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Codificada por: Saturno 🪐

Última Atualização: Setembro/2024.

This world is so heavy, oh
Don't know if I'm ready, oh
I can feel it like the waves crashing down
I know I need to reach up not to drown

Heavy – Emblem3


encarou aquela imensidão azul como se fosse a última vez que a veria.
E, de certa forma, realmente era.
Parecia que não veria toda aquela extensão tão cedo, não quando seus pais estavam à beira do divórcio e sua única opção era escolher com qual dos dois ficar.
Os últimos dias estavam sendo difíceis.
Não conseguia olhar para sua mãe como antes, muito menos tinha forças para chamá-la de tal forma, tão afetivamente. , seu irmão, agia da mesma maneira, mas com o pai. O garoto estava chateado por não ter mais o homem em quem havia se inspirado desde pequeno. Hector aparentava se sentir culpado por ter levado a família àquele ponto e sempre estava discutindo com Norah, a mãe deles.
Mas ela também não parecia cooperar.
soube que algo estava errado desde então, mas teve certeza quando viu Norah chorando baixinho enquanto assistia a um filme qualquer no enorme sofá da sala. Tinha perdido o sono e até chegou a perguntar o que havia acontecido. Norah se limitou a erguer o olhar assustada e, num sussurro, pediu para que a filha voltasse a dormir, repetindo que não precisava se preocupar.
Mas se preocupou.
E também.
Eles passaram vários dias calados, presos na mesma rotina monótona. Hector fazia hora extra boa parte da semana, claramente para evitar ficar em casa. Sua expressão nunca era das melhores e, quando finalmente chegava, fazia sua refeição em silêncio, evitando ao máximo qualquer interação. até tentava puxar conversa, mas não tinha sucesso.
e já haviam desistido de consertar algo que só seus pais poderiam resolver.
Na tarde anterior, ao chegarem em casa, encontraram Hector sentado na sala com Norah. Ambos pareciam exaustos e as olheiras profundas de sua mãe se destacavam. Seus pais pediram que se sentassem nas poltronas de canto e começaram a falar sobre viagens, mudanças e outros assuntos tediosos.
Sem entender muito bem toda a baboseira que saía de suas bocas, olhou para o irmão. parecia ter caído em si, sua respiração oscilava. Ela queria segurar sua mão mais do que tudo, mas ele estava longe, então permaneceu ali parada, encarando os pais.
Norah olhou para Hector e soltou um suspiro pesado. Então, Hector falou de uma vez, tão rápido que parecia ter ensaiado cada palavra.
Os dois estavam decididos.
Realmente iam seguir rumos diferentes. Já haviam entrado com o pedido de divórcio. levantou e os encarou. Seus olhos azuis brilhavam em lágrimas, e seus lábios pareciam querer dizer algo, mas ele apenas se virou e saiu pisando firme até o quarto. permaneceu estática, com o olhar fixo no vão entre os dois à sua frente.

— Você entende, querida? — ouviu a voz da mãe um pouco distante, como um eco. Balançou a cabeça, ausente, quase como se estivesse no piloto automático. Olhou para Hector, esperando qualquer explicação a mais, mas nem um olhar reconfortante conseguiu ver em seu rosto. A única coisa que lhe restava era seguir para o quarto, assim como havia feito.

Seus dedos percorreram o cabelo molhado enquanto respirava fundo, sentindo a maresia encontrar sua pele ainda com resquícios da água salgada.
Deixou que alguns grãos de areia voassem em seu rosto, sem se preocupar com isso, considerando tudo o que acontecia.
Os olhos escuros da garota observavam o mar mais uma vez antes de se levantar, ainda sentindo a nostalgia pesar em seu peito.
Retirou a prancha fincada na areia e a ajeitou debaixo do braço, decidida a voltar para casa de uma vez por todas, independentemente do que fosse acontecer no final daquele dia. O fim de tarde continuava exageradamente quente, deixando à mostra o céu colorido.
havia mostrado a beleza dessas tardes na praia e, desde então, não conseguia voltar sem tirar os olhos do céu.
Caminhou poucos metros até avistar sua casa, e o som da vizinhança começou a se tornar mais presente, mesmo que raramente fosse silenciosa. Os motores dos carros costumavam ser uma trilha sonora naquele bairro de São Francisco.
Já tinha se acostumado.
Passou pela pequena calçada que separava uma residência da outra e seguiu até a garagem, depositando a prancha em um canto qualquer. Não demorou muito para que logo estivesse subindo as pequenas escadas e adentrando a residência.
Quando colocou os pés no piso frio, sentiu o corpo estremecer ao ouvir algo quebrando.
pressionou os lábios e os olhos, procurando por alguém. Ainda que desejasse piedosamente que seu irmão aparecesse para explicar o que estava acontecendo, não encontrou ninguém ali.
— Estúpida! É isso o que você é! — Hector gritava.
A mais nova olhou para o corredor e viu Norah caminhando em direção à sala, com o rosto inteiramente vermelho.
, saia daqui agora. —O pai continuava a dizer, autoritário.
Ela franziu o cenho, ainda sem entender o que acontecia para que ambos estivessem tão exaltados daquele jeito. Percebendo sua confusão, Hector seguiu até onde a garota estava e agarrou seu braço com força.
O reflexo de tentar se soltar só a fez machucar ainda mais.
— Não a machuque, Hector! Por favor. Você vai deixar algum roxo. — Norah mencionou, com a voz embargada.
Dessa vez, seu rosto, que antes estava avermelhado, agora estava imerso em lágrimas. Norah sempre fora tão bonita, com um sorriso vívido nos lábios. Doía demais vê-la daquele jeito, tão quebrada e sem vida.
— Cale a boca. Você acha mesmo que ainda vou te dar ouvidos? Que vou escutar uma vagabunda como você? — ele gritou.
Hector balançou seu braço mais uma vez e, antes que pudesse voltar a encará-lo, ouviu o barulho da porta dos fundos.
estava com os olhos fixos no pai, transbordando raiva e ódio. Hector a soltou e voltou a atenção para Norah. Isso fez com que tivesse a oportunidade de se aproximar de , examinando-a minuciosamente, como se procurasse algum outro machucado além do que estava visível em seu braço.
— Você está bem? — perguntou.
balançou a cabeça, confirmando. O irmão passou as mãos pelo cabelo, tentando colocar seus pensamentos em ordem.
— Preciso que vá para o quarto agora, . Por favor.
— O que? Por quê? — o encarou, confusa.
Ele apenas balançou a cabeça, como se planejasse dar explicações mais tarde, e decidiu seguir suas instruções. Caminhou o mais rápido que pôde até a porta do quarto, mas antes de entrar, espiou. havia seguido até Hector e os dois estavam frente a frente.
O pai parecia estar à beira de perder a cabeça, o que acabou acontecendo.
Quando hesitou em falar com a mesma intensidade, um tapa certeiro acertou sua bochecha.
— O que pensa que está fazendo, imprestável?! — vociferou Hector, transbordando de raiva. manteve o olhar firme. — Não quero mais olhar para a sua cara. Não quero mais ver o filho desprezível que tenho dentro de casa. Você e ela. — Apontou em direção a .
A garota colocou uma das mãos na boca, sentindo a garganta se fechar em um nó de angústia. Como ele podia ser tão cruel?
Bêbado maldito murmurou entre os dentes, enquanto Norah permanecia de pé, próxima aos dois, sem saber como reagir.
se virou, ignorando qualquer outra reação do próprio pai. Olhou para e, ao se aproximar, segurou seus braços delicadamente. Ela observou seu rosto, notando a marca roxa na bochecha esquerda.
O choro começava a se fazer presente dentro de .
— Arrume suas coisas. Pegue tudo o que puder. Nós vamos embora.
, o que… Nós não… E a mamãe?
Ele segurou o rosto da irmã com as duas mãos. Seus olhos azuis pareciam querer dizer tanto, mesmo sem forças.
— Não questione, . Não quero e não aguento mais isso. E sei que você também não — ela engoliu em seco, tentando controlar as lágrimas. — Vamos sair desse lugar. De uma vez por todas.
assentiu. Mesmo com o coração apertado, resolveu não questioná-lo e entrou em seu quarto, olhando para todos os lados, se sentindo perdida tanto pelo que acontecia quanto dentro de si mesma.
A primeira coisa que avistou foi a mochila do colégio e decidiu pegá-la, colocando a maior quantidade de roupas que pudesse. Fez o mesmo com a mala de viagem, enchendo-a com os demais pertences que encontrava pela frente.
A verdade era que não conseguia raciocinar muito bem, e mesmo tentando focar no fato de que queria sair dali com ela o mais rápido possível, ainda conseguia ouvir a voz exaltada de sua mãe no outro cômodo. As discussões acaloradas entre seus pais faziam parecer que o mundo acabaria só pelas palavras que trocavam.
Pressionou os olhos, fechando-os com força.
Era demais para os dois.
Observou seu rosto rapidamente ao passar pelo espelho. Assim como sua mãe, ela também tinha grandes olheiras. A expressão cansada e sem o brilho de antes refletia a exaustão que sentia.
engoliu em seco, tentando evitar que os pensamentos ruins tomassem conta de sua mente naquele momento.
Colocou o restante dos objetos e pertences que achou necessários na mala. Antes de fechar o guarda-roupa, notou uma caixinha colorida onde costumava guardar recordações. Não demorou muito para pegá-la. Dentro, havia fotografias, um diário antigo e uma bolsinha preta onde guardava algumas economias. Decidiu colocá-la no fundo da mochila.
Antes de fechá-la por completo, avistou uma fotografia jogada ao fundo, um tanto amassada. Quando percebeu do que se tratava, sentiu o choro fraco se tornando presente.
Na foto, ela e estavam sorrindo. Norah a abraçava sorridente, e Hector tinha um dos braços em volta de seu irmão, também sorrindo. O dia estava bonito, e não pareciam ter nenhum problema para se preocupar.
Era só aparência.
Sentiu uma lágrima escorrer por sua bochecha e logo tratou de enxugá-la. Precisava urgentemente acabar com aquilo. não esperaria mais um minuto naquela casa.
E ela também não.
Fechou a mochila, colocando-a junto da mala branca. Como se pensasse o mesmo que ela, apareceu.
Ele entrou, a encarando.
— Precisamos sair agora — comentou. Ele tinha uma das mãos apoiada à porta. — Conseguiu pegar tudo?
— Não tudo, mas o necessário — respondeu ela, dando de ombros e caminhando em sua direção. — ?
Ele estava abrindo a porta do quarto quando a ouviu. Virou o rosto, preocupado.
E a mamãe? perguntou novamente, desta vez com a voz mais falha. Suspirou, passando uma das mãos nos cabelos claros. — Você sabe que ela não tem culpa e…
... — se aproximou, levantando uma das mãos até o rosto dela. Seus olhos mostravam que era seu último fio de esperança. A garota balançou a cabeça minimamente e ele a abraçou, se afastando em seguida. — Pegue as coisas e me espere. Eu já volto.
Ela o viu se afastar e colocou a mochila nas costas, se preparando para estar o mais longe possível da casa que costumavam chamar de lar. Notou boa parte dos cômodos em silêncio. Não era um bom sinal.
Decidiu ir até o corredor e logo viu vindo atrás, também com sua mochila, a mala e sua bolsa de academia.
Quando passou pela irmã, ambos seguiram até a sala. Hector se levantou de onde estava sentado, com o cenho completamente franzido. A expressão dele mudou. Antes entristecido e perdido, agora parecia furioso, e aquilo estava começando a assustá-la.
— Onde pensam que estão indo? — perguntou Hector, parando à frente deles. — Acabem com essa palhaçada agora e vão para o quarto. Os dois! — gritou, apontando para o corredor.
Norah não estava mais na sala, provavelmente trancada no quarto.
— Quem você pensa que é? — elevou a voz. — Você acha que pode chegar impondo uma ordem que não existe? Que nunca existiu?! — se aproximou de Hector. Ela sentiu seu corpo congelar, sem conseguir acreditar no que acontecia à sua frente. — Você nem mesmo foi um pai presente. Canalha! — gritou a última palavra. Segundos depois, o rosto de recebeu um soco pesado. Hector não havia digerido suas palavras para agir.
sentiu o coração apertar, dilacerar. Como ele podia?
parecia ter caído em si momentos depois, quando virou o rosto para encarar o pai novamente.
Ela desviou o olhar de seu irmão para Hector. O mais velho estava desnorteado.
retomou a postura, com o rosto inexpressivo.
— Espero que sinta orgulho disso, Hector — disse, e deu as costas logo depois.
pegou a mala caída no chão e levantou o olhar até ela, sem falar nada. Aquela era sua deixa para deixar claro que não aguentaria mais nada daquilo.
Ela olhou para o pai uma última vez. Seus olhos agora estavam vermelhos, mas nenhuma palavra saía de sua boca.
Sem pensar muito, seguiu até a porta da frente e, assim que pôde, alcançou o irmão no meio da rua. andava sem olhar para trás.
Decidido como nunca.
— Podemos pegar um ônibus para a estação. De lá conseguimos um trem que não vai demorar muito para chegar a Huntington — disse, ainda olhando para frente.
Ela só conseguia assentir.
Só então percebeu que sua visão começava a embaçar por causa de todos os sentimentos guardados em seu coração.
dobrou a esquina, onde algumas pessoas esperavam o transporte assim como eles fariam. Ele parou um pouco mais afastado do aglomerado, colocou a mala no chão e respirou fundo.
Respirou fundo uma, duas, três vezes. Parecia tentar controlar o furacão dentro de si.
A mais nova conseguia sentir seu coração tamborilar, quase como se pudesse ouvir as batidas claramente em seus ouvidos. Seu peito ardia e os olhos faziam o mesmo.
Já não era possível conter mais o soluço e, percebendo, se virou.
O semblante do garoto mudou na hora que se deu conta do que acontecia. Quase como se o desespero começasse a se tornar presente.
Sem dizer alguma coisa, ele se aproximou. E seus braços agarraram o corpo da irmã, em um afago que só conseguia proporcionar.
As lágrimas caíram ainda mais.
Sentiu os dedos do garoto caminhando por seus cabelos. Ele suspirou em seguida.
— Tudo bem. Tudo bem. Não precisa chorar, — afastou seu rosto e olhou em seus olhos. — Sempre vou estar aqui.
Ela deixou seus olhos o observarem. Do jeito que o conhecia, faria de tudo para mantê-los seguros.
Notou a lateral de seu rosto machucada, com um pequeno corte que sangrava. Não muito, mas sangrava, e aquilo era suficiente para que ela sentisse seu coração se despedaçando lentamente.
Sabia que não deixaria transparecer o quão magoado realmente estava e só havia deixado isso ainda mais claro quando tentou sorrir.
tentou sorrir, mesmo depois de tudo.
Ele continuou abraçando a irmã até que o ônibus chegasse. Esperaram que as demais pessoas entrassem no transporte e, ainda na calçada, sentiu o vento frio a abraçar, anunciando a noite que começava a cair.
Subiram no veículo, procurando um lugar vazio e distante para se sentarem. Ele se sentou e ela se aconchegou ao seu lado.
o olhou de canto. Sua expressão era preocupada, o semblante sério e pensativo. Seus olhos estavam atentos ao trânsito, mas ela sabia que sua mente estava um turbilhão de questionamentos.
Os mesmos que ocupavam a sua própria mente.
Era notável o quão sobrecarregado e cansado estava, e ela se sentia ainda mais culpada por isso. tinha que cuidar dela o tempo todo, mesmo que muitas vezes não quisesse ou precisasse.
Respirou fundo, desviando o olhar.
? — chamou.
Ele virou o rosto em sua direção. Ficou alguns segundos a observando e tentou sorrir outra vez, como se quisesse transparecer que tudo ficaria bem.
— O que foi?
Ela encostou a cabeça no apoio do assento acolchoado, tentando formular alguma frase que fizesse sentido.
continuava a observá-la, atento.
— Nós vamos ficar bem. Não é?
O rapaz deixou o ar escapar, pressionando os lábios. Seus olhos azulados, agora pareciam não ter tanta vida como costumavam ter, como se tivessem perdido o brilho, assim como os dela.
Sua feição estava pesada, demonstrando tamanha preocupação e inquietação.
E essa era uma das coisas que raramente conseguia ver em seu irmão; aflição.
colocou um de seus braços ao redor da garota, puxando-a para perto delicadamente, enquanto seus lábios depositavam um beijo na lateral de sua testa.
Seu polegar permanecia fazendo um carinho gentil em seu braço.
— Espero que sim, .

