Codificada por: Saturno 🪐
Última Atualização: Setembro/2024.O barulho que ecoava dentro do estúdio de coreografia da Hybe era mais do que evidente e as vozes misturadas faziam com que todos quisessem falar um pouco mais alto dentro do recinto. Não que aquilo fosse ruim, afinal, todos ali estavam animados por estarem ensaiando perfeitamente, e mais ainda pelo evento tão esperado estar se aproximando; a apresentação do Grammy.
Claro que cada um ali não conseguia expressar tamanha animação. Tinham trabalhado e suado tanto para chegar aonde estavam e os sete sentiam a enorme conquista percorrendo por cada parte de seu corpo.
era um dos que não conseguia explicar o que estava sentido ao certo, a única coisa que conseguia transparecer era um sorriso nos lábios mesmo com todo o cansaço que pesava sobre si.
Com a agitação ainda pulsando em cada canto de seu corpo, o rapaz deixou o mesmo ceder sobre o chão gelado, se sentando ali mesmo enquanto seu peito subia e descia pela adrenalina da coreografia anterior. Colocou uma das mãos para trás, apoiando o corpo e com a outra livre, passou pelo rosto tentando se livrar de qualquer resquício de suor.
Não demorou muito para que os demais se aproximassem da mesma forma, com o semblante cansado, mas com o mesmo sorriso no rosto que .
— Acho que mais um e nós finalizamos hoje — iniciou, balançando a cabeça em afirmação. — E aí, quem sabe, conseguimos um tempinho de folga até o último ensaio antes da apresentação.
— É o que mais preciso! As últimas semanas têm sido corridas — dizia, fazendo uma pequena careta ao se lembrar de todo o esforço que tinham feito até ali.
— Tenho certeza de que vai compensar de alguma forma, mesmo que não ganhemos — mencionou, passando uma das mãos para ajeitar o cabelo suado. — O importante é dar nosso melhor e deixar o army orgulhoso.
Todos ali assentiram, concordando com o rapaz no centro da pequena rodinha que se formava no canto mais afastado do estúdio. continuou com os olhos pousados no coreógrafo e alguns auxiliares a seu redor, tentando decorar mesmo sem a prática, o restante dos movimentos da coreografia. Ele sempre fora assim, focado e com isso era um dos que decoravam mais rápido.
Quando voltou sua atenção novamente para um dos amigos que voltava a falar, desta vez sobre um assunto aleatório enquanto faziam a pausa antes de retornar, observou um membro de sua equipe se aproximar de forma eufórica e pelo que observou, com o seu celular em mãos. O rapaz franziu o cenho, deixando a postura ereta ao ver que ele trazia com certa pressa, sem entender o que havia acontecido para que a urgência fosse tão grande.
O assistente, ao se aproximar, parecia um tanto sem graça por ter os olhos de sobre si e pigarreou ao estar ao lado do idol.
— Sr. , desculpe a intromissão. Precisei trazer seu celular, o mesmo não parava de tocar e pediram para que eu o trouxesse o mais rápido para o senhor — o estendeu em direção a que ainda se mantinha sentado ao chão, o encarando. — Desculpe novamente.
E assim se retirou, deixando o rapaz o observando por um bom tempo antes de olhar para o celular em suas mãos que agora estava desligado, evidenciando que não havia nenhuma chamada no momento, mas ao tocar em seu display para acendê-lo, arregalou os olhos gradativamente ao ver a quantidade de chamada que havia deixado.
Seis chamadas perdidas.
Ele não sabia o que pensar. Eram raras as vezes em que sua melhor amiga entrava em contato, ainda mais sabendo que ele estava ensaiando ou fazendo qualquer outra coisa na Hybe, e aquilo o fez se questionar se havia acontecido algo com ela.
Ou qualquer coisa relacionada a ela.
Realmente se preocupou, ficando alarmado. Não notou quando os olhares curiosos e apreensivos estavam em sua direção, já que se importou apenas em retornar às chamadas de sua melhor amiga.
Demorou um pouco para que ela atendesse, alguns toques depois, conseguiu ouvir o silêncio do outro lado da chamada.
— ? — perguntou, franzindo o cenho. A ligação continuou muda. — , o que aconteceu?
Foram poucos os segundos para que ele pudesse escutar o suspiro baixo e ao que parecia, ela fungando.
— Ah, … Desculpe, eu… — começou, sem saber exatamente como dizer aquilo a seu amigo. A verdade era que ao ouvir sua voz preocupada, se arrependeu amargamente de tê-lo contatado.
— O que houve? — o rapaz questionou mais uma vez, engolindo em seco. Não estava gostando daquele tom.
— Não se preocupe, acabei ligando sem querer. Nos falamos depois, tudo bem?
— , por favor. Eu te conheço, sabe que essa desculpa não vai colar, não é? — questionou, fazendo graça pensando que talvez assim arrancasse uma risada fraca dela, como sempre fazia.
Mas aquilo não ocorreu, o que lhe preocupou ainda mais.
— Eu sei, é só que… Acho que liguei em uma hora errada. Sério, , me desculpe mesmo. Nós podemos conversar mais tarde, se não ficar ruim para você.
— Eu tenho tempo agora, e você está me deixando preocupado, . O que foi? Não é como se você me ligasse sempre quando estou na Hybe, por isso acho que pode estar acontecendo algo.
— ...
— Por favor — a interrompeu, suspirando. — Você sabe que nunca é incômodo, mas é alarmante quando sei que você entende que estou ocupado. Por isso não ligaria, e me ligou. Pode me falar, eu vou-
— Eu estou morrendo, .
E aquela frase havia sido suficiente para que ambos os lados ficassem em silêncio, nem mesmo evidenciando um suspiro pesado ou um resmungo de contestação.
não entendeu de início o que ela havia dito, mas a verdade era que ele não queria que as três palavras ficassem tão em evidência em sua mente. Ele não queria, ela não podia…
Piscou algumas vezes, com os olhos arregalados e sequer notou quando os amigos focaram toda sua atenção em que naquele momento, estava paralisado.
Ele não era o tipo de pessoa que deixava suas emoções aflorarem daquela forma, nem mesmo era perceptível que as demonstrasse tão facilmente, mas naquele momento… não sabia sequer o que pensar.
— O quê? O que quer dizer com isso, ? — perguntou autoritário, piscando algumas vezes como se aquilo o trouxesse para a realidade de alguma forma. — Não é verdade. Não brinque com coisas assim — respondeu com o tom de voz quase em um fio.
Era claro que ela havia percebido a forma com que seu melhor amigo estava começando a lidar com aquela situação, mais claro ainda como ele não queria acreditar nas palavras que ela estava dizendo ao telefone. Não queria acreditar que aquilo estaria acontecendo com sua melhor amiga, nem mesmo que fosse tão preocupante daquela forma.
— Estou falando sério, . Não brincaria com algo assim, você me conhece — respondeu com a voz começando a embargar, ao perceber que não havia respondido.
