente, como um sinal para que parasse por ali - por favor, é a trigésima vez que me pergunta isso - respirou profundamente - eu vou ficar bem! - afirmou com mais afinco, quase como num tom impaciente
- OK, OK - ele levantou as sobrancelhas em rendição, negando com a cabeça ao tentar espantar os pensamentos de preocupação que o rondavam. Temia que algo pudesse acontecer à filha, tendo em vista o histórico recluso que estavam vivendo nos últimos 18 anos.
De família tradicionalmente bruxa, Andrew Cheveron descendia de uma milenar linhagem de corvinos; sendo um homem de muito intelecto e conteúdo como previa a própria casa de origem. Viveu boa parte da vida viajando entre o mundo trouxa e o mundo bruxo, devido ao cargo de Diretor do escritório coruja-correio e escritor de diversas obras voltadas à escola de Hogwarts. Como um escritor que se preze, a curiosidade pelo mundo trouxa era algo incontrolável, tão impossível de se conter, que o fez se apaixonar por Louise, uma escritora romancista do mundo trouxa. A paixão entre o casal teve como fruto Stella Cheveron, uma garotinha perspicaz e curiosa de cabelos escuros e pele leitosa, a mestiça dos Cheveron. Devido a alguns acontecimentos atípicos do mundo bruxo, a família Cheveron optou por viver em uma cidade pequena do condado de Gloucestershire, no interior da Inglaterra, criando Stella sobre a pequena Escola de Magia do Condado de Gloucestershire, bem longe dos perigos que temiam para a única filha.
- Eu preciso ir, ou vou me atrasar e continuar dando combustível para as paranóias do senhor - Stella comentou em ordem, abrindo a porta do carro e começando a puxar o enorme malão do banco traseiro. Junto a ele, puxou a gaiola da coruja inteiramente preta de nome Bagheera. O pai pulou para fora do banco e ajudou-a a arrastar o malão, enquanto Stella jogava a mochila sobre os ombros e segurava Bagheera com a outra mão - agora sou eu quem pergunto - disse de repente e parou antes da mureta de passagem da plataforma 9 ¾
- O que houve? esqueceu de algo? - perguntou o pai preocupado, já direcionando olhares ao redor de ambos, como se procurasse por algo inexistente
- Agora sou eu quem pergunto - suspirou, fitando o patriarca firmemente - o senhor vai ficar bem? - imitou o próprio, rindo baixinho do tom que o pai havia proferido antes. Andrew revirou os olhos e assentiu com a cabeça brevemente
- ANDREW! - antes que o pai pudesse responder, ouviu-se a voz de Xenofílio Lovegood, o padrinho de Stella e grande amigo de Andrew Cheveron - sabia que te encontraria aqui! - abriu os braços simpático, aproximando-se de Andrew em um abraço aconchegante - elas crescem rápido, não? - virou-se na direção de Stella
- Tio! - a garota mais baixa sorriu e andou em passos rápidos até o platinado, abraçando-o em um aperto aconchegantemente familiar - é bom te ver aqui, me sinto menos perdida - sorriu simples, apoiando as mãos na cintura em sinal de prontidão
- Oh, Stella! - ele abriu um sorriso que espremia seus olhos em pequenas bolsinhas sentimentais - não consigo te ver e não pensar que eu e Andrew fizemos um bom trabalho - concluiu, direcionando um olhar ao amigo - Luna está radiante, parece em outro mundo - riu - acho que ela te espera em alguma dessas centenas de cabines - apontou com o indicador, incentivando-a a tomar a última dose de coragem necessária para partir daquela despedida - ou seu pai está aqui se lamentando? digo - tossiu - se certificando que ficará bem - lançou uma piscadela, o que fez Stella levantar os ombros em concordância
- Acho que entendi o recado. Você não precisa de mim, talvez seja eu quem precise de você - brincou, largando o malão no chão e abraçando a filha confortavelmente. Stella suspirou calmamente, afagando as costas do pai e guardando aquele quentinho em seu coração para usá-lo sempre que sentisse saudades de casa - eu te amo, garotinha - disse baixinho, já se dissipando do abraço de despedida
- Eu também, Sr. Cheveron. Eu também - afirmou com um sorriso nostálgico, tentando não tornar aquele momento algo melancólico e triste. Pegou os itens novamente e lançou um último olhar ao pai e ao padrinho, logo partindo em direção à passagem de plataforma, e assim o fez. O tranco jogou seu corpo um pouco longe, fazendo com que a coruja Bagheera píasse alto dentro da gaiola, chamando
atenção de alguns presentes próximos ao expresso. Apressou-se em não reparar muito ao seu redor e somente adentrar o expresso, ansiosa por descobrir um mundo que nunca havia prestigiado antes: a Universidade de Hogwarts.
- Finalmente! - murmurou aliviada, adentrando o espaço e deixando sobre o banco a pequena bolsa transversal que utilizou. Virou-se para observar as últimas cenas de despedida na plataforma 9 ¾ e ficou um tempo presa sobre aqueles momentos, quase como se fossem seus. Sorriu de modo nostálgico ao lembrar da última troca com o próprio pai, sentindo-se como se estivesse naquele aguardo há horas, ainda que fossem poucos meros minutos.