🌴❤️‍🩹


Alguns anos atrás…


A areia de Huntington Beach parecia pegar fogo, mas a única preocupação de era correr em direção ao mar enquanto puxava a manga da roupa de neoprene, ainda que suas bochechas estivessem sujas de protetor solar.
Um sorriso estampava o rosto da garotinha ao ver o irmão e seu pai já dentro da água. — , espere! — Norah gritou, indo atrás da filha que sequer ouvia seu chamado. — O protetor, minha linda.
Quando conseguiu alcançar a pequena, sorriu. A empolgação nos olhos da mais nova era notável.
— Vamos lá, rapidinho — disse, passando mais protetor solar no rosto da filha e ajustando a roupa de neoprene. — Agora sim, você está pronta. Mas lembre-se, fique sempre perto do papai e do , ok?
— Ok, mãe! — respondeu, praticamente pulando de alegria. Antes de se virar e ir em direção ao mar, abraçou Norah com força pela cintura.
Saltitou até a beirada faixa de areia e observou a distância onde Hector e estavam esperando. estava de pé em sua prancha, tentando manter o equilíbrio enquanto o pai o observava. O olhar sempre atento.
— E aí, pai?! O que acha? — exclamou, com um sorriso largo no rosto.
— Só precisa ajustar sua postura e… — Hector colocou a mão nas costas do garoto, o equilibrando. — Está ótimo, , Continue assim! Só mantenha o equilíbrio e vá com calma.
, com os olhos brilhando de excitação, correu pela água rasa até chegar perto dos dois. Se aproximou da prancha de , piscando para o irmão enquanto balançava os braços.
— Pai! ! Eu quero tentar também! — disse, se agitando pela empolgação.
Hector sorriu ao ver a filha e se aproximou para ajudar a se posicionar na prancha. fez uma careta fingindo indignação.
— Vamos lá, pequena surfista. Vamos ver o que você consegue fazer… — O homem disse, enquanto ajudava a garotinha a se equilibrar na prancha.
estava parado, observando sua irmã e seu pai atentos ao que faziam. Seu foco, no entanto, era em admirar Hector. Tinha orgulho de seu pai e queria ser como ele.
Também estava atento à irmã mais nova, com receio da mesma se machucar caso caísse.
Os três ficaram na água por um bom tempo em algumas tentativas de conseguirem algumas ondas, mesmo caindo na maior parte delas. Hector gargalhava ao admirar os dois filhos tentando manter o equilíbrio em cima da prancha de surf enquanto Norah, sentada na cadeira de praia, observava a cena com seus olhos brilhando.
A cena era para lá de especial.
Finalmente, após várias tentativas e muitas risadas, os três começaram a se dirigir de volta para a faixa de areia. A tarde estava se transformando em um final de dia incrível, com o sol começando a se pôr e a brisa suave trazendo uma sensação de calma.
, ainda ofegante e sorridente, segurava a prancha com uma mão, mesmo com certa dificuldade e puxava o pai com a outra.
estava ao seu lado, rindo e sacudindo a água dos cabelos.
— Isso foi incrível! — exclamou a garotinha, olhando para Hector e com entusiasmo. — Eu adorei!
— Foi ótimo mesmo — concordou , dando um tapinha nas costas de Hector. — Você está cada vez melhor, irmãzinha. E papai, você é o melhor instrutor de todos!
Quando chegaram à areia, Norah se aproximou, já com uma toalha em mãos e uma expressão carinhosa em seu rosto.
— Como foi? Aproveitaram bastante?
Sim! respondeu em um gritinho, ainda rindo. — Eu amo surfar, mamãe. Mas sabe o que eu amo ainda mais, mamãe?
sorriu para a irmã, a olhando curioso.
Hector e Norah também tinham a mesma expressão.
— O que, querida? — Norah perguntou.
olhou para seus pais e para , seu sorriso se alargando ainda mais.
— Vocês!
deixou uma risadinha fraca, achando graça na reação da irmã mais nova. Não podia estar mais certo de que compartilhava o mesmo sentimento que ela.
Estar ali, com seus pais e irmã, era um dos melhores momentos do seu dia.
Hector se aproximou da filha, a pegando no colo e ouvindo seu grito eufórico.
— Ah, minha pequena — Hector mencionou, envolvendo em um abraço apertado. , como estava perto, também foi abraçado. — Vocês são o raio de sol dessa família.
sorriu ainda mais, rindo pelas brincadeiras do pai. abraçou Hector rapidamente, enquanto sentia um beijo em sua cabeça que Norah havia acabado de dar.
— Nós amamos vocês, crianças.



Depois de algumas horas de viagem — mais do que o previsto —, os irmãos haviam chegado ao terminal de Santa Ana e tiveram a sorte de encontrar o ônibus para Huntington Beach prestes a partir.
Quando desembarcaram do trem, o dia começava a clarear, como já era esperado para aquela hora. Quase às seis da manhã e ainda não haviam chegado a Huntington.
deveria estar preocupada, sabia bem. Mas aquilo não importava tanto.
Não naquele momento.
Estava longe de casa, longe das discussões, e isso era o suficiente para se sentir aliviada.
tinha sua expressão mais leve, e se não fosse impressão da garota, arriscaria dizer que havia um sorriso discreto no canto de seus lábios.
Isso a animava; afinal, se ele estava se sentindo melhor, também estava.
Tinham deixado Santa Ana havia cerca de vinte minutos, e como a distância entre as duas cidades era pequena, logo avistaram os coqueiros e palmeiras na entrada de Huntington Beach. A paisagem fez sorrir como uma criança, recordando que toda a infância havia sido ali. Passaram os melhores anos acreditando que tinham uma vida perfeita, até Hector decidir que se mudariam para São Francisco.
E, alguns anos depois, havia começado toda a confusão.
desviou a atenção da paisagem para , que a cutucava levemente. Ele tinha um sorriso ansioso e estava se preparando para se levantar.
Colocou a mochila nas costas e se levantou também, percebendo que estavam prestes a descer na avenida.
— Já vamos descer, — mencionou, segurando em um dos bancos.
Em poucos segundos, o ônibus começou a frear suavemente. seguiu o irmão até a saída, descendo as escadas.
Pararam exatamente em frente à orla, onde conseguiam ver algumas pessoas caminhando e outras na areia da praia. Poucos segundos após o ônibus partir, a garota sentiu o puxão do irmão, seguido de um abraço apertado.
Não pode evitar soltar uma risadinha de felicidade, e ele fez o mesmo.
Ambos sentiam o alívio de estar de volta ao lugar que os deixava inteiramente felizes.
— Voltamos para o lugar de onde nunca deveríamos ter saído — murmurou, sorrindo aliviada.
parecia feliz. Parecia emocionado.
Começaram a caminhar pelo calçadão e esperaram alguns carros passarem para poder atravessar e seguir pela rua que, antigamente, costumava ser a de Marie, avó dos dois. olhou para os lados, tentando reconhecer algo do lugar, mas só conseguiu notar o quanto havia mudado com o tempo.
Com um pouco de dificuldade, trocou a mala de mãos enquanto andava, ainda sem tirar os olhos das casas ao redor.
O lugar realmente estava diferente do que se lembrava.
— Se lembra mesmo onde vovó morava? — perguntou, confusa.
As calçadas estavam repletas de palmeiras, o que tornava a paisagem bonita de se ver. a olhou de relance, sorrindo minimamente.
— Qual é, . Tudo bem que faz tempo que a gente não vem, mas isso não significa que esqueci do lugar. Aliás — sorriu outra vez, desviando o olhar da irmã e voltando a olhar para frente enquanto caminhavam. — Impossível esquecer aquela cerca branca.
Olhou na mesma direção que , avistando a casa branca com telhado verde claro.
A residência não havia mudado. E vê-la como antes fez com que a saudade crescesse em seu peito.
amava aquele lugar.
Descansou os braços, colocando a mala no chão e observou a fachada da casa. Havia mudado pouca coisa; a cerca e o portão pareciam ter sido pintados recentemente, assim como o telhado. O portão estava entreaberto, permitindo ver a porta da frente encostada.
Franziu o cenho, se recordando de algo. Será que sua avó ainda morava ali?
— Tem certeza de que Marie ainda mora aqui? — perguntou em voz baixa. — Não me lembro do número e muito menos dessa caminhonete branca.
Olhou para trás, observando a caminhonete que também parecia nova.
voltou a olhar para , que parecia pensativo, mas ainda mantinha a expressão leve no rosto.
Aquilo a aliviou. Saber que seu irmão estava tranquilo com a situação a acalmava.
— Tenho, . Só precisamos chamá-la — se aproximou do pequeno portão branco e apertou a campainha pela primeira vez.
Como ninguém havia aparecido, a garota começou a se preocupar.
Olhou ao redor e constatou que a rua estava pouco movimentada. apertou a campainha mais uma vez. Nada.
observou o irmão bufando e se afastou minimamente, seguindo para a ponta da calçada. Encostou o corpo à palmeira mais próxima, que por sorte oferecia um pouco de sombra, e respirou fundo, olhando para baixo.
A ideia de Marie não estar em casa ou não morar mais ali era suficiente para fazer seu corpo tremer levemente. Não queria nem imaginar o pior se não a encontrassem.
Cruzou os braços e ergueu o olhar para o irmão, que ainda insistia em tocar a campainha.
Olhou por detrás dele, avistando uma senhora se aproximando com algumas sacolas nas mãos. Ela caminhava lentamente e seus cabelos grisalhos estavam presos em um rabo de cavalo, assim como os de .
— chamou o garoto, que não tinha prestado atenção. — ! — disse mais alto, o fazendo olhar em sua direção, confuso. — Aquela não é a vovó Marie?
Apontou com a cabeça para a senhora que se aproximava, ainda sem olhar para eles, e desencostou da árvore, indo até o irmão.
pareceu não ter percebido, mas quando desviou o olhar, seus olhos se arregalaram. Assim como os de Marie quando os viu.
Não demorou para que ela logo estivesse perto dos netos.
? ? — perguntou, ainda incrédula. — O que estão fazendo aqui, queridos? — colocou as sacolas no chão e os abraçou apertado, fechando os olhos rapidamente. — Onde estão Norah e Hector? — olhou para e parecia ter captado o que ele estava pensando. O garoto abaixou o olhar. — Ah... Venham, entrem.
foi em direção às sacolas para pegá-las, mas as pegou rapidamente, fazendo com que Marie se desviasse e fosse empurrar o portão que estava aberto. Pegou sua mala e seguiu pelo pequeno gramado, com o irmão logo atrás.
Por onde caminhavam, havia um pequeno filete de pedra e, ao redor, na grama, havia uma mesa redonda com tampo de vidro, decorada com várias flores.
Assim que entrou na sala, esperou ao seu lado. A avó caminhou apressada para a cozinha, e não pôde evitar soltar uma pequena risada com o gesto.
Marie não havia mudado. Continuava carinhosa e atenciosa a todo tempo.
Deixou a mala em um canto e aguardou em pé no meio da sala, assim como o irmão. Marie veio em sua direção, colocando sobre a pequena mesa no centro uma bandeja com alguns biscoitos, um bolo fatiado e uma jarra de suco.
logo sentiu o aroma do bolo adentrando suas narinas e foi impossível não sentir fome com tal coisa.
se sentou, não demorando a comer enquanto só assistia.
— Como vocês estão, meus amores? — perguntou, sentando-se na poltrona com um pequeno sorriso nos lábios. — Ah, ... Você está tão crescida! — Marie alisou o próprio rosto, não acreditando no que via. sorriu de volta, sentindo o quanto a presença de sua avó a deixava confortável. Marie desviou o olhar para e franziu o cenho. — O que aconteceu com o seu rosto, querido?
Instantaneamente, parou.
O rapaz passou os olhos pela irmã e os direcionou para a avó, que ainda permanecia intrigada, o olhando.
Mordiscou o lábio inferior, abaixando a cabeça e resolvendo se concentrar no copo de suco em suas mãos. Aquele era um assunto delicado, ainda recente, e provavelmente não era o momento certo para discutirem sobre.
— Marie, eu não... — tentou dizer, sem encontrar palavras certas. Marie se aproximou e colocou suas mãos sobre as do garoto.
— Tudo bem, não preciso saber agora — a avó balançou a cabeça negativamente, deixando um leve sorriso surgir nos lábios. — Vocês estão exaustos. Precisam descansar. Venham, os quartos estão livres.
Marie esperou que terminassem de comer e os guiou para os dois quartos que conhecia bem. Primeiro, mostrou o quarto de , que estava inteiramente arrumado e com as paredes pintadas, exceto a azul claro, que ainda exibia os posters de seu irmão. era apaixonado por aqueles posters de banda e sempre que alguma que ele gostava lançava um novo, ele comprava.
Do lado oposto da cama, ao lado do guarda-roupa, repousava o violão que tanto tocava. O rapaz havia o deixado quando se mudaram para São Francisco.
achou graça em como havia ficado encantado ao ver o quarto intocado desde que tinham ido embora. Deixou o irmão desfrutar um pouco mais do cômodo e seguiu com a avó para o seu.
Quando abriu a porta, paralisou.
Nada havia mudado. Tudo estava como havia deixado quando deixaram a cidade.
As paredes ainda estavam em tons marfim, a cama encostada à parede com o fio de lâmpadas ao redor dela. Os porta-retratos permaneciam na prateleira ao lado da cama, assim como alguns em cima da penteadeira.
Era como voltar no tempo.
— Vovó... — disse, com a voz falha. Marie a olhou, segurando uma de suas mãos. — Obrigada.
— Sempre estarei aqui para vocês, querida.
Marie acariciou o ombro de com uma mão e, com a outra, puxou a porta, a deixando sozinha no cômodo.
soltou todo o ar que prendia, deixando os olhos passearem por todo o quarto. Se sentia segura, depois de muito tempo. Era bom estar em um lugar sem brigas, discussões e agressões.
Era bom estar com sua avó.
Quando se aproximou da cama, deixou o corpo repousar sobre ela.
Estava exausta e precisava urgentemente de um banho decente, mas o cansaço não permitia que se levantasse.
Fechou os olhos com força e levou uma das mãos ao rosto, passando-a lentamente.
À contragosto, apoiou os cotovelos no colchão macio e se impulsionou para se sentar.
Era melhor fazer tudo o que precisava antes de descansar devidamente.
E não demorou muito para que tivesse tomado um banho quente, necessário e estivesse de volta à sua cama outra vez.
Seus olhos quase se fecharam com a maciez, mas algo lhe despertou atenção. esticou os dedos em direção à prateleira, puxando uma fotografia que Marie provavelmente havia guardado todo esse tempo.
Um sorriso torto surgiu em seus lábios. Sentia tanta falta de sua família como antigamente…