O silêncio pairou entre eles mais uma vez.
naquele ponto já chorava baixinho do outro lado da ligação e continuava em silêncio, sentindo o nó sufocar sua garganta enquanto tentava ao máximo segurar o choro contido que, ele sabia, logo viria à tona.
Não. Não. Era o que ecoava na cabeça do rapaz. Nada daquilo poderia estar acontecendo, não com sua pequena e destemida .
— Eu precisava ouvir sua voz, mesmo se fosse apenas em um oi exausto. Sabia que você estava ocupado, mas… — suspirou, fungando em seguida. O coração de se partia ainda mais. — Não sei o que fazer. Eu não sei o que pensar, eu só… Eu não sei, !
Naquele ponto, ouvia quieto claramente as palavras de desespero saindo do outro lado da linha e seu coração no mesmo instante se apertou o suficiente para que seus olhos marejassem, o fazendo derramar uma lágrima teimosa em seu rosto.
Ele conseguiu ouvir perguntar preocupado, assim como o restante de seus amigos, mas os ignorou. Ele não conseguia focar em outra coisa que não fosse ela.
— Onde você está? — perguntou, sentindo o coração quase sair pela boca ao pensar que talvez pudesse estar sozinha em algum lugar. Em poucos segundos, o mesmo deu impulso com os braços, se levantando pronto para caminhar em direção ao corredor da empresa.
— , droga… Eu sabia que ligar agora seria uma ideia horrível. Nã–
— Onde você está, ? Não adianta falar qualquer outra coisa, porque eu não vou ouvir. Me diz onde você está, não vou demorar a chegar.
sentia seu peitoral subir e descer pelo nervosismo e pela ansiedade em encontrá-la, por confortá-la, por fazê-la ficar bem como tanto queria que ao menos pensou que deixar o ensaio poderia lhe causar algum problema, mas antes de sair pôde sentir o olhar compreensível de sobre si e com um pequeno aceno positivo, não pensou duas vezes antes de seguir até a sala em que seus pertences estavam. Decidido a encontrá-la.
— Eu não vou demorar, . Espere por mim.
Quando bateu de forma desesperada na porta do apartamento de , a única coisa que ele conseguiu ouvir foi o eco de suas batidas pelo estreito corredor do bairro mais afastado de Seul. Não notou o quão agitado estava, nem mesmo percebeu quando o calor começava a emanar de seu corpo por ter corrido o mais rápido que pudesse em direção ao apartamento, sem se importar em ser visto e muito menos se aquilo lhe geraria algum problema.
Ele precisava ver , precisava saber como ela estava. Precisava abraçá-la.
Não conseguia explicar as incontáveis vezes que se praguejou pelo caminho por ter ficado tão ocupado com seu trabalho a ponto de ver a melhor amiga esporadicamente e até mesmo, por não saber que as coisas estavam tão ruins naquele ponto.
Se praguejou ainda mais por só tê-lo ligado por saber que não estava aguentando mais. Por ter chegado naquele ponto.
Fechou seus olhos brevemente. Por que tinha deixado as coisas se tornarem tão monótonas, por que tinha deixado tudo passar em branco?
Passou suas mãos trêmulas pela testa, afastando os fios loiros suados e bagunçados e retirou o boné vermelho, pronto para bater na porta mais uma vez, insistentemente, mas antes que pudesse tocar sua mão contra a madeira gelada, a mesma se abriu, revelando a pequena e delicada figura de , completamente abatida.
se desesperou mais uma vez.
— — murmurou, sentindo o corpo fraquejar, mas sem que pudesse pensar muito, correu em direção à ela, apertando o corpo da garota contra si em um abraço apertado e sentindo a mesma desabar em seu colo, iniciando um choro doloroso. não sabia como estava conseguindo suportar ver toda aquela cena, todo aquele sofrimento emanando de sua melhor amiga e a única coisa que desejou naquele momento era, de alguma forma, mesmo sabendo que seria impossível, extrair toda sua dor. Toda a preocupação, todo o desespero.
Achou que então, ali com em seus braços, o silêncio seria a melhor coisa a se manter no momento, porque talvez ela precisasse daquilo. Talvez, ele realmente não sabia, ela só precisasse chorar, colocar tudo para fora como estava fazendo ali.
Talvez?
realmente não sabia.
Com um suspiro pesado e os olhos marejando pelo choro contido, ele a apertou ainda mais contra seu peito, afagando os cabelos escuros da garota que ele tanto amava. era sua melhor amiga desde sempre, desde antes da fama, quando o acompanhou para a audição. Ela havia ficado ao seu lado nos melhores e piores momentos, nunca ousou se afastar.
E agora, sua melhor amiga não estava bem.
Ela estava…
Fechou os olhos fortemente, fungando.
— Shhh! Eu estou aqui, . Estou aqui — disse em um sussurro, para que ela ouvisse cada palavra. A única coisa que conseguiu escutar havia sido o choro que continuava.
— ... — murmurou, abafado contra o peitoral do rapaz. Ele olhou para baixo, ainda a afagando em seus braços.
chorava como se estivesse partindo aos pedaços.
— Eu não sei o que pensar, parece que meu mundo está desabando aos poucos, eu… Por quê, ? Por quê? Eu não consigo achar respostas… — dizia exasperada, completamente perdida. Naquele ponto, ela já tinha todo o seu corpo sendo segurado pelos braços de e o rapaz sentia seu coração a ponto de explodir pela dor que sentia apenas ao olhá-la daquela forma. — Eu nunca imaginei que algo assim poderia acontecer, e logo com… — ela pausou, fungando algumas vezes como se não soubesse como continuar.
— Logo com você? — disse baixinho, automático. Ela ergueu o rosto em direção ao dele e a cena que ele conseguiu avistar fez todo o choro que ele havia segurado até aquele momento viesse à tona com toda força que podia. viu o rosto de imerso em lágrimas, vermelho e inchado, evidenciando o quanto ela havia chorado desde a notícia e aquele havia sido o ápice para que o rapaz não aguentasse vê-la daquela forma mais. — Eu não sei, , eu… Não tem jeito? Não tem tratamento? Podemos dar um jeito, eu posso procurar um dos melhores médic–
— Não — o cortou, balançando a cabeça ao tentar limpar as lágrimas teimosas que caíam sobre seu rosto. a olhou como se aquela resposta não fosse suficiente. — Não vou me afundar nessa esperança de que há uma solução, porque não existe, . Eu fiz todos os exames e todos constataram o mesmo. Não tenho tanto tempo… Não… — pressionou os lábios como se aquilo de certa forma segurasse seu choro, mas havia sido inevitável.
Ele balançou a cabeça em negação, da mesma forma que ela anteriormente e ergueu suas mãos no rosto dela, o segurando.