- Cheveron?! - ouviu o próprio nome ser chamado e virou-se de imediato para a porta da cabine, quase como uma coruja que flagra um movimento sorrateiro no ambiente - te procurei por todos os vagões, estava quase achando que seu pai não havia lhe trazido - Luna Lovegood, parada sobre uma cabeleira platinada e um conjunto de acessórios extravagantes que combinavam com a camiseta personalizada (por ela mesma) da Universidade de Hogwarts. A loira tinha uma expressão leve de ansiedade no olhar, parecia ter procurado Stella aos sete palmos do chão
- Luna! - abriu um sorriso largo, levantando-se em um impulso rápido e indo até a loira lhe oferecer um abraço - me desculpe, utilizei toda a minha concentração para
despachar meus malões e depois procurar uma cabine vazia - admitiu em um riso frouxo - acho que esqueci que estamos indo para a mesma universidade no meio do caminho
- Só te perdoo por quê seu pai me deu um exemplar de “Magia experimental: tudo que um bruxo iniciante deve saber” - riu baixinho, sentando-se de frente para a garota e colocando o livro em questão sobre fechado sobre o banco de camurça
- O bom de se ter pais escritores, é que você tem acesso antecipado aos livros - respondeu Stella em um tom brincalhão, cruzando as pernas sobre o banco - é um ótimo exemplar, você não vai se arrepender! - sugeriu orgulhosa - tem todas as histórias que ele conta durante o natal, feriados, inclusive as..- ponderou brevemente, segurando sua língua dentro da boca ao lembrar-se sobre alguns tópicos que poderia considerar sensíveis - …inclusive as histórias de família - sorriu torto, tentando não aprofundar-se tanto sobre aquele tema em específico
- …ele fala sobre as histórias com mamãe? - os olhos azuis vibrantes de Luna tornam-se cinzentos por um curto espaço de tempo, suficiente para Stella perceber e arrepender-se da lembrança infeliz
- Sim, Luna - foi tudo que escapou de sua boca, de modo simples e direto, mesmo que quisesse segurar a reação tão defensiva. Não se permitia vivenciar qualquer melancolia ou sentimento mais profundo naquele momento, não era o contexto - com certeza, as histórias de sua mãe - sorriu em uma fração de meio segundo, tornando a adquirir uma expressão pensativa. Luna também não pareceu se adentrar tão profundamente sobre aquele tema, sorrindo fraco e voltando o olhar recém movimento constante do trem, exibindo árvores e vegetações diferentes como flashes diante da janela.
- Está animada? - perguntou a loira, exibindo uma porção de doces na pequena mesinha que dividia os dois bancos da cabine - quer dizer, é um mundo novo..
- E bota novo nisso.. - Stella levantou as sobrancelhas em expectativa, ainda que divagasse inconscientemente pela janela - minhas expectativas estão nas nuvens,
Luna - comentou reflexiva, apoiando o queixo em uma das mãos - só espero não subir tanto ao ponto de cair - riu breve, observando a amiga remexer os sapos de chocolate na caixa azul-claro
- Se você ou eu cairmos de nossas expectativas, eu peço para meu pai deixar uma cama elástica-mágica para absorver nossa queda - comentou, levando Stella junto ao riso. As duas partilharam dos doces disponíveis sobre a pequena mesinha que Luna havia trazido, concordando que uma soneca seria o mais adequado depois de encherem o sangue com tanta glicose. E assim se fez, pelas próximas 2 horas.
Stella sentiu um ruído fazer parte da cabine tremer, e abriu somente um dos olhos para visualizar o que acontecia ao redor. Com um pouco mais de concentração, se deu conta dos estrondos de malões e corujas enlouquecidas, e a visão de alunos agitados andando de um lado para o outro no expresso. Ampliou a visão abrindo ambos os olhos e coçando-os, se dando conta de que Luna não estava mais na cabine. Tantos momentos para dar no pé, e ela escolheu agora? se questionou confusa e levantou-se apressada, pegando a bolsa em um dos ombros e saindo em passos largos pelo corredor ainda movimentado
- Com licença, com licença - murmurou baixo enquanto desviava dos muitos alunos que seguiam por ali, finalmente pisando para fora do expresso.
UAU. Nem em seus maiores sonhos e expectativas ela havia concebido uma visão daquelas, ainda que fosse apenas Hogsmeade. Stella tomou anos de sua infância e parte da adolescência devorando livros e conteúdos que tentassem descrever o mundo mágico fora da minúscula Gloucestershire, mas tudo acaba muito abstrato em sua imaginação. Fascinada pela magnitude e grandeza da magia “profissional”, era difícil se dar por satisfeita com a pequena escolinha da cidade, com meros três professores (os quais se revezavam entre as disciplinas) e quase nenhuma prática. Tudo que sabia de magia era graças à seu pai e os estudos sozinha, geralmente sobre o tapete do próprio quarto, movimentando a varinha em coisas desconexas. Observou fotos, ouviu relatos, mas nada se comparava a realmente estar frente a frente com aquele mundo, vendo tornar-se cada vez mais real e palpável.
- Vamos, vamos pessoal - uma voz anasalada quebrou-a de sua admiração pela paisagem, fazendo-a perceber que a movimentação agora seguia para uma espécie de aglomeração no caminho de pedras. A criatura que parecia ordenar aquele tumulto era, na verdade, um elfo. Assim como havia visto nos livros e fotografias mágicas, um elfo em carne e osso, gritando aos quatro cantos - para o castelo!
- Droga - proferiu baixinho, chacoalhando a cabeça em busca de concentração. Se precisavam ir para o castelo, teriam de achar seus pertences, e isso incluía uma coruja de quase 5kg e um malão com o dobro. Passou entre os diversos corpos aglomerados em sua frente e enfiou-se ao amontoado de malas que formavam uma espécie de montanha, desesperando-se quase que imediatamente. Como poderia achar seu malão em tão pouco tempo, sobre tanta bagunça? Tentando não perder tempo e espantando todos os seus pensamentos indignados com tamanha bagunça, Stella abaixou-se de supetão perto das malas e começou a cavar sobre a montanha, em busca de alguma possibilidade de achar seu tão estimado malão. Foi quando escutou, em meio àquele tumulto na plataforma de Hogsmead, uma voz soando ali em torno das bagagens:
— Boa tarde, senhor! Será que pode me informar como encontro minha bagagem?
— Era uma garota loira, dirigindo-se ao elfo doméstico. Por um momento, pela doçura com que falava, Stella quase pensou que fosse Luna. O elfo, por sua vez, a olhou com enorme estranheza. Nunca, em toda sua vida, um bruxo o havia chamado de senhor.
- Bagagem, senhora? - o elfo questionou em uma expressão confusa, observando a garota loira o encarar inocentemente aguardando uma resposta - como? - perguntou novamente confuso
- Senhor - a morena de cabelos curtos surgiu de um aglomerado de malões e virou-se em direção ao elfo, encarando-o com a atenção de quem carrega informações valiosas - também estou procurando por minhas bagagens, preciso seguir para a universidade de Hogwarts aqui na estação - concluiu - poderia me ajudar? O elfo ficou meio embasbacado, olhando de uma para a outra, aquilo parecia uma pegadinha. Não uma, mas duas bruxas falando com ele como se fosse
um igual. A loira encarou Stella, de pé do outro lado do monte de malões e gaiolas vazias de corujas. Pôde notar que, assim como ela, a morena carregava uma carta no bolso. Eram ambas calouras, e ambas meio perdidas. Lançou-lhe um sorriso amigável.