🌴❤️‍🩹


abriu os olhos assustada com as batidas na porta.
E não demorou para que levantasse o corpo, observando entre a porta e o batente. Ele a observava e seu olhar transmitia um pedido de desculpas por tê-la acordado.
Suspirou, o chamando para sentar a seu lado e logo sentiu as mãos do irmão acariciando seus cabelos. Deixou sua cabeça repousar no ombro de .
— Como se sente? — virou o rosto.
— Cansada, mas um pouco melhor — a garota sorriu minimamente, o olhando. Seu irmão tinha os cabelos bagunçados, como costumava estar. Vestia uma camisa de manga branca e calça jeans escura, indicando que iria a algum lugar. — Aonde você vai?
Ele abaixou o olhar, encarando suas vestimentas, e soltou uma risadinha fraca antes de voltar a olhá-la.
— Vou resolver algumas coisas. Talvez demore a chegar — passou o polegar em sua bochecha e levantou. ainda permanecia sonolenta, mesmo que com o olhar em seu irmão. — Fique por perto.
Deu uma piscadela e se retirou.
A garota respirou fundo, deixando o corpo desfalecer outra vez.
Se sentia exausta, e para ser sincera, o pequeno cochilo desde que havia chegado só deixou evidente o quanto precisava descansar.
Com muita moleza, levantou. Queria fazer algo para passar o tempo enquanto estava fora.
Caminhou até o espelho e observou sua feição. As olheiras de antes haviam diminuído minimamente, mas ainda estavam lá. Os lábios estavam mais rosados e os cabelos bagunçados.
Precisava dar um jeito em sua aparência, pelo menos se fosse mesmo sair de casa.
Rapidamente mudou de roupa e seguiu até à sala, encontrando Marie preparando o que parecia ser o jantar, já que o cheiro de carne assada exalava por todo o local.
Se debruçou sobre o balcão. Sua avó, que tinha a travessa em mãos, tomou um susto ao vê-la ali.
— Querida, não apareça assim. Quase me mata de susto — Marie balançou a cabeça, colocando a travessa em cima do balcão.
soltou uma risadinha.
— Desculpe. O cheiro estava tão bom que precisei parar aqui — deu de ombros, retomando a postura. — Vou sair um pouco. Tudo bem? Se chegar antes, pode avisá-lo para mim?
— Claro, querida. Só tome cuidado e não volte muito tarde, ok? — Marie a olhou, esboçando seu sorriso caloroso.
Sorriu de volta, saindo de casa e parou na calçada.
Deu de ombros, escolhendo qualquer direção.
O bairro não estava tão diferente do que imaginava; apenas as casas haviam passado por uma ótima reforma.
Olhou para algumas pessoas do outro lado da calçada, tentando, mesmo que em vão, reconhecer alguma delas. Nem mesmo James, o vizinho com quem ela e costumavam passar um tempo quando mais novos, parecia morar mais ali. Se lembrou dos cabelos negros e o sorriso largo do garoto.
James era um garoto legal, costumavam sentar na calçada de vez em quando, jogando conversa fora.
Deixou os olhos passearem pela rua, observando o sol se pôr assim que dobrou a esquina, já longe de casa.
Notou uma grande praça, onde muitas pessoas conversavam e se divertiam. Seus olhos se dirigiram para vários grupos que pareciam ter sua idade. Eles gargalhavam e conversavam entre si, e por um momento, se perguntou do que tanto estavam rindo.
E, até mesmo, quis fazer parte daquilo.
Fazia tempo que não sabia o que era rir de verdade, nem mesmo estar com amigos assim.
Já havia anoitecido e as luzes dos postes estavam acesas, iluminando completamente o lugar. Muitas pessoas passavam por animadas, fazendo com que, no fundo, também se sentisse minimamente animada por estar ali.
Colocou uma das mãos no bolso para pegar o celular e verificar as horas, mas sentiu apenas o mesmo vazio, fazendo com que arregalasse os olhos.
Droga! Havia esquecido o celular em casa.
Ela olhou ao redor, tentando reconhecer o lugar onde estava, constatando que havia várias lojas de marca por ali: Hurley, Volcom, Subway, Quicksilver…
O desespero começou a se tornar presente quando olhou para trás e não se lembrou ao certo qual caminho havia feito até chegar ali.
Como não se lembrava da cidade que morou toda sua infância?
Calma, não deve estar tão longe assim, — dizia para si mesma, tentando se acalmar. O que não ajudou muito, pois estava parada no meio da calçada, sentindo algumas pessoas esbarrando em seu corpo.
Olhou para a loja à sua frente, Hurley. Poderia muito bem entrar e perguntar, mas a loja estava lotada, o que só aumentou seu nervosismo.
Fechou os olhos brevemente e soltou o ar, voltando o olhar para a orla da praia.
Ela se sentaria em um dos bancos, conseguiria falar com e tudo acabaria bem. Isso! Tudo ficaria bem.
Não pensou duas vezes em atravessar a rua, mesmo sem olhar para os lados, e se aproximou do banco vago, se sentando ali.
Desviou o olhar, notando as pessoas caminhando lentamente, sem muita preocupação. Ela também queria não ter preocupação nenhuma.
Colocou as mãos na cabeça, a abaixando lentamente. Quando apoiou o cotovelo nas pernas, quis urrar de frustração consigo mesma.
Mal tinha chegado à cidade e já estava perdida. Incrível.
Enquanto se concentrava em se praguejar mentalmente, ouviu risadas ao seu lado esquerdo. Uma delas era um pouco escandalosa, enquanto as outras eram mais baixas. Resmungou, virando o rosto na direção ao barulho e se deparou com um grupo de garotos que alternava o olhar para ela.
Deveria ter uns quatro ou cinco garotos em uma rodinha. Alguns em pé e outros sentados. Balançou a cabeça em negação, rolando os olhos quando um dos garotos olhou e riu de forma debochada. Aquilo a irritou, mas tentou não mostrar. Sua vontade era sair dali o mais rápido possível, mas não o fez, já que não queria se perder ainda mais do que já estava.
Deixou a cabeça tombar para o lado, observando a loja do outro lado da rua. O que faria?
— Ei, está perdida? — ouviu alguém perguntar, próximo a si. Quando olhou para o lado, estreitou os olhos ao se dar conta de que realmente se referiam a ela.
O moreno no meio, que provavelmente havia feito a pergunta, a encarava com uma das sobrancelhas arqueadas. Usava boné, uma regata preta que destacava seus braços torneados, combinada com uma bermuda creme. Debaixo de seus pés, havia um longboard que o garoto balançava de um lado para o outro.
— O que acha?! — rebateu, um tanto óbvia.
Ele riu, seguido por seus amigos.
Ao seu lado, havia outro rapaz moreno, mas este estava concentrado em seu celular. Os outros três estavam de pé; o loiro mais baixo parecia pra lá de idiota, rindo de qualquer coisa que o musculoso falava. O outro, com olhos castanhos e pele avermelhada, mantinha os olhos cravados na garota, junto a um sorriso malicioso nos lábios.
Por fim, o loiro ao lado do rapaz de boné parecia alheio a tudo, olhando na direção oposta, com as mãos nos bolsos da calça preta. Seu semblante era sério e parecia ser o único ali que não estava interessado em olhar para .
Parecia ignorar toda a situação.
— Acho que você está um pouco nervosa — o de boné continuou instigando, e levantou suas mãos em um gesto defensivo. O loiro mais baixo riu, e o olhou com a pior cara que conseguiu fazer. Não bastava estar perdida, ainda tinha que lidar com aquilo. — Você parece nova demais para ser tão estressada.
Ela deixou seu olhar cair sobre ele, arqueando uma sobrancelha.
Quem ele achava que era para deduzir algo sobre a garota?
— E você parece ser um babaca e nem por isso eu disse alguma coisa — rebateu, os fazendo rir. Aquilo a irritava.
Fala sério — o loiro mais alto, que até então só ouvia o que acontecia, resmungou.
Ele passou os olhos do rapaz musculoso para ela, parando o olhar em seu rosto, antes de descer para o corpo, parecendo observá-la com uma minuciosa atenção. bufou, se levantando, decidida a encontrar o caminho de volta para casa. Era melhor estar longe daquele grupo e tentar encontrar o caminho de volta de uma vez. E, mesmo estando do outro lado da orla, já na outra calçada, conseguiu escutar a risada alta, escandalosa, invadindo seus ouvidos.
O que só a fez resmungar ainda mais.
Você é foda, ! — um dos garotos gritou.
rolou os olhos. Aquele era justamente o tipo de grupo o qual a garota adorava manter distância, já que sabia que teriam consequências. Não pareciam ser as melhores pessoas.
Respirou fundo. Só precisava continuar caminhando até que encontrasse algo que a fizesse lembrar o caminho para casa. só queria sair dali o mais rápido possível. Não fazia ideia do horário, o céu já estava escuro e as ruas iluminadas pelos postes.
Mesmo a agitação no centro de Huntington sendo surreal, o fato de se encontrar perdida a deixava desesperada mesmo com muitas pessoas ao redor.
encolheu os ombros com os próprios pensamentos, até sentir alguém andando próximo a si, quase ao seu lado. Os passos sincronizados aos seus.
— Não precisa fingir que não sabe que estou aqui — sentiu o corpo tenso ao escutar a voz rouca ao seu lado e virou o rosto, surpresa, estranhando a pessoa que estava ali. O loiro mais alto caminhava, sem muita preocupação, tirando o cigarro dos lábios. Ainda sem desviar a atenção, soprou o ar. — Posso não ter prestado atenção, mas percebi que estava visivelmente apavorada, entregando o quão perdida você está. O que denuncia também que é nova na cidade.
sentiu a garganta fechar. O que raios ele fazia ali? Quem era aquele garoto?
Ela virou o rosto para frente, voltando a observar a rua pela qual caminhavam.
O movimento ali já era menor, mas isso não a tranquilizava; pelo contrário, só a deixava ainda mais tensa.
Além de estar perdida, agora tinha a companhia de um cara que mal conhecia e que ao menos dava o ar de ser alguém confiável.
O olhou de relance antes de focar sua atenção em qualquer outra coisa.
— Não sou nova na cidade — murmurou, a contra gosto.
Ele ficou em silêncio e balançou a cabeça, dando de ombros após.
Parecia exatamente o tipo de seus amigos e não conseguia entender o motivo do rapaz ter deixado o grupo para caminhar com ela.
— O que foi? Pode dizer — virou o rosto, o encarando. — Qual é a sua? Tenho certeza que não saiu de lá apenas para me acompanhar. — disse, dando ênfase ainda observando a expressão relaxada do garoto.
O loiro se virou para ela, arqueando uma das sobrancelhas.
— E quem foi que disse que vim acompanhar você?
A resposta dele a deixou surpresa, fazendo com que ficasse até um pouco sem graça, mesmo tentando não demonstrar. Os olhos verdes do rapaz passeavam por toda a rua, provavelmente observando as pessoas que passavam ao redor. E, por onde os dois andavam, o garoto a seu lado atraía olhares de muitas mulheres por sua beleza, que era algo que não podia discordar.
Seus cabelos loiros estavam bagunçados pelo vento noturno de Huntington, e a iris clara estava opaca, ainda assim bonita.
não deixou de notar o corpo definido, diferente do rapaz musculoso de antes. Não era exagerado, parecia na medida certa.
Podia dizer com certeza que o garoto a seu lado parecia um modelo. Rapidamente olhou para frente, na tentativa de fazer com que ele não percebesse sua olhada. E talvez tivesse dado certo, já que o mesmo continuaria a olhar para qualquer lugar que não fosse .
— Então, já que não está me acompanhando… Por que me segue? — arqueou a sobrancelha. O loiro soltou uma risada abafada, dando uma última tragada no cigarro, o jogando no chão.
Por pouco não revirou os olhos. O cheiro da nicotina a incomodava.
— Bom, de acordo com os fatos, você está perdida. Ou seja, não sou eu quem está te seguindo — A olhou, óbvio e colocou uma das mãos no bolso da calça. — Inclusive, você tem o privilégio de ter minha companhia. Não devia reclamar tanto assim.
rolou os olhos de uma vez. Idiota.
Ele pressionou os lábios, provavelmente contendo a risada.
Qual é o seu problema?
— O meu problema? — perguntou retórico. — Falo alguma coisa, você responde toda arisca e eu é que tenho um problema? Não devia ser tão estressada, esquentadinha. o olhou, com uma das sobrancelhas arqueadas. O que era aquilo? Agora tinha um apelido ridículo para lhe chamar? Ele continuava a observar, desta vez com um sorriso divertido no canto dos lábios. Devia estar adorando tirá-la do sério. — Esquentadinha? Tá falando sério? — balançou a cabeça, achando o cúmulo do ridículo.
O loiro a olhou, dando de ombros. respirou fundo. Tinha que se livrar dele.
Olhou ao redor, percebendo o quanto já estavam distantes do centro da cidade e a garota continuava sem saber onde estava certamente. Decidiu andar rápido, pensando que talvez assim conseguisse se livrar dele e encontrar o caminho o mais rápido possível.
— Não é como se andar rápido fosse adiantar alguma coisa — comentou, ainda permanecendo atrás. — E, cá entre nós? Você não faz ideia de onde está indo.
Ela parou, virando o rosto para o lado. O filho da mãe não podia estar mais certo.
Se aproximou da garota, a olhando com curiosidade. Achava graça em como mal haviam se conhecido e a conseguia tirar inteiramente do sério.
rolou os olhos, evitando a todo custo o contato visual. Sentia os olhos do rapaz fixos em seu rosto e estava quase certa de que, se permanecesse quieta, ele continuaria a olhar. — O que foi? O encarou.
O loiro sorriu ladino, satisfeito com a situação. — Posso te ajudar.
— Não preciso da sua ajuda — debateu, desdenhosa. Ele continuou a olhando, com o mesmo semblante descontraído.
Ficaram em silêncio por segundos.
— Tudo bem. Pode seguir sozinha. Parou no meio do caminho, a fazendo parar automaticamente.
O gesto do rapaz a fez perceber que estava mais perdida do que imaginava; até então, tinha esquecido o quão fora de lugar estava, mas ao vê-lo recuar, entendeu que ficaria sem rumo e voltaria à estaca zero.
Sozinha, sem telefone e perdida. Ele continuou a olhando, com um sorriso vitorioso nos lábios. Sabia que a garota precisava de sua ajuda e que admitir aquilo a incomodaria eternamente.
engoliu em seco, olhando discretamente ao redor sem reconhecer o local em que estava. O desespero começou a se tornar presente aos pouquinhos até se dar conta de que não teria outra opção a não ser aceitar sua ajuda.
Remexeu os dedos, começando a se sentir nervosa e olhou novamente para o rapaz, tentando ao máximo esconder o que sentia. Suspirou, sentindo o olhar o loiro queimando sobre si.
— Olha, preciso chegar em casa o mais rápido possível e—
A interrompeu com um pigarro, fazendo-a franzir o cenho. esperou uma resposta, mas continuou em silêncio.
Segundos depois, se aproximou. — Eu vou te ajudar, esquentadinha. — Pode parar de me chamar assim? — retrucou, já irritada.
O rapaz riu, achando ainda mais graça em como as bochechas da garota mudaram o tom visivelmente. Logo, começou a caminhar em frente à ela.
o seguiu sem pensar muito. Agora, se encontravam em uma rua repleta de casas, já distante do centro da cidade. Os postes iluminavam apenas algumas áreas, deixando o restante em sombras.
Ela olhou de soslaio para o rapaz, que parecia estar apreciando a paisagem noturna. Ouviu risadas e ao virar, observou algumas pessoas caminhando na calçada oposta.
— Podia me dizer se lembra de alguma coisa, para começar? — o garoto murmurou, quebrando o silêncio. — Se eu lembrasse, não precisaria da sua ajuda. — Touché — arqueou uma das sobrancelhas. — Consegue se lembrar de algum lugar que tenha passado? olhou ao redor, tentando se lembrar de algum local ou detalha, mas nada vinha à mente. A risada escandalosa de antes invadiu seus pensamentos, trazendo à memória o grupo de amigos na praça que havia visto mais cedo. — Havia uma praça. Quando saí mais cedo, estava bem cheia — deu de ombros. Olhou para o loiro e viu um sorrisinho cúmplice surgindo em seus lábios. — O que foi?
— Interessante. — O que? — franziu o cenho, confusa. O que é que ele estava falando?
— Nada não.
quase retrucou, mas ao virar uma das esquinas, avistou a casa da avó ao final da rua.
Deixou escapar um grande suspiro, o que fez o garoto olhá-la com a expressão curiosa.
— Ainda bem — Ela comentou, aliviada.
O loiro deu de ombros, como se não fosse nada. Caminharam um pouco mais e, antes de chegarem em frente à casa, pararam. Ele olhou para a residência e, após, para ela, com o mesmo semblante tranquilo de antes.
— Está entregue — disse, colocando uma das mãos no bolso.
balançou a cabeça em afirmação, e ele fez um pequeno aceno antes de se virar para ir embora. Ainda um pouco atordoada, sem pensar muito bem, decidiu chamá-lo.
O rapaz virou o rosto em sua direção.
— Bom, não sei como agradecer ao certo, mas... — desviou o olhar. — Obrigada.
Ele manteve seus olhos fixos ao dela, observando-a.
Seus cabelos loiros e os olhos verdes, agora estavam escuros pela penumbra da noite. Seus fios escuros balançavam pelo vento.
ofereceu um sorriso fraco.
— Por nada, esquentadinha.
A garota revirou os olhos, quase levantando o dedo do meio em direção a ele.
No entanto, antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, notou o garoto longe dali, pronto para retornar em direção ao centro da cidade.
Soltou todo o ar que segurava em seus pulmões e fechou os olhos, sentindo o alivio invadir seu corpo. Por um momento achou que não retornaria para casa.
Se recordou do rapaz loiro, sendo ironicamente seu salvador. E, no segundo seguinte, se praguejou mentalmente, percebendo que sequer havia perguntado seu nome.
Ótimo, . O cara te ajuda e você ao menos pergunta o nome dele — pensou.
O quão irônico aquilo podia ser?