— Eu não consigo aceitar isso, . Tem que ter um jeito — disse, com a voz trêmula. — Pode ter sido um diagnóstico errado, nós sabemos que na maioria das vezes o resultado é incerto e…
continuou dizendo como se convencesse a si mesmo de que tudo aquilo não passaria de apenas um engano e que acharia uma solução. Ou até mesmo, acharia uma forma de fazê-la ficar bem. E com ele.
olhou para o melhor amigo, tendo certeza que ao vê-lo daquele jeito, talvez a melhor escolha havia sido não contá-lo sobre o que estava acontecendo. Ela não estava aguentando ver tão quebrado daquela forma.
— É um câncer, … — murmurou, voltando a chorar mais alto. Ele continuou negando a situação até que erguesse o tronco, para tentar de algum jeito, mesmo que falho, explicá-lo melhor. Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, chorando de frente um para o outro. ergueu uma das mãos acariciando o rosto do amigo. — Você lembra que em uma das vezes eu reclamava tanto das dores de cabeça e que me sentia tão fraca a ponto de não conseguir caminhar direito? — fungou, fechando os olhos brevemente. — Eu achei que talvez fosse o cansaço pela faculdade, ou até mesmo pelo estresse diário, mas… — engoliu em seco, levando uma das mãos no rosto e a segurou, sentindo seu coração tão acelerado… Não queria acreditar em nada daquilo. — Quando saí da universidade, eu senti como se minha cabeça fosse explodir de tanta dor, era tão forte… Eu… — ela levou uma das mãos na cabeça, a balançando ainda com seus olhos fechados.
ao ver a cena, levou sua mão em direção a mesma, acariciando sua amiga levemente, limpando as lágrimas teimosas com a mão livre.
— Não precisa falar disso agora…
— Não conseguia sentir nada direito, meu corpo formigava e depois eu só consegui enxergar a escuridão. Acordei no hospital e logo com a notícia de que… — ela suspirou, voltando a chorar mais uma vez. — Não tem solução, , é só isso e eu…
— Calma… — tentou confortá-la, trazendo para si mais uma vez e encostou sua cabeça sobre a dela, não sabendo exatamente o que fazer naquele momento. — Nós vamos dar um jeito. Independente de como for…
E a afagou mais uma vez naquele triste fim de tarde. sentiu que agora mais do que nunca precisava ficar ao lado dela e sequer cogitou a ideia de voltar aos ensaios nos outros dias. Ele sabia que aquilo iria pesar tudo, sabia que se não comparecesse, poderia mudar toda a história de seu grupo.
Mas ele não sabia…
Fechou seus olhos, sentindo mais algumas lágrimas caírem por seu rosto da mesma forma que também chorava. Os dois ali, abraçados no chão do apartamento, era como se compartilhassem da mesma dor. Como se sentissem a mesma coisa, mas a verdade era que queria muito que pudesse tirar tudo o que ela sentia e fizesse desaparecer.
Ele queria poder de alguma forma, dar um jeito em toda aquela situação. Queria procurar algum médico especializado, pagar o melhor tratamento para sua melhor amiga, mas nada daquilo daria jeito. Nada daquilo prolongaria sua vida. Então a única coisa que pôde fazer foi permanecer com ela ali, no silêncio da sala de estar, apenas a fazendo se sentir um pouco melhor e confortando tentando mostrar que, mesmo que tudo estivesse tão perdido, ele estaria ali e sequer pensaria em deixá-la algum dia…
Desde o último momento e conversa que os dois melhores amigos haviam tido naquela pequena sala do apartamento minúsculo de , não pensou um segundo sequer em não visitá-la ou não estar com ela e até mesmo de fazê-la se sentir perto dele de alguma forma. Ele não aguentaria estar longe dela em alguns dias e não poder fazer nada, então todas as formas que encontrou de se tornar presente para ela foram as que colocava em prática, para ver um sorriso no rosto de sua melhor amiga.
Já havia feito um mês desde as consultas rotineiras de ao médico especialista, desde que os sintomas haviam ficado um pouco mais fortes e quase incontroláveis, um mês em que havia ficado mais apática, havia emagrecido e até mesmo, confundia com qualquer outra pessoa em algumas vezes. Não era sempre, mas sentia que toda vez que a via parecia que estava se esquecendo dele aos poucos. Não por querer, mas pela gravidade de sua doença.
E aquilo o esmagava. Ele não queria pensar que estava perdendo sua melhor amiga vagarosamente.
A verdade era que não queria aceitar a ideia de que ela não estaria com ele por muito tempo e saber de toda a doença havia o tirado do eixo, como se algo estivesse completamente errado. Ele estava com há tanto tempo, havia tantas lembranças, tantos momentos… Ele não conseguia aceitar que tudo se esvairia assim, de forma tão rápida e em um piscar de olhos.
Colocou uma das mãos no rosto, fechando seus olhos brevemente enquanto arrastava os dedos pelos cabelos claros, como se aquilo o fizesse se aliviar um pouco com tudo o que lhe ocorria em mente. se sentia tão exausto emocionalmente, como se tudo o que pensasse ou tivesse tentado fazer não fosse o suficiente para que ficasse bem. Claro que ele sabia que nada seria bom o bastante para que a fizesse se esquecer, mesmo que momentaneamente, da situação que estava vivenciando.
Ele realmente não sabia o que fazer, mas o que podia, fazia.
olhou ao redor mais uma vez, focando o olhar agora nos amigos na enorme sala de reuniões da empresa em que estavam naquele dia e respirou fundo, pressionando os lábios. Ele batucou a caneta que tinha em mãos na mesa algumas vezes e soltou mais um suspiro cansado, sabendo claramente que não conseguia escutar nada do que conversavam ali.
Nem mesmo percebeu quando se sentou a seu lado, observando em como parecia perdido nos próprios pensamentos.
— — começou, colocando os dedos sobre a caneta que continuava a ser balançada pelas mãos do seu amigo. ergueu o olhar, ainda tristonho, em direção à . O mais velho sorriu como se aquilo o confortasse. — Como você está? Eu sei que você te–
— Estou cansado — o cortou, voltando a encarar o objeto em mãos. — Não sei se quero falar sobre isso agora.
— Tudo bem se não quiser. Eu entendo — disse, balançando a cabeça em afirmação. ficou em silêncio por alguns instantes antes de continuar. — Sei também que com toda certeza deve estar sendo difícil, ninguém está preparado para que algo assim aconteça — levou uma mão livre em direção ao ombro de . — Eu me sinto mal, também é nossa amiga, mas sei que não chega perto do que você está sentindo agora. Sinto muito, de verdade — suspirou. não se esforçou para levantar o olhar em direção à ele, já que seus olhos evidenciaram que o choro fraco viria à tona mais uma vez. Ele não queria que percebessem aquilo, então se limitou a balançar sua cabeça, concordando com o amigo. — Quero que saiba que o que vocês precisarem, estaremos aqui, sempre. Vamos fazer o possível para que ela fique bem.
Eu queria que ela ficasse bem também, . — pensou consigo mesmo.