— Não sei o que pretendem com isso, mas, por favor, não atrapalhem nosso serviço. — O elfo pediu, educadamente. Nem uma das duas entendeu de que forma estavam atrapalhando.
— Bellerose, o que está fazendo?! — Um rapaz de vestes escuras e cabelos prateados chamou a atenção da garota, enquanto passava com um grupo de outros bruxos, parecendo bem enturmado. — Os elfos levam a bagagem! Saia logo daí!
— Oh! — Afastou-se da pilha, suas bochechas rubias, talvez pelo sol de fim de tarde, talvez por embaraço. No entanto, o interlocutor não pareceu ter qualquer intenção de a esperar, seguindo seu caminho no mesmo ritmo em que passara por ali. A loura olhou em volta, meio sem rumo. Voltou sua atenção para Stella, decidindo se aproximar.
— Oi! É caloura também? — Tirou a carta do bolso de seu cardigan, acenando-a para Cheveron.
- Oh, a carta! - Stella abriu os olhos em lucidez, enfiando a mão sobre o bolso do jeans e retirando a carta de boas vindas que havia trazido consigo. Desamassou o papel e passou os olhos sobre a escrita breve e introdutória da Universidade de Hogwarts, sabendo que aquele era o provável ritual de admissão à todos os novatos
- acho que somos duas calouras, então - sorriu satisfeita, estendendo uma das mãos até a loira em sua frente - sou Stella, Cheveron.
— Zoe Bellerose! - a loira de estatura maior que a sua apertou sua mão em cumplicidade e sorriu simpaticamente, o que deu a Stella certa confiança e conforto: sabia que não estava tão sozinha sem a presença inconstante de Luna. Voltou sua atenção brevemente ao papel e passou os olhos ao redor do ambiente ainda lotado por estudantes, atentando-se ao fato de que muitos ali liam suas próprias cartas.
Stella virou o papel no verso e arregalou os olhos ao observar o minúsculo manuscrito no canto esquerdo da folha:
- É isso! - afirmou sozinha Stella, voltando a levantar seu olhar para a Srta. Bellerose, que exalava uma expressão em expectativa
— Isso o quê? — Zoe sorriu e estreitou os olhos.
- Venha, temos que ir até os barcos - acenou com a cabeça da direção contrária a qual estavam, em um incentivo para que Zoe seguisse-a, esticando um dos braços em forma de gancho para que ambas pudessem passar pela multidão. E assim fizeram, enlaçando seus braços e seguindo em passos ágeis pelo fluxo de estudantes sem se perderem uma da outra, até que chegassem à enorme fileira de barcos sobre o pequeno riacho próximo à estação, barcos estes que já abrigavam alguns poucos calouros - acho que é aqui - concluiu Stella, voltando a olhar ao redor
— Meu Deus. Você é um gênio! – Zoe sorriu, animada. – Ainda bem que te encontrei! Estava tão perdida e ansiosa. Ainda estou, pra falar a verdade! – tagarelou, como costumava fazer quando sentia suas emoções à flor da pele. Stella negou com a cabeça, sorrindo brevemente para o caos de euforias e sentimentos que se exalava ao finalmente chegarem às filas de barcos
- Não se preocupe, acho que nem mesmo os elfos estão ilesos do nervosismo de um primeiro ano - riu baixinho, enfiando as mãos dentro dos bolsos. Internamente, estava feliz por conhecer alguém agradável em uma situação tão conturbada, levando em conta que a presença de Luna ainda estava sem paradeiro
— Também veio sozinha? Conheceu alguém legal no trem? — Zoe perguntou enquanto elas esperavam a fila andar, sem nunca desenlaçar o braço do de Stella. À orla do riacho, podiam escutar vozes do que deviam ser os veteranos organizando os grupos e dando as boas vindas aos calouros.
- Vim sozinha - concluiu Stella, dando passinhos de formiguinha enquanto a fila seguia lentamente até os barcos - não conheci ninguém de fora, mas a filha de meu padrinho também é caloura - sorriu divertida - é uma amiga de infância, mas some de tempos em tempos - deu de ombros, acostumada aos lapsos de sumiço que a Srta. Lovegood proferia - e você, conheceu alguém diferente dentro do expresso? - a jovem Bellerose sorriu de uma forma diferente, e Stella, mesmo sem a conhecer por muito mais que 10 minutos, pôde sentir que havia algo ali.
— Só um garoto, Draco Malfoy. Ele passou por nós enquanto procurávamos os malões.
— Stella estreitou os olhos, sentindo uma familiaridade ao ouvir aquele sobrenome, pois sabia que não era estranho.
- Acho que conheço esse nome de algum lugar, embora não me lembre ao certo - comentou Stella de modo pensativo, encarando a expressão curiosa de Zoe ao comentar sobre o nome em questão. Malfoy..Malfoy..tinha quase certeza que não eram trouxas e mestiços quaisquer, mas antes de afirmar qualquer coisa, decidiu por ouviu Zoe continua sua fala
— Você tem sorte! — Bellerose concluiu. — De ter um rosto amigo, um laço já formado. Eu nunca estive entre outros bruxos, fora minha família, e estou com medo de não me encaixar. Meu alento é que tenho a minha Ivoire junto a mim. — deu uma batidinha na frasqueira branca que carregava.
- Não seja por isso! - Stella incentivou em um sorriso calmo, ainda que a curiosidade sobre a frasqueira lhe tomasse um pouco a atenção. Quem diabos era Ivoire…uma frasqueira? Ignorou as próprias dúvidas e recompôs-se — eu imagino que vamos encarar as mesmas situações, então talvez você não se livre tão fácil de mim — riu simples, de modo a animar Zoe — mas veja bem - pontuou, quase como um ensinamento filosófico - eu também nunca convivi com uma grande comunidade bruxa, fui criada em uma escola mágica de fundo de quintal. Eu aprendi a
transformar cebolas em bolas de beisebol - deu de ombros, vencida pela ignorância que Gloucestershire a proporcionou durante muito tempo
— Metaforicamente ou usando magias de transfiguração? – a loira perguntou, genuinamente confusa.
— Infelizmente, são coisas literais - levantou as sobrancelhas em derrota e riu em seguida, lembrando-se das peripécias executadas pela escola-caipira onde passou quase 7 anos.