🌴❤️‍🩹


sentiu o vento fresco do anoitecer acariciando seu corpo, sentada na varanda.
O som da televisão da sala era evidente, mas seu foco estava em escutar o som das ondas quebrando ao longe e ao sentir a paz que só um lugar confortável conseguia lhe fazer sentir.
Seus pensamentos estavam embaralhados, agitados. Queria tentar focar no que havia acontecido com ela e seu irmão, mas a ocorrência de mais cedo, ao anoitecer na praia, também não a deixava em paz.
Respirou fundo, ouvindo a porta se abrir.
saiu da casa e se aproximou, sentando-se ao lado dela na cadeira da varanda.
O silêncio confortável entre os irmãos durou alguns segundos, enquanto ambos apreciavam a presença um do outro.
— Tudo bem? — mencionou, sua voz saindo um pouco baixa.
— Sim, só… Que loucura nossa vida, não é?
Ele deixou uma risadinha escapar, sem emoção.
Sabia exatamente como a irmã se sentia no meio de todo o caos que acontecia entre eles.
— Normalidade para quê se podemos acabar assim? — balançou a cabeça, entrando na brincadeira. permaneceu em silêncio. — Ei, , agora eu falo sério… Tudo bem?
A garota olhou o irmão que tinha o mesmo semblante preocupado de quando saíram de São Francisco.
— Me sinto melhor aqui, mas isso vai ser até quando, ? Vamos ter que fugir o tempo todo? Ter que se esconder até isso passar? — disse, baixo. Não queria que sua avó escutasse seus problemas. continuou a olhando. — Eu odeio esse sentimento. Eu…
— Calma. Ei — o irmão a chamou, se aproximando um pouquinho mais. desviou o olhar. — Não vai ser pra sempre, . Ficar aqui é só por um tempo. A vovó nos apoia e tenho certeza que também vai nos acolher pelo tempo que precisar.
continuou em silêncio. Seu coração batia frenético e sentia que choraria a qualquer momento.
puxou a irmã para um abraço apertado.
— A gente vai encontrar um jeito de lidar com isso. Não importa o que aconteça, vamos passar por isso juntos.
Ela levantou a cabeça e olhou para o irmão, sentindo uma pontinha de alívio ao ouvir suas palavras. tinha aquele efeito de conseguir acalmá-la mesmo em meio a toda tempestade.
— E já que estamos aqui, vamos aproveitar o tempo que temos com a vovó e fazer o melhor possível. Isso pode ser um começo de algo novo pra nós dois.
A garota respirou fundo, soltando todo o ar que prendia. Queria que tivesse razão sobre tudo o que dizia, mesmo sabendo o quão difícil seria lidar com todos os problemas que ambos vinham enfrentando.
— Promete?
sorriu. Aquele sorriso que transmitia confiança e determinação. Um sorriso que aqueceria os corações mais gelados do mundo.
— Eu prometo, .



Os olhos de permaneciam fechados.
E, mesmo estando a uma distância considerável da praia, a garota conseguia ouvir o barulho das ondas quebrando levemente. Da mesma forma que, pela minuciosa fresta de sua janela que permitia a entrada dos raios de sol, conseguia sentir o quentinho tomando conta de seu corpo.
Aquilo não a incomodava, pelo contrário. Era bom demais.
O silêncio evidente deixava claro que talvez ela fosse a única acordada naquele momento. Seu quarto estava imerso em uma paz profunda e apenas os carros que passavam em sua rua faziam algum barulho.
Se espreguiçou ainda deitada enquanto sua mente rodopiava em opções sobre o que iria fazer ao longo do dia, mas seus pensamentos não duraram muito tempo, já que pôde ouvir batidas na porta de seu quarto.
Não teve tempo de responder. o adentrou com suas bochechas rosadas naturalmente.
sorriu.
— Bom dia, dorminhoca — brincou, se aproximando da irmã. — Você sabe que horas são?
— Não pretendo saber — riu baixo, o observando. estava sem camisa, trajando apenas um short escuro e havaianas brancas nos pés.
Seu irmão era muito bonito, isso não podia negar. Os olhos azuis eram completamente perceptíveis, exceto quando mudavam de cor.
Ela havia sido a única que herdara a íris castanha de seu pai.
— Bom, então é melhor ir se levantando. Marie comentou que queria fazer compras no centro da cidade e que com certeza iria levar você. Sinto muito, — disse, rindo ao ver a expressão de decepção da irmã.
— Você poderia dizer que, sei lá, iríamos fazer algo juntos.
cruzou os braços, indignada. esticou sua mão livre, bagunçando os cabelos escuros da irmã.
Achava graça em como ela ficava quando era contrariada.
— Relaxa, vai ser legal. Você vai poder comprar algo novo. Quem sabe, talvez, um par de tênis? — sugeriu, arqueando a sobrancelha de forma sugestiva.
A garota deu de ombros, começando a achar a ideia interessante. Não era todo dia que tinha a oportunidade de comprar o que quisesse e, como conhecia sua avó Marie, compraria qualquer coisa que achasse interessante.
— E você, o que vai fazer enquanto estamos fora? — questionou, o vendo se levantar e caminhar em direção à porta.
virou o rosto, com um sorriso ladino. Deixou evidente os braços malhados e mostrou o muque, como gostava de fazer vez ou outra.
— O que eu faço de melhor. Você sabe — deu uma piscadela, saindo do cômodo.
soltou um grande resmungo, deixando o corpo cair outra vez na cama macia. Ela faria compras com Marie enquanto iria fazer o que ela mais amava na vida; surfar. Isso só não a deixava mais irritada porque sentia que ficaria em Huntington Beach por um bom tempo e conseguiria aproveitar seu hobby a hora que quisesse.
Se levantou da cama, cambaleando um pouco pelo sono que ainda sentia e seguiu em direção à cozinha, onde sua avó já preparava o almoço.
Marie a olhou e deixou um sorriso caloroso transparecer. O avental estava amarrado à sua cintura.
— Bom dia, querida. Dormiu bem? — a mais velha perguntou, rodopiando a bancada da cozinha.
assentiu com a cabeça.
te avisou que vamos sair? Não precisa ir se não quiser, claro.
A verdade era que não queria, mas não iria fazer uma desfeita logo com a avó. Assentiu rapidamente, demonstrando entusiasmo, e a Marie sorriu ainda mais.
— Pode almoçar, se quiser. Logo sairemos.
Deixou a avó na sala e seguiu até o banheiro decidida a tomar um banho rápido.
Quando terminou e já estava de volta ao seu quarto, deixou os olhos caírem sobre o sol escaldante do lado de fora, o que a fez optar por uma roupa mais leve.
Sabia como Huntington costumava ser quente.
Foi logo quando terminou de ajeitar o cabelo que ouviu uma leve batida na porta. Olhou para o lado e observou Marie a olhando com o mesmo sorriso terno que costumava ter nos lábios.
— Você está tão linda, — disse, ainda a observando. Se sentiu levemente envergonhada. — Não vai almoçar? — perguntou. negou levemente. — Então, vamos?
Saiu do quarto junto da avó e olhou para os lados, procurando seu irmão, mas ele não estava em lugar algum.
Deu de ombros e seguiu até a calçada, notando Marie seguir até a caminhonete branca.
— Gostei da caminhonete. Bem legal — comentou, sentando-se no banco carona. Era uma caminhonete simples, mas inteiramente limpa e conservada.
— Comprei por um preço ótimo. O antigo dono não a queria mais, então logo se desfez — disse a avó, olhando para ela rapidamente, enquanto iam em direção à cidade.
abaixou o vidro, sentindo a brisa no rosto e deixou um sorriso escapar, sentindo-se extremamente confortável. Observou as pessoas andando pela rua, indo à praia, já que estavam com roupas de banho.
Olhou de relance para a avó e viu que ela ainda tinha aquele sorriso no canto dos lábios. Como alguém conseguia sorrir tanto assim?
Passaram por algumas lojinhas até chegar à avenida. Não haviam muitos carros transitando por ali, o que era bom, já que não pegariam engarrafamento. Como o veículo estava silencioso, resolveu ligar o rádio, e os acordes de Levitating invadiram seus ouvidos, a animando.
Era o tipo de música que, mesmo estando para baixo, a fazia instantaneamente sentir vontade de sair tentando alguns passos de dança.
Pararam no sinal e, como a janela dela estava aberta, pôde ver alguns carros parando ao lado. O vento estava mais fraco, mas ainda assim continuava fresco.
encostou a cabeça no canto da janela e ouviu uma música no estilo de Paris Hilton ficando cada vez mais alta. Se não fosse ela cantando, com certeza era alguém com uma voz tão irritante quanto.
Fechou os olhos, soltando um resmungo assim que a música ficou ainda mais alta e pôde ouvir o ronco do carro ao lado. Virou seu rosto vagarosamente, observando aquela visão nada agradável.
O carro, que com certeza era muito caro, estava com o teto solar abaixado, duas garotas estavam de pé com as mãos para cima e uma loira estava sentada no banco do motorista. Seu olhar seguiu para o capô do carro, que brilhava mais que o sol devido ao tanto de glitter que tinha.
Só podia ser brincadeira.
I'd let you had I known it, why don't you say so?... — cantavam tão alto que pôde sentir seus neurônios explodindo dentro da cabeça.
Respirou fundo e observou a garota que tinha os cabelos loiros claros, quase em um tom esbranquiçado. Ela tinha uma sobrancelha arqueada, a encarando.
— Fala sério — murmurou.
No segundo seguinte o carro arrancou, sumindo no final da avenida.
Olhou para a avó, que ria baixinho enquanto dirigia. Só podia ser coisa de Huntington Beach mesmo.
— Não precisa ficar com essa carinha, . Não acredito que você já esqueceu de como a cidade é — Marie comentou enquanto olhava de relance para a neta.
— Não é esquecer. Eu só não me lembro... Disso — respondeu, com uma careta enquanto ainda olhava na direção que o carro havia ido.
Sua avó pareceu entender e continuou dirigindo até pararem em mais um sinal, que não demorou muito.
Alguns minutos depois, estavam estacionando em frente a um shopping. O mesmo era bem colorido e próximo ao mar, apesar de ter passagem apenas pelo píer no final da rua.
Marie desceu do carro com uma animação transparente. Apesar de ter mais de sessenta anos, parecia jovem, com uma disposição que até causava inveja.
a observou por alguns segundos antes de entrar no lugar ao seu lado.
A avó tinha altura mediana, cabelos grisalhos que iam até a altura do pescoço, impecavelmente arrumados. Ela adorava o tom branco dos seus fios.
Seu rosto tinha poucas rugas, mas parecia pouco se importar. Ainda assim continuava linda.
Colocou uma das mãos no bolso do short e observou a fachada do mini shopping. Havia um enorme letreiro marrom com o nome Bella Terra.
Ao adentrar, sentiu o ar gelado do ar condicionado direto em sua pele.
Marie seguiu na frente, na direção oposta, e a acompanhou, observando todo o lugar. Passaram por várias lojas, mas parecia que nenhuma delas agradava a mais velha.
— Normalmente venho para comprar algumas coisas para a casa — explicou Marie, se virando para ela. assentiu, indicando que estava prestando atenção. — Mas, essa é uma ocasião especial. Minha netinha está morando comigo. É maravilhoso!
A avó passou um dos braços em volta dos ombros da neta, a fazendo rir suavemente. Realmente fazia tempo que não via Marie e sempre esteve com saudades, mas Hector costumava ser contra viajarem para Huntington outra vez.
Desde que se mudaram quando mais novos, nunca mais voltaram. vivia dizendo o quanto a mudança havia sido decepcionante.
E, sendo bem sincera? Havia sido a pior coisa que aconteceu.
Entraram em um grande departamento. Marie a acompanhou até o centro da loja, enquanto não conseguia parar de observar o lugar por inteiro. Além de ser enorme, vendia qualquer tipo de coisa e, claro, a primeira seção pela qual passaram era repleta de calçados.
Por alguns segundos, achou que seu queixo fosse cair pela surpresa em ver quanta coisa havia ali. Bem na sua frente, havia pares de todas as marcas possíveis: Nike, All Star, Vans, Adidas, Puma...
Observou as duas paredes onde os tênis estavam dispostos até escutar Marie, o que a fez pular de susto.
— Vovó! — disse, ainda assustada enquanto soltava uma risadinha.
Olhou para a mais velha ao perceber que ela observava a prateleira. Parecia examinar todos os tênis detalhadamente, assim como fazia antes. Marie tinha suas sobrancelhas franzidas.
— Esse preto é muito bonito — apontou para um da Nike. — Pelo que vi, você já tem um azul e um branco. É sempre bom variar, não?
Sua avó deixou um sorrisinho escapar e, pela primeira vez depois de um tempo, se sentiu verdadeiramente animada. Não era só porque sabia que a avó compraria o tênis para ela, mas também porque havia ficado feliz por ajudar na escolha e, principalmente, por saber que prestava atenção nos interesses de .