— Obrigado — respondeu com a voz quase falha.
apertou levemente seu ombro, soltando um último suspiro antes de se levantar e deixá-lo ali mais uma vez, com seus pensamentos tristes e agitados.
não queria continuar se sentindo daquela forma, já que sabia que não ajudaria nada continuar de braços cruzados e com os pensamentos que o remoíam aos poucos em mente. Ele não podia
continuar ali, se lamentando pelo que acontecia e tentando fazer com que ficasse um pouco melhor pelas coisas que ele mandava.
Pensou um pouco mais. Ele podia fazer diferente, pelo menos naquele dia. Com isso, se levantou rapidamente, largando a caneta de qualquer jeito e seguiu em direção à saída da sala de reuniões, não antes de ouvir a voz de próximo de si, o chamando.
— Você vai sair? — perguntou.
— Preciso fazer uma coisa — disse mais baixo. balançou a cabeça, concordando com o amigo e se aproximou ainda mais dele, fazendo com que os demais não pudessem ouvir o que conversavam.
— O que pretende fazer dessa vez? Vai visitá-la? — arqueou a sobrancelha, de forma curiosa. piscou algumas vezes, olhando para trás em direção aos outros amigos e voltou a olhá-lo. — Você não vai de mãos vazias, não é?
— Pensei em comprar alguma coisa para levar e passar o resto do dia com ela. Não sei, para falar a verdade — olhou para baixo, um pouco envergonhado.
— A não gosta de fotos? — perguntou, levando uma das mãos no queixo, pensando no que poderia ajudar o amigo. — Lembro que ela sempre comentava sobre fotografias antigas e até mesmo daquelas câmeras com filme. Não era isso? — voltou a olhá-lo. — Você pode surpreendê-la com uma câmera dessas e assim, registrar cada momento juntos. Eu, particularmente, acho bem interessant–
— Você é um gênio! — o cortou mais uma vez, colocando as duas mãos no ombro de que o olhou, franzindo o cenho. Não antes de deixar um sorriso surgir em seus lábios. — Acho que já sei aonde ir, posso comprar e levar no caminho mesmo.
balançou a cabeça, concordando.
— Só não desça para comprar, ok? Peça ao nosso motorista — bateu de leve no braço de , o incentivando. O rapaz assentiu. — E ?
— O quê?
Ele se virou rapidamente antes de seguir em direção ao corredor para ir embora e observou o olhando compreensivo.
— Torço muito para que fique bem. Ela precisa conhecer o mundo ainda — disse, agora sério.
— Obrigado pela força, .
Ele sussurrou de volta, deixando seu olhar cair pelo amigo por alguns segundos antes de se despedir e seguir em direção ao corredor, pronto para fazer sua melhor amiga feliz naquele dia. Pelo menos ele tentaria.
não estava pensando muito quando atravessou o corredor da empresa quase em uma corrida, pegando seus pertences e indo em direção ao térreo para procurar pelo motorista. Claro que ouviu a voz insistente de sua equipe perguntando o que havia acontecido, mas ele não queria ter que esclarecer algo naquele momento. Ele só precisava estar naquele carro o quanto antes para logo estar com .
sentia suas mãos formigando e suando na medida em que o carro se aproximava de forma vagarosa pelo trânsito lento daquele horário, do apartamento de . Achou engraçado a forma como se sentia porque parecia até que era a primeira vez que a via depois de muito tempo. De certa forma, talvez fosse. havia ficado tão ocupado com sua rotina diária que nas últimas semanas, só tinha conseguido falar com ela ou por vídeo chamada ou por telefone, além de mandar algo que achava que poderia animá-la enquanto estava longe assim.
Ele tentava entender todas as vezes em que insistia que não precisava de nada daquilo e de só falar com ele já a fazia ficar bem, mas não era suficiente para o rapaz. Ele sentia que sempre precisava fazer mais por ela, até mesmo porque ela merecia.
merecia tanta coisa… Merecia ter muito mais tempo, muito mais vida. Ele merecia o mundo e ele sentia que não seria capaz de dá-la.
encostou sua cabeça no vidro escuro do carro em que estava olhando a paisagem que passava ao redor. Os pássaros voando sobre o céu pouco azulado, as nuvens espalhadas por ele e as árvores passando rapidamente do outro lado.
Como ele queria que tudo fosse mais fácil…
Ele conseguiu perceber o carro parando vagarosamente e deixou o corpo ereto sobre o sofá estofado, olhando para baixo para o embrulho que tinha em suas mãos. De forma involuntária, sorriu fraco.
Esperava que aquilo, mesmo sendo algo tão pequeno para ele, pudesse arrancar um sorriso aberto do rosto de sua grandiosa e que pelo menos por alguns segundos, a fizesse se esquecer de todos os problemas que estava passando.
Deixou que o motorista se aproximasse um pouco mais da calçada, podendo assim abrir a porta e rapidamente andasse até o hall de entrada, ajeitando os óculos escuros e a máscara no rosto para que não pudesse ser reconhecido ali por qualquer outra pessoa.
Enquanto caminhava em direção à porta amadeirada de no segundo andar, ele não conseguia parar de se perguntar como ela estaria e se estaria melhor, se perguntou como ela o receberia por ter ido ali sem a avisar e sentiu o coração palpitar de forma rápida com seus questionamentos, sabendo que estava parecendo bobo por agir daquela forma.
Ele havia sentido falta delas nesses últimos dias.
Ao parar em frente à sua porta, endireitou sua postura mais uma vez e apertou a câmera embrulhada em suas mãos como se aquilo o fizesse ficar mais aliviado, antes de bater três vezes na mesma. Não houve resposta, mas o rapaz conseguiu ouvir passos do lado interno e o barulho da maçaneta logo depois.
abriu a porta de forma vagarosa, deixando apenas uma pequena fresta aberta e ergueu seu olhar em direção à em questionamento. Talvez por se perguntar o que ele estaria fazendo ali, foi o que ele pensou.
— ? — a chamou ao notar que a garota não havia aberto a porta por completo. Ela continuava o encarando, respirou fundo. — , sou eu, o .
— ?
piscou algumas vezes, tentando se lembrar do rapaz e voltou a olhá-lo. Ele sabia o que estava acontecendo, não era a primeira vez que acontecia de ter lapsos de memória, não se lembrando de quem ele realmente era. Não era algo que gostava de presenciar, se sentia impotente toda vez que o olhar dela atravessava o seu como se tivesse apenas o vazio ali, e nada mais.
Ele sorriu um pouco sem graça, a vendo com seus olhos pousados sobre o rosto dele.
— Sim, . , se lembra? Sou seu melhor amigo desde quando éramos pequenos e eu te chamava de pequena ursa… Você me acompanhou na audição há anos e hoje sou seu idol preferido — disse, tentando fazer graça ao final ao olhar a expressão da garota. — Bom, você sempre diz isso e–
— ! — disse mais alto, como se tivesse saído de um transe e olhou-o de forma diferente. Ela abaixou seu olhar, como se se perguntasse o que tinha acontecido. — , eu…
— Está tudo bem, ... Posso entrar? — perguntou, tentando desviar do que havia acontecido e para que ela não ficasse ainda mais pensativa com seus sintomas. deixou um pequeno sorriso transparecer e balançou a cabeça rapidamente em forma afirmativa, abrindo a porta um pouco mais para que ele pudesse entrar. bagunçou os cabelos da garota ao passar pela porta e adentrou o local, seguindo em direção ao sofá.