— Bom, eu estudei magia com meus pais, o que foi excelente, mas algumas áreas deixaram a desejar. Mal sei subir numa vassoura, pois só aprendi o necessário para brincar de corrida com meus primos. — Zoe soltou uma risadinha pelo nariz. — Eu estudei em escolas não-majs. E sei que nem devia falar disso aqui,meus pais me alertaram sobre o preconceito. Mas, tirando do fato que nós duas estamos igualmente perdidas, talvez você não seja do tipo de pessoa que se importa com isso, de forma negativa.
- Não se preocupe - negou com a cabeça, desprendendo-se de qualquer ideal - eu sou mestiça - encolheu os ombros, ainda que não tivesse nenhuma vergonha de suas origens - eu não me apego a esses títulos e baboseiras de nobreza - torceu o nariz em desdém
- Por aqui, senhoritas - uma voz grave acabou por interromper a bolha que havia sido formada entre Zoe e Stella, quebrando o diálogo de ambas com o chamado repentino. Estavam tão imersas nas próprias palavras que mal se deram conta que havia chegado sua vez na fila, visualizando o deck já vazio em sua frente, onde os veteranos agilizam e organizam os embarques em seus respectivos barcos onde atuavam como guias. A voz masculina fez com que Stella virasse a cabeça em imediato na direção de origem, encontrando o interlocutor daquele chamado: cabelos em tons de mel levemente esvoaçados pela brisa do riacho, exibindo olhos aconchegantes sobrepostos por sobrancelhas marcadas, seguido por um maxilar anguloso que abrigava um sorriso simpático e bochechas coradas, integrando uma estatura que Stella pode jurar que daria o triplo da sua - estão bem aí?
Novamente, perguntou em tom de curiosidade quebrando a espécie de transe que Stella havia se enfiado, ainda que discretamente. Sentiu o braço sendo puxado por Zoe, o que a fez concentrar-se em entrar no barco e espantar o turbilhão de pensamentos que havia tido naquela fração de segundos.
— Estamos ótimas! Animadíssimas! — A loira esgueirou-se primeiro sobre o piso do deck de madeira e segurou a mão do rapaz em apoio, entrando no barco e abrindo um sorriso satisfeito. — Muito obrigada, senhorito.
- Embora eu aprecie o apelido, esse não é meu verdadeiro nome - riu divertido em reação ao cumprimento de Zoe, estendendo uma das mãos em apoio para que Stella também entrasse - sou Cedrico. Cedrico Diggory - segurou firme a mão de Stella que apoiava-se para entrar no barco sem cair, fitando com atenção os movimentos da caloura, que levantou o olhar quase que instintivamente ao ouvir o nome em questão. Por uma fração de segundos durante aquele contato, Cedrico sorriu ladino e apontou com a cabeça para o barco, incentivando-a a adentrar o local sem nenhum receio, e assim Stella fez, exibindo um sorriso mínimo contido.
— Eu sou Zoe Bellerose. Muito prazer, senhorito Diggory - o veterano soltou uma risadinha pelo nariz, acenando com a cabeça ao tomar ciência do nome da mais nova. Stella admirava a espontaneidade de Zoe, quase como se tentasse entender como a loira conseguia ser tão leve e agradável. A leveza não era o exato forte da personalidade de Cheveron; seus atos eram movidos essencialmente pela razão e questionamentos demasiados, fazendo com que pensasse muito antes de considerar qualquer coisa.
— Zoe e…? — Diggory voltou seu olhar para Stella, em incentivo para descobrir o nome que estava por trás da figura de cabelos curtos. A mais baixa pegou no ar, sem muito esforço, o tom de curiosidade que havia naquela fala, e achou internamente interessante
- Stella - respondeu em imediato, temendo que tivesse dito muito rápido as palavras em sua boca - Stella Cheveron - deu um sorriso mínimo, observando o rapaz arquear as sobrancelhas em curiosidade
- Stella? - perguntou divertido - se parece com estrela - pontuou em um risinho pelo nariz, fazendo com que a garota risse verdadeiramente pela associação de Cedrico
- estrela, hm? - indagou o “apelido” em um sorriso ladino, de modo que Stella deu os ombros com humor, aceitando aquela espécie de apelido criado pelo veterano
- Mais alguém? - como um raio que parte uma árvore isolada, uma voz feminina e estridente se fez presente, revelando que haviam mais pessoas naquele barco além de Zoe e Stella - ou podemos ir logo? Estou ansiosa! - a garota de cabelos ruivos anunciou em animação, chamando a atenção dos demais tripulantes do barco. Zoe e Stella riram em reação à animação da mesma, em seguida ouvindo um grande ruído anunciar a partida dos barcos
- Seu desejo é uma ordem, Weasley - Cedrico respondeu em tom brincalhão, ajeitando-se sobre a ponta mais alta do barco, e sentando-se por ali mesmo, enquanto os demais seguiam lado a lado sobre o banco coletivo de três lugares. Além de Zoe e Stella, Gina Weasley e Adrian Pucey também integravam os calouros, guiados por riacho em diante na direção da Universidade. O pôr do sol se fazia presente durante o início da viagem, tornando tudo muito mais nostálgico e emotivo aos presentes. O silêncio ficou presente entre alguns poucos minutos enquanto o barco pegava velocidade pelo curso d’água
- Recebeu auxílio de galões para vir à Universidade, Weasley? - o rapaz esguio voltou-se à Gina Weasley, exibindo um sorriso sarcástico em desafio, o que atraiu a atenção dos demais estudantes que observavam o pôr do sol recém finalizado pelo horizonte. Stella franziu o cenho em confusão, tentando entender a conotação daquela fala
- Perdeu a noção do perigo, garoto? - Gina levantou no primeiro lapso de coragem, fazendo com que o barco vacilasse seu equilíbrio entre as ondas - eu te conheço?
- Adrian Pucey, pra você - respondeu em desdém, levantando o maxilar. Gina avançou um passo e novamente o barco vacilou, fazendo com que Cedrico segurasse parte de seu casaco de modo a conter a menina
- Gina! - Cedrico chamou a atenção da mais nova, ainda segurando suas roupas em uma forma de retenção - não dê ouvidos, isso não vale sua matrícula sobre a universidade - lançou um olhar sóbrio sobre Pucey, deixando claro que não permitiria que aquilo continuasse no barco. Stella observava a situação em uma expressão séria, tentando absorver a ideia de que o rapaz havia desprezado-a sem argumentos pertinentes e somente por condições financeiras.