🌴❤️‍🩹


fechou os olhos assim que sentiu o sol fraco na calçada.
Diferente de quando chegaram, a rua estava um pouco mais movimentada. E, depois de terem comprado quase o shopping inteiro — e não era exagero —, seguiram em direção ao carro no estacionamento do lugar.
carregava algumas sacolas pesadas nas mãos e a avó achou válido deixarem as coisas no veículo antes de comer algo. Esperou até que Marie trancasse o mesmo e seguiu com ela para a praça de alimentação ao ar livre, quase ao lado da faixa de areia.
Pararam na entrada e olhou para a extensão do lugar, observando com curiosidade cada cantinho dele. Se sentaram em uma mesa ao fundo, com a vida deslumbrante que a cidade tinha. O mar estava calmo e as gaivotas passavam ao longe.
Ela se ajeitou na cadeira, olhando ao redor. Talvez escolheria algo no Burger King, já que estava morrendo de fome. Então, esperou um pouco mais até sua avó decidir.
— O que quer comer? Hoje você quem escolhe — Marie sorriu.
encolheu os ombros, tentando não ouvir sua mente que gritava por batata frita.
— Ah, vovó, pode escolher. Confesso que estou com fome, então qualquer coisa está bom.
— Querida, preste atenção. Estamos rodeadas de ótimas redes de fast food — disse olhando em volta e fazendo olhar também. — O que quer comer? É só me dizer e sairemos daqui satisfeitas.
deu uma risadinha e abaixou a cabeça, tornando a olhar em volta. Estava realmente indecisa, sem saber o que escolher. Entortou os lábios e deixou a cabeça tombar para o lado ao olhar para o Burger King.
— Burger King. Qualquer lanche que venha com a maior porção de batata frita — disse, fazendo uma careta.
Marie riu e se levantou, seguindo até o lugar.
a observou entrar na fila e depois virou o rosto em direção ao mar, soltando um grande suspiro. Já estavam em Huntington há uma semana, essa que havia passado muito rápido.
Tão rápido que logo as aulas começariam.
, no dia em que havia se perdido, saiu para tentar resolver algumas coisas, como havia mencionado. E como tinham saído de São Francisco sem terminar os estudos, seu irmão logo resolveu com Marie. Assim, a avó os matriculou na escola mais próxima, a Ocean View High.
Claro que achou aquilo estranho de início. Ainda estava receosa com Hector e Norah. Podiam levá-los a qualquer momento e aquilo não era definitivo.
Mas, apesar de esse ser um dos grandes empecilhos, confiava no irmão e sabia que, junto dele, poderia fazer aquilo dar certo de algum jeito.
Ela conhecia Marie muito bem para saber que não deixaria que eles os levassem assim, sem questionar. E isso a deixava muito mais tranquila.
Olhou para a fila novamente e viu Marie agora vindo em sua direção.
A avó carregava uma bandeja com lanches, batatas fritas e dois enormes copos de suco. Os olhos de brilhavam.
— Não sabia se você ia querer refrigerante e, como bebo suco, achei que você poderia querer também. Tudo bem? Se quiser, posso pedir um refrigerante separado — disse Marie, se sentando e colocando a bolsa na cadeira ao lado.
balançou a cabeça rapidamente, negando. Não tomava refrigerante fazia anos.
— Não tomo refrigerante. Ótima escolha, vovó — comentou, sorrindo para Marie e dando uma enorme mordida em seu lanche. Mal havia mastigado e já estava dando outra mordida.
Ficaram um tempo comendo em silêncio, até que isso começou a incomodá-la. O lanche já havia acabado e comia as batatas lentamente enquanto mexia no canudo do suco e observava as pessoas ao redor.
Marie percebeu, já que soltou um pigarro e pousou os olhos na neta. Por um breve momento, achou que receberia um sermão por alguma coisa, apesar de Marie não ser dada a isso, mas sua voz doce a tranquilizou.
— Eu não sei ao certo, apesar de saber que vocês vão me contar na hora certa — disse. engoliu em seco, sentindo o coração palpitar. Já fazia ideia do que se tratava. — Norah me ligou.
Por um momento, achou que começaria a chorar, mas pressionou os lábios e focou o olhar na mesa. Nem ela e nem havia contado a Marie ainda sobre o ocorrido e estava morrendo de medo de que ela tivesse falado com Norah sobre onde estavam.
Isso só colocaria tudo a perder.
Ergueu o olhar subitamente, olhando para Marie com nervosismo.
— Você não falou nada para ela, não é? Ela está vindo para cá? Você não…
Marie estendeu a mão, segurando a dela por cima da mesa e a acariciou, tentando acalmá-la.
, querida, fique calma — disse, olhando em seus olhos com compreensão. — Sei que vocês não apareceriam de repente em minha casa, ainda mais sozinhos. Mas também sei que, para isso ter acontecido, vocês tiveram um motivo — Respirou fundo. — Estou certa?
balançou a cabeça, concordando.
Marie permaneceu em silêncio por alguns segundos, ainda com a mão sobre a dela.
— Ela perguntou se vocês estavam comigo. Neguei, e apesar de odiar ter que mentir para minha própria filha, precisei fazer isso — Marie continuou, dando um pequeno sorriso, mas agora com a expressão séria. sabia que Marie estava sendo sincera em tudo o que dizia. — Ficarão comigo o tempo que precisarem. Um mês, um ano ou o resto da vida. Eu amo vocês. Você sabe disso, não é, querida?
Marie ergueu a mão e acariciou o rosto dela com o polegar. sentiu os olhos ficarem marejados, mas logo se recompôs, acariciando a mão da avó também.
— Obrigada. Você não sabe o quanto isso significa para nós dois — respondeu, sincera.
Dessa vez, Marie sorriu calorosamente. Pegou sua bolsa e se preparou para se levantar, e fez o mesmo, percebendo que já estava tarde, com o céu começando a adquirir tons alaranjados.
Não pude deixar de sorrir aliviada.
Pegou seu copo, que ainda continha uma boa quantidade de suco, e saiu atrás de Marie, ajeitando sua roupa.
Saíram da praça de alimentação, desviando de algumas pessoas e pararam na calçada. Marie parou em frente a algumas vitrines, as admirando. E, enquanto fazia isso, se afastou minimamente, levando o canudo do suco à boca.
Parada ali, se lembrou de que quase não havia mexido no celular e o pegou no bolso para verificar as horas. Já eram cinco da tarde, e ao desligar o display, avistou um alerta de uma nova mensagem.
Era de .

SMS
Você trouxe algum hidratante? Acho que exagerei no bronze…


gargalhou, balançando a cabeça. Era evidente que tinha ficado queimado, já que sempre esquecia o protetor solar quando ia para a praia.
Ela trocou o copo de mão e estava prestes a começar a responder a mensagem, não fosse por um grupo de garotos passando de skate.
O susto foi instantâneo, quase deixando o celular cair ao chão e o suco tombou para o lado, fazendo a tampa abrir e o líquido espirrar em sua roupa inteira.
arregalou os olhos, sem saber para onde olhar no momento. O copo virado em sua mão, o celular espremido contra seu peito ou para o grupo de garotos que havia parado distante dela.
Assim que ergueu o olhar, a sensação de déjà vu a preencheu.
O sorriso aberto, o boné na cabeça e a risada escandalosa do mesmo garoto que havia encontrado na orla no outro dia. Musculoso.
Ele agora estava parado, com um dos pés no long e seu olhar curioso analisavam .
respirou fundo, sentindo o sangue borbulhar. Fechou as mãos, pronta para ir em direção ao rapaz e grudar todos os seus dedos naquele rosto. Sua maior vontade era a de quebrar seu nariz e o colocar em seu lugar. Mas ela não faria aquilo.
Marie provavelmente a acharia uma louca.
Desviou o olhar e viu sua avó se aproximando. Ao parar em sua frente, Marie arregalou os olhos, claramente sem entender o que acontecia ali.
— Oh, , o que aconteceu? — Marie segurou seu ombro, olhando suas roupas.
Automaticamente, seu olhar seguiu para o garoto de boné, e sentiu a vista queimar de raiva.
Quase o aniquilava com o olhar.
Marie olhou na mesma direção e estreitou os olhos.
— Foram eles? Você o conhece?
quis responder que sim, que conhecia o garoto e que estava pronta para enfrentá-lo. Mas, ele estava cercado por mais pessoas e ela sabia que acabaria perdendo aquela briga.
Tentou acalmar a respiração, mas o líquido ainda escorria por sua barriga.
Fechou os olhos rapidamente e balançou a cabeça em negação.
Não podia fazer nada além de resmungar e soltar palavrões até chegar em casa.
Então, apenas o encarou uma última vez, o vendo sorrir minimamente.
— Não. Não conheço.

🌴❤️‍🩹


tinha seu corpo recostado em uma das estruturas da orla que levavam até o píer, enquanto seus olhos esverdeados admiravam o mar ao longe.
Seu grupo de amigos estava ao seu redor, conversando e rindo de bobeiras que costumavam falar, enquanto sua mente ainda continuava distante.
O sol estava começando a se pôr, deixando o céu em tons alaranjados e dourados.
continuava a seu lado, mesmo que o assunto fosse dirigido aos outros que estavam ali. A verdade era que nunca havia sido muito de jogar conversa fora como seu irmão. Preferia ficar na dele, apenas observando o que acontecia.
— Ei, . Não é a garota que você ajudou naquele dia?
Sua atenção foi puxada para um dos amigos de , o chamando. Deixou o olhar cair sobre a direção que ele apontava e observou a garota ao longe, se lembrando vagamente de sua expressão irritada e a troca de palavras afiadas.
A garota que o havia deixado curioso.
Ela parecia mais interessada em seu celular do que o que acontecia ao redor.
— Esquece isso, cara.
Respondeu, tentando cortar o assunto que mal havia começado. O que não deu muito certo, já que ouviu novas risadinhas preencherem o lugar.
mantinha a mesma postura, mas agora, um sorriso divertido tomava conta de seus lábios. Sabia que seu irmão adorava uma boa brincadeira, mesmo se ela fosse irritar alguém.
— Ah, qual é, ? Vamos lá cumprimentar a garota nova — o sorriso travesso continuava em seu rosto. estava sério. — Só dar um olá. Nada demais, certo?
— Não precisa disso, . Ela nem nos conhece…
Murmurou, rolando os olhos. Mas sabia que aquilo não seria suficiente para parar seu irmão. parecia determinado.
Sem esperar qualquer resposta de , pegou seu skate e, com um movimento ágil, deslizou para o outro lado da rua na direção de . observou com uma mistura de ansiedade e resignação enquanto se aproximava da jovem.
Era muito mais fácil ele simplesmente ignorar a existência da garota assim como tentava fazer e saber que aquilo só atrairia ainda mais atenção não só para seu irmão, como para ele, deixava o garoto extremamente irritado.
se aproximou silenciosamente e, sem pensar muito, soltou um grito brincalhão, fazendo a garota saltar de susto. Ela se virou rapidamente, derramando o líquido que estava segurando por toda a roupa.
A cena causou uma onda de risadas entre os amigos de , enquanto ela, ainda atônita e com a expressão de choque, tentava se limpar por inteiro.
— Fala sério…
resmungou, fechando os olhos por breves segundos. Sentia seu corpo arder em constrangimento pelo que seu irmão havia feito. Não havia a menor necessidade.
Quando olhou novamente, a garota já estava distante ao lado de uma senhora.
Respirou fundo.
O pedido de desculpas ficaria para bem depois.



And may the best of your todays,
be the worst of your tomorrows,
And may the road less paved,
be the road that you follow...

Have It All - Jason Mraz




ouviu o barulho suave da chuva e abriu os olhos lentamente, soltando um resmungo ao perceber que os raios de sol não invadiam as paredes do quarto.
Com os dedos, procurou o celular no criado-mudo, acendendo o display que marcava seis da manhã. Já havia amanhecido, mas para , aquela seria a pior parte. Não por ter acordado cedo e ainda estar morrendo de sono, mas porque, em breve, seria o primeiro dia de aula.
Fixou seu olhar no teto por alguns segundos, até se sentir realmente pronta para levantar. Então, jogou as pernas para fora da cama e se sentou.
Um leve tremor percorreu seu corpo, indicando a manhã mais fria do que estava acostumada, o que a fez hesitar, sentindo um pouco mais de preguiça para sair da cama. Seguiu em direção ao banheiro, sem demorar muito debaixo do chuveiro. Ao sair do pequeno cômodo, ouviu o som da televisão sendo ligada e, quando passou em direção ao quarto, notou de relance Marie acendendo a luz da cozinha.
Resolveu adentrar seu quarto sem muita pressa, desejando apenas voltar para a cama e dormir mais um pouco. pegou qualquer roupa que fosse quente e confortável para enfrentar o dia; uma calça jeans, junto de uma blusinha de manga branca, complementando com um moletom escuro por cima.
Não demorou muito para sair do cômodo bocejando e, poucos segundos depois, esbarrou com no corredor. Seu irmão parou ao vê-la, com os olhos estreitos de sono.
Bocejou, passando uma das mãos pelos cabelos loiros.
— Bom dia — passou por ela, bagunçando os cabelos da irmã.
Ela deu um sorrisinho e o seguiu até a cozinha. ainda estava de calça de moletom.
— Bom dia, queridos — Marie olhou para os netos, se virando enquanto ajeitava a mesa para o café. Respirou fundo e se sentou em uma das cadeiras. — , você vai se atrasar.
— E que horas são? — ele perguntou, sonolento, levantando seus olhos para o relógio de parede. Os arregalou ao ver que realmente estavam atrasados. — Puta merda.
— Cuidado com a boca — a avó o repreendeu, lançando um olhar severo, mas sem deixar de sorrir.
tomou um gole do café que já estava em seu copo e comeu rapidamente um pedaço de bolo. Logo ouviu passos apressados e, ao olhar para trás, viu puxando as mangas do casaco, já com a mochila preta nas costas.
Ele parecia tão animado quanto ela.
Seu irmão deixou a mochila em cima do balcão e pegou dois grandes pedaços de bolo, enfiando-os na boca.
franziu o cenho, rindo de seu gesto.
Marie balançou a cabeça e se virou para lavar o que tinha usado.
— Já terminou? Sei que chegar atrasado no primeiro dia de aula é uma cena clássica, mas podemos evitar isso, certo? — o mais velho fez uma careta, pegou suas coisas e foi em direção à porta.
Ela o seguiu, um pouco mais devagar, sem muita pressa. Estavam prestes a sair para a calçada quando ouviram Marie chamá-los.
, tome — ela jogou a chave do carro para ele, que a pegou no ar.
Ele olhou para a avó, confuso.
— Pode levar a caminhonete. Ocean View não é tão perto assim.
observou o sorriso que se formava nos lábios do irmão e sabia exatamente o motivo daquela felicidade. Embora tivesse carteira de motorista há algum tempo, nunca teve um carro e Hector raramente dava a ele a chance de dirigir.
Adentrou o veículo, jogando a mochila no banco de trás, e fez o mesmo, colocando a chave na ignição.
Ele respirou fundo e olhou para a irmã, deixando escapar uma risadinha notável.
A expressão no rosto de seu irmão a animou instantaneamente, mas só por alguns segundos.
Já que agora estavam a caminho da escola.