— Você não me avisou que vinha — ela comentou, caminhando em direção a cozinha para pegar algo para que bebessem. Enquanto ela seguia em direção ao cômodo, observou como ela havia emagrecido desde a última vez e em como sua expressão não era tão radiante como antes, mas para ele, continuava maravilhosa. Independente de como estivesse.
— Pensei em te fazer uma surpresa. Quero saber como as coisas estão — mencionou, observando a garota sentar ao seu lado. Ela balançou a cabeça.
— Ah, ... Eu disse que sempre ia te manter atualizado. Fui ao médico algumas vezes nessas últimas semanas e ele disse que se eu continuar com o tratamento, as coisas podem melhorar um pouco mais — disse. sorriu de canto ao final da frase e se virou para o lado, em direção a ele, cruzando suas pernas em cima do sofá. Ela continuou com seus olhos pousados sobre que não sabia como reagir com o que ela tinha lhe falado. Ele sentiu seu coração se aliviar de uma forma que não sabia nem explicar, sabia que não era certo de que ela ficasse cem por cento bem, mas… Já era alguma coisa.
Já era um resquício de esperança.
Ele não conseguiu pensar em outra coisa naquela hora, apenas em esticar seus braços em direção à sua melhor amiga, a puxando para um abraço apertado e cheio de emoção. Ele só conseguia a apertar contra si, acariciando suas costas enquanto fechava seus olhos brevemente sentindo o abraço reconfortante do amigo e o cheirinho que emanava no momento.
Não parecia ter outro lugar melhor.
— Por que não me falou antes? Eu podia ter vindo mais cedo, ou até mesmo viria quando você soube da notícia — a afastou, perguntando de forma quase que indignada e ela soltou uma risadinha fraca, deixando o corpo repousar sobre o dele, aproveitando que a posição estava confortável. olhou para baixo, em direção a amiga deitada em seu colo e balançou a cabeça, deixando um beijo calmo no topo.
— Não queria te atrapalhar. Ainda mais com você nas finais da apresentação para o Grammy — disse um pouco mais baixo por ainda estar abraçada a ele. — Como tem sido? Sinto falta dos meninos. Queria vê-los qualquer dia.
— Quando? Posso te pegar aqui quando estiver indo para lá — disse simples.
Ela o olhou brevemente e sorriu.
— Você sabe que tenho evitado sair assim, . Ainda mais no meu estado — comentou.
— Tenho certeza de que logo você estará boa o suficiente para que possamos fazer muitas coisas ainda. Você vai ver.
a olhou esperançoso, deixando um sorriso enorme surgir em seu rosto e ergueu seu olhar em direção a ele, demorando alguns segundos antes de balançar sua cabeça em forma afirmativa, concordando com o que ele dissera.
— Vou contar com isso, e aí posso te ver ensaiando como naquelas vezes em que entrei escondida no estúdio e você levou um susto — disse, rindo fraco. Ele a acompanhou. — Ou, como você disse, podemos fazer outras coisas também.
— Como viajar para São Francisco? — complementou, a vendo se ajeitar com o corpo ereto no sofá novamente, o olhando sonhadora.
Aquela era uma das coisas que admirava e não sabia explicar como se sentia ao olhar a amiga tão pensativa daquela forma, imaginando sobre os lugares que poderia visitar, sobre o que poderia fazer. Eram tantas coisas… Ele conseguia ver o brilho nítido no olhar de .
— Sim! Ah… Deve ser tão lindo... — cruzou suas mãos, deixando o corpo se recostar no encosto do sofá. soltou uma risadinha ao vê-la sorrir abertamente pela primeira vez depois das últimas semanas e colocou um dos braços para trás, a admirando. — Você sabe que tenho uma listinha, não é? E sabe que, mesmo com todos esses lugares, esse não vai sair nunca do meu coração…
— Sacramento — ele completou, a vendo balançar a cabeça em concordância. soltou um suspiro.
— Sim! Eu sei que nunca o visitei, mas não sei o que acontece... Parece mágico — complementou.
— E talvez seja.
deu de ombros, sorrindo.
— Podemos ir lá também quando você puder sair novamente. Não só a São Francisco, mas vou te levar à Paris, a Londres… Podemos viajar pelo mundo, — a olhou depois que disse, esperando pela resposta de sua melhor amiga. Por um momento, queria que ela percebesse o quão sério ele estava falando, mas por outro lado, não sabia o que sentiria ao ver como ele queria demonstrar seus sentimentos.
Ele queria sim, levá-la para ver o mundo. Queria mostrá-la todas as coisas boas e todos os momentos bons que poderiam ter, de tudo o que ele tinha certeza de que ela ainda viveria.
Foi impossível não sorrir com todo o pequeno ânimo que ele pôde ver de com a pequena notícia que ela havia recebido, de como mesmo em poucos segundos ela conseguiu se transformar na garota que era antes, antes da doença, antes dos sintomas… Antes de tudo.
Os dois continuaram ali por bastante tempo, conversando sobre as viagens que gostariam de fazer, coisas que ainda queriam conquistar, sobre a faculdade de e até mesmo a tão esperada apresentação que tanto ensaiava para o Grammy.
Não era como se precisassem arrumar assunto, já que com eles o mesmo surgia de forma tranquila e sem nenhum esforço.
Eles gostavam tanto da presença um do outro…
Permaneceram ali por um bom tempo e a verdade era que não queria ir embora tão cedo. Ele queria continuar com a presença da melhor amiga a seu lado, queria continuar fazendo-a rir e queria continuar vendo aquele sorriso contagiante que ela tinha no rosto ao esquecer mesmo que brevemente, sobre sua doença.
queria fazer como ela e esquecer por alguns segundos também, como havia acontecido quando ele lhe mostrou o presente que tinha levado para ela e observou o sorriso mais lindo logo na sua frente, mas o fato de que talvez pudesse perdê-la algum dia assombrava sua mente e coração.
Olhou para o rosto de , tão serena, calma e delicada. Gravou em sua mente cada pequeno detalhe que ela tinha, os traços dos lábios, do nariz redondo, dos olhos fechadinhos.
era tudo para .
— Vamos fazer muita coisa juntos ainda, . Você vai ver.
— Eu tenho certeza que sim, .
Ele pegou sua mão, dando um beijo aquecido na parte de cima e sorriu abertamente para ela, a encorajando e tentando transmitir tudo o que pensava. o olhou, encostando sua cabeça no encosto do sofá e sorriu da mesma forma que ele, agradecendo por tê-lo em sua vida.
Era muito mais do que poderia pedir e muito mais do que poderia merecer.