- Você está fodido, garoto - Gina finalizou apontando o indicador, e sentando-se em seguida, deixando Pucey em uma expressão carrancuda e muda. Cedrico lançou um último olhar, verificando se a qualquer momento não iriam tramar uma briga, e voltou ao seu ponto na ponta do barco. Zoe exibia uma expressão engraçada e receosa para Stella, como se perguntasse “onde estamos nos metendo?”, que deu um sorriso nervoso em busca de amenizar o caos da situação. Por graças a Merlin, a noite começou a pintar o céu estrelado de Hogwarts, e o castelo já tomava certa forma sobre o horizonte, tornando-se a distração perfeita para calouros calorosos.
- É exatamente como nas fotos - a morena indagou embasbacada com a paisagem - parece de mentira..- continuou em admiração, Zoe acompanhando com os olhos toda a imagem do castelo tornando-se cada vez mais próximo
– Nem mesmo meus devaneios mais loucos poderiam contemplar a magnitude desse lugar. – a loira pensou alto demais, distraída com a vista.
- Vocês precisam ver lá dentro - Gina respondeu em animação, observando o barco chegar próximo a doca de desembarque - visitei aqui há dois anos atrás, meu irmão Gui já é veterano - sorriu orgulhosa - costumava me trazer aqui durante os jogos de quadribol, que são absurdos! - arregalou os olhos em excitação, atraindo a atenção de Pucey - tenho quase certeza que ficarei na grifinória
- Seria um crime mandar uma Weasley para outra casa, Gina - Cedrico respondeu em humor, segurando-se no barco assim que o veículo estacionou na doca. Os tripulantes levantaram-se de seus bancos, alinhando-se para sair em direção ao castelo - vocês podem seguir em uma fila, vou estar no final cuidando para que ninguém se perca - respondeu em tom de segurança - Pucey, você puxa a fila - ordenou
Adrian Pucey tomou o primeiro lugar da fila, enquanto Zoe, Stella e Gina seguiam atrás do rapaz em passos coordenados. O silêncio era composto somente pelo ruído dos passos sobre a eterna escadaria morro acima, dando espaço para que os pensamentos de Stella se tornassem cada vez mais intensos, formando uma bola de neve em sua cabeça. Em qual casa estaria? estaria feliz, onde foi escolhida? Conseguiria lidar com as matérias e todo o novo mundo bruxo? Seria boa o suficiente para Hogwarts? O ar quase lhe faltava diante de tantos questionamentos, fazendo com que tropeçasse sobre a figura de Zoe, ao pararem sobre o gramado do pátio de entrada.
- Opa, opa! Tá bem, amiga? – deu uma risadinha bem-humorada, segurando Stella pela cintura para ajudá-la.
- Desculpe, Zoe - sorriu torto, afagou os ombros da loira em busca de desculpar-se pelo impacto - estava distraída - encolheu os ombros, culpada - acho que chegamos
- indicou com a cabeça a direção acima de si, demonstrando a enorme arquitetura de pedras a frente de ambas. Abriu a boca em surpresa e admiração, sorrindo de orelha a orelha em seguida, estupefata pela imagem real em sua frente
- Meu Jesus Cristinho! Estamos mesmo aqui! – Zoe sorriu e apertou o braço de Stella, empolgada.
Os primeiros passos na grama do pátio tornavam o castelo cada vez mais próximo, levando-os a encontrarem a porta principal de entrada, tão gigante quanto o próprio castelo. Cheveron levou uma das mãos sobre a boca suavemente, absurdada por tamanha realidade posta sobre si. Passou os olhos ao redor de si e encontrou seus
colegas tripulantes sobre o mesmo tipo de reação, parando sobre Diggory em braços cruzados com uma expressão orgulhosa
- Bem vindos à Universidade de Hogwarts - anunciou em um tom animado, abrindo as mãos brevemente em recepção. Saltos altos puderam ser ouvidos se aproximando, onde uma senhora de alta estatura surgiu na visão de todos, trajando vestes verde musgo em camurça. O chapéu preto e pontudo, como uma tradicional bruxa de histórias em quadrinho, elegante e sóbria sobre sua expressão séria
- Vejo que cuidou bem de seus calouros, Sr. Diggory - a senhora anunciou em uma voz aveludada, sorrindo minimamente ao veterano - Boa noite, calouros!
– Bem demais, até… – Zoe sussurrou divertida e sugestiva ao ouvido de Stella, que soltou um riso pelo nariz e negou com a cabeça, e embora tivesse alguns comentários sobre a mente naquele momento, ter uma professora de Hogwarts em realidade sobre sua frente parecia muito mais urgente e impactante.
– Agora deixe-os comigo, e corra para sua casa, a seleção logo vai começar - abanou as mãos de modo a apressá-lo, retirando um risada sincera do veterano.
- Certo! Boa sorte a todos na seleção das casas, espero que tenham o prazer de serem escolhidos para a melhor delas: a Lufa-Lufa - deu um risinho - Ah, e aguardem o jantar, é de lamber os dedos. – Cedrico tirou algumas risadinhas dos novatos antes de se virar e adentrar pelas duas colossais portas do Salão Principal.
- Sejam muito bem-vindos à Universidade de Magia e Bruxaria de Hogwarts, caros alunos - a professora sorriu confiante - espero que aproveitem a jornada e façam destes anos os melhores de suas vidas. De restante, guardarei minhas boas vindas ao discurso de seleção de casas, que deve se iniciar agora mesmo! - pontuou em excitação, estendendo as mãos na direção à frente - por favor, sigam-me.
Stella lançou um olhar sugestivo à Zoe e não precisou dizer mais nada, ambas sabiam que era um momento decisivo. Durante os muitos anos vividos em Gloucestershire, Stella teve tempo suficiente para ler e reler todo tipo de literatura
sobre o ensino bruxo e suas entrelinhas, inclusive histórias sobre as maiores escolas de magia, como Durmstrang, Beauxbatons, e a renomada Hogwarts. Aquele lugar era tomado por intensidade, seja nos acontecimentos ou nas pessoas que passaram por ali, criando história suficiente para que fosse relembrada por milênios. Por um momento, repassou por sua memória todas as falas que seu pai teve sobre magia utilizada para o mal, e o quão problemático isso poderia se tornar, utilizando alguns bruxos que passaram por Hogwarts como um exemplo. Stella tinha a trama da primeira guerra bruxa na ponta da língua, sob todos os detalhes e participantes, sabendo que a universidade em questão tinha uma forte ligação com os acontecimentos, o que tornava tudo muito mais curioso do ponto de vista da garota. Quanto mais adentrava sobre o castelo, mais sentia o arrepio na espinha de saber que grandes personalidades e acontecimentos estavam ligados ao castelo, enchendo-se de perguntas e questionamentos: qual seria sua casa? e se não se desse bem? seus colegas seriam pessoas agradáveis? eram tantas dúvidas que sentia sua cabeça pulsar, sendo salva somente ao visualizar a enorme porta de entrada do que se parecia um salão principal. Mesas compridas, centenas de alunos eufóricos, uniformes sociais, velas flutuantes sobre o teto…era quase irreal. Stella sorriu quase sem perceber e reparou em cada mínimo detalhe daquela arquitetura e construção majestosa, completamente absorta pelo que via em sua frente.