🌴❤️‍🩹


desceu do carro um pouco assustada com a multidão em frente à escola.
Olhou para por alguns segundos e sentiu o estômago revirar completamente. Sua maior vontade era entrar de volta no carro, seguir para casa e voltar a dormir, sem ter que encarar todas aquelas pessoas ao redor.
Tentando disfarçar o nervosismo, relaxou os ombros e observou o irmão se aproximando. passou um dos braços em volta de seu pescoço e o perfume suave que ele usava a acalmou minimamente.
— Você está muito tensa para quem costumava não se importar com o começo das aulas — ele comentou brincando, enquanto balançava o corpo da irmã levemente.
— Não dá para não se importar quando é uma escola nova, cheia de pessoas que você nunca viu na vida — resmungou.
— Relaxa. Vai ser tranquilo.
Ela o olhou de relance, respirando fundo e voltou a encarar as pessoas ao redor, todas conversando e comentando sobre o primeiro dia. Era evidente que a maioria dos olhares estava voltada para os dois, o que só a deixava ainda mais incomodada.
apertou a alça da mochila e engoliu em seco. , com um sorriso fraco no rosto, parecia não se importar com os olhares que os seguiam.
Claro que boa parte deles eram provocativos e femininos, direcionados a ele.
Observou o outro lado do estacionamento, onde os alunos mais populares pareciam se reunir. Tentou, em vão, reconhecer alguém naquele grupo. Alguns rapazes estavam sentados no capô de seus carros, outros encostados, conversando animadamente. Vestiam casacos semelhantes, com o símbolo e as cores da escola.
caminhou ao lado de até a entrada e seguiram para a secretaria, que não estava tão vazia.
Duas pessoas aguardavam no corredor enquanto uma era atendida.
Ela fez menção de entrar junto com o irmão, querendo evitar ficar sozinha, mas sentiu a mão dele segurá-la antes que pudesse dar um passo.
— Eu pego seus horários. Fique aqui.
— Claro. — murmurou, revirando os olhos.
Sem bater, abriu a porta e entrou. olhou para o lado e notou um dos garotos que aguardava, observá-la. Ele parecia analisá-la vagarosamente.
Queria muito sair dali e não sabia dizer com todas as palavras o quanto o lugar a incomodava.
O corredor não estava muito barulhento, mas as vozes do lado de fora eram altas e claras.
Quando viu seu irmão sair com alguns papéis nas mãos, soltou um grande suspiro de alívio. Ele a olhou e apontou com a cabeça na direção oposta do corredor, indicando que ela o seguisse.
— Esses são os seus horários. Eu começo com Matemática e você... — ele puxou o outro papel e o examinou. — Literatura. Hoje não ficamos juntos.
Ela o olhou espantada. A ideia de ficar longe do irmão, em um lugar onde não conhecia ninguém, a deixava inquieta.
Puxou o papel da mão dele, confirmando que realmente estariam separados naquele dia.
Droga — murmurou, baixo, o suficiente para que o sinal de início das aulas abafasse suas palavras.
Ela lançou um olhar suplicante para .
— São só algumas horas. Você vai conseguir — piscou, parando na frente dela. Olhou ao redor antes de voltar a encará-la. — Vamos, vou te levar até a sua sala.
— Muito obrigada. Isso vai adiantar muito. Tô parecendo uma criança — revirou os olhos.
soltou uma gargalhada fraca, enquanto seguiam pelo corredor, procurando sua sala. À medida que caminhavam, parecia que o número de pessoas só aumentava, assim como os olhares.
Finalmente, depois de algum tempo andando, pararam em frente a uma porta branca, que estava aberta. notou que poucas pessoas já estavam dentro da sala.
— Nos vemos depois da aula. Você sabe que pode me ligar a qualquer momento, certo? — arqueou uma sobrancelha.
Ela assentiu e sentiu o beijo dele em sua testa antes de vê-lo se virar e desaparecer no fim do corredor.
O nervosismo aumentou quando se virou para entrar na sala.
Notou alguns olhares em sua direção, mas tentou ignorá-los, caminhando até uma fileira no canto que estava vazia. Colocou a mochila sobre a mesa e deixou o corpo escorregar na cadeira, respirando fundo. Os olhares continuavam, especialmente das pessoas que entravam na sala naquele momento, surpresas por ter alguém novo no meio do semestre.
Não demorou para que o professor entrasse, carregando uma pequena maleta preta e alguns livros no outro braço. Ele lançou um olhar rápido para a turma antes de começar a organizar suas coisas sobre a mesa.
— Bom dia a todos. Sou o professor Daves, de Literatura. Muitos de vocês já me conhecem, e para os novos, sejam bem-vindos — disse, encostando-se na frente da mesa e lançando um olhar rápido em sua direção. — Espero que se adaptem bem aos horários e ao colégio.
Enquanto o homem escrevia seu nome no quadro, olhou de relance para os lados. Percebeu que algumas pessoas já não prestavam tanta atenção nela, o que a deixou um pouco aliviada. No entanto, no fundo da sala, algumas meninas ainda insistiam em olhar e cochichar algo entre si.
Uma delas parecia ser a dona do carro cheio de glitter que viu outro dia.
Droga outra vez! — praguejou mentalmente.
Ela riscou algumas coisas no caderno que já estava aberto e ergueu o olhar ao perceber uma movimentação do outro lado da porta. Prendeu a respiração assim que reconheceu o garoto parado atrás do pequeno vidro.
Era o loiro que a havia ajudado quando ela se perdeu. Ele parecia estar conversando com alguém no corredor e sorria abertamente. Passou os olhos pela sala, sem parecer notá-la ali.
olhou rapidamente para baixo e viu a porta se abrindo silenciosamente.
Enquanto o sr. Daves continuava concentrado em sua apostila, o garoto entrou de uma vez na sala. Ela deixou um sorriso fraco, quase imperceptível escapar e acenou discretamente para ele. O loiro a olhou com o cenho franzido, como se tentasse se lembrar da garota e desviou o olhar ao ouvir a voz do professor.
— Pelo visto, não mudou seu jeito de chegar atrasado nos primeiros dias, .
Ela engoliu em seco ao ouvir o sobrenome e sentiu um peso no peito quando notou algumas risadinhas ecoando pela sala. Provavelmente haviam percebido o que havia feito, em uma tentativa frustrada de cumprimentá-lo.
No mesmo momento, sentiu uma vontade imensa de se enfiar em um buraco no chão. Nunca se sentiu tão envergonhada e confusa na vida. Ele havia a ajudado há alguns dias, então por que fingir que não a conhecia?
Ou pior, por que ignorá-la em frente a turma?
Ignorou da mesma forma que fez com o professor, se sentando ao lado oposto que o dela. decidiu não direcionar um único olhar para o rapaz e tentou se concentrar na aula e no discurso do professor.
Quase o tempo todo, desejava olhar para o lado e sempre que fingia estar procurando algo no chão ou observando a sala, captava os olhares discretos do loiro sobre ela.
Extremamente constrangedor.
Assim que o sinal indicou o fim da segunda aula, juntou todas as suas coisas e seguiu para o corredor o mais rápido possível. O lugar estava cheio e olhou para os dois lados sem saber para onde ir. Não conseguia encontrar em lugar algum, o que começava a deixando nervosa. Devia estar parecendo uma estranha parada no mesmo lugar por um tempo.
Decidiu então seguir até o fim do corredor e virou-se, sentindo um leve choque contra seu corpo.
Observou a garota se abaixando para pegar alguns materiais espalhados pelo chão.
— Nossa, sinto muito. Estava distraída e não vi você — disse, se abaixando para ajudar.
A menina sorriu amigavelmente.
— Não tem problema. Essas coisas quase sempre acontecem — respondeu, pegando as últimas folhas e se levantando, ajustando os materiais que tinha em mãos. Olhou para ela com uma expressão avaliadora. — Você é nova por aqui, não é?
Ela assentiu com a cabeça. A outra sorriu novamente e ela percebeu que a menina não parecia com as outras garotas que havia visto no colégio. Seus cabelos loiros ondulados caiam sobre os ombros, e seus olhos arredondados transmitiam uma sensação de conforto.
— Cheguei há pouco mais de duas semanas. Hoje é meu primeiro dia e ainda não me situei pela escola, mas espero que não demore muito — explicou, dando de ombros e sorrindo minimamente.
— Entendo. Com o tempo, você acaba pegando o jeito — respondeu, começando a caminhar pelo corredor ao lado . — Eu sou . Você está com seus horários aí? Posso te ajudar.
Ela puxou o caderno da mochila e entregou a folha dobrada para . Enquanto a garota analisava o papel com atenção, observava o lugar por onde estavam passando. Era um corredor aberto que dava para um grande gramado e ao longe era possível avistar a quadra de basquete, que parecia ser um ginásio enorme.
— Bom, agora você tem um horário de Sociologia. Sua sorte é que a professora é mais compreensiva com os alunos novos — comentou , devolvendo o papel. — Eu até ficaria conversando, mas estou completamente atrasada para a minha aula. E o pior é que tenho dois horários de Cálculo. Nos falamos na saída, o que acha?
— Claro, por mim está ótimo — respondeu.
— Então, nos vemos ao final da aula. Até!.. franziu o cenho, tentando lembrar do nome dela.
Só então percebeu que não havia sido mencionada.
. — disse.
assentiu e se virou, seguindo em direção à sua sala.
Ela respirou fundo e olhou ao redor, tentando encontrar a sala em que deveria estar. Não demorou muito e ao entrar, escolheu uma cadeira no canto outra vez. Sentou-se, sentindo seu corpo relaxar ao perceber que quase ninguém havia notado sua presença.
Ela passou a aula inteira tentando prestar atenção no assunto que a professora explicava, relacionado à matéria como se fosse o mais fascinante de todos. Os alunos ao redor pareciam tão desinteressados quanto ela, o que era quase uma loucura, considerando que era o primeiro dia de aula.
não se importou com os olhares da professora e sentiu um grande alívio ao perceber que a aula havia acabado, significando apenas uma coisa: hora do intervalo.
Deixou que todos saíssem da sala antes de se levantar e seguir para o corredor mais uma vez.
— Não te encontrei no final da primeira aula — ouviu a voz do irmão e se assustou ao sentir suas mãos em seus ombros. — Então, o que tem achado?
— Se quer mesmo saber, não vejo a hora de voltar para casa — murmurou.
Ouviu a risada fraca de enquanto se dirigiam ao refeitório, onde já podia avistar a enorme fila perto da cantina. Seu irmão a guiava para o final da fila com os braços em volta dos seus ombros e agora os olhares estavam ainda mais focados nos dois.
sentiu o irmão a cutucante levemente.
— O que foi? — perguntou.
— Você conhece? — questionou, apontando para o final do refeitório, fazendo-a olhar na direção indicada.
notou sentada em uma mesa ao fundo, acompanhada por três pessoas. Ela sorria com uma das mãos levantada, acenando para chamar sua atenção.
acenou discretamente de volta, ainda sorrindo.
— Esbarrei com ela no corredor mais cedo. Parece ser uma garota legal — comentou.
— É mesmo? E por que não vai até lá? — arqueou uma das sobrancelhas, olhando para a garota ao longe.
Ela olhou novamente para , que estava movendo a boca, dizendo um senta aqui! de forma discreta.
Esperou para pegar algo para comer, assim como fez e seguiu com um copo de suco e uma vasilha com torradas até a mesa onde estava sentada. Seu irmão estava ao seu lado, carregando um sanduíche e com um sorriso sapeca no canto dos lábios, claramente aproveitando a atenção que estavam recebendo.
Ao se aproximarem, receberam olhares das outras meninas que estavam ao redor da mesa que estava sentada. As três desviaram o olhar de para , examinando-o de cima a baixo.
Ela reprimiu um risinho.
! Pensei que não ia te encontrar no meio de toda essa gente — comentou, fazendo uma careta ao olhar para as outras pessoas.
— Pode me chamar de — respondeu, dando um meio sorriso. — Acho que é melhor.
sorriu e apontou para o banco da frente com o indicador. se sentou rapidamente e aproveitou para ficar ao seu lado, o observando devorar seu sanduíche. Notou que uma das outras loiras estava cochichando algo com a morena, olhando por trás dela.
Não se deu ao trabalho de olhar, pois no segundo seguinte já estava chamando sua atenção.
— Eu acabei esquecendo de apresentar minhas colegas. Esta é Jenna Ryland — disse, apontando para a loira com cabelos claros até a cintura, que sorriu mostrando suas covinhas. — Kristen Olen e Erin Harver — acrescentou, olhando para as duas que continuavam a cochichar. Também sorriam.
— Esse é , meu irmão — continuou, olhando para ele.
ergueu o olhar e sorriu para todas elas.
Observou Kristen soltar um suspiro, claramente encantada ao observar seu irmão, que sequer notou, provavelmente desinteressado.
— Vocês são gêmeos? — perguntou, focando sua atenção nos dois. — São tão parecidos.
, embora estivesse com sua atenção voltada para o refeitório, se virou para a loira e sorriu minimamente.
— Sim, somos gêmeos bivitelinos, com uma pequena diferença de alguns minutos. Isso me deixa com a vantagem de ser o mais velho — disse, lançando um olhar breve para ela. sorriu de volta, achando graça.
Sim, ele e eram gêmeos, mas nem um pouco idênticos.
Enquanto parecia um modelo, com seus cabelos e olhos claros, havia puxado totalmente a família de Hector, com cabelos e olhos escuros.
parecia surpresa e fascinada.
havia engatado em uma conversa com sobre o assunto e mexia em qualquer coisa no celular de seu irmão, que estava em cima da mesa. Ela desbloqueou a tela, que não tinha senha e encarou o papel de parede com um sorriso. Era uma selfie de sorrindo discretamente de costas para o mar, e ela tinha quase certeza de que a foto havia sido tirada em Huntington.
Ficara realmente bonita.
levantou o olhar quando se dirigiu a ela.
— Não sabia que vocês eram de São Francisco também. Eu nasci e morei lá até meus doze anos, e então minha mãe recebeu uma promoção para cá. Ela é enfermeira. Nunca mais nos mudamos, e eu me apaixonei pela cidade.
— É, decidimos mudar um pouco de ares — comentou, soltando uma risadinha e lançando um olhar rápido para , que parecia ter entendido o que ela queria dizer. — Não tem como não se apaixonar por Huntington. Sou louca por esse lugar.
balançou a cabeça em concordância.
— Além de ter uma das melhores praias, na minha opinião.
— Eu nunca vi alguém tão apaixonado por surfe quanto ele — apontou para o irmão. Ele soltou uma risadinha fraca, bagunçando os cabelos de com um gesto levemente envergonhado. — Acho que aprendi tudo o que sei com ele.
, essa garota manda muito. Sinceramente cruzou os dedos, assumindo um tom sério, o que fez baixar a cabeça em negação. Suas bochechas começavam a queimar. — Ensinei tudo o que ela sabe, mas, entre nós? Nunca vi alguém tão focado e destemido quanto ela.
— Modesto, hein? — ria, acompanhada por , que também sorriu e voltou a olhar para .
parecia uma garota bem legal e parecia também não se importar muito com as opiniões das outras amigas. Não era como se dependesse delas.
— Já tentei uma vez, mas não é bem a minha praia ficar em pé sobre uma prancha — fez uma careta, apontando para si mesma. — Digamos que não tenho o melhor equilíbrio.
— Não é tão difícil quanto parece. Quando você percebe, já está entre as ondas. É incrível. Nem sei como explicar — respirou fundo, deixando a imaginação levá-lo longe, com um sorriso estonteante no rosto.
— Ah, não. É difícil demais. Tenho um primo que também surfa. Ele estuda aqui, mas ainda não voltou de viagem. Logo vocês vão conhecê-lo. Ele tentou me ensinar muitas vezes, e quando digo muitas, é muitas mesmo soltou uma risadinha, fazendo todos rirem. — Simplesmente não consigo me equilibrar. Acho que o problema sou eu mesma.
Deu de ombros, fazendo outra careta.
— Claro que não. Você encontra seu jeito. Bom, nós sempre vamos à praia — apontou para a irmã. — Pode ir com a gente na próxima. Tenho certeza de que, na primeira vez, vai arrasar.
— Pelo menos um de nós é otimista — riu.
— Até demais — olhou para com um sorriso orgulhoso. Amava o jeito do irmão. — O convite está de pé, se quiser. Podemos marcar um dia.
Enquanto conversavam, percebeu que as duas amigas de cochichavam o tempo inteiro, olhando para alguém do outro lado do refeitório. parecia não ter notado, e também não estava atenta à situação.
Quando os olhares das meninas se desviaram novamente, virou lentamente a cabeça e desejou não ter feito isso ao encontrar os olhos verdes do garoto que a fitava intensamente.
Ela engoliu em seco e voltou sua atenção para e .
O que havia com aquele garoto, afinal?
Respirou fundo. notou que a observava com o cenho franzido, se perguntando o que acontecia para a irmã estar tão expressiva daquele jeito.
se limitou a balançar a cabeça, mostrando que não era nada demais.
Bom, pelo menos achava que não era.