E com esse pensamento e olhar, ela prometeu para si mesma que seria a melhor para mesmo em pouco tempo, da mesma forma que ele prometeu que ela não estaria sozinha nunca mais.
tinha seu olhar atento em toda a equipe que organizavam os últimos detalhes para a apresentação do Grammy, mas aquilo não era o que ele tanto esperava ansiosamente. Claro que não via a hora de performar, mas queria fazer aquilo para , para que ela visse todo seu esforço e o encorajasse com um daqueles sorrisos reconfortantes que só ela sabia dar. Ele não via a hora de colocar seus olhos no dela em meio a multidão que os viam se apresentar e se sentir completamente cheio e satisfeito com tudo o que acontecia.
Olhou para seus amigos ao redor, apreensivos assim como ele e sem que pudesse pensar em algo a mais, ouviram os comandos pelo in-ear, ajeitando suas posturas e trajes para que pudessem entrar no palco. Todos se posicionaram em seus devidos lugares aguardando para que as câmeras focassem no grupo em si e para que a música começasse a ressoar para começarem a cantar e dançar.
deu uma última olhada na multidão, tentando de alguma forma achar os olhos brilhantes de por ali, mas sabia que seria falho já que estava longe o suficiente para que não a enxergasse. Fechou seus olhos brevemente, sentindo o coração bater mais rápido e respirou fundo, pronto para começar a apresentação daquela noite.
A música tocava de forma animada, enquanto eles dançavam, cantavam e faziam algumas partes solos. No mesmo momento em que Taeyung segurava seu microfone, cantando sua parte e tentando transparecer total confiança para a câmera que lhe filmava, quando podia, voltava seu olhar para o backstage e não encontrava de forma alguma. Nem no backstage, muito menos na plateia.
Ele se lembrava bem de quanto ela o havia ligado, falando que não perderia sua apresentação por nada e que sabia o quanto ele havia se esforçado.
Há alguns dias…
— Você quer que eu mande um carro? Acho que vai ficar mais confortável — dizia agitado. Ele pôde ouvir a risada gostosa de invadir seus ouvidos pelo aparelho.
— , eu vou de táxi. Você vai estar tão ocupado que sequer vai se lembrar disso.
— É claro que vou me lembrar. Sério, , não quer mesmo vir com nosso motorista? Ele pode te pegar aí quando chegarmos ao local — respondeu quase em um resmungo.
— Mas você é teimoso, viu? Não precisa, sério. Foque em ensaiar para me mostrar essa apresentação incrível — dizia tentando transparecer animação, mas conseguia perceber em como ela dizia com dificuldade, quase como se estivesse com muita falta de ar.
— … Está tudo bem?
— Está sim, só estou cansada. Tenho revisado algumas coisas da faculdade essa semana. — disse rápido, ficando em silêncio em seguida — Mas não se preocupe, ! Vou estar lá torcendo por você, pode contar comigo.
Ele olhou para baixo, sentindo seu peito comprimir lentamente. Ela havia dito que viria, será que algo tinha acontecido?
Olhou discretamente para o lado, onde o staff permanecia prontos para se algo acontecesse e notou que nenhum daqueles rostos ali era o de .
Não fazia sentido para ele. Por que ela não tinha ido?
Quando as últimas batidas ressoaram pelo lugar e eles fizeram a última pose até que terminassem a performance, notou quando as câmeras viraram em outra direção e rapidamente caminhou até o backstage, olhando desesperado ao redor. Onde ela estava? Por que não a encontrava?
pediu licença a algumas pessoas, esbarrando em outras e caminhou um pouco mais, só então percebendo que ela realmente não estava ali. Procurou pelo staff responsável, pedindo seu celular urgentemente para que pudesse contatá-la e notou que não havia mensagens, nem ligações.
Aquilo fez com que ele começasse a ficar nervoso levemente, sentindo suas mãos suarem a ponto de ter que limpá-las em seu terno colorido. Olhou para os lados, colocando o telefone no ouvido, ouvindo apenas os toques até que finalizasse.
— Droga, . Por que você não atende? — murmurou com a voz trêmula, tentando mais uma vez.
E ele continuou ali, em várias tentativas de ligações e mensagens, sem receber retorno de nenhuma delas. podia sentir sua garganta fechada, o coração explodindo dentro do peito e a vontade incontrolável de chorar por não ter notícias de sua melhor amiga.
Observou se aproximando preocupado, tentando saber o que acontecia, mas não conseguia dizer qualquer palavra. Sua voz era falha, o corpo tremia em preocupação mesmo com seu amigo tentando lhe acalmar.
— , fique calmo. Vamos tentar focar que talvez não tenha acontecido nada demais.
— Não consigo ficar calmo — soltou, com a voz engasgada enquanto de forma angustiada discava nervoso o número mais uma vez na tela de seu celular. Ele não sabia explicar o que estava sentindo naquele momento, não sabia dizer que mistura de sentimentos era aquela dentro de seu peito. Parecia que tudo estava ficando pequeno a seu redor, que sua cabeça estava em turbilhão de pensamentos e que seu coração se esmagava a cada segundo que passava dentro do peito.
Por que raios ela não atendia o telefone?
Quando o quinto toque se tornou insistente, ele pôde perceber que alguém havia atendido do outro lado.
— ? É você? Onde você está? ? — perguntou frenético, quase xingando por não ter uma resposta. — Por que você não responde?
Naquele ponto, ele já sentia sua respiração falhar mais uma vez.
— ? Querido…
parou naquele exato momento, paralisado. Não era , era sua mãe. E ela chorava desesperada.
Seu coração parou, seu corpo se imobilizou no mesmo lugar. o olhou esperando por uma resposta do amigo que tinha seus olhos brevemente arregalados, mas a única coisa que ele conseguiu avistar foram as lágrimas de começando a descer por seu rosto de forma insistente.
de imediato levou uma das mãos na testa, já sabendo o que havia acontecido.
E soube que seu mundo iria desabar.
— Ela se foi, ! Minha menininha, ela se foi!
Em poucos minutos depois, chegava desesperado no Seoul National Hospital, não se importando com quem estava à sua frente, empurrando quem quer que tentasse impedi-lo de ver sua melhor amiga.
Não. Ela não poderia… Ela ainda estava ali! Ela tinha que estar ali!
tentava acalmá-lo de forma completamente falha enquanto o amigo saía perguntando por para qualquer pessoa que aparecesse por ali, enfermeiros, médicos, pacientes…
Ele já chorava de forma tão agoniada, angustiada. não sabia o que pensar, não sabia o que fazer. Ele precisava de .
Olhou para os lados, passando as mãos pelo rosto molhado enquanto ouvia os passos de seus amigos atrás de si, preocupados da mesma forma.
E quando virou o corredor esquerdo, podendo avistar a mãe de chorar desolada em frente ao quarto que ela provavelmente devia estar, correu em direção à ela, sentindo cada pedacinho de seu corpo doer com a cena.
Aquilo era demais para suportar.