- A seleção irá começar - anunciou a voz da Prof. McGonagall, trazendo a caloura de volta à realidade - posicionem-se sobre o centro do salão e esperem por seus nomes serem chamados - anunciou - haverá um banquinho onde devem sentar, e então o chapéu fará a seleção de sua casa. Boa sorte! - desejou em um sorriso contido, seguindo em direção à mesa de professores e iniciando um discurso emocionante sobre boas-vindas e a instituição de Hogwarts.
Enquanto os calouros ajeitavam-se sobre o centro do salão, Stella podia gravar o ruído dos próprios sapatos como se fossem batidas de seu próprio coração impaciente. As mesas estavam lotadas, eram tantos rostos que pareciam uma grande maré de personagens, todos juntos em um grande espetáculo, agora voltando sua atenção até os calouros amontoados nos centro do salão. Ajeitou os cabelos atrás da orelha em busca de afastar o suor na testa e lançou um olhar sugestivo à Zoe, sabendo que a ordem alfabética demoraria tempo a chegar nas
letras S e Z, ou seja, ainda seriam observadas por muito tempo. Enquanto cochichos e olhares eram direcionados ao centro do salão durante a seleção, Stella sentiu sobre seus ombros um peso a mais, virando o rosto em surpresa e encontrando Zoe levemente escorada sobre si
- Zoe? - cochichou em um tom preocupado, captando a expressão pálida que a colega possuía - você está bem? está um pouco pálida.. - tocou os ombros da loira em um movimento simples - céus, sua pressão está baixa! - exclamou em espanto, ainda em volume baixo para não chamar atenção durante a seleção
- Eu tô… tô bem. Deve ser só nervosismo…
Depois de ter certeza de que Zoe estava menos pálida, Stella voltou seu olhar à seleção que acontecia normalmente sobre o amontoado de calouros restantes. Embora soubesse que não fazia sentido tamanho nervosismo, seu coração pulsava na garganta, temendo que algo imprevisível acontecesse e a frustrasse de alguma forma. Seu conhecimento sobre as casas de Hogwarts era considerável, mas observar a seleção em realidade acontecendo era muito mais intenso: alunos implorando por casas “amigáveis” como lufa-lufa, outros frustrados por caírem na popular grifinória…e os presunçosos animados com a possibilidade de serem sonserinos. Stella sabia que o pai havia sido um corvino nato, e pessoalmente achava uma casa excelente - em diversos aspectos - mas também sabia que somente os mais sábios tinham o privilégio de estar na casa, e temia não alcançar esses parâmetros. Não que não tivesse uma bagagem longa de intelecto, mas sabedoria nem sempre se tratava de ler livros e decorar feitiços; e esta era a parte que Stella temia não ser suficiente.
-Stella Cheveron - a voz cansada de McGonagall disse finalmente após um tempo, tirando um pulinho no lugar de Stella. A garota sorriu modestamente e seguiu a frente confiante, tentando manter o olhar sobre o púlpito e o chapéu que a esperava, ignorando todos os outros olhares sobre si. “Stella, você é uma menina de ouro, isso te basta. Tenha orgulho de si mesma, pois eu tenho” lembrava-se das palavras do pai, tornando uma espécie de mantra para si mesma. Sentou-se sobre o banquinho e encarou seu olhar em um ponto fixo, enquanto aguardava a fala do objeto
-Hm.....Cheveron - comentou o chapéu - a mistura de um mundo normal com o grande clã dos Cheveron, grandes sábios...- analisou, retirando um sorriso torto de Stella - essa junção teve um resultado interessante. Uma cabecinha intensa! - gargalhou - ...diante disso, embora precise reconhecer que é deveras corajosa...- pareceu pensar, ponderando - sei que jamais usaria sua coragem inutilmente. CORVINAL! - anunciou alto, seguido de uma explosão de uivos e palmas vindo da mesa da casa em questão.
Stella abriu um sorriso sincero de ponta a ponta, levantando e seguindo em passos rápidos até o stand em azul royal. Luna, que havia sido selecionada, recebeu a amiga em um abraço caloroso, girando-a no ar como duas crianças. Saltou do abraço e recebeu mais cumprimentos de seu monitor, Chester, sentando-se ao lado de Luna e cumprimentou o restante dos colegas brevemente com a cabeça. Estava transbordando de felicidade, orgulhosa, confiante: finalmente, sentia que estava em seu lugar, no mesmo lugar que o pai esteve há 30 anos atrás.
- Nem acredito que estamos na mesma casa, Stella! - Luna amassou o corpo de Stella de lado, enquanto sorria abertamente - seu pai vai ficar em prantos, já pensou em como vai escrever para ele? - perguntou curiosa
- Vou enviar uma carta, amanhã mesmo - Stella assentiu confiante, pensando sobre o paradeiro da coruja Bagheera a essa altura - vou enviar Bagheera e esperar que ele me responda. Você sabe qual o procedimento por aqui? - questionou confusa, pensando sobre como encontrar a própria coruja e por onde deveria despachar a carta
- Procedimento? Ah, não - Luna torceu o nariz em negação, era tão caloura quanto a própria Stella - vamos ter que descobrir juntas - pontuou - quem sabe um corujal?
Antes que Stella pudesse considerar a possibilidade, ouviu um nome conhecido ser chamado sobre o chapéu seletor, virando a cabeça em automático ao púlpito do salão. Era Zoe, movendo-se em direção ao púlpito de seleção. Mesmo que distante, Stella direcionou seu olhar à amiga e murmurou um “Boa Sorte!” muito bem definido
por seus lábios, sorrindo abertamente em incentivo. Sentada sobre o banquinho, a loira exibia um sorriso doce e em expectativa, expectativa esta que causou extrema dúvida ao chapéu seletor, tomando um tempo considerável à sua seleção.