🌴❤️‍🩹


saiu da sala antes que os alunos começassem a se aglomerar.
E, ao pisar no corredor, se misturou à multidão que se dirigia para fora. Procurou e com o olhar, mas não conseguiu encontrá-los.
Decidiu então seguir em direção ao estacionamento, já que pelo horário da saída, era o único lugar onde tinha certeza de que encontraria seu irmão. caminhou um pouco mais rápido e saiu junto com a multidão pela enorme porta de entrada do colégio.
Avistou a caminhonete branca do outro lado do pátio e andou um pouco mais devagar até o veículo, aproveitando a extensão do lugar. Sem muita pressa.
E, enquanto se dirigia para o veículo, notou algumas risadinhas e uma delas se destacou. Era escandalosa e alta.
Como ela bem se lembrava.
virou para o lado e observou o garoto musculoso rindo espontaneamente para alguém ao seu lado. Embora ele fosse de fato atraente, seu comportamento irritante o tornava muito menos bonito para ela.
O rapaz virou o rosto em sua direção e a encarou, franzindo o cenho como se tentasse se lembrar dela, assim como o outro havia feito. Ele piscou algumas vezes e arqueou uma das sobrancelhas, com um sorriso cínico no canto dos lábios.
bufou e voltou sua atenção para frente. Só precisava ignorá-los e ficaria bem, era o que pensava.
Quando chegou à caminhonete, sentiu mãos em seus ombros e, ao ouvir uma voz fina, percebeu que não era mesmo seu irmão.
— Ei! — exclamou, aproximando-se de . — Você desapareceu.
— Só quis sair da sala antes que a multidão começasse a se formar. Estou ansiosa para chegar em casa, confesso. — rolou os olhos e deu uma risadinha.
— E no primeiro dia já está assim? — a acompanhou, colocando a mochila que antes segurava nas costas. apareceu pelo portão e começou a caminhar em direção a elas. — Boa sorte, só tende a piorar.
— Obrigada, eu nem imaginava — riu e percebeu que adotou uma postura mais formal assim que se aproximou. Parecia minimamente envergonhada.
olhou para e depois voltou seu olhar para a irmã, sorrindo.
— Então, vamos?
Por favor! respondeu de imediato, empolgada. — Nos vemos amanhã? — Se dirigiu a , que balançou a cabeça em concordância, com as mãos na alça da mochila.
— Claro. Temos as primeiras aulas juntas. Até amanhã. — se virou, acenando, e caminhou em direção a um carro preto.
olhou para mais uma vez, passou a mão pelo cabelo dela e entrou no carro. o seguiu rapidamente, soltando o ar que havia prendido ao sentar no banco.
A primeira parte do dia não tinha sido tão ruim, exceto pelo fato de ter sido ignorada e encarada pelo rapaz que esperava ser mais amigável depois do que havia acontecido. Não tinha sido tão ruim, afinal.
O irmão a observou mais uma vez, com um sorriso no rosto que a deixou curiosa.
— O que foi? — virou o rosto para ele.
— Nada. Só estou te olhando.
— Isso eu percebi — resmungou, deixando um sorrisinho fraco à mostra.
riu baixo enquanto eles seguiam em direção à avenida. Ela sabia que ele não estava apenas olhando; havia algo mais em naquela íris azul.
deixou sua cabeça encostar na poltrona, tentando relaxar um pouco o corpo. Sua mente começou a vagar para mais cedo, quando se lembrou do olhar confuso — talvez até um pouco desesperado — de quem, antes, parecia ser seu salvador, mas agora parecia mais um idiota.
Fechou os olhos com força, tentando afastar o pensamento quando sentiu um toque leve em sua bochecha. Olhou rapidamente para o lado e encontrou com os olhos na estrada, mas com uma das mãos acariciando seu rosto.
Ela deu um meio sorriso, e retribuiu, sem desviar o olhar da estrada.
— Fico feliz por ter arrumado uma amiga.

🌴❤️‍🩹


Huntington Beach parecia ainda mais bonita com o sol se pondo enquanto pintava o céu com tons quentes de laranja e rosa.
caminhava pela praia, sua mente um turbilhão de pensamentos enquanto as ondas lambiam a areia aos seus pés. A tranquilidade do lugar contrastava fortemente com o caos interno que sentia.
Seu coração batia descompassado só de lembrar os acontecimentos de seu dia. Voltar à cidade estava mexendo com ela mais do que imaginava.
Os olhares curiosos na Ocean View, a estranheza com as pessoas que a encaravam e isso incluía até mesmo seu salvador, se é que podia chamar daquela forma, junto das novas amizades que começava a formar estavam em constante giro dentro de si.
A sensação era a de estar em um lugar que parecia familiar, que agora parecia tão distante e diferente, a deixava ainda mais insegura sobre seu futuro ali.
só queria estar em paz pelo menos por um segundo em sua vida.
O som das ondas quebrando na beira do mar era quase hipnótico, a ajudando a focar, mesmo que rapidamente, em algo fora de sua própria mente tumultuada.
Se sentou na areia fria, com as pernas estendidas à frente e o olhar fixo no horizonte. Ela sentia seus pensamentos vagando em várias direções.
Se questionava o porquê das coisas em sua vida não serem tão simples como as demais família que via por aí, como as que estavam na praia e até mesmo as que via nos filmes. Queria, do fundo de seu coração, que ela e pudessem ter uma adolescência normal, com boas lembranças e momentos.
Mas, no ponto em que estavam, sabia certamente que não seria possível realizar aquele desejo.
Respirou fundo. E o barulho de música e risadas quebrou seu devaneio.
ergueu o olhar, enquanto seus pés descalços eram molhados pela água gelada e notou um grupo de amigos a uma distância considerável de onde ela estava. Eles seguravam alguma bebida em mãos e um deles estava escorado no carro, sorrindo abertamente.
E se lembrou daquele sorriso quase instantemente.
Os cabelos loiros esvoaçantes, o rosto minimamente expressivo, por mais que seu sorriso fosse de aquecer o coração das pessoas.
O seu salvador, bem no momento mais irônico de seu dia.
observou-o por um momento, sentindo uma mistura de curiosidade e desconforto. Curiosidade por querer saber mais sobre ele e desconforto por estar olhando-o de longe assim.
Quem era o garoto, afinal de contas? Qual o motivo de tê-la ajudado e de tê-la ignorado no colégio?
Suspirou.
precisava afastar todos aqueles pensamentos inoportunos ou surtaria de uma vez.
E, quando se virou, a única coisa que se passou pela mente era a de ir logo para casa.
Sem nem mesmo perceber que o loiro que a deixou confusa a olhava indo embora devagar, pela orla da praia.



“Um grande abraço a você ouvinte da rádio local de Huntington Beach, nesta manhã ensolarada, presenciamos...”


— Desliga isso — estendeu a mão, apertando todos os botões do rádio da caminhonete.
, que ainda batucava os dedos de acordo com a música anterior, manteve um sorriso nos lábios. Ele olhou na direção da irmã, soltando uma risadinha fraca.
— Bom dia pra você também, irmãzinha.
— Não começa — resmungou, cruzando os braços. — Esse seu bom humor me irrita, só pra constar.
entrou no estacionamento, procurando uma vaga próxima, justamente quando um Elantra preto se aproximou. De dentro do carro, duas loiras saíram, atraindo a atenção de algumas pessoas ao redor.
No entanto, a que mais chamava a atenção de todos era a mais alta, Jenna.
Jenna Ryland era exatamente o tipo de garota que facilmente atraía os olhares de todos na escola. Seus cabelos loiros e claros chegavam até a metade das costas, eram lisos e volumosos. Seus olhos tinham um tom azul escuro, e sua pele bronzeada refletia perfeitamente a aparência típica dos nativos de Huntington Beach. Apesar de sua aparência marcante, Jenna parecia ser uma garota simpática.
— Bom dia — disse, com a voz sonolenta ao se aproximar. a observou e deu um sorriso de canto, assim como .
— Pelo visto, a noite não foi das melhores — comentou, bem-humorado.
lançou um olhar rápido para ele, mas devagar o suficiente para notar o sorriso ainda presente em seus lábios e sua expressão relaxada. Como sempre, era o tipo de pessoa que ela não conseguia entender como podia acordar tão animado pela manhã.
Os olhos azuis do irmão logo se voltaram para a outra loira, que riu de seu comentário.
— Hoje, tive que arrancar alguém da cama mais cedo — Jenna lançou um olhar de relance para a amiga e sorriu. — Meu carro simplesmente não quis ligar, e fiquei sem saber como vir. Sorte que consegui falar com ela a tempo.
— O que aconteceu? — perguntou, aproximando-se de Jenna.
foi para o lado de , respirando fundo.
— Ele sempre acorda bem-humorado assim? — perguntou a garota, olhando para de lado e bocejando.
balançou a cabeça em concordância.
— É raro o dia em que ele acorda de mau humor — respondeu, dando de ombros enquanto seguia com eles até a entrada da escola. — Acho que estamos um pouco atrasados.
— Qual a matéria de agora? — o rapaz perguntou, passando por algumas pessoas e se adiantando à frente delas.
Ele parou no corredor, próximo a uma das pilastras. Jenna parou ao seu lado, também sorrindo.
— História — comentou sem muito ânimo, tirando os olhos do celular por um momento. — E vocês?
— Literatura agora — Jenna revirou os olhos.
— Educação Física. Encontro vocês assim que sair da quadra. Vi seus horários e sei que sua próxima aula é a mesma que a minha agora — disse , olhando para a irmã.
— Certo — ela respondeu, balançando a cabeça em concordância, mas logo se lembrou de algo. — Ei, mas você tem aula logo depois, gênio.
, minha querida irmã, não vou aturar três aulas seguidas de Sociologia — revirou os olhos, falando com naturalidade e soltou uma pequena risada. — Vejo vocês depois.
Se virou para ir embora, mas parou e olhou para as três, como se tivesse se lembrado de algo.
— Ah, Jenna, combinamos melhor no final das aulas sobre o conserto do seu carro — disse, sorrindo abertamente e acenando para elas. arqueou a sobrancelha, observando-o se afastar.
sempre foi prestativo e atencioso, sempre queria ajudar todos. No fundo, se preocupava que um dia isso pudesse afetá-lo de alguma forma.
— Ele é sempre tão... Espontâneo? — Jenna perguntou, acompanhando com o olhar o caminho de até o final do corredor.
olhou para a amiga e soltou uma risada.
— Desencana, garota. É o irmão da .
A loira mais alta deu de ombros, rindo junto com . também não pôde deixar de acompanhar o riso das duas.
— Não esquenta, Jenna — comentou, olhando a garota. — Ele é assim mesmo.
Jenna ainda olhava para o final do corredor, como se ainda estivesse lá. observou a expressão de Jenna, rindo da situação.
não se importou muito; sabia bem como seu irmão fazia com que suspiros como aquele escapassem por aí.
— Vamos pra a sala. Temos que sobreviver a dois horários — chamou .
— E eu estou atrasada! — Jenna arregalou os olhos. — Eu vejo vocês depois.
Dito isso, Jenna saiu correndo pelo corredor que elas iam seguir. trocou a mochila de ombro, pedindo licença a algumas pessoas para passar, já que vários grupinhos estavam parados no meio do caminho, bloqueando a passagem.
Quando se aproximaram da porta branca da sala de aula, ouviram risadas e vozes vindo do outro lado do pátio. Ela deixou que a amiga entrasse primeiro, virando o rosto na direção das vozes e engolindo em seco ao ver quem estava ali.
Ela reconheceu aquele sorriso largo mais uma vez. O garoto que, no dia anterior, a encarava descaradamente, agora parecia mais contido. Ele usava o boné virado para trás na cabeça e fazia graça com seus amigos ao redor. Do lado oposto, de costas para , estava , que parecia entretido com algo, já que não participava da conversa com os outros dois.
Não demorou muito para que o garoto de boné olhasse em direção à ela, com um ar curioso. Ele inclinou levemente a cabeça para o lado, um sorriso cínico se formando em seus lábios. Isso fez com que os outros também olhassem.
Mas, ao seguir seu olhar, percebeu que aquela não era a pior parte.
Não quando estava olhando diretamente para ela.
— Vem, . Só tem você aí — comentou, puxando-a para dentro da sala. — Não perca seu tempo.
murmurou a última frase, fazendo com que a olhasse surpresa.O que havia sido aquilo?
Rapidamente, assentiu e entrou na sala junto com a amiga.
Alguns olhares seguiram em sua direção, como se ela ainda fosse uma novidade ali. E, de certa forma, ainda era, mas o incômodo que sentia nos primeiros dias já não era tão forte.
Ela se sentou com em uma das cadeiras vazias, esperando que a aula começasse.