Ele percebeu o corpo da mulher deslizando vagarosamente pela parede do corredor enquanto ela tinha suas mãos no rosto, o tampando. se aproximou querendo apenas que tudo fosse um pesadelo e que logo pudesse acordar.
— Não! ! — ela dizia alto, como se chamasse pela filha de forma desesperado. soluçou ao se colocar ao lado dela, segurando seus ombros.
— Onde ela está?! Onde está?! — perguntava com os olhos vermelhos arregalados.
— , ela… Ah, meu querido… Por que ela nos deixou?! Por quê?! — tirou as mãos do rosto, podendo enxergar o melhor amigo de sua filha chorando exatamente como ela.
Não podia ser verdade. não podia ter deixá-lo, ela estava bem, estava melhorando e…
— Ela se foi, ! Não vou ter mais minha filhinha aqui para…
sentiu tudo ficando turvo ao seu redor, a voz da mãe de ficando distante e ele só conseguia focar em seus batimentos cardíacos. Deu impulso com os braços, se levantando e virou o corpo em direção ao quarto atrás de si, se aproximando da janela de vidro transparente. Ele sentia todo seu corpo anestesiado, como se estivesse em automático e fosse apagar a qualquer momento, como se realmente estivesse em um sonho muito ruim.
Ele torcia tanto que fosse um sonho, um pesadelo, para que não fosse real.
Mas quando espalmou suas mãos pelo vidro, ele soube que era sua mais triste realidade.
Aquela garota deitada, imóvel, não poderia ser sua pequena ursa… Não… Ele não conseguia aceitar… Ela dormia tão serena, exatamente como se estivesse inverno e ela estivesse em apenas um sono profundo...
O corpo pálido e sem vida de deitado na maca, os aparelhos desligados, sua expressão completamente cansada, exausta com seus olhos fechados. não estava ali, nunca mais estaria…
E com aquele pensamento, desabou por completo, percebendo que sua ficha havia caído naquele momento.
— Não!
Gritou tão alto antes de socar o vidro a sua frente que sequer percebeu quando foi amparado por seus amigos, sendo segurado e sendo abraçado de forma forte, enquanto era retirado dali por eles.
sentiu seu mundo ceder de vez, sabendo de uma vez por todas que nunca mais existiria e e que nunca mais realizariam todos os sonhos planejados juntos.
Nunca mais…
tinha seus olhos focados no pequeno visor da câmera que tinha em mãos enquanto sentia o frescor do vento daquele final de tarde invadir seu rosto pelas janelas do carro em movimento. O rapaz captava todas as pequenas coisas em que batia seus olhos e isso incluía tanto os pássaros que brincavam ao céu de toda São Francisco arborizada e com toda a arquitetura detalhada passando de forma rápida do outro lado.
Ele sentia seu peito aliviar por poucos segundos, sentia como se seu coração estivesse sendo abraçado e afagado por toda aquela sensação e sorriu consigo mesmo, ao ter algumas lembranças invadindo sua mente.
Observou o objeto que tinha em mãos, se lembrando de que havia sido o presente que tinha dado à em uma das visitas à sua casa. Ela tinha gostado tanto...
Ele ajeitou o boné vermelho em sua cabeça, o virando para trás e sentiu os olhos arderem brevemente ao vislumbrar o rosto de sua melhor amiga em seus pensamentos, notando mais uma vez o quanto sentia falta dela. O quanto queria que ela estivesse naquele pequeno passeio com ele.
Pressionou seus lábios, ainda observando a paisagem que Sacramento lhe fornecia enquanto seu motorista andava com o veículo de forma despreocupada pelas ruas da cidade. Eles iriam a um lugar específico, mas não queria pensar tanto sobre o momento, apenas quando chegasse lá.
Quando observou o enorme Golden Gate Park se aproximando, mordiscou os lábios o vendo tão florido e esverdeado pelas árvores que o habitavam e involuntariamente sorriu consigo mesmo mais uma vez, sabendo o quanto ela gostaria de estar ali.
Assim que o carro estacionou próximo à calçada, suspirou decidido a descer.
— Pode me deixar aqui, por favor. Ao final da tarde, você pode retornar — disse, pronto para abrir a porta do carro, mas observou o motorista virando o corpo em direção a ele, em questionamento.
— Senhor, eu não sei se…
— Por favor. Prometo que não vou demorar e estarei aqui em ponto.
informou, o vendo assentir e rapidamente saiu de dentro do carro não antes de trocar o boné vermelho por uma boina preta, ajustar a máscara no rosto e colocar os óculos escuros.
Ele iria fazer tudo o que ela sonharia em ter feito.
Começou a caminhar lentamente pelo parque em si, ajeitando a câmera nas mãos para fotografar cada pequeno detalhe no local. Fotografou as flores, os pássaros mais uma vez e até mesmo o céu radiante daquele dia. Achou incrível como tudo estava calmo e tranquilo, exatamente como ele tanto queria.
Ajeitou os fios dos cabelos que estavam para fora da boina e também a ajeitou antes de ajustar a câmera para o modo de filmagem e virá-la em sua direção, pronto para começar.
— Oi, . Adivinha onde estou agora — iniciou, piscando algumas vezes e sorriu contido. — Acho que você reconhece bem o lugar, era um dos seus preferidos. Nós tínhamos combinado de vir aqui também — balançou a cabeça, assentindo. — Olha como o céu está claro hoje. O parque está bem florido também — virou a câmera para o céu, mostrando como estava azul e imerso de nuvens, apontando em seguida para a direção das árvores e flores que o preenchiam. — Pensei em visitarmos ele hoje, acho que vai ser algo bom para nós dois.
E com isso, sorriu mais uma vez para a câmera, desligando o modo de filmagem e voltando a fotografar tudo normalmente. Ele olhou ao seu redor, fechando os olhos brevemente e respirou fundo, como se pudesse ingerir todo aquele ar puro que emanava por ali. sentiu seu corpo ficar leve por segundos, decidido a fazer naquele dia, tudo o que eles poderiam ter feito juntos se tudo estivesse sido diferente.
Aquela tarde havia sido nostálgica, apesar de agradável. havia tido tantas lembranças, havia se sentido tão emocionado por passar em alguns lugares que ele havia visitado com ela há alguns anos. Eles realmente tinham feito muitas coisas juntos quando puderam.
Ele continuou caminhando pela cidade, mesmo estando um pouco cansado e em cada lugar que passava, não deixava de registrar o que pudesse. Poderia ser bobo para quem visse, mas ele sabia certamente que se estivesse ali, ficaria encantada com todos aqueles detalhes. O rapaz sorriu ao parar para observar algumas imagens que havia tirado, sorriu ao ver como algumas tinham ficado boas.
E assim continuou até o final daquela tarde, fazendo novas memórias que sabia que ela adoraria ter feito com ele.
aproveitou para visitar o restaurante que eles haviam planejado de ir juntos quando fossem a cidade de Sacramento, aproveitou também para pedir o prato simples que era o favorito de , as benditas panquecas com a maior quantidade de mel que poderia colocar. Não era lá um dos melhores pratos que havia provado, mas se ela gostava, ele fazia questão de comer.