- Oh...meu estômago dói - Luna murmurou, ainda atenta sobre a seleção de Zoe. Stella não se abalou, continuando a acompanhar a seleção da brilhante Zoe, de modo que não muito tempo depois, o chapéu anunciou em alto e bom tom: LUFA-LUFA. Stella levantou do próprio lugar e aplaudiu de pé com todo seu coração, sorrindo em orgulho e felicidade sobre a pequena loira que seguia à mesa em amarelo. Bastava conhecer o pouco de Zoe, para saber que a garota se encaixaria perfeitamente sobre a casa do texugo, como se tivesse nascido para vestir aqueles tons: solares, felizes, e expressando vida; eram assim que os lufanos poderiam ser brevemente definidos. Enquanto chegava à mesa da lufa-lufa, Stella não pôde deixar de direcionar um grande jóinha em direção a Zoe, garantindo que a colega estava em seu lugar ideal.
-O jantar de boas vindas será servido, aproveitem! - anunciou o diretor Alvo Dumbledore, o qual Stella conhecia os feitos de cabo a rabo (e não perderia tempo em tirar um dia para conversar com o mesmo). Assim que o anúncio se finalizou, urros e comemorações foram ouvidos, devido a tamanha fome que os estudantes guardavam em seus estômagos. Em sua frente, Stella viu surgir um punhado de pratos incrementados dos mais diversos tipos de coisas que se pode imaginar: sopa de abóbora, refogados, carnes, purês, bolinhos de pimentão, e muito mais. Sentiu a boca encher de saliva e foi o suficiente para iniciar seu banquete pessoal, experimentando de tudo um pouco.
Depois de muito bem abastecida com as iguarias dispostas por Hogwarts, Stella suspirou satisfeita e apoiou o rosto sobre uma das mãos. Durante o jantar, trocou algumas palavras com Chester, Luna, e outros calouros da Corvinal, comentando sobre a imensidão do castelo e as histórias típicas que pairavam sobre ali, como os próprios fantasmas. O monitor anunciou que já se passavam das 22h e que deveriam seguir até suas salas comunais, pois as aulas começaram bem cedo no
dia de amanhã. Levantou-se do lugar e observou o restante das casas também moverem-se pelo salão principal, acompanhando seu monitor e colegas até a porta de saída em uma fila ordenada. Enquanto seguiam em pequenas conversas paralelas, Stella e Luna debatiam acerca do banquete que tinham acabado de presenciar durante o jantar
- Eu nunca comi um pudim de mirtilos tão bom quanto esse - admitiu Stella em tom de encantamento, ainda que sussurrando para Luna - é uma pena que..-
— Stella! — pôde ouvir a voz que já estava se tornando familiar, vendo Zoe Bellerose se aproximar meio eufórica. — Que pena que não ficamos na mesma casa…- próximo dali, Cedrico Diggory reunia o grupo de calouros da Lufa-Lufa para os levar à comunal pela primeira vez.
- Zoe! - Stella respondeu em animação, abraçando brevemente a loira a sua frente - isso não é problema, fique tranquila - deu os ombros - você foi feita para ser uma lufana, é impossível não ver isso nos seus olhos - sorriu acolhedora na direção de Zoe
— Acha mesmo? – perguntou, precisando de validação externa. Estava meio receosa de ir para a lufa-lufa, mas pelo menos já conhecia Cedrico.
- Eu não acho, eu tenho certeza, Zoe. - pontuou Stella - imagina que saco você estar sobre uma casa que não tem nada a ver com você? - considerou, tentando abrir a mente de Zoe diante daquele desânimo - cada um de nós tem um lugar aqui dentro, não importa se é nos puro-sangues sonserinos - cochichou baixo - ou nos amigáveis lufanos - soltou um risinho em simpatia
— Amigáveis demais… — Zoe deu uma piscadela sugestiva para Stella. — Oi! Que brincos lindos! — Voltou sua atenção para Luna e os brincos de ramalhete feitos de miçanga que balançavam em suas orelhas.
- Oh, você reparou neles? - Luna indagou lisonjeada, balançando os brincos sobre a própria cabeça - eu mesma quem fiz! - comentou orgulhosa - posso fazer alguns pra
você, o que acha? - perguntou solidária, retirando palminhas animadas de Zoe. Stella observava tudo com um risinho nos lábios e uma felicidade em ver um princípio de amizade surgir por ali
— Sério?! Eu iria amar! — Respondeu animada, mas antes que pudessem conversar mais, o grupo foi interrompido por Cedrico, que largou seus calouros para ir até lá. Chester observava parte da situação com um riso nos lábios, como se imaginasse que aquela situação poderia acontecer
— Bellerose! Cale a matraca e venha. — Diggory disse brincalhão, arrancando uma arfada travessa da mais nova lufana, fingindo-se de ofendida. Stella virou a cabeça na direção da voz conhecida e arregalou os olhos em uma risada nervosa, não esperava ver Cedrico novamente naquele dia sob aquelas circunstâncias - Corvinal, hm? - virou-se na direção da morena, arqueando a sobrancelhas em um tom de desafio
— Ouvi boatos que é a melhor casa, lufano - brincou respondendo no mesmo tom de rivalidade, enquanto Cedrico exibia uma expressão curiosa diante aquele diálogo
— Senhorito Diggory, quer me impedir de fazer novas amizades? - a amiga questionou o veterano, que aproximou-se daquele pequeno grupo enquanto exibia um sorriso ladino
— Pode fazer novos amigos na nossa comunal. Anda! - brincou apontando o indicador sobre a direção dos estudantes lufanos, mas tudo que conseguia com aquela especie de ordem era retirar risos por parte de Zoe. Neste momento, o monitor da Corvinal, Chester Davies, também se uniu ao grupo.
— Boa noite, senhoras. Prontas para conhecerem a melhor acomodação do campus? — falou, também num ar bem-humorado. Stella observou o monitor com um olhar de respeito, assentindo com a cabeça em um sorriso contido
— Fala, meu mestre! — Cedrico cumprimentou o outro veterano, com aquele aperto de mão que mais parecia um toque entre amigos, que os garotos sempre fazem uns com os outros. — a Torre da Corvinal pode até ser a mais bem decorada, mas a comunal lufana sempre será a melhor frequentada!