🌴❤️‍🩹


— Onde será que aqueles dois estão? — perguntou , andando ao lado de em direção ao ginásio.
Ela respirou fundo e olhou para o lado.
— Não sei — deu de ombros. Os alunos que iam participar da aula seguiam pelo mesmo corredor que elas. — disse que ia nos encontrar. Talvez ele tenha se perdido por aí.
soltou uma leve risada e concordou com a cabeça.
As duas pararam no armário para guardar o material da aula, e aproveitou para deixar sua mochila lá também. fez o mesmo, mas continuou mexendo no celular.
— Jenna está reclamando da aula do Sanders. Português — disse, balançando a cabeça negativamente. — Normalmente ninguém aguenta as aulas dele.
— Não tive aula com ele ainda desde que cheguei. Pelo menos já estou avisada.
— Então pode se preparar — fez uma careta enquanto seguia ao lado da amiga. — Podemos ficar nas arquibancadas do ginásio. O professor sempre começa com os garotos da classe primeiro.
As duas caminharam em direção ao lugar, onde as vozes dos alunos já começavam a ecoar. observou que estavam espalhados por todo o espaço; o ginásio era aberto e bem iluminado.
Os garotos estavam reunidos no centro da quadra, onde o treinador havia ordenado. Eles vestiam um uniforme vermelho, provavelmente típico das aulas de educação física. Em contraste, um grupo de garotas reunido em um canto do ginásio usava uma saia curta vermelha com detalhes em amarelo e branco.
O uniforme era bonito, exceto pela saia e pela blusa, que eram bem curtas.
— Não gosto muito de participar dessa aula. O treinador Russell sempre coloca basquete, e eu não gosto muito desse esporte — disse , desanimada. — Tem a ver com o time da escola, eles focam demais.
— Eu não sabia que Ocean View tinha um time de basquete — comentou.
olhou para ela, balançando a cabeça com um pequeno sorriso.
— Em algumas escolas, o foco é o futebol americano. Aqui, é o basquete. Go, Seahawks! levantou os braços, rindo logo em seguida. — gosta? O time sempre acolhe alunos novos com potencial. James foi o destaque no ano passado, e provavelmente ainda é.
— Ele tem certa influência — assentiu. — Hector, nosso pai, gostava do esporte. Sempre nos levava aos jogos em LA — lançou um olhar de relance para , sorrindo de lado. — James é seu namorado?
— Então temos aqui uma jogadora nata — brincou a loira, estreitando os olhos e sorrindo antes de fazer uma careta engraçada. — Não! Ele é meu primo. Ainda está viajando, talvez chegue esta semana ou na próxima. Ele não costuma avisar.
assentiu, concordando com .
Em seguida, a amiga se concentrou na movimentação da quadra quando os alunos começaram a jogar. O treinador apitava de vez em quando, pedindo para que o jogo recomeçasse e corrigia algumas jogadas. Ela percorreu todo o ginásio com o olhar até parar em um ponto específico.
Prendeu a respiração assim que percebeu que ele a estava olhando no mesmo instante. tentou desviar o olhar para outro lugar, mas não conseguiu, já que sua atenção havia continuado presa nele.
O loiro tinha os olhos fixos nela, e tinha a impressão de que ele não pararia tão cedo. Suas mãos estavam nos bolsos da calça, como de costume, enquanto o amigo, que segurava um cigarro entre os lábios, conversava com outros garotos ao lado.
Ouviu um pigarro e, um pouco desconcertada, piscou freneticamente ao olhar para .
— Você conhece o ? — perguntou, olhando para o garoto que ainda mantinha o olhar fixo em .
? — repetiu, confusa.
— Sim, o loiro que está te encarando.
engoliu em seco e tentou desconversar.
— Não. Quer dizer... Ele me ajudou um dia desses. Nada importante.
a observou, franzindo o cenho, parecendo não acreditar completamente na resposta, apesar de ser verdade. A loira respirou fundo e desviou os olhos para as meninas da torcida.
— Está vendo aquela garota? De cabelos dourados — disse , apontando discretamente para a menina que levantava os braços com um pompom na mão. — É a Debbie. Você deve conhecê-la, é uma das amigas da April e uma das que vivem correndo atrás do .
suspirou enquanto falava, tentando assimilar tudo, principalmente quem era April.
— Assim que entrou pro time da torcida, Debbie conseguiu se aproximar do e começou a espalhar que ele iria ajudá-la a ser reconhecida. Popularidade, sabe? E adivinha só? Foi só mais uma na lista. Toda a escola ficou sabendo — soltou uma risadinha, parecendo se lembrar do acontecido. — O cara foi um idiota, mas eu gostei, devo confessar. Deixou a menina com a cara no chão no meio do refeitório. Ela achou que aquilo iria pra frente, mas se enganou — deu de ombros, voltando a olhar os alunos que corriam na quadra.
— Uma lista? Isso é tão…
— Clichê? — interrompeu, rindo. — É, é sim, mas é o que eles dizem por aí.
— Eles? Pensei que fosse só ele.
— Não, os outros também — respondeu a garota, olhando novamente para o grupo.
acompanhou o olhar de e percebeu que o loiro não estava mais ali. O rapaz com o cigarro nos lábios conversava com os dois ao seu lado.
— O que está com o cigarro é um dos piores. — ela arqueou a sobrancelha e observou o rapaz. — April corre atrás dele sempre que surge uma oportunidade. Eles se encontram quase sempre em festas ou algo do tipo.
gesticulava enquanto falava, e ficou intrigada. Como alguém poderia saber de tanta coisa assim? — Ou em salas sem acesso. É. Essas são as preferidas. Então, como disse, ele é um dos piores e um dos mais babacas. Nada pessoal.
arqueou a sobrancelha e a olhou, soltando uma risadinha fraca.
Algo dizia que a situação era mais do que pessoal.
— Nossa. Você sabe muita coisa.
Ela deu de ombros, olhando para .
— É o que dizem por aí. Eu só absorvo a mensagem.
Lançou um último olhar para onde estava e então virou o rosto, direcionando-o para onde os alunos estavam se exercitando.
pensou em tudo que havia dito e então notou algo. Olhou para , com um vinco formado na testa, curiosa.
— Eles têm o mesmo sobrenome?
olhou para a amiga, como se não entendesse a razão da pergunta.
— Claro — respondeu, de forma óbvia. — Eles são irmãos.


🌴❤️‍🩹


respirou fundo ao sair da sala com os livros na mão.
Após o sinal que anunciava o intervalo, o corredor rapidamente se encheu com os alunos. tinha uma aula diferente da dela, assim como e Jenna, que estavam juntos na mesma matéria.
Depois de saírem do ginásio, alguns horários antes, havia mencionado que iria procurar Jenna e se encontraria com no refeitório. Como a garota estava sozinha, decidiu procurar seu irmão, que provavelmente estava tão perdido quanto ela — ou não, já que ele sabia bem como socializar.
Ela deixou todo o material no armário e o fechou, levando um susto ao dar de cara com a figura loira que havia visto mais cedo no ginásio.
.
— Finalmente te achei — disse, com um sorriso mínimo no canto dos lábios. o observou por alguns segundos, notando de perto seus olhos, bem mais claros, fixos nela. — , você me surpreende.
— Andou procurando saber sobre mim, ? — arqueou a sobrancelha, fingindo surpresa.
O garoto riu fraco, endireitando a postura, mas ainda com as mãos nos bolsos e encostado nos armários.
— Diria o mesmo de você — ele a olhou de cima para baixo, com os olhos estreitos. — Não lembro de ter dito meu nome da última vez.
— O pessoal por aqui sabe falar muito bem de gente metida e idiota — respondeu, ouvindo a risada nasalada de enquanto rolava os olhos e olhava em volta.
Seria bom se aparecesse logo.
— Você é muito afiada, esquentadinha.
— Já disse para parar de me chamar assim — virou o rosto para encará-lo.
Ele ainda tinha um sorrisinho sacana nos lábios. Pareceu pensativo por alguns momentos, olhando ao redor, mas voltou os olhos para ela.
— Não adianta dizer — inclinou a cabeça, negando veemente. — Não vou parar.
A garota ignorou sua resposta assim que avistou as costas definidas de seu irmão, marcadas pela camisa.
Respirou fundo, pronta para começar a caminhar. Quanto mais longe dali, melhor.
, vem logo! — ouviu uma voz gritar e olhou para trás, seguindo o olhar de . Um de seus amigos estava com as mãos para cima, olhando em sua direção.
fez um sinal e se virou para , mantendo a mesma expressão de antes.
— Pensei que você estaria agradecida pelo ocorrido, mas — fez uma pausa. — Acho que me enganei.
Se virou e seguiu em direção ao grupo de amigos.
piscou algumas vezes, bufando antes de caminhar na direção onde seu irmão estava antes.
Respirou fundo e olhou rapidamente para trás. já havia desaparecido, o que, de certa forma, a fez sentir um alívio. Naquele momento, percebeu que ele conseguia ser ainda mais irritante do que imaginava. O que ele realmente queria, afinal? Que ela corresse para ele, o enchendo de agradecimentos por sua ajuda?
Estava bem enganado se achou que aquilo iria acontecer.
Ela andou apressadamente até o refeitório, passando os olhos pelo local e se praguejando por ter demorado tanto. Finalmente, avistou dois braços levantados ao fundo e viu e Jenna. Ao lado delas estava seu irmão, saboreando um sanduíche.
— Eu disse para você não se perder! — falou, fazendo uma careta.
a olhou, sem entender.
— Você se perdeu? — parou de mastigar. — Podia ter me ligado. Onde você estava?
— Fui te procurar, para ser sincera. E eu te liguei, pode checar — apontou para o celular em cima da mochila preta de . — Não se preocupe, pedi ajuda no caminho. Foi só um contratempo.
Um grande contratempo.
pareceu entender, assim como Jenna, que tirou um sanduíche e um suco de caixinha de sua bandeja.
— Sorte que salvamos o seu lanche. Você ia ficar sem nada. Esse lugar parece até um zoológico faminto — a loira disse, rindo enquanto entregava o lanche a .
Ela sorriu em agradecimento e respirou fundo, digerindo tanto o lanche quanto o que havia acontecido.
Os três começaram a conversar entre si, mencionando o nome de de vez em quando enquanto tentavam incluí-la na conversa.
Contudo a garota estava absorta nos acontecimentos anteriores, sentindo-se levemente estúpida por isso.
Quando o sinal anunciou o fim do intervalo, permaneceu sentada, assim como os outros três. De relance, viu o garoto que encontrara no corredor observando-a descaradamente do outro lado do refeitório, com seus olhos verdes fixos nela novamente.
— Tenho uma proposta — anunciou, fazendo com que o olhasse. — Com o fim de semana se aproximando, pensei que poderíamos ir à praia. Todos nós. Acho que pode ser divertido.
— Acho uma ótima ideia — Jenna exclamou, batendo palmas e olhando para . — O que acha?
— Estou realmente precisando de sombra e água fresca — a loira disse, arqueando as sobrancelhas e fazendo uma expressão dramática.
riu fraco com a expressão de e acompanhou-os quando levantaram dos bancos. passou os braços ao redor do pescoço dela, dando-lhe um beijo leve na lateral do rosto, e se virou para a irmã com um sorriso.
— Então se prepare, praiana. Nós vamos surfar.

🌴❤️‍🩹


sorria abertamente ao terminar de fechar a roupa de neoprene, rindo de como seu irmão parecia mais agitado do que ela para entrar no mar.
O sol ainda queimava levemente, mesmo começando a se pôr com os tons alaranjados que ela tanto amava e a maresia salgada, ainda que suave, brincava com os cabelos dos irmãos pela velocidade que entravam na água.
se lançou na água, agitada e sentindo o coração bater rápido pela adrenalina. Sentia a emoção correndo por suas veias enquanto remava em direção às ondas. Cada impulso com os braços a aproximava mais do oceano, e quando finalmente encontrou a onda certa, o mundo parecia ter se transformado.
Se levantou com graça, a prancha deslizando suavemente sobre a água. Quase como se tivesse nascido para fazer aquilo.
O contato com a superfície do mar era como uma dança, cada movimento sincronizando com o ritmo das ondas. Sentia o spray fresco do oceano refrescando seu rosto e ouvia claramente o som do mar se tornando uma sinfonia de liberdade em seus ouvidos.
Não tinha sensação melhor.
sentia seu corpo leve, quase como se estivesse voando sobre a água e a sensação que sentia era libertadora, fazendo com que o peso dos problemas e das preocupações fossem deixados na faixa de areia.
Ela se sentia pura e completamente livre.
estava próximo à ela, pegando as ondas com a mesma destreza e alegria. O sorriso de ambos era radiante e toda vez que trocavam um olhar, uma risadinha escapava, compartilhando o prazer do momento que só eles sabiam descrever.
Era uma troca de olhares cúmplice. O brilho nos olhos irradiava.
Quando deram por si, as ondas de Huntington já se acalmavam fazendo com que os dois nadassem de volta à orla. Saíram do mar, carregando as pranchas sob os braços.
A areia morna e macia sob os pés era um contraste agradável com a água fria que ainda escorria das pranchas.
— Isso foi incrível — comentou, seu sorriso ainda mais largo que antes e olhos brilhando. — Confesso que estava morrendo de saudade disso aqui.
sorriu, observando a irmã.
— Também estava — respondeu, sua voz carregada de satisfação. — Parece mais fácil focar no quanto é bom estar aqui, longe de tudo que nos preocupava.
Os dois continuavam a caminhar, sem pressa, até a orla da praia.
O som das ondas quebrando suavemente ao fundo os aliviava.
— É como se o mar tivesse o poder de apagar todas as coisas ruins, não é? — murmurou, sem olhar para seu irmão. Seu coração batia apertava só de lembrar de relance tudo o que haviam passado até ali. — Sinto que tudo fica melhor depois de surfar.
— Você não pode estar mais certa.
assentiu, sorrindo minimamente consigo mesma. A sensação de liberdade que experimentava na água ainda a acompanhava.
Era bom estar ali, só ela, e sua avó. Sem qualquer outra preocupação e infelicidade em sua vida. Era quase como realmente estar em casa.
notou a irmã pensativa. Odiava vê-la daquela forma. Claro que fazia tudo para que pudesse mantê-la em segurança, mas seus pensamentos eram algo que ele não poderia intervir.
— Tudo bem, vem cá — disse, puxando a irmã para um abraço quase desengonçado por estar segurando a prancha do outro lado. riu fraquinho, mas se aconchegou nos braços do irmão. — Não tem com o que se preocupar. Estamos bem. Tudo vai ficar bem, .
— Fico feliz com isso. Nós estamos em paz agora, não é?
Olhou para o irmão ao subirem para a orla, dando passagem para algumas pessoas.
Os dois ainda vestiam a roupa de neoprene.
— Claro que sim. Nossas únicas preocupações agora são fazer provas e terminar o colegial, mané.
A empurrou levemente, rindo. balançou a cabeça.
Seu irmão adorava fazer piadinhas como aquelas.
E talvez fosse exatamente aquilo que a mantinha sã até aquele momento.


Continua...


Nota da autora: Ei, praianas! Que tal mais uma atualização para esquentar seus corações?
Espero que tenham gostado e não deixem de me contar o que acharam ;)


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