Ele aproveitou aquele momento para ligar a câmera novamente, apontando em sua direção mais uma vez.
— Olha onde estou, — disse, um pouco divertido mostrando o prato que estava posto a sua mesa. — Eu estava com tanta fome que só lembrei de gravar depois, me desculpe — soltou uma risadinha, apoiando o rosto da mão livre ainda com seu olhar sob a câmera. — Pedi seu prato favorito, mesmo eu não gostando tanto de panquecas e por incrível que pareça, eles capricharam aqui. Você iria gostar… — deixou a frase se perder no ar, com um sorriso tristonho nos lábios. Engoliu em seco, voltando a olhar para o prato. — Ainda não acabamos. Temos até o final da noite para terminar de visitar São Francisco. Espero não estar encrencado, o não sabe — soltou uma risadinha fraca e balançou a cabeça negativamente, passando as mãos pelo rosto. — Nos vemos daqui a pouco.
E com isso, desligou a câmera mais uma vez, voltando a saborear a comida à sua frente. se sentia um pouco mais reconfortado daquela forma.
Quando a noite se tornou mais nítida, junto com o vento frio que evidenciava o outono em São Francisco, abraçou seu corpo já embrulhado com o casaco preto e resolveu por caminhar de forma lenta pelas ruas da cidade, despreocupado, como se aquilo o fizesse se sentir um pouco mais leve. Retirou a câmera do bolso da calça social, voltando a registrar tudo o que poderia para que ficasse guardado consigo para que sempre que quisesse, pudesse ver.
sentia que seu coração ainda estava apertado, apesar de saber que não tinha muito o que fazer em relação a aquilo. Ele olhava de forma tão nostálgica todo o céu estrelado, todas as nuvens e em como a cidade parecia deslumbrante naquele horário, o qual ele sabia que precisaria se despedir de tudo aquilo.
A verdade era que ele não queria. Não queria porque sabia que aquilo seria realmente o ponto final de tudo, o ponto final para seguir em frente e deixar apenas em suas lembranças.
Respirou fundo, abaixando seu olhar. Ele precisava fazer aquilo.
Ele caminhou em direção ao Waterfront Boardwalk, onde sabia que tudo se afloraria de forma que ele não esperava. Ele pôde avistar toda aquela água do rio, todas as luzes que o iluminavam e conseguiu notar ali mesmo o porquê de ansiar tanto em visitar o lugar em si.
Ele era magnífico, ainda mais vendo pessoalmente.
Observou as residências e lojas coloridas ao redor, toda a decoração, em como até mesmo o vento do lugar estava favorável àquele ponto.
soube que aquele era o momento. iria gostar que as coisas fossem daquela forma.
Ele se aproximou da pequena mureta que separava a passarela do rio e se aconchegou ali, ajeitando a câmera um pouco mais à frente de si e apoiou na parte mais livre. Ele suspirou, se ajeitando em frente a ela e sorriu, olhando ao seu redor.
A câmera havia começado a gravar.
— Acho que conseguimos, não é, ? Olhe para esse lugar — abriu seus braços, ainda observando toda a paisagem que Sacramento lhe proporcionava. — É exatamente como você me mostrou naquelas fotos — balançou a cabeça, assentindo. — Eu consegui visitar cada lugar que me disse, o restaurante que você dizia ter um dos melhores pratos da região e mesmo assim eu ainda insisti em pedir a panqueca com mel que você sempre comia — soltou uma risadinha fraca, pressionando os lábios em seguida. Ele sabia que não conseguiria segurar por muito tempo, seus olhos já marejavam. — Sabe, desde que decidi vir conhecer São Francisco achando que isso me ajudaria com todo o processo, realmente pensei que seria algo bom, que assim, poderia deixar você partir. E quando coloquei os pés aqui, soube que não conseguiria deixar isso acontecer. Eu estava enganado, — abaixou seu olhar, já sentindo uma lágrima escorrer por sua bochecha. — Passei todos esses meses lutando contra a saudade que insiste em invadir meu peito todas as vezes que escuto ou leio seu nome em algum lugar. Juro que tentei de todas as formas, mas não consigo… Parece impossível — colocou uma das mãos no rosto, tentando conter o choro soluçado. — Você não tem noção de como deixou um buraco no meu peito, . Não faz ideia de como me despedaçou. Por que teve que partir assim? Por que teve que me deixar? — disse em meio as lágrimas teimosas que rolavam por seu rosto. Ele não conseguia conter o choro alto que estava vindo à tona. — Cada dia que se passa tem sido difícil. Eu acordo todas as manhãs achando que tudo não passou de um pesadelo, mas quando ligo para seu telefone e ouço que seu número agora é inexistente, eu tento entender, ... Eu tento entender que você realmente se foi — suspirou, soltando sua respiração. sentia seu peito arder. — Não sei o que fazer — sentiu o queixo completamente trêmulo. — Eu sinto que todos os dias tem sido um ciclo infinito e que isso nunca vai acabar, que essa dor vai permanecer — colocou uma das mãos no peito fechando os olhos brevemente. — Mas aí, depois de hoje, estando aqui com todo esse sentimento e com todas as lembranças… Eu preciso, … — balançou a cabeça como se estivesse concordando consigo mesmo. Com isso, levou uma das mãos limpando mais uma lágrima solitária. — Eu preciso deixar você partir. Preciso seguir em frente.
abaixou a cabeça, a apoiando com suas mãos enquanto deixava todo aquele choro preso e engasgado se esvaírem por completo. Ele não conseguiria guardar tudo o que estava sentindo por mais tempo, os sentimentos os sufocando, a saudade o agonizando todo santo dia. Ele precisava deixá-la ir de uma vez por todas.
— Nunca vou te esquecer, … Você sempre vai estar aqui… — colocou a mão novamente em direção a seu coração. — Sempre será minha primeira e única melhor amiga. Meu primeiro e único amor. Você sempre será minha pequena ursinha… — murmurou as palavras finais, voltando a chorar mais uma vez. — Só que eu preciso fazer isso. Dessa vez, por mim — afirmou, tentando deixar um sorriso transparecer. — Eu preciso seguir. Preciso me livrar desse sentimento. Eu estou sufocando, — afirmou, pressionando os lábios mais uma vez. — Então eu decidi. Decidi que preciso te carregar agora apenas em meus pensamentos e nas minhas melhores lembranças. Decidi que preciso te deixar ir, de uma vez por todas.
Com essa última frase, voltou a chorar levando uma das mãos em direção ao botão da câmera, desligando e sentindo o peito se aliviar aos poucos por saber que depois de tanto tempo, de tanta angústia e sofrimento, conseguiu sentir que daquela vez, estava fazendo o certo.
E sentia ainda mais que o apoiaria, como sempre fez, mas agora, apenas em seus pensamentos; guardada em seu coração.