— Ignorem, o Diggory levou um balaço na cabeça ano passado e se tornou meio louco. Vamos, moças? — Chester gesticulou para que as corvinas se unissem ao grupo mais atrás. Zoe encarou as novas colegas com um beicinho, não querendo se separar delas, mas era inevitável. A amiga corvina torceu o nariz em negação, mas sabia que era necessário
— Boa noite, amigas. — A loira deu um abraço rápido em conjunto, despedindo-se.
— Nos vemos no café da manhã?
— Às 07 - combinou lançando um último olhar à Zoe, acenando rapidamente. A loira respondeu com o mesmo gesto e seguiu na direção contrária sob a companhia de Diggory, que deu um aceno de cabeça na direção de Stella e Luna.
— Estrela. — despediu-se também o garoto, com um pequeno aceno de cabeça em direção a Stella — e amiga da Estrela --- considerou por último na direção de Luna, virando-se e desaparecendo com Zoe.
A morena estreitou os olhos sentindo uma satisfação estranha ao ouvir aquele apelido sendo dito de novo, mas reservou-se a negar com a cabeça e sorrir discretamente. Os lufanos viraram-se de costas e seguiram seu caminho, e assim Chester chamou-os a fazerem o mesmo, guiando seus calouros até a estimada torre da Corvinal.
A sala comunal era, de longe, algo digno de sonhos. Repleta de janelas colossais e um teto encantado em estrelas, o que fez Stella abertamente sorrir ao lembrar-se do quanto amava constelações e assuntos correlatos. Estátuas em mármore e pedras
brutas decoravam os adornos da sala, trazendo um toque clássico e renascentista ao local, lotado de referências à águias prateadas.
-Isso parece de outra dimensão - comentou Luna ao seguir adentro da sala, acompanhada de Stella e dos demais calouros
-Vocês poderão descansar e ficar a vontade aqui, é o local ideal para se sentirem em casa - Chester anunciou receptivo - caso desejem estudar, saibam que a sala é geralmente mais silenciosa - riu - então não precisam procurar as bibliotecas necessariamente - concluiu, dando mais uma pausa para que os calouros admirassem o local novo - de restante, sejam bem vindos a melhor casa da Universidade! - anunciou confiante, levando um olhar ao quadro de Rowena Ravenclaw estampado em uma das paredes.
Finalizados os prestígios, recomendou as últimas instruções sobre a divisão dos dormitórios
-Os dormitórios comportam duplas, as quais vocês podem ter a liberdade de escolher - comentou - porém, devem mante-las até o final do curso, então atenção sobre suas escolhas - pontuou em um sorriso calmo - se me dêem licença, devo retirar-me ao meu - anunciou em um pequeno acenar de cabeça,
-Muito obrigado, Chester - Stella respondeu baixo em um sorriso respeitoso enquanto despedia-se junto dos demais, aliviada por ter todas as informações importantes a seu dispor.
-Não preciso nem dizer que ficaremos no mesmo dormitorio, não é? - Luna questionou em um risinho, recebendo um aceno animado por parte da morena
-Seria uma ofensa que nos separassem, Lovegood! - puxou a mão da amiga e seguiu pelo corredor de dormitórios, até que achassem os seus.
Depois de admirarem o dormitório aconchegante que as acompanharia pelos próximos 7 anos, decidiram vestir roupas confortáveis e vagar pela sala comunal em
busca de explorar cada canto daquele território não conhecido (até que o sono derrubasse toda a excitação e curiosidade). Enquanto Luna parecia encucada com a pintura de Rowena, Stella sentou-se sobre um dos sofás azul royal e admirou o teto encantado, apreciando o silêncio de poucos alunos ainda estarem acordados naquele horário.
-Três Marias…Ursa menor…Ursa maior? - repetiu sozinha, analisando as constelações que se moviam lentamente acima de si. Sentiu um pequeno vento soar sobre seu pescoço e virou-se em extinto, encontrando um envelope pálido rodeando ao seu entorno, quase como se voasse. Franziu o cenho em confusão e esticou uma das mãos, pegando-o no ar e observando o que parecia ser um envelope encantado. A corvina apressou-se em abrir e passar os olhos sobre a grafia mágica

Antes que pudesse ter qualquer reação, o papel queimou-se em sua mão numa fração de milésimos, restando somente cinzas e pólvora daquela espécie de delírio.
Ainda que mantivesse o cenho franzido em confusão, abriu um sorriso torto e arqueou uma das sobrancelhas, analisando o que havia acabado de presenciar, o que conseguiu ler em tão pouco tempo. Uma calourada, em Hogwarts? Essa era, sem sombra de dúvidas, a coisa mais improvável que pensou viver no mundo mágico. Seu lado metódico quis temer pelo aspecto secreto do evento, temendo que tomasse punições por frequentá-lo, mas seu lado curioso….(e muito mais evidente), fez com que o perigo se tornasse um detalhe contorvanel.
-Luna! - chamou-a em um sussurro, fazendo movimentos discretos com a mão para que se aproximasse - venha aqui
-O que houve? - a loira aproximou-se em curiosidade, sentando ao lado de Stella e esgueirando o pescoço sobre as cinzas caídas sobre o sofá, ao lado de Stella - o que era isso? - apontou os vestígios, ainda que não fizesse ideia do que se tratava
-Shhhh! - Stella colocou o indicador sobre a própria boca, lançando um olhar de repressão sobre a platinada - é um bilhete secreto, parece que estes gêmeos vão promover essa festa em prol dos calouros - explicou, ainda que também fitasse as cinzas no sofá em desconfiança - uma calourada.
-Que diabos é uma calourada? - Luna questionou, tombando a cabeça em dúvida - calouros reunidos falando sobre suas experiências? Um debate? - pontuou, inocentemente
-Não, Luna.. - respondeu em negação, enquanto soltava um risinho pelo nariz - é uma espécie de festa comum entre as universidades, geralmente de boas vindas aos calouros - respondeu, parecendo clarear as ideias da amiga - há música, bebidas, e socialização.
-Oh, faz todo sentido agora - Luna levantou as sobrancelhas em compreensão, mudando a expressão para um sorriso animado - estaremos lá, não?
-O que seria de duas corvinas sem a satisfação de sua curiosidade? - respondeu Stella em um tom de desafio, sorrindo ladino - estaremos lá.